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A Campos Escritórios Associados atua na Advocacia Empresarial, através de sociedades distintas e autônomas nas áreas cível, trabalhista, penal, tributária, societária, imobiliária, desportiva, ambiental, e de comércio exterior, sucessão familiar, energia, petróleo e gás.

Este livro traz textos de alguns de seus membros enfocando temas do Direito de grande interesse e atualidade.

Dois textos muito especiais integram a publicação: Prescrição e decadência, de João Armando Bezerra Campos, desembargador aposentado, advogadoe fundador da Campos Escritórios Associados, e Liberdade de expressão, de Fernando Ernesto Corrêa.

Direito no plural é um livro jurídico porque contém muitos ensinamentos e textos legais. Mas, como nosso trabalho no dia a dia, esperamos que ele mostre que a vida é muito mais sobre valores e pessoas.

No Direito, como na vida, devem prevalecer os valores e as pessoas. Sempre. Felizmente.

Marco Antonio Bezerra Campos

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Aspectos jurídicos da sucessão empresarial com a morte do sócio da sociedade limitadaRoberta Borsatto

Joana Gallego Ziero

Sumário: Introdução. 1. A Transmissão Causa Mortis da Participação Societária do Sócio na Sociedade Limitada com Previsão no Contrato Social. 1.1 O Contrato Social 1.2 As Quotas: Participação Societária e Aspecto Patrimo-nial. 1.3 Previsão de Inclusão dos Herdeiros do Quadro So-cietário. 1.4 Previsão de Dissolução Parcial da Sociedade e Liquidação das Quotas. 1.5 Previsão de Dissolução Total da Sociedade. 2. A Transmissão Causa Mortis da Participa-ção Societária do Sócio na Sociedade Limitada em Caso de Omissão do Contrato Social. 2.1 Quem São os Herdeiros Necessários Estipulados por Lei. 2.2 Acordo dos Herdeiros e ou Legatários com os Sócios. 2.2.1 Demais Sócios Auto-rizam a Entrada dos Herdeiros no Quadro Social da Socie-dade. 2.2.2 Demais Sócios Optam por Dissolver a Socieda-de. 2.3 Estipulações Testamentárias. Considerações Finais. Referências Bibliográficas.

ReSumoEste artigo tem por objetivo analisar os aspectos inerentes à transferência das quotas dos sócios de sociedades limitadas aos seus herdeiros legítimos e testa-mentários, utilizando como principal critério desta sistematização a existência ou não de previsão no contrato social do destino destas quotas em caso de mor-te de um de seus sócios.

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AbStraCtThis article aims to systematize the transfer of partners shares, in limited compa-nies, to their legitimate and testamentary heirs, using as a main basis for this sys-tematization the existence, or absence, of prevision in the social contract, about the destination of the shares in the event of partner’s decease.

Introdução

Assim como um ser vivo, uma empresa possui de forma bem definida todas as suas etapas: ela nasce, cresce e morre. Abordar e discutir esse ciclo de vida de uma organização não pode ser encarado como uma tarefa fácil.

Nesta empreitada, não podemos esquecer que muitas são as variáveis que vão determinar o sucesso de uma empresa, bem como muitos são os fatores com os quais ela se relaciona: ambiente externo no qual ela se insere, ambiente interno que envolve diversos fatores, dentre eles cultura, formas de organização e liderança.

Entendemos que o principal fator para a garantia do sucesso empresarial é o próprio empreendedor que, de acordo com a sua conduta, com os seus valores e com a sua visão de futuro acaba por dar vida ao empreendimento.

Na ausência deste líder, como é feita a sucessão aos seus herdeiros? Os her-deiros serão inseridos na sociedade de forma que esta não sofra reflexos decor-rentes do falecimento do sócio?

Muitos são os questionamentos e poucos são aqueles que se preparam para o momento do ingresso destes novos perfis junto à sociedade.

Este artigo busca esclarecer alguns dos principais aspectos jurídicos decor-rentes da morte de um dos gestores e a entrada de seus herdeiros, visando mini-mizar os efeitos negativos desta transmissão, realizando um confronto dos temas debatidos no Direito de Sucessões e no Direito Comercial.

1. A transmissão causa mortis da participação societária do sócio na sociedade limitada com previsão no contrato social

1.1 O contrato social

Contrato Social é o instrumento de constituição da sociedade limitada e a fon-te de regramento da atividade. Contém as normas atinentes à sociedade, sejam

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estas cogentes (legalmente obrigatórias)1, sejam aquelas de interesses dos sócios. As regras decorrentes de previsão legal são requisitos de validade do negócio

jurídico instrumentalizado no contrato social, dentre as quais se insere a plu-ralidade de sócios para constituição e subsistência da sociedade limitada. E é desta regra que decorre o assunto tratado neste artigo, diante da necessidade de sucessão para sobrevivência da sociedade, na hipótese de falecimento do sócio.

As demais regras são chamadas de cláusulas incidentais, as quais podem tra-zer quaisquer estipulações desde que respeitados os requisitos de validade do negócio jurídico. Dentre as cláusulas incidentais, se inserem aquelas relativas às circunstâncias do falecimento dos sócios e suas implicações.

Isso porque o contrato social poderá prever o destino das quotas, sob duas perspectivas: quanto ao status de sócio que estas conferem e quanto ao seu as-pecto patrimonial, para fins de apuração de valor e forma de sua liquidação, hi-póteses tratadas neste artigo.

1.2 As quotas: participação societária e aspecto patrimonial

Para melhor compreensão do tema tratado, importa fixar, de início, que as quotas (representação da parcela de participação dos sócios na sociedade limita-da) compreendem duas modalidades distintas de direitos: à participação social e ao valor patrimonial correspondente. A primeira se refere à qualidade de ad-ministrador da empresa que o sócio detém, ao passo que a segunda se refere ao aspecto patrimonial da participação societária.

É importante fixar esta distinção na medida em que a sucessão se dará de modo distinto em relação a estes dois aspectos. O contrato social poderá regular estas cir-cunstâncias, trazendo disposições acerca da aquisição ou não, pelos herdeiros, da posição de sócios, no tocante ao seu ingresso na sociedade como administradores. Regulará, ainda, a questão atinente ao direito dos herdeiros ao recebimento do va-lor patrimonial das quotas, caso estes não ingressem do quadro societário.

O contrato social poderá prever as hipóteses de destino da empresa na oca-sião do falecimento de um dos sócios, como o ingresso de todos ou de alguns herdeiros no quadro societário, ou mesmo a dissolução da sociedade caso não haja interesse em dar continuidade no negócio. É possível ainda, através de acor-do entre sócios e herdeiros, estipular que a sucessão empresarial ocorra de modo diverso, com a substituição do sócio falecido.

Diante desta realidade, é relevante que o contrato social traga previsão acerca

1 Constantes no artigo 977 da Lei 10.406/2002 (Código Civil), dentre as quais estão: qualificação dos sócios, dos administradores, denominação da sociedade e capital social, modo de divisão das quotas, participação nos lucros e a extensão da responsabilidade dos sócios.

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do destino das quotas com o falecimento de um dos sócios, para fins de resguar-do do direito dos herdeiros e também da preservação da própria empresa. Caso o contrato silencie, aplica-se a regra geral contida no Código Civil, que determi-na a liquidação das quotas2, ou seja, a dissolução parcial da sociedade.

1.3 Previsão de inclusão dos herdeiros do quadro societário

O ingresso dos herdeiros na sociedade pressupõe seu envolvimento nos negó-cios da empresa, já que a posição de sócio lhes outorga o direito de participar das decisões administrativas e na condução do negócio. Para que tal circunstância se concretize e seja bem-sucedida, é imprescindível que haja affectio societatis3 entre os sócios remanescentes e os herdeiros que venham a ingressar da empresa.

Portanto, há de se ter muito cuidado ao estipular as regras de condução da socie-dade no contrato social, pois é imprescindível que as partes envolvidas possuam obje-tivos convergentes em relação ao negócio, de modo que o teor constante no contrato social seja reflexo da vontade de todos sócios e também de seus herdeiros.

Nesse sentido, destaca-se que a previsão testamentária relativa ao latente di-reito do herdeiro de obter status de sócio tem seu alcance mitigado diante do contrato social. Significa dizer que o constante no contrato social prevalece ao testamento, de modo que não basta a vontade do falecido para que o herdeiro ingresse na sociedade. Caso o contrato social não permita, isso não será possível.

O contrato social é lei entre os sócios na medida em que traduz o affectio societatis, fundamental para garantir o sucesso do negócio; contudo, o primeiro não prevalece sobre o segundo. Note-se que os sócios são obrigados a respeitar o contrato, permitindo o ingresso do herdeiro no quadro societário caso assim seja previsto. Esta premissa, contudo, não se aplica ao herdeiro, que tem um di-reito garantido, mas não o dever de exercê-lo, de modo que, não obstante a pre-visão no contrato, este pode optar por não ingressar na sociedade.

1.4 Previsão de dissolução parcial da sociedade e liquidação das quotas

Seja por opção de herdeiro, seja pela previsão contratual, caso estes não in-gressem na sociedade, terão o direito ao recebimento do valor monetário das respectivas quotas do sócio falecido. Frisa-se, contudo, que o valor patrimonial

2 O Código Civil, em seu artigo 1.028, dispõe: “No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: I- se o contrato dispuser diferentemente; II- se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; III- se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.”3 Affectio Societatis é a convergência de vontades para constituir e manter uma sociedade. Sem ela, a sociedades de pessoas não podem subsistir.

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das quotas societárias é transmitido aos herdeiros, não em razão da previsão no contrato social, mas sim por se tratar de direito constitucionalmente garantido, à propriedade e à herança4.

Neste passo, o que o contrato regula não é o direito do herdeiro ao recebi-mento do valor patrimonial das quotas em si, pois este é constitucionalmente garantido e, portanto, inafastável. O que o contrato social poderá regular é de que modo se dará a distribuição das quotas quando um dos sócios vir a falecer e as consequências dessa circunstância do âmbito da sociedade, como a apuração de haveres e a redução do capital social.

No que tange à liquidação das quotas sociais, tendo em vista que estas inte-gram a herança do sócio falecido, o contrato social deverá atentar para as regras de sucessão legítima impostas pelo Código Civil, tratadas na segunda parte deste artigo. Contudo, desde que respeitado o direito dos herdeiros necessários ao re-cebimento da legítima (parte indisponível da herança), é possível que o contrato social traga previsão acerca do destino de parte das quotas (correspondente à par-te disponível da herança) não em favor dos herdeiros, mas da própria sociedade.

1.5 Previsão de dissolução total da sociedade

Há, por fim, a hipótese de dissolução da sociedade, que ocorre quando existe prévio acordo dos sócios neste sentido ou posteriormente, na circunstância do fale-cimento de um dos sócios e não havendo interesse dos sócios remanescentes e her-deiros em dar continuidade ao negócio. Nesse último caso, o Código Civil estipula um quórum para aprovação da dissolução societária, de três quartos do capital social.5 Com a dissolução, rompe-se o vínculo contratual e procede-se à apuração de haveres, devendo ser respeitado o procedimento legal de extinção da sociedade.

As regras sucessórias, portanto, não só podem como devem ser estipuladas no contrato social (dentro dos limites legalmente permitidos), de modo a garan-tir que sejam preservados, de um lado, os direitos dos herdeiros e, de outro, dos sócios remanescentes. Assim, possibilita-se que seja resguardado o bom rela-cionamento entre as pessoas envolvidas e, via de consequência, mas não menos importante, o princípio da preservação da empresa para que esta cumpra sua finalidade social.

4 A Constituição Federal em seu artigo 5º, incisos XXII e XXX, dispõe: “XXII- é garantido o direi-to de propriedade; (...) XXX- é garantido o direito de herança.”5 Regra do artigo 1.071, inciso VI, em conjunto com o artigo 1.076, inciso I, ambos do Código Civil (Lei 10.406/2002)

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2. A transmissão causa mortis da participação societáriado sócio na sociedade limitada em caso de omissão docontrato social

As normas de direito sucessório aplicam-se integralmente na transmissão das quotas sociais do sócio falecido, caso o contrato social omita o regramento da sucessão e não haja deliberação entre os herdeiros e os demais sócios.

Aplica-se ao caso, irrestritamente, o Princípio da Saisine6, conforme dispõe o arti-go 17847 do Código Civil Brasileiro. Sendo assim, as quotas sociais do de cujus, como bens integrantes da herança que são, transmitem-se de imediato aos herdeiros.

O que acaba por gerar contradição é exatamente a forma como estas quotas são transmitidas, o que tratamos no primeiro ponto deste artigo. Diferentemente do que pensa a maioria dos herdeiros, o que acaba sendo transmitido é tão so-mente o valor econômico das quotas, e não a posição de sócio até então exercida pelo de cujus. Na prática, tal impedimento acaba por gerar uma frustração nos her-deiros, principalmente por nutrirem a expectativa de administração da sociedade.

Para que o herdeiro exerça a condição de sócio, é indispensável que tal acerto tenha sido objeto de discussão no contrato social.

Visando amenizar os conflitos, verificamos que, na maioria dos casos, quan-do o contrato social silencia, os demais sócios acabam por acordar com os her-deiros, sendo para autorizar a entrada destes no quadro social da empresa, seja para dissolver a sociedade.

2.1 Quem são os herdeiros necessários estipulados por lei

A capacidade para suceder será sempre regulada pela lei em vigor à época da morte, conforme dispõe o artigo 1.7878 do Código Civil Brasileiro.

A nova legislação civil brasileira, em seu artigo 1.8459, elevou o cônjuge ou companheiro à condição de herdeiro necessário, tanto em concorrência com os descendentes como com as ascendentes, quando o regime pactuado for da co-munhão parcial de bens.

6 É a forma como se dá a transferência dos bens do de cujus aos herdeiros. O Princípio da Saisine é o responsável por transmitir a posse e a propriedade de todos os bens do de cujus no segundo posterior à sua morte, mesmo que os herdeiros, sejam eles legítimos ou testamentários, ignorem o ocorrido (óbito).7 Artigo 1.784 do CCB: Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legí-timos e testamentários.8 Artigo 1.787 do CCB: Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.9 Artigo 1.845 do CCB: São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

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Desta forma, atualmente a ordem hereditária da sucessão legítima segue a seguinte classificação:

• Descendentes em concorrência com o cônjuge sobrevivente;• Ascendentes em concorrência com o cônjuge;• Cônjuge sobrevivente;• Colaterais.

Ressalta-se que o cônjuge, quando concorrendo com os descendentes, herda quando o regime pactuado na união for o da comunhão parcial de bens e sempre que houver bens particulares deixados pelo de cujus. A legislação prevê ainda que o cônjuge concorrerá com igual quinhão com os descendentes, e deverá re-ceber no mínimo a quarta parte caso também seja ascendente dos herdeiros.

Quando em concorrência com os ascendentes, herda por cabeça, sem qual-quer tipo de restrição quanto ao regime de bens.

Para uma melhor análise das particularidades dos regimes de bens e das concorrências da sucessão hereditária, apresentamos o quadro comparativo abaixo10:

Direito à Meação

Cônjuge (Casamento) Companheira (união estável)

Direito à Meação Existe no regime da comu-nhão parcial, relativo aos bens adquiridos na constân-cia do casamento.Existe no regime da comu-nhão universal.Inexiste no regime de separação obrigatória (legal), salvo dos bens adquiridos na constância do casamento (Súmula 377/STF).

Sempre existente, por-quanto adotado o regime de comunhão parcial, em relação aos bens, salvo pacto (CC/1.715).

10 SILVEIRA, Marco Antonio Karam. A sucessão causa mortis na sociedade limitada. Editora: Li-vraria do Advogado. Porto Alegre, 2009. pág. 111.

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Direito Sucessório

Cônjuge (Casamento) Companheira (União Estável)

Concorrência com descen-dentes comuns

Só herda no regime da separação convencional e da comunhão parcial, existindo bens particulares. Herda quota igual à dos filhos, mas tem sempre assegurada a quarta parte da herança caso os descendentes sejam comuns.Não herda no regime da comunhão universal, separa-ção obrigatória e comunhão parcial sem existência de bens particulares.

Quota equivalente à do filho, quanto aos bens adquiridos onerosamente durante a união.

Concorrência com descen-dentes somente do sócio morto (exclusivos)

Idem, à exceção de que não tem assegurada a quarta parte da herança.

Metade da quota que couber a cada um dos filhos do morto.

Concorrência com des-cendentes do sócio morto (exclusivo) e destes com a sobrevivente (comuns)

Não há previsão. Idem, mas também não assegurada a reserva da quarta parte da herança.

Não há previsão. As possibili-dades são interpretativas.

Concorrência com os ascen-dentes

Tem direito a um terço da herança, concorrendo com ambos ascendentes em 1º grau, ou metade da herança, haven-do apenas um ascendente.

Tem direito a um terço da herança.

Concorrência com outros parentes sucessíveis

Não concorre com outros parentes. Não havendo des-cendentes ou ascendentes, o cônjuge herda sozinho, seja qual for o regime de bens.

Tem direito a um terço da herança. Somente herda a totalidade da herança se não existirem parentes suces-síveis.

Superada a questão, cabe lembrar que, omisso dispositivo próprio no contra-to social, o direito do cônjuge ou companheiro fica restrito ao valor das quotas sociais, devendo sempre estar vinculado à apuração dos haveres.

Quanto à sucessão dos filhos, vale sempre ressaltar que a Constituição Fede-ral de 1988, em seu artigo 227, §6º11, trouxe ao nosso ordenamento a igualdade

11 Artigo 227, § 6º da CFB: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adoles-cente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, a profissio-nalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opres-são. (...)§ 6º. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos

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absoluta entre os filhos, vedando qualquer tipo de diferenciação entre os conce-bidos na vigência de casamento, união estável ou concebidos fora destas.

2.2 Acordo dos herdeiros e ou legatários com os sócios

Na prática, visando minimizar os efeitos negativos da sucessão causa mortis, os demais sócios acabam por acordarem com os herdeiros, sendo para autorizar a entrada destes no quadro social da empresa, seja para mantê-los como sócios sem poder de gestão, ou para dissolver parcialmente a sociedade.

A melhor forma de redigir um acordo que atenda as exigências de ambos os polos é, sem dúvida, quando se opta pela mediação.

Colocando-se de lado os interesses e as vaidades, busca-se o meio termo, o bem comum entre os herdeiros e os sócios remanescentes, sempre visando à proteção do patrimônio empresarial. A mediação visa anular o efeito prejudicial do litígio, que muitas vezes tende a enfraquecer não só a imagem da empresa frente aos clientes, mas principalmente o poder de gerência e os recursos finan-ceiros da sociedade.

2.2.1 Demais sócios autorizam a entrada dos herdeiros no quadro social da sociedade

Optando pela primeira modalidade, os sócios remanescentes podem sim im-por condições para o ingresso do herdeiro no quadro administrativo da sociedade.

Na maioria dos casos, a exigência de curso superior ou técnico para o exercí-cio da função é indispensável para um bom gerenciamento.

Devemos atentar à seguinte diferenciação: herdeiro é apenas um determina-do membro da família; sucessor é um herdeiro que se prepara corretamente para assumir uma determinada posição dentro da sociedade.

A construção desta personalidade sucessora é muito comum quando lida-mos com empresas familiares, visto que estas utilizam os Acordos Familiares e os Acordos de Sócios para delimitar a caminhada deste aspirante a sucessor dentro da sociedade.

Existe ainda a possibilidade deste herdeiro continuar vinculado à socieda-de, sem poderes de gestão, apenas recebendo os haveres da empresa, como um sócio minoritário. Tais disposições devem ser tratadas mediante acordo com os demais quotistas.

e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

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2.2.2 Demais sócios optam por dissolver parcialmente a sociedade

Optando em dissolver parcialmente a sociedade, as quotas integrantes do patrimônio herdado deverão ser liquidadas, com o consequente pagamento de haveres aos herdeiros. Cria-se na prática uma relação jurídica obrigacional, onde de um lado atuam como credores os herdeiros do sócio falecido, e, do outro lado, como devedores, a própria sociedade.

Finalizada a liquidação das quotas, estas podem ser adquiridas por um ou mais de um dos sócios remanescentes, pela própria sociedade ou, em último caso, com a redução do capital social.

Frisa-se que, na maioria das vezes que a empresa opta pela liquidação de suas quotas, o desgaste é imensurável.

Em muitos casos, os litígios perduram por anos, visto que o valor patrimo-nial das quotas é o maior motivo de conflito entre os sócios e credores. Confor-me já informamos no capítulo anterior, tal apuração de haveres extingue com a sociedade.

2.3 Estipulações testamentárias

Cumpre lembrar ainda que, omissa as estipulações no contrato social, fica o sócio livre para estipular o destino de suas quotas sociais mediante a elaboração de um testamento.

Da mesma forma, todas as disposições que tratarem de atos póstumos, informa-das no contrato social da empresa, servirá para o testamento. Aqui entendemos que o testamento é o complemento do que já fora definido e pactuado no contrato social.

Existindo omissão, fica o testador livre para dispor de todas as questões pa-trimoniais de suas quotas sociais, impossibilitando os demais sócios de impug-nar tais disposições. Tais limites de estipulação serão definidos pela própria lei sucessória (meação, parte disponível do patrimônio e herdeiros necessários).

Outrossim, quando a vontade do testador versar sobre o aspecto pessoal de suas quotas – status socci –, indicando, por exemplo, um substituto no seu cargo de gestão, suas disposições obrigatoriamente estarão condicionadas ao aceite dos demais sócios. Esse aceite está intimamente vinculado ao affectio societatis.

Tal disposição se faz necessária visto que o testamento é mera manifestação de vontade do sócio-testador, diferentemente do que ocorre no contrato social, que exige a deliberalidade de todos os sócios.

Nesse sentido, merece destaque a posição de Marco Antonio Karam Silveira12:

12 SILVEIRA, Marco Antonio Karam. A sucessão causa mortis na sociedade limitada. Editora: Li-vraria do Advogado. Porto Alegre, 2009. p. 120.

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“No contrato social, a formação da vontade é desencadeada pelo conjunto dos sócios, que acabam clamando, no documento de re-gência societária, a vontade da própria sociedade. Os sócios ade-rem, em pacto conjunto, à estipulação dos efeitos da morte de um deles, o que redunda na observância obrigatória do pactuado.”

Optando os demais sócios pela não aplicação das regras testamentárias dis-postas pelo sócio falecido, poderão utilizar a tutela inibitória, visando a que os sucessores não ingressem no quadro social da sociedade.

Nesta peça versará um pedido mandamental para que os sucessores sejam impedidos de participar do quadro social, sob pena de fixação de astreintes, em razão da ilicitude desta disposição testamentária, nos termos do artigo 46113 do Código de Processo Civil.

Considerações finais

O processo sucessório, seja no âmbito empresarial ou familiar, é algo com-plexo e, muitas vezes, tenso e desgastante. Quando estas realidades se encon-tram, há margem para os mais diversos tipos de conflitos. E isso ocorre com muita frequência, tendo em vista que o perfil das empresas no Brasil é predomi-nantemente familiar.

Desta realidade decorre a relevância de se realizar um planejamento sucessó-rio familiar e empresarial, que tem o condão de abreviar ou até mesmo dirimir estes conflitos, na medida em que auxilia na sua solução e garante segurança jurídica a todos os envolvidos neste processo.

A fim de viabilizar um planejamento sucessório, é possível a utilização de diversos remédios jurídicos, como a realização de acordos de sócios ou mesmo entre os membros da família, constituição de holdings, previsões testamentárias e outras inúmeras possibilidades.

A utilização destes meios permite que todos os envolvidos na sucessão este-jam preparados, cientes e conscientes do papel que desempenham e deverão vir a desempenhar. Garante-se, assim, a convergência de objetivos e a reunião de esforços para atingi-los, de modo que sejam asseguradas tanto a preservação da empresa como a harmonia familiar.

13 Artigo 461 do CPC: Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determina-rá providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

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Referências bibliográficas

LÔBO, Paulo. Direito Civil. Famílias. 2ª Edição. Editora: Saraiva. São Paulo, 2009.MACEDO, José Ferreira de. Sucessão na Empresa Familiar. Editora: Nobel. São Paulo, 2009.SILVEIRA, Marco Antonio Karam. A sucessão causa mortis na sociedade limita-da. Editora: Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2009.

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Joana GalleGo ZieroAdvogada da holding Campos Advocacia, pós-graduada em Direito Empresarial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas.

roberta borsattoAdvogada de família e sucessões, pós-graduada em Direito de Família pela PUC/RS.