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ALEITAMENTO MATERNO NO AMBIENTE DE TRABALHO: CONSIDERAÇÕES JURÍDICAS ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS DA

MÃE E DO FILHO RECÉM NASCIDO

Paulo Henrique Miotto Donadeli1.

César Augusto Ribeiro Nunes2.

RESUMO: Esta pesquisa busca desenvolver uma reflexão sobre a eficácia do amparo legal existente no Direito pátrio acerca do aleitamento materno no ambiente de trabalho. O estudo está orientado para uma abordagem relacional do direito com outras matrizes das ciências sociais, pois além de promover uma recuperação dos marcos legais relacionados ao assunto, aborda os conflitos que compreendem os interesses de mães e menores em face do interesse econômico do empregador no normal funcionamento de sua atividade. Por fim, discute se o Estado tem sido capaz de regular essa tensão, principalmente por meio de suas normas e suas políticas públicas. A partir de uma metodologia dogmática, recorre-se a doutrina e a jurisprudência para elucidação do tema nas relações de trabalho, enfocando o direito do trabalho como um direito social fundamental. Palavras-chave: Aleitamento Materno, Direitos do Trabalhador, Políticas Públicas, Direito a Maternidade. ABSTRACT: This research aims to develop a reflection on the effectiveness of existing legal protection in the paternal law about breastfeeding in the workplace. The study is directed to a relational approach right with other matrices of social sciences, as well as promoting the recovery of legal frameworks related to the subject, addresses the conflicts that comprise the interests of mothers and children in the face of the employer's economic interests in the regular operation of its activity. Finally, it discusses the state has been able to regulate this tension, especially through its rules and its public policies. From a dogmatic approach, uses the doctrine and jurisprudence to elucidate the theme in labor relations, focusing on labor law as a fundamental social right. Key words: Breastfeeding, Labor Rights, Public Policy, Law Motherhood. 1 Advogado e Doutor em História pela UNESP Franca. Docente no Curso de Direito do Centro Universitário Estácio UNISEB de Ribeirão Preto. 2 Advogado e Mestre em Relações do Trabalho pela Universidade de Coimbra. Coordenador e Docente no Curso de Direito do Centro Universitário Estácio UNISEB de Ribeirão Preto.

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INTRODUÇAO

A maternidade não é apenas um fato biológico, é uma forma de preservação da espécie

que envolve diversos aspectos sociais e históricos, além de representar a mais intima relação

humana, quem envolve o afeto, o carinho e o amor. A maternidade é objeto de pesquisas e

discussões em diversas áreas das ciências que estudam o homem: a Antropologia, a História, a

Sociologia, a Psicologia e até o Direito. Nenhuma é suficiente por isso mesmo para explicar este

rico e complexo campo de investigação, mas cada uma dela fornece respostas que se completam

(CORREA, 1998, p. 365).

A maternidade é um fenômeno que vai além do ambiente familiar, ela “interfere na base

da sociedade, porque ela implica geração de novos agentes sociais que vão garantir a preservação

do grupo e exigir, para a sua incorporação, rearticulações da organização socioeconômica”

(RODRIGUES, 2008, p. 23). Por isso, o Estado ampara a maternidade por meio de um arcabouço

de leis e através de ações concretas de políticas públicas sociais.

Nos últimos anos, a família sofreu inúmeras e consistentes transformações, tanto em sua

estrutura, quanto nas funções exercidas pelos seus membros, reflexo das mudanças sociais,

culturais e econômicas, que influi no estabelecimento de novos costumes, valores e

comportamentos (JOSÉ FILHO; PORRECA, 2005). Com isso, a mãe, que historicamente

cuidava da casa e dos filhos, adentrou ao mercado de trabalho para ajudar a renda financeira da

família.

A partir do momento que a mulher foi para o mercado de trabalho, a maternidade

implicou direitos trabalhistas que afetam a ordem econômica do empregador, gerando novos

gastos sociais, o que fez com que aumentasse o controle das funções reprodutivas da mulher

(RODRIGUES, 2008, p. 24).

A maternidade envolve a questão do aleitamento materno. O leite materno é fundamental

ao crescimento e desenvolvimento da criança. Segundo estudos científicos o leite materno é ideal

para o crescimento e o fortalecimento da saúde do recém nascido, reduzindo os índices de

mortalidade infantil. A amamentação é um ato de interação entre a mãe e o recém nascido, um

vínculo afetivo, que transcende a questão física e biológica da criança, e se reflete num ato

doação, de amor, de carinho, que fortalece os vínculos, dando a criança o conforto e a

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tranqüilidade que estava acostumado na vida intra-uterina.

Em vista disso, muitos esforços tem sido dirigidos no sentido de incentivar sua prática, obtendo-se graus variados de sucesso. A amamentação é influenciada por condições culturais, sociais, psíquicas e biológicas, o que faz com que se configure como um comportamento humano complexo. A promoção do aleitamento materno é o grau de apoio de que a nutriz dispõe (família, condições de trabalho, berçários, creches, etc.), conforme afirmam: "Manter a prática de amamentação é uma responsabilidade da sociedade” (REZENDE, et. all, 2002, p. 234, 235).

Por isso, a lei garante a mãe e ao filho o direito de amamentar e ser amamentado. O

presente artigo vem inicialmente analisar a legislação em vigor, verificando os direitos

estabelecidos da mãe trabalhadora que esta amamentando seu filho recém nascido. É importante

discutir quais são os principais problemas que a mulher que amamenta encontra quando retorna

ao trabalho fora do lar, que impedem que ela continue a amamentar seu filho. É preciso verificar

quais são as soluções que podem contribuir para que a mulher concilie a sua atividade laboral

com o aleitamento materno, sem que nenhuma possa ser prejudicada. Existem vários estudos e

pesquisas que mostram a alta porcentagem de mulheres que desmamam seus bebês quando

retornam ao trabalho, e um dos “problemas encontrados que afetam a amamentação é a falta de

benefícios dados pelas empresas” (CIACCIA; RAMOS; ISSLER, 2003). Mas, existem outros,

como o cansaço da mulher que trabalha fora do lar e a falta de orientação.

O AMPARAO LEGAL AO ALEITAMENTO MATERNO NO AMBIETNE DE TRABALHO

Considerando que o poder econômico está nas mãos do empregador e que o trabalhador é

a pessoa mais desfavorecida na relação empregatícia, o Estado, por meio do Direito do Trabalho,

busca defender os interesses do trabalhador. E nesse sentido, não poderia deixar de dar uma

atenção especial à mulher trabalhadora, principalmente quando está em estado de gravidez ou em

período de amamentação.

A Constituição Federal de 1988 garante à mãe trabalhadora a licença gestante de 120 dias

consecutivos, podendo se iniciar no primeiro dia do nono mês de gestação, salvo antecipação por

prescrição médica, sem prejuízo da remuneração (artigo 7, inciso XVIII). Para que esse direito

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não fosse burlado ou desobedecido de alguma forma, foi previsto o direito à garantia no emprego

da gestante, por meio da vedação da dispensa arbitrária ou sem justa causa da mulher

trabalhadora durante o período de gestação e lactação, desde a confirmação da gravidez até cinco

meses após o parto, de acordo com o artigo 10, inciso II, b, do ADCT. A Lei 10.421/02 estendeu

esse direito à mãe adotiva. A Lei 11.770/2008, que institui o Programa Empresa Cidadã, previu a

possibilidade de se prorrogar por mais 60 dias a duração da licença maternidade.

A tutela da maternidade, na óptica do direito constitucional, aparece como um direito de

natureza previdenciário e ao mesmo tempo como um direito de natureza assistencial, conforme os

artigos 201, II e 203, I da Constituição Federal. Essa dupla tutela tem fundamento no fato de a

maternidade, ser antes de tudo um direito social, fundamental a preservação da dignidade da

pessoa humana. Os direitos sociais são prestações positivas realizadas pelo estado, que

possibilitam melhores condições de vida as pessoas, visando a igualar as situações sociais

desiguais (SILVA, 2000, p. 289-290).

A rede de tutela da maternidade no Direito do Trabalho se faz em três níveis: da

trabalhadora grávida, em estado de gestação; da trabalhadora parturiente, que tem direito a

licença maternidade; da trabalhadora lactante, que amamenta o filho. Para que a trabalhadora em

qualquer desses estados possa usufruir dos benefícios legais, é preciso que ela informe ao

empregador do seu estado, por escrito, com apresentação de atestado médico.

Não se pode estabelecer um prazo rígido de amamentação, pois embora muitas mães só

amamentem até o terceiro mês, alguns médicos recomendam que a amamentação, quando

possível, até os 8 ou 9 meses de aleitamento materno, tempo este que poderá ser maior ou menor,

de acordo com as circunstâncias de cada caso. Há “recomendações da Organização Mundial de

Saúde acerca do aleitamento materno prosseguir até o sexto mês e ser complementado até os 2

anos de idade" (VENEZIANO; FALEIROS; TREZZA, 2006, p. 624).

O período concedido pela lei de licença gestante é inferior ao período necessário de

amamentação, recomendado pelas organizações de saúde. A mãe retornando ao trabalho

geralmente continua amamentando e por isso precisa de um horário para continuar a oferecer o

leite materno ao seu filho. De acordo com o parágrafo único de artigo 396 da CLT, a mãe

trabalhadora tem o direito de amamentar seu filho, até que ele complete seis meses de idade,

durante a jornada de trabalho, por meio de descansos especiais, de meia hora cada um, podendo o

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período ser estendido a critério da autoridade competente, quando exigir a saúde do filho.

No caso de nascimentos de gêmeos, a dispensa diária é acrescida de mais trinta minutos

por cada filho. Caso a mãe trabalhe em tempo parcial, a dispensa diária para amamentação ou

aleitação é reduzida na proporção do respectivo período normal de trabalho, não podendo ser

inferior a trinta minutos.

A CLT, sob o título "Da proteção à maternidade, esmerando-se na defesa da integridade

orgânica e moral da empregada gestante", estabelece no artigo 389, parágrafos 1º e 2º, o direito à

creche, na qual todo estabelecimento que empregue mais de trinta mulheres com mais de 16 anos

de idade deverá ter local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e

assistência os seus filhos no período de amamentação. Essa exigência poderá ser suprida por

meio de creches distritais mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades

públicas ou privadas como SESI, SESC, LBA, ou de entidades sindicais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069/90, em seu artigo 9, estabelece a

obrigação do poder público, das instituições e aos empregadores de garantir condições adequadas

ao aleitamento materno, como um direito inerente á vida e à saúde. “Suposto que o aleitamento

materno é imprescindível ao pleno desenvolvimento da criança, a norma reforça o elenco de

medidas nesse sentido” (ELIAS, 2010, p. 22).

O ECA adotou a Teoria da Proteção Integral da criança e do adolescente que reconheceu

que todas as crianças e adolescentes, sem exceção e sem distinção ou discriminação de qualquer

natureza, são sujeitos de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais. A finalidade

dessa doutrina é garantir, com absoluta prioridade, o desenvolvimento integral da criança e do

adolescente, criando condições que lhes permitam o exercício pleno da cidadania na fase adulta.

(LIBERATI, 1999, p. 16 -17). Em relação ao Poder Público essas ações implicam uma série de

obrigações, relacionadas à implantação de políticas sociais básicas, de assistência social, de

proteção especial e de garantias.

A Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, de 1989, adotada pelo Brasil em

1990 estabelece que os Estados devem tomar medidas para “assegurar que todos os setores da

sociedade, e em especial os pais e as crianças, conheçam os princípios básicos de saúde e

nutrição das crianças e vantagens da amamentação”.

Não se pode deixar de mencionar que a legislação brasileira, é dentre o cenário mundial,

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uma das mais avançadas em relação ao amparo legal do aleitamento materno. A Constituição

Federal de 1988 garante à mulher que trabalha fora do lar à licença maternidade e o direito à

garantia no emprego à gestante e durante o período de lactação. Em cumprimento às normas

constitucionais e legais de tutela ao aleitamento materno, o Estado, por meio de seus organismos

de saúde, vem estabelecendo portarias e resoluções para regulamentar e aperfeiçoar métodos e

condutas para a implantação de políticas públicas de incentivo ao aleitamento materno.

Várias pesquisas foram realizadas sobre os fatores que podem influenciar na decisão das

mães de amamentar e no tempo de duração da amamentação, como por exemplo: a maternidade

precoce, o baixo nível educacional e socioeconômico maternos, a carência de atenção do

profissional de saúde no período de pré-natal, a necessidade de trabalhar fora do lar e a falta de

condições adequadas no local de trabalho, a falta de apoio familiar, entre outros fatores

contribuem para o desmame precoce. Nesse sentido, temos a afirmação: O aleitamento materno depende de fatores que podem influir positiva ou negativamente no seu sucesso. Entre eles, alguns relacionam-se à mãe, como as características de sua personalidade e sua atitude frente à situação de amamentar, outros referem-se à criança e ao ambiente, como, por exemplo, as suas condições de nascimento e o período pós-parto havendo, também, fatores circunstanciais, como o trabalho materno e as condições habituais de vida (VENEZIANO; FALEIROS; TREZZA, 2006, p. 624).

As pesquisas mostram, ainda, que o sucesso no aleitamento materno se deram entre as

mães que eram "mais velhas, mais instruídas, casadas, com experiência anterior positiva com o

aleitamento e conseqüente motivação maior, com boa orientação pré-natal e apoio de outras

pessoas para o manter, especialmente o do marido." (VENEZIANO; FALEIROS; TREZZA,

2006, p. 624).

Na questão do trabalho materno, independentemente da ocupação da mãe, alguns autores

afirmam que "só não é empecilho se houver condições favoráveis à manutenção do aleitamento,

como, por exemplo, respeito à licença gestante, creche ou condições para o aleitamento no local e

horário do trabalho” (VENEZIANO; FALEIROS; TREZZA, 2006, p. 624). A falta de apoio nas

empresas com ambientes adequados para a amamentação e a falta de berçários, permitindo a

proximidade mãe-criança, foram os principais pontos apresentados pelas mães para não

continuarem a amamentar após a volta ao trabalho. Uma pesquisa realizada em São Paulo com

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76 mães funcionárias de 13 diferentes indústrias, “mostrou que 97% delas iniciaram o

aleitamento materno, mas, apesar de 55% ainda amamentarem após o quarto e quinto mês do

nascimento, quando da sua volta ao trabalho, apenas 12% o faziam exclusivamente.

(VENEZIANO; FALEIROS; TREZZA, 2006, p. 625).

Lembram, ainda, os pesquisadores que a quantidade de horas trabalhadas tem mostrado

como fator de interferência nos índices de desmame, sendo maiores os índices quando a jornada

de trabalho excede a 20 horas semanais, principalmente, quando a mãe tem jornada dupla de

trabalho, fora de casa somada aos afazeres domésticos. (VENEZIANO; FALEIROS; TREZZA,

2006, p. 624).

A falta de conhecimento sobre os direitos trabalhistas por parte das mães também foi um

ponto a ser observado no estudo (VENEZIANO; FALEIROS; TREZZA, 2006, p. 626). Muitas

vezes, as mães que conhecem os direitos acabam aceitando as condições impostas pelo patrão,

por medo de perder o emprego, não reclamando seus direitos.

Cabe ao Estado exercer por meio de seus órgãos competentes uma maior fiscalização dos

ambientes de trabalho, para verificar se as normas trabalhistas são cumpridas adequadamente,

realizando políticas públicas específicas que favoreçam o aleitamento materno no ambiente de

trabalho.

A Lei 13257, de 8 de março de 2016, ao estabelecer os princípios e diretrizes para a

formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância em atenção à

especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no

desenvolvimento do ser humano, em consonância com os princípios e diretrizes do Estatuto da

Criança e do Adolescente, garantiu a necessidade de promover a paternidade e maternidade

responsáveis, mencionando expressamente no art.14, parágrafo 3º, o direito das gestantes e suas

famílias de receber orientação e formação sobre o aleitamento materno e a alimentação

complementar adequada à criança. Percebe-se que cabe ao Estado conscientizar os pais e toda

sociedade da importância do aleitamento materno, por meio de campanhas publicitárias e

educacionais de saúde pública, mostrando os benefícios dessa conduta.

Essa mesma lei acrescentou a CLT o artigo 394-A que estabelece que a “empregada

gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, de quaisquer

atividades, operações ou locais insalubres, devendo exercer suas atividades em local salubre”,

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dando uma maior tutela a mãe em fase de amamentação.

CONCLUSÃO

O Direito tutela o aleitamento materno em razão da importância comprovada pela

medicina sobre a necessidade de se amamentar. O aleitamento materno é um direito bilateral, isto

é, é um direito da mãe trabalhadora de amamentar seus bebês, garantido pelas normas

trabalhistas, e ao mesmo tempo, é um direito da criança recém nascida de ser alimentado

adequadamente, para crescer em condições de saúde, que lhe permitam o desenvolvimento físico

e mental, necessário a sua vida, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Pode-se afirmar que este direito está intimamente ligado à dignidade da mãe e do filho,

enquanto pessoas humanas, que merecem respeito e tratamento especial, por estarem em

condições especiais, cabendo ao Estado o dever de criar uma legislação eficaz e de impor as

instituições e os empregadores o dever de oferecer condições adequadas ao aleitamento materno

para todas as mulheres trabalhadoras, no horário de expediente. Cabe ao Estado responsabilizar

os que forem omissos e não cumprirem suas obrigações legais. Caso a mãe e a criança tenham

seu direito de amamentar e ser amamentado lesionado pelo empregador, pode exigir os seus

direitos perante o Poder Judiciário, para que se efetive mediante medidas judiciais específicas

(ELIAS, 2004, p. 11).

A pergunta que se coloca a refletir é se o período garantido por lei que possibilita o

aleitamento durante os seis primeiros meses de vida do bebê é suficiente ou deveria ser ampliado

para as mães, já que a criança deve ser amamentada por até dois anos de idade. O Estado deveria

rever esta norma, pois é seu dever incentivar a amamentação como forma de tutelar a formação

saudável da criança, evitando gastos futuros com a medicina infantil, considerando que a

amamentação é uma política preventiva de saúde.

REFERÊNCIAS

CIACCIA, Maria Célia Cunha; RAMOS, José Lauro de Araújo; ISSLER, Hugo. Amamentação e trabalho da mulher: como conciliar? Revista Paulista de Pediatria, vol. 21, n. 2, p. 83-88, jun. 2003.

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CORREIA, Maria de Jesus. Sobre a Maternidade. Analise Psicológica. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.oces.mctes.pt> ELIAS, João. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. São Paulo: Saraiva, 2004. JOSÉ FILHO, Mário; PORRECA, Wladimir. Panorama histórico das transformações da dinâmica familiar na sociedade brasileira. Serviço social & realidade, Franca - SP, v. 14, n. n.1, p. 247-263, 2005. LIBERATI, Donizeti. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 1990. REZENDE, Magda Andrade; SIGAUD, CecÌlia Helena de Siqueira; VERÌSSIMO, Maria De La Ramallo; CHIESA, Anna Maria; BERTOLOZZI, Maria Rita. O processo de comunicação na promoção do aleitamento materno. Revista Latino-americana de Enfermagem, vol. 10, n. 2, p. 234-238, mar. abr. 2002. RODRIGUES, Gilda de Castro. O dilema da maternidade. São Paulo: Annablume, 2008. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. VENEZIANO, Francisca Teresa; FALEIROS, Ercília Maria Carone; TREZZA, Luana CARANDINA. Aleitamento materno: fatores de influência na sua decisão e duração. Revista Nutrição, Campinas, vol. 19, n. 5, p. 623-630, set. out., 2006.