anexo 1 guião de entrevista às crianças...

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158 ANEXOS Anexo 1 Guião de Entrevista às Crianças Moldavas Guiões de entrevista Papel dos pais na relação de aprendizagem e de uso da LH por parte das crianças e a relação da criança/ jovem com a LH como pertença identitária Questões de investigação: 1. Quais são as atitudes e representações de pais e filhos moldavos associadas à LH? 2. Qual a relação da criança com a LH como pertença identitária? 3. Que estratégias usam os pais moldavos para assegurar a manutenção da LH dos filhos? Objetivos Gerais: - Conhecer as representações sociais associadas à LH de pais e filhos imigrantes moldavos, bem como à LP; - Conhecer as práticas de uso e aprendizagem da LH; - Conhecer os desafios que os pais moldavos enfrentam no desenvolvimento e manutenção da LH dos filhos. Entrevista às crianças Blocos Objetivos específicos Perguntas Notas A Legitimação da Entrevista -Informar o entrevistado sobre os objetivos da entrevista; - Enquadrar a entrevista; -Motivar para a entrevista; -Garantir toda a

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158

ANEXOS

Anexo 1

Guião de Entrevista às Crianças Moldavas

Guiões de entrevista

Papel dos pais na relação de aprendizagem e de uso da LH por parte das crianças e a

relação da criança/ jovem com a LH como pertença identitária

Questões de investigação:

1. Quais são as atitudes e representações de pais e filhos moldavos associadas à LH?

2. Qual a relação da criança com a LH como pertença identitária?

3. Que estratégias usam os pais moldavos para assegurar a manutenção da LH dos

filhos?

Objetivos Gerais:

- Conhecer as representações sociais associadas à LH de pais e filhos imigrantes moldavos,

bem como à LP;

- Conhecer as práticas de uso e aprendizagem da LH;

- Conhecer os desafios que os pais moldavos enfrentam no desenvolvimento e manutenção

da LH dos filhos.

Entrevista às crianças

Blocos Objetivos

específicos

Perguntas

Notas

A

Legitimação

da Entrevista

-Informar o

entrevistado sobre

os objetivos da

entrevista;

- Enquadrar a

entrevista;

-Motivar para a

entrevista;

-Garantir toda a

159

confidencialidade;

-Garantir feedback

do trabalho;

-Perguntar sobre a

língua de

preferência para

realizar a entrevista.

- Podemos gravar a entrevista?

- Preferem falar romeno ou português?

B

A relação da

criança com a

LH, como

pertença

identitária, e

com a LP

Compreender a

forma como a

criança percebe a

sua nacionalidade;

Conhecer o estatuto

e o papel conferidos

à LH;

Identificar a visão

dos filhos sobre a

sua relação com a

LH;

Identificar a visão

dos filhos sobre a

sua relação com a

LP.

1. Onde é que nasceste?

2. Se eu perguntar qual é a tua

nacionalidade qual seria a tua resposta?

3. E por que dizes/sentes isso?

(Fizeste um desenho muito

interessante!!! O que é que tu

desenhaste? (acrescentar pedidos de

esclarecimento específicos, dependendo

de cada desenho: “porque é que

desenhaste...?” Porque é que escreveste

palavras em português/romeno?”)

4. Qual é a língua que usas no teu dia-a-

dia?

5. É fácil para ti falar romeno? Porquê?

6.Gostas de falar romeno? Porquê?

7.Achas que é importante saber falar

essa língua? Porquê?

8.O que sentes quando falas romeno?

9.Onde é que tu sentes que é a tua casa,

aqui em Portugal, ou na Moldávia?

10.O que significa para ti aquela terra?

E o que significa Portugal?

11. E o que sentes quando falas

português?

12. Gostas mais de falar português ou

gostas menos? Porquê?

13. Que outras línguas ouves falar na

tua casa, ou quando estás com os teus

amigos moldavos e/ou familiares?

(russo,

por ex.?)

C Identificar os 14. Quando falas romeno? E com

160

Práticas de

uso e

aprendizagem

da LH

contextos e as

ocasiões de contacto

da criança com a

LH;

Identificar

estratégias de

fomento da

aprendizagem da

LH;

quem?

15. E na escola, tens colegas moldavos

ou romenos? Falas em que língua com

eles no recreio? Porquê?

16. E em casa, falam romeno? Em que

momentos do dia falam mais a língua

romena?

17. Com o teu irmão/irmã falas em

português ou em romeno? Porquê?

18. Lês em romeno ou alguém dos mais

crescidos da família lê para ti em

romeno?

19.O que te tem ajudado a aprender

romeno?

Tens outros contactos com a língua

romena, por exemplo através da TV, da

Internet e das redes sociais?

20. Sem ser em casa e na escola, com

quem mais costumas falar romeno?

21. Vais de férias à Moldávia?

Falas com os teus familiares na

Moldávia em romeno? Gostas de o

fazer?

22. E quando está cá em Portugal, falas

com a tua família de lá, da Moldávia?

Como o fazes, que meios é que usas

para tal?

23. E com que frequência falas, quantas

vezes por semana?

24. Gostavas ou não que o romeno

fosse uma língua, uma disciplina na tua

escola? Porquê?

25. E gostavas de aprender o romeno

com outras crianças moldavas?

(pelo

telefone,

pelo

Skype,

por ex.)

(Vezes/

semana

ou mês)

161

D

Finalização de

entrevista

Finalizar a

entrevista;

Esclarecer dúvidas

do entrevistado;

26. Achas que foi difícil para ti

responder a estas perguntas? Gostaste

de o fazer?

Anexo 2

Guião de Entrevista aos Pais Moldavos

Entrevista aos pais

Blocos Objetivos

específicos

Perguntas Notas

A

Legitimação da

Entrevista

Informar o

entrevistado sobre

os objetivos da

entrevista;

Enquadrar a

entrevista;

Motivar para a

entrevista;

Garantir toda a

confidencialidade;

Garantir feedback

do trabalho;

Perguntar sobre a

língua de

preferência para

realizar a

entrevista

- Podemos gravar a entrevista?

- Preferem falar romeno ou

português?

B

Atitudes e

representações

de pais

moldavos

associadas à LH,

bem como à LP

Perceber a

imagem que os

pais associam à

LH na integração

no país de

acolhimento, bem

como à LP;

1.Há quantos anos vivem em

Portugal?

2. O que vos trouxe a Portugal?

3. Teve algum contacto anterior com

a língua portuguesa e com Portugal

antes de emigrar?

4. O que pensava da língua

portuguesa antes de emigrar? E o

162

Conhecer o

estatuto e o papel

que os pais

atribuem à LR e à

LP;

Identificar

contextos de uso

da LP e LR/LH

que pensa agora?

5. Como tem sido o processo de

integração?

6. Qual tem sido o papel da língua

portuguesa na vossa integração?

7. E o da língua romena, que papel

tem assumido nesse processo?

8. Como se relaciona com a língua

romena, agora que está em Portugal?

9. E o que significa para si a língua

portuguesa?

10. Como é que caracterizava em

três palavras a LR? E à LP que

palavras associava?

11. Pode contar algum episódio que

retrate o papel da LR/LH na vossa

vida, ou um episódio engraçado /

difícil que tenha a ver com questões

linguísticas?

12. Com que frequência fala

romeno? E com quem? Em que

circunstâncias?

13. E quanto à LP, acha que a usa

mais? Porquê?

C

Práticas de uso e

aprendizagem da

LH

Especificar

estratégias de

fomento da

aprendizagem da

LH;

Identificar qual é

o estatuto que

confere à LH;

14. Fala com os seus filhos em

português ou em romeno? Porquê?

15. Em que situação ou situações

fala com eles em romeno?

16. E na hora de fazer os trabalhos

de casa, em que língua prefere ajudá-

los?

17. Considera importante a

aprendizagem e manutenção da

língua romena? Porquê?

18. Qual acha que é a relação dos

seus filhos com a língua romena?

Por que acha que isso acontece?

19. Que estratégias usa para tal?

20. Como acha que isso se reflete na

163

relação dos seus filhos com a LR? E

com a LP?

21.Tem conhecimento de

associações moldavas que organizam

“escolas de sábado” para as crianças

que queiram aprender romeno?

22. Considera necessário existir estas

escolas? Porquê?

D

Desafios que os

pais moldavos

enfrentam no

desenvolvimento

e manutenção da

LH dos filhos

Identificar as

dificuldades que

os pais moldavos

enfrentam;

Conhecer os

fatores

situacionais e

contextuais que

interferem no

desenvolvimento

e na manutenção

da LH;

23. Quais são os desafios de ter os

seus filhos a crescer em Portugal?

24. Como é que pensa que podia ser

na Moldávia, crescê-los lá?

25. Se pudesse escolher, preferia

educar os seus filhos em Portugal ou

na Moldávia? Porquê?”

26. Quais são os maiores desafios

que você enfrenta como mãe/pai

neste país? Que ajustes acha que teve

que fazer como mãe/pai em

Portugal?

27. Que dificuldades enfrenta no

apoio à aprendizagem da língua

romena pelos seus filhos?

28. O que contribui/concorre para

essas dificuldades?

29. Na ausência das ditas escolas de

sábado, de quem fica a

responsabilidade na manutenção e

desenvolvimento da LH do(s) seu(s)

filhos (s)?

E

Atitudes

associadas à

cultura de

origem e à

cultura

portuguesa

Conhecer a

imagem atribuída

às culturas, de

origem, romena, e

dominante,

portuguesa;

30. Muitos dos estudos das últimas

três décadas revelam que os alunos

de culturas diferentes não alcançam

o sucesso académico dos alunos da

cultura dominante. Acha que é

verdade? Porquê acha que isso

acontece?

31. Acha que as culturas moldava e

portuguesa têm mais características

diferentes ou comuns? Pode dar

164

exemplos?

32. Gostaria de ver o seu filho (s)

casado com um português ou alguém

de sua própria cultura? Porquê?

33. Alguns pesquisadores acham que

ter duas ou mais culturas pode ser

um problema. Outros dizem que é

bom. Qual e a sua posição quanto a

esta questão?

34. Quais são as vantagens e

desvantagens de ter duas culturas /

duas línguas / dois países, para os

seus filhos, para si, para a sua

família como um todo?

35. Tenciona algum dia voltar para o

seu país de origem? Porquê?

F

Finalização da

Entrevista

Finalizar a

entrevista;

Esclarecer

dúvidas do

entrevistado;

36. Há mais alguma coisa que queira

acrescentar?

37. Tem alguma dúvida que queira

esclarecer?

165

Anexo 3A

Transcrição das entrevistas A1 e A 2

Transcrição de entrevista A1

Data de realização: 12 de junho de 2016

Mãe Daniel- MD (Vera)

Entrevistadora- E

Número de intervenções: 1-102

(01) E podemos começar a entrevista?

(02) MD sim/ podemos

(03) E vou começar por perguntá-la/ há quantos anos vivem em Portugal?

(04) MD há desaseis anos…// são muitos anos/de facto

(05) E o que vos trouxe a Portugal?

(06) MD a ideia foi de melhorar a nossa situação material/ da nossa família

(07) E quem teve essa ideia?

(08) MD agora nem me lembro bem/ acho que fui eu/ mas o meu marido concordou

comigo rápido/ logo// pensando bem/ a nossa situação nem sequer era assim tão grave/

tínhamos emprego os dois/ eu era enfermeira/ mas aquilo que ganhámos era muito pouco/

não dava para uma vida normal/ para ter aquilo que precisávamos// naquela altura já

começavam a emigrar os primeiros moldavos/ quem para Itália/ quem para Portugal/ outros

para Israel/ e ainda outros países

(09) E e quem é que veio primeiro?

(10) MD ah/ foi o meu marido/ eu vim mais tarde/ fiquei lá com o meu filho/ o nosso

primeiro filho// mais tarde vim eu/ e só depois de um ano e meio veio o meu filho/ fui

buscar o meu filho

(11) E já agora/ podia contar/ dizer/ quantos anos tem o seu filho mais velho/

quantos anos tem o mais novo/ para tornar isto mais claro do início

(12) MD o mais velho tem 24 anos/ veio com nove anos// o mais novo nasceu aqui em

Portugal/ tem oito anos/ quase nove

(13) E e antes de vir para Portugal/ teve algum contacto anterior com a língua

portuguesa (LP) e com Portugal?

166

(14) MD não// só tinha ouvido das outras pessoas/ dos amigos/ que já tinham emigrado

para cá// sabia que é um pais onde se fala uma língua de origem latina/ como/ por exemplo/

também era Itália/ onde emigravam muitos moldavos/ por causa de facilidade de aprender a

língua// um dos motivos foi este/ aprender fácil a língua// mas claro que o mais importante

era ter emprego/ e em Portugal havia na altura muito emprego/ era preciso mão de obra//

mão de obra barata/ porque aquilo que muitos dos nossos aceitavam e consideravam um

bom salário/ ordenado/ os daqui/ os portugueses não aceitavam/ achavam pouco

(15) E pode dizer/ o que pensava da LP antes de emigrar/ e o que pensa agora?

(16) MD na altura/ só sabia que era uma língua latim/ agora/ sei que é uma língua

falada por muitas pessoas no mundo/ não sei/ acho que é a sétima ou oitava mais falada/ é

isso?// achei no início muito difícil/ mas agora não me parece tão difícil/ parece-me que

nem gostava assim muito de português/ agora gosto/ sim// gosto mesmo

(17) E já agora/ pode contar/ como é que tem sido esse período inicial/esse processo

de integração? / custou muito? / teve muitas dificuldades?

(18) MD eu penso que nos integramos rápido/ em comparação com outras pessoas/

depende também de pessoa/ eu gostei dos portugueses/ como povo/ e relacionei-me bem

com eles/ desde o início e até agora// mas a integração mesmo foi mais/ diria eu/ através

dos filhos/ da escola dos filhos…ir levar os filhos para escola/ para infantário/ depois

buscar/ falar com a professora/ com a educadora/ depois os filhos fizeram amigos/ assim

conheci os pais dos amigos/ e assim…

(19) E nesse processo de integração/ qual tem sido o papel da LP?

(20) MD ahm/ bem/ é assim/ eu acho que/ para se integrar numa sociedade/ é

importante saber falar a língua …

(21) E dessa sociedade

(22) MD sim/ dessa sociedade/ desse país/ penso que até é o MAIS IMPORTANTE//

mas eu conheço pessoas/ que mesmo não falando um bom português/ integraram-se bem/ e

depois na sua relação como portugueses chegaram a falar melhor/ a dominar o português/

mais tarde// na integração da minha família a língua foi importante e continua a ser

importante

(23) E e o da língua romena (LR)/ que papel tem assumido nesse processo?

(24) MD ah/ a LR deu uma grande ajuda/ pois há muitas palavras parecidas ou quase

iguais/ assim eu chegava às vezes falar com palavras moldavas/romenas/ quando não sabia

a palavra em português/ tinha que dizer de alguma maneira/ ((ri))/ e a gente de cá percebia/

às vezes não/ mas na maioria das vezes percebiam

(25) E mas como se relaciona com LR agora que está em Portugal?

167

(26) MD a LR foi e continua a ser a minha língua materna/ nunca vou esquecê-la/ ou

deixar de falar / É A LINGUA DOS MEUS PAIS/ ((voz trémula e olhos lacrimejantes))/

dos meus avós/ dos meus antepassados// tento em transmiti-la aos meus filhos/ quanto

posso

(27) E mas é a LP/ o que significa para si ?

(28) MD é como se fosse segunda língua/ já que a sei falar/ ou talvez terceira/ quando

penso na língua russa/ que foi a língua de igual importância com o moldavo muito tempo na

Moldávia// depende como olhar/ agora é mais importante que o russo/ é a segunda língua

mais importante…// a ligação que tenho com o português não é tão forte/ se calhar nunca

vai ser/ mas é uma língua que eu respeito muito/ como respeito este povo/ que nos recebeu

aqui

(29) E como é que caracterizava em três palavras a LR?/ e à LP que palavras

associava?

(30) MD LR// ahm mãe/ porque quando penso na minha língua / penso na minha

família/ e a primeira pessoa em que penso/ é a minha mãe/ ((olhos lacrimejantes))//saudade/

tenho sempre saudades de lá//amor/ tenho um amor imenso pela minha língua/ a minha

família/ o meu povo/ o meu país// LP / encontrava também três valores/ se calhar três

qualidades deste povo/ paciência ou calmo// humanidade/ são muito calmos e humanos os

portugueses/ esperança ou confiança / é isto que nos transmite a LP/ viemos aqui para um

futuro melhor/ por isso / nós esta língua/este povo/ este país/ nos dão esta esperança/ a

esperança de conseguir o que não podíamos no nosso país

(31) E pode contar algum episódio que retrate o papel da LR na vossa vida/

lembra-se de um episódio engraçado/ ou difícil/ que tenha a ver com questões de língua?

(32) MD ahm/ não sei/ vou pensar/((pensa))/ é que foram muitos/ agora não me vem

nenhum/ mais interessante// mas/ por exemplo/ lembro-me que o meu filho mais velho

chegou em Portugal dia sete de dezembro/lembro-me até hoje /que no dia oito era feriado/e

no terceiro dia fomos à escola /onde o tinha inscrito// a diretora disse para ir na turma dos

mais novos/ para repetir um ano/ porque ela não acreditava que o meu filho conseguisse

acompanhar os outros alunos/ por causa da língua// eu fiquei muito triste/ pedi que o

deixasse até o final do período escolar / ou do ano escolar/ para ver os resultados dele// eu

tinha muita esperança que ele vai conseguir/ disse que a língua é de mesma origem/ nós

temos o mesmo alfabeto// ah/ pois/ lembro-me que a diretora disse de um ucraniano/ que

não conseguiu// então/ eu disse / mas nós somos moldavos/ não temos nada a ver com a

língua e alfabeto dos ucranianos/ para eles é mais difícil// e/ pronto/ coisas destas// o meu

filho acabou o ano com a turma dele/ não foi preciso repetir o ano/ ele até teve bons

resultados…/ahm/ eu quis dizer com isso que muitas vezes nós /moldavos/ somos

confundidos com ucranianos/ ou russos/ quando /de facto/ nós somos bem diferentes deles/

e a nossa língua é muito parecida com o português

168

(33) E pois é/ compreendo// agora gostaria de saber / com que frequência fala

romeno?/ com quem?/e em que circunstâncias?

(34) MD sempre/ eu no meu trabalho falo pouquíssimo português/ porque estou mais

tempo sozinha// na rua/ quando encontro pessoas conhecidas portuguesas falo/ mas / de

resto/ com as minhas amigas moldavas/ com a minha família de Moldávia/ em casa/ falo

sempre a LR

(35) E portanto/ usa menos a LP que a LR?

(36) MD sim/ talvez se tivesse outro emprego/ falava mais com os colegas de

trabalho/… ou as colegas…//mas eu quero dizer que gosto ler em português/ vou com o

meu filho mais novo à biblioteca/ e trago livros/ lia para ele/ agora ele lê sozinho/ e eu

posso ler para mim ((sorri))

(37) E e em que língua fala com os seus filhos/ em português ou em romeno?

(38) MD em romeno/ claro

(39) E porquê em romeno?

(40) MD porque é bom para eles/ é bom para mim/ é bom para todos// não me

imagino a falar em português com os meus filhos

(41) E ahm/ sim/ mas fala com eles sempre em romeno/ mesmo na hora de fazer os

trabalhos de casa/ por exemplo?

(42) MD não/ estava a dizer em casa/ que falamos em romeno//na hora de fazer os

trabalhos de casa às vezes é preciso explicar em português/ mas mesmo assim eu tenho que

recorrer a língua romena/ porque sou eu que não sei bem explicar em português//nestas

situações vou a net/ depois explico em português com mais confiança//…./depois/ quando

estamos na rua ou em algum sítio onde se encontram portugueses/ pessoas conhecidas/ não

vou falar em romeno/ acho uma falta de respeito (…)

(43) E sim/ sim/percebo

(44) MD eu tento falar sempre que posso em romeno/ para eles não esquecerem a

língua e a cultura materna/ que vêm dos seus bisavós/ dos avós/ dos pais

(45) E a língua e a cultura de origem/ a língua de herança/ que herdaram dos

antepassados/ como tinha referido há pouco// por isso considere importante a aprendizagem

e a manutenção da LR/ é isso?/ há mais algum motivo/ alguma razão de considerá-la tão

importante?

(46) MD ahm/sim/ eu penso que é bom saber mais de que uma língua/ nunca se sabe o

que traz o futuro/ mesmo que não voltemos à Moldávia/ nunca se sabe…/como eles podem

precisar de romeno/ em alguma coisa há de ajudar// eu digo-lhes sempre isso… ahm/ sim/

uma razão muito importante/ os meus filhos estão muito próximos dos avós/ se eles não

169

falarem romeno/ como se entendiam? //acho que é por isso que eles também não se opõem /

não se recusam de falar romeno/têm os dois/ sobretudo o mais novo/ uma ligação forte com

os avós/ nós vamos todas as férias de verão passar lá um mês/ pelo menos…. posso dizer

que a minha mãe e os meus sogros ajudaram muito// quando o mais novo tinha quatro anos/

fomos passar lá um mês e ele não queria falar romeno/ a culpa foi minha/ eu pensava que é

pequeno/ é muito novo para aprender duas línguas no mesmo tempo/ e não insistia muito/

deixava-o falar português / então/ lembro-me que a minha mãe chorou ((olhos

lacrimejantes)) e pediu-me que eu não deixasse acontecer isso// eu prometi que vou fazer

por isso/ mas não é fácil

(47) E portanto/ pelo que percebi/ os seus filhos têm uma ligação afetiva muito

positiva com os avós/ muito próxima// qual é o impacto dessa laço afetivo que os prende

aos avós na relação que eles têm com a LR?

(48) MD ahm/ eu digo que tem um grande impacto/ eu não peço que eles falem a LR/

não ando em cima deles sempre/ eu acho que eles querem mesmo/ sentem isso/ fazem isso

pelos avós/ também tias/tios /primos….não sei/ espero que não me engano

(49) E está a dizer que há uma grande influência por parte dos avós/ isso é muito

bom/ mas e você / que estratégias usa para cumprir com a promessa dada/ como disse há

pouco / à sua mãe// o que faz por isso/ em concreto?

(50) MD eu acho que falar em casa/ conversar em romeno/ é o mais importante//

depois / no fim de semana vamos ter com amigos nossos moldavos/ nestes encontros ou

festas os meus filhos falam com os amigos da idade deles em português// sim/ isso já vejo

cada vez mais//mas com os adultos falam em romeno/ isso acho que já é bom// depois

falamos pelo Skype com a família de lá/ sou eu ou o meu marido que sempre os chamamos

para eles falassem também// depois…participamos nas festas organizadas pelas associações

moldavas/ no Natal/ na Pascoa/ e eles gostam de participar/ decoram poesias/ cantigas /

estão interessados em saber as nossas tradições//… reconheço que em pequenos eu lia para

eles histórias/ contos em romeno/ agora não/ porque eles têm mais para estudar/ não têm

tempo/ estão mais ocupados com a escola/ tem que estudar mais/ e/ sobra pouco tempo para

romeno//…isto é ler/ e escrever/ nunca pus o mais novo escrever // o mais velho sabe

escrever/ penso que ainda se lembra ((ri))/ mas eu acho que não é isto mais importante/não

porque vão saber escrever vão ser mais moldavos

(51) E como acha que isso se reflete na relação dos seus filhos com a LR?/ este apoio

ou esta falta de tempo?/ isto tudo que faz ou não consegue fazer?/e também com a LP?

(52) MD o facto de não ler como dantes/ de não estar mais tempo juntos/ por causa da

escola/ ou das outras atividades extracurriculares/ vê-se no modo como eles falam romeno e

português/ parece que têm mais dificuldades de falar/ principalmente/ o filho mais novo//

por outro lado/ quando falam com a família de Moldávia/ sente-se que esta é uma grande

ajuda // parece que é um pouco assim/ quanto menos eles falarem romeno/ mais falarão

português/ sim

170

(53) E ou seja/ os pais /e os avós/ neste caso/ têm muito que fazer para não deixar

que isso aconteça/ é isso?

(54) MD sim/ muito…

(55) E há pouco falou em associações moldavas/ estas associações moldavas

organizam “escolas de sábado” para as crianças que queiram aprender romeno?/ tem

conhecimento disso?

(56) MD não sei de nenhuma escola/ mas sei de uma/ de duas igrejas nossas (…)

(57) E ortodoxas

(58) MD (…) sim/ ortodoxas/ que no tempo da missa/ quando os pais estão na missa/

as crianças ficam com uma professora moldava/ que ensina poesias/ ensina a nossa cultura/

as nossas tradições// é mais isto/ não é mesmo uma escola

(59) E considera necessário existir estas escolas?

(60) MD sim/ seria bom

(61) E porquê?

(62) MD para melhorar a LR/ a parte oral/ e escrita/ porque não?

(63) E melhorar/ portanto/ a competência oral e escrita da LR

(64) MD hm/ sim…

(65) E e quais são os desafios de ter os seus filhos a crescer em Portugal?

(66) MD desafios são muitos// ninguém que nos ajude// em pequenos não podia um

minuto deixá-los (os filhos) com alguém/ não tinha com quem// depois a língua/ quando é

para ajudá-los nos trabalhos/ ou até educá-los/ e transmitir os valores da nossa cultura/ que

eles já não sentem como nós/ como fazer isto tudo?

(67) E e como é que pensa que podia ser na Moldávia/ crescê-los lá?/ diferente/

claro/mas pensa que seria mais fácil?

(68) MD mais fácil por um lado/ que referi há pouco// por outro lado mais difícil/

tendo em conta a situação financeira/ penso que não lhes podia dar muito daquilo que lhes

dou aqui/ praticar um desporto como natação é muito dispendioso lá/ aqui o meu filho mais

novo faz natação todos os dias/ o mais velho pratica outro tipo de desporto/ e isso tudo sem

grandes esforços da nossa parte dos pais//de facto/ nós estamos cá por eles

(69) E se pudesse escolher/ preferia educar os seus filhos em Portugal/ou na

Moldávia?// e porquê?

(70) MD bem/ esta é uma pergunta difícil// depende/ agora digo que preferia educá-los

aqui/ mas há momentos de grandes duvidas sobre isso// eu penso que faz parte da

171

imigração/ ter estes momentos de duvida/ de confusão/ em que se procura uma resposta e

não se encontra de maneira nenhuma//…mas/ em principio/ penso que faria o mesmo

(71) E e quais são os maiores desafios que você enfrenta como mãe neste país?/ que

ajustes/ mudanças/ acha que teve que fazer como mãe em Portugal?

(72) MD é difícil ser mãe/ uma boa mãe/ em qualquer lado/ mesmo no teu país/ mas é

mais difícil fazer este papel numa terra estrangeira/ e muito mais difícil quando os pais

querem transmitir aos filhos a cultura e a língua do país de onde vem/ às vezes

simplesmente não dá/ eu penso que mudei muita coisa/ mesmo assim talvez não mudei

suficiente/ pensando no facto que aquilo que eu sinto pode ser muito diferente daquilo que

sentem os meus filhos/ que são outra geração// … eu acho// quem teve que fazer estes

ajustes somos nós/ os pais/ os filhos não passam por aquilo que nós passamos//…não sei/

acho que o maior desafio e saber educar os filhos viver dignamente nos dois países/

respeitar as duas culturas/ aprender as duas línguas/ e gostar das duas// é um desafio

grande/ que eu todos dias penso como fazer para o enfrentar

(73) E pois é/ compreendo// mas que dificuldades enfrenta no apoio à

aprendizagem da LR pelos seus filhos?

(74) MD ahm/ dificuldades/…não sei se tenho dificuldades/ se calhar é preciso mais

esforço por nossa parte/ dos pais// por exemplo/ eu nunca tentei pô-los escrever em romeno/

e penso que não seria assim uma coisa de outro mundo// é o mesmo alfabeto// eu na idade

deles escrevia com alfabeto russo/ cirílico/ uma língua de origem latina/ depois mudamos

para o alfabeto latino/ que é totalmente diferente do russo/ e conseguimos

(75) E mas disse/ há pouco/ que não é assim tão importante a escrita/no entanto acha

que lhes fazia bem/ é isso?

(76) MD sim/ continuo a dizer que a escrita não é o principal/ mas conheci pais russos

que fazem um grande esforço/ acho eu/ de ensinar os filhos o alfabeto cirílico/ e na escola

eles têm o latino// eu pensei no início que isso deve ser muito difícil/ mas depois disse que

se calhar não é assim muito/ não assim tanto// eu também aprendi dois alfabetos muito

diferentes/ na escola aprendia russo como aprendia moldavo/ igual/ e depois ainda o

francês// isso foi há quase quarenta anos// hoje em dia/ esta geração parece aprender muito

mais fácil as línguas / têm tudo para poder aprender / portanto/ às vezes eu penso que tenho

pena demais deles ((ri))

(77) E ou seja/ não deve poupá-los tanto/ é isso?

(78) MD sim/ eu reconheço que devia insistir mais na aprendizagem da LR

(79) E mas o que contribui/concorre para essas dificuldades?/ para essas falhas suas

digamos assim?

172

(80) MD pois/ é mais falta de tempo/ falta de organização/ se calhar/ por nossa parte/

dos pais// deixamos assim ir correndo as coisas sem mudar nada e dar importância a outras

coisas menos importantes// eu sei/ mas…

(81) E sendo que a responsabilidade é de quem na manutenção da língua materna/

LH dos seus filhos?/ sobretudo na ausência das ditas escolas de sábado/ e de outras ajudas?

(82) MD é dos pais/ claro/ só dos pais… a LR em Portugal não é considerada entre as

mais importantes/ nem acredito que nos próximos anos terá um valor maior/ por isso não

espero que será feito alguma coisa para dar importância a essa língua

(83) E sim/ é uma língua minoritária/ podemos dizer assim//…ahm/ bem/ percebi

que se responsabiliza muito pela aprendizagem da LH dos seus filhos// agora quero dizer-

lhe/que muitos dos estudos das últimas três décadas revelam que os alunos de culturas

diferentes não alcançam o sucesso académico dos alunos da cultura dominante/ da cultura

portuguesa/ neste caso// acha que isso poderia ser verdade?// porquê acha que isso

acontece/ se concordar com isso?

(84) MD não sei/ se é verdade/ mas se for / não acredito que os moldavos fazem

parte dos mais fracos// claro que eu não posso generalizar a partir de uns poucos moldavos

que eu conheço como alunos bons e muito bons/ mas custa-me acreditar// por outro lado/

sim/ eu sei que não é nada fácil no início/ a integração para muitos é muito difícil/ o lado

emocional às vezes não reziste às dificuldades/ e então parece que tudo corre mal// as

pessoas são diferentes e passam pelas dificuldades de maneiras diferentes

(85) E e agora / pensa nas culturas portuguesa e moldava/ acha que estas duas

têm mais características diferentes ou comuns? / se poder dar exemplos…referir-se

concretamente…

(86) MD têm diferentes e têm comuns/ … a Pascoa festeja-se mais / enquanto cá em

Portugal/ vejo dar mais importância a Natal/ estas duas festas têm o mesmo significado lá e

cá/ mas têm tradições que são diferentes/ bem/ sei que diferem de uma zona para outra até

no mesmo país/ mais até de um país para outro// na Moldávia não há Carnaval// depois/ há

muitos dias santos que coincidem com os nossos/ como somos cristãos também// a cultura

da escola é bastante diferente/ eu ainda não me habituei com certas coisas/ como por

exemplo comprar livros todos os anos/ gastar tanto dinheiro nos livros/ lá se gasta só nos

cadernos// o aceso à escola ou ao professor/ não podemos incomodar muitas vezes o

professor/ mas uma mãe quer saber os resultados do seu filho não só dos testes e da nota

final…

(87) E ok/ percebi/ agora uma pergunta assim/ gostaria de ver os seus filhos casados

com portuguesas ou alguém de sua própria cultura? / e porquê?

(88) MD ((ri)) ahm/ não sei se eles me vão dar ouvidos/ mas eu gostaria ter noras da

minha culturas/ não estou a pensar em mim ((ri))/ mas estou a pensar que eles se

entendam// se fosse de outra cultura/ paciência/ não vou interferir com nada// eu de facto/

173

gosto cada vez mais de portugueses/ portanto/ quem sabe/ se daqui há uns anos/ quando

eles se vão casar/ eu não estiver até muito contente ter uma nora portuguesa

(89) E alguns pesquisadores acham que ter duas ou mais culturas pode ser um

problema/ outros dizem que é bom/ qual e a sua posição quanto a esta questão?

(90) MD ah/ eu penso que é sempre bom conhecer mais de que uma língua/ mais de

que uma cultura// …uma pessoa não perde com isso/ pelo contrário/ só ganha

(91) E quais são as vantagens e desvantagens de ter duas culturas/ duas línguas /

dois países/ para os seus filhos/ para si/ para a sua família como um todo?

(92) MD vantagens/ como disse/ são muitos // uma pessoa com muitos

conhecimentos tem uma autoestima maior que outra com menos conhecimentos//há pessoas

que se sentem mais especiais tendo duas culturas/ mas há outras que não gostam que

alguém os olhem diferente/ sentem-se talvez confusos//eu penso que podemos só ganhar em

ter duas culturas/ isso lhes digo aos meus filhos/ nunca se sentirem mal por causa de serem

assim/ não têm de que…

(93) E tenciona algum dia voltar para o seu país de origem?

(94) MD sim/ ainda sonho com isso ((voz trémula))…talvez nunca voltarei/ mas

por enquanto penso que um dia vou voltar

(95) E porquê?

(96) MD eu quando parti da minha casa fiz uma promessa/ a mim própria/ voltar/

nem sequer imaginava que vou ficar tantos anos/ cada ano vejo menos claro esse dia de

voltar/ mas o vejo ainda/ ainda aparece nos meus sonhos….quem sabe…um dia … talvez…

(97) E então/ é porque deve sentir ainda uma ligação forte com a sua terra?/ é

isso?

(98) MD sim/ mas quem não sente isso?/ penso que todo o imigrante sente isso/

talvez não reconhece/ mas no fundo do coração/ sempre tem saudades da sua terra// eu

tenho saudades como tinha no primeiro ano/ não passa um dia sem pensar neles/ na família

de lá….

(99) E esta foi a última pergunta/ agradeço a sua disponibilidade// se tiver mais

alguma coisa que queira acrescentar/ pode fazê-lo

(100) MD ((ri)) depois de tantas perguntas/ penso que não//… de facto/ há uma coisa

que eu às vezes estou a pensar/ era bom que na escola os professores valorizassem mais a

língua de casa destas crianças imigrantes/ o meu filho acabou o terceiro ano e nunca foi

perguntado por alguém dos professores/ auxiliares /se ele fala em casa outra língua/ se sabe

falar ou não a língua materna/….foram duas ou três vezes que a professora o perguntou/

como se festeja no teu país o Natal ou a Pascoa/ e mais nada

174

(101) E sim/ concordo/ obrigada/ tem alguma dúvida que queira esclarecer?

(102) MD não/ obrigada e eu.

Transcrição da entrevista A2

Data de realização: 12 de junho de 2016

Daniel – D

Entrevistadora – E

Número de intervenções: 1-123

(01) E vamos começar a nossa entrevista// não te importas que eu grave a

entrevista?

(02) D não

(03) E vou-te perguntar coisas que tu sabes/ portanto não te preocupes/ é

preciso só dares a tua opinião/ ahm/ dizeres o que pensas acerca da pergunta/ ok?

(04) D sim

(05) E e para começar vou perguntar onde é que nasceste?

(06) D nasci em Portugal/ mas os meus pais não/ os meus pais nasceram na

Moldávia

(07) E portanto tu és de cá/ e eles são de lá/ da Moldávia/ hm/ percebi//ahm

e se eu perguntar qual é a tua nacionalidade/ qual seria então a tua resposta?

(08) D a minha resposta era que eu tenho a nacionalidade portuguesa

(09) E ah/ então a tua nacionalidade é portuguesa/ é isso?

(10) D não/ também tenho a nacionalidade moldava

(11) E hm/ olha/ mas isso de ter duas nacionalidades ou dupla nacionalidade

é muito interessante// podes explicar-me isso melhor/ porquê tu tens duas

nacionalidades?

(12) D sim/ isso é assim// eu nasci em Portugal e os meus pais e os meus

avós nasceram na Moldávia

(13) E hm/ portanto tu nasceste em Portugal/ mas a tua origem é moldava/

ou seja os teus pais/ os teus avós são moldavos/ o que te confere esta dupla

nacionalidade e faz de ti um português de origem moldava// e como é que tu

sentes// que és primeiro português e depois moldavo/ ou moldavo e depois

português?

175

(14) D eu sinto que sou moldavo/ e depois português

(15) E portanto quando alguém te perguntar quem és/ tu dizes isso?

(16) D ahm/ depende/ depende de quem pergunta

(17) E ((ri)) / como assim?/ a mim respondeste assim/ a outra pessoa

respondes de outra maneira?

(18) D ahm/ ((sorri)) aos moldavos eu digo assim/ aos portugueses posso

dizer que sou português/ depois posso dizer que os meus pais são de Moldávia

(19) E hm/ interessante essa tua estratégia/ mas há pouco me disseste que a

tua nacionalidade é portuguesa/ no início mesmo

(20) D ah/ sim / mas isso porque me perguntou onde nasci

(21) E bem/ agora percebi// estou a ver que tenho de estar atenta com as

perguntas que te dou ((sorri))// mas qual é a língua que usas no teu dia-a-dia?

(22) D português

(23) E português/ hm/ e romeno/ não falas?

(24) D romeno também/ mas na escola é português/ romeno é só em casa

(25) E mas falas todos os dias romeno?

(26) D sim

(27) E hm/ falas português e romeno todos os dias/ mas como estás na

escola a grande parte do dia/ acabas por falar mais português/ é isso?

(28) D sim/ é isso

(29) E pois/ eu estou a ver que no teu desenho escreveste palavras em

romeno e em português/ e também percebi que falas com a tua avó pelo Skype/ ou

seja/ é o pai que fala e o pai chamou-te para lhe falasses também/ é ou não é assim?

(30) D sim/ é o meu pai que fala/ mas eu também quis falar com a minha

avó

(31) E depois tu dizes ao irmão para que ele também fosse falar?

(32) D sim

(33) E mas dizes em português/ porquê?/ vocês falam português?

(34) D às vezes português/ às vezes romeno

(35) E e é fácil para ti falar romeno?

(36) D é/ às vezes tenho algumas dificuldades/ algumas palavras / mas a

maioria eu sei

(37) E porquê achas que é fácil?

(38) D porque eu aprendo com os meus pais em casa e porque vou muitas

vezes à Moldávia e aprendo muito com os meus avós// eu quando não sei palavras/

pergunto-lhes

(39) E hm/ os pais ajudam/ mas também os avós são uma grande ajuda//

sim/ acredito//pois é/ ahm/ e pelo facto de ires muitas vezes à Moldávia já és um

sortudo/ muito bem// mas tu gostas de falar romeno ou falas porque os teus pais

querem isso/ ou porque os teus avós não percebem português?

(40) D eu gosto/ não/ os meus pais não me pedem// eu quero falar

(41) E e achas que é importante saber falar essa língua?

176

(42) D sim/ acho

(43) E porquê?

(44) D porque assim aprendo mais línguas e sei falar melhor// se não

fosse tão importante eu quando ia a Moldávia não sabia falar com os meus avós

(45) E e o que sentes quando falas romeno?

(46) D sinto-me especial/ sinto-me diferente da maioria dos meus colegas

que só sabem falar português

(47) E e que outras línguas sabes falar? / sem ser português e romeno

(48) D inglês

(49) E hm/aprendes na escola/e em casa falas com alguém inglês?

(50) D com o meu irmão/ o meu irmão tem 24 anos e sabe falar muito

bem inglês//ele às vezes ensina-me palavras

(51) E podias ter escrito algumas palavras em inglês no teu desenho/ mas

não o fizeste porquê?

(52) D porque eu não falo inglês tão bem como português e romeno// em

inglês só sei palavras e umas frases

(53) E hm//ahm/ D/ onde é que que tu sentes que é a tua casa/ aqui em

Portugal/ ou na Moldávia?

(54) D na Moldávia

(55) E ah é ?/ e aqui em Portugal não tens casa?

(56) D tenho/ também tenho

(57) E não sentes que a tua casa é aqui

(58) D sinto

(59) E porquê dizes então que a tua casa é lá?/ deves ter uma razão para

isso

(60) D porque os meus pais e os meus avós têm lá a casa deles e eu

gosto de estar lá

(61) E se gostas assim tanto/ o que significa para ti aquela terra?

(62) D significa a terra dos meus avós/ onde eu vou de férias// as

minhas férias de verão são muito interessantes

(63) E estou a ver que aquela terra é ligada sobretudo aos avós/ tanto

que desenhaste-te a falar com a tua avó// quando falas dos avós a que avós te estás

a referir?/ aos avós paternos ou maternos?/ ou aos dois?

(64) D os pais da minha mãe já faleceram

(65) E mas tu os conheceste?

(66) D eu conheci só a minha avó

(67) E e gostavas muito da tua avó/ sendo que agora depois de ela ter

falecido / tu sentes-te muito próximo daquela terra

(68) D sim

(69) E ahm/e quando vais de férias ficas mais na casa dos avós

paternos ou na casa dos avós maternos?

177

(70) D fico mais na nossa casa/ nós também temos lá casa/ a nossa

própria casa/ também fico na casa dosa avós paternos

(71) E já sabemos que aquela terra é muito importante para ti// mas

então o que significa para ti Portugal?

(72) D Portugal é o lugar onde eu tenho os meus amigos

(73) E portanto tu relacionas esta terra mais aos amigos// estes amigos

são portugueses ou moldavos/ ou tens de uns e dos outros?

(74) D tenho dos dois

(75) E mas gostas mais de falar português ou gostas menos?

(76) D gosto de falar mais português/ porque falo com os meus amigos

e com a professora// porque é mais fácil/ porque a maior parte do tempo falo

português

(77) E e o que sentes quando falas português?

(78) D normal/ como todos os meus amigos

(79) E e que outras línguas ouves falar na tua casa/ ou quando estás

com os teus amigos moldavos e/ou familiares?

(80) D oiço também russo

(81) E alguém dos mais crescidos fala russo ou é na TV que vês

programas em russo?

(82) D os meus pais e o meu irmão sabem falar russo// mas também

vejo programas em russo

(83) E mas quando falas romeno?/ e com quem?

(84) D falo com os meus pais e com o meu irmão

(85) E falas romeno com o teu irmão?

(86) D sim/ mas também falo português com ele

(87) E lá em casa/ em que momentos do dia falam mais a língua

romena?

(88) D de manha e à tarde/ quando chego da escola/ e o meu irmão da

faculdade/ahm/ e os meus pais do trabalho

(89) E e na escola/ tens colegas moldavos ou romenos?

(90) D sim/ tenho// uma colega de Moldávia e uma de Roménia

(91) E falas com elas que língua no recreio?

(92) D português/ e romeno também/ com a colega moldava/ mas

poucas vezes

(93) E e com a colega romena não porquê?

(94) D porque ela não fala romeno / ela percebe mas não fala

(95) E também sabes ler em romeno / ou só falar?

(96) D sei ler também/ um pouco// não percebo lá muito bem dos

acentos/ não dos acentos/ da (…)

(97) E da pronuncia/ pois é preciso que alguém dos mais crescidos te

ajude// tens essa ajuda?

178

(98) D sim/ dantes era a mãe que lia/ agora sou eu// a mãe é que me

ajuda quando eu não sei

(99) E o que tu achas que te tem ajudado a aprender romeno?

(100) D as minhas férias na Moldávia/ falar com os meus pais e os

meus avós

(101) E como é que fazes para falar com os teus avós quando está cá

em Portugal?/ que meios é que usas?

(102) D falo pelo Skype/ e também pelo telemóvel

(103) E e com que frequência falas/ quantas vezes por semana?

(104) D todos os fins de semana/ mas também noutros dias/ durante a

semana também

(105) E hm/ e tens outros contactos com a língua romena/ por

exemplo através da TV/ da Internet ?

(106) D na TV eu não vejo nenhum programa em romeno/ eu tenho

dois canais romenos/ mas nunca vejo nenhum/ nem eu/ nem os meus pais

(107) E sem ser em casa e na escola/ com quem mais costumas falar

romeno?

(108) D com os meus amigos moldavos/ nos fins de semana// tenho

aqui o meu primo/ falo com os pais dele em romeno

(109) E com os pais do teu primo falas romeno/ e com o teu primo

falas português?

(110) D sim

(111) E ele não sabe falar romeno?

(112) D sabe/ mas o português é mas fácil/ tanto para mim como para

ele

(113) E hm/ olha D/ gostavas ou não que o romeno fosse uma língua/

uma disciplina na tua escola?

(114) D não

(115) E porquê?

(116) D porque assim deixava de ser especial na minha escola

(117) E ((ri)) boa/ muito gostas tu de ser especial/ acho muito bem// mas

gostavas de aprender o romeno com outras crianças moldavas?

(118) D sim / isso sim

(119) E olha/ não te vou perguntar mais nada/ agora só queria saber se

achaste difíceis estas perguntas/ foi difícil para ti responder a estas perguntas?

(120) D não/ não foi difícil

(121) E e gostaste de o fazer?

(122) D sim/ gostei

(123) E muito obrigada então.

179

180

Anexo 3B

Transcrição das entrevistas B1 e B2

Transcrição da entrevista B1

Data de realização: 11 de junho de 2016

Entrevistadora – E

Mãe da Cristina - MC

Número de intervenções: 01-124

(01) E Há quantos anos vivem em Portugal?

(02) MC Há dezassete// primeiro veio o meu marido/ eu vim seis meses

depois/ sem a A (filha mais velha)// um ano depois eu fui buscar a A/ e fiquei a

espera dos papeis/ demorou mais de um ano

(03) E as burocracias todas ((sorri))

(04) MC depois cheguei com a minha filha mais velha/ deixa-me fazer

as contas// <SIL> ((pensa)) portanto/ em 2001 cheguei com a minha filha mais

velha/ e em 2004 tive a C (a filha mais nova)

(05) E o que vos trouxe a Portugal?

(06) MC a vida nos trouxe/ a situação financeira// para ser sincera/

sabe porquê escolhemos Portugal?// nós não escolhemos o país/ o país escolheu-

nos (( risos))// Portugal era o país onde era mais fácil abrir o visto

(07) E hm

(08) MC na altura as pessoas de Moldávia iam todas para Portugal/ e

pronto/ nós fomos também para Portugal

(09) E teve algum contacto anterior com a língua portuguesa (LP) e

com Portugal antes de emigrar?

(10) MC nada/ nenhum

(11) E nem sequer sabia que a língua é de origem latina e tem a ver

um pouco com a nossa língua?

(12) MC tinha/ mas…

(13) E uma ideia/ assim vaga/ é isso?

(14) MC sim

(15) E hm/ já que não sabia nada da LP nem sequer pensava nessa

altura na LP/ antes de emigrar// pode dizer o que pensa agora?

(16) MC ahm/ <SIL> ((pensa))

(17) E pode fazer uma comparação entre a ideia que tinha quando

chegou e a ideia que tem agora/ da LP?

181

(18) MC na altura pareceu-me difícil/ eu até chorei// eu estava a dizer

que nunca vou falar esta língua// na altura foi muito difícil/ mas depois quando

passou um mês/ já comecei a perceber/ passado três meses/ eu já comecei a falar

(19) E hm/ foi rápido/ e agora/ gosta mesmo de falar português?

(20) MC agora/ às vezes até falta-me palavras da minha língua ((ri))

(21) E sendo que enriqueceu muito o seu vocabulário português?

(22) MC isso não quer dizer que não haja palavras que eu não saiba// há

palavras que eu vou perguntar à A / ou vou à Google ou…/ pois eu ainda não

estudei o português…

(23) E e como tem sido o processo de integração?/ lembra-se?

(24) MC ao princípio sim/ ao princípio claro/ é tudo diferente// eu não

estava habituada/ estava a dizer que as coisas não estão bem/ não gostava de

muitas coisas/ que detestava até

(25) E já agora/ que estamos a falar de integração/ como é que fez

para integrar a sua filha na escola?

(26) MC ah/ com a A foi muito fácil/ entreguei-a na escola/ e daí para a

frente só recebi elogios

(27) E ela foi no ano dela/ com a turma dela?// não foi necessário

andar com o ano anterior// como já tinha acontecido a outros filhos de

imigrantes

(28) MC ah/ não/ com a nossa filha aconteceu uma coisa engraçada/

eu fui inscrevê-la na escola mais perto do meu trabalho/ eu trabalhava no hotel

Eduardo VII e um pouco mais para cima havia uma escola primaria// eu escolhi

a escola que estava mais perto do meu trabalho // então lá na escola eu disse/

que não interessa o ano/ que eu queria uma vaga para um ano qualquer// para ela

só ouvir a língua/ porque ela não sabia nem uma palavra//e /como eu contava/

nós chegamos em janeiro/ portanto a meio do ano letivo/ eu já contava que

aquele ano estava perdido/ que era o terceiro//ela começou lá o terceiro e em

janeiro chegámos aqui o terceiro já estava pela metade e eu disse vamos perder

este ano depois vamos começar o terceiro aqui// e queria uma vaga qualquer /

nem que seja para o sexto/ só para ela ouvir a língua// então conseguimos uma

vaga no quarto ano/ e eu disse que não me importo/ pois para o ano ia fazer o

terceiro// então ela foi para o quarto e continuou/ não sendo necessário voltar

para trás

(29) E boa/ interessante <SIL>// mas então/ acha que foi

importante o papel da LP na vossa integração/ nessa integração?

(30) MC na nossa sim/ na da A/ como estou a dizer/ ela integrou-se

muito fácil// se bem que eu ouvi pessoas/ alias uma pessoa a dizer que uma mãe

que tinha a filha nesta escola teve de mandá-la de volta à Ucrânia/ pois ela não

se conseguiu integrar// e com a A foi só elogios

(31) E hm/ e papel da língua romena (LR) neste processo/ qual tem

sido?

182

(32) MC sem duvida/ foi uma grande ajuda/ ajudou muito

(33) E como se relaciona com a LR/ agora que está em Portugal?

(34) MC nós em casa falamos três línguas/ com a filha mais velha eu

falo moldavo/ às vezes português // com a mais nova falo mais português e

russo// como a língua do pai é russa/ ele fez questão ela saber russo // lá na

Moldávia toda gente sabe falar russo e enquanto os pais dele (os avós) não

sabem falar moldavo…// assim sendo/ ela fala mais russo do que moldavo//

mas percebe moldavo/ percebe o que eu falo com a A

(35) E e a mãe nunca fez questão que a filha mais nova falasse

moldavo/ e não insistiu com a mais velha para ela manter a LR?

(36) MC não insisti/ com a mais velha não insisti// com a mais nova

insisti que a sua primeira língua fosse português// porque eu ainda me lembro

que o meu marido queria que ela aprendesse russo/ mas eu queria falar nos

primeiros dois-três-quatro anos português/ eu falei com ela só português/ que eu

não queria que ela depois fosse para escola ou jardim de infância e tivesse o

sotaque de russo// porque tem aqui vizinhos (ucranianos) que falam mal

português e melhor russo/ mas eu não concordo// eu achei que ela/ que a

primeira língua dela tem de ser português// e hoje é assim/ a língua que ela

melhor conhece é português/ fala russo mas não muito bem e fala muito pouco

moldavo// mas eu penso que é assim que tem de ser/ que a língua do país onde

ela vive tem que ser a primeira língua/ <SIL> /só começamos a falar com ela

russo a partir dos quatro ou cinco anos

(37) E mas e a sua relação com a LR/ qual é?

(38) MC é a língua do meu país…

(39) E e se eu lhe perguntasse agora qual é a sua língua materna?

(40) MC a língua moldava continua a ser a minha língua materna/ sem

duvida alguma// no entanto eu respeito muito a LP e considero que é muito

importante saber falar um bom português// alias/ depois de tantos anos/ é mais

que necessário falar bem português

(41) E sim / percebi // agora podia pensar e dizer/ como é que

caracterizava em três palavras a LR?

(42) MC a LR ?/ ahm < SIL>// não sei/ família/ é a única coisa que

eu tenho lá/ de que tenho saudades// ahm/ não sei que outras palavras podia

dizer…

(43) E e à LP que palavras associava?

(44) MC hospitalidade/ acho o povo português hospitaleiro e

quando penso na LP eu penso no povo deste país e também na cultura dele/

<SIL>// que outras palavras?/ talvez confiança/ viver tantos anos num país

significa ter confiança neste povo/ ter confiança numa vida melhor neste país

(45) E pode contar algum episódio que retrate o papel da LR/LH

na vossa vida, ou um episódio engraçado / difícil que tenha a ver com questões

linguísticas?

183

(46) MC ahm/ <SIL>// agora de repente não me lembro/ posso dizer

que houve muitos destes episódios/ que aconteceu na nossa família?

(47) E também na família/ mas não só// que tenha a ver com a

língua/ ou melhor/ com as línguas que fazem parte da sua vida/ português/

moldavo/ russo

(48) MC <SIL> ((a pensar))

(49) E bem/ podemos continuar e se/ entretanto/ se lembrar pode

intervir em qualquer altura/ para contar// pode ser?

(50) MC sim

(51) E já percebi com quem e que línguas fala na sua família/

gostaria de saber com que frequência fala romeno/ moldavo com a sua filha

mais velha? // e em que circunstâncias?

(52) MC não sei dizer/ é uma coisa automática// falo sem pensar/

inconscientemente// mas também posso falar português sem pensar // penso que

falo todos os dias moldavo// nos últimos tempos acontece falar mais a LP/ mas

penso que não passa um dia sem eu falar moldavo/ ao menos umas palavras

(53) E contudo/ não reparou quando fala estas palavras?/ que

situações/ circunstancias são essas?

(54) MC ((sorrir)) quando estou enervada/ posso começar em

português e acabo em moldavo/ também quando lhe quero falar mais depressa

sobre alguma coisa/ sempre uso as duas e até as três línguas/ o russo também//

faço uma mistura das três// lembro-me da A quando era pequena/ e isso é uma

coisa que comigo também acontece/ ela mal via a cara do pai falava russo/ via a

minha cara e falava moldavo ((risos))// eu virava-me para a filha mais velha/ era

moldavo// virava-me para a mais nova/ era português//e virava-me para o meu

marido/ e era o russo// agora não separo bem estas três/ misturo

(55) E e destas três línguas/ é a LP que usa mais?

(56) MC sim/ mais o português

(57) E porquê?

(58) MC no tempo do meu trabalho/ com os vizinhos do meu prédio/

obviamente que falo português// se em casa também uma parte do tempo uso

português/ claro que assim posso dizer que das três línguas e a LP que eu falo

mais// <SIL> eu acho que até já sonho em português

(59) E e na hora de fazer os trabalhos de casa/ em que língua

prefere ajudar a C?

(60) MC em português/ posso explicar/ se não souber em

português/ também em russo

(61) E e neste tempo todo/ alguma vez considerou importante a

aprendizagem e manutenção da LR?

(62) MC sim// alias /nós nos últimos anos já andamos a dizer com a

filha mais velha que temos de falar com a pequena mais moldavo// para ela

praticar também/ agora que sabe russo ela não se vai esquecer

184

(63) E e de facto/ qual é a razão que a leva querer que a sua filha

saiba a LR?

(64) MC para falar com os meus / com a família de lá // mas também

quero que ela conheça a minha língua

(65) E (a mãe) também tem direito ((ri))// e qual acha que é a

relação das suas filhas com a LR?/ acha que a filha mais velha tem uma relação

próxima / quer falar a LR/ fá-lo com gosto?// e a filha mais nova/ com o russo/

neste caso?

(66) MC não sei se a A terá uma relação próxima com o moldavo/

ela tem uma relação mais próxima com a LP// se gosta de falar/ eu diria que

gosta/ se não gostasse/ ela não ia falar/ digo eu// com a C/ ela fez questão de

aprender a falar russo/ queria agradar ao pai/ penso eu// porque eu falo tanto

russo/ como moldavo// mas o pai só fala russo

(67) E já frequentou uma escola/ nos sábados/ para aprender russo?

(68) MC andou pouco tempo numa escola ucraniana/ mais pela

companhia/ tinha lá amigas// depois chegou um tempo quando eu não sabia

explicar umas palavras em ucraniano e aí parámos// a língua dos avós do pai é

ucraniano/ mas apesar de muitos acharem que é muito parecido com russo / não

é assim tanto// há palavras parecidas / mas há outras que não têm nada a ver

(69) E também tem conhecimento de associações moldavas que

organizam estas “escolas de sábado” para as crianças que queiram aprender

romeno?/ alguma vez se interessou por saber isso?

(70) MC não/ de facto não/ como já disse/ eu deixei para mais

tarde o moldavo/ para não criar uma confusão na cabeça dela// e não ouvi destas

escolas/ não tenho certeza/ mas acho que não há

(71) E referiu um pouco antes que junto com a filha mais velha

tencionam começar a falar moldavo com a mais nova/ ajudá-la para praticar

também moldavo// então considere que chegou a altura certa/ e que já não a vai

confundir?/ como é que pensa que vai fazer isso?/ que estratégias vai usar para

tal?

(72) MC sim/ poderíamos começar/ eu penso que falando com

ela moldavo pouco a pouco/ no início menos frases/ com o tempo mais/ ela

começaria a falar moldavo/ porque a C tem facilidade em aprender línguas// eu

penso que ela aprendeu russo que é mais difícil/ e não vai aprender moldavo/

que é mais fácil?

(73) E não acha que neste caso uma escola de sábado podia

ajudar?

(74) MC talvez sim

(75) E tirando as ditas escolas de sábado/ de quem fica a

responsabilidade na manutenção e desenvolvimento da língua/ alias DAS

LÍNGUAS das suas filhas?

185

(76) MC sem dúvida alguma/ a responsabilidade é toda dos

pais// mas é difícil realmente tomar decisões que nós sabemos que podem

prejudicar os nossos filhos

(77) E é difícil ter os seus filhos a crescer aqui?/ quais são os

desafios de ter os seus filhos a crescer em Portugal?

(78) MC a dificuldade aqui é de não ter a família/ isso faz muita

falta aos nossos filhos// não ter aqui avós /tios / tias/ no fim de semana/ primos/

porque na segunda feira toda gente diz que teve com os primos / tios/ avós/ e os

nosso não tem isso// ahm/ desafios/ é a diferença de vida / pois aqui é difícil/

mas lá era ainda mais difícil// todos os dias temos novos desafios

(79) E como por exemplo?

(80) MC são desafios de todos os pais/ desafios normais/ como educar

um filho de outra geração que nossa/ muito mais acelerada/ em tudo// de

explicar coisas que no nosso tempo eram outras/ totalmente diferentes// temos

que mudar com eles/ talvez educar-nos a nós próprios e depois a eles

(81) E como é que pensa que podia ser na Moldávia/ crescê-los lá?

(82) MC mais difícil/ em termos financeiros…

(83) E emocionalmente melhor / a nível dos afetos /é isso?

(84) MC <SIL>/ talvez

(85) E e se pudesse escolher/ preferia educar os seus filhos em

Portugal ou na Moldávia?/ e porquê?

(86) MC hoje/ depois de estes anos/ aqui// não vejo de outra maneira

(87) E e se tivesse que voltar o tempo para trás?

(88) MC também depende da situação financeira/ se eu tivesse lá boa

situação financeira claro que eu não vinha para aqui/ preferia lá ficar

(89) E mas quais são os maiores desafios que você enfrenta como mãe

neste país?/ que ajustes acha que teve que fazer como mãe em Portugal?

(90) MC ahm/ ajustes? <SIL>/ ah/ claro que tive que fazer ajustes//

lembro-me que eu estava a trabalhar no restaurante/ e quando fiquei gravida de

C tive que mudar a minha profissão porque a minha filha era antes de tudo e

aquilo que eu não concordava na altura e não gostava era que eu só podia estar

com ela quatro meses/ depois voltar a trabalhar // isso para mim era fora de

questão// eu disse que vou mudar tudo/eu não vou por a minha filha com quatro

meses em nenhuma creche// e aí eu ouvi a falar da profissão de porteira / que eu

não conhecia na altura/ assim eu comecei a procurar um emprego e com oito

meses de gravidez comecei o meu contrato de porteira// eu fiz esta mudança

exatamente para poder ficar com ela o tempo que precisar/ pensei na altura até

aos três anos// só que depois eu gostava de ficar naquele emprego/ era melhor

para mim/ mas fiz esta mudança por causa de dar mais atenção a minha filha//na

Moldávia as mães ficam pelo menos ate aos dois anos em casa a cuidar dos

bebés/ senão até aos três// por isso eu senti que tenho de mudar alguma coisa

186

(91) E sabe que/ muitos dos estudos das últimas três décadas revelam

que os alunos de culturas diferentes não alcançam o sucesso académico dos

alunos da cultura dominante// acha que é verdade?/ tirando o caso da sua filha

mais nova/ não é ?/porquê acha que isso acontece?

(92) MC tirando o caso da minha filha/ eu conheço mais casos de sucesso

do que de insucesso// portanto eu diria o contrário//os alunos de culturas

diferentes que não têm bons resultados/ isto pode acontecer por vários motivos//

a língua diferente/ a falta de ajuda da parte dos pais e dos professores//afinal

todos somos diferentes/ cada um pode o que pode/ mas uns precisam só de um

empurrãozinho// este empurrão na hora certa pode resolver tudo// sempre é mais

fácil para os de cá/ digo isto a pensar na língua

(93) E acha que as culturas moldava e portuguesa têm mais

características diferentes ou comuns? /pode dar exemplos?

(94) MC ao principio eu achava tudo diferente/ e não gostava de

nada// tudo era o contrário// aquelas coisas mesmo da escola era claro não gostar

/ pois para mim era normal aquilo que eu conhecia// mas depois fui-me

habituando// e hoje até posso dizer que acho o contrário/ hoje já não concordo

com coisas de lá / já estou habituada ao de cá // os tempos também mudaram /há

dezoito anos atrás na Moldávia era uma coisa / agora outra //<SIL> ((pensa))//

claro que encontrei coisas comuns/ por exemplo uns dos feriados santos// afinal

nós (os moldavos) somos também cristãos// mas parece-me que na Moldávia as

pessoas respeitam mais as tradições/ e estou a pensar nas tradições que temos de

Natal e de Páscoa/ que aqui acaba por ser baseado mais no que é material/ nas

prendas/ os doces/ a comida/ mas o significado espiritual destas festas fica para

trás / esquecido// mas como estava a dizer não sei se na Moldávia não

acontecera a mesma coisa// conclusão minha/ eu não sinto muito diferentes as

nossas culturas/ isso é sinal que eu me habituei a este modo de vida/ mas que

também não é assim tao diferente (a cultura portuguesa) da cultura moldava

(95) E agora vou perguntá-la se gostaria de ver as suas filhas casadas

com portugueses/ ou alguém de sua própria cultura?/ porquê?

(96) MC eu posso gostar ou não gostar/ eu sei que a A nem quer ouvir

dos nossos ((ri))

(97) E hm ((sorri))

(98) MC com a C ainda não se fala disso/ mas penso que vai ser igual

(99) E hm/ mas porquê?/ de onde esse não gostar?

(100) MC não sei/ a A nem quer ouvir dos de Leste (…)

(101) E será uma vergonha/ ou uma revolta?/ não percebeu?

(102) MC de facto/ ela disse muitas vezes que tem vergonha de dizer que

é moldava/ mas nunca tentei conversar com ela para perceber o que vem por trás

desta vergonha

(103) E hm/ pois/ seria interessante saber porque ela acha isso// mas e

agora/ quanto à sua posição// alguns pesquisadores acham que ter duas ou mais

187

culturas pode ser um problema/ outros dizem que é bom// qual e a sua posição

quanto a esta questão?

(104) MC ah/ eu não vejo nenhum problema/ até é bom ter mais do que

uma cultura// as minhas irmãs uma emigrou para Itália/ outra está na França//

quando falamos/ pelo Skype por exemplo/ elas contam coisas de lá/ eu de cá//

acho que é muito bom conhecer outras culturas

(105) E portanto/ só vê vantagens em ter duas culturas?/ e ter duas

línguas ?

(106) MC ah/ línguas quanto mais melhor/ hoje em dia quase toda a

pessoa sabe falar duas línguas/ PELO MENOS

(107) E e dois países/ também é bom ter?

(108) MC sim/ mas isso de dois países/ nós/ os pais/ os filhos não/ só

os pais/ penso que há momentos quando sentimos que não sabemos se somos

mais de cá/ ou mais de lá/ às vezes nos confunde isso// mas isso aconteceu

comigo mais no início// agora quando vou de férias concordo com certas coisas

de lá/ ou seja aceito/ ou percebo// porque eu acontecia quando contrariava as

minhas irmãs/ ou quase discutia quando não concordava com aquilo que elas

pensavam/ isto nos primeiros anos

(109) E sendo que também há desvantagens/ não só vantagens em

ter duas culturas/ duas línguas/ dois países?

(110) MC haver desvantagens há/ mas com certeza há mais

vantagens

(111) E pensa que as suas filhas estão cientes destas vantagens/ sabem

que só podem ganhar com isso?

(112) MC talvez não tanto como eu/ isso porque elas ainda não

perceberam// mas eu penso que com o tempo hão de perceber

(113) E agora/ que estamos no fim da nossa conversa/ gostaria de

perguntar se tenciona algum dia voltar para a Moldávia?

(114) MC não

(115) E porquê?/ nem se melhorasse a sua situação financeira?

(116) MC não

(117) E tão categórica/ a decisão está tomada é pronto?

(118) MC eu penso que a nossa terra é onde nos sentimos bem/ eu sinto-

me bem aqui e…/ na Moldávia também me sinto bem/ mas não da maneira que

me sinto aqui/ pronto

(119) E e no final/ se tiver alguma coisa que queira acrescentar/

pode fazê-lo à vontade

(120) MC não/ penso que não

(121) E nem alguma dúvida que queira esclarecer?

(122) MC não

(123) E sendo assim/ agradeço para esta dialogo e pelo tempo que

disponibilizou para com isso

188

(124) MC não tem de que/ eu gostei/ foi bom.

Transcrição de entrevista B2

Data de realização: 11 de junho de 2016

Entrevistadora – E

Cristina – C

Número de intervenções: 1-83

(01) E não te importas que eu grave a entrevista?

(02) C não

(03) E queria começar por te perguntar/ onde é que nasceste?

(04) C nasci em Portugal

(05) E se eu perguntar qual é a tua nacionalidade/qual seria a tua resposta?

(06) C PORTUGUESA/ que sou portuguesa

(07) E e por que dizes isso?

(08) C então// ((muito segura de si/ fala como se isso fosse obvio)) porque

nasci em Portugal/ falo português/ e vivo em Portugal

(09) E mas tu sentes mesmo isso?/ que és portuguesa?// de que maneira sentes

isso?/ podes explicar?

(10) C eu sinto-me como todos os outros portugueses

(11) E o facto de teres os pais moldavos/ e não portugueses/ não muda

nada?/ nem para ti/ nem para os outros?/ para os teus amigos ou colegas de

escola?/ ou por exemplo o teu apelido moldavo não muda nada?/ porque o nome

passa perfeitamente como português/ já o apelido não

(12) C não/ não muda nada/ para os outros talvez mude/ mas para mim

não// eu sempre disse que sou portuguesa/ as minhas amigas me tratam como

portuguesa/ o que dizem os outros não me interessa

(13) E ok/ percebi/ tu dizes que tens a nacionalidade portuguesa/ e não a

dupla nacionalidade/ portuguesa e moldava?

(14) C sim/ eu sei que também tenho a nacionalidade moldava/ mas eu não

sou obrigada de dizer que sou moldava

(15) E e nem sequer sentes de alguma maneira que és moldava?

(16) C não/ não sinto que sou moldava

(17) E nem quando vais lá a Moldávia?

(18) C não/ ou talvez um pouco// eu gosto muito de ir lá/ mas só de férias/

duas-três semanas/ de resto a minha vida é aqui

189

(19) E fizeste um desenho muito interessante/ muito claro/ bem

sugestivo// vamos ver se eu percebi bem o que tu contas aqui// sim/ porque este

desenho pode ser interpretado como a historia da vossa família/ a história das

vossas línguas/ aqui em Portugal/ não achas?

(20) C sim

(21) E portanto/ no meio deste esquema/ digamos assim/ és tu/ é isso?

(22) C sim/ aqui sou eu/ aqui é a minha mãe/ esta é a minha irmã/ e este é o

meu pai

(23) E isto de te posicionares no meio/ quer dizer o que?

(24) C é para mostrar com quem eu falo na minha família e que línguas falo

(25) E são três línguas/ ou melhor/ são frases escritas em três línguas/ é

isso?

(26) C sim/ porque na nossa família fala-se português/ russo e moldavo//eu

falo com a minha mãe português/ com a minha irmã também português/ e com o

meu pai russo e português misturado// a minha mãe fala comigo em português ou

em russo/ a minha irmã fala comigo em português/ e o meu pai fala russo e muito

raramente português

(27) E e romeno/ moldavo só fala a tua mãe?

(28) C a língua moldava é a língua da minha mãe/ mas na nossa família

costuma-se falar mais russo do que moldavo/ isso nunca incomodou a minha

mãe//ela às vezes fala com a minha irmã moldavo/ mas poucas vezes

(29) E portanto a língua que usas no teu dia-a-dia é (…)

(30) C português

(31) E e russo quando falas?

(32) C só nos fins de semana/ quando vejo o meu pai/ porque ele agora já

não mora connosco// e com a minha mãe/ ela às vezes também fala russo comigo

(33) E e a mãe nunca fala moldavo contigo?

(34) C não/ só com a minha irmã

(35) E sabes/ costuma-se dizer que a língua materna é a que nós falamos

desde pequeninos/ é a primeira língua que ouvimos na nossa casa/ na nossa

família/ e que acaba a ser a língua melhor falada/ pelo menos até começamos a

aprender a segunda língua// eu gostaria de saber qual destas três línguas tu

consideras como sendo a tua língua materna/ qual destas línguas tu te lembras a

falar desde pequena?

(36) C ahm/ eu ouvi sempre os meus pais a falarem russo um com o outro/

mas a minha mãe sempre falou comigo português// a língua portuguesa (LP) foi

para mim a primeira língua que eu aprendi/ a língua que eu falei melhor// sim/ eu

continuava a ouvir moldavo e russo/ mas era português que eu via como a minha

língua

(37) E e continua a ver a LP como a tua primeira língua?

(38) C sim

190

(39) E então/ qual é o papel do russo e do moldavo na tua vida?/ que

importância/ estatuto lhes atribuíste até agora?

(40) C ahm/ russo é como a segunda língua para mim e moldavo talvez a

terceira// a LP é a minha primeira língua

(41) E hm/ isso quanto à importância destas línguas// e quanto ao gostar

de falar/ qual é que gostas de falar mais?/ porque uma pessoa/ ainda que saiba que

uma língua é muito importante para ela/ poderá gostar mais de falar uma outra

língua

(42) C eu gosto de português/ gosto mais da LP// também gosto da língua

russa/ e da moldava/ mas a moldava eu não falo

(43) E mas percebes? / a moldava?

(44) C sim/ quando a minha mãe fala com a minha irmã ou com as minhas

tias/ eu percebo quase tudo

(45) E e tu como fazes para falar com as tuas tias?/ disseste que gostas de

ir a Moldávia de férias/ em que língua falas lá

(46) C russo/ eles lá sabem todos falar russo

(47) E portanto/ tu quando vais lá falas russo?

(48) C sim/mas também digo algumas palavras em moldavo/ depois as

minhas tias e as minhas primas gozam com a minha pronuncia ou com algum erro

meu/ com o meu sotaque

(49) E e isso incomoda-te? / isto de gozar com o teu sotaque?

(50) C não/ eu sei que elas não fazem isso por mal e (…)

(51) E mas podia ser até o contrário/ não será para te ajudar a falar melhor?

/ tu sentes isso como um gozo ou como uma motivação para tu aprenderes falar

correto?

(52) C ahm/ penso que é para eu aprender a falar melhor moldavo

(53) E se dizes que gostas de passar lá as férias/ então o que significa

aquela terra para ti?

(54) C é a terra dos meus avós paternos/ é a terra da minha mãe/ da

família da minha mãe/ tenho lá duas tias e os meus primos/ os meus avós

maternos tinham falecido quando eu ainda não tinha nascido// ((pensa)) é terra

dos amigos dos meus pais

(55) E e a TUA TERRA onde é?

(56) C aqui/ em Portugal// na Moldávia é só passar férias/ aqui é toda a

minha vida/os meus pais e a minha irmã/ os meus amigos/ os meus colegas de

escola/ os meus vizinhos (…)

(57) E a tua casa?

(58) C sim/ a minha casa

(59) E bem/ percebi// falaste dos teus amigos e dos teus colegas de

escola/ tens entre eles moldavos ou russos?

191

(60) C não/ às vezes no fim de semana vamos ter com os amigos

moldavos da minha mãe/ que têm filhos mais ou menos da minha idade/ mas nos

últimos tempos encontramos cada vez menos

(61) E com eles falas que língua?

(62) C português

(63) E e que outros contactos tens com a LR/ por exemplo através da

TV/ da Internet e das redes sociais?

(64) C não tenho/ na TV tenho canais portugueses e outros de outras

línguas/ mas os meus pais só veem programas russos

(65) E e através da Internet?

(66) C através da net tenho contactos mais com o português e inglês/

que eu gosto de ouvir musicas e ver vídeos em inglês/ no Facebook/ no Youtube

(67) E e em pequena lembras-te de a tua mãe ler para ti histórias? / em

que língua ou línguas o fazia?

(68) C em português e russo/ mas era mais português

(69) E olha C / mas agora que és mais crescida o que sentes quando

falas português?

(70) C <SIL> ((pensa))

(71) E sentes algo em especial? / disseste que gostas de falar a LP/

quando a falas tens algum sentimento em particular?

(72) C ahm/ não sei/ é tudo muito normal/ sempre foi assim/ sinto-me

bem

(73) E e quando ouves crianças que falam bem moldavo/ a língua que

tu não falas/ não sentes aquele desejo de tu falares também/ de te orgulhares com

mais uma língua aprendida /a língua da tua mãe?/ a tua mãe se calhar ficaria

contente/ o que achas?

(74) C não sei/ a minha mãe nunca me disse que ela ficaria contente

por eu saber falar moldavo/ ela nem sequer fala moldavo comigo// se fosse tão

importante para ela/ eu penso que ela me dizia isso// ela nem com a minha irmã

fala moldavo …assim …. só moldavo/ fala mais português que moldavo

(75) E mas imagina que a tua mãe te dissesse agora que gostaria que tu

fosses para uma escola/ assim nos fins de semana/ aprender moldavo// aceitavas/

querias?

(76) C não sei/ podia tentar// há uns anos eu lembro-me de ter ido nos

sábados para uma escola ucraniana/ depois a minha mãe não quis que eu

continuasse/ porque aquilo era difícil para mim e para a minha mãe// se a minha

mãe e a minha irmã me ajudassem…

(77) E e se a língua moldava fosse uma disciplina na tua escola/

imagina que era uma língua que se estudava na tua escola/ aprendias com orgulho

a língua da tua mãe?

(78) C penso que sim

192

(79) E hm/ bem C / o que eu realmente acho é que tu já tens muitas

competências em línguas/ podes ter certeza que estas competências te vão ajudar

no teu futuro/ e quem sabe se algum dia não quererás estudar a língua moldava

também// vamos ficar por aqui/ portanto vamos acabar/ não te vou perguntar mais

nada/ diz-me só se achaste difícil responder a estas perguntas

(80) C não

(81) E mas gostaste de o fazer

(82) C sim

(83) E então/ sendo assim eu agradeço-te por teres aceite participar

neste desafio.

193

194

Anexo 3C

Transcrição das entrevistas C1 e C2

Transcrição da entrevista C 1

Data de realização: 5 de junho de 2016

Mãe da Anália – MA

Entrevistadora - E

Número de intervenções: 1- 132

(01) E vamos começar a entrevista/ não se importa que eu grave?

(02) MA não/ pode gravar à vontade

(03) E há quantos anos vivem em Portugal?

(04) MA dia 18 de setembro vou fazer 16 anos desde que vim atrás do meu

marido/ ele tinha vindo de facto seis meses antes de mim

(05) E o que vos trouxe a Portugal?

(06) MA o que nos trouxe a Portugal? ((pensa))//para ser sincera/ não sei se

posso dizer como muitos dos nossos moldavos dizem/ que viemos para melhorar a

nossa situação material//tanto eu como o meu marido viemos cada um de famílias

em que dizendo assim/ não lhes faltou nada// recém casados /((sorri)) apeteceu-nos

uma aventura// e no mesmo tempo a ideia de juntar um dinheiro para começar a

nossa vida de casados agradou-nos/ então dissemos porque não?/ primeiro o meu

marido/ e passado seis meses também eu// ((pensa)) e …deixamos tudo para trás/

um futuro que nos esperava lá/ que nunca vamos saber se estaria pior do que temos

aqui// porque muitos dos imigrantes resignam-se com a ideia de escolher uma vida

no estrangeiro por causa de não ter uma melhor na sua terra// às vezes não estou tão

certa quanto a isso// mas prefiro pensar que fiz a escolha certa e no momento certo//

era uma altura em que emigravam muitos moldavos/ eramos muito novos e na força

da vida/ e por muitas que fossem as dificuldades/ nada nos parecia impossível//

agora quando vejo moldavos a continuarem vir e com a mesma esperança/ a de

melhorar a vida/ não posso dizer que tenho inveja deles// agora vivemos outros

tempos// mas eu estou contente que escolhi Portugal/ e estou contente que vim

quando ainda não tinha as minhas filhas// ahm/ e penso que teve que ser assim

(07) E mas escolheu Portugal porque teve algum contacto anterior com a

língua portuguesa e com este país antes de emigrar?

(08) MA ahm / escolhi Portugal porque um tio meu tinha vindo um ano

antes e disse-me que se arranjava facilmente trabalho//contou-me só coisas boas

deste povo/ da comida portuguesa/ do clima / das praias// eu fiquei entusiasmada e

não pensei duas vezes// ah / um país onde sabia que se fala uma língua latina é

preferível a um em que a língua se aprende mais difícil

195

(09) E de facto/ o que pensava da língua portuguesa (LP) antes de

emigrar/ e o que pensa agora?

(10) MA sabia que é uma língua de origem latina/ mas que é mais difícil

comparada com a língua italiana/ espanhola ou francesa// pensava na altura e

continuo a pensar // a ideia que tinha da LP era das telenovelas brasileiras/ lembro-

me da primeira telenovela que vi/ penso que foi a primeira/ se não me engano/ A

Escrava Isaura

(11) E ah/ pois/ também me lembro

(12) MA portanto/ eu não parti com a ideia que a LP sendo uma língua

estrangeira me vai dificultar a vida no início/ não// e foi assim/ passado um mês eu

já estava a trabalhar num restaurante e passado dois conhecia toda a gente de

Alfeizerão e toda gente me conhecia a mim/ gente muito simpática que me ajudou

muito para aprender português/ é graças a esta gente que eu hoje gosto muito da LP

(13) E poderá falar-me mais deste processo de integração?/ já percebi

que a parte que toca a língua não foi difícil/ e de resto?

(14) MA de resto/ tudo correu lindamente/ eu penso que num processo de

integração o mais importante é a língua/ trabalho arranjámos logo que chegámos/ a

língua aprendemos em pouco tempo/ e daí estava tudo resolvido// alugámos uma

boa casa/ rápido fizemos bons amigos/ tanto moldavos como portugueses// e a

nossa vida não podia ser melhor// só uma única coisa não estava bem/ ((olhos a

lacrimejar)) // não tínhamos aqui a nossa família

(15) E bem/ já percebi que o papel da LP tem sido muito importante na

vossa integração // mas e a língua romena (LR) que papel tem assumido nesse

processo?

(16) MA ah/ sem dúvida o mais importante/ a origem comum da LR e

LP/ como já disse/ as palavras muitas delas quase idênticas/ a gramatica da LR

muito semelhante com a da LP/ tudo isso foi uma grande ajuda// ((sorri)) lembro-

me que ainda nos primeiros meses uma vizinha minha ficou admirada da

quantidade das palavras que eu usava nas conversas/ sobretudo aquelas mais

difíceis/ lembro-me que tinha usado o verbo resignar e ela perguntou-me como

aprendi essa palavra/ e eu disse / pois a palavra em romeno resemna é muito

parecida// ahm/ vou dizer uma coisa/ hoje eu falo português muitas vezes sem

pensar muito / a fala tornou-se quase mecânica/ mas mesmo assim eu muitas vezes

verifico/ ou seja faço comparação com as palavras romenas/ gosto de fazer este

exercício de tradução// isso de facto tem ajudado muito as minhas filhas a aprender

a LR/ procurar sempre a relação da LP com a LR e da LR com a LP

(17) E sim/ acredito// ahm/ de facto eu queria perguntar como se

relaciona com a LR/ agora que está em Portugal?

(18) MA é /como disse há pouco/

(19) E e o que significa para si a LP?

(20) MA a LP é como a segunda língua para mim agora/ não posso

dizer que é a segunda língua materna / porque não é a língua da minha mãe/ mas eu

196

quase que a chamava assim// não paro de dizer quando posso/ que estou muito grata

a este povo/ a este país e a esta língua que nos deram a oportunidade de viver a vida

assim/ dignamente

(21) E como é que caracterizava em três palavras a LR?

(22) MA a LR ?/ ((pensa)) o primeiro pensamento que me vem na

cabeça é a mãe / depois se calhar será família e terra natal/ mas posso dizer de

outra maneira/ passado/ presente e futuro// em todos os momentos da minha vida a

LR me acompanhou/ me acompanha e tenho certeza que me acompanhará

(23) E hm/sim/ acho bonito // e à LP que palavras associava?

(24) MA a LP também é o presente e o futuro/ só não posso dizer o

passado/ mas vou caracterizá-la como sendo uma conquista uma conquista nossa/

dos imigrantes // vamos aprendendo com este povo de conquistadores

(25) E bem/ interessante

(26) MA é o que me veio de repente/ se calhar pensando mais podia

associar ainda muitas outras palavras/ muitos outros elogios

(27) E ah/ pois// mas vai ter que pensar agora noutra pergunta

((sorri))// lembra-se de algum episódio que retrate o papel da LR/ da língua de

herança (LH) na vossa vida/ ou um episódio engraçado / difícil que tenha a ver com

questões linguísticas?

(28) MA tenho um momento destes/ um momento muito

importante na minha vida da minha língua foi na altura do nascimento das minhas

filhas// o primeiro momento quando elas nasceram estavam a chorar muito

…((inaudível)) que foi uma cesariana complicada com duas gémeas/ e eu estava a

tentar falar com elas em português/ acalmam-se que a mãe está aqui/ e elas não

reagiam / ali o meu medico disse/ tu não falaste com elas em português na barriga/

eu disse não/ falava em romeno/ então falas agora português porquê?// quando eu

disse em romeno/ o mãe acalmam-se/ elas acalmaram-se logo

(29) E engraçado/ muito interessante

(30) MA esse foi um momento que me marcou e que dali eu sabia que

as minhas filhas tinham que falar português e romeno ao mesmo tempo

(31) E e falam/ as suas filhas hoje falam português e romeno?

(32) MA e falam / falam as duas línguas

(33) E com que frequência fala romeno?/ com quem?/ e em que

circunstâncias?

(34) MA todos os dias em casa com as minhas filhas falamos romeno/

tentamos em casa falar só romeno/ português só…fica mais quando para fazer os

trabalhos de casa/ para falarmos das matérias de escola// e depois é com os amigos//

se não for todos os dias/ é dia sim/ dia não/ temos convivência com amigos nossos

moldavos

(35) E e quanto à LP/ acha que a usa mais?/ há pouco disse que em

casa não / fala mais romeno/ mas sem ser em casa?

(36) MA a LP uso mais

197

(37) E e porquê?

(38) MA se for assim nas percentagens/ português falo 70% e romeno

30%

(39) E mas porquê?

(40) MA porque / tudo que é fora de casa fala-se português/ porque

temos muitos amigos que temos convivência todos os dias que falamos português/

porque na rua falamos português/ porque acaba por predominar a LP

(41) E disse há pouco que fala com as suas filhas em casa em romeno/

porquê?

(42) MA porque acho que é uma obrigação as minhas filhas saberem

a minha língua de origem e do meu marido/ a nossa língua de origem / dos dois / e é

importante elas manterem uma ligação com a nossa família de lá/ da Moldávia e se

não for a falar romeno/ acho que não há hipótese de continuar a ter uma relação/

para conseguirem falar / conseguirem entenderem-se e de manterem uma …

(43) E relação próxima com a família// mas/ em que situações fala

com elas em romeno?/ já percebi que em casa tenta sempre falar romeno/ mas em

que mais situações fala romeno com elas?

(44) MA também muitas vezes na rua/ no supermercado// eu não tenho

problemas nenhuns em falar com elas romeno/ e com outras pessoas olharem para

nós ((sorri))// isso nunca foi um problema meu// mas tipo se a gente estiver fora de

casa e não querer que as pessoas percebam que eu estou a dizer falo romeno ((ri))

(45) E e na hora de fazer os trabalhos/ disse que as ajuda em

português/ mas faz isto também em romeno?

(46) MA fazemos/ mas se for assim para dar uma explicação de

género de uma verificação falo em romeno/ mas para tentar explicar uma coisa que

elas não perceberam eu prefiro explicar em português

(47) E hm

(48) MA porque assim depois eu não tenho de fazer a

tradução/porque muitas vezes penso antes em português/ explicar em romeno e

depois em português é …

(49) E o dobro de trabalho/ de maneira que facilita assim// sim/

percebi// mas qual é que pensa que é a relação das suas filhas com a LR?

(50) MA eu penso/ eu tenho a certeza que elas têm uma relação muito

próxima// é assim/ para elas a LP é a língua que elas começaram a falar junto com o

romeno e tenho a certeza que elas não se imaginam a não falar esta

língua/primeiro// e segundo/ as minhas filhas têm muito orgulho em falar romeno/

constantemente dizem a muita gente que elas sabem falar duas línguas na perfeição/

e têm orgulho em saber falar porque nas muitas festas na escola elas aprendem

sozinhas através da internet canções em romeno e vão cantar na escola e os outros

ficam a apreciá-las por isso// e quando há festas querem aprender alguma história/

alguma poesia / e tudo em romeno

(51) E isto aumenta-lhes a autoestima

198

(52) MA por isso eu posso dizer que tem um lugar muito importante na

vida delas e é uma língua que a aprenderam falar logo e …

(53) E mas e em casa/ que estratégias usa para ensiná-las a LR?

(54) MA não/ não uso estratégias em especial/ a única estratégia é /

pronto/ como estão de férias e passarmos alguns dias no ATL e passamos menos

tempo em casa juntas / no fim de semana temos que passar a falar só romeno

(55) E hm

(56) MA tanto que passeamos na rua / ou em casa nós as três temos de

falar só romeno/ pronto/ é para praticar mais

(57) E e como acha que isso se reflete na relação delas com a LR?

(58) MA ajuda muito/ claro

(59) E e com a LP?

(60) MA não/ não afeta negativa a relação com o português/ pode só

ajudar / isso não pode prejudicar de manheira nenhuma a relação delas com a LP

(61) E hm// tem conhecimento de associações moldavas que organizam

“escolas de sábado” para as crianças que queiram aprender romeno?

(62) MA tenho/ sim/ sim

(63) E e considera necessário existir estas escolas?

(64) MA considero necessário/ e tenho muita pena por não conseguir pôr

as minhas filhas lá

(65) E e não consegue porquê?

(66) MA é um pouco longe e para ir lá tínhamos que desistir das

atividades que elas estão a fazer ao sábado/ neste caso da ginástica e da natação//

como eu ahm/ derivado a minha profissão consigo lhes dar uma ajuda em romeno a

falar e escrever/ acabamos por desistir desta escola de sábado a favor das outras

atividades também importantes

(67) E mas sabe que tipo de escola é esta/ como funciona?

(68) MA sim/ funciona junto da igreja moldava de Santarém/ é uma

professora nossa moldava que ensina a LR/ as tradições/ a cultura/ organiza festas

com canções e poesias

(69) E olha/ mas quais são os desafios de ter as suas filhas a crescer em

Portugal?

(70) MA é assim/ os desafios foram muitos no início/ quando era para

ficar aqui ou mudar para outro país/ que os nossos compadres nos desafiaram para

mudar de país/ para Canadá// mas no momento em que decidimos ficar aqui

considero que ultrapassámos estes desafios/ escolhemos este país calmo/ sossegado

e que acho que é dos poucos países onde as pessoas hoje em dia estão prontos a

ajudar/ a dar a mão quando for preciso/ um povo acolhedor como é raro encontrar

(71) E e acha que foi bom escolher este ambiente para ter as suas

filhas a crescer aqui e não na Moldávia?

(72) MA sim

(73) E como é que pensa que podia ser na Moldávia/ crescê-las lá?

199

(74) MA é assim/ penso que pior não seria// talvez um bocadinho

mais… com mais restrições do que aqui em Portugal/ onde deixamos os nossos

filhos com mais liberdade/ de falarem / de expor as suas opiniões

(75) E portanto/ está a referir que lá a educação é com mais

restrições/ mais regras/ é isso?

(76) MA sim/ sim// sempre houve/ e continua/ e…pronto/ eu não

acho isso uma parte má/ porque eu tenho em casa com as minhas filhas uma atitude

que as minhas amigas acham rígida demais/ que temos regras demais// mas é

assim// eu quando vejo as minhas filhas ao lado das amiguinhas delas que elas nem

sequer perguntam se podem fazer certas coisas/ quando elas sabem que aquilo não é

bom fazer assim e as mães não iriam gostar// eu convenço-me de facto que as

minhas regras não são demais// eu não sou da opinião que as crianças podem fazer

tudo que lhes apetecem/ porque a educação não é fazer tudo que nos apetece/ a

educação é aprender de onde e até onde é permitido / é bom para nós// é também

saber por limites// e isso eu tenho a certeza que se elas estivessem na Moldávia elas

teriam uma educação mais rígida e não com tanta liberdade

(77) E se pudesse escolher/ agora/ preferia educar as suas filhas em

Portugal ou na Moldávia?

(78) MA eu já fiz a minha escolha/ por isso estou cá em Portugal/

((ri))/ não/ mas faria a mesma escolha

(79) E mas mesmo assim/ volto a preguntar / quais são os maiores

desafios que você enfrenta como mãe neste país? / que ajustes acha que teve que

fazer como mãe em Portugal?

(80) MA ahm/ ahm/ o meu maior desafio agora que elas estão na

escola/ ahm/ é começar aprender a gramatica portuguesa com elas ((ri))

(81) E ((ri)) para ajudá-las/ é isso?

(82) MA a LP com as regras de gramatica/ ortografia que tem / isso

para mim é o maior desafio a ultrapassar/ porque depois

(83) E ((ri)) porque depois há de vir outro

(84) MA porque se eu considerava que sabia falar e escrever bem

português / agora não estou tão certa quanto a isso

(85) E questiona-se mais/ é isso?

(86) MA sim/ muito

(87) E mas / por exemplo/ que dificuldades enfrenta no apoio à

aprendizagem da língua romena pelas suas filhas?

(88) MA não / por enquanto não// porque elas não começaram ainda a

escrever romeno/ só começaram este ano a ler romeno// a minha experiência com

elas em pequenas/ quando eu comecei a aprendê-las os números e as letras em

romeno e português no mesmo tempo/ elas começaram a baralhar as duas// e então

eu decidi/ não / primeiro eu vou ensiná-las em português/ por fim de elas saberem

bem vamos aprender romeno// agora optei para elas lerem primeiro em português/

depois passar a ler em romeno e depois a escrever em romeno

200

(89) E e no futuro pensa que não vão aparecer certas dificuldades?

(90) MA é assim/ é capaz de aparecer algumas dificuldades

(91) E por exemplo/ poderá não ter tempo dedicar-se tanto como

agora para manter a LR/ é que/ muitos pais imigrantes acusam isso como um fator

que impede na manutenção da língua de herança (LH)/ língua de origem

(92) MA não/ eu tenho tempo e vou fazer sempre por isso/ sempre vou

arranjar tempo por isso// ahm/ a única dificuldade que às vezes tenho/ é talvez um

bocadinho daquela incerteza será que eu estou certa ?/ parece-me que sei bem a

gramatica da nossa língua/ no entanto/ tenho às vezes esse receio de não ensinar

errado/então aí verifico se estou certa e continuo

(93) E hm/ mas agora que está a falar de escrita/ insiste com a escrita

porquê?/ considera que só falar a língua não é suficiente/ isto para si não significa

saber uma língua?

(94) MA porquê?/ porque eu gostava que as minhas filhas saberem ler e

escrever romeno / porque elas quando forem para Moldávia pudessem ler os livros

que eu li e que o avô tem na biblioteca/ para elas pudessem usufruir deles (dos

livros)/ e de muitas coisas enquanto estiverem lá// e acho que/ eu sempre estou a

dizer isso/ quanto mais línguas saberem falar/ ler/ e escrever/ melhor para elas //

elas agora querem aprender a língua russa/ desafiaram-me para lhes ensinar/ foi a

vontade delas próprias/ e eu acho bem

(95) E e voltando agora a pensar nas escolas de sábado/ disse que não

consegue pô-las estudar/ sendo assim/ de quem acha que fica a responsabilidade na

manutenção e desenvolvimento da LH das suas filhas?

(96) MA da mãe/ a responsabilidade é só minha/ não vou

responsabilizar ninguém que as minhas filhas não sabem suficientemente bem a

LR/ sou eu a única responsável/ e claro/ também o pai

(97) E portanto dos pais// agora vou pedir uma opinião quanto a uma

afirmação/ a um facto constatado// muitos dos estudos das últimas três décadas

revelam que os alunos de culturas diferentes não alcançam o sucesso académico dos

alunos da cultura dominante/ acha que é verdade?

(98) MA não

(99) E mas porquê?

(100) MA porque… é assim/ quando no jardim de infância as minhas

filhas falavam muito e percebia-se pouco/ e as educadoras sabiam que eu lhes

ensino as duas línguas/ elas estavam a insistir desistir da LR e continuar com o

português// eu não concordei/ e não foi nada disso// elas aprenderam no mesmo

tempo as duas línguas// eu tenho um casal de amigos/ a mãe é ucraniana e o pai é

moldavo/ e estão a viver cá em Portugal e a menina deles fala quatro línguas no

mesmo tempo/ a menina na ama fala português/ com o pai fala romeno/ coma a mãe

ucraniano/ e depois como ucraniano e moldavo são línguas que não têm nada a ver

uma com a outra/ os pais falam em casa russo/ entendem-se melhor assim/ e a

menina aprendeu russo também// este ano acabou o quarto ano/ foi a melhor aluna

201

do ano dela e a falar quatro línguas/ não todas na perfeição/ mas razoavelmente

bem// acho que vindo de culturas diferentes e falando mais do que uma língua ajuda

estes alunos ter sucesso na escola

(101) E sim/ mas claro/ temos que ver / que também há crianças e

crianças/ cada uma tem o seu ritmo/ as suas capacidades

(102) MA exato

(103) E olha/ mas acha que as culturas moldava e portuguesa têm mais

características diferentes ou comuns?/ se poder dar exemplos…

(104) MA têm algumas diferentes/ têm algumas comuns/ tudo que é da parte

mais social têm mais comuns/ ahm/ agora a grande diferença que eu acho de uma

para outra / acho que é a nível dos estudos e da escola// nós os pais tentamos

transmitir a maneira de estudar que aprendemos na nossa cultura/ que é diferente

daqui/ acho que isso vem ainda do tempo da União Soviética/ que teve os seus

males/ mas também teve coisas boas// não sei por quanto tempo esta disciplina/

estes métodos vão durar/ mas é a minha opinião

(105) E mas olha/ posso lhe disser que lá também as coisas mudaram

entretanto/ talvez reparou quando esteve lá/ essa cultura de estudar como dantes já

não há/ nem os professores são os de dantes/ nem os alunos/ o tempo mudou / as

pessoas mudaram/ tudo mudou

(106) MA concordo/ sim

(107) E e outras características diferentes não vê?

(108) MA celebrar as festas de Natal / principalmente a de Páscoa/ é um

pouco diferente lá// não sei/ eu até podia dar mais exemplos destas diferenças/mas

tenho que reconhecer que fiquei com as memórias daqueles tempos que nós

conhecemos antes de emigrar/ a tendência é fazer comparação com aquilo que nos

lembramos daquele tempo/ e os tempos mudaram/ como disse

(109) E sim/mas mesmo assim/ tem de concordar que ainda que há

semelhanças entre a cultura portuguesa e a cultura moldava/ constatamos também

muitas diferenças

(110) MA sim/ mas quando a pessoa acaba por se integrar muito bem

numa cultura/ penso que já mistura coisas da sua cultura de origem com coisas da

cultura do país (…)

(111) E do país de acolhimento

(112) MA sim/ misturando as duas culturas chega um tempo quando

nem dá pelas diferenças/ pelo menos não pensa nelas

(113) E pois é/ quer dizer que a cultura portuguesa se impregnou na

nossa vida de maneira que nós/ imigrantes/ aceitamo-la como nossa sem haver uma

linha fronteira que separe onde uma acaba e outra começa/ é isso?

(114) MA penso que é isso

(115) E isso significa ser bicultural ((ri))

(116) MA ah/ eu penso que a minha família é já há muito tempo

bicultural

202

(117) E bem/ sendo assim/ vou perguntá-la/ se gostaria de ver as

suas filhas casadas com portugueses ou alguém de sua própria cultura?

(118) MA não tenho preferências/ desde que elas sejam felizes/

respeitadas/ e como eu costumo dizer/ mimadas ((ri))/ tanto faz/ pode ser português/

espanhol ou alemão

(119) E alguns pesquisadores acham que ter duas ou mais culturas

pode ser um problema/ outros dizem que é bom/ qual e a sua posição quanto a esta

questão?

(120) MA não acho mal/ acho que até há lugar de mais/ de três/ e de

quatro // eu acho que desde que seja uma pessoa bem formada e com aquela

capacidade crítica de ver as coisas boas nas culturas/ de aprender só coisas que lhe

possam fazer bem/ essa pessoa só pode ganhar com isso

(121) E mas quais são as vantagens e desvantagens de ter duas

culturas / duas línguas / dois países// para as suas filhas/ para si/ para a sua família

como um todo?

(122) MA é assim/ eu vantagens vejo muitos// agora desvantagens/

nunca senti essas// vantagens há muitas

(123) E como por exemplo

(124) MA como por exemplo começando com o facto de em Portugal

poder falar romeno para ninguém entender/ e em Moldávia poder falar português

para ninguém me compreender ((ri))// e acabando com aquilo que /se eu quiser

fascinar os meus amigos com uma festa moldava e que fiquem todos

impressionados/ posso fazê-lo em qualquer momento ((ri))

(125) E ((ri)) e depois de dizer isso/ vou perguntar/ se tenciona

algum dia voltar para o seu país de origem

(126) MA de momento/ não

(127) E porquê DE MOMENTO não?

(128) MA é assim/ eu penso que não/ mas como as pessoas que eu

conheço e que passaram das 50 e 60 anos dizem que a velhice traz mais saudades

da nossa terra natal/ da nossa casa onde nascemos…// eu não sinto isso / por

enquanto não sinto isso

(129) E hm/ percebo // há mais alguma coisa que queira acrescentar?

/ tem alguma dúvida que queira esclarecer?

(130) MA não

(131) E então/ falta só lhe agradecer por ter-me acordado este tempo

(132) MA ah/ de nada.

203

Transcrição de entrevista C 2

Data de realização: 5 de junho de 2016

Anália – A

Entrevistadora - E

Número de intervenções: 1-133

(01) E vamos começar// como já tínhamos combinado / vou-te fazer umas

perguntas e tu vais responder o que pensares ou achares/ ok?

(02) A sim

(03) E e a primeira pergunta é/ onde é que nasceste?

(04) A nasci em Portugal

(05) E hm/ se eu perguntar qual é a tua nacionalidade qual seria a tua

resposta?

(06) A eu respondia que tenho dupla nacionalidade

(07) E ou seja?

(08) A sou portuguesa e sou moldava

(09) E hm/ mas porquê que dizes isso?

(10) A porque nasci em Portugal e vivo em Portugal/ mas a minha

família é moldava e eu também sou moldava// não / ah ((sente-se nervosa confusa))

(11) E então?/ tens que dizer como sentes// tu sentes que és moldava?

(12) A sinto/e portuguesa

(13) E e portuguesa também?

(14) A sim/ mas também moldava

(15) E porquê sentes que és moldava?

(16) A porque falo todos os dias romeno e porque moldavo/ ahm romeno

é a língua dos moldavos// porque os meus pais vêm da Moldávia e assim a minha

origem e moldava

(17) E hm/ percebi// olha A/ vi o teu desenho e gostei muito/ de facto são

dois desenhos/ é isso?

(18) A sim

(19) E porquê?

(20) A porque eu queria desenhar os meus pais / e a minha avó a falar

pelo Skype/ porque os meus avós também são a minha família

(21) E então do lado direito quem fala no Skype é…

(22) A é E/ a minha irmã/ ela está a falar com a minha avó

(23) E e ela fala romeno/ o que ela diz?

(24) A ela está a contar a avó como lhe correu os testes/ diz que teve

muito bom a português

(25) E mas diz muito bom em português

204

(26) A sim/ porque a avó já nos visitou algumas vezes e sabe algumas

palavras em português

(27) E portanto/ a tua irmã mesmo misturando as duas línguas faz-se

entendida?

(28) A sim

(29) E mas estou a ver que tu também estás a misturar as línguas/ o

português com o romeno?

(30) A sim/ eu estava a chamar a minha mãe porque o pai estava a ligar

(31) E o pai estava a ligar de onde?

(32) A o meu pai está a trabalhar em França//ele liga todos os dias mais

a noite para saber como nós estamos

(33) E hm/ percebi//e deste lado (a esquerda) estão na hora de jantar?

(34) A sim/ estamos a contar como correu o nosso dia

(35) E e a tua irmã fala português/ mas tu falas romeno// porque

desenhaste desta maneira?

(36) A porque nós falamos as duas línguas/e porque a mim parece-me

que eu falo mais moldavo e a minha irmã mais português

(37) E mas e a mãe/ fala sempre em romeno convosco/ por isso

escreveste palavras romenas?

(38) A sim/ a nossa mãe fala connosco romeno quase sempre/ para não

nos esquecermos dessa língua/ já que no nosso dia-a-dia falamos português

(39) E hm/ mas explica-me uma coisa/ as cores que escolheste para a

mesa/ para a toalha de mesa são as cores que tu gostas ou que escolheste para

alguma razão?

(40) A são as cores que eu escolhi para mostrar a bandeira da Moldávia

(41) E então são as cores da bandeira da Moldávia?

(42) A sim/ exato

(43) E já agora diz-me uma coisa/ com o pai em que língua falam/ tu e

a tua irmã

(44) A falamos romeno/ e se tivermos alguma dificuldade numa

palavra dizemos essa palavra em português e depois o nosso pai ajuda-nos/ com a

mãe é a mesma coisa

(45) E ok/ percebi// portanto no teu dia-a-dia tu falas português? /

disseste há pouco de facto

(46) A sim/ falo português por causa da escola e ahm/ na hora de jantar

falo romeno/ mas na maioria do tempo falo português

(47) E há uma regra na vossa família de falar na hora de jantar em

romeno?

(48) A ahm/ não é bem uma regra-regra/ mas os meus pais querem que

eu fale romeno/ gostariam que eu fizesse um esforço para eu falar essa língua

(49) E mas achas que é importante saber falar essa língua?

(50) A sim

205

(51) E porquê?

(52) A porque se eu não falava romeno eu não conseguia falar com os

meus avós/ os meus primos/ as minhas tias e os meus tios da Moldávia

(53) E portanto não perder a ligação com a família de lá é muito

importante para ti

(54) A sim

(55) E e o que sentes quando falas romeno?

(56) A ahm/ eu e a minha irmã somos muito orgulhosas que sabemos

falar a LR/ ahm duas línguas

(57) E boa/ isso é muito bom// olha A/ mas onde é que tu sentes que

é a tua casa/ aqui em Portugal/ ou na Moldávia?

(58) A aqui em Portugal

(59) E mas e a Moldávia/ o que significa a Moldávia para ti?

(60) A é a terra dos meus avós/ dos meus primos/ das minhas tias e

tios

(61) E a terra dos teus pais/ não?

(62) A não/ sim/ a terra onde nasceram/ mas a casa deles agora

também é aqui

(63) E pois/ agora sim/ a casa deles é junto de vocês/ tens toda a

razão// mas e o que significa Portugal para ti?

(64) A aqui é a minha casa/ da minha irmã e dos meus pais

(65) E e o que sentes quando falas português?

(66) A …((pensa)) nada/ não sei ((sente-se tímida))

(67) E quando falas a LR sentes-te orgulhosa/ e a LP/ que sentes quando a

falas/ alguma coisa em especial?

(68) A que gosto muito

(69) E mas gostas mais de falar português ou gostas menos?

(70) A ahm/ não sei se gosto mais/ mas é mais fácil

(71) E é mais fácil falar português para ti?

(72) A sim

(73) E mas porquê que será mais fácil para ti falar a LP?

(74) A porque a maioria do tempo falo português

(75) E e que outras línguas ouves falar na tua casa/ ou quando estás com

os teus amigos moldavos/ ou familiares?

(76) A nós temos amigos que falam russo e ucraniano// em casa na TV

temos canais russos e nós gostamos de ver desenhos animados em russo

(77) E e tu percebes o que diz lá no desenho animado em russo

(78) A algumas coisas/ mas depois pergunto a minha mãe

(79) E gostarias de aprender a língua russa também?

(80) A sim/ eu já pedi a minha mãe muitas vezes que ela me ensinasse/

porque a minha mãe também sabe falar a língua russa//ela fala muito bem a língua

russa

206

(81) E fazes bem/ também acho que é muito bom saber falar mais

línguas// agora diz-me uma coisa/ sem ser na hora de jantar/ quando mais falas

romeno?/ e com quem?

(82) A em casa / com a minha mãe e com a minha irmã/ e com as minhas

amigas moldavas no fim de semana/ mais vezes com a B (afiliada da mãe)// ela vem

muitas vezes passar o fim de semana connosco

(83) E e vocês falam só romeno?

(84) A não ((sorri)) / falamos português também/ mas quando a minha

mãe nos ouve a falar português diz-nos para falar logo romeno

(85) E ah/ é isso/ já percebi// e na escola/ tens colegas moldavos ou

romenos?

(86) A não/ tenho uma colega chinesa e uma brasileira// elas ensinam-

me algumas palavras em chines e brasileiro e eu ensino-as algumas palavras em

romeno

(87) E boa/ de certeza que é mais fácil aprender brasileiro do que chines

((sorri)) / não é?

(88) A ((sorri)) é

(89) E e tu consegues ler em romeno ou é alguém dos mais crescidos

da família que lê para ti em romeno?

(90) A sim/ eu já consigo ler sozinha// até agora era a minha mãe ou o

meu pai que lia

(91) E mas o que achas que te tem ajudado a aprender romeno?

(92) A aprendi romeno com a ajuda da minha mãe e da minha avó

(93) E pois/ disseste que a tua avó veio muitas vezes em visita

(94) A sim/ e porque falamos todos os dias pelo Skype

(95) E quando ela está lá / é isso?

(96) A sim

(97) E há mais alguma coisa que vos tem ajudado a ti e a tua irmã

aprender romeno?

(98) A ver desenhos animados em romeno

(99) E na TV/ nos programas romenos?

(100) A não / a minha mãe comprava CD(s) com desenhos animados em

romeno quando íamos de férias a Moldávia e nós víamos os desenhos no carro// nós

temos quase todos os desenhos em português e em romeno

(101) E pois é / a tua mãe adotou uma estratégia muito boa/ acredito que

vos ajudou muito a ti e a tua irmã// mas disse há pouco que vê programas russos na

TV/ também tem programas romenos na TV/ ou não?

(102) A sim

(103) E e gostas de ver programas em romeno/ que tipo de programas vês

mais?

(104) A sobre a cultura da Moldávia/ canções/ sobre as nossas tradições/é

mais no Natal/ na Pascoa

207

(105) E lembraste agora de alguma tradição que viste nestes programas? /

podes dar um exemplo de alguma tradição romena?

(106) A ahm/ pintar os ovos da Pascoa/ eu com a minha irmã também

aprendi a pintar ovos da Pascoa

(107) E e gostaste?

(108) A sim

(109) E olha A/ já percebi que tu vais de férias à Moldávia e que falas

com os teus avós e primos/ com os teus familiares de lá/ em romeno// tu gostas de

passar lá férias?

(110) A sim

(111) E e de falar romeno também gostas?

(112) A sim

(113) E disseste que falas todos os dias com a tua avó/ com quem mais

dos teus familiares da Moldávia falas/ pelo telemóvel ou pelo Skype?

(114) A com o meu avô

(115) E que é o pai da tua mãe/ é o teu avô paterno ou materno?

(116) A o pai da minha mãe/ mas também falo com os meus avós paternos

(117) E falas com a mesma frequência/ também todos os dias?

(118) A não/ com eles é mais ao fim de semana

(119) E e com quem mais falas da Moldávia?

(120) A com as minhas tias/ a irmã da minha mãe e a irmã do meu pai/ e

os meus primos e a minha prima/ falo mais com a irmã da minha mãe e o B (filho

mais velho) porque o D tem uma ano e meio e ainda não sabe falar

(121) E muito bem// achas que gostavas ou não que o romeno fosse uma

língua/ uma disciplina na tua escola?/ e tu aprenderes com outras crianças a LR?

(122) A sim/ acho que sim

(123) E porquê?

(124) A porque eu podia ajudar os meus colegas a falar romeno

(125) E tu ajudavas a professora/ serias uma ajudante da professora/ é

isso?

(126) A sim

(127) E e quanto aprender a LR junto com outras crianças moldavas?/

gostavas?

(128) A sim

(129) E muito bem// olha A / foram muitas perguntas/ ficaste cansada de

tantas perguntas?

(130) E não

(131) A e as perguntas achaste-as difíceis? / houve umas que respondeste

rápido/ outras que te levaram mais tempo para responderes/achas que foram muito

difíceis?

(132) E não / foram fáceis

208

(133) A então muito obrigada pela tua ajuda/ as tuas respostas são muito

valiosas para mim/ obrigada.

209

Anexo 4

Grelhas de Análise Temática das Entrevistas

Entrevista A1

Categorias Subcategorias Indicadores Unidades de registo

C1.

Representações

de pais

moldavos sobre

a LH

C1.1. Língua

como

instrumento de

integração na

sociedade de

acolhimento

C1.2. Língua

como objeto

afetivo

C1.3. Língua

como fator de

coesão familiar

C1.4. Língua

como objeto de

poder

C1.1.1.

Importância/não-

importância da

LH no processo

de integração

C1.2.1. Relação

afetiva pais/ LH

C.1.3.1.

Presença/ausência

de relação

pais/LH/filhos/fa

mília alargada

C1.4.1. Apoio da

LH no futuro dos

filhos

“a LR deu uma grande ajuda/ pois há

muitas palavras parecidas ou quase iguais/

assim eu chegava às vezes falar com

palavras moldavas/romenas” (MD 24)

“a LR foi e continua a ser a minha língua

materna/ nunca vou esquecê-la/ ou deixar

de falar / É A LINGUA DOS MEUS

PAIS/ ((voz tremula e olhos

lacrimejantes)) / dos meus avós/ dos meus

antepassados” (MD 26)

“mãe/ porque quando penso na minha

língua… e a primeira pessoa em que

penso…// saudade/ tenho sempre saudades

de lá…// amor/ tenho um amor imenso

pela minha língua” (MD 30)

“…os meus filhos estão muito próximos

dos avós/ se eles não falarem romeno/

como se entendiam?... nós vamos todas as

férias de verão passar lá um mês” (MD 46)

“é bom saber mais de que uma língua/

nunca se sabe o que traz o futuro/ mesmo

que não voltemos à Moldávia/ nunca se

sabe…/como eles podem precisar de

romeno/ em alguma coisa há de ajudar”

(MD 46)

“…uma pessoa com muitos conhecimentos

tem uma autoestima maior que outra com

menos conhecimentos” (MD 92)

C2.

Representações

de pais

moldavos sobre

a LP

C2.1 Língua

como

instrumento de

integração na

sociedade de

acolhimento

C2.1.1.

Facilidade/dificul

dade de

aprendizagem e

uso

C2.1.2.

Distância/proximi

“sabia que é um país onde se fala uma

língua de origem latina… / onde

emigravam muitos moldavos/ por causa de

facilidade de aprender a língua// um dos

motivos foi este/ aprender fácil a

língua…” (MD14)

“na altura/ só sabia que era uma língua

210

C2.2. Língua

como

instrumento de

comunicação na

sociedade

dominante

dade linguística

com a LH

C2.2.1. Relação

de respeito e

valorização

pais/LP/cultura/po

vo

C2.2.2.

Momentos em

que usa a LP

latina/ achei no início muito difícil …

parece-me que nem gostava assim muito

de português “(MD16)

“eu acho que/ para se integrar numa

sociedade/ é importante saber falar a

língua …dessa sociedade” (MD20, 22)

“na integração da minha família a língua

foi importante e continua a ser importante”

(MD22)

“é como se fosse a segunda língua… a

ligação que tenho com o português não é

tão forte/ se calhar nunca vai ser/ mas é

uma língua que eu respeito muito”

(MD28)

“paciência ou calmo// humanidade/ são

muito calmos e humanos os portugueses/

esperança ou confiança / é isto que nos

transmite a LP” (MD30)

“eu no meu trabalho falo pouquíssimo

português/ porque estou mais tempo

sozinha …// na rua/ quando encontro

pessoas conhecidas portuguesas falo …

(MD34)

“…gosto de ler em português…” (MD 36)

C3. Práticas de

uso e

aprendizagem

da LH

C3.1. Contextos

de uso da

LR/LH

“…com as minhas amigas moldavas/ com

a minha família de Moldávia/ em casa/

falo sempre a LR” (MD34)

“…é bom para eles/ é bom para mim/ é

bom para todos// em romeno/ claro

(MD38) //não me imagino a falar em

português com os meus filhos” (MD40)

“na hora de fazer os trabalhos de casa às

vezes é preciso explicar em português/

mas mesmo assim eu tenho que recorrer a

língua romena/ porque sou eu que não sei

bem explicar em português” (MD42)

“eu tento falar sempre que posso em

romeno/ para eles não esquecerem a língua

e a cultura materna/ que vêm dos seus

bisavós/ dos avós/ dos pais” (MD44)

“…falar em casa/ conversar em romeno/ é

o mais importante… no fim de semana

vamos ter com amigos nossos moldavos…

com os adultos falam em romeno…

falamos pelo Skype com a família de lá…

211

C3.2.

Estratégias de

fomento da

aprendizagem

da LH

Presença/ausência

de estratégias

participamos nas festas organizadas pelas

associações moldavas/ no Natal/ na

Pascoa/ e eles gostam de participar/

decoram poesias/ cantigas / estão

interessados em saber as nossas

tradições… //… reconheço que em

pequenos eu lia para eles histórias/ contos

em romeno/ agora não/ porque eles têm

mais para estudar/ não têm tempo/ estão

mais ocupados com a escola/ tem que

estudar mais/ e/ sobra pouco tempo para

romeno//…isto é ler/ e escrever/ nunca pus

o mais novo escrever // o mais velho sabe

escrever/ penso que ainda se lembra ((ri))/

mas eu acho que não é isto mais

importante/não porque vão saber escrever

vão ser mais moldavos” (MD50)

“não sei de nenhuma escola (“de sábado”)

(MD 56) seria bom (existir estas escolas)

…para melhorar a LR/ a parte oral/ e

escrita/ porque não?” (MD62)

“quanto menos eles falarem romeno/ mais

falarão português” (MD52) - uma

conclusão

C4. Desafios

que os pais

moldavos

enfrentam na

manutenção da

LH

C4.1.

Dificuldades

que os pais

moldavos

enfrentam;

“ninguém que nos ajude// em pequenos

não podia um minuto deixá-los (os filhos)

com alguém/ não tinha com quem// depois

a língua/ quando é para ajudá-los nos

trabalhos/ ou até educá-los/ e transmitir os

valores da nossa cultura…” (MD66)

“é difícil ser mãe/ uma boa mãe/ em

qualquer lado/ mesmo no teu país/ mas é

mais difícil fazer este papel numa terra

estrangeira / e muito mais difícil quando os

pais querem transmitir aos filhos a cultura

e a língua do país de onde vem… quem

teve que fazer estes ajustes somos nós/ os

pais/ os filhos não passam por aquilo que

nós passamos …acho que o maior desafio

e saber educar os filhos viver dignamente

nos dois países/ respeitar as duas culturas/

aprender as duas línguas/ e gostar das

duas…” (MD72)

“o facto de não ler como dantes/ de não

estar mais tempo juntos/ por causa da

212

C4.2. Fatores

situacionais e

contextuais que

interferem no

desenvolviment

o e na

manutenção da

LH

C4.3. Papeis

autoatribuídos

escola” (MD52)

“…falta de tempo/ falta de organização…”

(MD80)

“é preciso mais esforço por nossa parte…”

(MD74)

“eu reconheço que devia insistir mais na

aprendizagem da LR” (MD78)

“(a responsabilidade pela manutenção da

LH) é dos pais/ claro/ só dos pais… a LR

em Portugal não é considerada entre as

mais importantes/ nem acredito que nos

próximos anos terá um valor maior/ por

isso não espero que será feito alguma coisa

para dar importância a essa língua”

(MD82)

“…isso lhes digo aos meus filhos/ nunca

se sentirem mal por causa de serem

assim…” (MD92)

C5.

Representações

dos pais sobre a

cultura de

origem e a

cultura

portuguesa

Distância/proximi

dade entre a

cultura de origem

e a cultura

dominante

Assimilação/

biculturalismo/mu

lticulturalismo

“…claro que eu não posso generalizar a

partir de uns poucos moldavos que eu

conheço como alunos bons e muito bons/

mas custa-me acreditar// por outro lado/

sim/ eu sei que não é nada fácil no início/ a

integração para muitos é muito difícil/ o

lado emocional às vezes não reziste às

dificuldades/ e então parece que tudo corre

mal// as pessoas são diferentes e passam

pelas dificuldades de maneiras diferentes”

(MD84)

“a Pascoa festeja-se mais… na Moldávia

não há Carnaval… somos cristãos

também… lá se gasta só nos cadernos…

uma mãe quer saber os resultados do seu

filho não só dos testes e da nota final…”

(MD86)

“eu gostaria de ter noras da minha

cultura… estou a pensar que eles se

entendam…” (MD88)

“…penso que todo o imigrante sente isso/

talvez não reconhecem/ mas no fundo do

coração/ sempre tem saudades da sua

terra// eu tenho saudades como tinha no

primeiro ano/ não passa um dia sem pensar

neles/ na família de lá…” (MD98)

213

“…vejo dar mais importância a Natal… há

muitos dias santos que coincidem com os

nossos… a cultura da escola é bastante

diferente/ eu ainda não me habituei com

certas coisas/ como por exemplo comprar

livros todos os anos/ gastar tanto dinheiro

nos livros… o aceso à escola ou ao

professor/ não podemos incomodar muitas

vezes o professor” (MD86)

“…gosto cada vez mais de portugueses/

portanto/ quem sabe/ se daqui há uns anos/

quando eles se vão casar/ eu não estiver

até muito contente ter uma nora

portuguesa” (MD88)

“…é sempre bom conhecer mais de que

uma língua/ mais de que uma cultura//

…uma pessoa não perde com isso/ pelo

contrário/ só ganha” (MD90)

“…uma pessoa com muitos conhecimentos

tem uma autoestima maior que outra com

menos conhecimentos… podemos só

ganhar em ter duas culturas (MD92)

Entrevista A2

Categorias Subcategorias Indicadores Unidades de registo

C1.

Representações

das crianças

sobre a LH

C1.1. Língua

como

instrumento de

construção e

afirmação de

identidade

C1.2. Língua

como objeto

afetivo

C1.1.1. Forma

como percebe a

sua nacionalidade

C1.1.2. Sentidos

de pertença

C1.2.1 Relação

afetiva

criança/LH/cultur

a moldava

“…eu tenho a nacionalidade portuguesa”

(D08)

“…também tenho a nacionalidade

moldava” (D10)

“…eu nasci em Portugal e os meus pais e

os meus avós nasceram na Moldávia”

(D12)

“eu sinto que sou moldavo/ e depois

português” (D14)

“… aos moldavos eu digo assim/ aos

portugueses posso dizer que sou

português/ depois posso dizer que os meus

pais são de Moldávia” (D18)

desenha-se a falar romeno com a avó pelo

Skype “…eu também quis falar com a

minha avó” (D30)

214

é (fácil falar romeno) …porque eu aprendo

com os meus pais em casa e porque vou

muitas vezes a Moldávia e aprendo muito

com os meus avós…” (D38)

“eu gosto (de falar a LR) …/ os meus pais

não me pedem// eu quero falar” (D40)

“assim aprendo mais línguas e sei falar

melhor// se não fosse tão importante eu

quando ia a Moldávia não sabia falar com

os meus avós” (D44)

“sinto-me especial/ sinto-me diferente da

maioria dos meus colegas que só sabem

falar português” (D46)

“(Moldávia) significa a terra dos meus

avós/ onde eu vou de férias// as minhas

férias de verão são muito interessantes”

(D62)

C2.

Representações

das crianças

sobre a LP

C2.1. Língua

como

instrumento de

construção das

relações

interpessoais

C2.2. Língua

como objeto

afetivo

C.2.1.1. Relação

criança/língua/am

igos

C2.2.1. Relação

afetiva criança/LP

“português” (a língua que usas no seu dia-

a-dia) (D22)

“…na escola é português…” (D24)

“Portugal é o lugar onde eu tenho os meus

amigos” (D72)

“gosto de falar mais português/ porque

falo com os meus amigos e com a

professora// porque é mais fácil/ porque a

maior parte do tempo falo português”

(D76)

C3. Práticas de

uso e

aprendizagem

da LH

C3.1. Contextos

e as ocasiões de

contacto da

criança com a

LH

C3.1.1.

Momentos de dia

em que a criança

contacte com a

LH

C3.1.2. Contextos

de contacto com a

LH

C3.1.3.

“…eu aprendo com os meus pais em casa

e … vou muitas vezes a Moldávia e

aprendo muito com os meus avós// eu

quando não sei palavras/ pergunto-lhes”

(D38)

“… romeno é só em casa…” (D 24)

“falo com os meus pais e com o meu

215

C3.2.

Estratégias de

fomento da

aprendizagem

da LH

Frequência de

contacto com a

LH

Presença/ausência

de estratégias

irmão” (D84) / de manha e à tarde/ quando

chego da escola/ e o meu irmão da

faculdade/ahm/ e os meus pais do

trabalho” (D88)

“…também com a colega moldava/ mas

poucas vezes” (D92)

“sei ler também/ um pouco// não percebo

lá muito bem dos acentos/ não dos acentos/

da (…pronuncia)” (D96)

“sim/ dantes era a mãe que lia/ agora sou

eu// a mãe é que me ajuda quando eu não

sei” (D98)

“as minhas férias na Moldávia/ falar com

os meus pais e os meus avós” (D100)

“falo pelo Skype/ e também pelo

telemóvel” (D102)

“na TV eu não vejo nenhum programa em

romeno/ eu tenho dois canais romenos/

mas nunca vejo nenhum/ nem eu/ nem os

meus pais” (D106)

“os meus pais e o meu irmão sabem falar

russo// mas também vejo programas em

russo” (D82)

“com os meus amigos moldavos/ nos fins

de semana// tenho aqui o meu primo/ falo

com os pais dele em romeno” (D108)

“porque assim (aprendendo romeno na sua

escola) deixava de ser especial na minha

escola” (D116)

(gostavas de aprender o romeno com

outras crianças moldavas?) Sim/ isso sim

(D118)

216

Entrevista C1

Categorias Subcategorias Indicadores Unidades de registo

C1.

Representações

de pais

moldavos sobre

a LH

C1.1. Língua

como instrumento

de integração na

sociedade de

acolhimento

C1.1. Língua

como instrumento

de integração na

sociedade de

acolhimento

C1.2. Língua

como objeto

afetivo

C1.1.1. Importância/não-

importância da LH no processo

de integração

C1.1.1. Importância/não-

importância da LH no processo

de integração

C1.2.1. Relação afetiva pais/ LH

“…não sei se posso dizer como

muitos dos nossos moldavos

dizem/ que viemos para melhorar

a nossa situação

material…apeteceu-nos uma

aventura// e no mesmo tempo a

ideia de juntar um dinheiro para

começar a nossa vida de casados

agradou-nos…” (MA06)

“escolhi Portugal porque um tio

meu tinha vindo um ano antes e

disse-me que se arranjava

facilmente trabalho//contou-me

só coisas boas deste povo/ da

comida portuguesa/ do clima / das

praias

“sem dúvida (o papel da LR na

integração foi) o mais importante/

a origem comum da LR e LP…as

palavras muitas delas quase

idênticas/ a gramatica da LR

muito semelhante com a da LP/

tudo isso foi uma grande ajuda”

(MA16)

“ (a LR) muito importante para

mim e para a minha família…”

(MA18)

“…é minha língua materna que

vai continuar para sempre a

língua das minhas emoções/ do

meu coração / do meu povo/ dos

meus pais/ dos meus avós/ a

língua em que posso chorar e a

língua em que posso gritar de

alegria ((tremor de voz)) <SIL>”

(MA18)

“a LR?/ ((pensa)) o primeiro

pensamento que me vem na

cabeça é a mãe / depois se calhar

será família e terra natal/ mas

posso dizer de outra maneira/

passado/ presente e futuro// em

todos os momentos da minha vida

a LR me acompanhou/ me

acompanha e tenho certeza que

me acompanhará” (MA22)

“na altura do nascimento das

217

C1.3. Língua

como fator de

coesão familiar

C.1.3.1. Presença/ausência de

relação pais/LH/filhos/família

alargada

minhas filhas// o primeiro

momento quando elas nasceram

estavam a chorar muito …e eu

estava a tentar falar com elas em

português… quando eu disse em

romeno/ o mãe acalma-te/ elas

acalmaram-se logo” (MA28)

“acho que é uma obrigação as

minhas filhas saberem a minha

língua de origem e do meu

marido/ a nossa língua de origem

/ dos dois…” (MA42)

“tenho a certeza que elas têm uma

relação muito próxima…”

(MA50)

“… tenho a certeza que elas não

se imaginam a não falar esta

língua/primeiro// e segundo/ as

minhas filhas têm muito orgulho

em falar romeno…” (MA50)

“… é importante elas manterem

uma ligação com a nossa família

de lá… se não for a falar romeno/

acho que não há hipótese de

continuar a ter uma relação/ para

conseguirem falar / conseguirem

entenderem-se” (MA42)

“(a LR) tem um lugar muito

importante na vida delas”

(MA52)

C2.

Representações

de pais

moldavos sobre

a LP

C2.1 Língua como

instrumento de

integração na

sociedade de

acolhimento

C2.1.1. Facilidade/dificuldade

de aprendizagem e uso

C2.1.2. Distância/proximidade

linguística com a LH

“sabia que é uma língua de

origem latina/ mas que é mais

difícil comparada com a língua

italiana/ espanhola ou francesa…

a ideia que tinha da LP era das

telenovelas brasileiras” (MA10)

…um país onde sabia que se fala

uma língua latina é preferível a

um em que a língua se aprende

mais difícil” (MA08)

“… eu não parti com a ideia que a

LP sendo uma língua estrangeira

me vai dificultar a vida no início”

218

C2.2. Língua

como instrumento

de comunicação

na sociedade

dominante

C2.2.1. Relação de respeito e

valorização

pais/LP/cultura/povo

C2.2.2. Momentos em que usa a

LP

(MA 12)

“eu penso que num processo de

integração o mais importante é a

língua/ trabalho arranjámos logo

que chegámos/ a língua

aprendemos em pouco tempo…”

(MA 14)

“a LP é como a segunda língua

para mim agora/ não posso dizer

que é a segunda língua materna /

porque não é a língua da minha

mãe/ mas eu quase que a

chamava assim…” (MA20)

“a LP também é o presente e o

futuro/ só não posso dizer o

passado/ mas vou caracterizá-la

como sendo uma conquista uma

conquista nossa/ dos

imigrantes…” (MA22)

“…português só…fica mais

quando para fazer os trabalhos de

casa/ para falarmos das matérias

de escola…” (MA34)

“a LP uso mais” (MA36)

“… português falo 70%...” (MA

38)

“porque / tudo que é fora de casa

fala-se português/ porque temos

muitos amigos que temos

convivência todos os dias que

falamos português/ porque na rua

falamos português/ porque acaba

por predominar a LP” (MA 40)

“…para tentar explicar uma coisa

que elas não perceberam eu

prefiro explicar em português…”

(MA46)

C3. Práticas de

uso e

aprendizagem

da LH

C3.1. Contextos

de uso da LR/LH

“todos os dias em casa com as

minhas filhas falamos romeno/

tentamos em casa falar só

romeno/ …e depois é com os

amigos// se não for todos os dias/

é dia sim/ dia não/ temos

convivência com amigos nossos

moldavos” (MA34)

“se for assim para dar uma

219

C3.2. Estratégias

de fomento da

aprendizagem da

LH

Presença/ausência de estratégias

explicação de género de uma

verificação falo em romeno…”

(MA46)

“não uso estratégias em

especial… no fim de semana

temos que… falar só romeno”

(MA54)

“… passeamos na rua / ou em

casa nós as três temos de falar só

romeno/ pronto/ é para praticar

mais” (MA56) ... “(e isso) ajuda

muito/ claro” (MA58)

“considero necessário (existir as

“escolas de sábado”) / e tenho

muita pena por não conseguir por

as minhas filhas lá” (MA64)

“é um pouco longe e para ir lá

tínhamos que desistir das

atividades que elas estão a fazer

ao sábado” (MA66)

“(insiste com a escrita da LR)

porque eu gostava que as minhas

filhas saberem ler e escrever

romeno / porque elas quando

forem para Moldávia pudessem

ler os livros que eu li e que o avô

tem na biblioteca” (MA94)

C4. Desafios

que os pais

moldavos

enfrentam na

manutenção da

LH

C4.1. Dificuldades

que os pais

moldavos

enfrentam

C4.2. Fatores

situacionais e

contextuais que

interferem no

desenvolvimento e

“…se elas estivessem na

Moldávia elas teriam uma

educação mais rígida e não com

tanta liberdade” (MA76)

“o meu maior desafio agora que

elas estão na escola…é começar a

aprender a gramatica portuguesa

com elas ((ri))” (MA80)

“porque se eu considerava que

sabia falar e escrever bem

português / agora não estou tão

certa quanto a isso” (MA84)

“por enquanto não (tenho

dificuldades na manutenção da

LH)// porque elas não começaram

ainda a escrever romeno/ só

começaram este ano a ler romeno

…” (MA88)

“eu tenho tempo e vou fazer

220

na manutenção da

LH

C4.3. Papeis

autoatribuídos

sempre por isso/ sempre vou

arranjar tempo por isso// a única

dificuldade que às vezes tenho/ é

talvez um bocadinho daquela

incerteza será que eu estou certa?/

parece-me que sei bem a

gramatica da nossa língua/ no

entanto/ tenho às vezes esse

receio de não ensinar errado”

(MA92)

“da mãe/ a responsabilidade é só

minha/ não vou responsabilizar

ninguém que as minhas filhas não

sabem suficientemente bem a LR/

sou eu a única responsável/ e

claro/ também o pai” (MA96)

C5.

Representações

dos pais sobre a

cultura de

origem e a

cultura

portuguesa

Distância/proximidade entre a

cultura de origem e a cultura

dominante

Assimilação/

biculturalismo/multiculturalismo

“eu tenho um casal de amigos/ a

mãe é ucraniana e o pai é

moldavo/... e a menina deles fala

quatro línguas no mesmo

tempo… foi a melhor aluna do

ano dela e a falar quatro línguas/

não todas na perfeição/ mas

razoavelmente bem…acho que

vindo de culturas diferentes e

falando mais do que uma língua

ajuda estes alunos ter sucesso na

escola” (MA100)

“têm algumas diferentes/ têm

alguns comuns … a maneira de

estudar (MA104) … celebrar as

festas de Natal / principalmente a

de Pascoa/ é um pouco diferente

lá … mas tenho que reconhecer

que fiquei com as memórias

daqueles tempos que nós

conhecemos antes de emigrar/ a

tendência é fazer comparação

com aquilo que nos lembramos

daquele tempo/ e os tempos

mudaram” (MA108)

“…quando a pessoa acaba por se

integrar muito bem numa cultura/

penso que já mistura coisas da

sua cultura de origem com coisas

da cultura do país” (MA110)

“eu penso que a minha família é

já há muito tempo bicultural”

(MA116)

“(casar as filhas com

221

portugueses) tanto faz/ pode ser

português/ espanhol ou alemão”

(MA118)

“acho que até há lugar de mais/

de três/ e de quatro(culturas) // eu

acho que desde que seja uma

pessoa bem formada e com

aquela capacidade critica de ver

as coisas boas nas culturas/ de

aprender só coisas que lhe

possam fazer bem/ essa pessoa só

pode ganhar com isso” (MA120)

“…eu vantagens vejo muitos//

agora desvantagens/ nunca senti

essas” (MA122)

“começando com o facto de em

Portugal poder falar romeno para

ninguém entender/ e em

Moldávia poder falar português

para ninguém me compreender

((ri)) // e acabando com aquilo

que /se eu quiser fascinar os meus

amigos com uma festa moldava e

que fiquem todos impressionados/

posso fazê-lo em qualquer

momento ((ri))” (MA124)

Entrevista C2

Categorias Subcategorias Indicadores Unidades de registo

C1.

Representações

das crianças

sobre a LH

C1.1. Língua

como instrumento

de construção e

afirmação de

identidade

C1.2. Língua

C1.1.1. Forma como

percebe a sua

nacionalidade

C1.1.2. Sentidos de

pertença

“tenho dupla nacionalidade” (A06)

“sou portuguesa e sou moldava” (A08)

“porque nasci em Portugal e vivo em

Portugal/ mas a minha família é moldava e

eu também sou moldava// não / ah ((sente-

se nervosa confusa))”

“sinto (que é moldava) /e portuguesa”

(A12) … “mas também moldava” (A14)

“porque falo todos os dias romeno e porque

… romeno é a língua dos moldavos//

porque os meus pais vêm da Moldávia e

assim a minha origem e moldava” (A16) “

(Moldávia) a terra dos meus avós/ dos meus

primos/ das minhas tias e tios” (A60)

“aqui é a minha casa/ da minha irmã e dos

meus pais” (A64)

222

como objeto

afetivo

C1.2.1 Relação

afetiva

criança/LH/cultura

moldava

C1.1.3. Importância

que atribui à LH

“eu e a minha irmã somos muito orgulhosas

que sabemos falar a LR/ ahm duas línguas”

(A56)

“acho que sim (gostava que o romeno fosse

uma disciplina na escola) (A 122) … eu

podia ajudar os meus colegas a falar

romeno” A124

“porque os meus avós também são a minha

família” (A20)

“porque a avó já nos visitou algumas vezes

e sabe algumas palavras em português”

(A26)

“nós falamos as duas línguas… a mim

parece-me que eu falo mais moldavo e a

minha irmã mais português” (A36)

“se eu não falava romeno eu não conseguia

falar com os meus avós/ os meus primos/ as

minhas tias e os meus tios da Moldávia”

(A52)

C2.

Representações

das crianças

sobre a LP

C2.1. Língua

como instrumento

de construção das

relações

interpessoais

C2.2. Língua

como objeto

afetivo

C.2.1.1. Relação

criança/língua/amigos

C2.2.1. Relação

afetiva criança/LP

“…no nosso dia-a-dia falamos português”

(A38)

“falo português por causa da escola… na

maioria do tempo falo português” (A46)

“…gosto muito (falar a LP)” (A68) …“não

sei se gosto mais/ mas é mais fácil”

(A70)…“ porque a maioria do tempo falo

português” (A74)

C3. Práticas de

uso e

aprendizagem

da LH

C3.1. Contextos e

as ocasiões de

contacto da

criança com a LH

C3.1.1. Momentos de

dia em que a criança

contacte com a LH

C3.1.2. Contextos de

contacto com a LH

C3.1.3. Frequência de

contacto com a LH

“a nossa mãe fala connosco romeno quase

sempre/ para não nos esquecermos dessa

língua…” (A38)

“(com o pai) falamos romeno/ e se tivermos

alguma dificuldade numa palavra dizemos

essa palavra em português e depois o nosso

pai ajuda-nos…” (A44)

“na hora de jantar falo romeno” (A46)

“em casa / com a minha mãe e com a minha

irmã” (A82)

“com as minhas amigas moldavas no fim de

semana” (A82)

223

C3.2. Estratégias

de fomento da

aprendizagem da

LH

Presença/ausência de

estratégias

Ler em romeno

Falar com os pais e

os avós

Ver TV: programas

em romeno, desenhos

animados

Contato com outras

línguas

“quando a minha mãe nos ouve a falar

português diz-nos para falar logo romeno”

(A84)

“não é bem uma regra-regra/ mas os meus

pais querem que eu falo romeno/ gostariam

que eu fizesse um esforço para eu falar essa

língua” (A48)

“ tenho uma colega chinesa e uma

brasileira// elas ensinam-me algumas

palavras em chines e brasileiro e eu ensino-

as algumas palavras em romeno” (A86)

“já consigo ler sozinha// até agora era a

minha mãe ou o meu pai que lia” (A90)

“aprendi romeno com a ajuda da minha mãe

e da minha avó” (A92)

“falamos todos os dias pelo Skype” (A94)

“ver desenhos animados em romeno” (A98)

“a minha mãe comprava CD(s) com

desenhos animados em romeno quando

íamos de férias a Moldávia e nós víamos os

desenhos no carro// nós temos quase todos

os desenhos em português e em romeno”

(A100)

“(ver programas romenos) sobre a cultura

da Moldávia/ canções/ sobre as nossas

tradições/é mais no Natal/ na Pascoa”

(A104)

“temos amigos que falam russo e

ucraniano// em casa na TV temos canais

russos e nós gostamos de ver desenhos

animados em russo” (A76)

“… já pedi a minha mãe muitas vezes que

ela me ensinasse (russo)” (A80)

224

Entrevista B1

Categorias Subcategorias Indicadores Unidades de registo

C1.

Representações

de pais

moldavos sobre

a LH

C1.1. Língua

como

instrumento de

integração na

sociedade de

acolhimento

C1.2. Língua

como objeto

afetivo

C1.3. Língua

como fator de

coesão familiar

C1.4. Língua

como objeto de

poder

C1.1.1. Importância/não-

importância da LH no processo

de integração

C1.2.1. Relação afetiva pais/ LH

C.1.3.1. Presença/ausência de

relação pais/LH/filhos/família

alargada

C1.4.1. Apoio da LH no futuro

dos filhos

C1.5.1. Relação - problema

filhos/LH

“a vida nos trouxe/ a situação

financeira// para ser sincera/ sabe

porquê escolhemos Portugal? //

nós não escolhemos o país/ o país

escolheu-nos ((risos))// Portugal

era o país onde era mais fácil abrir

o visto” (MC06)

“sem duvida/ foi uma grande

ajuda/ ajudou muito” (MC32)

“(a LH) é a língua do meu país…”

(MC38)

“a língua moldava continua a ser a

minha língua materna/ sem duvida

alguma…” (MC40)

“família/ é a única coisa que eu

tenho lá/ de que tenho saudades”

(MC42)

“((sorrir)) quando estou enervada/

posso começar em português e

acabo em moldavo/ também

quando lhe quero falar mais

depressa sobre alguma coisa/

sempre uso as duas e até as três

línguas/ o russo também…”

(MC54)

“não sei se a A terá uma relação

próxima com o moldavo // se

gosta de falar/ eu diria que gosta/

se não gostasse/ ela não ia

falar…” (MC 66)

“nós em casa falamos três línguas/

com a filha mais velha eu falo

moldavo/ às vezes português //

com a mais nova falo mais

português e russo// como a língua

do pai é russa/ ele fez questão ela

saber russo // lá na Moldávia toda

gente sabe falar russo e enquanto

os pais dele (os avós) não sabem

falar moldavo…// assim sendo/

ela fala mais russo do que

moldavo// mas percebe moldavo/

percebe o que eu falo com a A”

(MC 34)

“…para falar com os meus / com a

família de lá // mas também quero

que ela conheça a minha língua”

225

C1.5. Língua

como problema

(MC 64)

“com a mais nova insisti que a sua

primeira língua fosse português//

porque eu ainda me lembro que o

meu marido queria que ela

aprendesse russo/ mas eu queria

falar nos primeiros dois-três-

quatro anos português/ eu falei

com ela só português/ que eu não

queria que ela depois fosse para

escola ou jardim de infância e

tivesse o sotaque de russo” (MC

36)

C2.

Representações

de pais

moldavos sobre

a LP

C2.1 Língua

como

instrumento de

integração na

sociedade de

acolhimento

C2.2. Língua

como

instrumento de

comunicação na

sociedade

dominante

C2.1.1. Facilidade/dificuldade

de aprendizagem e uso

C2.1.2. Distância/proximidade

linguística com a LH

C2.2.1. Relação de respeito e

valorização

pais/LP/cultura/povo

nada/ nenhum (contacto com a

LP, antes da emigração) (MC 10)

“na altura pareceu-me difícil/ eu

até chorei// eu estava a dizer que

nunca vou falar esta língua// na

altura foi muito difícil/ mas depois

quando passou um mês/ já

comecei a perceber/ passado três

meses/ eu já comecei a falar” (MC

18)

“ao principio claro/ é tudo

diferente// eu não estava

habituada/ estava a dizer que as

coisas não estão bem/ não gostava

de muitas coisas/ que detestava

até” (MC 24)

“agora/ às vezes até falta-me

palavras da minha língua ((ri))”

(MC 20)

“eu respeito muito a LP e

considero que é muito importante

saber falar um bom português//

alias/ depois de tantos anos/ é

mais que necessário falar bem

português” (MC 40)

“hospitalidade/ acho o povo

português hospitaleiro e quando

penso na LP eu penso no povo

deste país e também na cultura

dele…confiança/ viver tantos anos

226

num país significa ter confiança

neste povo/ ter confiança numa

vida melhor neste país (MC 44)

sim/(uso) mais o português (MC

56)

“no tempo do meu trabalho/ com

os vizinhos do meu prédio/

obviamente que falo português//

se em casa também uma parte do

tempo uso português/ claro que

assim posso dizer que das três

línguas e a LP que eu falo mais…

eu acho que até já sonho em

português” (MC 58)

“em português/ posso explicar (há

hora de fazer os trabalhos de casa)

/ se não souber em português/

também em russo” (MC 60)

C3. Práticas de

uso e

aprendizagem

da LH

C3.1. Contextos

de uso da LR/LH

C3.2. Estratégias

de fomento da

aprendizagem da

LH

C3.1.1. Momentos em que

contacte com a LH

C3.1.2. Contextos de contacto

com a LH

Presença/ausência de estratégias

“penso que falo todos os dias

moldavo// nos últimos tempos

acontece falar mais a LP/ mas

penso que não passa um dia sem

eu falar moldavo/ ao menos umas

palavras” (MC 52)

((sorrir)) quando estou enervada/

posso começar em português e

acabo em moldavo/ também

quando lhe quero falar mais

depressa sobre alguma coisa/

sempre uso as duas e até as três

línguas/ o russo também// faço

uma mistura das três// lembro-me

da A quando era pequena/ e isso é

uma coisa que comigo também

acontece/ ela mal via a cara do pai

falava russo/ via a minha cara e

falava moldavo ((risos))// eu

virava-me para a filha mais velha/

era moldavo// virava-me para a

mais nova/ era português//e

virava-me para o meu marido/ e

era o russo// agora não separo bem

estas três/ misturo” (MC 54)

“…com a C/ ela fez questão de

aprender a falar russo/ queria

agradar ao pai/ penso eu// porque

eu falo tanto russo/ como

moldavo//mas o pai só fala russo”

(MC 66)

227

“andou pouco tempo numa escola

ucraniana… a língua dos avós do

pai é ucraniano” (MC 68)

“…nos últimos anos já andamos a

dizer com a filha mais velha que

temos de falar com a pequena

mais moldavo// para ela praticar

também/ agora que sabe russo ela

não se vai esquecer” (MC62)

“…deixei para mais tarde o

moldavo/ para não criar uma

confusão na cabeça dela” (MC 70)

“…falando com ela moldavo

pouco a pouco/ no início menos

frases/ com o tempo mais/ ela

começaria a falar moldavo…”

(MC 72)

C4. Desafios

que os pais

moldavos

enfrentam na

manutenção da

LH

C4.1.

Dificuldades que

os pais moldavos

enfrentam

C4.2. Fatores

situacionais e

contextuais que

interferem no

desenvolvimento

e na manutenção

da LH

C4.3. Papeis

autoatribuídos

“…não ter a família/ isso faz

muita falta aos nossos filhos// não

ter aqui avós /tios / tias…” (MC

78)

“...educar um filho de outra

geração que nossa/ muito mais

acelerada/ em tudo…” (MC 80)

“…temos que mudar com eles/

talvez educar-nos a nós próprios e

depois a eles” (MC 80)

“fiz esta mudança (de emprego)

por causa de dar mais atenção a

minha filha//na Moldávia as mães

ficam pelo menos ate aos dois

anos em casa a cuidar dos

bebés…” (MC 90)

“sem dúvida alguma/ a

responsabilidade é toda dos

pais…” (MC 76)

“temos de falar com a pequena

mais moldavo// para ela praticar

também/ agora que sabe russo ela

não se vai esquecer” (MC 62)

C5.

Representações

Distância/proximidade entre a

cultura de origem e a cultura

“os alunos de culturas diferentes

que não têm bons resultados/ isto

228

dos pais sobre a

cultura de

origem e a

cultura

portuguesa

dominante

Assimilação/

biculturalismo/multiculturalismo

pode acontecer por vários

motivos// a língua diferente/ a

falta de ajuda da parte dos pais e

dos professores… sempre é mais

fácil para os de cá/ digo isto a

pensar na língua” (MC92)

“ao principio eu achava tudo

diferente/ e não gostava de nada//

tudo era o contrário… hoje até

posso dizer que acho o contrário/

hoje já não concordo com coisas

de lá / já estou habituada ao de

cá…” (MC94)

“…eu não sinto muito diferentes

as nossas culturas/ isso é sinal que

eu me habituei a este modo de

vida/ mas que também não é

assim tão diferente (a cultura

portuguesa) da cultura moldava”

(MC94)

“eu sei que a A nem quer ouvir

(de casar) dos nossos ((ri))

(MC96)…” com a C ainda não se

fala disso/ mas penso que vai ser

igual” (MC98)…“ ela disse

muitas vezes que tem vergonha de

dizer que é moldava” (MC102)

“eu não vejo nenhum problema/

até é bom ter mais do que uma

cultura// as minhas irmãs uma

emigrou para Itália/ outra está na

França// quando falamos/ pelo

Skype por exemplo/ elas contam

coisas de lá/ eu de cá// acho que é

muito bom conhecer outras

culturas” (MC104)

“línguas quanto mais melhor/ hoje

em dia quase toda a pessoa sabe

falar duas línguas/ PELO

MENOS” (MC106)

229

Entrevista B2

Categorias Subcategorias Indicadores Unidades de registo

C1.

Representações

das crianças

sobre a LH

C1.1. Língua como

instrumento de

construção e

afirmação de

identidade

C1.2. Língua como

objeto afetivo

C1.1.1. Forma como

percebe a sua

nacionalidade

C1.1.2. Sentidos de

pertença

C1.1.3. Importância

que atribui à LH

C1.2.1 Relação

afetiva

criança/LH/cultura

moldava

“PORTUGUESA/ que sou portuguesa”

(C 06)

“então// ((muito segura de si/ fala como

se isso fosse obvio)) porque nasci em

Portugal/ falo português/ e vivo em

Portugal” (C 08)

“ eu sinto-me como todos os outros

portugueses” (C 10)…” eu sempre disse

que sou portuguesa/ as minhas amigas

me tratam como portuguesa/ o que

dizem os outros não me interessa” (C

12)

“eu sei que também tenho a

nacionalidade moldava/ mas eu não sou

obrigada de dizer que sou moldava”

(C14)

“(a Moldávia) é terra dos meus avós

paternos/ é terra da minha mãe/ da

família da minha mãe…é terra dos

amigos dos meus pais” (C 54)

“na Moldávia é só passar férias” (C 56)

“ aqui/ em Portugal… aqui é toda a

minha vida/os meus pais e a minha

irmã/ os meus amigos/ os meus colegas

de escola/ os meus vizinhos(…)” (C

56)… “ a minha casa” (C58)

“russo é como a segunda língua para

mim e moldavo talvez a terceira” (C 40)

“a minha mãe nunca me disse que ela

ficaria contente por eu saber falar

moldavo… se fosse tão importante para

ela/ eu penso que ela me dizia isso” (C

74)

“a língua moldava é a língua da minha

mãe/ mas na nossa família costuma-se

falar mais russo do que moldavo (C 28)

“eu gosto muito de ir lá/ mas só de

férias/ duas-três semanas/ de resto a

minha vida é aqui” (C 18)

“penso que sim (gostaria de aprender a

LR na escola e aprendia com orgulho)”

(C 78)

C2. C2.1. Língua como C.2.1.1. Relação “… ela tem uma relação mais próxima

230

Representações

das crianças

sobre a LP

instrumento de

construção das

relações

interpessoais

C2.2. Língua como

objeto afetivo

criança/língua/amigos

C2.2.1. Relação

afetiva criança/LP

com a LP” (MC 66)

“a minha mãe sempre falou comigo

português// a língua portuguesa (LP) foi

para mim a primeira língua que eu

aprendi/ a língua que eu falei melhor”

(C 36)

“…gosto mais da LP…” (C 42)

“através da net tenho contactos mais

com o português e inglês…” (C 66)

“(em pequena a mãe lia histórias) era

mais português” (C 68)

“(a falar a LP) é tudo muito normal/

sempre foi assim/ sinto-me bem” (C 72)

C3. Práticas de

uso e

aprendizagem da

LH

C3.1. Contextos e

as ocasiões de

contacto da criança

com a LH

C3.2. Estratégias

de fomento da

aprendizagem da

LH

C3.1.1. Momentos de

dia em que a criança

contacte com a LH

C3.1.2. Contextos de

contacto com a LH

C3.1.3. Frequência de

contacto com a LH

Presença/ausência de

estratégias

“…quando a minha mãe fala com a

minha irmã ou com as minhas tias…”

(C 44)

“(vai de férias à Moldávia e fala) russo/

eles lá sabem todos falar russo” (C

46)…também digo algumas palavras em

moldavo” (C 48)

“ às vezes no fim de semana vamos ter

com os amigos moldavos da minha

mãe” (C 60)

“(contatos com a LR através da TV) não

tenho/ na TV tenho canais portugueses e

outros de outras línguas/ mas os meus

pais só veem programas russos” (C64)

“(em pequena, a mãe lia histórias) em

português e russo” (C 68)

“…ela (a mãe) nem sequer fala moldavo

comigo// // ela nem com a minha irmã

fala moldavo …assim …. só moldavo/

fala mais português que moldavo” (C

74)

“ há uns anos eu lembro-me de ter ido

nos sábados para uma escola ucraniana/

depois a minha mãe não quis que eu

continuasse/ porque aquilo era difícil

para mim e para a minha mãe…” (C 76)

231

Anexo 5

Tabela das convenções utilizadas na transcrição

Comportamento verbal/dados situacionais Notação usados

- questão ?

- silêncio <SIL>

- interrupção do outro (…)

- palavras para esclarecer ( )

- comportamento non-verbal (( ))

- pausas breves (< 2 seg) /

- pausas longas (+ 2 seg) //

- refere que entende o interlocutor ah

- gagueja ahm

- concorda hm

- refere entre aspas palavra

- enfatiza letra maiúscula

- nomes próprios, de cidades e países (Cristina, Portugal, Moldávia) letra maiúscula