stj da guiné-bissau acórdão 2-2016 sobre req. fiscalização

11
Secção Plenário Proc. Ne.2/2016 - Incid. Fisc. Const. MANDADO DE NOT|F|CAçÃo O Venerando Juiz Conselheiro e Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Dr.PAULO SANHÁ; &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& MANDA que seja devidamente notificado os indivídups abaixo indicados do AcóRDÃo Ns.2/2016 de 22 de Março, profefido nos autos de lncidente Fiscalização Concreta da Constitucionali(ade,€ffi que são requerentes AmaduSaico Seidi, Mamadú Baldé, Jfana lnácia Gomes, Pedro Morreira, Saido Embaló, Fernando lalá e BacaÍ Djassi e requerido ï'ribunal Regional de Bissau - Vara Cível, devendo-se-fhe serentregue no acto uma Copia. Bissau, 23 de Março de 2016. Por ordemdo Venerando Presidente, A NOTIFICAR: Requerentes, através dos advogados Drs. Çarlos PintoPereira, Ruth Monteiro, José Paulo Semedo, Carlitos Djedju e tVlário Lino Pereira da Veiga, todos comescritório nesta cidade de Bissaui - - r O Requerido: Tribunal Regional de Bissau - Vara Çível;

Upload: lengoc

Post on 07-Jan-2017

217 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

Secção Plenário

Proc. Ne.2/2016 - Incid. Fisc. Const.

MANDADO DE NOT|F|CAçÃo

O Venerando Juiz Conselheiro e Presidente do Supremo Tribunal de

Justiça, Dr. PAULO SANHÁ;

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&

MANDA que seja devidamente notif icado os indivídups abaixo indicados

do AcóRDÃo Ns.2/2016 de 22 de Março, profefido nos autos de

lncidente Fiscalização Concreta da Constitucionali(ade, €ffi que são

requerentes Amadu Saico Seidi, Mamadú Baldé, Jfana lnácia Gomes,

Pedro Morreira, Saido Embaló, Fernando lalá e BacaÍ Djassi e requerido

ï'ribunal Regional de Bissau - Vara Cível, devendo-se-fhe ser entregue no

acto uma Copia.

Bissau, 23 de Março de 2016.

Por ordem do Venerando Presidente,

A NOTIFICAR:

Requerentes, através dos advogados Drs. Çarlos Pinto Pereira,Ruth Monteiro, José Paulo Semedo, Carlitos Djedju e tVlário Lino Pereira da

Veiga, todos com escritório nesta cidade de Bissaui - - r

O Requerido: Tribunal Regional de Bissau - Vara Çível;

Page 2: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

8s Senatravés dos ad

com escritório

O Digníss

Abel

I

cidade

Procurad

Silva Gsmes, AdulaiMendes de ÍVledina e

Bissau.

Geral da República d4 G

ldé e Amido Keita,

mílio Ano Mendes,

Page 3: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

REPÚBLICA IN É-BISSALJSUPREMO TRTBUNAL DE JUSTTçA

Plená r io

ACORDAO No 21201.6

Proc. No 2/016

- /

Acordam, €ffi plenário, no Supremo Tribunal de Juptiça:

Relatório

Nos presentes autos de fiscalização concreta vra incidental daconstitucionalidade, vindos do Tribunal Regional de Bissau/Varacível, em que figuram como requerentes Amadu saico seidi,Mamadi Baldé, Joana Inácia Gomes, pedro Moreira, saidoEmbaló, Fernando Ialá e Bacar Djassi, todos identificados nosautos, invocando a inconstitucionalidade da decisão do juiz a quoque decretara providência cautelar não especifrcada, requalificadapor este como providência cautelar de suspensão da eficácia do atoadministrativo.

o presente incidente foi suscitado, na sequência de um recursocfe agravo interposto no dia 2410210L6, contra a decisão desuspensão de eficácia do ato administrativo, rìos autos de umaprovidência cautelar e admitido no dia 021031016 por despacho dojuiz a quo, que também ordenou a subida do mesrno para o ptenáriodo Supremo Tribunal de justiça, nos termos do art. 1260 daConstituição da República.

I .

Page 4: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

t4tuREPUBLICA rrrrÉ-glssnu

SUPREMO TRTBUNAL DE JUSTTçAPlenár io

os requerentes concluíram as alegações do incidenteinconstitucionalidade para este Egrégio Supremo Tribunal de Justiçade seguinte modo:

A) Nos termos do art. 126.0 da constituição da República daGuiné-Bissau (doravante CRGB) "Nos feitos submetidos Ájulgamento não podem os tribunais aplicar normas queinfrinjam o disposto na constituição ou os princípios nela ye1*ç7_consagrada" (No 1); "A questão de inconstitucionalidade podeser levantada oficiosamente pelo tribunal, pelo MinisterioPúblico ou por qualquer clas partes" (No Z); "Admitida aquestão da inconstitucionalidade o incidente sobe emseparado ao supremo Tribunal de Justiça, que decidirá em t -4_.

'

plenário" (No 3). ry?r

B) ora, uma vez que os preceitos alegadamente violados '/-'n r n a a i l a a a a * a l i ! " ^ : ^ - ^ i ^ ' ^ : - r - r ^ ' ' ^

t l o ( r y '

/ ' 1

preceitos constitucionais, ainda que de uma providên ciaw.1 - r v v v r L v s v v r r e L r L u L t v ' t t L r t J , L l t t t L , t c J 9 u ç L t ç U l I l q P l U V I ( I E I l L l O

:1Ï:''::,:^::,:'.1.'-,::'::::i 11',::^::::'I: i :1: l:9 : !:útul -vü'CRGB, deveria ter suspendido a instância e formular incidente,'- lt)mesmo que oficiosamente 0á que os requerentes não o-_--formularam) e enviar para o supremo Tribunal de Justiça t(srJ) para ser apreciada a questão de inconstitucionalidade dadeliberação da comissão Permanente posta em causa, nostermos da Lei No 6/2015, de 20 de Agosto, aftigo 27.o, alíd) e e).

c) o tribunal conheceu da questão de inconstitucionalidadequando concluiu pela existência de um direito a mandatoparlamentar a favor dos requerentes, e decretou a suspensãoimediata da deliberação 10 rlz0t6, por ter violado ospreceituados nos artos B2.o e 4z.o da CRGB. Ao concederprovimento à petição, conheceu da questão da

2

Page 5: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

SUPREMO TRTBUNAL DE JUSTTçAPlenár io

inconstitucionalidade alegada, em flagrante violação do arto126.0 da CRGB.Termos em que deve o Supremo Tribunal de Justiça declararinconstitucional da decisão do Mo Juiz a quo.

REPUBLICA IN E-BISSAU

Ficou prejudicada a observânciaMinistério Público por procedênciaprejudicial ao conhecimento do mérito.

Cumpre apreciar,

IL Fundamentação

d a /{

^-ts

1- os requerentes levaram ao Tribunal Regional de (:U-a,4Bissau/Vara CÍvel uma providência cautelar não ̂ ,// íÁ

especificada, com o fundamento numa eventual violação (yt/{çl*Dl55cru/ vdl d Llvel UIIId prOVlUetìClA Cautelaf na0 ^ t l I t)especificada, com o fundamento numa eventual violação (YlWde direitos consagrados nos art.os 82.o, Do 1, e 42P da ilhCRGB. Ou seja, foi solicitado ao tribunal Regional de- ',

i,Bissau, o conhecimento de violações de normasconstitucionais.

2- Ao abrigo do artigo 126.0 da CRGB, ao invés desuspender a instância e formular o incidente deinconstitucionalidade oficiosamente 0á que não foisuscitado o incidente pelos requerentes) da deliberaçãoda Comissão Permanente e enviar ao STJ paraapreciação, o Tribunal conheceu a questão dainconstitucionalidade, em flagrante violação do art.

ô\

L4-.

do contraditório e doda questão prévia

r . A\Í*4*-'1i4'--

A) Delimitação do objecto do incidentei n co n stÌ tu ci o n a / i da de

Page 6: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

i4/b'._y4*

REPU BLICA IN E-BISSAUSUPREMO TRTBUNAL DE JUSTTçA

Plenár io

126,0 da CRGB, conheceu da questão deinconstitucionalidade da perda de mandato dos r/ .2deputados requerentes da providência cautelar. lbrí,' :-y''

Sem prejuízo desta delimitação do objeto, oPlenário do STJ, apenas por razões pedagógicas,entende que se deve referir Que, na verdade, o nossoordenamento jurídico não existe processo de incidenteG[*6*_autónomo para suscitar a constitucionalidade de umaÍìorÍïìâ que infrinja a constituição da República,porquanto a inconstitucionalidade é suscitada comoincidente no decurso de um processo submetido ao i(julgamento num caso concreto e com interrupção da rinrstância aguardando a apreciação dainconstitucionalidade da norma suscitada num tribunalcompetente. /

Salvo devido respeito, o incidenteinconstitucionalÍdade foi suscitar'Inconstttuctonalldade toi suscitardecisão do tribunal a Çuo, irequerentes deste incidente de irpresença confundem o recurso aou o modelo clássico comum de fiscarização concrer{ \di'fusa ou difusa concentrada; a primeira existeÀ)concomitantemente em alguns países da Europa e_Arnérica latina, nomeadamente, Alemanha, Espanha õMéxico, respectivamente, tais mecanismos defiscalização constitucional são inexistentes na nossaordem constitucional. ou seja, é inexistente o institutoconstitucional de garantia plena de efectividade dosd ireitos fundamenta is.

L

, , i ;

:.' Í

6i',2

Page 7: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

REPUBLICA INIÉ-BISSAUSUPREMO TRTBUNAL DE JUSTTçA

plenár io

Por conseguinte, o invclcado artigo 126.0 da CRGB,de acordo com a petição da inconstitucionalidade,legislador constituinte guineense consagrou um único Imecanismo de frscalrzação constitucional concentrado, (concreto vra incÍdental de normas infraconstitucionaisem desconformes com a constituição da República ouseus princípios, diferentemente de outros países comoPortugal, de onde a nossa constituição se inspirou,escapando a fiscalização jurisdicional do Tribunalconstitucional de constitucionalidade, entre outros, asdecisões judiciais eventualmente inconstitucionais. Isto,porque não constituem actos normativos ou atos comconteúdo normativo.

Não sendo acto normativo ou ato com conteúdo \normativo, qualquer decislio judicial, mesmo quedesconforme com a constituição - violadora de direitosfundamentais - jurisdicionalmente é insindicável, pelomenos, a nível nacional, possivelmente através doTribunal de Justiça da cEDAo, o que nos parece, desdelogo, impossível, porquanto não é um Tribunal derecurso dos países de Estados-membros.

ora, sendo evidente que o nosso modero defiscalização é de estrutura monista, a possibilidade desuscitar a intervenção do supremo Tribunal em actosnão normativos ou atos sem conteúdo normativo, comodecisões judiciais que violam direitos fundamentais, nãoestá assegurada na constituição. ou seja, os incidentesde instância para a apreciação da constitucionafidade ou

ry

Page 8: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

"I/+3,47-

até a

6t<z

nrpúBLlcA IN E-BISSAUSUPREMO TRTBUNAL DE JUSTTçA

Plenár io

inconstitucionalidade devem ser suscitados node tramitação de processo e ficando esta suspensadecisão do Plenário do STJ.

Logo, não existindo outro mecanismo defiscalização como o de recurso constitucional de amparoe outros resulta fortemente lacunar e deficitário, odomínio nuclear que justificara a consagração de uffiâ, Cr __justiça constitucionat a tutela dos direitos wt!"'ì"r*-fundamentais - pafte significativa das lesões dos direitosfundamentais constitucionais, o que equivale dizer, partesignificativa das inconstitucionaliclades mais graves,acabam por não ser tuteladas na nossa Constituição, atítulo definitivo, pelo órgão criado e residualmentevocacionado para ofazer, o SIJ. Na verdade, se verificara violação do direito fundamental ora reivindicado pelosrequerentes, em primeiro lugar, é a própria Constituiçãoda República que não prevê os outros mecanismos defiscalização de atos não normativos, tais como asdecisões judiciais, as deliberações de outros orgãospúblicos, eventualmente inconstitucilonais.

Dizem e bem os requerentes que <<os actospúblicos jurisdicionais, ao lado dos demais actos públicos(os legislativos, administrativos e políticos), também sãopassíveis de sindicância de Constitucionalidade, sobpena de não estarmos a falar de um Estado de Direito,transformando parte do aft.o B.o da CRGB, em letramofta>>.

Page 9: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

M'*}l, l/e>.4:w 'n e p ú g l t c A D A c u l l É - e t s s A u L /

suPREMo TRTBUNAL DE JUsnçA rrulPlenár io

Esta tese é a verdade pura, ffiâolvidar que é a Constituição da Repúblidos direitos fundamentais num EstacConstituição que prevê mecanismos dedesses mesmos direitos, e quandoentanto, perante um défice grave na consagrerção constitucional deinstituto de garantia e protecção dos direitos fundamentais, tão-somente ultrapassável através da alteração ou modificação daconstituição, adequando-a aos hodiernos v'alores de defesa eprotecção desses direitos.

(íJL*6;

O Supremo Tribunal de.. Constitucional, não pode substituir c''Çolsabido,

funciona com base nos', cerìstitucional consagrados na Constitr

frrcalização concentrada concreta vi,'' decurso da acção que se suscita incicde uma norma considerada incon:principal suspensa até à dei nconstituciona I idade.

Destafte, a efectivação da garanao Tribunal Constitucional para reagidos seus direitos fundamentais é de suma importância doconstitucionalismo moderno, na sua ausência, como no nosso caso,o seu titular não tem possibilidade de reaç;ir jurisdicionalmentecontra o não reconhecimento, o desrespeitcl ou violação dessedireito.

Nesse sentido, ao tribun al a quo não connpete conhecer matéria daconstitucionalidade que é reservada ao plrenário do SupremoTribunal de Justiça. Assim sendo, e nessa medida, o referidoTribunal é incompetente.

Page 10: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

, ' t

lóz4-\*.a.-4'.ç'-t -è- ,-J

REPÚ BLICA INE-BISSI\USUPREMO TRTBUNAL DE JUS'nçA

Plenár io

Portanto, a efectividade dos direitos funrjamentais no nossoEstado de Direito Democrático só será verdadeiramente assegurada,quando para qualquer lesão desse direito a ordem jurídica preveja j{*aum meio jurisdicional capaz de proporcionar o termo e a reparação ,1""3fdo titular afectado " /

Citando a este propóslto os iminentes Professores José JoaquimGomes Canotilho e Vital Moreira, os atos não normativos ou actos Kà""ç;sem conteúdo normativo desconformes com a Constituição - os

', - quais podem ser directamente inconstitucionais "deveriam sertarnbém suieitos ao regÍme de frscalização da constitucionalrdadq o' Çual será sempre um regime imperfeÌto enquanto os não abranger.Enquanto o sistema constitucional de controlo daconstitucionalidade das leis e demais actos normativos não foraplicável a todos os actos inconstitucionais dos órgãos do Estadqdas Regiões Autónomas e do poder local, a presente norma [ot

-

Autores referem-se ao aftigo 3.o, Do 3, da constituição portuguesa, ^

correspondente ao artigo B.o da Constituição guineenseJ fÌcará, e/n\pafte, sem sanção" (cf . a constituição da República portuguesaAnotada, Volume I, Pags. 218 e ZLg).

I I . Decisão

Assim, em face do exposto, acordam os juízes conselheiros emindeferir liminarmente o requerido incidente dei nconstituciona I idade.

custas pelos requerentes, fixadas em t/+ do imposto - artigo3B.o do Código das Custas Judiciais.

Page 11: STJ da Guiné-Bissau Acórdão 2-2016 sobre Req. Fiscalização

REPUBLICA IN É-BISSAUSUPREMO TRTBUNAL DE JUSTTçA

Plenár io

Bissau, 22 de Março de 2016

Os Juízes Conselheiros:

Paulo Sanhá (Presidente)

Rui Nené

Fernando Té

Mamadú Saido Baldé

Fernando Jorge Ribeiro

Armindo Justino Marques Vieir

Rui Anicetocunía l-zt'ry

Osíris Francisco Pina Ferreira !Qi,"-fug-^c^

Lima António André

Juca Armando Nancassa __-

Ladislau Fernando Clemente I