deliquencia juvenil

Upload: josemar-soares

Post on 12-Jul-2015

78 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

82

DELINQUNCIA JUVENIL NA PRODUO CIENTFICA NACIONAL: DISTNCIAS ENTRE ACHADOS CIENTFICOS E INTERVENES CONCRETAS

Jana Gonalves ZappeUniversidade Federal de Santa Maria UFSM - Brasil

Ana Cristina Garcia DiasUniversidade Federal de Santa Maria UFSM - Brasil

Resumo Neste trabalho, apresenta-se um levantamento bibliogrfico a respeito da delinquncia juvenil. Objetivando investigar a produo cientfica nacional da ltima dcada, foram selecionados para este estudo 35 artigos publicados nos peridicos das bases de dados de Cincias da Sade em geral. So tambm apresentados os aspectos tericos e metodolgicos dos estudos, e os principais aspectos abordados nos trabalhos: instituies de controle social, aspectos sociopsicolgicos e individuais, valores humanos, polticas pblicas e propostas de interveno. Em concluso, destaca-se a necessidade de desenvolvimento de mais trabalhos que abordem o enfrentamento da delinquncia juvenil e a interdisciplinaridade como enfoque terico-prtico para lidar com esse fenmeno. Palavras-chave: delinquncia juvenil, institucionalizao; adolescncia.

Introduo A violncia, srio problema de sade pblica, atualmente atinge a juventude de modo particularmente preocupante: entre os jovens que se encontram as mais altas estatsticas de mortalidade por agresses, assim como so os jovens os mais apontados como autores de agresses, tanto no pas quanto na Amrica Latina (KRUG et al., 2002). Os resultados dessa associao juventude e violncia - so graves e abrangentes. Alguns autores apontam que a dialtica letal do matar e morrer abrevia a expectativa de vida, reduz o potencial produtivo da populao, representa custos (diretos e indiretos) considerveis para as famlias e para o sistema de sade e compromete qualquer projeto de qualidade de vida (ASSIS; DESLANDES; SANTOS, 2005, p.80). Assim, um tema que deve ser privilegiado na

Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

83

produo cientfica, pois o conhecimento acadmico necessrio para a construo de propostas concretas de enfrentamento desta complexa situao. A literatura aponta que a realidade dos jovens que so vtimas de violncia no difere da realidade dos jovens que se tornam autores de violncia. Atualmente, adolescentes so vtimas de violncia estrutural e de significativas formas de violncia familiar, escolar, comunitria e social (ASSIS; DESLANDES; SANTOS, 2005). A mortalidade juvenil um aspecto revelador desta situao, tendo em vista que a proporo de mortes por homicdios na populao jovem muito superior da populao no jovem. Segundo Waiselfisz (2004), a morte por causas externas (acidentes de trnsito, homicdios e suicdios) na populao jovem de 72%, e, dessas, 39,9% referem-se a homicdios praticados contra jovens. J em relao populao no jovem, a taxa de bitos por causas externas de 9,8%, e, desses, os homicdios representam apenas 3,3%. Neste contexto, destacam-se os casos de adolescentes que se encontram em conflito com a lei, cuja realidade no diferente da realidade dos demais adolescentes, conforme dito anteriormente, pois sujeitos aos mesmos riscos e s mesmas vulnerabilidades. Levantamento realizado em 2004 pelo Ministrio da Justia revelou que existiam 39.578 adolescentes no sistema socioeducativo em funo de terem cometido algum ato infracional (BRASIL, 2006a), o que representa uma parcela significativa da juventude brasileira e justifica a necessidade de estudos especficos. Nosso artigo direciona o interesse para os casos de adolescentes que cometem atos infracionais. No Brasil, a denominao utilizada na legislao pertinente adolescente em conflito com a lei (BRASIL, 1990), enquanto o termo delinquncia juvenil tem sido internacionalmente utilizado para se referir a esses casos. importante destacar a inexistncia de concordncia quanto nomenclatura mais adequada a ser utilizada. Volpi (1997) discute essa questo, salientando que o aspecto principal a ser considerado que se trata de adolescentes, ou seja, sujeitos em especial condio de desenvolvimento, devendo-se evitar expresses como adolescente infrator, ou, o que seria pior, menor infrator, pois estas so terminologias com forte conotao ideolgica. O termo delinquncia juvenil, por sua vez, remete a uma entidade, uma sndrome, ou seja, um quadro relativamente estvel, o que tambm contraria o carter de provisoriedade da adolescncia como um momento peculiar do desenvolvimento. O risco que se corre ao utilizar essas terminologias corresponde reduo da vida e da identidade do adolescente ao ato infracional cometido, aspecto amplamente discutido por Foucault (1997) e que se considera muito pertinente. Apesar disso, o termoBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

84

delinquncia juvenil corresponde ao descritor encontrado nas bases de dados que foram consultadas, de forma que seu uso facilita a busca de textos cientficos afins e a prpria divulgao do trabalho, sendo ento um termo til do ponto de vista da investigao proposta. Os casos de adolescentes que cometem atos infracionais tm sido abordados a partir de trs nveis de conceitualizao: o nvel estrutural, o sociopsicolgico e o individual, conforme sistematizao proposta por Shoemaker (1996). O nvel estrutural incorpora as condies sociais, enfatizando a influncia da organizao social na constituio do sujeito que comete atos infracionais. Nesse nvel, leva-se em considerao a associao entre delinquncia e pobreza ou desigualdade social, o que mais acentuado nas classes populares. O nvel sociopsicolgico refere-se s instituies de controle social, como a famlia e a escola, alm de aspectos como autoestima e influncia de grupos de pares no comportamento delinquente juvenil. Nesse nvel, considera-se a delinquncia como resultado de problemas na vinculao social do jovem com instituies como a famlia e a escola, entre outras, as quais seriam representantes das normas sociais. Nesse sentido, considera-se como fundamental o maior ou menor controle que essas instituies exercem sobre o jovem. Outro aspecto abordado neste nvel refere-se relao entre a autoestima do jovem e a delinquncia, considerando-se que esses fatores so inversamente proporcionais, ou seja, a delinquncia est relacionada com uma baixa autoestima. No nvel sociopsicolgico tambm se considera a relao entre delinquncia e a associao de jovens em grupos, entendendo-se que a influncia dos pares sobre o jovem e as inter-relaes estabelecidas nos grupos so fatores importantes de serem considerados na gnese da delinquncia (SHOEMAKER, 1996). Por fim, o nvel individual inclui aspectos biolgicos e psicolgicos, privilegiando os mecanismos internos do indivduo como determinantes para a delinquncia. Nesse nvel, considera-se que os aspectos biolgicos hereditrios e as caractersticas de personalidade, como a inteligncia, podem predispor o indivduo para a criminalidade. A personalidade pode ser considerada como fundamental para o entendimento da delinquncia, pois resulta justamente da interao entre as influncias do meio e a bagagem gentica individual. Alguns dos atributos de personalidade frequentemente relacionados com a delinquncia so: impulsividade, inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a prpria experincia de vida, ausncia de culpa ou remorso por seus atos, insensibilidade dor de outrem e transgresses (SHOEMAKER, 1996).

Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

85

Nenhum desses fatores suficiente de modo isolado para explicar a delinquncia, que considerada um fenmeno complexo, resultado da interao entre os diversos fatores organizados segundo os nveis estrutural, sociopsicolgico e individual, descritos anteriormente. Assim, um conhecimento abrangente acerca da delinquncia juvenil deve considerar uma anlise destes trs nveis integradamente (ASSIS; SOUZA, 1999). As atuais polticas pblicas que visam ao enfrentamento desse problema enfatizam a necessidade do trabalho de diferentes reas do conhecimento e especialidades, atravs da atuao de equipes tcnicas multidisciplinares (BRASIL, 2006a), o que compatvel com a considerao da delinquncia juvenil como um problema complexo e multifatorial. Dessa forma, torna-se relevante investigar o que as diferentes reas do conhecimento tm produzido acerca da delinquncia juvenil: como compreendem o fenmeno da delinquncia? Que metodologias de pesquisa utilizam? Quais os resultados que encontram? Quais os mtodos de trabalho/interveno que adotam? Como encaram a necessidade de trabalho em equipe? Procurando responder a essas questes, realizou-se um levantamento bibliogrfico a respeito da produo cientfica da rea da sade sobre a delinquncia juvenil. A partir deste levantamento, obtm-se uma viso geral da produo cientfica sobre este tema, sendo possvel identificar quais aspectos tm sido privilegiados nos estudos, e quais aspectos tm sido pouco abordados, o que relevante para a formulao de novos trabalhos com o propsito de acrescentar contribuies produo existente. Este trabalho de levantamento bibliogrfico se constitui, portanto, como uma abordagem inicial desta temtica, a qual ser importante para a definio de abordagens futuras, atravs de pesquisas de outra natureza. Mtodo Objetivando investigar a produo cientfica nacional da ltima dcada (1999 a 2009) a respeito da delinquncia juvenil, foram consultados os artigos publicados nos peridicos das bases de dados de Cincias da Sade em Geral (LILACS, IBECS, MEDLINE e SCIELO). A palavra-chave utilizada para a busca dos textos foi o prprio descritor delinquncia juvenil. Foram encontrados 122 trabalhos, 40 deles com texto completo disponvel on-line, sendo 35 deles artigos, os quais foram selecionados para este estudo. Foram selecionados apenas os trabalhos disponibilizados on-line em funo da facilidade de acesso, e descartados os trabalhos que no eram artigos cientficos, pois estes so textos de maior circulao e costumam chegar a um maior nmero de leitores.Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

86

A leitura dos trabalhos seguiu a metodologia proposta por Gil (1999), composta por quatro etapas: leitura exploratria, seletiva, analtica e interpretativa. Na primeira etapa, procura-se entrar em contato com os textos em sua totalidade, para aps realizar uma leitura aprofundada das partes que interessam ao trabalho (leitura seletiva). O prximo passo consiste em ordenar e sumariar as informaes encontradas, identificando-se as ideias-chave dos textos e construindo snteses (leitura analtica). Na ltima etapa, a leitura interpretativa, procura-se estabelecer relaes entre o contedo dos textos pesquisados, agrupando-os e assim conferindo um alcance mais amplo aos resultados obtidos com a leitura analtica. Assim, foram analisados os artigos segundo a rea das revistas onde os artigos foram publicados, os objetivos e a metodologia dos estudos apresentados. Por fim, foram analisados quais aspectos tm sido privilegiados nos estudos, quais os principais resultados e as principais concluses apontadas. A partir dessa anlise, foram classificados os trabalhos segundo os aspectos tericos e metodolgicos apresentados, sendo agrupados os resultados encontrados em quatro categorias temticas, com a finalidade de sistematizar os tpicos mais abordados nos artigos: instituies de controle social; aspectos sociopsicolgicos e individuais; valores humanos e polticas pblicas; propostas de interveno; conforme apresentados a seguir. Para este agrupamento em quatro categorias, considerou-se o principal tpico abordado em cada um dos artigos, sendo cada artigo includo em apenas uma das categorias. Resultados Aspectos tericos e metodolgicos dos estudos A maioria dos artigos foi publicada em revistas de psicologia e psicanlise (54%), e os demais foram publicados em revistas de sade pblica e coletiva (26%), psiquiatria (14%) e enfermagem (6%). Nesse sentido, pode-se supor que o maior interesse na abordagem da delinquncia juvenil como objeto de estudo, encontrado entre profissionais e pesquisadores da rea psi. Por um lado, este predomnio pode ser favorvel no sentido do desenvolvimento da cincia e da tcnica psicolgica, por outro, h que se considerar que o reduzido nmero de artigos das demais reas pode significar pouco interesse ou dificuldades tanto na compreenso quanto no manejo desses casos. Assim, esse dado pode significar dificuldades para a abordagem interdisciplinar da delinquncia juvenil, tanto em termos de compreenso quanto de enfrentamento do problema.Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

87

Quanto aos objetivos, a maioria dos artigos constitui-se de estudos que visam compreender a delinquncia juvenil (71%), tendo os demais (29%) abordado as formas de enfrentamento deste problema, tanto em termos preventivos quanto em termos das tcnicas de trabalho com adolescentes delinquentes. Com relao a esse resultado, percebe-se que h uma defasagem de trabalhos que abordam a atuao prtica com relao aos que propem uma compreenso do fenmeno. Quanto metodologia utilizada, os estudos que visam compreender a delinquncia juvenil utilizam estudos empricos (60%), reflexo terica (24%), reviso de literatura (8%) e estudo de caso (8%). Esse dado interessante na medida em que mostra que os pesquisadores encontram-se interessados em oferecer uma compreenso do fenmeno a partir de diferentes perspectivas terico-metodolgicas, o que favorvel no sentido de possibilitar entendimentos abrangentes que favorecem uma abordagem de maior amplitude. As pesquisas empricas sobre a compreenso da delinquncia juvenil utilizaram diferentes tcnicas de coleta de dados. Entrevistas semiestruturadas foram bastante utilizadas, tanto como tcnica nica quanto associada com outras tcnicas (nos estudos de ASSIS; SOUZA, 1999; DELLAGLIO; SANTOS; BORGES, 2004; FEIJ; ASSIS, 2004; DELLAGLIO et al., 2005; PINHO et al., 2006, entre outros). Tambm foram adotados questionrios (estudos realizados por MENIN, 2003; FORMIGA; GOUVEIA, 2005; PINHO et al., 2006; MARTINS; PILLON, 2008; SENA; COLARES, 2008), inventrios (nas pesquisas de CARVALHO; GOMIDE, 2005; DELLAGIO et. al., 2005), escalas (estudos de FORMIGA; GOUVEIA, 2005; SCHIMITT et al., 2006; BRANCO; WAGNER; DEMARCHI, 2008), tcnica de histria de vida (estudo de ASSIS; SOUZA, 1999) e Mapa da Rede Social (estudo de BRANCO; WAGNER; DEMARCHI, 2008). Os trabalhos que abordaram a temtica do enfrentamento da delinquncia juvenil apresentaram discusses sobre as tcnicas de trabalho com crianas e adolescentes em situaes de risco e vulnerabilidade ou institucionalizados. Essas so situaes que exigem um manejo tcnico especfico, que se diferencia das tcnicas de trabalho mais tradicionais. Guirado (2006), por exemplo, discute o exerccio da tcnica psicanaltica numa instituio que atende a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas e indica a necessidade de repensar a clnica psicanaltica quando ela se exerce num contexto institucional. Nesse sentido, a autora defende a necessidade de ajustes tanto na tcnica quanto na prpria teoria, discutindo principalmente os conceitos de transferncia e de contextoBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

88

institucional. Em suma, discute-se a necessidade de se considerar que a transferncia que conta como fundamental aquela feita com a instituio, e no com o profissional que realiza o atendimento, o que determinante dos sentidos que se constroem para a relao teraputica. Delinquncia juvenil e instituies de controle social Nesta categoria, agrupamos os trabalhos que associam delinquncia juvenil e instituies de controle social, como a famlia e a escola. Nesses trabalhos, considera-se a delinquncia como resultado de problemas na vinculao social do jovem com as instituies representantes das normas sociais, sendo fundamental o maior ou menor controle que estas instituies exercem sobre o jovem. A famlia enquanto uma instituio de controle social, foi um foco privilegiado nos estudos, que enfatizaram principalmente a existncia de fragilidades nas composies familiares de adolescentes que cometem atos infracionais. Esse aspecto ser abordado mais detalhadamente a seguir, pois so apresentados resumidamente alguns dos trabalhos que foram agrupados nesta categoria. Oliveira e Assis (1999), em um estudo exploratrio composto por uma abordagem mista, realizado em trs instituies responsveis pela custdia judicial de adolescentes infratores, demonstraram os efeitos danosos da vida imposta a estes jovens, seja pela famlia, pela sociedade, pelo judicirio e/ou pelas prprias instituies de custdia. Entre esses efeitos danosos, cita-se o distanciamento do adolescente de sua famlia, provocado ou intensificado pela institucionalizao; o flagrante afastamento do ambiente escolar e o preocupante ndice de analfabetismo apresentado pelos internos; as remotas possibilidades de insero no mercado de trabalho; a precariedade dos recursos humanos institucionais, que reduz a qualidade do atendimento e reproduz uma relao marcada pelo distanciamento, o que eles j vivenciam com relao famlia. As instituies de custdia no encaravam o atendimento aos jovens como uma prioridade, funcionando superlotadas, inapropriadas para a socializao, desumanas e descumprindo o Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), legislao pertinente a esses casos (BRASIL, 1990). Assim, acabavam acrescentando ainda mais danos trajetria desses jovens. Rosa (1999) tambm demonstra como um processo de desqualificao e desvalorizao social da famlia desses jovens propicia rompimentos e leva os indivduos rua. Nessas situaes, o discurso social, em substituio ao discurso dos pais, um discursoBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

89

que evidencia a carncia, oferecendo a estes meninos um lugar despido de valor flico, o que evidenciado na prpria forma como eles eram nomeados: menor abandonado, menor carente. A delinquncia, nesse contexto, pode ser entendida como uma tentativa de resgate de algum valor flico, constituindo-se como nica possibilidade de nomeao e de identidade em muitos casos. Feij e Assis (2004), ao pesquisarem o ncleo familiar de jovens que cometeram atos infracionais graves, constataram a fragilidade da maioria das famlias, que experimentam uma condio de pobreza e excluso social; essas famlias encontram-se isoladas do amparo social. Neste estudo, as autoras identificaram que a maioria dos adolescentes proveniente de famlias divididas, em que os pais se separaram e muitas vezes abandonaram os filhos ou morreram. So famlias em que a infra-estrutura prejudicada seja em termos financeiros, emocionais ou domiciliares. Entre algumas das vulnerabilidades identificadas nessas famlias, cita-se a desqualificao para o trabalho, o desemprego, o baixo nvel de escolaridade, o analfabetismo, a ausncia de algum dos genitores, a violncia fsica e psicolgica, e problemas de relaes interpessoais e de comunicao. Priuli e Moraes (2007) encontraram dados semelhantes. Eles identificaram situaes de vulnerabilidade pessoal e familiar em adolescentes institucionalizados pela prtica de ato infracional que, assim, so considerados autores e tambm vtimas de violncia. Foi detectado que a maioria dos jovens residia em uma rea cuja precariedade social revelada pela existncia de poucos equipamentos sociais, caracterizando-se por uma maioria populacional de menor poder aquisitivo e baixo nvel de escolaridade, e ainda pelo alto coeficiente de mortalidade infantil. O trabalho de Carvalho e Gomide (2005) tambm vai nesse sentido. Essas autoras consideram que a famlia do adolescente em conflito com a lei tem uma forte influncia tanto na aquisio e manuteno dos comportamentos infratores quanto na extino destes comportamentos, de forma que as prticas educativas parentais constituem uma forma de se analisar a aquisio e manuteno desses comportamentos. Assim, as autoras investigaram as prticas educativas parentais em uma amostra de adolescentes em conflito com a lei e seus respectivos pais, e concluram que se trata de famlias de risco, cujas prticas parentais no favorecem um desenvolvimento saudvel. Diante disso, aponta-se a importncia da identificao dos estilos parentais exercidos nessas famlias para elaborao de programas de orientao e treinamento de pais.

Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

90

Alm disso, Benhaim (2008) faz uma anlise, de cunho mais terico, da delinquncia utilizando a teoria psicanaltica, especialmente enfocando os conceitos de funo materna, iluso e desamparo. levantada a hiptese de que a problemtica delinquente repousa sobre uma falta de iluso, de forma que o desamparo infantil se transforma em desespero juvenil. Olhando as instituies de controle social, a partir de um ponto de vista amplo, Branco, Wagner e Demarchi (2008) identificaram as caractersticas da rede social dos internos de uma instituio socioeducativa e de suas famlias. A rede social tem um importante papel na compreenso, preveno e tratamento de jovens delinquentes, sendo a famlia um aspecto bastante considerado. Entre os resultados, as autoras indicaram que estas redes sociais so falhas, principalmente com relao escola e ao trabalho. Assim, sugere-se a implantao de medidas educativas e laborais mais significativas para internos de instituies socioeducativas, bem como o desenvolvimento de atividades comunitrias, com vistas a superar essas falhas. Dellaglio et al. (2005) tambm indicam que condies familiares e uma rede social precrias esto associadas ocorrncia de atos infracionais. Esses autores identificaram eventos em diferentes domnios (como maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, repetncia escolar, desemprego e morte dos pais) que se constituem em fatores de risco. A hiptese central destaca que h um ciclo de violncia presente na trajetria das adolescentes que antecede a prtica do ato infracional. Dados semelhantes so encontrados ainda por Dellaglio, Santos e Borges (2004). Ao investigarem a trajetria de vida de adolescentes do sexo feminino que cumpriam medida socioeducativa, encontraram a presena de repetidas rupturas nas relaes dessas jovens com seus cuidadores, alm de situaes de violncia intra e extrafamiliar. Assim, as autoras deste estudo concluram que a falta de estabilidade e a fragilidade dos vnculos estabelecidos durante diferentes fases do desenvolvimento, assim como eventos estressores vivenciados, podem estar associados manifestao dos comportamentos desadaptativos pelas adolescentes, sendo facilitadores para a entrada na vida infracional. Delinqncia juvenil e aspectos sociopsicolgicos e individuais Analisando os trabalhos publicados, podemos observar que alguns construram sua compreenso terica do fenmeno levando em conta tanto aspectos sociopsicolgicos quanto fatores individuais envolvidos no mesmo, os quais foram agrupados nesta categoria. QuantoBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

91

aos aspectos sociopsicolgicos, consideram-se fatores como autoestima e influncia de grupos de pares no comportamento delinquente juvenil e, quanto aos aspectos individuais, consideram-se os fatores biolgicos e psicolgicos, privilegiando os mecanismos internos do indivduo como determinantes para a delinquncia. Por exemplo, Assis e Souza (1999), estudando jovens que cometeram infraes e seus irmos que no cometeram infraes, indicaram que esses jovens diferem sob diversos aspectos. No que tange aos aspectos familiares, as autoras demonstram que os adolescentes que cometeram atos infracionais mantm imagens mais idealizadas de suas famlias e possuem maiores dificuldades para lidar com perdas familiares e estabelecer um vnculo afetivo mais forte, quando comparados aos seus irmos que no cometeram infraes. As autoras identificaram tambm que uma falta de controle familiar estava presente no caso dos adolescentes que cometeram infraes; esses jovens eram, em sua maioria, os caulas e vistos como os preferidos da famlia. No que se refere s questes sociopsicolgicas, identificaram diferenas tanto na escolha das amizades como em relao s oportunidades de vida, sendo percebidas tambm diferenas individuais importantes. Entre essas, cita-se, por exemplo, diferenas quanto autoimagem: enquanto os no infratores se reconheciam como pessoas calmas, tranquilas e conformadas com relao realidade social, os infratores se reconheciam como arrojados, valentes e rebeldes com relao s dificuldades da vida. O trabalho de Menin (2003) aborda a temtica da delinquncia juvenil a partir da teoria de representao social. A autora pesquisou atitudes de adolescentes frente delinquncia, e evidenciou que a forma de avaliao das infraes est relacionada com o gnero e a classe social qual os jovens pertencem. As meninas e os adolescentes de classes mais baixas tendem a atribuir notas mais altas s infraes que os meninos e os adolescentes de classes mais altas, ou seja, meninas e adolescentes de classes mais baixas tendem a ser mais severos ao julgar a gravidade de uma infrao, enquanto meninos e adolescentes de classes mais altas tendem a ser mais tolerantes. Dessa forma, a autora concluiu que as diferenas de avaliao das infraes esto relacionadas com o gnero e a origem social dos sujeitos da pesquisa. Sena e Colares (2008), ao investigaram as condutas de sade entre adolescentes em conflito com a lei, concluram que esses jovens apresentam maiores ndices de comportamentos de risco em relao sade quando comparados a jovens que no cometem atos infracionais, principalmente relacionados ao uso de substncias psicoativas e ao exerccioBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

92

da sexualidade. Essas autoras identificaram diversos comportamentos de risco, tais como porte de armas, envolvimento em briga, uso de lcool e tabaco, uso experimental de inalantes e maconha, relao sexual desprotegida e em geral com mais de um parceiro. O estudo de Facundo e Pedro (2008), por sua vez, analisou os efeitos dos fatores de risco pessoais e interpessoais sobre o consumo de drogas em adolescentes de bandos juvenis, constatando a importncia dos mesmos. Os fatores pessoais de risco que mais contriburam para o consumo de drogas foram o sexo, a idade e os problemas de sade mental. Quanto ao sexo, os homens mostraram maior probabilidade para o consumo de drogas. Quanto idade, identificou-se que, medida que aumenta a idade, maior a probabilidade de consumo de drogas e, ainda, que quanto mais precoce for o incio do uso de drogas, maior ser o consumo e a dependncia. Quanto aos problemas de sade mental, indica-se que quanto maior so os problemas de sade mental, maior a probabilidade do consumo de drogas. Quanto aos fatores de risco interpessoais, identificou-se que quanto maior a relao com amigos sob condutas desajustadas, maior a probabilidade para o consumo de drogas. Heim e Andrade (2008) demonstram que o uso de lcool e drogas ilcitas entre indivduos que esto em situao de risco alto e precoce em relao a adolescentes que no esto em situao de risco, demonstrando que esta questo uma parte do problema da delinquncia. O estudo sugere a existncia de uma relao estreita entre uso e abuso de lcool e drogas ilcitas e delinquncia, indicando a necessidade de mais estudos sobre esta relao, os quais poderiam esclarecer se o uso e/ou abuso de lcool e drogas ilcitas que induzem ao comportamento delinquente ou o contrrio. Martins e Pillon (2008) buscaram analisar a relao entre a primeira experincia de uso de drogas e o primeiro ato infracional cometido por adolescentes em conflito com a lei. Nesse estudo, os resultados apontaram que os ndices do primeiro uso do lcool, cigarro e maconha so elevados e ocorrem concomitantemente com idade mdia de 12 anos. Com relao aos delitos, os mais praticados so roubo, trfico de drogas e furto e ocorrem com idade mdia de 13 anos. Os autores demonstraram que existe uma correlao significativa entre o uso do lcool e da maconha com os atos infracionais, exceto o homicdio, e tambm que o uso de drogas precede a prtica infracional. A relao entre delinquncia e psicopatologia psiquitrica foi abordada em alguns trabalhos, como no estudo de Pinho et al. (2006). Estes pesquisadores encontraram que 75,2% dos adolescentes que realizaram algum ato infracional preenchem critrios para um ou maisBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

93

transtornos psiquitricos. Em quase metade dos casos foi identificada a presena de transtornos em comorbidade, sendo a associao de patologia mais prevalente entre transtornos de conduta e transtornos por uso nocivo de substncia psicoativa. Assim, trata-se de mais um estudo que aborda a associao entre uso de substncias psicoativas e delinquncia, neste caso sob a tica da psicopatologia psiquitrica. Pacheco et al. (2005) realizam uma discusso acerca do conceito de comportamento antissocial, que pode ser tomado como um indicador para transtornos mentais especficos e para algumas categorias de problemas comportamentais, sendo ento um conceito importante para a compreenso da delinquncia. Os autores apontam que o padro de comportamento antissocial adquirido na infncia, atravs da interao da criana com a famlia e o grupo de pares. A delinquncia seria, ento, um agravamento desse padro que inicia na infncia e, normalmente, persiste na adolescncia e vida adulta. Assim, esses autores indicam a necessidade de se identificar como alguns fatores contribuem para a estabilidade de comportamentos ou problemas antissociais na transio da infncia para a adolescncia. Schmitt et al. (2006) compararam adolescentes infratores que cometeram crimes graves (homicdio, estupro e latrocnio) com outros adolescentes infratores, buscando identificar diferenas quanto a psicopatia, reincidncia criminal e histria de maus-tratos. Esses pesquisadores encontraram maior prevalncia de psicopatia e de reincidncia criminal entre os adolescentes que cometeram crimes graves, e encontraram alta prevalncia de histria de maus-tratos, mas no houve diferena significativa entre os adolescentes que cometeram crimes graves e os demais, nesse aspecto. Este estudo levanta a possibilidade de existncia de dois grupos distintos de adolescentes infratores: com e sem psicopatia, hiptese que precisa ser mais investigada. Formiga, Aguiar e Omar (2008), por sua vez, buscaram explicar a delinquncia juvenil atravs do construto busca de sensaes. Esses autores encontraram uma relao direta entre a busca de intensidade e de novidades com condutas antissociais e delitivas. Em outro estudo, Formiga et al. (2007) identificaram uma relao positiva entre a busca de sensaes de intensidades e novidades e comportamento agressivo fsico e verbal, raiva e hostilidade. Esses estudos mostram que traos de personalidade, ou seja, caractersticas individuais permitem explicar a conduta juvenil. Assis e Constantino (2005) apresentaram uma reviso das teorias referentes preveno da violncia cometida por adolescentes, discutindo como os fatores de risco devemBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

94

direcionar estratgias de preveno nos nveis primrio, secundrio e tercirio. Essas autoras abordaram tanto caractersticas individuais como sociais envolvidas no fenmeno, mostrando a complexidade do fenmeno. As autoras criticam o direcionamento dos gastos pblicos que vo apenas para o policiamento das cidades e a manuteno da segurana nas prises; essas atitudes, na opinio das autoras, revelam uma crena corrente de que a represso violncia a soluo para os problemas sociais. No entanto, os autores enfatizam a necessidade de aumentar a preocupao com a preveno da violncia, tema que tem ocupado reduzida parcela de ateno. Os principais fatores de risco para que os jovens envolvam-se com atos violentos so: ser jovem do sexo masculino, apresentar algumas caractersticas biolgicas e psicolgicas, tais como danos neurolgicos sutis, impulsividade, hiperatividade, precrio controle diante de frustraes, deficincia de ateno e incapacidade de planejamento e fixao de metas, baixos nveis de inteligncia, elevada vulnerabilidade e tendncia excluso social gerada por negligncia, abandono, pobreza, criminalidade e violncia na famlia, na escola, na comunidade e na sociedade em geral. Alm disso, o fato de pertencer a uma famlia com laos frgeis seja por precria situao socioeconmica, deficiente superviso por separao dos pais, ausncia da me do lar devido ao trabalho ou ao distanciamento da figura paterna, presena de mortes e doenas rotineiras na famlia tornam o jovem mais vulnervel. Nesse sentido, como indicado na categoria anterior, essas autoras reconhecem que os relacionamentos familiares marcados por agresses fsicas e emocionais, precrio dilogo intrafamiliar e dificuldades em impor disciplina esto associados delinquncia juvenil. Essas autoras apontam que o jovem pode ainda apresentar problemas escolares (poucos anos de estudo, abandono escolar, desentendimento com professores e colegas, reprovaes repetidas) e utilizar drogas, geralmente associado convivncia no grupo de pares. Nesse sentido, este estudo indica como fatores individuais e sociais acabam se entrelaando na produo do ato infracional. Delinquncia juvenil, valores humanos e polticas pblicas Nesta categoria, agrupamos os trabalhos que abordaram a questo da delinquncia juvenil a partir de um ponto de vista amplo, considerando aspectos de ordem estrutural. Nesse sentido, so descritos trabalhos que enfatizam a influncia da organizao social na constituio do sujeito delinquente.

Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

95

Entre esses estudos, citamos o trabalho de Formiga e Gouveia (2005) que propem a utilizao dos valores humanos como um construto que pode contribuir para a predio da violncia entre os jovens. Esses autores apontam que o investimento em valores individualistas fomenta maior frequncia das condutas desviantes entre os jovens, enquanto o estmulo de comportamentos baseados em normas coletivistas contribuiria para a diminuio das condutas antissociais e delitivas. Nesse sentido, os autores discutem sobre a tendncia atual ao individualismo, enfocando valores que priorizam o interesse individual, o que potencializa condutas que se desviam das normas sociais. Assim, chamam ateno para a dimenso social do fenmeno da delinquncia. As polticas pblicas voltadas para a infncia e adolescncia tambm foram objeto de estudo. Cruz, Hillesheim e Guareschi (2005) problematizam a insero da Psicologia nessas polticas atravs do estabelecimento de padres de normalidade e anormalidade e circunscrio de etapas evolutivas, o que no levaria em considerao as concepes de infncia e adolescncia como construes sociais, ou seja, datadas geogrfica e historicamente. Este estudo critica a posio do psiclogo como especialista perito, na medida em que sua atuao desloca o foco de questes sociais para considerao de aspectos individuais. Nesse sentido, as autoras defendem que o campo das intervenes deve ser assumido como um territrio poltico, onde as lutas so cotidianas. Delinquncia juvenil e propostas de interveno Nesta categoria, agrupamos os trabalhos que abordaram intervenes relativas problemtica da delinquncia juvenil. Em geral, a maioria dos trabalhos compreensivos sugere propostas de interveno em termos de concluso dos estudos. Porm, nessa categoria agrupamos apenas os trabalhos que apresentaram a interveno como o principal foco do estudo. Embora em menor nmero, com relao aos trabalhos compreensivos, estes trabalhos mostraram-se importantes, apresentando propostas formalizadas para diferentes nveis de interveno. A seguir discutiremos alguns desses estudos. Alguns trabalhos abordaram a importncia de intervenes de cunho preventivo. Oliveira e Assis (1999), por exemplo, consideram que as estratgias de preveno recaem tanto no mbito pblico quanto no privado, nas relaes sociais interpessoais, interinstitucionais e intersetoriais, uma vez que a delinquncia no apenas fruto da patologia individual, mas tambm das estruturas e conjunturas socioculturais. Assim, um problemaBarbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

96

que deve ser enfrentado pelo conjunto da sociedade, por um conjunto de aes, em diferentes nveis. Essas autoras defendem que a privao de liberdade deve ser restrita a casos extremos, e deve ser rigorosa principalmente quanto qualidade da assistncia prestada. Para isso, sugerem que o atendimento seja oferecido a grupos menores de adolescentes, e que siga uma tica essencialmente tcnica, priorizando-se a oferta de ensino regular e profissionalizao. Alm disso, sugerem a nfase em trabalhos comunitrios como uma forma mais eficiente de atuar sobre o problema de jovens autores de atos infracionais. Com relao a isso, citam como exemplo um programa desenvolvido na Mangueira, patrocinado pela iniciativa privada e pela prpria comunidade, que abrange uma larga faixa etria e mantm em pleno funcionamento atividades pedaggicas, artsticas e esportivas da maior qualidade. Consideram que a produtividade deste programa pode ser expresso pelo nfimo nmero de adolescentes desta comunidade que do entrada em processos judiciais, e sugerem a parceria entre equipamentos do Estado, da sociedade civil e da prpria comunidade como uma medida necessria a ser adotada. Para Assis e Constantino (2005), as estratgias de preveno devem ser estruturadas com o objetivo de evitar ou minimizar os efeitos dos fatores de risco, amplamente j identificados pela literatura sobre o tema. Assim, as autoras destacam reas de preveno que tm mostrado impacto significativo na reduo da delinquncia juvenil, tais como a interveno durante a gravidez e infncia em famlias que se encontram em situao de risco; a realizao de treinamento para pais; programas de preveno primria dos crimes e da violncia realizados em escolas; e intervenes precoces destinadas a jovens infratores que promovam a reabilitao e reinsero social, profissional e familiar. Bocco e Lazzarotto (2004), ao relatarem sua experincia de trabalho com adolescentes sob a perspectiva da anlise institucional, salientam a necessidade de ampliar o olhar voltado para esses jovens. Ressaltam que esses jovens costumam ser percebidos apenas como violentos e ameaadores. Assim, para que uma interveno seja bem-sucedida, preciso rever essas crenas. Elas questionam os lugares e os saberes naturalizados a respeito desses jovens, buscando pensar novas formas de fazer Psicologia e lidar com este pblico. As autoras defendem que estes jovens representam um paradoxo. A palavra infrao, etimologicamente significa a ao de quebrar. Assim, representa tanto a ruptura com as normas sociais quanto a capacidade criativa de construir algo novo. Assim, a interveno deve contemplar esse duplo sentido.Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

97

Costa (2005), por sua vez, ao discutir as possibilidades efetivas de aes destinadas promoo de mudanas significativas na vida de adolescentes infratores, aponta para as dificuldades atuais do sistema socioeducativo. A autora observa que experincias bemsucedidas identificadas no pas enfatizam a necessidade de ampliao da escuta psicolgica como uma alternativa busca de condies mais favorveis ao atendimento das reais necessidades do adolescente. Guirado (2006) tambm v a escuta como um fator importante ao atendimento do adolescente infrator. Essa autora discute a necessidade de repensar a clnica psicanaltica quando ela feita em instituies diferentes do consultrio, defendendo que ajustes devem ser realizados nesse modelo, para que o mesmo se torne efetivo. Assim, a autora discute esses ajustes atravs dos conceitos de transferncia e contexto institucional, os quais conferem especificidade ao trabalho realizado em instituies para adolescentes autores de atos infracionais e interferem no modo como se estabelece a relao teraputica. A ateno psicolgica como uma interveno para acolhimento do sofrimento humano em situaes de crise tambm defendida por Aun, Morato, Noguchi e Nunes (2006). As autoras compreendem a transgresso numa dupla significao: como um espao de denncia social de situaes de excluso, e como a busca de modos de ser no institudos. Partindo dessa compreenso, defendem uma perspectiva clnica segundo a abordagem fenomenolgica existencial, voltada para que o adolescente se aproprie de sua histria, projetando-se a outras possibilidades: cuidar de ser, responsabilizando-se por si. Alm de aspectos psicolgicos, Ribot e Machado (2005) consideram que uma proposta pedaggica deva ser desenvolvida na ateno oferecida ao adolescente infrator. Consideram que uma ao pedaggica inovadora, que segue determinados passos e valoriza o apoio do grupo, de rituais, de valores e de adultos significativos pode auxiliar no trabalho. Esses autores partem do pressuposto de que acompanhar uma pessoa intervir estando ao lado dela, fazer um trecho do caminho a ser percorrido com ela e apoi-la em sua evoluo, sendo ento uma proposta eminentemente interativa. Costa, Guimares, Pessina e Sudbrack (2007) descrevem uma metodologia de avaliao familiar numa perspectiva da Single Session Work. Esse trabalho baseado numa nica interveno, que tem como potencial gerar informao, resgatar vnculos parentais, significar o ato delinquente, por ser uma interveno crtica pontual e que reativa as potencialidades e criatividade tanto do adolescente, de sua famlia quanto da equipe tcnica.Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

98

Kaufman (2004) e Amaro (2004) ainda discutem a questo da maioridade penal, criticando as instituies socioeducativas existentes. Esses autores consideram que as mesmas no oferecem um autntico tratamento ao jovem infrator. Nesse sentido, observam que a mera reduo da maioridade penal no resolver uma situao to complexa e multifatorial. Concluses A anlise dos trabalhos selecionados permitiu obter uma viso panormica da produo cientfica nacional a respeito da delinquncia juvenil. De modo geral, pode-se dizer que esta produo rica e abrangente no sentido de compreender os diferentes fatores que contribuem para levar os jovens a cometer infraes, conhecimento que fundamental para o enfrentamento do problema. As concluses dos estudos analisados neste trabalho descrevem tanto propostas de novas pesquisas quanto de reflexes que podem possibilitar a construo de programas baseados em achados cientficos. Observa-se que vrios trabalhos indicam a necessidade de implementao de programas sociais que visam ao fortalecimento das redes de apoio (DELLAGLIO et al., 2005), capazes de identificar fatores de risco e implementar estratgias preventivas s situaes de violncia e de vulnerabilidade da criana, do adolescente e da famlia (DELLAGLIO; SANTOS; BORGES, 2004; LARANJEIRA, 2007). Esses trabalhos apontam tambm para a necessidade da implementao de programas de acompanhamento que possam trabalhar a longo prazo com as situaes de vulnerabilidades e de riscos presentes nas famlias e nos contextos sociais dos quais o jovem e sua famlia fazem parte (FEIJ; ASSIS, 2004; BRANCO; WAGNER; DEMARCHI, 2008). Outras duas medidas consideradas importantes na busca por uma soluo do problema da delinquncia juvenil so: 1) a criao de espaos efetivos de educao e de trabalho aos jovens (BRANCO; WAGNER; DEMARCHI, 2008); e 2) a preveno do uso (e abuso) de substncias psicoativas entre adolescentes e seus familiares (MARTINS; PILLON, 2008). No que se refere ao atendimento direto do adolescente em conflito com a lei, encontramos sugestes relativas necessidade de se priorizar trabalhos comunitrios em detrimento da internao em instituies (OLIVEIRA; ASSIS, 1999) e necessidade de estratgias teraputicas especficas para jovens com transtornos mentais e/ou usurios de substncias psicoativas (SCHIMITT et al., 2006; SENA; COLARES, 2008; HEIM; ANDRADE, 2008).Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

99

Felizmente, nosso estudo demonstra que possumos um conhecimento til para a construo de propostas para o enfrentamento da delinquncia juvenil, pois nosso levantamento identificou vrios estudos que contribuem para a compreenso da problemtica do adolescente autor de ato infracional. Resta saber se estamos construindo e colocando em prtica intervenes racionais, ou seja, se estamos levando esses achados em considerao quando formulamos e efetivamos propostas de interveno, sobretudo em termos de polticas pblicas. Infelizmente, o distanciamento entre teoria e prtica, ou entre produo cientfica e atuao poltica, identificado e conhecido, principalmente, em pases subdesenvolvidos como o nosso caso. A atual situao das polticas pblicas de atendimento a essa populao no das melhores, o que pode ser exemplificado com o fato de que no dispomos de uma Lei de Execuo das Medidas Socioeducativas ou ainda com a longa espera pela aprovao do SINASE (BRASIL, 2006a). Sem a aprovao e aplicao dos princpios contidos nesses documentos legais, o atendimento ao adolescente em conflito com a lei tende a continuar apresentando as mesmas dificuldades h muito conhecidas: unidades superlotadas com instalaes fsicas precrias; ausncia ou irregularidades de atendimento jurdico e de sade; oferta irregular de escolarizao e profissionalizao, alm de espancamentos e maus-tratos fsicos e psicolgicos (BRASIL, 2006b). Isso tudo em franca oposio ao que apontam os estudos apresentados neste levantamento. Procuramos evidenciar esta questo no prprio ttulo deste trabalho, considerando-se esta uma problemtica que necessita ser enfrentada. Assim, estudos que evidenciem essas questes devem ser estimulados. Identificamos tambm a necessidade de que as demais reas da sade e das cincias humanas, que no apenas a Psicologia e a Psicanlise, sejam estimuladas a produzir estudos a respeito da delinquncia juvenil, com vistas a contribuir com a abordagem interdisciplinar do problema. sabido que o trabalho em equipe constitui-se mais como um desafio a ser enfrentado de que como uma prescrio a ser seguida, pois acarreta algumas dificuldades e problemas. Nesse sentido, a interdisciplinaridade como enfoque terico e/ou prtico tambm se constitui como questo pertinente a ser mais explorada na literatura cientfica nacional a respeito da delinquncia juvenil.

Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

100

JUVENILE DELINQUENCY IN NATIONAL SCIENTIFIC PRODUCTION: DISTANCES BETWEEN SCIENTIFIC FINDINGS AND PRACTICAL ASSISTANCE Abstract This paper presents a literature review about juvenile delinquency. Aiming to investigate the national scientific production of the last decade, we have selected for this study 35 articles, published in journals of health sciences databases, in general. We present the theoretical and methodological aspects of such studies, as well as the key issues addressed by them: institutions of social control, social psychological and individual values, human values, public policies and intervention proposals. In conclusion, we highlight the need to develop further work to address the issue of coping with juvenile delinquency and the interdisciplinary approach to theory and practice to deal with this phenomenon. Keywords: juvenile delinquency, institutionalization; adolescence Referncias AMARO, J. W. F. O debate sobre a maioridade penal. Revista de Psiquiatria Clnica. So Paulo, v.31, n.3, p. 142-144, 2004. ASSIS, S. G.; DESLANDES, S. F.; SANTOS, N. C. Violncia na adolescncia: sementes e frutos de uma sociedade desigual. In: BRASIL. MINISTRIO DA SADE. Impacto da violncia na sade dos brasileiros. Braslia: Ministrio da Sade, 2005, p. 79-105. ASSIS, S. G.; CONSTANTINO, P. Perspectivas de preveno da infrao juvenil masculina. Cincia & Sade Coletiva. Rio de Janeiro, v.10, n.1, p. 81-90, 2005. ASSIS, S. G.; SOUZA, E. R. Criando Caim e Abel Pensando a preveno da infrao juvenil. Cincia & Sade Coletiva. Rio de Janeiro, v.4, n.1, p. 131-144, 1999. AUN, H. A. et al. Transgresso e juventude encarcerada: outras verses a partir do planto psicolgico em unidades de internao da FEBEM/SP. Imaginrio. So Paulo, v.12, n.12, p. 35-53, junho, 2006. BENHAIM, M. O materno e a delinquncia. gora: estudos em teoria psicanaltica. Rio de Janeiro, v.11, n.1, p. 9-16, janeiro-junho, 2008. BOCCO, F.; LAZZAROTTO, G. D. R. (Infr)atores juvenis: artesos da anlise. Psicologia & Sociedade. Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 37-47, Ago., 2004. BRANCO, B. M.; WAGNER, A.; DEMARCHI, K. A. Adolescentes infratores: rede social e funcionamento familiar. Psicologia: Reflexo e Crtica. Porto Alegre, v.21, n.1, p. 125-132, 2008. BRASIL. Estatuto da Criana e do Adolescente. Lei n 8069, de 13 de julho de 1990. Braslia - DF, 1990.Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

101

BRASIL. Presidncia da Repblica. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo SINASE. Braslia-DF: CONANDA, 2006a. BRASIL. Direitos Humanos: um retrato das unidades de internao de adolescentes em conflito com a lei. Braslia-DF: Conselho Federal de Psicologia, 2006b. CARVALHO, M. C. N.; GOMIDE, P. I. C. Prticas educativas parentais em famlias de adolescentes em conflito com a lei. Estudos de Psicologia. Campinas, v.22, n.3, p. 263-275, julho-setembro, 2005. COSTA, C. R. B. S. F. possvel construir novos caminhos? Da necessidade de ampliao do olhar na busca de experincias bem-sucedidas no contexto socioeducativo. Estudos e Pesquisas em Psicologia. UERJ-Rio de Janeiro, n.2, ano 5, p. 79-95, 2005. COSTA, L. F; GUIMARAES, F. L.; PESSINA, L. M.; SUDBRACK, M. F. O. Single session work: interveno nica com a famlia e adolescente em conflito com a lei. Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento humano. So Paulo, v.17, n.3, p. 104-113, dezembro, 2007. CRUZ, L.; HILLESHEIM, B.; GUARESCHI, N. M. F. Infncia e polticas pblicas: um olhar sobre as prticas psi. Psicologia & Sociedade. Porto Alegre, v.17, n. 3, p. 42-49, setembrodezembro, 2005. DELLAGLIO, D. D.; BENETTI, S. P. C.; DERETTI, L.; D'INCAO, D. B.; LEON, J. S. Eventos estressores no desenvolvimento de meninas adolescentes cumprindo medidas scioeducativas. Paidia. Ribeiro Preto, vol. 15, n. 30, p. 119-129, janeiro-abril, 2005. DELLAGLIO, D. D.; SANTOS, S. S.; BORGES, J. L. Infrao Juvenil Feminina: Uma Trajetria de Abandonos. Interao em Psicologia. Curitiba, v.8, n. 2, p. 191-198, 2004. FACUNDO, F. R. G.; PEDRO, L. J. Fatores de risco pessoais e interpessoais no consumo de drogas ilcitas em adolescentes e jovens marginais de bandos juvenis. Revista LatinoAmericana de Enfermagem. Ribeiro Preto, v.16, n.3, p. 368-374, maio-junho, 2008. FEIJ, M. C.; ASSIS, S. G. O contexto de excluso social e de vulnerabilidades de jovens infratores e de suas famlias. Estudos de Psicologia. Natal, v.9, n.1, p. 157-166, janeiro-abril, 2004. FORMIGA, N. S.; AGUIAR, M.; OMAR, A. Busca de sensao e condutas antissociais e delitivas em jovens. Psicologia: cincia e profisso. Braslia, v.28, n.4, p. 668-681, dezembro, 2008. FORMIGA, N. S. et al. Comportamento agressivo e busca de sensao em jovens. Psicologia Argumento. Curitiba, v.25, n.50, p. 289-302, julho-setembro, 2007. FORMIGA, N. S.; GOUVEIA, V. V. Valores humanos e condutas anti-sociais e delitivas. Psicologia: teoria e prtica. So Paulo, v.7, n.2, p. 134-170, dezembro, 2005.Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

102

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. 32 ed. Petrpolis: Vozes, 1997. GIL, A. C. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. 5 ed. So Paulo: Atlas, 1999. GUIRADO, M. A psicanlise dentro dos muros de instituies para jovens em conflito com a lei. Boletim de Psicologia. So Paulo, v.55, n.124, p. 53-66, junho, 2006. HEIM, J.; ANDRADE, A. G. Efeitos do uso do lcool e das drogas ilcitas no comportamento de adolescentes de risco: uma reviso das publicaes cientficas entre 1997 e 2007. Revista de Psiquiatria Clnica. So Paulo, v.35, p. 61-64, 2008. KAUFMAN, A. Maioridade Penal. Revista Brasileira de Psiquiatria Clnica. So Paulo, v. 31, n.2, p. 105-106, 2004. KRUG, E. G. et al. Relatrio mundial sobre Violncia e Sade. Genebra: Organizao Mundial de Sade, 2002. LARANJEIRA, C. A. A anlise psicossocial do jovem delinqente: uma reviso de literatura. Psicologia em estudo. Maring, v.12, n.2, p. 221-227, maio-agosto, 2007. MARTINS, M. C.; PILLON, S. C. A relao entre a iniciao do uso de drogas e o primeiro ato infracional entre os adolescentes em conflito com a lei. Cadernos de Sade Pblica. Rio de Janeiro, v.24, n.5, p. 1112-1120, maio, 2008. MENIN, M. S. S. Atitudes de adolescentes frente delinqncia como representaes sociais. Psicologia Reflexo e Crtica. Porto Alegre, v.16, n.1, p. 125-135, 2003. OLIVEIRA, M. B.; ASSIS, S. G. Os adolescentes infratores do Rio de Janeiro e as instituies que os ressocializam. A perpetuao do descaso. Cadernos de Sade Pblica. Rio de Janeiro, v.15, n.4, p. 831-844, outubro-dezembro, 1999. PACHECO, J.; ALVARENGA, P.; REPPOLD, C.; PICCININI, C. A.; HUTZ, C. S. Estabilidade do comportamento anti-social na transio da infncia para a adolescncia: uma perspectiva desenvolvimentista. Psicologia Reflexo e Crtica. Porto Alegre, v.18, n.1, p. 5561, Abril, 2005. PINHO, S. R.; DUNNINGHAM, W.; AGUIAR, W. M.; ANDRADE FILHO, A. S.; GUIMARES, K. Morbidade Psiquitrica entre adolescentes em conflito com a lei. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. Rio de Janeiro, vol. 55, n. 2, p. 126-130, 2006. PRIULI, R. M. A.; MORAES, M. S. Adolescentes em conflito com a lei. Cincia & Sade Coletiva. Rio de Janeiro, v.12, n.5, p. 1185-1192, setembro-outubro, 2007. RIBOT, G.; MACHADO, M. S. Da errncia transumncia: acompanhamento educativo de adolescentes delinquentes. Estilos da clnica. So Paulo, v.10, n.19, p. 60-83, dezembro, 2005.

Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.

103

ROSA, M. D. O discurso e o lao social dos meninos de rua. Psicologia USP. So Paulo, vol.10, n.2, p. 205-217, 1999. SCHIMITT, R.; PINTO, T. P.; GOMES, K. M.; QUEVEDO, J.; STEIN, A. Personalidade psicoptica em uma amostra de adolescentes infratores brasileiros. Revista de Psiquiatria Clnica. So Paulo, vol. 33, n. 6, p. 297-303, 2006. SENA, C. A.; COLARES, V. Comportamentos de risco para a sade entre adolescentes em conflito com a lei. Cadernos de Sade Pblica. Rio de Janeiro, v.24, n.10, p. 2314-2322, outubro, 2008. SCHOEMAKER, D. J. Theories of delinquency. An examination of explanations of delinquent. Oxford University Press: Nova York, 1996. VOLPI, M. Adolescente e Ato Infracional. So Paulo: Cortez, 1997. WAISELFISZ, J. J. Mapa da violncia IV: juventude, violncia e cidadania. Braslia: UNESCO, Instituto Airton Senna, Ministrio da Justia/SEDH, 2004.Data de recebimento:10/07/2010. Data de aceite: 29/09/2010. Sobre os autores: Jana Gonalves Zappe graduada em psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Especialista em criana e adolescente em situao de risco pelo Centro Universitrio Franciscano (UNIFRA). Mestre em psicologia pela UFSM. Atualmente, docente no curso de psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA) e psicloga da Fundao de Atendimento socioeducativo do Rio Grande do Sul (FASE-RS) e da Prefeitura Municipal de Santa Maria. E-mail: [email protected] Ana Cristina Garcia Dias graduada em psicologia pela Universidade federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS). Doutora em psicologia pela Universidade de So Paulo (USP). Especialista em terapia Cognitivo-comportamental pelo Instituto WP (WP/POA). Atualmente professora titular do Departamento de Psicologia e coordenadora do Programa de Ps-graduao em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:[email protected]

Barbari. Santa Cruz do Sul, n. 33, ago./dez. 2010.