acp dano moral

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Apelação Cível n. 2010.015585-6, de Lages Relator: Juiz Henry Petry Junior APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. PROCEDÊNCIA NO PRIMEIRO GRAU. - RECURSO PARA MAJORAÇÃO DO QUANTUM. NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO DA CONDENAÇÃO AOS PARÂMETROS DESTA CÂMARA. CRITÉRIOS PREVALENTES DA CAPACIDADE ECONÔMICA DO LESANTE E FINS PEDAGÓGICOS QUE DEVEM SER OBSERVADOS. ELEVAÇÃO IMPERIOSA. - SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. - "A indenização por danos morais deve ser fixada com ponderação, levando-se em conta o abalo experimentado, o ato que o gerou e a situação econômica do lesado; não podendo ser exorbitante, a ponto de gerar enriquecimento, nem irrisória, dando azo à reincidência." (TJSC. Apelação Cível n. 2006.013619-0, de Laguna. Relator: Des. FERNANDO CARIONI, j. em 3.08.2006). Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 2010.015585-6, da comarca de Lages (1ª Vara Cível), em que é apelante Leni Aparecida Pereira Macedo, e apelado Lojas Berlanda Ltda e outro: ACORDAM, em Terceira Câmara de Direito Civil, por votação unânime, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Custas legais. RELATÓRIO 1. A ação Trata-se de "ação declaratória de inexistência de débito e indenização por dano moral c/c pedido liminar" aforada por LENI APARECIDA PEREIRA MACEDO em face de LOJAS BERLANDA LTDA e BANCO GE CAPITAL S/A, alegando, em síntese, que: [a] em janeiro de 2009 adquiriu os seguintes produtos na loja ré: uma TV Semp Toshiba 29", guarda-roupas e uma cozinha modelo Nicioli Laguna; [b] efetuou o pagamento dos produtos em parcelas mensais, quitando-as todas; [c] ao tentar realizar compras no comércio local descobriu que seu nome havia sido inscrito no SPC, na data de 26.03.09; [d] sua negativação teria origem na inadimplência de prestação com vencimento no dia 11.02.09, referente ao contrato de n. 086421905; [e] a parcela foi devidamente quitada, sendo a dívida inexistente; e [f] a

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ACP dano moral

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  • Apelao Cvel n. 2010.015585-6, de LagesRelator: Juiz Henry Petry Junior

    APELAO CVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AO DEINDENIZAO POR DANOS MORAIS. NEGATIVAOINDEVIDA. PROCEDNCIA NO PRIMEIRO GRAU. - RECURSOPARA MAJORAO DO QUANTUM. NECESSIDADE DEADEQUAO DA CONDENAO AOS PARMETROS DESTACMARA. CRITRIOS PREVALENTES DA CAPACIDADEECONMICA DO LESANTE E FINS PEDAGGICOS QUEDEVEM SER OBSERVADOS. ELEVAO IMPERIOSA. -SENTENA REFORMADA. RECURSO PROVIDO.

    - "A indenizao por danos morais deve ser fixada componderao, levando-se em conta o abalo experimentado, o atoque o gerou e a situao econmica do lesado; no podendo serexorbitante, a ponto de gerar enriquecimento, nem irrisria, dandoazo reincidncia." (TJSC. Apelao Cvel n. 2006.013619-0, deLaguna. Relator: Des. FERNANDO CARIONI, j. em 3.08.2006).

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao Cvel n.2010.015585-6, da comarca de Lages (1 Vara Cvel), em que apelante LeniAparecida Pereira Macedo, e apelado Lojas Berlanda Ltda e outro:

    ACORDAM, em Terceira Cmara de Direito Civil, por votao unnime,conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Custas legais.

    RELATRIO1. A aoTrata-se de "ao declaratria de inexistncia de dbito e indenizao

    por dano moral c/c pedido liminar" aforada por LENI APARECIDA PEREIRAMACEDO em face de LOJAS BERLANDA LTDA e BANCO GE CAPITAL S/A,alegando, em sntese, que: [a] em janeiro de 2009 adquiriu os seguintes produtos naloja r: uma TV Semp Toshiba 29", guarda-roupas e uma cozinha modelo NicioliLaguna; [b] efetuou o pagamento dos produtos em parcelas mensais, quitando-astodas; [c] ao tentar realizar compras no comrcio local descobriu que seu nome haviasido inscrito no SPC, na data de 26.03.09; [d] sua negativao teria origem nainadimplncia de prestao com vencimento no dia 11.02.09, referente ao contrato den. 086421905; [e] a parcela foi devidamente quitada, sendo a dvida inexistente; e [f] a

  • conduta ilcita das rs causou-lhe diversos constrangimentos, alm de dificuldadesfinanceiras.

    Pugnou a antecipao dos efeitos da tutela, para o fim de determinarque as rs retirassem seu nome do rgo de proteo ao crdito acima referido, bemcomo ao pagamento de indenizao por danos morais no valor a ser arbitrado pelomagistrado. Requereu, ainda, a declarao de inexistncia do dbito em questo, e acondenao das demandadas ao pagamento de custas processuais e honorriosadvocatcios no importe de 20% (vinte por cento). (fls. 02/11)

    Deferida a antecipao dos efeitos da tutela atravs da deciso de fl.26.

    Citadas, as rs apresentaram contestaes.O Banco GE Capital S/A. sustenta (fls. 62/68) que agiu em exerccio

    regular de direito, visto que no foi constatado o pagamento da parcela em questo.Dessa forma, inexiste conduta ilcita e responsabilidade pelo abalo moral sofrido peloautor.

    As Lojas Berlanda Ltda. alegam (fls. 74/87), de modo preliminar, suailegitimidade passiva, alm de denunciar lide a empresa SGI, suposta responsvelpela falha no seu sistema de pagamentos que resultou na inscrio do autor no rol demaus pagadores.

    Impugnao s contestaes apresentada s fls. 112/118.Aps, sobreveio deciso judicial antecipada.2. A sentenaNo ato compositivo da lide (fls. 119/122), em 15.07.2009, o magistrado

    Flavio Andr Paz de Brum julgou procedente o pedido inicial, condenando as rs aopagamento do valor R$ 3.000,00 (trs mil reais) a ttulo de indenizao por danosmorais, acrescido de correo monetria a partir da data de publicao da sentena,incidindo juros de mora a contar da inscrio indevida.

    Condenou-a, ainda, ao pagamento das custas processuais e honorriosadvocatcios, arbitrados em 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado dacondenao.

    3. O recursoInconformado, a autora interps recurso de apelao s fls. 125/140,

    pleiteando a majorao do quantum indenizatrio, com forte nos seguintesargumentos: a) houve abuso por parte das rs, causando-lhe constrangimentos; b) acondenao a um valor mais elevado visa a desestimular novas condutas lesivas; e c)que sempre diligenciou a fim de manter seu nome imaculado junto comunidade,restando por honrar seus compromissos.

    Apresentao de contrarrazes s fls. 164/175 e 177/185, ascenderamos autos a esta Corte.

    o relatrio.VOTO

    1. A admissibilidade do recursoSatisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conhece-se do recurso.2. Do mrito

    Gabinete do Juiz Henry Petry Junior

  • 2.a. Questes ultrapassadasDiante da existncia de recurso apenas da autora, com o objetivo de ver

    majorada indenizao por danos morais fixada no primeiro grau de jurisdio,incontroversa e no devolvida a esta Corte a existncia do ilcito reclamado, bemcomo a ocorrncia do dano moral, diante da ausncia de insurgncia recursal nestesentido.

    Destarte, passo a analisar, apenas, a matria devolvida a esta Corte,qual seja, a pretendida majorao do quantum indenizatrio.

    2.b. Legitimidade passivaImportante ressaltar que, segundo registro constante no servio de

    restrio ao crdito mantido pela Cmara dos Dirigentes Lojistas (SPC), a inscriodo nome da autora como inadimplente foi promovida por ambos os rus, conformedepreende-se do documento de fl. 21, estando confirmada a legitimidade ad causamdos acionados.

    2.c. Do quantum indenizatrioPugna a autora a majorao do valor da condenao a ttulo de danos

    morais fixado na sentena recorrida, pois entende ser irrisrio perante a conduta ilcitadas rs e a extenso do abalo moral experimentado, o que iria de encontro aosobjetivos do instituto.

    Razo lhe assiste.Ante a ausncia de parmetros legais objetivos para a fixao do dano

    moral, residem estes sobre o arbtrio motivado do magistrado na forma do art. 946 doCdigo Civil, aplicvel ao caso, levando-se sempre em considerao aspeculiaridades da situao ftica em relao a cada parte. As indenizaes tabeladas,como aquelas trazidas pela Lei de Imprensa, sucumbiram em face do disposto naConstituio Federal de 1988, que garante a indenizao dos danos morais naproporo do abalo sofrido.

    consabido que "a indenizao por danos morais deve ser fixada componderao, levando-se em conta o abalo experimentado, o ato que o gerou e asituao econmica do lesado; no podendo ser exorbitante, a ponto de gerarenriquecimento, nem irrisria, dando azo reincidncia." (TJSC, Apelao Cvel2006.013619-0, da Laguna. Rel. Des. FERNANDO CARIONI. j. em: 03.08.06)

    Portanto, cabe ao magistrado, justificadamente, a fixao de verba queatente, tanto quanto possvel, situao scio-econmica das partes, sem perder devista a necessidade de avaliao da repercusso do evento danoso na vida da vtima.

    Leciona JURANDIR SEBASTIO acerca do tema:Em quaisquer dos casos de procedncia do pedido indenizatrio, o quantum a

    ser fixado questo de arbitramento a ser exercido pelo juiz, em prudente critriojudicante (como se legislador fosse, caso a caso), levando em conta, de um lado, onvel socioeconmico da vtima, e, de outro, a possibilidade material do agente e oseu grau de culpa (elemento conceitual a ser identificado pelo juiz, com polarizadordo quantum). Quanto maior a culpa, mais elevada dever ser a condenao, tudodentro dos limites do pedido e da contrariedade processual. (SEBASTIO, Jurandir.Responsabilidade Mdica: civil, criminal e tica. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey,2001. p. 47-48)

    O problema da quantificao do dano moral levou o Superior Tribunal deJustia a se pronunciar da seguinte forma:

    Gabinete do Juiz Henry Petry Junior

  • A jurisprudncia deste Superior Tribunal de Justia firme no sentido deevidente exagero ou manifesta irriso na fixao, pelas instncias ordinrias, violaaos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, sendo possvel, assim, areviso da aludida quantificao. In casu, no se mostra irrisrio nem exagerado; aocontrrio, fora fixado com moderao e razoabilidade, o que afasta qualquerpossibilidade de reviso nesta instncia superior. (STJ, AgRg no REsp 742.812, deSanta Catarina. Rel. Min. HLIO QUAGLIA BARBOSA. j. em: 17.05.07)

    E ainda:O valor da indenizao por dano moral sujeita-se ao controle do Superior

    Tribunal de Justia, sendo certo que a indenizao a esse ttulo deve ser fixada emtermos razoveis, no se justificando que a reparao venha a constituir-se emenriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros, devendo oarbitramento operar com moderao, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porteeconmico das partes, orientando-se o juiz pelos critrios sugeridos pela doutrina epela jurisprudncia, com razoabilidade, valendo-se de sua experincia e do bomsenso, atento realidade da vida e s peculiaridades de cada caso. Ademais, deveprocurar desestimular o ofensor a repetir o ato. (STJ, REsp 246.258, de So Paulo.Rel. Min. SLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA. j. em: 18.04.2000)

    Essas peculiaridades exigem que o arbitramento do quantum daindenizao se faa fundado sempre num critrio de razoabilidade, tendente areconhecer e condenar a r a pagar valor que no importe enriquecimento sem causapara aquele que suporta o dano, mas uma efetiva reparao de carter moral e umasria reprimenda ao ofensor, que lhe sirva de exemplo no reincidncia.

    In casu, constata-se que a repercusso da conduta ilcita das rs trouxetranstornos autora, sendo presumveis os desgostos por ela sofridos em decorrnciados constrangimentos causados diante da inscrio indevida em cadastro dedevedores.

    Traz, a autora, documentos (fl. 35) que comprovam o efetivo pagamentodas parcelas do negcio efetuado entre as partes, tornando indevida a inscrio nocadastro de maus pagadores (fls. 21/22) realizada pelas rs.

    Ante a situao ftica narrada na exordial, e os critrios e peculiaridadesexpostos neste voto, em observncia aos parmetros fixados por esta Cmara (nestesentido: Apelao cvel n. 2007.061735-6, deste relator, julgada em 06.05.2008), votopela majorao da verba fixada a ttulo de danos morais ao aporte de R$ 20.000,00(vinte mil reais), de forma solidria, atualizado monetariamente a partir desta decisoe acrescido de juros legais a partir do ato ilcito desencadeador, em 26.03.2009, (STJ,REsp 877.169/PR, Rel. Min. Francisco Falco, DJ de 08.03.2007) sendo estes de12% ao ano.

    o voto.DECISOAnte o exposto, por unanimidade, a Cmara decide conhecer do recurso

    e dar-lhe provimento, nos termos supra.O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des.

    Fernando Carioni, com voto, dele participando o Exmo. Sr. Des. Marcus TulioSartorato.

    Florianpolis, 20 de abril de 2010.

    Gabinete do Juiz Henry Petry Junior

  • Henry Petry JuniorRELATOR

    Gabinete do Juiz Henry Petry Junior