o novo negócio é circular? análise sob a perspectiva da ...simone sehnem (unoesc)...
Post on 28-Jan-2021
1 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
O Novo Negócio é Circular? análise sob a
perspectiva da economia circular e
empreendedorismo
Edson Luis Kuzma (UNOESC)
edson.kuzma@gmail.com
Simone Sehnem (UNOESC)
simone.sehnem@unoesc.edu.br
Hilka Pelizza Vier Machado (UNOESC)
hilkavier@yahoo.com
Lucila Maria de Souza Campos (UFSC)
lucila.campos@ufsc.br
A economia circular é um sistema regenerativo e restaurador que cria
oportunidade econômica pela reinvenção dos modelos de negócios e
aprimoramentos de processos e produtos. A lógica linear tradicional
negligencia a agregação de valor pela utilidade do recurso e pela
criação de negócios alinhados com premissas sustentáveis. Neste
sentido, o objetivo deste artigo é explorar a relação entre economia
circular e empreendedorismo, propor uma agenda de pesquisas futuras
para avanço no campo e gerar implicações gerenciais sobre o tema.
Desenvolveu-se uma revisão sistemática da literatura revisada por
pares indexada nas bases de dados da Scopus, Web of Science,
ScienceDirect, Emerald, Google Scholar, Wiley Online Library, Sage,
Springer, Taylor and Francis e JSTOR. Os resultados apontam para: i)
predominância da lógica causation no ambiente de mercado, ii) atenção
voltada a criação de redes de relacionamento e de valor, iii)
empreendedorismo direcionado a valorização, iv) foco em inovação na
produção, desenvolvimento regional e exploração de falhas de mercado.
Propõe-se uma agenda de pesquisa com 12 oportunidades de pesquisa
a serem exploradas. A principal contribuição do estudo é consolidar o
conhecimento no campo da economia circular e empreendedorismo,
ainda pouco explorado. Os resultados fornecem base para gestores e
tomadores de decisões quanto às possibilidades de ampliação de
negócios e criação de novos modelos pautados na economia circular.
Negócios criados em contexto inovador e alinhados aos princípios
circulares apresentam potencial e diferencial competitivo, além de
contribuírem efetivamente para o alcance da sustentabilidade nos
negócios.
Palavras-chave: economia circular, empreendedorismo, modelos de
negócios circulares, comportamento empreendedor, sustentabilidade.
mailto:edson.kuzma@gmail.commailto:simone.sehnem@unoesc.edu.brmailto:hilkavier@yahoo.commailto:lucila.campos@ufsc.br
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
1
1. Introdução
A Economia Circular (EC) prioriza a modificação dos modelos de produção e de consumo
tradicionais. A lógica linear de processamento focado em usar-dispor-descartar transita para
sistemas circulares de produção e modelos diferenciados de negócios com objetivo de eliminar
resíduos e desperdícios de material e energia (JULIANELLI et al., 2020). A transição do
modelo linear de produção para a gradativa inserção da lógica circular implica e é condicionada
pela adoção de tecnologia, o que leva à descentralização inteligente da produção, emprego de
materiais reutilizáveis e extensão do tempo de vida dos produtos (KRAVCHENKO; PIGOSSO;
MCALOONE, 2020). Nos últimos anos, start-ups foram criadas para atendimento de formas
inovadoras de consumo. Isso possibilita a criação de categorias novas de mercado por meio de
negócios inteiramente circulares (Franco & Rodrigues, 2020).
No entanto, ainda existe um gap na literatura científica que está associado a compreensão de
como as premissas da economia circular podem ser internalizadas pelo empreendedorismo
sustentável. Muito embora haja estudo que sinalizem a aproximação dos constructos economia
circular e empreendedorismo sustentável (BRENDZEL-SKOWERA, 2019; FLYGANSVÆR;
DAHLSTROM; NYGAARD, 2019), essa aproximação dos conceitos é necessária e demanda
maior aprofundamento de análise e reflexão de como pode ser feita, benefícios que pode gerar
para a sociedade e avanços em prol da circularidade de recursos que pode proporcionar.
Considerando a existência dessa lacuna teórica, este estudo contribui com uma abordagem de
revisão sobre estudos de criação de negócios e de empreendedorismo, com atenção voltada à
inserção e consolidação da economia circular como princípio e prática. Não se identificou na
literatura outro estudo de revisão com esse escopo. É notável que o campo se encontra com
direção difusa, o que viabiliza e oportuniza o desenvolvimento de uma revisão.
O objetivo deste artigo é explorar a relação entre economia circular e empreendedorismo e
propor uma agenda de pesquisas futuras para avanço no campo e gerar implicações gerenciais
sobre o tema. Para exploração da temática, propõe-se a categorização dos estudos revisados a
partir de conjuntos de dimensões descritivas e analíticas. Este estudo comporta contribuição
teórica e gerencial ao analisar o panorama da produção científica sobre economia circular e
empreendedorismo. O paralelo entre empreendedorismo sustentável e outros empreendedores
focados na sustentabilidade, como no caso do empreendedorismo social, é diretamente
associado a gestão das tensões geradas pelas várias formas de criação de valor (DEFOURNY;
NYSSENS, 2012). Em termos de avanço científico, oportuniza-se que o campo obtenha maior
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
2
uniformidade e que perspectivas para pesquisas futuras sejam traçadas.
2. Framework teórico
O fechamento dos ciclos de produção abrange aspectos econômicos, ambientais e sociais do
sistema, estimulando e desencadeando o consumo consciente e a utilização racional de
materiais e energia. É imprescindível ressaltar que não se trata apenas do uso mais consciente
de recursos e energia, mas da efetiva inserção sistêmica de práticas sustentáveis, do
desenvolvimento do produto à destinação final no pós-uso (KRISTENSEN; MOSGAARD,
2020). Isso implica, necessariamente, no planejamento e orientação para resultados a longo
prazo. O modelo circular de negócios demanda, portanto, a reorganização de processos e das
parcerias de negócio para criação de uma estrutura que dê suporte e compatibilidade à
sustentabilidade.
A literatura sobre a interface entre economia circular e empreendedorismo ainda é limitada
(HESHMATI, 2017). Pesquisadores atribuem o termo “ecopreneurship” para rotular os
empresários que pautam seus negócios por atividades ambientalmente orientadas
(SCHALTEGGER, 2002). Nos negócios orientados pela lógica linear de produção, os lucros
são o objetivo e foco final. Na concepção circular, além destes inclui-se objetivos ambientais
como fator que orienta e define os rumos do negócio. Sobretudo, a retenção do valor dos
recursos nas cadeias de suprimentos.
Enfrentar os desafios práticos associados à economia circular exige esforço de diversas áreas
de pesquisa, o que constitui uma questão de abordagem interdisciplinar que pode se concentrar
em distintos campos. A falta de modelos de negócios alternativos limita a transição para a
economia circular e fragiliza seu avanço no ambiente empresarial (SANTAGATA et al., 2020).
O estudo de Dhahri e Omri (2018) sobre negócios ambientalmente orientados revela que o
empreendedorismo contribui para o desenvolvimento econômico e social, mas exerce efeito
negativo quanto a dimensão ambiental. A constatação se estende para o constructo da
sustentabilidade e do alcance do desenvolvimento sustentável. A pesquisa foi desenvolvida em
20 países em desenvolvimento, o que revela o potencial dicotômico de progresso e recuo ao
avanço nessas sociedades.
A adoção da economia circular como forma de proposição de novos negócios enfrenta barreiras
para sua implementação. As dificuldades no reconhecimento e desenvolvimento de
oportunidades para modelos de negócios é uma delas (JULIANELLI et al., 2020). Isso ocorre
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
3
em função da necessidade de mapeamento de alternativas possíveis de serem aproveitadas, visto
que sem a identificação das oportunidades ou geração de alternativas não se tem campo para
avanço. Deficiências na aprendizagem empreendedora são elementos condicionantes das
barreiras. A exploração de novas oportunidades de criação de valor socioambiental passa pela
geração de capacidade de proteção do meio ambiente e das pessoas (HENRY et al., 2020). Tais
barreiras devem ser transpostas para corrigir as imperfeições da lógica linear tradicionalmente
difundida que contribui para a poluição ambiental, premissa fundamental para a incorporação
da economia circular e potencialização da atividade empreendedora.
3. Método
O método adotado é revisão sistemática de literatura. Adotou-se o protocolo de pesquisa
desenvolvido por Tranfield, Denyer e Smart (2003) que consiste na execução de três etapas
principais: i) busca e pesquisa nos bancos de dados, ii) triagem e seleção da literatura, iii)
codificação e análise dos dados. Outras revisões recentes adotam procedimento semelhante
quanto à seleção, extração e codificação dos dados (ACERBI; TAISCH, 2020; BRESSANELLI
et al., 2020). Os documentos ficaram restritos a artigos revisados por pares.
Na primeira etapa foram selecionadas as strings e executadas as buscas nas bases de dados. Os
termos de busca foram definidos mediante teste das strings utilizadas em outras revisões no
campo da economia circular e de empreendedorismo. Para maior alcance dos resultados, foram
inclusas 10 bases para busca dos artigos. A bases adotas foram Scopus, Web of Science,
ScienceDirect, Emerald, Google Scholar, Wiley Online Library, Sage, Springer, Taylor and
Francis e JSTOR. Os termos de busca foram associados a variações das palavras-chave
“economia circular” e “empreendedorismo”. A busca final foi executada nos dias 26 e 27 de
setembro de 2020, sem nenhuma restrição cronológica. O retorno foi de 2.669 documentos.
Na segunda etapa procedeu-se a triagem dos artigos e leitura preliminar dos trabalhos. Foram
adotados os seguintes critérios de exclusão: i) trabalhos com formato ou tipo diferente a article
ou article in press ii) estudos duplicados ou redundante (apenas um dos estudos encontrados
foi considerado), iii) estudos publicados em formato resumido, iv) impossibilidade de localizar
o arquivo do documento na íntegra online, v) estudos escritos em língua diferente a inglês, vi)
estudos que não abordam economia circular e empreendedorismo, ou cujo foco não esteja
alinhado ao escopo da pesquisa. A verificação da adequação do estudo ao escopo da pesquisa
foi executada a partir da leitura dos títulos, resumos e palavra-chave. Após a aplicação dos
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
4
critérios de exclusão, obteve-se a amostra final de 27 trabalhos inclusos para a análise.
A terceira etapa compreende a extração dos resultados e categorização com base em argumentos
teóricos. Os artigos foram explorados para identificar informações pertinentes à caracterização
do tema e das categorias analíticas. As informações foram extraídas e tabuladas em um banco
de dados em MS Excel. Os documentos foram recuperados e analisados para a tabulação de
informações bibliométricas. Após o levantamento das informações descritivas que os resultados
evidenciaram, definiu-se categorias analíticas para a condução do aprofundamento sobre a
análise dos resultados, demonstrando as perspectivas e possibilidades para avanço no tema com
base nas limitações dos estudos pregressos.
4. Resultados da literatura e categorias de análise
A discussão dos resultados está segmentada conforme as diferentes dimensões estabelecidas na
classificação, considerando a seguinte ordenação: 4.1 Tipo de Economia, 4.2 Método de
Pesquisa, 4.3 Setor Econômico, 4.4 Reconhecimento de Oportunidade, 4.5 Tipo de Relação,
4.6 Tipo de Empreendedor, 4.7 Foco de Criação, e 4.8 Foco do Estudo.
4.1 Tipo de economia
O objetivo dessa categoria é mapear sobre quais contextos que são produzidos estudos que
contemplem a interface entre economia circular e empreendedorismo. As categorias são
apresentas conforme a Figura 1.
Figura 1. Tipo de Economia
Código: Economia Desenvolvida (1A) – Economia em Desenvolvimento (1B) - Comparação entre Países (1C) –
Bloco Econômico (1D)
O nível de desenvolvimento econômico é fator determinante para o tipo e profundidade do
alcance de ações que são tomadas, quando se analisa o campo da preocupação social e ambiental
(CARBALLO-PENELA; CASTROMÁN-DIZ, 2015). O tipo de processo, voltado à economia
24
1 1 1
0
10
20
30
1A 1B 1C 1D
Tipo de Economia
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
5
circular, relaciona-se à maturidade da legislação, e sobretudo da propensão de empresas e seus
stakeholders em assumirem compromissos de racionalização do uso de materiais e energia.
Além disso, a existência de subsídios, estímulos legais para adesão a economia circular, leis e
resoluções oficiais do país também contribuem para a adesão das organizações aos pressupostos
da economia circular.
4.2 Método
Em relação aos métodos empregados nas pesquisas, constatou-se que a literatura, em sua
maioria, é composta por estudos de caso únicos ou múltiplos, sem muita diversidade de outras
formas ou modalidades de procedimentos de pesquisa, conforme demonstrado na Figura 2. Isso
é compreensível, já que estamos nos reportando a um tema emergente e que demanda uma
compreensão em profundidade para viabilizar a sua internalização nas organizações.
Figura 2. Método de Pesquisa
Código: Estudo de Caso Único (2A) – Estudo de Múltiplos Casos (2B) – Método Quantitativo (2C)
Existe, portanto, uma lacuna de pesquisa no que se refere à utilizadas de diferentes métodos de
pesquisa, assim como da utilização de combinações de métodos. A utilização de pouca
variabilidade de métodos, com predominância de estudos de caso, sugere que pesquisas
quantitativas também sejam empregadas, conforme as possibilidades do objeto de pesquisa.
Dos estudos revisados, 21 são estudos de caso (único ou múltiplo), e 6 utilizam método
quantitativo.
4.3 Setor econômico
A presente categoria tem por objetivo identificar o setor e ramo de atuação das empresas foco
de análise da revisão sistemática. A Figura 3 apresenta os resultados.
1110
6
0
5
10
15
2A 2B 2C
Método
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
6
Figura 3. Setor Econômico
Código: Indústria (3A) – Serviços (3B) – Agricultura (3C) – Não se Aplica (4D)
Dos estudos, a concentração ocorre no setor industrial, sobretudo com o setor de energia,
energia limpa ou renovável, construção civil, silvicultura e têxtil, totalizando 13 casos. Do setor
de serviços, são 8 os estudos identificados, na área de tratamento de água e esgoto, lavanderia,
plataforma de compartilhamento e área da saúde. Outros 2 exemplos são da área da agricultura
convencional ou urbana. Por fim, 4 estudos compreender setores diversos.
4.4 Reconhecimento de oportunidade
A dimensão de reconhecimento de oportunidade fundamenta-se na lógica proposta no estudo
de Sarasvathy et al. (2003), a qual compreende que são três as visões conceituais que norteiam
o processo de identificação de oportunidade para empreender. As frequências são registradas
da Figura 4.
Figura 4. Reconhecimento de Oportunidade
Código: Allocative (4A) – Distributive (4B) - Creative (4C)
A primeira, allocative view, toma a percepção de oportunidade como um processo de
direcionamento de potencial para a redistribuição de recursos, da perspectiva da oferta ou da
demanda, de modo que há um movimento de alocação dos recursos existentes. Nesse contexto,
13
8
24
0
5
10
15
3A 3B 3C 3D
Setor Econômico
6
15
6
0
3
6
9
12
15
18
4A 4B 4C
Reconhecimento de Oportunidade
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
7
foram identificados seis estudos. A segunda, distributive view, está relaciona intimamente ao
processo de descoberta, sugerindo que as oportunidades de negócios são decorrentes de
assimetria de informações a respeito do uso de recursos, assim como do resultado de suas
potenciais combinações possíveis. Com esse perfil, são quinze os estudos revisados. A terceira,
creative view, relaciona-se ao processo de criação, ressaltando para o fato de que os
empreendedores buscam maximizar as funções potencialmente úteis dos stakeholders, com o
fim de estabelecimento de um novo mercado. Com essa lógica, foram identificados seis estudos.
As três perspectivas são mutuamente exclusivas.
4.5 Tipo de relação
A presente categoria guarda relação com a variedade do grau de incerteza dos ambientes de
mercado, diferenciando-se em causation e effectuation (SARASVATHY, 2001), que podem
ser visualizados na Figura 5.
Figura 5. Tipo de Relação
Código: Causation (5A) – Effectuation (5B)
A lógica da causação tem base na previsibilidade dos processos, no qual determinado efeito ou
ambiente é estável, imutável e previsível. Com esse perfil, identificou-se catorze estudos. A
lógica da efetuação entende essa relação como um processo que começa com um conjunto de
meios como dado e foca na seleção entre os possíveis efeitos que podem ser criados, tomando
o ambiente como dinâmico, com elevada incerteza e que demanda alto nível de criatividade.
Foram revisados seis artigos com essa lógica.
4.6 Tipo de empreendedor
A categoria de tipologias de empreendedores, tomada pela perspectiva de Julien (2010),
considera a inovação como elemento norteador e um traço importante na criação de valor. A
Figura 6 apresenta a lógica de tipo de empreendedor, conforme o aporte teórico.
21
6
0
5
10
15
20
25
5A 5B
Tipo de Relação
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
8
Figura 6. Tipo de Empreendedor
Código: Reprodução (6A) – Imitação (6B) – Valorização (6C) - Aventura (6D)
Considerando a argumentação proposta pelo autor, o empreendedor de reprodução muda pouco
e cria menor valor. O empreendedor de imitação não cria muito valor novo, mas é fortemente
influenciado por essa criação. O empreendedor de valorização procede mudanças substanciais
e adota estratégias mais ativas. O empreendedor de aventura cria empresas inovadoras e assume
riscos consideráveis, podendo inclusive formar um novo setor econômico.
4.7 Foco de criação
A categoria de criação engloba distintas composições teóricas relacionadas ao processo de
instituição do novo àquilo que já está existe. A Figura 7 apresenta a lógica de criação.
Figura 7. Foco de Criação
Código: Criação de Empresa (7A) – Criação de Produto/Serviço (7B) – Criação de Redes (7C) – Criação de
Valor (7D)
A geração do novo pode ocorrer a partir da criação de valor, criação de um novo produto ou
2
5
13
7
0
5
10
15
6A 6B 6C 6D
Tipo de Empreendedor
11
6
12
15
0
3
6
9
12
15
18
7A 7B 7C 7D
Tipo de Criação
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
9
serviço, criação de redes ou criação de valor (SHANE, 2000). Dos estudos revisados, são
múltiplas as possibilidades identificadas para a criação de valor, com maior ênfase para aspectos
relacionados a criação de valor (15 casos) e de redes (12 casos).
4.8 Foco de estudo
A última categoria analítica compreende o foco tomado na condução dos estudos que
relacionam economia circular e as distintas perspectivas sobre empreendedorismo. Na Figura 8
estão dispostos os estudos conforme as dimensões.
Figura 8. Foco de Estudo
Código: Inovação no Produto (8A) – Exploração de Falha de Mercado (8B) – Incubadoras (8C) – Ecossistema
Empreendedor (8D) – Desenvolvimento Regional (8E)
O processo de empreender abarca consigo implicações para a alocação de recursos escassos e
para o desenvolvimento, perpassando temas amplos de discussão que caracterizam o
direcionamento dado para a compreensão do empreendedorismo como fenômeno. O estudo
relaciona a revisão dos papers conforme a lógica dos critérios de inovação no produto,
exploração de falhas de mercados, empreendedorismo por meio de incubação de empresas,
ecossistemas empreendedores e na perspectiva de suas contribuições para o desenvolvimento
regional (JULIEN, 2010; SARASVATHY, 2008; SHANE; VENKATARAMAN, 2000).
5. Discussão dos resultados
As evidências do estudo sinalizam que a inter-relação mapeada entre os constructos economia
circular e empreendedorismo sustentável apresenta estudos pregressos que predominantemente
foram: elaborados e publicados por autores localizados em países desenvolvidos, são estudos
de caso ou múltiplos, focam nos setores econômicos indústria ou serviços, adotam a lógica
causation, reconhecem oportunidades via modelos distributivos, são fomentados por
17
10
1 1
12
0
5
10
15
20
8A 8B 8C 8D 8E
Foco do Estudo
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
10
empreendedores que imitam outros e dão ênfase na inovação no produto. Desse modo, pode-se
indagar que oportunidades surgem para o avanço da sinergia entre os conceitos economia
circular e empreendedorismo sustentável, pautado nesse panorama atual?
O empreendedorismo sustentável preza por alternativas que possam fomentar o progresso em
prol da sustentabilidade e alinhado com os objetivos do desenvolvimento sustentável. E a
economia circular estimula novas alternativas mais limpas, mais eficientes, capazes de
transformar desperdício em insumos para cadeias de produção. Alternativas que
desmaterializam materiais obsoletos e os transformam em material útil para fabricar novos
produtos. Procura reter o valor dos recursos nas cadeias de suprimentos. Ajuda a reduzir o lixo
e a mostrar possibilidades para gerar mudanças disruptivas nos modelos produtivos
tradicionais.
A garantia da sustentabilidade dos negócios a longo prazo e promoção da economia circular
como uma filosofia que integra a atividade industrial à preservação do meio ambiente devem
prever a dissociação do aumento da necessidade pelo consumo de recursos do crescimento
econômico. Requer um redesenho dos sistemas industriais (RAZMINIENE, 2019). Para crescer
sem comprometer e sem estimular a demanda por produtos virgens, a criação de modelos de
negócios novos via processo empreendedor é necessária. Os empresário e empreendedores
podem se fundamentar nos pressupostos da economia circular como uma alternativa ao modelo
linear de produção e de consumo para efetivar a transição para uma economia circular.
O reconhecimento das oportunidades para empreender, nesse contexto, é baseado numa
filosofia que estimula a máxima utilização dos recursos já inseridos nos processos produtivos,
o fechamento de ciclos de produção e a redução ou eliminação da geração de resíduos de
produção. Os negócios novos devem ser orientados para integrar sistemas de produção e cadeias
de fornecedores a fim de acumular e transferir valor ao longo de redes de relacionamento e
compartilhamento. Rejeitos de produção ou resíduos de um dado processo produtivo podem ser
reinseridos em outro processo, o que permite a agregação de valor dentro de uma cadeia pela
transferência. Nesse caso, o resíduo passa a ser recurso para a produção. O valor é gerado e as
externalidades evitadas, visto que os materiais potencialmente nocivos ao meio não são
retirados dos ciclos de produção.
O desenvolvimento de negócios via processo empreendedor gera possibilidade de
direcionamento à criação de valor, de redes entre fornecedores, de novos produtos ou serviços,
assim como à criação de empresas nascidas circulares. O acesso à informação e a formação de
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
11
uma perspectiva de longo prazo reforça a noção de que os empreendedores adquirem maior
projeção quando conectados em redes. Quanto ao aspecto de fluxos de materiais nos processos
produtivos, a possibilidade de transferência de carga entre empresas as qualifica para a redução
de impactos pelo descarte. Em sentido macro, a formulação de regulamentações com a
definição de metas e responsabilidades a diferentes elos na transição circular permite o
estabelecimento de orientação sobre como proceder para inovar rumo ao fechamento de ciclos.
6. Considerações finais, contribuições e limitações da pesquisa
A criação de novos modelos de negócios orientados pelos princípios da economia circular
evoluiu substancialmente rumo à obtenção do fechamento dos ciclos de produção, redução de
emissões e otimização da utilidade dos recursos. As regulamentações a nível de governo para
fomento de iniciativas e avanço no campo demanda implementação a nível de empresas e de
produtos. A proposição de negócios inovadores conflui com o esforço no avanço da economia
circular e inovação da forma como as empresas são transformadas pela transição circular. Esta
revisão, desenvolvida com o objetivo de explorar a relação entre economia circular e
empreendedorismo, propor uma agenda de pesquisas futuras para avanço no campo e gerar
implicações gerenciais sobre o tema contribui para o entendimento da lógica que rege esta
dinâmica.
Os artigos foram categorizados em 8 dimensões que agrupam o contexto e a orientação que os
artigos assumem. Os eixos de análise são segmentados e resumidos quanto a aspectos
associados aos objetivos, principais achados e resultados das pesquisas, contribuições teóricas
e práticas para o campo. Os temas centrais nos estudos sobre economia circular e
empreendedorismo são associados aos seguintes tópicos: i) tipo de economia, que se refere ao
contexto de desenvolvimento do estudo, ii) método de pesquisa, iii) setor econômico explorado,
iv) reconhecimento de oportunidade de negócios, associado diretamente à oportunidade de
empreender, v) tipo de relação, no qual se extrai a lógica de como empreender, vi) tipo de
empreendedorismo, vii) foco de criação, referente ao processo de criação inerente à ação de
empreender, viii) foco de estudo, que analisa a área de predomínio do estudo.
Esta pesquisa contribui ao mapear e organizar os eixos temáticos e as áreas de interesse
exploradas por estudos com foco em economia circular e empreendedorismo. São descritas e
analisadas categorias associadas à criação de negócios no contexto circular quanto a elementos
teóricos próprios do campo. Face à alta dinamicidade e evolução dos temos, uma revisão para
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
12
consolidação dos avanços teóricos e práticos é relevante, sobretudo para dar fundamento a
futuros estudos que explorem a temática.
No aspecto prática, a pesquisa sinaliza aos tomadores de decisões e formadores de políticas
possibilidades para que a economia circular avance a partir de da criação de novos negócios
totalmente orientados pelos princípios circulares. Na área da gestão, os principais incrementos
rumo à EC ocorrer pela proposição de modelos de negócios conscientes e orientados pela
obtenção de valor sustentável e otimização da utilidade dos recursos. Ambos os temas têm
relação intrínseca, visto que é possível conferir avanços mútuos pelo seu complemento.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
Referências
ACERBI, Federica; TAISCH, Marco. A literature review on circular economy adoption in the manufacturing
sector. Journal of Cleaner Production, p. 123086, 2020.
BRENDZEL-SKOWERA, Katarzyna. Circular economy in the development of sustainable entrepreneurship. Proceedings of the 33rd International Business Information Management Association Conference, IBIMA 2019:
Education Excellence and Innovation Management through Vision 2020, pp. 8390-8399, 2019.
BRESSANELLI, Gianmarco et al. Circular Economy in the WEEE industry: a systematic literature review and a
research agenda. Sustainable Production and Consumption, 2020.
CARBALLO‐PENELA, Adolfo; CASTROMÁN‐DIZ, Juan Luis. Environmental policies for sustainable
development: an analysis of the drivers of proactive environmental strategies in the service sector. Business
Strategy and the Environment, v. 24, n. 8, p. 802-818, 2015.
DEFOURNY, Jacques; NYSSENS, Marthe. Conceptions of social enterprise in Europe: A comparative
perspective with the United States. In: Social enterprises. Palgrave Macmillan, London, 2012. p. 71-90.
DHAHRI, Sabrine; OMRI, Anis. Entrepreneurship contribution to the three pillars of sustainable development:
What does the evidence really say?. World Development, v. 106, p. 64-77, 2018.
FLYGANSVÆR, Bente; DAHLSTROM, Robert; NYGAARD, Arne. Green innovation in recycling–a
preliminary analysis of reversed logistics in Norway. World Review of Entrepreneurship, Management and
Sustainable Development, v. 15, n. 6, p. 719-733, 2019.
FRANCO, Mário; RODRIGUES, Margarida. Indicators to measure the performance of sustainable urban
entrepreneurship: an empirical case study applied to Portuguese cities and towns. Smart and Sustainable Built
Environment, 2020.
HENRY, Marvin et al. A typology of circular start-ups: An Analysis of 128 circular business models. Journal of
-
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.
13
Cleaner Production, v. 245, p. 118528, 2020.
HESHMATI, Almas. A Review of the Circular Economy and its Implementation. International Journal of Green
Economics, v. 11, n. 3-4, p. 251-288, 2017.
JULIANELLI, Vivianne et al. Interplay between reverse logistics and circular economy: critical success factors-
based taxonomy and framework. Resources, Conservation and Recycling, v. 158, p. 104784, 2020.
JULIEN, PIERRE ANDRE. Empreendedorismo regional e economia do conhecimento. Saraiva Educação SA,
2010.
KRAVCHENKO, Mariia; PIGOSSO, Daniela CA; MCALOONE, Tim C. A Procedure to Support Systematic
Selection of Leading Indicators for Sustainability Performance Measurement of Circular Economy Initiatives.
Sustainability, v. 12, n. 3, p. 951, 2020.
KRISTENSEN, Heidi Simone; MOSGAARD, Mette Alberg. A review of micro level indicators for a circular
economy–moving away from the three dimensions of sustainability?. Journal of Cleaner Production, v. 243, p.
118531, 2020.
RAZMINIENE, Kristina. Circular economy in clusters' performance evaluation. Equilibrium. Quarterly Journal of Economics and Economic Policy, v. 14, n. 3, p. 537-559, 2019.
SANTAGATA, Remo et al. Assessing the sustainability of urban eco-systems through Emergy-based circular
economy indicators. Ecological Indicators, v. 109, p. 105859, 2020.
SARASVATHY, Saras D. Causation and effectuation: Toward a theoretical shift from economic inevitability to
entrepreneurial contingency. Academy of management Review, v. 26, n. 2, p. 243-263, 2001.
SARASVATHY, Saras D. et al. Three views of entrepreneurial opportunity. In: Handbook of entrepreneurship
research. Springer, New York, NY, 2010. p. 77-96.
SCHALTEGGER, Stefan. A framework for ecopreneurship. Greener management international, n. 38, 2002.
SHANE, Scott. Prior knowledge and the discovery of entrepreneurial opportunities. Organization science, v. 11,
n. 4, p. 448-469, 2000.
SHANE, Scott; VENKATARAMAN, Sankaran. The promise of entrepreneurship as a field of research. Academy
of management review, v. 25, n. 1, p. 217-226, 2000.
TRANFIELD, David; DENYER, David; SMART, Palminder. Towards a methodology for developing evidence‐
informed management knowledge by means of systematic review. British journal of management, v. 14, n. 3, p.
207-222, 2003.
top related