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ADOELSCÊNCIA NORMAL - A. ABERASTURY/ M. KNOBEL Introdução (Knobel) – Ana Freud diz que é muito difícil assinalar o limite entre o normal e o patológico na adolescência e considera toda a comoção deste período como normal, assinala que seria anormal a presença de um equilíbrio estável durante esta fase. Sendo assim, a adolescência, mais do que uma etapa estabilizada, É PROCESSO E DESENVOLVIMENTO. O adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas. Entidade semipatológica denominada por Knobel de ‘SÍNDROME NORMAL DA ADOLESCÊNCIA”, perturbadora para o adulto, mas necessária para o adolescente que neste processo vai estabelecer sua identidade. Para isso, precisa enfrentar o mundo dos adultos, desprender-se do seu mundo infantil, no qual vivia cômoda e prazerosamente. O adolescente precisa realizar três lutos: A- Pelo corpo infantil perdido, no qual sente-se impotente frente a transformações que não pode evitar B- Pelo papel e identidade infantis, que o obriga a uma renúncia da dependência e aceitação de responsabilidades. C- Pelos pais infantis, os quais tenta reter na sua personalidade, procurando o refúgio e proteção que eles significam. Situação que se complica, pela atitude dos pais que precisam aceitar o próprio envelhecer e o fatos de que os filhos não são mais crianças. Une-se a estes lutos o luto pela bissexualidade infantil, também perdida. Esta síndrome, produto da própria situação evolutiva surge, da interação do indivíduo com seu meio. A patologia é sempre expressão do conflito do indivíduo com a realidade. Mas não podemos 1

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Page 1: ADOELSCÊNCIA NORMAL

ADOELSCÊNCIA NORMAL - A. ABERASTURY/ M. KNOBEL

Introdução (Knobel) – Ana Freud diz que é muito difícil assinalar o limite entre o normal e o patológico na adolescência e considera toda a comoção deste período como normal, assinala que seria anormal a presença de um equilíbrio estável durante esta fase.

Sendo assim, a adolescência, mais do que uma etapa estabilizada, É PROCESSO E DESENVOLVIMENTO.

O adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas. Entidade semipatológica denominada por Knobel de ‘SÍNDROME NORMAL DA ADOLESCÊNCIA”, perturbadora para o adulto, mas necessária para o adolescente que neste processo vai estabelecer sua identidade.

Para isso, precisa enfrentar o mundo dos adultos, desprender-se do seu mundo infantil, no qual vivia cômoda e prazerosamente.

O adolescente precisa realizar três lutos: A- Pelo corpo infantil perdido, no qual sente-se impotente

frente a transformações que não pode evitar B- Pelo papel e identidade infantis, que o obriga a uma

renúncia da dependência e aceitação de responsabilidades. C- Pelos pais infantis, os quais tenta reter na sua

personalidade, procurando o refúgio e proteção que eles significam. Situação que se complica, pela atitude dos pais que precisam aceitar o próprio envelhecer e o fatos de que os filhos não são mais crianças.

Une-se a estes lutos o luto pela bissexualidade infantil, também perdida.

Esta síndrome, produto da própria situação evolutiva surge, da interação do indivíduo com seu meio.

A patologia é sempre expressão do conflito do indivíduo com a realidade. Mas não podemos condicionar toda a realidade biopsicológica deste processo evolutivo às circunstancias exteriores.

A necessidade de elaborar os lutos obriga o adolescente a recorrer normalmente a manejos psicopáticos de atuação, que identificam sua conduta (EXPRESSÃO ATRAVES DA AÇÃO).

CAP. I - O ADOLESCCENTE E A LIBERDADE - A. ABERASTURY

Entrar no mundo adulto desejado e temido – significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança.

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As mudanças psicológicas, relacionadas com as mudanças corporais, levam a uma nova relação com os pais e o mundo.

Mover-se-á entre o impulso ao desprendimento e a defesa que impõe o temor à perda do conhecido.

É um período de contradições, confuso, ambivalente, doloroso, caracterizado por conflitos com o meio familiar e social. Este quadro é frequentemente confundido com crises e estados patológicos.

Todas estas mudanças corporais incontroláveis assim como as exigências do mundo externo são vividos pelo adolescente como invasão

.Levando-o a reter, como defesa muitas das conquistas infantis, mesmo que exista o desejo de alcançar um novo status e refugiar-se em seu mundo interno para relacionar-se com seu passado e, a partir daí, enfrentar o futuro.

Perder a identidade de criança implica na busca de uma nova, que irá se construindo cs e inconscientemente.

Não quer ser como determinados adultos, mas escolhe outros como ideais.

A perda ao fazer o luto pelo corpo é duplo: Mudança do corpo e o aparecimento da menstruação, na menina e do sêmen no menino, que lhes impõe a determinação sexual e do papel sexual, na união com o parceiro e na procriação.

Quando o adolescente aceita a flutuação simultânea entre seus aspectos infantis e adultos é que começa a surgir uma nova identidade..

As mudanças corporais desencadeiam a perda da identidade infantil.

O adolescente apresenta-se como vários personagens, principalmente no meio social, que pode nos dar versões totalmente diversas sobre seu comportamento, maturidade, afetividade, inclusive, diferenças, num mesmo dia.

As flutuações de identidade aparecem também em mudanças bruscas nas vestimentas mais chamativas principalmente na menina.

Os pais também padecem deste longo processo, apresentando dificuldade em compreender e aceitar as mudanças, sendo assim muitas vezes, apresenta uma excessiva liberdade que o adolescente sente como abandono.

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Esta atitude desencadeia no adolescente medo de perder sua dependência infantil se assumir a independência total quando ainda essa dependência é necessária.

Quando o comportamento dos pais implica uma incompreensão frente às flutuações extremamente polares entre dependência x independência , refúgio na fantasia x ânsia de crescimento, conquistas adultos x refúgio em conquistas infantis, dificulta-se o trabalho de luto, onde são necessários permanentes ensaios e provas de perda e recuperação de ambas as idades: infantil-adulto.

Por isso, o adolescente é a combinação instável de vários corpos e identidades.

Não pode ainda renunciar a aspectos de si mesmo e não pode utilizar e sintetizar o que vai adquirindo, nesta dificuldade de adquirir uma identidade coerente reside o principal obstáculo para resolver sua identidade sexual.

Primeiramente esta identidade adulta leva-o a sentir-se dolorosamente separado do meio familiar e as mudanças corporais obrigam-no a desprender-se do corpo infantil.

O desprendimento definitivo da infância, provoca uma verdadeira revolução no meio familiar e social criando um problema de gerações nem sempre bem resolvido.

Os pais também vivem os lutos pelos filhos. Pelo corpo do filho pequeno, pela sua identidade infantil e pela sua relação de dependência .

Serão julgados por seus filhos, e a rebeldia e o enfrentamento são mais dolorosos se os pais não tem consciência dos seus problemas frente ao adolescente.

O crescimento do filho implica em aceitar o próprio envelhecer; deverá abandonar a imagem idealizada que o filho lhe atribuiu; não funcionará mais como ídolo ou líder, em troca terá que aceitar uma relação cheia de ambivalências e críticas.

Ao mesmo tempo as conquistas dos filhos obrigam-no a enfrentar suas conquistas e derrotas.

Nesta prestação de contas, o filho é a testemunha mais implacável do realizado e do frustrado.

Só quando pode identificar-se com a força criativa do filho, poderá compreendê-lo e recuperar dentro de si a sua própria adolescência.

Até hoje, o estudo da adolescência centralizou-se somente no adolescente. Este enfoque será sempre incompleto quando não se levar em conta o outro

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lado do problema: a ambivalência e a resistência dos pais em aceitar o processo de crescimento.

Desprezo do adolescente frente ao adulto é, em parte uma defesa contra a depressão que lhe impõe o desprendimento das partes infantis, mas também um juízo de valor.

A desidealização das figuras parentais afunda o jovem no mais profundo abandono.

Esta dor é pouco percebida pelos pais, que se fecham numa atitude de ressentimento e reforço de autoridade.

A vontade biológica vai impondo uma mudança e criança e pais precisam aceitar esta realidade de que o corpo infantil esta se perdendo para sempre.

A problemática do adolescente começa com mudanças corporais, definição do seu papel na procriação e segue com mudanças psicológicas.

Os pais costumam usar a dependência econômica como poder sobre o filho. Os adultos defendem seus valores e os adolescentes defendem os seus e despreza o dos adultos.

A dor que lhe causa abandonar o seu mundo e a consciência de que vão se produzindo mais modificações incontroláveis dentro de si, levam-no a realizar reformas exteriores que lhe garantam a satisfação das necessidades na nova situação que se encontra.

Usa da intelectualização para superar a incapacidade de ação. Procura a solução teórica de todos os problemas do mundo: amor, liberdade, educação, paternidade, religião.....

Soluciona uma crise intensa, procurando refúgio no mundo interno, com o aumento da onipotência, narcisismo e sensação de prescindir do externo.

Sua hostilidade frente o adulto se manifesta na sua desconfiança; na idéia de não ser compreendido, da sua rejeição da realidade, situações que podem ou não ser reforçadas pela realidade.

O dialogo com o jovem não pode iniciar-se neste período , deve ser algo que vem acontecendo ao longo da vida.

SÃO TRÊS AS EXIGÊNCIAS BÁSICAS DE LIBERDADE QUE APRESENTA O ADOLESCENTE: A LIBERDADE NAS SAÍDAS E HORÁRIOS;A LIBERDADE DE DEFENDER UMA IDEOLOGIA E A LIBERDADE DE VIVER UM AMOR E UM TRABALHO.

Quase todos já sabem que liberdade sexual não é promiscuidade, porém sentem necessidades de fazer experiências que nem sempre são totais, mas que precisam viver.

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Para fazê-las tem que sentir a aprovação dos pais , evitando assim a culpa.

Esta aprovação não deve vir junto com a cobrança de saber sobre o que acontece.

Exigir informação é tão patológico quanto proibir. Escutar é o caminho para entender o jovem. Controlar demasiadamente, tempo e horário é tentar

controlar seu crescimento e desprendimento. Os pais precisam saber que na adolescência precoce os

adolescentes passam por um período de profunda dependência e precisam deles mais do que precisaram quando bebês.

Pode ser seguida da necessidade de independência e que a posição útil dos pais é de espectadores ativos e suas decisões devem ser baseadas nas necessidades dos filhos e não em seu humor.

Dois caminhos: dar liberdade sem limites = abandono e liberdade com limites, que impõe cuidados, cautela, observação, contato afetivo permanente, diálogo, para seguir passo a passo a evolução e necessidade do filho é amor.

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