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  • PRESIDNCIA DA REPBLICAGABINETE DE SEGURANA INSTITUCIONAL

    AGNCIA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA

    REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA

    R. Bras. Intelig. Braslia, DF v. 3 n. 4 p. 1-153 set. 2007

    ISSN 1809-2632

  • 2 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    REPBLICA FEDERATIVA DO BRASILPresidente Luiz Incio Lula da SilvaGABINETE DE SEGURANA INSTITUCIONALMinistro Jorge Armando FelixAGNCIA BRASILEIRA DE INTELIGNCIADiretor-Geral Mrcio Paulo BuzanelliSECRETARIA DE PLANEJAMENTO E COORDENAOSecretrio Wilson Roberto Trezza

    Comisso Editorial da Revista Brasileira de IntelignciaAna Beatriz Feij Rocha Lima e Maria Cristina Moraes Pereira (CGDI) - Coordenao;Edlson Fernandes da Cruz e Eliete Maria de Paiva (Esint); Gecy Tenrio de Trancoso (Acom);Orlando Alvarez de Souza e Olvia Leite Vieira (DI); Glauco Costa de Moraes (DA)Jornalista ResponsvelGecy Tenrio de Trancoso DRT DF 10251/92CapaCarlos Pereira de Sousa e Wander Rener de AraujoEditorao GrficaJairo Brito MarquesRevisoLcia Penha Negri de Castro; Caio Mrcio Pereira Lrio; Luiz Cesar Cunha LimaCatalogao bibliogrfica internacional, normalizao e editoraoCoordenao-Geral de Documentao e Informao CGDI/SEPCDisponvel em: http://www.abin.gov.brContatos:SPO rea 5, quadra 1, bloco KCep: 70610-905 Braslia DFTelefone(s): 61-3445.8164 / 61-3445.8427E-mail: [email protected] desta edio: 3.000 exemplares.ImpressoGrfica AbinOs artigos desta publicao so de inteira responsabilidade de seus autores. As opinies emitidasno exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abin. permitida a reproduo total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Revista Brasileira de Inteligncia / Agncia Brasileira de Inteligncia. Vol. 3, n. 4 (set. 2007) Braslia : Abin, 2005 -

    Quadrimestral

    ISSN 1809-2632

    1. Atividade de Inteligncia Peridicos I. Agncia Brasileira deInteligncia.

    CDU: 355.40(81)(051)

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 3

    Sumrio

    Editorial ............................................................................. 5

    Uma cartilha para melhor entender o terrorismointernacional: conceitos e definies

    Cmt. Int. Paulo de Tarso Resende Paniago e outros .......... 13

    O papel dos servios de Inteligncia na preveno e nocombate ao terrorismo internacional

    Cmt. Int. Paulo de Tarso Resende Paniago ........................ 23

    Ensaio sobre as distines entre organizaesguerilheiras e terroristas

    3 Of. Int. Carolina Souza Barcellos .................................... 29

    O desafio do terrorismo internacionalCmt. Int. Paulo de Tarso Resende Paniago ........................ 35

    Terrorismo e contraterrorismo: desafio do sculo XXI2 Of. Int. lisson Campos Raposo ..................................... 39

    Por uma outra viso do terrorismo3 Of. Int. Thiago Loureno Carvalho .................................. 57

    Terrorismo ciberntico e cenrios especulativosTecnologista Snior Eduardo Mssnich Barreto.................. 63

    O Hizballah e a evoluo do quadro no Oriente MdioCmt. Int. Romulo Rodrigues Dantas .................................... 77

  • 4 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    Repercusses da conteno da ameaa do terrorismointernacional na economia brasileira

    Cmt. Adj. Int. Ricardo Zonato Esteves ................................ 93

    O partido de Deus no Lbano: histrico e atividadesCmt. Int. Eliane Schroder de Moura .................................... 99

    Uso da Internet por Grupos ExtremistasCmt. Int. Rmulo Baptista de Souza ................................. 105

    Resumo

    At the center of the storm: my years at the CIACmt. Int. Romulo Rodrigues Dantas .................................. 109

    Caso histricoA Batalha de Argel ..................................................................115

    Livros Recomendados .................................................. 131

    Cartas do Leitor ............................................................. 145

    Normas Editoriais .......................................................... 149

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 5

    Editorial

    A ATIVIDADE DE INTELIGNCIA NA PREVENODA AMEAA TERRORISTA

    A Agncia Brasileira de Inteligncia (Abin) tem como uma desuas prioridades a preveno do terrorismo no Brasil. Trabalhan-do ativamente para neutralizar essa forma de ameaa socieda-de e ao Estado, a Abin conseguiu, ao longo dos ltimos anos, acu-mular capacidade e experincia mpar no tratamento dessa ques-to. Divulgando essa experincia, em dezembro de 2006, promo-veu, em Braslia, o II Seminrio Internacional sobre o Terrorismo,com a presena de representantes de mais de vinte pases comvivncia no enfrentamento dessa ameaa. Os oficiais de intelign-cia da ABIN tm igualmente se especializado, no pas e no exteri-or, para melhor compreender e analisar tal fenmeno. Emconcomitncia, participam das vrias iniciativas do Governo brasi-leiro, em especial as que buscam a modernizao de estruturas edo aparato legal referentes ao tema, bem como tratativas no planointernacional que alinham o Brasil com as naes mais engajadasna luta contra essa forma de crime transnacional.

    Entretanto e, diga-se, afortunadamente -, dado o exotismodo fenmeno terrorista em nosso pas, verifica-se uma conseqentedificuldade de consider-lo uma ameaa real. No obstante, umadas competncias atribudas pela Lei 9.883, de 07 de dezembrode 19991, ABIN, a de avaliar as ameaas internas e externas

    1 Lei que criou o SISBIN e instituiu a ABIN, aprovada aps vinte e sete meses de tramitaono Legislativo, em projeto precedido por vinte e cinco meses de estudos e adequaono mbito do Executivo.

  • 6 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    ordem constitucional, o que determina a necessidade de examepermanente dos indicadores de ameaa terrorista e dos possveiscenrios decorrentes.

    Um dos elementos bsicos da guerra assimtrica a obten-o do elemento surpresa, que garante ao agressor a capacidadede determinar onde, quando e como este executar sua ao. Issolhe confere a necessria iniciativa estratgica (operacional ou tti-ca, de acordo com o nvel de engajamento) e a conseqenteimprevisibilidade. Outro aspecto importante o que se refere amplitude de sua ao operacional: em poca de globalizao, omundo inteiro pode se converter em teatro de operaes. Comefeito, os alvos do terrorismo podem ser atingidos em todos osquadrantes e a estratgia de ao indireta lhe impele a golpear oinimigo principal em teatros de operaes secundrios, onde asmedidas de segurana sejam menos rgidas e as facilidadesoperacionais otimizadas. Fortalece a opo pela ao em reasperifricas a constatao de que o efeito demonstrao e a visibi-lidade do ato uma necessidade do terrorismo so, no mundoglobalizado, imediatamente alcanveis pela televiso, internet eoutros meios de informao.

    Ao contrrio do que se imagina, os atentados de 11 de setem-bro de 2001, nos EUA, no foram uma trovoada em cu azul. Em-bora as dimenses da ao e o elevado nmero de vtimas, essanova forma de terrorismo j se evidenciava anos antes, nos atenta-dos contra o prprio World Trade Center e contra embaixadas nor-te-americanas em pases africanos. Conforme demonstraram osvrios relatrios e inquritos conduzidos nos Estados Unidos, ps11 de setembro, falhou a inteligncia em identificar os vrios indci-os de atividade terrorista; falhou, igualmente, em compartilhar, entreas diferentes agncias, as evidncias disponveis; por ltimo, em-bora no menos importante, falhou em atribuir demasiada impor-tncia captao de dados por meios eletrnicos e, emdescompasso, dedicar menor relevncia s fontes humanas.

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 7

    As novas tendncias do terrorismo internacional so clara-mente delineadas e apontam para cenrios que mostram a cres-cente dificuldade para assinalar os agentes do terrorismo, devido sua disperso e, principalmente, autonomia, bem como suaarquitetura organizacional no-estruturada, ao contrrio das orga-nizaes terroristas atuantes nos anos setenta e oitenta, basea-das em modelos ideolgicos e com objetivos revolucionrios eindependentistas. Mesmo o modus-operandi da Al-Qaeda e gru-pos associados est se modificando de forma perceptvel num curtointervalo de seis anos, desde os atentados nos EUA.

    Com efeito, no so mais os integrantes do ncleo central daAl-Qaeda que praticam as aes, porm pessoas que esto naperiferia da organizao e mesmo outras que no tm qualquercontato com a mesma, porm emulados por suas aes e pelodesejo de atingir os que, no seu entender, conspiram contra seucredo religioso e cultural, associam-se em pequenas clulas e seauto-imolam em aes punitivas.

    Oportuno, nesse contexto, o estudo feito por Marc Sageman2com base em estatsticas de material biogrfico de mais de qua-trocentos terroristas da Al-Qaeda, que derruba, de forma definiti-va, alguns mitos sobre o terrorismo. De acordo com as evidnciasreunidas por aquele autor, a maioria dos praticantes dos principaisatos terroristas dos ltimos sete anos no veio do Oriente Mdio,mas j estava radicada no Ocidente h vrios anos; no eram po-bres, nem ignorantes ou mesmo jovens ingnuos recrutados emmadrassas3, porm pessoas de classe mdia, em famlias razo-avelmente bem estabelecidas, muitos com cursos universitrios,empregos fixos e, em sua maioria, recrutados por amigos ou fami-liares com histrias de luta ou envolvimento com organizaesjihadistas. Por ltimo, Sageman conclui que, ao contrrio da crenageral de que se tratavam de desajustados, criminosos comuns ouindivduos com transtornos de personalidade, eram, em sua maio-ria, pessoas sem antecedentes criminais e nenhum caso de doen-

    2 Understanding Terror Networks _ University of Pennsilvania Press 2004.3 madrassas: escolas de estudos cornicos.

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    a mental registrado. Muitos dos novos terroristas so jovens nas-cidos no Ocidente, de famlias islmicas ou convertidos, com me-nos de vinte anos e foram atrados pela internet. Por fim, outraperceptvel tendncia do terrorismo a que aponta para a probabi-lidade de maior letalidade das aes e o possvel uso de armas dedestruio em massa e, especialmente, do que se convencionouchamar de dispositivos de disperso radiolgica ou bombas su-jas. Cabe mencionar igualmente a tendncia da ampliao do usoda internet para comunicaes e recrutamento.

    Entretanto, no so as modificaes e a surpreendenteresilincia que garantem a manuteno ou o aumento da ameaaterrorista, apesar do imenso aparato militar, tecnolgico e de inte-ligncia mobilizado pelos pases centrais para a sua destruio. Aprincipal causa para o recrudescimento do terrorismo ainda odesconhecimento do Ocidente quanto aos valores fundamentaisda cultura, histria e religio; o tratamento diferenciado em relaoaos pases do Oriente Mdio e o profundo sentimento de injustiacom relao aos direitos nacionais na regio. O apoio a governantesdespticos, a prolongada ocupao do Iraque e do Afeganisto e airracional islamofobia so igualmente fatores determinantes noavivamento da ameaa terrorista. A crena de que est em cursoum choque de civilizaes, como defende Samuel Huntington4,somente fortalece aqueles que, tambm nos pases islmicos, acre-ditam na existncia de dois campos opostos: de um lado os cren-tes e, do outro, os denominados cruzados e seus aliados sio-nistas. A diviso do mundo em campos opostos favorece as po-sies defendidas pelos extremistas de ambos os lados e toequivocada quanto dissipada tese do fim da Histria5, h algunsanos apresentada, quando do colapso do socialismo real na Euro-pa. Cair na tentao fcil de julgar o Isl responsvel pelo terroris-mo um equvoco inaceitvel e sem fundamento.

    E, nesse contexto, como fica o Brasil? , afinal, possvel umatentado no Brasil, um pas com oito milhes de rabes e seus

    4 O Choque das Civilizaes Samuel Huntington.5 O Fim da Histria e o ltimo Homem - Francis Fukuyama.

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    descendentes e cerca de um milho de islmicos, segundo dadosda World Assembly of Muslim Youth (WAMY), e onde a tolernciae a integrao so fatores de fora e no de fragilidade nacional?Com efeito, poucos pases no mundo detm um estgio to avan-ado de integrao entre etnias, nacionalidades e confisses reli-giosas como o Brasil. H mais descendentes de libaneses no Bra-sil que a prpria populao do Lbano, o que faz com que, emnosso pas, as comunidades sria e libanesa tenham grande im-portncia poltica, econmica e cultural. Em funo disso que semostra incompatvel trabalhar com listas de organizaes terroris-tas, porque no admissvel impedir a visita a essas comunidadesde parlamentares eleitos pelo Hizballah, afinal um partido legal ecom representatividade no parlamento libans. Da mesma forma,mostra-se dificil precisar a diferena entre a contribuio devidapor todo islmico, a ttulo de zakat6, e remetida para o Lbano,bem como as remessas financeiras que todos os imigrantes fa-zem para as famlias que continuam na terra natal e supostas aesde financiamento do terrorismo.

    Como sabemos, brasileiros j foram vtimas de atentados ter-roristas: estiveram entre as vtimas do World Trade Center, emNova York, em 11 de setembro de 2001; um sargento brasileiro aservio da ONU, estava entre as vtimas em Bali; havia brasileirosnos trens de Madrid, em 11 de maro de 2004; e brasileiros foramvtimas no Iraque, em Bagd e em Beiji. No foram vtimas porserem brasileiros, mas, em funo de terrorismo indiscriminado,foram atingidos por serem circunstantes, isto , por estarem cir-cunstancialmente nos stios de atentados, como poderiam estartambm, como turistas, em outros locais onde ocorreram aesterroristas, como no Balnerio de Sharm El-Sheik ou no stio hist-rico de Luxor, por exemplo.

    Atentados, em tese, podem ocorrer no Brasil, em funo dasj mencionadas condies de presumvel inadequao das medi-

    6 zakat a contribuio anual e espontnea devida por todo islmico, segundo suasposses. No se trata de caridade. Constitui um dos cinco pilares do islamismo, ao ladoda shahada (o credo ou testemunho) ; o salat (as cinco preces dirias); o hajj (aperegrinao a Meca); e a abstinncia no ms do Ramad.

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    das antiterroristas, da vulnerabilidade e permeabilidade das exten-sas fronteiras nacionais e da existncia de alvos em nmero signi-ficativo. Assim, o Brasil pode ser, sempre em tese, palco de umatentado contra alvos tradicionais do terrorismo aqui estabeleci-dos (representaes diplomticas, estabelecimentos religiosos,culturais e educacionais de comunidades-alvo) ou em trnsito (au-toridades estrangeiras em visita ou com presena temporria). Aten-tados podem acontecer por ocasio de grandes eventos, que pro-porcionem grande visibilidade, como os recentes Jogos Pan-Ame-ricanos de 20077, no Rio de Janeiro. Podem, ainda, visar a infra-estrutura crtica do pas ou, em outra situao, buscar atingir auto-ridades ou personalidades importantes, produzindo comoo na-cional. Casos de magncidio j ocorreram na Histria do Brasil8,no somente por motivos polticos, mas tambm pelo praticante,agindo por impulso, buscar notoriedade sbita ou associar seunome ao da vtima ilustre9.

    Embora no tenha felizmente sido alvo direto ou mesmopalco de atentados, como a vizinha Argentina, em 1992 e 199410,O Brasil, assim como outros pases, pode-se dizer, tem sido atingi-do pelas conseqncias das medidas antiterroristas adotadas pe-los pases centrais, com custos significativos em termos de investi-

    7 Nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, a ABIN ativou e coordenou as aes de27 rgos federais, estaduais e municipais de inteligncia e segurana, no chamadoCentro de Inteligncia dos Jogos (CIJ), contribuindo efetivamente para a seguranados Jogos.

    8 O Imperador Dom Pedro II foi alvo de um atentado a tiros em 15 de julho de 1889,quando saia do Teatro Santana, no Rio de Janeiro. O Presidente Prudente de Moraesfoi vtima de uma tentativa de assassinato quando passava em revista tropas queretornavam da Campanha de Canudos, no Rio de Janeiro. Na ocasio, atravessando afrente do assassino, em defesa do presidente, foi atingido mortalmente o ento Minis-tro da Guerra, Marechal Machado Bittencourt, depois Patrono do Servio de Intendn-cia do Exrcito.

    9 John Wilkes Booth tornou-se famoso por assassinar o Presidente Lincoln, assim comoMehmet Ali Agca por atirar no Papa Joo Paulo II; Sirhan Sirhan (Robert Kennedy) e,certamente o mais famoso, Gavrilo Princip, o assassino do Arquiduque Franz Ferdinandde Habsburgo, em Sarajevo, em 28 de julho de 1914, em ao que, associada a outras,desencadeou a I Guerra Mundial.

    10 Respectivamente, atentados contra a Embaixada israelense em Buenos Aires, em 12de maro de 1992, e contra a Associao Mutual Israelense-Argentina, em 16 de julhode 1994.

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    mentos nas reas de segurana, visando a adequao de portos edo transporte martimo e de aeroportos e aeronaves, bem comode produtos de exportao, notadamente alimentos para os EUA11.

    Em paralelo adequao s normas estabelecidas pelasConvenes da ONU e da OEA contra o terrorismo, firmadas eratificadas pelo Brasil, h uma srie de medidas a adotar em fun-o de acordos bilaterais e multilaterais celebrados no sentido derestringir ou neutralizar o apoio ao terrorismo, em especial o seufinanciamento e a movimentao de suspeitos. H uma clara per-cepo da importncia da segurana multidimensional na agendainternacional, bem como conscincia de que as relaes internaci-onais no podem mais deixar de contemplar as aes de determi-nados atores no estatais12, ao mesmo tempo em que a primaziadas medidas antiterroristas deve forosamente fazer sentido, mes-mo para aqueles pases ainda no atingidos pelo fenmeno.

    Embora exaustivamente investigadas, inexistem, at aqui, evi-dncias concretas acerca da presena, do trnsito ou da utilizaodo territrio nacional como rea de recrutamento, financiamento oumesmo para o homizio de terroristas procurados internacionalmen-te. Claro est, no significa que tais situaes no possam vir aacontecer no futuro. Assim, avulta de importncia a adoo de me-didas antiterroristas, visando, sobretudo e sem alarmismo pre-venir tal ameaa. Entre tais medidas, despontam o aperfeioamen-to dos controles e a maior fiscalizao de fronteiras e estrangeiros;a adequao da legislao pertinente, em decorrncia da plena ade-so s Convenes internacionais e s iniciativas multilaterais, as-sim como a adoo de mecanismos para p-las em prtica.

    Ainda na rea de preveno so fundamentais: a criao deestruturas de integrao das aes antiterroristas e respostacontraterrorista, com o devido aprestamento e sob comando nicoe centralizado; a maior integrao entre os rgos de Inteligncia

    11 Respectivamente, as imposies da IMO (ISPS-Code) e da OACI e as determinaesdo Bioterrorism Act, nos EUA.

    12 Como, no Oriente Mdio, a Al-Qaeda e o Hizballah, entre outros.

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    no mbito do Sistema Brasileiro de Inteligncia, sob a coordena-o da ABIN; a ampliao da cooperao internacional na rea deInteligncia; e o fortalecimento da capacidade dos rgos de inte-ligncia, em especial do rgo central do Sistema, para prevenir aocorrncia de aes terroristas em territrio brasileiro ou contrainteresses nacionais no exterior, inclusive com melhor adequaolegal para o cumprimento de sua destinao institucional.

    A ABIN, consciente de seu papel ativo em defesa dos inte-resses nacionais, da integridade nacional e do Estado Democrti-co de Direito, entende que para melhor enfrentar qualquer tipo deameaa necessrio antes bem conhec-la. O conhecimento pr-vio da ameaa, de sua extenso e capacidade de infligir danospertence ao campo de Inteligncia e fundamental para seuenfrentamento bem sucedido. nesse contexto que se realizou oII Seminrio Internacional sobre o Terrorismo Internacional, emdezembro de 2006, as sistemticas apresentaes sobre o temapara estudantes universitrios em conferncias dentro do Progra-ma Universidade Encontra a ABIN e, agora, com esta edio es-pecial da Revista Brasileira de Inteligncia, totalmente consagradaao tema terrorismo.

    No ano em que a ABIN, herdeira direta dos oitenta anos daatividade de inteligncia no pas, comemora oito anos de existn-cia, esta iniciativa busca ocupar o devido espao na bibliografiaespecializada nacional e, igualmente, reafirmar o importante papelda atividade de inteligncia na preveno do terrorismo domsticoe internacional.

    Cmt. Int. Mrcio Paulo BuzanelliDiretor-Geral da ABIN

    * * *

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 13

    UMA CARTILHA PARA MELHOR ENTENDER OTERRORISMO INTERNACIONAL

    Conceitos e Definies

    Cmt. Int. Paulo de Tarso Resende Paniago e outrosAbin

    Apresentao

    No contexto atual das relaes internacionais, salienta-se ofenmeno do terrorismo como ameaa segurana internacional.No obstante a magnitude dessa forma de ameaa, o conheci-mento a seu respeito ainda reduzido e marcado por esteretipose mesmo por vises preconceituosas e maniquestas. Trata-se detema que, se abordado de modo imprprio, pode comprometer aimagem e os interesses do Pas. necessrio uma tentativa deesclarecimento para compreenso da matria.

    O que terrorismo?

    No existe consenso acerca da definio de terrorismo. Em2000, foi estabelecido um Comit Especial no mbito da Assem-blia Geral da Organizao das Naes Unidas (ONU) a fim denegociar uma Conveno Global sobre Terrorismo Internacional,entretanto ainda no foi estabelecido um critrio nico para todosos pases. Tendo em vista que uma determinada definio de ter-rorismo adotada pode servir a interesses polticos, algumas vezes,desfavorveis a outros Estados, o estabelecimento de um consen-so acerca do tema fica prejudicado.

    O Art. 2 do projeto da referida Conveno prescreve a se-guinte definio universal de terrorismo:

  • 14 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    quando o propsito da conduta, por sua natureza ou contexto, intimidar uma populao, ou obrigar um governo ou umaorganizao internacional a que faa ou se abstenha de fazerqualquer ato. Toda pessoa nessas circunstncias comete umdelito sob o alcance da referida Conveno, se essa pessoa,por qualquer meio, ilcita e intencionalmente, produz: (a) a morteou leses corporais graves a uma pessoa ou; (b) danos graves propriedade pblica ou privada, incluindo um lugar de usopblico, uma instalao pblica ou de governo, uma rede detransporte pblico, uma instalao de infra-estrutura, ou ao meioambiente ou; (c) danos aos bens, aos locais, s instalaes ous redes mencionadas no pargrafo 1 (b) desse artigo, quandoresultarem ou possam resultar em perdas econmicasrelevantes.

    Que definio de terrorismo tem sido adotada pelo Brasil?

    O Grupo de Trabalho (GT) constitudo pela Comisso deRelaes Exteriores e Defesa Nacional (Creden), do Conselho deGoverno (organismo do Poder Executivo), composta por integran-tes de vrios ministrios civis e militares, que tem a atribuio deanalisar, estudar e propor solues de governo para temas de se-gurana , elaborou trs definies de terrorismo, que ainda estoem estudo. A definio genrica elaborada pelo GT da Creden clas-sifica como terrorismo todo ato com motivao poltica ou religio-sa, que emprega fora ou violncia fsica ou psicolgica, para in-fundir terror, intimidando ou coagindo as instituies nacionais, apopulao ou um segmento da sociedade.

    A Abin segue a definio especfica elaborada pela Creden.Nela, define-se terrorismo como:

    ato de devastar, saquear, explodir bombas, seqestrar, incendiar,depredar ou praticar atentado pessoal ou sabotagem, causandoperigo efetivo ou dano a pessoas ou bens, por indivduos ougrupos, com emprego da fora ou violncia, fsica ou psicolgica,por motivo de facciosismo poltico, religioso, tnico/racial ouideolgico, para infundir terror com o propsito de intimidar oucoagir um governo, a populao civil ou um segmento dasociedade, a fim de alcanar objetivos polticos ou sociais.

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 15

    Tambm o ato de:

    Apoderar-se ou exercer o controle, total ou parcialmente, definitivaou temporariamente, de meios de comunicao ao pblico oude transporte, portos, aeroportos, estaes ferrovirias ourodovirias, instalaes pblicas ou estabelecimentos destinadosao abastecimento de gua, luz, combustveis ou alimentos, ou satisfao de necessidades gerais e impreterveis da populao.Trata-se de ao premeditada, sistemtica e imprevisvel, decarter transnacional ou no, que pode ser apoiada por Estados,realizada por grupo poltico organizado com emprego deviolncia, no importando a orientao religiosa, a causaideolgica ou a motivao poltica, geralmente visando destruira segurana social, intimidar a populao ou influir em decisesgovernamentais.

    H uma instituio central responsvel pela preveno epelo combate ao terrorismo no Brasil?

    Atualmente, no Brasil, no h uma instituio especfica res-ponsvel pela preveno e pelo combate ao terrorismo. No entan-to, existem estudos, no mbito do Executivo, para criao de umente que possa centralizar as aes preventivas e repressivas noque se refere a este ilcito. A preveno do terrorismo internacional realizada pela Abin. Cabem ao Departamento de Polcia Federal(DPF) aes de represso policial, bem como competem ao Co-mando do Exrcito/Ministrio da Defesa (MD), por meio de suaBrigada de Operaes Especiais (BOE), sediada em Goinia/GO,medidas militares de carter repressivo.

    Qual a diferena entre ato terrorista e grupo terrorista?

    Ato terrorista qualquer expediente utilizado por pessoa, gru-po de pessoas ou Estado que emprega fora ou violncia fsica oupsicolgica, para infundir o medo generalizado entre a populaoe, com isso, atingir seus objetivos.

  • 16 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    Grupo terrorista uma congregao de pessoas que emprega,preferencialmente, atos terroristas para alcanar um objetivo pol-tico ou ideolgico.

    As Foras Armadas Revolucionrias da Colmbia (Farc) eoutras guerrilhas latino-americanas so grupos terroristas?

    O Brasil compreende que essas organizaes no devemser classificadas como grupos terroristas, pois tm estruturas, reade atuao e histricos prprios que os diferenciam dos gruposterroristas. Essas distines no permitiriam que esses grupos fos-sem igualados. As guerrilhas possuem uma estrutura de milciahierarquizada com diversas frentes de batalha e respondem a umcomando centralizado. A rea de atuao das guerrilhas basica-mente nacional e contra um governo institudo. Por fim, as origenshistricas das guerrilhas remontam aos movimentos revolucionri-os de esquerda dos anos 1960 e se inspiram em lderes como:Simn Bolvar, Che Guevara, Mao Zedong1 e Lenin.

    O Brasil pode ser alvo do terrorismo?

    Apesar de nunca ter ocorrido um atentado em solo nacional,o Pas pode ser palco de um ataque, tendo em vista, principalmen-te, a presena de representaes diplomticas e empresariais depases considerados inimigos por organizaes terroristas interna-cionais. Alm disso, o Pas atualmente tem interesses em vrioscontinentes, em sociedade com empreendimentos de pases con-siderados alvos do terrorismo.

    Assim, o Brasil no pode descuidar do acompanhamento daatuao de grupos extremistas internacionais e a cooperao comoutros Estados crucial para prevenir e combater o fenmeno doterrorismo. Ressalta-se que as organizaes terroristas no reco-nhecem fronteiras, logo, nenhum pas estaria livre dessa ameaa.

    1Mao Zedong: em Pinyin transliteration; Mao Tse-Tung: em Wade-giles transliteration.

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 17

    Cabe observar que nacionais j foram vtimas, de modo indi-reto, do terrorismo ou das aes de combate a ele. Em 2002, osbrasileiros Alexandre Watake e Marco Antnio Farias estavam en-tre as vtimas dos atentados bomba que mataram 212 pessoasem Bali/Indonsia. Em agosto de 2003, o diplomata brasileiro Sr-gio Vieira de Mello, representante da ONU no Iraque, foi vtima deatentado terrorista em Bagd. No incio de 2005, o engenheiro JooJos Vasconcellos foi seqestrado e morto naquele pas. Em julhodo referido ano, Jean Charles de Menezes foi assassinado no metrde Londres/Inglaterra, ao ser confundido com um terrorista pelaPolcia Metropolitana daquela capital.

    Existem terroristas no Brasil?

    No h evidncias de clulas terroristas em atividade no Bra-sil. Todas as denncias sobre existncia de campos de treinamen-to e de clulas adormecidas tm sido investigadas e no foramencontrados sinais desse tipo de atividade em nosso Pas, princi-palmente na regio da Trplice Fronteira. Atualmente, objeto detrabalho conjunto dos trs pases, Argentina, Brasil e Paraguai,mais os Estados Unidos da Amrica, no mbito do Grupo 3+1 (me-canismo criado em 2002 para trabalhar em uma nica viso sobreproblemas relacionados quela rea fronteiria).

    Existe narcoterrorismo no Brasil?

    Narcoterrorismo a associao direta entre o trfico de dro-gas e o terrorismo. Uma vez que as organizaes criminosas tmo lucro como motivao principal, no devem ser classificadas comoterroristas mesmo que empreguem mtodos tpicos do terrorismo.No que concerne ao Brasil, , portanto, inapropriado o uso do ter-mo narcoterrorismo.

    Organizaes terroristas so organizaes criminosas?

    Apesar de ambas serem organizaes que se voltam para aexecuo de atividades ilcitas, seus objetivos so bastante distin-

  • 18 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    tos. Uma organizao criminosa visa, com sua atividade, benefci-os econmicos e obteno de lucro. Uma organizao terroristaalmeja objetivos polticos e ideolgicos. Essa distino de finalida-de de cada tipo de organizao interfere na maneira como essesgrupos se organizam internamente e em como atuam para atingirseus objetivos. Como signatrio das principais convenes inter-nacionais contra o terrorismo, o Brasil tambm entende o terroris-mo como uma forma de crime organizado transnacional.

    O Brasil acompanha o terrorismo internacional?

    A Abin acompanha e analisa os grupos terroristas internacio-nais, estuda seu modus operandi e os reflexos de sua atuaopara o Brasil. O Pas no adota, entretanto, uma lista especfica deorganizaes consideradas terroristas.

    O que o fundamentalismo religioso?

    Movimento que mantm a estrita observncia aos princpiosfundamentais de uma determinada f. No estudo comparativo dasreligies, fundamentalismo pode se referir a idias antimodernistas,

    Diferenas entre grupo guerrilheiro, grupo terrorista e organizao criminosa

    Grupo Guerrilheiro Grupo Terrorista Organizaes Criminosas

    1. Guerrilha rural e urbana;

    2. Aniquilamento seletivo de autoridades;

    3. Seqestro; e

    Modo de atuao

    4. Atos terroristas.

    Atos terroristas de modo geral.

    Emprego de violncia generalizada, podendo

    abranger, algumas vezes, atos que visem a aterrorizar a

    populao.

    Motivao Poltica ou ideolgica. Poltica ou ideolgica. Econmica.

    rea de atuao Nacional ou Regional Internacional e Nacional Internacional e Nacional

    Estrutura Hierarquia militar centralizada Clulas descentralizadas Hierarquia centralizada

    Diferenas entre grupo guerrilheiro, grupo terrorista e organizao criminosa

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 19

    busca pelos fundamentos de uma religio. O fundamentalismoreligioso pode englobar cristos, judeus, mulumanos, hindus.

    Existe diferena entre rabe e muulmano?

    Muulmano o cumpridor dos preceitos do Isl. Naturalmen-te, nem todo rabe muulmano e nem todo muulmano rabe.A origem rabe baseia-se, sobretudo, em aspectos tnicos e cul-turais. Neste caso, a lngua tem importncia crucial. So membrosda Liga dos Estados rabes 22 pases: Arbia Saudita, Arglia,Bahrain, Comoros, Djibouti, Egito, Emirados rabes Unidos, Imen,Iraque, Jordnia, Kuaite, Lbano, Lbia, Marrocos, Mauritnia, Om,Palestina, Qatar, Sria, Somlia, Sudo e Tunsia. Ao contrrio dopensamento comum, Afeganisto, Indonsia, Ir, Bangladesh,Paquisto e Malsia, embora sejam pases de populao majorita-riamente muulmana, no so rabes.

    Qual a diferena entre sunita e xiita?

    Os sunitas professam a Suna, a tradio islmica baseadanos atos e falas do Profeta Maom. Seguem lderes religiosos es-colhidos por seu conhecimento e devoo, mas que no so, ne-cessariamente, descendentes do profeta. Os xiitas, por sua vez,seguem guias espirituais considerados descendentes de Maom,por intermdio do primo e genro deste, Ali Ibn Abi Talib, o quartocalifa, assassinado no ano de 661 DC. H vrias correntes xiitas,sendo a mais importante a Duodecimalista, com predominnciano sul do Iraque, Imen e Sul e Leste do Lbano.

    O Brasil subscreveu os acordos, convenes ou tratadoscontra o terrorismo?

    No mbito da ONU e da Organizao dos Estados America-nos (OEA), o Brasil assinou e ratificou todas as convenes inter-nacionais sobre terrorismo. Apenas a Conveno Internacional paraa Supresso de Atos de Terrorismo Nuclear (da ONU) no foi, at

  • 20 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    o momento, ratificada pelo Pas. Esse foi um instrumento apre-sentado durante a realizao de Assemblia Geral da ONU, emsetembro de 2005.

    Legislao Internacional Sobre Terrorismo

    Ttulo Celebrao Entrada em vigor Entrada em

    vigor no Brasil Decreto

    executivo Conveno relativas s Infraes e certos outros atos cometidos a bordo de Aeronaves 14/9/1963 4/12/1969 14/4/1970 66520/70

    Conveno para Represso ao Apoderamento Ilcito de Aeronaves 16/12/1970 14/10/1971 14/2/1972 70201/72

    Conveno para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em Delitos contra as Pessoas e a Extorso Conexa Quando Tiverem Eles Trancendncia Internacional

    2/2/1971 16/10/1973 5/2/1999 3018/99

    Conveno para a Represso de Atos Ilcitos contra a Segurana da Aviao Civil 23/9/1971 26/1/1973 26/1/1973 72383/73

    Conveno sobre a Preveno e Punio de Infraes contra Pessoas que Gozam de Proteo Internacional, incluindo os Agentes Diplomticos

    14/12/1973 20/2/1977 7/6/1999 3167/99

    Conveno contra a Tomada de Refns 18/12/1979 3/6/1983 7/4/2000 3517/00 Conveno sobre a Proteo Fsica dos Materiais Nucleares 3/3/1980 8/2/1987 8/2/1987 95/91

    Protocolo para a Supresso de Atos Ilcitos de Violncia nos Aeroportos a Servio da Aviao Civil

    24/2/1988 6/8/1989 8/6/1997 2611/98

    Conveno sobre a Marcao dos Explosivos Plsticos para Fins de Deteco 1/3/1991 21/6/1998 3/12/2001 4021/01

    Conveno Interamericana Contra a Fabricao e o trfico Ilcito de armas de Fogo, unies, explosivos e Outros Materiais Correlatos

    14/11/1997 1/7/1998 28/10/1999 3229/99

    Conveno Internacional sobre a Supresso de Atentados Terroristas com Bombas (com reserva ao pargrafo 1 do artigo 20).

    15/12/1997 23/5/2001 22/9/2002 4394/02

    Resoluo 1373 (2001) do Conselho de Segurana das Naes Unidas 28/9/2001 28/9/2001 18/10/2001 3976/01

    Conveno Internacional para a Supresso do Financiamento do Terrorismo 9/12/1999 10/4/2002 16/10/2005 5640/05

    Conveno Interamericana Contra o Terrorismo 3/6/2002 10/7/2003 26/11/2005 5639/05

    Conveno para a Supresso de Atos Ilcitos contra a Segurana da Navegao Martima 10/3/1988 1/3/1992 23/1/2006 -

    Protocolo para a Supresso de Atos Ilcitos contra a Segurana de Plataformas Fixas localizadas na Plataforma Continental

    10/3/1988 1/3/1992 23/1/2006 -

    Conveno Internacional para a Supresso de Atos de Terrorismo Nuclear 13/4/2005 - - -

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 21

    No que concerne ao Mercosul, existe alguma iniciativaplurinacional de preveno e combate ao terrorismo?

    Ao ensejo da Declarao de Ministros da Justia e do Interiordo Mercosul, de 28 de setembro de 2001, assinada em Montevi-du/Uruguai, foi criado o Grupo de Trabalho Especializado sobreTerrorismo (GTE), subordinado Comisso Tcnica encarregadade coordenar os GTs especializados do Mercosul.

    A referida comisso presidida, no caso brasileiro, pelo Minist-rio da Justia, e a Abin uma de suas partcipes. As atividades doGTE visam implementao e coordenao de aes operacionais,em matria de terrorismo, tendo por base o Plano Geral de Coopera-o e Coordenao Recproca para a Segurana Regional.

    Ademais, h outros dispositivos pertinentes na esfera doMercosul, como o Protocolo sobre Assistncia Judiciria Mtuaem Assuntos Penais, de 1996, e o Acordo sobre Extradio, de1998. Compem o GTE os pases-membros do Mercosul (Argenti-na, Brasil, Paraguai e Uruguai), os associados (Bolvia, Chile, Perue Venezuela) e a Colmbia. Trata-se do principal frum de coope-rao sul-americana sobre terrorismo do qual o Brasil participa.

    O que diz a legislao nacional a respeito de terrorismo?

    Os principais dispositivos jurdicos brasileiros sobre terroris-mo so: a Constituio Federal de 1988; o Decreto-Lei n 2.848,de 7 de dezembro de 1940 (Cdigo Penal); a Lei n 6.815, de 18de agosto de 1980 (Estatuto do Estrangeiro); a Lei n 7.170, de 14de dezembro de 1983 (Lei de Segurana Nacional); a Lei n 8.072,de 25 de julho de 1990, que inclui o terrorismo na categoria decrimes hediondos; a Lei n 9.112, de 10 de outubro de 1995, quecriou a Comisso Interministerial de Controle de Exportaes deBens Sensveis e dispe sobre o controle da exportao de servi-os e bens de aplicao blica, bens de uso dual e bens de uso narea nuclear, qumica e biolgica; a Lei n 9.613, de 3 de maro de1998, que criou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras(Coaf) e dispe sobre os crimes de lavagem ou ocultao de

    i

  • 22 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    bens, direitos e valores provenientes, direta ou indiretamente, decrimes como o terrorismo, e a Lei n 9.883, de 7 de dezembro de1999, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligncia (Sisbin),cujo rgo central a Abin.

    Em abril de 2002, o MJ anunciou a elaborao de anteproje-to de lei que no prosperou e que criaria um novo Ttulo, de nme-ro XII, no Cdigo Penal, sobre os crimes contra o Estado Demo-crtico de Direito, destinado a substituir a Lei de Segurana Naci-onal, de 1983. A tipificao do delito, objeto do futuro artigo 371 doCdigo, segue a tendncia de abord-lo por meio da explicitaode condutas criminais, inclusive as ligadas ao terrorismo ciberntico,em vez de buscar uma definio. O texto est consubstanciado noProjeto de Lei n 6.764/2002.

    Existe, ainda, um estudo, que est sendo elaborado no mbi-to da Estratgia Nacional de Combate Corrupo e Lavagem deDinheiro (Enccla), a ser apresentado como Projeto de Lei no Con-gresso Nacional, que tipifica crimes relacionados ao terrorismo.

    Quais os instrumentos jurdicos internacionais sobre terro-rismo adotados pela ONU?

    Alm das Convenes internacionais sobre terrorismoadotadas pela ONU e das Resolues do Conselho de Seguranada ONU (CSNU) que tratam especificamente do ilcito, foram cria-dos o Comit de Sanes contra a Al-Qaeda e o Talib (Comit1.267); o Comit Antiterrorismo (CTC), cuja misso monitorar aimplementao da Resoluo n 1.373, adotada pelo CSNU em28 de setembro de 2001, e fortalecer a capacidade dos Estadosno que tange a preveno e combate ao terrorismo, e o Comit1.540, encarregado dos assuntos relativos aos atores no-estataise s armas de destruio em massa. Continua em negociao naONU um projeto de conveno abrangente sobre o terrorismo, afim de sistematizar a preveno e o combate ao fenmeno, atento disperso em instrumentos jurdicos setoriais.

    * * *

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 23

    O PAPEL DOS SERVIOS DE INTELIGNCIA NAPREVENO E NO COMBATE AO TERRORISMO

    INTERNACIONAL

    Cmt. Int. Paulo de Tarso Resende PaniagoAbin

    O contexto atual de globalizao econmica marcada pelaevoluo tecnolgica, principalmente nas reas de comunicao etransportes, propiciou o contato entre culturas antes isoladas. Amobilidade de pessoas, a possibilidade de expanso dos negci-os, muitos dos quais realizados virtualmente, o advento da internetcomo ferramenta de acesso a conhecimentos e comunicao qua-se ilimitados e as crescentes correntes migratrias a partir de pa-ses pobres, responsveis pela formao de expressivas minoriastnicas nas grandes potncias da Europa e da Amrica do Norte,fizeram aflorar divergncias religiosas e ideolgicas que, alimenta-das pela intolerncia e pelo radicalismo, atingem seu pice emaes de violncia.

    O terrorismo se insere nesse processo. O propalado dilogoentre civilizaes, notadamente a crist, a judaica e a muulmana,vem se tornando mais difcil medida que pases ocidentais estabe-lecem presena nas terras consideradas sagradas do Isl e, aosolhos dos nativos, profanam o que para eles representam valores aserem preservados. Por outro lado, a forte presena dos adeptosdessa religio no Ocidente no configura aceitao dos valores queos rodeiam. A arma destes, que se consideram mais fracos einjustiados, passa a ser o terror contra os ocidentais, porque tmconscincia de sua condio de inferioridade no campo de batalhamilitar tradicional.

    Em quaisquer situaes de antagonismos e conflitos, a ativi-dade de Inteligncia torna-se indispensvel, e cresce seu grau deimportncia na mesma proporo em que a situao se agrava.

  • 24 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    Se, na poca da Guerra Fria, a Inteligncia era utilizada para espi-onagem mtua pelos plos ideolgicos dominantes, na atualida-de, os desafios representados pelo terrorismo islmico estimulamo xito do trabalho de coleta de informaes e elaborao de ce-nrios. Um dos principais aspectos a serem considerados no com-bate ao terrorismo a dificuldade em caracterizar o inimigo. Nocaso do terrorismo de inspirao fundamentalista islmica, em umuniverso aproximado de 1,4 bilho de muulmanos, qualquer pes-soa pode estar a servio do extremismo e disposta a imolar-sepela causa do Isl. Ao mesmo tempo, os servios de Intelignciados pases atingidos, sejam ocidentais ou islmicos, no devemse deixar levar pela parania de considerar todos os fiis muul-manos como inimigos.

    A insero do Brasil nesse complicado quadro se faz por meioda presena de comunidades muulmanas que vivem em vriasregies do Pas, notadamente em So Paulo/SP, onde h cerca de1,5 milho de adeptos da religio, e em Foz do Iguau/PR, queconta com uma comunidade de aproximadamente 20 mil mem-bros. No Pas, h 50 mesquitas e diversas entidades de ensino ede divulgao da cultura islmica, tanto da corrente sunita quantoda xiita. Os projetos dessas comunidades de construo de novoscentros e mesquitas evidenciam sua predisposio em permane-cerem e ampliarem sua presena no Brasil, ptria consideradahospitaleira e tolerante com estrangeiros e confisses religiosas.O principal contingente de muulmanos radicados no Brasil delibaneses xiitas, mas tambm h palestinos e libaneses sunitas.

    Os atentados terroristas ocorridos na Embaixada de Israelem 1992 e na Associao Mutual Israelita da Argentina (Amia) em1994, ambos em Buenos Aires, ativaram, pela primeira vez, o aler-ta do rgo de Inteligncia do Brasil no tocante presena e atuao de terroristas na Amrica do Sul. Diante das afirmaesde organismos congneres de outros pases de que os menciona-dos atos tiveram como base de apoio o territrio nacional, o Passofre presses para a adoo de medidas que visem a neutralizareventuais ameaas terroristas, incluindo o aprimoramento do contro-le de estrangeiros e do envio de recursos financeiros ao exterior.

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 25

    Em 1999, o governo brasileiro criou a Agncia Brasileira deInteligncia (Abin), que, entre outras funes, recebeu a incumbn-cia de participar das aes de preveno de atos terroristas por meiode operaes prprias, anlises estratgicas e intercmbio de da-dos e informaes com servios de Inteligncia aliados e rgos desegurana nacionais. O esforo brasileiro nesse sentido mostrou-secompatvel com a conjuntura internacional, uma vez que, com osatentados terroristas ocorridos em Nova Iorque e Washington, em2001, o tema tornou-se prioridade mxima dos Estados Unidos daAmrica (EUA) e de outros pases europeus, medida que essestambm passaram a ser ameaados e atingidos.

    A Abin, como o principal rgo nacional de preveno aoterrorismo, assumiu um papel fundamental no acompanhamento,em territrio brasileiro, de suspeitos de serem membros de organi-zaes extremistas ou de lhes prestar apoio financeiro, logsticoou de recursos humanos. No mbito do intenso processo deglobalizao, anteriormente mencionado, a Inteligncia vem ob-servando a movimentao de religiosos entre o Brasil, os pasesdo Oriente Mdio e vizinhos da Amrica do Sul, principalmente aArgentina e o Paraguai, com os quais se forma a Trplice Fronteira,local considerado pelos EUA como problemtico do ponto de vistade suposto financiamento do terrorismo pelos muulmanos aliradicados.

    A resposta da Abin a essa ameaa tem sido a implementaode aes sistemticas na Trplice Fronteira e em So Paulo para oacompanhamento das atividades e dos contatos de pessoas con-sideradas suspeitas. Esse trabalho tambm visa a obter elemen-tos que possam assessorar o governo brasileiro no posicionamentointernacional a respeito do tema.

    Outro ponto importante o intercmbio de informaes comservios estrangeiros.

    O Brasil, por intermdio de delegaes multissetoriais, parti-cipa de fruns multilaterais de mbito regional e supra-regional,onde a cooperao contra o terrorismo tema dos trabalhos. En-tre os principais, esto o Grupo de Trabalho Especializado (GTE)

  • 26 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    do Mercosul; o Grupo 3+1, que inclui os pases da Trplice Frontei-ra e os EUA; o Comit Interamericano Contra o Terrorismo (Cicte),da Organizao dos Estados Americanos (OEA) e o Grupo de Atu-ao Financeira Internacional (Gafi), que trata da lavagem de di-nheiro e do financiamento do terrorismo.

    Internamente, a institucionalizao do Sistema Brasileiro deInteligncia (Sisbin), criado em 1999, do qual a Abin o rgocentral, possibilita permanente interao para troca de informa-es, experincias e consolidao de parcerias.

    Dessa forma, o Brasil vem criando condies para cumpriras recomendaes contidas na Resoluo n 1.373, de 28 set.2001, do Conselho de Segurana da Organizao das NaesUnidas (ONU), que inclui um conjunto de regras para o controle deoperaes financeiras, combate lavagem de dinheiro ligada aofinanciamento do terrorismo, fiscalizao das fronteiras ecertificao de segurana de portos e aeroportos. Ainda no mbitodos instrumentos normativos da ONU e da Organizao dos Esta-dos Americanos (OEA), o Brasil aderiu a todas as convenes so-bre combate ao terrorismo.

    Embora no exista uma lista que reconhea as organizaesque o Pas considera terroristas, sua condio de membro da ONUe signatrio da citada resoluo o impele a seguir a lista da organi-zao, onde esto inseridos a Al-Qaeda e o grupo talib.

    Um campo de atuao ainda a ser explorado em profundida-de o financiamento ao terrorismo. A falta de pessoal especializa-do em nmero suficiente e o acesso deficiente aos dados do siste-ma financeiro impedem que se conhea em detalhes as opera-es suspeitas. Essa lacuna tem sido suprida por meio do Conse-lho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), do Ministrio daFazenda, criado em 1998.

    Cumpre ressaltar, entretanto, que essa fragilidade verificadaem muitos pases. Especialistas acreditam que, devido ao imensovolume de operaes financeiras realizadas todos os dias no mun-do, o rastreamento dessas movimentaes deve ser feito apenasnos casos de pessoas suspeitas e to-somente com o intuito de

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 27

    corroborar ou refutar indcios, visto ser muito difcil caracterizar ofinanciamento do terrorismo, devido ao fato de que as organiza-es extremistas, muitas vezes, escondem-se sob a fachada deinstituies de caridade, empresas, fundaes e associaes.

    A Inteligncia est cada vez mais voltada para a aquisio decapacidade para antecipar ameaas terroristas. Para o sucesso desuas aes, entretanto, existem algumas condies fundamentais:

    estudo contnuo de organizaes terroristas bem como demovimentos guerrilheiros, grupos e indivduos de alguma formarelacionados a esta atividade, abrangendo seus antecedentes his-tricos, motivaes, estrutura, bases de apoio e tendncias;

    implantao de banco de dados especfico, voltado ao acom-panhamento e identificao de organizaes e grupos suspeitos;

    controle da movimentao de alvos de interesse, dentro deum pas e internacionalmente;

    formao de uma rede de informantes, sobretudo nas re-as que tenham colnias de etnias, migrantes e/ou refugiados, emcujo pas de origem existam atividades terroristas;

    infiltrao de agentes em organizaes e grupos terroristas,ou de apoio a aes terroristas;

    desinformao de dados de interesse para as organizaesterroristas com a finalidade de iludir, confundir e/ou conduzir aoerro aquelas organizaes, facilitando a deteco de seus compo-nentes, assim como o acompanhamento de suas aes;

    contrapropaganda, que ser de especial relevncia na for-mao da opinio pblica em favor das aes de Inteligncia; e

    deteno de pessoas para interrogatrio e possibilidade dedeportao, desde que mediante fundamentao e com controleexterno voltado preveno de excessos.

    A Inteligncia brasileira tem se adaptado s condies eco-nmicas, polticas e sociais do Pas. O crescimento das suspeitasde financiamento do terrorismo, o proselitismo religioso radicalfeito por clrigos vindos de pases muulmanos, o homizio, em

  • 28 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    territrio nacional, de pessoas supostamente ligadas a grupos ex-tremistas e a possibilidade de recrutamento de combatentes brasi-leiros convertidos ao Isl demandam o incremento das aes daAbin nesse campo com a conseqente necessidade de adequa-o do aporte financeiro, de pessoal e tecnologia. Alm dessesaspectos, a atualizao da legislao brasileira e o respeito aosdireitos humanos vm se impondo como uma necessidade.

    As presses internacionais para que o Brasil seja um parcei-ro ativo das grandes potncias no combate ao terrorismo interna-cional j so sensveis e tendem a crescer. A participao nesseprocesso vai ao encontro dos interesses do Pas, de maior presen-a no cenrio mundial, inclusive com assento permanente no Con-selho de Segurana da ONU.

    A Inteligncia um dos principais instrumentos para o Brasilatender as demandas e enfrentar tais presses. Todavia, para queisso ocorra, necessrio que esse setor governamental esteja pre-parado e equipado para cumprir sua misso de forma satisfatria,caso contrrio, podem tornar-se comuns aes adversas de servi-os estrangeiros em territrio nacional, em flagrante desrespeito soberania do Estado brasileiro.

    * * *

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 29

    ENSAIO SOBRE AS DISTINES ENTREORGANIZAES GUERRILHEIRAS E

    TERRORISTAS

    3 Of. Int. Carolina Souza BarcellosAbin

    Aps os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001,muitos pases passaram a rever seus conceitos para a classifica-o de uma organizao como terrorista. Esse revisionismo, moti-vado no s pelo temor como tambm pela melhor compreensoda problemtica contempornea, fez com que muitos pasesreavaliassem o status de diversos grupos extremistas em atuaono mundo. Apesar de esse processo de conceituao denotar umvis cientfico discusso da tipologia desse ilcito, as diferentesdefinies de terrorismo adotadas pelos pases respondem maiss demandas polticas e estratgicas de cada Estado que ao con-senso acadmico sobre o assunto.

    Entre os pases que alteraram a classificao de algunsgrupos extremistas encontra-se a Colmbia, que passou a con-siderar como organizaes terroristas os grupos guerrilheirosque assolam o pas, aliando, assim, sua classificao estadunidense. O Brasil no adotou essa poltica e manteve adefinio de guerrilha para grupos dessa natureza, como asForas Armadas Revolucionrias da Colmbia (Farc) e o Exr-cito de Libertao Nacional (ELN).

    A redefinio de conceitos em diversos pases, apesar deparecer bastante acertada, suscitou dvidas sobre quais fatoresdistinguem movimentos guerrilheiros de uma organizao terroris-ta. Ou ainda, se esses dois tipos no seriam apenas formatos va-riados de uma mesma realidade. Este pequeno ensaio tem porobjetivo oferecer uma reflexo sobre esse debate e tentar apre-

  • 30 REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007.

    sentar alguns conceitos tericos que estariam por trs da deci-so brasileira de manter a classificao de grupos como as Farccomo guerrilha. Nesse sentido, sero apresentados os principaispontos que diferenciam um grupo guerrilheiro de uma organiza-o terrorista.

    Entre os indicadores que distinguem guerrilha de terrorismo,talvez o mais proeminente seja o relativo a sua organizao inter-na. Os grupos guerrilheiros utilizam uma estrutura militarizada comhierarquias definidas e com arcabouo de comando piramidal. Emoutras palavras, os militantes iniciam suas carreiras nos postosmais baixos da hierarquia militar do grupo, como combatentes, eascendem segundo critrios de tempo e excelncia, tal como emum exrcito regular. Os combatentes so divididos em frentes eblocos que se assemelham organizao militar de pelotes, com-panhias e batalhes. As guerrilhas organizam sua campanha ar-mada de modo que cada frente atinja objetivos especficos prpri-os, mas que correspondam ao planejamento estratgico definidopelo comandante-geral.

    Em um exrcito regular, h especializaes tcnicas entreos diferentes segmentos da Fora para atender a necessidadese formas de emprego ttico especficos. Essa mesma lgica deespecializao tenta ser reproduzida em algumas frentes e blo-cos da guerrilha1. Do mesmo modo que em um exrcito, as dife-rentes operaes tticas esto vinculadas a uma linha de co-mando nica e estratificada. Em certa medida, a utilizao dehierarquia militar acaba sendo fundamental para a organizaode uma guerrilha. Isso porque um grupo guerrilheiro formadopor quantidade de militantes2 difcil de se articular na ausnciade um comando centralizado.

    1 As Farc, por exemplo, tm frentes especializadas em aes militares, de seqestro,de logstica, de finanas etc.

    2 Atualmente, acredita-se que as Farc tenham em suas fileiras, cerca de 17 mil guerri-lheiros; para o ELN, as estimativas so de cerca de 4 mil militantes.

  • REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: Abin, v. 3, n. 4, set. 2007. 31

    Enquanto as guerrilhas se organizam sobre uma estruturamilitar hierarquizada, no h uma estrutura organizacional comumaos distintos grupos terroristas. Uma forma cada vez mais empre-gada de clulas descentralizadas, compostas de poucos mem-bros, que realizam aes coordenadas por uma liderana central.Entretanto, no h uma hierarquia clara e definida entre as clulasque participam, direta ou indiretamente, de um atentado ou de suapreparao. Enquanto as guerrilhas procuram se aproximar aomximo da estrutura militar de comando e obedincia, as organi-zaes terroristas no compartilham de um tipo preferencial deestrutura organizacional.

    Outra diferenciao comumente apontada para distinguir guer-rilha de terrorismo baseia-se na atuao operacional. A guerra deguerrilhas um tipo de combate usualmente empregado em con-flitos assimtricos ou por exrcitos regulares, quando se desejaaplicar uma tcnica que proporcione tropa grande agilidade emobilidade no terreno. Essa ttica , por excelncia, a mais exe-cutada por organizaes como as Farc, e consiste em atacar, emaes rpidas, tropa regular em momentos em que se acham vul-nerveis. Aps o ataque, a organizao guerrilheira abandona olocal o mais rapidamente possvel para evitar um contra-ataque.Alm desse tipo de ao, as guerrilhas atuam ainda em assassi-nato seletivo de autoridades, seqestro e aes terroristas.

    Os movimentos insurgentes apresentam quatro linhasoperacionais claras, sendo a ao guerrilheira a essencial, ao pas-so que as organizaes terroristas possuem apenas uma: a disse-minao indiscriminada do pnico. Com essa ttica, as organiza-es terroristas procuram criar, na populao, a sensao de queo Estado frgil frente ameaa e de que no capaz de garantira paz social. Nesse sentido, as organizaes terroristas procuramutilizar esse sentimento de impotncia do pas para dobrar osgovernos a seu favor.

    Essa distino de modus operandii acaba refletindo tambmnos alvos principais de cada uma dessas organizaes. Enquantoas guerrilhas alvejam preferencialmente instalaes militares, exr-

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    citos regulares, autoridades pblicas e infra-estruturas fsicas, osterroristas optam pela populao civil, normalmente de formaindiscriminada. O ataque populao civil fundamental para quea ttica de disseminao do medo tenha sucesso. Nesse sentido,quanto mais violento e inusitado um ataque, maior ser sua capa-cidade de disseminar o caos. Devido a esse tipo de atuao, asorganizaes terroristas no costumam contar com apoio da po-pulao civil, considerada alvo do grupo.

    Os dois tipos estudados tambm se diferenciam quanto aoapoio da populao. No incio de sua formao, um movimentoguerrilheiro necessita do apoio, ou pelo menos da no-rejeio dapopulao, ao passo que uma organizao terrorista independedesse quesito para seu nascimento e manuteno. Por esse moti-vo, no interessante, poltica ou estrategicamente, para um mo-vimento guerrilheiro empreender ataques indiscriminados contra apopulao civil.

    Outro aspecto de distino oriundo dos modus operandii sin-gular a cada tipo de organizao a questo espacial que existeno cerne dos grupos guerrilheiros e no apresenta a mesma rele-vncia para as organizaes terroristas. A guerra de guerrilhas uma luta armada com avano territorial, em que o espao gradu-almente conquistado, ocupado e defendido pelas tropas guerrilhei-ras. Em contrapartida, as organizaes terroristas no se empe-nham na busca de avano territorial. Mesmo grupos terroristas devis separatista, como o Irish Republican Army (IRA) e a EuskadiTa Askatasuna (ETA) que, em basco, significa Ptria Basca eLiberdade , no utilizaram o avano territorial fsico de fraesarmadas, como o fazem as Farc e o ELN na Colmbia.

    As guerrilhas tambm apresentam outra caracterstica militarno compartilhada pelos grupos terroristas: a utilizao de unifor-mes e armamentos convencionais3. Alm de usarem farda para aidentificao da organizao como um grupo beligerante regular,

    3 Por armamentos convencionais compreende-se a utilizao de armamento comumaos utilizados por exrcitos regulares, tais como, fuzis, metralhadoras, morteiros, gra-nadas, minas terrestres etc. Em outras palavras, as guerilhas praticamente no empre-gam artifcios como ataques suicidas.

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    os guerrilheiros adotam armas de combate militar, como fuzis, gra-nadas, morteiros etc. Essa escolha feita porque a guerrilha pre-tende ser uma organizao armada representante dos interessesde uma parcela da populao; logo, sua identificao como grupo(por meio de uniformes, hinos, insgnias etc.) acaba sendo funda-mental para sua formao e propaganda de sua fora. Alm disso,como seus alvos preferenciais so militares, visto se considera-rem militarmente capazes de enfrentar o aparato militar do Esta-do, necessria a utilizao de armamento convencional para queseu esforo de guerra possa obter sucesso.

    Contrariamente a essa lgica, os membros de uma organiza-o terrorista no buscam sua identificao com uniformes e afins,nem empregam armas convencionais de uso militar. Uma caracters-tica marcante do terrorismo a ausncia de rosto. Qualquer um podeser um terrorista. O trunfo do terrorismo justamente tentar mostrar aimpotncia do Estado frente a seus atos; assim, um terrorista nopode atuar devidamente identificado, como normalmente o faz umguerrilheiro. Alm disso, como o modus operandii desse tipo de orga-nizao busca disseminar o medo, as armas militares de uso regularno seriam as mais adequadas para espalhar o caos na populao.

    As organizaes terroristas e guerrilheiras compartilham amotivao ideolgica4 como fator preponderante para formao emanuteno do grupo. Em outras palavras, o que impulsiona osintegrantes desses movimentos a crena de estarem atuandoem prol de um objetivo que consideram nobre. Apesar dessa inter-cesso, o objetivo almejado no comum. As guerrilhas buscam opoder poltico. Seu objetivo obter o poder pela fora e instaurarum novo governo. A criao de um novo pas, por meio de ummovimento separatista, no um objetivo que perpassa diferentesmovimentos guerrilheiros, porm a conquista de poder poltico ofoco central da ao armada desses grupos. As organizaesterroristas, por sua vez, no compartilham um objetivo comum.

    4 A motivao ideolgica entendida aqui em seu sentido amplo, isto , a ideologia vista como o conjunto de idias que os indivduos possuem para compreender o mun-do. Nesse sentido, a ideologia serve a princpios polticos tanto de esquerda quanto dedireita; a princpios tanto teolgicos quanto seculares.

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    Enquanto existem grupos com carter separatista (IRA e ETA5),h os que pregam a destruio de um inimigo (Al-Qaeda) e, ainda,os de vis apocalptico (Aum Shinrikyo).

    Por fim, guerrilha e terrorismo tambm diferem quanto fron-teira de atuao. Os movimentos guerrilheiros normalmente res-tringem sua ao aos limites territoriais do pas que pretendemreformar. J as organizaes terroristas no costumam se limitars fronteiras internacionais existentes.

    A diferenciao conceitual dos dois tipos de ilcitos tratadosnesse ensaio procura elencar algumas das distines mais ampla-mente difundidas e apresent-las como ponto de partida para umareflexo mais ampla. Ter uma percepo clara dos elementos queaproximam e distanciam esses grupos extremistas fundamentalpara a compreenso dos dois fenmenos, guerrilha e terrorismo.Independentemente da classificao adotada por cada pas, semuma compreenso vvida das particularidades que envolvem orga-nizaes guerrilheiras e terroristas, o Estado torna-se incapaz dedefender-se dessas ameaas.

    Referncias:

    CLUTTERBUCK, Richard. Terrorism and guerrilla warfare. London: Routledge, 1990.

    FERRY, Dobbs. Terrorism: documents of international and local control. New York:Oceana Publications, 2001.

    PONTES, Marcos Rosas Degaut. Terrorismo: caractersticas, tipologias e presena nasrelaes internacionais. 1999. Dissertao (Mestrado em Relaes Internacionais) -Universidade de Braslia, Braslia, 1999.

    STERN, Jssica. Terror em nome de Deus: porque os militantes religiosos matam. SoPaulo: Barcarolla, 2004.

    THACKRAH, John Richard. Encyclopedia of terrorism & political violence. London:Routledge & Kegan Paul, 1987.

    WARDLAW, Grant. Political terrorism: theory, tactics, and counter-measures. 2. ed.Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

    5 Cabe ressaltar que tanto o IRA quanto o ETA so grupos catlicos.

    * * *

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    O DESAFIO DO TERRORISMO INTERNACIONAL

    Cmt. Int. Paulo de Tarso Resende PaniagoAbin

    Com o advento do sculo XXI, novas ameaas ganharamrelevo no mosaico dos problemas que colocam em risco a segu-rana dos povos, a estabilidade dos pases e a concentrao deesforos em favor da paz mundial. O terrorismo internacional, de-vido a seu poder de infiltrao em diferentes regies e sua capaci-dade para gerar instabilidade na comunidade internacional, cons-titui uma das principais ameaas da atualidade.

    A expanso do terrorismo internacional na ltima dcada estdiretamente relacionada ao crescimento de sua vertente islmica,que, por sua vez, ampliou-se na esteira da disseminao de inter-pretaes radicais do Isl, que se opem a qualquer tipo de inter-veno no universo dos valores muulmanos e pregam o uso daviolncia guerra santa (jihad) como forma de defender, expandire manter a comunidade islmica mundial. Nas organizaes extre-mistas islmicas, em especial do ramo sunita, (aquelas que seguema suna1), a pessoa, para ser seu lder, deve ter conhecimentoreligioso aprofundado, diferentemente das xiitas, que aceitam so-mente lderes que tenham descendncia direta o Profeta Maom)como a Al-Qaeda e grupos a ela coligados, utilizam o conceito radi-cal de jihad para defender a participao ativa em enfrentamentosem que uma das partes se defina como islmica e se oponha aoutra no-islmica ou ocidentalizante.

    Na atualidade, em qualquer parte do mundo, podem se de-senvolver atividades de apoio logstico ou de recrutamento ao ter-rorismo. Isso se deve sua prpria lgica de disseminaotransnacional, que busca continuamente novas reas de atuao

    1 A Suna a segunda parte doutrinria do islamismo, depois do Alcoro. Trata-se de umconjunto de leis, preceitos e interpretaes dos hadith (ditos e feitos), um compndiode textos sobre os ensinamentos, exemplos, tradies e obras do Profeta Maom.

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    e, tambm, s vantagens especficas que cada pas pode oferecera membros de organizaes extremistas, como facilidades de ob-teno de documentos falsos ou de acesso a seu territrio, almde movimentao, refgio e acesso a bens de natureza material etecnolgica.

    A descentralizao das organizaes extremistas amplia suacapacidade operacional e lhes permite realizar atentados quandoas circunstncias lhes forem favorveis e onde menos se espera,para potencializar o efeito surpresa e o sentimento de inseguran-a, objetivos prprios do ato terrorista. Desse modo, cidados einteresses de qualquer pas, ainda que no sejam os alvos ideais,em termos ideolgico-religiosos, podem servir de pontes para queorganizaes extremistas atinjam, embora indiretamente, seus prin-cipais oponentes.

    Para tanto, impe-se aos Estados a necessidade de, entreoutras, adotar parcerias para efetivamente coibir a atuao do ter-rorismo em reas-chave, como o financiamento e o apoio logstico.Isso requer o estabelecimento de acordos bilaterais e multilateraisde combate a esse crime, tanto globais, quanto regionais, bemcomo o fortalecimento de fruns multilaterais, para resolver ques-tes conflitantes. Sem o contnuo esforo supranacional para inte-grar e coordenar aes conjuntas de represso, o terrorismo inter-nacional continuar a ser fator de ameaa aos interesses da co-munidade internacional e segurana dos povos por tempoindeterminado.

    Nesse cenrio, os servios de Inteligncia assumem papelfundamental, pois o intercmbio de informaes e o trabalho emparceria so requisitos basilares para o enfrentamento assertivo esolidrio dessa ameaa, cujas ramificaes e desdobramentos atin-gem direta ou indiretamente todos os pases.

    O recrudescimento do terrorismo islmico atualmente afetatodos os continentes, devido ao globalizada dos grupos extre-mistas islmicos, que possuem redes de apoio no apenas nas

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    regies onde atuam, mas tambm em vrias outras, como formade dificultar a deteco e a neutralizao de suas atividades.

    Na frica, vrios pases apresentam histrico de presenade organizaes terroristas islmicas. Na sia, em especial noSudeste Asitico e na sia Central, localizam-se pontos de enclavedo fundamentalismo islmico. No Afeganisto, persiste quadro deelevada instabilidade e precrias condies de segurana, devido existncia de atividades terroristas conduzidas por membros re-manescentes da Al-Qaeda, do Talib e de integrantes de outrosgrupos extremistas. No Iraque, a constncia e a gravidade dosatentados pressupem a presena de foras terroristas no-iraquianas atuando no pas. Na Amrica do Norte e na Europa,vm sendo desmanteladas, por aes de Inteligncia, redes deapoio a organizaes extremistas islmicas. Na Amrica do Sul,alm do histrico de atentados ocorridos em Buenos Aires/Argen-tina, em 1992 e 1994, h suspeita de trnsito de terroristas e deatividades de financiamento ao terrorismo.

    O Oriente Mdio, por sua vez, caracteriza-se por apresentarconflitos localizados e focos de tenso entre muulmanos, ju-deus e cristos, e entre as vertentes xiita e sunita do islamismo.Um exemplo do que ocorre atualmente naquela regio so asligaes entre organizaes de diferentes segmentos do Isl,como o Hizballah (xiita) e o Hamas (sunita), cujos objetivos pol-ticos comuns so o combate ao Estado de Israel e a expansodo islamismo por toda aquela rea,havendo ainda vriosapoiadores de organizaes extremistas islmicas, o que refleteno equilbrio da regio, cujo complexo quadro de instabilidaderequer apreciaes especficas.

    A anlise dos assuntos relativos ao Oriente Mdio pelos r-gos de Inteligncia faz parte do esforo em acompanhar o fen-meno do terrorismo internacional, tendo em vista, por exemplo, osenfrentamentos, no ano passado, entre Israel e o Hizballah e apossibilidade de que simpatizantes desta organizao possam

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    engajar-se em aes radicais fora do Lbano, como forma de reta-liao, contra alvos de interesse de Israel e dos Estados Unidosda Amrica (EUA) ao redor do mundo, inclusive, e de forma poten-cial, em territrio brasileiro.

    * * *

    Voc sabia?

    Que a Abin instituiu o Diploma do Amigo da Abin parareconhecer os prstimos de cidados brasileiros quecontriburam para o fortalecimento da atividade deInteligncia de Estado no Brasil?

    Anualmente, no dia 7 de dezembro, aniversrio de criaoda Abin, diplomas so concedidos a cidados que sedestacaram na conduo de atividades que resultaram nofortalecimento institucional em diversas reas.

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    TERRORISMO E CONTRATERRORISMO:desafio do sculo XXI1

    2 Of. Int. lisson Campos RaposoAbin

    Introduo

    Dois fatos, historicamente recentes, motivaram profundasmudanas nas relaes internacionais contemporneas: a quedado Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989; e os atentadosterroristas de 11 de setembro de 2001. O 9 de novembro marcou odescortinamento de metade do planeta. O 11 de setembro, oerguimento de uma muralha invisvel entre os povos que, acredit-vamos, estivesse destruda (FRIEDMAN, 2005).

    A palavra terrorismo deriva do latim terror, que significamedo ou horror. Trata-se de termo usado para designar um fen-meno poltico, de longa data, cuja finalidade aniquilar ou ate-morizar rivais mediante o uso de violncia, terror e morte de pes-soas inocentes. Sem modificar sua essncia, o terrorismo exibe,na atualidade, cinco aspectos que o distinguem de pocas ante-riores: o carter transnacional; o embasamento religioso e nacio-nalista; o uso de terroristas suicidas; a alta letalidade dos ata-ques; e a orientao anti-ocidental, sobretudo nos gruposfundamentalistas2 islmicos. Essas caractersticas nos remetema uma nova modalidade, que poderia ser chamada deneoterrorismo (WITCKER, 2005).

    1 Esse artigo sntese de monografia apresentada pelo autor no Curso de Altos Estu-dos de Poltica e Estratgia (CAEPE-2006) da Escola Superior de Guerra (ESG),disponvel na Coordenao-Geral de Documentao e Informao/SEPC/ABIN.

    2 Os primeiros a utilizarem o termo fundamentalistas foram os protestantes norte-ame-ricanos do incio do sculo XX, para distinguir-se de protestantes mais liberais que, emsua opinio, distorciam a f crist. Queriam, assim, voltar s suas razes e ressaltar ofundamental da tradio crist, identificada como a interpretao literal das Escritu-ras e a aceitao de certas doutrinas bsicas. Desde ento, aplica-se a palavrafundamentalismo a movimentos reformadores de outras religies.

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    Os atentados da Al-Qaeda, em 11 de setembro de 2001, nosEstados Unidos da Amrica (EUA), so o divisor de guas dessenovo ciclo. Desde ento, houve ataques s cidades de Madri, naEspanha; Bali, na Indonsia; e Londres, na Inglaterra, entre outras,com grande nmero de vtimas. A metodologia, a estratgia e osmeios utilizados por terroristas so variados e imprevisveis. Hoje,h recursos mais poderosos e de acesso mais fcil do que os utili-zados no passado. As variantes suicidas dos terroristas e o possveluso de armas de destruio em massa (ADM) mostram o quo vul-nerveis so os Estados a toda sorte de ataques. Faz-se urgente acriao de mecanismos que, efetivamente, os contenham.

    Consideraes Gerais

    No h uma definio de terrorismo que seja aceita portoda a comunidade internacional. H diversas acepes, quevariam conforme o propsito das aes e o entendimento sobreo tema. Em comum, esses conceitos apresentam o uso da vio-lncia com motivao poltica, que os difere das aes unica-mente criminosas, motivadas por lucro ou por desvios de com-portamento (RAMOS JR., 2003). Essa violncia se realiza nombito psicolgico dos indivduos e objetiva destruir o moral desuas vtimas. Seu efeito o terror, isto , um pavor incontrolvel.

    Freqentemente, a expresso terrorismo utilizada paradefinir qualquer tipo de ao violenta, de carter fsico ou psicol-gico e de natureza radical, fantica ou extrema. Verifica-se,no cotidiano, que rotular um ato ou pessoa como terrorista depen-de, tambm, de quem sofre ou pratica a ao.

    Terrorismo, portanto, pode ser definido como o uso intencio-nal ou ameaa de uso de violncia por um grupo poltico orga-nizado contra populaes no-combatentes3, de forma a se al-canar objetivos poltico-ideolgicos.

    3 Por populaes no-combatentes devem ser entendidos tanto os civis quanto osmilitares no engajados em qualquer tipo de guerra, os participantes de misses inter-nacionais de paz ou aqueles lotados no exterior, em lugares onde no existam hostili-dades entre o governo anfitrio e o hspede.

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    Um ato terrorista pode ser caracterizado, identificando-se apresena de algumas peculiaridades: a natureza indiscriminada; aimprevisibilidade e arbitrariedade; a gravidade de suas conseq-ncias; e o carter amoral e de anomia (WOLOSZYN, 2006).

    Sob outro vis, no se percebe a diferena entre as vtimasdo terrorismo, aspecto, tambm, importante para seu entendimen-to. Podem-se distinguir trs tipos:

    a vtima ttica - a vtima direta circunstancial o morto, omutilado, o seqestrado aquele que sofre em si a violncia doatentado. Esta pode ter sido escolhida por alguma caractersticaou ser apenas um alvo aleatrio, indiscriminado;

    a vtima estratgica - so todos aqueles que sobrevivemao atentado, mas encontram-se no grupo de risco dos vitimados.Imaginam-se alvos potenciais de um prximo ataque, tornando-sepresas do pnico; e

    a vtima poltica - o Estado. A estrutura que deveria ga-rantir a vida dos seus cidados mostra-se impotente ante um ini-migo oculto e inesperado.

    Considerando-se que o objetivo do terrorismo provocarpnico, sua vtima preferencial no a vtima ttica, aquela queperde a vida no atentado, por uma questo inequvoca: os mortosno temem. As vtimas buscadas pelo terrorismo so, portanto,aquelas que sobrevivem e se sentem indefesas ante a vontade doterrorista. O fundamento do terror, portanto, no morte ou aniqui-lamento, mas a sensao de vulnerabilidade, impotncia e desam-paro ante o atentado (SAINT-PIERRE, 2005).

    O combate ao terrorismo possui duas grandes vertentes: oantiterrorismo e o contraterrorismo. O antiterrorismo compreendemedidas eminentemente defensivas, que objetivam a reduo dasvulnerabilidades aos atentados. O contraterrorismo abrange medi-das ofensivas, tendo como alvo os diversos grupos identificados,a fim de prevenir, dissuadir, ou retaliar seus atos (PINHEIRO, 2004).Contudo, a forma como um governo reage s ameaas a suasinstituies e a sua populao deve estar alinhada aos valores

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    que se busca proteger e preservar. Estes no podem ser sacri-ficados em nome de uma guerra santa contra o terrorismo(PONTES, 1999).

    Arqueologia do terrorismo

    O terrorismo no um fenmeno exclusivo dos nossos dias.Sua histria secular, com numerosas variaes de ideologia,estilo, escopo, propores e violncia. H cerca de 2.500 anos, naimortalizada obra A Arte da Guerra, Sun Tzu apontava a essn-cia do terrorismo: Mate um; amedronte dez mil.

    O primeiro grupo terrorista que se tem registro data do anoseis da era crist. Era formado por radicais judeus que se opu-nham ocupao da Palestina pelo Imprio Romano. Chamava-se Sicarii e assassinava romanos e judeus colaboracionistas. Osegundo, os Nizarins, surgiu onze sculos depois, no Oriente M-dio (SOARES, 2001).

    A palavra terrorismo surgiu para designar o perodo da Re-voluo Francesa conhecido como Reino do Terror (1793-1794),quando, sentenciadas por Robespierre, cerca de 17 mil pessoasforam guilhotinadas. Foram os jacobinos4 os primeiros a utilizar aviolncia de forma explcita. Surgia o terrorismo de Estado.

    No sculo XIX, com o aperfeioamento das armas de fogo eexplosivos, os atentados passaram a ter maior potencial destrutivo,e foram usados contra governos opressores. Segundo Pynchon eBurke (apud PONTES, 1999), no sculo XX, a Unio Sovitica(URSS) tornou-se a principal provedora de organizaes extremis-tas, como: as Brigadas Vermelhas, na Itlia; a Faco do ExrcitoVermelho, na Alemanha; a Frente de Libertao de Moambique; oMovimento da Esquerda Revolucionria, no Chile; e o CongressoNacional Africano, na frica do Sul.4 Liderados por Robespierre,os jacobinos foram os mais radicais partidrios da Revolu-

    o de 1789 que, apesar de liderarem a Frana apenas por um ano, entre 1793 e 1794,deixaram suas marcas sanguinrias. Foram apontados como o primeiro grupo revolu-cionrio moderno, inspirador de uma srie de outros movimentos, estendendo suainfluncia at aos bolcheviques russos de 1917.

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    Nas dcadas de 1960 e 1970, o terrorismo contemporneo nacionalista, de extrema-esquerda, de Estado e de extrema-direi-ta teve seu maior desenvolvimento. Na passagem dos anos de1980 para os de 1990, duas novas modalidades surgiram: o terro-rismo domstico, tipicamente norte-americano, e o terrorismo in-ternacional, dos grupos fundamentalistas islmicos. Este tem comoobjetivo lutar contra a expanso e a imposio dos valores mo-rais, sociais, econmicos e culturais do mundo ocidental.

    No mundo despolarizado, ressurgiram, de forma violenta, pro-blemas tnico-religiosos latentes, em alguns casos, h sculos.Atos terroristas, insurgncias, instabilidades regionais e guerrascivis passaram a povoar o noticirio internacional. O dio decor-rente da assimetria social entre os povos vem sendo exploradopor grupos extremistas, como decorrncia do chamado Imperia-lismo Ocidental.

    Nos dois maiores atentados terroristas do incio do sculoXXI o ataque s torres gmeas do World Trade Center, em NovaYork, em 2001, e a exploso de trens em Madri, em 2003 asvtimas inocentes passaram a ser contadas s centenas. S en-to, a opinio pblica internacional despertou para o fato de que oterrorismo tornara-se uma ameaa real para todos.

    A logstica necessria realizao de ataques dessa montatem um preo. As organizaes terroristas no possuam o know-how necessrio lavagem do dinheiro5 destinado ao financia-mento de atentados e infra-estrutura necessria. Trata-se de umsistema econmico internacional desenvolvido aps a II GuerraMundial, que culminou como surgimento da chamada Nova Eco-nomia do Terror, que movimentou, na dcada de 1990, um terodos cerca de US$ 1,5 trilho movimentados, anualmente, por or-ganizaes criminosas em todo o mundo (NAPOLEONI, 2004).

    5 A Lei n 9.613/98 tipifica o crime de lavagem de dinheiro. Art. 1: Ocultar ou dissimular anatureza, origem, localizao, disposio, movimentao ou propriedade de bens, direi-tos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: I - de trfico ilcito desubstncias entorpecentes ou drogas afins; II - de terrorismo e seu financiamento;...

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    O novo cenrio geopoltico no Ps-Guerra Fria determinou areduo dos fundos destinados por Estados a grupos terroristas.Aps o 11 de setembro, diversos dispositivos legais bloquearambens e dinheiro de patrocinadores e organizaes terroristas. As-sim, estas recorreram s atividades criminosas, o que resultou emalianas entre terrorismo e crime organizado. Esses acordos leva-ram ao intercmbio de know-how especfico, como: lavagem dedinheiro, produo de explosivos e contrabando. Hoje, esses gru-pos possuem caractersticas de ambos.

    Na Colmbia, as Fuerzas Armadas Revolucionarias deColombia (Farc), entre outros, esto envolvidas em aes terroris-tas, sobretudo seqestros e atentados bomba. Esto, tambm,comprometidas com o narcotrfico.6

    No Brasil, fatos recentes apontariam a introduo do modusoperandi das Farc no Pas. Suas aes incluiriam o adestramentode lderes de movimentos sociais, alm de bandidos do PrimeiroComando da Capital (PCC), de So Paulo, e do Comando Verme-lho (CV), do Rio de Janeiro, para a consecuo de seqestros,crime que garante uma receita anual de US$ 250 milhes para asFarc (VDEO mostra Farc..., 2005).

    A onda de violncia perpetrada pelo PCC em So Paulo, em2006, que culminou com o seqestro de reprter da Rede Globode Televiso, evidencia aquela associao.

    O terrorismo no est tipificado na legislao brasileira. Emmaro de 2007, o Gabinete de Segurana Institucional (GSI) daPresidncia da Repblica encaminhou ao Ministrio da Justia oanteprojeto da primeira lei brasileira contra o terrorismo e seu fi-nanciamento. Em seguida, a proposta seguir Casa Civil, que aencaminhar para votao no Congresso Nacional. Projetos de lei

    6 No dia 21 de abril de 2001, em operao do Exrcito Colombiano contra as Farc, foipreso, aps confronto armado, Luiz Fernando da Costa, vulgo Fernandinho Beira-Mar, o maior narcotraficante brasileiro. Na ocasio, Beira-Mar, responsvel pela dis-tribuio de 70% da cocana vendida no Brasil, trocava 3,5 milhes de cartuchos e3.000 fuzis AK-47 Kalashnikov, oriundos do Paraguai, por cocana.

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    anteriores tiveram sua tramitao bloqueada por alguns parlamen-tares, que temem que essa tipificao seja, tambm, utilizada con-tra as aes de grupos, como o MST (ZANINI, 2006).

    O que esperar no sculo XXI

    Terrorismo suicidaO terrorismo suicida pode ser visto, em princpio, como um

    gesto de paixo e fanatismo. Todavia, no se pode negar suaracionalidade, premeditao e clculo, tanto para destruir quantopara aproveitar-se da mdia, sedenta de audincia. Este podeacontecer a qualquer hora, em qualquer parte, e mina qualquerforma eficaz de segurana preventiva. Homens-bomba7 continu-aro a ser utilizados, por serem de baixo custo e causarem gran-des danos materiais e poderoso efeito moral no inimigo mais po-deroso, que est preparado apenas para a guerra convencional(LIMA, 2005).

    Por meio da ao de Inteligncia, autoridades britnicas frus-traram, em 10 ago. 2006, planos de terroristas que explodiriamcerca de dez avies com destino aos EUA. Os extremistas embar-cariam nas aeronaves portando substncias lquidas, impercept-veis aos aparelhos de raios-x e que, combinadas, tornavam-seexplosivos.

    Os sectrios do terrorismo suicida justificam o uso do terrorcontra todos os que so considerados inimigos do Isl, a comearpor Israel o Pequeno Sat e pelos Estados Unidos da Amri-ca (EUA) o Grande Sat. Em segunda escala, vm todos osinfiis, corrompidos e decadentes do mundo ocidental ou pr-ocidental (PONTES, 1999). Entre estes grupos radicais, esto aBrigada dos Mrtires de Al Aqsa, o Hamas, o Jihad Islmica, naPalestina; extremistas como o Hizballah, no Lbano; o Gama alIslamiyya, no Egito; e a Al Qaeda.

    7 Homens, mulheres, crianas e, at mesmo, animais de carga j foram utilizados comobombas vivas.

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    Terrorismo Ciberntico CiberterrorismoA infra-estrutura de informaes est progressivamente sob

    ataque de cibercriminosos. O nmero, o custo e a sofisticaodos ataques esto crescendo a taxas alarmantes. Algumas formasinfligem, tambm, uma crescente ameaa s pessoas e infra-es-truturas nacionais crticas (SOFAER; GOODMAN, 2001).

    Os grupos terroristas tm utilizado computadores, a fim defacilitar suas tradicionais formas de atuao. Hackers com motiva-es polticas ou religiosas os chamados hacktivistas sorecrutados por extremistas. Nesse cenrio, surge o terrorismociberntico ou ciberterrorismo, modalidade de perpetrar o terror,entendida como ataques contra computadores e suas redes, in-formaes armazenadas, servios essenciais ou infra-estrutura telecomunicaes, sistema bancrio, fornecimento de gua eenergia eltrica, usinas nucleares, refinarias de petrleo etc. queimpliquem pnico, mortes, acidentes, contaminao ambiental ouperdas econmicas.

    Denncias de uso da internet para fins ativistas pelo grupoHamas, datam de 1996. Em 1999, sob a bandeira de defesa dosdireitos humanos, a Legion of the Underground (LoU) declarou umaciberguerra contra a China e o Iraque (VARGAS, 2001). Umasrie de ataques chamados de Cyber Jihad foi deflagrada, entre1999 e 2001, por hackers palestinos, contra alvos no governo e ainfra-estrutura isralelenses (VATIS, 2001). Especialistas confirma-ram que o worm W32. Blaster contribuiu para o blecaute nos EUAe no Canad, em 14 de agosto de 2003. Em outubro de 2006,hackers chineses atacaram o Bureau of Industry and Securitydos EUA. O objetivo seria obter os logins dos usurios da agncia,responsvel pela infra-estrutura de Tecnologia da Informao (TI)do governo estadunidense.

    O Brasil abriga cinco dos dez grupos de hackers mais ativosdo mundo. O mais agressivo o chamado Silver Lords8, com

    8 O Silver Lords possui, tambm, membros paquistaneses.

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    1.172 invases a sites, at agosto de 2004. Segundo estatsticasdo Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes deSegurana do Brasil (Cert.BR)9, em 2006, foram reportados 197.892incidentes de segurana no Pas, contra 68.000 em 2005, o querepresenta um acrscimo de 191% em um ano. At maro de 2007,56.296 incidentes de segurana foram registrados.

    Com a morosidade na atualizao dos arcaicos dispositivoslegais brasileiros e amparados pelo Princpio da Legalidade consti-tucional, os cibercriminosos permanecem atuando e se aperfeio-ando tecnologicamente, semeando um campo frtil para atos deciberterrorismo contra a populao e a infra-estrutura nacionais.

    Terrorismo Nuclear e RadioativoEmbora o terrorismo nuclear seja fonte de especulaes e

    preocupao desde a dcada de 1970, o fim da Guerra Fria trouxetemores adicionais sobre a aquisio de ADM por atores no-go-vernamentais.

    O Dispositivo de Disperso Radiolgica (RDD, do Ingls), oubomba suja10, o artefato de mais fcil confeco e de ocorrn-cia mais provvel. O ataque a um reator nuclear, com a quebra desua parede de conteno, provocaria a liberao de grande quan-tidade de radiao, contaminando uma rea de vrios quilmetrosde raio. Todavia, o roubo de um artefato nuclear ou de materialfssil, para a confeco de dispositivo nuclear, representa o riscomais mortal (BOLSHOV; ARUTYNYAN; PAVLOVSKY, 2002).

    sabido que as centrais nucleares so alvos de terroristas:em 3 julho de 2001, Ahmed Ressam, um argelino pertencente AlQaeda, revelou Justia que as centrais nucleares so alvos po-tenciais do grupo. Em junho de 2003, o FBI desmantelou um cam-po de treinamento de ativistas, situado a 30 km da Central Nuclear

    9 O Cert.BR o rgo que monitora os incidentes na internet brasileira. coordenadopelo Comit Gestor da Internet do Brasil e formado por membros do governo, socieda-de civil e meio acadmico.

    10 Bombas sujas so artefatos explosivos convencionais utilizados para espalhar materi-al radioativo, a fim de provocar contaminao e pnico generalizados.

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    de Three Mile Island, EUA. Se, nos ataques de 11 de setembro de2001, uma das 104 instalaes nucleares dos EUA fosse atingida,os efeitos seriam devastadores. Alm da liberao dos produt