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Page 1: ANÁLISE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DO MILHO SAFRINHA … · 2013-10-10 · Os indicadores de lucratividade foram calculados de acordo com a metodologia de Martin et al., (1998), calculando-se

ANÁLISE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DO MILHO SAFRINHA SOB FONTES

E DOSES NITROGENADAS EM COBERTURA COM OU SEM INOCULAÇÃO

DE Azospirillum brasilense

Allan Hisashi Nakao(1), Lourdes Dickmann(2), Marcelo Fernando Pereira Souza(2),

Ricardo Antonio Ferreira Rodrigues(3), Daniela Capelas Centeno(4),Tiago Lisboa Parente(2),

Amanda Ribeiro Perez(2), Gabriela Christal Catalani(2)

Introdução

O milho é um cereal com elevado potencial de desenvolvimento, sendo uma cultura

de grande importância, tanto na alimentação humana quanto animal (DUETE et al. 2008).

Segundo Coelho (2008), um dos nutrientes mais exigidos pela cultura do milho é o

nitrogênio, cuja principal fonte utilizada é a ureia devido a sua elevada concentração e por

apresentar menor custo. Entretanto, a ureia possui algumas desvantagens como alta

higroscopicidade e estar sujeita a perdas por volatização principalmente quando a

aplicação é realizada de forma superficial no solo (SILVA et al., 2012).

De acordo com Girardi e Mourão Filho (2003), o recobrimento dos fertilizantes por

substâncias orgânicas, inorgânicas ou resinas sintéticas, contribuem para uma liberação

gradual dos nutrientes. Além disso, o uso de microrganismos fixadores de nitrogênio surge

como uma alternativa para a redução no uso de fertilizantes minerais, diminuindo os custos

de produção agrícola (BUCHER; REIS, 2008). Neste cenário, destaca-se as bactérias do

gênero Azospirillum que podem colonizar raízes e colmos das plantas (REIS JÚNIOR et

al., 2008).

Assim, é de fundamental importância associar produtividade, qualidade do produto,

sustentabilidade e lucratividade (QUEIROZ et al., 2011). Diante deste contexto, o objetivo

1Engenheiro-Agrônomo, Mestrando do curso de Agronomia – Universidade Estadual Paulista, UNESP – IlhaSolteira-SP, CEP: 15385-000. [email protected] 2Engenheiro-Agrônomo, Pós-graduando em Agronomia-Universidade Estadual Paulista, UNESP-IlhaSolteira-SP, CEP: 15385-000. [email protected], [email protected],[email protected], [email protected], [email protected] 3Engenheiro-Agrônomo, Dr. Professor da Universidade Estadual Paulista, UNESP – Ilha Solteira – SP, CEP:15385-000. [email protected] do curso de Agronegócios, Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo-FATEC-Jales-SP,15700-000. [email protected]

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do trabalho foi verificar o custo de produção e os índices de lucratividade de doses e fontes

nitrogenadas em cobertura, com ou sem inoculação de Azospirillum brasilense via foliar.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no Sítio Vitória, situado no município de Vitória

Brasil-SP, localizado entre 20011’45”S de latitude sul e 50029’42”0 de longitude oeste,

altitude de 472 m. O solo da área foi classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo

Eutrófico (EMBRAPA, 2006).

O delineamento experimental foi de blocos ao acaso em esquema fatorial 2 x 4 x 2

com três repetições. Os tratamentos utilizados foram: fontes nitrogenadas (ureia e ureia

revestida); doses de N (0, 27, 54 e 81 kg ha-1) e inoculados ou não por A. brasilense na

dose de 100 mL-1, via foliar. O preparo de solo e semeadura do milho safrinha foi feito por

meio do sistema convencional, com aração e gradagem.

A adubação química de base comum a todos os tratamentos a aplicação de 30 kg

ha-1 de N, 40 kg ha-1 de P205 e 40 kg ha-1 de K2O em sulco de semeadura.

A aplicação de N em cobertura foi realizada de uma única vez, no estádio V5 da

cultura. A ureia (45% de N) e ureia revestida (43% de N) foram aplicadas manualmente na

entrelinha de semeadura do milho. A inoculação foi realizada com inoculante Masterfix

Gramineas® com as estirpes AbV5 e AbV6 de A. brasilense (2x108 células viáveis mL-1)

na dose de 100 mL ha-1, realizado no estádio V6, aplicado por meio de pulverizador costal

com ponta de jato cone vazio e vazão de 180 L ha-1.

A semeadura do híbrido simples 2B710 (Dow AgroSciences) foi realizada em

março de 2013, sob espaçamento de 0,80 m, em parcelas constituídas de 4 linhas de 5 m,

com 4 sementes por metro de sulco, considerando apenas as duas linhas centrais para as

avaliações, realizadas aos 115 dias após a emergência das plantas.

A metodologia de cálculo de custo de produção utilizada foi a do custo operacional

total (COT), segundo Matsunaga et al., (1976), que corresponde aos gastos diretos com

custeio que são: as operações mecanizadas e manuais e os insumos (adubos, sementes,

defensivos, entre outros), para a determinação do custo operacional efetivo (COE). Já as

despesas indiretas, onde se incluem as depreciações, encargos sociais e financeiros, foram

atribuídos 5% do valor do COE. Somando o COE com outras despesas obteve-se o custo

operacional total (COT), ajustados para um hectare (Tabela 1).

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Os indicadores de lucratividade foram calculados de acordo com a metodologia de

Martin et al., (1998), calculando-se a receita bruta (RB), o lucro operacional (LO) e o

índice de lucratividade (IL). Na realização dos custos de produção de cada tratamento e

dos indicadores de lucratividade, levaram-se em conta os preços pagos e os preços médios

recebidos obtidos no Anuário da Agricultura Brasileira (AGRIANUAL, 2013). O preço

médio do milho safrinha recebido pelos produtores foi de 0,39/Kg.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1, estão as estimativas do custo operacional total da cultura milho

“safrinha”, submetida à dose de 60 kg ha-¹ de ureia (27 kg ha-1 de N) (safra de 2013), no

município de Vitória Brasil (SP). Notou-se que os gastos com insumos e operações (COE),

foram os mais expressivos (R$ 849,90 e R$ 364,75, respectivamente).

Tabela 1: Estimativa do custo operacional de cada custo obtido com a cultura do milho “safrinha”com dose de 60 kg ha-¹ de ureia (27 kg ha-1 de N) no município de Vitória Brasil, SP, safra 2013.

Descrição Especf. Coeficiente Valor

Unitário Valor TotalA- OperaçõesSemeadura e adubação do milho HM 0,60 65,00 39,00Adubação de cobertura do milho HM 0,50 55,00 27,50Colheita manual do milho HD 0,60 220,00 132,00Pulverização (1x) HM 0,25 65,00 16,25Aração HM 2,00 60,00 120,00Gradagem HM 0,50 60,00 30,00Subtotal A 364,75B- InsumosB1- FertilizantesUreia (sulco) kg/ha 30,00 1,85 55,50Super fosfato triplo kg/ha 40,00 1,43 57,20Cloreto de potássio kg/ha 40,00 1,78 71,20Ureia normal (cobertura) kg/ha 60,00 1,85 111,00B2- SementesMilho (Dow AgroSciences 2B710) kg/ha 20 25,95 519,00B3- Defensivos Agrícolas Herbicida Glyphosate l/ha 2,00 18,00 36,00Subtotal B 849,90Custo Operacional Efetivo (A+B) 1214,65Subtotal C 60,73Custo Operacional Total (A+B+C) 1.275,38

Em relação aos materiais utilizados, as sementes e os fertilizantes de implantação

da cultura obtiveram os maiores gastos (40,69% e 23,12%, respectivamente). O elevado

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preço das sementes se justifica por tal híbrido apresentar potencial produtivo com

estabilidade e tolerância a pragas.

Os valores de produtividade (Kg ha-1), os custos (R$ kg-1), a receita bruta (RB), o

lucro operacional (LO) e o índice de lucratividade (IL) referente à cultura do milho

safrinha dentro de cada tratamento avaliado estão apresentados na Tabela 2.

Avaliando a interação fontes e doses de N para produtividade de grãos de milho,

verificou-se para o tratamento ureia, maior rendimento (5.340 kg ha-1) alcançado pela

aplicação de 27 kg de N ha-1 em cobertura. Também, constatou-se que as produtividades

não responderam as aplicações nitrogenadas, verificando-se menores produtividades nos

tratamentos com maiores doses de N (Tabela 2).

Resultados semelhantes foram verificados para os tratamentos ureia + A. brasilense

e ureia revestida + A. brasilense. Segundo Rosolem (1996), as condições de resposta ao

nitrogênio estão relacionadas às características do solo e local de cultivo, as quais devem

ser consideradas: cultura anterior, teor de MO, textura dos solos e uso ou não da irrigação.

Para os valores referentes ao COT da ureia revestida, observou-se valor superior à

ureia, independentemente da inoculação ou não com A. brasilense (Tabela 2). Uma das

justificativas é o fato de que, a ureia apresenta menor custo de obtenção para o produtor em

relação à ureia revestida decorrente da tecnologia empregada em sua produção.

Nas áreas submetidas à aplicação de ureia revestida e ureia revestida + A.

brasilense, o COT aumentou de forma proporcional em decorrência das doses nitrogenadas

(Tabela 2). Diante disso, a aplicação de A. brasilense pouco contribuiu para o aumento do

COT, podendo se tornar uma excelente ferramenta para o manejo de adubação nitrogenada

do milho, já que, poderá proporcionar aumentos na produtividade, sem elevar

demasiadamente os custos de produção.

A receita bruta que é a relação direta da produtividade com os preços médios

recebidos pelos produtores de R$ 0,39 kg-1, foi satisfatória para todos os tratamentos, com

exceção para a interação ureia + A. brasilense (R$ 1.390,48) e ureia revestida + A.

brasilense (R$ 1.387,36), na maior dose de N aplicada (81 kg ha-1). Isto ocorreu em função

das menores produtividades verificadas para as interações descritas anteriormente.

O lucro operacional que avalia a lucratividade no curto prazo variou de R$ -212,57

ha-1 a R$ 807,08 ha-1 nos tratamentos ureia revestida + A. brasilense (81 kg ha-1 de N) e

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ureia (27 kg ha-1 de N), respectivamente. No entanto, com exceção dos tratamentos ureia

revestida + A. brasilense (81 kg ha-1 de N) e ureia + A. brasilense (81 kg ha-1 de N), todos

os demais tratamentos apresentaram lucro operacional positivo. (Tabela 2).

Tabela 2. Produtividade do milho, preços pagos ao produtor na região, custo operacional total(COT), receita bruta (RB), lucro operacional (LO) e indicadores de lucratividade (IL), obtidos coma cultura do milho safrinha, em função da aplicação de fontes e doses de N associadas ou não ainoculação de Azospirillum brasilense. (Vitória Brasil, SP, safra 2013).

FontesNitrogenadas

Doses de N(kg ha-1)

Prod. (kg ha-1)

Milho(R$ kg-1)

COT(R$ ha-1)

RB (R$ ha-1)

LO (R$ ha-1)

IL (%)

Ureia

0 4.723 0,39 1.129,96 1.841,84 711,88 38,6527 5.340 0,39 1.275,38 2.082,47 807,08 38,7654 4.441 0,39 1.391,93 1.732,12 340,19 19,6481 4.231 0,39 1.508,48 1.650,22 141,74 8,59

Ureia + A. brasilense

0 4.344 0,39 1.137,83 1.694,16 556,33 32,8427 4.879 0,39 1.283,26 1.902,81 619,55 32,5654 4.044 0,39 1.399,81 1.577,03 177,22 11,2481 3.565 0,39 1.516,36 1.390,48 -125,88 -9,05

Ureia Revestida

0 4.074 0,39 1.129,96 1.588,73 458,77 28,8827 4.305 0,39 1.303,24 1.678,82 375,58 22,3754 4.879 0,39 1.447,65 1.902,81 455,16 23,9281 4.476 0,39 1.592,06 1.745,64 153,58 8,80

Ureia Revestida + A. brasilense

0 4.914 0,39 1.137,83 1.916,33 778,49 0,6227 4.203 0,39 1.311,12 1.639,17 328,05 20,0154 4.228 0,39 1.455,52 1.648,92 193,40 1,7381 3.557 0,39 1.599,93 1.387,36 -212,57 -15,32

Em relação ao índice de lucratividade (IL) que é a taxa disponível de acordo com a

receita bruta, constituindo-se em lucros, após o pagamento de todos os custos operacionais

(MARTIN et al., 1998), destacou-se a combinação ureia + 27 kg ha-1 de N, a qual alcançou

38,65%. Orioli Júnior et al. (2011) desenvolvendo trabalhos com adubação nitrogenada no

milho e avaliando a parte econômica, também obtiveram maior lucratividade nos

tratamentos com ureia.

Os resultados obtidos no presente trabalho demonstram a importância de avaliar o

conjunto de todas as atividades, aliado ao planejamento das práticas agrícolas com maior

sustentabilidade, buscando desta forma maiores produtividades com menores custos

operacionais.

Conclusões

O uso de maiores doses nitrogenadas não se converteram em maiores

produtividades, refletindo em baixo lucro operacional.

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A ureia proporcionou maiores índices econômicos e de produtividade, comparado

aos resultados obtidos.

A aplicação de A. brasilense aumentou pouco o COT, no entanto, não refletiu em

produtividade e consequentemente em lucratividade para a cultura do milho safrinha.

Referências

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