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Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 02B1327 Nº Convencional: JSTJ00000106 Relator: JOAQUIM DE MATOS Descritores: MARCAS MODELO INDUSTRIAL IMITAÇÃO PROPRIEDADE INDUSTRIAL REGISTO Nº do Documento: SJ200205160013272 Data do Acordão: 16-05-2002 Votação: UNANIMIDADE Tribunal Recurso: T REL COIMBRA Processo no Tribunal Recurso: 2235/01 Data: 04-12-2001 Texto Integral: S Privacidade: 1 Meio Processual: REVISTA. Decisão: NEGADA A REVISTA. Área Temática: DIR COM - MAR PATENT. Legislação Nacional: CPI95 ART96 N2 ART122 N1 N2 ART139 N1 N2 ART141 ART143 C ART158 N1 B ART162 N1 ART263. Sumário : I - O grau de semelhança entre dois modelos industriais é dado pela possibilidade de confusão entre ambos, dando lugar a que se estabeleça e potencie a sua associação mental por parte dos respectivos consumidores ou utilizadores. II - É o que se passa com dois modelos de embarcação designados por "gaivota - cisne" e "gaivota - pato, ambas com a forma de um cisne contendo a cabeça dessa ave como constitutiva das respectivas figuras de proa e uma asa em cada bordo nas quais tomam assento os passageiros que accionam os pedais sitos à sua frente. Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça: I - A, e mulher B, ids.. a fls. 2, intentaram esta acção declarativa ordinária contra C e marido D, aí ids., pedindo que os RR. sejam condenados a não colocar no comércio, e a não utilizar por qualquer forma, as suas embarcações que imitam um modelo seu, que descrevem, ou em alternativa, que sejam compelidos a mudar a forma das suas embarcações de modo a permitir a diferenciação com as embarcações dos AA.. Para o efeito alegam que: O A. é autor de um modelo de embarcação de recreio conhecido por gaivota, cujo processo de registo se iniciou em 24/04/98, tendo sido objecto de publicação no Boletim da Propriedade Industrial n. 1/99 e estando tal modelo industrial definitivamente registado em nome do A. com o nº 28461; Desde 24/04/98, têm os AA. vindo a fabricar, armazenar e introduzir no comércio de aluguer de embarcações de recreio, que desenvolvem na Barrinha da Praia de Mira, tais modelos, sendo certo que estes consistem essencialmente

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Page 1: Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça ... · accionar o leme", por referência à figura adoptada na interpretação desse resumo, contida na certidão de fls

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de JustiçaProcesso: 02B1327

Nº Convencional: JSTJ00000106

Relator: JOAQUIM DE MATOSDescritores: MARCAS

MODELO INDUSTRIAL

IMITAÇÃO

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

REGISTO

Nº do Documento: SJ200205160013272

Data do Acordão: 16-05-2002

Votação: UNANIMIDADE

Tribunal Recurso: T REL COIMBRAProcesso no Tribunal

Recurso:

2235/01

Data: 04-12-2001

Texto Integral: SPrivacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.

Decisão: NEGADA A REVISTA.

Área Temática: DIR COM - MAR PATENT.

Legislação Nacional: CPI95 ART96 N2 ART122 N1 N2 ART139 N1 N2 ART141 ART143 CART158 N1 B ART162 N1 ART263.

Sumário : I - O grau de semelhança entre dois modelos industriais é dado pela

possibilidade de confusão entre ambos, dando lugar a que se estabeleça e

potencie a sua associação mental por parte dos respectivos consumidores ouutilizadores.

II - É o que se passa com dois modelos de embarcação designados por

"gaivota - cisne" e "gaivota - pato, ambas com a forma de um cisne contendo a

cabeça dessa ave como constitutiva das respectivas figuras de proa e uma asa

em cada bordo nas quais tomam assento os passageiros que accionam os

pedais sitos à sua frente.

Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

I - A, e mulher B, ids.. a fls. 2, intentaram esta acção declarativa ordinária

contra C e marido D, aí ids., pedindo que os RR. sejam condenados a não

colocar no comércio, e a não utilizar por qualquer forma, as suas embarcações

que imitam um modelo seu, que descrevem, ou em alternativa, que sejam

compelidos a mudar a forma das suas embarcações de modo a permitir a

diferenciação com as embarcações dos AA..

Para o efeito alegam que:

O A. é autor de um modelo de embarcação de recreio conhecido por gaivota,

cujo processo de registo se iniciou em 24/04/98, tendo sido objecto de

publicação no Boletim da Propriedade Industrial n. 1/99 e estando tal modelo

industrial definitivamente registado em nome do A. com o nº 28461;Desde 24/04/98, têm os AA. vindo a fabricar, armazenar e introduzir no

comércio de aluguer de embarcações de recreio, que desenvolvem na Barrinha

da Praia de Mira, tais modelos, sendo certo que estes consistem essencialmente

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numa embarcação branca e com a forma de um cisne, com duas asas, apoiadaem dois flutuadores laterais, com um volante e movida a pedais;

São titulares de licença emitida pela Direcção Regional do Ambiente e Recursos

Naturais do Centro, para, na Barrinha da Praia de Mira, manterem 23 gaivotas,

3 barcos a remos e 3 cais de embarque amovíveis, sucedendo que, apesar desta

licença se referir só aos meses de Julho, Agosto e Setembro, a verdade é que

veio entretanto a ser requerido pelo A. marido que o exercício da sua actividade

se iniciasse, durante o ano em curso, mais cedo, precisamente durante o mês de

Abril, o que veio a ser deferido pela entidade responsável;

Em 8 de Junho do ano anterior, os RR. fizeram colocar na mesma Barrinha,

embarcações idênticas às dos AA., passando a partir de então a utilizá-las na

sua actividade comercial de aluguer que também desenvolvem no local, vindo acausar com tal utilização elevados prejuízos patrimoniais e morais aos AA., já

que aos olhos do observador normal, essas embarcações se confundem com o

modelo dos AA.;

As sobreditas embarcações dos RR consistem também elas num modelo quetem a forma de um pato, de cor branca, com uma asa em cada bordo, apoiadaem dois flutuadores laterais e movida a pedais, pelo que, dada a semelhança,

facilmente se confundem com as "gaivotas" dos AA.;Existe a vontade expressa e manifesta de confundir o consumidor menos atento,

por parte dos RR., vontade e intenção estas que se mostram mais reforçadascom o facto de os mesmos terem recentemente procedido a nova alteração nas

suas "gaivotas pato", aditando desta feita às suas embarcações, com o intuito deas tomarem ainda mais parecidas com as dos AA., um volante igual ao que

existe nas embarcações destes últimos, e que consta também do referidomodelo industrial;

Até terem os RR. começado a utilizar as suas "gaivotas pato" nesse local,imitando abusivamente as referidas embarcações dos AA., sempre tiveram estasúltimas procura superior à das restantes embarcações ali alugadas;

Situação que é tanto mais grave para os AA., quanto é certo que a actividadepor si exercida se traduz numa actividade sazonal, que tem a sua maior procura

durante os meses de Junho a Agosto inclusive, sucedendo que é com os lucrosque obtêm nesse curto espaço de tempo, que os AA. custeiam e a suportam

todas as despesas e encargos familiares durante o resto do ano; ePara além dos danos patrimoniais, têm os AA., mormente a A., irmã da R.,

sofrido graves danos morais, resultantes de tensões e conflitos permanentes quetêm abalado a harmonia e estabilidade familiares, não apenas da família nuclear

dos AA., mas também da restante família da A., vindo tais desavenças econflitos provocado aos AA. desgostos, angústias e aborrecimentos constantes.Citados, os RR. contestaram e alegaram, em suma, que:

Não põem em causa o modelo industrial já definitivamente registado em nomedo A., mas a existência desse modelo não colide com a existência do modelo

utilizado pelos RR.;Trata-se de facto de objectos de tal modo diferentes que não são confundíveis

por ninguém; O modelo da R. tem como diferenças: a) reproduz a figura animal - pato; b) os

flutuadores ultrapassam, em qualquer das extremidades, o corpo do animal quesuportam; c) o formato das asas é mais quadrangular; d) a traseira termina em

bico; e) o peito do animal é mais curvo; f) o formato do pescoço é mais grosso;

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g) há diferenças na altura do pescoço, que é mais curto; h) o formato dos olhosé maior e com sobrancelhas; i) o formato do bico é mais espalmado e grosseiro;

j) há diferenças nos assentos para os tripulantes; l) tem agora ainda coresdiferentes, porque o pato possui uma faixa laranja de cada lado da embarcação,

igual ao bico e os frisos das asas são coloridos com riscas cor de laranja; e osAA. não sofreram quaisquer prejuízos.

Concluem, pedindo a improcedência da acção e a sua absolvição dos pedidosou, quando assim se não entenda, que seja admitida a alteração já efectuada

pelos RR., que transformaram as embarcações, alterando-lhes a cor ou outrospormenores, sempre aproveitando as embarcações.Os AA. responderam, dizendo não aceitar a alegada alteração feita pelos RR.

nas embarcações "gaivotas-pato", por modificação da cor, por a dita alteraçãonão consubstanciar uma transformação das embarcações, continuando a

consubstanciar imitação das embarcações dos AA. e a possibilitar a confusãopor parte de um consumidor médio.

Proferiu-se saneador-sentença que conheceu do mérito da causa e, julgando-sea acção provada e procedente, condenaram-se os RR. a não colocar no

comércio e a não usar as embarcações "gaivota-pato" por as mesmas imitaremo modelo registado em nome do A. marido com o nº 28461, supra descrito.

Dessa decisão apelaram os RR. para a Relação de Coimbra que, por Acórdãode 4/12/01, de fls. 148 a 157, confirmou o julgado respectivo. Aindainconformados os RR. recorreram de revista para este Supremo, requerendo

que se julgue procedente o recurso e, em consequência, se declare nula asentença e se ordene que os autos prossigam até final ou, caso assim se não

entenda, se revogue a mesma e se admita a coexistência dos modelos industriaisem causa.

Para o efeito alegam os recorrentes o contido a fls. 167 a 169 e concluem que: 1. O modelo industrial dos recorrentes e o modelo industrial dos recorridos são

diferentes, não podendo ser confundíveis, tendo ambos protecção atento o art.139º do CP Industrial, sucedendo que ao decidir em sentido diverso o tribunalad quo violou essa norma;

2. O Acórdão recorrido interpretou erradamente essa norma do CPIndustrial; e

3. Dado o art. 668º, nº 1 e al. d), do CPCivil, a sentença é nula por não se terpronunciado sobre matéria fundamental, não permitindo que fosse produzida

prova necessária à sustentação da tese dos recorrentes no que respeita à

inconfundibilidade dos modelos industriais em causa.

Os recorridos, contra-alegando, pedem se mantenha o julgado das Instâncias.II - Após os vistos, cumpre decidir:

A - Factos:

1. O A. é autor de um modelo de embarcação de recreio conhecido por

"gaivota", cujo processo de registo iniciou em 24/04/98, que foi objecto depublicação no Boletim da Propriedade Industrial nº1/99, encontrando-se

presentemente tal modelo industrial definitivamente registado em nome do A.

marido com o nº 28461, com a seguinte descrição: "trata-se, em resumo, de umobjecto flutuante, que reveste a forma de um cisne, com a cabeça do referido

animal constituindo a figura de proa do aludido objecto, uma asa em cada

bordo, assentos nos quais podem tomar lugar os utilizadores, uns pedais sitos

em frente dos referidos assentos, dois flutuadores e um volante que permiteaccionar o leme", por referência à figura adoptada na interpretação desse

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accionar o leme", por referência à figura adoptada na interpretação desse

resumo, contida na certidão de fls. 33, aqui dada por reproduzida;2. Os AA. têm vindo, desde 24/04/98, a fabricar, armazenar e introduzir no

comércio de aluguer de embarcações de recreio, que desenvolvem na Barrinha

da Praia de Mira, aqueles modelos, sendo titulares de licença emitida pelaDirecção Regional do Ambiente e Recursos Naturais do Centro para, na

Barrinha, manterem 23 gaivotas, 3 barcos a remos e 3 cais de embarque

amovíveis;

3. Os RR. desenvolvem a actividade de aluguer de embarcações de recreio namesma Barrinha;

4. Os RR. utilizam, desde 8/06/99, nessa actividade as embarcações de aluguer

denominadas gaivotas em forma de pato, de cor banca, com uma asa em cada

bordo, apoiada em dois flutuadores laterais, movida a pedais;5. A R. é titular do alvará de licença nº 239/97 para manter nesse Barrinha vinte

gaivotas, três barcos a remos e três cais de embarque;

6. As "gaivota-cisne" dos AA. têm o aspecto dado pelas fotografias de fls. 15 e16, aqui tidas por reproduzidas; e

7. As "gaivota-pato" dos RR. apresentam o aspecto dado pelas fotografias de

fls. 19 e 20, também aqui dadas por reproduzidas.

B - Direito:1. luz do estatuído nos arts. 684º, nºs 2 e 3, e 690º , nºs 1 a 4, ambos do

CPCivil, as conclusões do alegado pelo recorrente delimitam o objecto do

recurso.

O âmbito de aplicação do recurso de revista está fixado no art. 26º da LOFTJ(Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais - Lei nº 3/99, de

13/01), ao dizer que "fora dos casos previstos na lei, o Supremo Tribunal de

Justiça apenas conhece de matéria de direito" e no art. 729º, nº 2, do CPCivil,ao regular que "a decisão da 2ª Instância, quanto à matéria de facto, não pode

ser alterada, salvo o caso excepcional do nº 2 do art. 722º", à luz do qual "o

erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa não

pode ser objecto de recurso de revista, salvo havendo ofensa de disposiçãoexpressa de lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou

que fixe a força de determinado meio de prova".

2. Dadas as conclusões dos recorrentes são duas as questões suscitadas no

recurso. Tais questões consistem em saber se: a) A decisão recorrida por errada

interpretação, viola o art. 139º do CPIndustrial; e b) Essa decisão é nula à luz

do art. 668º, nº 1 e al. b), do CPCivil. Antes de nos debruçarmos sobre essas questões, faremos breves considerações

sobre o regime previsto no CPIndustrial para a protecção dos modelos, já que

o Código distingue entre modelo de utilidade (arts. 122º e segs.) e modelo

industrial (arts. 139º e segs.).A distinção entre os dois modelos radica no facto de, no 1º (modelo de

utilidade), relevar a novidade funcional da forma de que, como diz o art. 122º,

nº 1, "resulte o aumento da sua utilidade ou a melhoria do seu aproveitamento",

enquanto no 2º (modelo industrial), se tutela ou protege a novidade da formageométrica ou ornamental, dado o art. 139º, nº 2.

Este último artigo, enquanto no nº 1 diz que "podem ser protegidos como

modelos industriais os moldes, formas, padrões, relevos, matrizes e demaisobjectos que sirvam de tipo na fabricação de um produto industrial, definindo-

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objectos que sirvam de tipo na fabricação de um produto industrial, definindo-

lhe a forma, as dimensões, a estrutura ou a ornamentação", no nº 2 estabeleceque "nestes modelos é protegida apenas a forma sob o ponto de vista

geométrico e ornamental", sendo, assim, totalmente indiferente que com uma

nova forma surjam beneficiados ou prejudicados a utilidade e/ou o

aproveitamento, como nos refere Oliveira Ascensão, in Lições de DireitoComercial, vol. II, págs. 208 e segs.

Com interesse para a solução é de lembrar ainda o art. 141º do referido Código

onde se dispõe que "só gozam de protecção legal os modelos ou desenhosnovos e os que, não o sendo inteiramente, realizem combinações novas de

elementos conhecidos, ou disposições diferentes de elementos já usados, que

dêem aos respectivos objectos aspecto geral distinto".

Do mesmo modo é de trazer à discussão o contido na al. c) do art. 143º do ditoCódigo que dispõe não poderem ser objecto de registo "os modelos ou

desenhos desprovidos de novidade".

Aliás deve recusar-se o registo "se se reconhecer que existe registo anterior demodelo ou desenho confundível com pedido" (Cfr. art. 158º, nº1, al. b), do

CPI.).

Não deve olvidar-se ainda o previsto no nº 1 do art. 162º deste Diploma, emvirtude do qual "o registo dá o direito ao uso exclusivo em todo o território

português, produzindo, fabricando, vendendo ou explorando o objecto do

registo" e, ainda, no nº 2 do mesmo art., com referência ao art. 96º, nº 2,

também desse Diploma, que confere "ao seu titular o direito de impedir aterceiros, sem o seu consentimento, o fabrico, a oferta, a armazenagem, a

introdução no comércio ou a utilização do produto" a que o modelo serviu de

tipo.

Pode dizer-se, diz o Acórdão recorrido, que "o modelo industrial é, portanto,uma forma de propriedade industrial, um direito industrial, cuja eficácia

constitutiva resulta do registo e que tem como requisito fundamental de

atribuição a novidade".Vê-se do art. 141º que novidade significa inconfundibilidade e deve aferir-se em

relação ao conjunto ou, na própria expressão do preceito, ao seu "aspecto

geral".

É ponto assente que não impede a semelhança o facto de um ou outro elementosingular ou parcelar ser diverso, pois que podem surgir situações em que dois

modelos, contendo embora elementos diferentes, são susceptíveis de gerar

confusão entre si e também pode suceder que dois modelos, com elementos

iguais, não possibilitem confusão entre si pela forma diferente como esseselementos estão em si combinados.

Flui do art. 263º do CPI. que um modelo não pode ser igual ou semelhante a

outro já registado, integrando a sua reprodução ou imitação um ilícito penal.O grau de semelhança entre dois modelos objecto de confronto ou de juízo

comparativo é dado pela possibilidade de confusão de um com o outro,

podendo dizer-se que há imitação quando, postos em confronto ou comparados

entre si, esses modelos se confundem ainda que apenas "em alguma das suaspartes características".

O caso vertente respeita a modelo industrial (Cfr. arts. 139º e segs. do

CPIndustrial).

E, dito isto, vamos agora focar as questões suscitadas pelos RR. recorrentes.

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E, dito isto, vamos agora focar as questões suscitadas pelos RR. recorrentes.

Quanto à questão referida em a) - "a decisão recorrida, por erradainterpretação, viola o art. 139º do CPIndustrial" - diremos desde que é evidente

a sua falta de fundamento, por não ter havido erro de interpretação e violação

do antes transcrito art. 139º do CPI..

O que está em causa nos autos é saber se as embarcações "gaivotas-pato" sãoou não semelhantes e confundíveis com as "gaivotas-cisne" ou, o que é igual, se

essas embarcações, dos RR. recorrentes, imitam ou não o modelo das

embarcações dos AA. recorridos.

O modelo de "gaivota", definitivamente registado em nome do A. marido com onº 28461, tem a seguinte descrição: "trata-se, em resumo, de um objecto

flutuante, que reveste a forma de um cisne, com a cabeça do referido animal

constituindo a figura de proa do aludido objecto, uma asa em cada bordo,

assentos nos quais podem tomar lugar os utilizadores, uns pedais sitos em frente

dos referidos assentos, dois flutuadores e um volante que permite accionar oleme", por referência à figura adoptada para interpretação desse resumo,

constante da certidão a fls. 33.

O aspecto das "gaivota-cisne" dos AA. recorridos resulta das fotografias juntas

a fls. 15 e 16 e o das "gaivota-pato" dos RR. vê-se nas fotografias juntas a fls.

19 e 20 dos autos.

Da análise dessas fotografias e dos factos tidos como provados não pode

negar-se a evidência da semelhança e da real susceptibilidade de a mesmaoriginar confusão entre as embarcações dos RR. e as dos AA., dando com isso

lugar a que se estabeleça e potencie a sua associação mental por parte do

consumidor ou utilizador respectivo.

Não podemos pois deixar de ter como correcto o entendimento de que não

obstante ter o modelo de embarcação dos recorridos forma de cisne e a

embarcação dos recorrentes ter forma de um pato, as mesmas são confundíveis.

Face ao acabado de dizer não é razoável a tese da necessidade de produção de

prova em audiência de julgamento propugnada pelos RR. recorrentes já que, incasu, é bem óbvia a possibilidade e até dever legal da prolação de decisão na

fase do saneamento por a mesma se impor a todas as luzes dado o estado do

processo - com todos os elementos nele contidos - o "permitir sem necessidade

de mais provas".

Decorre do explanado, quanto à questão focada em a), que as Instâncias ao

decidirem nos termos em que o fizeram, não interpretaram erradamente a Lei

nem violaram normas adjectiva ou substantivas.Fizeram, isso sim, adequada aplicação do Direito aos factos.

Sobre a questão referida em b) - A decisão recorrida é nula à luz do art. 668º,

nº 1 e al. b), do CPCivil, por não se ter pronunciado sobre matéria fundamental,

não permitindo que fosse produzida prova necessária à sustentação da tese dos

recorrentes no que respeita à inconfundibilidade dos modelos industriais em

causa - também é notória a carência de razão dos RR, recorrentes como ampla

e aprofundadamente se disse no Acórdão recorrido que, por isso, vamostranscrever por merecer o nosso cabal acolhimento.

Por na apelação os RR. arguirem a citada nulidade disse-se no Acórdão

recorrido que "a nulidade prevista na citada al. d), 1ª parte, do nº 1, do art.

668º do CPCivil, como as demais nulidades enumeradas no citado dispositivo

legal, diz unicamente respeito a vícios formais da sentença e não a vícios

substanciais, ou seja, a erros de julgamento" e, depois, concluiu-se que o

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substanciais, ou seja, a erros de julgamento" e, depois, concluiu-se que o

decidido dela não padece.

Na verdade pelo que antes se deixou dito a propósito da questão focada em a)

e pela flagrante falta de razão do argumentado pelos RR., já amplamente

dissecado nas Instâncias e também antes debatido no presente Acórdão, nadajustifica que voltemos ao tema de fundo em que, como se deixou dito, se decidiu

correctamente no saneador.

Improcede em consequência o alegado pelos RR., mantendo-se inalterado o

decidido.

III - Dado o exposto, nega-se a revista, com custas pelos RR. recorrentes.

Lisboa, 16 de Maio de 2002.

Joaquim de Matos,Ferreira de Almeida,

Abílio Vasconcelos.