análise de logística e layout em canteiro de obras

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E ENGENHARIAS Curso de Graduação em Engenharia Civil PAMELA ALINE SOSSMEIER ANÁLISE DE LOGÍSTICA E LAYOUT EM CANTEIRO DE OBRAS: ESTUDO DE CASO Ijuí/RS 2013

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logistica de canteiro

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  • 1

    UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO

    ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS EXATAS E ENGENHARIAS

    Curso de Graduao em Engenharia Civil

    PAMELA ALINE SOSSMEIER

    ANLISE DE LOGSTICA E LAYOUT EM CANTEIRO DE OBRAS:

    ESTUDO DE CASO

    Iju/RS

    2013

  • 2

    PAMELA ALINE SOSSMEIER

    ANLISE DE LOGSTICA E LAYOUT EM CANTEIRO DE OBRAS:

    ESTUDO DE CASO

    Trabalho de Concluso do Curso de Graduao em

    Engenharia Civil apresentado como requisito parcial para

    obteno do ttulo de Engenheiro Civil

    Orientador: Cristina Eliza Pozzobon

    Iju/RS

    2013

  • 3

    PAMELA ALINE SOSSMEIER

    ANLISE DE LOGSTICA E LAYOUT EM CANTEIRO DE OBRAS:

    ESTUDO DE CASO

    Trabalho de Concluso de Curso defendido e aprovado em sua forma final pelo professor

    orientador e pelo membro da banca examinadora

    Banca examinadora

    ________________________________________

    Prof. Cristina Eliza Pozzobon, Mestre - Orientador

    ________________________________________

    Prof. Diorges Carlos Lopes, Mestre

    Iju, 26 de Novembro de 2013.

  • 4

    A tarefa no tanto ver aquilo que ningum viu, mas pensar o

    que ningum ainda pensou sobre aquilo que todo mundo v.

    -Arthur Schopenhauer

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a minha orientadora, professora Cristina Pozzobon, pela pacincia e auxlio

    prestado durante o desenvolvimento deste trabalho, e por todos os anos de aprendizado

    durante a graduao.

    A minha me pela confiana, incentivo e compreenso ao longo de minha formao, e por

    nunca medir esforos para que eu alcanasse meus objetivos.

    Ao meu irmo pelo carinho e compreenso, confiante em minha capacidade e presente em

    todos os momentos.

    Aos amigos que sempre estiveram comigo nesta etapa da minha vida, pela compreenso e

    companheirismo, pelos momentos de distrao e aprendizagem, por estarem ao meu lado

    quaisquer que fossem as circunstncias.

  • 6

    RESUMO

    Frente a crescente demanda da construo civil, est se tornando cada vez mais

    necessria uma evoluo no setor no que diz respeito qualidade e a produtividade. Esta

    evoluo pode estar relacionada com a gesto do canteiro de obras, onde a obra produzida.

    Planejar, organizar, conduzir e controlar os processos que nele se desenvolvem, visando obter

    a melhor utilizao do espao fsico disponvel para a realizao de trabalho eficiente e

    seguro, atravs da logstica e do layout do canteiro de obras a melhor maneira de otimizar o

    processo produtivo. Com o objetivo de analisar o funcionamento de um canteiro de obras sob

    estes aspectos, foi realizado um estudo de caso no municpio de Iju/RS, junto ao canteiro de

    obras do edifcio Riverside. Alteraes de projetos, ausncia de planejamento e de

    informaes podem ser citados como responsveis pelas falhas nos fluxos fsicos e de

    informaes, interferindo no processo produtivo. Atravs da observao do processo

    produtivo, reflexo e anlise da realidade do canteiro de obras subordinada a reviso da

    literatura, foi possvel concluir que o funcionamento do canteiro de obras deficiente no que

    diz respeito a sua logstica e layout, havendo apenas uma gesto informal que se fez ativa

    durante a implantao do canteiro.

    Palavras-chave: Logstica; Layout; Canteiro de obras

  • 7

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Ciclo PDCA ............................................................................................................ 15

    Figura 2 rea de vivncia ...................................................................................................... 37

    Figura 3 Projetos no escritrio do canteiro ........................................................................... 39

    Figura 4 Projetos sobre a primeira laje .................................................................................. 39

    Figura 5 Etiqueta de identificao de armadura de viga ....................................................... 41

    Figura 6 Etiqueta de identificao do ao ............................................................................. 41

    Figura 7 Situao do canteiro no incio no estudo................................................................. 44

    Figura 8 Canteiro de obras aps a seleo do material.......................................................... 45

    Figura 9 Desnveis do terreno e vigas de fundao ............................................................... 45

    Figura 10 Rampas descontnuas e interferncia de escoras da laje ...................................... 46

    Figura 11 Vegetao dificultando o trabalho ........................................................................ 47

    Figura 12 Posio dos acessos no terreno ............................................................................. 49

    Figura 13 Descarga de agregados .......................................................................................... 50

    Figura 14 Interferncia de bicicletas no fluxo fsico ............................................................. 50

  • 8

    SUMRIO

    INTRODUO ...................................................................................................................... 10

    1.1 REVISO DA LITERATURA ....................................................................................... 13

    1.1 GESTO DA PRODUO ............................................................................................... 13

    1.1.1 Canteiro de obras .......................................................................................................... 13

    1.1.2 Gesto do canteiro de obras .......................................................................................... 14

    1.2 LOGSTICA ....................................................................................................................... 16

    1.2.1 Logstica na construo civil ......................................................................................... 17

    1.2.2 Logstica no canteiro de obras ...................................................................................... 18

    1.2.2.1 Fluxo de informaes .................................................................................... 19

    1.2.2.2 Fluxos fsicos ................................................................................................. 23

    1.3 LAYOUT DO CANTEIRO ................................................................................................ 26

    1.3.1 Projeto do canteiro ........................................................................................................ 29

    2 METODOLOGIA ................................................................................................................ 33

    2.1 CLASSIFICAO DA PESQUISA .................................................................................. 33

    2.2 PLANEJAMENTO DA PESQUISA .................................................................................. 33

    2.2.1 Procedimentos de coleta e interpretao dos dados ................................................... 33

    2.2.2 Estudo de caso ................................................................................................................ 34

    3 APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS .................................................. 36

    3.1 GESTO DO CANTEIRO DE OBRAS ............................................................................ 36

    3.2 LOGSTICA NO CANTEIRO DE OBRAS ...................................................................... 38

    3.2.1 Fluxo de informaes..................................................................................................... 38

    3.2.2 Fluxos fsicos ................................................................................................................. 44

    3.3 LAYOUT DO CANTEIRO ................................................................................................ 48

    3.3.1 Projeto do canteiro ........................................................................................................ 51

  • 9

    CONCLUSO .......................................................................................................................... 52

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 54

    ANEXO A PROJETO SITUAO/LOCALIZAO DA OBRA ..................................... 58

    ANEXO B PROJETO DO LAYOUT EM TERRENO LINDEIRO ..................................... 60

  • 10

    INTRODUO

    H tempos que a construo civil alvo de crticas no que diz respeito a prazos, custos

    e qualidade. Obras atrasam, oramentos no so condizentes com a realidade e muitas vezes o

    produto final no sai exatamente como o esperado ou o planejado. No competitivo mundo

    atual, porm, no h mais espao para este tipo de situao, ganha lugar no mercado aquele

    que apresenta o melhor produto no havendo mais tempo para amadorismos no processo

    produtivo. Para manterem-se competitivas no mercado da construo civil, as empresas deste

    setor vm dando maior importncia para a gesto do processo produtivo, buscando qualidade

    e produtividade, tornando o empreendimento mais eficiente e rentvel. Rezende, Jesus e

    Moura (2013) trazem a satisfao da clientela como lgica mercadolgica a ser perseguida

    pelas empresas em geral, e justificam a importncia da logstica dentro do processo produtivo

    citando Santos e Farias Filho (2012): de nada adianta produzir, se o que for produzido no

    interessar e satisfizer a clientela.

    No contexto de produo na construo civil, o personagem principal o canteiro de

    obras. Sendo nele que a obra produzida. Para Souza (2000, p.13):

    O canteiro de obras a fbrica cujo produto final o edifcio. Se considerado uma

    fbrica, ento o canteiro deve ser analisado sob a tica dos processos de produo do

    edifcio e tambm como o espao onde as pessoas envolvidas na produo estaro

    vivendo seu dia-a-dia de trabalho.

    possvel dizer, ento, que a gesto da produo depende da gesto do canteiro de

    obras, assim como o resultado final do empreendimento.

    A organizao efetiva do canteiro de obras, com layout em concordncia com o

    projeto e com cada ciclo do empreendimento, informaes disponveis, logstica, atendimento

    s normas regulamentadores, surte efeitos positivos dentro do processo construtivo, podendo

    at mesmo solucionar, em parte, o problema da escassez de mo de obra, visto que as

    condies de trabalho podem ser citadas como razo para pedreiros e serventes abandonarem

  • 11

    a profisso. Com isto o setor tem encontrado dificuldades para suprir a demanda,

    prejudicando o rendimento da obra e consequentemente, provocando atrasos.

    A gesto do canteiro de obras, alm de motivar empregados, auxilia na

    comercializao do empreendimento.

    [...] o cuidado com o aspecto visual do canteiro, que inclui a limpeza e impacto

    positivo perante funcionrios e clientes. No seria exagero afirmar que um cliente,

    na dvida entre dois apartamentos (de obras diferentes) que o satisfaam

    plenamente, decida comprar aquele do canteiro mais organizado, uma vez que este

    pode induzir uma maior confiana em relao a qualidade da obra (TOMMELEIN,

    1992 apud SAURIN; FORMOSO, 2006, p. 18).

    Frente a crescente demanda da construo civil, est se tornando cada vez mais

    necessria uma evoluo no setor no que diz respeito qualidade e a produtividade. Silva e

    Cardoso (1998) afirmam que a empresa de construo se dota de vantagens competitivas ao

    dominar a logstica do canteiro e a de suprimentos, isto , dominando o processo de gesto do

    canteiro de obras. Para tal, imprescindvel que o ambiente de trabalho seja adequado a

    execuo das funes e propicie aos funcionrios condies de trabalho apropriadas para o

    desempenho de suas atividades. Portanto, devido viso embaada que h sobre a gesto do

    canteiro de obras, torna-se coerente uma discusso sobre este assunto, destacando ideias e

    princpios bsicos para a gesto do processo produtivo e melhorias no mbito da qualidade do

    produto.

    A gesto da produo pode ser apresentada como piv desta discusso. Dentro da

    qual, logstica e layout do canteiro de obras se destacam como principais responsveis pelo

    sucesso do produto final. Sucesso este que vem sendo almejado por todas as empresas do

    setor, que, dentro do atual e crescente estado de globalizao, buscam por novas ferramentas e

    conceitos capazes de aperfeioar o processo produtivo e o produto final, tornando-se mais

    competitivas no mercado.

    Valendo-se desta premissa, optou-se pela realizao de um estudo de caso para

    analisar o funcionamento de um canteiro de obras sob aspectos de sua logstica e layout,

    buscando identificar os elementos necessrios sua organizao a partir de estudo analtico,

    subordinado a questes cientficas. A anlise se dar sob alguns pontos especficos do tema:

    Os fluxos fsicos e o layout do canteiro de obras;

    A compatibilidade entre ciclo do empreendimento e layout (projeto de

    canteiro);

  • 12

    Os fluxos de informaes;

    A comunicao entre os diferentes nveis de especialidades do setor da construo

    civil;

    Ao final da anlise, busca-se identificar falhas e possveis melhorias que visam o

    aprimoramento do processo produtivo.

    O presente trabalho estrutura-se em trs captulos distintos. O primeiro foi elaborado a

    partir de pesquisa bibliogrfica para contextualizao do leitor a respeito do tema e conceitos

    envolvidos, possibilitando o entendimento daquilo que foi exposto no decorrer da pesquisa.

    Gesto da produo e canteiro de obras so os conceitos iniciais, fazendo a conexo, ao longo

    do trabalho, com a gesto dentro do canteiro, fortemente influenciada pela logstica, aplicada

    ao contexto da construo civil, e ao layout do canteiro.

    O segundo se detm na classificao da pesquisa quanto aos mtodos de coleta e

    interpretao de dados, bem como na apresentao dos mtodos utilizados, no caso estudado e

    no contexto em que a obra est inserida.

    A seguir, no capitulo trs, foram contemplados os dados e anlises provenientes do

    perodo de observao analtica, juntamente com a interpretao da problemtica verificada

    no ambiente de trabalho. As interpretaes e anlises se deram em estreita relao com os

    parmetros mencionados na bibliografia, assim como os resultados obtidos. Ao final so

    apresentadas as concluses e referncias bibliogrficas.

  • 13

    1 REVISO DA LITERATURA

    1.1 GESTO DA PRODUO

    A gesto de um processo consiste, inicialmente, em saber onde se quer chegar, qual

    ser o seu produto final. A partir disto possvel organizar os princpios, meios e fins de um

    produto, no esquecendo de citar as interfaces que podem ocorrer nos servios de

    desenvolvimento do produto e, no controle da execuo para garantir a obteno dos

    resultados e possibilidades de melhorias no processo (CARDOSO, 1998 apud DIEZEL, 2006,

    p. 16). Para Cardoso (1998), gesto envolve planejar, organizar, conduzir e controlar o

    processo de desenvolvimento para atingir um objetivo.

    Slack (1997 apud DIEZEL, 2006) diz que a produo representa, numa organizao, a

    reunio de recursos destinados obteno de seus bens e/ou servios, utilizando recursos

    transformados e/ou recursos de transformao que passaro por algum tipo de transformao

    (processo de produo) para atingir o produto esperado. Deste modo, a produo a funo

    central das organizaes j que aquela que vai se incumbir de alcanar o objetivo principal

    da empresa, ou seja, sua razo de existir (SLACK, 1997, p.34).

    Para Limmer (1997 apud OLIVEIRA, 2007), a coordenao eficaz e eficiente de

    recursos humanos, materiais, financeiros e polticos, de equipamentos e de esforos

    necessrios para se chegar obra construda, est envolvida no gerenciamento de um projeto,

    atendendo-se a parmetros preestabelecidos de prazo, custo, qualidade e risco. Alm de

    assegurar que o projeto seja planejado em todas as suas fases, permitindo, atravs de

    mecanismos de controle, uma vigilncia contnua, onde os impactos de prazos e/ou custos

    sejam analisados e projetados para um horizonte de curto e mdio prazo, possibilitando

    antecipar decises gerenciais que garantam a execuo do projeto no curso desejado.

    Entende-se, ento, que a gesto da produo a organizao e o planejamento dos

    processos de transformao para o alcance de um objetivo comum. Cardoso (1998) a trata sob

    duas pticas: gesto de pessoas e gesto de materiais. Tendo em vista que ambos pessoas e

    materiais - atuam no canteiro de obras, admite-se a ideia da gesto no canteiro de obras.

    1.1.1 Canteiro de obras

    Vieira (2006) define o canteiro de obras como sendo todo o espao que destinado

    para efetivar a execuo de um projeto de concepo de uma obra. E traz uma definio mais

  • 14

    formal extrada da Norma Regulamentadora 18 (NR-18) (FUNDACENTRO, 1996) que o

    define como sendo a rea de trabalho fixa e temporria, onde se desenvolvem operaes de

    apoio e execuo de uma obra.

    Maia e Souza (2003 apud ARAJO, 2009, p. 18) o definem como o local onde se

    encontram distribudos, de maneira organizada, todos os recursos de produo (mo de obra,

    materiais e equipamentos) para dar apoio e realizar os trabalhos de construo, observando os

    requisitos de gesto, racionalizao, produtividade e segurana/conforto dos operrios.

    Ferreira e Franco (1998. p. 02):

    O canteiro de obras, tem como objetivo, propiciar a infra-estrutura necessria para a

    produo do edifcio, com os recursos disponveis, no momento necessrio para sua

    utilizao, podendo ser mais eficiente e eficaz em funo do projeto do produto de

    produo, e da forma de gerenciamento empresarial e operacional, influindo na

    produtividade da utilizao dos recursos, em funo da sua organizao e do seu

    arranjo fsico.

    1.1.2 Gesto do canteiro de obras

    Muito se fala em planejamento do canteiro de obras, Saurin e Formoso (2006) o

    definem como o planejamento do layout e da logstica das suas instalaes provisrias,

    instalaes de segurana e sistema de movimentao e armazenamento de materiais.

    Frankenfeld (1990 apud SAURIN e FORMOSO, 2006, p.17) acrescenta dizendo que o

    planejamento do layout envolve a definio do arranjo fsico de trabalhadores, materiais,

    equipamentos, reas de trabalho e de estocagem.

    Todo esse processo de planejamento tem por objetivo obter a melhor utilizao do

    espao fsico disponvel, de forma a possibilitar que homens e mquinas trabalhem com

    segurana e eficincia, principalmente atravs da minimizao das movimentaes de

    materiais, componentes e mo de obra (SAURIN E FORMOSO, 2006). No que diz respeito a

    condies de trabalho, faz-se referncia a Norma Regulamentadora NR 18 Condies e

    meio ambiente de trabalho na indstria da construo, que traz diretrizes de ordem

    administrativa, de planejamento e de organizao para a implementao de medidas de

    controle e sistemas preventivos de segurana nos processos, condies e meio ambiente de

    trabalho na indstria da construo, limitando-se ao item 18.4 que trata das reas de vivncia.

    Instalaes sanitrias, vestirio, alojamento, local de refeies, cozinha quando houver

    preparo de refeies, rea de lazer, ambulatrio para frentes de trabalho com cinquenta ou

  • 15

    mais trabalhadores so algumas disposies apresentadas, variando de acordo com o tipo de

    empreendimento a ser construdo. Todas estas reas devem ser planejadas e mantidas em

    perfeito estado de conservao, higiene e limpeza, alm de oferecer condies seguras aos

    processos e de meio ambiente aos operrios.

    Para ser eficiente necessrio que se acompanhe os passos do planejamento atravs de

    observaes, aes e correes, tendo o controle das variveis que podem influenciar nos

    resultados esperados. Se a gesto envolve planejar, organizar, conduzir e controlar o processo

    de desenvolvimento para atingir um objetivo, pode-se concluir que ao acompanhamento do

    planejamento do canteiro de obras d-se o nome de gesto do canteiro de obras. Segundo

    Mattos (2010) deve haver um controle permanente para cada processo que permita a aferio

    do desempenho dos meios empregados e promova uma alterao de procedimentos de tal

    modo que seja fcil alcanar as metas necessrias. O autor traz o ciclo PDCA Planejar,

    Desempenhar, Checar e Agir, como uma maneira eficaz de planejar, organizar, conduzir e

    controlar os processos. Na figura 1 possvel visualizar o princpio da gesto com o ciclo

    Figura 1- Ciclo PDCA

    Adaptado de: MATTOS, 2010.

  • 16

    Para os fins da presente pesquisa foi abordado o tema com nfase na logstica (fluxos

    fsicos e de informaes) e no layout do canteiro, visto que um estudo criterioso do layout e

    da logstica do canteiro deve estar entre as primeiras aes para que sejam bem aproveitados

    todos os recursos materiais e humanos empregados na obra, qualquer que seja seu porte

    (SKOYLES; SKOYLES, 1987; TOMMELEIN, 1992; MATHEUS, 1993; SOILBELMAN,

    1993; SANTOS, 1995 apud SAURIN e FORMOSO, 2006).

    Em agosto de 2012, a Comunidade da Construo do Rio de Janeiro realizou um

    seminrio voltado a empresrios, profissionais ligados ao setor e estudantes de engenharia e

    arquitetura, sobre Logstica no canteiro de obras. Vrios profissionais participaram do evento

    compartilhando seus conhecimentos e experincias relacionados ao tema. Ao final, no

    entanto, a concluso em que se chegava era de que o canteiro de obras planejado e organizado

    significa maior produtividade, menos desperdcio, reduo de custos e otimizao do tempo

    (informaes retiradas do site da Comunidade da Construo).

    1.2 LOGSTICA

    Vieira (2006) descreve duas maneiras distintas de conceituar a logstica: uma a

    maneira formal encontrada nos dicionrios contemporneos, entre elas pode-se citar: palavra

    vinda do francs, parte da arte militar relativa ao planejamento, transporte e suprimento das

    tropas em operaes; e a outra a conceituao tcnica desenvolvida por estudiosos do

    assunto, considerando mais os aspectos tcnicos e empresariais. A partir disto atriburam-se

    definies menos especficas e mais abrangentes, visto que a logstica avanou em muitas

    outras reas.

    Entre varias definies, destaca-se a de Vieira (2003 apud VIEIRA, 2006): logstica

    uma metodologia ou processo administrativo baseado fundamentalmente na conscientizao

    para o emprego de conceitos, mtodos, tcnicas e procedimentos, assim como na utilizao da

    tecnologia de informao, de forma a encaminhar a maximizao do nvel de servio e da

    produtividade numa cadeia de suprimentos. E a do Conselho de Administrao Logstica

    CLM (Council Logistic Manegement)1: logstica o processo de planejar, implementar e

    controlar, de forma eficiente e econmica, o fluxo de suprimentos e produtos, a armazenagem

    e o fluxo de informaes correspondentes a todo o sistema, da origem ao destino final,

    objetivando o atendimento s necessidades dos clientes.

    1 In: VIEIRA, Hlio Flvio. Logstica aplicada construo civil: como melhorar o fluxo de produes nas

    obras. I ed. So Paulo: ed. Pini, 2006. P. 19

  • 17

    Complementando, Cardoso (1998 apud DIEZEL, 2006, p. 18) relata que logstica

    realizar um planejamento e um controle detalhado e contnuo que possibilite suprir as

    necessidades em curto prazo aps as constataes de um desvio. Seus dois objetivos

    principais, segundo May (2002) so proporcionar, simultaneamente, o mximo nvel de

    servio e o menor custo total possvel nas atividades a ela inerentes.

    Os estudiosos Barbosa, Muniz e Santos (2012, apud REZENDE, JESUS e MOURA,

    2013), perante a amplitude de atuao nos moldes dos processos logsticos, preferem trat-la

    como o planejamento e a operao de sistemas fsicos, informacionais e gerenciais

    necessrios para que os insumos e produtos venam condicionantes espaciais e temporais de

    forma econmica. Nesta mesma linha de pensamento, Dias (2005, apud REZENDE, JESUS e

    MOURA, 2013) expem seu conceito:

    A logstica o processo de planejar, implementar e controlar, de forma eficiente e

    econmica o fluxo de suprimentos e produtos, a armazenagem e o fluxo de

    informaes correspondentes a todo o sistema desde a origem ao destino final,

    objetivando o atendimento s necessidades dos clientes.

    Rezende, Jesus e Moura (2013) sintetizam estes e outros inmeros conceitos de logstica

    encontrados na literatura e a definem como um ramo da gesto voltado para o produto, desde

    seu processo de armazenagem distribuio, sob forma de processos que promovam a

    reduo de tempo e custo, requerendo dessa forma, profissionais especializados com vistas a

    que as aes se deem mediante estudos referentes s rotas de circulao, meios de transporte,

    lcus da armazenagem e prvios diagnsticos de questes, como as ambientais.

    1.2.1 Logstica na construo civil

    Magee (1977 apud CARDOSO, 1998, p. 15) caracteriza a logstica na construo civil

    como a arte de administrar o fluxo de materiais e produtos, da fonte ao usurio, isto por

    meio de um processo administrado por um intrincado sistema de comunicaes e controle.

    Cardoso (1996) caracteriza o termo logstica como uma ferramenta de pilotagem dos

    fluxos fsicos de produo atravs dos fluxos de informao, associando-o mais uma

    logstica das atividades que se desenvolvem no canteiro (ou internamente), sem desprezar a

    ideia de transporte e suprimentos dos recursos de todos os tipos susceptveis de serem

    deslocados (mo de obra, materiais, equipamentos, etc.). Subdividindo a logstica aplicvel s

    empresas construtoras em logstica de suprimentos e logstica de canteiro. Esta ltima trata

  • 18

    dos fluxos fsicos e de informaes associados execuo de atividades no canteiro e ser

    abordada no presente trabalho.

    A partir disto, Silva e Cardoso (1998, p.3) trazem o conceito de logstica na construo

    civil seguido por alguns autores:

    Processo multidisciplinar, aplicado a uma determinada obra, que visa garantir o

    abastecimento, a armazenagem, o processamento e a disponibilizao dos recursos

    materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das equipes de

    produo e a gesto dos fluxos fsicos de produo. Tal processo se d atravs de

    atividades de planejamento, organizao, direo e controle, tendo como principal

    suporte o fluxo de informaes, sendo que estas atividades podem se passar tanto

    antes do incio da execuo em si, quanto ao longo dela.

    Santos e Farias Filho (2012, apud REZENDE, JESUS e MOURA, 2013) salientam que, para

    um procedimento logstico ser eficiente no meio da construo civil, ele deve se antecipar ao

    inicio da obra, caso da elaborao do layout com vistas otimizao dos fluxos fsicos no

    interior do canteiro de obras, e do planejamento no sentido de integrar e ordenar as aes.

    1.2.2 Logstica no canteiro de obras

    Dados os conceitos de logstica e de canteiro de obras correta a afirmao de

    Cardoso (1998, p. 16): logstica de canteiro compreende o planejamento e a gesto dos

    fluxos fsicos de produo atravs dos fluxos de informao que se desenvolvem nas

    diferentes atividades do sistema de produo, estando mais voltada para o interior do

    canteiro, para o seu funcionamento.

    Podendo ser definido no canteiro como um processo de organizao, direo, controle

    e planejamento do ambiente de trabalho, visando a boa conduo dos fluxos fsicos ligados

    execuo da obra. Sua maior caracterstica realizar controle e planejamento detalhado e

    contnuo de tais fluxos em intervalos de tempo relativamente curtos para que, constatado um

    desvio, seja possvel uma reao imediata e a correo do planejamento feito em nvel de

    tarefa ou operao (CARDOSO, 1998).

  • 19

    Segundo Rosana Leal (2012) 2, a introduo da logstica na construo civil uma

    forma de tentar voltar a estudar engenharia. Afirmando que logstica planejamento e

    compromisso com resultados e segurana, que preciso estudar a obra, conhecer

    equipamentos, fornecedores, olhar o entorno da obra e buscar acabar com o tradicional

    improviso. Para ela, as empresas do setor ainda no se convenceram da importncia da

    logstica porque no sabem o que podem ganhar ou perder com a tcnica.

    Entre fluxos fsicos e de informaes, Silva e Cardoso (s.d., f. 3-4) destacam as

    atividades mais importantes da logstica de canteiro: gesto de fluxos fsicos ligados

    execuo; gesto de informaes necessrias para que agentes que interagem no processo de

    produo exeram suas atividades dentro de padres preestabelecidos e para resoluo de

    interferncias entre servios; gesto fsica de praa de trabalho (implantao do canteiro,

    movimentao interna, zonas de estocagem, zonas de pr-fabricao, atendimento aos

    requisitos de segurana).

    1.2.2.1 Fluxo de informaes

    Mesmo em empreendimentos relativamente simples, produz-se uma quantidade

    significativa de informao durante o processo produtivo. Uma parte da informao produzida

    no chega a ser formalizada em peas de projeto, de contratos, atas de reunio. O fato de o

    projeto de construo ser invariavelmente uma representao incompleta do produto em razo

    dos quase inevitveis erros e omisses acidentais e, principalmente, das "omisses

    deliberadas", torna importante o levantamento de um conjunto de questes relevantes para a

    definio de um modelo de informao que corresponda s necessidades dos intervenientes no

    processo construtivo (MARTINS, 2009, p. 88).

    O autor ainda justifica a necessidade de um sistema de informaes nas especificaes

    tcnicas que, apesar de serem de grande valia, remetem a um conjunto de regras da boa arte

    inespecficas, na compreenso do projeto, que vai alm das regras do desenho tcnico, e

    principalmente nas omisses deliberadas, que tem por base um entendimento apoiado em

    experincias bem sucedidas anteriores, resultando em diferentes interpretaes entre os

    intervenientes para um mesmo projeto.

    2 In: Seminrio sobre Logstica no canteiro de obras. Comunidade da construo do Rio de Janeiro. Disponvel

    em: . Acesso

    em: 10 set. 2013.

  • 20

    Silva e Cardoso (1998 apud CAVALCANTE e FREITAS) trazem o fluxo de

    informaes, antes e durante o processo produtivo, como sendo o principal suporte das

    atividades de planejamento, organizao, direo e controle, compreendidas na logstica.

    Segundo Sales, Neto e Francelino (2003), seu objetivo aumentar a interao entre diferentes

    clientes internos e externos de uma empresa, para poder associar esforos e melhorar a

    competio em diferentes mercados, alm de garantir o abastecimento da produo com

    materiais, especificaes e projetos no momento certo. Para deter as informaes, a empresa

    deve captar informaes de controle de produo, possveis problemas que ocorram durante a

    execuo da obra, problemas de projetos e informaes da satisfao dos clientes em um

    constante processo de retroalimentao nos planejamentos, oramentos, projetos e execuo

    de novos empreendimentos, formando deste modo um ciclo contnuo indispensvel para que a

    empresa possa alcanar suas metas e objetivos.

    Sales, Neto e Francelino (2003) afirmam que a construo civil vem buscando a

    racionalizao dos processos, que tem ligao direta com o desenvolvimento da logstica.

    Neste contexto, Zegarra e Cardoso (2001 apud SALES, NETO e FRANCELINO, 2003)

    trazem a racionalizao do fluxo de informaes como a chave para a

    racionalizao/desenvolvimento da logstica. Podendo ser obtido atravs da organizao e

    formalizao das formas de emisso, recebimento e registro das informaes; a definio de

    um sistema de decises; a eliminao dos rudos provenientes da fluncia contnua de

    informaes vindas dos diferentes nveis de especialidades do setor, nos fluxos de

    informao; o aumento de velocidade de processamento e circulao das informaes; e a

    eliminao de informaes duplicadas, so aes que podem ser tomadas buscando atingir a

    racionalizao do fluxo de informaes.

    O trmite das informaes geradas nos vrios setores da empresa durante o incio do

    processo de produo e das aes responsabilidade do sistema de informaes, sendo de

    suma importncia para o andamento do processo. Geralmente as informaes fluem de cima

    para baixo na pirmide hierrquica da empresa. Ao final deste fluxo, inverte-se o percurso,

    sendo ento de baixo para cima, realizando o controle das atividades a partir da avaliao da

    ao e do incio do retorno das informaes referentes sua realizao (SALES, NETO e

    FRANCELINO, 2003). Este processo, baseado na comunicao e integrao que deve

    acontecer na etapa de execuo, deve servir de retroalimentador do processo de planejamento

    e de projetos futuros, informando aos responsveis pelo planejamento central as dificuldades e

    inadequaes do estabelecido em etapa de projeto, bem como das modificaes e adequaes

    necessrias (SCHMITT, 1998, apud NASCIMENTO e SHOELER, s.d).

  • 21

    Para ser eficiente, ento, necessria a existncia de integrao entre os diferentes

    nveis de produo. Esta integrao definida por Aouad (1996, apud NASCIMENTO e

    SCHOELER, s.d.) como a habilidade de partilhar informaes entre os diferentes atores

    usando um modelo comum desenvolvido dentro de uma estrutura segura e confivel.

    Necessidades dos clientes, especificaes de projeto e representaes grficas, estimativas de

    custos, programao e documentos requeridos pelas autoridades so exemplos de informaes

    que devem ser compartilhadas entre os diferentes nveis hierrquicos que compem a

    produo na construo civil. Para Sales, Neto e Francelino (2003) a disponibilidade, de

    modo completo, das informaes e sua chegada em tempo hbil, permitindo que operaes e

    decises sejam tomadas no momento correto tambm so fatores de suma importncia para a

    eficincia do fluxo de informaes.

    Schmitt (1998, apud NASCIMENTO e SHOELER, s.d) garante que a separao de

    projeto e execuo, a falta de integrao e de comunicao eficiente esto relacionados aos

    problemas enfrentados pelo processo de construo. Com isto pode-se dizer que a

    comunicao entre os diferentes grupos de atividades no processo produtivo parte inerente

    do fluxo de informaes. Sendo citada como o terceiro fator mais importante para o sucesso

    de um empreendimento. Silva e Cardoso (2000) classificam as informaes em de apoio a

    operaes, com funo de processar transaes correntes, controlar processos, atualizar

    dados... Cumprem esta funo os projetos do produto e da produo, conjunto dos

    procedimentos operacionais, pedidos de compra, documentos e mecanismos de controle de

    produo. E de apoio a decises, que auxiliam os processos decisrios (relatrios de

    produtividade e de acompanhamento fsico-financeiro de obras, avaliao de fornecedores de

    servios e materiais, etc).

    Silva e Cardoso (2000. p.17) partem do princpio de que a eficincia de um sistema

    medida pela capacidade deste utilizar adequadamente os recursos de transmisso, recepo e

    registro dos dados da empresa, e a eficcia pela capacidade que este tem de atingir

    determinados objetivos, sendo capaz de suprir os diversos subsistemas da empresa com as

    informaes adequadas no tempo necessrio. Afirmando que os sistemas de comunicao so

    mais eficientes e eficazes medida que, no processo de comunicao, existam menos

    interferncias relacionadas com a prpria forma de transmisso, verbal ou escrita, das

    informaes e com o longo percurso que levam para chegar a seus receptores, que podem vir

    a receber informaes de maneira incompleta ou com distores. Ressalta tambm que

    necessrio haver anteriormente um pr-dimensionamento do sistema e que ele atenda s

    necessidades operacionais e de tomada de deciso no mbito da empresa. Nascimento e

  • 22

    Schoeler (s.d.) pregam que, somente com o estabelecimento de comunicao com a requerida

    frequncia, possvel promover a integrao entre gerentes de canteiro de obra e equipe

    responsvel pelo planejamento central, fazendo com que no sejam adotadas modificaes

    isoladas por parte daqueles, induzindo com isto uma maior iterao entre os envolvidos na

    etapa. Devendo o fluxo de informaes abranger, inicialmente, o cliente e suas necessidades

    para depois passar pelos diversos setores da empresa (vendas, marketing, finanas, projetos,

    planejamento, recursos humanos, suprimentos e produo) e faz interface com os

    fornecedores.

    Barton (1998 apud SILVA e CARDOSO, 2000) cita como debilidades que podem

    prejudicar a eficincia e eficcia do sistema de informao a demora no processamento e na

    circulao da informao, fazendo com que no haja tempo hbil para tomar as decises

    necessrias ou agir de modo correto; a transmisso de informaes incompletas, fora do

    conjunto que permita uma contextualizao e compreenso adequada; custos de obteno da

    informao mais altos que os benefcios gerados pelo sistema (benefcios no justificam os

    custos); duplicao das informaes gerada pela falta de atribuio de funes dentro da

    empresa, no h necessidade de uma mesma informao ser coletada diversas vezes por

    diversos departamentos.

    Frente s debilidades citadas, Silva e Cardoso (2000) ressaltam a necessidade de haver

    continuamente uma avaliao em funo destes itens para se checar a eficincia e a eficcia

    do sistema.

    Para a implantao de um sistema de informaes logsticas no necessria, em

    primeira instncia, a adoo de ferramentas computacionais complexas. Primeiramente ela

    passar pela aquisio de dados precisos e no momento necessrio, depois por uma

    reengenharia dos processos logsticos onde h um ajuste do sistema de informaes e s ento

    utilizar programas aplicativos para alguns processos e, por ltimo, empregam-se sistemas

    informatizados mais complexos (SILVA e CARDOSO, 2000). A implantao destes deve ser

    norteada pela anlise e integrao das necessidades de informaes, pela seleo de

    equipamentos, pelo desenvolvimento ou aquisio de programas informatizados adequados e

    pela implantao de maneira gradual e com constante avaliao.

    Cardoso (1998) afirma que a realizao de reunies assume papel fundamental no

    sistema de informaes. Nelas o engenheiro gerente da obra deve fixar objetivos e metas,

    fazendo com que sejam alcanados, fazer circular informaes, tomar decises, incentivar a

    transparncia e a cooperativismo atravs de trabalhos em grupo, buscar o comprometimento e

  • 23

    motivao das pessoas, facilitar a comunicao, mostrar sua liderana incentivar que esta se

    manifeste junto aos outros agentes.

    Das reunies devem participar o representante do cliente e os profissionais

    responsveis por cada etapa do projeto e por sua execuo/conduo (arquitetos, engenheiros,

    mestre de obras e principais subempreiteiros), no sendo necessria a presena de todos em

    todos os eventos (CARDOSO, 1998). O autor aconselha que os encontros sejam realizados a

    cada quinze dias com a presena dos profissionais que militem efetivamente na obra e aps a

    discusso coletiva deve ser feito um replanejamento.

    1.2.2.2 Fluxos fsicos

    Entenda-se aqui fluxos fsicos como fluxos de mo de obra e de materiais. Seu

    principal objetivo a eliminao ou reduo das perdas inerentes a eles. Para ser alcanado

    faz-se necessrio tornar os processos diretamente observveis e expor os seus problemas e

    limitaes para que possam ser identificados e solucionados (KOSKELA, 1992 apud ALVES,

    2000, p. 25.). Para dar visibilidade produo, Alves (2000) destaca a utilizao do princpio

    da transparncia. Este consiste na observao dos processos e operaes e torna possvel

    identificar a parcela de atividades que no agregam valor ao produto final e os requisitos dos

    trabalhadores para a realizao das atividades (os clientes internos devem ter suas

    necessidades analisadas para que possam executar suas atividades da melhor forma possvel),

    analisar a variabilidade existente no processo e minimizar passos nos processos de operaes,

    alm de contribuir para aumentar o grau de continuidade3 e a terminalidade

    4 dos processos e

    operaes. Podendo ainda, atravs do melhor planejamento e controle dos fluxos dentro de

    um processo de melhoria contnua, resultar na eliminao das perdas existentes, conduzindo

    reduo do tempo de ciclo e ao balanceamento das melhorias a serem implementadas nos

    fluxos e converses.

    Segundo Alves (2000), a gesto dos fluxos fsicos pode ser entendida como o

    planejamento e controle desses fluxos associados realizao das tarefas da produo. Ao

    fluxo de materiais, necessrio o planejamento da aquisio, alocao temporal e espacial, e

    distribuio/movimentao dos materiais no canteiro e nos postos de trabalho, e o controle de

    3 Continuidade: realizao de processos e operaes sem paralizaes, de forma que ocorra um fluxo contnuo de

    atividades sendo realizadas ao longo do tempo (ALVES, 2000, p.26.). 4 Terminalidade: finalizao dos processos e operaes sem a necessidade de retrabalhos ou arremates que

    exigem visitas posteriores por parte de uma equipe ao mesmo posto de trabalho, prolongando a realizao de

    uma tarefa (ALVES, 2000, p.26.).

  • 24

    sua utilizao dentro de cada processo. J a gesto do fluxo de mo de obra compreende a

    designao das tarefas para as equipes, a considerao da melhor sequncia de execuo do

    processo, respeitando-se os requisitos tcnicos, a continuidade do processo, a capacidade

    produtiva das equipes, a carga de trabalho a ser designada para as mesmas e o efeito

    aprendizado. Consideram-se ainda as restries de tempo e espao e controle do

    desenvolvimento de tarefas, as quais devem ser comparadas com os ritmos especificados para

    cada processo. Bussinger (2012, apud REZENDE, JESUS e MOURA, 2013) defende que o

    transporte uma das atividades mais relevantes dentro do contexto da logstica, inferindo o

    conceito de logstica de transporte, responsvel por garantir a integridade da carga, no prazo

    combinado e a baixo custo.

    No que diz respeito ao fluxo de materiais, pode-se introduzir o conceito de logstica de

    suprimentos. Esta trata de uma srie de atividades que ocorrem diversas vezes ao longo do

    processo produtivo e influenciam no ritmo da produo, como a especificao de recursos e

    planejamento de suprimentos; a emisso e transmisso de pedidos de aquisio; o transporte

    dos recursos at a obra e seu recebimento; a manuteno dos suprimentos previstos no

    planejamento (controle e reprogramao) (MAY,2002). O mesmo autor ainda destaca a

    importncia deste ramo da logstica nos custos totais do empreendimento, afirmando que a

    funo suprimento muitas vezes apontada como causadora de atrasos e paradas no processo

    de produo e, consequentemente, perda de produtividade.

    atravs da antecipao e resoluo dos problemas que possam comprometer o

    andamento dos trabalhos e da reduo de variaes nos fluxos de recursos e insumos que

    abastecem a produo, que se reduz a incerteza associada a esses fluxos no processo. A partir

    dessa reduo, a variabilidade dos processos tambm reduzir e consequentemente uma

    parcela das atividades que no agregam valor aos produtos ser eliminada (ALVES e

    FORMOSO, s.d.).

    O processo de reduo da incerteza relaciona-se tomada de decises em diferentes

    horizontes de tempo, visando lidar com possveis acontecimentos no previstos, que surgem

    durante a fase de execuo. O de variabilidade passa pela adequada anlise e planejamento do

    trabalho a ser executado pelas equipes e do desenvolvimento de padres que possam ser

    utilizados para a execuo e controle das tarefas. Devendo a empresa contratante definir na

    etapa de projeto os mtodos construtivos a serem utilizados em cada obra. A melhor forma de

    executar os servios para atender aos requisitos do projeto, dadas as condies de cada

    canteiro, deve ser estudada pela administrao da obra junto das equipes subcontratadas,

    durante a fase de execuo (ALVES e FORMOSO, s.d.).

  • 25

    Interferncias, congestionamentos e perdas relacionadas ao transporte de materiais,

    ferramentas e equipamentos e a movimentao excessiva dentro de um canteiro devem ser

    evitadas por meio de restries de tempo e espao. Alves e Formoso (s.d.) trazem a

    elaborao de diagramas de fluxo e de processo aps a observao dos perodos de execuo

    definidos pela programao, o registro de imagens, os indicadores e o mapa de

    acompanhamento como formas de dar transparncia ao processo de produo, permitindo

    considerar e solucionar as restries. Estas ferramentas permitem coletar dados da produo e

    informar aos administradores da obra sobre o andamento dos processos. Tornando possvel a

    gesto dos fluxos fsicos com base em dados e fatos advindos da produo. Para tal

    importante que se definam os prazos de coleta de dados de modo compatvel com o perodo

    de realizao dos processos5, e os processos a serem analisados (ALVES e FORMOSO, s.d.).

    No caso de ser constatada a possibilidade de interferncia e congestionamento, deve-

    se buscar, sempre que possvel, distribuir os processos ao longo do tempo, com base na

    programao da obra. Para que esta constatao seja possvel, as reas necessrias para o

    desenvolvimento de cada processo devem ser indicadas em planta e analisadas de forma que

    sejam devidamente consideradas (RILEY e SANVIDO, 1995 apud ALVES e FORMOSO,

    s.d.).

    Com base no apresentado, admissvel dizer que a gesto dos fluxos fsicos se d nos

    diferentes nveis do processo de planejamento e controle da produo. Segundo Alves e

    Formoso (s.d.) a gesto dos fluxos fsicos deve estar hierarquizada de forma que possa lidar

    com decises relacionadas a esses em diferentes nveis do processo de planejamento e

    controle da produo. No estudo do layout (fase de projeto) so observadas questes

    relacionadas aos elementos do canteiro: acesso obra, posicionamento de equipamentos de

    transporte vertical, disposio de instalaes sanitrias prximas aos locais de trabalho, entre

    outras questes. No longo prazo devem ser estabelecidos, segundo Formoso et al (1999 apud

    ALVES e FORMOSO, s.d.), os ritmos e sequncia de execuo dos processos, observando-se

    aspectos tcnicos e financeiros; parcerias com fornecedores; seleo de equipamentos de

    transporte e localizao de estoques. Em mdio prazo so indicados os locais de

    desenvolvimento das tarefas, feita a distribuio de equipes, materiais e ferramentas

    necessrias execuo do servio, pode-se utilizar copias de plantas baixas da obra em papel

    A4 para isto. Deve-se tambm conduzir uma anlise de restries dos processos e desencadear

    aes para remover essas restries. Anlise e controle contnuo da produo, atravs da

    5 Processos com prazo de durao de meses podem ter dados coletados semanalmente, enquanto processos com

    durao de poucas semanas ou dias devem ter dados apropriados diariamente (ALVES e FORMOSO, s.d.).

  • 26

    identificao de problemas que impedem ou dificultam a realizao das tarefas, de modo a

    corrigir os desvios, combater as perdas e melhorar o desempenho dos processos ficam no

    planejamento a curto prazo.

    Novos conceitos relativos gesto da logstica de canteiro so mencionados por Silva

    e Cardoso (2000), so eles os "estudos de preparao" e o de projeto de canteiro. O CLUB

    CONSTRUCTION ET QUALIT PROVENCE-ALPES-COTE D'AZUR (s.dt.) define os

    estudos de preparao como um perodo de dedicao previso antecipada dos principais

    problemas que podem vir a ocorrer durante a obra. Este conceito assemelha-se ao de

    planejamento operacional ou da obra, a diferena reside naquele estabelecer uma etapa no

    processo de produo que propicia a discusso entre os diversos agentes que iro atuar na

    construo da obra. Como resultados tem-se um conjunto de planos e documentos que

    sintetizam as decises tomadas (SILVA e CARDOSO, 2000).

    A implantao destes estudos pode evitar a tomada de decises unilaterais pela equipe

    de produo no momento da execuo dos servios e tambm resolver os problemas de

    interface existentes. Ficariam responsveis pela sua realizao: principais subempreiteiros,

    fornecedores, engenheiros de planejamento, mestre-de-obras, e outros agentes julgados

    importantes; estes devem trabalhar sob a coordenao, preferencialmente, do engenheiro

    residente. Estes, alm realizar os estudos de preparao, podem vir a construir um polo

    logstico para acompanhamento e direo dos planos estabelecidos (SILVA e CARDOSO,

    2000). O principal entrave, segundo autor desconhecido (2002), para a no realizao destes

    estudos de preparao seria a ausncia de cultura para reservar um tempo mnimo para a

    tomada de decises coletivas antes do incio das obras. Este caso se aplica, em especial, a

    obras pblicas, onde o tempo de planejamento no remunerado, e tambm nas obras que

    possuem prazos extremamente exguos. O autor ainda sugere a adoo de mecanismos

    contratuais que permitissem a realizao desses estudos de modo remunerado para estimular

    sua realizao.

    1.3 LAYOUT DO CANTEIRO

    Frankenfeld (1990 apud SAURIN, 1997) define layout como sendo a disposio

    racional dos diversos servios de uma empresa, contemplando a disposio fsica de homens,

    materiais, equipamentos, reas de trabalho e de estocagem. Ribeiro (2011) expem os fatores

    que Schalk (1982) julga interferirem no trabalho e produo em qualquer setor, so eles: o

  • 27

    ambiente fsico e no-fsico; o desenho do produto, que nesse caso exclusivamente a obra; a

    matria prima utilizada; o processo de sequncia da atividade; as instalaes e os

    equipamentos; os instrumentos e as ferramentas; a disposio da rea de trabalho; as aes

    dos trabalhadores; e o ambiente fsico geral. Em suma, possvel afirmar que tais fatores tem

    estreita relao com o layout do canteiro de obras e, consequentemente, com o ritmo

    produo.

    Para Saurin (2006), o processo de planejamento do canteiro visa a obter a melhor

    utilizao do espao fsico disponvel, de forma a possibilitar que homens e mquinas

    trabalhem com segurana e eficincia, principalmente atravs da minimizao das

    movimentaes de materiais, componentes e mo de obra. Saurin (2006) ainda traz a diviso

    dos mltiplos objetivos que um planejamento de canteiro deve atingir em duas categorias,

    criadas por Tommelein (1992), uma com vistas a promover operaes eficientes e seguras e

    manter alta a motivao dos empregados, alm de fornecer boas condies ambientais de

    trabalho (conforto, limpeza e segurana), denominada objetivos de alto nvel; a outra,

    denominada objetivos de baixo nvel, minimizar distncias de transporte, tempos de

    movimentao de pessoal e materiais, manuseios de materiais e evitar obstrues ao

    movimento de materiais e equipamentos.

    Illingworth (1993 apud SAURIN, 1997) descreve trs tipos de canteiro de obras, o

    restrito, em que a construo ocupa toda, ou quase toda a rea do terreno tornando o acesso

    restrito; o amplo, onde h disponibilidade de acesso para veculos e de espao para as reas de

    armazenamento e acomodao de pessoal, visto que a construo ocupa uma parcela pequena

    do terreno; por ultimo cita-se o longo e estreito que apresenta restries em algumas de suas

    dimenses, com possibilidade de acesso em poucos pontos do canteiro.

    Saurin (1997) aplica as quatro questes levantadas por Krajewski e Ritzman (1993)

    sobre o arranjo fsico ao planejamento de layout de canteiro de obras. Em primeiro est a

    seleo das instalaes provisrias e reas de armazenamento que o canteiro deve possuir. A

    segunda refere-se ao dimensionamento destas reas, a terceira forma e os respectivos

    arranjos fsicos internos e a quarta localizao de cada rea, que se subdivide em localizao

    absoluta e relativa. Esta geralmente definida atravs de relaes de interdependncia entre

    as diversas reas a locar.

    Muther (1978 apud SAURIN, 1997) apresenta alguns dos tipos mais comuns de layout

    decorrentes da variedade de modos de produo. No mbito da construo civil adota-se o

    conceito de layout posicional ou fixo (ou por projects). Nele o produto fixo e os recursos

    matrias-primas, operadores e mquinas vo ao seu encontro. Krajewski e Ritzman (1993),

  • 28

    Schroeder (1993) e Voss (1992) concordam com a insero da construo civil neste tipo de

    layout. Para Schroeder (1993 apud SAURIN, 1997) um Project uma atividade que s ocorre

    uma vez e que origina um produto nico, grande e difcil de mover. Tendo em comum com a

    construo de edificaes a dificuldade em estabelecer um modelo definido dos fluxos devido

    o intenso manuseio de materiais; e o fato de o layout ser ditado pelas consideraes

    tecnolgicas e de programao.

    A determinao do layout de um empreendimento de construo depende diretamente

    da precedncia tecnolgica, pois os materiais so armazenados conforme a sua data de

    chegada obra e o armazenamento depende da disponibilidade de espao. Desse modo,

    definindo a durao das atividades, a programao define uma base para o layout das

    instalaes da construo.

    Para Saurin (1997), o capital investido, o manuseio de materiais, flexibilidade para

    aderir a possveis mudanas de arranjo fsico, gerenciamento visual atravs da transparncia

    dos processos, anlise de linhas de fluxo para que no haja excesso de cruzamentos que

    possam aumentar o tempo de transporte, so critrios a ser considerados na determinao do

    layout, cada qual com seu grau de importncia variando com as particularidades de cada caso.

    Deste modo, pode-se afirmar que o layout influi nos fluxos fsicos da obra e

    consequentemente no processo logstico do canteiro.

    Oliveira (2001) destaca trs tipos de projeto que influenciam diretamente na gesto do

    canteiro e devem ser considerados na definio do seu layout. So eles o do produto, o de

    produo e o de canteiro. Melhado (1994, apud OLIVEIRA, 2001) traz o projeto como uma

    atividade ou servio responsvel pelo desenvolvimento, organizao, registro e transmisso

    das caractersticas fsicas e tecnolgicas especificadas para uma obra, estando integrado com

    o processo de produo e devendo ser considerado na fase de execuo. O de produo tem

    como objetivo facilitar a interpretao da execuo para a equipe de produo. Pois, segundo

    Nascimento e Formoso (1998, apud OLIVEIRA, 2001), de nada adianta o projeto possuir

    boas tcnicas construtivas se elas no forem comunicadas de forma inteligvel a equipe de

    execuo. Melhado (1994, apud OLIVEIRA, 2001), o projeto de produo deve ser elaborado

    de modo simultneo ao detalhamento do projeto executivo, devendo conter a disposio e

    sequncia das atividades e frentes de servio da obra, uso de equipamentos, arranjo e

    evoluo do canteiro, etc. Ferreira (1998, apud OLIVEIRA, 2001) diz que este projeto deve

    conciliar planejamento estratgico do empreendimento, ttico e operacional da produo,

  • 29

    alm do detalhamento deste ltimo6. Concludos do projeto do produto e de produo, faz-se

    possvel a elaborao do projeto de canteiro. Cujo desempenho est estritamente relacionado

    preciso das informaes contidas nos projetos que o antecedem (OLIVEIRA, 2001).

    Saurin (1997) apresenta o ponto de vista referendado por um estudo do CII

    (CONSTRUCTION INDUSTRY INSTITUE, 1986) que afirma que os interesses da etapa de

    execuo no so considerados no layout da edificao e que, o layout das instalaes do

    canteiro raramente planejado junto com o da edificao. O correto seria o layout da

    edificao refletir os interesses de execuo e ser coordenado com o das instalaes do

    canteiro. O autor esclarece que a ideia no priorizar de forma absoluta o projeto de layout do

    canteiro sobre os demais projetos, e sim considerar suas necessidades na elaborao dos

    demais projetos.

    1.3.1 Projeto do canteiro

    Segundo FERREIRA (1998 apud SILVA e CARDOSO, 2000) o projeto de canteiro

    responsvel pela definio, para cada fase do projeto, do tamanho, forma e localizao das

    reas de trabalho e das vias de circulao necessrias ao desenvolvimento das atividades, de

    forma integrada e evolutiva, afim de oferecer condies de segurana, sade e motivao aos

    trabalhadores e execuo racionalizada dos servios. Sua realizao afeta o tempo de

    deslocamento dos trabalhadores, o custo de movimentao dos materiais e interfere, portanto,

    na execuo das atividades e tambm na produtividade global da obra e dos servios,

    influenciando na logistica do canteiro (MAY, 2002).

    Tommelein e tal (1992a apud CARDOSO, 2000) afirmam que promover a realizao

    de operaes seguras e manter a boa moral dos trabalhadores, alm de minimizar distncias e

    tempo para movimentao de pessoal e material, reduzir o tempo de movimentao de

    material, aumentar o tempo produtivo e evitar a obstruo da movimentao de material e dos

    equipamentos so os principais objetivos do projeto do canteiro. Podendo vir a proporcionar

    significativas melhorias no processo produtivo. Isto porque afeta o tempo de deslocamento

    dos trabalhadores e o custo de movimentao dos materiais e interfere, portanto, na execuo

    das atividades e tambm na produtividade global da obra e dos servios, sendo considerado

    um dos principais instrumentos para o planejamento e organizao da logstica de canteiro

    (FRANCO, 1992. OLIVEIRA; LEO, 1997 apud SILVA e CARDOSO, 2000).

    6 Para fins desta pesquisa, projeto de produto e de produo sero apenas mencionados para contextualizao do

    leitor. O foco incidir sobre o projeto de canteiro.

  • 30

    Seu desenvolvimento se d em etapas (programa de necessidades, estudo preliminar

    anteprojeto, projeto final), como um projeto arquitetnico ou de engenharia, medida que as

    informaes vo se precisando. Sempre considerando as diferentes fases de evoluo da obra

    (plano de ataque e fases do canteiro), em funo dos condicionantes de terrenos, frentes de

    trabalho, etc. (FERREIRA, 1998 apud CARDOSO, 1998, p. 21). Cabe ressaltar que o

    planejamento inicial da obra deve estar concludo para que se possa desenvolver o projeto do

    canteiro.

    Souza e Franco (1997 apud SILVA E CARDOSO, 2000) citam o cronograma da obra,

    o tempo disponvel para sua execuo, os sistemas e mtodos construtivos, equipamentos

    disponveis, demanda e disponibilidade de espaos como sendo condicionantes para a

    elaborao do espao fsico. Silva e Cardoso (2000) trazem o planejamento de espaos fsicos

    como o responsvel por definir a sequncia das atividades e procurar resolver conflitos,

    modificando, se necessrio, mtodos construtivos, sequncias de atividades, localizao de

    reas de estoque, datas de entregas, etc. Indo, portanto, alm da simples identificao dos

    espaos necessarios e da gerao de plantas de arranjo fisico.

    Ferreira (1998 apud SILVA e CARDOSO, 2000) props uma metodologia para

    realizao do projeto do canteiro dividida em quatro grandes fases: programa de necessidades

    (PN); estudo preliminar (EP); ante-projeto das fases do canteiro (AP); projeto executivo (PE).

    Para Cardoso (1998) no h dvida que a disponibilizao das informaes

    constituintes do projeto do canteiro fundamental boa gesto de uma obra. Pois a eficincia

    da administrao de uma obra esta diretamente relacionada com o quanto se sabe sobre as

    tcnicas, mtodos e processos construtivos utilizados.

    Vieira (2006) traz algumas diretrizes bsicas que visam dar forma ao encaminhamento

    do projeto do canteiro: definir as tecnologias construtivas, os recursos fsicos necessrios, as

    demandas por espao dentro do canteiro, o plano estratgico de ataque da obra e, por ltimo, o

    layout. A definiao dos recursos fsicos e humanos e das demandas por espao so baseados

    nas tecnologias a serem empregadas e nos prazos de excuo das diversas etapas, o plano

    estratgico de ataque envolve o prazo da obra e a sequncia construtiva, e o desenvolvimento

    do layout vem aps as informaes anteriores terem sido obtidas. O autor ressalta que no h

    uma soluo empacotada e pronta para o layout e que a experincia e a criatividade dos

    planejadores so fundamentais para o processo.

    Fatores como a acessibilidade e distncia para transporte de materiais; interferncia

    entre os fluxos de materiais e pessoas; custo de instalao; segurana no trabalho;

    flexibilidade e qualidade na estocagem sempre devem ser considerados na concepo do

  • 31

    projeto do canteiro. Tais consideraes devem ser feitas visando a minimizao dos

    disperdcios de materiais e do tempo improdutivo, assim como improvisaes de mo de obra

    e equipamentos (VIEIRA, 2006).

    Partindo do ponto de vista de Vieira (2006), sobre a importncia dos fluxos fsicos na

    elaborao do projeto do canteiro, cabe apresentar alguns princpios estabelecidos por Santos

    (1995, apud May, 2002), para escolha das melhores alternativas de transporte dentro do

    canteiro:

    a) o melhor transporte aquele que no existe;

    b) a fora motora mais econmica a fora da gravidade;

    c) cargas iguais devem ser movimentadas em conjunto;

    d) a produtividade da movimentao aumenta quando as condies de trabalho tornam-se

    mais seguras;

    e) quanto menor o peso transportado, mais econmicas as condies operacionais;

    f) o armazenamento, se possvel, deve utilizar o espao cbico;

    g) utilizar o caminho o mais direto possvel;

    h) evitar o cruzamento dos fluxos de transporte;

    i) prever os caminhos de ida e de volta;

    j) planejar o uso de cargas de retorno;

    k) diminuir distncias entre postos de trabalho;

    l) entregar materiais diretamente no local de trabalho;

    m) transportar a mxima quantidade de peso de cada vez, atendendo s restries e carter

    ergonmico;

    n) transportar preferencialmente em container, em vez de a granel;

    o) colocar cargas primeiro em plataformas, depois transport-las;

    p) no empilhar diretamente sobre o cho, deixando o espao para facilitar o erguimento e a

    ventilao;

    q) prever as reas de recepo, de preferncia com plataforma;

    r) garantir amplo espao de circulao em torno da rea de estoque;

    s) proteger partes da obra ao longo do caminho de circulao;

    t) manter a obra limpa e plana;

    u) proteger e dar segurana ao material transportado;

    v) reduzir o mximo possvel o transporte por esforo humano;

    w) usar equipamentos adaptveis ao transporte de vrios tipos de materiais.

  • 32

    Anlise do projeto arquitetnico, plantas de situao e localizao, visita ao terreno,

    seleo das instalaes provisrias que melhor se ajustem ao projeto, elaborao de

    fluxograma dos processos, estimativa do pico mximo de operrios na obra e da rea ocupada

    por equipamentos estacionrios, proximidade e compatibilidade dos elementos do canteiro,

    anlise do quantitativo de todos os materiais previstos no oramento, previso das dimenses

    dos veculos que iro circular no canterio e estudo das formas de descarga de materiais na

    obra so citadas por Vieira (2006) como uma sequncia de anlises prvias para a organizao

    e definio do layout do canteiro.

  • 33

    2 METODOLOGIA

    2.1 CLASSIFICAO DA PESQUISA

    Esta pesquisa pode ser classificada como aplicada e exploratria, baseada em um

    estudo analtico por meio de observao participante, subordinado pesquisa bibliogrfica.

    Os procedimentos caracterizam um estudo de caso. Na etapa final, no entanto, foram

    propostas melhorias ao sistema de gesto do canteiro de obras em estudo, com o intuito de

    provocar alteraes que beneficiem o grupo, caractersticas das etapas iniciais de uma

    pesquisa-ao. Esta modalidade de pesquisa envolve a insero do pesquisador no meio

    pesquisado, participao da populao, diagnstico do problema, planejamento e

    implementao da ao, e avaliao dos resultados.

    A presente pesquisa envolveu observao do processo produtivo, reflexo e anlise

    criteriosa dos fatos baseado na realidade do canteiro de obras e nas bibliografias consultadas,

    atingindo seus objetivos na identificao das falhas e possveis aspectos a serem melhorados

    para o aperfeioamento do processo produtivo. A abordagem dos fatos se deu de modo

    qualitativo.

    2.2 PLANEJAMENTO DA PESQUISA

    2.2.1 Procedimento de coleta e interpretao dos dados

    De inicio foi realizada uma pesquisa bibliogrfica (proveniente de estudos j

    realizados) a fim de definir os aspectos tericos do tema e sua aplicao na construo civil.

    Em um segundo momento se deu a seleo do canteiro de obras no municpio de

    Iju/RS. Para dar maior credibilidade pesquisa, optou-se por buscar uma obra cuja empresa

    responsvel tenha certificao de qualidade ou almeje implant-la. Aps obter permisso para

    realizar a pesquisa foi feita a caracterizao da empresa e do canteiro para, ento, dar-se incio

    a observao das atividades no referido canteiro de obras, com enfoque nos aspectos da

    logstica (fluxos fsicos e de informaes) e layout. Esta foi do tipo direta, variando entre

    atividades formais e no formais, onde o pesquisador fez uso de todos os sentidos e de

    questionamentos para obter os dados necessrios ao alcance de seus objetivos.

    O registro e a interpretao dos fatos se deram concomitantemente ao perodo de

    coleta de dados, visto que a construo da problemtica permaneceu aberta, evoluindo

  • 34

    constantemente em funo dos resultados obtidos. O processo de interpretao buscou

    identificar pontos positivos e negativos da logstica e layout do canteiro e, com auxlio dos

    estudos j realizados, confrontar a realidade da situao investigada com a proposta de

    logstica e layout definida pelos autores pesquisados. Em um ltimo momento, foi redigido o

    relatrio de pesquisa baseado na anlise do funcionamento do canteiro de obras, fruto do

    confronto entre as proposies tericas feitas na reviso da literatura e a realidade observada

    no caso estudado. Alm disso, foram relatadas medidas aplicveis para solucionar as

    debilidades observadas no contexto logstico e de layout daquele canteiro de obras.

    2.2.2 Estudo de caso

    Buscando satisfazer os objetivos da presente pesquisa, adotou-se, para fins de estudo

    de caso, a obra do Edifcio Riverside e seu respectivo canteiro de obras. Situado na Avenida

    Pinheiro Machado, esquina com a Rua Vinte e um de abril, Bairro Centro-Iju/RS, o

    empreendimento possui 8.803,20 m de rea total, dos quais 1.089,26 m pertencem ao

    pavimento trreo de p-direito duplo para uso comercial; 258,09 m ao segundo pavimento

    para salo de festas (p-direito simples); 1.059,74 m ao terceiro e quarto pavimento, com

    vinte e quatro e vinte e cinco boxes de garagem, respectivamente; 1.121,49 m em um

    pavimento tipo terrao; 598,87 m a cada pavimento tipo (sete no total), os 22,79 m restantes

    acomodam a casa de mquinas para dois elevadores7.

    O lote de 1.361,85 m, em funo da falta de planejamento, no permitia a instalao

    de um canteiro de obras adequado execuo das atividades e servios, estocagem e

    armazenagem de materiais e insumos necessrios a tamanho empreendimento. Por esta razo

    a empresa construtora optou pela aquisio de um terreno lindeiro para o desenvolvimento do

    canteiro de obras.

    A proposta inicial deste trabalho era realizar o estudo junto a uma empresa com nvel

    de certificao de qualidade no mercado e com algum empreendimento que exigisse elevada

    demanda de servios, mo de obra e insumos, alm de rea de trabalho ampla, capaz de

    acomodar os fluxos de trabalho. A realidade da regio, no entanto, no se mostrou favorvel a

    tal contexto. A escolha do edifcio Riverside foi baseada em suas dimenses construtivas,

    quantidade de frentes de servio e em aspectos de seu canteiro de obras. Composto por doze

    pavimentos, o segundo maior empreendimento vertical em execuo no municpio de Iju-

    7 Dados no oficiais obtidos a partir do projeto inicial do empreendimento, no h informaes referentes as

    alteraes a que o projeto foi submetido.

  • 35

    RS. A empresa, com sede em Passo Fundo/RS, iniciou suas atividades no municpio em 2002

    e desde ento vem ganhando espao no mercado devido ao porte de seus empreendimentos,

    seu comprometimento com qualidade e assiduidade. No entanto, no possui nenhum tipo de

    certificao de qualidade e, curiosamente, no trabalha com planejamento ou cronogramas. O

    mais prximo que se tem de um planejamento a data marco para a entrega da obra

    concluda: cinco anos aps o incio da construo, algo em meados de outubro de 2017.

    O processo de observao e anlise teve incio dia vinte quatro de setembro,

    estendendo-se at o dia quatro de outubro de 2013, totalizando quarenta horas de

    acompanhamento. Neste perodo, a mo de obra estava comprometida com a execuo de

    formas e armaduras para a estrutura do edifcio. Em um dia houve a finalizao da

    concretagem da primeira laje (p-direito duplo sobre pavimento comercial), realizada em

    etapas devido as suas dimenses. Algumas formas e escoras de concretagens anteriores

    estavam sendo removidas e novas formas sendo locadas e confeccionadas, assim como as

    respectivas armaduras. Algumas frentes de servio atuavam sobre a laje, locando pilares e

    vigas, outras em nvel do terreno, atarefadas com a confeco de formas, armaduras,

    transporte de materiais, entre outras.

  • 36

    3 APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS

    Neste captulo esto apresentados os resultados da anlise desenvolvida a partir da

    observao, tipo direta, na obra do edifcio Riverside no perodo de quarenta horas,

    compreendido entre os dias vinte e quatro de setembro e quatro de outubro deste ano. No

    decorrer deste perodo foram esmiuados todos os aspectos relacionados ao tema e

    necessrios ao alcance dos objetivos, cada qual sendo analisado individualmente, dentro de

    seu contexto.

    3.1 GESTO DO CANTEIRO DE OBRAS

    Comprometida com a execuo de grandes obras, que envolvero muitos recursos,

    fornecedores de materiais, movimentao de equipamentos em diferentes etapas da obra, alm

    de diversos intervenientes decorrentes das atividades desenvolvidas no interior do canteiro, a

    empresa se mostra preocupada com a definio e organizao do espao de trabalho. Ciente

    das dimenses, tanto do terreno quanto da obra a ser construdo (vide projeto situao/

    localizao em anexo), o engenheiro responsvel pela execuo e tambm proprietrio do

    empreendimento, tratou de negociar a compra do terreno lindeiro obra em perodo anterior

    ao incio dos trabalhos preliminares.

    Tal iniciativa demonstra que houve um estudo prvio das condies necessrias

    construo do edifcio e das disponveis no terreno, ou seja, um planejamento inicial com

    vistas a obter a melhor utilizao do espao fsico disponvel e, sendo este restrito, a aquisio

    do terreno ao lado foi passo decisivo para que houvesse condies favorveis ao trabalho

    seguro e eficiente.

    At o planejamento inicial pode-se dizer que correu tudo bem, a estratgia para a

    instalao do canteiro de obras tem seus mritos. Para o conceito de gesto estar completo, no

    entanto, necessrio ir alm do planejamento, necessrio acompanhar e controlar as

    atividades que se desenvolvem no ambiente de trabalho. Organizar, conduzir e controlar so

    trs fatores essenciais para que a gesto do canteiro de obras seja eficiente. Tratando-se de

    organizao, esta se fez ativa no perodo de instalao do canteiro: designao da rea de

    vivncia (figura 2) com espao reservado para refeies, guarda de pertences pessoais,

    instalaes sanitrias e escritrio construdos em alvenaria e mantidos em estado de

    conservao, higiene e limpeza indicam que as diretrizes do item 18.4 da NR- 18 foram

    contempladas dentro do previsto para canteiro de obras como o estudado. Disposio de

  • 37

    bancada, mesas de corte, estoque e depsito de materiais tambm foram previstos com vista a

    um ambiente de trabalho seguro e eficiente. As reas para locao de materiais e frentes de

    servio era amplo durante a primeira fase da construo, condio que deixou de existir no

    momento que a obra tomou forma. O espao para os operrios comeou a ficar restrito e a

    ausncia de acompanhamento resultou em um ambiente onde o andar de um lado a outro no

    tarefa fcil.

    Figura 2 rea de vivncia

    Fonte: Prprio autor, 2013.

    No decorrer do estudo foi possvel perceber que a conduo e o controle do canteiro

    estavam deficientes. Cabia ao mestre-de-obras observar o desenvolvimento das atividades e

    agir de maneira corretiva caso algo estivesse fora do lugar, conduzindo e controlando o

    espao fsico. Alguns pedreiros mais experientes auxiliavam neste processo conduzindo e

    controlando suas equipes de trabalho, o que em alguns momentos provocava transtornos entre

    frentes de servio diferentes, as quais ocupavam espaos muito prximos, realidade

    decorrente do imediatismo e singularidade na resoluo de dificuldades do processo.

    Fazia-se necessria uma viso mais ampla da situao do canteiro de obras, uma

    gesto do todo da obra que fosse capaz de controlar as partes falhas a partir de um novo

    planejamento dentro das condies em que a obra se apresentava, considerando a quantidade

    de materiais, operrios e diferentes servios sendo executados naquela etapa do

    empreendimento. A ausncia de planejamento a curto e mdio prazo tambm pode ser citada

    como responsvel pela dificuldade em se realizar um controle efetivo do canteiro de obras. A

  • 38

    estimativa de datas para a concluso das tarefas e etapas da obra auxiliaria na conduo dos

    trabalhos e permitiria um controle real do ritmo de produo.

    3.2 LOGSTICA NO CANTEIRO DE OBRAS

    No canteiro do edifcio Riverside houve preocupao com o fluxo de produo, que

    no podia parar para no atrasar a concluso do empreendimento. Gesto dos fluxos fsicos e

    de informaes dentro do espao de trabalho, no entanto, no foram considerados

    separadamente. possvel afirmar que o conceito de logstica no canteiro de obras no estava

    inserido no cenrio produtivo. Primeiramente, pela inexistncia de um cronograma fsico da

    obra que estipulasse datas marco para a concluso de cada etapa, segundo pela falta de um

    planejamento efetivo para a execuo dos servios, que eram determinados de acordo com as

    necessidades de continuidade da obra. Tais debilidades impediram que desvios e falhas no

    fluxo produtivo fossem visveis empresa e operrios. A disponibilidade de um planejamento

    a curto prazo, em local visvel da obra, permitiria a constatao de falhas de maneira clara e

    sucinta, podendo servir de estmulo para que medidas corretivas fossem tomadas. Eis o

    momento em que se torna necessria a presena de um profissional para gerir a produo e o

    ambiente na qual esta se desenvolve.

    fato que a experincia da maioria dos pedreiros permite que lhes seja visvel caso

    alguma frente de servio leve mais tempo que o necessrio para executar a tarefa, ou quando o

    trabalho no levado a srio pela equipe. A ausncia de planejamento, no entanto, torna

    impossvel acompanhar o desempenho da produo atravs de aferies do planejado com

    realizado, fazendo com que falhas no processo passem despercebidas ao engenheiro que

    pouco se faz presente na obra.

    No havendo esse controle, a logstica dentro do canteiro em estudo se torna uma

    questo de imediatismo generalizado, no sendo possvel identificar o que realmente atrasa a

    produo, ou impede o fluxo contnuo de trabalho no interior do canteiro. Nesse contexto, as

    medidas tomadas medidas solucionam um desvio local que nem sempre representa a raiz do

    problema.

    3.2.1 Fluxo de informaes

    A quantidade de informaes produzida durante o processo construtivo de um edifcio

    como o Riverside elevada pela necessidade de inmeros projetos para a execuo. Cada

  • 39

    projeto est sujeito a interpretaes baseadas na experincia do operrio no ramo da

    construo, como consequncia, diferentes interpretaes surgem para um mesmo projeto,

    gerando elevada quantidade de informaes que se disseminam entre as equipes.

    No canteiro de obras, projetos estavam disponveis a todos os operrios em uma sala

    reservada para tal e em cada pavimento, para cada zona de servio havia uma planta

    especfica para nortear as atividades da equipe, junto a elas estavam lpis, rgua e calculadora

    utilizadas pelos operrios. As figuras 3 e 4 mostram os casos citados. Sua disposio auxilia a

    nortear a mo de obra e atua positivamente na produo.

    Figura 3 Projetos no escritrio do canteiro

    Fonte: Prprio autor, 2013.

    Figura 4- Projetos sobre a primeira laje

    Fonte: Prprio autor, 2013.

  • 40

    O que tumultuoo a mo de obra foram as alteraes que os projetos sofreram.

    Aparentemente, no incio da construo todos estudaram o projeto a ser executado,

    identificando suas principais caractersticas e etapas de execuo. Aps haverem alteraes

    este processo de estudo no se repetiu. No houve explanao eficaz das modificaes

    realizadas por parte dos engenheiros aos operrios, ficando inmeras dvidas de como

    proceder na execuo. Como consequncia tem-se nmero significativo de pausas para buscar

    informaes junto ao mestre-de-obras ou para discutir disposies construtivas, situaes que

    afetam o desenvolvimento da obra e poderiam ser evitadas se houvesse fluxo de informaes

    contnuo entre as partes envolvidas na execuo, desde a elaborao do projeto at a sua

    execuo.

    Esta falta de informaes tambm resultou em retrabalhos, como no caso de algumas

    formas de vigas que foram confeccionadas para o projeto original e tiveram de ser recortadas

    e adaptadas ao novo projeto. No momento de montar a forma da estrutura a falha foi

    percebida fazendo com que a equipe ficasse a espera da forma da viga nas dimenses corretas.

    Foram aproximadamente trinta minutos de espera at que a forma fosse ajustada as medidas

    necessrias, segundo o pedreiro, foram removidos quarenta centmetros do comprimento total

    da forma, em consequncia houve o reposicionamento das gravatas. Trabalho que poderia ter

    sido evitado se os operrios tivessem sido informados que alteraes estavam sendo

    planejadas para aquele pavimento.

    Muitas das reclamaes vindas da mo de obra estavam relacionadas ausncia de

    informaes especficas em planta, dificultando a montagem de formas e sua disposio. No

    havendo como reportar as dvidas ao engenheiro, eram tomadas medidas alternativas que

    tomavam demasiado tempo dos operrios, envolvidos em um constante ciclo de retrabalhos

    para adequar medidas e conciliar etapas finalizadas com o projeto original e o atual

    modificado.

    O local reservado para armazenamento de formas e armaduras foi organizado a partir

    da colocao de etiquetas de identificao da parte da estrutura a qual correspondia, caso de

    formas de vigas e pilares, ganchos e estribos, caractersticas do produto (tipo de ao e

    dimetro de vergalhes), etc.. Dois exemplos de etiquetas usadas podem ser vistos nas figuras

    5 e 6. As informaes dispostas desta maneira permitiam que outras frentes de servio

    chegassem ao depsito e encontrassem aquilo que procuravam, colaborando para o fluxo

    fsico da produo.

  • 41

    Figura 5 Etiqueta de identificao de armadura de viga

    Fonte: Prprio autor, 2013.

    Figura 6 Etiqueta de identificao do ao

    Fonte: Prprio autor, 2013.

    A comunicao entre os nveis e setores da empresa no ocorreu de maneira adequada.

    O mestre de obras recebia ordens do engenheiro do empreendimento e as transferia ao demais

    de maneira e no momento que lhe fosse conveniente. Foi possvel observar, no perodo de

    estudo e anlise, que no houve interao entre engenheiro e pedreiros. Obstculos

    encontrados durante o processo produtivo no foram mencionados ao engenheiro com a

    frequncia que deveriam, quando foram, as medidas adotadas buscaram a soluo isolada da

    questo.

  • 42

    A no realizao de reunies acarretou na inexistncia de documentos relacionados ao

    controle do processo de produo, como, por exemplo, relatrios de produtividade e de

    acompanhamento fsico e financeiro. E mesmo que houvesse reunies e relatrios tivessem

    sido redigidos, a ausncia de planejamento afetaria sua credibilidade.

    Ao final de uma semana de trabalho, no se fez nenhum registro dos insumos

    consumidos ou relao de compra para a prxima semana. Ao iniciar a semana, deu-se

    continuidade produo. A mo de obra costumava chegar alguns minutos mais cedo, tanto

    pelo turno da manh, quanto pela tarde, independente do dia da semana. Nestes minutos todos

    se reuniam e, informalmente, conversavam sobre os servios em execuo e estimativas de

    concluso, com vistas s etapas futuras do empreendimento. Ao mestre de obras cabia a

    funo de redefinir as frentes de servio e encaminh-las execuo destas etapas. Raramente

    o engenheiro se fazia presente nestes momentos, por vezes aps o almoo, quando a mo de

    obra permanecia no canteiro, este aparecia para verificar a obra. Momento no qual

    conversavam sobre como dar sequncia a produo e sobre a necessidade de insumos e

    equipamentos. Ao observar algumas conversas foi possvel perceber que a inteno dos

    operrios era concluir suas tarefas e adiantar os servios que fossem possveis para que no

    houvesse atraso. Em momento algum houve cobrana por parte de engenheiro ou mestre de

    obras em relao ao andamento da obra.

    A comunicao informal dentro do canteiro de obras gerou quantidade elevada de

    rudos provenientes de informaes repetidas e incompletas. Em consequncia, foi possvel

    observar dois momentos em que a produo foi afetada durante o processo de concretagem de

    pilares. O primeiro foi devido a ausncia de cimento em estoque para a produo de concreto.

    A equipe destinada ao assentamento da alvenaria havia encerrado sua funo e utilizado todo

    o insumo disponvel na semana anterior. A informao ficou entre os membros da equipe que

    no informaram ao mestre de obras da necessidade de compra. No momento que lhes foi

    solicitada a produo de concreto para os pilares que o pedido de compra foi feito. Enquanto

    o insumo era levado at o canteiro de obras os operrios se entreteram com o enchimento das

    padiolas e preparao da betoneira.

    O segundo momento foi na tarde do dia seguinte, tambm no processo de concretagem

    de pilares, o servio no pode ser executado pelo fato de o vibrador de mangote ter sido

    solicitado para concretagem de uma laje em outro empreendimento da empresa, no perodo da

    manh. A falta de comunicao entre os mestres de obra dos dois empreendimentos ocasionou

    uma parada de trinta minutos para que um servente se deslocasse com o vibrador de um local

    a outro. Se houvesse um fluxo de informaes atuando entre o canteiro e os demais nveis da

  • 43

    empresa, a informao de que, no perodo da tarde o vibrador deveria estar no canteiro do

    Riverside teria sido passado aos operrios do outro edifcio. Ou ainda, se a empresa tivesse

    sido informada que haveria concretagem em ambas as obras, um equipamento extra poderia

    ter sido fornecido, evitando o compartilhamento do vibrador e a dependncia entre duas obras

    distintas.

    A falta de comunicao entre operrios quase ocasionou a produo de concreto em

    excesso durante o primeiro dia de concretagem. Ao iniciar a produo, um dos operrios

    pediu que algum lhe informasse a quantidade de concreto usada em cada pilar para que lhe

    fosse possvel estimar quantas betoneiras seriam necessrias. A informao, porm, no

    chegou at ele. Passado algum tempo, do alto da primeira laje o mestre o chamou pedindo que

    parasse com o concreto, pois o ultimo pilar estava sendo finalizado. Caso no fosse avisado a

    tempo, uma betoneira cheia de concreto seria desperdiada.

    A falta de reunies acarretou em outro ponto do fluxo de informaes: a participao

    do cliente. fato que a construo das reas privativas ainda no teve incio, portanto, no

    convm aos proprietrios dos apartamentos participarem de reunies para decidir o

    andamento da obra. Quanto s alteraes feitas no projeto, at o momento o pavimento

    comercial, a rampa de acesso aos pavimentos garagem e o salo de festas foram alterados.

    Neste ponto destaca-se a rampa, que no projeto original era linear e passou a ter um ngulo de

    noventa graus para se chegar ao pavimento superior. possvel que alguns proprietrios

    desaprovem tal alterao, visto que o acesso foi dificultado.

    Os problemas ocasionados pela falta de informaes no setor produtivo do

    empreendimento no foram reportados ao engenheiro responsvel, impedindo que foseem

    tomadas medidas corretivas ou apenas melhorias no processo. A relao entre engenheiro e

    operrios no parecia ser muito estreita, ficando a cargo do mestre de obras intermediar as

    relaes, visto que, em conversa informal, me foi relatado que o engenheiro no v com bons

    olhos o intervalo feito todos os dias pela mo de obra, pois cr que o ritmo da produo

    prejudicado com a pausa. Responsvel pela produo e sempre atento s frentes de servio, o

    mestre de obras ignorava o descontentamento do engenheiro e no fazia meno ao assunto,

    alegando que alguns