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  • CURSO EM PDF ADMINISTRAO PBLICA P/ CGU Prof. Wagner Rabello Jr.

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    AULA 00

    Curso de acordo com o edital 2012

    A Mquina Pblica Brasileira: processo evolutivo; reformas administrativas, seus princpios, objetivos, resultados e

    ensinamentos

    SUMRIO PGINA

    1. INTRODUO 5

    2. EVOLUO DA ADMINISTRAO PBLICA APS 1930 11

    3. A REFORMA BUROCRTICA DA DCADA DE 1930 11

    4. REFORMA DO PERODO MILITAR DECRETO LEI 200/67 17

    5. A REFORMA GERENCIAL 23

    6. QUESTES COMENTADAS 27

    7. LISTA DAS QUESTES 55

    8. GABARITOS 68

    APRESENTAO

    Currculo resumido: Wagner Rabello Jr. Ps-graduado em Administrao Pblica pela Fundao Getlio Vargas (FGV), bacharel em Direito pela Universidade do Grande Rio (Unigranrio) e bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Servidor pblico h 17 anos e professor das disciplinas nas reas de Administrao e Polticas Pblicas em cursos preparatrios para concursos no Rio de Janeiro e So Paulo. J foi aprovado em concursos para Oficial da Aeronutica, Analista do Departamento Nacional de Produo Mineral, Ministrio do Meio Ambiente e outros. Atualmente ocupa o cargo de Tc. Judicirio do TRE-RJ, onde tambm Membro Efetivo da Comisso Permanente de Avaliao de Documentos do TRE-RJ.

    Em respeito aos alunos que j compraram o curso e atendendo aos novos alunos, estou reformulando o curso de

    acordo com o edital 2012.

    Aos que j imprimiram a aula demo do curso antigo no precisa reimprimir esta aula, tendo em vista que neste ponto o

    contedo o mesmo.

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    Salve, salve, concurseiros,

    A partir de agora vamos trabalhar a disciplina Administrao Pblica nesta turma preparatria para o concurso da CONTROLADORIA GERAL DA UNIO.

    Nosso curso consistir em uma abordagem terica e na resoluo de aproximadamente 100 (cem) questes, todas comentadas, de modo que ao final vocs tenham condies de realizar uma excelente prova. Claro que realizar uma excelente prova no algo trivial, entretanto, em um esforo conjunto entre voc e eu, certamente esse caminho ser abreviado. Gostaria de ressaltar que, eventualmente, faremos questes de diversas bancas. No entanto, a nfase ser sempre a ESAF, tendo em vista que praticamente certo que esta seja, mais uma vez, a banca do concurso.

    Abaixo, segue a programao com base no edital publicado em 17/04/2012.

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    PROGRAMAO DAS AULAS

    Aula Demonstrativa (disponvel)

    A Mquina Pblica Brasileira: processo evolutivo; reformas administrativas, seus princpios, objetivos, resultados e ensinamentos;

    Aula 01 (26/04/2012) Patrimonialismo, burocracia e gerencialismo; atual conformao da mquina pblica em face dos preceitos constitucionais e legais; aspectos contemporneos da gesto pblica.

    Aula 02 (02/05/2012)

    Estado, Governo e Sociedade: conceito e evoluo do Estado contemporneo; aspectos fundamentais da formao do Estado brasileiro; teorias das formas e dos sistemas de governo; participao social como representao poltica; accountability vertical.

    Aula 03 (16/05/2012)

    O Sistema de Freios e Contrapesos: autotutela; Controle Interno, Controle Externo, o papel da CGU; accountability horizontal; reviso jurisdicional dos atos administrativos.

    Aula 04 (23/05/2012) Polticas Pblicas: formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas pblicos; intersetorialidade, redes sociais e transversalidade.

    Aula 05 (30/05/2012)

    Governana e Administrao Pblica: oramento, planejamento, anlises governamentais e organizacionais, inovao, governana de organizaes pblicas; parcerias com o setor privado e com o terceiro setor.

    Aula 06 (06/06/2012)

    Temas Correntes em Administrao Pblica: tica; Lei da Ficha-Limpa; responsabilidade fiscal; responsabilidade oramentria.

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    A HISTRIA DO BAMBU CHINS

    Depois de plantada a semente deste incrvel arbusto, no se v nada por aproximadamente 5 anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo.

    Durante 5 anos, todo o crescimento subterrneo, invisvel a olho nu, mas... uma macia e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela terra est sendo construda.

    Ento, no final do 5 ano, o bambu chins cresce at atingir a altura de 25 metros.

    Um escritor de nome Covey escreveu:

    "Muitas coisas na vida pessoal e profissional so iguais ao bambu chins. Voc trabalha, investe tempo, esforo, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e s vezes no v nada por semanas, meses ou anos. Mas se tiver pacincia para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu 5 ano chegar, e com ele viro um crescimento e mudanas que voc jamais esperava..."

    O bambu chins nos ensina que no devemos facilmente desistir de nossos projetos e de nossos sonhos... Em nosso trabalho especialmente, que um projeto fabuloso que envolve mudanas de comportamento, de pensamento, de cultura e de sensibilizao,devemos sempre lembrar do bambu chins para no desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgiro.

    Procure cultivar sempre dois bons hbitos em sua vida: a Persistncia e a Pacincia, pois voc merece alcanar todos os seus sonhos..!!!

    " preciso muita fibra para chegar s alturas e, ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao cho."

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    1. INTRODUO

    Vamos iniciar nossa jornada pelo fantstico mundo da historiografia econmica, poltica, social e administrativa brasileira. O tema da aula de hoje remonta aos primrdios da administrao pblica brasileira. No precisamos ir poca das caravelas portuguesa em terras tupiniquins, no entanto, um apanhado dos ltimos 200 anos da administrao pblica no Brasil mais do que necessrio. Talvez voc esteja questionando o porqu dessa limitao temporal de dois sculos. Explico:

    Motivo 1: as questes de provas no costumam ir alm disso, volta e meia aparecem questes abordando a administrao pblica brasileira aps a independncia.

    Motivo 2: no ano de 2008 foi publicado um artigo em comemorao passagem dos 200 anos da transferncia da corte portuguesa para o Brasil. O ttulo do artigo : Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administrao pblica; 200 anos de reformas, cujo autor o Prof. Frederico Lustosa da Costa (Professor titular da Escola Brasileira de Administrao Pblica e de Empresas (Ebape) da Fundao Getulio Vargas). O referido artigo tornou-se um clssico da literatura na rea de Administrao Pblica no Brasil e tem sido presena constante em provas das mais diversas bancas, inclusive da ESAF.

    Motivo 3: A prpria obra acima referenciada faz uma revelao importante sobre esse perodo paradigmtico (ltimos 200) anos que refora nossa tese de que no preciso ir alm disso, vejamos:

    verdade que, at 1808, existia no Brasil e, sobretudo, na sede do governo geral (vice-reino) uma administrao colonial relativamente aparelhada. Mas a formao do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e a instalao de sua sede na antiga colnia tornaram irreversvel a constituio de um novo Estado nacional. Todo um aparato burocrtico, transplantado de Lisboa ou formado aqui, em paralelo antiga administrao metropolitana, teve que ser montado para que a soberania se armasse, o Estado se constitusse e se projetasse sobre o territrio, e o governo pudesse tomar decises, ditar polticas e agir.

    Parte-se do pressuposto de que no possvel entender as recentes transformaes do Estado, da organizao governamental e da administrao pblica brasileira sem tentar reconstruir os processos de formao e diferenciao histrica do aparato estatal que se constituiu no Brasil, desde que a

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    empresa da colonizao aqui aportou, no alvorecer do sculo XVI, ou, pelo menos, desde que o prncipe regente dom Joo VI transferiu a sede da Coroa portuguesa para o Rio de Janeiro e instituiu o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. In: Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administrao pblica; 200 anos de reformas, cujo autor o Prof. Frederico Lustosa da Costa.

    Tambm vale citar Fernando Abrcio:

    A administrao pblica genuinamente brasileira s pde nascer com a independncia do pas. Porm, no possvel entender suas bases iniciais sem analisar os efeitos que o perodo colonial tinha deixado. Afinal, foram mais de 300 anos de colonizao, alm de os primeiros governantes do Brasil independente terem forte relao com a metrpole portuguesa.

    Assim, apesar de buscarmos diversas outras fontes de estudo, nossa aula ter como parmetro cronolgico o referido artigo.

    Ante ao exposto, vamos iniciar nosso curso, cujo recorte recair sobre os ltimos 200 anos de administrao pblica.

    Administrao Pblica: conceitos evoluo

    A administrao pblica pode ser compreendida como sendo o conjunto de agncias e de servidores profissionais, mantidos com recursos pblicos e encarregados da deciso e implementao das normas necessrias ao bem-estar social e das aes necessrias gesto da coisa pblica.

    Nem sempre foi assim, desde que as caravelas aqui aportaram, por volta do ano de 1.500, comeamos a construir um quadro administrativo bastante confuso e predominantemente voltado para as finalidades dos governantes.

    Tomar o desembarque da Coroa portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808, como marco para a construo do Estado nacional no signica dizer que nada existisse em termos de aparato institucional e administrativo. Havia na colnia uma ampla, complexa e ramicada administrao. Caio Prado Jnior (1979:299-300) adverte que, para compreend-la, preciso se desfazer de noes contemporneas de Estado, esferas pblica e privada, nveis de governo e poderes distintos. A administrao colonial, apesar da abrangncia das suas atribuies e da

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    profuso de cargos e instncias, do ponto de vista funcional, pouco se diferencia internamente. Tratava-se de um cipoal de ordenamentos gerais, encargos, atribuies, circunscries, disposies particulares e misses extraordinrias que no obedeciam a princpios uniformes de diviso de trabalho, simetria e hierarquia. O caos legislativo fazia surgir num lugar funes que no existiam em outros; competncias a serem dadas a um servidor quando j pertenciam a terceiros; subordinaes diretas que subvertiam a hierarquia e minavam a autoridade. Grifei (Frederico Lustosa)

    Nessa esteira, vamos verificar a anlise do prof. Frederico Lustosa sobre a administrao colonial portuguesa.

    Administrao Colonial Portuguesa

    Em princpio, a administrao colonial estava organizada em quatro nveis:

    1. As instituies metropolitanas;

    2. A administrao central;

    3. A administrao regional

    4. A administrao local.

    Essa estrutura tinha em seu topo o Conselho Ultramarino, subordinado ao secretrio de Estado dos Negcios da Marinha e Territrios Ultramarinos que se ocupava de todos os aspectos da vida das colnias, exceo dos assuntos eclesisticos, a cargo da Mesa de Conscincia e Ordens.

    Do ponto de vista da organizao territorial, o Brasil estava dividido em capitanias, que eram as maiores unidades administrativas da colnia. O territrio delas era dividido em comarcas que, por sua vez, era composto por termos sediados nas cidades ou vilas. Os termos eram constitudos de freguesias que correspondiam s parquias da circunscrio eclesistica. Por ltimo, as freguesias se dividiam em bairros, cuja jurisdio era imprecisa (Caio Prado Junior, 1979:306).

    Ainda segundo o prof. Frederico Lustosa, a sntese histrica de Caio Prado Jnior, retomada por Arno e Maria Jos Wehling (1999), aponta como principais caractersticas da administrao colonial a centralizao, a ausncia de diferenciao (de funes), o mimetismo, a profuso e minudncia das normas, o formalismo e a morosidade. Essas disfunes decorrem, em grande medida, da transplantao para a colnia das instituies existentes na metrpole e do vazio de autoridade (e de

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    obedincia) no imenso territrio, constituindo um organismo autoritrio, complexo, frgil e inecaz.

    Isso no quer dizer que no tenha havido um processo de gradual racionalizao do governo colonial ao longo de trs sculos. A partir da administrao pombalina, pouco a pouco, o empirismo paternalista do absolutismo tradicional foi sendo substitudo pelo racionalismo tpico do despotismo esclarecido. Essa mudana se expressava principalmente nos mtodos e processos de trabalho que davam lugar emergncia de uma burocracia.

    Aps a exposio dessas consideraes preliminares, vamos comear a analisar o desenvolvimento da Administrao Pblica Brasileira aps a chegada da coroa portuguesa ao Brasil.

    A construo do Estado nacional

    A construo do Estado Nacional e seu aparato burocrtico prximo do que hoje compreendemos como administrao pblica ocorreu de forma tormentosa, posto que a transferncia da famlia real portuguesa para o Brasil foi praticamente definida quando as tropas francesas j estavam invadindo o reino de Portugal. Nesse sentido, Frederico Lustosa revela que:

    A transferncia da famlia real portuguesa para o Brasil deu-se de forma confusa. At o ltimo instante, o prncipe regente hesitou em partir diante da remota possibilidade de os franceses aceitarem mais um suborno. S se decidiu quando as tropas de Junot j se encontravam em solo portugus, s portas de Lisboa. O alvoroo descrito por alguns dos relatos dos momentos que antecederam a longa travessia no condiz com o minucioso planejamento que a indita mudana de uma corte para outro continente deveria merecer (Wilcken, 2005:35-38).

    Em primeiro lugar, a prpria escolha das cinco, 10 ou 15 mil pessoas os nmeros so imprecisos que comporiam a lotao das naus, diz alguma coisa sobre as instituies e espaos de poder que estavam sendo transplantados.

    Em segundo lugar, a seleo dos bens que era possvel carregar, alm dos tesouros e objetos de indiscutvel valor, contemplava material, livros, papis, artefatos, instrumentos e smbolos necessrios administrao.

    Em terceiro lugar, a instituio de um simulacro de governo em solo europeu, que se deu na forma de uma regncia, logo destituda pelo ocupante.

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    O regente chegou ao Rio de Janeiro com um governo formado pelos ministrios do Reino ou dos Negcios do Reino, cujo titular atuava tambm como ministro assistente ao despacho do gabinete e como presidente do Errio Real; da Guerra e Estrangeiros (ou dos Negcios da Guerra e Estrangeiros) e da Marinha (ou dos Negcios da Marinha) e Domnios Ultramarinos; ou seja, trs ministros para seis pastas. Trs dias depois de sua chegada, substituiu os ministros.

    O fato que a transferncia da corte e mais tarde a elevao do Brasil a parte integrante do Reino Unido de Portugal constituram as bases do Estado nacional, com todo o aparato necessrio armao da soberania e ao funcionamento do autogoverno.

    A elevao condio de corte de um imprio transcontinental fez da nova administrao brasileira, agora devidamente aparelhada, a expresso do poder de um Estado nacional que jamais poderia voltar a constituir-se em mera subsidiria de uma metrpole de alm-mar.

    A Repblica Velha

    Aps o perodo imperial veio a proclamao da repblica e a perspectivas de grandes mudanas na gesto pblica brasileira, fato que efetivamente no ocorreu. A administrao pblica brasileira permanecia com traos tipicamente coloniais, como revela Frederico Lustosa:

    O formalismo das regras, o brao curto da autoridade e a corrupo generalizada ensejavam o autoritarismo daqueles que deviam se impor aos sditos entregues ao abandono, com os prprios meios que deles conseguissem extrair.

    A proclamao da Repblica no alterou profundamente as estruturas socioeconmicas do Brasil imperial. A riqueza nacional continuou concentrada na economia agrcola de exportao, baseada na monocultura e no latifndio. O que se acentuou foi a transferncia de seu centro dinmico para a cafeicultura e a conseqente mudana no plo dominante da poltica brasileira das antigas elites cariocas e nordestinas para os grandes cafeicultores paulistas.

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    O governo provisrio adotou as reformas imediatas necessrias vigncia do novo regime e convocou eleies para uma assemblia constituinte. A Carta de 1891, francamente inspirada na Constituio americana de 1787, consagrou a Repblica, instituiu o federalismo e inaugurou o regime presidencialista. A separao de poderes cou mais ntida. O Legislativo continuava bicameral, sendo agora formado pela Cmara dos Deputados e pelo Senado, cujos membros passaram a ser eleitos para mandado de durao certa.

    Ampliou-se a autonomia do Judicirio. Foi criado o Tribunal de Contas para scalizar a realizao da despesa pblica. As provncias, transformadas em estados, cujos presidentes (ou governadores) passaram a ser eleitos, ganharam grande autonomia e substantiva arrecadao prpria. Suas assemblias podiam legislar sobre grande nmero de matrias. Esse sistema caracterizava o federalismo competitivo.

    Nesse perodo, no houve grandes alteraes na conformao do Estado nem na estrutura do governo. Desde a proclamao da Repblica, a principal mudana no Poder Executivo foi a criao dos ministrios da Instruo Pblica, de brevssima existncia; da Viao e Obras Pblicas; e da Agricultura, Indstria e Comrcio, cujos nomes sofreram pequenas modicaes.

    Do ponto de vista da federao, houve uma ligeira reduo na capacidade legislativa dos estados, que perderam o poder de legislar sobre determinadas matrias.

    A Repblica Velha durou cerca de 40 anos. Aos poucos, foi se tornando disfuncional ao Brasil que se transformava, pela diversicao da economia, pelo primeiro ciclo de industrializao, pela urbanizao e pela organizao poltica das camadas urbanas. Novos conitos de interesse dentro dos setores dominantes, entre as classes sociais e entre as regies punham em causa o pacto oligrquico, as eleies de bico de pena e a poltica do caf-com-leite.

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    2. EVOLUO DA ADMINISTRAO PBLICA NO BRASIL APS 1930

    Agora vamos analisar a administrao pblica brasileira a partir da paradigmtica dcada de 1930. Assim, vamos ter o primeiro contato com o tema das reformas administrativas.

    Para fazer a anlise da evoluo da administrao pblica, dividiremos o perodo de tempo (a partir de 1930), analisando cada fase separadamente, porm verificando eventuais relaes entre elas, pois desta forma que as bancas costumam cobrar em provas, ou seja, conceitos isolados e/ou entrelaados.

    Os perodos foram divididos da seguinte forma:

    1930/45 Burocratizao da Era Vargas

    1956/60 A administrao paralela de JK

    1967 A reforma militar (Dec. Lei 200)

    1988 A administrao pblica na nova Constituio

    1990 O governo Collor e o desmonte da mquina pblica

    1995/2002 O gerencialismo da Era FHC

    Nova Administrao Pblica (New Public Management)

    3. A REFORMA BUROCRTICA DA DCADA DE 1930

    O Brasil, assim como boa parte do mundo, entrou a dcada de 1930 sob o crivo de uma grande recesso, oriunda, em boa parte, da quebra da Bolsa de Valores de Nova Yorque, em 1929. No obstante, o patrimonialismo reinava praticamente absoluto em nossas terras.

    Partindo, principalmente, dessas duas perspectivas, Frederico Lustosa afirma que:

    A burocracia est no horizonte da administrao pblica que se consolida e atualiza. Se esse movimento se deu de forma lenta e supercial nos primeiros 100 anos de histria do Brasil independente, ele vai encontrar seu ponto de inexo e acelerao na Revoluo de 1930. (Frederico Lustosa da Costa)

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    O sucesso do New Deal, poltica de interveno do Estado na economia americana para recuperar sua dinmica de crescimento, levava a pensar que ela tambm seria possvel e desejvel para promover o crescimento das economias perifricas.

    O Estado nacional poderia liderar o processo de desenvolvimento, estabelecendo barreiras alfandegrias, construindo infra-estruturas, criando subsdios e incentivos e oferecendo crdito. Esse papel supunha no s a capacidade de gerar poupana interna para participar da formao bruta de capital como tambm um elevado grau de interveno na economia, em particular, e na vida social em geral. Estavam lanadas as bases do modelo de crescimento e do Estado intervencionista brasileiro.

    Mantendo a poltica de proteo s matrias-primas exportadas, o governo lanou-se de maneira franca e direta no projeto desenvolvimentista, criando as bases necessrias da industrializao a infra-estrutura de transporte, a oferta de energia eltrica e a produo de ao, matria-prima bsica para a indstria de bens durveis. Mais do que isso, assumiu papel estratgico na coordenao de decises econmicas. Para tanto, teve que aparelhar-se.

    As velhas estruturas do Estado oligrquico, corrodas pelos vcios do patrimonialismo, j no se prestavam s novas formas de interveno no domnio econmico, na vida social e no espao poltico remanescente. Urgia reformar o Estado, o governo e a administrao pblica.

    Assim, sob o impulso de superao do esquema clientelista e anrquico de administrao oligrquica, o governo de Getlio Vargas iniciou uma srie de mudanas que tinham pelo menos duas vertentes principais (Lima Junior, 1998):

    estabelecer mecanismos de controle da crise econmica, resultante dos efeitos da Grande Depresso, iniciada em 1929, e subsidiariamente promover uma alavancagem industrial;

    promover a racionalizao burocrtica do servio pblico, por meio da padronizao, normatizao e implantao de mecanismo de controle. A partir de 1937, promoveu uma srie de transformaes no aparelho de Estado, tanto na morfologia, quanto na dinmica de funcionamento.

    Nesse perodo foram criados inmeros organismos especializados e empresas estatais. At 1939, haviam sido criadas 35 agncias estatais;

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    entre 1940 e 1945 surgiram 21 agncias, englobando empresas pblicas, sociedades de economia mista e fundaes (Lima Jnior, 1998:8). At 1930 existiam no Brasil 12 empresas pblicas; de 1930 a 1945, foram criadas 13 novas empresas, sendo 10 do setor produtivo, entre elas a Companhia Vale do Rio Doce, hoje uma gigante da minerao, e a Companhia Siderrgica Nacional, ambas j privatizadas.

    De todas essas medidas, a mais emblemtica foi a criao do Departamento Administrativo do Servio Pblico, o lder inconteste da reforma e, em grande parte, seu executor (Wahrlich, 1974:29). O Dasp foi efetivamente organizado em 1938, com a misso de denir e executar a poltica para o pessoal civil, inclusive a admisso mediante concurso pblico e a capacitao tcnica do funcionalismo, promover a racionalizao de mtodos no servio pblico e elaborar o oramento da Unio. O Dasp tinha sees nos estados, com o objetivo de adaptar as normas vindas do governo central s unidades federadas sob interveno.

    Essa primeira experincia de reforma de largo alcance inspirava-se no modelo weberiano de burocracia e tomava como principal referncia a organizao do servio civil americano. Estava voltada para a administrao de pessoal, de material e do oramento, para a reviso das estruturas administrativas e para a racionalizao dos mtodos de trabalho. A nfase maior era dada gesto de meios e s atividades de administrao em geral, sem se preocupar com a racionalidade das atividades substantivas.

    A reforma administrativa do Estado Novo foi, portanto, o primeiro esforo sistemtico de superao do patrimonialismo. Foi uma ao deliberada e ambiciosa no sentido da burocratizao do Estado brasileiro, que buscava introduzir no aparelho administrativo do pas a centralizao, a impessoalidade, a hierarquia, o sistema de mrito, a separao entre o pblico e o privado. Visava constituir uma administrao pblica mais racional e eciente, que pudesse assumir seu papel na conduo do processo de desenvolvimento, cujo modelo de crescimento, baseado na industrializao via substituio de importaes, supunha um forte intervencionismo estatal e controle sobre as relaes entre os grupos sociais ascendentes a nova burguesia industrial e o operariado urbano (Marcelino, 1987).

    Luiz Carlos Bresser Pereira, de forma mais breve, revela que no Brasil, o modelo de administrao burocrtica emerge a partir dos anos 30. Surge no quadro da acelerao da industrializao brasileira, em que o Estado

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    assume papel decisivo, intervindo pesadamente no setor produtivo de bens e servios. A partir da reforma empreendida no governo Vargas por Maurcio Nabuco e Luiz Simes Lopes, a administrao pblica sofre um processo de racionalizao que se traduziu no surgimento das primeiras carreiras burocrticas e na tentativa de adoo do concurso como forma de acesso ao servio pblico. A implantao da administrao pblica burocrtica uma conseqncia clara da emergncia de um capitalismo moderno no pas.

    Em relao reforma burocrtica, acabamos de ver os pontos mais importantes de tal acontecimento. Antes de passarmos a segunda grande reforma do sculo passado (decreto-lei 200 de 1967), vamos verificar as mini reformas ocorridas nas dcadas de 50 e 60.

    Administrao paralela: governo JK

    Foi Maria Victoria Benevides quem cunhou a expresso administrao paralela. Essa administrao paralela era formada principalmente por Grupos de trabalho e Grupos Executivos. Os primeiros eram ligados ao Conselho de Desenvolvimento e atuavam na preparao de projetos de leis e decretos, segundo os objetivos do Plano de Metas. Os Grupos Executivos eram compostos de administradores do Estado e representantes das empresas privadas - geralmente tcnicos - que aprovavam os projetos elaborados pelos Grupos de Trabalho.

    Esses Grupos de Trabalho eram criados por decreto e tinham autonomia oramentria e para recrutamento de pessoal, os Grupos de Trabalho ficavam fora das injunes polticas, to comuns em outros rgos do Estado.

    A utilizao dessa administrao paralela por JK tinha pelo menos trs objetivos:

    Racionalizar as aes do Estado brasileiro na rea econmica facilitando a implementao do Plano de Metas

    Libertar o governo da poltica clientelstica de empregos, j que os rgos eram criados pelo presidente e tinham autonomia oramentria

    E por ltimo cooptar os militares, colaborando para a preservao da estabilidade poltica do perodo.

    O professor Frederico Lustosa faz a seguinte anlise desse perodo:

    Depois de um tumultuado perodo de transio de mais de um ano, com golpes, contragolpes, a eleio e a tentativa de impedimento da posse do

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    eleito, assumiu o governo em 1956, Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Seu Plano de Metas tinha 36 objetivos, com destaque para quatro setores-chave: energia, transporte, indstria pesada e alimentao.

    Propugnava a industrializao acelerada, apoiada na associao entre capitais nacionais e estrangeiros, com nfase na indstria de bens durveis, dando prioridade indstria automobilstica e ao transporte rodovirio. Seu lema era a realizao de 50 anos em cinco e a meta smbolo era a construo da nova capital do pas, Braslia (Mendona, 1990:335). Era uma fase de grande euforia e de armao nacionalista.

    Do ponto de vista institucional, a dcada que vai de 1952 a 1962 foi marcada pela realizao de estudos e projetos que jamais seriam implementados. A criao da Cosb (Comisso de Simplicao Burocrtica) e da Cepa (Comisso de Estudos e Projetos Administrativos), em 1956, representa as primeiras tentativas de realizar as chamadas reformas globais.

    A primeira (Cosb) tinha como objetivo principal promover estudos visando descentralizao dos servios, por meio da avaliao das atribuies de cada rgo ou instituio e da delegao de competncias, com a xao de sua esfera de responsabilidade e da prestao de contas das autoridades.

    A Cepa teria a incumbncia de assessorar a presidncia da Repblica em tudo que se referisse aos projetos de reforma administrativa.

    Esse perodo se caracteriza por uma crescente ciso entre a administrao direta, entregue ao clientelismo e submetida, cada vez mais, aos ditames de normas rgidas e controles, e a administrao descentralizada (autarquias, empresas, institutos e grupos especiais ad hoc), dotados de maior autonomia gerencial e que podiam recrutar seus quadros sem concursos, preferencialmente entre os formados em think thanks especializados, remunerando-os em termos compatveis com o mercado. Constituram-se assim ilhas de excelncia no setor pblico voltadas para a administrao do desenvolvimento, enquanto se deteriorava o ncleo central da administrao. De acordo com Lima Jnior (1998:10) a administrao do plano de metas foi executada, em grande medida, fora dos rgos administrativos convencionais. A coordenao poltica das aes se fazia atravs dos grupos executivos nomeados diretamente pelo presidente da Repblica.

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    Comisso Amaral Peixoto

    J na dcada de 60, o governo Joo Goulart criou a Comisso Amaral Peixoto, cuja misso era realizar estudos para que fosse arquitetada uma nova grande reforma administrativa. Seu principal objetivo era promover uma ampla descentralizao administrativa at o nvel do guich, alm de ampla delegao de competncia (Marcelino, 1988:41). Mas... veio o golpe militar de 1964.

    Ainda em 1964, o novo governo retirou do Congresso Nacional o projeto de lei elaborado pela Comisso Amaral Peixoto para reexame do assunto por parte do Poder Executivo. Instituiu a Comestra (Comisso Especial de Estudos da Reforma Administrativa), presidida pelo ministro extraordinrio para o planejamento de coordenao econmica, com o objetivo de proceder ao exame dos projetos elaborados e o preparo de outros considerados essenciais obteno de rendimento e produtividade da administrao federal (Wahrlich, 1974:44).

    Do trabalho dessa comisso e das revises que se seguiram em mbito ministerial resultou a edio do Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967, o mais sistemtico e ambicioso empreendimento para a reforma da administrao federal. Esse dispositivo legal era uma espcie de lei orgnica da administrao pblica, xando princpios, estabelecendo conceitos, balizando estruturas e determinando providncias. O Decreto-Lei n. 200 se apoiava numa doutrina consistente e denia preceitos claros de organizao e funcionamento da mquina administrativa.

    Segundo Frederico Lustosa:

    Embora tenha havido avanos isolados durante os governos de Getlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jnio Quadros e Joo Goulart, o que se observa a manuteno de prticas clientelistas, que negligenciavam a burocracia existente, alm da falta de investimento na sua prossionalizao. A cada desao surgido na administrao do setor pblico, decorrente da prpria evoluo socioeconmica e poltica do pas, a sada utilizada era sempre a criao de novas estruturas alheias administrao direta e o conseqente adiamento da difcil tarefa de reformulao e prossionalizao da burocracia pblica existente (Torres, 2004:151).

    Todas as iniciativas anteriormente descritas, como a criao dessas comisses, mesmo que no tenham sido implementadas, no deixaram de inaugurar uma nova viso na administrao pblica com a introduo de conceitos, diretrizes e objetivos mais racionais, que serviriam de base para futuras reformas no aparato administrativo brasileiro. Na verdade,

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    algumas das grandes inovaes introduzidas pela reforma de 1967 estavam consignadas nos relatrios da Cosb, da Cepa e, sobretudo, da Comisso Amaral Peixoto, conforme exaustivamente documentado por Beatriz Wahrlich (1974:30-41).

    De fato, o ministrio extraordinrio para a reforma administrativa elaborou quatro projetos que nunca conseguiram aprovao no Congresso, mas alguns especialistas no assunto armam que foi a partir deles que se concebeu o Decreto-Lei n. 200, de 1967.

    4. REFORMA DO PERODO MILITAR: DECRETO-LEI 200/1967

    A reforma realizada pelos militares possua 5 pilares bsicos:

    o planejamento (princpio dominante);

    a expanso das empresas estatais (sociedades de economia mista e empresas pblicas), bem como de rgos independentes (fundaes pblicas) e semi-independentes (autarquias);

    a necessidade de fortalecimento e expanso do sistema do mrito, sobre o qual se estabeleciam diversas regras;

    diretrizes gerais para um novo plano de classicao de cargos;

    o reagrupamento de departamentos, divises e servios em 16 ministrios: Justia, Interior, Relaes Exteriores, Agricultura, Indstria e Comrcio, Fazenda, Planejamento, Transportes, Minas e Energia, Educao e Cultura, Trabalho, Previdncia e Assistncia Social, Sade, Comunicaes, Exrcito, Marinha e Aeronutica.

    Para Frederico Lustosa, o decreto lei n. 200:

    Em primeiro lugar, prescrevia que a administrao pblica deveria se guiar pelos princpios do planejamento, da coordenao, da descentralizao, da delegao de competncia e do controle.

    Em segundo, estabelecia a distino entre a administrao direta os ministrios e demais rgos diretamente subordinados ao presidente da Repblica e a indireta, constituda pelos rgos descentralizados autarquias, fundaes, empresas pblicas e sociedades de economia mista. Em terceiro, xava a estrutura do Poder Executivo federal, indicando os rgos de assistncia imediata do presidente da Repblica e distribuindo os ministrios entre os setores poltico, econmico, social,

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    militar e de planejamento, alm de apontar os rgos essenciais comuns aos diversos ministrios.

    Em quarto, desenhava os sistemas de atividades auxiliares-pessoal, oramento, estatstica, administrao nanceira, contabilidade e auditoria e servios gerais.

    Em quinto, denia as bases do controle externo e interno.

    Em sexto, indicava diretrizes gerais para um novo plano de classicao de cargos.

    E nalmente, estatua normas de aquisio e contratao de bens e servios.

    Para Beatriz Wahrlich (1984:52) de 1964 at 1978 assistiu-se ao ressurgimento da reforma administrativa como programa de governo formal. De 1967 a 1979, a coordenao da reforma administrativa cabia Semor (Subsecretaria de Modernizao e Reforma Administrativa), que cuidava dos aspectos estruturais, sistmicos e processuais, e ao Dasp, que atuava somente no domnio dos recursos humanos. Nesta fase, a Semor se preocupou em recorrer a freqentes exames da estrutura organizacional e analisou projetos de iniciativa de outros departamentos, visando criao, fuso ou extino de rgos e programas que trouxessem maior eccia gesto pblica.

    Apesar da distncia entre as metas estabelecidas e as metas cumpridas, no resta dvida de que o Decreto-Lei n. 200 contribuiu para a consolidao do modelo de administrao para o desenvolvimento no Brasil.

    A tentativa de modernizao do aparelho de Estado, especialmente a partir da dcada de 1960, teve como conseqncia a multiplicao de entidades da administrao indireta: fundaes, empresas pblicas, sociedades de economia mista e autarquias. A expanso e a multiplicao de novos centros de administrao indireta buscavam maior agilidade e exibilidade de atuao dessas entidades, melhor atendimento s demandas do Estado e da sociedade, facilidade de aporte de recursos e, naturalmente, facilidade de recrutamento, seleo e remunerao (Marcelino, 1988:44).

    Apesar de tudo, Frederico Lustosa arremata seu estudo sobre o perodo afirmando que a reforma administrativa embutida no Decreto-Lei n.200 cou pela metade e fracassou. A crise poltica do regime militar, que se inicia j em meados dos anos 1970, agrava ainda mais a situao da administrao pblica, j que a burocracia estatal foi identicada com o

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    sistema autoritrio em pleno processo de degenerao (Bresser-Pereira, 1996:273-274).

    Os programas de desestatizao e de desburocratizao

    Antes da descrio da reforma administrativa da Nova Repblica, merecem registro dois programas de reforma elaborados entre 1979 e 1982, a desburocratizao e a desestatizao.

    De iniciativa do Poder Executivo, os dois programas foram concebidos de forma a atender objetivos complementares que seriam o aumento da ecincia e eccia na administrao pblica e o fortalecimento do sistema de livre empresa. Mais especicamente, o programa de desburocratizao, institudo pelo Decreto-Lei n. 83.740, de 18 de julho de 1979, visa simplicao e racionalizao das normas organizacionais, de modo a tornar os rgos pblicos mais dinmicos e mais geis (Wahrlich, 1984:53).

    Esperava-se que a supresso de etapas desnecessrias tornaria mais gil o sistema administrativo, trazendo benefcios para funcionrios e clientes.

    Diferentemente dos outros programas, o da desburocratizao privilegiava o usurio do servio pblico. Da o seu ineditismo, porque nenhum outro programa antes era dotado de carter social e poltico. Mas, ele tambm inclua entre seus objetivos o enxugamento da mquina estatal, j que recomendava a eliminao de rgos pouco teis ou cuidava para impedir a proliferao de entidades com tarefas pouco denidas ou j desempenhadas em outras instituies da administrao direta e indireta.

    O programa de desestatizao visava ao fortalecimento do sistema livre de empresa e tinha os seguintes pressupostos:

    organizao e explorao das atividades econmicas competem preferencialmente empresa privada, na forma estabelecida na Constituio brasileira. O papel do Estado, no campo econmico, de carter suplementar, e visa sobretudo encorajar e apoiar o setor privado;

    o governo brasileiro est rmemente empenhado em promover a privatizao das empresas estatais nos casos em que o controle pblico se tenha tornado desnecessrio ou injusticvel;

    a privatizao das empresas estatais, porm, no dever alcanar nem enfraquecer as entidades que devam ser mantidas sob controle pblico, seja por motivos de segurana nacional, seja porque tais empresas criem, efetivamente condies favorveis ao

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    desenvolvimento do prprio setor privado nacional, ou ainda, quando contribuem para assegurar o controle nacional do processo de desenvolvimento (Wahrlich, 1984:54).

    Para Beatriz Wahrlich (1984:57), o programa da desestatizao havia sido concebido para estabelecer limites aos excessos de expanso da administrao pblica descentralizada, tendncia marcante na dcada anterior sem, entretanto, se congurar na reverso desse processo. Ela completa:

    A necessidade de um programa de desestatizao indica que na questo da organizao para o desenvolvimento, a administrao pblica brasileira ultrapassou suas metas e chegou a hora de corrigir a disfuno existente, para atender opo constitucional do pas por uma economia de mercado.

    A reforma administrativa da Nova Repblica

    De acordo com Frederico Lustosa, Tancredo Neves promoveu uma pequena reforma administrativa destinada a acomodar os interesses das diversas faces polticas que o apoiavam ampliao do nmero de ministrios e criao de novas diretorias em quase todas as empresas estatais. A verdadeira reforma do Estado, prometia, viria depois da posse. Para realizar essa imensa tarefa, ele indicou um ministro extraordinrio da administrao para dirigir o velho e desgastado Dasp.

    O governo civil que acabara de se instalar em 1985, aps mais de duas dcadas de ditadura militar, herdava um aparato administrativo marcado ainda pela excessiva centralizao. Apesar de representar a primeira tentativa de reforma gerencial da administrao pblica pela inteno de mexer na rigidez burocrtica, o Decreto-Lei n. 200/67 deixou seqelas negativas. Em primeiro lugar, o ingresso de funcionrios sem concurso pblico permitiu a reproduo de velhas prticas patrimonialistas e siolgicas. E, por ltimo, a negligncia com a administrao direta burocrtica e rgida que no sofreu mudanas signicativas na vigncia do decreto, enfraquece o ncleo estratgico do Estado, fato agravado pelo senso oportunista do regime militar que deixa de investir na formao de quadros especializados para os altos escales do servio pblico.

    Assim, o governo da chamada Nova Repblica teria como tarefa inadivel a reverso desse quadro, que se expressaria na necessidade de tornar o aparelho administrativo mais reduzido, orgnico, eciente e receptivo s demandas da sociedade (Marcelino, 2003:645).

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    Para empreender tamanha tarefa, o governo Sarney instituiu uma numerosa comisso, cujos objetivos eram extremamente ambiciosos, j que, num primeiro momento, pretendia redenir o papel do Estado (nas trs esferas de governo); estabelecer as bases do funcionamento da administrao pblica; xar o destino da funo pblica; reformular as estruturas do Poder Executivo federal e de seus rgos e entidades; racionalizar os procedimentos administrativos em vigor; alm de traar metas para reas consideradas prioritrias, como a organizao federal, recursos humanos e a informatizao do setor pblico. Nessa poca, ainda operavam os programas de privatizao e desburocratizao herdados do governo Figueiredo.

    Segundo Marcelino (2003:646), o documento elaborado pela comisso geral da reforma dene as propostas para a reorganizao da administrao pblica:

    restaurao da cidadania para prover os cidados de meios para a realizao de seus direitos, obedecendo aos critrios de universalidade e acesso irrestrito;

    democratizao da ao administrativa em todos os nveis do governo, por meio de dinamizao, reduo do formalismo e transparncia dos mecanismos de controle, controle do Poder Executivo pelo Poder Legislativo e pela sociedade, e articulao e proposio de novas modalidades organizacionais de deciso, execuo e controle administrativo-institucional;

    descentralizao e desconcentrao da ao administrativa com o objetivo de situar a deciso pblica prxima do local de ao, alm de reverter o processo de crescimento desordenado da administrao federal;

    revitalizao do servio pblico e valorizao dos servios;

    melhoria dos padres de desempenho am de promover a alocao mais eciente de recursos.

    Essa comisso, criada em agosto de 1985, suspende seus trabalhos em fevereiro de 1986, quando todas as atenes e esforos estavam voltados para o plano de estabilizao da economia o Plano Cruzado.

    A reforma do governo Collor

    A rpida passagem de Collor pela presidncia provocou, na administrao pblica, uma desagregao e um estrago cultural e psicolgico impressionantes. A administrao

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    pblica sentiu profundamente os golpes desferidos pelo governo Collor, com os servidores descendo aos degraus mais baixos da auto-estima e valorizao social, depois de serem alvos preferenciais em uma campanha poltica altamente destrutiva e desagregadora. Torres (2004:170)

    Sua reforma administrativa caminhou de forma errtica e irresponsvel no sentido da desestatizao e da racionalizao. As medidas de racionalizao foram conduzidas de maneira perversa e equivocada. Algumas das extines tiveram que ser logo revistas, como a da Capes, por exemplo. Muitas das fuses, principalmente de ministrios, no eram convenientes, pois criavam superestruturas (como os ministrios da Economia e da Infra-Estrutura) sujeitas a presses de interesses poderosos, e dicultavam a superviso que intentavam favorecer.

    Os cortes de pessoal, desnecessrios, se examinarmos a administrao como um todo, no trouxeram expressiva reduo de custos. A reforma administrativa desmantelou os aparelhos de promoo da cultura e contribuiu ou, pelo menos, serviu de pretexto para a paralisao de todos os programas sociais. Depois do incio da crise de seu governo, Collor voltou ao velho sistema de concesses polticas para atrair apoios, desmembrando e criando ministrios.

    Vejamos uma questo da ESAF, sobre tudo o que j estudamos at aqui, que foi copiada do texto do prof. Frederico Lustosa:

    11. (ESAF/MPOG/EPPGG/2009)

    Em nosso pas, o processo que permeia a formao do Estado nacional e da administrao pblica se revela pelas seguintes constataes, exceto:

    a) a administrao colonial se caracterizou pela centralizao, formalismo e morosidade, decorrentes, em grande parte, do vazio de autoridade no imenso territrio.

    b) a partir da administrao pombalina, pouco a pouco, o empirismo paternalista do absolutismo tradicional foi sendo substitudo pelo racionalismo tpico do despotismo esclarecido.

    c) a transferncia da corte portuguesa, em 1808, e a consequente elevao do Brasil a parte integrante do Reino Unido de Portugal constituram as bases do Estado nacional, com todo o aparato necessrio afirmao da soberania e ao funcionamento do autogoverno.

    d) a partir da Revoluo de 1930, o Brasil passou a empreender um continuado processo de modernizao das estruturas e processos do

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    aparelho do Estado.

    e) a Repblica Velha, ao promover grandes alteraes na estrutura do governo, lanou a economia rumo industrializao e a administrao pblica rumo burocracia weberiana

    Comentrio:

    Essa questo foi extrada do texto base da nossa aula, do professor Frederico Lustosa.

    Gabarito: E

    5. A REFORMA GERENCIAL

    preciso, agora, dar um salto adiante, no sentido de uma administrao pblica que chamaria de gerencial, baseada em conceitos atuais de administrao e eficincia, voltada para o controle dos resultados e descentralizada para poder chegar ao cidado, que, numa sociedade democrtica, quem d legitimidade s instituies e que, portanto, se torna cliente privilegiado dos servios prestados pelo Estado. (Trecho escrito por Fernando Henrique Cardoso, extrado do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado)

    Nada melhor do que estudarmos a reforma gerencial a partir do prprio documento que a instituiu, at mesmo porque, vocs percebero durante as questes comentadas, a maior parte das questes de provas so extradas de tal documento: Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE). Atrelada a essa anlise vamos verificar alguns trechos do artigo: REFLEXES SOBRE A REFORMA GERENCIAL BRASILEIRA DE 1995, de autoria de Luiz Carlos Bresser Pereira.

    A Reforma Gerencial de 1995 est substituindo a atual administrao pblica burocrtica misturada a prticas clientelistas ou patrimonialistas por uma administrao pblica gerencial, que adota os princpios da "nova gesto pblica" (new public management).

    A Reforma Gerencial de 1995 foi definida inicialmente no Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado (1995). Neste documento, aps constatar a ineficincia do servio pblico existente no Brasil, desenvolve-se um quadro terico para a reforma, inspirado nas reformas gerenciais que esto sendo implementadas desde a dcada de 80 em certos pases da

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    OCDE, e particularmente na Gr-Bretanha. A reforma envolve: a) a descentralizao dos servios sociais para estados e municpios; b) a delimitao mais precisa da rea de atuao do Estado, estabelecendo-se uma distino entre as atividades exclusivas que envolvem o poder do Estado e devem permanecer no seu mbito, as atividades sociais e cientficas que no lhe pertencem e devem ser transferidas para o setor pblico no-estatal, e a produo de bens e servios para o mercado; c) a distino entre as atividades do ncleo estratgico, que devem ser efetuadas por polticos e altos funcionrios, e as atividades de servios, que podem ser objeto de contrataes externas; d) a separao entre a formulao de polticas e sua execuo; e) maior autonomia e para as atividades executivas exclusivas do Estado que adotaro a forma de "agncias executivas"; f) maior autonomia ainda para os servios sociais e cientficos que o Estado presta, que devero ser transferidos para (na prtica, transformados em) "organizaes sociais", isto , um tipo particular de organizao pblica no-estatal, sem fins lucrativos, contemplada no oramento do Estado (como no caso de hospitais, universidades, escolas, centros de pesquisa, museus, etc.); g) assegurar a responsabilizao (accountability) atravs da administrao por objetivos, da criao de quase-mercados, e de vrios mecanismos de democracia direta ou de controle social, combinados com o aumento da transparncia no servio pblico, reduzindo-se concomitantemente o papel da definio detalhada de procedimentos e da auditoria ou controle interno os controles clssicos da administrao pblica burocrtica que devem ter um peso menor.

    Uma caracterstica essencial da reforma do Estado brasileira, prevista no Plano Diretor mas anterior a ele, como tambm o a descentralizao para estados e municpios de servios sociais, foi a deciso de privatizar as empresas estatais que produzem bens e servios para o mercado. O Plano Diretor, previa ainda uma mudana que estava apenas comeando no setor pblico: a terceirizao das atividades de apoio para o setor privado, desde servios simples como segurana e limpeza, at complexos como consultoria e servios de computao. Enquanto se terceirizavam para o setor privado essas atividades, a proposta talvez mais inovadora do Plano Diretor fosse transferir as atividades sociais e cientficas que a sociedade acredita devam ser total ou parcialmente financiadas pelo Tesouro para setor pblico no-estatal, transformando-as em organizaes sociais. Por outro lado, grande nfase era no dada Plano Diretor ao fortalecimento do ncleo estratgico do Estado, onde as decises de polticas so tomadas por polticos e altos funcionrios.

    Em sntese, a Reforma Gerencial da Administrao Pblica Brasileira

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    lanada em 1995 avanou nas trs dimenses previstas pelo Plano Diretor: a institucional, a cultural e a gerencial. Criaram-se novas instituies, surgiu uma nova viso da administrao pblica, e novas prticas gerenciais esto comeando a ser adotadas.

    A administrao pblica no governo Lula (por Fernando Abrcio)

    O governo Lula continuou uma srie de iniciativas advindas da experincia anterior da modernizao do Estado brasileiro, particularmente no reforo de algumas carreiras, no campo do governo eletrnico e na nova moldagem que deu Controladoria Geral da Unio, hoje um importante instrumento no combate ineficincia e corrupo.

    O ponto mais visvel da presidncia Lula no campo da administrao pblica tem sido, at agora, sua incapacidade de estabelecer uma agenda em prol da reforma da gesto pblica. Interessante notar que inovaes administrativas ocorreram em vrias polticas pblicas, como na Bolsa Famlia e nas propostas da rea educacional, com instrumentos de monitoramento e avaliao bastante avanados. Porm, tais avanos no se espalham para todo o governo, cuja fragmentao um obstculo modernizao.

    A pior caracterstica do modelo administrativo do governo Lula foi o amplo loteamento dos cargos pblicos, para vrios partidos e em diversos pontos do Executivo federal, inclusive com uma forte politizao da administrao indireta e dos fundos de penso. Esse processo no foi inventado pela gesto petista, mas sua amplitude e vinculao com a corrupo surpreendem negativamente por conta do histrico de luta republicana do Partido dos Trabalhadores. Se houve algo positivo na crise poltica de 2005 que, depois do conhecimento pelo grande pblico do patrimonialismo presente em vrios rgos da administrao direta e em estatais, tornou-se mais premente o tema da profissionalizao da burocracia brasileira.

    Outra experincia bem-sucedida no campo da gesto pblica no governo Lula se deu no plano federativo, representada por duas aes: o Programa Nacional de Apoio Modernizao da Gesto e do Planejamento dos Estados e do Distrito Federal (Pnage) e o Programa de Modernizao do Controle Externo dos Estados e Municpios Brasileiros (Promoex). Esses projetos tm como objetivo modernizar a administrao pblica das instncias subnacionais, particularmente no nvel estadual.

    O Pnage e o Promoex no so os primeiros programas de modernizao das instituies subnacionais comandados pelo governo

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    federal. No governo FHC houve o avano do Programa Nacional de Apoio Administrao Fiscal para os Estados Brasileiros (Pnafe), que teve um carter pioneiro no auxlio aos governos estaduais na rea financeira. No entanto, os dois programas supracitados so diferentes em razo de tratarem basicamente da temtica da gesto pblica. Depois de duas dcadas de reformas nas quais a reduo do aparato e dos gastos estatais constituiu o fio condutor do processo, o Pnage e o Promoex priorizam a reconstruo da administrao pblica em suas variveis vinculadas ao planejamento, aos recursos humanos, sua interconexo com as polticas pblicas e ao atendimento dos cidados.

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    6. QUESTES COMENTADAS

    1. (FGV/FIOCRUZ/ ANALISTA DE GESTO EM SADE/2010)

    Dentre as vrias razes para o interesse na reforma do Estado dos anos 90, segundo Bresser Pereira (2001), a razo bsica, provavelmente, se sustentava na percepo generalizada de que no bastava o ajuste estrutural para se retomar o crescimento. Esse entendimento tinha como referncia os resultados do ajuste fiscal empreendido pelos pases endividados na dcada anterior, que apesar de positivos superando aspectos agudos da crise, no possibilitou a retomada do crescimento. A premissa neoliberal que estava por trs das reformas de que o ideal era um Estado mnimo, ao qual caberia apenas garantir os direitos de propriedade, deixando ao mercado a total coordenao da economia provou ser irrealista. Em outra anlise, ficou claro que o principal motivo da grande crise dos anos 80 foi o Estado (provocada por uma crise fiscal do Estado, uma do tipo de interveno estatal e uma crise da forma burocrtica de administrao do Estado). Com base na proposta de que um Estado mnimo no realista e de que o fator bsico subjacente crise econmica a crise do Estado, analise as afirmativas a seguir que podem representar solues para esse problema.

    I. A privatizao do Estado ou a impermeabilidade dos patrimnios pblico e privado.

    II. A reconstruo ou reformulao do Estado ao invs de seu definhamento.

    III. A adoo de uma administrao que no visa ao lucro mas satisfao do interesse pblico.

    Assinale:

    (A) se somente a afirmativa I for pertinente.

    (B) se somente a afirmativa II for pertinente.

    (C) se somente a afirmativa III for pertinente.

    (D) se somente as afirmativas I e II forem pertinentes

    (E) se somente as afirmativas I e III forem pertinentes.

    Comentrio:

    Essa uma dentre as vrias questes de provas extradas do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), publicado em meados da dcada de 1990, sob responsabilidade do extinto Ministrio da

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    Administrao e Reforma do Estado (MARE) que poca era capitaneado pelo ento ministro Luiz Carlos Bresser Pereira.

    O cabealho da questo tem como pano de fundo a crise do Estado que eclodiu com toda fora na dcada de 80 (chamada de a dcada perdida). No PDRAE, Bresser Pereira traa um paralelo entre essa grande crise dos anos 80 (que teve sua fase embrionria na dcada de 70, notadamente a partir da crise do petrleo em 1973) e a crise de 1929 que teve seu estopim no Crack da Bolsa de Valores de Nova York. Desse modo, Bresser Pereira estabeleceu que:

    Crise de 1929 Trata-se de uma crise de mercado, ou seja, a mesma foi decorrente dos mercados, notadamente os mercados de capitais.

    Crise dos anos 80 Trata-se de uma crise do Estado. Vale citar uma passagem do PDRAE: No Brasil, embora esteja presente desde os anos 70, a crise do Estado somente se tornar clara a partir da segunda metade dos anos 80. Suas manifestaes mais evidentes so a prpria crise fiscal e o esgotamento da estratgia de substituio de importaes, que se inserem num contexto mais amplo de superao das formas de interveno econmica e social do Estado. Adicionalmente, o aparelho do Estado concentra e centraliza funes, e se caracteriza pela rigidez dos procedimentos e pelo excesso de normas e regulamentos.

    Feitas essas consideraes, vamos analisar as questes e verificar quais solues seriam possveis para a crise do Estado:

    I. Errada. Proposta totalmente absurda. O Estado efetivamente havia crescido demais. Tnhamos um nmero muito grande empresas que faziam parte do Estado e que eram deficitrias, mas falar em privatizao DO ESTADO no faz sentido. Por outro lado, a interpermeabilidade entre os patrimnios pblico e privado deve ser combatida em todas as suas formas. Trata-se do patrimonialismo.

    II. Certa. Segundo Bresser Pereira o grande objetivo seria reconstruir o Estado. Seguem trechos do PDRAE que sustentam essa posio:

    Este Plano Diretor procura criar condies para a reconstruo da administrao pblica em bases modernas e racionais

    Dada a crise do Estado e o irrealismo da proposta neoliberal do Estado mnimo, necessrio reconstruir o Estado, de forma que ele no apenas garanta a propriedade e os contratos, mas tambm exera seu papel complementar ao mercado na coordenao da economia e na busca da reduo das desigualdades sociais.

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    Reformar o Estado significa melhorar no apenas a organizao e o pessoal do Estado, mas tambm suas finanas e todo o seu sistema institucional-legal, de forma a permitir que o mesmo tenha uma relao harmoniosa e positiva com a sociedade civil.

    III. Errada. Essa foi a opo que deu briga... e uma briga danada. Segundo David Osborne e Ted Gaebler, autores do Best-seller Reinventando o governo: como o esprito empreendedor est transformando o setor pblico a administrao pblica deve sim buscar o lucro e nos casos em que prestar os mesmos servios que uma empresa privada deve ter todas as condies de disputar o mercado. Embora no fique claro, podemos deduzir a possibilidade de obteno de lucros (claro que todo ele reinvestido na prpria administrao pblica) por parte da administrao quando o PDRAE revela:

    Enquanto a administrao de empresas est voltada para o lucro privado, para a maximizao dos interesses dos acionistas, esperando-se que, atravs do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administrao pblica gerencial est explcita e diretamente voltada para o interesse pblico.

    Podemos deduzir que se h o lucro PRIVADO, tambm deve existir o lucro do setor pblico, visualizando-o, notadamente, em instituies como a Petrobrs e o Banco do Brasil.

    Por fim, o PDRAE afirma que o Setor de Produo de Bens e Servios para o Mercado corresponde rea de atuao das empresas. caracterizado pelas atividades econmicas voltadas para o lucro que ainda permanecem no aparelho do Estado como, por exemplo, as do setor de infra-estrutura. Esto no Estado seja porque faltou capital ao setor privado para realizar o investimento, seja porque so atividades naturalmente monopolistas, nas quais o controle via mercado no possvel, tornando-se necessrio no caso de privatizao, a regulamentao rgida.

    Gabarito: B

    2. (FGV/FIOCRUZ/ ANALISTA DE GESTO EM SADE/2010)

    A inteno das reformas administrativas a construo de um Estado novo, que surgir como resultado de reformas profundas que o habilitaro a desempenhar as funes que o mercado no capaz de executar. Nesse contexto, analise as afirmativas a seguir.

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    I. O objetivo construir um Estado que responda s necessidades de seus cidados.

    II. O objetivo construir um Estado democrtico, no qual seja possvel aos polticos fiscalizar o desempenho dos burocratas e estes sejam obrigados, por lei a lhes prestar contas.

    III. O objetivo construir um Estado no qual os eleitores possam fiscalizar o desempenho dos polticos e estes tambm sejam obrigados por lei a lhes prestar contas.

    Assinale:

    (A) se somente a afirmativa I estiver correta.

    (B) se somente a afirmativa II estiver correta.

    (C) se somente a afirmativa III estiver correta.

    (D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

    (E) se as afirmativas I, II e III estiverem corretas.

    Comentrio:

    Interessante o cabealho dessa questo ao afirmar que reformas profundas habilitaro o Estado a desempenhar as funes que o mercado no capaz de executar. Vale repisar um texto do PDRAE que corrobora tal afirmao:

    Esto no Estado seja porque faltou capital ao setor privado para realizar o investimento, seja porque so atividades naturalmente monopolistas, nas quais o controle via mercado no possvel, tornando-se necessrio no caso de privatizao, a regulamentao rgida.

    Todas as opes esto corretas e so objetivos que foram expostos no PDRAE.

    Gabarito: E

    3. (FGV/BAHIAGS/ ANALISTA DE PROCESSOS/2010)

    Na administrao do Estado moderno, reforma administrativa burocrtica trata-se

    (A) da orientao da transio do Estado burocrtico para o Estado gerencial.

    (B) do processo de transio do Estado patrimonial para o Estado burocrtico weberiano.

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    (C) da gesto do processo de transio da Administrao Pblica tradicionalista para o Estado gerencial patrimonial.

    (D) do processo de transio do Estado burocrtico weberiano para o Estado patrimonial.

    (E) da reforma da gesto pblica orientando o conjunto de atividades destinadas execuo de obras e servios, comissionados ao governo para o interesse da sociedade.

    Comentrio:

    Vamos analisar as opes:

    a) Errada. Essa transio diz respeito reforma administrativa gerencial.

    b) Certa.

    c) Errada. Absurda.

    d) Errada. O processo foi inverso, ou seja, passamos de um estado patrimonial para um estado predominantemente burocrtico. Fiz uma ressalva na expresso predominantemente tendo em vista que consensual na doutrina que o Brasil nunca conseguiu implantar em sua plenitude uma administrao 100% burocrtica tal qual os postulados de Max Weber. Nossas estruturas sempre foram (e so) permeadas por prticas patrimonialistas, ou seja, apropriao do pblico pelo privado.

    e) Errada. Absurda.

    Gabarito: B

    4. (FGV/BAHIAGS/ ANALISTA DE PROCESSOS/2010)

    Na administrao pblica gerencial a estratgia fundamenta-se

    I. na definio precisa dos objetivos que o administrador pblico dever atingir em sua unidade.

    II. na garantia de autonomia do administrador na gesto dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados disposio para que possa atingir os objetivos contratados.

    III. no combate corrupo e ao nepotismo patrimonialista tendo como princpios orientadores a profissionalizao, a ideia de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade e o formalismo.

    IV. na estrutura de controles rgidos dos processos da efetividade no controle dos abusos na prestao de servios ao cidado.

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    V. no argumento de que a administrao pblica deve ser permevel maior participao dos agentes privados e/ou das organizaes da sociedade civil e deslocar a nfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins).

    correto o que consta APENAS em

    (A) III e IV.

    (B) IV e V.

    (C) I ,II e III.

    (D) I, II e V.

    (E) II,III e IV.

    Comentrio:

    Mais uma dentre as vrias questes copiadas e coladas do PDRAE, segue o trecho. Vou sublinhar os trechos que esto expressos nos itens I, II e V da questo:

    Na administrao pblica gerencial a estratgia volta-se:

    (1) para a definio precisa dos objetivos que o administrador pblico dever atingir em sua unidade,

    (2) para a garantia de autonomia do administrador na gesto dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados disposio para que possa atingir os objetivos contratados, e

    (3) para o controle ou cobrana a posteriori dos resultados.

    Adicionalmente, pratica-se a competio administrada no interior do prprio Estado, quando h a possibilidade de estabelecer concorrncia entre unidades internas. No plano da estrutura organizacional, a descentralizao e a reduo dos nveis hierrquicos tornam-se essenciais. Em suma, afirma-se que a administrao pblica deve ser permevel maior participao dos agentes privados e/ou das organizaes da sociedade civil e deslocar a nfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins).

    III. Errada. Embora o patrimonialismo e a corrupo sejam pragas a serem combatidas, a estratgia no se funda nesse ponto. Alm disso, os princpios orientadores propostos na questo esto mais voltadas burocracia.

    IV. Errada. Controles rgidos de processos so caractersticas da burocracia.

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    Gabarito: D

    5. (FGV/ALEAM/ANALISTA DE CONTROLE/2011)

    A reforma administrativa levada a cabo pelo Governo Fernando Henrique Cardoso foi centrada no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), instrumento balizador da reestruturao do aparelho do Estado com o objetivo fundamental de combater a cultura burocrtica que emperrava a Administrao Pblica. Analise os objetivos relacionados a seguir.

    I. Aumentar a governana do Estado, ou seja, sua capacidade administrativa de governar com efetividade e eficincia, voltando a ao dos servios do Estado para o atendimento dos cidados.

    II. Limitar a ao do Estado quelas funes que lhe so prprias, reservando, em princpio, os servios no-exclusivos para a propriedade pblica no-estatal, e a produo de bens e servios para o mercado para a iniciativa privada.

    III. Transferir da Unio para os estados e municpios as aes de carter local: s em casos de emergncia cabe a ao direta da Unio.

    Assinale

    (A) se apenas o objetivo I integrava o PDRAE.

    (B) se apenas os objetivos I e II integravam o PDRAE.

    (C) se apenas os objetivos I e III integravam o PDRAE.

    (D) se apenas os objetivos II e III integravam o PDRAE.

    (E) se todos os objetivos integravam o PDRAE.

    Comentrio:

    D-lhe PDRAE. Questo literal, faz parte dos objetivos globais do PDRAE. (Ver item 6.1):

    http://www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/PlanoDiretor/planodiretor.pdf

    Gabarito: E

    6. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2008)

    A abordagem da administrao pblica gerencial surgiu na segunda metade do sculo XX como uma resposta insatisfao

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    em diversos setores com relao administrao pblica burocrtica. Nesse sentido, a administrao pblica gerencial:

    I. principalmente orientada para os processos;

    II. principalmente orientada pelo princpio da descentralizao administrativa;

    III. principalmente voltada para o controle de desempenho;

    IV. auto-referente.

    Analise os itens acima e assinale:

    (A) se apenas os itens II e III estiverem corretos.

    (B) se apenas os itens I e IV estiverem corretos.

    (C) se apenas os itens I e II estiverem corretos.

    (D) se apenas os itens III e IV estiverem corretos.

    (E) se todos os itens estiverem corretos.

    Comentrio:

    Questo inspirada no artigo: Administrao pblica gerencial: estratgia e estrutura para um novo Estado, de Luiz Carlos Bresser Pereira, disponvel em:

    http://www.enap.gov.br/index.php?option=content&task=view&id=259

    Segundo o referido artigo: No lugar da velha administrao pblica burocrtica, emergiu uma nova forma de administrao a administrao pblica gerencial , que tomou emprestado do setor privado os imensos avanos prticos e tericos ocorridos no sculo XX na administrao das empresas, sem contudo perder sua caracterstica especfica: a de ser uma administrao que no est orientada para o lucro, mas para o atendimento do interesse pblico. nova administrao pblica no basta ser efetiva em evitar o nepotismo e a corrupo: ela tem de ser eficiente em prover bens pblicos e semipblicos, que cabe ao Estado diretamente produzir ou, indiretamente, financiar.

    Vamos analisar cada uma das opes:

    I. Errada. orientada para resultados.

    II. Certa.

    III. Certa.

    IV. Errada. A burocracia se tornou auto-referente, ou seja, as pessoas internalizaram as regras e regulamentos de tal modo que o objetivo

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    passou a ser cumpri-los, em detrimento do atendimento s necessidades do cidado.

    Gabarito: A

    7. (FGV/TCM-PA/FISCAL DE RENDAS/2008)

    Em relao evoluo do pensamento da Administrao Pblica no Brasil, assinale a afirmativa incorreta.

    (A) No Brasil, o modelo de administrao burocrtica emerge a partir dos anos 30. Surge no quadro da acelerao da industrializao brasileira, em que o Estado assume papel decisivo, intervindo pesadamente no setor produtivo de bens e servios. A partir da reforma empreendida no governo Vargas por Maurcio Nabuco e Luiz Simes Lopes, a administrao pblica sofre um processo de racionalizao que se traduziu no surgimento das primeiras carreiras burocrticas e na tentativa de adoo do concurso como forma de acesso ao servio pblico. A implantao da administrao pblica burocrtica uma conseqncia clara da emergncia de um capitalismo moderno no pas.

    (B) A reforma operada em 1967 pelo Decreto-Lei n 200 constitui um marco na tentativa de superao da rigidez burocrtica, podendo ser considerada como um primeiro momento da administrao gerencial no Brasil. Mediante o referido decreto-lei, realizou-se a transferncia de atividades para autarquias, fundaes, empresas pblicas e sociedades de economia mista, a fim de obter-se maior dinamismo operacional por meio da descentralizao funcional. Instituram-se, como princpios de racionalidade administrativa, o planejamento e o oramento, o descongestionamento das chefias executivas superiores (desconcentrao/descentralizao), a tentativa de reunir competncia e informao no processo decisrio, a sistematizao, a coordenao e o controle.

    (C) No incio dos anos 80, registrou-se uma nova tentativa de reformar a burocracia e orient-la na direo da administrao pblica gerencial, com a criao do Ministrio da Desburocratizao e do Programa Nacional de Desburocratizao PrND, cujos objetivos eram a revitalizao e agilizao das organizaes do Estado, a descentralizao da autoridade, a melhoria e simplificao dos processos administrativos e a

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    promoo da eficincia. As aes do PrND voltaram-se inicialmente para o combate burocratizao dos procedimentos. Posteriormente, foram dirigidas para o desenvolvimento do Programa Nacional de Desestatizao, num esforo para conter os excessos da expanso da administrao descentralizada, estimulada pelo Decreto-Lei n 200/67.

    (D) O Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, da dcada de 1990, preconizava que na administrao pblica gerencial a estratgia se volta:

    (i) para a definio precisa dos objetivos que o administrador pblico dever atingir em sua unidade;

    (ii) para a garantia de autonomia do administrador na gesto dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados disposio para que possa atingir os objetivos contratados; e

    (iii) para o controle ou cobrana a posteriori dos resultados. Adicionalmente, pratica-se a competio administrada no interior do prprio Estado, quando h a possibilidade de estabelecer concorrncia entre unidades internas. No plano da estrutura organizacional, a descentralizao e a reduo dos nveis hierrquicos tornam-se essenciais e, enfim, negava todos os Princpios da Administrao Burocrtica.

    (E) Nos anos 2000, podemos elencar como novas ferramentas de Administrao Pblica o uso das Parcerias Pblico-Privadas e a aprovao da legislao sobre consrcios pblicos, o que pode gerar um novo arranjo de gesto frente a alguns problemas referentes questo federativa.

    Comentrio:

    Questo tpica da FGV. Loooongaaaaaaaaaaaaaaa.

    Percebam que o examinador pede a opo INCORRETA. Desse modo, essa uma excelente questo para voc ler e reler como um texto de estudo.

    a) Certa. Retirada do PDRAE (item 3.1 a Reforma do DASP)

    b) Certa. Retirada do PDRAE (item 3.2 Rumo administrao gerencial)

    c) Certa. Retirada do PDRAE (item 3.2 Rumo administrao gerencial)

    d) Errada. Retirada do PDRAE.

    O nico erro foi a parte final: e, enfim, negava todos os Princpios da Administrao Burocrtica. Guardem de uma vez por todas. A

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    ADMINISTRAO PBLICA GERENCIAL NO VISAVA SUPLANTAR INTEGRALMENTE A ADMNISTRAO PBLICA BUROCRTICA.

    Vejamos trechos do PDRAE que sustentam essa tese:

    Como j vimos, existem ainda hoje duas formas de administrao pblica relevantes: a ADMINISTRAO PBLICA BUROCRTICA e a ADMINISTRAO PBLICA GERENCIAL. A primeira, embora sofrendo do excesso de formalismo e da nfase no controle dos processos, tem como vantagens a segurana e a efetividade das decises. J a administrao pblica gerencial caracteriza-se fundamentalmente pela eficincia dos servios prestados a milhares seno milhes de cidados. Nestes termos, no ncleo estratgico, em que o essencial a correo das decises tomadas e o princpio administrativo fundamental o da efetividade, entendido como a capacidade de ver obedecidas e implementadas com segurana as decises tomadas, mais adequado que haja um misto de administrao pblica burocrtica e gerencial.

    e) Certa.

    Gabarito: D

    8. (FGV/TCM-RJ/FISCAL DE RENDAS/2008)

    importante ressaltar que a redefinio do papel do Estado um tema de alcance universal nos anos 90. No Brasil, essa questo adquiriu importncia decisiva, tendo em vista o peso da presena do Estado na economia nacional: tornou-se, conseqentemente, inadivel equacionar a questo da reforma ou da reconstruo do Estado, que j no consegue atender com eficincia a sobrecarga de demandas a ele dirigidas, sobretudo na rea social. A reforma do Estado no , assim, um tema abstrato: ao contrrio, algo cobrado pela cidadania, que v frustradas suas demandas e expectativas.

    A crise do Estado teve incio nos anos 70, mas s nos anos 80 se tornou evidente. Paralelamente ao descontrole fiscal, diversos pases passaram a apresentar reduo nas taxas de crescimento econmico, aumento do desemprego e elevados ndices de inflao.

    Aps vrias tentativas de explicao, tornou-se claro, afinal, que a causa da desacelerao econmica nos pases desenvolvidos e dos graves desequilbrios na Amrica Latina e no Leste Europeu era a crise do Estado, que no soubera processar de forma adequada a

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    sobrecarga de demandas a ele dirigidas. A desordem econmica expressava agora a dificuldade do Estado em continuar a administrar as crescentes expectativas em relao poltica de bem-estar aplicada com relativo sucesso no ps-guerra.

    (Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado)

    O Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado representou um marco na implementao da Nova Administrao Pblica no Brasil, iniciando, na prtica, a transio do modelo racional-legal ao paradigma ps-burocrtico. Ele trazia uma srie de conceitos e pressupostos.

    Em relao ao plano, assinale a afirmativa incorreta.

    (A) O Plano considerava que o modelo burocrtico tradicional, que a Constituio de 1988 e todo o sistema do Direito Administrativo brasileiro privilegiam, est baseado no formalismo, no excesso de normas e na rigidez de procedimentos.

    (B) O Plano preconizava que a legislao que regula as relaes de trabalho no setor pblico inadequada, notadamente pelo seu carter protecionista e inibidor do esprito empreendedor. So exemplos imediatos desse quadro a aplicao indiscriminada do instituto da estabilidade para o conjunto dos servidores pblicos civis submetidos a regime de cargo pblico e de critrios rgidos de seleo e contratao de pessoal que impedem o recrutamento direto no mercado, em detrimento do estmulo competncia.

    (C) No plano administrativo, a administrao pblica burocrtica surgiu conjuntamente com o Estado liberal, exatamente como uma forma de defender a coisa pblica contra o patrimonialismo. No entanto, medida que o Estado assumia a responsabilidade pela defesa dos direitos sociais e crescia em dimenso, foi-se percebendo que os custos dessa defesa podiam ser mais altos que os benefcios do controle. Por isso, neste sculo as prticas burocrticas vm sendo substitudas por um novo tipo de administrao: a administrao gerencial.

    (D) No ncleo estratgico, a propriedade tem que ser necessariamente estatal. Nas atividades exclusivas de Estado, em que o poder extroverso de Estado exercido, a propriedade tambm s pode ser estatal.

    (E) Considerava que Atividades Exclusivas o setor em que so prestados servios que s o Estado pode realizar. So servios em que se exerce o poder extroverso do Estado. So exemplos desse

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    setor as universidades, os hospitais, os centros de pesquisa e os museus.

    Comentrio:

    Mais uma questo colossal, em termo de tamanho, e tambm oriunda do PDRAE. Prestem ateno ao fato de que o examinador que saber qual a opo incorreta.

    a) Certa.

    b) Certa.

    c) Certa.

    d) Certa.

    e) Errada. O nico erro est bem no fim da questo, quando o examinador comea a exemplificar quais so as atividades exclusivas: universidades, os hospitais, os centros de pesquisa e os museus. Essas instituies fazem parte do setor de servios no exclusivos. Vejamos o PDRAE:

    SERVIOS NO EXCLUSIVOS. Corresponde ao setor onde o Estado atua simultaneamente com outras organizaes pblicas no-estatais e privadas. As instituies desse setor no possuem o poder de Estado. Este, entretanto, est presente porque os servios envolvem direitos humanos fundamentais, como os da educao e da sade, ou porque possuem economias externas relevantes, na medida em que produzem ganhos que no podem ser apropriados por esses servios atravs do mercado. As economias produzidas imediatamente se espalham para o resto da sociedade, no podendo ser transformadas em lucros. So exemplos deste setor: as universidades, os hospitais, os centros de pesquisa e os museus.

    Percebam que, mais uma vez, o examinador copiou e colou na prova. Isso explica o porqu de utilizarmos muitas citaes em nossas aulas. No importa o que eu penso, o que importa voc ler o que cai na prova. Aqui treino... treino forte para passar. Vamos em frente, guerreiros!

    Gabarito: E

    9. (FCC/PGE-RJ/TCNICO SUPERIOR ADMINISTRAO/2009)

    Sobre a redefinio do papel do Estado, iniciada com as reformas administrativas do governo Fernando Henrique Cardoso:

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    I. O Estado brasileiro deixou gradualmente de se orientar para a interveno direta, deixando que as atividades econmicas e as polticas sociais fossem operadas por mecanismos tpicos de mercado baseados na livre concorrncia.

    II. As Agncias Reguladoras passaram a regular parte importante dos setores econmicos privatizados.

    III. A principal inovao proposta pelo Plano Diretor de Reforma do Aparelho de Estado foi a criao das Agncias Executivas, que iriam substituir as estruturas de implementao de polticas pblicas subordinadas aos ministrios.

    IV. O Ncleo Estratgico foi revalorizado atravs de polticas de recomposio salarial e concursos dirigidos s carreiras de estado.

    V. As Organizaes Sociais, impostas aos ministrios da Sade, Educao e Cultura, substituram as Autarquias e Fundaes, a partir de 1995.

    (A) Esto corretas APENAS as afirmativas I e II.

    (B) Esto corretas APENAS as afirmativas I, II e V.

    (C) Esto corretas APENAS as afirmativas II, III e IV.

    (D) Esto corretas APENAS as afirmativas III e IV.

    (E) Esto corretas APENAS as afirmativas III, IV e V.

    Comentrio:

    I. Certa.

    II. Certa.

    III. Errada. O PDRAE sequer utiliza a expresso agncias reguladoras. Quando muito fala em agncias autnomas com poder de estado. Mas no possvel, nem de longe, afirmar que essa a principal inovao proposta pelo plano.

    IV. Certa.

    V. Errada. Totalmente absurda.

    Gabarito: B

    10. (ESAF/AFT/AUDITOR FISCAL/2010)

    Sobre as experincias de reformas administrativas em nosso pas, correto afirmar:

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    a) a implantao do DASP e a expedio do Decreto-Lei n. 200/67 so exemplos de processos democrticos de reformismo baseados no debate, na negociao e em um modelo decisrio menos concentrador.

    b) ainda que o formalismo e a rigidez burocrtica sejam atacados como males, alguns alicerces do modelo weberiano podem constituir uma alavanca para a modernizao, a exemplo da meritocracia e da clara distino entre o pblico e o privado.

    c) o carter neoliberal do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado foi a mola propulsora de seu amplo sucesso e da irrestrita adeso pelo corporativismo estatal.

    d) j nos anos 1980, o Programa Nacional de Desburocratizao propunha uma engenharia institucional capaz de estabelecer um espao pblico no-estatal, com a incorporao das Organizaes Sociais.

    e) desde os anos 1990, a agenda da gesto pblica tem sido continuamente enriquecida, sendo hoje mais importante que as agendas fiscal ou econmica.

    Comentrio:

    Vamos analisar as opes:

    a) Errada. Nenhuma das duas reformas foram oriundas de um processo democrtico, principalmente a de 1967 que ocorreu no auge da ditadura militar brasileira.

    b) Certa. Outro ponto que sustenta a tese de que a administrao pblica gerencial no tinha por objetivo suplantar completamente o modelo burocrtico.

    c) Errada. Embora alguns crticos afirmem o contrrio, o fato que o mento do PDRAE, Luiz Carlos Bresser Pereira, defendeu idias que se afastavam de um ideal neoliberal, principalmente o do Estado Mnimo. Vale citar o PDRAE:

    Dada a crise do Estado e o irrealismo da proposta neoliberal do Estado mnimo, necessrio reconstruir o Estado, de forma que ele no apenas garanta a propriedade e os contratos, mas tambm exera seu papel complementar ao mercado na coordenao da economia e na busca da reduo das desigualdades sociais.

    A reao imediata crise - ainda nos anos 80, logo aps a transio democrtica - foi ignor-la. Uma segunda resposta igualmente inadequada foi a neoliberal, caracterizada pela ideologia do Estado mnimo. Ambas

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    revelaram-se irrealistas: a primeira, porque subestimou tal desequilbrio; a segunda, porque utpica. S em meados dos anos 90 surge uma resposta consistente com o desafio de superao da crise: a idia da reforma ou reconstruo do Estado, de forma a resgatar sua autonomia financeira e sua capacidade de implementar polticas pblicas

    Inclusive, Bresser Pereira, em seu artigo A administrao pblica gerencial: estratgia e estrutura para um novo Estado. Cita:

    As limitaes da interveno estatal so evidentes, mas o papel estratgico que as polticas pblicas desempenham no capitalismo contemporneo to grande que irrealista propor que sejam substitudas pela coordenao

    do mercado, nos termos sugeridos pelo pensamento neoliberal. Como Przeworski (1996: 119) observa, a viso (neoliberal) de que na ausncia de suas tradicionais falhas, os mercados seriam eficientes parece que atualmente est morta, ou pelo menos moribunda.

    d) Errada.

    e) Errada.

    Gabarito: B

    11. (ESAF/RECEITA FEDERAL/AUDITOR FISCAL/2009)

    O estudo das experincias de reformas administrativas havidas em nosso pas permite concluir, acertadamente, que:

    a) a retrica da reforma dos anos 1930 avanou do ponto de vista dos princpios polticos que a orientaram, a saber: participao, accountability e controle social.

    b) a tentativa de modernizao do aparelho de Estado, especialmente a da dcada de 1960, teve como consequncia o fortalecimento da administrao direta, em detrimento da administrao indireta.

    c) no sentido weberiano do termo, o Brasil nunca chegou a ter um modelo de burocracia pblica consolidada.

    d) ao contrrio de outros pases, o modelo de nova gesto pblica, adotado a partir dos anos 1990, possuiu inspirao autctone e em nada se valeu das experincias britnica e estadun