acórdão do supremo tribunal de justiça

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15/04/13 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/bf9755dc1e737be08025775900394e1b?OpenDocument 1/113 Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 18/07.2GAAMT.P1.S1 Nº Convencional: 3.ª SECÇÃO Relator: RAÚL BORGES Descritores: COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA IN DUBIO PRO REO ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA COMPARTICIPAÇÃO CO-AUTORIA AUTORIA BANDO AGRAVANTE TRÁFICO DE ESTUPEFACIENTES CONVOLAÇÃO TRÂNSITO EM JULGADO CONDICIONAL REFORMATIO IN PEJUS Nº do Documento: SJ Apenso: Data do Acordão: 27-05-2010 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Privacidade: 1 Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: PROVIDO EM PARTE Doutrina: - Beleza dos Santos, “O Crime de Associação de Malfeitores – Interpretação do artigo 263.º do Código Penal (de 1886)”, trabalho publicado in Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 70.º, nos n.º s 2593, 2594 e 2595, respectivamente, a págs. 97 a 99, 113 a 115 e 129/130. - Cavaleiro Ferreira, nas Lições de Direito Penal, Editorial Verbo, 1987, 2.ª edição, I, após referir, a págs. 360. -Eduardo Correia, em Problemas Fundamentais da Comparticipação Criminosa, Coimbra, 1951, págs. 45/6, fls. 50. - Eduardo Lobo, em Decisões de Tribunais de 1.ª Instância, 1993, Comentários, Gabinete de Planeamento e de Coordenação do Combate à Droga, Outubro de 1995, págs. 37 a 49. - Faria e Costa, no Comentário Conimbricense ao Código Penal, em comentário ao artigo 204.º, n.º 2, alínea g), do Código Penal, nos §§ 66 e 67, a págs. 81 e 82. - Figueiredo Dias, in As «Associações Criminosas» no Código Penal Português de 1982, Coimbra Editora, 1988, separata da Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 119.º, n.ºs 3751 a 3760, págs. 26-27; pág. 32 a 47; 60/2, 65. - Figueiredo Dias, Comentário Conimbricense do Código Penal, Parte Especial, Tomo II, págs. 1155 a 1174. - Figueiredo Dias, in Direito Processual Penal, volume I, pág. 217. - Figueiredo Dias e Costa Andrade, em parecer elaborado em Fevereiro de 1985, Colectânea de Jurisprudência, 1985, tomo 4, págs. 7 a 19. - Maria João Antunes, in Revista Portuguesa de Ciência Criminal, Janeiro - Março de 1994, pág. 121. -Maria Leonor Assunção, no estudo “Do lugar onde o Sol se levanta, um olhar sobre a criminalidade organizada”, inserto no Liber Discipulorum para Jorge de Figueiredo Dias, a propósito da criminalidade organizada no direito de Macau, a págs. 106 a 113. - Nelson Hungria, em Comentário ao Código Penal Brasileiro, IX, págs. 177 e ss.. - Paulo Pinto de Albuquerque, in Comentário do Código Penal, Universidade Católica Editora, 2008, págs. 563, notas 40 e 41, 752, nota 13, 753. - Relatório de 11-05-1992, aprovado pela Comissão de Inquérito, criada por decisão do Parlamento Europeu de 24-01-1991, sobre a proliferação, nos países da Comunidade Europeia, do crime organizado ligado ao tráfico de droga, in Sub Judice, n.º 3, 1992, pág. 95. - Revista Portuguesa de Ciência Criminal, 2003, ano 13, n.º 3, págs. 433 e ss. - Simas Santos e Leal Henriques, Código de Processo Penal Anotado, 2.ª edição, II volume, pág. 967; 3.ª edição, Rei dos Livros, 2000, 2.º volume, págs.1357 e 1358. - Taipa de Carvalho, em comentário ao artigo 223.º, in Comentário Conimbricense do

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Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de JustiçaProcesso: 18/07.2GAAMT.P1.S1Nº Convencional: 3.ª SECÇÃORelator: RAÚL BORGESDescritores: COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

IN DUBIO PRO REOASSOCIAÇÃO CRIMINOSACOMPARTICIPAÇÃOCO-AUTORIAAUTORIABANDOAGRAVANTETRÁFICO DE ESTUPEFACIENTESCONVOLAÇÃOTRÂNSITO EM JULGADO CONDICIONALREFORMATIO IN PEJUS

Nº do Documento: SJApenso:Data do Acordão: 27-05-2010Votação: UNANIMIDADETexto Integral: SPrivacidade: 1

Meio Processual: RECURSO PENALDecisão: PROVIDO EM PARTEDoutrina: - Beleza dos Santos, “O Crime de Associação de Malfeitores – Interpretação do artigo

263.º do Código Penal (de 1886)”, trabalho publicado in Revista de Legislação eJurisprudência, Ano 70.º, nos n.º s 2593, 2594 e 2595, respectivamente, a págs. 97 a 99,113 a 115 e 129/130.- Cavaleiro Ferreira, nas Lições de Direito Penal, Editorial Verbo, 1987, 2.ª edição, I,após referir, a págs. 360.-Eduardo Correia, em Problemas Fundamentais da Comparticipação Criminosa, Coimbra,1951, págs. 45/6, fls. 50.- Eduardo Lobo, em Decisões de Tribunais de 1.ª Instância, 1993, Comentários, Gabinetede Planeamento e de Coordenação do Combate à Droga, Outubro de 1995, págs. 37 a 49.- Faria e Costa, no Comentário Conimbricense ao Código Penal, em comentário ao artigo204.º, n.º 2, alínea g), do Código Penal, nos §§ 66 e 67, a págs. 81 e 82.- Figueiredo Dias, in As «Associações Criminosas» no Código Penal Português de 1982,Coimbra Editora, 1988, separata da Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 119.º,n.ºs 3751 a 3760, págs. 26-27; pág. 32 a 47; 60/2, 65.- Figueiredo Dias, Comentário Conimbricense do Código Penal, Parte Especial, Tomo II,págs. 1155 a 1174.- Figueiredo Dias, in Direito Processual Penal, volume I, pág. 217.- Figueiredo Dias e Costa Andrade, em parecer elaborado em Fevereiro de 1985,Colectânea de Jurisprudência, 1985, tomo 4, págs. 7 a 19.- Maria João Antunes, in Revista Portuguesa de Ciência Criminal, Janeiro - Março de1994, pág. 121. -Maria Leonor Assunção, no estudo “Do lugar onde o Sol se levanta, um olhar sobre acriminalidade organizada”, inserto no Liber Discipulorum para Jorge de FigueiredoDias, a propósito da criminalidade organizada no direito de Macau, a págs. 106 a 113.- Nelson Hungria, em Comentário ao Código Penal Brasileiro, IX, págs. 177 e ss..- Paulo Pinto de Albuquerque, in Comentário do Código Penal, Universidade CatólicaEditora, 2008, págs. 563, notas 40 e 41, 752, nota 13, 753.- Relatório de 11-05-1992, aprovado pela Comissão de Inquérito, criada por decisão doParlamento Europeu de 24-01-1991, sobre a proliferação, nos países da ComunidadeEuropeia, do crime organizado ligado ao tráfico de droga, in Sub Judice, n.º 3, 1992, pág.95.- Revista Portuguesa de Ciência Criminal, 2003, ano 13, n.º 3, págs. 433 e ss.- Simas Santos e Leal Henriques, Código de Processo Penal Anotado, 2.ª edição, IIvolume, pág. 967; 3.ª edição, Rei dos Livros, 2000, 2.º volume, págs.1357 e 1358.- Taipa de Carvalho, em comentário ao artigo 223.º, in Comentário Conimbricense do

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Código Penal, Tomo II, pág. 353.,Legislação Nacional: CÓDIGO DA ESTRADA: - ARTIGOS 122.º E 123.º.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL (CPP): - ARTIGOS 127.º, 340.º, N.º1, 400.º, 402.º, N.º2, ALÍNEA A), 403.º, N.º 3, ALÍNEA E), 409.º, 410.º, N.º 2, 412.º, N.º S 3 E 4, 424.º, N.º 3,428.º, 431.º, ALÍNEA B), 432.º, ALÍNEA D), 434.º.CÓDIGO PENAL: - ARTIGOS 30.º, N.º 2, 77.º, 78.º, 299.º, N.º 2CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA (CRP): - ARTIGO 32.º, N.º 2. DL N.º 15/93: - ARTIGOS 21.º, N.º 1, ARTIGO 24.º, ALÍNEA J), 28.º, N.ºS 1, 2 E 3. DL N.º 2/98, DE 03-01: - ARTIGO 3.º, N.ºS 1 E 2.LEI N.º 15/2001, DE 5 DE JUNHO: - ARTIGO 89.º.LEI N.º 23/2007, DE 5-11: - ARTIGO 184.º .

Jurisprudência Nacional: INSUFICIÊNCIA DE PROVA OU ERRADA VALORAÇÃO DA PROVA E VIOLAÇÃODO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO[...]___________INSUFICIÊNCIA PARA A DECISÃO DA MATÉRIA DE FACTO PROVADA

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA: - DE 25-05-1994, PROCESSON.º 45829, IN CJSTJ 1994, TOMO 2, PÁG. 224 E BMJ N.º 437, PÁG. 228, DE 13-01-1998, PROCESSO N.º 877/97 - 3.ª, BMJ N.º 473, PÁG. 307; DE 25-03-1998,PROCESSO N.º 53/98 - 3.ª, BMJ N.º 475, PÁG. 502; DE 20-10-1999, PROCESSO N.º1452/99-3ª; DE 24-04-2006, PROCESSO Nº 363/06; DE 24-05-2006, PROCESSO Nº816/06; DE 20-12-2006, PROCESSO N.º 3379/06 - 3.ª, SENDO OS DOIS PRIMEIROSCITADOS NO ACÓRDÃO DE 23-04-2008, PROCESSO N.º 1127/08, TODOS DA 3.ªSECÇÃO(CFR. AINDA, I.A., OS ACÓRDÃOS DO STJ, DE 22-10-97, PROCESSO N.º612/97; DE 12-03-1998, BMJ N.º 475, PÁG. 492; DE 09-12-1998, PROCESSO N.º1165/98; DE 13-01-1999, IN BMJ N.º 483, PÁG. 49; DE 02-06-1999, PROCESSO N.º288/99; DE 15-05-2002, PROCESSO N.º 857/02 - 3.ª; DE 01-07-2004, PROCESSO N.º2691/04 - 5.ª ); DE 15-02-2007, PROCESSO N.º 3174/06 - 5.ª; DE 05-09-2007,PROCESSO N.º 2078/07 - 3.ª.__________ERRO NOTÓRIO NA APRECIAÇÃO DA PROVA

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA: - 01-10-1997, PROCESSO N.º243/97-3.ª ACÓRDÃO DO STJ, DE 01-10-1997, PROCESSO N.º 627/97-3.ª;ACÓRDÃO DE 06-11-97 PROCESSO N.º 471/97-3.ª, SUMÁRIOS ASSESSORIA, 1997,PÁG. 157; DE 04-12-97, PROCESSO N.º 1018/97-3.ª; DE 18-12-97, PROCESSO N.º701/97-3.ª, SUMÁRIOS, PÁG. 220; DE 26-02-2004, PROCESSO N.º 267/04 - 5.ªSECÇÃO.__________REQUALIFICAÇÃO JURÍDICO CRIMINAL (CRIME DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA.MERA COMPARTICIPAÇÃO CRIMINOSA)

- ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA: - DE 09-10-1985, PROCESSON.º 37896, CJSTJ, A PÁGS. 7, E NO BMJ N.º 350, PÁG. 169; DE 26-02-1986,PROCESSO N.º 38 085, BMJ N.º 354, PÁG. 334; DE 16-04-1986, PROCESSO N.º38353, IN BMJ N.º 356, PÁG. 132; DE 23-04-1986, PROCESSO N.º 38072, IN BMJ N.º356, PÁG. 136; DE 16-05-1990, PROCESSO N.º 39852, BMJ, N.º 397, PÁG. 190; DE 05-05-1991, PROCESSO N.º 41 565, IN BMJ N.º 408, PÁG. 162; DE 31-10-1991,PROCESSO N.º 41844, BMJ N.º 410, PÁG. 418; DE 13-02-1992, PROCESSO N.º 42233,BMJ N.º 414, PÁG. 186; DE 26-02-1992, PROCESSO N.º 42222, BMJ N.º 414, PÁG.232; DE 05-03-1992, BMJ N.º 415, PÁG. 434; DE 13-05-1992, PROCESSO N.º 42228,BMJ N.º 417, PÁG. 308 E CJ 1992, TOMO 3, PÁG. 15; DE 17-12-1992, BMJ N.º 422,PÁG. 152, E CJ 1992, TOMO 5, PÁG. 31 ; DE 26-05-1993, PROCESSO N.º 44123,CJSTJ 1993, TOMO 2, PÁG. 237; DE 12-01-1994, PROCESSO N.º 45875, CJSTJ 1994,TOMO 1, PÁG. 192; DE 26-05-1994, PROCESSO N.º 45385, CJSTJ 1994, TOMO 2,PÁG. 233 E BMJ N.º 437, PÁG. 263; DE 01-06-1994, PROCESSO N.º 45 272, CJSTJ1994, TOMO 2, PÁG. 242 E BMJ N.º 438, PÁG. 154; DE 03-11-1994, PROCESSO N.º46571; DE 09-02-1995, PROCESSO N.º 46 991, IN CJSTJ 1995, TOMO 1, PÁG. 198;DE 15-02-1995, PROCESSO N.º 44. 846, CJSTJ 1995, TOMO 1, PÁG. 205; DE 10-07-1996, PROCESSO N.º 48.675, CJSTJ 1996, TOMO 2, PÁG. 229; DE 14-11-1996,

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PROCESSO N.º 48.588-3.ª, IN SUMÁRIOS, N.º 5, NOVEMBRO 1996, PÁG. 74; DE 11-12-1996, PROCESSO N.º 48.697 - 3.ª SECÇÃO, IN SUMÁRIOS, N.º 6, DEZEMBRO1996, PÁG. 63; DE ACÓRDÃO DE 12-03-1997, PROCESSO N.º 1015/96, DA MESMASECÇÃO, IN “SUMÁRIOS”, N.º 9, MARÇO DE 1997, PÁG. 70; DE 26-02-1997,PROCESSO N.º 1072/96 - 3.ª, IN SUMÁRIOS, N.º 8, PÁG. 101; DE 26-02-1997,PROCESSO N.º 120/97, CJSTJ 1997, TOMO 1, PÁG. 230; DE 17-04-1997, PROCESSON.º 1073/96 - 3.ª, BMJ N.º 466, PÁG. 227; DE 05-11-1997, PROCESSO N.º 549/97 - 3.ªSECÇÃO, CJSTJ 1997, TOMO 3, PÁG. 222; DE 27-01-1998, PROCESSO N.º 696/97,CJSTJ 1998, TOMO 1, PÁG. 181; DE 05-02-1998, PROCESSO N.º 1038/97, CJSTJ1998, TOMO 1, PÁG. 192; DE 04-06-1998, PROCESSO N.º 1235/97, BMJ N.º 478,PÁGS. 7 A 88; DE 24-01-2001, PROCESSO N.º 230/00 - 3.ª SECÇÃO; DE 10-05-2001,PROCESSO N.º 373/01, CJSTJ 2001, TOMO 2, PÁG. 198; DE 13-12-2001, PROCESSON.º 3654/01-5.ª, CJSTJ 2001, TOMO 3, PÁG. 237; DE 18-12-2002, PROCESSO N.º3217/02 - 3.ª SECÇÃO; DE 08-01-2003, PROCESSO N.º 4221/02 - 3.ª SECÇÃO; DE 23-04-2003, PROCESSO N.º 789/03 - 3.ª SECÇÃO; DE 09-07-2003, PROCESSO N.º2026/03 - 3.ª SECÇÃO; DE 11-12-2003, PROCESSO N.º 2293/03 - 5.ª SECÇÃO; DE 26-02-2004, PROCESSO N.º 267/04 - 5.ª SECÇÃO; DE 27-04-2005, PROCESSO N.º149/05 - 5.ª SECÇÃO; DE 18-05-2005, PROCESSO N.º 4189/02 - 3.ª SECÇÃO; DE 07-12-2005, PROCESSO N.º 2105/05 - 5.ª SECÇÃO; DE 28-06-2006, PROCESSO N.º3463/05 - 3.ª SECÇÃO; DE 29-11-2006, PROCESSO N.º 3802/05 - 3.ª SECÇÃO; DE 03-05-2007, PROCESSO N.º 896/07 - 5.ª SECÇÃO; DE 17-04-2008, PROCESSO N.º4457/06 - 3.ª SECÇÃO; DE 16-10-2008, PROCESSO N.º 2958/08 - 5.ª SECÇÃO.ACÓRDÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL N.º 102/99, DE 10-02-1999,PROCESSO N.º 1103/98-3.ª SECÇÃO, PUBLICADO IN DIÁRIO DA REPÚBLICA, IISÉRIE, N.º 77, DE 01-04-1999, PÁG. 4843, E BMJ N.º 484, PÁG. 119.________BANDO – MEMBRO DE BANDO

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA: - DE 13-04-1994, PROCESSON.º 45813, IN CJSTJ 1994, TOMO 1, PÁG. 256; DE 25-05-1994, PROCESSO N.º 45829,CJSTJ 1994, TOMO 2, PÁG. 224 E BMJ N.º 437, PÁG. 228; DE 29-06-1994,PROCESSO N.º 45530, CJSTJ 1994, TOMO 2, PÁG. 258, DE 22-06-1995, PROCESSON.º 47.997, IN CJSTJ 1995, TOMO 2, PÁG. 238; DE 29-06-1995, PROCESSO N.º47.773, IN CJSTJ 1995, TOMO 2, PÁG. 251; DE 13-02-1997, PROCESSO N.º 1019/96 -3.ª – SUMÁRIOS DE ACÓRDÃOS STJ, GABINETE DE ASSESSORIA, N.º 8,FEVEREIRO DE 1997, PÁG. 89; DE 27-02-1997, PROCESSO N.º 908/96 - 3.ª –SUMÁRIOS DE ACÓRDÃOS STJ, GABINETE DE ASSESSORIA, N.º 8, FEVEREIRO DE1997, PÁG. 103; DE 08-10-1997, PROCESSO N.º 356/97 - 3.ª, SUMÁRIOS DEACÓRDÃOS STJ, GABINETE DE ASSESSORIA, N.º 14, VOLUME II, PÁG. 133; DE 18-12-1997, PROCESSO N.º 918/97 - 3.ª – SUMÁRIOS DE ACÓRDÃOS STJ, GABINETEDE ASSESSORIA, N.ºS 15 E 16, VOLUME II, PÁG. 217; DE 30-09-1999, PROCESSO N.º726/96, CJSTJ 1999, TOMO 3, PÁG. 162; DE 18-12-2002, PROCESSO N.º 3217/02 - 3.ªSECÇÃO; DE 23-04-2003, PROCESSO N.º 789/03 - 3.ª SECÇÃO; DE 06-11-2003,PROCESSO N.º 3392/03 - 5.ª SECÇÃO; DE 11-12-2003, PROCESSO N.º 2293/03 - 5.ªSECÇÃO; DE 07-01-2004, PROCESSO N.º 3213/03 - 3.ª SECÇÃO.

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL DE 06-11-1991, IN BMJ N.º 411,PÁG. 56, E DE 10-02-1999, IN DR, II SÉRIE, N.º 77, DE 01-04-1999 E BMJ N.º 484, PÁG.119.

ANOTAÇÃO DE MIGUEL PEDROSA MACHADO A ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DACOMARCA DE PONTA DO SOL, DE 11-11-1993, ELABORADA EM SETEMBRO DE1995, CJSTJ, PÁGS. 231 A 261.________SEGMENTO DECISÓRIO

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA: - ACÓRDÃO DE 05-12-1997,PROCESSO N.º 48956-3.ª, SUMÁRIOS ASSESSORIA, N.º 8, FEVEREIRO DE 1997,PÁG. 78; DE 09-02-2006, PROCESSO N.º 486/06-5.ª; DE 08-03-2006, PROCESSO N.º888/06-3.ª; DE 25-05-2006, PROCESSO N.º 4123/05-5.ª; DE 07-06-2006, PROCESSON.º 2184/06-3.ª; DE 04-10-2006, PROCESSO N.º 3667/06-5.ª; DE 11-10-2006,

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PROCESSO N.º 3774/06-3.ª; DE 07-11-2007, PROCESSO N.º 4209/07-3.ª; DE 27-05-2009, PROCESSO N.º 50/06.3GAOFR-3.ª.

Sumário : I - O princípio in dubio pro reo funda-se constitucionalmente no princípio da presunção dainocência até ao trânsito em julgado da sentença condenatória – art. 32.º, n.º 2, da CRP –,impondo este que qualquer non liquet na questão da prova seja valorado a favor doarguido, apresentando-se aquele, na fase de decisão, como corolário daquela presunção –Ac. do TC n.º 533/98, DR, II Série, de 25-02-99.II - O princípio in dubio pro reo – fórmula condensada por Stubel – que estabelece que, nadecisão de factos incertos a dúvida favorece o arguido, é um princípio de prova que vigoraem geral, isto é, quando a lei, através de uma presunção, não estabelece o contrário.III - A violação do princípio in dubio pro reo tem sido entendida sob diversasperspectivas, como a de respeitar a matéria de prova e, pois, tratar-se de matéria de facto ecomo tal insindicável pelo STJ (por todos, Ac. de 18-12-97, Proc. n.º 930/97, BMJ, 472, pág.185), ou enquanto princípio estruturante do processo penal, podendo ser suscitada peranteo Tribunal de revista, mas o STJ vem afirmando que isso só é possível se a violaçãoresultar do próprio texto da decisão recorrida, designadamente, da fundamentação dadecisão de facto – Ac. de 29-11-2006, Proc. n.º 2796/06 - 3.ª, in CJSTJ 2006, tomo 3, pág. 235- 239.IV - Contrariamente à posição de Figueiredo Dias (cf. Direito Processual Penal, vol. I, pág.217), que defende que o princípio se assume como um princípio geral de processo penal,não forçosamente circunscrito a facetas factuais, podendo a sua violação conformartambém uma autêntica questão de direito plenamente cabível dentro dos poderes decognição do STJ, a jurisprudência maioritária tem repudiado a invocação do princípio emsede de interpretação ou de subsunção de um facto à lei, não valendo para dúvidas nessasmatérias.V - A eventual violação do princípio in dubio pro reo só pode ser aferida pelo STJ quandoda decisão impugnada resulta, de forma evidente, que o tribunal recorrido ficou na dúvidaem relação a qualquer facto, que tenha chegado a um estado de dúvida “patentementeinsuperável” e que, nesse estado de dúvida, decidiu contra o arguido, optando por umentendimento decisório desfavorável ao arguido, posto que saber se o tribunal recorridodeveria ter ficado em estado de dúvida, é uma questão de facto que exorbita os poderes decognição do STJ enquanto tribunal de revista.VI - Não se verificando esta hipótese, resta a aplicação do mesmo princípio enquanto regrade apreciação da prova, no âmbito do dispositivo do art. 127.º do CPP, que escapa ao poderde censura do STJ enquanto tribunal de revista.VII - Noutra perspectiva, o STJ poderá sindicar a aplicação do princípio, quando a dúvidaresultar evidente do texto da decisão recorrida em termos análogos aos dos vícios do art.410.º, n.º 2, do CPP, ou seja, quando seguindo o processo decisório evidenciado através damotivação da convicção se chegar à conclusão de que o tribunal tendo ficado em estado dedúvida, decidiu contra o arguido.VIII - A apreciação pelo STJ da eventual violação do princípio in dubio pro reo encontra-se dependente de critério idêntico ao que se aplica ao conhecimento dos vícios da matériade facto: há-de ser pela mera análise da decisão que se deve concluir pela violação desteprincípio. IX - Inexistindo dúvida razoável na formulação do juízo factual que conduziu à condenaçãodo arguido, fica afastada a violação do princípio in dubio pro reo e da presunção dainocência, sendo de ter por assente definitivamente a matéria de facto apurada. X - No caso de associação criminosa estamos perante uma autoria plural ou colectiva, porcontraposição a autoria singular, e diversa da actuação num quadro de co-autoria oucomparticipação criminosa, e mesmo da figura de bando.XI - Perante um caso de participação plúrima, três situações dogmáticas se podem e devemconceber: comparticipação propriamente dita, associação criminosa e membro de bando.XII - O crime de associação criminosa configura-se como um crime de comparticipaçãonecessária; para que a organização exista indispensável se torna a comparticipação devários agentes, com ressalva da modalidade de acção traduzida na “promoção” - FigueiredoDias, “Associações Criminosas”, pág. 65 e Comentário Conimbricense, § 43, pág. 1172.XIII - Como anotado por Eduardo Correia (cf. Problemas fundamentais da comparticipaçãocriminosa, Coimbra, 1951, págs. 45-46), os tipos cuja realização supõe a colaboração ouintervenção de várias pessoas, exigindo conceitualmente a intervenção de várias pessoas,dão lugar a uma comparticipação necessária, onde se distinguem dois grupos: os delitos de

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colisão ou de encontro e os delitos convergentes, aqui se incluindo aqueles crimes em queas condutas dos vários sujeitos não se dirigem umas de encontro às outras, masconvergem para a realização de um certo resultado. XIV - Do mesmo modo, Paulo Pinto Albuquerque (Comentário do CP, UCE, 2008, pág. 753)situando a associação na modalidade de crime de convergência, ou seja, aquele em que oscontributos dos vários comparticipantes para o facto se dirigem, na mesma direcção, àviolação do bem jurídico. XV - Cavaleiro Ferreira, in Lições de Direito Penal, Editorial Verbo, 1987, 2.ª edição, I, pág.360, refere que os crimes plurissubjectivos ou de participação necessária, são os que, porsua natureza, só podem ser cometidos por uma pluralidade de agentes, sendo, então, apluralidade de agentes, elemento essencial da estrutura do crime.XVI - Escreveu o autor, a págs. 363-364, que, “entre os crimes de participação necessáriacontam-se, no CP, o crime de associações criminosas (art. 287.º) e o crime de organizaçõesterroristas (art. 288.º). Ambos os crimes constituem materialmente uma antecipação datutela penal, para além da conspiração e da preparação de qualquer crime; e neste aspecto,pouco condizentes com a restrição da punibilidade, admitida em princípio, das várias fasesdo iter criminis.”XVII - Formalmente, o crime de associações criminosas “é um crime autónomo, diferente eseparado dos crimes que venham a ser deliberados, preparados ou executados. (…) O crimeconsuma-se com a fundação da associação com a finalidade de praticar crimes, ou –relativamente a associados não fundadores – com a adesão ulterior. Haverá sempre quedistinguir claramente o crime de associações criminosas dos crimes que venham a sercometidos por todos ou alguns dos associados; entre um e outros haverá concurso decrimes. Caracteriza a associação o fim que se propõe: a prática de crimes. Mas sendo deexcluir os crimes que não possam por qualquer modo considerar-se ofensivos da «pazpública», ou de ramos de Direito Penal especial, bem como de contra-ordenações. Comoassociação, basta que tenha o mínimo de dois associados, mas pressupõe uma chefia euma disciplina ou norma de funcionamento da organização.”XVIII - Por conseguinte, o crime de associação criminosa consuma-se independentementedo começo de execução de qualquer dos delitos que se propôs levar a cabo, bastando-secom a mera organização votada e ajustada a esses fins, sendo certo que o facto de aassociação ser já de si um crime conduz a que os participantes nela sejamresponsabilizados pelos delitos que eventualmente venham a ser cometidos no âmbito daorganização, segundo as regras da acumulação real.XIX - Nelson Hungria, em Comentário ao CP Brasileiro, IX, págs. 177 e ss., escreve que“Associar-se quer dizer reunir-se, aliar-se ou congregar-se estável e permanentemente, paraa consecução de um fim comum” XX - O autor define a associação criminosa como reunião estável e permanente para o fimde perpetração de uma indeterminada série de crimes. A nota de estabilidade oupermanência da aliança é essencial. Não basta, como na co-participação criminosa, umocasional e transitório concerto de vontades para determinado crime; é preciso que oacordo verse sobre uma duradoura actuação em comum, no sentido da prática de crimesnão precisamente individualizados ou apenas ajustados quanto à espécie, que tanto podeser única ou plúrima, “basta uma organização social rudimentar, a caracterizar-se apenaspela continuada vontade de um esforço comum.”XXI - A associação criminosa distingue-se da comparticipação pela estabilidade epermanência que a acompanha, embora o fim num e noutro instituto possa ser o mesmo;mas o elemento distintivo fundamental da associação criminosa em relação àcomparticipação reside na estrutura nova que se erige, uma estrutura autónoma superior oudiferente dos elementos que a integram e que não aparece na comparticipação. É mais que aactuação conjunta de várias pessoas.XXII - No acto da subsunção juspenal que ao julgador cabe proceder com vista àconfirmação ou à não comprovação da prática de um crime de associação criminosa, deveráo juiz partir da ideia de que nenhum crime consta, nem participado, nem acusado, nemprovado e, uma vez neste limbo – ou seja, assim abstraído e mentalmente escorrido doscrimes eventualmente comprovados – interrogando-se então se os factos adquiridospertinentes (e apenas os exclusivamente pertinentes) aos elementos objectivo-subjectivo-do-tipo-do-ilícito preenchem o tipo do ilícito associação criminosa e se são suficientes, deper si, para imporem a condenação do arguido.XXIII - Para Leal-Henriques e Simas Santos, CP Anotado, 3.ª edição, Rei dos Livros, 2000,2.º volume, pág. 1357, “chefiar ou dirigir tem o sentido de comandar, governar, administrar,

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guiar, mandar. Promover é fomentar, impulsionar, fazer avançar. Fundar significa constituir,formar.”XXIV - Figueiredo Dias, no Comentário Conimbricense, § 33, págs. 1168/9, define “Chefe oudirigente como aquele indivíduo que assume as “rédeas” do destino da associação: é oresponsável – ou co-responsável –, em particular medida, pela formação da vontadecolectiva, ou funciona como pivot essencial à sua execução (centralizando informações,planeando acções concretas, distribuindo tarefas, dando ordens). Diversamente do queacontece com o apoiante, tem de ser membro da organização e, na verdade, membroespecialmente qualificado.XXV - Especial qualificação a que se liga a especial perigosidade das condutasrespectivas de chefia ou direcção, por serem estas que possibilitam um desenvolvimentoarticulado dos desígnios associativos.XXVI - Paulo Pinto de Albuquerque, na obra citada, nota 13, pág. 752, entende o chefe oudirigente da associação criminosa como o membro que dirige a estrutura de comando econtrola o processo de formação da vontade colectiva da associação criminosa.XXVII - O grupo, a organização ou associação é uma entidade necessariamente prévia àprática de crimes – os crimes da associação – o que constitui o seu objectivo, o seudesígnio, o seu fim abstracto, o seu escopo, colocando-se num estádio anterior, numacongregação de vontades, na criação de uma entidade pré-ordenada ao cometimento decrimes.XXVIII - Do mesmo modo, quando se refere a necessidade de que associação tenha emvista a prática de crimes (Beleza dos Santos), ou que a sua actividade seja dirigida à práticade crimes, consistindo nisso o seu escopo (Figueiredo Dias)XXIX - No caso dos autos, resulta da matéria de facto que a dinâmica criminosa estavapresente muito antes de aparecer qualquer forma de associação entre os arguidos que atéaí dela prescindiram; com efeito, a dinâmica criminosa já estava adquirida, em marcha, nãofoi fornecida pela associação. Assim, sendo de exigir que a densidade das relações entre osmembros de uma associação criminosa seja muito forte, certamente mais forte do queaquela que se verifica entre os membros pertencentes a um qualquer grupo ou bando, nãose vê como alcançar tal grau de intensidade face à curta, pequena e exígua descritaactividade dada como provada nos autos.XXX - A figura criminosa de “bando” foi introduzida com o DL n.º 15/93, de 22-01,constituindo então uma absoluta novidade no nosso ordenamento jurídico - criminal.XXXI - Trata-se de uma figura nova, problemática (escusadamente nova, no entender deFaria e Costa, in Comentário Conimbricense ao CP, em comentário ao art. 204.º, n.º 2, al. g),do CP, nos §§ 66 e 67, a págs. 81 e 82, ao afirmar que a importação da noção de bandotalvez não tenha sido filtrada convenientemente pela crítica da adequação ao real socialnacional), com dificuldades de delimitação em relação a figuras de participação plúrima pré-existentes, e que se distancia, e fica a “meio caminho” entre os crimes associativos dosarts. 287.º e 299.º do CP de 1982 e de 1995 e do art. 28.º do DL n.º 430/83 e do homólogo,sucessor, DL n.º 15/93, e as figuras da mera comparticipação (propriamente dita).XXXII - Para Taipa de Carvalho, em anotação ao art. 223.º do Comentário Conimbricense doCP, Tomo II, pág. 353, bando significa uma cooperação duradoura entre várias pessoas,sendo um conceito menos exigente que o de associação criminosa, pois que,diferentemente desta, não pressupõe uma estrutura organizacional.XXXIII - Para Paulo Pinto de Albuquerque, na obra citada, em anotação ao art. 204.º do CP,notas 40 e 41, a pág. 563, o bando apresenta como características cumulativas: a) Grupo deduas ou mais pessoas; b) Grupo de pessoas que se juntam para (“destinado”) praticar umnúmero indeterminado de crimes contra o património (no que se distingue da co-autoria)sendo suficiente o plano para a execução de um número incerto de crimes num períodocerto de tempo; c) Grupo de pessoas que não tem um líder, uma estrutura de comando e umprocesso de formação da vontade colectiva (no que se distingue da associação criminosa).XXXIV - O conceito de bando, que encontra raízes no direito penal alemão, figurando na leida droga alemã de 1981, enquanto agravante ope legis e como circunstância qualificativado furto, foi introduzido por Figueiredo Dias, no Projecto de Revisão do CP, 1993, comofactor de qualificação dos crimes de «furtum rei» e de roubo.XXXV - Para este autor, «o «bando» é uma forma de comparticipação», «uma formaespecial de co-autoria», deixando claro que o conceito se diferencia da associaçãocriminosa. «Uma associação criminosa pode, obviamente, cometer roubos, mas nem todo oconluio se transforma em associação criminosa».XXXVI - O conceito de bando assenta, pois, numa designação de cariz criminológico, que

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pretende traduzir uma situação em que haja, simultaneamente, e em razão da existência deum líder, algo menos do que na associação e algo diferente da co-autoria; algo próximo,mais do que o «concurso de pessoas» (incluindo a co-autoria, espécie mais relevante oumais forte de tal «concurso»), mas menos do que a «associação».XXXVII - No CP1886 a figura de bando era desconhecida, prevendo-se então a nível departicipação plural, como agravantes, a circunstância de ter sido o crime pactuado entreduas ou mais pessoas, ou de ter sido cometido por duas ou mais pessoas. Tal figura, nodomínio do CP, surge mais tarde, a partir de 1-10-95, com a entrada em vigor da 3.ª alteraçãodo CP, operada com o DL n.º 48/95, de 15-03, concretamente no domínio dos crimes de furtoqualificado, aqui de forma expressa, e por remissão, nos casos do crime de roubo e deextorsão – art. 204.º, n.º 2, al. g), e arts. 210.º, n.º 2, al. b), e 222.º, n.º 3, al. a), do CP.XXXVIII - A novidade da agravante típica no bando, adicionando um “elementoespecializador”, sendo mais compreensiva, e por isso mesmo, menos extensiva, é maisexigente do que o sistema pré-vigente, deixando de relevar apenas uma qualquer situaçãode comparticipação, mas antes exigindo uma certa espécie de comparticipação qualificada,teve por necessário efeito, ao tempo, um claro efeito despenalizador, uma restrição dapunibilidade, obstando à punição agravada do mero concurso de pessoas no crime – a estepropósito, cf. Ac. do STJ de 25-05-94 e Eduardo Lobo, em Decisões de Tribunais de 1.ªInstância, 1993, Comentários, Gabinete de Planeamento e de Coordenação do Combate àDroga, Outubro de 1995, págs. 37 a 49. XXXIX - Por conseguinte, o funcionamento da agravante faz do tipo, assim qualificado, umcrime normativamente plurissubjectivo e complexo, supondo a verificação cumulativa dosseguintes pressupostos: a) que o agente seja membro de um bando; b) pré-ordenaçãodesse bando à prática reiterada de crimes de tráfico de estupefacientes e/ou depercursores; c) actuação do agente nessa qualidade (enquanto membro desse bando); d)colaboração de, pelo menos, outro membro do mesmo bando.XXXX - Sendo, ante a matéria de facto comprovada, de afastar a incriminação pelo crime defundação e chefia de associação criminosa, e antes de operar a convolação para considerara conduta integrada no tipo de crime qualificado de tráfico de estupefacientes, p. p. peloart. 24.º, al. j), do DL 15/93, de 22-01, importa averiguar da extensão dos efeitos darequalificação jurídico criminal da conduta do arguido recorrente aos demais arguidosigualmente condenados por crime de associação criminosa, e não recorrentes.XXXXI - De acordo com o art. 402.º, n.º 1, do CPP, sem prejuízo do disposto no artigoseguinte, o recurso interposto de uma sentença abrange toda a decisão.XXXXII - Significa isto que um arguido que não recorre e não é assim parte na instância derecurso, poderá eventualmente tornar-se um beneficiário indirecto do recurso de co-arguidorecorrente, tratando-se obviamente de uma mera expectativa de eventual proveito própriodecorrente de actividade alheia, ganho esse que reverterá a seu favor apenas se e quandofor caso disso.XXXXIII - Se determinada decisão passou em julgado quanto aos demais arguidos, adecisão poderá ser modificada supervenientemente nesse contexto, por se verificar casojulgado sob condição resolutiva, ou seja, a impugnação por parte de co-arguido não afectao trânsito condicional da decisão relativamente ao não recorrente.XXXXIV - Destarte, se não ocorre demonstrada a figura da associação criminosa, não podea conduta dos demais arguidos não recorrentes ser subsumida como integrando umacolaboração ou participação com a mesma, ou seja, com uma entidade que se reconheceuinexistir. Todavia, daí não advirão, reflexamente, outras consequências, como redução depunição, e muito menos, agravamentos da mesma, posta a incontornável observância daproibição da reformatio in pejus.

Decisão Texto Integral:

No âmbito do processo comum com intervenção de TribunalColectivo n.º 18/07. 2GAAMT, do 2.º Juízo do Tribunal Judicialda Comarca de Amarante, integrante do Círculo Judicial dePenafiel, foram submetidos a julgamento os seguintes arguidos:AA, nascido em 14-04-1974, natural da freguesia de Rebordelo, doconcelho de Amarante, casado, madeireiro, residente na Rua daI..., ..., F..., Amarante;

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BB, nascido em 14-04-1981, natural da freguesia de S. Gonçalo,Amarante, solteiro, mecânico de motorizadas, residente em N...,M..., Amarante; CC, nascida em 25-03-1986, natural da freguesia de S. Gonçalo,Amarante, solteira, doméstica, residente na Travessa do T..., s/n,M..., Amarante; DD, nascido em 01-12-1987, natural da freguesia de S. Gonçalo,Amarante, pedreiro, residente na Urbanização de S. L..., lote ...,e..., ... dtº, S. G..., Amarante; EE, nascido em 09-08-1979, natural da freguesia de S. Gonçalo,Amarante, extractor de cortiça, residente em S..., A..., Amarante; eFF, nascido em 08-04-1988, natural da freguesia de O...,Amarante, carpinteiro de cofragem, residente na Rua dos S..., F...,Amarante.

Os arguidos haviam sido pronunciados, respectivamente:O arguido AA pela prática de: um crime de fundação e chefia deassociação criminosa, p. e p. pelo art. 299.º, n.º 1 e 3, do CódigoPenal; um crime de tráfico de estupefacientes agravado, p. e p.pelo arts. 21.º, n.º 1 e 24.º, alíneas b) e j), 28.º, n.ºs 1, 2, 3 e 4,35.º e 36.º, do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro, porreferência às tabelas I-A e I-B, anexas àquele diploma legal e umcrime de condução de veículo automóvel sem habilitação legal, naforma continuada, p. e p. pelo arts. 22.º, do Código Penal e 3.º,n.ºs 1 e 2, do Decreto-Lei n.º 2/98, de 3 de Janeiro, por referênciaaos arts. 121.º e 123.º, ambos do Código da Estrada;

O arguido BB pela prática de: um crime de fundação e participaçãode associação criminosa, p. e p. pelo art. 299.º, n.º 1 e 2, doCódigo Penal e um crime de tráfico de estupefacientes agravado, p.e p. pelos artigos 21.º, n.º 1 e 24.º, alíneas b) e j), 28.º, n.º 1 e 2,35.º e 36.º, do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro, porreferência às citadas tabelas I-A e I-B.

A arguida CC pela prática de: um crime de fundação, direcção eparticipação em associação criminosa, p. e p. pelo art. 299.º, n.º 1,2 e 3, do Código Penal; um crime de tráfico de estupefacientesagravado, p. e p. pelo art. 21.º, n.º 1 e 24.º, alíneas, b) e j), 28.º,n.º 1, 2, 3 e 4, 35º e 36º, do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 deJaneiro, por referência às referidas tabelas I-A e I-B, e um crime decondução de ciclomotor sem habilitação legal, na formacontinuada, p. e p. pelos artigos 30.º, n.º 2, do Código Penal e 3.º,n.º 1, do Decreto-Lei nº 2/98, de 3 de Janeiro, por referência aosartºs 121.º e 124.º, ambos do Código da Estrada.

O arguido EE pela prática de: um crime de fundação e participaçãoem associação criminosa, p. e p. pelo art. 299.º, n.º1 e 2, doCódigo Penal; um crime de tráfico de estupefacientes agravado, p.

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e p. pelos artigos 21.º, n.º 1 e 24.º, alíneas b) e j), 28.º, n.ºs 1 e 2,35.º e 36.º, do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro, porreferência às tabelas I-A e I-B, e um crime de condução de veículoautomóvel sem habilitação legal, na forma continuada, p. e p. pelosartºs 30.º, n.º 2, do Código Penal e 3.º, n.ºs 1 e 2, do Decreto-Leinº 2/98, de 3-01, por referência aos artºs 121.º e 123.º, do Códigoda Estrada.

O arguido DD pela prática de: um crime de fundação e participaçãoem associação criminosa, p. e p. pelo artº 299.º, n.º 1 e 2, doCódigo Penal; um crime de tráfico de estupefacientes agravado, p.e p. pelo artº 21.º, n.º 1 e 24.º, alíneas b) e j), 28.º, n.º 1, 2, 35.º e36.º, do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro, por referência àstabelas I-A e I-B, anexas àquele diploma legal e um crime decondução de veículo automóvel sem habilitação legal, na formacontinuada, p. e p. pelos artºs 30.º, n.º 2, do Código Penal e 3.º,n.ºs 1 e 2, do Decreto-Lei n.º 2/98, de 3 de Janeiro, por referênciaaos artigos 121.º e 123.º, do Código da Estrada.

O arguido FF pela prática de: um crime de participação emassociação criminosa, p. e p. pelo artº 299.º, n.º 2, do CódigoPenal; um crime de tráfico de estupefacientes agravado, p. e p.pelo artº 21.º, n.º 1 e 24.º, alíneas b) e j), 28.º, n.º 2, 35.º e 36.º,do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro, por referência àstabelas I-A e I-B, anexas àquele diploma legal e um crime decondução de veículo automóvel sem habilitação legal, na formacontinuada, p. e p. pelos artºs 30.º, n.º 2, do Código Penal e 3.º,n.ºs 1 e 2, do Decreto-Lei nº 2/98, de 03-01, por referência aosartºs 121.º e 123.º, do Código da Estrada

E, ainda, os arguidos AA e DD, pela prática, em co-autoriamaterial, de um crime de coacção grave, na forma continuada, p. ep. pelos artigos 26.º, 30.º, n.º 3, 154.º, n.º 1 e 155.º, todos doCódigo Penal.

Realizado o julgamento, por deliberação do Colectivo do 2.º Juízode Amarante, de 2 de Dezembro de 2008, constante de fls. 2078 a2291, do 9.º volume, foi decidido:1) Absolver os arguidos

a) BB, da prática dos crimes de fundação e participação deassociação criminosa e do crime de tráfico de estupefacientesagravado;b) CC, da prática do crime de fundação e direcção em associaçãocriminosa;c) EE e DD da prática do crime de fundação de associaçãocriminosa;d) FF, da prática do crime de participação em associação

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criminosa;e) AA e DD, da prática do crime de coacção grave, na formacontinuada.

2 - Condenar os arguidos, pela prática, em concurso real, de: 2. 1 - AA:a) Um crime de fundação e chefia de associação criminosa, p. e p.pelo artigo 28.º, n.º s 1 e 3 do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22-01 eartigo 299.º, n.º s 1 e 3, do Código Penal, na pena de 14 (catorze)anos de prisão;b) Um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Decreto - Lei n.º 15/93, de 22-01, na pena de 6 (seis)anos de prisão;c) Um crime de condução sem habilitação legal, p. e p. pelo artigo3.º, n.º s 1 e 2, do Decreto - Lei n.º 2/98, de 03-01, na pena de 7 (sete ) meses de prisão; Em cúmulo jurídico, foi o arguido condenado na pena única de 16(dezasseis) anos e 6 (seis) meses de prisão.

2. 2 - CC:

a) Um crime de participação em associação criminosa, p. e p. pelosartigos 28.º, n.º 2, do Dec. Lei n.º 15/93, de 22-01 e artigo 299.º,n.º 2, do Código Penal, na pena de 6 anos de prisão;b) Um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Dec. Lei n.º 15/93, de 22-01, na pena de 5 anos e 6meses de prisão; c) Um crime de condução sem habilitação legal, p. e p. pelo artigo3.º, n.º 1, do Decreto - Lei n.º 2/98, de 03 de Janeiro, na pena de60 dias de multa;d) Em cúmulo jurídico das penas parcelares referidas nas alíneas a)e b), na pena única de 7 anos e 6 meses, e na pena global de 7anos e 6 seis meses de prisão e em 60 dias de multa à razão diáriade 5 Euros.

2. 3 - EE:

a) um crime de participação em associação criminosa, p. e p. pelosartigos 28.º, n.º 2, do Dec. Lei n.º 15/93, de 22-01 e artigo 299.º,n.º 2, do Código Penal, na pena de 5 (cinco) anos de prisão;b) um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Dec. Lei n.º 15/93, de 22-01, na pena de 4 (quatro) anosde prisão.c) Em cúmulo jurídico foi o arguido condenado na pena única de 6anos de prisão;d) Um crime de condução sem habilitação legal, na formacontinuada, p. e p. pelos artigos 30.º, n.º 2, do Código Penal, e 3.º,n.ºs 1 e 2, do Decreto-Lei n.º 2/98, de 03/01, por referência aos

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artigos 122.º e 123.º, do Código da Estrada, na pena 100 dias demulta, à razão diária de 5 Euros;

2. 4 - DD:a) Um crime de participação em associação criminosa, p. e p. pelosartigos 28.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22-01 e artigo299.º, n.º 2, do Código Penal, na pena de 3 (três) anos de prisão;b) Um crime de tráfico de estupefacientes p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22-01, na pena de 3 (três) anosde prisão.c) Em cúmulo jurídico foi condenado na pena única de quatro anosde prisão, com execução suspensa por igual período de tempo,acompanhada de regime de prova, assente num plano individual dereadaptação social e a executar com a vigilância e apoio daDirecção – Geral de Reinserção Social.d) Um crime de condução sem habilitação legal, na formacontinuada, p. e p. pelos artigos 30.º, n.º 2, do Código Penal, artigo3.º, n.ºs 1 e 2, do Decreto-Lei n.º 2/98, de 03-01, por referênciaaos artigos 122.º e 123.º do Código da Estrada, na pena de 100dias de multa, à razão diária de 5 Euros.

2. 5 - FF:a) Um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22-01, na pena de 2 anos deprisão, com execução suspensa por igual período de tempo,acompanhada de regime de prova, assente num plano individual dereadaptação social e a executar com a vigilância e apoio da DGRS;b) Um crime de condução sem habilitação legal, p. e p. pelo artigo3.º, n.º 1, do Decreto - Lei n.º 2/98, de 03-01, na pena de 80 diasde multa;c) Um crime de condução sem habilitação legal, p. e p. pelo artigo3.º, n.ºs 1 e 2, do mesmo Decreto-Lei, na pena de 40 dias demulta.d) Em cúmulo jurídico das penas de multa referidas nas alíneas b)e c), na pena única de 100 dias de multa, à razão diária de 5 Euros.

Inconformados com o decidido, recorreram para o Tribunal daRelação do Porto os arguidos CC, EE e AA.

Por acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 24 de Julho de2009, constante de fls. 2903 a 3097, foram rejeitados, porextemporaneidade, os recursos dos arguidos CC e EE, e quanto aorecurso do arguido AA, na sua integral improcedência, foiconfirmado o acórdão recorrido.

Inconformado de novo, o arguido AA interpôs recurso para esteSupremo Tribunal, apresentando a motivação de fls. 3103 a 3113,

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que remata com as seguintes conclusões (em transcrição):Nota - As conclusões no original foram alinhadas sem qualquer elemento diferenciador

entre si, tendo-se optado por fazer anteceder os parágrafos de números, pois que face aonúmero de questões colocadas, embora todas convergindo para o mesmo resultado, seriadifícil, confuso e complicado reportarmo-nos a cada das questões, sem um qualquerconcreto ponto de referência.

1 - Entende o recorrente que não foi reunida prova suficiente paraconcluir da forma expressa nas alíneas A, B e C dos factosprovados e que pudesse a Relação confirmar.2 - Foi dado como não provado que o plano gizado entre o arguidoAA e outro indivíduo cuja identidade não foi possível apurar, paraconstituir a associação criminosa, fosse anterior a 29/11/07 - ponto1Que a actividade ligada a venda lucrativa de heroína e cocaína porparte dos arguidos em data anterior a 29/11/07 fosse exercida deforma intensa, ininterrupta e exclusiva - ponto 63 - Da análise da matéria resulta claro que em data anterior a29/11/07, o tribunal considera que os arguidos já se dedicariamvenda de estupefacientes.4 - Isto é, o tribunal deu como provado existir a pratica do crime detrafico de estupefacientes já em data anterior a 29/11/07 e em queos arguidos agiram de forma concertada.5 - Como refere Figueiredo Dias, à luz do principio in dúbio próreo, não podia o tribunal considerar a existência de associaçãocriminosa para venda de estupefacientes, desde 29/11/07 dado quejá em data anterior considerou provado que os mesmos arguidos,se dedicavam a tal actividade, sem aferir e fundamentar se, a partirdessa data a existência da associação criminosa, houve umaintensificação daquela conduta criminosa, que fez perigar a pazpublica.6 - Nem tão pouco é referido e está provado que após essa data, ecom tal associação, os arguidos intensificaram a pratica do tráficode estupefacientes. As vendas ocorreram, mas em número devezes que não foi possível apurar. Logo não se sabe se forammaiores ou menores após 29/11/07. Assim, não existem factostendentes à existência de uma associação criminosa. 7 - Verifica-se a insuficiência de matéria de facto para acondenação por tal crime e um erro na apreciação da provaexistente - art. 410, n.° 2 al. a) e c) 8 - Foi violado o disposto no art. 299° CP e 28° da Lei 15/93, dadoque a matéria apurada permitirá a qualificação do crime enquantocomparticipação criminosa e não de associação criminosa.9 - Acresce que foi dado como provado ter sido a actividadeexercida de forma intensa e ininterrupta a partir do dia 29/11/07,sendo dado como não provado que em data anterior tal actividadeo fosse também. Ora, o tribunal considera a existência de

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actividade de tráfico anterior a 29/11/07 mas para alem de nãoimputar também a associação criminosa, não a conseguecaracterizar.10 - A não existência de prova não redunda num facto nãoprovado, mas antes num non liquet, abrangido pelo Principio indubio pro réu, plasmado no art. 32° CRP. Face à matéria considerada assente e não provada o tribunal nãotinha fundamento para retirar a conclusão da actividade ser intensae ininterrupta depois de 29/11/07 em comparação com dataanterior, pelo que foi violado o Principio in dúbio pró reo. 11 - Impunha-se assim considerar como não provada a matéria queserve de imputação aos arguidos do crime de associação criminosa,com a consequente absolvição desse crime, uma vez nãopreenchidos os elementos do tipo legal.12 - A associação criminosa distingue-se da comparticipação pelaestabilidade e permanência que a acompanha, sendo o elementofundamental que os distingue a estrutura nova que surge naassociação criminosa.13 - O Acórdão ora proferido, veio sufragar o raciocínio plasmadopela 1ª instância, sobre a prova e existência de um plano com oobjectivo de venda de estupefacientes.14 - Da leitura das alienas A, B, C e W, bem como das demais, sódemonstram que a referida "associação" terá surgido à posterioripois, já antes de 29 de Novembro os arguidos se dedicariam àvenda de estupefacientes.15 - Conforme já decidido por este Tribunal no Acórdão proferidoa 18.12.02 in www.dgsi.pt, a verificação do crime de associaçãocriminosa depende da sua prévia criação ou constituição, por várioselementos que conjugam vontades e se predispõem à prática docrime.16 - O Tribunal da Relação analisou a matéria contida nas alíneasA, B e C, e desconsiderou os argumentos aduzidos pelo recorrente,mantendo a decisão da 1ª instância. No entanto não se verifica umacompleta analise ao problema colocado.17 - O Tribunal da Relação não analisou a questão como seimpunha, subsumindo os factos ao tipo de crime em questão, porrecurso ao exercício mental sugerido por Figueiredo Dias, apesar deo invocar.18 - Se antes de 29 de Novembro se verificou o crime de tráfico deestupefacientes, após essa data também. Aplicando o critério de F. Dias ao presente caso, não pode existircondenação por associação criminosa, já que o arguido, bem comooutros, estão condenados por factos ocorridos em data anterior,subsumíveis no crime de trafico de estupefacientes, emcomparticipação, situação que se manteve posteriormente.19 - Aquilo que faltou na decisão da 1ª instância, o Tribunal da

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Relação tentou completar. Como bem refere o Tribunal daRelação, a I.ª instancia não fundamentou devidamente a decisãoquanto à existência de prova e qualificação dos factos como crimede associação criminosa, referindo que "De forma explicita tal nãoresulta da fundamentação de direito ".20 - A decisão não é devidamente fundamentada - o art. 379°, n.°1 CPP, determina a nulidade do Acórdão, o que se verifica no casoem análise; 21 - O Tribunal da Relação faz recurso de um exercício intelectualpara verificar implicitamente fundamentação e subsunção ao tipolegal.22 - Alem deste novo elemento avançado pelo Tribunal da Relação- de que era crível existirem fundamentos implícitos na decisãode 1ª instância para enquadrar os factos no tipo de crime - não severifica nenhum ponto do acórdão onde se descortine o "antes e oapós" o dia 29 de Novembro.23 - Dito de outro modo, os factos são de tal forma,cronologicamente, descritos que não se distingue em que momentoe de que forma, se iniciou a associação criminosa, deixando deexistir comparticipação entre os arguidos.24 - Não se pode falar no presente caso de associação criminosa,grupo ou organização, com o sentido, alcance e as exigências queestas expressões ganham no universo de sentidos da incriminaçãodo art. 28° do DL 15/93, afastando-se assim, a subsunção dosfactos provados no tipo objectivo de crime de associação criminosae, de igual modo, também porque não se provou o dolo, isto é, avontade de realização do tipo objectivo. 25 - Da leitura do Acórdão proferido pela Relação, resulta quealem de transcrever a decisão da 1ª instância, nada mais existe quevenha resolver a questão nos termos em que foi colocada pelorecorrente quanto à matéria de facto dada como provada e nãoprovada.26 - Faltou a analise pormenorizada à matéria de facto e a formacomo a 1ª instância o fez e enquadrou na Lei Penal, tudo seresolvendo, quanto aos vícios apontados, com a circunstancia dehaver prova implícita e dúbia "é crível que sim " refere aRelação.27 - O que foi escrito no Acórdão do Tribunal da Relação, constajá da decisão recorrida e à qual apenas se acrescentamprobabilidades e conclusões de raciocínio na mesma linha da 1ªinstância, tiradas desse mesmo texto e para referir que a decisãoesta bem dada.28 - Não está em causa neste momento saber se são bem ou malfundadas as pretensões do recorrente, mas apenas e só o juízoabstracto e genérico de negação que elas mereceram - e nãodeviam ter merecido - no acórdão recorrido.

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29 - Assim, o acórdão recorrido é nulo por omissão de pronúncianos termos previstos no art. 374°, n.° 1, c) e 425.°, n.° 4, do CPP30 - O arguido vem condenado como membro fundador daassociação criminosa. A distinção entre o fundador ou um membro de uma associaçãodeve ser realizada com recurso a factos probatórios.A alusão ás alíneas AX, AW, BG, CD, AE, AF, BA, BM, BWbem como as demais analisadas por remissão ou indirectamente,não permitem imputar ao recorrente o crime de associaçãocriminosa, como um seu fundador.31 - Não obstante, a existir uma condenação por tal crime, carece oAcórdão de fundamento legal para tipificar a conduta do recorrentecomo “fundador”, tendo o Tribunal da Relação, seguindo aorientação dada pela I.ª instancia, alinhado nos mesmos vícios, deerro na apreciação da prova e falta de fundamentação da decisão,art. 410°, n° 2 al. a), e 374° CPP.32 - Quanto ao crime tráfico de estupefacientes, afigura-sedesproporcionada, por exagero, a pena aplicada. 33 - As condicionantes que serviram de base à aplicação da pena,quer em 1ª instância, quer pelo Tribunal da Relação, baseiam-se,em suma, nas condições factuais que o recorrente tem vindo arefutar quer quanto à prova produzida quer quanto àfundamentação existente.34 - Desde logo, o atinente à suficiência probatória existente ealegada em recurso pelo recorrente, quanto ás alíneas AA, AC, AE,AH, AI, AJ, AK, AL, AO, AU, CC, CD, CE, CL1, CR, DQ, DU,EJ, EN.35 - Não se encontrando apurado qual o proveito económico daactividade ilícita ou um elevado número de transacções, bem comoa existência de complexa estrutura organizativa — pelas razõesaduzidas supra, não se pode falar de associação criminosa —levam a que a pena aplicada pelo crime em causa se deva fixar noseu limite mínimo. 36 - A dosimetria penal excede pois a culpa do arguido pelo queforam violados os artigos 40 n.° 2, 70 e 71 do CP, devendo a penaser ajustada numa redução tendo em conta estes factores.No provimento do recurso, pede a anulação do acórdão proferido eordenando-se o reenvio do processo para novo julgamento ourevogando-se o acórdão proferido substituindo-o por outro queabsolvendo o arguido do crime de associação criminosa, apliquepena inferior pela crime de trafico de estupefacientes.

O Exmo. Procurador-Geral Adjunto Distrital apresentou resposta,de fls. 3127 a 3130, pronunciando-se no sentido de o recurso nãomerecer provimento.

O recurso foi admitido por despacho de fls. 3131.

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O Exmo. Procurador-Geral Adjunto neste Supremo Tribunal deJustiça emitiu douto parecer de fls. 3146 a 3145, defendendo serde improceder o recurso quanto às pretendidas alterações dematéria de facto e improcedente quanto à configuração do crime deassociação criminosa e quanto ao de tráfico não poder conhecer-seda medida da pena por constituir uma questão nova não abordadano anterior recurso, razão pela qual a Relação nada disse.

Cumprido o artigo 417.º, n.º 2, do Código de Processo Penal, orecorrente silenciou.

Após exame preliminar foi colocada a questão de poder ocorrereventual alteração de qualificação jurídica, sendo então ordenada anotificação do recorrente, nos termos do artigo 424.º, n.º 3, doCódigo de Processo Penal. O recorrente veio apresentar a resposta de fls. 3162, em que repeteo que dissera na motivação, insistindo na verificação dos vícios doartigo 410.º, n.º 2, alíneas a) e c) do Código de Processo Penal,concluindo que a matéria apurada permitirá a qualificação do crimeem comparticipação e não de associação criminosa.

Não tendo sido requerida audiência de julgamento, o processoprossegue com julgamento em conferência, nos termos dos artigos411.º, n.º 5 e 419.º, n.º 3, alínea c), do Código de Processo Penal.

Colhidos os vistos, realizou-se a conferência, cumprindo apreciar edecidir.

Como é jurisprudência pacífica, sem prejuízo das questões deconhecimento oficioso – detecção de vícios decisórios ao nível damatéria de facto emergentes da simples leitura do texto da decisãorecorrida, por si só ou conjugada com as regras da experiênciacomum, referidos no artigo 410.º, n.º 2, do Código de ProcessoPenal - acórdão do Plenário da Secção Criminal, de 19-10-1995,no processo n.º 46580, Acórdão n.º 7/95, publicado no DR, I Série- A, n.º 298, de 28-12-1995 (e BMJ 450, 72), que fixoujurisprudência então obrigatória (É oficioso, pelo tribunal derecurso, o conhecimento dos vícios indicados no artigo 410º, nº2, do Código de Processo Penal, mesmo que o recurso seencontre limitado à matéria de direito) e verificação de nulidadesque não devam considerar-se sanadas, nos termos dos artigos379.º, n.º 2 e 410.º, n.º 3, do CPP - é pelas conclusões que orecorrente extrai da motivação, onde sintetiza as razões dediscordância com o decidido e resume o pedido (artigo 412.º, n.º 1,do CPP), que se delimita o objecto do recurso e se fixam os limitesdo horizonte cognitivo do Tribunal Superior.

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Questões a decidir

Face ao que se extrai das conclusões apresentadas, são as seguintesas questões a apreciar e decidir:

I – Insuficiência de prova e errada valoração da prova eviolação do princípio in dubio pro reo – conclusões 1.ª a 4.ª e5.ª e 10.ª;II - Vícios de insuficiência para a decisão da matéria de factoprovada e erro notório na apreciação da prova – conclusões7.ª e 31.ª; III - Nulidade do acórdão recorrido por omissão de pronúncia- conclusões 16.ª a 20.ª e 25.ª a 29.ª ;IV – Requalificação jurídico criminal; não integração docrime de associação criminosa, tratando-se de caso decomparticipação criminosa – conclusões 6.ª, 8.ª, 9.ª, 11.ª a 15.ª,21.ª a 24.ª e 30.ª;V - Medida da pena, quanto ao crime de tráfico deestupefacientes – conclusões 32.ª a 36.ª.

FACTOS PROVADOS

É a seguinte a factualidade dada por provada no acórdão doColectivo de Amarante e mantida na íntegra no acórdão sobrecurso, que desatendeu a arguição de existência de matéria defacto incorrectamente julgada e dada como provada, porverificação dos vícios de insuficiência de prova e de erro notóriona apreciação da prova:

A - Em data não concretamente apurada, mas pelo menos, desde29 de Novembro de 2007, o arguido AA e um indivíduo cujaidentidade completa não foi de todo possível apurar, conceberamum plano, com vista à venda, a troco de dinheiro e com finslucrativos, de heroína e cocaína, pelo menos, na área da comarcade Amarante. B - Para a execução de tal plano criminoso o arguido AA e oindivíduo cuja identidade completa não foi de todo possível apurarorganizaram uma estrutura humana e logística com vista à guardados produtos estupefacientes e embalagem destes, ao transporte detais produtos e das pessoas que viessem a fazer parte da referidaestrutura humana e logística, bem como a aquisição de meios detelecomunicações, a selecção dos locais de venda, a celeridade noscontactos e entregas de heroína e cocaína à clientela, a organizaçãode contabilidade, a supervisão das referidas pessoas que viessem afazer parte da estrutura humana e logística, nomeadamente,

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distribuidores/vendedores e, por fim, a fiscalização e centralizaçãodo grosso das receitas, tendo estas como destino final a entrega aoarguido AA e ao indivíduo cuja identidade completa não foi de todopossível apurar. C - Pelo menos, desde 29 de Novembro de 2007 até 07 de Janeirode 2008, o arguido AA, o indivíduo cuja identidade completa nãofoi de todo possível apurar e os arguidos CC e DD constituindouma estrutura humana estável e hierarquizada, com distinção detarefas, de responsabilidades e de ganhos, desenvolveramactividades ligadas à venda lucrativa de heroína e cocaína,desenvolvendo aquelas actividades de forma intensa e ininterruptae exercendo-a o arguido DD também de forma exclusiva,excepcionando-se a circunstância do arguido DD não ter feitovendas de heroína e cocaína nos dias 17/12 e 25/12/2007.D- Pelo menos desde 29 de Novembro de 2007 até 31 deDezembro de 2007, o arguido EE integrou a estrutura referida emC) e no âmbito da mesma desenvolveu actividades ligadas à vendalucrativa de heroína e cocaína nos dias 29 e 30 de Novembro de2007, 01, 02, 03, 04, 05, 07, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 17, 18, 19,20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 29 e 31 de Dezembro de 2007,altura em que cessou a sua actividade criminosa no âmbito destaorganização.E- A estrutura referida em C) fez vendas diárias de heroína ecocaína, em quantidades que não foi de todo possível apurar mascujo valor máximo diário não excedeu a quantidade global de 58gramas, sendo 47 gramas de heroína e 11 gramas de cocaína.F- No dia 26 de Setembro 2007, pelas 19h00m, um indivíduo cujaidentidade não foi de todo possível apurar, conduziu um ciclomotorda marca Yamaha, modelo RZ, de cor vermelha e foi ao encontrodo falecido GG, a quem entregou, nas imediações dosupermercado Modelo, em Amarante, um pacote contendoheroína, com o peso líquido de 2,201 gramas, e um outro contendococaína (cloridrato ) com o peso líquido de 0,864 gramas.G- No dia 2 de Outubro de 2007, pelas 12h56m, o arguido AA,sem que fosse titular de carta de condução ou de documentoequivalente, conduzia, no sentido Lixa - Amarante e nasimediações do Stand “ Riva Car ”, um veículo automóvel, damarca Peugeot, modelo 106, de cor branca, com a matrícula ...-...-EE.H- No dia 09 de Outubro de 2007, entre as 20.30 horas e 21.30horas, os arguidos AA, CC e um terceiro indivíduo cuja identidadenão foi de todo possível apurar, fazendo-se transportar em veículoda marca Audi, modelo A3, de cor branca, de matrícula ...-...-XJ,deslocaram-se à Rua de S. Mamede, em Bustelo, desta comarca,onde disseram andar à procura de um telemóvel.I- Na manhã do dia seguinte, no local onde os arguidos AA, CC e

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um indivíduo cuja identidade não foi possível apurar disseramandar à procura do telemóvel, foi encontrada, por terceira pessoa,uma bolsa de cabedal, de cor preta, conservando no seu interior 34saquetas, contendo cocaína, com o peso líquido de 7,842 gramas e16 saquetas contendo heroína, com o peso líquido de 11,437gramas.J- No dia 11 de Outubro de 2007, pelas 14h10m, na Rua da I...,em F...-Amarante, o arguido FF, conduziu na via pública, sem quefosse titular de licença de condução, um ciclomotor de marcaYamaha, modelo RZ, de cores branca e vermelha. K- No dia 7 de Novembro de 2007, pelas 19h36m, o arguido FF,sem que fosse titular de carta de condução, conduziu, na viapública, um motociclo da marca Yamaha, modelo XT600, de corazul, e dirigiu-se a casa da arguida CC, sita no lugar de T..., M...,Amarante, de onde saiu, naquele mesmo dia, pelas 19h50m,conduzindo tal motociclo.L- No mesmo dia 7 de Novembro de 2007, pelas 20h01m, à casada arguida CC, já mencionada, chegou o arguido EE, o qual, semque fosse titular de carta de condução, conduzia um motociclo damarca Yamaha, modelo RZ50, de cor Branca.M- Ainda no dia 7 de Novembro de 2007, o arguido FF, sob asordens da arguida CC, saiu da casa desta sita em T..., M...,Amarante e, sem que fosse titular de carta de condução, conduziuo FF o motociclo, da marca Yamaha, modelo XT600, de cor azul,na direcção do M... dos F..., sito em F..., Amarante.N- No dia 8 de Novembro de 2007, pelas 11h10m, o arguido EEdirigiu-se ao M... de F..., F..., Amarante, conduzindo ummotociclo, de marca Yamaha, modelo XT, de cor azul, e vendeu aum comprador, heroína e/ou cocaína, em quantidade e por preçoque não foi de todo possível apurar.O- No dia 9 de Novembro de 2007, pelas 12h32, o arguido EE,conduzindo o motociclo de cor azul, já identificado, dirigiu-se aomesmo M... de F..., F... Amarante, ao encontro de compradoresde heroína e/ou cocaína e vendeu ao condutor de um veículo demarca Fiat, modelo Uno, de matrícula VB-...-..., heroína e/oucocaína, em quantidade e por preço que não foi de todo possívelapurar.P- Entre as 13.51horas e as 13.55horas, o arguido EE, medianteduas entregas, vendeu ao pendura do veículo de marca Ford,modelo Fiesta, de matrícula ...-...-DC, heroína e/ou cocaína, emquantidade e por preço que não foi de todo possível apurar.Q- Às 14.07 horas, do mesmo dia, o arguido EE ausentou-se dolocal.R- Às 14.19 horas, do mesmo dia, chegou ao mesmo local oarguido FF, com o propósito de vender heroína e/ou cocaína,substituindo o arguido EE.

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S- Às 14.29 horas, regressou ao mesmo local, com o mesmopropósito de vender heroína e/ou cocaína o arguido EE.T- Às 14.30 horas, o arguido FF, vendeu ao passageiro do veículode marca Fiat, modelo Tipo, de cor branca, de matrícula ...-...-FA,heroína e/ou cocaína, em quantidade e por preço que não foi detodo possível apurar.U- Entre as 14.49 horas e as 14.51 horas, o arguido EE vendeu aocondutor do veículo automóvel de marca Fiat, modelo Bravo, decor azul, e de matrícula ...-...-HB heroína e/ou cocaína, emquantidade e por preço que não foi de todo possível apurar.V- Às 15.07 horas, o arguido FF vendeu ao condutor do veículoautomóvel de cor branca, de marca Fiat, modelo Uno e dematrícula ...-...-AQ heroína e/ou cocaína em quantidade e porpreço que não foi de todo possível apurar. W- As vendas efectuadas nos dias 08 e 09 de Novembro de 2007 eacima identificadas foram realizadas de forma concertada pelosarguidos EE, FF, AA, CC e DD em colaboração mútua, dividindoentre eles as tarefas destinadas à actividade de venda lucrativa deheroína e cocaína.Y- No dia 10 de Novembro de 2007, pelas 15h30m, doisindivíduos, cuja identidade não foi de todo possível apurar,seguiam no motociclo de marca Yamaha, modelo DT 125-R, decor azul, matrícula ...-...-NF, na recta de Pidre, desta comarca,onde foram ao encontro de outras pessoas, para lhes venderheroína e cocaína e, sendo avistados por elementos da GNR, doPosto de Vila Meã, puseram-se em fuga, a pé, lançando fora umsaco de cabedal, de cor preta, guardando, no seu interior, (3) trêssaquetas em plástico, contendo cocaína, com o peso líquido de0,338 gramas, e 18 (dezoito) saquetas em plástico, contendoheroína, com o peso líquido de 29,754 gramas. X- No local referido em Y, compareceu o arguido AA, que disseser representante do arguido EE, proprietário do motociclo dematrícula ...-...-NF.Z- Quando os elementos da GNR de Vila Meã, seguiam nadirecção da Estrada de Fregim, perseguindo indivíduos que sehaviam posto em fuga, nas circunstâncias, referidas em Y,interceptaram dois deles.AA- Ao agirem da forma descrita em Y, os dois indivíduos cujaidentidade não foi de todo possível apurar agiram de formaconcertada, em colaboração mútua e dividindo com os arguidosAA, CC, DD e EE as tarefas destinadas à actividade de venda deheroína e cocaína.AB- O arguido DD, desde meados de Outubro de 2007 até28/11/2007, inclusive, fez vendas diárias de heroína e/ou cocaínade forma ininterrupta e exclusiva, tendo vendido a grama daheroína a 30,00 Euros e a grama da cocaína a 50,00 Euros, no que

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obteve um apuro diário máximo de 300 Euros. AC- No período de 29/11/2007 a 07/01/2008, os arguidos AA,CC, DD e, quanto ao arguido EE, de 29/11/2007 a 31/12/2007 enos dias discriminados em D, venderam quantidades diversas deheroína e cocaína, que, em regra, nunca eram inferiores a 0,5gramas, a consumidores e, esporadicamente, também, arevendedores dos referidos produtos, convergindo estes,diariamente, para locais, na área da cidade de Amarante,designados pelos arguidos, vindo tais consumidores e/ourevendedores de Amarante, Fafe, Celorico de Basto, Mondim deBasto, Baião, Marco de Canaveses, Lamego, Peso da Régua,Mesão Frio, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real, Alijó e Bragança.AD- No período referido na alínea anterior, as actividades dosarguidos AA, CC, DD e EE, desenvolviam-se a partir de umdepósito central de produtos estupefacientes, situado nesta cidadede Amarante, à guarda do indivíduo cuja identidade completa nãofoi de todo possível apurar, chefe da organização. AE- O arguido AA tinha acesso privilegiado ao tal chefe, indivíduocuja identidade completa não foi de todo possível apurar, emvirtude do acordo que ambos tinham feito com vista à distribuiçãolucrativa de heroína e cocaína.AF- Por um número de vezes que não foi de todo possível apurar,foi o arguido AA quem se dirigiu àquele chefe ou ao localpreviamente combinado para recolher heroína e cocaína para adistribuição diária.AG- No período referido em C) e por um número de vezes quenão foi de todo possível apurar, foi o arguido DD quem se dirigiuao local que previamente lhe era indicado, a fim de recolher aheroína e a cocaína para a distribuição diária, sendo que tal tarefafoi também assegurada, por um número de vezes que não foi detodo possível apurar, pelo arguido EE, no período referido em D).AH- O arguido AA, que tinha contactos regulares e privilegiados,com o indivíduo cuja identidade completa não foi de todo possívelapurar guardou por um número de vezes, que não foi de todopossível apurar, a heroína e a cocaína, tendo-o feito na gaveta deuma cómoda, na garagem da sua residência, no dia 15/12/2007. AI- Excepcionalmente o arguido AA procedia à confecção depacotes de heroína e/ou cocaína. AJ- Por um número de vezes que não foi de todo possível apurar,o arguido AA recebeu do arguido DD o dinheiro das vendas elevou-o à arguida CC.AK- Por um número de vezes que não foi de todo possível apurar,o arguido AA levou o dinheiro destinado ao outro chefe daorganização e apurado pela arguida CC e resultante das vendas deheroína e cocaína e destinado àquele chefe, e entregou-lho.AL- O arguido AA guardou por um número de vezes que não foi

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de todo possível apurar heroína e cocaína na garagem de sua casa.AM- Durante um período de tempo não concretamente apurado, oarguido FF, que é sobrinho do arguido AA, viveu em casa deste,sita na Rua da I..., n.º ..., F..., Amarante.AN- O arguido AA permitiu que o arguido DD dormisse em suacasa na noite do dia 20 para o dia 21 de Dezembro de 2007.AO- Excepcionalmente, o arguido AA foi contactado,telefonicamente, pelos compradores de produtos estupefacientes,que, quando necessário, orientou, dando-lhes indicações precisassobre o local da entrega da heroína e/ou cocaína por elespretendida, entre os quais, se incluía, a paragem de transportespúblicos junto à casa da arguida CC.AQ- O arguido AA obteve ganhos diários em função dasquantidades de heroína e cocaína vendidas pela organizaçãoreferida em C), em percentagem que não foi de todo possívelapurar;AR- A arguida CC obteve ganhos pela venda de heroína e cocaínaefectuada pela organização referida em C) cujo valor não foi detodo possível apurar;AS- O arguido DD obteve, em regra, um ganho diário pela vendade heroína e cocaína efectuada pela organização referida em C),nos dias em que distribuiu heroína e cocaína para aquelaorganização, no valor de 50,00 Euros, do qual foi subtraído, emregra, o valor devido ao arguido EE e referido na alínea seguinte.AT- O arguido EE obteve um ganho variável pela venda de heroínae cocaína efectuada pela organização referida em C), nos dias emque distribuiu heroína e cocaína para aquela organização, fixada,em regra, pelo arguido DD, a descontar no seu ganho diárioreferido no ponto anterior e em montante que não foi de todopossível apurar, tendo no dia 17/12/2007 recebido a totalidade daquantia diária que se destinava ao arguido DD naquele dia.AU- Os ganhos identificados nas alíneas anteriores recebidos pelosarguidos AA, CC, DD e EE nos termos aí descritos eram retiradosdo produto das vendas de heroína e cocaína realizadas pelaorganização.AV- A organização pagava ao arguido DD as despesas comcombustível.AV1- O arguido DD cerceou os pacotes de heroína e cocaína quelhe foram entregues, por um número de vezes que não foi de todopossível apurar.AW- O arguido EE, nos dias referidos em D), e quando recebiainstruções da arguida CC nesse sentido, dirigia-se aos locaisdefinidos pelo chefe da organização cuja identidade completa nãofoi de todo possível apurar, a fim de recolher a heroína e cocaínadestinadas às vendas, tendo sido encaminhado, por um número devezes que não foi de todo possível apurar, para o “ stand ” do

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chefe da organização cuja identidade completa não foi de todopossível apurar, onde o produto estupefaciente, por um número devezes que não foi de todo possível apurar, se encontrava escondidoem veículos automóveis.AX- No dia 01/01/2008 o chefe da organização cuja identidadecompleta não foi de todo possível apurar a tinha o produtoestupefaciente escondido sob uns tapetes à entrada do stand.AZ- Nos dias 19/12/2007 e 26/12/2007o arguido EE recebeuchamadas de clientes utilizando o telemóvel com o número913697256, utilizado, em regra, pela arguida CC e encaminhou-ospara as imediações da casa daquela onde forneceu aos clientesheroína e cocaína.BA- Por um número de vezes que não foi de todo possível apurara arguida CC, nos dias referidos em D) deu ordens ao arguido EEpara este fornecer heroína e/ou cocaína aos compradores de taisprodutos.BB- O arguido DD mantinha a arguida CC informada dasquantidades de heroína e cocaína vendidas e das por vender e dasquantidades de que necessitava e sobre os locais onde esconderatais produtos, o que fazia com frequência, em regra, através dotelemóvel com o cartão n.º ..., quer por SMS.BC- Em 03/12/2007, a arguida CC informou o arguido DD dapresença da GNR nas imediações da Igreja de F..., desta comarca,onde aquele costumava vender produtos estupefacientes eencaminhou-o para a serração, a fim de ali abastecer um cliente.BD- No dia 16/12/2007, pelas 14h52m, o arguido AA apercebeu-seda presença da Brigada de Trânsito e da GNR de Amarante, juntoà loja do Supermercado Modelo e avisou CC.BE – No dia 17/12/2007, o arguido DD sentiu-se vigiado pelasautoridades e receou que pudesse vir a passar o Natal no E.P. deVila Real. BF - Em 20/12/2007, o arguido DD contactou, por telemóvel, aarguida CC contando a esta que fora perseguido por agentes daautoridade e se vira obrigado a lançar fora droga e dinheiro, e aarguida CC propôs-se contactar o arguido AA, dando, ainda, aquelaconhecimento ao arguido EE do que lhe relatara o arguido DD.BG - O arguido DD, na noite de 30/12/2007, recebeu do chefe daorganização cuja identidade completa não foi de todo possívelapurara, o produto estupefaciente destinado à venda, entregandoàquele o “dinheiro vivo”, que havia apurado na venda de heroína ecocaína e deu conhecimento do facto à arguida CC. BH - No dia 31 de Dezembro de 2007, pelas 15h27m, o arguidoDD já tinha recebido 2.000,00 ( dois mil ) Euros, produto dasvendas de heroína e cocaína, que efectuara nesse dia e até àquelahora, e deu conhecimento do facto à arguida CC.BI- Em 02 de Janeiro de 2008, o arguido AA, através de

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telemóvel, avisou o arguido DD de que a arguida CC constatou, emsua casa, que faltava dinheiro arrecadado proveniente das vendasde heroína e cocaína.BJ- A arguida CC efectuava vendas, por regra, a partir da suaresidência, marcando encontros com os compradores de produtosestupefacientes, por vezes, junto a uma paragem de transportespúblicos próxima de tal residência, para onde aquela se deslocou,no período de 29/11/07 a 07/01/08 , algumas vezes, de ciclomotor,entregando heroína e cocaína, a troco de dinheiro, atribuindo a umnúmero de clientes, que não foi de todo possível apurar, bónus.BK- A arguida CC recebia, por regra, ainda, as reclamações doscompradores, quando estes discordavam do peso dos produtosestupefacientes, contidos nas embalagens que lhes eram fornecidospelos distribuidores, e também dava ordens, por telemóvel ouSMS, ao arguido DD, a que este obedecia, para se deslocar de umponto de venda para outro, para dar por terminado o período dasvendas no fim de cada jornada e, esporadicamente, parainterromper as vendas e ir tomar as refeições. BL – No dia 11/12/2007, pelas 10h19m a arguida CC deu ordensao arguido DD, a que este obedeceu, para se levantar de manhã.BM- O arguido EE, no período referido em D), e/ou o arguidoDD, este último no período referido em C), iam ao encontro doscompradores, previamente orientados pela arguida CC, que,quando necessário, lhes indicava as marcas e cores dos veículosdos compradores e a quem estes vendiam heroína e/ou cocaína,em regra, no lugar da “bica”, uma fonte situada nas imediações daloja do “LIDL”; em Amarante, em F..., desta comarca, nasproximidades das instalações “ G... N... “, junto à “M...”, que osarguidos referiam como “GRUAS”, as quais se situam, perto daresidência do arguido AA; num monte, sito nas cercanias docaminho de C..., no A... de P... e junto a uma paragem deautocarros, junto à casa da arguida CC. BN- Em dia não apurado, o arguido EE dissimulou heroína e/oucocaína destinados à venda, no mato, em local que não foi de todopossível apurar, de molde a não lhe serem encontradas quantidadesapreciáveis de tais produtos, caso fosse interpelado pelasautoridades.BO- Nos contactos que os arguidos AA, CC, DD e EE mantinham,por telemóvel, entre si e, bem assim, com o outro o chefe daorganização cuja identidade completa não foi de todo possívelapurar, ou nos estabelecidos com os clientes, eram utilizadas porestes e pelos arguidos, quando pretendiam referir-se a heroína asseguintes expressões: “ noite”, “tinto”, “castanha”, “castanho”,“escuro”, “negro”; utilizando, quanto à cocaína: “ dia”, “branco” ,“branca”, “clara”, “clarão”; “coca”; e “tinta branca”; e quandopretendiam referir-se aos produtos estupefacientes, em geral,

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utilizavam os termos: “ tinta dos tectos”, “ vivo”, “ amarelo”, “pó”, “ droga”, “bataria “ documentos”; “matrial”; e ”as coisas”, “peças”, “ carros”; “revisão dos carros”.BP - Já quando se reportavam às quantidades de heroína ecocaína, tendo por unidade de referência 0,5 gramas (meia), ou umgrama (uma); utilizavam os arguidos ou os seus clientes, expressõescomo: “ meio”, “ meia”, uma”, “ uma de cada” “ duas de ..”, “umae meia”, “duas meias” , “ três de”,” três e meio”, “quatro”, “quatroe meia”, “sacos de duas e meia”” cinco”, “saco de cinco”, “cincocaixas”, “cinco e meia”, “ seis”, “saco de dez”, “sete”, “oito”,“nove”, “dez” ; “dez fotocópias “”quinze”; e “dois litros emeio”;”quatro litros” e dez litros de branca”. No entanto, tambémreferiam uns e outros, o peso exacto, como “ “uma grama”, “umagrama de branco/a”, “grama e meia” ou “duas gramas ”; “dezgramas de branca” e , mesmo, “ 15 gramas de branca”.BQ - No período de 29/11/2007 a 07 de Janeiro de 2008, osarguidos AA, CC e DD, e, no período de 29/11/2007 a 31 deDezembro de 2007, também o arguido EE, venderam, àgeneralidade dos clientes da organização em que se inseriam, aheroína a 30,00 Euros o grama e a cocaína a 50,00 Euros o grama.BR- No dia 25/ 12/2007 o arguido EE vendeu de uma só vez a umúnico cliente, €300,00 de heroína;BS – O arguido DD, no dia 01/01/2008, vendeu a um cliente dezgramas de cocaína por “ cem contos”, tendo-lhe o cliente ficado adever 25€;BT- E vendeu, no dia 04/01/2008, a um cliente oito gramas decocaína por setenta e cinco contos.BU- A arguida CC recebia pedidos de heroína e cocaína, atravésde inúmeras chamadas diárias, dirigidas, por regra, para o seutelemóvel n.º ... e a partir da sua residência, sita em M..., fornecia,quando lhe era solicitado pelos clientes, indicações precisas sobreos preços dos produtos, sendo que das vezes em que o fez indicouaos clientes o preço de um grama de heroína a 30,00 Euros; e opreço de um grama de cocaína a 50,00 Euros; ou meio grama deheroína a 15,00 Euros; e meio grama de cocaína, a 25,00 Euros,informando-os, ainda, quando necessário, sobre a situação da casa,onde morava.BV – A arguida CC, tendo conhecimento das encomendas dirigidaspelos compradores e, esporadicamente, também por revendedores,através, em regra, do seu telemóvel nº ..., enviava uma partedaquela clientela, em regra, para as imediações das instalações dafirma “ G... N... ”, situadas, nas cercanias da Fábrica da firma “M... ”, em F..., desta comarca, fornecendo-lhe informações sobrea hora da entrega e dando, por contacto, através de telemóvel, oupor SMS, conhecimento, aos arguidos EE ou DD, das quantidadesde heroína e/ou cocaína pedidas e do local onde deveriam ser

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fornecidas, arrecadando estes últimos os montantes em dinheiro,resultantes de tais vendas, que, em regra, entregavam à arguidaCC. BW - A arguida CC, assegurava-se, diariamente e por contactosfrequentes que mantinha, por telemóvel e SMS, através, em regra,do número ... e, esporadicamente, do número ..., com os arguidosEE e o DD, de que estes haviam efectuado as vendas, quais asquantidades vendidas e o valor do dinheiro apurado, em taistransacções, providenciando pela entrega de heroína e cocaínaàqueles arguidos, com pedidos que dirigia, em regra, ao chefe daorganização cuja identidade completa não foi de todo possívelapurar, e, esporadicamente, ao arguido AA, certificando-se, ao fimde cada dia, sobre a receita global das vendas e, bem ainda, sobreas quantidades de heroína e cocaína recebida para venda, ou quenão haviam sido vendidas, sendo que mantinha registos diários detais operações, recolhendo, também, em regra, o dinheiro dasvendas e mantendo, ainda e sobre tais vendas, contactos com ochefe da organização cuja identidade completa não foi de todopossível apurar e com o arguido AA, o outro chefe da organização,recebendo, também, chamadas, para os mesmos fins, dos arguidosEE e DD. BX - Na casa da arguida CC, em M..., funcionava a seu cargo acaixa central, do segmento da organização a seu cargo.BZ – Na sequência da arguida CC imputar ao arguido FF odesaparecimento de uma quantia de 500,00 Euros dessa caixa,aquela e o arguido DD acordaram, em 11/12/2007, não apresentarqueixa contra o arguido FF, atenta a origem criminosa de talmontante, resultante da venda de heroína e cocaína.CA – Nesse mesmo dia o arguido AA informou a arguida CC queandava à procura do arguido FF, para o matar.CB – O arguido FF dirigiu-se ao posto da GNR de Amarante, em20 de Dezembro de 2007, pelas 15h41m, onde subscreveu adenúncia de fls. 250.CC- A arguida CC fez chegar ao arguido AA, esporadicamente, ospedidos dos arguidos DD e/ou do EE, quando estes esgotavam asremessas de heroína e/ou cocaína e foi o arguido AA quem, porum número de vezes que não foi de todo possível apurar,directamente, forneceu aqueles vendedores, ou lhes deu indicaçõesprecisas sobre os locais onde depositara as quantidades de produtoestupefaciente reclamadas. CD- O arguido AA dirigiu-se a casa da arguida CC, sita no lugar deT..., em M..., desta comarca, e recebeu da arguida CC,esporadicamente, montantes em dinheiro, resultantes das vendas deheroína e cocaína, obtidos por aquela, por ele próprio, e pelosarguidos DD e EE, este último, no período referido em D), edestinados ao chefe da organização cuja identidade completa não

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foi de todo possível apurar a fim de os encaminhar para aquelechefe.CE - A arguida CC mantinha actualizados registos das quantidadesde heroína e cocaína recebida do chefe cuja identidade completanão foi de todo possível apurar e das receitas das vendas, detectavafalhas e descontava, à cabeça, antes de prestar contas, o ganhodiário que lhe competia e que competia aos arguidos AA, DD e EEnos termos acima já explanados, pelas suas actividades em prol daorganização.CF- No dia 31/12/2007, a arguida CC manteve contacto com ochefe da organização cuja identidade não foi completamenteapurada, a quem pediu reforço de heroína e cocaína e tal pedidofoi satisfeito.CG- No dia de 11 de Dezembro de 2007, o arguido DD receouque tanto ele como o arguido AA pudessem ser detidos, antes doNatal de 2007, e deu nota desse facto à arguida CC.CH- No dia 17/12/2007, tendo sido avisado por cinco pessoas,cuja identidade não foi de todo possível apurar, que as autoridadesiriam manter sob vigilância, nesse dia, os veículos da marca BM eHonda, que, em regra, utilizava na actividade de venda de heroínae cocaína, o arguido DD deu nota do facto à arguida CC e resolveupedir instruções ao arguido AA.CI- No dia 17/12/2007, o arguido AA, deslocou-se, em veículoautomóvel, ao Algarve, acompanhando o outro chefe daorganização cuja identidade completa não foi de todo possívelapurar, e em 26/12/2007, deslocou-se a Braga, com o mesmochefe, e deu conhecimento das viagens à arguida CC, cujoobjectivo era a obtenção de heroína e cocaína, para porem à vendaem AmaranteCJ - No dia 19/12/2007, o arguido DD relatou, em contacto, portelemóvel, com a arguida CC a presença, naquele dia e no diaanterior, de agentes do NIC da GNR de Amarante, num monte,onde vendia produtos estupefacientes. CK- Em 20/12/2007 o arguido DD deu conhecimento à arguidaCC de que havia sido detido pela GNR de Amarante.CK1- Perante tal notícia a arguida CC deu conhecimento damesma ao arguido EE, elemento da organização no períodoreferido em D. CL- Em 30/12/2007, o arguido AA comunicou ao arguido DD,através de telemóvel, dizendo-lhe que tinha consigo objecto, quedesignou por “aquilo” e por “balança”, aludindo o primeiro aomesmo objecto por “rádio”.CL1- Na mesma data, o arguido DD quis entregar ao arguido AA odinheiro proveniente das vendas de heroína e cocaína, e dispôs-sea esconder a heroína e a cocaína dentro de um veículo da marcaBMW.

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CM - No dia 31 de Dezembro de 2007, pelas 11h30m, o arguidoDD, conduzindo o veículo automóvel ligeiro, da marca Honda,modelo Civic, de matrícula ...-...-FH, dirigiu-se ao lugar da I...,F..., Amarante, onde foi ao encontro de dois compradores deheroína e/ou cocaína, que se encontravam em veículosautomóveis, tendo servido produto estupefaciente em quantidade epor preço que não foi de todo possível apurar.CN- No dia 31/12/2007, pelas 15h27m, o arguido DD informou aarguida CC das existências de heroína e cocaína e que tinha jáapurado 2.000,00 Euros na venda de produtos estupefacientes.CN1- Por sua vez, a arguida CC informou o arguido DD sobre oslucros de 80,00 Euros, obtidos no dia anterior, fora os 100,00Euros que o arguido AA já havia levado consigo.CO - Ainda em 31/12/2007, pelas 18h53m, o arguido AA, emcontacto telefónico com o arguido DD, ordenou ao último quelevasse o dinheiro apurado nas vendas de heroína e cocaína para acasa da arguida CC, autorizando que a organização pagasse aoarguido EE a quantia de 25 Euros sem que tal quantia fossedescontada na quantia diária a pagar pela organização ao arguidoDD pela actividade de venda lucrativa de heroína e cocaína queeste exercesse nesse dia.CP- No dia 31/12/2007, pelas 21h51m, o arguido AA informou aarguida CC que tinha tirado do dinheiro resultante das vendas deheroína e cocaína, à guarda da arguida CC, a quantia de 100,00Euros.CQ - No dia 01 de Janeiro de 2008, pelas 15h00m, foramencomendadas ao arguido EE, por telemóvel, 15 (quinze) unidadesde heroína, por uma cliente de Alijó.CQ1- A arguida CC tomou conhecimento de tal encomenda ecomunicou-a ao arguido DD por SMS.CR – No dia 01 de Janeiro de 2008, o arguido DD deuconhecimento à arguida CC de que lhe haviam encomendado dezgramas de cocaína numa única embalagem, e que as pedira aoarguido AA, estando este com o chefe da organização cujaidentidade completa não foi de todo possível apurar.CR1- A arguida CC contactou o chefe da organização cujaidentidade completa não foi de todo possível apurar, que lhe dissejá saber da encomenda dos dez gramas.CR2- O arguido DD acabou por vender esses dez gramas, ficandoo comprador a dever 25,00 Euros. CS- No dia 3 de Janeiro de 2008, através de SMS, a arguida CCcontactou o arguido DD e pediu-lhe que dissesse as quantidades deestupefaciente que aquele tinha consigo, respondendo o arguidoDD que tinha 39 de castanha (heroína) e 21, 5 de branca (cocaína)e que necessitava de mais material, que a arguida CC disse ter jápedido.

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CT – No dia 3 de Janeiro de 2008, a arguida CC recebeu, pelas12h27m e 18h32m, chamada do arguido DD e propôs-se fazer ascontas das vendas de produtos estupefacientes realizadas peloarguido DD, tendo aquela notado a falta de duzentos e vintecontos. CU- No dia 05 de Janeiro de 2008, pelas 12h48m, a arguida CCrecebeu uma chamada no seu telemóvel nº ..., da mulher de umcliente, que comprava à primeira heroína e cocaína, tendo talmulher ameaçado denunciar as actividades criminosas da arguidaCC à Polícia Judiciária. CV- No dia 5 de Janeiro de 2008, a arguida CC, entre as 16h12me as 16h57, foi contactada, por várias vezes, através de chamadase SMS, pelo arguido DD, que pedia novo fornecimento de produtoestupefaciente, para venda, acabando o arguido DD por serencaminhado para a sede da organização, fazendo aqueles obalanço das existências em dinheiro e heroína e cocaína, referindoo arguido DD ter consigo 1.050,00 Euros, em dinheiro e 30,5 decastanha (heroína) e 2,5 de branca (cocaína), acabando o arguidoDD por receber nova remessa de produto estupefaciente.CW- Em 4 de Janeiro de 2008, pelas 18h58m, o arguido DD,contactou, por telemóvel, o arguido AA e pediu-lhe para utilizar acasa dele, a fim de poder fazer um pacote de cocaína, para enganarum dos compradores no peso de tal produto de estupefaciente queo arguido DD iria vender àquele comprador. CX- No fim da manhã do dia 07/01/2008, data em que os arguidosAA, CC e DD foram detidos, à ordem dos presentes autos, oarguido DD contactou a arguida CC, tomando esta conhecimentopor aquele, das quantidades de produtos estupefacientes quehaviam sobrado do dia anterior, 30 embalagens de castanha(heroína) e 30 embalagens de branca (cocaína), havendo a arguidaCC escriturado tais existências, no bloco de fls. 424, com areferência “H Tem 30/30”.CZ- No início da tarde do dia 07 de Janeiro de 2008, a arguida CCfoi contactada, por terceira pessoa, através de telemóvel e sendo-lhe perguntado o preço dos produtos estupefacientes, a arguida CCindicou-lhe 15,00 Euros, para meia grama de heroína e 25,00Euros, para meia grama de cocaína. DA- Em 07 de Janeiro de 2008, pelas 17h00, o arguido AA foiabordado por agentes da autoridade, quando se encontrava nointerior de uma oficina de motociclos, sita no lugar de N..., M...,Amarante, onde se encontrava com o seu veículo automóvel, demarca Renault, modelo Clio, de matrícula ...-...-UL, em cujointerior se encontrava a chave de ignição e o documento único detal veículo.DB- Na sequência de revista a que o arguido AA foi, então,submetido, aquele guardava consigo:

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no interior do bolso da frente do blusão:- 870,00 Euros, em notas do B.C.E.;-um telemóvel da marca Nokia, de cor preta, com cartão davodafone e com o IMEI ...;-um telemóvel da marca Samsung, de cor cinzenta, com o IMEI.../..., com cartão da operadora Vodafone;DC- De seguida, na residência do arguido AA, sita na Rua da I...,nº ..., em F..., Amarante e durante a execução de buscas, foilocalizado e apreendido o seguinte:no quarto do arguido AA:no interior de uma pasta depositada sobre o guarda-fatos:- um documento único do motociclo de marca Yamaha, modeloDT 125 R, de cor preta e de matrícula ...-...-NF;- um documento único do motociclo de marca Honda, modeloCBF 600 RR, de matrícula ...-...-VX;- uma carta com o número de contrato nº ..., relativo a guia desubstituição de documentos do veículo ...-...-UL;- um livrete do motociclo de marca Honda, modelo CBF 600 RR,de matrícula ...-...-VX; e- dois ofícios da CREDIBOM;na cozinha:- um recorte de plástico de cor branca;- um envelope com carimbo da GNR de Lousada, endereçado a “BB” e um ofício com auto de contra-ordenação, referente aoveículo de matrícula ...-...-XJ;na garagem:- um motociclo da marca Honda, modelo CBR 600RR, de coresvermelha e com a matrícula ...-...-VX.DD- No dia 7/01/2008, em busca efectuada, entre as 16h58m e as19h55m, na residência da arguida CC, sita no Lugar de T..., M...,Amarante, aquela guardava consigo:- um fio de metal amarelo, com uma medalha com as inscrições “DEUS TE GUIE “, uma bola com pedras de várias cores e umaletra B;na cozinha:- um saco em plástico transparente, com vários recortes e fita-colade cor castanha;- um bloco de apontamentos, de cor amarela, com vários nomes,números de telemóvel e contas, estas muito semelhantes às queconstam do papel junto aos autos a fls. 413, encontrado na casa debanho da arguida CC, sendo que a segunda página manuscrita detal bloco contém os registos lavrados pela arguida CC, das vendasefectuadas em 7/01/2008, de heroína (“C”); e cocaína (“B”), dataem que os arguidos AA, CC e DD foram detidos, constatando-seque o arguido DD, sob a orientação da arguida CC, vendeu, nessedia, 11,00 gramas de heroína e 4,5 gramas de cocaína;

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- um telemóvel de marca Nokia, com o IMEI ..., com cartãovodafone nº ..., com o PIN ...;- um telemóvel da marca Nokia, modelo 1200, de cor preta, com oIMEI .../.../.../..., com cartão da Vodafone;- um telemóvel de marca Nokia, de cores azul e cinzenta, com oIMEI ..., com cartão da TMN;- um telemóvel de marca Nokia, modelo 1200, de cor preta, com oIMEI ..., com cartão da Vodafone;- um telemóvel de marca Nokia, modelo 6288, de cor preta, com oIMEI ...;no quarto da arguida CC:- 235,00 Euros, em notas do BCE;- dois suportes de cartões da Vodafone, - um papel com apontamentos, encontrando-se estes últimos,dentro de uma carteira e ;no interior da mesa de cabeceira,- uma factura de venda a dinheiro, em duplicado, em nome de AA,que se encontrava dentro de uma bolsa de transporte de roupas decriança;na casa de banho:- um suporte de cartão da Vodafone; e- três papéis, encontrados no caixote do lixo, com apontamentos,contendo: um, junto a fls. 413, referências manuscritas a produtoestupefaciente, “ C “ (para heroína) e “ B “ (para cocaína),quantidades transaccionadas e nomes de compradores,reproduzindo, integralmente, tal documento o valor das vendas de47,5 gramas de heroína e 12 gramas de cocaína, efectuadas peloarguido DD, sob as ordens da arguida CC, a hora que não foi detodo possível apurar, mas necessariamente, após as 21h39m, dodia 05/01/2008 e as 22h e 15m do dia 06/01/2008, vendas a quecorrespondeu o apuro de 237 contos (1.182,15 Euros), quanto àheroína, e 102 contos (508,77 Euros) quanto à cocaína.Outro, junto a fls. 414, com três colunas, encimadas comreferências manuscritas a “Branca” (para cocaína) e duas a “Tinto”(para heroína), seguindo-se-lhes diversas referências quantitativasde 0,5, 1, 2,5, 3, 3,5, 4 e 5; e um terceiro, contendo referências manuscritas a valores, onde se lê:“ 562 (ilegível)+85 – de 10 mandou sexta______647 - deve-se 425 que deu novo 43.5 / 24.5_______1. 072 – deve-se o tudo442- leva tirei gasolina DD______

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630 - deve-se 59610_____606Fora o que mandou hoje”.O saldo “ 630 “ escrito no documento de fls. 415 tem continuação,na primeira página do bloco de apontamentos de fls. 424,apreendido à arguida CC, reportando-se tais registos ao valor dasremessas em produto estupefaciente feitas pelo indivíduo cujaidentidade completa não foi de todo possível apurar, chefe daorganização encarregue de fazer esse fornecimento, no períodotemporal que se localiza entre os dias 05/01/2008 e 06/01/2008 eaos montantes em contos, relativas às remessas de dinheiro feitasàquele indivíduo em dias que não foi de todo possível apurar, masque tiveram lugar no período temporal que se situa entre os dias04/01/2008 (sexta-feira) e 06/01/2008 (domingo).DE- Na residência da arguida CC foi ainda, apreendido umciclomotor, da marca GILERA, com a matrícula ...-AMT-...-... .DG- No dia 07 de Janeiro de 2008, aquando da revista efectuadaao arguido DD, entre as 18h45m e as 19h30m, no pátio dahabitação da arguida CC, sita no lugar de T..., M..., Amarante, oarguido DD, que acabara de chegar, conduzindo o veículoautomóvel da marca Honda, modelo Civic de cor preta, com amatrícula ...-...-FH, guardava consigo:- no bolso das calças, do lado esquerdo, frente, 646,49 Euros; - no bolso das calças, do lado direito, frente, 101,01 Euros; e- entre os calções e o corpo, um saco, em plástico transparente,contendo 46,82 gramas de peso bruto de heroína e 16, 265 gramasde peso bruto de cocaína.DH- No mesmo dia 07 de Janeiro de 2008, o arguido DD guardavano veículo já referido, de matrícula ...-...-FH:- na fuselagem, do lado do passageiro, frente, por baixo do tapete,um saco de cor verde, com 20,484 gramas de peso bruto deheroína e 10,456 gramas de peso bruto de cocaína;- no banco da frente do passageiro, três telemóveis, sendo :a- um da marca Nokia, de cor cinzenta, com o IMEI .../.../.../...,com o cartão da Vodafone nº ...; b- um da marca Nokia, de cores cinzenta e preta, com o IMEI.../.../.../..., sem cartão; ec- um da marca Alcatel, de cores cinzenta e branca, com o IMEI..., sem cartão;- no cinzeiro do veículo, um pequeno pacote, contendo cocaína,com 1,13 gramas de peso bruto.- no porta-luvas do veículo:- uma fotocópia do livrete e título de registo de propriedade do

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veículo ligeiro de passageiros de marca Honda, modelo Civic 1600SI, de cor preta e com a matrícula ...-...-FH; e- uma folha de apontamentos da venda de produto estupefacientes,com uma coluna, com a designação de “ branca “ e outra com a de“ tinto “, com referências quantitativas, quanto a “ branca ” de “ 05“, “ 0,5 “ e “ 2,5”;DI- No quarto que era ocupado pelo arguido DD, na residência deseus pais, com quem residia, sita na Urbanização de S... L..., lote1, r/c dtº, S... G..., Amarante, este guardava naquela dependência,em 7 de Janeiro de 2008:sobre a cómoda:- uma bolsa de tabaco, contendo um pacote de heroína com 0,28grs.; e- uma carteira pessoal, em cabedal, de cor castanha, com o nomede DD, contendo aquela:um fio em ouro, com uma pedra azul, que o arguido DD recebeude um cliente em troca de heroína e/ou cocaína.e 500,00 Euros, em notas do BCE;DJ- O peso global líquido da heroína e da cocaína encontradas naposse do arguido DD ( dissimulado no seu corpo, no seu quarto eno veículo automóvel ) ascendia a 19,753 gramas para a cocaína ea 58, 213 gramas para a heroína.DK- No parque da casa dos pais do arguido DD, onde este residia,encontrava-se o veículo ligeiro de passageiros, de marca BMW,modelo 318 IS, de cor cinzenta e com a matrícula ...-...-BQ.DL- O telemóvel de marca “ Nokia “, com o IMEI .../.../.../...,apreendido ao arguido DD, destinava-se a ser por ele usado naactividade de venda lucrativa de heroína e cocaína.DM- O telemóvel de marca “Nokia“, com o IMEI .../.../.../...,apreendido ao arguido DD, destinava-se a ser por ele usado naactividade de venda lucrativa de heroína e cocaína;DO- O telemóvel de marca “Nokia“, com o IMEI ..., apreendidoao arguido AA, destinava-se a ser por ele usado na actividade devenda lucrativa de heroína e cocaína.DP- O telemóvel de marca “Samsung“, com o IMEI .../...,apreendido ao arguido AA, era usado pelos arguidos AA, CC, DD eEE para contactarem entre si na actividade de venda lucrativa deheroína e cocaína, sendo que o arguido AA tinha registado, nestetelemóvel, os números de telemóvel dos arguidos DD (...), CC(ZE) ... .DQ- O telemóvel de marca “Nokia“, com o IMEI ... e com onúmero ..., apreendido à arguida CC, era usado pelos arguidos AA,CC, DD e EE para contactarem ente si na actividade de vendalucrativa de heroína e cocaína, quer, ainda, para a arguida CC,esporadicamente, contactar e ser contactada pelos clientes, que sedeslocavam ao encontro daquela para comprarem heroína e/ou

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cocaína, sendo que a arguida CC tinha registados, neste telemóvel,o número de telemóvel próprio “ MEU N “ ... e o dos arguidos EE(...), AA (AMOR 2) (...), DD (...), FF (...) ... . DR- O telemóvel de marca “Nokia“, com o IMEI .../.../.../...,apreendido à arguida CC destinava-se a ser por ela usado naactividade de venda lucrativa de heroína e cocaína;DS- O telemóvel de marca “Nokia“, com o IMEI ..., apreendido àarguida CC destinava-se a ser por ela usado na actividade de vendalucrativa de heroína e cocaína.DT- O telemóvel de marca “Nokia“, com o IMEI ..., apreendido àarguida CC destinava-se a ser por ela usado na actividade de vendalucrativa de heroína e cocaína e a arguida CC tinha registado nestetelemóvel o número de telemóvel próprio “ MEU N “ ... . DU- O telemóvel de marca “Nokia“ com o IMEI ... e com onúmero ..., apreendido à arguida CC, era usado pelos arguidos AA,CC, DD e EE para contactarem entre si na actividade de vendalucrativa de heroína e cocaína, quer ainda para o arguido DD, emregra, contactar e ser contactado pelos clientes, que se deslocavamao encontro daquele para comprarem heroína e/ou cocaína, sendoque a arguido DD tinha registados, neste telemóvel, os números detelemóvel dos arguidos EE (...); CC (...); e CC 2 (...); Manele (FF)(...), AA I (...). DY- A quantia de 646,49 Euros, apreendida ao arguido DD éproveniente da venda lucrativa de heroína e cocaína.DX- A quantia de 101,01 Euros, apreendida ao arguido DD éproveniente da venda lucrativa de heroína e cocaína.DZ- A quantia de 500,00 Euros, em notas do B.C.E., apreendidaao arguido DD é proveniente da venda lucrativa de heroína ecocaína.EB- A quantia de 870,00 Euros em notas do BCE que foiapreendida ao arguido AA é proveniente da venda lucrativa deheroína e cocaína.EC - O motociclo de marca “ Yamaha “, modelo “ DT 125 R “, dematrícula ...-...-NF, que se encontra apreendido a fls. 3 dos autosde inquérito n.º 295/07.9GCAMT, é propriedade do arguido AA efoi por ele adquirido destinando-o à actividade de venda lucrativade heroína e cocaína.EF- O motociclo de marca “ Honda “, modelo “ CBR 600 RR “,de matrícula ...-...-VX, apreendido ao arguido AA é suapropriedade e foi por ele adquirido destinando-o à actividade devenda lucrativa de heroína e cocaínaEG- O veículo automóvel ligeiro de mercadorias de marca “Renault “, modelo “ Clio “, de matricula ...-...-UL, apreendido aoarguido AA é sua propriedade e foi por ele adquirido destinando-oà actividade de venda lucrativa de heroína e cocaína. EH- O veículo automóvel ligeiro de passageiros, de marca “ Honda

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“, modelo “ Civic “, de matrícula ...-...-FH é propriedade doarguido DD e era por ele usado para, sozinho ou acompanhadopelo arguido EE, se deslocar na direcção dos locais onde vendiamprodutos estupefacientes.EI- O veículo automóvel ligeiro de passageiros, de marca “ BMW“, modelo 318IS “, matrícula ...-...-BQ, é propriedade do arguidoDD e era por ele usado para, sozinho ou acompanhado peloarguido EE, se deslocar na direcção dos locais onde vendiaprodutos estupefacientes.EJ- Os arguidos AA, CC, DD e EE e, bem assim, o arguido FF,este último, em relação às concretas vendas de heroína e/oucocaína identificadas em W, conheciam as característicasestupefacientes dos produtos por si vendidos e/ou em queparticiparam, mas não se abstiveram de agir do modo descrito,querendo vender as ditas substâncias, lucrativamente, a terceiros. EK- No período de 29/11/2007 a 07/01/2008, os arguidos AA, CCe DD e, bem assim, o arguido EE, este quanto às vendas realizadasno período temporal identificado em D), venderam heroína e/oucocaína a, pelo menos, oitenta compradores.EL- Os arguidos AA, CC, DD, EE e FF, este último quanto àsconcretas vendas identificadas em W), agiram de modo voluntário,livre e consciente, sabendo que os produtos estupefacientespunham em risco a protecção sanitária e social dos consumidoresde tais produtos, bem como conheciam aqueles arguidos acensurabilidade e punibilidade das suas respectivas condutas.EM- Nas actividades ligadas à venda lucrativa de heroína ecocaína, os arguidos AA, CC e DD, no período de 29/11/2007 a07/01/2008, e o arguido EE no período de 29/11/2007 a31/12/2007, actuaram de comum acordo, associando-se, de formaestável e organizada, prosseguindo o plano concebido pelo arguidoAA e pelo indivíduo cuja identidade completa não foi de todopossível apurar, tendo como objectivo a obtenção de vantagenspatrimoniais, que, de facto obtiveram.EN- A estratégia e finalidade do grupo formado pelos arguidos AA,CC, DD e EE impôs-se aos actos praticados no âmbito da vendalucrativa de heroína e cocaína, determinados por resoluçõescriminosas conjuntas, outras autónomas e com união de esforços,todas livres, voluntárias e conscientes.EO – O arguido AA, ao conduzir na via pública, no dia 02/10/2007o veículo automóvel nos termos supra relatados e sem causajustificativa, bem sabia que tal condução lhe estava vedada por nãoser titular de carta de condução ou de documento equivalente, bemsabendo ser tal conduta proibida e punida por lei.EP – Ao conduzir o ciclomotor nos termos supra relatados com o propósito de conduzi-lona via pública e sem causa justificativa, a arguida CC bem sabia que tal condução lheestava vedada por não ser titular de carta de condução ou de documento equivalente, bemsabendo que tal conduta era proibida e punida por lei.

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EQ- O arguido EE, ao conduzir na via pública, nos dias 07/11/2007, 08/11/2007 e 09/11/2007,motociclos, nos termos supra relatados e sem causa justificativa, bem sabia que talcondução lhe estava vedada por não ser titular de carta de condução ou de documentoequivalente, bem sabendo ser tal conduta proibida e punida por lei.ER- O arguido DD, desde meados de Outubro até ao dia 07/01/2008, com excepção dias17/12 e 25/12 de 2007, agiu com o propósito de conduzir na via pública, de forma reiterada esem causa justificativa veículos automóveis, bem sabendo que tal actividade lhe estavavedada por não ser titular de carta de condução ou de documento equivalente, bemsabendo ser tal conduta proibida e punida por lei.ES – O arguido FF, ao conduzir na via pública, no dia 11/10/2007, um ciclomotor e no dia07/11/2007, um motociclo, nos termos supra relatados e sem causa justificativa, bem sabiaque tal condução lhe estava vedada por não ser titular de carta de condução ou dedocumento equivalente, bem sabendo ser tal conduta proibida e punida por lei.

ET- O arguido AA é casado, encontrando-se separado de facto damulher. EU- Vive em união de facto há quatro anos, tendo, desta relação,uma filha com dois anos de idade, que vive com ele e com acompanheira.EV- A sua actual companheira explora um o familiarestabelecimento de café e paga 250,00 Euros de renda, retirandocerca de 600 Euros mensais, em média, de rendimento provenienteda sua exploração.EW – Quando pode, trabalha como madeireiro, no que auferecerca de 300,00 Euros mensais.EX- Casou aos dezoito anos de idade e do casamento tem doisfilhos com, respectivamente, quinze e seis anos de idade, sendo aprimeira estudante e residindo com a avó materna e a segundareside com a mãe, em França.EZ – O arguido AA cresceu no seio de um agregado familiarnumeroso, constituído pelos pais e um grupo de doze irmãos.FA- Frequentou a escola até aos catorze anos de idade, tendoconcluído o 2.º ano de escolaridade, manifestando dificuldades deaprendizagem, que a ausência da estimulação em contexto familiarnão permitiram colmatar.FB - Com a mesma idade de catorze anos, iniciou a actividadeprofissional na área da construção civil e, posteriormente, comolenhador.FC- É uma pessoa com baixa literacia. FD- Foi condenado nos autos de Processo Colectivo n.º 221/99, do2.º Juízo do Tribunal Judicial de Amarante, em 20/02/2001, pelaprática de um crime de violação na pena de sete anos de prisão.FE- Foi condenado nos autos de Processo Abreviado n.º 994/05.0GBAMT, do 3.º Juízo do Tribunal Judicial de Amarante, em19/01/2006, pela prática, em 08/09/2005, de um crime decondução sem habilitação legal, previsto e punido pelo artigo 3.º doDec. Lei 2/98, de 03/01, na pena de 60 dias de multa, à taxa diáriade 5 Euros.FF- Foi condenado nos autos de Processo Sumário n.º 295/06.6GNPRT, do 3.º Juízo do Tribunal Judicial de Felgueiras, em

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20/07/2006, pela prática, em 07/07/2006, de um crime decondução sem habilitação legal, previsto e punido pelo artigo 3.º doDec. Lei 2/98, de 03/01, na pena de 190 dias de multa, à taxadiária de 2 Euros;FG- Foi condenado nos autos de Processo Comum (TribunalSingular) n.º 1351/05.3 GBAMT, do 2.º Juízo do Tribunal Judicialde Amarante, em 23/11/2006, pela prática, em 03/12/2005, de umcrime de ofensa à integridade física simples, previsto e punido peloartigo 143, n.º 1, do Cód. Penal, na pena de 100 dias de multa, àtaxa diária de 3,5 Euros.FH- Foi condenado nos autos de Processo Sumário n.º 229/07.0GTVRL, do 3.º Juízo do Tribunal Judicial de Amarante, em09/07/2007, pela prática, em 27/06/2007, de um crime decondução sem habilitação legal, previsto e punido pelo artigo 3.º doDec. Lei 2/98, de 03/01, na pena de 4 meses de prisão, substituídapor trabalho a favor da comunidade em 120 horas.FI – O arguido CC é solteiro e vive, em união de facto, há cerca de um ano, com acompanheira que trabalha num bar.FJ- É mecânico de motas, profissão que exerce com o pai, auferindo 450,00 Euros mensais,com alimentação.FK- Tem o 6.º ano de escolaridade.FL- Vive em casa dos pais e não paga renda.FM- É proprietário de um veículo automóvel, da marca Audi, modelo A3, do ano de 1996.FN- Cresceu num meio familiar estruturado e usufrui, no meio em que se insere, de umaimagem social positiva.FO- Não tem antecedentes criminais.

FP- A arguida CC é solteira. FQ- Tem um filho, de 4 anos de idade que frequenta o infantário.FR- O pai do filho contribui com a pensão alimentar de 100,00Euros mensais para o sustento daquele.FS- A arguida CC cresceu numa família monoparental, já que oseu pai faleceu, de acidente, durante a sua gestação.FT- A sua mãe ficou numa situação de grande pobreza e com umgrupo de sete filhos para educar.FU- Na vida da arguida estiveram sempre presentes osconstrangimentos económicos já que a mãe nunca exerceuactividade remunerada, enfrentando durante toda a vida muitasdificuldades para assegurar a satisfação das necessidades básicasdos filhos.FV- Abandonou a escola quando se encontrava no 5.º ano deescolaridade mas conseguiu concluir o 6.º ano de escolaridadeatravés do ensino recorrente.FW- Há cerca de cinco anos, quando contava dezasseis anos,enfrentou a morte da mãe tendo-se precipitado no estabelecimentode uma união de facto, da qual nasceu o filho.FX- A arguida vive juntamente com o filho, a irmã, que édesempregada, um sobrinho, que conta 5 anos de idade e frequentao infantário e com o irmão, que conta 30 anos de idade e que étrolha, estando, presentemente, internado.

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FZ- Vivem todos em casa própria, que foi herdada dos pais.GA- Fazem as refeições em conjunto, contribuindo a arguida com50,00 Euros mensais para as despesas domésticas.GB- A arguida CC encontra-se desempregada.GC- Recebe 147,00 Euros mensais de rendimento de reinserçãosocial e 42,00 Euros mensais de abono de família do filho.GD- Na comunidade de origem não é alvo de sentimentos dehostilidade, sendo a situação em que se encontra atribuída, emparte, ao desfavorecimento económico e social em quedesenvolveu a sua personalidade e à perda precoce dos pais.GE – A irmã e o irmão continuam a apoiá-la e, em casa, a arguidatem mantido o seu normal estilo de vida, continuando a realizar astarefas domésticas e a ser uma figura presente na vida do filho, oque é avaliado como positivo pela própria.GF- Não tem antecendentes criminais.GG- O arguido DD é solteiro e vive em união de facto há cerca detrês anos com a companheira, que se encontra desempregada,tendo anteriormente exercido as funções de empregada de café.GH- O casal tem um filho de quatro meses de idade.GI- O arguido é pedreiro de profissão, já trabalhou comoserralheiro.GJ- Não trabalha há cerca de quatro meses.GK- Reside com a companheira e o filho em casa dos paisdaquela.GL- O arguido tem o 4.º ano de escolaridade.GM- O arguido DD nasceu e cresceu no seio de uma família debaixo estatuto sócio – económico, mas cujos elementos ao longo doseu percurso de vida sempre estiveram presentes enquantomodelos de identificação e garantes de um ambiente familiarorganizado e estruturado.GN- Aos treze anos de idade e com o 4.º ano de escolaridadeconcluído, foi trabalhar para uma padaria com a sua mãe, tendofeito a opção pelo mundo do trabalho.GO- A sua companheira beneficia de apoio da segurança social eda prestação familiar a crianças e jovens, rendimentos com osquais o agregado está a fazer face às despesas de manutenção dostrês.GP- Em Junho de 2007 sofreu um acidente de viação einterrompeu o exercício da sua actividade profissional, que nãoretomou.GQ- No período anterior a 07 de Janeiro de 2008 os seus vínculosfamiliares sofreram um afrouxamento.GR- Continua a contar com o apoio dos pais, de quem é vizinho,da companheira e da família desta.GS- O arguido DD mostra-se comprometido numa relação positivacom a família.

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GT- Confessou os factos mas apenas com relevância relativamenteaos factos referentes ao período de meados de Outubro de 2007 a28 de Novembro de 2007, inclusive.GU- Foi condenado nos autos de Processo Sumário n.º 1259/04.0GBAMT, do 2.º Juízo do Tribunal Judicial de Amarante, em30/11/2004, pela prática, em 30/11/2004, de um crime decondução sem habilitação legal, previsto e punido pelo artigo 3.º doDec. Lei 2/98, de 03/01, na pena de 50 dias de multa, à taxa diáriade 6 Euros. GV- Foi condenado nos autos de Processo Sumário n.º 622/07.9GBAMT, do 2.º Juízo do Tribunal Judicial de Amarante, em09/07/2007, pela prática, em 30/06/2007, de um crime decondução sem habilitação legal, previsto e punido pelo artigo 3.º doDec. Lei 2/98, de 03/01, na pena de 160 dias de multa, à taxadiária de 4 Euros. GW- Foi condenado nos autos de Processo Sumário n.º 2481/07.2TBAMT, do 2.º Juízo do Tribunal Judicial de Amarante, em10/01/2008, pela prática, em 20/12/2007, de um crime decondução sem habilitação legal, previsto e punido pelo artigo 3.º doDec. Lei 2/98, de 03/01, na pena de 220 dias de multa, à taxadiária de 6 Euros. GX- O arguido EE é solteiro.GZ- Vive com o irmão e com a companheira deste, contribuindocom 100,00 Euros mensais para as despesas domésticas,beneficiando duma inserção familiar estável e gratificante.HA- Trabalhava, em França, como jardineiro, de onde regressouem Março de 2007.HB- Como contrapartida do seu trabalho aufere, presentemente, aquantia de 30,00 Euros diários.HC- O arguido EE cresceu num agregado familiar constituído pelospais e um grupo de oito irmãos, num ambiente familiar marcadopela precariedade económica, já que viviam exclusivamente daagricultura.HD- Abandonou a escola aos quinze anos de idade, tendo iniciadoo seu percurso profissional aos dezasseis anos, como ajudante detrolha.HE- Com o falecimento dos pais, integrou-se na casa de um irmão,com o qual sempre manteve uma relação de grande proximidade.HI- No meio social e familiar em que se insere é tido como pessoasolidária e cordial.HJ- Foi condenado nos autos de Processo Comum (TribunalSingular) n.º 396/04.5 GBAMT, do 1.º Juízo do Tribunal Judicialde Amarante, em 11/10/2005, pela prática, em 11/04/2004, de umcrime incêndio negligente em florestas, previsto e previsto e punidopelo artigo 2.º do Dec. Lei n.º 19/86, na pena de quatro meses deprisão, substituídos por 120 dias de multa, à taxa diária de 4 Euros.

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HK- O arguido FF é solteiro.HL- Nasceu num agregado familiar de baixa condição sócio-cultural e económica, tendo crescido sujeito a privações em termosda satisfação das suas necessidades, tanto materiais comoafectivas.HM- O pai é madeireiro de profissão e não tinha hábitos regularesde trabalho nem investia na família, constituída, à data, pelacônjuge e um grupo de seis filhos, dos quais o arguido é o maisvelho, tendo sido condenado, há cerca de 5 anos, por crime dehomicídio, não mantendo, desde então, qualquer relação com oagregado.HN- Até Novembro de 2006 o arguido trabalhou como carpinteiro,actividade profissional que iniciou aos quinze anos de idade, nofinal de um percurso escolar em que nunca foi incentivado ainvestir, dados os baixos recursos da mãe e o desinteresse do pai.HO- O arguido tem duas irmãs que sofrem de paralisia cerebral edois irmãos que são, também, portadores de deficiência.HP- Dadas as dificuldades sentidas pela mãe, o arguido apoiava-ana realização das tarefas agrícolas e comparticipava nas despesasda casa.HQ- Em Novembro de 2006, o arguido abandonou o lar materno.HR- Até ao momento em que integrou o agregado familiar da suamãe mostrou-se ligado e comprometido em relações positivas,aceitando e obedecendo à lei.HS- O arguido tem contado com algum suporte por parte de um tioque desde que lhe foi aplicada a medida de coacção, no âmbitodestes autos, lhe trás as refeições a casa.HT- Está a ser apoiado economicamente pela segurança social,com cerca de 150 Euros mensais para fazer face às suas despesaspessoais.HU- O arguido FF tem como projecto de vida emigrar para a França ou Suiça, onde temfamiliares, considerando que esta é a melhor forma de se afastar de determinadasinfluências às quais reconhece que é permeável.HV- Foi condenado nos autos de Processo Comum (Tribunal Singular) n.º 484/05.0GBAMT, do 2.º Juízo do Tribunal Judicial de Amarante, em 18/05/2006, pela prática, em02/06/2005, de um crime de falsificação de documento, previsto e punido pelo artigo 256,n.º1, al. a) do Cód. Penal, na pena de 120 dias de multa, à taxa diária de 3 Euros. HW- Foi condenado nos autos de Processo Comum Colectivo n.º 01/07.8 GAAMT, do 2.ºJuízo do Tribunal Judicial de Amarante, em 22/10/2007, pela prática, em 26/10/2006, de umcrime de roubo, previsto e punido pelo artigo 210, n.º1, do Cód. Penal, na pena de 2 anos deprisão, cuja execução lhe foi suspensa por igual período de tempo.

Factos não provados

Segue-se a indicação de alguns dos factos dados por não provados(no total, perfazendo 156), nomeadamente, dos que revestemmanifesto interesse para o fulcro da questão de saber o queseparou a actividade dos arguidos antes e depois de 29 deNovembro de 2007, sendo que alguns deles foram referenciados

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expressamente pelo recorrente nas conclusões 2.ª e 9.ª.

De entre outros, o tribunal teve por não provados outros factos,designadamente:2.1 - que o plano gizado entre o arguido AA e o indivíduo cujaidentidade completa não foi de todo possível apurar tenha sidocelebrado em data anterior a 29 de Novembro de 2007 e que neletivessem participado, também, os arguidos CC, BB, EE, DD e FF;

2.2 - que o plano gizado entre o arguido AA e o indivíduo cujaidentidade completa não foi de todo possível apurar tivesse emvista a venda de grandes quantidades de produtos estupefacientes eque incluísse a venda de outros produtos estupefacientes para alémda heroína e de cocaína e, bem assim, que tivesse em vista difundira venda de heroína e cocaína a partir da área da comarca deAmarante, num raio de 150 quilómetros;

2.3 - que a estrutura humana e logística identificada em B)incluísse meios logísticos com vista ao alojamento de alguns dosassociados e, bem assim, meios de vigilância;

2.4 - que o arguido CC tivesse integrado a estrutura referida em C)e que, no período de, pelo menos, 26 de Setembro de 2007 a07/01/2008, tivesse desenvolvido actividades ligadas à vendalucrativa de produtos estupefacientes;

2.5 - que o arguido FF tivesse integrado a estrutura referida em C)e que a actividade ligada à venda lucrativa de heroína e cocaínaque desenvolveu nos dias 08 e 09 de Novembro de 2007 tivessesido por ele desenvolvida de forma intensa e exclusiva e, bemassim, que o mesmo, no período de 26 de Setembro de 2007 a 07de Janeiro de 2008, tivesse desenvolvido outras actividades ligadasà venda lucrativa de produtos estupefacientes para além dasapuradas;

2.6 - que a actividade ligada à venda lucrativa de heroína e cocaínadesenvolvida pelos arguidos AA, CC e EE em data anterior a29/11/2007 tivesse sido exercida de forma intensa, ininterrupta eexclusiva;

2.7 - que a actividade ligada à venda lucrativa de heroína e cocaínadesenvolvida pelo arguido DD, em data anterior a 29/11/2007,tivesse sido intensa;

2.8 - que no período de 29/11/2007 a 31/12/2007 a actividadedesenvolvida pelo arguido EE ligada à venda de heroína e cocaínativesse por ele sido exercida de forma intensa e exclusiva;

2.9 - que a actividade de venda lucrativa de heroína e cocaína

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exercida pelos arguidos AA, CC e o individuo cuja identidadecompleta não foi de todo possível apurar tivesse sido desenvolvida,no período de 29/11/2007 a 31/12/2007, de forma exclusiva;

2.10 - que a estrutura referida em C) tivesse feito vendas diárias decerca de 100 gramas de heroína e cocaína.

Apreciando.

Antes de abordarmos as questões colocadas há que dizer que ainvocação de violação do princípio in dubio pro reo, as arguiçõesdo vício de insuficiência de prova, dos vícios previstos nas alíneasa) e c) do n.º 2 do artigo 410.º do Código de Processo Penal, bemcomo a arguida omissão de pronúncia, reconduzem-se a final aargumentos – dois deles agora apresentados ex novo - com o únicofito de basear a descaracterização do crime de associaçãocriminosa, invocando-se tais anomalias num exercício não legítimo,já que o recorrente não pode trazer a este Supremo Tribunalquestões relacionadas com matéria de facto.

Questão I – Insuficiência de prova ou errada valoração daprova e violação do princípio in dubio pro reo – conclusões 1.ªa 4.ª e 5.ª e 10.ª;

Da insuficiência de prova

Nas conclusões 1.ª a 4.ª o recorrente reedita a alegação deinsuficiência e errada valoração das provas, defendendo não tersido reunida prova suficiente para concluir da forma expressa nasalíneas A, B e C dos factos provados e que pudesse a Relaçãoconfirmar, antes da análise da matéria resultando claro que em dataanterior a 29/11/07, o tribunal considera que os arguidos já sededicariam a venda de estupefacientes.Esta alegação foi debatida e afastada no acórdão recorrido, de fls.158 a 176 (fls. 3060 a 3078 dos autos), não sendo possível e viávela sua reedição.Como inúmeras vezes tem sido frisado por este Supremo Tribunal,são totalmente irrelevantes as considerações que os recorrentesfazem no sentido de pretenderem discutir a prova feita nojulgamento e de solicitarem que este Tribunal de recurso modifiquetal prova e passe a aceitar como realidade aquilo que o interessadopretende corresponder ao sentido do que teria resultado dojulgamento. A divergência do recorrente quanto à avaliação e valoração dasprovas feitas pelo Colectivo e já debatida no acórdão em recurso éirrelevante, pois o Supremo Tribunal de Justiça não podeconsiderá-la, sob pena de estar invadir o campo da apreciação da

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matéria de facto que o colectivo faz de harmonia com o artigo127.º do Código de Processo Penal – cfr. acórdãos do STJ, de 29-06-94, CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 258; de 06-11-1997, processon.º 666/97-3.ª, Sumários Assessoria, pág. 156.Note-se que o recorrente, pretendendo sindicar a matéria de facto eimpugnar a prova, não lançou mão na altura devida do meioprocessual próprio e adequado a fazê-lo da forma mais amplapossível.Na verdade, o recorrente abdicou de fazer uso do meio deimpugnação da decisão proferida sobre a matéria de facto, previstono artigo 412.º, n.º s 3 e 4, visando obter a modificação dessadecisão – artigo 431.º, alínea b), como aquele do Código deProcesso Penal.Pelo exposto, é de desatender a arguição do vício em causa.

Da violação do princípio in dubio pro reo

Relacionada com a anterior, coloca o recorrente esta questão nasconclusões 5.ª e 10.ª, fazendo-o apenas agora, não a tendosuscitado no anterior recurso, pelo que se está face a uma questãonova. (A novidade poderá ser, porém, entendida, se encaradacomo dirigida ao acórdão ora recorrido, vendo o princípio comoextensível e aplicável em sede de interpretação de direito,concretamente na interpretação que a Relação fez a propósito dacaracterização do crime de associação criminosa, como decorre daalusão feita a Figueiredo Dias, defensor justamente do alargamentodo princípio a matéria de direito, e conclusão 5.ª).

O princípio in dubio pro reo funda-se constitucionalmente noprincípio da presunção da inocência até ao trânsito em julgado dasentença condenatória – artigo 32º, nº 2, da CRP - , impondo esteque qualquer non liquet na questão da prova seja valorado a favordo arguido, apresentando-se aquele, na fase de decisão, comocorolário daquela presunção – acórdão do Tribunal Constitucionalnº 533/98, DR, II Série, de 25-02-1999.O princípio in dubio pro reo - fómula condensada por Stubel - queestabelece que, na decisão de factos incertos a dúvida favorece oarguido, é um princípio de prova que vigora em geral, isto é,quando a lei, através de uma presunção, não estabelece o contrário.A violação do princípio in dubio pro reo tem sido entendida sobdiversas perspectivas, como a de respeitar a matéria de prova e,pois, tratar-se de matéria de facto e como tal insindicável pelo STJ(por todos, acórdão de 18-12-1997, processo n.º 930/97, BMJ n.º472, pág. 185), ou enquanto princípio estruturante do processopenal, podendo ser suscitada perante o Tribunal de revista, mas oSupremo vem afirmando que isso só é possível se a violação

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resultar do próprio texto da decisão recorrida, designadamente, dafundamentação da decisão de facto – acórdão de 29-11-2006,processo n.º 2796/06-3ª, in CJSTJ 2006, tomo 3, pág. 235(maxime, 239).Contrariamente à posição de Figueiredo Dias, expressa in DireitoProcessual Penal, volume I, pág. 217, que defende que o princípiose assume como um princípio geral de processo penal, nãoforçosamente circunscrito a facetas factuais, podendo a suaviolação conformar também uma autêntica questão de direitoplenamente cabível dentro dos poderes de cognição do STJ, ajurisprudência maioritária tem repudiado a invocação do princípioem sede de interpretação ou de subsunção de um facto à lei, nãovalendo para dúvidas nessas matérias.Para o acórdão de 06-04-1994, processo n.º 46092, BMJ n.º 436,pág. 248, o princípio não tem aplicação apenas quanto à matéria defacto, começando, logo, por poder ser aplicado na própriainterpretação da matéria de direito, esclarecendo que “nada impedeque, em via de recurso penal interposto para este SupremoTribunal, os julgadores se socorram do princípio in dubio pro reo,quando, esgotados todos os meios de interpretação dos factos oudas disposições legais, surgirem dúvidas justificadas quanto aosentido dos factos ou relativamente à norma aplicável”.Segundo o acórdão de 17-04-1997, BMJ n.º 466, pág. 227, oprincípio é insindicável quer na sua versão de incidência fáctica –regendo então a prova, o que não pode ser apreciado por esteTribunal – quer na sua incidência jurídico-normativa, porquantonunca pode subsistir qualquer dúvida sobre a norma aplicável emface do sistema da interpretação e integração das leis. E de acordo com o acórdão de 11-02-1999, CJSTJ 1999, tomo 1,pág. 210, o princípio in dubio pro reo é multifacetado e a sua forçaomnímoda e dinamismo podem e devem aplicar-se mesmo dentrodos processos lógicos que interessam à interpretação e integraçãoda lei.Este acórdão foi objecto de comentário na Revista Portuguesa deCiência Criminal, 2003, ano 13, n.º 3, págs. 433 e ss., onde se dizque o STJ adoptou uma tese errónea em relação à aplicabilidade doprincípio, defendendo-se que o alcance do in dubio pro reorestringe-se a dúvidas sobre a prova da matéria de facto e não temaplicação na resolução de dúvidas quanto à interpretação denormas penais, cuja única solução correcta reside em escolher, nãoo entendimento mais favorável ao arguido, mas sim aquele que serevele juridicamente mais exacto. Em sentido oposto, pronunciaram-se, i. a., os acórdãos de 06-12-2006, processo n.º 3520/06-3ª; de 20-12-2006, processo n.º3105/06-3ª; de 23-04-2008, processo n.º 899/08, onde se refereque «O princípio vale apenas em relação à prova da questão de

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facto e já não a qualquer dúvida suscitada dentro da questão dedireito; aqui, a única solução correcta residirá em escolher não oentendimento mais favorável ao arguido, mas sim aquele quejuridicamente se reputar mais exacto» e no acórdão de 30-04-2008,processo n.º 3331/07-3ª, diz-se que «O princípio in dubio pro reonão tem quaisquer reflexos ao nível da interpretação das normaspenais. Em caso de dúvida sobre o conteúdo e o alcance destas, oproblema deve ser solucionado com recurso às regras deinterpretação, entre as quais o princípio do in dubio pro reo não seinclui, uma vez que este tem implicações exclusivamente quanto àapreciação da matéria de facto – sejam os pressupostos dopreenchimento do tipo de crime, sejam os factos demonstrativos daexistência de uma causa de exclusão da ilicitude ou da culpa».

A eventual violação do princípio in dubio pro reo só pode seraferida pelo STJ quando da decisão impugnada resulta, de formaevidente, que tribunal recorrido ficou na dúvida em relação aqualquer facto, que tenha chegado a um estado de dúvida“patentemente insuperável” e que, nesse estado de dúvida, decidiucontra o arguido, optando por um entendimento decisóriodesfavorável ao arguido, posto que saber se o tribunal recorridodeveria ter ficado em estado de dúvida, é uma questão de facto queexorbita os poderes de cognição do STJ enquanto tribunal derevista.Não se verificando esta hipótese, resta a aplicação do mesmoprincípio enquanto regra de apreciação da prova, no âmbito dodispositivo do artigo 127.º do CPP, que escapa ao poder decensura do STJ enquanto tribunal de revista – neste sentido veracórdãos de 20-06-1990, BMJ n.º 398, pág. 431; de 04-07-1991,BMJ n.º 409, pág. 522; de 14-04-1994, processo n.º 46318, CJSTJ1994, tomo 1, pág. 265; de 12-01-1995, CJSTJ 1995, tomo 1, pág.181; de 06-03-1996, CJSTJ 1996, tomo 2 (sic), pág. 165;de 02-05-1996, CJSTJ 1996, tomo 2, pág. 177; de 25-02-1999, BMJ n.º484, pág. 288; de 15-06-2000, processo n.º 92/00-3ª, CJSTJ 2000,tomo 2, pág. 226 e BMJ n.º 498, pág.148; de 02-05-2002,processo n.º 599/02-5ª; de 23-01-2003, processo n.º 4627/02-5ª;de 15-10-2003, processo n.º 1882/03-3ª; de 27-05-2004, processon.º 766/04-5ª, CJSTJ 2004, tomo 2, pág. 209 (a alegada violaçãodo princípio só poderá ser sindicada se ela resultar claramente dostextos das decisões recorridas); de 21-10-2004, processo n.º3247/04-5ª, CJSTJ 2004, tomo 3, pág. 198 (com recensão dejurisprudência sobre o tema e em concreto sobre a temática dasconclusões que as instâncias retiram da matéria de facto e orecurso às presunções naturais); de 12-07-2005, processo n.º2315/05-5ª; de 07-12-2005, processo n.º 2963/05-3ª; de16-05-2007, CJSTJ 2007, tomo 2, pág. 182; de 20-02-2008, processo n.º

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4553/07-3ª; de 05-03-2008, processo n.º 210/08-3ª, CJSTJ 2008,tomo 1, pág. 243; de 09-04-2008, processo n.º 429/08-3ª; de 23-04-2008, processo n.º 899/08-3ª; de 15-07-2008, processo n.º1787/08-5ª. Noutra perspectiva, o STJ poderá sindicar a aplicação do princípio,quando a dúvida resultar evidente do texto da decisão recorrida emtermos análogos aos dos vícios do artigo 410º, n.º 2, do CPP, ouseja, quando seguindo o processo decisório evidenciado através damotivação da convicção se chegar à conclusão de que o tribunaltendo ficado em estado de dúvida, decidiu contra o arguido – cfr.acórdãos de 30-10-2001, processo n.º 2630/01-3ª; de 06-12-2002,processo n.º 2707/02-5ª; de 08-07-2004, processo n.º 1121/04-5ª,SASTJ, n.º 83; de 24-11-2005, processo n.º 2831/05-5ª; de 07-12-2006, processo n.º 3137/06-5ª; de 18-01-2007, processo n.º4465/06-5ª; de 21-06-2007, processo n.º 1581707-5ª; de 13-02-2008, processo n.º 4200/07-5ª; de 17-04-2008, processo n.º823/08-3ª; de 07-05-2008, processo n.º 294/08-3ª; de 28-05-2008,processo n.º 1218/08-3ª; de 29-05-2008, processo n.º 827/08-5ª;de 15-10-2008, processo n.º 2864/08-3ª; de 16-10-2008, processon.º 4725/07-5ª; de 22-10-2008, processo n.º 215/08-3ª;de 04-12-2008, processo n.º 2486/08-5ª; de 05-02-2009, processo n.º2381/08-5ª (A apreciação pelo Supremo da eventual violação doprincípio in dubio pro reo encontra-se dependente de critérioidêntico ao que se aplica ao conhecimento dos vícios da matéria defacto: há-de ser pela mera análise da decisão que se deve concluirpela violação deste princípio). Na perspectiva, mais concreta - e que data de finais da década de90 do século passado - de análise do princípio in dubio pro reo,como figura próxima do vício decisório - erro notório na apreciaçãoda prova, previsto no artigo 410º, n.º 2, alínea c), do CPP - , e,pois, da sua sindicabilidade pelo Supremo Tribunal, podem ver-seos acórdãos de 08-10-1997, processo n.º 976/97-3.ª, SumáriosAssessoria do STJ, n.º 14, pág. 132; de 15-04-1998, processo n.º285/98-3.ª, in BMJ n.º 476, pág. 82; de 22-04-1998, processo n.º120/98-3.ª, BMJ, n.º 476, pág. 272; de 04-11-1998, processo n.º1415/97-3ª, in CJSTJ 1998, tomo 3, pág. 201 e BMJ n.º 481, pág.265, com extensa informação acerca do princípio em causa e dalivre apreciação da prova; de 27-01-1999, no processo nº 1369/98-3ª, in BMJ n.º 483º, pág. 140; de 24-03-1999, processo n.º176/99-3ª, in CJSTJ 1999, tomo 1, pág. 247, todos do mesmorelator, Exmo. Conselheiro Leonardo Dias, em que a tónica doentendimento sufragado nos citados arestos é o seguinte: “o erro naapreciação da prova só existe quando, do texto da decisãorecorrida, por si só ou conjugado com as regras da experiênciacomum, resulta por demais evidente a conclusão contrária àquela aque chegou o tribunal. Nesta perspectiva, a violação do princípio in

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dubio pro reo pode e deve ser tratada como erro notório naapreciação da prova, o que significa que a sua existência tambémsó pode ser afirmada quando, do texto da decisão recorrida, seextrair, por forma mais do que evidente, que o colectivo, nadúvida, optou por decidir contra o arguido”; e ainda os acórdãos de20-10-1999, processo n.º 1475/98 -3ª, in BMJ n.º 490º, pág. 64(em que aquele relator intervém como adjunto); de 04-10-2006,processo n.º 812/2006-3ª; de 11-04-2007, processo n.º 3193/06-3ª.Como referimos no acórdão de 05-12-2007, proferido no processon.º 3406/07, parece-nos que esta possibilidade de abordagem deeventual violação do princípio será balizada pelos parâmetros decognoscibilidade presentes numa indagação dos vícios decisórios,por um lado, com o consequente alargamento de possibilidade deincursão de exame no domínio fáctico, mas simultaneamente,como ali ocorre, operando de uma forma mitigada, restrita, que secinge ao texto da decisão recorrida, por si só considerado ou emconjugação com as regras da experiência comum.O que significa que, tal como ocorre na análise e exame deverificação dos vícios, quando se perspectiva indagação deeventual violação do princípio in dubio pro reo (em ambos os casosdiversamente do que ocorre com a avaliação de nulidades dasentença), há que não esquecer que se está sempre perante umpoder de sindicância de matéria fáctica, que é limitado, restrito,parcial, mitigado, exercido de forma indirecta, dentro docondicionalismo estabelecido pelo artigo 410º do CPP, em suma,que o horizonte cognitivo do STJ se circunscreve ao texto dadecisão, não incidindo sobre o julgamento, isto é, que o objecto daapreciação será sempre a decisão e não o julgamento.

No nosso caso, da análise do texto do acórdão de primeira instâncianão se retira que o Colectivo tenha dado como provados os factosque como tal especificou, tendo dúvidas sobre a verificação dealgum ou alguns deles, nomeadamente, a actividade do recorrenteno tráfico desenvolvido, o mesmo acontecendo com o acórdãorecorrido, e, por outro lado, de ambos os textos, conjugados comas regras da experiência comum, não ressalta, de modo algum, queoutra, como a defendida pelo recorrente, devia ter sido a decisãosobre a matéria de facto, não resulta que perante uma dúvida sobrea prova, tenham optado por uma solução desfavorável ao arguido,decorrendo antes que as instâncias não ficaram na dúvida emrelação a qualquer facto. Esta invocação, de resto, diga-se, não tem autonomia relativamenteà discordância globalmente manifestada pelo arguido em relação àmatéria de facto fixada, situando-se na mesma linha da invocaçãode insuficiência de prova e do erro notório na apreciação da prova.A posição do recorrente não representa mais do que a sua

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valoração pessoal de determinados elementos de prova, valoraçãoessa que não pode ser contraposta à conclusão a que chegaram osjulgadores, ao darem como provados os factos, fundados em juízosde experiência (artigo 127.º do CPP).Na verdade, a pretensa violação do princípio in dubio pro reo nãoconstitui mais do que uma diversa perspectiva de colocarexactamente a mesma questão relativamente ao julgamento damatéria de facto, procurando o recorrente contrariar a convicçãodas instâncias.Inexistindo dúvida razoável na formulação do juízo factual queconduziu à condenação do arguido, fica afastada a violação doprincípio in dubio pro reo e da presunção da inocência, sendo deter por assente definitivamente a matéria de facto apurada. O acórdão recorrido não denota dúvida irredutível, da sua leitura sevendo não persistir qualquer dúvida razoável sobre os factos, porisso não tendo fundamento fazer apelo ao princípio, que supõe aexistência de uma dúvida. Pelo contrário, decorre da sua leiturauma tomada de posição firme e não indicando ter-se decididocontra o recorrente.Questão diversa será a de saber se tais factos configuram o crimeem questão, o que se fará na sede própria.Improcede, pois, esta arguição.

Questão II - Vícios de insuficiência para a decisão da matériade facto provada e erro notório na apreciação da prova

O recorrente invoca nas conclusões 7.ª e 31.ª, o primeiro vício,agora em primeira via, constituindo, pois, uma questão nova,reeditando, porém, a arguição do segundo.Os vícios do artigo 410.º, n.º 2, do Código de Processo Penal sãovícios de lógica jurídica ao nível da matéria de facto, que tornamimpossível uma decisão logicamente correcta e conforme à lei.Vícios da decisão, não do julgamento, como se exprime Maria JoãoAntunes, in Revista Portuguesa de Ciência Criminal, Janeiro -Março de 1994, pág. 121 – cfr. acórdão do STJ, de 05-11-1997,processo n.º 549/97-3.ª, CJSTJ 1997, tomo 3, pág. 222.Atenta a sua estrutura, referenciados que estão os vícios decisóriosao nível da fixação da facticidade relevante, pertinente e útil, para aconformação final e definitiva do thema probandum, definindo oscontornos finais e definitivos do objecto proposto pela vinculaçãotemática concreta do caso, com vista à solução do themadecidendum, não faz sentido assacar a existência de tais vícios aoacórdão recorrido, o que seria possível apenas e tão só num quadroem que a Relação fixasse factualidade em função de renovação daprova, o que não é de todo o caso, para nos referirmos apenas àactuação da Relação em sede de recurso. (Tal possibilidade de

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sindicância em matéria de facto poderá ter lugar, obviamente,quando a Relação funcionar como primeira instância).A questão que se coloca, no que respeita ao caso do vício do erronotório na apreciação da prova, em que há uma reedição daarguição feita no recurso anterior, é a de saber se após umaprimeira invocação dos vícios perante o Tribunal da Relação épossível o recorrente repetir a invocação desses vícios –necessariamente da decisão da 1.ª instância - perante o SupremoTribunal de Justiça, ou se se opera a preclusão dessa possibilidade. E, perante a arguição dos vícios decisórios em causa, é de colocara questão de saber se o STJ pode deles conhecer em recursointerposto de decisão do Tribunal da Relação.Como é sabido, a partir de 01-01-1999, na sequência da reformado CPP, operada pela Lei n.º 59/98, de 25-08, deixou de serpossível interpor recurso para o STJ com fundamento naverificação dos vícios previstos no artigo 410.º, n.º 2, do CPP, istoé, a incursão do STJ no plano fáctico da forma restrita consentidapor esse preceito não é já possível face a questão colocada pelointeressado, ou seja, como fundamento do recurso, a pedido derecorrente, mas tão-só por iniciativa própria deste SupremoTribunal, para evitar que a decisão de direito se apoie em matériade facto ostensivamente insuficiente, fundada em erro deapreciação, ou assente em premissas contraditórias detectadas peloSTJ, ou seja, se concluir que por força da existência de qualquerdos vícios não pode chegar a uma correcta solução de direito edevendo sempre o conhecimento oficioso ser encarado comoexcepcional, surgindo como último remédio contra tais vícios,conforme é jurisprudência corrente.Conforme consta do acórdão do STJ de 13-12-2007, processo n.º1404/07 - 5.ª, «a não impugnação da matéria de facto pelorecorrente não impede o Supremo Tribunal de Justiça, comotribunal de revista, de conhecer oficiosamente dos vícios do art.410.º, n.º 2, do Código de Processo Penal. É o que resulta dodisposto no art. 434.º do referido Código. E compreende-se queassim seja. Para proceder a uma adequada revisão da matéria dedireito, é necessário que a matéria de facto se encontreperfeitamente estabilizada. Por isso, se o tribunal de revista,analisando a decisão, conclui pela existência de insuficiências namatéria de facto (…), outra solução não lhe resta senão a dedeterminar o reenvio do processo, para colmatar o vício». No mesmo sentido, diversos arestos deste Supremo Tribunal, deque são exemplo: os acórdãos de 17-01-2001 (processo n.º2821/00 - 3.ª); de 25-01-2001 (processo n.º 3306/00 - 5.ª) e de 22-03-2001 (processo n.º 363/01 - 5.ª), publicados em CJSTJ 2001,tomo 1, págs. 210, 222 e 257, respectivamente; acórdão de 04-10-2001 (processo n.º 1801/01 - 5.ª), em CJSTJ 2001, tomo3, págs.

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182 (aqui se esclarecendo que o Tribunal de recurso tem o poder-dever de fundar a “boa decisão de direito” numa “boa decisão defacto”, ou seja, numa decisão que não padeça de insuficiências,contradições insanáveis da fundamentação ou erros notórios naapreciação da prova); acórdão de 30-01-2002, processo 3739/01-3ª; de 16-05-2002, CJSTJ 2002, tomo 2, 202; de 24-03-2003(processo n.º 1108/03 - 5.ª), em CJSTJ, 2003, tomo 1, pág. 236;de 27-05-2004 (processo n.º 766/04 - 5.ª), em CJ STJ, 2004, tomo2, pág. 209 (o STJ só pode/deve conhecer dos vícios se concluirque, por força da existência de qualquer deles, não pode chegar auma correcta solução de direito); de 20-12-2006 (processo n.º3505/06 - 3.ª), em CJ STJ2006, tomo 3, pág. 248; de 24-05-2007(processo n.º 1409/07 - 5.ª), em CJSTJ, 2007, ano XV, tomo 2,pág. 200; bem como os acórdãos de 30-03-2005, no processo n.º136/05; de 03-05-2006, nos processos n.ºs 557/06 e 1047/06; de18-05-2006, nos processos n.ºs 800/06 e 1293/06; de 04-01-2007,no processo n.º 2675/06, todos da 3.ª secção; de 08-02-2007, noprocesso n.º 159/07 - 5.ª; de 15-02-2007, nos processos n.ºs 15/07e 513/07 (defendendo-se neste o conhecimento oficioso dos vícioscomo preâmbulo do conhecimento do direito), ambos da 5.ªSecção; de 21-02-2007, no processo n.º 260/07 - 3.ª; de 02-05-2007, nos processos n.ºs 1017/07, 1029/07 e 1238/07; de 12-09-2007, processo n.º 2583/07; de 10-10-2007 no processo n.º3315/07; de 24-10-2007, processo n.º 3238/07; de 13-02-2008,processo n.º 4729/07; de 12-03-2008, processo n.º 112/08; de 26-03-2008, processo n.º 4833/07; de 21-05-2008, processo n.º678/08; e de 02-07-2008, processo n.º 3861/07, todos da 3.ªsecção.Explicam Simas Santos e Leal Henriques, Código de ProcessoPenal Anotado, 2.ª edição, II volume, pág. 967, citado no referidoacórdão de 25 de Janeiro de 2001, que: “O considerar-se que nãopodem invocar-se os vícios do nº 2 do art. 410º como fundamentodo recurso directo para o STJ de decisão final do tribunal colectivo,não significa que este Supremo Tribunal não os possa conheceroficiosamente, como ocorre no processo civil, e é jurisprudênciafixada pelo STJ (…)”. Na fundamentação do acórdão de uniformização de jurisprudêncian.º 10/2005, de 20-10-2005, in DR Série I-A, de 07-12-2005,refere-se que a indagação dos vícios faz-se “no uso de um poder-dever, vinculadamente, de fundar uma decisão de direito numaescorreita matéria de facto”.Por outro lado, continua em vigor o Acórdão do Plenário dassecções criminais do STJ n.º 7/95, de 19-10-1995, in DR, Série I-A, nº 298, de 28-12-1995, que, no âmbito do sistema de revistaalargada, decidiu ser oficioso, pelo tribunal de recurso, oconhecimento dos vícios indicados no artigo 410.º, n.º 2, do CPP,

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mesmo que o recurso se encontre limitado à matéria de direito.Em suma, o STJ conhece oficiosamente desses vícios quando,num recurso restrito exclusivamente à matéria de direito, constateque, por força da inquinação da decisão recorrida por algum deles,não possa conhecer de direito sob o prisma das várias soluçõesjurídicas que se apresentem como plausíveis.A partir da reforma de 1998 operada pela Lei n.º 59/98, entradaem vigor em 1 de Janeiro de 1999, pretendendo o recorrenteimpugnar um acórdão final de tribunal colectivo, pode optar poruma de duas coisas: visando exclusivamente o reexame de matériade direito – artigo 432.º, alínea d), do CPP – dirige o recursodirectamente ao Supremo Tribunal de Justiça; se não visarexclusivamente este reexame, dirige-o então, de facto e de direito, àRelação (artigo 428º do CPP), caso em que da decisão desta, nãosendo caso de irrecorribilidade nos termos do artigo 400.º do CPP,poderá depois recorrer para o STJ.Neste caso, como ora ocorre, porém, o recurso – agora puramentede revista – terá de visar exclusivamente o reexame da decisãorecorrida (a da Relação) em matéria de direito, com exclusão doseventuais vícios, processuais ou de facto, do julgamento da 1.ªinstância, admitindo-se que o Supremo se possa abster de conhecerdo fundo da causa e ordenar o reenvio nos termos processualmenteestabelecidos em certos casos.A partir da reforma de 1998 passou assim a ser possível impugnar(para a Relação) a matéria de facto de duas formas: a já existenterevista (então cognominada de ampliada ou alargada) cominvocação dos vícios decisórios do artigo 410º, nº 2, com apossibilidade de sindicar as anomalias ou disfunções emergentes dotexto da decisão e uma outra, mais ampla e abrangente, porque nãoconfinada ao texto da decisão, com base nos elementos dedocumentação da prova produzida em julgamento, permitindo umefectivo grau de recurso em matéria de facto, mas impondo-se nasua adopção a observância de certas formalidades.No primeiro caso estamos perante a arguição dos vícios decisóriosprevistos nas alíneas a), b) e c) do nº 2, do artigo 410º do CPP,cuja indagação, como resulta do preceito, apenas se poderá fazeratravés da leitura do texto da decisão recorrida, circunscrevendo-sea apreciação da matéria de facto ao que consta desse texto, por sisó considerado ou em conjugação com as regras da experiênciacomum, sem possibilidade de apelo a outros elementos estranhosao texto, mesmo que constem do processo.A possibilidade de introdução do Tribunal ad quem no domínio dafacticidade sempre será parcial, mitigada, restrita, limitada eindirecta; a indagação não pode ir além do suporte textual, semrecurso a elementos estranhos àquela peça escrita.No segundo caso, a apreciação já não se restringe ao texto da

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decisão, mas à análise do que se contém e pode extrair da prova(documentada) produzida em audiência, mas sempre a partir debalizas fornecidas pelo recorrente no estrito cumprimento do ónusimposto pelos nºs 3 e 4 do artigo 412º do CPP, tendo em vista oreexame dos erros de procedimento ou de julgamento e visando amodificação da matéria de facto, nos termos do artigo 431º, alíneab), do CPP.Está pois nas mãos do recorrente a definição do tribunal ad quem,bem como do tipo e âmbito de cognição por parte daquele.É que, mesmo nos recursos interpostos directamente deixou de serpossível recorrer-se com fundamento na existência de qualquer dosvícios constantes das três alíneas do n.º 2 do artigo 410.º, o mesmose passando com os recursos interpostos da Relação, sendojurisprudência constante e pacífica deste Supremo Tribunal que norecurso para este Tribunal das decisões finais do tribunal colectivojá apreciadas pelo Tribunal da Relação, está vedada a arguição dosvícios do artigo 410.º, n.º 2, do CPP, posto que se trata de matériade facto, ou seja, de questão que se não contém nos poderes decognição do STJ, o que significa que está fora do âmbito legal dosrecursos a reedição dos vícios apontados à decisão de facto da 1.ªinstância, em tudo o que foi objecto de conhecimento/decisão pelaRelação – cfr. acórdãos de 11-12-2003, processo n.º 3399 - 3.ª, de22-04-2204, de 01-07-2004, CJSTJ 2004, tomo 2, págs. 165 e239, de 08-02-2007, processo n.º 159/07 - 5.ª, de 21-02-2007,processo n.º 260/07 - 3.ª, de 28-02-2007, processo n.º 4698/06 -3.ª, de 08-03-2007, processos n.ºs 447/07 e 649/07 - 5.ª, de 15-03-2007, processos n.ºs 663/07 e 800/07 - 5.ª, de 29-03-2007,processos n.ºs 339/07 e 1034/07 - 5.ª, de 19-04-2007, processo n.º802/07 - 5.ª, de 03-05-2007, processo n.º 1233/07 - 5.ª.Todavia, como se referiu, a incursão no plano fáctico é aindapossível, não já face a questão colocada pelo interessado, mas poriniciativa própria do Supremo Tribunal de Justiça.Só com o âmbito restrito consentido pelo artigo 410.º, n.º 2, doCPP, com o incontornável pressuposto de que o vício há-dederivar do texto da decisão recorrida, o STJ poderá avaliar dasubsistência dos vícios da matéria de facto, o que é aplicável arecurso interposto da Relação.Nos acórdãos de 08-02-2006, processo n.º 98/06 - 3.ª; de 15-02-2006, processo n.º 4412/05 - 3.ª; de 15-03-2006, processo n.º2787/05 - 3.ª; de 22-03-2006, processo n.º 475/06 - 3.ª; de 08-02-2007, processo n.º 159/07 - 5.ª; de 21-02-2007, processo n.º260/07 - 3.ª; de 15-03-2007, processos n.ºs 663/07 e 800/07,ambos da 5.ª secção; de 02-05-2007, processo n.º 1238/07 - 3.ª ede 21-06-2007, processo n.º 1581/07 - 5.ª; de 28-05-2008,processo n.º 1147/08 - 3ª; de 12-06-2008, processo n.º 4375/07-3ª,admite-se o conhecimento oficioso dos vícios por parte do

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Supremo, mesmo nos casos em que o recurso vem interposto deacórdão da Relação.Como se consignou nos acórdãos de 05-12-2007, processo n.º3406/07, de 30-04-2008, processo n.º 4723/07 e de 22-10-2008,processo n.º 215/08, por nós relatados, nestes casos de recurso deacórdão da Relação para o Supremo, em que o recurso épuramente de revista, cingindo-se a matéria de direito, é de admitir,exactamente pelas mesmas razões supra-expostas que sustentam acognição oficiosa – razões de necessidade de certificação desubstrato fáctico bastante, congruente, compatível, harmonioso eválido para suportar a decisão de direito – o exame oficioso daexistência ou não dos vícios decisórios ao nível do assentamento dafacticidade relevante.

Por outro lado, os vícios têm a ver com a fixação da matéria defacto e não com a qualificação jurídica, como parece entender orecorrente.Em verdade o que o recorrente classifica como insuficiência para adecisão da matéria de facto provada ou erro na apreciação daprova mais não é do que a expressão de uma divergência, que sereconduz afinal à discordância em relação à qualificação jurídicaque mereceram os factos provados, o que configura não umadiscordância em relação à fixação da matéria de facto provada, masa algo distinto, sendo dirigida ao enquadramento jurídico-criminal,a matéria de direito.

Insuficiência para a decisão da matéria de facto provada

O vício de insuficiência para a decisão da matéria de facto provadaprevisto no artigo 410.º, n.º 2, alínea a), do Código de ProcessoPenal, verifica-se quando a matéria de facto é insuficiente parafundamentar a solução de direito encontrada, porque o tribunal nãoesgotou os seus poderes de indagação em matéria de facto; ocorrequando da factualidade vertida na decisão se colhe faltaremelementos que, podendo e devendo ser indagados, são necessáriospara que se possa formular um juízo seguro de condenação ou deabsolvição.

A insuficiência prevista na alínea a) determina a formaçãoincorrecta de um juízo porque a conclusão ultrapassa as premissas.A matéria de facto é insuficiente para fundamentar a solução dedireito correcta, legal e justa. Insuficiência em termos quantitativos,porque o tribunal não esgotou os seus poderes de indagação emmatéria de facto.A propósito do vício em referência é dado adquirido que a matériade facto só é insuficiente para a decisão proferida quando se

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verifique uma lacuna no apuramento da matéria de facto necessáriapara a decisão de direito, quando os factos assentes não sãosubstracto necessário e suficiente para justificar a decisão de direitoassumida.

Tal vício só pode ter-se como evidente quando a factualidadeprovada não chega para justificar a decisão de direito, ou seja, paraa subsunção na norma incriminadora, considerando todos os seuselementos típicos – cfr. acórdão do STJ de 13-01-1998, processon.º 877/97 - 3.ª, BMJ n.º 473, pág. 307.

Ou, como se diz no acórdão do STJ, de 25-03-1998, processo n.º53/98 - 3.ª, BMJ n.º 475, pág. 502, está-se na presença de tal vícioquando os factos colhidos, após o julgamento, não consentem,quer na sua objectividade quer na sua subjectividade, dar o ilícitocomo provado. Ou ainda, na formulação do acórdão de 20-10-1999, processo n.º1452/99-3ª, o vício só pode considerar-se verificado “quando osfactos apurados são insuficientes para se decidir sobre opreenchimento dos elementos objectivos e subjectivos dos tiposlegais de crimes verificáveis e dos demais requisitos necessários àdecisão de direito e é de concluir que o tribunal a quo podia teralargado a sua investigação a outro circunstancialismo fácticosuporte bastante dessa decisão”.Noutra formulação, o vício consiste numa carência de factos quepermitam suportar uma decisão dentro do quadro das soluções dedireito plausíveis e que impede que sobre a matéria de facto sejaproferida uma decisão de direito segura; a “insuficiência” relevantenão pode ser considerada apenas em relação a uma concretadecisão que esteja em causa, devendo atender-se, para aferir acarência factual para uma decisão segura, ao quadro das váriassoluções plausíveis da questão de direito - acórdãos do STJ, de 24-04-2006, processo nº 363/06; de 24-05-2006, processo nº 816/06;de 20-12-2006, processo n.º 3379/06 - 3.ª, sendo os dois primeiroscitados no acórdão de 23-04-2008, processo n.º 1127/08, todos da3.ª secção – cfr. ainda, i.a., os acórdãos do STJ, de 22-10-97,processo n.º 612/97; de 12-03-1998, BMJ n.º 475, pág. 492; de09-12-1998, processo n.º 1165/98; de 13-01-1999, in BMJ n.º483, pág. 49; de 02-06-1999, processo n.º 288/99; de 15-05-2002,processo n.º 857/02 - 3.ª (insuficiência para formulação de juízo sobre a correcção

da pena aplicada); de 01-07-2004, processo n.º 2691/04 - 5.ª (insuficiência

no segmento em que se decidira do condicionamento da suspensão da pena).Na formulação constante do acórdão do STJ de 15-02-2007(processo n.º 3174/06 - 5.ª), o vício a que alude a alínea a) do n.º 2do artigo 410.º do CPP, só ocorrerá quando da factualidade vertidana decisão se colher faltarem elementos que, podendo e devendoser indagados ou descritos, impossibilitem, por sua ausência, um

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juízo seguro (de direito) de condenação ou de absolvição. Trata-seda formulação incorrecta de um juízo: a conclusão extravasa aspremissas; a matéria de facto provada é insuficiente parafundamentar a solução de direito encontrada.Do acórdão do STJ de 05-09-2007, processo n.º 2078/07 - 3.ª,extrai-se o seguinte: «O vício da insuficiência para a decisão damatéria de facto provada resulta da circunstância de o tribunal nãoter esgotado os seus poderes de indagação relativamente aoapuramento da matéria de facto essencial, ou seja, quando otribunal, podendo e devendo investigar certos factos, omite esseseu dever, conduzindo a que, no limite, se não possa formular umjuízo seguro de condenação ou de absolvição. Trata-se, pois, devício que resulta do incumprimento por parte do tribunal do deverque sobre si impende de produção de todos os meios de prova cujoconhecimento se lhe afigure necessário à descoberta da verdade e àboa decisão da causa – art. 340.º, n.º 1, do CPP. E como se referia no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de25-05-1994, processo n.º 45829, in CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 224e BMJ n.º 437, pág. 228, não integra o vício de insuficiência para adecisão da matéria de facto provada, nem qualquer outro dosoutros previstos no artigo 410.º, n.º 2, do Código de ProcessoPenal, o facto de o recorrente pretender «contrapor às conclusõesfácticas do tribunal a sua própria versão dos acontecimentos, o quedesejaria ter visto provado e não o foi».

No caso presente, no fundo, o recorrente bate-se pela alteração daqualificação jurídica, esgrimindo com a insuficiência para a decisãoda matéria de facto provada, entendendo que esta é insuficientepara caracterizar o conceito de associação criminosa, pugnando poroutra, pela configuração de uma comparticipação No nosso caso, não ocorre qualquer insuficiência ao nível fáctico.O que há a fazer é ver se a facticidade apurada basta, se ésuficiente para comportar e ancorar a subsunção realizada.A questão será, pois, de direito, de integração jurídico - criminal doacervo fáctico assente. A existir insuficiência esta traduz-se em erro na qualificaçãojurídica dos factos provados, tratando-se já não de vício da decisãoao nível da facticidade, mas de erro de direito ou de julgamento,que dá lugar à revogação ou alteração da decisão recorrida, não aoreenvio do processo para outro julgamento.Não se verifica, pois, o invocado vício.

Erro notório na apreciação da prova

O recorrente nas conclusões 7.ª e 31.ª reedita a alegação destevício, que o acórdão recorrido abordou de forma completa efundamentada, de fls. 176 a 185 (fls. 3078 a 3087 dos autos),

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concluindo pela sua não verificação.Como se extrai do acórdão de 26-02-2004, processo n.º 267/04 -5.ª Secção, está fora do âmbito legal do recurso para o Supremo areedição dos vícios apontados à decisão de facto da 1.ª instância,em tudo o que foi objecto de conhecimento pela Relação semprejuízo de o tribunal de revista, por sua iniciativa, conhecerdaqueles vícios porventura patenteados no acórdão da Relação.

Erro notório na apreciação da prova é aquele que é de tal modoevidente que não passa despercebido ao comum dos observadores;não se pode confundir este erro com a opinião que o recorrenteformulou sobre a prova produzida, divergente da que veio a vingar.O apontado vício é aquele que é evidente, que não escapa aohomem comum, de que um observador médio se apercebe comfacilidade, que é patente, só podendo relevar, como foi dito noacórdão do STJ de 01-10-1997, processo n.º 243/97-3.ª, se forostensivo, inquestionável e perceptível pelo comum dosobservadores ou pelas faculdades de apreciação do “homemmédio”.Como se extrai do acórdão do STJ, de 01-10-1997, processo n.º627/97-3.ª, o vício existe quando se dão por provados factos que,face às regras de experiência comum e à lógica corrente, dohomem médio, não se teriam podido verificar ou são contraditadospor documentos que fazem prova plena e que não tenham sidoarguidos de falsos. Trata-se de um vício do raciocínio naapreciação das provas, evidenciado pela simples leitura do texto dadecisão; erro tão evidente que salta aos olhos do leitor médio, semnecessidade de particular exercício mental; as provas revelamclaramente um sentido e a decisão recorrida extraiu ilaçãocontrária, logicamente impossível, incluindo na matéria fácticaprovada ou excluindo dela algum facto essencial.O erro notório na apreciação da prova não pode resultar da meradivergência de qualquer dos sujeitos processuais relativamente aodecidido – acórdão de 18-12-97, processo n.º 701/97-3.ª,Sumários, pág. 220.

Na análise a efectuar para detecção do vício há que ter em contaque a fixação da matéria de facto teve na sua base uma apreciaçãoda prova segundo as regras da experiência e a livre convicção dojulgador, nos termos do artigo 127.º do CPP.Os vícios do artigo 410.º, n.º 2, do CPP, nomeadamente o erronotório na apreciação da prova, não podem, por outro lado, serconfundidos com a insuficiência de prova para a decisão de factoproferida ou com a divergência entre a convicção pessoal dorecorrente sobre a prova produzida em audiência e a convicção queo tribunal firme sobre os factos, questões do âmbito da livreapreciação da prova, princípio inscrito no citado normativo - artigo

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127.º do CPP.Não se estando face a prova vinculada ou tarifada não se podesindicar a boa ou má valoração daquela, que escapa à censura doSupremo Tribunal de Justiça (acórdãos de 04-12-97, processo n.º1018/97-3.ª e de 18-12-97, processo n.º 47325-3.ª, Sumários,págs. 199 e 216) e querer discutir, nessas condições, a valoraçãoda prova produzida é afinal querer impugnar a convicção dotribunal, olvidando a citada regra. Neste aspecto, o que releva, necessariamente, é essa convicçãoformada pelo tribunal, sendo irrelevante, no âmbito da ponderaçãoexigida pela função de controlo ínsita na identificação dos vícios doartigo 410.º, n.º 2, do CPP, a convicção pessoalmente alcançadapelo recorrente sobre os factos.O erro-vício não se confunde com errada apreciação e valoraçãodas provas. Tendo como denominador comum a sindicância damatéria de facto, são muito diferentes na sua estrutura, alcance econsequências. Aquele examina-se, indaga-se, através da análise dotexto; esta, porque se reconduz a erro de julgamento da matéria defacto, analisa-se em momento anterior à produção do texto, naponderação conjugada e exame crítico das provas produzidas doque resulta a formulação de um juízo, que conduz à fixação deuma determinada verdade histórica que é vertida no texto; daí quea exigência de notoriedade do vício se não estenda ao processocognoscitivo/valorativo, cujo resultado vem a ser inscrito no texto.A invocação do erro notório na apreciação da prova só é possível eviável quando reportado ao texto da decisão e não se direccionadoao modo de valoração das provas, pretendendo-se uma discussãoque por força daquele inultrapassável limite não pode obviamenteter lugar. Como se referia no acórdão de 06-11-97 processo n.º 471/97-3.ª,Sumários Assessoria, 1997, pág. 157, não há erro na apreciação daprova quando o que o recorrente invoca não é mais do que umadiscordância sua quanto ao enquadramento da matéria provada.O que é o caso.Pelo que improcede a arguição de vício igualmente nesta parte.

Questão III - Nulidade do acórdão recorrido por omissão depronúncia

Nas conclusões 16.ª, 17.ª, 20.ª e 29.ª o recorrente vem arguir anulidade do acórdão recorrido por omissão de pronúncia.Conforme estabelece o artigo 379.º, n.º 1, alínea c), primeira parte,do Código de Processo Penal, é nula a sentença quando o tribunaldeixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar, sendotal disposição correspondentemente aplicável aos acórdãos

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proferidos em recurso, por força do n.º 4 do artigo 425.º domesmo diploma. De acordo com as conclusões apresentadas pelo recorrente,enformadoras do objecto do recurso para a Relação, aargumentação era reconduzível ao quadro exposto a fls. 3038 (136do acórdão), cabendo então analisar as seguintes questões: - Violação dos princípios do direito à defesa e do processo justo oudevido (due process);- Violação do princípio da vinculação temática;- Matéria de facto incorrectamente julgada e dada como provada,por vício da insuficiência de prova e por vício de erro notório naapreciação da prova;- Errada subsunção jurídica relativamente aos crimes de associaçãocriminosa e de tráfico de estupefacientes.Como se referiu já, no anterior recurso não suscitou o recorrente ovício da insuficiência para a decisão da matéria de facto provadanem a violação do princípio in dubio, sendo questões novas.Sobre todos e cada um dos aspectos focados recaiu a atenção doacórdão recorrido, analisando, de forma minuciosa, os argumentosapresentados, incluindo no primeiro ponto a alegada nulidade porviolação do artigo 358.º do Código de Processo Penal, a propósitoda alteração não substancial de factos feita no final do julgamento,bem como o erro na apreciação da prova conexionado com aquestão do valor probatório das escutas, o que fez ao longo de fls.136 a 185 do acórdão (fls. 3038 a 3087 dos autos).Por outro lado, não configura omissão de pronúncia a circunstânciade a Relação acolher a fundamentação e argumentação jáexplanada pelo acórdão do colectivo de Amarante, no que respeitaà subsunção jurídica, nomeadamente, quando se considera que oacórdão em reapreciação já abordou o tema de forma suficiente esatisfatória.Não passa a haver omissão só porque o recorrente discorda daposição tomada, assumida, expressa, no sentido da confirmação dasubsunção realizada.Conclui-se não se verificar qualquer omissão de pronúncia.

IV Questão – Requalificação jurídico criminal; não integraçãodo crime de associação criminosa, tratando-se, na perspectivado recorrente, de caso de mera comparticipação criminosa

O recorrente nas conclusões 6.ª, 8.ª, 9.ª, 11.ª a 15.ª, 21.ª a 24.ª e30.ª, repete a colocação da questão da errada subsunção jurídica,defendendo que a matéria de facto dada como provada não integraa figura da associação criminosa por não estarem reunidos oselementos do tipo objectivo e subjectivo e não havendo associaçãoconstituída afastada deve ser a fundação e chefia.

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No caso de associação criminosa estamos perante uma autoriaplural ou colectiva, por contraposição a autoria singular, e diversada actuação num quadro de co-autoria ou comparticipaçãocriminosa, e mesmo da figura de bando.Perante um caso de participação plúrima, três situações dogmáticasse podem e devem conceber: comparticipação propriamente dita,associação criminosa e membro de bando.

Há que indagar se no caso em reapreciação os factos dados porprovados integram ou não a figura da associação de traficantes dedroga, o tipo especial de crime de associação criminosa, previsto epunido no artigo 28.º do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro.Anota-se que de forma indevida o acórdão do Colectivo deAmarante, neste aspecto com o beneplácito do acórdão recorrido,enuncia no dispositivo referência em cumulação aos artigos 28.º doDL n.º 15/93 e 299.º do Código Penal, o que se mostra incorrecto,pois no caso deveria ater-se à menção ao artigo 28.º, por configurarum crime especial.

Começar-se-á pelo tratamento normativo, pela evolução legislativada figura criminal de associação criminosa.

No domínio do Código Penal de 1886, previa o artigo 263.º ocrime de “associação de malfeitores”, estabelecendo então: «Aqueles que fizerem parte de qualquer associação formada paracometer crimes, e cuja organização ou existência se manifeste porconvenção ou por quaisquer outros factos, serão condenados àpena de prisão maior de dois a oito anos, salvo se forem autores daassociação ou nela exercerem direcção ou comando, aos quais seráaplicada a pena de dois a oito anos de prisão maior.§ único – Serão punidos como cúmplices os que a estasassociações ou quaisquer divisões delas fornecerem ciente evoluntariamente armas, munições, instrumentos do crime, guaridaou lugar para reunião».

A Lei n.º 24/81, de 20 de Agosto, alterou a redacção do artigo263.º do Código Penal de 1886, e aditou o artigo 263.º-A, que sãoa fonte legislativa imediata dos artigos 288.º e 289.º do CódigoPenal na versão originária de 1982, prevendo o artigo 7.º a hipótesede atenuação da pena ou mesmo isenção de pena – cfr. o actual n.º3 do artigo 4.º da Lei n.º 52/2003, de 22-08. O corpo do citado artigo 263.º passou então a estabelecer: «Quem fundar ou dirigir grupo, organização ou associação que seproponha ou cuja actividade seja dirigida à prática de crimes serácondenado na pena de prisão maior de dois anos a oito anos». O § 2.º do artigo 263.º e o artigo 263.º-A previam as associações

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terroristas.

No Código Penal de 1982, de que, como se referiu, a Lei n.º24/81 foi fonte legislativa imediata, passaram a estar previstas asassociações criminosas no artigo 287.º.Estabelecia o artigo 287.º: 1 – Quem fundar grupo, organização ou associação cuja actividadeseja dirigida à prática de crimes será punido com prisão de 6 mesesa 6 anos.2 – Na mesma pena incorre quem fizer parte de tais grupos,organizações ou associações ou quem os apoiar, nomeadamentefornecendo armas, munições, instrumentos de crime, guarda oulocais para as reuniões, ou qualquer auxílio para que se recrutemnovos elementos.3 – Na pena de prisão de 2 a 8 anos incorre quem chefiar ou dirigiros grupos, organizações ou associações referidos nos númerosanteriores. 4 – As penas referidas podem ser livremente atenuadas, ou deixarmesmo de ser aplicadas, se o agente impedir a continuação dosgrupos, organizações ou associações ou comunicar à autoridade asua existência a tempo de esta poder evitar a prática de crimes.

O artigo 288.º estabelecia sobre organizações terroristas e o artigo289.º sobre terrorismo.

Com a terceira alteração do Código Penal, operada pelo Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março - Código Penal de 1995 – entradoem vigor em 01-10-1995, o crime de associação criminosa passoua estar previsto no artigo 299.º.Foram então alterados os números 1 e 4, mantendo-se a redacçãodos n.º s 2 e 3, neste apenas com a transposição da colocação dapenalidade, a passar do início para o fim do preceito.No n.º 1, para além da alteração de penalidade, que era de prisãode 6 meses a 6 anos e passou para prisão de 1 a 5 anos, foi aditadoo vocábulo “promover” a anteceder “fundar”, e o vocábulo“finalidade” a anteceder “ou actividade” (do grupo, organização ouassociação).No n.º 4, foi substituído, quanto à possibilidade de atenuação dapena, ou isenção da mesma (aqui a expressão “ou deixar mesmo de ser

aplicadas” foi substituída por “ou não ter lugar a punição”), o advérbio“livremente” por “especialmente”, e abrangendo agora não só oscasos em que o agente impedir a continuação dos grupos,organizações ou associações, mas também os casos em que “seesforçar seriamente” por impedir essa continuação.

Passou a estabelecer o artigo 299.º do Código Penal de 1995: 1 – Quem promover ou fundar grupo, organização ou associação

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cuja finalidade ou actividade seja dirigida à prática de crimes épunido com pena de prisão de 1 a 5 anos.2 – Na mesma pena incorre quem fizer parte de tais grupos,organizações ou associações ou quem os apoiar, nomeadamentefornecendo armas, munições, instrumentos de crime, guarda oulocais para reuniões, ou qualquer auxílio para que se recrutemnovos elementos.3 – Quem chefiar ou dirigir os grupos, organizações ou associaçõesreferidos nos números anteriores é punido com pena de prisão de 2a 8 anos.4 – As penas referidas podem ser especialmente atenuadas ou nãoter lugar a punição se o agente impedir ou se esforçar seriamentepor impedir a continuação dos grupos, organizações ouassociações, ou comunicar à autoridade a sua existência de modo aesta poder evitar a prática de crimes.

Com a Lei n.º 52/2003, de 22 de Agosto (Lei de combate aoterrorismo), rectificada pela Declaração de Rectificação n.º16/2003, in DR, I Série - A, n.º 251, de 29 de Outubro, queoperou a 14.ª alteração do Código Penal, foram revogados (artigo11.º) os artigos 300.º, versando o crime de organização“Organizações terroristas” e 301.º, que previa o crime - singular -de “Terrorismo”, que passaram a estar previstos em tal diploma.

A Lei n.º 59/2007, de 4 de Setembro, em vigor aquando da práticados factos, deu nova redacção ao artigo 299.º do Código Penal,alterando o n.º 1, introduzindo entre as palavras “de crimes” aexpressão «um ou mais», e aditando o novo n.º 5.

Estabelece actualmente o artigo 299.º do Código Penal, naredacção da Lei n.º 59/2007, de 04-09: 1 – Quem promover ou fundar grupo, organização ou associaçãocuja finalidade ou actividade seja dirigida à prática de um ou maiscrimes é punido com pena de prisão de um a cinco anos. 2 – Na mesma pena incorre quem fizer parte de tais grupos,organizações ou associações ou quem os apoiar, nomeadamentefornecendo armas, munições, instrumentos de crime, guarda oulocais para reuniões, ou qualquer auxílio para que se recrutemnovos elementos.3 – Quem chefiar ou dirigir os grupos, organizações ou associaçõesreferidos nos números anteriores é punido com pena de prisão dedois a oito anos.4 – As penas referidas podem ser especialmente atenuadas ou nãoter lugar a punição se o agente impedir ou se esforçar seriamentepor impedir a continuação dos grupos, organizações ouassociações, ou comunicar à autoridade a sua existência de modo aesta poder evitar a prática de crimes.

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5 – Para os efeitos do presente artigo, considera-se que existegrupo, organização ou associação quando esteja em causa umconjunto de, pelo menos, três pessoas, actuando concertadamentedurante um certo período de tempo.

No domínio específico do tráfico de estupefacientes a figuracriminosa em causa era desconhecida no primeiro diplomasistematizado sobre droga – o Decreto-Lei n.º 420/70, de 3 deSetembro. Portugal, após ter ratificado em 30-12-1971 a Convenção Única de1961 sobre os Estupefacientes e em 24-04-1979 a Convençãosobre as Substâncias Psicotrópicas de 1971, procedeu àharmonização do seu direito interno ao quadro normativodecorrente de tais convenções internacionais através do Decreto-Lei n.º 430/83, de 13-12, emergente da Lei de autorizaçãolegislativa n.º 12/83, de 24 de Agosto.Se buscarmos no preâmbulo do diploma as razões da inserçãodesta previsão especial elas não são claras, referindo-se anecessidade de se preverem medidas de combate semelhantes àsutilizadas contra as organizações terroristas.A verdade é que, não obstante o crime de associação criminosaestar previsto no artigo 287.º do Código Penal de 1982, o legisladorde 1983 sentiu necessidade de criar o crime - especial - no novodiploma sobre droga.A tal solução de regulação especial não terá sido alheia acircunstância de então se levantarem dúvidas sobre a extensãodaquele artigo 287.º à prática de outros crimes, designadamente,aos fiscais e aduaneiros (do que se dará nota noutro local), assim seevitando tais dúvidas quanto ao narcotráfico. E assim surgiu o crime previsto no artigo 28.º do Decreto-Lei n.º430/83, de 13 de Dezembro, sob a epígrafe «Associações dedelinquentes» [terminologia presente no Código Penal de 1982, nos artigos 83.º, 84.º

e 85.º (delinquentes por tendência), e alcoólicos e equiparados nos artigos 86.º e 88.,º aquise referindo os delinquentes que abusem de estupefacientes (à data definidos no DL n.º420/70, de 03-09) e no regime dos jovens delinquentes, constante do Decreto-Lei n.º 401/82,de 23-09, que entrou em vigor com o Código Penal e com ele articulado, tratando-se denomenclatura herdada do Código Penal de 1886, então presente nos artigos 47.º(delinquentes anormais), 67.º (delinquentes de difícil correcção, abrangendo osdelinquentes habituais e os delinquentes por tendência), 68.º (delinquentes anormais

perigosos) e 69.º (delinquentes menores de 21 anos e maiores de 16)].

Estabelecia então o artigo 28.º do Decreto-Lei n.º 430/83:1 - Quem promover, fundar ou financiar grupo, organização ouassociação de duas ou mais pessoas que, actuandoconcertadamente, vise praticar algum dos crimes previstos no artigo23.º será punido com pena de 10 a 16 anos de prisão e multa de 50000$00 a 20 000 000$.2 - Quem prestar colaboração, directa ou indirectamente, aderir ou

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apoiar os grupos, organizações ou associações referidas no númeroanterior será punido com pena de 8 a 14 anos de prisão e multa de50 000$ a 10 000 000$.3 - Incorre na pena de 12 a 18 anos de prisão quem chefiar ouocupar lugares de direcção de grupo, organização ou associaçãoreferidos no n.º 1.

O Decreto-Lei n.º 430/83, de 13 de Dezembro, veio a ser revogadopelo Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro, cuja razãodeterminante de emissão foi a aprovação por Portugal daConvenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito deEstupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas de 1988, ratificadapela Resolução da Assembleia da República n.º 29/91 e Decreto doPresidente da República n.º 45/91, in Diário da República, de 06-09-1991.Actualmente, sobre associações criminosas rege o artigo 28.ºdaquele Decreto-Lei n.º 15/93, com a redacção introduzida com aLei n.º 45/96, de 03 de Setembro, que alterou os n.º s 1 e 3 (o

Decreto-Lei n.º 15/93 foi republicado pela Lei n.º 18/2009, de 11 de Maio, que procedeu à

16.ª alteração de tal diploma legal).

Estabelece o citado artigo 28.º do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22de Janeiro, sob a epígrafe “Associações criminosas”:1 - Quem promover, fundar ou financiar grupo, organização ouassociação de duas ou mais pessoas que, actuandoconcertadamente, vise praticar algum dos crimes previstos nosartigos 21.º e 22.º é punido com pena de prisão de 10 a 25 anos.(redacção da Lei n.º 45/96, de 03-09).2 - Quem prestar colaboração, directa ou indirecta, aderir ou apoiaro grupo, organização ou associação referidos no número anterior épunido com pena de prisão de 5 a 15 anos. 3 - Incorre na pena de 12 a 25 anos de prisão quem chefiar oudirigir grupo, organização ou associação referidos no n.º 1.(redacção da citada Lei n.º 45/96)4 - Se o grupo, organização ou associação tiver como finalidade ouactividade a conversão, transferência, dissimulação ou receptaçãode bens ou produtos dos crimes previstos nos artigos 21.º e 22.º, oagente é punido:a) Nos casos dos n.ºs 1 e 3, com pena de prisão de 2 a 10 anos;b) No caso do n.º 2, com pena de prisão de um a oito anos.

Da nova redacção do normativo em causa resulta o afastamento dapena compósita e em geral, um agravamento de punição, no n.º 1,de pena de prisão de 10 a 16 anos para 10 a 25 anos; no n.º 2,apenas no máximo, passando de 8 a 14 anos para 5 a 15 anos, e non.º 3, a penalidade de 12 a 18 anos de prisão passa para a de 12 a25 anos.

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Da Doutrina

Vejamos os contributos doutrinários coligidos na elaboração,configuração e caracterização do tipo criminal em causa.

O Professor Beleza dos Santos, no horizonte temporal entãoexistente, versou este tipo de infracção em “O crime de associaçãode malfeitores – Interpretação do artigo 263.º do Código Penal(de 1886)”, trabalho publicado in Revista de Legislação eJurisprudência, Ano 70.º, nos n.º s 2593, 2594 e 2595,respectivamente, a págs. 97 a 99, 113 a 115 e 129/130.Considerava então o Autor, a págs. 97/8:«São elementos típicos desta infracção: a) A existência de umaassociação e b) a sua finalidade criminosa».Examinando, separadamente, cada um deles, ponderou: «a) É essencial que haja uma associação, isto é, que diversaspessoas se unam voluntariamente para cooperar na realização deum fim ou fins comuns e que essa união possua ou queira possuiruma certa permanência ou estabilidade.A agregação casual ou momentânea de uma pluralidade depessoas, embora para a realização de um fim, é uma reunião e nãouma associação».Acrescentava de seguida: «Para existir o crime é preciso (…) que a associação deva viver, ouao menos propor-se viver, como reunião estável de diversaspessoas ligadas entre si pelo propósito de delinquir e tendo em vistaa actuação de um programa criminoso.O que caracteriza este primeiro elemento do crime é, por isso, aunião de diversas pessoas, para cooperarem, com uma certapermanência de esforços, num fim comum».De seguida, perguntava-se se seria «…necessário também que hajauma certa organização, quer dizer, uma direcção, uma disciplina,uma hierarquia, uma sede ou lugar de reunião, uns estatutos ouuma convenção para regular os direitos ou deveres comuns eespecialmente a partida de lucros», para depois responder que arazão de ser e o teor da norma levam «…nitidamente a umaconclusão oposta».E a págs. 129 e 130, esclarecia: «Um outro elemento essencial (…)é que a associação tenha em vista a prática de crimes. Se a união de diferentes pessoas apenas se fez para a realização deum ou mais crimes determinados, não tendo, porém, carácterpermanente, poderá existir comparticipação criminosa, mas nãohaverá uma associação para delinquir.A primeira implica a cooperação de diferentes pessoas em um oumais crimes.

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A segunda a associação estável de diversas pessoas com opropósito genérico de praticar uma pluralidade de crimes.Pode haver, portanto, comparticipação, sem associaçãocriminosa; por exemplo, se o crime que se teve em vista foi só um.Pode haver a segunda sem a primeira, se, tendo-se formado aassociação para delinquir, todavia não executou crime algum. Epodem coexistir, se a associação se formou com o fim genérico decometer crimes e se de facto se cometeram ou tentaram cometercrimes com a cooperação de vários associados. (…).A razão de ser da punibilidade da associação para delinquir -afirmava - está na ofensa da tranquilidade pública e no graveperigo da prática de crimes que oferece um agrupamento formadopara a realização de efeitos ilícitos penais, com uma cooperaçãoque se apresenta com uma certa estabilidade ou permanência”.

Figueiredo Dias e Costa Andrade, em parecer elaborado emFevereiro de 1985, destinado a ser junto a um processo pendentena Comarca de Setúbal, em que estava em causa crime deassociação criminosa em caso de contrabando de tabaco, publicadona Colectânea de Jurisprudência, 1985, tomo 4, págs. 7 a 19,referem que quando se trata de fixar o conteúdo e a extensão doconceito de associação criminosa há uma singular convergênciaentre os autores, no sentido de que «só pode falar-se de associaçãocriminosa quando o encontro de vontades dos participantes dêorigem a uma realidade autónoma, diferente e superior àsvontades e interesses dos singulares membros. Quando, noutrostermos, no plano das realidades psicológicas e sociológicas – nãonecessariamente no plano das realidades jurídicas -, emerja umcentro autónomo de imputação fáctica das acções prosseguidasem nome e no interesse da associação». Nesse parecer concluiu-se que no crime de associação criminosaestão tão só abrangidas as associações de malfeitores para a práticade crimes comuns e não infracções de direito penal secundário. Em causa no parecer estava a questão de saber se o crime deassociação criminosa estaria em concurso real com o crime decontrabando, defendendo-se então a negativa.Em sentido oposto, ou seja, de reconhecer existência de crime deassociação criminosa e contrabando, pronunciou-se o acórdão doSupremo Tribunal de Justiça de 09-10-1985, processo n.º 37896,publicado na mesma Colectânea de Jurisprudência, a págs. 7, e noBMJ n.º 350, pág. 169, aí se referindo: “Quem fizer parte deassociação destinada à prática de crime de contrabando pratica ocrime previsto e punível pelo artigo 287.º do Código Penal”; emsentido concordante, os acórdãos de 16-04-1986, processo n.º38353, in BMJ n.º 356, pág. 132, e o de 23-04-1986, processo n.º38072, in BMJ n.º 356, pág. 136.

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Foi muito debatida a questão de saber se os crimes integrantes doescopo da associação criminosa são só os pertinentes ao direitopenal chamado clássico, primário ou de justiça, ou se a associaçãopodia abranger os delitos do chamado direito penal secundário,económico-social ou administrativo.Figueiredo Dias, em As «Associações Criminosas» no CódigoPenal Português de 1982, págs. 43 a 47, continua a defender amesma posição, embora distinguindo e afirmando ser diferente aconclusão relativamente ao direito penal só formalmentesecundário, isto é, a um direito penal que se encontra regulado forado Código Penal e corresponde a desenvolvimentos e a perigostípicos da sociedade moderna, mas que, pelo teor do ilícito queconstitui e pelos bens jurídicos postos em causa, se revelaverdadeiro direito penal de justiça, como são os casos dos crimesde tráfico ilícito de drogas ou de armas, que justificam o recurso àtutela avançada que é oferecida pelo tipo de ilícito das associaçõescriminosas. E em 1999, no Comentário Conimbricense …, pág. 1164, continuaa defender uma interpretação restritiva, mas reconhecendo quemuito do que foi e ainda é direito penal extravagante,nomeadamente direito penal económico, ganhou já umaressonância ética de tal modo profunda e estabilizada que se não vêhoje razão para que não deva integrar o escopo criminoso daassociação.No sentido afirmativo, pronuncia-se Paulo Pinto de Albuquerque,in Comentário do Código Penal, Universidade Católica Editora,2008, afirmando que o fim criminoso da associação tem de visar aprática de crimes do direito penal primário ou secundário - nota 6,pág. 751.O crime de associação criminosa passou a estender-se aos delitosfiscais aduaneiros, de forma expressa, com o artigo 34.º, n.ºs 1 e 3,do Decreto-Lei n.º 376-A/89, de 25-10, na redacção do Decreto-Lei n.º 255/90, de 07-08, estabelecendo a punição das associaçõescriminosas dirigidas à prática de infracções fiscais aduaneiras, ecom a unificação operada pelo Regime Geral das InfracçõesTributárias (RGIT), aprovado pela Lei n.º 15/2001, de 5 de Junho,passou a abranger os crimes tributários - artigo 89.º. (Anteriormente, pronunciaram-se pela negativa, no sentido de não integração dos crimes

fiscais, não aduaneiros, no escopo da associação criminosa, os acórdãos de 08-01-2003,processo n.º 4221/02-3.ª e de 16-12-2003, processo n.º 4397/03-5.ª.No sentido de que tais crimes estavam abrangidos no escopo da associação criminosa,pronunciou-se o acórdão de 05-02-2003, processo n.º 3586/02-3.ª).

Figueiredo Dias retoma o tema do crime em causa in As«Associações Criminosas» no Código Penal Português de1982, Coimbra Editora, 1988, separata da Revista de Legislação eJurisprudência, Ano 119.º, n.ºs 3751 a 3760, segundo o Autor, em

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publicação desejada como “descomprometida” relativamente aqualquer processo que esteja ou tenha estado submetido àapreciação de um tribunal. A propósito da identificação do bem jurídico e extensão da área detutela, diz a págs. 26-27: “Específico bem jurídico protegido pelotipo de associações criminosas é a tutela da paz pública, no sentidodo asseguramento do mínimo de condições sócio - existenciais semo qual se torna problemática a possibilidade, socialmente funcional,de um ser-com-outros actuante e sem entraves”, tratando-se deuma intervenção num estádio prévio, através de uma dispensaantecipada de tutela, quando a segurança pública ainda não foi(necessariamente) perturbada , mas se criou já um perigo deperturbação que só por si viola a paz pública. O tipo de ilícito das associações criminosas assume-se como umverdadeiro crime de perigo abstracto, assente num substractoirrenunciável: a altíssima perigosidade desta espécie deassociações, derivada do forte poder de ameaça da organização edos mútuos estímulos e contra-estímulos de natureza criminosa queaquela cria nos seus membros. (Estes aspectos são retomados no

Comentário…, §§ 4 e 5, a págs. 1157, precisando-se o bem jurídico protegido de pazpública no sentido das expectativas sociais de uma vida comunitária livre da especialperigosidade de organizações que tenham por escopo o cometimento de crimes).

A propósito dos requisitos imprescindíveis para que se possa falarde uma associação ou dos sinónimos grupo e organização, a pág.32, refere verificar-se uma convergência doutrinal e jurisprudencial,nemine discrepante, reconhecendo-se que só haverá associação ali,onde o encontro de vontade dos participantes - um qualquer pactomais ou menos explícito entre eles – tiver dado origem a umarealidade autónoma, diferente e superior às vontades e interessesdos singulares membros. O Autor, a págs. 35 a 38, expõe as notas que, por força, terão deestar presentes na entidade capaz de integrar o tipo objectivo doartigo 287.º, enunciando como tais: 1- Uma pluralidade de pessoas (defendendo serem suficientesduas pessoas);2- Uma certa duração, que não tem de ser, a priori, determinada,mas que tem forçosamente de existir para permitir a realização dofim criminoso pela associação. Só com esta componente seatingindo o limiar mínimo de revelação de um ente autónomo, quesupere um mero acordo ocasional de vontades;3- Um mínimo de estrutura organizatória que sirva de substractomaterial à existência de algo que supere os simples agentes,devendo requerer-se uma certa estabilidade ou permanência daspessoas que compõem a organização, que não tem de sertipicamente cunhada, mas antes se pode concretizar pelas formasmais diversas;4- Indispensável a existência de um qualquer processo de

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formação da vontade colectiva;5- Um sentimento comum de ligação, por parte dos membros daassociação a algo que, transcendendo-os, se apresenta como umaunidade diferente de qualquer uma das individualidadescomponentes e a que eles referem a sua actividade criminosa.

(No que respeita ao primeiro elemento, o Autor, no ComentárioConimbricense, § 14, pág. 1161, tende a considerar dever valer aexigência mais normal e razoável de um mínimo de 3 pessoas.Há que ter em conta que com a redacção dada pela Lei n.º59/2007, o artigo 299.º do Código Penal passou a exigir, no novon.º 5, um “conjunto de, pelo menos, três pessoas”).

Refere o Autor exigir ainda o tipo objectivo contido no artigo 287.º,que a actividade da associação seja dirigida à prática de crimes,nisto consistindo o seu escopo. O escopo da associação é a prática de crimes, com exclusão decontra-ordenações e dos crimes do direito penal secundário, comexcepção dos que integram o direito penal que só formalmente ésecundário - cfr. págs. 38 a 47. (Este aspecto é retomado noComentário, nos §§ 19 a 23, nas págs. 1162 a 1165).

Figueiredo Dias, acompanhando de muito perto o trabalho de1988, exposto em “Associações Criminosas”, retoma o tema em1999, no Comentário Conimbricense do Código Penal, ParteEspecial, Tomo II, págs. 1155 a 1174. No § 7, a pág. 1158, explicita o Autor que da área de tutela destetipo de ilícito é de excluir qualquer factualidade que não releve daespecial perigosidade da associação, da sua autónoma danosidadesocial e da sua específica dignidade penal.A propósito da distinção entre «associação e mera comparticipaçãocriminosa» ensina no § 8, pág. 1158: «O problema mais complexode interpretação e aplicação que aqui se suscita é, na verdade, o dedistinguir cuidadosamente – sobretudo quando se tenha verificado aprática efectiva de crimes pela organização – aquilo que é jáassociação criminosa daquilo que não passa de meracomparticipação criminosa. Para tanto indispensável se tornauma cuidadosa aferição, pelo aplicador, da existência in casu doselementos típicos que conformam a existência de uma organizaçãono sentido da lei (cfr. infra § 9 ss.) Em muitos casos porém talnão será suficiente. Sendo neles indispensável que o aplicador sepergunte se, na hipótese, logo da mera associação de vontades dosagentes resultava sem mais um perigo para bens jurídicosprotegidos notoriamente maior e diferente daquele que existiria seno caso se verificasse simplesmente uma qualquer forma decomparticipação criminosa. E que só se a resposta forindubitavelmente afirmativa (in dubio pro reo) possa vir a

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considerar integrado o tipo de ilícito do artigo 299º. (Um bomcritério prático residirá aliás em o juiz não condenar nunca porassociação criminosa, à qual se impute já a prática de crimes, semse perguntar primeiro se condenaria igualmente os agentes mesmoque nenhum crime houvesse sido cometido e sem ter respondidoafirmativamente à pergunta)».No § 10, in fine, pág. 1159, realça que atento o autónomo eespecífico bem jurídico tutelado o essencial é a especialperigosidade ínsita na própria organização. No § 13, a págs. 1160/1, a propósito da existência de umaassociação, grupo ou organização, que é elemento comum a todasas modalidades de acção que integram o tipo objectivo do ilícito,refere o Autor, que os designativos sinónimos de associação, grupoou organização “supõem no mínimo, que o encontro de vontadesdos participantes – hoc sensu, a verificação de um qualquer pactomais ou menos explícito entre eles – tenha dado origem a umarealidade autónoma, diferente e superior às vontades e interessesdos singulares membros. Supõem, no plano das realidadespsicológica e sociológica, que do encontro de vontades tenharesultado um centro autónomo de imputação fáctica das acçõesprosseguidas ou a prosseguir em nome e no interesse do conjunto.Centro este que, pelo simples facto de existir, deve representar emtodo o caso (…) uma ameaça tão intolerável que o legislador reputanecessário reprimi-la com as penas particularmente severas dopreceito; neste sentido devendo falar-se, com razão, da exigênciade um centro autónomo de imputação e motivação”.No § 39, pág. 1170, refere que o crime de associação criminosa“consuma-se com a realização das acções descritas no art. 299.º-1, 2 e 3, só se tornando necessária a verificação de um resultadoem uma das hipóteses previstas no n.º 1 (“fundar”). A práticaefectiva de crimes pela associação não é nunca necessária àconsumação”, conformando aquilo que a lei e doutrina chamam decrime permanente (§ 49, pág. 1174). A págs. 34 de “As «Associações Criminosas» no Código PenalPortuguês de 1982” e a págs. 1161 do “Comentário Conimbricensedo Código Penal - Parte Especial, Tomo II”, com o objectivo dedistinguir decisivamente as associações criminosas da meracomparticipação criminosa, refere o Autor que a circunstância deos artigos 287.º e 299.º do Código Penal de 1982 e de 1995, teremcomo rubrica, respectivamente, «Associações criminosas» e«Associação criminosa» - e não meramente «associações decriminosos» ou «de malfeitores» -, claramente indicia, no planotextual, uma actualização da ideia de uma transpersonalidadefáctica e reforça a concepção da necessidade da presença, naentidade englobante, com metas ou objectivos próprios capaz deintegrar o tipo objectivo de ilícito, do aludido centro autónomo.

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Do que não pode prescindir-se é de que a associação constitua umarealidade referenciável e, assim, dotada de uma identidadeindividualizável, que possa funcionar como o «complementodirecto» das acções de fundar, apoiar, chefiar ou dirigir.

Maria Leonor Assunção, no estudo “Do lugar onde o Sol selevanta, um olhar sobre a criminalidade organizada”, inserto noLiber Discipulorum para Jorge de Figueiredo Dias, a propósito dacriminalidade organizada no direito de Macau, a págs. 106 a 113,aborda esta temática, referindo-se à Lei n.º 6/97/M, de 30 deJulho, intitulada Lei da Criminalidade Organizada, versando ocrime de associação ou sociedade secreta. Aí refere que por associação criminosa deve entender-se umaqualquer estrutura organizada destinada à prática de crimes: umapluralidade de pessoas unidas por um qualquer processo deformação de vontade colectiva, que pressupõe um mínimo deestrutura organizatória, um substracto dotado de certa estabilidadeou permanência, catalisador de uma realidade autónoma, diferentee superior às vontades e interesses das singulares pessoas, os seusmembros.Enfim, e citando Figueiredo Dias, in Associações Criminosas, pág.33 - um “centro autónomo de imputação e motivação fácticas”.A citada lei reafirma o elemento organizatório, a prática de crimesde catálogo como elemento de uma manifestação da existência daassociação e no que toca ao elemento do escopo ou finalidade,rompe com o entendimento normativo tradicional, assente,derivando da clássica expressão “prática de crimes “ para“vantagens ou benefícios ilícitos”.Na delimitação técnica jurídico-penal do conceito criminológicoexpressamente referem como finalidade da associação ocometimento de crimes os Códigos Penais alemão, espanhol,francês, entendimento que é repetido nos Códigos Penais daPolónia, da Ucrânia e da Federação Russa, na lei canadiana de2001, e na lei federal Americana.Refere que importa precisar que mesmo nos países cujos sistemasjurídico-penais reconhecem a existência de organizações ilícitasdotadas de especiais características que justificam tratamento típicoautónomo, que reflicta um certo saber sócio – antropológico dofenómeno, como é o caso de Itália, o escopo “prática de crimes”constitui elemento essencial do tipo de ilícito.No Japão a Lei n.º 77 refere a “prática de actos ilícitos comviolência”. O escopo “prática de crimes “ consta da lei que aofenómeno respeita, na Formosa, e igualmente no Código PenalChinês.O propósito de cometer crimes reitera-se na definição deorganização criminosa “organized criminal group” plasmada na

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Convenção das Nações Unidas contra o Crime OrganizadoInternacional de Novembro de 2000”

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O crime em apreciação configura-se como um crime decomparticipação necessária; para que a organização existaindispensável se torna a comparticipação de vários agentes, comressalva da modalidade de acção traduzida na “promoção” -Figueiredo Dias em “Associações Criminosas”, pág. 65 e noComentário Conimbricense, § 43, pág. 1172.

Eduardo Correia, em Problemas fundamentais dacomparticipação criminosa, Coimbra, 1951, págs. 45/6, refere ostipos cuja realização supõe a colaboração ou intervenção de váriaspessoas, exigindo conceitualmente a intervenção de várias pessoas,dando lugar a uma comparticipação necessária, onde se distinguemdois grupos: os delitos de colisão ou de encontro e os delitosconvergentes, aqui se incluindo aqueles crimes em que as condutasdos vários sujeitos não se dirigem umas de encontro às outras, masconvergem para a realização de um certo resultado. A fls. 50, a propósito das figuras do Komplott (que tem lugarquando várias pessoas se associam com o fim de executar um ouvários crimes determinados) e Bande (quando tal associação sedirige à prática de uma série indeterminada de crimes), refere quenada impede que as necessidades de prevenção geral façam tratartais associações (societas delinquendi) como crimes autónomos,sui generis, (aqui referenciando o crime do artigo 263.º do Código Penal de 1886) oulhe dêem o valor de agravante especial relativamente a certoscrimes particularmente graves.

Do mesmo modo, Paulo Pinto Albuquerque, Comentário doCódigo Penal, UCE, 2008, pág. 753, situando a associação namodalidade de crime de convergência, ou seja, aquele em que oscontributos dos vários comparticipantes para o facto se dirigem, namesma direcção, à violação do bem jurídico.

Cavaleiro Ferreira, nas Lições de Direito Penal, Editorial Verbo,1987, 2.ª edição, I, após referir, a págs. 360, os crimesplurissubjectivos ou de participação necessária, como sendo oscrimes que, por sua natureza, só podem ser cometidos por umapluralidade de agentes, sendo, então, a pluralidade de agentes,elemento essencial da estrutura do crime, a págs. 363/4,considerava:“Entre os crimes de participação necessária contam-se, no CódigoPenal, o crime de associações criminosas (art. 287.º) e o crime deorganizações terroristas (art. 288.º).

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Ambos os crimes constituem materialmente uma antecipação datutela penal, para além da conspiração e da preparação de qualquercrime; e neste aspecto, pouco condizentes com a restrição dapunibilidade, admitida em princípio, das várias fases do itercriminis.Formalmente, é um crime autónomo, diferente e separado doscrimes que venham a ser deliberados, preparados ou executados.(…) O crime consuma-se com a fundação da associação com afinalidade de praticar crimes, ou – relativamente a associados nãofundadores - com a adesão ulterior.Haverá sempre que distinguir claramente o crime de associaçõescriminosas dos crimes que venham a ser cometidos por todos oualguns dos associados; entre um e outros haverá concurso decrimes.Caracteriza a associação o fim que se propõe: a prática de crimes.Mas sendo de excluir os crimes que não possam por qualquermodo considerar-se ofensivos da «paz pública», ou de ramos deDireito Penal especial, bem como de contra-ordenações. (…) Como associação, basta que tenha o mínimo de doisassociados, mas pressupõe uma chefia e uma disciplina ou normade funcionamento da organização.”

No Código Penal Anotado, de Leal - Henriques e Simas Santos,3.ª edição, Rei dos Livros, 2000, 2.º volume, pág. 1358, pode ler-se que “O carácter de permanência, como pressuposto essencial dodelito em causa, ainda que se satisfaça com a realização de umúnico crime, reclama inequivocamente que o objectivo daorganização tenha consistido na intenção de manter, no tempo,uma actividade criminosa estável.Se a finalidade radicar na consumação de um único delito, entãoestaremos perante uma simples comparticipação criminosa, de quenos fala o art. 26.º”.O crime de associação criminosa consuma-se “independentementedo começo de execução de qualquer dos delitos que se propôslevar a cabo, bastando-se com a mera organização votada eajustada a esses fim, sendo certo que o facto de a associação ser jáde si um crime conduz a que os participantes nela sejamresponsabilizados pelos delitos que eventualmente venham a sercometidos no âmbito da organização, segundo as regras daacumulação real”.

Na mesma linha se situa - esclarecem os Autores - NelsonHungria, em Comentário ao Código Penal Brasileiro, IX, págs.177 e ss., quando escreve: «Associar-se quer dizer reunir-se, aliar-se ou congregar-se estável e permanentemente, para a consecuçãode um fim comum».O Autor define a associação criminosa como reunião estável e

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permanente para o fim de perpetração de uma indeterminada sériede crimes. A nota de estabilidade ou permanência da aliança éessencial. Não basta, como na co-participação criminosa, umocasional e transitório concerto de vontades para determinadocrime; é preciso que o acordo verse sobre uma duradoura actuaçãoem comum, no sentido da prática de crimes não precisamenteindividualizados ou apenas ajustados quanto à espécie, que tantopode ser única ou plúrima … basta uma organização socialrudimentar, a caracterizar-se apenas pela continuada vontade deum esforço comum».

Jurisprudência

Vejamos agora as soluções jurisprudenciais sobre a figura daassociação criminosa, quer a prevista no Código Penal 1982/1995,quer a prevista, no domínio específico de tráfico deestupefacientes, nos artigos 28.º dos Decretos - Leis n.º s 430/83 e15/93.(Algumas dessas referências se contêm em providências de habeas corpus, v. g., nos

acórdãos de 05-02-2003, processo n.º 3586/02-3.ª; de 20-02-2003, processo n.º 378/03-5.ª e de16-12-2003, processo n.º 4397/03-5.ª, o que tem a ver com o alongamento dos prazos deprisão preventiva, decorrentes da presença de tal crime, do seu enquadramento comocriminalidade altamente organizada - artigo 1.º, alínea m), do Código de Processo Penal – emesmo com a sua caracterização como crime permanente. A questão é abordada emCavaleiro Ferreira, Lições, 1987, I, pág. 364, ao afirmar resultar do facto de a penalidade sermuito grave a possibilidade de a incriminação ser utilizada como meio de legalização daprisão preventiva, ou como instrumento de prevenção policial da criminalidade, muito maisdo que como efectiva repressão do crime que se quis definir, e em Figueiredo Dias, em“Associações Criminosas”, a págs. 10 a 12, quando refere a inevitável verificação depressões, conscientes ou inconscientes, da parte dos órgãos policiais no sentido doencurtamento das exigências típicas relativas à «associação» ou à «organização», e noutropasso, quando afirma que “são por demais compreensíveis os atractivos que, do ponto devista da perseguição penal, possui a qualificação de um caso como integrante do tipo legalde associações criminosas (…)”, e no Comentário Conimbricense ao Código Penal, 1999, a

págs. 1159).

Passar-se-ão em revista os acórdãos do Supremo Tribunal deJustiça que se debruçaram sobre o tema, concretizando-sereferências expressas em alguns deles, havendo no entanto, paraalém destes, outros, como por exemplo, os acórdãos de 29-11-1989, AJ, n.º 3, processo n.º 40118; de 27-10-1993, processo n.º43030; de 30-06-1994, processo n.º 45271; de 03-11-1994,processo n.º 46571; de 29-03-1995, processo n.º 46393; de 18-05-1995, processo n.º 43103; de 18-10-1995, processo n.º 45540; de09-11-1995, processo n.º 48156; de 11-07-1996, processo n.º483/96 (a associação pressupõe sempre uma certa estabilidade e durabilidade que não é

compatível com a prática de um só crime); de 09-10-1996, processos n.º48956-3.ª e n.º 47295-3.ª, in Sumários Assessoria, n.º 4, Outubrode 1996, págs. 73, 74; de 26-02-1997, processo n.º 1072/96; de

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08-01-1998, processo n.º 1042/97; de 27-01-1998, processo n.º490/97; de 02-07-1998, processo n.º 555/98.(Sobre associações terroristas - artigos 288.º e 289.º, do Código Penal de 1982 - acórdãos de

22-06-1988, BMJ, n.º 378, pág. 355, de 23-11-1994, processo n.º 46.041, CJSTJ, tomo 3, pág.255 e de 26-02-1997, processo n.º 120/97, CJSTJ 1997, tomo 1, pág. 230).

Pronunciaram-se sobre a configuração do crime em questão, nosreferidos enquadramentos, inter altera, os seguintes acórdãos doSupremo Tribunal de Justiça, de:

26-02-1986, processo n.º 38 085, BMJ n.º 354, pág. 334 - O crime

em causa pressupõe, como elementos constitutivos, a existência de uma associação e a suafinalidade criminosa.O primeiro elemento existirá quando diversas pessoas (duas, pelo menos) se unamvoluntariamente para cooperar na realização de um fim ou fins comuns e que essa uniãopossua ou queira possuir uma certa permanência ou estabilidade (não basta a agregaçãomomentânea ou casual de uma pluralidade de pessoas). Pressupõe, em suma, omencionado crime que a associação viva, ou ao mesmo se proponha viver, como reuniãoestável de diversas pessoas ligadas entre si pelo propósito de delinquir e tendo em vista aactuação de um programa criminoso (cfr. V. De Bella, Il reato di associazione e delinquenza,pág. 33).Assim se pensava já perante o artigo 263.º do Código Penal de 1886 referente ao crime deassociação de malfeitores (cfr. Prof. Beleza dos Santos, RLJ ano 70.º p 97 e ss). Mas não se torna necessária a exigência de qualquer organização, de um programaespecífico, de uma constituição hierárquica, ou de uma distribuição de funções ou de umaforma de partilha de lucros (loc. cit. e acórdão de 30-04-86, processo 38072, a propósito dosimilar crime de associação criminosa).O crime do artigo 287.º constitui um crime autónomo, sui generis, sendo punidoindependentemente dos crimes cometidos pelos associados e em concurso real com estes. E a autonomia da punição tem a sua razão de ser na ofensa da paz pública e no grave perigoda prática de crimes que oferece um agrupamento formado para a realização de efeitosilícitos penais, com um certo carácter de permanência e estabilidade.

23-04-1986, processo n.º 38072, in BMJ n.º 356, pág. 136 - Para se

consumar, como se via já do artigo 263.º do Código de 1886 e mais patentemente na Lei n.º24/81, de 20-08, e hoje se inclui no n.º 2 do artigo 288.º, basta que, mesmo sem qualquerorganização, se juntem duas ou mais pessoas e acordem dedicar-se, com certa estabilidade,a uma actividade criminosa. É este fim abstracto e é aquela ideia de permanência quedistinguem a «associação» da «comparticipação», simples acordo conjuntural para secometer um crime em concreto.

16-05-1990, processo n.º 39852, BMJ, n.º 397, pág. 190 - São

elementos típicos do crime de associação criminosa do artigo 28.º do DL n.º 430/83, apromoção, fundação ou financiamento de grupo ou associação de duas ou mais pessoas,que actuem concertadamente, para a prática de qualquer dos actos que integram o crime doartigo 23.º. A expressão legal «organização ou associação» (implica acordo de vontades…) significater de existir acordo de vontades, estrutura, estabilidade; como que se exige ademonstração de que as pessoas se uniram para cooperarem na produção de um programacriminoso, criando e pondo em funcionamento estruturas próprias, com tarefas específicas,com comando ou direcção. Como que se exige que, primeiramente, esteja constituída aorganização e que, depois, os actos da prática dos crimes de tráfico de estupefacientessejam o desenvolvimento, a consequência, a realização dos fins da organização.Evidentemente que, neste tipo de crimes, pode haver co-autoria ou comparticipação e não éa essa forma do crime que a lei se refere, pois, então, bastaria preenchido o novo tipoquando ele fosse cometido por mais de duas pessoas.Com este tipo de crime o legislador quis criar uma forma de luta contra o crime organizado,sabido que a organização é mais difícil de vencer, tem menos escrúpulos, comete, se

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necessário, outros crimes e tem carácter de permanência no tempo.Por isso é necessário que se prove que existe algo mais que a actuação conjunta de váriaspessoas, mais do que o cometimento do crime por intermédio de outrem, ou que outrostomem parte na sua execução, por acordo, que houve auxílio – arts 26.º e 27.º Código Penal A actuação concertada mais não é do que o acordo exigido no artigo 26.º para a co-autoria,pelo que não pode atingir, só por si, o conjunto de requisitos impostos pelo artigo 28.º

05-05-1991, processo n.º 41 565, in BMJ n.º 408, pág. 162 - Os

crimes previstos nos artigos 28.º do Decreto-Lei n.º 430/83 e 287.º do Código Penal sãoidênticos, não constituindo aquele mais do que a extensão aos crimes que refere, nãoregulados no Código Penal, do regime estabelecido pelo segundo artigo para os crimescomuns.Num caso como noutro, verifica-se o crime de associação criminosa quando duas ou maispessoas se unem voluntariamente para cooperar na realização de um programa criminosopossuindo essa associação o carácter de certa permanência ou estabilidade.

31-10-1991, processo n.º 41844, BMJ n.º 410, pág. 418 – O que

caracteriza o cerne do crime de associação e o distingue da co-autoria, onde se torna, acada momento, a decisão de cometer determinado crime, é um projecto a prazo razoável, apermanência das pessoas cooperando entre si na realização desse fim criminoso. São estefim abstracto e aquela ideia de permanência que distinguem a «associação» da«comparticipação», simples acordo conjuntural para se cometer um crime em concreto. (cita26-02-86, BMJ 354, 334 e de 09-12-87, processo n.º 34209).

13-02-1992, processo n.º 42233, BMJ n.º 414, pág. 186 - Fazendo

síntese do que se contém em Código Penal de 1982, pág. 425, de Leal Henriques SimasSantos, loc cit., e de Beleza dos Santos, in RLJ ano 70.º, conclui: O crime de associaçãocriminosa do artigo 287.º do Código Penal exige a congregação de três elementosessenciais: um elemento organizativo, um elemento de estabilidade associativa e umelemento de finalidade criminosa, bastando, pois, demonstrar a existência de umaassociação, isto é, um acordo de vontade de duas ou mais pessoas para a consecução defins criminosos e uma certa estabilidade e permanência ou pelo menos o propósito de teresta estabilidade.

26-02-1992, processo n.º 42222, BMJ n.º 414, pág. 232 - O que

releva no crime de associação criminosa é a conjugação de vontades. Trata-se de umaconjugação de vontades para a comissão de actos criminosos, de uma união de vontadespara a prática abstracta de crimes, ou de conjuntos de crimes, independentemente daformulação de propósitos para a execução de crime determinado e pressupõe uma actuaçãoconjugada e concertada dos agentes, por forma a traduzir os seus propósitos de, emconjunto, «fazerem vida» da actividade criminosa. Não se trata de uma associaçãoacidental, para a prática de um acto criminoso, enquadrável na figura da co-autoria simples,nem de um somatório de associações acidentais, cada uma resultante de uma diferenteresolução, igualmente com aquele propósito criminoso.

05-03-1992, BMJ n.º 415, pág. 434 - A associação de delinquentes prevista

no artigo 28.º do DL n.º 430/83 funciona em relação de especialidade perante as associaçõescriminosas do artigo 287.º do Código Penal, não dispondo de uma estrutura quenuclearmente divirja da destas últimas.Torna-se necessário um acordo de vontades levado a cabo e posto em prática por duas oumais pessoas, com certo carácter de estabilidade e permanência ou duração, para se realizaruma pluralidade de factos puníveis, onde o dolo se enquadra na aquiescência, a finalidadecomum - que não na comissão da actividade delituosa derivada – e onde ocorrem uma certaorganização e um processo de formação da vontade colectiva, erguidos sobre indeclinávelsentimento comum de ligação entre os associados.A associação criminosa, como ensina Figueiredo Dias, é algo que supera os simplesagentes, constituindo um ser diverso de qualquer das individualidades das pessoasdaqueles. E a vontade associativa não se confunde, v. g. com a vontade individual dochefe de um bando ou de uma rede que actua em nome e no proveito exclusivos daquele ou

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dos quais ele se serve para a realização de fins criminosos pessoais.

13-05-1992, processo n.º 42228, BMJ n.º 417, pág. 308 e CJ1992, tomo 3, pág. 15 (do mesmo relator do acórdão de 26-02-1992) - Para a

verificação do crime de associação criminosa basta a existência de uma união de vontadespara a prática abstracta de crimes, ou de conjunto de crimes, independentemente daformulação do propósito de execução de um crime determinado e pressupõe uma actuaçãoconjugada e concertada dos agentes, por forma a traduzir os seus propósitos de, emconjunto, fazerem vida de actividade criminosa.

17-12-1992, BMJ n.º 422, pág. 152, e CJ 1992, tomo 5, pág. 31- O artigo 28.º do Decreto-Lei n.º 430/83 exige menos que o artigo 287.º do Código Penal,quer quanto à estrutura organizativa quer quanto à perenidade do grupo ou ao número decrimes, donde decorre que é punível a formação de grupo que actua concertadamentevisando a prática de um só crime (no caso de tráfico agravado do artigo 27.º do DL citado) enão de crimes como acontece no artigo 287.º, ainda que se não sobreponha a vontade decada um individualmente, como vontade autónoma, nos termos do artigo 287.º do CódigoPenal. No mesmo sentido, o acórdão de 30-10-1992, processo n.º 43534, citado no texto.

26-05-1993, processo n.º 44123, CJSTJ 1993, tomo 2, pág. 237- Para a verificação do crime de associação criminosa é essencial verificar-se o fim abstractoda prática de crimes, a estabilidade organizativa e uma ideia de permanência, de duração.(Segue de perto os acórdãos de 26-02-1986, BMJ 354, 334; de 23-04-1986 in BMJ 356, 136, ede 13-05-1992, BMJ 417, 308 e CJ 1992, tomo 3, pág. 15).

12-01-1994, processo n.º 45875, CJSTJ 1994, tomo 1, pág. 192- não é pressuposto do crime do artigo 28.º do DL n.º 15/93, que o grupo ou a associação sesituem no território nacional.

26-05-1994, processo n.º 45385, CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 233e BMJ n.º 437, pág. 263 - Neste acórdão, que afasta a associação criminosa, já que no casoem apreço, os condenados apenas se juntaram num acordo meramente ocasional paratransportar haxixe numa embarcação, tratando-se de um acordo conjuntural, sem carácter depermanência para a consumação do crime em concreto, o que configura a hipótese decomparticipação, pondera-se que: «O crime de associação de delinquentes previsto no art.28.º do DL n.º 430/83, agora designado por associação criminosa (art. 28.º do DL n.º 15/93),funciona em relação de especialidade perante as associações criminosas do art. 287.º doCódigo Penal, não dispondo, todavia, de estrutura que nuclearmente divirja destas.Para que este crime seja cometido, torna-se necessário um acordo de vontades celebrado eposto em prática por duas ou mais pessoas, com carácter de estabilidade e permanência ouduração para se realizar uma pluralidade de factos puníveis, onde o dolo se enquadra naaquiescência à finalidade comum (Ac. do STJ, de 5/3/1992, P.º 42063).Cometem o crime de associação criminosa duas ou mais pessoas que se juntam e acordamdedicar-se, mesmo sem qualquer organização, mas com certa estabilidade, a uma actividadecriminosa.O fim abstracto e a ideia de permanência distinguem a associação criminosa dacomparticipação, que é um simples acordo conjuntural para cometer um crime em concreto(Acs. do STJ, de 16/4/1986, BMJ 356 -132, e de 23/4/1986, BMJ 356-136).

01-06-1994, processo n.º 45 272, CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 242e BMJ n.º 438, pág. 154 – Para a existência do crime de associação criminosa para o tráficode estupefacientes, previsto no artigo 28.º do DL n.º 15/93, basta que os agentes tenhamagido concertadamente, visando o tráfico de droga, com repartição de funções e que a sualigação e concertação tenham sido prolongadas e não meramente ocasionais. (Nesteacórdão segue-se de perto a doutrina de Beleza dos Santos em passagens supraassinaladas).

03-11-1994, processo n.º 46571 - O que caracteriza fundamentalmente a

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associação criminosa é o acordo de vontades de duas ou mais pessoas para a consecuçãode fins criminosos e uma certa estabilidade ou permanência ou, ao menos, o propósito deter esta estabilidade. Esta ideia de estabilidade e permanência é que a distingue dacomparticipação. Em suma: as traves mestras para a verificação da existência de umaassociação criminosa são apenas o fim abstracto de cometer crimes, a estabilidadeorganizativa e uma ideia de permanência, de duração.

09-02-1995, processo n.º 46 991, in CJSTJ 1995, tomo 1, pág.198 – (Do mesmo relator do acórdão de 26-05-1994, processo n.º 45385, in CJSTJ 1994,

tomo 2, pág. 233) Louvando-se nos ensinamentos de Beleza dos Santos e do citado

parecer de 1985, considerou-se terem cometido o crime em causa os dois arguidos quefundaram e puseram em actividade, por acordo de vontades, uma organização estável epermanente, dotada de certa autonomia e destinada à prática de crimes de burla (emconcurso real com o de associação).Os arguidos constituíram uma organização com um desígnio deliberado de cometer crimesde burla, através de outros crimes de emissão de cheques sem cobertura. Essa organização,pré-ordenada ao cometimento de crimes, exigiu dos arguidos um acordo persistente, queproduziu como efeito um aumento gradual da sua responsabilidade.

15-02-1995, processo n.º 44. 846, CJSTJ 1995, tomo 1, pág.205 - Citando os acórdãos de 26-05-93, CJSTJ 1993, tomo 2, pág. 237; de 26-02-86, BMJ n.º

354, pág. 334; de 23-04-86, BMJ n.º 356, pág. 136; de 13-02-1992, BMJ n.º 414, pág. 186; de13-05-1992, BMJ n.º 417, pág. 308 e Colectânea de Jurisprudência 1992, tomo 3, pág. 15, e de03-11-1994, processo n.º 46.571, do acórdão se extrai que “as traves mestras para averificação da existência de uma associação criminosa são apenas o fim abstracto decometer crimes, a estabilidade organizativa e uma ideia de permanência, de duração”.

10-07-1996, processo n.º 48.675, CJSTJ 1996, tomo 2, pág. 229(maxime 246/7) – São elementos essenciais do crime a existência de uma pluralidade depessoas, um mínimo de estrutura organizatória, sentimento comum de ligação dos membrosda associação, encontro de vontades destinado a dar origem a uma realidade autónoma,diferente e superior às vontades internas do membros, singularmente considerados, epermanência da associação.

14-11-1996, processo n.º 48.588-3.ª, in Sumários, n.º 5,Novembro 1996, pág. 74 – Comete o crime do artigo 28.º do DL 15/93, o arguido

que presta auxílio material a outro arguido que faz parte de uma associação criminosa, etendo consciência de que esse arguido é a figura principal dessa mesma associação. Naprevisão do n.º 2 do artigo 28.º do DL 430/83, cabe a conduta de quem aceita colocar em seunome bens adquiridos por membros de associações criminosas com dinheiro provenientedo tráfico. O crime de associação criminosa é necessariamente doloso.

11-12-1996, processo n.º 48.697 - 3.ª secção, in Sumários, n.º 6,Dezembro 1996, pág. 63 - Uma associação criminosa pode revestir formas

variadas, em que o grau de organização, de hierarquia e de transpersonalidade divirja decaso para caso, sendo natural que nos seus modos de ser mais simples, algumas destascaracterísticas sejam rudimentares ou não existam sequer. O necessário é que haja “umaunião de vontades para a prática abstracta de crimes, ou de conjunto de crimes,independentemente da formulação de propósitos para a execução de um crime determinado,e pressupõe uma actuação conjugada e concertada dos agentes, por forma a traduzir osseus propósitos de, em conjunto, «fazerem vida» da actividade criminal”. Em sentido idêntico o acórdão de 12-03-1997, processo n.º 1015/96, da mesma secção, in“Sumários”, n.º 9, Março de 1997, pág. 70.

26-02-1997, processo n.º 1072/96 - 3.ª, in Sumários, n.º 8, pág.101 – Para que haja associação entre os membros do grupo para efeitos do artigo 287.º do

CP de 1982 e 299.º, n.º 1 e 2 do CP de 1995, é necessário que ela tenha uma finalidade

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criminosa e uma certa estabilidade e permanência.

26-02-1997, processo n.º 120/97, CJSTJ 1997, tomo 1, pág. 230– Os crimes dos artigos 287.º e 288.º do CP/82 (299.º e 300.º CP revisto) entram na categoria

dos crimes de perigo abstracto - o perigo é razão motivante da lei, mas não entra naestrutura do facto. Não há então evento de perigo; independentemente de qualquersituação concreta de perigo tem lugar a incriminação da acção ou omissão em abstractoperigosa.

17-04-1997, processo n.º 1073/96 - 3.ª, BMJ n.º 466, pág. 227 -O que caracteriza fundamentalmente a associação criminosa é a ideia de estabilidade epermanência, e ideia esta que já não está imanente na comparticipação, embora o fim num enoutro instituto possa ser o mesmo - no mesmo sentido acórdãos de 9-12-87 e de 12-02-1992. Não pode dar-se como verificada a integração na figura da comparticipação, dada aexistência do elemento de estabilidade e permanência da sua organização.A seguir afasta-se requisito presente no parecer e estudo citados de Figueiredo Dias,referindo: «Ora segundo este entendimento, só poderia falar-se de associação criminosaquando o encontro de vontades dos participantes deu origem a uma realidade autónoma,diferente e superior às vontades e interesses dos singulares membros. Contudo, e salvo o devido respeito, cremos que tal requisito não é necessário.Em primeiro lugar, há que referir que a comparticipação também é uma realidade diferente ecomo tal se distingue da autoria simples, até porque se rege por normas próprias, como é ocaso dos artigos 28.º e 29.º do Código Penal. Depois, o encontro de vontades na comparticipação produz um resultado também diferente,integrado pela conduta derivada do acordo prévio firmado entre os comparticipantes.O que é essencial na associação criminosa, e não existe na comparticipação, é aestabilidade ou permanência, ou ao menos com o propósito de ter esta estabilidade.Atrevíamo-nos a dizer que na associação criminosa há uma affectio societatis para o crime,que de forma alguma existe na comparticipação».

05-11-1997, processo n.º 549/97 - 3.ª secção, CJSTJ 1997, tomo3, pág. 222 – São elementos constitutivos do crime de associação criminosa, pelo lado

subjectivo, o dolo; pelo lado objectivo, um acordo de vontades de duas ou mais pessoas,visando a prática de crimes em abstracto e uma certa permanência, com um mínimo deorganização. O acordo tem por objecto a formação da associação criminosa. Nisto sedistingue do acordo na comparticipação, o qual tem por objectivo a prática de um crime emconcreto. O objecto da associação criminosa é que consiste na prática de crimes. O dolonão se dirige à comissão de cada um dos crimes que integram o objecto da associação, massim à criação, fundação, participação, apoio, chefia ou direcção da associação, comconhecimento da finalidade criminosa desta. A existência da associação não depende daconcretização da actividade criminosa, como se realça com a introdução do termo“finalidade “ na revisão de 1995 (actual artigo 299.º do Código Penal).

27-01-1998, processo n.º 696/97, CJSTJ 1998, tomo 1, pág. 181- O crime de associação criminosa tem como pressupostos: a promoção ou criação de umgrupo, organização ou associação, a finalidade ou actividade dirigida à prática de crimes,uma certa estabilidade ou permanência associativa e o dolo. O que verdadeiramente relevaé o acordo de vontades para a consecução de fins criminosos e uma certa estabilidade oupermanência, o que o distingue da comparticipação criminosa (citando aqui acórdão de 17-03-97, proferido no processo 1073/96-3.ª).

05-02-1998, processo n.º 1038/97, CJSTJ 1998, tomo 1, pág.192, do mesmo relator do anterior – Afasta o crime de tráfico de estupefacientes agravado

pela actuação em bando. Do crime de associação criminosa, p. p. pelo artigo 28.º do DL15/93, não é elemento típico a existência de qualquer tipo de chefia ou comando, nem aforma como é feita a distribuição dos lucros. O que verdadeiramente releva é o acordo devontades para o cometimento de crimes de tráfico e uma certa “estabilidade ou

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permanência”. Estando em causa, no crime de associação criminosa a defesa da paz social ea defesa contra o crime organizado, e, no de tráfico de estupefacientes, a saúde pública, oconcurso entre tais crimes é um concurso real, e não meramente aparente.

04-06-1998, processo n.º 1235/97, BMJ n.º 478, págs. 7 a 88 –

São elementos típicos: a) Fundar (promover - acrescentou o CP1995), fazer parte, apoiar, chefiar ou dirigir grupo,organização ou associação;b) Que o grupo, organização ou associação tenha a sua actividade (ou finalidade -acrescentou o Código Penal de 1995) dirigida à prática de crimes;c) Que o agente tenha querido fundar (promover), fazer parte, apoiar, chefiar ou dirigirgrupo, organização para a prática de crimes e que saiba que a sua conduta é proibida porlei.Sendo um crime doloso, o dolo há-de ser dirigido precisamente à aquiescência e acordo devontades colimados à finalidade comum de cometer crimes de determinada natureza. O STJ tem exigido que o acordo de vontades tenha um certo carácter de permanência e deautonomia relativamente à personalidade de cada um dos seus aderentes.Enquanto na co-autoria ou comparticipação existirá um acordo conjuntural para a comissãode determinado crime concreto, na verdadeira associação criminosa exige-se a existência deum projecto estável para a realização da finalidade de praticar crimes de certa natureza, emnúmero não determinado.No caso, por não se ter provado que o encontro de vontades dos arguidos tivesse dadoorigem a uma realidade autónoma, diferente e superior às suas vontades e interessessingulares, nem a existência de estruturas de decisão reconhecidas por todos, nem umqualquer processo de formação da vontade colectiva, nem a subordinação das vontadesindividuais à vontade do todo, nem a ligação do «grupo» de indivíduos a uma realidadereferenciável, não resultando dos factos provados o chamado «dolo de associação»,conclui que os factos provados revelam um «grupo orgânico» que actuava emcomparticipação e complementaridade criminosa, não integrando o crime de associaçãocriminosa, mas o de bando para efeitos do artigo 204.º, n.º 2, alínea g), do Código Penal.

Como se extrai do acórdão do Tribunal Constitucional n.º102/99, de 10-02-1999, processo n.º 1103/98-3.ª Secção,publicado in Diário da República, II Série, n.º 77, de 01-04-1999,pág. 4843, e BMJ n.º 484, pág. 119, não viola o princípio ne bis in idem a

interpretação das normas constantes dos artigos 21.º, 24.º e 28.º do DL 15/93, em termos deconcluir que os crimes de tráfico ilícito de estupefacientes e de associação criminosa seencontram numa relação de concurso real, por serem diferentes os bens jurídicos tuteladospor cada um dos normativos; naquele, uma multiplicidade de bens jurídicos,designadamente de carácter pessoal, todos se reconduzindo a um mais geral: a saúdepública e neste a paz pública.

24-01-2001, processo n.º 230/00 - 3.ª Secção – É um crime de perigo

abstracto, permanente e de participação necessária, havendo quanto a ele que distinguir ocrime de associação e os crimes da associação, ou seja, dos seus membros ouparticipantes.

10-05-2001, processo n.º 373/01, CJSTJ 2001, tomo 2, pág. 198- O crime de associação criminosa, quer do artigo 299.º do Código Penal, quer para tráficode estupefacientes, deve ter-se por consumado independentemente do começo deexecução de qualquer dos ilícitos que a referida associação se propôs levar a cabo,bastando-se (ou preenchendo-se tipicamente) com a mera criação de organização votada,engendrada e ajustada a essa finalidade delituosa, certo sendo que a circunstância de aassociação ser já de si e de per si um crime conduz a que os seus membros ou os nelaparticipantes sejam alvo de responsabilização e de punição pelos crimes que eventualmentevenham a ser cometidos no âmbito da organização criada (segundo as regras daacumulação real ou efectiva).A associação tem de preexistir à comissão dos crimes, enquanto factor que os originou eenquanto impulso inicial da actividade delitiva em que eles se objectivaram.

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13-12-2001, processo n.º 3654/01-5.ª, CJSTJ 2001, tomo 3,pág. 237 - O crime de associação criminosa consuma-se independentemente do começo

de execução de qualquer dos delitos que os agentes se propõem levar a cabo; basta que arespectiva organização seja votada e ajustada a esse fim (citando Leal Henriques e SimasSantos, Código Penal Anotado, 3.ª ed, II, pág. 1358).

18-12-2002, processo n.º 3217/02 - 3.ª Secção – A associação de

delinquentes a que se refere o artigo 28.º do DL 15/93, em confronto com a associaçãocriminosa, p. p. pelo artigo 299.º do Código Penal tem uma posição homóloga dasassociações terroristas ; em ambas trata-se de associações (criminosas) qualificadas, numarelação de especialidade para com as associações criminosas em geral. No caso dos autos, a constituição do grupo teria provindo não de um acordo ou pactoprévio ao cometimento dos crimes mas como algo nascido a posteriori, sem que hajaresquício de criação de um centro de facto autónomo que esteja acima dos agentes, ao qualestes se liguem para a prática dos crimes de tráfico, p. p. no artigo 21.º (No caso foiconsiderada a agravante da alínea j) do artigo 24.º).

08-01-2003, processo n.º 4221/02 - 3.ª Secção - Para que se tenha por

preenchido o tipo objectivo do crime de associação criminosa, p. p. pelo art. 299.º doCódigo Penal, torna-se indispensável que o grupo, organização ou associação resulte deum processo de formação da vontade colectiva que não se confunde com a vontadeindividual de cada um dos indivíduos envolvidos ou a vontade individual do chefe ouchefes de um conjunto de intervenientes (constituindo porventura um bando) que actuamem nome e no proveito exclusivo daquele. Exige-se que, mercê de um sentimento comum deligação entre os membros participantes desse processo, resulte uma realidade autónoma,diferente e superior às vontades e interesses dos singulares membros, isto é, um centroautónomo de imputação fáctica das acções prosseguidas ou a prosseguir em nome dointeresse do conjunto.

23-04-2003, processo n.º 789/03 - 3.ª Secção - É entendimento unânime,

quer ao nível doutrinal quer jurisprudencial, que são elementos essenciais do crime deassociação criminosa o factor organizativo, a estabilidade associativa e a finalidadecriminosa, portanto uma aliança com um mínimo de estrutura estável, permanente, comvista à prática de crimes e que dê origem a uma realidade autónoma, diferente e superior àsvontades e interesses dos seus membros. De acordo com a doutrina proposta por Figueiredo Dias, não é correcto condenar-se porassociação criminosa que tenha já levado a cabo a prática de crimes, sem perguntarprimeiro se se condenaria do mesmo modo os próprios componentes da associação mesmoque nenhum crime tivesse sido cometido e sem se ter respondido afirmativamente a talquestão.

09-07-2003, processo n.º 2026/03 - 3.ª Secção - Um trabalho efectivo

para realização do escopo criminoso de uma certa associação criminosa e mesmo aparticipação sistemática nos concretos crimes cometidos não bastará para caracterizar asituação de «parte» ou «membro» se o indivíduo não pertencer à associação.

11-12-2003, processo n.º 2293/03 - 5.ª Secção - O juiz não condenará

nunca por associação criminosa, à qual se impute já a prática de crimes, sem antes seperguntar (e responder afirmativamente) se condenaria igualmente os agentes mesmo quenenhum crime tivesse sido cometido.

26-02-2004, processo n.º 267/04 - 5.ª Secção - São elementos típicos do

crime de associação criminosa: a existência de uma pluralidade de pessoas; uma certaduração; um mínimo de estrutura organizatória, que sirva de substracto material à existênciade algo que supere os simples agentes, com estabilidade dos seus agentes; um qualquerprocesso de formação de vontade colectiva; um sentimento comum de ligação. Verificando-se a existência cumulativa de tais pressupostos importa concluir pela

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verificação do crime em causa, sem esquecer que, nomeadamente, os aspectos subjectivoshão-de ser objecto de alguma interpretação das manifestações exteriores da actuaçãocriminosa de que se trata, pois, como é intuitivo, não é possível ler o que vai no íntimo dequem quer, mormente de quem, com algum “profissionalismo”, decide organizar-se parapraticar crimes.

27-04-2005, processo n.º 149/05 - 5.ª Secção - Comete um crime p. e p.

pelo art. 28.º, n.º 2, do DL 15/93, quem conhecendo a existência de um grupo organizadoque tinha por objectivo a importação/exportação de cocaína e conhecendo a sua naturezapsicotrópica e o carácter criminoso da sua conduta, lhe prestou colaboração, delerecebendo «quantias monetárias para gastos [na Europa, nomeadamente em Portugal] comos trâmites das importações e como contrapartida pela actividade desenvolvida», queincluiu o cancelamento da exportação de dois contentores com 416,17 kg. de cocaína,depois de, à passagem do barco fretado por Roterdão, as respectivas autoridadesalfandegárias haverem apreendido a cocaína e - de acordo com as autoridades portuguesas- a terem substituído por «material de simulação».

18-05-2005, processo n.º 4189/02 - 3.ª Secção - O STJ, na

caracterização da tipicidade do crime de associação criminosa, tem vindo a afirmar anecessidade de verificação dos seguintes elementos:- pluralidade de pessoas (duas ou mais pessoas); - uma certa duração do grupo, organização ou associação;- um mínimo de estrutura organizatória que sirva de substrato material à existência de algoque supere os agentes; - um qualquer processo de formação da vontade colectiva, dirigida à prática de crimes; - um sentimento de ligação por parte dos membros da associação; acrescentando ainda,dado tratar-se de um crime doloso, que o dolo há-de ser dirigido precisamente àaquiescência e acordo de vontades colimadas à finalidade comum de cometer crimes, ouseja, o “dolo de associação”.A associação criminosa distingue-se da comparticipação pela estabilidade e permanênciaque a acompanha, embora o fim num e noutro instituto possa ser o mesmo; mas o elementodistintivo fundamental da associação criminosa em relação à comparticipação reside naestrutura nova que se erige, uma estrutura autónoma superior ou diferente dos elementosque a integram e que não aparece na comparticipação. É mais que a actuação conjunta devárias pessoas.O crime de associação criminosa é um crime de perigo abstracto, permanente e departicipação necessária, havendo quanto a ele que distinguir o crime de associação e oscrimes da associação, ou seja, dos seus membros ou participantes.Não se apreendendo com suficiência, na matéria de facto provada, elementos quecaracterizem a verificação de um qualquer pacto, mais ou menos explícito, entre os agentesdo grupo, no sentido de criar uma realidade autónoma, diferente e superior às vontades einteresses dos seus singulares membros, e que disso tenha resultado um centro autónomode imputação fáctica das acções prosseguidas, não se mostram verificados os elementosdo tipo de crime previsto no art. 28.º do DL 15/93, de 22-01.

07-12-2005, processo n.º 2105/05 - 5.ª Secção - O crime do art. 28.º do

DL 15/93, de 22-01, exige, do lado objectivo, a existência duma associação, grupo ouorganização, o que pressupõe que o encontro de vontades dos participantes - hoc sensu, averificação de um qualquer pacto mais ou menos explícito entre eles -, tenha dado origem auma realidade autónoma, diferente e superior às vontades e interesses dos singularesmembros; uma certa duração - não necessariamente pré-determinada -, que lhe permita arealização do fim criminoso da organização; o mínimo de estrutura organizativa e umprocesso de formação da vontade colectiva e, no que tange ao elemento subjectivo, o dolo,

ainda que eventual (em termos semelhantes o acórdão de 29-11-2006, processon.º 3802/05 - 3.ª Secção).

28-06-2006, processo n.º 3463/05 - 3.ª Secção - Não se verificam os

elementos do tipo de crime de associação criminosa, p. e p. pelo art. 28.º do DL 15/93, de 22-01, se na matéria de facto provada não se vislumbra um «encontro de vontades dos

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participantes» que «dê origem a uma realidade autónoma, diferente e superior às vontadesdos singulares membros» (cf. Figueiredo Dias e Costa Andrade, Parecer, in CJ, X, tomo 4,págs. 11 e ss.). (Invocado ainda o critério colocado por Figueiredo Dias, in Comentário Conimbricense doCódigo Penal, II, pág. 1158).

29-11-2006, processo n.º 3802/05 - 3.ª Secção - A infracção prevista no

art. 28.º do DL 15/93, de 22-01 (associação criminosa), demanda, do lado objectivo, aexistência de um grupo, organização ou associação, o que pressupõe que o encontro devontades dos participantes (a verificação de um qualquer pacto mais ou menos explícitoentre todos) tenha dado origem a uma realidade autónoma, diferente e superior às vontadese interesses dos seus singulares membros; uma certa duração (não necessariamentepredeterminada), que lhe permita a realização do fim criminoso da organização; o mínimo deestrutura organizativa e um processo de formação da vontade colectiva; e exige, do ladosubjectivo, o dolo, ainda que na modalidade de eventual.

03-05-2007, processo n.º 896/07 - 5.ª Secção - Como resulta,

designadamente, do elemento sistemático, o bem jurídico protegido pelo art. 299.º do CP é,dentro da ordem e tranquilidade públicas, a paz pública: esta é colocada em perigo pelasimples existência da associação criminosa, independentemente da comissão de qualquercrime a cuja prática se destine a associação.Este é um crime de perigo abstracto: formada a associação deve, sem mais, considerar-seintegrado o elemento objectivo do crime em causa. Daqui se retira um critério prático de distinguir o crime de um caso de mera comparticipaçãocriminosa: no 1.º caso, formada a associação e verificada a existência do elementosubjectivo, haverá de seguir-se-lhe, como consequência, a aplicação de uma reacçãocriminal, enquanto que no 2.º caso, está-se perante actos preparatórios, em regra nãopuníveis. O conceito de “associação” é um conceito normativo para cuja densificação há que lançarmão a critérios normativos e teleológicos, bem como a propósitos e exigências político-criminais – cf. Figueiredo Dias, As “Associações Criminosas” no Código Penal Portuguêsde 1982, Coimbra Editora, 1988, pág. 23. (…) Quanto ao tipo subjectivo, exige-se a existênciade dolo: o elemento intelectual exige, para além do mais, o conhecimento pelo agente deque existe uma associação criminosa cujo objectivo é a prática de crimes; o elementovolitivo exige, pelo menos, o dolo eventual.

17-04-2008, processo n.º 4457/06 - 3.ª Secção - O bem jurídico

acautelado pela incriminação da associação criminosa é o da paz pública, no sentido dasexpectativas sociais de uma vida comunitária livre da especial perigosidade deorganizações que tenham por escopo o cometimento de crimes. O legislador, numa clara opção de política criminal, antecipa a tutela penal para o momentoanterior ao da efectiva perturbação da segurança e tranquilidade públicas, mas em que já secriou um especial perigo de perturbação. Daí que dogmaticamente se integre a infracção nacategoria dos crimes de perigo abstracto, permanentes e de participação necessária. Conforme já se entendia na vigência da redacção originária do art. 287.º do CP, e apartediferenças de redacção relativamente ao actual art. 299.º, o preenchimento do delito, sob oprisma objectivo, demanda a promoção ou fundação de grupo, organização ou associaçãocuja finalidade ou actividade seja a realização da acção criminosa. Dado tratar-se de um crime doloso, em qualquer das suas modalidades (art. 14.º do CP), odolo há-de ser dirigido à aquiescência e acordo de vontades direccionados à finalidadecomum de cometer crimes, isto é, o “dolo de associação”. Este primeiro elemento constitutivo existirá quando diversas pessoas se unamvoluntariamente para cooperar na realização de um fim ou fins comuns e essa união possuaou queira possuir uma certa permanência ou estabilidade, o que afasta as situações de meraagregação momentânea ou casual de uma pluralidade de pessoas. O requisito de uma “certa duração temporal” não tem que ser fixado a priori, mas tem queocorrer para permitir a realização do fim criminoso. O ilícito pressupõe que a dita associação viva, ou ao menos se proponha viver, comoreunião estável de diversas pessoas ligadas entre si com o fito de delinquir e norteadaspela actuação de um programa criminoso.

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Acresce que o escopo desviante não tem que estar estabelecido à partida, antes podesurgir numa fase em que a associação já esteja em funções; ademais, não carece de ser oúnico objectivo, nem sequer o principal, da associação. Por outro lado, não é preciso que existam crimes concretos, cometidos ou planeados,apenas que a associação se proponha essa prática. Contudo, não basta que o acordocolectivo se destine à prática de um só crime, por a tanto se opor, nomeadamente, a letra dalei. Em suma, só pode falar-se de associação criminosa quando a confluência de vontades dosparticipantes dê origem a uma realidade autónoma, diferente e superior às vontades einteresses dos singulares membros, isto é, quando emerja um centro autónomo deimputação fáctica das acções prosseguidas ou a prosseguir em nome e no interesse doconjunto, um ente distinto de imputação e motivação, como entidade englobante, commetas ou objectivos próprios. Centro este que, pelo simples facto de existir, deverepresentar, em todo o caso, uma ameaça tão intolerável que o legislador reputa necessárioreprimi-la com penas particularmente severas. É o fim abstracto e é aquela ideia de permanência que distinguem a «associação criminosa»da «comparticipação», simples acordo conjuntural para se cometer um crime em concreto.

16-10-2008, processo n.º 2958/08 - 5.ª Secção - Para tanto, impõe-se

apurar a existência, por um lado, de um centro autónomo de imputação, transcendendo osrespectivos membros e ao qual sejam imputadas as acções por eles levadas a cabo, ou seja,uma organização estruturada, estabilizada (até em termos temporais) e hierarquizada, dotadade meios próprios e constituindo uma entidade independente das pessoas que a formam e,por outro lado, o acordo entre os seus membros, quer no sentido de aderirem a talorganização – cujos fins conheciam –, quer para, uma vez aderindo a ela, colaborarem com arealização das tarefas que lhe estavam destinadas e lhes eram transmitidas pelosrespectivos coordenadores na prossecução dos respectivos objectivos, mediante umesquema de remunerações e de contrapartidas financeiras.

Revertendo ao caso concreto.

Vejamos a posição assumida no acórdão recorrido.

O acórdão recorrido debruçou-se sobre as duas questões suscitadaspelo recorrente com referência ao crime de associação criminosa.

A primeira tem a ver com a omissão do denominado “critériodoutrinal e jurisprudencial utilizado para atestar a existência daassociação criminosa” segundo a formulação de Figueiredo Dias.Na segunda questão pugna o recorrente no sentido de que amatéria dada como provada não integra a figura da associaçãocriminosa, por não estarem reunidos os elementos do tipo objectivoe subjectivo do crime a que se refere o artigo 28.º do Decreto-Lein.º 15/93, concretamente: a verificação de um pacto, mais oumenos explícito, que tenha dado origem a uma realidade autónoma,diferente e superior às vontades e interesses dos singularesmembros; a intenção e a representação da fundação, existência echefia de uma organização para a prática de crimes, na pessoa doRecorrente.

Sobre a primeira questão, discreteou o acórdão recorrido no ponto4.2.5.1.1: «No conhecimento desta questão, impõe-se desde logo dar conta sobre o que deva

entender-se com o invocado critério, integrando-o no (con)texto de que o próprio

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Recorrente se socorre na argumentação expendida.Se bem se interpreta, pretendeu aquele Mestre de Coimbra chamar a atenção para adificuldade na distinção prática entre o que deva considerar-se, de uma parte,comparticipação criminosa e, de outra, o que deva considerar-se associação criminosa.»

Reza o texto: (extraído do Comentário Conimbricense)

«O problema mais complexo de interpretação e aplicação que aqui se suscita é, na verdade,

o de distinguir cuidadosamente – sobretudo quando se tenha verificado a prática efectivade crimes pela organização – aquilo é já associação criminosa daquilo que não passa demera comparticipação criminosa. Para tanto indispensável se torna uma cuidadosaaferição, pelo aplicador, da existência in casu dos elementos típicos que conformam aexistência de uma organização no sentido da lei (…). Em muitos casos porém tal não serásuficiente. Sendo neles indispensável que o aplicador se pergunte se, na hipótese, logo damera associação de vontades dos agentes resultava sem mais um perigo para bensjurídicos protegidos notoriamente maior e diferente daquele que existiria se no caso severificasse simplesmente uma qualquer forma de comparticipação criminosa. E que só se aresposta for indubitavelmente afirmativa (in dubio pro reo) possa vir a considerarintegrado o tipo de ilícito do artigo 299º. (Um bom critério prático residirá aliás em o juiznão condenar nunca por associação criminosa, à qual se impute já a prática de crimes, semse perguntar primeiro se condenaria igualmente os agentes mesmo que nenhum crimehouvesse sido cometido e sem ter respondido afirmativamente à pergunta)»Nesta indicação, se bem se interpreta, o enfoque dado pelo citado autor e mestre incidiusobre a necessidade de que o julgador faça uma correcta abstracção e/ou distinga e/ou

separe (metafisicamente) a associação criminosa (ens a se) dos factos/crimes que,

entretanto, eventualmente tenha já por comprovadamente praticados.Aconselha-se, então, que o juiz logre abstrair-se dos crimes que, eventualmente, tenha porcomprovados. Dizer, no acto da subsunção juspenal que ao julgador cabe proceder comvista à confirmação ou à não comprovação da prática de um crime de associação criminosa,deverá o juiz partir da ideia de que nenhum crime consta - nem participado, nem acusado,nem provado - e, uma vez neste limbo – ou seja, assim abstraído e mentalmente escorridodos crimes eventualmente comprovados - , interrogue-se então: os factos adquiridospertinentes (e apenas os exclusivamente pertinentes) aos elementos objectivo-subjectivo-do-tipo-do-iícito preenchem o tipo do ilícito associação criminosa? São suficientes, de persi, para imporem a condenação do arguido? O punctum prurens suscitado pelo Recorrente não coincide por inteiro com o ponto crítico(comparticipação criminosa> associação criminosa) deixado referido. Na verdade, oRecorrente coloca-se, antes, na questão da exigibilidade da verificação prévia –

verificação prévia histórico-existencial - da associação criminosa relativamente à

prática de crimes.

No conhecimento das questões suscitadas, importa não descurar nem uma nem outraperspectivas.Seja, desde logo, na perspectiva da exigibilidade da comprovação de que a associação é, notempo e/ou na história do devir humano, prévia aos crimes praticados no âmbito e nasequência da existência desta.Lógico-ontologicamente, não pode deixar de ter-se como um imperativo inelutável que umcrime praticado no âmbito da actividade de uma associação criminosa suponhanecessariamente a existência desta prévia àquele crime.Teoricamente, pois, é fundada a afirmação produzida a tal propósito pelo Recorrente.Já a razão não o assiste, porém, por falta de correspondência prática, ao nível da economiados factos elencados como provados no acórdão sob recurso.O que resulta destes?Desde logo que o Tribunal teve por certo que o arguido AA e um outro indivíduo, cujaidentidade não logrou apurar, “conceberam um plano com vista à venda, a troco dedinheiro e com fins lucrativos, de heroína e cocaína, pelo menos na área da comarca deAmarante” [Supra II, 1., al. A)] bem assim que, “Para a execução de tal plano criminoso oarguido AA e (aquele) indivíduo … organizaram uma estrutura humana e logística comvista à guarda dos produtos estupefacientes e embalagens destes, ao transporte de taisprodutos e das pessoas que viessem a fazer parte da referida estrutura humana elogística, bem como a aquisição de meios de telecomunicações, a selecção dos locais devenda, a celeridade nos contactos e entregas de heroína e cocaína à clientela, aorganização de contabilidade, a supervisão das referidas pessoas que viessem a fazer

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parte da estrutura humana e logística, nomeadamente distribuidores/vendedores e, porfim, a fiscalização e centralização do grosso das receitas, tendo estas como destino finala entrega ao arguido AA e ao indivíduo cuja identidade completa não foi de todopossível apurar” [Supra II, 1., al. B)]; e teve por provado, ainda, que “…o arguido AA , oindivíduo … e os arguidos CC e DD constituindo um estrutura humana estável ehierarquizada, com distinção de tarefas, de responsabilidades e de ganhos,desenvolveram actividades ligadas à venda lucrativa de heroína e cocaína…”[Supra II,1., al. C)]Verdade, todavia, que o Tribunal não logrou saber ao certo a data da concepção do plano

e acordo ajustado. Então, quanto a prova lho consentiu, estabeleceu historicamente tal

concepção e ajuste com referência a “pelo menos, desde 29 de Novembro de 2007” [Supra

II, 1., als. A) e B)Já a actividade exercida pela organização-fruto-daquele-acordado-plano, o Tribunal, de

novo nos termos que a prova em audiência lhe consentiu, reportou-a ao período

compreendido “pelo menos desde 29 de Novembro de 2007 até 07 de Janeiro de 2008”.

Dizer: ali, na concepção do plano, o Tribunal deu por provado um limite usque ad quem (até

que); aqui, a respeito do tempo do exercício da organização, um limite usque a quo (desdeque).Desta forma, posto que não tenha logrado a exactidão do dia da fundação,

inquestionavelmente não confundiu e, daí, não deixou de separar onto-historicamente oacto da concepção/instituição, dos actos da organização em exercício de actividade.

Obviamente a significar que, em factos histórico-concretos, aquele precedeu a práticadestes. Voltando agora mais directamente ao critério sugerido por Figueiredo Dias.Poderá dizer-se que o Tribunal recorrido fez a pretendida abstracção autonomizando a

associação relativamente aos factos/crimes que veio a dar por comprovados?Pertinentes a esta questão os factos descritos em A e B do elenco fáctico dado como

provado, há pouco transcritos.Perante eles ter-se-á interrogado o Tribunal se “logo da mera associação de vontades dosagentes resultava sem mais um perigo para bens jurídicos protegidos notoriamente maior ediferente daquele que existiria se no caso se verificasse simplesmente uma qualquer formade comparticipação criminosa”?Este Tribunal de recurso não pode afiançar que o tenha ou não feito.De forma explícita tal não resulta da fundamentação de direito.

Mas da mesma fundamentação, ao menos implicitamente, é de crer que sim.

E desde logo a partir da fundamentação fáctica. O desenho traçado em B não seria, nãopoderia ser nunca compatível com a ideia de tratar-se simplesmente de uma qualquerforma de comparticipação criminosa.Mas também na fundamentação de direito poderá concluir-se com igual sentido quando seatente na argumentação expendida a propósito da verificação do concurso real de

infracções.»

E após transcrever passagens do acórdão de Amarante, remata: «Concluindo: de considerar, pois, que na decisão da condenação pelo crime de associação

criminosa o Tribunal conteve-se na suficiência da correspectiva factualidade consideradaprovada, decidindo independentemente da factualidade subsequente relativa ao crime de

tráfico de estupefacientes».

Quanto à segunda questão, abordada no ponto 4.2.5.1.2, o acórdãorecorrido limita-se a afirmar: «Em termos breves, não se pode concordar com tal

argumentação».E depois de transcrever passos do acórdão do colectivo deAmarante relativos a fundamentação da subsunção juspenal,remata:«Em complemento do assim expendido, no apelo directo ao quadro de factos tidos por

provados, indicar-se-ão apenas como suporte fáctico iniludível: i) relativamente aoelemento-objectivo-do-tipo-do-ilícito, as alíneas A, B [> pacto explícito a dar origem a umarealidade autónoma, diferente e superior às vontades e interesses dos membros in

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singulos]; AC, AD, BW, BX, CE, [> a organização em actividade] AF, AH, AI, AK, AL, AO,BI, CC, CI, CR [> Funções específicas do Recorrente na organização], CO [Actos típicos dechefia]; ii) relativamente ao elemento subjectivo, as alíneas EJ, EL, EM, EN.

Falece, pois, também por aqui, a razão ao Recorrente».

Apreciando no concreto.

O primeiro problema que se coloca na análise da associação é o dacisão da actividade dos arguidos, patente nos acórdãos,distinguindo-se um período inicial de tráfico em comparticipação ea subsequente fundação da associação, a partir de 29 de Novembrode 2007.Ressalta no acórdão de Amarante a dificuldade em concatenar nojogo dos factos provados e não provados, o que na dialéctica davinculação temática proposta na pronúncia, se situava entre 26 deSetembro de 2007 e a prisão dos arguidos Domingos AA, CC e DDem 07-01-2008. De acordo com o despacho de pronúncia, a associação criminosaentão imputada aos seis arguidos submetidos a julgamentoverificar-se-ia desde 26 de Setembro de 2007, desenvolvendotodos os arguidos uma actividade intensa e ininterrupta no tráficode estupefacientes, o que não ficou provado.Desde logo o arguido CC foi absolvido na totalidade e o arguido FFviu decair a imputação do crime de participação em associaçãocriminosa, sendo condenado apenas por tráfico simples.Ficando, por outro lado, a actividade provada cindida entre umaprimeira fase de tráfico em comparticipação até 28-11-2007, comconcretizações apenas, desde meados de Outubro e em alguns diasde Novembro, como abaixo melhor se verá, e uma outra posteriore que cessou com a prisão dos três arguidos “sobreviventes” AA,CC e DD no dia 7 de Janeiro de 2008.Aliás, realce-se que por essa actividade anterior a 29-11-2007,apenas o arguido FF foi condenado; o seu nome não se encontranos pontos de factos provados C e D e daí a absolvição daparticipação em associação criminosa, sendo referido apenas nospontos J, K, M, R, T, V e W. Ao definir o período temporal em que viveu a associação diz oacórdão do Colectivo de Amarante, mantido pelo ora recorrido,que tal aconteceu, pelo menos, a partir de 29-11-2007. O uso da expressão “pelo menos” deve ser de erradicar, pelo quesignifica de indefinição, inaceitável, por contender frontalmentecom o princípio da presunção da inocência, o que no caso valerápor dizer, só pode ser entendido, em nome do exigível rigor, quedeve estar presente nestas coisas, como situando o dies a quo danova etapa nesse exacto dia, não sendo legítimo proceder aextrapolações, como se fosse possível projectar uma actividadepara o passado.

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Foi dado por provado que, já antes desse dia – 29 de Novembro de2007 -, houve vendas de produto estupefaciente, definido, aliás, deforma quase permanente, e algo abrangente/difusa, como “heroínae/ou cocaína”.Os cinco arguidos que vieram a ser condenados, anteriormente a taldata já se encontravam no terreno, operando na actividade detráfico, não necessitando de uma organização com os contornosexigidos para a associação criminosa. Foram dadas por provadas concretizadas vendas de “heroína e/oucocaína”, por elementos do grupo, ainda antes da implementação,fundação da organização a que aludem os factos provadosconstantes de A, B e C.Tal aconteceu, através do co-arguido EE, no dia 8 de Novembrode 2007, pelas 11h 10m (facto provado N) e no dia 9 deNovembro, pelas 12h32 (facto provado O), entre as 13,51 e as13,55 horas (facto provado P) e ainda, no mesmo dia, entre as14,49 e as 14,51 horas (facto provado U).E pelo arguido FF no mesmo dia 9 de Novembro, às 14, 30 horas(facto provado T) e ainda às 15.07 horas (facto provado V). A continuidade de abastecimento aos clientes foi assegurada nomesmo dia 9 de Novembro entre os arguidos EE e FF (factosprovados Q, R, S).Já no dia 7 de Novembro o arguido FF dirigira-se a casa da arguidaCC, donde saiu pelas 19,50 horas, lá voltando depois, de ondetornou a sair “sob as ordens da arguida CC” (!) – factos provadosK e M – e, do mesmo modo, no mesmo dia, pelas 20,01 horas, acasa da arguida CC, chegou o arguido EE – facto provado L. E como consta do ponto de facto provado W “ As vendasefectuadas nos dias 08 e 09 de Novembro de 2007 e acimaidentificadas foram realizadas de forma concertada pelos arguidosEE, FF, AA, CC e DD em colaboração mútua, dividindo entre elesas tarefas destinadas à actividade de venda lucrativa de heroína ecocaína”.Far-se-á aqui um parêntesis para evidenciar que os arguidos AA eDD, que figuram nesta alínea W, não são referidos, sequer poruma única vez, nos factos dados por provados e que versam asvendas efectuadas em 8 e 9 de Novembro, e a própria inclusão daco-arguida CC entender-se-á na relevância que se dê àsdeslocações a sua casa dos vendedores EE e FF, no dia 7 deNovembro de 2007 (pontos de factos provados K, L, M).Do conjunto do que inserto está nos factos provados Y, X, Z e AAretira-se que o Colectivo de Amarante deu por provado que em 10de Novembro de 2007, dois indivíduos não identificados quepretendiam vender heroína e cocaína, e que se puseram em fugaface a presença da GNR, lançando fora saco contendo cocaína eheroína, agiram de forma concertada, em colaboração mútua e

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dividindo com os arguidos AA, CC, DD e EE as tarefas destinadasà actividade de venda de heroína e cocaína.Por seu turno, o arguido DD desde meados de Outubro de 2007até 28 de Novembro de 2007, inclusive, (ou seja, até à véspera doinício da organização), fez vendas diárias de heroína e /oucocaína, de forma ininterrupta - facto provado AC.

Não se explica o que se terá passado, maxime entre os co-arguidos,e de forma mais notória com o arguido DD, para do dia 28 deNovembro de 2007, se passar, logo no dia seguinte, para umaorganização diferente, mais complexa, ganhando foros de entidadesó por si referenciável e identificável, começando a estrutura doacórdão do Colectivo, inclusive, por definir a existência de umplano, a partir de 29 de Novembro de 2007, e só depois, a partir doponto F (o contido neste ponto, bem como no ponto H écompletamente anódino para a conformação da associação) inserirreferências aos factos concretos “interpretados” pelos mesmospersonagens, no período imediatamente anterior, quandoobviamente não existia a apontada organização/associação.Perguntar-se-á, pois, o que se terá passado na transposição de 28para 29 de Novembro de 2007, para só a partir deste dia, com osmesmos actores, e no mesmo teatro de operações, surgir e passar afuncionar a associação?A resposta a esta questão, com o devido respeito, não foi dada deforma convincente. Na fundamentação da decisão de facto, a fls. 2218, afirma-se que“O tribunal apenas pode concluir que os arguidos AA, CC, DD eEE adoptaram esta atitude de subordinação da sua vontadeindividual à vontade colectiva e ao fim comum da associação apartir do dia 29/11/2007 já que, apenas a partir desta data, estáescudado nas escutas telefónicas que demonstram tal facto e, porconseguinte, apenas pode concluir pela existência da organização apartir do início das escutas, ou seja, 29/11/2007”.

A questão da fundação e chefia

Dos factos dados por provados (e apenas destes, já que de nadavalem as considerações da motivação, quando aí se inserem factosque deveriam constar do local próprio, mas que efectivamente lánão se encontram), pode retirar-se estarmos perante um chefe,considerar como tal o recorrente?Para Leal - Henriques e Simas Santos, Código Penal Anotado, 3.ªedição, Rei dos Livros, 2000, 2.º volume, pág. 1357, chefiar oudirigir tem o sentido de comandar, governar, administrar, guiar,mandar.Promover é fomentar, impulsionar, fazer avançar.Fundar significa constituir, formar.

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Retomando o que dissera em “Associações Criminosas”, a págs.60/2, Figueiredo Dias, no Comentário Conimbricense, § 33, págs.1168/9, começa por assinalar que tratando-se da modalidade deacção que o legislador valora mais negativamente deve o intérpreteser de particular exigência na delimitação do sentido típico doselementos em questão.“Chefe ou dirigente é (só) aquele indivíduo que assume as “rédeas”do destino da associação: é o responsável – ou co-responsável -,em particular medida, pela formação da vontade colectiva, oufunciona como pivot essencial à sua execução (centralizandoinformações, planeando acções concretas, distribuindo tarefas,dando ordens). Diversamente do que acontece com o apoiante, temde ser membro da organização e, na verdade, membroespecialmente qualificado.Especial qualificação a que se liga a especial perigosidade dascondutas respectivas de chefia ou direcção, por serem estas quepossibilitam um desenvolvimento articulado dos desígniosassociativos”.Para Paulo Pinto de Albuquerque, Comentário citado, nota 13,pág. 752, o chefe ou dirigente da associação criminosa é o membroque dirige a estrutura de comando e controla o processo deformação da vontade colectiva da associação criminosa.

Percorrendo a matéria de facto dada por provada ressalta o enormerelevo e a incontornável importância que teve o papeldesempenhado pela co-arguida CC, sendo até o recorrente –repete-se, encarada apenas, como deve ser, a fundamentação defacto - , num eventual jogo de luzes de ribalta, remetido para azona de penumbra.Lendo o elenco da matéria de facto provada, único receptáculo eâncora de suporte do acervo factual a subsumir, verifica-se semdificuldade que, não sendo a arguida CC propriamente umamatriarca, até em função da idade, à jovem co-arguida competiapapel importante na dinâmica da organização – e note-se que talrelevo se evidencia desde o início da actividade dos pares, aindaantes da aurora da anunciada e proclamada associação criminosa.Era a arguida CC quem mandava já antes – facto provado M – em7 de Novembro de 2007, o arguido FF, sob as ordens da arguidaCC, saiu da casa desta sita em (…) a conduzir um veículo semcarta - ; tudo gira ao derredor da dita, nela se concentrando asatenções, a ela se dirigindo as informações e os pedidos e deladimanando as instruções e directivas, e nela se concentrando aprópria gestão do negócio, como depositária, contabilista,operadora de “call center”, sendo, numa leitura de conjunto, averdadeira “guardiã do templo”. Vejamos porquê.

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Ao longo da enumeração dos factos dados por provados, várias sãoas vezes em que é mencionada a arguida CC, para além de figurarigualmente como vendedora.Surge como depositária – pontos de factos provados AJ, BI.Continuou a dar ordens – “o arguido EE recebia por um número devezes que não foi possível apurar ordens da arguida” – factosprovados AW, BA.Era mantida informada do ponto da situação das vendas, dodinheiro obtido e da necessidade de reabastecimento conformepontos BB, CN, CS, CV, CX.Informou o DD da presença da GNR e encaminhou-o para outrolocal – BC.AA avisa CC da presença da BT da GNR – BD.Quando o arguido DD é perseguido é a CC que comunica oacontecido – BF.DD dá conhecimento a CC – BG, BH.Quando a arguida vendia produto atribuía a alguns clientes bónus –BJ.Recebia reclamações dos clientes e dava ordens ao DD, a que esteobedecia, para se deslocar nos pontos de venda, para dar porterminado o período de vendas, e por vezes, para interromper asvendas e ir tomar as refeições – BK.Chegou a dar ordens ao DD, pelas 10h19m, para se levantar demanhã, a que aquele obedeceu – BL.Os arguidos DD e EE iam ao encontro dos compradorespreviamente orientados pela CC – BM.Recebia pedidos de heroína e cocaína e fornecia indicações sobrepreços – BU.Dava instruções a vendedores e clientes, recebendo os montantesangariados – BV.Era a responsável pela escrita, mantendo registos diários dasoperações - BW, CE, CX, DD.DD comunica a CC o receio de vir a ser preso – CG.O arguido AA quando vai a Braga e Algarve dá conhecimento dasviagens a CC – CI. DD relata a CC a presença da GNR – CJ.E dá conhecimento a CC de ter sido detido pela GNR – CK.CC informa DD sobre lucros – CN1.AA informa CC de que tinha tirado dinheiro – C P.Toma conhecimento de encomenda feita a EE e comunica-a a DD– CQ1.DD dá conhecimento a CC de encomenda recebida – CR.DD, sob orientação da arguida CC, vendeu em 7-01-2008; (…)vendas efectuadas pelo arguido DD, sob as ordens da arguida CC -DD.De todo este descritivo, a que acresce que “os ganhos do EE eram

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fixados, em regra, pelo arguido DD, a descontar no seu ganhodiário” – factos provados AS e AT – não se descortina que espaçoreste para o recorrente para o considerar como chefe.

Por outro lado, há que deixar muito claro que a análise dascondutas provadas deve ser feita unicamente a partir do texto dadecisão onde se encontram enumerados os factos dados porprovados, onde se encontra vertida a facticidade efectivamenteapurada, e não, como acontece em alguns passos do acórdão doColectivo de Amarante, igualmente a partir, e conjugadamente comaquela, do que foi vertido no segmento da motivação, que jáextravasa a fundamentação de facto tout court.A subsunção jurídica é de fazer face a matéria de facto provada,aos factos que se enumeraram como tendo resultado assentes, enão ao que se contém na motivação.Não pode argumentar-se na fundamentação de direito com algoque não consta como facto provado na sede própria, ou seja, comalgo que não foi dado por provado e muito menos pretenderancorar a subsunção de figura criminal grave, arregimentandoargumentos alheios àquele segmento. É o que acontece de forma evidente quando no acórdão se referena fundamentação de direito, a fls. 2202: «a circunstância de tersido o arguido AA quem contratou e superintendeu a actividadedesenvolvida pelos arguidos CC, DD e EE no seio da organizaçãode que era um dos dois chefes e ter sido ele quem lhes facultou osmeios materiais e logísticos - veículos e telemóveis – necessários aodesempenho das suas funções».E a fls. 2207 repete-se que o arguido AA «contratou os arguidosCC, DD e EE a fim destes desempenharem as tarefas específicasno âmbito do sector da organização que lhe foi atribuído» e que foiainda o arguido AA «quem facultou os meios necessários aodesempenho das funções pelos arguidos CC, DD e EE no seio daorganização, designadamente, telemóveis e automóveis».Ora, nos factos provados não se enxerga, nem tão pouco sevislumbra, nada do que foi referido, nem, aliás, se entende comoiria o arguido AA contratar (Quando? Como?) pessoas com quemcontracenara numa actividade imediatamente pretérita (até àvéspera!) nem fornecer veículos e telemóveis, quando antes já sedeslocavam e comunicavam, bastando relembrar o que ficouprovado ao longo dos pontos de factos provados enumerados de Ia AB! Por outro lado, faz pouco sentido que sendo o arguido AA o chefeda organização, e como tal suposto sendo que tivesse o poder paracriar, suspender, alterar ou extinguir as posições funcionais dosmembros da associação (cfr. Pinto Albuquerque, ibid. n.º 13), tivesse defazer comunicações à co-arguida CC, o que ocorreu por três vezes,

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conforme pontos de factos provados BD, CI e CP.

Numa outra abordagem há que realçar o facto de o plano ter sidoestabelecido entre o arguido AA, ora recorrente, e um sempredesconhecido personagem, a cada passo da fundamentação defacto referenciado como “um indivíduo cuja identidadecompleta não foi de todo possível apurar”, conforme emergedos factos dados por provados sob as letras A, B, C, AD, AE, AH,AW, AX, BG, BO, BW, CD, CF, CI, CR, CR1, EM.Apenas duas referências mais concretizadas se fazem na matéria defacto dada por provada ao mencionado chefe de identidade nãoapurada, qual entidade etérea, vogando sobre, e comandando, osterrenos eventos. Uma das alusões é reportada a um stand de automóveis, que serápropriedade do dito chefe, de identidade não apurada, referenciadopor duas vezes.Uma primeira, quando se refere que o arguido EE foi encaminhadopela co-arguida CC para o “stand” do chefe desconhecido “onde oproduto estupefaciente, por um número de vezes que não foi detodo possível apurar, se encontrava escondido em veículosautomóveis” – facto provado AW - e uma outra, quando se refereque, no dia 01-01-2008, o chefe desconhecido “tinha o produtoestupefaciente escondido sob uns tapetes à entrada do stand” –ponto de facto provado AX.A outra alusão reporta-se a deslocações do arguido AA com o ditodesconhecido chefe ao Algarve, em 17-12-2007, e a Braga, em 26-12-2007 - ponto de facto provado C1.Todavia, ao longo da motivação, que se espraiou ao longo de 128páginas, de fls. 2125 a 2253, há variadíssimas alusões a um“home”, referenciado como dono de stand de automóveis e comosendo um dos chefes da organização, que até tem nome - HH –sendo feitas referências ao tal HH, que seria o “home”, por umavez, a fls. 2146, por duas vezes, a fls. 2147, por cinco vezes, a fls.2148, por uma vez, a fls. 2149, por duas vezes, a fls. 2151, poruma vez, a fls. 2194, por uma vez, a fls. 2198, por duas vezes, afls. 2203, por quatro vezes, a fls. 2218, e por uma vez, a fls. 2221.

A questão central, nuclear, nodal, incontornavelmente essencialpara o recorrente é uma e só uma e para a qual há que encontrar aresposta adequada consentida pelo que ficou provado e apenasdentro desses inultrapassáveis limites.A matéria de facto provada integra a figura da associaçãocriminosa?Estão ou não reunidos os elementos do tipo objectivo e subjectivodo crime do artigo 28.º?Estaremos perante um pacto que tenha dado origem a entidadediversa, autónoma, transpessoal, que valha por si, referenciável por

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si mesma, que anteriormente inexistisse, a algo que visasse algumdesiderato pretendido, tivesse por escopo alguma actividade e ajuzante pretensão de obtenção de algum resultado, que procurassealcançar um fim, que tivesse por desígnio, que projectasse para ofuturo algo de novo, diferente do que já preexistia desde Setembroou Outubro/Novembro?Desse pacto terá emergido algo que dantes não era?Trouxe algum valor acrescentado?Aportou alguma mais valia? Deu origem a uma realidade autónoma, superior ou diferente àsvontades e interesses dos elementos que a integram?O acordo de vontades assumiu um carácter de autonomiarelativamente à personalidade de cada um dos membros ouaderentes?Dele emana especial perigosidade e maior carga de danosidadesocial? O pacto deu origem a alguma realidade nova, emergente, diversa,autónoma, personalizada, que se sobrepusesse à vontade e aosinteresses dos pré existentes membros singulares?Os arguidos seriam condenados igualmente mesmo que nenhumcrime houvesse sido cometido?Entrou no grupo relativamente à composição anterior algumelemento novo?Neste campo, apenas o ignoto personagem, a criatura inalcançável,uma espécie de fantasma, vogando num etéreo mundo, mas que,terraqueamente, é proprietário de um stand com automóveis,certamente colectado nas finanças, onde se guarda droga -«heroína e/ou cocaína», para manter a nomenclatura da imputação- nos automóveis e debaixo de tapetes. A espécie de “homemfantasma” é referenciada recorrentemente nas escutas como“home” e HH.Mesmo com esta entrada, ficou por provar que o pacto tivessedado origem a alguma realidade nova, pois os arguidos já antes secomunicavam e tinham meios de transporte, sendo comandados noterreno pela arguida CC, como se alcança de todo o descritivo dafundamentação.Que já antes existia organização é algo de que não há dúvida,sendo disso exemplo o que se refere a evento ocorrido em 10 deNovembro de 2007 – cfr. pontos de factos provados Y, X, Z e,designadamente, parte final do ponto AA. O acórdão do Colectivo de Amarante considerou que a actividadede tráfico desenvolvida no período anterior ao dia 29-11-2007,com as vendas concretas de 8 e 9 de Novembro de 2007 integravauma situação de comparticipação criminosa ou co-autoria, que nãoqualifica o crime, afastando assim a qualificativa de membro debando constante da pronúncia para todo o período, «o mesmo se

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verificando quanto à actividade de tráfico ocorrida no dia10/11/2007, em relação aos arguidos AA, CC, DD, EE e aos doisindivíduos cuja identidade não foi de todo possível apurar».O Colectivo afastou a qualificação da acusação de bando. Masdepois, a final, não refere a comparticipação, nada dizendo sobre apunição do crime anterior cometido em co-autoria, sendo problemanem sequer aflorado, muito embora se façam considerações arespeito ao determinar a medida da pena …A única excepção é, como se viu, a punição do arguido FF, únicocondenado por prática de crime de tráfico simples, sendo osrestantes condenados apenas pelo crime associativo.

Em suma, o que há que indagar é o que é prévio a quê.A associação aos crimes?Os concretizados crimes de tráfico à associação?Obviamente, a resposta é uma, e só uma!A apresentação da narrativa dos factos provados poderia inculcar aideia de que a resposta afirmativa à primeira pergunta era acorrecta, pois começa exactamente nas alíneas A, B, C por referir aassociação constituída a partir de 29-11-2007. Só que depois, apartir do ponto F, narra factos anteriores a tal data. Dantes, não havia apenas um “limbo, abstraído e mentalmenteescorrido dos crimes eventualmente comprovados”, como se diz noacórdão recorrido; pelo contrário, houve actos de compra e venda,compradores, vendedores e revendedores, interagindosinalagmaticamente; houve fornecimento, venda, aquisição econsumo de “heroína e/ou cocaína”; ocorreu o que, comummente,se apelida de “funcionamento do mercado”. Aliás, de uma forma correcta, atacando frontalmente o problema, oacórdão recorrido não foge à questão, ao punctum prurenssuscitado pelo recorrente, quando reconhece que é fundada aafirmação produzida a tal propósito pelo recorrente, para depoisdeixar consignado que:«Lógico-ontologicamente, não pode deixar de ter-se como um imperativo inelutável que um

crime praticado no âmbito da actividade de uma associação criminosa suponha

necessariamente a existência desta prévia àquele crime».Mas de seguida, justifica com a alínea A), que cronologicamente sesitua muito depois dos primeiros passos dados pelos arguidos, eresponde à questão com o que foi dado por provado nos pontos defacto provados A, B e C, quando é isso que justamente está emcausa.Reconhece que o Tribunal não conseguiu saber ao certo a data daconcepção do plano e acordo ajustado, estabelecendo-os comreferência a pelo menos, desde 29 de Novembro de 2007,colocando a respectiva actividade a partir da mesma data.De seguida afirma que “posto que não tenha logrado a exactidão do dia da

fundação, inquestionavelmente não confundiu e, daí, não deixou de separar onto-

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historicamente o acto da concepção/instituição, dos actos da organização em exercício

de actividade. Obviamente a significar que, em actos histórico-concretos, aquele precedeu

a prática destes”. Mas com esta construção continua por ficar sem resposta a questãocolocada e que tem justamente a ver com a actividade precedente àconstituição e a ligação entre a anterior actividade e a posterior.É que antes da constituição da organização, já vinha sendodesenvolvida actividade de tráfico. Ora, o grupo, a organização ou associação é uma entidadenecessariamente prévia à prática de crimes – os crimes daassociação – o que constitui o seu objectivo, o seu desígnio, o seufim abstracto, o seu escopo, colocando-se num estádio anterior,numa congregação de vontades, na criação de uma entidade pré-ordenada ao cometimento de crimes.Aliás, é o que resulta da própria literalidade de todos os preceitosque ao longo dos tempos prevêem o crime associativo em questão,desde o artigo 263.º do Código Penal de 1886 ao artigo 299.ºactual, ou artigo 28.º do DL 15/93, ao referirem “associaçãoformada para cometer crimes”; “associação que se proponha oucuja actividade seja dirigida à prática de crimes”; “associação cujafinalidade ou actividade seja dirigida à prática de crimes”;“associação que vise praticar crimes”, o mesmo se verificando como artigo 184.º da Lei n.º 23/2007, de 5-11 (associação de auxílio àimigração ilegal), quando refere associação dirigida à prática doscrimes. Do mesmo modo na doutrina, quando se refere a necessidade deque associação tenha em vista a prática de crimes (Beleza dosSantos), ou que a sua actividade seja dirigida à prática de crimes,consistindo nisso o seu escopo (Figueiredo Dias), remetendo-seaqui para o citado estudo de Maria Leonor Assunção. Como referia o supra citado acórdão de 10-05-2001, CJSTJ 2001,tomo 2, pág. 198, a associação tem de preexistir aos crimespraticados, enquanto factor que os originou e enquanto impulsoinicial da actividade delitiva em que eles se objectivaram.E no acórdão de 09-02-1995, CJSTJ 1995, tomo 1, pág. 198, aoreferir que os arguidos constituíram uma organização com umdesígnio deliberado de cometer crimes de burla, através de outroscrimes de emissão de cheques sem cobertura. Essa organização,pré-ordenada ao cometimento de crimes, exigiu dos arguidos umacordo persistente, que produziu como efeito um aumento gradualda sua responsabilidade (…).No acórdão de 18-12-2002, processo n.º 3217/02-3.ª, afastou-se ocrime de associação criminosa por se ter concluído que aconstituição do grupo proveio, não de um acordo ou pacto prévioao cometimento dos crimes, mas como algo nascido a posteriori.

No nosso caso a dinâmica criminosa estava presente muito antes de

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aparecer qualquer forma de associação e até aí os arguidos delaprescindiram; a dinâmica criminosa já estava adquirida, emmarcha, não foi fornecida pela associação.Sendo de exigir que a densidade das relações entre os membros deuma associação criminosa seja muito forte, certamente mais fortedo que aquela que se verifica entre os membros pertencentes a umqualquer grupo ou bando, não se vê como alcançar tal grau deintensidade face à curta, pequena e exígua descrita actividade dadacomo comprovada do ora recorrente.A organização como tal terá existido durante 40 dias, tendo oarguido EE contribuído durante 27 dias, cessando a sua actividadeem 31-12-2007 (factos provados D, onde se discriminam os diasde cooperação, AC e BQ), e não tendo o arguido DD prestado asua colaboração em dois dias, em 17 e 25 de Dezembro (factoprovado C, in fine). A propósito deste arguido suscita alguma perplexidade o que foidado como provado nos pontos CK, C, CL, CL1, CM, CN,parecendo contraditório, embora sem relevo para o presenterecurso, já que o mesmo não é recorrente, nem tão pouco colidecom a apreciação da posição do arguido ora recorrente.Conforme o ponto de facto CK, em 20-12-2007 o arguido DD deuconhecimento à arguida CC de que havia sido detido pela GNR,sem se saber em que condições, mas parecendo que terá sido soltono mesmo dia, já que na noite de 20 para 21 o arguido AA permitiuque dormisse em sua casa (AN) e voltando à actividade em 30 (CLa CM). Note-se que do inicial grupo de cinco, na composição daorganização restaram quatro elementos, e destes o arguido EEapenas se manteve até 31-12-2007, o que indicia o carácter algofragmentário da associação, acrescendo que não foi feita prova dadisseminação dos produtos por grande número de pessoas, o queconduziu à não verificação da agravante da alínea b) do artigo 24.º,do DL n.º 15/93, por que estavam igualmente pronunciados osarguidos, pouco de concreto se tendo apurado a nível de lucroscom a actividade desenvolvida (de resto não vinha imputada aagravante qualificativa de obtenção de avultada compensaçãoremuneratória). Conclui-se, assim, que a associação composta pelos arguidos seriauma organização, sem ser contudo uma associação criminosa, semter dado origem a uma realidade autónoma, diferente e superior àsvontades e interesses dos seus membros.Como refere Figueiredo Dias, in Associações Criminosas, pág. 32,“não basta à existência de uma «associação», por menosestruturada que ela possa ser, o mero acordo ou a decisão conjuntade uma pluralidade de pessoas com vista à prática de crimes – sobpena de irremediável confusão entre o tipo de associações

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criminosas e a figura da co-autoria”. E como ensina o mesmo Autor, no Comentário, pág. 1158, deveser excluída “qualquer factualidade que não releve da especialperigosidade da associação, da sua autónoma danosidade social eda sua específica dignidade penal”.

Concluindo: Não se mostra preenchido o crime de associaçãocriminosa, na modalidade de fundação e chefia, p. p. pelo artigo28.º, n.º s 1 e 3, do Decreto-Lei n.º 15/93.No fundo, temos plúrimas condutas individuais - venda de porçõesde heroína e cocaína a consumidores e revendedores durante umdeterminado período de tempo – de Outubro de 2007 a 7 Janeirode 2008, do conjunto dos arguidos, com excepção do arguido FF,nos termos sobreditos e quanto ao arguido EE apenas até 31-12-2007, no contexto de uma acção global única, todos dando o seucontributo para o facto global, pleno. A facticidade provada integra outra figura criminosa e daí naapreciação preliminar ter-se comunicado ao recorrente a eventualalteração de qualificação jurídica, nos termos do artigo 424.º, n.º 3,do Código de Processo Penal.

Bando – Membro de bando

A figura criminosa de “Bando” é introduzida com a lei da droga de1993 – Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro -, constituindoentão uma absoluta novidade no nosso ordenamento jurídico –criminal.Trata-se de uma figura nova, problemática (escusadamente nova,no entender de Faria e Costa, no Comentário Conimbricense aoCódigo Penal, em comentário ao artigo 204.º, n.º 2, alínea g), doCódigo Penal, nos §§ 66 e 67, a págs. 81 e 82, ao afirmar que aimportação da noção de bando talvez não tenha sido filtradaconvenientemente pela crítica da adequação ao real socialnacional), com dificuldades de delimitação em relação a figuras departicipação plúrima pré-existentes, e que se distancia, e fica a“meio caminho” entre os crimes associativos dos artigos 287.º e299.º do Código Penal de 1982 e de 1995 e do artigo 28.º doDecreto-Lei n.º 430/83 e do homólogo, sucessor, Decreto-Lei n.º15/93, e as figuras da mera comparticipação (propriamente dita).

A novidade da agravante típica, adicionando um “elementoespecializador”, sendo mais compreensiva, e por isso mesmo,menos extensiva, é mais exigente do que o sistema pré - vigente,deixando de relevar apenas uma qualquer situação decomparticipação, mas antes exigindo uma certa espécie decomparticipação qualificada, teve por necessário efeito, ao tempo,

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um claro efeito despenalizador, uma restrição da punibilidade,obstando à punição agravada do mero concurso de pessoas nocrime – a este propósito, cfr. acórdão deste Supremo Tribunal de25-05-1994, infra referido, e Eduardo Lobo, em Decisões deTribunais de 1.ª Instância, 1993, Comentários, Gabinete dePlaneamento e de Coordenação do Combate à Droga, Outubro de1995, págs. 37 a 49. O conceito de bando, que encontra raízes no direito penal alemão,figurando na lei da droga alemã de 1981, enquanto agravante opelegis e como circunstância qualificativa do furto, foi introduzido porFigueiredo Dias, no Projecto de Revisão do Código Penal, 1993,como factor de qualificação dos crimes de «furtum rei» e deroubo.O Professor Figueiredo Dias explanou então que «o «bando» éuma forma de comparticipação», «uma forma especial de co-autoria», deixando claro que o conceito se diferencia da associaçãocriminosa. «Uma associação criminosa pode, obviamente, cometerroubos, mas nem todo o conluio se transforma em associaçãocriminosa», disse.Como se pode ler na referida colectânea “Decisões…”, págs. 46 e47, o funcionamento da agravante faz do tipo, assim qualificado,um crime normativamente plurissubjectivo e complexo, supondo averificação cumulativa dos seguintes pressupostos: 1.º Que o agente seja membro de um bando;2.º Pré-ordenação desse bando à prática reiterada de crimes detráfico de estupefacientes e/ou de percursores;3.º Actuação do agente nessa qualidade (enquanto membro dessebando);4.º Colaboração de, pelo menos, outro membro do mesmo bando.

Conforme anotação de Miguel Pedrosa Machado a acórdão doTribunal da Comarca de Ponta do Sol, de 11-11-1993, elaboradaem Setembro de 1995, a págs. 231 a 261, da mesma Colectânea, aadopção do conceito de bando vem a traduzir um diferente modode relacionar a comparticipação com a punição do crimeassociativo. O conceito de bando assenta numa designação de carizcriminológico, que pretende traduzir uma situação em que haja,simultaneamente, e em razão da existência de um líder, algo menosdo que na associação e algo diferente da co-autoria; algo próximo,mais do que o «concurso de pessoas» (incluindo a co-autoria,espécie mais relevante ou mais forte de tal «concurso»), masmenos do que a «associação».

Tal figura, no domínio do Código Penal, surge mais tarde, a partirde 1 de Outubro de 1995, com a entrada em vigor da 3.ª alteraçãodo Código Penal, operada com o Decreto-Lei n.º 48/95, de 15-03,

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concretamente no domínio dos crimes de furto qualificado, aqui deforma expressa, e por remissão, nos casos do crime de roubo e deextorsão - artigo 204.º, n.º 2, alínea g), e artigos 210.º, n.º 2, alíneab) e 222.º, n.º 3, alínea a), do Código Penal .

A propósito de autoria plural ou participação plúrima no domíniodo crime de tráfico de estupefacientes, estabelecia o artigo 27.º doDecreto-Lei n.º 430/83, de 13 de Dezembro: As penas previstas nos artigos 23.º e 24.º serão aumentadas de umquarto nos seus limites mínimo e máximo se: g) tiver havido concurso de duas ou mais pessoas.

No Código Penal de 1886 a figura de bando era desconhecida,prevendo-se então a nível de participação plural, como agravantes,a circunstância de ter sido o crime pactuado entre duas ou maispessoas, ou de ter sido cometido por duas ou mais pessoas –circunstâncias n.º s 7.ª e 10.ª do artigo 34.º, e a agravativa do n.º 3do artigo 426.º, que previa o furto qualificado “por duas ou maispessoas”.

No Código Penal de 1982, na versão originária, para além da co-autoria e comparticipação, previstas nos artigos 26.º, 28.º e 29.º, aintervenção plural estava expressamente prevista no furtoqualificado - artigo 297.º, n.º 2, alínea h) - “com o concurso de 2ou mais pessoas”, e no crime de extorsão - artigo 317.º, n.º 5, quedizia: “Se os factos previstos no n.º 1 forem cometidos por 2 oumais pessoas que actuem como grupo organizado, a moldura penalelevar-se-á de metade”.

No Código Penal de 1995, na parte especial, a previsão daintervenção plúrima está presente no furto qualificado, deslocadopara artigo 204.º, com a introdução da nova figura de “bando”. Estabelece o artigo 204.º, n.º 2, alínea g), do Código Penal:«Quem furtar coisa móvel alheia:g) Como membro de bando destinado à prática reiterada de crimescontra o património, com a colaboração de pelo menos outromembro do bando».

Tal circunstância qualificativo-agravante é aplicável igualmente aocrime de roubo, ex vi do artigo 210.º, n.º 2, alínea b), e ao crimede extorsão, por força da remissão feita para tal preceito pelo n.º 3,alínea a), do então artigo 222.º do Código Penal.

Com a revisão de 1998, operada pela Lei n.º 65/98, de 2 deSetembro, mantiveram-se os artigos 204.º e 210.º, sendo deslocadoo crime de extorsão para o artigo 223.º, mantendo o respectivo n.º3, alínea a), a mesma remissão para a alínea g) do n.º 2 do artigo204.º.

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A reforma introduziu uma nova circunstância qualificativa no crimede homicídio qualificado ao incluir no artigo 132.º, n.º 2, a alínea g)com o seguinte teor: “ Praticar o facto juntamente com, pelomenos, mais duas pessoas …”, sendo tal qualificativa aplicável aocrime de ofensa à integridade física qualificada, ex vi do n.º 2 doartigo 146.º. Com a nova redacção do Código Penal, introduzida pela Lei n.º59/2007, de 4 de Setembro, a referida alínea g) passou para alíneah).

Como se referiu supra, a introdução da figura de “bando” no nossoordenamento jurídico operou-se através de legislação avulsa, com oDecreto-Lei n.º 15/93.

Estabelece o artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22-01,actualmente com a redacção introduzida com o artigo 54.º da Lein.º 11/2004, de 16 de Julho, a qual operou a 11.ª alteração daqueleDL, mas modificando apenas o corpo do preceito, substituindo tãosomente a penalidade cabível ao crime qualificado: As penas previstas nos artigos 21.º e 22.º são aumentadas de umquarto nos seus limites mínimo e máximo se:j) O agente actuar como membro de bando destinado à práticareiterada dos crimes previstos nos artigos 21.º e 22.º, com acolaboração de, pelo menos, outro membro do bando.

Para Taipa de Carvalho, em comentário ao artigo 223.º, inComentário Conimbricense do Código Penal, Tomo II, pág. 353,bando significa uma cooperação duradoura entre várias pessoas,sendo um conceito menos exigente que o de associação criminosa,pois que, diferentemente desta, não pressupõe uma estruturaorganizacional.

Para Paulo Pinto de Albuquerque, Comentário do Código Penal,UCE, 2008, em anotação ao artigo 204.º do Código Penal, notas40 e 41, a pág. 563, são características cumulativas da figura: 1 - Grupo de duas ou mais pessoas;2 - Grupo de pessoas que se juntam para (“destinado”) praticar umnúmero indeterminado de crimes contra o património (no que sedistingue da co-autoria) sendo suficiente o plano para a execuçãode um número incerto de crimes num período certo de tempo;3 - Grupo de pessoas que não tem um líder, uma estrutura decomando e um processo de formação da vontade colectiva (no quese distingue da associação criminosa).

Vejamos o que diz a jurisprudência do Supremo Tribunal deJustiça, a propósito da nova qualificativa, através dos seguintesacórdãos.

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13-04-1994, processo n.º 45813, in CJSTJ 1994, tomo 1, pág.256 – Confirma decisão em que o arguido, vindo acusado da prática do crime de

associação criminosa do artigo 28.º do DL 15/93 é dele absolvido, e vem a ser condenadopelo crime de tráfico agravado, p. p. pelos artigos 21.º e 24.º, alínea j), do mesmo diploma,considerando-se verificada a agravação especial prevista ou decorrente do referido artigo24.º. Aí se afirma que para a existência de “bando” (referido no artigo 24.º, alínea j), do Decreto-Lei n.º 15/93) não é necessária a “transpersonalidade”, a procura de fins comuns mediante asubordinação do indivíduo ao todo, bastando tão somente a existência de uma rede,porventura agregada em redor de um líder, a cuja vontade, porventura, também os agentesse submetam, a que acresce, como necessário, o facto da durabilidade, pelo menos emoutro grau.Concluiu-se no caso que os arguidos constituíam um “bando”, aliados que estavam nopropósito conjunto de, por forma reiterada ou continuada, comercializarem heroína comacentuados lucros. Verifica-se a existência desse bando quando, dolosamente, um arguido transportava adroga, que entregava a outro que a cedia, por sua vez a dois outros arguidos, que avendiam, tudo como expressão da realidade que é o tráfico de estupefacientes.

25-05-1994, processo n.º 45829, CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 224e BMJ n.º 437, pág. 228 – O conceito de bando, referido no artigo 24.º, alínea j),

do DL n.º 15/93, consubstanciando uma diferente e nova agravante, a exprimir uma situaçãoque ultrapassa a realidade vertida na alínea g) do DL n.º 430/83, traduz uma figuraintermédia entre a co-autoria (menos grave) e a associação criminosa (mais grave).E cita a propósito, o Prof. Eduardo Correia, a págs. 254, do 2.º volume do “Direito Criminal”,que em nota escreveu: “Parte da doutrina alemã costuma integrar na teoria dacomparticipação criminosa as hipóteses de Komplott (quando várias pessoas se associamcom o fim de executar um ou vários crimes determinados) e Bando (quando tal associaçãose dirige à prática de uma série indeterminada de crimes). Parece, porém, que sempre quetais figuras não possam reconduzir-se à da co-autoria eles nada terão a ver com a teoria dacomparticipação: o que pode acontecer é que tais associações sejam tratadas como crimesautónomos, “sui generis”, ou como agravante especial relativamente a certos crimesparticularmente graves…”No caso concreto a solução foi afastada por tal agravante especial ou qualificativa nãoexistir à data dos factos.

29-06-1994, processo n.º 45530, CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 258- O bando será uma figura intermédia entre a da associação criminosa do artigo 28.º do DL

15/93 e a do antigo “concurso de duas ou mais pessoas” da alínea g) do artigo 27.º do DL430/83, traduzindo-se num grupo com actividade quase exclusiva, em que o agente actuacom consciência de participar nesse grupo sem que com isso obrigatoriamente conheçatodos os agentes ou membros envolvidos.Justifica-se a nova alínea do seguinte modo: “Pretendeu o legislador assegurar a defesa deuma maior censurabilidade quando se deparam situações, comuns neste tipo decriminalidade, de colaboração dos agentes, de diferentes níveis, sem que se estruture comisso uma verdadeira organização, com sede, estabilidade ou tendência para a perenidade,hierarquia e responsabilidade daí advenientes. A agravação resulta primordialmente doperigo traduzido pela colaboração de vontades, determinadas por objectivos definidos, nãoapenas de colaboração mas de vontade de colaboração, mesmo que limitada no tempo”.

22-06-1995, processo n.º 47.997, in CJSTJ 1995, tomo 2, pág.238 – Para a existência de bando (hoc sensu), que não se confunde com a associação

criminosa, basta que se configure uma rede, porventura agregada a um líder, ligada pelopróprio conjunto dos seus elementos de traficarem estupefacientes. Trata-se de uma figura intermédia entre a co-autoria e a associação criminosa (citando aquiacórdãos de 25-05-94 e 29-06-94, in CJSTJ tomo 2, págs. 224 e 258, supra referidos), em quebasta que o agente actue com a consciência de participar num grupo, com objectivosdefinidos, sem que com isso obrigatoriamente conheça todos os membros envolvidos.

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29-06-1995, processo n.º 47.773, in CJSTJ 1995, tomo 2, pág.251 – A propósito do conceito de “bando” e da sua introdução na alínea j) do artigo 24.º,

do DL 15/93, considera que a filosofia do diploma esteve em ter querido estabelecer, àsemelhança de diversas legislações estrangeiras, uma situação de actuação ilícitaintermédia entre a simples comparticipação criminosa e a associação criminosa.Para a verificação de actuação em bando, no crime de tráfico de estupefacientes, olegislador teve em mente considerar como mais graves do que as situações de meraparticipação criminosa, embora menos censuráveis do que aquelas em que existe umaperfeita e definida “associação criminosa”, aquelas condutas em que, pelo menos doisagentes actuam de forma voluntária e concertada, em colaboração mútua, com umaincipiente estruturação de funções, mas sem que se possa já considerar como existente umaorganização perfeitamente caracterizada, com níveis e hierarquias de comando e com umacerta divisão e especialização de funções de cada uma dos seus componentes ouaderentes, como sucede na “associação criminosa”.(O acórdão cita como exemplos de uniformidade de entendimento neste sentido, osacórdãos supra referidos, de 13-04-1994, in CJSTJ 1994, tomo 1, pág. 256 e de 29-06-1994,processo n.º 45530, in CJSTJ 1994, tomo 2, pág. 258).

13-02-1997, processo n.º 1019/96 - 3.ª – Sumários de AcórdãosSTJ, Gabinete de Assessoria, n.º 8, Fevereiro de 1997, pág. 89 -Para a existência do bando a que alude o artigo 24.º, alínea j), do DL 15/93, é indispensávelque exista uma rede, porventura ligada a um líder, unida pelo propósito conjunto dos seusmembros de traficarem estupefacientes, a que acresce como elemento necessário, a suadurabilidade em pelo menos certo grau. Quanto ao elemento subjectivo do bando, bastaque os agentes actuem com a consciência de participar num grupo, com objectivosdefinidos, sem que com isso tenham obrigatoriamente que conhecer todos os membrosenvolvidos.

27-02-1997, processo n.º 908/96 - 3.ª – Sumários de AcórdãosSTJ, Gabinete de Assessoria, n.º 8, Fevereiro de 1997, pág. 103- O “bando” é um agrupamento de pessoas conexionadas, mais emotiva que

racionalmente, à volta da realização mais ou menos persistente e ronceira da actividadecriminosa, com vista a determinado objectivo, aproveitando fundamentalmente em cadamomento, a experiência e a capacidade de cada elemento individual e colectivamenteconsiderados.Não se exige na sua constituição ou existência, a organização típica da associaçãocriminosa, que a pressupõe bem definida, nem se contenta, como a co-autoria, com a meracomparticipação.Como também não se exige que o grupo que o integre se dedique apenas à actividadecriminosa. Outra actividade do grupo, e até lícita, pode servir para a realização daactividade criminosa, ou para a camuflar.A qualidade de membro de uma família não afasta a estrutura criminal do bando, já quedesviada aquela das suas finalidades próprias, pode até servir para melhor e maisfacilmente, se agregar e constituir tal figura penal.

08-10-1997, processo n.º 356/97 - 3.ª, Sumários de AcórdãosSTJ, Gabinete de Assessoria, n.º 14, volume II, pág. 133 - Não

obsta à qualificação da alínea j) do artigo 24.º do DL 15/93, a circunstância de um ou outromembro do “bando” gozar de um especial estatuto de não punibilidade em função derelações de parentesco ou afinidade com outros.

18-12-1997, processo n.º 918/97 - 3.ª – Sumários de AcórdãosSTJ, Gabinete de Assessoria, n.ºs 15 e 16, volume II, pág. 217- A figura do bando visa abarcar aquelas situações de pluralidade de agentes actuando

“de forma voluntária e concertada, em colaboração mútua, com uma incipiente estruturaçãode funções”, que embora mais graves - e portanto mais censuráveis – do que a mera co-autoria ou comparticipação criminosa, não são de considerar verdadeiras associações

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criminosas, por nelas inexistir “uma organização perfeitamente caracterizada, com níveis ehierarquias de comando e com uma certa divisão e especialização de funções de cada umdos seus componentes ou aderentes”.

30-09-1999, processo n.º 726/96, CJSTJ 1999, tomo 3, pág. 162(do mesmo relator do acórdão de 18-12-1997, e citando os acórdãos de 29-06-1995 e de 27-

02-1997, supra referidos).Na figura jurídica de “bando” o que, verdadeiramente, releva é a existência de umapluralidade de agentes actuando de forma voluntária e concertada, de colaboração mútua,com uma incipiente estruturação de funções que, embora criem situações mais censuráveisque as de mera comparticipação criminosa não são de considerar verdadeiras associaçõescriminosas, visto nelas não existir uma organização perfeitamente caracterizada com níveise hierarquias de comando e com uma certa divisão de funções de cada um dos seuscomponentes e aderentes.A qualidade de membros de uma família, ainda que de etnia cigana, caracterizada, pelosseus usos e costumes, por uma estrutura organizativa, altamente gregária, fechada emarginal, só por si não exclui a possibilidade de integrar a figura criminal de “bando”, vistoque a lei não exige que o “grupo” se dedique exclusivamente, a actividades criminosas poisas lícitas podem, até, servir para camuflar aquelas.

18-12-2002, processo n.º 3217/02 - 3.ª Secção - O conceito de bando

assenta numa designação de cariz criminológico, que se situa, em razão da existência de umlíder, entre algo menos do que a associação e algo diferente da co-autoria.

23-04-2003, processo n.º 789/03 - 3.ª Secção - Após afastar a

caracterização da conduta como associação criminosa, diz-se: Haverá actuação em bando enão em associação criminosa quando o agente comparticipa na prática de crimes de umaforma mais exigente do que a mera co-autoria pontual, mas bastante longe ainda daassociação criminosa, tudo não passando de um grupo destinado à prática de crimes, masde forma desarticulada e sem organização estruturada.

06-11-2003, processo n.º 3392/03 - 5.ª Secção - Para efeitos da

qualificativa a que alude a alínea j) do artigo 24.º do DL n.º 15/93, a noção de «bando» éalgo que se distingue da simples co-autoria, por um lado, indo além dela, e da associaçãocriminosa, por outro, que não chega a atingir. «Bando» será, assim, uma actuação plural evoluntária com vista à prática de crime ou crimes, em que cada agente não tem consciênciae (ou) intenção de pertença a um ente colectivo com personalidade distinta da sua eobjectivos próprios - o que permite afastar a figura da associação criminosa típica - mas emque os diversos «colaboradores», inseridos numa orgânica ainda incipiente, reconhecem,todavia, a existência de uma liderança de facto a que se subordinam - o que permite, por seulado, distinguir a figura da simples co-autoria. A figura do «bando» basta-se com a existência de duas pessoas, nada impedindo quesejam marido e mulher.

11-12-2003, processo n.º 2293/03 - 5.ª Secção - Após afastar no caso

sujeito a figura da associação criminosa, refere: Agravará especialmente a responsabilidadedo agente de um crime de «tráfico agravado de drogas ilícitas», a actuação em bando,nomeadamente uma «actuação com vista à prática reiterada de crimes, em que cada agentenão tem consciência e (ou) intenção de pertença a um ente colectivo com personalidadedistinta da sua e objectivos próprios - o que afastará a associação criminosa típica - mas emque os diversos “colaboradores”, inseridos numa orgânica ainda incipiente, reconhecem,todavia, a existência de uma liderança de facto a que se subordinam».

07-01-2004, processo n.º 3213/03 - 3.ª Secção - A noção de “bando”,

figura de pluralidade, de concertação e também de organização, situa-se, no plano daconstrução, entre as dimensões da comparticipação, em relação à qual se apresenta comoum plus diferenciador, e a organização de nível e relevo que integre já o conceito,tipicamente relevante, de associação criminosa.

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A diferença qualitativa há-de situar-se essencialmente na dimensão organizativa e napredeterminação dos fins; só esta dimensão acrescenta ao «acordo ou juntamente comoutros» um quid material de distinção. A actuação em “bando”, ou como membro de“bando”, significa necessariamente a existência de um sentimento de comunhão de fins, depertença a uma pluralidade inorgânica diversa das individualidades, de especificidade defins e objectivos determinados, diversos da simples conjugação ou soma de vontadesindividuais agregadas. Na jurisprudência do STJ a noção de “bando” visa todas as situações de pluralidade deagentes, actuando de forma voluntária, concertada e de colaboração mútua, com umprincípio de estruturação de funções (estruturação incipiente), que, embora mais graves doque a mera comparticipação, não podem ser ainda consideradas associações criminosas,por não existir uma organização suficientemente caracterizada, com níveis e hierarquias ecom uma relativa diversidade e especialização de funções de cada um dos membros ouaderentes.Considera-se necessário que “a actuação, em concreto, seja levada a efeito, ao menos pordois elementos”.“Hão-de, assim, ser relevantes a existência de um grupo de pessoas, o sentimento e avontade de pertença, uma estruturação organizatória mínima na direcção e na divisão detarefas, a permanência no tempo e a predeterminação de finalidades, a actuação conformeplano previamente elaborado e em conjugação de esforços, o conhecimento por todos daactividade de cada um, e a divisão entre elementos do grupo dos proventos obtidos com aactividade”.

Revertendo ao caso concreto.

No caso em apreciação, relembre-se que todos os arguidos forampronunciados pelo crime de tráfico de estupefacientes agravado, p.p. pelo artigo 24.º, alíneas b) e j), do Decreto-Lei n.º 15/93, masporque foram os arguidos condenados por associação criminosa(com excepção do FF), em várias das suas vertentes, foramabsolvidos do crime de tráfico qualificado pela alínea j), porincompatível com a existência da figura mais forte da associaçãocriminosa, sendo impossível a sua verificação simultânea.O modus operandi do grupo de arguidos AA, CC, DD e EE, foi decolaboração mútua, agindo “em rede”, com a consciência departicipação em grupo, que tinham um plano de venda e revendade heroína e cocaína a partir de Amarante, com divisão de tarefas,na busca de lucro, todos se referenciando às directivas da arguidaCC, agindo ao longo de cerca de pouco mais de três meses,socorrendo-se de meios de transporte, que conduziam sem seremtitulares de habilitação, dispondo de uma organização, que não ostranscendia, mantendo a sua singularidade.

Conclui-se, assim, que é de afastar a incriminação do recorrentepelo crime de fundação e chefia de associação criminosa, sendoantes de operar a convolação e considerar a conduta do recorrentede subsumir no tipo de crime qualificado de tráfico deestupefacientes, p. p. pelo artigo 24.º, alínea j), do Decreto-Lei n.º15/93.

Medida da pena

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Com o desaparecimento do crime de associação criminosa e ainsubsistência do crime de tráfico de estupefacientes simples,importa considerar a nova penalidade a aplicar ao recorrente pelo“novo” crime, a que corresponde a moldura penal de prisão de 5 a15 anos. Neste particular, ter-se-ão em conta as concretizações dos critérioslegais estabelecidas pela decisão de primeira instância, que recolheuos elementos necessários e suficientes para o efeito e quemereceram a concordância do acórdão recorrido.No que toca ao bem jurídico protegido, como é consabido, o crimede tráfico de estupefacientes protege uma multiplicidade de bensjurídicos, designadamente de carácter pessoal, embora todos elesse possam reconduzir a um mais geral: a saúde pública – cfr.acórdãos do Tribunal Constitucional de 06-11-1991, in BMJ n.º411, pág. 56, e de 10-02-1999, in DR, II Série, n.º 77, de 01-04-1999 e BMJ n.º 484, pág. 119.

A ter em conta as condições pessoais, profissionais e sócio-económicas do arguido, narradas nos pontos de factos provadosET a FH, bem como o período de actividade de tráfico, que seprolongou ao longo de cerca de três meses. No que concerne à natureza e qualidade dos produtosestupefacientes em causa, releva a venda e revenda de heroína e decocaína. Tais substâncias encontram-se previstas nas Tabelas I-A e I-B,anexas ao Decreto-Lei n.º 15/93, sendo consideradas drogas duras,com elevado grau de danosidade, sendo, pois, a qualidade dassubstâncias transaccionadas reveladora de considerável ilicitudedentro daquelas que caracterizam o tipo legal.Na verdade, sendo certo que o Decreto-Lei n.º 15/93 não aderetotalmente à distinção entre drogas duras e drogas leves, não deixade no preâmbulo referir uma certa gradação de perigosidade dassubstâncias, dando um passo nesse sentido com o reordenamentoem novas tabelas e dai extraindo efeitos no tocante às sanções, e deafirmar que “A gradação das penas aplicáveis ao tráfico, tendo emconta a real perigosidade das respectivas drogas afigura-se ser aposição mais compatível com a ideia de proporcionalidade”,havendo, pois, que atender à inserção de cada droga nas tabelasanexas, o que constitui indicativo da respectiva gradação, pois aorganização e colocação nas tabelas segue, como princípio, ocritério da sua periculosidade intrínseca e social.Por outro lado, de acordo com Relatório de 11-05-1992, aprovadopela Comissão de Inquérito, criada por decisão do ParlamentoEuropeu de 24-01-1991, sobre a proliferação, nos países daComunidade Europeia, do crime organizado ligado ao tráfico dedroga, in Sub Judice, n.º 3, 1992, pág. 95, a heroína é classificadacomo droga ultra dura e a cocaína como droga dura.

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Está-se, pois, perante substâncias incluídas nas referidas tabelasanexas ao DL 15/93, cujo abastecimento e disseminação têm vindoa aumentar com os efeitos perniciosos conhecidos, sendo deatender às elevadas exigências de defesa do ordenamento jurídico,estando em equação por colocado em perigo e sobressaltoconstante, por forma directa, um dos mais apreciáveis bens dacomunidade, a saúde pública, para além dos consabidos efeitoscolaterais.

Face à actividade desenvolvida e à forma intensa como ocorreu, foigrande o risco de disseminação das substâncias em causa. No que tange a motivações da conduta tem-se por certo estarpresente a obtenção de vantagem patrimonial. Na base do negócio estava uma estrutura organizativa mínima.A culpa é acentuada e revelada pelo modo de actuação.

As razões e necessidades de prevenção geral positiva ou deintegração - que satisfaz a necessidade comunitária de afirmação oumesmo reforço da norma jurídica violada, dando corpo à vertenteda protecção de bens jurídicos, finalidade primeira da punição - sãomuito elevadas, fazendo-se especialmente sentir neste tipo deinfracção, tendo em conta o bem jurídico violado no crime emquestão – a saúde pública - e impostas pela frequência dofenómeno e do conhecido alarme social e insegurança que estescrimes em geral causam e das conhecidas consequências para acomunidade a nível de saúde pública e efeitos colaterais,justificando resposta punitiva firme, o que de resto foi bemassinalado na decisão recorrida.Na verdade, há que ter em atenção as grandes necessidades deprevenção geral numa sociedade assolada pelo fenómeno do tráficode droga, que a juzante gera outro tipo de criminalidade, masinteiramente relacionada com esta, senão mesmo por eladeterminada, pois é das leis do mercado que os bens têm um preçode aquisição e quando escasseia o meio para sua obtenção muitaspoderão ser as formas de alcançar o necessário e imprescindívelpoder aquisitivo, em vista da satisfação das necessidades geradaspela toxicodependência e como é sabido uma dessas formas maiscomum é a prática de roubos, havendo que dar satisfação aosentimento de justiça da comunidade.As necessidades de prevenção especial avaliam-se em função danecessidade de prevenção de reincidência.Relativamente aos antecedentes criminais, há que ter em atençãoque os crimes por que o recorrente foi condenado são, afora ascondenações pela prática de 3 crimes de condução sem habilitaçãolegal, de natureza diversa do tráfico presente (prática de um crimede ofensa à integridade física, por que foi condenado em pena demulta, e de um crime de violação, por que foi condenado por

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acórdão de 20-02-2001, em sete anos de prisão).Face a todos estes factores, considerando que a aplicação de penastem como primordial finalidade a de restabelecer a confiançacolectiva na validade da norma violada, abalada pela prática docrime e em última análise, na eficácia do próprio sistema jurídicopenal, não devendo ultrapassar o grau de culpa, entende-se comoadequada e proporcional, a pena de 7 anos e 6 meses de prisão,pela prática do crime agravado de tráfico de estupefacientes.

Havendo necessidade de refazer o cúmulo jurídico das penasaplicadas, e procedendo ao mesmo, tendo em conta o disposto nosartigos 77.º e 78.º do Código Penal, estando-se perante umamoldura penal de concurso de 7 meses de prisão a 8 anos e 1 mêsde prisão, considerando a diversidade de bens jurídicos tutelados, operíodo temporal em causa, a imagem global do facto, tem-se poradequada, equilibrada e proporcional, a pena conjunta de 8 anos deprisão.

*******

Da extensão dos efeitos da requalificação jurídico - criminalda conduta do recorrente aos demais arguidos igualmentecondenados por crime de associação criminosa, e nãorecorrentes.

Há que ver que consequências se podem retirar doreenquadramento jurídico - criminal realizado relativamente quantoao recorrente, no que toca aos demais arguidos, não recorrentes, econdenados por crime de associação criminosa, embora em graumenor, mas em concurso real, com um crime de tráfico deestupefacientes.

Segundo o artigo 402.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, semprejuízo do disposto no artigo seguinte, o recurso interposto deuma sentença abrange toda a decisão.Dispõe a alínea a) do n.º 2, que «Salvo se for fundado em motivosestritamente pessoais, o recurso interposto por um dos arguidos,em caso de comparticipação, aproveita aos restantes”. Segundo o artigo 403.º, n.º 2, alínea e), é autónoma a parte dadecisão que se referir, em caso de comparticipação criminosa, acada um dos arguidos, sem prejuízo do disposto na referida alíneaa) do n.º 2 do artigo anterior.Explicita o n.º 3 do mesmo preceito, que a limitação do recurso auma parte da decisão não prejudica o dever de retirar daprocedência daquele, as consequências legalmente impostasrelativamente a toda a decisão recorrida.Significa isto que o arguido que não recorre e não é assim parte na

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instância de recurso, poderá eventualmente tornar-se umbeneficiário indirecto do recurso de co-arguido recorrente,tratando-se obviamente de uma mera expectativa de eventualproveito próprio decorrente de actividade alheia, ganho esse quereverterá a seu favor apenas se e quando for caso disso. Tendo transitado em julgado o acórdão quanto aos demaisarguidos, a decisão poderá ser modificada supervenientementenesse contexto, por se verificar caso julgado sob condiçãoresolutiva, ou seja, a impugnação por parte de co-arguido nãoafecta o trânsito condicional do acórdão relativamente ao nãorecorrente, como o Supremo tem considerado, v. g., nos acórdãosde 09-02-2006, processo n.º 486/06-5.ª; de 08-03-2006, processon.º 888/06-3.ª; de 25-05-2006, processo n.º 4123/05-5.ª; de 07-06-2006, processo n.º 2184/06-3.ª; de 04-10-2006, processo n.º3667/06-5.ª; de 11-10-2006, processo n.º 3774/06-3.ª; de 07-11-2007, processo n.º 4209/07-3.ª; de 27-05-2009, processo n.º50/06.3GAOFR-3.ª.Sobre a extensão do recurso e o trânsito em julgado, anota-se oacórdão de 05-12-1997, processo n.º 48956-3.ª, SumáriosAssessoria, n.º 8, Fevereiro de 1997, pág. 78, onde se refere:“Tendo todos os arguidos sido condenados pelo crime deassociação criminosa e alguns deles recorrido para o TribunalConstitucional para alegação de inconstitucionalidades várias emsede de produção da prova em julgamento, uma vez que a suaeventual procedência se repercutirá ao nível dos demaisinteressados, cria-se assim um circunstancialismo legalmenteextensivo a todos os demais intervenientes no processo, pelo quenão é de deferir o pedido formulado por um dos arguidos nãorecorrentes, para que quanto a si, seja declarado o trânsito emjulgado da decisão”.

Ora, no nosso caso, há que considerar que as expressões“comparticipação” e “comparticipação criminosa”, que se contêmnos artigos 402.º, n.º 2, alínea a) e 403.º, n.º 3, alínea e), doCódigo de Processo Penal, devem ser entendidas comoabrangendo, por identidade de razão, outros casos de autoria plural,como os crimes associativos, de participação necessária, ouconvergentes, como é o presente caso, em que os arguidos, nãorecorrentes, foram condenados por participação em associaçãocriminosa.

Face à não integração do crime de associação criminosa, por queforam igualmente condenados os demais arguidos, com a excepçãoapenas do FF, importa rever a sua situação, uma vez que há queconferir coerência interna à decisão, no que toca a qualificaçãojurídico criminal de condutas com pontos em comum, poisdesaparece a condenação por associação criminosa e o próprio

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crime de tráfico de estupefacientes simples, p. p. pelo artigo 21.º,do DL n.º 15/93, perde a autonomia, englobando-se as duasanteriores qualificações na emergente qualificação como crime detráfico agravado, que não sendo tanto como a associaçãocriminosa, não é tão pouco como o crime base, e que absorve este,atribuindo agora, pelo único crime, uma única pena, em vez dapena única do anterior concurso.Com efeito, não faria sentido que um dos arguidos - e logo o chefe- fosse absolvido de um crime por que os demais também foramcondenados, embora em variantes de menor intensidade, grau deintervenção e gravidade, e que foi convolado para outro diverso,menos grave, o que implica concomitantemente a absorção porconsumpção, da outra condenação por tráfico simples, e os demaisarguidos, não recorrentes, ou até recorrentes, mas que viram osrecursos serem rejeitados por extemporaneidade, continuassemcondenados por aquele imputado crime de participação emassociação criminosa, que o tribunal considerou inexistir,subsistindo então a condenação por um crime considerado nãopreenchido.Tudo se passaria, pois, como se a qualificação que não valessepara o recorrente, continuasse a valer para os restantes arguidos, oque manifestamente não pode ser.Por outras palavras, não havendo associação criminosademonstrada, não pode a conduta dos demais arguidos nãorecorrentes ser subsumida como integrando uma colaboraçãoou participação com a mesma, ou seja, com uma entidade quese reconheceu inexistir.Chegados a este ponto há que declarar que tem de prevaleceruma única verdade histórica sobre a existência ou não daassociação, não podendo “sobreviver” a versão da associaçãocriminosa em relação aos não recorrentes ….

Como vimos supra, foram condenados os arguidos em causa daseguinte forma (não se consideram aqui as condenações porcondução ilegal sem carta impostas a alguns dos arguidos):

Arguida CC:

a) um crime de participação em associação criminosa, p. e p. pelosartigos 28.º, n.º 2, do Dec. Lei n.º 15/93 e artigo 299.º, n.º 2, doCódigo Penal, na pena de 6 anos de prisão;b) um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Dec. Lei n.º 15/93, na pena de 5 anos e 6 meses deprisão; d) em cúmulo jurídico foi condenada na pena única de 7 anos e 6meses.

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Arguido EE:

a) um crime de participação em associação criminosa, p. e p. pelosartigos 28.º, n.º 2, do Dec. Lei n.º 15/93 e artigo 299.º, n.º 2, doCódigo Penal, na pena de 5 anos de prisão;b) um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Dec. Lei n.º 15/93, na pena de 4 anos de prisão.c) Em cúmulo jurídico foi o arguido condenado na pena única de 6anos de prisão.Arguido DD:a) um crime de participação em associação criminosa, p. e p. pelosartigos 28.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 15/93, e artigo 299.º, n.º 2,do Código Penal, na pena de 3 anos de prisão;b) um crime de tráfico de estupefacientes p. e p. pelo artigo 21.º,n.º 1, do Decreto-Lei n.º 15/93, na pena de 3 anos de prisão.c) Em cúmulo jurídico foi condenado na pena única de 4 anos deprisão, com execução suspensa por igual período de tempo,acompanhada de regime de prova.

No caso concreto, a requalificação jurídico criminal das condutasdos arguidos não recorrentes tem lugar apenas por uma questão denecessário realinhamento, de concessão de uma lógica interna dadecisão condenatória, de modo a uniformizar o enquadramentojurídico criminal dos vários arguidos, que naquele período de cercade três meses, navegaram, com idênticos objectivos, no mesmoprocesso histórico desviante.Apenas isso.No caso em apreciação daí não advirão, reflexamente, outrasconsequências, como redução de punição, e muito menos,agravamentos da mesma, posta a incontornável observância daproibição da reformatio in pejus.Em relação ao arguido DD, inclusive, efectuando-se arequalificação, verifica-se que face ao novo crime, o limite mínimocabível ao mesmo - 5 anos - é superior à pena única de 4 anos deprisão que lhe foi aplicada.A solução será a de manter as penas aplicadas, por impossibilidadede agravamento nos termos do artigo 409.º do Código de ProcessoPenal, e no que toca ao último arguido, a solução só poderá ser ade manter tal pena, em obediência igualmente ao princípio daproibição da reformatio in pejus, mantendo-se a suspensão nosmoldes traçados.

Decisão

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Pelo exposto, acordam no Supremo Tribunal de Justiça em julgar orecurso interposto pelo arguido AA, parcialmente procedente, e emconsequência:1 – Revogar o acórdão recorrido na parte em que confirma acondenação do recorrente pela prática de um crime de fundação echefia de associação criminosa, p. e p. pelo artigo 28.º, n.ºs 1 e 3,do Decreto - Lei n.º 15/93 e artigo 299.º, n.ºs 1 e 3, do CódigoPenal, e de um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. peloartigo 21.º, n.º 1, do Decreto - Lei n.º 15/93;1.1 - Alterar essa qualificação jurídica para a prática de um crimede tráfico de estupefacientes agravado, p. e p. pelo artigo 24.º,alínea j), do DL 15/93, de 22-01;1.2 - Condenar o recorrente pela prática de tal crime, na pena de 7anos e 6 meses de prisão;1. 3 - Manter o mais decidido, maxime, no que respeita àcondenação pelo crime de condução sem habilitação legal, p. e p.pelo artigo 3.º, n.º s 1 e 2, do Decreto - Lei n.º 2/98, de 03-01, napena de 7 meses de prisão; 1.4 - Em cúmulo jurídico, condenar o recorrente na pena conjuntade 8 anos de prisão.

2 – Nos termos do artigo 402.º, n.º 2, alínea a), do Código deProcesso Penal, alterar o acórdão recorrido no que toca àscondenações dos demais arguidos não recorrentes, a seguirindicadas, e assim: 2. 1- Arguida CC

2. 1. 1 – Revogar o acórdão recorrido na parte em que condena aarguida pela prática de um crime de participação em associaçãocriminosa, p. e p. pelos artigos 28.º, n.º 2, do Decreto - Lei n.º15/93 e 299.º, n.º 2, do Código Penal, e de um crime de tráfico deestupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º, n.º 1, do mesmo Decreto -Lei n.º 15/93;

2. 1. 2 - Alterar a qualificação para um crime de tráfico deestupefacientes agravado, p. p. pelo artigo 24.º, alínea j), do DL n.º15/93, de 22-01;

2. 1. 3 - Condenar a arguida pela prática de um crime de tráfico deestupefacientes agravado, p. p. pelo artigo 24.º, alínea j), domesmo Decreto-Lei, na pena de 7 anos e 6 seis meses de prisão;2. 1. 4 - Manter o mais decidido, maxime, no que respeita àcondenação pelo crime de condução sem habilitação legal, p. e p.pelo artigo 3.º, n.º 1, do Decreto - Lei n.º 2/98, de 03 de Janeiro,na pena de 60 dias de multa;2. 1. 5 - Em cúmulo jurídico, condenar a arguida na pena única de7 anos e 6 seis meses de prisão e em 60 dias de multa à razão

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diária de 5 Euros.

2. 2 – Arguido EE

2. 2. 1 - Revogar o acórdão recorrido na parte em que o condenapela prática de um crime de participação em associação criminosa,p. e p. pelos artigos 28.º, n.º 2, do Decreto - Lei n.º 15/93 e 299.º,n.º 2, do Código Penal, e de um crime de tráfico deestupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.º, n.º 1, do Dec. Lei n.º15/93,

2. 2. 2 - Alterar a qualificação para um crime de tráfico deestupefacientes agravado, p. p. pelo artigo 24.º, alínea j), doDecreto-Lei n.º 15/93, de 22-01;

2. 2. 3 - Condenar o arguido pela prática de tal crime na pena de 6anos de prisão;

2. 2. 4 - Manter o mais decidido, maxime, no que respeita àcondenação pelo crime de condução sem habilitação legal, naforma continuada, p. e p. pelos artigos 30.º, n.º 2, do CódigoPenal, e 3.º, n.ºs 1 e 2, do Decreto-Lei n.º 2/98, de 03/01, porreferência aos artigos 122.º e 123.º, do Código da Estrada, na pena100 dias de multa, à razão diária de 5 Euros;2. 2. 5 – Procedendo ao cúmulo jurídico, condenar o arguido napena de prisão de 6 anos de prisão e na pena de 100 dias de multa,à razão diária de 5 Euros;

2. 3 – Arguido DD

2. 3. 1 - Revogar o acórdão recorrido na parte em que condena talarguido pela prática de um crime de participação em associaçãocriminosa, p. e p. pelos artigos 28.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º15/93, e 299.º, n.º 2, do Código Penal, e de um crime de tráfico deestupefacientes p. e p. pelo artigo 21.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º15/93;

2. 3. 2 - Alterar a qualificação para um crime de tráfico deestupefacientes agravado, p. p. pelo artigo 24.º, alínea j), do DL n.º15/93, de 22-01;

2. 3. 3. - Condenar o arguido pela prática de tal crime, mas,

2.3.4 - Manter a condenação, agora por tal crime, na pena de 4anos de prisão, com execução suspensa por igual período detempo, acompanhada de regime de prova.

2.3.5 – Manter a condenação pela prática de um crime decondução sem habilitação legal, na forma continuada, p. e p. pelosartigos 30.º, n.º 2, do Código Penal, artigo 3.º, n.ºs 1 e 2, do

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Decreto-Lei n.º 2/98, de 03-01, por referência aos artigos 122.º e123.º do Código da Estrada, na pena de 100 dias de multa, à razãodiária de 5 Euros.3 - Manter o demais decidido.Sem custas.Consigna-se que foi observado o disposto no artigo 94.º, n.º 2, doCódigo de Processo Penal.

Supremo Tribunal de Justiça

Lisboa, 27 de Maio de 2010

Raúl Borges (Relator)Fernando Fróis