aforismos antigos, provérbios e conselhos para manutenção da saúde na tradição e medicina...

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1 Aforismos antigos, provérbios e conselhos para manutenção da saúde na tradição e medicina hipocrática. Paulo Pedro P. R. Costa / [email protected] - (071) 9925-2498 Palavras Chave: Hipocrates, aforismos, clima, energia vital, emoções, sistemas etnomédicos, Grécia, China Esse trabalho faz parte de um estudo da medicina chinesa através de suas fontes clássicas, o Livro do Imperador Amarelo o considerando como uma narrativa mítica, (um documento bruto ou descrição etnográfica realizada por membros de sua própria cultura, um modelo "feito em casa" nas palavras de Lévi-Strauss), ou melhor, utilizando os recursos da história e antropologia para seu entendimento. Trata-se de um ensaio explorando a possibilidade de comparar suas metáforas e símbolos, em especial a concepção de Chi (Qi - ), nas culturas mais próximas à China no ocidente da época em que foi escrito (200 aC.), o período que os historiadores denominam “antiguidade oriental”. No presente texto, que é a segunda parte do projeto de estudo das concepções de energia vital,vida e saúde em aforismos e antigos provérbios médicos, da tradição oriental e ocidental, nos limitaremos à medicina hipocrática, o grande marco de início da atual medicina cosmopolita, científica e baseada em evidências. Integrando a clássica abordagem da etnomedicina que busca identificar as concepções de “doença”, “saúde”, “tratamento”, em diferentes culturas. Por se tratar de uma análise de aforismos e provérbios que muitas limitam-se à conselhos e recomendações de normas de comportamentos, nos aproximamos do que atualmente se denomina medicina comportamental ou psicologia da saúde para sua interpretação. Segundo Wolpe (1981) embora o terapeuta comportamental moderno aplique deliberadamente os princípios de aprendizagem em suas operações terapêuticas, as prescrições terapêuticas envolvendo o comportamento são provavelmente tão antigas quanto a civilização. Por outro lado sabe-se que é essencial a utilização dos recursos da etno – história para o entendimento de muitos dos aforismos hipocráticos, sem dúvida similares a prescrições comportamentais, e sabe-se também que na medicina comportamental pouco adianta conselhos genéricos, pois os hábitos tem que ser modificados como conquistas individuais, por uma aproximação sucessiva e transformação do comportamento atual.

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Esse trabalho faz parte de um estudo da medicina chinesa através de suas fontes clássicas, o Livro do Imperador Amarelo e nas culturas mais próximas à China no ocidente da época em que foi escrito (200 aC.), o período que os historiadores denominam “antiguidade oriental”. No presente texto, que é a segunda parte do projeto de estudo das concepções de energia vital,vida e saúde explora-se a medicina hipocrática.

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    Aforismos antigos, provrbios e conselhos para manuteno da sade na tradio e medicina hipocrtica. Paulo Pedro P. R. Costa / [email protected] - (071) 9925-2498 Palavras Chave: Hipocrates, aforismos, clima, energia vital, emoes, sistemas etnomdicos, Grcia, China Esse trabalho faz parte de um estudo da medicina chinesa atravs de suas fontes clssicas, o Livro do Imperador Amarelo o considerando como uma narrativa mtica, (um documento bruto ou descrio etnogrfica realizada por membros de sua prpria cultura, um modelo "feito em casa" nas palavras de Lvi-Strauss), ou melhor, utilizando os recursos da histria e antropologia para seu entendimento. Trata-se de um ensaio explorando a possibilidade de comparar suas metforas e smbolos, em especial a concepo de Chi (Qi - ), nas culturas mais prximas China no ocidente da poca em que foi escrito (200 aC.), o perodo que os historiadores denominam antiguidade oriental. No presente texto, que a segunda parte do projeto de estudo das concepes de energia vital,vida e sade em aforismos e antigos provrbios mdicos, da tradio oriental e ocidental, nos limitaremos medicina hipocrtica, o grande marco de incio da atual medicina cosmopolita, cientfica e baseada em evidncias. Integrando a clssica abordagem da etnomedicina que busca identificar as concepes de doena, sade, tratamento, em diferentes culturas. Por se tratar de uma anlise de aforismos e provrbios que muitas limitam-se conselhos e recomendaes de normas de comportamentos, nos aproximamos do que atualmente se denomina medicina comportamental ou psicologia da sade para sua interpretao. Segundo Wolpe (1981) embora o terapeuta comportamental moderno aplique deliberadamente os princpios de aprendizagem em suas operaes teraputicas, as prescries teraputicas envolvendo o comportamento so provavelmente to antigas quanto a civilizao. Por outro lado sabe-se que essencial a utilizao dos recursos da etno histria para o entendimento de muitos dos aforismos hipocrticos, sem dvida similares a prescries comportamentais, e sabe-se tambm que na medicina comportamental pouco adianta conselhos genricos, pois os hbitos tem que ser modificados como conquistas individuais, por uma aproximao sucessiva e transformao do comportamento atual.

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    Quanto as dificuldades de convencimento do paciente para mudanas de comportamento e certeza da prescrio, vale consultar o velho mestre:

    A arte longa e a vida breve. a crise passageira, a experincia perigosa e a deciso difcil. O mdico deve estar preparado no s para saber o que certo, mas tambm para praticar o que certo e convencer os pacientes, atendentes e os outros de que o que ensina o correto.(Aforismos 1/1)

    Hipcrates e Galeno (Mural do sc. XII, Anagni / Itlia) Hipcrates e a energia vital Hippokrts (Ippokrtis) em nascido entre 406 e 460 aC., em Cs, uma das doze ilhas (Dodecaneso) a 4 km da costa da Turquia. Nesta cidade deu continuidade tradio da prtica mdica de sua famlia. Como mdico (asclepiades do gr. Asklepias, nome de Esculpio - o Deus da Medicina). integrou-se a escola mdica de Cs onde registrou uma forma prpria de exercer a medicina, consolidando a tendncia grega da poca de dissociar a clnica mdica das prticas mgico-religiosas dos sculos anteriores, o que lhe deu a fama de pai da medicina moderna. comum entre seus bigrafos a afirmao que viajou por toda sia Menor (Anatlia). H menos incertezas quanto a data e local de seu falecimento, em 370 - 377 a.C. na Tesslia, a antiga Elia (Aeolia; ) situada ao norte da Grcia central. (Lyons & Petrucelli, 1997; Cairus & Ribeiro Jr. 2005)

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    A concepo grega de energia vital apesar de ter permanecido na medicina europia por sculos, constituindo-se como o vitalismo clssico, reafirmada pelas concepes de Samuel Hahnemann (1755-1843), o vitalismo homeoptico, no um conceito fcil de ser compreendido isolado de seu sistema original, envolve as relaes do pneuma (flego), "physis" (natureza) e "dynamis" (atividade, potencialidade) (Luz, 1996; Rebollo, 2006). Tampouco simples a sua comparao a concepo de Chi (Qi - ) da medicina chinesa. As principais contestaes da concepo de energia vital a partir das experincias de Friedrich Whler (1800-1882) de sntese da uria a partir de amnia evidenciando a origem qumica (inorgnica) compostos orgnicos e Louis Pasteur (1822-1895) contestando as teorias de gerao espontnea e revelando os microrganismos, devem ser analisadas no contexto do paradigma cientfico do sculo XIX e ascenso do capitalismo industrial, onde no havia mais lugar para o repouso, dietas, banhos e contato com a natureza encontrada nos templos/clnicas de Asclpio. A utilizao da antropologia mdica por outro lado identifica na prtica da acupuntura e medicina chinesa, advinda do conjunto multi-tnico da sia; na sobrevivncia da homeopatia, a presena das medicinas antigas (especialmente grega ) unificadas "provisoriamente" como sugere Madel Luz por um novo paradigma vitalista. Especialmente quanto a medicina chinesa coligida, como dito, no Livro do Imperador Amarelo, o sinlogo Joseph Needham (1900 -1995) ressalta a semelhana entre este e o corpus hipocraticus que prope uma diviso da matria mdica em funes normais e anormais do corpo humano e mtodos de diagnose, prognose, terapia e regime. Ambos se referem importncia dos alimentos e elementos da natureza. Existindo tambm coincidncias dos perodos clssicos de ambas as civilizaes em torno de 500 aC. Ambos anteriores ao perodo Han quando, na China houve uma sistematizao e divulgao da cultura clssica. Emoes e elementos da natureza Um dos aspectos mais intrigantes da comparao das medicinas grega e chinesa a utilizao mtica (metafrica) de elementos da natureza (gua, fogo, terra, ar, madeira) e a importncia que ambas atribuem s estaes do ano e emoes humanas na relao ou processo sade doena. Para os chineses existe uma estreita relao entre a atividade emocional e os rgos internos, mas no exclusivamente com o crebro. Identificaram que as funes dos rgos e vsceras dependem das funes de aquecimento e de impulso e da nutrio do sangue, como se l no Suwen...o homem tem cinco rgos que metabolizam as cinco energias e que produzem a alegria, a raiva, o pesar, a ansiedade e o medo... e estas emoes, por sua vez, influenciam cada rgo e vscera. (Huihe, Baine, 2012)

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    O corpo humano, segundo os antigos gregos e conforme consta no texto hipocrtico Da natureza do homem ...contm sangue, fleuma, bile amarela e negra; esta a natureza do corpo, atravs da qual adoece e tem sade... Esses quatro humores, regulariam as emoes e mesmo o carter (personalidade) dos indivduos, segundo a predominncia de um ou de outro desses fluidos classificando os homens como colricos, fleumticos, sanguneos e melanclicos respectivamente. (Cairus, 2005; Cords, 2002) A melancolia, mania e a parania foram descritas nestes parmetros de observao hipocrtico. Sua descrio da melancolia (melan, negro; cholis, bile) ainda utilizada ...um quadro clnico que envolve: averso comida, falta de nimo, insnia, irritabilidade e inquietao ...se o medo ou a tristeza duram muito tempo, tal estado prprio da melancolia (Cords, 2002) Atribui-se tambm a medicina hipocrtica e Alcmon de Crotona (regio da Calbria) no sculo V a.C. a identificao do crebro como rgo do pensamento. L-se no texto hipocrtico Da doena sagrada ...o crebro (dentre todos os rgos o que) exerce o maior poder no homem. Pois ele, se acaso est so, o nosso intrprete das ocorrncias oriundas do ar, e o ar lhe proporciona a conscincia... (Cairus, 2005) No se pode dizer, entretanto, que os chineses no conheciam as propriedades e funes do encfalo, diante da qualidade de suas descries das emoes humanas, conhecimento de substncias psicoativas e sobretudo capacidade de interveno sobre a dor e outras funes orgnicas com as tcnicas da acupuntura, como veremos. Por ora nos limitaremos a descrio que a medicina hipocrtica estabeleceu entre as estaes do ano, emoes e sade exatamente porque, a medicina chinesa tambm se estendeu sobre tais relaes, sendo portanto comparveis tal como Needham referiu. clssica a referncia de reconhecimento das funes do encfalo ( enkphalos) no texto hipocrtico Da Doena Sagrada :

    preciso que os homens saibam que nossos prazeres, nossas alegrias, risos e brincadeiras no provm de coisa alguma seno dali (isto , do crebro), assim como os sofrimentos, as aflies, os dissabores e os prantos. E, sobretudo, atravs dele, pensamos, compreendemos, vemos, ouvimos e reconhecemos o que feio e o que belo, o que ruim e o que bom, o que agradvel e o que desagradvel, tanto distinguindo as coisas conforme o costume, quanto sentindo-as conforme o que for conveniente e distinguindo dessa forma os prazeres dos desprazeres; de acordo com a ocasio, as mesmas coisas no nos agradam sempre. tambm atravs dele que enlouquecemos e deliramos, e nos vm os terrores, os medos, alguns durante a noite, outros durante o dia, e as insnias, os erros inoportunos, as preocupaes inconvenientes, a ignorncia do estabelecido, a falta de costume e a inexperincia. (Da Doena sagrada Cairus, 2005 p.76)

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    Observe-se porm que apesar da localizao anatmica similar ao que pensamos hoje, a interpretao sua fisiologia era bem mais semelhante ao mundo das tradies chinesas que nosso. Ambas as tradies tm como agentes patgenos (ou teraputicos): o frio; a umidade; o calor; a secura e seus efeito nos principais rgos associados aos humores, ou seja o sangue, a blis, o fleuma (linfa) e a antrablis (blis negra) respectivamente associados ao corao, fgado, crebro e bao. (Dalgalarrondo, 2008) O movimento ou circulao dos humores (ou do Chi - ) engendram emoes e as funes patolgicas ou normais do corpo humano. L-se no citado texto Da Doena Sagrada:

    A corrupo do crebro devida ao fleuma e bile. Conhecers as duas causas desta maneira: os que enlouquecem devido ao fleuma so pacficos e no gritam, nem bramem. Mas os que enlouquecem devido bile costumam berrar, e tornam-se furiosos e inquietos, sempre fazendo algo inoportuno. Se enlouquecem continuamente, essas so suas motivaes; mas, se os terrores e medos se lhes afiguram, isso se deve ao deslocamento do crebro, que se desloca quando aquecido, e ele se aquece devido bile, quando se projeta sobre o crebro atravs das veias sangneas procedentes do corpo. ... ...o crebro, quando este no est saudvel, porm torna-se mais quente do que sua natureza, ou mais frio, ou mais mido, ou mais seco, ou sofre, contra a natureza, outra afeco que lhe inabitual. Enlouquecemos devido umidade; pois, quando se est mais mido do que seu natural, foroso que se mova, e, movendo-se, nem permanea estvel a viso, nem a audio. Mas ora ouve-se e v-se uma coisa, ora outra, e a lngua expressa tais coisas como so ouvidas e vistas em cada circunstncia. Durante o tempo em que o crebro ficar estvel, o homem estar consciente. ...(Da Doena sagrada Cairus, 2005 p.76)

    Aforismos Aforismo corresponde a palavra grega aphorisms (pelo lat. aphorismu) a uma regra, um princpio explicativo ou sentena moral breve e conceituosa segundo dicionrios (Aurlio; Caldas Aulete). Com este tome Aforismos integra o corpus hippocraticum que conjunto de cerca de sessenta seis tratados, acrescidos de um juramento que deveria ser prestado pelo mdico da escola de Cs. Observe-se em seguida alguns aforismos hipocrticos selecionados pelo tema estaes do ano e emoes numa pretensa "homogeneizao" para comparao de grandezas heterogneas tais como as medicinas, semticas, chinesas e gregas:

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    Estaes do ano As mudanas e estao engendram doenas, e nas estaes grandes variaes de frio e calor seguem a regra da mudana de estaes. (3/1) Uns temperamentos so mais bem dispostos ao vero, outros ao inverno (3/2) Algumas doenas e idades tem bem ou mal adaptao para tal ou qual estao, tal ou qual lugar/ regio, tal ou qual estilo de vida (3/3) Durante as estaes quando o calor e o frio se apresentam no mesmo dia alternadamente, ocorrem doenas do tipo de outono (3/4) Quando o vero parecido com a primavera as febres se acompanham de muitos suores (3/6) O outono nocivo aos afetados pela tsica (consumption) (3/10) Na constituio do ano, o tempo seco mais saudvel que mido e com menor mortalidade. (3/15) Todas as molstias podem ocorrer em todas as estaes; porm algumas aumentam a freqncia e gravidade em alguma das estaes. (3/19) No vero preferencialmente purgar por cima; no inverno por baixo. (4/4) As pessoas magras, que vomitam com facilidade devem ser purgadas por cima, porm com mais cuidado no inverno. (4/5) As pessoas que tem dificuldade de vomitar, e bem nutridas, devem ser purgadas por baixo, porm com mais cuidado no vero. (4/6) O frio inimigo dos ossos, dos dentes, dos nervos, do crebro, da medula espinhal, porm o calor lhes benfico. (5/18) As coisas frias , tais como a neve e o gelo so inimigas do peito, provocam a tosse, as hemorragias e os catarros. (5/24)

    Purgantes citados: Helboro (Helleborus cerca de 20 espcies da famlia das Ranunculaceaes)

    Dor, sinais, sintomas e emoes. Pessoas que tem uma afeco dolorosa em qualquer parte do corpo, e esto em grande parte insensveis a essa dor, esto mentalmente perturbadas. (2/6) Os velhos tem menos queixas que os jovens; mas as doenas crnicas que os acompanham geralmente nunca os deixam (2/39)

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    Nem a fartura nem a abstinncia, nem qualquer outra coisa boa quando mais que o natural (2/4) A dificuldade de dormir em qualquer doena um sintoma perigoso. Caso contrrio se dorme facilmente no h perigo (2/1) Quando o sono pe fim a um delrio um bom sintoma (2/2) Tanto o sono como a sonolncia em excesso so ruins (2/3) O cansao espontneo indica doena (2/5) De duas dores ocorrendo ao mesmo tempo em diferentes partes do corpo, a mais forte enfraquece a outra (2/46) No movimento do corpo, quando se comea a sentir dor, o repouso afasta o sofrimento (2/48) Na parte do corpo que aparece o suor, a est a molstia (4/38) Na parte do corpo onde se manifesta o calor ou o frio, a est a molstia (4/39) Se o medo ou a tristeza duram muito tempo, tal estado prprio da melancolia (6/23) Os tremores de febre ardente, passam aps um delrio (6/23) Os eunucos no ficam calvos nem gotosos (6/28) Um rapaz no sofre de gota antes do incio de ser sexualmente ativo. (6/30) Os delrios de motivos alegres so mais benignos que os de motivos srios (6/53) O estupor ou delrio aps traumatismo craniano so maus sinais (7/14) Uma convulso ou delrio com insnia mau sintoma (7/18) Quando h letargia, o tremor mau (7/18a) O choro que verte o doente com motivo bom sinal, o choro sem motivo mau sinal. (7/83) PROVRBIOS E AFORISMOS RELATIVOS NUTRIO / ALIMENTAO Faz do alimento teu medicamento e do medicamento teu alimento. Pessoas com sade logo perdem suas foras quando tomam medicamentos purgativos ou comem alimentos ruins (2/36)

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    O corpo em crescimento tem um calor inato; requer portanto mais alimento para no enfraquecer. No velho calor menos intenso, portanto requer menos combustvel tal qual uma chama que seria extinta com muito. Do mesmo modo a febre em pessoas velhas no to grave quanto nas jovens exatamente porque seus corpos so mais frios. (1/14) Uma dieta mida conveniente em todas as doenas febris, particularmente em crianas e em pessoas acostumadas a viver em tal regime (1/16) Tudo que precisa ser evacuado deve ser evacuado pela vias adequadas (1/21) As evacuaes devem ser julgadas no s pela sua quantidade e sim se elas so como devem ser e como foram criadas. Quando necessrio levar a evacuao ao " deliquium animi" cuidando que o paciente o suporte (1/23) No incio das doenas agudas use medicamentos purgativos espaadamente e com a devida cautela (1/24) Se a matria for purgada como deve ser purgada, a evacuao benfica e facilmente tolerada caso contrrio se tem dificuldades (1/25) Os que tem o ventre relaxado quando moos, ficam constipados a medida que envelhecem; e ao contrrio, quando constipados em moos, o ventre se relaxa a medida que envelhecem. (2/20) Na maioria das vezes as pessoas com pouca sade que tem inicialmente um bom apetite, mas no melhoram, acabam perdendo o apetite; enquanto que aquelas que no incio tem bem pouco apetite e depois o adquirem ficam boas. (2/32) Para concluir Nesse artigo, alguns conceitos so necessrios para entender o mundo de alegorias ao qual fomos remetidos como um determinado espao entre mito (aqui considerado uma narrativa) e tcnica enquanto duas dimenses do processo cognitivo. Sendo o primeiro relacionado ao processo criativo (intuio) e metforas explicativas e o segundo acumulao da experincia emprica. A interpretao que poder resultar da comparao de aforismos ou narrativas de diferentes culturas reunidos pelo nexo de pertencer, ao que pode ser descrito como, sistemas etnomdicos, ainda est por ser realizada. No momento o objetivo compreender o aforismo enquanto uma descrio precisa dos sinais ou sintomas do processo sade-doena e/ou uma prescrio anloga aos conselhos dos psiclogos da sade ou medicina comportamental. Posteriormente sero analisados as narrativas ou prescries comportamentais da medicina chinesa equivalentes aos conjuntos de textos

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    hipocrticos e/ou derivados de representaes da tica/ moral judaico crist (analisadas anteriormente como provrbios relacionados a medicina semtica, atribudos ao Rei Salomo). Numa primeira anlise pode-se afirmar que esta ltima (talvez pela fonte de pesquisa utilizada de natureza crist - os referidos provrbios), ao contrrio dos aforismos hipocrticos, enfatizam a relao com emoes e conduta, pouco ou nada referindo-se ao clima e estaes do ano, apesar da clssica referncia ao tempo e periodicidade cclica da vida no Eclesiastes. A medicina chinesa propem um equilbrio entre os sentimentos emoes e estaes do ano, como veremos na terceira parte deste ensaio. A meta o entendimento do enigmtico Livro do Imperador Amarelo conhecido atualmente como Nei Jing () atribudo a Huang Di () escrito por um grupo de mdicos do Perodo dos Reinos Combatentes 480-221 a.C. ou no sc. III a.C. na antiga China sob dinastia dos Han () enquanto o fundamento da acupuntura e medicina tradicional chinesa.

    Bibliografia Cairus, Henrique F.; Ribeiro Jr. Wilson A. Textos hipocrticos, o doente, o mdico e a doena. RJ FioCruz, 2005 Cords, Tki Athanssios. Depresso: da bile negra aos neurotransmissores: uma introduo histrica. SP, Lemos Editorial, 2002 Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre, Artmed, 2008 Hutchins, Robert M.; Adler, Mortimer J. (Eds.) Hippocrates writings, in Hippocrates Galen. Great books of the Western world. Encyclopaedia Britannica, INC. USA, Harvad Press, 1952 Hipocrates. Aforismos, antologia. (traduo Moraes, Jos D.) SP, Martin Claret, 2003 Huihe, yin; Baine, zhang. Teoria bsica da medicina tradicional chinesa. (traduo Dina Kaufman). SP, Aheneu, 2012 Lvi-Strauss, C. Raa e Histria; Descontinuidades culturais e o desenvolvimento econmico, in Antropologia estrutural dois, RJ, Tempo Brasileiro, 1993 Luz, Madel T. Estudo comparativo das medicinas ocidental contempornea, homeoptica, tradicional chinesa e ayurvdica em programas pblicos de sade. RJ, UERJ, IMS, 1996 Luz, Madel T. Natural, Racional, Social ; Razo Mdica e Racionalidade Cientfica Moderna, Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1988

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    Lyons A. S.;Petrucelli, J. Histria da medicina. SP, Manole, 1997 Needham, Joseph; Gwei-Djen, Lu. Celestial lancets a history and rationale of acupuncture and moxa. USA, Cambridge University Press, 1980 Posadas, J. A medicina natural na Grcia clssica, Ascpio, a concepo de medicina dos gregos, as enfermidades e o socialismo. SP, Ed. Cincia Cultura e Poltica, 1983 Rebollo, Regina A. O legado hipocrtico e sua fortuna no perodo greco-romano: de Cs a Galeno. Sci. stud., So Paulo , v. 4, n. 1, p. 45-81, Mar. 2006. http://www.scielo.br/pdf/ss/v4n1/v4n1a02.pdf Ronan, Colin A. Histria ilustrada da cincia da Universidade de Cambridge (4 V) vol I: Das origens Grcia; vol II: Oriente, Roma e idade mdia. RJ, Zahar, 1987 Svoboda, R; Lade, A. Tao e Dharma, medicina chinesa e ayurveda. SP, Pensamento, 1998 Wolfgang Mieder. DE PROVERBIO. Electronic Journal of International Proverb Studies VOLUME 1 - Number 1 1995. URL: http://info.utas.edu.au/docs/flonta/ Wolpe, Joseph. Prtica da terapia comportamental. SP, Brasiliense, 1981 __________________________ Proposio do artigo do qual esse texto a segunda parte O sistema etnomdico chins, uma estratgia de aproximao do modo de ver oriental a partir das medicinas antigas grega e semtica. O entendimento da medicina tradicional chinesa (MTC) tambm requer a avaliao de sua insero no conjunto asitico (grego - asitico) das Medicinas Antigas, que formam e formaram a nossa concepo ocidental de "Oriente". Analisando mximas, provrbios e aforismos mdicos semitas (hebraicos) e gregos antigos, explora-se as possveis conexes e semelhanas entre estes e as concepes mdicas da China antiga, expressas no Livro do Imperador Amarelo, ou pelo menos a forma como podem ser e/ou foram absorvidos pelo Ocidente cristo. Explora-se tambm, enquanto uma possibilidade de comparao j esboada pelo sinlogo Joseph Needham (1900-1995), a hiptese de que a medicina chinesa foi consolidada na forma escrita a partir da Dinastia Han (206 a.C. at 220 d.C.) e que possui influncia ou influenciou a medicina grega, analisada aqui basicamente a partir dos aforismos hipocrticos e provrbios mdicos. Essa estratgia pretende tornar seus conceitos mais acessveis aos ocidentais de hoje em especial no paradigma da energia vital e influncia da conduta tica e emoes sobre a sade. Disponvel em http://medicinacomportamental.blogspot.com.br/ atualizao / abril 2015