unidade 1 - aula 1 - introdução ao conceito de cultura

Introdução ao conceito de cultura

Unidade 1 – Aula 1

Curso Técnico em Orientação Comunitária

Disciplina: Cultura popular

Professor: Esp. Cleverson de Oliveira Domingos

CONHECIMENTOS PRÉVIOSCONHECIMENTOS PRÉVIOS

CULTURA CULTURA POPULAR

Conjunto de conhecimentos, crenças, artes, costumes e identidades.

Música: axé, forró, sertanejo, etc. Dança: Carimbó, bumba-meu-boi, frevo, etc.

Comidas: Acarajé, açaí, cupuaçu, cuscuz, arroz carreteiro, etc; sotaque.

Valores, crenças, costumes arraigados de nossos antepassados.

Costume de massa. Manifestações: Música, Dança, Artes em geral, teatro,

trajes.

Base familiar, religião, educação, língua, tradição, comidas, roupas; Cultura base

universal.

Carnaval, bumba-meu-boi, carimbó, São João no Nordeste, samba. Cultura popular

são grandes eventos.

Códigos de linguagem, tradição, identidade, crenças e ritos, conhecimento,

hábitos alimentares, vestimentas, comportamentos, etnias, espaço

geográfico.

Tradições e costumes de um certo povo. Exemplo: Tomar a benção aos mais

velhos. Carnaval.

Alimentação, festejos, danças, crenças, músicas, comportamento, folclore,

vestiário.

Como usamos o conceito de cultura no cotidiano?

Fulano não tem cultura!

Queremos dizer que ele não tem “conhecimento especializado, instrução, educação formal, inteligência, erudição”...

Será que podemos continuar utilizando Será que podemos continuar utilizando esse tipo de expressão?esse tipo de expressão?

Vídeo - Cultura: todo mundo tem uma?

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MVYqJ-pNXP4

REFLEXÃO

• Por que os Orientadores Comunitários devem conhecer e compreender a questão da cultura e da diversidade cultural?

ANTROPOLOGIAANTROPOLOGIA

• Etimologicamente falando, antropo quer dizer homem. Logia estudo. Logo, antropologia é o estudo do homem ou, como preferimos, do ser humano, como um ser biológico, psicológico, social, histórico e cultural, dentre outras dimensões. Na realidade, hoje a Antropologia não é considerada apenas o estudo do ser humano, mas principalmente o estudo das culturas humanas ou o estudo das culturas produzidas pelos seres humanos.

• O ser humano sempre se interessou de observar outros seres humanos, refletir sobre seus comportamentos e a sociedade, mas foi somente no final do século XVIII que esta ação se tornou um saber científico.

SOCIALIZAÇÃOSOCIALIZAÇÃO

• Os seres humanos aprendem as características da cultura

através do processo de socialização. A família, a escola e a

religião são exemplos de instituições socializadoras.

• A socialização é um processo cultural, pois consiste na

aquisição de maneiras de agir, pensar e sentir próprias do

grupo, da sociedade ou da civilização que o indivíduo vive.

Vídeo – Vida Maria

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zHQqpI_522M

REFLITAM...REFLITAM...

• Como podemos compreender a cultura e o processo de socialização a partir de Vida Maria?

• Pensem sobre a produção, reprodução e transformação da cultura a partir da história de Maria.

NATURALIZAÇÃO DA CULTURA

• Os indivíduos tendem a achar que seus comportamentos são “naturais” e nascem com eles;

• Quando, na realidade, a cultura adquirida no meio da vida constrói e define o indivíduo.

O livro faz um panorama do desenvolvimento do conceito de cultura na Antropologia.

Para Roque Laraia, o conceito de cultura é útil para entender a diversidade cultural da espécie humana.

A humanidade é caracterizada por uma unidade biológica, em que todos são dotados de um aparato físico semelhante (corpo humano ou organismo humano), ao mesmo tempo a humanidade também se caracteriza por uma grande diversidade cultural.

ETNOCENTRISMOETNOCENTRISMO

ETNOCENTRISMOETNOCENTRISMO

Termo forjado pela Antropologia para descrever o sentimento genérico das pessoas que preferem o modo de vida do seu próprio grupo social ou cultural ao de outros. O termo, em princípio, não descreve, portanto, necessariamente, atitudes negativas com relação aos outros, mas uma visão de mundo para a qual o centro de todos os valores é o próprio grupo ao qual o indivíduo pertence. Como, porém, nesta perspectiva, todos os outros grupos ou atitudes individuais são avaliados a partir dos valores do seu próprio grupo, isso pode gerar posições ou ações de intolerância (Livro de Conteúdo do Curso GDE, 2009, p. 35).

O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou “anormal” os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade (p. 24).

Vídeo – Ariano Suassuna analisa Banda Vídeo – Ariano Suassuna analisa Banda CalypsoCalypso

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=APeIWKVCLek

DEBATEDEBATE

• Como vocês veem a tendência que os grupos humanos apresentam em repetir os hábitos aprendidos em sociedade?

• Como vocês veem o fato das pessoas estranhem culturas que tenham hábitos diferentes da sua?

• É possível interpretar a fala de Ariano Suassuna como etnocêntrica?

RELATIVISMO CULTURAL

• Orientação para que a cultura seja estudada em termos de seus próprios significados e valores.

• Evitar o etnocentrismo, pois qualquer cultura deve ser analisada e compreendida utilizando seus próprios valores e culturas para julgá-la.

• Respeito as culturas e as suas práticas deve ser priorizado;

• Entretanto, algumas práticas são desafiadoras nesse sentido, no século XXI;

• Exemplo: As imposições feitas às mulheres em algumas culturas, que vão do uso da burca a circuncisão.

PARTICULARIZAÇÃO DA CULTURA E RELATIVISMO CULTURAL

• Franz Boas (1858-1942) foi um dos pesquisadores que mais influenciaram o conceito contemporâneo de cultura na antropologia americana. Em seus estudos, Boas concluiu que a diferença fundamental entre os grupos humanos era de ordem cultural e não racial ou determinada pelo ambiente físico. Sendo assim, defendia que, ao estudar os costumes particulares de uma determinada comunidade, o pesquisador deveria buscar explicações no contexto cultural e na reconstrução da origem e da história daquela comunidade. Decorre dessa constatação o reconhecimento da existência de culturas, no plural, e não de uma cultura universal.

CANEDO, Daniele. “Cultura é o quê?” - Reflexões sobre o conceito de cultura e a atuação dos poderes públicos. In: V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador: UFBA, 2009.

ALTERIDADEALTERIDADE

• Os dicionários registram apenas “qualidade de ser outro”, mas o termo é um conceito importante na antropologia, por fazer referência ao efeito de reconhecimento ou mesmo de produção cognitiva das diferenças. Uma relação de alteridade é uma relação com um outro no qual não nos vemos refletidos. É oposto de identidade.

• Tentativa de se colocar no lugar do outro;

• Entender “como me veem como outro”, como diferente;

• Enxergar com os olhos que o outro me vê;

• Me fixar na posição e na cabeça desse outro;

• Construir um entendimento sobre esse outro e o seu mundo;

• Compreender quem sou e qual é o meu mundo.

O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE CULTURA NA ANTROPOLOGIADE CULTURA NA ANTROPOLOGIA

Conceito evolucionista

Conceito funcionalista

Conceito estruturalista

Conceito interpretativista

Conceito pós-moderno

Conceito pós-estruturalista

CONCEITO EVOLUCIONISTA DE CULTURA (Século XIX)

• O pensamento evolucionista consolidou-se com a influência da obra “A origem das espécies” de Charles Darwin. Segundo a Teoria da Evolução de Darwin, todas as culturas passavam pelas mesmas etapas, ou estágios, durante sua existência, evoluindo, progredindo das mais primitivas para as mais avançadas/civilizadas ao longo do tempo, sendo que o estágio considerado mais avançado da humanidade era o atingido pelo Ocidente, por isso essa corrente foi considerada etnocêntrica, pois colocava o Ocidente como mais avançado que o Oriente.

• O primeiro antropólogo que formalizou a ideia de cultura foi Edward Tylor, em 1817. Para ele, “a cultura, no seu amplo sentido etnográfico, é um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.

• Tylor acreditava em uma unidade psíquica da humanidade;

CONCEITO FUNCIONALISTA DE CULTURA (Século XX)

• Em contraposição a concepção evolucionista de cultura, surge a antropologia funcionalista e, por conseguinte, o conceito funcionalista de cultura. Em vez de pautar-se por uma classificação dos diferentes povos e culturas de uma forma linear e diacrônica, essa corrente analisa cada cultura não a partir da comparação com outras, mas sim de acordo com sua própria lógica e a partir das funções de suas práticas e instituições. Radcliffe Brown e Malinoviski são os principais expoentes dessa corrente teórica e abordam a cultura como um sistema: da mesma forma que um organismo humano, composto de órgãos e funções, a sociedade (e consequentemente as suas culturas) seria formada por um conjunto complexo de instituições e funcionaria como um todo interdependente e orgânico.

CONCEITO ESTRUTURALISTA DE CULTURA

• Embora possamos situar outros teóricos nessa corrente de pensamento, o principal dele é Lévi-Strauss. Lévi-Strauss buscou ultrapassar a abordagem particularista das culturas e captar os elementos culturais universais – ou seja, aquilo da “cultura” que não varia, e que é comum, que pode ser encontrado em todas as culturas e em todas as épocas. Uma das coisas, por exemplo, que segundo ele é universal é a proibição do incesto. Portanto, para essa corrente, toda sociedade possui estruturas mínimas universais (rituais, crenças, parentesco, etc). Com relação ao conceito de cultura, Lévi-Strauss concebe-a como composta por sistemas estruturais e como um conjunto de sistemas simbólicos, onde cada um deles sendo distinto do outro, estão integrados, formando uma “totalidade social”. Além disso, segundo Lévi-Strauss, o pensamento humano age de acordo com princípios universais e com regras inconscientes que estruturam as culturas. Desse modo, Lévi-Strauss defendia uma unidade psíquica entre os seres humanos.

CONCEITO INTERPRETATIVISTA DE CULTURA

• Essa corrente percebe a cultura como sistemas simbólicos. Para Clifford Geertz (1973, 1983), fundador dessa linha teórica, todos os homens nascem, do ponto de vista biológico, aptos a receber um programa que é determinado culturalmente. Assim, todos os homens nascem dotados de um equipamento genético capaz de ser socializado em qualquer cultura. Nesse sentido, a cultura não é um complexo de comportamentos concretos, e sim um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções etc que tem a intenção de educar, disciplinar e governar o comportamento humano.

CONCEITO PÓS-MODERNO DE CULTURA

• A partir dos anos 1980, com o desenvolvimento de novas práticas antropológicas, surgiu uma outra vertente chamada Antropologia pós-moderna. Representada principalmente por James Clifford e Georges Marcus, essa vertente faz duras críticas aos paradigmas teóricos da “autoridade etnográfica” do antropólogo. Nesse contexto, a antropologia nada mais é que a arte da crítica cultural; o conceito de cultura é visto como um processo polissêmico, com múltiplos significados, que são interpretados tanto por antropólogos como por seus interlocutores.

CONCEITO PÓS-ESTRUTURALISTA DE CONCEITO PÓS-ESTRUTURALISTA DE CULTURACULTURA

Nessa perspectiva, a cultura é compreendida como:

1) Uma prática de significação;

2) Uma prática produtiva;

3) Uma relação social;

4) Uma relação de poder;

5) Uma prática que produz identidades sociais.

SILVA, Tomaz Tadeu. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

• Não existe um consenso formado acerca do conceito de cultura, pois ele se diferencia tanto de acordo com as correntes teóricas quanto com o seu desenvolvimento cronológico que, desde o final do século XIX, vem sendo construído e reelaborado a partir de distintos significados e condições sócio-históricas.

• O mais importante é entendermos que a cultura não é transmitida por mecanismos biológicos e não depende de uma transmissão genética. Pelo contrário, a cultura possui um caráter de aprendizado.

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

• A cultura é dinâmica: ela se transforma, se produz e se reproduz;

• Os padrões e normas culturais também são construções sociais;

• Há uma tendência dos povos serem etnocêntricos e xenofóbicos;

• As identidades individual e coletiva são formadas na cultura;

• Nossos comportamentos são aprendidos culturalmente;