alimentos funcionais em oncologia

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Alimentos funcionais em oncologia Diversos estudos têm comprovado que existe uma forte associação inversa entre o consumo de frutas e verduras e o risco de diversos tipos de cânceres e outras causas de morbi-mortalidade. Estudos confirmaram que as pessoas que consomem cinco ou mais frutas, legumes e verduras diariamente, comparadas às que consomem duas ou menos, tiveram um decréscimo da ordem de 40% no risco de câncer do pulmão, cólon, estômago, esôfago e cânceres de boca. De uma maneira simplista, podemos dizer que o câncer é um crescimento desordenado, disseminado e invasivo de células anormais. É uma alteração que ocorre no código genético da célula (DNA), tornando-a anômala em sua forma, função e aspectos bioquímicos. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a cada ano, o câncer atinge uma grande parcela da população, matando cerca de 5 milhões de pessoas anualmente. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no ano de 2000, o câncer apresentou-se como a segunda causa de morte no país, ficando atrás somente das doenças cardiovasculares. Vários fatores, comprovadamente contribuem para o aparecimento desta doença. Resumidamente, estes podem ser de natureza ambiental (estilo de vida, consumo de bebidas alcoólicas, fumo, hábitos alimentares, ocupacionais, medicamentos, hábitos sexuais, exposição a radiações), ou de natureza constitucional (moleculares, hereditários e de suscetibilidade genética). O homem, há várias décadas, vem isolando compostos presentes em alimentos de origem vegetal para testá-los como possíveis agentes anticarcinogênicos. Diversos estudos têm comprovado, sem dúvida alguma, que existe uma forte associação inversa entre o consumo de frutas e verduras e o risco de diversos tipos de cânceres e outras causas de morbi-mortalidade. Estudos desenvolvidos no Centers For Disease Control, em Atlanta, Estados Unidos, confirmaram que as pessoas que consomem cinco ou mais frutas, legumes e verduras diariamente, comparadas às que consomem duas ou menos, tiveram um decréscimo da ordem de 40% no risco de câncer do pulmão, cólon, estômago, esôfago e cânceres de boca.

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Page 1: Alimentos funcionais em oncologia

Alimentos funcionais em oncologia Diversos estudos têm comprovado que existe uma forte associação inversa

entre o consumo de frutas e verduras e o risco de diversos tipos de cânceres e outras causas de morbi-mortalidade. Estudos confirmaram que as pessoas que consomem cinco ou mais frutas, legumes e verduras diariamente, comparadas às que consomem duas ou menos, tiveram um

decréscimo da ordem de 40% no risco de câncer do pulmão, cólon, estômago, esôfago e cânceres de boca.

De uma maneira simplista, podemos dizer que o câncer é um crescimento desordenado, disseminado e invasivo de células anormais. É uma alteração que ocorre no código genético da célula (DNA), tornando-a anômala em sua forma, função e aspectos bioquímicos.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a cada ano, o câncer atinge uma grande parcela da população, matando cerca de 5 milhões de pessoas anualmente. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no ano de 2000, o câncer apresentou-se como a segunda causa de morte no país, ficando atrás somente das doenças cardiovasculares.

Vários fatores, comprovadamente contribuem para o aparecimento desta doença. Resumidamente, estes podem ser de natureza ambiental (estilo de vida, consumo de bebidas alcoólicas, fumo, hábitos alimentares, ocupacionais, medicamentos, hábitos sexuais, exposição a radiações), ou de natureza constitucional (moleculares, hereditários e de suscetibilidade genética).

O homem, há várias décadas, vem isolando compostos presentes em alimentos de origem vegetal para testá-los como possíveis agentes anticarcinogênicos. Diversos estudos têm comprovado, sem dúvida alguma, que existe uma forte associação inversa entre o consumo de frutas e verduras e o risco de diversos tipos de cânceres e outras causas de morbi-mortalidade. Estudos desenvolvidos no Centers For Disease Control, em Atlanta, Estados Unidos, confirmaram que as pessoas que consomem cinco ou mais frutas, legumes e verduras diariamente, comparadas às que consomem duas ou menos, tiveram um decréscimo da ordem de 40% no risco de câncer do pulmão, cólon, estômago, esôfago e cânceres de boca.

Os alimentos contendo agentes para quimioprevenção do câncer constituem um dos principais grupos de alimentos com propriedades funcionais, conhecidos também como nutracêuticos ou fármaco-alimentos. Os agentes quimiopreventivos são representados em maior proporção pelos antioxidantes, bloqueadores de radicais livres. Além destes, temos os inibidores da morte celular programada(apoptose), os inibidores das enzimas do citocromo P450 (responsável pelo metabolismo de drogas, cuja ativação leva a formação de radicais livres carcinogênicos), outros inibidores enzimáticos, inibidores da angiogênese (neoformação de vasos sanguíneos, necessária para a disseminação dos tumores através das metástase), antagonistas de fatores de crescimento, hormônios e agentes reparadores de lesões ao DNA.

Na literatura, temos registro de várias substâncias com efeito anticarcinogênico já comprovados. Dentre estes, destacamos os apresentados na tabela a seguir, com seus respectivos mecanismos de ação e fontes alimentares:

Destacamos ainda as proriedades do extrato de abacaxi que contém bromelina, enzima com atividade antineoplásica, e das frutas e vegetais vermelhos ou roxos (uvas,jabuticaba), que contém flavonóides com elevada atividade antioxidante. Também chamamos atenção para o caqui, pois este contém alto teor de polifenólicos que podem diminuir a sobrevivência de células neoplásicas.

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Produtos derivados de tomate (pasta, suco, purê e ketchup) apresentam elevados teores de carotenóides, especialmente o licopeno, que lhes confere o status de potentes alimentos funcionais anticancerígenos, capazes de prevenir o câncer de próstata no homem.

O alho, que também pode apresentar coloração arroxeada, promove diminuição dos níveis biológicos de radicais livres.As crucíferas (repolho, couve de Bruxelas, couve-flör e brócolis) são ricas em isotiocianatos, substâncias reconhecidamente anticancerígenas, tanto pela morte tumoral, quanto pela ativação de enzimas protetoras.

Dietas ricas em ácidos graxos ômega-3 também tem sido investigadas quanto à sua influência no câncer em diversos tecidos. Estudos em mama e cólon têm oferecido algumas evidências na prevenção do câncer. Salmão, fígado de bacalhau, arenque, sardinha, cavala, cação, atum, anchova e linhaça são excelentes fontes deste ácido graxo. Estudos recentes comprovam que a linhaça contém uma combinação de estrógeno com ômega -3, o que diminui o crescimento tumoral em mulheres com câncer de mama.

Como vimos, uma alimentação equilibrada é vital na prevenção e até mesmo para reduzir a evolução do câncer em indivíduos portadores. Porém, é lógico que, dependendo do estágio do tumor, o alimento não vai evitar a morte, mas sim melhorar a sobrevida, principalmente para prevenir e cuidar dos sintomas dos tratamentos (cirurgia, radioterapia, quiomioterapia, etc.)

O processo fisiopatológico da doença associado aos tratamentos anticancerígenos, podem resultar em grave desnutrição energético-protéica (DEP), elevando a morbidade e mortalidade. A anorexia, perda de apetite ou desejo voluntário para alimentar-se, são sintomas comuns nos pacientes oncológicos, associados tanto ao processo natural da doença como também aos efeitos dos tratamentos e aos aspectos psicológicos devido ao diagnóstico. Esta constitui a principal causa de ingestão alimentar deficiente, conduzindo a progressiva inanição e desnutrição do indivíduo.

Os principais fatores associados aos tratamentos (radioterapia e quimioterapia) são os freqüentes episódios de náuseas, vômitos e alteração no paladar. Em conseqüência da radiação e de drogas antineoplásicas, ocorre o desenvolvimento de mucosites, enterocolites e esofagites.

Para melhorar a tolerância alimentar, recomenda-se ingestão de refeições pequenas e freqüentes, com maior fracionamento dos horários, seleção alimentar cuidadosa, evitando-se carnes vermelhas, líquidos pela manhã e alimentos excessivamente gordurosos.

Utilizar ervas estimulantes do apetite como: manjerona, alcaparra, canela e cravo-da-índia. Para diminuir enjôos e vômitos, fazer uso de cristais de gengibre e manjericão. Carnes brancas, frutas, vegetais, alimentos salgados e pouco ácidos são mais facilmente tolerados.

São necessários cuidados adicionais durante o preparo das refeições, para evitar fortes odores, temperatura inadequada e aspecto desagradável dos pratos oferecidos, com o objetivo de favorecer a aceitação dos mesmos.

Para controlar a xerostomia (baixa produção de saliva) recomenda-se suplementação de líquidos (água de coco e sucos que não sejam ácidos) preferencialmente gelados, bem como a utilização de sorvetes e gelo. Cubos de gelo feitos com leite fermentado podem ser utilizados para amenizar tanto a xerostomia como as mucosites e as enterocolites, visto que os lactobacilos acidophylus encontrados nos leites fermentados ou iogurtes ajudam na imunidade pela ação do interferon e normaliza a atividadde enzimática bacteriana fecal.

Apesar de muito estudada, a relação entre câncer e variáveis nutricionais, necessita de maiores esclarecimentos, porque não sabemos ainda quais os nutrientes que de fato atuam como agentes protetores contra a gênese do câncer. No entanto, os benefícios da terapia nutricional adequada nestes pacientes, já estão bem estabelecidos na literatura mundial. Sabe-se que terapia nutricional pode reverter efeitos deletérios do câncer sobre o estado nutricional, favorecer a terapêutica antineoplásica e melhorar a qualidade de vida dos pacientes tratados.

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AGENTESMECANISMOS/ POSSÍVEIS

EFEITOSFONTES

ALIMENTARES

Ácido Fólico Correção de reparos no DNA Brócolis, espinafre, alface

Cálcio Induz a morte celular programada (apoptose); liga-se aos ácidos biliares

Leite e derivados

CatequinasLigados à baixa incidência de câncer gastrointestinal

Chás ( verde e preto )

Carotenóides Antioxidantes que protegem contra o câncer

Salsinha, abóbora, cenoura, batata, inhame, goiaba, folhosos, mamão e caqui, tomate, melancia

LimonemoDiminuição da toxicidade das substâncias mutagênicas

Frutas Cítricas

Isoflavonóides (genesteína e outros)

Antagonistas de estrógenos, inibidores de angiogênese (crescimento de novos vasos sanguíneos que são essenciais para disseminiação de tumores) indutores de morte celular programada de células tumorais prostáticas

Soja e derivados

Resveratrole

Indução da morte de células cancerígenas; inibição da interação de hormônios androgênicos com seus receptores em células de câncer prostático

Casca de uvas, sucos e vinhos tintos

 

10 Dicas nutricionais para prevenção do câncer

 

1. Coma cinco, ou mais, porções de frutas e verduras de diferentes espécies e cores, diariamente, principalmente as cítricas que são ricas em antioxidantes.

2. Use e abuse dos vegetais verdes escuros, alho e cebola, principalmente crus.

3. Utilize soja em sua alimentação diária. Uma dose

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de 35g/dia é uma quantidade bem segura e fácil de ser alcançada.

4. Consuma mais chá verde e preto. Beber 2 horas após as refeições.

5. Coma peixes pelo menos duas vezes por semana.6. Diminua o consumo de carne vermelha,

principalmente as ricas em gorduras e as processadas. Ela está relacionada ao câncer de cólon, mama e próstata.

7. Evite as sobremesas à base de açúcares. Seu alto consumo está relacionado com o aparecimento do câncer de cólon e mama, pelo excesso de produção de insulina.

8. Evite as gorduras saturadas. Não use margarina com consistência dura e óleos vegetais submetidos a altas temperaturas. Eles são fontes de ácidos graxos trans, altamente maléficos a saúde.

9. Use molho de tomate em panquecas, macarrão, carnes, etc. ou coma 04 tomates maduros ou 02 copos de suco de tomate dia.

10. Polvilhe a comida com pó de linhaça (01 colher de sopa ao dia)

 

Receitas Ricas em Alimentos Funcionais

Salada Antioxidante

Ingredientes1/2 xíc. de espinafre picado1/2 xíc. de acelga ou rúcula

1/2 xíc. de tomate cereja ou tomate cortado

1/2 xíc. de cenoura ralada02 colh. sopa de coalhada light 01 colh. chá de gergelim torrado01 colh. chá de azeite de oliva

***

Peixe Licopenado

Ingredientes04 postas de salmão

01 colh. sopa de requeijão ligth

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limão p/ temperar

Molho03 tomates sem pele e sem sementes200 g de iogurte desnatado natural

01 pitada de sal

Tempere o salmão com limão e em uma frigideira antiaderente aqueça o

requeijão e o azeite. Frite as postas por 3 minutos em cada

lado ou até dourarem, reserve. Na mesma frigideira cozinhe os

tomates até se desmancharem e junte o iogurte. Jogue o molho sobre o

salmão e sirva com alegria.

________________Elemárcia Martins da Silva Paixão

Supervisora do Setor de Nutrição e Dietética do Hospital Santa Lúcia

 

Referências Bibliográficas:Strumer, J. S. Comida um santo remédio. Porto Alegre: Vozes, 2003. P. 45 - 56.Santos, J. O. et al. Nutrição e prevenção do câncer. In: Nutrição em oncologia. São Paulo: Lemar, 2003. p. 459 - 471.Kowalski, L. P. et al. Epidemiologia do câncer. In: Nutrição em oncologia. São Paulo: Lemar, 2003. p. 17 - 34.Ferrari, C. K. B. et al. Novos compostos dietéticos com propriedades anticarcinogênicas. Revista Brasileira de Cancerologia, São Paulo, v.48, n.3 p. 375-382, 2002.Waitzberg, D. L. Nutição e Câncer. Nutrição em Pauta, São Paulo, n.56 Santos, L. C. et al. Licopeno e câncer de próstata. Nutrição em Pauta, SP