a utilizaÇÃo de ferramentas da qualidade para

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DO DESPERDÍCIO EM UMA EMPRESA DO RAMO DA CONSTRUÇÃO CIVIL RECÉM-CONSTITUÍDA. CURITIBA 2013 RICARDO CAIO ÁVILA GOMES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DO DESPERDÍCIO EM UMA EMPRESA DO RAMO DA CONSTRUÇÃO CIVIL RECÉM-CONSTITUÍDA.

CURITIBA

2013

RICARDO CAIO ÁVILA GOMES

2

A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA

IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DO DESPERDÍCIO EM UMA

EMPRESA DO RAMO DA CONSTRUÇÃO CIVIL RECÉM-

CONSTITUÍDA.

Projeto Técnico apresentado à

Universidade Federal do Paraná

para obtenção do título de

Especialista em Gestão da

Qualidade.

Orientador: Prof.: Roberto Cervi

CURITIBA

2014

3

A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA

IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DO DESPERDÍCIO EM UMA EMPRESA DO

RAMO DA CONSTRUÇÃO CIVIL RECÉM-CONSTITUÍDA.

Ricardo Caio Ávila Gomes1

Roberto Cervi2

RESUMO O ramo da construção civil tem elevadas taxas de desperdício. Acredita-se que 30% dos materiais utilizados neste ramo são desperdiçados, elevando custo da obra sem se preocupar com o meio ambiente. Este estudo analisou a situação do desperdício em uma empresa de construção civil recém constituída, aplicando o diagrama de Ishikawa, com os objetivos de, através de um brainstorming, encontrar e identificar as causas do desperdício de materiais e levantar possibilidades/medidas para a solução desses problemas, mostrando a importância da gestão da empresa pautada na qualidade e a eficiência do diagrama de causa-efeito em uma empresa do ramo da construção civil e consequentemente aumentando a lucratividade da empresa em questão. Palavras chave: Diagrama de Ishikawa, Construção Civil, Desperdício; 1 INTRODUÇÃO

Em função da dinâmica do mercado a globalização tem proporcionado uma

evolução rápida nos produtos e serviços produzidos pelas empresas. Com isso,

as mudanças organizacionais têm se tornado uma constante.

Qualidade, segurança do trabalho, preservação do meio ambiente e

responsabilidade social, deixaram de ser uma preocupação com a

diferenciação no mercado, tornando-se uma questão de sobrevivência para as

organizações.

Com a maior exigência por parte dos consumidores e a legislação mais

rígida em relação aos itens citados acima. Surge então, a necessidade da

utilização da gestão da qualidade para, respeitando os fatores cruciais para

sobrevivência da organização, manter a competitividade no mundo

empresarial, produzindo mais, com menores custos, para obtenção de uma

margem de lucro maior, utilizando-se principalmente de: inovação, criação de

novas metodologias de trabalho e aplicação de normas específicas. 1 Formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá, Mestre em Biologia

Comparada pela Universidade Estadual de Maringá 2 Professor Orientador Mestre em Engenharia da Produção, professor de graduação e pós-graduação.

4

A utilização da qualidade de uma forma geral ocorre desde o mundo antigo,

porém a gestão da qualidade teve suas origens no Japão do pós-guerra e

difundiu-se por outros países. O Controle de Qualidade Total ou TQC (Total

Quality Control) – no estilo japonês é uma das técnicas de gerência da

qualidade mais difundida atualmente. Esta viabiliza a construção de um

sistema administrativo capaz de garantir sucesso da empresa em meio à rápida

evolução social e tecnológica.

No Controle de Qualidade Total existem algumas ferramentas que, uma vez

implementadas na organização, garantem esse sucesso, sendo as mais

tradicionais:

Quadro 1 – Ferramentas da qualidade

FERRAMENTAS DA QUALIDADE DESCRIÇÃO

DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO

Análise de processos produtivos, utilizado para

identificar causas que conduzem a determinados

efeitos.

HISTOGRAMA Mostra as freqüências de variação dos

processos. Lidam com dados de medição.

GRÁFICOS DE CONTROLE Avaliação e estabilidade do processo através do

monitoramento da variabilidade.

FOLHAS DE CHECAGEM Formulário de registro de dados.

DIAGRAMA DE PARETO Identificar problemas importantes e metas para

solução.

FLUXOGRAMA Analisa o relacionamento entre etapas do

processo.

DIAGRAMA DE DISPERSÃO

Detecta a relação entre duas variáveis,

contribuindo para aumento da eficiência dos

processos.

Propõe-se com este estudo identificar por meio do diagrama de causa –

efeito as causas de desperdício de tempo e materiais em uma empresa recém

formada no ramo da construção civil, uma vez que, neste setor, este é um dos

fatores que mais atrapalham a lucratividade, além de ser um dos principais

vilões para redução dos recursos naturais, tais como: água, energia, areia e

combustível, além de tempo, materiais e custo.

5

Para a realização deste artigo foi feito um levantamento bibliográfico para a

fundamentação teórica e uma análise exploratória para obtenção de dados da

empresa Inova Casas Arquitetura e Construção.

2 PROBLEMA

É possível diminuir o desperdício de materiais, tempo e custo em obras

executadas pela Inova Casas?

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL:

Identificar as principais causas do desperdício e apontar possíveis

medidas para solucionar os problemas encontrados na empresa.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

• Buscar ações que minimizem o desperdício de materiais nas obras. • Criar indicadores de desperdício. • Padronizar os procedimentos de utilização dos materiais nas obras

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 QUALIDADE

Qualidade origina-se do latim qualitas, que significa “jeito de ser, qualidade”.

Refere-se à qualis, uma interrogação que indagava “qual? de que tipo? de que

maneira?”. Essa caracterização de um objeto está diretamente relacionada às

percepções de cada indivíduo e às suas expectativas (HOUAIS, 2009)

No âmbito organizacional, o conceito de qualidade do produto pode ser

relatado como interação de vários fatores componentes de sua estrutura e sua

administração.

Em 1945, no final da II Guerra Mundial, a qualidade passou a ser bem

aceita no ambiente organizacional através da aplicação de técnicas específicas

e resultados efetivos, além do surgimento de profissionais especializados

(LESSA ET All., 2005).

6

Considerados os “papas da qualidade”, Joseph Moses Juran e William

Edwards Deming, disseminaram e impulsionaram o conceito e o interesse pelo

movimento da qualidade através de palestras para líderes industriais. O

primeiro público interessado foram os japoneses, embora tenham tentado

aplicar seus conhecimentos inicialmente nos Estados Unidos (AUGUSTO

CAMPOS; 2008).

Outros autores de destaque que valem ser citados são Philip Crosby (Zero

defeito), Armand Vallin Feigenbaum (Total Quality Control - TQC) e Kaoru

Ishikawa (7 ferramentas), que deram importantes contribuições para o Sistema

de Gestão da Qualidade e continuam sendo utilizadas nas organizações até os

dias de hoje. Lessa ET all.,(2005) destaca ainda a linha de pensamento de

cada um desses autores:

Quadro 2 – Pensamentos dos autores

AUTOR PENSAMENTOS

JOSEPH JURAN

Qualidade consiste nas

características do produto que vão ao

encontro das necessidades dos

clientes e desta forma proporcionam

satisfação. Divide a teoria da

qualidade em três processos:

planejamento da qualidade, controle

da qualidade e melhoria da qualidade.

PHILLIP CROSBY

Idealizador das teorias “zero defeito”.

Deve-se planejar um produto sem

falhas. Foi o primeiro a se preocupar

com o custo da qualidade defendendo

que é melhor prevenir uma não

conformidade ao consertá-la.

WILLIAN EDWARDS DEMING

Qualidade é atender continuamente

as necessidades e expectativas dos

clientes a um preço que eles estejam

dispostos a pagar. Ele acredita na

7

reação em cadeia: a qualidade do

produto melhora e gera aumento de

produtividade, redução de custos e,

consequentemente, a captação de

uma maior fatia do mercado.

ARMAND FEIGENBAUN

Criou o conceito de qualidade total. A

qualidade é o conjunto de

características do produto ou serviço

em uso, que satisfazem as

expectativas do cliente.

KAORU ISHIKAWA

Criou as ferramentas da qualidade e o

circulo da qualidade usado

largamente pelas empresas que

adotam o sistema de gestão integrada

presente inclusive na versão da

norma ISSO – 9000, ISSO 14000,

versão 2000.

Fonte: adaptado de Lessa et all.,2005.

4.2 CONTROLE TOTAL DA QUALIDADE (TQC)

O TQC surgiu no Japão, após a segunda guerra mundial, a partir das

idéias de ocidentais como Juran e Deming. Foi de fácil difusão nesse país

devido à alta disciplina dos Japoneses e rigidez educacional, dentre outros

fatores (ISHIKAWA, 1997).

É uma ferramenta de gestão que possibilita o controle e monitoramento

da produtividade e dos custos, gerando produtos que atendam a requisitos pré-

estabelecidos por especificações ou pelo cliente. Campos (1999) coloca como

objetivo do TQC como ferramenta de gestão, a criação de condições internas

que garantam a sobrevivência das empresas a longo prazo. Segundo Deming

(1990), quando melhora a qualidade dos processos, os custos diminuem

devido à redução de retrabalho e erros, gerando um aumento de produtividade,

que comina na expansão de mercados e conseqüente sobrevivência da

empresa.

8

Para Ishikawa (1997) o TQC constitui uma atividade integrada, onde

todos os departamentos da organização estão envolvidos e comprometidos e

isso resulta em planejar, produzir e vender um produto com segurança e

qualidade, custos baixos e que satisfaça as necessidades dos seus

consumidores, garantindo lucratividade à empresa.

4.3 CONSTRUÇÃO CIVIL

Tendo em vista a globalização da economia e o conseqüente aumento

da concorrência, a certificação e a implementação de Sistemas de Gestão da

Qualidade são decisões estratégicas que podem ser consideradas

fundamentais para a competitividade e para o bom funcionamento das

empresas que atuam no setor de construção civil.

Partindo-se do princípio de que a indústria da construção civil brasileira

clama por melhoria na sua qualidade e produtividade, julga-se necessário que

seja feito um “diagnóstico” da situação vigente das organizações do referido

setor, tomando-se por base os requisitos de sistemas de gestão da qualidade

estabelecidos em normas e programas da qualidade (FERREIRA,

GIACOMITTI; 2007). Este é um longo processo de conscientização para a

qualidade.

Segundo Souza (1995), a construção civil apresenta diferenças em

relação à indústria de transformação, na qual se desenvolveram os conceitos

relacionados à qualidade. Dessa forma, para a implementação da Qualidade

Total neste setor, são necessárias adaptações específicas das teorias

convencionais, devido à complexidade do processo.

Com isso, existe um desafio muito grande para os gestores das

organizações do setor da construção civil no país, bem como para as

autoridades brasileiras, na medida em que implica na urgência de se

estabelecerem mecanismos que viabilizem o aumento da competitividade.

Como resposta a este desafio, o governo federal brasileiro instituiu o

denominado “Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat”

(PBQP-H), que foi elaborado em 1991, pelo governo Collor, mas foi aplicado

em 1998 na construção civil, cujo objetivo primordial é melhorar a qualidade e

produtividade das organizações brasileiras que estão ligadas ao setor.

9

Juntamente com a ISO 9001:2008, as empresas estão adotando a certificação

do PBQP-H, que é um programa que atende aos requisitos da norma, mas que

possui um deles relacionado a projetos, com especificidades para a construção

civil (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Hábitat).

Dentro do PBQP-H existe um sistema denominado SiAC (Sistema de

Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção

Civil ) que tem como objetivo avaliar a conformidade de Sistemas de Gestão da

Qualidade em níveis adequados às características específicas das empresas

do setor de serviços e obras atuantes na Construção Civil, visando contribuir

para a evolução da qualidade nesse setor. O documento foi criado visando

estabelecer os itens e requisitos do Sistema de Qualificação de Empresas de

Serviços e Obras válido para empresas construtoras que atuem no subsetor de

edifícios, o chamado SiQ-Construtoras (Programa Brasileiro de Qualidade e

Produtividade do Hábitat).

O PBQP-H fundamenta-se na ISO, por ser uma referência internacional,

amplamente reconhecida. No entanto, a ISO, sendo muito genérica e podendo

ser implantada em qualquer setor, não permite garantir que a construtora

obtenha qualidade na construção do imóvel. Para sanar este problema, a

coordenação do PBQP-H decidiu estabelecer serviços e materiais que

deveriam ser obrigatoriamente controlados pelas empresas, garantindo, desta

forma, a qualidade do produto da construção civil.

A ISO não possui níveis de certificação, mas exige a implantação de

todos os requisitos para solicitação de auditoria. Já o SiAC possui os níveis de

avaliação. No programa PBQP-H a própria empresa estabelece uma lista de

serviços que deverão ser controlados (mínimo de 25 serviços) e estes níveis

estão relacionados com a porcentagem de controle de serviços alcançados.

Esse controle é feito através de registros com fichas de inspeção que são

elaborados para a auditoria.

O prazo de validade da certificação ISO dentro da empresa é de 3 anos,

enquanto no SiAC este prazo vence em apenas um ano para uma nova

auditoria. Tratando-se de uma certificação evolutiva, ou seja, à medida que são

implantados os requisitos, solicita-se nova auditoria, até concluir a implantação,

através da certificação nível A, pode-se concluir válido esse prazo menos

extenso. (FRAGA ET ALL., 2011).

10

Esses programas são importantes não só pela qualidade dos serviços

prestados, mas também pelo aumento da possibilidade de negócios já que esta

certificação se relaciona com o Programa da Carta de Crédito para aplicação

do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), onde o cliente apenas

pode usufruir deste benefício quando se tratar de uma empresa certificada com

o programa PBQP-H (COLOMBO, 1999).

Os construtores estão dando mais ênfase aos programas de qualidade

devido às exigências do cliente com relação ao produto final e também por

causa da pressão pela redução dos custos e dos prazos dos

empreendimentos.

Infelizmente, a falta de recursos, sejam eles financeiros ou até mesmo

administrativos, para se investir em programas de qualidade e produtividade

acaba dificultando o alcance dessa vantagem competitiva, portanto esta

concorrência acaba sendo favorável para as empresas de maior porte, não

impedindo, porém, que empresas de pequeno porte utilizem ferramentas da

qualidade para melhorar sua gestão.

4.4 DESPERDÍCIO

Desperdício é definido pelo dicionário como ato de desperdiçar; Gasto

ou despesa inútil; Esbanjamento, perda, desaproveitamento. Está, de modo

geral, impregnado na cultura de todos os brasileiros e, pode-se identificar tal

fato com facilidade quando observar o despropositado volume de lixo que é

recolhido todos os dias nas cidades (HOUAIS, 2009).

Assim também acontece na legislação civil, onde a contribuição de um

conjunto de fatores adversos agrava ainda mais o problema com absurda cifra

de 30% a 35% de desperdício (ROCHA NETO, 2010).

Isto significa que para cada metro quadrado de área construída gasta-se

1,3 metros quadrados, ou ainda, para cada três unidades residenciais,

comerciais ou industriais, se joga fora a quarta. Se for considerado que o nosso

déficit habitacional gira em torno de 10 milhões de moradias, precisaríamos de

recursos equivalentes a 13 milhões de unidades para atendê-lo. Porém, como

não há recursos suficientes para atender nem a demanda anual de hoje, a

tendência é ficar com um débito ainda maior (ROCHA NETO, 2010).

11

Este desperdício é um vício de muitos anos, devido à falta de

concorrência em qualidade, de contratos a preço de custo nem sempre bem

realizados, falta de controle na compra, na entrega e na execução e até

mesmo, nas quantidades de materiais (ALARCON, 2002).

As Leis 8.078 (Código do Consumidor), 7.347 (Agressão ao meio

ambiente) e 8.137 (Crimes contra as relações de consumo), fizeram com que

houvesse um maior controle de qualidade na construção civil e a busca da

diminuição das perdas por desperdício com aplicação de técnicas de Deming,

Ishikawa, Juran e Crosby (CARDOSO, 2010).

Os nossos construtores perceberam a importância, a extensão, a

complexidade, o conteúdo polêmico e, sobretudo empolgante, do

aperfeiçoamento do processo de construção das mais variadas obras. Assim,

estão se baseando nos 5M's da qualidade:

a) Mão de Obra – As empresas devem entender que é obrigação do

empregador dar à mão de obra da construção civil condições mínimas de

higiene, segurança, alimentação e salubridade para que se possa exigir

produtividade. Caso contrário, não haverá evolução no sentido de minimizar o

desperdício. É preciso pois, que se assuma a responsabilidade social e

econômica de que é da responsabilidade da indústria preparar, treinar,

alimentar e tornar saudáveis os colaboradores que trabalham nas obras.

b) Metodologia – Merece uma abordagem ampla, com a criteriosa

análise de cada etapa, o ciclo da construção civil, na qual se tem o

empreendedor, os projetos, o planejamento, o canteiro de obras, o fabricante

de materiais, a execução das obras, o controle tecnológico, o controle de

qualidade, o usuário final e finalmente a manutenção do empreendimento. É

necessário introduzirmos o uso de normas e técnicas nacionais na aquisição e

no emprego de materiais, na contratação de serviços e na construção em geral.

Deve-se forçar cada vez mais o uso de normas do Mercado Comum Europeu

que uniram as normas internacionais (ISSO) com as alemãs (DIN), as

francesas (AFNOR), inglesas (BS) e até mesmo as americanas (ASTM).

Normas regionais já não podem ser adotadas.

c) Máquinas – Ainda existe ampla utilização de ferramentas manuais,

como serrotes, martelos, pás e etc. para todos esses materiais existem

produtos similares automatizados que conferem maior precisão e rapidez na

12

construção. A automatização da construção civil pode conferir economia de

tempo e materiais nas obras.

d) Material – A aquisição de material de construção deve ser precedida

por tomada de preço, estando o mesmo de acordo com o Código de Defesa do

Consumidor. Da mesma maneira, o pedido de compra e a recepção na obra

devem ser fiscalizados, evitando assim o desperdício e gastos desnecessários.

e) Meio Ambiente – O desperdício cria, juntamente com o lixo orgânico,

esconderijo, alimentação, ambiente propício para a criação de roedores, de

insetos e de agentes transmissores de doenças infectocontagiosas. Além da

devastação de áreas nativas, abrigo de espécies endêmicas ainda não

estudadas.

Enquanto não for valorizado um bom projeto com especificações claras

e corretas, não for prestigiado o planejamento compatibilizado com os prazos,

custos e tecnologias adequadas, não for cuidada da higiene, segurança,

alimentação e salubridade dos trabalhadores, haverá desperdícios (Souza,

1994).

São várias as causas relacionadas às perdas de materiais. Mas,

principalmente, a falta de conscientização e comprometimento dos profissionais

envolvidos, desde a fase de planejamento até a execução do projeto. O

desperdício na construção civil é um dos mais sérios redutores da

produtividade e causa aumento do ônus da obra. E, evidentemente, causador

de impactos ocasionados pelo desperdício de materiais e má gestão dos

recursos da construção (KUSTER, 2007).

Na opinião de Hoeltgebaum (2007), os resultados obtidos em seu estudo

evidenciaram a necessidade das construtoras adotarem melhorias na gestão

dos processos, dos projetos e adoção de medidas de correção em cada fase.

E, para o gestor ambiental, a solução também passa por medidas como

treinamento e conscientização ambiental dos trabalhadores e busca da

qualidade no monitoramento das operações.

Atualmente a Inova Casas apresenta tempo elevado e alto custo para a

execução de suas obras. Acredita-se que tanto o tempo quanto o custo pode

ser diminuído com a diminuição do desperdício. Na figura 1 é possível observar

que o custo atual de execução do metro quadrado construído é de R$ 970,00

(novecentos e setenta reais), sendo que R$ 550,00 (quinhentos e cinquenta

13

reais) é proveniente ao custo da mão de obra e R$ 420,00 (quatrocentos e

vinte reais) dos materiais utilizados e que o desperdício gira em média de 30%.

Figura 1 – gráfico de custos por execução do metro quadrado- a área em vermelho

representa o desperdício.

Fonte: Inova Casas – comércio de casas pré-fabricadas e arquitetura

5 METODOLOGIA

O trabalho em questão foi realizado na empresa Inova Casas – comércio

de casas pré-fabricadas e arquitetura, localizada na Avenida Comendador

Franco 4444, Uberaba, Curitiba, Paraná.

A Inova Casas foi fundada recentemente – em 2011 e é uma empresa

do ramo da construção civil especializada em produtos de madeira (casas,

pergolados, decks, cachepôs, etc). Ela é constituída basicamente por cinco

departamentos (comercial, financeiro, suprimentos, meio ambiente e

arquitetura), contando com seis funcionários fixos e três funcionários

terceirizados, entretanto esse número é variável de acordo com a quantidade

de obras em execução.

Esta, assim como outras empresas, sofre com problemas como mão de

obra despreparada, almoxarifado irregular, falta de compromisso dos

funcionários e alta gerência que acarretam desperdícios, perda de clientes,

R$0,00

R$200,00

R$400,00

R$600,00

R$800,00

R$1.000,00

R$1.200,00

CUSTO MÃO DEOBRA

MATERIAL

Custos por execução do m2

Desperdício

Custo real

14

atrasam de obra, entre outros. Baseado nisso, foi escolhido uma ferramenta da

qualidade denominada diagrama de causa-efeito ou de Ishikawa para

determinar os problemas e as suas possíveis causas, além de sugerir

medidas/ações que possam mitigar tais problemas.

O Diagrama de Ishikawa é uma ferramenta gráfica utilizada pela

Administração para o gerenciamento e o Controle da Qualidade em diversos

processos, e também é conhecido como "Diagrama de Causa e Efeito",

"Diagrama Espinha-de-peixe" ou "Diagrama 6M" (figura 1). O Diagrama foi

originalmente proposto pelo engenheiro químico Kaoru Ishikawa, no ano de

1943, e foi aperfeiçoado nos anos seguintes (ISHIKAWA, 1997).

Figura 1: representação gráfica do diagrama de Ishikawa

Fonte: Gabassa, 2011

Na sua estrutura, os problemas são classificados em seis tipos

diferentes: método, matéria-prima, mão-de-obra, máquinas, medição e meio

ambiente. Esse sistema permite estruturar hierarquicamente as causas

potenciais de um determinado problema ou também uma oportunidade de

melhoria, assim como seus efeitos sobre a qualidade dos produtos

(ISHIKAWA, 1997).

15

O Diagrama de Ishikawa é uma das ferramentas mais eficazes e mais

utilizadas nas ações de melhoria e controle de qualidade nas organizações,

permitindo agrupar e visualizar as várias causas que estão na origem qualquer

problema ou de um resultado que se pretende melhorar (CARDOSO, 2004).

Geralmente, esses diagramas são feitos por grupos de trabalho e

envolvem todos os agentes do processo em análise. Depois de identificar qual

o problema ou efeito a ser estudado, é feita uma lista das possíveis causas e

depois se faz o diagrama de causa e efeito. Lessa et all, 2005 descreve ainda

os passos para execução do diagrama

Antes de começar a desenhar o diagrama, os seguintes passos devem ser cumpridos:

1. Determine o problema que será analisado no diagrama e o objetivo que se espera alcançar. No entanto, palavras abstratas e vagas devem ser evitadas;

2. Junte informação a respeito do problema em questão; 3. Reúna um grupo que possa ajudar na criação do diagrama, e depois de

apresentar as devidas informações, promova uma sessão de brainstorming sobre o problema;

4. Ordene todas as informações de forma sucinta, aponte as principais causas e elimine informação dispensável;

5. Desenhe o diagrama tendo em conta as causas que devem estar de acordo com os 6 M’s (máquina, método, mão de obra, matéria prima, meio ambiente, medição).

Um diagrama de Ishikawa deve conter os seguintes componentes: Cabeçalho: Título, autor(es), data.

Efeito: Deve conter o indicador de qualidade e o problema a ser analisado. O efeito normalmente ocupa o lado direito da folha.

Eixo central: Representado por uma flecha horizontal, aponta para o efeito e é uma linha horizontal no meio da folha.

Categoria: indica os grupos de fatores mais importantes relacionados com o efeito. Neste caso as flechas partem do eixo central e são inclinadas.

Causa: Causa potencial, pertencente a uma categoria que pode colaborar com o efeito. As flechas constituem linhas horizontais, que apontam para a flecha da categoria. Sub-causa: Causa potencial que pode contribuir com uma causa específica. São

derivações de uma causa.

5.1. APLICAÇÃO DO DIAGRAMA DE ISHIKAWA NA EMPRESA INOVA

CASAS – COMÉRCIO DE CASAS PRÉ-FABRICADAS E ARQUITETURA.

Tendo como objetivo minimizar e/ou eliminar o desperdício nas obras da

empresa Inova Casas foi aplicado o diagrama de Ishikawa seguindo os passos

supracitados.

16

6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Para a implementação do diagrama Ishikawa propôs-se realizar uma

reunião com a alta administração na qual buscou-se apresentar o conceito e o

estilo do método. O efeito em questão é o desperdício de materiais nas obras

da empresa inova casas.

Segue abaixo o diagrama obtido:

Figura 2 – Diagrama de Ishikawa da empresa Inova Casas

Fonte: o autor

Com o diagrama foi possível observar a visão de cada um sobre as

causas do desperdício e possíveis ações que deverão ser tomadas para a

mitigação desses problemas. Na mão de obra, por exemplo, o problema foi a

desqualificação profissional, assim como o falta de compromisso desses

funcionários com o trabalho. As possíveis medidas a serem adotadas para a

solução destes problemas foram investir na qualificação profissional destes

funcionários com cursos e treinamentos, um processo mais rigoroso na

contratação destes funcionários e fazer com que esses funcionários sintam-se

como parte integrante da empresa, explicando a filosofia e planos futuros da

mesma.

DESPERDÍCIO DE MATERIAIS

MÃO DE OBRA MÉTODO MÁQUINA

MEIO AMBIENTE MATÉRIA PRIMA

Desqualificada

Descompromissada

Seleção mais rigorosa

Salário elevado

Filosofia da empresa

Benefício por metas

Treinamento

Excesso de material

Estudar cada material separado

Almoxarifado irregular Benefício por metas

Benefício por metas

Conferir listagem

de materiais

Calibração do maquinário

Criar procedimento

Maquinário desregulado

Falta de

procedimento

MEDIÇÃO

Cronograma de obra

Indicadores Indicadores de Medição

Previsão de execução

17

No quesito matéria prima foram destacados dois fatores que acarretam

desperdício: excesso de material – grande quantidade de um mesmo material

acarreta desperdício involuntário e aumenta a chance de quebra. Este

problema poderá ser solucionado com uma revisão do quantitativo dos

materiais antes da compra, comprando somente o necessário para cada etapa

da obra. Essa revisão deverá ser feita pelos departamentos envolvidos

(arquitetura e suprimentos). O outro fator importante é o “quando” comprar

cada material, tendo em vista que algumas matérias primas estragam

facilmente, não sento recomendado também a estocagem. A solução deste

problema se dá coordenando a compra com a necessidade de uso na obra.

Para o meio ambiente foi destacada a importância de um local de

armazenagem adequado, evitando que materiais molhem, quebrem ou

esquentem demais causando a inutilização dos mesmos. Para resolver essa

situação foi sugerida a reestruturação do almoxarifado, contendo uma lista de

quais, onde e como tais materiais devem ser armazenados. Para esta

reestruturação será necessária a contratação de profissional especializado na

área. Outro problema abordado foi poluição do meio ambiente devido à grande

quantidade de resíduos gerados, tendo como proposta mitigatória uma

construção mais enxuta. Segundo Colombo e Bazzo (1999) a geração de

grande quantidade de resíduos além de causar danos ao meio ambiente

resulta numa série de transtornos nas cidades, reduz a disponibilidade futura

de materiais e energia e provoca uma demanda desnecessária no sistema de

transporte de resíduos.

No que se refere à máquina, foi levantada a necessidade da

automatização da mão de obra. Entretanto, é preciso que se faça um

investimento monetário que é inviável atualmente. Desta maneira assume-se o

custo do desperdício pela falta de automação. Quanto ao maquinário existente

ocorrerá a calibração evitando assim o desperdício por falta de

precisão/regulagem dos equipamentos.

No quesito método, o problema é a falta de procedimento explicitando

quais são as etapas de uma obra, um passo a passo, que deve ser difundido

na empresa. Desta forma, sabe-se quando é a hora de compra e da utilização

de cada material, evitando acúmulo no estoque, no caso de compra antecipada

– o que pode gerar desperdício; além de atraso de materiais na obra, no caso

18

da compra em atraso, o que é acarreta desperdício de tempo além de outros

inconvenientes.

Após a aplicar o diagrama de Ishikawa e adotar os procedimentos

sugeridos espera-se ter uma redução de 30% nos primeiros três meses, 60%

após seis meses e 100% da redução do desperdício após doze meses (Figura

2)

.

Figura 2 – Metas de desperdício ao longo do tempo.

Fonte: o autor

Apesar das metas estipuladas pela diretoria, com apenas um mês após

a aplicação conseguimos obter alguns resultados expressivos como mostra a

figura 3.

Figura 3 – Custo de obra após um mês da aplicação do diagrama de Ishikawa.

Fonte: o autor

0

50

100

150

200

250

300

350

DESPERDÍCIOATUAL

APÓS 3 MESES APÓS 6 MESES APÓS 12 MESES

R$0,00

R$200,00

R$400,00

R$600,00

R$800,00

R$1.000,00

R$1.200,00

CUSTO MÃO DE OBRA MATERIAL

Economia

Desperdício

Custo real

19

Em um mês o desperdício foi reduzido em aproximadamente 33% no

custo total, sendo que 14,5% é proveniente da mão de obra e 18,5%

proveniente dos materiais. É possível observar em azul o custo efetivo da

construção, em vermelho o desperdício e em verde o quanto de desperdício foi

evitado por metro quadrado um mês após a aplicação do diagrama de Ishikawa

na Inova Casas.

O desperdício causado por todos estes quesitos vai ao encontro do

pensamento de Kuster (2007) e Meseguer (1991) que acreditam que o

desperdício advém, ou se origina, de todas as etapas do processo de

construção civil, que são: planejamento, projeto, fabricação de materiais e

componentes, execução e uso e manutenção.

7 CONCLUSÃO

Este trabalho deixa claro que uma empresa que se propõe à gestão

voltada para a “qualidade” renova sua história e baseia seus propósitos na

reavaliação de sua trajetória, sabendo que são atividades que visam

estabelecer e manter um ambiente no qual as pessoas, trabalhando em equipe,

consigam um desempenho eficaz na busca das metas e missão da

organização.

O diagrama de Ishikawa, com base em sua aplicação neste estudo,

pode ser avaliado como uma ferramenta importante para a qualidade, além de

ser de fácil implementação e poder ser utilizado para varias finalidades na

empresa.

Percebeu-se que o simples levantamento e análise de problemas e,

conseqüentemente, sua priorização, podem trazer uma conscientização e

envolvimento muito importante para solução dos mesmos. Ideias interessantes

e criativas são ouvidas e discutidas, trazendo desejo de melhora no serviço

que está sendo prestado no momento, além de aumentar a motivação e

comprometimento de toda a equipe.

Gostaria de destacar que a aplicação desta ferramenta foi de suma

importância não só para detectar as causas do desperdício assim como suas

possíveis ações de solução, mas também pela vivência com os demais

funcionários. De certa maneira, o brainstorming e a atividade em conjunto que

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se deu pela realização desta atividade fez com que os funcionários

participassem mais da empresa, percebendo sua importância e como, juntos, a

empresa funciona melhor e mais saudável.

Com este artigo se pôde perceber a eficácia do diagrama, alcançando o

objetivo geral: identificar as principais causas do desperdício e apontar

possíveis medidas para solucionar os problemas encontrados na empresa.

Porém, seria necessário mais tempo para a implementação e mensuração dos

resultados sendo possível a verificação do alcance dos objetivos específicos.

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