59469364 anestesia-em-serpentes
TRANSCRIPT
FACULDADE DE JAGUARIUNA INSTITUTO BRASILEIRO DE VETERINÁRIA
SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA
ANESTESIA EM SERPENTES
RIO DE JANEIRO 2010
SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA
ANESTESIA EM SERPENTES
Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Latu Sensu em Anestesiologia Veterinária da Faculdade de Jaguariuna em convênio com o Instituto Brasileiro de Veterinária, sob orientação do Prof. Dr. Fabio Otero Ascoli
RIO DE JANEIRO
ANESTESIA EM SERPENTES
SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA
Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Latu Sensu em Anestesiologia Veterinária da Faculdade de Jaguariuna em convênio com o Instituto Brasileiro de Veterinária, sob orientação do Prof. Dr. Fabio Otero Ascoli
BANCA EXAMINADORA
Dr. Rodrigo Luiz Marucio
Doutorando/FMVZ – USP - SP
Dr. Antônio José de Araújo Aguiar
Prof. Doutor/FMVZ – UNESP - BOTUCATU
Dr. Adriano Bonfim Carregaro
Prof. Doutor/USP – Pirassununga - SP
CONCEITO FINAL: ____________ DATA: _____ / _____ / __________
DEDICATÓRIA
A Solange Kolling Lee da Rocha, Maria Zélia Baratta
Kolling e Bruno Kolling Lee da Rocha, minha mãe,
minha avó e meu irmão, as pessoas mais queridas e
mais importantes da minha vida, que muito me
apoiaram e me incentivaram em mais uma longa
caminhada. A minha amiga Maria Alice Gress que
esteve sempre presente me dando força e incentivo.
André Luiz Lopes de Figueiredo, meu companheiro,
que com muito amor e paciência me ajudou a ter
tranqüilidade para concluir essa jornada.
AGRADECIMENTOS:
Agradeço primeiramente a Deus, por me dar saúde e
condições permitindo que eu complete mais essa
conquista.
Ao meu orientador, Dr. Fábio Otero Ascoli que com
sua dedicação e paciência me orientou nesse
trabalho monográfico.
Podemos muito bem nos perguntar: O que
seria do homem sem os animais? Mas não o contrário: O que seria dos animais sem os homens?
Man kann gar wohl fragen: Was wäre der
mensh ohne die tiere? A ber nicht umgekehrt: Was wären treri ohne den menschen?
CH. F. Hebbel (poeta e dramaturgo alemão, 1813
– 1863) diários, 1857.
Rocha, Sabrina Kolling Lee
Anestesia em serpentes – Revisão de literatura
Sabrina, K. L. Rocha. Rio de Janeiro 2010 – 24 – 07
45 F., enc.
Monografia de Conclusão do Curso de Pós Graduação (latu sensu)
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA – Rio de Janeiro, 2010.
Bibliografia: f. 40 – 45
1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Répteis; 4. Serpentes
PAV – Pós Anestesia Veterinária
RESUMO
As serpentes tem se tornado muito populares como animais de
estimação, sendo criadas por um número crescente de herpetologistas, além
de serem também animais de experimentação. Para realizar exames físicos,
testes diagnósticos e procedimentos cirúrgicos é necessário o uso de
anestesia. Por isso os veterinários precisam obter conhecimentos sobre
características anatômicas e as diferenças fisiológicas comparadas aos
mamíferos para realizar procedimentos anestesiológicos seguros nesses
animais, além de conhecer medidas que minimizem o estresse e a dor, uma
preocupação cada vez mais freqüente para os médicos veterinários atuais. O
presente trabalho teve como objetivo rever características anatômicas e
fisiológicas, utilização de fármacos injetáveis e inalatórios, monitoramento e
analgesia em serpentes. O conhecimento dos aspectos abordados nesta
revisão possibilita ao anestesiologista veterinário realizar procedimentos
anestesiológico com segurança nesses animais.
Palavras-chaves: 1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Répteis, 4. Serpentes.
ABSTRACT
Snakes have become very popular as pets, being created by a growing
number of herpetologists, and also as animals of experiment. To perform
physical examinations, diagnostic tests and surgical procedures require the use
of anesthesia. That is why veterinarians need to gain knowledge about
anatomical and physiological differences compared to mammals to perform
procedures anesthesiologic insurance in these animals and learn about
measures to minimize the stress and pain, an increasingly common concern for
the veterinarians present. This study aimed to review anatomical and
physiological characteristics, use of injectable and inhaled drugs, monitoring
and analgesia in snakes. Knowledge of the issues addressed in this review
enables the anesthesiologist to perform veterinary anesthetic procedures safely
in these animals.
Key words: 1. Anesthesia, 2. Analgesic, 3. Reptiles, 4. Snakes.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14
2 – REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 17 2.1 – CONTENÇÃO FÍSICA ............................................................................ 17
2.2 – ANATOMIA E FISIOLOGIA .................................................................... 18
2.2.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS ............................................................. 18
2.2.2 – SISTEMA RESPIRATÓRIO ................................................................. 19
2.2.3 – SISTEMA CARDIOVASCULAR ........................................................... 21
2.2.4 – SISTEMA PORTA RENAL ................................................................... 22
2.2.5 – PARTICULARIDADES ......................................................................... 22
2.3 – FÁRMACOS INJETÁVEIS ...................................................................... 23
2.3.1 – CETAMINA .......................................................................................... 23
2.3.2 – TILETAMINA-ZOLAZEPAN ................................................................. 25
2.3.3 – MEDETOMIDINA ................................................................................. 25
2.3.4 – PROPOFOL ......................................................................................... 26
2.3.5 – BARBITÚRICOS .................................................................................. 26
2.3.6 – ANESTÉSICOS LOCAIS ..................................................................... 27
2.3.7 – OPIÓIDE .............................................................................................. 27
2.3.8 – BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES ........................................ 28
2.3.9 – ALFAXOLONA E ALFADOLONA ........................................................ 28
2.4 – FÁRMACOS INALATÓRIOS .................................................................. 29
2.4.1 – HALOTANO ......................................................................................... 29
2.4.2 – ISOFLURANO ...................................................................................... 30
2.4.3 – SEVOFLURANO ................................................................................. 31
2.4.4 – RECUPERAÇÃO ................................................................................. 31 2.5 – PLANO ANESTÉSICO ............................................................................ 31
2.6 – ANESTESIA BALANCEADA ................................................................... 32
2.7 – MONITORAMENTO ................................................................................ 32
2.8 – ANALGESIA ............................................................................................ 37
3 – CONSIDERAÇÃO FINAL ........................................................................... 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 40
LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Jararacuçu em tubo de contenção ................................................... 18
Figura 2 - Intubação endotraqueal em Jararacuçu ........................................... 20
Figura 3 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu ............................ 34
Figura 4 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu ............................ 34
Figura 5 - Sensor do oxímetro posicionado na região vestibular de cascavel (Crotalus durissus) ........................................................................................... 35
Figura 6 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu ....................................... 36
Figura 7 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu ....................................... 36
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
- IC = Intracardíaca
- IM = Intramuscular
- IV = Intravenoso
- SC = Sub cutâneo
-VO= V ia Ora l
14
1 INTRODUÇÃO
Os rép te i s es tão se to rnando mu i to popu la res como an ima is
de es t imação (GREENE, 2004 ) , a lém de se rem encon t rados em
zoo lóg icos (READ, 2004 ) . Den t re os rép te i s , as se rpen tes têm
s ido c r iadas po r um número c rescen te de he rpe to log is tas p r i vados
e pessoas que as c r iam como an ima is de es t imação . En t re as
espéc ies de serpen tes , os bo ídeos (boas e p í tons ) e os
co lubr ídeos (cobras de ra tos – ra t snakes ; cob ra do m i lho – co rn
snakes ; cobra – re i – K ing snakes ) são as ma is comumente
mant idas como an ima is de es t imação . Conseqüen temente , os
ve te r iná r ios p rec isam ob te r conhec imentos sobre o mane jo
adequado das espéc ies , as ca rac te r ís t i cas ana tôm icas e as
d i f e renças f i s io lóg icas comparada aos mamífe ros , para rea l i za r
p roced imentos anes tes io lóg icos seguros nesses an ima is
(SCHUMACHER, 1996 ; GREENE, 2004 ) .
A con tenção f í s ica i so lada é a f o rma ma is econôm ica e
ráp ida de imob i l i za r esses an ima is , porém não fo rnece ana lges ia ,
e consequentemen te , p rovoca so f r imento quando rea l i zam-se
p roced imentos do lo rosos . A lém d isso , a lguns rép te i s quando
mordem são capazes de mut i la r ou mata r o man ipu lado r (HEARD,
2001 ) .
Em se rpen tes , a rea l i zação de exames c l ín i cos e
p roced imentos c i rú rg icos reque r con tenção qu ím ica e anes tes ia
(W EST e t a l , 2007 ) , ass im como co le ta de sangue e d iagnós t i co
po r imagem (READ, 2004 ) . A lém d isso , quando a con tenção f ís i ca
ap resen ta r isco a equ ipe , a con tenção qu ím ica é recomendada
(W EST e t a l , 2007 ) . Pa ra a adm in is t ração o ra l de d rogas pode ser
necessá r io o uso de anes tes ia ge ra l pa ra as se rpen tes ma is
agress ivas . E ex is tem vá r ios casos em que a anes tes ia ge ra l é
necessá r ia pa ra ev i ta r a con tenção f í s ica (JACKSON, 1974 ) . O
uso de rép te i s como an ima is de expe r imentação também tem
aumen tado e com isso o uso da anes tes ia to rna -se ma is comum
nesses an ima is (LAW RENCE, 1983 ) .
15
Dive rsos fá rmacos, doses e técn icas anes tés icas são
u t i l i zadas em rép te i s e o sucesso da anes tes ia nesses an ima is
depende da expe r iênc ia , hab i l i dade e conhec imen to do
anes tes io log is ta ve te r iná r io . A mor fo log ia e a f i s io log ia dos
rép te i s d i f e rem em mu i tos aspec tos da ana tomia e f i s io log ia dos
mamífe ros (SCHUMACHER, 1996 ) ,
A pac iênc ia , o p lane jamento e o conhec imento da ana tomia e
f i s io log ia do rép t i l saudáve l e doen te são fundamen ta is pa ra a
rea l i zação de um adequado p roced imento anes tes io lóg ico
(HEARD, 2001 ) .
Ou t ro pon to impo r tan te é a mon i to r i zação dos parâmet ros
v i t a i s du ran te um p roced imento anes tes io lóg ico , po is f o rnece
in fo rmações que poss ib i l i tam ava l i a r o p lano anes tes io lóg ico e
con t ro la r de fo rma segura a o fe r ta de anes tés icos
(SCHUMACHER, 1996 ) .
Nas ú l t imas décadas, os méd icos ve te r iná r ios e seus c l ien tes
passa ram a se p reocupa r com a do r e seus e fe i tos adve rsos que
in te r fe rem na qua l idade de v ida dos an ima is (HELLYER, 1999a ) .
Em função d is to , houve uma evo lução g radua l nas a t i tudes dos
novos ve te r iná r ios , que passa ram a u t i l i za r ma is ana lgés icos nos
pac ien tes , p r inc ipa lmente na dor pós -ope ra tó r ia (DOHOO e
DOHOO, 1996 , CAPNER e t a l , 1999 , LASCELLES e t a l , 1999 ) ,
embora o uso a inda se ja re la t i vamen te ba ixo (FLECKNELL , 2008 ) .
Todo an ima l é capaz de sen t i r do r , embora em mu i tos casos
se ja d i f í c i l rea l i za r ava l iação de do r em pac ien tes rép te i s . Ou t ro
bene f íc io da u t i l i zação de fá rmacos ana lgés icos no pe r íodo p ré e
t rans -ope ra tó r io , é a redução na quan t idade de anes tés ico gera l
necessá r io pa ra ob te r anes tes ia c i rú rg i ca (SCHUMACHER, 1996) .
Com o aumento das rea l i zações de c i ru rg ias em serpen tes , um
adequado mane jo da dor nesses an ima is é uma preocupação para
os méd icos ve te r iná r ios (READ, 2004 ) .
Sob rev ivênc ia no pe r íodo pós -ope ra tó r io imed ia to é uma
inadequada fo rma de ava l ia r a segu rança e o sucesso do
p roced imento anes tes io lóg ico em rép te i s , po is es tes são ma is
16
res i s ten tes e capazes de sob rev ive r a pe r tu rbações f i s io lóg icas
(ex : h ipoxem ia seve ra ) que mata r iam rap idamente um mamífe ro .
(HEARD, 2001 ) .
O ob je t i vo des ta rev i são de l i te ra tu ra fo i desc reve r aspec tos
impo r tan tes a cons ide ra r na rea l i zação de p roced imentos
anes tes io lóg icos segu ros em se rpen tes , que são : con tenção f í s ica
e ou t ras fo rmas de con tenção , d i f e renças ana tômicas e
f i s io lóg icas da espéc ie , f á rmacos in je táve is e ina la tó r ios ,
anes tes ia ba lanceada , mon i to ramento e ana lges ia .
17
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 CONTENÇÃO F ÍS ICA
Ap rox imadamente 15% das 3000 espéc ies de cob ras são
cons ide radas pe r igosas pa ra humanos (BOYER, 2006 ) . Sob o
pon to de v i s ta b io lóg ico , devem ser cons ide radas peçonhentas
todas as se rpen tes possu ido ras de g lându las capazes de sec re ta r
subs tânc ia ou subs tânc ias tóx icas , independentemen te da
capac idade de inocu la r ou da impo r tânc ia méd ica . Os longos
den tes (p resas ) são impo r tan tes na inocu lação de veneno numa
p resa (BENEDITO BARRAVIERA, 1999 ) .
A con tenção f í s i ca é econômica e bas tan te u t i l i zada , po rém
não fo rnece ana lges ia . A rea l i zação de p roced imentos do lo rosos ,
sem a p reocupação com um método e f i caz de ana lges ia é uma
p rá t i ca desumana, mesmo que os an ima is não exp ressem
nenhuma reação du ran te a rea l i zação desses p roced imentos
(HEARD, 2001 ) .
Expe r iênc ia e conhec imento do compor tamento da serpen te e
sua reação a es t ímu los , a juda na e labo ração de es t ra tég ias com
os me lho res métodos pa ra usa r em um de te rm inado p roced imento
(W EST e t a l , 2007 ) . Para a man ipu lação segu ra de rép te is
venenosos , espec ia lmen te se rpen tes , é f undamen ta l o
conhec imen to de fe r ramentas e técn icas de con tenção , como:
ensacamento , rec ip ien tes de man ipu lação , ganchos , p inças , tubo
t ranspa ren te de con tenção , ca ixa de t ranspo r te e ca ixa p rensa
(BOYER, 2006 ) .
Embora os métodos c i t ados an te r io rmen te se jam u t i l i zados
po r man ipu lado res p ro f iss iona is de se rpen tes na ex t ração de
veneno, es tes aumentam o r i sco de p i cada , a lém de aumenta r a
p robab i l idade de fe r i r o an ima l . Os mé todos de con tenção ma is
u t i l i zados são tubos de con tenção (F ig . 2 ) , ca i xa p rensa e
anes tes ia (W EST e t a l , 2007 ) . É fundamenta l que o d iâmet ro do
tubo se ja pequeno o su f ic ien te para que a se rpen te não possa
18
g i ra r no tubo (BOYER, 2006 ) . A l ica tes e p inças devem se r
u t i l i zados como ú l t imo recurso em caso de emergênc ia , dev ido ao
seu po tenc ia l de fe r i r o an ima l (W EST e t a l , 2007 ) . A lém do que a
con tenção da cabeça po r me io de p inças e ganchos não
necessa r iamente p rev ine que o man ipu lado r se ja mord ido (HEARD
& STETTER, 2007) .
Figura 1 - Jararacuçu em tubo de contenção
Nos ac iden tes com se rpen tes são f reqüen tes fenômenos
como do r loca l , edema, hemor rag ias loca is e s is têmicas , d is tú rb io
de coagu lação sangu ínea , choque ca rd iovascu la r e nec rose
cor t i ca l rena l . As m ionec roses também são f reqüen tes nos
envenenamen tos bo t róp icos (DOS SANTOS e t a l ,1992 ) .
2 .2 ANATOMIA E F IS IOLOGIA
2 .2 .1 Carac ter ís t icas Gera is :
As se rpen tes cons t i tuem um grupo de rép te is reconhec íve l
p r inc ipa lmente pe lo longo co rpo f lex íve l essenc ia lmente sem
pa tas , e pe las mod i f i cações que pe rmi tem a inges tão de g randes
19
an ima is . Não possuem c in tu ra escapu la r e pá lpeb ras móve is
(BENEDITO BARRAVIERA, 1999 ) . Os o lhos são cobe r tos por uma
escama convexa t ranspa ren te e f ina (o ócu lo ) , que sa i com a pe le
quando a se rpen te t roca de pe le (B IRCHARD e SHERDING, 1998 ) .
Não possuem t ímpano ou abe r tu ra ex te rna de ouv ido (BENEDITO
BARRAVIERA, 1999 ) , e possu i um ouv ido in te rno (B IRCHARD e
SHERDING, 1998) . Cons t i tuem um grupo a l tamen te espec ia l i zado
e são exc lus i vamente ca rn ívo ras (BENEDITO BARRAVIERA,
1999 ) .
As se rpen tes usam sua l íngua pa ra exp lo ra r o amb ien te e
suas pon tas cap tam pa r t ícu las odor í f e ras e as co locam em con ta to
com as “pap i las gus ta t i vas ” do ó rgão de Jacobson , que se s i tuam
no céu da boca (B IRCHARD e SHERDING, 1998 ) . Possuem se is
f i le i ras de den tes , qua t ro no max i la r super io r (p resas ao osso
max i la r e pa la t ino ) e duas no max i la r in fe r io r (uma em cada
mand íbu la ) . Todos os den tes inc lu indo as p resas venenosas
podem ca i r e se r repos tos po r toda a v ida da cob ra . O es tômago e
o f ígado possuem fo rmato fus i f o rme e , em todas as espéc ies o
f ígado possu i ves ícu la b i l ia r . O baço es tá l i gado f reqüen temente
ao pânc reas , que se loca l i za ao lado do duodeno (B IRCHARD e
SHERDING, 1998) .
2 .2 .2 S is tema respi ra tór io
Ao con t rá r io dos mamífe ros , a g lo te dos rép te is es tá sob
con t ro le muscu la r vo lun tá r io do múscu lo d i la tado r da g lo te . Em
serpen tes , a t raqué ia é composta por ané is ca r t i lag inosos
incomp le tos em fo rma de C, que pe rmi te o co lapso pa rc ia l du ran te
a a l imentação (GREENE, 2004 )
A g lo te l oca l i za – se na base da l íngua (MUIR e t a l , 2001 ) e
a in tubação endo t raquea l (F ig . 2 ) deve se r rea l i zada com tubo
endo t raquea l sem ba lone te ou com tubo endo t raquea l com
ba lone te in f l ado somente o su f ic ien te para se la r e fe t i vamente ,
quando é usada a ven t i lação con t ro lada . I sso porque a mucosa da
20
t raqué ia é f ac i lmente les ionada nessas espéc ies (GREENE, 2004) .
É necessá r io cu idado espec ia l pa ra rép te is que pesam menos de
100 g pa ra ev i ta r t raque í te induz ida pe lo tubo (MUIR e t a l , 2001 ) .
Bu rke e W al l (1977 ) obse rva ram uma suave hemor rag ia o ra l em
cascavé is jovens no momento da re t i rada do tubo endo t raquea l
quando fo i rea l i zado o p roced imento de re t i rada da g lându la de
veneno.
Figura 2 - Intubação endotraqueal em Jararacuçu
A ana tomia dos pu lmões das se rpen tes ap resen ta g rande
va r iedade . A ma io r ia das se rpen tes possu i o pu lmão d i re i to
desenvo lv ido e func iona l , enquanto o pu lmão esque rdo é ves t ig ia l
(CALDERW OD, 1971 ; HEARD, 2001 ) . En t re tan to as bo ideas (boas
e p í tons) apresen tam ambos os pu lmões desenvo lv idos . Ex is tem
duas reg iões nos pu lmões das se rpen tes : o pu lmão vascu la r e o
saco aé reo . O pu lmão vascu la r loca l i za -se na pa r te an te r io r do
corpo e ap resen ta g rande supe r f íc ie de t roca gasosa . (HEARD,
2001 )
Se rpen tes ap resen tam sacos aé reos cauda is que re tém o a r
du ran te a resp i ração , mas não es tão envo lv idos nas t rocas
gasosas . Conseqüen temente a supe r f íc ie de t rocas gasosas é
21
menor em rép te i s do que em mamífe ros , embora a quan t idade de
a r insp i rado se ja ma io r (GREENE, 2004 ) .
Os rép te is não possuem d ia f ragma (B IRCHARD e SHERDING,
1998 ) ou uma ve rdade i ra cav idade to rác ica . Es tes an ima is podem
ap resen ta r do is pad rões resp i ra tó r ios d i s t in tos : 1 ) mov imento
resp i ra tó r io ún ico sepa rado po r per íodo de insp i ração mant ida ; e
2 ) f ases de consecu t i va ven t i lação segu ida po r pe r íodos longos de
apné ia com du ração de poucos m inu tos a té ma is de uma ho ra
(W ang e t a l . , 1998 ) .
O l im ia r de h ipóx ia é aumentado quando ocor re aumento da
tempera tu ra corpo ra l da se rpen te (HEARD, 2001) .
2.2 .3 S is tema cardiovascula r
Possuem um co ração com t rês câmaras , do is á t r ios e um
ven t r ícu lo , mas func iona lmente o coração é d i v id ido em c inco
câmaras (Pough et a l ,1998 , apud Lumb & Jones ’ , 2007 ) po rque o
ven t r ícu lo nessas espéc ies é a inda subd iv id ido em cavum
venosum, cavum pu lmona le e cavum ar te r iosum (W EST e t a l ,
2007 ) . Essa d i v i são do ven t r ícu lo em t rês câmaras m in im iza a
m is tu ra do sangue ox igenado com o não ox igenado . Todos os
rép te i s ap resen tam duas ao r tas su rg indo do ven t r ícu lo ou dos
ven t r ícu los . A p resença de subd iv i sões ven t r i cu la res e de duas
comun ican tes aó r t i cas pe rm i te ao rép t i l red i rec iona r o f luxo de
sangue e desv ia r o mesmo pa ra fora dos pu lmões. Esse desv io é
uma adap tação deco r ren te da evo lução para v i ve r em amb ien tes
com pouco ox igên io e em ambien tes aquá t icos . A hab i l idade de
desv io pu lmonar e a re tenção da resp i ração podem resu l ta r em
tempos de indução bas tan te p ro longados, se fo rem usadas
másca ras fac ia is ou câmara de indução (GREENE, 2004 ) . Mu i tos
rép te i s são f i s io log icamen te capazes de sob rev ive r a seve ra
h ipoxemia e h ipo te rm ia , o que fac i lmente mata r ia ou t ros
ve r teb rados (HEARD & STETTER, 2007 ) .
22
O co ração das se rpen tes es tá loca l i zado a um qua r to do
sen t ido descenden te do compr imento da cobra . A f reqüênc ia
ca rd íaca va r ia com a espéc ie e a tempera tu ra co rpora l , mas pode
va r ia r en t re 40 a 70 ba t imentos po r m inu to (B IRHCARD e
SHERDING, 1998) . A pos ição do co ração é in f l uenc iada pe lo es t i lo
de v ida . As se rpen tes a rbo r ígenas ap resen tam o coração ma is
c ran ia l que as te r res t res e as aquá t i cas (o rdem decrescen te da
pos ição do coração : a rbo r ígena < te r res t re < aquá t i ca ) (HEARD,
2001 , n20 ) .
As nuances da f i s io log ia ca rd iovascu la r em se rpen tes , podem
con t r ibu i r pa ra um desa f io na mensu ração da p ressão a r te r ia l
p rec i sa e em rép te i s a ava l iação da p ressão a r te r ia l invas iva é
compl icada po r f a l ta de vasos supe r f i c ia i s , o qua l necess i ta de
acesso c i rú rg i co pa ra canu lação de uma a r té r ia . (CHINNADURAI
e t a l , 2009) . O Dopp le r pode se r u t i l i zado ao pos ic iona r o senso r
sob re a r té r ia pe r i f é r ica , en t re tan to só é poss íve l ava l ia r a
p resença de f luxo e a f reqüênc ia dos ba t imentos ca rd íacos (MUIR
e t a l , 2001) .
2.2 .4 S is tema por ta rena l
A excreção rena l é in f luenc iada pe lo s is tema po r ta rena l , que
d rena d i re tamen te o sangue venoso da pa r te cauda l do corpo
a t ravés dos r ins an tes de re to rnar pa ra a c i r cu lação s i s têm ica . A
exc reção rena l de anes tés icos in je táve is la rgamente usados como
a ce tamina pode p roduz i r resu l tados va r iáve is quando
adm in is t rada na par te cauda l do co rpo . A admin is t ração de
fá rmacos ne f ro tóx i cos pode ap resen ta r po tenc ia l de acumu lação
nos r ins e induz i r o compromet imento rena l . (GREENE, 2004 ) .
2.2 .5 Par t icula r idades
Na anes tes ia em rép te i s ex i s tem a lguns p rob lemas que não
são encon t rados nos mamífe ros . Um dos ma is impo r tan tes é a
23
menor taxa metabó l ica , o que resu l ta p ro longada du ração de ação
de anes tés icos in je táve is e , conseqüen temente , recuperação
p ro longada que pode chegar a té do is d ias (CALDERW OOD, 1971 ) .
Impo r tan te lembra r que rép te is ca rn ívo ros ingerem a p resa
in te i ra , l ogo é necessá r io je jum a l imenta r de ma is de c inco d ias
an tes de rea l i za r um p roced imento anes tes io lóg ico (MUIR e t a l ,
2001 ) .
2 .3 FÁRMACOS INJETÁVEIS
Os fá rmacos usados pa ra anes tes ia r an ima is se lvagens são
os mesmos u t i l i zados pa ra an ima is domést i cos . T odos os agen tes
in je táve is e ina la tó r ios têm s ido usados sa t is fa to r iamente .
Ce r tamente a lguns agen tes devem se r ma is adequados pa ra
de te rm inadas espéc ies do que ou t ras , mas a fam i l ia r idade do
anes tes is ta com os agen tes anes tés icos ce r tamen te é ma is
impo r tan te do que a esco lha de um fá rmaco (FOW LER, 1974 ) .
As v ias de admin is t ração de fá rmacos u t i l i zadas em rép te is
são v ia in t ravenosa ( IV ) , in t rape r i ton ia l ( IP ) , in t ramuscu la r ( IM) , e
i n t racard íaca ( IC ) (CALDERW OOD, 1971 ) . Não se recomendam as
in jeções IC dev ido ao po tenc ia l de t raumat ismo, no en tan to , a v ia
IC é ú t i l pa ra admin is t ração de fá rmacos de eu tanás ia (B IRCHARD
e SHERDING, 1998 ) . A v ia in t ramuscu la r t em s ido re la tada em
serpen tes , mas a fa l ta de massa muscu la r pesada ex ige a
necess idade de pequenos vo lumes ou admin is t ra r em vá r ios
l uga res (CALDERW OOD, 1971 ) .
Os fá rmacos p ré -anes tés icos ra ramente são ind icados ,
exce to em rép te i s g randes , agress ivos ou venenosos . Den t re
es tes fá rmacos , a a t rop ina não é ind icada na p resença de
sec reções resp i ra tó r ias , po is a to rna ma is v iscosa (MUIR e t a l ,
2001 ) .
2.3 .1 Ce tamina
24
A ce tam ina é mu i to u t i l i zada pa ra imob i l i zação e cap tu ra de
an ima is se lvagens (ADDISON, 1977 apud LUMB & JONES ’ , 2007)
e h is to r icamente tem s ido o fá rmaco in je táve l ma is comumente
usado pa ra mu i tas espéc ies de rép te i s (READ, 2004 ) . Pode ser
ap l icada com amp la margem de segu rança em an ima is sad ios ,
reduz indo ass im a necess idade de es t ima r o peso com p rec isão
(GREEN e t a l . , 1981 ) . Apesar des ta ca rac te r ís t i ca se u t i l i zado em
rép te i s deb i l i tados , pode leva r a mor te ou pode causar um re to rno
p ro longado de a té se is d ias (LAW RENCE, 1983 ) .
A ce tamina pode se r admin is t rada pe la v ia i n t ramuscu la r ,
i n t ravenosa ou o ra l e suas ma io res desvan tagens são p romove r
recupe ração p ro longada, pob re re laxamento muscu la r e
i nadequada anes tes ia quando u t i l i zada soz inha (HEARD, 2001) .
D i f e ren tes doses de ce tam ina fo ram u t i l i zadas em se rpen tes
em d ive rsos es tudos e es tas va r ia ram de 60mcg. Kg - 1 a 131mg. kg -
1 . Nes tes es tudos fo ram u t i l i zadas d i f e ren tes v ias de
adm in is t ração pa ra d i f e ren tes f ina l idades como: co le ta de veneno,
anes tes ia e c i ru rg ia (Pe te rs , 1977 ; Ha rd ing , 1977 ; Pa t te rson ,
1979 ; Rosenbe rg, 1992 ) . Pa ra a co le ta de veneno fo i u t i l i zado a
ce tam ina nas doses de 60 mcg. kg no es tudo rea l i zado por
Rosenbe rg (1992 ) e 131 mg.kg-1 no es tudo de Ha rd ing (1977 ) . Já
em es tudos de anes tes ia f o ram u t i l i zadas as doses de 10 a 66
mg.kg - 1 , e obse rvou -se um pe r íodo de recuperação p ro longada , .
Nesses es tudos , os an ima is demora ram de 24 a 72 ho ras para
re to rna r as suas a t i v idades no rma is (Jackson 1976 ; Ha rd ing,
1977 ; Pe te rs , 1977 )
A recupe ração pode se r ma is l en ta em ind iv íduos idosos e
doen tes e a doses para esses an ima is deve se r a jus tada de
aco rdo com a idade e o es tado c l ín ico do an ima l . A lém d isso , a
tempera tu ra é um f a to r impo r tan te , po is in f luenc ia o metabo l ismo
dos fá rmacos anes tés icos (JONES, 1977 ) . H i l l e Mackessy (1997)
obse rva ram que todas as serpen tes dos seus expe r imentos se
recupe ra ram dos e fe i tos da ce tam ina sem e fe i tos noc ivos .
25
Jackson obse rvou que mu i tos rép te i s , pa r t i cu la rmente as
serpen tes , to rna ram – se pe rmanentemente agress ivas depo is do
re to rno da anes tes ia com ce tam ina . Es te compor tamento sugere
que a se rpen te de a lguma mane i ra é a fe tada du ran te o es tado de
ca ta leps ia , e com isso reage como se fosse se r a tacada ao se r
man ipu lada sob e fe i t o desse fá rmaco (LAW RENCE, 1983 ) .
Uma boa es t ra tég ia pa ra ev i ta r a sob redose du ran te a
anes tes ia com ce tamina em serpen tes é adm in is t ra r metade da
dose ca lcu lada e , en tão , tomar a dec isão quan to a adm in is t ração
da ou t ra me tade de anes tés ico remanescen te . Pa t te rson e
co labo rado res (1979 ) u t i l i za ram ce tam ina 15 mg.kg - 1 IP para
rea l i zação de c i ru rg ia em uma p í ton , en t re tan to não fo i ob t ido
p lano c i rú rg i co com es ta dose . Fo i u t i l i zado ou t ra dose de 15
mg.kg - 1 pa ra consegu i r p lano supe r f i c ia l de anes tes ia , e a
rea l i zação de c i ru rg ia só fo i poss íve l quando fo i comp le tada a
dose to ta l de ce tam ina de 37 ,5 mg.kg - 1 . O ún ico inconven ien te
des te método é o aumen to no tempo gas to pa ra se rea l i za r a
anes tes ia (GREENE, 2004 ) .
2.3 .2 T i le tamina -zolazepam
Esta assoc iação , quando adm in is t rada na dose de 3 a 4
mg.kg - 1 pe la v ia IM, p romoveu imob i l idade comple ta após 30 - 40
m inu tos e con t r ibu iu pa ra ana lges ia (HEARD, 2001 ) . Jek l e Kno tek
(2006 ) u t i l i za ram t i le tam ina -zo lazepam na dose de 3 a 8 mg.kg - 1
pa ra anes tes ia r se rpen tes com o compor tamento ag i tado ou
agress ivo pa ra rea l i zação de endoscop ia .
2.3 .3 Medetomidina
A medetomid ina o fe rece mu i tas van tagens quando usada em
rep te i s , e la p ropo rc iona sedação p ro funda , re laxamento muscu la r
e ana lges ia (GREENE, 2004 ) .
26
A medetom id ina tem s ido u t i l i zada (40 a 160 mg/kg, IM) em
assoc iação com op ió ides pa ra p romover anes tes ia e ana lges ia
du ran te p roced imen tos c i rú rg i cos . O uso de medetomid ina (80
mcg. kg - 1 ) em comb inação com a que tamina (5 mg.kg - 1 ) em vá r ias
espéc ies de rép te is , inc lu indo cobra amare la de ra tos (ye l low ra t
snakes ) e p í ton be rmuse , tem t ido sucesso . (GREENE, 2004 ) .
Jek l e Kno tek (2006 ) u t i l i za ram mede tomid ina na dose de 0 ,1
a 0 ,25 mg.kg - 1 assoc iada a ce tamina na dose de 5 a 20 mg.kg - 1
pa ra anes tes ia r se rpen tes com compor tamento ag i t ado ou
agress ivo pa ra rea l i zação de endoscop ia
2.3 .4 Propofol
O p ropo fo l possu i in íc io de ação ráp ido dev ido a ráp ida
abso rção no s i s tema ne rvoso cen t ra l , du ração cu r ta e recuperação
suave (ZORAN e R IEDESEL, 1993 apud LUMB & JONES, 2007 ) .
E le ap resen ta qua l idade anes tés ica me lho r do que a barb i t ú r i ca ,
po is , a lém de se r empregado em pac ien tes de a l to r i sco com uma
margem de segurança supe r io r aos demais agen tes indu to res ,
pe rm i te recupe ração isen ta de reações adve rsas (FANTONI e
CORTOPASSI , 2002 ) .
A dose de admin is t ração é de 5 a 7 mg.kg - 1 (MUIR e t a l ,
2001 ) pe la ve ia cocc ígea pa ra rea l i zação da indução anes tés ica ,
após a con tenção f í s i ca no tubo (W EST e t a l , 2007) . A u t i l i zação
de p ropo fo l pe la v ia in t ravenosa pe rmi te uma indução com
segu rança e du ração de anes tes ia cu r ta . Es te fá rmaco
p ropo rc iona uma recupe ração comp le ta ma is ráp ida que ou t ros
anes tés icos in je táve is ge ra is (READ, 2004 ) .
2.3 .5 Barbi túr icos
Os ba rb i tú r i cos são amp lamente usados em rép te is e a dose
depende do agen te espec í f i co , v ia de admin is t ração , espéc ie ,
tempo anes tés ico e tempera tu ra amb ien ta l . Quando se rpen tes são
27
anestes iadas com barb i tú r i cos são co locadas sob lâmpadas e
a lgumas se recupe ram no pe r íodo de 10 – 15 m inu tos . Essa ráp ida
recupe ração pode se r dev ido aos aumen tos na taxa metabó l i ca e
na f reqüênc ia ca rd íaca , com subseqüen te red is t r ibu ição do
fá rmaco (CALDERW OOD, 1971 ) .
O t iopen ta l sód ico na dose de 16 a 25 mg.kg - 1 admin is t rado
pe la v ia in t rape r i tonea l em se rpen tes , p romove anes tes ia
supe r f ic ia l com du ração de 25 – 40 m inu tos . O Pen toba rb i ta l
ap resen ta e fe i tos s im i la res na dose de 15 – 50 mg.kg - 1 . A ma io r
desvan tagem da u t i l i zação desses fá rmacos pa ra o p ro f i ss iona l é
que o mesmo deve rá te r a lgum conhec imento da ana tomia do
rép t i l pa ra rea l iza r admin is t ração in t rape r i tonea l e em mu i tos
casos a indução pode demora r a té se is ho ras e a recupe ração
pode demora r de do is a t rês d ias (JONES, 1977) . Não ex is te
d i f e rença na indução e recupe ração en t re t iopen ta l e pen toba rb i t a l
(CALDERW OOD, 1971 ) .
2 .3 .6 Anes tés icos loca is
A pe le dos rép te is é mu i to sens íve l a es t ímu lo do lo roso e po r
i sso o uso de anes tés ico loca l como a l idoca ína 2% pa ra remove r
abscessos , repa ra r lace rações de pe le e ou t ros p roced imentos
meno res é recomendado. Em se rpen tes venenosas , o anes tés ico
loca l soz inho não é segu ro e por i sso é necessá r io ad ic ionar
d rogas pa ra imob i l i za r o pac ien te (LUMB & JONE`S , 1996 ) .
2.3 .7 Opióides
E to r f i na é um op ió ide que pode se r usado em mu i tas
espéc ies e o tempo de indução e du ração da imob i l i zação é dose
dependente (LUMB & JONES, 2007 ) . Es te fá rmaco fo i usado em
serpen tes na dose de 1 ,0 - 3 ,0 mg.kg - 1 e se ob teve ana lges ia e
re laxamen to muscu la r , o que pe rm i t iu a rea l i zação de c i ru rg ia
supe r f ic ia l . Essa dose é bem a l ta em comparação ao que é usada
28
em mamífe ros , des ta fo rma a u t i l i zação des te fá rmaco não é
p rá t i co ou econôm ico pa ra o uso ex tens ivo em rép te i s ( JONES,
1977 ) . E to r f ina fo i admin is t rada na dose de a té 5 mg.kg - 1 e não
ap resen tou e fe i to (CALDERW OOD, 1971 ) .
2.3 .8 Bloqueadores neuromusculares
B loqueado res neu romuscu la res não possuem nenhum e fe i to
ana lgés ico ou anes tés ico , logo não devem se r u t i l i zados soz inhos .
A lém d isso , é necessá r ia d i spon ib i l idade de equ ipamentos e
mate r ia l pa ra ven t i lação a r t i f i c ia l . A tubocu ra r ina fo i usada em
Co lub r ides Aus t ra l i anas e em uma P í ton nas doses de 6 mg.kg - 1 e
1 ,8 mg.kg - 1 , respec t i vamen te e demorou de 60 a 85 m inu tos para
p roduz i r pa ra l i s ia nessas espéc ies . A dose a l ta pa ra pa ra l i sa r as
Co lub r ides fo i a t r i bu ída a a l ta imun idade do veneno des ta , po is o
veneno no homem pa rece exerce r uma ação cu ra r i zadora
(CALDERW OOD, 1971 ) .
2.3 .9 Al faxolona e Al fadolona
Tra ta–se de uma assoc iação de do is es te ró ides : 3 -h id rox i -5 -
p regnano-1 ,20 -d iona (a l f ado lona) e 21 -ace tox i -h id rox i -5 -p regnano -
11 ,20 -d iona , es t ru tu ra lmen te seme lhan te à p roges te rona
(a l f axo lona ) . (FANTONI e CORTOPASSI , 2002 ) . O seu uso em
laga r tos e que lôn ios p romove desde sedação à anes tes ia
p ro funda , po rém em se rpen tes , p romoveu e fe i tos va r iados , que
fo ram desde a nenhum a té anes tes ia p ro funda . Pa rece que a
ausênc ia de e fe i tos nas serpen tes fo i dev ido à adm in is t ração
subcu tânea , po is em ga tos e macacos a l f axo lona e a l f ado lona não
são e fe t i vos quando rea l i zados po r es ta v ia . O tempo de indução
va r iou en t re 25 e 40 m inu tos , com um p lano c i rú rg i co de anes tes ia
com du ração de 15 a 35 m inu tos . Não fo ram obse rvadas
dep ressão ca rd íaca ou resp i ra tó r ia , nem reação loca l no lugar da
29
adm in is t ração in t ramuscu la r em nenhum dos rép te is em que esse
fá rmaco fo i empregado . (LAW RENCE, 1983 ) .
2 .4 FÁRMACOS INALATÓRIOS
Anes tes ia ina la tó r ia é bas tan te u t i l i zada pa ra manu tenção
anes tés ica em an ima is . Sua popu la r idade c resceu dev ido as suas
carac te r ís t i cas fa rmacoc iné t icas que pe rmi te uma p rev is íve l e
ráp ida mudança de p lano anes tés ico . En t re tan to , es tes fá rmacos
quando u t i l i zados , necess i tam de mate r ia i s espec í f i cos , como
fon te de ox igên io , vapo r i zador , c i r cu i to anes tés ico , tubo
endo t raquea l ou másca ra fac ia l , en t re ou t ros . Es tes mate r ia i s
m in im izam a morb idade e mor ta l idade dos pac ien tes , po is
f ac i l i tam a ven t i lação pu lmona r e ox igenação a r te r ia l (S te f fey &
Mama, 2007 ) .
Uma va r iedade de rec ip ien tes pa ra se rpen tes venenosas
podem se r usados , como câmara de H iss e tubos t ranspa ren tes .
Es tes rec ip ien tes pe rm i tem a obse rvação da serpen te no momento
da indução . A lém d isso , se rpen tes con t idas em sacos de pano ,
p róp r ios pa ra es tes an ima is , podem ser co locados den t ro de uma
câmara de H iss e o p lano anes tés ico pode se r ju lgado pe la
d im inu ição do mov imen to da se rpen te den t ro do saco (W EST a t a l ,
2007 ) . Heard (2001 ) p re fe re u t i l i za r i ndução anes tés ica na câmara
de H iss com iso f lu rano em se rpen tes venenosas .
Pa ra saber se uma se rpen te es tá segu ramen te anes tes iada ,
deve -se obse rva r a pe rda da respos ta a es t imu lação tá t i l e
i n ib i ção do mov imento da l íngua (W EST e t a l , 2007) . No caso de
uma cascave l a abo l ição do re f lexo ba ru lhen to é um gu ia ú t i l pa ra
sedação (HARDING, 1977 ) .
2.4 .1 Halo tano
Na ma io r ia dos rép te i s , indução anes tés ica com ha lo tano é
consegu ida com a u t i l i zação de 3 a 5% d i lu ído em ox igên io . Para
30
a manutenção anes tés ica , a concen t ração do ha lo tano necessár ia
no rma lmente é de 1 ,5 a 2 ,5% (SHUMACHER, 1996 ) .
As se rpen tes podem f ica r em apné ia po r tempo p ro longado, o
que aumenta o tempo de indução quando se u t i l i za anes tés icos
ina la tó r ios . A manu tenção da anes tes ia com ha lo tano tem o seu
va lo r e pa ra assegu ra r n íve is adequados desse fá rmaco du ran te a
anes tes ia , o mesmo deve se r o fe r tado a t ravés de um tubo
endo t raquea l (LAW RENCE, 1983) . O tempo de indução com
ha lo tano em uma va r iedade de serpen tes fo i de 2 a 28 m inu tos
(BURKE e W ALL, 1977 ) .
É poss íve l p romove r anes tes ia leve co locando -se o rép t i l
den t ro de uma ca ixa ou ja r ra de v id ro , com um pedaço de a lgodão
embeb ido em ha lo tano . O pe r íodo necessá r io para anes tes ia r o
an ima l é em to rno de t rês a c inco m inu tos . Em se rpen tes
pequenas , a u t i l i zação desse mé todo é uma boa es t ra tég ia dev ido
a d i f i cu ldade de pesa r e ou adm in is t ra r f á rmacos in je táve is nesses
an ima is (JONES, 1977 ) . O ha lo tano fo i u t i l i zado em se rpen tes
venenosas pa ra pe rm i t i r uma man ipu lação segu ra du ran te a co le ta
de veneno , e o tempo de recupe ração nunca excedeu 10 m inu tos .
O óx ido n i t roso f o i u t i l i zado assoc iado ao ha lo tano para
anes tes ia r se rpen tes e o tempo necessá r io para a indução em
Co lub r ides fo i de 20 a 30 m inu tos quando 72% de óx ido n i t roso fo i
u t i l i zado com 4% de Ha lo tano (CALDERW OOD, 1971 ) .
2.4 .2 Iso f lurano
A admin is t ração de i so f lu rano resu l ta em ráp ida indução e
ráp ida recuperação (READ, 2004) . A ma io r ia dos rép te i s com
menos de 500g pode se r induz ida po r me io de tubo de con tenção
e ou câmara de H iss com a u t i l i zação de i so f lu rano 2 a 4% (MUIR
e t a l , 2001) . Para rea l i zação de endoscop ia em se rpen te fo i
u t i l i zado iso f lu rano 5% pa ra indução e 2 – 4% para manutenção
(JEKL e KNOTEK, 2006 ) .
31
2.4 .3 Sevof lurano
A adm in is t ração de sevo f lu rano também resu l t a em ráp ida
indução e recupe ração na ma io r ia dos rép te is . A tua lmente o
i so f lu rano pa rece se r o pad rão na p rá t i ca anes tés ica , mas com o
aumen to do número de pesqu isas sob re a e f i các ia e segu rança do
sevo f lu rano em rép te i s , es te pode se to rna r cada vez ma is comum
na p rá t i ca anes tes io lóg ica des tes an ima is (READ, 2004) . O
i so f lu rano ou o sevo f lu rano são os anes tés icos ina la tó r ios de
esco lha em se rpen tes (MUIR e t a l , 2001 ) .
2 .4 .4 Recuperação
Duran te o pe r íodo de recuperação é essenc ia l que se ja
o fe r tado ox igên io a té o p lano anes tés ico f i ca r ma is supe r f ic ia l e a
se rpen te deve ser mant ida a uma tempera tu ra de v in te e qua t ro
g raus a té a recupe ração comp le ta (JACKSON, 1974 ) . O pe r íodo de
ven t i l ação ou recupe ração deve ser l ongo quando o agen te usado
possu i um a l to coe f i c ien te de so lub i l i dade em tec ido e l i p ídeos ,
como o é te r e o metox i f lu rano (CALDERW OOD, 1971 ) .
A recuperação com o iso f lu rano gera lmente é de 20 m inu tos
pa ra p roced imentos com du ração in fe r io r a uma ho ra . A ven t i lação
a p ressão pos i t i va i n te rm i ten te deve ser con t inuada a té que o
an ima l ven t i le espon taneamente de fo rma regu la r . O a r amb ien te
ou o a r exa lado podem se r usados pa ra aumenta r a concen t ração
de d ióx ido de ca rbono e com isso es t imu la r a ven t i lação . Se
houve r apné ia , pode se r rea l i zado a adm in is t ração do doxapram
na dose de 5 mg.kg - 1 – IV –VO ou IM (MUIR e t a l , 2001 ) .
No es tudo rea l i zado po r Soa res e co labo rado res (2002 ) ,
todos an ima is fo ram ex tubados após apresen ta r ven t i lação
espon tânea e in íc io dos mov imen tos de l íngua .
2 .5 PLANO ANESTÉSICO
32
O p lano anes tés io lóg ico pode se r ava l iado pe las con t rações
muscu la res co rpora is e pe los mov imentos da l íngua (Soa res e t a l . ,
2002 ) . De aco rdo com Heard (2001 ) , o re laxamen to muscu la r
p roduz ido pe los anes tés icos ina la tó r ios começa na po rção c ran ia l
e con fo rme a p ro fund idade anes tés ica aumenta , es te re laxamento
se p ronunc ia no sen t ido cauda l e o i nve rso ocor re du ran te a
recupe ração anes tés ica .
2 .6 ANESTESIA BALANCEADA
A anes tes ia ba lanceada é aque la p romov ida po r do is ou ma is
agen tes , ou técn icas anes tés icas d is t i n tas como, po r exemp lo ,
anes tes ia in t ravenosa e anes tes ia ina la tó r ia , u t i l i zadas em um
mesmo p roced imen to anes tés ico . O uso dessa técn ica garan te
uma anes tes ia ma is segu ra e é a me lhor condu ta pa ra o uso em
rép te i s . A sedação p ré -anes tés ica , com o uso de anes tés icos
in je táve is é re la t ivamente fác i l de adm in is t ra r , ev i tando p rob lemas
de per íodos de indução p ro longados assoc iados com indução com
másca ra e aca lmando espéc ies agress ivas . A ma io r desvan tagem
da adm in is t ração de fá rmacos anes tés icos in je táve is pa ra a
manutenção da anes tes ia é a es t imat i va adequada da massa
corpora l , o que pode resu l ta r em supe rdosagem anes tés ica
(GREENE, 2004 ) .
2.7 MONITORAMENTO
A mon i to ração dos parâmet ros v i ta is du ran te um
p roced imento anes tes io lóg ico é de g rande impor tânc ia , po is
f o rnece in fo rmações que poss ib i l i tam ava l ia r o p lano
anes tes io lóg ico e con t ro la r de fo rma segu ra a o fe r ta de
anes tés ico (Schumacher , 1996) .
Em gera l , o metabo l ismo é te rmodependente (B IRCHARD e
SHERDING, 1998) e a h ipo te rm ia depr ime o s i s tema imune e
re ta rda a c ica t r i zação . Des ta fo rma, du ran te a c i ru rg ia a
33
manutenção da homote rm ia deve ser rea l i zada a t ravés de fon tes
ex te rnas para mante r a t empera tu ra corpora l , po is os rép te is não
p roduzem seu p róp r io ca lo r (MUIR e t a l . 2001) .
A tempera tu ra deve se r mon i to rada a t ravés de um
te rmômet ro re ta l ou c loaca l , po is a tempera tu ra da pe le não é
con f iáve l . Pa ra ev i ta r que imadu ras e h iper te rm ia ia t rogên ica ,
deve -se sempre mon i to ra r as fon tes de ca lo r obse rvando a
tempera tu ra da supe r f íc ie com a qua l o co rpo do pac ien te en t ra
em con ta to (MUIR e t a l , 2001 ) .Pa ra a recupe ração anes tés ica é
essenc ia l que as serpen tes se jam co locadas em um rec in to
aquec ido , com a tempera tu ra em to rno de t r in ta g raus (JONES,
1977 ) .
Todos os rép te i s possuem um re f lexo de end i re i tamen to e a
pe rda desse re f lexo a juda a de te rm inar o es tág io da anes tes ia
(B IRCHARD e SHERDING, 1998 ) . Em es tado c i rú rg ico de
anes tes ia as f reqüênc ias resp i ra tó r ia e ca rd íaca d im inuem
(JONES, 1977 ) .
A ox imet r ia de pu lso e o Dopp le r u l t rasôn ico são mu i to ú te i s ,
po is f o rnecem em tempo rea l o pu lso do pac ien te , r i tmo e es tado
de pe r fusão pe r i f é r ica . O mon i to ramento po r Dopp le r (F ig . 3 e 4 ) é
ve rsá t i l e pode se r usado em uma va r iedade de espéc ies e po r
essa razão tem s ido recomendada pa ra es tudos ca rd iopu lmonares
em rép te is . En t re tan to , é d i f íc i l encon t ra r um luga r no an ima l
ap rop r iado pa ra pos ic iona r o ox ímet ro de pu lso e ob te r um s ina l
f o r te (READ, 2004 ) .
34
Figura 3 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu
Figura 4 - Utilização de Doppler ultrasônico em Jararacuçu
T raba lho rea l i zado po r Soa res e co labo rado res (2002 )
demonst rou que o pos ic ionamen to do senso r na reg ião ves t ibu la r
(F ig . 5 ) pe rm i t iu a a fe r ição da sa tu ração de ox igên io na
hemog lob ina , f reqüênc ia ca rd íaca e v i sua l i zação da onda
p les t imográ f i ca .
Nes te mesmo t raba lho fo i poss íve l a co locação do sensor
ped iá t r i co do Dopp le r sobre a a r te i ra ven t ra l da cauda , para
aud ição do f luxo sangu íneo a r te r ia l .
35
Figura 5 - Sensor do oxímetro posicionado na região vestibular de cascavel (Crotalus durissus)
Ge ra lmente a f reqüênc ia ca rd íaca é o ún ico ind icado r do
n íve l de anes tes ia do rép t i l e en tão deve se r cu idadosamente
mon i to rada . A d im inu ição da f reqüênc ia ca rd íaca pa ra menos de
80% ind ica que a anes tes ia deve ser supe r f i c ia l i zada . (MUIR e t a l ,
2001 ) . O e le t rocard iograma (ECG) de um rép t i l ap resen ta ondas P ,
QRS e T seme lhan te ao dos ECG dos mamífe ros . O pad rão de
ECG de serpen tes ap resen ta um QRS inve r t ido semelhan te ao
ob t ido na base apex iana do eqü ino . O apare lho de ECG deve te r
ve loc idade va r iáve is ( ve loc idades ba ixas meno r ou igua l a 25
cm/s ) e sens ib i l idades (sens ib i l idade aumentada , 1mV ma io r ou
igua l a 1 cm) que pe rm i tam a con tagem da ba ixa f reqüênc ia
ca rd íaca dos rép te i s e a ma io r impedânc ia e lé t r i ca (GREENE,
2004 ) . O mon i to ramento ca rd íaco (F ig . 6 e 7 ) tem s ido ú t i l em
vá r ios es tudos e o seu uso p rá t i co não pa rece ser incomum
(READ, 2004 ) .
36
Figura 6 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu
Figura 7 - Utilização de cardioscópio em Jararacuçu
Soa res e co labo rado res (2002 ) rea l i za ram e le t roca rd ioscop ia
em cascavé is a t ravés de qua t ro e le t rodos conec tados a agu lhas
h ipodé rm icas (25X7) pos ic ionadas no tec ido subcu tâneo ao redo r
do co ração , após p rév ia pa lpação ca rd íaca . Nes te t raba lho fo i
poss íve l obse rva r a t i v idade e lé t r i ca f reqüênc ia e r i tmo ca rd íaco .
Em caso de uma parada ca rd íaca , deve -se adm in is t ra r
ox igên io 100%, rea l i za r compressão to rác ica e adm in is t ra r
ep ine f r ina 5 – 10 mg.kg - 1 . A massagem card íaca abe r ta pode se r
necessá r ia e pa ra isso deve -se rea l i za r uma lapa ro tom ia , para a
expos ição do co ração (MUIR e t a l , 2001 ) .
37
A ve loc idade e adm in is t ração de l íqu idos du ran te a c i ru rg ia é
de 10 a 20 m l .kg - 1 /h - 1 , pa ra ve loc idades aba ixo de10m l /h se rá
necessá r io uma bomba de in fusão , pa ra a ga ran t ia da p rec isão
(MUIR e t a l , 2001) .
2.8 ANALGESIA
Os rép te i s possuem um s is tema ne rvoso cen t ra l bem
desenvo lv ido e sen tem do r quando são rea l i zados p roced imentos
do lo rosos . A ava l i ação da do r em serpen tes é um desa f io , po is
esses an ima is não têm pe rnas nem mov imentos pa lpebra is ,
po r tan to não são poss íve is a ava l iação da re t ração de membros e
dos re f lexos pa lpeb ra l e co rnea l . O reco lh imento ou mov imen to da
l íngua e o re f lexo ao p inçamen to da cauda e da c loaca são usados
pa ra es t ima r ana lges ia e e fe i tos anes tés icos nes tes an ima is .
(GREENE, 2004 ) .
Cond ições cons ide radas do lo rosas pa ra humanos e ou t ros
mamífe ros devem ser cons ideradas do lo rosas em todas as
espéc ies de ve r teb rados (SLADKY; K INNEY e JOHNSON, 2008 ) .
O bu to r fano l d roga ana lgés ica ma is u t i l i zada como
ana lgés ico em rép te i s , admin is t rado pe la v ia IM em a l tas doses
(20 mg.kg - 1 ) p ropo rc ionou e fe i to ana lgés ico em se rpen tes (READ,
2004 ; SLADKY; K INNEY e JOHNSON, 2008 ) . Es te fá rmaco é
u t i l i zado em comb inação com a mede tomid ina pa ra se ob te r
resu l tados cons is ten tes de ana lges ia (GREENE, 2004 ) .
Read (2004 ) em seu t raba lho en t rev i s tou 165 méd icos
ve te r iná r ios , que res id iam na Amér ica do No r te e t raba lhavam com
an ima is se lvagens , sob re o uso de ana lgés icos em rép te is e
conc lu iu que o ana lgés ico ma is u t i l i zado po r es tes ve te r iná r ios é o
an t i in f lamató r io não -es te ro ida l .
O conhec imen to do compor tamento no rma l da espéc ie é
impo r tan te pa ra iden t i f i ca r a l te rações re lac ionadas a do r
(SLADKY,2008 ) .
38
Prov idenc ia r adequado mane jo da do r pa ra an ima is tem se
to rnado mu i to impo r tan te pa ra ve te r iná r ios e pesqu isas recen tes
tem s ido d i rec ionadas pa ra c r ia r métodos de iden t i f i cação de do r
an ima l (READ, 2004 ) .
39
3 CONSIDERAÇÃO F INAL
O conhec imento dos aspec tos abo rdados nes ta rev i são
poss ib i l i ta ao anes tes io log is ta ve te r iná r io rea l i za r p roced imentos
anes tes io lóg icos com segu rança em se rpen tes , po is é necessá r io
o conhec imen to sob re ca rac te r ís t i cas ana tômicas e d i f e renças
f i s io lóg icas comparadas aos mamí fe ros . A lém d isso , o uso de
rép te i s como an ima is de exper imentação também tem aumentado
e com i sso o uso da anes tes ia t o rna -se ma is comum nesses
an ima is . A con tenção f ís i ca é econôm ica e bas tan te u t i l i zada , mas
não fo rnece anes tes ia e nem ana lges ia e cond ições do lo rosas
pa ra humanos e ou t ros mamífe ros devem ser cons ide rados
do lo rosos em todas as espéc ies de ve r teb rados . Des ta fo rma, se
to rna desumano a p rá t ica de p roced imen tos que sab idamente
causam do r sem anes tes ia , e isso demons t ra ma is uma vez a
impo r tânc ia do conhec imen to sob re compor tamento dessas
espéc ies e f á rmacos que podem se r u t i l i zados pe los méd icos
ve te r iná r ios .
40
REFERÊNCI AS BIBLIOGRÁFICAS:
BARD, R; L IMA, J . C. R. ; SÁ NETO, R. P ; OL IVEIRA, S ; SANTA M.
C . Ine f i các ia do an t i veneno bo t róp ico na neu t ra l i zação da
a t i v idade coagu lan te do veneno de Laches is muta muta . Re la to de
caso de comprovação expe r imenta l . Revista do Ins t i tu to de
Medic ina Tropica l de São Pau lo . v .36 , n . 1 , p . 77 – 81 . Jan . / f ev .
1994 .
BARRAVIEIRA, B . Venenos . 1 . ed . R io de Jane i ro : EPUB, 1999 .
B IRCHARD, S . J . ; SHERDING, R . G. Cl ín ica de Pequenos
Animais . 1 . ed . São Pau lo : Ed i to ra Roca LTDA, 1998 .
BOYER, T . H. Common Procedu res W i th Venomous Rept i les .
Veter inary c l in ics Exot ic An ima l Prac t ice . v .9 , n .2 , p .269-285 .
May.2006 .
BURKE, T . J . ; W ALL , B . E . Anes the t i c Dea ths in Snakes (Na ja
na ja and Oph iophagus Hannah ) w i th Methoxyf lu rane . Journa l o f
the Amer ican Ve ter inary Medica l Associa t ion . v . 157 , n . 5 , p .
620 -621 .Sep tember . 1970 .
CALDERW OOD, H .W . Anes thes ia f o r Rep t i les . Journa l of the
Amer ican Ve te r inary Medica l Associa t ion . v .159 , n .11 ,p .1618 -
1625 . December .1971 .
41
CAPNER, C. A . ; LASCELLES, B . D. X . ; W ATERMAN-PEARSON, A .
E . Cu r ren t Br i t i sh ve te r ina ry a t t i tudes to pe r iope ra t i ve ana lges ia
f o r dogs , Veter inary Record , v . 145 , p . 95-99 , ju l , 1999 .
CHINNADURAI , S . K . ; W RENN, A ; DEVOE, R. S . Eva lua t ion o f
mon invas ive osc i l lomet r ic b lood p ressu re mon i to r ing in
anes the t i zed bo id snakes . Journal o f the Amer ican Vete r inary
Medica l Assoc ia t ion . V .234 , n . 5 , p . 625 -630 . March . 2009 .
DOS SANTOS, M. C. ; GONÇALVES, L . R. C. ; FORTES-DIAS,
Consue lo L . ; CURY, Ya ra ; GUTIÉRREZ, José Mar ia ; D . FURTADO,
Mar ia De Fá t ima. A e f icác ia do an t iveneno bo t róp ico – c ro tá l i co na
neu t ra l i zação das p r inc ipa is a t i v idades do veneno de Both rops
Jara racussu . Revis ta do Ins t i tu to de Medic ina Tropica l de São
Paulo . v . 34 , n . 2 , p .77 -83 . Março / Ab r i l . 1992 .
DOHOO, S . E . ; DOHOO, I . R . Fac to rs in f luenc ing the
pos tope ra t i ve use o f ana lges ics i n dogs and ca ts by Canad ian
ve te r ina r ians . Canadian Veter inary Journal , v . 37 , p . 552 -556 ,
se t , 1996 .
FANTONI , D. T ; CORTOPASSI , S . R . Anestes ia em cães e
ga tos .1 ed . SP: ROCA,2002 .
FLECKNELL P.A . Ana lges ia f rom a ve te r ina ry pe rspec t i ve . Bri t ish
Journa l of Anaesthes ia 2008 ; 101 (1 ) :121-4 .
42
FOW LER, M. E . Res t ra in t and Anaes thes ia in Zoo An ima l
P rac t ice . Journal o f the Amer ican Ve te r inary Medica l
Associa t ion . V . 164 , n . 7 , p . 706-711 . Ap r i l . 1974 .
GREEN, C .J . ; KNIGHT, J . ; PRECIOUS, S . ; S IMPKIN, S . Ke tamine
a lone and combined w i th d iazepam o r xy laz ine in labora to ry
an ima ls : a 10 yea r exper ience . Labora tory An i mals . v .15 , n .2 ,
p .163 -170 . Ap r .1981 .
GREENE, S . A . Segredos em anestes ia ve ter inar ia e mane jo da
dor . Po r to A legre : A r tmed, 2004 .
HARDING K. A . The use o f Ke tam ina anaes thes ia to m i l k two
t rop ica l ra t t lesnake (Cro ta lus du r issus te r r i f i cus ) . The Ve te r inary
Record . V . 100 , n .14 , p . 2289 -290 . Ap r i l . 1977 .
HEARD, P .W . Rep t i le Anes thes ia . The Ve te r inar y C l in ics of
Nor th Amer ica . V . 4 , n . 1 , p .83 -118 . Jan. 2001 .
HELLYER, P . W . Pa in managemen t : Pa r t 1 . Veter inary Medic ine ,
p. 259 -266 , mar , 1999a .
H ILL , R; MACKESSY, S . P . Venom y ie ld f rom seve ra l spec ies o f
co lubr id snake and d i f f e ren t ia l e f f ec ts o f ke tamine . Tox icon . v .35 ,
n .5 . p .671 -678 . May. 1997 .
43
JACKSON, O. F . Rep t i l es and the genera l p rac t i t ione r . The
Ve te r inary Record . V .95 , n . 1 , p . 11 -13 . Ju ly . 1974 .
JEKL,V. ; KNOTEK, Z . Endoscop ic exam ina t ion o f snakes by
access th rough an a i r sac . Veter inary Record. v . 158 , n .12 ,
p .407 -410 . March .2006
JEKL, V . ; KNOTEK, Z . Endoscop ic examina t ion o f snakes by
Access th rough an a i r sac . The Ve ter inary Record . V .12 , n .158 ,
p .407 – 410 . March . 2006 .
JONES, D. M. The seda t ion and anaes thes ia o f b i rds and rep t i les .
The Ve ter inary Record . V . 101 , n . 17 , p . 340 -342 . October .
1977 .
JORGE, M. T ; MENDONÇA, L . A ; S ILVA, M. L . R; Kusano , E .J .U. ;
CORDEIRO, C. L . S . F lo ra bac te r iana da cav idade o ra l , p resas e
veneno de both rops ja ra raca : Poss íve l f on te de in fecção no loca l
da p i cada . Revis ta do Ins t i tu to de Medic ina Trop ica l de São
Paulo . V .32 , n .1 , p .6 -10 . Jane i ro – Feve re i ro . 1990 .
Lasce l les BD, Capne r CA , W aterman-Pea rson AE. Cu r ren t Br i t i sh
ve te r ina ry a t t i tudes to pe r iope ra t ive ana lges ia f o r ca ts and sma l l
mammals . Veter inary Record 1999; 145 : 601 -4 .
LAW RENCE, K . ; JACKSON, O. F . A lphaxa lone / a lphado lone
anaes thes ia in rep t i les . The Veter inar y Record . V .112 , n . 2 , p .
26 -28 .January . 1983 .
44
LUMB & JONES. Rep t i les and amph ib ians . In : Veter inary
anes thes ia and analges ia . 3 ed . USA: W i l l iams & W i l k ins , 1996 .
ADDISON, EM; KOLENSKY,GB. D issoc ia t i ve Anes the t i cs . In : Lumb
& Jone `s Veter inary Anes thes ia and Ana lges ia . 4 a ed .
Lowa:B lackwe l l Pub l ish ing ; 2007 .p . 301-353 .
HEARD, P .W . ; STETTER, M.D. Rept i les , Amph ib ians , and F ish . In :
Lumb & Jones `Vete r ina ry Anesthes ia and Ana lges ia . 4 a ed . Iowa:
B lackwe l l Pub l ish ing ; 2007 . p . 869 – 887 .
ZORAN, DL, RIEDESEL , DH. In jec tab le and A l te rna t i ve Anes the t ic
Techn iques . In : Lumb & Jone `s Veter inar y Anes thes ia and
Ana lges ia . 4 ed . Lowa: B lackwe l l Pub l ish ing ; 2007 .p . 273-299 .
MUIR, W . W . ; HUBBEL, J . A .E . ; SKARDA, R. T . ; BEDNARSKI , R.
M. Manual de Anestes ia Ve ter inár ia . 3 ed . Po r to A legre :
ARTMED, 2001 .
PATTERSON, R. W . ; SMITH, A . Su rg ica l in te rven t ion to re l ieve
dys toc ia in a py thon . The Ve ter inary Record . V .104 , N . 24 , p .551 -
552 .June . 1979 .
PETERS, A . R. and COOTE, J . Dys toc ia in a snake . The
Ve te r inary Record . V .100 , n .20 ,p .423 . May. 1977 .
READ, M. R.Eva lua t ion o f the use o f anes thes ia and ana lges ia in
rep t i les . Journal o f the Amer ican Veter inary Medica l
Associa t ion . V .224 , n .4 , p .547-552 . February .2004 .
45
SLADKY, K . K . ; K INNEY, M. E . ; JOHNSON, S . M. Ana lges ic
e f f i cacy o f bu to rphano l and morph ine in bea rded d ragons and corn
snakes . J Am Vet Med Assoc . V .233 , n .2 .p .267 -273 . Ju ly . 2008 .
SOARES, J . H. N; ASCOLI , F . O . ; MONTEIRO, A . O ; MONTEIRO,
R . V ; G IMENEZ, A . R. M; AGUIAR, A . S ; AGUIAR, A . J . A . ;
MARSICO, F . , F . . Mon i to r i zação anes tes io lóg ica em cascavé is
(Cro ta lus dur i ssus , L innaeus, 1758 ) anes tes iadas com i so f lu rano
submet idas a ce l io tomia . Revis ta Bras i le i ra de Ciência
Ve te r inár ia , R io de Jane i ro , v . 9 , n . 1 , p . 145 -147 , 2002 .
W ANG, T . , SMITS, A , W . ; BURGGREN, W . W . Pu lmona ry func t ion
in rep t i les . In : Gans, C . , Gaunt , A . S . Biology o f the rept i l ian,
Soc. Study Anph ibians Rept i les , S Lou is , v . 19 , 1998 , 297p .
W EST, G . ; HEARD, D ; CAULKETT, N. Zoo an imal & w i ld l i fe
immobi l i za t ion and anesthes ia . 1 ed . USA: B lackwe l l Pub l ish ing,
2007 .