análises-baixa - genocidio da população negra juvenil (1)

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  • 5/25/2018 Anlises-baixa - Genocidio Da Populao Negra Juvenil (1)

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    1. Apresentao

    A presente anlise de contexto resultado do processo de aprendizado e trocas entre alunose professores da Escola Popular de Comunicao Crtica, projeto financiado pela Petrobras edesenvolvido pelo Observatrio de Favelas. parte integrante das matrias de Planejamentoe Comunicao e Informao de Marketing, lideradas pelos professores Fred Tavares, MonicaEsteves e Luis Henrique Nascimento com a colaborao decisiva dos coordenadores doObservatrio Jailson de Souza e Raquel Villadino.A Anlise de Contexto visa entender os mecanismos que produzem esses homicdios, contribuindoassim para o desenvolvimento da campanha de comunicao Juventude Marcada Para Viver,que o trabalho de concluso de curso coletivo das turmas 2012 da ESPOCC, a ser lanadaem fevereiro de 2013. A campanha est idealizada para estender-se para as turmas de 2013 e14, fazendo parte de um programa permanente de enfrentamento dos homicdios da juventudenegra do Observatrio e seus parceiros.Portanto, no se trata de um trabalho formalmente acadmico e consolidado. Ao contrrio, um documento permanentemente aberto para acrscimos e correes. To pouco representaos posicionamentos institucionais do Observatrio de Favelas sobre a temtica.Sua apresentao nas Oficinas de Comunicao do Participatrio uma contribuio donosso coletivo de jovens para o melhor entendimento e apropriao de dados relativos aesses homicdios.

    Tamo junto!

    Coordenao GeralJailson de Sousa e Silva

    Coordenao ExecutivaLuis Henrique Nascimento

    Coordenao PedaggicaRita AfonsoCamila Sousa Santos

    PesquisadoresEstudantes do curso de Publicidade Afirmativada Escola Popular de Comunicao Crtica(ESPOCC) do ano de 2012

    EdioMnica Rodrigues

    Reviso OrtogrficaTiago Diniz

    Reviso FinalRaquel Willadino

    Projeto grfico e diagramaoRenato Cafuzo

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    O debate sobre a violnciano BrasilOs dados estatsticos de mortalidade porhomicdios vm ocupando destaque nasdiscusses sobre violncia no Brasil. O tema temsido foco de anlises e debates de instituies

    acadmicas, organizaes da sociedade civil eda sociedade em geral, que procuram refletirsobre este fenmeno que vem tirando vidas debrasileiros cada vez mais cedo.A partir da noo dos direitos humanos, Silvae Carneiro (2009) afirmam a violncia como aviolao dos direitos civis vida, propriedade,liberdade de ir e vir, de conscincia e de culto;polticos o direito de votar e ser votado,a participao poltica; sociais habitao,sade, educao, segurana; econmicos emprego e salrio, e culturais manter emanifestar sua prpria cultura. Portanto, aviolncia se expressa na brutalidade da vida,na pobreza e na marginalizao de um oumais grupos sociais. Entretanto, a violnciaque ocupa espao na agenda nacional estrelacionada principalmente aos altos ndices demortalidade violenta, que inclui os homicdiose outras violncias letais, como suicdios emortes em acidentes de transporte.

    Para os autores, a preocupao com aviolncia deveria ir alm da brutalidade quese encerra na morte; deveria ser apreendidatambm no desrespeito, na negao, naviolao, na coisificao, na humilhao ena discriminao. Desta forma, se propema discutir a violncia tambm sobre aperspectiva de raa, utilizando o conceitocomo uma categoria socialmente construda,que empregada para informar comodeterminadas caractersticas fsicas (cor dapele, textura de cabelos, formato de lbios

    e nariz) e tambm manifestaes culturais,influenciam, interferem e at mesmodeterminam o destino e o lugar dos sujeitosno interior da sociedade brasileira. Assim, anoo de raa que ainda permeia o imaginriosocial brasileiro, tem sido utilizada paraexcluir ou alocar indivduos em determinadasposies na estrutura social e tambm paradeix-los viver ou morrer.

    O debate sobre a violncia no BrasilAinda de acordo com Silva e Carneiro(2009), a denncia da participaodesproporcional de negros como vtimasde homicdios no assunto recente. Hoje,constata-se um fato que o movimento negrodenuncia h dcadas: negros so os maisvulner veis violn cia, parti cular mentea letal, mas a desvalorizao de sua vida um fato sobre o qual pouco ou nada sediscute. A preponderncia de negros nastaxas de homicdios e a perda de vida dejovens negros em fase criat iva, produti vae reprodutiva no tm recebido o devidodestaque na discusso sobre a mortalidadejuveni l brasil eira. al indife rena reafi rmaa situao de marginalidade, pobreza e

    opresso a que est submetida esta parcela dapopulao. Um grande contingente humanoque integra o grupo dos que se encontramtradicionalmente sem acesso aos bens eservios disponveis na sociedade, estandoirremediavelmente exposto violncia.Portanto, para compreendermos aparticipao desproporcional da populaonegra entre as vtimas da violncia letal noBrasil e sua expressiva presena no sistemaprisional, os autores destacam a necessidadede discutir sua constituio como o principal

    alvo de integrantes das foras policiaisbrasileiras, que tem suas razes histricas nacolonizao e na escravido.Ao analisar as experincias de colonizaoda Amrica Latina, Gomes (2009) identificadois tipos de opresso dos colonizadoresbrancos no territrio: o roubo das terrasindgenas e a apropriao do trabalho dosescravos negros importados da frica para ocontinente. A conseqncia dessas opressesfoi a constituio de dois grupos oprimidosna constituio dessas sociedades, nas quaiso ideal do branco superior estava presenteem sua constituio.

    1.3. Violncia, racismoe o EstadoO Brasil foi o ltimo pas das Amricas a abolira escravido, que se estendeu no pas por maisde 300 anos. Neste perodo, os seres humanossequestrados do continente africano eramtidos como pessoas sem alma, objetos de fcildescarte. Este imaginrio dos negros comoobjetos permitia a prtica de uma srie deviolaes vida humana, onde o genocdio erauma prtica comum e socialmente aceitvel.Segundo Gonalves (2011), a desumanidadedo negro, propagada pelo catolicismo, foidecorrncia do racismo etnocntrico, criadopelos europeus ainda no sculo XV parajustificar seus interesses de expanso e pod er.Com o incio do trfico negreiro, usaram acincia a favor do colonialismo e desenvolveramteorias de superioridade evolutiva, baseadasem diferenas biolgicas, que deixarammarcas profundas nas sociedades que asusaram para justificar a escravido (como abrasileira) e explicam porque os traos fsicos

    caractersticos da populao negra ainda estoligados percepo negativa historicamenteconstruda.Aps a abolio da escravatura no Brasil,em 1888, os negros libertos passaram a serchamados de homens de cor. Essa denominao,segundo Gomes (2009), carregava o esteretipode inferioridade atribuda ao escravo e aofentipo, a aparncia, que o caracteriza. O autorressalta ainda a total falta de ateno por partedo Estado para a insero dos recm-libertadosno mercado de trabalho. Pelo contrrio, afirma

    que polticas diversas teriam contribudo paraa sua marginalizao na Repblica proclamadano ano seguinte.Ainda sob forte influncia das teses desuperioridade europeia, comea a ser colocadoem prtica o projeto de construo de umanova nao brasileira que deveria ser melhoradaatravs do embranquecimento da sociedadebrasileira, limpando-a das impurezas damestiagem e aproximando-a do progresso,alm de servir como um mecanismo para alijaros negros da sociedade.Conforme Gonalves (2011), acreditava-seque, com o passar dos anos, marginalizada,inferiorizada, difamada e abandonada prpriasorte, a populao negra desapareceria. Atmesmo o acesso educao e a possibilidadede conseguir trabalho lhe foram negados, como governo dando total prioridade polticasque subsidiariam a vinda de mais de 3 mi lhesde imigrantes europeu s para o Brasil.Cano et al. (2004) localizam ainda no sculoXIX a criao das foras policiais no Brasil como objetivo de manter sobre controle, atravs daviolncia, os grupo s exclu dos na ordemurbana colonial e ps-colonial, comeandopelos escravos e continuando com os libertos.Isto porque, ainda que na condio decidado livre, mas socialmente abandonadoe merc de sua prpria sorte, coube antiga populao escrava, desempregada ousobrevivendo de servios precrios, ocupar osmorros e periferias das cidades.Vistos pelo Estado como marginais eperigosos, a nica poltica desenvolvida nops-abolio foi, segundo Silva e Carneiro(2009), a criminalizao de ex-escravos quevadiavam pelas ruas sem trabalho ou terra,transformado-os nos principais alvos da

    represso policial. Desta forma, o negro setornou socialmente o principal suspeito e omais perigoso no imaginrio coletivo queorientava a poltica de segurana pblica.No Cdigo Penal, foi instituda em 1890aquela que ficou conhecida como a leida vadiagem: tornava crimes punidoscom priso a capoeira, a mendicncia, avadia gem e a prtica de curand eiri smo; epermitia que indivduos a partir dos 9 anosde idade fossem condenados.

    A hierarquizao da vida:

    Naturalizao das mortesde jovens negros e pobres

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    1.4.Racismo e cinciaNo final do sculo XIX, o racismo etnocntricod lugar era do racismo cientfico, ondeteorias racialistas so desenvolvidas em largaescala para comprovar a superioridade da raabranca. Neste perodo, surge a antropologiacriminal que, de acordo com Silva e Carneiro(2009), tinha por objetivo demonstrar a relaoentre as caractersticas fsicas dos indivduos,sua capacidade mental e suas propensesmorais. Com base na frenologia (medio docrnio) e na antropometria (mensurao docorpo humano ou de suas partes), identificavao perfil do criminoso como: mandbulasgrandes, ossos da face salientes, pele escura,orelhas chapadas, braos compridos, rugasprecoces, testa pequena e estreita.

    No Brasil, os autores citam um dosintrodutores da antropologia criminal nopas que publicou em 1894 ensaios sobre arelao existente entre as raas humanas e oCdigo Penal, no qual defendeu a tese de quedeveriam existir cdigos penais distintos pararaas diferentes e o estatuto jurdico do negrodeveria ser o mesmo de uma criana.Entretanto, ainda segundo os autores, estapseudocincia do final do sculo XIX comeaa ser atacada logo no incio do sculo XX.As teses defendidas pela antropometriae frenologia foram destrudas pelodesenvolvimento da pesquisa gentica que,em carter definitivo, decretou que h maiordiversidade entre indivduos pertencentesa um mesmo grupo tnico ou racial, do queas percebidas entre os indivduos de grupostnicos e raciais diferentes.Com isto, Gomes (2009) afirma que a sadaencontrada no Brasil foi a de aceitar aidia da diferena ontolgica entre as raassem a condenao hibridao medidaque o pas, a essas alturas, encontrava-seirremediavelmente miscigenado. Utilizava-se, ento, o modelo racial para explicar asdiferenas e hierarquiz-la, mas pensando naviabilidade de uma nao m estia.O pice desta guinada a ideia de democraciaracial, na qual o Brasil concebido comoum pas em que as mais diversas raas vivemem paz, sem preconceito, miscigenando-se econstruindo um pas mestio. De acordo como autor, esta viso de um pas miscigenado

    fsica e culturalmente, no qual o conflito notem destaque, consolidou-se entre as dcadasde 30 e 40, tendo seu auge no trabalho deGilberto Freyre publicado em 1933, CasaGrande & Senzala, que consolida a imagem deconvivncia racial pacfica e idlica, um pasonde se vive pacificamente independente desua origem.Nesta viso, Gomes (2009) afirma que, paraos pesquisadores da poca que estudavam oBrasil, especialmente os norte-americanosque tinham uma experincia completamentediferente, a concluso a que poderiamchegar corroborada pela existncia, empequena escala, de negros e pardos nosestratos mais altos da sociedade brasileira era a ausncia de barreiras raciais noBrasil, com a possibilidade de mudana dacondio de inferioridade dos negros queestaria ligada apenas ao passado escravista.Porm, para o autor, o modelo racialbrasileiro simplesmente adapta-se aeste novo contexto, elaborando umnovo mecanismo para a manuteno dainferioridade dos negros: na ausnciade mecanismos legais de discriminao,o discurso da democracia racial seriauma mscara da discriminao racialbrasileira, uma ideologia que naturalizariaas desigualdades entre brancos e negrose afastaria o tema da agenda poltica doEstado.Em 1965, Florestan Fernandes aponta ocarter mtico do discurso da democraciaracial brasileira, classificando-o como umdiscurso de dominao poltica usado paradesmobilizar a comunidade e o MovimentoNegro. A idia de mito relaciona-se coma ideologia, uma construo social para

    garantir a dominao inscrita na sociedade,naturalizando processos socialmenteconstrudos e cuja consequncia seria amanuteno do preconceito racial e dadiscriminao.Apesar disto, corroborando a opinio deGomes (2009), Gonalves (2011) afirma quea teoria da miscigenao acabou criando omito da democracia racial, que ainda hoje um dos mitos mais prejudiciais luta contrao racismo no Brasil e que, durante dcadas,vem impe dindo o Bras il de se tornar um pa s

    realmente democrtico com tratamento eoportunidades iguais para todos ao negarreconhecimento a um problema que atingemais da metade da nossa populao.

    1.5. Racismo no Brasil atualPor outro lado, se hoje j se admite que o Brasil um pas racista, preciso admitir tambm quenossos pensamentos e atitudes so condicionadospor essa cultura e ideologia racistas, poiscrescemos introjetando e reproduzindo oque j est estabelecido socialmente. Destaforma, o racismo volta a habitar e alimentar oinconsciente coletivo, que trata de reproduzi-lode uma gerao para outra, tornando-o cada vezmais insidioso, difcil de provar e combater.A autora complementa: Diante de tantosanos de negao e silncio, preciso comeara entender que os preconceitos, como oracismo, so produtos da cultura na qual estoinseridos, e como tais, adaptam-se s condiesde manifestao aceitveis e estabelecidas pelasociedade, manifestando-se s claras ou deforma velada e simblica. por isso que apenas arazo, que nos levou a criar leis que criminalizamatitudes racistas e algumas aes afirmativas,no ser suficiente para modificar o imaginrioe as representaes coletivas negativas que setem do negro na nossa sociedade.Citando o antroplogo e professorKabengele Munanga Gonalves (2011)conclui: considerando que esse imaginrioe essas representaes, em parte situados noinconsciente coletivo, possuem uma dimensoafetiva e emocional, dimenso onde brotam e socultivadas as crenas, os esteretipos e os valoresque codificam as atitudes, preciso descobrire inventar tcnicas e linguagens capazes de

    superar os limites da pura razo e de tocar noimaginrio e nas representaes. Enfim, capazesde deixar aflorar os preconceitos escondidos naestrutura profunda do nosso psiquismo.De acordo com Silva e Carneiro (2009), ainda quecontemporaneamente tenham sido demolidasas teorias que hierarquizavam racialmente osindivduos e os marcos jurdicos enfatizema igualdade de todos e tornam a prtica doracismo crime, vale ressaltar que nada disso foisuficiente para desassociar o negro de estigmase esteretipos, persistindo ainda no imaginrio

    social ideias e vises sobre a sua inferioridade naescala humana e, por conseguinte, a indiferenaem relao ao seu destino. A morte, ou a violnciaa qual est submetida a populao negra, no percebida como um problema a ser enfrentadoou mesmo debatido em foro nacional.Citando Chau, a autora conclui que, d e fato, aviolncia real desta populao ocultada porvrios dispositivos: dispositivo jurdico, quelocaliza a violncia apenas no crime contraa propriedade e contra a vida; dispositivosociolgico, que considera a violncia ummomento de anomalia social, isso , como ummomento no qual grupos sociais atrasadosou arcaicos entram em contato comgrupos sociais modernos e, por sentirem-se desadaptados, tornam-se violentos;dispositivo de excluso, isto , a distinoentre um ns brasileiros no-violentos e umeles violentos que, por serem atrasados edeserdados socialmente, empregam a foracontra a propriedade e a vida dos primeiros;e dispositivo de distino entre o essencial e oacidental: por essncia, a sociedade brasileirano seria violenta e, portanto, a violncia apenas um acidente na superfcie social semtocar em seu fundo essencialmente no-violento o que justificaria o fato de os meiosde comunicao se referirem violncia compalavras como surto, onda ou epidemia,termos que indicam algo passageiro eacidental.Ainda nesse sentido Barbosa (1998) afirmaque: Os fatores macrossociais, institudospelas condies histricas, estruturaeconmica, poltica, social, cultural e cdigoslegais, permeados pelo racismo, em distintoscontextos histricos, condicionaram a vidada populao negra (...) e criaram condies

    adversas que impactam, de modo diferenciado,o perfil de mortalidade desta p opulao.

    2. A falta de sensibilizao dasociedade e do governoA partir do exposto anteriormente, podemosperceber que as dinmicas da hierarquizaoda vida esto relacionadas a questes culturais.Como todos os valores culturais so construdossocialmente em alguma poca especfica dahumanidade e com algum determinado objetivo,

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    estes, so reconstrudos constantemente para seadaptarem s mudanas do contexto social noqual se apoiam de forma a garantirem a suacontinuidade enquanto servirem aos interessesdaqueles que os criaram. Fica claro o porqude em nossa sociedade, algumas vidas aindaserem vistas como valendo mais que outras. Poroutro lado, por serem culturais, estes valoresso sempre passveis de mudanas, desde que asociedade passe a entender que eles j no somais teis e necessrios aos seus interesses.Porm, at que essas mudanas venham,a sociedade continuar contribuindo paraa mortalidade desta parcela da populaobrasileira, direta ou indiretamente, por agirou por se calar seja por medo, por falta deinformao ou por no se importar, achandoque no vivem nesta realidade e, por isso, nofaz diferena se a situao mudar ou no.Por mais que j haja na sociedade brasileiraum nmero significativo de pessoas semobilizando e buscando mudar estarealidade, ainda notrio que h um nmeroalarmante que prefere omitir sua opinio ouseu sentimento diante do quadro em que nosencontramos e simplesmente no agem denenhuma forma, justificando-se pelo medode ser includo nas estatsticas criminais,mantendo-se, dessa maneira, beira de umasituao de genocdio similar a da poca daescravido. Ou seja, uma grande parte danossa sociedade continua a tratar os jovensnegros como seres-objeto, para os quais amorte natural e a vida tem curto prazo devalidade, sem se comprometer ou mesmo semse importar com isso.Complementando, Hagen e Griza (2011)ressaltam que, ao senso comum, algumasdestas vtimas aparecem at como

    merecedoras de suas mortes, comono caso das pessoas em posies sociaismuito frgeis, com quase nenhum vnculofamiliar ou social como os mendigos,os jovens e crianas moradores das ruas.O que acontece com elas no despertainteresse da imprensa, das pessoas emgeral e at mesmo da prpria polcia,muitas vezes. Socialmente, como se jestivessem mortas, pois so lembradasapenas como problemas a seremresolvidos, tirados da vista do pblico.

    3. As defasagens nacompreenso sobre o racismo noBrasil e o Programa de Reduoda Violncia Letal (PRVL)

    Neste contexto, outro importante fator quecontribui para a manuteno do atual estadodas coisas e para a falta de sensibilizao dasociedade e dos governos para o problema aprecariedade de dados e informaes precisasa respeito de tema, fato j identificado pordiversos autores, entre eles o UNICEF.Ao organizar em 2005 uma consulta nacionalsobre aes para reduzir a violncia contracrianas e adolescentes, o UNICEF identificouproblemas relevantes, entre eles a escassezde informaes sobre a violncia e a falta deconfiabilidade dos poucos dados disponveis.Diante deste quadro, o UNICEF uniu-se aoObservatrio de Favelas, Secretaria Nacionalde Promoo dos Direitos da Criana e doAdolescente e ao Laboratrio de Anlise daViolncia (LAV-UERJ) para propor soluese para a implementao do Programa deReduo da Violncia Let al (PRVL).Entre as prioridades do Programa est ofomento pesquisa, pois considera que acompreenso do fenmeno da letalidade essencial para dar maior visibilidadeao tema e conduzir formulao de umapoltica nacional para a reduo das mortesviolentas de crianas e adolescentes. Destaforma, um dos principais produtos criadospelo Programa foi o ndice de Homicdiosna Adolescncia (IHA), lanado em 2009com o objetivo de mensurar o nmerode adolescentes assassinados e permitir a

    estimativa de homicdios ao longo de umperodo de sete anos, utilizando para issoos dados disponibilizados pelo Ministrioda Sade em seu Sistema de Informaessobre Mortalidade (SIM/ Datasus). O estudoapresenta ainda uma anlise de riscosrelativos segundo determinados recortesde idade, raa, gnero, entre outros, e seconstituiu numa estratgia de sensibilizaoe mobilizao dos gestores pblicos para acriao de polticas pblicas que enfrentemde forma efetiva esse grave problema.

    De acordo com o PRVL, existem atualmenteno Brasil apenas duas fontes oficiaissobre homicdios, ambas resultantes deprocedimentos administrativos que devem serefetuados quando um homicdio registrado,mas que ainda apresentam alguns problemasoperacionais e/ou metodolgicos para a coleta,armazernamento e divulgao dos dados.Estas fontes so: as estatsticas de mortalidadedo SIM/ Datasus, com base nas Declaraesde bito (DO); e os Boletins ou Registrosde Ocorrncia das autoridades policiais. Emalguns estados, os rgos de Sade e a PolciaCivil possuem tambm bancos de dados sobreas vtimas de homicdio.Neste sentido, Hagen e Griza (2011) destacamque, alm das estatsticas oficiais, pesquisasqualitativas tambm so necessrias porquenos permitem apreender mais dimensesdo fenmeno, procurando reconstruir oquadro mais detalhado em que ocorremos homicdios. Alm disso, outros estudosde cunho quantitativo seriam aindaimportantes para podermos detectar astendncias do homicdio, no sentido deaumento ou diminuio de sua ocorrncia,espaos geogrficos de concentrao, grupospopulacionais mais atingidos e principaisautores. Entretanto, segundo as autoras, apesarde interessantes, os estudos relacionados aosautores dos crimes seriam ainda mais difceisde realizar devido realidade brasileira debaixo ndice de esclarecimento dos homicdiosque impede a identificao dos mesmos.

    4. Homicdios no Brasil Mapa da ViolnciaO Mapa da Violncia vem sendo elaborado peloInstituto Sangari desde 1998, praticamente umpor ano, utilizando como base informaes doIBGE e do DAASUS do Ministrio da Sade(que engloba o SIM Subsistema de Informaosobre Mortalidade, as Declaraes de bito e osDados sobre Mortalidade de Residentes).O Mapa no pretende realizar um diagnsticodas causas da violncia no Brasil, tratandoapenas da violncia letal, isto , da violnciaem seu grau extremo, que representa a pontavisvel do iceberg da mode rnidade d e nossasrelaes sociais.

    Diferentemente das mortes por causasendgenas, que remetem a uma deterioraoda sade causada por algum tipo deenfermidade ou doena, nos casos de violncialetal, a morte resultado de uma intervenohumana, ou seja, resultado de alguma aodos indivduos, seja contra si (no caso dossuicdios), seja pela interveno intencionalou no de outras pessoas.Se cada uma dessas mortes tem sua histriaindividual, seu conjunto de determinantese causas diferentes e especficas para cadacaso, irredutveis em sua diversidade ecompreensveis s a partir de seu contextoespecfico, sociologicamente falando temosque perceber sua regularidade e constncia. Eso essas regularidades que nos possibilitaminferir que, longe de ser resultado de decisesindividuais tomadas por indivduos isolados,estamos perante fenmenos de naturezasocial, produto de conjuntos de determinantesque se originam na convivncia dos grupos enas estruturas da sociedade.Para uma melhor viso e compreensodo problema da violncia urbana,especificamente a que resulta em mortes porhomicdio, o Mapa da Violncia tambminvestiga o fenmeno do ponto de vista dediferentes segmentos etrios e sociais, comojunto s populaes de jovens, mulheres enegros. Recortes como esses favorece m u mavis o mai s prof und a e, por iss o mes mo,mais crtica da violncia homicida

    4.1. Histrico dos HomicdiosMapa da Violncia 2012De acordo com o Mapa da Violncia 2012(Waiselfisz, 2011), no histrico de 30 anos

    apresentado na tabela abaixo, podemos ver queo Brasil passou de 13.910 homicdios em 1980para 49.932 em 2010, um aumento de 259%equivalente a 4,4% de crescimento ao ano. Nototal desses 30 anos o pas j ultrapassou a casade um milho de vtimas de homicdio.omando como base os dados do relatriosobre o Peso Mundial da Violncia Armada,apresentados na tabela a seguir, podemos ver quea mdia anual de mortes por homicdio no Brasilsupera (em alguns casos de forma avassaladora)o nmero de vtimas em muitos e conhecidosenfrentamentos armados no mundo.

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    E esses nmeros no podem ser atribudoss dimenses continentais do Brasil. Pasescom nmero de habitantes semelhante,como Paquisto, com 185 milhes dehabitantes, tm nmeros absolutos e taxasbem menores que os nossos.Diminuio das taxas de homicdios apartir de 2003 primeira vista, diramos que pouca coisamudou. Na virada do sculo tnhamos quaseas mesmas taxas de homicdio que nos dias dehoje: pouco mais de 26 homicdios por 100mil habitantes.Por outro lado, observa-se uma quebra nasrie histrica a partir de 2003. Entre 2003 e2010, o crescimento foi negativo: 1,4% aa[a].Mais ainda, as quedas foram significativass nos anos 2004 e 2005. A partir dessadata, os quantitativos apresentam oscilaes,aumentando um ano, caindo outro, o quedenota uma situao de equilbrio instvel(decorrente de vrios fatores concomitantes ecomplexos, como: polticas de desarmamento,planos e recursos federais, estratgias deenfrentamento de alguns Estados e mudanasno processo de migrao).Declnio instvel nas taxas de homicdiosMas isso j motivo de um sentimentoambivalente. Por um lado, otimismo:conseguiu-se estancar a pesada espiral deviolncia que v inha acontecendo no pas; poroutro lado, tambm pessimismo: nossas taxasainda so muito elevadas e preocupantes,considerando a nossa prpria realidade ea do mundo que nos rodeia, e no estamosconseguindo faz-las cair.Porm, essa estagnao (semelhananumrica) entre as datas s aparente. Muitacoisa parece ter mudado, apesar de as taxaspermanecerem praticamente iguais.Interiorizao da violncia letalNa tabela a seguir, podemos ver estados quedurante anos foram relativamente tranquilos,entram num processo acelerado de violncia;outros, que tradicionalmente ocupavamposies de liderana no panorama nacionalda violncia, veem seus ndices cair de formasignificativa em alguns casos como SoPaulo e Rio de Janeiro.Outro processo que acontece concomitantecom o anterior, o que chamamos de

    Homens 45.617 (91,35%)

    Mulheres 4.273 (8,65%)

    49.932 49.932 49.932

    Brancos 13.668 (27,37%)

    Negros 33.264 (72,63%)

    Jovens* 26.765 (53,60%)

    No-Jovens 23.167 (46,40%)

    interiorizao, onde os plos dinmicos daviolncia se deslocam das capitais e/ou regiesmetropolitanas rumo ao interior dos estados.Nesse contexto, a violncia letal se tornauma realidade mais difusa, e, esse fato, foicorroborado pelo IPEA em pesquisa realizadaem 2010 numa amostra nacional, onde osentrevistados eram perguntados sobre ograu de medo em relao a serem vtimas deassassinato, categorizando as respostas emmuito medo, pouco medo e nenhum medo. Oresultado altamente preocupante, um srioalerta: 79% da populao tm muito medo deser assassinada; 18,8% pouco medo e s 10,2%manifestou ter nenhum medo.Em outras palavras: s um em cada dez cidadosno tem medo de ser assassinado. Oito em cadadez tm muito medo. Esse aumento da sensao uma constante em todas as regies do pas,estando em toda parte.

    4.2. Homicdios e RaaQueda de homicdios da populaobranca e aumento de homicdios dapopulao negra.

    Apesar disto, dados do Mapa da Violncia2012 (Waiselfisz, 2011) mostram diferenassignificativas nos homicdios entre brancos enegros. Mesmo com grandes diferenas entreas Unidades Federadas, a tendncia geraldesde 2002 : queda no nmero absoluto dehomicdios na populao branca e de aumentonos nmeros homicdios da populao negra.A principal exceo a Regio Sul que, almde apresentar um nmero maior de brancosassassinados, continua apresentando aumentodas mortes em ambos os segmentos.Conforme a tabela a seguir, morreram porhomicdio no Brasil em 2010 13.668 brancose 33.264 negros proporcionalmente, foram139% mais negros que brancos, ou seja, bemacima do dobro.

    4.3. Homicdios e GneroJ em relao ao gnero, diversos estudos,tanto nacionais quanto internacionais,alertam que as mortes por homicdios,

    inclusive entre os jovens, so ocorrnciasmarcadamente masculinas.Os diversos Mapas da Violncia, que vmsendo elaborados desde 1998, confirmam essefato. De acordo com o Mapa da Violncia 2012(Waiselfisz, 2011), entre os 49.932 homicdiosacontecidos em 2010, 45.617 vitimaram o sexomasculino (91,4%) e 4.273 o feminino (8,6%).Historicamente, essas propores praticamenteno mudam de um ano para outro.

    4.4. Homicdios e Faixa EtriaNo que diz respeito idade, existe umbom nmero de estudos e um alto nvelde conscincia pblica sobre a elevadaconcentrao dos homicdios na populaojovem do pas, embora, esse nvel de

    conscincia no tenha ainda sido traduzidoem polticas de enfrentamento que consigamreverter o quadro atual.

    Pelo contrrio, o Mapa da Violncia 2012(Waiselfisz, 2011) demonstra que a vitimizaojuvenil no pas continua crescendo, o que um claro indicador da insuficincia dessaspolticas (tabela abaixo).J no grfico a seguir, vemos que as taxas maiselevadas concentram-se na faixa dos 15 aos24 anos (Populao Jovem) se estendendo,de forma tambm intensa, at os 29 anos. Apartir dessa idade as taxas vo declinandoprogressivamente.Ainda em relao aos jovens, comparandoesta populao com a no-jovem, o grfico aseguir demonstra que em 2010 as mortes porcausas externas (violentas) atingiram 73,2%dos jovens brasileiros, j entre os no-jovens,essa proporo no chega a alcanar 10%.Destes, 38,6% morreram por homicdios, aopasso que entre os no-jovens essa proporo de apenas 2,9%.

    Sntese dos Homicdiosno Brasil em 2010

    * Estimativa para 15 a 29 anos

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    5. Homicdios no Rio de Janeiro Mapa da Violncia5.1. Histrico dos Homicdios

    e 2010, tanto de brancos quanto de negros,mas isso se d apenas nos estados de So Pauloe do Rio de Janeiro.Verificamos ainda que o Rio de Janeiro nosegue a tendncia geral dos outros estados deREGIO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* %

    Norte 2.399 2.639 2.937 3.159 3.183 3.693 4.063 3.994 4.856 5.192 5.927 147.1

    Nordeste 9.216 10.563 10.947 11.848 11.546 12.962 14.394 15.428 17.059 17.885 18.073 96.1

    Sudeste 26.473 26.913 27.431 27.205 24.478 21.633 21.217 18.535 17.330 17.110 15.237 -42.4

    Sul 3.851 4.347 4.704 5.078 5.408 5.612 5.715 5.918 6.609 6.724 6.454 67.6

    C.Oeste 3.421 3.481 3.676 3.753 3.759 3.678 3.756 3.832 4.259 4.523 4.241 24.0

    BRASIL 45.360 47.943 49.695 51.043 48.374 47.578 49.145 47.707 50.113 51.434 49.932 10.1

    Estado 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* %

    ES 1.449 1.472 1.639 1.640 1.630 1.600 1.774 1.885 1.948 1.996 1.761 21.5

    MG 2.056 2.344 2.977 3.822 4.241 4.208 4.155 4.103 3.869 3.714 3.538 72.1

    RJ 7.337 7.352 8.321 7.840 7.391 7.098 7.122 6.313 5.395 5.074 4.193 -42.9

    SP 15.631 15.745 14.494 13.903 11.216 8.727 8.166 6.234 6.118 6.326 5.745 -63.2

    SUDESTE 26.473 26.913 27.431 27.205 24.478 21.633 21.217 18.535 17.330 17.110 15.237 -42.4

    De acordo com o Mapa da Violncia 2012 (Waiselfisz, 2011), a Regio Sudeste a nica do pas aapresentar queda nos nmeros de homicdios entre 2000 e 2010, conforme tabela a seguir.

    Tabela 2.1.3. Nmero de Homicdios por Regio. Brasil. 2000/2010*

    Fonte: SIM/SVS/MS. *2010: dados preliminares

    J entre os estados da Regio Sudeste, Minas Gerais se destaca pelo aumento expressivo dehomicdios no perodo (72,1%); e So Paulo (-63,2) e Rio de Janeiro (-42,9) pela sua tambmexpressiva reduo.

    Tabela 2.1.3. Nmero de Homicdios por Estado da Regio Sudeste. 2000/2010*

    Taxas C+RM Taxas Interior Crescimento % Diferencial

    2000 2010* 2000 2010* C+RM Interior Interior56,7 26,7 34,3 25,0 -52,9 -27,3 25,7

    Entre todos os estados do Brasil, o Rio deJaneiro ocupava em 2010 a 17 posio emaxa de Homicdio por 100 mil habitantes, emcontraposio 2 posio que ocupava em 2000.J entre as capitais, o Rio de Janeiro passou do 6lugar em 2000 para o 23 em 2010.No que diz respeito evoluo das axas deHomicdios por 100 mil habitantes no Rio dejaneiro por rea entre 2000 e 2010 percebemos,com base na tabela a seguir, que as mesmastiveram uma reduo bem mais expressiva

    na Capital e Regio Metropolitana do que noInterior do Estado.abela 2.3.2.4. Crescimento das taxas de homicdio(em 100 mil) no RJ por rea. 2000-2010*

    5.2. Homicdios e Raa no SudesteNo que tange classificao por raa ou cor dascertides de bito, a Regio Sudeste mais umavez se destaca entre as regies do pas, sendo anica que vem apresentando queda expressiva esistemtica do nmero de homicdios entre 2002

    queda no nmero absoluto de homicdios napopulao branca e de aumento nos nmerosda populao negra desde 2002.

    Populao Perodo Diferena %Brancos 2002 2.863 2006 2.263 -17,5

    2006 2.263 2010 1.344 -43,12002 2.863 2010 1.344 -53,1

    Negros 2002 4.907 2006 4.417 -10,02006 4.417 2010 2.638 -40,32002 4.907 2010 2.638 -46,2

    Apesar disto, o ndice de vitimizao da populao negra em relao branca ainda 112,2: mais que odobro e bem maior que a de So Paulo.

    abaixo da taxa mdia destes dois estados (7,5), o que

    significa que a proporo de vtimas masculinasest acima da mdia nacional.

    5.4. Homicdios e Faixa Etria noRio de JaneiroEm 2010, no Rio de Janeiro, o nmero absolutode homicdios de jovens entre 15 e 24 anos de1.403, representando 35,2% do total de 3.982homicdios do Estado.Entretanto, no foram encontrados no Mapa daViolncia 2012 (Waiselfisz, 2011) dados especficospara o Rio de Janeiro que permitissem a incluso,no clculo final, da faixa etria de 24 a 29 anos.

    5.3.Homicdios e Gnero noRio de JaneiroComo j visto, as taxas de homicdios no Brasil em2010 se mantm prximas mdia da ltima dcada efortemente concentradas no sexo masculino 91,4%,contra apenas 8,6% do sexo feminino.J os dados desagregados pelas Unidades Federadas,apresentados na tabela abaixo, demonstram umpanorama mais heterogneo entre os Estados no quese refere s taxas de homicdios femininas para cada100 mil mulheres, com a maior taxa ficando com oEsprito Santo (9,4) e a menor com o Piau (2,6). Nestecontexto, o Rio de Janeiro fica na 25 posio, bem

    Homens N.D.

    Mulheres N.D.

    3.982 3.982 3.982

    Brancos 1.344 (33,8%)

    Negros 2.638 (66,2%)

    Jovens* 1.403 (35,2%)

    No-Jovens 2.579 (64,8%)

    Sntese dos Homicdios de jovens entre 15 e 24 anos no Rio de Janeiro em 2010

    * Apenas entre 15 e 24 anos.

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    5.5. Homicdios no Rio de Janeiro Polcia CivilA pesquisa em questo busca construir asmesmas taxas por 100 mil habitantes dehomicdios, mas utilizando os dados da PolciaCivil do Estado do Rio de Janeiro ao invs dosdados do Ministrio da Sade utilizados noMapa da Violncia.Segundo Dirk (2011), a utilizao deinformaes policiais pode contribuir paraa identificao de padres criminais, bemcomo auxiliar no processo de produo deestratgias preventivas, alm de gerar modelosde controle sobre o trabalho da polcia.

    6. Trs passos para os dados

    virarem informaoDe acordo com o autor, desde a ocorrncia doevento at sua chegada na Delegacia e posteriordivulgao, muitos caminhos e descaminhosso percorridos pelo dado at este virarinformao. Este fluxo da informao podeser resumido em trs dimenses distintas,porm dependentes umas das outras, que so:a dimenso dos Acontecimentos; a dimensodo Acionamento das Instituies; e a dimensodo Fluxo dos Registros de Ocorrncia.A primeira dimenso a dos Acontecimentos,ou seja, das ocorrncias de eventos que,por sua natureza, deveriam ser levados aoconhecimento da polcia. Esta dimensoabrange os eventos e as subnotificaes, estasltimas contidas nos eventos. Quando umdeterminado evento ocorre, ele pode, porsuas caractersticas, virar uma subnotificaoe, com ou sem conhecimento das autoridades,tal evento pode no ser registrado em uma

    Delegacia de Polcia.No primeiro caso, o caminho ser chamadode subnotificao desconhecida, poisnenhum dos agentes da segurana pblicatomou conhecimento do fato, ou ainda,o evento ocorreu e no houve nenhumacionamento institucional.Na segunda dimenso, chamada deAcionamento das Instituies, entram em cenaas Polcias e/ou a Guarda Municipal, pormisto no garante que o fato ser registrado. Asubnotificao conhecida ocorre quando o

    evento, mesmo chegando ao conhecimentodas instituies, no registrado porque osseus funcionrios no se propuseram a faz-lo. ambm ocorre quando os envolvidos, porvontade prpria, no querem fazer o registrona Delegacia de Polcia.Acionamento das instituiesDesta forma, na primeira dimenso, asubnotificao composta por subnotificaesdesconhecidas dos agentes da seguranapblica e por subnotificaes conhecidaspor tais agentes, pois chegaram a ter algumcontato como o evento e, por circunstnciasdiversas, no registraram o acontecido. J nasegunda dimenso, a subnotificao sempreconhecida, mesmo que no seja registrada poralgum motivo.Fluxo dos Registros de OcorrnciaSe tudo corre como o previsto, ao chegar naDelegacia o evento registrado e a ocorrnciasegue para a terceira dimenso do Fluxo dosRegistros de Ocorrncia. Este documentosegue para o Grupo Executivo do ProgramaDelegacia Legal (GEPDL), por meio eletrnicoou por malote e o GEPDL aciona o Institutode Segurana Pblica (ISP), rgo responsvelpela anlise e divulgao dos dados policiais.Alm de dar publicidade aos dados, o ISPproduz os relatrios internos para subsidiaraes de polcia, bem como atende s diversasdemandas da Secretaria de Segurana, dosresponsveis pelo policiamento preventivo eestratgico, de pesquisadores, da mdia e dasociedade civil.2002: pice e declnio das taxas de homicdiorespectivamenteDirk (2011) afirma que o caminho dainformao para se consolidar como estatsticaoficial complexo. Esta complexidade se d

    da primeira ltima dimenso e demonstraque nas estatsticas oficiais no constam asocorrncias relegadas subnotificao.Os dados registrados entre 2001 e 2011apresentados a seguir nos permitem constarque, em 11 anos, morreram 65.742 pessoasvtimas de homicdio doloso no Estado do Riode Janeiro, nmero maior que as populaesde boa parte das cidades brasileiras e maiorque 58 das 92 cidades fluminenses, emestimativas do ano de 2008.Considerando a variao anual de vtimas de

    homicdio doloso de 2001 a 2011, observa-seque o ano de 2011 apresentou o menor nmerode mortes (Grfico 1). A srie histricademonstra que a incidncia de homicdioteve seu pice em 2002, com um total de 6.885vtimas. A partir de ento, verifica-se umadiscreta tendncia de queda nos homicdios,que sofreu interrupes em 2005 e 2009. Doano 2001 para 2011, a reduo percentual foide 30,6%, com menos 1.884 vtimas. J entre2010 e 2011 ocorreu reduo percentual de10,2%, com menos 488 mortes por homicdio.Fonte: registros de ocorrncia da Polcia Civildo estado do Rio de Janeiro/www.isp.rj.gov.br

    7. Homicdios por Arma de FogoO mesmo ocorreu com o homicdio provocado

    por arma de fogo (PAF), que tambm registrouseu menor nmero de vtimas no ano de2011, considerando todos os anos desde 2001(Grfico 2). O ano de 2002 apresentou o maiornmero de toda srie histrica, com 5.723vtimas. Desde ento, o nmero de mortes veioapresentando tendncia de queda, interrompidaem 2005 e 2009. Do ano 2001 para 2011 houveuma reduo percentual de 41,1%, o quesignificou menos 2.082 vtimas, e de 2010para 2011 houve reduo de 13,4%, ou seja,menos 463 pessoas mortas por arma de fogo.De acordo com Dirk (2011), as armas de fogocontribuem para o crescimento do nmero devtimas letais, o que agravado com o trfico eo comrcio ilegal de armas que tm subsidiadoo aumento das mortes por causas externas. Amudana no padro de criminalidade que seconsolidou e se expandiu no Rio de Janeiro nosanos 80 com a expanso do trfico de drogas(especialmente de cocana e, mais recentemente,

    do crack) e com a substituio de armasconvencionais por outras, tecnologicamentesofisticadas, com alto poder de destruio contribuiu largamente para o avano dasmortes intencionais por arma de fogo.Fonte: registros de ocorrncia da Polcia Civildo estado do Rio de Janeiro/www.isp.rj.gov.br

    8. Autos de resistnciaNa mensurao dos homicdios de umaregio, o autor afirma que no devem seranalisados somente os registros caracterizados

    como homicdios dolosos. importanteque se observem tambm os homicdiosprovenientes de autos de resistncia e astentativas de homicdio, que funcionam comoum termmetro para o total dos homicdiosreais e potenciais.No que diz respeito ao nmero de mortespor autos de resistncia no Estado do Rio deJaneiro (Grfico 3), podemos constatar umcrescimento acentuado entre 2001 e 2003,com um perodo de instabilidade entre 2004e 2007 e, a partir deste ano, verifica-se umatendncia decrescente.Fonte: registros de ocorrncia da Polcia Civildo estado do Rio de Janeiro/www.isp.rj.gov.brJ ao analisarmos os homicdios tentados(Grfico 4), podemos perceber um certoequilbrio numrico em todo o perodo, comoscilaes sutis entre os anos.

    Fonte: registros de ocorrncia da PolciaCivil do estado do Rio de Janeirowww.isp.rj.gov.br

    9. O perfil das vtimasSegundo Dirk (2011), para analisar perfis dapopulao vtimas de homicdio doloso sonecessrias determinadas variveis chavesque constam dos registros de ocorrnciada Polcia Civil. Porm, as mesmas devemestar corretamente preenchidas para que osresultados finais no sejam prejudicados pelafalta de informaes referentes s vtimas noque tange ao sexo, cor e idade.Conhecer quais grupos populacionaisesto mais expostos ao homicdiodoloso mais um passo necessrio no

    entendimento da violncia letal que afligeo estado do Rio de Janeiro e outros grandescentros urbanos, podendo contribuirpara formulao de polticas pblicasde segurana focadas em tais grupos natentativa de reduo das incidncias devit imi za o por cau sas ext ern as.Entretanto, com a mudana da metodologiaadotada pela Polcia Civil do Estado do Rio deJaneiro para o registro das ocorrncias a partirde 2009, estes dados se tornaram indisponveis.Desta forma, as informaes apresentadas aseguir abrangem apenas o ano de 2008.

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    9.1. SexoConforme grfico abaixo, a maioria dasvtimas de homicdios de 2008 so homens,chegando a 84,3% do total. As mulheressomaram 7,1% e uma parcela de 8,6% dosregistros no continham a identificao dosexo da vtima (os dois principais motivosapresentados pelo autor para esta parcelade no-informao da varivel sexo nessesregistros de ocorrncia so: corpo encontradoest em estgio avanado de decomposiobiolgica, o que torna, em primeira instncia,a identificao do sexo da vtima mais difcil;e descaso de uma parcela de agentes daPolcia Civil, que preenchem os registros deocorrncia).Ao descartarmos os registros em que no

    consta o sexo, o percentual de participaodos homens sobe para 92,3% e o das mulherespara 7,7%. Percebe-se, portanto, que oshomens esto muito mais expostos violncialetal por homicdio do que as mulheres.endo em vista que a populao do estado doRio de Janeiro se distribui, mais ou menos,em partes iguais segundo os sexos, temos umataxa de vitimizao masculina muito maiorque a feminina.Para uma populao estimada em 16.452.615de pessoas (em julho de 2008), a taxa anualde vitimizao masculina fica na ordemde 59 vtimas para cada grupo de 100 milhomens, aproximadamente; j a taxa anual devitimizao das mulheres quase doze vez esmenor, com aproximadamente 5 vtimas paragrupos de 100 mil mulheres.

    9.2.CorDo mesmo modo que as informaes sobre

    sexo, as sobre a cor das vtimas apresenta umpercentual de no informao que, neste caso,chega aos 12%, incorrendo nos mesmos tiposde problemas citados anteriormente.Observando o Grfico 8, percebe-se que osno-brancos (incluindo negros e pardos)apresentaram maior vitimizao, com cercade 60,9% do total de casos. Os classificadoscomo brancos atingiram 27% e os classificadoscomo outros somaram 0,1%.Ao descartarmos os registros em que noconsta o sexo, o percentual de participao

    dos negros e pardos sobe para 69,2% e o dosbrancos para 30,7%.Entretanto, citando Cano e Ferreira (2004), oautor chama a ateno para certos problemasmetodolgicos neste tipo de comparao,que se somam ao problema j citado acima,relacionado falta de preenchimento corretopor parte dos policiais civis dos dados dasvtimas. No que diz respeito varivel cor,o principal deles seria a dificuldade dobrasileiro em classificar algum como negroou pardo em determinadas circunstncias,uma vez que este tipo de classificao culturalmente relacional no nosso pas, sendocomum ouvir os policiais que preenchem osregistros justificarem sua escolha pelo nopreenchimento por temerem a acusao deque so racistas ou discriminam a pessoa quevai Delegacia registrar uma queixa. Outroproblema estaria relacionado ao fato de queas taxas de homicdio para cada grupo racialpartem de dados cuja categorizao por cor realizada de formas diferentes. Alm dospoliciais, a cor das vtimas da violncia (onumerador) escolhida, em alguns casos,pelo mdico que preenche a certido debito, ao passo que a cor da populao geral(o denominador) provm da declarao doprprio entrevistado no C enso do IBGE.

    9.3. IdadeNesta varivel temos uma maior ausncia deinformaes sobre a vtima, algo em tornode 38,5% do total, uma vez que depende deinformaes posteriores por nem sempreestarem disponveis na hora do prprioregistro de ocorrncia.Pelo Grfico 9 a seguir, podemos identificar

    quatro grupos distintos: o grupo das crianas,de 0 a 14 anos, que representa apenas 1,1% dototal de vtimas; o segundo grupo, formadopelos jovens de 15 a 34 anos, que representa ogrupo de maior exposio ao risco, somando67,6% do total de vtimas; o terceiro grupo,formado pelos adultos de 35 a 64 anos, quesomaram 29,5% das vtimas; e o quar to grupo,formado pelos idosos com 65 anos ou mais,somando 1,8% do total.Mesmo com 38,5% de no-informao nosdados de polcia retirados da amostra final,

    foi possvel observar que os jovens na faixaetria de 20 a 24 anos (20,8%), seguida pelafaixa que vai de 25 a 29 anos (19,1%) foramas maiores vtimas deste tipo de fenmenono estado do Rio de Janeiro, sofrendo osmaiores efeitos da violncia letal, ratificandoos resultados de outros estudos que apontampara a maior vitimizao dos jovens no Brasile no Rio de Janeiro.

    9.4. Localizao GeogrficaSegundo a localizao das ocorrncias dehomicdio doloso no Rio de Janeiro , o que sepercebe por meio do Mapa 1 a seguir queapenas trs Regies detm a quase totalidadedas ocorrncias: as Regies Metropolitana,Baixadas Litorneas e Norte Fluminensesomadas representaram 89,9% do total devtimas; e as outras Regies representaram10,1% deste total.Percebe-se ainda que, quanto mais nosafastamos dos grandes centros urbanos,menores so as incidncias do delito. De acordocom Dirk (2011), isto delineia o fenmeno daviolncia letal como e minentemente u rbano,concentrando o maior nmero de vtimas nosgrandes centros, ratificando o j afirmado poroutros autores.Somente na Regio Metropolitana ocorreram77,4% de todos os homicdios dolososregistrados em Delegacias de Polcia doEstado do Rio de Janeiro em 2008, o querepresentou 4.425 vtimas. Nesta regio,apenas os municpios de Mesquita, Japeri,Seropdica, Guapimirim, angu e Paracambiapresentaram um nmero de vtimas entre 1e 50; j os municpios com maior incidnciade vtimas foram: Rio de Janeiro, com 2.051

    vtimas; Duque de Caxias, com 571e SoGonalo, com 440.

    Conforme o Mapa 2, Campos dos Goytacazes(no Norte Fluminense) e Cabo Frio (nasBaixadas Litorneas) so as nicas cidadesfora da Regio Metropolitana que esto entreos 101 e 350 homicdios dolosos no ano de2008. odas as outras cidades fora da RegioMetropolitana, apresentaram nmero devtimas entre 1 e 50 (a maior parte delas)e entre 51 e 100 Maca, Nova Friburgo,

    Itagua, Volta Redonda e Angra dos Reis.[e]Considerando que a cidade do Rio de Janeiroapresentou 2.051 vtimas, concentrando quasemetade dos homicdios dolosos da RegioMetropolitana, a distribuio das mesmasmerece destaque. Analisando o Mapa 3,percebemos que a maior parte destas vtimas(998) encontraram-se na Zona Oeste, o querepresenta 48,7% do total. Na Zona Norteocorreram 892 homicdios dolosos, ou seja,43,5% do total da cidade. A rea do Centrocontabilizou 109 mortos por homicdio ou5,3%; e a Zona Sul teve 52 vtimas, o queequivaleu a aproximadamente 2,5% do total.Podemos perceber, portanto, que oshomicdios concentraram-se na Zona Oeste eZona Norte, juntas, responderam pela quasetotalidade das ocorrncias de homicdiodoloso na cidade do Rio de Janeiro 92,2%do total de vtimas.Pelo Mapa 4 possvel visualizar que osbairros de maior incidncia de homicdiosesto localizados na Zona Oeste, onde emapenas quatro bairros ocorreram 23,2%dos homicdios da cidade: Santa Cruz (141vtimas 6,9%); Campo Grande (138 v timas 6,7%); Bangu (110 vtimas 5,4%); eRealengo (87 vtimas 4,2%). Ainda na ZonaOeste, temos Pacincia com 60 homicdios(2,9%) e Guaratiba com 47 homicdios (2,3%).Por outro lado, na Zona Oeste entendidasocialmente como nobre, ou seja, nos bairrosque comportam a classe mdia alta e os novosricos Barra da ijuca, Jo e Recreio dosBandeirantes as incidncias de homicdiosdolosos ficaram entre 0% e 1%.Outros trs bairros com ndicessignificativos foram: o Centro (41 vtimas 2,0%), a Pavuna (50 vtimas 2,4%) ea Penha (46 vtimas 2,2%), estes doisltimos localizados na Zona Norte.Na Zona Sul, todos os bairros obtiverampercentuais entre 0% e 1,0%, revelando asmenores incidncias do delito dentre todas asreas da cidade.Dos 160 bairros da cidade, 132 tiverampelo menos uma vtima no ano de 2008e, em apenas vinte, concentraram-semais da metade (51,9%) das vtimas dehomicdio doloso.

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    10. Homicdios no Brasil eo ndice de Homicdios naadolescncia (IHA).O ndice de Homicdios na Adolescncia(IHA) resultado do trabalho doPrograma de Reduo da Violncialetal, desenvolvido em parceira entrea Secretaria dos Direitos Humanos daPresidncia da Repblica; o Fundo dasNaes Unidas para a Infncia UNICEF;o Observatrio de Favelas ; e o Laboratriode Anlise da Violncia LAV/UERJ

    10.1. O papel do IHA

    De acordo com os autores, o IHA serve paraestimar o risco de mortalidade por homicdiode adolescentes entre 12 e 18 anos queresidem em um determinado territrio.Foi criado com o objetivo de exemplificar oimpacto da violncia letal neste grupo socialde uma forma simples, sinttica e que ajudassena mobilizao das sociedade em geral paraa gravidade do problema. Paralelamente,pretende contribuir para o monitoramentodo fenmeno no tempo e no espao e paraas avaliaes de polticas pblicas nesta rea,tanto locais quanto estaduais e federais.Considerando que o Brasil apresenta,historicamente, altos ndices de violncialetal contra adolescentes, particularmenteos negros, do sexo masculino e moradoresde favelas e periferias urbanas, bairroscom altos ndices de violncia, com baixaescolaridade e renda per capita de atR$140,00, as estimativas de risco do IHAabrangem as seguintes dimenses: sexo, corou raa, idade e meio utilizado (armas defogo versus outros meios).O ndice calculado para todos os municpiosbrasileiros com mais de 100 mil habitantes . Olanamento nacional do ndice de homicdiosna adolescncia fol realizado no ano de 2009.Desde ento, o IHA atualizado e divulgadoanualmente, incluindo uma anlise deevoluo desde 2005.O ltimo IHA, publicado em 2012, utilizadados de 2008 e, portanto, ser referido aquicomo IHA 2008.

    10.2. Mortes de AdolescentesDe acordo com o IHA 2008, considerando-se toda a populao residente nos 266municpios com mais de 100.000 habitantes,em 2008, o valor do IHA para o Brasil foi de2,27 adolescentes entre 12 a 18 anos mortospor homicdio, para cada grupo de miladolescentes.Isto significa que cerca de 32.568adolescentes sero assassinados noperodo de 2008 a 2014 se as condies queprevalecem em 2008 no mudarem.Os homicdios representaram 44% de todas asmortes entre os adolescentes dos municpioscom mais de 100 mil habitantes durante o anode 2008, conforme grfico abaixo.

    Distribuio das mortes por causa e faixaetria Municpios com mais de 100 milhabitantes Brasil: 2008Fonte: Sistema de Informaes sobreMortalidade SIM/Datasus Ministrioda SadeSntese dos Homicdios no Rio de Janeiroem 2008

    Em resumo, o que se percebe por meiodas variveis sobre o perfil das vtimas dehomicdio doloso que, em sua maioria, sohomens jovens e negros os que mais sofrem osefeitos da violncia letal intencional.No que diz respeito ao local de ocorrnciado fato, foi possvel observar que o maiornmero de vtimas est distribudo pelosgrandes centros urbanos, a maioria naRegio Metropolitana. O Interior do estadoapresentou nmeros relativamente baixosda ocorrncia do delito, com exceo dasBaixadas Litorneas e do Norte Fluminense.A cidade do Rio de Janeiro se destacou porapresentar quase metade do total de vtimasda Regio Metropolitana. Um olhar umpouco mais detido revela que, mesmo nacidade, existem reas distintas na ocorrnciado delito as reas menos privilegiadas dacidade concentraram a maioria dos casos,como a Zona Oeste e a Zona Norte. Em reascom maior concentrao de renda, como aZona Sul e uma pequena parte da Zona Oeste,os nmeros foram bem reduzidos.

    * Entre 15 e 29 anos.

    10.3. Homicdios noRio de Janeiro IHANo Rio de Janeiro, o IHA 2008 de 3,34,representando 2.332 mortes esperadas emuma populao de 699.009 adolescentes,ainda bastante superior mdia da RegioSudeste. Entretanto, ao contrrio de SoPaulo, a regio metropolitana do Rio deJaneiro ainda apresenta altos ndices dehomicdios na adolescncia, em especial nosmunicpios da Baixada Fluminense comoDuque de Caxias, Belford Roxo, So Joo deMeriti e Nilpolis, todos com ndices maiselevados do que a capital fluminense.Dados do IHA 2008 demonstram que aRegio Sudeste a que vem apresentandomaior queda no ndice desde 2005e, atualmente, a regio com menorndice de morte por grupo de 1.000adolescentes (1,77), conforme pode servi sto no gr f ic o a se gu ir.

    10.4. Os ndices mais altosdo EstadoEntre os municpios do estado com ndicesmais altos encontram-se: Maca (5,75);Duque de Caxias (4,94) e Cabo Frio(4,91). Na comparao com o IHA 2006,tanto Duque de Caxias (6,1) quanto CaboFrio (5,4) j se encontravam entre os 20

    Homens 5.277 (92,3%)

    Mulheres 440 (7,7%)

    5.717 5.717 5.717

    Brancos 1.544 (30.7%)

    Negros 3.482 (69,2%)

    Jovens* 3.030 (53,0%)

    No-Jovens 2.687 (47%)

    municpios do pas com maiores valorespara o IHA, sendo que Cabo Frio apresentouem 2008 um ndice ainda pior e Duque deCaxias melhorou significativamente. Asurpresa fica por conta de Itabora que em2006 apresentou um IHA de 6,0 e caiu para2,89 em 2008, reduzindo em mais de 50% asmortes esperadas (175 para 86). Evoluo do ndice de homicdios naadolescncia nos municpios com mais de 100mil habitantes Grandes regies: 2005 a 2008Fonte: Sistema de Informaes sobreMortalidade SIM/Datasus Ministrio daSade e IBGE

    10.5. Dimenses de RiscoSexoCor ou RaaIdade

    Meio utilizado (armas de fogo versus outros)O risco relativo por meio para a populaodos 266 municpios estudados deaproximadamente seis, ou seja, o risco deum adolescente ser vtima de homicdio porarma de fogo seis vezes maior do que poroutros meios.Isto sublinha, mais uma vez, o papel centraldas armas de fogo na violncia letal contraestes grupos e a importncia das polticasde controle de armas.

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    10.6. O que necessrio paraimpedir estas mortesA possibilidade dos jovens do sexo masculinoserem vtimas de homicdio quatorze vezessuperior das adolescentes do sexo femininoe quase quatro vezes mais alta em relao aosbrancos. O nmero de homicdios cometidoscom arma de fogo tambm vem aumentando.Isto significa que o perfil das vtimas cadavez mais especfico em termos da sua cor e domeio em que vivem.Alm disso, maioria desses jovens enfrenta umambiente de violncia em espaos popularesabandonados pelo governo.No Rio de Janeiro, a violncia letal se concentraprincipalmente nas favelas e periferias eenvolve como atores fundamentais os jovens,os integrantes das foras de seguranapblica e, atualmente, inclui tambm osgrupos criminosos armados que disputamo domnio de territrio, sendo responsveisainda pelas representaes que estigmatizame criminalizam os adolescentes e jovensmoradores de espaos populares.A utilizao da violncia como meioprivilegiado para a resoluo de conflitos,o uso excessivo da fora pela polcia e asirrisrias taxas de esclarecimento dos crimesde homicdio tm contribudo para acirrar oproblema da violncia letal a que estes jovensesto expostos diariamentePara impedir essas mortes necessrio, emprimeiro lugar, entend-las em seus contextosmacro e microssociais, para que as aes depreveno possam ter maiores possibilidadesde efetividade.Por outro lado, so necessrias iniciativasconcretas por parte dos governos, como a do

    plano de enfrentamento violncia contra ajuventude negra. Este plano prope polticasuniversais e aes afirmativas para prevenirtais mortes que precisam sair do papel e virarrealidade. Entre as aes propostas no mesmo,encontram-se: sensibilizar a opinio pblica,mobilizar atores sociais, fomentar trajetriasde incluso e autonomia, criar oportunidadespara os jovens atuarem contra a cultura daviolncia, ampliar a oferta de equipamentosculturais e servios pblicos nos territriosmais violentos e enfrentar o racismo e a

    letalidade policial nas instituies. Propeainda a articulao de suas aes com estados,municpios e sociedade civil, o que tambm fundamental, de acordo com diagnsticofeito pelo PRVL Programa de Reduo daViolncia Letal, desenvolvido em parceriapela UNICEF, pelo Observatrio de Favelas,pela Secretaria Nacional de Promoo dosDireitos da Criana e do Adolescente e peloLaboratrio de Anlise da Violncia (LAV-UERJ).O prprio PRVL deve ser destacado comoum importante projeto que vem sendodesenvolvido no pas com o objetivo dedesenhar e propor estratgias para os poderespblicos visando contribuir para a reduoda mortalidade dos adolescentes e jovensbrasileiros. Desde 2007, o programa vematuando em trs eixos complementares:a articulao poltica, que prev aesde advocacy nacional, sensibilizao emobilizao de diferentes atores sociais; aproduo de indicadores que possibilitemo monitoramento sistemtico e continuadoda vitimizao por homicdio contraadolescentes; e o levantamento, a anlise ea difuso de metodologias que contribuampara a preveno da violncia e, sobretudo,para a reduo das taxas de letalidade deadolescentes no Brasil.Entretanto, o que ainda vemos na prticaso situaes como a da ltima ConfernciaNacional dos Direitos da Criana e doAdolescente na qual, entre as 1.089 propostasapresentadas nas conferncias estaduais edistrital para compor a Poltica Nacional,apenas uma versava sobre o enfrentamentoda violncia letal. Este exemplo demonstra adistncia e a falta de dilogo entre as polticase os problemas reais que precisam mudar paraque possamos caminhar efetivamente para areduo destas mortes no pas. Bibliografia:

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