acórdão stj - imposto de renda

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Superior Tribunal de Justiça AgRg no RECURSO ESPECIAL 1.495.943 - AC (2014/0295449-7) RELATÓRIO O SR. MINISTRO OG FERNANDES: Trata-se de agravo regimental interposto pelo Estado do Acre contra a decisão monocrática de e-STJ, fls. 243/258, por meio da qual se negou seguimento ao recurso especial, aos fundamentos de serem impertinentes as alegações de ofensa aos arts. 535 e 557 do CPC, e de que o aresto recorrido se encontra na mesma linha jurisprudencial adotada no seio desta Corte, atraindo a vedação da Súmula 83/STJ. Em suas razões, o agravante sustenta a pertinência do exame da violação dos arts. 535 e 557 do CPC, no caso concreto, porque as razões recursais veiculadas no recurso de apelação não teriam sido enfrentadas pela Corte de origem, seja em juízo monocrático ou em colegiado. No mérito, repisa a fundamentação anteriormente apresentada, no sentido de que a verba recebida pelos Oficiais de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, instituída com base na Resolução n. 95/97 do TJ/AC, denominada "gratificação prêmio de produtividade", tem natureza híbrida, sendo remuneratória e indenizatória, e não somente indenizatória, como entendeu o Tribunal a quo . Assevera que somente seria indenizatória quando a diligência do oficial de justiça for inexitosa, ou seja, quando o mandado não for cumprido. Insiste ser este o entendimento firmado no Pleno do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, e que, em caso análogo, o Superior Tribunal de Justiça também assim decidiu, colacionando o precedente. Requer, nesses termos, o juízo de retratação, ou que seja conhecido e provido o presente agravo regimental e, consequentemente, o recurso especial. É o relatório. Documento: 47325012 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 1 de 4

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acórdão STJ - imposto de renda

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  • Superior Tribunal de Justia

    AgRg no RECURSO ESPECIAL N 1.495.943 - AC (2014/0295449-7)

    RELATRIO

    O SR. MINISTRO OG FERNANDES: Trata-se de agravo regimental

    interposto pelo Estado do Acre contra a deciso monocrtica de e-STJ, fls. 243/258,

    por meio da qual se negou seguimento ao recurso especial, aos fundamentos de serem

    impertinentes as alegaes de ofensa aos arts. 535 e 557 do CPC, e de que o aresto

    recorrido se encontra na mesma linha jurisprudencial adotada no seio desta Corte,

    atraindo a vedao da Smula 83/STJ.

    Em suas razes, o agravante sustenta a pertinncia do exame da violao

    dos arts. 535 e 557 do CPC, no caso concreto, porque as razes recursais veiculadas

    no recurso de apelao no teriam sido enfrentadas pela Corte de origem, seja em

    juzo monocrtico ou em colegiado.

    No mrito, repisa a fundamentao anteriormente apresentada, no sentido

    de que a verba recebida pelos Oficiais de Justia do Tribunal de Justia do Estado do

    Acre, instituda com base na Resoluo n. 95/97 do TJ/AC, denominada "gratificao

    prmio de produtividade", tem natureza hbrida, sendo remuneratria e indenizatria, e

    no somente indenizatria, como entendeu o Tribunal a quo .

    Assevera que somente seria indenizatria quando a diligncia do oficial

    de justia for inexitosa, ou seja, quando o mandado no for cumprido.

    Insiste ser este o entendimento firmado no Pleno do Tribunal de Justia do

    Estado do Acre, e que, em caso anlogo, o Superior Tribunal de Justia tambm assim

    decidiu, colacionando o precedente.

    Requer, nesses termos, o juzo de retratao, ou que seja conhecido e

    provido o presente agravo regimental e, consequentemente, o recurso especial.

    o relatrio.

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  • Superior Tribunal de Justia

    AgRg no RECURSO ESPECIAL N 1.495.943 - AC (2014/0295449-7)

    VOTO

    O SR. MINISTRO OG FERNANDES (Relator): Como anotado na

    primeira oportunidade, o recurso especial do ente federativo no merece prosperar.

    Inicialmente, h que se registrar que a reclamao quanto s prefaciais de

    ofensa aos arts. 535 e 557 do CPC afigura-se impertinente, eis que, muito embora o

    acrdo concebido na Corte a quo tenha o resultado de no conhecimento do agravo

    regimental, a deciso monocrtica foi reproduzida e submetida ao crivo do colegiado

    da Segunda Cmara Cvel daquele Sodalcio, que chancelou o entendimento ali

    esposado, no encontrando fundamentos para modific-lo.

    Vale acrescentar que a questo posta nos autos foi analisada luz da

    legislao que o Tribunal a quo entendeu aplicvel ao caso, de forma clara e suficiente

    compreenso, no havendo omisso capaz de alterar o entendimento exarado no

    aresto.

    Portanto, no vingam as alegaes de nulidade do acrdo recorrido.

    No mrito, cinge-se a controvrsia definio da natureza da verba

    recebida pelos Oficiais de Justia do Tribunal de Justia do Estado do Acre,

    denominada "gratificao prmio de produtividade", se remuneratria ou indenizatria,

    para efeitos de incidncia do Imposto de Renda.

    Primeiramente, h que se atentar para o fato de que, a despeito da

    denominao "gratificao prmio de produtividade", a referida verba, na verdade,

    constitui um abono pelas despesas efetuadas pelos oficiais de justia no transporte

    durante o cumprimento dos mandados.

    Esse o registro feito no aresto recorrido, merecendo destaque a

    seguinte passagem:

    "A questo posta cinge-se em saber se a gratificao denominada Prmio de Produtividade constitui acrscimo patrimonial, para determinar a incidncia do Imposto de Renda.A Gratificao em referncia foi instituda pela Resoluo n. 95/75, do Pleno Administrativo do Tribunal de Justia do Estado do Acre. Sua finalidade precpua era de "cobrir despesas dos oficiais de justia com o

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  • Superior Tribunal de Justia

    transporte necessrio ao cumprimento de mandados". Por sua vez, o artigo 9 da referida Resoluo est assim redigido:

    'Somente ser fornecido transporte pelo Poder Judicirio quando a diligncia houver de ser efetuada em local distante mais de vinte quilmetros da sede do juzo e nos casos em que for exigida a conduo de pessoas ou transporte de materiais'.

    Desse modo, constato que a referida Gratificao tem ntido carter indenizatrio, j que foi instituda com a finalidade de ressarcir o oficial de justia das despesas realizadas no cumprimento dos mandados judiciais, cujo deslocamento era efetuado s expensas do executor das ordens emanadas dos Magistrados. (e-STJ, fls. 153/154)

    A reviso dessa concluso insuscetvel na via do recurso especial, ante

    o bice contido na Smula 280/STF, como se verificou em hipteses idnticas: REsp

    1.441.019/AC, Rel. Ministro Benedito Gonalves, DJe 9/9/2014; REsp 1.427.507/AC,

    Rel. Ministro Humberto Martins, DJe 18/2/2014.

    Isso estabelecido, a jurisprudncia deste Superior Tribunal de Justia

    firmou-se no sentido de que o auxlio-conduo recebido pelos oficiais de justia para o

    custeio das diligncias para o cumprimento dos mandados o que se assemelha ao

    caso dos autos constitui verba indenizatria e, portanto, isenta do Imposto de Renda.

    Nessa esteira, os seguintes precedentes:

    PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTRIO. SERVIDOR PBLICO ESTADUAL. OFICIAL DE JUSTIA. AUXLIO-CONDUO. NO INCIDNCIA DE IMPOSTO DE RENDA.1. No incide imposto de renda sobre o auxlio-conduo pago aos oficiais de justia como mecanismo de ressarcimento pelas despesas (combustveis, veculos prprios) por eles realizadas para o cumprimento de diligncias. Precedentes do STJ.2. Agravo Regimental no provido.(AgRg no REsp 1.385.723/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 4/10/2013)

    PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVRSIA. ART. 543-C, DO CPC. AUXLIO- CONDUO. IMPOSTO DE RENDA. NO INCIDNCIA. TRIBUTO SUJEITO A LANAMENTO POR HOMOLOGAO. PRESCRIO. TERMO INICIAL. PAGAMENTO INDEVIDO. ARTIGO 4 DA LC N. 118/2005. DETERMINAO DE APLICAO RETROATIVA. DECLARAO DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONTROLE DIFUSO. CORTE ESPECIAL. RESERVA DE PLENRIO. MATRIA DECIDIDA PELA 1 SEO, NO RESP 1.002.932/SP, JULGADO EM 25/11/09, SOB O REGIME DO ART. 543-C DO CPC. MAJORAO DOS

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  • Superior Tribunal de Justia

    HONORRIOS. SMULA 7 DO STJ.1. A incidncia do imposto de renda tem como fato gerador o acrscimo patrimonial, sendo, por isso, imperioso perscrutar a natureza jurdica da verba paga pela empresa sob o designativo de auxlio-conduo, a fim de verificar se h efetivamente a criao de riqueza nova: a) se indenizatria, que, via de regra, no retrata hiptese de incidncia da exao; ou b) se remuneratria, ensejando a tributao. Isto porque a tributao ocorre sobre signos presuntivos de capacidade econmica, sendo a obteno de renda e proventos de qualquer natureza um deles.2. O auxlio-conduo consubstancia compensao pelo desgaste do patrimnio dos servidores, que se utilizam de veculos prprios para o exerccio da sua atividade profissional, inexistindo acrscimo patrimonial, mas uma mera recomposio ao estado anterior, sem o incremento lquido necessrio qualificao de renda. (Precedentes: REsp 825.845/RS, Rel. MIN. CARLOS FERNANDO MATHIAS - JUIZ CONVOCADO DO TRF 1 REGIO, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/04/2008, DJe 02/05/2008; REsp 825.907/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/04/2008, DJe 12/05/2008; REsp 639.635/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/06/2007, DJe 30/09/2008; REsp 731.883/ RS , 1 Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 03/04/2006; REsp 852.572/ RS, 2 Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJ 15/09/2006; REsp 840.634/RS, 2 Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ 01/09/2006; REsp 851.677/RS, 1 Turma, Rel. Min.Francisco Falco, DJ25/09/2006) [...]8. Recurso especial da Unio Federal desprovido. Acrdo submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resoluo STJ n. 8/2008.9. Recurso especial da parte autora parcialmente conhecido e, nesta parte provido, to somente para determinar a aplicao da prescrio decenal, nos termos da fundamentao expendida.(REsp 1.096.288/RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 08/02/2010)

    de se reconhecer, alm da necessidade de anlise de lei local, que o

    aresto recorrido est em sintonia com a jurisprudncia desta Corte, razo pela qual no

    procede a irresignao do ente federativo.

    No havendo, pois, nova motivao hbil para alterar o entendimento

    anteriormente exarado, mantenho a deciso agravada.

    Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

    como voto.

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