almanaque uberlândia de ontem e sempre - ed. 10

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Almanaque MARÇO DE 2016 UBERLÂNDIA DE ONTEM & SEMPRE NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO ANO 5 NÚMERO 10 UBERLÂNDIA DA TERRA FÉRTIL SINDICATO RURAL

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O almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre chega à sua décima edição e traz destaques como a homenagem ao advogado e historiador Oscar Virgílio, o artista Geraldo Queiroz e a construção da rodoviária da cidade. Trata-se de uma revista voltada para o resgate da história e da memória de Uberlândia, produzida semestralmente. Conta com o incentivo da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais e patrocínio da Algar.

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AlmanaqueMARÇO DE 2016

UBERLÂNDIA DE ONTEM & SEMPRE

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 5 • NÚMERO 10

UBERLÂNDIA DA TERRA FÉRTILSINDICATO RURAL

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SumárioNOSSA CAPA

Desenho deGERALDO QUEIROZ

DIREÇÃO EDITORIALCelso Machado

EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICOAntonio Seara

PESQUISA E REPORTAGEMCarlos Guimarães e Núbia Mota

COLABORAÇÃOAdemir Reis

Adriana Faria Anaisa Toledo

Antônio PereiraAriane Bocamino

Cora Pavan Capparelli Gilberto Gildo

Hélcio LaranjoJúlio César De Oliveira

Oscar Vírgilio

FOTOGRAFIAAcervos pessoais

Arquivo Público MunicipalCDHIS (UFU), Clayton Mota

Jorge Henrique PaulClose Comunicação

Léo CrosaraRoberto Chacur

ILUSTRAÇÕESJosé Ferreira Neto

REVISÃOIlma de Moraes

TRATAMENTO DE IMAGENSLuciano Araújo

IMPRESSÃOGráfica Breda

AGRADECIMENTOSAdy Torres

Ana Cristina NevesCarlos Magno

Carlos Roberto ViolaCristiana Heluy

Julio ServoLaura Domingos Barra

Moinho CulturalNara Sbreebow

Ricardo Batista dos Santos Rosilei Ferreira Machado

Taisa Ferreira MachadoTarik

PROJETO EDITORIALNÓS PROJETOS DE CONTEÚDO

MEMÓRIA E CULTURA(34) 3229-0641

Rua Eduardo de Oliveira, 175384000-068 Uberlândia, MG

PauloHenrique Petri

PROPONENTE INCENTIVOPRODUÇÃOPATROCÍNIO

CA 0067/001/2014

REGISTROUBERLÂNDIA FOI MATÉRIA DE CAPA DE VEJA 8

PLANOS URBANOSPRAÇA SÉRGIOPACHECO, 40 ANOS 12

HISTÓRIASINDICATO RURAL MARCA A VIDA DA CIDADE 18

ARTE & CULTURAEDMAR FERRETI, A MUSICISTA APAIXONADA POR UBERLÂNDIA 24

ENTREVISTAOSCAR VIRGÍLIO,O CONTADORDE HISTÓRIAS 26

PERSONAGEMFREI EGÍDIO, O PADRE DE TODAS AS OBRAS 36

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CARTÃO-POSTALRODOVIÁRIA,UMA JOVEM QUARENTONA 46

ARTESO CENTENÁRIODE GERALDOQUEIROZ 50

ESTILOROLANDO RODRIGUES,O PRECURSORDA MODA 54

Pra começar

Toda nova edição deste almanaque é também a renovação do valor do trabalho de equipe. De pessoas talentosas, abnegadas, generosas que manifestam de forma tão competente e carinhosa seu amor por

Uberlândia. Daí porque ficamos ainda mais felizes quando vamos incorporando novos colaboradores nesse trabalho de registrar, divulgar e valorizar a memória de nossa cidade.

O talento individual é valioso, mas, quando associado a outros numa obra coletiva, ganha significado ainda maior.

E nós, aqui do almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre, somos abençoados nesse quesito, porque contamos com um time de primeira linha. Que joga junto, que se completa e complementa. Não se trata de convencimento, mas de reconhecimento.

Como estamos fazendo na edição 10 com um colaborador nota 10, Dr. Oscar Virgílio Pereira. Sua contribuição é fundamental para o brilho de cada número. Ele traz conhecimento, registros, memórias e contextualiza magnificamente o passado com o presente e o futuro. Por isso, seus artigos são atemporais, revelam em detalhes a identidade, o jeito de ser de nossa cidade e de quem viveu e vive aqui.

Peço licença aos demais colaboradores pelo que acrescentam e contribuem para fazer deste almanaque uma obra para ser mais do que lida, colecionada, para fazer um reconhecimento público ao talento de uma pessoa simples, discreta, mas genial, Dr. Oscar Virgílio Pereira.

Grande Dr. Oscar, muito obrigado em nome de todos que amam esta cidade, pelo que seus registros e comentários nos fazem amá-la cada vez mais.

Boa leitura a todos.

Celso MachadoEngenheiro de histórias

MEMÓRIAANTÔNIO PEREIRA E A LINHA DO TEMPO 60

HOMENAGEMGUEGUÉ, O HOMENAGEADO DA QUARTA EDIÇÃO DO RACHA DOS “VELHOS MALANDROS” 63

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Um funeral emuita alegria

UBERLANDICES

Charqueada: 43 filhos, 104 netos e muita alegria na vida

O maior encontro de violeiros do Brasil, o “Mil Violas”, realizado em 7 de fevereiro de 2015, no Ginásio

Sabiazinho, vai colocar a cidade de Uberlândia no livro dos recordes. Produzido e realizado pelo cantador e violeiro Tarcísio Manuvéi, em parceria com o produtor Rubem Reis, o encontro reuniu mais de 750 violeiros de 11 estados, dos quais 520 oficialmente cadastrados.

A ideia de colocar o evento no Guinness Book foi de Tarcísio Manuvéi, com apoio da TV Integração (Rede Globo), por meio do diretor de jornalismo, Paulo Eduardo Vieira, e da repórter Emilene Silva. O processo de comprovação junto ao Guinness Book está em andamento e as perspectivas indicam que o evento será incluído no Livro dos Recordes como a “Maior Orquestra de Violeiros do Mundo”.

Além da participação de violeiros profissionais e amantes da viola, o evento ganhou visibilidade nacional no quadro “Me Leva Brasil”, editado pelo jornalista Maurício Kubrusly, no “Fantástico” da Rede Globo. A

Mil Violas:do Sabiá ao Guinness

MÚSICAPode parecer um

paradoxo, mas Uberlân-dia já presenciou um

funeral que foi pura alegria. O dia 20 de agosto de 2007 vai ficar marcado na história como o dia em que a cidade assistiu a um enterro alegre. Nesse dia foi enterrado o velho Charqueada, Geraldo Miguel que morreu aos 106 anos. O cortejo foi acompanhado pela comunidade do bairro Patrimônio, onde ele viveu parte de sua vida.

Charqueada, que teve 43 filhos e 104 netos, sempre participou ativamente das festas de Congado e era figura marcante por sua alegria, religiosidade, simplicidade e amor pela vida. Tornou-se uma

figura folclórica em Uberlândia. Amigos e parentes acompa-nharam seu enterro com muita festa e alegria, cantando em homenagem àquele que viu de perto boa parte da história de Uberlândia.

O caixão de Charqueada foi conduzido em um carro do Corpo de Bombeiros pelas principais ruas da cidade, passando pela Igreja do Rosário, Nossa Senhora das Dores e bairro Patrimônio. Até o prefeito, esteve presente. Uberlândia nunca viu funeral alegre assim. Justa homenagem a quem foi enterrado como viveu toda sua vida: com muita alegria e simplicidade.

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reportagem foi concluída ao som de “Menino da Porteira” e “Chico Mineiro”, dois clássicos da música caipira tocados por um gigantesco coral de vozes e violas, que emocionou milhões de pessoas em todo o Brasil.

A primeira edição do “Mil Violas” fechou a programação da 10ª Semana da Cultura Popular de Uberlândia e do 3º Seminário de Economia da Cultura apresentados pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O evento, que reuniu cerca de 5 mil pessoas, reverenciou a memória de José Ramiro Sobrinho, o saudoso Pena Branca (irmão de Xavantinho), um dos maiores ícones da música caipira, falecido em 8 de fevereiro de 2010. As imagens e ponteados do “Mil Violas” harmonizam a expectativa de inserir a música caipira e o nome de Uberlândia no cenário da cultura mundial: um sonho do visionário Tarcísio Manuvéi e de todos que amam a música de raiz brasileira.

O Estádio Parque do Sabiá era para ter sido inaugurado em 31 de

agosto de 1982, no aniversário da cidade. Mas o prefeito Virgilio Galassi, conseguiu trazer a Uberlândia a seleção brasileira, no dia 27 de maio.Na noite da inauguração, com o estádio totalmente lotado na sua capacidade de 75 mil pessoas, pouco tempo antes do início do jogo, caiu a energia e ficou tudo às escuras.

Era o período da ditadura militar e, como o presidente Figueiredo tinha vindo para a inauguração, foi uma correria maluca. Zorival Tavares, responsável pela parte elétrica, conta que correu para ver o que tinha acontecido e descobriu uma chave que estourou. Não havia tempo para substituir o quadro de comando e ele tomou uma decisão arriscada: fazer a ligação direta.

Deu certo. A inauguração foi um sucesso, assim como a iluminação show e o 7x0 para o Brasil diante da Irlanda. Quem esteve lá não esquece a emoção daquela noite memorável. O Zorival mais do que todos.

A Erlan, uma das mais conceituadas indústrias

uberlandenses, completa 60 anos em 2016. Fundada pelos irmãos José Rezende Ribeiro e Mário Ribeiro, sua ligação é tão forte com a cidade, que tem seu nome extraído da palavra Uberlândia.

Desde 1963, passou a se dedicar exclusivamente à produção de doces, caramelos e chocolates. Seus produtos são considerados top e se tornaram ícones de qualidade e bom gosto de nossa cidade. As balas toffee e o bombom “Olho de Sogra” se tornaram clássicos. Recentemente, a Erlan lançou a versão em chocolate branco desses dois produtos. Foi uma das primeiras indústrias locais a operar no mercado externo.

Em 1986, o empresário Fábio Vilela assumiu o controle da empresa, que permanece com a família até hoje.

A noite queZorival nãovai esquecer

DEU PANE

Erlan faz60 anos

ANIVERSÁRIO

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E m novembro de 1987, enquanto o Brasil inteiro sofria com a inflação que fecharia o ano em 366%,

Uberlândia viveu a euforia de ser capa da revista “Veja”. Com o título “Interior – Um Brasil longe da Crise” na capa, a cidade era tratada como metrópole

em reportagem de 8 páginas, assinada pelo jornalista Ibsen Spartacus.

Com quase 350 mil habitantes, cerca da metade do que tem hoje, Uberlândia, de acordo com “Veja”, era um caso à parte na crise nacional: não havia mendigos nem desemprego, tinha baixa mortalidade infantil e “índices de segurança que fazem inveja a qualquer centro urbano”. Tudo

A cidade na capa de VejaUberlândia virou notícia: ilha de paz e prosperidade num país em meio à crise

1987 MÍDIA

isso com a tranquilidade do interior. Na época, a cidade era a 10ª do Brasil em arrecadação de impostos, à frente de 16 capitais.

Para alguns dos entrevistados na reportagem de “Veja”, ouvidos 29 anos depois pelo “Almanaque”, a súbita notoriedade não fez bem à cidade. Valéria Velasco, na época com 18 anos e dona da faixa de Miss Uberlândia

“Isso aqui virou a segunda Serra Pelada. A cidade não

tinha essa riqueza toda”

Por NÚBIA MOTA

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1986, teria dito ao jornalista que “a virgindade aqui é respeitada”. “As pessoas tiraram o maior sarro de mim, me chamavam de virgenzinha. Mas eu não falei isso. Ele me perguntou se eu valorizava a virgindade e eu disse que respeitava a pessoa se ela quisesse ser virgem ou não. Meus amigos brincam comigo até hoje, mas o jornalista escreveu o que quis”, disse Valéria, que

povo ficou louco, veio todo mundo pra cá e aumentou a bandidagem.”

Outra entrevistada de “Veja”, que pediu para não ter o nome publicado, também sentiu que Uberlândia mudou para pior depois da publicação da reportagem. “Eu tinha acabado de me mudar para a cidade, mas percebi que havia mais pessoas humildes e as ruas ficaram mais sujas. A matéria não me causou incômodo, mas movimentou minha vida. Teve gente que falou mal de mim, outros falaram bem. Por isso não quero ter meu nome divulgado, já deu o que tinha que dar”, disse ela.

Já Dinarte Alves de Oliveira não vê motivos para constrangimentos. “Eu repito o que falei. Estou na cidade há 43 anos, completados agora em março, e só me arrependo de não ter vindo antes para Uberlândia. Não posso reclamar”. Com 41 anos na época, Dinarte contou sua história para o repórter Ibsen Spartacus em cima da laje de um prédio que ele construiu no bairro Santa Maria. “Saí de Ituverlândia (GO) com a família em 1973, onde eu plantava milho. Em Uberlândia consegui trabalho na construção civil e mudei de vida.” Dinarte garante que, em 1987, não existiam mendigos nas ruas da cidade porque todos eram assistidos pela Icasu (Instituição Cristã Assistência Social Uberlândia). “Era proibido dar esmola. A Icasu ia na casa dos pedintes ver se realmente precisavam e dava uma cesta básica.”

A reportagem de “Veja” fez também algumas críticas à cidade. Para a revista, Grande Otelo, um dos filhos famosos de Uberlândia, teria passado a existência no anonimato se não tomasse, um dia, o ônibus para São Paulo. A cidade foi também criticada por ter poucas opções de lazer, o que, de acordo com a reportagem, estaria entre “os males inevitáveis do interior, por melhor que ele seja”.

hoje é tatuadora e mora em Itumbiara (GO). Para ela, depois da publicação a cidade se encheu de pessoas vindas de outros lugares em busca de espaço na “metrópole onde se plantando tudo dá”. “Isso aqui virou uma segunda Serra Pelada. A cidade sempre foi bem estruturada, mas não tinha essa riqueza toda. Diziam que o cara que tinha uma galinha, virou dono de uma granja. O

Uberlândia na Veja. Da capa às8 páginas internas, uma ode aoprogresso no interior

“Estou nacidade há

43 anos. Só me

arrependo de não ter

vindo antes para cá”

Valéria Velasco Nas páginas de Vejae nos dias de hoje

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Darlan Rosa GENTE NOSSA

Criador do personagem Zé Gotinha começou sua carreira aos 17 anos na televisão em Uberlândia

Talento precoce: Aos 17 anos, Darlan Rosa desenha ao vivo na TV Triângulo, durante o programa Ione Daibert

Darlan Rosa nasceu em Coromandel, a 165 km de Uberlândia, e descobriu que tinha “arte nas

veias” aos 8 anos, durante um concurso para a seleção de contos de crianças brasileiras que seriam enviados em um livro para o Japão. Além de um conto sobre Carmem Miranda, Darlan fez uma ilustração da cantora e chamou a atenção dos colegas de classe. “Ilustrei a redação de todos os meus colegas. Eu tinha de 8 para 9 anos e descobri que conseguia desenhar e nunca mais parei”, afirmou Darlan em entrevista a Celso Machado, no programa “Uberlândia de Ontem e Sempre”.

Em 1959, com 12 anos, Darlan mudou-se de Patrocínio para Uberlândia. Com o pai, na Marmoraria Brasileira, aprendeu a fazer esculturas, como anjos barrocos, capitéis em mármore e ornatos para enfeitar altares e túmulos. “Quando vi que inaugurou uma TV na cidade, parecia que já tinha a tecnologia no sangue

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A esquerda:Darlan entrega um busto feito para Rondon Pacheco

e fiquei enlouquecido. Disse, eu tenho que trabalhar lá. Tinha saído da Marmoraria Brasileira e pintava as vitrines da loja Irmãos Garcia”.

Na televisão

Em 1964, aos 17 anos foi descoberto por José Bonfin do Lago Filho, um dos proprietários da TV. “Ele chegou lá em casa e falou: ‘Menino, chama o Darlan’. Eu disse, sou eu. Ele me levou pra TV e me mandou fazer um cenário, uma paisagem, em uma tapadeira de papel de 3 por 4 metros. Comecei pelo céu e ele falou ‘Já errou, o céu é em cima’. Eu falei, mas Zé, eu não alcanço lá em cima. Eu pinto a primeira metade de cabeça pra baixo, depois viro e pinto a outra

metade. Ele não acreditou. Eu fiz o cenário e ficou muito bom”.

Além de cenários, como os do programa “Estrelinha que Canta”, de Nalva Aguiar, Darlan participou de um quadro do programa infantil da Ana Maria, em que desenhava com as duas mãos ao mesmo tempo e ao vivo. “Eu fazia todos os cenários da TV e todas as propagandas que iam para o ar. Eram umas cartelas pintadas com guache, onde colavam uma figura de fogão, qualquer coisa. O Roberto Cordeiro fotografava e faziam os slides. Era tudo slide”.

Em 1967, com 20 anos, Darlan Rosa ganhou uma bolsa para estudar artes plásticas, oferecida por Rondon Pacheco, chefe da Casa Civil do presidente Costa e Silva. Em Brasília, Darlan se formou em Comunicação Social.

Carreira de sucesso

Darlan Rosa trabalhou com computação gráfica no Ministério da Educação e viajou pelo mundo exibindo a cultura brasileira em fotos e vídeos em feiras comerciais e culturais. Em 1986, criou para o Ministério da Saúde e o Unicef o Zé Gotinha, personagem da campanha que erradicou a pólio no Brasil. “Havia uma crença de que vacina trazia doença. Eu tinha sido contratado pelo Unicef para uma campanha. Propus criar um personagem que interagisse com as crianças e a própria criança lembrasse o pai de vaciná-la”, afirmou. Além do Zé Gotinha, Darlan Rosa criou desenhos animados, escreveu e ilustrou vários livros para ensinar conceitos de saúde às crianças. Fez várias exposições individuais em Brasília e nas principais capitais brasileiras. Apresentou sua obra na Bienal Internacional de São Paulo de 1976. Além disso, Darlan foi professor na Universidade Centro Unificado de Brasília (Ceub) e na Universidade de Brasília (UnB). Tem 30 esculturas em espaços públicos no Brasil e outras 50 peças em dez países.

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40 anos deprojetos eintervenções

1976 PRAÇA SÉRGIO PACHECO

Localizada no coração de Uberlândia, a praça teve o projeto original desfeito por várias reconstruções

Área original: vista aérea do parque ferroviário e armazéns que dariam lugar ao novo espaço de lazer

Por NÚBIA MOTA

A primeira grande área verde projetada para o lazer em Uberlândia foi a praça Sérgio Pacheco, inaugurada

há 40 anos, fruto de um acordo entre a Prefeitura de Uberlândia, na época administrada por Renato de Freitas, e o governador de São Paulo, Abreu Sodré, para a doação à cidade de uma área de 115 mil m2. Nela ficavam o Parque Ferroviário da Mogiana, pertencente à Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) e os armazéns da Companhia de Armazéns e Silos de Minas Gerais (Casemg), que foram desapropriados. “Os adversários não queriam a praça. Queriam construir uma rodoviária ali. Quando o Renato ganhou, falou que fazer rodoviária ali era loucura e mandou fazer o projeto para a praça e outro para a rodoviária”, recordou Oscar Virgílio, então secretário de Administração do prefeito Renato de Freitas.

Para o novo projeto da praça, foi contratado o escritório do urbanista Ary Garcia Roza, um dos maiores e mais conceituados do país e que ficava no Rio de Janeiro. Na equipe estava também o paisagista Roberto Burle Marx, responsável pelo paisagismo do

Parque Ibirapuera (1954), em São Paulo, o Aterro do Flamengo (1961), no Rio de Janeiro e o Eixo Monumental (1961) em Brasília. “Burle Marx era muito afável. Fui ao sítio dele em Guaratiba, no Rio de Janeiro. Tinha tudo quanto é espécie de planta. Vi uma planta que tinha uma folha de 3 metros”, disse Oscar Virgílio,

que guarda o projeto e a documentação referentes à construção da praça.

O início dos trabalhos se deu em 30 de novembro de 1973 e o local se chamaria Praça São Paulo, em troca da doação do terreno pelo Governo do Estado. Mas a Câmara Municipal de Uberlândia decidiu homenagear o filho

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Visita às obras: Burle Marx e Renato de Freitas no Teatro de Arena

Primeiros anos: “parecia que a gente estava em outro mundo, com plantas exóticas e nenhum ruído”

do então governador Rondon Pacheco, Sérgio Pacheco, morto aos 23 anos em um acidente de carro.

Obra

Como o Fórum Abelardo Penna já estava sendo levantando na mesma área, a prefeitura decidiu fazer do local um setor cívico administrativo, com a instalação também da Prefeitura e Câmara Municipal, uma biblioteca e um restaurante, além do setor recreativo. Chegaram a ser instalados um Teatro de Arena, um lago com peixes e plantas aquáticas, um jardim tropical, ciclovia, ringue de patinação, caixas de areia e bancos, iluminação e acústica que impedia que o som do trânsito invadisse o interior da praça. “Parecia que a gente estava em outro mundo. Tinha plantas exóticas e nenhum ruído era ouvido. Burle Marx

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Primeiros anos: a praça Sérgio Pacheco como grande área pública de lazer

Vista das obras: o projeto era do escritório do urbanista Garcia Roza...

já tinha feito algo parecido na África. Foi um trabalho muito bem idealizado. Pena que, quando Virgílio Galassi assumiu, passou um trator em cima e mudou tudo, por rivalidade política”, afirmou a musicista Cora Capparelli.

De fato, assim como Renato de Freitas, em 1973, alterou o projeto que havia sido pensado por Galassi; eleito em 1977, Galassi decidiu modificar a obra que acabara de ser inaugurada: os aterros que permitiam a acústica do Teatro de Arena foram eliminados, o lago foi desfeito e, em seu lugar, foi construída uma quadra, passeios e canteiros. Novas vias foram abertas, seccionando a praça.

Em 1995, na gestão do prefeito Paulo Ferolla (1992/1996), a praça sofreu nova remodelação com a construção de um campo de areia para futebol, uma quadra de vôlei e peteca, cinco mesas de jogos e bancos de alvenaria. A intervenção mais significativa, no entanto, foi a construção do Terminal Central Paulo Ferolla, inaugurado em 1997.

Hoje, a praça tem apenas 33 mil dos 115 mil m2 originais, onde, entre

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15“ Alguns adversários do prefeito não queriam

a praça. Queriam construir a rodoviária ali”

outros equipamentos, há um posto policial e uma casa de madeira usada, durante o ano, para atividades do Centro Educacional de Ensino Especial de Uberlândia (Ceeeu) e, em dezembro, para ser a “Casa do Papai Noel”. Nos finais de semana, a praça é ocupada por uma feira de artesanato e, esporadicamente, por shows organizados pela prefeitura.

Uberlândia, nunca maisRestam ainda poucos vestígios do

projeto realizado por Ary Roza e Burle Marx.

Pouco depois das mudanças na praça Sérgio Pacheco, a musicista Cora Capparelli e o médico Vittorio Capparelli encontraram o paisagista Roberto Burle Marx.

Burle Marx disse para o casal que “o que aconteceu na sua cidade, me impede de voltar a Minas Gerais. Nunca mais volto a Uberlândia. Nunca fui tão maltratado”. Além das mudanças no projeto, havia uma ação judicial movida contra Burle Marx e o escritório de Ary Garcia Roza por um vereador. A ação acabou sendo julgada improcedente pela Justiça.

Primeiros anos: vista do lago desfeito na grande reforma de 1977

...fazia parte da equipe o paisagista Burle Marx, um dos mais importantes do país

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O Sindicato Rural de Uberlândia foi criado em 1965, mas a história desse grupo de produtores

rurais políticos e empreendedores começou 32 anos antes, em 1933, quando foi fundada a Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Uberlândia (Aciapu). Em 1956, os produtores rurais saíram da Aciapu e fundaram a Associação Rural, que, em 1965, passou a se chamar Sindicato Rural. Sem os produtores rurais, a Aciapu passou a se chamar Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub).

As duas primeiras exposições agropecuárias da Aciapu aconteceram nos fundos da Santa Casa de Misericórdia na avenida Floriano

As exposições rurais marcam a vida da cidade

UBERLÂNDIA DA TERRA FÉRTIL

Em 1945, um grupo de produtores rurais da Aciapu tomou a iniciativa de criar a Associação Rural, mais tarde, SindicatoRural de Uberlândia

Em 1946, o então ministro da Agricultura, Daniel Serapião de Carvalho, corta a fita simbólica

da inauguração de mais uma Exposição Agropecuária. Tem,

à sua direita, o prefeito Vasco Giffoni e, à sua esquerda,

o pecuarista Nicomedes Alves dos Santos (terno claro) e o deputado estadual Rondon

Pacheco (terno escuro)

O então presidente do Sindicato Rural, Virgílio Galassi; o primeiro- ministro (61/62), Tancredo Neves, e o prefeito Geraldo Ladeira (59/62)

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Peixoto. Para a terceira exposição, em maio de 1943, o local escolhido foi um terreno da Imobiliária Tubal Vilela, dois quarteirões na avenida Vasconcelos Costa, área ao lado de onde fica hoje a Aciub.

Segundo o historiador Antônio Pereira, durante este evento, o presidente da Aciapu, João Modesto de Sá, decidiu instalar uma feira permanente na cidade. A área escolhida, medindo 48 mil m2, era a mesma onde se realizava a feira e custava Cr$ 130 mil (cruzeiros). Um grupo de associados fez empréstimos à Aciapu, sem juros e sem prazo de liquidação. A primeira assinatura, de Nicomedes Alves dos Santos, foi acompanhada de um empréstimo de Cr$ 10 mil. Outros oitenta e cinco participantes da sociedade compraram 404 cotas de Cr$ 1 mil cada. O mais alto empréstimo, Cr$ 30 mil, foi de Godofredo Machado. Em julho de 1943, foi iniciada a limpeza da área e no dia 31 do mesmo mês foi lançada a pedra fundamental pelo prefeito Vasconcelos Costa. Devido à 2ª Guerra Mundial, a cerimônia foi discreta.

O Parque de Exposições foi inaugurado em 1945 pelo presidente da Aciapu, Misael Rodrigues, considerado o primeiro presidente do Sindicato Rural. Isso porque foi um grupo de pecuaristas da Aciapu, liderado por Rodrigues, que tomou a iniciativa de fundar a Associação Rural. A primeira diretoria da Associação Rural, ainda provisória, foi eleita em 4 de março de 1948. Misael Rodrigues foi reeleito algumas vezes e permaneceu

Ao lado: sempre andando no meio do povo, com seu inseparável charuto, o então prefeito Geraldo Ladeira (1959-1962) durante uma mostra agropecuária

Ao centro: Virgílio Galassi, presidente do Sindicato Rural, durante uma exposição ao lado do então governador de Minas (61/66), Magalhães Pinto

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no comando até 1952, quando foi eleito Nicomedes Alves dos Santos, que dirigiu a entidade até 1956, ano em que foi empossado Odilon Custodio Pereira e no qual a Associação Rural foi efetivamente concretizada.

Associação Rural e Camaru

Em março de 1956, depois de cinco anos sem exposições, um grupo de pecuaristas da Aciapu decidiu reorganizar a Associação Rural. Procuraram o então presidente da Aciapu, Fábio Vilela, que garantiu apoio, mas não abriu mão dos direitos sobre o parque de exposições.

Odilon Custódio Pereira foi eleito presidente da Associação Rural e formou uma comissão para lutar pelo espaço de exposições. Em maio de 1956, um acordo entre a Aciapu e a Associação Rural, o Parque de Exposições vai para as mãos dos produtores rurais. Em 1965, a Associação Rural mudou o nome para Sindicato Rural de Uberlândia.

Em 1982, o Sindicato Rural, na gestão de Walter Alves Carneiro. construiu um novo parque, no bairro Pampulha, o Camaru, Centro de Amostras e Aprendizagem Rural de Uberlândia, que pode receber até 500 mil visitantes por evento.

1967: Geraldo Migliorini; desconhecido; uberlandense deputado estadual por São Paulo, o radialista José Rosa da Silva; discursando: Virgílio Galassi (presidente do Incra); Dr. Pedro Aleixo, vice-presidente da República (67/69), e presidindo a mesa o vice-prefeito de Uberlândia, Dr. Arnaldo Godoy de Souza (67/70)

Sindicato: esboço da autora Marlene Spini revela como a marca foi elaborada

CONCURSO ESCOLHEU A MARCA

E m novembro de 1984, um concurso escolheu a marca do Sindicato Rural de Uberlândia.

Participaram artistas da cidade, dentre eles, integrantes da Associação Artes Integradas do Camaru (Aica), criada em dezembro de 1983. As vencedoras foram duas fundadoras da Aica, Marlene Spini e Neuza Barbosa.No projeto vencedor, um único desenho une as imagens de dois cavalos, que formam a imagem de um boi cercada de engrenagens, comuns em maquinários usados em colheitas. “Varei noites rabiscando. Tudo à mão. A arte final é

minha. Como sou filha de ruralista, que era associado a Associação Rural, sabia o que era interessante ter no desenho”, disse Marlene Spini, filha de Antônio Fernandes de Oliveira. Abaixo do desenho, o slogan “Unindo as Forças do Campo”, sugestão do ex-prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão, que era presidente do Sindicato Rural. A imagem pode ser vista em adesivos de carros que circulam na cidade e em muitas porteiras das entradas de propriedades rurais. “Fico orgulhosa por estar sendo usada até hoje. Acho que é um desenho bonito, forte” afirmou Marlene Spini.

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Paulo Ferolla(depoimento gravado em abril de 2009):

Eu entrei para Associação Rural de Uberlândia no dia 14 de abril de 1953, quando o sogro do Vírgílio, Nicomedes Alves dos Santos, era presidente. Entrei a convite do Virgílio, claro. Naquele ano, o Nicomedes ia fazer uma exposição lá no parque na av. Vasconcelos Costa. Era a primeira exposição que ia fazer no mandato dele. Era tudo cercado, já tinha pista central, uma arquibancada muito pequenina... As ruas e interiores do parque eram tudo de terra. Pra piorar, a exposição era no fim de abril, época em que chovia muito. Então, não tinha jeito do povo participar da exposição, porque era uma molhança e uma barreira só. Então, o Nicomedes procurou uma solução para isso e foi aconselhando: -faz um cascalhamento grosso aí, põe bastante cascalho que sobe um pouquinho a pista e o cascalho firma. Não dá barro e é o melhor caminho que tem. O Nicomedes, para fazer a exposição, chamou o Virgílio e pediu que fosse trabalhar com ele. Quando o Virgílio foi lá, viu que o prazo para fazer tudo aquilo era

muito pequeno. Na época, eu trabalhava com ele em Capinópolis; então, ele mandou que eu viesse ajudá-lo na tarefa. Fiquei aqui 15 dias ajudando o Virgílio no parque: 10 para poder encascalhar as pistas, preparar

o recinto para receber o gado para fazer a exposição e, mais ou menos, uns cinco ou seis dias durante a exposição, promovendo limpeza lá, colocação do gado nos pavilhões. Nós fomos muito felizes e a exposição, um sucesso.

Lições do campoUBERLÂNDIA DA TERRA FÉRTIL II

Dois grandes produtores rurais, que foram presidentes do sindicato e também prefeitos de Uberlândia, em relatos que demonstram verdadeiras lições do campo. Gravações produzidas para o programa “Uberlândia de Ontem e Sempre,” que estão disponíveis no site museuvirtualdeuberlandia.com.br

Como em seguida ia ter uma sucessão lá no Sindicato Rural, com um segundo mandato do Nicomedes, ele falou pro Virgílio: -Virgílio, eu vou te pôr aqui comigo, porque eu preciso de você para me ajudar.

Me procurou e falou: -vou te pôr na diretoria que eu vou formar junto com o Virgílio. Então, eu entrei em 1953 e estou lá no Sindicato Rural até hoje.Eu me identifiquei com a atividade rural por ideal, por vocação e por amor àquilo que eu faço. O Sindicato Rural tem uma importância extraordinária na vida da nossa cidade. Das últimas administrações da cidade oito mandatos foram de pessoas do Sindicato Rural. (a entrevista foi gravada no segundo mandato do prefeito Odelmo). Primeiro foi o Raul Pereira de Rezende, diretor da nossa Associação Rural de Uberlândia. Depois, veio o Virgílio com quatro administrações; com essa do Raul, cinco; depois vem a minha, seis; agora, duas do Odelmo, oito.

Então a gente tem uma esperança, que todo esse trabalho que foi feito lá atrás, tenha continuidade. Porque a nossa responsabilidade é com a classe rural em primeiro lugar, mas é também com a nossa cidade, com o nosso povo.

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Virgílio Galassi e as notícias ruins (depoimento gravado em agosto de 2006)

A primeira

Eu era presidente da Associação Rural, que ainda não era sindicato. Chega o Messias Pedreiro para uma visita. - Uai, Messias, que milagre é esse? Ele falou: - não, Virgílio, estou com uma notícia ruim para você. Tenho que tirar a minha máquina de algodão de Uberlândia. Eu sou obrigado a fazer, porque não tem algodão,Virgílio; o algodão sumiu, acabou o algodão. Eu respondi: - E o que que você está esperando? - Eu estou esperando que vocês resolvam o problema da falta de algodão. Era uma tarefa terrível. Ele ainda disse: - dou tempo, não vou tirar agora, não. Se continuar do jeito que está dentro de um ano, dois anos tenho que tirar. Ele saiu. Mandei chamar a diretoria, que era formada por companheiros fantásticos. Quando eles chegaram, falei: - óh, gente, notícia terrível, o Messias vai tirar a indústria de Uberlândia se nós não arrumarmos algodão para ele. Paulo Ferolla falou: - óh, Virgílio, é difícil, nós temos que ir com calma porque isso é difícil. Falei: - é difícil, mas nós temos que fazer, vê se começa a pensar para achar caminho para nós. A ideia apareceu e foi aprovada. Nós deveríamos lançar mil experimentos de algodão de um alqueire, de Tupaciguara até o Canal São Simão, e que eles não fossem mais distantes um do outro, 10 km, porque quem tivesse no meio andaria 100 km para chegar lá, podendo ir até a pé, não tinha problema nenhum. E fizemos contas, mexemos, tudo, o Paulo Ferolla é muito técnico, muito prático para essas coisas, e foi nos ajudando muito. - O que é que vai custar? - 100 contos de réis. Ia custar só administrar isso, mas tinha que ganhar o adubo, ganhar a máquina, ganhar veneno, ganhar tudo. Telefonamos para uma fabricante de adubo. Falei: - óh, nós estamos com uma ideia maluca aqui, isso, assim, assim.A resposta que recebi: -não é maluca não, nós damos o adubo e mandamos técnico para ajudar vocês.Telefonei para a Camig, negócio das

máquinas, para ter máquina para fazer isso tudo. Então, ganhamos tudo o que diz de máquinas e insumos para o negócio. Faltava viajar de fazenda em fazenda, dentro das áreas pré-escolhidas no mapa, porque não adiantava bater de porta em porta, era de 10 km em 10 km.Fizemos as contas e precisava de 100 contos. Aí fui lá no Messias, que foi logo perguntando: - Como é que está a solução? Falei: - olha, estamos com uma ideia meio doida. É assim, assim e assim. O Messias era um homem fantástico e disse: - Vai dar certo, pode dar certo. Eu falei: - mas falta 100 contos de réis. (risos). Ele abriu a gaveta do lado direito, tirou um talão de cheques, encheu um cheque de cinquenta e me deu. Disse: - você vai lá no Asdrubal e no Tarniê Teixeira. Então, o Asdrubal, o Tarniê e o Messias deram os cem contos. E deu certo. Você vê que, as coisas dão certo, quando se tem os homens certos na hora certa e todos pegam para fazer. Se

não tivesse um Elias Simão, um Messias Pedreiro e outros, a história teria sido outra. Esses empresários construíram o campo da região inteira sozinhos, na era do capital próprio em que secava arroz na rua, não tinha secador, a prefeitura

tinha que ceder rua calçada para secar arroz, era um sacrifício. Mas, com dificuldade, construíram a história.É acreditando em conjunto que nós vamos fazer a grandiosidade do futuro de Uberlândia.

A outra notícia ruim

Quando era prefeito numa das minhas administrações, outra vez o fato se repetiu. O presidente da Monsanto, o Pedro, foi falar comigo no gabinete: -Virgílio, vim te dar a pior notícia do mundo, mas é definitiva, eu vim para te agradecer o esforço que você fez, mas a Monsanto não vem para Uberlândia. Respondi: - tá bom, Pedro. Eu te agradeço muito, você me recebeu esse tempo todo aí com grandeza.Despediu e saiu. Eu chamei minha secretária: - vigia no aeroporto para ver a hora que sai o avião e qual é a previsão de chegada do Pedro em São Paulo.Dei um tempo para ele chegar lá na Monsanto

e liguei. A secretária passou o telefone para o Pedro e falei: - sou eu de novo, Pedro. Imagino que você fez uma viagem péssima, deve ter sofrido o tempo inteiro. Não vamos fechar nossa conversa não, hoje está desse jeito e amanhã estará melhor. Continue acreditando em Uberlândia e eu continuo acreditando em você. A Monsanto, o destino dela é Uberlândia, eu tenho a certeza que é.Pedro disse: -então, de vez em quando, eu te chamo. De repente, chega o Pedro e fala: - A Monsanto vai para Uberlândia.Olha, gente, tirar a Monsanto do nada não é brincadeira. Você passa na estrada de Araxá e hoje é um espetáculo sediando a pesquisa brasileira, com os melhores cientistas

pesquisadores e a Novartis junto - são as duas maiores do mundo. Eu acho que isso faz parte da nossa cultura em todos os tempos: acreditar e lutar sempre pelo melhor para Uberlândia, porque aqui é o melhor lugar do mundo.

Os professores têm que falar para os alunos que essa cidade é de futuro, os pais têm que falar para os filhos, os amigos, os companheiros, pra todo mundo

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Ícone culturalcelebra 80 anos

2016 EDMAR FERRETTI

Há mais de 30 anos, La Ferretti constrói história impecável na produção operística de Uberlândia

À esquerda, Edmar Ferretti em cena de ópera. À direita, com Renato Mismetti, em “Pagliacci”, de Leoncavallo

Quando chegou por aqui, ela trazia na bagagem um histórico de grandes conquistas e trocou os

agitos culturais da capital paulistana pela ainda pacata Uberlândia, onde assumiu o desafio de dar aulas de Canto e reger o Coral da Universidade Federal de Uberlândia. Reconhecida internacionalmente, a musicista Edmar Ferretti, que em 2016 completa 80 anos, tornou-se um ícone da cultura local, figura fundamental para o desenvolvimento cultural da cidade. 

Como tudo na vida da regente, até a chegada ao portal do cerrado foi atípica e surpreendente. Ela foi convidada para compor a banca examinadora do curso

de Artes da UFU e, em um dos seus ímpetos de intuição, recusou o convite. Pediu para participar do concurso.  Queria concorrer às duas vagas e foi aprovada em ambas, iniciando uma trajetória de inestimável contribuição às artes cênicas locais.

Foram dezenas de óperas montadas na cidade. Vários de seus alunos destacam-se hoje no universo da música erudita, no Brasil e no mundo.  A maior parte deles, senão todos, atribui boa parte do sucesso às orientações e ao pulso forte de Edmar Ferretti. Ela não é mulher de meias palavras.  Quem quiser estudar com ela, tem que estar disposto a ter muita disciplina.  Talvez esteja aí o segredo de seu sucesso.

A regente Edmar, além de detentora do cobiçado prêmio de melhor cantora concedido pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), era a intér-prete favorita do compositor Camargo Guarnieri,  o que não é pouca coisa.

Como atriz, Edmar Ferretti também teve memoráveis momentos. Atuou em montagens célebres, como a peça “Círculo de Giz Caucasiano”, de Bertold Brecht, com direção de Jonas Bloch, e em “O Homem e o Cavalo”, de Oswald de Andrade, sob a direção de Emílio di Biase. E na TV Cultura de São Paulo, apresentou “Os Ciúmes de um Pedestre ou O Terrível Capitão do Mato”, de Luiz Carlos Martins Penna, a convite de Ademar Guerra.

Quando chegou a Uberlândia, o Coral da UFU acabara de ser fundado e era regido pelo professor Storti. Após seu falecimento, Edmar assumiu para si, como missão de vida, o trabalho com o Coral e deu início a uma história de expressão na cena artística local.

Entre os trabalhos realizados por ela em Uberlândia, destacam-se “Cavaleria Rusticana”, de Pietro Mascagni, “Pagliacci”, de Leoncavallo, “Gianny Schicchi”, de Puccini, “Amahl e os visitantes da noite”, de Gian Carlo Menotti, “La Boheme”, de Puccini, “Pedro Malazarte”, de Camargo Guarnieri e Mário de Andrade, “Dido e Eneas”, de Purcell, entre outras.

Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

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Quando a cantora Daniele Rocha chegou a Uberlândia, vinda do

norte de Minas, há cerca de oito anos, ficou surpreendida ao saber que a regente Edmar Ferretti atuava aqui. Já havia ouvido muito sobre ela, mas eram tantos elogios que ficava imaginando quem seria essa mulher que todos enalteciam. Ao mesmo tempo, havia comentários sobre seu temperamento forte e todas as suas exigências com o canto, com a interpretação e a técnica. Logo, para a jovem cantora, Edmar tornou-se a maior referência de cantora e intérprete. Virou fã e discípula. “Edmar é nossa musa inspiradora, nossa diva! Uberlândia pode se alegrar e se orgulhar, porque ela escolheu essa cidade para viver e distribuir seus conhecimentos e seu carisma. Ela é fina, inteligente, conhecedora de várias línguas, de teatro, pintura, música, arte em geral e é um ser humano fantástico! Isso explica tanta admiração! Sua entrega total à música, aliada ao talento e bondade, transbordam uma energia maravilhosa que nos alegra”, afirmou Danielle.

O cantor Renato Mismetti, que atuou em várias montagens

de Edmar, não esconde sua admiração pela regente, como uma das personalidades culturais mais importantes de Uberlândia. “Ela tem um papel muito significativo para um despertar e para o cultivo do interesse pela música coral e por ópera em Uberlândia, de forma bem sensível e pessoal”, disse o cantor, que participou com Edmar das montagens de “Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni,”I Pagliacci”, de Ruggero Leoncavallo, “Pedro Malazarte”, de Camargo Guarnieri, “Gianni Schicchi”, de Giacomo Puccini e “Petite Messe Sollenelle”, de Gioacchino Rossini, em que Edmar atuou como solista convidada pelo “Coro da Cidade de Uberlândia”, criado pelo cantor e pelo pianista Max de Brito.

A pianista Maria Célia, companheira profissional e amiga pessoal da regente, confirmou os elogios. “Seria redundância afirmar aqui o quanto Edmar tem importância para a música erudita e para a cena cultural de nossa cidade. Não há como economizar elogios a essa mulher guerreira que realizou montagens belíssimas, que vão além do valor artístico. Elas têm valor histórico”, garantiu Maria Célia.

Trabalho é reverenciadoEdmar Ferretti: “musa inspiradora” para Daniele Rocha

Uma das admiradoras e aluna de Edmar Ferretti, a cantora Daniele Rocha, realizou, no ano passado, uma récita em homenagem à diva. Daniele apresentou também o projeto de montagem de um musical com enfoque na vida e obra da regente, para aprovação nas Leis de Incentivo à Cultura. A proposta foi aprovada e o espetáculo cênico-musical já está em fase de montagem. A dramaturgia está sendo construída por Carlos Guimarães Coelho, Muryel de Zoppa e Rafael Lorran.  A direção é de Aidê do Amaral e a direção musical e preparação vocal da proponente do projeto, Daniele Rocha, com produção de Cleytton Cartanoli. O musical terá o nome de “La Ferreti” e estreia no segundo semestre desse ano. 

Vida e obraserão contadas em musical

Edmar Ferretti e Camargo Guarnieri

Maximiliano Brito, Renato Mismetti,Denise Felipe e Edmar Ferretti

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O CONTADOR DE HISTÓRIAS

POR NÚBIA MOTA

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O advogado e historiador Oscar Virgílio Pereira jamais ficou parado no tempo. Desde criança, buscou colecionar

histórias e conhecer coisas novas. Graças ao incentivo do pai, o ferreiro Oscar Virgílio Pereira e da mãe, a dona de casa Divina Negretto Pereira, Oscar Virgílio foi atrás dos estudos e de uma vida melhor. Em uma cidade ainda sem muitos recursos, ele cursou faculdade na vizinha Uberaba. Trabalhou em jornais dentro e fora da cidade, quando conheceu o amigo de uma vida, o ex-prefeito Renato de Freitas, do qual foi braço direito e ajudou na primeira obra de saneamento básico da cidade, com a construção da Estação de Tratamento de Sucupira. Foi procurador-geral do município nos governos de Virgílio Galassi e de Odelmo Leão Carneiro e ainda procurador jurídico da Universidade Federal de Uberlândia.

Nascido em 3 de março de 1933, Oscar Virgílio é formado pela Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, hoje Universidade de Uberaba (Uniube) e pai da psicóloga Valéria, da funcionária pública Heloísa e da esteticista Flávia, filhas do casamento com Zélia Maria Gomides Pereira. É também avô de Mariana, Isabela e Clara.

É um dos grandes colaboradores do projeto “Uberlândia de Ontem e Sempre” e nosso homenageado no Almanaque 10.

ENTREVISTA OSCAR VIRGÍLIO

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Quais as suas primeiras lembranças da infância na cidade?Lembro da Tenda, a ferraria do meu pai, que ficava na rua Carmo Giffoni. Ele fez a casinha lá e a Tenda no fundo. Ali meu pai fazia peças de ferro manualmente. Fazia toda peça que se pudesse imaginar. Colher de ferro de cozinha, esporas, enxadas, ferraduras, foices. Quando fiquei maior, ia de bicicleta comprar ferro. Já limei muita peça. Nas horas vagas, ficava trabalhando lá.

Onde começou a estudar?No Grupo Doutor Duarte. Quando fiz o lançamento do meu livro (“Das Sesmarias ao Polo Urbano”) separei 40 volumes para levar para as escolas. A Secretária de Ensino marcou o dia para fazer a entrega e, sabe quem eu levei? Minha professora do segundo ano, que está viva, forte e lúcida. Ela se chama Maria Guilhermina e tem mais de 90 anos.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar aos 11 anos, no jornal “A Tribuna”, de Agenor Paes? Em 1944, eu tinha terminado o curso primário. Meu pai foi no Liceu de Uberlândia, mas eu não tinha idade, só podia entrar no ginásio com 12. Um dia, estava brincando com meus amigos na rua e passou o professor Joaquim Rios, uma figura muita interessante, autodidata, conhecia latim, era professor de Português, jornalista, cronista. Ele perguntou quem queria trabalhar em uma loja e eu falei que eu queria.

O que o senhor fazia lá?Varria a livraria que ficava na frente do jornal, o corredor e ia para oficina. Depois ficava com o Dely

Oscar Virgílio ainda bebê

Divina Negretto e

Oscar Virgílio (pai) com os

três filhos: Norma,

Áurea e Oscar Virgílio

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Azevedo, que era o faz tudo. Ele me ensinou a fundir os rolos da máquina. Aprendi a compor os tipos. Chegava no sábado, o jornal estava impresso e eu tinha que dobrar e fazer a expedição. Os nomes dos assinantes vinham numa lista que eu pregava em uma tábua com grude e ia tirando as tirinhas para etiquetar os jornais. Segunda-feira cedinho, punha os jornais nos Correios.

O senhor é filho de um ferreiro e de uma dona de casa que certamente não tiveram a chance de estudar. Mas eles incentivavam seus estudos?Como incentivavam! Minha mãe fez o curso primário, mas lia muito. Quando éramos pequenos, ela tinha um rádio e ouvia novelas como “A Tulipa Negra”, “O Conde de Monte Cristo” e ela sabia tudo porque já tinha lido os livros. Isso entusiasmava a gente. Meu pai tinha menos instrução, mas também gostava de ler. Ele tinha um livro de poesias, outro de ciências naturais e outro de leitura, tinha o Almanaque do Tico Tico, o Almanaque do Saci. Aquilo dava vontade de ler.

Como surgiu a vocação para o Direito?Quando terminei o Científico no Colégio Estadual, em 1951, resolvi que ia fazer Medicina. Fui para Belo Horizonte, mas não passei. Voltei, fui trabalhar no Banco Hipotecário, depois, fui editar o Suplemento Comercial Ilustrado. Mas eu queria estudar. Aí, soube do vestibular em Uberaba e resolvi fazer. Arrumei dinheiro emprestado, fui e passei.

Foi difícil deixar Uberlândia?O curso de Direito se concentrava em três dias da semana. No início, eu ia e voltava no fim de semana. Mas depois

Acima:Oscar Virgílio (filho) com as

irmãs e os pais

Ao lado:Casal Zélia

Gomidese Oscar

“ Lembro da ferraria de meu pai, a Tenda, onde ele fazia peças de ferro manualmente”

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30 “ A cidade que conserva sua história vai ter um espelho para se mirar”

comecei a arrumar serviço lá. Trabalhei no “Jornal de Uberaba” e trabalhei uns tempos aqui, no “O Triângulo”, com o Renato de Freitas.

Foi aí que o senhor conheceu o ex-prefeito Renato de Freitas?Sim, foi. Na época, ele era vereador e dono do jornal. Gostava de uma discussão, de uma polêmica. Tinha horror de gente que não cumpria a palavra. Era obcecado contra a corrupção e a safadeza. Mas era gozador e gostava muito de contar uma piada.

O senhor trabalhou com ele e, depois, com o Virgílio Galassi. Algo incomum, já que os dois eram adversários políticos. A divergência entre o Renato e o Virgílio vinha do tempo do PSD e UDN. Renato era do PSD e o Virgílio da UDN. Era uma rivalidade muito forte. Eu era o braço direito do Renato, mas, quando o Virgílio foi para o terceiro mandato, me convidou para ser procurador-geral do município. Liguei para o Virgílio, disse que aceitava e queria marcar para conversar. Ele disse: “Sendo eu quem sou e você quem é, não precisa de conversa nenhuma”.

Por que o senhor costuma dizer que a cidade conseguiu o que tem com muita dificuldade?Uberlândia sempre foi uma cidade que tinha tudo para não ser nada. Nem a trilha do Anhanguera, que ligava São Paulo às minas de ouro de Goiás passava aqui. Uberlândia fez a trilha do comércio mineiro passar aqui, para fazer o comércio com Goiás. Os homens públicos daquela época sabiam do que a cidade precisava, senão ia ser mais uma estaçãozinha da Mogiana.

Acima:Dr. Batuira

Martins Costa, empresário

Lauro Teixeira (Produtos Imperial),

prefeito Renato de Freitas e Dr.

Oscar Virgílio Pereira

Ao lado: Dr. Oscar Virgílio e

Burle Max na construção da

Sérgio Pacheco

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O senhor passou 34 anos pesquisando e escrevendo para o livro “Das Sesmarias ao Polo Urbano”. O que o motivou?Uberlândia tem uma série de histórias indefinidas. Acho que tudo tem um início, um meio e um fim. São exemplos de como proceder. O povo brigava, mas no geral as atitudes foram acertadas.

O senhor acha que as futuras gerações vão se preocupar pelo resgate histórico?Vão sim. Eu estou fazendo a minha parte, deixando pistas para eles pesquisarem, irem atrás das coisas.

O senhor é um grande colaborador do projeto “Uberlândia de Ontem e Sempre”. Qual a importância vê nesse trabalho?Isso que vem sendo feito com o Almanaque e com o programa deveria ser material para uso nas salas de aula. Se a criança aprende com motivação, a formatura dela como bom cidadão está pronta. A cidade que conserva sua história vai ter um espelho para se mirar.

Como quer ser lembrado?Como uma pessoa simples que gostava da cidade, que participou de coisas importantes. É bom andar por aí e ver que muito do que surgiu de importante, tem uma gotinha do nosso suor. E que todo mundo saiba que foi com muita seriedade. Nada chegou a minha casa por vias transversas, aqui nunca entrou um centavo de propina. Nunca ninguém se atreveu a sequer propor esse tipo de coisa, porque sabiam em que mato estavam lenhando. Se lembrarem disso aí, está muito bom.

Deputado federal Odelmo Leão, prefeito Virgílio Galassie, assinando documento, o Dr. Oscar Virgílio Pereira.Atrás, Mestre de Cerimônias da Prefeitura, José Tércio Sabbia

Oscar, historiador nato

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32O senhor tem 83 anos e mais da metade de sua vida passou como servidor público. Como o senhor define a figura do homem público?O homem público, principalmente o administrador do município, precisa ter um conhecimento muito grande sobre os problemas da cidade. Essa visão é raríssima. Muito poucos prefeitos tiveram. O Virgílio teve, o Renato teve. Na mão desses dois homens aconteceram episódios muito importantes e decisivos para cidade. Eles mexeram nas coisas fundamentais, que são a infraestrutura, saúde, educação, saneamento básico e uma política de habitação bem coordenada. Naquele tempo, atacar esses problemas era atacar práticas estabelecidas de corrupção, de malandragem e de acomodação. O senhor foi acusado de subversivo na Ditadura Militar e perseguido. Como foi essa época? Quando aconteceu a Revolução, em 1964, a única bandeira de aperfeiçoamento social era a bandeira do presidente da República João Goulart. Ele falava de reforma agrária, reforma do ensino, reforma política, reforma urbana. Nós tínhamos o dever de apoiar tudo isso. Fui preso por 2 meses em Belo Horizonte, na Colônia Magalhães Pinto. Mas fui tratado com muito respeito.

Quando era ministro da Casa Civil, Rondon Pacheco participou do AI-5 e até hoje é muito criticado por isso. O que o senhor acha desses ataques ao ex-governador?Isso é coisa de gente que não tem miolo. O Rondon Pacheco, quando era jovem, passou pelas mesmas atitudes inflamadas do que todos nós. Quem não se preocupou com o problema social e não buscou solução para isso não era gente boa. Minas era um atraso de fazer medo e a reforma administrativa do Rondon foi muito bem feita. Ele se preocupou com a pobreza. Não esquecia Uberlândia nem o resto do Estado. Ai fica esse povo derrubando busto dele, querendo tirar nome da avenida. Se não fosse ele, nem a UFU para eles estudarem tinha. Quando esses jovens tiverem a idade do Rondon, vão entender. E tomara que eles tenham um busto com o rosto

deles, mas acredito que não vão ter não.

A cidade cresceu graçasaos políticos?Os políticos sempre se beneficiaram do trabalho que os outros fizeram. Eram homens políticos sim, mas no bom sentido. Era o homem que participava das realizações, não só quem fazia discurso. Quem constrói as coisas é a sociedade, é o povo. O político ajuda e só de não atrapalhar está fazendo muita coisa. Uberlândia superou muitas dificuldades, mas ninguém pode

“Esses jovens que hoje criticam o

Rondon quando tiverem a idade dele

vão entender que, se não fosse ele,

nem a UFU para eles estudarem tinha”

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33falar que alguém fez, só que ajudou a fazer.

O senhor pode dar um exemplo do que a sociedade ajudou a construir?Por exemplo, quando disseram que a cidade precisava fazer a Faculdade de Engenharia, procuraram o Rondon Pacheco. Mas também procuraram os padres salesianos que tinham construído um prédio na Vila Saraiva, tinham os engenheiros que iam dar aula. É claro que precisa de alguém para chegar até aos ministérios, mas se não tiver essa base, que é a sociedade, não adianta de nada. Aqui, sempre a sociedade se mobilizou. Isso me preocupa muito, porque se Uberlândia perder essa tradição de canalizar os esforços da sociedade para fazer as coisas, como está perdendo, a cidade vai entrar em um processo de deterioração, não tenha dúvida.

Por que o senhor acha que a sociedade está perdendo o seu papel?Porque está sendo impedida de participar. O poder público agora está naquela de que ele que tem que fazer, que tem que ser a hegemonia do processo.

O que o senhor acha do movimento Uberlândia 2100, da sociedade civil organizada, que planeja o futuro da cidade para daqui 84 anos?Eu acho que Uberlândia está precisando adotar uma definição. O poder público precisa sair da

“...se Uberlândia perder essa tradição

de canalizar os esforços da sociedade

para fazer as coisas, como está perdendo,

a cidade vai entrar em um processo de

deterioração...”

responsabilidade da execução e trazer quem pode fazer. A sociedade precisa se organizar, executar e o poder público fiscalizar rigorosamente. Nunca vai faltar remédio, por exemplo, quando o terceiro setor fizer o serviço e forfiscalizado todo dia.

O que o senhor sonha para cidade?Eu queria Uberlândia consciente do que precisa e saber honestamente o que é preciso fazer para beneficiar todos. Que cada um busque o melhor para si, mas não se esqueça de ajudar o outro que não pode buscar. Todo mundoé a favor do desenvolvimento da cidade, sem exceção, mas é uma parte pequena que adota medidas para que isso aconteça. Porque tem aqueles que até são a favor, mas não sabem se manifestar.

O senhor tem um próximo projeto?Tenho. Do meu livro “Das sesmarias ao polo urbano” sobraram umas informações muito importantes. Tem material para gente falar das estradas, muito antigas. Tem um projeto para falar sobre a luta pela liberdade de pensamento em Uberlândia. Tem outro para comentar a origem do terceiro setor. Vai dar uns três trabalhinhos menores que devem serlançados neste ano.

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São mais de 600 peças que foram chegando aos poucos nestes mais de 20 anos de atividade e organizadas em sessões para facilitar a visitação. Tem a coleção de quase mil cachaças, obje-tos de cozinha, de som, arma,, xícaras que parecem com as das nossas mães ou avós, rapadura docinha e claro, o imponente fogão a lenha, além do setor de homenagens que faz menção a grandes personalidades uberlan-denses. “Em cada setor da sociedade, homenageamos uma personalidade. Contudo, a escolha não é feita pautada em interesses políticos ou em quais-quer outros, temos uma comissão composta por historiadores e memo-rialistas que nos ajudam na escolha dos personagens”, afirmou Sobreira

Site: http://www.fogaodeminas.com.br/

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Restaurante traz um pouco da essência da cultura riquíssima dos mineiros

Passeio saboroso por MinasFOGÃO DE MINAS 20 ANOS

Um clima de roça, peças que abrigam memórias das fazen-das, do sertanejo, um fogão

que mistura nostalgia e exuberância, um ambiente aconchegante e que, nos mínimos detalhes, apresenta as rarida-des do Estado de Minas Gerais. Estas sensações, acompanhadas da tradicio-nal cozinha mineira, encontramos no restaurante Fogão de Minas, no bairro Dona Zulmira, que completou 20 anos. Tanta história e cultura merece um passeio pelo tempo para desco-brirmos as referências deste local tão popular e querido em Uberlândia.

O ano era 1995 e o engenheiro agrônomo José Sobreira se incomo-dava com a ideia de não haver um restaurante típico de cozinha mineira em Uberlândia para levar os amigos e clientes de trabalho. Segundo Sobrei-

ra, as pessoas de outras localidades que passavam por Uberlândia, tam-bém pediam esta opção. Foi quando ele decidiu abrir o espaço que não ficou apenas como um restaurante, mas como um centro cultural sobre a história de Minas Gerais.

“A nossa vontade é de comparti-lhar um pouco da essência de Minas Gerais, desde a vivência nas fazendas, passando pela culinária e pelos há-bitos típicos do mineiro e que fazem riquíssima a nossa cultura” disse So-breira.

No local, também acontece o proje-to “Coração de Minas, um passeio por Minas Gerais”, que leva crianças de escolas públicas a conhecerem as pe-ças que o restaurante abriga, além de saborearem um típico café da manhã mineiro.

José Sobreira: “Nossa vontade é compartilhar um pouco da vivência cultural mineira através da culinária”

POR ARIANE BOCAMINO

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O padre de todas as horas MEMÓRIA FREI EGÍDIO

Ele sabia ser humilde sem ser omisso e enérgico sem ser autoritário

Dom Almir Marques Ferreira, bispo Diocesano; Frei Egídio Parisi e o prefeito Raul Pereira de Rezende (63/66)

Frei franciscano Egídio Parisi

F rei Egídio era assim: quando a cidade inaugurava um melhoramento importante, lá

estava ele, orador eloquente, presença infalível, para abençoar, enaltecer e agradecer a Deus por ter inspirado aquela obra. E muitas vezes, aproveitando o momento para lembrar alguma coisa que os mais fracos esperavam, e até cobrando energicamente obras atrasadas ou preteridas.Aquele velho sacerdote sabia ser humilde sem ser omisso e enérgico sem ser autoritário. Apenas com o seu exemplo, inspirava cada pessoa a fazer a sua parte. Era edificante vê-lo a tratar o seu imenso rebanho, tanto os abastados mas carentes de apoio espiritual, como os pobres e os mais pobres, aqueles carentes de tudo.Estava sempre a reunir seus paroquianos para exortá-los à esperança, a não desanimar, a lutar, a evoluir. Mantinha uma relação dos mais necessitados e a todos assistia sem ostentação nem cobranças. A velha Guarda Civil, no dia de Santa Rita, 22 de maio, comparecia em peso à missa celebrada na Delegacia de Polícia, onde Frei Egídio levava a palavra do

bem a todos os policiais civis e militares, inspetores, delegados e a quem mais estivesse presente. Aos presos condenados e a suas famílias levava sua mensagem de esperança. Quantos, libertos pela Justiça ou em fuga, desorientados, se lembravam dele para receber uma palavra amiga, uma orientação. No Natal, ele reunia detentos e suas famílias, celebrava para eles a missa na prisão e nunca faltaram presentes, embora simples. Suas palavras

abrandaram muitos corações de pedra. No Natal de 1976, um detento poeta declamou estes versos, certamente inspirado nele:

Bom dia, Senhor !Que os primeiros

raios de sol desta manhã encham minha alma

de paz e amor.Bom dia, meu mestre!

Que sejas o guia hoje, amanhã e sempre!

Olha as veredas em que vou passar

no dia de hoje, que tuas mãos

me encham de benção,Bom dia, meu Deus!

Biografia Frei Egídio Parisi nasceu em 1909 em Montesano, Salermo, Itália. Ordenou-se sacerdote em 1932. Em 1981, desejou morrer em sua terra natal, depois de viver 27 anos em Uberlândia. Faleceu em 12 de janeiro de 1981. Poupou aos muitos amigos o desgosto imenso de vê-lo morto. Mas ainda vive.

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Não convivi diretamente com o Frei Egydio, mas sempre me chamava atenção sua forma peculiar de

agir. Nos mais diferentes ambientes era sempre o mesmo, franco, crítico, incisivo.

Não foi uma nem duas vezes que vi pessoas influentes da cidade tremerem quando sua presença era anunciada.

Certa vez estava na sala de um dono de uma grande empresa quando a secretaria avisou que ele estava na portaria e queria saber se poderia ser recebido.

A pessoa que vou declinar o nome perguntou se eu me incomodava em que ele o atendesse. Prontamente disse que não e em instantes lá estava ele. Sai da sala para que ficassem a vontade. Encerrada a conversa voltei e fiz um comentário sobre o hábito do Frei Egydio de levar algumas balas no seu bolso em todas as visitas que fazia.

O empresário franziu a testa, balançou a cabeça e disse a frase que nunca mais esqueci: “você não imagina o quanto as balinhas dele saem caro!

Entendi então que as balas do Frei Egydio eram azedinhas, não pelo sabor. Mas pelo custo.

Balas azedinhas

A Câmara Municipal de Uberlândia, lá pela década de 1970, tendo realizado despesa menor

que a prevista, resolveu doar o saldo economizado à obra assistencial de Frei Egídio. Como aquela despesa não estava prevista no orçamento, foi contabilizada em uma dotação qualquer. Alguém comentou que a despesa era irregular e que o saldo deveria ter sido devolvido à Prefeitura, porque uma doação dependeria de lei própria.Frei Egídio soube do comentário, compareceu imediatamente à Prefeitura e entregou o cheque que a Câmara lhe mandara. E disse: “Os meus pobres precisam de ajuda, mas são ricos o bastante para recusar o que não tem origem rigorosamente legal, mesmo vindo com boa intenção”.Era assim, dando o bom exemplo, que Frei Egídio ministrava ensinamentos ao seu rebanho.

Oscar Virgílio Pereira - Historiador

Pobre,mas rico

Franciscano, homem sério, patrocinador de várias causas de interesse público, Frei EgídioParisi

não desprezava a companhia de um velho guarda-chuva sempre pendurado no braço direito. Dócil, mas de cara fechada, era um divertimento assistir às celebrações conduzidas por ele. Certa vez, uma comissão de moradores de uma área periférica vai para uma audiência com o prefeito Renato de Freitas, respaldada pela figura singular do Frei Egídio.Renato os recebeu e quis saber o que queriam. O pedido era muito simples, umas quatro salas de aula para um grupo escolar que estava superlotado. - Não posso! Não tenho condições! Respondeu na “lata”. - Mas, senhor prefeito, os meninos não podem ficar sem escola! - Não posso desviar verba nenhuma das obras que estou fazendo. Frei Egídio quieto. Por essa época, Renato construía a Sucupira, revirava o leito da avenida João Pinheiro, para asfaltá-lo (era um leito pantanoso e toda a terra teve de ser substituída) e ainda construía Colégio, Grupos Escolares e a Cadeia Pública para o Estado. - Os meninos estão amontoados e muitos deles terão que ir para outras escolas, distantes... Frei Egídio quieto. - E o que eu posso fazer? Problema de Grupo Escolar é com o Estado e olhe que eu já estou ajudando o Israel Pinheiro (governador) a construir o Joaquim Saraiva, a reformar o Bueno Brandão e outras escolas... Frei Egídio quieto, o guarda-chuva pendurado no antebraço direito.

In nominepatris

Daria para escrever um livro. Um livro não, uma série de livros com as histórias do Frei Egydio. Foi realmente uma figura ímpar, daquelas que não se apagam da

memória nem da história da cidade.Pincelamos apenas três momentos

para registrar em nosso almanaque.

Renato tinha posições firmes. Não enganava ninguém: ou dava ou não dava. E falava e tinha argumentos. Não perdia paradas, não fraquejava. Personalidade inflexível. O grupo, entretanto, apesar de humilde e de poucos argumentos, insistia. Eram só quatro salas – não custavam muito. Que o prefeito podia retardar, talvez uns poucos dias, alguma das grandes obras que fazia e construir as salas. Enfim, o homem de pedra amoleceu. Deu-se por vencido. Ergueu a cabeça suspirando e disse entregando os pontos:- Eu sei que vou cometer um pecado...Depressinha, Frei Egídio passou o guarda chuva para o braço esquerdo e ergueu a mão direita espalmada sobre o rosto do prefeito:- Ego te absolvo in nomine patris et filii et spiritu sanctus... Pronto! Não tem mais pecado. Pode fazer as salas.Restou ao prefeito desfazer a postura dramática, rir e mandar fazer as salas.

Antônio Pereira da Silva - Historiador

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Um espaçoque marcougerações

1980-90 VIDA NOTURNA

Décadas de 1980 e 1990, em Uberlândia, ficaram mais artísticas e interessantes com o Public Bar

Na virada da revolucionária década de 1970, quase não havia atrações na cidade para

os jovens mais irreverentes. Foi quando Márcia Santos Monteiro e Sílvio Saraiva, em um casarão ladeado por uma centenária sibipiruna, inauguraram o Public Bar, um dos mais efervescentes já vistos em Uberlândia. Ali, há 35 anos, surgiu um espaço que marcou gerações de uberlandenses e deixou seu nome no desenvolvimento cultural da cidade.

Até 1980, no casarão funcionava o escritório do arquiteto Reinaldo dos Santos, amigo do casal Saraiva. Quanto decidiu transformar o local em um bar, o casal tomou

No Public Bar: Suely e Cristina Shibli, Maria Inês e Sandra Carolino, Assis Guimarães e Lilian Tibery, Hélio de Lima e Rejane Paiva, Maria José Ribeiro, Oswaldo Moya e Alexandre França

POR CARLOS GUIMARÃES

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como modelo o estilo dos pubs londrinos. Como no pub inglês, o bar deveria funcionar entre 17h e 23h. Nos primeiros seis meses, a clientela até gostou da proposta, mas foi logo ocupando o espaço com festas temáticas, e o Public passou a funcionar a partir das 23h, madrugada a dentro. Ali aconteceram festões que movimentaram a cidade, como a Festa dos Anos 20, a Festa Punk, a Festa Dourada, lançamentos e desfiles de moda.

Segundo Márcia Saraiva, o bar passou a ser frequentado por pessoas que o consideravam uma extensão de suas casas. Era um ambiente bastante acolhedor e a arquitetura favorecia uma atmosfera lúdica. O Public, que também funcionava como antiquário – móveis, cadeiras e mesas podiam ser adquiridos pelo cliente – teve concepção arquitetônica de Reinaldo dos Santos e criativas intervenções de Paulo Carrara e Saul Vilela.

Para Márcia, outra aposta que deu certo e fez com que a cidade recebesse o bar de braços abertos foi a gastronomia diferenciada.  O cardápio, assinado por Márcia Castroviejo dos Santos, trazia um repertório eclético de comidas típicas de bar, combinadas com requintes e diferenciais que despertavam

Ao lado: O ator e diretor José Celso Martinez Corrêa curtindo a noite no Public Bar

Oswaldo Moya (centro) com Rejane Paiva (frente) e o Coro Municipal

Um dos irmãos Moya, Oswaldo, juntou sua sensibilidade para as artes e sua proximidade com

alguns artistas da cidade para dar uma guinada cultural no Public Bar. Durante quase toda a década de 1990 o bar foi palco de projetos surpreendentes. Moya fazia questão que todas as linguagens artísticas fossem contempladas. Deste modo, shows especiais, criados exclusivamente para o espaço foram apresentados ali.  A agente cultural Sandra Carolino de Paiva organizava um mercado de arte todo final de ano, para apreciação e comercialização de obras de artistas plásticos uberlandenses. Esse encontro, batizado de Mercado de Arte, foi substituído posteriormente pelo projeto Sentidos Circulantes, já abarcando artes integradas.

A regente Rejane Paiva, com o Coro Cênico Municipal, realizou no Public temporadas de espetáculos memoráveis, como “Cabaré”, “Secos, Líquidos, Sólidos e Molhados”, “Com que Roupa Eu Vou”, entre outros.  O Grupo Elenco também era presença constante no palco. Montagens como “O Natal da Família Adams”, “Jornal

da Meia Noite” (paródia ao Jornal do Meio Dia, exibido à época pela TV Globo local) e performances diversas, como o casal caipira, levado à cena pelos atores Ivens Tilman e Luiz Humberto Garcia, que também interpretaram as amigas Fanta e Crush, pegavam a plateia de surpresa com divertidíssimas intervenções. Também nas artes cênicas, nomes como Letícia Teixeira, Natércia Campos, Ana Paula Cardoso, entre outros, dirigiam e atuavam nas escadarias e palco do recinto, em cenas de plasticidade irretocável, como o espetáculo MilkShakespeare, levado pelas três com o ator Luiz Humberto Garcia. A dança se fez representada por vários artistas e grupos, como Uai Q Dança e Deferson Melo. 

Para Oswaldo Moya, esse convívio com os artistas foi inestimável. “Transformei a admiração em respeito. Compreender e respeitar o tempo e os rituais de cada um foi um grande aprendizado”, diz Oswaldinho, lembrando também de artistas famosos que deram as caras por lá, como o diretor teatral Zé Celso Martinez Correa e o músico e compositor João Bosco.

Efervescência cultural

Receita de sucesso:ambiente acolhedor, boa gastronomia, eventos culturais e madrugadas em festa

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o paladar das pessoas. Entre as atrações, pratos como mexilhões, ostras, perninhas de rã e o famoso sanduíche Beirute, sucesso no Brasil desde a década anterior.

A ex-proprietária lembra que o bar era parada obrigatória para os artistas que vinham se apresentar em Uberlândia. Entre os famosos que estiveram lá, há nomes como Djavan, Elba Ramalho, Erasmo Carlos, Luiz Melodia, Mauro Mendonça, Rosamaria Murtinho, entre outros.  Havia uma parede com dedicatórias e assinaturas dos artistas.

Márcia e o marido Sílvio permaneceram à frente do bar por alguns anos e depois mudaram para Portugal. O Public teve outros proprietários até a segunda metade da década, quando os donos do imóvel, os irmãos Roberto Moya e Oswaldo Moya Júnior, decidiram tocar o bar. Chamaram o publicitário José Renato Tavares para a gerência e Adê Luiz de Almeida, que mais tarde se tornaria sócio. Os irmãos Moya só se aproximariam do bar efetivamente no início dos anos de 1990, quando deram uma marca de vanguarda ao local. O que era mais restrito às pessoas de maior poder aquisitivo, tornou-se um ambiente de frequência mais eclética. Oswaldo Moya se desligou do bar em dezembro de 1996, quando retirou-se da sociedade e mudou-se para Londres, onde viveu por quatro anos. Com sua saída, o bar passou a seu irmão Roberto em sociedade com o ex-gerente Adê Luiz de Almeida, até 2001, quando encerrou sua histórica participação na vida noturna e cultural da cidade.

Por dentro do Public Bar: a arquitetura favorecia uma atmosfera lúdica

A característica mais marcante do Public Bar, além da inspiração inglesa, certamente era a enorme

sibipiruna, existente até hoje e tombada como patrimônio da cidade. A árvoretem dezenas de histórias fascinantes envolvendo personagens marcantesda vida da cidade.

Márcia Monteiro Saraiva afirma que recorreu a zootecnistas e jardineiros para manter a árvore frondosa. Por ter quase cem anos, precisaram adotar medidas preventivas para conter os insetos que

começavam a corroê-la. Estes proce-dimentos continuaram a ser adotados pelos proprietários seguintes, incluindo a inevitável poda em seus galhos e um ci-mentado em uma das raízes para contê-la e evitar um desabamento.

Por conta das intervenções, ela hoje continua lá, frondosa, mesmo em meio à poluição e ao fluxo de veículos que se multiplicou na região. Continua ofere-cendo aos frequentadores do bar (que hoje tem o mesmo nome da árvore) uma sombra irresistível.

Sibipiruna: patrimônio de todosPor fora do Public Bar: foto de 1983 mostra a sibipiruna que está lá até hoje

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policial da época, por ser pessoa ligada aos moradores, conhecedor de suas vidas, qualidades, problemas e fraquezas, desfrutando de respeito ou inspirando temor.

As funções do inspetor de quarteirão, definidas no Regulamento nº 120, de 1842, eram cuidar de pequenas questões, geralmente resolvidas sem processos formais, mas ao calor do simples aconselhamento ou da enérgica intimação, ou do corretivo físico, muito do agrado dos famigerados bate-paus.

Esses ajudantes do inspetor de quarteirão, os bate-paus, eram daquela espécie de indivíduos que, sem serem autoridades, gostavam de andar do lado destas e cumprir ordens. Sentindo-se prestigiado com a confiança e intimidade do inspetor de quarteirão, acompanhavam-no em diligências, prendiam pessoas, transmitiam recados e advertências.

O Distrito de São Pedro de Uberabinha, segundo costume da

A ordem pública em Uberabinha

JUSTIÇA NO SERTÃO

Maquete mostrao primeiro quarteirão,

localizado no arraial, que seria o futuro

núcleo urbano

No Império, o inspetor de quarteirão prestava conta dos acontecimentos policiais do Distrito para o subdelegado

O elo entre os moradores e a autoridade policial do Distrito de São Pedro de Uberabinha, no caso o

subdelegado, e que levava até este as notícias de crimes e infrações menores, era o inspetor de quarteirão.

O Código Criminal do Império, baixado em 1832, estabelecia que cada Distrito seria dividido no mínimo em três quarteirões. Um quarteirão deveria contar com pelo menos 25 casas, ou fogos, como se dizia naquela época, simbolizando as casas pelos fogões das cozinhas.

O quarteirão não era o mesmo quarteirão no qual são hoje divididas as cidades. Era um território bem extenso, abrangendo várias fazendas. Para cada quarteirão era designado um inspetor, geralmente pessoa que ali morasse, nomeado pelo delegado da Vila, mediante proposta do subdelegado do Distrito. Era uma figura de grande importância no quadro político e na administração

época, foi subdividido em quarteirões, da forma como também prescrevia o Regulamento nº 120. O trabalho de organizar essa divisão era obrigação do delegado.

A qualificação dos eleitores do Distrito era também organizada por quarteirões. O caderno onde foi registrada a qualificação feita em 1865, escriturada pelo juiz de paz Manoel Francisco Vargas, relacionava os eleitores em 13 quarteirões distintos.

O primeiro quarteirão era localizado no arraial, ou seja, no aglomerado de casas que seria o futuro núcleo urbano. Os demais quarteirões abrangiam fazendas.

Em um processo conservado no Arquivo Público de Uberaba, o qual Uberabinha pertencia, contém uma comunicação do inspetor de quarteirão Manoel Apolinário Rodrigues, dirigida ao subdelegado de Polícia do Distrito Antônio Justino dos Santos e autuada pelo escrivão de Polícia Valério Ribeiro do Vale.

“Ilmo Sr.Participo a V.S. que no dia 24 decorrente

mez as 10 horas da noite poco mais ou menos em meu Quarteirão acontece que Antonio Clemente Rodrigues foi ferido gravemente com cinco facadas, estando ele e outros três jugando em casa de Ritta de Tal, aonde se achavão ele paciente com sua Mer e a mencionada Ritta, Manoel Damas, José Frco Ferds, Mel Frco Ferra, e Frco José Alves e emtre estes e estas perpetrarão esse delicto pr. isso participo a V.S para sua inteligência. Ds Ge a V.S. por mtos anos.

São Pedro de Uberabinha aos 25 de Novembro de 1863”

Por OSCAR VIRGÍLIO

Retirado do livro “Das Sesmarias ao Polo Urbano, de Oscar Virgílio Pereira

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Rodoviáriaplanejada no cerrado

1976-2016 40 ANOS

Uberlândia teve o primeiro terminal de transporte com localização escolhida por uma pesquisa no país

Castelo Branco. Construída para atender à cidade por no mínimo 50 anos, a rodoviária de Uberlândia, um marco na arquitetura brasileira por ser a primeira com localização planejada no país, está fazendo 40 anos.

A antiga rodoviária, que funcionava no prédio onde é hoje a Biblioteca Municipal, no Fundinho, já não atendia mais à cidade de mais de 126 mil habitantes. O prefeito Renato de Freitas, convencido de que Uberlândia precisava de uma nova rodoviária, ligou para Aimoré Dutra, diretor-geral do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (Dner) e pediu a indicação de um especialista. Dutra indicou o jovem engenheiro Marcelo Perrupato e Silva, que estava nos Estados Unidos, terminando um curso. Perrupato recebeu um telefonema de Renato de Freitas pedindo que viesse para Uberlândia. “Quando chegou, deu uma volta na cidade e pediu 100 pessoas da Faculdade de Engenharia da UFU para fazer uma pesquisa de origem e

O pedaço de papel, arrancado de uma agenda, com o provérbio chinês: “Quando o dedo aponta para a lua, o

medíocre olha para o dedo”, escrito à mão ainda está guardado no escritório

do advogado e historiador Oscar Virgílio Pereira. O rascunho a lápis do texto do então prefeito Renato de Freitas foi impresso na placa descerrada no dia da inauguração do Terminal Rodoviário Presidente

Em obras: local escolhido era de fácil acesso à rodovia, em área ainda deserta, bastante diferente do que é hoje

Por NÚBIA MOTA

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47Modernidade:a nova rodoviária deveria funcionar nos moldes deum aeroporto

destino, durante 30 dias. Todo mundo que chegava e saía de ônibus na antiga rodoviária era entrevistado”, lembrou Oscar Virgílio, que era secretário de Administração de Renato de Freitas. Este foi o primeiro estudo feito no Brasil para localização do ponto ideal para implantar uma rodoviária. Mais tarde, o Dner fez um manual para implantação de terminais rodoviários baseado no trabalho realizado em Uberlândia.

Detalhe das obras: projeto de cerca de Cr$ 16 milhões durante a gestão do prefeito Renato de Freitas (detalhe)

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Interior do prédio: lojas e aluguel de automóveis

O pedaço de papel, arrancado de uma agenda, com o provérbio chinês: “Quando o dedo aponta para a lua, o

medíocre olha para o dedo”, escrito à mão ainda está guardado no escritório do advogado e historiador Oscar Virgílio Pereira. O rascunho a lápis do texto do então prefeito Renato de Freitas foi impresso na placa descerrada no dia da inauguração do Terminal Rodoviário Presidente Castelo Branco. Construída para atender à cidade por no mínimo 50 anos, a rodoviária de Uberlândia, um marco na arquitetura brasileira por ser a primeira com localização planejada no país, está fazendo 40 anos.

A antiga rodoviária, que funcionava no prédio onde é hoje a Biblioteca Municipal, no Fundinho, já não atendia mais à cidade de mais de 126 mil habitantes. O prefeito Renato de Freitas, convencido de que Uberlândia precisava de uma nova rodoviária, ligou para Aimoré Dutra, diretor-geral do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (Dner) e pediu a indicação de um especialista.

Dutra indicou o jovem engenheiro Marcelo Perrupato e Silva, que estava nos Estados Unidos, terminando um curso. Perrupato recebeu um telefonema de Renato de Freitas pedindo que viesse para Uberlândia. “Quando chegou, deu uma volta na cidade e pediu 100 pessoas da Faculdade de Engenharia da UFU para fazer uma pesquisa de origem e destino, durante 30 dias. Todo mundo que chegava e saía de ônibus na antiga rodoviária era entrevistado”, lembrou Oscar Virgílio, que era secretário de Administração de Renato de Freitas.

Este foi o primeiro estudo feito no Brasil para localização do ponto ideal para implantar uma rodoviária. Mais tarde, o Dner fez um manual para implantação de terminais rodoviários baseado no trabalho realizado em

“Esta rodoviária é menos o retrato de uma administração e mais, muito mais mesmo, o reflexo da grandeza do meu povo. Por isso, sem ódios, lamento a sorte daqueles poucos que se perdem olhando o dedo e agradeço àquela grande maioria que me ensinou a enxergar a lua.”Renato de Freitas

“ Quando o dedo aponta para a lua, o idiota olha para o dedo.” PROVÉRBIO CHINÊS

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49“ A ideia de colocar o nome de Castelo Branco foi do Renato, porque o presidente tinha criado o ICMS”

OSCAR VIRGÍLIO

Uberlândia. Os dados da pesquisa

foram tabulados à mão (na época quase ninguém conhecia computadores) e a cidade foi dividida em 154 setores, depois reduzidos a 15. Um terreno de 52 mil m2, de fácil acesso à rodovia, foi escolhido como o melhor ponto. A região escolhida, ainda deserta, era muito diferente do que é hoje.

Inauguração

Um dia antes da inauguração, em 20 de maio de 1976, a polícia prendeu todos os infratores conhecidos que agiam na antiga rodoviária. Vinte cinco pessoas foram detidas.

Na nova rodoviária, quem não estivesse indo viajar ou chegando à cidade, não teria acesso às plataformas de embarque e desembarque. Segundo o arquiteto Fernando Graça, que fez parte da equipe da construção, o procedimento era inédito no Brasil. “A ideia era fazer como em um aeroporto. Só as pessoas que fossem pegar ônibus ou que chegavam podiam entrar. Era tudo isolado”, disse Graça.

No dia da inauguração, a rodoviária ficou lotada de populares e contou também com a presença do governador de Minas Gerais, Aureliano Chaves; do senador Magalhães Pinto; do ministro da Educação, Ney Braga, além de deputados federais e estaduais. “A ideia de colocar o nome de Castelo Branco foi do Renato (de Freitas) porque o presidente tinha criado o ICMS. O imposto, que passou a vir para o município, foi usado no saneamento da cidade, na obra da Sucupira”, disse Oscar Virgílio.

No dia 21 de maio de 1974, o Terminal Rodoviário Presidente Castelo Branco passou a funcionar com 14 guichês, 12 empresas de ônibus, sala de policiamento, lojas e aluguel de carros, um investimento de Cr$ 16,670 milhões (cruzeiros). O primeiro ônibus que estacionou era da empresa São Cristovão. “O motorista era meu xará, Oscar. O Renato ficou bravo (risos), disse que tinha que se chamar Renato”, lembrou Oscar Virgílio.

Acima: a rodoviária nos dias atuais, ainda uma referência no setor

Abaixo: multidão ocupa o prédio na solenidade

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S e ainda estivesse vivo, Geraldo Queiroz teria feito 100 anos no dia 6 de março. Mas, teve vida breve, morreu

aos 42 anos. Neste curto espaço de tempo deixou sua obra eternizada em lugares como o Uberlândia Clube, onde ajudou a fazer o painel de pastilhas, e o Mercado Municipal, com desenhos em baixo relevo. Autodidata, foi dedicado militante da causa comunista.

Queiroz nasceu, em 1916, em uma casa nos arredores da recém-inaugurada praça da República, hoje Tubal Vilela. Seu pai, José Rodrigues Queiroz, de Conceição das Alagoas, foi um dos primeiros a dirigir um

O centenário do muralista de Uberlândia

1916-1958 ARTISTA DA CAPA

Autodidata e criativo, fez murais em edifícios que são marcos da cidade, como o Mercado Municipal Por NÚBIA MOTA

Geraldo Queiroz teve todos seus painéis e murais tombados pelo Patrimônio Público do município

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carro em Uberlândia, quando trabalhava com Ignácio Paes Leme, na construção da via que ligava Uberabinha a Ituiutaba.

Geraldo Queiroz era o mais velho de oito irmãos. Estudou na Escola Bueno Brandão e desde cedo revelou sua vocação. “Sempre foi criativo. Lia muito. Parou de estudar aos 14 anos, não terminou o ensino fundamental, mas escrevia muito bem. Vivia entre intelectuais”, lembrou Vladimir Queiroz, filho mais velho de Geraldo.

Casado com Elisabeth Queiroz, hoje com 89 anos,

além de Vladimir, teve as filhas Vera, Valéria e Tamara. Sustentava a família com uma ajuda de custo do Partido Comunista Brasileiro. Era amigo do professor Nelson Cupertino e do arquiteto João Jorge Coury. Assinava uma coluna sobre arte na revista “Uberlândia Ilustrada” e foi repórter fotográfico do jornal “Voz Operária”, do PCB, durante os cinco anos em que viveu em Belo Horizonte. “Morávamos no Gutierrez, um bairro bom da capital, em uma casa alugada e paga pelo partido. Em 1952 e 1953, o PCB fez congressos

Missa no Arraial

Quando pintou a primeira missa em Uberlândia, que teria acontecido

na frente da igrejinha matriz de Nossa Senhora do Carmo (onde fica hoje a Biblioteca Municipal), Geraldo Queiroz foi procurado pelo amigo Jerônimo Arantes, que levou a ele um preto velho nascido nos primórdios do arraial e que teria participado da cerimônia. Enquanto o homem descrevia a missa, Geraldo pintava de cabeça baixa, os olhos fechados por causa de uma forte dor de cabeça.

Quando o quadro ficou pronto, o preto velho, surpreso, teria dito que a pintura era tão fiel que parecia uma fotografia da missa. Geraldo não aceitou pagamento pelo trabalho.

Hoje, a tela pertence ao arquiteto Paulo Carrara, neto de Jerônimo Arantes.

Geraldo Queiroz: uma de suas raras fotografias

Ao lado: painel com ladrilhos para residência. Acima: primeira missa na cidade

Juscelino Machado Junior, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da UFU foi o responsável pela

iniciativa do tombamento das obras em mosaico do artista Geraldo de Queiroz. Ele é o autor do dossiê de tombamento e membro do

COMPHAC (2013). Possui mestrado sobre a obra do artista. Ainda se dedica ao restauro dessas obras pelas quais tem imenso apreço.

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em nossa casa. Lembro que foram lá Luiz Carlos Prestes e o jornalista Dimas Perim”, disse Vladimir.

A vida da família Queiroz era simples. Nos natais, a mãe, costureira, reformava as roupas das bonecas das filhas e a locomotiva de lata de Vladimir ganhava nova pintura. “Era sofrido, mas feliz, tirando os períodos de prisão do meu pai.” Durante uma dessas temporadas na prisão, a família viveu em uma chácara próxima à penitenciária, para que as crianças aos domingos, do alto de um morro ao lado, vissem o pai ao longe, dentro da cela.

Em 1964, durante o golpe militar, seis anos depois da morte de Geraldo Queiroz, a casa da família, na avenida Getúlio Vargas, em Uberlândia, foi revirada e quebrada. Ao dar a notícia, a revista “O Cruzeiro” informou que “o impossível acontece: as forças de segurança estão atrás de um morto”.

Carreira

Geraldo Queiroz trabalhou em parceria com o arquiteto João Jorge Coury, que projetou obras que influenciaram significativamente a arquitetura de Uberlândia. Entre os trabalhos da dupla está o Mercado Municipal, que tem pinturas em baixo relevo de Geraldo Queiroz, recuperadas por um trabalho de restauração feito em 2008.

Geraldo Queiroz não estudou em escolas de arte,

mas lia livros e revistas sobre o assunto. Além de mosaicista, trabalhou como escultor, muralista e pintor.

Geraldo Queiroz fez outros painéis que ainda podem ser vistos em imóveis na rua Santos Dumont, na avenida João Pinheiro e na rua XV de Novembro. Os trabalhos foram tombados pelo patrimônio público municipal, graças a uma iniciativa de Juscelino Machado Júnior, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Queiroz trabalhou também em Campina Verde e Tupaciguara.

No Arquivo Público Municipal, há um acervo com cerca de 35 trabalhos do artista em papel como desenhos, estudos, pinturas a guache, croquis e um caderno de desenho.

Em 1957, Geraldo Queiroz criou uma escola onde dava aulas de Arte gratuitas para crianças e adolescentes. O local, cedido pelo prefeito Vasconcelos Costa, ficava em cima da antiga Rodoviária, onde hoje é a Biblioteca Municipal.

Geraldo Queiroz morreu, aos 42 anos, em 18 de abril de 1958, no Hospital de Clínicas de São Paulo, vítima de uma doença renal. O corpo foi trazido para Uberlândia no trem da Mogiana e sepultado no Cemitério São Pedro. Em 7 de abril de 1986, foi inaugurada a sala Geraldo Queiroz na Casa da Cultura.

Geraldo trabalha em um de seus murais em baixo relevo

Mural restaurado na área externa do Mercado

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Rolando Rodrigues nasceu em Ipameri (GO) no dia 25 de

outubro de 1941. Aos 10 anos, mudou-se com a família para Uberlândia. Nessa época, os homens da cidade faziam o cabelo de 15 em 15 dias e a barba duas vezes por semana nas barbearias. Os barbeiros mais respeitáveis entre seus pares e na sociedade uberlandense destacavam-se pelas seguintes habilidades: saber amolar e usar uma navalha, realizar a feitura de barbas sem machucar o cliente e cortar “tradicionalmente”o cabelo.

Nesse contexto, os pais de Rolando, Orlando Rodrigues e Antonieta Faria Rodrigues montaram, em frente ao Uberlândia Clube, o primeiro salão de beleza da cidade. Registrado como Reilla, em homenagem à filha do casal que morreu antes da abertura do estabelecimento, foi nele que Rolando aprendeu com os pais as modernas técnicas

para o corte de cabelo. Aos 16 anos, assumiu a condição de principal cabeleireiro do salão. Pouco anos depois, comprou o negócio dos pais e o transferiu para uma das lojas do Uberlândia Clube, um dos pontos mais sofisticados da cidade.

Procurando aperfeiçoar-se profissionalmente,

Rolando fez cursos em Portugal, na Espanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Nesses eventos, conheceu e tornou-se amigo dos principais cabeleireiros brasileiros da época, como Jacques Jeannine e Sylvinho, o “cabeleireiro das estrelas”. Com eles, teve contato com os novos produtos

químicos para cabelo, tais como: tintas, relaxantes e cremes de hidratação. Assim como conheceu as novas tecnologias do setor, como os modernos secadores de cabelo e as sofisticadas máquinas de barbear.

De posse desses conhecimentos, Rolando implantou em seu salão os serviços mais diversificados como permanente, tintura, condicionamento, manicura, tratamento facial e capilar. Reconhecido na cidade, inaugurou em Goiânia e Brasília, filiais do seu salão. Por eles, mais especificamente no de Uberlândia, passaram personalidades locais e nacionais da época, entre elas, Ângela Stecca e Roberto Carlos.

Inquieto social e profissionalmente, participou de concursos de beleza realizados em Uberlândia, Minas Gerais e pelo Brasil. Na cidade que o acolheu, organizou e trabalhou em diversos bailes, em particular nos promovidos pelo Uberlândia Clube.

Com o seu falecimento, ocorrido no dia 15 de junho de 2015, o cotidiano de Uberlândia deixou de ser como Rolando Rodrigues, o eterno Di Rolando, se definia: alegre, feliz e satisfeito!

JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA Doutor em História Social pela PUC/SP. Autor do livro “Ontem ao luar: o cotidiano boêmio da cidade de Uberlândia (MG) nas décadas de 1940 a 1960”, Edufu, 2012.

Pioneiro em belezae estética na cidade

1941-2015 ROLANDO RODRIGUES

Foi o principal cabeleireiro do primeiro salão de beleza de Uberlândia, que funcionava no Uberlândia Clube

Por JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

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A praça da Bicota foi o local escolhido pelo arquiteto Paulo Carrara para a entrevista. Foi ali

que ele nasceu, ao lado da Igreja do Rosário, na casa de seu avô, o lendário educador Jerônimo Arantes, numa chácara que ocupava todo o quarteirão. Foi do avô que Paulo herdou o amor à cidade e o desejo de contribuir para o seu desenvolvimento. Jerônimo Arantes, educador e funcionário público, foi uma figura fundamental para a Uberlândia da primeira metade do século passado. Foi também um dos principais memorialistas e jornalistas no período que remonta aos anos 1920 a 1960.

O primeiro contato de Paulo com a arquitetura, entretanto, aconteceu

O arquiteto como coração nas artes plásticas

ARQUITETURA PAULO CARRARA

Neto de Jerônimo Arantes herdou do avô o desejo de contribuir para o desenvolvimento da cidadePor CARLOS GUIMARÃES COELHO

“Basta uma volta na cidade para constatar que Paulo deixou sua marca em Uberlândia”

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em Belo Horizonte quando cursava o Colégio Universitário da UFMG. A repercussão da construção de Brasília, uma cidade planejada, fez com que ele começasse a se interessar pela arquitetura. Por outro lado, seu pai, proprietário de uma construtora em Uberlândia, queria que Paulo estudasse Engenharia. Ele optou por fazer os dois cursos: conseguiu uma das 200 vagas entre os cerca de 8.000 candidatos ao curso de Engenharia e o quarto lugar na disputa entre os 3.000 candidatos a uma das 50 vagas para o curso de Arquitetura.

Paulo formou-se em 1972, e, trabalhando no escritório de Arlen Simão em Belo Horizonte, soube que Simão, Cora Capparelli e outros articulavam a implantação da Faculdade de Artes em Uberlândia. O avô o estimulou a retornar e Paulo tornou-se professor da nova faculdade entre 1973 e 1979.

Depois de uma especialização na Europa no início da década de 1980, Paulo começou em Uberlândia uma grande carreira. Basta uma volta pela cidade para constatar que, entre edifícios residenciais e comerciais, igrejas, clínicas, bares e restaurantes, ele deixou sua marca na cidade. Algumas de suas obras já não existem mais ou foram descaracterizadas, como as boates do Cajubá e do Uberlândia Clube (Visage, Arpege, Angels), bares como o Public Bar, o DC3 e até espaços culturais como a Escola de Danças Lisette de Freitas.

P ara Paulo Carrara, um momento decisivo para sua aproximação com a arte

foi o contato com a pintora Yara Tupynambá, quando estudante de Arquitetura. Yara deu-lhe uma visão da arte e incentivou-o a aprimorar o desenho.

Após formado, seu primeiro projeto foi a reforma na casa do empresário Carlos Saraiva, um dos mais proeminentes da cidade. A reforma foi seguida pelo projeto da loja de Saraiva, a Stilo, especializada em móveis e decoração, a primeira climatizada e com galeria de arte em Uberlândia. A curadoria era feita pela

marchande Elisabeth Nasser. Para Paulo, esse foi também o início da trajetória profissional voltada para a arte. Tendo como mentores Wesley Duque Lee e Maciel Babinski, Paulo abriu, em Uberlândia, a primeira galeria de arte do Triângulo Mineiro, a Maison Arquitis, posteriormente chamada apenas de Arquitis.

Paulo foi também sócio-fundador de entidades, como o Conselho de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Uberlândia (Conphac), Artes Integradas do Camaru (Aica), Instituto de Artes do Triângulo (IAT) e da sub-sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).

Uma trajetória voltada para a arte

O arquiteto Paulo Carrara, ainda jovem, com o avô Jeronimo Arantes, do qual recebeu o legado de apreço às artes e amor pela cidade

Já professor univesitário, Paulo Carrara, com a aluna Rosalina Vilela, Célia Vilela e a ceramista Mary Di Yorio

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Um dos grandes problemas que marcaram o Brasil no início do século XX foi a febre amarela, que dizimava

a população e submetia navios e cidadãos brasileiros procedentes do Rio de Janeiro à vexatória quarentena nos portos estrangeiros. Os pesquisadores  identificaram como principal hospedeiro e transmissor da febre amarela o mosquito Stegomyia aegypti, que dizem ter chegado por navio a Pernambuco, lá por volta de 1618, espalhando-se por toda parte, acompanhando a concentração populacional.

O Governo do Rio do Janeiro,

seguindo a tradição nacional de sempre buscar apoio técnico estrangeiro para qualquer assunto, mandou emissários à Alemanha, com a missão de  contratar o famoso Doutor Koch para comandar o combate à endemia. O cientista alemão informou aos pasmados brasileiros que o melhor sanitarista para essa missão já estava no Brasil, era o jovem médico doutor Osvaldo Cruz.

Mas a viagem à Europa não foi de todo perdida. Descobriu-se que havia em Portugal uma espécie de ave muito indicada para ajudar na erradicação daquela doença urbana. Pois o dito passarinho, um voraz comedor de insetos de qualquer

A chegada dos casais de pardais

1938 SAÚDE PÚBLICA

Aves foram trazidas de Uberaba por Rodolpho Gomes Corrêa para combater pernilongos e borrachudos

Praça Benedito Valadares, hoje Tubal Vilela: “pardais foram soltos no dia 28 de julho de 1938 às 18 horas...”

Por OSCAR VIRGÍLIO

espécie, tinha o hábito de morar em cidades e poderia suprir a ausência das aves brasileiras, expulsas para as zonas rurais pela urbanização. Com autorização de Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro no ano de 1903, foram importados 200 pardais com as respectivas fêmeas, chamadas de pardocas, todos soltos no Rio sob grande expectativa.

O resto da história é conhecido. Sob a direção enérgica de Osvaldo Cruz, a febre amarela foi erradicada. O passarinho pardal, equiparado a funcionário público da mais exemplar dedicação, foi considerado daí por diante como símbolo e participante do saneamento, eficiente auxiliar de Osvaldo Cruz. 

Muitas cidades seguiram o exemplo carioca de importar  pardais como medida preventiva contra a proliferação de doenças transmitidas por insetos. Aqui em Uberlândia, não havia infestação de febre amarela, mas, todos os dias, a população era atacada por insuportáveis e enormes nuvens de pernilongos. Além destes, proliferavam  os terríveis borrachudos do rio Uberabinha, cuja picada causava inchaços doloridos e febre. O despejo de esgotos nos córregos da cidade, desprovida de saneamento,

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gerava milhões de moscas que frequentavam as casas, especialmente as cozinhas. A mortalidade infantil por doenças assim transmitidas era  muito grande.  

A procura de uma solução interessou o cidadão Rodolpho Gomes Corrêa, que foi servidor público, gerente da fábrica de fósforos de Tubal Vilela da Silva, e empreendedor dos loteamentos Vila Aquino e Vila Ana Angélica. Chefe de numerosa família, ele teve oito filhos. Morreu em 1955 e a cidade deu seu nome à rua onde morou. De suas duas  filhas é viva Terezinha, residente em Campinas (SP). Os seis filhos varões são falecidos. O  último deles foi o benquisto advogado e político Helvécio Gomes Corrêa, meu saudoso amigo e colega do escritório de advocacia, que morreu em Uberlândia há cinco anos.

Homem preocupado com a saúde dos seus e da cidade, Rodolpho Gomes Corrêa resolveu trazer para Uberlândia alguns casais  daqueles pardais tão benéficos, mais motivado ainda após verificar que a cidade de Uberaba já tomara igual iniciativa. Comprou as gaiolas, encomendou as aves a um amigo de lá, arcou com as despesas e com o transporte pela ferrovia Mogyana.

Como de costume, lançou em seu caderno de apontamentos a seguinte memória, da qual mais tarde daria uma cópia ao jornalista Joaquim Rios: “soltos no dia 28 de julho de 1938 às 18 horas: remetidos de Uberaba, pelo sr. Armando Marques, no dia 27 do mesmo mês; vieram três casais, tendo  sucumbido um pardal, logo à chegada” [Coleção do jornal “O Estado de Goyaz”, edição n° 734, de 22 de fevereiro de 1942].

Além de trazer as aves, acompanhou a sua aclimatação na antiga praça Benedito Valadares, hoje praça Tubal Vilela, de onde espalharam descendência pela cidade inteira.

Década de 1930: vista aérea de Uberlândia

Cuidou disto com  enorme dedicação e competência, visto que sempre foi um protetor e criador de passarinhos, costume seguido por seu filho Helvécio durante a vida inteira.

Acontece que, conforme uma outra prática brasileira, a exaltação, depois de algum tempo, deu lugar  à desqualificação. O Passer domesticus passou a ser considerado uma praga urbana, afugentador dos tico-ticos e de outras espécies. Mesmo sem provas, foi até acusado de ser transmissor de doenças.

Muito perseguidos e diante da expansão dos prédios de apartamentos, os pardais sumiram dos centros maiores e se mudaram para as cidades pequenas. Pois, como se sabe, eles são  bichos urbanos, mas  gostam de morar em casas térreas, não em arranha-céus. Procederam, exatamente, como procedem  os investidores humanos que desejam viver em paz. Mais tarde, os donos das cidades acabaram descobrindo que o erradicado mosquito da febre amarela havia sido substituído por uns parentes da espécie chamada Aedes  aegypti, transmissores de dengue, chikungunya e zika. Estes, chegados ao Brasil no início do século XX, já tinham sido combatidos e declarados extintos pela OMS em 1958, mas retornaram por falta de prevenção no fim de década de 1960. Desde então, sem a vigilância do maior predador de insetos, que é o pardal, o mosquito da dengue, unido aos pernilongos, está em toda parte, em todas as cidades, causando danos já muito conhecidos.

Fala-se agora em chamar os pardais de volta às cidades. E até em se construir para eles lugares apropriados nos conjuntos habitacionais, que passarão a ter casas térreas com beirais. Comida farta e moradia em troca de trabalho garantido, sem dias de repouso e sem faltas nos feriados. Dos males o menor! Só é necessário, para esta missão, que alguém tenha a paciência e a dedicação de Rodolpho Gomes Corrêa.

Rodolpho Gomes Corrêa

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A cidade na linha do tempo Do sertão da farinha podre à cidade polo do desenvolvimento do Triângulo

Q uem gosta de histórias, principalmente sobre a terra onde vive ou nasceu, tem agora a oportunidade

de conhecer uma cronologia da cidade de Uberlândia desde os tempos do Anhanguera, apelido de Bartolomeu

Bueno da Silva, que saiu de São Paulo e foi o primeiro a desbravar estas terras em busca de ouro em Goiás. O livro “Uberlândia na linha do tempo”, do historiador e colaborador do “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre” Antônio Pereira, acaba de ser

NOSSA HISTÓRIA

lançado.O livro, dividido em tópicos

ordenados por data, começa em 1682 com o desbravamento do Anhanguera e vem até os tempos atuais, passando por 1853 quando foi estabelecida por uma revolução a divisa entre os

“Uma cronologia da históriade Uberlândia, dos tempos doAnhanguera aos dias de hoje”

Antônio Pereira: 16 livros de contos, biografias e história publicados, é o autor de “Uberlândia na linha do Tempo”

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Distritos de Santa Maria e São Pedro de Uberabinha. Os dados foram coletados das anotações que Antônio Pereira foi fazendo ao longo da vida, de outros livros, do site da Prefeitura e de recortes de jornal. “Há 10 anos anoto no computador todas as informações importantes do Correio de Uberlândia e da Gazeta. Só mesmo o que foi concretizado, o que aconteceu”, disse o escritor.

“Uberlândia na linha do tempo”, segundo Antônio Pereira não é para ser lido como um livro comum, mas para ser usado como fonte de pesquisas. “A pessoa quer saber, por exemplo, quando foi fundada a Sociedade Médica, vai lá e acha.”

Antônio Pereira

Antônio Pereira escreve para jornais locais desde 1961, quando veio de Queluz (SP). Em 1983, foi convidado para contar os 50

anos da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub) e se apaixonou pela história da cidade. Foi contratado por Celso Machado, na época na ABC Propaganda, para escrever um artigo sobre várias famílias italianas que aqui residiam para a revista “Flash”. Logo passou a colaborar com o Correio de Uberlândia onde, desde 1999, é responsável pela coluna “Crônica da Cidade”, publicada aos domingos.

Antônio Pereira publicou 16 livros de contos, biografias e história. Seu próximo projeto, que começou a ser traçado há cerca de cinco anos, é a biografia de Fernando Vilela, pioneiro construtor de estradas que deram grande impulso ao desenvolvimento do município e que interligaram as cidades do Triângulo. Um fato que também pode ser consultado, em síntese, no livro “Uberlândia na linha do tempo”.

F ruto da inovação e pioneirismo que sempre caracterizaram a CTBC (hoje Algar Telecom), o celular pré-pago

surgiu em Uberlândia em 1998. O modelo de negócio, que revolucionou o sistema móvel celular em todo o país e democratizou o acesso às camadas mais populares, exigiu investimentos de US$ 2 milhões. E mais do que isso, muita criatividade, persistência e trabalho.

A iniciativa foi tão ousada que obrigou a Anatel a criar regulamentação para seu uso, pois, até então, ninguém poderia imaginar kits de celular pré-pago à venda em supermercados, loja de eletrodomésticos, etc.

O sucesso foi tão grande que mereceu cobertura em toda mídia, inclusive preciosos minutos no Jornal Nacional.

Nesse caso, cabe bem uma expressão que durante muito tempo foi associada a nossa cidade: “Uberlândia dando exemplos ao Brasil”.

Pré-pago surgiu em Uberlândia

INOVAÇÃO

Lançamento do Pré-pago CTBC Celular (abril), pioneiro no Brasil. A partir de julho daquele mesmo ano, telefones celulares já eram vendidos em supermercados, com o Kit Pré-pago.

Um livro para ser usado como fonte de pesquisas.A cronologia começa em 1682 e chega até os dias de hoje

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Guegué é nossohomenageado

RACHA DOS VELHOS MALANDROS 4

Um marcador implacável quando atuava na defesa e um volante habilidoso no meio campo

A homenagem que o racha dos velhos malandros vem prestando àqueles que tiveram uma trajetória no-

tável no futebol uberlandense a cada ano cresce em prestígio e relevância. A edição número 4, realizada em novembro de 2015 no Cajubá Country Club, foi dedicada a Valdir Camargos, conhecido como Guégué, um dos grandes nomes do futebol local.

Hoje, ele está sumido do meio esportivo local, pouco tem circulado e seu convívio está mais restrito ao uni-

verso familiar. Como a cidade recebe muita gente de fora e não tem hábito de cultuar seus ídolos do passado, a não ser quem compartilhou de sua carreira, pouca gente sabe que ele foi um dos grandes atletas que Uberlân-dia já teve tanto no futebol amador, profissional, quanto no futsal.

Valdir Camargos, apelidado Guégué, começou sua carreira muito cedo e ainda bem jovem fez parte da equipe que conduziu o Uberlândia Esporte Clube pela primeira vez à elite do futebol mineiro em 1963. Versátil

e talentoso era um marcador impla-cável quando atuava na defesa e um volante habilidoso quando jogava no meio campo.

Um dos momentos marcantes de sua carreira aconteceu, em abril de 1961, quando o Botafogo do Rio de Janeiro, que tinha na equipe o genial Garrincha, veio disputar um amistoso aqui no Juca Ribeiro. Guegué era o lateral esquerdo e “parou” o extraor-dinário ponta direita do “Fogão” e da seleção brasileira.

Com o casamento, Guegué teve

Por CELSO MACHADO

Guegué entre os amigos Hamilton "Bananeira" e Celso Machado com o quadro que recebeu

Guegué ao lado de Carlinhos. Dois grandes laterais esquerdos da história do UEC

Homenagear Guegué é reconhecer os valores de um ser humano que sempre soube se conduzir, seja como amigo, atleta, advogado e em sociedade

ALBERTO GOMIDE, jornalista

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É BOM VER O QUE SAIU NO CORREIO.

U B E R L Â N D I A A C O N T E C E A Q U IASSINE IMPRESSO + ONLINE: 34 3218-7666

vizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancafalou que aquelas luzes no ceu ontem

eram coisas de outro mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,

vizinhancafalou que aquelas luzes no ceu ontem

Vaguininho, Didi, Vilfredo, Pascoal, Guegué e Mário – Agachados – Ramiro, Marcinho, Clélio e Chicão Paraguaio

Em pé, Paulo Henrique, Celso, Banga, China, Ogalvaro, Guegué, Moacir, Mário, Viola, Queiroz, Mauro – agachados, Ewerton, Cuanga, Chicão, Estrangão e Hamilton

que abrir mão da carreira profissional, que na época não era devidamente remunerada, mas não abandonou a paixão pelo futebol. Conquistou títulos nos mais diferentes certames que participou seja em futebol de campo ou futsal, desde olimpíadas universitárias, campeonatos regio-nais, internos do Praia, Caça e Pesca, Cajubá, OAB etc.

O craque polivalente do passado formou em Direito e trocou os cam-pos do futebol pelo atuação jurídica

onde também constituiu uma bela carreira como o advogado Valdir Camargos.

Guegué, ao ser homenageado, viveu e reviveu tantas emoções de uma carreira marcada não apenas por inúmeros títulos, como principal-mente por uma trajetória exemplar que lhe rendeu muitas amizades e um respeito enorme em todos os meios que atuou. Mais uma vez, o Racha dos Velhos Malandros homenageia quem foi craque dentro e fora dos gramados.

Guegué: UEC, em 1963, pela 1ª

vez na elite do futebol mineiro

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É BOM VER O QUE SAIU NO CORREIO.

U B E R L Â N D I A A C O N T E C E A Q U IASSINE IMPRESSO + ONLINE: 34 3218-7666

vizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancavizinhancafalou que aquelas luzes no ceu ontem

eram coisas de outro mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,mundo,

vizinhancafalou que aquelas luzes no ceu ontem

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O empresário Luiz Fernando Violatti ganhou um retrato de sua avó Paschoalina Felice. A obra, um desenho do artista uberlandense José Ferreira Neto, é umahomenagem à avó de Violatti, uma enfermeira que comprou o hospital emque trabalhou.

O lançamento da edição número 9 do Almanaque

“Uberlândia de Ontem e Sempre” foi realizado no dia 25 de agosto no Cajubá

Country Clube. Marcada por várias homenagens, foi mais uma dessas noites mágicas, para entrar para a história da nossa cidade.

UMA NOITE COM MUITAS HOMENAGENS

O presidente da Refrigerantes do Triângulo, Luiz Massaro, em comemoração pelos 50 anos da empresa, recebeu das mãos do presidente do grupo Algar, Luiz Alberto Garcia, uma maquete do artista uberabense José Eduardo com a réplica da fachada da fábrica de refrigerantes Mineiro.

O jornalista Mauro Mendonça dos Santos, criador da revista Dystak’s, foi homenageado com um quadro do Neto, marcando os 30 anos ininterruptos da publicação.

Também receberam homenagens o Praia Clube pelos 80 anos e o Hospital Santa Genoveva pelos 40. Na foto: Dr. Luizote de Freitas cumprimentado pelo Dr. Hermilon.

A grande homenageada da noite foi a cantora Nalva Aguiar. Natural de Tupaciguara, começou sua carreira artística em Uberlândia. E daqui se projetou nacionalmente como um dos nomes da jovem guarda e depois da música sertaneja. Emocionada agradeceu o belo desenho de José Ferreira Neto com um lindo e encantador show musical.

Finalmentes...

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g r a n j a m a r i l e u s a . c o m . b r

QUANDO

ALEXANDRINO

GARCIA FINCOU

AS SUAS RAÍZES EM

UBERLÂNDIA, ELE NÃO

ESTAVA CONSTRUINDO

UM GRUPO.

ESTAVA DEIXANDO

UM LEGADO.

Para muitos, família é sangue.

Para Alexandrino Garcia,

sempre foi gente.

Gente de todos os cantos,

que ele manteve junto.

Gente que sonha.

Que realiza. Assim como ele.

Assim como você.

Gente capaz de transformar

uma pequena semente em

árvore com frutos sem fim.

Frutos deixados por

Alexandrino como legado

de vida para Uberlândia.

Vida que acontece na

convivência. No passeio de

fim de tarde. No encontro

entre você, os amigos, os

vizinhos, a família toda.