ponto 1 - conceito

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1) Direito do Trabalho: conceito, características, divisão, natureza, funções, autonomia. 1 - CONCEITO: Encontra-se na doutrina três posicionamentos acerca da conceituação do Direito do Trabalho, sendo estes: Conceito Subjetivo : o que define o Direito do Trabalho são os sujeitos envolvidos (“quem”). Isto é, é o ramo do direito que trata das relações existentes entre os sujeitos da relação empregatícia. Conceito Objetivo : nesse caso, a definição pauta no objeto do Direito do Trabalho, qual seja, a própria relação de emprego (“o que”). " O Direito do Trabalho é o ramo do Direito que disciplina as relações de emprego, tanto individuais como coletivas " (Ives Gandra da Silva Martins Filho) Conceito misto ou complexo : é a mescla dos dois conceitos anteriores: o sujeito e a matéria disciplinada no Direito do Trabalho; é o " complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam a relação empregatícia de trabalho e outras relações normativamente especificadas, englobando, também, os institutos, regras e princípios concernentes às relações coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços, em especial através de suas associações coletivas (Maurício Godinho Delgado). 1

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PONTO 1 EDITAL TRABALHO

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1) Direito do Trabalho: conceito, caractersticas, diviso, natureza, funes, autonomia.

1 - CONCEITO:

Encontra-se na doutrina trs posicionamentos acerca da conceituao do Direito do Trabalho, sendo estes:

Conceito Subjetivo: o que define o Direito do Trabalho so os sujeitos envolvidos (quem). Isto , o ramo do direito que trata das relaes existentes entre os sujeitos da relao empregatcia. Conceito Objetivo: nesse caso, a definio pauta no objeto do Direito do Trabalho, qual seja, a prpria relao de emprego (o que). "O Direito do Trabalho o ramo do Direito que disciplina as relaes de emprego, tanto individuais como coletivas" (Ives Gandra da Silva Martins Filho) Conceito misto ou complexo: a mescla dos dois conceitos anteriores: o sujeito e a matria disciplinada no Direito do Trabalho; o "complexo de princpios, regras e institutos jurdicos que regulam a relao empregatcia de trabalho e outras relaes normativamente especificadas, englobando, tambm, os institutos, regras e princpios concernentes s relaes coletivas entre trabalhadores e tomadores de servios, em especial atravs de suas associaes coletivas (Maurcio Godinho Delgado).** Observa-se que o conceito acima o mais utilizado pela maior parte da doutrina brasileira doutrinadores como Amauri Mascaro Nascimento, Maurcio Godinho Delgado, Srgio Pinto Martins, e outros, seguem a definio complexa/mista).

Alm disso, M. G Delgado afirma que dos trs conceitos acima expostos, a definio subjetivista a mais precria, conforme enxerto a seguir:(...) dos trs enfoques utilizados para a construo de definies, o menos consistente, do ponto de vista cientfico, , sem dvida, o subjetivista. que, considerada a relao de emprego como a categoria fundamental sobre que se constri o Direito do Trabalho, obviamente que o ramo jurdico especializado no ir definir-se, sob o ponto de vista tcnico, a partir de qualquer de seus sujeitos, mas a partir de sua categoria fundamental. Por outro lado, o carter expansionista desse ramo jurdico tem-no feito regular, mesmo que excepcionalmente, relaes jurdicas de trabalho que no envolvem exatamente o empregado o que torna o enfoque subjetivista inbil a apreender todas as relaes regidas pelo ramo jurdico em anlise.Por fim, cito a definio formulada por Arnaldo Sussekind: "Direito do Trabalho o conjunto de princpios e normas, legais e extralegais, que regem tanto as relaes jurdicas individuais e coletivas, oriundas do contrato de trabalho subordinado e, sob certos aspectos, da relao de trabalho profissional autnomo, como diversas questes conexas de ndole social, pertinentes ao bem-estar do trabalhador"

Vlia Bonfim um sistema jurdico permeado por institutos, valores, regras e princpios dirigidos aos trabalhadores subordinados e assemelhados, aos empregadores, empresas coligadas, tomadores de servio, para tutela do contrato mnimo de trabalho, das obrigaes decorrentes das relaes de trabalho, das medidas que visam proteo da sociedade trabalhadora, sempre norteadas pelos princpios constitucionais, principalmente o da dignidade da pessoa humana. Tambm recheado de normas destinadas aos sindicatos e associaes representativas; atenuao e forma de soluo dos conflitos individuais, coletivos e difusos, existentes entre capital e trabalho; estabilizao da economia social melhoria da condio social de todos os relacionados.

2 CARACTERSTICAS1- tendncia in fieri: ampliao crescente; 2- tuitivo: protetivo ; 3- cunho intervencionista; 4-carter cosmopolita; 4-institutos mais tpicos de ordem coletiva ou socializante; 5- direito em transio.

Basicamente, as caractersticas do Direito do Trabalho so: Direito Autnomo: um ramo autnomo; Direito Especial: particularidades, especialidades o que o diferenciam dos demais ramos do direito; Normas cogentes: de ordem pblica, portanto irrenunciveis pela vontade das partes (salvo nas hipteses de Flexibilizao).

Em um cunho mais aprofundado mas no exaustivo - fixa-se as demais caractersticas:

2.1. Tendncia ampliativa ou tendncia in fieri: a tendncia do Direito do Trabalho cada vez mais ampliar-se, pois ainda est em formao. Isto , h a propenso ampliao de seu contedo. Vislumbra-se essa tendncia ao analisar o momento da concepo do Direito do Trabalho e o estgio atual dele, na qual, por exemplo, seu objeto j foi ampliado para regular o trabalho temporrio e o trabalho avulso. (Evaristo de Morais Filho e Antonio Carlos Flores de Moraes).Com a CF de 1988 houve uma extenso da valorao do trabalho:

Aspecto subjetivo: atingindo empregados, trabalhadores e desempregados. Aspecto objetivo: ampliando o rol de direitos. Rural: FGTS, salrio famlia, adicional de periculosidade e insalubridade. Domsticos: 13, salrio mnimo, RSR. Empregados urbanos: seguro desemprego, 1/3 de frias, 40% sobre FGTS.

2.2. Protecionismo: relaciona-se ao fato de ser um direito tuitivo, de reivindicao de classe e da ampla atuao dos sindicatos (Alice Monteiro de Barros). O direito do Trabalho, por meio de suas regras e princpios, tem a funo de tutelar o trabalhador, protegendo-o diante do detentor do poder econmico que com ele se relaciona.

2.3. Dirigismo estatal: o intervencionismo ou imperatividade, contra o dogma liberal da economia, e, portanto, cogente. O Direito do Trabalho constitui-se por um conjunto de princpios e normas restritivas da autonomia da vontade. O Estado assume uma postura positiva, impondo direitos subjetivos irrenunciveis aos trabalhadores e deveres jurdicos inegociveis aos detentores dos meios de produo. Fato que o Direito do Trabalho no trata os sujeitos da relao laborativa como iguais, a fim de poder diminuir a desigualdade de fato existente, mediante a criao de uma desigualdade jurdica.

2.4. Estabelecimento de relaes de subordinao: uma consequncia da caracterstica previamente mencionada. O Direito do Trabalho no trata os sujeito da relao como iguais (relao de coordenao/igualdade), capazes de se relacionarem em condies equivalentes. Pelo contrrio, reconhece a inferioridade do trabalhador diante do empresrio (relao de subordinao), sendo que suas normas deve ser interpretadas em favor dos hipossuficientes, a fim de reduzir, por meio da desigualdade jurdica criada, a desigualdade de fato existente. Trata-se de uma aplicao da clssica noo aristotlica de justia, segundo a qual deve-se tratar desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade. Neste sentido, Francisco Meton Marques de Lima afirma ser o Direito do Trabalho um recurso do Estado para a promoo da distribuio de riquezas.

2.5. Enfoque coletivo: O Direito do Trabalho, atualmente, consagra o primado do todo sobre as partes, tendo em vista uma certa coletividade de trabalhadores, e no o trabalhador individualmente considerado.

2.6. Carter cosmopolita, internacional, universal: influenciado pelas normas internacionais; possvel se constatar vrias caractersticas comuns no Direito do Trabalho nos diferentes pases. O reflexo mais evidente do carter cosmopolita do Direito do Trabalho a atividade exercida pela Organizao Internacional do Trabalho OIT na formulao de regras de aplicao universal, que, paulatinamente, tendem a igualar as condies de trabalho em diversos Estados do mundo.

2.7. Promoo de reformas sociais: configura a chamada distribuio de riquezas, a funo coordenadora dos interesses de empresrios e trabalhadores, exercida pelo Direito do Trabalho, por meio de medidas que visam realizar os fins sociais almejados pela sociedade. O Direito do Trabalho permite o exerccio de tarefas de mediador, de compromisso, de transio e de transao, entre duas classes sociais em confronto.

2.8. Socialidade: os seus institutos jurdicos mais tpicos so de ordem coletiva ou socializante, por exemplo: quando determina que nenhum interesse de classe ou particular possam prevalecer sobre o interesse pblico (art. 8, caput, in fine); quando, submete a vontade individual ao interesse coletivo de trabalho; quando impe a continuao do contrato nos casos de aquisio de negcio... A socialidade ou "humanizao do Direito" tambm caracteriza o Direito do Trabalho. Aqui proposta a prevalncia dos interesses sociais sobre os individuais.

3 DIVISO:

O Direito do Trabalho pode ser dividido em diversas formas, contudo a diviso desse ramo do Direito em Direito Individual do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho assinalada pela quase unanimidade dos autores. ** Alguns, preferem utilizar uma diviso tripartite do ramo jurdico em estudo, com a incluso de um setor chamado "Direito Tutelar do Trabalho" ou "Direito Protecionista do Trabalho".

Direito Individual do Trabalho: compreende as normas referentes relao de emprego e as demais relaes individuais de trabalho, bem como matrias a ela pertinentes, como as relativas ao FGTS. ** Amauri Mascaro Nascimento, por exemplo, no reconhece o Direito Tutelar do Trabalho como setor do ramo jurdico em estudo. E, portanto, inclui nessa categoria as regras de proteo do trabalhador (ex. normas de segurana e medicina do trabalho). Direito Coletivo do Trabalho: disciplina as organizaes sindicais e as relaes coletivas de trabalho. Abarca normas relativas estrutura e funo dos sindicatos, conflitos coletivos de trabalho, negociaes coletivas, direito de greve, etc. Direito Tutelar, ou Protecionista, do Trabalho: como o prprio nome j indica, aquele setor que compreende as regras relativas proteo do trabalhador, incluem-se aqui as normas de medicina e segurana do trabalho, limitao da jornada de trabalho, fixao de intervalos obrigatrios durante a jornada de trabalho, fiscalizao trabalhista e outras.

A ttulo de esclarecimento, por fim, o chamado "Direito Pblico do Trabalho", de forma pacfica na doutrina, envolve o: Direito Processual do Trabalho; Direito Administrativo do Trabalho; Direito da Seguridade Social; Direito Penal do Trabalho.

4 NATUREZA

A natureza jurdica do Direito do Trabalho diz respeito a definir se esse ramo adentra no Direito Pblico ou Direito Privado.

Teoria do Direito Pblico: parte da doutrina classifica o direito do trabalho como direito pblico. Razes: - carter imperativo marcante das regras trabalhistas;- tutela prxima tpica de matriz pblica que confere aos interesses laborais;- pela tendncia publicizante das instituies e prticas trabalhistas;- forte interveno estatal em procedimentos privados de negociao coletiva, ocorre nos dissdios coletivos, por exemplo.

Godinho explica que "pblico ser o Direito que tenha por finalidade regular as relaes do Estado com outros Estado ou as do Estado com seus sditos (ideia de titularidade), procedendo em razo do poder soberano e atuando na tutela de bem coletivo (ideia de interesse)."** Porm, a natureza jurdica de um determinado ramo no pode ser definido pela imperatividade de suas normas, caso contrrio, o direito de famlia, por exemplo, seria afeto ao direito pblico, no direito privado. Alm disso, o intervencionismo estatal no determinante da natureza do ramo jurdico, pois no h alterao da essncia. Por exemplo, o que ocorre no caso do direito do consumidor, na qual h um forte intervencionismo estatal, mas este no o suficiente e capaz de modificar a sua essncia civilistica.

Teoria do Direito Social: todo Direito tem um cunho social; o direito do trabalho configura um ramo prprio, no se comunicando com os ramos do direito pblico e do direito privado.O interesse coletivo da sociedade prevalece sobre o privado, perfazendo-se o ordenamento trabalhista com a finalidade de se proteger o empregado socialmente mais fraco.** Classificao falha, pois o Direito do Trabalho comunica-se com o direito privado.

Teoria do Direito Privado: a categoria principal do direito do trabalho a relao de emprego que essencialmente uma relao entre particulares; os contratantes (empregador e empregado) so livres para estipular as regras de seu pacto de emprego. Entende que a raiz do Direito de Trabalho encontra-se no Direito Civil, nas locaes de servios.Privado, por sua vez, ser o Direito que discipline as relaes entre pessoas singulares (titularidade), nas quais predomine imediatamente o interesse de ordem particular (interesse) (Godinho).Godinho afirma que tal classificao ir (...) abranger desde os modelos mais democrticos e descentralizados de normatizao trabalhista at os modelos mais autoritrios de normatizao juslaboral. que se sabe, afinal, que a tutela do Estado sobre as relaes privadas no incompatvel com a natureza de Direito Privado do ramo jurdico em exame

claro que a maioria dos contratos e vnculos trabalhistas so individuas, de natureza privada. Contudo, a jurisprudncia do TST tem entendido que a natureza jurdica pblico aplicado dentro da natureza jurdica privada. O Desembargador Relator Mauricio Godinho afirmou que por outro lado, o empregador pblico da Administrao Direta, autrquica e fundacional, est sujeito cumulativamente, s regras e princpios do Direito do Trabalho (RR: 10359620115150153 vide fim do resumo! :P), que nesse caso so os mesmos princpios aplicados ao contrato de trabalho de natureza jurdica privada. Contrato entre particulares sujeitos privados. A sua regulamentao por lei no descaracteriza. (Vlia, Srgio Pinto Martins, Delio Maranho)

Teoria do Ramo Misto: o Direito do Trabalho composto por um misto de regras de direito privado e de direito pblico. Exemplo: acordos e convenes coletivas.

Srgio Pinto Martins "pondera que existem relaes privadas no Direito do Trabalho, como se verifica no contrato de trabalho, assim como existem relaes pblicas, em que o Estado o garantidor da ordem pblica e administrador da aplicao das referidas regras. Em razo da existncia dessas normas de Direito privado e de Direito pblico que o Direito do Trabalho teria uma natureza mista".Normas imperativas e instrumentalizaoo atravs do contrato com autonomia.

Direito unitrio: (Arnaldo Sussekind e Evaristo Moraes Filho) o direito do trabalho uma fuso do direito pblico e privado e cria um novo e inseparvel direito.

OBS: Em relao a natureza do Direito do Trabalho, encontrei fontes afirmando que a corrente majoritria era ora Teoria do Direito Privado ou a Teoria do Ramo Misto. A verdade que o direito do Trabalho encontra-se na seara privada e alguns de seus institutos permeiam-se na esfera pblica. Para concurso: Direito do Trabalho um ramo do Direito Privado.

O entendimento majoritrio no sentido de ser o Direito do Trabalho ramo do Direito Privado, tendo como instituto central o prprio contrato de trabalho, regulando, de forma preponderante, os interesses dos particulares envolvidos nas diversas relaes jurdicas pertinentes matria estudada. No mbito coletivo, o princpio da liberdade sindical (art. 8, I da CF/1988), vedado a interferncia do Estado na organizao sindical confirma a natureza privada do Direito do Trabalho. (Gustavo Filipe Barbosa Garcia).

5 FUNES:

Definir a funo do Direito do Trabalho corresponde a estabelecer qual o sistema de valores que este ramo jurdico pretende realizar. Esta tarefa sofre a influncia de fatores ideolgicos e interesses econmicos, polticos, ou sociais, que conduzem, dependendo da compreenso que o intrprete faz da realidade, a concluses distintas, algumas absolutamente independentes, outras que se comunicam entre si. Luiz Carlos Amorim Robortella, em seu texto "Terceirizao: tendncias em doutrina e jurisprudncia", elucida de forma clara que o Direito do Trabalho tem a funo de organizar e disciplinar a economia, podendo ser concebido como verdadeiro instrumento da poltica econmica. Este ramo do Direito teria deixado de ser somente um direito da proteo do mais fraco para ser um direito de organizao da produo. Ao invs de ser apenas direito de proteo do trabalhador e redistribuio da riqueza, converteu-se em direito da produo, com especial nfase na regulao do mercado de trabalho.A doutrina brasileira, em sua grande maioria, afirma que a proteo ao trabalhador o objetivo central do Direito do Trabalho. Contudo, outras funes lhe so atribudas. Alice Monteiro de Barros elenca as seguintes:

Funo tutelar: o Direito do Trabalho deve proteger o trabalhador diante do poderio econmico; deve impedir a explorao do trabalho humano como fonte de riqueza dos detentores do capital; esta tutela ocorrer por meio de leis de origem estatal, existncia de poderes restritivos da autonomia individual e de entidades sindicais, diante do poderio econmico. doutrina majoritria. Funo econmica: "o direito do trabalho visa a realizao de valores econmicos, de modo que toda e qualquer vantagem atribuda ao trabalhador deve ser meticulosamente precedida de um suporte econmico, sem o qual nada lhe poder ser atribudo" (Amauri Mascaro Nascimento). Doutrinadores que desejam incluso desse ramo entre as divises do Direito Econmico defendem essa funo. Funo social: o Direito do Trabalho objetiva a realizao de valores, no econmicos, mas sociais, especialmente o valor absoluto e universal da dignidade humana. a contraposio da corrente anterior. Essa funo no elencada pela Alice Monteiro, e sim por Amauri Mascaro Nascimento. Funo conservadora: o Direito do Trabalho seria uma expresso da vontade opressora do Estado, as leis trabalhistas no teriam outra funo seno a de aparentar a disciplina da liberdade; na verdade, a de restringir a autonomia privada coletiva e impedir as iniciativas, que embora legtimas, possam significar de algum modo a manifestao de um poder de organizao e de reivindicao dos trabalhadores (Amauri Mascaro Nascimento). Funo coordenadora: o Direito do Trabalho tem a funo de coordenar os interesses entre capital e trabalho. Assim, a funo desse ramo especializado do Direito no a proteo do trabalhador, nem a sufocao de movimentos reivindicatrios trabalhistas ou a realizao de determinados valores econmicos ou sociais.

6- AUTONOMIA:

Autonomia a "qualidade atingida por determinado ramo jurdico de ter enfoques, princpios, teorias e condutas metodolgicas prprias de estruturao e dinmica"(Godinho).Portanto, o referido autor elenca quatro caractersticas que configuram a autonomia em qualquer ramo do Direito:

Campo temtico vasto e especfico exemplos: relao de emprego / nos institutos da negociao coletiva / do direito de greve; Teorias prprias exemplos: teorias trabalhista de nulidade / hierarquia das normas jurdicas Metodologia prpria exemplo: negociao coletiva - mtodo prprio de criao jurdica e de normatividade trabalhista; Perspectivas e questionamentos especficos e prprios exemplo: tratamento diferenciado credor/devedor no direito do trabalho, em comparao a relao destes na seara civil.

Ademais, quantos aos princpios particulares, cita-se como exemplo o princpio da proteo, da primazia da realidade... Quanto s categorias jurdicas prprias temos os sindicatos, acordos e convenes coletivas, sentenas normativas. Dessa forma, fica claro que o Direito do Trabalho um ramo autnomo. Na verdade, desde o sculo XX, com a plena institucionalizao dessa seara, no se questiona mais a autonomia jus trabalhista.Contudo, apesar de ser um ramo autnomo, este se relaciona com disciplinas jurdicas diversas confere ao sistema jurdico ptrio uma ideia de efetividade, na qual as partes coordenadas integram um conjunto harmnico.Por fim, e a ttulo exemplificativo da tese de integrao acima, Godinho cita que existem princpios que se irradiam por todos os segmentos da ordem jurdica, cumprindo o relevante papel de assegurar organicidade e coerncia integradas totalidade do universo normativo de uma sociedade poltica:

Princpio da dignidade(princpio da no-discriminao / da justia social / da equidade... Princpio da proporcionalidade e da razoabilidade(proibio do excesso, por ex.) Princpio da boa-f(vedao ao abuso de direito, no alegao da prpria torpeza...)

RECURSO DE REVISTA. NORMA JURDICA DE ESTADO, DO DF OU DE MUNICPIO QUE CRIE PARCELA CONTRATUAL TRABALHISTA. IMPERATIVIDADE DE SUA CORRESPONDNCIA AOS PODERES, LIMITES E REQUISITOS FIXADOS PELA CONSTITUIO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO. IMPRIO DA CONSTITUIO. COMPETNCIA E DEVER DA JUSTIA DO TRABALHO, ESPECIALMENTE DO TST, DE CONHECER E JULGAR LIDES ENTRE TRABALHADORES E EMPREGADORES, MESMO OS PBLICOS, APLICANDO A CONSTITUIO E AS LEIS DA REPBLICA. ESSENCIALIDADE DE O TST UNIFORMIZAR O DIREITO DO TRABALHO EM TODO O PAS, MESMO EM ESTADOS, DF E MUNICPIOS. ESSENCIALIDADE DE O TST CUMPRIR E FAZER CUMPRIR A CONSTITUIO DA REPBLICA EM QUALQUER REGIO DO TERRITRIO BRASILEIRO, RELATIVAMENTE AO DIREITO DO TRABALHO, INCLUSIVE QUANTO AO DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO. VIOLAES CONSTITUCIONAIS FEDERAIS RECONHECIDAS. PRMIO INCENTIVO. NATUREZA JURDICA . O Estado Democrtico de Direito, estruturado pela Constituio de 1988, com suporte na centralidade da pessoal humana, com sua dignidade, e no carter democrtico e inclusivo da sociedade poltica (Estado e suas instituies) e da sociedade civil, ostenta como seu vrtice fundamental o imprio da Constituio da Repblica em todas as regies do Pas, inclusive no mbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios. No plano dos temas, princpios e regras inerentes s relaes trabalhistas, mesmo com entidades estatais de Direito Pblico que contratem empregados, cabe Justia do Trabalho aplicar o Direito Trabalhista federal, inclusive (e principalmente) as regras e princpios especiais que estejam insculpidos na Constituio da Repblica. O TST tem a competncia, a atribuio, a justificativa de sua existncia - e, portanto, o dever - de uniformizar o Direito do Trabalho no territrio ptrio, examinando, nessa medida, se for necessrio, o teor dos atos normativos federais, estaduais, distritais e municipais que tratem do Direito do Trabalho. Se o ato normativo local fere, manifestamente, princpio e regra constitucionais enfticos, sendo regularmente brandida a afronta ao (s) dispositivo (s) constitucional (is) no recurso de revista - estando cumpridos, claro, os demais pressupostos de admissibilidade do apelo -, pode e deve ser conhecido o RR, pela Corte Superior Trabalhista, garantindo-se o imprio da uniformizao do Direito do Trabalho no Brasil (art. 896, c, CLT). No h espao processual para que normas regionais ou locais instaurem, com argumentos eufemsticos, ilustrativamente, permisses para trabalho degradante, trabalho infantil, descumprimento palmar da legislao federal trabalhista, vantagens irregulares a servidores pblicos, alm de outras irregularidades trabalhistas. Conforme o teor do inciso X do art.37 da Carta Magna, a remunerao dos servidores pblicos e o subsdio de que trata o 4 do art. 39 somente podero ser fixados ou alterados por lei especfica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada reviso geral anual, sempre na mesma data e sem distino de ndices. Por outro lado, o empregador pblico, da Administrao direta, autrquica e fundacional, est sujeito, CUMULATIVAMENTE, s regras e princpios do Direito do Trabalho, que tm significativo fundo constitucional, e s regras e princpios objetivos do caput do art. 37 da Carta Magna (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficincia). Desse modo, as vantagens materiais concedidas aos servidores empregados no podem ser criadas informalmente ou irregularmente, obedecendo, regra geral, aos critrios procedimentais inerentes ao Poder Pblico e enfatizados pelo caput do art. 37 da Constituio. Na hiptese dos autos, em razo de o Reclamado ostentar a condio de ente pblico, deve ser respeitado o princpio da legalidade administrativa, de maneira a se exigir a observncia da Lei Estadual 8.975/1994, que, ao criar o prmio de incentivo, de forma transitria, determinou, expressamente, que tal parcela no seria incorporada aos vencimentos ou salrios para nenhum fim. Recurso de revista no conhecido. (Rel. Des. Mauricio Godinho Delgado. 3 Turma. DEJT 22/11/2013. Julgado em 13/11/2013).

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