anestesia em oftalmologia
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ANESTESIA EM
OFTALMOLOGIA
Bloqueio Peribulbar Punção Única
Abordagem Canto Medial versus
Abordagem Lateral
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HOSPITAL GERAL DE BONSUCESSO
SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA
CENTRO DE ENSINO E TREINAMENTO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DA RESIDÊNCIA
MÉDICA EM ANESTESIOLOGIA
Residente:
Dr. Carlos Eduardo Carneiro da Cunha Cruz Santos
Orientador:
Dr. Americo Salgueiro Autran Neto
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SUMÁRIO:
1. INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------- 4
2. ANATOMIA DO OLHO ------------------------------------------------------------------- 5
3. REFLEXO OCULOCARDÍACO ------------------------------------------------------------ 8
4. ALTERNATIVAS ANESTÉSICAS --------------------------------------------------------- 10
5. TÉCNICAS ANESTÉSICAS ---------------------------------------------------------------- 12
5.1. BLOQUEIO RETROBULBAR E PERIBULBAR
5.2. BLOQUEIO PERIBULBAR CANTO MEDIAL
6. ANESTÉSICOS LOCAIS ------------------------------------------------------------------ 18
6.1. MECANISMO DE AÇÃO
6.2. ABSORÇÃO
6.3. DISTRIBUIÇÃO
6.4. METABOLIZAÇÃO
6.5. ELIMINAÇÃO
7. GRAU DE ACINESIA OCULAR ---------------------------------------------------------- 23
8. OBJETIVOS -------------------------------------------------------------------------------- 24
9. MATERIAIS E MÉTODOS --------------------------------------------------------------- 25
10. RESULTADOS ----------------------------------------------------------------------------- 28
11. DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------------------------- 38
12. COCLUSÃO ------------------------------------------------------------------------------- 43
13. ANEXO A ---------------------------------------------------------------------------------- 45
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------------------ 48
4
1. INTRODUÇÃO
A anestesia para cirurgia oftalmológica se apresenta com uma série de desafios
a serem superados para se obter um ótimo grau cirúrgico 1 (Tabela 1). O conhecimento
da anatomia, fisiologia e farmacologia do olho é fundamental para uma boa prática
anestesia. É de fundamental importância o conhecimento de que há uma reação
ocular à anestesia e concomitantemente as drogas anestésicas e as manobras
cirúrgicas influenciam dramaticamente na dinâmica intra-ocular 1. Os pacientes que se
apresentam para esse tipo de cirurgia normalmente são idosos e possuem outras
comorbidades, como por exemplo: doença arterial coronariana, hipertensão artéria
sistêmica, doença pulmonar obstrutiva crônica entre outras 2. Tendo em vista o
envelhecimento populacional, esse número de pacientes aumentará sensivelmente até
o ano de 2020 2, e apesar dos avanços terapêuticos a quantidade de pacientes com
risco potencial de se tornarem cegos ou necessitarem de intervenção cirúrgica
oftalmológica cresce a cada dia 3.
É mandatório o conhecimento dos diversos procedimentos cirúrgicos para a
realização de anestesia para oftalmologia, e tais intervenções podem ser divididas em
dois grupos: intra-oculares e extra-oculares. No caso dos procedimentos intra-
oculares, acinesia profunda (relaxamento dos músculos retos) e controle da pressão
intra-ocular (PIO) são indispensáveis. Enquanto isso, nas cirurgias extra-oculares, o
controle a PIO perde importância, enquanto o controle do reflexo óculo-cardíaco
assume importância 1.
5
2. ANATOMIA DO OLHO
O anestesiologista deve ter conhecimento sobre a anatomia ocular para
promover o melhor tipo de campo cirúrgico para o procedimento a ser realizado 5. O
olho se divide em: órbita, o olho propriamente dito, os músculos extra-oculares, as
pálpebras e o sistema lacrimal 4 (Figura 1).
A órbita é uma estrutura óssea, que abriga o globo ocular e está associada a
outras estruturas do crânio. A órbita é formada pelos ossos: frontal, zigomático, asa
maior do esfenóide, maxila, palatino, lacrimal e etmóide 4.
O forame ótico, localizado no ápice da órbita, contém o nervo óptico a artéria
oftálmica, assim como os nervos simpáticos do plexo carotídeo. A fissura orbital
superior transmite os ramos superior e inferior do nervo oculomotor; os ramos
lacrimal, frontal e nasociliar do nervo trigêmeo; os nervos troclear e abducente e as
veias oftálmicas superior e inferior. As fissuras orbital inferior e esfenomaxilar contêm
os nervos infra-orbital e zigomático e a comunicação entre a veia oftálmica inferior e o
plexo pterigóide. O foram infra-orbital, localizado 4 mm abaixo da borda orbitária na
maxila, contém o nervo, artéria e veia infra-orbital. A fossa lacrima, localizada na
porção superior lateral da órbita, contém a glândula lacrimal. O nó supra-orbital,
localizado no terço medial a órbita superior, contém o nervo, artéria e veia supra-
orbital. Esses pontos citados são palpáveis e consistem de referência para a realização
de bloqueios oftálmicos usuais 4,5.
O globo ocular consiste de uma esfera maior incorporada a uma esfera menor
na sua superfície anterior. A esclera é uma camada protetora fibrosa externa, que
6
provém rigidez e mantém o formato do olho. A porção anterior da esclera, a córnea, é
transparente e permite a passagem de luz para as estrutura internas do olho. O
formato bi-esférico do olho existe porque o arco de curvatura cordial é mais inclinado
que o arco esclera. O foco dos raios de luz para a formação da imagem na retina se
inicia na córnea 4,5.
O trato uveal, camada média do globo, é vascular e está em diaposição da
esclera. Um espaço virtual separa a esclera do trato uveal, é o espaço supracoroidal.
Esse espaço, entretanto pode se tornar preenchido de sangue durante uma
hemorragia supracoroidal, normalmente associada a uma complicação cirúrgica. A iris,
o corpo ciliar e a coróide compõem o trato uveal. A íris recobre a pupila, que controla a
quantidade de luz que penetra no olho por contração de três grupos musculares. O
dilatador da íris tem inervação simpática, o esfíncter da íris e o ciliar têm inervação
parassimpática. Posteriormente a iris se encontra o corpo ciliar, que produz o humor
aquoso. Os músculos ciliares, situados no corpo ciliar, ajustam o formato à lente para
acomodar o foco para as várias distâncias. Grandes vasos e uma rede de vasos de
menor calibre compõem a coróide, que supre a nutrição da porção posterior da retina
4,5.
A retina é uma membrana neurossensorial, composta de dez camadas que
convertem impulsos luminosos em impulsos neurais, que são carregados através do
nervo óptico até o cérebro. Localizado no centro do globo estão as cavidades vítreas,
repletas de uma substância gelatinosa chamada de humor vítreo. Esse material
encontra-se aderido à retina, assim como aos vasos e ao nervo óptico. O humor vítreo
pode puxar a retina, causando o rompimento ou até o descolamento de retina 4,5.
.
7
O cristalino, localizado posteriormente a pupila, tem a função de refração dos
raios que passam através da córnea, para focalizar a imagem que se forma na retina. O
músculo ciliar, cujo estado de contração permite as várias modalidades de estado
dessa lente, regula o formato e a grossura da mesma 4,5.
Os músculos extra-oculares, que são em número de seis, controlam o
movimento do olho na órbita em diversas posições. A glândula lacrimal bi lobulada,
produz um líquido que mantém a superfície do globo umedecida. A drenagem lacrimal
é feita por um sistema composto por: puncta, canalículo, saco lacrimal e ducto
lacrimal. Bloqueios deste sistema ocorrem com frequência necessitando intervenção
cirúrgica 4,5.
Cobrindo a superfície do globo e formando o interior das pálpebras está a
conjuntiva. Por possuir uma grande superfície absortiva, é um sítio popular de
administração de drogas oftálmicas. As pálpebras possuem quatro camadas: a
conjuntiva, a placa tarsal cartilaginosa, camada muscular composta pelos orbiculares e
levantador da pálpebra e a pele. Sua função primordial é a proteção ocular de objetos
externos e manutenção da superfície da córnea úmida 4,5.
O suprimento sanguíneo do olho e da órbita é feito por ramos da carótida
interna e externa. A drenagem venosa é composta por anastomoses da veia orbital
superior e inferior. A drenagem venosa do olho é feita principalmente pela veia central
da retina. Toda a drenagem venosa termina no seio cavernoso 4,5.
A inervação sensorial e motora do olho e seus anexos é complexa, com vários
pares cranianos suprindo essas estruturas. Um ramo do nervo oculomotor supre a raiz
motora do gânglio ciliar, que então supre o esfíncter da pupila e o músculo ciliar. O
nervo troclear supre o músculo obliquo superior. O nervo abduscente supre o músculo
8
reto lateral. O nervo trigêmeo constitui a inervação mais complexa do olho e seus
anexos. Por fim, o ramo zigomático do nervo facial se divide em superior, suprindo o
frontal e orbicular superior da pálpebra, e inferior, suprindo o orbicular inferior da
pálpebra 4,5.
3. REFLEXO OCULOCARDÍACO
Descrito primordialmente por Bernard Aschner and Guiseppe Dagnini, em
1908, o reflexo óculo-cardíaco é visto ao exercermos pressão ou tracionarmos os
músculos extra-oculares. Ainda é descrito que o reflexo pode ser obtido quando da
realização do bloqueio retrobulbar, por trauma ocular ou por pressão exercida no
tecido remanescente na orbita após enucleação ocular 6. O ramo aferente é o nervo
trigêmeo, enquanto o estímulo eferente fica a cargo do nervo vago. Apesar da
manifestação mais comum do reflexo ser bradicardia sinusal, uma infinidade de
arritmias cardíacas pode advir desse estímulo, como por exemplo: ritmo juncional,
ritmo atrial ectópico, bloqueio atrioventricular, bigeminismo ventricular, contrações
ventriculares multifocais prematuras, marcapasso aberrante, ritmo idioventricular,
assistolia e taquicardia ventricular 7. Esse reflexo pode ocorre durante anestesia
regional ou geral, entretanto algumas situações predispõem ao fenômeno como, por
exemplo, hipercarbia e hipóxia, assim como plano anestésico inadequado.
Alguns estudos tentaram mostrar a incidência desse reflexo nas cirurgias
oftalmológicas, porém estes estudos demonstraram grande variabilidade de
resultados. Berler e colaboradores 6 demonstraram uma incidência de 50%, enquanto
outros estudos mantiveram um número muito variável, em escala de 16 a 82%. Um
9
detalhe importante é que a maioria dos estudos que demonstram grande incidência de
casos são realizados com crianças, grupo etário sabidamente mais propenso ao
fenômeno, por possuírem reflexo vagal mais acentuado 8.
Uma variedade de manobras para abolir o reflexo foi descrita, no entanto
nenhuma se mostrou eficaz até o presente momento. A inclusão de drogas
anticolinérgicas como atropina e glicopirrolato como pré-medicação para profilaxia do
reflexo foi algumas vezes questionada, porém se mostrou inefetiva 9.
A injeção de atropina intravenosa, 30 minutos antes do procedimento foi
inicialmente tomada como profilática, porém em estudos posteriores, se mostrou tão
maléfica quanto a não injeção, por aumentar a chance de produção de arritmias
ventriculares malignas nesses. Foi demonstrado claramente que a atropina teria um
potencial arritmogênico e irritante ao miocárdio, e uma séria de arritmias 10 e
distúrbios de condução 11, incluindo fibrilação ventricular, taquicardia ventricular,
bloqueio de ramo esquerdo, estão associadas a infusão de atropina
A administração de bloqueios oftálmicos apesar de terem um importante papel
no bloqueio da via aferente do arco reflexo, não está isenta de riscos, já que a sua
administração está associada a uma série de complicações que incluem: hemorragia
retrobulbar, lesão de nervo óptico, perfuração de globo ocular, injeção de anestésico
local no espaço subaracnóideo e até mesmo a precipitação do reflexo oculocardíaco
21,25,32.
Tendo em vista que medidas profiláticas, como a administração de drogas
anticolinérgicas previamente descritas, não se mostraram tão benéficas, até o
presente momento, em geral nos deparamos com o fato para podermos tratá-lo 1,12,13.
Moonie e colaboradores mostraram que com manipulações repetidas, é menos
10
provável de ocorrer bradicardia reflexa, provavelmente pela fadiga do arco reflexo.
Porém, se ocorrer uma arritmia de alto grau, atropina dever ser administrada, porém
somente após o cirurgião cessar a manipulação ocular 12.
Um caso especial seriam as cirurgias pediátricas de estrabismo, onde
frequentemente utiliza-se atropina intravenosa, na dose de 0.02mg/kg, antes do início
da cirurgia 13. Uma alternativa, seria o glicopirrolato intravenoso, na dose de
0.01mg/kg, que está associado a uma taquicardia inferior à administração de atropina
13.
4. ALTERNATIVAS ANESTÉSICAS
Como descrito anteriormente, a cirurgia oftálmica requer uma série de
premissas básicas, além do fato do anestesista se manter longe da cabeça do doente
durante todo do tempo cirúrgico, o que por vezes poderá acarretar dificuldades de
resolução de problemas relacionados à via aérea do paciente, assim como a
identificação de complicações dos bloqueios realizados 14. São importantes pontos
para uma anestesia em oftalmologia: segurança, acinesia, analgesia, sangramento
mínimo, abolição do reflexo oculocardíaco, prevenção da hipertensão intraocular,
cuidado com interação de drogas oftálmicas e venosas, emergência suave evitando
vômitos, tosse e estímulo 14.
Inúmeras técnicas anestésicas são úteis em oftalmologia, entre elas temos: o
bloqueio peribulbar, o bloqueio retrobulbar, bloqueio sub-Tenoniano ou episcleral,
anestesia tópica, injeção intracameral e a anestesia geral propriamente dita. Cada tipo
de anestesia está reservado para um determinado paciente, sendo o mais comum a
11
realização de anestesia geral na criança, já que a mesma tem baixa tolerância à
realização de bloqueios 8. A técnica anestésica varia conforme a instituição, a
experiência do anestesista, o tempo cirúrgico, o tipo de cirurgia, entre outras variáveis,
sendo importante um entrosamento entre anestesiologista e equipe cirúrgica 1,14.
Tradicionalmente, a técnica anestésica mais comumente descrita para a cirurgia
de catarata é o bloqueio retrobulbar 22,24. Entretanto, desde a criação do bloqueio
peribulbar, em 1986, por Davis e Mandel 15, esse bloqueio vem se tornando uma
importante opção, tendo em vista um padrão de segurança superior. Recentemente
tem se utilizado também anestesia tópica 16 e o bloqueio sub-Tenoniano 17 para esse
tipo de cirurgia. Para cirurgias de retina os bloqueios também seriam as melhores
opções, todavia alguns cirurgiões advogam melhores condições cirúrgicas com
anestesia geral 18.
Ao ser administrada, a anestesia regional na orbita do paciente é de
fundamental importância monitorizar os sinais vitais do doente, através de
cardioscópio, oxímetro de pulso e pressão não invasiva 1,14. É preciso por vezes, sedar o
paciente previamente a realização do bloqueio, devido a uma ansiedade natural, e
dessa forma deve-se estar atento para a depressão respiratória causada pelos
sedativos usuais, assim como outras complicações menos freqüentes como o reflexo
oculocardíaco e a anestesia subaracnóidea acidental 1,14.
12
5. TÉCNICAS ANESTÉSICAS
5.1. BLOQUEIO RETROBULBAR E PERIBULBAR
A anestesia regional em oftalmologia foi descrita inicialmente em 1884, por
Knapp 19. No início do século 20, Atkinson 20 introduziu o bloqueio retrobulbar. É uma
técnica de bloqueio de facilmente se atinge um grau de analgesia e acinesia necessária
para o ato cirúrgico14,17-19. O bloqueio peribulbar foi introduzido mais recentemente
por Davis e Mandel 15, que é uma variação do bloqueio retrobulbar, que se obtém
através da profundidade e angulação da órbita. Os quarto músculos retos, e seu tecido
conectivo que formam um septo, acabam por gerar um compartimento conhecido
como cone orbital. Esse cone se estende da origem dos músculos retos em volta do
forame óptico, no ápice da órbita, até a inserção dos músculos no globo ocular. O
bloqueio retrobulbar é realizado, quando se penetra com a agulha no cone orbital 21
(Figuras 2 e 3), e se injeta certa quantidade de anestésico nessa região. O bloqueio
peribulbar se diferencia do anterior, pela não penetração do cone orbital pela agulha,
dessa forma o anestésico é injetado fora do cone e se dispersa pelas estruturas ali
posicionadas 22.
Ripart e colaboradores 22 demonstraram em cadáveres, que a injeção
peribulbar se difunde para o espaço intraconal, e soluções colocadas no espaço
intraconal se difundem para o espaço peribulbar.
O bloqueio peribulbar é realizado direcionando a agulha em um ângulo menos
acentuado e com uma penetração menor, paralela ao globo ocular, em direção a asa
maior do osso esfenóide (Figuras 4 e 5). O anestésico local então é injetado no espaço
13
extraconal, e se difunde para o nervo óptico e outras estruturas, estabelecendo uma
anestesia condutiva. A segurança teórica maior do bloqueio peribulbar é devida a
menor penetração da agulha na orbita, assim como a distância maior entre o ponto de
injeção e as estruturas intra-orbitárias vitais 22.
O bloqueio retrobulbar, ou também chamado intraconal, por posicionar a
agulha mais próximo das estruturas a serem bloqueadas, necessita de menos volume
de anestésico, tem uma latência menor e promove anestesia intensa e profunda. Já o
bloqueio peribulbar, ou extraconal, por posicionar a agulha mais distante das
estruturas nervosas, necessita de um volume de anestésico local maior, e tem um
tempo de latência prolongado 22. O local de punção clássico dos dois bloqueios é o
mesmo, ou seja, a região inferotemporal, mais precisamente na junção do terço lateral
com os dois terços mediais da borda orbitária inferior 22. O ponto exato de punção
pode ser alterado mais lateralmente evitando-se assim a injeção de anestésico local no
músculo reto inferior que é muito delicado. Esse fato é importante já que a injeção
intramuscular de anestésico local é um importante fator de risco para estrabismo no
pós-operatório 19. Novos pontos de punção vêm sendo estudados a cada dia, e
atualmente foi demonstrado que a punção medial (caruncular) é uma importante
alternativa para os bloqueios oftálmicos, tendo níveis satisfatórios de acinesia e
analgesia, com um número reduzido de complicações 24,25. A injeção complementar na
região superior da órbita tem sido abolida da rotina na maioria dos serviços, devido ao
elevado índice de complicações em decorrência da presença de uma grande
quantidade de estruturas nervosas e vasculares dessa região 24.
Há diversos tipos de agulhas, para a realização dos bloqueios oftalmológicos,
sendo que já foi demonstrado por Katsev e colaboradores 26 que as agulhas maiores
14
que 31mm, têm maior risco de atingir estruturas nobres da órbita. As agulhas podem
ainda ser classificadas em relação a seu tipo de bisel, sendo as agulhas mais cortantes
menos traumáticas a pele durante o momento da inserção 27, e tendo menor índice de
complicações no caso de uma punção inadvertida do globo ocular. Era uma conduta
muito utilizada, o pedido para o paciente olhar em direção superior nasal durante a
inserção da agulha, porém foi comprovado posteriormente, por Unsold 28, que tal
manobra facilitaria o posicionamento do nervo óptico na direção da entrada da agulha
no globo ocular durante o bloqueio retrobulbar, sendo a mesma abandonada.
Atualmente, advoga-se a manutenção do olhar na posição neutral durante o bloqueio,
desta forma mantendo o nervo óptico distante do ponto de entrada da agulha na
órbita 28.
A paralisia das pálpebras pode ser obtida bloqueando os ramos do nervo facial
que suprem o músculo orbicular da órbita. Quando utilizamos o bloqueio peribulbar,
normalmente ocorre consequentemente o bloqueio palpebral, devido ao volume
maior de anestésico utilizado. Enquanto isso durante o bloqueio retrobulbar, esse fato
não ocorre, necessitando do completemento de bloqueio para a acinesia palpebral,
necessária durante o transplante de córnea por exemplo, evitando dessa forma a
extrusão do conteúdo intraocular após um acidental movimento das pálpebras.
Existem inúmeras formas de bloqueio do nervo palpebral, incluindo as técnicas de Van
Lint, Atkinson, O’Brien e Nadbath-Rehman, cada qual com suas particularidades e
complicações potenciais 29.
Complicações associadas à anestesia regional podem ser locais e sistêmicas, e
podem resultar em cegueira permanente ou até o óbito (Tabela 2). O sangramento
pode ocorrer superficialmente ou de forma mais profunda, sendo o primeiro menos
15
comprometedor e o último uma situação em que se gera um aumento de pressão
intraocular importante, associada a proptose do globo e aprisionamento da pálpebra
superior. O paciente deve ser levado ao oftalmologista para o diagnostico e
tratamento adequado, necessitando por vezes de cantotomia lateral. Os sangramentos
de pequena monta podem atrapalhar o procedimento cirúrgico, e dessa forma deve
ser discutido com a equipe, o grau de sangramento, o tipo de procedimento realizado
e a condição clínica do paciente 27,31.
Outra complicação, menos frequente, é a perfuração da esclera. Descolamento
de retina, trauma mecânico ou injúria química por anestésico local pode ocorrer. O
resultado final pode ser a cegueira ou perda importante de visão. A diferença de
definição entre punção do globo ocular e perfuração é importante, já que a primeira
diz respeito a uma punção apenas, enquanto a segunda está associada a duas ou mais
punções do globo, isto é entrada e saída da agulha. Fatores de risco para a perfuração
incluem globo alongado (como na miopia por exemplo) ou formato atípico do olho,
principalmente quando se utiliza do bloqueio retrobulbar. Tal fato foi demonstrado em
estudo utilizando ultrassonografia, que demonstrou um posicionamento da agulho
mais próximo ou até mesmo tocando a órbita 30. Esse fato comprovou estudos
anteriores, em relação a segurança do bloqueio peribulbar nesses tipos de pacientes,
onde a agulha é direcionada se afastando da órbita. É importante salientar que mesmo
nesse tipo de bloqueio, ainda há o risco de perfuração da esclera lateralmente com a
agulha 30.
Existe uma relação inversamente proporcional entre o risco de perfuração da
esclera e a experiência do anestesiologista que está realizando o procedimento. Essa
afirmação é comprovada por diversos estudos que demonstrou o índice de perfuração
16
maior em centros de treinamento e ensino na década de 90 31. Estudos posteriores
demonstraram que o anestesiologista que se propor a realizar os bloqueios oftálmicos
deve estar proficiente e ter profundo conhecimento da anatomia ocular e dos fatores
de risco desse tipo de anestesia 32. Dessa forma, uma anamnese pré-anestésica
complete deve ser feita, em busca de história de miopia e cirurgias oftálmicas
anteriores, pois ambas aumentam o risco de o paciente possuir uma órbita alongada.
O exame físico deve ser minucioso em relação a orbita e o globo ocular, e deve ser
verificado a presença de enofltalmia, pois um olho retraído é um fator de risco a mais
para a punção inadvertida da órbita 31,32. O exame laboratorial mais importante é a
ultrassonografia, sendo indicada em pacientes que irão se submeter a cirurgia de
catarata, para calcular a lente apropriada a ser colocada.
Anestesia do tronco cerebral e injeção intravascular inadvertida são algumas
complicações que se adicionam às outras citadas anteriormente, no entanto estas
tendem a ser mais sérias e necessitam de manobras para o manejo adequado do
paciente. No caso da injeção intravascular inadvertida, se a mesma for arterial, o
anestésico local circulará via artéria oftálmica em direção retrógrada para a carótida
interna e consequentemente o polígono de Willis. A rápida redistribuição do
anestésico local para o cérebro resultaria em potenciais convulsões, podendo ainda
ocorrer instabilidade hemodinâmica. Esse tipo de complicação é menos comum com o
bloqueio peribulbar em comparação ao bloqueio retrobulbar. Anestesia do tronco
cerebral é uma consequência da injeção de anestésico local na bainha meníngea que
recobre o nervo óptico. Diferentemente da injeção intravascular, os sintomas podem
ser tardios, e estão diretamente relacionados com a concentração e o volume da droga
que estão sendo injetados, além da área que esse anestésico atinge (Figura 7). Já foi
17
descrito um caso de início insidioso dos sintomas com perda da consciência e apnéia
que teve latência de 7 minutos 34. Um estudo dirigido por Nicoll e colaboradores 35,
demonstrou uma série de 16 casos de dispersão de anestésico no espaço
subaracnóideo, em uma amostra de mais de 6000 pacientes submetidos a bloqueio
oftalmológico. Desses paciente somente 8 tiveram parada respiratória clinicamente
significativa. Outros sinais de injeção de anestésico no sistema nervosa central são:
shivering, amaurose contralateral, perda de consciência, apnéia, hemiplegia,
paraplegia, quadriplegia ou hiperreflexia 34,35.
5.2. BLOQUEIO PERIBULBAR CANTO MEDIAL (Caruncular)
A técnica retrobulbar de bloqueio oftálmico ainda é tida como “padrão ouro”
para a realização de anestesia para oftalmologia, em muitos centros médicos mundiais
24. Entretanto o número de complicações decorrentes desse tipo de bloqueio levou a
adoção de novas técnicas de realização de punção para realização de bloqueio
oftalmológico, e o bloqueio peribulbar está incluído nessas técnicas 14. Entretanto o
bloqueio peribulbar não se mostrou inócuo, e uma série de complicações foi
demonstrada por estudos posteriores, sendo seu número reduzido, porém ainda
significativo 36-39. Devido a essas complicações, a punção única para bloqueio
oftalmológico foi advogada por especialistas, para substituir a dupla punção realizada
até então 38-40. A técnica canto medial apesar de utilizada por muitos anestesiologistas
como complementação de bloqueios retrobulbares e peribulbares que apresentaram
falhas, foi pouco descrita como punção única para realização de bloqueio oftálmico 42-
45.
18
O bloqueio canto medial, é uma variação do bloqueio peribulbar originalmente
descrito por Mandel e Davis em 1986. Nessa nova técnica descrita por Brahma e
colaboradores em 1994 25 e aprimorada por Ripart e colaboradores em 1996 24, é
realizada uma punção medial na membrana semilunar entre a órbita em posição
neutra e a carúncula lacrimal utilizando uma agulha 25x0,7mm, com a posição ocular
neutra (Figura 8 e 9). Após a penetração de 1mm da agulha, a mesma é direcionada
medialmente, se afastando da órbita, e avança na direção anteroposterior até uma
profundidade de 20-25mm. Essa profundidade, que corresponde à passagem da pelo
ligamento medial, é determinada pelo retorno da órbita a posição neutra após leve
desvio medial na inserção da agulha. Quando não ocorre o desvio orbital, a injeção
deve ser realizada a uma profundidade de 15-17mm 24.
6. ANESTÉSICOS LOCAIS
Os anestésicos locais promovem bloqueio motor em diferentes graus de acordo
com concentrações e dose total utilizadas. Em cirurgias realizadas sobre o globo
ocular, além de bloqueio sensitivo, é também necessário para realização do ato
cirúrgico que haja acinesia proporcionada por paralisia dos músculos extrínsecos do
olho através do bloqueio pelo anestésico dos nervos oculomotor, troclear e abducente
46.
Rotineiramente tem sido utilizado para realização de bloqueio peribulbar o
anestésico local bupivacaína na sua forma racêmica. Entretanto, este fármaco
apresenta efeito cardiotóxico dose-dependente relacionado ao seu enantiômero
19
dextrógiro46,47. Em face de possíveis complicações, torna-se necessário avaliar a
utilidade de outros anestésicos locais com menores efeitos colaterais.
A bupivacaína apresenta na sua estrutura química um carbono assimétrico, ou
quiral, proporcionando a existência de dois isômeros ópticos, ou enantiômeros: a
levobupivacaína (S(-) bupivacaína) e a dextrobupivacaína (R(+) bupivacaína), com
comportamentos farmacológicos independentes em decorrência da
estereosseletividade 48
Estudos demonstraram que o componente dextrógiro da bupivacaína é o
responsável pela cardiotoxicidade da bupivacaína racêmica (S50-R50) e pela sua
refratariedade à reanimação cardiorrespiratória 49-54.
Nessa idéia se iniciaram estudos para uma nova formulação da antiga
bupivacaína, e mostrou-se uma possibilidade de criação de um excesso enantiomérico
da droga, que seria composto de 75% de excesso levógiro e 25% de excesso
dextrógiro, com características farmacológicas mais semelhantes a levobupivacaína46-
48, fármaco já estudado e sabidamente menos cardiotóxico.
Esse novo composto contém um enantiômero do cloridrato de bupivacaína,
quimicamente descrito como cloridrato de (S)-1- butil-2-piperidilformo-2’, 6’-xilidida,
sendo relacionado química e farmacologicamente com os anestésicos locais do tipo
amino-amida. O cloridrato de levobupivacaína, S-enantiômero da bupivacaína, em
excesso enantiomérico de 50% (75% de levógira e 25% de dextrógira) é um pó
cristalino, com fórmula molecular C18H28N2O. HCl, peso molecular de 324,9, e com a
fórmula estrutural mostrada na figura 10.
20
A solubilidade do fármaco em água é cerca de 100 mg/ml a 20oC, o coeficiente
de partição (álcool oleílico/água) é 1624 e o pKa é 8,09.O pKa e o coeficiente de
partição são similares ao do cloridrato de bupivacaína 43, 54-56.
Com uma idéia de se manipular a relação enantiomérica, foi observada no
modelo experimental do nervo isquiático do rato que há semelhança no bloqueio
motor entre a forma racêmica (S50-R50) e a mistura com excesso enantiomérico
levógiro em 50% (S75-R25) 55,56. Um estudo comparativo entre a levobupivacaína a
0,5% e a bupivacaína S75-R25 no bloqueio peridural mostrou que a segunda
apresentou melhor desempenho com relação ao bloqueio motor 52.
6.1. MECANISMO DE AÇÃO
A bupivacaína S75-R25, faz parte dos anestésicos locais do tipo amino-amida.
Os anestésicos locais bloqueiam a geração e condução dos impulsos nervosos, através
do aumento do limiar da excitação elétrica do nervo, por diminuição da propagação
dos impulsos no nervo e pela redução da velocidade do aumento do potencial de ação.
Esse fenômeno é dado pelo bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem58
no tecido nervoso, acarretando desta forma uma redução no pico da corrente de sódio
dependente de concetração59-61. Em geral, a progressão da anestesia está relacionada
ao diâmetro, mielinização e velocidade da condução das fibras nervosas afetadas.
Clinicamente, a seqüência da perda da função nervosa é: dor, temperatura, tato,
propriocepção e tono muscular esquelético 62,63.
21
6.2. ABSORÇÃO
A concentração plasmática da bupivacaína S75-R25 assim como outros
anestésicos locais, após administração terapêutica, depende da dose e também da via
de administração, porque a absorção do local da administração é afetada pela
vascularização do tecido, e pela presença ou ausência de epinefrina na solução
anestésica. Uma concentração de epinefrina diluída (1:200.000 ou 5 3g/ml) geralmente
reduz o índice de absorção e o pico da concentração plasmática dos anestésicos,
permitindo o uso de doses totais moderadamente maiores, algumas vezes,
prolongando a duração da ação64,65.
6.3. DISTRIBUIÇÃO
A ligação da bupivacaína S75-R25 às proteínas plasmáticas, avaliada in vitro, foi
>97% nas concentrações entre 0,1 e 1,0 3g/ml. A associação da mesma com células
sanguíneas humanas foi muito baixa (0% – 2%) entre as concentrações de 0,01 a 1,0
3g/ml, e aumentou até 32% com 10 3g/ ml. O volume de distribuição da droga, após
administração intravenosa, foi de 67 litros 65,66,67.
6.4. METABOLISMO
A metabolização da bupivacaína S75-R25 é realizada pelo citocromo P450, pelo
sistema enzimático CYP, principalmente pelas isoformas CYP 1A2 e CYP3A4. A
disfunção hepática tem efeito significativo na eliminação da droga 68. O metabolismo
22
do fármaco é alterado pela administração de indutores e inibidores das CYP1A2 e da
CYP3A4 68
6.5. ELIMINAÇÃO
A meia-vida média de eliminação do total da radioatividade no plasma foi de
3,3 horas. O “clearance” médio e a meia-vida terminal, após infusão intravenosa, foi de
39 litros/hora e 1,3 hora, respectivamente 67, 68.
A bupivacaína S75-R25 está autorizada, no Brasil, para uso clínico em anestesia
peridural, raquianestesia, bloqueios de nervos periféricos, bloqueio peribulbar e para
infiltração local em adultos 70-73. Ainda pode ser usada em uso peridural no manejo da
dor, incluindo a analgesia de parto e a dor pós-operatória em adultos. Em crianças a
pode ser indicada para os bloqueios íleoinguinal e hipogártrico 70-73.
Devido a grande semelhança química, a bupivacaína e bupivacaína S75-R25
apresentam propriedades farmacológicas semelhantes 65, 66-70 que são confirmados
pelos estudos preliminares comparando as suas características de bloqueio anestésico.
Estudos clínicos demonstraram a eficácia da bupivacaína S75-R25 para a
realização de bloqueios de plexo braquial 71, anestesia local 72, anestesia epidural em
pacientes obstétricos 73 e na população em geral69.
A menor cardiotoxicidade e intensidade de bloqueio motor promovidas por
enantiômeros levógiros puros estão provadas em estudos clínicos e laboratoriais
publicados na literatura científica 62-73. Entretanto, a avaliação das qualidades
anestésicas dos excessos enantioméricos da bupivacaína em bloqueio peribulbar
mostra-se ainda carente de maiores estudos.
23
7. GRAU DE ACINESIA OCULAR
A avaliação de acinesia ocular após anestesia regional oftálmica pode ser
avaliada de diversas maneiras. Uma escala bastante utilizada é a escala de Nicoll 75
onde o globo ocular é dividido em quatro quadrantes, e o bloqueio motor é analisado
em cada quadrante separadamente, sendo 0 = movimento completo (maior que
2mm), 1 = movimento parcial (menor que 2mm) e 2 = ausência de movimento
(acinesia). A intensidade do bloqueio motor da musculatura extrínseca do olho é dada
pela somatória dos quatro quadrantes e varia de 0a8, sendo considerado bloqueio
satisfatório uma graduação igual ou superior a seis. Ainda pode-se somar a esse valor,
uma graduação de acinesia palpebral, obedecendo a mesma regra de graduação, e
somando os valores ao final. Nesse caso o maior grau de bloqueio corresponderia a 10
enquanto o menor grau seria dado pelo valor 0 75.
24
8. OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho prospectivo é será comparar, em pacientes
submetidos à facectomia extracapsular por facoemulsificação, sob bloqueio peribulbar
com punção única, a eficácia do bloqueio em sua técnica classicamente utilizada com a
inserção da agulha em posição lateral (local de inserção na junção do terço lateral da
borda orbitária inferior com a os dois terços mediais) e a nova opção de bloqueio
realizando-se a inserção da agulha no canto medial, isto é, na região caruncular. O
volume e o tipo de anestésico local em ambos os grupos será o mesmo. Dessa forma
serão avaliados os seguintes parâmetros:
1. Tempo de latência
2. Acinesia Ocular
3. Necessidade de complementação do bloqueio
4. Avaliação do conforto do paciente durante o bloqueio (dor a injeção)
5. Incidência de complicações e intercorrências com os dois tipos de bloqueio
25
9. MATERIAIS E MÉTODOS
Após o projeto ser submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) do hospital, foram selecionados 51 pacientes com classificação do estado físico
da ASA I, II e III, a serem submetidos a cirurgias eletivas de facectomia com inserção de
lente intraocular. Serão excluídos do estudo os pacientes com glaucoma ou qualquer
contra-indicação ao bloqueio peribulbar, como infecção local, uso de anticoagulante
ou recusa do paciente.
Durante a consulta pré-anestésica foi realizada a avaliação clínica e obtido o
consentimento livre e esclarecido do paciente. Todos os pacientes receberam como
medicação pré-anestésica, clonidina 150μg via oral, 90 minutos antes da realização do
bloqueio.
Os pacientes foram aleatoriamente distribuídos em dois grupos, ambos
submetidos à bloqueio peribulbar, com bupivacaína S75-R25 no volume de 6ml. A
divisão dos grupos foi: grupo L (n=28): bloqueio peribulbar lateral; grupo M (n=23):
bloqueio peribulbar medial. A solução de bupivacaína S75-R25 utilizada é um
enantiômero com a 25% da fórmula dextrógira e 75% da fórmula levógira.
Em sala de operação foram monitorados continuamente com
eletrocardioscópio com duas derivações ao monitor (DII e V5), oximetria de pulso e
pressão arterial não invasiva sendo submetidos á punção venosa em membro superior
com cateter 20G. Após anti-sepsia, foi realizado no grupo L bloqueio peribulbar com
agulha 25 x 7 mm, com punção em rebordo orbital inferior, na junção do terço lateral
com os dois terços mediais, utilizando volume fixo de 6 ml de anestésico local. No
grupo M após antissepsia, foi realizado punção medial descrita por Brahma e
26
aprimorada por Ripart 24, com uma modificação no local de injeção, que foi em
localização perimucosa o mais próxima do osso nasal de forma perpendicular,
utilizando agulha 25 x 7 mm, com volume fixo de 6 ml de anestésico local. Após a
realização do bloqueio, foi aplicada compressão e massagem contínua do globo ocular
para facilitação de dispersão do anestésico.
A avaliação da função motora dos músculos extrínsecos do olho, através do
método desenvolvido por Nicoll e colaboradores, realizados nos momentos T1 (5min),
T2 (10min) e T3 (15min) após a injeção de solução anestésica no espaço extraconal. Foi
considerado bloqueio satisfatório a abolição da motilidade ocular nos quatro
quadrantes. Doses suplementares de anestésico local, quando necessários, foram
administradas no momento T3, com solução anestésica igual à solução inicial e com
volume de 2 a 3 ml, estando os pacientes que receberam complementação fora do
estudo comparativo . Através da avaliação da função motora, também foi avaliado o
tempo de latência da injeção realizada. A analgesia do olho foi avaliada com o início da
cirurgia. O conforto do paciente à injeção foi avaliado da seguinte forma: 0=nenhuma
dor; 1=dor leve; 2=dor moderada; 3=dor forte. Caso a injeção tivesse que ser
interrompida o paciente seria classificado como dor a injeção igual a 4.
As cirurgias foram realizadas por médicos em especialização ou especialistas do
corpo clínico do Hospital Geral de Bonsucesso, e os bloqueios realizados pelos autores.
Os resultados obtidos foram encaminhados para análise estatística, e foram
considerados estatisticamente significativos os resultados os quais a hipótese nula foi
aceita.
27
O estudo em questão foi totalmente financiado pelo Serviço de Anestesiologia
do Hospital Geral de Bonsucesso, estando o material para sua realização presente no
Arsenal do Centro Cirúrgico A do hospital supracitado.
28
10. RESULTADOS
Utilizamos dados de 51 pacientes, dos quais em 23 foram realizados Bloqueio
Medial e em 28 foram realizados Bloqueios Laterais
As tabelas abaixo apresentam os dados colhidos:
PACIENTES COM BLOQUEIO MEDIAL
Paciente T1 T2 T3 Complementação Dor Intercorrências
M01 2 4 4 SIM 1 NÃO
M02 7 7 7 NÃO 0 NÃO
M03 7 7 8 NÃO 1 NÃO
M04 7 8 7 NÃO 1 NÃO
M05 4 4 4 SIM 2 NÃO
M06 7 8 8 NÃO 1 NÃO
M07 2 2 2 SIM 1 NÃO
M08 8 8 8 NÃO 0 NÃO
M09 7 8 8 NÃO 1 NÃO
M10 2 2 2 SIM 2 NÃO
M11 6 6 6 NÃO 1 NÃO
M12 8 8 8 NÃO 1 NÃO
M13 8 8 8 NÃO 2 NÃO
M14 6 8 8 NÃO 1 NÃO
M15 8 8 8 NÃO 2 NÃO
M16 3 4 4 SIM 3 NÃO
M17 6 7 7 NÃO 1 NÃO
M18 5 7 8 NÃO 1 NÃO
M19 7 8 8 NÃO 1 NÃO
M20 5 7 7 NÃO 1 NÃO
M21 4 5 5 SIM 3 NÃO
M22 6 7 7 NÃO 1 NÃO
M23 5 7 7 NÃO 1 NÃO
Obs: O Nível de Sensação de Dor varia de 0 (zero) a 4 (quatro), sendo que 0 (zero)
significa não sentir dor alguma e 4 (quatro) significa sentir dor insuportável. Aceita-se
até o nível 3 (três). Nenhum paciente avaliou a dor no nível 4 (quatro)
29
PACIENTES COM BLOQUEIO LATERAL
Paciente T1 T2 T3 Complementação Dor Intercorrências
L01 8 8 8 NÃO 1 NÃO
L02 7 8 8 NÃO 0 NÃO
L03 6 7 8 NÃO 0 NÃO
L04 5 4 4 SIM 1 NÃO
L05 7 8 8 NÃO 1 NÃO
L06 2 4 4 SIM 2 NÃO
L07 7 8 8 NÃO 1 NÃO
L08 8 8 8 NÃO 0 NÃO
L09 4 7 7 NÃO 1 NÃO
L10 6 8 8 NÃO 1 NÃO
L11 2 2 2 SIM 1 NÃO
L12 8 8 8 NÃO 1 NÃO
L13 6 6 6 SIM 0 NÃO
L14 6 7 8 NÃO 1 NÃO
L15 7 8 8 NÃO 0 NÃO
L16 4 6 8 NÃO 1 NÃO
L17 3 6 7 NÃO 1 NÃO
L18 4 4 7 NÃO 2 NÃO
L19 8 8 8 NÃO 0 NÃO
L20 6 6 7 NÃO 1 NÃO
L21 6 7 8 NÃO 2 NÃO
L22 6 8 8 NÃO 2 NÃO
L23 7 8 8 NÃO 1 NÃO
L24 8 8 8 NÃO 0 NÃO
L25 6 6 7 NÃO 1 NÃO
L26 6 7 8 NÃO 2 NÃO
L27 6 8 8 NÃO 2 NÃO
L28 7 8 8 NÃO 1 NÃO
Obs: O Nível de Sensação de Dor varia de 0 (zero) a 4 (quatro), sendo que 0 (zero)
significa não sentir dor alguma e 4 (quatro) significa sentir dor insuportável. Aceita-se
até o nível 3 (três). Nenhum paciente avaliou a dor no nível 4 (quatro).
30
Realizamos comparações estatísticas entre T1, T2, T3 e entre a Sensação de
Dor, utilizando Análise de Variância (ANOVA) com objetivo de compararmos hipóteses
de que as médias são estatisticamente significantes, ou ainda, se uma variação das
médias encontradas pode ser conseqüência da variação amostral ou é uma boa
evidência da diferença entre as médias das populações?
A variabilidade total das amostras pode ser dividida em duas partes, ou fontes
de variabilidade. A primeira parte de variabilidade é proveniente de as populações
serem diferentes, denominada variabilidade “entre”. Quanto maior for a variabilidade
“entre”, mais forte é a evidência de as médias das populações serem diferentes. A
segunda parte de variabilidade é causada pelas diferenças dentro de cada amostra,
denominada variabilidade “dentro”. Quanto maior for a variabilidade “dentro”, maior
será a dificuldade para concluir se as médias das populações são diferentes.
Para realizarmos uma ANOVA partimos das seguintes premissas:
- As populações têm a mesma variância.
- As amostras são retiradas de populações com distribuição normal.
- As amostras são aleatórias e independentes.
A classificação do testes de análise da variância é de acordo com o número de
fatores de interesse ou que influem na variável dependente.
Por que é denominada análise da variância o procedimento que compara
médias de grupos diferentes? Por que na preparação das variabilidades entre e dentro
são utilizados os quadrados dos desvios dos valores das amostras, que fazem parte da
definição da variância.
31
De maneira formal, o teste de hipóteses para k níveis de um fator é
estabelecido da seguinte forma.
Ho: μ1 = μ2 = μ3 ... = μn
H1: Nem todas as populações têm a mesma média
A distribuição F conduzirá a decisão de aceitar ou rejeitar a hipótese nula,
comparando o F observado (Fo) calculado com a expressão:
Fo = Variância entre = Sb2
Variância dentro Sw2
com o F crítico (Fc) correspondente ao nível de significância adotado. Também podem
ser comparados o valor-PO de Fo e o nível de significância adotado.
32
As figuras a seguir apresentam o histograma das amostras de cada grupo, por
variável.
33
Podemos observar que a distribuição de frequência das variáveis é bastante
semelhante, já indicando semelhança nos resultados obtidos, semelhança essa que
será comprovada também estatisticamente a seguir.
34
COMPARAÇÃO DAS MÉDIAS
Variável T1
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Medial 23 130 5,652174 3,964427
Lateral 28 166 5,928571 2,957672
ANOVA
Fonte da
variação SQ gl MQ Fo valor-P Fc
Entre
grupos 0,964682 1 0,964682 0,282924 0,597195 4,038392
Dentro
dos
grupos
167,0745 49 3,409684
Total 168,039 50
Conclusões:
o O resultado observado mostra que a variabilidade entre os grupos é 0,28 vezes
maior do que a variabilidade entre as amostras;
o Como o F observado (Fo) é menor do que o F crítico (Fc), a hipótese nula deve
ser aceita, pois as médias das amostras não são significativamente diferentes
entre si;
o Como o valor-p 0,597195 é igual ou maior do que o nível de significância
adotado de 5% (0,05), a hipótese nula deve ser aceita.
35
Variável T2
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Medial 23 148 6,434783 3,802372
Lateral 28 191 6,821429 2,596561
ANOVA
Fonte da
variação SQ gl MQ Fo valor-P Fc
Entre
grupos 1,887742 1 1,887742 0,601585 0,441701 4,038392
Dentro
dos
grupos
153,7593 49 3,137945
Total 155,6471 50
Conclusões:
o O resultado observado mostra que a variabilidade entre os grupos é 0,60 vezes
maior do que a variabilidade entre as amostras;
o Como o F observado (Fo) é menor do que o F crítico (Fc), a hipótese nula deve
ser aceita, pois as médias das amostras não são significativamente diferentes
entre si;
o Como o valor-p 0,441701 é igual ou maior do que o nível de significância
adotado de 5% (0,05), a hipótese nula deve ser aceita.
36
Variável T3
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Medial 23 149 6,478261 3,897233
Lateral 28 203 7,250000 2,268519
ANOVA
Fonte da
variação SQ gl MQ Fo valor-P Fc
Entre
grupos 7,520673 1 7,520673 2,507077 0,11977 4,038392
Dentro
dos
grupos
146,9891 49 2,999778
Total 154,5098 50
Conclusões:
o O resultado observado mostra que a variabilidade entre os grupos é 2,50 vezes
maior do que a variabilidade entre as amostras;
o Como o F observado (Fo) é menor do que o F crítico (Fc), a hipótese nula deve
ser aceita, pois as médias das amostras não são significativamente diferentes
entre si;
o Como o valor-p 0,11977 é igual ou maior do que o nível de significância
adotado de 5% (0,05), a hipótese nula deve ser aceita.
37
Variável DOR
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Medial 23 29 1,26087 0,565217
Lateral 28 27 0,964286 0,480159
ANOVA
Fonte da
variação SQ gl MQ Fo valor-P Fc
Entre
grupos 1,110736 1 1,110736 2,142836 0,149623 4,038392
Dentro
dos
grupos
25,39907 49 0,518348
Total 26,5098 50
Conclusões:
o O resultado observado mostra que a variabilidade entre os grupos é 2,14 vezes
maior do que a variabilidade entre as amostras;
o Como o F observado (Fo) é menor do que o F crítico (Fc), a hipótese nula deve
ser aceita, pois as médias das amostras não são significativamente diferentes
entre si;
o Como o valor-p 0,149623 é igual ou maior do que o nível de significância
adotado de 5% (0,05), a hipótese nula deve ser aceita.
38
11. DISCUSSÃO
Desde a criação do bloqueio peribulbar, em 1986, por Davis e Mendel 15, este
tem se tornado uma opção importante e segura para a realização de anestesia em
cirurgias oftalmológicas. Por muitos anos se utilizou como “padrão ouro” a anestesia
retrobulbar 24, descrita inicialmente por Atkinson 20, entretanto desde o advento da
anestesia peribulbar a mesma tem sido cada vez mais adotada pelos anestesiologistas
para reduzir os riscos de hemotama peri-orbital e diplopia no pós-operatório causadas
pela anestesia retrobulbar 77,78. Ripart e colaboradores 22 demonstraram em
cadáveres, que a injeção peribulbar se difunde para o espaço intraconal, e soluções
colocadas no espaço intraconal se difundem para o espaço peribulbar.
Novos pontos de punção vêm sendo estudados a cada dia, e atualmente foi
demonstrado que a punção medial (caruncular) é uma importante alternativa para os
bloqueios oftálmicos, tendo níveis satisfatórios de acinesia e analgesia, com um
número reduzido de complicações 24,25 . A técnica canto medial apesar de utilizada por
muitos anestesiologistas como complementação de bloqueios retrobulbares e
peribulbares que apresentaram falhas, foi pouco descrita como punção única para
realização de bloqueio oftálmico 42-45. Originalmente descrito Brahma e colaboradores
em 1994 25 e aprimorada por Ripart e colaboradores em 1996 24, é realizada com uma
punção medial na membrana semilunar entre a órbita em posição neutra e a carúncula
lacrimal. Essa foi a técnica anestésica escolhida pele presente estudo para comparação
com o bloqueio peribulbar classicamente descrito por Davis e Mendel 15.
O estudo objetivou a comparação entre pacientes submetido à facectomia
extracapsular por facoemulsificação, sob anestesia regional, tendo por técnicas
39
utilizadas o bloqueio peribulbar em punção única, com a inserção da agulha em
posição lateral e medial (caruncular).
11.1 TEMPO DE LATÊNCIA
O tempo de latência é uma variável importante do presente estudo, pois
compara entre os dois grupos o tempo necessário para a instalação do bloqueio de
forma a criar condições cirúrgicas ótimas.
Analisando as amostras estudadas, apresentaram índice de Nicoll 75 igual ou
superior a 6, mínimo necessário para realização do procedimento cirúrgico, 14
pacientes no grupo M e 21 pacientes no grupo L em T1. Em T2 e T3, 17 pacientes do
grupo M e 25 pacientes do grupo L respectivamente apresentaram o índice mínimo
necessário. O resultado mostra que não houve evolução de bloqueio entre os tempos
T2 e T3, o que nos leva a conclusão de que a acinesia se instala nos primeiros 10
minutos após a realização do bloqueio, independente da técnica utilizada. O resultado
no grupo com bloqueio peribulbar medial está em correlação com os resultados
obtidos por Ripart e colaboradores 22,24.
A análise estatística realizada demonstra resultados que comprovam a
semelhança dos tempos de latência entre as duas amostras estudadas, estando essa
variável comprovadamente equivalente entre os dois tipos de bloqueios estudados.
40
11.2 ACINESIA OCULAR
A acinesia ocular é importante para a realização do procedimento cirúrgico,
pois é uma variável que facilita ou dificulta o trabalho do cirurgião. Mais uma vez o
índice de Nicoll 75 é a o valor utilizado para a análise entre as amostras estudadas, o
tempo T3 é o momento onde os grupos são observados.
Os grupos M e L apresentaram respectivamente 17 e 25 pacientes com graus
de acinesia igual ou superior a 6, na escala de Nicoll 75, o que demonstra segundo as
análises estatísticas acima descritas, equivalência entre as amostras, sendo possível
concluir que ambas as técnicas possuem eficácia comprovada.
É de fundamental importância termos em mente que os pacientes submetidos
à cirurgia oftalmológica nem sempre necessitam de acinesia total para a realização do
procedimento, sendo muitas vezes possível a cirurgia com índices de Nicoll inferiores a
6 desde que os pacientes não estejam relatando nenhum tipo de desconforto. De
forma acadêmica e para efeito de comparação admitimos um índice mínimo de
acinesia. A cirurgia adotada no presente estudo é um exemplo de procedimento que
poderia ser realizado sem completa paralisação da musculatura ocular, desde que a
equipe cirúrgica não se oponha a essa condição 14,21.
11.3 NECESSIDADE DE COMPLEMENTAÇÃO
A necessidade de complementação do bloqueio está intimamente ligada ao
grau de acinesia atingido após a realização do mesmo. O grupo de pacientes que não
atingiu um índice de Nicoll 75 mínimo para a realização do procedimento cirúrgico,
41
recebeu um complemento do bloqueio peribulbar. As doses suplementares de
anestésico local foram administradas no momento T3, com solução anestésica igual à
solução inicial e com volume de 2 a 3 ml, estando os pacientes que receberam
complementação fora do estudo comparativo.
Dentre os dois grupos estudados, 6 pacientes no grupo M receberam
complementação de bloqueio, enquanto no grupo L 4 pacientes necessitaram de
complementação. Apesar do número de pacientes submetidos a cada tipo de bloqueio
ser diferente, a análise estatística nos mostra que essa variação não tem importância
quando comparamos os resultados, de forma que os dados finais obtidos são
semelhantes entre as amostras e demonstram a eficácia do bloqueio peribulbar medial
quando comparado ao bloqueio peribulbar lateral, podendo esta técnica não somente
ser utilizada como técnica de complementação ao bloqueio inferotemporal, mas
também como técnica primária76 ou até mesmo em punção única.
11.4 DOR A INJEÇÃO
A anestesia regional em oftalmologia tem como um grande obstáculo, a
cooperação dos pacientes, devido principalmente a ansiedade da própria cirurgia e ao
paciente estar observando diretamente a penetração da agulha durante o bloqueio. É
de fundamental importância monitorizar os sinais vitais do doente, através de
cardioscópio, oxímetro de pulso e pressão não invasiva 1,14. Sendo preciso por vezes,
sedar o paciente previamente a realização do bloqueio, e dessa forma deve-se estar
atento para a depressão respiratória causada pelos sedativos usuais, assim como
42
outras complicações menos freqüentes como o reflexo oculocardíaco e a anestesia
subaracnóidea acidental 1,14.
No presente estudo realizou-se duas variações do bloqueio peribulbar,
diferindo os dois grupos apenas no sítio de punção. O local de punção clássico é a
região inferotemporal, mais precisamente na junção do terço lateral com os dois
terços mediais da borda orbitária inferior 22, sendo a punção na região caruncular uma
variação que tem demonstrado níveis satisfatórios de acinesia e analgesia, com um
número reduzido de complicações 24,25. O bloqueio medial independe da relação do
globo com a órbita, com menor risco de perfuração ocular e de estafilomas, que na
maioria das vezes são ínfero-posteriores, sendo seguro também em grandes míopes76.
Dentre os pacientes estudados, o grupo submetido ao bloqueio peribulbar medial
apresentou dois casos com relato de dor forte (nível 3) e quatro casos de dor
moderada (nível 2), enquanto o grupo submetido ao bloqueio peribulbar lateral
apresentou seis casos com relato de dor moderada (nível 2), não apresentando
nenhum caso de dor forte. Esses resultados poderiam ser explicados pelo fato da
sedação pré-anestésica com clonidina manter o paciente consciente, apesar de abolir
as respostas simpáticas, tendo maior facilidade em perceber a penetração da agulha
do bloqueio no grupo M em comparação ao grupo L, acarretando uma percepção
maior de dor nesse grupo.
11.5 INTERCORRÊNCIAS E COMPLICAÇÕES
Os dois grupos de pacientes estudados não apresentaram nenhum tipo de
intercorrências ou complicações, exceto pelo fato de alguns pacientes em ambos os
43
grupos terem apresentado quemose, o que na realidade não pode ser classificado
como complicação já que durante o bloqueio peribulbar há necessidade de injeção de
um maior volume de anestésico local mais próximo à conjuntiva 77,78.
12. CONCLUSÃO
O presente estudo teve por objetivo principal demonstrar que o bloqueio
peribulbar medial é uma alternativa interessante aos bloqueios até então adotados
como “padrão ouro”, em vários centros de cirurgia oftalmológica no mundo sendo os
mais comuns o bloqueio retrobulbar e o peribulbar infero-lateral. A segurança do
bloqueio peribulbar medial se dá pela fácil realização e por estruturas bem
identificáveis, além de ser realizada em uma área avascular 24.
O bloqueio peribulbar medial demonstrou eficácia quanto aos objetivos
estudados em comparação ao bloqueio peribubal inferolateral, podendo ser adotado
não somente como complementação mas também como técnica primária e em
punção única.
Uma peculiaridade, demonstrada em estudos, do bloqueio peribulbar medial é
que o mesmo independe da relação do globo com a órbita, com risco reduzido de
perfuração ocular e de estafilomas pós-operatórios, que na maioria das vezes são
ínfero-posteriores, apresentando segurança comprovada também em grandes míopes
76.
Os artigos mais recentes demonstram que a segurança e o conforto do
paciente, combinados com a eficácia da anestesia e experiência do cirurgião, são
determinantes na escolha da técnica anestésica 79 ,desta forma antes de escolhermos a
44
técnica temos que avaliar inúmeras variáveis, sendo algumas delas independentes do
nosso conhecimento, estando intimamente ligadas ao contexto clínico do paciente e à
equipe cirúrgica em questão.
45
13. ANEXO A
Desafios da anestesia para cirurgia oftalmológica
Segurança
Acinesia
Analgesia
Sangramento mínimo
Diminuição ou abolição do reflexo oculocardíaco
Controle da pressão intraocular
Conhecimento sobre interação farmacológica
Despertar suave
Tabela 1: Mostrando as premissas básicas para a realização de anestesia oftalmológica
Figura 1: Anatomia do olho.
Figuras 2 e 3: Mostrando o posicionamento da agulha na realização do bloqueio retrobulbar.
Figuras 4 e 5: Mostrando o posicionamento da agulha na realização do bloqueio peribulbar.
46
Complicações da anestesia oftálmica regional
Estímulo do reflexo oculocardíaco Hemorragia superficial → hematoma circunorbital
Hemorragia retrobulbar ± comprometimento de perfusão retiniana → perda da visão
Penetração do globo ± injeção intraocular → descolamento de retina, perda de visão
Trauma do nervo óptico ou de pares cranianos → perda de visão Injeção na bainha do nervo óptico → anestesia peridural
Lesão de músculos extra-oculares → estrabismo pós-operatório ou diplopia
Injeção intra-arterial → convulsões Oclusão da artéria central da retina
Anestesia do tronco cerebral inadvertida → amaurose contralateral, comprometimento neurocardiopulmonar
Tabela 2: Complicações da anestesia regional em oftalmologia
Figura 6: Mostrando a realização de bloqueio oftálmico guiado por ultrassom. A- globo ocular, B- Agulha, C- Ponta da agulha e D- Nervo Óptico
Figura 7: Mostrando a dispersão do anestésico local, no caso de uma injeção subaracnóidea inadvertida. O caminho percorrido passará por mesencéfalo, nervos cranianos e tronco cerebral. (Retirado de Javitt JC, Addiego R, Friedberg HL et al: Brain stem anesthesia after retrobulbar block. Ophthalmology 1987; 94: 718)
47
Figura 8: Estruturas do canto medial. Em 1 temos a membrana semilunar, enquanto em 2 mostramos a carúncula. (Retirado de Ripart J, Lefrant J, Lalourcey L et al: Medial canthus (caruncle) single injection periocular anesthesia. Anesth Analg 1996; 83: 1234)
Figura 9: Realização do bloqueio de canto medial: Em A temos a inserção da membrana semilunar forçando a carúncula medialmente, a figura B mostra do desvio d globo medialmente com o avanço da agulha e a figura C mostra o retorno do globo à posição original após um leve “click”. (Retirado de Ripart J, Lefrant J, Lalourcey L et al: Medial canthus (caruncle) single injection periocular anesthesia. Anesth Analg 1996; 83: 1234)
Figura 10: Mostrando a molécula de levobupivacaína. (Retirado de GOODMAN and Gilman’s the pharmacological basis of therapeutics. 7th ed. New York: MacMillan 2006)
48
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