agricultura familiar e mecanismo desenvolvimento limpo-mdl

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Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. É Possível? Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, José Rego Neto e José Aldo dos Santos livroconnoregamarra.pmd 11/6/2007, 17:12 1

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  • Agricultura Familiar eProjetos de Mecanismo deDesenvolvimento Limpo.

    Possvel?

    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas,Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

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  • Agricultura Familiar eMecanismo de

    Desenvolvimento Limpo possvel?

    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas,Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    2007

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  • Agricultura Familiare Mecanismo deDesenvolvimento Limpo possvel?

    Autores:Conor Fox,Guillermo Gamarra-Rojas,Jos Rego Neto,e Jos Aldo dos Santos

    Coordenao :Projeto Dom Helder CamaraRua Francisco Alves, 84Ilha do Leite Recife/PECEP: 50070-490Fone:(81)3301.1355Fax:(81)[email protected]

    Reviso :Gerusa Filipini

    Projeto grfico:Paulo Rocha

    Impresso :Edies Bagao

    Recife, Pernambuco2007

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  • Agradecemos s organizaes e pessoas que nosproporcionaram idias que permitiram umamelhor orientao do objeto da pesquisa equelas que responderam s nossas solicitaes deentrevista e forneceram informaes, bem como sque efetuaram a reviso da verso preliminar,contribuindo para o enriquecimento e maior clareza docontedo deste documento.Em especial agradecemos a Selma Yuki Ishii e PauloRogrio da APA-TO, Thelma Krug do INPE, ShigeoShiki do ProAmbiente, Eliana Pareja do InstitutoEcolgica, Divaldo Rezende de Ecolgica Assessoria eEverardo Sampaio da Universidade Federal dePernambuco.

    Agradecimentos

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  • 6 Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    Conor FoxConor Fox Irlands e mestre em Economia do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    pela Universidade de Londres. Vem realizando pesquisas para Trcaire sobre mudanas clim-ticas e justia ambiental no Brasil. Tem trabalhado como Economista Ambiental para a Agenciade Proteo do Meio Ambiente do Governo de Repblica Cooperativa da Guiana e com ONGsinternacionais e nacionais na Amrica Central, principalmente em programas de meios de vidasustentvel e de preveno e mitigao de desastres.

    Guillermo Gamarra-RojasGuillermo Gamarra-Rojas Engenheiro Agrnomo, Mestre em Cincias Agrrias e

    Doutor em Botnica. Natural da Bolvia, trabalhou em seu pas com manejo de pragas e diver-sificao dos sistemas agrcolas. No Nordeste do Brasil, tem elaborado e implementado proje-tos de pesquisa e desenvolvimento, em colaborao com Organizaes de Apoio AgriculturaFamiliar, Centros de Pesquisa e Universidades. Vem trabalhando no desenvolvimento de com-petncias, com nfase na valorizao do conhecimento local e no uso e manejo sustentveldos recursos naturais em agroecossistemas do semi-rido. autor de livros, artigos cientficose materiais para educao e desenvolvimento rural; tem orientado monografias e dissertaes,ministrado cursos de especializao e capacitaes e participado como palestrante em eventosno Brasil e outros pases. Atualmente, trabalha para o Projeto Dom Helder Camara MDA/SDT/FIDA, na Coordenao do Projeto GEF - Manejo Sustentvel de Terras do Serto.

    Jos Rego NetoJose Rego Neto natural da cidade de Teixeira, no Mdio Serto da Paraba. Possui o

    curso de Licenciatura Plena em Geografia pela Fundao Francisco Mascarenhas, de Patos, naParaba. Trabalha como assessor tcnico do Centro de Educao Popular e Formao Sindical CEPFS, desenvolvendo aes formativas e prticas de convivncia com a realidade semi-rida na microrregio da Serra do Teixeira. membro da comisso sementes da ArticulaoSemi-rido Paraibano e representou a sociedade civil da Paraba no processo de discusso eelaborao do Plano de Luta e Ao Nacional de Combate a Desertificao PAN-LCD.

    Jos Aldo dos SantosJos Aldo dos Santos natural da cidade de Altinho, no agreste de Pernambuco. Formado

    em Agronomia e mestre em Administrao Rural pela Universidade Federal Rural de Pernambuco,trabalhou na CPT- Comisso Pastoral da Terra e no Reassentamento de Itaparica-PE. Coordenao Centro de Desenvolvimento Agroecologico Sabi, membro da Coordenao Estadual da

    Autores e parceiros

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  • 7Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    ASA-PE, Coordenao Executiva da ASA-Brasil e Coordenao Nacional da ANA- Articula-o Nacional de Agroecologia. Representa a ASA-Brasil no Conselho Nacional de Desenvol-vimento Rural Sustentvel CONDRAF.

    Programa de Justia Ambiental de TrcaireTrcaire a agencia oficial da igreja catlica na Irlanda para o desenvolvimento interna-

    cional. Trabalha com parceiros internacionais na promoo da justia e erradicao da pobreza.Com o enorme impacto das mudanas climticas no planeta, torna-se cada vez mais

    premente dar ateno justia ambiental e constitui-se um imperativo para todas as agnciasde desenvolvimento. O papel da Trcaire impulsionado pelo fato de que as comunidades epases mais pobres esto sofrendo mais as consequncias do uso no-sustentvel dos recur-sos naturais. Pases em vias de desenvolvimento sofrem mais os impactos das mudanasclimticas e em menor espao de tempo. Alm disso, seus mecanismos de adaptao s mudan-as inevitveis esto menos desenvolvidos.

    Trcaire pretende trabalhar o tema de mudanas climticas como uma prioridade duranteos prximos dez anos. Para isto, vem implementando um programa de pesquisas que visaidentificar os modos mais efetivos que a habilitem a enfrentar este tema crtico. (Mobilizaopela Justia, Marco Estratgico de Trcaire, 2006-2016).

    www.trocaire.org

    Projeto Dom Helder Camara/Projeto SertoO Projeto Dom Helder Camara (PDHC), vinculado Secretaria de Desenvolvimento

    Territorial (SDT), do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA), desenvolve aesreferenciais para o desenvolvimento sustentvel do semi-rido, voltado para agricultores/asfamiliares de assentamentos e comunidades rurais. misso do PDHC contribuir para o desen-volvimento humano, contemplando o fortalecimento da cidadania e a equidade de gnero,gerao e etnia. Tendo como norte a viabilizao econmica e social do semi-rido, objetivodo PDHC fortalecer processos locais, participativos e solidrios de construo social. Estaconstruo feita em parceria com movimentos sociais e organizaes no-governamentais,parceiras de execuo da assessoria tcnica continuada, envolvidas no desenvolvimentoterritorial, na perspectiva da convivncia com o Semi-rido, gerindo recursos scio-polticos,ambientais, culturais, econmicos e tecnolgicos.

    Para alcanar os seus propsitos, o PDHC vem ampliando e fortalecendo suas linhas deao, a partir de novas iniciativas como o Projeto Manejo Sustentvel de Terras do Serto(Projeto Serto), complementar e integrado ao PDHC. O Projeto Serto resultado de umacordo de contribuio financeira no-reembolsvel do Governo do Brasil, atravs do MDA/SDT, com o Fundo das Naes Unidas para o Meio Ambiente Mundial (Global EnvironmentFacility GEF).

    O objetivo do Projeto Serto minimizar as causas e os impactos negativos da degrada-o de terras e da pobreza rural, atravs do desenvolvimento de uma cultura coletiva de gestode conhecimento para o manejo sustentvel dos recursos naturais que contribua com a melhoriade qualidade de vida e o bem-estar das pessoas que dependem dos recursos naturais do semi-

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  • 8 Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    rido. A estes objetivos esto associados benefcios globais, como uso sustentvel dabiodiversidade, contribuindo para a preservao ou restaurao da funo e dos serviosproporcionados pelos ecossistemas da Caatinga, e o aumento da fixao de gases de efeitoestufa em agroecossistemas e reas de conservao e preservao.

    Os objetivos especficos do Projeto Serto so: I) Utilizar as aes de combate pobrezarural, de desenvolvimento territorial e os arranjos institucionais existentes no PDHC paraimplantar aes de luta contra a degradao das terras; II) Ampliar na sociedade a percepodos processos de degradao de terras e a capacidade de enfrentamento do problema; III)Promover sistemas de produo agrcola sustentveis relevantes para a conservao do solo,da biodiversidade e aumento do seqestro de carbono; IV) Experimentar mecanismos de incen-tivos ambientais; V) Produzir referncias para polticas pblicas para o semi-rido nordestino.

    www.projetodomhelder.gov.br

    Centro de Educao Popular e Formao SocialO Centro de Educao Popular e Formao Social (CEPFS) uma organizao no -

    governamental com sede no municpio de Teixeira, Estado da Paraba, fundada no ano de 1986por estudantes, agricultores e profissionais liberais motivados por ideais de fortalecimento daagricultura familiar, na regio semi-rida da Paraba. Adotou como misso institucional promo-ver o fortalecimento de organizaes comunitrias a partir da formao e troca de experinciasentre agricultores e agricultoras familiares visando o desenvolvimento de estratgias paramelhoria das condies de vida, na realidade semi-rida, atravs da gesto participativa emprojetos e programas que considerem as potencialidades e as restries naturais da regio, naperspectiva de contribuir para a construo de referncias regionais na formulao e gesto depropostas para um novo paradigma de desenvolvimento rural sustentvel no semi-rido, combase em princpios de solidariedade e incluso social. Para tanto, desenvolve aes formativase prticas que incluem a implantao e socializao de tecnologias, com inovaes sociais,orientadas por estratgias de convivncia com a realidade semi-rida. parceiro de Trcairedesde 1986. membro da Articulao Semi-rido da Paraba ASA-PB, desde a sua criao, em1993. Possui representantes nas principais comisses temticas da ASA-PB, Recursos Gen-ticos e Recursos Hdricos. , tambm, a entidade referncia, da Paraba, no Grupo de Trabalhode Combate a Desertificao da ASA - Brasil.

    Em 2005, seu trabalho foi reconhecido internacionalmente, atravs do prmio Experin-cias em Inovao Social na Amrica Latina e no Caribe, promovido pela FUNDAO W.K.KELLOGG em parceria com CEPAL - Comisso Econmica para Amrica Latina e o Caribe,rgo ligado a Organizao das Naes Unidas (ONU). Foram 1.600 candidatos de trinta e trspases a serem considerados, e a experincia do CEPFS foi convidada para uma Feira emSantiago do Chile, como parte das 20 melhores iniciativas. Na oportunidade, recebeu o ttulo deMeno Honrosa e o destaque de projeto com melhores caractersticas de replicao emqualquer parte do mundo. Em 2006, a Agencia Nacional de guas, atravs da I edio doPRMIO ANA, reconheceu a experincia desenvolvida pelo CEPFS, em parceria com as comu-nidades rurais, na rea de recursos hdricos, intitulada Convivncia com a realidade Semi-rida Construo de cisternas para captao e Armazenamento de gua da chuva, atribu-indo-lhe o primeiro lugar na categoria gua para a Vida. Essas premiaes foram de granderelevncia para o fortalecimento e a credibilidade institucional do CEPFS, assim como para os

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  • 9Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    agricultores e agricultoras familiares e suas organizaes de [email protected] www.cepfs.org

    Centro de Desenvolvimento Agroecolgico SabiO Centro de Desenvolvimento Agroecolgico Sabi uma organizao no-governa-

    mental fundada em 1993 por agricultores e agricultoras e tcnicos e tcnicas motivados pelaproblemtica da Agricultura Familiar na regio Nordeste do Brasil, orientada pelos princpiosda agroecologia. Sua misso institucional Plantar mais vida para um mundo melhor, desen-volvendo a agricultura familiar agroecolgica e a cidadania.

    O Centro Sabi desenvolve suas atividades no Estado de Pernambuco, na regio daMata Atlntica, no Agreste Setentrional, no Serto do Paje e no Serto Central. Faz parte dasseguintes articulaes e conselhos: ANA - Articulao Nacional de Agroecologia, ABONG Associao Brasileira de Organizaes No Governamentais, ASA Articulao no Semi-ridoBrasileiro, PAD Processo de Articulao e Dilogo, CONSEA/PE - Conselho de SeguranaAlimentar de Pernambuco, representando ASA-PE, CDS Conselho de DesenvolvimentoSustentvel de Pernambuco, representando a ABONG, CONDRAF - Conselho Nacional deDesenvolvimento Rural Sustentvel, representando a ASA Brasil.

    Em 2001, o seu trabalho foi reconhecido pelo Governo do Estado de Pernambuco atravsdo Prmio Vasconcelos Sobrinho, ano X, na categoria Instituio, pelos relevantes serviosprestados ao meio ambiente. Em 2004, a Adessu Baixa Verde, associao assessorada peloCentro Sabi, e Jones Pereira, agricultor agroflorestal, tambm receberam o Prmio Vasconce-los Sobrinho, nas categorias Participao Comunitria e Personalidade, respectivamente. Noano de 2006, em parceria com as ONGs CAATINGA e Diaconia, recebeu o Prmio MelhoresPrticas Ambientais no Nordeste, concedido pela Sociedade Nordestina de Ecologia, pelainiciativa das Feiras Agroecolgicas. Hoje, o Centro Sabi se constitui em uma organizao dereferncia no campo da agricultura agroflorestal, sendo procurada por pesquisadores/as, tc-nicos/as, estudantes, agricultores/as e organizaes pblicas.

    www.centrosabia.org.br

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    As evidncias das mudanas climticas, provocando o aquecimento globalque ameaa o equilbrio ecolgico e o futuro da civilizao, exigem providncias urgentes e aes coordenadas, capazes de, pelo menos, amortecer osimpactos anunciados. No se trata de aes isoladas, mas de um conjunto multidimensionalde iniciativas, face s propores globalizadas que o problema representa. Desse modo,apenas reduzir o consumo de combustveis fsseis no resolveria, na medida em que muitosoutros fatores contribuem para as mudanas climticas, tais como a destruio de florestas ea pecuria extensiva.

    A vulnerabilidade maior entre os mais pobres de qualquer espao geogrfico. E areside a gravidade do problema, especialmente no aspecto tico, visto que essa camada maispobre, que imediatamente afetada, justamente a que menos contribui para o aquecimentoglobal. Trata-se de uma populao que vive fundamentalmente das atividades agrosilvo-pastoris.

    Nessa perspectiva, o presente livro examina a estreita relao entre agricultura emudanas climticas. Analisa a possibilidade do marco internacional do Mecanismo de De-senvolvimento Limpo vir a beneficiar a Agricultura Familiar nos pases em vias de desenvol-vimento. Os autores argumentam que os projetos agro-florestais podem resultar numa contri-buio significativa ao desenvolvimento sustentvel e reduzir a vulnerabilidade dos partici-pantes aos efeitos negativos das mudanas climticas. Usando iniciativas locais no Brasilcomo modelos, apresentam uma crtica ao desenho do mecanismo, propondo que estes proje-tos de pequena escala, podem evitar os perigos subjacentes aos projetos em curso, em suamaioria de larga escala. Projetos agro-silvopastoris tambm podem produzir crditos de car-bono de alta qualidade scio-ecolgica para os pases industrializados comprometidos nocumprimento de suas metas de reduo de emisses de gases de efeito estufa, que foramacordadas no Protocolo de Quioto.

    O Projeto Dom Helder Camara, associa-se, dessa forma, aos esforos dos autores,como um laboratrio para o desenvolvimento de experincias, muitas delas j em andamento ecom resultados promissores, no que se refere converso agroecolgica dos sistemas produ-tivos, incluindo o manejo sustentvel da Caatinga. Um dos principais instrumentos para essepropsito o Projeto de Manejo Sustentvel de Terras do Serto, financiado pelo Global Envi-ronment Facility GEF, no mbito do Projeto Dom Helder Camara. objetivo do Projeto Sertominimizar as causas e os impactos negativos da degradao de terras e da pobreza rural, atravsdo desenvolvimento de uma cultura coletiva de gesto de conhecimento para o manejo susten-tvel dos recursos naturais que contribua com a melhoria de qualidade de vida e o bem-estar daspessoas que dependem dos recursos naturais do semi-rido. A esse objetivo esto associadosbenefcios globais, como uso sustentvel da biodiversidade, contribuindo para a preservaoou restaurao da funo e dos servios proporcionados pelos ecossistemas da Caatinga, e oaumento da fixao de gases de efeito estufa em agroecossistemas e reas de conservao epreservao. As suas aes podero comprovar a captura e reteno de gases de efeito estufano contexto de uma agricultura em regime de economia familiar e contribuir para a reduo dasvulnerabilidades decorrentes das mudanas climticas.

    Espedito Rufino Diretor do Projeto Dom Helder Camara

    Apresentao

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    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    Sumrio1. Introduo 102. Mudanas do Clima - Efeitos, Causas e potencias solues 12

    2.1 Efeitos 132.2 Causas 162.3 Potenciais solues 18

    3. Em Direo a um Acordo Global 203.1 Como Funciona o MDL? 223.2 Mercado de Carbono 223.3 MDL: Um novo caminho? 253.4 Elegibilidade dos projetos 273.5 Passos prticos para um projeto de carbono MDL de uma comunidade 29

    4. Projetos de Carbono em comunidades rurais brasileiras 324.1 Proambiente - APA-TO 324.2 Instituto Ecolgica 354.3 Implicaes para Projetos MDL em comunidades rurais no brasileiras 38

    5. Superando Barreiras para uma comunidade ingressar em umprojeto florestal MDL 405.1 Informao 405.2 Elegibilidade 415.3 Posse da terra 415.4 Custos de transao viabilidade econmica 425.5 Organizao 425.6 Tecnologia 435.7 Instituies 445.8 Complexidade 455.9 Escala 45

    6. Crticas a Quioto e ao MDL 477. Concluses 508. Organizaes entrevistadas 52

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    Os efeitos das mudanas do clima esto se tornando cada vezmais evidentes e, gradualmente, estamos percebendo que sorequeridas aes urgentes. Ao analisar a relao causal da mudanaclimtica, confrontamo-nos com um grande tema tico contemporneo: o de que ospovos e pases que menos contribuem para o problema so os primeiros a seremafetados e os mais afetados.

    Como parte da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas doClima (CQNUMC), para reduzir os gases de efeito estufa, um mecanismo interna-cionalmente acordado por meio do Protocolo de Quioto, chamado Mecanismo deDesenvolvimento Limpo (MDL) foi desenhado para o comrcio1 de ReduesCertificadas de Emisses (RCEs) entre pases industrializados e em desenvolvi-mento. A idia de que a reduo de emisses de gases de efeito estufa e/ouremoes de CO2 so positivas apesar da localizao, e que a reduo de emis-ses em pases em desenvolvimento pode suplementar a reduo de emisses empases industrializados, para que as metas sejam atingidas em tempo.

    Esta pesquisa indaga sobre a possibilidade das comunidades rurais de agricul-tores familiares gerarem e certificarem remoes de CO2 atravs de projetos agro-florestais, que contribuam ao desenvolvimento sustentvel em sua dimenso holsticae reduzam os efeitos das mudanas do clima. So discutidas as implicaes prti-cas do desenho desse tipo de projeto, fazendo-se referncia s iniciativas locais noBrasil, bem como so discutidas abordagens para superar barreiras para acesso aoMDL. Em seguida, apresenta-se uma crtica ao mecanismo.

    A pesquisa conclui que, se esses projetos podem ser implementados, os mes-mos podero oferecer crditos de alta qualidade social que evitem alguns dos pro-

    Introduo1

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    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    blemas dos projetos de grande escala e que, quando pases industrializados com-pram crditos de carbono tero de investir em alta qualidade que pode ser ofereci-da por meio de projetos agro-florestais MDL, de pequena escala.

    A pesquisa consistiu em: 1. Entrevistas com Organizaes No Governamen-tais (ONGs) da Paraba, de Pernambuco e de Tocantins, com atores da sociedadecivil que gerenciam e implementam programas e projetos federais, com represen-tantes de rgos pblicos e de entidades do setor privado; 2. Visitas a experinciasagroecolgicas de agricultores familiares envolvidos em diversas iniciativas de pro-duo, beneficiamento e comercializao; 3. Reviso da literatura existente.

    As organizaes entrevistadas esto listadas no final do trabalho.Embora a presente publicao trate da agricultura familiar num sentido amplo

    e se focalize no MDL, entendido como uma oportunidade para a promoo destesetor da agricultura, futuras aes do conjunto de organizaes, das quais fazempartes os autores, devero privilegiar o estmulo a um processo de disseminao deinformao e construo de conhecimentos a respeito dos servios ambientais pro-porcionados pelas prticas agroecolgicas no seio da agricultura familiar na RegioNordeste do Brasil.

    Ouvimos de muitos pases a preocupao com a proteo de flores-tas tropicais. Se para os pases desenvolvidos difcil mudar a matrizenergtica, para os pases em desenvolvimento difcil mudar o modelode desenvolvimento (para adotar um desenvolvimento sustentvel).

    Marina Silva, Ministra do Meio-Ambiente do Brasil (2006) 2.

    1O sistema tambm denominado de teto e compra de cotas pelo qual as emisses de carbono tm um tetodefinido e as empresas que precisam emitir mais so obrigadas a comprar cotas de emisso daquelas menospoluentes ao redor do mundo. A iniciativa incentiva a indstria a encontrar maneiras mais limpas e baratas deoperar; de Carta Capital, 8 de Novembro, 20062 Entrevista com Paulo Cabral, BBC Brasil, 15 de Novembro 2006

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    A mudana do clima poderia trazer resultados positivos para algunslugares, mas isso somente ser no curto prazo se as temperaturascontinuarem a subir inexoravelmente. O que vemos atualmente somuito mais impactos negativos e cumulativos. Quanto maiores as mudanas e ograu da mudana, predominaro ainda mais os efeitos adversos3.

    Mudanas do Clima.Efeitos, causas epotenciais solues

    2

    3 Watson R.T. 2002 Mudana do Clima 2001: Relatrio Sntese: Relatrio da Terceira Avaliao do Painel Intergo-vernamental de Mudanas do Clima. Contribuio dos Grupos de Trabalho para o Relatrio da Terceira Avaliaoda IPCC

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    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    2.1 EfeitosO Painel Inter-Governamental de Mudana do Clima (IPCC) 4 prognostica

    que, as conseqncias da mudana de clima nos pases em desenvolvimento seromaiores em termos de perdas de vidas e efeitos relacionados a investimentos e economia e descreve a frica como o continente mais vulnervel s mudanasque se projetam porquanto a pobreza amplamente espalhada limita as capacidadesde adaptao.5 Esse prognstico tem sido reafirmado pelo Relatrio Stern6, quedeclara que os pases e povos mais pobres sofrero mais prematuramente e commais intensidade.

    As regies em desenvolvimento mais pobres so mais vulnerveis s mudan-as do clima posto que elas normalmente encontram-se em desvantagem geogrfi-ca, j que so, em mdia, mais quentes que as regies mais desenvolvidas e sofremde alta variabilidade de chuvas7. Elas tambm dependem fortemente da agricultura,o setor da economia mais sensvel ao clima. Baixos ingressos, aprovisionamentoinadequado na sade e baixa qualidade nos servios pblicos aumentam avulnerabilidade e fazem com que a adaptao s mudanas do clima seja particu-larmente difcil.

    A mudana do clima provavelmente aumenta a vulnerabilidade nos pases emdesenvolvimento. A provvel queda dos ingressos na agricultura e o agravamentoda pobreza reduzir a capacidade das famlias camponesas investirem em um futuromelhor. Em nvel nacional, a mudana climtica trar redues nos rendimentos eaumentar as necessidades de gastos, piorando as finanas pblicas8.

    Os impactos podero se espalhar alm das fronteiras nacionais, agravandoainda mais os danos ao criar choques relacionados ao clima que j acirraram con-flitos violentos no passado.

    4 O Painel Intergovernamental de Mudanas do Clima (IPCC) foi estabelecido pela Organizao Mundial deMeteorologia (WMO) e o Programa de Meio-ambiente das Naes Unidas (UNEP) para avaliar informaocientifica, tcnica e socioeconmica, relevante para a compreenso da mudana do clima, seu potencial impactoe opes de adaptao e mitigao5 IPCC (2001) Terceiro Relatrio de Avaliao, Resumo para Elaboradores de Polticas.6 Relatrio de Nicholas Stern, encomendado pelo ministro de Finanas do Reino Unido e o ex-economista-chefedo Banco Mundial7 Ibid8 Ibid

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    As mudanas no clima tornam-se evidentes atravs do aumento da temperatu-ra, mudanas nos padres de precipitao e elevao do nvel do mar. Essas mu-danas tm um impacto significativo na reduo da pobreza em varias dimenses:

    Condies socioeconmicas: A diminuio nas colheitas, especialmente nas regies ridas, como conse-

    qncia das secas e mudanas no regime de chuvas, pode deixar centenas de mi-lhares de pessoas incapacitadas para produzir ou adquirir alimento em quantidadessuficientes.

    O aumento do nvel do mar resultar em dezenas a centenas de milhares depessoas sofrendo de inundaes a cada ano, resultando em um crescente aumentoda presso para a proteo da costa. Mais de um quinto de Bangladesh, por exem-

    9 Relatrio Stern (2006)

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    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    plo, pode ficar sob a gua com o aumento de 1 metro no nvel do mar, o que umapossibilidade ao final deste sculo9.

    A estimativa de que em meados deste sculo, entre 150 a 200 milhes depessoas podero ser deslocadas de forma permanente devido ao aumento do nveldo mar, da severidade das enchentes e da intensidade das secas10. As pessoasforadas a deixar seus lares, em decorrncia das mudanas do clima, poderoenfrentar violncia, racismo e abuso dos direitos humanos. No Nordeste do Brasil,por exemplo, aproximadamente uma em cada cinco pessoas migra para uma outraregio do Pas. Os primeiros a partirem so normalmente agricultores sem terra queperdem seu emprego quando falta chuva. Muitos emigrantes rurais so tanto refugi-ados ambientais quanto refugiados da economia.

    A acelerao do derretimento de geleiras, predominantemente na China,ndia Subcontinental e nos Andes est aumentando os riscos de enchentes e redu-zir fortemente as reservas de gua doce. O derretimento ou colapso das geleiraspode, eventualmente, ameaar o lar de cinco em cada 100 pessoas11.

    O aquecimento pode induzir bruscas mudanas no padro do clima emnvel regional, como as chuvas de mono do Sul da sia ou o fenmeno El Nio.Mudanas essas que tero severas conseqncias em enchentes e no acesso gua. Como um sinal das coisas que viro o El Nio de 1997-98 ocasionou seve-ras secas no Brasil, agravando os extensos incndios florestais. A captura de peixescaiu em cinqenta e trs pontos percentuais (53 %).12 O clima da regio Nordestedo Brasil pode passar de semi-rido para rido, que assemelha-se ao clima dedeserto, sem chuvas13.

    Sade humana: Doenas provenientes de vetores como a malria e o dengue podem se

    espalhar ainda mais se no forem tomadas medidas efetivas de controle. Por exem-plo, as enchentes resultantes do Furaco Mitch causaram um aumento de seis

    9 Relatrio Stern (2006)10 Ibid e F e Justia Colombiano (2006) citado em Simms et al (2006)11 Ibid12 UNEP (2001) Revista: Amrica Latina, Capitulo 14, Luis Jose Mata e Max Campos13 INPE (2007), Cenrio climtico futuro: avaliaes e consideraes para a tomada de decises, http://lba.cptec.inpe.br (Janeiro, 2007)

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    vezes na incidncia de clera na Nicargua14. A Organizao Mundial da Sade(OMS) estimou que no ano 2000, globalmente teriam havido 150.000 mortes cau-sadas pelas mudanas do clima15.

    Sistemas ecolgicos: Os ecossistemas e suas funes so particularmente vulnerveis s mudan-

    as do clima. Um estudo estimou que, na ausncia de esforos srios para reduzir oaquecimento global, um tero das espcies poder ser extinta at o ano 205016.

    2.2 CausasO estoque acumulado dos gases causadores do efeito estufa (incluindo dixido

    de carbono, metano, xido nitroso e inmeros gases resultantes de atividades in-dustriais) na atmosfera da Terra, est aumentando como resultado de atividadeshumanas. A Cincia capaz de vincular as probabilidades do efeito e impacto datemperatura no meio ambiente natural associado a diferentes nveis de estabilizaodo efeito estufa na atmosfera17.

    O IPCC projeta um aquecimento entre 1,4C e 5,8C para os prximos cemanos sem controles de emisses e de 2C a 3C mesmo com mitigao na libera-o de gases. O Relatrio Stern projeta que, mesmo que as emisses anuais noaumentem acima dos ndices atuais, h entre 77% e 99% de probabilidade que atemperatura global mdia venha a aumentar em 2% at 2050.

    O aquecimento causado principalmente pelo efeito acumulado da queima decombustveis fsseis (petrleo, carvo, gs natural), que so principalmente consu-midos em pases industrializados. Desde 1850, a Amrica do Norte e a Europa tmproduzido aproximadamente 70% de todas as emisses de CO2 devido produ-o de energia, enquanto os pases em desenvolvimento so responsveis por me-nos de um quarto. Entre 1900 e 1990, Amrica Latina e frica foram responsveispor somente 4% e 2,5%, respectivamente, da queima de combustveis fsseis18.

    14 McSmith A. (2006) The Pollution Gap Relatrio revela como os pases mais pobres do mundo so foradosa pagar pelas emisses de CO2 das naes desenvolvidas. Publicado no jornal The Independent, 25 de Marode 2006. http://news.independent.co.uk/environment/article353476.ece (Novembro,2006)15 Simms et al. (2005)16 Thomas CD et al. (2004) Risco de extino devido mudana do clima. Nature 427,145-8.17 Relatrio Stern (2006)18 Instituto de Recursos Mundiais acessado http://www.wri.org/ [Outubro , 2006]

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    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    19 H muitos gases de efeito estufa, mas como o dixido de carbono (CO2) o principal gs causador, os

    diversos GEE so uniformizados e convertidos em CO2 equivalentes possibilitando que redues de diferentes

    gases sejam somadas. O potencial de aquecimento do efeito estufa (Global Warming Potential) para cada um dosgases foi acordado pelo IPCC em 1995. O metano, por exemplo, tem um GWP de 21, por tanto cada tonelada demetano emitida equivalente a 21 toneladas de C0

    2. Hidrofluorcarbonos (HFCs) tem um GWP entre 140 e 11.700

    20 Agncia Internacional de Energia, Estatsticas Mundiais Chave, 2005, Paris

    Fonte: World Resource Institute Climate Analysis Indicators Tool 3.0 (2006).A Irlanda contribui com menos de 2% das emisses GEE da Europa,

    porm tem uma das mais altas emisses de CO2 per capita, acima de 17 tone-ladas de CO2 equivalentes de gerao de energia e outras fontes19. As emissesde energia latino-americanas so de aproximadamente 1,97 toneladas por ano,a sia (no incluindo a China) emite 1,16 e a frica, 0,9020. Embora a Chinaemita 18% do CO2 mundial relativo energia, esse montante equivale a somen-te 3,50 toneladas de CO2 per capita. A mdia mundial de emisses de CO2provenientes de energia de aproximadamente 3,99 toneladas por ano.

    Quem emite mais gases?(Toneladas de carbono per capita no uso de energia em 2002)

    25

    20

    15

    10

    05

    00

    EUA

    IRLA

    NDA

    FEDE

    RA

    O RU

    SSA

    UNI

    O EU

    ROP

    IA (2

    5)

    CHIN

    A

    BRAS

    IL

    NDI

    A

    MO

    AMBI

    QUE

    MDIAGLOBAL

    As emisses no-energticas resultam principalmente da emisso de metano edos resduos agrcolas e de mudanas no uso da terra. O desmatamento extensivoproduz emisses substanciais posto que o dixido de carbono armazenado nasplantas e no solo oxida-se e escapa de volta atmosfera como CO2. As mudanas

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    do uso da terra e atividades florestais tem contribudo com aproximadamente, 25%das emisses globais.21

    2.3 Potencias soluesA mudana do clima um problema global e, para reduzir significativamente

    ou limitar seus impactos, requer uma ao global coordenada, ou seja, aes unila-terais no sero suficientes.

    As solues iniciais para esse problema passam por uma maior e melhor infor-mao. O fomento a uma compreenso compartilhada da natureza da mudana doclima e suas conseqncias fundamental na formao do comportamento, assimcomo no fortalecimento das aes nacionais e internacionais22.

    Embora as medidas para reduzir as emisses, como o melhoramento na efici-ncia energtica, o uso de energias renovveis, a minimizao do desperdcio e omanejo sustentvel das florestas sejam custo-efetivas, poder haver barreiras queimpeam as aes. Medidas reguladoras, como padres mnimos, podem ter umimportante papel, proporcionando clareza e entendimento.

    A estabilizao de concentraes de GEE na atmosfera factvel e coerentecom o crescimento econmico (dentro de uma nova economia). A demanda porbens e servios, que so emisso-intensivos, deve ser reduzida, enquanto a mudan-a para tecnologias energticas menos intensivas em carbono torna-se mais atraen-te. A reduo de emisses no-energticas como a suspenso do desmatamento urgente.

    O aquecimento global, em termos econmicos, resultado do fracasso domercado em refletir a totalidade dos custos sociais dos GEEs. O estabelecimentode um preo para o dixido de carbono, atravs de uma taxa ou comrcio, ummarco fundamental para as polticas de mudana do clima. Atravs desse mecanis-mo, as pessoas e empresas podem confrontar-se com todo o custo social de suasaes e, assim, elas podem ser incentivadas a se afastarem de bens e serviosemisso-intensivos em carbono e investir em alternativas menos intensivas em car-bono 23.

    21 Watson et al. (2001)22 Relatrio Stern (2006)23 Adaptado de Pearce et al. (2000)

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    Para alm das quotas de emisses ou impostos ao carbono, tambm requeridauma ao pblica corretiva mais consistente, no sentido de fortalecer a capacidadedas regies mais pobres de se adaptarem ao inevitvel aquecimento global, sempree quando o custo de tal ao no exceda os benefcios. Os investimentos na pre-veno e mitigao geralmente so custo-efetivos.

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    O aquecimento da Terra , realmente, um problema global que ultra-passa fronteiras e essencial criar instituies e acordos regionais einternacionais como parte da soluo24.A Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima

    (CQNUMC) estabelecida na Conferncia das Naes Unidas de Meio Ambientee Desenvolvimento de 1992, realizada no Rio de Janeiro, tem associados em pra-ticamente o mundo inteiro. Seu principal objetivo estabilizar as concentraes

    Em direo a umacordo global

    3

    24 Pearce et al., (2000).

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    GEE na atmosfera e contrapor-se a idia de que inevitvel o aumen-to da temperatura. Reconhece res-ponsabilidades comuns, porm di-ferenciadas nas causas da mudan-a do clima e as respectivas aesnecessrias para sua soluo. re-querido dos pases desenvolvidosque tomem a liderana para reduzirou limitar suas emisses, bem comoque apiem os pases em desenvol-vimento a se adaptarem aos inevi-tveis impactos.

    O esquema do Protocolo deQuioto do CQNUMC foi acorda-do em 1997 e entrou emefetividade em 2005. requeridoque as partes dos pases desenvol-vidos reduzam suas mdias coleti-vas de emisses para o primeiroperodo de compromisso (1/1/2008 a 31/12/2012) em 5,2%, usando seus nveisde emisses de 1990 como ano-base. As partes dos pases em desenvolvimentono esto obrigadas a reduzir suas emisses no primeiro perodo comprometido,em reconhecimento a que o desenvolvimento econmico e social e a diminuio dapobreza so sua primeira e maior prioridade.

    Em lugar de desenhar um instrumento de regulao tipo comando e controlee multas pelo no-cumprimento, o Protocolo tem optado por um sistema de co-mrcio de emisses para melhorar a relao custo-benefcio. As quotas nas emis-ses (ou permisses) tentam ser estabelecidas no sentido de serem nem to restri-tivas que se tornariam inalcanveis, nem to lenientes que fossem consideradasinsignificantes. A flexibilidade no tempo e lugar facilita que os objetivos de elevadareduo possam ser estabelecidos e tambm que indstrias de pases industrializa-dos tenham o tempo e os meios para atingir os nveis de redues necessrios25.Isso consiste em trs mecanismos flexveis:25 Capoor et al (2006).

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    Comrcio Internacional de Emisses Os pases industrializados quecumpriram seus compromissos podem vender seus excedentes dos compromissosde limitao e reduo de emisses assumidas para outros pases industrializados.

    Implementao Conjunta As redues de emisses so adquiridas dosprojetos de reduo de GEE em outros pases industrializados (geralmente projetadaspara economias em transio).

    Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Redues certificadas deemisses (RCEs) so adquiridas de projetos em pases em desenvolvimento.

    Conseqentemente, o MDL desenhado para o comrcio de RCEs entrepases industrializados e em desenvolvimento. A idia que a reduo de emissesou remoes de CO2 da atmosfera so benficas apesar da localizao. Assim, oesquema dar incentivos globais para a atividade econmica verde em toda par-te. Tambm, reduzir emisses de gases de efeito estufa e/ou remover CO2 em pa-ses em desenvolvimento pode ser mais custo-efetivo.

    3.1 Como funciona o MDL?Para certificar as RCEs, um projeto deve provar satisfatoriamente que as ati-

    vidades do projeto proporcionam benefcios mensurveis, reais e de longo prazorelativos mitigao da mudana do clima; que est contribuindo com os objetivosde desenvolvimento sustentvel no pas no qual as atividades do projeto foramimplementadas e que, na ausncia do incentivo financeiro das RCEs, o projeto nopoderia ocorrer. O Conselho Executivo para o MDL pode aprovar metodologiasque estimem, monitorem e meam, com preciso, as emisses de gases de efeitoestufa e/ou remoes de CO2. Auditores externos, ou entidades operacionais de-signadas, validam as propostas e verificam os resultados. RCEs, uma vez emitidas,so boas para cumprir os compromissos quantificados e, uma vez compradas porum pas industrializado no podem ser repassadas para outro. Atualmente, as RCEsso comercializadas globalmente via instrumentos financeiros de futuro e nos mer-cados de opes. Os preos variam dependendo, entre outras coisas, do riscopercebido associado efetivao da emisso dos RCEs e sua certificao.

    3.2 Mercado de carbonoExiste no somente um mercado, mas uma srie de mercados de carbono

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    relacionados. Esses compartilham o atributo comum de usar instrumentos com basede mercado ou instrumentos econmicos para alcanar a meta comum de estabili-zao das concentraes de gases de efeito estufa na atmosfera. O Mercado deQuioto o mais renomado e o maior mercado, em termos de volume. O Sistema deComercializao de Emisses da Unio Europia (EU ETS), at agora o maior emtermos de valor, semelhante a um mercado dentro do Mercado de Quioto ou aum esquema tributrio, enquanto que o Sistema de Comercializao de Emissesdo Reino Unido um precursor experimental para Quioto. Mercados regionais esub-regionais, assimcomo os que estoem Nova Gales doSul e Chicago, tm di-versos arranjos decompromisso. Exis-tem, tambm, merca-dos de carbono vo-luntrios, em que ocompromisso no obrigatrio, porm,demonstrvel. Essesso impulsionadospor entidades e indi-vduos que desejamvoluntariamente neu-tralizar suas emisses de GEE.

    Em 2005, os mercados globais no agregado foram avaliados em US$ 10 bi-lhes de dlares. No primeiro trimestre de 2006 o total das transaes alcanouum valor de US$ 7,5 bilho, o que fez com que se prognosticasse que o mercadopoderia ser avaliado entre US$ 25-30 bilhes em 200626. A maioria desse comr-cio entre pases industrializados atravs do denominado Comrcio Internacionalde Emisses (IET), entretanto, o valor do MDL ficou em torno de 28% dessemercado em 2005.

    A demanda por RCEs dominada por entidades privadas da Europa e do

    26 Capoor et al. (2006).

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    Japo27. Mas, evidente que numerosos pases no conseguiro alcanar as quo-tas negociadas e tero que negociar em emisses atravs de diversos mecanis-mos28. Prospectos de projeto com base de mercado so bastante slidos dado quediversos governos da Unio Europia tm se comprometido na compra de crditosrelativos aos acordos de Quioto.

    At 2006, setenta eoito pases em desenvolvi-mento tm estabelecidoautoridades nacionais paradesenvolver projetos deMDL e espera-se que ou-tros se juntem. A ofertaest distribuda entre essespases, porm China, ndiae Brasil dominam a partede vendas do mercado29.

    A maior parte do co-mrcio de MDL em re-duo de emisses dehidrofluorocarbonos(HFCs) e outros gases(e.g. reduo de emissesde metano na minerao eaterros, N2O da indstria,etc.) e em reduo de

    emisses em funo da transio para gerao de energia renovvel (micro e pe-quenas centrais hidreltricas, elica, solar, biomassa e outros).27 Ibid28 Itlia, Espanha, Dinamarca, Irlanda e Portugal so estados membros da Unio Europia com as mais elevadasbrechas relativas a Quioto e a Agncia Europia do Meio-ambiente projeta que no alcanaro suas metasnacionais para 2008-201229 Para Outubro de 2006 foram registrados projetos MDL em 38 pases, dos quais 14 so paises onde a Trcairetrabalha. De um total de 386 projetos registrados em Outubro de 2006, somente 9 estavam na frica e a maiorparte do restante foi registrado na ndia, Brasil, Mxico e China Assim como em Outubro de 2006, para oprimeiro perodo de compromisso (2008-2012) 45% das esperadas redues de emisses certificadas, viriamda China. Normalmente, o Brasil tem as mais altas expectativas de redues de emisses certificadas per capita.

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    3.3 MDL: um novo caminho?Dado que a agricultura responde por mais de 40 % do trabalho na Amrica

    Latina e Caribe e 70% na frica30, justifica-se o investimento de recursos nessesetor para a reduo de desigualdades e pobreza extrema de uma grande parte dapopulao31. Em muitas regies tropicais, particularmente nas ridas e semi-ridas,os agricultores vm enfrentando, com dificuldades, as condies climticas atuais eum aquecimento maior trar elevados custos e poucos benefcios. Desse modo,so imperativos investimentos em aes de mitigao da mudana do clima.

    Os sistemas agrcolas diversificados, em oposio s monoculturas comerci-ais, tm repetidamente demonstrado ser mais resilientes32 (ou menos vulnerveis),porquanto tm maior capacidade de recuperao de um estresse (e.g. seca) ouchoque (e.g. enchente)33 e exercem menos presso nos sistemas hidrolgicos daregio. Em terras marginais abastecidas por gua de chuvas irregulares, em condi-es de solos pobres, e com alta declividade, esses sistemas podem garantir ummelhor sustento, ao mesmo tempo em que se beneficiam do conhecimento tradici-onal e local34. Os sistemas agroflorestais, onde rvores e culturas anuais ocupam amesma rea que incluem espcies fixadoras de nitrognio, podem melhorar os n-veis de nutrientes do solo, reduzir o uso de fertilizantes sintticos que produzemGEE, e aumentar a absoro natural e a manuteno do carbono no solo35.

    Tais sistemas produtivos se diferenciam pela elevada interdependncia entre aconservao dos recursos naturais e a reproduo scio-cultural das sociedadesque esto gerindo os recursos. As famlias agricultoras, ao aplicar tcnicasagroflorestais, aumentam a sua resilincia econmica e social e, simultaneamente,proporcionam muitos servios ambientais, que incluem a conservao dabiodiversidade, a proteo de sistemas fluviais, o aumento na produtividade dosolo e a manuteno e regenerao da vegetao nativa. Enquanto alguns serviosso locais ou regionais, assim como a reduo da vulnerabilidade eroso e ao

    30 Maxwell, S (2001) WDR 2001: Existe uma nova agenda da pobreza? Relatrio de Polticas de Desenvolvi-mento 19(1): 143-14931 Adaptado de GFA Grupo Consultor http://www.gfa-group.de [1/11/06]32 Simms et al. (2005)33 Conway (1987) citado em Pearce et al (2000)34 Ibid35 Girling (2005) citado em Relatrio Stern (2006)

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    deslizamento de terras, outros servios, como a remoo natural e o armazenamentode carbono so globais, pois contribuem para a manuteno do equilbrio climticono mundo todo.

    O valor desses servios demonstrado atravs dos custos sociais relativos sua ausncia ou sua subproviso. Para que esse valor seja capturado ou mate-rializado, deve haver pagamentos aos que proporcionam esses servios.

    O MDL tem desenvolvido modalidades para prover esse tipo de pagamentos.Os agricultores familiares, pelo menos em teoria, quando atuando de forma coleti-va, seriam capazes de produzir pelo menos duas formas de bens/servios pblicosglobais. Um desses servios a remoo do dixido de carbono da atmosferaatravs da fotossntese e o subseqente armazenamento do carbono na vegetaoe solos (biomassa viva).36 Um outro servio potencial o uso de alternativasenergticas descentralizadas e carbono-neutras (elica, biogs, fotovoltaico,microcentrais hidreltricas, etc.) reduzindo ou evitando emisses da queima de com-bustveis fosseis. O estudo focaliza o primeiro tipo de servio principalmente porduas razes. Primeiro, porque projetos florestais fortaleceriam o que esta sendofeito por muitos atores da agricultura familiar. O uso de alternativas energticas,embora esteja dentro das possibilidades para os produtores familiares, um tema

    36 Durante a fotossntese, as plantas usam a energia da luz para captar CO2. Este CO

    2 usado para produzir as

    estruturas bsicas de carbono das quais as plantas so feitas

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    que talvez no esteja nas agendas de curto ou mdio prazo das associaes eorganizaes de apio. Segundo, as atividades de florestamento no s mitigam oproblema, mas tambm oferecem uma estratgia para comunidades mais vulner-veis se adaptarem aos impactos das mudanas climticas inevitveis.

    3.4 Elegibilidade dos projetosPara todos os projetos MDL, o pas onde o projeto est localizado deve

    ratificar o Protocolo de Quioto e designar uma Autoridade Nacional37 para avaliarse os projetos propostos contribuem para o desenvolvimento sustentvel.

    Na Stima Conferncia das Partes (COP 7) de CQNUMC, em Marraquecheem 2001, foi acordado que o florestamento (estabelecimento de novas florestas) ereflorestamento (restabelecimento de florestas anteriores) so atividades elegveispelo MDL. Contornar ou evitar o desmatamento ainda no constituem atividadeselegveis (ver texto a seguir).

    Propostas de pases em desenvolvimento38 de incentivos positivos paraevitar o desmatamento.

    O desmatamento nos trpicos levado a cabo por agricultores fami-liares de subsistncia na frica, por grandes empresas agrcolas produto-ras de carne e soja para exportao e por madeireiras na Amrica do Sul,e por uma mistura de ambos na sia, com leo de palmeira, caf e madeiracomo os principais produtos. Isso resulta na liberao de dixido de car-bono na atmosfera e contribui para emisses de GEE. Preservar a florestatropical uma forma de reduo das emisses altamente custo-eficiente etem o potencial de oferecer redues significativas rapidamente. Trz con-sigo, tambm, muitos outros benefcios, como a conservao dabiodiversidade e a proteo da qualidade do solo e da gua. Entretanto,no h nenhum incentivo explcito atravs do MDL, para que os pases

    37 Dos pases onde a Trcaire trabalha Afeganisto, Angola, Burma, Burundi, Haiti, Iraque, Paquisto, Palestina,Serra Leoa, Somlia e Timor Leste, estes ainda no designaram uma Autoridade Nacional para o MDL http://cdm.unfccc.int (Novembro, 2006)38 A Coalizo das Naes de Floresta Tropical no momento consiste de Bolvia, Camares, Congo, Colmbia, CostaRica, Equador, Fiji, Gabo, Gana, Guatemala, Ilhas Solomo, Honduras, Indonsia, Lesoto, Nicargua, Nigria,Panam, Papua Nova Guin, Peru, Qunia, Rep. Centro-Africana, RD Congo, Rep. Dominicana, Samoa, Uganda eVanuatu (http://www.rainforestcoalition.org)

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    tropicais evitem o desmatamento, principalmente por causa da preocupa-o do risco de que a proteo de florestas, em uma rea de projeto, levarao desmatamento em uma outra.

    Em 2005, na COP 11 em Montreal, Papua Nova Guinea e Costa Ricaem favor da Coalizo das Naes de Floresta Tropical, propuseram um me-canismo que permita que o dixido de carbono economizado atravs dareduo do desmatamento em pases em desenvolvimento seja comercializadointernacionalmente. Cada nao com floresta tropical mida estabeleceriauma linha de base nacional de desmatamento e negociaria um comprometi-mento voluntrio para reduzir o desmatamento abaixo dessa linha de base.As redues conseguidas poderiam ento ser comercializadas atravs doMDL de Quioto ou em outros mercados de carbono.

    Em 2006, na COP 12 em Nairobi, o Brasil props um mecanismo deincentivos positivos para aes voluntrias de pases em desenvolvimentopara evitar o desmatamento fora do MDL. Um ndice de emisses de refern-cia de um certo perodo no passado seria estabelecido e se o ndice dedesmatamento est abaixo dessa referncia o pas em desenvolvimento par-ticipante estar no direito a benefcios financeiros, calculados pela conver-so da diferena entre a referncia e os ndices reais em valores econmicos.

    Ambas propostas esto na mesa para serem discutidas em 2007.Fontes: Relatrio Stern (2006) e CQNUMC, Submisso do Brasil, Do-

    cumento de Trabalho de Dilogo 21 (2006).

    Na COP 9, em Milo, foram acordadas definies bsicas para sistemas flo-restais, deixando, a cada pas, uma margem de escolha39de faixas e/ou limites quedefinem esses sistemas. Por exemplo, o Brasil escolheu as margens superiores,onde as florestas devem ter um mnimo de 30% de cobertura de copa, com rvorestendo uma altura mnima de cinco metros na maturidade. reas com valores abaixodesses parmetros em 1990 (o ano-base), em que se possa demonstrar que, nofuturo, os parmetros no sero alcanados sem interveno humana, so elegveis.A deciso do Brasil foi feita com o objetivo de ter mais reas elegveis para projetosde reflorestamento e florestamento.

    Um projeto elegvel a ser considerado de atividade MDL de pequena escala,39 Os acordos de Marraqueche definem florestas como uma rea mnima de terra de 0,5-1 hectares comcobertura de copa arbrea (ou nveis de estoque equivalentes) maior que 10-30%, com arvores com potencialde alcanar um mnimo de altura de 2-5 m em sua maturidade in-situ ( fonte http://cdm.unfccc.int)

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    pode beneficiar-se das modalidades e procedimentos simplificados, adotados naCOP 10 em Buenos Aires, que pretendem reduzir os custos de transao de pre-parao e implementao. Para propsitos de sistemas florestais, atividades depequena escala so aquelas que resultam em remoes brutas de GEE, induzidaspelo ser humano, atravs de remoes de at 8.000 toneladas de CO2 por ano eque so desenvolvidos por comunidades e indivduos de baixa renda, conformedefinio do pas hospedeiro do projeto.

    Dados esses parmetros, possvel considerar sistemas florestais ouagroflorestais de comunidades de agricultores familiares, envolvendo grupos deprojetos de pequena escala (e.g., de associaes de agricultores familiares,beneficirios da reforma agrria), que incluem a conjugao de objetivos e ativida-des agrcolas, pecurias e florestais.40

    3.5 Passos prticos para um projeto decarbono MDL de uma comunidade41

    Demonstrao de que a rea para florestas elegvel. Tanto fotosareas histricas ou dados de sensoriamento remoto (deteco remota ou tele-deteco), quanto cadastros pblicos (ou todos, se possvel), podero ser usadospara determinar a histria florestal de uma parcela de terra para avaliar se ser apro-priada. Caso nenhum desse tipo de registros histricos esteja acessvel, um testemu-nho escrito, elaborado atravs da aplicao de metodologias participativas42, poderser utilizado para determinar o status da terra, anterior a 10 de janeiro de 1990.

    Avaliao da capacidade de demonstrar como as atividades do pro-jeto absorvem CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausncia da ati-vidade proposta. Em outras palavras, o projeto deve atender ao critrio deadicionalidade43.

    40Mattos et al (2006).41 Adaptado de Poffenberger et al, (2002) e Dutschke et al (2006).42 Metodologia de Participatory Rural Appraisal43 O critrio de Adicionalidade chave para que os projetos MDL demonstrem que alguma medida est sendotomada, que no teria sido posta em prtica sem o MDL. Em outras palavras a remoo de gases de efeito estufa(as quais, quando certificadas, so as remoes de projeto efetivas menos as remoes hipotticas de linha debase) devem ser adicionais qualquer uma que viera a acontecer na ausncia de atividade de projeto certificada

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    Avaliao das taxas de absoro de carbono (ou seqestro) Algunsprojetos tero maior potencial que outros. Isso depender do tipo de rvores (par-ticularmente sua taxa de crescimento e densidade) e dos solos para determinar omontante de crditos que potencialmente poder resultar. Os mtodos para avaliaro potencial de remoo de CO2 pela vegetao que ser propagada so diversos.

    Determinao do nvel de envolvimento. A participao de diversosatores crucial para haver sucesso. Assim, o interesse dos participantes da comu-nidade fundamental, bem como uma forte capacidade de organizao.

    Elaborao de uma minuta de proposta tcnica. Essa proposta pro-porcionar a base para atrair parceiros e apoio institucional. As ONGs e/ou entida-des representativas e articuladas ao setor da agricultura familiar podem dar assis-tncia no processo, devido, em parte, oportunidade de fortalecimento de organi-zao comunitria que o projeto pode representar. Uma proposta slida deveratrair o interesse de potenciais fontes de investimento e compradores de CER depases industrializados44.

    Estabelecimento de uma linha de base do carbono (determinando alinha de base contra a qual a futura remoo de carbono ser medida). Para peque-nos projetos florestais MDL, se a expectativa da linha de base de estoque de car-bono que permanea igual ou que diminua na ausncia da atividade de projeto,assumir-se- que as mudanas nos estoques de carbono sero iguais a zero. Casocontrrio, proporcionada uma equao especfica para calcular esse aumento,utilizando variveis de densidade, de volume e de fator de expanso da biomassa.Variveis desenvolvidas localmente ou nacionalmente so utilizadas se estiveremdisponveis. Caso contrrio, a CQNUM proporciona valores-padro para seremutilizados nesse estgio do processo.

    Desenvolvimento de um plano de monitoramento e verificao paramonitoramento pela comunidade. A estrutura do plano deve contemplar a ve-rificao por parte de um terceiro participante. Para poder certificar as RCEs, umterceiro participante, denominado Entidade Operacional Designada (EOD) 45, deve44 Foi acordado em 2001 que os RCEs (C0

    2eq de pases em desenvolvimento) da rea florestal no podero

    exceder um ponto percentual (1%) das emisses de base de cada pais industrializado, por ano, (pargrafo 14,dcima primeira deciso da Conferencia das Partes de Marraqueche). Para um pas como a Irlanda, isto significaque pode financiar mais do que 66 pequenos projetos florestais por ano45 Entidade Operacional Designada (DOE) so entidades reconhecidas pelo Conselho Executivo do MDL yposteriormente ratificadas pelo Cop/Mop. As responsabilidades das Entidades Operacionais Designadas so (i)validar propostas de atividades de projetos MDL e (ii) verificar e certificar reduo de emisses GEE e /ouremoes de CO2

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    verificar se as atividades informadas e as remoes de carbono esto realmenteacontecendo. requerido o treinamento dos participantes da comunidade em tc-nicas de rotina para tomar amostras de vegetao e garantir a participao de umainstituio de pesquisa local para auxiliar nesse processo.

    Finalizao do documento de desenho do projeto (PDD) no formatooficial, que demonstre com clareza a elegibilidade, adicionalidade e adira aos requi-sitos tcnicos acima mencionados.

    Apresentao do PDD entidade operacional designada (EOD) paravalidao.

    Envio da proposta validada a ser considerada para aprovao pela Auto-ridade Nacional Designada (AND) 46 no pas receptor e subseqentemente reque-rer para ser registrada pelo Conselho Executivo do MDL.

    Essas atividades podem ter como resultado a certificao e a emisso deRCEs e a transferncia de pagamentos do comprador47.

    46 No Brasil a AND a Comisso Interministerial de Mudana Global do Clima, presidida pelo Ministrio de Cinciae Tecnologia e vice-presidida pelo Ministrio do Meio Ambiente; e composta por representantes dos Ministriosde Relaes Exteriores; da Agricultura, Pecuria e Abastecimento; dos Transportes; das Minas e Energia;Planejamento, Oramento e Gesto; do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior; e da Casa Civil daPresidncia da Repblica. At agora o Ministrio de Desenvolvimento Agrrio no participa47 Entidades como www.ecosystemmarketplace.com do Grupo Katoomba (www.katoombagroup.org) oferecemprodutos e servios, muitos deles sem custo, para gerar e comercializar os RCEs

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    Projetos de carbono emcomunidades rurais brasileiras

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    Esta seo apresenta experincias no Brasil que deram incio s atividadesque contribuem para que agricultores familiares tenham acesso ao mer-cado de carbono.4.1 Proambiente APA-TOO Proambiente, inicialmente um projeto da sociedade civil na Amaznia, tem

    evoludo no sentido de tornar-se um programa do Ministrio do Meio-Ambientedo Brasil, especificamente voltado para compensar servios ambientais proporcio-nados pela agricultura familiar, com nfase na remoo de carbono, na conserva-o dos recursos hdricos, no uso adequado do solo, eliminao do desmatamentodescontrolado e da queimada.

    O Proambiente defende que os custos e responsabilidades com omonitoramento e certificao dos servios globais a serem comercializados devemser assumidos pelo poder pblico e/ou empresas privadas48. O programa, atual-mente com base no arco de desmatamento da Amaznia, porm com intenesde se expandir para outras regies, como o Nordeste do Brasil, foi desenhado eimplementado por um grupo de movimentos sociais com apoio de ONGs. Existemonze plos pioneiros em nove estados. A gesto do programa realizada por umConselho Gestor Nacional, composto por diversos conselhos, com representaodos atores dos plos, incluindo entidades executoras e um amplo espectro de enti-dades sociais, tanto pblicas como privadas.48 Adaptado de May, P. acessado em http://www.cebds.org.br/cebds/pub-docs/pub-mc-may-mercado-de-car-bono-2004.pdf (Novembro, 2006)

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    A ONG APA-TO, fortemente focada no desenvolvimento social, acompanhaas associaes em reas de assentamentos locais e trabalhadores rurais no norte deTocantins em sua luta pela terra e sua caminhada por uma produo em basessustentveis. Numa rea onde a integridade e resilincia dos ecossistemas vm sen-do degradados pela criao extensiva de gado, grandes monoculturas de soja eextrao de carvo para usinas siderrgicas, a APA-TO a entidade executora doPlo Pioneiro do Proambiente no Bico do Papagaio, sendo que as diretrizes polti-cas do programa so orientadas pelo conselho gestor do plo, composto por onzeorganizaes representativas dos agricultores e agricultoras familiares e agro-extrativistas do plo.49

    Das 318 famlias que participam voluntariamente, grande parte so beneficiriosda reforma agrria, com uma minoria de pescadores e de pequenos proprietrios.Nesse contexto, h um processo organizativo da assessoria tcnica social voltadapara o desenvolvimento de sistemas agroflorestais e tcnicas agroecolgicas, bemcomo para a formao de agentes comunitrios dedicados a esses temas. Em nvellocal, o programa supervisionado por um Conselho Gestor do Plo, com represen-tao das diversas associaes e dos sindicatos de trabalhadores rurais participantes.

    49 FETAET, ASMUBIP, ABIPA, ARPA, CNS, AMB, STR Regional, STR de Axix, STR de So Miguel e COOPTER.

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    As avaliaes rurais participativas, articuladas e priorizadas pelos agricultoresfamiliares tiveram, como resultado, um diagnstico para cada uma das comunida-des e para cada propriedade familiar, proporcionando as bases de uso das propri-edades, para um horizonte de 15 anos. Subseqentemente, acordos comunitriosde certificao participativa de servios ambientais ou compromissos para o usoresponsvel dos recursos naturais foram coletivamente definidos e acordados. Osacordos refletem a realidade de cada comunidade e variam desde a supresso daderruba e queima da vegetao minimizao do uso de agrotxicos, ao reflores-tamento de reas ribeirinhas, e conscientizao da vizinhana. Algumas comuni-dades tm estabelecidoreservas naturais adminis-tradas pela comunidade.O no-cumprimento dosacordos comunitrios tratado em reunies peri-dicas.

    A maioria dos parti-cipantes informa que mu-daram suas prticas deproduo como resultadodos acordos comunitriosparticipativos. Alguns agri-cultores esto revertendo o desmatamento e esto gerando ingressos maiores e maisdiversificados. Um dos agricultores entrevistados tinha iniciado as prticas agroflorestaisantes dos acordos da comunidade, proporcionando assim valioso exemplo dos be-nefcios desse modo alternativo de uso do solo. O agricultor consegue auferir mais doque um salrio mnimo em trs hectares de terra, usando o sistema agroflorestal inte-grado com apicultura. Tem-se informao de que tais sistemas trazem muitos outrosbenefcios locais, dado que os membros das famlias esto mais integrados no pro-cesso de produo e comercializao e trabalhando em melhores condies. Muitosrepresentantes dessas famlias tm-se transformado em agentes (essencialmente pro-dutores com liderana tcnica exercendo relevante funo em sua comunidade, combase no sucesso dos agentes comunitrios de sade contratados pelo Ministrio daSade50), trabalhando para o programa Proambiente.50 Mattos et al (2006).

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    Um outro componente chave para a promoo do uso sustentvel a educa-o ambiental e ecolgica, que desperta a conscincia em relao s opes de usodo solo. Um importante membro da Rede Proambiente uma associao regionalde mulheres trabalhadoras rurais bem organizada, denominada ASUMBIP. A mes-ma vem promovendo a conscientizao das pessoas a respeito do extraordinriovalor do Babau, uma palmeira nativa que normalmente pouco valorizada. Almdisso, apesar da enorme capacidade de recuperao do resiliente babau, essapalmeira normalmente erradicada por agricultores e fazendeiros que buscam gan-hos financeiros de curto prazo, com a criao de gado, por exemplo. A organizaoest resgatando o valor tradicional dessa palmeira, onde so consideradas opesalternativas de uso e conseqncias no bem-estar, em decorrncia do manejoextrativista. A associao vem promovendo o aumento da colheita e o processamentodos frutos do babau para comercializao dos seus diversos derivados (amndo-as, leo, mesocarpo, torta de babau, artesanato etc), via pequenas agroindstrias.

    O pagamento por servios ambientais um incentivo direto para o estabe-lecimento de acordos e melhoria no manejo dos recursos. Em 2006, foramfeitos os dois primeiros pagamentos, correspondentes a seis meses e equiva-lentes a R$ 100,00 por ms, valor pago em duas parcelas, que foram muito bemrecebidos pelos participantes do Proambiente. A atribuio do valor monetrio aosservios ambientais proporcionados pelos agricultores foi feita com base na capa-cidade oramentria e disposio do governo para a remunerao dos servios e adisposio do provedor de servios na mudana de comportamento ambiental emcontrapartida a esta remunerao, estipulada por famlia participante. Como o go-verno o nico comprador, no se estabelece um mecanismo concorrencial demercado propriamente dito para o estabelecimento do preo ou valor. Um sistemade pagamentos por servios ambientais, com planejamento de longo prazo est emdiscusso no Ministrio do Meio Ambiente, devendo propor uma legislaoinstituidora aps consulta ampla sociedade. A proposta de que o pagamentopor servios ambientais seja uma poltica pblica nacional.

    4.2 Instituto EcolgicaO Instituto Ecolgica foi fundado como uma ONG e tem se transformado em

    uma Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIP). Sua missoprincipal reduzir os efeitos das mudanas do clima atravs de pesquisa, conserva-

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    o e preservao do meio ambiente e o desenvolvimento sustentvel das comuni-dades rurais. O Instituto trabalha com projetos direcionados avaliao ambientale promoo da educao ambiental no sul do estado de Tocantins. Tm-se esta-belecido parcerias com entidades multilaterais como o BID, o setor privado, insti-tuies de pesquisa e programas governamentais.

    Atravs de projetos de cunho experimental, como o de sequestro de carbonona Ilha do Bananal, o conceito de carbono social foi desenvolvido para gerarredues de emisses de gases de efeito estufa e/ou remoes de CO2, tendo,como foco prioritrio, os aspectos sociais51. Foi desenvolvida uma metodologia decarbono social, baseada na Abordagem de Meios de Vida Sustentveis52, por meioda qual os impactos das intervenes so avaliados com base na percepo dascomunidades a respeito das mudanas no seu acesso aos recursos, utilizando crit-rios de biodiversidade, carbono, finanas, humano, social e natural.

    O centro de pesquisas Canguu, estabelecido na Ilha do Bananal pela Ecol-gica, proporciona uma base de operaes para pesquisa no desenvolvimento demetodologias de monitoramento de carbono e estudos de biodiversidade regional.Embora a medio dos estoques de carbono agroflorestal ainda no tenha sidoiniciada, tm sido realizados estudos de linha de base a respeito do contedo decarbono de diferentes tipos de florestas dos diversos ecossistemas da regio (flo-resta tropical, cerrado e Pantanal). Os resultados facilitam a estimao das tonela-das de dixido de carbono equivalentes removidas por hectare por ano (tCO2eq /ha./ano) para diversos tipos de rvores.

    Tem sido desenvolvido um selo de carbono social, por meio do qual agriculto-res familiares participam de um processo de treinamento para comercializar produ-tos florestais no-madeireiros. Os produtos so identificados, desenvolvidos e pa-dronizados para aderir a normas de qualidade nacionais, facilitando o acesso amercados maiores. As comunidades esto usando frutas e sementes de plantasnativas para produzir bijuterias; conservas e licores visando adquirir o selo de car-51 May et al. (2004)52 A Abordagem de Meios de Vida Sustentveis (Sustainable Livlihood Approach) uma forma de tratar dequestes de desenvolvimento onde o sustento das pessoas pobres colocado em primeiro plano na analise eao. Muitos dos elementos centrais da abordagem (como participao, construo de ativos), no so novos.No entanto, a sntese, a partir de experincias de muitas reas e disciplinas, numa nica estrutura e conjunto deprincpios para aes de desenvolvimento, bem como pelo foco central na complexidade dos meios de vida dospobres, representa uma guinada a respeito de abordagens. Acessado de http://www.odi.org.uk/rpeg/srls.html[Novembro, 2006]

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    bono social. Os produtos resultantes tm demonstrado o importante valor da pre-servao das rvores frutferas nativas do bioma Cerrado. Tambm est sendoprojetada a extrao de leos de plantas nativas como pau doleo, sucupira, baru,buriti e pequi, entre outras, para a comercializao e contribuio na gerao derenda das comunidades.

    Em parceria com o SEBRAE, organizao de mbito nacional para a promo-o da microempresa, a Ecolgica vem acompanhado uma empresa de cermicavermelha, que utiliza tecnologia adaptada para queimar cascas de arroz em substi-tuio lenha, que normalmente extrada de forma ilegal do cerrado. Os custosde produo tm sido reduzidos, e o projeto prev uma diminuio no desmatamentolocal. A empresa tem iniciado um projeto MDL, pois as emisses de metano prove-nientes das cascas do arroz sero reduzidas. Outras empresas de cermica da vizi-nhana esto se propondo a mudar para a casca de arroz. No est claro se haverresduos suficientes de casca de arroz gerada localmente para satisfazer crescentedemanda, nem como sero afetados aqueles que vendem lenha.

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    4.3 Implicaes para Projetos MDL comcomunidades rurais no BrasilAs experincias relatadas utilizam abordagens de planejamento participativo e

    ascendente (desde a base para cima) e proporcionam valiosa informao para avali-ao da viabilidade de projetos comunitrios MDL agro-florestal de pequena escala.

    O uso de sistemas diversificados (sobretudo os sistemas agroflorestais) cum-pre papel ecolgico de prestao de servios ambientais em escala de paisagemrural, desde que os arranjos institucionais locais demonstrem capacidade de esta-belecer redes e laos de confiana.53

    Os acordos comunitrios inovadores do Proambiente tm resultado na defini-o, por parte dos agricultores familiares, de seus direitos de propriedade54. Acor-dos semelhantes na Amaznia, para promover a pesca sustentvel em lagos, tive-ram como resultado um aumento de rendimentos de 152% e, ao mesmo tempo, aestabilizao da populao de peixes55. As normas do uso e manejo dos recursos,ao serem formalizadas coletivamente, tornam-se menos vulnerveis a foras exter-nas, como mudanas nos preos de madeira e de lenha, especulao de terras, etc.

    As experincias tm desenvolvido um valioso conhecimento agroflorestal paraagricultores e equipes tcnicas, mas a lenta adoo de prticas agro-florestais uma funo da ausncia de crdito e de assistncia tcnica56, entre outros fatores,fazer com que aqueles que planejam o crdito entendam os sistemas agroflorestais essencial para que sejam elaborados programas apropriados. A incorporao depotenciais vendas de carbono e pagamentos por servios ambientais como partedesses programas tornar os sistemas agroflorestais mais factveis aos agricultoresfamiliares.

    O Instituto Ecolgica e seus parceiros de pesquisa tm demonstrado o valordos servios da remoo de carbono. Pela medio do aumento da biomassa notempo possvel calcular o contedo de carbono e de dixido de carbono equiva-lente. O preo de CO2eq determinar o pagamento potencial por hectare por ano.53 Mattos et al, (2006)54 Os direitos de propriedade podem ser considerados como os direitos, privilgios e limitaes dos donossobre o uso de um recurso. Pearce et al. (2000)55 ANA, (2006)56 May et al. (2004)

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    O IPCC prognostica um valor mdio de 120 toneladas mtricas de carbono porhectare de estoque de biomassa na superfcie da terra em floresta tropical, o querepresenta 440 t CO2eq57. O lucro potencial da remoo de CO2 pelos agriculto-res familiares no sistema agroflorestal de um acumulado de 25 anos, que resulta em70 toneladas de carbono por hectare com um preo de U$3,50 / tCO2eq58, deU$ 35.95 (ou, aproximadamente, 10 tCO2e) por hectare, por ano59. O montanteque chega s mos dos agricultores familiares depender dos custos de transao.Nos centros pioneiros do Proambiente esses custos podero ser zero, posto que sepretende que o poder pblico e/ou empresas privadas assumam os custos demonitoramento e certificao.

    Ambas as iniciativas tm demonstrado que os sistemas agroflorestais so com-plexos e podem levar mais de trs anos antes que os benefcios se faam evidentes.Intercmbios e trocas de experincias so formas eficientes de compartilhar conheci-mentos em solos, espcies nativas, pragas, doenas, padres de precipitao e muitomais. O processo agroflorestal envolve investimento no desenvolvimento de capaci-dades, educao ambiental e o desenvolvimento de consensos entre as partes partici-pantes. No Brasil, mais de 1.011 experincias agroecolgicas tm sido identificadaspela Articulao Nacional de Agroecologia. A venda de carbono poder trazer novosingressos financeiros para essas iniciativas e similares que podero complementar oprocesso em andamento facilitando a ampliao dos objetivos.

    57 O fator de converso de tonelada de carbono para tonelada de Dixido de Carbono (tCO2/tC) 44/12 ou 3.6758 tCO2eq de MDL so Redues de Emisses Certificadas (RCEs) e atualmente tem um preo entre $4,50 e$5,50 para entrega em 2010 (http://www.co2e.com/trading/MarketHistory.asp) [Dezembro 2006]. Para lidarcom o risco de reverso das remoes de CO2 atravs de sua re-liberao na atmosfera foram desenhados eacordados RCEs ou tRCEs temporarios na COP9 em 2003. Devido ao risco implcito, seus preos so um poucomais baixos dos RCEs normal. Portanto, $3,50 uma boa estimativa59 Adaptado de May et al. (2004)

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    5.1 InformaoPossivelmente, a maior barreira para o acesso, neste momento, a falta de

    informao. Muitas organizaes de pequena escala e movimentos sociais no es-to conscientes ou receptivos aos trabalhos do MDL. Apesar dos procedimentos,modalidades e propostas estarem accessveis ao pblico, poucos tem o tempo ourecursos para avaliar a informao. No Brasil, o mercado de carbono est domina-do por grandes corporaes que tm recursos para interpretar e obter o mximodas oportunidades.

    Superando barreiras para umacomunidade ingressar em umprojeto florestal MDL

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    5.2 ElegibilidadeAlguns projetos podem ser inelegveis por no reunirem as definies flores-

    tais referentes aoano-base 01/01/1990. Esse ocaso, por exem-plo, de algumasreas ao sul deTocantins, quetm sido densa-mente povoadasdesde 1989.Tambm poderser difcil parareas vulnerveis desertificao,como reas do semi-rido, conseguir um nvel mnimo de definio de floresta, parti-cularmente com relao s rvores, que dificilmente alcanaro a altura mnima decinco metros. Assim, aconselhvel confirmar a elegibilidade com antecedncia.

    5.3 Posse da terraO padro de posse e uso da terra no Brasil nas ultimas dcadas, apesar de

    alguns avanos, ainda traz consigo a tendncia histrica de conflitos fundirios, altapresso sobre os recursos naturais e processo intenso de excluso social dos pro-dutores familiares rurais.60 A propriedade dos direitos sobre os crditos de carbonose torna um assunto nebuloso quando a terra da qual provem estes crditos perten-ce ao estado61, ou quando o direito de propriedade no est claramente definido.Parece haver uma relao significativa entre a posse da terra e a permanncia daremoo de carbono. A posse da terra serve de garantia para participar em progra-mas de crdito e facilita investimentos e planejamento no longo prazo.

    60 Adaptado de Mattos et al (2006)61May et al. (2004)

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    5.4 Custos de transao viabilidade econmicaDe acordo com o MDL, a maior parte dos custos de transao relacionados

    gerao e a venda das RCEs acontece na fase de planejamento e desenho, muitoantes do incio efetivo do projeto. Os primeiros lucros da venda de RCEs poderoser requeridos para cobrir os custos de transao. Dado um valor de U$5 portonelada de CO2eq, os custos de transao mnimos calculados variam entre US$30,000 a US$ 70,000. Assim, um projeto com um rendimento inferior a 15,000CO2eq, ao longo de seu perodo de vigncia ser invivel sob as atuais condiesdo MDL. Some-se a isso os custos de financiamento dos custos de transao62 queocorrem no incio. Se os preos do carbono aumentarem e os custos de transaodiminurem os projetos sero mais factveis.

    5.5 OrganizaoProjetos flo-

    restais de peque-nas comunidadesesto limitados a8.000 remoesde CO2eq porano. O tamanhoresultante do pro-jeto varia entre204 ha para esp-cies de cresci-mento rpido emflorestamento eat 3.500 ha. parasistemas agroflorestais.63 Com uma mdia de tamanho de lote de 5 ha por famliaseria necessrio a participao de 40 a 700 famlias. A organizao de diversos62 Adaptado de Dutschke et al. (2006)63 Locatelli e Pedroni (2004) citado em Dutschke et al, (2006)

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    participantes ou agrupaes de pessoas que no moram em terras contguas ouassentamentos significar elevar os custos de transao para o monitoramento porhectare. A manuteno do compromisso dos produtores com o florestamento vaidepender dos cuidados que os produtores dedicam s suas propriedades; da di-versidade de ecossistemas na rea de projeto, o que pode resultar em maior com-plexidade no acompanhamento e monitoramento.Grupos comunitrios so forma-dos por mltiplos atores com mltiplos interesses e percepes das prioridades dedesenvolvimento (e.g. gerao de renda, direitos locais de propriedade, etc.). Aparticipao voluntria em um projeto de carbono e o desenvolvimento de acordoscomunitrios devem contribuir na manuteno da unio do grupo. Eis aqui um as-pecto que requer um amplo processo de mobilizao, debate e aprofundamento dediretrizes que orientem o grupo para uma gesto participativa, a partir das dinmi-cas organizativas j existentes, em nvel local.

    possvel que as comunidades mais pobres e mais vulnerveis tenham menorcapacidade de organizar um projeto complexo como requerido pelo MDL e, por-tanto, existe o risco de que os mais fragilizados sejam postos de lado e os projetosMDL criem uma brecha ainda maior entre os ricos e os pobres, em nvel local64.

    5.6 TecnologiaO sucesso na implementao dos sistemas agroflorestais, na perspectiva do

    MDL, depender, em grande parte, do desenvolvimento de capacidades relativas propagao das arvores; identificao das plantas apropriadas (leguminosas eoleosas, etc.) para o estabelecimento de consrcios; ao manejo das seqnciastemporais inerentes ao processo de sucesso; identificao da vegetao comcapacidade de reteno e melhor aproveitamento de gua, entre outras. Tecnologi-as apropriadas, como sistemas de captao e armazenamento de gua de chuva,bancos de sementes nativas e agrcolas e foges eficientes no uso de combustveispodem ser integradas no sentido de proporcionar maior estabilidade e autonomiaao agroecossistema. Contudo, a mudana tecnolgica que, em essncia, mudan-a de comportamento, tem provado ser uma tarefa difcil, que requer formao eanimao continuadas, no sentido de promover ganhos qualitativos paulatinos napercepo e conhecimento, de forma indissocivel da prtica. Habilidades para acoleta de amostras e a manuteno de registros pertinentes quantificao de car-

    64 Dutschke et al, (2006)

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    bono podero ser desenvolvidas concomitantemente, em colaborao com institui-es de pesquisa e ensino, e multiplicadas atravs do intercmbio de experinciasentre agricultores familiares.

    Caso as alternativas propostas para o uso da terra, como sistemas agroflores-tais, no sejam igualmente ou mais rentveis do que as prticas atuais, provvelque os projetos venham a ter o desafiante dilema de priorizar o desenvolvimentosocial ou a gerao de remoes de CO2.

    5.7 InstituiesOs projetos requerem a construo de consensos entre os diversos atores,

    incluindo as associaes de agricultores; movimentos sociais e ONGs; autoridadeslocais estaduais e nacionais; instituies de pesquisa e ensino; corretores internaci-onais de carbono, etc. A identificao de processos, procedimentos e caminhosrelativos articulao institucional e construo de consensos crucial para que osagricultores familiares possam constituir ou fortalecer uma entidade para articular enegociar politicamente suas demandas.

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    5.8 ComplexidadeAs regras do MDL, especialmente para projetos florestais, so criticadas pela

    sua relativa complexidade65. Isso foi considerado necessrio para conseguir os acor-dos medida que as negociaes foram evoluindo no tempo. Projetos relaciona-dos energia so mais fceis de quantificar e tm menor risco de no-permannciae fuga. Na eventualidade de um incndio florestal durante o perodo decredenciamento, o comprador ter de renovar os crditos. Por causa do risco dareverso das remoes de CO2 atravs de sua re-liberao atmosfera, os crdi-tos florestais so considerados temporrios ou de largo prazo.

    Por essa razo e tambm pelo fato da comprovao de projetos florestais sermais complexa e controvertida, e por isso se dar de maneira mais questionvel nombito das negociaes internacionais, em comparao aos projetos de geraode energia66, os preos pagos por crditos florestais de carbono tendem a seremmenores que aqueles de RCEs no florestais.

    Padres de qualidade, como os Padres para o Desenho de Projetos sobreClima, Comunidade & Biodiversidade (CCB Standards), permitem a identifica-o de projetos que simultaneamente mitigam as mudanas do clima, apiam co-munidades locais e conservam a biodiversidade, dando assim credibilidade e clare-za, bem como reduzem os riscos para o investidor do projeto.

    Projetos voluntrios dos mercados de carbono evitam algumas das complexi-dades e custos dos projetos MDL. O Projeto Nhambita em Moambique67, porexemplo, um projeto agroflorestal de remoo de CO2 e de reduo de pobreza,no qual as remoes de CO2 verificadas so compradas voluntariamente por indi-vduos, organizaes e empresas. Mas at municpios ou entidades do poder pbli-co so compradores potenciais.

    5.9 EscalaEmbora se considere que os altamente diversificados sistemas agroflorestais

    66 Mattos et al (2006).67 Girling (2005) citado no Relatrio Stern (2006)

    65 Por exemplo, projetos florestais tm sido excludos da primeira parte do EU ETS (at o 31/12/07 e do WWFGold Standard (Standard de qualidade)

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    de pequena escala oferecem maiores benefcios sociais e ecolgicos, as remoesde CO2 promovidas por grandes plantaes de uma nica espcie com ndices decrescimento uniforme (monocultura), como eucaliptos e pinho, so mais fceis dequantificar e podero ser mais fceis de organizar. Portanto, monoculturas florestaistendem a ser mais atrativas para os corretores de carbono. Contudo, nesses siste-mas, nem todos os custos esto sendo considerados: tais monoculturas podemafetar negativamente o ciclo hidrolgico e reduzir drasticamente a biodiversidade ea disponibilidade de terra e o trabalho para a populao local.

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    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    Durante o processo de entrevistas para esta pesquisa foram manifestadas dvidas com relao ao MDL, especialmente sobre as possibili-dades e modos do mecanismo vir a beneficiar grupos tradicionais,indgenas e agricultores familiares. Para muitos, no momento, parece ser ummacromecanismo surrealista para grandes jogadores. As regras so bastante com-plexas e desmotivadoras. H, portanto, a necessidade de debate no sentido deencontrar respostas para estas dvidas. Alguns dos desenvolvimentos limpos dentrodo contexto florestal podem no ser to limpos, onde extensas monoculturas deplantas exticas substituem ecossistemas frgeis e, muitas vezes nicos, para a pro-duo de bio-combustveis ou celulose.

    Uma crtica comum ao Protocolo de Quioto que as redues de emissesno so suficientes. Austrlia e Estados Unidos (os maiores emissores de GEE percapita e os maiores emissores em termos totais, respectivamente) no tem ratifica-do o Protocolo e argumentam prejuzos de enorme monta e que gigantes emergen-tes, como a China, deveriam ser obrigados a limitar suas emisses, apesar dasemisses chinesas para gerao de energia serem inferiores mdia mundial percapita. Estima-se que para se manter o aumento da temperatura abaixo dos nveispr-industriais de 2C, h necessidade de aumentar progressivamente os compro-missos posteriores a 2012. Alguns argumentam algo em torno de 80% para o 205068.

    As RCEs mais atrativos para os corretores so aqueles projetos de grandesvolumes e baixos custos como gs de aterros de lixo e remoo de HFCs, comlimitados benefcios para o bem-estar local.

    Poucos so os projetos que apresentam progressos significativos no sentido

    Crticas aQuioto e ao MDL

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    68 Simms et al. (2006)

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    Agricultura Familiar e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. possvel?

    de alcanar os aspectos sociais, econmicos e ecolgicos do desenvolvimento sus-tentvel69. O Projeto Plantar, por exemplo, em Minas Gerais, Brasil, tem sido criti-cado por mais de 70 sindicatos, grupos religiosos e indivduos que escreveram umacarta dirigida ao Conselho Executivo do MDL, questionando como a companhiainicialmente adquiriu a terra para um plantio de eucaliptos de grande escala para acaptura de carbono. A companhia tem sido reprovada por uma deficiente adminis-trao ambiental, condies de trabalho perigosas e a permanncia e estabilidadedo seqestro de carbono tem sido questionada.

    Sequer um projeto florestal comunitrio de pequena escala, com elevado po-tencial de dividendos de desenvolvimento, tem sido registrado no MDL em nvelglobal. Pergunta-se como os mecanismos podem ser melhor desenvolvidos paraque o dinheiro do carbono possa chegar s mos de agricultores familiares empo-brecidos e no para os donos de extensas propriedades, que so responsveis porgrande parte do desmatamento?

    As regies mais pobres do mundo lutam para conseguir investimentos estran-

    69 Tayaib (2006)

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    Conor Fox, Guillermo Gamarra-Rojas, Jos Rego Neto e Jos Aldo dos Santos

    geiros diretos via o MDL. At outubro de 2006, a maioria dos projetos MDLregistrados esto concentrados no Brasil e na ndia, e dos 386 projetos, som