ane101 paradigmas paula

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1 Para Al é m dos Paradigmas nos E studos Organiza c ionai s : O Cír c ulo das Matriz es Epi st e mológi c as Ana Paula Paes de Paula 1 R esumo: Neste artigo, apresentamos uma proposição para orientar os estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistemológicas. A intenção é oferecer uma alternativa à lógica paradigmática de Kuhn: a lógica dos interesses cognitivos de Habermas. Inspirados por Kuhn, e apoiando-se na tese da incomensurabilidade dos paradigmas, Burrell e Morgan elaboraram o diagrama dos paradigmas sociológicos, mas sua inserção vem estimulando uma “guerra paradigmática”. O círculo das matrizes epistemológicas também proporciona um esquema para orientação dos estudos organizacionais, mas defende a tese da incompletude cognitiva e sugere que o conhecimento sociológico e organizacional se desenvolve de acordo com a teoria das reconstruções epistemológicas. Para realizar essas proposições e elaborações, realizamos uma discussão sobre os paradigmas sociológicos e acerca do conteúdo do debate paradigmático para evidenciar as dificuldades de superação dos conflitos trazidos pela insistência na defesa ou na crítica da tese da incomensurabilidade dos paradigmas. Em seguida, questionamos a adequação dos paradigmas sociológicos de Burrell e Morgan para os estudos organizacionais, problematizando em especial a influência que eles sofreram dos paradigmas kuhnianos. Na seção seguinte, há uma exposição de nossa proposição alternativa o círculo das matrizes epistemológicas e também a defesa da tese da incompletude cognitiva e das reconstruções epistemológicas. Finalizando, apresentamos as conclusões e reflexões para futuras pesquisas. Palavras-Chav e : Estudos Organizacionais. Círculo das Matrizes Epistemológicas. Paradigmas, Teoria Crítica, Epistemologia. 1. Introdu ç ão O objetivo deste artigo é apresentar e defender uma nova proposta para orientar os estudos organizacionais: o c ír c ulo das matriz es. Buscaremos sustentar uma nova lógica de pensamento para os estudos organizacionais que nos ajude a superar a mentalidade paradigmática inserida por Burrell e Morgan (1979), bem como os dilemas trazidos pela tese da incomensurabilidade dos paradigmas. O c ír c ulo das matriz es e pi st e mológi c as aponta as seguintes matrizes que se guiam pelos três interesses cognitivos discutidos por Jürgen Habermas (1968/1982) em Conh ec ime nto e Int e r esse: a matriz empírico-analítica (interesse técnico), a matriz hermenêutica (interesse prático) e a matriz crítica (interesse emancipatório). As matrizes epistemológicas indicam as preferências cognitivas, de lógica de pensamento e de interesses, sendo que cada uma delas recorre a uma linguagem específica. Essas matrizes epistemológicas, que representam partes de um todo integrado que é a produção do conhecimento, foram dispostas por nós em um círculo que é um locus no qual as abordagens 1 UFMG

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Paradigmas Paula

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    Para A lm dos Paradigmas nos Estudos O rganizacionais: O C rculo das Matrizes Epistemolgicas

    Ana Paula Paes de Paula1

    Resumo:

    Neste artigo, apresentamos uma proposio para orientar os estudos organizacionais: o crculo das matrizes epistemolgicas. A inteno oferecer uma alternativa lgica paradigmtica de Kuhn: a lgica dos interesses cognitivos de Habermas. Inspirados por Kuhn, e apoiando-se na tese da incomensurabilidade dos paradigmas, Burrell e Morgan elaboraram o diagrama dos paradigmas sociolgicos, mas sua insero vemestimulandoumaguerraparadigmtica. O crculo das matrizes epistemolgicas tambm proporciona um esquema para orientao dos estudos organizacionais, mas defende a tese da incompletude cognitiva e sugere que o conhecimento sociolgico e organizacional se desenvolve de acordo com a teoria das reconstrues epistemolgicas. Para realizar essas proposies e elaboraes, realizamos uma discusso sobre os paradigmas sociolgicos e acerca do contedo do debate paradigmtico para evidenciar as dificuldades de superao dos conflitos trazidos pela insistncia na defesa ou na crtica da tese da incomensurabilidade dos paradigmas. Em seguida, questionamos a adequao dos paradigmas sociolgicos de Burrell e Morgan para os estudos organizacionais, problematizando em especial a influncia que eles sofreram dos paradigmas kuhnianos. Na seo seguinte, h uma exposio de nossa proposio alternativa o crculo das matrizes epistemolgicas e tambm a defesa da tese da incompletude cognitiva e das reconstrues epistemolgicas. Finalizando, apresentamos as concluses e reflexes para futuras pesquisas. Palavras-Chave: Estudos Organizacionais. Crculo das Matrizes Epistemolgicas. Paradigmas, Teoria Crtica, Epistemologia. 1. Introduo

    O objetivo deste artigo apresentar e defender uma nova proposta para orientar os estudos organizacionais: o c rculo das matrizes. Buscaremos sustentar uma nova lgica de pensamento para os estudos organizacionais que nos ajude a superar a mentalidade paradigmtica inserida por Burrell e Morgan (1979), bem como os dilemas trazidos pela tese da incomensurabilidade dos paradigmas. O c rculo das matrizes epistemolgicas aponta as seguintes matrizes que se guiam pelos trs interesses cognitivos discutidos por Jrgen Habermas (1968/1982) em Conhecimento e Interesse: a matriz emprico-analtica (interesse tcnico), a matriz hermenutica (interesse prtico) e a matriz crtica (interesse emancipatrio). As matrizes epistemolgicas indicam as preferncias cognitivas, de lgica de pensamento e de interesses, sendo que cada uma delas recorre a uma linguagem especfica. Essas matrizes epistemolgicas, que representam partes de um todo integrado que a produo do conhecimento, foram dispostas por ns em um crculo que um locus no qual as abordagens 1 UFMG

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    sociolgicas se situam: o c rculo das matrizes epistemolgicas. Buscando romper com a mentalidade paradigmtica redefinimos os paradigmas sociolgicos de Burrell eMorgan(1979) como abordagens sociolgicas, ou sistemas de produo de conhecimento, que esto emconstantedesenvolvimentoenoseresumemaosquatroparadigmasapresentadospelosautores em seu conhecido diagrama. Para os estudos organizacionais apresentamos seis abordagens sociolgicas a abordagem funcionalista, a abordagem interpretativista, a abordagem humanista, a abordagem estruturalista, a abordagem ps-estruturalista e a abordagem realista crtica defendendo ainda que possvel a criao de novas abordagens,. No mbito dessas abordagens, temos as teorias e metodologias que so desenvolvidas para sustent-las. Em sntese, as matrizes epistemolgicas abrangem abordagens sociolgicas, que por sua vez, produzem teorias e metodologias. As matrizes epistemolgicas tentam dar sua explicao da realidade e sua verso da verdade, sendo que cada uma delas tomada separadamente representa um ponto cego em relao s outras duas, bem como uma potencial incomunicabilidade, uma vez cada uma recorre a uma linguagem especfica. No entanto, essa incomunicabilidade no insupervel, pois constatamos que mesmo abordagens sociolgicas que apresentam um vis para uma determinada matriz epistemolgica produzem teorias e metodologias que transitam no crculo das matrizes epistemolgicas. Essa incomunicabilidade tambm no desejvel, pois o ideal seria que as pesquisas em estudos organizacionais abrangessem os trs interesses cognitivos o interesse tcnico, o interesse prtico e o interesse emancipatrio , sendo que ainda assim os investigadores precisariam estar conscientes que enfrentam limitaes cognitivas. Emerge assim a tese da incompletude cognitiva, que sustenta que no mbito das cincias sociais e dos estudos organizacionais, independentemente da abordagem sociolgica utilizada, no possvel atingir todo o conhecimento, mas apenas uma parte dele. Ao invs de debater a tese da incomensurabilidade dos paradigmas conclumos que seria mais frutfero deixar de lado a ideia de uma incomunicabilidade entre eles e admitir nossa impossibilidade de ter toda verdade a partir de uma determinada abordagem sociolgica. Assim, as abordagens sociolgicas no seriam instncias estritamente rivais, mas formas diversas de captar a realidade e explic-la, sendo que, para abranger mais interesses cognitivos, deveriam dialogar. Sustentamos tambm que no mbito das cincias sociais e dos estudos organizacionais, o conhecimento se desenvolve por meio de reconstrues epistemolgicas, ou seja, trabalhos deescavao busca de origens que aprimoram teorias e metodologias e podem fazer surgir novas abordagens sociolgicas. Nesse processo, as teorias e metodologias que so capazes de transitar no crculo das matrizes epistemolgicas podem culminar no surgimento de uma nova abordagem sociolgica, que tambm adquire a propriedade de se movimentar entre as matrizes epistemolgicas. Para realizar essas proposies e elaboraes, o primeiro passo foi realizar uma discusso sobre os prprios paradigmas sociolgicos e acerca do contedo do debate paradigmtico para evidenciar as dificuldades de superao dos conflitos trazidos pela insistncia na defesa ou na crtica da tese da incomensurabilidade dos paradigmas. Na seo seguinte, questionamos a adequao dos paradigmas sociolgicos de Burrell e Morgan (1979) para os estudos organizacionais, problematizando em especial a influncia que eles sofreram dos paradigmas kuhnianos. Na quarta seo, h uma exposio de nossa proposio alternativa o c rculo

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    das matrizes epistemolgicas e tambm a defesa da tese da incompletude cognitiva e das reconstrues epistemolgicas. Em seguida, apresentamos as concluses e reflexes para futuras pesquisas.

    2. Questionando o Uso dos Paradigmas nos Estudos O rganizacionais

    Para realizar o nosso intento, em primeiro lugar retomaremos a tese da incomensurabilidade dos paradigmas. Nossa prtica de pesquisa e docncia vem demonstrando que no campo dos estudos organizacionais as discusses epistemolgicas so frequentemente realizadas a partir do texto Sociological Paradigms and Organisational Analysis de Burrell e Morgan (1979). A despeito das crticas dirigidas a esse trabalho, nenhuma abordagem sobre epistemologia nos estudos organizacionais pode se isentar de cit-lo, sob pena de cobranas por parte dos pesquisadores da rea. O modelo proposto por Burrell e Morgan (1979) recorre duas dimenses, a sociologia da regulao e a sociologia da mudana radical, que so perpassadas pela oposio entre objetividade e subjetividade, resultando em um diagrama com quatro paradigmas: o funcionalismo, o interpretativismo, o estruturalismo radical e o humanismo radical. F igura 1: Diagrama de G ibson Burrell e Gareth Morgan

    Fonte: Burrell e Morgan (1979, p.22). Para constituir esse diagrama, Burrell e Morgan (1979) recorrem a quatro pressupostos sobre a natureza das cincias sociais, que se organizam nas seguintes vertentes de debate:

    Realismo versus Nominalismo (o debate ontolgico): A posio realista defende que o mundo social externo e a cognio individual um mundo real constitudo de estruturas rgidas, tangveis e relativamente imutveis. A posio nominalista, por sua

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    vez, tem como pressuposto que o mundo social externo e a cognio individual so constitudas por nomes, conceitos e rtulos utilizados para estruturar a realidade;

    Positivismo versus Antipositivismo (o debate epistemolgico): A posio positivista utilizada para caracterizar epistemologias que tentam explicar e predizer o que acontece no mundo social por meio de regularidades e relacionamentos causais entre os seus elementos constituintes. Alm disso, o positivismo essencialmente baseado em abordagens tradicionalmente utilizadas nas cincias naturais. A posio antipositivista se coloca contra a utilidade de buscar leis ou identificar regularidades no mundo social. Para os antipositivistas, o mundo social essencialmente relativista e somente pode ser entendido a partir do ponto de vista dos indivduos diretamente envolvidos nele: a posio do investigador como um observador, tpica do positivismo, rejeitada e a absoluta objetividade das cincias tambm;

    Determinismo versus Voluntarismo (o debate da natureza humana): A viso determinista afirma que o homem e suas atividades so completamente determinados pela situao ambiental no qual eles se inserem. J a viso voluntarista considera o homem completamente autnomo e autodeterminado;

    Teoria Nomottica versus Teoria Idiogrfica (o debate metodolgico): A abordagem nomottica prefere basear a pesquisa em um protocolo sistemtico e tcnico, valorizando mtodos empregados nas cincias naturais como os testes de hipteses, bem como o rigor cientfico. A abordagem idiogrfica da cincia social, por sua vez, baseada na viso de que s possvel obter conhecimento de primeira-mo do sujeito sob investigao, de modo que valoriza o seu background e a histria de vida, alm de enfatizar a anlise das questes subjetivas e os seus insights.

    Esses pressupostos so organizados pelos autores em torno das abordagens objetivistas e subjetivistas da cincia social da seguinte maneira:

    Abordagem objetivista: realista, positivista, determinista e nomottica; Abordagem subjetivista: nominalista, antipositivista, voluntarista e idiogrfica.

    Paralelamente, Burrell e Morgan (1979) tambm levam em considerao alguns pressupostos sobre a natureza da sociedade, enfatizando o que eles nomeiam como debate entre ordem e conflito e baseando-se nos conceitos de Talcott Parsons e Ralf Dahrendorf, apontam duas teorias de sociedade que se ligam s seguintes palavras-chave:

    Viso de sociedade da ordem (ou integrao): estabilidade, integrao, coordenao funcional e consenso;

    Viso de sociedade do conflito (ou coero): mudana, conflito, desintegrao e coero.

    Considerando tal categorizao problemtica, eles decidem substitu-la pelas noes de regulao e mudana radical. Introduzem assim a sociologia da regulao, para se referir a tericos preocupados em elaborar explicaes sobre a sociedade em termos de unidade e coeso, uma vez que se interessam pelo entendimento de foras sociais que previnem a viso hobbesiana de guerra de todos contra todos. A sociologia da mudana radical, em contraste, tem como preocupao bsica encontrar explicaes para a mudana radical, os conflitos estruturais, os modos de dominao e a contradio estrutural. Alm disso, tambm se interessa pela emancipao humana em relao s estruturas que limitam seu potencial de desenvolvimento. Focaliza a privao material e fsica dos homens e as alternativas

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    aceitao do status quo. Em sntese, os autores acreditam que a distncia que separa a sociologia da regulao da sociologia da mudana radical similar a que separa a sociologia de mile Durkheim da sociologia de Karl Marx. Em linhas gerais, Burrell e Morgan (1979) categorizam as preocupaes dessas sociologias da seguinte forma:

    Sociologia da Regulao: status quo, ordem social, consenso, integrao e coeso social, solidariedade, satisfao de necessidades e realidade;

    Sociologia da Mudana Radical: mudana radical, conflito estrutural, modos de dominao, contradio, emancipao, privao e potencialidade.

    Partindo dessas elaboraes, os autores ento passam a constituir o perfil de cada um dos paradigmas que integram o diagrama. Assim, o funcionalismo est fortemente enraizado na sociologia da regulao, focalizando um ponto de vista objetivista. Sua preocupao dar explicaes racionais ao status quo, ordem social, ao consenso, integrao social, solidariedade e satisfao das necessidades, recorrendo a uma abordagem que realista, positivista, determinista e nomottica para buscar solues para problemas prticos. O interpretativismo tambm se enraza na sociologia da regulao, mas de um ponto de vista subjetivista. Os pesquisadores buscam entender o mundo como ele , compreender a natureza fundamental do mundo social no nvel da experincia subjetiva, fazendo o uso de uma abordagem nominalista, antipositivista, voluntarista e idiogrfica, que v o mundo como um processo emergente que criado pelos indivduos. O estruturalismo radical, por sua vez, est fundamentado na sociologia da mudana radical, partindo de um ponto de vista objetivista. Ele est comprometido com a mudana radical, a emancipao e a potencialidade, enfatizando o conflito estrutural, a contradio e a privao e baseando sua crtica radical da sociedade nas relaes estruturais dentro de um mundo social realista. Assim, suas abordagens, como as dos funcionalistas, so tambm realistas, positivistas, deterministas e nomotticas. J o humanismo radical tem suas bases na sociologia da mudana radical, mas recorre a um ponto de vista subjetivista. Essa perspectiva v a conscincia humana como dominada pelas superestruturas ideolgicas com as quais o indivduo interage, o que faz com que exista um hiato cognitivo entre ele mesmo e sua verdadeira conscincia, que seria uma falsa conscincia. O humanismo radical tambm est comprometido com a mudana radical, a emancipao e a potencialidade, enfatizando as mesmas coisas que o estruturalismo radical, mas sua abordagem seria nominalista, antipositivista, voluntarista e idiogrfica, como a advogada pelos interpretativistas. No Brasil, pesquisadores como Caldas (2005, p. 46) defendem que Sociological Paradigms and Organisational Analysis um dos textos mais influentes da teoria organizacional, embora efetivamente tenha sido pouco lido. Caldas (2005) tambm reconhece que o trabalho de Burrell e Morgan passou a ser criticado, principalmente porque o modelo de paradigmas simultneos e concorrentes teria causado polarizao e segregao entre os pesquisadores. Partindo desta constatao, procuramos recuperar essas crticas na literatura internacional. Enquanto no Brasil, o texto cai em desuso a partir da dcada de 1990, no mesmo perodo nas revistas Organization Studies e Organization ocorre um extenso debate sobre a tese da incomensurabilidade dos paradigmas. Aps analisar sistematicamente este debate, chegamos seguinte pergunta: qual a vantagem de se manter um diagrama com eixos polarizados? O

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    diagrama de Burrell e Morgan (1979), apesar de ter alguma utilidade didtica, sempre gerou muitas controvrsias com os alunos e pesquisadores com os quais tivemos a oportunidade de conviver. Quando analisamos os componentes de cada paradigma o que se destaca que os pressupostos que compem o estruturalismo radical so os mesmos do funcionalismo (realista, positivista, determinista e nomottico) e o mesmo ocorre entre o humanismo radical e o interpretativismo (nominalista, antipositivista, voluntarista e idiogrfico), mas funcionalismo e interpretativismo se encontram juntos sob a rubrica da sociologia da regulao, enquanto o estruturalismo radical e o humanismo radical se abrigam sob a lgica da sociologia da mudana radical. Isso gera algumas contradies.

    Por exemplo, segundo Burrell e Morgan (1979), o estruturalismo radical em tese professa a mudana, mas recorre a uma abordagem positivista e determinista. J de sada temos um problema, pois o positivismo e o determinismo tendem a ser conservadores e de fato, o estruturalismo levado s ltimas consequncias aponta muito mais para um imobilismo do que para uma transformao, pois no limite a crtica feita identifica uma dominao e opresso to absolutas que no se v sadas para a emancipao. Por outro lado, alguns estruturalistas radicais recorrem dialtica, que se ope ao positivismo: como podem ser ento apontados como positivistas? Os quatro pressupostos colocados por Burrell e Morgan (1979) apontam para posies bastante extremas, estabelecendo dicotomias que no se sustentam diante de um olhar mais atento, nos levando a buscar posies fronteirias dentro dos quadrantes para explicar excees, como por exemplo uma pesquisa interpretativista mais comprometida com a sociologia da mudana radical. Estas dificuldades de categorizao, bem como as crticas que costumam ser dirigidas a este diagrama de Burrell e Morgan nos corredores das universidades e nos encontros acadmicos no Brasil, estimularam instigantes reflexes que tambm geraram tentativas nossas de readequao do diagrama com a utilizao de outros pressupostos, mas nenhuma soluo encontrada foi satisfatria. Por esse motivo, o nosso olhar se direcionou para um outro pressuposto que orienta a construo do diagrama de Burrell e Morgan: cada um dos quadrantes (humanismo radical, estruturalismo radical, interpretativismo e funcionalismo) so categorizados como paradigmas em sentido semelhante ao apontado por Thomas Kuhn. Mas seriam eles realmente paradigmas? Reed (1985) um dos primeiros autores a fazer esse questionamento. Jackson e Carter (1991; 1993) tambm fazem essa considerao, mas na medida em que defendem a tese da incomensurabilidade, permanecem no registro kuhniano. Willmott (1993a; 1993b) tambm tenta quebrar a mentalidade paradigmtica, mas segue utilizando conceitos kuhnianos, uma vez que defende a teoria do desenvolvimento do conhecimento de Kuhn nas suas elaboraes. Deetz (1996) rejeita os paradigmas, substituindo os mesmos por discursos, mas insiste no uso de um diagrama com eixos polarizados, herdando os problemas de enquadramento enfrentados por Burrell e Morgan (1979). O fato que Burrell e Morgan no se debruaram detidamente sobre a questo dos paradigmas utilizados serem ou no kuhnianos em Sociological Paradigms and Organisational Analysis, limitando-se a dizer em uma nota no captulo 3 que estariam utilizando os paradigmas em um sentido mais amplo que Kuhn. Apesar disso, a definio por eles apresentada coincide com o sentido sociolgico de paradigma kuhniano, como veremos a

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    seguir. Alm disso, no faz sentido tomar a tese da incomensurabilidade como faz a comunidade cientfica no campos dos estudos organizacionais sem aceitar a definio kuhniana de paradigma, pois os conceitos esto inter-relacionados. importante salientar ainda que antes de toda controvrsia se instalar na rea de estudos organizacionais, Eckberg e Hill (1979), no mesmo ano da publicao de Sociological Paradigms and Organisational Analysis de Burrell e Morgan (1979), j criticavam o uso dos paradigmas kuhnianos para as cincias sociais A questo do que um paradigma to problemtica que Thomas Kuhn precisou responder aos seus crticos em um posfcio para o livro A Estrutura das Revolues C ientficas, pois pesquisadores como Masterman (1970) indicaram mais de vinte diferentes usos para a palavra paradigma no texto. Nesse posfcio de 1969, Kuhn (1962/1997) admite que utilizou o termo paradigma na maior parte do livro com dois sentidos diferentes: (1) em um sentido sociolgico, como a constelao de crenas, valores e tcnicas partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada; (2) em um sentido cientfico, como realizaes dotadas de uma natureza exemplar que se tornam modelos ou exemplos a serem empregados para resoluo de problemas. Os dois sentidos se encontram interligados e a tese da incomensurabilidade de paradigmas vem justamente comprovar isso. No posfcio Kuhn (1962/1997) explica a questo da seguinte maneira:

    O que acabamos de dizer fornece uma base para o esclarecimento de mais um aspecto deste livro: minhas observaes sobre a incomensurabilidade e suas consequncias para os cientistas que debatem sobre a escolha entre teorias sucessivas. Argumentei nos Caps. 9 e 11 que as partes que intervm em tais debates inevitavelmente veem de maneira distinta certas situaes experimentais ou de observao a que ambas tm acesso. J que os vocabulrios com os quais discutem tais situaes consistem predominantemente dos mesmos termos, as partes devem estar vinculando estes termos de modo diferente natureza o que torna sua comunicao inevitavelmente parcial. Consequentemente, a superioridade de uma teoria sobre outra no pode ser demonstrada atravs de uma discusso. Insisti, em vez disso, na necessidade de cada partido tentar convencer atravs da persuaso. Somente os filsofos se equivocaram seriamente sobre a inteno dessa parte de minha argumentao. Alguns deles, entretanto, afirmaram que acredito no seguinte: os defensores de teorias incomensurveis no podem absolutamente comunicar-se entre si; consequentemente, num debate sobre a escolha de teorias no cabe recorrer a boas razes; a teoria deve ser escolhida por razes que so, em ltima instncia, pessoais e subjetivas; alguma espcie de apercepo mstica responsvel pela deciso a que se chega. Mais do que qualquer outra parte do livro, as passagens em que se baseiam essas interpretaes equivocadas esto na origem das acusaes de irracionalidade. (KUHN, 1962/1997, p. 244-245)

    Em outras palavras, o que uma comunidade cientfica partilha (sentido sociolgico) se deve concordncia em relao ao uso de modelos ou exemplos para solucionar problemas (sentido cientfico). Quando no h mais essa concordncia, a comunidade cientfica deixa de compartilh-los e surge a incomensurabilidade. O que Kuhn prossegue afirmando, aps esta constatao de que foi mal interpretado, que a incomensurabilidade no uma mera questo lingustica, pois no pode ser resolvida somente na base da argumentao. O que ele quis dizer que a persuaso um preldio da prova: quando h um desacordo sobre o sentido e a aplicao de regras estipuladas, estamos diante de uma incomensurabilidade e os contestadores precisam ento buscar provas objetivas de que esto com a razo. O problema

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    se reflete na linguagem, mas anterior a ele, pois se baseia no fato das evidncias no sustentarem mais uma determinada teoria. O prprio conceito de comensurabilidade remete questes objetivas, a reduo de vrias dimenses de valor mesma medida, e no questes discursivas. No podemos nos esquecer que Kuhn estava aplicando a tese da incomensurabilidade s cincias naturais e fsicas, nas quais os problemas so resolvidos por meio de medidas: comensurvel que dizer que dois objetos distintos so mensurveis em medidas comuns. Amartya Sen (2009) evidencia que quando se considera um conceito da cincia social, como o de capacidade, por exemplo, a caracterstica da no comensurabilidade um atributo natural da mesma. Observe que Sen afirma que as capacidades so no comensurveis e no que elas soincomensurveis, ou seja, no possvel medir uma capacidade, de modo que no faz nenhum sentido compar-la com outra para dizer que so comensurveis ou incomensurveis. Assim, quando Burrell e Morgan (1979) dizem que os seus quatro paradigmas so rivais e colocam em debate a tese da incomensurabilidade podem ter cometido dois equvocos: considerar que as abordagens sociolgicas podem ser categorizadas como paradigmas e tomar a rivalidade e a incomensurabilidade como sinnimos. Os conflitos colocados por Kuhn no se do devido meras diferenas de opinio, mas s discordncias quanto s medidas que se obtm na reproduo de experimentos, ou sobre as tcnicas que se utilizam para realizar essas medidas. Na percepo de Kuhn (1962/1997), pelo menos em tese, desconsiderando questes ideolgicas, uma vez resolvidas as discordncias de natureza tcnica e cientfica e estabelecido um novo modelo ou exemplo, a comunidade reconhece a superioridade da nova teoria e os conflitos terminam. No caso das cincias sociais, no h como alcanar as dimenses de valor, pois os valores dos fenmenos sociais so de sada no comensurveis e, portanto, no comparveis, de modo que a incomensurabilidade uma impossibilidade lgica. Assim, como podemos averiguar nos estudos organizacionais, os conflitos no se do em torno de questes de medidas, mas de posies ideolgicas. O diagrama de Burrell e Morgan (1979) j coloca esta condio a priori quando estabelece a polaridade regulao-mudana, pois essa imbuda de ideologia. Desse modo, no h sentido em defender ou no a tese da incomensurabilidade a partir das elaboraes kuhnianas nos estudos organizacionais, pois no bem disso que se trata. O que sugerimos ento o abandono do uso do conceito de paradigma e dessa tese na tentativa de alcanar um outro nvel de entendimento para a pesquisa no campo das organizaes. A resistncia dos cientistas sociais em abandonar o conceito de paradigma est relacionado com o temor de que a mesma seja considerada uma cincia pr-paradigmtica, de modo que na base do uso do conceito encontramos a necessidade de alguns pesquisadores afirmarem a cincia social enquanto cincia (ASSIS, 1993). As cincias sociais no podem ser equiparadas s cincias naturais, por razes exaustivamente colocadas na literatura (URRY, 1973; ASSIS, 1993): complexidade de seus objetos, autodecepo, dificuldade em determinar o que seja um experimento e impossibilidade de repetio rigorosa de experimentos. Os paradigmas de Kuhn requerem modelos e exemplos que podem ser utilizados amplamente pelos cientistas de uma rea, mas nas cincias sociais eles so raros e se existem, como colocam Eckberg e Hill (1979) hipoteticamente: (1) no podem ser considerados vlidos por todos os praticantes da

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    disciplina; (2) se encontram em domnios em que as pesquisas esto mais aprofundadas; (3) tm uma comunidade de praticantes que se unem em torno deles; e (4) devem ser utilizados para produzir e resolver problemas, gerando uma tradio de pesquisa. Logo, o debate em torno dos paradigmas e da tese da incomensurabilidade nos estudos organizacionais tem como pano de fundo a questo: o que cincia? Quando Burrell e Morgan (1979) trazem paradigmas que desafiam a hegemonia funcionalista, fazem a questo vir tona. A posio integracionista de Donaldson (1985) e Pfeffer (1993) tpica daqueles que no atribuem status cientfico para os outros paradigmas, estabelecendo que os conceitos kuhnianos so vlidos apenas no domnio funcionalista. O irnico que eles no deixam de ter alguma razo, embora no seja possvel concordar com a tentativa de homogeneizar os estudos organizacionais em torno do funcionalismo. A insistncia no uso de paradigmas no o melhor caminho para legitimar outras posies epistmicas, pois o que est em jogo estabelecer que existem outras formas de cincia para alm das nomolgicas. 3. Indo A lm dos Paradigmas: O C rculo das Matrizes Epistemolgicas Buscando alternativas para o uso dos paradigmas nos estudos organizacionais, encontramos em Jrgen Habermas (1968/1982), na obra Conhecimento e Interesse, que antecede a teoria da ao comunicativa e que discute a questo da teoria do conhecimento, um caminho que nos pareceu promissor. Para o filsofo as teorias do conhecimento so instrudas por interesses cognitivos, entendidos por como ...as orientaes bsicas que aderem a certas condies fundamentais da reproduo e da autoconstituio possveis da espcie humana: trabalho e interao.(HABERMAS, 1968/1982, p. 217) Nesse sentido, os interesses no se voltam para necessidades empricas e imediatas, mas para soluo de problemas sistmicos, uma vez que trabalho e interao englobam processos de aprendizagem e de compreenso recproca. Assim, as cincias emprico-analticas se fundamentam no interesse tcnico, no sentido instrumental e as cincias hermenuticas no interesse prtico, no sentido de prxis de vida. Habermas ainda expressa que as condies do agir instrumental e da atividade prpria comunicao so simultaneamente as condies da objetividade inerente ao conhecimento, fixando a validade das proposies nomolgicas e hermenuticas. O interesse emancipatrio, que orienta a cincia crtica, implica em um ato de reflexo que alteraavida,masnoexteriorconexoentreointeressetcnicoeointeresseprtico: esses trs interesses deveriam ser articular para orientar o conhecimento. A questo que as teorias cientficas em geral se desdobram em um saber tecnicamente aplicvel, mas no produzem um saber para orientar a atividade prtica. Nesse contexto, no basta, no entanto, a remoocrticadosdogmas,poisissoserianiilismoenoemancipao.Aquestoque...areduo metodolgica da cincia a um interesse pela autoconservao no est a servio de uma determinao lgica-transcendental de um conhecimento possvel mas, sim, a servio da negao da prpria possibilidade de se conhecer. (HABERMAS, 1968/1982, p. 309) Emoutras palavras, quando reduzimos a cincia a nico tipo de interesse estamos pactuando com uma cegueira cognitiva. Paralelamente, o artigo de Michael Hill (1984), Epistemology, Axiology, and Ideology, foi de grande valia, pois sugere que nas cincias sociais noteramosparadigmas,masdiferentes

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    sistemas de produo de conhecimento, que envolvem questes epistemolgicas, axiolgicas e ideolgicas, fazendo uma construo analtica que nos remeteu indiretamente teoria do conhecimento e interesse de Habermas (1968/1982), ainda que o autor no cite o filsofo. Em primeiro lugar, Hill (1984) estabelece a noo de sistema de produo de conhecimento como referencial para discutir questes epistemolgicas na cincias sociais, apresentando os seguintes argumentos:

    As diversas perspectivas filosficas, metodolgicas e tericas nas cincias sociais so sistemas de produo de conhecimento;

    No h limite para o nmero de sistemas de produo de conhecimento que podem ser inventados ou propostos;

    Cada sistema de produo de conhecimento composto pelos seguintes elementos: (1) vises de mundo metacientficas, (2) metodologias, e (3) teorias;

    Esses elementos de cada sistema de produo de conhecimento so interdependentes; Cada sistema de produo de conhecimento tenta manter a consistncia entre seus

    elementos de acordo com a prprias regras de organizao e lgica; Cada sistema de produo de conhecimento epistemologicamente responsvel pelas

    suas prprias regras de organizao e lgica; A fidelidade da responsabilidade epistemolgica para com o sistema de produo de

    conhecimento requer: (1) a completa articulao dos elementos de seu sistema; (2) a proposio de solues para inconsistncias quando elas so descobertas, e (3) a clara identificao e publicizao de quaisquer inconsistncias que resistam s solues propostas;

    Ainvestigaoepistemolgicafrequentementerequeraescavaoereconstruo de elementosperdidosdosistemadeproduodeconhecimento.

    Hill (1984) no se limita a discutir os argumentos epistemolgicos que sustentam um sistema de produo de conhecimento, apresentando tambm o problema da responsabilidade axiolgica, ou seja, a questo dos valores. O autor tambm discute a responsabilidade ideolgica que circunda as questes epistemolgicas e axiolgicas dos sistemas de produo de conhecimento. Hill (1984, p. 71) ainda faz uma crtica das batalhas paradigmticas, pois sustenta que: Ao se concentrarem nas caractersticas superficiais que obscurecem a substncia intelectual, debates entre adversrios dicotomizados geralmente destroem qualquer possibilidade de descobertaemancipatriasignificativa. Em outras palavras, a radicalizao do debate em posies dicotmicas tende a esvaziar o contedo das proposies e cega os adversrios para as possibilidades emancipatrias. Para o autor, uma cincia social emancipatria, ou seja, uma cincia crtica, precisa colocar em primeiro lugar a responsabilidade ideolgica; em segundo lugar, a responsabilidade axiolgica e em terceiro lugar, a responsabilidade epistemolgica. A ideia de uma cincia social emancipatria, ou de uma cincia crtica, remete ao paradigma humanista radical apresentado por Burrell e Morgan (1979), no entanto, nossa inteno no exatamente criar uma nova proposio que coloque o humanismo radical como epicentro, mas mostrar uma outra lgica de pensamento para a compreenso e a explicao das diversas perspectivas que existem nas cincias sociais e nos estudos organizacionais. Nessa proposio, pretendemos tomar os sistemas de produo de conhecimento das cincias sociais como abordagens sociolgicas que buscam uma identidade epistmica e agregam

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    teorias e metodologias, orientadas por trs matrizes epistemolgicas: a matriz emprico-analtica, a matriz hermenutica e a matriz crtica. Assim, o que Burrell e Morgan (1979) definem como paradigmas, estamos conceituando como sistemas de produo deconhecimento, que denominamos abordagens sociolgicas. Cada uma delas remete a um conjunto terico-metodolgico e no h limite para o nmero de abordagens sociolgicas que possvel criar no domnio da produo do conhecimento, de modo que elas vo alm dos quatro paradigmas identificados pelos autores. Em nossa pesquisa identificamos as principais abordagens sociolgicas que atualmente so utilizadas nos estudos organizacionais: a abordagem funcionalista, a abordagem interpretativista, a abordagem humanista, a abordagem estruturalista, a abordagem ps-estruturalista e a abordagem realista crtica. As abordagens sociolgicas possuem a propriedade de se orientarem pelas trs matrizes epistemolgicas que so fundantes no mbito das cincias sociais: utilizamos a palavra matriz no sentido de origem, de manancial, de lugar onde as coisas so geradas. Cada uma das matrizes aponta para uma noo de cincia, que se refere a um marco epistemolgico e a uma lgica de pensamento, mas considerando que cada uma delas tambm envolve questes axiolgicas e ideolgicas, ou seja, se move em um domnio poltico, podemos dizer que se direciona para um tipo particular de interesse. Seguindo a linha de pensamento de Habermas (1968/1982) em Conhecimento e Interesse teramos ento:

    (1) as cincias emprico-analticas, tambm conhecidas como nomolgicas, que so dirigidas pelo interesse tcnico e geram conhecimento para possibilitar a predio e o controle dos fatos sociais;

    (2) as cincias hermenuticas, que so orientadas pelo interesse prtico, que buscam a compreenso social por meio da comunicao e interpretao;

    (3) as cincias crticas, que so motivadas pelo interesse emancipatrio, voltando-se para a transformao social.

    Dessa maneira, para os estudos organizacionais, alternativamente ao diagrama de paradigmas de Burrell e Morgan (1979), apresentamos o c rculo das matrizes epistemolgicas, que fazem referncia s cincias analisadas por Habermas emprico-analtica, hermenutica e crtica que apontam, respectivamente para os trs tipos de interesse cognitivo: tcnico, prtico e emancipatrio. Assim, as matrizes se caracterizam por trs elementos:

    emprico-analtica: alinhamento com a filosofia positiva, uso da lgica formal e preferncia pelo interesse tcnico;

    hermenutica: alinhamento com a filosofia hermenutica, uso da lgica interpretativa e preferncia pelo interesse prtico;

    crtica: alinhamento com a filosofia negativa, uso da lgica dialtica e preferncia pelo interesse emancipatrio.

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    F igura 2: O C rculo das Matrizes Epistemolgicas

    O diagrama que propomos sugere um crculo de matrizes epistemolgicas, no lugar de um quadrado dividido em quatro paradigmas e polarizado por posies antagnicas. Tal proposio sugere abandonar a lgica paradigmtica, de modo que as matrizes devem ser utilizadas como orientadoras do conhecimento e no como domnios de atuao cientfica. A escolha do crculo foi intuitiva e partiu da inteno de colocar as matrizes como parte de um todo integrado do conhecimento, uma vez que os interesses no deveriam ser compreendidos como concorrentes, mas complementares, pois o funcionamento da vida social depende de todos eles. Coincidentemente a simbologia neste caso tem muito a nos dizer (LEXIKON, 1978/1994). O quadrado comumente associado ao pensamento cartesiano, analtico e mecnico, indicando preciso, clculo e perfeio matemtica. Ele ainda simboliza a interrupo do movimento, pois os quatro ngulos indicam descontinuidade no fluxo, inrcia e limitao. O quadrado ainda uma forma construda, que no se encontra na natureza, tambm remetendo rigidez, estabilidade e ordem. O crculo, por sua vez, associado ao pensamento orgnico, relacionando-se ao incalculvel e ao natural. Ele simboliza a fluidez livre e sem interrupes. O crculo uma forma abundante na natureza e faz referncia flexibilidade, ao infinito, ao ilimitado e ideia de totalidade. Os paradigmas sociolgicos de Burrell e Morgan (1979) foram pensados dentro de um registro de rigidez, estabilidade e ordem, na medida em que se baseiam na tese da incomensurabilidade que questiona a comunicao entre os paradigmas. Alm disso, omodelo analtico e mecnico: trata-se de uma construo que procura simplificar o entendimento das cincias sociais e que resulta em um reducionismo. A proposio de um crculo de matrizes epistemolgicas vai na direo de um pensamento orgnico, que possibilita o movimento na construo do conhecimento, reforando a ideia de flexibilidade e agregando, de forma natural, o potencial ilimitado humano em uma totalidade. Assim, o crculo das matrizes epistemolgicas serve como um referencial de orientao para as

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    abordagens sociolgicas, guiando as mesmas quanto sua identidade epistmica na construo de teorias e metodologias. 4. Dois A rranjos Analticos: A Tese da Incompletude Cognitiva e a Teoria das Reconstrues Epistemolgicas Em sntese, as trs matrizes epistemolgicas orientam as abordagens sociolgicas, que por sua vez produzem teorias e metodologias. A figura a seguir procura ilustrar o que estamos afirmando: F igura 3: Matrizes Epistemolgicas, Abordagens Sociolgicas, Teorias e Metodologias

    A figura, no entanto, no faz justia ao que estamos tentando ilustrar, pois deveria ser na verdade uma animao, uma vez que h uma dinmica entre os elementos que precisa ser observada para um melhor entendimento da proposio que ora realizamos. Nossa inteno com o crculo das matrizes epistemolgicas no estabelec-las como instncias que necessariamente aprisionam as abordagens sociolgicas, mas sim como partes constituintes de um todo integrado da produo de conhecimento. O crculo um locus a partir do qual as abordagens sociolgicas se orientam e as matrizes epistemolgicas representam pontos de referncia nesse locus. Dessa forma, importante frisar que:

    as matrizes representam espaos diferentes nos quais se utilizam linguagens especficas, uma vez que cada uma guiada por um tipo de lgica e interesse;

    uma separao total dos interesses no possvel na realidade social, de modo que a delimitao dos espaos deve ser tomada como didtica;

    as matrizes no so incomunicveis, apenas requerem que sua linguagem seja traduzida para que haja possibilidade de dilogo e trnsito entre os espaos;

    algumas abordagens sociolgicas apresentam a tendncia de permanecerem em um nico espao, mas um exame detalhado evidencia que mesmo essas abordagens geram teorias e metodologias que transitam entre as matrizes;

    trabalhos cientficos orientados por uma nica matriz epistemolgica apresentaro mais limitaes cognitivas.

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    As matrizes epistemolgicas apontam para preferncias cognitivas e de lgica de pensamento, bem como preferncias em relao a interesses. Cada uma delas tomadas separadamente representa um ponto cego em relao s outras duas, bem como uma potencial incomunicabilidade, uma vez que cada uma recorre a uma linguagem especfica. No entanto, essa incapacidade de comunicao ndice da nossa incompetncia cognitiva no tratamento da realidade social. fato que alguns objetos de pesquisa requerem um determinado vis cognitivo, mas fazer uma opo deveria significar que o pesquisador est ciente das limitaes cognitivas a que est se submetendo, quando o que acontece em geral tomar esse vis como se fosse a nica verdade possvel, pactuando com uma posio dogmtica. Na nossa viso, as cincias sociais e os estudos organizacionais em um sentido amplo deveriam ser capazes de desenvolver pesquisas que abarquem o interesse tcnico, o interesse prtico e o interesse emancipatrio. O que nos faz pensar assim so as consideraes feitas por Habermas (1968/1982) no posfcio de Conhecimento e Interesse, de 1973, pois o filsofo defende que os interesse orientadores do conhecimento so responsveis por zelar pela unidade do sistema de ao e experincia, sendo que o interesse tcnico e o interesse prtico esto entrelaados com os elementos constituintes do sistema social, enquanto que o interesse emancipatrio garante o elo entre o saber tcnico e a prxis de vida. Logicamente, reconhecemos que mesmo no caso em que este esforo de integrao de interesses for realizado, as preferncias cognitivas iro se apresentar e o grau em que cada interesse ser contemplado tender a ser diferente, mas s fato de se fazer uma pesquisa com este tipo de conscincia atribui um status crtico produo do conhecimento. Vale ressaltar que no estamos advogando uma sntese das matrizes epistemolgicas, pois a sntese uma concluso apressada a que chegamos quando queremos superar as contradies: Adorno (1967/2009) dedica boa parte da Dialtica Negativa para criticar esse nosso costume. O que pretendemos suportar as contradies, chamando ateno para o carter parcial de cada uma das matrizes perante realidade social e a sua complexidade. No se trata de seguir perspectivasmultiparadigmticascomoasquejforamapresentadas por alguns autores da rea, pois a ideia no tentar analisar um mesmo objeto emprico pela lente de cada um dos paradigmas/abordagens.Oquesustentamosqueaoconsiderar um objeto emprico, o investigador deveria levar em conta os trs tipos de interesse que o circundam, fazendo uma escolha consciente, que deixe claras as limitaes cognitivas que sofrer. Ou ento partir da perspectiva de que o interesse emancipatrio deveria guiar a pesquisa e que os interesses tcnicos e prticos estaro necessariamente envolvidos nela, o que aponta para uma nova forma de fazer cincia, levantada por Habermas (1968/1982) em Conhecimento e Interesse. Essa nova forma de fazer cincia parte do princpio que a hermenutica deveria ser, como Habermas reivindica, uma cincia universal, embora ele mesmo admita que, ainda que a sua proposta seja suficientemente precisa, no se pode afirmar que o programa dessa nova cincia j esteja completamente estabelecido. Os estudos esto avanando, mas ainda permanecem incompletos, sendo que a questo principal buscar estratgias cognitivas que produzam um saber utilizvel tcnica, prtica e emancipatoriamente. Os interesses do conhecimento precisam deixar de ter um status transcendental para assumirem um status emprico, que contemple a vida sociocultural, mas isso depende de reconstrues epistemolgicas bem-sucedidas.

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    A proposio que ora apresentamos abandona os paradigmas e a tese da incomensurabilidade para sugerir que no mbito das matrizes epistemolgicas transitam abordagens sociolgicas: cada uma delas tenta dar sua explicao da realidade e sua verso da verdade. No entanto, essas abordagens sociolgicas so apenas aproximaes, pois no possvel abarcar toda realidade e verdade. O relativismo que hoje perpassa as cincias sociais e os estudos organizacionais,pormeiodoqualsedefendequecadaparadigma/abordagemcontmasua verdade, deveria dar lugar a outro tipo de ideia, pois o que temos so abordagens sociolgicas que alcanam verdades parciais e incompletas quando consideramos o todo o universal no qual os fenmenos se encontram imersos. Nesse sentido, estamos propondo a tese da incompletude cognitiva: os argumentos apresentados nos permitem afirmar que no mbito das cincias sociais e organizacionais, independentemente da abordagem sociolgica utilizada, no possvel atingir todo o conhecimento, mas apenas uma parte dele. A busca do cientista social e do estudioso das organizaes, ento deveria ser, dentro do seu domnio de atuao, ampliar seus horizontes de conhecimento, realizando trabalhos que procurem abranger os trs tipos de interesse, mas sempre ciente de suas limitaes cognitivas. Assim, ao invs de debater a tese da incomensurabilidade dos paradigmas seria mais frutfero deixar de lado a ideia de uma incomunicabilidade entre eles e admitir nossa impossibilidade de ter toda verdade a partir de um determinado paradigma/ abordagem sociolgica, conscientizando-se de que necessrio dialogar com as outras abordagens, pois essas no so estritamente instncias rivais, mas formas diversas de captar a realidade e explic-la, contemplando outros interesses. Na verdade, em cada uma das matrizes epistemolgicas, a partir das quais as abordagens sociolgicas se situam, j existe o reflexo da outra, pois a matriz emprico-analtica no limite busca o interesse prtico, a matriz hermenutica faz fronteira com o interesse emancipatrio e a matriz crtica tenta se reconciliar com o interesse tcnico. Alm disso, necessrio esclarecer como o conhecimento se desenvolve no mbito das cincias sociais e para isso defendemos a teoria das reconstrues epistemolgicas. No domnio das cincias naturais temos uma concordncia sobre o uso de um modelo ou exemplo a ser replicado para soluo de problemas, como prope Kuhn (1962/1997), que quando perturbado faz surgir uma incomensurabilidade a partir da qual pode emergir um novo paradigma. No caso das cincias sociais na construo de um sistema de conhecimento, que denominamos como abordagem sociolgica, os fundadores e pioneiros nem sempre conseguem articular cuidadosamente todos os seus elementos. Alguns elementos se perdem e os pesquisadores precisam realizar um trabalho de escavao para encontr-los e assim novas teorias e metodologias so criadas, ou aprimoradas, o que evidencia o carter processual e dinmico da produo do conhecimento. Essa escavao denominada porHill (1984) como reconstruo epistemolgica. No entanto, e neste ponto trata-se de uma elaborao nossa, nesse processo de reconstruo epistemolgica, os pesquisadores podem buscar teorias e metodologias de outras abordagens sociolgicas, realizando recombinaes capazes de levar ao surgimento de novas teorias e metodologias, ou mesmo de uma nova abordagem sociolgica. A questo que as teorias e metodologias desenvolvidas no esto necessariamente presas s abordagens sociolgicas, pois, como veremos a seguir, h evidncias de que essas teorias e metodologias, na busca de

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    contemplar outros interesses cognitivos, se movem entre as matrizes epistemolgicas, o que pode resultar na criao de novas abordagens sociolgicas que tentam realizar interconexes entre as matrizes. A teoria das reconstrues epistemolgicas evidencia como o conhecimento sociolgico se desenvolve:nosetratamderupturasparadigmticas,masdacriaodenovasabordagenssociolgicas que procuram superar a incompletude cognitiva, ainda que essa no seja uma tarefa totalmente possvel, pois nenhuma reconstruo epistemolgica completamente bem sucedida. No entanto, esta dinmica comprova que possvel criar sistemas de produo do conhecimento, ou seja, abordagens sociolgicas, que busquem conciliar os interesses sustentados pelas matrizes epistemolgicas. 5. Consideraes F inais Neste artigo, apresentamos uma nova proposio para orientar os estudos organizacionais: o c rculo das matrizes epistemolgicas. A proposta indita porque oferece uma alternativa lgica paradigmtica de Thomas Kuhn (1962/1997): a lgica dos interesses cognitivos de Jrgen Habermas (1968/1982). Inspirados pela lgica paradigmtica kuhniana, que se apoia na tese da incomensurabilidade dos paradigmas, Burrell e Morgan (1979) elaboraram o diagrama dos paradigmas sociolgicos para guiar os estudos organizacionais. A reproduo da teoria da evoluo do conhecimento kuhniana na rea, no entanto, vem estimulando uma guerra paradigmtica, pois a tese da incomensurabilidade erroneamente utilizada como referncia para sustentar identidades epistmicas e manter domnios separados de atuao e pesquisa. O crculo das matrizes epistemolgicas tambm oferece um esquema para orientao dos estudos organizacionais, mas, inspirado em Habermas, defende a tese da incompletude cognitiva e sugere que o conhecimento sociolgico se desenvolve de acordo com a teoria das reconstrues epistemolgicas. O crculo das matrizes epistemolgicas constitudo por trs matrizes norteadas por diferentes interesses cognitivos, que constituem um todo que o conhecimento: a matriz emprico-analtica (interesse tcnico), a matriz hermenutica (interesse prtico/comunicativo) e a matriz crtica (interesse emancipatrio). Essas matrizes epistemolgicas se desdobram em diversas abordagens sociolgicas que enfrentam a incompletude cognitiva, mas procuram super-la por meio de reconstrues epistemolgicas que geram novas teorias e metodologias capazes de transitar entre as matrizes epistemolgicas, movimento esse que tambm favorece o surgimento de novas abordagens sociolgicas. Nopossvelpreverseocrculodasmatrizesepistemolgicassercapazdeconteraguerraparadigmticaprovocadapela inserodas elaboraeskuhnianasnodomniodos estudosorganizacionais. No entanto, a proposio que realizamos, em relao outras que foram apresentadas por estudiosos da rea, oferece uma lgica de pensamento alternativa. Sua vantagem abandonar o diagrama dos paradigmas sociolgicos de Burrell e Morgan (1979) e suas posies antagnicas, que contrapem objetividade e subjetividade e sociologia da regulao e sociologia da mudana. Essa nova lgica de pensamento supera a ideia de que a evoluo do conhecimento ocorre por meio de dicotomias e rupturas para inserir a perspectiva de que o conhecimento sociolgico se desenvolve na tentativa de integrar os interesses

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    cognitivos. Os investigadores assim realizam movimentos tericos, analticos e metodolgicos que nunca cessam, uma vez que buscam alcanar outros interesses, ainda que no seja possvel alcanar a completude cognitiva. Buscando comprovar como essa lgica dos interesses cognitivos funciona em futuros estudos discutiremos as seis principais abordagens sociolgicas que atualmente perpassam os estudos organizacionais: a abordagem funcionalista, a abordagem interpretativista, a abordagem humanista, a abordagem estruturalista, a abordagem ps-estruturalista e a abordagem realista crtica. Com essa discusso tentaremos evidenciar de que forma o crculo das matrizes epistemolgicas, a tese da incompletude cognitiva e a teoria das reconstrues epistemolgicas se manifestam na prtica da pesquisa organizacional. Partiremos do pressuposto de que as trs primeiras abordagens (funcionalista, interpretativista e humanista) so mais fiis s matrizes epistemolgicas que as originaram, tendendo a permanecer no registro de uma nica matriz, mas sustentando que ainda assim elas tm uma dinmica, pois produzem teorias e metodologias capazes de transitar para outras matrizes. Alm disso, abordaremos como as trs ltimas abordagens (estruturalista, ps-estruturalista e realista crtica) derivam de reconstrues epistemolgicas, que procuram integrar interesses cognitivos gerando interconexes entre matrizes epistemolgicas. 6. Referncias Bibliogrficas ADORNO, T. Dialtica Negativa. Rio de Janeiro: Zahar, 1967/2009. 352 p. ASSIS, J. P. Kuhn e as Cincias Sociais. Estudos Avanados, So Paulo, v. 7, n. 19, p. 133-164, set.1993. BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological Paradigms and O rganisational Analysis. Elements of the Sociology of Corporate Life. Vermont: Ashgate, 1979. 432 p. CALDAS, M. P. Paradigmas em Estudos Organizacionais: Uma Introduo Srie. Revista de Administrao de Empresas, So Paulo, v. 45, n.1, p. 53-57, jan. 2005. DEETZ, S. Describing Difference in Approaches to Organization Science: Rethinking Burrell and Morgan and Their Legacy. O rganization Science, Hanover, v. 7, n. 2, p. 191-207, Apr. 1996. DONALDSON, L. In Defence of O rganization T heory. A Reply to the Critics. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. 196 p. ECKBERG, D. L.; HILL, L. The Paradigm Concept and Sociology: A Critical Review. American Sociological Review, Washington, v. 44, n. 6. p. 925-937, Dec. 1979. HABERMAS, J. Conhecimento e Interesse. Com um Novo Posfcio. Rio de Janeiro: Zahar, 1968/1982. 367 p. HILL, M. R. Epistemology, Axiology, and Ideology in Sociology. Mid-American Review of Sociology, Kansas, v. 9, n. 2, p. 59-77, Spring 1984. JACKSON, N.; CARTER, P. In Defence of Paradigm Incommensurability. O rganization Studies, London, v.12, n.1, p.109-127, Jan. 1991. ______.ParadigmsWars:AResponse to Hugh Willmott. O rganization Studies, London, v. 14, n. 5, p. 727-730, Sept. 1993. KUHN, T. A Estrutura das Revolues C ientficas. 5. ed. So Paulo: Perspectiva, 1962/1997. 264 p. LEXIKON, H. Dicionrio de Smbolos. So Paulo: Cultrix, 1978/1994. 216 p.

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