agenda do setor financeiro 2014

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agendado setor

financeiro

Dar condições ao setor financeiro para desempenhar o papel que lhe reserva a

Constituição e que dele espera a sociedade

2014 www.cnf.org.br

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Há quem diga que, no Brasil, existem “sistemas financeiros”, ao invés de um único Sistema Financeiro Nacional. Essa percepção nasce do contato diário dos usuários com instituições financeiras modernas e eficientes, que oferecem ampla gama de produtos e serviços para satisfazer diferentes necessidades dos vários segmentos da população. São tantas as faces do Sistema Financeiro Nacional que, de fato, po-de-se pensar em muitos sistemas. O setor financeiro brasileiro oferece facilidades, tais como caixas eletrônicas (ATMs) e operações pela Internet, que, muitas vezes, não são encontráveis em países mais desenvolvidos. Um setor financeiro flexível e ágil, pronto a se adaptar às mudanças na economia e na sociedade, é também um setor financeiro complexo. Muitas vezes, por falta de informação, é apontado como responsável por distorções na economia e na sociedade.

No mundo todo, os setores financeiros têm peculiaridades que os distinguem dos demais setores da economia. Numa cadeia produtiva, diferentes setores se entre-laçam, numa sequência que agrega valor às sucessivas etapas que transformam insumos em bens e serviços. O setor financeiro não se entrelaça com essas etapas: ele as permeia todas. Não há fase da produção de bens ou serviços, industriais ou agrícolas, que não dependa, em algum momento, de uma instituição ou de um produto ou serviço financeiro. Uma crise num setor da economia pode trazer con-sequências muito graves para produtores, empregados e consumidores de dado bem ou serviço; uma crise no setor financeiro pode trazer consequências ainda mais graves para todos os produtores, empregados e consumidores. Um setor fi-nanceiro saudável, sólido e transparente é benéfico para toda a economia e para todas as camadas da sociedade. Uma economia dinâmica, competitiva e sustentá-vel é benéfica para o setor financeiro.

Essa estreita relação entre o setor financeiro e os demais setores da economia pau-ta a visão de longo prazo da CNF. Em sua atuação institucional, a Confederação não se limita a defender interesses de segmentos do setor financeiro. A CNF pro-move debates e participa das grandes discussões que contribuem para o desenvol-vimento econômico e social do país. Na sua atuação, a Confederação se preocupa, permanentemente, em promover a ética e a transparência nas relações entre as instituições financeiras, bem como entre estas, a sociedade e o Estado.

Apresentação

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No Congresso Nacional, as matérias que envolvem o setor financeiro são, invaria-velmente, questões técnicas. São também questões que afetam não apenas o setor, mas toda a economia e toda a sociedade. Seus aspectos econômicos, contábeis, financeiros, matemáticos, jurídicos, tributários, tecnológicos, regulatórios e de segurança são sempre complexos. Para a CNF, o correto encaminhamento dessas questões requer minucioso e aprofundado estudo de todos os aspectos envolvidos, por atores despidos de preconceitos e isentos de posições preestabelecidas.

Esse é o duplo papel da “Agenda do Setor Financeiro”. Por um lado, a ASF serve de catalisadora do consenso entre as instituições financeiras sobre as questões que afetam todas elas. O que segue neste documento é produto de discussões entre as instituições financeiras e representa o denominador comum do setor para am-plo espectro de temas. Por outro lado, a ASF constitui subsídio para Parlamentares, Consultores e Assessores do Congresso Nacional, entre outros, que se debruçam sobre temas ou diretamente ligados ao setor financeiro, ou vinculados a questões que afetam o ambiente de negócios em que opera o setor – tais como as trabalhis-tas, tributárias, previdenciárias, sociais, ambientais, de segurança, de direitos do consumidor e de eficiência econômica.

A “Agenda do Setor Financeiro” trata de 24 temas e 186 subtemas. Para cada um de-les, são alinhadas informações jurídicas, econômicas, financeiras e históricas que justificam as posições do setor – enunciadas com destaque. Do conjunto dessas posições emerge a clara percepção de que a ASF é balizada por uma orientação fundamental: dar condições ao setor financeiro para desempenhar o papel que lhe reserva a Constituição e que dele espera a sociedade.

Visite nosso portal www.cnf.org.br para melhor conhecer as contribuições que esse setor tão importante faz à economia e à sociedade brasileiras. Ao longo do ano, o portal publicará atualizações na “Agenda do Setor Financeiro”. A CNF está à sua disposição para oferecer informações adicionais.

A “Agenda do Setor Financeiro”

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A Confederação Nacional das Instituições Financeiras, também designada pela sigla CNF, é uma associação civil sem fins lucrativos que congrega as entidades represen-tativas das instituições financeiras e assemelhadas, de âmbito nacional ou regional.

No Congresso Nacional, a CNF exerce prerrogativas exclusivas de entidades de clas-se de grau superior. A CNF está credenciada pelas Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados para o fornecimento de subsídios de caráter técnico, docu-mental, informativo e instrutivo aos Relatores de proposições, aos membros das Comissões, às Lideranças e aos demais parlamentares interessados e ao órgão de assessoramento legislativo. É que o dispõem o Art. 259 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (Resolução n° 10/ 2009) e o art. 30, §1°, do Ato da Comissão Diretora do Senado Federal n° 17/1987.

Também ao Poder Executivo a CNF está credenciada para participar de Conselhos, Comitês, Comissões e Grupos de Trabalho, como, por exemplo, o Conselho de Recur-sos Administrativos (CARF) e o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS).

Um Sistema Financeiro Nacional sólido, moderno e eficiente que promova a ética e a transparência nas relações entre instituições financeiras, bem como entre estas e a sociedade e o Estado, com vistas ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, harmônico em todas as regiões do país.

Orientar, coordenar, promover, defender e representar os interesses das instituições financeiras no plano nacional, com vistas ao fortalecimento e ao desenvolvimento das suas atividades, cooperando para o desenvolvi-mento econômico e social do país, observados os princípios da livre iniciati-va e da economia de mercado, voltadas para os interesses da coletividade.

VISÃO

mISSÃO

O que é e o que faz a CNF

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1 Orientar, coordenar, defender e representar os interesses das instituições finan-ceiras no nível nacional;

2 Colaborar para o fortalecimento e desenvolvimento harmônico das instituições financeiras em todas as regiões do país;

3 Cooperar para o desenvolvimento econômico e social do país, observados os princípios da livre iniciativa e da economia de mercado;

4 Patrocinar a solidariedade entre as categorias econômicas do sistema financei-ro, compondo e harmonizando seus interesses;

5 Promover, perante os diversos setores de atividade econômica do País, órgãos de comunicação, usuários dos serviços das entidades filiadas e público em ge-ral, a divulgação das atividades do Sistema Financeiro Nacional no contexto social e no atendimento aos interesses da coletividade;

6 Manter relação com organizações internacionais de interesses comuns, poden-do a elas se filiar;

7 Desenvolver conjuntamente com suas Associadas programas de formação, qualificação e certificação para dirigentes e funcionários das entidades Asso-ciadas e de suas afiliadas, bem como para terceiros que tenham interesse nas atividades e funcionamento do sistema financeiro;

8 Promover e realizar eventos tais como exposições, cursos, congressos, semi-nários, colóquios, conferências, palestras e outras iniciativas, com vistas ao aprimoramento técnico e profissional dos recursos humanos que integram os quadros das instituições financeiras e do público em geral.

ObjetIVOS

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1 Representar perante os órgãos, entidades e autoridades competentes, os inte-resses gerais das Associadas;

2 Tornar públicas posições do setor financeiro sobre questões relevantes para os objetivos sociais da CNF, sempre que solicitada por suas Associadas;

3 Indicar para eleição ou designar representantes junto a órgãos públicos de ju-risdição nacional, no interesse geral das Associadas, ressalvadas as indicações específicas da competência de cada Associada;

4 Colaborar com o Estado, como órgão técnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas que se relacionem com as atividades e categorias econômicas coordenadas;

5 Representar as Associadas, judicial ou extrajudicialmente, independentemente de mandato, bem como requerer mandado de segurança coletivo, nos termos da legislação vigente, do artigo 5°, incisos XXI e LXX, alínea “b”, da Constituição da República Federativa do Brasil, ou outra medida judicial cabível, com vistas a defender os direitos e interesses das Associadas;

6 Acompanhar, junto ao Congresso Nacional e demais órgãos legislativos ou nor-mativos, os projetos e propostas que versarem sobre as atividades e operações dos agentes econômicos e do sistema financeiro, bem como apresentar propo-sições e sugestões de aprimoramento.

PrerrOgAtIVAS PreVIStAS NOS

eStAtutOS SOCIAIS

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1 eduCAçÃO FINANCeIrA 19

2 dIreItOS dO CONSumIdOr 232.1 Atualização do Código de Defesa do Consumidor 24

2.1.1 Superendividamento 242.1.2 Ações Coletivas 252.1.3 Comércio Eletrônico 26

2.2 Decisões dos Procons – Título Executivo 272.3 Proteção dos dados pessoais 282.4 Marco Civil da Internet 282.5 Cadastro Positivo 292.6 Banco de Dados de Inadimplentes 302.7 Boletos de pagamento 312.8 Contratos 332.9 Direito de arrependimento 332.10 Venda casada 342.11 Tempo de espera em filas 352.12 Devolução de Valores 35

3 queStõeS SOCIAIS 393.1 Inclusão Financeira 393.2 Agenda Nacional do Trabalho Decente 403.3 Política Nacional de Participação Social 423.4 Igualdade no mundo do trabalho 433.5 Estatuto da Pessoa com Deficiência 433.6 Acessibilidade 443.7 Cláusula de observância de direitos humanos em contratos 46

sumário

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4 queStõeS AmbIeNtAIS 494.1 Sustentabilidade em instituições financeiras 504.2 Responsabilidade do agente financiador (poluidor indireto) 514.3 Calamidades públicas 524.4 Mercado de créditos de carbono 534.5 Compras sustentáveis 544.6 Política Nacional de Resíduos Sólidos 55

5 reFOrmAS eStruturAIS 595.1 Novo Modelo Previdenciário para Novos Trabalhadores 595.2 Reforma trabalhista/sindical 615.3 Reforma Fiscal 63

5.3.1 Controle dos gastos públicos – Lei de Responsabilidade Fiscal 65

6 eFICIêNCIA eCONômICA e COmPetItIVIdAde 676.1 Custo de Observância 676.2 eSocial – Envio unificado de informações 696.3 Concentração bancária 706.4 Lucro e rentabilidade bancária 716.5 Tratamento igualitário entre instituições financeiras

de capital nacional e de capital estrangeiro 726.6 Correspondentes no País 726.7 Digitalização/Arquivamento de documentos 746.8 Desoneração da folha de pagamentos 756.9 Regulamentação da Lei Anticorrupção 766.10 Desburocratização – Simplificação do Registro

e Legalização de Empresas e Negócios 786.11 Duplo registro 796.12 Territorialidade 796.13 Novo Marco Regulatório da Mineração 806.14 Agências Reguladoras 816.15 Publicação de balanços 826.16 Microempresas e empresas de pequeno porte 836.17 Recuperação de empresas 85

6.17.1 Limites do Plano de Recuperação Judicial 866.18 Desindexação da economia 87

7 reguLAmeNtAçÃO dO ArtIgO 192 dA CONStItuIçÃO FederAL 89

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8 reguLAmeNtAçÃO dA PrOmOçÃO de INtereSSeS PrIVAdOS LegÍtImOS juNtO AO SetOr PÚbLICO (LObbY ) 93

9 eFICIêNCIA judICIÁrIA e SegurANçA jurÍdICA 979.1 Reformas de Códigos Legais 98

9.1.1 Código Comercial 989.1.2 Código Penal 999.1.3 Código de Processo Civil 1009.1.4 Código de Processo Penal 1019.1.5 Código do Trabalho 101

9.2 Justiça do Trabalho 1029.2.1 Competência penal da Justiça do Trabalho 1039.2.2 Execução no processo trabalhista 1049.2.3 Recursos trabalhistas 1059.2.4 Depósito recursal 1069.2.5 Honorários advocatícios de sucumbência 106

9.3 Ação Civil Pública (ACP) 1079.4 Desconsideração da personalidade jurídica 1099.5 Interdito Proibitório 1099.6 Estratégia Nacional de não Judicialização (Enajud) 1109.7 Pacto Republicano 111

10 merCAdO de CAPItAIS 11310.1 Ampliação do acesso dos investidores ao mercado

de capitais com adequada proteção 11410.2 Ampliação do acesso das empresas ao mercado de capitais 11410.3 Derivativos e mercados futuros 11510.4 Varas da Justiça especializadas em matérias

ligadas ao mercado de capitais 11510.5 Aceitação de garantias de investidores estrangeiros 11610.6 Registro no Cade de participação acionária

por Fundos de Private Equity e Venture Capital 11710.7 Utilização de recursos do FGTS para aquisição de ações 117

11 bANCO CeNtrAL 11911.1 Funções de supervisão bancária 120

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12 CrédItO 12312.1 Alienação fiduciária 12412.2 Crédito consignado 12412.3 Recursos de previdência complementar dados em garantia 12612.4 Crédito Direto ao Consumidor (CDC) 12712.5 Cédula de Crédito Bancário Eletrônica 12712.6 Microcrédito 12812.7 Crédito rural 12912.8 Cooperativas de crédito 13012.9 Extinção da Garantia Real sobre Imóveis de Fronteira 13112.10 Fundo Garantidor de Créditos (FGC) 132

13 CrédItO ImObILIÁrIO 13513.1 Portabilidade do Crédito Imobiliário 13613.2 Concentração de atos registrais na matrícula 13613.3 Depósitos de Caderneta de Poupança 13713.4 Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) 13813.5 Patrimônio de Afetação e Regra do Incontroverso 13913.6 Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) 13913.7 Consórcio imobiliário 14013.8 Garantia Hipotecária 14113.9 Impenhorabilidade do bem de família 142

14 tAXA de jurOS e mArgeNS bANCÁrIAS (SPreAd) 14514.1 Capitalização de juros para prazos inferiores a um ano 14614.2 Tabela Price 14714.3 Tabelamento de juros 14914.4 Tabelamento de margem bancária (spread ) 14914.5 Limitação dos juros cobrados sobre cheque especial 15114.6 Depósito compulsório 152

15 FINANCIAmeNtO de LONgO PrAZO 15515.1 Letras Financeiras Imobiliárias e Covered Bonds 15615.2 Parcerias Público-Privadas (PPP) 15715.3 Privatização 158

16 queStõeS trIbutÁrIAS 16116.1 Código de Defesa dos Contribuintes 16216.2 Reforma do Processo Administrativo Fiscal 16316.3 Transparência de dados fiscais 163

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16.4 Créditos tributários 16416.5 Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) 16416.6 Execução Fiscal 16516.7 Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) 16616.8 Tributação de Incentivos à Contratação e à Produtividade 16716.9 Compensação de Ágio Interno em Reorganizações Societárias 16816.10 Tributação sobre ganhos de capital não realizados 16916.11 Tributação de Empresas Coligadas e Controladas 17016.12 Enquadramento no SIMPLES de correspondentes no país 17116.13 Comércio Exterior de Serviços 17216.14 Incidência de IR sobre lucros e dividendos 17316.15 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro,

ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) 17416.16 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

e arrendamento mercantil (Leasing) 17516.17 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) 17616.18 Contribuições sobre Movimentação Financeira 17616.19 Tributação sobre Grandes Fortunas 17716.20 Encargo financeiro para exportação 17816.21 Ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações 17816.22 Tributação dos títulos de renda fixa 17916.23 Tributação das operações de trocas de contratos

com fluxos de caixa (swap) 17916.24 Tributação do hedge agropecuário de pessoas físicas 18016.25 Tributação dos títulos do agronegócio 18016.26 Diferenciação entre fundos de curto prazo e de longo prazo 18016.27 Tratamento tributário do investidor estrangeiro

em fundos mútuos de investimentos 18116.28 Tributação do investimento de longo prazo 18116.29 Tributação de fundos de pensão 182

17 queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS 18517.1 Contribuição Social sobre o FGTS 18617.2 Terceirização 18717.3 Criação das Juntas de julgamento e do Conselho

Administrativo de Recursos Trabalhistas 18817.4 Concessão de benefícios em dinheiro – vale-transporte 19017.5 Tributação adicional sobre rotatividade de mão-de-obra 19117.6 Capacitação e qualificação do trabalhador 191

17.6.1 Desoneração de Bolsas de Estudos 19217.7 Acordo Coletivo Especial 19317.8 Equiparação de correspondentes a bancários 19417.9 Jornada de trabalho 195

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17.10 Fixação de piso salarial 19517.11 Estabilidade da relação empregatícia 19617.12 Estabilidade provisória da relação empregatícia 19717.13 Sociedades Cooperativas e estabilidade provisória 19817.14 Acidente de trabalho 19917.15 Adicional de penosidade 20017.16 Seguro Acidente de Trabalho (SAT) 20117.17 Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) 20117.18 Suspensão de contrato de trabalho em caso

de crise econômico-financeira 20217.19 Licença Maternidade 20317.20 Outras licenças trabalhistas 20417.21 Assédio moral 20517.22 Ponto eletrônico 20517.23 Unicidade sindical 20617.24 Acesso das entidades sindicais às informações das empresas 20717.25 Participação dos trabalhadores na gestão das empresas 20717.26 Contribuição assistencial 20817.27 Contribuição negocial 20917.28 Ultratividade das convenções, acordos

e contratos coletivos de trabalho 20917.29 Migração de trabalhadores qualificados 21017.30 Compensação da Gratificação de Função com a 7ª e 8ª horas 21117.31 Taxa de juros da mora trabalhista 212

18 queStõeS PreVIdeNCIÁrIAS 21518.1 Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) 21618.2 I Conferência Nacional da Previdência Social 21618.3 Fator Previdenciário 21718.4 Ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) 21818.5 Pensões e Benefícios 21918.6 Reajuste dos benefícios observando o salário mínimo 219

19 queStõeS de SegurANçA 22319.1 Uniformização da legislação sobre segurança bancária 22419.2 Crimes eletrônicos 22419.3 Combate à lavagem de dinheiro 22619.4 Definição do Crime de Terrorismo 22719.5 Vigilância privada 22819.6 Caixas eletrônicos 22919.7 Agências bancárias 22919.8 Segurança do transporte de valores 23019.9 Tecnologia de segurança 230

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20 queStõeS bANCÁrIAS 23320.1 Atividades bancárias como “serviços essenciais” 23320.2 Sigilo bancário 23420.3 Tarifas bancárias 23620.4 Horário de funcionamento de agências bancárias 23720.5 Cheques 238

20.5.1 Pagamento de cheques pré-datados, promissivos ou sem fundos 23820.5.2 Sustação de cheques 239

20.6 Transações eletrônicas 239

21 ArreNdAmeNtO merCANtIL (LeASINg) 24321.1 Valor Residual Garantido (VRG) 24421.2 Contabilização do leasing como ativo intangível 244

22 CArtõeS de CrédItO 24722.1 Imposto sobre serviços de qualquer natureza e Cartões de Crédito 24922.2 Fiscalização pelo Banco Central 25122.3 Diferenciação dos preços em funçãodo meio de pagamento utilizado 25222.4 Limitação dos juros sobre o crédito rotativo 253

23 PAdrõeS CONtÁbeIS 25723.1 Acordo de Basileia III 25723.2 Dedutibilidade imediata da provisão de Créditos Duvidosos 25823.3 Harmonização de regras contábeis com padrões internacionais 260

24 queStõeS INterNACIONAIS 26324.1 Brasil Investimentos e Negócios – Instituto BRAiN 26324.2 Ponto de Contato Nacional (PCN) 26424.3 Prevenção à evasão fiscal: Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA) 26524.4 Acordo contra bitributação entre o Brasil e os Estados Unidos 26624.5 Parlamento do Mercosul (Parlasul) 267

SItuAçÃO dAS PrOPOSIçõeS NA AberturA dA SeSSÃO LegISLAtIVA de 2014 271

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19capítulo 1: eduCAçÃO FINANCeIrA

Uma educação financeira de qualidade propicia be-nefícios tanto para os consumidores quanto para as instituições com que estes se relacionam. É por essa razão que a educação financeira está no topo da agenda das instituições do setor.

Para os consumidores, conhecimento de produtos e serviços, do funcionamento do sistema financeiro nacional e de princípios de matemática financeira, entre outros, facilitam a identificação das melhores alternativas de compra a prazo, de tomada de cré-dito e de investimento de sua poupança. Educação financeira previne contra riscos desnecessários e contribui para o equilíbrio das contas familiares, com foco no planejamento, no controle dos gastos

e na importância de se poupar. Aliar o perfil empre-endedor do brasileiro a uma educação financeira de qualidade contribui para o crescimento econômico sustentado e mitiga o superendividamento.

Para as instituições, por sua vez, a educação finan-ceira contribui para cimentar relacionamentos sóli-dos e duradouros com seus clientes, o que fomenta a bancarização e o crédito, com redução gradual da inadimplência e das margens bancárias (spread). Também contribui para o lançamento de gama mais variada de produtos financeiros, à medida que os brasileiros se voltem para o planejamento de longo prazo e recorram cada vez mais à previdência pri-vada, ao crédito imobiliário, ao financiamento edu-

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia iniciativas multidisci-plinares que permeiem toda a formação do futuro consumidor. Ao mesmo tempo, apoia medidas pontuais que ofereçam educação financeira ou para segmentos específicos da população, ou sobre aspectos específicos das atividades do setor financeiro, desde que tais ações não substituam o tratamento transversal con-templado, por exemplo, pela Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF).

educaçãofinanceira1

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agenda do setor financeiro 201420

cacional de suas famílias, à formação de carteiras diversificadas de ativos, para mencionar algumas das possibilidades.

Educação financeira pode ser oferecida em dife-rentes níveis de complexidade, para os mais varia-dos públicos. Assemelha-se, em grande medida, ao aprendizado de matemática, que permeia as mais diversas matérias acadêmicas. Assim, a educação financeira ideal não se limita a um aprendizado sim-ples, que possa ser adquirido numa disciplina espe-cífica no currículo escolar. Ao contrário, ela deveria

entremear diferentes matérias ao longo da formação do brasileiro. Essa é a orientação fundamental da Es-tratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF).

O Decreto nº 7.397/2010, que institui a ENEF, além de dispor sobre a gestão, estabelece que a execução da Estratégia dar-se-á em conformidade com dire-trizes como: (i) a gratuidade das ações de educação financeira; (ii) a formação de parcerias com órgãos e entidades públicas e instituições privadas; (iii) a prevalência do interesse público; e (iv) a atuação permanente e em âmbito nacional.

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capítulo 2: direitos do consumidor 23

O respeito das instituições financeiras aos direitos do consumidor está solidamente vinculado a uma relação mútua de confiança. Ao fazer um depósito, os clientes acreditam que seus recursos estarão dis-poníveis na forma e no prazo pactuados. Ao conce-der um empréstimo, as instituições acreditam que os recursos serão repagados nas condições contra-tadas. Confiança é a matéria prima fundamental das instituições financeiras. A eventual violação dos di-reitos do consumidor enfraquece esse vínculo e afe-ta o bom funcionamento do setor financeiro.

A observação desses direitos não se confunde com eventuais erros operacionais, inevitáveis num siste-ma que gerencia 199 milhões de contas bancárias. Resultados do balanço de instituições mais recla-madas divulgado pelo Banco Central em novembro de 2013 evidenciam que, ao considerar-se o núme-ro de clientes e volume de serviços prestados, os bancos estão entre as empresas brasileiras com o menor índice de queixas relativas. No ranking das dez instituições (com mais de um milhão de clien-tes) com maior número de reclamações, para cada

100 mil clientes o banco mais reclamado tinha 1,71 reclamações. Em um sistema que lida com um as-sunto tão sensível quanto o dinheiro e que mantém uma relação quase diária com seus clientes, proces-sando anualmente mais de 35,5 bilhões de transa-ções entre depósitos, empréstimos, pagamentos e recebimentos de todos os tipos de contas, trans-ferências e aplicações financeiras, o número de re-clamações no Banco Central pode ser considerado efetivamente baixo.

A CNF participará da 1ª Conferência Nacional de De-fesa do Consumidor (I CONDEC), comandada pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça, para o debate democrático de aperfeiçoamento das normas referentes às rela-ções de consumo. Esse evento poderá ocorrer entre 2014 e 2015 e discutirá, entre outros temas: crédito e superendividamento; relacionamento do setor fi-nanceiro com seus clientes; inovações tecnológicas e seus reflexos nas relações de consumo; consumo sustentável; prestação de serviços pela internet e comércio eletrônico.

direitos doconsumidor2

As instituições financeiras acompanham com interesse propostas que acrescen-tem transparência e correção às relações de consumo, ao mesmo tempo em que observem tanto os benefícios aos consumidores quanto as implicações de custos para as empresas. Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, tais propostas devem assegurar o equilíbrio entre, por um lado, os direitos dos consu-midores e, por outro, a viabilidade econômica dos provedores de bens e serviços.

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agenda do setor financeiro 201424

2.1 AtuALIZAçÃO dO CódIgOde deFeSA dO CONSumIdOr

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras considera oportuna a revisão do Código de Defesa do Consumidor, para tratar, entre outros, de questões como mercado de crédito, prevenção do superendividamento e comércio eletrônico. Para a reforma do CDC, a CNF pondera que dispositivos legais que intro-duzam incerteza em relações contratuais au-mentam o risco dessas relações e, por consequ-ência, têm reflexo no preço (tarifas ou taxas de juros, por exemplo). Por essa razão, eventuais novos dispositivos, ou alterações em regras já existentes, deveriam privilegiar a livre negocia-ção em ambiente concorrencial, no âmbito de marcos legais claramente definidos, resguar-dados os direitos dos consumidores.

Em 2010, o então Presidente do Senado, Senador José Sarney (PMDB/AP), instalou uma comissão de especialistas para estudar medidas que promovam a modernização do Código de Defesa do Consumidor com o intuito de adequá-lo à dinâmica atual das re-lações de consumo. O Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Herman Benjamin, um dos idealiza-dores do CDC, presidiu os trabalhos dessa comissão de especialistas. O grupo elaborou três anteprojetos, cuja tramitação legislativa iniciou-se em 2012, que tratam de: superendividamento, comércio eletrôni-co e ações coletivas.

Aos anteprojetos dessa comissão somam-se outras iniciativas do Ministério da Justiça, além de projetos já em tramitação no Congresso Nacional que promo-vem alterações substanciais na norma.

2.1.1 Superendividamento

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que fortaleçam a le-gislação para evitar o superendividamento com o propósito tanto de proteger consumidores contra o excesso de dívidas quanto de auxiliá-los a retornarem ao mercado de crédito. Para a CNF, parte importante da solução desse proble-ma passa pelo acordo de conciliação entre cre-dores e devedores, no qual a conciliação deve sempre ser obtida por meio de mecanismos de mercado, a fim de se evitar o risco moral, isto é, que consumidores se superendividem por con-tarem – desde o início – com um possível acordo posterior que reduzirá seus encargos.

O termo “endividamento” significa, na linguagem popular, contração de obrigações além da capaci-dade de pagamento. Tecnicamente, porém, o termo refere-se a evento corriqueiro na vida em sociedade: significa ter uma dívida frente a um fornecedor, seja um banco, seja um supermercado, um açougue, um locador do imóvel, ou seja, dívidas essenciais para que o cidadão tenha uma vida digna. Dessa forma, o endividamento não deve ser encarado como algo deletério, mas uma forma de alcançar metas e rea-lizar sonhos.

Já o superendividamento é a patologia do crédito. A CNF recebeu com grande interesse o “Manual de Pre-venção e Tratamento do Superendividado” prepara-do pela professora Cláudia Lima Marques (uma das pioneiras em estudos acadêmicos sobre superendi-vidamento no país), juntamente com o Departamen-to de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça. Lançado em janeiro de 2011, o Manual inicia uma série de investigações científicas sobre temas pertinentes à defesa do consumidor. Se-gundo o Manual do Ministério da Justiça, o superen-dividamento pode ser definido como:

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Impossibilidade global de o devedor pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas com o Fisco, oriundas de delitos e de alimen-tos) em um tempo razoável com a sua capacidade atual de rendas e patrimônio.

O uso indevido de produtos e serviços financeiros pode decorrer de diferentes causas, dentre as quais se destaca carência de educação financeira. Para que possam comparar as possibilidades que estão ao seu alcance, os clientes necessitam compreender as características dos diversos produtos e serviços financeiros, saber calcular e comparar os custos de cada produto, bem como determinar sua capacida-de de endividamento.

Do lado dos consumidores, o conhecimento de suas necessidades e dos instrumentos financeiros que atendem a essas necessidades é propulsor de pros-peridade e de realização de projetos. Do lado das instituições financeiras, o conhecimento de seus clientes e de suas limitações é crítico para evitar que sejam ofertados produtos e serviços inadequados. Os clientes, porém, usualmente se endividam em mais de uma instituição financeira. Assim, uma das principais causas do superendividamento é a falta de informações sobre o conjunto dos compromissos financeiros assumidos por determinado cliente em diferentes estabelecimentos, em diversas praças.

A contenção do superendividamento é um esforço no qual ganham todas as partes envolvidas: ganha a população, que passa a ter no crédito uma ferra-menta para a realização de seus projetos; ganha a sociedade como um todo, porque o uso consciente do crédito gera um consumo perene; e ganham os bancos com uma menor carga de inadimplência.

Se por um lado, ganha o fornecedor ao exercer o princípio da livre iniciativa de contratar e ofertar produtos, por outro, ganha o consumidor, que pode ter acesso a melhores condições de pagamento, por exemplo, em compras a vista ou a prazo pelo mesmo

preço. Deve-se sempre coibir os abusos, que quan-do constatados devem ser punidos de acordo com os preceitos e normas já vigentes, inclusive aqueles previstos no atual Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, as reformas devem ocorrer de forma a evitar um aumento de custo e, consequentemente, um aumento do preço de produtos e serviços, afe-tando indiretamente o consumidor.

A Confederação apoia uma atualização do Código de Defesa do Consumidor para amparar, ainda mais, o hipossuficiente em defesa dos seus direitos, enten-dendo, contudo, que “a norma não é escudo para a perpetuação de dívidas”, conforme defendido pelo ex-Ministro do STF, Carlos Alberto Menezes Direito.

2.1.2 açõeS coletivaS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que aprimorem a legislação que trata de ações coletivas com vis-tas a preservar as regras gerais de prevenção do Código de Processo Civil; a garantir a segu-rança jurídica dos atos; a resguardar o equilí-brio entre as partes; e a sustentar os princípios do contraditório e da ampla defesa.

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) alterou a Lei nº 7.347/1985, que disciplina a ação civil pública, e ampliou o escopo de emprego dessa norma. A Lei n° 7.347 voltou-se à proteção de interesses difusos e coletivos; com o CDC passou a também tratar de interesses ou direito individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. É uma das razões pelas quais a norma do Direito do Con-sumidor representa uma das principais evoluções legislativas ocorridas recentemente.

A CNF entende que a atualização da norma deve preservar a economia processual, impedindo a tra-mitação concomitante de ações coletivas que ver-

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sem sobre o mesmo objeto e que seja observado os limites da competência territorial do órgão prolator da sentença. Dessa forma, é importante que se pre-serve as regras gerais de prevenção do Código de Processo Civil, inclusive como forma de resguardar a segurança jurídica.

É importante que a reforma empreendida, ao inserir novos conceitos, traga consigo a especificação téc-nico-processual, evitando o surgimento de dúvidas semânticas que deem margem a interpretações equi-vocadas, que gerariam insegurança jurídica. Ademais, inserir no Código de Defesa do Consumidor normas de rito processual aprofunda a antinomia entre duas leis, no caso o CDC e o Código de Processo Civil.

2.1.3 comércio eletrônico

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia o aperfeiçoamento da legisla-ção referente ao comércio eletrônico e medidas que visem a fortalecer a sua aplicabilidade no ambiente virtual. A CNF reforça a necessidade de que esses aperfeiçoamentos levem em con-sideração o equilíbrio das relações de consu-mo e os custos envolvidos nos processos virtu-ais, de modo a não inviabilizar essa forma de transação, a não excluir dessa modalidade de comércio parcela de consumidores (em função de localidades e rendas diferenciadas) e a ga-rantir segurança ao consumidor.

A criação e a difusão do comércio eletrônico foram um avanço nas relações entre os fornecedores e consumidores. A disponibilidade de canais de com-pra à distância foi um grande passo para o aumento da competitividade e do acesso do consumidor aos mais diversos tipos de produtos e serviços.

Considerando a expansão dessa modalidade no país, em razão dos avanços tecnológicos, da globalização,

dos novos canais de distribuição eletrônica e da inte-gração dos mercados, o Ministério da Justiça estabe-leceu, no ano de 2010, adequações a tais veículos de transações comerciais por meio das diretrizes para as relações de consumo estabelecidas no comércio eletrônico, quais sejam: proteção paritária, transpa-rente e eficaz; informações exatas, claras e de fácil acesso; processo de confirmação sobre a transação; garantia de mecanismos de pagamentos seguros e de fácil utilização; procedimentos eficientes para re-solução de conflitos; e critérios objetivos de respon-sabilização do fornecedor.

A Confederação concorda com iniciativas que fortale-çam as diretrizes propostas, considerando que as re-lações de consumo realizadas por meio do comércio eletrônico devam ser assim norteadas para suscitar a confiança dos consumidores e estabelecer uma re-lação de consumo mais equilibrada nas transações comerciais eletrônicas. Contudo, a CNF entende que a ausência de definição objetiva de determinadas ex-pressões inseridas nos projetos em discussão – tais como: “assédio de consumo”, “endividamento exa-gerado”, “meios adequados e seguros” – deve ser evitada, pois a falta de conceituação clara, além de gerar insegurança, tem potencial de ampliar indevi-damente demandas judiciais.

As propostas que buscam permitir ao consumidor escolher o foro de sua residência, ou qualquer outro, independentemente de onde as partes pactuantes realizaram o negócio, constitui um privilégio injus-tificado. O dispositivo representa cerceamento do direito de defesa dos fornecedores ao conceder um rol tão amplo de escolhas de foro competente para propositura de ações. Muitos fornecedores enfren-tariam grandes dificuldades para exercer seu direito de defesa devido à distância, comprometendo a pro-dução de provas.

A contratação e/ou cancelamento de serviços e pro-dutos à distância é um grande avanço nas relações de consumo, conferindo agilidade tanto para o con-sumidor quanto para o fornecedor. Destaca-se, nes-

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ses casos, que o exercício de tal direito deve ocorrer dentro de prazos onde a operacionalidade pressupõe avaliação de vários procedimentos, de forma que não seria viável, por exemplo, o envio imediato de confirmações eletrônicas no caso da quitação, can-celamento ou contratação de um produto ou servi-ço. Isso porque o meio eletrônico traz mais agilidade, porém ainda depende de outros fatores técnicos que visam, inclusive, a garantir a segurança do cliente.

No que diz respeito a produtos e serviços financeiros, a CNF entende que não podem ser devolvidos a não ser que o consumidor arque com eventuais despe-sas oriundas da sua utilização durante certo período de tempo. Enquanto o objeto do financiamento (di-nheiro) ficou em poder do cliente, este o utilizou e se beneficiou de seu rendimento, não sendo correto o consumidor dele se utilizar sem remunerar o cre-dor. Na visão da CNF, o ato de um tomador de recur-sos que detenha os valores por algum tempo, aufira ganhos da aplicação desses recursos e em seguida devolva o capital por arrependimento caracterizaria enriquecimento ilícito do devedor. Dessa forma, só caberia o exercício do direito de arrependimento para os casos em que os recursos ainda não foram disponibilizados ao consumidor.

2.2 deCISõeS dOS PrOCONS – tÍtuLO eXeCutIVO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que busquem conferir efetividade às decisões e multas apli-cadas pelos órgãos de defesa do consumidor, ao mesmo tempo em que são asseguradas as garantias do direito de defesa, do acesso ao ju-diciário, do devido processo legal e da razoabi-lidade, previstas na Constituição Federal.

Para o bom funcionamento do Sistema de Defesa do Consumidor (SDC), é fundamental que as deci-

sões dos Procons – inclusive multas – sejam acata-das. Contudo, a transformação das multas dos Pro-cons em títulos executivos extrajudiciais fragiliza o SDC, na medida em que introduz um elemento de arbitrariedade incompatível com o Estado Demo-crático de Direito.

Os títulos a que o Código de Processo Civil (CPC) atri-bui força executiva extrajudicial possuem os atribu-tos da certeza, liquidez e exigibilidade (art. 686) para que possam ser objeto de execução definitiva (art. 587). Assim, transformar as multas aplicadas pelos órgãos de defesa do consumidor em títulos executi-vos extrajudiciais significa dizer que estes só pode-rão ser questionados no Poder Judiciário quanto à sua exigibilidade, certeza e liquidez. Nesse caso, não caberia questionamento a respeito da legalidade, da razoabilidade, do valor aplicado, da competência da autoridade, da efetiva ocorrência do fato ensejador da multa, entre outras circunstâncias de fato e de direito que podem gerar legítimos questionamentos por parte das empresas multadas.

Tal limitação da possibilidade de questionamen-to judicial de todos os aspectos dessa multa viola a garantia constitucional do direito de defesa das empresas, de acesso à justiça, além de violar o princípio da razoabilidade, eis que nem as multas administrativas impostas pelo Poder Público são consideradas título executivo extrajudicial, uma vez que estas dependem de inscrição na dívida ativa para a sua execução, podendo ser questionadas pe-los particulares.

Dispositivo dessa natureza existia no artigo 82 do Código de Defesa do Consumidor, que foi vetado pelo Presidente Fernando Collor quando lhe foi sub-metido à sanção. O veto deu-se pela improprieda-de de se equiparar compromisso executivo a título executivo extrajudicial, visto que o objeto do com-promisso é a cessação ou a prática de determinada conduta e não a entrega de coisa certa ou pagamen-to de quantia fixada.

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2.3 PrOteçÃO dOS dAdOS PeSSOAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para a pro-teção de dados pessoais que confiram efetivo controle dos cidadãos sobre o uso e a divulga-ção de suas informações, ao mesmo tempo em que impliquem custos realistas não só para os consulentes de informações – as instituições fi-nanceiras, por exemplo – mas também para os coletores e gestores dessas informações. Com isso, busca-se criar um sistema sustentável e confiável de fornecimento de dados expressa-mente autorizados por seus titulares.

O Ministério da Justiça (MJ), em 2010, propôs um debate público sobre minuta de anteprojeto de lei que versa sobre a proteção da privacidade e de da-dos pessoais dos cidadãos, especialmente no am-biente da Internet. Nos termos da minuta, qualquer informação pessoal só poderá ser tratada mediante o consentimento do titular ou por expressa previ-são legal. O consentimento também é necessário para usos posteriores dos dados por bancos e em-presas ou repasses a terceiros. Os dados ditos sensí-veis, como os fiscais e bancários, estarão sujeitos a proteção especial, com sanções ainda mais rígidas contra os infratores.

O anteprojeto preparado pelo Ministério da Justiça apresenta pontos em comum com o Marco Civil da Internet (MCI), o qual reúne regras para determinar direitos, deveres e responsabilidades de internau-tas, provedores de acesso e atuação do Estado no ambiente virtual. Entre os destaques do texto está a garantia do sigilo do conteúdo das comunicações e da preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do usuário.

A proteção de dados pessoais não recebe tratamen-to específico no ordenamento jurídico brasileiro e as normas existentes são esparsas e setoriais, embora

a privacidade seja uma das garantias fundamentais previstas na Constituição Federal (CF). Nesse senti-do, a CNF concorda integralmente com o Ministério da Justiça sobre a urgência de se “conferir aos bra-sileiros uma efetiva cidadania digital, evitando que suas prerrogativas e direitos em relação a seus da-dos pessoais e sua privacidade sejam menores do que aquelas de nacionais de vários outros países”.

2.4 mArCO CIVIL dA INterNet

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia a proposta de criação de um Marco Civil que supra a ausência de regula-mentação para o uso da internet e sirva como um norteador da ação das empresas nesse ambiente, propiciando maior segurança jurí-dica aos atores envolvidos nas relações virtu-ais e respondendo aos conflitos que decorrem dessas novas relações. Para a CNF, essa regu-lamentação deveria prever também a guarda dos registros de conexão e de acesso a apli-cações de internet por prazo suficientemente longo que forneça elementos para eventuais investigações de crimes eletrônicos.

A elaboração de um Marco Civil da Internet foi inicia-tiva do Ministério da Justiça (MJ) que, no ano de 2009, colocou em duas rodadas de audiência pública um anteprojeto cujo objetivo central é definir os direitos, deveres e responsabilidades de cidadãos, empresas e Governo em relação às suas ações na internet. A criação de uma legislação civil para a internet segue experiências internacionais. Argentina, Estados Uni-dos, França e diversos outros países da Europa, por exemplo, já adotaram seus marcos.

A proposta não trata de temas polêmicos como: cri-mes cibernéticos, comércio eletrônico e direitos au-torais. Conforme entendimento do MJ, tais assuntos deverão ser tratados por legislações específicas, já

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que inseri-los na proposta de Marco Civil atrasaria sua elaboração e a construção de consenso em tor-no de seus dispositivos.

Apesar do acerto da proposta em superar lacunas na ordem jurídica nacional no que concerne à re-gulamentação do uso da internet, ela carece de aprimoramentos, especialmente no que diz respei-to à guarda de registros de conexão e de acesso a aplicações de internet. Também merece discussão aprofundada a localização física de servidores em território brasileiro.

A CNF defende a previsão de guarda dos registros de conexão e de acesso a aplicações de internet por pra-zo suficientemente longo para manter informações relevantes que possam vir a ser usadas em proces-sos investigativos ou na defesa de particulares. Tra-ta-se aqui do registro de conexão e de seu conteúdo. Dessa forma, quando da ocorrência de fraudes ou crimes eletrônicos, as informações armazenadas e decorrentes de prévia relação de consumo poderiam ser utilizadas para facilitar a identificação do real autor da conduta ilícita, uma vez que, do contrário seria apenas possível localizar o número do IP, isto é, a identidade do computador de origem da conduta fraudulenta (mas não os dados pessoais do autor). Ressalte-se que a guarda desses registros deve ser feita de forma confidencial e restrita, de modo a ga-rantir que pessoas não autorizadas não os acessem. Além de contribuir com a investigação de condutas ilícitas cometidas no ambiente virtual, a guarda dos registros tem potencial inibidor de crimes, dissua-dindo potenciais autores de atos dolosos.

No que diz respeito à localização física de servidores em território brasileiro, ainda há muita desinforma-ção. A segurança de dados não está relacionada com o local de armazenagem dos dados, mas sim com a forma como são mantidos e protegidos. O setor bra-sileiro de tecnologia da informação (TI) é um dos maiores geradores de empregos no Brasil e perma-nece competitivo em parte em virtude das cadeias internacionais de suprimento (global supply chains),

que se beneficiam da eficiência da rede global e do fluxo de dados. A localização física de servidores tem implicações para a segurança, para custos, para competitividade e para os consumidores.

O requisito de localização física em território brasi-leiro também prejudicaria o objetivo da Presidência da República de fazer do Brasil um líder em tecno-logia e inovação regional através do “Programa Es-tratégico de Software e Serviços de TI (TI Maior)” do Ministério da Ciência e Tecnologia.

2.5 CAdAStrO POSItIVO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras entende que a Lei nº 12.414/2011 que instituiu o Cadastro Positivo contribuirá para estender a bancarização e o crédito às cama-das da população de menor poder aquisitivo, com efeitos positivos sobre o crescimento eco-nômico sustentável e a distribuição de renda. Para a CNF, a legislação não equacionou a con-tento a questão da responsabilidade objetiva e solidária dos consulentes. A Confederação apoia propostas que atribuam responsabilida-de objetiva e solidária apenas às fontes e aos gestores de bancos de dados pelos danos que possam eventualmente causar a cadastrados.

Em junho de 2011, o Poder Executivo sancionou a Lei nº 12.414/2011, que disciplina a formação e consul-ta a bancos de dados com informações de adimple-mento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito (Cadastro Po-sitivo). A norma teve origem na edição da Medida Provisória nº 518/2010.

A mais evidente das vantagens do cadastro positivo é a de que bons pagadores passam a se beneficiar de taxas de juros diferenciadas, com consequente redu-ção gradual do spread bancário (ver Seção 14 – Taxa

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de juros e margens bancárias (spread)). Discute-se também seu impacto esperado sobre a ampliação dos serviços bancários, com benefício para a popu-lação de faixas de renda mais baixa, bem como sua contribuição para evitar o superendividamento, ao permitir aferição mais efetiva da capacidade de pa-gamento dos consumidores.

O Decreto nº 7.829/2012, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2013, regulamentou a Lei nº 12.414/2011, definindo as condições para funciona-mento dos bancos de dados; as informações a serem incluídas no histórico de crédito do consumidor; os critérios para consulta ao banco de dados; a autori-zação para abertura do cadastro pelo cliente e poste-rior compartilhamento dessas informações.

O Conselho Monetário Nacional editou a Resolução n° 4.172/2012, que regulamentou o repasse das in-formações dos clientes pelas instituições financeiras aos bancos de dados que deverão operar o histórico de adimplemento. Nos termos da referida Resolução, devem ser repassadas aos bancos de dados as infor-mações que compõem o histórico das operações de empréstimo e financiamento, de arrendamen-to mercantil, de autofinanciamento realizadas por meio dos grupos de consórcio e de adiantamentos e outras operações com características de concessão de crédito. O histórico será composto pela data da concessão do empréstimo ou financiamento, o valor original total do empréstimo, valores e datas de ven-cimentos das prestações, bem como valores pagos. Somente os bancos de dados cujo gestor detenha patrimônio líquido mínimo de R$ 70 milhões pode-rão gerir e receber tais informações.

A regulamentação da Lei n° 12.414/2011 por Decre-to e por Resolução do CMN não superou o principal obstáculo à rápida implementação de bancos de dados, a saber, a inclusão de consulentes no rol dos responsáveis objetiva e solidariamente por eventu-ais danos causados a cadastrados, conforme expres-samente dispõe o art. 16 da Lei.

A responsabilidade objetiva prescinde da compro-vação de culpa, estabelecendo a obrigação de inde-nizar mesmo sem que se comprove vínculo entre o dano e o agente.

Para a Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, não é adequado colocar no mesmo patamar de responsabilidade os que coletam, geram, processam e transmitem informações sobre cadastrados e aque-les que meramente consultam essas informações para subsidiar decisões de crédito, sem poder verifi-car sua precisão ou efetuar correções. Na relação con-tratual que se estabelece entre, de um lado, fontes e gestores de bancos de dados e, de outro, consulentes, estes são consumidores e aqueles fornecedores de serviço. Essa polarização na relação contratual deve-ria refletir-se também nas responsabilidades atribu-ídas a cada uma das três partes envolvidas. Não ca-beria aos consulentes a responsabilidade objetiva e solidária por danos causados aos cadastrados.

A exclusão dos consulentes do rol dos agentes a quem pode ser imputada responsabilidade solidária e objetiva não afastaria sua eventual responsabilida-de direta pelo descumprimento das obrigações que lhe são cominadas pela Lei do Cadastro Positivo (Lei nº 12.414/2011) para a realização da consulta, como a obrigação de apenas consultar dados de pessoas com as quais mantém ou pretendam manter relação creditícia ou comercial.

2.6 bANCO de dAdOS de INAdImPLeNteS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a correta inclusão de informações sobre toma-dores de crédito inadimplentes em bancos de dados (o “cadastro negativo”), bem como para a limitação do uso dessas informações à fina-lidade precípua desse tipo de banco de dados, que é a avaliação do perfil do tomador para fins

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A utilização do banco de dados de inadimplentes, no qual constam informações de devedores com dívidas vencidas e não pagas há mais de trinta dias, foi certamente um avanço, pois viabilizou que deci-sões sobre concessão de crédito fossem tomadas de maneira mais segura. Combinado com o cadastro positivo, pode fornecer informações mais detalha-das sobre o perfil dos clientes bancários, permitindo a diminuição gradual do spread em decorrência do menor risco de crédito.

As discussões em torno do “cadastro negativo” fo-cam em quatro questões centrais. A primeira é a inclusão indevida de tomadores de crédito nesse banco de dados, seja por erro operacional, seja por pressão indevida do credor para obter o pagamento em atraso. A segunda questão está associada à difi-culdade de o cadastrado retirar seu nome do regis-tro, uma vez regularizados os débitos. A terceira está ligada ao uso indevido das informações contidas no banco de dados de inadimplentes, por exemplo, em disputas trabalhistas, uma vez que tais informações devem destinar-se exclusivamente à avaliação do perfil do tomador para fins de concessão de crédito. A quarta questão diz respeito à confidencialidade dos dados e à proteção de dados pessoais.

2.7 bOLetOS de PAgAmeNtO

Em termos operacionais, o sistema bancário avan-çou muito na criação de alternativas aos clientes para pagamentos de boletos (também chamados de “bloquetos”), oferecendo possibilidades que são encontradas em poucos países do mundo. Canais al-ternativos de pagamento, como telefone, internet e caixa eletrônico, operam em horários mais flexíveis que os das próprias agências bancárias e permitem o pagamento dos boletos nas datas indicadas, mes-mo em casos fortuitos ou de força maior. Quando não há acesso a esses canais, também é possível efetuar o pagamento em estabelecimentos não fi-nanceiros (lotéricas, supermercados, farmácias, en-tre outros). A compensação bancária, mesmo em períodos de paralisação do funcionamento de agên-cias, é realizada normalmente, uma vez que se trata de atividade essencial e de manutenção obrigatória (conforme dispõem os artigos 9º e 10, inciso XI, da Lei nº 7.783/1989). Mesmo assim, ocorrem casos em que instituições financeiras são equivocadamente responsabilizadas por não alterarem as condições de pagamento contratadas entre devedor e credor; por repassarem custos vinculados à emissão de no-vas vias de boletos; por não alterarem o local de pa-gamento da fatura; por não receberem pagamentos após a data de vencimento; e por não permitirem a

de concessão de crédito. A CNF também apoia proposições que reforcem a confidencialidade dos dados e a proteção de dados pessoais dos cadastrados, que sejam realistas e que impli-quem custos compatíveis com as atividades das empresas operadoras desses bancos de dados.

boletos de forma a conferir a máxima como-didade e conveniência aos consumidores, no entendimento de que tais propostas devam considerar: (i) a neutralidade das instituições financeiras, no papel de intermediárias da re-lação de consumo, por alterações nos termos contratados entre credor e devedor; (ii) os acréscimos de custos gerados pela emissão de vias adicionais; (iii) limitações operacio-nais na definição de locais para o pagamento de faturas por contrato entre as partes; (iv) a liberdade de escolha do cliente quanto à data de vencimento da fatura; e (v) a manutenção, ao longo do período da operação, das datas de vencimento escolhidas.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de aprimoramento da legislação que regula os pagamentos de

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mudança constante da data de vencimento da obri-gação contratada entre as partes.

A emissão de documentos de cobrança atende a uma série de dispositivos legais e está condicionada por limitações estruturais e operacionais. A introdu-ção de alterações na sistemática de cobranças sem considerar os normativos que as regem e as possi-bilidades estruturais e operacionais pode se revelar prejudicial ao consumidor. Nas relações do vende-dor ou prestador do serviço com o sacado e com a instituição financeira cobradora, os direitos e obri-gações relacionados ao boleto bancário são regidos por contrato entre as partes.

As instituições financeiras, ao receberem o paga-mento dos boletos, atuam na maior parte das ve-zes como prestadoras de serviços, intermediando o pagamento e o recebimento de valores nos ter-mos contratados entre as partes. Nessa posição, os bancos não possuem poder para acordar isenções, abonos ou quaisquer benefícios relativos à cobran-ça. Não cabe aos bancos conceder descontos, deixar de exigir encargos moratórios de cobranças ou adiar o pagamento de boletos, pois os valores recebidos não lhes são devidos, mas sim ao cliente que contra-tou seus serviços. Somente os credores das dívidas é que possuem competência para permitir a altera-ção do pagamento.

Em qualquer atividade econômica, custos adicio-nais causados por qualquer acréscimo de obrigação transferem-se, via de regra, ao consumidor final. Não é diferente no caso dos serviços prestados por insti-tuições financeiras. Normalmente, o processamento desses serviços, com todos os custos operacionais que tal processamento implica, resulta, entre outros, na documentação da operação realizada. A emissão de segunda via dessa documentação não se consti-tui em mera cópia do boleto original, mas sim na ve-rificação de todos os passos envolvidos na operação original para emissão de nova via, com consequente acréscimo de custos.

A Circular Bacen nº 3.255/2004, que dispõe sobre a emissão e a liquidação de boletos de cobrança, tra-ta do local para pagamento de fatura. O normativo também cria o VLB-Cobrança, define esse valor e estabelece medidas complementares, disciplinando especificamente, em seu artigo 3º e incisos, a possi-bilidade de que o recebimento do boleto bancário seja regulado por intermédio de contrato firmado entre bancos e prestadores de serviços e convenção entre instituição financeira recebedora e cobrado-ra. Não cabe a uma instituição financeira que atua como mera intermediária nessa relação alterar os termos do contrato firmado entre credor e devedor e determinar local de pagamento diferente do contra-tado e do regulado pelo normativo do Bacen.

Alterações no local de pagamento de boletos esbar-ram, ademais, nas limitações operacionais para que qualquer banco, após a data de vencimento, receba pagamento destinado a outro banco. Ocorre que os sistemas das instituições financeiras não são inter-ligados para processamento e acesso de bases de modo on-line, o que impossibilita consultas nos ca-sos em que o pagamento do sacado é protestado no mesmo dia. Da mesma forma, o cálculo dos valores devidos para pagamentos após o vencimento do bo-leto exige que sejam validadas a regra de recebimen-to e as condições da cobrança anteriormente contra-tadas; na maioria dos pagamentos, tal validação não é realizada manualmente e requer consulta às bases de dados da cobrança quando os pagamentos ocor-rem no próprio banco cedente.

Com exceção do crédito consignado, em vários tipos de operações, como as de crédito imobiliário, o setor financeiro já oferece aos clientes o direito de escolher a data de vencimento que melhor lhe convier. Con-tudo, a constante alteração da data de vencimento afeta negativamente a precificação das operações e, com isso, termina por prejudicar os consumidores. Ao lado da confiança, o tempo é outra matéria-prima fundamental dos produtos e serviços financeiros. To-das as operações financeiras são construídas ao lon-go de um vetor de tempo e a regularidade de desem-

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bolsos e de recebimentos permite calcular variáveis financeiras chaves, tais como o valor presente de um empréstimo, o montante dos pagamentos periódicos e a taxa de juros efetiva embutida na operação. Nes-se contexto, produtos e serviços financeiros são de difícil precificação se a data de pagamento de fatu-ras se altera constantemente ao longo do período da operação. Na ausência de elementos para precifica-ção adequada, o comportamento de todos os agen-tes econômicos – inclusive os financeiros – torna-se conservador, com tendência a se aumentarem defen-sivamente os preços. Um dos muitos complicadores de um contrato com datas de pagamento variáveis seria, por exemplo, a impossibilidade de se deter-minar a data de vencimento que seria utilizada para apuração da dívida no caso de prestações em atraso.

2.8 CONtrAtOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos que tornem cada vez mais clara e compreensível a relação entre as instituições financeiras e seus clientes, celebra-da por meio de contratos, cuja cópia deve ser sempre fornecida ao consumidor. Para a CNF, a padronização de contratos não se deve consti-tuir em barreira à inovação e à adequação de produtos e serviços ao perfil específico e único de cada consumidor.

É necessário que os dispositivos contratuais sejam perfeitamente compreendidos pelos contratantes, com o consequente entendimento do seu significado e das obrigações pactuadas deles derivadas. Para tan-to, é fundamental que o contrato seja redigido numa linguagem clara e facilmente perceptível quanto ao seu objeto, de modo que o cliente seja devidamente informado. Também o tamanho das letras, claramen-te legíveis, contribui para a eficácia dos contratos. Quanto ao conteúdo, é crítico que não incluam cláu-sulas abusivas que contaminem toda a relação con-

tratual e viciem o compromisso entre as partes. Uma escolha livre e esclarecida implica necessariamente a prestação de informações completas, claras e com-preensíveis, para que os destinatários possam prever e avaliar as consequências jurídicas dos seus atos.

A entrega de minuta de contrato, antes do fechamen-to de negócios, e de cópia do contrato final, após esse fechamento, tornou-se prática corriqueira, am-plamente disseminada no setor financeiro. O Código de Autorregulação Bancária lançado pela Febraban, por exemplo, destina um capítulo à parte aos proce-dimentos da contratação e dispõe que:

Quando o consumidor decidir contratar produtos ou serviços, a Signatária explicará os seus direitos e responsabilidades, tais como definidos nos Termos e Condições do contrato. Tais Termos e Condições se-rão elaborados em linguagem que facilite o entendi-mento do consumidor, com destaque nas cláusulas mais relevantes para a tomada de decisão conscien-te. Linguagem técnica ou jurídica será utilizada ape-nas quando necessário, para dar a devida exatidão e segurança ao teor do contrato. A Signatária dispo-nibilizará ao consumidor uma minuta de contrato para conhecimento prévio e avaliação.

As cláusulas, bem como as práticas abusivas, a vedação à veiculação de publicidade enganosa, a obrigatoriedade de que a informação seja clara e precisa, as proibições de critérios discriminatórios ou preconceituosos, além de outras preocupações com os consumidores em relação aos contratos, também estão devidamente contidas no Código de Defesa do Consumidor.

2.9 dIreItO de ArrePeNdImeNtO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que assegurem e ampliem o direito de arrependimento, ao mes-

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O direito de arrependimento, previsto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor visa a proteger o consumidor, nas hipóteses em que não teve a opor-tunidade de, previamente, avaliar se o produto ou o serviço correspondem à sua expectativa e refletir, no prazo de 7 dias, a conveniência de, eventualmente, desistir da contratação de produtos ou serviços, dis-pensando-se a necessidade de apresentar qualquer justificativa. No entanto, o dispositivo é aplicável apenas para contratações realizadas fora do estabe-lecimento comercial, ou seja, por catálogo, de “porta em porta” ou via Internet, por exemplo. Nesses casos, se o consumidor exercitar o direito de arrependimen-to, o fornecedor é obrigado a aceitar a devolução e restituir o valor pago, monetariamente atualizado.

A CNF defende que, caso o direito de arrependi-mento se aplique também aos negócios que forem realizados dentro de estabelecimentos comerciais, sejam descontadas do valor total a ser reembolsado pelo fornecedor as eventuais despesas incorridas por este com fretes, taxas, encargos e impostos in-cidentes sobre o contrato. A intenção da medida é resgatar o equilíbrio das relações comerciais entre consumidores e fornecedores.

No que diz respeito a produtos e serviços financeiros, a CNF entende que não podem ser devolvidos a não ser que o consumidor arque com eventuais despesas oriundas da sua utilização durante certo período de tempo. Enquanto o objeto do financiamento (dinhei-ro) ficou em poder do cliente, este o utilizou e se be-neficiou de seu rendimento, não sendo correto o con-

sumidor dele se utilizar sem remunerar o credor. Na visão da CNF, o ato de um tomador de recursos que detenha os valores por algum tempo, aufira ganhos da aplicação desses recursos e em seguida devolva o capital por arrependimento caracterizaria enrique-cimento ilícito do devedor em detrimento do credor.

2.10 VeNdA CASAdA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia dispositivos que proíbam ope-rações de venda casada. Essa prática nociva não se confunde com a oferta de produtos e serviços financeiros apresentados ao consu-midor como alternativas de combinações des-ses produtos e serviços, sem limitar as opções do consumidor àquelas apresentadas pela instituição financeira.

Entende-se por venda casada a prática comercial em que o fornecedor condiciona a venda de um produ-to ou serviço à aquisição de outro produto ou servi-ço. Em muitos casos, trata-se de uma estratégia de marketing corriqueira, bastante utilizada em dife-rentes países. Em outros casos, caracteriza abuso de poder econômico ao constranger o cliente a adquirir bens e serviços não demandados originalmente.

Entretanto, em muitos casos a venda de produto atrelada a serviço é característica do próprio negó-cio e não representa a prática “casada” nos termos vedados pelo Código de Defesa do Consumidor. É preciso ter cuidado para não confundir a prática de venda casada prejudicial ao consumidor com estra-tégias de oferecimento de conjunto de produtos e serviços por preço diferenciado em benefício do pró-prio consumidor, a quem deve ser sempre assegura-da a liberdade de escolha.

No caso particular de seguros, quando este é exigido pela legislação brasileira, a combinação de cobertu-

mo tempo em que prevejam o reembolso dos custos de fornecimento de produtos e serviços. No caso de serviços financeiros, tal reembolso deveria ser realizado com o devido acréscimo de juros, taxas, tributos e demais encargos contratuais, incidentes desde a data da efetiva contratação até a data da efetiva restituição dos valores pelo consumidor.

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capítulo 2: direitos do consumidor 35

ra contra riscos e determinado produto ou serviço financeiro tende a minimizar o custo total, para o consumidor, da operação.

2.11 temPO de eSPerA em FILAS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução do tempo de espera em filas para atendimento em agências bancárias assentadas no estímu-lo à inovação tecnológica e administrativa vo-luntária. A ação coordenada com outras partes envolvidas, tais como estabelecimentos comer-ciais e órgãos da Administração Pública, contri-bui para reduzir o tempo de fila por meio do es-calonamento de pagamentos e recebimentos.

O atendimento nos bancos costuma ser mais intenso em períodos específicos. Filas para atendimento nos caixas e nos terminais eletrônicos são mais comuns no início dos meses, por exemplo, em decorrência da grande quantidade de pessoas que recebem seus salários nesse período. São épocas em que também se verificam maiores filas nos estabelecimentos co-merciais e nas repartições públicas.

Em anos recentes, é sensível a diminuição do tempo de espera para atendimento em agências bancárias, apesar da inclusão de milhões de novos correntis-tas. Essa diminuição é resultado de avanços tecno-lógicos e de medidas administrativas orientadas para um mercado altamente concorrencial, que valoriza a satisfação dos clientes. A multiplicação dos terminais eletrônicos reflete essa preocupação, bem como a proliferação de transações eletrônicas seguras e de cartões de débito e de crédito com chips de segurança.

A possibilidade de escolha do vencimento das faturas mostra-se uma ótima medida para a diminuição do tempo de espera nas filas. Medidas bem sucedidas

que contemplam diversidade de datas de vencimen-to, poderiam ser estendidas ao pagamento de obri-gações junto à Administração Pública, bem como ao recebimento de benefícios. O fortalecimento da segurança nas transações eletrônicas, pela rede de computadores, com combate aos crimes eletrônicos, também tem contribuído para a diminuição do tem-po de espera nas filas. Por fim, a expansão da rede de correspondentes no país (tais como agências dos Correios, farmácias, casas lotéricas e supermerca-dos) favorece a agilidade o atendimento na medida em que propicia a diminuição das filas nos caixas das agências bancárias e nos terminais eletrônicos.

2.12 deVOLuçÃO de VALOreS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que permitam a restituição do Imposto sobre Operações de Cré-dito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) cobrado nas ope-rações liquidadas antecipadamente, de forma proporcional ao período de tempo da anteci-pação. Uma vez que as instituições financeiras não são parte dessa relação jurídica tributária, a CNF sugere a implementação pela Receita Federal de sistemática de devolução parcial de impostos semelhante à empregada pelas Fa-zendas Estaduais, Municipais e Distrital.

A restituição parcial do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) quando da liquidação an-tecipada de operações financeiras procura corrigir uma injustiça cometida contra o contribuinte.

O amparo legal da cobrança do IOF se dá pelo Decreto nº 7.458/2011, que estipula a alíquota em 0,0082% ao dia para as situações em que o contratante ou mutu-ário é pessoa física. O valor é cobrado pro rata die, em função do prazo da operação de empréstimo ou finan-

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ciamento, observada a limitação de 365 dias estabe-lecida pelo § 1º, do artigo 7º, do Decreto nº 6.306/2007. Ao contratar a operação financeira o cliente recolhe o IOF na sua totalidade. Ocorre que, por vezes, o cliente decide liquidar operação financeira antecipadamen-te o que gera direito a uma restituição proporcional ao período remanescente da operação liquidada.

O Código Tributário Nacional dispõe que:

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independen-temente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos:

I – cobrança ou pagamento espontâneo de tributo in-devido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstân-cias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido;

A devolução do IOF incidente sobre operações liqui-dadas antecipadamente vincula somente a Recei-

ta Federal e os contribuintes. As pessoas jurídicas, entre elas as instituições financeiras, são respon-sáveis tributários pela cobrança e recolhimento do IOF, nos termos do art. 5º do Decreto nº 6.306/2007. Porém, as instituições financeiras não são parte legítima para pleitear a restituição. Nessa relação não cabe cobrança de tarifas por parte de institui-ções financeiras para a efetivação da restituição ao contribuinte, uma vez que elas não são parte dessa relação jurídica tributária.

A restituição do IOF incidente sobre operações li-quidadas antecipadamente poderia ser realizada pela Receita Federal nos moldes da sistemática de devolução parcial de impostos semelhante à empre-gada pelas Fazendas Estaduais, Municipais e Distrital (“Nota Paulista”, “Nota Legal”, “Nota Carioca”, etc.).

A devolução de impostos relativos à quitação anteci-pada de dívidas e outras operações financeiras não se caracteriza como uma relação consumerista, mas sim como uma relação jurídica tributária, isto é, ex-clusivamente entre o Fisco e o contribuinte.

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39capítulo 3: queStõeS SOCIAIS

As pessoas estão presentes em todas as fases das operações realizadas pelas instituições financeiras, como agentes ou como usuários dos serviços pres-tados. Ora são funcionários, ora são clientes, ora são participantes de programas de capacitação e de inclusão, ora são partes de uma comunidade me-lhorada por iniciativas e projetos privados, ora são membros de uma sociedade que se beneficia de uma economia em crescimento, sustentada por um sistema financeiro saudável e sólido.

Apenas em 2012, 1,5 milhões de pessoas abriram contas correntes simplificadas, conforme dados do Banco Central. Até o final de 2012 o Brasil tinha cerca de 12,8 milhões de contas correntes simplifi-cadas. A própria bancarização é uma questão social: a possibilidade de contar com uma conta bancária e ter acesso a produtos e serviços, públicos e priva-dos, veiculados por essa conta é um potente fator de inclusão e de promoção de cidadania. As questões sociais não se articulam ao largo das instituições fi-nanceiras; ao contrário, tais questões as entranham, balizam seus negócios e as moldam.

3.1 INCLuSÃO FINANCeIrA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia medidas voltadas para a am-pliação do acesso ao sistema financeiro e a intensificação do uso de seus produtos e servi-ços por consumidores orientados por crescente educação financeira.

Segundo relatório do Banco Central, inclusão finan-ceira é: “processo de efetivo acesso e uso pela po-pulação de serviços financeiros adequados às suas necessidades, contribuindo para sua qualidade de vida”. A bancarização é uma das dimensões da ci-dadania, na medida em que permite ao cliente de uma instituição financeira exercer seus direitos (tais como receber benefícios) e honrar suas obrigações (tais como pagar tributos).

O usuário recorre a vários canais de acesso ao siste-ma financeiro, seja redes de pontos físicos de atendi-

questõessociais3

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras acompanha com grande interesse todas as proposições voltadas para o aprimoramento das relações en-tre as pessoas, entre as pessoas e os entes privados, bem como entre as pessoas e o poder público, que visem ao desenvolvimento das potencialidades individuais.

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mento – agências, correspondentes, entre outros –, seja atendimento telefônico e Internet Banking. A aprovação em 2013 da Medida Provisória n° 615, con-vertida na Lei n° 12.865/2013, ampliou consideravel-mente a possibilidade de uso de telefones celulares para a realização de operações bancárias (mobile payment). A capilaridade de tais canais de acesso ao sistema financeiro constitui importante indicação do potencial de inclusão financeira no país.

A Resolução nº 3.211/2004 simplificou o processo de abertura de contas e flexibilizou algumas exigências de identificação, facilitando assim o acesso ao setor financeiro por parte da população de baixa renda. Em 2012, houve um crescimento 6% em relação a 2011 no número de contas correntes, alcançando o patamar de mais de 97 milhões de correntistas. Em relação às contas poupança, houve crescimento no mesmo período de 4%, chegando à marca de 102 milhões. Ainda assim, o nível de não-bancarização no Brasil é 39,5 % dos brasileiros, cerca de 55 mi-lhões de pessoas adultas. Estima-se que essa par-cela da população movimenta aproximadamente R$ 665 bilhões, o que equivale ao Produto Interno Bruto da Colômbia.

A capilaridade do acesso ao setor financeiro e a sim-plificação da abertura de contas ampliaram o papel do crédito como eficaz instrumento de desenvolvi-mento econômico.

É o caso do microcrédito. A Lei nº 10.735/2003 de-terminou que uma parcela dos depósitos a vista dos bancos múltiplos com carteira comercial, dos ban-cos comerciais e da Caixa Econômica Federal deve, obrigatoriamente, ser aplicada em operações para o público de baixa renda. Os valores não aplicados na atividade devem ser depositados no Bacen, sem remuneração. O direcionamento para microcrédito está voltado para dois públicos, o de baixa renda, também conhecido como microcrédito-consumo, e o microcrédito para microempreendedores. A Lei nº 12.613/2012, em seu parágrafo único do art. 1º, au-torizou a ampliação da renda mensal para utilização

dos recursos para o público de baixa renda, desde que os valores das operações sejam direcionados ex-clusivamente para adquirir bens e serviços de tecno-logia assistiva destinados a pessoas com deficiência.

3.2 AgeNdA NACIONAL dO trAbALHO deCeNte

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas voltadas para a construção de um ambiente que assegure o bem-estar do trabalhador e a competitivida-de econômica do empregador. Para a CNF, o trabalho decente tem que ser produtivo e deve estar aliado à sustentabilidade da empresa. Para tanto, é fundamental o aprofundamento das discussões no âmbito de um fórum tripar-tite que contemple os interesses e as preocu-pações de todos os atores envolvidos, em deci-sões tomadas por consenso.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Empre-go (MTE) e a Organização Internacional do Traba-lho (OIT), “o trabalho decente é considerado como aquele adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, ca-paz de garantir uma vida digna”. Em outras ocasiões, contudo, o escritório da OIT no Brasil acrescentou que trabalho decente é um trabalho produtivo, sem quaisquer formas de discriminação.

Esse é um ponto fundamental para a construção de uma visão de trabalho decente sustentável, a partir da qual seja possível estabelecer diretrizes concre-tas e eficazes para garantir um ambiente de compe-titividade econômica e bem-estar do trabalhador.

O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT, que tem como pano de fundo o respeito aos direitos no trabalho, em especial aqueles definidos como fundamentais

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pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adota-da em 1998: (a) liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (b) elimi-nação de todas as formas de trabalho forçado; (c) abolição efetiva do trabalho infantil; e (d) eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação, a promoção do emprego pro-dutivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social.

Os entendimentos sobre emprego e trabalho decen-te estão sujeitos a um elevado grau de subjetivida-de, não existindo definição universalmente aceita. Por isso mesmo, é preciso tornar as discussões mais objetivas, à luz das realidades dos diferentes seto-res e regiões do país. O Governo brasileiro e a OIT firmaram em 2003 memorando de entendimento que previa o estabelecimento de programa de co-operação técnica para a promoção de uma Agenda Nacional de Trabalho Decente, por meio de consul-tas às organizações de empregadores e de trabalha-dores. Essa Agenda foi lançada em maio de 2006 e deu origem, em 2009, ao Plano Nacional de Empre-go e Trabalho Decente (PNETD).

Em 2012 foi realizada a Primeira Conferência Nacio-nal de Emprego e Trabalho Decente (I CNETD). O ob-jetivo geral dessa Conferência foi contribuir para a construção, o fortalecimento e a promoção de uma Política Nacional de Emprego e Trabalho Decente a partir das prioridades estabelecidas no PNETD.

Vários representantes do Poder Executivo Federal, membros da bancada dos trabalhadores e a OIT, apresentaram manifestações de que a Conferência teve um resultado positivo diante de todas as difi-culdades técnicas e políticas enfrentadas. A banca-da de empregadores avaliou que, apesar das falhas ocorridas, foi um processo válido para a construção do diálogo social entre os atores envolvidos. No total foram apreciadas 633 propostas resultantes das conferências estaduais e municipais: 125 (22%) oriundas da bancada dos empregadores, 297 (52%)

da dos trabalhadores e 145 (25%) da bancada do Governo, tendo sido o restante (1%) proposto pela sociedade civil.

Para o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) o destaque maior foi a quantidade expressiva de pro-postas aprovadas por consenso, as quais poderão balizar as políticas públicas de emprego e trabalho para os próximos anos.

Na opinião de algumas das Centrais Sindicais, o re-sultado da Conferência foi positivo, por causa da experiência diferenciada que valorizou o diálogo e a negociação entre as partes. Para elas, o sucesso do evento deveu-se à homogeneidade, bem como ao compromisso dos participantes de construir coleti-vamente os posicionamentos. Outro ponto destaca-do foi a valorização da participação democrática da sociedade em todas as fases do evento.

De acordo com a OIT, em muitos países existem po-líticas de trabalho decente, porém o Brasil tem sido pioneiro nas consultas e debates tripartites para a sólida construção de políticas públicas, vencendo os grandes desafios de orquestrar discussões des-se porte envolvendo todas as esferas da Federação (Municípios, Estados e União) diante da heterogenei-dade e da extensão do país.

A bancada patronal destacou o empenho de todos na realização da conferência, que conseguiu aprovar diversas propostas de forma consensual.

Após a publicação dos documentos oficiais da I CNE-TD, realizada em 2013, o MTE designou novo grupo tripartite para acompanhamento dos trabalhos de implementação da agenda pós-conferência. Realiza-ram-se cinco reuniões, uma em cada região do país. Também em 2013, o Ministério do Trabalho e Empre-go iniciou a discussão da estruturação do Sistema Único de Emprego e Trabalho Decente, com o objeti-vo de formular um anteprojeto de lei para a integra-ção das políticas públicas de fomento ao emprego.

capítulo 3: queStõeS SOCIAIS

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agenda do setor financeiro 201442

3.3 POLÍtICA NACIONALde PArtICIPAçÃO SOCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas à demo-cratização dos debates relevantes para o país. Para a Confederação, a participação da socie-dade deve ser um elemento importante para a elaboração de políticas públicas. A CNF enten-de que a participação social deve ser conduzida de forma a se respeitar as estruturas do Estado republicano, onde a separação de Poderes é cláusula pétrea da Constituição, que atribui ao Congresso Nacional a competência legiferante.

A definição de Participação Social, segundo o Go-verno Federal, é “a inclusão dos cidadãos e cidadãs como sujeitos de direito e titulares de interesse no processo e tomada de decisão governamental. En-volve, portanto, a confluência entre, de um lado, os temas e assuntos da agenda estatal e, de outro, a sociedade civil organizada em torno daqueles temas, na perspectiva de uma agenda pública”.

O desenvolvimento da Política Nacional de Partici-pação Social objetiva fomentar uma sinergia entre as várias instâncias e mecanismos de participação social, desenvolvendo uma ação horizontalizada em forma de rede onde a inclusão da sociedade possa ser efetivada em todas as áreas do Governo. De acordo com a proposta do Poder Executivo, são instâncias e mecanismos de participação social: os conselhos de políticas públicas e outros órgãos cole-giados de participação social; conferências de políti-cas públicas; ouvidorias públicas do Poder Executi-vo federal; mesas de diálogo; fóruns interconselhos; audiências públicas; consultas públicas; e interfaces e ambientes virtuais voltados ao diálogo e participa-ção social nas políticas públicas.

Entre os principais objetivos da política estão: a im-plementação de propostas aprovadas pelas confe-

rências nacionais de políticas públicas; o monitora-mento e gestão das principais discussões realizadas em fóruns, conselhos, grupos de trabalho, comissões e outras formas de interação e discussão técnica en-tre governo e sociedade civil organizada; a amplia-ção das formas de consulta e participação à popula-ção, incluindo o cidadão “não organizado”; e outros.

A Secretaria-Geral da Presidência da República (SG/PR) coordena, no âmbito do Governo Federal, a re-gulamentação do Compromisso Nacional pela Parti-cipação Social (CNPS) por meio da Política Nacional de Participação Social (PNPS).

A CNF participa de diversos colegiados no Gover-no, cooperando tecnicamente em debates sobre o mundo do trabalho, transparência e combate à corrupção, sistema financeiro nacional, matérias tributárias e previdenciárias, meio ambiente, ques-tões imigratórias, direitos de minorias, entre outros temas. Atualmente, a Confederação conta com mais de 120 representações em diversos fóruns de debate institucional no âmbito do Poder Executivo, os quais possuem o papel de colaborar com a formulação ou implementação de políticas públicas. A Confedera-ção participa desses trabalhos, seja para colaborar com a visão técnica do setor financeiro, seja para prevenir problemas decorrentes de propostas que possam impactar negativamente a economia e a competitividade das empresas brasileiras.

Além da atuação nos Conselhos, a CNF tem partici-pado de Conferências Nacionais organizadas tema-ticamente, as quais contam, em regra, com a partici-pação de representantes do Governo e da sociedade civil. A Confederação participou, por exemplo, das Conferências de Emprego e Trabalho Decente (I CNETD), dos Direitos da Pessoa com Deficiência (III CNDPD) e do Meio Ambiente (IV CNMA). Atualmente, ela representa o setor financeiro na Conferência da Previdência Social (I CNPS).

Um estudo do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj) demonstrou que, até 2010,

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pelo menos 3.750 projetos de lei no Congresso Na-cional guardavam afinidade com 1.937 diretrizes re-sultantes das Conferências.

Outro trabalho recorrente na CNF é a consolidação de propostas do setor financeiro para seu posiciona-mento em consultas públicas realizadas nos portais do Governo. Dessa forma, a Confederação mantém o monitoramento de questões que possam impactar não apenas o setor financeiro, mas toda a economia e o bem-estar social no país.

3.4 IguALdAde NOmuNdO dO trAbALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia a consolidação do princípio da igualdade nas relações trabalhistas, ao mesmo tempo em que celebra o amparo cons-titucional e a legislação que asseguram maior diversidade no ambiente de trabalho. A CNF su-blinha que, no exame de casos concretos, a le-gislação considera as funções e a produtivida-de do empregado, bem como sua localidade, o que afasta comparações simplistas baseadas exclusivamente em um único critério, seja ele sexo, idade, cor, nacionalidade ou estado civil.

Não basta a lei declarar que todos são iguais, deve propiciar mecanismos eficazes para a consecução da igualdade. Assim, o princípio constitucional da igualdade não se limita à igualdade perante a lei, mas se estende a garantir iguais oportunidades para a realização dos objetivos de cada cidadão.

A isonomia salarial é uma das aplicações possíveis do princípio constitucional da igualdade, dando tra-tamento igual para os iguais. A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da isonomia salarial no seu artigo 7o, incisos XXX e XXXI, que determinam a “proibição de diferença de salários, de exercício

de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” e a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e crité-rios de admissão do trabalhador portador de defici-ência”. Também o artigo 5º, inciso I, da CF, estabele-ce que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. A Lei nº 9.029/1995 coíbe a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de emprego. O artigo 373-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) proíbe práticas que afetem o acesso da mulher ao mercado de trabalho. Ressalte-se que o princípio da igualda-de também inspira o artigo 461 da CLT, que delimita o direito à equiparação salarial somente àqueles que atendam a vários critérios – todos presentes – como ter por paradigma empregado que também trabalhe para o mesmo empregador; incumbido das mesmas funções; com trabalho de igual valor (leia-se, com igual produtividade e mesma perfeição téc-nica); e na mesma localidade.

3.5 eStAtutO dA PeSSOA COm deFICIêNCIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que conciliem a ga-rantia de direitos das pessoas com deficiência com medidas realistas de inserção dessas pes-soas no mercado de trabalho e de adaptação dos serviços prestados a esse público.

O Brasil promulgou em 2009 a Convenção Interna-cional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-cia, que tem por propósito a promoção, proteção e garantia do exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, bem como do res-peito pela sua dignidade. Contudo, inexiste no País legislação abrangente que confira um tratamento normativo adequado ao tema.

capítulo 3: queStõeS SOCIAIS

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agenda do setor financeiro 201444

Nesse sentido, tramitam no Congresso Nacional pro-posições que visam a criar direitos e garantias para as pessoas com deficiência. Algumas dessas pro-postas pretendem estabelecer um Estatuto, como é o caso do Projeto de Lei nº 7.699/2006, que concen-tra as discussões sobre a matéria. Em julho de 2013, uma minuta desse Estatuto foi disponibilizada no portal eletrônico da Câmara, para o recebimento de contribuições da sociedade civil.

A CNF sugeriu aprimoramentos nesse texto, de modo a assegurar, entre outros direitos, que a ga-rantia de acesso à informação pelas pessoas com deficiência seja conciliada com alternativas de dis-ponibilização dessa informação, o que dispensaria a obrigatoriedade de mais de um meio de comuni-cação quando outro já for suficiente. Também é im-portante a participação das empresas em relação à habilitação e reabilitação profissional de pessoas com deficiência, a fim de incluir a promoção de cur-sos de capacitação profissional entre os meios de preenchimento das cotas de emprego destinadas a essas pessoas.

Alguns pontos do Estatuto da Pessoa com Deficiên-cia merecem reflexão cuidadosa. Entre eles figura a introdução de novos tipos penais específicos, que podem inibir a oferta de produtos e serviços e violar o princípio da isonomia perante a lei. Também a de-terminação de serviços individualizados, em substi-tuição ao atendimento preferencial ora em vigor, po-deria ser balizada por parâmetros realistas.

3.6 ACeSSIbILIdAde

Acessibilidade diz respeito ao acesso, ao ingresso e à permanência da pessoa com deficiência em todos os estabelecimentos e serviços públicos e privados, incluindo os das instituições financeiras, bem como o acesso ao mercado de trabalho.

A questão da acessibilidade passou a ser tratada com mais ênfase no Congresso Nacional a partir de meados da década de 90. Nesse primeiro período, a preocupação dos projetos esteve voltada para a adaptação de mobiliário e de edificações que pro-porcionasse melhor acessibilidade e atendimento aos usuários. A partir de 2000, o enfoque passou para o acesso ao mercado de trabalho e a flexibiliza-ção da jornada, com vários projetos que ora obrigam as empresas a contratarem pessoas com deficiência, ora oferecem incentivos fiscais para esse tipo de contratação, e ainda projetos que buscam garantir jornada flexível para pais de filhos com deficiência.

O sistema financeiro envolveu-se nessa questão des-de o início e foi um dos setores pioneiros na imple-mentação de medidas inovadoras para o atendimen-to de pessoas com deficiência. Os caixas eletrônicos adaptados já representam 67% do parque de ATMs do Brasil, composto por 182 mil máquinas. De 2006 a 2011, o número de caixas eletrônicos (ATMs) adapta-dos para atender pessoas com deficiência existente no país aumentou mais de 1.400%, chegando a um total de 122 mil novos equipamentos instalados.

A Lei nº 8.213/1991 (Lei de Cotas) movimentou o mercado para profissionais com deficiência e abriu mais de um milhão de vagas; no entanto, esbar-rou em problemas como a falta de qualificação dos candidatos. O sistema financeiro, sob a ges-tão da Federação Brasileira de Bancos, mais uma

deficiência e que contemplem as dificuldades dessas pessoas não só no seu relacionamento com instituições financeiras, mas com institui-ções de todos os setores da economia.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas realistas e exequí-veis voltadas para a ampliação da acessibi-lidade a instalações físicas e ao mercado de trabalho, que contribuam para a expansão do número de vagas ocupadas por pessoas com

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vez inovou e lançou no segundo semestre de 2008 o Programa FEBRABAN de Capacitação Profissio-nal e Inclusão de Pessoas com Deficiência no Setor Bancário, uma parceria público-privada cujo obje-tivo é permitir o aprimoramento educacional e a capacitação técnica das pessoas com deficiência para incluí-las no mercado de trabalho bancário. Tal programa encerrou sua 2ª edição totalizando 913 pessoas com deficiência treinadas e integradas aos quadros de funcionários dos bancos. O sucesso do programa e o alto índice de retenção dos profis-sionais capacitados motivaram a FEBRABAN a es-truturar a Edição 2012 no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Em 2013, a 3ª edição do programa 50 pessoas com deficiência treinadas e integradas aos quadros de funcionários dos bancos após quatro meses de capacitação.

Além disso, o Programa Febraban de Capacitação Profissional e Inclusão de Pessoas com Deficiência no Setor Bancário recebeu o Prêmio BeyondBanking 2011, uma iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que reconhece as melhores práticas em responsabilidade social e sustentabili-dade no Caribe e na América Latina. O Programa foi selecionado pelo comitê composto por especialistas em sustentabilidade, entre as melhores iniciativas na categoria equalBanking (estímulo à igualdade de gênero e à diversidade). Esta foi a primeira vez que uma iniciativa brasileira foi prestigiada nessa cate-goria da premiação.

Hoje, o Congresso Nacional analisa dezenas de pro-posições sobre a matéria. As diversas proposições que tratam da acessibilidade e outros direitos da pessoa com deficiência incluem a construção de rampas de acesso, adequação dos guichês de aten-dimento eletrônico e jornada de trabalho especial.

As propostas, em alguns casos, restringem-se aos bancos, desconsiderando que demais setores da economia também atendem o mesmo público. Exis-tem ainda inúmeros diplomas legais nos níveis esta-dual e municipal que tratam do mesmo tema - em

sua maioria, dirigidos exclusivamente à atividade bancária. Com a popularização das transações fi-nanceiras pela internet, é falacioso o argumento de que as pessoas interagem – fisicamente – com ins-tituições financeiras com frequência maior do que recorrem a outros serviços. Também é falacioso o argumento de que os resultados das instituições financeiras são exagerados e justificam investimen-tos em acessibilidade que não são demandados de outros setores, como se vê na Seção 6.4 – Lucro e ren-tabilidade bancária.

Diversos diplomas legais regulamentam a questão da acessibilidade. A Lei n° 10.098/2000 trata especifi-camente de acessibilidade de pessoas com deficiên-cia a instalações. Já a Lei nº 10.048/2000 determina tratamento diferenciado e atendimento prioritário às pessoas deficientes. Além dessas normas, a Reso-lução do CMN nº 2.878/2001 prevê que as instituições financeiras devam estabelecer em suas dependên-cias alternativas técnicas, físicas ou especiais que garantam a acessibilidade e atendimento prioritário às pessoas com deficiência.

Nesse sentido, entende-se que a maioria das pro-posições em tramitação no Congresso poderiam ser atualizadas diante da legislação já existente, a qual protege os direitos das pessoas com deficiência. Esse foi o entendimento predominante na III Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2012.

A Conferência organizada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE), o qual funciona na Secretaria de Direitos Humanos (SDH), defendeu o cumprimento da legislação e a efetivação das políticas públicas lastreadas na Con-venção da ONU, que se tornou referência de política nacional para esse público desde a promulgação do Decreto nº 6.949/2009.

capítulo 3: queStõeS SOCIAIS

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3.7 CLÁuSuLA de ObSerVâNCIA de dIreItOS HumANOS em CONtrAtOS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que promovam os direi-tos humanos, no entendimento de que contra-tos que contenham cláusula obrigatória ligada a essa matéria definam de maneira clara e ine-quívoca o que sejam violações desses direitos de modo a garantir segurança jurídica e transpa-rência nas transações. A suspensão de contratos diante de mera suspeita, antes do trânsito em julgado de sentença condenatória, impacta a oferta e o custo do crédito. Para a CNF, as ins-tituições financeiras não podem ser responsa-bilizadas por atos de terceiros beneficiados por financiamentos concedidos mediante o cumpri-mento de todos os requisitos exigidos por lei.

Atualmente, discute-se no Congresso Nacional a obrigação de inserção de cláusulas de proteção aos direitos humanos nos contratos de financiamento. As propostas possuem a finalidade de suspender ou impedir a concessão de crédito àquele que, por ação ou omissão, violar direitos fundamentais da pessoa humana. Nesse caso, os projetos de lei preveem que o contrato ficará automaticamente suspenso até que se apurem as responsabilidades.

As instituições financeiras, sejam elas públicas ou privadas, que tenham como objetivo o fomento eco-nômico e o estímulo à atividade agrícola, comercial e industrial deveriam, para conceder financiamento, crédito, isenção, renegociação de dívida ou quais-quer outros benefícios financeiros, avaliar se os so-licitantes cumprem toda a legislação atinente aos direitos humanos.

O tema é de grande relevância, refletindo a preo-cupação com a proteção de direitos fundamentais (à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade) e com a função social dos contratos.

Contudo, a legislação brasileira sobre a matéria é esparsa e subsiste a possibilidade de cláusulas con-tratuais vagas. Ações fiscalizatórias, que devem ser realizadas por órgãos públicos, para impor a devida responsabilização civil e criminal ao empreendedor que ferir direitos fundamentais, requerem dispositi-vos contratuais precisos e inequívocos.

A introdução de cláusula obrigatória de observância de direitos humanos em contratos viria acompanha-da da obrigação dos mutuários de atenderem deter-minados requisitos legais. Uma vez demonstrado o cumprimento dessa obrigação, condição essencial para a concessão do financiamento, ficariam as ins-tituições financeiras isentas de responsabilidade por eventual violação posterior daqueles requisitos le-gais, para a qual elas não concorrem.

Além disso, existe a questão do momento em que o contrato de financiamento seria suspenso. Dispositi-vo legal que determinasse a suspensão do contrato diante de mera suspeita de violação de direitos hu-manos (já que a suspensão seria determinada antes de sentença definitiva) poderia ter sua constitucio-nalidade questionada (art. 5º, LVII da CF), existindo a possibilidade, ainda, de a medida gerar prejuízos irreparáveis ao mutuário, ampliando também o risco das operações de financiamento.

A suspensão do financiamento por prazo indefinido e sem qualquer possibilidade de compensação fi-nanceira, tal como preveem as propostas legislativas, geraria aumento do custo do crédito. Isso porque as penalidades previstas no contrato somente pode-riam ser aplicadas após a sentença condenatória de-finitiva, quando então poderia ocorrer algum ressar-cimento. Nessa hipótese, a aprovação do crédito, ao passar por refinado sistema de contabilização, pode-rá estar vinculada ao provisionamento de valores em determinadas situações, o que afetaria diretamente a disponibilidade desse crédito no mercado.

Se confirmada, ao final, a violação aos direitos fun-damentais, as perdas associadas aos recursos em-

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prestados por meio de um contrato suspenso se-riam repassadas aos demais tomadores de crédito, via encarecimento das operações envolvendo pes-soas físicas e jurídicas. Projetos de grande porte, por exemplo, poderiam ter custos aumentados, o que reduziria investimentos em obras de infraestrutura.

A eficácia de propostas dessa natureza requer estri-ta observância da Constituição Federal e meticulo-sa avaliação do impacto sobre a disponibilidade e o

custo do crédito. Ambas as condições seriam aten-didas se não houvesse a necessidade de controle prévio pelas instituições financeiras e a suspensão do financiamento, bem como as demais penali-dades (tais como multas e juros), somente fossem aplicados após o trânsito em julgado de decisão judicial que condenasse o tomador do crédito. Nes-se caso, este seria responsável também pelo res-sarcimento dos custos gerados pela suspensão de seu financiamento.

capítulo 3: queStõeS SOCIAIS

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49capítulo 4: queStõeS AmbIeNtAIS

A ideia de sustentabilidade aplicada aos negócios ga-nhou posição de destaque na pauta tanto de consu-midores quanto de empresas. No entanto, a simpli-ficação do conceito de sustentabilidade, associado comumente como a simples preservação da nature-za, não atende aos anseios da sociedade atual.

Em 1987, a chamada “Comissão Brundtland” (Comis-são Mundial sobre Meio-ambiente e Desenvolvimen-to), sob os auspícios das Nações Unidas, ofereceu definição de desenvolvimento sustentável. O rela-tório Nosso Futuro Comum pedia “desenvolvimen-to que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades”. Em 1992, na Conferência do Rio, emergiu novo conceito de desenvolvimento, com três dimensões (econômica, social e ambiental). O “desenvolvimento sustentá-vel” relacionava o desenvolvimento econômico com os limites e oportunidades que os recursos naturais criam para a atividade econômica. Nesse cenário, valores como liderança, ética e confiança são aspec-tos a serem incluídos de forma permanente nas de-

cisões de negócios e essas práticas foram inseridas no dia-a-dia das instituições financeiras, não apenas como política compensatória.

Para as instituições financeiras, sustentabilidade não é um modismo, mas sim um elemento concreto nas decisões de concessão de crédito e de busca de financiamento. O tempo é a matéria-prima das ope-rações financeiras. Para um dado fluxo financeiro e uma certa taxa de juros, quanto mais extenso o hori-zonte temporal, maior será o valor presente líquido. Por exemplo, na comparação de duas empresas que solicitam crédito nas mesmas condições, a empresa sustentável tem um horizonte temporal de opera-ções muito mais longo do que o da outra empresa que em algum momento cessará suas atividades pelo esgotamento de recursos; não é surpresa que a empresa sustentável apresente maior valor pre-sente líquido e se torne melhor candidata ao rece-bimento do crédito.

Em abril de 2010, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o Ministério do Meio Ambiente assina-

questõesambientais4

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que for-taleçam práticas empresariais voltadas para a sustentabilidade das operações no tempo e o uso racional de recursos naturais, integrando aspectos econômi-cos com as dimensões sociais e ambientais em todas as decisões. Entende, ain-da, que a questão ambiental é compatível com o crescimento das operações de crédito e com o desenvolvimento econômico.

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ram o Protocolo de Intenções com vistas ao desen-volvimento sustentável que pressuponha a preser-vação ambiental e uma contínua melhoria no bem estar da sociedade. Conhecido como Protocolo Ver-de, declara que os bancos envidarão os melhores esforços para levar à prática os seguintes princípios:

1. Oferecer linhas de financiamento e programas que fomentem a qualidade de vida da popula-ção e o uso sustentável do meio ambiente;

2. Considerar os impactos e custos socioambien-tais na gestão de seus ativos e nas análises de risco de projetos;

3. Promover o consumo consciente de recursos na-turais e de materiais deles derivados nos respec-tivos processos internos;

4. Informar, sensibilizar e engajar continuamente as partes interessadas nas políticas e práticas de sustentabilidade das instituições, e;

5. Promover a cooperação e integração de esforços entre as instituições aderentes ao Protocolo.

Busca-se que as instituições financeiras possam desenvolver estruturas especializadas para analisar os pedidos de financiamento a projetos que envol-vam sustentabilidade e impliquem impactos sobre o meio-ambiente. Muitas delas são aderentes aos Princípios do Equador, ao Combate ao Trabalho Es-cravo e fazem parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa.

4.1 SuSteNtAbILIdAde em INStItuIçõeS FINANCeIrAS

O desenvolvimento sustentável pressupõe a inclusão da proteção ambiental e do eixo social no processo de crescimento econômico. Em cumprimento ao arti-go 225 da Constituição Federal, as instituições finan-ceiras têm o dever de defender e preservar o meio am-biente. Essa obrigação é reforçada pela adoção, no artigo 170, inciso VI, da Constituição da República, da defesa do meio ambiente e, no inciso VII do mesmo artigo, da redução das desigualdades regionais e so-ciais como dois dos princípios da ordem econômica.

Em 1999 foi criado o Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World), indicador da bolsa de valores que avalia a performance empresarial quanto às suas práticas de gestão ambiental e econômica no plano global. As empresas que constam desse índice são consideradas as mais capacitadas a elevar o valor de suas ações no longo prazo, devido ao gerenciamento simultâneo de riscos associados a fatores econômi-cos, ambientais e sociais.

O Banco Central do Brasil (Bacen), por meio do edi-tal de audiência pública nº 41/2012, decidiu colocar para consulta à sociedade duas minutas de Reso-lução dispondo sobre a implementação de política de responsabilidade socioambiental por parte das instituições financeiras e das demais instituições au-torizadas a funcionar pelo Bacen, bem como sobre a elaboração e divulgação de relatório de responsabili-dade socioambiental por parte das instituições cons-tituídas sob a forma de companhia aberta ou obriga-das a constituir comitê de auditoria nos termos da regulamentação em vigor.

A primeira minuta de Resolução dispõe sobre a pró-pria política de responsabilidade socioambiental (PRSA), devendo essas instituições implementá-la de forma compatível com o porte, a natureza do negó-

ainda, que a questão ambiental é compatível com o crescimento das operações de crédito e com o desenvolvimento econômico.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que fortaleçam práticas empresariais voltadas para a susten-tabilidade das operações no tempo e o uso racional de recursos naturais, integrando as-pectos econômicos com as dimensões sociais e ambientais em todas as decisões. Entende,

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cio, a complexidade de serviços e produtos oferecidos, bem como com as atividades, processos e sistemas adotados. Trata, também, de diretrizes e objetivos a serem observados na política corporativa da institui-ção, tais como: (i) os impactos socioambientais de ser-viços e produtos financeiros; (ii) a oferta de serviços e produtos financeiros às necessidades dos clientes; (iii) o relacionamento com os clientes e usuários; (iv) os riscos e as oportunidades em relação às mudanças cli-máticas e à biodiversidade; (v) o gerenciamento do ris-co socioambiental; e (vi) as condições para viabilizar a participação e o engajamento das partes interessadas no processo de execução da política estabelecida.

A segunda minuta, por sua vez, trata da elaboração e divulgação do Relatório de Responsabilidade Socio-ambiental. Determina que as instituições financeiras, companhias abertas e demais instituições autoriza-das a funcionar pelo Bacen, como também compa-nhia fechada, líder de conglomerado integrado por instituição constituída sob a forma de companhia aberta, devem, a partir da data-base de 31 de dezem-bro de 2013, elaborar e divulgar anualmente Relató-rio de Responsabilidade Socioambiental relativo ao cumprimento da PRSA.

A divulgação de relatórios de responsabilidade so-cioambiental é prática essencial, reconhecida inter-nacional e nacionalmente. Quanto aos prazos para publicação do relatório, a minuta, ainda sob análise do Banco Central, determina que deva ser divulgado até 90 (noventa) dias da data-base de referência em meio eletrônico na internet, ficando disponível pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos.

4.2 reSPONSAbILIdAde dO AgeNte FINANCIAdOr (POLuIdOr INdIretO)

A Lei nº 6.938/1981, que estabelece a Política Nacio-nal do Meio Ambiente, considera poluidor, passível de responsabilidade ambiental pela reparação dos danos ambientais, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degra-dação ambiental.

Dispõe o artigo 12 da referida PNMA que as entida-des e órgãos de financiamento e incentivos gover-namentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a contratarem crédito ao licenciamento ambiental, obtido na forma da Lei, bem como ao cumprimento das demais normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.

O setor financeiro contribui para a busca da susten-tabilidade com suas práticas de negócio. As institui-ções financeiras balizam a concessão de crédito pela Lei nº 6.938/1981 e pelo compromisso assumido no Protocolo Verde. Os bancos signatários passaram a incluir entre os critérios de avaliação dos riscos do fi-nanciamento, como condição para sua concessão, a verificação do cumprimento da legislação ambiental pelos potenciais tomadores. Para comprovar a regu-laridade dos projetos a serem financiados, os bancos passaram a exigir, entre os documentos para acesso

concessão de licenças ambientais formuladas de maneira objetiva, com base em indicadores verificáveis, de modo a garantir maior segu-rança jurídica e transparência nas transações que requeiram tais licenças. Para a CNF, a tra-mitação da concessão de licenças deve ocorrer em um intervalo de tempo compatível com o financiamento e com a realização dos projetos. A Confederação sustenta que as instituições financeiras não podem ser responsabilizadas por impactos ambientais de projetos cujo fi-nanciamento foi concedido mediante a apre-sentação de licenças e demais autorizações exigidas pelo Poder Público.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da legislação que trata da

capítulo 4: queStõeS AmbIeNtAIS

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ao crédito, a licença ambiental expedida pelo Poder Público. A medida propicia menores riscos de crédi-to e, consequentemente, taxas, prazos e outras con-dições mais favoráveis a tomadores com responsabi-lidade socioambiental. Empresas que não atendem à legislação ambiental ou cujos projetos apresentam potencial risco ao meio-ambiente passaram a ter di-ficuldades no acesso a crédito.

Em que pese à determinação da sociedade e das ins-tituições financeiras em promover a sustentabilida-de e preservar o meio-ambiente, o rigor na avaliação de projetos com impacto ambiental deve ser conci-liado com a necessidade de agilidade no processa-mento das informações, uma vez que processos ex-cessivamente longos oneram as empresas e afetam sua competitividade.

O atrelamento da concessão de crédito à apresenta-ção de licença ambiental impulsiona boas práticas e contribui para que projetos não sustentáveis ou agressivos ao meio ambiente sejam inviabilizados.

Os financiamentos deverão cumprir as normas le-gais inerentes ao manejo adequado do meio am-biente para obterem o deferimento do crédito, tal como ocorre no âmbito do Banco Mundial. Esse dispositivo impõe, basicamente, duas obrigações às instituições financeiras: primeiramente, condiciona a liberação de recursos à apresentação do licencia-mento e, em um segundo momento, condiciona o financiamento ao cumprimento das normas admi-nistrativas ambientais.

No entanto, há divergência sobre a extensão do conceito de poluidor indireto, bem como dos limi-tes da responsabilidade civil a este aplicada, dando margem a interpretações equivocadas que tratam poluidor direto ou indireto de forma ampla e indis-tinta e que, para fins de apuração da responsabi-lidade, reconhecem a aplicação da teoria do risco integral, a qual dispensa a comprovação de nexo causal entre a ação e o dano.

Tais interpretações podem impactar negativamente o setor financeiro, na medida em que uma instituição financeira, eventualmente, pode ser responsabiliza-da, na qualidade de poluidor indireto, pela reparação de dano ambiental decorrente da atividade financia-da. Ao financiar determinado empreendimento que venha a causar alguma degradação ao meio ambien-te, ainda que em função de caso fortuito ou força maior, a entidade pode vir a ser obrigada a indenizar.

Nesse contexto, nos casos em que atuou de forma diligente na concessão do crédito e que o solicitan-te do crédito obteve todas as licenças ambientais e demais autorizações ordenadas pelo Poder Público, não é razoável que as instituições financeiras sejam responsáveis por eventuais degradações causadas por atividades que financiaram.

4.3 CALAmIdAdeS PÚbLICAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para pre-venção e mitigação de calamidades públicas associadas a desastres naturais, bem como para rigorosa aplicação de políticas públicas formuladas para tratar das causas e consequ-ências desses desastres. Para a CNF, poderiam ser criados fundos ou seguradoras oficiais, fi-nanciados com recursos públicos, para dar co-bertura a sinistros provocados por manifesta-ções violentas da natureza. Esse tipo de seguro pode ser associado a incentivos para a oferta de serviços e de produtos financeiros diferen-ciados em condições excepcionais em bases voluntárias e concorrenciais.

No Brasil, a maioria dos casos de decretação de es-tado de calamidade pública pelos Municípios está ligada a desastres naturais. Em muitos dos eventos recentes, que causaram grande comoção na popula-ção brasileira, as instituições financeiras assumiram

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papel protagônico na solução dos problemas, seja ao suspender cobranças e tarifas, seja ao conceder créditos extraordinários para reconstrução de áreas e instalações afetadas, seja ainda ao atuarem como agentes captadores de doações, na forma de depósi-tos ou de mantimentos e outros materiais.

Desastres naturais inspiraram diversos parlamen-tares a apresentarem meritórios projetos voltados para a prevenção e mitigação de calamidades pú-blicas. Nesses projetos, destaca-se a adequada pre-ocupação com a capacidade de as vítimas arcarem com pagamentos de suas contas e demais compro-missos financeiros, inclusive tarifas por serviços bancários e prestações de financiamentos das mais variadas espécies, pelo menos até que se restabe-leça a normalidade. Considera-se acertadamente, nesses casos, que muitas das vítimas são obrigadas a abandonar seus lares, ficando impossibilitadas temporariamente de trabalhar e, consequentemen-te, de honrar seus compromissos.

Em que pese ao acerto dessas preocupações, elas não consideram três elementos importantes. Em primeiro lugar, a maioria das vítimas de desastres naturais é atingida menos por manifestações violen-tas da natureza e mais pela ausência de medidas de política pública, ou pela não aplicação de medidas existentes. O caso mais evidente é o da ocupação irregular do solo, que pode se tornar fatal quando acontecem no Brasil enchentes de verão, que em outros países causam número menor de vítimas mesmo quando sobrevêm com igual intensidade. Em segundo lugar, no mundo inteiro, as companhias seguradoras ou não oferecem cobertura, ou a pro-veem de forma muito limitada aos chamados “atos de Deus”, isto é, a sinistros causados pela ação vio-lenta da natureza. Por fim, as instituições financeiras não tem mandato de seus clientes para suspender cobranças feitas em favor destes, nos casos em que atuam como meras intermediárias (diferentemente da suspensão de tarifas, taxas e juros vinculados a produtos das próprias instituições financeiras).

A Constituição Federal estabelece em seu artigo 182 que compete ao Poder Público ordenar o pleno de-senvolvimento das funções sociais das cidades e ga-rantir o bem-estar de seus habitantes. Nesse quadro, a inexistência de políticas públicas, a não aplicação de políticas existentes e sinistros causados pela na-tureza não podem se converter em obrigatoriedades para setores específicos da economia. A solução correta passa pela formulação de políticas públicas voltadas para prevenção e mitigação de desastres naturais, pela rigorosa aplicação daquelas já exis-tentes (tais como ocupação do solo) e pela criação de seguros oficiais que preencham a lacuna deixada por seguradoras privadas que não têm capacidade financeira para cobrir os “atos de Deus”.

É razoável exigir que as instituições financeiras cum-pram o papel que lhes reserva o artigo 192 da Cons-tituição Federal, de “promover o desenvolvimento equilibrado do país e a servir aos interesses da cole-tividade”. Para tanto, é necessário conciliar a oferta de serviços e de produtos financeiros diferenciados em condições excepcionais de calamidades públicas com a viabilidade econômica das empresas que atu-am no setor financeiro. A melhor maneira de fazê-lo é pela criação de incentivos e pela livre concorrência.

4.4 merCAdO de CrédItOSde CArbONO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de fortalecimento do mercado de transações com créditos de carbono que incentivem a transparência e a segurança jurídica dessas transações. Essas propostas, voltadas, sobretudo, para a comer-cialização desses créditos, devem também contemplar questões de homologação de certi-ficadores e de certificação de projetos, além de conferir papel acessório a medidas tributárias.

capítulo 4: queStõeS AmbIeNtAIS

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O Protocolo de Quioto (1997) estabeleceu uma cota máxima para cada país signatário emitir gases cau-sadores de efeito estufa. No plano nacional, a redu-ção de emissões pode ser alcançada por diferentes instrumentos, entre os quais se destacam a tributa-ção de emissões acima de determinado patamar e a troca de reduções obtidas por uma empresa pelo excesso de emissões por outras. Diversos estudos demonstram que o custo social das trocas de emis-sões (cap-and-trade) é menor do que o da tributa-ção dos excessos. Como o dióxido de carbono é o principal e mais disseminado dos gases que causam efeito estufa, ganhou ímpeto a troca de reduções de sua emissão, por aqueles que ficam aquém de suas cotas, por moeda dos que emitem além de suas co-tas, de tal forma que as emissões totais continuem dentro dos limites estabelecidos pelo Protocolo. A fim de atingir os objetivos de redução de forma mais eficiente, sem prejudicar o objetivo ambien-tal, foram adotados três mecanismos de mercado, também chamados “mecanismos de flexibilização”, a saber: Comércio de Emissões (CE), Implementa-ção Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo este o único aplicável a países em desenvolvimento.

No mercado de carbono, criou-se um valor transa-cionável para a redução de emissões de gases (pelo princípio, cada tonelada de gás carbônico que deixar de ser emitida ou que for removida da atmosfera por um país poderá ser negociada no mercado mundial). Adicionalmente, para além do contexto do Protocolo, existem os chamados mercados voluntários – uma alternativa para projetos de menor escala, ou para países não signatários do Protocolo, ou para os que não precisem diminuir suas emissões. No entanto, a falta de padrões uniformes e de reconhecimento governamental formal são alguns desafios que pre-cisam ser superados.

Nesse contexto, diversos setores da economia bra-sileira têm discutido formas de impulsionar o mer-cado de créditos de carbono. Os debates enfatizam as incertezas jurídicas, a necessidade de alguma re-

gulação e de uma padronização do mercado, bem como a falta de clareza nas definições dos projetos elegíveis. Também ressaltam a importância do pa-pel das instituições financeiras como fomentadoras dos projetos de redução de emissões e interme-diadoras do mercado doméstico com o mercado internacional. Ao mesmo tempo em que foram pro-jetadas tendências de crescimento do mercado no futuro, mesmo pós-2012, registrou-se a necessida-de de uma regulamentação mais clara que propor-cione condições para esse crescimento, principal-mente na América Latina.

Em dezembro de 2012, durante a Conferência de Doha, o Protocolo de Quioto, único plano juridica-mente vinculante de redução de emissões, foi pro-longado até 2020. Mais de 200 países concordaram em estender o Protocolo até que um amplo tratado global seja negociado em termos mais concretos.

4.5 COmPrAS SuSteNtÁVeIS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a introdu-ção do compromisso de compras sustentáveis entre os objetivos corporativos como uma das condições para as empresas cumprirem seu pa-pel social, no entendimento de que tal compro-misso respeita o equilíbrio econômico e a com-petitividade da atividade empresarial.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em conjunto com o Groupe AFNOR (Association Française de Normalisation), está formulando novas diretrizes para o processo de compras sustentáveis. O objetivo dessa reformulação é facilitar a operacio-nalização e a incorporação de valores das diversas dimensões da responsabilidade social sob parâme-tros de ordem econômica.

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A ISO 26000 contém diretrizes sobre recomenda-ções universais no domínio da responsabilidade social. De acordo com a International Organization for Standardization (ISO), a responsabilidade social permite às organizações maximizar sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e reconhecer os impactos de suas decisões e atividades. Assim, cres-ce o interesse comum de convergir no sentido da adoção de boas práticas para compras responsáveis que sejam universalmente reconhecidas.

Os temas que estão relacionados à Norma ISO 26000 são a governança organizacional, direitos humanos, práticas trabalhistas, e comerciais justas, questões relativas ao consumidor, ao meio ambiente e, ainda, ao desenvolvimento.

As compras responsáveis devem levar, ainda, à exis-tência de relações equilibradas entre clientes e for-necedores, baseadas em uma genuína preocupação com o respeito a noções de ética e boa conduta. O respeito aos direitos do consumidor deve ser obser-vado nas práticas operacionais de todas as funções de compra empresarial, pois contribuem para o su-cesso da sua atividade no longo prazo e projetam uma imagem positiva da organização. Por fim, o envolvimento comunitário e desenvolvimento local são apontados como importantes para as empresas e organizações públicas, pois as compras constituem um dos meios de envolvimento com comunidades no seu território, permitindo que elas contribuam para o seu desenvolvimento.

Essas questões devem ser levadas em consideração na política de compras, a qual deve ser um compro-misso concreto de evitar a poluição, usar recursos sustentavelmente, mitigar e se adaptar a mudanças climáticas, proteger o meio ambiente e restaurar habitats naturais. A incorporação da dimensão am-biental à política de compras de uma organização ajuda a limitar o consumo de recursos naturais e a diminuir riscos operacionais e financeiros.

4.6 POLÍtICA NACIONAL de reSÍduOS SóLIdOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que incentivem a efetiva implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e que se valham do desenvol-vimento de hábitos de consumo sustentáveis como um conjunto de instrumentos que propi-ciem o aumento da reciclagem, da reutilização dos resíduos sólidos e com vias a facilitar da in-cessante atualização tecnológica acompanha-da de preocupação com o impacto ambiental de equipamentos descartados por obsoletos.

As instituições financeiras são grandes geradoras de resíduos recicláveis, principalmente o papel, e empregam maciçamente equipamentos eletrônicos de processamento e armazenamento de dados, de comunicações e de segurança, entre outros, que re-sultam em significativo volume de resíduos tecnoló-gicos em decorrência da constante preocupação de renovação de hardware.

A Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), contém instrumentos importantes que permitem o avanço do país no enfrentamento dos principais problemas ambien-tais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. A Lei tem como princípio a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais seg-mentos da sociedade, além de disciplinar a redução da geração de resíduos.

A PNRS propõe a prática de hábitos de consumo sus-tentáveis como um conjunto de instrumentos que propiciem o aumento da reciclagem, da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômi-co e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a desti-nação ambientalmente adequada dos rejeitos (aqui-lo que não pode ser reciclado ou reutilizado).

capítulo 4: queStõeS AmbIeNtAIS

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agenda do setor financeiro 201456

Referida Lei prevê ainda a sistemática de acordos se-toriais (art. 33 da Lei nº 12.305/2010), ou seja, atos de natureza contratual que são firmados entre o poder público e o setor privado.

Outro ponto importante para o setor empresarial é a responsabilidade compartilhada (art. 30 da Lei nº 12.305/2010) pelo ciclo de vida dos produtos. Trata-se de um conjunto de atribuições do setor empresa-rial, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos com o intuito de minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como a re-dução dos impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental.

Merece destaque a política de logística reversa (art. 3º, inciso XII da Lei nº 12.305/2010) instituída por este normativo. Essa logística é um instrumento de desenvolvimento econômico e social, cuja principal característica é a adoção de um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor

empresarial. Seu objetivo final é o reaproveitamento em seu ciclo, em outros ciclos produtivos ou em ou-tra destinação ambientalmente adequada.

O Decreto nº 7.404/2010 regulamentou a Lei nº 12.305/2010 e criou o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, instituindo outras providências sobre a definição dos sistemas de coleta com priori-zação da participação de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis constituídas por pessoas físicas de baixa renda.

Em 2013, a IV Conferência Nacional do Meio Ambien-te (CNMA) foi um dos instrumentos norteadores das discussões sobre a implementação da PNRS. A finali-dade da IV CNMA foi a busca por uma cooperação téc-nica e financeira para a gestão integrada dos resíduos sólidos em todo o território nacional, para a definição do papel da sociedade e do poder público no tema.

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59capítulo 5: reFOrmAS eStruturAIS

Não existe economia forte com setor financeiro fraco, tampouco há setor financeiro forte em economia frá-gil. Para as instituições financeiras bem cumprirem seu papel de promotoras do crescimento econômico e do desenvolvimento socioambiental, é importante que operem em um ambiente aberto e competitivo, que incentive a eficiência.

O Brasil passou por profundas mudanças estrutu-rais desde a promulgação da Constituição de 1988, com impacto sobre a estrutura e o funcionamento do setor financeiro. Também o cenário internacio-nal experimentou alterações radicais. Como pano de fundo, a globalização, que parecia um modismo há pouco mais de vinte anos, hoje é uma realidade concreta que afeta as vidas de milhões de brasilei-ros, suas rendas, seus empregos e a maneira como consomem bens e serviços. No curto e médio prazos, a crise financeira internacional, que se instalou a partir do segundo semestre de 2007, reclama ajustes profundos para que não seja comprometida a pers-pectiva do crescimento econômico do Brasil. Muito da legislação previdenciária, fiscal, trabalhista e sin-

dical não acompanhou essas mudanças, o que pode vir a se tornar barreira para um ambiente de negó-cios eficiente e competitivo.

5.1 NOVO mOdeLO PreVIdeNCIÁrIO PArA NOVOS trAbALHAdOreS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia um novo modelo previdenciá-rio para novos trabalhadores com: segregação entre Previdência e Assistência; segregação en-tre benefícios de risco e benefícios programá-veis, sendo o financiamento dos benefícios de risco em regime solidário e mutual; classifica-ção dos benefícios programáveis, ou aposen-tadoria propriamente dita, baseados em dois pilares: (a) de repartição e (b) de capitalização; montagem de um planejamento atuarial rigo-roso e realista; estabelecimento de um modelo único e universal para todos os beneficiários

reformasestruturais5

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras acompanha com interes-se propostas de reformas estruturais nas legislações previdenciária, fiscal, tra-balhista e sindical, voltadas para maior transparência nas relações contratuais, para maior segurança jurídica e para simplificação de procedimentos com vistas a conferir à economia brasileira mais eficiência e competitividade.

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agenda do setor financeiro 201460

O Novo Modelo Previdenciário para Novos Traba-lhadores não constitui uma reforma da Previdência Social, uma vez que os direitos dos trabalhadores em atividade seriam preservados. Trata-se de uma proposta voltada apenas para os novos e futuros participantes da Previdência Social, do setor públi-co ou privado, portanto ainda não incluídos no mer-cado de trabalho.

O modelo previdenciário brasileiro está consumindo a saúde financeira e, com ela, a própria capacidade de geração de recursos do setor público. Em 2012 o déficit previdenciário correspondeu a 2,24 % do PIB, sendo que desse valor, 0,96% veio do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e 1,28% do Regime Pró-prio de Previdência Social (RPPS). Em 2013, esse dé-ficit fechou em R$ 49,9 bilhões. Isso tem importantes consequências sobre a dívida pública, a taxa de juros, o nível de investimentos e as demais despesas do Estado, inibindo, por consequência, o crescimento econômico e estabelecendo um círculo vicioso de es-tagnação que precisa ser rompido. As contas da previ-dência são agravadas pela rápida mudança demográ-fica em curso e pelas baixas idades de aposentadoria.

Quanto à previdência pública, em uma recente com-paração quantitativa internacional, observou-se que o Brasil, uma nação ainda jovem com menos de 7,5% de sua população acima de 65 anos, gasta quase 5% do PIB e pouco menos de 15% da receita tributária com a Previdência dos servidores públicos. Nos pa-íses da Organização para a Cooperação e o Desen-volvimento Econômico (OCDE), as mesmas despesas

variam de 0,8% a 3,5% do PIB e de 2,4% a 7,6% da arrecadação. Tomando-se um grupo de 26 países em desenvolvimento (excluindo o Brasil), os números variam de pouco menos de 0,5% do PIB a 2,4% e de 2,5% a 13% da arrecadação.

Seria um equívoco circunscrever a crise previdenci-ária ao mero combate ao déficit operacional. A solu-ção passa por um novo modelo previdenciário que possa não só contemplar os direitos de todos os que são assistidos pelo sistema atual como também abrir um horizonte mais amplo para os trabalhadores que, no futuro, vierem a ingressar na Previdência Social.

Um grupo de especialistas escolhidos por diversas entidades representativas de segmentos econômi-cos e profissionais, após um exame mais profundo do quadro previdenciário brasileiro, ofereceu para debate uma série de itens que poderiam figurar na construção de um novo modelo previdenciário no Brasil. São eles:

■ Segregação entre Previdência e Assistência; ■ Segregação entre benefícios de risco e benefícios

programáveis, sendo o financiamento dos bene-fícios de risco em regime solidário e mutual;

■ Classificação dos benefícios programáveis, ou aposentadoria propriamente dita, baseados em dois pilares:

(a) de repartição; (b) de capitalização.

■ Montagem de um planejamento atuarial rigoro-so e realista;

■ Estabelecimento de um modelo único e universal para todos os beneficiários da Previdência Social;

■ Correção dos benefícios previdenciários e assis-tenciais por um índice de preços; e

■ Reconhecimento dos direitos femininos.

A segregação entre previdência e assistência visa a preservar as finalidades e características do sistema previdenciário (horizonte de longo prazo e fontes de custeio contributivas), em contraste com as políti-cas assistenciais do Estado (horizonte de governo e

da Previdência Social; correção dos benefícios previdenciários e assistenciais por um índice de preços; e reconhecimento dos direitos fe-mininos. Para a CNF, a participação do setor privado na gestão de fundos previdenciários é essencial não só para conferir eficiência admi-nistrativa, mas também para introduzir refe-rencial de preços (benchmark).

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fontes de custeio não contributivas). Também a se-paração entre eventos de risco e eventos programá-veis tem por objetivo distinguir as características e fontes de custeio próprias desses benefícios e lhes dar tratamento específico. A segregação deve ser completa, abrangendo a execução orçamentária e o registro contábil.

Esquematicamente, os benefícios assistenciais não contributivos assentam sobre um modelo de assis-tência social universal que independe de contribui-ções dos beneficiários e, por isso mesmo, cabe ao Es-tado provê-los. Já os benefícios previdenciários são contributivos e assentam sobre dois modelos: os de risco e os programáveis. Os primeiros, que incluem doença, invalidez, maternidade, reclusão e pensão, continuariam a ser tratados em regime mutualista pelo INSS. Isso não significa que não haja necessi-dade de revê-los na busca de um melhor equilíbrio do ponto de vista de sua estrutura e gestão. Essa revisão, no entanto, não foi objeto da proposta do Novo Modelo Previdenciário, pois já vem sendo alvo de medidas no âmbito do Governo. Os outros bene-fícios referem-se essencialmente à aposentadoria, cujo modelo repousa sobre a equivalência entre o valor do benefício e as contribuições do beneficiário.

A proposta de Novo Modelo Previdenciário prevê, quanto aos benefícios programáveis, três regimes:

■ Repartição (benefício definido) ■ Capitalização (contribuição definida) ■ Capitalização facultativa

No regime de capitalização facultativa, o beneficiá-rio utilizará a Previdência Complementar, seja aber-ta ou fechada, conforme modelo já existente.

Os benefícios programáveis serão sustentados em duas bases. A primeira corresponde ao atual Regi-me Geral de Previdência Social e assentará, por sua vez, em outros dois pilares: um, com característica de benefício definido e em sistema de repartição (solidário e mutual); e outro, de contribuição defi-

nida durante o período trabalhado e em sistema de capitalização (contas individualizadas). A segunda base corresponde à atual Previdência Complemen-tar, aberta ou fechada, de caráter facultativo e que, por estar operando adequadamente, não é objeto do Novo Modelo da Previdência Social.

O projeto apresenta várias vantagens para o Brasil, entre as quais:

■ A retomada de investimentos pelo Governo. Isso não se daria pela redução imediata das despesas previdenciárias, que só serão obtidas no longo prazo, mas pela possibilidade, no curto prazo, de uma queda mais significativa da taxa de juros no País, graças à percepção pelos agentes econômi-cos da redução do risco Brasil, e pelas perspecti-vas de atração de maior volume de investimen-tos estrangeiros para projetos de infraestrutura;

■ Menor resistência política. Como não se trata de uma reforma previdenciária, mas sim da criação de um novo modelo para os novos trabalhado-res, a proposta não questiona nem suprime di-reitos adquiridos;

■ Inclusão social. Os trabalhadores poderiam ser incluídos nos benefícios do crescimento do País por meio da aplicação de parte de sua poupan-ça previdenciária nas empresas geradoras da ri-queza nacional;

■ Aumento da renda. Possibilidade de os traba-lhadores obterem uma melhor remuneração na aposentadoria com a redução das obrigações do Estado brasileiro.

5.2 reFOrmA trAbALHIStA/SINdICAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras acompanha com grande interesse propostas de reforma trabalhista e sindical que assegurem a proteção dos direitos dos trabalhadores, entre eles o de representação

capítulo 5: reFOrmAS eStruturAIS

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agenda do setor financeiro 201462

Trabalhadores de todos os setores tanto mais se beneficiam quanto maior a taxa de crescimento da economia brasileira e mais acelerada a redução das desigualdades de renda. Em um cenário ide-al, crescimento econômico e distribuição de renda caminham juntamente com proteção dos direitos trabalhistas, entre eles o de representação sindical. No cenário inverso, a exacerbação desmesurada de direitos trabalhistas aumentaria exageradamente os custos de contratação e reduziria tanto a oferta de emprego quanto o próprio crescimento econômico. Uma reforma trabalhista e sindical bem sucedida conseguiria lograr o equilíbrio entre, de um lado, crescimento econômico, geração de empregos e dis-tribuição de renda e, de outro, custos de contratação e proteção aos direitos trabalhistas.

No que diz respeito à reforma sindical, a CNF acom-panha com preocupação a proliferação de sindica-tos sem representatividade, com consequente am-pliação do número de dirigentes sindicais.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística regis-trou que “os resultados completos da Pesquisa Sin-dical 2001 revelam que, de 1991 a 2001, o número de sindicatos de trabalhadores no país cresceu 49%,

enquanto o número de associados apresentou um aumento de 22%, o que levou à redução do tama-nho médio dos sindicatos (de 2.104 para 1.720 asso-ciados)”. De fato, somente no período entre 1990 e 1996, foram criadas no Brasil 5.034 novas entidades sindicais de empregados e empregadores nos mais diversos setores da atividade econômica, o que le-vou à queda na taxa de sindicalização e à fragmen-tação dos sindicatos.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, o país tem, hoje, cerca de 15.007 sindicatos, tanto patronais quanto de trabalhadores. Entre os sindi-catos, 10.167 são de trabalhadores e 4.840, patro-nais. Mesmo com o avanço no número de sindicatos, a quantidade de trabalhadores sindicalizados tem caído. Hoje, são 16 milhões de trabalhadores asso-ciados a sindicatos, ou 17,2% dos ocupados, segun-do a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2011, do IBGE.

O quadro foi agravado pelo advento da Portaria nº 186/2008 do Ministério do Trabalho (MTE), que pos-sibilitou a criação de mais de um sindicato na mes-ma base territorial, introduzindo a tendência de que mais sindicatos de pequeno porte sejam criados. As confederações patronais não reconhecem a legalida-de dessa Portaria Ministerial.

A fragmentação dos sindicatos está na origem de propostas de ampliação da representação sindical. A legislação atual assegura a estabilidade para até sete e, no mínimo, três membros da diretoria e um Conselho Fiscal, composto de três membros. Na vi-são da CNF, esse número de membros é suficiente para a administração do sindicato que conta, inclu-sive, com um bom quadro funcional de técnicos e assessorias para prestar assistência e defender os direitos dos seus sindicalizados. Assim, eventuais alterações na representação sindical deveriam ser tratadas no âmbito das negociações coletivas de trabalho, como já ocorre em diversas categorias que discutem e aceitam cláusulas que aumentam o nú-mero de dirigentes sindicais. A própria Convenção 87

sindical, sem implicar custos de contratação irrealistas e exorbitantes que prejudiquem a geração de empregos e o crescimento econô-mico. A CNF apoia propostas que não criem insegurança jurídica, presente sempre que dis-positivos são redigidos de maneira genérica e vaga, sem limitação dos direitos e obrigações de empregados e empregadores e sem pre-visão de sanção para o descumprimento por ambas as partes. Para a Confederação, pro-postas de reforma sindical devem estar sem-pre vinculadas a propostas de reforma traba-lhista, de forma a tratar simultaneamente dos interesses de empregados e empregadores e de suas respectivas representações.

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da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dispõe sobre a liberdade sindical e proteção do direi-to sindical, não alterou o número de dirigentes para a administração dos sindicatos, o que indica que a negociação coletiva é a forma mais apropriada para solucionar a questão.

No que diz respeito à reforma trabalhista, a CNF iden-tifica uma série de questões que poderiam ser objeto ou de regulamentação por diploma legal, ou de ne-gociação coletiva, com vistas ao estabelecimento de relações trabalhistas flexíveis, compatíveis com uma economia dinâmica e competitiva. Entre essas ques-tões estariam (numa relação não exaustiva):

■ Participação nos lucros ou resultados; ■ Duração da jornada de trabalho; ■ Fracionamento de férias; ■ Proteção do mercado de trabalho da mulher; ■ Terceirização; e ■ Multa sobre o fundo de garantia do tempo de

serviço.

5.3 reFOrmA FISCAL

Há hoje várias distorções no sistema tributário bra-sileiro: a carga tributária de 35,8% do Produto Inter-no Bruto (PIB) não é compatível com a economia de um país em desenvolvimento; os mais de 90 tribu-tos, acrescidos de obrigações tributárias acessórias, não são administráveis por pequenas e médias em-presas; as alíquotas elevadas não são proporcionais às bases tributárias reduzidas; e a superposição de impostos sobre a cadeia produtiva não afeta aqueles que podem contribuir mais.

Para agravar esse quadro, propostas de reforma tri-butária examinadas no passado incorporaram uma percepção equivocada que introduz insegurança jurídica. Essa percepção é a de que o sistema finan-ceiro extrai lucros exagerados dos demais setores da economia mediante a imposição de taxas de ju-ros excessivas. Como corolário, o setor deveria estar sujeito à tributação adicional, mesmo que esta seja inconstitucional e gere incertezas sobre uma futura extensão da diferenciação a outros segmentos, não por sua lucratividade ou resultado – base do tributo – mas sobre sua atividade.

A noção de que as instituições financeiras obtêm resultados exagerados vem da publicação do valor absoluto de lucros das empresas do setor. Essa di-vulgação raramente é acompanhada de informações sobre lucratividade, que permitiria comparar o setor financeiro com outros segmentos da economia bra-sileira e com os de outros países. Contudo, as insti-tuições financeiras brasileiras não apresentam lucra-tividade excepcional quando cotejadas com as de outros setores e de outros países.

Essa percepção equivocada de lucratividade exage-rada deriva, em boa medida, do fato de os bancos brasileiros atuarem em um ambiente de elevadas

tucional da isonomia; para tanto devem consi-derar resultados (ou receitas, ou lucros) e não a natureza da atividade econômica.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para maior eficácia e transparência do sistema tri-butário nacional, bem como para o equilíbrio das contas públicas. As instituições financeiras acompanham propostas de reforma tributária, preocupadas com o aprimoramento de temas que vão muito além dos assuntos tópicos di-retamente relacionados com suas operações. Para a CNF, projetos voltados para a moder-nização da legislação tributária deveriam, em princípio, evitar ser definitivos, o que lhes con-fere boa dose de realismo. A criação de novos tributos, bem como alterações no fato gerador, na base de cálculo e na alíquota daqueles já existentes, devem respeitar o princípio consti-

capítulo 5: reFOrmAS eStruturAIS

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taxas de juros. Porém, os bancos não fazem os juros, talvez fosse mais certo dizer que os juros fazem os bancos. O juro é o preço que paga o tomador pela es-cassez do crédito, pela cunha fiscal e pelo desajuste nas contas fiscais do setor público. O setor financeiro não obtém lucros por meio de altas taxas de juros. Na verdade, os lucros são obtidos a partir da diferen-ça entre taxa de captação e taxa de repasse de recur-sos. Quanto maiores as taxas de juros, maior o risco de inadimplência, maiores as provisões necessárias para cobrir esse risco e menores os resultados.

Lucro alto não significa grande lucratividade – a me-dida de desempenho de qualquer empresa ou setor. Porém, a percepção equivocada dos resultados de instituições financeiras, em que o lucro absoluto é confundido com a lucratividade relativa, conduz às propostas de tributação diferenciada do setor. A rentabilidade do setor financeiro depende menos do patamar das taxas de juros e mais da estabilidade econômica com justiça fiscal. Para as instituições fi-nanceiras, o País fará grande avanço se vier a adotar sistema compatível com padrões internacionais de tributação, com redistribuição da carga tributária e adoção do princípio da progressividade, preserva-dos a renda, o patrimônio e o consumo como base referencial de tributação. A simplificação, desbu-rocratização e estabilidade da legislação tributária, com a redução da tributação em cascata, aumenta-riam a competitividade.

A discriminação tributária de um setor contraria os princípios da capacidade contributiva e da isonomia, ambas limitações constitucionais ao poder de tribu-tar. A Constituição vincula a “capacidade econômica” ao patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do contribuinte (Constituição Federal, art. 145, §1º), não ao setor em que este opera. Tal contribuinte está sujeito apenas a impostos, não aos demais tributos (taxas, contribuições de melhoria, contribuições e empréstimos compulsórios). Ademais, está sujeito apenas a impostos pessoais, isto é, àqueles que inci-dem sobre bens, receitas e operações. O princípio da isonomia tributária (CF, art. 150, II), por sua vez, bus-

ca a igualdade na lei e a igualdade perante a lei, ao dar tratamento desigual aos que são juridicamente desiguais. A Constituição cria exceções ao princípio da isonomia, tais como os incentivos fiscais para de-senvolver determinadas regiões, regime tributário fa-vorecido para microempresas e empresas de peque-no porte, além da possibilidade de discriminar entre ramos de atividade econômica por motivo extrafiscal, desde que a distinção seja razoável (como é o caso da isenção de IPI para taxistas e deficientes físicos). Po-rém, não menciona exceções para setores específicos.

A cobrança diferenciada poderia se justificar somen-te pela adoção de alíquotas maiores em função do lu-cro ou da lucratividade, para todos os setores da eco-nomia. O lucro já é um critério adequado e justo para diferenciar contribuintes com capacidade contributi-va mais elevada, para fins de incidência do IRPJ. No caso do setor financeiro, ademais do desestímulo à produtividade, a tributação diferenciada não corres-ponde a uma lucratividade maior do que a de outros setores, mas pode introduzir insegurança jurídica, uma das raízes das elevadas taxas de juros no Brasil.

A CNF propõe o aperfeiçoamento do dispositivo que estabelece obrigatoriedade de lei complementar para criação de novos tributos, para que determine que a carga tributária dos impostos contemplados seja, ao final do período de transição, no máximo igual à do ano anterior às alterações promovidas pela proposta. Para a Confederação, qualquer aumento de arrecada-ção deveria ser esterilizado, de modo a não financiar novas despesas, pela redução das alíquotas. A CNF também defende a preservação dos princípios da anterioridade e da noventena, que são indispensá-veis para assegurar a proteção do contribuinte, ade-mais da vedação ao uso de medidas provisórias em questões de natureza tributária. Propõe a redução do número de tributos e da burocracia para seu recolhi-mento. Numa relação não exaustiva, a CNF advoga: constitucionalização das regras do ISS, de forma que sejam estabelecidas, por lei complementar, regras uniformes para todos os municípios (notadamente no que se refere à base de cálculo, alíquota, lista de

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serviços, titularidade ativa, responsabilidade tribu-tária, local do pagamento e obrigações acessórias); unificação da legislação do ICMS; desoneração dos in-vestimentos; estímulo às exportações ao determinar o recolhimento do ICMS para o Estado de destino; eli-minação do regime cumulativo do PIS e da Cofins; e a extinção da Cide-combustíveis e do Salário-Educação.

5.3.1 controle doS gaStoS públicoS – lei de reSponSabilidade FiScal

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para a con-solidação da Lei de Responsabilidade Fiscal e para o estabelecimento de limites financeiros e orçamentários claros e verificáveis para os três níveis de Governo – União, Estados e Municípios – além de empresas estatais, como instrumento de controle dos gastos públicos. A CNF repudia eufemismos como “flexibilização da LRF”, que representam retrocesso no grande avanço ins-titucional que logrou a cidadania com a apro-vação da Lei Complementar nº 101/2000.

O controle dos gastos públicos é compromisso fun-damental do Estado com os contribuintes, não só para evitar desperdício de recursos escassos, mas

também para assegurar a qualidade desses gastos e sua destinação correta. É um dos instrumentos de atuação contra a inflação e um dos alicerces da cidadania. Esse controle ganhou rigor com a apro-vação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que representou um dos maiores avanços institucionais do Estado brasileiro e foi fundamental para a estabi-lidade econômica que permite ao Brasil trilhar a rota do crescimento sustentado.

A Lei Complementar nº 101/2000 regulamenta o ar-tigo 163 da Constituição. Desde sua aprovação, a LRF coexiste com forças antagônicas. De um lado, os contribuintes brasileiros percebem os benefícios de uma gestão fiscal pautada pelo respeito a limi-tes financeiros e orçamentários que impede entes do setor público de recorrer ou à União ou a fontes inflacionárias para custear desequilíbrios. De outro, entes públicos pressionam para reduzir esses limites financeiros e orçamentários e retomar velhas práti-cas que contribuíram para o período inflacionário, recorrendo muitas vezes ao eufemismo da “flexibi-lização” da LRF. No Congresso Nacional, há proposi-ções nesses dois sentidos.

A Confederação acompanha com preocupação pro-jetos de lei que buscam alterar os indexadores apli-cados a dívidas de Estados e Municípios, com efeitos retroativos, e que facilitam a emissão de títulos mo-biliários por esses entes.

capítulo 5: reFOrmAS eStruturAIS

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67capítulo 6: eFICIêNCIA eCONômICA e COmPetItIVIdAde

A eficiência econômica é um dos princípios que nor-teiam a operação das empresas, em geral, e das ins-tituições financeiras, em particular. Trata-se de oti-mizar o emprego de recursos escassos para obter os mesmos – ou melhores – resultados. O recurso escas-so mais evidente, para os setores público e privado, é a poupança, sem a qual não se materializa o cor-respondente investimento. Para o setor financeiro, porém, outro importante recurso escasso é o tempo – muitas vezes desbaratado em procedimentos buro-cráticos. Também o espaço ocupado por instalações e arquivos tem impacto sobre eficiência econômica.

A eficiência econômica está estreitamente vincu-lada à competitividade. Empresas – entre elas ins-tituições financeiras – que desperdiçam recursos escassos em operações que não buscam alcançar objetivos estratégicos tendem a ser menos compe-titivas e a desaparecer.

6.1 CuStO de ObSerVâNCIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que contribuam para o fornecimento aos três Poderes de far-ta e minuciosa informação originária do se-tor privado para enriquecer a formulação de políticas públicas. Para a CNF, a destinação de recursos escassos privados (tais como pla-taforma de processamento de dados) para a prestação dessas informações deve levar em consideração tanto o custo associado à implantação de novos sistemas quanto a dis-ponibilidade prévia dessas mesmas informa-ções em bancos de dados da Administração Pública. Para a Confederação, novos sistemas governamentais de informações não devem necessariamente se converter em obrigações acessórias para fins tributários e o escalona-mento da implantação desses novos sistemas contribui para mitigar custos.

eficiência econômicae competitividade6

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a otimização do emprego de recursos escassos, tais como poupança (que financia investimentos), tempo e espaço físico, para a simplificação de procedi-mentos e para o fortalecimento da supervisão do uso desses recursos sempre que envolverem bens públicos.

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Os agentes privados em geral e as instituições finan-ceiras em particular têm grande interesse em pro-ver dados e informações precisas e confiáveis que contribuam para a formulação de políticas públicas. Iniciativas voltadas para o fortalecimento da ativi-dade econômica contribuem para um ambiente de negócios saudável, alicerce de instituições financei-ras hígidas e sólidas. Nesse cenário, o sistema finan-ceiro representa o setor da economia mais regulado e mais supervisionado pelo poder público. Como a recente crise internacional voltou a demonstrar, de-sequilíbrios graves no setor financeiro se espraiam por toda a economia e afetam o crescimento econô-mico, o nível de emprego e a inflação. Por essa razão, as instituições financeiras prestam farta e minuciosa informação a diferentes órgãos reguladores.

Ao contrário do que se imagina, o fornecimento de um determinado conjunto de dados e informações em diferentes formatos, com diversos níveis de agre-gação, não é tarefa simples. Apesar de a base ser a mesma, a extração de dados e informações, seguida da sua consolidação em diferentes relatórios tem pelo menos duas implicações importantes: consome horas-homem de técnicos especializados e ocupa espaço em plataformas de processamento que são finitas. O uso desses dois recursos escassos – tra-balho e espaço de processamento – é traduzido em maiores custos, o que se reflete em margem bancá-ria (spread) mais elevada.

Os custos associados à prestação de relatórios pelo setor financeiro podem ser reduzidos pela utilização de dados e informações já disponíveis na Adminis-tração Pública. O Banco Central do Brasil, a Comis-são de Valores Mobiliários, a Superintendência de Seguros Privados, a Receita Federal do Brasil, entre outros órgãos, concentram praticamente todas as informações produzidas por instituições financei-ras. Contudo, proliferam iniciativas que, apesar de meritórias, não consideram o uso de informações já disponíveis e, ao contrário, demandam a prepa-ração de inúmeros novos relatórios. A título de ilus-tração, uma relação não exaustiva aponta iniciativas

meritórias como o eSocial, o SISCOSERV e a Lei An-ticorrupção. Todas buscam reunir informações de altíssima relevância para a Administração Pública, ao mesmo tempo em que impõem pesados custos operacionais ao setor privado, associados a obriga-ções tributárias acessórias.

O Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obri-gações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), em desenvolvimento pelo Governo Fe-deral, servirá à coleta e registro das informações trabalhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais relativas à contratação e utilização de mão-de-obra onerosa, com ou sem vínculo empregatício e tam-bém de outras informações previdenciárias e fiscais previstas na Lei nº 8.212/1991. Foi aprovado pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 203/2012. Seu principal objetivo é unificar a captação das infor-mações definidas no conceito do eSocial, além de racionalizar e uniformizar as obrigações acessórias para os empregadores com o estabelecimento de transmissão única para os diferentes órgãos de go-verno, usuários da informação.

O Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços, Intangíveis e Outras Operações que Produzam Variações no Patrimônio (Siscoserv) procura monitorar os resultados da balança comer-cial de serviços, seguindo orientações constantes do Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS) da Organização Mundial do Comércio (OMC). De acor-do com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), esse sistema possibili-tará a produção de relatórios gerenciais de apoio à formulação e orientação de políticas públicas na área de comércio exterior de serviços, intangíveis e demais operações. A Lei nº 12.546/2011 instituiu a obrigação de prestar ao MDIC informações relati-vas a essas transações. Várias questões tecnológi-cas ainda estão sendo estudadas para viabilizar a comunicação deste com os demais sistemas já em uso pelas empresas. Atualmente, a inclusão das informações no Siscoserv ocorre de forma manual, acarretando consideráveis aumentos de custo com

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recursos humanos, espaço físico e treinamento. Além das adaptações em diversos sistemas, a apli-cação da norma demanda o envolvimento de áreas distintas das empresas: contábil, tributária, tecnoló-gica, entre outras. A Lei n° 12.873/2013, oriunda da Medida Provisória 619/2013, determina que nos ca-sos de informações inexatas, incorretas ou omitidas será imposta multa de 3% não inferior a R$ 100,00 (cem reais), e 1,5% não inferior a R$ 50,00 (cinquen-ta reais), do valor das transações comerciais ou das operações financeiras.

A Lei Anticorrupção, Lei nº 12.846/2013, dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. A Lei nº 12.846/2013 permite a punição de empresas que pratiquem ações como oferecer vantagem indevida a agente público, fraudar licitações e financiar atos ilícitos. Pelas nor-mas atuais, apenas as pessoas físicas flagradas em casos de corrupção são punidas. Com a nova lei, as pessoas jurídicas corruptoras, no âmbito administra-tivo, podem pagar multas de 0,1% a 20% do fatura-mento bruto anual ou de valores entre R$ 6 mil e R$ 60 milhões. O pagamento não isenta a pessoa jurídi-ca de reparar integralmente o dano causado, quando possível. O novo texto legal prevê o fornecimento de farta informação ao poder público.

O crescente ônus associado à prestação de infor-mações ao setor público recomenda que sistemas desenvolvidos para esse fim sejam implementados de forma escalonada. Ademais, a prestação de in-formações voltadas para o desenho de melhores políticas públicas e para o controle do cumprimen-to de obrigações legais não precisa necessariamen-te se converter em obrigações acessórias para fins tributários. Amplas consultas à sociedade e aos agentes afetados muito contribuiriam para a eficá-cia de novos sistemas.

6.2 eSOCIAL – eNVIO uNIFICAdO de INFOrmAçõeS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que racionalizem, automatizem e consolidem informações tra-balhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais relativas à contratação e utilização de mão-de-obra onerosa, prestadas pelo setor privado ao setor público. Para a CNF, a destinação de re-cursos escassos privados (tais como plataforma de processamento de dados) para a prestação dessas informações deve levar em considera-ção tanto o custo associado à implantação de novos sistemas quanto a disponibilidade pré-via dessas mesmas informações em bancos de dados da Administração. Para a Confederação, novos sistemas governamentais de informa-ções não devem necessariamente se converter em obrigações acessórias para fins tributários e o escalonamento da implantação desses novos sistemas contribui para mitigar custos.

O Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obriga-ções Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), em desenvolvimento pelo Governo Federal, servirá à coleta e registro das informações trabalhistas, pre-videnciárias, tributárias e fiscais relativas à contra-tação e utilização de mão-de-obra onerosa, com ou sem vínculo empregatício e também de outras infor-mações previdenciárias e fiscais previstas na Lei nº 8.212/1991. Foi aprovado pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 203/2012.

As informações descritas no objeto do eSocial serão armazenadas no Ambiente Nacional do eSocial, pos-sibilitando aos órgãos participantes do projeto sua utilização para fins previdenciários, fiscais e de apu-ração de tributos e do FGTS. Seu principal objetivo é unificar a captação das informações definidas no con-ceito do eSocial, além de racionalizar e uniformizar as obrigações acessórias para os empregadores com o

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estabelecimento de transmissão única para os dife-rentes órgãos de governo, usuários da informação.

As informações dos eventos trabalhistas serão ar-mazenadas num banco de dados denominado Re-gistro de Eventos Trabalhistas (RET). Assim, todos os eventos, ao serem transmitidos para o banco de dados, só serão aceitos e validados se estiverem de acordo com as informações armazenadas no RET, que também será utilizado para a validação da fo-lha de pagamentos.

Os arquivos relativos a eventos trabalhistas deverão ser gerados e transmitidos ao eSocial na medida que ocorrerem, sempre observando os prazos pre-vistos na legislação em vigor para cada informação. Logo, ao se admitir um funcionário as informações devem ser transmitidas antes que ele inicie suas ati-vidades profissionais.

As informações de Folha de Pagamento, Previden-ciárias, Trabalhistas e Fiscais serão compostas por diversos arquivos cujo número irá variar de acordo com o conteúdo a ser transmitido.

Os dados que forem ser utilizados de modo perma-nente serão armazenados em tabelas no Ambiente Nacional do eSocial. Esse armazenamento busca-rá otimizar os arquivos, já que as informações de natureza permanente são todas as que podem ser usadas em mais de um arquivo do sistema. O empre-gador deverá gerar um arquivo eletrônico contendo as informações necessárias, assiná-lo digitalmente e transformá-lo em um documento eletrônico nos termos da legislação brasileira. O arquivo então será transmitido via internet para o Ambiente Nacional do eSocial que, após verificar a integridade formal do arquivo, emitirá um protocolo de recebimento e o enviará para o empregador.

As plataformas de processamento de dados das empresas privadas constituem recursos escassos, finitos e onerosos, introduzidos para a gestão em-presarial e para a oferta eficiente de bens e serviços.

A destinação de parcela crescente desses recursos escassos – plataforma de processamento de dados – para prestação de informações ao setor público re-presenta custo que impacta os resultados dessas empresas. Por essa razão, demandas pelo setor pú-blico de informações originárias do setor privado devem ser precedidas da verificação da disponibi-lidade dessas mesmas informações nos diferentes bancos de dados de órgãos da Administração.

O crescente ônus associado à prestação de informa-ções trabalhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais ao setor público recomenda que sistemas desenvol-vidos para esse fim sejam implementados de forma escalonada. Ademais, a prestação de informações voltadas para o desenho de melhores políticas públi-cas e para o controle do cumprimento de obrigações legais não precisa necessariamente se converter em obrigações acessórias para fins tributários. Amplas consultas à sociedade e aos agentes afetados muito contribuiriam para a eficácia de novos sistemas.

6.3 CONCeNtrAçÃO bANCÁrIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o au-mento da competitividade no setor financeiro, desde que não coloquem em risco a higidez do sistema e sejam lastreadas em sólidos funda-mentos técnicos e em extensa pesquisa sobre estruturas de mercado.

Para o setor financeiro bem desempenhar seu papel e melhor atender aos consumidores, é fundamental a manutenção de um ambiente de negócios compe-titivo, em que a concorrência estimule o contínuo aprimoramento de produtos, serviços e procedimen-tos. Frequentemente o setor financeiro, em geral, e o bancário, em particular, são descritos como mer-cados oligopolizados avessos a essa concorrência. Essa avaliação não se sustenta em fatos.

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Aumentou, no passado recente, a percepção equi-vocada de que o mercado financeiro brasileiro tornou-se menos competitivo por causa da maior concentração bancária. De fato, na esteira da crise financeira internacional, verificou-se um conjunto de acontecimentos que dão margem a essa avalia-ção apressada. Ocorreram importantes operações de fusão entre grandes instituições, tais como en-tre ABN Real e Santander, Itaú e Unibanco, além de Banco do Brasil e Nossa Caixa. Os bancos públicos adotaram política de concessão de crédito mais agressiva como parte de uma política anticíclica vol-tada para a mitigação dos efeitos da crise. Ademais, bancos com menor número de agências, de peque-no e médio portes, venderam carteiras de crédito ou para bancos maiores, ou para o Fundo Garantidor de Créditos, para se capitalizar e fazer frente a desafios de liquidez. Contudo, os mais diferentes indicadores de mercado não apontam, no Brasil, que a concen-tração bancária seja superior à de outros países ou traga ineficiência ao sistema.

Trabalhos acadêmicos não estabelecem qualquer re-lação entre medidas de concentração bancária e ta-xas de empréstimo ou spread bancário. São estudos como os de Eduardo K. Tonooka Sérgio M. Koyama (“Taxa de juros e concentração bancária no Brasil”, 2003) e os de Simone Miyuki Hirakawa e Rodrigo De Losso da Silveira Bueno (“Does Location Matter to Explain Loan Interest Rates? Evidence from Brazilian Local Banking Markets”, de 2009). No portal do Banco Central, está disponível estudo de Márcio I. Nakane que elenca e sumariza os trabalhos relevantes nessa área (“Concorrência e Spread Bancário: uma Revisão da Evidência para o Brasil”, no endereço eletrônico: www.bcb.gov.br).

Nesses estudos sobre o setor bancário brasileiro, a evidência disponível aponta para um setor em que o grau de concorrência é bastante elevado. Os testes rejeitam as estruturas extremas de cartel e de con-corrência perfeita, concluindo, desta forma, que es-truturas imperfeitas de mercado são as que melhor caracterizam este setor. Estimativas pontuais indi-

cam uma situação mais próxima à competitiva que à cartelizada. Também não há evidências de que os níveis de concentração no segmento bancário bra-sileiro resultem em uma rentabilidade fora dos pa-drões internacionais.

6.4 LuCrO e reNtAbILIdAde bANCÁrIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos que, ao tratar da tributação de setores diversos, recorram a um critério homogêneo, aplicável a todos in-distintamente e não se fundamentem na per-cepção equivocada de que as empresas do setor financeiro auferem lucros excessivos e, por essa razão, devam ser desproporcional-mente oneradas, inclusive pela imposição de tributos excepcionais de constitucionalidade questionável.

Do início da década até a crise financeira internacio-nal, o mundo passou por um período de grande cres-cimento e ampliação dos lucros por parte das empre-sas. O Brasil também foi beneficiado por esse cenário.

A percepção equivocada de que os bancos obtêm resultados exagerados vem da publicação do valor absoluto de lucros das empresas do setor. Não há sentido em se comparar lucros nominais de diferen-tes setores da economia, até porque as empresas desses setores apresentam portes variados. Uma vez que se encontram no setor financeiro algumas das maiores empresas do país, é natural que seus lucros nominais estejam também entre os maio-res. Em outros setores, como os de mineração e de energia, também há empresas de grande porte, que apresentam os maiores lucros do Brasil, sem que se qualifiquem tais lucros como exorbitantes. Para bem comparar o desempenho de diferentes setores da economia, há que se recorrer a um critério ho-mogêneo, aplicável a todos indistintamente. Esse

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critério é o da rentabilidade, isto é, o da razão entre lucro e patrimônio líquido. As instituições financei-ras brasileiras não apresentam lucratividade excep-cional quando cotejadas com as de outros setores e de outros países.

Comparados com outros setores da economia, os bancos, ao contrário do que se acredita, não são os mais rentáveis. Uma boa fonte para essa compara-ção é o ranking trimestral de rentabilidade setorial da Austin, agência classificadora de risco. Segundo o último levantamento disponível, no 3º trimestre de 2012, com rentabilidade anualizada de 13,5%, os bancos foram o 10º setor mais rentável. Outra fonte de dados que corrobora este dado é a publicação Va-lor 1000. No último levantamento do Valor Econômi-co, feito em 2010, os bancos ocuparam a 12ª posição, com rentabilidade de 16,1% (o primeiro colocado, bebidas e fumo, apresentou rentabilidade de 32,9%). Acredita-se que no próximo levantamento os resulta-dos não serão diferentes. Diferentemente de outros setores, as instituições financeiras não podem deter-minar sua estrutura de capital e, com isto, alterar a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, uma vez que estão sujeitas a limites de capital em função do Acordo de Basileia. Ademais, a rentabilidade entre os bancos varia conforme o segmento e é bastante dispersa entre as instituições.

Também ao contrário do que se propaga, os bancos brasileiros não são os mais rentáveis do mundo. Per-cebe-se isso intuitivamente pelo fato de que não há notícia de corrida de grandes bancos internacionais para o mercado brasileiro. Ao contrário, inúmeros grandes conglomerados, multinacionais ou regio-nais, mantêm suas operações em outros mercados tão ou mais rentáveis do que o brasileiro. Em 2010, a rentabilidade média dos maiores bancos brasilei-ros (de 16,1%) ficou abaixo da rentabilidade média dos bancos de países como o Chile (17,9%), México (19,9%), Espanha (21,5%), Turquia (22,4%), Austrália (22,7%), China (25,1%), África do Sul (30,2%), Indo-nésia (30,7%), Colômbia (31,4%) e Peru (52,5%).

6.5 trAtAmeNtO IguALItÁrIO eNtre INStItuIçõeS FINANCeIrAS de CAPItAL NACIONAL e de CAPItAL eStrANgeIrO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que buscam mate-rializar também no setor financeiro o princípio constitucional da igualdade de tratamento en-tre empresas de capital nacional e as de capi-tal estrangeiro.

Na recepção da Lei nº 4.595/1964 como Lei Comple-mentar não foram estabelecidos princípios gerais para o sistema financeiro. De toda forma, o art. 39 aplica às instituições financeiras estrangeiras as mesmas disposições aplicáveis às instituições de ca-pital nacional.

A Constituição Federal de 1988 não estabelece qual-quer diferenciação entre empresa nacional de capital nacional ou estrangeiro. Da mesma forma, as insti-tuições financeiras estabelecidas no Brasil e, portan-to, reguladas pelo Banco Central, não devem ter tra-tamento ou direitos diferenciados em decorrência da nacionalidade de seu controlador. Contudo, subsis-tem procedimentos que, na prática, introduzem dife-renciação de tratamento entre empresas brasileiras de capital nacional e as de capital estrangeiro.

6.6 COrreSPONdeNteS NO PAÍS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a expansão e o fortalecimento da rede de corres-pondentes no país como importante instrumen-to de bancarização, que não os equiparem aos bancos para fins legais e que não lhes atribuam as funções e obrigações típicas de bancos, inclu-sive no que toca aos dispositivos de segurança.

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Correspondentes no país (chamados impropria-mente de “correspondentes bancários”) são esta-belecimentos contratados por instituição financei-ra, segundo previsto pelas Resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 3.954 e 3.959, ambas de 2011, para a prestação de determinados serviços básicos tais como saques, pagamentos, cobranças, depósitos, etc. São correspondentes no país as ca-sas lotéricas, agências dos correios, farmácias, su-permercados, entre outros.

Surgiram no país no início na década passada como alternativa aos tradicionais espaços bancários e já desempenham um importante papel no desen-volvimento socioeconômico. Entre os benefícios propiciados pela sua atuação, destaca-se o maior acesso da população aos serviços financeiros, es-pecialmente das regiões mais afastadas, desempe-nhando função transformadora nessas economias. Os correspondentes destacam-se pela quantidade absoluta de pontos de atendimento, pelos indicado-res demográfico e geográfico e por sua capilaridade. Dos mais de 255 mil pontos de atendimento para operações bancárias no país, 161 mil são de corres-pondentes. Depois de um crescimento acentuado por 10 anos, o número de correspondentes come-çou a se estabilizar a partir de 2011. A queda nesse ano (de 165 mil correspondentes em 2010 para 161 mil em 2011: -2,5%) se deve, entre outros aspectos, à Resolução CMN nº 3.954/2011, que alterou e con-solidou as normas que dispõem sobre a contratação de correspondentes. Todavia, em termos de capila-ridade, pode-se considerar que não há, no país, mu-nicípio algum sem ponto de atendimento de corres-pondente. De acordo com dados do Banco Central, em janeiro de 2014, o número de correspondentes no país aumentou para 374 mil. Os correspondentes são largamente responsáveis pela inclusão financei-ra da população brasileira, uma vez que atingem po-pulações tradicionalmente carentes e isoladas (em relação a agências bancárias).

Aposentados e pensionistas da Previdência Social, sobretudo em localidades mais distantes, são espe-

cialmente beneficiados pela existência de uma rede de correspondentes.

As resoluções do CMN tratam da contratação de cor-respondente por bancos e não da atividade de cor-respondente em si, que é regulada por normas de direito privado. Apesar de serem contratados pelos bancos, os correspondentes no país não se equipa-ram às instituições bancárias, tampouco seus funcio-nários pertencem à categoria laboral dos bancários. Primeiro, porque o correspondente não se inclui en-tre as instituições autorizadas a operar pelo Banco Central e, por essa razão, não está sob a competência regulatória e supervisora dessa autarquia. O artigo 18 da Lei nº 4.595/1964 reza que: “as instituições finan-ceiras somente poderão funcionar no país mediante prévia autorização do Banco Central  da República do Brasil ou decreto do  Poder  Executivo, quando forem estrangeiras”. Em segundo lugar, porque o Conselho Monetário Nacional, em seu poder regulamentar, não autorizou banco a contratar correspondente para prestar serviço que se confunda com sua atividade privativa, qual seja intermediação financeira. Corres-pondentes no país não captam recursos tampouco concedem empréstimos, que são atividades privati-vas de bancos. As relações contratuais – abertura de conta, depósito e mútuo – são entre banco e usuário.

Cuida-se aqui de uma atividade acessória, visto que a atividade principal acha-se ligada ao objeto social do estabelecimento comercial que abriga as funções de correspondente. O correspondente não faz inter-mediação financeira. Já no caso dos bancos, a ativi-dade principal – privativa de instituição financeira – é a do artigo 17 da Lei nº 4.595/1964, que define ins-tituição financeira como “pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros”.

Os serviços dos denominados correspondentes limi-tam-se a receber e repassar, pois a análise das ope-

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rações, assim como a efetiva abertura e movimen-tação de contas, continua sendo formalizada pelas instituições financeiras. A Resolução n° 3.954/2011 é taxativa ao prever que empresa contratada como correspondente está sujeita à penalidade prevista na Lei nº 4.595/1964, caso venha a praticar operação privativa de banco.

Persistem equívocos no tratamento de correspon-dentes no país como se bancos fossem, sobretudo nas questões que envolvem segurança. O fato de re-ceberem e de repassarem valores implica riscos de segurança menores do que os incorridos pelos ban-cos – que mantém depósitos em dinheiro vivo e em valores, bem como a gestão de sistemas computa-dorizados que gerenciam e transferem valores. A exi-gência de que farmácias, supermercados, agências de correio e casas lotéricas passem a contar com dis-positivos de segurança exclusivos de bancos por for-ça da Lei nº 7.102/1983, tais como vigilantes arma-dos e portas giratórias, representa pesado ônus nas operações e a inviabilização da expansão da rede de atendimento. No limite, tais ônus podem significar o retorno da população por eles atendida à marginali-dade no acesso a pagamentos e recebimentos de va-lores. Ademais, a Lei nº 7.102 obriga a instalação em estabelecimentos financeiros e não em locais onde haja movimentação de numerário. Se assim o fosse, supermercados deveriam ter porta giratória. Deter-minante à aplicação desta lei é ser estabelecimento classificado como financeiro; para tanto, deve pres-tar intermediação financeira.

6.7 dIgItALIZAçÃO/ArquIVAmeNtOde dOCumeNtOS

“Digitalização” é o processo de conversão de dados de um suporte analógico para o suporte digital, que permite maior fidelidade de reprodução e maior flexibilidade para buscas, além de rapidez na atua-lização dos dados armazenados e possibilidade de compartilhamento de informações a um número maior de interessados. Trata-se aqui de documentos digitalizados a partir de um documento original em outro suporte, o que não incluiria documentos gera-dos já em meio digital. A atividade econômica res-sente-se da ausência de regulamentação da digitali-zação de documentos, seu armazenamento em meio eletrônico (ótico ou digital) e a reprodução daqueles que foram arquivados (públicos e privados).

A microfilmagem, com armazenagem em fotogra-mas da forma e do conteúdo de documentos, aproxi-ma-se da digitalização em seus propósitos. Seu uso já tem mais de quarenta anos: a Lei nº 5.433/1968 permitiu aos Cartórios de Registro de Títulos e Docu-mentos efetuar seus registros por esse meio, o que trouxe maior segurança e agilidade aos processos.

Uma das questões-chave de processos de digitali-zação é o emprego de certificado digital emitido no âmbito da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasi-leira (ICP-Brasil) para documentos originalmente elaborados em meio eletrônico, de maneira a terem eficácia perante terceiros, inclusive o Judiciário.

A regulamentação da digitalização de documentos não alteraria nenhuma das legislações específicas vigentes. Por exemplo, em nada afetaria as ativida-des e as competências tanto dos tabeliães de notas e de protesto quanto dos cartórios de registro civis, de pessoas naturais ou jurídicas, de títulos e documen-

originais. Para a CNF, esse propósito seria atin-gido pela adequação da atual legislação que trata de microfilmagem a novas tecnologias de reprodução de imagem, dispensado o re-gistro notarial.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que confiram segu-rança jurídica aos atos e negócios que envol-vam documentos digitalizados ao dar a estes o mesmo valor jurídico dado aos documentos

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tos e de imóveis, na medida em que o meio ótico ou digital simplesmente substituiria o suporte em papel dos atos e negócios jurídicos, que continuariam re-gulados pelas mesmas normas.

A Medida Provisória nº 615/2013, convertida na Lei nº 12.865, em seu art. 23, dispõe que “nas operações e transações realizadas no sistema financeiro nacio-nal, inclusive por meio de instrumentos regulados por lei específica, o documento digitalizado terá o mesmo valor legal que o documento que lhe deu origem, respeitadas as normas do Conselho Mone-tário Nacional”. Contudo, uma vez que a segurança da digitalização dos documentos de instituições fi-nanceiras depende ainda da devida regulamentação do Conselho Monetário Nacional, a CNF entende que resta definir os procedimentos de digitalização.

6.8 deSONerAçÃO dA FOLHA de PAgAmeNtOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que desonerem a folha de pagamentos e efetivamente esti-mulem a competitividade das empresas e a geração de empregos formais. Para a CNF, eventuais perdas de arrecadação previdenciá-ria decorrentes da desoneração poderiam ser compensadas pelo Tesouro Nacional e pelo corte, por parte do Governo, de outras despe-sas em valor igual ao transferido para a Previ-dência; pela contabilização da aposentadoria rural como benefício social ou outra forma de transferência de renda, de natureza orçamen-tária; pela manutenção do fator previdenciá-rio; e pela introdução da previdência comple-mentar para servidores públicos.

Proposta de desoneração dos tributos que incidem sobre a folha de pagamentos das empresas levam em conta o impacto positivo que esta poderia ter na

ampliação da competitividade das empresas brasi-leiras frente ao resto do mundo, na eliminação dos gargalos ao processo de desenvolvimento e na gera-ção de empregos formais.

Uma das principais propostas em debate sugere a redução da contribuição descontada hoje para a Previdência, de forma gradativa, em 2% ao ano até que se atinja uma queda de cerca de 6%. Assim, a carga sobre a folha de pagamentos passaria dos atu-ais 20% para 14%.

A medida traz, porém, algumas resistências visto que pode prejudicar a arrecadação da Previdência e de-sestruturar sua sustentação. Nas avaliações apresen-tadas estima-se que cada ponto percentual de de-soneração significa um impacto de R$ 4 bilhões nas contas da Previdência. Para evitar reduções sensíveis no seu recolhimento e a perda de sua sustentabili-dade no longo prazo, estudam-se outras fontes para compensar a desoneração da folha de pagamentos.

Como fontes alternativas há basicamente três suges-tões: (a) cobrar contribuição sobre o lucro ou fatura-mento; (b) retornar com a CPMF; ou (c) simplesmen-te não cobrar compensação, esperando um aumento de receitas por meio da expansão do crescimento econômico com maior formalização do emprego.

Quanto à transferência da base de incidência das contribuições previdenciárias para o faturamento, cerca de 42 setores, tais como têxtil, de móveis, cal-çadista e de Tecnologia de Informação, já vêm sendo beneficiados pela medida desde dezembro de 2011, em razão do Plano Brasil Maior. Essas empresas dei-xaram de recolher a contribuição patronal ao INSS (alíquota de 20%) em troca de uma tributação que incidirá sobre o faturamento. Os setores calçadista, de móveis, de transportes, de segurança, e têxteis, entre outros, passaram a recolher à alíquota de 1% e o de TI, 2%. Os primeiros resultados sugerem que a carga tributária sobre as empresas não seria de fato reduzida e determinados setores seriam bene-ficiados em detrimento de outros. Os setores indus-

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triais e de serviços, que utilizam intensamente mão-de-obra, seriam mais desonerados.

Penalizar proporcionalmente mais as empresas in-tensivas em tecnologia e beneficiar as intensivas em mão-de-obra pode criar sérios desequilíbrios econô-micos e retirar a competitividade precisamente dos segmentos que adotam tecnologia mais avançada, além de ferir o princípio da isonomia tributária (ar-tigo 150, inciso II da CF). Ademais o faturamento das empresas já é onerado, de modo direto ou indireto, pelo ICMS, IPI, ISS, PIS, Cofins, IRPJ e CSLL.

Quanto à recriação da CPMF, esta sofre intensa opo-sição de consumidores, da maior parte do empresa-riado e de segmentos do próprio Governo.

Já a última sugestão fundamenta-se em pesquisas que apontam que a redução da carga tributária to-tal sem compensação seria a de melhor resultado no longo prazo, causando variação positiva de 5,3% no emprego formal. A desoneração com compensação, por sua vez, não altera o total de encargos que reca-em sobre o empregador e apresenta resultados de longo prazo mais modestos – causando o aumento, no melhor cenário, de 1,9% no emprego formal.

No âmbito do Ministério da Fazenda foi instituída pelo Decreto nº 7.711/2013 a Comissão Tripartite de Acompanhamento e Avaliação da Desoneração da Folha de Pagamentos, formada por representantes do Governo Federal, dos trabalhadores e empre-sários. A Comissão desenvolverá as atividades de acompanhamento e avaliação da efetividade da de-soneração tributária da folha de pagamentos nos se-tores beneficiados, com base nos seus impactos eco-nômicos, podendo considerar a geração de emprego e renda, a formalização do trabalhador, a competiti-vidade, a arrecadação tributária, o desenvolvimento setorial, a capacitação e a inovação tecnológica.

6.9 reguLAmeNtAçÃO dALeI ANtICOrruPçÃO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que ampliem a transpa-rência das operações das empresas, sobretudo nas suas relações com o poder público. Para a CNF, a regulamentação da nova lei de combate à corrupção enseja oportunidade de ajustes im-portantes para dar eficácia à prevenção e repres-são de atos ilícitos contra a Administração Públi-ca. A Confederação entende que a nova lei não se sobrepõe à Lei contra a Lavagem de Dinheiro, que já é aplicada ao setor financeiro, o mais re-gulado e mais supervisionado da economia.

A Controladoria-Geral da União coordena as discus-sões sobre a regulamentação da Lei nº 12.846/2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos con-tra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências. De acordo com a CGU, o objetivo da lei é inibir a corrupção na Administração Pública e aperfeiçoar os sistemas de controle e a transparência das empresas brasileiras.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (OCDE) defende a adoção de normas que possibilitem a punição de empresas envolvidas em casos de corrupção. O Brasil é signatário de três importantes convenções internacionais contra cor-rupção, a saber: a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, a Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais.

Entre os principais pontos sobre o debate da regula-mentação da Lei, estão: penas para empresas e diri-gentes; contratação de servidores públicos, ou seus familiares, por empresas; limites da responsabiliza-ção; instituição de órgão independente para centra-

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lizar o recebimento de denúncias; criação de fundo para aparelhar a fiscalização; divulgação de multas aplicadas às empresas; recompensa para delatores; e os custos da investigação.

Especialistas em compliance argumentam que o texto da Lei nº 12.846/2013 é demasiado abrangente, com repercussões na área penal, tributária, societária, tra-balhista, entre outras. Alguns setores da advocacia propõem o escalonamento das penas para respeitar a proporcionalidade e a razoabilidade das multas e sanções que serão aplicadas às empresas.

Na esfera administrativa, por exemplo, serão apli-cadas às pessoas jurídicas, consideradas responsá-veis pelos atos lesivos previstos nesta lei, multa de até 20% do faturamento bruto do exercício anterior, reparação integral do dano causado e afixação da condenação no estabelecimento e no sítio eletrô-nico. Na esfera judicial, por sua vez, a condenação implica perdimento dos bens, direitos ou valores ob-tidos na infração, suspensão ou interdição parcial de suas atividades, dissolução compulsória da pessoa jurídica, e proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos públicos.

A regulamentação da norma poderá introduzir ajus-tes importantes. A CGU cogita tratar da contratação de servidores públicos, ou seus familiares, por em-presas privadas. De acordo com a lei, as sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do respectivo contrato, as consorciadas serão soli-dariamente responsáveis pela prática dos atos de corrupção. Defende-se que a responsabilização se limite à relação que existir entre as pessoas jurídicas. Discute-se também a criação de um órgão colegiado centralizador para examinar as infrações, aplicar as sanções e celebrar acordos de leniência e compro-missos de cessação, semelhantemente como ocorre nos Estados Unidos da América.

A expectativa do Governo é que o combate à corrup-ção também gere arrecadação expressiva, decorren-te das multas previstas na lei. Existe a possibilidade

de se adotar a prática de divulgação oficial de uma lista, anualmente, das multas aplicadas às empresas punidas. O decreto poderá estabelecer o formato dessa publicação. Está em debate a possibilidade de estabelecer recompensa para denúncias de corrup-ção, como forma de estimular a terceiros a delata-rem casos de corrupção nas empresas.

Outro ponto a ser analisado é a participação das empresas investigadas no pagamento de despesas decorrentes das investigações. Não está descartada a possibilidade de a empresa investigada pagar es-tadia, passagens, entre outras despesas decorrentes do trabalho de investigação.

Na regulamentação da norma, da mesma forma, é de interesse geral e, em especial, da Ordem Econômica e Financeira, a instituição de mecanismos de exame e controle prévios quanto à instauração do processa-mento e também julgamento do processo administra-tivo, de forma a evitar que denúncias levianas sejam levadas à frente e provoquem todos os dissabores de um procedimento daí advindos, porquanto o escopo da lei não é penalizar as empresas íntegras e corretas. Ademais, a fixação da responsabilidade objetiva pela lei implica redobrada atenção diante da possibilidade de ser atribuída responsabilidade à empresa pelo sim-ples fato da causalidade física, sem indagar da existên-cia de culpa da pessoa jurídica, quando se sabe da difi-culdade, senão impossibilidade, de controlar todos os seus empregados em tempo integral. A empresa será responsabilizada ainda que proíba terminantemente o ilícito praticado por um gestor ou empregado.

Assim, a exemplo das hipóteses estabelecidas nos §§ 8º e 11 do art. 17 da Lei nº 8.429/1992, em sede de re-gulamento, os Poderes Executivo, Legislativo e Judi-ciário, poderiam rejeitar, em decisão fundamentada, a representação, se convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da represen-tação ou da inadequação da via eleita. Em qualquer fase do procedimento, reconhecida a inadequação do processo administrativo de responsabilização por atos lesivos à administração pública nacional ou

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estrangeira, a autoridade poderia também extinguir o processo sem julgamento do mérito, sem prejuízo da previsão de recursos contra essa decisão.

A nova legislação representa grande avanço na me-dida em que contempla não só agentes corrompidos, mas também agentes corruptores – pessoas físicas ou jurídicas. Contudo, é omissa no que diz respeito ao assédio a empresas idôneas nas suas operações por parte de agentes públicos ou privados em busca de vantagens ilícitas.

6.10 deSburOCrAtIZAçÃO – SImPLIFICAçÃO dO regIStrO e LegALIZAçÃO de emPreSAS e NegóCIOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a introdução de procedimentos simples, rápidos e baratos que poupem recursos da sociedade e que os direcionem para atividades produti-vas, sem transferir para entes privados os ônus próprios do setor público. Entre os procedimen-tos burocráticos, a CNF destaca a exigência de variadas e excessivas certidões negativas, dispositivos cartoriais incluídos em diversas propostas e obrigatoriedade de manutenção e publicação de documentos em meios físicos. Tais processos constrangem o livre exercício da atividade empresarial e, embora tenham a pretensão de criar maior segurança e transpa-rência, não trazem qualquer desses benefícios.

O desafio de uma administração pública moderna é adotar procedimentos simples, rápidos e baratos, sem afetar negativamente a segurança jurídica. A burocracia ineficiente tem impacto sobre a ativida-de econômica na medida em que subtrai recursos escassos, tais como disponibilidades financeiras e tempo, desvia recursos produtivos para áreas não produtivas e incentiva a informalidade.

No relatório “Fazendo Negócios 2014” (Doing Business 2014) do Banco Mundial o Brasil aparece na 116ª posição no quesito “facilidade para fazer negócios” em um total de 189 países pesquisados. Para iniciar um novo negócio, o Brasil exige em mé-dia treze procedimentos distintos e consome 107,5 dias. No quesito “alvará para construções”, o Brasil é o 130º país da lista. Já no quesito “facilidade para pagar tributos”, o Brasil ocupa 159°, por demandar 2.600 horas por ano.

Entre as exigências burocráticas que oneram a vida empresarial e individual, destaca-se o processo des-gastante de obtenção de certidões negativas, que envolve desde comparecimento a diversas reparti-ções públicas à inobservância de prazos pelas auto-ridades. Tal processo dificulta o livre exercício da ati-vidade empresarial e acarreta perdas substanciais à economia, na medida em que a certidão negativa se tornou pré-requisito para a maioria dos atos impor-tantes da atividade empresarial.

O Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Sim-plificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM/MDIC) é um órgão colegiado, que passou a ser presidido pelo Ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE), que tem a fi-nalidade de atuar na desburocratização de registro e legalização de empresas. De grande relevância estra-tégica, o Comitê participa dos debates relacionados à modernização dos processos de registro mercantil, como uma forma de estimular o empreendedorismo e a competitividade das empresas brasileiras, redu-zindo os custos decorrentes do excesso de burocra-cia. O CGSIM trata, por conseguinte, de questões que repercutem nas instituições financeiras.

A CNF acredita que é importante a participação das Confederações nos trabalhos desenvolvidos pelo CGSIM. Estas poderão fomentar de maneira significa-tiva os debates que visem à compatibilização, inte-gração e harmonização das regras e procedimentos do registro mercantil, de modo a evitar duplicidade de exigências, garantir a linearidade do processo e

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aperfeiçoar a eficiência dos trabalhos, para estimu-lar o empreendedorismo e a competitividade das empresas brasileiras, reduzindo os custos decorren-tes do excesso de burocracia.

6.11 duPLO regIStrO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a efetividade jurídica exclusiva do registro de alienação fiduciária de veículo em repartição competente de licenciamento para evitar o duplo registro dessa alienação também em repartição notarial, que aumenta o ônus para os consumidores sem acrescentar segurança jurídica à relação contratual.

Tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que podem afetar as operações de financiamento de compra de veículos ao tornar obrigatório o registro dos contratos de alienação fiduciária junto aos cartó-rios de títulos e documentos. Para tanto, propugnam, entre outras, alteração no novo Código Civil, em que é clara a distinção, no artigo 1.361, entre uma nor-ma geral para constituição da propriedade fiduciária (que obriga o depósito do contrato no Registro de Tí-tulos e Documentos do domicílio do devedor) e outra especial (que constitui a propriedade fiduciária de veículo pelo seu registro na repartição de licencia-mento). Para o comprador, não haveria mais a norma especial: a constituição da propriedade fiduciária de veículos dependeria do registro do contrato no car-tório e também na repartição competente para o li-cenciamento. O chamado “duplo registro”.

A Deliberação nº 77/2009 e a Resolução nº 320/2009, do CONTRAN, e as Leis nº 11.795/2008 e n° 11.882/2008 dispensam nas operações realizadas com veículos automotores da obrigatoriedade do registro dos con-tratos nos Cartórios de Títulos e Documentos. Contu-do, existem regulações de órgãos estaduais que são

divergentes entre si, razão pela qual se deve buscar a harmonização das regras de registro de veículos em todo o território nacional.

O principal argumento para a reintrodução do duplo registro é o da segurança jurídica: o registro notarial asseguraria tanto o arquivamento do ato quanto a disponibilização para o consumidor de cópia do con-trato de alienação fiduciária. Entretanto, o registro em repartição competente (DETRAN) atende plena-mente aos requisitos de arquivamento, como indica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

O registro no órgão de licenciamento faz as vezes do arquivo no Cartório de Títulos e Documentos (RTD), por isso que, mercê de a exigência de duplo registro revelar odiosa imposição, afronta o princípio da ra-zoabilidade, posto impor desnecessário bis in idem, máxime à luz da interpretação autêntica levada a efeito pelo novel artigo 1.361 do Código Civil (REsp 686.932/PR, Rel. Min. Luiz Fux).

A entrega de cópia do contrato, por sua vez, é regra obrigatória sedimentada no setor financeiro (ver Se-ção 2.8 – Contratos).

Para as instituições financeiras, o duplo registro afe-ta não só medidas de redução do custo do dinheiro, mas também a melhoria da qualidade do crédito e do atendimento prestado aos clientes e consumidores.

6.12 terrItOrIALIdAde

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da publicidade dos atos e negó-cios jurídicos que busquem simplificar os pro-cedimentos notariais, com redução de burocra-cia desnecessária e de custos para os usuários dos serviços cartoriais.

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Discute-se no Congresso Nacional a obrigatoriedade da observância do princípio da territorialidade nas notificações e demais comunicações realizadas pe-los serviços de registro de títulos e documentos. O argumento fundamental é o de que a territorializa-ção dos atos notariais asseguraria a publicidade des-tes. Se tal princípio vier a ser adotado, os cidadãos passarão a registrar documentos e a realizar outros serviços notariais em mais de um cartório, em dife-rentes Municípios, em todo o território nacional.

O cerceamento do direito de defesa não ocorre no atual procedimento notificatório. Atos simples, como notificação extrajudicial, podem ser realiza-dos em qualquer localidade do país, pois as partes envolvidas são conhecidas e diretamente ligadas ao objeto do negócio jurídico, o que garante ampla de-fesa e publicidade – sem a necessidade de um segun-do registro. Ademais, o artigo 12 da Lei nº 8.935/1994, que dispõe sobre Serviços Notariais e de Registro, não impôs limite geográfico algum quanto à atuação dos oficiais do registro civil de pessoas jurídicas e de títulos e documentos. Tanto a Jurisprudência quan-to a Doutrina entendem que a notificação extrajudi-cial é válida quando realizada por Cartório distinto da Comarca do devedor.

A territorialidade dos atos notariais implica sérios inconvenientes para os usuários dos serviços, tais como: (a) incentivo à burocracia, pois obriga o con-sumidor a registrar atos notariais (procurações, no-tificações extrajudiciais, escrituras públicas, autenti-cações, registros, etc.) em cada um dos Municípios em que precisar usar os documentos produzidos fora do cartório de origem; assim, poderá ocorrer a cobrança de dois, três, ou mais emolumentos pelo mesmo serviço prestado; (b) elevaria ainda mais os emolumentos e demais custos cartorários; e (c) as taxas que os cartórios cobram não são unificadas, de maneira que ocorrem excessos em vários Estados.

O princípio da territorialidade é adequado apenas ao registro imobiliário. Ocorrendo qualquer negó-cio jurídico envolvendo o imóvel, o registro do ato

notarial é realizado no Ofício de Imóveis de locali-zação dessa propriedade, até pela necessidade de sua verificação física.

6.13 NOVO mArCO reguLAtórIO dA mINerAçÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o me-lhor aproveitamento dos recursos minerais do país. Para a CNF, a atualização da legislação que trata de mineração deve ter entre seus ob-jetivos a atração de investimentos e promoção da negociação de títulos mobiliários em bolsa de valores no Brasil.

A demanda crescente por riquezas naturais impõe a necessidade de revisão do regime jurídico aplicável à gestão do patrimônio mineral do país, de forma a estabelecer regras claras para o processo de explo-ração e de controle das reservas minerais e evitar a extração ilegal de minérios no país.

O Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei n° 5807/2013, que dispõe sobre a ati-vidade de mineração, cria o Conselho Nacional de Política Mineral e a Agência Nacional de Mineração (ANM). Entre as propostas iniciais estão: a) a cria-ção do Conselho Nacional de Política Mineral e uma Agência Reguladora de Mineração; b) mudanças na outorga de título para exploração mineral com a finalidade de garantir melhor acompanhamento, fiscalização e gestão pelos órgãos responsáveis; c) participação federativa na fiscalização e gestão dos recursos minerais; e d) a competição entre as empre-sas mineradoras por meio de licitação e chamada pública, pois atualmente a concessão de lavra segue o sistema de prioridade, em que a concessão para exploração é dada à empresa que a solicitar primei-ro, sem haver prazo para tanto.

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O Governo Federal também está discutindo a refor-mulação do atual modelo de Compensação Finan-ceira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). De acordo com o MME, o modelo vigente tem muitas fragilidades, o que justifica a apresentação de uma nova proposta que fortaleça o instituto da compen-sação, corrigindo devidamente as falhas. A proposta parte do pressuposto de que os royalties oriundos da mineração são baixos se comparados com os exi-gidos por outros países.

Debatida no Parlamento, a matéria ganhou novos contornos. Um dos pontos de discussão consiste no financiamento especial para empreendimentos destinados à utilização de rejeitos e a recuperação das áreas degradadas pela mineração, além da res-ponsabilidade da mineradora sobre essas questões. Também apresentam posição de destaque no deba-te a natureza real e autônoma dos direitos minerá-rios e seus efeitos na exploração de minérios de faixa de fronteira, bem como a concessão desses direitos apenas a empresas e cooperativas com sede e admi-nistração no país. Ademais, discute-se a possibilida-de de cessão ou transferência do aproveitamento de recursos minerais ou do contrato de concessão, as-sim como o exercício dos direitos minerários pelos financiadores do titular, com vistas a promover sua reestruturação financeira e a assegurar a continuida-de da atividade de mineração, desde que possuam capacidade técnica ou demonstrem possuir acordo com empresa que tenha essa condição

O financiamento de atividades relacionadas ao de-senvolvimento da mina pode receber novo trata-mento normativo. Uma das inovações é a previsão de oneração dos direitos minerários por meio de penhor ou de alienação fiduciária com escopo de garantia.

Para a CNF, as discussões sobre a atualização da legislação do setor mineral devem compreender a análise de medidas que reforcem a atração de in-vestimentos e a promoção da negociação de títulos mobiliários representativos do setor mineral em bol-sa de valores no Brasil. A nova legislação deve criar

e desenvolver um ambiente favorável e sustentável para transformar o Brasil em um polo internacional de investimentos e negócios no setor de mineração.

Nesse sentido, o Congresso discute a criação de tí-tulos de crédito minerários isentos do Imposto de Renda das Pessoas Físicas e Jurídicas e de livre ne-gociação nos mercados de bolsa e de balcão como ativos financeiros. Seriam exemplos desses títulos: a Cédula de Crédito à Pesquisa Mineral (CCPM), a Cé-dula de Crédito à Lavra Mineral (CCLM), o Certificado de Cédula de Crédito da Mineração (CCCM) e o Certi-ficado de Recebíveis da Mineração (CRM).

Hoje, os direitos de exploração são convertidos em títulos mobiliários negociados em bolsas de valores. A escolha pela praça em que títulos dessa natureza são negociados depende não só das condições do mercado financeiro local (liquidez, marco legal, atu-ação da autoridade regulatória, supervisão, política cambial, entre outros), mas também do ambiente de negócios que cerca a atividade de exploração mine-ral. Ao Brasil interessa que os títulos relacionados a direitos de lavras brasileiras sejam negociados em praça local, e não no exterior, como acontece atu-almente. O Novo Marco Regulatório da Mineração oferece oportunidade importante para se introduzir alterações no mercado financeiro e no ambiente de negócios que criem condições para a negociação lo-cal desses títulos mobiliários.

6.14 AgêNCIAS reguLAdOrAS

capítulo 6: eFICIêNCIA eCONômICA e COmPetItIVIdAde

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para o forta-lecimento das agências reguladoras, que asse-gurem indicação de pessoal qualificado, com formação acadêmica e experiência profissional relevantes na área de atuação da entidade, à qual se garanta independência, tendo como contrapartida prestações de contas que privile-

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As agências reguladoras são parte do arcabouço ins-titucional que dá segurança aos investidores. Um dos papéis fundamentais dessas agências é justa-mente o de assegurar estabilidade e aplicação uni-forme de regras.

No que toca especificamente ao setor financeiro, a regulação e a supervisão são pilares da confiabilida-de das instituições e da redução do risco sistêmico. As entidades que atuam como agências reguladoras por excelência são o Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superin-tendência de Seguros Privados (Susep) e a Superin-tendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Cada uma dessas entidades conta com cor-po técnico qualificado e se concentra em segmentos específicos do mercado, exercendo uma atividade na qual a especialização é crítica para a eficiência e a confiabilidade da regulação e da supervisão.

Tramitam no Congresso Nacional propostas que sub-traem competência dessas quatro autarquias em matéria de regulação e supervisão e as transferem para uma única agência específica, autarquia vincu-lada ao Ministério da Fazenda que se ocuparia das questões de finanças e de investimentos. Essa nova agência, além de regular e fiscalizar o sistema finan-ceiro, teria outras funções, tais como acompanhar o

spread bancário e prevenir movimentos especulati-vos. A concentração numa única agência das funções de regulação e supervisão de todo o sistema finan-ceiro poderia engendrar uma estrutura burocrática ineficiente, com recursos humanos e tecnológicos insuficientes para acompanhar as rápidas transfor-mações que atravessa o mercado financeiro do Bra-sil e do mundo. Ademais, as incertezas que acompa-nhariam a transição do atual modelo – que se tem mostrado eficiente – constituiriam risco político que passaria a ser incluído nos cálculos de precificação de produtos e serviços financeiros.

6.15 PubLICAçÃO de bALANçOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a substituição da obrigatoriedade da publica-ção de demonstrações financeiras em Diários Oficiais pela inclusão dos dados de balanço na Central de Balanços do Sistema Público de Es-crituração Digital (Sped).

O artigo 289 da Lei nº 6.404/1976 (a Lei das S/A) pre-vê a obrigatoriedade de publicação de balanços “no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar em que esteja situada a sede da companhia, e em outro jornal de grande cir-culação editado na localidade em que está situada a sede da companhia”. O intuito do dispositivo legal é a publicidade das demonstrações financeiras de companhias abertas, no interesse de seus acionistas, de investidores e da Receita Federal.

Ocorre que o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) mantém a Central de Balanços, um projeto cujo objetivo é reunir demonstrativos contábeis e uma série de informações econômico-financeiras públicas das empresas de capital aberto. A Central tem como objetivo a captação de dados contábeis e financeiros, a agregação desses dados e a disponibi-

giem não a criação de metas regulatórias, mas sim a estabilidade de regras e correspondente aumento dos investimentos no setor de compe-tência da agência. No caso específico do setor financeiro, a CNF acredita que as funções de regulação e de supervisão vêm sendo desem-penhadas com eficiência pelo Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Superintendência Nacional de Previ-dência Complementar (PREVIC), que funcionam como agências reguladoras, o que dispensaria a criação de nova agência específica.

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lização à sociedade, em meio magnético, dos dados originais e agregados.

Os registros de demonstrações financeiras na Central de Balanços atende cumulativamente às duas carac-terísticas presentes no Diário Oficial: a) livre acesso à informação pública, garantindo transparência das atividades e resultados da companhias; e b) registro público, indelével, das informações presentes no Ba-lanço Social das companhias.

Mantidas em um repositório e publicadas em di-versos níveis de agregação, a Central de Balanços possibilitará que esses dados sejam utilizados para geração de estatísticas, análises nacionais e interna-cionais (por setor econômico, forma jurídica e porte das empresas), análises de risco, estudos de empre-sas, avaliações contábeis, etc.

A publicação de demonstrações financeiras na Cen-tral de Balanços traz vários benefícios, entre os quais: rapidez no acesso às informações; redução de custos administrativos e do “Custo Brasil”; aumento da pro-dutividade do auditor por meio da eliminação dos passos para coleta dos arquivos; possibilidade de troca de informações entre os próprios contribuintes a partir de um formato padrão; melhoria da qualida-de da informação; possibilidade de cruzamento en-tre os dados contábeis e os fiscais; disponibilidade de cópias autênticas e válidas da escrituração para usos distintos e concomitantes; aperfeiçoamento do combate à sonegação; e redução do uso de papel-jornal, com consequente preservação do meio am-biente pela redução do consumo de celulose.

6.16 mICrOemPreSAS e emPreSAS de PequeNO POrte

A Constituição Federal assegura tratamento favoreci-do para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e ad-ministração no país (art. 170, IX). Também estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-cípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamen-to jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tri-butárias, previdenciárias e creditícias, ou pela elimi-nação ou redução destas por meio de lei (artigo 179).

A conceituação de micro, pequena e média empresa considera critérios quantitativos, como número de empregados ou faturamento anual bruto. No Brasil, a principal norma que classifica firmas segundo o porte empresarial, a Lei Complementar nº 123/2006, adota o critério de faturamento. Hoje, 99% das em-presas são micro e pequenas, mas só faturam 25% do PIB, ou seja, 1% são médias e grandes que fatu-ram 75% do Produto Interno Bruto.

O Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte é a referência para a elaboração de políticas que respeitem o tratamento jurídico diferenciado e simplificado. Trata: (a) da apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-pios, mediante regime único de arrecadação, inclu-sive obrigações acessórias; (b) do cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; e (c) do acesso a crédito e ao

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pequeno porte e para a explicitação dos pre-ceitos da Constituição Federal de tratamento preferencial a esse segmento, assentadas nos princípios constitucionais da livre concorrência e do livre exercício da atividade econômica, in-compatíveis com a imposição a entes privados de obrigações compulsórias no seu relaciona-mento com qualquer segmento específico do setor empresarial.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o for-talecimento das microempresas e empresas de

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mercado (inclusive quanto à preferência nas aquisi-ções de bens e serviços pelos Poderes Públicos), à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão.

As discussões em torno de microempresas e em-presas de pequeno porte estão centradas em várias questões, das quais se destacam três. Uma é a inscri-ção em cadastros de restrição ao crédito bem como protestos por dívidas públicas (que, por exemplo, somente poderiam ser realizados após o trânsito em julgado dos processos de execução e cobrança). Outra questão é a intermediação obrigatória do sin-dicato na contratação do trabalhador avulso. A ter-ceira questão é a alteração na ordem de preferência estabelecida na Lei nº 11.101/2005 (recuperação de empresas), para priorizar os créditos das microem-presas e empresas de pequeno porte.

As microempresas e empresas de pequeno porte são a fronteira da inovação e da geração de emprego. É comum que o microempresário e o empresário de pe-queno porte não contem com experiência profissio-nal ou qualificação acadêmica para iniciar e manter um negócio. Ademais, enfrentam problemas de con-corrência, de logística e de histórico de crédito. Nesse quadro, justifica-se o preceito constitucional do favo-recimento a esse tipo de empresas. Contudo, tal fa-vorecimento está voltado preferencialmente para as relações das microempresas e empresas de pequeno porte com o Poder Público. Nas relações com o setor privado e o restante da sociedade, o interesse coletivo sobrepõe-se ao individual (como, por exemplo, o inte-resse individual dos credores). A solidez da atividade empresarial deve ser buscada para benefício de todos. Essa solidez se constrói com as práticas de mercado, sobretudo a livre concorrência e a livre negociação.

É parte dessa prática de mercado a inscrição em cadastros de restrição ao crédito de devedores ina-dimplentes, a livre contratação de empregados sem intermediação obrigatória do sindicato e o risco de transacionar com outras empresas que podem even-tualmente ir à falência, quando então os créditos prioritários atendem a imperativos sociais.

O Governo também criou o Fundo Garantidor de Ope-rações (FGO), com o objetivo de garantir parte dos empréstimos concedidos pelos bancos cotistas do fundo, o que proporcionará a flexibilização das ga-rantias e a redução das taxas de juros das operações.

Concretamente, uma melhoria do ambiente de ne-gócios que poderia beneficiar esse segmento deve contemplar itens como: (a) universalização da Re-desim; (b) criação de um balcão único reunindo pro-cedimentos pós-registro da empresa, tais como as várias interações com o PIS, FGTS, CAGED, sindicato patronal e sindicato de empregados; e (c) desenvol-vimento de tecnologia para tornar um possível bal-cão único mais eficiente, permitindo o registro onli-ne nos diferentes órgãos sociais e trabalhistas.

Quanto ao pagamento de impostos, os pontos mais importantes são: (a) simplificação do sistema tribu-tário, tanto em relação aos tributos federais quanto ao ICMS (imposto sobre o valor agregado estadual), eliminando impostos e racionalizando a legislação tributária – extinção de cinco espécies tributárias e criação de um novo imposto sobre o valor agregado (IVA-F); (b) instituição de um único registro para todos os impostos de uma mesma base, bem como de uma única declaração (ou formulário, ou nome que venha dar), que também sirva para todos os impostos. Para isso, propõe-se a adoção do Sistema Contábil em to-das as empresas, grandes, médias, pequenas e micro, como base geradora de informações para o cálculo e o pagamento dos impostos, o que dispensaria todos os registros fiscais do IPI, ICMS e ISS (os grandes res-ponsáveis pelo elevado número de horas para registro, apuração e pagamento) e a maioria de outras obriga-ções acessórias exigidas pelas legislações desses im-postos; (c) unificação das legislações de ICMS dos 27 Estados em um único diploma legal. O novo ICMS con-tinuaria a ser recolhido pelos Estados e as alíquotas seriam uniformes por todo o país; (d) fim da guerra fiscal entre os Estados, modificando o recolhimento do ICMS em transações interestaduais, de modo que o imposto seria devido no Estado de destino da mer-cadoria (seria necessária uma transição gradual); (e)

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redução de impostos sobre a folha de pagamentos, cortando contribuições do empregador para o siste-ma de seguridade social de 20 para 14 por cento; e (f) redução de impostos sobre investimentos, principal-mente por meio de reduções graduais no período re-querido para a recuperação dos créditos de impostos pagos nas aquisições de máquinas e equipamentos (por exemplo, período de 48 meses no caso do ICMS).

Todas essas reformas levariam o Brasil a uma legisla-ção moderna e estimuladora do empreendedorismo, fornecendo combustível para o crescimento susten-tável da economia.

6.17 reCuPerAçÃO de emPreSAS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o aprimo-ramento da Lei nº 11.101/2005, de Recuperação de Empresas e Falências, com vistas a fornecer maiores garantias aos credores, sem compro-meter o interesse público. Para a CNF, a ordem de classificação dos créditos na falência previs-ta na Lei é adequada. A CNF sublinha que a dis-pensa de apresentação de Certidões Negativas de Débito (CND) para admissão em processo de recuperação muito contribuiria para atrair investidores. A CNF sublinha que a dispensa de apresentação de Certidões Negativas de Débito (CND) para admissão em processo de recupera-ção muito contribuiria para atrair investidores.

Entre as melhorias introduzidas pela Lei de Recupe-ração de Empresas e Falências (Lei nº 11.101/2005), destacam-se duas: a maior proteção aos credores e a manutenção de empregos.

As discussões em torno da Lei de Recuperação de Empresas e Falências estão centradas na ordem de prioridade de recebimentos. Para a CNF, a definição dessa ordem de prioridade deve buscar um equilí-

brio que, por um lado, não sobreponha o interesse individual dos credores ao interesse público (como é o caso dos créditos trabalhistas e previdenciários, por exemplo) e, por outro, assegure aos credores ga-rantias suficientemente sólidas não só para incenti-var a concessão do crédito, mas também para atrair investidores para participarem da recuperação da empresa. Para a CNF, a atual ordem de prioridades é adequada e não deveria ser alterada.

Não se confundem, por exemplo, a prioridade na ordem de classificação de créditos contra empresa falida e o tratamento especial que a Lei dispensa a microempresas e empresas de pequeno porte. O ar-tigo 83 estabelece a ordem de classificação dos cré-ditos na falência. Já o §1o do artigo 70 permite que as microempresas e as empresas de pequeno porte apresentem plano especial de recuperação judicial. As prioridades ordenadas na Lei são estabelecidas em função da natureza dos créditos, e não do credor. Não há impedimento para que microempresas e em-presas de pequeno porte se habilitem para receber, por exemplo, créditos com garantia real ou créditos com privilégio especial ou geral.

Também se discute a possível ampliação do escopo da Lei para aplicá-la a instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, enti-dade de previdência complementar, sociedade ope-radora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores (excluídas pelo art. 2o, inciso II). Cuida-se aqui de empresas reguladas e supervisionadas por órgãos técnicos especializados da Administração Pública – o Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valo-res Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Tais empresas recebem tratamento diferenciado por representarem risco sistêmico, cuja prevenção e mitigação reque-rem procedimentos especiais para não afetar toda a economia. Nesse quadro, não teria cabimento sujei-tá-las aos dispositivos de uma legislação comercial.

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6.17.1 limiteS do plano de recuperação Judicial

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da Lei nº 11.101/2005, de Re-cuperação de Empresas e Falências, que exa-minem em profundidade os limites do Plano de Recuperação Judicial, com o propósito de facilitar eventual concessão de crédito para empresas em recuperação.

O princípio da preservação da empresa como vem sendo referido pela doutrina e nas decisões dos tri-bunais está previsto no artigo 47 da LRF, conforme transcrito abaixo:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabi-lizar a superação da situação de crise econômico-fi-nanceira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estí-mulo à atividade econômica.

Esse princípio vem sendo utilizado para justificar a concessão da recuperação judicial, principalmente para fundamentar as concessões com base no arti-go 58 da Lei.

O instituto da recuperação judicial diverge da concor-data, previsto na antiga lei de falências (Decreto-Lei nº 7.661/1945), visto que no revogado Decreto-Lei a empresa teria como alternativa a concordata preven-tiva, o que possibilitaria a dilação dos prazos e per-dão parcial da dívida quirografária limitado a 50% do valor da dívida. O novo dispositivo aumenta o rol dos meios de recuperação, outorgando excessiva liber-dade ao devedor e seus credores para construírem um PRJ que viabilize a recuperação da empresa em crise. Entretanto, nada obsta que dentre as soluções a serem empregadas estejam elencadas aquelas que

podem violar os preceitos formais e razoáveis do or-denamento jurídico pátrio, bem como causar prejuí-zo aos credores.

Após o pedido de recuperação judicial e deferido o seu processamento, a recuperanda terá 180 dias para apresentar e aprovar o plano em assembleia geral de credores. Nesse ínterim ficam suspensas to-das as execuções em face da recuperanda.

Registre-se, que, em alguns casos, empresas bus-cam a recuperação como subterfúgio para condu-tas que objetivam apenas a redução de suas obri-gações e dos encargos financeiros contratados. A maioria dos Planos de Recuperação Judicial (PRJ) é aprovada com descontos de até 80% do valor da dí-vida, com carência e prazos alongados. Desta forma, planos com tais condições impõe excessivo ônus ao Sistema Financeiro.

Outra prática adotada por empresas é a tentativa de inclusão de créditos não sujeitos aos efeitos da re-cuperação judicial no plano de recuperação judicial, fato este que obriga os credores a adotar medidas judiciais combatendo tal situação, cuja discussão contribui para o aumento do prazo de definição das condições de recuperação judicial.

A partir da vigência da Lei nº 11.101/2005, verifica-se aumento expressivo do número de processos de recuperação judicial. Foram requeridos 110 casos no Brasil em 2005, atingindo 874 em 2013, com incre-mento de 779% no período.

Ressalte-se, ainda, a existência de projetos de lei com objetivo de alteração da legislação falimentar que, caso sejam aprovados, contribuiriam significa-tivamente para o aumento do público-alvo com le-gitimidade para pleitear recuperação judicial, bem como a respectiva elevação do risco de crédito.

A empresa em recuperação judicial tem o seu risco de crédito elevado, visto que, se não cumprir o plano da recuperação, o procedimento é convolado em fa-

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lência. Ocorre que, com elevação do risco, a empresa em recuperação judicial passa a enfrentar a falta de crédito. A concessão de crédito novo esbarra nas di-retrizes do Sistema Financeiro Nacional. Para ilustrar: o Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolu-ção nº 2.682/1999, determinou que as instituições fi-nanceiras classificassem as operações de crédito em ordem crescente de risco, iniciando em “AA” até “H”, devendo o tomador ser classificado de acordo com informações internas e externas. Assim a empresa em recuperação judicial tem suas as operações con-tratadas com sistema financeiro classificadas com risco “H”, o que enseja provisão de crédito de liquida-ção duvidosa no valor de 100% do crédito.

A saída pode ser a criação de fundos private equities específicos para investir em companhias em recupera-ção judicial, ou fundo de aval, a exemplo do funproger.

6.18 deSINdeXAçÃO dA eCONOmIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a eliminação do uso de indexadores de contratos e obrigações, no entendimento de que a com-plexidade e diversidade da economia brasilei-ra e os altos níveis de concorrência em prati-camente todos os setores recomendam a livre negociação como ferramenta adequada para reajustes de preços.

Hoje, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas ainda corrige anualmente

as tarifas de eletricidade e, a cada quatro anos, a ta-rifa de cada empresa passa por avaliação detalhada, de forma a repassar para o consumidor os ganhos de produtividade. O IGP-M também reajusta a maior parte dos contratos de aluguel. Outros contratos e obrigações de prazo superior a noventa dias são indexados à variação da Taxa Referencial (TR), que acompanha a remuneração dos Certificados de De-pósitos Bancários (CDBs), com posterior aplicação de um redutor. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Geral de Preços – Disponibi-lidade Interna (IGP-DI) são utilizados no cálculo do Índice de Serviços de Telecomunicações (IST), que corrige anualmente as tarifas de telefones fixos, calculada diferentemente para cada empresa, com desconto de ganhos de produtividade. Para o pró-prio salário mínimo, a correção anual é pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior acrescido do aumento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores, mas as centrais sindicais defendem nova regra que permita ganhos acima da inflação. O mesmo INPC baliza os reajus-tes de mensalidades escolares (ainda que as escolas tenham liberdade de determinar seus critérios de correção) e os reajustes de aposentadorias de valor superior ao do salário mínimo. Os Municípios e, no caso das regiões metropolitanas, os Estados estabe-lecem as regras de reajuste das tarifas de água.

O emprego de indexadores em um cenário de baixa inflação passa despercebido por não introduzir dis-torções agudas nos preços relativos e não represen-tar acelerador perceptível do índice geral de preços. Contudo, representa resquícios de uma cultura infla-cionária e ameaça potencial à estabilidade econômi-ca no caso de turbulências.

capítulo 6: eFICIêNCIA eCONômICA e COmPetItIVIdAde

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89capítulo 7: reguLAmeNtAçÃO dO ArtIgO 192 dA CONStItuIçÃO FederAL

reguLAmeNtAçÃO dO ArtIgO 192 dA CONStItuIçÃO FederAL7

A higidez do Sistema Financeiro Nacional (SFN) é fundamental para o desenvolvimento sustentável do Brasil. A estabilidade econômica é produto tam-bém da eficiência do sistema financeiro. A estrutu-ra do SFN, suas regras de funcionamento, o raio de atuação da autoridade monetária, o papel das insti-tuições públicas e privadas, entre outros, estão en-tre as questões mais relevantes da agenda nacional de desenvolvimento.

O texto estabelecido pela Constituição de 1988 dava margem a alguma insegurança jurídica, ao tratar do Sistema Financeiro Nacional em oito incisos, duas

alíneas e três parágrafos. A redação dada original-mente ao artigo 192 determinava que o Sistema Fi-nanceiro Nacional seria regulado por uma única lei complementar. Esses dispositivos foram revogados pela Emenda Constitucional nº 40/2003 e hoje, a Car-ta Magna, no seu Título VII (da Ordem Econômica e Fi-nanceira), Capítulo IV (do Sistema Financeiro Nacio-nal), artigo 192, tem uma redação concisa e objetiva:

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibra-do do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo

O art. 192 da Constituição Federal define o papel do Sistema Financeiro Nacional e determina sua regulamentação por leis complementares. Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, a questão fundamental que permeia a regu-lamentação do artigo 192 é a da estabilidade jurídica para o ambiente de negócios. Para tanto, a CNF apoia projetos de regulamentação desse artigo que preservem o equilíbrio dos contratos e que não acarretem riscos derivados de insegurança jurí-dica, que se refletiriam nos preços (por exemplo, tarifas e taxas de juros). Isso pode ser alcançado pela adoção de dispositivos legais abrangentes, claros e inequívocos que, sempre que possível, remetam questões técnicas para legislação ordinária ou para decisões do Conselho Monetário Nacional. Diante do notável dinamismo dos sistemas financeiros nacional e internacional, a CNF apoia projetos de regulamen-tação do artigo 192 da Constituição Federal que evitem o possível enrijecimento de dispositivos – que podem se revelar críticos em situações emergenciais.

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agenda do setor financeiro 201490

as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.

O Supremo Tribunal Federal entendeu que a Lei nº 4.595/1964, que “dispõe sobre a Política e as Insti-tuições Monetárias, Bancárias e Creditícias, cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providên-cias”, foi recepcionada pela Constituição de 1988 com o status de Lei Complementar. A legislação atual, que celebra este ano seu cinquentenário, per-mitiu ao país a criação e o desenvolvimento de um sistema financeiro moderno, sólido, regulamentado e eficiente, respeitado no mundo inteiro. Contudo, o desenvolvimento da economia brasileira e as mu-danças verificadas no mercado financeiro mundial requerem, cada vez mais, o aprimoramento desse marco regulatório.

A CNF acredita que uma discussão profunda, técni-ca e responsável fortalecerá ainda mais o SFN e dará impulso adicional ao crescimento econômico e à modernização das relações econômicas no Brasil.

No exame da regulamentação do artigo 192 da CF, a Confederação assinala pontos para reflexão, que tratam, entre outros, de: abrangência da expressão

“Sistema Financeiro Nacional”; necessidade de edi-ção de Leis Complementares; conteúdo e alcance da expressão “desenvolvimento equilibrado”; con-teúdo e alcance da expressão “atendimento aos in-teresses da coletividade”; estrutura e papel do Con-selho Monetário Nacional; competência normativa do Conselho Monetário Nacional; estrutura, papel e autonomia do Banco Central; definição e papel

das instituições financeiras; cooperativas de crédi-to; igualdade de tratamento ao capital estrangeiro; mercado de capitais; seguros; capitalização; previ-dência privada; regras de funcionamento de agên-cias e de atendimento a clientes; padrões e normas de segurança; direito adquirido em relação ao regi-me legal monetário ou por índices de correção mo-netária; neutralidade do setor financeiro e respon-sabilidade pelos efeitos decorrentes da execução de políticas e normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional; correspondentes no país; Nota de Crédito Bancário e outros títulos de crédito; tari-fas bancárias; tabelamento de juros; tabelamento de spread; comissão de permanência; capitalização de juros para prazos inferiores a um ano; e tributação adicional da intermediação financeira.

Em março de 2013, foi instituída a Comissão Mista de Consolidação da Legislação Federal e Regula-mentação de Dispositivos da Constituição Federal (CMCLF), que se debruçou sobre a regulamentação de 25 artigos pendentes da Carta Magna, entre eles o art. 192. Também tramita na Comissão de Assun-tos Econômicos (CAE) do Senado Federal o Projeto de Lei n° 102/2007 que regulamenta a estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Grupo de Trabalho reu-nido pela CNF tem-se dedicado a preparar subsídios tanto para a CMCLF quanto para a CAE do SF. Ao pre-parar esses subsídios, o Grupo de Trabalho tem dado especial atenção à questão do risco sistêmico que, desde 2007, constitui o pano de fundo de grande parte das normas voltadas para o setor financeiro. O Grupo de Trabalho também tem-se preocupado com a manutenção dos avanços obtidos desde a entrada em vigor da Lei n° 4.595/1964, testados em inúmeras crises internacionais ao longo de cinco décadas.

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93capítulo 8: reguLAmeNtAçÃO dA PrOmOçÃO de INtereSSeS PrIVAdOS LegÍtImOS juNtO AO SetOr PÚbLICO (LObbY )

A promoção de interesses legítimos do setor priva-do junto ao setor público é uma via de duas mãos. Por um lado, o setor privado pode ser afetado por decisões de agentes públicos dos Três Poderes que deveriam ser sempre lastreadas em conhecimento técnico específico de determinada atividade em-presarial e familiaridade com o ambiente de negó-cios. Nesses casos, a prestação de informações pelo agente privado contribui para a eficácia da política pública que se busca implementar. Por outro lado, sugestões, inovações, projetos, pareceres, notas técnicas, pesquisas e outras informações relevan-tes produzidas pelo setor privado têm o condão de provocar a formulação de políticas públicas. Nesses casos, é o setor público e a sociedade como um todo que se beneficiam da atividade do lobby. Ou seja, o lobby se constitui em atividade lícita e legítima que favorece toda a cidadania, mesmo quando promo-ve interesses específicos de algum setor da econo-mia ou da sociedade.

A regulamentação do lobby, tanto no Brasil quanto em países europeus, tem como principal objetivo tornar pública a relação entre lobistas e autoridades. O assun-to também tem sido tema de discussão da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), que vem promovendo debates com intuito de sugerir parâmetros e modelos de regulamentação.

Nos Estados Unidos (EUA) o lobby é regulamentado por meio de legislação federal, desde 1946, ano em que reconheceu a prática como profissão e institui-ção. O instituto legal norte-americano é voltado para tornar públicas e transparentes as informações que envolvem a atividade.

Na Europa, não existe equivalente do padrão norte-a-mericano por lei federal de regulamentação do lobby. Embora alguns países europeus possuam regras que normatizem a atuação de grupos de interesse no âm-bito do Parlamento, um trabalho realizado pela Con-

reguLAmeNtAçÃO dA PrOmOçÃO de INtereSSeS PrIVAdOS LegÍtImOS juNtO AO SetOr PÚbLICO (LObbY )8

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia a regulamentação da promoção de interesses legítimos do setor privado junto ao setor público, des-de que baseada no tratamento isonômico do acesso dos grupos de interesse ao processo decisório estatal e das prestações de contas. Para a CNF, o objetivo de tornar transparente a relação entre lobistas e autoridades irá ressaltar a legiti-midade e a licitude de uma atividade profissional que trata de questões que be-neficiam toda a cidadania, ao prestar informações especializadas a autoridades e ao provocar a formulação de políticas públicas.

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sultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, em dezembro de 2011, concluiu que na Europa nenhum país do continente possui legislação federal regula-mentando a atividade.

Um dos principais desafios a serem vencidos no Bra-sil e no mundo em relação à atividade de defesa de interesses é o estigma que envolve a atividade de re-presentação, muitas vezes confundida com a prática ilícita de tráfico de influência.

Com o intuito de regulamentar o lobby no Brasil, desde 1989 uma série de proposições têm sido apre-sentadas no âmbito do Congresso Nacional, sem su-cesso. Em 2007, proposta sugerindo a definição de normas para a atividade de lobista ganhou maior simpatia do Congresso. A matéria encontra-se em apreciação pela Câmara dos Deputados. De acordo com a proposta, a Controladoria-Geral da União fi-caria responsável pelo credenciamento dos lobistas; o Tribunal de Contas da União seria responsável por receber a prestação de contas anual dos lobistas, pessoas físicas e jurídicas; o Conselho Administra-tivo de Defesa Econômica arbitraria os casos envol-vendo abuso de poder econômico e o Ministério Pú-blico investigaria irregularidades cometidas.

O Poder Executivo também tem trabalhado com o intuito de regulamentar o lobby no Brasil. Em 2008, a discussão foi incluída na Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENC-CLA) com o objetivo de elaborar anteprojeto que re-gulamentasse a atividade no país.

A promoção de legítimos interesses privados jun-to ao setor público não tem caráter eleitoral. Isto é, despida de conotação partidária. Ao atuar junto a autoridades, os agentes privados muitas vezes levantam temas de interesse da cidadania que não são debatidos por pessoas físicas, tais como o prin-cípio da livre iniciativa e a liberdade de atividade econômica. Nesse sentido, equipara-se ao lobby do próprio Governo, quando o Poder Executivo tam-bém atua junto aos demais Poderes para promover temas de seu interesse.

Para ser eficaz, a regulamentação do lobby deve as-segurar isonomia tanto no acesso a agentes públicos quanto nas prestações de conta por parte de todos os grupos de interesses legítimos, ou seja, empresas e trabalhadores, setor privado e Governo, empresas e ONGs, empresas de capital nacional e as de capital estrangeiro, entre outros.

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97capítulo 9: eFICIêNCIA judICIÁrIA e SegurANçA jurÍdICA

A grande maioria das operações financeiras é de na-tureza contratual. Ademais, as instituições financeiras enfrentam acirrada concorrência entre si, mantêm relacionamento com o Fisco, abrigam centenas de mi-lhares de funcionários e estão a serviço dos cidadãos e do Poder Público – como no caso do recolhimento de tributos e de depósitos judiciais, repasse dos paga-mentos de aposentadorias, benefícios previdenciários, Programa Bolsa Família, entre outros. São sinais de um rico tecido social e de estreitos relacionamentos, durante os quais se desenvolvem posições discordan-tes. Essa teia de relacionamentos dá origem a lides ju-diciais das mais variadas, opondo instituições a clien-tes, a suas congêneres, ao Fisco, a seus empregados e a Governos federal, estadual e municipal. Por essa razão, o Poder Judiciário tem papel especialmente re-levante para as atividades das instituições financeiras. A celeridade dos processos e a segurança jurídica têm impacto direto sobre as operações financeiras, inclu-sive sobre a precificação destas, e contribuem para a ampliação da bancarização, a expansão do crédito e a oferta de ampla gama de produtos e serviços.

Por vezes, as decisões judiciais que envolvem insti-tuições financeiras padecem de falta de informação especializada e de abundância de preconceitos in-justificados. As ações judiciais nas quais são partes as instituições financeiras têm, via de regra, objeto extremamente técnico. São questões que envolvem familiaridade, entre outros, com ramos especializa-dos do Direito, com economia, com contabilidade (inclusive contabilidade bancária), com matemática financeira e com tecnologia da informação. Tal fa-miliaridade não se distribui uniformemente entre os agentes do Direito, inclusive juízes. Por isso, ocor-rem decisões judiciais não lastreadas em argumen-tos técnicos. Também alguns preconceitos contami-nam decisões judiciais, entre eles a percepção, sem qualquer amparo nos fatos, de que instituições fi-nanceiras cobram tarifas, juros e encargos abusivos e, por essa razão, auferem lucros exorbitantes. Essa questão é examinada na Seção 6.4 – Lucro e rentabi-lidade bancária.

eFICIêNCIA judICIÁrIAe SegurANçA jurÍdICA9

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que con-tribuam para a celeridade dos processos no Poder Judiciário, para a clareza e a precisão de sentenças judiciais lastreadas em conhecimento técnico das ques-tões afetas ao setor financeiro e para maior segurança jurídica nas relações contratuais de todas as espécies.

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9.1 reFOrmAS de CódIgOS LegAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento e a atualização da legislação codificada brasileira, o aperfeiçoamento de dispositivos que geram dúvidas e a simplifica-ção do entendimento e da aplicação da norma, para maior segurança jurídica. A CNF enten-de que esses objetivos podem ser alcançados também por reformas gerais dos Códigos, mas não exclusivamente por estas.

Estão na pauta de discussão do Congresso Nacional diversas reformas de Códigos que têm como objeti-vo principal dar mais celeridade à justiça no Brasil. A última grande reforma de Código realizada pelo Legislativo se deu com a promulgação em janeiro de 2002 do novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002). A alteração ocorreu após mais de 25 anos da apresen-tação da proposta original, o PL nº 634/1975.

Hoje, entre outras, discutem-se reformas dos seguin-tes Códigos: de Processo Civil (Lei nº 5.869/1973), Pe-nal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941), de Defesa do Consumi-dor (Lei nº 8.078/1990), de Mineração (Decreto-Lei nº 227/1967), Eleitoral (Lei nº 4.737/1965), Comercial (Lei nº 556/1850), bem como a codificação da Con-solidação das Leis do Trabalho – CLT (Decreto-Lei nº 5.452/1943). As propostas, em diversos casos oriun-das de grupos de trabalho constituídos para apre-sentação de sugestão única de alteração de código específico, têm tramitação diferenciada nas Casas do Congresso Nacional.

O movimento iniciou-se com a aprovação no Sena-do Federal do PLS nº 156/2009 (Código de Processo Penal), de autoria do Senador José Sarney. Tanto Câmara como Senado vêm dispendendo tempo e re-cursos para ampliar as discussões sobre essas refor-mas mais profundas por meio da criação de Comis-

sões Especiais e ritos de urgência. Contudo, ao lado dessas propostas de reforma, também tramitam no Congresso inúmeros projetos de escopo mais limita-do ao aperfeiçoamento de dispositivos específicos de cada um dos Códigos existentes.

A correção de questões pontuais percebidas pela prática da aplicação da legislação em vigor é eficaz para dar efetividade maior à regra. Entretanto, em razão da evolução da sociedade, muitas das normas codificadas passam a ser empecilho para a efetiva-ção do direito. Nesses casos, amplas reformas po-dem ser efetuadas para permitir uma justiça mais célere e eficiente.

Embora muitas propostas de reformas de códigos tra-mitem pelo tempo adequado para ampla discussão das alterações necessárias ao seu aperfeiçoamento, a CNF vê com preocupação iniciativas que visem, de maneira açodada, a impor ao Congresso e à socieda-de alterações radicais, com entendimento de grupo específico, que possam gerar mais transtornos que aprimoramentos reais para a legislação brasileira.

9.1.1 código comercial

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, ao apoiar a revisão da legislação comercial nos assuntos em que esta não se encontre alinhada com a realidade atual dos negócios, sublinha que a modernização de matéria dessa complexidade e alcance não requer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dispositivos pontuais, de forma a preservar o bom funcionamento dos mercados e a segu-rança jurídica.

Em junho de 2011, iniciou sua tramitação na Câmara dos Deputados o projeto que institui um novo Códi-go Comercial para o Brasil. O texto apresentado ori-

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ginou-se de minuta proposta pelo Professor Fábio Ulhoa Coelho. Em novembro de 2013, foi apresentada no Senado outra proposta de natureza semelhante, de autoria do mesmo jurista, com texto mais extenso.

A iniciativa, conforme seu idealizador, visa basica-mente a reunir em um único diploma legal as regras comerciais esparsas, fortalecer os princípios e regras próprios do Direito Comercial, aplicáveis às relações entre empresas, bem como modernizar a legislação ante os avanços mais recentes. A ideia que orientou a construção do texto é a de que o atual Código (Lei n° 556/1850) não é mais compatível com a realidade dos negócios e a inclusão de matérias de Direito Co-mercial no âmbito do Código Civil não é adequada, pois esse, ao unificar o direito privado, tratou não só das relações entre as empresas, mas também das re-lações de consumo e de trabalho.

A iniciativa divide opiniões. Muitos apoiam a neces-sidade de codificação de modo a garantir sistema-ticidade ao Direito Comercial. Outros, no entanto, defendem melhorias na legislação vigente sem rup-turas nos institutos já bem regulados e utilizados, que trazem previsibilidade aos negócios (como a das Sociedades Anônimas – Lei n° 6.404/1976 –, a de Fa-lência – Lei n° 11.101/2005 – e a de Títulos de Crédito Comercial – Lei nº 6.840/1980 –, por exemplo) e não podem ser sobrepostos pelo Código. O fato é que a interpretação de cada uma dessas leis específicas, pelos tribunais, já é conhecida dos investidores e empresários e alterações nesse entendimento sedi-mentado poderiam significar insegurança jurídica e, como efeito, empecilhos à atração de investimentos.

A proposta supera algumas lacunas na ordem jurídi-ca nacional no que concerne, por exemplo, à eficácia e executividade da documentação digitalizada e ao comércio eletrônico. Contudo, pode ser aprimorada por: (i) tratamento adequado da desconsideração da personalidade jurídica, de modo que o instituto seja utilizado apenas nos casos de comprovado mau uso da pessoa jurídica e que proteja os sócios nos casos em que não se verifiquem atos dolosos e criminosos,

praticados ao abrigo da separação patrimonial; (ii) retirada das matérias sobre sociedades anônimas e direito falimentar, pois seus valores já estão assen-tados na doutrina, jurisprudência e prática dos ne-gócios; e (iii) tratamento apropriado dos contratos bancários, de modo a subtrair imprecisões.

Destaque-se que a codificação dos princípios e re-gras empresariais pode trazer imobilidade para esse ramo do Direito, necessariamente dinâmico e que precisa adaptar-se constantemente às inovações tecnológicas e econômicas.

9.1.2 código penal

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, ao apoiar a revisão da legislação penal nos assuntos em que essa não se encon-tre adequada para coibir as práticas ilícitas da atualidade, sublinha que a modernização de matéria dessa complexidade e alcance não requer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio de incrementos pon-tuais, de forma a preservar o equilíbrio da tute-la dos bens jurídicos.

O Congresso Nacional analisa a proposta de um novo Código Penal para o país. A opção por reformar repousa sobre a percepção de que o atual Código não comtempla todas as condutas ilícitas que se ve-rificam na realidade contemporânea.

O texto em tramitação foi construído por uma co-missão composta por juristas e presidida pelo Mi-nistro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp. Os objetivos do grupo, além de modernizar o Código, resumiram-se em unificar a legislação penal esparsa (cerca de 120 leis), descriminalizar condutas incompatíveis com outros tipos penais existentes e com a Constituição de 1988 e, se necessário, prever novas figuras típicas.

capítulo 9: eFICIêNCIA judICIÁrIA e SegurANçA jurÍdICA

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agenda do setor financeiro 2014100

Apresentada no Senado, a proposição foi objeto de exame por Comissão Especial. O texto aprovado nes-se Colegiado realiza acréscimos polêmicos, como: a ampliação das possibilidades do aborto legal e a criminalização de homicídio e lesão em razão de preconceito com orientação sexual e identidade de gênero. As controvérsias existentes, não só entre os parlamentares, mas também entre setores da socie-dade, em torno desses temas pode tornar morosa a tramitação do projeto.

Entre as inovações pertinentes ao setor financeiro, encontram-se, por exemplo: (i) a responsabilidade penal das pessoas jurídicas nos crimes contra a or-dem econômica e o sistema financeiro; (ii) o empre-go de explosivos como nova qualificadora ao crime de furto; (iii) a tipificação dos delitos eletrônicos; (iv) a responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção praticados contra a administração públi-ca; (v) a tipificação do financiamento ao terrorismo; (vi) as alterações no tipo “gestão fraudulenta”, na parte de Crimes contra o Sistema Financeiro; (vii) a tipificação do uso indevido da informação privile-giada, como forma de coibir o comportamento dos

“inside traders”; e (viii) a incorporação do crime de lavagem de dinheiro com eliminação do rol de cri-mes antecedentes.

De modo geral, o projeto avança ao incorporar os cri-mes da modernidade ao escopo do Código. No entan-to, retroage, por exemplo, ao não prever a cominação da multa a não ser em situações bastante excepcio-nais, ao estabelecer, em muitos casos, penas despro-porcionais e ao esvaziar as normas processuais.

9.1.3 código de proceSSo civil

Em junho de 2010, comissão de renomados juristas entregou anteprojeto de reforma do Código de Pro-cesso Civil (CPC) para exame do Congresso Nacional. O texto tem o intuito de viabilizar um sistema de justi-ça mais acessível, ágil e efetivo, ao tentar eliminar três obstáculos que causam morosidade: o excesso de for-malismo do processo; a alta litigiosidade; e o excesso de recursos nos tribunais. Nesse sentido, mudanças foram operadas, por exemplo, no julgamento de pro-cessos repetitivos, na desconsideração da personali-dade jurídica e no procedimento da penhora.

A proposta de reforma do CPC contém importantes avanços, como a criação do incidente de descon-sideração da personalidade jurídica que: (i) pode-rá ser suscitado nos casos de abuso de direito por parte do sócio; (ii) será cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e também na execução fundada em título executivo extrajudicial. Outra inovação é a inserção do incidente de demandas repetitivas que será ad-missível sempre que identificada controvérsia com potencial de gerar relevante multiplicação de pro-cessos fundados em idêntica questão. O julgamento desse incidente produzirá coisa julgada em relação aos processos pendentes.

Contudo, algumas questões ainda precisam ser me-lhor examinadas para garantir uma prestação juris-dicional mais célere capaz de resguardar a seguran-ça das relações jurídicas e dos investimentos. Entre essas questões, destacam-se:

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, ao apoiar a modernização do Código de Processo Civil, sublinha que a atualização de matéria dessa complexidade e alcance não re-

quer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dis-positivos pontuais com vistas a um sistema ju-rídico mais acessível, ágil e efetivo, de forma a preservar os princípios básicos do devido proces-so legal, como o do contraditório. É preciso que a reforma do Código estabeleça mecanismos que limitem a utilização de recursos em excesso e re-duzam prazos de conclusão de processos.

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■ Determinação de que os honorários advocatí-cios serão devidos também na reconvenção, no cumprimento de sentença, na execução resisti-da ou não, e nos recursos interpostos, de forma cumulativa;

■ Ampliação dos casos de tutela antecipada de evidência, com hipótese de antecipação com re-serva de cognição de exceção substancial;

■ Consagração da intervenção do amicus curiae, que poderá participar a seu requerimento, e não apenas a requerimento das partes ou por deter-minação do órgão jurisdicional;

■ Ampliação das hipóteses de cabimento da Ação Monitória para qualquer tipo de obrigação e per-missão de que a prova escrita que lhe serve de esteio seja prova oral previamente constituída; e

■ Obrigação de pagamento do valor incontroverso no tempo e modo contratos bem como dos tri-butos, multas e taxas incidentes sobre os bens vinculados e de outros encargos previstos em contrato. Trata-se de recente avanço normativo inserido pela Lei nº 12.873/2013 no Código de Processo Civil de 1973.

Algumas dessas inovações poderiam vulnerar a im-parcialidade do juiz, a ampla defesa, o acesso à justi-ça e a isonomia das partes. Para a CNF, a correção dos eventuais anacronismos do Código em vigor não deve afrontar as garantias constitucionais do processo.

9.1.4 código de proceSSo penal

Os trabalhos de reforma do Código de Processo Pe-nal (CPP) iniciaram-se no âmbito de uma Comissão Temporária de Estudo da Reforma do Código, forma-da por juristas, criada no Senado Federal em 2008.

Entre as principais propostas de mudanças sugeridas para o CPP, merecem especial atenção as seguintes: a) a faculdade do juiz de suspender, total ou parcial-mente, as atividades de pessoa jurídica sistematica-mente utilizada por seus sócios ou administradores para a prática de crimes contra o meio ambiente, a ordem econômica, as relações de consumo ou que atinjam um número expressivo de vítimas (quando o juiz levará em conta, igualmente, em sua decisão, o interesse dos empregados e de eventuais credores e o princípio da função social da empresa, bem como a manifestação do órgão público regulador, se houver); b) a comunicação imediata às instituições financeiras, pelo juiz, caso necessário, que deverão bloquear qual-quer tentativa de retirada ou transferência de valores das contas, bem como a movimentação de aplicações financeiras porventura existentes; e c) a possibilidade de o juiz atribuir à instituição financeira, caso decre-tado o sequestro, a custódia legal dos valores deposi-tados em suas contas, fundos e outros investimentos.

9.1.5 código do trabalhoA Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, ao apoiar a modernização do Códi-go de Processo Penal, sublinha que a atualiza-ção de matéria dessa complexidade e alcance não requer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dispositivos pontuais com vistas a um sis-tema jurídico mais acessível, ágil e efetivo, de forma a preservar os princípios básicos do

Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, vários aprimoramentos podem ser promovidos na legislação trabalhista, seja por meio de uma proposta de Código, seja por projetos pontuais. Tais aprimoramentos de-vem preservar os direitos dos trabalhadores e

devido processo legal, bem como o do con-traditório. A CNF ressalta que deve ser dado tratamento processual também aos casos de crimes praticados por meio da internet.

capítulo 9: eFICIêNCIA judICIÁrIA e SegurANçA jurÍdICA

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Tramita desde 2011, na Câmara dos Deputados, pro-posta que cria o Código do Trabalho. Seu objetivo é atualizar a legislação trabalhista em vigor, bem como enfeixar as normas esparsas, garantindo direitos bá-sicos, de modo a compatibilizá-la com a tendência mundial de favorecer a composição entre as partes como reguladora das relações trabalhistas.

A principal inovação do projeto é a garantia de que o negociado prevaleça sobre o legislado, respeitados os direitos irrenunciáveis dos trabalhadores previstos na Constituição Federal. Outras importantes novida-des dizem respeito ao parcelamento das férias em até três períodos; à extinção da contribuição sindical; à previsão de que, independentemente de filiação, to-dos os representados pelo sindicato participem das assembleias que tratem de convenções e acordos co-letivos e nelas votem; à extensão da licença paterni-dade, em caso de morte da mãe ou quando esta opte por renunciar a parte da sua licença e transferi-la ao pai; à possibilidade de que o contrato de terceiriza-ção aplique-se às atividades meio e fim da contra-tante, bem como à determinação de que a empresa contratante seja subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas; à possibilidade do pagamen-to do vale-transporte em dinheiro, sem natureza sala-rial; à aplicação da legislação brasileira, quando mais favorável, ao trabalhador expatriado; a não incidên-cia de encargos trabalhistas sobre a PLR; entre outros.

Para as empresas, a proposta, ao reduzir os custos de contratação e permitir modalidades de contratos mais adaptáveis às necessidades produtivas e do mer-cado, permite ganhos de competividade e equilíbrio nas relações. Para os empregados, a inciativa repre-

senta abertura de novos postos de emprego formais e oportunidades para negociações mais vantajosas.

9.2 juStIçA dO trAbALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que confiram à Jus-tiça do Trabalho maior autonomia e celeridade no processamento e julgamento de ações que versem sobre relações de trabalho ou delas de-correntes sem, todavia, afrontar direitos e ga-rantias das partes de acesso ao Judiciário, bem como outros princípios constitucionais tais como o devido processo legal, contraditório, ampla defesa e duplo grau de jurisdição. Ade-mais, a Confederação apoia proposituras que permitam aos julgadores laborais primarem o disposto em convenções e acordos coletivos e que revisem os critérios para estabelecimento de honorários advocatícios.

A Justiça Trabalhista surgiu nos primórdios da Re-pública, com o crescente processo de urbanização em decorrência dos avanços na indústria e no co-mércio e do aumento progressivo de mão-de-obra livre e assalariada.

Integrada ao Poder Judiciário na Constituição de 1946, essa justiça especializada recebeu modifica-ções estruturais ao longo do tempo. Recentemente, sob o amparo da Magna Carta de 1988, a justiça la-boral teve outra grande modificação, conferida pela redação da Emenda Constitucional n° 45/2004 ao art. 114 que ampliou a sua competência para processar e julgar ações que versem sobre relações de trabalho ou que delas decorram.

Certamente, uma das consequências principais foi o aumento do número de processos, reforçando a necessidade de novas alterações legislativas que permitissem maior celeridade no trâmite processual

se pautar por contratos flexíveis, privilegiando as convenções e os acordos coletivos de traba-lho, que estimulem as empresas a aumentar sua produtividade e a tornarem-se mais com-petitivas, contribuindo, assim, para a expan-são dos empregos formais.

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sem, contudo, deixar de resguardar direitos e garan-tias às partes e o respeito aos princípios constitucio-nais do devido processo legal, contraditório, duplo grau de jurisdição, entre outros.

Para a concretização dessa celeridade, a CNF apoia propostas que impeçam o uso de recursos mera-mente protelatórios, desde que os critérios sejam objetivos para essa qualificação e que, se houver ne-cessidade de aplicação de multa, não obstem a in-terposição de outro recurso e seu valor seja razoável, considerando-se a natureza e o valor da ação, as par-tes envolvidas e o depósito prévio recursal obrigató-rio (exigido somente à parte reclamada, via de regra pessoa jurídica, considerando que essa exigibilidade também deve ser revista).

Ademais, a Confederação apoia igualmente propo-sições que confiram segurança jurídica às decisões proferidas pelos julgadores trabalhistas que privile-giam as convenções e os acordos coletivos de traba-lho, sem que impliquem inovações no ordenamento jurídico, nem mesmo por meio de súmulas e orienta-ções jurisprudenciais.

Embora a Constituição Federal não tenha trazido uma definição jurídica sobre súmulas, deixou expres-so, ao tratar da súmula vinculante, que ela “terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja contro-vérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegu-rança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica” (CF art. 103-A, §1º). Assim, a edição de súmula é uma das mais relevantes técnicas de uniformização jurisprudencial que tem o propósi-to especifico de obviar conflitos de interpretação.

Todavia, a Justiça Trabalhista, ao editar enunciados de súmula e orientação jurisprudencial com base em interpretação controversa ou mesmo na ausência de precedentes, compromete as negociações coletivas e as realizadas entre empregados e empresas, bem como colide com a jurisprudência do Supremo Tri-

bunal Federal (STF) que trata da repartição dos Po-deres e da impossibilidade do Poder Judiciário em legislar (ADI 2.075-MC e Súmula 339).

Por fim, a Confederação acompanha com interesse projetos que permitam a divisão do pagamento dos honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho entre as partes ou o abatimento do valor total julgado devido à demandada. Atualmente, esse ônus, regra geral, é exclusivo da parte reclamada, porquanto o autor da ação costuma gozar de gratuidade na justiça.

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3684 no Supremo Tribunal Federal foi concedida liminar para afastar a competência da Justiça do Trabalho para julgar ações penais decorrentes da relação de traba-lho, conforme transcrito abaixo:

EMENTA: COMPETÊNCIA CRIMINAL. Justiça do Traba-lho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação confor-me dada ao art. 114, incisos I, IV e IX, da CF, acres-cidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de inconstitu-cionalidade. Liminar deferida com efeito “ex tunc”. O disposto no art. 114, incisos I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucio-nal nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho compe-tência para processar e julgar ações penais.

9.2.1 competência penalda JuStiça do trabalho

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para apri-morar o funcionamento e a estrutura proces-sual da Justiça do Trabalho, que mantenham o entendimento do Congresso Nacional que preservou a competência da Justiça Federal para processar e julgar as infrações penais de-correntes das relações de trabalho.

capítulo 9: eFICIêNCIA judICIÁrIA e SegurANçA jurÍdICA

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A competência para processar e julgar  infrações pe-nais decorrentes das relações de trabalho hoje é da Justiça Federal. Sua eventual transferência para a esfera de competências da Justiça Trabalhista agra-varia ainda mais o quadro de acúmulo de processos e tornaria mais lentas as suas decisões.

Na revisão constitucional da estrutura do Judiciário por meio da PEC nº 29/2000 (que originou a Emen-da Constitucional nº 45), a questão da competência criminal da Justiça do Trabalho em relação a crimes praticados contra a administração da justiça e con-tra a organização do trabalho foi amplamente discu-tida e rejeitada pelo Congresso Nacional.

Diante da redação da Emenda Constitucional nº 45, pode-se afirmar que as proposições que versem em sentido contrário são de constitucionalidade duvi-dosa, pois interpretar extensivamente os incisos I, IV e IX do artigo 114 da CF para atribuir competência genérica criminal à Justiça do Trabalho fere os prin-cípios da legalidade e do juiz natural.

9.2.2 execução noproceSSo trabalhiSta

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que tragam celeridade à Justiça do Trabalho, balizadas pelas garan-tias constitucionais do acesso à Justiça; do de-vido processo legal; e da sua razoável duração. É fundamental, no entanto, que tais alterações ocorram preservando-se os princípios constitu-cionais da ampla defesa, do contraditório, do duplo grau de jurisdição e da segurança jurídica.

A execução no processo trabalhista deve levar em conta a especificidade da tutela, ou seja, o direito que está em discussão, a duração razoável do pro-cesso, o valor constitucional fundamental e o inte-resse do credor, mas sem perder de vista a forma me-

nos onerosa para o executado. Não se trata aqui de execução penal, pois não se busca punir um crimi-noso, mas sim satisfazer um credor. Havendo duas maneiras de satisfazê-lo, dever-se-á adotar aquela que menos onera o devedor. O instituto da execução provisória é o que melhor atende aos preceitos constitucionais citados, pois não permite a liberação total do crédito ao reclaman-te nos casos em que a decisão proferida ainda possa vir a ser reformada por instância superior. Caso o réu tenha seus bens expropriados antes que se esgotem as instâncias recursais, fica caracterizado o desres-peito ao princípio da ampla defesa e do contraditório, pois se admite a possibilidade de levantamento dos valores apreendidos no processo por parte do autor, mesmo havendo recurso pendente de análise. Assim, é importante assegurar que, em toda e qualquer refor-ma na execução trabalhista, não haja dano irreparável ao réu (via de regra, empresa), tampouco geração de riqueza sem causa ao autor (via de regra, empregado).

A inclusão de determinados documentos no rol de títulos executivos extrajudiciais pode ser temerária. Por exemplo, a transformação do Termo de Resci-são de Contrato de Trabalho (TRCT) em um título executivo extrajudicial suprimiria o direito de defesa do réu, permitindo sua execução de imediato com a consequente expropriação de seus bens, sem a re-gular apuração de fatos e provas. Tal procedimento não permite a eventual correção de equívocos. Esse documento está presente em todas as rescisões de contrato de trabalho celetista e considerando-se que o processo, quando o título executivo é considerado extrajudicial, se inicia na fase de execução, as empre-sas sofreriam enorme prejuízo econômico ao terem bens expropriados sem a oportunidade de produção de provas, a qual se dá apenas na fase de conheci-mento do processo, que nesses casos, é suprimida. No processo do trabalho é responsabilidade do juiz a homologação dos cálculos apresentados pelas par-tes. Cabe ao magistrado homologar o que melhor refletir as verbas deferidas. Publicado o cálculo esco-

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lhido pelo juiz, fica aberto prazo para as partes apre-sentarem sua impugnação à decisão judicial. Caso as empresas devam recolher os valores em discussão, antecipadamente à análise do magistrado do valor devido, é inevitável o prejuízo financeiro. Adequado seria que o depósito, nesta fase processual, fosse devido apenas do valor considerado incontroverso pela parte, para posteriormente, em recurso cabível, discutir-se o valor que a parte entende controverso, visando resguardar o direito constitucional das par-tes de acesso à justiça, contraditório e ampla defesa.

9.2.3 recurSoS trabalhiStaS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que visem a garantir maior celeridade e segurança na prestação ju-risdicional ao mesmo tempo em que preservem os direitos das partes e observem os princípios constitucionais do duplo grau de jurisdição, do contraditório e da ampla defesa.

Tramita no Congresso Nacional iniciativa do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que altera o processa-mento de recursos no âmbito da Justiça do Trabalho, disciplinados na Consolidação das Leis do Trabalho, além de regular o procedimento para a uniformiza-ção da jurisprudência dos Tribunais trabalhistas. Com o intuito de conter os recursos meramente pro-telatórios e, assim, assegurar a razoável duração dos processos judiciais e os meios que garantam a cele-ridade de sua tramitação, o projeto condiciona a in-terposição de novos recursos a elevadas multas, de 10 a 15% sobre o valor da causa ou, dependendo da espécie recursal, previamente fixada em 10%. Ao prever essas multas, onera demasiadamente as empresas, pois desconsidera a obrigatoriedade de se efetuar o pagamento alto do valor do depósito recursal, sob pena de o recurso não ser apreciado pelo Tribunal,

o que desrespeita a razoabilidade e a proporcionali-dade em cada processo, na contramão do previsto no Código de Processo Civil (utilizado de forma subsidi-ária na esfera trabalhista). Haja vista configurar uma barreira ao acesso à justiça, constitucionalmente garantido a todos. Assim, a CNF entende que impor o pagamento das mencionadas multas afronta a Constituição Federal, que veda à lei excluir da apreciação do Poder Judici-ário lesão ou ameaça a direito. O direito aqui previs-to é a garantia ao contraditório e à ampla defesa por meio de acesso ao a todas as instâncias recursais. Além disso, prevê o efeito apenas devolutivo aos Re-cursos de Revista interpostos, ou seja, descarta qual-quer possibilidade de se suspender a execução da de-cisão judicial que ainda padece de questionamentos. Apesar de os recursos trabalhistas, regra geral, terem efeito meramente devolutivo, se aprovado, o projeto tornará inócuo o depósito recursal e, ao final do pro-cesso trabalhista, se verificado que o valor pago não era aquele ou sequer era devido, irá compelir a parte prejudicada a apresentar nova ação judicial, contri-buindo para a sobrecarga do Judiciário, bem como para o enriquecimento sem causa do autor caso haja posterior reforma da decisão pelo Tribunal superior. Uma alternativa viável para assegurar a execução do crédito trabalhista seria a hipótese de contratação de seguro garantia pela empresa para cobertura dos direitos reivindicados. A pretensa intenção de diminuir os recursos no âm-bito do TST também motivou, na proposta, a obri-gatoriedade de uniformização de jurisprudência pelos Tribunais Regionais do Trabalho, prevendo-se, quando cabível, o incidente de resolução de deman-das repetitivas disposto no Código de Processo Civil. Para a CNF, as questões relacionadas ao direito do trabalho devem passar pela ampla dilação probató-ria, inviável na forma do incidente que deve balizar apenas a avaliação de questões de direito. Ademais, tal uniformização não deve ser determinante para

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impedir o acesso ao Judiciário, eis que as súmulas vinculantes têm o objetivo de tornar mais eficazes as normas existentes, sem, no entanto, impedir a aná-lise do caso individual e a interposição de recurso, o que pode vir a ocorrer caso seja aplicado o citado in-cidente indiscriminadamente.

9.2.4 depóSito recurSal

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a agiliza-ção de processos judiciais, que inibam o empre-go de recursos com finalidades exclusivamente protelatórias. A CNF apoia propostas voltadas para a mitigação dos efeitos punitivos do depó-sito recursal, sempre que instância inferior ado-tar decisão que divirja da jurisprudência unifor-me do Tribunal Superior do Trabalho (TST), de forma a assegurar o princípio do contraditório.

A legislação exige depósito prévio para a interposi-ção de recursos trabalhistas. Mais recentemente, tal exigência foi estendida aos Agravos de Instrumento. Esse depósito tem o intuito principal de inibir o uso do Agravo de Instrumento como meio de protelar os processos que tramitam na Justiça do Trabalho, ad-quirindo, portanto, um caráter punitivo.

Para muitos, a exigência de depósito recursal acaba impedindo o legítimo exercício do direito de recor-rer por parte do empregador que não possui capaci-dade econômica para tal finalidade, em detrimento dos princípios constitucionais do devido processo legal, contraditório e ampla defesa.

Há situações em que o Agravo de Instrumento é o único remédio processual cabível para que o recur-so de revista seja apreciado pela Corte Superior. Por vezes, a “disciplina judiciária” dos Magistrados das instâncias inferiores (TRTs) não é seguida, na medi-da em que a jurisprudência pacificada pelo Tribunal

Superior do Trabalho por meio de suas Súmulas ou Orientações Jurisprudenciais (OJs) não é observada.

Mesmo tendo a instância inferior decidido contra-riamente à reiterada jurisprudência do TST, muitas vezes é negado seguimento ao recurso de revista ajuizado, o que obriga a interposição do Agravo de Instrumento para que a matéria seja apreciada pela Corte Maior. Nesses casos, o Agravo de Instrumento pode ser interposto sem intuitos procrastinatórios.

O setor empresarial posiciona-se favoravelmente a propostas voltadas à agilização de processos judiciais. No entanto, salienta que em certos casos o depósito re-cursal, medida para desestimular o mau uso do Agra-vo, assume caráter que torna ineficiente o trâmite de processos, resultando em prejuízos às partes litigantes.

9.2.5 honorárioS advocatícioSde Sucumbência

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a preservação dos institutos da gratuidade e da capacidade postulatória do trabalhador (jus postulandi) na Justiça do Trabalho, que for-taleçam a representação sindical ao mesmo tempo em que assegurem o compartilhamen-to proporcional entre as partes dos honorários advocatícios de sucumbência.

Os enunciados 219 e 329 do Tribunal Superior do Tra-balho (TST) esclarecem que a parte vencida em litígio trabalhista somente é condenada a pagar honorários advocatícios de sucumbência quando o vencedor for beneficiado pelo instituto da justiça gratuita e asses-sorado por sindicato, já que não existe assistência pela Defensoria Pública na Justiça do Trabalho. Nesse caso, quando o vencedor não tem despesas com ad-vogado, condena-se o vencido em verbas honorárias, as quais serão revertidas em favor do sindicato.

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Nos processos trabalhistas, a gratuidade na justiça deve seguir o disposto na Lei nº 1.060/1950, que colo-ca critérios objetivos para sua concessão, não sendo mais possível a mera declaração da parte, sem qual-quer prova documental para usufruir desse direito.

Embora a advocacia seja função essencial à admi-nistração da justiça, não é absoluta a assistência do profissional da advocacia em juízo, podendo a lei prever situações em que é prescindível a indica-ção de advogado, dados os princípios da oralidade e da informalidade adotados pela norma para tor-nar mais célere e menos oneroso o acesso à Justiça. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já en-tendeu ser razoável, no caso dos Juizados Especiais, por exemplo, não se exigir a assistência de advoga-do em causas com valor inferior a 20 salários míni-mos (ADI 1539).

Na Justiça do Trabalho, em vários processos, o valor postulado é efetivamente baixo, o que significaria que os honorários devidos aos advogados também seriam de valor baixo, muitas vezes não compensan-do financeiramente o trabalho do profissional, ao mesmo tempo em que onerariam o autor da ação.

Existem no Congresso Nacional propostas que preten-dem modificar o artigo 791 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao prever honorários advocatícios de sucumbência, tais propostas vedam a sucumbên-cia recíproca e proporcional, ficando os honorários advocatícios sucumbenciais arbitrados entre 10% a 20% do valor da condenação a serem pagos pela re-clamada, inclusive a Fazenda Pública, não podendo recair sobre o beneficiário da justiça gratuita.

A vedação da reciprocidade e da proporcionalidade da condenação dos honorários advocatícios sucum-benciais arbitrada nas porcentagens mencionadas não obedece ao princípio constitucional da isono-mia por conferir ônus exacerbado à reclamada e isenção total ao reclamante sem justificativa legal. Contraria ainda o disposto na legislação processual civil vigente, a qual determina a aplicação da sucum-

bência recíproca entre os litigantes quando cabível, à luz da ao princípio constitucional da isonomia.

Ressalta-se que, na Justiça Trabalhista, em 2012 fo-ram pagos mais de R$ 18,6 bilhões aos reclamantes. Em 2013, esse valor caiu para R$ 16,2 bilhões perma-necendo acima do valor total pago em 2011 (R$ 14,7 bilhões). Em 2012, os valores pagos decorrentes de acordos judiciais representaram 29,34% do total e au-mentaram 28,06% em relação a 2011. Os valores pagos decorrentes da execução da sentença representaram 70,62%, aumento de 15,9% em relação ao ano anterior.

Ainda em 2012, o número de casos novos aumentou em 7,94% em relação a 2011. Nos TRTs, foram rece-bidos 12,39% casos a mais que em 2011. Nas Varas os números de caso novos foram elevados em 6,11%.

À luz dos expressivos montantes envolvidos, sobres-sai a necessidade de justa repartição do ônus, pro-porcional ao valor das condenações recíprocas. A legislação poderia permitir a divisão desses encar-gos de honorários sempre que houver condenação recíproca, mesmo que uma das partes seja benefi-ciária da justiça gratuita. Nesse caso, poderia exis-tir previsão de abatimento no valor da condenação a ser pago pela reclamada, inclusive se esta for a Fazenda Pública.

9.3 AçÃO CIVIL PÚbLICA (ACP)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados à facilitação do ajuizamento de Ação Civil Pública que am-pliem o acesso à Justiça, favoreçam a isonomia entre as partes, promovam a economia pro-cessual e melhorem a qualidade das decisões judiciais, na medida em que tais projetos não tragam impactos negativos sobre a segurança jurídica para o ambiente de negócios, não poli-tizem o Judiciário, não rompam o equilíbrio en-

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O instituto da Ação Civil Pública (ACP) propicia di-versas vantagens a seus autores e à sociedade em geral. Favorece a isonomia entre as partes, na me-dida em que um número extenso de consumidores, por exemplo, representados em juízo por entidade de classe terá mais condições de sucesso numa ação judicial contra uma grande corporação do que cada um deles isoladamente. Também amplia o acesso à Justiça, já que a defesa da coletividade inclui pesso-as que, de outra maneira, não teriam iniciativa ou condições de estar em juízo. Promove a economia processual, porque o julgamento de várias deman-das em um único processo evita a análise de uma mesma questão inúmeras vezes. A ACP contribui para melhorar a qualidade das decisões judiciais, uma vez que o julgamento conjunto de múltiplas demandas permite um exame mais aprofundado da controvérsia jurídica.

Foram formuladas propostas de readequação e mo-dernização da tutela coletiva para responder às pro-fundas transformações sociais ocorridas desde a edi-ção da Lei da Ação Civil Pública (ACP), de 1985. Foi assim, por exemplo, no II Pacto Republicano de 2009.

A intenção dessas propostas é que a ACP seja ajui-zada para garantir a proteção: do meio ambiente; da saúde; da educação; do trabalho; do desporto; da segurança pública; dos transportes coletivos; da assistência jurídica integral e da prestação de servi-ços públicos; do consumidor, do idoso, da infância e juventude, das pessoas portadoras de necessidades especiais; da ordem social, econômica, urbanística e financeira, da economia popular, da livre concor-rência, do patrimônio público e do erário; dos bens e direitos de valor artístico, cultural, estético, históri-co, turístico e paisagístico e de outros interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêne-os. As propostas hoje em tramitação no Congresso

divergem quanto à possibilidade de ajuizamento de ACP sobre questões tributárias e previdenciárias.

Hoje, ACP pode ser ajuizada pelo Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados, Distrito Fede-ral, Municípios e respectivas autarquias, empresas públicas, fundações e sociedades de economia mis-ta, e também por associações constituídas há mais de um ano.

Uma das principais novidades da discussão de novas propostas é a ampliação do leque de propositores, com possibilidade de a ACP ser ajuizada também pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por partidos políticos e por associações civis e fundações de direi-to privado legalmente constituídas. Não obstante a relevância social dessas importantes entidades, a am-pliação do leque de partes legitimadas não exige ex-pressamente requisitos que assegurem responsabili-dade e confiabilidade das associações propositantes.

Em alguns momentos, propostas de modificação da processualística da ACP exorbitam e conferem excessiva competência ao juiz, que poderia, por exemplo, alterar atos e fases do processo “para ga-rantir a efetiva tutela do interesse coletivo”. O juiz também poderia impor multa pessoal ao agente público ou representante da pessoa jurídica de direito privado responsável pelo cumprimento da decisão que impôs a obrigação, o que viola o direi-to à ampla defesa e o contraditório, uma vez que a pessoa física não foi parte do processo, mas, sim, a pessoa jurídica.

Também se discute a execução coletiva do compro-misso de ajustamento de conduta mediante inter-venção na pessoa jurídica de direito privado. Trata-se de uma inovação preocupante, pois não estão previs-tos critérios para orientar a intervenção. Não há qual-quer referência específica a garantias constitucionais e/ou legais, nem regramento quanto ao cabimento, circunstância, forma ou prazo da “intervenção na empresa”. A intervenção é uma medida drástica, que viola o direito de propriedade, o livre exercício da ati-

tre as partes litigantes e não confiram poderes exorbitantes ao juiz e ao Ministério Público.

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vidade econômica e os demais direitos econômicos previstos no artigo 170 da Constituição Federal.

Exorbitâncias dessa natureza representam retroces-so nas garantias processuais, em especial ao devido processo legal, ao contraditório, à imparcialidade do juiz, ao juiz natural – e coloca, principalmente, o réu da ação coletiva em uma posição muito desfavorável.

A discussão foi retomada nos projetos de reforma do Código de Processo Civil e do Código de Defesa do Consumidor com sugestões preocupantes, tais como: eficácia nacional da coisa julgada e possibili-dade de execução coletiva.

9.4 deSCONSIderAçÃO dA PerSONALIdAde jurÍdICA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a explicitação da desconsideração da personali-dade jurídica que não introduzam insegurança jurídica nas relações contratuais, de modo que o instituto seja utilizado apenas nos casos de comprovado mau uso da pessoa jurídica e que proteja os sócios nos casos em que não se ve-rifiquem atos ilegais, praticados ao abrigo da separação patrimonial.

Ao longo da história, a constituição das pessoas ju-rídicas desenvolveu-se a partir da distinção entre a personalidade jurídica destas e a dos seus sócios, o que lhes conferiu grande autonomia, na medida em que passaram a ser sujeitos de direitos e obrigações. Contudo, como essa separação também começou a ser utilizada em fraudes, criou-se a teoria da des-constituição da personalidade jurídica, que deter-mina não prevalecer a separação patrimonial entre a pessoa jurídica e a dos seus membros nos casos em que essa distinção é desvirtuada para a prática de atos ilegais. Para tanto, a desconsideração da per-

sonalidade jurídica não implica suprimir, extinguir ou tornar nula a sociedade, mas sim afastá-la momen-taneamente para atingir seus sócios por atos fraudu-lentos praticados pela empresa.

Dessa forma, se, por um lado, a desconsideração da personalidade jurídica limita e coíbe o uso indevido da separação patrimonial, por outro, uma melhor es-pecificação das hipóteses que a permitam contribui-ria para redução da insegurança jurídica, que pode ser verificada pelo uso inadequado do instituto (a exemplo de eventual decisão judicial que atinja bens particulares dos sócios mesmo quando não se obser-va a prática de atos ilegais pelos administradores).

9.5 INterdItO PrOIbItórIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que salvaguardem a função social da propriedade. A CNF, ao mes-mo tempo em que defende o direito constitu-cional dos trabalhadores à greve, sublinha que esse direito deve ser exercido dentro dos limites da lei, sem abusos que ameacem o direito de posse mansa e pacífica, bem como o livre exer-cício das atividades empresariais.

O interdito proibitório é a medida judicial disponível na legislação processual, passível de adoção quan-do houver ou ameaça de perturbação, ou ofensa efe-tiva que impeça o exercício da posse (esbulho) con-tra o possuidor. O artigo 932 do Código de Processo Civil estabelece que:

O possuidor direto ou indireto, que tenha justo re-ceio de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso transgri-da o preceito.

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Em 2007, uma entidade de representação de trabalha-dores ajuizou a Ação de Descumprimento de Preceito no Supremo Tribunal Federal (ADPF) nº 123 para que a Corte impeça magistrados da justiça comum, federal e do trabalho de aplicar o instituto do interdito proibi-tório, alegando violação aos artigos constitucionais 1º, IV (dignidade da pessoa humana); 9º (direito de greve); 8º (liberdade e autonomia sindical); 5º, IV (liberdade de manifestação de pensamento); e 5º, II (princípio da legalidade, liberdade e autonomia de vontade). A enti-dade pediu ainda a concessão de liminar para suspen-der todas as decisões judiciais que aplicam o interdito possessório contra grevistas e todos os processos em curso na justiça que pedem a utilização do dispositivo.

Entretanto, contrariamente ao que foi argumentado pela arguente, o instrumento processual do inter-dito proibitório não é utilizado com a finalidade de impedir o direito inalienável ao exercício de greve, mas tão somente salvaguardar a função social da propriedade de eventuais impedimentos de acesso durante manifestação grevista. A própria Lei de Gre-ve traz expressamente ressalva quanto à garantia ao livre acesso ao trabalho e ao dano à propriedade ou pessoa (Lei nº 7.783/1989, artigo 6º, § 3º: “as manifes-tações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem cau-sar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa”).

Nesse sentido, os estabelecimentos bancários não se restringem à oferta de bens e serviços para o mer-cado, recolhimento de tributos ao Estado e geração de emprego para trabalhadores: as instituições ban-cárias devem observar as regras de tutela do consu-midor, do meio ambiente, de segurança, bem como do direito do trabalho. Todas essas se incluem no âmbito do ônus do direito de posse. Um dos meios para a garantia da manutenção da posse, baseada em tais regras, é o interdito proibitório.

Embora a greve seja um direito constitucional do tra-balhador que constitui um legítimo meio de pressão social e econômica, não há, em um regime demo-crático, direitos absolutos. Desse modo, esse instru-

mento não deve ser visto como forma de limitação da manifestação de movimentos de trabalhadores organizados, mas de coibição de eventuais abusos que podem decorrer da utilização desse direito. O interdito proibitório é, antes de tudo, uma forma de proteção da função social da propriedade dos esta-belecimentos patronais.

9.6 eStrAtégIA NACIONAL de NÃO judICIALIZAçÃO (eNAjud)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que estimulem mé-todos alternativos de solução de controvérsias, em que os próprios envolvidos, por meio de téc-nicas autocompositivas e de ações comunica-tivas, participativas e educativas, construam a resolução dos problemas.

O Relatório “Justiça em Números 2013” aponta que o número de processos em trâmite no Poder Judiciá-rio brasileiro cresceu 10,6% nos últimos quatro anos e chegou a 92,2 milhões de ações em tramitação em 2012: 64 milhões de processos sobre casos penden-tes e 28,2 milhões de casos novos. O estoque de ca-sos pendentes vem crescendo ano a ano: aumento de 2,6% em 2012 e de 8,9% no quadriênio.

Os dados também revelaram que, embora o Poder Judiciário conte com número cada vez maior de ju-ízes e de servidores e seja mais eficiente, a litigância ainda é crescente. Isto é, a velocidade do ingresso de novos processos é maior do que o sentenciamento e a baixa dos processos já em tramitação, o que cor-responde ao crescimento da taxa de congestiona-mento na grande maioria dos tribunais.

No sentido de desenvolver e estimular métodos al-ternativos de solução de controvérsias, em que os próprios envolvidos, por meio de técnicas autocom-positivas e de ações comunicativas, participativas e

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educativas, constroem a resolução dos problemas, o Ministério da Justiça desenvolveu a Estratégia Na-cional de Não Judicialização (Enajud).

Participam da Enajud: órgãos públicos e privados, organizações da sociedade civil, instituições nacio-nais e internacionais e os próprios cidadãos. Espera-se que, por meio da articulação e cooperação entre os diversos atores da sociedade, possam ser desen-volvidos e aprimorados mecanismos de prevenção e redução dos litígios judiciais, a fim de se ampliar o acesso à justiça, promover a efetividade dos direitos e garantias fundamentais e contribuir para a cons-trução de uma cultura do diálogo e da paz.

Entre as medidas de efetivação da Enajud está um projeto de lei que tramita no Senado Federal. O projeto dispõe sobre a mediação extrajudicial. O Governo tem trabalhado para formatar a proposta legislativa de forma a estrutura-la para contemplar os seguintes pontos: dispensa de custas processuais para quem optar pela mediação, priorização das so-luções administrativas, incentivo a participação pri-vada nas câmaras de conciliação, entre outros.

9.7 PACtO rePubLICANO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras está alinhada com os princípios que norteiam os Pactos Republicanos e acompa-nha com grande interesse as propostas que deles emanam, no entendimento de que tais propostas se circunscrevem à ampliação e fa-cilitação do acesso à Justiça, bem como ao seu aprimoramento processual.

O movimento por um Judiciário mais rápido e re-publicano iniciou-se em dezembro de 2004, com a promulgação da Emenda Constitucional nº 45. O Executivo passou a envolver-se mais nessa questão, por meio da Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça. Desde então, os três Poderes têm procurado sistematizar propostas de aperfeiço-amento normativo e de acesso à Justiça, com refor-mas processuais e atualização de normas legais.

O Pacto Republicano não se limita a melhorias ad-jetivas na forma de funcionamento da Justiça, mas tem alcance mais amplo, para fortalecer a proteção aos direitos humanos, à efetividade da prestação ju-risdicional, ao acesso universal à Justiça e também ao aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direi-to e das instituições do Sistema de Justiça.

Ao reduzir a morosidade da Justiça, os Pactos já fir-mados geraram outros problemas, quais sejam: con-centração do poder decisório nos Tribunais Supe-riores, por meio da súmula vinculante, repercussão geral, recursos repetitivos, transcendência jurídica e orientações jurisprudenciais; normas processuais que privilegiam o Poder Público nas demandas judi-ciais; em muitos casos o encarecimento do processo; insegurança jurídica principalmente ao flexibilizar garantias de contraditório e ampla defesa assegura-das no processo judicial; entre outros.

No mesmo sentido, sustentam alguns juristas que há um excesso de novas leis que pretendem ajustar o ordenamento jurídico brasileiro, e os Pactos Re-publicanos com as reformas que pretendem realizar apenas contribuem com essa “inflação normativa”. Para eles, mais adequado seria exigir o efetivo e fiel cumprimento das legislações vigentes.

capítulo 9: eFICIêNCIA judICIÁrIA e SegurANçA jurÍdICA

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10 merCAdOde CAPItAIS

Em 2002, por iniciativa de um conjunto representa-tivo de entidades do setor privado, foi lançada a pri-meira versão do Plano Diretor do Mercado de Capitais (PDMC), resultado da formação de consenso sobre a necessidade de se criar e manter as condições para o mercado de capitais brasileiro cumprir com efici-ência sua missão. O PDMC busca: (a) oferecer as con-dições financeiras necessárias para a sustentação do crescimento econômico, a geração de empregos e a democratização de oportunidades e do capital; (b) mobilizar recursos de poupança oferecendo alterna-tivas de investimento seguras e rentáveis, para servir também de base para planos de previdência pública e privada complementar; e (c) direcionar esses recur-sos para financiar os investimentos mais produtivos e socialmente desejáveis, inclusive infraestrutura, habitação e empresas emergentes, em condições competitivas com o mercado internacional.

Em 2003, foi criado no Ministério da Fazenda o Grupo de Trabalho do Mercado de Capitais e da Poupança de Longo Prazo, que promoveu a institucionalização de um processo de cooperação e diálogo entre os

setores público e privado, numa experiência bem sucedida. Balanço realizado em 2008, quando da atualização do PDMC 2002, revelou que 44 das 50 ações específicas propostas haviam sido total ou parcialmente implementadas, criando as condições institucionais para o desenvolvimento do mercado nesse período.

Em 24 de fevereiro de 2011, o Ministério da Fazenda editou a Portaria Interministerial nº 68, que subordi-nou à Secretaria Executiva o Grupo de Trabalho so-bre Mercado de Capitais e Poupança de Longo Prazo.

Várias das nove Diretrizes do Plano Diretor do Merca-do de Capitais constam de outras partes desta Agen-da do Setor Financeiro. São estas as nove Diretrizes:

1 Papel prioritário do mercado de capitais no fi-nanciamento da economia;

2 Ações concertadas para redução do custo de ca-pital (ver Seções 2.5 – Cadastro Positivo, 15 – Fi-nanciamento de Longo Prazo, 12 – Crédito e 14 – Taxa de juros e margens bancárias (spread));

capítulo 10: merCAdO de CAPItAIS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições volta-das para a criação de condições para que o mercado de capitais cumpra com eficiência sua missão de mobilizar recursos de longo prazo e financiar o cresci-mento econômico sustentável.

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3 Isonomia competitiva na tributação da atividade econômica e do mercado de capitais (ver Seções 5.3 – Reforma Fiscal, 16 – Questões Tributárias , 16.17 – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), 16.15 – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), 16.18 – Contribuições sobre Mo-vimentação Financeira, e 16.19 – Tributação sobre Grandes Fortunas);

4 Novo regime previdenciário com equilíbrio entre regimes de repartição e capitalização (ver Seções 5.1 – Novo Modelo Previdenciário para Novos Tra-balhadores e 18 – Questões Previdenciárias);

5 Ampliação do acesso dos investidores ao merca-do de capitais com adequada proteção;

6 Ampliação do acesso das empresas ao mercado de capitais;

7 Fortalecimento e atuação harmonizada de re-guladores e autorreguladores (ver Seções 6.14 – Agências Reguladoras, e 23.3 – Harmonização de regras contábeis com padrões internacionais);

8 Esforço conjunto das entidades privadas em fa-vor da educação financeira e previdenciária, na promoção da cultura de mercado de capitais (ver Seção 1 – Educação Financeira); e

9 Contínuo aperfeiçoamento do PDMC assentado no caráter permanente da parceria das entida-des subscritoras do Plano Diretor em favor do mercado de capitais brasileiro por meio do Co-mitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais (CODEMEC) e do Comitê Executivo do Plano Diretor.

Como reação à crise financeira, ampliou-se nos últi-mos anos o volume de recursos públicos em reforço à capacidade de financiamento do BNDES. Entretanto, como tem sido reconhecido pelo Governo, é chegada a hora de o sistema financeiro privado aumentar sua participação e ocupar papel central na mobilização e oferta de recursos de longo prazo para o financia-mento dos investimentos. Um novo ciclo de desen-volvimento do mercado de capitais abrirá também maiores oportunidades para reforçar a atuação do BNDES sem ônus adicionais para as contas publicas.

10.1 AmPLIAçÃO dO ACeSSO dOS INVeStIdOreS AO merCAdO de CAPItAIS COm AdequAdA PrOteçÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a ampliação do acesso de investidores ao mer-cado de capitais, com isonomia de acesso a todas as informações e prevenção ou punição de negociação com informações privilegiadas.

O crescimento e o fortalecimento do mercado de ca-pitais também dependem da ampliação do acesso de amplas camadas da população, com adequada pro-teção aos investidores, por meio da adoção das me-lhores práticas de governança corporativa pelas em-presas do mercado, da gestão de riscos, da geração de produtos financeiros e de comunicação ajustados às características e às necessidades de cada segmen-to de investidores (suitability). Os procedimentos que garantem a equidade no tratamento das informações são componentes primordiais na elaboração de uma Política de Divulgação que possibilite que tais infor-mações sejam prestadas com qualidade, transparên-cia, veracidade, completude, consistência e tempes-tividade. Deve-se assegurar a todos os investidores igual acesso a todas as informações, coibindo-se de modo eficaz a negociação com informações privile-giadas (o insider trading) e assegurando-se a efetiva aplicação das leis, regulamentos e contratos, inclusi-ve mediante aplicação e divulgação de medidas puni-tivas que venham a ser aplicadas.

10.2 AmPLIAçÃO dO ACeSSO dAS emPreSAS AO merCAdO de CAPItAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a ampliação do acesso de empresas do setor

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Outro importante fator de crescimento e de fortale-cimento do mercado de capitais é a ampliação do acesso do maior número possível de empresas do setor produtivo. Isso se daria mediante a adoção, entre outras, de medidas que reduzam os custos e facilitem o acesso das empresas, inclusive as de ca-pital fechado, ao mercado de capitais. Esse objetivo poderia ser alcançado diretamente por intermédio de fundos focados no direcionamento de recursos a empresas emergentes. Ademais, contribuem para o fortalecimento do mercado de capitais a difusão do uso da securitização, bem como a utilização de de-rivativos como instrumento de gestão de riscos nas atividades operacionais e financeiras.

10.3 derIVAtIVOS e merCAdOS FuturOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o fortalecimento da regulação e da supervisão de derivativos e de mercados futuros que limi-tem o impacto destes sobre o risco sistêmico, a exemplo da Central de Exposição de Derivativos (CED), ao mesmo tempo em que não inviabili-zem o emprego desses importantes instrumen-tos de proteção contra flutuações de mercado.

A crise financeira internacional de 2008 alterou a percepção do papel e da importância das opera-ções com derivativos e dos negócios em mercados futuros. Derivativos e mercados futuros passaram a ser associados a operações fraudulentas e a opera-ções de alto risco (alta alavancagem) que fragilizam o setor financeiro. De fato, derivativos e mercados futuros operados de maneira irresponsável podem

ter profundas implicações negativas para todo o sis-tema financeiro. Contudo, seu papel, se adequada-mente regulado e supervisionado, continuará a ter grande importância.

Derivativos são direitos negociáveis lastreados em ativos reais, tais como commodities, ações ou quo-tas de imóveis. Por terem prazo de vencimento, são negociados em mercados futuros, nos quais a con-clusão das operações que envolvem esses direitos é fixada em data futura e os preços dos direitos va-riam em função da convergência entre as cotações desses direitos e o preço nos mercados à vista dos ativos reais que os lastreiam. O propósito funda-mental dos derivativos e dos mercados futuros é o de oferecer proteção contra flutuações de preços de ativos (hedge) e de criar alternativa de aplicação de poupança. Assim, um comprador de commodity que pretende liquidar a compra em data futura tem a alternativa de também comprar um derivativo (no caso, adquirir uma opção de compra) que fixe o preço que pagará à vista quando do vencimento da operação. Já um investidor poderá vender um di-reito sobre ativo real que possua ou que possa com-prar (no caso, lançar uma opção de compra), fixan-do a cotação desse direito de tal maneira que sua materialização (o exercício da opção de compra) propicie retorno a taxa compatível com o de outras alternativas de investimento.

10.4 VArAS dA juStIçAeSPeCIALIZAdAS em mAtérIASLIgAdAS AO merCAdO de CAPItAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a criação de Varas da Justiça especializadas em matérias específicas do mercado de capitais, que propiciem o exame técnico em profundida-de dos aspectos complexos de operações finan-ceiras que são objeto de lides judiciais.

capítulo 10: merCAdO de CAPItAIS

produtivo ao mercado de capitais, mediante a redução dos custos, a securitização de ativos e a utilização de derivativos.

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As operações do mercado de capitais se beneficia-riam grandemente de maior celeridade das deci-sões judiciais que envolvem matérias ligadas a in-vestimentos de longo prazo e a questões societárias. Para tanto, seria adequada a criação de Varas da Justiça especializadas em matérias específicas do mercado de capitais, cobrindo as questões da área financeira, societária e de títulos e valores mobiliá-rios, com o objetivo de agilizar e aumentar a eficá-cia do Poder Judiciário no julgamento das ações e execução da lei nessas áreas, como forma de tornar mais efetiva a aplicação da legislação, minimizar riscos, reduzir spreads e o custo de capital. Com o mesmo objetivo, recomenda-se estimular a utiliza-ção de Câmaras de Arbitragem.

Com isso, a CNF reforça que não se pode perder de mira as lições de Nelson Eizirik, destacando a singu-laridade e especialização afetas às operações cursa-das no mercado de capitais que revolvem natureza e cenário de “risco, uma vez que os investidores não tem qualquer garantia quanto ao retorno dos seus investimentos, que dependerá dos resultados do empreendimento econômico desenvolvido pela companhia. Embora as operações constituam inves-timento de risco, são, usualmente, dotadas de liqui-dez, isto é, podem ser rapidamente transformadas em dinheiro, particularmente quando admitidas à negociação na bolsa de valores (EIZIRIK, 2008)”.

Os princípios da transparência (full disclosure) e da efetiva observância da boa governança corporati-va (que se consolida a partir da aplicação cotidiana das melhores práticas em prol dos investidores e do nicho mercadológico) investiram a Comissão de Valo-res Mobiliários (CVM), como agência reguladora (Lei nº 6.385/1976), de poderes para regular, fiscalizar e sancionar todas as atividades que tratem da emissão, distribuição, negociação, intermediação, administra-ção de carteiras, custódia, auditoria das companhias abertas, os serviços de consultor e analista de valores mobiliários, sem prejuízo da organização e funciona-mento das Bolsas de Valores, clearings e demais agen-tes que atuam no segmento do mercado de capitais.

Por fim, segundo o entendimento da maioria dos doutrinadores e com estribo em diversas publica-ções e artigos, as operações estruturadas segundo os institutos que permeiam a seara do mercado de capitais ainda não foram devidamente assimiladas e compreendidas no âmbito do Poder Judiciário, notadamente nas unidades federativas em que ain-da não foram criadas Varas especializadas no seg-mento mercadológico.

10.5 ACeItAçÃO de gArANtIAS de INVeStIdOreS eStrANgeIrOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a constituição de garantias para operações no mercado de capitais brasileiro utilizando ati-vos financeiros de alta liquidez mantidos por investidores no exterior.

Garantias desempenham papel fundamental em muitas operações financeiras. De maneira geral, a avaliação de garantias considera essencialmente sua liquidez e os procedimentos – administrativos ou ju-diciais – para executá-las. Nesse quadro, é indiferen-te para o agente financeiro se a garantia é prestada por investidores nacionais ou estrangeiros, se man-tidas no Brasil ou no exterior. O afluxo de recursos internacionais para o mercado de capitais brasileiro seria grandemente aumentado por meio de ajustes na regulação, de forma a permitir que investidores estrangeiros possam constituir garantias para suas operações no Brasil utilizando ativos financeiros de alta liquidez por eles mantidos no exterior.

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10.6 regIStrO NO CAde de PArtICIPAçÃO ACIONÁrIA POr FuNdOS de PrIVAte equItY e VeNture CAPItAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a explicitação das normas de registro no Conse-lho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para aquisições de participação acionária por Fundos de Private Equity e Venture Capital.

Os fundos de participação acionária (Private Equity) e de capital de risco (Venture Capital) representam importante fonte de recursos de longo prazo aos quais não estão associadas taxas de juros, mas sim expectativa de retorno para seus investidores. Ao ampliarem o capital das empresas em que investem, esses fundos permitem reestruturação financeira das companhias e seu fortalecimento para investir em inovação e se tornarem mais competitivas. Tais investimentos, contudo, esbarram na ausência de uma interpretação clara das normas de registro no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para aquisições de participação acionária por Fundos de Private Equity e Venture Capital.

10.7 utILIZAçÃO de reCurSOS dOFgtS PArA AquISIçÃO de AçõeS

Na Constituição Federal, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço constitui reserva sobre a qual se aplicam multas rescisórias e à qual o trabalhador pode recorrer seja para custear suas despesas en-quanto busca recolocação profissional, seja para for-mação de patrimônio (como compra de imóvel para uso próprio).

Como reserva, o FGTS poderia ter também outras des-tinações que atendessem aos mesmos objetivos de indenização e de formação de patrimônio. Entre essas destinações, destaca-se a aquisição de participação acionária em companhia abertas. No Brasil, a transpa-rência das demonstrações financeiras – que atendem aos mais sofisticados padrões internacionais –, a pu-blicidade dessas demonstrações e a eficácia das au-toridades reguladoras na supervisão das companhias de capital aberto limitam o risco de investimentos em ações dessas empresas. Numa perspectiva de longo prazo, como é a do FGTS, esse risco diminui ainda mais, chegando a equiparar-se, por exemplo, ao risco de des-valorização de imóvel adquirido com recursos do Fun-do. Ademais, a rentabilidade de longo prazo do merca-do acionário excede historicamente a remuneração do FGTS, hoje calculada à Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano, conforme estabelece a Lei nº 8.036/1990.

capítulo 10: merCAdO de CAPItAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a

autorização do uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para aquisição de par-ticipação acionária em companhias abertas, a qualquer tempo e a critério do trabalhador, como medida para estimular o crescimento do mercado de capitais e aumentar o retorno dos recursos depositados no FGTS.

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119capítulo 11: bANCO CeNtrAL

11 bANCO CeNtrAL

Bancos centrais acumularam experiência de séculos que permite identificar quais funções bem-sucedidas se coadunaram com seu papel de agente do Estado e quais, fracassadas, representaram retrocesso. Desde a primeira instituição que atuou como banco central (o Banco da Inglaterra, em 1694), passando pelo Ban-co da República Oriental do Uruguai (o primeiro Ban-co Central latino-americano, de 1896) e pelo Banco do Brasil (que, entre 1808 e 1964, executou várias das atividades de banco central), foram muitas as insti-tuições que desempenharam a grande função desse tipo de autarquia estatal: a busca da estabilidade, seja macroeconômica (pelo exercício das políticas monetária e cambial), seja microeconômica (pela re-gulação e supervisão do sistema financeiro).

O Banco Central do Brasil, criado pela Lei nº 4.595/1964, é hoje responsável pela formulação, exe-cução e acompanhamento da política monetária; pelo controle das operações de crédito em todas as suas formas, no âmbito do sistema financeiro; pela formulação, execução e acompanhamento da políti-ca cambial e de relações financeiras com o exterior;

pela organização, disciplinamento e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional, do Sistema de Paga-mentos Brasileiro e do Sistema Nacional de Habi-tação, e ordenamento do mercado financeiro; bem como emissão de papel-moeda e de moeda metálica, além da execução dos serviços do meio circulante. Também desempenha outras funções de normatiza-ção, autorização e fiscalização que envolvem socie-dades administradoras de consórcios, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades de crédito imo-biliário, as associações de poupança e empréstimo, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), as coo-perativas de crédito e fomento mercantil (factoring). Ademais, tem importante papel de assessor econômi-co do Governo e de fonte de informações para o pú-blico, tanto de caráter técnico quanto de orientação.

Hoje, as discussões sobre o Banco Central tratam, entre outras, das questões da missão e da estrutura da autarquia.

Quanto à missão, a experiência internacional e, so-bretudo, a experiência inflacionária brasileira reco-

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento das funções atuais do Banco Central do Brasil, de autori-dade monetária, de supervisor e regulador do Sistema Financeiro Nacional, ao abrigo de uma única autarquia, ao mesmo tempo em que recomenda cautela no exame de novas missões tais como a de fomentador do crescimento econômico e da geração de empregos, que extrapolem o mandato hoje exercido pelo Bacen.

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mendam cautela na discussão de outros mandatos para o Banco Central que excedam a busca da esta-bilidade da moeda e a regulação do Sistema Finan-ceiro Nacional. No caso do Brasil, o papel de “ban-queiro do Governo” ficou muito além do que seria adequado para uma sociedade que procura preser-var o valor da moeda. Também ficaria além o papel de fomentador do crescimento econômico, uma vez que função dessa natureza daria à autarquia a mis-são de buscar três objetivos – controle da inflação, indução da atividade econômica e geração de em-pregos – que nem sempre são compatíveis no curto prazo. O papel de depositário exclusivo das reservas internacionais, por sua vez, fica aquém do que se espera em matéria de gestão prudente de recursos públicos, ao induzir a concentração, numa única ins-tituição, de recursos que obteriam mais segurança e melhor rentabilidade se aplicados em várias outras instituições semelhantes. Igualmente aquém está hoje o papel de “banco dos bancos”, ou emprestador de última instância, uma vez que é o Fundo Garan-tidor de Créditos, uma entidade privada, que, em boa medida, passou a exercer essa função (ver Seção 12.10 – Fundo Garantidor de Créditos (FGC)).

Quanto à estrutura do Bacen, as funções de auto-ridade monetária e de órgão regulador foram abri-gadas numa única instituição, que deu resposta adequada à crise e minimizou seus efeitos. A expe-

riência internacional que isolou essas funções em duas instituições distintas (os chamados twin pe-aks) não se mostrou especialmente robusta para prevenir e mitigar a crise financeira internacional.

11.1 FuNçõeS de SuPerVISÃO bANCÁrIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras acredita que a função de supervisão bancária deva ser deixada a cargo do Banco Central do Brasil, autarquia que conta com pessoal qualificado e instrumental adequado para coletar e analisar as informações rele-vantes que indicam a solvência de instituições financeiras específicas e o nível de risco sistê-mico no setor financeiro.

A higidez do Sistema Financeiro Nacional é resultado direto de uma supervisão bancária eficiente, baliza-da por regras claras e inequívocas, às quais é dada a devida publicidade. A crise financeira internacional de 2008 demonstrou a importância de uma supervi-são bancária eficaz por parte de agência estatal com-petente. No Brasil, o Banco Central tem desempe-nhado com eficácia essa função, sem prejuízo de sua missão maior, que é a de preservar o valor da moeda.

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123capítulo 12: CrédItO

O crédito no Brasil passa por transformações estru-turais profundas, que resultam em aumento do vo-lume ofertado, ampliação do prazo médio e redução da margem bancária (spread).

Em relação ao PIB, o volume total de crédito passou de 24% em 2003 para 55,6%, em 2013, totalizando um montante de aproximadamente R$ 2.647 bilhões. Do volume total de crédito, as operações com recur-sos livres representaram 55,9%, e as provenientes de recursos direcionados, 24,5%. O crescimento dessas operações foi mensurado em 14,5% em relação ao ano anterior, constituindo um dos principais fatores que impactaram no crescimento expressivo do volu-me de crédito nos últimos anos.

Recursos direcionados triplicaram nos últimos doze anos, passando de 8,5% em 2001 para 24,5% do PIB em 2013. Hoje, para cada três reais concedidos pelos

bancos em modalidades de crédito livres, um é obri-gatoriamente concedido em modalidades direciona-das. A concessão de financiamentos a taxas subsi-diadas para determinados segmentos implica custos para o setor financeiro, uma vez que tais taxas são inferiores aos custos de captação e não cobrem des-pesas operacionais e de pessoal. Esses custos são diluídos na carteira total de operações de financia-mento, com o que são elevadas as taxas que incidem sobre as demais modalidades de financiamento.

Do lado das operações ativas dos bancos, houve um aumento progressivo dos prazos, em grande medida como resposta à disponibilização de novas modalidades de operações (como, por exemplo, a do crédito consignado) e, ainda, como resultado do próprio processo de estabilidade econômica. En-tre dezembro de 2003 e dezembro de 2013, o prazo médio dessas operações também seguiu a mesma

12 crédito

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia projetos voltados para a ampliação do acesso de pessoas físicas e jurídicas às diversas modali-dades de crédito. Para tanto, é essencial a expansão da bancarização, acom-panhada de educação financeira que contribua para o crédito consciente, a im-plementação do cadastro positivo e a redução dos fatores que condicionam as margens bancárias (tais como tributação sobre intermediação financeira e de-pósito compulsório). Para a CNF, a expansão do crédito deve se dar em um am-biente concorrencial de livre negociação em condições de igualdade para todas as instituições autorizadas a operar pelo Banco Central.

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tendência de crescimento. Esse ano, o prazo médio geral das operações de crédito alcançou 95,6 meses. Em especial, no segmento de pessoas físicas, os em-préstimos consignados e as operações de financia-mento de veículos foram os principais responsáveis por esse movimento.

As margens bancárias (spreads) vêm seguindo uma tendência de queda consistente nos últimos anos. Essas margens, em valores gerais, alcançaram 11,5% em 2013, frente aos 15,2% registrados no início de 2012. Essa tendência é muito mais acentuada no comportamento dos spreads em operações de pes-soas físicas, com queda de 21% em 2012 para 17% em 2013. Em comparação, o spread relativo às ope-rações para pessoas jurídicas tiveram uma queda menos acentuada, de 9% para 7%, aproximadamen-te. Essa tendência mostra que o Brasil tem convergi-do para os parâmetros internacionais.

12.1 ALIeNAçÃO FIduCIÁrIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-pansão do instituto da alienação fiduciária, de maneira a ampliar o leque de modalidades de crédito que poderiam se beneficiar de redução das taxas de juros, bem como para o aprimo-ramento do marco regulatório desse instituto, sem trazer ônus adicionais aos tomadores (tais como a criação de novos trâmites para regis-tro de bens móveis e/ou imóveis e de entraves burocráticos desnecessários). A CNF reafirma o entendimento de que o desaparecimento ou perecimento da coisa objeto do acordo não ex-tingue a responsabilidade pelo débito.

O instituto da alienação fiduciária constitui-se na transferência da propriedade de um bem móvel ou imóvel do devedor, ou fiduciante, para o credor, ou fiduciário, a fim de garantir a liquidação de uma dí-

vida ou obrigação. Ocorre quando da aquisição de bens a crédito, sendo o bem a própria garantia. O arcabouço da alienação fiduciária reduziu a inadim-plência e com isso promoveu aumento na concessão de crédito, principalmente o imobiliário.

Com o advento da Lei n° 9.514/1997, a alienação fiduciária deixou de ser exclusividade de bens mó-veis e passou a incluir os bens imóveis no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação. Desde então, o regime fiduciário tem estado presente na legislação voltada ao setor imobiliário, como é o caso da Lei n° 10.931/2004, que instituiu o Patrimônio de Afetação.

Uma discussão importante que envolve esse institu-to trata da extinção do contrato de alienação fidu-ciária quando houver o desaparecimento ou pere-cimento da coisa objeto do acordo, por motivo de força maior ou caso fortuito (como roubo ou furto). Com isso, o contrato de alienação fiduciária seria equiparado ao contrato de depósito. Ocorre que o perecimento da coisa alienada já foi devidamente regulado no Código Civil em seu artigo 1.436, no qual se estabelece os casos de cessação da propriedade fiduciária. Também o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou posicionamento no sentido de que o perecimento da coisa depositada exclui a obrigação do depositário de restituir o objeto do depósito, exi-mindo-o da conduta infiel, sem, contudo, excluir sua responsabilidade pelo débito.

12.2 CrédItO CONSIgNAdO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a todas as modalida-des de crédito, inclusive o consignado, que contemplem: livre fixação das taxas de juros; medidas de incentivo para redução das taxas de juros assentadas sobre livre concorrência, que impliquem igualdade de tratamento e de

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O crédito consignado compromete parcela da renda dos tomadores para pagamento direto das presta-ções, o que contribui para dar mais garantia à in-termediação financeira e reduzir o custo do crédito. Essa modalidade, além de ampliar o acesso dos trabalhadores ao crédito com condições mais favo-ráveis, contribui para o crescimento do mercado de consumo. Por ser uma modalidade recente, ainda carece de aprimoramentos.

Esse instrumento de crédito, principalmente depois da inclusão dos trabalhadores sob regime da CLT em 2003 e dos aposentados e pensionistas em 2004, tor-nou-se uma das modalidades de empréstimo que mais cresce no mercado brasileiro. Dados do Banco Central do Brasil mostram que a participação relativa desses empréstimos no total do crédito pessoal con-cedido pelo mercado, é de aproximadamente 68%, o que totaliza um montante de R$ 220,8 bilhões. Com-parado com o ano anterior, o volume dessa modali-dade de empréstimo apresentou um crescimento de 17,6%. Por se tratar de uma alternativa de dívida mais barata, houve uma forte migração dos contratos de crédito pessoal a favor dos empréstimos em consig-nação, com uma grande concentração dessa opera-ção para funcionários públicos e pensionistas do INSS, representando 61% e 30% do total, respectivamente.

As discussões sobre o consignado estão centradas, sobretudo, nas seguintes questões: as taxas de ju-ros cobradas, apesar de serem as mais atrativas; a margem de consignação; a exclusividade de alguns

bancos para concessão dessa modalidade de crédi-to a segmentos específicos (tais como servidores pú-blicos); requisitos para obtenção do crédito (como a presença física do cliente para contratação); e exten-são da consignação para outras obrigações contratu-ais, (por exemplo, aluguel e plano de saúde).

A limitação das taxas de juros é inócua, porque a re-dução dessas taxas passa pela construção de condi-ções que propiciem o aumento da oferta de crédito. Para tanto, a concorrência é fator fundamental tanto para redução dos custos quanto para ampliação da base de clientes.

Um caso específico de limitação de taxas de juros diz respeito a aposentados e pensionistas. Dispositivos legais dificultam a equiparação das taxas de juros cobradas desses tomadores de crédito consignado às cobradas de trabalhadores da ativa. Norma do INSS induz todas as instituições financeiras a sem-pre aplicarem, para dada unidade da Federação, as taxas de juros mais elevadas (§ 11 do artigo 1º da Instrução Normativa INSS/DC n° 121/2005). Por força da norma, os custos mais altos de originação cons-tituem o parâmetro para toda e qualquer operação de crédito no mesmo Estado para beneficiários do INSS; cria-se a situação curiosa em que o teto se con-verte em um piso de taxa de juros a ser aplicada a operações com aposentados e pensionistas – a taxa de juros para esse segmento, em um mesmo Estado, passa a ser a taxa mínima que é oferecida a todos os beneficiários do INSS.

Sobre a margem de consignação, a legislação prevê um teto de 30% da remuneração e dos benefícios do consignante, seja para trabalhadores do setor privado (Lei n° 10.820/2003), seja para servidores públicos (De-creto n° 6.386/2008 que regulamenta o art. 45 da Lei n° 8.112/1990). Esse teto está alinhado com a prática internacional e constitui-se em freio para o superen-dividamento, no caso de consignantes menos familia-rizados com operações financeiras ou mais propensos ao descontrole orçamentário. Nesse sentido, prolife-ram proposições tanto para elevar o teto, quanto para

condições para instituições financeiras (inde-pendentemente de seu porte e da natureza do controle de seu capital); liberdade de contra-tação por todos os segmentos da população; e exame cuidadoso dos impactos de outras consignações. A CNF também apoia propostas de educação financeira direcionadas para os segmentos da população que fazem maior uso do crédito consignado.

capítulo 12: CrédItO

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agenda do setor financeiro 2014126

reduzi-lo. Tais proposições refletem a conjuntura eco-nômica do momento em que são apresentadas, sem-pre cambiante. A alteração do teto por lei ordinária introduz rigidez que não é compatível com um cená-rio econômico em constante mutação. Também o Su-perior Tribunal de Justiça (STJ) tem exarado decisões no sentido da manutenção do teto de 30% da remu-neração ou dos benefícios para assegurar o mínimo existencial, noção resultante dos princípios constitu-cionais da isonomia e da dignidade da pessoa huma-na, consubstanciado nas normas dos artigos 1°, inciso III, e 3°, inciso III, da Constituição Federal.

Quanto à concentração dessa modalidade de crédi-to em alguns bancos, sejam instituições oficiais, se-jam instituições com capital superior a determinado patamar, esse tipo de reserva de mercado foi veda-da a partir de 1° de janeiro de 2012 pela Resolução CMN n° 3.424/2006. No âmbito judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem decidido pelo fim da ex-clusividade na concessão do crédito consignado ao funcionalismo público dos Estados. Em 2012, dois Decretos Estaduais, um da Bahia e outro do Mato Grosso do Sul, foram objetos de decisões monocrá-ticas da Presidência da Corte que, ao negarem pro-cedência à suspenção de segurança solicitada pelos Governos desses dois Estados, liberou a concessão de empréstimo consignado aos servidores públicos desses Estados a todas as instituições financeiras. Na fundamentação dessas decisões, afirmou-se que a vedação à exclusividade está em consonância com os princípios constitucionais da ordem econômica, entre eles o da livre iniciativa (artigos 1º, IV, e 170, caput) e da livre concorrência (art. 170, IV).

No que toca aos requisitos para obtenção de crédi-to, os projetos que tramitam no Congresso Nacional cobrem situações diversas como presença física do cliente para contratação com vedação para consigna-ção por meio de caixas automáticos, necessidade de registro notarial de operações, exigência da presença de familiares quando da contratação de empréstimo por idosos, para mencionar alguns casos. O traço co-mum desses projetos é a preocupação com a preven-

ção de fraudes e a coação de tomadores hipossufi-cientes, ambas previstas no Código Penal. Entretanto, proposições nesse sentido requerem cautela na me-dida em que podem afetar a capilaridade na distri-buição dos recursos e o volume de crédito ofertado.

Por fim, a extensão da consignação a, por exemplo, aluguel e plano de saúde se, por um lado, simpli-fica procedimentos operacionais e poupa tempo aos consumidores, por outro lado, introduz outras obrigações contratuais que concorrerão com o con-signado de crédito pela mesma garantia, lastreada na renda do tomador. Como resultado, pode ocorrer o encarecimento dessa modalidade, o que requer exame cuidadoso.

12.3 reCurSOS de PreVIdêNCIA COmPLemeNtAr dAdOS em gArANtIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a prestação de novas garantias que facilitem o acesso à diversas modalidades de crédito, que contemplem: livre fixação das taxas de juros; medidas de incentivo para redução das taxas de juros assentadas sobre livre concorrência, que impliquem igualdade de tratamento e de condições para instituições financeiras (inde-pendentemente de seu porte e da natureza do controle de seu capital) e liberdade de contra-tação por todos os segmentos da população. A CNF apoia projetos voltados para o uso de recursos de previdência complementar como garantia fiduciária para um amplo leque de modalidades de crédito.

Em um cenário de crescente demanda por serviços bancários e de estímulos à expansão do crédito no Brasil, aumenta a necessidade de diversificação das modalidades de garantia ao crédito e de fortaleci-mento da segurança nas transações. Um dos fatores

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que influenciam o custo do crédito no país é o risco potencial de inadimplência por parte dos tomadores.

Atualmente, a Lei nº 11.196/2005, em seu capítulo XII, artigo 84, permite ao participante de plano de previ-dência complementar oferecer como garantia fiduci-ária, nas operações de financiamento imobiliário, as quotas de sua titularidade em fundos de investimen-tos e seguros de vida com cobertura por sobrevivên-cia. No entanto, tal possibilidade ainda não foi regu-lamentada para as demais modalidades de crédito.

A ampliação do rol de garantias dadas em operações de empréstimos e financiamentos implicaria signifi-cativo incremento na oferta de crédito, acarretando maior competição por taxas e condições mais favorá-veis ao tomador de empréstimos. A prestação dessa nova modalidade de garantia serviria de estímulo à inclusão financeira e fomentaria o crédito sustentá-vel, sem os efeitos colaterais do superendividamen-to ou comprometimento excessivo da renda.

12.4 CrédItO dIretOAO CONSumIdOr (CdC)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a amplia-ção do acesso ao crédito direto ao consumidor e o aumento do volume de recursos ofertados nessa modalidade que se assentem nos princí-pios constitucionais da livre concorrência e da liberdade para atividade econômica, com livre renegociação de dívidas e livre pactuação de taxas de juros. Para a CNF, o segmento de to-madores de CDC constitui público prioritário para programas de educação financeira.

O CDC, por não contar com garantias reais, é uma mo-dalidade que será particularmente beneficiada pelo histórico de adimplemento dos tomadores (o cadas-tro positivo) acessível a todos os fornecedores de cré-

dito, de maneira a incrementar as vendas de bens de consumo duráveis, com consequente estímulo para a atividade econômica e a geração de empregos.

Dados do Banco Central do Brasil mostram que a participação relativa desses empréstimos no total do crédito pessoal concedido pelo mercado, é de aproximadamente 68%, o que totaliza um montante de R$ 220,8 bilhões. Comparado com o ano anterior, o volume dessa modalidade de empréstimo apre-sentou um crescimento de 17,6%. Por se tratar de uma alternativa de dívida mais barata, houve uma forte migração dos contratos de crédito pessoal a favor dos empréstimos em consignação, com uma grande concentração dessa operação para funcioná-rios públicos e pensionistas do INSS, representando 61% e 30% do total, respectivamente.

12.5 CéduLA de CrédItObANCÁrIO eLetrôNICA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que buscam con-ferir eficácia de documento físico à Cédula de Crédito Bancário emitida por meio eletrônico. Os títulos de crédito em geral tem como requisi-to da sua validade a emissão na forma escrita, porém a evolução da tecnologia digital torna possível a criação da Cédula de Crédito Bancá-rio Eletrônica, ideia amparada pela doutrina.

A Cédula de Crédito Bancário é um título de crédito estrito senso, emitido por pessoa física ou jurídica em favor de instituição financeira ou entidade a esta equiparada, dotado de cartularidade, literalidade e autonomia, transmitido por meio de endosso em preto, ao qual se aplicarão, no que couberem, as nor-mas de direito cambiário.

Quanto à confecção do título, entende-se como des-necessária a exigência da emissão em papel, con-

capítulo 12: CrédItO

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agenda do setor financeiro 2014128

siderando que todas as relações entre o credor e o devedor podem ser documentadas, independente-mente do meio físico. Para o Professor Fábio Ulhôa Coelho: “se o documento nem sequer é emitido, não há sentido algum em se condicionar a cobrança do crédito à posse de um papel inexistente. Representa uma dispensável formalidade exigir-se a confecção do título em papel, se as relações entre credor e de-vedor documentaram-se todas independentemente dele” (Curso de Direito Comercial. 9ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, v. 1, p. 385).

Os títulos de crédito em geral têm como requisito da sua validade a emissão na forma escrita. Porém, com a evolução da tecnologia digital, tornou-se possível a Cédula de Crédito Bancário Eletrônica que, mesmo desprovida de forma física, teria a mesma eficácia do documento em papel.

O melhor meio para a criação dessa nova modalidade de Cédula de Crédito Bancário seria a alteração do art. 29, da Lei nº 10.931/2004 para conferir eficácia de do-cumento físico à cédula emitida por meio eletrônico.

12.6 mICrOCrédItO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a am-pliação do acesso ao microcrédito e o aumento do volume de recursos disponíveis para essa modalidade, assentadas no princípio constitu-cional da liberdade econômica, que assegurem igualdade de condições a todas as instituições dispostas a operar esse tipo de financiamento e liberdade para fixação de taxas de juros e de limites financeiros para os tomadores.

O microcrédito é uma modalidade de financiamento de baixos montantes a micro e pequenos negócios. Proporciona acesso ao crédito a pequenos empreen-dedores que, por comumente não contarem com ga-

rantias reais para empréstimos, têm dificuldade para obter financiamento nas modalidades tradicionais. O capital obtido com o empréstimo é geralmente usado para modernizar ou ampliar os instrumentos de trabalho. De maneira geral, os repagamentos de empréstimos são canalizados para outras operações de microcrédito, para tomadores da mesma comu-nidade. Com isso, a solidariedade e a coesão social desempenham papel crítico no funcionamento das carteiras de microcrédito, que normalmente apre-sentam taxas de inadimplência muito baixas.

Em 2013, a demanda por microcrédito no Brasil apre-sentou um ritmo de crescimento intenso. Segundo dados do Banco Central, essa modalidade de opera-ção alcançou o montante de R$ 4,873 bilhões, o que representa um aumento de 26,7% em relação ao ano anterior. Entretanto, estima-se que apenas 25% dos 10 milhões de clientes potenciais tenham acesso a essa modalidade de crédito, o que demonstra ser ainda necessários aprimoramentos no sistema de concessão do microcrédito.

O microcrédito proporciona acesso ao crédito para empreendimentos que, dada sua simplicidade, têm di-ficuldade para obter financiamento nas modalidades tradicionais, comumente desenhadas para atender empresas de maior nível de faturamento anual. O capi-tal obtido com o empréstimo visa à aquisição de equi-pamentos e instalações, a modernização e ampliação da capacidade produtiva e demais necessidades rela-cionadas à atividade empreendedora. A atuação em microcrédito conta ainda com metodologia própria que garante a orientação e acompanhamento dos re-cursos aplicados durante a vigência do financiamento.

Em 2005, foi promulgada a Lei n° 11.110, que insti-tui o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), com os objetivos de: incentivar a geração de trabalho e renda entre os microempre-endedores populares; disponibilizar recursos para o microcrédito produtivo orientado; e oferecer apoio técnico às instituições de microcrédito produtivo orientado, com vistas ao fortalecimento institucional

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destas para a prestação de serviços aos empreende-dores populares. O Banco Central, também em 2005, publicou a Resolução n° 3.310, que estabelece que os bancos múltiplos com carteira comercial, os ban-cos comerciais e a Caixa Econômica Federal devem manter aplicados em operações de microcrédito des-tinadas à população de baixa renda e a microempre-endedores, valor correspondente a, no mínimo, 2% (dois por cento) dos saldos dos depósitos à vista cap-tados pela instituição. Caso a instituição não aplique esses recursos em operações de microcrédito, será obrigada a recolher esses recursos compulsoriamen-te sem remuneração junto ao Banco Central.

O microcrédito é relevante como política pública para inclusão produtiva e fomento do empreendedo-rismo no país, com o incentivo do Governo para dina-mizar a ampliação do acesso ao crédito e estimular o desenvolvimento dos empreendimentos formais e informais do mercado.

São necessários aprimoramentos no microcrédito para ampliar tanto o acesso de tomadores quanto o volume de recursos colocados à disposição destes. Para as instituições financeiras, os custos operacio-nais e financeiros muitas vezes superam largamente a receita oriunda do financiamento de pequeno va-lor, a taxas de juros reduzidas, vinculadas gratuita-mente a assessoria técnica ao cliente.

Por fim, as instituições que operam o microcrédito sob o amparo do Programa Crescer contam com o auxílio da subvenção econômica do Governo Federal, para cobrir parte dos custos financeiros e operacio-nais do MPO, cuja taxa de juros é fixada em 5% ao ano.

12.7 CrédItO rurAL

No Congresso Nacional, existem mais de setenta projetos que tratam de crédito rural. A maioria deles propõe o alongamento e a renegociação de dívidas, enquanto outros tratam da impenhorabilidade do maquinário agrícola, da liberação de garantias hipo-tecárias e da inexigibilidade de seguros.Seriam opor-tunos também projetos e propostas relacionados à proteção da renda dos produtores rurais, mitigação dos riscos, ampliação da assistência técnica, regula-ção das relações contratuais, simplificação de pro-cessos e redução de custos operacionais.

Dada a importância desse setor que sustenta o su-perávit da balança comercial, representa 22% do PIB brasileiro e é responsável por 33% dos empre-gos no País, a continuidade e ampliação de politicas de apoio, a exemplo dos recursos direcionados e da implementação de programas como o Progra-ma Agricultura de Baixo Carbono (ABC), o Progra-

capítulo 12: CrédItO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso de produtores rurais ao

crédito e o aumento do volume ofertado para essa modalidade de financiamento que se as-sentem no cumprimento das políticas públi-cas, no desenvolvimento do país, na geração divisas para País e na agregação e geração de renda no campo. A CNF sublinha que subsídios concedidos a operações de crédito direciona-das devem ser utilizados de forma a propiciar custos compatíveis com as especificidades da atividade agropecuária e sua geração de recei-tas nos empreendimentos agropecuários. Além disso, deve-se buscar a ampliação da oferta de recursos nas modalidades livres para atendi-mento das demandas de crédito dos diversos elos da cadeia do agronegócio, bem como a definição e inclusão de dispositivos contratu-ais da adoção de instrumentos de mitigação dos riscos atinentes à atividade agropecuária. Para a Confederação, os tomadores de crédito rural se beneficiariam grandemente da inclu-são de disciplinas de educação financeira no sistema de educação rural.

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agenda do setor financeiro 2014130

ma de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro), o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa Nacional de Apoio aos Médios Produtores Rurais (Pronamp) propiciam a sustenta-ção e fixação do homem no campo com dignidade e renda, bem como a ampliação do uso de novas tecnologias no agronegócio brasileiro.

Já sobre a suspensão ou prorrogação de obrigações financeiras na ocorrência de condições climáticas adversas, doenças ou ataques de pragas tecnica-mente incontroláveis, bem como flutuações dos preços dos produtos agropecuários, discute-se na verdade uma apólice de seguro. Operações de fi-nanciamento não se confundem com apólices de seguro, que preveem a cobrança de um prêmio ao qual corresponde indenização na hipótese de ocorrer o sinistro coberto pelo contrato. Os riscos envolvidos numa operação financeira não são os de ocorrência de sinistros, mas sim os ligados a des-casamentos de taxas, de prazos e de moedas, bem como os vinculados à capacidade de adimplemen-to do tomador. A inclusão de um seguro implícito nas operações de financiamento, sem o correspon-dente prêmio oneraria ainda mais a operação, com reflexos sobre o volume de crédito ofertado e as margens bancárias de outras modalidades de fi-nanciamento. Deve-se buscar ampliação ou criação de outros instrumentos de mitigação de riscos para proteção contra intempéries agrícolas e oscilações de preços das commodities. Mecanismos como Se-guro Rural, Proagro, Contratos Futuros, de Opções ou a Termo, Seguros de Faturamento, entre outros. A utilização de mitigadores de risco minimiza a per-da de renda por parte dos produtores rurais mesmo que ocorra algum tipo de intempérie, tais como se-cas, pragas, incêndios, alagamentos, e outras, além de prover os produtores rurais de mecanismo de proteção contra oscilações de preço dos produtos agropecuários, tais como contratos futuros e op-ções na bolsa de valores.

12.8 COOPerAtIVAS de CrédItO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a expansão e o fortalecimento da rede de coo-perativas de crédito, importante instrumento de bancarização e de ampliação do acesso a fi-nanciamentos, que preservem o caráter solidá-rio de operações passivas e ativas limitadas aos cooperados, no entendimento de que a equipa-ração das cooperativas de crédito a instituições bancárias, sem a correspondente regulação e supervisão, introduz grave risco sistêmico que afeta a economia como um todo.

Recentes alterações na legislação introduziram pro-fundas mudanças no sistema de crédito cooperativo para flexibilizar a prestação de serviços de nature-za bancária aos associados. A Lei Complementar nº 130/2009, e a Resolução nº 3.859 do Conselho Mone-tário Nacional, de maio de 2010, introduziram inova-ções que aproximam cada vez mais os regulamentos legais das cooperativas de crédito às normas bancá-rias. Essas inovações vão desde a criação de novas hipóteses de captação de recursos até a autorização para que as cooperativas possam fazer distribuição de cotas de fundos de investimento.

Dados de 2012 do Banco Central demonstram que as cooperativas de crédito estão em acelerado cres-cimento em relação às instituições financeiras. Em-bora ainda ocupem um espaço pequeno no Sistema Financeiro Nacional, o segmento vem apresentando expressivo crescimento, não apenas em volume, mas também em percentual de participação na área bancária. No início de 2014, dados do BACEN davam conta da existência de 1.229 Cooperativas de Crédi-to no Brasil que administravam ativos totais acima de R$ 103 bilhões.

A estrutura do cooperativismo de crédito também vem sendo organizada no âmbito sindical. Em 2010,

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o sistema confederativo de representação sindical das cooperativas reunia mais de quarenta entidades com registro no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em 2010, o MTE reconheceu a criação da Con-federação Nacional das Cooperativas (CNCOOP), que agrega, entre outras cooperativas, as de Crédito.

No Congresso Nacional, tramitam diversos projetos de lei no sentido de incentivar ainda mais o desenvolvi-mento do setor cooperativista. As proposições apre-sentadas pretendem, em grande parte, a isenção de tributos, a autorização de utilização dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e o recebimen-to de repasses de recursos dos Fundos Constitucio-nais. Outros projetos pretendem autorizar a prestação de serviços pelas cooperativas, que hoje somente são realizados pelos bancos ou correspondentes no país.

As cooperativas de crédito passaram a ter papel mais relevante na ampliação da bancarização, sobretudo pela identificação de novos nichos de mercado. A ampliação do escopo de atividades das cooperativas de crédito terá implicações positivas para diluição da concentração bancária, diversificação do leque de instituições, aumento da concorrência e lançamento de novos produtos, entre outros.

12.9 eXtINçÃO dA gArANtIA reAL SObre ImóVeIS de FrONteIrA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para apri-moramento e expansão do instituto da aliena-ção fiduciária que possibilitem o registro de imóveis situados em faixa de fronteira como garantia fiduciária para operações de bancos de capital estrangeiro.

Entre outras determinações, a Lei nº 6.634/1979, que dispõe sobre o tratamento de áreas de fronteira veda às instituições financeiras estrangeiras o recebimento

de imóveis situados em faixa fronteiriça como garantia de suas operações, a título de propriedade fiduciária.

A referida Lei proíbe transações com imóvel rural, que impliquem a obtenção, por estrangeiro, do do-mínio, da posse ou de qualquer direito real sobre o imóvel. Além disso, veda a participação, a qualquer título, de estrangeiro, pessoa natural ou jurídica, em pessoa jurídica que seja titular de direito real sobre imóvel rural.

Sob a alegação do atendimento ao disposto na Lei nº 6.634, cartórios de registro de imóveis vêm se re-cusando a registrar garantias das quais conste como credora instituição financeira nacional de capital es-trangeiro. Tal procedimento impede a obtenção de boas garantias para operações bancárias, que con-tribuem para a higidez do sistema como um todo e a diminuição do spread bancário.

Para a Confederação, o tratamento apropriado dos dispositivos legais atualmente em vigor que versam sobre a alienação fiduciária de coisa imóvel seria so-lução adequada para o problema. As normas gerais estão nos artigos 1.361 a 1.368 do Código Civil, ao passo que as específicas constam dos artigos 22 a 33 da Lei nº 9.514/1997.

Aplica-se também à alienação fiduciária a vedação ao pacto comissório, pelo qual o credor pode ficar com o bem que lhe foi dado em garantia. Assim, a propriedade inerente à alienação fiduciária em ga-rantia é resolúvel, estando limitada ao exercício do direito de garantia. Daí que, em nenhuma hipótese, a instituição financeira poderá ter a propriedade do imóvel em sua plenitude.

O art. 1.365 do Código Civil estabelece que “é nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento”. Da mesma forma, o art. 27 da Lei nº 9.514/1997, ao prescrever o procedimento para a excussão da garantia, estabelece que “uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fidu-

capítulo 12: CrédItO

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agenda do setor financeiro 2014132

ciário, no prazo de trinta dias, contados da data do registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promo-verá público leilão para a alienação do imóvel”.

Assim, entende-se que os incisos V e VI do art. 2º da Lei nº 6.634/1979 já não se aplicam às garantias da-das às instituições financeiras de capital estrangeiro, motivo pelo qual seria possível a essas instituições receber em garantia, por alienação fiduciária, imó-veis situados na faixa de fronteira.

12.10 FuNdO gArANtIdOr de CrédItOS (FgC)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação da cobertura do Fundo Garantidor de Créditos que mantenham o seu caráter pri-vado e seus objetivos estatutários atuais, bem como confiram à gestão do Fundo total auto-nomia para fixar a natureza e os limites das garantias, cujo financiamento por meio de re-colhimento de fração do saldo das modalida-des cobertas possa ser suspenso sempre que o patrimônio do FGC atingir patamar compatível com seus propósitos.

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma enti-dade privada, sem fins lucrativos, com o objetivo de administrar recursos destinados à proteção dos titulares de créditos contra a insolvência bancária. Sua missão é contribuir para a proteção do peque-no poupador, promover a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional e prevenir contra uma possível crise bancária sistêmica.

O Fundo foi criado em 1995 pela Resolução n° 2.197 do Conselho Monetário Nacional (CMN). Hoje, o valor máximo da garantia proporcionada pelo FGC está estabelecido em R$ 250.000,00.

No ano de 2008, o FGC teve papel importante no sen-tido de amenizar a crise, quando passou a comprar carteiras de crédito em um cenário de redução de li-quidez. Ao longo de seus anos de existência, o Fundo foi-se adaptando às mudanças da economia nacio-nal, tornando-se um instrumento de apoio ao crédi-to, com capacidade de mitigar cenários de estresse.

O patrimônio do FGC, de mais de 33 bilhões de re-ais, alimentado por contribuições mensais privadas das instituições financeiras, já atingiu um patamar adequado para proporcionar a diminuição ou a sus-pensão das contribuições, nos termos do art. 3º do Anexo II à Resolução n° 4.087/2012 – Regulamento do Fundo Garantidor de Créditos.

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135capítulo 13: CrédItO ImObILIÁrIO

O crédito imobiliário passou por uma grande expansão na última década. A partir da definição de um modelo que trouxe sustentação e garantias ao crédito imobi-liário, aliado ao crescimento do investimento gover-namental e da implementação de políticas públicas de habitação mais modernas, essa modalidade não parou de crescer. As leis que instituíram a alienação fiduciária, a securitização de recebíveis imobiliários, o Patrimônio de Afetação e a regra do incontroverso ofereceram o arcabouço institucional necessário para alavancar o setor. Antes desse marco, não havia es-tímulos às instituições financeiras, já que o risco era excessivamente elevado para o retorno das operações.

O Brasil vive um momento de estabilidade política e econômica que muito contribui para a expansão do crédito imobiliário. Existe uma confiança maior no mercado e um crescente acesso ao crédito por parte da população, especialmente a de baixa renda. O mer-cado também tem atraído investidores estrangeiros.

A expansão do setor não impede que certas preocu-pações sejam revisitadas. O provimento de recursos

de longo prazo (funding), ainda muito dependentes dos depósitos de poupança, cria a necessidade de se desenvolver um mercado secundário de recebíveis imobiliários, o qual responderá pelo volume de re-cursos necessários à continuidade do crescimento.

A Letra Financeira Imobiliária (LFI), como título de longo prazo, é uma das alternativas de funding que poderá substituir a poupança e os recursos do FGTS no crédito imobiliário. Para a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP), a LFI é a versão dos Covered Bonds, títulos emitidos por bancos com a garantia de carteiras de crédito imobiliário, no mercado de capitais brasileiro, que se pretende criar por meio de legislação.

Além disso, ainda é preciso expandir o instituto da alienação fiduciária, aprimorar o patrimônio de afe-tação, desburocratizar as transações e promover a dedutibilidade de juros do financiamento imobiliá-rio do imposto de renda.

13 CrédItOImObILIÁrIO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas tanto para a inovação e diversificação de fontes de financiamento para o crédi-to imobiliário quanto para o aprimoramento dos instrumentos para concessão desse tipo de crédito, bem como para a assunção de obrigações, pelos toma-dores, por meio de contratos claros e transparentes que ofereçam segurança jurídica a todas as partes envolvidas.

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13.1 POrtAbILIdAde dO CrédItO ImObILIÁrIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a simplificação do processo de portabilidade do crédito imobiliário e vê como positivas as iniciativas que buscam regulamentá-lo. Para a CNF, propostas de regulamentação dessa portabilidade devem levar em consideração as particularidades de um contrato de financia-mento imobiliário, sobretudo a garantia e os custos de originação.

Em agosto de 2012 foi sancionada sem vetos a Lei n° 12.703/2012, decorrente da Medida Provisória nº 567/2012, que trata da caderneta de poupança e da alienação fiduciária de coisa imóvel. A lei introduziu a questão da portabilidade do crédito imobiliário, deixando sua regulamentação para o Conselho Mo-netário Nacional (CMN).

O setor de crédito imobiliário, apesar de entender que a referida lei simplifica o processo de portabilida-de dessa modalidade, acredita que a ausência de re-gulamentação traz incertezas aos agentes financeiros.

Entre as dúvidas quanto aos efeitos da portabilidade está o impacto nas operações de securitização, que têm importância crescente para o funding do crédito imobiliário. Se a portabilidade provocar o pré-paga-mento em massa dos contratos em vigor, os instru-mentos securitizados perderão lastro, com impacto sobre os preços, o que imporá um aumento do prê-mio de risco cobrado dos tomadores. Outra dúvida diz respeito à necessidade de atualização constante dos títulos dados em garantia, o que também pode-ria afetar o sistema e encarecer a operação.

Também o custo da originação do crédito imobiliá-rio é afetado pela portabilidade. Esse custo envolve a identificação do cliente, a sua avaliação de crédito,

a avaliação do valor de mercado do imóvel, despe-sas cartorárias e de assistência jurídica, entre outros. Hoje, ele é recuperado ao longo do contrato, mas, na hipótese de transferência prematura da opera-ção de um agente financeiro para outro, o retorno desse custo não acontece.

13.2 CONCeNtrAçÃO de AtOS regIStrAIS NA mAtrÍCuLA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a simplificação dos procedimentos e registros notariais, na medida em que tais propostas re-presentem economia de tempo e recursos para as partes envolvidas, reforcem a segurança jurídica das relações contratuais e facilitem, também pelos termos e expressões emprega-dos, a clara compreensão pelos mutuários de seus direitos e obrigações.

Aliada à implantação do registro eletrônico, a concentração dos ônus na matrícula permitirá vi-sualizar em um único documento (a certidão da matrícula) todas as informações que conduzam à segurança jurídica de uma transação imobiliária, dispensando a obtenção de certidões judiciais em nome dos vendedores e dos que lhes antecederam na propriedade do imóvel.

A concentração dos atos registrais na matrícula não só facilita os trâmites, como também proporciona redução do tempo de espera nos processos de finan-ciamento e nos custos incorridos pelo tomador, já que bancos e instituições financeiras não precisarão exigir tantas certidões antes de conceder o crédito. A concentração da matrícula também contribui para a modernização tecnológica da sociedade brasileira, que caminha para a informatização de processos e procedimentos. Confere maior agilidade à consulta e preservação mais segura da informação, além da

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unificação de dados, o que permite uma gestão da informação mais eficiente.

Não faz sentido falar-se em concentração da matrí-cula se o processo de registro notarial da transação imobiliária desdobrar-se em várias providências car-toriais, com ônus para o tomador tanto financeiro quanto no uso do seu tempo.

A concentração dos ônus da matrícula também con-tribui para aumentar a transparência da transação imobiliária, inclusive por facilitar a compreensão da redação contratual. A legislação de registros públi-cos constitui um emaranhado de disposições, mui-tas das quais com emprego de termos e expressões que dificultam a compreensão por parte do cidadão, que fica sem saber ao certo quais as atribuições de cada serviço extrajudicial. Tais dificuldades geram insegurança jurídica. Nesse quadro, há necessidade de se facilitar a transação imobiliária e proporcionar maior transparência e clareza nas informações, de modo que a Administração Pública e o cidadão sai-bam, com certeza, em qual notário efetuar o registro e, também, onde procurar os atos de seu interesse.

13.3 dePóSItOS de CAderNetA de POuPANçA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o equilíbrio econômico e financeiro entre mutuá-rios de crédito imobiliário e poupadores. Para a CNF, tais propostas poderiam visar à expansão do saldo de depósitos em caderneta de pou-pança por meio da livre negociação de taxas de juros, acompanhada da criação de instru-mentos de captação de longo prazo destinados ao financiamento do crédito imobiliário, com-patíveis com os custos desse financiamento.

As discussões sobre depósitos em caderneta de pou-pança e financiamento imobiliário estão centradas em duas questões, a saber: a possibilidade de os recursos de poupança serem insuficientes para ge-rar fundos destinados ao financiamento imobiliário e a perspectiva de a remuneração da caderneta de poupança situar-se acima de outras aplicações fi-nanceiras, à medida que caem as taxas de juros, o que encareceria o crédito imobiliário.

Sobre a disponibilidade de recursos da poupança, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imo-biliário e Poupança (Abecip) estima que as contra-tações de operações de financiamento imobiliário crescerão entre 15% e 20% em 2014, para atingir R$ 126 bilhões. Ocorre que os depósitos em caderneta de poupança, por sua vez, deverão crescer em ritmo diferente em 2014/2015. Com isso, faltariam recur-sos dessa fonte para o crédito imobiliário. O total de crédito imobiliário no âmbito do Sistema Brasi-leiro de Poupança e Empréstimo atingiu R$ 375,8 bi-lhões em 2013, já o saldo das cadernetas de poupança no SBPE de R$ 466.193 bilhões; isto é, o financia-mento imobiliário comprometeu aproximadamente 82,3% da poupança. A Abecip prevê que o aumen-to no saldo de captações da caderneta de poupan-ça deve sustentar o funding do crédito imobiliário até meados de 2015.

Sobre a remuneração dos depósitos de poupança, por sua vez, as regras atuais estabelecem que sem-pre que a taxa básica de juros, estiver em 8,5% ao ano ou abaixo desse patamar, o rendimento da pou-pança é 70% da SELIC mais a Taxa Referencial (TR). Quando a SELIC for superior a 8,5%, vale a regra an-tiga de reajuste pela TR mais 0,5%. Por ser isenta de Imposto de Renda, a remuneração da poupança se aproxima da remuneração de outras alternativas de aplicação que rendam taxa SELIC próxima de 8,5% ao ano. Como a taxa de juros básica iniciou o ano de 2014 em 10,5%, a poupança manteve-se uma das op-ções mais atrativas do mercado, graças à sanção da Lei n° 12.703/2012 que vinculou a rentabilidade da poupança à SELIC; a alteração evitou que grandes vo-

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lumes de recursos, oriundos, por exemplo, de fundos de investimento tivessem migrado para a poupança.

Entre as aplicações concorrentes com a caderneta de poupança, estão os fundos de investimento vin-culados ao Certificado de Depósito Interbancário (Fundos DI), por serem uma opção conservadora de investimento. Esses fundos aplicam seu patrimônio em títulos públicos. Redução no patrimônio desses fundos implica menor disponibilidade de recursos para financiamento de títulos da dívida pública, o que pode introduzir um piso para a queda dos juros, já que o governo só continuaria a captar se emitisse títulos com rendimento maior que o da poupança.

Por um lado, a migração de montantes dos fundos DI para a poupança aumentaria os recursos à disposi-ção do crédito imobiliário. Por outro, o custo de cap-tação do financiamento imobiliário passaria a estar entre os mais altos do mercado, o que encareceria as operações na ponta do tomador de empréstimo.

13.4 FuNdO de gArANtIA dO temPO de SerVIçO (FgtS)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, ao mesmo tempo em que apoia pro-postas para o aprimoramento do uso de recur-sos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para financiamento imobiliário, acompanha com interesse iniciativas de mudança no FGTS que podem afetar a segurança jurídica dos contratos, na medida em que somente um se-tor imobiliário sólido propiciará a garantia que está na raiz da função social do FGTS.

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a caderneta de poupança são hoje as duas principais fontes de recursos para a habitação no país. Em 2013, somados os recursos da poupança, cujo saldo do ano anterior foi de R$ 473 bilhões, e do FGTS, que al-

cançou um ativo de R$ 325 bilhões, foi liberada para o setor habitacional a quantia recorde de R$ R$ 88 bilhões. Esse resultado, segundo dados da Abecip, é 34% maior do que o registrado em 2012. Com a ex-pectativa de insuficiência dos recursos da poupança para funding do crédito imobiliário em rápida expan-são, aumenta a importância do Fundo na provisão de recursos para a construção.

No Congresso Nacional, existem diversas discussões a respeito de mudanças no FGTS. Um importante ponto objeto de alteração é a ampliação das hipóte-ses de saque nas contas vinculadas.

Outra questão bastante debatida é a remuneração do fundo. Atualmente, os depósitos nas contas vin-culadas são remunerados, na quase totalidade dos casos, à Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano, con-forme estabelece a Lei nº 8.036/1990. Diversos proje-tos de lei sugerem a substituição da TR pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os autores das propostas legislativas afirmam que a rentabilidade obtida com a TR sequer repõe a infla-ção e, sendo assim, defendem o reajuste do saldo do fundo por um índice oficial de inflação e uma taxa de juros. No entanto, especialistas defendem que uma mudança na correção pode desequilibrar o sistema e iniciar uma avalanche de ações judiciais daqueles que se sentirem lesados e quiserem uma eventual revisão de contratos.

Outra discussão trata de tornar o FGTS vantajoso e atraente ao trabalhador cotista. Para tanto, propõe-se que a rentabilidade do Fundo seja baseada nos moldes do que foi feito com a poupança , ou seja, quando a SELIC estiver acima de 8,5 % a rentabili-dade seria de 4,5% + TR, ficando abaixo de 8,5% o Fundo renderia TR + 50% da SELIC. Mudança dessa natureza também teria impacto sobre contratos.

Uma quarta questão é a da distribuição dos resul-tados obtidos pelo Fundo com a aplicação de seus recursos. Metade do lucro anual seria distribuída aos trabalhadores com a possibilidade de ser saca-

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do. Desse modo, os trabalhadores seriam verdadei-ramente considerados “cotistas”, sem desequilibrar as contas do Fundo.

Propostas no Congresso Nacional sugerem ainda que os trabalhadores possam realizar depósitos vo-luntários à sua conta do FGTS e que 10% de todas as aplicações do FGTS sejam disponilizados como linha de crédito ao trabalhador, sem destinação específica, sendo que cada cotista só poderia pegar empresta-do até 10 vezes o valor do saldo em conta, com juros.

13.5 PAtrImôNIO de AFetAçÃO e regrA dO INCONtrOVerSO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de aprimoramento dos instrumentos que visam a dar mais segu-rança aos contratos imobiliários, sobretudo da-queles instrumentos que minimizem conflitos judiciais e incrementem a atividade produtiva.

O patrimônio de afetação baseia-se na concepção de que determinados bens e direitos passam a vincu-lar-se a um fim específico. No caso da incorporação imobiliária, o objetivo é evitar que o incorporador utilize recursos de um empreendimento em outras iniciativas, de forma a resguardar os recursos apli-cados pelos adquirentes das unidades imobiliárias e o regular andamento do empreendimento afetado. Dentro desse regime, em caso de falência da empre-sa incorporadora, a Comissão de Representantes dos adquirentes assumirá a administração do em-preendimento imobiliário e prosseguirá a obra. Cabe ao incorporador optar pelo regime da afetação, por intermédio do “termo de afetação”, que deverá ser averbado no Registro de Imóveis.

Por outro lado, a Regra do Incontroverso estabelece que nas ações judiciais que tenham causa de pedir relacionada a obrigação decorrente de empréstimo,

financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar na petição inicial, dentre as obri-gações contratuais, aquelas que pretende controver-ter, quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia, nos termos do artigo 285-B do Código de Processo Civil. O parágrafo primeiro do retrocitado artigo, por seu turno, determina que o valor incon-troverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo contratados. O objetivo dessa norma é fazer com que a parte, durante a tramitação do processo, atenda às disposições que por ela não foram ques-tionadas na petição inicial, em observância à boa-fé contratual (art. 422 do Código Civil).

Além de dinamizar o crédito no país, tais instrumen-tos contribuem para viabilizar um fluxo constante de recursos para novas operações. Contudo, ainda podem ser aperfeiçoados, para benefício dos toma-dores de crédito imobiliário.

13.6 FuNdO de COmPeNSAçÃO de VArIAçõeS SALArIAIS (FCVS)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a resolução do problema do Fundo de Compen-sação de Variações Salariais (FCVS) que não onerem indevidamente os financiadores e os mutuários adquirentes de boa-fé. Para a CNF, a resolução extrajudicial de conflitos ligados a operações de crédito imobiliário passa pela conciliação como forma de garantir aos mutu-ários e às instituições financeiras a realização de seus direitos.

O Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) foi criado pela Resolução nº 25/1967 para, entre outras atribuições, absorver eventuais saldos devedores residuais, provocados pelo descompas-so entre, por um lado, a periodicidade de aplicação dos índices de correção monetária aos saldos deve-

capítulo 13: CrédItO ImObILIÁrIO

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dores e às prestações e, por outro, dos índices de reajuste dos salários, após decorrido o prazo con-tratual do financiamento.

A assunção desses compromissos pelo Poder Pú-blico ocorreu ao longo do tempo sem a imprescin-dível cobertura de recursos orçamentários. Com isso, o FCVS passou a assumir, desde sua criação, responsabilidades crescentes, incompatíveis com o seu patrimônio e seu fluxo de caixa, acarretando o acúmulo de dívida ao longo do tempo. As sucessi-vas postergações do pagamento das obrigações do Fundo foram também decisivas para o alcance do nível de desequilíbrio ora existente entre o ativo e o passivo do FCVS.

Diante da absoluta incapacidade financeira do FCVS de honrar as obrigações que assumiu junto às institui-ções financeiras, a Medida Provisória nº 1.520/1996 estabeleceu a assunção pela União, mediante nova-ção, das dívidas de responsabilidade do Fundo.

Ao assumir as responsabilidades financeiras dos sal-dos devedores, a União propôs a novação da dívida, com pagamento por meio de títulos da dívida pú-blica, o que foi aceito pelas instituições financeiras. Essa opção pela novação remonta à Medida Provisó-ria nº 1.520/1996 e foi exercida pela grande maioria das instituições financeiras credoras do FCVS.

Hoje, os financiamentos imobiliários não mais se uti-lizam da cobertura do FCVS, e sim da alienação fiduci-ária como forma de garantia do contrato. No entanto, muitos contratos firmados no passado estão sendo encerrados nos dias atuais, fazendo com que os con-flitos sobre a cobertura do FCVS sejam revisitados.

Um dos problemas que ainda pede solução é a questão da cobertura do Fundo para mais de um financiamento. Muitas instituições financeiras que financiaram com cobertura do Fundo, ao pedir a quitação da dívida, deparam-se com a existência de um segundo financiamento em nome do mutuário, o qual não havia sido comunicado. O Superior Tribu-

nal de Justiça por meio de recurso repetitivo (REsp nº 1.133.769/RN) firmou a orientação de que a co-bertura do saldo devedor pelo FCVS é admissível aos contratos firmados até 05/12/1990, que constituem a grande massa de contratos com direito ao Fundo. Resta ao Governo adotar administrativamente o en-tendimento do Poder Judiciário.

O Governo tem mostrado interesse em dar solução às questões que envolvem o FCVS. Em dezembro de 2010, foi editada Medida Provisória n° 513/2012, transformada na Lei n° 12.409/2011, que autoriza o Fundo a assumir, na forma disciplinada em ato do Conselho Curador do Fundo de Compensação de Variações Salariais (CCFCVS), direitos e obrigações do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (SH/SFH), e a oferecer cobertura direta a contratos de financiamento habitacional averbados na Apólice do SH/SFH.

13.7 CONSórCIO ImObILIÁrIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a equiparação das regras de consórcio imobi-liário às de financiamento imobiliário, não só para imóveis adquiridos, reformados ou cons-truídos no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, mas também para os imóveis en-quadrados no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo.

O consórcio imobiliário constitui mais uma alterna-tiva de financiamento para compra, construção ou reforma da casa própria a custo financeiro reduzido. A exemplo do financiamento imobiliário, o consórcio também inclui cláusula de alienação fiduciária que permite a redução da taxa de juros embutida na ope-ração. Ademais, permite o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para amortizar saldo, quitar o total da dívida ou abater até 80% das prestações.

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13.8 gArANtIA HIPOteCÁrIA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que contribuam para um ambiente de negócios saudável ao assegurar a celeridade dos processos, a clareza e a precisão de sentenças judiciais e uma maior segurança jurídica nas relações contratuais de todas as espécies. A CNF entende que as modalidades de cobrança extrajudicial estão devidamente regulamentadas e recepcionadas pelo direito brasileiro. Em casos que envolvem garantias, o Judiciário tem assegurado a defesa do devedor e a observância do devido processo legal.

Discute-se no Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade do Decreto-Lei nº 70/1966 que dispõe sobre a execução extrajudicial de hipotecas e permite o leilão do imóvel por meio de um agente fiduciário credenciado pelo Banco Central.

A dispensa da via judicial e a consequente possibili-dade de um imóvel ir a leilão sem passar pelo crivo do Poder Judiciário têm, desde a publicação do De-creto-Lei, gerado interpretações jurisprudenciais e doutrinárias distintas sobre sua constitucionalidade. Há divergências sobre a recepção ou não da norma pela Constituição Federal de 1988, haja vista a ale-gação de que a execução extrajudicial violaria, entre outros princípios, o do devido processo legal.

No início da década de 70 os inúmeros questiona-mentos judiciais que alegavam a inconstitucionali-dade desse Decreto-Lei levaram o legislador a ela-borar a Lei nº 5.741/1971, que estabeleceu um rito especial, supostamente mais célere, para a execu-ção de dívidas de financiamento no Sistema Finan-ceiro de Habitação (SFH), ficando assim à opção do credor o procedimento para execução da dívida. Na prática, o procedimento judicial revelou-se moroso, dificultando, senão inviabilizando, a efetiva recupe-ração do crédito.

A alegação de inconstitucionalidade baseou-se na ausência de intervenção do Poder Judiciário no processo de execução extrajudicial. Porém, em rei-terados julgamentos, o STF entendeu que em qual-quer momento do procedimento está assegurado ao mutuário ingressar no Judiciário, seja para ques-tionar os aspectos formais do procedimento em si, seja para discutir outras questões resultantes do financiamento. Embora tradicionalmente conside-rasse o Decreto-Lei recepcionado pela Carta Magna, o STF iniciou o julgamento de dois Recursos Extra-ordinários em que aponta para possível mudança de posicionamento.

A importância da recepção do Decreto-Lei pela Cons-tituição de 1988, além da sua clara aplicação ao SFH, é que existem outros procedimentos análogos de execução extrajudicial que podem ser decretados inconstitucionais caso o Decreto o seja.

Sendo assim, é preocupante a possibilidade de de-claração de inconstitucionalidade do Decreto-Lei n° 70/1966 uma vez que tal fato poderia repercu-tir em outros procedimentos como a Comissão de Representantes no Patrimônio de Afetação (Lei n° 10.931/2004), a usucapião administrativa (Lei n° 11.977/2009) e, principalmente, na realização da ga-rantia de alienação fiduciária (Lei n° 9.514/1997).

Dos procedimentos citados, para o setor imobiliário, o principal é o da alienação fiduciária. A sua execu-ção na forma extrajudicial se dá de modo semelhan-te ao previsto no Decreto-Lei nº 70/1966, havendo prévia audiência das partes para apresentação de defesa, com a presença do binômio cientificação e possibilidade de argumentação, em respeito ao princípio constitucional do contraditório. Em qual-quer das modalidades extrajudiciais de cobrança, o Judiciário tem garantido a defesa do devedor e a observância do devido processo legal, tendo, por di-versas vezes, anulado leilões e vendas realizadas em discordância com a legislação vigente.

capítulo 13: CrédItO ImObILIÁrIO

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13.9 ImPeNHOrAbILIdAde dO bem de FAmÍLIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas lastreadas em prin-cípios constitucionais que garantam o equilí-brio das relações entre, por um lado, os direitos dos consumidores e, por outro, a viabilidade econômica dos provedores de bens e serviços. Interpretações equivocadas acerca desses princípios podem elevar o risco das operações de financiamento e gerar o encarecimento do crédito em consequência da inevitável eleva-ção das taxas de juros.

A Constituição Federal, no caput do seu art. 6º, ga-rante a todo cidadão o direito social à moradia. Com o intuito de fornecer um dos instrumentos legis-lativos que possibilitem a consecução do referido direito, foi editada a Lei nº 8.009/1990, que dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família. A lei, no entanto, traz sete exceções a essa impenhorabili-dade, como é o caso da execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar.

O oferecimento de imóvel como garantia hipotecá-ria tem a faculdade de descaracterizá-lo como bem

de família, sujeitando-o à penhora para satisfação da dívida afiançada. Isso também se refere ao institu-to da alienação fiduciária, que desde o advento da Lei n° 9.514/1997 passou a ser a principal forma de garantia nos contratos de financiamento do Sistema Financeiro da Habitação. Por meio desse instrumen-to, a pessoa só terá direito à propriedade quando ter-minar de pagar as prestações do financiamento. Até lá, o imóvel fica em nome da instituição financiadora, o morador só tem direito à posse e, em caso de atra-so no pagamento das prestações, o Direito permite o penhor do imóvel.

Mas, apesar de consolidadas no ordenamento jurídico brasileiro, as exceções à impenhorabilidade do bem de família têm sido alvo de diversas propostas legisla-tivas que visam a extingui-las, o que reduziria o leque de garantias. O mercado financeiro equilibra-se pela garantia associada ao cumprimento das obrigações avençadas, em nada contribuindo para o incremento da atividade produtiva uma possível desoneração das obrigações assumidas pelo devedor.

Além disso, a redução das exceções à impenhorabilida-de dos bens dados em garantia inviabiliza as modalida-des mais usadas nas operações de crédito imobiliário, o que elevaria o risco dessas operações, encarecendo os empréstimos em consequência da inevitável eleva-ção das taxas de juros, diretamente atreladas aos ris-cos de crédito que as operações envolvem.

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tAXA de jurOS e mArgeNS bANCÁrIAS (SPreAd )

O juro é o preço que paga o tomador pela escassez do crédito, pela cunha fiscal e pelo deficit nas contas fiscais do setor público, entre outros.

No Brasil, a taxa básica de juros é a SELIC (que deriva do Sistema Especial de Liquidação e Custódia, me-canismo de compensação manual criado pelo Ban-co Central em 1979 que dava suporte às operações de mercado aberto com títulos públicos). A meta da taxa SELIC é fixada oito vezes por ano pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), o órgão decisório da política monetária do Banco Central responsável por estabelecer a meta para a taxa básica de juros e as diretrizes da política monetária.

Em qualquer economia, a taxa básica de juros é com-posta por uma taxa de juros real ajustada por expec-tativas inflacionárias e por preferências de liquidez. A taxa de juros real flutua conforme a oferta e deman-da por fundos (por exemplo, um superavit comercial aumenta a oferta de fundos e reduz a taxa de juros real). Para fixar a taxa básica de juros, os membros do COPOM consideram algumas variáveis, entre elas as

projeções de inflação, o volume de moeda em circu-lação, a evolução do crédito e a velocidade de cresci-mento da economia. O setor financeiro não tem con-trole sobre nenhuma das variáveis consideradas pelo Comitê para fixação da taxa básica de juros.

Independentemente da taxa básica de juros, as ins-tituições financeiras podem aplicar taxas de juros diferentes a pessoas jurídicas, a pessoas físicas ou ao Governo em função de diferentes custos e riscos – ainda que, para o fornecedor de crédito, a rentabili-dade dessas operações, eliminados os custos e ris-cos, seja praticamente a mesma.

Um fator determinante da taxa de juros aplicada pe-las instituições financeiras é a escassez de recursos. Um banco só pode emprestar livremente cerca de 20% dos depósitos à vista. O restante é destinado a aplicações cujo rendimento é inferior à taxa de captação do sistema, tais como depósito compul-sório em espécie no Banco Central, depósito em tí-tulos, microcrédito e crédito rural. Não é incomum os depósitos compulsórios no Banco Central supe-

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capítulo 14: tAXA de jurOS e mArgeNS bANCÁrIAS (SPreAd)

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso ao crédito e a expansão do volume ofertado, em todas suas modalidades, que tratem das causas fundamentais que respondem pelas elevadas taxas de juros no Brasil, tais como a necessidade de financia-mento do setor público, as expectativas de inflação, o saldo de transações com o exterior e o depósito compulsório.

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agenda do setor financeiro 2014146

rarem o total de empréstimos à indústria. Crédito escasso é crédito caro.

Outro limitador importante do volume de crédito ofertado por uma instituição financeira, com impac-to sobre a taxa de juros, é o seu capital, uma vez que acordos internacionais (como as regras de Basileia) e regulamentos brasileiros limitam a alavancagem, isto é, a relação entre o total de créditos concedidos e o capital. Ao realizar operações rentáveis, as ins-tituições financeiras auferem lucros que permitem que elas se capitalizem e assim possam aumentar o volume de crédito, investir em tecnologia e aumen-tar seu poder de competição no mundo globalizado.

14.1 CAPItALIZAçÃO de jurOS PArA PrAZOS INFerIOreS A um ANO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a re-gulamentação da capitalização de juros para prazos inferiores a um ano, no entendimento de que capitalização de juros não é sinônimo de anatocismo, ou seja, do duplo encargo de juros sobre uma mesma base, mas sim uma prática internacionalmente aceita de atuali-zação de valores financeiros que acrescenta ou encargos, ou remunerações em diferentes períodos com base no saldo do período ime-diatamente anterior.

Muitas vezes, toma-se equivocadamente como co-brança de juros sobre juros o que na verdade é a in-cidência de juros ou sobre saldo devedor ao qual é somada parcela não paga, ou sobre capital aplicado ao qual foi acrescentado rendimento auferido em período anterior.

A capitalização de juros se aplica a cadernetas de poupança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos de previdência, fundos de pensão, Fundo

de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), títulos de capitalização, títulos de renda fixa privados e todos os títulos da dívida pública federal, estadual e muni-cipal, sejam eles com taxas pré ou pós-fixadas, cré-dito pessoal parcelado, financiamento de veículos, todas as formas de crediário de lojas, empréstimos para aposentados, financiamentos e repasses de recursos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES), todas as moda-lidades de financiamentos habitacionais realizados dentro e fora do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e muitos outros.

As práticas internacionais no mercado financeiro e de capitais, a quase totalidade das operações fi-nanceiras realizadas no mundo, bem como todos os estudos de viabilidade econômico-financeira são efetivados com base no critério de juros compostos, ou capitalização composta. No Brasil, existe questio-namento legal para uma modalidade de capitaliza-ção de juros, comumente referida como anatocismo. O Supremo Tribunal Federal adotou a Súmula nº 121/1963, cuja redação é a seguinte: “É vedada a ca-pitalização de juros, ainda que expressamente con-vencionada”. É possível que a Súmula nº 121 tenha se inspirado na expressão “é proibido contar juros dos juros”, contida no artigo 4º da Lei de Usura, cujo texto reproduz o já revogado artigo 253 do Código Comercial Brasileiro de 1850. Este, por sua vez, foi di-retamente influenciado pelo artigo 1.154 do Código Civil Francês, de 1804, e pelo artigo 286 do Código Comercial Português, de 1833, os quais não vedam a utilização do critério de juros compostos.

Em outubro de 2009, a publicação de um Manifesto assinado por 32 professores especialistas em mate-mática financeira reacendeu os debates. O Manifesto, intitulado “Declaração de Defesa das Ciências Eco-nômicas, Financeira e Jurídica” expressa preocupa-ção com a Súmula n° 121.

A Lei de Usura (Decreto nº 22.626/1933) singulariza a situação dos bancos e remete para legislação espe-cífica – que seria a Lei nº 4.595/1964, a qual é omissa

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quanto à questão da capitalização. Solução foi dada pela Medida Provisória nº 1.963-22/2000, que tratou, em seu artigo 5°, da capitalização de juros com pe-riodicidade inferior a um ano nas operações ativas e passivas realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional. A partir da edição da MP e daquela que a sucedeu, a Medida Provisória nº 2.170/2001, o Superior Tribunal de Justiça muitas ve-zes recorreu ao dispositivo para negar provimento a ações que questionassem a prática da capitalização de juros. Em junho de 2012, o STJ pacificou por meio de recursos repetitivos, ao julgar o REsp 973.827-RS, o entendimento de que “é permitida a capitaliza-ção de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31 de março de 2000” (quando foi editada a MP nº 1.963-22/2000).

Ocorre que foi ajuizada Ação Direta de Inconstitucio-nalidade (ADI) junto ao Supremo Tribunal Federal que questiona a legalidade do dispositivo da Medi-da Provisória n° 2.170-36/2001 (antiga MP nº 1963-22/2000). As decisões de Tribunais Superiores a favor da capitalização para prazos inferiores a um ano se escoram assim em uma Medida Provisória que pode ser revogada pelo Supremo Tribunal Federal. Deci-são que suspenda os efeitos da MP, com efeito retro-ativo, terá o condão de revolver milhões de contra-tos, com imprevisível impacto no sistema financeiro e também nas contas públicas.

Também há no Congresso projetos de lei contrários à capitalização por prazo inferior a um ano que, se apro-vados, introduziriam grande insegurança jurídica nas relações das instituições financeiras com seus clientes.

Não se sustenta o argumento de que a extinção da capitalização contribuiria para a redução das taxas de juros. Na eventualidade da extinção da capitali-zação de juros, uma taxa mensal de, por exemplo, 2,00% ao mês – que corresponde a uma taxa anual efetiva de 26,82% – seria convertida em taxa nominal de 2,23% ao mês (a qual, multiplicada linearmente por 12, resultaria na mesma taxa anual de 26,8%). Ademais, os intermediários financeiros aplicam tal

mecanismo em suas fontes de captação, de forma que a impossibilidade de aplicação na ponta ativa os levaria a rever suas margens, a fim de se obter re-sultado idêntico ao que se teria com a capitalização.

Corrobora essa visão o fato de que as instituições fi-nanceiras são obrigadas a informar nos contratos fir-mados com os clientes a taxa efetiva e o Custo Efeti-vo Total (CET), parâmetros que nortearão a cobrança de encargos independentemente de capitalização.

Na verdade, a capitalização em prazo inferior a um ano produz impacto financeiro relevante em função do patamar de taxas de juros.

Em países de economia estável, a capitalização men-sal produz efeitos pouco significativos, motivo pelo qual tal tema deixa de ter importância. Mais relevan-te que vedar esse mecanismo, seria a condução da economia a um nível mais estável e com taxas com-patíveis com as de países desenvolvidos.

14.2 tAbeLA PrICe

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para ma-nutenção do uso da Tabela Price, no entendi-mento de que esse sistema de amortização de empréstimos não caracteriza anatocismo, ou seja, duplo encargo de juros sobre uma mesma base, mas sim uma prática internacionalmen-te aceita de atualização de valores financeiros que acrescenta ora encargos, ora remunera-ções em diferentes períodos com base no saldo do período imediatamente anterior.

A intermediação realizada pelas instituições financei-ras entre o conjunto de depositantes e investidores, de um lado, e o de tomadores de recursos, de outro, tem por objetivo promover a alocação e a distribuição ótima de recursos. Essa atividade requer mecanismos

capítulo 14: tAXA de jurOS e mArgeNS bANCÁrIAS (SPreAd)

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que se mostrem tecnicamente aptos a proporcionar a manutenção – tão exata quanto possível – do neces-sário casamento entre os ativos e passivos envolvidos.

Nessa perspectiva, é da natureza das operações ban-cárias a adoção de mecanismos reguladores desse equilíbrio, entre os quais se inclui, com destaque pela natureza técnica de que se reveste, a Tabela Price. Trata-se de um dos principais métodos para cálculo de prestações de dívidas de longo prazo, ca-racterizado por buscar: (i) o equilíbrio entre ativos e passivos do agente financeiro e (ii) a uniformidade nas prestações, garantindo ao tomador do emprésti-mo a previsibilidade necessária à assunção das suas obrigações de pagamento.

A Tabela Price é um sistema de amortização que re-sulta em um número de prestações de igual valor, compostas de parcelas variáveis de amortização do capital e de juros que remuneram a dívida. Nesse sis-tema o valor das prestações só se altera se ocorrer repactuação ou de saldo devedor, ou de taxas de ju-ros, ou de tempo de maturação do contrato. A discussão judicial sobre a legalidade da Tabela Price diz respeito, na essência, ao suposto anato-cismo nela embutida, que não se confunde com a capitalização de juros adotada internacionalmente em várias aplicações periódicas de recursos, como cadernetas de poupança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos de previdência e outros.

No caso da Tabela Price, em cada prestação a par-cela de amortização é abatida do saldo devedor e os juros são calculados sobre o valor remanescen-te da dívida. No período subsequente, nova parce-la de amortização reduz o saldo devedor, sobre o qual voltam a incidir os juros. Ao final do prazo, a dívida estará integralmente resgatada e os juros te-rão sido sistematicamente calculados sobre o saldo remanescente – jamais sobre juros de períodos an-teriores. Isto é, os juros são mensal e diretamente pagos ao credor, não sendo nunca acrescidos ao saldo devedor. Este, por sua vez, é amortizado a cada pagamento. Prestação e saldo são atualizados

pelo mesmo índice. Não há débito de juros no saldo devedor, o que caracterizaria acumulação e, conse-quentemente, anatocismo.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou, em 2009, o entendimento, baseado na Lei dos Recursos Re-petitivos (Lei n°11.672/2008), de que nos contratos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da Ha-bitação (SFH) é vedada a capitalização de juros em qualquer periodicidade e que a lei regente do SFH não estabelece limitação de juros remuneratórios. De acordo com o entendimento daquela Corte, “a capitalização mensal dos juros é possível quan-do pactuada nos contratos celebrados a partir de 31/3/2000, data de publicação da MP 1.963-17, re-editada sob o n. 2.170-36/011 (Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1052336/MS)”. Portanto, nos contratos posteriores à vigência da MP nº 1.963-17 já não se poderá arguir a ilegalidade da capitalização de juros nos financiamentos contratados com insti-tuições financeiras nacionais.

Ademais, a Lei nº 11.977/2009, introduziu na Lei nº 4.340/1964, a lei básica do SFH, os seguintes arts. 15-A e 15-B:

“Art. 15-A. É permitida a pactuação de capitalização de juros com periodicidade mensal nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da Habitação – SFH”.

“Art. 15-B. Nas operações de empréstimo ou finan-ciamento realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro da Habitação que prevejam pa-gamentos por meio de prestações periódicas, os sis-temas de amortização do saldo devedor poderão ser livremente pactuados entre as partes. ...§ 3° Nas operações de empréstimo ou financiamento de que dispõe o caput é obrigatório o oferecimento ao mutuário do Sistema de Amortização Constante – SAC e de, no mínimo, outro sistema de amortização que atenda o disposto nos §§ 1° e 2°, entre eles o Sis-tema de Amortização Crescente – SACRE e o Sistema Francês de Amortização (Tabela Price).”

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Nesse sentido, se a legislação vigente admite a capi-talização de juros e se a Justiça já decidiu que ela é permitida desde 31 de março de 2000, não faz sen-tido banir a Tabela Price sob o argumento de que a capitalização de juros é imprópria no mundo jurí-dico brasileiro.

14.3 tAbeLAmeNtO de jurOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a redução das taxas de juros, assentadas nos princípios constitucionais da liberdade da ati-vidade econômica e da isonomia, que tratem das causas fundamentais que respondem pe-las elevadas taxas de juros no Brasil, tais como a necessidade de financiamento do setor públi-co, as expectativas de inflação, o saldo de tran-sações com o exterior e o depósito compulsó-rio. Para a CNF, a aplicação de tetos artificiais para taxas de juros introduz distorções na eco-nomia, sem sanar essas causas fundamentais.

A percepção equivocada de que as instituições finan-ceiras auferem maiores lucros quanto mais altas as taxas de juros deriva da experiência de indivíduos e de empresas como aplicadores de recursos. Uma pessoa física ou jurídica que aplica seus recursos em renda fixa terá maior retorno quanto mais altas as taxas de juros. A esse retorno para o aplicador cor-responde um custo para o tomador de poupança – que no caso da renda fixa pode ser o Poder Público, emitente de títulos que lastreiam fundos de inves-timento. Ocorre que as instituições financeiras não são apenas aplicadoras de recursos, tampouco ape-nas tomadoras da poupança de terceiros, mas sim as intermediárias entre esses dois agentes. Para o intermediário, a taxa de juros é, em princípio, neutra.

Na realidade, essa neutralidade é relativa. Os ban-cos não têm interesse na manutenção de elevados

custos para o tomador final. Ao contrário. Taxas ele-vadas para o tomador de crédito não só aumentam o risco de inadimplência, mas também desestimu-lam a atividade econômica, com reflexos negativos sobre os resultados da intermediação financeira. Os resultados dos bancos derivam tanto do repaga-mento de empréstimos quanto de uma economia sólida, em crescimento sustentado. Juros altos beneficiam o capital dos bancos e remuneram apli-cações que as instituições fazem por conta própria. Esses rendimentos, porém, não são a principal fonte de seus resultados (ver Seção 6.4 – Lucro e rentabili-dade bancária).

A despeito do que se pensa, a queda dos juros tende a aumentar o lucro dos bancos, porque atraem mais tomadores de crédito; reduzem a inadimplência e, com ela, as provisões para devedores duvidosos; aumentam a escala das operações (com diluição dos custos fixos por um número maior de clientes); e aceleram o giro dos negócios, com recebimento mais rápido da parcela da margem (spread) que cor-responde à receita.

14.4 tAbeLAmeNtO de mArgem bANCÁrIA (SPreAd)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a redução das margens bancárias (spread) as-sentadas nos princípios constitucionais da liberdade da atividade econômica e da isono-mia, com os quais conflitam os tabelamentos de taxas e a incidência de contribuições adicio-nais. Para a CNF, a agenda para maior redução do spread passa por: (a) desoneração fiscal; (b) redução da inadimplência e custos associados a ela; (c) redução do compulsório; e (d) queda dos custos administrativos, inclusive os asso-ciados à regulação.

capítulo 14: tAXA de jurOS e mArgeNS bANCÁrIAS (SPreAd)

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agenda do setor financeiro 2014150

A questão da margem bancária (ou spread) não é simples. O spread tem sido apresentado como a sim-ples diferença entre a taxa de captação e a taxa de empréstimo dos bancos. É apontado como abusivo porque os bancos captariam à taxa SELIC, que em dezembro de 2013 passou a 10%, e emprestariam a taxas médias ao redor de 21% ao ano, para ganhar aproximadamente 11%. Equivocadamente, essa di-ferença de 11% é apontada como lucro dos bancos. Nesse raciocínio, há equívocos tanto conceituais quanto metodológicos.

Há, antes de tudo, alguma confusão entre patamar da taxa básica de juros e spread. Nos dois casos, os bancos são apontados como responsáveis pelas ta-xas de juros elevadas e pelas margens amplas. Po-rém, o setor financeiro não tem controle sobre ne-nhuma das variáveis consideradas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, para fixação da taxa básica de juros.

Já no que toca ao spread, há três equívocos funda-mentais que contaminam a discussão e impedem que as partes interessadas busquem soluções inova-doras e eficazes. O primeiro equívoco é o de que os bancos auferem lucros excessivos, obtidos a partir de spreads amplos. O segundo é o de que os spreads praticados no Brasil são absurdamente mais amplos do que os verificados em outros países. O terceiro equívoco é o de que os bancos controlam todas as variáveis que determinam o spread e assim procu-ram manter as margens deliberadamente amplas.

Comparados com outros setores da economia, os bancos, ao contrário do que se acredita, não são os mais rentáveis. Diferentemente de outros setores, as instituições financeiras não podem determinar sua estrutura de capital e, com isso, alterar a rentabili-dade sobre o patrimônio líquido, uma vez que estão sujeitas a limites mínimos de capital em função do Acordo de Basileia. Também ao contrário do que se propaga, os bancos brasileiros não são os mais rentáveis do mundo. Percebe-se isso intuitivamente pelo fato de que não há notícia de corrida de gran-

des bancos internacionais para o mercado brasileiro. (ver Seção 6.4 – Lucro e rentabilidade bancária)

O segundo equívoco, o de que os spreads praticados no Brasil são muito mais amplos do que os de outros países, nasce da comparação simplista de dados do Banco Central com dados internacionais. Não é cor-reto tomar-se a amostragem do Banco Central como medida do spread brasileiro para compará-lo com o de outros países, uma vez que o Bacen considera em seus cálculos menos da metade das operações de cré-dito realizadas no Brasil, em volume. Isso é válido tan-to para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.

Para pessoas físicas, as operações de crédito uti-lizadas pelo Banco Central para a mensuração do spread representam 53,1% do total das operações de crédito do segmento. Os cálculos da autoridade monetária consideram apenas cheque especial, cré-dito pessoal, aquisição de veículos e aquisição de outros bens. O Bacen não considera segmentos im-portantes, em alguns dos quais o spread é muito in-ferior: financiamento habitacional, cartão de crédito não-financiado, leasing, cartão de crédito, crédito a cooperativas e outras operações. Para pessoas jurí-dicas, por sua vez, as operações registradas pelo Ba-cen correspondem a 38,6% do total das operações de crédito. O Banco Central considera apenas des-conto de duplicatas, desconto de notas promissórias, capital de giro, conta garantida, aquisição de bens,

“vendor”, adiantamentos sobre contratos de câmbio e repasses externos. O Banco Central, na sua estima-tiva de spread para pessoas jurídicas, não considera empréstimos do BNDES, repasses do BNDES, crédi-to rural, leasing cartão de crédito não-financiado e outras operações. Incluídas as demais operações no cálculo do spread, estima-se uma redução em apro-ximadamente 5 pontos percentuais.

Por fim, o terceiro equívoco, o de que os bancos con-trolam todas as variáveis que determinam o spread, está na raiz da falsa percepção de que o lucro das ins-tituições será tanto maior quanto mais largas forem as margens. Qualquer que seja a margem bancária,

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os bancos têm algum controle sobre apenas um dos fatores que determinam o spread: os custos adminis-trativos. Os bancos não têm controle algum sobre as demais variáveis que compõem o spread bancário. Entre os outros fatores, a inadimplência é o de maior impacto. Também tem grande peso a tributação so-bre a intermediação financeira, quesito em que o Bra-sil é uma exceção no cenário internacional. Impostos sobre intermediação financeira, diretos e indiretos (IOF, COFINS, PIS, CSLL e IR), respondem por larga parcela do spread. Depósito compulsório junto ao Bacen e créditos de destinação obrigatória represen-tam outro fator que determina o spread. O Brasil re-colhe os maiores depósitos compulsórios do mundo: 44% sobre depósitos à vista, indo na contramão da política monetária adotada pelos pares na América Latina, com recentes cortes do compulsório. Como anomalia, recolhe-se no Brasil depósito compulsó-rio também sobre depósitos a prazo, de 20%. Desde 2011 o Banco Central tem realizado cortes nas taxas de compulsório, entretanto, o país ainda possui um dos maiores montantes no panorama internacional.

Se os bancos não obtivessem nenhum lucro, se a taxa básica da economia (SELIC) fosse zero, se os depositantes abdicassem de seus rendimentos e se o crédito fosse perfeito, ainda assim o tomador de empréstimos arcaria com uma taxa de quase 30% ao ano por conta de impostos, contribuições, FGC, com-pulsório e destinação obrigatória de recursos.

O “Relatório de Estabilidade Financeira” publicado pelo Banco Central do Brasil em 2013, (disponível no endereço eletrônico: www.bcb.gov.br/htms/estabili-dade/2013_03/refP.pdf) informa que, pelas análises realizadas até 2012, a desaceleração das operações de crédito, embora ainda fosse crescente, contribui para a redução das margens bancárias (spread). O mate-rial de apoio que serviu para a preparação do relató-rio (disponível no endereço eletrônico: www.bcb.gov.br/?RELESTAB201203, no link “Base de Dados”, gráfico 2.4.2) informa que em dezembro de 2012 a rentabili-dade das operações de crédito era de 16,77% a.a. e o custo de captação era de 7,37%a.a., ambos menores

do que os valores apresentados no ano anterior, de 18,6% e 8,6%, respectivamente – daí o spread de 9,4% (valores de dezembro de 2012).

14.5 LImItAçÃO dOS jurOS CObrAdOS SObre CHeque eSPeCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a redução das taxas de juros de todas as moda-lidades de financiamento, inclusive do cheque especial, centradas na redução da assimetria de informação que prevalece em operações de crédito que não contam com garantia. Para a CNF a imposição de limites, em violação ao princípio constitucional da liberdade da ativi-dade econômica, induz à contração do volume de crédito disponível em dada modalidade.

A oferta de cestas de produtos variados, que aten-dam a diferentes necessidades dos clientes, é um dos elementos essenciais para que o mercado satis-faça com eficiência toda a sorte de demandas, evite a queda do consumo e contribua para o crescimento econômico. O cheque especial é parte dessa cesta.

O cheque especial é uma operação de crédito emer-gencial que não conta com qualquer tipo de garantia. As taxas de juros que incidem sobre essa modalida-de são mais elevadas porque se caracteriza uma si-tuação típica de assimetria de informação, na qual o devedor conhece sua situação financeira, mas dela não dá a conhecer ao credor. Ademais, os bancos de-vem manter recursos ociosos disponíveis para saque, o que encarece a operação.

A inadimplência responde por cerca de 30% da mar-gem bancária (spread ). No cheque especial, a ina-dimplência é ainda maior, o que alarga mais a mar-gem. Em carteiras de crédito com alta inadimplência, os custos operacionais e as perdas são distribuídos

capítulo 14: tAXA de jurOS e mArgeNS bANCÁrIAS (SPreAd)

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pelos clientes adimplentes, que, por essa razão, ar-cam com taxas mais elevadas.

Não faz sentido para o tomador utilizar o limite de cheque especial para, por exemplo, comprar bens de consumo duráveis. Para esse tipo de operação ele pode recorrer ao crédito direto ao consumidor ou ao arrendamento mercantil (leasing) a taxas mais reduzidas. Assim, o uso correto do cheque especial também depende do conhecimento dos produtos e serviços financeiros, isto é, de educação financeira.

14.6 dePóSItO COmPuLSórIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a re-dução dos níveis de recolhimento de depósitos compulsórios, bem como para a flexibilização do emprego e da liberação desses depósitos na ocorrência de oscilações acentuadas de li-quidez que possam representar risco sistêmico para os fornecedores de crédito.

A crise financeira internacional de 2008 ilustrou a im-portância do recolhimento de depósitos compulsó-rios no Banco Central. Na pior fase da crise, a libera-ção de parcelas do compulsório para compra, pelos bancos de maior porte, de carteiras de empréstimos foi essencial para injetar liquidez na economia e res-guardar a saúde financeira das instituições de menor porte, evitando-se assim uma crise sistêmica. Contu-do, esse não é o papel primordial do recolhimento de depósitos compulsórios.

Como instrumento de política econômica, o reco-lhimento de depósito compulsório presta-se, sobre-tudo, à execução da política monetária. O depósito compulsório destina-se a reduzir o multiplicador bancário, com o mesmo efeito que teria uma eleva-ção das taxas de juros.

A manutenção de níveis elevados de depósitos com-pulsórios representa uma restrição à expansão das carteiras creditícias, uma vez que as instituições financeiras, em virtude dos riscos intrínsecos à sua atividade, necessitam manter uma reserva de liqui-dez sob a forma de títulos livres. Quanto menor essa reserva, maior o risco de liquidez e menor a possibili-dade de alocação de recursos às operações de crédi-to. A liberação dos depósitos compulsórios propicia a expansão do crédito.

O recolhimento de compulsório assemelha-se à im-posição de um tributo porque a remuneração dos depósitos pelo Banco Central é feita, em alguns ca-sos e para a maioria dos bancos, a taxas inferiores às praticadas no mercado, o que transfere para a auto-ridade monetária a diferença entre essa remunera-ção e a taxa de aplicação dos bancos.

A manutenção de elevados níveis de compulsório au-menta as margens bancárias (spread), diminui a oferta de crédito e pressiona a taxa de juros básica real, com impacto negativo sobre o crescimento econômico. O Brasil recolhe os maiores depósitos compulsórios do mundo: 44% sobre depósitos à vista, indo na contra-mão da política monetária adotada pelos pares na América Latina, com recentes cortes do compulsório. Como anomalia, recolhe-se no Brasil depósito com-pulsório também sobre depósitos a prazo, de 20%.

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FINANCIAmeNtO de LONgO PrAZO15

A consolidação da estabilidade econômica no Brasil lançou luz sobre a importância crescente de recur-sos e de instrumentos de financiamento de longo prazo. Para a economia brasileira sustentar cresci-mento econômico de 5% ao ano, serão necessários recursos de poupança que elevem investimentos (formação bruta de capital fixo) a um patamar su-perior a 22% do PIB. Tais investimentos deverão ser dirigidos, sobretudo, a obras de infraestrutura que solucionem os gargalos que impedem ganhos de produtividade de todos os setores da economia. São obras de longa duração, às quais correspondem financiamentos de longa maturação.

Hoje, financiamentos de longo prazo estão pratica-mente restritos às linhas de crédito do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que conta com empréstimos do Tesouro Nacional, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e com o repagamento de operações de longo prazo vincendas, entre outros. Nenhuma outra insti-tuição financeira tem acesso a fundos dessa natureza.

Nos últimos cinco anos, o prazo médio de emissão dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) – princi-pal fonte de captação dos bancos no mercado local – praticamente dobrou, alcançando atualmente algo próximo a três anos. Contudo, isso não é garantia de funding de longo prazo para os bancos.

Há ainda outros instrumentos hoje disponíveis para captação pelas instituições financeiras no mercado interno, como, por exemplo, os CDBs subordinados (Resolução nº 3.444/2007, do CMN), as operações com-promissadas (Resolução nº 3.339/2006, do CMN), as Letras de Crédito do Agronegócio (Lei nº 11.076/2004) e as Cédulas de Debêntures (Lei nº 6.404/1976, art. 72), com limitações semelhantes às dos CDBs, inclu-sive por um mercado secundário restrito.

O mercado financeiro internacional dispõe de di-versos instrumentos de captação já utilizados atu-almente pelos bancos brasileiros. As instituições nacionais têm facilidade em emitir esses ativos no exterior (bonds). Em geral, este é um mercado com

capítulo 15: FINANCIAmeNtO de LONgO PrAZO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas de criação de instrumentos de captação de recursos de longo prazo, ao mesmo tempo em que sublinha a importância da criação concomitante de mercado secundário líquido para esses instrumentos, no entendimento de que as operações dar-se-ão por livre negociação, no âmbito de um arcabouço legal que ofereça segurança jurídica.

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agenda do setor financeiro 2014156

bom nível de liquidez e com preços formados em di-versos ambientes de informação e negociação.

Hoje, cerca de 19,66% da dívida pública federal ain-da é remunerada pela Taxa SELIC, bem como mais de 88,9% da dívida privada está representada por ativos atrelados ao Depósito Interfinanceiro (DI). A cultura de curto prazo dos agentes econômicos domésticos funciona como um desincentivo à am-pliação da maturidade dos títulos emitidos. Essa questão de vital importância – e que precisa ser debatida de forma ordenada entre emissores, in-termediários, investidores e gestores de portfólio – está ligada à existência de diversos ativos e opera-ções que combinam liquidez e relação risco/retor-no em condições extremamente desfavoráveis ao alongamento dos prazos.

Outro aspecto a ser considerado nessa discussão diz respeito às regras de tributação aplicáveis aos títu-los e valores mobiliários de renda fixa, que tampou-co contribuem para o incentivo ao mercado secun-dário de títulos.

A oferta de financiamento de longo prazo no Brasil passa pela criação de instrumentos de captação de longa maturação, de um mercado secundário com ampla liquidez e pela construção de um arcabouço que confira garantia jurídica às operações. Nesse cenário, os investidores institucionais – fundos de pensão, seguradoras e fundos de investimento, por exemplo – adquirem especial importância como agentes e o mercado de capitais torna-se crítico como o local em que as operações vão se realizar.

O Ministério da Fazenda discute com o setor finan-ceiro a possibilidade de fundação de um sindicato de bancos que teria a função de criar um fundo com recursos de instituições financeiras públicas e priva-das para financiamento de concessões de rodovias. De acordo com o Governo, essas concessões envol-verão investimentos de R$ 50 bilhões. Os debates ini-ciais apontam que os bancos poderão financiar até 70% do total dos investimentos, em operações que

terão prazo de 25 anos, mais cinco anos de carência, e taxa em torno de 7% ao ano (TJLP mais 2%).

15.1 LetrAS FINANCeIrAS ImObILIÁrIAS e COVered bONdS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a criação de instrumentos financeiros inovado-res que permitam aos agentes do crédito imo-biliário captar recursos de longo prazo a taxas reduzidas para financiar o acesso de número cada vez maior de brasileiros ao mercado de imóveis. A criação das Letras Financeiras Imo-biliárias ampliaria o leque de instrumentos fi-nanceiros inovadores.

Sugeridas pelo setor de crédito imobiliário como novo instrumento de captação de recursos para o financiamento da habitação, as Letras Financeiras Imobiliárias (LFIs) podem ser consideradas parte da solução para eventual redução dos recursos da pou-pança como fonte exclusiva de financiamento. A LFI seria uma versão brasileira dos covered bonds, bas-tante usados na Europa. Trata-se de um título de cré-dito de longo prazo com dupla garantia, assegurado tanto pelo banco emissor quanto pelos créditos que os lastreiam. Além da dupla segurança, a Letra teria isenção de imposto de renda para os investidores que comprarem papéis de prazo mais longo. Hoje, esse benefício já vale para alguns instrumentos que finan-ciam o setor, como os Certificados de Recebíveis Imo-biliários (CRIs) comprados por pessoas físicas. Nas LFIs o lastro é constituído por créditos imobiliários submetidos ao regime fiduciário, constituindo patri-mônio separado em relação ao patrimônio geral da instituição emitente, imunes a procedimentos execu-tórios ou falimentares que venham a envolvê-la.

Os covered bonds são instrumentos de dívida garan-tidos por financiamentos imobiliários residenciais

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ou comerciais (com garantia real dos imóveis), em-préstimos ao setor público ou financiamentos garan-tidos por navios. Esse conjunto de ativos utilizados como garantia dos títulos é denominado cover pool, ou pool de ativos. Os investidores dos covered bonds possuem preferência em relação aos ativos do cover pool, em caso de insolvência da instituição emissora. Na perspectiva do emissor, o covered bond é qualifi-cado como dívida e é considerado em grande parte instrumento financeiro de captação de longo prazo.

Os covered bonds apresentam-se como alternativa ao mercado brasileiro como forma de funding para as instituições financeiras, pois os bancos não preci-sariam transferir suas carteiras de crédito imobiliário como ocorre na emissão de CRI. A criação de título de crédito que contemple as principais caracterís-ticas dos covered bonds pode dinamizar o mercado imobiliário brasileiro, mesmo porque o mercado brasileiro é caracterizado pela existência de grandes bancos de varejo, ampliando as fontes de captação para novos financiamentos.

15.2 PArCerIAS PÚbLICO-PrIVAdAS (PPP)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que busquem dar efetividade à legislação que trata das parce-rias público-privadas de maneira a incentivar a adesão voluntária de entes privados ao com-partilhamento de riscos com o poder público, por meio do financiamento e da gestão de pro-jetos e de serviços de interesse da população.

O instituto das Parcerias Público-Privadas, ou PPPs, foi introduzido no Brasil pela Lei nº 11.079/2004, que estabeleceu normas gerais para licitação e contra-tação no âmbito da administração pública. Trata-se de contrato administrativo de concessão, com duas modalidades: a concessão patrocinada, na qual se acrescenta à tarifa cobrada dos usuários uma con-

traprestação pecuniária do parceiro público ao par-ceiro privado; e a concessão administrativa, na qual o parceiro privado presta serviços de que a Adminis-tração Pública seja usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.

A regulamentação das PPPs passa por temas con-troversos, tais como os procedimentos licitatórios; a origem dos recursos públicos destinados ao Fundo Garantidor das Parcerias Público-Privadas (artigo 16 da Lei nº 11.079/2004); a precedência de liquidação das obrigações financeiras decorrentes das PPPs; o papel das Sociedades de Propósito Específico (SPE) no empreendimento; as limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal; e a possibilidade de se adotar a arbitragem como mecanismo de solução de controvérsias das parcerias público-privadas.

Poucos projetos de PPP se concretizaram entre a aprovação da Lei, em dezembro de 2004, e a crise fi-nanceira internacional de 2008, um período em que tanto a economia brasileira quanto a internacional passaram por período de quase quatro anos de pros-peridade e liquidez. Recentemente retomou-se o ím-peto dessa modalidade.

Três razões justificam o fortalecimento de PPPs no Brasil: (i) a necessidade de aumentar o montante de investimentos; (ii) o fato de o Estado contar com res-trições fiscais para elevar sua participação em investi-mentos; (iii) acréscimo de eficiência por meio da par-ticipação de agentes privados em serviços essenciais ao desenvolvimento nacional, para melhoria da pres-tação dos serviços, inovação tecnológica e de gestão, bem como transparência na execução de projetos.

A Lei nº 12.766/2012 introduziu importantes altera-ções: (a) ampliou definitivamente o limite percentu-al de comprometimento da receita corrente líquida dos Estados, Distrito Federal e Municípios com des-pesas em contratos de PPP (para efeito de concessão de garantias e realização de transferências voluntá-rias pela União); (b) permitiu aportes do ente públi-

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co contratante para o parceiro privado ainda que durante a fase de investimentos, diminuindo riscos e tornando o contrato de PPP mais seguro e atrativo, prevendo a possibilidade de aplicação de um regime tributário diferenciado para essa situação; (c) redu-ziu o prazo mínimo em que o parceiro privado po-derá acionar o fundo garantidor da PPP, de modo a ampliar a liquidez da garantia; (d) tratou do nível de detalhamento dos estudos de engenharia para PPP; (e) aprimorou as disposições relativas ao Fundo Ga-rantidor das PPPs (FGP); e (f) permitiu o recolhimen-to diferido de PIS, COFINS, IR e CSLL incidentes sobre os aportes de recursos do parceiro público relativos à construção ou aquisição de bens reversíveis.

Existem iniciativas de aperfeiçoamento institucional que visam a facilitação de Propostas de Manifesta-ção de Interesse (PMI), mecanismo por meio do qual podem ser viabilizados estudos ou levantamentos que sirvam para modelagem de projetos de PPPs por agentes privados.

15.3 PrIVAtIZAçÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a privatização de companhias estatais e de ser-viços públicos que, conduzidas em processos transparentes, estabeleçam preços de venda a partir de critérios verificáveis e rigorosamente técnicos. Do mesmo modo, devem contribuir para valorização patrimonial das empresas e serviços públicos privatizados, para a geração de empregos, para oferta de mais e melhores produtos e serviços, para ganhos de produtivi-dade e para maior arrecadação de tributos.

Apesar das frequentes críticas ao processo de priva-tização ocorrido no Brasil, é verificável a eficiência que introduziram em diversas atividades econômi-cas, seja em termos de produtividade, seja em ter-

mos de maior geração de empregos, seja em termos de maior retorno aos acionistas, seja pela oferta de mais e melhores produtos e serviços, seja ainda em termos de aumento de arrecadação de tributos. Na maioria dos casos, todas as partes envolvidas ga-nharam com os processos de privatização – traba-lhadores, acionistas, consumidores e o Fisco. Con-tribuíram para ganho de competitividade do país e para o desenvolvimento de outros setores direta-mente ou não ligados àqueles que passaram pelo processo de privatização.

É falsa a percepção de que as privatizações consisti-ram em meras vendas de ativos públicos para gerar recursos destinados ao custeio de gastos correntes – a troca de patrimônio pelo simples pagamento de faturas vincendas. Também é falsa a percepção de que consistiram na troca de benefícios que eram ge-rados para toda a sociedade por lucros canalizados exclusivamente para grupos privados. Na verdade, muitas das companhias privatizadas, por serem de-ficitárias, absorviam recursos públicos que hoje têm melhor destinação e oferecem maior retorno social na forma de saúde, educação e segurança pública, por exemplo. Privatizadas, tais companhias não só deixaram de drenar esses recursos, como também passaram a contribuir com tributos – diretamente – e a estimular outras atividades que também pas-saram a arrecadar mais tributos – indiretamente. O preço de venda das companhias foi estabelecido de maneira rigorosamente técnica para refletir o valor presente dos fluxos de caixa projetados para elas, associado a ativos intangíveis tais como fundos de comércio e valor das marcas.

O Governo Lula privatizou, por exemplo, cerca de 2,6 mil quilômetros de rodovias federais, que foram a leilão em 9 de outubro de 2007, e realizou a conces-são por trinta anos de 720 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul para a Vale do Rio Doce pelo valor de R$ 1,4 bilhão. Na mesma época foram também privati-zados o Banco do Estado do Ceará, o Banco do Esta-do do Maranhão, o Banco do Estado do Piauí, o Ban-co do Estado de Santa Catarina, a Hidrelétrica Santo

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Antônio, a Hidrelétrica Jirau e a Linha de transmis-são Porto Velho (RO) – Araraquara (SP).

Em agosto de 2012, a Presidência da República anunciou pacote de concessões no total de R$ 370 bilhões envolvendo aeroportos (R$ 34,9 bilhões), fer-rovias (R$ 91 bilhões), rodovias (R$ 42 bilhões), por-tos (R$ 54,2 bilhões), além de geração e transmissão de energia elétrica (R$ 148,1 bilhões).

Entretanto, os primeiros leilões de concessões de infraestrutura só se iniciaram em 2013. Foram con-tratados, somente no ano de 2013, segundo o Gover-no Federal, investimentos de R$ 80,3 bilhões pelos próximos 35 anos em concessões de rodovias, aero-portos, terminais portuários de uso privado, blocos de petróleo e gás natural e geração e transmissão de

energia elétrica. São exemplos das concessões reali-zadas em 2013 as rodovias BR-163 (MT), BR-163 (MS), BR-060 (DF/GO), BR-050 (GO/MG) e BR-040 (MG/GO/DF), os aeroportos de Brasília, Campinas, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro e o leilão do Campo de Petróleo e Gás de Libra no Rio de Janeiro.

Para o ano de 2014 o Governo Federal espera conti-nuar a execução do Programa de Investimento em Logística (PIL), que prevê contratações de obras de infraestrutura no país no valor de R$ 253 bilhões em 30 anos. Estão previstas as concessões de ferrovias, destaque os trechos entre Lucas do Rio Verde (MT) e Uruaçu (GO) e entre Estrela D’Oeste (SP) e Dourados (MS). Também está previsto pelo Governo Federal, ainda no primeiro semestre de 2014, a licitação da rodovia BR-153 (GO/TO).

capítulo 15: FINANCIAmeNtO de LONgO PrAZO

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queStõeS trIbutÁrIAS16

No Brasil, há que se aperfeiçoar a tributação de modo a estimular a racionalidade e a competitivida-de, com respeito à isonomia. O país contém uma das maiores cargas tributárias do mundo, e em relação à América Latina, ocupa a segunda posição do ranking, cuja carga corresponde a 36,3% do PIB (Revenue Statistics Latin America 2014). Após a instauração do sistema fiscal federativo, o sistema tributário tornou-se ainda mais complexo, por causa da variedade de tributos, inclusive com incidência sobre o mesmo fato gerador, da imposição de obrigações acessórias excessivas sobre os contribuintes e das mudanças frequentes de regras e normas. Assim, além da alta carga tributária, o Brasil ainda encontra-se na 159ª posição, em 189 países, no quesito “Facilidade de apuração de tributos” (Doing Business 2014).

Quanto à racionalidade, o sistema tributário brasi-leiro dá margem a insegurança jurídica, por causa da variedade de tributos, da imposição de inúmeras obrigações acessórias sobre os contribuintes e das mudanças frequentes de regras e normas. Um siste-ma tributário complexo demanda a criação de one-

rosas estruturas burocráticas nas empresas, que se refletem no custo e nos preços dos bens e serviços prestados à população.

Quanto à competitividade, por sua vez, o sistema tributário brasileiro onera excessivamente os in-vestimentos, as exportações e a intermediação fi-nanceira. O Brasil é dos poucos países que tributam bens de capital e ativos fixos, o que desestimula investidores. Também as exportações brasileiras, na contramão da prática internacional, incorporam tributos que prejudicam sua competitividade no ex-terior. Um sistema tributário complexo, com marca-das diferenças em relação aos de outros países, di-ficulta ainda mais as operações internacionais das empresas brasileiras.

A esses problemas acrescenta-se a tributação em cascata, que muitas vezes implica dupla tributação incidente sobre um mesmo bem ou serviço. Um exemplo dessa distorção é a tributação sobre a in-termediação financeira. Não se encontra exemplo in-ternacional de país que arrecade Imposto de Renda

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a simplificação da tributação, o respeito à isonomia e a desoneração fiscal que contribuam para a racionalidade do sistema tributário, para o aumento da competitividade das empresas e para a eliminação de tributação em cascata, sobretudo a que incide sobre a intermediação financeira.

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Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre Lu-cro Líquido (CSLL) – maior do que a que incide sobre outros setores da economia –, Programa de Integra-ção Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Imposto sobre Ope-rações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) e, em alguns ca-sos, Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) sobre operações financeiras. Essa cascata de impostos reflete-se numa maior margem bancária (spread ), à qual corresponde maior custo para o to-mador de crédito. Com um custo maior, o tomador apura resultados menores e, em consequência, reco-lhe menos tributos sobre esses resultados. Além da complexidade operacional do recolhimento dessa profusão de tributos, sobressai-se o encarecimento de crédito em um país que, cada vez mais, precisa de recursos para financiamento de projetos que gerem empregos e produzam riquezas.

A CNF entende que o tratamento jurídico tributá-rio de pessoas físicas e jurídicas que se encontrem na mesma situação deve observar a isonomia em todas as relações, bem como que a simplificação no cumprimento das obrigações tributárias é uma meta a ser buscada.

16.1 CódIgO de deFeSA dOS CONtrIbuINteS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia a criação de um código com regras específicas para a defesa dos contribuin-tes, que assegure tributação livre de qualquer arbitrariedade e garanta a todos o princípio da segurança jurídica, ao dar aos contribuintes condições de conhecer seus direitos tributários, que devem decorrer da Lei igual para todos.

O contribuinte brasileiro está sujeito a mais de uma centena de diferentes tipos de tributos. A legislação

que rege esses tributos estabelece parâmetros bási-cos de taxação (como fato gerador, alíquota e base de cálculo), mas também destaca direitos dos con-tribuintes. Nesse cenário, há mérito em propostas que busquem enfeixar, numa única lei, todos esses direitos que hoje se encontram dispersos por vários dispositivos legais. Essa única lei, ao atender dois aspectos fundamentais – os direitos do contribuinte e a busca da justiça fiscal – trataria de normas ge-rais sobre direitos e garantias aplicáveis na relação tributária dos contribuintes com a administração fa-zendária da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

A experiência internacional caminha nessa direção. Há hoje tratados internacionais sobre os direitos básicos dos contribuintes, bem como leis nacionais (como a “Taxpayer Bill of Rights II” dos Estados Uni-dos, de 1996, e a “Ley de Derechos y Garantias de los Contribuyentes” da Espanha, de 1998).

Um Código dessa natureza consolidaria direitos dos contribuintes, tais como: formular alegações e apresentar documentos antes do julgamento ad-ministrativo; fazer-se assistir por advogado; receber comprovantes de material entregue ou apreendido pela fiscalização fazendária; ser informado de pra-zos para pagamento de prestações, inclusive mul-tas e acessórios; receber resposta fundamentada a pleito administrativo que haja formulado, em prazo certo; ter ciência formal da tramitação dos proces-sos administrativo-tributários cuja decisão possa, de qualquer forma, atingi-lo pessoal ou patrimonial-mente por efeito direto ou indireto, assegurando-se vista dos autos, obtenção das memórias de cálculo e cópias que requeira; conhecer formalmente as deci-sões nelas proferidas; ter unificados os prazos recur-sais no âmbito do processo administrativo fiscal; e ter acesso a todas as fases de julgamento adminis-trativo, especialmente em primeira instância.

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16.2 reFOrmA dO PrOCeSSO AdmINIStrAtIVO FISCAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas a instituir normas gerais sobre o processo administrativo fiscal no âmbito das administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, visando disciplinar a garantia cons-titucional do contraditório e da ampla defesa.

O processo administrativo fiscal é um instrumento que o Direito Tributário assegura ao contribuinte para que ele se defenda de eventual excesso de exa-ção contido no lançamento. Sua função de aperfeiço-ar o lançamento é reconhecida na Súmula Vinculante nº 24, do Supremo Tribunal Federal, que não admite a tipificação de crime material contra a ordem tribu-tária antes do lançamento definitivo do tributo. O lançamento só é definitivo quando não mais couber recurso no âmbito do processo administrativo fiscal.

Não há dúvidas quanto à importância de se suprir lacuna hoje existente, que leva cada ente federado, isoladamente, com base no arts. 24, § 3º, ou no art. 30, II, da Carta da República, a fazer uso da compe-tência legislativa plena, ante a inexistência de lei federal sobre normas gerais que regule o processo administrativo fiscal. Essa profusão de normas, so-mada à baixa padronização, coordenação e coopera-ção entre os diversos níveis de governo, acarreta um custo adicional para os contribuintes, notadamente as empresas, que precisam ter equipes jurídicas es-pecializadas, orientadas para cada um dos diversos ritos esparsamente distribuídos por União, Estados, Municípios e o Distrito Federal.

Tramitam no Congresso Nacional alguns projetos que visam ao aperfeiçoamento do Processo Admi-nistrativo Fiscal, com escopo de assegurar as prer-rogativas dos tribunais administrativos tributários, que estão vocacionados para acentuar o papel de

analista mais qualificado e especializado das quere-las tributárias entre o Fisco e os contribuintes.

A CNF entende que a unificação das regras do Pro-cesso Administrativo Fiscal assegura o direito ao contraditório e à ampla defesa, especifica quais os recursos que estarão à disposição dos contribuintes, os prazos para acesso a cada recurso, as regras para decisões definitivas, as prerrogativas dos órgãos jul-gadores e a previsão de súmulas vinculantes, trazen-do maior segurança jurídica e construindo um siste-ma tributário mais harmônico, eficiente e respeitoso dos direitos dos contribuintes e da função arrecada-tória da Fazenda Pública.

16.3 trANSPArêNCIA de dAdOS FISCAIS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que ampliem a transpa-rência das informações sobre as quais há inte-resse geral em sua obtenção e que permitam maior controle social das contas públicas. A liberação de informações privadas a terceiros, no entanto, deve ser protegida pelo sigilo fiscal, salvo nas hipóteses já previstas em lei.

Discute-se no Congresso Nacional a ampla divulga-ção dos dados fiscais do contribuinte. A previsão é de que seja criado um banco de dados com informações relativas, no caso de pessoas jurídicas, ao valor do patrimônio líquido, total da receita anual passível de tributação e tributos pagos. Tal base de dados ficaria acessível, a qualquer tempo, a qualquer interessado.

A administração tributária no tratamento das infor-mações do contribuinte deve guiar-se pelo dispos-to no art. 198 do Código Tributário Nacional (CTN), respeitando o sigilo dos dados, salvo nos casos de requisição por autoridade judiciária e de solicita-ção por autoridade administrativa, comprovada a instauração regular de processo administrativo.

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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Mesmo quando a troca de informações fiscais dos contribuintes é permitida entre a Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-nicípios (art. 199 do CTN), esta deve pautar-se pela garantia de sigilo. Assim, não parece razoável permi-tir que terceiros não integrantes da relação jurídica tributária acessem as informações constantes do mencionado banco de dados, exceto nas situações excepcionais já estabelecidas. Inclusive, a divulga-ção dos dados sigilosos constitui crime previsto no art. 325 do Código Penal.

O que se pretende coibir (omissão sobre rendas, bens ou fatos, e a prestação de informações falsas à autoridade fazendária) já está tipificado na legis-lação penal e tributária, que pune condutas crimino-sas, entre elas as que atentem contra a Ordem Tribu-tária, disciplinadas na Lei nº 8.137/1990.

Ademais, medidas dessa natureza não demonstram o efetivo benefício social proveniente da divulgação de tais dados à população em geral. Quando a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), por exemplo, obriga a divulgação do salário dos servido-res públicos e a disponibilização do banco de dados a qualquer pessoa há um interesse coletivo e geral no acompanhamento dessas informações, visto que a população contribui com o pagamento dos servi-dores por meio de tributos. No entanto, quando se objetiva obrigar a divulgação de dados privados que somente importam às partes envolvidas na relação jurídica tributária, o interesse que se pretende tu-telar é privado e não público, não fazendo sentido, portanto, ferir o direito ao sigilo.

16.4 CrédItOS trIbutÁrIOS

Após a edição da Lei nº 11.051/2004, o Fisco consi-dera “não declarada a compensação” nos casos em que os créditos sejam de terceiros, crédito-prêmio IPI, títulos públicos, que sejam decorrentes de deci-sões judiciais que não estejam transitadas em julga-do ou que não sejam tributos e contribuições admi-nistrados pela própria Receita Federal.

Esses créditos eram utilizados na declaração ele-trônica de compensação, com recurso ao processo administrativo nos casos em que não fossem aceitos pela Receita, o que implicava postergação do paga-mento dos impostos até que houvesse uma decisão final desse processo administrativo. Ademais, a mul-ta pelo não pagamento de impostos, no caso de uti-lização de créditos tributários, era de 20% do valor do débito por tratar-se de pagamento espontâneo e discutível. Após a Lei nº 11.051, a compensação pas-sou a ser considerada como não declarada e a multa pode chegar a até 150% do débito.

Por um lado, a vedação do uso de créditos tributá-rios extinguiu práticas incompatíveis com a boa ges-tão pelas empresas de suas obrigações tributárias. Por outro, não ofereceu solução para contribuintes que devem honrar essas obrigações tributárias no curto prazo, ao mesmo tempo em que são detento-res de direitos tributários – contra o Fisco – de resti-tuição, no longo prazo.

16.5 CONSeLHO AdmINIStrAtIVO de reCurSOS FISCAIS (CArF)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que regulamentem a utilização de créditos tributários, de maneira a permitir que direitos e obrigações tributários

se realizem dentro do mesmo horizonte tempo-ral, como forma de promoção de justiça fiscal.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, que tem a prerrogativa de indicar Conselheiros para o Conselho Administrativo

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O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) é um órgão colegiado paritário, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, que tem por finalidade julgar os recursos de ofício, voluntários e especiais que versem sobre a aplicação da legislação referente a tributos administrados pela Secretaria de Receita Federal do Brasil (SRF). Decisões do CARF fa-voráveis aos contribuintes são definitivas (à Receita fica vedado recurso), ao passo em que decisões favo-ráveis ao Fisco podem ser objeto de processo judicial movido por contribuintes. As decisões do CARF são particularmente importantes porque criam jurispru-dência, seja no próprio Conselho (onde podem ter efeito vinculante e balizar todas as decisões sobre processos assemelhados), seja no Judiciário.

O CARF propicia acórdãos marcados por riqueza dou-trinária e jurisprudencial que solucionam divergên-cias sobre a interpretação das leis tributárias. Durante quase noventa anos desde a instituição do Conselho, a estrutura e a competência do colegiado sofreu mo-dificações, com impacto sobre a quantidade de pro-cessos para julgamento e a necessidade de maior especialização de seus Conselheiros. O CARF busca a promoção da imparcialidade e da justiça fiscal, além de oferecer maior celeridade à solução das lides.

As decisões do Conselho ajudam a diminuir a judi-cialização de temas tributários, bem como fortalece ainda mais a solução de conflitos nas instâncias ad-ministrativas.

Tramitam no Congresso Nacional propostas que buscam agilizar e simplificar os procedimentos ad-ministrativos fiscais. Também tramitam projetos que vulneram os contribuintes, em contraste com a pro-teção que oferece o CARF. Para a CNF, o cerne de no-vos projetos com foco no CARF deveria consistir no fortalecimento das prerrogativas dos Conselheiros e da autonomia do órgão.

16.6 eXeCuçÃO FISCAL

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a trans-parência das execuções fiscais que assegurem igualdade de tratamento ao Fisco e ao contri-buinte, bem como o direito à ampla defesa e ao contraditório na fase administrativa, consi-derando que tais direitos são garantidos plena-mente somente no âmbito do Judiciário.

O Congresso Nacional discute a criação de um arca-bouço legal que trate da Execução Administrativa da Dívida Ativa da União e da Penhora Administrativa, permitindo-se a constrição dos bens na instância ad-ministrativa, cabendo ao Judiciário o mero controle de legalidade dessa constrição.

Essa forma não é apropriada para a cobrança dos créditos tributários. A inovação seria inconstitucio-nal por conferir tratamento diferenciado ao permi-tir a execução administrativa apenas quando o Fis-co for o credor. Violaria, ainda, o inciso LIV do artigo 5º da CF, o qual assegura que ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal. Em um Estado Democrático de Direito, o Judiciário deve ser o único caminho para a busca da constrição dos bens dos cidadãos, pois nessa via o contraditório é plenamente garantido, já que no processo adminis-trativo não se pode questionar constitucionalidade de lei ou ato administrativo. Retirada a mencionada atribuição do Judiciário, estaria configurada a usur-

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

de Recursos Fiscais (CARF), apoia propostas que visem ao aperfeiçoamento do controle de legalidade dos lançamentos tributários para assegurar imparcialidade e justiça fiscal. A CNF apoia o aperfeiçoamento dos procedimentos administrativos daquele órgão colegiado para dar maior transparência aos julgamentos, bem como o fortalecimento das prerrogativas dos Conselheiros e da autonomia do órgão.

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pação de competência, em clara afronta à triparti-ção de poderes.

Propostas em tramitação pretendem autorizar a Fa-zenda Pública a requisitar informações sobre quais-quer bens e direitos dos devedores na fase adminis-trativa do procedimento. A ausência de autorização judicial pode configurar violação do sigilo bancário e fiscal prevista na Constituição quando houver fun-dadas suspeitas de delito.

Tais propostas contêm aspectos meritórios. A oferta de garantias extrajudiciais na esfera administrativa para se obter certidão positiva com efeitos de nega-tiva; e o pagamento de créditos públicos por meio de leilão administrativo de bens e dação em paga-mento constituem um avanço. Também o recurso à transação para encerrar litígios tributários é positivo, sobretudo se puder envolver multas e juros da dívi-da ao lado do crédito tributário e a simplificação das exigências para a recuperação tributária da empresa.

16.7 PArtICIPAçÃO NOS LuCrOS Ou reSuLtAdOS (PLr)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de aprimoramento da regulamentação de participação dos traba-lhadores nos lucros ou resultados das empresas que contemplem pelo menos três elementos fundamentais, a saber: a PLR (a) deve ser um instrumento de integração entre capital e tra-balho; (b) deve servir como incentivo à produti-vidade; (c) e não deve constituir base para qual-quer encargo trabalhista ou previdenciário.

Não existe Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre participação nos lucros ou resultados (PLR). Em vários países, a participação nos lucros ou resultados é concedida ou por nego-ciação coletiva, ou por decisão da empresa. Os crité-

rios de concessão são díspares e seu impacto sobre a volatilidade do nível de emprego é incerto.

Os problemas associados à PLR estão ligados, so-bretudo, à incidência ou não da contribuição social previdenciária e encargos trabalhistas. Até a Cons-tituição de 1988, a participação nos lucros paga ao empregado integrava o salário e consequentemen-te implicava incidência de encargos (Consolidação das Leis do Trabalho, art. 457, §1º). A Constituição de 1988 estabeleceu em seu art. 7º, XI: “participa-ção nos lucros, ou resultados, desvinculada da re-muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei”. O dis-positivo constitucional, apesar de desvincular ex-pressamente a PLR do salário, ainda necessitou de regulamentação pela Medida Provisória nº 794, de 1994. A Lei n° 9.711/1998 incorporou alguns dos dis-positivos daquela MP, tais como a desvinculação da PLR da remuneração.

Está hoje em vigor a Lei n° 10.101/2000, que dispõe em seu artigo 2º que a PLR seja negociada entre a empresa e seus empregados. Reitera que a PLR não substitui ou complementa a remuneração devida, nem constitui base de incidência de qualquer en-cargo trabalhista. Também estabelece “mediação” e

“arbitragem de ofertas” como mecanismos de solu-ção de controvérsias.

Em junho de 2013, a Lei n° 12.832/2013 alterou al-guns dispositivos da Lei nº 10.101/2000, estabele-cendo novos critérios importantes para que os pa-gamentos de PLR sejam isentos de tributos. Dentre eles destacam-se: (i) intervalo mínimo entre os paga-mentos que era de um semestre civil, passa para um trimestre civil (continua mantido, porém, o limite de até no máximo dois pagamentos por ano civil); (ii) sobre a composição da comissão formada por repre-sentantes dos empregados e do empregador para negociação da PLR, que não era regulada, passa a ser obrigatória a participação paritária de empregados e empregadores, além do representante indicado pelo sindicato dos empregados; (iii) o empregador

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fica obrigado a prestar aos representantes dos traba-lhadores na comissão paritária todas as informações que colaborem para a negociação; (iv) os critérios e condições para apuração da PLR não podem envol-ver metas referentes à saúde e a segurança do traba-lhador; (v) quanto à solução de impasses na negocia-ção da PLR, ficou estabelecido que as partes devem utilizar, no que couber, a Lei da Arbitragem (Lei 9.307/1996); (vi) a nova Lei converte a Medida Provi-sória nº 597/2012, que já havia instituído tabela pro-gressiva especial de IRRF isentando os trabalhadores que receberem PLR até o limite atual de R$ 6.270,00. Com a nova redação, a partir do ano-calendário 2014, inclusive, os valores da tabela progressiva anual se-rão reajustado no mesmo percentual de reajuste da Tabela Progressiva Mensal do imposto de renda inci-dente sobre os rendimentos das pessoas físicas. Aci-ma do teto estabelecido não haverá isenção, sendo a PLR calculada de forma escalonada.

De acordo com o art. 3º, a Lei entrou em vigor na data de sua publicação (20 de junho de 2013), pro-duzindo efeitos retroativos, a partir de 1º de janeiro de 2013. Isso poderá gerar discussões a respeito da validade dos acordos firmados entre 1º de janeiro e 20 de junho de 2013.

No âmbito administrativo, o Conselho Administra-tivo de Recursos Fiscais (CARF) vem interpretando a Lei nº 10.101/2000 para julgar a clareza de regras e critérios para aferição do desempenho; a PLR di-ferenciada para cargos de direção; e as convenções coletivas de trabalho com termos genéricos.

16.8 trIbutAçÃO de INCeNtIVOS à CONtrAtAçÃO e à PrOdutIVIdAde

O dinamismo da economia brasileira acirra a con-corrência entre as empresas. Nesse cenário, a fim de atrair trabalhadores qualificados, as empresas têm buscado implementar novos mecanismos para atender às suas demandas por mão-de-obra espe-cializada, bem como por maior produtividade. Entre esses mecanismos, o hiring bonus e o stock options plan figuram como os dois maiores exemplos para a captação de novos talentos e manutenção de trabalhadores.

Hiring bonus, ou bônus de contratação, são valores ofertados pelas empresas aos futuros empregados, previamente à efetivação do contrato de trabalho. O objetivo desse instrumento é indenizar o traba-lhador pelos riscos da mudança de emprego: dei-xar a estabilidade de um antigo posto de trabalho e enfrentar as incertezas de um novo cargo. Já stock options plan constitui-se no contrato a ser firmado entre a empresa e seus funcionários com o objeti-vo de permitir que estes tenham direito a exercer o poder de compra de ações da empresa a um preço pré-fixado. Ao converter funcionários em acionistas da empresa, o principal objetivo desse mecanismo é estimulá-los a se comprometer cada vez mais com o negócio em que estão inseridos, seja alinhando-os com as metas e a missão da empresa, seja auxilian-do na fidelização das relações trabalhistas.

Na esfera tributária, esses métodos de atração de novos talentos e incentivo à produtividade de fun-cionários vêm gerando controvérsias acerca da su-jeição à incidência das contribuições previdenciá-rias. Por um lado, o Fisco entende haver incidência, visto que tais mecanismos se revestiriam de caráter remuneratório. Por outro, argumenta-se que, embo-

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a re-gulamentação da incidência de tributos sobre mecanismos utilizados pelas empresas para

atrair novos talentos e incentivar a produtivi-dade de seus funcionários, como Hiring Bonus e Stock Options Plan. Para a CNF esses incenti-vos não devem resultar em mais encargos tra-balhistas e previdenciários.

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ra representem uma forma de ganho financeiro ao trabalhador, esses mecanismos têm natureza inde-nizatória e, portanto, desvinculada do salário, o que afastaria a incidência de contribuições previdenci-árias. A maioria dos entendimentos proferidos, por exemplo, pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) são pela não incidência previdenciária sobre esses mecanismos.

Mais do que uma questão tributária, diante do atual cenário mundial de crise econômica e do aumento da demanda por talentosos funcionários, o tema se re-veste de tom econômico. Tributar essas indenizações e esses incentivos financeiros erige obstáculos ao di-namismo necessário ao crescimento da economia.

16.9 COmPeNSAçÃO de ÁgIO INterNO em reOrgANIZAçõeS SOCIetÁrIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que criem a possi-bilidade de compensação do ágio intragrupo (ágio interno), dedutível para fins de apuração do lucro fiscal, nos casos de reorganização so-cietária com claro propósito negocial de otimi-zação das atividades empresariais.

A compensação do ágio gerado em operações intra-grupo, o chamado “ágio interno”, no cálculo do Im-posto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lu-cro Líquido (CSLL) é um dos temas mais relevantes nos processos de reorganização societária. As Câma-ras baixas do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), por exemplo, começaram a analisar processos relativos à legitimidade desse tipo de compensação de ágio.

Em alguns casos, o CARF decidiu majoritariamente pela legalidade do aproveitamento do ágio interno, gerado em operações de compra e venda de em-presas do mesmo grupo. Embora os contribuintes

tenham obtido ganhos de causa, a jurisprudência necessita ser pacificada na Câmara Superior da-quele Conselho. As decisões proferidas pelo CARF ainda não são definitivas, podendo a Fazenda Na-cional vir a interpor recurso à Câmara Superior de Recursos Fiscais.

A amortização do ágio baseado em expectativa de rentabilidade futura, decorrente de incorporação (inclusive incorporação reversa), é contabilizada como despesa à razão de 1/60, não sendo obrigató-rio qualquer ajuste no Livro de Apuração de Lucro Real (LALUR), uma vez que compõe o demonstrati-vo de resultados na apuração do Lucro Líquido so-cietário. Essa amortização é dedutível para fins de apuração do lucro fiscal. Esse tipo de operação deve acompanhar todas as proposições normativas con-tidas no âmbito do direito civil, societário, contábil e fiscal, para serem gerados todos os efeitos tributá-rios dela decorrente.

O fato de não haver qualquer transferência de nume-rários entre as empresas do mesmo grupo não inva-lida a operação, uma vez que o custo de aquisição é o valor das novas ações emitidas em aumento de capital, tudo em contraprestação pelas ações incor-poradas. O referido negócio jurídico equipara-se à própria venda, por força de disposição legal contida no artigo 10 da Lei nº 6404/1976, que dispõe: “Art.10. A responsabilidade civil dos subscritores ou acionis-tas que contribuírem com bens para a formação do capital social será idêntica à do vendedor”. Assim, na incorporação de ações, entrega-se as ações da incorporada e tem-se como contraprestação o rece-bimento de ações da incorporadora.

Nesse tipo de operação societária, a clara definição do propósito negocial é fundamental. Em uma economia de livre mercado, não se concebe a livre concorrência sem a realização de reorganizações societárias volta-das para otimização das atividades empresariais, da qual um dos efeitos é a economia tributária.

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16.10 trIbutAçÃO SObre gANHOS de CAPItAL NÃO reALIZAdOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que afastem a in-cidência de tributos sobre ganhos de capital que não se realizaram, tal como se discute, por exemplo, nas operações de “desmutualização” da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), ocorrida em 2007.

A tributação sobre ganhos de capital só se concreti-za uma vez verificada sua realização, com casos em que se verifica acréscimo patrimonial. Contudo, ope-rações societárias complexas podem dar margem a dúvidas quanto à legalidade da cobrança de tributos. Discute-se, por exemplo, a exigência de pagamento de Imposto de Renda sobre ganhos de capital, su-postamente obtidos pelas instituições detentoras de títulos patrimoniais da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) no contexto do chamado processo de “des-mutualização” das bolsas, ocorrido no ano de 2007.

Na visão dos contribuintes, trata-se de tema de grande apreensão, seja pela ilegalidade da preten-são do Fisco de tributar ganhos de capital não rea-lizados, seja pela fragilidade jurídica da premissa que fundamenta a interpretação da Administração Fiscal para essa pretensão.

Até 2007, a Bovespa e a BM&F eram associações sem fins lucrativos, regidas por seus respectivos esta-tutos e pelos artigos 53 e seguintes do Código Civil, com seus patrimônios representados por títulos de propriedade detidos pelos associados. Durante aquele ano, a Bovespa e a BM&F foram objeto de processos de (i) “desmutualização”, assim desig-nada a “transformação” de associações integradas exclusivamente pelos membros registrados em so-ciedades anônimas; seguida da (ii) abertura do ca-

pital das companhias resultantes da referida “trans-formação” para a negociação das respectivas ações em bolsa de valores.

A “desmutualização” da Bovespa ocorreu em 28 de agosto de 2007 e envolveu as seguintes etapas, to-das realizadas na mesma data: (i) cisão parcial da Bovespa, com a versão das parcelas de seu patrimô-nio em duas sociedades: Bovespa Holding e Boves-pa Serviços S.A. (“Bovespa Serviços”); e (ii) incorpo-ração das ações da Bovespa Serviços ao capital da Bovespa Holding (nos termos do artigo 252 da Lei nº 6.404/1976). A “desmutualização” da BM&F seguiu idêntico modelo jurídico, em 20 de setembro de 2007.

Em decorrência das operações em questão, os anti-gos detentores de títulos patrimoniais da Bovespa e BM&F passaram a ser titulares de ações represen-tativas do capital da Bovespa Holding e da BM&F Holding, as quais, por sua vez, passaram a ter como subsidiárias integrais, respectivamente, a Bovespa Serviços e a BM&F Serviços.

A Receita Federal do Brasil (RFB) exige IRPJ e CSLL sobre a atualização dos títulos patrimoniais detidos pelas Corretoras, sob a alegação de que, quando da transformação desses títulos em ações, teria ocor-rido a “devolução do patrimônio investido”, o que justificaria a incidência dos referidos tributos sobre o ganho de capital, nos termos do artigo 17 da Lei nº 9.532/1997.

As associações Bovespa e BM&F não foram extintas, motivo pelo qual não teria havido qualquer “devo-lução de patrimônio” passível de tributação, mas mera transformação dos títulos em ações das socie-dades anônimas que incorporaram parcelas cindi-das das associações.

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) negou provimento aos recursos voluntários nos casos que foram julgados, firmando posição contrária aos contribuintes. O principal fundamen-to utilizado nos votos vencedores foi o artigo 61 do

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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Código Civil, que, de acordo com a interpretação de alguns Conselheiros, não apenas vedaria a cisão e incorporação de entidades sem fins lucrativos, mas também estabeleceria a ocorrência de dissolução das associações no caso concreto, bem como, conse-quentemente, a devolução do patrimônio investido. Os Conselheiros vencidos consignaram que as ope-rações de cisão e incorporação das associações são expressamente autorizadas pelo artigo 2.033 do Có-digo Civil e, além disso, o citado artigo 61 não seria aplicável ao caso. As decisões não são definitivas, ca-bendo recurso especial à Câmara Superior do CARF.

Outro ponto que merece destaque é o evento da incorporação de ações da Bovespa Holding S.A. na Nova Bolsa S.A.. Essa operação não pode ser con-siderada uma hipótese de alienação de ações por parte dos seus respectivos titulares, já que em razão da autonomia conceitual e por suas características particulares, a operação societária de incorporação de ações apresenta natureza meramente substituti-va das ações. Do ponto de vista legal, caracteriza-se uma sub-rogação real, não gerando qualquer ganho patrimonial suscetível de incidência tributária aos detentores das ações incorporadas.

16.11 trIbutAçÃO de emPreSAS COLIgAdAS e CONtrOLAdAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que afastem a in-cidência de tributos sobre ganhos de capital que não se realizaram, tal como se discute, por exemplo, nas operações de lucro não efetiva-mente disponibilizado por empresas coligadas e controladas sediadas no exterior.

A discussão sobre a tributação dos lucros auferidos no exterior por sociedades controladas e coligadas é um tema de grande relevância no cenário brasilei-ro, haja vista que atinge diversas empresas sediadas

no Brasil que possuem investimentos em socieda-des estrangeiras que caracterizam relação de con-trole e/ou coligação.

A referida tributação era tratada pela Lei n° 9.532/1997, que condicionou o pagamento do tri-buto à ocorrência de efetiva disponibilização jurí-dica e econômica da receita. Essa sistemática so-freu profunda alteração com a edição da Medida Provisória n° 2.158-35/2001, que, em seu artigo 74, estabeleceu a tributação das empresas coligadas e controladas quando da apuração de seus resulta-dos, independentemente de sua disponibilização jurídica e econômica.

O tributo seria devido mesmo nas hipóteses em que o pagamento ou crédito de lucro do exterior não seja distribuído em razão de decisões empresariais legítimas tais como: opção pela formação de re-servas e capitalização, aquisição ou ampliação de outros negócios.

A generalidade da tributação de controlada ou co-ligada no Brasil, por lucro auferido no exterior por controlada ou coligada, é indicativo claro de que não se pretendeu apenas evitar elisão fiscal, mas sim majorar resultado da arrecadação sem considerar aspectos subjetivos e objetivos do regime tributário.

A questão foi levada ao Supremo Tribunal Federal, que: (i) afastou a aplicação retroativa do artigo 74 da MP n° 2.158-35/2001 em todas as hipóteses, (ii) declarou a inconstitucionalidade do artigo 74 da MP n° 2.158-35/2001 em relação aos lucros gerados em sociedades coligadas sediadas em países que não sejam paraísos fiscais; e (iii) reconheceu que a questão do conflito do artigo 74 da MP n° 2.158-35/2001 com o texto dos Tratados para Evitar a Du-pla Tributação da Renda ainda deverá ser analisada pelos tribunais.

A CNF entende que há a necessidade de norma legal que possibilite maiores investimentos de empresas brasileiras no mercado externo, sem, contudo, con-

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figurar uma receita tributária quando não verificada a realização do ganho de capital ou acréscimo patri-monial por parte do investidor.

16.12 eNquAdrAmeNtO NO SImPLeS de COrreSPONdeNteS NO PAÍS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que possibilitem que empresas incluídas no Simples Nacional possam exercer a atividade de correspondentes no país, sem que tais atividades impliquem per-da do benefício tributário, mantendo, assim, o caráter socioeconômico da norma, que busca a regularização de empreendimentos informais, a ampliação da oferta de empregos formais.

A Lei Complementar nº 123/2006, também deno-minada Estatuto Nacional da Microempresa e Em-presa de Pequeno Porte, que instituiu o regime do Simples Nacional, foi introduzida com o intuito de regulamentar o disposto na Constituição Federal que, no parágrafo único do art. 146 e no inciso IX do art. 170 – dispositivos à época recém instituídos pela Emenda Constitucional nº 42/2003 (“EC 42/2003”) –, determina tratamento diferenciado e favorecido às microempresas (“ME”) e empresas de pequeno porte (“EPP”). As bases para a instituição de um tra-tamento diferenciado e favorecido às ME e EPP são primordialmente econômicas e sociais.

A função primordialmente econômica e social dos regimes simplificados também é observada na Ex-posição de Motivos Interministerial nº 511/1996 (“EM n° 511/1996”), que resultou na Medida Provisória nº 1.526 de 05 de novembro de 1996, convertida na Lei nº 9.317/1996 (“Lei n° 9.317/1996”), instituidora do antigo Sistema Integrado de Pagamento de Impos-tos e Contribuições das Microempresas e das Empre-sas de Pequeno Porte (o “Simples Federal”), anteces-sor do Simples Nacional e por este revogado.

Contudo, a LC n° 123/2006 traz em seu bojo as veda-ções do ingresso ao regime em seus arts. 3º, §4º, e 17. Os correspondentes no país, assim denominados pela Resolução CMN n° 3.954/2011, não estão incluí-dos expressamente nas vedações da LC n° 123/2006, e, portanto não deveriam estar excluídos do regime simplificado denominado Simples Nacional.

As atividades consideradas impeditivas ao Simples Nacional que mais se aproximariam das atividades desenvolvidas pelos correspondentes no país são as previstas nos incisos I e XI do art. 17 do diploma legal, quais sejam, factoring e intermediação de negócios, que não são atividades idênticas às desenvolvidas pelos correspondentes no país.

É possível concluir pelo caráter socioeconômico da norma, que busca, por meio dos instrumentos que estabelece, a regularização de empreendimentos in-formais, a ampliação da oferta de empregos formais e, por fim, o desenvolvimento econômico e social do país. Nota-se, também, que a LC n° 123/2006 buscou estimular atividades de interesse social, cujos valo-res foram constitucionalmente previstos.

Desde o início da elaboração do PLP n° 123/2004, origem da LC n° 123/2006, seu objetivo foi de incluir todas as atividades no regime do Simples Nacional, distinguindo-as apenas por meio de alíquotas dife-renciadas em razão das atividades, em observância aos princípios constitucionais da isonomia, da capa-cidade contributiva e, principalmente, do tratamen-to diferenciado às ME e EPP.

A vedação ao ingresso dos correspondentes no Sim-ples Nacional, sem que haja tal previsão na LC n° 123/2006, norma exclusivamente responsável por fixar os impedimentos de opção ao sistema, resulta em contrariedade a esta norma complementar, bem como à essência social de “inclusão”.

Assim, a revisão do enquadramento dos correspon-dentes no Simples estaria de pleno acordo com o intuito legal e com os princípios velados pela norma.

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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Primeiramente, porque as atividades que desenvol-vem não podem ser executadas por pessoas físicas, consoante Resolução CMN n° 3.954/2011, o que im-possibilita que seja desrespeitado o princípio da iso-nomia. Em seguida, para o exercício das funções dos correspondentes não se faz necessária habilitação profissional, ou seja, profissão regulamentada, que não se confunde com a regulamentação da contra-tação dos correspondentes no país pelo Conselho Monetário Nacional. Por último, as atividades execu-tadas pelos correspondentes no país não caracteriza nenhuma periculosidade social, mas, ao contrário, apenas traz benefícios à sociedade.

Segundo dados do Banco Central (Bacen), há, no Brasil, algo em torno de 374 mil pontos de correspon-dentes, enquanto as agências bancárias, que consti-tuem a segunda maior rede fornecedora de serviços financeiros, somam cerca de 23.000 estabelecimen-tos. Em 232 municípios brasileiros, localizados prin-cipalmente nas regiões Norte e Nordeste, não há ne-nhuma dependência bancária , enquanto em cerca de 30 (trinta) não há correspondentes. Com a súbita paralisação dos serviços prestados pelos corres-pondentes, a população de mais de 200 (duzentos) municípios ficaria completamente desassistida. Os correspondentes também são responsáveis pela ge-ração de pelo menos 400 mil empregos, de acordo com estimativas da Febraban. A indispensabilidade do instituto, conforme dados do Bacen, pode ainda ser medida pelo fato de que 68,5% dos valores dis-tribuídos pelo programa Bolsa Família, do Governo Federal, foram pagos por meio de correspondentes.

Eventual vedação da opção ao Simples Nacional pode trazer como resultado a extinção de inúmeras empre-sas e, consequentemente, a diminuição de vagas e dos postos de empregos formais existentes. Também afetaria negativamente a capilaridade da oferta de produtos e serviços bancários, prejudicando a banca-rização sobretudo nos pontos mais remotos.

16.13 COmérCIO eXterIOr de SerVIçOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas que visem à forma-ção de bancos de dados para enriquecer estu-dos que balizem as políticas públicas na área de comércio exterior de serviços. Para a CNF, a implementação de sistemas que possibilitem a produção de relatórios gerenciais para apoiar a formulação e orientação dessas políticas deve considerar os custos de observância das empre-sas e sua necessidade de comunicação tecno-lógica com sistemas já em uso, minimizando os impactos de sua implantação.

Com o intuito de monitorar os resultados da balan-ça comercial de serviços, o Poder Executivo desen-volveu o Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços, Intangíveis e Outras Operações que Produ-zam Variações no Patrimônio (Siscoserv), seguindo orientações constantes do Acordo Geral sobre Co-mércio de Serviços (GATS) da Organização Mundial do Comércio (OMC). De acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), esse sistema possibilitará a produção de re-latórios gerenciais de apoio à formulação e orienta-ção de políticas públicas na área de comércio exte-rior de serviços, intangíveis e demais operações.

A Lei nº 12.546/2011 instituiu a obrigação de prestar ao MDIC informações relativas às transações entre residentes ou domiciliados no País e residentes ou domiciliados no exterior que compreendam servi-ços, intangíveis e outras operações que produzam variações no patrimônio das pessoas físicas, das pessoas jurídicas ou dos entes despersonalizados. Essa prestação de informação não compreende as operações de compra e venda efetuadas exclusiva-mente com mercadorias.

A Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF) regu-lou o uso do Siscoserv e estabeleceu, por meio da

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Instrução Normativa (IN) nº 1.277/2012, uma série de obrigações para as empresas, passíveis de aplicação de multas: a) de R$ 5.000,00 por mês ou fração de atraso, relativamente às pessoas jurídicas; b) de 5%, não inferior a R$ 100,00, do valor das transações com residentes ou domiciliados no exterior, próprios da pessoa jurídica ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta.

Devido ao grande número de operações, as empresas de médio e grande porte operam sistemas de regis-tros de dados para acompanhar o alinhamento estra-tégico e reduzir os custos operacionais dos negócios. As informações solicitadas pelo Fisco são, em regra, fornecidas por meio de interfaces entre esses siste-mas mantidos pelas empresas e os sistemas dos res-pectivos órgãos demandantes da informação. Esse procedimento permite a entrega dos dados em tem-po hábil e garante a fidelidade e a qualidade desses.

No caso do Siscoserv, instituído em agosto de 2012, várias questões tecnológicas ainda estão sendo es-tudadas para viabilizar a comunicação deste com os demais sistemas já em uso pelas empresas. Atu-almente, a inclusão das informações no Siscoserv ocorre de forma manual, acarretando consideráveis aumentos de custo com recursos humanos, espaço físico e treinamento. Além das adaptações em diver-sos sistemas, a aplicação da norma demanda o en-volvimento de áreas distintas das empresas: contábil, tributária, tecnológica, entre outras. A complexidade desse sistema poderá gerar mudanças nas estrutu-ras organizacionais e nos processos de negócios.

Tendo em vista a relevância do Siscoserv para o fo-mento de políticas públicas que melhorem os resul-tados da balança comercial do setor de serviços é necessário o constante aperfeiçoamento do sistema. Por exemplo, dada a complexidade da implantação do Siscoserv, bem como a abrangência do registro de grande quantidade e dados, é necessária a cons-tante revisão das Instruções Normativas sobre a matéria, sobretudo no que se refere aos prazos de

implementação do sistema. Ademais, a norma deve considerar que um mero equívoco no preenchimen-to de formulários, que hoje ainda é manual, pode resultar em severas multas à empresa.

16.14 INCIdêNCIA de Ir SObre LuCrOS e dIVIdeNdOS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que evitem tratamento privilegiado a determinados setores e distorções arrecadatórias, tais como cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem), ao mesmo tempo em que estimulem o investimento.

Tramitam no Congresso Nacional projetos que objeti-vam alterar o artigo 10 da Lei nº 9.249/1995 para per-mitir a cobrança do Imposto de Renda (IR) das pes-soas físicas ou das pessoas jurídicas, domiciliadas no Brasil ou no exterior, sobre o recebimento de lucros e dividendos que lhes são distribuídos pelas empresas em razão da condição de sócios e/ou acionistas. A me-dida garantiria, segundo seus defensores, um aumen-to de arrecadação superior a R$ 23,5 bilhões por ano.

As propostas invocam a necessidade de alteração do dispositivo com a justificativa de que este estabele-ceu tratamento tributário privilegiado a alguns sem o devido fundamento constitucional. Além de violar os princípios da capacidade contributiva e da isono-mia, o artigo teria incentivado a remessa de lucros e dividendos ao exterior, o que estaria prejudicando os números do Balanço de Pagamentos do país.

O fato, no entanto, é que permitir a incidência de Imposto de Renda sobre a distribuição de lucros ou dividendos provocaria, no mínimo, dois problemas.

O primeiro seria a cobrança repetida sobre o mes-mo fato gerador (bis in idem), pois as corporações são tributadas após a apuração contábil, sendo sua

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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distribuição ao sócio resultado do capital próprio da pessoa jurídica, isto é, de seu patrimônio líquido. A lógica que orienta a Lei nº 9.249/1995 é de que a dis-tribuição de lucros ou dividendos ao sócio pressu-põe, necessariamente, que o pagamento do imposto de renda sobre os rendimentos brutos da empresa já teria sido efetuado. Se aprovada a alteração pro-posta, os dividendos pagos aos acionistas seriam novamente tributados. A doutrina e a jurisprudência confirmam esse entendimento.

A tributação realizada antes da distribuição ou inte-gralização do lucro não se dá unicamente por inter-médio do imposto de renda (à alíquota de 15%), mas também por meio de adicional de 10%, na hipótese de lucro real, presumido ou arbitrado, que exceder a R$ 240.000,00 anuais e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSSL), cuja taxa é de ao menos 9%.

O segundo problema provocado pela incidência de IR sobre a distribuição de lucros ou dividendos seria a inibição ou a diminuição dos investimentos, tan-to nacionais quanto estrangeiros, tendo em vista a ampliação da carga tributária. A medida teria efeitos econômicos deletérios, impactando negativamente a arrecadação, cujo aumento está vinculado a um ciclo virtuoso de crescimento.

16.15 ImPOStO SObre OPerAçõeS de CrédItO, CâmbIO e SegurO, Ou reLAtIVAS A tÍtuLOS Ou VALOreS mObILIÁrIOS (IOF)

O Decreto nº 6.306/2007, que regulamenta o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou rela-tivas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), viola o prin-cípio constitucional da isonomia tributária e a função extrafiscal desse tributo, destinado não à arrecadação, mas sim à regulação da atividade econômica.

Em janeiro de 2008, o Poder Executivo Federal ele-vou de modo geral as alíquotas do IOF incidentes so-bre as operações de crédito, bem como instituiu um adicional de 0,38% nessas operações (Decretos nºs 6.339/2008 e 6.345/2008). Tais alterações, segundo o Governo, tiveram o objetivo de compensar as perdas da União decorrentes do fim da Contribuição Provi-sória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

A discriminação indevida entre tomadores viola o ar-tigo 150 inciso II da Constituição. Na sua versão ori-ginal, o Decreto nº 6.306/2007 determinava que, em operações de idênticos valores e condições, o crédito tomado por pessoa física é mais oneroso do que o to-mado por pessoa jurídica. Essa disparidade foi corrigi-da pelo Decreto nº 6.691/2008, mas segue em aberto a possibilidade de o Governo vir a alterar as alíquotas e reintroduzir quebra de isonomia entre contribuintes.

Ademais, um imposto destinado a ser regulador, com alíquota a ser alterada em função da conjuntu-ra econômica, não deveria ser usado para aumentar arrecadação.

A tributação representa cerca de um quarto das mar-gens bancárias (spread). A consequência direta no

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras entende que a criação ou a majora-ção de tributos deva ser vinculada a uma am-pla proposta de reforma tributária. Questões dessa natureza devem ser tratadas em con-junto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar racionalidade da tributação no Brasil e redução da carga tributária. A tribu-

tação da intermediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito. Para a CNF, tributos devem incidir sobre os resultados obtidos pelas empresas, independentemente do setor da economia em que operam, e não sobre percepções equivocadas de lucrativida-de de qualquer setor específico.

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setor bancário brasileiro de um aumento na alíquota do IOF é um aumento na taxa de juros e/ou uma re-dução na oferta de crédito; ao onerar os tomadores de crédito, aumenta as despesas incorridas por es-tes, diminui os lucros e, em consequência, reduz a arrecadação de impostos sobre resultados.

A incerteza das instituições financeiras acerca da pos-sibilidade de mudanças repentinas da alíquota do IOF e os esforços necessários para a sua adaptação contínua às novas regras incrementam o custo ope-racional, o que também impacta o spread bancário.

16.16 ImPOStO SObre SerVIçOS de quALquer NAtureZA (ISS) e ArreNdAmeNtO merCANtIL (LeASINg)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a operações de arrenda-mento mercantil, assentadas na livre negocia-ção de taxas e redução de custos. Entre esses custos figura o de tributação da intermedia-ção financeira, que inclui o recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) no Município da sede das empresas de leasing. Para a CNF, eventual mudança no re-colhimento do ISS para os 5.570 Municípios em que podem ser realizadas operações implica-ria elevado custo operacional que oneraria de sobremaneira o tomador final.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela in-cidência do ISS sobre as operações de leasing dos bancos, que ocorrem, na maior parte dos casos, nos financiamentos de veículos. O STF entendeu que o leasing constitui um serviço de financiamento, que inclui obrigações de dar e de fazer. Para o Su-premo, disponibilizar crédito constitui um ato de prestação de serviço.

A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu no final de novembro de 2012 que o Mu-nicípio sede do estabelecimento prestador do servi-ço é o sujeito competente para cobrar ISS sobre ope-rações de leasing. O Colegiado firmou entendimento de que também é válido para o caso de tributos lan-çados por homologação. A decisão do STJ passou a orientar os processos que tratam do mesmo tema nas instâncias inferiores.

A Lei Complementar nº 116/2003 estabelece, em seu artigo 3º, que o serviço considera-se prestado e o im-posto devido no local do estabelecimento prestador, considerando-se esse, pelo artigo 4º, o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de  prestar servi-ços, de modo permanente ou temporário. O próprio artigo 3º excetua, nas hipóteses previstas nos incisos I a XXII, quando o imposto será devido no próprio lo-cal da prestação de serviços.

Uma vez que o arrendamento mercantil não foi en-quadrado pelo legislador nas hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003, as atividades das sociedades arrendadoras são de-senvolvidas nas suas sedes. Do elenco de hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003 fica evidenciado que a incidência no local da prestação é estabelecida na norma, diante da im-possibilidade e da inadmissibilidade de tais serviços não serem executados diretamente no próprio local.

Também no Congresso Nacional, as discussões estão centradas na incidência do ISS sobre a atividade de leasing e o local de sua arrecadação.

Essas questões são críticas para a adequada confi-guração do marco legal das operações de leasing, de forma a propiciar o necessário ambiente de seguran-ça jurídica para o setor, de grande importância para a economia do país. O recolhimento do ISS sobre leasing afeta negativamente uma opção importante para a viabilização de investimentos produtivos de médio e longo prazos, que concorre com as tradicionais fonte de financiamento sobre os quais incide o IOF.

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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16.17 CONtrIbuIçÃO SOCIAL SObre O LuCrO LÍquIdO (CSLL)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras entende que a criação ou a majora-ção de tributos deva ser vinculada a uma am-pla proposta de reforma tributária. Questões dessa natureza devem ser tratadas em con-junto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar racionalidade da tributação no Brasil e redução da carga tributária. A tribu-tação da intermediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito. Para a CNF, tributos devem incidir sobre os resultados obtidos pelas empresas, independentemente do setor da economia em que operam, e não sobre percepções equivocadas de lucratividade de qualquer setor específico.

A Lei nº 11.727/2008 aumentou de 9% para 15% a alí-quota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) que incide sobre as instituições financeiras, as empresas de seguros privados e as de capitalização, como uma das providências para compensar o fim da arrecadação da CPMF.

O aumento da CSLL deu-se pela percepção equivo-cada de que as instituições financeiras auferem lu-cros exorbitantes, muito superiores aos dos demais setores da economia. Comparar lucros absolutos de empresas e de setores é um equívoco, uma vez que tais comparações só são precisas quando utili-zam medidas relativas. Nesse caso, a medida rela-tiva adequada é a lucratividade das empresas, isto é, a razão entre os lucros e o patrimônio líquido. Em diferentes comparações que utilizam lucratividade das empresas, o setor financeiro não aparece como o mais lucrativo da economia brasileira. Essa ques-tão foi discutida na Seção 6.4 – Lucro e rentabilidade bancária desta Agenda Legislativa.

A tributação representa cerca de um quarto das margens bancárias (spread). A consequência direta no setor bancário brasileiro de uma ampliação na alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líqui-do (CSLL) é um aumento na taxa de juros e/ou uma redução na oferta de crédito; ao onerar os tomado-res de crédito, aumenta as despesas incorridas por estes, diminui os lucros e, em consequência, reduz a arrecadação de impostos sobre resultados.

A majoração da CSLL das instituições financeiras afronta preceitos constitucionais já consagrados pela doutrina e jurisprudência, não podendo a alíquota da contribuição ser aumentada por Medida Provisó-ria, ainda que posteriormente convertida em lei, por padecer de vício formal (não haveria urgência para a utilização de MP) e material (o aumento da alíquota não poderia ser vinculado por MP). Além disso, ao instituir a diferenciação de alíquotas em razão da ati-vidade da empresa, há violação ao princípio da isono-mia, que deve reger as relações jurídicas tributárias.

16.18 CONtrIbuIçõeS SObre mOVImeNtAçÃO FINANCeIrA

Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, os desafios de áreas específicas da administração pública devem ser tratados por meio de melhoria na qualidade dos gastos pú-blicos e na gestão, com recurso ao orçamento federal, sem imposição de novos tributos. A tri-butação da intermediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito.

A criação de tributos sobre movimentação financeira tem implicações fiscais e jurídicas. Do ponto de vista fiscal, existem no Brasil centenas de tributos e o bra-sileiro trabalha em média mais de um terço do ano para pagar impostos. A cobrança de tributos sobre movimentação financeira aumentaria ainda mais

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a carga tributária e oneraria o custo dos negócios, indo na contramão do crescimento econômico e da geração de empregos. Do ponto de vista jurídico, tri-butos dessa natureza deveriam ser introduzidos por emenda constitucional e não por lei complementar. A Contribuição Provisória sobre Movimentação Fi-nanceira (CPMF), por exemplo, fora criada em 1996 pela Emenda Constitucional nº 12, com a finalidade de levantar recursos adicionais para a saúde, em substituição ao Imposto Provisório sobre a Movi-mentação Financeira (IPMF).

Ficou demonstrado que tributos como a CPMF, des-tinada a financiar a saúde, foram aplicados para ou-tros fins. Esse poderia ter sido o destino de outros tributos semelhantes, como a frustrada proposta de criação de uma Contribuição Social para a Saúde (CSS). A saúde não é a única área crítica da adminis-tração pública que merece atenção especial. Tam-bém a educação e a segurança, para mencionar ape-nas outras duas, são áreas que justificariam tributos específicos para financiá-las, o que tornaria ainda mais complexo o já emaranhado sistema tributário e aumentaria ainda mais a carga tributária.

16.19 trIbutAçÃO SObre grANdeS FOrtuNAS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras entende que a criação de novos tributos deva ser vinculada a uma ampla proposta de reforma tributária que trate a questão em con-junto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar efetiva melhoria na qualidade da tributação no Brasil e redução da carga tribu-tária, evitando-se cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem), pois impos-tos dessa natureza incidem sobre patrimônios que já foram tributados por ocasião de sua for-mação. Há que se assegurar, também, o respei-to ao princípio constitucional da isonomia.

A Constituição de 1988 prevê a criação de um im-posto sobre grandes fortunas, em artigo que carece de regulamentação (art. 153, VII). Essa regulamen-tação forçosamente definirá o patamar patrimonial acima do qual se caracterizam grandes fortunas, a alíquota a ser aplicada sobre essa base de cálculo e a natureza dos contribuintes sujeitos ao imposto (pessoas físicas e jurídicas, domiciliadas no Brasil ou no exterior, e o espólio, por exemplo). Ressalte-se que a regulamentação do imposto previsto na CF não se confunde com a criação de novos tributos, tais como contribuições e taxas, que requerem a aprovação de emenda constitucional.

Há dificuldade na definição do conceito de grandes fortunas, isto é, do conjunto de bens e direitos com valor superior a determinado patamar. Esse concei-to incorre em vários equívocos, de natureza jurídica e econômica.

Do ponto de vista jurídico, muitas propostas de tri-butação sobre grandes fortunas confundem-na com o imposto sobre ganho de capital, que é matéria afeta ao Imposto de Renda. Trata-se da tributação de estoques, como ativos financeiros e patrimônio, e não de fluxos de renda, que ocorrem quando o patrimônio gera riqueza. Impostos dessa natureza também implicam bitributação, pois incidem sobre patrimônios que já foram tributados por ocasião de sua formação. Um dos grandes equívocos desse imposto é o fato de ele incidir sobre valores que já sofreram tributação direta, como o Imposto de Ren-da sobre rendimentos do trabalho e do capital, e dos impostos sobre o patrimônio, causando um reprová-vel bis in idem. Ao tratar as pessoas físicas e jurídicas da mesma forma, pode ser declarado um imposto inconstitucional, por ferir o princípio da isonomia, tratando igualmente os desiguais.

Do ponto de vista econômico, o imposto introduz dis-paridade entre empresas brasileiras, sujeitas a essa tributação, e estrangeiras, cujos titulares não são contribuintes no Brasil, com evidente vantagem para os domiciliados no exterior. Com isso, o resultado fi-

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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nal com a criação do novo imposto seria o inverso daquele pretendido, ou seja, o tributo acabaria por provocar a fuga de investidores para outros países, com diminuição da poupança interna. O Governo seria induzido a aumentar os juros para manter os investimentos no país, a fim de compensar o tributo que sobre estes incidirá. Incentivaria a informalida-de, a busca por “planejamentos tributários criativos” e a constituição de holdings por valores históricos.

16.20 eNCArgO FINANCeIrO PArA eXPOrtAçÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que visem à extin-ção dos encargos financeiros sobre contratos de câmbio previstos na Lei nº 7.738/1989 para incentivar investimentos estrangeiros e expor-tação de bens e serviços.

A Lei nº 7.738/1989 definiu normas complemen-tares à Lei nº 7.730/1989, que instituiu o Cruzado Novo, determinou o congelamento de preços e estabeleceu regras de desindexação da economia, além de outras providências. Entre essas normas complementares, foi estabelecida a cobrança de encargo financeiro, calculado com base no rendi-mento acumulado da Letra Financeira do Tesouro (LFT) sobre o valor em moeda nacional correspon-dente à parcela de contratos de câmbio cancelados ou baixados, relativos a transferências financeiras do exterior e a contratos de câmbio de exportação de mercadorias e serviços.

O encargo financeiro criado pelo do artigo 12 da Lei nº 7.738/1989, assim como da Lei nº 9.813/1999, constitui um ônus para os exportadores de bens ou serviços que, por qualquer razão, não conseguem concluir o negócio mediante ou o embarque das mercadorias, ou a prestação dos serviços contra-tados, ou ainda a transferência financeira. A arre-

cadação desse encargo aumenta os custos e riscos das operações envolvidas, o que torna o produto nacional menos competitivo, com redução de expor-tações e consequente diminuição na arrecadação de tributos sobre exportação.

Hoje, em um cenário muito diverso daquele ambien-te inflacionário que levou à criação do Cruzado Novo, a aplicação do encargo financeiro constitui fator inibidor do acesso ao financiamento e, por conse-guinte, da própria atividade exportadora. Na atual conjuntura econômica, não mais ocorre a manobra especulativa de cancelamento ou baixa de contratos de câmbio para que detentores de promessas de dis-ponibilidade futura de moeda estrangeira pudessem vendê-las antecipadamente e aplicar o montante correspondente em moeda nacional no overnight, com elevados juros diários. Assim, não mais se justi-fica o ônus dos encargos financeiros.

Não há necessidade de manutenção do encargo financeiro ao disciplinamento e eficiência da siste-mática vigente de financiamento às exportações, pois os bancos brasileiros, para a correta aplicação dos recursos, realizam criteriosa análise de limite de crédito de seus clientes, em que considera o nível do risco atribuído ao cliente e sua capacidade econômi-co-financeira, bem como o estudo da performance cambial da empresa, mitigando-se o risco de uma instituição financeira conceder crédito com destina-ção indevida.

16.21 gANHOS de CAPItAL de PeSSOAS FÍSICAS NA NegOCIAçÃO de AçõeS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a simplificação da tributação sobre ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações e a criação de mecanismos que estimu-lem o reinvestimento dos ganhos de capital.

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A compra de ações por pessoas físicas é dificultada pela complexidade dos procedimentos tributários. Recomenda-se simplificar a tributação sobre ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações e criar mecanismos que estimulem o reinvestimen-to dos ganhos de capital, aproximando o modelo de tributação de ações do modelo de tributação de ganhos de capital na alienação de imóveis, inclusive pela elevação do limite de isenção para alienações de ações dos atuais R$ 20 mil para R$ 35 mil.

16.22 trIbutAçÃO dOS tÍtuLOS de reNdA FIXA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a tributação dos títulos de renda fixa na nego-ciação a alíquotas equivalentes às da tributa-ção na hipótese de aquisição e manutenção do título até o vencimento, bem como para a tributação do pagamento de cupom periódico à alíquota de 15%.

O mercado de capitais também negocia títulos de renda fixa de longo prazo, que, ao lado das ações, constituem opção de diversificação de carteira, com aumento da expectativa de retorno e redução do risco dessa carteira. Para o emissor desses títu-los, representam fontes de recursos de longo prazo obtidos a taxas de juros inferiores às aplicadas aos instrumentos de prazo mais curto, com a vantagem adicional de cobrirem o hiato temporal entre fontes de financiamento, ciclo operacional e respectiva ge-ração de receitas. Porém, a rentabilidade desses tí-tulos é afetada pela tributação de sua aquisição e de pagamento do rendimento (cupom) periódico, o que limita a expansão desse mercado.

Apesar dos avanços na tributação dos títulos de ren-da fixa introduzidos pela Lei nº 12.431/2011, ainda há distorções a serem resolvidas. Nesse contexto,

propõe-se alterar o regime de tributação de títulos de renda fixa de forma a que: a) a tributação dos títu-los na hipótese de negociação não seja superior à tri-butação na hipótese de aquisição e manutenção do título até o vencimento; e b) o pagamento de cupom periódico seja tributado à alíquota de 15%, comple-mentando o imposto devido com base nas alíquotas previstas no artigo 1º da Lei nº 8.033/2004, caso o tí-tulo seja alienado em prazo inferior a 720 dias.

16.23 trIbutAçÃO dAS OPerAçõeS de trOCAS de CONtrAtOS COm FLuXOS de CAIXA (SwAP )

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições voltadas para tribu-tação das operações de trocas entre contratos com fluxos de caixa (swap) somente no evento da cessão ou liquidação definitiva desses con-tratos, com a tributação incidindo em função do efetivo prazo de permanência na operação.

Swaps são operações privadas entre duas empresas para troca de contratos com fluxos de caixa deriva-dos de diferentes instrumentos financeiros, para re-dução de risco. Assim, duas empresas podem trocar, por exemplo, contratos de taxas de juros fixas e flu-tuantes ou contratos em diferentes moedas estran-geiras para obter fluxos de caixas mais adequados à sua gestão de caixa e de ativos financeiros.

Hoje, ocorre tributação durante o período de vigên-cia dos contratos e considera-se o período total des-ses contratos, ao invés do período da operação, o que distorce os seus resultados e fragiliza a proteção que se busca ao trocar esses contratos. A tributação das operações de troca entre contratos com fluxos de caixa (swap) deveria ocorrer somente no evento da cessão ou liquidação definitiva do contrato, com a tributação incidindo em função do efetivo prazo de permanência na operação.

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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16.24 trIbutAçÃO dO Hedge AgrOPeCuÁrIO de PeSSOAS FÍSICAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a inclusão de ganhos e perdas decorrentes de operações de hedge nos resultados da ativida-de rural de pessoas físicas para fins de incidên-cia do Imposto de Renda.

Pessoas físicas também podem comprar e vender instrumentos financeiros nos mercados futuros para obter proteção contra flutuações de preços nos mer-cados à vista (hedge). Tais operações são particular-mente importantes para produtores rurais, na me-dida em que funcionam como um seguro que cobre os resultados da atividade rural, sujeitos a variáveis climáticas, de mercado e financeiras – sobre as quais o produtor não tem controle – que afetam produtos agropecuários e insumos. Contudo, os ganhos e per-das decorrentes dessas operações não são conside-rados nos resultados da atividade rural de pessoas físicas, produtores rurais, para fins de incidência do Imposto de Renda.

16.25 trIbutAçÃO dOS tÍtuLOS dO AgrONegóCIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para al-terações no regime de tributação dos títulos do agronegócio de forma a equalizar esses títulos com outros instrumentos financeiros negocia-dos no mercado de capitais.

Os títulos ligados à atividade agropecuária estão submetidos a condições tributárias que os colocam em desvantagem em relação a outros instrumentos do mercado de capitais e restringem a obtenção de

recursos para financiamento do agronegócio. Para equalizar esses títulos com outros instrumentos financeiros negociados no mercado de capitais, re-comenda-se promover ajustes no regime de tributa-ção dos títulos do agronegócio, estabelecendo: para os títulos vinculados ao valor do produto, isenção de Imposto de Renda (IR) para investidores estran-geiros e tributação dos demais investidores segun-do as normas aplicáveis à renda variável; para os títulos remunerados por taxa de juros, tratamento semelhante aos títulos de renda fixa; e para todos os títulos, isenção de IR sobre os rendimentos e ga-nhos de capital auferidos por pessoa física e para pessoas jurídicas; contabilização como atividade rural do resultado da primeira negociação de titulo liquidável por meio da entrega de produto.

16.26 dIFereNCIAçÃO eNtre FuNdOS de CurtO PrAZO e de LONgO PrAZO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o fim da diferenciação entre fundos de curto e longo prazos, de forma que passaria a haver apenas Fundos de Renda Fixa (para fins tri-butários), preservada apenas a tributação em função do prazo de permanência do cotista.

As diferentes alíquotas que incidem sobre fundos de curto e de longo prazo introduzem distorções no mercado e dão origem a operações de arbitragem entre essas duas modalidades. Uma vez que ambos os tipos de fundos de investimento são lastreados em ativos semelhantes, com diferentes participa-ções relativas em função da probabilidade de resga-te de cotas, não existe diferença fundamental entre eles, com exceção do tempo de permanência dos cotistas. Por essa razão, recomenda-se o fim da di-ferenciação dos fundos de curto e de longo prazo, de forma que passaria a haver apenas Fundos de Renda Fixa (para fins tributários), preservada apenas a tri-

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butação em função do prazo de permanência do co-tista, com intervalos semestrais decrescentes, indo de 22,5% a 15% (como nas alíquotas aplicáveis aos atuais Fundos de Longo Prazo).

16.27 trAtAmeNtO trIbutÁrIO dO INVeStIdOr eStrANgeIrO em FuNdOS mÚtuOS de INVeStImeNtOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a equiparação do tratamento tributário do in-vestidor estrangeiro que aplica diretamente em títulos e valores mobiliários isentos do ga-nho de capital ao do investidor estrangeiro que aplicar em fundos mútuos de investimentos lastreados nos mesmos títulos e valores mobi-liários que já são isentos de ganhos de capital para o investidor estrangeiro.

Investidores estrangeiros representam importante fonte de recursos para o crescimento e fortaleci-mento do mercado de capitais brasileiro. Ao apli-car em ativos brasileiros, investidores estrangeiros gozam de isenção de ganho de capital na aquisição direta de títulos e valores mobiliários. Contudo, esses mesmos investidores estrangeiros são tribu-tados quando investem em fundos mútuos, regis-trados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), lastreados em idênticos títulos e valores mobiliários. A equiparação de tratamento muito contribuiria para incentivar a indústria de fundos de investi-mento, importantes veículos para oferta de capitais de longo prazo.

A Exposição de Motivos à MP 627/2013 tratou ade-quadamente dessa questão ao propor: “(...) no caso do art. 96, destaca-se que, atualmente, há vários ativos cujos rendimentos, quando auferidos por investidores não residentes, são tributados com alíquota zero de Imposto sobre a Renda, como, por

exemplo, os títulos públicos federais, os títulos pri-vados de longo prazo (incluindo as debêntures de infraestrutura) e as cotas de Fundo de Investimento em Participações – FIP. Neste sentido, um investidor não residente que queira construir uma carteira de ativos com alíquota zero de Imposto sobre a Renda poderia fazê-lo adquirindo diretamente estes pa-péis, mas não poderia fazê-lo adquirindo cotas de um fundo composto exclusivamente pelos mesmos ativos. Ou seja, a regra atual de tributação guarda uma assimetria entre a compra direta e a compra via fundos de investimentos. No intuito de eliminar essa assimetria e de incentivar os investimentos no país, propõe-se atribuir alíquota zero de Imposto sobre a Renda para os rendimentos produzidos por fundos de investimento cuja carteira seja composta exclusivamente por ativos isentos de Imposto sobre a Renda ou tributados à alíquota zero. A medida proposta não traz benefícios fiscais adicionais ao investidor não residente, visto que os rendimentos produzidos na aquisição direta dos ativos já são tri-butados à alíquota zero ou isentos, mas otimiza o uso de benefícios já concedidos.”

16.28 trIbutAçÃO dO INVeStImeNtO de LONgO PrAZO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a tributação com alíquotas regressivas em fun-ção do prazo para Fundos de Investimento em Participações (FIP e FIC-FIP), Fundos de Inves-timento em Empresas Emergentes (FIEE e FIC-FMIEE) e Fundos de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras (FMIEE- Inovadora e FIC-FMIEE Inovadora).

A Instrução Normativa nº 1.022/2010 da Receita Fede-ral do Brasil consolidou as normas que disciplinam a cobrança e o recolhimento do Imposto de Renda in-cidente sobre os rendimentos e ganhos auferidos nos

capítulo 16: queStõeS trIbutÁrIAS

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16.29 trIbutAçÃO de FuNdOS de PeNSÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições que concedam aos participantes de fundos de pensão a liber-dade de escolha entre as tabelas regressiva e progressiva do Imposto de Renda apenas ao final do ciclo contributivo.

O aumento dos recursos angariados pelos fundos de pensão é hoje limitado, entre outros, pela forma de tributação no final do ciclo contributivo, quando o participante passa a usufruir o principal e os rendi-mentos do patrimônio que acumulou. O crescimento dos fundos seria beneficiado pela possibilidade de se conceder aos participantes de fundos de pensão a liberdade de escolher entre as tabelas regressiva e progressiva do Imposto de Renda apenas ao final do ciclo contributivo, no momento em que se prepara para começar a receber os benefícios previdenciários a que tem direito. O exercício dessa opção ao final da vida laboral funciona como um novo incentivo para a escolha de planos de benefícios, evitando a neces-sidade de uma decisão com antecedência de muitos anos. Além disso, a maior mobilidade nas carreiras impõe fortes mudanças na vida das pessoas ao longo de sua trajetória profissional, ou seja, uma flexibili-dade de trajetória que não condiz com escolha rígida de regime tributário, feita com tanta antecipação.

mercados financeiros e de capitais, por investidores residentes ou domiciliados no país e no exterior. A nor-ma, que revogou a IN nº 25/2001, entre outros norma-tivos que tratavam da matéria, foi organizada em três capítulos dispondo sobre a tributação das aplicações:  em fundos de investimento, por residentes ou domi-ciliados no país; em títulos ou valores mobiliários de renda fixa ou de renda variável, por residentes ou do-miciliados no país; e em fundos de investimento e em títulos ou valores mobiliários de renda fixa ou de ren-da variável, por residentes ou domiciliados no exterior.

A IN nº 1.022 não previu a tributação com alíquotas regressivas em função do prazo para Fundos de Inves-timento em Participações (FIP e FIC-FIP), Fundos de Investimento em Empresas Emergentes (FIEE e FIC-FMIEE) e Fundos de Investimento em Empresas Emer-gentes Inovadoras (FMIEE- Inovadora e FIC-FMIEE Inovadora). Tributação dessa natureza seria condi-zente com o propósito de se obter recursos de longo prazo para os tipos de operação que lastreiam esses fundos específicos.

Recomenda-se a edição de normativo estabelecen-do alíquotas regressivas em função de prazo, na se-guinte proporção:

Prazo entre o investimento e o resgate (ganho de capital)

FIP e FIC-FIP

FIEE e FIC-FMIEE

FMIEE – Inovadora (e FIC-FMIEEinovadora)

Até 36 meses 15% 10% 5%

36 a 60 meses 10% 5% Isento

60 a 84 meses 5% Isento Isento

+ de 84 meses Isento Isento Isento

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queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS17

A modernização da legislação trabalhista brasileira é fundamental e o debate sobre sua extensão, sua rigidez e os seus reflexos sobre produtividade e am-pliação do número de vagas formais de emprego é continuamente alimentado por agentes das mais diversas perspectivas. A adequação do sistema regu-latório dos contratos; a garantia de maior liberdade para o estabelecimento de normas coletivas de tra-balho; a introdução de mecanismos de solução de conflitos; e o empenho do Legislativo em prol da ela-boração de normas que garantam maior segurança jurídica às empresas e aos trabalhadores são pontos comuns nas discussões quando o objetivo é tanto a ampliação da oferta de produtos e serviços quanto o estímulo à oferta de empregos formais.

O Brasil aparece em posição desconfortável no re-latório “Fazendo Negócios 2014” (Doing Business 2014) do Banco Mundial. Em um total de 189 países pesquisados, o Brasil aparece na 123ª posição no quesito “facilidade para fazer negócios” (em 2012, ocupava a 126ª posição). Para iniciar um novo ne-gócio, o Brasil exige em média treze procedimentos distintos e consome 107 dias. No quesito “alvará para construções”, o Brasil é o 130º país da lista. Já no quesito “facilidade para pagar tributos”, o Brasil ocupa a 159% posição do ranking, por demandar 2.600 horas por ano. O relatório permite estabelecer estreita correlação entre a flexibilidade das normas trabalhistas e a geração de empregos formais. Os da-dos coletados apontam que, nos países em que há

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, podem ser introduzi-das profundas melhorias na legislação que rege as relações de trabalho, ou por meio de uma proposta de reforma trabalhista, ou por intermédio de projetos pon-tuais. Tais melhorias, sem reduzir os direitos dos trabalhadores, devem estar vol-tadas para relações de trabalho transparentes, lastreadas em segurança jurídica para todas as partes e flexíveis, que estimulem as empresas a inovar, a aumentar sua produtividade, a se tornarem mais competitivas e a crescer. Com isso gera-se maior número de empregos formais e promove-se o trabalho decente e produtivo, a extensão da proteção social, bem como o fortalecimento do diálogo social. Os instrumentos mais adequados para atingir esses objetivos são as convenções e os acordos coletivos de trabalho, ao lado de dispositivos legais que incentivem a concessão voluntária de direitos trabalhistas por parte dos empregadores.

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agenda do setor financeiro 2014186

uma acentuada flexibilização das leis trabalhistas, tem-se uma redução dos níveis de desemprego, en-quanto que naqueles com maior rigidez percebe-se uma maior taxa de desemprego.

A rigidez do mercado de trabalho subtrai importan-tes elementos para a competitividade das empresas, em um momento em que o setor privado se expõe como nunca à concorrência internacional. Propos-tas são muitas vezes míopes ao ignorar os ônus que acarretam para as empresas e negligenciar o efeito deletério desse ônus para a geração de mais e me-lhores empregos ao longo do tempo. Propostas vol-tadas para o curto prazo não ajudam a manter os trabalhadores em seus postos, mas, pelo contrário, estimulam a informalidade e desestimulam a gera-ção de novos empregos.

O conjunto de novas leis trabalhistas que entrou em vigor a partir de 2002 não caracteriza uma reforma das relações de trabalho, na medida em que essas leis têm alcance limitado. Esse conjunto comporta-va quinze normas legais, entre as quais está a Lei nº 11.770/2008, que criou o Programa Empresa Cidadã; a Lei nº 11.648/2008, que dispõe sobre o reconheci-mento das Centrais Sindicais; e a Lei nº 11.644/2008, que proíbe a exigência de comprovação de experi-ência prévia por tempo superior a seis meses para fins de contratação.

Ressalte-se que a ausência de uma proposta consoli-dada e coesa de reforma trabalhista preparada pelo Poder Executivo estimula o intenso afluxo de propo-sições pontuais de cunho trabalhista.

17.1 CONtrIbuIçÃO SOCIAL SObre O FgtS

A contribuição social devida pelo empregador em caso de despedida sem justa causa foi criada em 2001 pela Lei Complementar n° 110 com a finalidade de pagar parte das despesas do Governo com o res-sarcimento aos trabalhadores das perdas nas contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) causadas por planos econômicos. Estima-se que a implementação dos Planos Verão e Collor I, em 1989 e 1990, respectivamente, criou um passivo do FGTS da ordem de R$ 42 bilhões, o que provocou a neces-sidade de geração de patrimônio do Fundo em igual montante. A contribuição tem alíquota de 10% sobre o valor dos depósitos do FGTS devidos durante a vi-gência do contrato de trabalho, acrescida das remu-nerações aplicáveis aos saldos das contas.

A LC n° 110/2001, também com o intuito de recompor os recursos do Fundo, criou uma contribuição mensal de 0,5% sobre a remuneração dos empregados. Essa contribuição foi extinta no final de 2006. Já para a con-tribuição adicional de 10%, a ser paga na demissão sem justa causa, a LC não deixou explícito o seu cará-ter provisório, pois não definiu prazo para sua vigência.

Apesar do veto da Presidente da República ao Pro-jeto de Lei Complementar nº 200/2012, em julho de 2013, persistem no Congresso Nacional, outros pro-jetos que pretendem sanar tal omissão. Tais propos-tas extinguem a contribuição, tendo em vista o reco-

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que explicitem o caráter provisório da contribuição de 10% so-

bre a multa rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), bem como esta-beleçam prazo limite para a sua cobrança. A CNF sublinha que os recursos acumulados pela arrecadação dessa contribuição devem ser destinados exclusivamente aos propósitos originais previstos em lei. A Confederação en-tende que a extinção da contribuição reduzirá a carga tributária das empresas, contribuindo para a geração e formalização do emprego, e, consequentemente, para a competitividade da economia brasileira.

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nhecimento do caráter temporário da necessidade de se recompor os recursos do FGTS e o elevado ônus para os empregadores.

De fato, não se justifica a perpetuação do acréscimo de 10% sobre a multa rescisória. Há indicações de que os recursos do Fundo já foram recuperados. A Caixa Econômica Federal (CEF), seu agente operador, tem divulgado os ótimos resultados das contas do FGTS, a ponto de o Poder Executivo ter promovido o pagamento antecipado dos complementos de atu-alização por meio da Lei n° 10.555/2002, que autori-zou a CEF, às expensas do próprio Fundo, a efetivar o crédito de valores iguais ou superiores a R$ 100 nas contas vinculadas. Em julho de 2012, o ressarcimen-to do FGTS montava a R$ 55 bilhões, superando lar-gamente o passivo oriundo dos Planos Econômicos.

A subsistência da contribuição adicional onera a car-ga tributária das empresas, refletindo negativamen-te sobre a competitividade e inibindo a formalização do emprego. De julho de 2012 a julho de 2013, quan-do o PLP 200/2012 foi vetado, o setor privado contri-buiu com R$ 2,7 bilhões adicionais. Ademais, existe a possibilidade de esses recursos virem a ser direcio-nados para outra finalidade que não a determinada pela LC n° 110/2001, perpetuando assim uma contri-buição que se supunha provisória.

17.2 terCeIrIZAçÃO

Terceirização consiste em transferir a pessoas jurídi-cas distintas da organização contratante a realização de tarefas para as quais a relação custo/benefício da execução interna não é vantajosa, seja do ponto de vista financeiro, seja de qualidade, ou mesmo de especialidade. Faz parte da divisão e especialização do trabalho, constituindo fator essencial no proces-so de produção e prestação de serviços. Sua prática gera maior produtividade e competitividade, esti-mula investimentos e cria empregos formais.

A terceirização não se confunde com mera interme-diação de mão-de-obra. Trata-se de uma parceria co-mercial entre prestador e tomador de serviços com vistas à produção de bens e serviços para o mercado. Nessa parceria, as partes são sujeitos capazes, idô-neos, e não existem elementos que caracterizem a relação de emprego. No Brasil, a inexistência de uma lei específica sobre terceirização dificulta a compreensão dos benefícios dessa prática e cria insegurança jurídica tanto para as empresas quanto para os trabalhadores. Hoje, a terceirização é regida pela Súmula 331/1993 do Tri-bunal Superior do Trabalho (TST), cuja interpretação vem variando ao longo das últimas décadas, com prejuízos para as relações de trabalho.

Nessa matéria, as discussões se dão principalmente em torno: da determinação das atividades que se po-dem delegar para serem executadas por contratadas; da responsabilidade das empresas contratantes com os direitos trabalhistas e previdenciários, em relação

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para re-gulamentação da terceirização que definam regras claras e contribuam para a melhoria das relações do trabalho e do ambiente de ne-gócios no país. Tais regras devem: conceder às empresas ampla margem para decidir quais atividades terceirizar; atribuir responsabilida-de subsidiária aos contratantes pelas obriga-ções trabalhistas de serviços contratados; ga-

rantir os direitos trabalhistas e previdenciários desses trabalhadores terceirizados; admitir a hipótese de empresas contratadas prestarem serviços especializados não limitados a um único objeto social; e prever o recolhimento de contribuições sindicais vinculadas a categorias econômicas e profissionais nos termos do art. 511 da Consolidação das Leis do Trabalho.

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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aos funcionários da empresa contratada; obrigatorie-dade de objeto social único mesmo para empresas que, ao desempenhar uma atividade principal, também se dedicam a atividades acessórias de interesse do públi-co; e da possibilidade de recolhimento de contribui-ção sindical por parte dos trabalhadores contratados para sindicato da categoria da empresa contratante.

Quanto ao que delegar, a Súmula 331 estabelece que a terceirização só pode ser aplicada nas áreas da or-ganização definidas como atividade meio, ou seja, aquelas em que não há participação direta dos em-pregados terceirizados na formação do produto ou do serviço final da empresa contratante. A determi-nação, no entanto, dá margem a diferentes interpre-tações em razão da dificuldade de definir o que são as atividades meio e fim nos complexos processos produtivos atuais. A terceirização está presente em todas as áreas de atuação, tanto a meio quanto a fim. Ademais, as empresas estão mais bem posicionadas para decidir que atividades terceirizar, à luz de sua cultura institucional, de seu plano estratégico e da confiança que depositam no fornecedor de serviços contratados. A terceirização não se deve restringir à atividade-meio da empresa, sob pena de ser ferido o princípio da livre iniciativa disposto no artigo 170 da Constituição Federal.

Quanto à responsabilidade do contratante, por sua vez, poderá ser subsidiária sempre que a empresa fis-calize periodicamente o fiel cumprimento das obriga-ções trabalhistas e previdenciárias por parte da con-tratada. Na ausência dessa fiscalização, poder-se-ia admitir a responsabilidade objetiva solidária.

No que diz respeito à exigência de objeto social úni-co, propostas em tramitação no Congresso Nacional podem resultar na extinção da prestação de serviços essenciais a significativa parcela da população brasi-leira, tal como a atividade de correspondente no país. Por um lado, a explicitação do objeto no contrato social contribui para evitar a precarização da mão-de-obra. Por outro, a limitação da gama de serviços oferecidos em função de um único objeto social não

impede necessariamente tal precarização, mas pena-liza o consumidor. No caso do setor financeiro, a re-gulamentação que rege a atividade de corresponden-te no país (Resolução CMN nº 3.954/2009) veda que essa atividade se constitua em objeto social único.

Com relação às contribuições sindicais dos empre-gados da empresa contratada, deve prevalecer o princípio da associação a sindicatos considerando a categoria profissional e econômica do prestador. O fato de o trabalhador prestar serviços em diferentes empresas não altera sua categoria em função da ati-vidade das empresas às quais serve. Nesse quadro, não faria sentido o trabalhador contratado contribuir para sindicatos que não representem sua categoria, mas sim a de empregados da empresa contratante. Para a CNF, deve imperar o disposto no artigo 511 da Consolidação das Leis do Trabalho, que vincula associação sindical a categoria profissional ou eco-nômica em virtude de identidade, semelhança ou conexidade de interesses econômicos, de condições de vida oriundas da profissão ou do trabalho em co-mum, de profissões ou funções diferenciadas, em uma homogeneidade que torna a associação natural.

17.3 CrIAçÃO dAS juNtAS de juLgAmeNtO e dO CONSeLHO AdmINIStrAtIVO de reCurSOS trAbALHIStAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de criação de um conselho administrativo de recursos em maté-rias trabalhistas por entender que órgão dessa natureza propiciaria acórdãos marcados por riqueza doutrinária e jurisprudencial que solu-cionariam divergências sobre a interpretação das leis trabalhistas. Para a CNF, esse novo tri-bunal administrativo deveria buscar a promo-ção da justiça e do rigor técnico, bem como ofe-receria maior celeridade à solução das lides.

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É cada vez maior a importância dos tribunais admi-nistrativos, enquanto instâncias de apurada e espe-cializada técnica jurídica, dedicadas ao cumprimen-to do papel constitucional de julgamento de litígios. A valorização dos meios administrativos de solução de litígios representa também economia de recur-sos públicos, uma vez que seria estimulada a redu-ção da litigiosidade na máquina judiciária, sempre mais onerosa.

O artigo 10 da Constituição assegura “a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profis-sionais ou previdenciários sejam objeto de discus-são e deliberação”. A participação de entidades de representação de trabalhadores e empregadores nas discussões técnicas em conselhos tripartites e em tribunais administrativos é uma oportunidade de refletir as demandas da sociedade e reforçar o embasamento técnico e jurídico das decisões des-ses colegiados, o que poderá evitar que as matérias desaguem no Judiciário.

Atualmente, as empresas autuadas pela fiscalização trabalhista podem recorrer, na esfera administrativa, apenas ao próprio Ministério do Trabalho e Emprego. Portanto, a mesma estrutura que autua a empresa é também responsável pelo julgamento dos pro-cessos de quem recorre. O art. 638 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê que “ao Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio é facultado avocar ao seu exame e decisão, dentro de 90 (noventa) dias do despacho final do assunto, ou no curso do processo, as questões referentes à fiscalização dos preceitos estabelecidos nesta Consolidação”.

Na sistemática atual de julgamentos administrativos dos autos de infração, pelo qual a autoridade estatal julga monocraticamente, a existência de apenas um ponto de vista limita o enquadramento legal aplicá-vel ao tipo de infração eventualmente cometida pelo empregador, registrada na lavratura do auto de in-fração, e a ampla defesa do autuado.

A Confederação entende que devem ser aplicados os princípios de direito que garantam de forma justa a discussão administrativa das penalidades impostas, conferindo, inclusive, de forma efetiva, o controle de legalidade dos atos emanados da fiscalização. A Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, deter-mina em seu artigo 2º que a “administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalida-de, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcio-nalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência”.

Nesse sentido, a criação das Juntas de Julgamento, nos Estados e no Distrito Federal, e do Conselho Ad-ministrativo de Recursos Trabalhistas, que seria inte-grado, paritariamente, por representantes indicados pelas representações dos trabalhadores e pelas con-federações sindicais de empregadores, em listas trípli-ces a serem encaminhadas ao Ministro do Trabalho, a quem compete a escolha dos componentes do órgão e a designação de membro para a presidência dos tra-balhos, é vista de forma positiva pela Confederação.

Alguns Ministérios criaram sistemas de julgamento das autuações ou de decisões exaradas pelos seus órgãos, os quais contam com a participação de repre-sentantes dos setores que possuem interesse na dis-cussão dos temas levados a julgamento. É o caso do:

a) Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF): órgão paritário que funciona no âmbito do Ministério da Fazenda, com atribuição de jul-gar autuações fiscais, em que há a participação de representantes dos contribuintes. Nos cole-giados em que se discute a contribuição social previdenciária a composição inclui Conselheiros indicados pelos sindicatos de empregados, res-tando na seguinte composição: i) representan-tes do Governo; ii) representantes dos contri-buintes; iii) representantes dos trabalhadores;

b) Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS): trata-se de órgão colegiado, integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social,

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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que tem como função principal julgar os litígios entre segurados e o INSS; a composição, que é paritária, inclui representantes dos trabalhado-res e das empresas;

c) Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização: órgão colegiado paritário, in-tegrante da estrutura do Ministério da Fazenda, destinado a julgar em última instância adminis-trativa, os recursos de decisões da Superinten-dência de Seguros Privados – SUSEP.

Os citados órgãos foram criados no intuito de asse-gurar aos administrados a observância dos princí-pios e garantias fundamentais, assim como o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, a ra-zoabilidade, a proporcionalidade, entre outros, bem como servem para democratizar o sistema decisório do poder público no país.

17.4 CONCeSSÃO de beNeFÍCIOS em dINHeIrO – VALe-trANSPOrte

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do poder discricionário dos traba-lhadores no uso de benefícios trabalhistas, tais como o pagamento de vale-transporte em dinheiro, no entendimento de que a con-cessão desses benefícios em pecúnia mantém seu caráter indenizatório e, portanto, não os incorpora a salários e demais remunerações, inclusive para fins de incidência de contribui-ção previdenciária e de Imposto de Renda. O custeio de benefícios trabalhistas tais como o vale-transporte cabe tanto ao empregador quanto ao empregado, ainda que este seja o único beneficiário da medida.

As discussões no Congresso Nacional sobre propos-tas que tratam do vale-transporte estão centradas

na conveniência de seu pagamento em dinheiro e na repartição do custeio do benefício entre empre-gadores e trabalhadores.

Sobre o pagamento do vale-transporte em dinheiro, persiste a preocupação, entre outras, de que o benefí-cio venha a ser incorporado ao salário. Nas discussões, argumenta-se ainda que o trabalhador utilizaria o di-nheiro para outros fins, desvirtuando o propósito do benefício, e que se perderia o reajuste automático nas tarifas de transporte subsidiadas pelo empregador.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em março de 2010, que não incide contribuição previdenciária sobre vale-transporte pago em dinheiro aos traba-lhadores. O plenário do STF, por maioria de votos, firmou o posicionamento de que o auxílio transpor-te pago não integra o salário do empregado consti-tuindo, assim, uma verba de natureza indenizatória e não remuneratória. Para o STF, o fato de o vale-transporte ser pago mediante dinheiro não é sufi-ciente para descaracterizar a natureza do benefício e entender de forma diversa acarretaria a cobrança de tributo sem previsão legal. Na decisão, o STF es-tabeleceu que o vale-transporte, por sua natureza in-denizatória, não se incorpora à aposentadoria, nem mesmo à pensão, bem como não incide Imposto de Renda sobre seu pagamento em dinheiro.

No plano administrativo, a Súmula 89/2012 do Con-selho Administrativo de Recursos Fiscais pacificou entendimento de que não incide a contribuição pre-videnciária sobre os valores pagos a título de vale-transporte em pecúnia.

No passado, a concessão de vale-transporte físico deu margem à comercialização ilegal do benefício, ao nascimento de uma indústria de falsificações e a roubos e assaltos nas empresas de transportes e nas empresas autorizadas a comercializar o benefício.

Além do exposto, a Lei nº 7.418/1985 não traz efeti-vamente a vedação do pagamento em dinheiro e, no que tange às instituições financeiras, a sistemática é

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regrada também por instrumento coletivo da cate-goria, no qual há previsão específica para concessão em dinheiro do vale-transporte.

Sobre o custeio do benefício, por sua vez, tramitam no Congresso Nacional projetos que buscam lançar o ônus integral do vale-transporte sobre os empre-gadores. Propostas dessa natureza não só violam o espírito original da concessão de um benefício in-denizatório, aproximando-o de um benefício remu-neratório, como também aumentam ainda mais o custo trabalhista que tolhe a geração de mais e me-lhores empregos formais.

17.5 trIbutAçÃO AdICIONAL SObre rOtAtIVIdAde de mÃO-de-ObrA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que estimulem a qualificação do trabalhador, ao mesmo tempo em que desonerem as empresas para que es-tas possam investir na constante melhoria das condições de trabalho. Para a CNF, propostas dessa natureza contribuem para reduzir a rotatividade nos postos de trabalho, o que é de interesse tanto de trabalhadores quanto de empregadores.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, rotatividade é o fenômeno social em que ocorre a substituição de um ocupante de um posto de tra-balho por outro empregado, ou seja, uma demissão seguida de uma contratação.

A rotatividade pode ter implicações negativas tanto para trabalhadores quanto para empresas. Para o trabalhador, pode representar período passageiro de desemprego. Para as empresas, pode implicar pesa-das despesas de seleção, treinamento e avaliação de recém-contratados, periodicamente. A rotatividade afeta a produtividade e competitividade da empresa.

Taxas elevadas de rotatividade também afetam os investimentos do Governo. Parte significativa dos re-cursos empregados em obras de infraestrutura são lastreado no Fundo de Garantia do Tempo de Ser-viço (FGTS) e no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O uso recorrente desses recursos pelos assala-riados demitidos reduz o montante disponível para uso em obras públicas.

Preocupados com os efeitos da rotatividade no país, o Ministério da Fazenda e o Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT) estudam a criação de um novo tribu-to ou nova multa para as empresas que possuírem elevados índices de rotatividade. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, por sua vez, considera que a solução decorrerá de investimentos na qualificação do trabalhador e na melhoria do ambiente de trabalho.

Para a CNF a criação de mais um ônus para o em-pregador representa um grande retrocesso. Os em-pregadores, que já suportam uma elevada carga tributária e pesados encargos trabalhistas, não se beneficiam de altas taxas de rotatividade. A criação de mais tributos diminuiria os investimentos e teria efeito nocivo sobre a criação de novas vagas, uma vez que o empregador deverá analisar o risco de ser multado por eventuais contratações baseadas em projeções de mercado que podem não se confirmar.

17.6 CAPACItAçÃO e quALIFICAçÃO dO trAbALHAdOr

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aperfeiçoamento pessoal e profissional dos trabalhadores, na medida em que essas pro-postas não considerem como período de servi-ço efetivo o tempo dispendido pelo empregado em programas de capacitação e qualificação, ainda que estes sejam requisito para promo-

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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O aperfeiçoamento profissional é exigência do mer-cado de trabalho que constantemente busca a ex-celência na produção e na prestação de serviços. A concorrência acirrada requer profissionais capaci-tados para o desempenho das atividades e funções para as quais foram contratados. Assim, o benefício alcançado pela capacitação do empregado é mútuo.

Entende-se por serviço efetivo o período em que o empregado fica à disposição do empregador aguar-dando ou executando ordens, salvo disposição es-pecial expressa. Trata-se de definição trazida pelo artigo 4º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que é essencial para a análise do direito à percepção de horas extras quando a jornada de trabalho con-tratada é extrapolada.

O fato de haver interesse das empresas no aperfeiço-amento profissional de seus funcionários, contudo, não transforma o tempo dispensado pelo empre-gado em curso ou evento em tempo à disposição do empregador. Também há interesse por parte do empregado, que aprimorará seus conhecimentos, adquirindo maior capacidade para competir no mer-cado de trabalho.

A participação voluntária do empregado em cursos de formação, aperfeiçoamento, desenvolvimento e qua-lificação profissional, mesmo que custeados integral ou parcialmente pelo empregador, não deve gerar o direito ao recebimento de horas extras sob pena de desestimular o empregador a fazer o investimento.

A vinculação legal de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) a programas de capacitação e qualificação profissional poderia representar impor-tante estímulo à formação dos empregados.

17.6.1 deSoneração de bolSaS de eStudoS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que incentivem a concessão, pelo setor privado, de bolsas de es-tudo para trabalhadores que facilitem o aces-so a todos os graus de escolaridade, inclusive para ensino superior e para cursos técnicos de curta duração. Eventuais incentivos fiscais para a promoção de educação nas empresas não devem estar restritos a determinadas mo-dalidades de educação profissional e regular.

A educação é responsabilidade do Estado e direito constitucional de cada cidadão. Para os trabalhado-res, a concessão de bolsas de estudo facilita o acesso à educação, chave para seu aperfeiçoamento profis-sional e realização pessoal. Para as empresas, essa concessão contribui para ampliar a oferta de mão de obra qualificada que concorre para aumentar a com-petitividade e a produtividade.

A questão da incidência de tributos sobre bolsas de estudo ganhou relevo a partir da sanção da Lei nº 12.513/2011, que instituiu o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Esse programa tem como objetivo principal expan-dir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a po-pulação brasileira.

Apesar dos efeitos positivos para o ensino técnico, a norma trouxe inovações tributárias com externalida-des negativas. A imposição do limite de 5% do salá-rio bruto do empregado para concessão de bolsas de estudo com isenção implica significativa redução no número de bolsas de estudo ofertadas por emprega-dores, sobretudo para ensino superior e para cursos técnicos especializados de curta duração.

ção, ou representem vantagem remuneratória. O tratamento normativo do benefício recomen-da cautela para não desestimular os emprega-dores a capacitar e qualificar trabalhadores.

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Contudo, o Superior Tribunal de Justiça tem enten-dimento contrário ao do Fisco: a jurisprudência do STJ é uniforme no sentido de que os valores pagos pela empresa aos seus empregados a título de bol-sa de estudo não possuem natureza salarial e, por consequência, não incide contribuição social pre-videnciária. Para o STJ, a bolsa de estudo, embora contenha valor econômico, constitui investimento na qualificação de empregados, não podendo ser considerado como salário.

17.7 ACOrdO COLetIVO eSPeCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas voltadas para a flexibilização da legislação trabalhista. Para a CNF, o fortalecimento da livre negociação de convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho reforça a competitividade das em-presas e contribui para a geração de empregos formais, buscando assim equilíbrio das posi-ções negociais, com benefícios para emprega-dos e empregadores.

No período compreendido entre 2003 e 2012, o total de instrumentos coletivos registrados no Ministério do Trabalho e Emprego aumento 183%, passando de 15.797 para 44.760, o que reforça a ideia de que a negociação tem servido para solucionar os conflitos coletivos de trabalho.

Discute-se no Poder Executivo minuta de antepro-jeto de lei que traz algumas inovações para estabe-lecer o Acordo Coletivo Especial como instrumento normativo. Por meio desse instrumento, o sindicato profissional e uma empresa do correspondente setor econômico poderiam estipular condições específi-cas de trabalho, aplicáveis apenas no âmbito da em-presa, considerando suas peculiaridades, a vontade expressa de seus empregados e a possibilidade de adequação à legislação trabalhista.

Outra inovação do anteprojeto seria a necessidade de prévia habilitação de sindicatos de trabalhadores pelo MTE, o qual, com base em critérios objetivos, credenciaria o exercício regular de práticas sindi-cais qualitativamente diferenciadas como condição indispensável para que as entidades celebrem Acor-do Coletivo de Trabalho com Propósito Específico. Conforme o anteprojeto, deve ser valorizado nas ne-gociações de cláusulas o princípio da boa-fé. Outro ponto destacado na proposta é a criação do Comitê Sindical de Empresa, obrigatoriamente reconhecido pelo empregador como base de representação sindi-cal no local de trabalho, cuja organização e funciona-mento devem ser disciplinados exclusivamente pelo estatuto do sindicato profissional.

A fiscalização da aplicação do Acordo Coletivo Espe-cial seria realizada pelo Ministério do Trabalho. As regras para lavratura dos autos de infração também seriam alteradas para assegurar a plena defesa por parte das empresas na instância administrativa. O anteprojeto também prevê que as partes poderão fixar no Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico multas recíprocas para o caso de descum-primento de suas cláusulas.

Para alguns sindicatos de empregados, o projeto valoriza a negociação coletiva como um melhor mecanismo para a resolução de conflitos que são naturais da relação capital-trabalho. Para essas en-tidades, o acordo fortalece o movimento sindical e moderniza as negociações dos trabalhadores com as empresas.

Entidades de representação dos empregadores acreditam que essa iniciativa pode representar um avanço para as relações de trabalhistas por buscar maior segurança jurídica nas relações que envolvem as empresas e a garantia das condições de trabalho, saúde e proteção para os empregados.

Para a CNF, o anteprojeto de lei deve conter em seu texto regras claras e inequívocas que fortaleçam a negociação coletiva e possibilite, também, a ne-

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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agenda do setor financeiro 2014194

gociação de cláusulas com benefícios contidos no artigo 7º da Constituição Federal.

17.8 equIPArAçÃO de COrreSPONdeNteS A bANCÁrIOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-plicitação da relação contratual exclusivamen-te comercial que se estabelece entre bancos e correspondentes no país, entre os quais não há qualquer vínculo trabalhista, bem como para a reiteração da competência normativa do Con-selho Monetário Nacional, tal como disposta na Lei nº 4.595/1964.

Segundo dados do Banco Central (Bacen), há, no Brasil, algo em torno de 374 mil pontos de corres-pondentes, enquanto as agências bancárias, que constituem a segunda maior rede fornecedora de serviços financeiros, somam cerca de 23.000 esta-belecimentos. Em 232 municípios brasileiros, locali-zados principalmente nas regiões Norte e Nordeste, não há nenhuma dependência bancária.

Em que pese a importância dos correspondentes para a distribuição de serviços e produtos financei-ros, existe alguma confusão sobre a situação traba-lhista desses profissionais, que são por vezes equivo-cadamente equiparados à categoria dos bancários.

A Resolução 3.954, 24 de fevereiro de 2011, do Con-selho Monetário Nacional (CMN), altera e conso-lida as normas que dispõem sobre a contratação de correspondentes no país. Algumas proposições argumentam que esse normativo amplia o rol de atribuições dos correspondentes, colocando em risco o futuro da categoria bancária e precarizando seu trabalho. Valem-se de dois argumentos: o de que o Conselho Monetário Nacional não pode edi-tar normas para o sistema financeiro (sobretudo as

que veem como de natureza trabalhista) e o de que correspondentes são empregados de instituições financeiras. Ambos os argumentos não encontram amparo nem na Lei nem nos fatos.

O primeiro argumento equivocado é o de que a Re-solução CMN nº 3.954/2011 violaria o princípio cons-titucional da legalidade estrita (art. 5º, inciso II da CF): o processo legislativo estabelecido na Consti-tuição Federal seria o único meio legítimo de esta-belecer regras coercitivas gerais e abstratas (isto é, leis), não havendo norma no ordenamento jurídico que autorize o CMN ou o Banco Central do Brasil a dispor sobre a matéria com a generalidade e abstra-ção verificadas na espécie. Porém, a competência do CMN está claramente disposta na Lei nº 4.595/1964, que foi recepcionada pela Constituição Federal com status de Lei Complementar. Essa capacidade normativa está definida no art. 4º, inciso VIII, da Lei nº 4.595/1964, que assim estabelece: “compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes es-tabelecidas pelo Presidente da República, regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que exerceram atividades subordinadas a esta lei, bem como a aplicação das penalidades previstas”.

O segundo argumento equivocado é o de que a Re-solução CMN nº 3.954/2011 representaria violação à reserva legal da União para legislar sobre Direito do Trabalho (art. 22, inciso I da CF), na medida em que institucionalizaria a criação de “bancários infor-mais”, realizando as mesmas atividades, mas sem contar com as proteções legais e os direitos da ca-tegoria. Ocorre que a Resolução do CMN não fere a reserva legal da União porque ela não trata de maté-ria trabalhista, mas sim de contrato comercial entre uma instituição financeira e um correspondente. O correspondente não é, de forma alguma, uma insti-tuição financeira, mas apenas o elo entre o cidadão comum e a instituição; a atividade de correspon-dente não se confunde com os serviços bancários que ele distribui. As relações contratuais – abertu-ra de conta, depósito e mútuo – são sempre entre banco e usuário. Ao contratar o correspondente, o

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banco não o subcontrata para realizar sua atividade privativa de intermediação financeira, não havendo, assim, terceirização de atividade-fim. O correspon-dente não tem como foco a intermediação finan-ceira, mas sim a prestação de serviços por conta e ordem da instituição financeira. É por essa razão que a Resolução CMN nº 3.954/2011 é muito clara em seu artigo 1º ao tratar o correspondente como prestador de serviços contratado para “atividades de atendimento a clientes e usuários da instituição contratante”, sem jamais vincular o contratado à ati-vidade financeira nem estabelecer qualquer vínculo trabalhista entre as duas partes.

17.9 jOrNAdA de trAbALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para o forta-lecimento de negociações coletivas transparen-tes que determinem a redução da jornada de trabalho de forma a beneficiar empregados ao mesmo tempo em que não vulnerem emprega-dores. Para a CNF, eventual redução da jornada de trabalho deve ser objeto de negociações se-toriais, com vistas a manter a competitividade e a produtividade que asseguram a geração de novas vagas de emprego formal. O adicional pago a título de horas extras também deve ser mantido, uma vez que a legislação trabalhista já determina corretamente esses valores.

É marcante a tendência de redução da jornada de trabalho por meio de negociação coletiva. Para os setores em que essa redução é possível, tem sido negociada uma carga horária adequada que satisfaz às demandas dos trabalhadores sem comprometer a eficiência e a competitividade das empresas. Essa tendência já resultou em jornadas diferenciadas em vários setores. Como regra geral, empregados de instituições financeiras já cumprem jornada de trabalho igual ou inferior a 40 horas.

Os impactos da redução da jornada de trabalho não podem ser avaliados por cálculos matemáticos sim-plistas, pelos quais, por exemplo, uma redução de jornada de 44 horas semanais para 40 horas (ou 9,1%) alavancaria automaticamente crescimento de 10% no número de vagas formais. Esse raciocínio equivocado supõe que empresas que contratam dez empregados passariam a necessitar de um décimo primeiro funcio-nário para cumprir as 44 horas que requer o seu ciclo produtivo. Tais cálculos negligenciam vários outros fa-tores da equação de produção de uma empresa, que inclui, por exemplo, aumento de preço do produto fi-nal causado por redução da oferta, compra de equipa-mentos e ampliação do treinamento da mão-de-obra para aumentar a produtividade, ou mesmo desinves-timento para relocação em mercado onde as normas trabalhistas sejam mais flexíveis. A negociação coleti-va é a maneira de empregados e empregadores pon-derarem todos esses fatores na equação da produção.

Além do mais, atrelar a redução da jornada de tra-balho ao aumento do adicional pago pelas horas extras trabalhadas, de 50% do valor normal para 75%, conforme consta de propostas legislativas em tramitação, aumentaria o custo com a mão-de-obra e, consequentemente, desestimularia a criação de empregos formais.

17.10 FIXAçÃO de PISO SALArIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o estabelecimento de pisos salariais que consi-derem de maneira realista as discrepâncias entre regiões geográficas do Brasil e entre dife-rentes setores da economia, balizadas não por exames superficiais de rentabilidade desses setores econômicos, mas sim pela necessidade de se assegurar remuneração adequada àque-las categorias laborais cuja natureza exija qua-lificações específicas e desempenho singular.

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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O chamado piso salarial ou salário profissional é aquele estabelecido para os profissionais que exer-cem uma determinada atividade em razão da sua natureza e desempenho laboral, das qualidades exigidas para a sua execução e, também, das pos-sibilidades econômicas das empresas da respectiva categoria econômica.

A reivindicação para a fixação de piso salarial para as categorias profissionais tem sido objeto de diversas proposições em tramitação no Congresso Nacional. Entretanto, a matéria deve ser objeto de estudos mais aprofundados, pois o Brasil apresenta enormes diferenças regionais.

Estabelecer uma remuneração mínima pode funcio-nar como elemento contrário à pretensão dos proje-tos de lei, pois determinadas categorias, em Estados de menor atividade econômica, deixariam de conse-guir reajustes maiores aos do piso salarial em suas negociações coletivas.

17.11 eStAbILIdAde dA reLAçÃO emPregAtÍCIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a fle-xibilização das relações de trabalho, seja pela consolidação do sistema indenizatório para demissões imotivadas disposto no artigo 7° da Constituição, seja pelo fortalecimento das convenções e acordos coletivos que tratam da questão, para estímulo da competitividade e da inovação de empresas, bem como para au-mentar a geração de empregos formais.

Uma das discussões mais importantes para a econo-mia brasileira trata do engessamento do mercado de trabalho pela proibição das demissões imotivadas. O instituto da estabilidade foi derrogado pela legisla-ção que implantou o sistema do Fundo de Garantia

do Tempo de Serviço (FGTS), um sistema de proteção ao trabalhador baseado em quatro pilares: aviso pré-vio, indenização de 40% sobre o saldo do FGTS, o pró-prio Fundo e o seguro-desemprego. Há também uma série de outros mecanismos, tais como verbas resci-sórias e restrições em casos especiais, ao lado daque-les estabelecidos por convenção ou acordos coletivos (como proteção para os que estão próximos da apo-sentadoria, os que são arrimo de família, os que têm muitos dependentes, as gestantes e os acidentados).

A discussão sobre proibição de demissões imotivadas avança no Supremo Tribunal Federal e no Congresso Nacional, com implicações muito graves. No coração dessa discussão, está a prerrogativa de o Governo denunciar uma convenção internacional trabalhista sem passar pelo crivo do Congresso Nacional: ou o Brasil continuará a denunciar tratados por ato do Exe-cutivo, como vem fazendo há décadas e como se faz em muitos países, ou o Governo passará a submeter ao Congresso a denúncia de tratados internacionais.

Em junho de 1982, a Organização Internacional do Trabalho aprovou a Convenção n° 158, que limita a dispensa de empregados por “justa causa” e proíbe a demissão imotivada.

Há conflito entre a Convenção OIT n° 158 e a Consti-tuição Federal, cujo artigo 7°, inciso I prevê o direito a uma “relação de emprego protegida contra despe-dida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensa-tória, dentre outros direitos”. O Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção da OIT em setembro de 1992, pelo Decreto Legislativo n° 68. Em 20 de no-vembro de 1996, o Poder Executivo expediu o Decre-to n° 1.855, que deu entrada à Convenção no direito positivo interno do Estado brasileiro. Os Decretos do Legislativo e do Executivo haviam introduzido o pró-prio texto da Convenção, em conflito com o dispo-sitivo constitucional que determina a promulgação de Lei Complementar para regular a matéria. Essa anomalia deu origem à ADI n° 1.480, proposta pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pela

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Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ao julgá-la, o Supremo Tribunal Federal decidiu que, além de o texto da Convenção não poder substituir a lei com-plementar prevista na CF, tal lei complementar não poderia alterar a sistemática da garantia de indeni-zação compensatória. Foi essa decisão que levou o Poder Executivo a denunciar a Convenção n° 158 em dezembro de 1996, nos termos previstos na própria Convenção, pelo Decreto n° 2.100, “visto haver sido denunciada por Nota do Governo brasileiro à Organi-zação Internacional do Trabalho”.

A partir desse ponto, a discussão tomou dois rumos, um no Supremo Tribunal Federal e outro no Congres-so Nacional. Enquanto o STF examina a constitucio-nalidade do Decreto do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Câmara dos Deputados é cha-mada a se pronunciar sobre a Mensagem n° 59/2008, do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que propõe nova ratificação da referida Convenção. Forma-se o quadro preocupante em que a Convenção n° 158 pode vir a ser restaurada em sua eficácia seja por de-cisão do STF, seja por aprovação do Congresso.

Caso o STF decida que a Convenção jamais foi de-nunciada, ou caso o Congresso Nacional decida ratificar novamente a matéria, sobrevirá um custo enorme para todos os setores da economia brasilei-ra e para o próprio Governo (União, Estados e Mu-nicípios), que é grande empregador. Impedidos de demitir, os empregadores terão seus custos com a manutenção dos postos de trabalho aumentados significativamente e serão inibidas novas contra-tações, com reflexos sobre o desemprego. Esses impactos serão particularmente negativos sobre micro e pequenas empresas, que constituem os maiores empregadores do país, e sobre os jovens, que registram taxas de desemprego muito mais al-tas do que aquelas da população acima de 24 anos. O setor financeiro terá dificuldade para conceder crédito a empresas que, para justificar demissões imotivadas, aleguem problemas financeiros, o que agrava ainda mais o impacto negativo da Conven-ção sobre a atividade econômica.

No que diz respeito às consequências do julgamento no STF e da tramitação da Mensagem n° 59/2008 no Congresso, os impactos negativos projetam-se para o passado e para o futuro: cria-se insegurança jurídica acerca das demissões imotivadas desde 1996 e reduz-se a criação de novos empregos pelo engessamento do mercado de trabalho. A economia brasileira seria fortemente atingida pelos próximos três anos, uma vez que o artigo 17 item 1 da Convenção OIT n° 158 dis-põe que esta só pode ser denunciada a cada dez anos da data inicial de sua vigência, em 1985. Significa que a próxima denúncia só poderá ocorrer em 2015. No que tange à alteração das relações entre Poderes, tan-to o resultado do julgamento do STF quanto o trâmite da Mensagem n° 59/2008 no Congresso têm o poder de deslocar o Brasil do grupo dos países cuja Constituição é omissa sobre o papel do Legislativo na ratificação de denúncias de tratados para o grupo dos países em que o Parlamento tem papel crítico nessas denúncias.

Ademais, discute-se no Supremo Tribunal Federal a obrigatoriedade ou não de motivação nos desliga-mentos de empregados celetistas que laboram em empresas com capital do Governo, ou seja, em socie-dades de economia mista (BB) e empresas públicas (CEF). O STF, inclusive, emitiu recente decisão anali-sando processo contra dos Correios (ECT) nos autos do RE 589.998 reconhecendo naquele caso a necessi-dade de motivação. A CNF apoia que eventual regula-mentação inclua as empresas públicas e sociedades de economia mista que exercem atividade econômi-ca, nos termos do artigo 173 da Constituição Federal.

17.12 eStAbILIdAde PrOVISórIA dA reLAçÃO emPregAtÍCIA

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o for-talecimento da garantia de emprego aos tra-balhadores que não passam necessariamente pela ampliação do leque de alternativas para

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No período de estabilidade provisória o empregado não pode ser dispensado por vontade do emprega-dor, salvo por justa causa ou força maior. Há duas categorias de estabilidade: (a) aquelas previstas em lei; e (b) aquelas previstas em convenções e acordos coletivos, nos quais os sindicatos, com a intenção de assegurar aos empregados garantia de emprego e salário, determinam alguns casos de estabilidade, tal como para o empregado em vias de aposentadoria.

No ordenamento pátrio, vislumbram-se algumas hi-póteses de estabilidades provisórias, entre as quais as mais comuns nas relações empregatícias são: (a) da gestante (artigo 10, II, b, do ADCT – CF/1988); (b) do acidentado (Lei n° 8.213/1991, art. 118); (c) a do dirigente sindical (art. 8º, VIII, CF/1988 e artigo 543, §3º. CLT); e (d) dos membros eleitos da CIPA (arts. 163 a 165 da CLT).

A produção legislativa deve considerar a sustenta-bilidade das empresas e o estímulo à geração de empregos, especialmente no momento de crise atu-al. No Congresso Nacional, contudo, são discutidas proposições que tratam de estabilidade que, recor-rentemente, pretendem inovar o ordenamento sem conceder incentivos fiscais ou de qualquer natureza. Contrariamente, trazem mais um ônus trabalhista, devendo o empregador, caso queira manter suas ati-

vidades, adequar-se por meio da redução da lucra-tividade, quando possível, ou, ainda, da majoração do valor final dos produtos ou serviços comercializa-dos. Ademais, o artigo 7º da Constituição Federal, ao tratar da proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, afirma que esta será instituída por meio de Lei Complementar. Por essa razão, determinados projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional possuem vícios de constitucionalidade.

Dentre essas proposições, figuram a estabilidade para o alcoolista, trabalhador com esposa gestante, membros de Conselho Fiscal de sindicatos, trabalha-dor que retorna de férias ou de afastamento involun-tário, trabalhador às vésperas de se aposentar, bem como a vedação da demissão coletiva.

Propostas com o intuito de inibir a demissão coletiva não consideram a potencial desaceleração da ativi-dade econômica e o desestímulo ao surgimento de novas vagas de emprego, como já ocorre, sobretudo, em alguns países europeus. A demissão coletiva é uma medida extrema a que recorrem as empresas em casos de grave crise conjuntural. A inviabilização da atividade econômica pela imposição de ônus tra-balhista exagerado levaria, no limite, à extinção da empresa e com ela de todos os empregos, além de afetar todos os parceiros com quem a empresa man-tinha relações comerciais e creditícias.

17.13 SOCIedAdeS COOPerAtIVASe eStAbILIdAde PrOVISórIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-plicitação da situação jurídica de empregados que sejam eleitos Diretores de sociedades coo-perativas criadas por eles próprios no sentido de negar a esses empregados estabilidade pro-visória equiparada à de dirigentes sindicais.

a concessão de estabilidade provisória. Essas alternativas devem ser assentadas em rigoro-sos estudos que mensurem seu impacto econô-mico, em contraste com o ônus da estabilidade provisória e a rigidez que esta introduz numa economia competitiva. Considerando que a legislação atual contempla garantias provisó-rias de emprego que abrangem diversas situa-ções, a Confederação Nacional das Instituições Financeiras entende que compete às partes, por meio de Convenções Coletivas de Emprego, estabelecer outras de conformidade com as peculiaridades de cada categoria.

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A Lei das Sociedades Cooperativas (Lei nº 5.764/1971, que “define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperati-vas, e dá outras providências”) define essas entida-des como um contrato de sociedade de natureza civil, com forma e natureza jurídica próprias, de pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica de proveito comum, sem objetivo de lu-cro, não sujeitas a falência. As sociedades coopera-tivas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade em benefício de seus associados, assegurando-se-lhes o direito exclusivo e exigindo-se-lhes a obrigação do uso da expressão

“cooperativa” em sua denominação.

Na economia brasileira, cooperativas têm desempe-nhado papel cada vez mais relevante na promoção do desenvolvimento, inclusive para o aumento da oferta de crédito a taxas de juros competitivas (ver Seção 12.8 – Cooperativas de crédito). Em que pese esse papel importante, há registro de criação de coo-perativas com o único intuito de obter para seus Dire-tores estabilidade equiparada à do dirigente sindical.

Essa desvirtuação do papel das entidades decorre de dispositivo da Lei nº 5.764/1971, que vem geran-do controvérsia sobre a estabilidade de empregados de empresas que sejam eleitos Diretores de socieda-des cooperativas pelos mesmos criadas, já que es-tes, nos termos do artigo 55, gozariam das garantias asseguradas aos dirigentes sindicais pela Consoli-dação das Leis do Trabalho (previstas no artigo 543 do Decreto-Lei nº 5.452/1943). Entre essas garantias figura a vedação de dispensa do empregado, até um ano após o final do seu mandato, salvo se cometer falta grave devidamente apurada.

Não se justifica a existência de tal estabilidade equi-parada à do dirigente sindical, uma vez que a prote-ção contra despedida imotivada dada a esse tipo de dirigente, assim como a de integrante de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), tem como fundamento permitir que ele exerça sua função em

sua plenitude, sem estar sujeito a, em tese, eventu-ais represálias por empregador arbitrário, diante do escopo de atuação do dirigente na relação emprega-do e empregador. Não se vislumbra tal prerrogativa para o Diretor de cooperativa, já que não há por par-te dele qualquer atuação contra interesses do em-pregador que justifique tal garantia legal.

Além disso, depois da promulgação da Constituição de 1988, a estabilidade de Diretor de cooperativa equi-parada à de dirigente sindical perdeu amparo legal.

Recentes acórdãos de alguns tribunais do trabalho defendem que diante da supremacia do artigo 8º, inciso VIII, da Constituição Federal, o direito à esta-bilidade provisória de que trata o artigo 543, da CLT restou assegurado exclusivamente aos dirigentes sindicais, pois o artigo 8º, inciso VIII, da Constituição da República e o artigo 10, inciso II, do ADCT fazem alusão expressa ao dirigente sindical, à gestante e ao membro eleito a cargo de direção da CIPA, mas não mencionam o Diretor da sociedade cooperati-va, o que permite concluir que a nova Ordem Cons-titucional não recepcionou diversos dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho e da legislação infraconstitucional que disciplinavam a estabilidade. Com isso, o artigo 543 da CLT destina-se exclusiva-mente a dirigentes sindicais, não mais subsistindo a proteção contra a dispensa imotivada do Diretor de associação profissional, nem qualquer outra estabe-lecida na legislação periférica.

17.14 ACIdeNte de trAbALHO

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação dos direitos trabalhistas, tais como o direito a indenização pública nos casos de acidente de trabalho e de estabilidade de emprego temporária para trabalhadores aci-dentados, que resguardem os empregadores

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Já há previsão legal para a proteção do trabalhador nos casos em que ocorre afastamento por motivo de acidente de trabalho (como o inciso XXVIII do artigo 7º, o artigo 194 e o inciso I do artigo 201 da Constituição Federal).

A Justiça do Trabalho é competente para julgar as ações sobre reparação decorrentes de acidente de trabalho ou doença ocupacional, cabendo à Justiça Especializada somente a adoção supletiva de nor-mas do processo civil em caso de omissão da Con-solidação das Leis do Trabalho (CLT). Não havendo omissão na CLT, não cabe discussão sobre compati-bilidade entre a norma trabalhista e o processo civil.

O artigo 118 da Lei nº 8.213/1991 assegura garantia de emprego de doze meses após a cessação do auxílio-doença acidentário e veda a dispensa do empregado a partir do 16° dia do afastamento, quando o contra-to de trabalho fica suspenso. O auxílio-doença será devido ao acidentado que ficar incapacitado para o seu trabalho por mais de quinze dias consecutivos.

Ocorre que o empregador arca com os custos da li-cença mesmo nos casos em que o afastamento do trabalhador se dá por conta de qualquer outra do-ença que não guarde nexo causal com o trabalho re-alizado. O empregado não pode ser dispensado por usufruir garantia do emprego sempre que esse afas-tamento ocorrer por um período superior a quinze dias. Nesses casos, o empregador incorre no ônus da não prestação do serviço, por força do afastamento previdenciário, para em seguida arcar com o custo adicional da estabilidade ou garantia do emprego.

Nesse quadro, não merecem prosperar as proposi-ções legislativas que pretendem aumentar o prazo de estabilidade no emprego, bem como transferir

para os empregadores ônus maior com a manuten-ção do Seguro de Acidente do Trabalho.

17.15 AdICIONAL de PeNOSIdAde

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que remetam à livre negociação entre os empregadores e as entida-des de representação de categorias expostas a desconforto físico ou psicológico intenso rela-tivas a questões de adicional de penosidade. Essas propostas devem buscar precisão na ca-racterização das condições de penosidade, cir-cunscritas às normas de segurança e saúde no trabalho editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, bem como à prevenção de descon-fortos inerentes a certas atividades, excluídas questões de segurança pública.

Adicionais constituem acréscimos de remuneração aos trabalhadores que exercem funções que lhes causem um dano efetivo ou potencial. O adicional de penosidade é um direito constitucional garanti-do aos trabalhadores o qual carece de regulamen-tação. Na Constituição Federal, encontra-se ao lado dos adicionais de insalubridade e de periculosidade (art. 7º, XXIII).

O adicional de penosidade não se confunde com o de insalubridade e o de periculosidade. Condições penosas não expõem o trabalhador a riscos de saú-de ou a riscos para sua incolumidade, mas causam desconforto físico ou psicológico mais intenso do que o provocado por atividades ou ambientes de trabalho normais.

A caracterização de trabalho penoso está sujeita a boa margem de imprecisão. Tal imprecisão é acen-tuada ao se tratar da base de cálculo do adicional de penosidade. Em julho de 2009, o STF entendeu que o adicional de insalubridade deve ser calculado so-

de demandas de má-fé cujo ônus pode afetar negativamente a capacidade de competição e de inovação das empresas.

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bre o salário mínimo. O entendimento do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, porém, é de que a base de cálculo do adicional de penosidade seja o salário contratual.

17.16 SegurO ACIdeNte de trAbALHO (SAt)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o aperfeiçoamento do sistema de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho, pela introdução de medidas de prevenção de sinistros e de indenização proporcionais ao ris-co, ao grau de exposição dos trabalhadores e à gravidade das lesões decorrentes de acidentes.

A Constituição garante ao empregado o Seguro Aci-dente de Trabalho (SAT), custeado pelas empresas mediante o pagamento de um adicional sobre folha de salários.

A Lei nº 8.212/1991, que definiu as alíquotas do SAT de acordo com uma graduação de riscos, bem como delegou a regulamentação a ato normativo infrale-gal (regulamento), estabeleceu os dados necessários à configuração da hipótese de incidência da Contri-buição Social. A alíquota foi estabelecida em 1%, para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado leve, de 2% para risco médio e de 3% para as de risco grave. Com o Decre-to nº 2.173/1997 a atividade preponderante passou a ser considerada aquela que, na empresa, ocupa o maior número de trabalhadores.

O Decreto nº 6.957/2009 alterou o Regulamento da Previdência Social (Decreto nº 3.048/1999) quanto à aplicação, ao acompanhamento e à avaliação do Fator Acidentário de Prevenção (FAP). Consiste em um multiplicador variável calculado de acordo com o grau acidentário no ambiente de trabalho. O FAP é

aplicado à respectiva alíquota de 1%, 2% ou 3% de contribuição para o SAT, o que deverá aumentar ou reduzir o percentual, de acordo com o grau de inci-dência de acidentes de trabalho.

O multiplicador variável introduzido pela nova legis-lação acarretou alteração drástica na classificação de diversos setores da economia, que passaram da contribuição mínima à máxima, mesmo não haven-do equivalência na gravidade dos acidentes com os setores que já contribuíam com a alíquota de 3%.

A mudança introduzida pela nova legislação pode ser inconstitucional por se basear em um critério de presunção, já que não é mais necessário verificar se o funcionário de fato exerceu atividades que causa-ram a doença, bastando que esta esteja classificada como de alta incidência naquele ramo empresarial.

17.17 FuNdO de AmPArO AO trAbALHAdOr (FAt)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas que revejam a des-tinação e verifiquem a eficiência da aplicação dos recursos do FAT, sem, contudo, reduzir a alocação dos recursos ao amparo do traba-lhador desempregado. Entre essas iniciati-vas, a CNF endossa aquelas voltadas para o preparo de mão-de-obra para um mercado de trabalho que demanda profissionais quali-ficados. Sobre o Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT), a Confederação defende a consti-tuição de um órgão colegiado de efetiva repre-sentatividade, que reúna entidades patronais de âmbito nacional constituídas na forma da lei, sobre as quais não pese qualquer dúvida quanto à sua legalidade.

O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) consiste em um fundo especial vinculado ao Ministério do

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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Trabalho e Emprego, instituído em 1990 para o cus-teio do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial, o financiamento de Programas de Desen-volvimento Econômico e qualificação profissional.

Os recursos do fundo originam-se principalmente das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Pa-trimônio do Servidor Público (PASEP). A partir da vi-gência da Constituição de 1988 e da instituição do FAT, o BNDES passou a gerir permanentemente re-curso que corresponde a, pelo menos, 40% do que é arrecadado com as contribuições ao PIS-PASEP.

Atualmente, os repasses do FAT ao BNDES, integra-dos pelo FAT Constitucional e o FAT Depósitos Es-peciais, constituem uma de suas mais importantes fontes. Em dezembro de 2013, o saldo total de recur-sos repassados atingiu a marca de R$ 156,52 bilhões, ampla parcela do funding do banco.

Para a implementação de uma sólida política de for-talecimento da economia e do mercado de trabalho nacional, é de grande importância o acompanha-mento da aplicação desses recursos para que sejam definidos métodos de alocação e estabelecidas prio-ridades que se coadunem com os objetivos essen-ciais do FAT e do BNDES. Essa é a responsabilidade do Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT), criado pelo mesmo marco legal que deu origem ao FAT. Trata-se de órgão colegiado de caráter tripartite que possui como suas principais funções a elaboração de dire-trizes para programas e para alocação de recursos; o acompanhamento e a avaliação do impacto da apli-cação de tais recursos, bem como a função de propor o aperfeiçoamento da legislação referente às políti-cas públicas de emprego e renda, e a fiscalização da administração do FAT. Em fevereiro de 2014, a com-posição do CODEFAT não contava com ampla parti-cipação patronal de âmbito nacional representativa.

No âmbito do Congresso Nacional, várias proposi-ções objetivam alterar critérios e definir novos parâ-metros que balizem a alocação de recursos do FAT

pelo seu Conselho Deliberativo. Também tramitam projetos que pretendem condicionar a concessão de benefícios (como o seguro desemprego e ações como a qualificação profissional de trabalhadores desempregados) à frequência de empregados nos cursos oferecidos.

A vinculação legal de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) a programas de capacitação e qualificação profissional poderia representar impor-tante estímulo à formação dos empregados.

17.18 SuSPeNSÃO de CONtrAtO de trAbALHO em CASO de CrISe eCONômICO-FINANCeIrA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a introdu-ção na Consolidação das Leis do Trabalho de dis-positivo que permita a suspensão do contrato de trabalho, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo e aquiescência formal do empre-gado, sempre que a empresa não puder manter o nível da produção e o fornecimento de serviços em razão de crise econômico-financeira.

Na suspensão do contrato de trabalho, o pacto labo-ral deixa de produzir efeitos tão logo ocorra a causa suspensiva e desaparece temporariamente. No perí-odo negociado, o empregado não tem obrigação de trabalhar, ao mesmo tempo em que o empregador não arca com salário e encargos sociais.

O debate acerca da flexibilização do direito do traba-lho no Brasil ressurgiu com a crise de 2008, quando inúmeras empresas nacionais, dos mais variados setores, foram absorvidas pela crise econômico-fi-nanceira internacional. Portanto, para a redução dos seus custos e a manutenção dos empregos, muitas companhias viram na flexibilização da legislação tra-balhista uma saída para essa emergência conjuntural.

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Flexibilizar pressupõe a manutenção da intervenção estatal nas relações trabalhistas estabelecendo as condições mínimas de trabalho, mas autorizando, em determinados casos, exceções ou regras menos rígidas, de forma a possibilitar a manutenção da em-presa e dos empregos.

O artigo 476-A da Consolidação das Leis do Traba-lho (CLT) prevê suspensão do contrato de trabalho para participação do empregado em curso ou pro-grama de qualificação profissional oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual.

Discute-se no Congresso Nacional a introdução na CLT de dispositivo semelhante ao artigo 476-A, para criar mais uma hipótese de suspensão do contra-to de trabalho, mediante previsão e convenção ou acordo coletivo e aquiescência formal do emprega-do, quando a empresa não puder manter o nível da produção e o fornecimento de serviços em razão de crise econômico-financeira.

Para que a flexibilização das leis trabalho possa ser validada, a Lei nº 4923/1965 deve ser observada, sob pena de nulidade da negociação. A empresa que pas-sa pela crise deverá comprovar a dificuldade econô-mica, conforme o artigo 2º de mencionada lei para poder, assim, reduzir em no máximo 25% o salário dos empregados, com a redução da jornada, por um período não excedente a três meses, que poderá ser prorrogado, desde que comprovadas as mesmas condições financeiras. A redução de direitos somente pode ser tolerada como medida de caráter excepcio-nal e temporária, em virtude de ocasional dificuldade financeira ou operacional enfrentada pela empresa.

A revisão das relações trabalhistas não busca a di-minuição de direitos, mas sim repactuá-los. A sus-pensão constitui-se em alternativa à dispensa de mão-de-obra e às demissões coletivas durante cri-ses. Para os empregados, haveria a vantagem da manutenção da relação trabalhista. Para os empre-gadores, haveria o benefício da redução temporária

de custos pata recuperação da atividade empresa-rial e evitaria custos de formação e de reposição de mão-de-obra qualificada.

17.19 LICeNçA mAterNIdAde

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a prorrogação da licença maternidade que não imponham ônus exagerados aos empregado-res, mas sim que os incentivem a conceder essa prorrogação de forma voluntária, inclusive por meio de isenções tributárias, ou que remetam a questão para acordos coletivos.

A Constituição Federal de 1988 admitiu as disposi-ções da Convenção nº 103 da Organização Interna-cional do Trabalho e passou a assegurar à gestante, sem prejuízo de emprego e salário, 120 dias de li-cença, além de vedar sua dispensa arbitrária ou sem justa causa a partir do momento da confirmação da gravidez e até cinco meses após o parto (art. 7º, XVIII e art. 10, II, b - ADCT). O benefício é estendido aos ca-sos de adoção também concedendo à mãe adotante estabilidade temporária.

É pertinente e oportuna a discussão sobre a ampliação do direito por mais sessenta dias, o que atende às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) de as mães proverem aleitamento durante os seis primeiros meses de vida de seus filhos. No Brasil, a legislação concede à mãe lactante o direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho, para aleitamento, até que seu filho complete seis meses de idade (ou mais, se houver necessidade médica – art. 396, da CLT).

Para a CNF, o direito à licença maternidade e as dis-cussões em torno de sua eventual dilatação aproxi-mam-se do espírito da Lei n° 11.770/2008, que criou o Programa Empresa Cidadã. De acordo com a nor-

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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ma, as empresas que voluntariamente aderem ao programa e concedem o benefício às funcionárias são beneficiadas com incentivos fiscais. Nele, os pri-meiros 120 dias de licença maternidade continuam a ser custeados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e a empresa arca com os dois meses se-guintes. A beneficiária recebe seu salário integral ou, no caso de valores variáveis, a média dos ganhos nos últimos seis meses. O total da remuneração integral pago nos sessenta dias de prorrogação da licença- maternidade pode ser isentado de tributação.

17.20 OutrAS LICeNçAS trAbALHIStAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que favoreçam a ampliação de hipóteses de ausência justifica-da desde que estabelecidas por meio de ne-gociação coletiva e que não se convertam em incentivo ao absenteísmo.

A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 473, estabelece rol de hipóteses em que o emprega-do poderá deixar de comparecer ao serviço sem que haja prejuízo do salário ou do gozo das férias. São ca-sos que ensejam ausência justificada: (a) falecimen-to de cônjuge, ascendente ou descendente, irmão ou pessoa que viva sob sua dependência econômica; (b) doação voluntária de sangue devidamente com-provada; (c) alistamento eleitoral; (d) cumprimento de exigência do Serviço Militar; (e) participação em processo seletivo para ingresso em estabelecimen-to de ensino superior; (f) para comparecimento em juízo; (g) exercício de mandato de representante sindical; e (h) nascimento de filho. A CLT ainda esta-belece prazos específicos para cada um dos casos de ausência justificada, de modo a assegurar ao traba-lhador tempo hábil para o cumprimento de obriga-ções junto ao Estado, além de prover oportunidade ao empregado para resolver questões atinentes ao seu círculo familiar.

Discussões relacionadas ao rol supracitado e à am-pliação dos prazos de ausência justificada têm sido desenvolvidas nos âmbitos dos três Poderes. No Con-gresso Nacional, elevado número de proposições vi-sam à modificação do art. 473 da CLT. No Executivo a Conferência Nacional do Trabalho Decente, (ver Seção 3.2 – Agenda Nacional do Trabalho Decente) or-ganizada por comissão tripartite, é um dos foruns de discussão dessa temática e de outras relacionadas ao cotidiano de trabalhadores e de empregadores. O Judiciário, por sua vez, tem sido provocado a se ma-nifestar sobre as hipóteses de ausência e licença do trabalhador, tal como no caso do Mandado de Injun-ção nº 4.408, impetrado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), por meio do qual a entidade requer a regulamentação do inciso XIX do artigo 7º da Constituição Federal, que trata da hipótese de ausência do trabalhador em caso de nascimento de filho.

No que concerne à licença em caso de nascimento de filho, há propostas que, por exemplo, visam à regulamentação da licença paternidade e que suge-rem a ampliação da abrangência do Programa Em-presa Cidadã, estendendo sua cobertura à licença paternidade. Atualmente, tal licença é concedida ao pai pelo período de cinco dias imediatamente após o nascimento da criança, conforme previsto na Consti-tuição Federal, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, art. 10, § 1º.

O prazo do art. 473 da CLT destinado à recuperação do trabalhador em caso de falecimento de parentes, conhecido como licença nojo, é comumente questio-nado. A legislação vigente prevê a possibilidade de ausência justificada por dois dias de trabalho.

Outras proposições legislativas objetivam assegu-rar ao trabalhador a possibilidade de afastamento de suas atividades para fins de qualificação. Não obstante o apoio a iniciativas que visem ao fomen-to de políticas de incentivo ao estudo, a Confede-ração Nacional das Instituições Financeiras prima pela autonomia coletiva dos agentes econômicos

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e pelos instrumentos coletivos de trabalho quan-do da discussão de políticas referentes à educação profissional continuada.

17.21 ASSédIO mOrAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que visem a estabe-lecer critérios objetivos para fixação de indeni-zação em caso de ocorrência de assédio moral.

Entende-se como assédio moral a prática, manuten-ção ou exposição de empregados (as) a situações vexatórias, por várias vezes, no exercício das ativida-des e funções, que tenham origem não só de chefias, mas também de pessoas com posição hierárquica igual ou inferior.

O assédio moral deve ser combatido de todas as maneiras possíveis. Em que pese à gravidade do problema e a necessidade de duras medidas de pre-venção e punição de atos dessa natureza, o conceito de assédio moral não pode ser genérico: sua indefi-nição gera insegurança jurídica, na medida em que o empregador desconhece qual comportamento seu poderá vir a ser interpretado como assédio pela Justiça do Trabalho.

Ademais, não basta a comprovação de culpa (em sentido amplo) do empregador para que o empre-gado tenha direito à indenização. Incumbe à vítima a prova de nexo causal e efetivo dano, o que é difi-cultado pela ausência de clara definição do que seja assédio moral.

O artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho elenca as hipóteses de rescisão indireta, dentre as quais não figura o assédio moral. Contudo, eventos comprovados de assédio moral habilitam os empre-gados a pleitear indenização por danos morais, à qual não se soma indenização rescisória. Eventual

acumulação de indenização rescisória com indeni-zação genérica por danos morais caracterizaria bis in idem, ou dupla indenização, pois a origem da re-paração seria a mesma: eventuais danos originados pela assédio moral.

É preciso cautela para evitar que ações judiciais sirvam para fomentar a chamada “indústria da indenização”, já que as empresas acabam arcando com pesados valores advindos de condenações a título de dano moral, possivelmente sem fundamento.

A cláusula preventiva de assédio moral que consta de convenções coletivas firmadas pela categoria dos bancários tem-se mostrado eficaz e contribui para enriquecer a discussão sobre o tema.

17.22 PONtO eLetrôNICO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas com vistas a re-vogar ou a alterar a Portaria do Ministério do Trabalho nº 1.510/2009, considerando-se que certificação digital de sistemas alternativos atende os mesmos requisitos de autenticidade e integridade de registros de jornada de tra-balho. Empresas de vários setores já adotam sistema de ponto eletrônico com requisitos de segurança e inviolabilidade reconhecidos em várias decisões da Justiça do Trabalho.

O Sistema de Registro Eletrônico de Ponto (SREP) consiste em um conjunto de equipamentos e progra-mas informatizados destinados à anotação por meio eletrônico da entrada e saída dos trabalhadores das empresas, previsto no artigo 74 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A Portaria do Ministério do Trabalho (MTE) nº 1.510/2009, que regulamenta o SREP, procura prevenir fraudes no registro da jorna-da de trabalho nas empresas, disciplinar a utilização do sistema e regulamentar o uso do equipamento.

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A norma obrigou as empresas a substituírem os atu-ais coletores de ponto pelo registrador eletrônico até a sua entrada em vigor, em 1º de abril de 2012, con-forme disposto na Portaria nº 2.686/2011.

A nova regra do MTE é excessivamente burocrática e não leva em consideração os sistemas atualmen-te existentes no país. Um dos principais problemas criados é a obrigatoriedade de impressão de um comprovante do registro para o trabalhador. Os em-pregados ficam obrigados a manter, por longo perí-odo de tempo, uma grande quantidade de registros em papel, sem a garantia de que as fraudes de regis-tro serão reduzidas, dado que, em sua maior parte, tais fraudes não costumam ocorrer na forma de sim-ples e pura alteração do registro.

A Portaria ainda estabelece um vasto e detalhado conjunto de exigências que, em vez de proteger, im-põe dificuldades também aos empregadores, já que a aquisição de um registrador eletrônico de ponto (REP) é onerosa.

Na visão da CNF, o Ministério do Trabalho extrapolou seu poder de regulamentar ao editar portaria que criou obrigações não previstas em lei. Isso porque a CLT obriga apenas as empresas com mais de dez empregados por estabelecimento a registrarem res-pectivos horários de trabalho, seja de forma manual, mecânica ou eletrônica. A Portaria estabelece ainda que o registro eletrônico de ponto somente é válido se efetuado por meio do denominado REP – Regis-trador Eletrônico de Ponto, que vem a ser o aparelho cujas especificações estão detalhadas na Portaria. Ora, a determinação de utilização de um único tipo de dispositivo já caracteriza um excesso de regula-mentação, posto que o texto da CLT unicamente autoriza o MTE a efetuar a regulamentação da mar-cação da jornada, suas condições e limites de sua utilização. No plano judicial, já existem decisões que desobrigam o uso do REP.

17.23 uNICIdAde SINdICAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento do princípio constitucional da unicidade sindical e repudia normativos de hie-rarquia legal inferior que ferem esse princípio.

A Constituição Federal, em seu artigo 8º inciso II, veda a criação de mais de uma organização sindical representativa de categoria profissional ou econô-mica, em qualquer grau – ou seja, também no grau superior das federações e confederações. Essencial-mente, o dispositivo assegura o princípio da unicida-de sindical, o sistema confederativo da representa-ção sindical e a não interferência e não intervenção na organização sindical.

A Portaria nº 186/2008 do Ministério do Trabalho possibilitou a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial, introduzindo a tendência de que mais sindicatos de pequeno porte sejam criados. As confederações patronais não reconhecem a lega-lidade dessa Portaria Ministerial. O artigo 13 do nor-mativo fere o princípio constitucional da unicidade sindical ao apontar para o pluralismo da representa-ção de sindicatos.

No plano judicial, há quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade ajuizadas no Supremo Tribunal Federal contra a Portaria n° 186 (as ADIs 4.120/2008; 4.126/2008; 4.128/2008; e 4.139/2008). A ADI n° 4.120 foi impetrada por onze confederações de trabalhadores, ao passo em que as demais foram impetradas por confederações patronais. Em janeiro de 2009, parecer do Procurador-Geral da República acatou parcialmente os argumentos das ADIs. No plano legislativo, o Projeto de Decreto Legislativo n° 857/2008 busca sustar a Portaria n° 186.

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17.24 ACeSSO dAS eNtIdAdeS SINdICAIS àS INFOrmAçõeS dAS emPreSAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras acompanha com interesse as pro-postas que assegurem aos trabalhadores o preceito constitucional do direito à informação, ao mesmo tempo em que considera dispensável o fornecimento de dados das empresas direta-mente aos sindicatos seja por serem essas infor-mações de domínio público, seja por tal presta-ção constar de dispositivos legais já existentes.

Propostas em tramitação no Congresso Nacional su-gerem alteração da Consolidação das Leis do Traba-lho para obrigar empresas a prestar informações ao sindicato laboral, para fins de negociação coletiva, acerca de sua situação econômica e financeira – me-diante compromisso de sigilo por parte dos sindicatos.

A Confederação não considera adequado que empre-sas submetam aos sindicatos laborais informações confidenciais sobre sua condição econômica e finan-ceira, na medida em que dispositivos legais obrigam a publicidade dessas mesmas informações para be-nefício de acionista, investidores e fornecedores. En-tidades constituídas sob a forma de Sociedades por Ações devem elaborar e publicar duas demonstrações financeiras anualmente, conforme determina a Lei nº 6.404/1976 – Capítulo XV – Exercício Social e Demons-trações Financeiras. Para as instituições financeiras, o dever de elaborar e publicar suas demonstrações financeiras é semestral (Lei nº 4.595/1964, art. 31).

Entre outras informações pretendidas pelos sindica-tos, consta a relação de salários (Relação Anual de Informações Sociais – RAIS), cadastros dos empre-gados, comunicações de dispensa e requerimentos de seguro desemprego. Todas essas informações são transmitidas pelas empresas ao Ministério do Trabalho. Ocorre que os próprios empregados já possuem acesso aos dados pretendidos pelos sindi-

catos. No caso das empresas, por exemplo, é impos-ta pelo artigo 22 da Lei n° 8.213/1991 a comunicação de acidente de trabalho também aos sindicatos. A Constituição Federal assevera que “todos têm o di-reito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” (art. 5º, XXXIII). A outorga de tal prerrogativa a sindicatos é portanto dispensável.

17.25 PArtICIPAçÃO dOS trAbALHAdOreS NA geStÃO dAS emPreSAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o estabelecimento de boas regras de governan-ça das corporações que não confundam cole-giados dedicados à fiscalização de atividades e à formulação estratégica com colegiados voltados para negociações trabalhistas. Para a CNF, deve-se aplicar idêntico tratamento jurí-dico a todos os conselheiros de administração.

A participação de empregados em Conselhos de Ad-ministração é tema amplamente debatido e objeto recorrente de proposições legislativas. No âmbito do Congresso Nacional, há atores que vislumbram be-nefícios tanto para trabalhadores quanto para em-pregadores, ao passo em que outros expressam não acreditar nos resultados esperados pelos primeiros.

O artigo 142 da Lei nº 6.404/1976 fixa as atribuições do Conselho de Administração. Segundo o dispositi-vo, compete ao colegiado fixar a orientação geral dos negócios da companhia; eleger e destituir diretores das companhias e fixar-lhes atribuições; fiscalizar a gestão dos diretores; examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia; solicitar informa-ções sobre contratos celebrados ou em via de cele-

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bração; e quaisquer outros atos. Conforme prevê a Lei nº 6.404/1976, em seu artigo 140, o Conselho de Administração será composto por, no mínimo, três membros eleitos pela Assembléia Geral e por ela destituíveis a qualquer tempo. No entanto, no Direito brasileiro, o Conselho apenas é obrigatório para com-panhias de capital aberto e as de capital autorizado, sendo a sua adoção facultativa para companhias fe-chadas, de capital não autorizado.

A possibilidade de participação dos trabalhadores na gestão das empresas para contextos “excep-cionais” traduz o entendimento dos constituintes quanto ao papel dos trabalhadores na adoção de medidas de orientação e desenvolvimento das companhias. Infere-se do inciso XI, do artigo 7º da CF, assim como de outras previsões constitucionais vinculadas, que a participação dos trabalhadores prevista não se confunde com o estabelecimento de mecanismos de co-gestão, que concederiam aos trabalhadores abertura à co-decisão.

A reforma legal realizada por meio da Lei nº 10.303/2001 inovou de modo significativo as Leis nº 6.404/1976 e nº 6.835/1976, admitindo a participa-ção de representantes de empregados no Conselho de Administração das companhias.

Como estabelece a Lei nº 10.303/2001, a participa-ção de representantes dos empregados nos Con-selhos de Administração estaria condicionada a previsões estatutárias adequadamente aprovadas em Assembleia Geral de acionistas. Ao órgão delibe-rativo também cabe a destituição de conselheiros a qualquer tempo.

Já no caso das companhias públicas e sociedades de economia mista, com vistas à adequação das regras que balizam a gestão dessas entidades aos efeitos da Lei nº 10.303/2001, o Poder Executivo capitaneou no âmbito do Legislativo a aprovação do Projeto de Lei nº 3.407/2008, que regulamentou a eleição e a participação de representantes de trabalhadores nos Conselhos de Administração de tais companhias.

A CNF observa que Conselhos de Administração, por se-rem essencialmente fiscalizadores e formuladores de políticas gerais, não constituem fóruns de negociação entre as partes das relações de trabalho. Para a Con-federação, deve prevalecer igual tratamento entre os conselheiros de administração, inclusive no que toca à responsabilização dos autores de ações culposas ou dolosas que violem a lei ou o estatuto da empresa, de modo a não discriminar conselheiros representantes dos trabalhadores daqueles eleitos pelos acionistas.

17.26 CONtrIbuIçÃO ASSISteNCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da representatividade sindical, assentadas nos dispositivos constitucionais que asseguram liberdade de filiação sindi-cal, incompatíveis com a compulsoriedade da contribuição assistencial incidentes sobre não filiados.

A contribuição assistencial, também conhecida como taxa assistencial, é amparada pelo art. 513 da Con-solidação das Leis do Trabalho, que dispõe entre as prerrogativas dos sindicatos a capacidade de impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profis-sões liberais representadas.

Comumente disposta em convenções, acordos ou sentenças normativas de dissídios coletivos, a contri-buição assistencial somente será devida por aqueles que participam na condição de sócios ou associados de entidade sindical, conforme entendimento domi-nante dos tribunais.

A Constituição Federal, em seus artigos 5º, XX, e 8º, V, assegura o direito de livre associação, além de proibir a filiação obrigatória dos profissionais que não formali-zarem consentimento. Tais dispositivos constitucionais

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sinalizam o caráter ofensivo de cláusulas contratuais constantes de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa que imponham pagamento de contribuição assistencial pelos trabalhadores não sindicalizados.

Decisões judiciais proferidas têm sublinhado a in-compatibilidade de um pagamento compulsório com o direito de livre associação, situado no topo do ordenamento jurídico brasileiro. Ademais, a con-tribuição assistencial, ao contrário da contribuição sindical e federativa, tem natureza contratual, de modo que o seu pagamento somente se torna devi-do se a empresa for filiada à entidade sindical que pleiteia esse pagamento, prevalecendo o princípio da liberdade de filiação sindical. Os tribunais têm manifestado entendimento de que esse princí-pio deve ser permanentemente considerado, con-sistindo a liberdade de contribuição decorrência imediata do direito de associar-se ou não, como pre-vê o artigo 8º da Carta Magna.

17.27 CONtrIbuIçÃO NegOCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o es-tabelecimento de contribuições livremente de-terminadas por associados de sindicatos, que assegurem o ato voluntário da associação sindi-cal e cujo recolhimento se restrinja ao universo de trabalhadores sindicalizados.

Na proposta de reforma sindical do Governo Lula foi sugerida a fixação de apenas duas contribuições sindicais: a associativa, devida apenas pelos sócios do sindicato, e a negocial, que é decorrente da ne-gociação coletiva, ainda que por meio de sentença proferida pela Justiça do Trabalho. A contribuição negocial teria natureza privada, pois nenhuma parte da exação iria para o ente público, como ocorre com a contribuição sindical. Além disso, por ser obrigatória, impediria o não sindicalizado de se opor a ela.

A Convenção nº 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) não prevê contribuição obrigatória. A OIT admite apenas que haja a estipulação de uma contribuição de solidariedade, por meio de conven-ção coletiva que a preveja, em razão da aplicação erga omnes de suas vantagens a toda a categoria, sendo paga exclusivamente pelos não associados. Seu desconto não pode, porém, ser superior a dois terços do valor devido pelos associados.

O tema é objeto de intensos debates entre entidades de representação de empregadores, centrais sindi-cais, Governo e Congresso Nacional. A dificuldade na aprovação dessa matéria decorre da modificação das receitas sindicais.

17.28 uLtrAtIVIdAde dAS CONVeNçõeS, ACOrdOS e CONtrAtOS COLetIVOS de trAbALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da livre negociação de conven-ções, acordos e contratos coletivos de trabalho, no entendimento de que a aprovação de leis trabalhistas reduz o espaço para esses acor-dos e introduz rigidez nas relações de trabalho que afeta a competitividade das empresas e a geração de empregos. Convenções, acordos ou contratos coletivos de trabalho não se incorpo-ram definitivamente aos contratos individuais de trabalho por constituírem pactos de vigên-cia limitada, cujas cláusulas vigoram por um tempo determinado.

O artigo 613 da Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que: “As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente: ... II – prazo de vigência (...); IV – condições ajustadas para reger as relações indi-viduais de trabalho durante sua vigência”. Também o Decreto nº 908/1993, que fixa as diretrizes para

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as negociações coletivas de trabalho das empresas públicas, sociedades de economia mista e demais empresas sob controle direto ou indireto da União, reafirma a temporalidade e relatividade do conteú-do das convenções ou acordos coletivos de trabalho no parágrafo único do artigo 2º, que reza que todas as cláusulas do acordo coletivo vigente deverão ser objeto de negociação a cada nova data-base.

O Tribunal Superior do Trabalho determinava na Súmula nº 277 que: “as condições de trabalho alcan-çadas por força de sentença normativa, vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma definitiva, os contratos”. Em setembro de 2011, o TST revisou essa súmula para decidir em sentido contrário. Por ocasião da 2° Semana do TST a CNF se opôs a esse entendimento e, desde então, vem se manifestando pela não ultratividade.

Argumenta-se por vezes que o artigo 468 da CLT pre-vê que as disposições da norma coletiva são inalte-ráveis, ao estabelecer que “nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia”. Porém, esse ar-tigo encontra-se no capítulo da CLT que versa sobre Direito Individual do Trabalho e não no que trata do Direito Coletivo do Trabalho.

As convenções, acordos ou contratos coletivos de trabalho são regulados pela Lei nº 10.192/2001, cujo parágrafo 2º do artigo 13, que dispõe:

Art. 13. No acordo ou convenção e no dissídio, cole-tivos, é vedada a estipulação ou fixação de cláusula de reajuste ou correção salarial automática vincula-da a índice de preços. .....§ 2o Qualquer concessão de aumento salarial a tí-tulo de produtividade deverá estar amparada em indicadores objetivos.

Discutem-se no Congresso Nacional propostas que alteram esse parágrafo da norma trabalhista para estabelecer a chamada “ultratividade dos acordos, convenções e contratos coletivos de trabalho”, pe-las quais as cláusulas ajustadas nesses instrumen-tos passarão a integrar os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser reduzidas ou supri-midas por posterior acordo, convenção ou contrato coletivo de trabalho.

A aprovação de uma lei trabalhista retira uma das mais importantes funções dos sindicatos: a negocia-ção. Cada vez que se engessa a legislação, diminui-se o espaço para se fortalecer os sindicatos, sejam eles de trabalhadores, sejam de empregadores. Também se aumenta ainda mais a complexa estrutura legal trabalhista já existente.

Propostas dessa natureza dificultam as negociações coletivas, pois as eventuais vantagens obtidas, tanto pelos trabalhadores quanto pelas empresas, decor-rentes do bom momento econômico, passam a ter enorme dificuldade de serem negociadas, dado o ris-co de serem perenizadas nos contratos individuais – o que introduz grande rigidez nas relações de trabalho.

17.29 mIgrAçÃO de trAbALHAdOreS quALIFICAdOS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que facilitem a contra-tação de mão-de-obra estrangeira qualificada para o mercado brasileiro com o propósito de suprir a demanda interna, bem como apoia a simplificação dos procedimentos de regulariza-ção de trabalhadores estrangeiros no Brasil.

O Brasil atravessa um período de carência de mão-de- obra qualificada no mercado especializado de traba-lho, devido ao rápido crescimento econômico e social, com entraves profissionalizantes em diversas áreas. A

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implementação de um ambiente de negócios favorá-vel à inovação pode ser realizada por intermédio da simplificação dos mecanismos de contratação de pro-fissionais estrangeiros qualificados para os postos de trabalho carentes de mão-de-obra capacitada.

Diante da situação internacional e da alta oferta de mão-de-obra estrangeira disposta a vir para o mer-cado de trabalho brasileiro, a legislação nacional vai contra a facilidade da vinda desses profissionais, sendo necessária a diminuição da burocracia e a mo-dernização do processo de concessão de vistos.

A maioria dos setores tem tido dificuldades para contratação de mão-de-obra qualificada no país, in-clusive o setor financeiro. Em uma análise mais deta-lhada, hoje, no Brasil, há, por exemplo, aumento da demanda do grupo de “técnicos de seguro, câmbio e serviços financeiros”. Apesar desse cenário de pro-cura por profissionais, um estrangeiro capacitado demoraria em torno de seis meses para conseguir estar apto a trabalhar legalmente no país, já que o mero agendamento para pleitear o visto de trabalho demora cerca de três meses.

Atualmente, algumas normas dificultam a vinda de estrangeiros. Por exemplo, um estrangeiro não pode imigrar para o Brasil para prospectar empregos aqui, por ser necessário um contrato de trabalho fechado. Outro caso é o empregado estrangeiro que trabalha numa filial e precisa mudar-se para outra; hoje, é necessário refazer todo o processo no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A vinda desses profissionais estrangeiros não ame-açaria ou comprometeria o oferecimento de vagas disponíveis para os trabalhadores brasileiros; pelo contrário, essa oferta estimula o crescimento econô-mico e a competitividade dos setores produtivos nos mercados interno e externo.

Nesse sentido, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República estuda propostas para ampliar a entrada de mão-de-obra estrangeira qua-

lificada no Brasil e aumentar a competitividade do país, suprindo a escassez de profissionais em áreas estratégicas e criando ambientes de intercâmbio de tecnologias e conhecimentos.

A Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN Brasil) tem articulado com o governo a facilitação da vinda de pessoas capacitadas para suprir a demanda de mão-de-obra interna, comparando o sistema atual com os de outros sete países relevantes e analisando a oferta nacional. entre as medidas propostas, estão: a) o aprimoramento do processo de concessão de vistos de trabalho tipo v; b) a criação de uma regula-mentação da concessão de vistos temporários a es-tudantes de cursos superiores no exterior em busca de experiências profissionais durante as férias (situ-ação conhecida como summer job); e c) a criação de cadastro de profissões carentes de especialistas no mercado de trabalho brasileiro a fim de incentivar a vinda de estrangeiros com essas formações.

A CNF é membro do Conselho Nacional de Imigração (CNIG) desde o ano de 2000 e participa intensamente dessas discussões no âmbito governamental.

17.30 COmPeNSAçÃO dA grAtIFICAçÃO de FuNçÃO COm A 7ª e 8ª HOrAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que permitam que o valor da gratificação de função concedida a bancários com jornada de trabalho de oito horas diárias seja abatido dos valores eventu-almente devidos a trabalhador reenquadrado na jornada de seis horas diárias, como meio de conservar o equilíbrio contratual entre empre-gadores e empregados.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dedica dis-positivos específicos à disciplina do trabalho dos ban-cários. Uma das mais importantes particularidades

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concedidas a essa categoria é a jornada de trabalho de seis horas diárias, perfazendo o máximo de trinta horas semanais. No entanto, a CLT contém previsão de pror-rogação da jornada de trabalho do bancário para oito horas diárias, o que corresponde a quarenta horas se-manais, desde que satisfeitas duas condições: o exer-cício de função de confiança e o pagamento de gratifi-cação de função não inferior a um terço de seu salário.

Dessa forma, é mantido o equilíbrio e a isonomia no contrato de trabalho, pois, aumentada a remunera-ção em no mínimo um terço, aumenta-se também a jornada de trabalho em um terço (de seis para oito horas). O maior valor agregado pelo empregado à instituição que o emprega é contraposto pela maior remuneração. A ausência da gratificação implicaria enriquecimento injustificado do empregador.

Contudo, bancários que cumprem jornada de oito horas diárias e quarenta semanais pleiteiam em juízo o reconhecimento da jornada de seis horas diárias e trinta semanais, sob o argumento de que não desem-penham função de confiança. Solicitam que a sétima e oitava horas de trabalho diárias sejam remuneradas como horas extraordinárias. Pleiteiam, portanto, o sa-lário correspondente a essas duas horas, acrescido do respectivo adicional de hora extra.

Ocorre que, uma vez remunerada a gratificação de função, na extensão da jornada de seis para oito ho-ras diárias, o pagamento da sétima e oitava horas como horário extraordinário resulta em dupla remu-neração por essas horas trabalhadas. Como conse-quência, desequilibra-se o contrato de trabalho em desfavor do empregador.

Nesse contexto, a Confederação entende oportuno aperfeiçoamento da CLT que permita o abatimento no valor da gratificação de função dos valores even-tualmente devidos ao trabalhador reenquadrado na jornada de seis horas diárias e trinta semanais (horas extras). Essa alteração manteria o equilíbrio do con-trato de trabalho, em consonância com os princípios da boa-fé e da função social do contrato.

17.31 tAXA de jurOS dA mOrA trAbALHIStA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que busquem manter o equilíbrio financeiro implícito nas relações tra-balhistas, bem como incentivar o cumprimento tempestivo das obrigações laborais. Para tan-to, a CNF respalda projetos que prevejam taxa de juros moratórios nas lides trabalhistas equi-valente à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC).

A legislação brasileira prevê taxas de juros morató-rios. O Código Civil de 1916 previa taxa de juros mo-ratórios de 6% a.a., enquanto o Código Civil atual, de 2002, prevê taxas idênticas às aplicadas pela Fazen-da Nacional. Para esta, o Código Tributário (art. 161, §1º) prevê também a taxa de mora de 1% a.m. No âmbito trabalhista, a Lei nº 8.177/1991 prevê juros de 1% a.m. (art. 39).

Essas taxas foram estabelecidas em contexto econô-mico distinto do atual, caracterizados pelas altas ta-xas de juros básicos que marcaram a economia brasi-leira em décadas recentes, especialmente por conta das dificuldades inflacionárias. No entanto, no atual contexto de estabilidade econômica, essas taxas se tornam excessivamente elevadas.

Altas taxas de juros moratórios causam graves dis-torções. Em primeiro lugar, incentivam a litigiosida-de e tornam-se um empecilho para acordo. A parte hesita em encerrar um processo no qual obtém re-muneração muito superior à de qualquer outra apli-cação financeira. Também, sobrecarregam o custo das empresas reclamadas, que têm que arcar com uma taxa que não se equipara àquela que obtêm no desempenho ordinário de sua atividade econômica. Portanto, por um lado podem causar enriquecimen-to injustificado dos autores e, de outro, aumentam o chamado Custo Brasil.

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Sensível a essa nova realidade, a Lei nº 9.065/1995, em seu artigo 13, determinou que os juros de mora aplicáveis quando do inadimplemento de tributos e contribuições sociais arrecadados pela Secreta-ria da Receita Federal corresponderão à taxa re-ferencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC.

A taxa SELIC já contém, em sua formação, as expec-tativas inflacionárias, o que torna desnecessário o cômputo de qualquer outro acréscimo a título de correção monetária (conforme decisão do Superior Tribunal de Justiça em Recurso Repetitivo REsp nº 1.102.552/CE). Assim, uma mesma taxa abrangerá

a correção dos valores no tempo e a indenização e compensação pelo atraso.

Seria recomendável que a legislação trabalhista tam-bém fosse adequada a esse novo cenário econômi-co. A estipulação dos juros moratórios como sendo equivalentes àqueles recebidos pela Fazenda Pública protege os credores, dado que eventuais altas infla-cionárias, ou eventual novo cenário de instabilidade acarretarão os devidos e necessários ajustes, preve-nindo desequilíbrios. Por essa razão, a CNF apoia pro-postas que estipulem a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC) como taxa de juros moratórios em lides trabalhistas.

capítulo 17: queStõeS trAbALHIStAS e SINdICAIS

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queStõeS previdenciárias18

Não há como assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social de maneira sus-tentada sem o equilíbrio financeiro e atuarial da Pre-vidência Social. Esse truísmo econômico é também um imperativo constitucional. O artigo 201 da Cons-tituição Federal dispõe que a Previdência Social será organizada observando-se critérios que preservem seu equilíbrio financeiro e atuarial, de sorte que os gastos a serem suportados presumam a correspon-dente constituição de reservas. Também o artigo 195, § 5º, da Constituição estipula que “nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, ma-jorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”. Esse equilíbrio financeiro não significa apenas que receitas deverão ser iguais ou superiores às despesas, mas sim que deverão ser constituídas re-servas para o desembolso de todos os benefícios.

O Brasil precisa aumentar seus gastos sociais nas áreas de saúde, educação e segurança, bem como aumentar seus investimentos, mas, ao contrário mantém uma política previdenciária socialmente in-justa que privilegia uma população de aposentados

jovens e de mais alta renda em prejuízo de mais in-vestimentos, geradores de postos de trabalho, para os jovens desempregados.

A análise das alterações demográficas da população brasileira, em que a taxa de fecundidade por mulher sofreu mais uma redução, de 1,9 filhos por mulher, com base no Censo de 2010, para 1,77 em 2013, per-mite prever que o crescimento populacional atingirá seu máximo entre 2030 e 2040. Associado a isto as mudanças na distribuição etária da população, em que o percentual dos idosos aumentará significati-vamente, juntamente com o aumento da expectati-va de vida, projeta-se um crescimento gradual das despesas previdenciárias do INSS. Em 2010, o déficit como porcentagem do PIB era de 0,9%, e as previ-sões para o ano de 2013 é que ele alcance 2,1%.

Em termos relativos, o Brasil é hoje o país que apresenta mais despesas com benefícios previden-ciários (inclusive do setor público) no mundo, em função do envelhecimento de sua população. Se-gundo dados divulgados pelo BNDES, as despesas

capítulo 18: queStõeS PreVIdeNCIÁrIAS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia projetos que bus-quem alcançar e manter o equilíbrio financeiro e atuarial da Seguridade Social para que possa prover ao trabalhador brasileiro os benefícios de saúde, previ-dência e assistência social previstos na Constituição.

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agenda do setor financeiro 2014216

com aposentadoria somaram aproximadamente 3,8% do PIB em 2013. Desde 1990, os gastos com a previdência subiram 140%. Os gastos públicos do Governo federal com benefícios previdenciários são 150% maiores do que as despesas com saúde, educação, segurança e investimentos. Comparados esses gastos em termos per capita, os números tor-nam-se mais alarmantes. A isso acrescentam-se os benefícios assistenciais ou subsidiados que pagam um salário mínimo, os quais não constituem pro-priamente aposentadoria, mas sim transferência de renda e, por essa razão, deveriam ser contabilizados no Orçamento Geral da União.

18.1 CONSeLHO de reCurSOS dA PreVIdêNCIA SOCIAL (CrPS)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, que tem a prerrogativa de indicar Conselheiros para o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), apoia propostas que visem ao aperfeiçoamento do controle jurisdi-cional das decisões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos processos referentes a benefícios, a fim de assegurar imparcialidade. A CNF apoia o aprimoramento dos procedimen-tos administrativos do CRPS para dar maior transparência aos julgamentos, bem como o fortalecimento das prerrogativas dos Conse-lheiros e da autonomia do órgão.

O Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) é um colegiado integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social (MPS), formado por órgão de composição tripartite, com quatro Câmaras de Jul-gamento (CAJ) localizadas em Brasília e com juris-dição em todo o território nacional, que julgam em segunda e última instância matéria de benefício, e por 29 Juntas de Recursos (JR) nos diversos Estados que julgam em primeira instância. O CRPS encontra-se em fase de reestruturação e trata de questões que

afetam diretamente não só as instituições financei-ras, mas também o ambiente de negócios.

A Lei nº 8.213/1991, no art. 126, previu que, das de-cisões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos processos de interesse dos beneficiários e dos contribuintes da Seguridade Social, cabe recurso para o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS). O órgão tem, entre outras, a finalidade de evitar aumento de demandas judiciais desnecessá-rias contra o Instituto, bem como privilegiar o poder de reforma da própria Administração Pública.

Cada vez mais o CRPS trata de questões previdenci-árias de grande importância. Por exemplo, recente-mente, o INSS passou a intensificar o uso de ações judiciais para responsabilizar empresas públicas e privadas pelo ressarcimento ao SUS (Sistema Único de Saúde) por despesas decorrentes de acidente de trabalho ou doença ocupacional, o que torna essen-cial a discussão técnica no CRPS sobre a caracteriza-ção dos acidentes do trabalho.

É positiva a aproximação de entidades de representa-ção para participar das discussões técnicas do Conse-lho, por ser uma oportunidade de refletir as deman-das da sociedade e reforçar o embasamento técnico e jurídico das decisões do colegiado, o que poderá evitar que as matérias desaguem no Judiciário, forta-lecendo o papel desse tribunal administrativo.

18.2 I CONFerêNCIA NACIONAL dA PreVIdêNCIA SOCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia iniciativas voltadas para o fortaleci-mento da Previdência Social. Para a CNF, a I Con-ferência Nacional de Previdência Social será um importante forum de debates para a formulação de propostas que busquem alcançar e manter o equilíbrio financeiro e atuarial da Seguridade

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O Ministério da Previdência Social (MPS) coordena a realização da I Conferência Nacional de Previdência Social, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências entre profissionais que atuam na ges-tão da seguridade social, bem como elaborar pro-postas para a melhoria da Previdência Social.

Antes do debate nacional dos temas serão realiza-das conferências regionais, ocasião em que pode-rão ser aprovadas propostas de alterações na legis-lação previdenciária.

A CNF é membro da Comissão Organizadora Nacio-nal, grupo responsável pela coordenação geral do evento. A Confederação possui representantes tam-bém nas demais comissões que apoiarão a realiza-ção dessa Conferência: (a) Comissão Executiva – de perfil operacional, que terá a função de apoiar os tra-balhos de todos os demais grupos do evento; (b) Co-missão da Articulação e Mobilização – responsável por mobilizar a participação da sociedade em todos os eventos regionais, para a eleição dos delegados para a etapa nacional; (c) Comissão de Comunicação – com o papel de produzir a comunicação oficial do evento; (d) Comissão de Relatoria – responsável pelo documento final com os resultados da Conferência; e (e) Comissão Científica: de perfil mais técnico, res-ponsável pelo documento base da Conferência e pelo regimento interno.

Os debates acontecerão ao longo de quatro eixos temáticos: (1) Políticas de Previdência Social; (2) Outros Regimes da Previdência Social Brasileira; (3) Diálogo Social, com destaque para o papel delibe-rativo dos Conselho de Recursos da Previdência So-cial; e (4) Gestão Previdenciária, com destaque para a questão da responsabilidade dos trabalhadores e empregadores na redução dos acidentes de trabalho.

A CNF acompanha as discussões dos temas com inte-resse, notadamente no que diz respeito aos regimes próprios de previdência social e as regras de previ-dência complementar, de maneira a evitar que pro-postas de alteração legal possam prejudicar a opera-cionalização dos benefícios previdenciários.

18.3 FAtOr PreVIdeNCIÁrIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da Previdência Social ou pela manutenção do Fator Previdenciário, ou pela adoção de mecanismo que desempenhe idên-tico papel de democratizar a distribuição dos benefícios por todas as faixas de renda da po-pulação e de liberar recursos públicos para gas-tos sociais com saúde, educação e segurança.

A eventual extinção do Fator Previdenciário, com al-terações no cálculo do benefício da aposentadoria pela média de alguns meses anteriores, não só é um retrocesso na busca da redução das despesas com benefícios previdenciários no país, mas também tem impacto negativo sobre a função social do sis-tema previdenciário brasileiro. À luz das alterações demográficas por que passa a população brasileira, a eliminação do Fator Previdenciário, com alteração na forma do cálculo do benefício da aposentadoria, ampliaria ainda mais o déficit das contas previden-ciárias, com drenagem de recursos orçamentários que teria forte impacto negativo na capacidade de atendimento da crescente demanda das despesas com saúde, educação e segurança. Além disso, a al-teração na forma de indexação dos benefícios previ-denciários seria danosa às contas públicas.

O público afetado pelo Fator Previdenciário concen-tra-se nas faixas superiores da distribuição de renda per capita: 81,6% estão entre os 50% de maior renda. Ou seja, a eliminação do Fator Previdenciário é alta-

Social para que possa prover ao trabalhador brasileiro os benefícios de saúde, previdência e assistência social previstos na Constituição.

capítulo 18: queStõeS PreVIdeNCIÁrIAS

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mente elitista, beneficiando os trabalhadores de renda mais alta do país, que são aqueles que mais cedo se aposentam: nessa faixa de renda, as mulheres se apo-sentam em média aos 51,4 anos e os homens aos 54,4 anos. Enquanto isso os trabalhadores mais pobres só conseguem se aposentar por idade aos 65 anos. O Fator Previdenciário, que buscou corrigir uma parte dessa in-justiça social para com todos os trabalhadores, produ-ziu nos seus primeiros dez anos de vigência uma eco-nomia de R$ 10,1 bilhões e estimulou uma parcela dos trabalhadores a adiar o seu processo de aposentadoria.

O fator previdenciário, em média, reduz a aposenta-doria por tempo de contribuição em 25%. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, a econo-mia da previdência resultante da utilização desse fa-tor, desde sua implantação em 1999, foi de aproxima-damente R$ 80 bilhões. Por outro lado, as projeções apresentadas pelo Ministério para 2050, com o fim do fator, é de um total de gastos de R$ 1.634.288 milhões, ou seja, de 13,26% do PIB. Em 2013 o déficit do INSS foi de R$ 49,9 bilhões, 32,3% maior do que o proje-tado pelo governo em seu orçamento, e 15% maior em comparação com 2012. Assim, mantendo essa tendência e considerando um crescimento de 2% do PIB, as estimativas são de que os gastos com a previ-dência devem alcançar 40% do PIB em 2030. Nesse ano, as estimativas do IBGE são de que a população brasileira será composta por 40,5 milhões de idosos, ou seja, aproximadamente 20% do total.

18.4 reSSArCImeNtO AO SIStemA ÚNICO de SAÚde (SuS)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde que considerem as contribuições diretas que já são feitas por empresas ao financiamento do SUS, de forma a evitar cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem).

A Constituição Federal assevera que o Sistema Úni-co de Saúde (SUS) será financiado por toda a socie-dade, de forma direta e indireta. Contudo, a obriga-ção de as empresas ressarcirem ao SUS as despesas decorrentes da assistência prestada aos seus em-pregados vítimas tanto de acidente do trabalho quanto de doença profissional ou do trabalho deve ser analisada em conjunto com as normas existen-tes que tratam do tema.

As empresas já participam do financiamento do SUS, mediante o recolhimento de contribuições sociais incidentes sobre a folha de salários, sobre o fatura-mento e sobre o lucro. Há ainda contribuição adicio-nal, conforme o grau de risco da atividade desenvol-vida pela empresa, para o custeio de aposentadorias especiais e demais benefícios concedidos em razão de incapacidade laboral dos trabalhadores. Even-tual ressarcimento pelas empresas ao SUS de assis-tência prestada a trabalhadores onera ainda mais a folha de pagamentos.

A Lei n° 8.212/1991, em seu art. 22, fixa a contribui-ção da empresa para o custeio da Seguridade – 20% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos se-gurados empregados e trabalhadores avulsos; e 15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de presta-ção de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de coope-rativas de trabalho. Outras contribuições a cargo da empresa destinadas ao financiamento da Segurida-de Social são as incidentes sobre o faturamento (2% sobre sua receita bruta) e sobre o lucro (10% sobre o lucro líquido do período-base, antes da provisão para o Imposto de Renda).

À luz desse ônus excessivo sobre a folha de paga-mento, alterações nas regras e no custeio do Sistema Único de Saúde, no que se refere às contribuições para Seguridade Social, devem evitar cobranças re-petidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem).

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18.5 PeNSõeS e beNeFÍCIOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que revejam os critérios de elegibilidade e as condições de concessão de pensões e benefícios pagos pela Previdência Social. Para a CNF, a limitação dos critérios de concessão corrigiria distorções e reduziria o déficit previdenciário. Tal limita-ção poderia passar por: evitar a acumulação de pensões com aposentadorias e outros be-nefícios; abreviar o tempo de recebimento do benefício, com critérios de proporcionalidade; restringir hipóteses de percepção do valor inte-gral do benefício; e determinar tempo mínimo de contribuição para o recebimento da pensão, com período de carência.

A Previdência Social tem por finalidade e princípio básico assegurar aos seus beneficiários, mediante contribuição, meios indispensáveis de manutenção em caso de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos fami-liares e prisão ou morte daqueles de quem depen-diam economicamente. Nesse quadro, a Previdên-cia oferece dez modalidades de benefícios, além da aposentadoria.

O déficit na previdência, em 2013, fechou no pata-mar de R$ 49,9 bilhões. Isso se deve em grande parte ao formato do sistema previdenciário brasileiro, em que as contribuições dos trabalhadores ativos finan-ciam as aposentadorias da geração precedente, em detrimento dos regimes de capitalização.

A Lei nº 8.123/1991 prevê que o Regime Geral de Previ-dência Social (RGPS) também compreende a presta-ção de benefícios e serviços a dependentes, por meio de pensão por morte. O INSS concede mais pensões por morte a dependentes do que benefícios de apo-sentadoria por tempo de serviço. Só em 2012 foram concedidos mais 399 mil pensões benefícios em ra-

zão de morte do segurado, contra 298 mil benefícios por tempo de serviço do trabalhador contribuinte.

Quando da criação de tal benefício (início do século XIX), as mulheres não possuíam um papel tão ativo na composição da renda familiar. Hoje mais de 50% das mulheres trabalham fora.

Nos Estados Unidos, por exemplo, cônjuges com me-nos de 60 anos não ganham pensão por morte. De acordo com a Organização Internacional do Traba-lho (OIT), na maioria dos países a concessão só vem após um tempo mínimo de casamento e, muitas vezes, é temporária. Em outras partes do mundo, a faixa etária e a dependência econômica também en-tram como fatores limitadores desse direito.

18.6 reAjuSte dOS beNeFÍCIOS ObSerVANdO O SALÁrIO mÍNImO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que preservem o poder aquisitivo de aposentados e pensionis-tas da Previdência Social, na medida em que os reajustes atendam às restrições orçamentárias da União, de Estados e de Municípios. A vincu-lação de reajustes de benefícios previdenciá-rios ao salário mínimo pode implicar ganhos reais para aposentados e pensionistas que não se justificam porque não refletem ganhos de produtividade da economia.

O reajuste de benefícios da Previdência Social, pre-visto na Constituição, tem a preocupação funda-mental de preservar o poder de compra dos bene-ficiários. Já o salário mínimo é fixado em função de políticas trabalhistas, com regras previstas na legislação, sem se ater exclusivamente ao poder de compra da moeda (na medida em que os reajustes consideram também a produtividade e o crescimen-to da economia). Assim, não existe razão econômica

capítulo 18: queStõeS PreVIdeNCIÁrIAS

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agenda do setor financeiro 2014220

que justifique a vinculação dos benefícios previden-ciários aos reajustes do salário mínimo.

A União, os Estados e os Municípios são grandes em-pregadores e contam com número expressivo de apo-

sentados e pensionistas. A vinculação da correção dos benefícios ao salário mínimo acarreta ônus excessivo nos orçamentos públicos federal, estaduais e munici-pais, com redução da capacidade de investimento em rubricas como educação, saúde e segurança.

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223capítulo 19: queStõeS de SegurANçA

A imagem das instituições financeiras está fortemente ligada a questões de segurança. Por transacionarem a mais fungível de todas as commodities – o dinheiro – e operarem com bens e valores, instituições financeiras, no mundo inteiro, adotam as mais avançadas medi-das de segurança física e de proteção de dados e de informações. Esse sofisticado aparato de segurança está na raiz da percepção de que a proteção é voltada para as próprias instituições. Nada mais equivocado.

O corolário dessa percepção equivocada é o de que as instituições financeiras se preocupam com segu-rança para evitar perdas, na medida em que os cus-tos de medidas preventivas de proteção seriam infe-riores aos prejuízos potenciais de atos de violência e outros delitos cometidos contra as empresas. Ocorre que tais perdas, mesmo quando expressivas, são mi-tigadas por diversas modalidades de provisões, de reservas e de apólices de seguro. A verdade é que medidas de segurança adotadas por instituições fi-nanceiras cobrem três objetos: os empregados, os clientes e a confiança entre estes e as empresas.

Os funcionários de instituições financeiras são ob-jeto das medidas de segurança não só pela prote-ção de sua incolumidade física, no caso de atos de violência, mas também pela responsabilidade que compartilham no manuseio de valores. No caso de atos criminosos contra instituições financeiras, com ou sem emprego de violência, sobressai a pre-ocupação com a proteção das pessoas que execu-tam as mais variadas tarefas nas instalações das empresas do setor.

Quanto aos clientes, essa preocupação começa pela incolumidade física das pessoas que frequentam instalações de instituições financeiras, tais como agências bancárias e caixas automáticos. Porém, estende-se também às transações. Na verdade, os produtos e serviços ofertados pelo setor incorporam, no sentido mais amplo, um elemento de segurança: a certeza de que a transação será finalizada e liqui-dada nos termos contratados, sem prejuízo para os clientes. É nesse quadro que ganha importância a proteção de dados e de informações confidenciais.

queStõeS de SegurANçA19

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para o aumento da proteção das instalações físicas, dos procedimentos e das informações das empresas do setor financeiro que ampliem a segurança de fun-cionários e de clientes, bem como fortaleçam a confiança que alicerça as opera-ções financeiras. Para a CNF, propostas realistas e exequíveis implicam custo ao qual deve corresponder efetivo aumento da segurança.

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Por fim, a matéria-prima básica das instituições fi-nanceiras é a confiança. As empresas do setor com-pram e vendem promessas de pagamentos e de recebimentos que só se materializam nos prazos acordados, nos termos acertados, porque prevalece a confiança mútua entre pessoas – físicas e jurídicas

– e instituições. Problemas de segurança podem afe-tar essa confiança e, com ela, a solidez das empresas.

19.1 uNIFOrmIZAçÃO dA LegISLAçÃO SObre SegurANçA bANCÁrIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que uniformizem medidas, equipamentos e instalações de segu-rança em todos os estabelecimentos bancários do território nacional, lastreadas em avalia-ções técnicas minuciosas que evidenciem efeti-vo ganho de proteção para funcionários, clien-tes, informações e valores. Tal uniformização deve preservar graus de liberdade na escolha de especificações de forma a não inibir o uso de tecnologias inovadoras.

A legislação em matéria de segurança bancária afeta vários aspectos da atividade, entre eles a arquite-tura das agências, seu horário de funcionamento, o trânsito e estacionamento de veículos de transporte de valores, os dispositivos eletrônicos de segurança, bem como o número e a disposição de vigilantes, para mencionar alguns.

As práticas de segurança adotadas pelos bancos não variam de localidade a localidade, tampouco são es-pecíficas de determinadas regiões ou Estados. Trata-se de oferecer a funcionários e a clientes de bancos medidas de proteção eficazes, de dissuasão da ativi-dade criminosa – com ou sem emprego de violência – e de minimização de possíveis consequências desses crimes para a incolumidade física e para a integridade patrimonial das pessoas. Tais medidas de proteção

são onerosas, porque envolvem elevados e contínuos investimentos em sofisticada tecnologia, treinamen-to de pessoal, construção de instalações especiais e emprego de vigilantes, entre outros. A introdução de inovações deve, por isso, atender a critérios técnicos que evidenciem efetivo ganho de proteção.

Desde que não se converta em barreira ao desenvol-vimento de tecnologias inovadoras, a uniformização da segurança bancária propiciaria grande ganho de escala que permitiria estender medidas mais efica-zes a um número maior de estabelecimentos, para benefício de funcionários e de clientes.

19.2 CrImeS eLetrôNICOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da legislação que introduziu a tipificação penal de crimes eletrônicos, seja para evitar a prejudicialidade de tipos penais já existentes, seja para ampliação de seu esco-po para incorporar serviços de utilidade públi-ca prestados por entidades privadas.

Crimes eletrônicos, tais como acesso não autorizado a portais para movimentar contas correntes e clona-gem de cartões, não são cometidos contra institui-ções financeiras: suas vítimas são os usuários dos serviços, isto é, a sociedade. O número de operações e o volume financeiro associados a crimes eletrôni-cos vêm crescendo exponencialmente. Há indica-ções de que o Brasil já é o primeiro país do mundo nessa modalidade criminosa. Os crimes eletrônicos constituem-se, cada vez mais, em importante fonte de financiamento do crime organizado.

No Brasil, a cada R$ 100 roubados R$ 95 são fraudes eletrônicas, feitas por internet banking ou cartões. Em 2012, as fraudes eletrônicas provocaram prejuí-zos de R$ 1,4 bilhão, enquanto explosões de caixas

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e ações em agências bancárias causaram perdas de R$ 75 milhões.

Numa estimativa preliminar, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) avalia que em 2009 foram clo-nados mais de treze mil cartões de pagamento (de crédito e de débito) e 158 máquinas foram apreen-didas por estarem adulteradas pelo equipamento de captura ilegal de dados (“chupa cabra”). Em 2010, as fraudes eletrônicas somaram pouco menos de R$ 1 bilhão, ao passo em que fraudes documentais exce-deram R$ 650 milhões. No mesmo período, roubos de agências bancárias totalizaram cerca de R$ 60 mi-lhões – isto é, quinze vezes menos.

No primeiro semestre de 2011, as perdas com fraudes bancárias realizadas por meio eletrônico somaram R$ 685 milhões. Os incidentes com a criminalidade eletrônica e com clonagem de cartões podem ser ain-da mais numerosos, uma vez que nem todos os casos de clonagem e outros golpes são relatados à polícia.

Apenas no primeiro semestre de 2013, 131 mil pesso-as foram vítimas de fraude.

Em dezembro de 2012, foi publicada a Lei n° 12.737, que trata da tipificação de crimes eletrônicos e altera o Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940). Na mesma ocasião, também foi publicada a Lei nº 12.735/2012, que tipifica condutas praticadas me-diante uso de dispositivos eletrônicos ou similares que sejam praticadas contra sistemas informatiza-dos. A legislação preencheu a lacuna da inexistência de uma norma específica para os crimes na internet, oferecendo à sociedade uma alternativa equilibrada de repressão a condutas socialmente indesejáveis, sem, no entanto, operar a criminalização excessiva.

A Lei n° 12.737 criminalizou a invasão de “dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de com-putadores, mediante violação indevida de mecanis-mo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização ex-pressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar

vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”. Tam-bém incorre em crime “quem produz, oferece, dis-tribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador” com o intuito de permitir tal invasão (com pena agravada se houver divulgação, comer-cialização ou transmissão a terceiro, a qualquer tí-tulo, dos dados ou informações obtidos). Introduziu tipo penal para “quem interrompe serviço telemáti-co ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento” e equiparou os cartões de crédito e de débito a documentos particu-lares na tipificação do crime de falsificação. A Lei nº 12.735, por sua vez, criminalizou a cessação de trans-missões radiofônicas, televisivas e eletrônicas, além de determinar que “os órgãos da polícia judiciária estruturarão, nos termos de regulamento, setores e equipes  especializadas no combate à ação delituosa em rede de computadores, dispositivo de comunica-ção ou sistema informatizado”. 

Ao mesmo tempo em que celebra a publicação de normas penais para coibir os crimes eletrônicos, a Confederação Nacional das Instituições Financeiras indica que o texto legal pode ser ainda mais eficaz por meio de aprimoramentos em dois pontos.

O primeiro ponto encontra-se no artigo 2º da Lei n° 12.737/2012, o qual inclui a expressão “para obter vantagem ilícita”. Essa expressão concorre para a prejudicialidade de tipos penais existentes, a saber: estelionato (art. 171 do Código Penal) e furto (art. 155), na medida em que repete as previsões desses dispositivos, porém atribui a ambos penas meno-res (além de tornar desproporcional o estelionato eletrônico diante do estelionato comum). Com essa expressão, o estelionato eletrônico se torna um cri-me de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, que ficará sobrecarregado e no qual não se admite produção de prova pericial da invasão e da obtenção de vantagem ilícita.

O segundo ponto encontra-se no artigo 3º da Lei n° 12.737/2012, que altera o parágrafo 1º do artigo 266 do Código Penal, que passa a ter a seguinte redação:

capítulo 19: queStõeS de SegurANçA

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agenda do setor financeiro 2014226

“incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento”. A alteração introduzida pela nova Lei limita o ato cri-minoso à interrupção de serviços, excluindo do tipo penal a perturbação desses mesmos serviços – que muitas vezes tem consequência tão danosa quanto a interrupção. Ademais, pode limitar seu escopo aos serviços públicos, ignorando que outros serviços também podem ser considerados de utilidade públi-ca e essenciais para consumidores/cidadãos.

Também o Marco Civil da Internet poderá contribuir para efetiva aplicação da legislação de combate aos crimes eletrônicos, se vier a prever a obrigatorieda-de da guarda de registros de conexão e de acesso a aplicações de internet.

19.3 COmbAte à LAVAgem de dINHeIrO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que tornem cada vez mais transparentes as operações finan-ceiras, de maneira a identificar casos de ins-trumentalização de empresas do setor por agentes criminosos envolvidos em lavagem de dinheiro, no entendimento de que os sigilos bancário, fiscal e de informações de clientes e de funcionários serão sempre resguardados nos limites de Lei Complementar. Nesse senti-do, a CNF acredita que a nova legislação sobre lavagem de dinheiro (Lei nº 12.683/2012) pode ser aprimorada.

Para o Conselho de Controle de Atividades Financei-ras (COAF), o crime de lavagem de dinheiro caracte-riza-se por um conjunto de operações comerciais ou financeiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita.

Em julho de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.683, que torna mais eficiente a punição aos crimes de lava-gem de dinheiro. A legislação inova quanto à carac-terização anterior do crime, que se configurava em circunstâncias em que o dinheiro tivesse origem em atividades ilícitas, tais como o terrorismo, o tráfico de drogas, o sequestro e o contrabando de armas, além de condutas culpáveis contra a administração pública e o Sistema Financeiro Nacional. A nova le-gislação passou a conceituar lavagem de dinheiro como qualquer recurso com origem ilícita ou oculta, enrijecendo as punições à conduta culpável. Foi es-tabelecido no texto da nova lei que o Poder Judiciá-rio pode acolher denúncias do crime mesmo em cir-cunstâncias de prescrição e insuficiências de provas, bem como realizar o confisco prévio dos bens dos denunciados. Outra inovação é a inserção de apre-ensões de bens em nome de terceiros, contrapondo-se à legislação anterior, que previa a apreensão de valores e bens tão somente em nome do acusado de crime de lavagem de dinheiro.

As instituições financeiras receberam com satisfa-ção a sanção da Lei nº 12.683/2012. Para a Confe-deração Nacional das Instituições Financeiras, a eliminação do rol de crimes antecedentes, previstos na legislação anterior, amplia o escopo da norma e aumenta sua eficácia.

A legislação reserva papel protagônico às instituições financeiras no combate à lavagem de dinheiro. O se-tor financeiro constitui um elo crítico da cadeia de atos ilícitos que caracterizam crimes de lavagem de dinheiro. Mesmo que os autores desse crime realizem operações financeiras lícitas, a legislação envolve o setor financeiro na detecção da lavagem dinheiro e no seu combate. As instituições devem dispensar es-pecial atenção às operações que possam apresentar sérios indícios de lavagem de dinheiro e comunicá-las às autoridades competentes, sem dar ciência desse ato a seus clientes, tais como transações que ultra-passarem limite fixado por essas autoridades, bem como proposta ou realização de transações com for-

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tes indícios de lavagem de dinheiro. As instituições fi-nanceiras sujeitam-se a penalidades administrativas pelo descumprimento dessas obrigações. Já o Banco Central deve manter registro centralizado formando o cadastro geral de correntistas e clientes de institui-ções financeiras, bem como de seus procuradores. Há indicações de que o setor vem desempenhando esse papel a contento: só no ano de 2012, o COAF recebeu 1.587.450 comunicações sobre lavagem de dinheiro.

Ao introduzir novas rotinas e procedimentos, a nova legislação também criou implicações que nem sem-pre são evidentes. A redação anterior, a da Lei nº 9.613/1998, artigo 1º, parágrafo 2º, inciso I, rezava que: “Incorre, ainda, na mesma pena quem: I – utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem provenientes de qual-quer dos crimes antecedentes referidos neste artigo”. Já o artigo 1º, parágrafo 2º, inciso I, da nova Lei nº 12.683/2012 passou a dispor que: “Incorre, ainda, na mesma pena quem: I – utiliza, na atividade econômi-ca ou financeira, bens, direitos ou valores provenien-tes de infração penal”. A retirada da expressão “que sabe serem” pode ter sérias consequências.

Ao assumir que as instituições financeiras conhecem sempre, de maneira integral e exaustiva, a origem dos recursos que recebem, a nova Lei as torna objeti-vamente responsáveis. Os termos “deveria saber” ou

“deve saber” constam dos artigos 130, 140 e 180 do Có-digo Penal, sendo longa a discussão no meio jurídico a respeito de o “deve saber” ser uma forma de dolo eventual ou de uma conduta culposa. A exata compre-ensão jurídica é importante, pois o “deve saber” não se aproxima de dolo eventual, mas de culpa stricto sensu, já que no dolo eventual o agente sabe e, praticando determinada conduta reprovável, assume inteiramen-te o risco de produzir o resultado. Para o crime de lava-gem de dinheiro o “deveria saber” somente é previsto na forma dolosa, considerando, concretamente, que a pessoa busca exatamente dar aparência de licitude a um bem, direito ou valor oriundo de infração penal. Ou seja, um crime doloso só é punido nos casos em

que o agente tem conhecimento da origem criminosa e pratica um ato inerente a esse processo. Em princípio, a retirada da expressão “que sabe se-rem” sujeitaria à pena de três a dez anos um profis-sional idôneo que, atuando dentro das normas do Banco Central, recebesse para fins lícitos depósito ou aplicação de recursos oriundos de infração penal que esse profissional não tem como verificar. O arti-go 9º estende o rol de sujeitos também às pessoas físicas. Um gerente de banco ou um administrador de fundo de investimento, por exemplo, não conta com meios de verificar a origem de recursos oriun-dos de evasão fiscal ou de jogos de azar, a não ser mediante violação ilegal da privacidade do deposi-tante ou aplicador. No caso da sonegação fiscal, em especial, as atividades são complexas e às vezes de difícil percepção por aqueles que trabalham direta-mente em setores nos quais há operações intrinca-das. Um advogado, um agente de seguros, um cor-retor de imóveis, um funcionário de uma instituição financeira, por exemplo, teriam que analisar todos os aspectos da vida do cliente, com o risco de ofen-der sua privacidade e sua intimidade. A Lei Comple-mentar nº 105/2001, que ampliou o acesso do COAF a informações bancárias, não derrogou o sigilo fiscal e bancário de que gozam depositantes e aplicadores.

19.4 deFINIçÃO dO CrIme de terrOrISmO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que visem a comba-ter o crime de terrorismo, bem como ações vol-tadas para a sua prevenção. A Confederação defende ainda propostas que garantam a pre-servação dos ativos dos cidadãos, confiados a instituições financeiras, além da preservação da incolumidade de agências e caixas eletrôni-cos em todo território nacional.

capítulo 19: queStõeS de SegurANçA

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agenda do setor financeiro 2014228

O Congresso Nacional instalou, em março de 2013, Comissão Mista Especial com o intuito de consoli-dar a legislação federal e regulamentar dispositi-vos da Constituição. Entre os assuntos tratados na Comissão encontra-se projeto de lei que define o crime de terrorismo e as circunstâncias em que tal crime se configura.

A proposta determina pena de reclusão de quinze a trinta anos a quem oferecer, obter, guardar, man-ter em depósito, investir ou contribuir de qualquer modo para a obtenção de ativo, bem ou recurso fi-nanceiro com a finalidade de financiar, custear ou promover prática de terrorismo.

Dispositivo similar também está sendo tratado na discussão da reforma do Código Penal em exame pelo Senado.

Recursos mobilizados para o financiamento do ter-rorismo deverão, em algum momento, transitar pelo sistema financeiro. As instituições financeiras contam com sofisticados procedimentos de de-tecção da origem ilegal de recursos. A CNF vê com preocupação os dispositivos supracitados, uma vez que o eventual trânsito por instituição financeira de recursos destinados ao financiamento do terrorismo pode acarretar culpa para agentes que, no exercício de boa fé de suas funções, não contam com meios de verificar nem a origem nem a destinação dos trilhões de reais que circulam no mercado.

De modo a tornar aplicável a responsabilidade das instituições financeiras, a Confederação apoia a inclu-são de dispositivos que estabeleçam nexo verificável e irrefutável entre a conduta destas ou de seu agen-te administrador e a observância de regras claras de compliance estabelecidas pela autoridade monetária.

A discussão de uma nova lei sobre combate ao terro-rismo enseja exame de questões novas. Uma delas é a inclusão da atividade bancária no rol dos serviços essenciais previstos na lei, para que sejam tipifica-dos como terrorismo os crimes contra as instituições

financeiras. Os assaltos contra bancos e os arrom-bamentos de caixas eletrônicos são cometidos me-diante uso de armamento pesado, violência e grave ameaça, inclusive com o uso de explosivos, causan-do pânico e terror nas comunidades, expondo grave-mente a integridade física das pessoas. Nesse con-texto é oportuna a discussão, também, da inclusão de um código químico em explosivos que identifique toda sua circulação do produtor ao usuário final, permitindo traçar sua origem.

19.5 VIgILâNCIA PrIVAdA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas realistas que au-mentem a eficácia da vigilância privada pelo uso de soluções tecnológicas que minimizem o porte de armas letais em agências bancárias e o número de profissionais de vigilância expos-tos à violência, pelo constante treinamento dos profissionais de vigilância e pela inclusão da categoria no rol de atividades essenciais pre-vistas na Lei nº 7.783/1989.

No Brasil, o efetivo de vigilantes privados supera o das Forças Armadas. A categoria presta relevantes serviços aos funcionários e clientes de instituições financeiras, ao contribuir para a incolumidade física e a integridade patrimonial dessas pessoas. Por essa razão, deve ser incluída no rol de atividades essen-ciais previstas na Lei nº 7.783/1989.

Para ser mais eficaz, a vigilância privada bancária deve dispor de equipamentos e soluções eletrônicas capazes de garantir a segurança de pessoas e am-bientes. A utilização de armas letais deve ser evitada. O simples aumento da quantidade de vigilantes ar-mados não torna mais eficiente a vigilância bancária. Essa eficiência pode ser aprimorada na medida em que vigilantes sejam submetidos a constante treina-mento para aperfeiçoar sua qualificação.

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19.6 CAIXAS eLetrôNICOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento de medidas de segurança das operações e do uso de caixas eletrônicos, no entendimento de que tais propostas não impu-tam a agentes privados os ônus que a Consti-tuição Federal destina ao Poder Público para a preservação da ordem pública e da incolumi-dade das pessoas e do patrimônio. Para a CNF, o rastreamento de explosivos utilizados contra esses equipamentos e a inclusão dessa moda-lidade criminosa no rol de crimes contra o Sis-tema Financeiro Nacional contribuiriam para dissuadir práticas delituosas.

O Brasil é um dos países pioneiros no uso de ter-minais automáticos, com tecnologia sofisticada de operação e medidas de segurança que são o estado da arte. Há no país quase duzentos mil terminais au-tomáticos, que representam poderosa ferramenta não apenas para facilitar o relacionamento de clien-tes com instituições bancárias, mas também para estender a própria bancarização.

Os caixas eletrônicos, terminais automáticos, ou ATMs (do inglês Automatic Telling Machine), apresen-tam implicações de segurança, tanto no seu funcio-namento quanto no ambiente que os cerca.

Quanto ao funcionamento, a evolução tecnológica, que, por exemplo, incorporou chips nos cartões de débito e de crédito, torna cada vez mais difícil a ati-vidade criminosa de subtrair informações de contas correntes e de clonagem de cartões. Apesar desse avanço, as instituições financeiras mantêm pesados investimentos em tecnologia para continuar redu-zindo esse tipo de fraude. Contudo, a destruição do produto de roubos a terminais automáticos (isto é, das cédulas) ainda é objeto de controvérsias, o que

impõe um limite às soluções tecnológicas para dis-suadir a violação desses equipamentos.

Já as questões de segurança do ambiente que cerca os equipamentos são mais complexas. Os aparelhos são bastante uniformes em seu modo de operação – e, portanto, uma solução tecnológica serve a milha-res deles – ao passo em que sua localização se dá nos ambientes mais diversos: dentro de agências bancárias, nos shopping centers, nos corredores de aeroportos, em estabelecimentos comerciais, por exemplo. São ambientes sobre os quais as institui-ções financeiras não têm controle algum, estando na jurisdição do Poder Público já que, nos termos do ar-tigo 144 da Constituição Federal, a segurança pública

“é dever do Estado, direito e responsabilidade de to-dos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”.

Uma medida que poderia acrescentar segurança ao funcionamento de caixas eletrônicos e ao ambiente que os cerca seria a identificação da origem dos ex-plosivos empregados em ataques contra esse tipo de equipamento, bem como de todas as transações comerciais que envolveram esses explosivos. Outra medida seria a inclusão dessa modalidade crimino-sa no rol dos crimes contra o Sistema Financeiro Na-cional, previstos na Lei nº 7.492/1986.

19.7 AgêNCIAS bANCÁrIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que uniformizem os requisitos básicos para o desenho arquitetôni-co e construção de todos os estabelecimentos bancários no território nacional, lastreadas em avaliações técnicas minuciosas que eviden-ciem efetivo ganho de proteção para funcioná-rios, clientes, informações e valores.

capítulo 19: queStõeS de SegurANçA

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Agências bancárias são instalações meticulosamente desenhadas para propiciar a funcionários e a clien-tes as melhores condições possíveis de conforto e de segurança. Contudo, as instituições bancárias têm di-ficuldade em otimizar os recursos destinados à segu-rança de suas agências por conta da ampla diversida-de de regras de construção e de funcionamento. Tais regras estão sob competência dos 5.570 Municípios brasileiros, o que torna o simples acompanhamento desses dispositivos bastante complexo e oneroso.

19.8 SegurANçA dO trANSPOrte de VALOreS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento das medidas de segurança do transporte de valores, inclusive pela digitali-zação de documentos usualmente transporta-dos. Para a CNF, o ônus da segurança pública não deve recair sobre entes privados. Ademais, a uniformização das regras de trânsito e esta-cionamento de carros-fortes contribuiria para maior segurança no transporte de valores.

Veículos de transporte deslocam não apenas dinheiro em espécie, mas também objetos de valor, tais como metais e pedras preciosas, bem como documentos, inclusive cheques. Os riscos de segurança inerentes ao transporte de valores podem ser imediatamente mitigados pela exclusão dos cheques da carga des-ses veículos de transporte. Para tanto, a digitalização de documentos, examinada na Seção 6.7 – Digitali-zação/Arquivamento de documentos, representaria importante avanço também em termos de segurança.

As implicações de segurança para os vigilantes priva-dos que acompanham o transporte de valores estão estreitamente vinculadas à formação e qualificação desses profissionais, examinada na Seção 19.5 – Vigi-lância privada.

Já no que diz respeito à segurança da população, os veículos de transporte de valores circulam e esta-cionam em vias e áreas públicas sobre as quais as instituições financeiras não têm qualquer controle, já que se aplica aqui o artigo 144 da Constituição Federal, que reza: “a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exer-cida para a preservação da ordem pública e da in-columidade das pessoas e do patrimônio”. Nesse caso, a competência é predominantemente dos Municípios, o que dificulta às instituições bancárias a uniformização de procedimentos, com ganhos de escala que poderiam ser revertidos em maiores in-vestimentos em segurança.

19.9 teCNOLOgIA de SegurANçA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas de incentivo à adoção e à modernização de tecnologias de segurança por instituições financeiras, no entendimento de que tais propostas não interferem na liber-dade de escolha dos produtos e serviços de se-gurança que melhor se adequam às necessida-des de cada instituição e não impõem os ônus da segurança pública a entes privados.

Os equipamentos de segurança empregados por ins-tituições financeiras são estreitamente vinculados à tecnologia da informação. Por isso, sofrem atualiza-ções permanentes, tanto de base física (hardware) quanto de programas (software), ao mesmo tempo em que são lançadas inovações.

Equipamentos de segurança podem ser divididos em quatro categorias principais: alarmes internos, proteção perimetral, circuito fechado de televisão e controles de acesso. No Brasil, o mercado de segu-rança atravessa fase de grande crescimento. Para a Associação Brasileira de Empresas e Sistemas Eletrô-nicos (ABESE), as vendas desses equipamentos apre-

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sentaram crescimento médio de 13% por ano na úl-tima década. Em 2012 o setor movimentou cerca de R$ 1,96 bilhão. De acordo com dados do último ba-lanço de 2012 da ABESE, 85% do consumo de equi-pamentos de segurança eletrônica são demandados pelo setor não-residencial. Dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), demonstram que o segmento de equipamentos de segurança eletrônica teve um crescimento de 8% em relação a 2012, representando um faturamento de R$ 156,6 bilhões. Para 2014 a projeção de cresci-mento é de 5% do faturamento em relação a 2013,

atingindo um valor de R$ 165,1 bilhões, 3,2% do PIB. A imposição de regras para balizar o uso, por insti-tuições financeiras, de equipamentos de segurança vai de encontro a esse vibrante mercado e amputa possibilidades de inovação e de atualização tecno-lógica. A livre escolha dos equipamentos e da tec-nologia que melhor se adequam às necessidades de segurança das instituições financeiras é a me-lhor maneira de assegurar, num mercado altamente competitivo, que estas empregarão o estado da arte na proteção de seus funcionários, seus clientes, suas informações e instalações.

capítulo 19: queStõeS de SegurANçA

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233capítulo 20: queStõeS bANCÁrIAS

A intermediação financeira viabiliza e concretiza a conjunção de interesses e necessidades dos agentes econômicos, fazendo confluir (no tempo, no volume e nos preços) os fluxos de recursos daqueles que acumulam poupança (agentes superavitários) para os que deles necessitam para a realização das suas atividades (agentes deficitários).

No mundo todo, operações bancárias se revestem de grande complexidade. As implicações das ques-tões bancárias são muito próprias do setor, que é possivelmente o mais regulado, supervisionado e fis-calizado da economia. Isso se explica pelo impacto potencial sobre toda a economia de eventuais pro-blemas nos bancos, sejam tópicos, sejam sistêmicos.

O tratamento de questões afetas a bancos demanda, na maioria das vezes, profundo e minucioso conhe-cimento de todas as suas dimensões – legais, regula-tórias, contábeis, fiscais e operacionais. Não é inco-mum questões bancárias serem tratadas de maneira superficial, negligenciando-se o impacto de propos-tas sobre o acesso ao crédito, o custo dos financia-

mentos, a oferta de serviços, a geração de empregos e a confiança no sistema bancário.

20.1 AtIVIdAdeS bANCÁrIAS COmO “SerVIçOS eSSeNCIAIS”

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação da lista de atividades considera-das essenciais previstas no art. 10 da Lei nº 7.783/1989. Para a CNF, o rol de atividades essenciais não deveria ser exaustivo, mas sim acompanhar a evolução econômica e social. A inclusão das atividades bancárias nesse rol recomenda-se pela sua interdependência com atividades já consideradas essenciais na legis-lação e pelo intenso processo de bancarização.

Atividades essenciais são aquelas consideradas im-prescindíveis para o efetivo funcionamento de uma

queStõeS bANCÁrIAS20

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a consolidação da higidez e da solidez do sistema bancário baseadas em exame profundo e minucioso de todas as suas implicações legais, regulatórias, contábeis, fiscais e operacionais, bem como do impacto dessas propostas, entre outros, sobre o acesso ao crédito, o custo dos financiamentos, a oferta de servi-ços, a geração de empregos e a confiança no sistema bancário.

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sociedade. A definição de serviços e atividades es-senciais é expressa na Lei nº 7.783/1989 e inclui: as-sistência médica e hospitalar; tratamento e abaste-cimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; distribuição e comercia-lização de medicamentos e alimentos; serviços fu-nerários; transporte coletivo; captação e tratamento de esgoto e lixo; telecomunicações; guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; processamento de dados liga-dos a serviços essenciais; controle de tráfego aéreo; e compensação bancária.

O atual momento de estabilidade econômica vivido pelo Brasil, com redução do desemprego, aumento da renda, queda de juros e maior acesso ao crédito, estimula a bancarização no país. Cada vez mais pes-soas e empresas contam com os serviços bancários para agilizar o seu dia a dia e promover seus negócios.

A bancarização manteve o ritmo de crescimento nos últimos anos, ultrapassando os 50% em 2011. Desde 2008, o número de contas correntes, por exemplo, subiu de 82 milhões para 88 milhões, aproximadamente. Mantida essa tendência, há pro-jeções para que apenas em 2023 o Brasil atinja o nível de países desenvolvidos, como o Reino Unido, que possui um índice de 97%. A maior bancarização, por sua vez, impacta positivamente na eficiência do sistema bancário brasileiro e favorece a economia como um todo.

Há obrigações que devem ser cumpridas de modo inadiável pelos cidadãos e usuários dos bancos, nos respectivos vencimentos, sob pena de graves pre-juízos que podem resultar do desrespeito a prazos legais ou contratuais. A paralisação de agências ban-cárias, por exemplo, gera prejuízos a toda socieda-de, notadamente à expressiva parcela da população que ainda não tem acesso aos canais alternativos de atendimento de serviços bancários, honrando seus compromissos e recebendo seu salário ou benefícios diretamente nos caixas das instituições.

Considerando que as transações bancárias fazem parte da vida de um número crescente de cidadãos brasileiros, afetando inclusive o bom funcionamento de outras atividades essenciais (como telecomuni-cações, transporte e energia elétrica), o serviço es-sencial – que pode ser entendido como aquele cuja prestação é indispensável à dignidade, à saúde e à segurança dos consumidores – deveria incluir todo serviço bancário, salvaguardando-se assim o interes-se maior da coletividade de acesso a esses serviços.

A CNF entende que é necessária ampla discussão sobre o tema de caracterização da atividade bancá-ria como serviço essencial, da mesma forma que é necessária avaliação cuidadosa sobre outras ativi-dades que também mereceriam sua inclusão no rol de serviços essenciais: serviços postais, lavanderias hospitalares, serviços de previdência e assistência social, educação, segurança pública e privada.

20.2 SIgILO bANCÁrIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a explicitação do artigo 6º da Lei Complemen-tar n° 105/2001, que trata do sigilo bancário, para pacificar o entendimento de que apenas decisão judicial poderá determinar o acesso às informações de movimentação bancária de pessoa física ou jurídica e assim justificar a res-trição do direito fundamental à privacidade em prol do interesse público.

O sigilo bancário constitui-se em obrigação para os bancos e em direito para os correntistas. É a obriga-ção que têm os bancos de não revelar, salvo nas for-mas previstas em lei, informações que venham a ob-ter em virtude de suas operações. Sua violação é uma afronta ao direito à privacidade por revelar preferên-cias pessoais e atos particulares que integram a per-sonalidade dos detentores de depósitos. A patologia

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do direito à privacidade é o uso de má-fé para ocultar por trás do sigilo bancário movimentações ilegais, ou com uso de recursos obtidos de forma ilícita.

As discussões em torno do sigilo bancário são cen-tradas no uso indevido desse direito à privacidade para fins ilícitos e estão balizadas pela busca do equilíbrio entre, por um lado, maior fiscalização, controle e registro das operações financeiras e, por outro, respeito à privacidade individual. A quebra do sigilo bancário sempre será possível quando houver fortes indícios materiais de condutas ilícitas. É asse-gurado o contraditório, sem prejuízo da indenização por danos à parte lesada. Nessa discussão, emerge a questão da capacidade interventiva do Poder Pú-blico por meio de decisões administrativas de inicia-tiva da Receita Federal, do Ministério Público e de Tribunais de Contas.

A Constituição Federal prevê no artigo 5º, incisos X, XII e XIX, a tutela e proteção à violação de correspon-dências e informações. A doutrina e a jurisprudência compartilham o entendimento de que a inviolabili-dade do sigilo bancário deva estar assegurada com base nesses dispositivos constitucionais. O Supremo Tribunal Federal mais de uma vez afirmou que o sigilo de dados de operações financeiras é o desdobramen-to do direito à privacidade assegurado no dispositivo constitucional, cuja violação requer ordem judicial.

A regulamentação do dispositivo constitucional foi feita por meio da Lei Complementar nº 105/2001, que dispõe sobre o sigilo das operações de institui-ções financeiras, e pela Lei nº 9.613/1998, que dis-põe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores.

A Receita Federal argumenta que deve prevalecer o interesse público sobre o privado para justificar a que-bra do sigilo bancário do contribuinte. Para tanto, a Receita, com base na Lei Complementar nº 105/2001 e no Decreto nº 3.724/2001, expede as “Requisições de Informações sobre Movimentações Financeiras” (RMF) e solicita, no âmbito administrativo, extratos de con-

tas bancárias e de aplicações financeiras, relativos ao período fiscalizado de contribuinte pessoa física ou ju-rídica, sob pena de agravamento de multas onerosas.

Ainda que seja justificável que tenha o Fisco acesso às informações relativas a movimentações bancá-rias, para fins de tributação, esse acesso deve ser assegurado sem prejuízo dos direitos individuais do contribuinte, como sublinha o artigo 145, §1º da Constituição, que reza:

Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à adminis-tração tributária, especialmente para conferir efe-tividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patri-mônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

O conflito entre o interesse do Fisco e o direito à privacidade do contribuinte requer uma terceira pessoa, imparcial, na figura do juiz, para determi-nar se documentos bancários sigilosos são ou não indispensáveis.

Apesar de carregarem implicações constitucionais, tem crescido o número de iniciativas que ampliam a capacidade interventiva da Receita Federal e de órgãos como o Ministério Público e os Tribunais de Contas, por exemplo. Entre essas iniciativas, desta-cam-se recentes decisões no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), bem como propostas legislativas que permitem o acesso a dados bancários sigilosos por determinados órgãos.

Em 24 de novembro de 2010, por seis votos a quatro, o STF decidiu que a Receita Federal pode ter acesso direto, sem autorização prévia do Poder Judiciário, a dados financeiros sigilosos do contribuinte investi-gado em processo administrativo ou procedimento fiscal. No mesmo sentido, o STJ já sinalizou a possi-bilidade de estender essa prerrogativa também aos

capítulo 20: queStõeS bANCÁrIAS

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agenda do setor financeiro 2014236

membros do Ministério Público. No Congresso Na-cional, o assunto vem sendo tratado em alguns pro-jetos de lei que, além de permitir ao Fisco e ao Minis-tério Público o acesso a dados sigilosos, ampliam o rol de órgãos habilitados a fazê-lo.

Os Ministros do STF entenderam que a Constituição não impede que órgãos fiscalizadores tenham aces-so a dados financeiros sigilosos sem autorização pré-via do Poder Judiciário. O STF advertiu, no entanto, que essas informações não podem vazar durante a comunicação de um órgão a outro. Ressaltaram que não há quebra de sigilo quando um banco envia da-dos para a Receita, mas sim a transferência para o Fisco do dever de manter esses dados protegidos do público. Entendeu a maioria do colegiado que é váli-do o artigo 6º da Lei Complementar n° 105/2001, que permite que autoridades e agentes fiscais tributá-rios da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios acessem “documentos, livros e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras” de contribuintes que respondam a processo adminis-trativo ou a procedimento fiscal.

Menos de um mês dessa decisão, em 15 de dezem-bro de 2010, o STF exarou acórdão com repercussão geral que restringe o acesso pela Receita Federal a dados bancários de contribuintes ao não mencio-nar processo administrativo ou procedimento fiscal, mas apenas processo judicial penal:

Conforme disposto no inciso XII do artigo 5º da Cons-tituição Federal, a regra é a privacidade quanto à correspondência, às comunicações telegráficas, aos dados e às comunicações, ficando a exceção – a que-bra do sigilo – submetida ao crivo de órgão equidis-tante – o Judiciário – e, mesmo assim, para efeito de investigação criminal ou instrução processual penal. SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS – RECEITA FEDERAL. Conflita com a Carta da República norma legal atri-buindo à Receita Federal – parte na relação jurídico-tributária – o afastamento do sigilo de dados relati-vos ao contribuinte.

Diferentes matizes em decisões desse alcance e gra-vidade sugerem que seria oportuna a edição de nor-ma geral abstrata que pacificasse o entendimento sobre a imprescindibilidade de autorização judicial para a quebra de sigilo bancário.

Em 17 de novembro de 2010, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sinalizou entendimento no sentido de estender a atribuição dada ao Fisco para os promotores.

20.3 tArIFAS bANCÁrIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para maior transparência na cobrança de tarifas bancá-rias e na fixação de seus valores, assentadas nos princípios constitucionais da livre concor-rência e da liberdade de exercer atividade eco-nômica, que incentivem a autorregulação e a ampliação do acesso de clientes a informações sobre serviços bancários e as correspondentes tarifas que os remuneram.

Tarifa é a contrapartida da prestação de um servi-ço e, por essa razão, equivale a um preço. Reflete a remuneração dos custos envolvidos na prestação do serviço e sofre variações em razão de mudanças nos níveis de oferta e demanda associados ao ser-viço oferecido.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) emitiu nor-mativos com vistas a regular a cobrança de tarifas pelas instituições financeiras. Entre eles, a Resolu-ção n° 3.518/2007 padronizou as tarifas bancárias e estabeleceu a gratuidade para diversos serviços, como: fornecimento de cartão de débito; até dois extratos por mês no terminal de autoatendimento; emissão de cheques independente de valor; com-pensação de cheques; e duas transferências. As ta-rifas também não poderão ser cobradas de clientes

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com insuficiência de saldo. Além dessas medidas, a norma estabeleceu que a criação de uma nova tarifa será submetida à análise prévia do Banco Central e os reajustes nos preços dos serviços bancários só po-derão ocorrer a cada 180 dias.

O setor bancário iniciou um amplo programa de au-torregulação, com o intuito de dar mais transparên-cia à cobrança de tarifas, padronizá-las, satisfazer seus clientes e diminuir as reclamações. Evidente-mente, os bancos são os maiores interessados em proporcionar a seus clientes um atendimento que não só atenda às suas expectativas como seja, tam-bém, fator de fidelização desses clientes e, portanto, de sustentabilidade de seus negócios.

Para tanto, a Federação Brasileira de Bancos (Febra-ban) desenvolveu um sistema de registro e divulga-ção das tarifas bancárias: o STAR – Sistema de Divul-gação de Tarifas de Produtos e Serviços Financeiros, disponível no portal eletrônico da entidade no ende-reço: http://www.Febraban-star.org.br. O programa permite aos clientes consultar, por exemplo, as tari-fas vigentes no dia, sua evolução com base no último dia do mês anterior e a comparação entre as tarifas praticadas pelas instituições financeiras.

Desde a criação do STAR e a publicação da Resolu-ção n° 3.518, o setor bancário se tornou ainda mais competitivo, a padronização das tarifas facilitou a vida dos clientes e as tarifas estão mais baixas.

O debate em torno da questão está centrado na atuação do Banco Central e na limitação tanto de cobrança de tarifas quanto do próprio valor dessas tarifas. Algumas propostas, meritórias pelo intuito de favorecer os clientes bancários, caminham no sentido contrário, na medida em que podem reduzir, entre outras coisas, a capacidade do setor bancário de oferecer maior diversidade de serviços que viabi-lizem as transações, aumentem a segurança destas e tragam mais comodidade aos clientes.

20.4 HOrÁrIO de FuNCIONAmeNtO de AgêNCIAS bANCÁrIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-plicitação da competência exclusiva da União na definição do horário de funcionamento das agências bancárias.

A Constituição Federal prevê no caput do seu artigo 48 que cabe ao Congresso Nacional, com sanção do Pre-sidente da República, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente: “Art. 48... XIII – matéria financeira, cambial e monetária, institui-ções financeiras e suas operações”. Muitas das exigên-cias estabelecidas em leis municipais sobre o funcio-namento das agências bancárias ferem a Carta Magna.

A norma fundamental que rege a atividade dos ban-cos é a Lei nº 4.595/1964, recepcionada como Lei Complementar pela Constituição de 1988. Entre as demais normas de Direito que regem os Bancos, des-tacam-se a Lei nº 4.728/1965, que disciplina o merca-do de capitais e estabelece medidas para o seu de-senvolvimento; e as Leis n°s 7.102/1983 e 9.017/1995, que tratam de segurança bancária. Nenhuma dessas normas outorga a Estados e Municípios competência para legislarem em matéria de horário de funciona-mento de agências bancárias.

Relativamente à fixação do horário de funcionamen-to de instituições financeiras, o artigo 4°, inciso VIII, da Lei n° 4.595/1964, atribui competência privativa ao Conselho Monetário Nacional para dispor a res-peito, encontrando-se o assunto regulamentado pela Resolução n° 2.301/1996.

Muitos Municípios tentam regular matéria bancária. Porém, os Tribunais Regionais, assim como os Tribu-nais Superiores, são unânimes em reconhecer que compete exclusivamente à Lei Federal estabelecer as regras sobre o horário de funcionamento dos bancos.

capítulo 20: queStõeS bANCÁrIAS

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20.5 CHequeS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que fortaleçam a segurança jurídica no uso de cheques e que es-tejam em harmonia com instrumentos interna-cionais dos quais o Brasil é signatário.

A emissão, regulamentação e restrição ao uso do cheque tem sido objeto de debates. O cheque é um título revestido de formalidade legal e uma ordem de pagamento à vista, ou seja, ordem de pagamento em dinheiro, emitido a débito de uma conta corren-te mantida em banco ou instituição financeira que lhe seja equiparada e necessita serem observados os requisitos legais.

Em 2011, o Banco Central publicou a Resolução n° 3.972 que dispõe sobre cheques, devolução e opo-sição ao seu pagamento. Estabelece controles de segurança na utilização desse instrumento de paga-mento, de forma a reduzir os custos dos bancos e do comércio com problemas, tais como: emissão frau-dulenta de cheques roubados, suspensão indevida de pagamento ou o extravio de folhas de cheques, emissão de cheques sem fundos, etc.

A função do cheque em todo o mundo é regulada por instrumentos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, sobretudo a “Convenção para adoção de uma Lei Uniforme sobre cheques” assinada em Genebra, em 1931. Com isso, alterações na legisla-ção que trata do assunto (por exemplo, para criar instrumento que legalize o cheque pré-datado) po-dem violar esses instrumentos internacionais e ferir regras consolidadas, praticadas ao redor do mundo.

20.5.1 pagamento de chequeS pré-datadoS, promiSSivoS ou Sem FundoS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que mantenham o caráter de ordem de pagamento à vista dos cheques, ao explicitar a exigência de disponibi-lidade de fundos mesmo para os cheques pré-datados e ao vedar o pagamento de cheques pela instituição financeira do sacado sempre que não houver ou fundos imediatamente dis-poníveis, ou um contrato anterior que preveja o pagamento nos casos de carência de fundos.

O artigo 4º da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/1985) de-termina que “o emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito”. A provisão de fundos deve, pois, existir an-tes da emissão do cheque e deve resultar de um contrato preliminar que autorize o emitente a dispor desses fundos por meio desse instrumento. Mesmo assim, difundiu-se no Brasil o uso do cheque pré-da-tado, que se assemelha mais a um título de crédito do que a uma ordem de pagamento.

O uso difundido desse instrumento pode introdu-zir incertezas quanto ao caráter de ordem de paga-mento à vista dos cheques. Por exemplo, o Superior Tribunal Justiça aprovou a Súmula nº 370/2009, que reza: “caracteriza dano moral a apresentação anteci-pada do cheque pré-datado”.

Esse tipo de incerteza tem inspirado no Congresso Na-cional a criação de ordens de pagamento que, apesar de serem títulos para liquidação à vista, conteriam promessa de liquidação futura. O “cheque promissi-vo” seria a regulamentação dos cheques pré-datados.

A popularização do uso de ordem de pagamento à vista para liquidar compromissos futuros viola não só a Lei do Cheque, mas também o art. 28 da “Con-

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venção para adoção de uma Lei Uniforme sobre cheques”, de 1931, assinada em Genebra, que tem o Brasil como signatário. Proposta de alteração legis-lativa pode obrigar o Governo Brasileiro a denunciar a referida Convenção.

O sistema financeiro oferece uma gama de produ-tos e serviços que se prestam à liquidação futura de compromissos sem violar legislação vigente. Entre eles, cartões de crédito e DOCs pré-agendados cum-prem esse papel. Ademais, o volume de cheques emitidos vem caindo, substituído por cartões de débito e por aplicativos instalados em dispositivos móveis, o chamado mobile payment.

20.5.2 SuStação de chequeS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para evi-tar fraudes e dar maior segurança jurídica ao uso de cheques, inclusive pela manutenção na legislação vigente de dispositivo que requer a apresentação de Boletim de Ocorrência nos ca-sos de sustação de cheques.

A sustação de cheques é um ato previsto na Lei nº 7.357/1895 e pode ocorrer de duas formas: ou a re-vogação (também chamada de contra-ordem), ou a oposição (suspensão) – que se excluem mutua-mente. A primeira (contra-ordem) é ato exclusivo do emitente do cheque e somente tem vigência depois de expirado o prazo de apresentação. Já a oposição pode ser efetuada tanto pelo emitente quanto pelo beneficiário ou portador e tem vigência imediata.

O artigo 36 da Lei nº 7.357 prevê a sustação do che-que “fundada em relevante razão de direito”, sendo que “não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente” (§ 2º). A sustação de cheques, sem razões de fato ou de direito que a autorizem, constitui ilícito penal, tipificado como es-

telionato, e pode resultar em processo criminal e na condenação do emitente.

Ocorrem casos em que emitentes e beneficiários de cheques se valem de má-fé na sustação para se eva-direm de compromissos liquidados por esse meio de pagamento. A princípio, a sustação de cheques deve-ria ser ordenada – por emitentes ou por beneficiários – como medida preventiva nos casos de subtração ilí-cita do documento (furtos, assaltos, extorsões) e de extravios decorrentes de atos involuntários (como acidentes). A Resolução CMN n° 3.972/2011 consi-derou esses eventos, que podem ser objeto de dili-gência policial, para determinar a apresentação de Boletim de Ocorrência no ato da sustação de forma a desincentivar eventuais fraudes, já sujeitas a mui-tas penalidades, e para reforçar a segurança jurídica desse meio de pagamento.

20.6 trANSAçõeS eLetrôNICAS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a equipa-ração das transações eletrônicas às transações físicas em tudo o que diz respeito aos efeitos jurídicos dessas operações, bem como as volta-das para o incremento da oferta de informações claras, em linguagem simples, sobre produtos e serviços disponíveis em meio eletrônico.

O aumento do número de transações financeiras implica redução dos custos operacionais ligados à geração, transporte e armazenamento de informa-ções registradas em papel. Além dos benefícios am-bientais que oferecem, transações eletrônicas tam-bém barateiam tarifas ligadas a produtos e serviços. Contudo, o crescimento dessas operações é, muitas vezes, limitado pela exigência de registros em papel.

Em cada quatro brasileiros, três possuem ao me-nos um meio eletrônico de pagamento. É o que in-

capítulo 20: queStõeS bANCÁrIAS

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dica a Pesquisa Abecs/Datafolha 2013, divulgada no 8º Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamento (CMEP). Em 2008, 68% da população era usuária des-ses meios eletrônicos. O mobile e o internet banking já respondem por mais da metade das operações bancárias no Brasil, con-forme levantamento da FEBRABAN com cinco bancos

– Banco do Brasil, Bradesco, HSBC, Itaú Unibanco e Santander. No primeiro semestre de 2013, a partici-pação média mensal dos canais internet e mobile foi de 51%, ante 46% no primeiro semestre de 2012.

Entre junho de 2012 e junho de 2013, a participação do canal mobile subiu de 3% para 6,2% do total de transações na amostra dos cinco bancos seleciona-dos. A quantidade de transações no canal mobile nesse mesmo grupo passou de 244 milhões, no pri-meiro semestre de 2012, para 822 milhões, no mes-mo período do ano seguinte – um aumento de 237%. Em um dos bancos pesquisados, a participação do mobile já chega a 10% das transações.

Em 2009, o número de operações bancárias de au-toatendimento pela Internet ultrapassou o das re-alizadas em terminais bancários. Já a emissão de cheques reduziu-se em 7,1% em 2010, comparativa-mente a 2009, acumulando redução de 34% nos últi-mos 5 anos. Já participação dos cheques na compo-sição total dos pagamentos reduziu-se a 5% em 2011, acumulando redução de 40% nos últimos 5 anos.

As transações financeiras por meio eletrônico pro-piciam facilidade aos consumidores de produtos e serviços bancários, com segurança e agilidade. Contudo, em alguns casos requerem dos usuários conhecimento sobre esses produtos e serviços, que é suprido ou por informações nos próprios portais eletrônicos, ou por contatos com gerentes de conta e demais profissionais do setor. Por um lado, cabe ao usuário avaliar sua familiaridade com produtos e serviços financeiros disponíveis em meio eletrônico. Por outro, cabe ao setor financeiro promover edu-cação financeira e oferecer informações sobre o uso adequado desses produtos e serviços.

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No contrato de arrendamento mercantil (leasing), instituído pela Lei n° 6.099/1974, o proprietário de um bem, também chamado de arrendador, cede seu direito de posse e usufruto a um arrendatário por meio do recebimento de contraprestações periódi-cas. O contrato poderá prever a opção de compra do bem pelo arrendatário, a renovação do contrato ou a devolução do bem ao final do período de paga-mento das parcelas.

A operação de leasing é fundamentada na concepção econômica de que o fato propulsor de rendimentos para uma empresa é a utilização e não a proprieda-de de um bem. Nesse sentido, esse instrumento de crédito tem contribuído para fomentar o crescimen-to econômico pela ampliação e renovação do parque produtivo e tecnológico brasileiro. É uma alternativa não só para a aquisição, mas também para a modernização de máquinas e equipamentos, tais como computadores, veículos, imóveis e aeronaves, entre outros bens. Apresenta a vantagem de não imo-bilizar todo o capital que seria demandado no caso da compra, melhorando, dessa forma, o fluxo de caixa da empresa. Pelo mecanismo de valor residual,

que pode ser negociado em cada contrato, a empresa tem a opção da troca de modelo antigo por outro mais recente, mantendo-se atualizada tecnologicamente.

A Resolução Bacen nº 2.309/1996 é o instrumento que “disciplina e consolida as normas relativas às opera-ções de arrendamento mercantil”.

O número de contratos passou de 4.811.314 em 2009 para 1.482.329 em 2013. O valor presente desses con-tratos passou de R$ 110,3 bilhões em 2009 para R$ 28,9 bilhões em 2013.

Tem outra vantagem se comparado a outras linhas de crédito destinadas a pessoa jurídica: propicia be-nefício fiscal às empresas tributadas pelo critério de lucro real, pois permite que as prestações sejam con-tabilizadas como despesas operacionais, o que reduz a base para a tributação do Imposto de Renda (IR). O cálculo do benefício fiscal depende da depreciação do bem e do prazo de financiamento. Não há incidên-cia do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), mas incide o Imposto Sobre Serviços (ISS).

capítulo 21: ArreNdAmeNtO merCANtIL (LeASINg)

21 ArreNdAmeNtO merCANtIL (LeASINg)

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a operações de arrendamento mercantil (leasing) e para o aumento do volume de crédito ofertado por essa modalidade, assentadas nos princípios constitucionais da livre concorrência e da liberdade de exercício da atividade econômica, que contribuam para a capitalização e a modernização tecnológica das empresas brasileiras, sobretudo as de menor porte.

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21.1 VALOr reSIduAL gArANtIdO (Vrg)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para ex-plicitar a destinação do Valor Residual Garan-tido em operações de arrendamento mercantil (leasing) que estabeleçam que o pagamento do VRG não caracteriza exercício de opção de compra e também não configura restituição devida ao arrendatário nos casos em que esse pagamento foi parcelado.

Nos termos da Portaria nº 564/1978 do Ministério da Fazenda, Valor Residual Garantido é o: “preço con-tratualmente estipulado para exercício da opção de compra, ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

O pagamento antecipado do VRG não caracteriza exer-cício de opção de compra. Sobre a relação entre VRG e opção de compra, a Resolução Bacen nº 2.309/1996, que “disciplina e consolida as normas relativas às operações de arrendamento mercantil”, estabelece no seu artigo 7º inciso VII alínea “a” que: “a previsão de a arrendatária pagar valor residual garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do valor residual ga-rantido o exercício da opção de compra”. Acrescenta que “o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado” (Art. 5º inciso III).

Também a Súmula nº 293/2004 do Superior Tribunal de Justiça decidiu que “a cobrança antecipada do va-lor residual garantido (VRG) não descaracteriza o con-trato de arrendamento mercantil”. Tal entendimento é consentâneo com as operações de leasing, uma vez que o pagamento parcelado do VRG não configura o exercício da opção de compra, já que essa só pode ser exercida ao final do contrato de arrendamento.

O pagamento antecipado do VRG também não con-figura restituição devida ao arrendatário nos casos em que esse pagamento foi parcelado. Ocorrendo a devolução do bem objeto de arrendamento ao ar-rendador, este será vendido no mercado pela melhor oferta e o valor obtido será utilizado para amortizar ou liquidar as parcelas vencidas e não pagas, além das eventuais despesas (administrativas e/ou judi-ciais). Restando saldo positivo, a diferença será de-volvida ao arrendatário. Assim, pela condição acima estabelecida, os valores residuais pagos parcelada-mente no curso do contrato de arrendamento não comportam qualquer restituição ao arrendatário, exceto na hipótese de saldo positivo remanescente. Ocorrendo a renovação do arrendamento ou o exer-cício de compra, o valor pago a título de VRG poderá ser utilizado para tais efeitos.

Nesse sentido, o STJ reafirmou o entendimento de que: “Nas ações de reintegração de posse motiva-das por inadimplemento de arrendamento mercan-til financeiro, quando o produto da soma do VRG quitado com o valor da venda do bem for maior que o total pactuado como VRG na contratação, será direito do arrendatário receber a diferença, caben-do, porém, se estipulado em contrato, o prévio des-conto de outras despesas ou encargos contratuais (REsp nº 1.099.212)”.

21.2 CONtAbILIZAçÃO dO LeASINg COmO AtIVO INtANgÍVeL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que exijam a conta-bilização, por parte do arrendatário, das ope-rações de arrendamento mercantil (leasing) como “direito de uso” ativo nas demonstrações contábeis, vinculado a um passivo correspon-dente e relacionado ao valor presente dos pagamentos a serem realizados, de maneira a eliminar a atual distinção no tratamento

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Em sua maioria, as arrendadoras são instituições fi-nanceiras e submetem-se ao poder regulamentar do Banco Central (Bacen). Segundo a Resolução Bacen n.º 2.309/1996, o leasing financeiro é a operação de arrendamento mercantil em que as contrapresta-ções e demais pagamentos previstos no contrato de-vidos pela arrendatária sejam normalmente suficien-tes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação (e obtenha um retorno sobre os recursos investidos). O leasing operacional, por sua vez, é a modalidade em que as contraprestações a serem pagas pela ar-rendatária contemplem o custo de arrendamento do bem e os serviços inerentes à sua colocação à dispo-sição da arrendatária, não podendo o valor presente dos pagamentos ultrapassar 90% do “custo do bem”.

Já as arrendatárias são majoritariamente sujeitas à regulamentação da Comissão de Valores Mobliá-rios (CVM), que usa a definição de leasing proferida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Para o CPC 06, arrendamento mercantil financeiro é aquele em que há transferência substancial dos riscos e benefícios inerentes à propriedade de um ativo. O arrendamento mercantil operacional é con-ceituado por exclusão.

Em âmbito nacional, o aprimoramento das regras contábeis vem acontecendo, em parte, devido à ado-ção do International Financial Reporting Standards (IFRS) ou normas internacionais de contabilidade

– editadas pelo Internacional Accounting Standarts Board (IASB) –, e das disposições advindas com a edi-

ção da Lei nº 11.638/2007, que alterou a elaboração e divulgação de demonstrações financeiras, incluiu novos grupos de imobilizado intangível, notadamen-te no que diz respeito aos custos para a aquisição de bens, taxas de depreciação de ativos e amortização.

As discussões sobre as mudanças no modelo de contabilização das operações de leasing afetarão as operações já contratadas. Hoje, o arrendador deve manter em suas demonstrações contábeis o objeto do leasing por um valor residual e também de um valor recebível registrado em função do contrato fir-mado. As principais propostas sugerem dois mode-los distintos para as arrendadoras, performance obli-gation approach e derecognition approach, sendo o critério para utilização de cada modelo a exposição ou não aos riscos e benefícios da operação. No pri-meiro deles, o arrendador continuará reconhecendo o bem arrendado junto com o ativo correspondente ao valor presente das parcelas a receber do contrato. Este método pode sugerir uma dupla contabilização, visto que mantém tanto o bem arrendado como o

“direito a receber” reconhecido no ativo. Já no outro modelo, o bem arrendado é “des-reconhecido” na proporção do contrato em relação à vida útil do bem, além de um reconhecimento no ativo do valor pre-sente das parcelas a receber do contrato.

Recentemente entidades do setor – como institui-ções financeiras, empresas de auditoria, acadêmicos, e normatizadores – do mundo inteiro foram consul-tadas pelo IASB acerca das possíveis mudanças de contabilização do leasing. Estudo recente (MATOS, 2013) identificou que apenas 20% de todas as enti-dades consultadas concordaram com o performance obligation approach, enquanto mais 62% são favorá-veis ao derecognition approach.

A CNF entende que o leasing é um importante instru-mento financeiro para o desenvolvimento econômico do país e quaisquer alterações nas regras procedi-mentais contábeis para tratar dessas operações de-vem buscar a simplificação das demonstrações contá-beis, e evitar dupla contabilização para o mesmo bem.

contábil entre leasing financeiro e operacio-nal. A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que viabilizem o arrendamento mercantil no contexto da con-vergência internacional das demonstrações financeiras, considerando-o como ativo intan-gível (direito de uso de um bem), vinculado ao reconhecimento de um passivo.

capítulo 21: ArreNdAmeNtO merCANtIL (LeASINg)

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247capítulo 22: CArtõeS de CrédItO

O cenário econômico positivo, com ampliação da renda dos trabalhadores e redução dos níveis de pobreza, criou condições para as instituições finan-ceiras e outras empresas oferecerem crédito com menor risco e mais benefícios para o tomador. Entre as modalidades mais acessíveis, dinâmicas e segu-ras, está o cartão de crédito, um importante instru-mento de democratização do acesso ao crédito e de bancarização das camadas de renda mais baixa. Os números evidenciam um aumento da população bancarizada, que usa cada vez mais esse meio de pagamento em substituição ao cheque e ao dinheiro.

A cultura do uso dos cartões de crédito e débito no Brasil vem se desenvolvendo e se aperfeiçoando ao longo dos últimos 20 anos, encontrando-se atual-mente sedimentada com estrutura e características próprias de um mercado determinado, tendo mere-cido recentemente, além de autorregulação do pró-prio setor, a edição da Lei nº 12.865/2013.

O Código de Ética e a Autorregulação da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Servi-ços (Abecs), dentre outros tópicos, zela pelas boas prá-ticas comerciais. O selo de boas práticas criado pelo próprio setor estimula o respeito ao cliente e o bom funcionamento das relações comerciais e de negócios.

O segmento vem apresentando crescimento robusto, tanto no volume financeiro como no número de tran-sações. No Brasil, metade de todas as compras com cartão de crédito são feitas na modalidade “parce-lado sem juros”. O volume de crédito disponível tem crescido a taxas elevadas nos últimos anos. De 2011 para 2012 o volume de faturamento aumentou de R$ 411 bilhões para R$ 479,5 bilhões anuais. Mesmo durante a crise financeira de 2008, a oferta de crédito por meio de cartões não sofreu qualquer redução. Pa-ralelamente ao crescimento desse mercado, aumen-taram as preocupações relacionadas à defesa do con-sumidor e à defesa da concorrência nesse segmento.

22 CArtõeS de CrédItO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a cartões de créditos, importante instrumento de bancarização, e para o aumento do volume de crédito ofertado por essa moda-lidade, assentadas em sólidos fundamentos técnicos e que considerem a estru-tura da indústria de cartões. A CNF sublinha que o Código de Autorregulação dessa indústria é uma poderosa ferramenta de defesa do consumidor e de defe-sa da concorrência no setor.

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O uso de cartões de crédito é incentivado pelo prazo, em geral, de 40 dias dado ao portador para pagar a fatura sem cobrança de encargos. Esse benefício re-duz o custo financeiro dos consumidores, pois per-mite aquisição de bens e serviços nesse período sem incidência de taxa de juros.

O lojista, por sua vez, recebe os recursos geralmente em até trinta dias após a venda e não corre o risco da inadimplência, que é integralmente assumido pelo emissor do plástico.

O segmento de cartões também colabora para o aumento da formalidade na economia, pois desesti-mula a ilegalidade pelo simples fato de que os dados de todas as transações nos estabelecimentos comer-ciais ficam à disposição dos órgãos de fiscalização.

Além disso, o cartão é um moderno instrumento de pagamento aceito em todo o mundo, de alta tecno-logia, que tende a substituir os tradicionais meios de pagamento, principalmente o cheque e a moeda em espécie, o que repercute positivamente em termos de redução de custos. O reflexo disso é sentido no quanto se gasta, não somente os particulares como o Governo, com o custeio da logística dessa moeda e do cheque. Apenas para exemplificar alguns destes custos, é possível elencar os gastos com segurança, impressão, transporte, distribuição e recolhimento da moeda e inadimplência. É menor o custo opera-cional desse meio de pagamento em relação ao che-que e ao papel-moeda, no âmbito do SPB – Sistema de Pagamentos Brasileiro.

As discussões em torno de cartões de crédito estão centradas na diferenciação de preços nas formas de pagamento e na redução dos juros para o consumi-dor que utiliza crédito rotativo. Outras questões de-batidas são a entrada de novas empresas no merca-do, bem como a promoção da educação financeira.

A diversidade de componentes na estrutura da in-dústria de cartões, constituída por emissores, cre-denciadores, bandeiras e processadores, precisa ser

levada em conta para a produção legislativa. Muitas iniciativas legislativas poderiam ser enriquecidas pela observância de princípios técnicos importantes para o desenvolvimento sustentável desse mercado. Ademais, muitas propostas, por desconhecimento da estrutura dessa indústria, associam cartões aos bancos e tratam da matéria ao lado de questões tipi-camente bancárias, como tarifas e spread.

Estudo da Serasa Experian demonstra que as pes-soas que mais solicitam cartões de créditos no país são adultos de baixa renda. Com 16% de participa-ção estão adultos com idade média de 30 anos e renda mensal média de R$ 1.428,78. Em 2012, esse grupo representava 12% do total, com o aumento para 16% em 2013, quando foi registrado um salto da quarta para a segunda posição no ranking dos grupos que mais buscam esse tipo de serviço. Se-gundo a Serasa, a maior demanda por novos car-tões de crédito, 26% do total, continua sendo ocu-pada por adultos de 20 a 30 anos, com baixa renda e empregos que exijam pouca qualificação ou mes-mo informais. A pesquisa classifica como de baixa renda os consumidores que recebem até um salário mínimo (R$ 678). Os números revelaram ainda um crescimento de adesões e participações da classe E, cuja representatividade passou de 6,2%, em 2009, para 16,8% em 2013, num processo crescente a cada ano, salienta a Serasa. O estudo também mos-tra que 78% dos consumidores buscam por crédito ou serviços em mais de uma instituição.

A postura do Banco Central do Brasil em relação à regulamentação do setor de cartões de pagamento está em harmonia com as discussões sobre a maté-ria no âmbito internacional.

No Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS), que entrou em vigor em janeiro de 1995, o setor de cartões de crédito é uma modalidade de serviço fi-nanceiro, como pode ser verificado no anexo sobre serviços financeiros, em seu capítulo 5º, parágrafo 8º. O GATS foi um acordo celebrado no âmbito da Rodada Uruguai, finalizada em 1994, para regula-

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mentar o comércio de serviços em âmbito mundial. Esse acordo conta com a adesão todos os países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), inclusive o Brasil.

Nesse contexto, após a edição da Lei nº 12.865/2013, que dispõe sobre os arranjos de pagamento e as ins-tituições de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), o Conselho Monetário Nacional (CMN) editou duas resoluções, comple-mentadas por quatro circulares do Banco Central (BC), instituindo o marco regulatório inicial que dis-ciplina a autorização e o funcionamento de arranjos e instituições de pagamentos com cartões pré-pagos e de crédito, mais moedas eletrônicas.

De acordo com o Banco central, “trata-se de regu-lação mínima para o setor, sem prejuízo de novas ações regulatórias posteriores”, que permitem o desenvolvimento efetivo de pagamentos. O marco regulatório estabelece regras que permitem ao ci-dadão fazer pagamentos independentemente de instituições financeiras, com redução de custos e maior conveniência, mas a autoridade monetária informa que o crescimento do setor também im-plica riscos a serem mitigados por ações regulares de fiscalização.

O Judiciário brasileiro, por sua vez, também se po-sicionou sobre o tema, perfazendo o entendimento de que as operadoras de cartão de crédito são ins-tituições financeiras como reiteradamente decidi-do pelo Superior Tribunal de Justiça, para o fim de garantir a elas a possibilidade de cobrança de juros sem os limites da legislação de usura. Nesse sentido, foi editada a súmula 283 do STJ, indicando que “as empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros remune-ratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura”.

22.1 ImPOStO SObre SerVIçOS de quALquer NAtureZA e CArtõeS de CrédItO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a cartões de pagamento que propiciem a redução de custos e facilitem o acesso ao crédito, para a continuidade da expansão do setor. Entre esses custos figura o de tributação da intermediação financeira, que inclui o recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) no Muni-cípio da sede das empresas administradoras de cartões. Para a CNF, eventual mudança no recolhimento do ISS para os 5.570 Municípios em que podem ser realizadas operações impli-caria elevado custo operacional que oneraria de sobremaneira empresas e consumidores.

O cartão de crédito/débito é um meio utilizado para facilitar as transações financeiras, nas operações comerciais e de serviços, e também utilizado para saques de dinheiro a vista ou a crédito. A administra-dora serve de intermediária entre o titular do cartão e a empresa, fornecedora de bens e serviços, assu-mindo o risco do crédito perante esta.

O titular do cartão paga para integrar o sistema e ad-quirir o cartão de crédito/débito, desembolsa a anui-dade para a instituição de pagamento e, de posse do cartão, não necessita levar consigo altas somas em moeda e estará preparado para aquisição de produ-tos e serviços com segurança e tranquilidade. Uma das principais vantagens é a possibilidade de liqui-dar compras em faturas posteriores, em média, 30 dias, podendo inclusive ter acesso ao crédito, visto que, na data do vencimento da fatura poderá optar pelo parcelamento da mesma.

As empresas prestadoras de bens e serviços, por sua vez, ao se filiarem às instituições de pagamento cre-

capítulo 22: CArtõeS de CrédItO

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denciadoras, desembolsam a taxa de administração (a chamada taxa de afiliação ou taxa de desconto, bem inferior aos custos com a logística de aceitação do cheque e do dinheiro). Em contrapartida, aufe-rem garantia de recebimento das vendas, eliminan-do risco de inadimplência, reduzindo custos com se-gurança, cobrança e transporte de valores, além de ser beneficiado com a atração de clientes por meio do marketing do cartão.

A previsão da incidência do ISS sobre as operações de cobrança dos valores dos cartões de crédito se encontra nos itens 15.10 e 15.14 da Lista Anexa à Lei Complementar n° 116/2003, que dispõe:

15.10 – Serviços relacionados a cobranças (...) por conta de terceiros ...

15.14 – Fornecimento, emissão, reemissão, renova-ção e manutenção de cartão magnético, cartão de crédito, cartão de débito, cartão salário e congêneres.

A Lei Complementar nº 116/2003 estabelece, em seu artigo 3º, que o serviço é prestado e o imposto é de-vido no local do estabelecimento prestador, conside-rando-se este, pelo artigo 4º, o local onde o contri-buinte desenvolva a atividade de prestar serviços, de modo permanente ou temporário. O próprio artigo 3º excetua, nas hipóteses previstas nos incisos I a XXII, quando o imposto será devido no próprio local da prestação de serviços.

Uma vez que as operações de cartão de crédito não foram enquadradas pelo legislador nas hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003, as atividades com cartões de crédito são desenvolvidas nas sedes das administradoras. Do elenco de hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003, fica evidenciado que a incidência no local da prestação é estabelecida na norma, diante da impossibilidade e da inadmissibi-lidade de tais serviços não serem executados direta-mente no próprio local.

No Congresso Nacional, as discussões estão centra-das na incidência do ISS sobre a atividade de cartão de crédito e o local de sua arrecadação. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), não seria correta a inci-dência de ISS nas operações de cartões de crédito no local da compra do bem ou serviço, o que teria sérias consequências graves para o setor. Para a entidade, a incidência desse tributo faria com que as empresas de cartões de crédito tivessem que se adequar as legislações de todos os municípios bra-sileiros, além de atender as suas particularidades de alíquotas, modelo de emissão de nota fiscal e regis-tro de CNPJ por município. Todas essas medidas po-tencializariam o aumento dos custos de operação das administradoras, encarecendo os serviços para o consumidor final.

As consequências dessa tributação seriam inúmeras. Os custos das administradoras seriam repassados ao consumidor final e desestimulariam o uso dos cartões de crédito. Haveria também o risco de bi ou tri tributação por parte dos municípios sobre as administradoras.

O desestímulo às operações financeiras com cartões de crédito diminui a arrecadação do Estado. Com as operações mais caras, os consumidores voltariam a utilizar outros meios de pagamento, como o dinheiro e o cheque, implicando inadimplência e insegurança. A tributação das operações de cartões de crédito se opõe a política de bancarização e inclusão financeira defendida pelo governo brasileiro.

Essas questões são críticas para a adequada confi-guração do marco legal das operações de cartão de crédito, de forma a propiciar o necessário ambiente de segurança jurídica para o setor, de grande impor-tância para a economia do país. O recolhimento do ISS sobre as operações com cartões de crédito afeta negativamente uma opção importante para a viabi-lização do consumo e acesso ao crédito dos consu-midores brasileiros.

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22.2 FISCALIZAçÃO PeLO bANCO CeNtrAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-tensão da competência legal do Conselho Mo-netário Nacional e do Banco Central à indústria de cartões de crédito para fins de regulação, supervisão e fiscalização.

Não está totalmente clara a competência legal do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Cen-tral para regular a indústria de cartões de crédito. A questão que gera debate no Bacen é se as adminis-tradoras de cartão podem ou não ser consideradas instituições financeiras. Existe um parecer da Autar-quia, emitido em 2008 em resposta à ação ajuizada pelo Ministério Público Federal, que sustenta a tese de que as administradoras de cartões de crédito não podem ser enquadradas como instituições financei-ras, e por isso não estariam sujeitas à fiscalização do Bacen e à regulação do CMN.

A CNF entende que a legislação atual já sujeita o se-tor de cartões de débito e crédito às determinações do Conselho Monetário Nacional e à fiscalização do Banco Central do Brasil. No caso dos emissores (cujas atividades principais se resumem na análise e concessão de crédito aos portadores, na emissão e administração dos cartões, mediante entrega do plástico, ativação, controle de uso e emissão de fa-tura, empréstimo e financiamento), a fiscalização se dá por já serem instituições financeiras. No Brasil, os bancos são os emissores de cartões. Quanto às credenciadoras, observa-se que possuem as ativi-dades de compensação e de liquidação das transa-ções com os cartões de crédito e débito sujeitas à fiscalização do Banco Central do Brasil, em virtude da Lei nº 10.214/2001.

A postura do Banco Central do Brasil em relação à regulamentação do setor de cartões de pagamento

está em harmonia com as discussões sobre a matéria no âmbito internacional.

No Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS), que entrou em vigor em janeiro de 1995, o setor de car-tões de crédito é uma modalidade de serviço financei-ro, como pode ser verificado no anexo sobre serviços financeiros, em seu capítulo 5º, parágrafo 8º. O GATS foi um acordo celebrado no âmbito da Rodada Uru-guai, finalizada em 1994, para regulamentar o comér-cio de serviços em âmbito mundial. Esse acordo conta com a adesão todos os países membros da Organiza-ção Mundial do Comércio (OMC), inclusive o Brasil.

Nesse contexto, o Conselho Monetário Nacional (CMN) editou duas resoluções, complementadas por quatro circulares do Banco Central (BC), instituindo o marco regulatório inicial que disciplina a autorização e o funcionamento de arranjos e instituições de pa-gamentos com cartões pré-pagos e de crédito, mais moedas eletrônicas.

De acordo com o Banco central, “trata-se de regula-ção mínima para o setor, sem prejuízo de novas ações regulatórias posteriores”, que permitem o desenvol-vimento efetivo de pagamentos. O marco regulatório estabelece regras que permitem ao cidadão fazer pa-gamentos independentemente de instituições finan-ceiras, com redução de custos e maior conveniência, mas a autoridade monetária informa que o cresci-mento do setor também implica riscos a serem miti-gados por ações regulares de fiscalização.

O Judiciário brasileiro, por sua vez, também se posi-cionou sobre o tema, perfazendo o entendimento de que as operadoras de cartão de crédito são institui-ções financeiras como reiteradamente decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, para o fim de garantir a elas a possibilidade de cobrança de juros sem os limi-tes da legislação de usura. Nesse sentido, foi editada a súmula 283 do STJ, indicando que “as empresas ad-ministradoras de cartão de crédito são instituições fi-nanceiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura”.

capítulo 22: CArtõeS de CrédItO

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Em 2013, foi sancionada a Lei n° 12.865, que deu poderes ao Bacen para regular, em até 180 dias, os mercados de cartões, pagamentos móveis e contas de pagamento (carteiras digitais). O objetivo princi-pal do Governo é aumentar a inclusão financeira a custos baixos e com segurança, além de regular um mercado que não estava sob supervisão do Bacen.

A regulação será editada em camadas, do mais ge-ral para o particular. A primeira norma foi expedida pelo CMN e Bacen em novembro de 2013. A primei-ra regulamentação, que dá 180 dias para as em-presas se adaptarem, preocupa-se, principalmen-te, em definir regras para o funcionamento dessas organizações e a forma como serão fiscalizadas ou liquidadas pelo Bacen.

Tais instituições precisarão de autorização prévia do Bacen para operar, deverão implantar estrutura de gerenciamento do risco operacional, de liquidez e de crédito, compatível com o seu tamanho, e terão que ter um capital mínimo de R$ 2 milhões ou de 2% do valor médio das transações executadas pela ins-tituição nos últimos 12 meses, o que for maior, para cobrir o risco de suas operações.

22.3 dIFereNCIAçÃO dOS PreçOS em FuNçÃOdO meIO de PAgAmeNtO utILIZAdO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a manutenção da igualdade de preços entre compras à vista, com dinheiro ou cheque, e compras por meio de cartões de crédito, como forma de fortalecer a segurança das relações comerciais, formalizar transações de compra e venda com correspondente recolhimento de tributos e ampliar o uso de cartões, com os cor-respondentes benefícios da bancarização.

Com características próprias e únicas, na forma como foi concebido, o cartão é um moderno instru-mento de pagamento aceito em todo o mundo, de alta tecnologia, que tende a substituir os tradicio-nais meios de pagamento, principalmente o cheque e a moeda em espécie, o que repercute positivamen-te em termos de redução de custos. O reflexo disso é sentido no quanto se gasta, não somente os parti-culares como o Governo, com o custeio da logística dessa moeda e do cheque. Apenas para exemplificar alguns desses custos, é possível elencar os gastos com segurança, impressão, transporte, distribuição e recolhimento da moeda e inadimplência.

A prática comercial de cobrança de preço dife-renciado em razão da forma de pagamento, ao favorecer as compras com dinheiro, desestimula a utilização de cartões pelos consumidores que os possuem. Na direção contrária, observa-se um movimento de substituição paulatina do dinheiro vivo e do cheque pelo cartão. A maior penetração dos cartões de crédito junto à população de baixa renda contribui para esse movimento. Estudo da Serasa Experian demonstra que as pessoas que mais solicitam cartões de créditos no país são adul-tos de baixa renda. Com 16% de participação estão adultos com idade média de 30 anos e renda men-sal média de R$ 1.428,78. De acordo com a Serasa, esse grupo impulsionou o aumento da demanda por cartões de crédito no Brasil em 2013. Em 2012, o grupo representava 12% do total, com o aumento para 16%, foi registrado um salto da quarta para a segunda posição no ranking dos grupos que mais buscam o tipo de serviço. Segundo a Serasa, a maior demanda de novos cartões de crédito, 26% do total, continua sendo ocupada por adultos de 20 a 30 anos, com baixa renda e empregos que exijam pouca qualificação ou mesmo informais. A pesqui-sa classifica como de baixa renda os consumidores que recebem até um salário mínimo (R$ 678). Os números revelaram ainda um crescimento de ade-sões e participações da classe E, cuja representa-tividade passou de 6,2%, em 2009, para 16,8% em 2013, num processo crescente a cada ano, salienta

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a Serasa. O estudo também mostra que 78% dos consumidores buscam por crédito ou serviços em mais de uma instituição. A Lei nº 12.865/2013, que dispõe sobre os arran-jos de pagamento e as instituições de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), estabelece em seu artigo 7º, incisos III e IV os seguintes princípios: (i) “acesso não discriminató-rio aos serviços e às infraestruturas necessários ao funcionamento dos arranjos de pagamento” e (ii)

“atendimento às necessidades dos usuários finais, em especial liberdade de escolha, segurança, prote-ção de seus interesses econômicos, tratamento não discriminatório, privacidade e proteção de dados pessoais, transparência e acesso a informações cla-ras e completas sobre as condições de prestação de serviços” (Art.7, inciso IV).

Reduzir a utilização do cartão de crédito é negar to-dos os benefícios que este proporciona a comercian-tes e a consumidores. Por um lado, os fornecedores, ao se filiarem às credenciadoras, desembolsam a taxa de administração (bem inferior aos custos com a logística de aceitação do cheque ou do dinheiro); por outro, têm ganhos de segurança, seja porque deixam de manter dinheiro vivo em seu estabeleci-mento, seja porque o risco de inadimplência é trans-ferido para o banco emissor do cartão, podendo con-tar também com a redução de custos com cobrança e transportes de valores. Já os consumidores para integrar esse sistema e adquirir o cartão de crédito/débito, desembolsam a anuidade perante a institui-ção de pagamento e, de posse do cartão, não neces-sitam levar consigo altas somas em moeda e estarão preparados para a aquisição de produtos e serviços com segurança e tranquilidade.

Ademais, a opção de pagar com desconto quando a compra for feita com dinheiro pode estimular a in-formalidade e, em alguns casos, a sonegação de im-postos. Todas as operações com cartões são regis-tradas, possibilitando seu controle pelas Fazendas Estaduais e Federal.

Em face do esforço de anos de trabalho na estrutu-ração do mercado de cartões, hoje equilibrado, mo-derno e no qual estão sendo criadas novas tecno-logias de inserção social, como o mobile payments, que possibilita a inclusão financeira, a instituição da prática de diferenciação dos preços em função do instrumento de pagamento escolhido pelo con-sumidor configuraria um verdadeiro retrocesso nas relações de consumo. Além disso, referida prática, muito provavelmente, não se reverteria em benefí-cio algum para o consumidor, correndo-se o risco de majoração dos preços dos produtos e serviços.

22.4 LImItAçÃO dOS jurOS SObre O CrédItO rOtAtIVO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o estabe-lecimento de adequada taxa de juros sobre o crédito rotativo dos cartões, levando em consi-deração o modelo desse negócio no Brasil, que deve incluir, dentre outras variáveis, o risco da operação e o período de carência entre a com-pra e o pagamento da fatura. Para a CNF, o es-tímulo à concorrência no setor, assentada nos princípios da igualdade e da liberdade da ativi-dade econômica, e a adoção do cadastro positi-vo muito contribuem para a redução das taxas de juros sobre operações com cartões de crédito.

É frequente a crítica de que, no Brasil, as taxas de juros que incidem sobre o crédito rotativo são mais elevadas do que as cobradas em outros países. Ocorre que a indústria de cartões de crédito brasileira tem duas características que a diferenciam do resto do mundo. A primeira, é dado ao portador um prazo de, em geral, até 40 dias para pagar a fatura sem cobrança de encargos. Cerca de apenas 5% dos portadores de cartões recorrem ao crédito rotativo; a maciça maioria, ao honrar a fatura integralmente na data do vencimento, não incorre em encargo

capítulo 22: CArtõeS de CrédItO

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algum. A segunda característica é que metade de todas as compras com cartão de crédito são feitas na modalidade “parcelado sem juros”. Não há notícia de país em que compras parceladas no cartão de crédito sejam isentas de quaisquer encargos.

Não é prática dos emissores de cartão estimular o uso do crédito rotativo do cartão, uma vez que, em geral, possuem portfólio com linhas de crédito ao consumo mais adequadas, com melhores condições e que possibilitam a inibição da inadimplência.

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257capítulo 23: PAdrõeS CONtÁbeIS

Consolida-se a tendência de definição de padrões contábeis internacionais associados tanto à formu-lação de políticas macroprudenciais orientadas para a estabilidade do sistema financeiro quanto à com-paração de balanços contábeis de empresas de todo o mundo para balizar decisões de investimento. Para o Brasil, após ter alcançado o grau de investimento, essa tendência é crítica para permitir a inserção di-nâmica da economia nos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais.

23.1 ACOrdO de bASILeIA IIIO Comitê de Supervisão Bancária de Basileia reúne autoridades para estabelecer padrões de conduta, melhorar a qualidade da supervisão bancária e for-talecer a solidez e segurança do sistema bancário internacional. Reúne-se no Banco de Compensações Internacionais, em Basileia, Suíça.

O primeiro conjunto de recomendações do Comitê, ou “Acordo de Basileia” (International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards), de

dez e higidez do sistema financeiro, as peculiari-dades do setor financeiro brasileiro (em particu-lar a contabilização de créditos tributários) e o fato de os bancos brasileiros já se enquadrarem em muitos dos limites determinados pelo Acor-do. A CNF sublinha a importância da competên-cia legislativa residual do Conselho Monetário Nacional na formulação dessas propostas.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a regula-mentação dos novos parâmetros definidos pelo “Acordo de Basileia III” assentadas em critérios rigorosamente técnicos que considerem a soli-

23 PAdrõeS CONtÁbeIS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a regulamentação de medidas macroprudenciais que considerem especi-ficidades do Sistema Financeiro Nacional e para a internalização no Direito bra-sileiro de padrões contábeis internacionais que facilitem o acesso de empresas brasileiras ao mercado financeiro internacional em condições mais vantajosas.

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1988, foi ratificado por mais de cem países e procu-rou reforçar a solidez do sistema bancário mundial e restabelecer a competitividade entre as principais instituições financeiras. Em 2004, para lidar com a crescente complexidade dos produtos financeiros e a capacidade inovadora das instituições financeiras, o “Acordo de Basileia II” definiu três pilares – capi-tal; supervisão e transparência; e disciplina de mer-cado – e 25 princípios básicos sobre contabilidade e supervisão bancária.

Em julho de 2010, o Comitê de Basileia de Supervi-são Bancária anunciou algumas diretrizes do que será o “Acordo de Basileia III”. No comunicado, foi su-blinhada a necessidade de efetiva melhora da qua-lidade, da quantidade e da consistência do capital das instituições financeiras; da redução do viés pró-cíclico da regulação; e da limitação da alavancagem, com fortalecimento da liquidez. O novo Acordo tra-tará do capital das instituições financeiras, de limites mínimos para reservas e para liquidez, de limites de alavancagem e do risco moral que representam as grandes instituições. Porque as medidas terão im-pacto contracionista sobre o crédito e o crescimento econômico, deverão ser implementadas de forma gradual até 2018.

Espera-se que o Comitê proponha medidas para tra-tar dos bancos sistemicamente importantes (too big to fail), que se beneficiam de desigualdade competi-tiva por serem candidatos a recursos oficiais subsi-diados em caso de turbulências graves.

Os bancos brasileiros enquadram-se nos parâme-tros que se discute para o “Acordo de Basileia III”, em especial nos limites de capital e de alavanca-gem. Contudo, as instituições financeiras brasileiras apresentam especificidades tais como índice de ala-vancagem, liquidez e participação de créditos tribu-tários no total de ativos que as distinguem de suas congêneres internacionais. A conclusão do Acordo ensejará novas normas do Banco Central e possivel-mente inspirará propostas de iniciativa parlamentar.

23.2 dedutIbILIdAde ImedIAtA dA PrOVISÃO de CrédItOS duVIdOSOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a simplificação do processo de cobrança e rene-gociação das operações de crédito por meio de sua “desjudicialização”, isto é, por renego-ciação voluntária, mediação e arbitragem, que evitem impacto negativo sobre tributação da renda dos credores. Para a CNF, a Lei nº 9.430/1996, que dispõe sobre a dedutibilidade das perdas com operações de crédito, pode-ria abater como despesa para determinação do Lucro Real e da Base de Cálculo da Contri-buição Social sobre o Lucro Líquido as perdas com os créditos (de acordo com os prazos e os limites fixados por lei) independentemente de qualquer medida de caráter judicial para o re-cebimento desses créditos.

Sob determinadas condições, créditos não honra-dos no prazo acordado são incluídos em provisão que reduzirá o resultado das instituições financeiras e, por consequência, os tributos que estas recolhem sobre esses resultados – a “provisão para devedores duvidosos” (PDD).

Muitas vezes, a renegociação de inadimplência em operações de crédito interessa tanto ao devedor quanto ao credor. Em renegociações dessa nature-za, busca-se o equilíbrio entre, por um lado, a ca-pacidade de pagamento do devedor e, por outro, a rentabilidade desejada pelo credor. Para obter esse equilíbrio, o credor pode considerar a concessão de desconto de seus créditos, levando em conta: as relações comerciais e de negócios com o devedor; o retorno do capital aplicado; os custos envolvidos no processo de cobrança e recuperação; e a possibi-lidade de insolvência ou falência do devedor, entre outros. Havendo alternativa de renegociação, a re-

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cuperação do crédito pela via judicial não é, neces-sariamente, a decisão mais eficiente do ponto de vista empresarial e de negócios.

Ocorre que as instituições financeiras, por razões tri-butárias, raras vezes contam com essa alternativa de renegociação. A dedução das perdas com créditos na apuração do IR e da CSLL, relativas aos valores das operações, às respectivas garantias e ao prazo de inadimplência, está associada à cobrança admi-nistrativa ou judicial, com as condições previstas na Lei nº 9.430/1996, especialmente no seu artigo 9º. As instituições financeiras são obrigadas a recorrer à Justiça para viabilizar a dedutibilidade fiscal de eventual abatimento concedido, mesmo para as si-tuações em que a probabilidade de recebimento do crédito é baixa ou mesmo remota.

A Lei nº 9.430/1996 estabelece que: (i) as receitas e encargos incidentes sobre o crédito vencido e não pago poderão ser excluídos na apuração do IR e da CSLL, desde que haja abertura de processo judicial para o recebimento do crédito (§ 1º e caput do artigo 11); (ii) os descontos concedidos somente podem ser deduzidos na apuração do IR e da CSLL se o acordo for homologado em sentença judicial (§ 3º do artigo 10); e (iii) na ocorrência de desistência da cobrança pela via judicial, antes de decorrido o prazo de cin-co anos do vencimento do crédito, a pessoa jurídica deve adicionar à base de cálculo do IR e da CSLL a perda eventualmente registrada com a operação inadimplida (§ 1º do artigo 10).

A exigência de medidas judiciais de cobrança para dedução da provisão de devedores duvidosos pode não ser de interesse nem dos credores, nem dos de-vedores, nem ainda do Poder Judiciário.

Para os credores, a renegociação voluntária, a me-diação e a arbitragem têm o condão de obter ao menos parcela de créditos inadimplidos que cubra o custo de oportunidade do capital empregado e os custos operacionais envolvidos no empréstimo. Por meio da renegociação, a instituição financeira pode

manter a solvência do devedor e dar continuidade à relação comercial que mantém com este.

Para os devedores, a exigência de medidas judiciais de cobrança aumenta o custo para quem pretende liquidar sua dívida por acordo. Pode, inclusive, resul-tar em eventual insolvência ou mesmo falência do de-vedor. Ademais, a inadimplência e a carga tributária aumentam os custos imputados na margem bancária (spread): juntos, representam aproximadamente me-tade da composição do spread total, o que encarece as operações de crédito para todos os tomadores.

Para o Poder Judiciário, por sua vez, a exigência de medidas judiciais sobrecarrega os tribunais. O Rela-tório “Justiça em Números 2013” aponta que o nú-mero de processos em trâmite no Poder Judiciário brasileiro cresceu 10,6% nos últimos quatro anos e chegou a 92,2 milhões de ações em tramitação em 2012: 64 milhões de processos sobre casos penden-tes e 28,2 milhões de casos novos. O estoque de ca-sos pendentes vem crescendo ano a ano: aumento de 2,6% em 2012 e de 8,9% no quadriênio. Por força da obrigatoriedade imposta pela Lei nº 9.430/1996, o setor financeiro responde por boa parte desse nú-mero crescente de processos.

Visando simplificar o processo de cobrança e rene-gociação das operações de crédito, propõe-se a sua

“desjudicialização”, mediante as seguintes alterações na Lei nº 9.430/1996: (a) que os valores registrados na conta redutora do crédito possam ser baixados defi-nitivamente em contrapartida à conta do credor que registre a operação, a partir do período de apuração em que se completar cinco anos do vencimento do crédito sem que o mesmo tenha sido liquidado pelo devedor; (b) que a pessoa jurídica devedora possa adicionar ao lucro líquido, para determinação do Lu-cro Real e da Base de Cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, os encargos incidentes sobre o débito vencido e não pago que tenham sido dedu-zidos como despesa ou custo, incorridos a partir da data do vencimento; (c) que as instituições financei-ras possam excluir para determinação do Lucro Real

capítulo 23: PAdrõeS CONtÁbeIS

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agenda do setor financeiro 2014260

e da base de cálculo da CSLL o valor dos encargos financeiros incidentes sobre o crédito contabilizado como receita, a partir da data do vencimento, inde-pendentemente de qualquer medida de caráter ju-dicial para recebimento do crédito; (d) que os bens recebidos a título de quitação do débito possam ser escriturados pelo valor do crédito ou pelo valor definido na negociação que tenha determinado sua incorporação ao patrimônio do credor; e (e) que nos casos de renegociação de dívida, o reconhecimento da receita para fins de incidência de imposto sobre a renda da pessoa jurídica e da CSLL ocorra no mo-mento do efetivo recebimento do crédito.

23.3 HArmONIZAçÃO de regrAS CONtÁbeIS COm PAdrõeS INterNACIONAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da Lei nº 11.638/2007, de for-ma a prever a publicação de demonstrações contábeis também pelas sociedades limitadas de grande porte, ou na mídia impressa, ou na internet, em sítios indicados pelos órgãos pú-blicos competentes (tais como as Juntas Co-merciais e a Comissão de Valores Mobiliários), assentadas na clara definição de parâmetros do que sejam “sociedades limitadas de grande porte”, calcados em critérios objetivos tais como faturamento anual ou número de empregados.

A adoção dos padrões internacionais de contabilida-de pelo Brasil foi condição fundamental para o país obter o tão almejado status de grau de investimento.

A Lei nº 11.638/2007, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2008, teve como principal consequência a atualização das regras contábeis brasileiras e a harmonização dessas regras com os pronunciamen-tos internacionais, especialmente os emitidos pelo Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade (International Accounting Standards Board – IASB), por meio dos Padrões Internacionais de Demonstra-ções Financeiras (International Financial Reporting Standards – IFRS).

A convergência das normas contábeis nacionais para o padrão internacional de demonstrações fi-nanceiras possibilita aos investidores estrangeiros, sobretudo os investidores institucionais, avaliar cor-retamente e comparar os balanços das empresas de qualquer parte do mundo. Assim, ao viabilizar essa convergência internacional, a Lei nº 11.638/2007 possibilita o benefício do acesso das empresas brasi-leiras a capitais externos a uma taxa de risco menor e, logo, a um custo também menor.

Além disso, a nova legislação contábil produz maior transparência das demonstrações financeiras em ge-ral, inclusive em relação às chamadas sociedades de grande porte não constituídas sob a forma de socie-dade por ações.

Mesmo com os benefícios advindos da nova legis-lação, melhorias podem ser buscadas. Tramitam no Congresso Nacional propostas que alteram a Lei nº 11.638/2007 no sentido de conferir maior segu-rança jurídica, estabelecendo, de modo explícito, a compulsoriedade da publicação das demonstrações contábeis pelas sociedades limitadas de grande por-te, bem como propiciar que essas publicações sejam feitas sem burocracia pela rede mundial de compu-tadores. (ver Seção 6.15 – Publicação de balanços).

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263capítulo 24: queStõeS INterNACIONAIS

A solidez e a sofisticação do setor financeiro brasilei-ro contribuem para a inserção dinâmica e competi-tiva da economia do Brasil nos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais. Essa inserção promo-ve oportunidades, como a criação de uma rede de negócios regional na América Latina, e esbarra em alguns obstáculos, como a ausência de um acordo contra bitributação com os Estados Unidos – prati-camente o único grande país desenvolvido que não mantém acordo dessa natureza com o Brasil.

24.1 brASIL INVeStImeNtOS e NegóCIOS – INStItutO brAIN

O fortalecimento da rede de negócios da América La-tina e do papel do Brasil na mesma levou à criação da Brasil Investimentos e Negócios (BRAiN) como o veículo para catalisar sua implementação.

A América Latina tem a oportunidade de transfor-mar e aperfeiçoar sua ainda incipiente arquitetura de rede de negócios. A região possui tamanho e po-tencial de crescimento que vêm chamando a aten-ção de todo o mundo, porém os vínculos entre seus polos de negócios locais são muitas vezes interme-diados por polos como os de Nova Iorque e Londres. Este é o momento para a América Latina alavancar seu grande potencial e suas importantes vantagens estratégicas, como seu peso no comércio internacio-nal e suas multilatinas, para criar uma rede mais co-

queStõeS INterNACIONAIS24

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para facilitar a inserção dinâmica e competitiva da economia brasileira nos flu-xos internacionais de bens, serviços e capitais, seja ao fornecerem amparo legal para iniciativas com esse objetivo, seja por removerem obstáculos a ele.

polos regionais e beneficiando toda a região, conforme a visão do Instituto BRAiN.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a formação de uma rede regional de negócios na América Latina, tendo o Brasil como um dos

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agenda do setor financeiro 2014264

nectada entre países, minimizando intermédios ao acesso aos capitais e gerando novas oportunidades de negócios, renda e emprego por meio de vínculos diretos fortalecidos com outras redes regionais.

O Brasil reúne as qualidades necessárias para se tornar também um dos polos desta nova arquite-tura regional. O país tem um papel importante no continente e deve crescer com vigor nesta década, fortalecendo seus vínculos com os países vizinhos e com o mundo. A visão do Instituto BRAiN é consolidar o Brasil e a América Latina como polos regionais de investimentos e negócios com conectividade global que, junto com outros países da região, atue na criação de uma rede regional fortalecida e mais conectada com o mundo.

Um setor financeiro desenvolvido é vital para catali-sar a formação dessa rede, atraindo investidores ex-ternos, trazendo liquidez de capitais e financiando o crescimento de toda a região. A força e a solidez do sistema bancário e do mercado de capitais de alguns dos países latino-americanos servem de ponto de partida nessa caminhada.

A visão de uma rede de negócios com o Brasil como um de seus polos não requer movimentos artificiais de liberalização e exposição imprudentes. Não é preciso ser inconsistente com o perfil dos países da região, com economias sólidas, diversificadas e com crescente projeção internacional. Por exemplo, não se trata de um projeto que requeira total conversibilidade cambial ou vantagens fiscais. A visão é de uma economia com rápida capacidade de recuperação, adaptável e diversificada, com um setor de serviços internacionalizado que suporte a projeção das multilatinas e gere benefícios para os diversos setores da economia e da sociedade da América Latina como um todo.

O BRAiN busca preencher a atual lacuna de coorde-nação entre os representantes dos setores público e privado, tarefa que já é cumprida por entidades equivalentes em outros países.

24.2 PONtO de CONtAtO NACIONAL (PCN)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas institucionais como o Ponto de Contato Nacional (PCN) que contri-buam para a implementação e a divulgação de diretrizes internacionais voltadas para a condu-ta responsável das empresas multinacionais, com implicações sociais, ambientais, de direitos humanos e consumeristas, entre outros.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (OCDE) estabelece diretrizes para em-presas multinacionais que consistem em recomen-dações, apoiadas pelos Governos, para a conduta responsável em suas atividades no mundo inteiro. Entre as recomendações figuram: direitos humanos, emprego, meio ambiente, transparência, combate à corrupção, à solicitação de suborno e à extorsão, interesses do consumidor, ciência e tecnologia, con-corrência e tributação.

As Diretrizes da OCDE para as Empresas Multina-cionais visam a assegurar que as operações dessas empresas estejam em harmonia com as políticas governamentais; fortalecer a base da confiança mú-tua entre as empresas e as sociedades onde ope-ram; ajudar a melhorar o clima do investimento es-trangeiro; e aumentar a contribuição das empresas multinacionais para o desenvolvimento sustentável. As Diretrizes são parte integrante da Declaração da OCDE sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacionais, cujos outros elementos são relacio-nados a tratamento nacional, obrigações conflitan-tes impostas às empresas e incentivos e desincenti-vos ao investimento internacional.

Essas Diretrizes fornecem princípios e padrões vo-luntários para uma conduta empresarial consisten-te com as leis adotadas e os padrões reconhecidos internacionalmente. Os países aderentes às Diretri-zes assumem um compromisso vinculante de im-

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265

plementá-las em conformidade com a decisão do Conselho da OCDE.

Em 27 de junho de 2000, o Brasil se comprometeu a implementar e a divulgar as Diretrizes da OCDE, com o intuito fornecer princípios e padrões voluntários para uma conduta empresarial responsável. O PCN é o forum permanente responsável por disseminar no Brasil essas Diretrizes. No PCN, a CNF tem acompa-nhado as “Alegações de Inobservância das Diretrizes da OCDE” em relação ao setor financeiro. O PCN foi instituído no Brasil pela Portaria do Minis-tro da Fazenda nº 92/2003. O PCN foi concebido para contar com a participação de representantes de vá-rios Ministérios: da Fazenda; das Relações Exteriores; do Planejamento, Orçamento e Gestão; do Trabalho e Emprego; da Justiça; do Meio Ambiente; de Ciência e Tecnologia; do Desenvolvimento, Indústria e Co-mércio Exterior; da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento; além do Banco Central. A Coordenação do PCN fica a cargo da Secretaria de Assuntos Interna-cionais do Ministério da Fazenda (SAIN/MF).

A importância do PCN reside em sua capacidade de articular diferentes atores púbicos e privados para implementação e divulgação de diretrizes interna-cionais que podem se traduzir em políticas públi-cas com potencial de afetar, direta e indiretamente, o setor financeiro. A implementação das Diretrizes da OCDE contribui para a construção da imagem do Brasil no exterior.

24.3 PreVeNçÃO à eVASÃO FISCAL: FOreIgN ACCOuNt tAX COmPLIANCe ACt (FAtCA)

Em 18 de marco de 2010, os Estados Unidos edita-ram o Foreign Accounts Tax Compliance Act (FATCA), uma lei de caráter extraterritorial que pretende ge-rar efeitos em todos os países do mundo. Em vigor desde 1º de janeiro de 2013, seu objetivo é “detectar, deter e desencorajar a evasão fiscal” por norte-ame-ricanos por meio de instituições financeiras e não financeiras fora dos EUA, incluindo aquelas em fun-cionamento no Brasil.

A definição do que é instituição financeira é ampla, engloba: entidades que se dediquem ao investimen-to no mercado de títulos e valores mobiliários, a ati-vidades bancárias em geral, ou à custódia, interme-diação, corretagem e detenção de investimentos em favor de outros, incluindo fundos de investimento, seguradoras, empresas de previdência, de capita-lização e cooperativas bancárias. O FATCA se aplica também às chamadas US persons, isto é, pessoas com nacionalidade norte-americana, nascidos nos EUA ou com pais norte-americanos, pessoas com visto de permanência nos EUA (green card), ou resi-dentes nos EUA, independentemente de serem resi-dentes fiscais ou de terem também nacionalidade em outro país. Quando tais pessoas detiverem mais de 10% de participação direta ou indireta no capital ou lucro de empresas brasileiras, tais empresas se-rão consideradas US persons independentemente de serem constituídas ou residentes fiscais no Brasil.

Após a edição da primeira versão da legislação, pa-íses como Japão, Suíça, Alemanha, Franca, Reino Unido, Itália, Espanha, Israel, Irlanda e Rússia pas-saram a negociar acordos bilaterais com os Estados Unidos que mitigaram as dificuldades operacionais e atenuaram o caráter extraterritorial da lei. De manei-

capítulo 24: queStõeS INterNACIONAIS

ao crime organizado assentadas em acordos internacionais, no entendimento de que tais acordos não violem legislação brasileira, ob-servem os sigilos fiscal e bancário e sejam fir-mados com base em reciprocidade.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a prevenção da evasão fiscal, da lavagem de dinheiro e do financiamento ao terrorismo e

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agenda do setor financeiro 2014266

ra geral, esses acordos previram aditivos a tratados para troca de informações tributárias (Tax Informa-tion Exchange Agreements, ou TIEAs) que evitariam o encaminhamento de informações de instituições financeiras diretamente às autoridades tributárias norte-americanas.

Em 8 de fevereiro de 2012, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido publicaram uma declaração conjunta sobre uma “abordagem intergovernamental para melhorar a conformidade fiscal e a implementação do FATCA”, pela qual seriam tratados os impedimentos legais para o seu cum-primento pelas instituições financeiras estrangeiras instaladas nesses países, simplificada a sua imple-mentação prática e reduzidos os custos dessas insti-tuições. Em 21 de junho de 2012, os Estados Unidos publicaram novas declarações conjuntas, agora com o Japão e com a Suíça, das quais se destaca a indica-ção de que os EUA aceitam dois modelos de acordos bilaterais para fins de FATCA e que poderá vir a firmá

-los com todos os países interessados.

Um novo acordo do Brasil com os EUA, além das cláusulas usuais de tais acordos nos termos do mo-delo da Organização para a Cooperação e Desenvol-vimento Econômico (OCDE) – ao qual o Brasil aderiu em novembro de 2011 –, deveria conter também dis-positivos específicos referentes ao FATCA. Na linha do que vem sendo negociado com alguns países da Europa e o Japão, tal acordo poderia prever que as informações relativas ao FATCA sejam enviadas à Re-ceita Federal do Brasil, que as transmitiria, em regi-me de reciprocidade, à autoridade fiscal americana.

24.4 ACOrdO CONtrA bItrIbutAçÃO eNtre O brASIL e OS eStAdOS uNIdOS

No passado, cooperação tributária e bitributação eram parte de um único pacote negocial. O Congres-so Nacional aprecia acordo que inova ao escalonar esses dois elementos, a começar pela ratificação da troca de informações tributárias. Tentativas ante-riores de assinatura de acordo contra bitributação com os EUA não prosperaram em virtude de diver-gências inconciliáveis quanto à cláusula de crédito tributário (tax sparing).

O acordo contra bitributação mais antigo firmado pelo Brasil foi com o Japão, em 1967. Na década de 70, foram ratificados oito acordos (1972 – Bélgica e França, 1975 – Dinamarca, 1976 – Alemanha, Áus-tria, Espanha e Suécia, 1980 – Luxemburgo), contra quatro na década de 80 (1981 – Noruega, 1982 – Ar-gentina, 1985 – Canadá e 1988 – Equador) e nove na década de 90 (1991 – Coréia, Filipinas, Holanda, Hungria, República Checa e Eslováquia, 1992 – Índia, 1993 – China, 1994 – Itália e 1998 – Finlândia). Na dé-cada passada, foram ratificados seis acordos (2001 – Portugal, 2003 – Chile, 2006 – África do Sul, Israel, México e Ucrânia).

Desde 1967, nas negociações com o Brasil, os EUA têm manifestado interesse por evitar bitributação sobre pessoas físicas e jurídicas; conciliar conceitos de renda tributável e despesa dedutível (price trans-ferring); e trocar informações contra evasão fiscal. A legislação fiscal americana, mesmo na ausência de um acordo contra bitributação, permite o crédi-to fiscal de impostos pagos na fonte no exterior. O Brasil, por sua vez, tem interesse na atração de in-vestimentos, razão pela qual seus acordos contra

bitributação entre o Brasil e os Estados Unidos, balizado pelo rigoroso respeito ao ordenamen-to jurídico brasileiro, em particular no que diz respeito ao resguardo dos sigilos fiscal e ban-cário, e que considere, antes de qualquer coi-sa, a conciliação de posições divergentes sobre cláusula de crédito tributário (tax sparing).

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a via-bilização da assinatura de um acordo contra

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267capítulo 24: queStõeS INterNACIONAIS

bitributação preveem redução do Imposto de Renda Retido na Fonte. Para assegurar que o benefício fis-cal seja repassado ao investidor, os acordos contêm: (a) cláusula de isenção, que obriga o país do inves-tidor a não tributar receitas de lucros e dividendos; e (b) cláusula de crédito tributário (tax sparing), que permite dedução de IRRF brasileiro – com a alíquota anterior à do acordo, mais alta – da tributação sobre juros, royalties, assistência técnica e licenças. Pelo menos 28 acordos contra bitributação assinados pelo Brasil contêm cláusula de tax sparing, que não aparece em nenhum dos sessenta acordos assina-dos pelos Estados Unidos.

Se o Brasil assinar acordo com os EUA sem essa provisão, países que firmaram com o Governo bra-sileiro podem denunciar seus acordos. Tal possibili-dade de renúncia consta, por exemplo, de acordos firmados com alguns dos maiores investidores no Brasil, tais como Holanda (art. 11, 12 e 23 do Decre-to nº 355/1991), Espanha (art. 11 e 12 do Decreto nº 76.976/1976), França (art. XI, XII e XXII do Decreto nº 70.506/1972), Alemanha (art. 11, 12 e 24 do Decreto nº 76.988/1976), Portugal (art. 11, 12 e 23 – Decreto nº 4.012/2001), Canadá (art. XI, XII e XXII do Decreto nº 92.318/1986), Japão (art. 10, 11 e 22 – Decreto nº 61.899/1967), Itália (art. 11, 12 e 23 do Decreto nº 85.985/1981) e Luxemburgo (art. 11, 12 e 24 do De-creto nº 85.051/1980).

A cláusula de tax sparing também consta do acordo do Brasil com a China (artigos 11, 12 e 23 – Decreto nº 762/1993). Já no caso do acordo dos EUA com a China, assinado em 1996, há provisão que denuncia o trata-do automaticamente no caso de a diferença entre alí-quotas superar 5% (ou no caso de os EUA assinarem acordo com cláusula de tax sparing com terceiro país).

De acordo com os dados da Amcham, os EUA têm 65 acordos de eliminação da bitributação, inclusive com os outros três países dos Brics (Rússia, Índia e China), enquanto o Brasil assinou somente 28 acor-dos. As empresas russas, por exemplo, estão isentas da cobrança de 30% do imposto de renda na fon-

te sobre dividendos remetidos dos EUA, o que não ocorre com subsidiárias de empresas brasileiras.

Hoje a economia brasileira é pujante e há intenso mo-vimento de companhias em operação nos EUA, o que exige um tratamento mais equilibrado e que também beneficia os americanos. O acordo para o fim da bi-tributação entre Brasil e EUA certamente ampliaria a internacionalização das empresas brasileiras, por meio de uma maior segurança jurídica às empresas que atuam simultaneamente nos dois países.

24.5 PArLAmeNtO dO merCOSuL (PArLASuL)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento do Parlamento do Mercosul por meio da eleição direta de representantes dos Estados-parte, da ampliação do escopo de decisões daquele colegiado e da efetiva aplica-ção dessas decisões.

O Parlamento do Mercosul foi constituído em dezem-bro de 2006 como órgão representativo dos interes-ses dos cidadãos dos Estados-parte. Suas principais funções são acelerar os procedimentos internos para adoção da legislação mercosulina pelos membros e buscar harmonizar as legislações internas. O órgão não possui poder decisório, mas pode emitir alguns instrumentos normativos, como opiniões, projetos de lei a serem apresentados ao Conselho do Mer-cado Comum, recomendações, relatórios, medidas administrativas internas, e declarações sobre algum assunto de interesse público. Na área financeira os debates tem-se concentrado na discussão sobre me-canismos que possam ajudar o bloco a enfrentar as eventuais crises econômicas.

Durante a crise financeira de 2008, em sessões ordi-nárias realizadas pelo Parlamento, foram levantadas

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agenda do setor financeiro 2014268

questões a respeito de uma melhor regulação finan-ceira na região, além de uma maior integração. Pro-jeto de integração de mercados financeiros, redução de burocracia para trânsito internacional de capitais e enquadramento mais flexível às aplicações dos fundos de pensão são questões que podem vir a ser discutidas no âmbito do Parlasul.

Somente o Paraguai elegeu diretamente seus parla-mentares para o Parlasul. Em todos os demais países – Brasil, Argentina e Uruguai – os parlamentares são indicados pelos respectivos parlamentos nacionais. Dessa forma, esses parlamentares desempenharão uma dupla representação: uma como parlamentar nacional (deputados ou senadores) e outra como parlamentar supranacional do Parlasul.

Tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que tratam dos modelos para as eleições direitas brasilei-ras, que deverão ocorrer em 2014, juntamente com a escolha de deputados estaduais e distritais, deputa-dos federais, senadores, governadores e Presidente da República. Segundo as propostas, serão escolhi-

dos 74 representantes brasileiros – o dobro dos atu-ais 37 representantes, dos quais 10 são senadores e 27 são deputados no exercício de seus mandatos. A expectativa é de que as propostas sejam apreciadas em 2013. Nesse caso, coube às lideranças partidárias indicar os parlamentares da representação.

De acordo com os modelos propostos, os parlamen-tares do Mercosul serão eleitos pelo sistema propor-cional por meio de listas pré-ordenadas pelos parti-dos ou coligações, observados os procedimentos de distribuição de lugares vigentes para as eleições de deputados federais. A circunscrição será o país. O voto seria dado em candidatos nacionais e as campa-nhas teriam financiamento público. Os eleitores vota-riam diretamente nos partidos, sabendo exatamente a ordem dos candidatos que podem ser eleitos para o Parlamento do Mercosul e os escolhidos atenderiam a critérios atinentes à representatividade regional e de gênero. Além disso, fica definido que o cargo de parlamentar do Mercosul é incompatível com a candi-datura ao desempenho de mandato eletivo no Poder Legislativo ou no Poder Executivo do Estado-parte.

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Page 270: Agenda do Setor Financeiro 2014

s

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271Situação daS propoSiçõeS na abertura da Seção legiSlativa de 2014

Tramitavam no Congresso Nacional, em 1º de fevereiro de 2014, 24.890 proposições legislativas apresentadas sob a égide da Constituição Federal de 1988, das quais 3.9731 no Senado Federal e 20.9172 na Câmara dos Deputados.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras acompanha 1.976 proposi-ções legislativas de interesse de suas Associadas e de repercussão para o setor fi-nanceiro. Trata-se de tarefa que exige contínua e criteriosa análise da relevância das propostas, com o intuito de otimização dos recursos à disposição da CNF. Ao promover propostas que visem a ganhos de eficiência e avanços nas relações das instituições financeiras com seus funcionários, seus clientes e o Poder Público, a CNF colabora para que o sistema financeiro exerça o papel que lhe fora reservado pela Constituição e esperado pela sociedade.

O referido acompanhamento é realizado por meio de mecanismo disponível em meio eletrônico a todos os cidadãos: o sistema PUSH, responsável pelo envio fiel de cada novo andamento processual dado às proposições monitoradas. Esse sis-tema é uma das ferramentas a que recorre a CNF para manter-se atualizada sobre o andamento do processo legislativo de matérias que são do interesse do setor fi-nanceiro. Por um lado, oferece informações fidedignas, de fonte oficial. Por outro, limita-se a eventos que já se completaram no tempo e não fornecem indicações sobre os cursos de ação disponíveis. Assim, abaixo se apresenta a visão estática de uma realidade passível de transformação a partir do reinício dos trabalhos no Congresso Nacional, em fevereiro.

Em janeiro de 2014, o sistema PUSH armazenava as informações relativas ao ano de 2013 que serviram de matéria-prima para a exposição que se segue.

1. No Senado Federal, foram contabilizados: Projetos de Lei do Senado (PLS e PLS Complementar), Projetos de Lei da Câmara (PLC), Propostas de Emenda à Constituição (PEC), Projeto de Decreto Legislativo (PDS), Projeto de Resolução do Senado (PRS), Projeto de Fiscalização e Controle (PFS). Não inclui Medidas Provisórias.

2. Na Câmara dos Deputados, fizeram parte do universo da pesquisa: Projetos de Lei Ordinária (PL), Projetos de Lei Complementar (PLP), Propostas de Emenda à Constituição (PEC) e Propostas de Fiscalização e Controle (PFC), Projeto de Decreto Legislativo (PDC), Projeto de Resolução da Câmara (PRC). Não inclui Medidas Provisórias.

SItuAçÃO dAS PrOPOSIçõeS NA AberturA dA SeSSÃO LegISLAtIVA de 2014

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agenda do setor financeiro 2014272

Como critério de avaliação, o levantamento empresta idêntica importância a todos os projetos de lei, razão pela qual adota peso único para todas as proposições. Trata-se, portanto, de uma análise puramente quantitativa da distribuição das iniciativas nas duas Casas legislativas. Essa apresentação quantitativa pode introduzir distorções na avaliação não só da importância relativa dos projetos, mas também da atuação de partidos políticos. Entre os 1.976 projetos monitorados pela CNF encontram-se: propostas de emenda à Constituição, projetos de resolução da Câmara e do Senado, projetos de decreto legislativo, projetos de lei ordinária e de lei complementar.

O aspecto qualitativo não é mencionado neste levantamento dado o grande volu-me de projetos. É examinado com profundidade, contudo, nos boletins informati-vos regulares da Confederação, tais como a “Informação CNF”, a “Consulta CNF”, o

“Observatório CNF” e os vários “Panoramas Legislativos”.

VISÃO gerAL

Entre as 1.976 proposições monitoradas, a CNF acompanha diversos tipos de propo-sições. A distribuição desse montante se desenha da seguinte forma:

No tocante à situação processual desses projetos, sete categorias foram escolhidas por sua representatividade. São elas: (i) aguardando despacho – uma proposição nesta situação espera ser distribuída às comissões temáticas; (ii) aguardando cons-tituição de comissão temporária – conforme determinado regimentalmente; (iii) aguardando designação de relator – ocorrida logo após o recebimento da propo-sição pelo órgão responsável por sua apreciação; (iv) aguardando parecer – apli-cável quando o projeto está sob responsabilidade do relator designado; (v) pronto para pauta – o que indica que o relator já apresentou parecer a ser votado pela res-pectiva comissão ou pelo Plenário; (vi) aguardando deliberação de recurso contra apreciação conclusiva; aguardando inclusão na ordem do dia – o que se reserva às proposições sob análise do Plenário, do Senado ou da Câmara.

propoSiçõeS acompanhadaS no início de 2014

32

33

59

109

338

1.405

PLC

PRS, PRC, PFC, PDS, PDC

PEC

PLP

PLS

PL

Quantidade de Proposições

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273Situação daS propoSiçõeS na abertura da Seção legiSlativa de 2014

Abaixo segue distribuição das proposições monitoradas no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, agrupadas segundo os mesmos critérios que definiram as Seções desta Agenda do Setor Financeiro:

diviSão temática daS propoSiçõeS acompanhadaS em 2014

Padrões Contábeis

Educação Financeira

Arrendamento Mercantil (Leasing)

Questões Internacionais

Outros

Questões Ambientais

Banco Central

Reformas Estruturais

Regulamentação do Artigo 192 da Constituição Federal

Isonomia de Tratamento

Taxa de Juros e Margens Bancárias (Spread)

Cartões de Crédito

Questões Previdenciárias

Questões Sociais

Seguros e Resseguros

Crédito

Questões de Segurança

Crédito Imobiliário

Eficiência Econômica e Competitividade

Questões Bancárias

Questões Tributárias

Eficiência Judiciária e Segurança Jurídica

Direitos do Consumidor

Questões Trabalhistas e Sindicais

38% Aguardando parecer

29% Pronto para a pauta

13% Aguardando designação de relator

Aguardando constituição de comissão temporária 7%

Aguardando deliberação de recurso 1%

Aguardando despacho 0%

Aguardando inclusão na Ordem do Dia 12%

2

3

4

4

6

10

10

12

12

14

26

42

43

45

52

81

105

106

114

136

146

267

153

583

Quantidade de Proposições

Situação daS propoSiçõeS acompanhadaS

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agenda do setor financeiro 2014274

SeNAdO FederAL

Nessa Casa, a CNF acompanha 391 proposições em trâmite ativo. Essas se distri-buem entre onze Comissões Permanentes, quatro Comissões Especiais, Mesa do Senado e o Plenário. Entretanto, mais de 70% se concentram na Comissão de Cons-tituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e na Comissão de Assuntos Sociais (CAS).

38% CCJ

22% CAE

CAS 13%

Comissão Especial do Senado 11%

CMA 5%

CDH 2%

CI 2%

CCT 2%

1% Mesa do Senado

1% CE

1% CRA

Plenário do Senado 2%

Page 275: Agenda do Setor Financeiro 2014

275Situação daS propoSiçõeS na abertura da Seção legiSlativa de 2014

Essas três Comissões apresentam quadros diversos. A Comissão de Constituição, Justi-ça e Cidadania é a que apresenta maior quantidade de projetos aguardando distribui-ção. São 75 proposições que esperam designação de relator, o que representa mais de 50% das proposições de interesse do sistema financeiro em trâmite naquela Comissão.

No caso da Comissão de Assuntos Econômicos, a situação se inverte, pois a maioria dos projetos já foi distribuída e aguarda parecer. São 46 proposições aguardando manifestação, ou seja, 56% do volume acompanhado nesse colegiado. Situação se-melhante pode ser encontrada na Comissão de Assuntos Sociais: a maior parte dos projetos aguarda apresentação de parecer. Também são mais de 50% nessa situação.

Situação na ccJ

Situação na cae

Situação na caS

51% Aguardando designação de relator

51% Aguardando parecer

56% Aguardando parecer

Pronto para a pauta da comissão 12%

Aguardando designação de relator 7%

Aguardando designação de relator 27%

Pronto para a pauta da comissão 37%

Pronto para a pauta da comissão 22%

Aguardando parecer 37%

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agenda do setor financeiro 2014276

CâmArA dOS dePutAdOS

A CNF acompanha 1.585 projetos de lei ativos nessa Casa. Trata-se de volume quatro vezes maior do que aquele verificado no Senado. Tal volume encontra-se disperso, distribuído por mais de 19 Comissões Permanentes, além de Comissões Especiais e em situação de espera por deliberação em Plenário ou constituição de comissão temporária. Entretanto, existe concentração em três Comissões: Comis-são de Constituição e Justiça e de Cidadania, Comissão de Finanças e Tributação e Comissão do Trabalho, Administração e Serviço Público. Nelas encontram-se 45% de todas as proposições em trâmite monitoradas pela CNF. A concentração na CCJC e na CFT deve-se à competência dessas Comissões para apreciarem os requisitos de juridicidade, técnica legislativa, constitucionalidade e adequação financeira e orçamentária, respectivamente, de proposições.

25% CCJC

14% CTASP

16% CFT

Plenário da Câmara 14%

Mesa da Câmara 11%

CSSF 7%

CDEIC 6%

CDC 3%

CCTCI 1%

2% Outros

1% CEC

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277Situação daS propoSiçõeS na abertura da Seção legiSlativa de 2014

Na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, houve um salto de 284 propo-sições acompanhadas no início da sessão legislativa de 2013 para 403 no início deste ano. 41% já receberam parecer e estão prontas para serem votadas no Colegiado.

No que se refere à Comissão de Finanças e Tributação, merece ênfase a alta taxa de projetos com relatores já designados. Apenas 1 dos 254 projetos ainda aguarda designação de relator.

Por fim, a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público emerge como a ter-ceira Comissão na Câmara a concentrar o maior número de propostas acompanhadas pela CNF. Conforme se verifica no gráfico ao lado, é pequena a parcela de projetos cuja relatoria ainda não é conhecida. São menos de 3% das 230 proposições monitoradas.

Situação na ccJc

Situação na cFt

Situação na ctaSp

41% Pronto para a pauta da comissão

71% Aguardando parecer

51% Pronto para a pauta da comissão

Aguardando parecer 34%

Aguardando designação de relator 25%

Pronto para a pauta da comissão 29%

Aguardando parecer 46%

Aguardando designação de relator 0,4%

Aguardando designação de relator 3%

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agenda do setor financeiro 2014278

PrOPOSIçõeS LegISLAtIVAS 2013

Em 2013, foram adicionadas ao sistema de monitoramento da CNF 387 novas pro-posições legislativas (290 na Câmara e 97 no Senado).

Essas novas proposições representam, na Câmara3, 9,4% de todas as propostas apresentadas que afetam o Sistema Financeiro Nacional (3.082 no total). No Sena-do4, novas proposições representam 7,2% dos projetos propostos que interessam direta ou indiretamente ao setor (1.341 no total).

Das novas propostas cadastradas para acompanhamento no ano de 2012, os temas concentram-se, especialmente, nas seguintes áreas de interesse:

3. Na Câmara dos Deputados, fizeram parte do universo da pesquisa: Projetos de Lei Ordinária (PL), Projetos de Lei Complementar (PLP), Propostas de Emenda à Constituição (PEC) e Propostas de Fiscalização e Controle (PFC), Projeto de Decreto Legislativo (PDC), Projeto de Resolução da Câmara (PRC). Não inclui Medidas Provisórias.

4. No Senado Federal, foram contabilizados: Projetos de Lei do Senado (PLS e PLS Complementar), Projetos de Lei da Câmara (PLC), Propostas de Emenda à Constituição (PEC), Projeto de Decreto Legislativo (PDS), Projeto de Resolução do Senado (PRS), Projeto de Fiscalização e Controle (PFS). Não inclui Medidas Provisórias.

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5

3

3

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2Regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal

Seguros e Resseguros

Taxa de Juros e Margens Bancárias (Spread)

Questões Bancárias

Questões Sociais

Eficiência Econômica e Competitividade

Questões Previdenciárias

Crédito Imobiliário

Quantidade de Proposições

Arrendamento Mercantil (Leasing)

Eficiência Judiciária e Segurança Jurídica

Cartões de Crédito

Questões Tributárias

Banco Central

Questões de Segurança

Crédito

Direitos do Consumidor

Questões Trabalhistas e Sindicais

temaS e propoSiçõeS apreSentadaS em 2013

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CONSeLHO de rePreSeNtANteS

PresidenteLuiz Carlos Trabuco CappiVice-PresidenteMarcelo Fidêncio Giufrida

Membros Natos (em ordem alfabética por Associada)

Presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC)Manoel Felix Cintra Neto

Presidente da Associação Brasileira das Entida-des de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP)Octavio de Lazari Junior

Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Leasing (ABEL)Osmar Roncolato Pinho

Presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI)Érico Sodré Quirino Ferreira

Presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA)Denise Pauli Pavarina

Presidente da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos de Valores, Câmbio e Mercadorias (ANCORD)Joaquim da Silva Ferreira

Presidente da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN)Murilo Portugal Filho

Membros EleitosLuiz Carlos Trabuco CappiNey Castro Alves

FICHA téCNICA

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dIretOrIA eXeCutIVA

Diretor PresidenteLuiz Carlos Trabuco Cappi

Vice-PresidenteOswaldo de Assis Filho

Vice-Presidente ExecutivoJosé Ricardo da Costa Aguiar Alves

Diretores Executivos (em ordem alfabética)Antonio Augusto de Almeida Leite (ACREFI)Filipe Ferrez Pontual Machado (ABECIP)José Carlos Halpern Doherty (ANBIMA)Murilo Portugal Filho (FEBRABAN)

ASSeSSOrIA

Gerentes de Relações InstitucionaisDamião Cordeiro de MoraisMarconi Edson Borges MachadoPedro Henrique Pessanha RochaRoberta Jacarandá Moreira

AssessoresAngra Máxima BarbosaEliel Miranda da SilvaGuilherme de França TeixeiraHenrique Souza BorgesIraciara Almeida SousaKelly Dantas da SilvaMariana Sinício de Oliveira SinícioRicardo Magaldi Messetti

APOIO AdmINIStrAtIVO

Gerente AdministrativoSenhorinha Leite Bécio

Apoio AdministrativoAndré Luiz Santana SilvaMarcelo Gomes GuidiSara Maciel Bezerra Diniz

OrgANIZAçÃO e edIçÃO

Henrique Souza Borges

reVISÃO

Assessoria

PrOjetO grÁFICO e dIAgrAmAçÃO

Estúdio Marujo

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Agenda do setor financeiro 2014. ― 1. ed. ― Brasília, DF : Confederação Nacional das Instituições Financeiras, 2014.

ISBN 978-85-64465-04-6

1. Agenda legislativa 2. Instituiçõesfinanceiras 3. Sistema financeiro – Brasil.

14-01080 CDD-338.0981

Índices para catálogo sistemático:1. Agenda legislativa do setor financeiro : Brasil : Economia 338.0981

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