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20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo,… 1/36 Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 660/15.8YRLSB.L1.S1 Nº Convencional: 7ª. SECÇÃO Relator: LOPES REGO Descritores: ACÇÃO DE ANULAÇÃO DE DECISÃO ARBITRAL FUNDAMENTOS PRINCÍPIOS DO PROCESSO ARBITRAL JULGAMENTO SEGUNDO A EQUIDADE DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO FACTOS PLENAMENTE PROVADOS ACESSO AO DIREITO DESNECESSIDADE DE DILIGÊNCIAS PROBATÓRIAS ÓNUS DE RECLAMAÇÃO PRECLUSÃO Data do Acordão: 22-09-2016 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Privacidade: 1 Meio Processual: REVISTA Decisão: NEGADA A REVISTA Área Temática: DIREITO ARBITRAL – ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA / SENTENÇA ARBITRAL / IMPUGNAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL / COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS ESTADUAIS. Legislação Nacional: CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGO 4.º, ALÍNEAS B) E C), 812.º, N.º1. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 607.º, N.º4, 644.º, N.º2, AL. D), 671.º, N.º3. LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA (LAV): - ARTIGOS 39.º, 46.º, N.ºS 2, 4 E 9, 59.º, N.ºS 3 E 8. Jurisprudência Nacional: ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL: -N.ºS 310/94 E 56/97, DISPONÍVEIS EM WWW.TRIBUNALCONSTITUCIONAL.PT . Sumário : I. O regime específico constante do art. 39º da LAV não pode ser convocado e aplicado quando o tribunal arbitral tiver de aplicar uma norma legal cuja fattispecie contiver uma específica remissão para a aplicação pelo tribunal – por qualquer tribunal que for chamado a aplicar essa norma, estadual ou arbitral – de critérios de equidade, já que, neste tipo de situações, o apelo à equidade não resulta de opção das partes, tomada no exercício da sua autonomia da vontade acerca dos critérios que devem presidir à composição do litígio, mas de opção do próprio legislador, que considerou mais adequada à peculiar fisionomia do caso a dirimição do litígio segundo critérios que ultrapassam o direito estrito. II. O preciso âmbito do dever de fundamentação, no que toca à decisão proferida em sede de matéria de facto, tem de atender, em termos funcionalmente adequados, às particularidades relevantes da concreta situação litigiosa, cumprindo verificar se os alegados vícios / nulidades têm, no caso concreto, a relevância substancial susceptível de determinar – atenta a sua influência decisiva na composição do litígio - o gravoso efeito pretendido, traduzido na anulação do acórdão arbitral. III. Num litígio em que os factos essenciais alegados como causa de pedir são factos plenamente provados por documento, não tendo sido

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    Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de JustiçaProcesso: 660/15.8YRLSB.L1.S1Nº Convencional: 7ª. SECÇÃORelator: LOPES REGODescritores: ACÇÃO DE ANULAÇÃO DE DECISÃO ARBITRAL

    FUNDAMENTOS PRINCÍPIOS DO PROCESSO ARBITRAL

    JULGAMENTO SEGUNDO A EQUIDADE DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO

    FACTOS PLENAMENTE PROVADOS ACESSO AO DIREITO

    DESNECESSIDADE DE DILIGÊNCIAS PROBATÓRIAS ÓNUS DE RECLAMAÇÃO

    PRECLUSÃOData do Acordão: 22-09-2016Votação: UNANIMIDADETexto Integral: SPrivacidade: 1Meio Processual: REVISTADecisão: NEGADA A REVISTAÁrea Temática:

    DIREITO ARBITRAL – ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA / SENTENÇA ARBITRAL /IMPUGNAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL / COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAISESTADUAIS.

    Legislação Nacional:CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGO 4.º, ALÍNEAS B) E C), 812.º, N.º1.

    CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 607.º, N.º4, 644.º, N.º2, AL. D), 671.º,N.º3.

    LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA (LAV): - ARTIGOS 39.º, 46.º, N.ºS 2, 4 E 9, 59.º,N.ºS 3 E 8.

    Jurisprudência Nacional:ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL:

    -N.ºS 310/94 E 56/97, DISPONÍVEIS EM WWW.TRIBUNALCONSTITUCIONAL.PT .

    Sumário :I. O regime específico constante do art. 39º da LAV não pode serconvocado e aplicado quando o tribunal arbitral tiver de aplicar umanorma legal cuja fattispecie contiver uma específica remissão para aaplicação pelo tribunal – por qualquer tribunal que for chamado aaplicar essa norma, estadual ou arbitral – de critérios de equidade, jáque, neste tipo de situações, o apelo à equidade não resulta de opçãodas partes, tomada no exercício da sua autonomia da vontade acercados critérios que devem presidir à composição do litígio, mas de opçãodo próprio legislador, que considerou mais adequada à peculiarfisionomia do caso a dirimição do litígio segundo critérios queultrapassam o direito estrito.

    II. O preciso âmbito do dever de fundamentação, no que toca à decisãoproferida em sede de matéria de facto, tem de atender, em termosfuncionalmente adequados, às particularidades relevantes da concretasituação litigiosa, cumprindo verificar se os alegados vícios / nulidades têm, no caso concreto, a relevância substancial susceptível dedeterminar – atenta a sua influência decisiva na composição do litígio -o gravoso efeito pretendido, traduzido na anulação do acórdãoarbitral.

    III. Num litígio em que os factos essenciais alegados como causa depedir são factos plenamente provados por documento, não tendo sido

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    produzida prova sujeita a livre apreciação do tribunal, deve considerar-se suficientemente fundamentado o acórdão arbitral quando –apesar de,na sua estrutura lógico argumentativa, se não ter autonomizadoformalmente um capítulo em que se enunciam os factos consideradosprovados e não provados –se tomou posição clara e perfeitamenteinteligível sobre a questão da existência e significado dos factosessenciais articulados pelo A. , valorados segundo regras ou máximasde experiência, apreciando ainda as objecções fundamentalmentededuzidas pelo R. na contestação que apresentou.

    IV. Em processo arbitral, a parte que - confrontada com um juízoexplícito do tribunal acerca da irrelevância de certos factos articuladose com a desnecessidade de produção dos meios probatórios requeridos- não deduz qualquer oposição imediata a tal despacho interlocutório,conformando a sua subsequente actuação processual com o teor taldecisão, sem reiterar claramente ao Tribunal a essencialidade dasdiligências probatórias requeridas, vê precludida a possibilidade de,após prolação da decisão final, vir invocar a anulação da sentençaarbitral com fundamento num juízo de irrelevância factual ouprobatória com que se conformou.

    Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

    1. AA HOLDING II, SGPS, S.A veio propor contra BB –ESTACIONAMENTOS, S.A., CC, DD, EE e FF acção especial deanulação de acórdão arbitral, nos termos dos arts. 46º e 59º da Lei daArbitragem Voluntária, aprovada pela Lei n.º 63/2011, de 14 deDezembro, e dos arts. 644º e segs. do CPC, pedindo que fosse anuladoo Acórdão Arbitral de 26-03-2015, proferido no processo que, sob on.º 8/2014/INS/AVS, correu termos no Centro de ArbitragemComercial da Associação Comercial de Lisboa, da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa, em que foram partes a ora autora,como demandada, e os ora réus, como demandantes.

    Alegou como fundamento de tal pretensão que:

    Em 2002.09.04, a sociedade AA Imobiliária, SGPS, SA celebrou umcontrato-promessa de compra e venda de acções com os ora RR, nostermos e condições constantes do documento que identificou e deu porreproduzido.

    Na cláusula 14ª do referido contrato-promessa de compra e venda deacções, de 2002.09.24, estipulou-se o seguinte:

    “1. O presente contrato fica sujeito à lei portuguesa.

    2. A resolução de qualquer litígio emergente do presente contrato serásujeita às regras do Tribunal de Arbitragem Comercial do Centro deArbitragem Comercial da Câmara de Comércio e IndústriaPortuguesa/Associação Comercial de Lisboa, constituído por um ou

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    mais árbitros designados pelas partes, de acordo com as referidasregras.

    3. O Tribunal Arbitral apreciará os factos e julgará as questões dedireito de acordo com o direito constituído, sendo as respetivasdecisões irrecorríveis” (v. fls. 57 e segs. do Vol. I do Processo Arbitraln.º 9/2006/INS/AVS).

    Em 2006.07.06, a sociedade AA Imobiliária, SGPS, SA, requereu aoSenhor Presidente do Conselho de Arbitragem do Centro deArbitragem Comercial, a constituição de Tribunal Arbitral e apresentoua respectiva petição inicial

    Em 2009.07.14, o Tribunal Arbitral proferiu decisão arbitral doseguinte teor:

    “6º Julgar procedente o pedido de indemnização formulado pelaAutora na parte relativa a:

    a) Danos emergentes resultantes das despesas realizadas pela Autora,ou por sua conta, no montante de € 656.386,83 (cfr. supra III, n.º6.1.1.);

    b) Perda de lucros futuros calculados em função da participação daAutora em 52% do lucro que a sociedade GG, S.A. provavelmente iráauferir pela promoção e realização de um empreendimento imobiliáriona Feira Popular, resultante da permuta com os terrenos do ParqueMayer, ou de um empreendimento a realizar nesses terrenos,considerando porém que o Tribunal não dispõe de elementos para asua determinação actual (cfr. supra III, n.º 6.3.).

    7º Julgar procedente o pedido de aplicação da cláusula penal deindemnização mínima de cinco milhões de euros, estipulada no referidocontrato-promessa, e, em consequência, condenar solidariamente osRéus no pagamento imediato à Autora de uma indemnização provisóriade cinco milhões de euros, nos quais já se incluem os provados danosemergentes de € 656.386,83 (cfr. supra III, n.º 6.5.).

    8º Julgar procedente o pedido relativo a juros de mora legais e, emconsequência, condenar solidariamente os Réus ao pagamento àAutora de juros sobre o montante de cinco milhões de euros,calculados, a partir da data da citação dos Réus para a presenteacção, às taxas que resultarem da aplicação do artigo 102º § 3º, doCódigo Comercial (cfr. supra III, n.º 7.2.).

    9º Remeter para decisão ulterior a liquidação do eventual danoexcedente, que não poderá ultrapassar o valor de € 10.101.259,45,atualizado ao tempo da decisão, resultante dos lucros futuros a que serefere o n.º 6, alínea b), desta decisão, acrescido do montante deeventuais despesas extrajudiciais com honorários causadas peloincumprimento que a Autora venha a provar (cfr. supra III, n.º s 6.5. e

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    7.3.)” (v. fls. 103-104 do acórdão; cfr. Doc. 2, adiante junto e ProcessoArbitral n.º 9/2006/INS/AVS).

    Na fundamentação do acórdão do Tribunal Arbitral, de 2009.07.14,foram especificados os factos dados como provados no referidoprocesso e referiu-se, além do mais, o seguinte:

    “De harmonia com o que já se decidiu, a Autora alegou e provoudanos no montante de € 656.386,83, emergentes do incumprimento docontrato-promessa (n.º supra III, n.º 6.1.1.).

    Além disso, o Tribunal admitiu como muito provável que a Autorasofra outros prejuízos causados por aquele incumprimento, resultantesdos lucros cessantes futuros que podem advir da sua participação (em52%) nos lucros que a sociedade emitente das acções que os Réus lheprometeram vender provavelmente virá a auferir. Tais lucros serãoprovenientes do resultado da promoção do empreendimento imobiliáriodos terrenos da Feira Popular, que a GGS.

    A. adquiriu por permuta com os terrenos de que era proprietária noParque Mayer, ou da promoção destes mesmos terrenos, se a permutaficar sem efeito.

    Mas o Tribunal não conseguiu apurar o montante de tais danosfuturos, cujo cálculo está dependente do modo como se concretizem osvários factores de incerteza enunciados no ponto 6.3..

    Com os dados disponíveis no processo, verifica-se que é altamenteprovável que o dano total da Autora causado pelo incumprimento dosRéus venha a atingir e a exceder o montante mínimo de indemnizaçãoestipulado na cláusula penal, visto que a diferença entre este valor (€5.000,000) e o montante que já é líquido (€ 656.386,83) deixa umamargem de € 4.343.612.17, que é muito inferior aos valores calculadosno relatório pericial para os lucros cessantes futuros menos de metadedo valor mais baixo (€ 8.777.687.80), que foi apontado pelo peritodesignado pelos Réus, e cerca de um quinto do valor mais alto (€21.548.017,40), que foi subscrito pelos dois peritos com a opiniãomaioritária.

    Não há pois risco sério de o valor da cláusula penal ultrapassar ovalor do prejuízo resultante do incumprimento (cfr. artigo 811º, n.º 3).

    Assim, o Tribunal julga procedente o pedido de indemnização na parteem que conduz à condenação imediata dos Réus no pagamento emregime de solidariedade do montante de cinco milhões de euros,contemplados na cláusula penal (nos quais já se incluem os danosemergentes de € 656.386,83).

    Além disso, nos termos dos artigos 564°, n.º 2, e 565°, do Código Civil,e do artigo 661º, n.º 2, do Processo Civil (seguindo de resto a sugestãodas alegações de direito da Autora, p. 94, 99 e 113), o Tribunal remetepara execução de sentença a liquidação do eventual dano excedente”

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    (v. fls. 97 e 98 do acórdão; cfr. Doc. 2, adiante junto e ProcessoArbitral n.º 9/2006/INS/AVS).

    Em 2010.07.21, a A. na presente acção celebrou com a sociedade HHIMOBILIÁRIA, SGPS, S.A., (anteriormente denominada AAIMOBILIÁRIA, SGPS, SA), um contrato de cessão de direito litigioso,abrangendo todos os créditos daquela sociedade sobre os ora RR – BB– ESTACIONAMENTO, S.A., CC, DD, EE E FF –, “incluindoindemnizações, compensações e juros, que vierem a ser fixados” .

    2. Em 2014.02.11, os RR propuseram contra a A., no Centro deArbitragem Comercial, acção que correu termos sob o n.º8/2014/INS/AVS, tendo por objecto a alteração ou modificação dodecidido no precedente acórdão arbitral, de 2009.07.14, tendodeduzido os seguintes pedidos, principais e subsidiários:

    “a) Modificar os efeitos da Decisão Arbitral proferida em 14-07-2009,por forma a reduzir a prestação indemnizatória dos Demandantes aovalor do dano efectivamente sofrido pela Demandada, no valor de €656.386,83,00, nos termos do disposto no art. 621° do Código deProcesso Civil;

    b) Condenar a Demandada na restituição aos Demandantes do que porestes tiver sido prestado em cumprimento da Decisão Arbitral de 2009,na parte que exceda o valor de € 656.386,83, acrescido de juros demora, vencidos e vincendos, até ao efectivo cumprimento;

    c) Condenar a Demandada no pagamento aos Demandantes das custasdo litígio arbitral, incluindo honorários e despesas devidamentedocumentadas de árbitros, peritos e técnicos do presente litígio,incluindo honorários dos árbitros e despesas do processo, bem comoos custos processuais conexos com a acção executiva em que aDemandada visa satisfazer o crédito indemnizatório, incluindo asdespesas com a emissão e manutenção de garantia bancária prestada atítulo de caução para que a penhora fosse substituída e a execuçãosuspensa, bem assim as quantias suportadas pelos Demandantes atítulo de imposto do selo.

    Ou, caso improcedam estes pedidos por se entender não ser admissívela modificação da decisão arbitral transitada em julgado:

    d) Condenar a Demandada na restituição aos Demandantes do que porestes tiver sido prestado em cumprimento da Decisão Arbitral de 2009,na parte que exceda o valor de € 656.386,83, acrescido de juros demora, vencidos e vincendos, até ao efectivo cumprimento, nos termosdo enriquecimento sem causa (arts. 473º, n.º 1 e 2, 479° e 480° doCódigo Civil);

    e) Condenar a Demandada no pagamento aos Demandantes das custasdo litígio arbitral, incluindo honorários e despesas devidamentedocumentadas de árbitros, peritos e técnicos do presente litígio,incluindo honorários dos árbitros e despesas do processo, bem como

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    os custos processuais conexos com a acção executiva em que aDemandada visa satisfazer o crédito indemnizatório, incluindo asdespesas com a emissão e manutenção de garantia bancária prestada atítulo de caução para que a penhora fosse substituída e a execuçãosuspensa, bem assim as quantias suportadas pelos Demandantes atítulo de imposto do selo” (v. fls. 69-70 da p.i. que aqui se dá porintegralmente reproduzida; cfr. no Processo Arbitral n.º8/2014/INS/AVS).

    O pedido de alteração ou modificação do acórdão arbitral, de2009.07.14, foi deduzido ao abrigo e sob expressa invocação do “art.621º do Código de Processo Civil, fundamentando-se no que os RRinvocaram ser “factos jurídicos que sobrevieram ao trânsito emjulgado da decisão arbitral” e que, na sua tese, “consistem noproferimento do Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, quedeclarou a nulidade do loteamento municipal e, consequentemente, docontrato de permuta entre a P. GG, SA e o Município de Lisboa, adivulgação da intenção da Câmara Municipal vir a adquirir os terrenosdo Parque Mayer e de recorrer à via da expropriação, caso tal se revelenecessário, e a aprovação de um Plano de Pormenor para o ParqueMayer.

    Em 2014.04.15, a ora A. apresentou contestação, impugnandomotivadamente as razões de facto e de direito invocadas pelos ora RR,pugnando pela inadmissibilidade e improcedência da referida acção,deduzindo excepções, juntando documentos e requerendo a audição detestemunhas para prova dos factos que alegou e contraprova da matériade facto invocada pelos ora RR .

    Em 2014.06.20, os ora RR apresentaram resposta às excepçõesinvocadas pela A., aproveitando ainda para responder à matéria deimpugnação deduzida na contestação, bem como para juntar novosdocumentos aos autos, nomeadamente cópia do acordo de “transacçãojudicial e compromisso arbitral” outorgado, em 2014.04.15, com oMunicípio de Lisboa, e já judicialmente homologado.

    Em 2014.10.16 e em 2014.12.03, realizaram-se audiências arbitraispreliminares, com intervenção dos mandatários de ambas as partes,destinadas à discussão de questões suscitadas nos despachos, de2014.09.12 e de 2014.10.29 Na sequência dos despachos arbitrais, de2014.12.15 e de 2015.01.08, a A. e os ora RR apresentaram alegaçõesfinais escritas, em 2015.02.03.

    Em 2015.03.26, o Tribunal Arbitral proferiu acórdão arbitral, em queapreciou e decidiu o mérito da acção proposta pelos ora RR contra a A.,concluindo nos seguintes termos:

    “Acordam, pelo exposto, neste Tribunal Arbitral, em:

    1. Julgar a acção parcialmente procedente e reduzir o montante dapena estabelecida na cláusula penal de indemnização fixada, noanterior acórdão arbitral, em € 5.000.000 (Nos quais se incluíam os

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    danos emergentes de € 656.386,83) para € 2.000.000 (nos quais seincluem os danos emergentes de € 656.386,83), acrescida de juros demora sobre o montante de € 2.000.000, calculados às taxas queresultarem da aplicação do artigo 102º § 3º, do Código Comercial;

    2. Decidir que a redução da pena determinada nos termos do númeroanterior produz efeitos a contar de 29 de Março de 2012.

    Nestes termos:

    a) Os Demandantes continuarão obrigados a pagar à Demandada,desde 14 de Julho de 2009 (data do acórdão arbitral) até 29 de Marçode 2012, juros sobre € 5.000.000, calculados às taxas que resultem daaplicação do artigo 102º, § 3, do Código Comercial;

    b) Os Demandantes ficarão obrigados a pagar à Demandada €2.000.000, acrescidos, a contar de 29 de Março de 2012, de juros sobreeste montante, calculados às taxas que resultem da aplicação do artigo102º, § 3, do Código Comercial.

    3. Condenar a Demandada a restituir aos Demandantes o que delestiver recebido ou vier a receber relativamente à efectivação da cláusulapenal, no que exceder o montante da pena agora fixado e respectivosjuros, acrescido de juros, à taxa legal, até efectivo pagamento.

    4. Julgar a acção improcedente, na parte restante”

    3. Sustenta, na presente acção, a A. que este acórdão deverá seranulado, com os fundamentos que a autora desenvolve, sintetizadosnas seguintes conclusões:

    1ª. O douto acórdão arbitral, de 2015.03.26, ao omitir por completo adiscriminação dos factos considerados provados e não provados, bemcomo qualquer decisão sobre a matéria de facto, violou frontalmente odisposto no art. 205º/1 da CRP e no art. 42º/3 da LAV 2011 (cfr. art.23º/3 da LAV 1986 e arts. 154º e 607º do NCPC), pelo que deverá seranulado (v. art. 46º/3/a)/VI da LAV 2011 e art. 615º/1/b) do NCPC; cfr.,neste sentido, Ac. Rel. Lisboa de 2014.06.17, Proc.27984.12.3T2SNT.L1-A; Ac. Rel. do Porto de 2014.11.25, Proc.245/14.6YRPRT, in www.dgsi.pt) – cfr. arts. 23º a 46º do presentearticulado;

    2ª. O douto acórdão arbitral, de 2015.03.26, ao decidir “reduzir omontante de pena correspondente à cláusula processual”, julgando acausa “segundo a equidade” (v. fls. 77 e segs. do acórdão; cfr. Doc. 1,adiante junto), violou frontalmente a convenção de arbitragem, o art.39º da LAV 2011 e o art. 35º do RCAC 2008, pelo que deverá seranulado (v. art. 46º/3/a)/III e IV da LAV 2009; cfr., neste sentido, Ac.Rel. do Porto de 2007.04.17, Proc. 721539; Ac. Rel. Lisboa de2007.10.25, Proc. 7469/2007-6, in www.dgsi.pt) – cfr. arts. 48º a 60º dopresente articulado;

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    3ª. Contrariamente ao decidido no douto aresto em análise, o meioprocessual instaurado pelos RR é absolutamente inadmissível einidóneo, destinando-se, em primeira linha, a afrontar o caso julgadoda decisão arbitral, de 2009.07.14, bem como das demais decisõesjudiciais identificadas no art. 79º deste articulado, pelo que nuncapoderia deixar de ser rejeitado, com fundamento na sua manifestaimpropriedade e inadmissibilidade – cfr. arts. 61º a 93º do presentearticulado;

    4ª. O douto acórdão recorrido violou assim frontalmente a convençãode arbitragem, os arts. 1º, 2º e 39º e 46º/3/a)/iii da LAV 2011, os arts.27º e 28º da LAV 1986, o art. 31º do Regulamento de Arbitragem de1987 e os arts. 40º e 55º do Regulamento de Arbitragem de 2008, peloque deverá ser anulado (v. art. 46º/3/a)/III e IV da LAV 2009; cfr. Ac.Rel. Coimbra de 2015.04.21, Proc. 3486/12.7TBLRA.C1, inwww.dgsi.pt) – cfr. arts. 61º a 94º do presente articulado;

    5ª. O douto acórdão arbitral, de 2015.03.26, foi proferido sem quepreviamente tenha sido concedida oportunidade à ora A. de produzirprova no que se refere a diversos factos relacionados com a acção deindemnização proposta pela ora R. BB, SA, que corre actualmentetermos, sob o nº. 290/11.3 TVPRT, na 3ª Secção da 1ª Vara Cível doPorto (v. arts. 100º a 105º da contestação), e com posições assumidaspublicamente pelo R. CC, quanto ao valor da indemnização reclamadocontra o Município de Lisboa, na acção arbitral proposta em execuçãodo acordo de transacção, de 2014.04.15 (v., nomeadamente, arts. 116º,117º e 153º da contestação) – cfr. arts. 96º a 107º do presentearticulado;

    6ª. A não realização das diligências de prova requeridas pela ora A. ea preterição dos princípios fundamentais referidos no art. 30º/1 da LAV2011 assumiram influência decisiva na resolução do litígio, tendo odouto acórdão arbitral, de 2015.03.26, violado frontalmente osprincípios do contraditório, da igualdade e da proibição de indefesa, odisposto no art. 20º da CRP, no art. 30º/1 da LAV 2011 e nos arts. 29º e30º do RCAC 2008 (cfr. art. 16º da LAV 1986), pelo que deverá seranulado (v. art. 46º/3/a)/ii da LAV 2011; cfr. Ac. Rel. Coimbra de2010.07.14, Proc. 102/10.5 TBSRE.C1; Ac. STJ de 2012.05.29, Proc.5971/09.9. TBOER.S1, in www.dgsi.pt) – cfr. arts. 96º a 107º dopresente articulado;

    7ª. As normas dos arts. 1º, 2º, 30º, 39º, 42º/3 e 46º/3/a) da LAV 2011 edos arts. 29º, 30º, 38º/e), 40º e 55º do RCAC 2008, com o sentido ealcance normativo que lhes foi atribuído e aplicado no douto acórdãoarbitral, de 2015.03.26, sempre seriam manifestamenteinconstitucionais, por violação do disposto nos arts. 2º, 9º, 20º, 203º e205º/1 da CRP (cfr. art. 204º da CRP) – cfr. arts. 47º, 95º e 108º dopresente articulado;

    8ª. A douta decisão arbitral em análise enferma ainda de manifestasomissões de pronúncia (v. arts. 46º/3/a)/v) da LAV 2011 e arts. 23º e

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    27º da LAV 1986; cfr. Ac. STJ de 2008.07.10, Proc. 08A1698; Ac. Rel.do Porto de 1997.06.12, Proc. 9730030, in www.dgsi.pt), pois nãoapreciou nem decidiu as seguintes questões, suscitadas pela A. nacontestação apresentada no Processo Arbitral n.º 8/2014/INS/AVS, em2014.04.15 e nas alegações, de 2015.02.03:

    a) O douto acórdão do TCA (Sul), de 2012.03.19, não constituiqualquer facto imprevisível, dado que foi proferido no âmbito de acçãopopular proposta, em 2005.07.20, que foi expressamente referida econsiderada na douta decisão arbitral, de 2009.07.14 (v. n.º 6.3 dosfundamentos e n.º s 108-K e 108-L dos FA);

    b) O Acórdão do TCA (Sul), de 2012.03.19, nunca será objecto deexecução ou cumprimento, pois a composição do litígio foi negociadaextrajudicialmente pelos RR e pelo Município de Lisboa, nos termos doacordo de transacção celebrado, em 2014.04.15, encontrando-seactualmente exauridas quaisquer consequências lesivas que do citadoaresto pudessem resultar para os ora RR.;

    c) Face ao alcance e conteúdo do acordo de transacção, de2014.04.15, e em que se regularam, além do mais, os termos daresolução “da questão dos lucros cessantes”, dos “danos por quebrade oportunidade” e do “ressarcimento dos encargos com aimobilização do capital” (v. Cláusula 7ª/2/b)), é manifesto que seencontram actualmente exauridos quaisquer efeitos dos pretensosfactos supervenientes invocados pelos RR, que pretendem ser os únicosbeneficiários das indemnizações acordadas com o Município deLisboa;

    d) Na apreciação da questão da verificação e indemnização doslucros cessantes ou danos futuros não pode desconsiderar-se que areparação daqueles danos já foi judicialmente reclamada na acçãoproposta pela R. BB, S.A., que corre actualmente termos, sob o nº.290/11.3 TVPRT, na 3ª Secção da 1ª Vara Cível do Porto (v. arts. 100ºa 105º da contestação) – cfr. arts. 109º a 117º do presente articulado.

    4. Citados, os réus contestaram, defendendo a improcedência da acção,tendo concluído nos seguintes termos:

    - O douto Acórdão arbitral de 2015.03.26, assentou num Acórdãoanterior que alterou só em partes específicas.

    Tudo tem de ser visto neste contexto.

    Pelo que o Acórdão não omitiu (muito menos, por completo) adiscriminação dos factos provados e não provados, bem como qualquerdecisão sobre a matéria do facto.

    - O douto Acórdão arbitral de 2015.03.26 não julgou segundo aequidade. E se tivesse aplicado critérios de equidade, estaria a fazê-lo

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    ao abrigo do art. 612.º do Código Civil, portanto, a aplicar o DireitoConstituído.

    - O meio processual invocado pelos ora Demandados, é admissível,idóneo e próprio, como acção modificativa do objecto de acçãopretérita, como o decidiu o douto Acórdão de 2015.03.26, e sempre oentenderam a jurisprudência e os autores referidos supra (vd.nomeadamente Parecer do Professor Doutor Henrique Mesquita) - nãotendo, consequentemente, o Acórdão violado a convenção dearbitragem.

    - Não se vê que relação há entre o caso usado pelo Acórdão e a acçãode indemnização proposta pela BB, relação afastada pelo doutoacórdão de 2015 – vd supra art.º 176.º e segs.

    Compete ao tribunal julgar sobre a necessidade de prova quanto aelementos externos à acção.

    Também não se vê qualquer relação entre eventuais (e não provadas)declarações do Senhor CC e o presente caso.

    - As normas referidas como inconstitucionais na douta petição daDemandante são constitucionais, em si mesmas e na aplicação quedelas faz o Acórdão em causa.

    -Não se entende e não se aceita a relação estabelecida entre o Acórdãoem causa, o acordo de transação realizado, a ação proposta pela BBno Porto, conexão afastada pelo Acórdão de 2015 (vd supra arts. 176.ºa 180.º)

    5. No acórdão ora objecto de revista – em que se julga a acçãoimprocedente, absolvendo os RR. dos pedidos formulados –apreciou a Relação os vários fundamentos da pretendida anulação doacórdão arbitral, tendo-os por improcedentes, nos seguintes termos:

    I – A falta de fundamentação

    A autora começou esta parte das suas alegações com uma análise, bemfundada em doutrina e abundante jurisprudência, da obrigatoriedadeda fundamentação das decisões jurisdicionais, em termos que nãomereceram oposição relevante por parte dos réus, nem suscitammaiores dúvidas ou reservas.

    Subscrevem-se, pois, as seguintes considerações, extraídas dos artigos23º a 29º da petição inicial:

    «A obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais encontra-se constitucionalmente consagrada no art. 205º da CRP – “As decisõesdos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas naforma prevista na lei” –, entendendo-se pacificamente que a exigênciade fundamentação das decisões judiciais corresponde sem dúvida a um

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    imperativo constitucional e constitui uma garantia integrante doconceito de Estado de Direito Democrático.

    Cumprindo este imperativo, os arts. 23º/3 e 27º/1/d) da LAV 1986, oart. 42º/3 da LAV 2011, e o art. 38º/e) do RCAC 2008 dispõem que asentença arbitral “deve ser fundamentada” e indicar “os fundamentosda decisão”, determinando a violação deste imperativo legal aanulação daquela decisão (v. art. 46º/3/a)/VI da LAV 2011 e,anteriormente, art. 27º/1/d) da LAV 1986).

    Nesta linha, a nossa doutrina tem considerado pacificamente que “noque respeita à falta de fundamentação da decisão arbitral não severifica nenhuma especialidade relativamente a idêntico vício dasdecisões judiciais, pelo que tudo quanto se refere a estas será aplicávelàqueles, pelo que a decisão arbitral “será anulável, por falta defundamentação, se não forem enunciadas as razões em que se baseia.

    Além disso, como tem também constituído jurisprudência pacífica, nodomínio da impugnação judicial de decisões arbitrais e relativamente àaplicação dos citados arts. 23º e 27º da LAV 1986 e dos arts. 42º/3 e46º da LAV 2011:

    a) O dever de fundamentar previsto na Lei da Arbitragem Voluntáriacorresponde integralmente ao idêntico dever previsto na Constituiçãoda República e no CPC quanto aos Juízes dos Tribunais do Estado, eque é válido indistintamente tanto no que respeita à fundamentação,em matéria de facto e de direito, do decreto judicial proferido atravésda sentença ou acórdão sob escrutínio, como para a motivação dojulgamento relativo à indicação dos factos provados e não provados naacção.

    b) Procede a acção de anulação da sentença arbitral, por falta defundamentação, sempre que seja completamente omissa quanto àmotivação da decisão de facto e à discriminação dos factos nãoprovados alegados pelo requerente como fundamento da reclamação eas partes não tenham acordado em sentido diverso.

    c) A sentença arbitral, sob pena de anulabilidade carece defundamentação de facto, ainda que sumária, que evidencie de moldeconcretizado a ponderação dos meios probatórios e o modo como, combase neles o julgador formou a sua convicção. E, também àsemelhança do prescrito no art. 659º do Código de Processo Civil, oart. 23º 27º da L. 31/86, de 29/08 impõe que seja feito um juízoapreciativo, motivado e justificado, quer dos factos quer do direito que,em termos interpretativos vai aplicar àqueles.

    Como já se referiu, estas considerações não mereceram oposiçãorelevante por parte dos réus, nem suscitam maiores dúvidas, não sendoquestionável que a validade da decisão arbitral ora impugnadadepende da sua fundamentação, de facto e de direito.

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    Não se justificando, pois, maiores considerações.

    O que está verdadeiramente em causa é saber se a decisão arbitral nãose mostra fundamentada, no que respeita a matéria de facto, em termosde justificar a sua anulação. O que passa, por um lado, peladeterminação da medida da fundamentação necessária para assegurara validade da decisão e, por outro, pela verificação dos termos em quea decisão foi fundamentada.

    Em relação à primeira questão, da medida da fundamentaçãonecessária para assegurar a validade da decisão, ou obstar àverificação do vício por falta de fundamentação, julga-se que deve serreconhecida razão aos réus quando defendem que isso varia de casopara caso, afigurando-se que deve ser a necessária e adequada àcompreensão do litígio e da decisão proferida. Sabendo-se que, comoresulta da jurisprudência invocada pela autora, as meras insuficiênciasde fundamentação de facto não são fundamento de anulação.

    Para além deste princípio geral, julga-se que a fundamentação defacto de determinada decisão jurisdicional não obedece a um modeloobrigatório, nem a forma legal, sendo apenas relevante que cadadecisão especifique, de forma inteligível, a matéria de facto em que sefunda.

    A indicação de meios de prova só se torna necessária no caso de sepretender fixar matéria de facto impugnada. O que não é o caso dosautos, em que, ao menos aparentemente, a matéria de factoconsiderada não foi objeto de impugnação, para além de assentar emmeios de prova plena, constituídos por documentos autênticos.

    Por fim, a desconsideração de alguns factos, que não foram julgadosprovados nem não provados, não releva enquanto fundamento dopedido de anulação da decisão arbitral. Posto que, nos termos járeferidos, essa desconsideração apenas é suscetível de configurar umasituação de insuficiência de fundamentação, que não é causa deanulabilidade.

    Assim, a falta de uma decisão formal a fixar os factos provados e nãoprovados e a respetiva fundamentação não é necessariamentefundamento de anulabilidade da decisão arbitral. Esse vício nãoocorrerá se a decisão contiver a indicação segura dos fundamentos defacto em que assentou. Insistindo-se em que a desconsideração, mesmoque não justificada, de alguns factos apenas pode ser valorada comoinsuficiência de fundamentação, não sendo fundamento deanulabilidade.

    Posto isto, julga-se que o acórdão arbitral identificou, de formainteligível ainda que um pouco dispersa, a matéria de facto em queassentou a decisão.

    Para este efeito importa considerar, como objetam os réus, queestamos perante uma ação modificativa de uma decisão arbitral

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    anterior, fundada na superveniência de alguns factos que alteraram ospressupostos da verificação do dano reconhecido na primeira decisão.Pelo que decisão arbitral se movimentou entre a análise do sentido ealcance da primeira decisão, proferida no ano de 2009, e a valoraçãodos factos supervenientes que foram invocados para fundar amodificação do decidido.

    A referida análise do acórdão de 2009 ocupou as primeiras onzepáginas do acórdão agora impugnado. Nessa análise foram,designadamente, identificadas as pretensões deduzidas pelas partes, adecisão dada a cada uma delas e a respetiva motivação. E tudo issoconstitui matéria de facto relevante para a nova decisão, sendo,assumidamente, um dos seus pressupostos essenciais.

    Dessa matéria destaca-se o teor da decisão condenatória proferida noacórdão de 2009 e a respetiva fundamentação, que constam de fls. 6 a11. Das quais resultou evidente que nessa decisão condenatória apenasforam considerados, para além das despesas relativas ao projetoimobiliário do Parque Mayer, os lucros cessantes futuros que proviriamda promoção do empreendimento imobiliário previsto realizar nosterrenos da Feira Popular, ou, subsidiariamente, nos terrenos doParque Mayer.

    No seguimento, o acórdão fez a síntese das posições das partes nosarticulados da nova ação, que visava modificar parcialmente a decisãode 2009. No que respeita à petição inicial, identificou, a fls. 13 a 17, osfactos supervenientes em que a ação era fundada. Não sobrandodúvidas de que tais factos foram ali identificados como assentes, pordocumentados e não impugnados. De resto, em momento posterior, jána fase decisória, o acórdão dedica bastante atenção a estes factos, nosentido de verificar a sua efetiva superveniência e relevância para adecisão a proferir – cf. fls. 50 a 65 do acórdão – em termos queevidenciam que sempre foram considerado factos assentes.

    E nada permite questionar esse pressuposto. Afigurando-se não serquestionável que esses factos, julgados supervenientes, integram afundamentação de facto do acórdão agora impugnado. Tendo sido combase neles que o acórdão concluiu que a pena se tornou, à luz daprópria decisão arbitral, manifestamente excessiva.

    Prosseguindo, no que respeita à factualidade alegada na contestação,consta no acórdão:

    - A fls. 21, a tramitação da ação de anulação do acórdão arbitral de2009, e também da ação executiva requerida com base no mesmoacórdão, e respetiva oposição. O acórdão voltou a referir-se àsdecisões proferidas nestes dois processos, a propósito da questão dapreclusão da invocação dos factos supervenientes, a fls. 66 a 68. Não éassim verdade que o acórdão tenha omitido qualquer referência aosconcretos termos da ação de anulação e do processo executivo, como aautora alegou no art. 35º das suas alegações.

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    - De fls. 22 a 29, outros factos alegados na mesma contestação, emespecial a “minuta da transação judicial e compromisso arbitral”, quepôs fim à ação popular e à ação administrativa especial referidas nosautos, de que foram transcritas as cláusulas que tinham significadoprocessual para a presente ação arbitral. Expressão que traduz umaforma de fixação de matéria de facto considerada relevante.

    Julga-se, assim, que o acórdão arbitral contém fundamentação defacto, e que, designadamente, estão bem identificados, e foram objetode apreciação individualizada, os factos considerados supervenientes,em que assentou a conclusão de que a pena se tinha tornadomanifestamente excessiva, à luz da própria decisão arbitral.

    Conclusão que, contendendo com o mérito da ação arbitral não ésuscetível de reapreciação nesta instância de simples anulação. E que,se o fosse, propenderíamos a confirmar inteiramente.

    A autora alega ainda que não foram especificados os factos em que foifundada a medida da redução da pena de € 5.000.000,00 para €2.000.000,00. Mas, ainda aqui, a questão coloca-se nos mesmostermos. Como a própria autora reconhece, o tribunal teve emconsideração a reparação dos lucros cessantes que os ali autorespoderiam vir a obter nos termos admitidos na transação extrajudicial.

    Para além disso, o tribunal teve em consideração, a fls. 77, o número ea complexidade dos litígios, os montantes envolvidos, o cruzamentoentre operações negociais e atos regulamentares, o espetro deincerteza em que o tribunal arbitral confessadamente operou, e anecessidade de preservar a eficácia compulsória da cláusula penal.

    Ou seja, a redução da cláusula penal foi justificada com fundamentonos elementos de facto identificados no acórdão, mostrando-se, pois,fundamentada, de facto e de direito. Não sendo, nessa medida,anulável. E não cabe nesta ação a apreciação do mérito do assimdecidido.

    No mais, reafirma-se que a falta de consideração de alguns factosalegados não constitui fundamento de anulação. Não relevando, assim,a falta de referência a determinada ação de indemnização que terásido intentada pela sociedade BB SA contra os anterioresadministradores da sociedade parque Mayer SA, referida nos art. 100ºa 105 da contestação apresentada pela ora autora na açãomodificativa. O mesmo devendo concluir-se em relação às posições queterão sido publicamente assumidas pelo aqui réu Domingos Névoarelativamente ao valor da indemnização peticionada contra oMunicípio de Lisboa. Não cabe na economia da presente ação apreciara eventual relevância desses factos para a decisão, pois que issocontende com o mérito da decisão. E a esta não pode ser imputado ovício de falta de fundamentação.

    Nas suas alegações a autora refere ainda que a falta da decisão sobrematéria de facto conduziu a conclusões de direito contraditórias. Pois

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    que, por um lado, concluiu-se que foi o acórdão do Supremo TribunalAdministrativo, de 09-06-2014 que fez transitar em julgado o acórdãodo Tribunal Central, de 29-03-2012, e, por outro, considerou-se seresta data, (29-03-2012), a relevante para efeitos de verificação dasuperveniência.

    Mas não se afigura possível estabelecer qualquer ligação entre aforma como foi fixada a matéria de facto, designadamente arespeitante aos referidos acórdãos do TCA e do STA e as referidasconclusões de direito. E, sobretudo, não se reconhece a existência daapontada contradição. Parecendo seguro que uma decisão judicial sótransita, e se torna definitiva, depois de não ser passível de reclamaçãoou de recurso ordinário. Mas que, depois de transitada, produz efeitospor referência à data em que foi proferida, e não a partir do seutrânsito em julgado, a menos que tenha sido alterada nesse sentido.

    Finalmente não parece que este entendimento dos limites da ação deanulação ofenda regras ou princípios constitucionais. O recurso àarbitragem está na disponibilidade das partes, que, como a autoratambém refere nas suas alegações, sabem com o que contam,designadamente quanto aos meios de impugnação da decisão arbitral.No art. 68º das suas alegações, a própria autora escreveu, em citaçãode Manuel Pereira Barrocas, na obra ali identificada:

    «A adopção do princípio da definitividade da sentença arbitral é,assim, um tema de identidade e de cultura da arbitragem (…)

    Quem prefere a arbitragem à jurisdição judicial sabe com o que conta,por isso lhe é dada a faculdade de escolher os árbitros, definir asregras do processo e obter as vantagens próprias da arbitragem.

    Ficará para a acção de anulação a impugnação da sentença arbitralnaqueles casos alarmantes de má administração da justiça, sobretudoa violação dos princípios fundamentais do procedimento arbitral e daordem pública (…)

    Afigurando-se seguro que o acórdão ora impugnado não pode serconsiderado como “ um caso alarmante de má administração dajustiça, ou de violação dos princípios fundamentais do procedimentoarbitral e da ordem pública”.

    Pelo que se conclui pela improcedência deste fundamento do pedido deanulação.

    II – A decisão segundo a equidade.

    Muito brevemente, julga-se que também não deve ser reconhecidarazão à autora na questão aqui suscitada.

    De facto, ao decidir como decidiu, o Tribunal Arbitral limitou-se aaplicar a disposição legal contida no art. 812 do C. Civil, queestabelece a possibilidade de redução da cláusula penal de acordo coma equidade quando for manifestamente excessiva, ainda que por causa

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    superveniente, ferindo de nulidade qualquer estipulação em sentidocontrário.

    Pelo que o entendimento da ora autora, de que a celebração deconvenção arbitral excluía a possibilidade de redução equitativa dacláusula penal abrangida por essa convenção terá de ser consideradoinfundado. Ou a convenção arbitral seria nula nessa parte, por ofensadireta ao preceituado na referida disposição legal.

    Não podendo, em qualquer caso, ser recusada a possibilidade deredução equitativa da cláusula penal.

    Improcedendo também este fundamento da impugnação.

    III – A impropriedade e a inadmissibilidade de uma ação modificativade um acórdão arbitral transitado em julgado.

    Lendo as alegações da autora numeradas do art. 61º a 95º, onde éfundada a conclusão ora em apreço, verifica-se que toda a suaargumentação se funda na inalterabilidade do caso julgado formadopela decisão arbitral transitada, que abrange não apenas a decisão,mas também os seus pressupostos fundadores.

    Em seu entender, uma vez que a decisão arbitral de 2009 já não podiaser alterada através dos meios admissíveis de impugnação, tambémnão poderá sê-lo através de uma forma atípica, que não estava, nempoderia estar abrangida pela convenção de arbitragem.

    E o preceituado no art. 621.º do CPC não seria aplicável no caso.

    Mas também aqui não se reconhece razão à autora.

    Começando pelo fim, parece seguro que o preceituado no art. 621.º doCPC, que define o alcance do caso julgado, é aqui aplicável. É o queresulta do preceituado no art. 42.º, n.º 7 da LAV de 2011 nos termos doqual, a decisão arbitral que já não seja suscetível de alteração nostermos do art. 45.º tem o mesmo caráter obrigatório entre as partesque a sentença de um tribunal estadual transitada em julgado. Ou seja,os efeitos do caso julgado formado por uma decisão arbitral sãoidênticos aos produzidos pelas decisões dos tribunais estaduais.Incluindo, portanto, a norma do referido art. 621.º do CPC, queintegra a definição desses efeitos.

    Depois, o que está em causa no caso dos autos, é a admissibilidade deuma ação modificativa do caso julgado formado por uma decisãoarbitral, com fundamento em factos jurídicos supervenientes, questão aque o tribunal arbitral respondeu afirmativamente, também com baseno parecer junto aos autos, da autoria do Professor HenriqueMesquita. E, salvo erro, a autora não enfrentou diretamente estaquestão, limitando-se a insistir na intangibilidade do caso julgadoformado pela decisão arbitral.

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    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 17/36

    Ora, sendo a primeira vez que nos vemos confrontados com estaquestão, não vemos como poderá ser recusada a possibilidade de umadecisão jurisdicional ser modificada se os factos em que assentouvierem a sofrer alteração relevante posterior, designadamente,deixando de se verificar. Sendo evidente que o trânsito em julgado dadecisão não tem a virtualidade de conformar a realidade ao que nelafoi pressuposto. E se alteração da realidade relevante, verificada napendência da causa, deve ser atendida na decisão a proferir, se foroportunamente invocada pela parte interessada, também devem poderser atendidas as alterações de facto supervenientes, que contendamcom a verificação dos pressupostos de facto da decisão já proferida,mesmo depois transitada.

    Como se ponderou no acórdão ora impugnado, é apodítico que uma talsituação é merecedora de tutela jurisdicional e, por conseguinte, nãodeve deixar de ser reconhecido o correspondente direito de ação.

    Nesse sentido se pronuncia, em termos convincentes, o ProfessorHenrique Mesquita no parecer já referido. E também Paula Costa eSilva e Nuno Trigo dos Reis, no estudo citado a fls. 42 do acórdãoarbitral, publicado na Revista da Ordem dos Advogados, ano 74 –Abril/Junho, fls. 425 e ss.

    Sendo esse direito de ação que foi exercido pelos ora réus ereconhecido pelo acórdão agora impugnado.

    Não se reconhecendo razão à autora também nesta parte.

    IV - Da violação de princípios fundamentais do processo arbitral

    Nestas conclusões a autora questiona o facto de não lhe ter sido dadaa oportunidade de produzir prova sobre factos que alegou,nomeadamente relacionados com a ação de indemnização propostapela ora R. BB, SA, (v. arts. 100º a 105º da contestação), e composições assumidas publicamente pelo réu CC, quanto ao valor daindemnização reclamado contra o Município de Lisboa, na açãoarbitral proposta em execução do acordo de transação, de 2014.04.15(v., nomeadamente, arts. 116º, 117º e 153º da contestação).

    Concluindo que o acórdão arbitral violou frontalmente os princípiosdo contraditório, da igualdade e da proibição de indefesa, o dispostono art. 20º da CRP, no art. 30º/1 da LAV 2011 e nos arts. 29º e 30º doRCAC 2008 (cfr. art. 16º da LAV 1986), pelo que deverá ser anulado (v.art. 46º/3/a)/ii da LAV 2011 ).

    Está, assim, em causa saber se deveria ser dada à ora autora aoportunidade de produzir prova sobre determinados factos que alegou,e que não foram considerados no acórdão impugnado.

    O que, segundo se julga, passa pela apreciação prévia da relevânciadesses factos para a decisão da causa. Ou seja, passa por um juízo

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 18/36

    sobre o mérito da causa.

    Que não tem cabimento no âmbito de uma ação de anulação, em facedo disposto no art. 46.º, n.º 9 da LAV de 2011.

    Assim, não podendo o acórdão arbitral ser anulado por terdesconsiderado alguns factos alegados por uma das partes, a questãoapenas poderia ser equacionada em termos de erro de julgamento, oque apenas seria admissível no âmbito de um recurso, mas não de umaação de anulação. Ao menos sem se evidenciar que o acórdão arbitralincorreu em erros grosseiros, que pudessem ser valorados como “umcaso alarmante de má administração da justiça”. O que não é,evidentemente, o caso, vista também a reconhecida autoridade dossenhores Árbitros.

    Não podendo, assim, ser reconhecido o desrespeito de qualquerprincípio processual, fundado no direito à produção de prova.

    V – A questão de inconstitucionalidade

    Muito brevemente julga-se que continua a faltar razão à autora, o quejá se deduzia das respostas que foram sendo dadas às diversasquestões suscitadas na presente ação de anulação.

    A autora questiona, fundamentalmente, a admissibilidade da açãomodificativa de anterior decisão transitada. Mas, com todo o respeito,inconstitucional seria não admitir a possibilidade dessa ação, uma vezassente que determinado segmento da anterior decisão assentou napressuposição de factos futuros que acabaram por não se verificar.

    No mais, não se vê que seja questionável a constitucionalidade dasnormas legais que suportam o entendimento de que a merainsuficiência de fundamentação não é causa de anulabilidade dequalquer decisão jurisdicional, ou que não permitem a reapreciação domérito da causa no âmbito de uma ação de anulação.

    VI – A omissão de pronúncia

    Nesta última conclusão está em causa saber se o acórdão arbitral emanálise omitiu pronúncia sobre as questões enunciadas nas alíneas a) ac). E se na questão da verificação e indemnização dos danos futurosdeve ser considerado o pedido de indemnização formulado na açãointentada pela R. BB, S.A., alegada nos arts. 100º a 105º dacontestação.

    Com todo o respeito, julga-se que continua a não assistir razão àautora.

    Em relação às questões referidas nas alíneas a) a c), que estãointerligadas e se reconduzem, afinal, à verificação da superveniênciado acórdão do TCA de 19-03-2012, e à sua relevância como factomodificativo, o acórdão arbitral pronunciou-se, nos termos queconstam do capítulo 4.1.1., onde consta, designadamente:

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 19/36

    «A Demandada alega que, extinta a instância nos termos datransacção, as decisões proferidas na acção administrativa não foramnem poderão ser objecto de execução:

    O acordo teria "exaurido" os efeitos que poderiam extrair-se da acçãoadministrativa especial que, ao tempo da decisão arbitral, seencontrava ainda em fase de recurso (alegações, p. 33).

    Esta afirmação merece análise.

    Recordemos os termos da acção administrativa que teve o seu epílogono Supremo Tribunal Administrativo.

    A acção foi proposta, no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa,sendo Autor II e Réus o Município de Lisboa, GG e Epul - Empresapública de Urbanização de Lisboa.

    Da sentença de primeira instância, foi interposto recurso para oTribunal Central Administrativo Sul que declarou a nulidade dadeliberação nº 307/CM/2005 (que aprovara a operação deloteamento), do alvará de loteamento n? 3/2005 e do contrato depermuta.

    Interposto recurso de revista excepcional para o Supremo TribunalAdministrativo, pelo Município de Lisboa e por P. GG, foi, na parteque interessa, declarada extinta a instância, por desistência do recurso(decisão de 9 de Junho de 2014). Sendo assim, é de notar, com o devidorespeito, que é excessivo afirmar que a transacção, com causa próximano compromisso arbitral, "exauriu os efeitos que se poderiam extrairda acção administrativa".

    Não sucedeu assim.

    Na parte útil da decisão do Supremo Tribunal Administrativo, escreve-se:

    "Analisada a pretensão dos requerentes:

    - considerando que os Recorrentes, supra mencionados, no ponto 2 "(Município de Lisboa e Parque Mayer)" podem, de acordo com oprevisto no artigo 632°, nO 5, do CPC, desistir parcialmente dosrespectivos recursos de revista, nos termos por eles acordados;

    - considerando que as demais partes na acção declararam, todas elas,nada ter a opor aos termos do acordo de transacção judicial ecompromisso arbitral celebrado pelos Recorrentes, bem como aopedido que os mesmos ora formulam ao tribunal;

    - considerando que, de acordo com o previsto, respectivamente, nosartigos 283°, nº 2 e 280º, nº 1 do CPC, podem as partes transigir sobreo objecto da causa e acordar em que a decisão de toda ou parte delaseja cometida a um ou mais árbitros à sua escolha;

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    - considerando que o objeto da transacção e do compromisso arbitralse contém nos limites da disponibilidade das partes para acordaremquanto ao modo de dar execução às decisões anulatórias;

    - considerando ainda o disposto nos artigos 27°, nº 1, aI. e) do CPTA edos artigos 277°, alíneas b) e d), 28°, 283°, nº 2, 284° e 290°, nº 1, 3 e4, do CPC, aplicável por força do artigo 1° do CPTA, homologo oacordo dos Recorrentes, julgando válida a transacção judicial e ocompromisso arbitral e declaro extinta a instância, nos termosrequeridos, por desistência parcial dos recursos pendentes, transacçãojudicial e compromisso arbitral".

    II não interveio no acto, salvo para manifestar a sua não oposiçãoquer à transacção judicial quer ao compromisso arbitral.

    Resulta deste quadro processual que as nulidades declaradas peloTribunal Central Administrativo Sul relativas ao loteamento e aocontrato de permuta se estabilizaram.

    A transacção não destruiu nem inverteu o efeito destas nulidades, nãosendo legítimo conceber que os factos reverteram à situação queexistia anteriormente à propositura da acção administrativa especial.

    Por outro lado, as sentenças declarativas de nulidade gozam sempre deeficácia erga omnes (ver, por todos, Paulo Otero, Legalidade eAdministração Pública, Coimbra, Almedina, 2003, pp.1 044 e 1045).

    Assim também, a declaração judicial de nulidade de um actoadministrativo (mesmo sob a forma de contrato) é oponível a terceiros(Cfr. Vieira de Andrade, loc. cito p.p. 62,55, e Luís Cabral deMoncada, A nulidade do acto administrativo).

    Efectivamente, nos termos do artigo 283° do Código dos ContratosPúblicos, aprovado pelo Decreto-Lei nº 18/2008, de 29 de Janeiro, "oscontratos são nulos se a nulidade do acto procedimental em que tenhaassentado a sua celebração tenha sido judicialmente declarada oupossa ainda sê-lo".

    O artigo 185° do CPA, aprovado pelo Decreto-Lei nº 442/91, de 15 deNovembro, com a alteração introduzida pelo Decreto-Lei nº 6/96, de 31de Janeiro, continha idêntica disposição.

    Neste contexto, a declaração de nulidade do loteamento e da permutaque inviabilizou a promoção imobiliária dos terrenos da Feira Popularsatisfaz aos critérios que enunciámos para a verificação dasuperveniência de factos.»

    Assim, a questão da superveniência do acórdão do TCA foi apreciada eresolvida. E o mérito dessa apreciação não é sindicável no âmbito dapresente ação, não havendo como apreciar aqui argumentos que nãotenham sido considerados na decisão proferida. Uma vez que os merosargumentos não constituem questões a resolver, mas simples razões dedecidir, cuja desconsideração apenas pode configurar erro de

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 21/36

    julgamento que, repete-se, não pode ser objeto de apreciação noâmbito da presente ação de anulação.

    E o mesmo deve concluir-se em relação à questão, suscitada na al. d),de saber se na verificação e valoração dos danos futuros devia serconsiderado o pedido de indemnização formulado pela R. BB, S.A.,noutra ação. O que, passando pela apreciação da relevância dessefacto para a decisão, consubstancia apreciação de mérito que, nostermos já referidos, não tem cabimento no âmbito da presente ação.

    Ou seja, não cabe no âmbito da presente ação apreciar e decidir sedeterminado facto alegado deve ser atendido na decisão, posto queisso contende com o mérito da causa. Que só poderia ser reapreciadoem via de recurso.

    6. Inconformada com esta decisão, interpôs a A. o presente recurso derevista, que encerra com as seguintes conclusões que, como é sabido,lhe definem e delimitam o objecto:

    A - DA NULIDADE DO ACÓRDÃO RECORRIDO

    1ª. O douto acórdão recorrido não especificou, não declarou, nemdiscriminou os fundamentos de facto que justificariam a decisãoproferida (v. arts. 607º/4, 615º/1/b), 663º/2 e 666° do NCPC; cfr. art.46º/2/e) da LAV2011), limitando-se a:

    i) Descrever o invocado pela ora recorrente na p.i. que deu origem àpresente acção (v. fls. 1 a 10 do acórdão);

    ii) Indicar a posição assumida na contestação apresentada pelos orarecorridos (v. fls.

    10 e 11 do acórdão);

    iii) E, sem declarar ou discriminar os factos considerados provados, aproceder de imediato à apreciação das questões de mérito, pela ordem"estabelecida nas alegações e conclusões formuladas pela autora" (v.fls. 12 e segs. do acórdão) - cfr. texto n.ºs 1 e 2;

    2ª. O douto acórdão recorrido é assim claramente nulo, pois nãoespecificou, não declarou, nem discriminou os fundamentos de factoque justificariam a decisão proferida (v. arts. 607º/4, 615º/1/b), 663º/2 e666º do NCPC: cfr. art. 46º/2/e) da LAV2011) - cfr. texto n.ºs 2 e 3;

    B - DA FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DO ARESTO ARBITRAL

    3ª. Contrariamente ao decidido no douto acórdão recorrido, é manifestoque o aresto arbitral, de 2015.03.26, ao omitir por completo adiscriminação ou especificação dos factos controvertidos que foramconsiderados provados e não provados, bem como a motivação dequalquer decisão sobre a matéria de facto, violou frontalmente o

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    disposto no art. 205º/1 da CRP e no art. 42º/3 da LAV 2011 (v. art.46º/3/a)/VI da LAV 2011 e arts. 154º, 607º e 615º/1 /b) do NCPC) - cfr.texto n.º s 4 a 7;

    4ª. Impondo-se ao "juiz discriminar os factos que considere provados eindicar, interpretar e aplicar as normas jurídicas correspondentes,concluindo pela decisão final" (v. art. 607º/3 do NCPC), é manifestoque não pode deixar de "proceder a acção de anulação da sentençaarbitral, por falta de fundamentação, sempre que seja completamenteomissa quanto à motivação da decisão de facto e à discriminação dosfactos não provados alegados pelo requerente", como se verifica in casu(v. Ac. Rel. do Porto de 2014.11.25, Proc. 245/14.6YRPRT; cfr. Acs.Rel. do Porto de 2013.06.04, Proc. 119/13.8 YRPRT; de 2013.11.12,Proc. 284/13.4 YRPRT, in www.dgsi.pt, Acs. STJ de 1987.12.02, BMJ372/369; de 1986.07.03, BMJ 359/726; de 1975.04.08, BMJ 246/131;de 1974.05,14, BMJ 237/132) - cfr. texto n.ºs 7 a 9;

    5ª. As normas do art. 42º/3 da LAV 2011 e do art. 38º/e) do RCAC2008, com o sentido e alcance normativo que agora lhes foi atribuído eaplicado no douto acórdão recorrido, dispensando a discriminação dosfactos dados como provados e a motivação da decisão sobre a matériade facto controvertida, ou a "exposição concisa e completa dos motivosde facto" (v. Ac. TC n.º 151/99, Proc. 857/98), sempre seriammanifestamente inconstitucionais, por violação do disposto nos arts. 2º,9º, 20º e 205º/1 da CRP (v. art. 204º da CRP; cfr. Acs. TC n.º 503/10,de 2010.12.21, Proc. 670/10, e de 1999.03.09, Proc. 857/98, ambos inwww.tribunalconstitucional.pt: e Ac. Rel. Porto de 2014.11.25, Proc.245/14.6 YRPRT, in www.dgsi.pt) - cfr. texto nºs 10 e 11;

    C - DA VIOLAÇÃO DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM

    6ª. Contrariamente ao decidido no douto acórdão recorrido, apossibilidade de decisão arbitral segundo a equidade depende, emprimeira linha, da existência de convenção arbitral ou acordo das partesque expressamente o permita (v. arts. 1º, 2º e 39º da LAV 2011; cfr.arts. 4º/c), 236º, 238º e 406º do C. Civil; Ac. STJ de 1995.05.11, Proc.86342), pois "o tribunal arbitral (voluntário) assenta na autonomia davontade, na iniciativa das partes, que acordam em submeter a resoluçãode um litígio a uma estrutura de natureza privada a que a lei reconhecepoderes jurisdicionais" (v. Ac. Trib. Rel. Lisboa de 2013.12.17, Proc.659/13.9 YRLSB-2) - cfr. texto n.ºs 12 a 14;

    7ª. No processo arbitral que culminou com a prolação do arestoarbitral, de 2015.03.26, não era admissível julgamento com recurso àequidade, por força da convenção arbitral, de 2002.09.04. pois aspartes, em absoluto, não acordaram, nem autorizaram a aplicaçãodaquele parâmetro ou critério de decisão (v. art. 39º da LAV 2011 e art.4º/c) do C. Civil), ficando assim "excluída a possibilidade de o tribunalarbitral voluntário poder intervir em situações em que o Tribunalcomum pode julgar" aplicando critérios de equidade (v. Ac. Trib. daRelação do Porto de 2007-04-17, Proc. 721539; cfr. Ac. STJ de

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 23/36

    1995.05.11, Proc. 86342, todos in www.dgsi.pt), sob pena de, por viasindirectas, se "deixar entrar pela janela o que saiu pela porta" (v. Ac.STJ de 2010.05.27, Proc. 118/1999.L1S1, www.dgsi.pt), como severificou in casu - cfr. Texto n.ºs 14 e 15;

    8ª. O aresto arbitral decidiu "reduzir o montante de penacorrespondente à cláusula processual", julgando a causa "segundo aequidade" (v. fls. 77 e segs. do acórdão), pelo que, contrariamente aodecidido no douto acórdão recorrido, violou frontalmente a convençãode arbitragem, de 2002.09.04 - "o Tribunal Arbitral apreciará os factose julgará as questões de direito de acordo com o direito constituído" —,o art. 4º/c) do C. Civil, o art. 39º da LAV 2011 e o art. 35º do RCAC2008, devendo ser anulado (v. art. 46º/3/a)/III e IV da LAV 2009) – cfr.Texto nºs 12 a 16;

    D - DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOPROCESSO ARBITRAL

    9ª. Contrariamente ao decidido no douto acórdão recorrido, a questãoda violação dos princípios previstos no art. 30º/l da LAV 2011 nuncapoderia constituir "questão de mérito" excluída do "âmbito de umaacção de anulação" (v. fls. 23 do acórdão recorrido), pois estáprecisamente em causa um dos fundamentos taxativos e legalmentetipificados da acção especial de anulação da decisão arbitral (v. art.46º/3/a)/ii) da LAV 2011 - cfr. texto n.ºs 17 e 18;

    10ª. Em 2014.04.15, a ora recorrente apresentou contestação noProcesso Arbitral n.º 8/2014/INS/AVS, invocando matéria de facto quetinha sido omitida pelos ora recorridos (v. arts. 44º a 134º dacontestação), impugnando motivadamente as razões de facto e dedireito invocadas pelos ora recorridos (v. arts. 138º, 141º, 147º, 149º,153º a 155º, 161º e 167º e segs. da contestação), pugnando pelainadmissibilidade e improcedência da referida acção, juntandodocumentos e requerendo a audição de testemunhas para prova dosnovos factos alegados naquele articulado e contraprova da matéria defacto invocada pelos ora recorridos (v. Processo Arbitral n.º8/2014/INS/AVS) - cfr. texto n.º s 19 e 20;

    11ª. O aresto arbitral, de 2015.03.26. foi proferido sem que previamentetenha sido concedida oportunidade à ora recorrente de produzir provasobre a referida matéria de facto controvertida, pelo que é manifestoque, ao contrário do decidido no acórdão recorrido, foram frontalmenteviolados os princípios fundamentais do contraditório, da igualdade e daproibição de indefesa, o disposto no art. 20º da CRP, no art. 30º/1 daLAV 2011 e nos arts. 29º e 30º do RCAC 2008 (cfr. art. 16º da LAV1986), devendo aquele aresto ser anulado (v. art. 46º/3/a)/ii da LAV2011) - cfr. texto n.ºs 20 e 21;

    12ª. As normas do art. 30º/1 da LAV 2011 e dos arts. 29º e 30º doRCAC 2008, com o sentido e alcance normativo que lhes foi atribuídoe aplicado no acórdão recorrido, permitindo a prolação de decisão demérito sem que previamente seja conferida às partes - in casu, à ora

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 24/36

    recorrente -, a possibilidade de produzir prova e contraprova de factoscontrovertidos na acção arbitral, sempre seriam manifestamenteinconstitucionais, por violação do disposto nos arts. 2º, 9º e 20º da CRP(cfr. art. 204º da CRP) - cfr. texto nºs 22 e 23;

    E - DAS OMISSÕES DE PRONÚNCIA DO ARESTO ARBITRAL

    13ª. O aresto arbitral, de 2015.03.26. não apreciou, nem decidiu asseguintes questões jurídicas, suscitadas pela ora recorrente nacontestação apresentada no Processo Arbitral n.º 8/2014/INS/AVS, em2014.04.15, e nas alegações, de 2015.02.03:

    a) O douto acórdão do TCA (Sul), de 2012.03.19. não constituiuqualquer facto imprevisível, pois foi proferido no âmbito de acçãopopular proposta, em 2005.07.20, que foi expressamente referida econsiderada no primeiro aresto arbitral, de 2009.07.14 (v. n.º 6.3 dosfundamentos e n.ºs 108-K e 108-Ldos FA);

    b) O Acórdão do TCA (Sul), de 2012.03.19. nunca será objecto deexecução ou cumprimento, pois a composição do litígio foi negociadaextrajudicialmente pelos ora recorridos e pelo Município de Lisboa, nostermos do acordo de transacção celebrado, em 2014.04.15.encontrando-se actualmente exauridas quaisquer consequências lesivasque do citado aresto pudessem resultar para os recorridos;

    c) Face ao alcance e conteúdo do acordo de transacção, de2014.04.15, em que se regularam, além do mais, os termos da resolução"da questão dos lucros cessantes", dos "danos por quebra deoportunidade" e do "ressarcimento dos encargos com a imobilização docapital" (v. Cláusula 7ª/2/b)), é manifesto que se encontramactualmente exauridos quaisquer efeitos dos pretensos factossupervenientes invocados pelos ora recorridos, que pretendem ser osúnicos beneficiários das indemnizações acordadas com o Município deLisboa;

    d) Na apreciação da questão da verificação e indemnização dos lucroscessantes ou danos futuros não pode desconsiderar-se que a reparaçãodaqueles danos já foi judicialmente reclamada na acção proposta pelaora recorrida BB. S.A., e actualmente pendente - cfr. texto n.ºs 24 a 26;

    14ª. Contrariamente ao decidido no douto acórdão recorrido, é assimmanifesto que aquele aresto arbitral enferma de omissões de pronúncia(v. art. 46º/3/a)/v) da LAV 2011 e arts. 23º e 27º da LAV 1986: cfr. Ac.STJ de 2008.07.10, Proc. 08A1698; Ac. Rel. do Porto de 1997.06.12,Proc. 9730030, in www.dgsi.pt), não estando em causa a apreciação dequalquer questão de mérito (V. Paula Costa e Silva, Os meios deImpugnação .... ROA, Ano 56, I/185; Luis de Lima Pinheiro,Apontamento sobre a Impugnação da Decisão Arbitral. ROA, Ano 67,p.p. 1029; Ac. STJ de 2008.07.10, Proc. 08A1698; Ac. Rel. do Porto de1997.06.12, Proc. 9730030, ambos in www.dgsi.pt) -cfr. texto n.º 26.

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 25/36

    NESTES TERMOS,

    Deverá ser dado provimento ao presente recurso, revogando-se o doutoacórdão recorrido, com as legais consequências.

    SÓ ASSIM SE DECIDINDO SERÁ

    CUMPRIDO O DIREITO E FEITA JUSTIÇA.

    Os recorridos contra alegaram, concluindo, por sua vez, nos seguintestermos:

    A. Da não característica de alegações de recurso do acórdão doTribunal da Relação de Lisboa.

    O recurso ora apresentado é contra o acórdão arbitral de 2015, servindoo acórdão do TRLxa de mero pretexto formal. Pelo que deve serindeferido.

    B. Da não nulidade de acórdão recorrido.

    O douto acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa especificou,declarou e discriminou os fundamentos de facto, pelo que é válido (vd.supra ...)

    C. Da fundamentação do aresto arbitral.

    O aresto arbitral de 2015.03.06 enquanto proferido na açãomodificativa de acórdão anterior, cumpriu todas as disposições legais,discriminando ou especificando os factos controvertidos que foramconsiderados provados e não provados, bem como contendo motivaçãosuficiente sobre a decisão da matéria de facto, pelo que o acórdãorecorrido é válido.

    A decisão arbitral tem a fundamentação suficiente, nunca lhe podendoser assacada completa omissão sobre qualquer matéria. Pelo que oacórdão recorrido é válido.

    As normas do art. 42.º da LAV 2011 e art. 38/e) do RCAC foram beminterpretadas pelo acórdão recorrido, não o sendo pela ora Recorrente.

    D. Não violação da convenção de arbitragem.

    O tribunal arbitral nunca utilizou a equidado enquanto tal, mas só comoapelo ao juízo de justiça sobre o caso concreto, como manda o artigo812.º do Código Civil.

    Não violou assim qualquer norma legal e muito menos a convenção dearbitragem.

    E. Da não violação de princípios fundamentais do processo arbitral.

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

    http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bbcc51179986f86080258036005712a3?OpenDocument&Highlight=0,Processo… 26/36

    Nas doutas alegações da Recorrente repetem-se factos e argumentos jálongamente invocados.

    A questão da pretensa violação dos princípios previstos no art.º 30.º, 1da LAV 2011 não tem lugar.

    Os factos foram descritos nos dois acórdãos arbitrais. Sobre uns,pronunciou-se o primeiro acórdão.

    Sobre os outros, o acórdão de 2015. Pelo que este só tinha de sepronunciar sobre alguns dos factos e não sobre a totalidade.

    O aresto arbitral de 2015, assentando sobre o anterior, completa, noquadro de uma ação modificativa, o elenco dos factos ora relevantes,sobre os quais mo tribunal arbitral se pronunciou.

    A prova e contraprova foram produzidas no acórdão de 2015.

    F. Das não omissões de pronúncia do aresto arbitral.

    Mais uma vez aqui as doutas alegações da Recorrente se referem aoacórdão arbitral de 2015 - sem mencionarem o acórdão recorrido a nãoser como ponto para a arbitragem (n.º 14.º).

    As observações visam uma revisão do acórdão de 2015 e não aanulação do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa.

    O acordo de transação celebrado em 2014.04.15 não tem relevo para aquestão a decidir.

    A acção de reparação de danos proposta pela BB contra terceiros,também é irrelevante neste caso.

    Pelo que o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa é válido.

    Nestes termos

    Não deverá ser dado provimento ao recurso apresentado, mantendo-seo douto acórdão recorrido do Tribunal da Relação de Lisboa com aslegais consequências

    7. Como é sabido, a LAV actualmente vigente apenas permite aimpugnação da sentença arbitral pela via do pedido de anulaçãodirigido ao competente tribunal estadual – só prevendo, como forma dereacção à dita sentença, a via do recurso nos casos em que as partestiverem acordado na recorribilidade da decisão dos árbitros para ostribunais estaduais; o pedido de anulação – que origina uma formaprocedimental autónoma, moldada pelas regras da apelação no que senão mostre especialmente previsto no nº2 do art. 46º da LAV –pressupõe a verificação de algum ou alguns dos fundamentostaxativamente previstos na lei, cumprindo, em regra, à parte que faz o

  • 20/11/2017 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

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    pedido o ónus de demonstrar a respectiva verificação; e tal pretensãonão envolve um amplo conhecimento do mérito da decisão que sepretende anular, estando a competência do tribunal estadual circunscritaà matéria da verificação do específico fundamento da pretendidaanulação, cabendo, mesmo nos casos em que proceda a pretensãoanulatória, a reapreciação do mérito a outro tribunal arbitral, nostermos do nº9 do citado art. 46º

    Por outro lado, resulta claramente do disposto no art. 59º da LAV queas funções cometidas nesta sede aos tribunais judiciais são exercidaspela Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem – nocaso, o Tribunal da Relação de Lisboa, onde correu termos a acçãoanulatória – cabendo do acórdão proferido pela Relação recurso paraos tribunais hierarquicamente superiores, sempre que tal recurso sejaadmissível segundo as normas aplicáveis à recorribilidade dasdecisões em causa ( nº8 do referido art. 59º) : e é precisamente nestanorma que encontra suporte a presente revista, já que – tendo a Relaçãoproferido a primeira decisão acerca da pretensão anulatória - não severificam obviamente as limitações à recorribilidade para o STJ , noscasos de dupla conforme, decorrentes do disposto no art. 671º, nº3 , doCPC: ou seja, no caso dos autos, a presente revista representa oexercício do duplo grau de jurisdição sobre a decisão que conheceu, afinal, do mérito da acção anulatória – nada obstando, pois, à suaadmissibilidade, nos termos gerais da lei de processo.

    Não parece, por outro lado, que a circunstância de a entidade recorrenteesgrimir fundamentalmente com as nulidades e vícios procedimentaisque imputa, em primeira linha, ao próprio acórdão arbitral – assimimpugnando, apenas em termos consequenciais, o decidido pelaRelação na acção anulatória, que teve por improcedente, ao considerarinverificadas tais nulidades – possa, por alguma via, precludir aadmissibilidade da revista: na verdade, o objecto fundamental da acçãointentada é a verificação da existência ou inexistência dos vícios quesão especificamente imputados à sentença arbitral, pelo que – estandoaqui situado o cerne da matéria litigiosa - não pode a parte deixar decentrar o núcleo fundamental da sua alegação na existência de taisvícios e nulidades que constituem, em última análise, causa petendi dapretensão anulatória.

    E, deste modo, o objecto fulcral da revista não poderá deixar de secentrar na questão da ocorrência, em concreto, dos vícios e nulidadesque constituem fundamento específico do efeito anulatório pretendido,impugnando o recorrente o segmento ou segmentos do acórdãorecorrido que consideraram insubsistentes tais vícios ou nulidades.

    Considera-se, pois, que nada obsta à apreciação da presente revista –cujo objecto consistirá, portanto, em apurar da verificação ouinverificação dos específicos fundamentos de anulação da sentençaarbitral, invocados pela A. na acção que propôs e naturalmenteincluídos no âmbito das conclusões que formulou na revista que

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    interpôs do acórdão da Relação que julgou a acção totalmenteimprocedente.

    Quanto a este ponto, importa referir que, na alegação ora apresentada, aentidade recorrente abandonou ou deixou cair a questão daimpropriedade / inadmissibilidade de uma acção arbitral, modificativa– com base na alegada superveniência de factos essenciais – de umprecedente acórdão arbitral, transitado em julgado (dirimido peloacórdão recorrido, a fls. 2229/2231).

    As questões a dirimir na presente revista, face ao teor da alegação econclusões da entidade recorrente, podem assim circunscrever-se a três:

    - a questão da violação da convenção de arbitragem, decorrente de oacórdão arbitral impugnado ter decidido segundo a equidade, aoreduzir o montante da cláusula penal estipulada, em aplicação da normaconstante do art. 812º do CC, num caso em que inexistia convençãoarbitral que expressamente permitisse o recurso à equidade – o quepreencheria o fundamento tipificado no art. 46º, nº3, al. a) iii) e iv daLAV;

    - a questão da verificação de nulidades relevantes no acórdãoarbitral, traduzidas, por um lado, na falta de especificação e defundamentação ou motivação da matéria de facto; e, por outro, naomissão de pronúncia sobre determinadas questões, suscitadas pela A– o que integraria os fundamentos anulatórios previstos no art. 46º, nº3al. a) v) e vi);

    - a questão da verificação de relevantes nulidades de processo,implicando violação dos princípios fundamentais do processo arbitral,consagrados no art. 30º, nº1, da LAV (princípios do contraditório, daigualdade, da proibição da indefesa) – e que, sendo obviamente dotadosde relevância constitucional, na óptica da garantia fundamental doacesso aos tribunais, têm de ser respeitados em qualquer processo denatureza jurisdicional – art. 46º, nº3, al.a), ii).

    8. Considera-se que o primeiro argumento esgrimido pela recorrente éclaramente improcedente.

    Efectivamente, o art. 39º da LAV condiciona a possibilidade de osárbitros julgarem segundo a equidade à existência de acordo das partes,deixando, aliás, de se exigir que tal opção das partes constasse daprópria convenção de arbitragem ou ocorresse antes da aceitação doprimeiro árbitro – nada obstando a que , mesmo em fase adiantada dolitígio, as partes possam ainda optar pelo julgamento segundo critériosde equidade, apenas cumprindo acautelar, neste caso, a aceitação detais critérios decisórios pelos árbitros.

    É, porém, evidente, que este regime específico não pode serconvocado e aplicado quando o tribunal arbitral tiver de aplicaruma norma legal cuja fattispecie contiver uma específica remissãopara a aplicação pelo tribunal – por qualquer tribunal , estadual

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    ou arbitral, que for chamado a aplicar essa norma– de critérios deequidade no julgamento do pleito: na verdade, neste tipo desituações, o apelo à equidade não resulta de opção das partes, tomadano exercício da sua autonomia da vontade acerca dos critérios quedevem presidir à composição do litígio, mas de opção do própriolegislador que considerou mais adequada à peculiar fisionomia do casoa dirimição do litígio segundo critérios que ultrapassam o direitoestrito.

    Tal distinção encontra, aliás, e desde há muito, suporte na normaconstante do art. 4º do CC, destrinçando-se aí claramente os casos emque o recurso à equidade decorre de disposição expressa que opermite das situações em que tal apelo resulta do exercício daautonomia privada, no campo das relações disponíveis: ora, comoparece evidente, a norma constante do art. 39º da LAV tem de serelacionar com aquele exercício da autonomia privada, previsto nasalíneas b) e c) do art, 4º do CC – e não com a aplicação de umanorma que expressamente comete ao julgador o encargo de decidir,não segundo critérios de juridicidade e legalidade estrita, mas antesde acordo com a equidade, ou seja, com a busca essencial de umajustiça do caso concreto.

    É que, neste caso, o tribunal arbitral, ao apelar à equidade como critériodecisório, em cumprimento do expressamente previsto na norma legalconvocada e aplicada, está a fazer exactamente o mesmo que qualquertribunal estadual a que cumprisse aplicar essa norma, obedecendo,não á vontade das partes, mas a uma específica determinaçãolegislativa.

    No caso dos autos, a aplicação da norma constante do art. 812º do CCenvolve necessariamente o apelo a juízos concretos de equidade – peloque qualquer tribunal, ao aplicá-la, não poderá deixar de acatar adeterminação do legislador contida naquele preceito legal, operandoconsequentemente a redução da cláusula penal tida por excessivasegundo juízos ou critérios de equidade.

    Não se mostra, deste modo, infringida a convenção arbitral, já que odito apelo à equidade decorre de expressa previsão legislativa,insusceptível, aliás, de estipulação em contrário das partes, nos termosda parte final do nº1 do referido art. 812º do CC.

    9. Insurge-se a entidade recorrente contra a circunstância de o acórdãoarbitral não ter procedido à especificação dos fundamentos de factoque justificam a solução preconizada para o litígio, discriminando osfactos controvertidos que considerou provados e não provados efundamentando ou motivando tal decisão acerca da matéria de facto,cuja fixação teria inteiramente omitido.

    A reforma do CPC, realizada em 1995/96, implicou um claroalargamento e aprofundamento do dever de fundamentação das

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    decisões judiciais, no que toca à matéria de facto.

    Assim, por um lado, estabeleceu-se que tal dever de fundamentaçãoabarca, quer a decisão que julga certo facto provado, quer a que oconsidera não provado: uma vez que foi produzida e livrementevalorada prova sobre os factos que o tribunal, na sua livre convicção,considerou não provados, entendeu-se que não existiria razão bastantepara que o julgador ficasse dispensado de indicar os motivos racionaise objectivos que abalaram a credibilidade dos meios probatóriosproduzidos, conduzindo à sua insuficiência para se dar como provada amatéria factual a que respeitavam.

    Por outro lado, optou-se claramente por uma maior exigência do deverde fundamentação ou motivação da decisão proferida acerca da matériade facto – relativamente ao que a jurisprudência claramente dominantevinha entendendo anteriormente – não bastando a simples indicaçãodos concretos meios de prova que o julgador teve em conta para formara sua convicção: a fundamentação da decisão sobre a matéria de factoprovada e não provada deverá fazer-se por indicação dos fundamentosque foram decisivos para a convicção do juiz, o que compreenderá nãosó a especificação dos concretos meios de prova tidos por relevantes,mas também a enunciação das razões ou motivos substanciais por queeles relevaram e obtiveram credibilidade no espírito do julgador –implicando esta motivação a realização de uma real análise crítica dasprovas.

    Saliente-se que este reforço do dever de fundamentação assentou numaautónoma opção legislativa – que não teve, á época, subjacente umclaro julgamento de inconstitucionalidade acerca do regime adjectivorestritivo que vigorava antes daquela reforma, já que anteriormente oTC - acs. 310/94 e 56/97 - havia emitido, por maioria, um juízo deconformidade constitucional acerca do regime que se extraía dos arts.653º, nº2 e 5, e 712º, nº3, do CPC, na redacção anterior à reformainiciada em 1996.

    Este dever de fundamentação não sofreu alteração relevante no actualCPC, apenas importando realçar que a especificação dos factos e amotivação da convicção formada pelo tribunal constarão agora dasentença, que passou a conter os próprios juízos factuais e probatórios,formulados pelo julgador em matérias sujeita à livre apreciação, bemcomo a respectiva fundamentação, traduzida na referida análise críticadas provas – realçando-se ainda ( art. 607º, nº4) que nessa motivaçãoda sentença devem ser também incluídas as presunções judiciais,alicerçadas nas regras ou máximas da experiência, tiradas de factosinstrumentais considerados provados.

    Como bem refere o acórdão proferido pela Relação, a entidaderecorrente aborda este tema – o da necessária fundamentação da

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    sentença, no plano da apreciação da facticidade relevante, envolvendonaturalmente um elenco dos factos considerados provados e nãoprovados e uma análise crítica das provas que conduziram a tal juízoprobatório , decorrente, quer do conteúdo de normas processuaisfundamentais, quer no próprio âmbito, constitucionalmente tutelado, dodever de fundamentação das decisões judiciais – num plano puramenteabstracto e genérico, desligado das especificidades ou particularidadesdo caso concreto sub juditio.

    São, pois, essas particularidades relevantes da concreta situaçãolitigiosa que importa analisar e ponderar, de modo a verificar se osalegados vícios / nulidades têm, no caso concreto, a relevânciasubstancial que a recorrente lhes pretende atribuir, em termos dedeterminar – atenta a sua influência decisiva na composição do litígio- o gravoso efeito pretendido, traduzido na anulação do acórdãoarbitral.

    Ora, quais são essas especificidades do caso concreto?

    - em primeiro lugar, importa atentar na natureza dos factos essenciaisarticulados pelos AA. na acção modificativa do precedente acórdãoarbitral, transitado em julgado: no dizer expresso dos AA., os factosessenciais, supervenientes ao trânsito em julgado, em que se funda apretensão deduzida, são:

    - o acór