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Jornal Valor --- Página 14 da edição "05/08/2013 1a CAD C" ---- Impressa por CGBarbosa às 04/08/2013@17:22:44

C14 | Valor | Segunda-feira, 5 de agosto de 20 1 3

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD C - FINANCAS - 5/8/2013 (17:22) - Página 14- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Finanças

Ag e n d a

Mercado imobiliárioA 13ª Conferência Internacional

da Sociedade Latino Americana deEstudos Imobiliários terá como te-ma central as megacidades. Entreos palestrantes, estão Octavio deLazari Junior, presidente da Abe-cip; Alessandro Vedrossi, da Brook-field; Martin André Jaco, da BR Pro-perties e Hilton Rejman, da Cyrela.

Data: 11 a 13 de setembroHorário: manhã e tardeLocal: Rua Ferreira de Araújo,

741 - São Paulo – SPInformações: http://www.la -

res.org.br

I n d i c a d o re s

� Hoje� Nos EUA, o ISM divulga o ín-dice de atividade do setor de ser-viços de julho� Na Europa, saem o índice degerentes de compras (PMI) com-posto e as vendas no varejoFontes: BC, FGV e LCAE-mail a g e n d a @ va l o r. c o m . b r

Fundação responsabiliza BC por perda com BVAAna Paula RagazziDo Rio

Dois fundos de pensão recor-reram à Justiça Federal para res-ponsabilizar o Banco Central(BC) por perdas com investimen-tos realizados no Banco BVA, cujaliquidação extrajudicial foi de-cretada em junho passado.

O escritório Bichara, Barata &Costa Advogados entrou com asações em nome da Fundação Re-de Ferroviária de Seguridade So-cial (Refer) e da FIPECq, que re-presenta os empregados de Fi-nep, Ipea, CNPq, Inpe e Inpa.

A alegação é que o BC aprovouo investimento de ambas no BVAjá ciente dos problemas enfren-tados pelo banco. Procurado pe-lo Va l o r , o BC disse que não co-menta assunto protegido por si-gilo e nem questão que envolveação judicial da qual é parte. “Oque podemos afirmar é que aação do BC se pautou nos estritos

termos da lei”, informou.Refer e FIPECq investiram no

Fundo de Investimento em Partici-pações (FIP) Patriarca, criado paracomprar ações preferenciais doBVA. O FIP era, portanto, um veícu-lo de capitalização do banco. Asduas fundações fizeram o investi-mento em setembro de 2010. A FI-PECq aplicou R$ 7 milhões ou2,46% do patrimônio líquido dofundo. A Refer investiu R$ 40,083milhões, ou 13,86% do FIP.

No entanto, para que o Patriarcapudesse de fato comprar as açõesdo BVA, era necessária a aprovaçãodo BC às alterações de capital dainstituição financeira. Oito au-mentos de capital no banco foramdeliberados em assembleias entresetembro de 2010 e dezembro de2011 e, por mais de um ano, aguar-daram a liberação da autarquia fe-deral. Ela só veio em 16 de abril de2012, mesmo mês em que o BC ha-via determinado um reajuste naelaboração do balanço contábil do

BVA, o que gerou um impacto ne-gativo em seu patrimônio líquido.Por esse motivo, o BC exigiu que oBVA elevasse substancialmentesuas provisões, uma vez que foramreconhecidas receitas e despesasfora do regime de competência.

As fundações afirmam que sótomaram conhecimento de queos dois eventos aconteceramquase que simultaneamentepouco mais de dois meses de-pois, em julho de 2012, quandoforam informadas sobre os fatospelo gestor do Patriarca.

“Quando o BC aprovou os au-mentos de capital, após um lon-go período de análise, já tinhafortes indícios dos problemas nobanco. Se tivesse sido no mínimoprudente, deveria ter indeferi-d o”, afirma Fábio Berbel, sócio doBichara, Barata & Costa Advoga-dos. Em um segundo momento,o BC ainda exigiu que o BVA re-vertesse alguns lançamentoscontábeis que divergiam de seu

entendimento. Em razão disso, oBVA convocou a KPMG para, no-vamente, auditar seus demons-trativos financeiros. Ao fim des-ses eventos, os cotistas do Patriar-ca foram informados de que oBVA deveria ser capitalizado emR$ 630 milhões para fazer frenteàs exigências do BC. Em outubrode 2012, houve a intervenção.

As fundações alegam que,quando decidiram fazer o investi-mento, não havia questionamen-tos sobre a solidez do BVA. No en-tendimento delas, o banco possuíaavaliações de rating que lhe apon-tavam alto grau de investimento eera auditado por empresa de reno-me. Berbel diz que a ação tambémbusca responsabilizar pelas perdasdas fundações outras instituiçõesque prestaram serviços ao banco enão atentaram para e sua condi-ção, como a auditoria KPMG e aAustin Rating — procuradas, am-bas não deram entrevista.

Berbel conta que, por meio de

duas ações cautelares, o escritórioconseguiu o arresto de bens dessasempresas. As liminares já foramcassadas, segundo Berbel pelo fatode KPMG e Austin serem empresassolventes. No entanto, o advogadodestaca que é a primeira vez noBrasil que um investidor responsa-biliza auditoria e agência de ratingpor prejuízos causados pela inter-venção em um banco.

Na ação, as fundações queremser indenizadas pelas perdas econsideram que o investimentodo Patriarca transformou-se emuma “injeção considerável” derecursos que capitalizaram obanco antes da publicização desuas irregularidades. Procura-dos, os executivos do BVA não fo-ram localizados até o fechamen-to dessa edição. Antes da inter-venção no banco, o patrimôniodo Patriarca, que possui diversosoutros cotistas, estava em R$284,7 milhões. Em março passa-do, era de R$ 6,95 milhões.

Liquidação Crédito não se recupera, enquanto família faz vários aportes

Banco Rural encolhe apósenvolvimento no mensalão

JEFFERSON DIAS/VALOR

Passado o escândalo do mensalão, Kátia tentou profissionalizar gestão do Ru ra l

Talita Moreira e Carolina MandlDe São Paulo

O envolvimento no mensalãoabalou de forma decisiva as ope-rações do Banco Rural, além dedificultar sua venda. A carteira decrédito da instituição nunca re-cuperou o patamar que tinha an-tes do episódio.

No fim de 2004, o portfólio deempréstimos total era da ordemde R$ 3,5 bilhões. O montantedespencou para R$ 1,505 bilhãono fim de 2005, quando foramfeitas as denúncias sobre o es-quema de corrupção.

A carteira de crédito da insti-tuição caiu para R$ 805,8 mi-lhões no fim de 2007, o menorpatamar dos últimos nove anos.Depois disso, voltou a crescer eestava em R$ 2,5 bilhões no fimde setembro do ano passado. Osnúmeros do crédito referem-seao conglomerado financeiro. Osnúmeros dão pistas de que ascaptações do banco também fo-ram afetadas.

Levando-se em conta apenas obanco, o portfólio era de R$ 2,1bilhões no fim de janeiro desteano, segundo balancete entre-gue ao Banco Central (BC). Nãohá dados sobre o conglomeradopara esse período. Desde setem-bro do ano passado, o banco nãopublica seu balanço completo.

Desde que o envolvimento dobanco Rural no esquema de cor-rupção veio à tona, não forampoucas as tentativas da famíliaRabello de reerguer o seu banco.Os controladores fizeram suces-sivos aumentos de capital na ins-tituição nos últimos anos, emuma tentativa de reerguer as

operações, fortemente abaladaspelo mensalão. Em outras oca-siões, os aportes tiveram comoobjetivo cumprir determinaçõesdo Banco Central.

No fim de 2004, um ano antesde o escândalo vir à tona, o Ru-ral tinha um capital social deR$ 177,7 milhões. Um primeiroaporte, de R$ 100 milhões, foifeito em 2007, ano em que a car-teira de crédito apresentou umforte encolhimento.

Novas injeções de recursos fo-ram feitas em 2010, 2011 e 2012,sendo que o último deles somouR$ 80 milhões em setembro doano passado, data do último ba-lanço publicado pelo banco. Nes-sa data, o capital do banco era deR$ 520,7 milhões. A família aindase comprometia a colocar outrosR$ 20 milhões em breve, depoisque o Banco Central apontou in-suficiência patrimonial no Rural.

Menos de um ano antes, o ban-co já havia sido levado a fazer umaumento de capital de R$ 65 mi-lhões depois que uma inspeçãorealizada pelo Banco Central le-

Kátia Rabello, abailarina quevirou banqueiraFelipe MarquesDe São Paulo

Bióloga por formação. Bailari-na por vocação. Banqueira porocasião. As três faces profissio-nais de Kátia Rabello, ex-presi-dente e acionista do Banco Rural,são apenas uma fração do com-plexo conjunto de circunstânciasque a levaram ao papel de prota-gonista da saga da instituição.

Se a liquidação decretada nasexta-feira encerra a trajetória dobanco, está longe de ser o capítulomais dramático pelo qual passou oprincipal rosto ligado à institui-ção. Na mais alta corte brasileira,Kátia Rabello também foi persona-gem do histórico julgamento doescândalo político do mensalão.Junto com a cúpula do Rural, foicondenada por gestão fraudulentae lavagem de dinheiro. A pena, 16anos e oito meses de prisão.

Com pouco mais de cinquen-ta anos, a banqueira-bailarinateve muitas vidas antes de virarré por crimes de colarinho bran-co. Não fosse uma imprevisívelsequência de acontecimentos,Kátia talvez dificilmente chegas-se ao comando do banco criadopela família Rabello, junto como clã de Antonio Sabino e a fa-mília carioca Santana.

Embora tenha se formado emBiologia, a dedicação fervorosa aosestudos foi desde os 12 anos dire-cionada ao balé. Estudou dança naAlemanha e na Inglaterra e, de vol-ta ao Brasil, fundou a companhiade balé Primeiro Ato, em 1982. Sóem 1995 passou a ter algum conta-to com o banco da família, comoresponsável pelo marketing.

Foi na esteira de uma tragédia,contudo, que Kátia se viu levadaa abraçar a carreira financeira.Em 1999, teve de substituir nobanco a irmã, Junia, que morreuem acidente de helicóptero. Àpresidência do Rural só chegoude fato em 2004, na ocasião deoutras duas mortes — a do pai,Sabino, e a do então vice-presi-dente da instituição, José Augus-to Dumont. Passado o estouro domensalão, Kátia deixou a gestãodo banco, que foi profissionali-zada em 2008, e passou a presidiro conselho de administração.

Até o batismo do Rural vaialém da simples aparência. O no-me do banco foi emprestado deum carro da Ford, um jipe, popu-lar na década de 70. Sobre a insis-tência do patriarca da família, Sa-bino Corrêa Rabello, em mantero controle do banco, Kátia umavez chegou a dizer: “Papai nãovende nem carro velho.”

Governo ganha com fim de banco ligado a escândalosAnáliseRaymundo CostaDe Brasília

Com a liquidação do Banco Ru-ral, o governo da presidente Dil-ma Rousseff livra-se de uma bata-ta quente, talvez a última a ligá-locom o esquema do mensalão. ORural esteve envolvido em algunsdos principais escândalos políti-cos ocorridos no país nos últimos20 anos, e sua ex-presidente, Ká-tia Rabelo, condenada a 16 anosde prisão pelo Supremo TribunalFederal (STF) por sua participa-ção no esquema.

O PT também se livrou dos diri-gentes partidários igualmentecondenados pelo STF: o ex-minis-tro José Dirceu e os deputados JoséGenoino (SP) e João Paulo Cunha(SP) foram excluídos da chapa donovo Diretório Nacional do parti-do, a ser eleito em novembro. Ostrês estavam dispostos a renunciarà nova indicação, mas o PT se ante-cipou e vazou a notícia para a im-

prensa. Depois, tentou contempo-rizar e, em vez de afastar, aceitouum pedido de “r e n ú n c i a” dos três.

A rigor, não há uma relação di-reta entre os dois casos, a liquida-ção e o afastamento dos petistas,mas eles não deixam de favorecer ogoverno, no momento difícil emque a presidente Dilma Rousseffperde pontos nas pesquisas de opi-nião pública. Além disso, o Supre-mo retoma o julgamento do men-salão no próximo dia 14 e o gover-no poderia ser surpreendido comalguma notícia sobre a leniênciacom que estaria tratando o Rural,banco que definitivamente estavamal das pernas, não era de hoje.

Desde o início dos anos 1990 ainstituição aparece relacionadacom alguns dos principais escân-dalos políticos que acabaram emCPI do Congresso. O maior deles,em termos políticos, foi a CPI de PCFarias, que levou ao impeachmentdo ex-presidente e atual senadorpor Alagoas, Fernando Collor deMello. Mas também foi investiga-do por operações fraudulentas pe-

la CPI dos Precatórios, do Banesta-do e, por último, do mensalão.

O Rural também aparece nochamado “Mensalão Mineiro”,um suposto esquema de finan-ciamento da campanha do sena-dor e ex-governador de MinasGerais Eduardo Azeredo. O pro-cesso atualmente está no Supre-mo Tribunal Federal. O “mensa -lão mineiro” também é chamadode “mensalão tucano”, por envol-ver um ex-presidente do PSDB(Eduardo Azeredo).

A CPI que investigou o ex-te-soureiro da campanha de Fer-nando Collor, em 1989, Paulo Ce-sar Farias concluiu que o BancoRural foi peça-chave do esquemamontado por PC, como era maisconhecido. A relação de Collorcom o esquema foi estabelecida,aliás, por um cheque do bancousado para a compra do Fiat Elbado ex-presidente da República. Aconta era movimentada por umdos “fantasmas” — contas em no-mes de pessoas fictícias usadaspara supostamente encobrir pa-

gamentos de propina a empresascom contratos com o governo —de PC Farias.

No “esquema do mensalão” fi -caram famosos os casos dos sa-ques efetuados na agência deBrasília do Rural. Uma lista eraenviada da sede do banco, emBelo Horizonte, para a agêncialocalizada em um dos principaisshoppings da capital da Repú-blica. Os políticos beneficiadoscom o dinheiro, destinado àcompra de votos dos deputados,sacavam pessoalmente ou porintermédio de terceiros. Todosafirmam que se tratava, na reali-dade, de caixa 2 do PT.

Além de Kátia Rabelo, a maioracionista do Rural, o Supremocondenou o vice-presidente Vini-cius Samarane e o ex-vice-presi-dente José Roberto Salgado. Emquase meio século de existência,o banco articulou uma ampla re-de de apoios políticos, em prati-camente todos os partidos, umateia de relações perigosas quecertamente aceleraram o seu fim.

vou a ajustes de R$ 180 milhõesem seu balanço. Os problemasencontrados referiam-se a au-mento de provisões por opera-ções de crédito no Brasil e no ex-terior, reforços em provisões tra-balhistas e para ações cíveis.

Os recentes aportes, no entan-to, não foram suficientes para co-brir as necessidades da institui-ção, diante das provisões paraprocessos judiciais de mais deR$ 1 bilhão necessárias.

Além disso, mais recentemen-te as capitalizações também co-meçaram a levantar questiona-mentos das autoridades sobre aorigem do dinheiro, segundo oVa l o r apurou.

Logo após o estouro do mensa-lão, a família Rabello, controla-dora do Rural, contratou um ti-me de consultores para tentar re-cuperar o banco.

A missão de Gustavo Loyola,ex-presidente do Banco Central,e Paolo Zaghen, ex-presidente doBanco do Brasil, Nelson Eizirik eCaetano Vasconcellos Neto eraestabilizar as operações do Rural

depois do mensalão para depoiscolocar o banco à venda.

Porém, a eclosão da crise fi-nanceira internacional, em2008, a intervenção no PanAme -r i c a n o, em 2010, e a sequênciade problemas em instituições fi-nanceiras de médio porte invia-bilizaram o plano. Dados do ba-lancete do Rural entregues aoBC mostram que em janeiro ainstituição registrou um prejuí-zo líquido de R$ 10,4 milhões. Opatrimônio líquido do banco es-tava em R$ 360 milhões.

Os depósitos a prazo do Ruralsomavam R$ 2,1 bilhões em títu-los vendidos a investidores. Ago-ra, parte disso deve ser reembol-sado pelo Fundo Garantidor deCréditos (FGC), que asseguraaplicações até o limite de R$ 250mil para Certificados de Depósi-to a Prazo e Letras de Créditos ede R$ 20 milhões para o Depósitoa Prazo com Garantia Especial.Segundo o Va l o r apurou, cálcu-los iniciais mostram que o FGCarcará com algo entre R$ 600 mi-lhões e R$ 900 milhões.

Fonte: Balanços do banco * Até setembro

Evolução do RuralDesde mensalão, carteira de crédito do banco encolheu

-500

1.000

0

2.500

4.000

3.454

177,7

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012*

Carteira de crédito (R$ milhões) Capital (R$ milhões)

177,7 177,7 277,7 277,7 277,7 368,0 440,7 520,7

1.505

946 8051.054

1.850

2.547 2.585 2.491

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