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ANÁLISE DE PARCERIAS EM EMPRESAS
PARTICIPANTES DO MOVIMENTO ECR:
ESTUDO DE CASOS
por
Paula Barreto de Figueiredo
Projeto de pesquisa apresentado ao COPPEAD.
Orientador: Prof. Paulo Fernando Fleury da Silva e Souza
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
Dezembro de 2000
ii
ANÁLISE DE PARCERIAS EM EMPRESAS
PARTICIPANTES DO MOVIMENTO ECR:
ESTUDO DE CASOS
PAULA BARRETO DE FIGUEIREDO
Tese submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD/UFRJ, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.).
Aprovada por:
____________________________________
Prof. Paulo Fernando Fleury da Silva e Souza
Presidente da Banca – COPPEAD / UFRJ
____________________________________
Prof. Kleber Fossati Figueiredo
COPPEAD / UFRJ
____________________________________
Prof. Henrique Luiz Correa
FGV - SP
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
DEZEMBRO DE 2000
iii
Figueiredo, Paula Barreto de
Análise de parcerias em empresas participantes do Movimento
ECR: estudo de casos. / Paula Barreto de Figueiredo. Rio de Janeiro:
UFRJ, COPPEAD, 2000.
xiii, 198 p. il.
Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD.
1. Logística Empresarial 2. Empresas - Brasil - Estudos de Caso 3.
Tese (Mestr. - COPPEAD/UFRJ). I.Título
iv
Dedicatória
À Maria Eliza, minha mãe.
A Paulo Jayme, meu pai.
v
Agradecimentos
Ao meu orientador, Professor Fleury, pelo apoio na escolha do tema e no
desenvolvimento do estudo, por sua confiança em meu trabalho e, mais ainda, pelo
exemplo de competência e seriedade na sua função.
Aos executivos entrevistados das empresas Sendas, Procter & Gamble, Danone e
Nestlé, que viabilizaram a elaboração do estudo de casos.
À Professora Úrsula Wetzel, coordenadora da turma 98, pelo ensino da
relevância, assim como de toda metodologia de elaboração de uma dissertação de
mestrado.
Aos professores do COPPEAD, em especial aos pertencentes à área de
Operações, por contribuírem para o aumento do meu interesse no estudo da
Administração de Empresas.
A todos os funcionários do COPPEAD, em especial os da biblioteca, que
tornaram a elaboração deste trabalho mais fácil e prazerosa.
À empresa onde trabalho - Lafarge - e ao meu superior imediato - Carlos
Eduardo Menezes -, pelo incentivo à conclusão da dissertação.
À Juliana Hosken, amiga de todos os momentos.
A meu futuro marido, Vicente, e sua família, pelas palavras motivadoras e pelo
espaço acolhedor tantas vezes disponibilizado para o desenvolvimento deste trabalho.
À minha mãe, Maria Eliza, e ao meu pai, Paulo Jayme, por todo amor, educação,
sustento e paciência.
À Fonte de toda sabedoria, a quem tudo devo, o maior dos agradecimentos.
Rio de Janeiro, dezembro de 2000.
vi
RESUMO DA TESE APRESENTADA À COPPEAD/UFRJ COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM CIÊNCIAS (M.Sc.)
ANÁLISE DE PARCERIAS EM EMPRESAS PARTICIPANTES
DO MOVIMENTO ECR: ESTUDO DE CASOS
PAULA BARRETO DE FIGUEIREDO
DEZEMBRO/2000
ORIENTADOR: Prof. PAULO FERNANDO FLEURY DA SILVA E SOUZA
PROGRAMA: ADMINISTRAÇÃO
Este trabalho é uma contribuição para o estudo da implementação de parcerias em
empresas envolvidas com o Movimento ECR (Resposta eficiente ao consumidor)
Brasil.
Com base em um modelo teórico proposto por Lambert, Emmelhainz e Gardner, os
relacionamentos entre uma empresa supermercadista e alguns de seus fornecedores são
analisados e criticados, sendo propostas novas formas de procedimento. O modelo parte
do princípio de que parcerias não devem ser implementadas indistintamente com todos
os fornecedores. Na decisão do quanto investir em um relacionamento, devem ser
consideradas as motivações de ambas as partes, a compatibilidade entre as culturas e
estilo gerencial das empresas envolvidas, a existência de capacitação e predisposição
mútuas, assim como seus tamanhos relativos.
vii
ABSTRACT OF THESIS PRESENTED TO COPPEAD/UFRJ AS PARTIAL
FULFILLMENT OF THE REQUIREMENTS FOR THE DEGREE OF
MASTER OF SCIENCE (M.Sc.)
ANALYSIS OF PARTNERSHIPS ON FIRMS PARTICIPANTS OF THE ECR
ASSOCIATION: CASE STUDIES
PAULA BARRETO DE FIGUEIREDO
DECEMBER/2000
CHAIRMAN: Prof. PAULO FERNANDO FLEURY DA SILVA E SOUZA
DEPARTMENT: ADMINISTRATION
This paper is a contribution towards the study about the implementation of partnerships
in entreprises committed to the ECR (Efficient consumer response) Brazil Association.
Based on a theorical model proposed by Lambert, Emmelhainz and Gardner, the
relationships between a food retailer and some of its suppliers are analised and
questioned, being proposed new forms of action. The model is based on the principle
that partnerships must not be implemented indistinctly with every supplier. On deciding
how much to invest in a relationship, enterprises should consider the motivations of
both parts, the compatibility between their culture and managerial styles, the existence
of mutual capability and predisposition, as well as their relative sizes.
viii
LISTA DE QUADROS
Pág.
QUADRO 1 - ECONOMIAS NOS CUSTOS PROPORCIONADAS PELOS QUATRO PILARES DO
ECR (SANSOLO, 1993) ....................................................................................................................................... 17
QUADRO 2 - EMPRESAS PARTICIPANTES DOS SUBCOMITÊS DO MOVIMENTO ECR BRASIL
(ECR BRASIL, S/D) ............................................................................................................................................. 19
QUADRO 3 - AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO RELACIONAMENTO ATUAL E
FUTURO POR COMPRADORES E FORNECEDORES (ELLRAM, HENDRICK, 1995) ................................ 26
QUADRO 4 - PESQUISAS SOBRE PARCERIAS - PARTE 1 ........................................................................... 29
QUADRO 5 - PESQUISAS SOBRE PARCERIAS - PARTE 2 ........................................................................... 30
QUADRO 6 - VANTAGENS POTENCIAIS NA FORMAÇÃO DE PARCERIAS EM COMPRAS
VERSUS RELACIONAMENTOS ADVERSÁRIOS (ELLRAM, 1991) .............................................................. 31
QUADRO 7 - TIPOLOGIA DE PARCERIAS BASEADAS EM LOGÍSTICA (ZINN, PARASURAMAN,
1997) ..................................................................................................................................................................... 32
QUADRO 8 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DE CADA TIPO DE PARCERIA BASEADA EM
LOGÍSTICA (ZINN, PARASURAMAN, 1997)................................................................................................... 33
QUADRO 9 - CINCO MAIORES MOTIVAÇÕES PARA FORMAÇÃO DE PARCERIAS (FRANKEL,
WHIPPLE, 1996) .................................................................................................................................................. 37
QUADRO 10 - CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE PARCEIROS (ELLRAM, 1990) ........................................ 39
QUADRO 11 - PERGUNTAS RELEVANTES NA SELEÇÃO DE PARCEIROS (SPECKMAN, 1988) .......... 40
QUADRO 12 - FATORES DE SUCESSO EM PARCERIAS EM COMPRAS FREQÜENTEMENTE
CITADOS (ELLRAM, 1994)................................................................................................................................ 47
QUADRO 13 - CINCO FATORES CRÍTICOS PARA O SUCESSO DE PARCERIAS (BOWERSOX,
1992) ..................................................................................................................................................................... 49
QUADRO 14 - FATORES DE SUCESSO E FATORES DE FRACASSO EM PARCERIAS ............................ 53
QUADRO 15 - PLANEJAMENTO EM RELACIONAMENTOS DE PARCERIA (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).................................................................................................................... 60
QUADRO 16 - CONTROLE OPERACIONAL CONJUNTO EM RELACIONAMENTOS DE
PARCERIA (LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996) ......................................................................... 62
QUADRO 17 - COMUNICAÇÃO EM RELACIONAMENTOS DE PARCERIA (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).................................................................................................................... 63
QUADRO 18 - DIVISÃO DE RISCOS E RETORNOS EM RELACIONAMENTOS DE PARCERIA
(LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).............................................................................................. 64
QUADRO 19 - CONFIANÇA E COMPROMETIMENTO EM RELACIONAMENTOS DE PARCERIA
(LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).............................................................................................. 65
ix
QUADRO 20 - ESTILO DO CONTRATO EM RELACIONAMENTOS DE PARCERIA (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).................................................................................................................... 66
QUADRO 21 - ESCOPO EM RELACIONAMENTOS DE PARCERIA (LAMBERT, EMMELHAINZ,
GARDNER, 1996) ................................................................................................................................................ 67
QUADRO 22 - LISTA ILUSTRATIVA DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS (ZINN, PARASURAMAN,
1997) ..................................................................................................................................................................... 68
QUADRO 23 - INVESTIMENTOS EM RELACIONAMENTOS DE PARCERIA (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).................................................................................................................... 69
QUADRO 24 - QUADRO COMPARATIVO DE COMPONENTES DE PARCERIAS - PARTE 1 ................. 70
QUADRO 25 - QUADRO COMPARATIVO DE COMPONENTES DE PARCERIAS - PARTE 2 ................. 71
QUADRO 26 - QUADRO COMPARATIVO DE COMPONENTES DE PARCERIAS - PARTE 3 ................. 71
QUADRO 27 – METODOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO DO RELACIONAMENTO MAIS
ADEQUADO A CADA CASO ............................................................................................................................. 78
QUADRO 28 - PLANEJAMENTO NOS RELACIONAMENTOS ANALISADOS ......................................... 140
QUADRO 29 - CONTROLE OPERACIONAL CONJUNTO NOS RELACIONAMENTOS
ANALISADOS.................................................................................................................................................... 140
QUADRO 30 - COMUNICAÇÃO NOS RELACIONAMENTOS ANALISADOS........................................... 142
QUADRO 31 - DIVISÃO DE RISCOS E RETORNOS NOS RELACIONAMENTOS ANALISADOS.......... 143
QUADRO 32 - CONFIANÇA E COMPROMETIMENTO NOS RELACIONAMENTOS ANALISADOS..... 144
QUADRO 33 - ESTILO DO CONTRATO NOS RELACIONAMENTOS ANALISADOS.............................. 145
QUADRO 34 - ESCOPO NOS RELACIONAMENTOS ANALISADOS ......................................................... 146
QUADRO 35 - INVESTIMENTOS NOS RELACIONAMENTOS ANALISADOS......................................... 147
QUADRO 36 – AVALIAÇÃO DE CADA UM DOS COMPONENTES NOS RELACIONAMENTOS
ANALISADOS.................................................................................................................................................... 149
QUADRO 37 – QUADRO RESUMO DA AVALIAÇÃO DOS COMPONENTES NOS
RELACIONAMENTOS ANALISADOS............................................................................................................ 149
QUADRO 38 – AVALIAÇÃO DOS FATORES MOTIVACIONAIS ............................................................... 154
QUADRO 39 – QUADRO RESUMO COM AVALIAÇÃO DOS FATORES FACILITADORES................... 163
QUADRO 40 – IDENTIFICAÇÃO DO TIPO DE PARCERIA MAIS ADEQUADO EM CADA CASO ........ 164
x
LISTA DE FIGURAS
Pág.FIGURA 1 - COMPARAÇÃO DOS TEMPOS DE CICLO ANTES E DEPOIS DA IMPLEMENTAÇÃO
DO ECR (KURT SALMON, 1993 APUD FERNIE, 1994).................................................................................. 13
FIGURA 2 - FORMAS DE GERENCIAR O PROCESSO DE TRANSIÇÃO (LALONDE, COOPER,
1989) ..................................................................................................................................................................... 41
FIGURA 3 - ESTÁGIOS NO DESENVOLVIMENTO DE PARCERIAS (LALONDE, COOPER, 1989) ......... 42
FIGURA 4 - CINCO ETAPAS NO DESENVOLVIMENTO DE PARCERIAS (ELLRAM, 1991) .................... 44
FIGURA 5 - TIPOS DE RELACIONAMENTOS (LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996) .............. 54
FIGURA 6 - O PROCESSO DE PARCERIA (LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996) ..................... 56
xi
SUMÁRIO
Pág.
1 O PROBLEMA..................................................................................................................................... 1
1.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 1
1.2 OBJETIVOS..................................................................................................................................... 5
1.2.1 Objetivo final .......................................................................................................................... 5
1.2.2 Objetivo intermediário............................................................................................................ 5
1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO............................................................................................................... 5
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................................................. 7
1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO............................................................................................................ 7
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................................... 9
2.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 9
2.2 A INDÚSTRIA DE SUPERMERCADOS NO BRASIL .............................................................................. 9
2.3 RESPOSTA EFICIENTE AO CONSUMIDOR (ECR) ............................................................................. 12
2.3.1 As origens do ECR................................................................................................................ 12
2.3.2 O escopo do movimento ECR .............................................................................................. 13
2.3.3 O movimento ECR no Brasil................................................................................................. 18
2.4 O CONCEITO DE PARCERIA........................................................................................................... 20
2.5 O ECR E AS PARCERIAS............................................................................................................... 22
2.6 AS PESQUISAS SOBRE PARCERIAS................................................................................................. 24
2.7 VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UM RELACIONAMENTO DE PARCERIA....................................... 31
2.8 MOTIVAÇÕES PARA FORMAÇÃO DE PARCERIAS.............................................................................. 34
2.9 DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE PARCERIAS .............................................................. 38
2.9.1 A seleção do parceiro ........................................................................................................... 38
2.9.2 As etapas de implementação................................................................................................. 40
2.10 SUCESSO E FRACASSO DE PARCERIAS......................................................................................... 46
2.10.1 Conceito de sucesso em parcerias ..................................................................................... 46
2.10.2 Fatores de sucesso em parcerias ....................................................................................... 47
2.10.3 Fatores de fracasso em parcerias...................................................................................... 49
2.10.4 Quadro comparativo de fatores de sucesso e fatores de fracasso ..................................... 52
2.11 MODELO PARA ANÁLISE DE PARCERIAS ..................................................................................... 54
2.11.1 A proposta do modelo........................................................................................................ 54
2.11.2 A descrição do modelo....................................................................................................... 55
2.11.3 Os fatores motivacionais.................................................................................................... 57
2.11.4 Os facilitadores.................................................................................................................. 58
xii
2.11.5 Os componentes ................................................................................................................. 60
3 METODOLOGIA .............................................................................................................................. 72
3.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 72
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA .................................................................................................................. 75
3.3 COLETA DE DADOS........................................................................................................................ 75
3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 77
3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO............................................................................................................... 80
4 DESCRIÇÃO DOS CASOS............................................................................................................... 82
4.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 82
4.2 DESCRIÇÃO DA EMPRESA SUPERMERCADISTA ............................................................................... 83
4.2.1 Informações gerais sobre a empresa .................................................................................... 83
4.2.2 Histórico da empresa............................................................................................................ 84
4.2.3 Operações ............................................................................................................................. 85
4.2.4 Fatores facilitadores............................................................................................................. 87
4.2.4.1 Cultura e visão de negócio.............................................................................................................87
4.2.4.2 Filosofia e técnicas gerenciais .......................................................................................................91
4.2.4.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias .......................................................91
4.3 DESCRIÇÃO DA EMPRESA FORNECEDORA A: PROCTER & GAMBLE ............................................... 92
4.3.1 Informações gerais sobre a empresa .................................................................................... 92
4.3.2 Produtos comercializados no Brasil ..................................................................................... 92
4.3.3 Histórico ............................................................................................................................... 93
4.3.4 Operações:............................................................................................................................ 97
4.3.5 Fatores facilitadores............................................................................................................. 97
4.3.5.1 Cultura e visão de negócio.............................................................................................................97
4.3.5.2 Filosofia e técnicas gerenciais .....................................................................................................100
4.3.5.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias .....................................................101
4.3.5.4 Porte e posicionamento no mercado ............................................................................................103
4.3.6 Relacionamento com o supermercado ................................................................................ 103
4.3.6.1 Fatores motivacionais ..................................................................................................................103
4.3.6.2 Componentes ...............................................................................................................................104
4.4 DESCRIÇÃO DA EMPRESA FORNECEDORA B: DANONE................................................................. 106
4.4.1 Informações gerais sobre a empresa .................................................................................. 106
4.4.2 Produtos comercializados no Brasil ................................................................................... 107
4.4.3 Histórico ............................................................................................................................. 107
4.4.4 Operações ........................................................................................................................... 110
4.4.5 Fatores facilitadores........................................................................................................... 111
4.4.5.1 Cultura e visão de negócio...........................................................................................................111
4.4.5.2 Filosofia e técnicas gerenciais .....................................................................................................113
xiii
4.4.5.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias .....................................................114
4.4.5.4 Porte e posicionamento no mercado ............................................................................................114
4.4.6 Relacionamento com o supermercado ................................................................................ 115
4.4.6.1 Fatores motivacionais ..................................................................................................................115
4.4.6.2 Componentes ...............................................................................................................................115
4.5 DESCRIÇÃO DA EMPRESA FORNECEDORA C: NESTLÉ................................................................... 118
4.5.1 Informações gerais sobre a empresa .................................................................................. 118
4.5.2 Produtos comercializados no Brasil ................................................................................... 119
4.5.3 Histórico da empresa.......................................................................................................... 119
4.5.4 Operações ........................................................................................................................... 123
4.5.5 Fatores facilitadores........................................................................................................... 124
4.5.5.1 Cultura e visão de negócio...........................................................................................................124
4.5.5.2 Filosofia e técnicas gerenciais .....................................................................................................130
4.5.5.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias .....................................................131
4.5.5.4 Porte e posicionamento no mercado ............................................................................................133
4.5.6 Relacionamento com o supermercado ................................................................................ 133
4.5.6.1 Fatores motivacionais ..................................................................................................................133
4.5.6.2 Componentes ...............................................................................................................................134
5 ANÁLISE DOS CASOS................................................................................................................... 138
5.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 138
5.2 DIAGNÓSTICO DOS RELACIONAMENTOS ATUAIS: OS COMPONENTES ............................................ 138
5.2.1 Avaliação dos componentes................................................................................................ 139
5.2.2 Classificação dos relacionamentos..................................................................................... 148
5.3 IDENTIFICAÇÃO DO MODELO MAIS ADEQUADO DE RELACIONAMENTO: OS FATORES
MOTIVACIONAIS E FACILITADORES................................................................................................................... 150
5.3.1 Fatores motivacionais......................................................................................................... 150
5.3.2 Fatores facilitadores........................................................................................................... 155
5.3.3 Identificação do tipo de parceria mais adequado em cada caso........................................ 163
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES....................................................................................... 165
6.1 PRINCIPAIS CONCLUSÕES............................................................................................................. 165
6.2 DISCUSSÃO SOBRE O ESTUDO E O MODELO UTILIZADO................................................................. 166
6.3 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................................................................. 168
7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................ 170
1 O PROBLEMA
1.1 Introdução
Antes de 1950, as atividades hoje atribuídas à logística eram executadas em uma
base funcional. Em 1956, no entanto, uma monografia apresentada por Lewis, Culliton e
Steele introduziu o conceito de custo total, questionando as tradicionais práticas
gerenciais adotadas até então (BOWERSOX, CLOSS, 1996). Segundo este conceito, a
minimização dos custos individuais não levaria necessariamente ao menor custo total
para uma dada empresa. Conforme exemplificado no artigo, a utilização de transporte
aéreo poderia proporcionar menores custos operacionais em função da redução dos
níveis de estoque dos produtos e dos custos fixos de depósitos regionais que poderiam
ser fechados. A difusão do conceito de custo total levou as organizações a
concentrarem-se na minimização dos custos totais associados à distribuição física, e não
das parcelas de custos de transporte, armazenagem, compras ou estoques
individualmente (MANRODT, DAVIS JR., 1992).
A definição oficial de logística pelo National Council of Physical Distribution
Management (NCPDM), em 1967, refletia esta orientação:
“Logística é um termo empregado na manufatura e comércio para descrever o
amplo conjunto de atividades relacionadas com a movimentação eficiente dos produtos
acabados desde o final da linha de produção até o consumidor, e, em alguns casos, inclui
a movimentação de matérias-primas desde a fonte de suprimento até o início da linha de
produção” (NCPDM, 1967 apud DAVIS, GIBSON, 1993, p.415).
Durante os anos 70, o embargo do petróleo, altas taxas de inflação e elevadas
taxas de juros tornaram a redução de custos uma questão ainda mais crítica para os
profissionais de logística (DAVIS, GIBSON, 1993), e um novo conceito passou a
redirecionar as suas atividades: o conceito de sistema - ou logística integrada. Não mais
bastaria a uma empresa minimizar seus custos internos de operação. Ela deveria operar
de forma integrada com seus fornecedores e intermediários tendo em vista uma meta
comum: a redução de custos.
2
Tais sistemas de organizações trabalhando de forma coordenada foram
denominados canais de distribuição (MANRODT, DAVIS JR., 1992).
Estas alterações foram refletidas em uma redefinição de logística pelo National
Council of Physical Distribution Management em 1976.
“Logística é a integração de duas ou mais atividades com a finalidade de
planejar, implementar, e controlar o fluxo eficiente de matérias-primas, estoques em
processo, e bens acabados do ponto de origem ao ponto de consumo” (NCPDM, 1976
apud DAVIS, GIBSON, 1993, p.415).
Nos anos 80, a globalização do comércio e o avanço tecnológico passaram a
oferecer novas opções para os consumidores, fazendo com que as empresas fossem
forçadas a voltar-se para o mercado ao invés de definirem internamente seus próprios
padrões de desempenho com base exclusivamente nas suas capacidades (DAVIS,
GIBSON, 1993). As empresas passaram a buscar de forma mais intensa as parcerias,
não apenas para reduzir custos, mas também como forma de obter uma maior integração
na cadeia de suprimentos e conseguir vantagem competitiva (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996). Muitos dos relacionamentos entre empresas e
seus fornecedores, até então baseados em transações individuais com foco no preço,
tornaram-se mais estreitos e com uma nova perspectiva de longo prazo (LALONDE,
COOPER, 1989).
Hoje, com uma ênfase crescente em reduções de custos, organizações enxutas,
capacidade de resposta aos clientes, e estratégias globais de marketing e fornecimento, o
número de parcerias tende a aumentar. Os relacionamentos de parcerias permitem às
firmas transferir riscos financeiros, melhorar a qualidade de serviço e produtividade, e
reduzir custos (MOORE, 1998).
3
Porém, o uso extensivo dos termos parcerias e alianças no ambiente empresarial
e acadêmico pode levar à crença de que todos os relacionamentos inter-organizacionais
deveriam ser desta forma (COOPER et al., 1997). Alguns autores ressaltam que já há
como que uma premissa básica instalada no ambiente empresarial de que parcerias são
elementos essenciais para a estratégia e devem ser buscadas no relacionamento com
cada fornecedor e cliente (LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).
No entanto, um relacionamento de parceria requer tempo, capital e
comprometimento, e é importante que a empresa avalie quais relacionamentos merecem
tal investimento (COOPER et al., 1997). Uma firma não pode e nem deve buscar este
tipo de relacionamento com cada cliente, fornecedor ou provedor de serviços
(LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).
Ainda, apesar da parceria em logística ter atraído grande atenção nos últimos
anos, pesquisas vêm comprovando que há uma confusão na compreensão do conceito.
Vários dos relacionamentos denominados de parcerias não o são de fato (TATE, 1996).
Esta pouca compreensão do conceito e, ainda, o desconhecimento das condições
necessárias para o sucesso do relacionamento, têm levado a um elevado número de
relações rompidas ou fracassadas. (HARRIGAN, 1988).
Nos últimos anos, o conceito de parceria na cadeia de suprimentos vem sendo
disseminado na indústria supermercadista através de um conjunto de práticas e
estratégias conhecidas como Efficient Consumer Response (ECR), ou Resposta Eficiente
ao Consumidor. O ECR objetiva “criar um sistema eficaz no qual distribuidores e
fornecedores trabalhem juntos como aliados comerciais a fim de minimizar custos e
maximizar a satisfação do consumidor” (21 QUESTÕES, s/d, p.1). Desde 1993, quando
o conceito foi apresentado em um relatório da empresa de consultoria Kurt Salmon nos
Estados Unidos, o ECR vem ganhando espaço no ambiente empresarial e acadêmico.
4
No Brasil, em 1997, foi criada uma associação denominada Movimento ECR,
composta por grandes empresas representantes da indústria e do comércio, com a
finalidade de difundir e testar no nosso país estas novas idéias. A associação surgiu em
nosso país em um momento de profundas transformações para a maior parte das
empresas brasileiras. Nos anos 90, a liberação das importações, o aumento da
concorrência interna, a entrada de participantes externos, o avanço da tecnologia da
informação e automação comercial, assim como a estabilização econômica impuseram a
necessidade de rever as tradicionais práticas do varejo brasileiro.
Por muitos anos, os varejistas obtinham ganhos financeiros significativos em
função de altas taxas inflacionárias, a eficiência operacional era relegada a um segundo
plano, e as negociações com fabricantes eram restritas ao âmbito comercial, limitando-
se a negociações de preço e formas de pagamento. O novo ambiente passou a exigir do
setor uma busca por maior eficiência, profissionalização na gestão, automação das
operações e mudança de enfoque privilegiando o lucro operacional e não financeiro. O
Movimento ECR veio, então, ao encontro destas necessidades. (SANTOS et al,1998; 21
QUESTÕES, s/d)
No entanto, os novos modelos de relacionamentos entre fabricantes e varejistas
propostos pelo movimento ECR requerem, além de investimentos, mudanças culturais
nas empresas nacionais. Alguns autores enfatizam que os maiores obstáculos na
implementação do ECR não são técnicos ou financeiros, mas organizacionais. A
ausência de lideranças fortes e comprometidas, ou mesmo a existência de barreiras
culturais que impedem a integração entre os membros da cadeia podem levar a
implementação do ECR ao fracasso. Uma vez que os custos iniciais são elevados e o
retorno do investimento não é imediato, a implementação do ECR deve ser bem pensada
e os parceiros devem ser escolhidos com cautela, de forma que investimentos
volumosos não sejam feitos em vão (21 QUESTÕES, s/d).
5
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo final
O propósito deste estudo é promover um maior conhecimento sobre a
implementação de parcerias em algumas empresas comprometidas com o Movimento
ECR Brasil. Isto será feito através do estudo do relacionamento de uma empresa
varejista com alguns de seus fornecedores, com base no modelo proposto por Lambert,
Emmelhainz e Gardner (1996). O estudo visa realizar um diagnóstico de cada um dos
relacionamentos, analisando-os e propondo novas formas de procedimento a partir de
critérios apresentados pelo citado modelo.
1.2.2 Objetivo intermediário
Este estudo também visa, em um primeiro momento, examinar os diversos
conceitos de parceria já publicados nos Estados Unidos, de forma a constituir uma base
teórica que possa fundamentar e aprimorar o estudo dos relacionamentos selecionados.
1.3 Relevância do estudo
Lassar e Zinn (1995) identificam um interesse crescente na literatura em
relacionamentos de canal, cujo foco principal é em relacionamentos de longo prazo
entre compradores e fornecedores. Segundo eles, os relacionamentos na cadeia
provavelmente serão o foco do gerenciamento em logística no século vinte e um.
As parcerias estão cada vez mais presentes na literatura, onde comumente são
apresentadas como símbolo de maturidade das empresas, sendo listadas suas vantagens
de redução de custos, de riscos, e de melhoria do nível de serviço ao cliente.
6
Lassar e Zinn (1995) ressaltam que os objetivos de custo e de serviço ao cliente
de uma firma raramente podem ser obtidos sem a contribuição dos demais participantes
da cadeia. Ross (1996), por sua vez, afirma que o nível de exigência crescente por parte
dos clientes requer que os membros da cadeia de valor sejam cada vez mais integrados
de forma a prover o melhor serviço ao menor custo possível. Lambert (1994), ainda,
ressalta a importância crescente dos sistemas de informação integrados no atingimento
dos níveis de serviço desejados pelos clientes. Ellram e Hendrick (1995) afirmam que
relacionamentos de parceria proporcionam aos participantes vários dos benefícios de
uma integração vertical, sem os mesmos riscos, enquanto que Bowersox et al. (1989)
identificaram a implementação de parcerias como uma das características que distingue
empresas líderes em logística das demais iniciantes.
No entanto, apesar das constantemente citadas histórias de sucesso e das
inúmeras vantagens apresentadas, é sabido que muitos dos relacionamentos de parceria
não são bem sucedidos (MOHR, SPEKMAN, 1994).
No Brasil, o movimento ECR é um fenômeno recente, assim como o
desenvolvimento de parcerias, e, atualmente, são praticamente inexistentes estudos
sobre relacionamentos entre fabricantes e varejistas no nosso país.
Fernie (1994) acredita que a implantação do ECR em cada país apresenta
características próprias, delineando alguns fatores responsáveis por estas diferenças: o
poder dos varejistas, a penetração de marcas próprias no mercado, o grau de controle da
supply-chain, tipos de formatos de comércio, a dispersão geográfica das lojas, os custos
logísticos relativos, o nível de desenvolvimento de tecnologia da informação e a
sofisticação relativa da indústria de distribuição
Esta dissertação, ao analisar a implementação de relacionamentos de parceria
entre varejista e fabricantes no nosso país, estará contribuindo para o desenvolvimento
da pesquisa em um conceito extremamente atual, promissor e relevante em logística,
mas ainda pouco explorado, especialmente no Brasil.
7
1.4 Delimitação do estudo
Não há uma terminologia comum na área de estudos de relacionamentos no
canal logístico. Uma série de termos é usada indistintamente para descrever
relacionamentos no canal (LALONDE, COOPER, 1989). No presente estudo, o foco
será no conceito de parceria conforme vislumbrado pela área de logística, apresentado
em LaLonde, Cooper (1989), onde parceria é vista como “uma relação entre duas
entidades no canal logístico que compreende o compartilhamento de benefícios e
responsabilidades sobre um horizonte de tempo acordado” (p.6). No entanto, não há
uma total segurança de que os diversos autores analisados estivessem compreendendo o
conceito desta mesma forma.
Além disso, para que o estudo pudesse ser realizado com a devida profundidade
no prazo previsto, foram analisados os relacionamentos de um único varejista com três
de seus fornecedores. Tal escolha foi suficiente para permitir a aplicação dos conceitos
apresentados no modelo teórico, além de viabilizar a avaliação e comparação entre três
relacionamentos distintos.
1.5 Organização do estudo
O estudo foi organizado em sete capítulos. Após esta introdução, segue o
capítulo de revisão da literatura que procurou, em um primeiro momento, apresentar a
indústria de supermercados no país, assim como os conceitos abrangidos pelo Efficient
Consumer Response (ECR) e sua introdução no país. Neste mesmo capítulo, buscou-se
apresentar definições, pesquisas e conceitos relacionados à implementação de parcerias,
assim como o modelo proposto por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) para análise
de relacionamentos.
No capítulo 3, sobre a metodologia empregada, justifica-se a adoção do método
de estudo de casos, e é apresentada a estrutura dos roteiros de entrevistas.
8
As descrições dos casos estudados são apresentadas no quarto capítulo, enquanto
que o quinto capítulo analisa os mesmos à luz do modelo proposto.
O capítulo 6 apresenta as conclusões desta pesquisa, seguidas da identificação de
alguns pontos que merecem ser estudados com maior profundidade em pesquisas
futuras.
Finalmente, seguem-se as referências bibliográficas e os anexos.
9
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Introdução
Inicialmente, será apresentada uma visão geral da indústria de supermercados no
Brasil, do seu histórico, suas tendências, e dados do setor. Os conceitos abrangidos pelo
Efficient Consumer Response (ECR) também são introduzidos, assim como a evolução
dos mesmos e a sua introdução no nosso país.
Em um segundo momento, é apresentada uma revisão bibliográfica sobre as
diversas definições de parceria, assim como sobre as pesquisas desenvolvidas nesta área.
Posteriormente, são apresentadas as vantagens e desvantagens da implementação de
parcerias, assim como as motivações que levam à formação de tais relacionamentos. A
seguir, são descritas as etapas necessárias para a construção de um relacionamento de
parceria, com uma ênfase no processo de seleção do parceiro. No tópico seguinte, é
apresentada uma discussão sobre o conceito de sucesso em parcerias, assim como sobre
os fatores que levariam tal relacionamento ao fracasso.
Por fim, a revisão bibliográfica é finalizada com a descrição do modelo proposto
por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) para análise de parcerias.
2.2 A indústria de supermercados no Brasil
Todo o setor varejista passou por grandes transformações na década de 90. A
estabilidade econômica, obtida com o Plano Real, aliada à liberação das importações, ao
aumento da concorrência interna e à entrada de participantes externos fizeram com que a
busca por eficiência operacional passasse a ser o cerne da gestão do varejo em
contraposição ao foco em ganhos financeiros presente em épocas de alta inflação.
(SANTOS, COSTA, s/d; DIB, 1997)
10
A logística começou a ganhar maior importância entre os varejistas na medida
em que os custos relacionados com estoques excessivos, entregas mal planejadas, filas
para descarga de veículos, embalagens inadequadas, e ausência de paletização passaram
a ser significativos para estas empresas. As empresas varejistas, acostumadas com um
setor intensivo em mão-de-obra e de gestão familiar, com uma concorrência
regionalizada, fluxos de mercadorias pouco eficientes e relacionamentos distantes e
transacionais com seus fornecedores, tiveram que adaptar-se rapidamente a esta nova
realidade.
A estabilidade econômica, em um primeiro momento, desencadeou um aumento
de consumo significativo tanto por gêneros de primeira necessidade quanto por bens de
consumo duráveis, revelando a demanda reprimida de algumas classes sociais. Com o
plano Real, as classes C e D, que até então tinham seus salários corroídos pelas
desvalorizações constantes da moeda nacional, tiveram uma melhoria de sua renda real
além de um acesso mais fácil ao crédito - inexistente na época de alta inflação. Estes
fatores geraram um boom de compras no segundo semestre de 1994, que atingiu o
apogeu no primeiro trimestre de 1995. (SANTOS, COSTA, s/d; SINGER, 1999)
No entanto, em abril de 1995, para conter a inflação, o governo optou por
implementar medidas de restrição ao consumo, restringindo o crédito. As empresas
nacionais, então, foram castigadas tanto pela redução das vendas e pelo aumento da
inadimplência, quanto pelo encarecimento do crédito.
Muitas empresas varejistas, cuja ineficiência foi desmascarada pela estabilidade
econômica e que já enfrentavam dificuldades frente ao aumento da concorrência, não
conseguiram adaptar-se rapidamente à nova realidade. Desta forma, alguns grupos
tradicionais faliram ou pediram concordata. (SANTOS, COSTA, s/d; SINGER, 1999)
11
Ao mesmo tempo, “a estabilidade da moeda destacou aquelas empresas que
souberam detectar as necessidades de implementar mudanças ou que resolveram investir
em métodos e processos destinados a elevar a eficiência operacional e aumentar a
competitividade das companhias como um todo, decidindo e implantando tais medidas
ainda em meio a crises financeiras ou a períodos recessivos da economia brasileira
recente.” (SANTOS, COSTA, s/d, p.12)
Santos e Costa (s/d) apresentam as principais características destes processos de
reestruturação implementados por estas empresas: a troca de controle acionário, o
fechamento ou a reforma de lojas, a redução no número de funcionários e de níveis
hierárquicos, a profissionalização de administrações ainda com tradicional característica
familiar, a elevação do grau de automação e de recursos de informática, as alterações no
mix de venda, o aperfeiçoamento do conhecimento do cliente final, a retomada dos
instrumentos de planejamento e o aperfeiçoamento de instrumentos de aferição de
custos e controle.
Assim como o restante do varejo, os supermercados tiveram que se preocupar
com a eficiência operacional, em detrimento dos ganhos financeiros fáceis de épocas
passadas. A logística passou a ser formalizada como atividade chave do setor, e o
conceito de integração na cadeia de fornecimento começou a ser valorizado. Os
relacionamentos entre fabricantes e supermercadistas, por muitos anos restritos ao
âmbito comercial, limitados a negociações de preço e formas de pagamento, começaram
a ser revistos. Os princípios do ECR, que visam aumentar tanto a eficiência em toda
cadeia de suprimento como o nível de serviço ao cliente, começaram a ganhar adeptos
entre os grandes supermercadistas.
No entanto, muitas das características predominantes nas empresas do setor de
comércio de alimentos no período de alta inflação ainda encontram-se presentes hoje em
dia, e as reestruturações iniciadas com o advento do plano Real e com o anúncio de
investidas de grandes varejistas mundiais no nosso mercado encontram-se em curso na
maior parte das empresas do setor - o que sugere que o setor ainda sofrerá grandes
mudanças nos próximos anos.
12
2.3 Resposta eficiente ao consumidor (ECR)
2.3.1 As origens do ECR
O ECR foi um conceito introduzido por Kurt Salmon em 1993, quando a
lucratividade dos varejistas nos Estados Unidos vinha sofrendo um declínio crescente
em função da concorrência com clubes de compras e grandes varejistas com estratégia
de preços baixos (FERNIE, 1994). Em linhas gerais, “trata-se de uma estratégia que visa
fazer com que fabricantes e varejistas trabalhem em conjunto para oferecer às
necessidades do consumidor uma resposta rápida e eficiente” (GATTY, 1993, p.114).
O relatório previa economias de US$ 10 bilhões na cadeia de alimentos secos
nos Estados Unidos, caso as ineficiências na cadeia de distribuição fossem eliminadas
mediante a implementação dos novos conceitos apresentados (FERNIE, 1994).
Estimava-se também que a economia total de toda a cadeia de suprimento, incluindo
perecíveis, excederia os US$ 30 bilhões.
A economia de custos a ser alcançada pelo ECR resultaria de dois fatores:
redução de custos através de toda a cadeia e de ganhos financeiros decorrentes do
aumento da produtividade de estoques e dos ativos fixos.
Segundo o estudo de Kurt Salmon, o tempo que um produto levava desde o final
da linha de produção do fabricante até o estágio de compra pelo consumidor final no
caixa era de cerca de 104 dias para produtos secos e de 75 a 80 dias para perecíveis. Isto
equivale a um giro de estoque anual de 3,5 vezes para produtos secos, e de 5 vezes para
o total de secos e perecíveis. Com as melhorias propostas, o giro de estoque para
produtos secos poderia chegar a 6 vezes (FERNIE,1994).
13
Armazémdo fornecedor
38 dias
Armazém dodistribuidor
40 dias
Loja do varejista
26 dias
Cadeia de alimentos secos - Atual
Final dalinha deprodução
Comprapelo
clientefinal
104 dias
Armazém dofornecedor
27 dias
Armazém dodistribuidor
12 dias
Loja dovarejista
22 dias
Cadeia de alimentos secos - Visão ECR
Final dalinha deprodução
Comprapelo
clientefinal
61 dias
Figura 1 - Comparação dos tempos de ciclo antes e depois da implementação do ECR
(KURT SALMON, 1993 apud FERNIE, 1994)
O relatório de Kurt Salmon questionava as práticas promocionais largamente
difundidas no varejo americano. Adotadas nos anos 70 em função das altas taxas
inflacionárias, permaneceram a norma do setor varejista nos anos 80 e 90. Segundo Kurt
Salmon, estas promoções acabavam por gerar um excesso de estoques na cadeia, e uma
má utilização da capacidade dos armazéns e de transporte. Além disso, elevavam os
custos administrativos, em função tanto da complexidade como do número elevado de
negociações em curso, e prejudicavam a atividade de previsão de demanda (FERNIE,
1994).
2.3.2 O escopo do movimento ECR
ECR (Efficient Consumer Response) é uma estratégia da indústria
supermercadista na qual distribuidores e fornecedores trabalham em conjunto para
proporcionar maior valor ao consumidor. Compreende múltiplas inovações tecnológicas
e gerenciais com o objetivo de transformar varejistas, distribuidores e fabricantes em
organizações mais eficientes e inter-relacionadas.
14
Através do foco na eficiência da cadeia de suprimentos como um todo, ao invés
da eficiência individual das partes, reduzem-se os custos totais do sistema, dos estoques,
e bens físicos, ao mesmo tempo em que o consumidor tem a possibilidade de escolher
produtos mais frescos e de maior qualidade.
Há cinco princípios básicos do ECR, a saber (21 QUESTÕES, s/d):
• Foco constante em prover maior valor ao consumidor: melhor produto,
qualidade, sortimento, serv iço, conveniência e custo através da cadeia.
• O ECR deve ser conduzido por líderes comprometidos, determinados a
substituir as formas tradicionais de relacionamento entre fabricantes e varejistas por
alianças do tipo ganha-ganha.
• O ECR requer um fluxo de informações precisas e em tempo real, as quais dão
apoio às decisões de marketing, logística e produção.
• Desde o final da linha de produção do fabricante até ser posicionado nas
gôndolas dos supermercados, os processos devem estar configurados de forma a
maximizar o valor da oferta ao consumidor.
• O ECR requer medidas comuns e consistentes de desempenho assim como
sistemas de recompensa.
Na implantação do ECR, as empresas fazem uso de algumas ferramentas e
técnicas gerenciais (ROULET, 1993; 21 QUESTÕES, s/d):
a) Intercâmbio eletrônico de dados (Electronic Data Interchange - EDI)
O conceito de EDI é fundamental ao ECR, por permitir a colocação e o
recebimento de pedidos de forma rápida e precisa, reduzindo custos e proporcionando
melhores serviços. A implementação do EDI reflete um comprometimento significativo
entre os membros do canal.
15
b) Reposição contínua (Continuous Replenishment Program - CRP)
Na reposição contínua, o fabricante supre os centros de distribuição dos
varejistas automaticamente sem aguardar a colocação de pedidos por parte dos seus
clientes. Com base em parâmetros pré-definidos e na posição corrente do estoque no
cliente, um sistema determina a quantidade necessária a ser entregue de cada produto,
dando início ao processo de reposição de mercadorias e informando eletronicamente ao
varejista sobre a entrega em curso. (KEH, PARK, 1997).
Programas de reposição contínua podem elevar significativamente o giro de
estoques, reduzir o tempo de ciclo, aumentar a disponibilidade de produtos e o nível de
serviço ao cliente, e, ainda, proporcionar maiores lucros para fabricantes e varejistas
(ROULET, 1993).
“A reposição contínua depende mais de boas relações comerciais do que de um
conjunto de práticas em logística. O processo de ligar fornecedores e distribuidores em
um sistema comum requer práticas e sistemas partilhados, troca eletrônica de dados, e
um nível de conforto para fabricantes e distribuidores na medida em que eles passam a
ter dependência mútua” (MATHEWS, 1994, p.43).
c) Pedidos assistidos pelo computador (Computer-assisted ordering -CAO)
É a previsão de vendas item por item, com base em dados de vendas
provenientes das caixas registradoras das lojas, que permite o re-suprimento automático
das lojas a partir dos centros de distribuição dos varejistas ou diretamente dos
fabricantes. O uso de CAO reduz o tempo necessário para colocação de pedidos, e
permite uma reposição imediata com o produto correto.
16
d) Flow-through distribution
Fabricantes e varejistas devem assegurar uma constante movimentação do
produto desde o momento em que ele deixa a linha de produção até a sua colocação nas
gôndolas das lojas, reduzindo o tempo de ciclo e estoques ao longo da cadeia de
distribuição. Associados a este conceito estão as práticas de cross-docking e o uso de
sistemas de gerenciamento de armazenagem (WMS) nos centros de distribuição.
Na operação ideal de cross-docking, os fabricantes criam pallets ou caixas
customizadas para cada uma das lojas de seus clientes, que são enviados para o centro
de distribuição do varejista. No centro de distribuição do varejista, os produtos
provenientes dos diversos fornecedores e que são dirigidos às mesmas lojas são
consolidados em um mesmo veículo. Todo o processo ocorre em poucas horas ou
mesmo minutos (ROULET, 1993).
e) Custeio ABC
Este componente crítico do movimento ECR permite que fabricantes e varejistas
obtenham custos mais precisos das atividades que ocorrem ao longo da cadeia de
distribuição, permitindo que identifiquem áreas custosas ou que pouco agregam valor.
f) Gerenciamento por categorias
“Uma categoria é um grupo de produtos distinto, gerenciável, que consumidores
percebem como inter-relacionados e/ou substitutos no atendimento de suas
necessidades, enquanto que gerenciamento por categorias é um processo de gerência de
unidades estratégicas de negócio, produzindo resultados melhores através do foco na
entrega de valor ao cliente” (THE GOSPEL, 1995).
17
No gerenciamento por categorias, os produtos são desenhados, introduzidos,
promovidos, estocados e re-supridos de uma forma que maximize a lucratividade total
de cada categoria. Está relacionado com a coleta de dados de vendas e demográficos em
cada uma das lojas, com o monitoramento da alocação de espaço ao item e à categoria,
com a mensuração do retorno de investimento no nível de itens e categorias, e com a
simplificação do processo de compras junto aos fornecedores (ROULET, 1993).
Para tanto, fornecedor e supermercadista devem trabalhar conjuntamente para
reunir as informações necessárias de forma a definir corretamente a categoria e
administrá-la eficientemente.
Para que o ECR atingisse os resultados previstos, o relatório de Kurt Salmon
delineava quatro estratégias, conhecidas como os quatro pilares do ECR: sortimento de
produtos, reposição, promoções e introduções de novos itens (21 QUESTÕES, s/d;
SANSOLO, 1993).
Quatro pilares doECR
Objetivos Economia noscustos
(em % sobrepreço ao
consumidor) Sortimento eficiente deprodutos
Otimizar a produtividade dos estoques e doespaço da loja.
1,5%
Reposição eficiente Otimizar tempo e custo no sistema dereposição.
4,1%
Promoção eficiente Maximizar a eficiência de todo o sistema depromoção para cliente e consumidor.
4,3%
Introdução eficiente denovos produtos
Maximizar a eficácia do desenvolvimento eintrodução de novos produtos.
0,9%
Quadro 1 - Economias nos custos proporcionadas pelos quatro pilares do ECR
(SANSOLO, 1993)
18
2.3.3 O movimento ECR no Brasil
A implantação do ECR no Brasil ganhou um impulso com a formação do
Movimento ECR Brasil no início de 1997 por representantes da indústria e do comércio.
A associação foi definida como entidade civil, sem finalidade lucrativa, com sede em
São Paulo, funcionando na sede da ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados),
com o objetivo de pesquisar, desenvolver e implementar técnicas e ferramentas no
sentido de aumentar a produtividade em todos os elos da cadeia de suprimentos e
oferecer maior qualidade de produtos e serviços ao consumidor final. A nova entidade
definiu três subcomitês, responsáveis pelo desenvolvimento e divulgação do ECR no
nosso país. (DIB, maio 1997; SILVA, 1997; 21 QUESTÕES, s/d)
O primeiro deles tornou-se responsável pelo estudo e teste de projetos pilotos,
tendo como objetivo implantar em uma ou mais empresas uma ferramenta do ECR.
Desta forma, o subcomitê poderia identificar os resultados potenciais no Brasil, as
necessidades de ajuste à nossa realidade e possíveis obstáculos a serem encontrados. Os
projetos pilotos eram: Gerenciamento de Categorias, EDI (Intercâmbio Eletrônico de
Dados), Custeio baseado em Atividades, e Reposição Contínua. (DIB, maio 1997;
SILVA, 1997; 21 QUESTÕES, s/d)
O quadro 2 mostra as empresas participantes em cada um dos subcomitês do
Movimento ECR Brasil.
O subcomitê de Padronização, por sua vez, objetivava buscar padrões, para toda
a cadeia de distribuição, que reduzissem custos e aumentassem a velocidade das
interações entre os participantes da cadeia. Tornou-se, desta forma, responsável pelo
estudo de soluções para uso de pallets, embalagens, códigos de barras EAN/DUN14 nas
unidades de despacho, e sistemas de transporte que proporcionassem o melhor
desempenho aos parceiros. (DIB, maio 1997; SILVA, 1997; 21 QUESTÕES, s/d)
O terceiro comitê, de educação e comunicação, tornou-se responsável pela
divulgação dos resultados obtidos com as experiências do ECR Brasil ao mercado.
19
Empresas Gerênciade
Categorias
EDIMerc.
EDIFinanc.
CusteioABC
Rep.Aut.
Padronização
Indústria Bombril x
x X
Ceval x x x x Coca-Cola x x x Colgate-Palmolive x x x Fleischmann
Royal x x x x
Gessy Lever x x X x x x J. Macedo x x x x Johnson &
Johnson x x x x
Kimberly-Clark-Kenko
x x x x
Kolynos x x X x x x Nestlé x x x Perdigão x x Procter & Gamble x Quaker x x Revlon Bozzano x x x Sadia x X x União x x
Comércio Adriano Coselli x Barateiro x x Cândia x x X x x Comercial VB x x Cia Brasileira de
Distribuição x x X x x x
Cia Real deDistribuição
x x
Extra Econômico x x X x Makro x x Martins x x x x Mercadorama x x X Peralta x x Petipreço x x Planalto x P. Severino Netto x x x Sé x x Senff Parati x x x
Quadro 2 - Empresas participantes dos Subcomitês do Movimento ECR Brasil (ECR
BRASIL, s/d)
20
2.4 O conceito de parceria
Parcerias não são um conceito novo, mas já existem por diversos anos e são
consideradas comuns em outras culturas, como em parte da Europa e Japão (SHAPIRO,
1987 apud ELLRAM, 1991). Ellram (1991) considera os relacionamentos próximos
entre empresas compradoras e fornecedoras como um dos fatores que aumentou a
competitividade desses países frente aos Estados Unidos.
No entanto, não há uma única definição para parceria. A literatura sugere que
parceria seria uma parte de um continuum de possíveis relacionamentos entre
organizações. Em um extremo do continuum, situa-se a integração vertical, enquanto
que, no outro, encontram-se as transações arm’s-length –denominação que traduz-se
como “a um braço de distância”, caracterizando relacionamentos distanciados entre as
empresas. Cooper e Gardner (1993) propõem a discussão sobre seis pontos do
continuum, de forma a ilustrar a grande variedade de relacionamentos possíveis entre
empresas: relacionamentos arm’s length, relacionamentos com pequenas contas,
relacionamentos com contas nacionais, alianças estratégicas, joint-ventures e integração
vertical. Walton (1996) utiliza este mesmo conceito do continuum em sua pesquisa
sobre satisfação em relacionamentos de parcerias.
Os relacionamentos arm’s length são considerados a abordagem tradicional,
onde os compradores negociam simultaneamente com múltiplos fornecedores e
selecionam aquele com a melhor combinação preço-serviço para um dado produto. A
interação entre empresas fornecedoras e compradoras é restrita a certos estágios
discretos do processo de compra (negociação, colocação do pedido, serviço pós-venda),
e a contatos entre vendedores e compradores. A orientação é o curto prazo, e cada
organização só analisa suas próprias estruturas de custos e rentabilidades. O papel da
logística fica restrito às atividades pós-compras, ao invés de integrar o processo de
compras às demais atividades (ZINN, PARASURAMAN, 1997).
21
Esta abordagem tradicional ignora as inter-relações entre as atividades e
demandas de uma empresa e a estrutura de custos da outra, não considerando que as
ações de ambas as empresas influenciam-se mutuamente, alterando as suas estruturas de
custos. Os relacionamentos de parcerias, por sua vez, reconhecem a interdependência de
custos entre as empresas, e procuram gerenciar e minimizar custos conjuntamente,
enquanto consolidam sua posição no mercado (ZINN, PARASURAMAN, 1997).
Segundo Gardner e Cooper (1994), “os relacionamentos tradicionais entre
empresas são transacionais, enquanto o estilo de relacionamento de parceria estende-se
por um longo período de tempo, envolve divisão de benefícios e responsabilidades,
planejamento extensivo, inclui troca de informações operacionais detalhadas, e permite
controle operacional através dos limites de cada empresa” (p.121).
Ellram e Hendrick (1995) definem parceria como “uma relação entre duas firmas
que envolve um comprometimento de longo prazo e uma partilha mútua de
informações, riscos e retornos do relacionamento” (p.41).
No presente estudo, o foco será em um conceito bem genérico de parceria,
apresentado em LaLonde, Cooper (1989) - “uma relação entre duas entidades no canal
logístico que compreende uma divisão de benefícios e responsabilidades sobre um
horizonte de tempo acordado” (p.6).
Além de não existir uma única definição de parceria, também são utilizados, na
literatura, outros termos para tratar de relacionamentos entre empresas no canal
logístico, sem que haja uma clara distinção entre eles (LALONDE, COOPER, 1989).
Ellram e Hendrik (1995) utilizam os termos parcerias cooperativas e
colaborativas para classificar relacionamentos no canal. As primeiras existem com a
finalidade de melhorar procedimentos operacionais e proporcionar um aumento de
eficiência, e as segundas já superam este estágio para incluir o desenvolvimento
conjunto de novos produtos e/ou tecnologias (ELLRAM, HENDRICK, 1995).
22
Lassar e Zinn (1995), por sua vez, classificam os relacionamentos na cadeia em
níveis de sofisticação. Mesmo os mais simples podem ir além de transações únicas e
compreender o gerenciamento do processo de distribuição de forma coordenada. Os
mais sofisticados são um tanto complexos, e requerem mudanças consideráveis em
processos das partes envolvidas e investimentos em ativos como EDI ou armazéns
dedicados. Sugerem, como exemplos de relacionamentos complexos abordados na
literatura, alianças estratégicas, parcerias e gerenciamento da cadeia de suprimentos
(LASSAR, ZINN, 1995).
Os conceitos de parceria e de gerenciamento da cadeia de suprimentos dividem
os mesmos objetivos de minimização de custos e de atendimento às necessidades dos
clientes. Uma parceria pode ser vista como um segmento de uma cadeia de suprimentos
(GENTRY, 1996). Segundo Gentry (1996), os objetivos da cadeia de suprimentos serão
aprimorados se os relacionamentos entre os membros da cadeia forem de parceria.
2.5 O ECR e as parcerias
A literatura acadêmica e comercial enfatiza a necessidade de relacionamentos de
parceria entre fornecedores e varejistas para que haja êxito na implantação do ECR:
“Fazer leitura óptica na entrada da doca, conferir as notas fiscais via EDI e
paletizar cargas são recursos que melhoram os procedimentos logísticos, mas para se
modificar efetivamente o fluxo do produto é necessário um novo conceito de confiança
entre as partes que integram a cadeia” (MAIS CONFIANÇA, 1997)
Segundo Peter Harding, da KSA, “só 20% da solução ECR tem relação com a
tecnologia. Os restante 80% têm a ver com a parceria, gerenciamento e pessoas”
(GATTY, 1993).
23
Lazzarini, diretor comercial da Nielsen, afirma que “para obterem uma resposta
eficiente ao consumidor, tanto indústria quanto varejo devem estar dispostos a ir além
de discussões de preços e prazos de pagamentos e, num exercício de confiança mútua -
até aqui impensável para a maioria dos empresários brasileiros -, abrir os números de
suas empresas para que a discussão vá além do tapinha nas costas” (ECR, 1995).
Roberto Demeterco, presidente da EAN Brasil, acrescenta que o conceito de
parceria deve ser muito bem assimilado pelas empresas brasileiras de forma que haja
sucesso no Movimento ECR Brasil, pois este não é garantido apenas pela aplicação de
tecnologias, mas depende de envolvimento e comprometimento mútuos (SILVA, 1997).
A literatura, ainda, enfatiza que os maiores obstáculos na implementação do
ECR não são técnicos ou financeiros, mas organizacionais. O vice-presidente da Procter
& Gamble, ao explicar o ECR, afirma que o maior obstáculo para sua implantação
reside na pouca confiança entre parceiros envolvidos nas mudanças dos processos
(EXECUTIVO, 1997). A própria organização do Movimento ECR Brasil se pronuncia
afirmando que sem uma liderança forte e comprometida da alta direção é impossível
implementar o ECR efetivamente, uma vez que alguns obstáculos requerem uma alta
direção firmemente comprometida para serem superados, a saber: existência de sistemas
de avaliação que visam o melhor desempenho das partes ao invés do foco nos resultados
conjuntos, barreiras culturais que impedem a integração com os demais membros da
cadeia de distribuição, ou funções executadas de forma independente dentro da mesma
empresa quando deveriam ser realizadas em conjunto (21 QUESTÕES, s/d). Jonathan
Wolfe, presidente da Oshawa Limits - grupo varejista canadense -, também pronunciou-
se enfatizando a necessidade de haver líderes comprometidos, citando como primeiro
passo para implantação do ECR o compromisso absoluto da diretoria com a nova
filosofia, e, em segundo lugar, um forte programa de parcerias (ECR, 1995).
24
A organização do Movimento ECR Brasil apresenta três passos fundamentais
para a implementação do ECR: em primeiro lugar, a criação de um clima de mudança;
em segundo lugar, a seleção dos parceiros, e somente então, a realização de
investimentos em tecnologias de informação. Enfatiza que na etapa de criação do clima
de mudança, é importante mudar a percepção interna de que fornecedores e clientes são
adversários, mas que trabalham conjuntamente para um objetivo comum. Além disso, é
importante a demonstração clara de comprometimento pessoal por parte dos líderes no
topo da organização com o ECR, assim como a implementação de novas medidas de
desempenho e sistemas de recompensa (21 QUESTÕES, s/d).
2.6 As pesquisas sobre parcerias
As pesquisas sobre parcerias evoluíram a partir das contribuições de LaLonde e
Cooper (1989), que examinaram as características de relacionamentos mais complexos.
Ainda no mesmo ano, Bowersox et al. (1989) discutiram as vantagens e
desvantagens de parcerias em logística, os diferentes formatos de parcerias, e, por fim,
identificaram a implementação de parcerias como uma das características que distingue
firmas iniciantes das empresas líderes em logística.
Ellram (1992) examinou parcerias no escopo internacional, identificando as
características e as causas para formação de parcerias com empresas internacionais.
Em 1995, Ellram e Hendrick (1995) afirmam que poucos estudos abordaram as
relações de parceria com base nas perspectivas de comprador e fornecedor
simultaneamente, apesar da existência de um número considerável de estudos sobre o
tema com base unicamente no ponto de vista do comprador. Então, propõem um estudo
com base em pontos de vista tanto do comprador como do fornecedor, buscando
compreender as semelhanças e diferenças entre as opiniões de cada um deles sobre o
relacionamento atual e também sobre aquele que seria ideal.
25
Ellram e Hendrick (1995) basearam sua pesquisa em 24 características tidas
como presentes em relacionamentos de parcerias, agrupadas em orientação para o
futuro, partilha de riscos e retornos, e excelentes comunicações, avaliadas por
fornecedores e compradores em uma escala de 1 a 7. As avaliações estão apresentadas
no quadro 3, onde, a cada fator analisado, são apresentados os significados das notas
extremas 1 e 7.
Categoria Fatores Atual Futuro Fornec Compr Fornec Compr
Orientação no futuro Foco em transações futuras (1: Poucapresença, 7: Alta presença)
4,25 4,87 5,52 5,58
Alta expectativa de um relacionamento delongo prazo (1: Alta, 7: Baixa)
1,43 1,62 1,25 1,24
Acertos por escrito sem data para término (1:Pouca presença, 7: Alta presença)
3,56 3,77 5,36 4,94
Fornecedor escolhido com base no custo totalde propriedade (1: Pouca presença, 7: Altapresença)
5,21 5,77 6,11 6,28
Partilha de riscos eretornos
Lealdade (1: Pouca presença, 7: Altapresença)
6,56 6,08 6,72 6,46
Divisão de riscos (1: Muita, 7: Não há) 3,84 3,23 3,03 2,37 Alto desejo de tratar exceções por
negociações (1: Alto, 7: Baixo) 1,81 1,63 1,45 1,32
Alto desejo do outro de ajudar-nos emsituações difíceis (1: Alto, 7: Baixo)
2,16 1,47 1,5 1,13
Alto desejo nosso de ajudar o outro emsituações difíceis (1: Alto, 7: Baixo)
1,46 1,95 1,31 1,52
Esforço para melhoria contínua (1:Alto,7:Satisfeitos com desempenho atual)
1,48 1,75 1,18 1,15
Comunicação Links entrecomputadores
Link direto entre computadores (1: Poucapresença, 7: Alta presença)
3,07 3,38 5,53 5,65
Softwares compatíveis (1: Pouca presença, 7:Alta presença)
4,64 4,19 6,94 6,21
Comunicaçãocorporativa
Planejamento conjunto freqüente (1: Poucapresença, 7: Alta presença)
5,65 5,80 6,27 6,20
Alto nível de comunicação sobre tópicosimportantes (1:Alto, 7:Baixo)
2,83 2,68 2,28 2,20
Vários níveis corporativos de comunicação (1:Vários, 7: Um único nível)
3,12 3,47 2,86 3,09
Troca deinformações
Comprador partilha informações de previsões(1: Pouca presença, 7: Alta presença)dedemandas
3,18 2,53 2,12 1,78
Alta troca de informações técnicas (1:Alta, 7:Baixa)
2,66 2,72 1,97 1,86
Planejamento conjunto de comitês ou forças-tarefa em tópicos chave (1: Pouca presença,7: Alta presença)
4,98 5,18 5,86 6,19
Fornecedor compreende o uso de seus itensou classes de produtos (1:Sim, 7:Não)
1,30 1,43 1,08 1,18
26
Informaçõesoperacionais
Comprador monitora apenas resultados finais(1: Pouca presença, 7: Alta presença)
3,46 3,73 3,29 2,98
Fornecedor regularmente estuda as operaçõesdo comprador para planejamento (1: Poucapresença, 7: Alta presença)
5,11 5,41 6,05 6,26
Ambos estudam o processo do parceiro (1:Pouca presença, 7: Alta presença)
4,88 5,08 5,48 6,23
Quadro 3 - Avaliação das características do relacionamento atual e futuro por
compradores e fornecedores (ELLRAM, HENDRICK, 1995)
Das 80 relações de parceria estudadas, Ellram e Hendrick (1995) concluíram que
as parcerias são geralmente vistas de forma positiva por ambos os participantes, que
ambos desejam melhorar o relacionamento - mesmo quando já visto de forma favorável
-, e que há uma concordância de ambas as partes em quais fatores devem ser
aprimorados e o quanto devem ser aprimorados.
Stuart e McCutcheon (1995) estudaram as parcerias onde as percepções por parte
dos compradores são mais favoráveis do que aquelas por parte dos fornecedores,
identificando que as causas deste problema encontram-se tanto no processo de seleção
do parceiro como em falhas ao longo do desenvolvimento do relacionamento.
Lassar e Zinn (1995) estudaram a importância de contratos formais em alianças
mais simples, constatando que o sucesso do relacionamento apresenta baixa correlação
com estas formalizações.
Em 1996, Gentry (1996) avançou nos estudos de Ellram e Hendrick (1995).
Desta vez, buscou avaliar o papel do transportador nos relacionamentos de parceria
entre fornecedores e compradores, com base em questionários enviados para ambos e
em posteriores estudos de casos. Concluiu que os transportadores utilizados em
parcerias entre fornecedores e compradores possuem maior propensão a adotar algumas
características típicas em parcerias, e tais relacionamentos podem vir a estabelecer uma
base sólida para o desenvolvimento de cadeias de suprimentos bem sucedidas.
27
Ainda em 1996, Walton (1996) publicou uma pesquisa sobre a satisfação
corrente e esperada em parcerias conforme percebida pelos executivos responsáveis por
sua implementação. No estudo, foram incorporadas dimensões de parcerias amplamente
aceitas na literatura de forma a determinar se elas contribuem para a satisfação atual ou
esperada dos executivos. Até então, apenas algumas poucas pesquisas haviam sido
publicadas sobre a questão do sucesso em parcerias – as quais tinham um foco diferente,
de determinação das características das parcerias de sucesso.
A pesquisa foi conduzida em duas etapas. A primeira delas consistiu de uma
série de entrevistas com executivos diretamente envolvidos com a implementação de
parcerias, de forma a ganhar compreensão sobre este processo e sobre o grau de
satisfação mais experimentado. A segunda delas foi a aplicação de um questionário a 50
gerentes envolvidos com um desenvolvimento de parceria. Na análise dos resultados,
foram realizadas regressões múltiplas, onde a variável dependente foi a satisfação
percebida com a parceria - atual e esperada - e as variáveis independentes foram os
valores atribuídos pelos executivos a cinco dimensões das parcerias amplamente aceitas
na literatura (planejamento, divisão de benefícios e prejuízos, especificidade de ativos,
interdependência, troca de informações operacionais e visão de longo prazo), conforme
vislumbrados hoje e esperados no futuro.
Os resultados da pesquisa demostraram que os executivos estão satisfeitos com o
valor que recebem das parcerias, e confiantes que receberão mais valor no futuro do que
atualmente recebem, apesar de haver algumas decepções com certas dimensões da
parceria. Quatro das cinco dimensões testadas contribuíram para explicar a satisfação
atual dos executivos, e o coeficiente de regressão obtido com o modelo foi de 79,6 por
cento. O planejamento, a interdependência e a visão de longo prazo foram dimensões
que contribuíram positivamente para a satisfação atual dos executivos com a parceria,
enquanto que a especificidade dos ativos não foi estatisticamente significativa, e as
demais dimensões - divisão de benefícios e prejuízos, e troca de informações
operacionais - contribuíram negativamente para a satisfação dos executivos com a
parceria.
28
Os resultados levam a crer que os executivos não se encontram satisfeitos com o
nível de troca de informações atual nem com a divisão de benefícios e prejuízos
existentes nas suas relações de parceria.
Nenhuma das dimensões analisadas contribuiu para a explicação da satisfação
futura, com exceção da divisão de benefícios e prejuízos que contribui negativamente
para a satisfação futura, levando a crer que os executivos não mantém muitas
expectativas de aumentar a divisão de benefícios e prejuízos (que hoje já é considerada
limitada pelos mesmos). O coeficiente de regressão deste modelo foi extremamente
baixo (11 por cento).
29
Referência Foco Abordagem Metodologia População Limitações Conclusões ELLRAM,HENDRICK(1995)
Compreender a perspectiva dúbia daparceria. Semelhanças e diferenças entre as opiniõesde compradores e as de fornecedores sobreo relacionamento atual e também sobre oque seria ideal.
Dúbia Questionáriossemelhantes paracompradores eseusfornecedores. 24 fatoresestudados, emescala de 1 a 7,com base emLalonde et al.
330 questionáriosenviados para empresasque já participaram depesquisas anteriores doCAPS (Center forAdvanced PuchasingStudies). 186 retornados. Destes, 98com respostas decomprador e fornecedor,mas apenas 80considerados (nestes, tantocomprador quantofornecedor consideravamo relacionamento umaparceria).
1) Só estudou relações deparceria. 2) Provavelmente a melhorrelação que o compradordispunha.
1) Os acordos deparceria sãogeralmente vistoscomo positivospara compradorese fornecedores. 2) Compradores efornecedores têmpercepçõessemelhantes nosfatores estudados 3) Ambos desejammelhorar orelacionamento 4) Grandeconcordância comrelação a quaisfatores devem seraprimorados e emquanto
STUART,McCUTCHEON1995
Estudo das parcerias onde as percepçõespor parte dos compradores são maisfavoráveis do que aquelas por parte dosfornecedores, e busca de identificação dascausas desta situação.
Dúbia Questionários Enviados inicialmente para980 executivos de comprasem indústrias, utilizandoamostra proveniente de umcatálogo industrial. Dos230 respondentes, 142sugeriram fornecedorespara contato. Destesfornecedores, 88responderam. Dentre estes,28 pares tiveramdiferenças de percepções.
Podem haver efeitos deinteração entre as variáveispesquisadas afetando osresultados.
O processoseletivo doparceiro e oprocesso dedesenvolvimentoda parceria sãofundamentais paraevitar diferençasde percepçõesentre os parceiros.
Quadro 4 - Pesquisas sobre parcerias - parte 1
30
Referência Foco Abordagem Metodologia População Limitações Conclusões LASSAR,ZINN (1995)
Avalia a importância dos contratos nosucesso de relacionamentos mais simples.Verifica o relacionamento entre variáveisdependentes (qualidade e eficácia dorelacionamento e nível de integração docanal) com variáveis independentes(perspectiva de longo prazo, expectativa denegócios futuros e formalização do relac. )
Apenas paracompradoresEscolha deuma únicamarca.
Avaliação dasvariáveisdependentes eindependentescom base emescala de 1 a 5.
Questionários paraamostra aleatória de lojasde varejo de audio video.945 enviados, 158retornados, e utilizados115.
1) Não é possível traçarrelacionamentos de causae efeito, apenascorrelações. 2) Os resultados só podemser aplicados nosrelacionamentos maissimples conforme osexaminados na pesquisa.
O sucesso derelacionamentoindepende daexistência decontratos. Estárelacionado com asdemais variáveisindependentes.
GENTRY(1996)
Descobrir o papel do transportador em umarelação de parceria entre fornecedor ecomprador.
Dúbia, parafornecedor ecomprador.
Questionáriossemelhantes paracompradores eseusfornecedores.,para identificar ostransportadores esua importânciapara cadaparceiro. Depois,estudo de casos.
Mesma amostra deELLRAM, HENDRICK(1995)
Os transportadoresusados em parceriassão consideradosmais importantes noatingimento dasmetas, e estão emnível mais avançadoem certas caract.típicas de parceriasdo que demaistransport
WALTON(1996)
Pesquisa sobre a satisfação corrente eesperada em parcerias conforme percebidapelos executivos responsáveis por suaimplementação, buscando identificar quaisdimensões das parcerias influenciam nasmesmas
Apenas comum doslados daparceria
Entrevistasiniciais equestionárioscom executivos.
Selecionadosaleatoriamente entre osmembros do CLM. Entreestes, foram selecionadosos que estivessemenvolvidos com parcerias.
Não especificadas. Apesar de decepçõescom algumas dasdimensões, osexecutivosencontram-sesatisfeitos com asparcerias, e têm boasexpetativas quanto ofuturo.
Quadro 5 - Pesquisas sobre parcerias - parte 2
31
2.7 Vantagens e desvantagens de um relacionamento de parceria
A literatura acadêmica cita inúmeras vantagens em manter relacionamentos de
parceria com fornecedores. Ellram (1991) apresenta uma lista de vantagens para
formação de parcerias ao invés dos tradicionais relacionamentos arm’s-length.
Gerenciamento Base reduzida de fornecedores é mais fácil de ser gerenciada
Aumento da dependência mútua reduz os riscos de perda de fonte de
suprimento e cria maior estabilidade através de maior lealdade
Menos tempo envolvido em escolha de novos fornecedores
Permite planejamento conjunto e divisão de informações baseada em
confiança mútua
Lealdade pode aumentar a atenção do fornecedor e o nível de serviço
ao cliente (confiabilidade no tempo de atendimento, prioridade em
tempos de escassez ou nos problemas que surgem)
Maior cooperação por parte dos fornecedores em dar suporte à
estratégia da firma
Tecnologia Parceiros mais dispostos a dividir novas tecnologias
Parceiros mais dispostos e capazes de participar nos desenhos de
produtos baseados no conhecimento e comprometimento com o outro
parceiro
Maior conhecimento e envolvimento do fornecedor no design pode
melhorar qualidade, reduzir tempo de lançamento de novos produtos e
alterações nos designs
Financeiro Divisão de riscos através de investimentos, pesquisas e
desenvolvimentos conjuntos
Divisão de informações/previsões podem reduzir níveis de estoques
Comprometimento de longo prazo pode levar a preços de suprimento
mais estáveis
Quadro 6 - Vantagens potenciais na formação de parcerias em compras versus
relacionamentos adversários (ELLRAM, 1991)
32
Bowersox e Daugherty (1995) afirmam que a escolha do tipo de relacionamento
varia em função da estratégia empresarial, e quecada um deles pode ser mais vantajoso
dependendo do caso. Uma estratégia de minimização de custos está associada a
relacionamentos transacionais, de forma a haver um grande número de fornecedores
competindo entre si para fornecer o melhor preço. Uma estratégia de maximização do
valor ao cliente, por sua vez, está relacionada com relacionamentos de parceria com os
fornecedores, de forma a assegurar a melhoria contínua de qualidade e a disponibilidade
de produtos, reduzindo os riscos e incertezas ao mesmo tempo em que eleva a
produtividade e a qualidade. Por fim, uma estratégia de dar resposta rápida ao cliente
está associada com relacionamentos muito próximos - parcerias beirando uma
integração vertical. Desta forma, é possível a coordenação entre os parceiros e a
customização de produtos e serviços.
Zinn e Parasuraman (1997) propõem um modelo bidimensional para
classificação de parcerias, chegando a quatro classificações. Cada uma delas apresenta
vantagens e desvantagens, e nenhuma delas pode ser considerada melhor do que as
demais. As dimensões do modelo refletem a variedade e a natureza dos serviços
abrangidos em cada relacionamento, sendo denominadas, respectivamente, de escopo e
intensidade. Enquanto o escopo é definido como “o conjunto de serviços incluídos na
parceria”, a intensidade seria a “extensão do envolvimento direto entre os parceiros, não
apenas no estabelecimento deste relacionamento, mas também na execução diária dos
serviços logísticos abrangidos pela parceria”. Indicadores de intensidade incluem
investimentos em ativos e número de horas dedicadas à manutenção da parceria por
cada uma das partes.
Intensidade
Escopo Alta Baixa
Amplo Integrada Extensiva
Estreito Focada Limitada
Quadro 7 - Tipologia de parcerias baseadas em logística (ZINN, PARASURAMAN,
1997)
33
Vantagens Desvantagens Integrada Redução máxima de custos
conjuntos Investimento em ativosdedicados
O mais alto nível de serviço Interdependência Diferenciação máxima dos
competidores Alto investimento
Implementação lenta Dificuldade de modificar
parceiros Focada Habilidade de manter
funções selecionadas forada parceria
Redução de custosconjuntos sub-ótima
Mais fácil de serimplementada do que aintegrada
Limitada para vantagemcompetitiva
Extensiva Curto tempo deimplementação
Baixo nível decustomização
Facilidade de trocar deparceiros
Redução de custosconjuntos sub-ótima
Baixa interdependência Investimento mais baixo do
que na focada ou integrada
Limitada Facilidade deimplementação
Serviço limitado
Baixo investimento Redução de custosconjuntos sub-ótima
Oportunidade de avaliardiferentes formatos eparceiros
Baixo comprometimento
Quadro 8 - Vantagens e desvantagens de cada tipo de parceria baseada em logística
(ZINN, PARASURAMAN, 1997)
Mohr e Spekman (1994) enfatizam que a literatura, muitas vezes, releva os
obstáculos e desvantagens dos relacionamentos de parcerias. Tais relacionamentos
podem estar associados a um aumento de complexidade, a uma perda de autonomia e
assimetria de informações. Além disso, apesar do número de tentativas na formação de
relacionamentos do tipo parceria ter crescido quase que geometricamente nos últimos
anos, as taxas de sucesso são um tanto quanto baixas (MOHR, SPEKMAN, 1994).
34
2.8 Motivações para formação de parcerias
As motivações são importantes porque representam as metas traçadas por cada
uma das firmas, sendo a base para a avaliação do atingimento dos objetivos
(FRANKEL, WHIPPLE, 1996). O não-cumprimento dos objetivos estratégicos das
empresas torna mais provável o fracasso da parceria.
As motivações para formação de relacionamentos são encontradas, na literatura,
sob a perspectiva de marketing e logística e sob a perspectiva inter-organizacional, que
dispõe de acervo próprio.
Segundo Cooper e Gardner (1993), as interpretações de marketing e logística são
bem representadas pela análise do custo de transação de Williamson (1975), pelo
equilíbrio de dependências de Heide e John (1988), pelos estudos de relacionamentos
JIT de Frazier e Speckman (1988), pelas teorias de poder e conflito de Gaski (1984) e
pelo estudo de relacionamentos entre compradores e vendedores de Dwyer, Schurr e Oh
(1987).
Williamson (1975) sugere uma abordagem de análise de custo da transação
como forma de determinar o tipo de relacionamento entre empresas. Ao defender a idéia
de que a escolha do formato de organização é baseada no critério de minimização dos
custos de transação e operação, e que os custos de operação são os mesmos em todos os
modelos, Williamson enfatiza que o fator decisivo para a escolha do modelo é o custo
da transação.
“Por custo de transação compreendem-se aqueles provenientes do planejamento,
adaptação e controle do desempenho das atividades, de maneira a evitar ou harmonizar
potenciais conflitos de interesses entre os parceiros” (GARCIA-CANAL, 1996, p.776
apud PINHO, 1999).
35
Sendo assim, a especificidade dos ativos, a incerteza do ambiente e a freqüência
das transações influenciam a decisão de estabelecer relacionamentos mais próximos,
pois são fatores determinantes sobre o custo da transação. A combinação de alta
especificidade dos ativos, alta incerteza e alta freqüência de transações proporciona o
ambiente mais propício para a formação de relacionamentos mais próximos
(WILLIAMSOM, 1975).
Dwyer, Schurr e Oh (1987) sugerem que as formações de alguns
relacionamentos ocorrem em função de motivações dos compradores, enquanto que, em
outros casos, as motivações são provenientes dos fornecedores.
O estudo das motivações para formação de relacionamentos sob a perspectiva
inter-organizacional encontra seu maior representante em Oliver (1990). Oliver define
relacionamentos inter-organizacionais como “transações, fluxos e ligações
relativamente duradouras que ocorrem entre uma organização e uma ou mais
organizações no seu ambiente” (OLIVER, 1990, p.241). Segundo Cooper e Gardner
(1993), tal definição proposta por Oliver posicionaria as relações inter-organizacionais
em algum lugar do continuum entre relacionamentos arm’s length e integração vertical.
Oliver (1990) identifica as possíveis razões para o estabelecimento de
relacionamentos, que incluem: necessidade, assimetria, reciprocidade, eficiência,
estabilidade e legitimação. Cada um destes pontos seria uma condição suficiente para a
formação de um relacionamento. A necessidade consistiria de alguma imposição
externa, fora do controle da gerência, como exigências governamentais ou de
associações de comércio. A assimetria, por sua vez, seria a habilidade de uma empresa
de exercer poder, influenciar ou controlar outras organizações, como no caso de grandes
varejistas. A reciprocidade implica em cooperação, colaboração e coordenação entre as
partes. A eficiência tem um foco interno para aprimorar as próprias operações da firma,
enquanto que a estabilidade é o esforço para reduzir incertezas no ambiente da firma.
36
Cooper e Gardner (1993) afirmam que apesar das abordagens das motivações
para formação de relacionamentos sob a ótica de marketing/logística e sob a ótica de
relacionamentos inter-organizacionais aparentemente diferirem, elas são
correspondentes em alguns pontos.
A assimetria, proposta por Oliver (1990), estaria relacionada com as teorias de
poder e conflito de Gaski (1984). A reciprocidade, por sua vez, estaria relacionada com
o equilíbrio de dependências estudado por Heide e John (1988). A eficiência pode ser
obtida mediante a redução do custo da transação, segundo apresentada por Williamson
(1975), e através de sistemas JIT, estudados por Frazier e Speckman (1988). A
estabilidade do relacionamento é obtida mediante o equilíbrio de custos e benefícios,
estudado por Dwyer, Schurr e Oh (1987).
Em 1996, Frankel e Whipple apresentam uma pesquisa sobre as motivações para
formação de parcerias em três níveis do canal de distribuição (fabricante, distribuidor e
prestador de serviços em logística), e em três regiões geográficas (América do Norte,
Europa e Pacífico). Os questionários enviados para 11 países baseavam-se em uma lista
de dez motivações para parceria, exaustivamente revisada na fase de elaboração dos
questionários, a saber:
• Obter vantagem competitiva
• Explorar competência central
• Aumentar o envolvimento do cliente
• Melhorar qualidade
• Reduzir estoques
• Melhorar o desempenho de lead-time
• Levantar capital
• Acesso ao mercado / Globalização
• Estabilidade da demanda / suprimento
37
• Acesso à tecnologia
A pesquisa concluía que as metas e expectativas para formação de parcerias
variam em função da posição da empresa no canal de distribuição e da sua localização
geográfica (FRANKEL, WHIPPLE, 1996).
Fabricantes Distribuidores Prestadores de serviços América do Norte
Vantagem competitiva Vantagem competitiva Vantagem competitiva Melhoria de qualidade Melhoria de qualidade Melhoria de qualidade Melhoria de lead-time Redução de estoques Acesso à tecnologia Redução de estoques Melhoria de lead-time Maior envolvimento do
cliente Maior envolvimento do
cliente Maior envolvimento do
cliente Explorar competência
central Europa
Vantagem competitiva Melhoria de lead-time Vantagem competitiva Melhoria de lead-time Vantagem competitiva Melhoria de qualidade Melhoria de qualidade Redução de estoques Melhoria de lead-time Redução de estoques Melhoria de qualidade Redução de estoques
Maior envolvimento docliente
Maior envolvimento docliente
Maior envolvimento docliente
Pacífico Melhoria de lead-time Melhoria de lead-time Melhoria de lead-time Melhoria de qualidade Redução de estoques Melhoria de qualidade Vantagem competitiva Melhoria de qualidade Vantagem competitiva
Estabilidade da demanda/suprimento
Vantagem competitiva Estabilidade da demanda /suprimento
Redução de estoques Estabilidade da demanda /suprimento
Redução de estoques
Quadro 9 - Cinco maiores motivações para formação de parcerias (FRANKEL,
WHIPPLE, 1996)
Frankel e Whipple (1996) sugerem, ainda, quatro categorias para explicar as
motivações das empresas para formar parcerias, com base nas principais publicações
sobre o assunto. Seriam elas: (1) acesso a oportunidades de mercado; (2) transferência
de conhecimento e aprendizagem organizacional; (3) aprimoramento de eficiência; (4)
decréscimo da incerteza de mercado. As quatro categorias também sintetizam a lista de
dez motivações utilizada na pesquisa nos 11 países.
38
2.9 Desenvolvimento e implementação de parcerias
2.9.1 A seleção do parceiro
A seleção de fornecedores torna-se uma questão crítica na medida em que os
compradores buscam formar parcerias estratégicas. Os níveis de confiança,
comprometimento e de partilha de informações exigidos em relacionamentos de parceria
não podem ser obtidos com cada participante de uma base ampla de fornecedores
competindo basicamente em preço (SPEKMAN, 1988).
Os critérios para seleção de fornecedores para formar parcerias são mais
abrangentes do que aqueles tradicionalmente utilizados na escolha de fornecedores, e a
visão de longo prazo faz com que o processo de seleção de fornecedores se torne mais
complexo.
Os métodos tradicionais de seleção de fornecedores baseiam-se em questões de
qualidade, preço e entrega. Apesar da importância destes fatores, eles não cobrem todas
as exigências de seleção de um bom parceiro. Fornecedores qualificados não
necessariamente são bons parceiros (SPEKMAN, 1988).
Ellram (1990) identifica critérios adicionais para seleção de parceiros, que
devem ser incorporados aos tradicionais critérios de seleção de fornecedores, agrupados
em quatro categorias:
39
Categoria Fatores Fatores financeiros Desempenho econômico Estabilidade financeira Cultura organizacional e fatoresestratégicos
Confiança
Atitude da gerência voltada para o futuro Afinidade na estratégia Compatibilidade na gerência de topo Compatibilidade entre níveis e funções das
empresas fornecedoras e compradoras Estrutura organizacional e de pessoal da
empresa fornecedora Fatores tecnológicos Instalações e níveis de capacidade de
manufatura Capacidade futura de manufatura Capacidade de design do fornecedor Velocidade no desenvolvimento Outros fatores Histórico do fornecedor Referências de negócio Base de clientes dos fornecedores
Quadro 10 - Critérios para seleção de parceiros (ELLRAM, 1990)
Speckman (1988) identifica dois estágios no processo de seleção do parceiro
estratégico. Enquanto o primeiro estágio segue as formas tradicionais de seleção de
fornecedores, o segundo estágio seleciona deste grupo reduzido de fornecedores em
potencial aprovados no primeiro estágio aqueles que serão os parceiros estratégicos.
Este filtro inicial faz com que os fornecedores que não atendam aos critérios mínimos de
desempenho exigidos não cheguem a ser considerados como parceiros estratégicos.
Speckman (1988) afirma que critérios de qualidade, preço e entrega são condições
necessárias, mas não suficientes na seleção do parceiro.
Os critérios para seleção de parceiros são muitos, e de difícil listagem e
mensuração, sendo muitos baseados em percepções gerenciais. Para contornar estas
dificuldades, Speckman (1988) propõe uma relação de perguntas para auxiliar a gerência
na percepção de tópicos relevantes na seleção dos parceiros.
40
Como o fornecedor demonstrou comprometimento? Ele comprometeu recursosque não podem ser utilizados em outros relacionamentos?
Quão cedo na etapa de desenho do produto o fornecedor está desejandoparticipar? Há um reconhecimento de que ambas as empresas contribuem para avantagem competitiva? O que o fornecedor traz de único ao relacionamento?
O fornecedor compreende o nível de comprometimento exigido para atingir osganhos de qualidade de longo prazo? Ele tem os recursos para sustentar talenvolvimento no longo prazo?
À medida em que crescemos e nos tornamos mais experientes, o fornecedor écapaz de crescer conosco? Ele tem o talento, recursos, e expertise para oferecer valoradicionado no futuro?
O fornecedor tem suporte técnico adequado? O quão capaz ele é? Ele possuitecnologia atualizada e deseja contribuir com expertise?
Ele possui equipes para solucionar problemas de compras, produção ouqualidade? Ele constantemente recorre às condições negociadas ou há um interessemútuo na resolução conjunta de problemas? Há uma atitude ganha-ganha?
A alta direção do fornecedor está comprometida com os processos inerentes àparceria? Há uma troca aberta e livre de informações entre as áreas funcionais das duasempresas?
Quantos de seus planos futuros o fornecedor está dividindo conosco? Anecessidade de tratamento confidencial dos dados é levada a sério pelo fornecedor?Qual é o nível geral de conforto entre as duas empresas?
Quão bem o fornecedor conhece o nosso negócio? Qual é o seucomprometimento no conhecimento de nossos problemas e preocupações? Elegeralmente foca-se nas causas dos problemas ou unicamente nos seus sintomas? Aprevenção é mais importante do que a remediação?
O que o fornecedor espera de nós? Ele espera a lealdade a qualquer preço?
Quadro 11 - Perguntas relevantes na seleção de parceiros (SPECKMAN, 1988)
2.9.2 As etapas de implementação
Há diversas maneiras de realizar a transição de um relacionamento tradicional
para um relacionamento de parceria. LaLonde e Cooper (1989), em estudo sobre
parcerias com operadores logísticos, apresentam quatro diferentes opções de gerência do
processo de transição: seqüencial, linear, incremental ou exponencial.
41
Figura 2 - Formas de gerenciar o processo de transição (LALONDE, COOPER, 1989)
Na opção Seqüencial, a empresa, em momento específico, altera o tipo de
relacionamento para um de parceria. É a estratégia de maior risco, segundo LaLonde e
Cooper (1989).
Na estratégia Linear, a empresa vai, pouco a pouco, implementando o processo
de parceria, dentro de um intervalo de tempo previsto. Uma vez que tal processo é
gradual, ele permite com que os obstáculos ao relacionamento sejam melhor percebidos,
sendo uma opção de menor risco.
A estratégia Incremental, por sua vez, envolve o estabelecimento de datas nas
quais o relacionamento será avaliado e poderá evoluir mais um passo em direção à
parceria.
Seqüencial
Incremental
Linear
Exponencial
42
Por fim, a opção Exponencial diz respeito a uma transição inicial acelerada para
um relacionamento de parceria em um segmento focado do negócio, seguida de um
período de aprendizagem intermediário, e, por fim, de uma nova transição do resto do
negócio para um relacionamento de parceria.
LaLonde e Cooper (1989) também apresentaram um modelo ideal de
desenvolvimento de parcerias, composto de quatro estágios.
Figura 3 - Estágios no desenvolvimento de parcerias (LALONDE, COOPER, 1989)
No estágio inicial de Planejamento, ambas as partes devem pensar sobre cada um
dos elementos fundamentais de uma parceria - divisão de riscos e benefícios, troca de
informações, planejamento voltado para o longo prazo, contato entre múltiplas funções
das organizações - e determinar como cada um destes itens poderá ser medido e
gerenciado ao longo da vida do relacionamento.
Estágio 1:
Planejando orelacionamento
Estágio 2:
Programa piloto
Estágio 3:
Estágio operacionalEstágio 4:
Revisão conjunta
43
Além disso, ambas as partes devem concordar com os detalhes de um projeto
piloto para a implementação inicial da parceria, assim como programar datas para
avaliação do relacionamento e níveis de desempenho a serem exigidos em cada uma
destas datas.
O estágio de projeto piloto permite a identificação de dificuldades ou problemas
não previstos no planejamento, fornecendo embasamento para uma revisão e avaliação
do programa por ambas as partes.
No terceiro estágio - Operacional -, o programa piloto é expandido para o escopo
inicialmente previsto de todo o programa. Esta expansão pode ocorrer de acordo com
um dos quatro modelos apresentados anteriormente (Seqüencial, Linear, Incremental ou
Exponencial).
Por fim, a revisão conjunta do programa permite a avaliação de desempenho do
relacionamento frente às expectativas inicialmente delineadas. Neste momento, decisões
de ampliar ou reduzir o escopo do relacionamento, assim como descontinuar o
programa, podem ser tomadas.
Ellram (1991), por sua vez, em estudo de parcerias em compras, afirma que o
processo de implementação de parceira é demorado e deve ser desenvolvido pouco a
pouco ao longo do tempo. Desta forma, identifica cinco etapas no desenvolvimento de
parcerias.
44
4 - Estabelecimento doRelacionamento
1- Identificação danecessidade
2 - Preparação paraSeleção dos Parceiros
3 - Seleção dosParceiros
5 - Avaliação dorelacionamento
Figura 4 - Cinco etapas no desenvolvimento de parcerias (ELLRAM, 1991)
Na primeira delas, a necessidade de estabelecer uma parceria é identificada, uma
equipe representando áreas-chave da empresa é formada com a responsabilidade de
estudar o assunto, e a alta direção confirma dar suporte ao desenvolvimento das
parcerias. O estabelecimento da necessidade estratégica e o suporte da alta direção são
fatores críticos para o sucesso da parceria (ELLRAM, 1991).
A segunda etapa compreende a determinação dos critérios para seleção dos
parceiros e a identificação de parceiros em potencial.
A seguir, na terceira etapa, os parceiros em potencial são contatados, avaliados e
selecionados. A equipe não deve concentrar-se em um atributo atrativo em particular,
mas realizar uma avaliação sistemática, integrada. Se não for encontrado nenhum
parceiro neste ponto, a firma deve retornar à etapa anterior e avaliar parceiros
adicionais. (ELLRAM, 1991)
45
A quarta etapa refere-se ao estabelecimento do relacionamento, à especificação
das expectativas de ambas as partes, e a um alto nível de interação. A clarificação das
expectativas é fundamental uma vez que a parceria só será bem sucedida se for benéfica
para ambas as partes. As expectativas podem ser escritas, mas não como ferramenta
coercitiva, e sim para torná-las mais claras (ELLRAM, 1991). Se esta etapa for bem
cumprida e diversos aspectos discutidos, haverá menos chances de ocorrerem problemas
posteriormente.
Por fim, a última etapa compreende a avaliação do relacionamento, quando é
decidido expandir o relacionamento para outras áreas/produtos, reduzir ou dissolver a
interação ou manter o relacionamento no mesmo nível em que se encontra.
Cooper et al. (1997), ainda, sugerem quatro etapas na implementação de
parcerias. Na primeira delas, as empresas devem iniciar a divisão de informações, sem
alterar a gerência dos processos internos de forma separada. No segundo estágio, os
processos começam a ser coordenados e a divisão de informações prossegue. Na terceira
etapa, as empresas começam a explorar conjuntamente meios criativos para construir
novos sistemas, processos e produtos. Por fim, na última etapa, todas as fases anteriores
são re-avaliadas e novas formas de proporcionar valor aos clientes são consideradas
(COOPER et al., 1997).
Outros autores também elaboraram modelos de evolução de relacionamentos.
Dwyer, Schurr e Oh (1987) identificaram cinco fases de evolução de um
relacionamento: atenção, exploração, expansão, comprometimento e dissolução. Kanter
(1994), por sua vez, comparou a construção de um relacionamento de parceria com a
evolução de relacionamentos pessoais.
46
2.10 Sucesso e fracasso de parcerias
2.10.1 Conceito de sucesso em parcerias
Mohr e Spekman (1994) argumentam que apesar do sucesso em parcerias
estratégicas algumas vezes ser interpretado como longevidade do relacionamento, este
não seria um bom indicador de sucesso pois algumas parcerias são propositalmente
dissolvidas após um determinado período de tempo. Sugerem, portanto, dois indicadores
de sucesso de parcerias: um indicador objetivo (volume de vendas entre parceiros) e
uma medida afetiva (satisfação mútua com a parceria). Segundo eles, uma parceria gera
satisfação quando as expectativas de desempenho são atingidas (MOHR, SPEKMAN,
1994).
Lassar e Zinn (1995) avaliam o sucesso das parcerias com base em três variáveis:
qualidade do relacionamento, eficácia do mesmo e política de integração do canal.
A qualidade do relacionamento é medida com base na percepção do comprador
sobre o desejo do fornecedor de atender as suas necessidades e sobre a habilidade do
fornecedor para fazê-lo de forma eficaz.
A eficácia, por sua vez, mede o atingimento dos objetivos individuais através do
relacionamento. É medida com base nas margens, atratividade financeira e volume das
marcas do fornecedor carregadas pelo cliente.
A política de integração do canal refere-se à busca de coordenação entre os
parceiros de forma a serem mais eficazes em um nível mais baixo de custos. É medida
com base em cinco itens: garantias, padrões de serviços, bens retornados e
gerenciamento de estoques.
47
2.10.2 Fatores de sucesso em parcerias
O número de tentativas na formação de relacionamentos do tipo parceria cresceu
quase que geometricamente nos últimos anos, mas as taxas de sucesso são um tanto
quanto baixas. Infelizmente, apesar da literatura acadêmica ter explorado os
antecedentes da formação de parcerias e as características do relacionamento
cooperativo, pouco foi desenvolvido sobre como assegurar o sucesso dos
relacionamentos de parcerias e ainda há pouca compreensão das características
associadas com o sucesso das parcerias (MOHR, SPECKMAN, 1994).
Uma pesquisa conduzida por Mohr e Speckman (1994) indicou que os atributos
de comprometimento, coordenação e confiança, aliados à qualidade da comunicação e
participação, e à resolução conjunta de conflitos são os principais fatores que levam ao
sucesso das parcerias.
Ellram (1994) identificou, com base em trabalhos anteriores, alguns fatores-
chave para o sucesso de parcerias em compras, classificando-os em contribuição do
parceiro, tópicos pessoais e interação.
Contribuição do parceiro Parceiro deve prover maior valoragregado que os demais fornecedores
Objetivo deve basear-se em umaperspectiva de custo total, ao invés depreço unicamente
Escolher um ou poucos itens chave Tópicos pessoais Confiança mútua e abertura Redução no número de fornecedores
utilizados Interação Comunicação ocorre em vários níveis e
funções entre firmas Fornecedor é informado e envolvido em
alterações e novos designs comantecedência
Quadro 12 - Fatores de sucesso em parcerias em compras freqüentemente citados
(ELLRAM, 1994)
48
Lassar e Zinn (1995) constataram que a presença de contratos não explica a
qualidade ou eficácia do relacionamento ou o nível de integração no canal. Tais
variáveis seriam explicadas por uma perspectiva de longo prazo conforme vislumbradas
pelos participantes e conforme histórico de lealdade apresentada pelos mesmos, e por
expectativas de negócios futuros com base em previsões de vendas e aumento de
participação de mercado.
Segundo Lassar e Zinn (1995), empresas utilizam contratos em seus
relacionamentos porque estes criam um ambiente estável na medida em que especificam
os direitos e deveres de cada um dos participantes, deixando menos espaço para
desentendimentos. O relacionamento pode também ser levado mais a sério uma vez que
o contrato especifica metas e penalidades pelo não cumprimento das mesmas. A
aderência a um contrato escrito pode ser a motivação necessária para manter um
relacionamento mesmo quando problemas de curto prazo ocorrem (LASSAR, ZINN,
1995).
No entanto, sem contrato, há mais flexibilidade, permitindo adaptar o
relacionamento às condições de mercado. Além disso, pode levar a um aumento de
confiança e a um constante investimento no relacionamento uma vez que não há
cláusulas garantindo a permanência do relacionamento por um tempo indefinido. Por
fim, relacionamentos informais são um importante passo inicial em direção a formas de
relacionamento mais complexas, onde os participantes aprendem sobre a cultura do
outro, constróem confiança e avaliam o comprometimento do outro com o
relacionamento (LASSAR, ZINN, 1995).
Bowersox (1992), por sua vez, apresentou cinco fatores como críticos para o
sucesso de uma parceria em logística.
49
1- Compatibilidade de culturas e valores
2- Divisão de informações
3- Clara especificação de papéis
4- Regras básicas - políticas e procedimentos - do relacionamento claras para ambos os
parceiros
5- Provisões para saída (método para terminar o relacionamento especificado)
Quadro 13 - Cinco fatores críticos para o sucesso de parcerias (BOWERSOX, 1992)
2.10.3 Fatores de fracasso em parcerias
Sonnenberg (1992) identifica algumas razões para o fracasso de parcerias:
• Falta de comprometimento de uma das partes, fazendo com que uma empresa
exerça mais esforço e dispenda mais recursos, recebendo pouco em troca. Segundo
Sonnenberg (1992), no estágio inicial de excitação com o novo relacionamento, uma
empresa pode prometer mais do que será efetivamente capaz de cumprir.
• Diferenças culturais, quando os parceiros são incapazes de adaptar seus estilos
de trabalho para relacionar-se mutuamente. A velocidade na tomada de decisões de uma
empresa pequena, por exemplo, pode conflitar com os métodos de trabalho mais
burocráticos de uma grande organização.
• Mau gerenciamento, quando uma organização deixa de realizar os
investimentos em pessoal necessários para a manutenção do relacionamento. Muitas
vezes, o conceito de parceria fica confinado na alta direção ou mesmo nos funcionários
da sede da empresa, ao invés de serem disseminados por todas as unidades.
• Comunicação fraca, podendo provocar desentendimentos, redundâncias ou
erros.
50
• Baixa afinidade nos relacionamentos inter-pessoais. Sonnenberg (1992) atenta
para o fato de que a substituição de pessoal deve ser feita com cautela, pois a
continuidade de um relacionamento pode ser prejudicada quando um membro crucial
deixa a empresa.
Stuart e McCutcheon (1995), por sua vez, enfatizaram que a diferença de
percepções entre fornecedores e compradores pode ser extremamente prejudicial para o
sucesso de uma parceria, e identificaram que tal gap é bastante comum nos
relacionamentos pesquisados.
Ao estudarem as parcerias onde a percepção por parte do fornecedor é mais
desfavorável do que a percepção por parte do comprador, perceberam que este problema
pode ser originado no processo de seleção do fornecedor ou no processo de
desenvolvimento da parceria.
A teoria da negociação identifica dois tipos de interdependência: restritiva e
promocional. A interdependência restritiva ocorre quando há uma crença de que a
negociação é como um jogo de soma total zero, ou seja, as vantagens só podem ser
obtidas por um lado em detrimento da outra parte. Estudos anteriores indicam que “tais
situações seriam caracterizadas por desconfiança, esforços para bloquear o atingimento
das metas da outra parte, e o uso de poder coercitivo para exercer influência”
(STUART, McCUTCHEON, 1995, p.5). Ao contrário, na negociação promocional, cada
uma das partes acredita que o ganho de um é benéfico ao outro.
A pesquisa de Stuart e McCutcheon (1995) indicou que alguns fornecedores
podem ter uma visão desfavorável de relacionamentos de longo prazo, com uma visão
similar à da negociação tipo restritiva, devendo ser evitados nos processos de seleção de
parceiros. Ainda, no processo de desenvolvimento da parceria, as expectativas dos
fornecedores podem não estar sendo atingidas pelos compradores, devido a uma menor
troca de informações ou de assistência técnica do que foi estabelecida, criando
desconfiança dos fornecedores e situações de conflito.
51
“Houve uma clara evidência de que as falhas em atender as expectativas dos
fornecedores, seja porque as expectativas eram muito altas, porque as entregas não
atingiram os valores esperados, ou mesmo porque não houve troca suficiente de
informações, podem originar situações de conflitos. Estes fornecedores, originalmente
desconfiados de parcerias em geral, podem ter suas desconfianças exacerbadas pelo
forma com que as empresas compradoras conduziram o processo de construção da
parceria” (STUART, McCUTCHEON, 1995, p.8).
Para evitar tais problemas, Stuart e McCutcheon (1995) aconselham que as
empresas compradoras busquem selecionar como parceiras empresas fornecedoras com
uma compatibilidade por relacionamentos de longo prazo, que procurem comunicar de
forma clara as vantagens de tal relacionamento para os fornecedores, e ainda assegurar
que as informações e a assistência técnica prometida estejam disponíveis.
Bowersox (1992) também examina os fatores que levam ao fracasso de uma
parceria, a saber: falta de suporte da alta diretoria, falta de confiança, metas mal
especificadas, parceiros não igualmente comprometidos com o relacionamento e pouco
controle.
Ackerman (1996) também apresenta uma lista de razões pelas quais tantas
parcerias fracassam:
• Comprador e fornecedor não chegaram a um acordo e compreensão sobre o
trabalho a ser feito
• O fornecedor prometeu mais do que foi capaz de cumprir
• Um ou mais gerentes na empresa do comprador são contra o relacionamento,
por acreditarem que seus empregos estariam ameaçados. Este caso diz especial respeito
à terceirização de serviços logísticos.
• O fornecedor descobriu que está perdendo dinheiro com o relacionamento,
pois, por falta de estudos anteriores, aceitou valores baixos pelo seu serviço no contrato
52
• Falhas no serviço se tornaram insuportáveis para o comprador
• O acordo não delineia os procedimentos para término do relacionamento.
Segundo Ackerman (1996):
“As parcerias mais bem sucedidas podem chegar a um término ou serem
significativamente alteradas por modificações gerenciais ou outras condições que
ocorrem simplesmente pela passagem do tempo. Logo, as parcerias em logística devem
incluir provisões para eventuais desilusões. Antes que o problema se torne emocional,
ambos os parceiros devem negociar as formas pelas quais eles podem separar-se se um
dia isto for necessário” (p.37).
2.10.4 Quadro comparativo de fatores de sucesso e fatores de fracasso
Para fins de sistematizar os conhecimentos até então apresentados sobre os
fatores de sucesso de fracasso em parcerias, eles foram agrupados nas categorias
apresentadas no quadro 14, com base em nomenclatura adotada por Lambert,
Emmelhainz e Gardner (1996).
Fator de sucesso Fator de fracasso Motivações O parceiro contribui mais que osdemais fornecedores
Ellram (1994)
Expectativas de negócios futuros com baseem previsão de vendas e aumento departicipação de mercado
Lassar, Zinn (1995)
Foco no custo total Ellram (1994) Ambiente corporativo Compatibilidade de culturas e valores Bowersox (1992) Sonnenberg (1990) Suporte da alta direção Bowersox (1992) Alguns gerentes contra orelacionamento
Ackerman (1996)
Afinidade nas relações inter-pessoais Sonnenberg (1990) Ackerman (1996)
Características do fornecedor (Processode seleção do parceiro)
Stuart, McCutcheon(1995)
53
Planejamento Regras básicas claras Bowersox (1992) Metas claras Bowersox (1992) Provisões para término dorelacionamento
Bowersox (1992) Ackerman (1996)
Acordo justo Ackerman (1996) Clara especificação e compreensão depapéis
Bowersox (1992) Ackerman (1996)
Controle da operação Coordenação Mohr e Spekman (1994) Falhas no serviço Ackerman (1996) Controle Bowersox (1992) Comunicação Qualidade de comunicação Mohr e Spekman (1994) Sonnenberg (1990) Entre vários níveis/funções Ellram (1994) Partilha de informações Bowersox (1992) Stuart, McCutcheon
(1995) Fornecedor informado e envolvido emalterações de designs com antecedência
Ellram (1994)
Resolução conjunta de conflitos Mohr e Spekman (1994) Divisão de riscos e retornos Visão de longo prazo Lassar, Zinn (1995) Confiança e comprometimento Comprometimento Mohr, Spekman (1994) Uma parte promete mais do que cumpre Ackerman (1996)
Stuart, McCutcheon(1995)
Contribuição de um parceiro maior doque outro
Sonnenberg (1990) Bowersox (1992)
Confiança Mohr e Spekman (1994) Ellram (1994)
Bowersox (1992)
Lealdade
Lassar, Zinn (1995)
Escopo Número de fornecedores Ellram (1994) Número de itens Ellram (1994) Investimentos Investimentos nos funcionários Sonnenberg (1990)
Quadro 14 - Fatores de sucesso e fatores de fracasso em parcerias
54
2.11 Modelo para análise de parcerias
2.11.1 A proposta do modelo
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) desenvolveram um modelo que pode ser
utilizado na determinação de quando uma parceria deve ser adotada, e qual o grau de
integração que a parceria deve ter em cada caso.
Com base em pesquisas, apresentaram três tipos distintos de parcerias,
denominados Tipo I, II e III. A escolha de cada um dos tipos de parceria é variável de
caso para caso, e depende dos fatores motivacionais que levaram as empresas a buscar
uma parceria, assim como do próprio contexto organizacional onde será implementada a
parceria.
Figura 5 - Tipos de relacionamentos (LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Na parceria do tipo I, apesar dos integrantes reconhecerem-se mutuamente como
parceiros, há um planejamento e uma coordenação de atividades um tanto quanto
limitada, um foco no curto prazo e um envolvimento de apenas uma divisão ou área
funcional de cada empresa parceira.
Na parceria do tipo II, múltiplas divisões e áreas funcionais das empresas estão
envolvidas com o relacionamento, há um foco no longo prazo, e uma integração de
atividades supera o estágio anterior de coordenação de atividades.
Na parceria do tipo III, cada parte vislumbra a outra como uma extensão da
própria empresa, e a parceria não tem data programada para término.
Parcerias
Arm’slength
Tipo I Tipo II Tipo III Joint-ventures
Integraçãovertical
55
O modelo pode ser utilizado para diagnosticar relacionamentos existentes,
verificando se o tipo de relação é apropriado para um dado caso. O modelo pode, ainda,
ser utilizado para determinar em quais relacionamentos devem ser alocados mais
recursos, tendo em vista as suas maiores chances de sucesso.
2.11.2 A descrição do modelo
O modelo proposto por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) é composto por
três elementos: fatores motivacionais, facilitadores e componentes.
Os fatores motivacionais referem-se aos interesses de cada uma das partes na
formação de um relacionamento de parceria. Eles devem existir para cada uma das
partes, e ser fortes o suficiente para que haja investimento em uma parceria. “Ambas as
partes devem acreditar que receberão benefícios significativos em uma ou mais áreas e
que esses benefícios não seriam possíveis de serem alcançados sem uma parceria”
(LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).
Os facilitadores são fatores corporativos ambientais que viabilizam o
crescimento e desenvolvimento da parceria. Mesmo com uma forte motivação para
desenvolver uma parceria provida pelos fatores motivacionais, as chances de sucesso de
uma parceria podem ser reduzidas ou aumentadas de acordo com características dos
ambientes corporativos das duas empresas. No curto prazo, os fatores corporativos
necessários em ambas as empresas não podem ser desenvolvidos: ou eles existem, ou
não existem.
O modelo propõe três tipos de parcerias, cada uma com diferentes graus de
integração. A escolha do tipo de parceria a ser adotada deve basear-se na combinação
dos fatores motivacionais com facilitadores. Em um extremo, fortes fatores
motivacionais e fortes facilitadores levam a uma maior integração, enquanto que em
outro extremo, fatores motivacionais e facilitadores fracos levam aos relacionamentos
arm´s length.
56
Figura 6 - O processo de parceria (LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Uma vez escolhido o tipo de parceria e decidido dar início ao relacionamento de
parceria, começam a ser desenvolvidas as atividades e os processos que viabilizarão o
novo relacionamento. Os componentes são atividades e processos conjuntos utilizados
para construir e sustentar a parceria. Incluem: planejamento conjunto, controle
operacional mútuo, divisão de riscos e responsabilidades, comunicação, confiança e
comprometimento, estilo do contrato, escopo e investimentos. Dependendo do tipo de
relacionamento de parceria a ser adotado, cada componente deve ser adotado em maior
ou menor grau.
Enquanto os fatores motivacionais e facilitadores indicam qual o tipo de
relacionamento que deveria ser adotado, é a observação dos componentes que mostra
qual o tipo de relacionamento que há na prática.
Fatores motivacionais Motivações para
formação de parceria
Componentes Atividades conjuntas e processos
que constróem e sustentam aparceria
Facilitadores Fatores corporativos
ambientais que viabilizam ocrescimento da parceria
Resultados Desempenho xExpectativas
Feedback para: Componentes, fatores
motivacionais efacilitadores
Fatores motivacionaisditam as expectativas dos
resultados
Decisão de criar ou ajustar
parceria
57
2.11.3 Os fatores motivacionais
Lambert, Emmelhaiz e Gardner (1996) apresentam alguns exemplos de fatores
motivacionais, ou seja, de razões suficientemente fortes para que uma empresa invista
em uma parceria.
• Eficiência de custos ou no uso de ativos
Integrações de atividades podem levar a reduções nos custos de transporte,
manipulação de materiais, embalagem, informação ou produtos. Podem, ainda, permitir
o desenvolvimento e uso de equipamentos e processos especializados entre as partes
sem o risco de transferência de tecnologia para um concorrente.
• Serviço ao cliente
“A integração de atividades na cadeia de suprimentos através de parcerias pode
levar a melhorias de serviços aos clientes na forma de estoques reduzidos, tempos de
ciclo mais curtos e informações mais precisas e em tempo real” (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996).
• Vantagem de marketing
Uma parceria pode viabilizar a entrada em novos mercados, aprimorar o
composto de marketing de uma empresa ou ainda, prover acesso a tecnologias e
inovações.
• Estabilidade ou crescimento dos lucros
Relações mais próximas podem levar a maiores volumes de vendas a longo
prazo, variabilidade nas vendas reduzida, uso conjunto de ativos e outras melhorias que
podem levar a um aumento de lucratividade.
58
2.11.4 Os facilitadores
Spekman (1988) enfatiza que, na criação e desenvolvimento de parcerias, há
uma tendência de focar-se nos aspectos claramente visíveis do relacionamento, sem
considerar as questões mais profundas e poderosas que dão o embasamento para o
sucesso da relação.
Lambert, Emmelhainz e Gardner apresentam quatro facilitadores -
compatibilidade corporativa, filosofia e técnicas gerenciais, comprometimento com o
outro e simetria - que devem estar presentes em todo relacionamento de parceria e cuja
ausência pode levar ao fracasso da relação.
• Compatibilidade corporativa
Para que um relacionamento seja bem sucedido, os parceiros devem ter valores
similares. As culturas e objetivos de negócios não podem ser conflitivas.
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) apresentam alguns pontos que podem
ser observados para identificar se há compatibilidade de culturas: valorização do
cumprimento de compromissos, firmeza de propósito, e valorização dos funcionários e
acionistas. Da mesma forma, apresentam alguns fatores para verificar se há
compatibilidade nos objetivos do negócio: planos estratégicos e objetivos consistentes,
comprometimento com as idéias do parceiro e desejo de mudança.
Tate (1996) apresenta algumas perguntas que podem ser feitas para verificar se
há compatibilidade entre as empresas:
• Qual é a filosofia da organização?
• Qual é a sua visão?
• A empresa realmente quer estabelecer uma parceria?
• A empresa realmente acredita em parcerias?
59
• Filosofia e técnicas gerenciais
Os gerentes de nível operacional implementam os seus objetivos através das suas
filosofias e técnicas gerenciais, e estas também não devem ser muito discordantes entre
as empresas. Os exemplos propostos por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) são:
estrutura organizacional, uso de gerenciamento da qualidade total, grau de suporte da
alta direção, tipos de motivação utilizados, importância do trabalho em equipe, e grau de
adoção de empowerment.
• Comprometimento com o outro
Este facilitador é definido por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) como a
“habilidade de colocar-se no lugar do outro”. Ele pode ser comprovado através da
prática ou interesse em tomar a perspectiva da outra companhia, em dividir metas e
expectativas, em adotar uma visão de longo prazo, em respeitar-se mutuamente, em agir
com base no interesse de ambas as partes, em dividir informações financeiras e em
integrar sistemas.
• Simetria
A simetria pode ser em termos de importância de uma firma para a outra, os
tamanhos relativos, participação de mercado, imagem de marca, reputação da empresa,
nível de sofisticação tecnológica ou disponibilidade de capital.
“O relacionamento é bilateral; ambas as partes têm poder de moldar sua natureza
e sua direção futura ao longo do tempo. Um comprometimento mútuo com o futuro e
uma relação com equilíbrio de poder são essenciais ao processo” (SPEKMAN, 1988).
60
• Outros facilitadores
Há alguns facilitadores que, quando presentes, aumentam as chances de sucesso
da parceria, mas, se ausentes, em nada prejudicam a relação. São eles: exclusividade,
concorrentes em comum, proximidade física, uma história anterior de trabalho com o
parceiro e um mesmo cliente importante para ambos.
2.11.5 Os componentes
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) identificaram oito componentes-chave
de parcerias: planejamento, controles operacionais conjuntos, comunicação, divisão de
riscos e retornos, confiança e comprometimento, estilo do contrato, escopo e
investimentos.
a) Planejamento
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) abordam três aspectos do planejamento
que diferem em função do tipo de relacionamento entre as empresas: o estilo, o nível e o
conteúdo.
Baixa Média Alta
Estilo Ad-hoc Regularmente
programado
Sistemático: tanto ad-hoc
como regularmente
programado
Nível Foco em tarefas ou
projetos
Foco em processos Foco no relacionamento
Conteúdo Divisão de planos
existentes
Realização conjunta,
eliminando conflitos
nas estratégias
Realização conjunta e em
múltiplos níveis da
organização, incluindo alta
direção.
Quadro 15 - Planejamento em relacionamentos de parceria (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
61
Walton (1996) considera o planejamento conjunto como uma das dimensões
amplamente aceitas de parcerias, juntamente com a divisão de benefícios e
responsabilidades, especificidade de ativos, interdependência, troca de informações
operacionais e visão de longo prazo. Não especifica, porém, questões sobre estilo ou
conteúdo do planejamento, apenas enfatiza que o planejamento deve estar focado no
processo através do qual as partes continuarão com o relacionamento.
Gardner, Cooper e Noordewier (1994) também consideram o planejamento
conjunto como componente-chave das parcerias, com uma abordagem bem similar à de
Walton (1996).
Spekman (1988) enfatiza que nos relacionamentos de colaboração a substância
do planejamento é secundária frente ao processo e à estrutura de planejamento. Os
planos devem sofrer constantes modificações em resposta a contingências não previstas,
mas a interação entre diversos níveis das empresas e a elaboração de processos que
facilitam a troca de informações sobre as quais os futuros planos serão construídos,
agilizam o planejamento e contribuem para o seu perfeito cumprimento.
b) Controle operacional conjunto
Neste tópico, Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) incluem o
desenvolvimento e divulgação de medidas de desempenho assim como a liberdade de
realizar mudanças operacionais por cada um dos parceiros.
Baixa Média Alta
Medidas de
desempenho
Desenvolvidas de
forma
independente, mas
os resultados são
partilhados
Desenvolvidas em conjunto
com resultados partilhados,
mas focadas no desempenho
individual de cada uma das
empresas
Desenvolvidas em
conjunto com resultados
partilhados, mas focadas
no desempenho
conjunto
62
Liberdade de
realizar
mudanças
operacionais
As partes podem
sugerir mudanças
uma para a outra
As partes podem realizar
mudanças no sistema da
outra após aprovação.
As partes podem
realizar mudanças no
sistema da outra sem
aprovação prévia
Quadro 16 - Controle operacional conjunto em relacionamentos de parceria
(LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Gardner, Cooper e Noordewier (1994) entendem que o controle operacional em
conjunto tem um papel fundamental em relacionamentos de parceria, e diz respeito à
abertura de cada uma das partes à participação e críticas do outro em suas operações.
Stuart (1993) enfatiza que enquanto em relacionamentos tradicionais cabia
unicamente aos fornecedores a responsabilidade na correção de problemas, nos
relacionamentos de parceria os problemas operacionais são resolvidos conjuntamente.
c) Comunicação
Este componente, conforme descrito por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996)
é bastante abrangente, sendo dividido em comunicação não-rotineira e rotineira. São,
ainda, considerados fatores organizacionais, o equilíbrio na troca de informações e a
tecnologia utilizada na comunicação.
Baixa Média Alta
Comunicação
não-rotineira
Organização Conduzida
em base ad-
hoc, entre
indivíduos
Número limitado
de encontros já
programados,
alguma rotina
Método sistematizado
de comunicação,
podendo ser manual ou
eletrônico. Sistemas de
comunicação inter-
ligados.
63
Comunicação
rotineira
Equilíbrio no
fluxo de
comunicação
Fluxo de
comunicação
em um único
sentido
Fluxo de
comunicação em
dois sentidos, mas
desequilibrado
Fluxo de comunicação
em dois sentidos, e
equilibrado
Tecnologia Uso de
sistemas
individuais
Modificação
conjunta de
sistemas
individuais
Desenvolvimento
conjunto de
comunicação
eletrônica customizada
Quadro 17 - Comunicação em relacionamentos de parceria (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Walton (1996) considera a troca de informações operacionais como uma das
dimensões amplamente aceitas de parcerias. Segundo ela, esta dimensão diz respeito a
sistemas elaborados para proporcionar trocas de informações precisas em tempo real.
Gardner, Cooper e Noordewier (1994) também consideram a troca de
informações operacionais como um componente-chave de parcerias, com uma
interpretação similar a de Walton (1996).
Para Stuart (1993), os relacionamentos de parceria apresentam como
característica fundamental a partilha de informações, em contraposição aos
relacionamentos tradicionais, onde a informação era propriedade de cada uma das
partes.
Lalonde e Cooper (1989) acreditam que uma comunicação aberta e um fluxo de
comunicação nos dois sentidos são elementos presentes em uma verdadeira parceria.
Spekman (1988) afirma que uma comunicação aberta e honesta incentiva uma
resolução pacífica aos conflitos. Segundo ele, o diálogo e a solução conjunta dos
problemas substituíram as negociações como forma primária de troca de informações.
64
d) Divisão de riscos e retornos
Este componente, conforme apresentado no modelo, é subdividido em tolerância
a perdas, comprometimento com ganhos e senso de justiça.
Baixa Média Alta
Tolerância a perdas Tolerância muitobaixa a perdas
Alguma tolerância aperdas de curto prazo
Alta tolerância aperdas de curto prazo
Comprometimentocom ganhos
Desejo limitado deajudar o outro
Boa vontade em ajudar ooutro
Desejo de ajudar ooutro
Senso de justiça Justiça é avaliadaem cada transação
Justiça é rastreada ano aano
Justiça é medida aolongo da vida dorelacionamento
Quadro 18 - Divisão de riscos e retornos em relacionamentos de parceria (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Walton (1996) entende a divisão de riscos e retornos como uma dimensão
amplamente aceita de parcerias, que compreende a aceitação de prejuízos de curto prazo
na expectativa de obtenção de benefícios futuros. Esta definição em muito assemelha-se
à tolerância a perdas e ao senso de justiça explorados no modelo de Lambert,
Emmelhainz e Gardner (1996).
Gardner, Cooper e Noordewier (1994) entendem que a divisão de benefícios e
responsabilidades aliada a uma visão de longo prazo como componente-chave dos
relacionamentos de parcerias.
Stuart (1993) afirma que em relações de parceria há uma divisão eqüitativa de
benefícios, em contraposição às relações tradicionais, onde os benefícios eram
partilhados em função do poder relativo. Afirma, ainda, que a avaliação nos
relacionamentos de parceria é intensiva e extensiva diferentemente das relações
tradicionais onde a avaliação só é realizada basicamente na licitação.
Stuart (1993) afirma que o grau de uma parceria pode ser avaliado em função da
igualdade na partilha de benefícios, juntamente com o volume de problemas resolvidos
em conjunto. Tal modelo foi adotado novamente em Stuart e McCutcheon (1995).
65
e) Confiança e comprometimento
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) ainda consideram a confiança e o
comprometimento como componentes-chave dos relacionamentos de parceria.
Baixa Média Alta
Confiança Confiança é limitada à
crença de que cada
parceiro irá atuar de
modo ético e honesto
Ao parceiro, é dada
mais confiança do
que aos demais,
sendo visto como o
mais favorecido
Há uma confiança
total implícita, que
não precisa ser
reconquistada a cada
transação.
Comprometimento
com o sucesso do
outro
Comprometimento de
cada parte com cada
transação específica ou
projeto, e a confiança
deve ser
constantemente
reconquistada.
Comprometimento
com uma relação de
mais longo prazo
Comprometimento
com o sucesso de
longo prazo do
parceiro, que
prevalece através de
funções e níveis de
ambas as
organizações
Quadro 19 - Confiança e comprometimento em relacionamentos de parceria
(LAMBERT, EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Stuart (1993) acredita que nos relacionamentos de parceria, há uma busca
incessante por melhoria contínua, enquanto que, nos tradicionais, a melhoria ocorre em
intervalos discretos.
A visão de longo prazo associada à lealdade mútua também é tida por Gardner,
Cooper e Noordewier (1994) como um componente-chave dos relacionamentos de
parceria.
66
f) Estilo do contrato
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) consideram o horizonte de tempo do
contrato e a cobertura do mesmo como variantes em cada tipo de relacionamento.
Baixa Média Alta Horizonte detempo
Curto horizonte detempo
Longo horizonte detempo
Sem data prevista paratérmino, e muito geral nasespecificações. Em alguns
casos, não há contratoescrito.
Cobertura Específicos Mais generalistas Não especifica deveres ouresponsabilidades, apenas
delineia a filosofia básica quepermeia o relacionamento.
Quadro 20 - Estilo do contrato em relacionamentos de parceria (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Walton (1996) entende que uma das dimensões amplamente aceitas de parceiras
é a ausência de uma data específica de término para o relacionamento, que seria de
longo prazo.
Stuart (1993) considera que enquanto nas relações tradicionais há uma clara
definição de responsabilidades, nas relações de parceria há uma integração quase que
vertical. Além disso, os contratos em relacionamentos de parcerias são de longo prazo
em contraposição aos relacionamentos tradicionais, onde o horizonte de tempo é o curto
prazo.
g) Escopo
Segundo Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996), o escopo do relacionamento
diz respeito ao volume de negócios entre os parceiros, à extensão das atividades
cobertas, e à importância das mesmas para ambos.
67
Baixa Média Alta
Share Atividade da parceria
representa uma parcela
muito pequena para
ambos
Atividade representa uma
parcela razoável para pelo
menos um dos parceiros
Atividade representa
uma parcela
significativa para
ambas as partes
Cobertura
de
atividades
Relacionamento cobre
apenas uma ou algumas
funções
Cobre múltiplas funções Cobre múltiplas
funções, e a parceria
estende-se a todos os
níveis em ambas as
organizações
Atividades
críticas
Abrange apenas
atividades de pouca
importância
São incluídas atividades
importantes para ambos os
parceiros
São incluídas
atividades críticas para
ambos os parceiros
Quadro 21 - Escopo em relacionamentos de parceria (LAMBERT, EMMELHAINZ,
GARDNER, 1996)
Walton (1996) adota como uma das dimensões amplamente aceitas de parcerias
a interdependência, definida como a compreensão de que a perda de autonomia será
compensada por ganhos esperados. A interdependência encontra-se presente em
diversos componentes do modelo de Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996), mas diz
respeito principalmente ao escopo do relacionamento.
Spekman (1988) enfatiza que relacionamentos mais colaborativos só podem ser
mantidos à medida em que trabalha-se com poucos fornecedores. Ainda, a dependência
mútua reduz as possibilidades de conflitos em funções de assimetrias de poderes. Stuart
(1993) enfatiza que nos relacionamentos de parcerias o número de fornecedores
utilizados é bem reduzido em comparação com a abordagem tradicional.
68
LaLonde e Cooper (1989), por sua vez, entendem que o escopo do
relacionamento diz respeito à extensão do contato entre as empresas (cobertura de
atividades). Enquanto nos relacionamentos tradicionais o contato entre compradores e
fornecedores era apenas comercial, nos relacionamentos de parceria há contatos
múltiplos entre as funções e níveis das organizações.
Zinn e Parasuraman (1997) definem escopo de uma parceria em logística como o
conjunto de serviços nela abrangidos. Há vários serviços possíveis de serem prestados
por fornecedores a seus clientes que, se combinados, dão origem a diferentes tipos de
parcerias em logística. Uma parceria caracterizada por um amplo escopo não é
necessariamente melhor ou mais eficaz do que outra de escopo estreito (ZINN,
PARASURAMAN, 1997).
Lista ilustrativa de serviços logísticos Disponibilidade de estoque
Status do pedido em tempo real ASN (Advance shipping notice)
Cross-docking Pedidos sem qualquer erro
Conveniência na colocação dos pedidos Substituição do produto
Breaking bulk e re-embalagem Pré-etiquetagem e precificação dos produtos
Formulários de entrega pré-preenchidos Planejamento conjunto do produto e design
Programação coordenada da produção Descarga do produto e colocação nas estantes
Floor-ready merchandise deliveries VMI (Vendor managed inventories)
Estoque dedicado em localizações especiais Coordenação de vários fornecedores
Rastreamento da carga expedida Entregas de emergência
Quadro 22 - Lista ilustrativa de serviços logísticos (ZINN, PARASURAMAN, 1997)
69
h) Investimentos
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) também ressaltam que o volume de
investimentos financeiros, tecnológicos e em pessoal incorridos pelas empresas estão
relacionados com o tipo de relacionamento entre elas.
Baixa Média Alta
Financeiro Baixo ou nenhum Propriedade conjunta de
ativos de baixo valor
Propriedade conjunta de
ativos de alto valor
Tecnológico Nenhum
desenvolvimento
conjunto de produtos
ou tecnologia
Algum esforço de
desenho de produtos, e
em pesquisa e
desenvolvimento
Desenvolvimento conjunto
significativo. Atividade de
pesquisa e
desenvolvimento conjunta
regular e significativa.
Humano Troca de pessoal entre
empresas limitada
Troca extensiva de
pessoal entre empresas
Participação no corpo da
outra empresa
Quadro 23 - Investimentos em relacionamentos de parceria (LAMBERT,
EMMELHAINZ, GARDNER, 1996)
Walton (1996) tem como uma das dimensões amplamente aceitas de parcerias a
especificidade dos ativos, ou seja, a existência de ativos dedicados exclusivamente ao
relacionamento de parceria, não podendo ser utilizados para outros fins. A
especificidade dos ativos em muito assemelha-se ao fator investimento financeiro
proposto por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996).
A seguir, são apresentados quadros comparativos entre as percepções dos
diversos autores sobre os componentes das parcerias.
70
Componentes COOPER,ELLRAM, 1993
WALTON, 1996 GARDNER,COOPER,
NOORDEWIER,1994
ELLRAM,HENDRICK, 1995
Planejamento Planejamentoconjunto
Planejamentoconjunto
Planejamentoconjunto freqüente
Controle conjunto dasoperações
Resoluçãoconjunta deproblemas
operacionais
Controle operacionalentre firmas
Comprador monitoraapenas resultados
finais; Ambosestudam o processo
do parceiro Comunicação Troca de
informações ecomunicação
aberta
Troca deinformaçõesoperacionais
Troca sistemática deinformaçõesoperacionais
Links entrecomputadores; Troca
de informações;Comunicaçãocorporativa
Divisão de riscos eretornos
Divisão de riscos eretornos
Divisão de benefíciose responsabilidades
Divisão de benefíciose prejuízos; Visão de
longo prazo
Divisão de riscos eretornos; Foco emtransações futuras;
Tratamento deexceções pornegociação
Confiança ecomprometimento
Comprometimentocom o longo prazo; Melhoria contínua
Lealdade entreparceiros
Alto desejo de ajudaro outro; Lealdade;Melhoria contínua
Estilo do contrato Sem previsão paratérmino
Sem data paratérmino
Escopo Interdependência Investimentos Especific. de ativos
Quadro 24 - Quadro comparativo de componentes de parcerias - parte 1
Componentes LANDEROS,MONCZKA, 1989
STUART, 1993 SPEKMAN, 1988 TATE, 1996
Planejamento Ajuste conjunto àscondições de
mercado
Planejamentoconjunto
Planejamentoconjunto e
flexibilidade Controle conjunto dasoperações
Resolução conjuntade problemas operac.
Comunicação Troca deinformações;
Resolução pacíficade conflitos
Informaçãopartilhada
Comunicação abertae honesta; Resoluçãopacífica de conflitos;
Troca deinformações através
de tecnologia
Comunicação eficaz,internamente eexternamente
Divisão de riscos eretornos
Divisão eqüitativa debenefícios; Avaliaçãointensiva e extensiva
Divisão de benefíciose prejuízos
Confiança ecomprometimento
Comprometimento Busca de melhoriacontínua
Comprometimentocom o futuro
Comprometimentocom sucesso do outro
Estilo do contrato Contratos de longoprazo; Pouca
especificação deresponsabilidades
Contratos de longoprazo
Componentes LANDEROS, STUART, 1993 SPEKMAN, 1988 TATE, 1996
71
MONCZKA, 1989 Escopo Poucos
fornecedores Número reduzido de
fornecedores Número reduzido de
fornecedores;Interação em vários
níveis e funções
Investimentos
Quadro 25 - Quadro comparativo de componentes de parcerias - parte 2
Componentes LALONDE, COOPER, 1989 Planejamento Planejamento conjunto de longo
prazo Controle conjunto dasoperações
Equipes de qualidade e forças-tarefa com funcionários de
ambas as empresas Comunicação Comunicação aberta; Fluxo de
informação em ambos ossentidos
Divisão de riscos eretornos
Divisão eqüitativa de riscos ebenefícios
Confiança ecomprometimento
Confiança mútua
Estilo do contrato Escopo Interação entre vários níveis e
funções Investimentos
Quadro 26 - Quadro comparativo de componentes de parcerias - parte 3
72
3 METODOLOGIA
3.1 Introdução
O objetivo deste capítulo é apresentar a estrutura metodológica que servirá como
base para esta pesquisa.
Neste primeiro momento, buscaremos classificar a pesquisa quanto aos fins e
quanto aos meios, segundo o modelo apresentado por Vergara (1990).
Quanto aos fins, a pesquisa será, basicamente, de caráter exploratório pois
embora relacionamentos de parceria já tenham sido tema de diversas publicações, o
conceito ainda não possui uma definição única, sendo compreendido de formas
variadas. Além disso, no Brasil, o conceito ainda é pouco praticado e o estudo do tema é
praticamente inexistente.
Quanto aos meios, a pesquisa será bibliográfica e estudo de caso. Bibliográfica,
porque para a confecção dos roteiros de entrevistas e fundamentação teórica do trabalho
será realizada investigação em publicações sobre o tema em questão. Estudo de caso,
porque se dará em algumas poucas empresas, com um caráter de profundidade e
detalhamento, em busca de uma maior compreensão do fenômeno.
Kirk e Miller (1986) defendem uma abordagem qualitativa em estudos
exploratórios, onde é importante a descoberta do novo, enquanto o método quantitativo
seria mais aplicável em pesquisas confirmatórias. Apesar de conter alguns dos
princípios do método científico, a pesquisa qualitativa não cumpre certos aspectos mais
estritos do método, facilitando a descoberta do novo e do inesperado, sem perda de
objetividade (KIRK, MILLER, 1986).
73
Segundo Yin (1989), o estudo de casos pode ser utilizado não apenas em
pesquisas exploratórias, mas também em descritivas e explicativas. Yin (1989) afirma
que a escolha do método de pesquisa baseia-se não neste critério, mas sim no tipo de
pergunta colocada, na extensão do controle do investigador sobre os eventos
pesquisados e na atualidade destes mesmos eventos.
As perguntas do tipo como ou por quê estariam mais interessadas em
compreender um fenômeno, rastreando certas conexões ao longo do tempo, ao invés de
buscar meramente a determinação de freqüências ou incidências. Segundo Yin (1989),
uma pesquisa baseada nestes tipos de perguntas pode usar como método o estudo de
casos, a história ou o experimento.
Enquanto o experimento pressupõe uma manipulação de acontecimentos em
função do “controle” do contexto pelo investigador, no estudo de casos e na história
procura-se não interferir nos eventos pesquisados e nos contextos. A história é o método
preferido quando não há nenhum controle por parte do investigador, o que faz com que
geralmente seja bem utilizada em pesquisas sobre o passado. Nada impede que a história
seja utilizada para pesquisar eventos presentes, mas, neste caso, o método do caso seria
preferível, pois além de utilizar as técnicas de história, dispõe da observação direta e
das entrevistas como ferramentas adicionais de pesquisa (YIN, 1989).
Logo, o estudo de caso é caracterizado como o método mais apropriado “quando
uma pergunta do tipo como ou por quê é colocada a respeito de um conjunto de eventos
contemporâneos sobre os quais o investigador tem pouco ou nenhum controle” (YIN,
1989, p.9).
Yin prossegue afirmando que o estudo de caso deve ser considerado como meio
de investigação “quando as fronteiras entre o fenômeno e seu contexto não são
claramente evidentes” (YIN, 1989, p.13).
74
“Uma análise de caso é uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo no seu contexto real, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto
não se encontram nitidamente definidas e em que diversas fontes de informação são
utilizadas” (YIN, 1989, p.23).
Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) afirmam que grande parte das pesquisas
sobre parcerias foram baseadas em questionários enviados pelo correio e encaram este
fato com preocupação uma vez que a extensão e a riqueza dos dados coletados desta
forma são limitadas. Além disso, com questionários, não há garantia de que as perguntas
serão interpretadas de uma mesma forma por todos os participantes.
Neste estudo, o investigador terá pouco ou nenhum controle sobre os fenômenos
pesquisados e seus contextos, e será estudada uma situação contemporânea. Além
disso, o tipo de pergunta de pesquisa assemelha-se ao tipo como, definido por Yin
(1989), uma vez que busca-se a compreensão de como vem se dando a implementação
de parcerias em certas empresas. Em tais circunstâncias, segundo os critérios
apresentados por Yin (1989), o estudo do caso seria o método de pesquisa mais
apropriado.
Além disso, a reduzida existência de estudos sobre o conceito em empresas no
Brasil torna difícil a separação entre fenômeno pesquisado e contexto, favorecendo
ainda mais o estudo de caso como método de pesquisa.
São muitas as críticas sobre estudos de casos em parcerias que são focadas em
apenas um dos parceiros, não buscando informações com a outra empresa participante.
Segundo Baba (1988), a maior parte das pesquisas sobre parcerias foi baseada em um
número limitado de entrevistas, geralmente com apenas um executivo, e de apenas uma
das partes do relacionamento.
“Pesquisas sobre parcerias, no futuro, devem considerar o par dos parceiros
como unidade mínima de análise. Investigadores que estudam apenas um dos lados do
relacionamento falharão em refletir com precisão as forças dinâmicas que quebram
parcerias no longo prazo” (BABA, 1988)
75
3.2 Universo e amostra
Na seleção das empresas para o estudo de caso, foram exigidos conhecimento e
adoção de práticas ECR, seja nacionalmente - através de participação ativa no
Movimento ECR Brasil – ou internacionalmente. Além disto, foram considerados outros
fatores como facilidade de acesso e de obtenção das informações em cada uma das
empresas, além de participação das mesmas no ramo de negócio em que atuam.
Na seleção dos fornecedores, por sua vez, exigiu-se, ainda, a existência de
relacionamentos de parceria com a empresa supermercadista selecionada, conforme
relatado na entrevista inicial com o gerente de logística desta última.
Desta forma, o estudo de caso foi desenvolvido a partir dos relacionamentos da
empresa supermercadista Sendas com seus fornecedores Procter & Gamble, Danone e
Nestlé.
3.3 Coleta de dados
Os dados foram coletados mediante entrevistas pessoais profundas e semi-
estruturadas, consultas a portais na Internet, revistas, jornais de negócios e de interesse
geral, além de documentos da própria empresa. Segundo Yin (1989), “uma das
principais fontes de informação no estudo de caso é a entrevista” (p.88). No entanto,
para tanto, o entrevistador necessita de algumas habilidades específicas, a saber:
habilidade de colocar a questão certa, de ouvir, de ser adaptável e flexível, e de evitar o
viés decorrente de noções preconcebidas (YIN, 1989).
Foram realizadas uma entrevista com o gerente de logística de cada uma das
empresas estudadas, totalizando quatro entrevistas com uma duração média de duas
horas e meia, sendo todas realizadas no mês de maio de 2000. As entrevistas buscaram,
em um primeiro momento, obter uma compreensão do ambiente corporativo da
empresa. Além disso, ambicionava-se levantar suas percepções e informações sobre os
relacionamentos de parceria estudados.
76
Foram elaborados dois roteiros de entrevistas bastante similares, sendo um deles
voltado para a empresa supermercadista e o outro direcionado aos seus fornecedores.
Ambos os roteiros foram inspirados no modelo proposto por Lambert, Emmelhainz e
Gardner (1996) já apresentado na revisão bibliográfica, sendo divididos, basicamente,
em cinco partes distintas.
A primeira delas visava obter as características gerais da empresa estudada
(faturamento, cobertura geográfica, perfil de clientes, principais linhas de produto
produzidas ou comercializadas, histórico, organograma) e informações sobre o seu setor
de atuação.
A segunda parte buscava uma compreensão da complexidade logística da
empresa e sua estrutura de instalações, como o número de fornecedores e clientes,
número e localização das fábricas, armazéns ou pontos de venda, assim como os fluxos
de mercadorias e informações.
A terceira parte tinha como finalidade conhecer fatores corporativos que podem
vir a prejudicar ou auxiliar um processo de desenvolvimento de parceria – sua cultura,
visão de negócio, assim como filosofias e técnicas gerenciais empregadas.
A quarta parte apresentava algumas distinções entre os dois roteiros elaborados.
No caso da empresa supermercadista, buscava-se selecionar três fornecedores, com os
quais a mesma diz manter um relacionamento de parceria, para, em seguida, identificar
os fatores motivacionais no desenvolvimento de cada um destes relacionamentos. O
outro roteiro, por sua vez, buscava compreender o ponto de vista dos fornecedores frente
ao relacionamento com a empresa supermercadista em questão, e suas motivações no
desenvolvimento destas parcerias.
A quinta parte, por fim, buscava compreender como vem se dando a
implementação da parceria, com base nos componentes identificados por Lambert,
Emmelhainz e Gardner (1996).
77
3.4 Tratamento e análise dos dados
Os dados obtidos a respeito de cada uma das empresas, a partir das entrevistas e
pesquisas em publicações, foram tratados de forma qualitativa, sendo apresentados de
forma mais estruturada e posteriormente analisados.
Toda análise foi baseada no modelo proposto por Lambert, Emmelhainz e
Gardner (1996).
Em um primeiro momento, buscou-se identificar o tipo de relacionamento
implementado pela Sendas com cada um dos três fornecedores selecionados – Procter &
Gamble, Danone e Nestlé. Isto foi realizado mediante a avaliação dos oito componentes
apresentados no modelo, a saber: planejamento, controle operacional conjunto,
comunicação, divisão de riscos e retornos, confiança, estilo do contrato, escopo e
investimentos.
A partir das informações obtidas por ambas as partes de cada relacionamento,
foram atribuídas, a cada um dos componentes, as avaliações “Baixa”, “Média” ou
“Alta”. A preponderância de avaliações “Baixa” é característica de relacionamentos de
parcerias do tipo I, enquanto que as avaliações “Média” ou “Alta” estão associadas a
parcerias do tipo II ou III, respectivamente.
Em alguns momentos, tornou-se necessária a adaptação do modelo mediante a
criação de uma classe adicional “Muito baixa”, uma vez que os critérios para avaliação
como “Baixa” não chegaram a ser atendidos.
Os critérios para avaliação de cada um dos componentes como “Baixa”, “Média”
ou “Alta” serão apresentados ao longo do capítulo 5, de análise dos casos.
78
Em um segundo momento, buscou-se propôr um novo tipo de relacionamento
em cada um dos casos. Lambert, Emmelhainz e Gardner sugerem que o modelo de
parceria a ser adotado deve ser definido com base na análise dos fatores motivacionais e
facilitadores, e oferecem uma metodologia que permite avaliar quantitativamente o quão
fortes eles são. Desta forma, com base em um quadro similar ao apresentado a seguir,
sugere-se o relacionamento a ser implementado.
Fatores facilitadores Fatores motivacionais
8 – 11 pontos 12 – 15 pontos 16 – 24 pontos
8 – 11 pontos Tipo I Tipo I Tipo II
12 – 15 pontos Tipo I Tipo II Tipo III
16 – 25 pontos Tipo II Tipo III Tipo III
Quadro 27 – Metodologia para identificação do relacionamento mais adequado a cada
caso
A avaliação quantitativa dos fatores motivacionais, segundo Lambert,
Hemmelhainz e Gardner, é feita através de uma espécie de questionário composto por
quatro perguntas, a saber:
1- Quais as chances de que este relacionamento reduza substancialmente os
custos do canal ou otimizará a utilização de ativos?
2- Quais as chances de que este relacionamento melhore substancialmente o
nível de serviço como mensurado pelo próprio cliente?
3- Quais as chances de que este relacionamento traga vantagens significativas em
marketing?
4- Quais as chances de que este relacionamento resulte em crescimento ou maior
estabilidade dos lucros?
79
Há cinco opções de respostas possíveis para cada pergunta:
– 0%, certeza da não obtenção do benefício
– 25%, pouca chance de obter o benefício
– 50%, iguais chances de obter ou não obter tal benefício
– 75%, muitas chances de obter o benefício
– 100%, certeza na obtenção do benefício
Cada um destes percentuais confere uma pontuação que varia de 1 a 5, nesta
ordem.
Caso a resposta seja igual ou maior que 50%, ainda há a possibilidade de obter-
se um ponto adicional na questão. Para isto, o benefício analisado deve ser uma
vantagem competitiva sustentável ou deve permitir que a empresa atinja padrões de
benchmarking na sua indústria.
A avaliação quantitativa dos fatores facilitadores, por sua vez, é feita através de
um questionário semelhante, proposto por Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996),
também composto por quatro perguntas básicas, a saber:
1- Quais as chances das duas empresas não terem conflitos em termos de cultura
ou negócio?
2 – Quais as chances de que as filosofias e técnicas gerenciais das duas empresas
combinem-se sem conflitos?
3 – Quais as chances de que ambas as partes tenham a capacidade e
predisposição necessária para a construção de um relacionamento mútuo?
4 – Quais as chances de que as partes sejam similares em: volume de vendas,
participação de mercado em suas indústrias, produtividade, imagem de marca ou
reputação, avanço tecnológico e solidez ?
80
Da mesma forma que no questionário anterior, há cinco opções de respostas para
cada pergunta – 0%, 25%, 50%, 75%, 100% -, que conferem uma pontuação que varia
de 1 a 5, nesta ordem.
Além disso, o questionário é composto por perguntas adicionais que agregam um
ponto a mais a cada resposta positiva, a saber:
• Há concorrentes em comum que tendem a unir os esforços das empresas?
• Há proximidade física entre as instalações das empresas?
• Há um comprometimento em trabalhar exclusivamente com o parceiro?
• Ambas as partes já tiveram experiências bem sucedidas em parceria?
• Ambas as partes têm um mesmo valioso consumidor final?
Desta forma, com base no quadro 27 já apresentado anteriormente, é possível
propôr um determinado tipo de relacionamento em cada um dos casos estudados.
Este resultado permite a identificação de quais componentes dos
relacionamentos atuais estão pouco ou demasiadamente desenvolvidos para o
relacionamento que deveria existir.
3.5 Limitações do método
O método de estudo de casos não permite generalizações para o universo,
independentemente do número de casos estudados. No entanto, esta limitação não
invalida sua utilização, uma vez que ele não se propõe a avaliar a freqüência com que
dado fenômeno ocorre em determinada população. Ao contrário, sua proposta é a de
descobrir relações, estudar processos, identificar variáveis ainda não estudadas –
objetivos esses que não conduzem à necessidade de generalizações para o universo.
81
Segundo Yin (1989), “estudos de casos, como experimentos, são generalizáveis
para proposições teóricas e não para populações ou universos” (p.21). Sendo assim, não
é objetivo deste estudo generalizar as conclusões a respeito da implantação de parcerias
nas empresas analisadas em função da própria delimitação do método de estudo de
casos.
Um outro fator limitador é a subjetividade na coleta, registro e análise de
informações, em especial naquelas obtidas através de entrevista pessoal. Goode e Hatt
(1979) atentam para o fato de muitas vezes o próprio pesquisador pode representar um
perigo para o método do caso, pois ele “pode ter uma falsa sensação de certeza sobre
suas próprias conclusões” (p.46). O fato de apenas ser entrevistado um único
funcionário de cada uma das empresas poderia ser grande fonte de viés, o qual procurou
ser amenizado com uma intensa pesquisa bibliográfica, e com o cruzamento de
informações nas entrevistas com ambas as partes de cada relacionamento estudado.
A percepção dos entrevistados é outro viés que está presente neste tipo de
estudo. O entrevistado pode não dispor de memória suficiente para relatar certos fatos
passados, ou mesmo distorcer, deliberadamente ou não, algumas informações. Para
fazer frente a isto, procurou-se abordar a mesma questão por diferentes ângulos, de
forma a testar as respostas obtidas, com ambas as partes do relacionamento.
A subjetividade também está presente na avaliação quantitativa proposta pelo
modelo de Lambert, Emmelhainz e Garder (1996). A avaliação quantitativa dos fatores
motivacionais e facilitadores através da alocação de percentuais busca reduzir a
subjetividade na decisão do quanto investir nos relacionamentos, mas, de forma alguma,
consegue eliminá-la.
Desta forma, deve-se ressaltar este estudo não tem a pretensão de oferecer
resultados a serem aplicados na prática, mas de fornecer a metodologia e exemplificar
sua aplicação. Na realidade de cada uma das empresas, podem existir outros fatores que
não foram contemplados nestas avaliações. As próprias empresas devem ser as
responsáveis por efetuarem estes procedimentos.
82
4 DESCRIÇÃO DOS CASOS
4.1 Introdução
Inicialmente, será apresentada uma visão geral da empresa supermercadista,
seguida de uma breve descrição de sua história e suas operações. Em um segundo
momento, serão apresentados alguns tópicos que servirão de base para uma análise
futura dos fatores facilitadores conforme o modelo de Lambert, Emmelhainz e Gardner
(1996), a saber:
- Cultura e visão de negócio, onde serão contemplados os
relacionamentos da empresa com seus fornecedores, funcionários e
consumidores, assim como a relação da mesma com metas e com o mercado
- Filosofias e técnicas gerenciais empregadas na empresa
- Experiências passadas e interesses na construção de parcerias
- Porte e posicionamento no mercado
A seguir, serão descritos cada um dos três fornecedores em uma estrutura
semelhante de apresentação, exceto pela inclusão de um tópico adicional sobre os
relacionamentos de cada um deles com a empresa supermercadista. Neste momento,
serão abordados os fatores motivacionais de ambas as partes na constituição de um
relacionamento mais estreito, assim como os componentes do relacionamento atual –
planejamento, controle operacional conjunto, comunicação, divisão de riscos e retornos,
confiança e comprometimento, estilo do contrato, escopo e investimentos.
83
4.2 Descrição da empresa supermercadista
4.2.1 Informações gerais sobre a empresa
A Casas Sendas Comércio e Indústria S.A. é uma empresa nacional privada, com
sede no Rio de Janeiro. Contando com cerca de 17.000 empregados e faturando em
torno de R$ 2 bilhões ao ano, atua apenas na região sudeste do nosso país, através de
suas divisões operacionais:
• Bon Marché, divisão de hipermercado, possui 3 lojas no Rio de Janeiro, uma
em São Paulo e outra em Belo Horizonte.
• Casa Show, no segmento de materiais de construção, comercializa todos os
produtos de acabamento como: pisos, azulejos, louças, metais, tintas e
iluminação, contando com cinco lojas, todas no Rio de Janeiro. Na empresa,
há uma diretoria à parte para a administração desta divisão.
• Sendas Clube, divisão de atacado das Sendas, com vendas exclusivas para
sócios, contando com uma única loja. Na estrutura da empresa, a divisão
situa-se dentro da mesma diretoria do Bon Marché.
• Casas Sendas, divisão que compreende atualmente 68 lojas, subdivididas de
acordo com a quantidade e a variedade de produtos: SuperEx, Super Sendas e
Hiper Sendas. Para oferecer mais conveniência aos clientes a Casas Sendas
iniciou também o Sendas Delivery, onde o cliente pode comprar seus
produtos por telefone, Internet ou fax e recebê-los em casa.
Além de operar no varejo e no atacado, o grupo Sendas também atua no ramo de
agropecuária, torrefação, condimentos e matadouro.
84
4.2.2 Histórico da empresa
A história do Grupo Sendas teve início no ano de 1924, com a fundação, pelo Sr.
Manoel Sendas, de um pequeno armazém na baixada fluminense - mais especificamente
no distrito de São Mateus, em Nova Iguaçu. Similar a outros armazéns comuns à época,
o então denominado armazém Transmontano procurava manter um sortimento de
mercadorias que atendesse as mais diversas necessidades dos moradores de suas
proximidades.
Aos dezessete anos de idade, Arthur Sendas assumiu o negócio da família – que
já abrangia um segundo armazém localizado em São João de Meriti: A Casa do Povo –
pois um acidente de automóvel havia impossibilitado seu pai de trabalhar.
Até então, as compras dos armazéns não eram feitas diretamente de atacadistas,
mas por meio de intermediários – conhecidos como “atravessadores”. Com Sr. Arthur
na direção da empresa, está prática foi abolida, mesmo sendo os “atravessadores”
grandes amigos de seu pai.
Ao longo dos anos, Arthur Sendas expandiu seu negócio e, em 1995, o grupo já
faturava US$ 1,5 bilhão e ocupava o terceiro lugar no ranking da Abras. As atividades
também haviam se diversificado, e o grupo estava presente no ramo da agropecuária,
torrefação, condimentos e matadouro.
Nesta época, a estabilização da economia trazia novos desafios às Sendas. A
redução dos custos tornava-se mais do que nunca fator chave para a sobrevivência no
setor supermercadista.
Neste contexto, o grupo investiu significativamente na informatização de suas
lojas, automatizando a retaguarda e implantando PDVs e scanners. Desta forma, tornou-
se possível controlar a entrada e saída dos produtos com maior precisão, além de reduzir
o tempo de espera do cliente nas filas de suas lojas.
85
Visando um maior controle de sua operação, juntamente com a redução de
custos, o grupo Sendas ainda se desfez de lojas mais distantes e buscou descentralizar a
administração das lojas restantes, criando responsabilidades e incentivos aos gerentes
das mesmas, assim como comprometimento com os resultados. Os gerentes passaram a
ser responsáveis pela lucratividade de suas lojas, trabalhando em conjunto com a
administração central na elaboração dos orçamentos e acompanhamento dos resultados.
Como alguns dos gerentes existentes não encontravam-se habilitados às novas
necessidades do cargo, foi necessário um investimento considerável em recrutamento e
seleção, assim como em treinamento.
Hoje, o faturamento do grupo excede R$ 2 bilhões e o número de lojas já chega a
78 – se consideradas todas as suas divisões. No entanto, as recentes aquisições e fusões
entre supermercados exigem um comprometimento cada vez maior das Sendas com a
redução de custos e a qualidade do serviço aos clientes. As cinco grandes empresas
(Carrefour, Pão de Açúcar, Sonae, Bom Preço e Sendas, nesta ordem) detêm 40,4% do
faturamento de todo o setor, muito embora, há dois anos, essa parcela não passasse de
27%. A família Sendas vem reiterando a posição de manter o grupo como uma empresa
familiar e o diretor comercial do grupo, Nelson Sendas, afirma que, ao contrário de
ceder a ofertas de concorrentes, quer comprar redes nacionais ou estrangeiras. Em junho
de 1999, o Sendas comprou 17 lojas da rede Três Poderes.
4.2.3 Operações
Para atender suas 78 lojas, o grupo dispõe de dois centros de distribuição - em S.
João de Meriti e em Jacarepaguá, ambos no Rio de Janeiro.
86
O centro de distribuição de S. João de Meriti recebe cerca de 80% das
mercadorias provenientes dos fornecedores, sendo dividido em área de armazenamento
para carga secas e para frigoríficos. A grande maioria das mercadorias que passam pelo
centro de distribuição são direcionadas para a área de armazenamento, enquanto que
apenas 10% do volume recebido dos fornecedores é recarregado e enviado para as lojas.
A diretoria de logística do grupo visa centralizar o recebimento de 100% dos
produtos provenientes dos fornecedores, com a finalidade de reduzir os custos
logísticos, assim como minimizar os problemas associados ao armazenamento e às
descargas nas lojas. Para tanto, colocou em operação, recentemente, a central de
distribuição em Jacarepaguá, de 11.000 m2 de área construída. Esta unidade centraliza o
recebimento de pescados, frutas e legumes, reduzindo o tempo de permanência na
cadeia e garantindo produtos com mais frescor e qualidade até o consumidor final.
Os centros de distribuição ocupam papel relevante na logística do grupo, e a
empresa procura atualizá-los com os mais modernos recursos em armazenagem. O
parque de equipamentos de movimentação de carga possui 32 empilhadeiras e 82
transpaleteiras equipadas com terminais móveis de rádio freqüência, possibilitando
agilidade na entrada e saída de mercadorias, assim como controle de produtividade nas
operações. No gerenciamento da carga seca, é utilizado um sistema eficaz de
endereçamento, que permite que as mercadorias sejam etiquetadas e direcionadas à área
apropriada desde o seu recebimento.
Desde setembro de 1999, os sistemas das quase 80 lojas da cadeia Sendas -
Casas Sendas, Bom Marché, Sendas Clube, Casa Show e Drogarias Sendas - e centros
de distribuição estão totalmente integrados, viabilizando a transmissão dos pedidos em
tempo real e sem necessidade de acesso discado.
A maior parte das entregas às lojas são realizadas em frota própria, ainda que
algumas vezes seja utilizada uma transportadora terceirizada. O grupo possui uma
estrutura de entrega composta por 76 caminhões, sendo 38% destes equipados com
aparelhos de refrigeração.
87
A Sendas também pratica o cross-docking com alguns fornecedores. Neste caso,
apesar dos pedidos serem descentralizados e emitidos por loja, os veículos dos
fornecedores são enviados para a central de distribuição. A operação é realizada durante
a noite, quando há o recebimento das mercadorias provenientes dos fornecedores e são
compostos novos carregamentos em função dos pedidos de cada loja. A prioridade vem
sendo dada aos fornecedores de laticínios. Desse programa já participam seis grandes
fornecedores, entre eles, Danone, Nestlé, Plus-Vita e Paulicéia.
Para que pudesse obter sucesso nessa atividade, a Sendas visualizou há alguns
anos a necessidade de padronizar suas operações, buscando uma conformidade com as
práticas do mercado. Neste contexto, as Sendas esforçou-se por reduzir a base variada
de pallets com que operava, e, hoje, trabalha com apenas com o pallet padrão ABRAS.
4.2.4 Fatores facilitadores
4.2.4.1 Cultura e visão de negócio
a) Relacionamentos com fornecedores
O relacionamento da empresa com os fornecedores é um tanto quanto informal,
e, segundo o entrevistado, o grupo Sendas prega um respeito maior aos fornecedores do
que os outros grandes concorrentes do setor supermercadista. No entanto, algumas
exigências, comuns no setor varejista, também ocorrem nas Sendas: bonificação na
abertura de novas lojas, verba promocional ou venda de espaço em gôndolas.
Além das compras convencionais, Sendas conta com seus fornecedores na
comercialização de mais de 300 itens de marca própria, o equivalente a 5% do total de
produtos vendidos. O grupo tem, ainda, a intenção de aumentar este percentual ao
patamar dos 10%. As vendas dos itens de marca própria, algumas vezes, chegam a
superar as de produtos convencionais.
88
Antes da desvalorização do real, por exemplo, o leite condensado da marca
Sendas vendia mais que o da Nestlé, em função do seu menor preço. No entanto, como
este produto com a marca Sendas é importado, teve seu preço aumentado em função da
desvalorização cambial, afetando seriamente suas vendas.
Recentemente, com o acirramento da concorrência no setor supermercadista, a
Sendas vem adotando uma postura mais agressiva, tentando convencer seus
fornecedores a aderirem ao chamado acordo logístico.
Com a centralização no recebimento das mercadorias, os fornecedores teriam
seus custos reduzidos tanto pelo menor fracionamento das entregas e pela menor
complexidade na emissão das notas - agora, todas faturadas para a Central de
Abastecimento Sendas -, como pela promessa, por parte das Sendas, de uma descarga no
tempo máximo de duas horas. Para usufruírem deste benefício, os fornecedores teriam
que, além de cumprir algumas exigências operacionais (uso de pallet PBR-1 1,00 x1,20
padrão ABRAS, impressão nas notas fiscais o número do pedido, envio das notas fiscais
via EDI para a área de pré-seleção das Sendas até `as 15:00 do dia anterior ao da entrega
das mercadorias), assumir o compromisso de conceder um determinado percentual de
desconto sobre os valores brutos de suas notas fiscais, de modo a ressarcirem às Sendas
os seus custos logísticos.
O acordo vem sendo recebido com resistência pelos fornecedores, especialmente
por aqueles que já efetuavam entregas centralizadas mas que nunca tiveram que pagar
por tal benefício.
Nos últimos anos, também, a atividade de compras nas Sendas vem passando por
um processo de centralização, com a finalidade de obter um maior controle, assim como
um maior poder de barganha junto aos fornecedores. Na divisão Bon Marché, o
processo de centralização ainda está em andamento, enquanto que, na Casas Sendas,
toda negociação já é realizada a partir da sede da empresa, em S. João de Meriti.
89
Outra mudança no relacionamento com os fornecedores, é o uso de novos
métodos no processo de compras. No final do ano passado, por exemplo, a Sendas
ingressou no site www.mercador.com, de comércio eletrônico entre indústrias e
supermercados, assim como fizeram seus demais grandes concorrentes.
b) Relacionamentos com consumidores e com a comunidade
A Sendas procura estar próxima a seus clientes, tentando criar vínculos com os
consumidores, conforme explicita seu próprio slogan “Para nós, você é mais...”. Esta
estratégia é evidenciada através da promoção de concursos e distribuição de prêmios `a
comunidade local, do fornecimento de cursos de culinária para idosos ou mesmo festas
para crianças, e da constante divulgação de seu logotipo nos folhetos das missas
católicas dominicais.
Recentemente, para criar um maior vínculo com seus clientes e incentivar um
maior volume de compras, a empresa lançou o cartão Sendas. Sem qualquer cobrança de
anuidade, o cartão é disponibilizado mediante comprovação de renda – que deve ser
superior a R$150,00 ao mês -, possibilitando um pagamento em até 40 dias sem juros.
A Sendas também disponibiliza aos seus clientes um eficiente serviço de
atendimento ao consumidor, que esclarece dúvidas, recebe sugestões e reclamações,
tanto através de uma linha 0800 como através de um endereço eletrônico.
c) Relacionamentos com funcionários
Tradicionalmente, trabalhar na Sendas significava tomar parte em uma grande
família. Ainda que hoje a empresa tenha perdido um pouco destas características, é
evidente um certo grau de paternalismo no relacionamento com seus funcionários.
90
Pode-se encontrar um considerável número de executivos na empresa que, no
passado, iniciaram seu trabalho como “marrequinhos” – funcionários menores de 18
anos, que trabalham nas lojas empacotando as compras dos clientes e transportando
mercadorias. Aqueles com longo tempo na empresa são valorizados e gratificados,
sendo “promovidos à prata da casa”. Conforme declaração do próprio Arthur Sendas, o
segredo do crescimento da sua empresa está "no trabalho, na dedicação e na fé em
Deus".
Hoje, a Sendas encontra-se em um processo de adaptação, como que abrindo
mão de princípios fortemente arraigados, de forma a adequar-se ao novo ambiente
empresarial. O desempenho passou a sofrer maior controle, sendo definidas metas por
diretoria e gerências, muito embora ainda não haja um processo de avaliação bem
definido.
d)Relacionamento com metas e com o mercado
A Sendas é a única rede de capital totalmente nacional entre as cinco maiores do
Brasil. Orgulhando-se do fato, a empresa passou a divulgar em seus folhetos
promocionais o seu logotipo cercado pelas cores verde e amarelo, com a legenda “100%
brasileira”.
O grupo entende que apesar das grandes multinacionais estarem assumindo o
controle das principais redes do país, há espaço para as empresas supermercadistas
brasileiras. Nas suas declarações à imprensa, Arthur Sendas sempre descarta a
possibilidade de partir para associações, ou mesmo de venda do grupo - "Peço a Deus
que esse fantasma não exista".
91
4.2.4.2 Filosofia e técnicas gerenciais
A Sendas tem sua divisão comercial estruturada com base em segmentos de
produtos. Fornecedores com uma ampla diversidade de atuação devem, algumas vezes,
lidar com três ou quatro diferentes compradores da Sendas.
O trabalho conjunto da área comercial com a gerência de logística é muitas vezes
necessário, especialmente na condução das atividades rotineiras da empresa. No entanto,
não há formação de equipes multifuncionais para o atendimento de fornecedores
específicos.
4.2.4.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias
Tradicionalmente, seus relacionamentos com fornecedores têm sido um tanto
quanto informais e baseados quase que exclusivamente em negociações de preços.
Nos últimos anos, com a estabilidade da moeda, a Sendas procurou estar atenta a
outros aspectos que indiretamente impactam em sua rentabilidade: qualidade de serviço,
confiabilidade da entrega, prazo de entrega. Mais recentemente, através do chamado
acordo logístico, vem buscando incentivar seus fornecedores à prática do “cross-
docking”, uso do EDI para recebimento de pedidos e transmissão de notas fiscais, e
entrega centralizada em horário pré-agendado.
4.2.4.4 Porte e posicionamento no mercado
A Sendas é a quarta maior empregadora no setor supermercadista do país, atrás
das redes Pão de Açúcar, Carrefour e Sonae, contando com 16.990 funcionários no
início de 2000.
92
Em faturamento, por sua vez, ocupa o terceiro lugar no setor no Brasil, atrás
apenas das redes Carrefour e Pão de Açúcar, e o trigésimo nono lugar na lista das
empresas privadas brasileiras, com vendas de US$1,4 bilhões em 1999.
4.3 Descrição da empresa fornecedora A: Procter & Gamble
4.3.1 Informações gerais sobre a empresa
A Procter & Gamble atua nos segmentos de perfumaria, higiene, limpeza,
alimentício e farmacêutico em mais de 140 países, contando com 110.000 funcionários e
faturando anualmente cerca de 40 bilhões de dólares. O lucro da empresa atinge US$ 4
bilhões ao ano e seu valor de mercado é de 160 bilhões, equivalente a três vezes o valor
de sua maior concorrente, a Unilever.
Iniciando tardiamente suas operações no Brasil – em 1988, com a compra das
Perfumarias Phebo -, sofreu prejuízo nos cinco primeiros anos de operação no país.
Hoje, seu faturamento já chega a R$600 milhões, com 2000 funcionários, e a matriz
quer fazer da subsidiária brasileira a maior da América Latina.
4.3.2 Produtos comercializados no Brasil
No segmento de produtos de limpeza, a P&G comercializa os sabões em pó
Quanto, ODD Fases, Pop e Ariel para lavagem de roupas, assim como Finish Plus para
máquinas de lavar louças. O Ariel ingressou no mercado brasileiro em abril de 1999, e
já em agosto dispunha de 15,4% das vendas de sabões em pó para lavagem de roupas,
além de ter pressionado uma queda nos preços da concorrência de cerca de 7% .
93
Quanto aos produtos de perfumaria e higiene, a P&G dispõe da linha Pantene e
Pert Plus, para cuidado dos cabelos, assim como do shampoo anti-caspa mais vendido
no mundo - Head & Shoulders. O creme dental Crest, líder mundial de vendas, também
é de propriedade da P&G. A empresa comercializa, além disso, fraldas descartáveis, sob
a marca Pampers, e os absorventes higiênicos Always, Ella e Tampax .
No segmento de produtos farmacêuticos, a P&G comercializa no nosso país os
produtos da linha Vick, para aliviar sintomas de gripes e resfriados - Vick Vaporub,
Xarope Vick, Vick Pirena e Pastilhas Vick -, Hipoglós - para proteger a pele do bebê
contra assaduras -, e Metamucil - para manter a regularidade intestinal.
Por fim, no ramo de alimentos, a empresa também vende a marca Pringles, de
batatas fritas.
4.3.3 Histórico
a) No mundo:
A empresa nasceu quando William Procter - fabricante de velas - e James
Gamble - produtor de sabões -, casados com as irmãs Olivia e Elizabeth Norris,
tornaram-se sócios, por insistência do pai de suas esposas, no ano de 1837 em
Cincinnati. Em 1859, vinte e dois anos após a formação da empresa, suas vendas já
atingiam o patamar de US$ 1 milhão, empregando 80 funcionários.
Durante a Guerra Civil Americana, contratos assinados com as forças da união
para fornecimentos de sabões e velas garantiram a operação da empresa no período,
assim como ajudaram a construir a sua reputação.
Em 1879, James Norris Gamble, filho do fundador, desenvolveu um sabão
branco de baixo custo, similar aos importados de alta qualidade. Ivory - como viria a ser
chamado - passou a ser anunciado em todo o país em 1882, através do jornal semanal
Independent, em um investimento de US$11.000.
94
Em 1887, P&G instituiu um programa pioneiro de participação nos lucros para
os funcionários das fábricas, de forma que os mesmos percebessem a importância de
seus trabalhos no sucesso da empresa.
Em 1890, a empresa construía um dos primeiros laboratórios para
desenvolvimento de produtos nos Estados Unidos. Com isto, novos produtos foram
sendo lançados, um após o outro: Ivory Flakes - para lavar louças e roupas -, Chipso - o
primeiro sabão desenvolvido para máquina de lavar -, Dreft - o primeiro detergente
sintético para uso doméstico. Poucos anos após a inauguração do laboratório, P&G já
vendia mais de 30 diferentes sabões, com um investimento forte em propaganda em
revistas e jornais nacionais.
Entre os anos de 1919 e 1920, P&G anunciou um plano de vendas diretas aos
varejistas através da contratação de 450 vendedores, de forma a estabilizar o processo
produtivo até então sujeito às compras sazonais por parte dos atacadistas.
Em 1924, foi estabelecido um departamento de pesquisa de mercado para estudar
as preferências dos consumidores e hábitos de compras.
Em 1930, com a compra de Thomas Hedley & Co., Ltd., na Inglaterra, a P&G
iniciava sua expansão para fora do continente americano.
Em 1931, nascia o sistema de gerenciamento de marcas da P&G, quando a
empresa passou a contar com equipes dedicadas a desenvolver estratégias para cada uma
das marcas da empresa.
Em 1946, a empresa introduziu Tide - seu produto mais importante desde Ivory -
que, por sua qualidade claramente superior aos demais produtos no mercado, tornou-se
rapidamente um sucesso de vendas.
95
Nos anos que se seguiram ao lançamento de Tide, a empresa passou a investir
em novos segmentos de mercado. No segmento de higiene, Crest, a primeira pasta de
dentes com flúor, obteve crescimento de vendas até chegar à liderança de mercado, com
base no endosso sem precedentes da American Dental Association. Além disso, a
empresa praticamente criou a categoria de fraldas descartáveis com o lançamento de
Pampers em 1961.
Em 1948, P&G estabeleceu uma divisão internacional, para gerenciar o
crescimento de seus negócios fora do país, mesmo ano em que inaugurava a primeira
subsidiária na América Latina, mais especificamente no México. A partir de então, sua
expansão internacional seria notória.
Em 1993, as vendas da empresa excediam US$ 30 bilhões, e, pela primeira vez
na história, mais de 50% deste valor provinham de fora dos Estados Unidos.
Em 1999, a Procter faturava 39,2 bilhões de dólares e situava-se entre as 20
primeiras da lista das 500 maiores empresas americanas da revista Fortune. Ainda
assim, neste mesmo ano, um novo presidente – o primeiro não americano no cargo -
assumiu a liderança da empresa com a missão de revitalizá-la. Nos últimos meses,
anunciou o Organization 2005, um plano de metas que incluiu crescimento anual de
vendas de 6% a 8% e corte de 900 milhões de dólares em custos. O plano abrange uma
revolução cultural com base em palestras junto aos principais executivos da Procter no
mundo, visando incentivar o hábito de questionar o estabelecido e incentivar a
criatividade.
Um cartão vermelho e outro verde se transformaram em instrumentos de
trabalho para os executivos brasileiros da empresa. Cada vez que alguém começa a
defender nas reuniões conceitos considerados antigos recebe um cartão vermelho dos
colegas presentes, enquanto que idéias inovadoras são recebidas com um cartão verde.
96
b) No Brasil:
No Brasil, a Procter & Gamble só começou a atuar em 1988, após mais de 50
anos de operações na América Latina, com a aquisição da empresa Perfumarias Phebo
S. A., maior fabricante nacional de produtos de higiene pessoal na época. As primeiras
operações concentraram-se nas fábricas de Belém - PA, Feira de Santana - BA e São
Paulo - SP, onde os produtos da antiga Phebo eram fabricados. Alguns meses depois da
compra, a fábrica de Feira de Santana, na Bahia, foi desativada.
Logo após a aquisição da Phebo, a Procter & Gamble iniciou a introdução de
suas marcas globais no mercado brasileiro: Pert Plus no segmento de shampoos e
Pampers no segmento de fraldas descartáveis.
No entanto, os pesados investimentos no lançamento das fraldas Pampers Fases
não obtiveram retorno. Apesar do produto ser avançado tecnologicamente, o seu preço
era demasiadamente elevado para o mercado brasileiro. No início da década de 90, a
P&G contabilizou prejuízos de mais de 65 milhões de dólares em nosso país.
Tal situação foi revertida a partir do desenvolvimento de um produto
especialmente voltado para o consumidor nacional - a Pampers Uni. Com preços
populares, a Uni conquistou parcela significativa de mercado, até então dominado pela
Johnson & Johnson. Hoje, a P&G é vice-líder no setor com 27% de participação,
enquanto que o primeiro lugar fica para a nacional Kenko, com 29,7%.
De 1988 a 1996, foram investidos 250 milhões de dólares no Brasil. Os
resultados da P&G, de fato, têm melhorado. Em 1995, o faturamento atingiu 372
milhões de reais e o lucro ficou em torno de R$ 15 milhões de reais, superando em
muito os resultados de anos anteriores, mas ainda longe das vendas de algumas de suas
concorrentes.
O ano de 1996 foi marcado pela aquisição do negócio de detergentes para roupas
e louças da Bombril e das marcas Quanto, POP, ODD Fases e Finish. Essa aquisição
representou um dos maiores investimentos da Procter & Gamble no Brasil.
Desta forma, já em 1997, a P&G relançava o Quanto e toda a linha de
detergentes em pó com seu novo visual e nova formulação com tecnologia ACE,
mundialmente reconhecida, assim como introduzia no mercado brasileiro o sabão em pó
ARIEL, líder mundial na categoria.
97
O lançamento do Ariel compreendeu a distribuição de 5 milhões de amostras
grátis para consumidores em dez diferentes canais — como brinde de revistas femininas
e listas telefônicas ao tradicional porta-a-porta em condomínios da classe média.
Hoje, seu maior desafio é crescer e consolidar suas marcas no mercado de
detergentes em pó, onde o líder do mercado detém cerca de 85% de participação.
4.3.4 Operações:
A P&G tem seus produtos fabricados em mais de 150 plantas, localizadas em 50
diferentes países.
No Brasil, seu processo produtivo é centralizado em duas fábricas no estado de
São Paulo, nas cidades de Anchieta e Louveira. Enquanto que a fábrica de Anchieta,
comprada da Orniex (Bombril) em 1996 e reformada, restringe-se à fabricação de
sabões em pó, a planta de Louveira produz uma grande diversidade de produtos.
Além da produção local, a P&G importa produtos acabados provenientes de
plantas localizadas em outros países da América do Sul, assim como parte da produção
também é exportada.
A P&G também opera dois centros de distribuição, localizados nos estados do
Rio de Janeiro e Curitiba, ambos de propriedade da operadora logística McLaine.
4.3.5 Fatores facilitadores
4.3.5.1 Cultura e visão de negócio
a) Relacionamentos com fornecedores
A Procter tem preferência por fornecedores globais, e a maior parte dos insumos
utilizados em sua produção nas fábricas brasileiras são importados. Os seus
fornecedores desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de novos
produtos.
98
b) Relacionamentos com consumidores e com a comunidade
O sucesso da Procter & Gamble foi fundamentalmente baseado no seu foco em
pesquisa e desenvolvimento, pesquisa de mercado, assim como em pesados
investimentos em marketing.
Os seus investimentos em pesquisa tornaram a empresa capaz de ser a pioneira
em uma série de novas tecnologias. Tide, por exemplo, foi o primeiro detergente
sintético voltado para limpezas pesadas. Pampers deu início ao segmento de fraldas
descartáveis. Pert Plus foi o primeiro lançamento de shampoo e condicionador em um
só produto. Para isto, a Procter conta com cerca de 7000 cientistas trabalhando em 17
centros de pesquisa em todo o mundo. Seus investimentos em pesquisa e
desenvolvimento chegam a US$ 1,2 bilhões ao ano, e são arquivadas anualmente 20.000
novas patentes a cada ano – o que coloca a empresa entre as mais inovadoras do mundo.
Além disso, a Procter sempre esteve entre as líderes em pesquisa de mercado. O
DISC - Departamento de Informações e Serviços ao Consumidor da Procter & Gamble -
foi implantado em outubro de 1990 no nosso país. Hoje, todos os produtos da Procter &
Gamble trazem o número da linha telefônica 0800, estimulando os consumidores a
entrarem em contato com a empresa, permitindo a obtenção de um melhor
conhecimento das necessidades dos consumidores e de informações para aprimorar seus
produtos.
Recentemente, em todo o mundo, a Procter vem procurando concentrar seus
esforços nas marcas mais rentáveis e desfazer-se de outras que não oferecem o retorno
desejado, baseando-se, para tanto, nas informações obtidas junto aos consumidores e
através das pesquisas em laboratório. A diversidade de itens eleva os custos da empresa,
e a busca de um maior foco também tem a intenção de viabilizar uma redução de preços
ao consumidor final. Desta forma, a empresa descartou a marca de cosméticos Max
Factor, com mais de uma centena de itens, e passou a produzir fraldas Pampers unissex,
em vez das versões masculina e feminina, limitando-as em apenas dois tamanhos.
99
Os investimentos em publicidade, promoção e marketing da Procter & Gamble,
por sua vez, atingem o patamar de US$ 3 bilhões ao ano. Desde o lançamento de Ivory
em 1879 – uma das primeiras marcas no mundo a serem anunciadas -, a empresa sempre
buscou estar à frente em marketing, seja introduzindo novas técnicas como distribuição
de amostras nos pontos de venda ou mesmo novos conceitos como gerenciamento de
categorias.
A P&G também apresenta fortes investimentos em marketing institucional – um
total de 50 milhões de dólares ao ano em projetos para melhoria da qualidade de vida
nas comunidades onde atua. Com investimentos prioritários na área de educação,
desenvolve projetos para construir escolas em áreas rurais, concede bolsas de estudos,
investe em pesquisas, e promove, conjuntamente com setores governamentais, a higiene
pública. No Brasil, a P&G tem realizado doações periódicas a programas de melhoria da
qualidade do ensino e de prevenção ao uso de drogas.
c) Relacionamentos com funcionários
Entre os valores fundamentais da empresa, encontra-se a contratação de pessoas
altamente capacitadas. A P&G tem uma política global de contratar todos os seus
funcionários, através de um rigoroso processo seletivo, na posição de início de carreira e
promovê-los desde dentro. Seus gerentes são formados dentro da companhia através de
promoções obtidas com base em sua contribuição para o negócio.
A Procter foi uma das primeiras empresas nos Estados Unidos a criar um
programa de participação nos lucros. Seus funcionários têm o direito de determinar qual
percentual do salário será destinado à compra de ações, com um deságio de
aproximadamente cinqüenta por cento.
Não dispõe de um programa formal de mentores, muito embora um funcionário,
desejando aprender a respeito de uma área qualquer, consiga acesso a alguém da
organização que possa ser um orientador nesse sentido.
100
d) Relacionamentos com metas e com o mercado
A Procter & Gamble pode ser considerada uma empresa totalmente voltada para
resultados. Entre os princípios da empresa, destaca-se a afirmação “Nós procuramos ser
a melhor”. Seus resultados, TSR - total shareholder return, são apresentados de seis em
seis meses aos acionistas.
Suas metas são divulgadas entre todos seus funcionários, que acompanham com
interesse o desempenho da empresa. No início de 2000, ao não atingir suas metas, o
presidente da empresa enviou várias cartas com pedidos de desculpas aos funcionários.
No momento, como meta de longo prazo, a P&G pretende atingir um faturamento de
R$2 bilhões até 2003.
Além disso, a empresa, hoje, está comprometida com o Organization 2005, plano
de reestruturação apresentado pelo novo presidente em 1999, com a finalidade de
enxugar operações e acelerar o crescimento dos lucros. Os elementos do programa
incluem a padronização de linhas de produção e o alinhamento da capacidade de
produção com as unidades de negócios globais para aumentar a velocidade de entrega ao
mercado. A companhia planeja simplificar a estrutura organizacional para reduzir a
hierarquia e acelerar o processo decisório.
Pelo programa, a companhia passou de quatro unidades de negócios com base
em regiões geográficas para sete unidades globais baseadas em linhas de produtos. O
programa ainda inclui o fechamento de dez fábricas e um número não determinado de
módulos de produção.
4.3.5.2 Filosofia e técnicas gerenciais
O trabalho em equipe é considerado relevante na empresa. A P&G é estruturada
sob o modelo de times multifuncionais sob a liderança da área comercial,
compreendendo também as divisões de logística, sistemas e finanças. Os times são
responsáveis pelo atendimento de clientes específicos em qualquer linha de produtos
desejada.
101
Hoje, a P&G possui no Brasil cinco times multifuncionais, a saber:
Time 1: responsável pelo atendimento do cliente Carrefour
Time 2: responsável pelo atendimento de todos atacadistas e distribuidores
Time 3: responsável pelo atendimento do chamado Canal Farma, que consiste
em farmácias e distribuidores de medicamentos, assim como do supermercado SONAE
Time 4: responsável pelos varejistas do estado de São Paulo, assim como pelos
clientes Pão de Açúcar e Macro
Time 5: responsável pelos varejistas dos estados do Rio de Janeiro e Minas
Gerais com atendimento direto, assim como Sendas, Bom Preço, Nordestão, G. Barbosa
e Lojas Americanas S.A.
Além disso, o compromisso com a qualidade também faz parte da filosofia
gerencial da Procter. O conceito é difundido por toda a empresa, sendo demonstrado
pela busca constante de melhoria de seus produtos, processos e instalações. A P&G
investe pesadamente em suas plantas de modo a assegurar que seus produtos tenham a
mesma qualidade em qualquer parte do mundo. Da mesma forma, o compromisso com o
meio ambiente é fator fundamental para a empresa.
4.3.5.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias
A Procter & Gamble manteve durante anos uma certa arrogância nas
negociações junto a seus clientes varejistas, em uma época onde detinha as informações
sobre as preferências dos consumidores através de pesados investimentos em pesquisas
de mercado. A Wal-Mart foi a primeira a questionar tal comportamento, pois com os
novos sistemas de automação de lojas passava a conhecer melhor que seu fornecedor as
quantidades e os produtos que deveriam ser comprados. Após alguns anos de
relacionamento turbulento entre a Procter e a Wal-Mart, as duas empresas decidiram
reunir periodicamente alguns de seus altos executivos com o objetivo de criar uma visão
comum de relacionamento futuro. Desses encontros iniciais emergiu um plano de uso
conjunto da informática para aumentar as vendas e reduzir os custos.
102
O resultado foi a criação de um sistema informatizado de inventário com o qual
as duas empresas puderam poupar milhões de dólares. Para a Procter & Gamble, em
especial, o sistema fortaleceu seu relacionamento com a Wal-Mart, sua maior cliente,
gerando 3 bilhões de dólares em vendas — cerca de 10% de sua receita total.
Apesar do sucesso neste relacionamento, a Procter & Gamble, no Brasil, por
vezes, demostra uma certa falta de flexibilidade nos relacionamentos com seus clientes.
Recentemente, seguindo as diretrizes da matriz, foi decretada a padronização nos
abatimentos de preços aos clientes, extinguindo a realização de negociações volumosas
cliente a cliente. A afirmativa do presidente brasileiro - “Isso aqui não é um mercado de
tapetes” - caracterizou o fim da era de descontos sob medida junto aos varejistas
atuando no país. Esta falta de flexibilidade também pode ser percebida na demora na
adoção do pallet padrão PBR-01. Nas entrevistas deste estudo, foi criticada por acreditar
ser a detentora do conhecimento do único e verdadeiro modelo de relacionamento
indústria-varejo, o que lhe confere uma certa arrogância nas negociações. Ainda assim,
procura ocupar um papel de consultora, fornecendo pesquisas de preços e análises de
mercado a seus clientes.
A Procter & Gamble participa do Movimento ECR desde a sua fundação, ainda
que como ouvinte, e sem o compromisso de desenvolvimento de projetos piloto. No
Brasil, os relacionamentos com seus clientes ainda são bem distantes. Mesmo com Wal-
Mart, o seu modelo de sucesso norte-americano ainda não foi implantado. Hoje, entre a
P&G e a Wal-Mart no Brasil, há uso de EDI para a transmissão de pedidos, mas não há
transmissão de notas fiscais nem visão compartilhada do nível de estoque de cada
produto.
No passado, a P&G teve sua única experiência no Brasil de gerenciamento de
estoques com um cliente varejista - LASA -, a qual foi interrompida por não ter sido
bem sucedida. Apesar da P&G aceitar a participação em “cross-docking”, não incentiva
a prática.
No relacionamento com seus distribuidores autorizados, no entanto, o
relacionamento é mais estreito. A reposição contínua é utilizada, o que já proporcionou
à empresa redução dos níveis de estoque de 11 para 4 dias.
103
4.3.5.4 Porte e posicionamento no mercado
Atacadistas e distribuidores representam 60% das vendas da Procter & Gamble
no Brasil. No varejo, seu maior cliente é o Carrefour, enquanto a Sendas ocupa o sexto
ou sétimo lugar nesta lista. As vendas da Procter & Gamble na Sendas ainda são muito
reduzidas, representando uma parcela irrisória de seu faturamento no país e menos de
0,5% das vendas da Sendas.
No entanto, a Sendas tem uma importância estratégica para a Procter & Gamble,
por ocupar um papel fundamental no varejo do estado do Rio de Janeiro. No entanto,
sua preponderância foi reduzida recentemente, em função da compra, por parte do
Carrefour, dos supermercados Dallas, Rainha e Continente.
4.3.6 Relacionamento com o supermercado
4.3.6.1 Fatores motivacionais
Por parte da Procter & Gamble, uma parceria com a Sendas seria motivada
principalmente pela necessidade de aumentar o nível de serviço ao consumidor final,
uma vez que, hoje, o índice de falta de mercadorias da empresa nas lojas Sendas oscila
em torno de 25%. Além disso, entrada em novos mercados e crescimento das vendas
também motivariam uma parceria.
A Sendas, por sua vez, considera que o principal fator que motivaria uma
parceria com a P&G é a possibilidade de redução de custos, por um trabalho conjunto
em logística. Outros fatores como eficiência no uso de ativos, melhoria do serviço ao
cliente, entrada em novos mercados, acesso a novas tecnologias, estabilidade ou
crescimento de vendas não foram considerados fatores motivacionais para o
entrevistado das Sendas.
O acesso a novas tecnologias não foi mencionado como fator motivacional por
nenhuma das duas empresas, muito embora o entrevistado da P&G tenha ressaltado que
a Sendas teria muito a ganhar na parceria no que diz respeito ao acesso às metodologias
e aos profissionais da sua empresa.
104
Ambas as empresas concordam que a Sendas encontra-se em um estágio mais
avançado quanto à implementação de novas tecnologias em logística no Brasil tanto
pelo uso de EDI como pelo nível de automação do seu centro de distribuição e lojas.
4.3.6.2 Componentes
a) Planejamento
Praticamente não há planejamento conjunto de médio e longo prazo entre as
empresas. A P&G não é notificada com a devida antecedência sobre a abertura de novas
lojas, ainda que deva participar com o fornecimento gratuito de mercadorias, nem a
Sendas é comunicada sobre o lançamento de novos produtos da P&G.
No curto prazo, há o planejamento promocional, cuja discussão ocorre com
aproximadamente um mês de antecedência ao evento.
b) Controle operacional conjunto
As trocas de medidas de desempenho entre a Sendas e a P&G é ainda muito
escassa, e é realizada apenas de modo informal. Enquanto a P&G comunica à Sendas
sobre as ocorrências de faltas de mercadorias, a Sendas geralmente informa a este
fornecedor sua colocação nas vendas em cada uma das categorias de produtos com que
trabalha. Não há desenvolvimento conjunto de medidas de desempenho entre as
empresas.
O entrevistado da P&G relatou ainda que, neste relacionamento, há liberdade,
por parte de ambas as empresas, em sugerir mudanças operacionais, mas não de realizá-
las sem autorização prévia.
c) Comunicação
A comunicação não-rotineira entre as empresas é geralmente efetuada em base
“ad-hoc”, não existindo uma programação prévia, exceto pela existência de um encontro
bi-anual entre os altos executivos da P&G e da Sendas.
105
Na comunicação rotineira, por sua vez, o entrevistado da P&G manifestou que
há uma certa dificuldade na obtenção de informações na Sendas, principalmente pela
falta de autoridade dos funcionários no tratamento e liberação dos dados. Além disso,
ainda que exista um responsável comercial pelo atendimento a Sendas na P&G, ele deve
lidar com quatro compradores distintos em função da diversidade dos seus produtos.
Cada uma das empresas opera sistemas independentes, que não se comunicam,
nem nunca sofreram qualquer desenvolvimento ou modificação conjunta. As trocas e
obtenções de informações ocorrem nas visitas semanais aos compradores na sede da
Sendas efetuadas pelos gerentes comerciais da Procter, e nas visitas às lojas realizadas
pelo gerente operacional.
d) Divisão de riscos e retornos
Neste aspecto, há um certo conflito no relacionamento de ambas as empresas.
Enquanto a Sendas afirma que não há flexibilidade nas negociações por parte da Procter,
esta última não acredita que há boa vontade por parte da Sendas em investir no
relacionamento e em retornos conjuntos. Nos termos do acordo logístico proposto a
Procter, exigia-se um desconto de 2% do preço bruto, em função de reduções de custos
pela adoção do pool de pallets, assim como pelo compromisso de receber em janela de 2
a 3 horas e enviar pedido de forma eletrônica. Após longas discussões, a P&G terminou
por conceder tal desconto, muito embora não concordasse com tal prática, para manter
um bom relacionamento com o cliente.
Em outro momento, a P&G negou uma bonificação solicitada pelo cliente, e teve
que arcar com as conseqüências de não ter seus produtos vendidos na Sendas por
praticamente cinco meses.
106
e) Confiança
A confiança mútua não é característica presente no relacionamento entre a
Procter e a Sendas. Muito pelo contrário, em diversas ocasiões os valores apresentados
são questionados e recalculados, como se um sempre estivesse buscando vantagem
sobre o outro. Da mesma forma, a Procter acredita que algumas condições mais
favoráveis são concedidos pela Sendas a seus concorrentes.
f) Estilo do contrato
As empresas não dispõem de qualquer contrato comercial em comum. O único
documento que rege o relacionamento é o chamado acordo logístico, recentemente
assinado entre as empresas. O acordo logístico não tem data prevista para término, mas
é extremamente detalhista nas suas especificações.
g) Escopo
As atividades modificadas com a implementação de um relacionamento mais
estreito com a Sendas foram basicamente as de distribuição, conforme especificado no
acordo logístico.
h) Investimentos
Neste aspecto, há uma completa separação entre ambas as empresas. Não há
qualquer propriedade conjunta de ativos, desenvolvimento conjunto de produtos ou
troca de pessoal entre empresas - exceto pela presença de promotores nas lojas Sendas.
4.4 Descrição da empresa fornecedora B: Danone
4.4.1 Informações gerais sobre a empresa
Hoje, a Danone - cuja marca foi lançada em 1919 na Espanha - é a terceira maior
empresa de alimentos da Europa, e tem atuação em aproximadamente 40 países, com
um faturamento de cerca de US$ 17 bilhões.
107
No país, comercializa sua marca há cerca de 29 anos através da Laticínios Poços
de Caldas, muito embora apenas em 1997 a empresa tenha passado a chamar-se Danone
S.A. Faturando aproximadamente US$ 338 milhões em 1999 e contando com cerca de
3000 funcionários, é líder no segmento de refrigerados e vice-líder em biscoitos no
país.
4.4.2 Produtos comercializados no Brasil
No Brasil, a empresa comercializa biscoitos através das marcas Danone e
Triunfo, assim como produtos frescos (iogurtes, petit suisse, sobremesas, processed
cheese) em todo o território nacional.
4.4.3 Histórico
a) No mundo:
A história da Danone está relacionada com a fusão, em 1966, de duas empresas
fabricantes de vidro: Souchon-Neuvesel e Glaces de Boussois, ambas com sede na
França. A nova empresa Boussois-Souchon-Neuvesel, conhecida como BSN, ao
perceber que as garrafas de vidro perderiam seu monopólio junto à indústria de bebidas,
e sem qualquer intenção de passar a produzir recipientes de plástico, papelão ou metal,
assumia, alguns anos após a sua criação, mais especificamente em 1970, o controle de
grandes empresas no setor de bebidas, como Evian e Kronenbourg. Desta forma,
passava a ser a maior empresa francesa fabricante de cervejas, águas minerais e
alimentos para bebês.
Em 1973, após vários meses de negociação, a BSN anunciou a sua fusão com a
Gervais Danone – empresa no ramo de alimentos, fundada em 1919 na Espanha, que
buscava crescimento na Europa - criando o maior grupo do ramo de alimentos da
França. Desta forma, a BSN conseguia diversificar suas atividades e ingressar de forma
decisiva no mercado de alimentos – massas, refeições prontas, bebidas, produtos
frescos.
108
Em 1986, BSN Gervais Danone ingressou no ramo de biscoitos, através da
aquisição da General Biscuit – grupo com uma rede de empresas na Alemanha, Bélgica,
França, Holanda e Itália. Três anos após, era a vez da Gervais Danone adquirir as
subsidiárias européias da Nabisco.
Em 1993, BSN Gervais Danone estabeleceu uma divisão para administrar a sua
expansão internacional, responsável por identificar quais marcas deveriam ser
exportadas, e para quais países. Em poucos anos, a empresa já produzia iogurtes,
cervejas, águas minerais e biscoitos na Ásia e América Latina. Anos após, a Danone
venderia suas atividades no segmento de cervejas, direcionando todos seus esforços na
comercialização de produtos frescos, águas e biscoitos.
Em junho de 1994, em uma estratégia de marketing, o grupo decidiu adotar o
nome Danone, aproveitando o sucesso de sua marca líder, produzida em mais de 30
países e responsável por mais de um quarto do seu faturamento.
Hoje, as marcas principais do grupo são Danone, LU e Evian, que, juntas,
representam aproximadamente 40% de suas vendas.
b) No Brasil:
A Danone entrou no Brasil no início da década de 70, quando existia no mercado
brasileiro apenas a linha de iogurtes natural, sem açúcar, produzida e comercializada
pelos laticínios nacionais, entre os quais a Paulista era líder. Desta forma, foi a primeira
a comercializar o iogurte com polpa de frutas no Brasil, através de uma associação com
a Lacticínio Poços de Caldas, LPC. Enquanto a Danone entrava com a tecnologia, a
LPC custeava a produção.
109
A empresa tinha sua principal unidade instalada na cidade de São Paulo. Ficava
perto dos consumidores, porém distante das fazendas onde recolhia o leite. Em 1992, a
diretoria da Danone tomou a decisão de desativar gradativamente a fábrica paulistana.
As operações foram sendo transferidas para a cidade mineira de Poços de Caldas, centro
de uma das maiores bacias leiteiras do país. Na nova fábrica, fruto de um investimento
de 25 milhões de dólares, a Danone multiplicou por seis sua capacidade de produzir
iogurte, requeijão cremoso e outros derivados de leite. Ao ganho de escala foram
acrescentadas providências aparentemente simples, mas de muita eficácia. As
embalagens do iogurte, por exemplo, ganharam novo desenho. Com isso, potes menores
acondicionam quantidades idênticas de produto a um custo menor para a empresa. O
resultado de todas as providências foi uma redução geral de despesas da ordem de 25%.
Assim, a Danone pôde beneficiar-se do aumento de vendas estimulado pela
chegada do Plano Real, uma vez que foi capaz de manter seus preços em um patamar
inferior ao da concorrência. Seu faturamento em 1995, de 433 milhões de dólares, foi
58% maior do que no ano anterior.
O ingresso da empresa no setor de biscoitos de nosso país ocorreu em 1994, a
partir da aquisição de 50% das ações da Companhia Campineira de Alimentos,
detentora das marcas Triunfo e Ritz e até então vice-líder do mercado de biscoitos no
Brasil. Com a entrada da Danone, todos os grandes grupos mundiais de biscoitos
passam a atuar no Brasil: Nabisco, United Biscuits (em associação com a marca Dona
Benta no mercado interno) e Nestlé. Tal composição acionária foi mantida até o final de
1997, quando passou a deter 100% das ações da Companhia Triunfo.
Outra importante aquisição deu-se em março de 1996, quando passou a deter
25% das ações da Aymoré, tradicional fábrica mineira de balas, biscoitos e chocolates.
Desta forma, a Danone finalizava o ano de 1996 com o segundo lugar no mercado
brasileiro de biscoitos, além de manter a posição de líder no mercado de produtos
frescos no país. Em anos seguintes, a Danone aumentaria pouco a pouco sua
participação na Aymoré, até atingir, em fevereiro de 2000, 80% do capital da empresa.
110
Em 1998, passava a atuar com a própria marca Danone no segmento de
biscoitos. Com duas marcas regionais nas mãos, disputando mercado com mais de 260
empresas, a Danone aproveitou-se do fato para ter uma forte marca nacional no setor de
biscoitos, montando estratégias distintas para as três marcas.
4.4.4 Operações
Para viabilizar suas vendas por todo o país, a Danone opera, além do centro
administrativo em São Paulo, duas fábricas e seis bases regionais de distribuição. No
segmento de refrigerados, há uma fábrica em Poços de Caldas (MG) – a terceira em
capacidade de produção entre as 55 fábricas Danone em quinze países - e cinco bases
regionais de distribuição localizadas em Poços de Caldas (MG), Jandira (SP), Salvador
(BA), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ). No segmento de biscoitos, por sua vez,
dispõe de uma fábrica em Campinas e trabalha com um depósito no Rio de Janeiro, de
propriedade da distribuidora Arouca.
Na transferência entre fábricas e depósitos toda carga é paletizada. No entanto,
em alguns depósitos, não são utilizadas empilhadeiras para efetuar as descargas, mas
paleteiras hidráulicas. As bases regionais não possuem um sistema gerenciador de
estoques, e não há leitura óptica na entrada e saída de mercadorias. No entanto, o centro
administrativo pode visualizar o estoque total, através de informação transmitida por
cada instalação.
No segmento de refrigerados, a Danone trabalha unicamente com frota
terceirizada, de aproximadamente quarenta veículos refrigerados.
111
4.4.5 Fatores facilitadores
4.4.5.1 Cultura e visão de negócio
a) Relacionamento com fornecedores:
A principal matéria-prima adquirida pela Danone, o leite, é fornecida através de
2006 produtores, todos nacionais. Ao todo, são comprados cerca de 173 milhões de
litros por ano.
Recentemente, houve uma redução significativa no número de fornecedores de
leite. Antes, eram quinze os centros de coleta de leite nos Estados de São Paulo e Minas
Gerais e 4 000 o número de fornecedores de leite. Os postos coletores foram reduzidos
para sete e a empresa passou a comprar a matéria-prima de apenas 2 000 produtores
rurais, os mais produtivos. A Danone recebe hoje três vezes mais leite do que no
passado.
Na França, em especial, a Danone desenvolve alguns projetos junto a
fazendeiros, de forma que obtenham melhor produtividades nas colheitas sem causar
danos à natureza.
b)Relacionamento com consumidores e com a comunidade
A Danone demostra especial preocupação com a saúde e nutrição, buscando
fabricar produtos saudáveis, de alta qualidade e que contribuam para uma alimentação
equilibrada. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento representam, hoje, cerca de
0,9% das vendas anuais do grupo, e empregam 1200 pessoas em todo mundo.
112
A Danone também realiza elevados investimentos em pesquisas de mercado,
procurando sempre adaptar seus produtos às necessidades dos diferentes segmentos de
consumidores. Em 1994, por exemplo, da identificação do hábito dos consumidores de
bater o iogurte natural com leite e um pouco de açúcar, a empresa lançou Danone
batido. Ainda neste ano, lançou o Danoninho com ferro, como uma resposta da empresa
a uma pesquisa que indicava que 70% das crianças entre 1 e 3 anos tinham carência de
ferro. Em 1998, lançamentos da linha de biscoitos da Danone composta de 14 tipos
consumiram US$ 25 milhões. Ao lançar a marca Danone no segmento de biscoitos, a
empresa foi buscar a opinião do consumidor em pesquisas que indicaram alguns
caminhos, influenciando diretamente em formatos de biscoitos e sabores com os
chamados testes cegos.
Junto à comunidade, por sua vez, a empresa contribui com o subsídio de projetos
e pesquisas nas áreas de saúde, alimentação e nutrição através do chamado Instituto
Danone, criado em 1991 na França. Em junho de 1997, a instituição também passou a
existir no Brasil. O instituto financia projetos com a criação de bolsas e prêmios, e
desenvolve programas de divulgação aos profissionais de saúde e educação e ao grande
público.
Recentemente, a Danone tem direcionado suas doações a projetos destinados a
menores carentes. No final de 1999, a Danone, em parceria com a Fundação
Internacional da Juventude, promoveu a “Hora da Criança”, que consiste na doação do
montante correspondente ao pagamento da última hora de trabalho do século de todos os
funcionários do grupo em todo mundo. A Danone, ainda, convidou seus 80.000
funcionários a fazerem o mesmo, o que dobraria o valor da doação. Os fundos serão
destinados a fundações e associações locais que já desenvolvem projetos voltados a
crianças carentes.
113
c) Relacionamento com funcionários
A Danone pode ser considerada uma empresa com um certo paternalismo no que
diz respeito à administração de seus recursos humanos. Os funcionários mais antigos
são valorizados e tratados com respeito pela empresa. Apesar da existência de
definições claras de metas para as áreas de vendas, as avaliações são informais e o
percentual de participação nos lucros é igual para todos. Este mesmo informalismo pode
ser encontrado na ausência de declaração oficial quanto a sua visão de longo prazo ou de
regras definidas sobre como lidar com o cliente.
d) Relacionamentos com metas e com o mercado
As orientações estabelecidas pela matriz compreendem a promoção da margem
operacional, da rentabilidade do capital investido e do crescimento dos lucros, como
também a manutenção da política social e humana no centro das preocupações da
empresa.
Para fazer frente à concorrência, a Danone procura consolidar suas marcas e criar
hábitos de consumo, tentando caracterizar seus produtos como nutritivos e saudáveis.
Ao invés de desenvolver produtos com um curto ciclo de vida no mercado, a Danone
prefere manter uma baixa diversidade de itens, conhecidos pela sua qualidade.
Danoninho e Corpus, por exemplo, são produtos que ajudam a fortalecer a imagem da
companhia.
4.4.5.2 Filosofia e técnicas gerenciais
A Danone atende diretamente apenas aos grandes clientes, que representam 85%
do faturamento da empresa. Os demais – pequenos varejistas - são atendidos através dos
chamados Representantes Comerciais Autônomos (RCAs).
No Rio de Janeiro, a Danone conta com seis gerentes de contas-chave para as
vendas de refrigerados aos grandes clientes, sendo um deles só para as Sendas. No caso
de biscoitos, há uma outra estrutura de vendas em separado.
114
Os gerentes de contas-chave comunicam-se com freqüência com o gerente de
logística, principalmente para a resolução de questões operacionais. No entanto, não há
formação de equipes multifuncionais para o atendimento de clientes.
4.4.5.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias
A Danone recentemente passou a atuar no movimento ECR. Hoje, além de
trabalhar com o pallet padrão PBR-01, faz uso de EDI com alguns poucos clientes. Com
a Cia Brasileira de Distribuição, por exemplo, há trocas de pedidos via EDI, enquanto
que, com a Sendas, há transmissão de notas fiscais.
Com a Sendas, além disso, realiza cross-docking. Seus produtos são entregues
durante a noite no centro de distribuição deste cliente, em lotes separados loja a loja.
Para que produtos com prazo vencido não cheguem aos consumidores e
ameacem esta imagem que tem preservado, a Danone permite que seus clientes
varejistas e atacadistas troquem qualquer produto adquirido na empresa dois a três dias
antes da data final de validade.
4.4.5.4 Porte e posicionamento no mercado
A Danone é líder de vendas no segmento de refrigerados no país e vice-líder em
biscoitos. A Sendas tem papel relevante para a empresa, sendo seu segundo maior
cliente da Danone no Rio de Janeiro e o seu quinto maior cliente no Brasil.
Em vendas, a Danone ocupa a posição 216 na lista das 500 maiores empresas
privadas do país, com um faturamento de US$338 milhões em 1999.
115
4.4.6 Relacionamento com o supermercado
4.4.6.1 Fatores motivacionais
Segundo o entrevistado da Danone, a parceria com a Sendas vem sendo
motivada pelo serviço ao cliente, por garantir ao consumidor final produtos mais
frescos, assim como pelo acesso a novas práticas e tecnologias, como o EDI e cross-
docking.
Na Sendas, estes dois fatores também foram mencionados como motivadores
para a formação de uma parceria com a Danone. No entanto, a Sendas considera que o
principal fator motivacional, neste caso, é possibilidade de redução de custos. Pelo
próprio segmento de mercado em que a Danone atua, há dificuldades inerentes ao
processo de distribuição. Os produtos perecíveis são entregues em pequenas
quantidades, diariamente. Um trabalho conjunto em logística possibilita que os custos
de ambas as empresas sejam reduzidos, o que também poderia trazer uma vantagem em
marketing caso seja revertido em menores preços ao consumidor final.
4.4.6.2 Componentes
a) Planejamento
O planejamento de médio e longo prazo de ambas as empresas é realizado de
forma quase que independente, sendo comunicado, em base “ad-hoc” e de modo
informal, à outra parte interessada. Pode-se citar, como exemplo, a abertura de novas
lojas e o lançamento de novos produtos.
Excepcionalmente, há um planejamento conjunto, também em base “ad-hoc”,
quando são identificadas oportunidades para pelo menos uma das empresas.
116
Neste último caso, temos como exemplo, a adoção do cross-docking nos centros
de distribuição das Sendas. O projeto em questão foi pioneiro para ambas: a Danone e as
Sendas nunca haviam realizado cross-docking. As entregas diárias de produtos
perecíveis em cada uma das lojas Sendas provocava elevados custos para ambas as
partes. O tempo de descarga era longo, aumentando os custos para o fornecedor. Com o
projeto, as entregas passaram a ser todas centralizadas, no centro de distribuição das
Sendas em São João do Meriti. Diariamente, das 22 às 24 horas, a Danone recebe os
pedidos de cada uma das lojas e inicia a separação das mercadorias de forma que a
entrega possa ocorrer a partir das cinco horas da manhã. Os produtos devem ser
separados por lojas, paletizados e envolvidos com stretch. Além disso, a ordem de
carregamento é informada pelas Sendas: deve ser na ordem inversa da seqüência
programada de entregas às lojas.
b) Controle operacional conjunto
A Danone e as Sendas não comunicam entre si os seus resultados de medidas de
desempenho, muito menos chegam a desenvolver em conjunto indicadores de
desempenho. O mais importante índice acompanhado pela Danone é o número de trocas
de mercadorias efetuadas pelos seus clientes.
Além disso, os entrevistados de ambas as empresas afirmaram haver liberdade
em sugerir mudanças operacionais uma à outra, mas não de implementá-las sem
comunicação prévia.
c) Comunicação
Para a comunicação não-rotineira entre a Danone e a Sendas, não há qualquer
programação previamente agendada, e são raros encontros entre suas diretorias ou
presidências.
No entanto, a comunicação rotineira entre ambas as empresas é intensa, através
do recebimento de pedidos, transmissão de notas fiscais e negociações pontuais entre os
departamentos comerciais e de logística.
117
Os pedidos das Sendas à Danone são feitos diariamente por telefone pelos
promotores encarregados da negociação com os gerentes de perecíveis de cada uma das
lojas Sendas. Apenas no caso de promoções, as negociações e a colocação de pedidos é
feita de forma centralizada. A transmissão das notas fiscais entre as empresas, por sua
vez, é realizada através de EDI.
Além disso, semanalmente, os responsáveis por logística de ambas as empresas
encontram-se no escritório das Sendas. O contato entre as áreas comercial e logística
dentro de cada uma das empresas é intenso.
d) Divisão de risco e retornos
A Danone procura ser bem flexível no atendimento das exigências de seus
clientes. Acreditam que é válido investir no curto prazo para ganharem no longo prazo,
como no caso da bonificação exigida pelas Sendas na abertura de cada nova loja e
também no trabalho conjunto com encarte promocional.
e) Confiança
O entrevistado da Danone acredita que a confiança no relacionamento com a
Sendas é superior à depositada em outros clientes, mas, ainda assim, são realizados
controles em paralelo, como no caso dos ganhos registrados em função do acordo
logístico. Da mesma forma, a cada novo projeto proposto, são calculados e conferidos
os custos e os benefícios para cada uma das partes envolvidas.
f) Estilo do contrato
A Sendas e a Danone não possuem qualquer contrato comercial entre si, muito
embora a Sendas já tenha esta prática com outros fornecedores. Porém, ambas assinaram
um acordo logístico, que abrange basicamente a atividade de “cross-docking”, definindo
horário para transmissão de arquivos das notas fiscais ao centro de distribuição das
Sendas. Não há data estabelecida para término deste acordo logístico, que mostra-se
extremamente detalhado em suas especificações.
118
g) Escopo
As atividades abrangidas no relacionamento entre a Danone e a Sendas são
primordialmente de distribuição. Algumas outras são envolvidas, ainda em que menor
intensidade, como marketing (encartes) e faturamento - pela transmissão automática das
notas fiscais.
h) Investimentos
Não há propriedade conjunta de ativos de baixo valor, nem desenvolvimento
conjunto de produtos, nem troca de pessoal entre as empresas.
4.5 Descrição da empresa fornecedora C: Nestlé
4.5.1 Informações gerais sobre a empresa
Fundada na Suíça em 1866, a Nestlé é a segunda maior indústria de alimentos
em todo o mundo, atrás apenas da anglo-holandesa Unilever. Com praticamente 231 mil
funcionários e 500 fábricas, têm seus produtos comercializados em praticamente todos
os países do globo.
No Brasil, instalou sua primeira fábrica em 1921. Hoje, é a maior empresa
alimentícia do país, contando com cerca de 10 mil colaboradores e comercializando e
distribuindo mais de 450 itens. Em 1999, seu faturamento atingiu R$3,4 bilhões e os
investimentos absorvidos no parque industrial e tecnologia somaram R$131,5 milhões.
Neste mesmo ano, realizou negócios com 29 países - dentre eles os principais são:
Argentina, Ucrânia, Paraguai, Chile, Portugal, Japão, Alemanha, Venezuela e Canadá -,
exportando 20 mil toneladas, equivalentes a US$ 50 milhões de faturamento.
119
4.5.2 Produtos comercializados no Brasil
A Nestlé tem uma forte atuação em diversos segmentos no nosso país. Com a
linha Nestlé Baby de papinhas e sopinhas, é líder de mercado no segmento de alimentos
infantis, onde está presente com mais de 50 itens. A empresa também está presente no
segmento de cereais infantis, principalmente através das marcas Farinha Láctea e
Neston, e, mais recentemente, no segmento de cereais matinais. No segmento de lácteos,
produz leites em pó, cremes de leite e leite condensado, onde conta com marcas de
renome como Ninho, Molico e Leite Moça.
No segmento de refrigerados, comercializa iogurtes, leite fermentado, petit
suisse, queijos, sobremesas e sorvetes, além de sucos e bebidas isotônicas e lácteas. Em
termos de bebidas, também está representada no segmento de cafés através da marca
Nescafé, no de águas engarrafadas com o produto Nestlé Pure Life, e no de bebidas
achocolatadas com as marcas Nescau e Nesquick.
Sua presença também é marcante no segmento de biscoitos, onde atua com as
marcas São Luiz e Tostines, e chocolates - bombons, chocolate em pó, confeitos e os
mais diversos tabletes. A empresa também comercializa balas, pirulitos e confeitos,
principalmente através da linha Kid’s.
No segmento de culinários, a Nestlé atua através da marca Maggi, que abrange
caldos, massas, pratos prontos congelados, sopas e temperos.
A Nestlé ainda comercializa alimentos para cães e gatos, com os produtos
Friskies.
4.5.3 Histórico da empresa
a) No mundo
A Nestlé surgiu em 1867 quando Henri Nestlé criou um produto nutritivo para as
crianças cujas mães estavam impossibilitadas de amamentar - a Farinha Láctea. Para
personificar o negócio, ele usou o brasão de sua família, que tinha a figura de um ninho.
120
Quase simultaneamente ao início da fabricação da Farinha Láctea, o americano
George H. Page, da Anglo Swiss Condensed Milk Co., iniciou, em Cham, também na
Suíça, a fabricação de leite condensado, utilizando o leite abundante e de boa qualidade
produzido no país. Em 1878, a Anglo Swiss passou também a fabricar uma farinha
infantil. A Sociedade Nestlé, por sua vez, iniciou a fabricação de leite condensado logo
a seguir. Essa concorrência entre as duas empresas terminaria em 1905, numa fusão que
deu origem à Nestlé and Anglo Swiss Condensed Milk Co.
A partir de então, a empresa jamais abandonaria sua vocação pela alimentação,
realizando novas fusões e incorporações que a transformaram na maior indústria
alimentícia do mundo e na maior especialista mundial em nutrição, marcando presença
hoje com 500 fábricas nos cinco continentes.
b) No Brasil
A Farinha Láctea foi o primeiro produto a desembarcar no país, em 1876 - nove
anos após seu lançamento na Europa - e logo a seguir também chegaram os primeiros
carregamentos de leite condensado. Inicialmente usado apenas como bebida
(reconstituído com água), o leite condensado era um produto que podia ser armazenado
por um longo tempo, característica fundamental em períodos de escassez de leite.
Em 1921, com a construção de sua primeira unidade industrial em Araras, no
interior paulista, a Nestlé iniciou no Brasil a produção do leite condensado, mais tarde
conhecido como Leite Moça. Em pouco tempo, o Brasil se converteu no maior mercado
mundial de leite condensado açucarado, posição que mantém até hoje.
Poucos anos depois, foi iniciada também a produção de Farinha Láctea Nestlé
(1924) e do leite em pó integral (1928) no nosso país.
Na década de 30, a Nestlé consolidou sua participação no mercado brasileiro,
com a abertura de filiais de vendas. Ainda nessa década, novos produtos foram
lançados, como o Nescau (1932) e o Creme de Leite Nestlé.
Sensível às necessidades dos consumidores e cada vez mais presente nos lares
brasileiros, a Nestlé ampliava sua participação no mercado com a aquisição de novas
fábricas e o lançamento de vários produtos nos anos 40 e 50.
121
A empresa começou a produzir chocolates no país em 1959, linha hoje
concentrada na fábrica de Caçapava. Lançou, ainda, Neston (1958) e o Nescafé (1951),
o primeiro café solúvel, um novo conceito que revolucionou um dos mais tradicionais
hábitos de consumo.
Ainda nesse período, a Nestlé criou o SIC (Serviço de Informação Científica) e a
ANPL (Assistência Nestlé aos Produtores de Leite)- hoje SNP (Serviço Nestlé ao
Produtor).
Na década de 60, numa iniciativa pioneira, a Nestlé inaugurou o Centro Nestlé
de Economia Doméstica, atual Nestlé Serviço ao Consumidor. Além disso, entrou forte
nos segmentos de biscoitos, adquirindo a Biscoitos São Luiz em São Paulo, e lançou
produtos da linha Maggi, refletindo a evolução das necessidades da dona de casa para a
vida moderna.
Nos anos 70, a evolução do mercado mudou as regras e o estilo de vida, dando
vez aos alimentos saudáveis e naturais. A Nestlé lançou várias novas linhas: os
alimentos infantis Nestlé Baby, os congelados Findus, os refrigerados Nestlé. Também
nesta década, a Nestlé lançou no Brasil o sorvete Yopa após anos de experiência em
mercados como os da Suíça, França, Espanha, Argentina, Chile e México.
Nos anos 80, foi a vez da Nestlé consolidar seu compromisso com a sociedade
brasileira mediante ações e patrocínios institucionais. Assim, nasceram a Fundação
Nestlé de Cultura e o Programa Institucional Nestlé.
Na década de 90, entrou nas áreas de cereais matinais e alimentos para animais
com a linha Friskies. Além disso, novos produtos despontaram cada vez mais
especializados e integrados às necessidades do mercado, adicionando mais de 650 itens
alimentícios. Novas fábricas foram adquiridas, entre elas a Confiança, detentora das
marcas Kid's e Tostines, em São Paulo (1993).
Em 1990, ainda, ocorreu uma fusão entre as marcas Yopa e Gelato e, hoje, a
linha de sorvetes Yopa tem distribuição em todo o território nacional, excluindo o Norte
e Nordeste. Em 1994, a Yopa comprou a Gelato e se tornou o principal concorrente
industrial da Kibon no Brasil.
122
Com o avanço das novas tecnologias de comunicação, a Nestlé Brasil lançou, em
1998, seu site na Internet, aproximando-se, ainda mais, dos consumidores, por meio da
rede mundial de computadores. Essa experiência agradou o público e rendeu ao site da
Nestlé o título de melhor site do ano de 1999 no voto dos usuários de Internet,
concedido pelo iBest Brasil.
Hoje, muito embora continue na liderança de mercados pioneiros, mantenha
presença significativa em diversos outros e seja associada a produtos de qualidade, a
Nestlé vive momentos de grande tensão. A empresa vem perdendo valiosos pontos de
participação em função do aumento da concorrência. Os concorrentes vêm
diversificando suas frentes de atuação, passando a constituir ameaça em segmentos de
mercado onde a Nestlé sempre manteve a preponderância. Desta forma, a Nestlé depara-
se com o desafio de reduzir seus custos de forma a conseguir oferecer preços mais
acessíveis sem prejudicar sua rentabilidade e sua liderança.
Neste contexto, em setembro de 1999, assumiu a frente da Nestlé no Brasil um
novo presidente - o primeiro executivo brasileiro nomeado para o cargo em tempos
recentes. Há nove meses no comando da Nestlé no Brasil — hoje o quarto mercado para
a empresa suíça no mundo, depois dos Estados Unidos, França e Alemanha —, vem
reestruturando a companhia de forma a adaptá-la a este novo ambiente de concorrência.
Há, em primeiro lugar, a busca por uma maior integração entre as divisões da Nestlé no
Brasil, que hoje operam de forma quase que independentes. Seus executivos pouco se
comunicam e as decisões não são compartilhadas. A formação de equipes virtuais em
que gerentes das diferentes divisões se sentam lado a lado para planejar processos
comuns surgiu como uma forma de eliminar desperdícios e reduzir custos.
Além disso, os investimentos da Nestlé vem passando a ser mais controlados e
direcionados aos segmentos considerados mais promissores e rentáveis. No passado,
todos os produtos recebiam quase que igual atenção. Hoje, os investimentos vem sendo
avaliados na medida do retorno previsto.
123
4.5.4 Operações
As operações da Nestlé no Brasil contam com 24 fábricas e mais 10 unidades de
distribuição espalhadas pelas capitais brasileiras.
Todos os produtos da empresa recebem o código de barras EAN. No entanto, os
códigos EAN/DUN-14 passaram a estar presentes nas caixas mais para atender uma
exigência de grandes clientes do que para fornecer dados para controle interno. Até
recentemente, seus estoques possuíam controle manual e as informações disponíveis no
código de barras de cada produto não eram usadas internamente pela Nestlé. Os
investimentos de automação eram considerados demasiadamente altos, em torno de U$
100 a U$ 150 mil por armazém.
Uma forma de amenizar o problema foi a construção de uma grande central de
distribuição, automatizada, em Cordeirópolis, em um projeto de centralização de
estoques. A central tem capacidade para estocar até 52 mil pallets ou 3,5 milhões de
caixas de produtos, em um investimento de 40 milhões de reais. Praticamente todos os
produtos Nestlé passarão por Cordeirópolis, para consolidar carga. A escolha do local
foi em função da posição estratégica que ocupa. Instalada às margens da Rodovia
Anhanguera, a central ocupa 190 mil metros quadrados dentro do triângulo formado
pelas rodovias Anhanguera, Washington Luis e a pouco mais de um quilômetro do trevo
da futura Rodovia Bandeirantes. A partir deste local, a empresa despachará rapidamente
para todo o país.
A Nestlé também vem acompanhando as novas tendências varejistas através da
adoção de EDI no relacionamento com alguns de seus grandes clientes, como as redes
Pão de Açúcar, Bom Preço e Sendas. Da mesma forma, já realiza reposição automática
com o atacadista Makro, através de parâmetros pré-estabelecidos entre as partes.
Quando os estoques forem inferiores ao mínimo estipulado, o pedido é emitido
automaticamente, sem interferência nenhuma. Além disso, a Nestlé vem trabalhando
para reduzir o número de transportadores com que trabalha, que já baixaram de 50 para
apenas 23.
124
Hoje, a Nestlé faz cross-docking com alguns clientes, principalmente para
biscoitos e chocolates. Há um interesse por parte da Nestlé em realizar esta operação
também com produtos da linha Chambourcy, pelo seu curto prazo de validade, de
apenas 35 dias. No entanto, os pallets utilizados pela Nestlé no transporte de iogurte,
com as dimensões de 80 X 60 ou 80 X 1,20, não são utilizados por seus clientes,
exigindo por parte dos últimos uma revisão de toda a sua estrutura, como adequação das
portas e câmaras de refrigeração e dificultando a adesão e interesse dos mesmos.
4.5.5 Fatores facilitadores
4.5.5.1 Cultura e visão de negócio
a) Relacionamento com fornecedores
A empresa é a maior compradora individual de leite do país. Todo o leite é
adquirido de uma rede de cerca de 25 mil produtores espalhados pelo país, assistidos
pela ANPL (Assistência Nestlé aos Produtores de Leite) - criada há 47 anos e formada
por meio de uma equipe de 200 profissionais - agrônomos, veterinários, zootécnicos e
técnicos agropecuários. Esse suporte é dado em forma de apoio e instruções sobre
alimentação do gado, ordenha, limpeza de estábulos, cuidados higiênicos em geral ou
oportunidades de melhoria da qualidade do produto.
Em junho de 1999, por exemplo, a Nestlé conseguiu do BNDES a aprovação de
um financiamento de R$ 98,6 milhões para a instalação de um programa de coleta de
leite para produtores rurais substituindo os latões de leite que ficam nas porteiras das
fazendas, à espera de caminhões para levá-los às cooperativas, por tanques de
resfriamento com capacidade de abrigar, em média, de 300 a 800 litros de leite/dia.
Além do financiamento do BNDES a própria empresa deve investir R$ 25 milhões no
projeto.
O programa permite melhoria da qualidade do produto, porque o leite é mantido
numa temperatura baixa e constante. Além disso, os caminhões de coleta do produto
podem passar nas propriedade em dias alternados, reduzindo as despesas com o frete
pago pelo produtor.
125
Outra possibilidade é o produtor coletar o leite à tarde e estocá-lo até o dia
seguinte, obtendo ganhos em sua produção. A idéia é que até 2001, as 4 mil toneladas
diárias processadas nas unidades leiteiras da Nestlé sejam coletadas por esse sistema.
A Nestlé também oferece, em parceria com a Fundação Bradesco, cursos de
capacitação e treinamento em Inseminação Artificial, com duração de uma semana. São
7 Centros de Treinamento com a melhor estrutura existente no mercado: Igarapé (MG),
Uberaba (MG), Nanuque (MG), Feira de Santana (BA), Goiânia (GO), Campinas (SP) e
Araçatuba (SP).
Todos os produtores de leite da Nestlé com mais de 25 vacas, ainda, têm acesso
gratuito ao GMS, tendo todas as suas vacas avaliadas por técnicos treinados e
acasaladas com o melhor touro possível para elas. Aos produtores, também são
oferecidas possibilidades de compra de touros a preços especiais e com os valores das
compras descontados na conta do leite à Nestlé.
Além do auxílio a produtores leiteiros, a Nestlé também criou mecanismos para
atestar a qualidade de suas matérias-primas e comunicar essas informações aos
consumidores por meio de selos ou certificados. A Socôco, por exemplo, após uma
adaptação aos padrões exigidos pela Nestlé, em 1999, passou a integrar o grupo de 12
empresas brasileiras que têm o Certificado Nestlé de Qualidade Assegurada,
favorecendo as exportações do coco Socôco, uma vez que aumenta a aceitação da
marca em outros países do mundo.
b) Relacionamento com consumidores e com a comunidade
Desde 1960, a Nestlé já tinha um canal de comunicação com o público, o Centro
Nestlé de Economia Doméstica. Nele, uma equipe desenvolvia receitas e novas formas
de uso dos produtos, e recebia sugestões e críticas dos consumidores.
Em 1978, decidiu-se estruturar e organizar ainda mais esta função, através da
criação do Centro Nestlé de Informação ao Consumidor (hoje chamado de Nestlé
Serviço ao Consumidor) e de uma caixa posta exclusiva. Em 1983, ainda, foi criado o
telefone 0800 e, em 1999, um site na Internet. Hoje, são recebidos 200 mensagens
eletrônicas por dia, 40 mil cartas e 15 mil ligações por mês. A maioria pede receitas, que
seguem pelo correio.
126
A Nestlé ainda oferece, desde 1999, aos consumidores cadastrados no Nestlé
Serviço ao Consumidor uma revista trimestral – “Nestlé com Você” -, com dicas
culinárias, dúvidas mais comuns, entrevistas e divulgação de cursos mensais gratuitos
em supermercados, clubes e associações promovidos pela empresa.
A Nestlé considera o contato com o público uma rica fonte de informações.
Mediante as reivindicações do consumidor, a Nestlé lançou produtos e mudou
embalagens, como nos casos da linha Moça Fiesta, do Creme de Leite Light, da abertura
do pacote de biscoitos por fitilhos, das novas embalagens de Nescau e Farinha Láctea, e
do Chokito branco.
Da mesma forma, a Nestlé procura desenvolver programas que ofereçam alguma
contribuição real à comunidade, fortalecendo seu vínculo com os consumidores.
Destaca-se nesse trabalho o Programa Institucional Nestlé, implantado em 1988
para apoiar projetos idealizados por universidades e instituições de pesquisa que
promovam objetivamente a melhoria da qualidade de vida das comunidades e
contribuam para a formação e especialização de recursos humanos no nível superior. Na
Escola Paulista de Medicina, o Programa Institucional Nestlé foi responsável pela
instalação de um laboratório de bromatologia e microbiologia de alimentos e patrocinou
também cursos de especialização em Nutrição em Saúde e em Nutrição Materno-
Infantil. Na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, o Programa desenvolveu
um projeto destinado a levar tecnologia na área de pecuária leiteira a produtores da
região, contribuindo para a elevação da qualidade de vida das famílias dos produtores e
de seus empregados.
Outras iniciativas expressivas concentram-se na atuação social e cultural do
Brasil. Em 1999, a Nestlé apoiou a cultura e a educação com a promoção de dois
concursos, movimentando estudantes e professores de seis mil escolas públicas e
privadas de todo o Brasil.
127
No campo social a Nestlé lançou o Nutrir, seu programa de orientação
educacional contra a desnutrição. O Nutrir busca transmitir conceitos de higiene,
nutrição e aproveitamento integral dos alimentos para, inicialmente, 70 mil crianças e
jovens de 5 a 14 anos. Para isto, conta com a parceria da Organização Não
Governamental INMED (International Medical Services for Health), assim como com o
trabalho voluntário dos funcionários da Nestlé. Se os funcionários desejarem participar
de oficinas e visitas do Nutrir, terão abonadas duas horas de trabalho por semana.
Além disto, os colaboradores poderão ainda doar dinheiro para o programa por
meio de descontos na folha de pagamento. Para cada doação do colaborador, a Nestlé
entra com o mesmo valor doado.
c) Relacionamento com funcionários
O funcionário da Nestlé recebe um tratamento quase que paternal por parte da
empresa. Cada funcionário tem uma verba anual para despesas odontológicas e suas
despesas com medicamentos são reembolsadas em até 90%. Seus filhos ganham bolsas
de estudo de 40% para curso secundário e universitário, além de um subsídio de 50%
para a compra de material escolar - e a metade restante ainda é financiada pela empresa.
Em pequenas cidades, o funcionário tem desde a possibilidade de obter um
financiamento da compra da bicicleta própria até a manutenção de uma escola técnica
totalmente gratuita para filhos de colaboradores que desejam ter sua carteira de trabalho
assinada no dia da formatura. É comum encontrar famílias com duas ou até três gerações
trabalhando na empresa.
Atualmente, há 2 297 funcionários cursando o primeiro grau com o patrocínio da
empresa, que também subsidia cursos universitários e de MBA. Em função dos
treinamentos oferecidos pela empresa, é comum encontrar funcionários que ingressaram
em cargos operacionais – office boy, por exemplo - atingindo níveis gerenciais após dez
ou vinte anos de trabalho.
128
A Nestlé também procura oferecer a todos os seus funcionários os mesmos
benefícios, como no caso de planos de saúde ou aposentadoria - totalmente bancados
pela empresa. Recentemente, a Nestlé lançou um plano de aposentadoria complementar
para quem deseja aumentar o rendimento assegurado pelo plano básico. Além disso, não
há restaurante privativo na matriz, onde diretores são vistos carregando sua bandeja e
almoçando em mesas coletivas com os colaboradores. Há uma área com serviço à la
carte, aberta para qualquer funcionário que deseja pagar um pouco mais para ser
servido.
A cultura da empresa é avessa à ostentação. Os escritórios, apesar de
confortáveis, são decorados com moderação. Nem todos os funcionários têm um micro
ou aparelho de fax à disposição.
A comunicação interna na empresa é bastante valorizada para a integração de
mais de 15 mil colaboradores em todo o país. Além de revistas de circulação interna, a
Nestlé conta com murais e quadros de avisos padronizados, boletins de fábrica, e uma
base de dados totalmente informatizada e disponibilizada na rede interna de micros com
informações históricas da empresa.
Os funcionários têm, ainda, uma certa estabilidade em seus empregos, onde as
demissões por justa causa são raras. Mesmo quando acontecem, devem seguir as
orientações publicadas em um manual editado pela própria empresa, denominado
“Como Demitir Sem Hipocrisia”. Nele, estão dispostas algumas regras, tais como não
demitir nas vésperas do Natal, aniversário ou volta de férias. A ética é um forte
componente da cultura Nestlé e a mesma postura é exigida nas relações internas de
trabalho.
No entanto, segundo o entrevistado, o relacionamento da empresa com seus
funcionários vem sofrendo mudanças significativas nos últimos anos. Vem sendo menos
comum que funcionários permaneçam na empresa até suas aposentadorias. Também
tornou-se mais difícil obter treinamentos por conta da Nestlé. Hoje, exige-se um maior
grau de profissionalismo dos funcionários, que devem esforçar-se mais para provar sua
competência.
129
Da mesma forma, o crescimento na empresa vem sendo acelerado nos últimos
anos. Até os anos 80, demorava-se pelo menos 20 anos para um funcionários atingir um
cargo de diretoria. Hoje, este prazo foi reduzido para cerca de 10 anos de empresa.
De qualquer forma, no ano 2000, o Guia Exame As Melhores Empresas para
Você Trabalhar ainda trouxe, pelo quarto ano consecutivo, a Nestlé entre as 50 empresas
brasileiras que oferecem melhores condições de salários, benefícios, ambiente de
trabalho, oportunidades de carreira e desenvolvimento profissional.
d) Relacionamento com metas e com o mercado
Embora não seja uma empresa que dê extrema autonomia a seus funcionários, a
Nestlé mantém um programa de metas de trabalho, discutidas entre subordinados e
chefes e que garante a todos participação nos resultados da empresa. O prêmio é pago
anualmente e fica em torno de 75% de um salário mensal. Executivos, contudo, têm
direito a bônus de desempenho. Suas metas combinam o desempenho individual com o
da corporação. Um diretor, por exemplo, recebe 60% de seu bônus em função do
cumprimento de objetivos que envolvem os negócios mundiais da Nestlé. O restante
decorre do desempenho de suas metas individuais. Há também premiações individuais
por desempenho para cargos de chefia.
No entanto, na Nestlé, ninguém é promovido porque cumpriu bem determinada
missão. O que prevalece é um metódico processo de avaliação contínua. Em uma
declaração na revista McKinsey Quarterly, o antigo presidente da Nestlé no Brasil
afirmava que a empresa não era guiada por lucros trimestrais, mas que dirigia a Nestlé
tendo em vista metas de longo prazo. Para evitar que a companhia fosse arrebatada por
uma aquisição hostil na bolsa, foi criada uma cláusula segundo a qual nenhum acionista
pode deter mais de 3% do capital votante. Com isso, o poder não está nas mãos dos
acionistas, mas nas dos administradores.
130
4.5.5.2 Filosofia e técnicas gerenciais
A Nestlé alterou recentemente sua estrutura organizacional, passando a estar
voltada para o atendimento de clientes.
A estrutura antes existente era composta por diretorias comerciais para linhas de
produtos, como a de achocolatados (chocolates, biscoitos, achocolatados, cereais -
Neston, Farinha Láctea, Mucilon -, Açúcares, Cereais Matinais, ...), Plec (leite, sopa,
caldo, Maggi, alimentos infantis,...), sorvetes/refrigerados, além das tradicionais
diretorias de marketing, financeira e logística, subordinadas diretamente à presidência.
A nova estrutura organizacional da empresa teve início em junho de 1999,
quando foram implementadas Unidades de Negócios. A organização tornou-se mais
horizontal, flexível e focada.
Especificamente em relação à comercialização de seus produtos, a Nestlé
unificou suas forças de venda sob uma única Divisão, que otimiza recursos e confere
agilidade no atendimento ao cliente, e criou um diretor geral, subordinado diretamente à
presidência, juntamente com outros 16 diretores. Ao novo diretor, Ricardo Athayde,
passaram a se reportar as vendas de chocolates, cafés, cereais, biscoitos, culinários,
leites, entre outros. Ficam fora da nova estrutura, mantendo vendas próprias, os setores
de refrigerados, sorvetes e foodservices.
A Divisão de Vendas possibilita a atuação por canais específicos, e não mais por
linha de produtos, e é formada por: Contas-Chave, Vendas Diretas, Vendas Indiretas,
Trade Marketing, Gerenciamento por Categorias, Planejamento e Apoio Comercial.
A internacionalização do mercado e a concentração dos negócios em grandes
cadeias de supermercados levaram a Nestlé a criar Contas-chave. Gerentes de contas-
chave (KEM) trabalham para um ou poucos grandes clientes. Carrefour, Sonae, Bom
Preço e Companhia Brasileira de Distribuição (Pão de Açúcar) dispõe de um KEM
exclusivo. Sendas e LASA compartilham um mesmo KEM, e o mesmo acontece com o
Makro e Wal-Mart.
131
No relacionamento da Nestlé com Sendas, ainda estão envolvidos um gerente
para linha de refrigerados e outro para pet care (não exclusivo, atendendo todo RJ).
Além desta diretoria, a Nestlé possui uma diretoria de cadeia de suprimentos,
responsável por toda a logística. O gerente de logística que atende Sendas, também é
responsável pelo atendimento à LASA e a sete DAN’s (distribuidores autorizados
Nestlé), localizados no Rio de Janeiro.
Apesar do trabalho conjunto entre as áreas comercial e logística ser necessário e
rotineiro, não há formação de times para o atendimento de clientes como acontecem em
outras empresas da indústria de bens de consumo. A comunicação entre as unidades de
negócio da Nestlé é rara e recente - apenas após a posse do novo presidente no Brasil,
vem sendo incentivada tal sinergia, com a formação de equipes virtuais.
No que diz respeito à delegação de autoridade, a Nestlé encontra-se, segundo o
entrevistado da empresa, em estágio mais avançado que a Sendas, onde há uma demora
na obtenção de informações e na resolução de questões operacionais. A Nestlé vem
procurando dar maior autonomia à sua força de vendas. Hoje, os 250 vendedores da
Nestlé circulam com computadores portáteis, com autonomia para decidir sobre
descontos na faixa de 5% a 10%.
4.5.5.3 Experiências passadas e interesse na construção de parcerias
Em um passado não muito distante, a Nestlé era criticada por sua arrogância nos
relacionamentos com os clientes varejistas. A empresa costumava determinar o preço e
as gôndolas que seus produtos deveriam ocupar nas lojas. Certa vez, a rede Carrefour
pediu alguns descontos extras à Nestlé. Como a empresa se recusasse a concedê-los, a
Carrefour decidiu reduzir de 250 para apenas 25 itens as compras de produtos da Nestlé.
O boicote não ficou restrito ao Brasil. Foi estendido à França e a outros países europeus.
132
Atualmente, a Nestlé vem participando mais fortemente de campanhas de ofertas
cooperadas com os varejistas. Passou a dividir com os varejistas soluções para a questão
de sobra de estoques em suas lojas. Quando acontecem problemas de giro, já dois meses
antes do vencimento da data de validade, a Nestlé ajuda o cliente a vender tais
mercadorias, fazendo promoções conjuntas do tipo “pague três e leve quatro”, ou
mesmo as recolhe com base em um acordo.
Além disso, a Nestlé vem participando do Movimento ECR, assim como de um
projeto conjunto com outras dez indústrias (Gessy Lever, Melhoramentos, Jonhson &
Jonhson, Parmalat, União, Chocolates Garoto, Pepsico, Ceras Jonhson, Rayovac e
Heublein) para atendimento de supermercados de porte médio - com quatro a nove
caixas, considerados pequenos demais para comprar direto da indústria e muito grandes
para pagar o preço cobrado no atacado.
O projeto, iniciado em meados de 1997, vem sendo liderado pelo Sincovaga,
sindicato do comércio varejista paulista, compreendendo a transmissão eletrônica de
pedidos e o trabalho com cargas compartilhadas.
As empresas estão operando uma central de abastecimento conjunta. Os pedidos
são feitos pelos supermercados diretamente às indústrias, por um sistema informatizado
que funciona como uma caixa postal eletrônica. A central consolida as entregas dessas
11 indústrias e separa as cargas por supermercados, atendendo às dificuldades do
pequeno varejo de comprar diretamente dos grandes fornecedores em função das
exigências de volumes mínimos. Os custos da central são bancados pelas indústrias.
Além disso, a Nestlé participa de projetos de gerenciamento de categorias junto a
pequenos supermercados - como o Real, já automatizado há quinze anos, que conta com
apenas três lojas, em Ribeirão Preto.
Com seus distribuidores autorizados, a Nestlé mantém um relacionamento ainda
mais forte. A empresa oferece toda estrutura de logística, e auxilia nas decisões de local
de instalação e definição das operações.
133
4.5.5.4 Porte e posicionamento no mercado
A Nestlé ocupa o décimo oitavo lugar na lista das 500 maiores empresas
privadas por ordem de vendas no Brasil, sendo a primeira no setor de alimentos.
Encontra-se entre os cinco maiores fornecedores da Sendas.
Da mesma forma, a Sendas também têm uma participação significativa nas
vendas da Nestlé, encontrando-se na lista de seus cinco maiores clientes, juntamente
com outras grandes empresas supermercadistas como Companhia Brasileira de
Distribuição (Pão de Açúcar, Extra, Descontão) ou Carrefour.
4.5.6 Relacionamento com o supermercado
4.5.6.1 Fatores motivacionais
Segundo o entrevistado da Nestlé, os principais fatores que motivariam uma
parceria com a Sendas seriam redução de custos, uso eficiente de ativos e melhoria do
serviço ao cliente, em especial no que diz respeito à disponibilidade de produto.
Segundo o entrevistado, a redução de custos já vem sendo obtida por uma
cláusula do acordo logístico, onde são acertadas que as entregas da Nestlé no centro de
distribuição da Sendas devem ser noturnas. Desta forma, além do menor
congestionamento nestes horários, a Nestlé tem o benefício de poder reaproveitar os
veículos utilizados durante o dia.
O uso eficiente de ativos estaria relacionado com a redução no investimento em
pallets, pela adoção conjunta de uma técnica alternativa. Recentemente, a Nestlé propôs
à Sendas a adoção da chamada “slip sheet” – uma espécie de papelão que separa blocos
de mercadorias – em substituição aos pallets. As vantagens da troca estariam associadas
com, além da redução nos investimentos com pallets, menores custo de frete em função
do peso ser reduzido, possibilitando um melhor aproveitamento dos veículos.
134
No entanto, a Sendas não aceitou a sugestão espontaneamente, exigindo
negociações e concessões de descontos, pois para aderir ao uso do “slip sheet” deveria
adquirir um equipamento especial para descarga. O equipamento foi disponibilizado
pelo seu fornecedor como teste por um mês na Sendas, mas a perspectiva da Nestlé é de
que a Sendas não irá adotar a nova técnica.
No que diz respeito à disponibilidade de produto, foi ressaltado que, ainda hoje,
há um pico nas compras da Sendas no final do mês, para que os compradores possam
atingir suas metas de faturamento. Isto pode vir a causar estoques em excesso ou faltas
de mercadorias nas lojas, prejudicando o serviço ao cliente.
Para a Sendas, contudo, os principais fatores motivacionais para uma parceria
com a Nestlé seriam a redução de custos e a vantagem em marketing. A vantagem em
marketing seria obtida tanto pela oferta ao consumidor final de menores preços, em
função da redução dos custos de distribuição, como pela realização de promoções
conjuntas com a Nestlé - que tem uma presença relevante em diversos segmentos de
mercado e uma marca indispensável nas gôndolas dos supermercados.
4.5.6.2 Componentes
a) Planejamento
O planejamento de médio e longo prazo entre as duas empresas não costuma ser
regularmente programado, mas ocorre de forma esporádica.
Além disso, basicamente não há realização conjunta do planejamento, mas
apenas divisão dos planos elaborados de forma independente pelas empresas. No caso
de abertura de novas lojas da Sendas, a Nestlé é notificada praticamente sem nenhuma
antecedência. Da mesma forma, a Sendas não tem qualquer participação no
desenvolvimento de novos produtos pela Nestlé.
135
No entanto, a sugestão, por parte da Nestlé, em utilizar “slip sheets” em
substituição a pallets e as cláusulas propostas pela Sendas no acordo logístico - uso do
EDI e entregas noturnas, por exemplo - evidenciam o desenvolvimento de um
planejamento conjunto entre as empresas e a presença de uma visão voltada para
processos, ao invés de tarefas.
b) Controle operacional conjunto
O desenvolvimento e acompanhamento de medidas de desempenho em conjunto
pela Nestlé e Sendas é praticamente inexistente. A Nestlé avalia internamente os itens
de controle definidos por sua própria empresa, como “fill rate” por linha e por caixa, e
realiza um monitoramento informal do chamado acordo logístico. A Sendas também
possui seus controles internos, que diferem dos da Nestlé. Recentemente, a Nestlé
solicitou a Sendas os valores de algumas medidas de desempenho, mas até hoje não
foram entregues. A Sendas estaria desenvolvendo novos itens de controle e assumiu o
compromisso com a Nestlé de mostrar seus valores quando disponíveis.
Segundo a Nestlé, neste aspecto, há um relacionamento mais favorável com
outros clientes, como Wal Mart e Sonae. Nestes casos, os clientes monitoram
determinados itens de controle e informam seus valores a Nestlé.
Além disso, o entrevistado da Nestlé afirmou haver liberdade em sugerir
mudanças operacionais à Sendas, como foi feito no caso do “slip sheet”, mas não de
implementá-las sem autorização prévia.
c) Comunicação
A comunicação não-rotineira entre as empresas é efetuada em base “ad-hoc”, não
existindo uma programação prévia de encontros.
A comunicação rotineira, por sua vez, encontra-se em estágio mais avançado,
uma vez que ocorreram adaptações conjuntas no sistemas de ambas as partes, quando da
implementação do EDI. Hoje, a área comercial negocia os preços a cada nova venda, e o
pedido é transmitido via EDI, com o preço negociado, sendo encaminhado diretamente
para a área de faturamento da Nestlé. Uma prévia das notas fiscais é, da mesma forma,
enviada para a Sendas via EDI, antes da entrega.
136
No entanto, o entrevistado da Nestlé chegou a mencionar que há uma certa
dificuldade na obtenção de informações na Sendas, especialmente pela falta de
disponibilidade de pessoal para fazê-lo e por uma baixa autoridade dos funcionários na
tomada de decisões. Quando as informações estão centralizadas, é mais fácil conseguí-
las, como é o caso do nível de estoque nas lojas e informações relativas a vendas.
Segundo ele, a Sendas já não sofre deste mesmo problema com relação a Nestlé, onde o
acesso é mais fácil e os funcionários assumem para si a responsabilidade de resolver a
questão apresentada pelo cliente.
d) Divisão de riscos e retornos
Segundo o entrevistado da Nestlé, a tolerância a perdas de curto prazo é alta
quando diz respeito ao relacionamento com a Sendas. Os encartes promocionais, por
exemplo, são custeados pela Nestlé, que, nestes casos, ainda deve oferecer preços
reduzidos. Além disso, os valores acertados no acordo logístico vêm sendo pagos
pontualmente pela Nestlé, muito embora esta acredite que as cláusulas não venham
sendo cumpridas pela Sendas. Após seis meses da sua assinatura, a Nestlé passou a
exigir o seu cumprimento para que os pagamentos sejam efetuados, uma vez que
considera-se que o período de adaptação já tenha sido esgotado.
Da mesma forma, o Nescau blocado, atendendo a uma solicitação da Sendas
vem sendo entregue durante o dia, quando há equipamento e pessoal para descarga,
muito embora o acordo logístico acerte que as entregas da Nestlé devam ser feitas pela
noite.
e) Confiança
Segundo o entrevistado da Nestlé, muito embora haja confiança mútua no
relacionamento com a Sendas - superior à presente em outros relacionamentos da sua
empresa com outros clientes, assim como da Sendas com outros fornecedores -, são
necessários alguns controles em paralelo. Da mesma forma, a cada novo projeto, devem
ser recalculados os prós e contras para cada uma das partes, em função do
profissionalismo do relacionamento.
137
f) Estilo do contrato
Entre a Sendas e a Nestlé, vigora, além do recentemente assinado acordo
logístico, um contrato comercial, válido por um ano. Nele, são definidos detalhes
básicos do relacionamento comercial entre as empresas como o prazo de pagamento
aceito por cada uma das divisões Nestlé, o espaço em gôndola garantido para os
produtos Nestlé, a verba destinada à publicidade com que a Nestlé deve arcar, a
participação da Nestlé no chamado projeto Marrequinho, acertos referentes à chamada
bonificação (entrega gratuita de mercadorias pelo fornecedor – comum na inauguração
de novas lojas) ou mesmo detalhes quanto à indenização de mercadorias danificadas.
Neste último ponto, por exemplo, há um acerto de que a Nestlé deve conceder a Sendas
um desconto equivalente a um percentual sobre o seu faturamento líquido relativo ao
cliente Sendas, de modo a indenizar mercadorias danificadas.
g) Escopo
O relacionamento da Nestlé com a Sendas alterou significativamente, além das
atividades de distribuição da primeira, as áreas de faturamento - pelo recebimento
automatizado de pedidos e transmissão via EDI das notas fiscais -, e comercial -
conforme especificado no contrato entre as partes.
h) Investimentos
Não há investimentos conjuntos entre as partes, seja financeiro, pessoal ou
tecnológico.
138
5 ANÁLISE DOS CASOS
5.1 Introdução
O objetivo deste capítulo é analisar os casos descritos anteriormente, à luz do
modelo apresentado por Lambert, Emmelhainz e Gardner, proposto na revisão
bibliográfica.
Em um primeiro momento, o modelo será utilizado para diagnosticar os
relacionamentos hoje existentes, classificando cada um deles em um dos padrões
apresentados: parcerias do tipo I, II ou III.
Mais adiante, será efetuada uma análise dos fatores motivacionais e facilitadores
na formação de parcerias entre as empresas estudadas, conforme metodologia
apresentada no capítulo 3, de modo a permitir a proposta de um novo padrão de
relacionamento em cada caso.
5.2 Diagnóstico dos relacionamentos atuais: os componentes
Lambert, Emmelhainz e Gardner definem o tipo de relacionamento
implementado com base na avaliação de oito componentes – planejamento, controle
operacional conjunto, comunicação, divisão de riscos e retornos, confiança, estilo do
contrato, escopo e investimentos.
Desta forma, serão atribuídas aos componentes de cada um dos relacionamentos
estudados as avaliações “Baixa”, “Média” ou “Alta”. A preponderância de avaliações
“Baixa” é característica de relacionamentos de parcerias do tipo I, enquanto que as
avaliações “Média” ou “Alta” estão associadas a parcerias do tipo II ou III,
respectivamente.
Em alguns momentos, tornou-se necessária a adaptação do modelo mediante a
criação de uma classe adicional “Muito baixa”, uma vez que os critérios para avaliação
como “Baixa” não chegaram a ser atendidos.
139
5.2.1 Avaliação dos componentes
a) Planejamento
No relacionamento da Sendas com os três fornecedores estudados, o estilo do
planejamento de médio e longo prazo é basicamente “ad-hoc”.
Além disso, o planejamento da Sendas geralmente não conta com a participação
de seus fornecedores. Na abertura de novas lojas, os fornecedores são notificados sem a
devida antecedência, muito embora devam participar com o fornecimento gratuito de
mercadorias. No acordo logístico, a Sendas divide seus planos com os fornecedores e
exige dos mesmos a sua colaboração, gerando alguns atritos, como no caso da P&G.
Da mesma forma, a Sendas não tem uma participação no planejamento e
desenvolvimento de novos produtos por seus fornecedores.
No caso da Danone e Nestlé, em especial, há um certo planejamento conjunto de
médio prazo, como, por exemplo, na implementação de “cross-docking” pela Danone, e
na discussão sobre a adoção de “slip sheets” pela Nestlé. No entanto, são ainda casos
excepcionais, que não permitem alterar a avaliação do conteúdo do planejamento.
Demonstram, contudo, a presença de uma visão de processos - muito embora estudada
independentemente pelas partes.
Baixa Média AltaEstilo Ad-hoc Regularmente
ProgramadoSistemático: tanto ad-hoc
como regularmenteprogramado
P&G, Danone,Nestlé
Nível Foco em tarefas ouprojetos
Foco em processos Foco no relacionamento
P&G Danone, Nestlé
140
Conteúdo Divisão de planosexistentes
Realização conjunta,eliminando conflitos
nas estratégias
Realização conjunta e emmúltiplos níveis da
organização, incluindoalta direção.
P&G, Danone,Nestlé
Quadro 28 - Planejamento nos relacionamentos analisados
b) Controle operacional conjunto
Muito Baixa Baixa Média AltaMedidas dedesempenho
Desenvolvidasde forma
independente,e resultados
não sãopartilhados
Desenvolvidasde forma
independente,mas os
resultados sãopartilhados
Desenvolvidas emconjunto com
resultadospartilhados, mas
focadas nodesempenho
individual de cadauma das empresas
Desenvolvidasem conjunto
com resultadospartilhados,
mas focadas nodesempenho
conjunto
P&G, Danone,Nestlé
- - -
Liberdade derealizar
mudançasoperacionais
As partes nãotêm liberdade
de sugerirmudanças uma
para a outra
As partespodem sugerirmudanças uma
para a outra
As partes podemrealizar mudanças
no sistema da outraapós aprovação.
As partespodem realizarmudanças no
sistema daoutra semaprovação
préviaP&G, Danone,Nestlé
Quadro 29 - Controle operacional conjunto nos relacionamentos analisados
No relacionamento da Sendas com os três fornecedores estudados, as trocas de
medidas de desempenho são inexistentes ou muito escassas, e realizadas apenas de
modo informal.
141
A P&G, por exemplo, fornece informalmente à Sendas informações sobre
ocorrências de faltas de mercadorias, enquanto esta última geralmente informa a P&G
sobre sua colocação nas vendas em cada uma das categorias de produtos com que
trabalha. Cada uma das empresas avalia internamente um conjunto de itens de controle,
diferentes dos das demais, e não há desenvolvimento conjunto de medidas de
desempenho.
A Nestlé, por sua vez, solicitou à Sendas os valores de algumas medidas de
desempenho, mas até hoje não foram entregues. A Sendas estaria desenvolvendo novos
itens de controle e assumiu o compromisso com a Nestlé de mostrar seus valores
quando disponíveis. Segundo a Nestlé, neste aspecto, há um relacionamento mais
favorável com outros clientes, como Wal Mart e Sonae. Nestes casos, os clientes
monitoram determinados itens de controle e informam seus valores a Nestlé.
Nas três empresas fornecedoras, os entrevistados também afirmaram que há
liberdade em sugerir mudanças operacionais à Sendas, mas não de realizá-las sem
autorização prévia.
c) Comunicação
Baixa Média AltaComunicaçãonão-rotineira
Organização Conduzida embase ad-hoc,entreindivíduos
Númerolimitado deencontros jáprogramados,alguma rotina
Método sistematizadode comunicação,podendo ser manualou eletrônico.Sistemas decomunicação inter-ligados.
Danone,Nestlé
P&G
142
Comunicaçãorotineira
Equilíbrio nofluxo de
comunicação
Fluxo decomunicaçãoem um único
sentido
Fluxo decomunicação
em doissentidos, masdesequilibrado
Fluxo decomunicação em dois
sentidos, eequilibrado
P&G, Nestlé DanoneTecnologia Uso de
sistemasindividuais
Modificaçãoconjunta de
sistemasindividuais
Desenvolvimentoconjunto de
comunicaçãoeletrônica
customizadaP&G Danone,
Nestlé
Quadro 30 - Comunicação nos relacionamentos analisados
Na comunicação não rotineira entre a Sendas e os fornecedores analisados, não
há uma programação prévia, sendo conduzida em base “ad-hoc” - com exceção da
Procter onde há um evento bi-anual para os altos executivos de ambas as empresas.
Com relação à comunicação rotineira, os entrevistados da Nestlé e da P&G
mencionaram que há um desequilíbrio na troca de informações entre suas empresas e a
Sendas. Este fato deve-se a dificuldades na obtenção de informações na Sendas,
especialmente pela falta de disponibilidade de pessoal para fazê-lo e por uma baixa
autoridade dos funcionários na tomada de decisões. O entrevistado da Danone, por sua
vez, acredita que há equilíbrio no fluxo de comunicação.
Na comunicação rotineira, no caso da Danone, a colocação de pedidos é feita por
telefone pelos promotores encarregados da negociação com os gerentes de perecíveis de
cada uma das lojas Sendas. Apenas no caso de promoções, as negociações e a colocação
de pedidos é feita de forma centralizada. A transmissão de notas fiscais é realizada
através de EDI. A Nestlé, por sua vez, já recebe pedidos e transmite notas fiscais à
Sendas via EDI.
A P&G e a Sendas, no entanto, operam sistemas independentes, que não se
comunicam, nem nunca sofreram qualquer desenvolvimento ou modificação conjunta.
143
d) Divisão de riscos e retornos
Baixa Média AltaTolerância a perdas Tolerância
muito baixa aperdas
Alguma tolerância aperdas de curto prazo
Alta tolerância aperdas de curto
prazoP&G Danone, Nestlé
Comprometimentocom ganhos
Desejo limitadode ajudar o
outro
Boa vontade em ajudar ooutro
Desejo de ajudar ooutro
P&G Danone, NestléSenso de justiça Justiça é
avaliada emcada transação
Justiça é rastreada ano aano
Justiça é medida aolongo da vida dorelacionamento
P&G Danone, Nestlé
Quadro 31 - Divisão de riscos e retornos nos relacionamentos analisados
O relacionamento da Sendas com a P&G vem apresentando alguns conflitos no
que diz respeito à divisão de riscos e retornos. Os termos do acordo logístico foram
discutidos por vários meses entre as empresas, uma vez que a P&G não concordava com
as cláusulas propostas. No entanto, a Procter terminou por assinar o acordo para manter
um bom relacionamento com o cliente – relacionamento, por sua vez, já prejudicado
anteriormente quando, por negar uma bonificação solicitada, a P&G teve que arcar com
as conseqüências de não ter seus produtos vendidos na Sendas por praticamente cinco
meses.
A Danone, por sua vez, acredita que é válido investir no curto prazo para que
ganhem conjuntamente no longo prazo, procurando ser flexível quanto às solicitações da
Sendas, como, por exemplo, na bonificação exigida na abertura de cada nova loja e
também no trabalho conjunto com encarte promocional.
Da mesma forma, a Nestlé tem procurado ser tolerante a perdas de curto prazo
no relacionamento com a Sendas, custeando os encartes promocionais, oferecendo
preços reduzidos, entregando excepcionalmente o Nescau blocado durante o dia, e
pagando pontualmente os valores acertados no acordo logístico, muito embora acredite
que as cláusulas não venham sendo cumpridas pela Sendas.
144
No entanto, após seis meses da sua assinatura, a Nestlé passou a exigir o seu
cumprimento para que os pagamentos sejam efetuados, uma vez que considera-se que o
período de adaptação já tenha sido esgotado.
e) Confiança
Muito Baixa Baixa Média AltaConfiança Há
desconfiança norelacionamento
Confiança élimitada à
crença de quecada parceiroirá atuar de
modo ético ehonesto
Ao parceiro,é dada maisconfiança do
que aosdemais,
sendo vistocomo o maisfavorecido
Há umaconfiança totalimplícita, quenão precisa serreconquistada acada transação.
P&G Danone,Nestlé
Comprometimentocom o sucesso do
outro
Comp. de cadaparte com cada
transaçãoespecífica ou
projeto bastantelimitado
Comp. decada partecom cadatransação
específica ouprojeto, e aconfiançadeve ser
constantemente
reconquistada.
Comp. comuma relação
de maislongo prazo
Comp. com osucesso delongo prazo doparceiro, queprevaleceatravés defunções e níveisde ambas asorganizações
P&G, Danone,
Nestlé
Quadro 32 - Confiança e comprometimento nos relacionamentos analisados
145
A confiança mútua não é característica presente no relacionamento entre a
Sendas e a P&G. Em diversas ocasiões, os valores apresentados são questionados e
recalculados, como se um sempre estivesse buscando vantagem sobre o outro. Da
mesma forma, a Procter acredita que algumas condições mais favoráveis são concedidos
pela Sendas a seus concorrentes.
No caso da Danone e a Nestlé, há controles em paralelo, muito embora estes
fornecedores acreditem que a confiança entre suas empresas e a Sendas é superior à
depositada em outros relacionamentos - tanto da Sendas com outros fornecedores como
de suas empresas com outros clientes.
No relacionamento da Sendas com cada um dos três fornecedores, a confiança
deve ser reconquistada a cada novo projeto. O entrevistado da Nestlé denomina esta
característica de profissionalismo, onde a cada novo projeto devem ser calculados os
prós e contras para cada uma das partes envolvidas.
f) Estilo do contrato
Muito Baixa Baixa Média AltaHorizonte de
tempoNão há contrato
pois orelacionamento é
muito restrito
Curtohorizonte de
tempo
Longohorizonte de
tempo
Sem data previstapara término e
bastante generalistanas especificações.
Em alguns casos, nãohá contrato escrito
pela confiança mútua.P&G, Danone Nestlé
Cobertura Não há contratopois o
relacionamento émuito restrito
Específicos Maisgeneralistas
Não especificadeveres ou
responsabilidades,apenas delineia a
filosofia básica quepermeia o
relacionamento.P&G, Danone Nestlé
Quadro 33 - Estilo do contrato nos relacionamentos analisados
146
Com a Procter e a Danone, a Sendas não dispõe de nenhum contrato comercial,
mas apenas o chamado acordo logístico.
Entre a Sendas e a Nestlé, por sua vez, vigora, além do recentemente assinado
acordo logístico, um contrato comercial, válido por um ano. Nele, são definidos detalhes
básicos do relacionamento comercial entre as empresas como o prazo de pagamento
aceito por cada uma das divisões Nestlé, o espaço em gôndola garantido para os
produtos Nestlé, a verba destinada à publicidade com que a Nestlé deve arcar, a
participação da Nestlé no chamado projeto Marrequinho, acertos referentes à chamada
bonificação (entrega gratuita de mercadorias pelo fornecedor – comum na inauguração
de novas lojas) ou mesmo detalhes quanto à indenização de mercadorias danificadas.
Neste último ponto, por exemplo, há um acerto de que a Nestlé deve conceder a Sendas
um desconto equivalente a um percentual sobre o seu faturamento líquido relativo ao
cliente Sendas, de modo a indenizar mercadorias danificadas. Desta forma, o contrato
comercial também mostra-se bem detalhista nas suas especificações.
g) Escopo
Baixa Média AltaShare Atividade da parceria
representa uma parcelamuito pequena para
ambos
Atividade representauma parcela razoável
para pelo menos um dosparceiros
Atividade representaparcela significativapara ambas as partes
P&G Danone, NestléCobertura
deatividades
Relacionamento cobreapenas uma ou
algumas funções
Cobre múltiplas funções Cobre múltiplasfunções, e a parceriaestende-se a todos osníveis em ambas as
organizaçõesP&G, Danone Nestlé
Atividadescríticas
Abrange apenasatividades de pouca
importância
São incluídas atividadesimportantes para ambos
os parceiros
São incluídasatividades críticas
para ambos osparceiros
P&G, Danone, Nestlé
Quadro 34 - Escopo nos relacionamentos analisados
147
O relacionamento entre a Nestlé, ou Danone, e a Sendas têm uma alta
importância para ambas as partes, pois as reduções de custos possíveis de serem obtidas
são significativas para os envolvidos.
No caso da Sendas com a P&G, a distribuição de mercadorias foi a principal
atividade modificada pelo relacionamento. No caso da Danone, além desta, também
pode-se citar também a transmissão de notas fiscais, que passou a ser via EDI.
As atividades abrangidas no relacionamento da Sendas com a Nestlé, por sua
vez, são em maior número, compreendendo também a transmissão de pedidos e outras
mais especificadas no contrato comercial firmado entre as partes. Ainda assim, ainda há
várias atividades na Nestlé que não foram alteradas pelo relacionamento, como
desenvolvimento de produtos e produção, por exemplo.
h) Investimentos
Baixa Média AltaFinanceiro Baixo ou nenhum Propriedade
conjunta de ativosde baixo valor
Propriedade conjunta deativos de alto valor
P&G, Danone, Nestlé - -Tecnológico Nenhum
desenvolvimentoconjunto de produtos
ou tecnologia
Algum esforço dedesenho de
produtos, e empesquisa e
desenvolvimento
Desenvolvimentoconjunto significativo.
Atividade de pesquisa edesenvolvimentoconjunta regular e
significativa.P&G, Danone, Nestlé - -
Humano Troca de pessoal entreempresas limitada
Troca extensiva depessoal entre
empresas
Participação no corpo daoutra empresa
P&G, Danone, Nestlé - -
Quadro 35 - Investimentos nos relacionamentos analisados
148
Neste aspecto, há uma completa separação entre a Sendas e as três empresas
fornecedoras. Não há qualquer propriedade conjunta de ativos, desenvolvimento
conjunto de produtos e a troca de pessoal entre empresas é limitada à permanência de
promotores nas lojas Sendas.
5.2.2 Classificação dos relacionamentos
Conforme pode-se observar nos quadros 35 e 36, há uma preponderância de
características do relacionamento do tipo I (avaliação baixa), nos três casos analisados.
O relacionamento da Sendas com a P&G foi o que mais apresentou
características de uma parceria do tipo I, muito embora certos componentes tenham
obtido uma avaliação “Muito Baixa” - típica de um relacionamento “arm´s length”.
Componentes Procter Danone Nestlé
Planejamento Baixa Baixa Baixa Estilo Baixa Baixa Baixa Nível Baixa Média Média Conteúdo Baixa Baixa BaixaControle conjunto das operações Baixa Baixa Baixa Medidas de desempenho Muito Baixa Muito Baixa Muito Baixa Liberdade em realizar mudançasoperacionais
Baixa Baixa Baixa
Comunicação Média Média MédiaNão rotineira Média Baixa Baixa Rotineira: Equilíbrio Média Alta Média Rotineira: Tecnologia Baixa Média MédiaDivisão de riscos e retornos Baixa Média Média Tolerância a perdas Baixa Média Média Compromisso com sucesso dooutro
Baixa Média Média
Justiça Baixa Média MédiaConfiança e comprometimento Baixa Média Média Confiança Muito Baixa Média Média Comprometimento Baixa Baixa BaixaEstilo do contrato Muito Baixa Muito Baixa Baixa Horizonte Muito Baixa Muito Baixa Baixa Cobertura Muito Baixa Muito Baixa Baixa
149
Escopo Baixa Média Média Share Baixa Alta Alta Cobertura de atividades Baixa Baixa Média Atividades críticas Média Média MédiaInvestimentos Baixa Baixa Baixa Financeiro Baixa Baixa Baixa Tecnológico Baixa Baixa Baixa Humano Baixa Baixa Baixa
Quadro 36 – Avaliação de cada um dos componentes nos relacionamentos analisados
Avaliação Procter Danone NestléMuito Baixa 19% 14% 5%
Baixa 71% 43% 48%Média 10% 33% 43%Alta 0% 10% 5%
Quadro 37 – Quadro resumo da avaliação dos componentes nos relacionamentos
analisados
No caso da Sendas com a Danone, apesar da preponderância de características de
parceria do tipo I, também há algumas características de “arm´s length” e outras de
parceria do tipo II, evidenciando uma certa indefinição no relacionamento.
O relacionamento da Sendas com a Nestlé mostrou-se como o mais evoluído,
com a preponderância das características de parceria do tipo I, mas com um percentual
expressivo de características de parceria do tipo II.
150
5.3 Identificação do modelo mais adequado de relacionamento: os fatores
motivacionais e facilitadores
Lambert, Emmelhainz e Gardner sugerem que o modelo de parceria a ser
adotado deve ser definido com base na análise dos fatores motivacionais e facilitadores,
e oferecem uma metodologia que permite avaliar quantitativamente o quão fortes eles
são. Desta forma, com base no quadro 27 apresentado no capítulo 3 de metodologia,
sugere-se o relacionamento a ser implementado.
5.3.1 Fatores motivacionais
A avaliação quantitativa dos fatores motivacionais, segundo Lambert,
Hemmelhainz e Gardner, é feita através de uma espécie de questionário composto por
quatro perguntas, a saber:
1- Quais as chances de que este relacionamento reduza substancialmente os
custos do canal ou otimizará a utilização de ativos?
2- Quais as chances de que este relacionamento melhore substancialmente o
nível de serviço como mensurado pelo próprio cliente?
3- Quais as chances de que este relacionamento traga vantagens significativas em
marketing?
4- Quais as chances de que este relacionamento resulte em crescimento ou maior
estabilidade dos lucros?
Há cinco opções de respostas possíveis para cada pergunta – 0%, 25%, 50%,
75%, 100% -, que conferem uma pontuação que varia de 1 a 5, nesta ordem.
151
Caso a resposta seja igual ou maior que 50%, ainda há a possibilidade de obter-
se um ponto adicional na questão. Para isto, o benefício analisado deve ser uma
vantagem competitiva sustentável ou deve permitir que a empresa atinja padrões de
benchmarking na sua indústria.
a) Chances de redução substancial de custos no canal ou otimização no uso de
ativos
A Sendas considera que o principal fator motivacional na formação de um
relacionamento mais estreito com a P&G é a possibilidade de redução de custos, por um
trabalho conjunto em logística. No entanto, o volume comercializado com este
fornecedor ainda é pouco representativo e pode ser que a redução nos custos em função
unicamente do investimento em um relacionamento com esta empresa não seja tão
significativa.
Este fator motivacional é ainda mais importante quanto trata-se do
relacionamento com a Danone. Pelo próprio segmento de mercado em que esta empresa
atua, há dificuldades inerentes ao processo de distribuição. Os produtos perecíveis
devem ser entregues em pequenas quantidades, diariamente. Segundo o entrevistado na
Sendas, não há qualquer dúvida sobre a conquista de custos significativamente menores,
para ambas as partes, com a formação de um relacionamento mais estreito.
No caso do relacionamento com a Nestlé, também está presente a possibilidade
de redução de custos para as Sendas, e é ainda mais significativa do que no caso da
P&G, pelo maior volume e maior diversidade de produtos comercializados entre as
empresas. Ainda deve-se considerar a proposta de utilização de “slip sheets” pela
Nestlé, que reduziria os investimentos em pallets.
Desta forma, na avaliação deste fator motivacional, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 3, 5 e 5, nesta ordem,
correspondendo a 50%, 100% e 100% de chance de reduzir custos do canal ou otimizar
utilização dos ativos.
152
Neste item, também devemos adicionar um ponto adicional à Nestlé e à Danone,
pela possibilidade de, com a parceria, estarem atingindo padrões de benchmarking no
mercado.
b) Chances de melhoria substancial do nível de serviço sob a percepção do
cliente
Apesar da P&G considerar que há grande chance de melhoria do nível de serviço
ao consumidor final, uma vez que, hoje, o índice de falta de mercadorias da P&G em
lojas Sendas é bem elevado, o entrevistado da Sendas não atribuiu grande importância a
este item quando questionado sobre os fatores motivacionais no relacionamento com a
P&G.
Segundo o entrevistado da Danone, a parceria com a Sendas vem sendo
motivada principalmente pela melhoria do nível de serviço ao cliente, por garantir ao
consumidor final produtos mais frescos. Da mesma forma, a Sendas considera que a
melhoria do serviço ao consumidor final pode ser conquistada através de um
relacionamento mais estreito com a Danone, muito embora seja difícil prever o impacto
sob a percepção do consumidor final.
No que diz respeito ao relacionamento com a Nestlé, este fator não foi citado
pela Sendas, muito embora o entrevistado da Nestlé tenha afirmado que, hoje, a
existência de um pico nas compras no final do mês por parte deste cliente vem sendo
prejudicial ao dimensionamento dos estoques.
Desta forma, na avaliação deste fator motivacional, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 2, 3 e 2, nesta ordem,
correspondendo a 25%, 50% e 25% de chance de melhorar nível de serviço sob a
percepção do cliente.
153
c) Chances de obter vantagens significativas em marketing
A Sendas não considera que um relacionamento mais estreito com a P&G
apresente chance de obtenção de vantagens significativas em marketing, muito embora a
P&G possa beneficiar-se da entrada em novos mercados. O entrevistado da Sendas
também não considera que este relacionamento com a P&G possa trazer à empresa
acesso a novas tecnologias.
Este fator foi considerado importante para a Sendas, tanto no que diz respeito ao
relacionamento com a Danone como com a Nestlé, em especial pela possibilidade de
conseguir preços finais mais reduzidos ao consumidor final. No caso da Nestlé, as
vantagens em marketing podem vir a ser ainda mais significativas pelos ganhos obtidos
em função da realização de promoções conjuntas, pela presença relevante da Nestlé em
diversos segmentos de mercado e pela força de sua marca.
O relacionamento mais estreito com ambas as empresas vem trazendo, ainda, à
Sendas a chance de experimentar novas tecnologias, como EDI e cross-docking.
Desta forma, na avaliação deste fator motivacional, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 2, 4 e 4, nesta ordem,
correspondendo a 25%, 75% e 75% de chance de obter vantagens significativas em
marketing. Um ponto adicional deve ser adicionado à Nestlé, pela possibilidade de
atingimento de padrões de benchmarking.
d) Chances de crescimento ou menor variabilidade nos lucros
Este fator não foi considerado pelo entrevistado da Sendas relevante na
motivação de investir em uma parceria com nenhum dos três fornecedores analisados.
154
Desta forma, na avaliação deste fator motivacional, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 2, 2 e 2, nesta ordem,
correspondendo a 25%, 25% e 25% de chance de crescimento ou menor variabilidade
dos lucros.
O total de pontos obtidos para os fatores motivacionais na formação de
relacionamentos mais estreitos com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 9, 15 e
15, respectivamente, conforme resumido no quadro 38.
Fatores Motivacionais Procter Danone NestléPontos naquestão
3(50%)
5(100%)
5(100%)
Chances de redução substancial decustos no canal ou otimização no usode ativos Bônus 0 1 1
Pontos naquestão
2(25%)
3(50%)
2(25%)
Chances de melhoria substancial donível de serviço sob a percepção docliente Bônus 0 0 0
Pontos naquestão
2(25%)
4(75%)
4(75%)
Chances de obter vantagenssignificativas em marketing
Bônus 0 0 1Pontos naquestão
2(25%)
2(25%)
2(25%)
Chances de crescimento ou menorvariabilidade nos lucros
Bônus 0 0 0Total Geral 9 15 15
Quadro 38 – Avaliação dos fatores motivacionais
155
5.3.2 Fatores facilitadores
A avaliação quantitativa dos fatores facilitadores, segundo Lambert,
Hemmelhainz e Gardner, é feita através de um questionário semelhante, também
composto por quatro perguntas básicas, a saber:
1- Quais as chances das duas empresas não terem conflitos em termos de cultura
ou negócio?
2 – Quais as chances das filosofias e técnicas gerenciais das duas empresas
combinarem-se sem conflitos?
3 – Quais as chances de ambas as partes terem a capacidade e predisposição
necessária para a construção de um relacionamento mútuo?
4 – Quais as chances das partes serem similares em: volume de vendas,
participação de mercado em suas indústrias, produtividade, imagem de marca ou
reputação, avanço tecnológico e solidez ?
Da mesma forma que no questionário anterior, há cinco opções de respostas para
cada pergunta – 0%, 25%, 50%, 75%, 100% -, que conferem uma pontuação que varia
de 1 a 5, nesta ordem.
Além disso, o questionário é composto por perguntas adicionais que agregam um
ponto a mais a cada resposta positiva, a saber:
• Há concorrentes em comum que tendem a unir os esforços das empresas?
• Há proximidade física entre as instalações das empresas?
• Há um comprometimento em trabalhar exclusivamente com o parceiro?
• Ambas as partes já tiveram experiências bem sucedidas em parceria?
• Ambas as partes têm um mesmo valioso consumidor final?
156
a) Compatibilidade corporativa: cultura e visão de negócio
A Procter & Gamble - a única de origem americana entre as empresas analisadas
- é fortemente voltada para resultados, os quais são apresentados de seis em seis meses
aos acionistas e acompanhados com interesse pelos funcionários. Entre os princípios da
empresa, a afirmativa “Nós procuramos ser o melhor” ilustra bem a cultura agressiva da
empresa, que realiza investimentos pesados em pesquisa e desenvolvimento - situados
em torno de 4% do faturamento mundial da empresa –, assim como em publicidade,
promoção e propaganda – cerca de US$ 3 bilhões ano. Além disso, a P&G situa-se entre
as líderes mundiais em pesquisa de mercado e adota um rigoroso processo seletivo que
visa contratar pessoas altamente capacitadas. As promoções na empresa são obtidas com
base na contribuição individual para o negócio, e os gerentes são formados dentro da
companhia, de forma a assimilar bem a sua cultura e os seus valores. Nos poucos anos
de relacionamento com a Sendas, já sofreram alguns conflitos, atribuídos à pouca
flexibilidade da P&G em lidar com seus clientes uma vez que ela deteria o
conhecimento do relacionamento de sucesso entre fornecedores e supermercadistas
evidenciado pela sua experiência com a Wal Mart.
A Danone apresenta características bem distintas das encontradas na P&G. A
Procter iniciou sua entrada no país através de aquisições e incorreu em anos sucessivos
de prejuízos, demonstrando relevar estas experiências mal sucedidas já que as perdas
eram pequenas face ao faturamento mundial do grupo. A entrada da Danone no país foi
mais cautelosa, a partir de uma joint-venture com uma empresa local, e o foco em um
produto específico. Ao invés de desenvolver produtos com um curto ciclo de vida no
mercado, a Danone preferiu manter uma baixa diversidade de itens, conhecidos pela sua
qualidade, buscando consolidar suas marcas e criar hábitos de consumo. A Danone
procura conhecer o mercado nacional, realizando investimentos em pesquisas –
equivalentes a 0,9% de suas vendas -, de modo a aprender sobre as preferências e
comportamentos dos consumidores.
157
Apesar da preocupação com o acionista, este traço não é tão marcante em sua
cultura: o percentual de participação nos lucros é o mesmo para todos e há um certo
paternalismo no relacionamento com seus funcionários. Entre os objetivos da Danone, a
melhoria de margens operacionais e da lucratividade do capital investido encontra-se
lado a lado com a exigência de manutenção da política social e humana no centro das
preocupações da empresa.
A Nestlé, como uma empresa também européia, apresenta uma cultura bem
semelhante à Danone. A empresa não é guiada por lucros trimestrais, mas é
administrada tendo em vista metas de longo prazo. As promoções também não baseiam-
se em fatos pontuais, como o cumprimento de determinada missão, prevalecendo um
metódico processo de avaliação contínua. O respeito aos funcionários – como demonstra
a proibição em realizar demissões nas vésperas do Natal ou Ano Novo – e a ética nas
relações profissionais são pontos fundamentais na cultura da Nestlé. A empresa também
prega um igualitarismo entre todos, procurando oferecer os mesmos benefícios para
cada um de seus funcionários, independentemente do cargo que ocupa, e uma cultura
avessa à ostentação. Mais antiga no país, e com uma ampla linha de produtos, a Nestlé
procurou investir no relacionamento com o consumidor final, utilizando o contato com o
público como uma rica fonte de informações e um meio de fortalecer vínculos.
A cultura da Sendas apresenta, sem dúvida alguma, maior afinidade com a da
Danone ou Nestlé do que com a da Procter & Gamble. Ainda assim, todas as empresas
fornecedoras analisadas são multinacionais, situadas entre as maiores do mundo, com
um passado repleto de fusões e aquisições, enquanto a Sendas é uma empresa familiar,
com atuação restrita ao nosso país e orgulhosa de manter um capital 100% nacional. A
Sendas também demonstra uma postura pouco agressiva em aquisições e, apenas
recentemente por pressões da concorrência, passou ao papel de compradora com a
aquisição da rede Três Poderes.
158
Desta forma, na avaliação deste fator facilitador, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 1, 3 e 3, nesta ordem,
correspondendo a 0%, 50% e 50% de chance de haver compatibilidade corporativa com
a Sendas.
b) Filosofia e técnicas gerenciais compatíveis
Na P&G, pode-se perceber a valorização do trabalho em equipe a partir da
própria estrutura organizacional da empresa em times multifuncionais. Os times são
responsáveis pelo atendimento a clientes específicos em qualquer linha de produtos
desejada, sob a liderança da área comercial, compreendendo também as divisões de
logística, sistemas e finanças.
Além disso, o nível de delegação de responsabilidades aos funcionários é alto,
em função do rigoroso processo seletivo e da co-responsabilidade pelos resultados da
empresa, e espera-se dos funcionários demonstrações de criatividade e capacidade
decisória.
A Nestlé, por sua vez, alterou recentemente sua estrutura organizacional,
passando a estar voltada para o atendimento de clientes. Agora, há gerentes de contas-
chave (KEM), que trabalham para um ou poucos grandes clientes, associados a gerentes
de logística que atendem basicamente os mesmos clientes. Com exceção das linhas de
refrigerados, foodservices e sorvetes, todas as compras da Sendas junto à Nestlé estão
centralizadas em um único gerente de contas-chave. Apesar do trabalho conjunto entre
as áreas comercial e logística ser necessário e rotineiro, não há a clareza do conceito de
trabalho em equipe como na Procter & Gamble. No que diz respeito à delegação de
autoridade, a Nestlé encontra-se, segundo o entrevistado da empresa, em estágio mais
avançado que a Sendas, onde há uma demora na obtenção de informações e na resolução
de questões operacionais.
159
A Danone conta com uma estrutura um pouco semelhante a da Nestlé – no caso
de grandes clientes. No Rio de Janeiro, por exemplo, há seis gerentes de contas-chave,
sendo um deles só para a Sendas. No caso de biscoitos, há uma outra estrutura de
vendas em separado. Os demais clientes – pequenos varejistas - são atendidos através
dos chamados Representantes Comerciais Autônomos (RCAs). Da mesma forma que na
Nestlé, não há a mesma clareza do conceito de trabalho em equipe que na P&G. Quando
questionado, o entrevistado da Danone, não afirmou existir incompatibilidades entre a
Danone e a Sendas no que diz respeito ao nível de delegação de autoridade aos
funcionários.
Desta forma, na avaliação deste fator facilitador, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 2, 4 e 3, nesta ordem,
correspondendo a 25%, 75% e 50% de chance de haver compatibilidade no aspecto
filosofia e técnicas gerenciais com a Sendas.
c) Capacitação e predisposição mútuas
Tradicionalmente, a Sendas mantém um relacionamento um tanto quanto
informal e baseado quase que exclusivamente em negociações de preços com seus
fornecedores. Sua experiência em parcerias é recente e restringe-se basicamente às
práticas abrangidas pelo chamado “acordo logístico” - “cross-docking”, uso do EDI para
recebimento de pedidos e transmissão de notas fiscais, e entrega centralizada em horário
pré-agendado. A empresa não tem experiência em dividir expectativas, partilhar
resultados e metas, e tomar a perspectiva da outra empresa.
A P&G, por sua vez, foi a grande precursora, junto com seu maior cliente no
mundo - a Wal Mart -, na implementação de um modelo bem sucedido de parceria entre
indústria e varejo, que poupou a ambas as partes milhões de dólares. No Brasil, este
modelo ainda não foi implementado junto a seus clientes. Com seus distribuidores, o
uso da reposição contínua já permitiu reduzir os níveis de estoque de 11 para 4 dias.
160
A experiência bem sucedida com a Wal Mart e toda a capacitação adquirida não
vêm sendo suficientes para impulsionar novas parcerias junto aos varejistas brasileiros,
os quais conferem-lhe uma certa arrogância nas negociações por acreditar ser a
detentora do conhecimento do único e verdadeiro modelo de relacionamento indústria-
varejo. O acordo logístico com a Sendas só foi assinado após meses de discussão, e
depois de uma experiência de ter seus produtos fora destes supermercados por
praticamente um semestre pela recusa no fornecimento de uma bonificação exigida na
abertura de uma nova loja.
A Danone não detém no nosso país nenhum modelo exemplar de parceria.
Participante do movimento ECR, além de trabalhar com o pallet padrão PBR-01, faz uso
de EDI e pratica “cross-docking” com alguns poucos clientes. Mostra-se, no entanto,
bastante receptiva e flexível no que diz respeito às exigências dos seus clientes. A
Danone permite, por exemplo, que seus clientes varejistas e atacadistas troquem
qualquer produto adquirido na empresa dois a três dias antes da data final de validade,
sem qualquer ônus para os mesmos. Esta flexibilidade nas negociações vem permitindo
a constituição de um relacionamento mais estreito junto a Sendas, em especial, muito
embora não tenha sido demostrada intenção de dividir metas e expectativas, ou de trocar
informações financeiras por nenhuma das partes.
A Nestlé, por sua vez, presente no Movimento ECR Brasil desde sua fundação,
vem intensificando seu relacionamento junto a grandes e pequenos clientes, assim como
distribuidores autorizados. Com os grandes clientes, participa fortemente de campanhas
de ofertas cooperadas, dividindo com os mesmos soluções para a questão de sobra de
estoques em suas lojas, faz uso de reposição contínua - ainda que com poucos -, e adota
as práticas de EDI e “cross-docking”. Com os pequenos clientes, a Nestlé participa,
conjuntamente com outras dez indústrias, de um projeto, apoiado pelo Sindicato do
Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios (Sincovaga), de redução de custos através
da implementação de EDI e da operação de uma central de abastecimento conjunta.
161
A Nestlé, ainda, detém experiência de gerenciamento de categorias com
pequenos supermercados, como, por exemplo, o Real, já automatizado há quinze anos,
que conta com apenas três lojas, em Ribeirão Preto. Com os distribuidores autorizados,
o relacionamento é mais estreito, onde a Nestlé disponibiliza toda estrutura de logística,
e auxilia nas decisões de local de instalação e definição das operações.
O relacionamento da Nestlé com a Sendas vem tornando-se mais estreito
recentemente, principalmente após a disseminação das práticas ECR no Brasil. Com o
contrato comercial e o acordo logístico, o nível de responsabilidade e comprometimento
mútuo cresceram significativamente, muito embora ainda não tenha sido manifestada,
como no caso da Danone, qualquer intenção de divisão de metas e expectativas, ou de
troca de informações financeiras.
Desta forma, na avaliação deste fator facilitador, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 2, 3 e 3, nesta ordem,
correspondendo a 25%, 50% e 50% de chance de haver interesse e capacidade mútua
para a construção de um relacionamento mais estreito.
d) Simetria
Todas as três empresas fornecedoras, se pensadas em nível mundial, são
consideravelmente maiores do que a Sendas. O impacto deste ponto pode ser mais
facilmente visualizado no caso da Procter & Gamble, com valor de mercado equivalente
a 160 bilhões, contando com 110.000 funcionários em 140 países e faturando
anualmente cerca de 40 bilhões de dólares, não cede a qualquer exigência dos clientes
nacionais, uma vez que a sobrevivência da empresa não se restringe a este mercado: os
prejuízos nas operações brasileiras têm uma pequena participação sobre seu faturamento
mundial.
162
No entanto, se considerarmos apenas a atuação destas empresas no mercado
nacional, estas posições são reformuladas. A Procter & Gamble, com um faturamento de
R$600 milhões, com 2000 funcionários e participando com menos de 0,5% das vendas
da Sendas, não é relevante para as operações deste supermercado - que já fatura cerca de
R$ 2 bilhões ao ano e conta com 18.000 funcionários.
A Sendas, por sua vez, tem uma importância estratégica para a Procter &
Gamble, por ocupar um papel fundamental no varejo do estado do Rio de Janeiro –
muito embora esta preponderância tenha sido reduzida recentemente, em função da
compra, por parte do Carrefour, dos supermercados Dallas, Rainha e Continente.
A Danone também apresenta faturamento - US$300 milhões - e número de
funcionários - 3000 - no Brasil bem inferiores aos da Sendas, mas, no entanto, é o seu
quinto maior fornecedor. A Sendas também é relevante para as operações da Danone no
Brasil, sendo seu segundo maior cliente.
A Nestlé, por sua vez, é a maior empresa alimentícia do país, contando com
cerca de 10 mil colaboradores e faturando R$3,4 bilhões ao ano no Brasil. Esta empresa
ocupa o quarto lugar no fornecimento à Sendas, enquanto esta última também está entre
seus cinco maiores clientes.
Desta forma, na avaliação deste fator facilitador, a pontuação conferida ao
relacionamento com a P&G, Danone e Nestlé foi equivalente a 2, 3 e 3, nesta ordem,
correspondendo a 25%, 50% e 50% de chance de não haver problemas de simetria entre
as empresas.
e) Outros fatores facilitadores
Ainda foram analisadas as perguntas adicionais, presentes no modelo teórico, a
saber:
163
• Há concorrentes em comum que tendem a unir os esforços das empresas?
• Há proximidade física entre as instalações das empresas?
• Há um comprometimento em trabalhar exclusivamente com o parceiro?
• Ambas as partes já tiveram experiências bem sucedidas em parceria?
• Ambas as partes têm um mesmo valioso consumidor final?
Entre estas, apenas a última recebe resposta positiva, em todos os três casos
analisados, conferindo um ponto adicional na avaliação total dos fatores facilitadores.
Procter Danone NestléCompatibilidade corporativa: culturae visão de negócio
1(0%)
3(50%)
3(50%)
Filosofia e técnicas gerenciaiscompatíveis
2(25%)
4(75%)
3(50%)
Capacitação e predisposição mútuas 2(25%)
3(50%)
3(50%)
Simetria 2(25%)
3(50%)
3(50%)
Outros fatores facilitadores 1 1 1Total Geral 8 14 13
Quadro 39 – Quadro resumo com avaliação dos fatores facilitadores
5.3.3 Identificação do tipo de parceria mais adequado em cada caso
As avaliações dos fatores motivacionais e facilitadores nos trazem o tipo de
parceria mais adequado em cada um dos casos estudados.
164
Para o relacionamento da Sendas com a Procter & Gamble, a avaliação com base
no modelo nos sugere a implementação de uma parceria do tipo I. Segundo a avaliação
dos componentes, já há um percentual considerável de características de uma parceria
do tipo I (71%) no relacionamento atual entre estas duas empresas. Há também, no
entanto, alguns componentes com avaliações muito baixas, típicas de um
relacionamento “arm’s length”. Estes últimos, portanto, merecem maior atenção –
medidas de desempenho, confiança, horizonte e cobertura do contrato.
Para o relacionamento entre a Sendas e a Danone, por sua vez, recomenda-se
uma parceria do tipo II. Hoje, 43% das características do relacionamento atendem às
exigências de uma parceria do tipo II, enquanto que as demais ainda necessitam de
investimentos conjuntos. São elas: medidas de desempenho, horizonte e cobertura do
contrato, estilo e conteúdo do planejamento, liberdade em realizar mudanças
operacionais, comunicação não rotineira, comprometimento, cobertura de atividades, e
investimentos financeiros, tecnológicos e humanos.
No caso da Nestlé com a Sendas, também é sugerida uma parceria do tipo II.
Neste caso, 48% das características do relacionamento atendem às exigências de uma
parceria do tipo II. As demais necessitam de atenção por parte das empresas.
Fatores facilitadores Fatores motivacionais8 – 11 pontos 12 – 15 pontos 16 – 24 pontos
8 – 11 pontos Tipo I(P&G)
Tipo I Tipo II
12 – 15 pontos Tipo I Tipo II(Danone, Nestlé)
Tipo III
16 – 25 pontos Tipo II Tipo III Tipo III
Quadro 40 – Identificação do tipo de parceria mais adequado em cada caso
165
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Neste capítulo, em um primeiro momento, serão apresentadas as principais
conclusões da dissertação. Em seguida, será apresentada uma breve discussão sobre o
trabalho realizado, assim como sobre o modelo selecionado para o estudo. Por fim,
serão feitas recomendações para pesquisas futuras.
6.1 Principais conclusões
A análise dos relacionamentos com base no modelo proposto por Lambert,
Emmelhainz e Gardner (1996) permitiu-nos obter uma maior compreensão a respeito da
implementação destas parcerias, conforme objetivava inicialmente este estudo. Mais do
que a pontuação obtida em cada relacionamento, a aplicação do modelo possibilitou um
aprofundamento da discussão sobre aspectos relacionados com a implementação de
parcerias.
Não há dúvida de que o Movimento ECR trouxe às empresas estudadas uma
maior preocupação com o desenvolvimento de parcerias e incentivou a adoção de novas
técnicas na distribuição. No entanto, tal processo é recente no país e pode-se perceber
que ainda há, nestas empresas, uma indefinição de políticas quanto ao relacionamento
de parcerias.
Da mesma forma, alguns componentes ainda estão bem pouco desenvolvidos nos
relacionamentos analisados. A elaboração de planejamento de longo prazo conjunto
ainda é precária, assim como a troca de medidas de desempenho. Os contratos
comerciais e acordos logísticos mostram-se extremamente detalhistas em suas
especificações, e praticamente inexiste investimento conjunto entre as empresas. Ainda,
há caso de carência de confiança no relacionamento de parceria.
O baixo desenvolvimento destes componentes mostrou-se tão forte, que, em
alguns casos, foi necessária a adaptação do modelo frente às realidades estudadas,
mediante a criação de uma classe de avaliação denominada “Muito Baixa”.
166
O estudo também demonstrou que a comunicação rotineira, inclusive a adoção
de EDI, e a divisão de riscos e retornos são alguns aspectos mais evoluídos nestes
relacionamentos.
Pôde-se perceber ainda que, em um mesmo relacionamento estudado, há
componentes em níveis de evolução típicos de um relacionamento de parceria do tipo
III, enquanto que outros podem estar mais próximos de uma parceria do tipo I ou mesmo
de um relacionamento “arm´s length”. As origens deste fato não foram claramente
conhecidas, mas talvez estejam relacionadas com a ausência de políticas claras de
parceria, ou mesmo a um direcionamento preferencial de esforços.
6.2 Discussão sobre o estudo e o modelo utilizado
A utilização do modelo de Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996) possibilitou
uma discussão fundamentada e profunda sobre a implementação de parcerias. O estudo
mostrou-se bem abrangente ao contemplar os fatores motivacionais, facilitadores e
componentes de cada um dos relacionamentos, conforme proposto pelo citado modelo.
Da mesma forma, ao apresentar o princípio de que parcerias nem sempre são vantajosas,
o modelo incentivou uma visão mais crítica quando da análise dos relacionamentos
estudados.
No estudo de casos, ainda, os relacionamentos de parceria da empresa
supermercadista mostraram-se mais avançados justamente com as empresas com as
quais existia maior compatibilidade corporativa, assim como de filosofia e técnicas
gerenciais, e onde os fatores motivacionais eram mais fortes. Este fato pode vir a
reforçar o modelo de Lambert, Emmelhainz e Gardner (1996), já que fatores
facilitadores e motivacionais mostraram-se bastante ligados ao nível de
desenvolvimento do relacionamento.
167
No entanto, deve-se enfatizar que a aplicação do modelo não eliminou
totalmente a subjetividade da avaliação. Avaliações um pouco mais otimistas poderiam
ter sugerido a implementação de um relacionamento do tipo III para a Danone ou Nestlé,
enquanto os mais pessimistas teriam constatado que a melhor alternativa seria a
manutenção de um relacionamento “arm´s length” entre a P&G e a Sendas. O modelo
apenas oferece uma orientação geral e um direcionamento às empresas que desejem
avaliar relacionamentos existentes, ou identificar parceiros em potencial.
Deve-se destacar ainda que, o modelo, ao fechar-se em relacionamentos de
parceria, não considerou a possibilidade de alguns componentes estarem em um grau
muito baixo de desenvolvimento. Desta forma, não ofereceu condições para distinguir
quando um determinado componente já ultrapassava o estágio de um relacionamento
“arm´s length” e merecia uma avaliação “Baixa”. Este ponto dificultou a avaliação dos
componentes e pode ter oferecido resultados mais otimistas que a realidade.
Outro ponto que merece atenção é o fato do modelo atribuir uma mesma
ponderação a todos os componentes avaliados, sem considerar que alguns deles podem
ser mais relevantes para a parceria do que os demais. Além disso, esta proposta de
avaliação de relacionamentos independe do setor de atuação das empresas ou do elo da
cadeia de suprimentos em questão, mostrando-se bem generalista. Possivelmente, há
alguns componentes mais relevantes nos relacionamentos do varejo alimentício do que
nos da indústria automobilística, por exemplo. Desta forma, talvez as avaliações dos
componentes merecessem diferentes ponderações, refletindo as características do setor
ou elo da cadeia analisado.
Também é interessante notar que, se não tomado o devido cuidado, o modelo
pode tornar-se um tanto quanto fatalista, uma vez que a proposta do novo
relacionamento, baseada nos fatores motivacionais e facilitadores, pode vir a ser
bastante influenciada pelo relacionamento atual entre as partes. Na avaliação dos fatores
motivacionais, deve-se vislumbrar o futuro, sem prender-se às restrições e condições do
presente.
168
Da mesma forma, deve-se ressaltar que a proposta do relacionamento mais
adequado entre as partes não é definitiva. A avaliação de fatores motivacionais e
facilitadores pode ser alterada radicalmente, através de uma mudança do controle
acionário de uma das empresas, por exemplo. Um trabalho de implementação de novas
filosofias e técnicas gerenciais, ou mesmo de mudança cultural nas empresas, pode
viabilizar relacionamentos até então considerados não merecedores de maiores
investimentos.
6.3 Recomendações para pesquisas futuras
Uma limitação importante desta pesquisa reside no fato das informações estarem
baseadas nas percepções dos executivos entrevistados – ainda que tenham sido
entrevistados executivos de ambas as empresas envolvidas em cada relacionamento.
Desta forma, é possível que algumas informações reflitam mais a percepção do
entrevistado do que a realidade destas empresas e dos relacionamentos estudados. Para
estudos futuros, recomenda-se que sejam entrevistados mais executivos em cada uma
das empresas selecionadas, de forma a obter maior garantia da veracidade das
informações recebidas.
Como recomendaçâo para pesquisas futuras, seria interessante estudar
relacionamentos entre empresas onde, apesar da existência de fortes fatores facilitadores
e motivacionais, parcerias não foram implementadas com sucesso. Conforme Lambert,
Emmelhainz e Gardner (1996), as sugestões de parcerias com base nos fatores
motivacionais e facilitadores não garantem o sucesso de suas implementações. Logo, um
estudo neste sentido permitiria identificar pontos fundamentais no processo de
implementação de parcerias, que podem trazer fracasso ao relacionamento ainda que
haja fortes fatores facilitadores e motivacionais.
169
Da mesma forma, recomenda-se que sejam estudados relacionamentos entre
empresas aparentemente incompatíveis em suas culturas, filosofias e técnicas gerenciais,
e com baixo grau de simetria, mas que apresentaram sucesso nestas parcerias. Um
estudo neste sentido permitiria compreender quais as formas de contornar condições
extremamente desfavoráveis, onde os fatores facilitadores são muito baixos, e
implementar relacionamentos de parceria com sucesso.
Outro ponto que merece ser estudado com maior profundidade são os impactos
nos relacionamentos de uma empresa com seus parceiros em função de fortes mudanças
no seu controle acionário ou mesmo da implementação de programas de mudança
cultural na empresa.
Como recomendação final, sugere-se que o modelo proposto por Lambert,
Emmelhainz e Gardner (1996) seja aprimorado, passando a contemplar critérios que
permita distingüir, na avaliação de cada um dos componentes, relacionamentos “arm´s
length” (avaliação muito baixa) de parcerias do tipo I (avaliação baixa). Além disso,
sugere-se que sejam estudadas possíveis ponderações na avaliação dos componentes,
uma vez que os graus de importância de cada um dos componentes no sucesso do
relacionamento de parceria pode variar em diferentes segmentos de mercado ou em
diferentes elos da cadeia de suprimentos.
170
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177
ANEXOS
178
Roteiro de entrevista: Empresa Supermercadista
Data da entrevista: Horário: início______ fim_____
Nome da empresa:
Nome do entrevistado: Cargo:
Endereço:
Telefone: Email:
1. Características Gerais:
1.1. Nome da empresa controladora:
1.2. Composição do capital:
1.3. Setor de atuação:
1.4. Informações sobre o porte da empresa e sua participação de mercado (faturamento, lucro
líquido, número de empregados, cobertura geográfica de mercado, categorias de produtos
comercializados / número de SKUs, participação de mercado)
1.5. Histórico da empresa:
1.6. Estrutura da empresa:
2. As operações:
2.1. Aspectos gerais:
2.1.1. Como é a rede de distribuição da empresa (lojas, CDs)?
2.1.2. Como é o fluxo de produtos desde os fornecedores até suas lojas, em linhas
gerais?
2.2. Compras e relacionamento com fornecedores:
2.2.1. Estrutura do departamento de compras (estruturado por fornecedor, por categoria
de produtos?)
179
2.2.2. Compras centralizadas? Todos os departamentos?
2.2.3. Exigências (embalagens especiais, horário de entrega, paletização, código
de barras, embalagens sortidas, cross-docking, local de entrega, CIF/FOB,
freqüência de entrega)
2.2.4. Tecnologias (EDI com algum fornecedor, VMI, reposição automática CDs / lojas,
planograma, recursos dos sistemas)
2.3. Centros de distribuição:
2.3.1. Qual o nível de automação dos centros de distribuição (WMS, equipamentos de
movimentação, EDI com fornecedores / transportadores, controle FIFO,
rastreamento do pedido, link com lojas, controle de produtividade)?
3. Fatores facilitadores:
3.1. Cultura:
Como é a cultura da empresa no que diz respeito a:
3.1.1. Relacionamentos com fornecedores (planejamento, controle operacional,
comunicação, confiança e comprometimento)
3.1.2. Relacionamentos com clientes e com a comunidade
3.1.3. Relacionamentos com funcionários (política de treinamento, salarial,
rotatividade, plano de carreira, empowerment)
3.1.5. Relacionamentos com metas e com o mercado (controles, bônus, voltada para
resultados ou mais paternalista?, aberta a fusões?, tem joint ventures?)
180
3.2. Negócio:
Qual é a visão de longo prazo da empresa? Há declaração formal?
Qual é o conceito de parceria para a empresa? Há normas a respeito do relacionamento
a ser levado com fornecedores?
A empresa acredita em parcerias?
A empresa realmente quer estabelecer parcerias?
Como é a experiência da gerência em ter a perspectiva da outra empresa, expressar
metas e dividir expectativas, visão de longo prazo, respeito mútuo? A empresa tem ou
já teve relacionamentos de parceria?
Há desejo da gerência em dividir informações financeiras, integrar sistemas?
3.3. Filosofia e técnicas gerenciais:
Como a empresa lida com algumas técnicas administrativas:
trabalhos em equipe, empowerment, qualidade total
A empresa participa do movimento ECR? Desde quando?
Em que estágio encontra-se a implementação das seguintes práticas:
Intercâmbio eletrônico de dados (EDI), Reposição contínua (CRP),
Computer-assisted ordering (CAO), Flow-through distribution (cross-docking, WMS),
Custeio ABC, Gerenciamento por categorias
4. Fatores Motivacionais:
Selecionar três dos seus fornecedores com os quais há um relacionamento de parceria.
181
4.1. Aspectos gerais:
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Produtos fornecidos
Deptos envolvidos no
relacionamento
Qual é a importância de cada uma destas empresas para a sua própria empresa em termos de:
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Participação nas vendas
Valor da marca pelo
consumidor
Como você compara o nível de sofisticação tecnológica de cada uma destas empresas frente à
sua própria empresa? E disponibilidade de capital?
Pontos positivos e pontos negativos dos fornecedores.
4.2. Fatores motivacionais:
Quais são as razões mais fortes para que a empresa estabeleça uma parceria? (espontânea)
Um relacionamento de parceria com cada uma destas empresas seria motivado por quais dos
fatores abaixo?
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Redução de custos
Uso eficiente de ativos
182
Serviço ao cliente (qualidade do produto,
disponibilidade do produto)
Renovar e ampliar linhas de produtos
Acesso a novas tecnologias / inovações
Estabilidade ou crescimento das vendas
(política de preço estável, garantia de
fornecimento, venda garantida)
5. Componentes:
Como hoje é o relacionamento com cada uma das três empresas? (cartão 1)
a) Planejamento
(abordar abertura de novas lojas, construção de CDs, planejamento de promoções, lançamento
de novos produtos)
estilo:
Como é o planejamento por ambas as empresas: ad-hoc ou regularmente programado?
conteúdo:
Há realização conjunta do planejamento ou apenas troca de informações?
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Estilo
Conteúdo
183
b) Controle operacional conjunto
medidas de desempenho:
As empresas têm resultados de medidas de desempenho partilhados?
Há desenvolvimento conjunto de medidas de desempenho?
Caso haja: o foco é no desempenho individual ou conjunto?
liberdade de realizar mudanças operacionais:
As empresas têm liberdade para sugerir ou realizar mudanças operacionais no sistema da outra
(com /sem autorização prévia)?
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Medidas de desempenho
Liberdade para realizar
mudanças operacionais
c) Comunicação
fluxo de informações:
Como é o fluxo de informações entre as empresas (sentido, equilíbrio)?
tecnologia:
Os sistemas são individuais ou houve desenvolvimento conjunto dos sistemas? Houve
modificação conjunta de sistemas individuais?
184
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Fluxo de informações
Tecnologia
d) Divisão de riscos e retornos
tolerância a perdas de curto prazo:
No relacionamento com estas empresas, como você diria que é a tolerância a perdas de curto
prazo?
compromisso com ganhos do outro:
E quanto ao compromisso com os ganhos do outro? (boa vontade / desejo)
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Tolerância a perdas de
curto prazo
Compromisso com
ganhos do outro
e) Confiança
confiança:
Qual o nível de confiança do relacionamento (constante desconfiança, confiança limitada à
crença de que o parceiro irá atuar de modo ético e honesto, ao parceiro é dada mais confiança
do que aos demais)
185
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Confiança
f) Estilo do contrato
horizonte de tempo:
Há contrato com estes fornecedores? Qual o horizonte de tempo coberto?
cobertura:
Qual o nível de detalhamento do contrato (bem específico ou generalista)?
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Horizonte de tempo
Cobertura
g) Escopo
Quais são os pontos de contato entre as empresas?
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Cobertura de atividades
h) Investimentos
Como as empresas costumam dividir seus investimentos:
financeiro (armazéns, pallets, embalagem): propriedade conjunta de ativos de baixo/alto valor?
tecnológico: desenvolvimento conjunto de produtos?
humano: troca de pessoal entre empresas?
186
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Financeiro
Tecnológico
Humano
187
Roteiro de entrevista: Fornecedores
Data da entrevista: Horário: início______ fim_____
Nome da empresa:
Nome do entrevistado: Cargo:
Endereço:
Telefone: Email:
1. Características Gerais:
1.1. Nome da empresa controladora:
1.2. Composição do capital:
1.3. Setor de atuação:
1.4. Informações sobre o porte da empresa e sua participação de mercado (faturamento, lucro
líquido, número de empregados, cobertura geográfica de mercado, categorias de produtos
comercializados / número de SKUs, participação de mercado)
1.5. Histórico da empresa:
1.6. Estrutura da empresa:
2. As operações:
2.1. Aspectos gerais:
2.1.1. Como é a rede de distribuição da empresa (fábricas, CDs)?
2.1.2. Como é o fluxo de produtos até os clientes, em linhas gerais?
2.2. Compras e relacionamento com clientes:
2.2.1. Estrutura do departamento de vendas (por cliente, por categoria?)
188
2.2.2. Flexibilidade em atender exigências dos clientes (embalagens especiais,
flexibilidade no horário de entrega, paletização, código de barras, embalagens sortidas,
transporte refrigerado, cross-docking, local de entrega, CIF/FOB)
Sendas faz alguma exigência distinta dos demais clientes?
2.2.3. Tecnologias (EDI com algum cliente, VMI)
2.3. Centros de distribuição:
2.3.1. Qual o nível de automação dos centros de distribuição (WMS, equipamentos de
movimentação, EDI com fornecedores / transportadores, controle FIFO,
rastreamento do pedido, link com lojas, controle de produtividade)?
3. Fatores facilitadores:
3.1. Cultura:
Como é a cultura da empresa no que diz respeito a:
3.1.1. Relacionamentos com fornecedores (planejamento, controle operacional,
comunicação, confiança e comprometimento)
3.1.2. Relacionamentos com clientes e com a comunidade
3.1.3. Relacionamentos com funcionários (política de treinamento, salarial,
rotatividade, plano de carreira, empowerment)
3.1.4. Relacionamentos com metas e com o mercado (controles, bônus, voltada para
resultados ou mais paternalista?, aberta a fusões?, tem joint ventures?)
3.2. Negócio:
Qual é a visão de longo prazo da empresa? Há declaração formal?
189
Qual é o conceito de parceria para a empresa? Há normas a respeito do relacionamento a ser
levado com fornecedores?
A empresa acredita em parcerias?
A empresa realmente quer estabelecer parcerias?
Como é a experiência da gerência em ter a perspectiva da outra empresa, expressar metas e
dividir expectativas, visão de longo prazo, respeito mútuo? A empresa tem ou já teve
relacionamentos de parceria?
Há desejo da gerência em dividir informações financeiras, integrar sistemas?
3.3. Filosofia e técnicas gerenciais:
Como a empresa lida com algumas técnicas administrativas:
trabalhos em equipe, empowerment, qualidade total
A empresa participa do movimento ECR? Desde quando?
Em que estágio encontra-se a implementação das seguintes práticas:
Intercâmbio eletrônico de dados (EDI), Reposição contínua (CRP)
Computer-assisted ordering (CAO), Flow-through distribution (cross-docking, WMS)
Custeio ABC, Gerenciamento por categorias
4. Fatores motivacionais:
No que diz respeito ao relacionamento com a Sendas:
4.1. Aspectos gerais:
Supermercado ....
Produtos fornecidos (quantidade e descrição)
Departamentos envolvidos no relacionamento
190
Qual é a importância deste cliente para a sua própria empresa em termos de:
Supermercado ....
Participação nas vendas
Valor da marca pelo
consumidor / outros
fatores
E qual a importância da sua empresa para a Sendas?
Como você compara o nível de sofisticação tecnológica deste cliente frente a sua própria
empresa? E disponibilidade de capital?
Pontos positivos e pontos negativos do cliente.
4.2. Fatores motivacionais:
Quais são as razões mais fortes para que a empresa estabeleça uma parceria? (espontânea)
Um relacionamento de parceria com este supermercado seria motivado por quais dos fatores
abaixo?
Supermercado ...
Redução de custos
Uso eficiente de ativos
Serviço ao cliente (disponibilidade)
Entrada em novos mercados
Acesso a novas tecnologias / inovações
Estabilidade ou crescimento das vendas
191
5. Componentes:
Como hoje é o relacionamento com a Sendas? (usar cartão 1)
a) Planejamento
(abordar abertura de novas lojas, construção de CDs, planejamento de promoções,
lançamento de novos produtos)
estilo:
Como é o planejamento por ambas as empresas: ad-hoc ou regularmente programado?
conteúdo:
Há realização conjunta do planejamento ou apenas troca de informações?
Sendas
Estilo
Conteúdo
b) Controle operacional conjunto
medidas de desempenho:
As empresas têm resultados de medidas de desempenho partilhados?
Há desenvolvimento conjunto de medidas de desempenho?
Caso haja: o foco é no desempenho individual ou conjunto?
192
liberdade de realizar mudanças operacionais:
As empresas têm liberdade para sugerir ou realizar mudanças operacionais no sistema da outra
(com /sem autorização prévia)?
Sendas
Medidas de desempenho
Liberdade para realizar
mudanças operacionais
c) Comunicação
fluxo de informações:
Como é o fluxo de informações entre as empresas (sentido, equilíbrio)?
tecnologia:
Os sistemas são individuais ou houve desenvolvimento conjunto dos sistemas? Houve
modificação conjunta de sistemas individuais?
Sendas
Fluxo de informações
Tecnologia
d) Divisão de riscos e retornos
tolerância a perdas de curto prazo:
No relacionamento com estas empresas, como você diria que é a tolerância a perdas de curto
prazo?
193
compromisso com ganhos do outro:
E quanto ao compromisso com os ganhos do outro? (boa vontade / desejo)
Sendas
Tolerância a perdas de
curto prazo
Compromisso com
ganhos do outro
e) Confiança
confiança:
Qual o nível de confiança do relacionamento (constante desconfiança, confiança limitada à
crença de que o parceiro irá atuar de modo ético e honesto, ao parceiro é dada mais confiança
do que aos demais)
Sendas
Confiança
f) Estilo do contrato
horizonte de tempo:
Há contrato com estes fornecedores? Qual o horizonte de tempo coberto?
cobertura:
Qual o nível de detalhamento do contrato (bem específico ou generalista)?
194
Sendas
Horizonte de tempo
Cobertura
g) Escopo
Quais são os pontos de contato entre as empresas?
Sendas
Cobertura de atividades
h) Investimentos
Como as empresas costumam dividir seus investimentos:
financeiro (armazéns, pallets, embalagem): propriedade conjunta de ativos de baixo/alto valor?
tecnológico: desenvolvimento conjunto de produtos?
humano: troca de pessoal entre empresas?
Sendas
Financeiro
Tecnológico
Humano
195
Cartão 1
a) Planejamento
Baixa Média Alta
Estilo Ad-hoc Regularmente
programado
Sistemático: tanto ad-hoc
como regularmente
programado
Nível Foco em tarefas ou
projetos
Foco em processos Foco no relacionamento
Conteúdo Divisão de planos
existentes
Realização conjunta,
eliminando conflitos
nas estratégias
Realização conjunta e em
múltiplos níveis da
organização, incluindo alta
direção.
b) Controle operacional conjunto
Baixa Média Alta
Medidas de
desempenho
Desenvolvidas de
forma
independente, mas
os resultados são
partilhados
Desenvolvidas em conjunto
com resultados partilhados,
mas focadas no desempenho
individual de cada uma das
empresas
Desenvolvidas em
conjunto com resultados
partilhados, mas focadas
no desempenho conjunto
Liberdade de
realizar
mudanças
operacionais
As partes podem
sugerir mudanças
uma para a outra
As partes podem realizar
mudanças no sistema da
outra após aprovação.
As partes podem realizar
mudanças no sistema da
outra sem aprovação
prévia
196
197
c) Comunicação
Baixa Média Alta
Comunicação
não-rotineira
Organização Conduzida em
base ad-hoc,
entre
indivíduos
Número limitado
de encontros já
programados,
alguma rotina
Método sistematizado
de comunicação,
podendo ser manual ou
eletrônico. Sistemas
inter-ligados.
Equilíbrio no
fluxo de
comunicação
Fluxo de
comunicação
em um único
sentido
Fluxo de
comunicação em
dois sentidos, mas
desequilibrado
Fluxo de comunicação
em dois sentidos, e
equilibrado
Tecnologia Uso de
sistemas
individuais
Modificação
conjunta de
sistemas
individuais
Desenvolvimento
conjunto de
comunicação eletrônica
customizada
d) Divisão de riscos e retornos
Baixa Média Alta
Tolerância a perdas Tolerância muito
baixa a perdas
Alguma tolerância a
perdas de curto prazo
Alta tolerância a
perdas de curto prazo
Comprometimento
com ganhos
Desejo limitado de
ajudar o outro
Boa vontade em ajudar o
outro
Desejo de ajudar o
outro
Senso de justiça Justiça é avaliada
em cada transação
Justiça é rastreada ano a
ano
Justiça é medida ao
longo da vida do
relacionamento
198
e) Confiança e comprometimento
Baixa Média Alta
Confiança Confiança é limitada à
crença de que cada
parceiro irá atuar de
modo ético e honesto
Ao parceiro, é dada
mais confiança do que
aos demais, sendo
visto como mais
favorecido
Há uma confiança
total implícita, que
não precisa ser
reconquistada a cada
transação.
Comprometimento
com o sucesso do
outro
Comprometimento de
cada parte com cada
transação específica ou
projeto, e a confiança
deve ser
constantemente
reconquistada.
Comprometimento
com uma relação de
mais longo prazo
Comprometimento
com o sucesso de
longo prazo do
parceiro, que
prevalece através de
funções e níveis de
ambas as
organizações
f) Estilo do contrato
Baixa Média Alta
Horizonte de
tempo
Curto horizonte de
tempo
Longo horizonte de
tempo
Sem data prevista para
término, e muito geral nas
especificações. Em alguns
casos, não há contrato
escrito.
Cobertura Específicos Mais generalistas Não especifica deveres ou
responsabilidades, apenas
delineia a filosofia básica que
199
permeia o relacionamento.
200
g) Escopo
Baixa Média Alta
Share Atividade da parceria
representa um share
muito pequeno para
ambos
Atividade representa um
share razoável para pelo
menos um dos parceiros
Atividade representa
share significativo para
ambas as partes
Cobertura
de
atividades
Relacionamento cobre
apenas uma ou algumas
funções
Cobre múltiplas funções Cobre múltiplas
funções, e a parceria
estende-se a todos os
níveis das organizações
Atividades
críticas
Abrange apenas
atividades de pouca
importância
São incluídas atividades
importantes para ambos os
parceiros
São incluídas
atividades críticas para
ambos os parceiros
h) Investimentos
Baixa Média Alta
Financeiro Baixo ou nenhum Propriedade conjunta de
ativos de baixo valor
Propriedade conjunta de
ativos de alto valor
Tecnológico Nenhum
desenvolvimento
conjunto de produtos
ou tecnologia
Algum esforço de
desenho de produtos, e
em pesquisa e
desenvolvimento
Desenvolvimento conjunto
significativo. Atividade de
pesquisa e
desenvolvimento conjunta
regular e significativa.
Humano Troca de pessoal entre
empresas limitada
Troca extensiva de
pessoal entre empresas
Participação no corpo da
outra empresa