agroindústria de beneficiamento de frutas: exemplo de luta, desafio e superação

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Agroindústria de beneficiamento de frutas: exemplo de luta, desafio e superação Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1924 Julho/2014 Brumado A diversidade nativa, associada à necessidade de gerar trabalho e renda nas comunidades tem levado famílias do Semiárido brasileiro a agregarem valores à produção local. Em algumas comunidades, agricultores e agricultoras já têm a prática de fazer subprodutos, como doces, compotas, geleias, dentre outros, tanto para o consumo da própria família, quanto para serem comercializadas. Na comunidade Campo Seco, localizada a 13 km da sede do município de Brumado, no sertão da Bahia, residem cerca de 147 famílias. A ideia da agroindústria surgiu quando o governo estadual estava a procura de um lugar para instalar a fábrica. Então, o pai de dona Claudice Pinheiro, seu Melquíades José de Souza, morador da comunidade, fez a doação do terreno. Em 2010 foi inaugurada a unidade de beneficiamento de frutas, , construída pelo governo do estado, através da Superintendência Industrial e Comercial (SUDIC), visando trabalhar com o processamento de frutas nativas da nossa região. As famílias foram capacitadas pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), para incentivar o aproveitamento do potencial produtivo da região, além de garantir a geração de renda e , consequentemente, a qualidade de vida e a permanência das famílias em suas comunidades. Na agroindústria de beneficiamento de frutas em Campo Seco, trabalha seu Judicael Pinheiro, conhecido como seu Caé, presidente da Associação de Moradores, sua esposa Claudice Pinheiro, conhecida como dona Dice, Terezinha Maria, Custódia Francisca, Helenice Silva e Rivaldo Gomes. O trabalho é grande. Buscar a lenha, cortá-la e esquentar a caldeira. Isso é missão de seu Judicael e seu Rivaldo, que dedicam várias horas por dia na execução dessas atividades. “Tarefa bem difícil”, ressalta seu Judicael. Já a parte de seleção, higienização e transformação das frutas em produtos, como doces, geleias e compotas, bem como, pesar, embalar e rotular são feitas pelas mulheres. Seleção e higienização das frutas Seu Caé e dona Dice colhendo umbu

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A sistematização foi feita em uma agroindústria de beneficiamento de frutas nativas da nossa região, na comunidade de Campo Seco em Brumado, dando ênfase ao umbu, devido a sua alta produtividade e o sabor de seus derivados. A equipe que trabalha na fábrica são pessoas da própria comunidade e está ligada a associação de moradores de Campo Seco.

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Page 1: Agroindústria de beneficiamento de frutas: exemplo de luta, desafio e superação

Agroindústria de beneficiamento de frutas:

exemplo de luta, desafio e superação

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1924

Julho/2014

Brumado

A diversidade nativa, associada à necessidade de gerar trabalho e renda nas comunidades tem levado famílias do Semiárido brasileiro a agregarem valores à produção local. Em algumas comunidades, agricultores e agricultoras já têm a prática de fazer subprodutos, como doces, compotas, geleias, dentre outros, tanto para o consumo da própria família, quanto para serem comercializadas.Na comunidade Campo Seco, localizada a 13 km da sede do município de Brumado, no sertão da Bahia, residem cerca de 147 famílias. A ideia da agroindústria surgiu quando o governo estadual estava a procura de um lugar para instalar a fábrica. Então, o pai de dona Claudice Pinheiro, seu Melquíades José de Souza, morador da comunidade, fez a doação do terreno. Em 2010 foi inaugurada a unidade de beneficiamento de frutas, ,

construída pelo governo do estado, através da Superintendência Industrial e Comercial (SUDIC), visando trabalhar com o processamento de frutas nativas da nossa região. As famílias foram capacitadas pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), para incentivar o aproveitamento do potencial produtivo da região, além de garantir a geração de renda e , consequentemente, a qualidade de vida e a permanência das famílias em suas comunidades.

Na agroindústria de beneficiamento de frutas em Campo Seco, trabalha seu Judicael Pinheiro, conhecido como seu Caé, presidente da Associação de Moradores, sua esposa Claudice Pinheiro, conhecida como dona Dice, Terezinha Maria, Custódia Francisca, Helenice Silva e Rivaldo Gomes.O trabalho é grande. Buscar a lenha, cortá-la e esquentar a caldeira. Isso é missão de seu Judicael e seu Rivaldo, que dedicam várias horas por dia na execução dessas atividades. “Tarefa bem difícil”, ressalta seu Judicael. Já a parte de seleção, higienização e transformação das frutas em produtos, como doces, geleias e compotas, bem como, pesar, embalar e rotular são feitas pelas mulheres.

Seleção e higienização das frutas

Seu Caé e dona Dice colhendo umbu

Page 2: Agroindústria de beneficiamento de frutas: exemplo de luta, desafio e superação

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Realização

As frutas utilizadas no beneficiamento são: umbu, acerola, maracujá nativo, banana, goiaba e manga. Dentre as frutas, o umbu se destaca devido a sua alta produtividade na região de Brumado, além do sabor que contribui para a qualidade dos derivados produzidos. Dona Dice conta que a colheita do umbu acontece de outubro a fevereiro e deve ter alguns cuidados para que a próxima safra seja de produtividade. “A colheita do umbu não pode ser feita de qualquer jeito, tem que subir na árvore com uma capanga e catá-los, um a um, ou seja, o umbuzeiro não pode ser sacudido, senão, a nova folhagem, as flores e os umbus, ainda pequenos, são derrubados. Isso afeta a nova safra, perdendo seu poder e qualidade de produção”, afirma.Os produtos são comercializados na própria comunidade, entre amigos e alguns em feiras livres. Recentemente, seu Caé assinou o contrato com a Secretaria de Educação do município de Brumado, para fornecer seus produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Para isso, precisa melhorar o estado físico da fábrica.

Outra grande dificuldade enfrentada é conseguir o código de barra. Segundo dona Dice, o investimento é alto e a venda dos seus produtos ainda não é suficiente para consegui-lo. A fábrica conta com o apoio do Centro de Economia Solidária (CESOL) e do Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), que estão ajudando na legalização. Com essa parceria, ela acredita que em breve irá consegui o código de barra, podendo assim, comercializar nos supermercados da cidade de Brumado.A expectativa da equipe é expandir e beneficiar muitas famílias da comunidade, ou seja, trazer mais pessoas para trabalhar na fábrica, além de incentivar os agricultores e agricultoras a cultivarem plantas frutíferas em suas propriedades. “Se tudo

der certo, ao invés de chegar cansada do mato e ainda fabricar os produtos, passaremos a comprar direto dos agricultores da região. Isso facilitará nossa vida”, destaca dona Dice.O beneficiamento das frutas vem confirmar a viabilidade da Convivência com o Semiárido, permitindo o desenvolvimento local, a partir da agregação de valor à produção, além de contribuir com a diminuição das perdas em épocas de safras.

Processo de despolpar o umbu

Cozimento do umbu para a transformação em polpas

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