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BENIFICIAMENTO DE GRÃOS CAPÍTULO 13 Viçosa MG

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O beneficiamento é uma das últimas etapas do programa de produção de grãos. É na unidade de beneficiamento que o produto adquire, após a retirada de contaminantes (sementes ou grãos imaturos, rachados ou partidos, sementes de ervas daninhas, material inerte, pedaços de plantas etc.), as qualidades físicas, fisiológicas e sanitárias que possibilitam sua boa classificação em padrões comerciais. Equipamentos, sistema de transporte e unidades de beneficiamento são detalhadas neste capítulo.

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BENIFICIAMENTO DE GRÃOS CAPÍTULO 13 

 Viçosa ‐ MG

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Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

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Capítulo

13

BENEFICIAMENTO DE GRÃOS

Juarez de Sousa e Silva Fátima Chieppe Parizzi

Roberta Martins Nogueira José Cardoso Sobrinho

1. INTRODUÇÃO

O beneficiamento é uma das últimas etapas do programa de produção de grãos.

É na unidade de beneficiamento que o produto adquire, após a retirada de contaminantes (sementes ou grãos imaturos, rachados ou partidos, sementes de ervas daninhas, material inerte, pedaços de plantas etc.), as qualidades físicas, fisiológicas e sanitárias que possibilitam sua boa classificação em padrões comerciais.

Qualquer projeto agrícola que se queira iniciar deve ser baseado na escolha correta das tecnologias. Portanto, após usar técnicas adequadas de preparo e fertilização do solo e as boas práticas pós-plantio, nada sairá bem se o uso de sementes ou mudas de alta qualidade não foi aplicado.

Numa unidade moderna, o beneficiamento é realizado por máquinas projetadas com base em uma ou mais diferenças nas características físicas do produto e dos contaminantes a serem retirados, ou seja, os grãos e as sementes devem passar pelas etapas de pré-limpeza, secagem, limpeza e classificação e embalagem. No caso do café, outras operações devem ser realizadas antes do beneficiamento, propriamente dito, como separação. É sugerido ao leitor fazer uma passagem pelo Capítulo 2 (Estrutura e propriedades físicas dos produtos agrícolas) 2. BASES PARA SEPARAÇÃO A retirada das impurezas de um lote de grãos é feita com base na utilização das diferenças físicas dos materiais que compõem o lote original (grãos perfeitos, impurezas ou materiais estranhos e outros). O método mais primitivo de beneficiamento utilizado foi o abano, que se baseia na diferença de densidade entre o produto perfeito e as impurezas. No caso do café, as folhas são levadas pelo vento e o produto menor que o

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café passa pelo crivo da peneira (Figura 1) Entretanto, a densidade não é a única característica física dos grãos; outras

diferenças, como tamanho (comprimento, largura e espessura), forma, cor, condutividade elétrica, textura do tegumento e afinidade com líquidos, são reconhecidas e constituem, hoje, as bases para projetos de máquinas modernas para separação dos diferentes produtos agrícolas. Sugere-se ao leitor uma revisão detalhada do capítulo 2 (Estrutura, Composição e Propriedades dos Grãos).

2.1. Tamanho

Quanto ao tamanho, os grãos podem ser diferenciados por suas dimensões (largura, espessura e comprimento), que podem ser mais bem caracterizadas segundo a espécie em questão. Os grãos, que diferem em uma ou mais dimensões, podem ser separados por:

a) Largura: de modo geral, quando é a única dimensão variável, isto é, quando o comprimento e a espessura são iguais, podem ser separados nas peneiras de crivos circulares ou de malhas quadradas (Figura 2A), que podem ser planas, como nas máquinas de ventilador e peneiras, ou cilíndricas alveoladas, como as usadas no classificador por largura.

b) Espessura: quando a espessura é a com maior variabilidade, isto é, com mesmo comprimento e mesma largura, podem ser separados com peneiras de crivos oblongos ou retangulares (Figura 2B). A largura do furo deve estar relacionada com a espessura do grão ou semente. Para uma separação efetiva, pode-se usar peneiras planas, ou separador cilíndrico, como no caso anterior.

c) Comprimento: grãos que possuem a mesma largura e espessura, mas que diferem em comprimento, podem ser separados pela máquina de discos ou pelo separador cilíndrico alveolado (Figuras 3A e B). O separador cilíndrico é o mais usado ultimamente.

No passado Ainda no presente Figura 1 – Abano manual com peneira para separação do café no campo Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2

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(A) peneira de crivo circular (B) peneira de crivo retangular Figura 2 – Tipos mais comuns de peneiras para separação.

Figura 3A – Máquina separadora de disco e detalhe da separação por comprimento.

Figura 3B – Corte transversal e detalhes de funcionamento do separador

cilíndrico. 2.2. Peso

Os grãos que apresentam diferenças de peso ou de densidade entre si ou entre os materiais estranhos podem ser separados com máquinas em que o material impuro passa por uma corrente de ar. Nessa passagem, o componente de baixa densidade será carreado pelo fluxo de ar, e os grãos pesados passam por um sistema contendo uma

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mesa densimétrica (Figura 4) ou, ainda, por um sistema em leito fluidizado. Antes de passar pela mesa densimétrica, o material deve passar primeiramente por um separador do tipo ar e peneira (Figura 5).

2.3. Forma

Os grãos esféricos podem ser separados dos materiais de formato irregular ou de outros grãos que tenham a forma achatada, usando-se um separador espiral. Este equipamento não possui partes móveis, mas permite que sementes esféricas rolem com mais facilidade sobre um plano inclinado em forma de aspiral (Figura 6). Com maior velocidade de descida, as sementes esféricas, com maior força centrífuga, são descarregadas para uma espiral inferior, onde são separadas.

Figura 4 – Mesa densimétrica ou de gravidade.

Figura 5 – Separadora com ar e peneira

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Figura 6 – Separador centrífugo ou espiral. 2.4. Cor

Os separadores por cor (seletron) tornam possível a separação de sementes que não podem ser separadas por nenhum dos métodos citados. Como exemplo, pode-se citar o caso de grãos de café, que apresentam homogeneidade quanto a tamanho, forma e densidade, mas têm colorações diferenciadas. O separador por cor (Figura 6) consiste de um sistema de células fotoelétricas, que mudam sua características elétricas de acordo com a intensidade luminosa emitida pelos grãos.

Figura 6 – Esquema básico da separação por cor “fotoelétrico”. 2.5. Condutividade Elétrica

Apesar de pouco utilizados, os separadores eletrostáticos separam as sementes, geralmente de pequenos tamanhos, por diferenças entre suas propriedades elétricas, induzidas ou ao natural. Um dos sistemas típicos consiste em uma correia transportadora carregada eletrostaticamente. O material carregado com carga negativa fica aderido à correia e é retirado na parte inferior da máquina por um conjunto de escovas ou por um processo de eliminação gradual da carga elétrica (Figura 7).

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Figura 7 – Esquema básico de um separador eletrostático. 2.6. Textura do Tegumento

Uma máquina muito utilizada no beneficiamento separa as sementes pelas características externas do tegumento. Um modelo especial consiste basicamente de dois cilindros inclinados, recobertos por um tecido aveludado ou uma flanela. Os cilindros giram em sentidos contrários e sob determinada velocidade angular para cada tipo de sementes, que, para serem separadas, são colocadas entre os cilindros na parte mais alta da inclinação. O material com superfície áspera ou rugosa é carreado pelo veludo ou pela flanela para fora das laterais da máquina e o material com superfície lisa deslizará entre os cilindros, e, pela ação da gravidade, é descarregadas na parte inferior dos cilindros (Figura 8). Como em outras máquinas de separação, é necessário que o material passe antes por máquina de ventilador e peneira.

Figura 8 – Esquema básico de um separador por tipo de tegumento.

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3.1. Recepção Dependendo das condições em que chegam à unidade de beneficiamento (em

sacos ou a granel), os grãos podem ser colocados nos depósitos ou silos para produtos a granel (armazenagem provisória para produtos úmidos ou para produtos secos). Podem também ser transportados diretamente para a linha de beneficiamento, iniciando-se, primeiramente, pela operação de pré-limpeza para o café, veja. 3.2. Pré-Limpeza

Grãos colhidos com máquinas ou trilhadoras mecânicas apresentam grande quantidade de impurezas, como pedaços de ramos, folhas, palhas, torrões, poeira etc. Com o objetivo de facilitar e melhorar a eficiência dos sistemas de secagem, o transporte e as demais operações de beneficiamento deve-se eliminar total ou parcialmente as impurezas. Para realizar esta operação, utilizam-se máquinas denominadas peneirões ou abanadoras. Estas máquinas são constituídas de uma ou mais peneiras, cilíndricas ou planas vibratórias, geralmente acompanhadas de um sistema de ventilação, para eliminação de poeira e materiais leves. Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2 3.3. Secagem

Quando os grãos ou sementes chegam à unidade de beneficiamento com umidade inadequada para o processamento ou para armazenamento por tempo mais prolongado, o produto deve ser encaminhado o mais rapidamente possível para a operação de secagem, depois de passar pela máquina de pré-limpeza. Quanto aos sistemas de secagem a ser utilizados, sugere-se leitura detalhada do capítulo 5 – Secagem e Secadores e do capítulo 17 – Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas. 3.4. Limpeza

A operação de limpeza visa essencialmente separar impurezas remanescentes da pré-limpeza e as produzidas pelo sistema de secagem. Esta operação consta de uma separação rigorosa de todos os materiais indesejáveis, como sementes ou grãos de outras espécies (cultivadas ou silvestres), sementes defeituosas e imaturas, sementes ou grãos quebrados etc.

Na operação de limpeza, usa-se, normalmente, a máquina de ventilador e peneira, que, dependendo do rigor de separação, pode possuir várias peneiras e mais de um ventilador. Estas máquinas são consideradas primordiais em toda Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS). Clique para ver: vídeo 1 3.5. Separação e Classificação

A separação auxilia e complementa o processo de limpeza. Nos casos em que as máquinas de ventilador e peneiras não conseguem realizar plenamente as operações de limpeza e separação, deve-se utilizar outras máquinas que realizem essas operações,

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com base em outras características físicas. No caso específico de sementes, algumas operações, como o tratamento químico

e o plantio, exigem uniformidade em forma e tamanho, para maior eficiência. Para isso, é necessário que se faça uma rigorosa operação de classificação quanto às características desejadas da semente. A operação de classificação é feita por máquinas separadoras, como as de peneiras, de cilindro, de disco e outras, descritas anteriormente.

3.6. Tratamento

Essas operações consistem na aplicação de produtos químicos em formas líquida, suspensão ou pó, visando proteger as sementes contra o ataque de fungos e insetos. No caso em que o uso de um equipamento comercial não seja viável, pode-se utilizar um tratador simples, que pode ser feito na própria fazenda (Figura 10). Esses equipamentos produzem resultados aceitáveis, porém não permitem controle ideal da dosagem e, se não forem operados com cuidado, podem provocar danos às sementes. Usando tanto o tratador caseiro como o comercial, deve-se cuidar para que a aplicação do produto seja o mais uniforme possível. Além disso, nunca se deve deixar que as sementes tratadas fiquem sem identificação, a qual é feita pela aplicação de um corante, para diferenciar das sementes não-tratadas. Uma identificação indicando que o produto é prejudicial à saúde deve ser bem posicionada na embalagem.

Figura 10 – Tratador simples para sementes. 3.7. Transportadores e Acessórios

Durante todas as etapas do beneficiamento, grãos e sementes são movimentados através de muitos componentes da UBS. Como as sementes não podem sofrer qualquer tipo de danos mecânicos, cuidado especial deve ser dado à escolha, ao manejo e à limpeza dos transportadores. Dentre os tipos de transportadores, já estudados no capítulo 12 – Manuseio de Grãos, deve-se evitar o uso das roscas-sem-fim e dos transportadores pneumáticos no transporte de sementes.

Além das máquinas de benefício e dos transportadores, que devem ser bem selecionados e operados, a unidade deve ser provida de moegas, balanças, depósitos,

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ensacadeiras, embaladoras, aspiradores de pó, carregadeiras e um laboratório para análise de sementes. 4. PLANEJAMENTO DE UMA UBS Vários são os aspectos a serem considerados no planejamento de uma Unidade de Beneficiamento de Sementes. O esquema básico de uma unidade deve ser cuidadosamente estudado, a fim de assegurar que todos os pontos essenciais vistos no tópico 3 (Etapas do beneficiamento) sejam plenamente atendidos. O projeto deve, também, ser eficiente do ponto de vista econômico, ou seja, a operação do beneficiamento não deve ser um componente que onere em demasia o custo final do produto.

Muitas UBSs, além de não possuírem um quadro de pessoal com treinamento adequado, são construídas sem planejamento, resultando em ineficiência de operação. Portanto, é primordial providenciar que as cabeças dos elevadores fiquem bem cobertas; que os poços de elevadores sejam amplos, para facilitar a manutenção e limpeza; que as máquinas não sejam alimentadas diretamente pelo elevador; e que haja distribuição adequada de máquinas no piso. Finalmente, deve-se planejar, para uma boa flexibilidade de operações e para facilidade de limpeza e inspeção dos equipamentos.

Na seleção e aquisição dos componentes, deve-se dar preferência a marcas de reconhecida qualidade, que possam prestar eficiente assistência técnica e treinamento adequado ao corpo de operadores.

5. CONTROLE DE QUALIDADE E CLASSIFICAÇÃO

Os grãos e as sementes devem ser acondicionados e armazenados em condições

que mantenham sua qualidade para a comercialização e o plantio da lavoura subseqüente. A manutenção da boa qualidade dos produtos primários refletirá em maior rendimento para o agricultor e menor preço ao consumidor.

Mesmo sob as melhores condições de armazenamento, a qualidade dos produtos agrícolas, exceto para o caso das sementes, que podem ser selecionadas e separadas de maneira econômica, não pode ser melhorada, mas apenas mantida. A velocidade das transformações degenerativas depende das condições sob as quais o produto foi submetido no campo, antes e durante a colheita, na secagem e no beneficiamento. 6. QUALIDADE DOS PRODUTOS

As qualidades físico-fisiológicas caracterizam-se pela possibilidade de

manutenção das propriedades físico-químicas e pela capacidade das sementes de desempenhar funções vitais, como manter elevado poder germinativo, vigor e longevidade para a comercialização. Os grãos e sementes atingem a máxima qualidade e o máximo conteúdo de matéria seca (ponto de maturidade fisiológica) quando ainda estão retidos na planta. Normalmente, a avaliação da qualidade de grãos ou sementes é realizada por meio do teste-padrão de germinação, por testes de vigor, como o do envelhecimento precoce, por teste de viabilidade por sais de tetrazólio e por meio de

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características como: umidade, tamanho, cor, forma e quaisquer outras características externas. Os grãos, por sua vez, são comercializados com base em padrões nacionais e internacionais de classificação. Para que se possa melhor entender os aspectos de qualidade dos produtos agrícolas, é necessário, primeiramente, reconhecer alguns pontos básicos, como:

a) Maturidade fisiológica: o ponto de maturidade fisiológica é considerado o período em que a semente apresenta a máxima qualidade. Em termos fisiológicos, de modo geral, corresponde ao acúmulo máximo de matéria-seca, máximo de germinação e máximo de vigor. Contudo, neste período, a colheita e a trilha mecânica são inviabilizadas, devido ao fato de o grão ou semente apresentarem alto teor de umidade. Assim, é necessário retardar a colheita, deixando o produto sujeito, em alguns casos, a condições climáticas adversas, que facilita o ataque de microrganismo, dando início ao processo deterioração.

b) Deterioração: inclui toda e qualquer transformação degenerativa irreversível do produto, depois de atingido o nível de qualidade máxima. Apesar de se poder retardá-la, a deterioração é um processo inevitável e irreversível, que é mínimo no período de maturação, mas que evolui com o tempo e as condições de armazenagem. A taxa de deterioração pode ser controlada, até certo ponto, pelo emprego de técnicas adequadas de produção, colheita, secagem, beneficiamento, embalagem, armazenamento e manuseio.

c) Longevidade: é o período de tempo em que a semente permanece viável isto é, capaz de germinar e produzir nova planta. As espécies cultivadas apresentam variação natural quanto à longevidade das sementes. Assim, sementes mais longevas podem manter, por mais tempo, tanto o poder germinativo quanto um vigor aceitável. Dessa forma, sementes ou grãos de espécies resistentes e que não sofreram nenhum tipo de danos irão conservar a qualidade por um longo período de armazenamento. Também, lotes de sementes com melhor qualidade inicial terão melhores condições de armazenagem e maior resistência ao processo de deterioração.

A porcentagem de germinação, apesar de não estar listada nos padrões para a

classificação de grãos para a indústria, é um ótimo indicador de qualidade. Grãos que sofreram secagem inadequada dificilmente manterão alta porcentagem de germinação, pois esse fator é o primeiro a sofrer com qualquer operação pós-colheita inadequada. Detalhes sobre fatores que favorecem a deterioração de grãos e sementes podem ser vistos nos capítulos 4, 5 e 14. 6.1. Teste de Envelhecimento Precoce

A premissa básica do teste de envelhecimento precoce é de que o processo de deterioração nas condições do teste é similar àquele que ocorre em condições normais de armazenamento, porém com velocidade de deterioração muito aumentada. O teste consiste basicamente em submeter pequenas amostras dos lotes de sementes, a serem comparados, às condições adversas de temperaturas e umidades relativas elevadas, por

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um período de tempo determinado, e, a seguir, submetê-las a teste comum de germinação. As temperaturas, as umidades relativas e o tempo de exposição a essas condições são variáveis e dependem das espécies que estão sendo avaliadas. 6.2. Fatores que Afetam a Qualidade

Desde a maturação das sementes, ocorrida no campo, os processos de deterioração tornam-se ativos e inicia-se a perda de qualidade. O armazenamento visa preservar essa qualidade para a posterior comercialização. Entre os fatores que afetam a qualidade dos produtos armazenados encontram-se: longevidade, qualidade inicial, teor de umidade, suscetibilidade a danos mecânicos, danos térmicos, condições de armazenamento, ataque de fungos, insetos e roedores. Dentre estes fatores, merecem atenção os danos mecânicos sofridos pelos produtos agrícolas durante seu processamento e armazenamento.

Pelo fato de a colheita manual em grande escala não ser viável nem prática nem economicamente, todas as fases a partir da produção até o armazenamento são mecanizadas, o que possibilita a ocorrência de danos mecânicos ao produto. Os equipamentos, mesmo quando perfeitamente regulados, provocam danos durante a operação de colheita, debulha e beneficiamento. Se forem colhidos muito secos, podem sofrer quebras, e, se muito úmidos, estão sujeitos aos danos por esmagamento. Toda vez que passar por elevadores, por transportadores e por máquinas de beneficiamento, o produto sofrerá quedas, impactos e abrasões, que causam lesões externas e internas, altamente prejudiciais às sementes.

Outro fator importante refere-se à danificação térmica sofrida pelos produtos na secagem. Como já mostrado anteriormente, temperaturas elevadas causam, dentre outros danos, redução na germinação e no vigor. Trincamentos internos são freqüentes, devido a choques térmicos (resfriamento rápido).

Temperaturas elevadas durante a secagem podem induzir transformações bioquímicas, como oxidação de lipídeos e desnaturação de proteínas. 7. PADRONIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Considerada um importante serviço auxiliar à comercialização de produtos

agrícolas, a classificação de grãos é uma prática obrigatória em todos os segmentos do mercado interno.

Entende-se por classificação o ato de determinar a qualidade de um produto, mediante análises específicas e por comparação entre a amostra analisada e os padrões oficiais. Nesse contexto, a qualidade deve ser entendida como o atendimento das necessidades ou aspirações do usuário, seja ele uma pessoa física ou uma empresa.

A padronização e a classificação dos produtos vegetais são imprescindíveis à comercialização e apresentam as seguintes vantagens:

a) Possibilitam a seleção de produtos para diferentes usos, em função da qualidade, e com conseqüente diferenciação de preços, aumentando a eficiência no seu manuseio, nas diversas etapas da comercialização.

b) Facilitam a fixação de preços nas operações de financiamento. c) Facilitam a rápida comparação de preços dos produtos em diferentes

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mercados. d) Possibilitam a comercialização sem o exame prévio do produto. e) Facilitam a realização de negócios nas bolsas para entregas imediatas ou

futuras. f) Evitam a comercialização de produtos inadequados ao consumo.

A competência para normatizar, coordenar e fiscalizar a atividade de

classificação e padronização em todos os seus níveis cabe ao Ministério da Agricultura, que poderá celebrar convênios com os estados, os territórios, o Distrito Federal e com outras entidades públicas ou privadas, para a execução dos serviços de classificação.

As normas legais pertinentes à classificação devem ser cumpridas por todas as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que por conta própria ou como intermediárias participem em qualquer uma ou mais etapas da cadeia “produção-distribuição” de produtos naturais ou industrializados.

Dessa forma, são considerados usuários ou clientes do Sistema de Classificação: cooperativas, agroindústrias, cerealistas, empacotadores, beneficiadores, armazenadores, supermercados e empresas públicas e as companhias estatais de armazéns gerais. 7.1. Elaboração dos Padrões

Para que a classificação seja possível, faz-se necessária a elaboração prévia do padrão físico e descritivo de cada produto.

Sob o ponto de vista das atividades inerentes à classificação vegetal, e quando examinado sob o ângulo da comercialização, o termo padrão deverá ser entendido como o modelo oficial representativo das características de um produto, que servirá de base para a sua classificação comercial.

Nas normas de padronização de cada produto constam os parâmetros qualitativos, representados pelos defeitos, e os quantitativos, representados pelos níveis de tolerância desses defeitos e que são expressos em valores percentuais.

Os padrões dos diversos produtos são previamente determinados, mas não são definitivos. Mediante portarias específicas do Ministério da Agricultura, os padrões poderão sofrer alterações e revisões, de forma a adequá-los às evoluções tecnológicas do setor agrícola, ou mesmo às preferências do consumidor, aos hábitos culturais e aos processos de utilização nas diferentes regiões do País.

As normas de padronização são válidas e devem ser adotadas em todo o território nacional, independentemente do local onde o produto seja classificado, e a competência para instituir e aprovar as normas e os padrões de comercialização de produtos vegetais destinados ao comércio interno é exclusiva do Ministério da Agricultura. Já para os produtos destinados à exportação, compete à Secretaria de Comércio Exterior a responsabilidade de elaborar tais padrões.

Nas normas de padronização e classificação de cada produto constam desde o procedimento a ser adotado na amostragem até as especificações que irão permitir a caracterização e tipificação do produto.

A elaboração dessas normas requer algumas condições básicas, de forma a conferir à padronização o máximo de racionalidade e facilidade de compreensão das

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especificações. As condições para a elaboração de tais normas incluem: a) Os padrões devem abranger a maior parte das safras, evitando grandes faixas

desclassificadas, ou outras classificadas injustamente. b) A maior porcentagem das safras deverá recair no tipo médio da série de

padrões. c) Os padrões devem ser fixados com características que o consumidor

considere importante. d) As diferenças entre os tipos, na série de padrões, devem ser perceptíveis ao

usuário. e) Os fatores que determinam os tipos devem ser interpretáveis e passíveis de

medição precisa. f) A terminologia usada deve ser, tanto quanto possível, exata e compreensível

pelos produtores e consumidores.

Dessa forma, os termos e critérios técnicos empregados nas especificações dos padrões dos diversos produtos podem ser assim definidos:

a) Grupo: refere-se à forma de apresentação para produtos como o amendoim e o arroz, que podem ser enquadrados como "em casca" ou "beneficiado". Para o milho, o grupo significa a consistência do grão, cujos grupos são "duro", "semiduro" e "mole"; e, para o feijão, determina-se o grupo de acordo com a espécie botânica, sendo o produto da espécie Phaseolus vulgaris L. enquadrado no grupo "anão" e o da espécie Vigna unguiculata (L) Walp no grupo "de corda".

b) Subgrupo: especificação prevista para poucos produtos, podendo significar a forma de preparo, quando se tratar de arroz, cujos subgrupos são: natural, parboilizado, integral e polido; ou indicar o método utilizado para determinação do comprimento de fibra, quando se tratar de algodão, que prevê os subgrupos comerciais e extensão.

c) Classe: identifica o produto de acordo com os seguintes aspectos: - cor: refere-se geralmente à coloração da película para produtos como

milho, sorgo e feijão. Na classificação de algumas frutas, a cor pode referir-se à casca, no caso do abacate, ou à polpa, no caso do abacaxi.

- tamanho, forma ou peso: estes fatores podem ser considerados separadamente ou agrupados, dependendo do produto analisado. Para o amendoim consideram-se o tamanho e o peso. Para o arroz, a forma (largura e espessura) e o tamanho dos grãos irão definir se o produto é do tipo longo fino, longo, médio ou curto. O algodão, em pluma ou em caroço, será enquadrado em classes de acordo com o comprimento da fibra.

d) Umidade: é o percentual de água encontrado na amostra em seu estado original. É determinada em estufa à temperatura de cem a cento e dez graus centígrados até peso constante, ou em aparelhos que dêem resultado similar.

e) Tipo: refere-se à qualidade do produto, podendo ser representado por números ou letras. Na tipificação final do produto classificado, poderão ser encontrados, ainda, os seguintes termos:

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- abaixo do padrão: refere-se ao produto que, pelas suas características, não se enquadra nas tolerâncias mínimas estabelecidas pelas normas de padronização; e

- desclassificado: refere-se ao produto que, devido a condições inadequadas de transporte, armazenagem ou manuseio, se apresentar com características atípicas quanto ao aspecto físico-químico, sendo proibida a sua comercialização para consumo humano e animal.

f) Defeitos: são consideradas defeitos quaisquer alterações de coloração, peso ou forma do grão, que resultem ou não em processos bioquímicos de fácil disseminação na massa do produto e que, de alguma forma, comprometam a sua conservação. Os principais tipos de defeitos descritos nas normas de padronização estão relacionados a seguir:

- grãos ardidos: são grãos ou pedaços de grãos que se apresentarem com coloração escura, proveniente do processo de fermentação, com alteração da casca e da parte interna;

- grãos pretos: grãos ou pedaços de grãos que se apresentarem totalmente enegrecidos por ação do calor ou da umidade;

- grãos mofados: grãos ou pedaços de grãos que apresentarem sinais visíveis de fungo (bolor);

- grãos carunchados: grãos ou pedaços de grãos que se apresentarem prejudicados por carunchos;

- grãos manchados: grãos que apresentarem qualquer tipo de mancha na película de revestimento sem, contudo, afetar a polpa;

- grãos descoloridos: grãos que apresentarem alteração na cor original do produto; e

- grãos quebrados: pedaços de grãos sadios, inclusive cotilédones, que ficarem retidos na peneira específica de cada produto.

g) Matéria estranha: é todo e qualquer detrito estranho ao produto, como grãos ou sementes de outras espécies vegetais, sujidades e restos de insetos.

h) Impurezas: são fragmentos de grãos ou de partes da planta, como cascas, folhas e talos.

i) Renda do benefício: é definida para classificação do arroz em casca e corresponde ao percentual de arroz beneficiado resultante do benefício do arroz em casca.

j) Rendimento do grão: é o percentual de grãos inteiros e de grãos quebrados, resultante do benefício do grão.

k) Peso hectolítrico (PH): é a relação peso/volume (peso relativo ao volume de 100 litros de trigo) que revela a aptidão do trigo para utilização industrial (veja capítulo 2 - Estrutura, Composição e Propriedades dos Grãos).

7.2. Certificado de Classificação

A classificação de um produto agrícola é atestada mediante a emissão do Certificado de Classificação, que se constitui em documento hábil para todas as transações comerciais, endossável no seu prazo de validade e aceito em todo o território

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nacional. Alguns segmentos do setor produtivo vêm realizando esforços em órgãos

competentes, no sentido de suprimir a validade do certificado de classificação, transferindo ao interessado, comprador ou vendedor, a opção de exigir o certificado recente ou aceitar o certificado emitido na época de depósito do produto na unidade armazenadora.

O certificado de classificação somente será válido se emitido pelo órgão conveniado com Ministério da Agricultura, em cada estado. Não poderá conter emendas ou rasuras e deverá ser assinado por um classificador devidamente registrado no Ministério da Agricultura. 7.3. Operacionalização da Classificação

A classificação inicia-se com a coleta de amostra, que é de total responsabilidade do classificador (vide capítulo 4 – Qualidade dos Grãos), para coleta, manuseio e determinação de umidade de amostras.

O lote objeto da classificação deve estar marcado e identificado, para permitir a checagem entre o certificado emitido e o produto disponível no momento da comercialização.

Ao comparecer ao local da amostragem, o classificador poderá se recusar a retirar amostras quando constatar as seguintes condições:

- produto contaminado com doenças ou pragas que constituam ameaça à produção agrícola nacional e que tenha sua comercialização proibida pela defesa sanitária vegetal e destinar ou transitar por região indene (livre da doença ou da praga); e

- produto infestado por insetos vivos. A amostra destinada à análise deverá ser homogeneizada e dividida, com o

auxílio do homogeneizador ou manualmente, sobre uma superfície limpa e seca, para obtenção da amostra de trabalho.

O tamanho da amostra destinada à determinação do teor de umidade será definido em função do método e equipamento no local de classificação.

Para a caracterização dos defeitos e dos demais parâmetros, como grupo, classe e subclasse, o tamanho da amostra é definido pelas normas oficiais de classificação.

8. LITERATURA CONSULTADA 1. BRANDÃO, F. A padronização de produtos agrícolas, Belo Horizonte-MG, 26p.

2. BRASIL, Ministério da Agricultura, SNAB/SESAC, Manual de classificação e fiscalização de produtos de origem vegetal, Brasília-DF.

3. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W. & HALL, C.W. Drying cereal grains. Westport, The AVI Publishing Co., Inc., 1974. 265p.

4. COMPANHIA ESTADUAL DE SILOS E ARMAZÉNS. Grãos: beneficiamento e armazenagem. Porto Alegre, Livraria Sulina Editora, 1974. 148p.

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Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 341

5. COPELAND, L.O. Principles of seed science and technology. Minneapolis, Burgess Publishing Company, 1976. 369p.

6. INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA. Manual do Serviço de Padronização e Classificação Vegetal. Belo Horizonte, DPV/SPCV, 1993.

7. KRZYZANOWSKI, F.C. Planejamento e operação de UBS. Viçosa, CENTREINAR. 75 p.

8. POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. Brasília, AGIPLAN, 1985. 289p.

9. PUZZI, D. Abastecimento e armazenagem de grãos. Campinas, Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1986. 603p.

10. SILVA, J.S.; DONZELES, S.M. & AFONSO, A.D.L. Qualidade dos grãos. Viçosa, Engenharia na Agricultura, 2(6): 01-29, 1992. (Caderno Didático).

11. VAUGHAN, C.E.; GREGG, B.R. & DELOUCHE, J.C. Beneficiamento e manuseio de sementes. Brasília, AGIPLAN, 1976. 195p.

12. WELCH, G.B. Beneficiamento de sementes no Brasil. 2a ed. Brasília, AGIPLAN, 1974. 205p.

13. WORMSBECKER, A. Beneficiamento de sementes. Viçosa, CENTREINAR. 33p.