administração pública

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  Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas  Inovação na Administração Pública  Armandina Sofia Ribeiro Martins Mestrado em Administração Pública Trabalho da disciplina Sistemas de Administração Pública Comparada Prof. Doutor Tomás de Aquino Guimarães  ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa [Abril, 2015]

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Este trabalho fala de inovação na Administração Pública.

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  • Departamento de Cincia Poltica e Polticas Pblicas

    Inovao na Administrao Pblica

    Armandina Sofia Ribeiro Martins

    Mestrado em Administrao Pblica

    Trabalho da disciplina Sistemas de Administrao Pblica Comparada

    Prof. Doutor Toms de Aquino Guimares

    ISCTE-Instituto Universitrio de Lisboa

    [Abril, 2015]

  • ndice

    1 INTRODUO .................................................................................................................................. 1

    2 Inovao .......................................................................................................................................... 2

    3 Tipos de Inovao ............................................................................................................................ 3

    4 Inovao no setor pblico ............................................................................................................... 5

    4.1 O papel do poltico / polticas na inovao ............................................................................. 7

    4.2 Diferena/semelhana setor pblico setor privado ................................................................ 8

    4.3 Fatores que potenciam Inovao no setor pblico ............................................................... 11

    4.4 Tipos de Inovao no setor pblico ....................................................................................... 12

    4.5 Restries inovao ............................................................................................................ 13

    5 CONCLUSO .................................................................................................................................. 15

    BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 16

  • 1

    1 INTRODUO

    A inovao o que distingue um lder dos demais.

    (Steve Jobs)

    O presente trabalho insere-se no mbito da disciplina de Sistemas de Administrao Pblica

    Comparada inserida no Mestrado de Administrao Pblica e incide sobre o papel e

    relevncia da inovao no setor pblico, assim como o seu acolhimento neste.

    Esta reviso bibliogrfica encontra-se estruturada em trs eixos: a aceo de inovao, a

    exposio sobre alguns tipos de inovao e a inovao no setor pblico, onde se destrina: a

    influncia e papel dos polticos, servidores pblicos e cidados, quais as principais diferenas

    entre inovao no setor pblico e no setor privado e qual a herana deste no setor pblico;

    que fatores potenciam a inovao e quais as suas restries.

  • 2

    2 INOVAO

    Uma inovao consiste na implementao de um produto novo ou significativamente

    melhorado (bem ou servio), ou processo, um novo mtodo de marketing, ou um novo mtodo

    organizacional nas prticas de negcios, organizao do local de trabalho ou nas relaes

    externas. (OECD, 2005: 45)

    Para existir uma inovao, necessrio que a sua implementao j tenha ocorrido, este

    um fator intrnseco inovao, a sua implementao. (OECD, 2005: 46)

    A definio de inovao pode no contemplar apenas um tipo de inovao, e consistir na

    implementao de um ou mais tipos de inovao, por exemplo, inovaes de produto e de

    processo. A inovao pode consistir tambm na implementao de uma nica mudana

    relevante, ou no conjunto de pequenas mudanas implementadas gradualmente que no seu

    todo representam uma alterao significativa. (OECD, 2005: 47)

    Um dos requisitos para que se possa intitular uma mudana de inovao, reside no facto

    de o produto, processo, mtodo de marketing ou mtodo organizacional ser novo (ou

    substancialmente melhorado) para a organizao, o que inclui produtos, processos e mtodos

    que as organizaes so as primeiras a desenvolver e tambm aqueles que foram adotados

    de outras empresas ou organizaes. (OECD, 2005: 45)

    De acordo com Mulgan e Albury, a inovao no apenas uma ideia nova, mas sim uma

    prtica nova, e aqui reside a diferena entre inveno e inovao (Mulgan e Albury, 2003 apud

    Hartley 2005, p. 27). O conceito de inovao varivel, alguns autores consideram que esta

    deve ser radical, ou incremental, em pequena escala, grande escala, mas em todos subsiste

    uma ideia consensual, a sua implementao, a sua aplicabilidade prtica.

    Muita teoria da inovao deriva da conceo e desenvolvimento de novos produtos, em que

    o reconhecimento de inovao consensual, como por exemplo na tecnologia, mesmo se as

    consequncias, resultados e o seu impacto no so primeiramente conhecidos. Em

    contraditrio, as inovaes na governana e servios so menos claras, pois aqui, de modo

    geral, inovao no consiste num produto, em algo fsico, mas sim numa modificao na

    relao entre os prestadores de servios e seus beneficirios. Para que estas mudanas

    ocorram nos servios foi necessria, tal como para os produtos, uma tomada de deciso sobre

    processos, impactos e resultados. (Hartley, 2005: 27)

  • 3

    3 TIPOS DE INOVAO

    Segundo a OCDE (2005: 47) existem vrios tipos de inovaes, das quais se destacam:

    Inovaes de produtos;

    Inovaes de processo;

    Inovaes de marketing;

    Inovaes organizacionais.

    Inovao de Produto

    Este tipo de inovao representa a introduo de um bem ou servio novo ou claramente

    aperfeioado no que concerne s suas caractersticas ou fins previstos. Podem constituir

    melhorias significativas nos componentes e materiais, softwares integrados, especificaes

    tcnicas, simplicidade de uso ou outras caractersticas funcionais do produto. De relevar que

    o termo "produto" abrange ambos, bens e servios. (OECD, 2005: 48)

    Inovao de Processo

    A inovao de processo consiste na implementao de um mtodo de produo ou

    distribuio novo ou com melhorias significativas, o que inclui alteraes significativas nas

    tcnicas, equipamento e / ou software. Uma inovao de processo pode encerrar o objetivo

    de diminuio de custos de produo ou de entrega, de modo a elevar a qualidade, produzir

    ou entregar produtos, bens ou servios novos ou com significativas melhorias. (OECD, 2005:

    49)

    Inovao de marketing

    Este tipo de inovao consiste na implementao de um novo modo de marketing com

    mudanas expressivas na conceo do produto ou embalagem, na colocao de produtos ou

    na promoo de produtos. (OECD, 2005: 49-50)

    Inovao organizacional

    Uma inovao organizacional a implementao de um novo mtodo organizacional nos

    comportamentos de negcios da empresa, na organizao do local de trabalho ou nas

    relaes externas. O objetivo da implementao de inovaes organizacionais pode ser o

    aumento da performance de uma organizao, diminuio de custos, melhorar a satisfao e

  • 4

    motivao dos colaboradores, e consequentemente a produtividade do trabalho. (OECD,

    2005: 49-50)

    Uma inovao organizacional distingue-se de outras mudanas organizacionais pela

    implementao de um mtodo de organizao que no tenha sido usado anteriormente na

    organizao, consequncia de decises estratgicas. Novos mtodos de organizao de

    procedimentos para a realizao do trabalho, incluem, por exemplo, a implementao de

    novas formas de melhoramento na aprendizagem e partilha de Know-How dentro da

    organizao. (OECD, 2005: 49-50)

  • 5

    4 INOVAO NO SETOR PBLICO

    De acordo com Bennington e Hartley (Hartley, 2001), existem trs paradigmas de governana

    e gesto pblica que concorrem entre si, em que cada um representa uma conceo prpria

    do mundo, de qual o papel do Estado na sociedade e a sua forma de atuao sobre esta.

    Estes trs paradigmas de governana consistem na Administrao Weberiana ou tradicional,

    New Public Management e o paradigma mais recente com base em novos padres de

    governana e de prestao de servios a Network Governance. (Hartley, 2005: 29)

    O provimento de servios pblicos no perodo ps-guerra e at meados dos anos 80, foi

    amplamente baseado numa abordagem da administrao pblica de carter legislativo,

    burocrtico e assente em regras e procedimentos rgidos. A proviso de servios de bem-

    estar e servios regulamentados emanam do Estado, a partir de representantes eleitos pelos

    cidados, o que faz com que a classe politica possua um papel central na inovao, a proviso

    destes servios necessita de reunir apoio e consenso para o emancipar e aprovao dessas

    inovaes na legislao. (Hartley, 2005: 29)

    Muitas consideraes se tem tecido acerca da inovao no setor pblico se relacionar

    implicitamente com melhoria, mas no deve ser tido como vinculativo. necessrio aprender

    com as inovaes que falharam e com aquelas que foram bem-sucedidas, os fracacssos

    podem auxiliar a compreenso do processo de inovao, os seus impedimentos e

    facilitadores, ao invs de assumir que a inovao conduz inexoravelmente melhoria.

    necessrio que os gestores, decisores polticos e investigadores do setor pblico

    compreendam e reconheam o contexto pblico no qual se encontram inseridos, para que

    melhor compreendam o sucesso ou a sua ausncia nas Inovaes implementadas neste

    setor. (Hartley, 2005: 32)

    O modelo clssico de inovao para o servio pblico, como concebido pelos decisores

    polticos e implementado pelos gestores pblicos um caso em estudo, mas constatou-se

    que no a nica estratgia, nem mesmo a melhor estratgia. Todas as organizaes

    necessitam de inovar, pois o mundo global dinmico, mutvel e complexo, torna-se

    necessrio portanto compreender mais sobre como fomentar e apoiar a inovao, e de que

    modo garantir a sua sustentabilidade e implementao. Cada vez mais, considera-se que a

    inovao tanto um processo bottom-up e processo sideways-in, como um processo de top-

    down.

    As inovaes 'bottom-up' so mais frequentes no setor pblico do que na realidade

    admitido pela retrica, os indivduos que iniciam e conduzem estas inovaes atuam como

  • 6

    lderes informais, no entanto, polticos e altos servidores pblicos podem criar climas

    organizacionais que iro apoiar ou sufocar essas inovaes vindas de baixo. (Borins, 2002

    apud Hartley et.al 2005, p. 32)

    Refira-se ainda que inovao atravs de redes de profissionais tambm uma importante

    forma de inovao, particularmente no que concerne difuso da inovao, que muitas vezes

    implica adaptao local, e no s a adoo da inovao. A difuso da inovao de extrema

    relevncia para os servios pblicos. Ainda existe um longo caminho a percorrer sobre como

    a difuso da Inovao se procede e ocorre, como e porque as inovaes so adaptados a

    diferentes contextos e culturas. (Hartley, 2005: 32-33)

    As organizaes no possuem o mesmo comportamento face inovao, algumas

    organizaes so mais recetivas inovao do que outras organizaes. Denotam-se

    algumas evidncias que sustentam a hiptese de que as organizaes que implementam

    grandes inovaes com xito so mais abertas, recetivas mudana com estruturas e

    culturas necessrias para apoiar, e gerar mais inovao. (Hartley, 2005: 33)

    A avaliao de desempenho tm as suas razes entrosadas com o New Public

    Management, em que um dos principais focos consiste na avaliao, medio de

    desempenho e resultados das organizaes pblicas, com a otimizao de custos sempre

    presente. (Junior et.al, 2013: 262)

    De acordo com Ferlie e cols., proposto que a Nova Administrao Pblica se configura

    em quatro modelos de gesto pblica: impulso para a eficincia, downsizing e

    descentralizao, em busca da excelncia, e orientao para o servio pblico. (Ferlie e cols.,

    1996 apud Junior et.al 2013, p. 263)

    Denhardt e Denhardt (1993), propem um modelo incremental com capacidade para a

    passagem da Administrao Weberiana e das perspetivas da New Public Management, o

    Novo Servio Pblico.

    A adoo de inovaes no setor pblico sempre se caracterizou por alguma resistncia, e

    tem-se vindo a verificar que apesar dos benefcios concedidos, o abraar de inovaes por

    organizaes pblicas tendencialmente reduzido e fragmentado. (Fagerberg, 2005 apud

    Junior et.al 2013, p. 265)

    Num estudo dos autores, Pedro Junior, Toms de Aquino Guimares e Joo Bilhim, foram

    analisadas 28 organizaes pblicas (Brasileiras e Portuguesas) que so objeto de avaliao

    de desempenho nos seus pases. Todas as organizaes pblicas brasileiras que

    participaram no estudo possuam um elevado nvel de desempenho, de acordo com o Modelo

  • 7

    de Excelncia em Gesto Pblica (MEGP), assim como as organizaes pblicas

    portuguesas tinham sido avaliadas com desempenho excelente no SIADAP - Sistema

    integrado de gesto e avaliao do desempenho, ou vencedoras do Prmio Inovao no setor

    pblico Deloitte. (Junior et.al, 2013: 266)

    Este estudo que teve o intuito de identificar fatores de orientao para inovao em

    organizaes pblicas brasileiras e portuguesas, com desempenho destacado e que utilizam

    algum modelo de avaliao da gesto pressups que organizaes com avaliao de

    desempenho e de resultados, so geralmente organizaes com abertura, capacidade e

    tendncia para fomentar inovao. (Junior et.al, 2013: 259-260)

    Esta pesquisa consiste num trabalho de grande contributo pois, concebe um mtodo de

    avaliao da orientao para inovao, utilizando tcnicas qualitativas e quantitativas. (Junior

    et.al, 2013: 274)

    4.1 O PAPEL DO POLTICO / POLTICAS NA INOVAO

    O papel dos decisores polticos na forma como se aborda a inovao bastante relevante,

    estes so responsveis pela criao de legislao que ir suportar a mudana em toda a

    escala, enquanto a Administrao Pblica e os servidores pblicos so responsveis pelo

    trabalho detalhado em que consiste a sua implementao. No que concerne aos cidados,

    no sobeja grande espao para a sua atuao, pois o domnio da inovao, encontra-se

    tomado pelos decisores polticos e servidores pblicos (domnio profissional), no

    remanescendo muito espao para cidados terem um papel sobre a inovao no fornecimento

    de servios pblicos. (Hartley, 2005: 30)

    O New Public Management possuiu uma abordagem diferente para a inovao, com base

    numa srie de assunes de economia neoliberal e numa forma particular da teoria da

    administrao. As inovaes com origem neste paradigma identificam-se por uma abordagem

    disruptiva em relao existente no que se refere principalmente a formas e processos

    organizacionais como elementos inovadores, em que se denota uma administrao orientada

    por objetivos e resultados, e o cidado como 'cliente'. (Hartley, 2005: 30)

    Mas medida que se iniciam os movimentos para a Governana em rede, o papel do

    Estado altera-se e assume cada vez mais o papel de orientar a ao inerente aos sistemas

    sociais ao invs de controlar somente atravs da hierarquia e/ou dos mecanismos de

    mercado. A inovao e Network Governance desempenham um papel revitalizante na

    liderana dos decisores polticos na traduo de novas ideias para novas formas de ao, e

  • 8

    sempre com o seguinte pano de fundo: procurar sempre alcanar um maior valor para o

    servio pblico. Enquanto os cidados, os usurios so vistos como tendo uma palavra a

    dizer, como tendo um papel cada vez mais relevante como coprodutores de servios e

    inovao. (Hartley, 2005: 30)

    A poltica pode ser utilizada de forma construtiva para a coordenao de elementos

    horizontais distributivos da cincia, tecnologia, e das funes relacionadas com a inovao

    dos governos. Coordenao significa que as componentes do sistema funcionam melhor se

    trabalharem em conjunto de forma mais eficaz, de forma mais suave ou mais harmoniosa do

    que se no houver coordenao. Uma integrao mais forte de polticas, implica muitas vezes

    esforos conjuntos de vrios ministrios e de outras agncias estatais e no-estatais, o que

    faz da coordenao e da governana em geral, uma tarefa cada vez mais difcil de

    desempenhar. (Halvorsen et.al, 2005: 12)

    4.2 DIFERENA/SEMELHANA SETOR PBLICO SETOR PRIVADO

    Vrios autores identificam no setor pblico e no setor privado, as seguintes inovaes

    transversais:

    Inovao de Produto - novos produtos;

    Inovao em Servios - consubstanciados em novas formas de prestar servios aos clientes;

    Inovao de Processo - novas formas de desenho dos processos organizacionais;

    Inovao no Posicionamento, novos contextos ou utilizadores;

    Inovao Estratgica - novos objetivos ou desgnios da organizao;

    Inovao na Governana - novas formas de envolvimento dos cidados e das instituies

    democrticas;

    Inovao Retrica nova forma de comunicao / linguagem e novos conceitos. (Hartley,

    2005: 28)

    Na realidade uma inovao pode conter em si mesma, mais do que um tipo de inovao,

    como por exemplo a Taxa de Gesto de Resduos, esta inovao caracterizada por um novo

    servio, bem como comunicada uma mensagem sociedade, um novo processo. (Hartley,

    2005: 28)

    No setor privado, os funcionrios e gestores so a origem de inovao, dentro da

    organizao, e nas suas relaes externas. J no setor pblico, h que considerar tambm o

    papel dos decisores polticos no processo de inovao. (Hartley, 2005: 29)

  • 9

    Existem vrias diferenas na inovao entre os setores pblico e privado, mas existem

    algumas que sobressaem e que so de maior relevncia. No setor privado, o sucesso da

    inovao maioritariamente visto como uma virtude em si mesma, como uma forma de

    garantir competitividade em novos mercados ou reanimar mercados j existentes onde j se

    atuava. No entanto no setor pblico, a inovao justificvel apenas quando aumenta o valor

    pblico na qualidade, eficincia ou adequao a um propsito de governao ou de servios.

    necessrio que se clarifique, que para o setor pblico, inovao e melhoria so

    conceitualmente distintos, mas isto nem sempre se verifica e existem organizaes pblicas

    que se veem foradas a apresentar melhorias e comportamentos inovadores, mesmo se tal

    no for justificvel ou necessrio, encarando essas supostas melhorias apenas como um pr-

    forma. (Hartley, 2005: 30)

    por isso til enumerar as possveis relaes entre inovao e melhoria, que se

    apresentam na figura seguinte. Esta anlise baseou-se em organizaes, mas igualmente

    passvel de aplicao s reas de servio, unidades de negcios ou parcerias. (Hartley, 2005:

    33)

    Figura 1 Inovao e melhoria (Hartley, 2005: 31)

    Analisando a Figura 1, verifica-se que na rea 1 no ocorrem melhorias nem inovao; o

    que pode ocorrer num ambiente altamente estvel, em que no se denota a necessidade de

    inovar, pois existe um bom ajuste entre ambiente e processos organizacionais, sistemas e

  • 10

    necessidades das partes interessadas; ou por oposio, no existe melhoria nem inovao

    porque a organizao pode estar inerte ou no possuir a capacidade sequer de reconhecer a

    necessidade de inovar ou melhorar, ou de atender a novas necessidades e circunstncias.

    Na zona 2, verifica-se que existe melhoria, mas sem inovao. Esta organizao pode

    encontrar-se focada em pequenas mudanas incrementais, a fim de alcanar uma melhoria,

    mas essas mudanas no constituem de forma individual ou em conjunto uma inovao.

    (Hartley, 2005: 31)

    Na rea 3 a organizao alcana inovao, mas no se verificam melhorias resultantes,

    podendo at mesmo ocorrer uma degenerao do desempenho da organizao. De seguida

    enunciam-se vrias situaes que se enquadram neste padro, inovao sem melhoria:

    - A inovao nem sempre conduz ao sucesso, no entanto alguma retrica do setor

    pblico pressupe que a inovao acarreta como consequncia obrigatria, melhoria,

    que nem sempre se verifica, melhoria no uma consequncia lgica de inovao.

    - Pode ocorrer inovao com base numa proliferao de escolhas, mas sem melhoria

    no contedo do servio, conforme seria necessrio para suprir as necessidades dos

    usurios do servio ou de outras partes interessadas.

    - Outro motivo, pelo qual pode verificar-se inovao sem melhoria, prende-se com

    situaes em que se verifica um processo de aprendizagem organizacional, que no

    acarreta melhorias imediatas, mas contribui para a capacidade de inovao da

    organizao no futuro.

    A zona 4 representa o compromisso desejvel entre inovao e melhoria, em que a

    organizao se envolve no processo de inovao e melhoria, com melhorias significantes em

    produtos e resultados, onde existem desafios constantes para almejar ir alm da melhoria e

    satisfazer um conjunto de indicadores de desempenho, para garantir que as melhorias so

    sustentadas e inseridas num contexto de Inovao. (Hartley, 2005: 31)

    O setor privado compreendeu desde cedo a significncia da inovao, enquanto que o setor

    pblico despertou tardiamente para esta, somente depois de algumas correntes tericas

    emergirem que a inovao ganhou relevncia no contexto pblico. (Junior et.al, 2013: 260)

    Os servios pblicos prestados aos cidados, devem ir de encontro s necessidades dos

    cidados, e h que considerar que problemas, conflitos societais, so mutveis num mundo

    global em permanente mudana, e dada a escassez de recursos, necessrio procurar novas

    solues/inovaes mais eficientes, eficazes e com resultados de qualidade, e

    consentaneamente o no detrimento dos servios pblicos prestados.

  • 11

    4.3 FATORES QUE POTENCIAM INOVAO NO SETOR PBLICO

    A inovao no setor pblico pode germinar atravs de vrios fatores. A aquisio de

    tecnologia pode ser uma inovao introduzida no fornecimento de servios pblicos. Apesar

    de apenas uma parte dos contratos pblicos envolver novas tecnologias, consiste num dos

    principais contribuintes para a introduo de inovaes no setor pblico, se uma organizao

    pblica comea a utilizar um produto que anteriormente no utilizava, isso considerado uma

    inovao na perspetiva interna da organizao, mesmo que o produto ou servio j esteja

    introduzido no mercado. A aquisio de tecnologia de extrema relevncia para o setor

    pblico, porque permite a introduo de melhores tecnologias na produo de servios e bens

    pblicos. (Halvorsen et.al, 2005: 3)

    O desenvolvimento de tecnologia, tambm pode ser considerado como fonte de inovao

    no setor pblico, que pelas suas caractersticas, fornece sociedade servios que uma

    soluo de mercado no produz em quantidade suficiente nem nas condies necessrias

    populao. Existem vrios servios pblicos que envolvem desafios tecnolgicos, em que as

    solues no podem ser simplesmente importados do setor privado, pois este no possui a

    necessidade de as criar, pelo tipo de servios envolvido. (Halvorsen et.al, 2005: 4)

    As reformas burocrticas e organizacionais consubstanciam-se tambm em fatores

    indutores de inovao, que podem abarcar inovaes administrativas e organizacionais,

    inovaes conceituais e inovaes de interao do sistema. (Halvorsen et.al, 2005: 4)

    As novas polticas constituem autnticos triggers de inovao no seio do setor pblico,

    pois tem na sua aceo, introduzir algo totalmente diferente com impactos profundos em

    ambos os setores pblico e privado. Apesar das novas polticas do sc. XXI no serem to

    inovadoras e disruptivas como as do sc. XX, mas ainda assim continuam a fomentar a

    inovao nos servios pblicos. (Halvorsen et.al, 2005: 4-5)

    As inovaes propagam-se no setor pblico por diversos fatores, como fatores top-down ou

    o impulsionar da inovao por presso externa, ou at mesmo circunstncias internas, que

    criam a necessidade de uma inovao.

    possvel identificar vrios impulsos para a inovao: polticas e objetivos polticos, opinio

    popular, acordos internacionais, leis, regulamentos e normas, impulsos tecnolgicos e

    avanos cientficos, assim como outros desenvolvimentos sociais. A inovao no setor pblico

    pode decorrer tambm de catstrofes naturais, guerra ou a ameaa de guerra, situaes de

  • 12

    escassez de matrias-primas cruciais para o funcionamento/desenvolvimento da sociedade.

    (Halvorsen et.al, 2005: 6-7)

    Como fatores atrativos para a implementao de inovao no setor pblico designam-se os seguintes:

    - Necessidades e predilees do usurio (os indicadores demonstram que a inovao

    no setor pblico surge muitas vezes por reao s necessidades e preferncias do

    usurio, e pode ocorrer de baixo para cima, atravs da interao com os cidados no

    nvel de servio, ou ento, de cima para baixo, atravs do canal democrtico).

    - Frustrao com o atual status quo, a manifestao de frustrao por parte dos

    cidados e servidores pblicos com o atual estado das coisas, com o nvel de servios

    existente, pode conduzir a um clamor pblico, em que os rgos de comunicao

    social atuem neste mbito como um estmulo para que os decisores polticos ajam

    sobre o problema, o que pode vir a promover uma inovao de modo a resolver a

    problemtica.

    - Lobbies, cidados e organizaes do setor privado podem decidir dar seguimento

    insatisfao em relao aos interesses instalados.

    - Interdependncias tecnolgicas, muitas vezes o inovador necessita de impulsos

    complementares, de forma a dar um boost inovao, particularmente se outros

    agentes esto a implementar inovaes semelhantes ou at mesmo formas bastante

    diferentes de abordar os mesmos problemas, nestas circunstncias o crdito para a

    inovao pode no ser atribudo ao original inovador. (Halvorsen et.al, 2005: 8)

    4.4 TIPOS DE INOVAO NO SETOR PBLICO

    A inovao no setor pblico pode ser dividido em vrios tipos:

    Um novo servio ou melhoria do servio (unidades de cuidados continuados na sade)

    Inovao no processo (uma mudana na produo de um servio ou produto)

    Inovao administrativa (o uso de um novo instrumento de poltica como a Taxa de

    Gesto de Resduos)

    Inovao do sistema (um novo sistema ou uma mudana fundamental de um sistema

    j existente, por exemplo, a criao de novas organizaes ou novos padres de

    cooperao e interao)

    Inovao conceptual (a mudana na perspetiva de atores, essas mudanas so

    acompanhadas pelo uso de novos conceitos, como por exemplo: Loja do Cidado)

  • 13

    Mudana radical de racionalidade (o que significa que a viso de mundo ou a matriz

    mental dos colaboradores de uma organizao est em mutao) (Halvorsen et.al,

    2005: 5)

    4.5 RESTRIES INOVAO

    Ainda subsistem muitas estruturas organizacionais do setor pblico descritas como

    "burocrticas", o setor pblico frequentemente considerado lento, rgido e demasiado

    hierrquico na sua organizao. Todas estas caractersticas fazem com que seja entendido

    como pouco eficiente, de grandes dimenses e muito oneroso. Em situaes em que a

    realidade corresponde ao descrito, e os problemas se refletem ao nvel dos servios prestados

    ao cidado, possvel que o problema principal seja a estrutura da organizao. Nestas

    circunstncias a inovao administrativa ser a melhor soluo a aplicar, pois pode criar

    melhores estruturas para absorver a aprendizagem poltica e inovao tcnica. (Halvorsen

    et.al, 2005: 9)

    A estrutura hierrquica presente no setor pblico baseia-se no princpio democrtico, de

    que a administrao pblica governada por um Parlamento e um Governo, constitudos

    atravs de eleies democrticas. No entanto a viso sobre a melhor forma de organizar o

    setor pblico pode ser distinta consoante o partido que se encontra no poder, e tais

    perspetivas polticas das estruturas organizacionais podem ser representativas da escolha

    dos eleitores, mas que num novo ciclo poltico podem mudar. Por isso, no existe um, mas

    sim vrios pontos de vista sobre a forma de organizar o setor pblico. (Halvorsen et.al, 2005:

    9) O que hoje considerado o melhor modelo para o setor pblico, amanh pode no o ser,

    em funo da vontade democrtica dos cidados. Conquanto o que se constata na realidade

    que os cidados/eleitores e os meios de comunicao preocupam-se efetivamente com a

    capacidade do setor pblico prestar servios, como prometido, mais do que propriamente com

    a organizao de instituies do setor pblico. O que significa que o alcanar do melhor

    modelo organizativo para o setor pblico concerne principalmente aos decisores polticos e

    servidores pblicos.

    Mas este no um processo ou escolha fcil, os responsveis pelo delinear de polticas

    pblicas e decisores polticos no possuem a informao perfeita sobre os temas em questo.

    Por outro lado, os objetivos so conflituantes e difcil escolher as melhores solues para

    todas as partes interessadas. As decises finais resultam de negociaes, de cedncias e de

  • 14

    compromissos com outras instituies pblicas e grupos de interesse da sociedade civil.

    (Halvorsen et.al, 2005: 9)

    Embora h que considerar que estas tomadas de deciso so quase sempre influenciadas

    pela concorrncia para financiamento e falta de recursos. Uma deciso normalmente

    tomada em detrimento de outra, ou seja um escolha implica o sacrifcio de outros interesses

    que poderiam ser igualmente vlidos e meritrios. Quem perde normalmente, depende de

    quem tem o poder de negociar, de fazer concesses e compromissos, este poder no

    depende apenas sobre o que poderia ser a escolha mais racional, mas tambm sobre o

    nmero de membros, a influncia, competncias no domnio em causa e recursos financeiros

    e humanos ao seu dispor. O que pode parecer como a ausncia de vontade poltica para

    mudar a sociedade pode ser apenas a ausncia de poder de negociao.

    As instituies no so estticas, sofrem transformaes atravs de processos contnuos

    de atuao e adaptao. Algumas estruturas e processos progridem historicamente atravs

    da experincia seletiva e tornam-se a base da auto-organizao. Existem instituies que

    desenvolvem uma resistncia considervel contra as mudanas no ambiente organizacional.

    (Halvorsen et.al, 2005: 10)

    Assim, embora as instituies sejam o resultado da atividade humana, eles no so

    necessariamente produtos de uma conceo consciente e racional. Os modelos

    preferencialmente escolhidos assumem como garantido que os atores associam certas aes

    com determinadas regras de adequao por meio da socializao, educao, aprendizagem

    no trabalho ou anuncia a convenes. Dessa forma os incentivos para a mudana so mais

    institucionais do que decorrentes da racionalidade poltica. Os participantes entram na

    organizao com ideias individuais, expectativas, valores distintos, interesses e habilidades

    prprios, a instituio absorve alguns destes interesses individuais e estabelece critrios

    atravs dos quais as pessoas descobrem as suas preferncias. Se os participantes no

    concordarem com essas preferncias, podem optar por sair da organizao, dessa forma a

    instituio fica mais institucionalizada em vez de radicalmente modificada. (Halvorsen et.al,

    2005: 10-12)

    No entanto, os incentivos pessoais como poder, melhoria de perspetivas de evoluo de

    carreira e salrio pode tambm estimular a atividade inovadora dentro do setor pblico, assim

    como no setor privado, o que significa que qualquer estudo sobre inovao no setor pblico

    deve ter em considerao os processos internos. (Halvorsen et.al, 2005: 10)

  • 15

    5 CONCLUSO

    No discorrer desta reviso bibliogrfica pode-se afirmar que inovao no um conceito

    perfeitamente compreendido em seu todo, ainda subsistem vrias perspetivas e abordagens

    no que se refere inovao. A sua implementao potenciada por vrios fatores, mas h

    que referir um aspeto relevante, adotar ou implementar uma inovao no garantia absoluta

    de introduo de melhorias na organizao, no existe aqui uma relao linear de

    causalidade, existem sim, diversas relaes entre inovao e melhoria no seio das

    organizaes pblicas.

    Para que uma inovao seja implementada, primeiramente deve-se analisar se existe

    realmente a necessidade dessa inovao na organizao pblica, no seve ser encarada,

    nem colocada em prtica apenas como um proforma, o cumprimento apenas de mais um

    procedimento administrativo, que a lei assim o obriga.

    Um melhor entendimento de inovao no setor pblico pode possibilitar a apresentao de

    promessas realistas para os cidados e usurios dos servios, assim como contribuir para a

    construo de confiana nas organizaes que prestam servios pblicos.

    Depois da anlise realizada, uma ideia sobressai, a inovao de grande importncia tanto

    no setor pblico como no setor privado, apesar das diferenas que lhes so inerentes.

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    BIBLIOGRAFIA

    Halvorsen, Thomas et.al. (2005), Innovation in the Public Sector, Oslo, Publin.

    Hartley, Jean (2005), Innovation in Governance and Public Services: Past and Present,

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    Junior, Pedro, Toms Guimares e Joo Bilhim (2013), Escala de orientao para inovao

    em organizaes pblicas: Estudo exploratrio e confirmatrio no Brasil e em Portugal,

    RAI Revista de Administrao e Inovao, Vol. 10 (1).

    OECD. (2005), Oslo Manual Guidelines for colecting and interpreting innovation data, 3 ed.

    FINEP/OECD.