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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS A UNIVALI FM E O PAPEL DA RÁDIO EDUCATIVA NA PRODUÇÃO E PROPAGAÇÃO DAS CULTURAS LOCAIS Alberto Cesar Russi Itajaí, novembro de 2003

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

A UNIVALI FM E O PAPEL DA RÁDIO EDUCATIVA NA PRODUÇÃO

E PROPAGAÇÃO DAS CULTURAS LOCAIS

Alberto Cesar Russi

Itajaí, novembro de 2003

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

A UNIVALI FM E O PAPEL DA RÁDIO EDUCATIVA NA PRODUÇÃO

E PROPAGAÇÃO DAS CULTURAS LOCAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí sob a orientação do Prof. Dr. Julian Borba.

Alberto Cesar Russi

Itajaí, novembro de 2003

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À minha esposa Vilma, às filhas Daniela, Mariana e Athiaia.

À minha irmã Fátima e às sobrinhas Luana, Ariana e Júlia.

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A Deus, a meus antepassados e aos meus pais, Artur (in memorian) e Júlia, pelo dom da vida.

Aos professores pelos ensinamentos e

aos colegas de turma pela troca de experiências.

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O medíocre discute pessoas. O comum discute fatos. O sábio discute idéias.

Provérbio Chinês.

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS.....................................................................................0007 LISTA DE ANEXOS ...................................................................................................0008 LISTA DE TABELAS .................................................................................................0009 RESUMO ......................................................................................................................0010 ABSTRACT ..................................................................................................................0011 INTRODUÇÃO.............................................................................................................0012 PERGUNTAS DA PESQUISA....................................................................................0016 OBJETIVOS..................................................................................................................0017 METODOLOGIA: .......................................................................................................0018 CAPÍTULO I: ENTRE O LOCAL E O GLOBAL ...................................................0020 1.1 Comunicação ...........................................................................................................0020 1.2 A Cultura, os meios e a política cultural...............................................................0025 1.3 Indústria Cultural: dos apocalípticos aos integrados ..........................................0030 1.4 Globalização Cultural............................................................................................0038 1.4.1 O controle da informação ......................................................................................0041 1.4.2 Programação ..........................................................................................................0044 1.4.3 O Espaço Público...................................................................................................0048 CAPÍTULO II: O RÁDIO NO BRASIL.....................................................................0054 2.1 O invento, o conceito e a história...........................................................................0054 2.1.1 Os meios de comunicação de massa em Santa Catarina........................................0060 2.1.2 Emissoras de freqüência modulada e tendência atual...........................................0061 2.2 Legislação: Rádios comerciais e educativas ............................................................0066 2.3 Panorama atual e as novas tecnologias ................................................................0073 2.3.1 Política de comunicação .......................................................................................0075 CAPÍTULO III: O CASO DA UNIVALI FM: Alternativa Regional......................0080 3.1 Contextualização.....................................................................................................0080 3.2 Fases de implantação ..............................................................................................0084 3.3 Posição no Estado de Santa Catarina ...................................................................0085 3.4 Assuntos de Programação ......................................................................................0087 3.5 Indicadores da programação jornalística e musical ............................................0091 3.6 Funções, objetivos, prestação de serviços e limitações ........................................0103 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................0108 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................0113 ANEXOS .......................................................................................................................0118

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LISTA DE ANEXOS

GRADE DE PROGRAMAÇÃO ATUAL...................................................................119

DESCRIÇÃO DOS PROGRAMAS ............................................................................121

GRÁFICOS DEMONSTRATIVOS DE BOLETINS E ENTREVISTAS

VEICULADAS ..............................................................................................................123

TOTAL DE CHAMADAS INSTITUCIONAIS E DE APOIO CULTURAL.........126

EMPRESA CIDADÃ....................................................................................................128

AMIGO MUSEU HISTÓRICO ..................................................................................130

MAPA DE ALCANCE DA UNIVALI FM: 94,9 mHz – 90,9 mHz ..........................132

FOTOS...........................................................................................................................135

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Assuntos .....................................................................................................A92

TABELA 2: Abrangência do Tema ................................................................................A 93

TABELA 3: Áreas (Editoriais) .......................................................................................A 93

TABELA 4: Setores........................................................................................................A 94

TABELA 5: Assuntos. ....................................................................................................A 95

TABELA 6: Abrangência do Tema. ...............................................................................A 96

TABELA 7: Áreas. .........................................................................................................A 96

TABELA 8: Setores........................................................................................................A 97

TABELA 9: Assuntos .....................................................................................................A 98

TABELA 10: Abrangência do Tema. .............................................................................A 99

TABELA 11: Áreas (Editoriais) .....................................................................................A 99

TABELA 12: Setores...................................................................................................... 100

TABELA 13: Músicas .................................................................................................... 102

TABELA 14: Músicas .................................................................................................... 103

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INTRODUÇÃO

As distâncias encurtaram. O planeta Terra está cada vez menor. Num mundo em que

os recursos tecnológicos passam por constantes e rápidas transformações, contribuindo

decisivamente para que o ser humano receba informações de todo lugar e a qualquer

momento, os meios de comunicação, em especial, exercem papel preponderante no processo

de organização social e na dinâmica cultural de seus públicos.

Assim, ao se estabelecer o processo de comunicação no globo terrestre, delimita-se o

espaço global e o espaço local com reflexos diretos sobre a cultura das sociedades e dos

povos. O primeiro caracteriza-se pela necessidade de ampliar mercados e por conseqüência

instalar e criar vínculos sociais, econômicos e culturais em toda parte. O segundo procura

manter as tradições regionais enraizadas num espaço geográfico definido.

A necessidade que tem uma determinada sociedade de manter ou fortalecer a sua

cultura é realidade. Mas, ao mesmo tempo é preciso que se entenda o valor que há na

absorção de outras culturas, não no sentido de que estas venham em detrimento daquelas, mas

que surjam para acrescentar outros conhecimentos que não àqueles existentes no âmago de

uma única sociedade.

Atualmente, nos dois casos, os meios de comunicação têm influência fundamental

sobre a cultura, seja atuando na manutenção do pensamento local vigente, quer na propagação

de um novo pensamento cuja origem é de caráter externo. De um lugar para o outro, lá estão

eles a disseminar conceitos e idéias, agora não mais fundamentados apenas no que é local,

mas num contexto que Mcluhan (1969) define como “aldeia global”.

Nesse contexto, entre os meios de comunicação, aparece o rádio como um dos

veículos com maior penetração junto ao público. Em âmbito regional, tomando por referência

e de forma mais recortada a região da Foz do Rio Itajaí-Açu, surge a Rádio Educativa Univali

Fm, como objeto de pesquisa e cujos questionamentos seriam, entre outros, o de saber de que

forma a emissora faz frente à homogeneização da cultura e/ou se atua como espaço de cultura

local diante da globalização

Dessa forma investiga-se com esse trabalho, ainda que de forma simplificada, os

conceitos de comunicação, cultura, cultura de massa, indústria cultural, e espaço público. Para

discutir a relação que esses conceitos estabelecem entre si e como essa relação se reflete em

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um segmento específico da mídia, o rádio de caráter educativo, esse trabalho se vale do

modelo metodológico denominado "estudo de caso", tomando como espaço de análise a

Rádio Educativa Univali Fm.

A Univali Fm opera na freqüência de 94,9 MHz, em classe A3, com potência de 20

quilowatts. Localizada em Itajaí, Estado de Santa Catarina, emite seu sinal a mais de 20

municípios a sua volta com uma população estimada de 1 milhão de habitantes, acrescida em

média de mais 500 mil habitantes nos meses de verão. A maioria dos municípios que captam

os sinais da rádio localiza-se na faixa litorânea, que representa 3% da área do Estado e na qual

residem 68% de toda a população catarinense. (POLETTE, apud CORRÊA, 2001).

Entre os atuais veículos de comunicação, o rádio é considerado o mais popular.

Proximidade, interatividade, agilidade e instantaneidade são características que credenciam

esse veículo a estar presente junto ao grande público. O rádio, como aparelho receptor, está

em toda parte e em todo lugar. Em vários casos, independe de energia elétrica e pode ser

transportado de um lugar para o outro sem que para isso precise ser desligado. “Companheiro

de todas as horas”, está presente nos lares, indústrias, estabelecimentos comerciais e nos

veículos automotores. Não bastasse, se faz presente também, em locais de grande

concentração humana, como por exemplo, shows e competições esportivas, cujo exemplo

brasileiro é bem identificado nos estádios de futebol.

Papel preponderante sobre a formação educativa e cultural das sociedades exercem

os veículos de comunicação de massa. Entretanto, os de maior penetração junto ao público,

como o rádio e a televisão, em sua grande maioria, não têm se preocupado com o nível

cultural de suas programações. Via de regra, a preocupação que os orienta, está relacionada

especificamente, aos índices de audiência. Entendem que garantindo esses índices, garantem

igualmente a fatia do bolo financeiro que lhes dedica o mercado publicitário. Enfim, vivem

em função de respostas imediatas quantitativas quanto à audiência alcançada. Garantindo esse

princípio, garantem também as tão almejadas verbas de sobrevivência. O fator econômico

sobrepuja aqueles ligados à cultura, cidadania, qualidade e comprometimento social. Dessa

forma pouco ou nada se pode esperar dos veículos de comunicação de massa ditos

convencionais ou comerciais no que tange às suas preocupações com a qualidade do produto

veiculado. Os exemplos são claros e podem ser comprovados diariamente.

Nesse sentido, Ana Olmos, membro da Comissão de acompanhamento da

Programação de Rádio e Televisão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal,

declara que “as emissoras fazem o que querem para obter audiência e vender espaço

publicitário sem nenhum compromisso ético com o telespectador” (Isto É, 2003, p.70). O

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diretor e roteirista de programas educativos e autor do livro “Manual do telesp ectador

insatisfeito”, Wagner Bezerra, revela que “somos reféns de uma programação sem

referência”. Ele assinala que o Brasil está tateando na regulação do seu produto televisivo,

mas “não por falta de modelo, porque na maioria dos países desenvolvidos a t elevisão aberta é

submetida a uma legislação específica que impõe regras e limites”. Bezerra se diz favorável a

mudanças de conteúdos dos programas dominicais de televisão “não pela imposição, mas

pela percepção da responsabilidade social, porque tudo que a televisão emite está atrelado

com educação”. As alegações de Bezerra são aplicáveis também em muitos casos à

programação radiofônica.

No Brasil, onde o rádio surgiu como um veículo eminentemente educativo, esse

descaso para com a qualidade do produto veiculado é um paradoxo. Mais paradoxal ainda

pelo fato de as emissoras de radiodifusão sonora, sejam em amplitude ou freqüência

modulada, dependerem de concessão pública federal para funcionar. Ainda que se pondere

sobre o princípio de liberdade de expressão, há que se considerar que esses veículos não

expressam opiniões individuais para cidadãos em caráter individual. Ao contrário, emitem

suas informações a uma massa populacional heterogênea e, portanto, devem a esse público

pelo menos o cuidado quanto à qualidade do produto veiculado em suas programações. Da

mesma forma devem ao Estado, não só a justificativa de seus atos, mas também o dever de

formar uma sociedade através de uma programação voltada pelo menos aos princípios básicos

de cidadania, educação e cultura.

Contudo, o que se constata nos conteúdos de programação da grande maioria de

emissoras comerciais é a falta de responsabilidade social para com os conteúdos veiculados.

O caráter sensacionalista se sobrepõe à ética. O “furo jornalístico”, ou seja, a notícia em

primeira mão é mais importante que sua própria veracidade. O respeito ao ser humano é

substituído pela vulgarização pejorativa de personagens anônimos e indefesos. Em nome do

paternalismo, comunicadores com fins eleitoreiros se arvoram como salvadores da pátria,

lançam campanhas paliativas de ajuda mútua e não se estabelecem políticas capazes de

conscientizar ou resolver os problemas de forma definitiva. Enfim, o chulo e o grotesco

comandam o espetáculo desse grande circo em que impera o mau gosto.

As exceções ficam por conta das emissoras públicas e mais recentemente também

por conta de emissoras ditas alternativas, no caso as comunitárias. Limitadas e em

desvantagem financeira pelo fato de não poderem veicular comerciais, essas emissoras têm

sérias dificuldades na produção de seus programas, na manutenção de seu quadro funcional,

bem como na manutenção e reposição de seu aparato tecnológico.

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Não bastassem as dificuldades de ordem operacional, essas emissoras encontram

também sérias dificuldades conceituais quanto à formatação de seus conteúdos de

programação. Tanto as rádios quanto as Tvs educativas ou universitárias, trabalham muito

pouco com a experimentação. Em sua grande maioria limitam-se a acompanhar os formatos

estabelecidos pelas emissoras convencionais na formação de uma mão de obra

exclusivamente preparada para um mercado igualmente convencional.

O prejuízo causado pelo atual modelo de programação recai sobre o público.

Acostumado que está aos padrões estéticos que lhe têm sido impostos pelos grandes veículos

de comunicação, permanece a mercê dos interesses particulares desses veículos, movidos que

são pelo interesse da indústria cultural. Afinal, são eles que ocupam a maior faixa territorial

em termos de alcance na propagação de seus sinais, uma vez que quando não permissionários

de grandes potências, criam grandes redes de informação composta por emissoras que se

espalham por todo o território nacional.

A programação com características globalizantes ocupa então os espaços locais. A

cultura que se propaga nesses espaços não é mais aquela cujas raízes nele nasceram e nele se

criaram, mas sim àquelas originadas em contextos e realidades distantes. Ainda que seja essa

uma tendência irreversível e que precisa ser absorvida, é preciso que sejam conservados

mecanismos de independência, na manutenção das culturas que expressem historicamente as

tradições e realidades locais.

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PERGUNTAS DE PESQUISA

- As políticas públicas de radiodifusão favorecem as rádios educativas a

disseminarem as culturas locais?

- Num cenário atual, em que a tendência dos meios de comunicação é cada vez mais

a de absorver produtos culturais globalizados, a Univali Fm contribui para

produzir e propagar as culturas locais?

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OBJETIVOS Objetivo Geral

Investigar o papel da Rádio Educativa como produtora e disseminadora das culturas

locais.

Objetivos Específicos

- Averiguar se a Univali FM disponibiliza em sua programação de espaços para

manifestação ou divulgação da cultura local.

- Verificar que programas atendem a essa demanda.

- Conferir se a notícia local tem espaço nos programas jornalísticos da Univali Fm

e em que proporções se dão esses espaços .

- Confrontar se música popular brasileira tem espaço nos programas musicais da

Univali Fm e em relação à música estrangeira em que proporção se dão esses

espaços.

- Inquirir se a Univali Fm atende aos objetivos a que se propõe uma emissora de

caráter educativo.

- Verificar de que forma a Univali Fm contribui para o fortalecimento de políticas

públicas de comunicação voltadas à realidade e aos espaços locais.

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METODOLOGIA

A partir desses objetivos é que se adotou a metodologia do estudo de caso, tendo

como universo de pesquisa a Rádio Educativa Univali Fm a fim de verificar o papel que

desempenha junto às comunidades de sua área de abrangência. Nesse aspecto partiu-se para a

análise dos conteúdos de programação veiculados pela emissora, no sentido de investigar se

esses conteúdos atendem às demandas na manutenção das culturas locais. Tal metodologia foi

empregada porque permite segundo Laville e Dionne (1999, p. 155), “fornecer explicações no

que tange diretamente ao caso considerado e elementos que lhe marcam o contexto”.

Para analisar a natureza dos conteúdos veiculados pela Rádio Educativa Univali Fm,

foram analisadas as duas principais vertentes que compõem a programação da emissora, ou

seja, a programação jornalística e a programação musical. Em ambas, estão inclusos os

demais programas que integram a grade de programação, uma vez que foi possível constatar

que todos, sem exceção, contemplam em seus respectivos formatos, assuntos de cunho

musical e/ou jornalístico.

Em se tratando de programação jornalística foram analisados os dados coletados

através dos indicativos de proporcionalidade a saber:

- Em que proporção os noticiários da emissora divulgam notícias voltadas à

comunidade acadêmica e à comunidade externa.

- Em termos de abrangência do tema, em que proporção elas são veiculadas em

âmbito local, regional, estadual, nacional e internacionalmente.

- Que editorias são contempladas com maior espaço nos noticiários da Univali Fm.

- Quais setores, sejam eles púbicos ou privados se destacam com maior incidência

nos noticiários da Univali Fm.

Para se obter esses dados tomou-se como referência as 03 (três) edições diárias do

Repórter Univali veiculados na semana de 09 a 13 de junho de 2003 e as 07 (sete) edições

diárias do Unirepórter veiculado no mesmo período.

No caso da programação musical restringiu-se a análise quanto a proporção da

nacionalidade de origem das músicas veiculadas, classificado-as nesse caso em nacionais e

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estrangeiras. Dessa forma, tomou-se como referência as músicas veiculadas durante as 24 horas

do dia 10 de junho de 2003 e cuja proporcionalidade representa a prática editorial musical da

emissora nos dias úteis da semana. Para a análise de inicio e fim de semana, tomou-se como

referência o que foi veiculado nos dias 14 e 15 de junho de 2003, sábado e domingo

respectivamente, durante as 48 horas em que a emissora permaneceu no ar durante esses dois dias.

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CAPÍTULO I

ENTRE O LOCAL E O GLOBAL

A troca de informações entre os povos, nações e sociedades ganha progressivamente

conotação global. Entendamos, nesse caso, informações como os fatos ou acontecimentos

levados ao conhecimento de alguém ou de um público através de palavras, sons ou imagens.

Sob essa ótica, o vertiginoso desenvolvimento tecnológico e a proliferação dos meios de

comunicação de alcance extraterritorial colaboram para que essas informações saiam de seus

espaços locais e passem a transitar com a mesma desenvoltura por outros espaços de culturas,

que não àquelas em que se originaram. Em se tratando de comunicação, a língua, o cinema, o

rádio, a televisão e a Internet entre outros, se integram e se contextualizam nesse universo.

Todos em maior ou menor graus colaboram para as transformações dos costumes,

com reflexos diretos nos hábitos de consumo, sejam esses de caráter material ou cultural. Na

tentativa de melhor compreender as relações entre o local e o global e de que modo essas

relações, cada vez mais crescentes e irreversíveis, possam conviver sem interferência ou

supremacia de umas sobre as outras é que inicialmente investigou-se neste capítulo sobre os

conceitos de Comunicação, Cultura, Cultura de Massa e Indústria Cultural.

Da mesma forma, procurou-se analisar a maneira com que os meios de comunicação

de massa convivem com essa nova realidade e como devem proceder para que em maior

escala, mas sem xenofobismos, mantenham suas programações voltadas aos espaços locais.

Afinal, entendemos ser essa, uma forma de salvaguardar as políticas públicas de

comunicação voltadas às realidades nacionais.

1.1 Comunicação

Sendo o rádio um veículo de comunicação de massa e sobre o qual estamos a tratar,

torna-se necessário que em um primeiro momento entendamos o que é comunicação a qual

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sinteticamente é definida como "a interação social das mensagens" (Bordenave, 1994, p. 93).

É ela quem contribui para modificar o sentido que os seres humanos dão as coisas

colaborando para transformar as crenças, os valores e os comportamentos. Daí o seu grande

poder. Daí o seu uso por parte do poder. Como conseqüência o controle da comunicação

adquiriu extrema importância dentro de cada nação por ser ela capaz de estabilizar ou

desestabilizar governos.

A comunicação evolui de acordo e proporcionalmente ao desenvolvimento das

sociedades e seus respectivos aparatos tecnológicos de transmissão das mensagens. Se de

início entre os seres humanos, ela se dava em caráter interpessoal por meio de sons e sinais,

ganhou contornos amplos a partir do crescimento populacional e intelectual dos povos. Esses

contornos aumentaram ainda mais com o surgimento dos veículos de comunicação impressos

e principalmente a partir do aparecimento dos veículos de comunicação eletrônicos cujos

legítimos representantes são o rádio e a televisão. Surge então, a partir do advento deles, o

termo comunicação de massa.

O termo "massa" tem origem no fato de que as mensagens transmitidas pela mídia

estão ao alcance de públicos heterogêneos e relativamente numerosos, ou se preferirmos, ao

alcance de grandes audiências. Mas a expressão "massa", não deve só levar em consideração

o aspecto quantitativo, uma vez que alguns setores da indústria da mídia, dedicam seus

produtos a audiências específicas e nem sempre numerosas. A comunicação de massa surgiu

a partir do século XIX no momento em que a circulação de massa emergia através dos jornais.

Já no século XX o aparecimento da difusão por ondas provocaria um "profundo impacto no

tipo de experiência e padrões de interação característicos das sociedades modernas"

(THOMPSON, 1995, p. 285).

Segundo Bordenave (1995, p. 77-78), a comunicação como processo universal, atua

em todos os níveis da sociedade, a saber: nível do indivíduo; nível interpessoal; nível de

organização ou instituição; nível de macrossociedade e nível cultural. No Brasil, em nossa

sociedade de classes é possível distinguir a coexistência às vezes conflituosas dos seguintes

sistemas:

a) O sistema de comunicação oficial ou do Estado: Não só o Estado possui meios

próprios de comunicação mas também investe vultosas somas para comunicar-se

através de meios privados ou para ganhar o apoio político dos mesmos.

b) A comunicação da classe dominante: A grande imprensa, as redes nacionais de

rádio e TV, as revistas populares e profissionais, as empresas cinematográficas,

estão mais ou menos explicitamente a serviço dos interesses das classes

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proprietárias da maior parte da riqueza do país.

c) A comunicação em favor do povo: Grupos políticos, religiosos e sindicais

possuem, ou utilizam meios de comunicação alheios, para apoiar os esforços do

povo para organizar-se e lutar por seus interesses. Aí estão a imprensa

alternativa, as emissoras das igrejas, as revistas dos partidos políticos, as

publicações estudantis.

d) A comunicação do próprio povo: Através de reuniões, jornais de comunidades,

jornais murais, festas, canções, teatro popular, folguedos, as classes populares

sempre realizaram sua própria comunicação". Atualmente acrescentam-se a esse

rol os meios eletrônicos alternativos, como as rádios e televisões comunitárias.

Em alguns desses sistemas as informações cada vez mais se estabelecem através dos

veículos de comunicação, as quais alcançam um maior número de pessoas em locais diversos

e tempo real, fazendo chegar até elas, o conteúdo de suas mensagens e seus respectivos

objetivos. (Moles, 1986, p. 483-484, apud Santaella, 2000), diz que "comunicação de massa é

aquele tipo de comunicação que ocorre entre um emissor e uma multiplicidade de receptores

espalhados através de um campo geográfico e social, isto é, receptores sem qualquer conexão

entre si". (IBIDEM).

Segundo ele, na comunicação de massa o emissor fala para várias pessoas, sendo

induzida a desconhecer os traços distintivos dessas últimas. Num sentido amplo, a

comunicação de massa não tem assinatura. Ela ocorre em contraste direto a comunicação que

se estabelece entre uma pessoa e outra na qual o emissor escolhe seu receptor e o receptor

aceita seu emissor. Considera seu público receptor apenas como um público-alvo cujas

qualidades especiais receptoras, em especial sua coleção de sinais, são consideradas como

mais ou menos análogas, de modo que apenas suas linhas gerais são apreciadas. (IBIDEM).

Por ser direcionada a uma audiência relativamente grande, heterogênea e anônima

comunicação de massa é, portanto o método com que as idéias entre os indivíduos são

transmitidas. Para os seres humanos esse método é tão fundamental quanto vital.

É fundamental na medida em que toda a sociedade humana – da primitiva a moderna – se baseia na capacidade do homem de transmitir intenções, desejos, sentimentos, conhecimentos e experiência, de pessoa para pessoa. É vital na medida em que a habilidade de comunicar aumenta as chances de sobrevivência do indivíduo, enquanto sua falta é em geral considerada uma séria forma de patologia (TAVARES,1997, p. 13).

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Tavares (op. cit, p.13), caracteriza a comunicação de massa como "pública, rápida e

transitória". Pública porque seu conteúdo está aberto ao critério público, não sendo suas

mensagens endereçadas a ninguém em particular. Rápida porque as mensagens são elaboradas

e direcionadas a atingir grandes audiências em curto espaço de tempo e transitória porque

suas mensagens são elaboradas com a intenção de serem consumidas de imediato, não se

destinando a registros permanentes. Nesse sentido, o autor lembra que há exceções,

destacando entre elas as “filmotecas, gravações de rádio e televisão", mas lembra que

“habitualmente a produção dos veículos de comunicação de massa é encarada como

consumível".

Acreditava-se até pouco tempo, que por meio da influência recíproca, as classes

dominantes (Estado e elite), impunham decisivamente suas ideologias às classes subalternas

assegurando-lhes a continuação de seu domínio. Atualmente o conceito é outro. Já há o

entendimento de que a dominação das classes dominantes sobre as subalternas não é total e

monolítica como se supunha. Isto não significa dizer que não haja por parte das primeiras,

empenho para manter sua denominação. Ocorre que atualmente, as classes subalternas

dispõem de meios para "resistir a tal imposição, quer fechando os ouvidos a suas mensagens,

quer reiterpretando-as de acordo com os próprios interesses, ou empreendendo ações de

resistência ativa e não apenas passiva" (BORDENAVE, 1995, p. 78).

Nessa perspectiva, o receio de que os meios de comunicação de massa não estariam

em condições, ideológicas ou tecnológicas, de contribuir para a construção de uma sociedade

mais participativa e solidária, tem levado a sociedade civil e os comunicadores a

[...] procurar formas alternativas de comunicação, novos meios de comunicação alternativa, onde o termo alternativa refere-se à substituição dos meios comerciais e estatais de massa por meios de comunicação horizontal que permitam o acesso, a participação e até mesmo a autogestão dos meios pela população organizada (IBIDEM, p. 83).

As formas não tecnológicas de comunicação incluem-se entre os meios alternativos.

São elas, o teatro popular e de fantoches, os jornais murais, os comícios, as reuniões, a

literatura de cordel, as faixas, os letreiros pintados em pedras, tapumes e porteiras, as

inscrições nos muros e paredes, enfim, qualquer outra forma que a imaginação popular possa

criar. Mas incluem-se também a estas, os meios com alguma sofisticação tecnológica, como

por exemplo, a serigrafia, as gravações em fita e em vídeo cassete, e os jornais

mimeografados. "Todavia, no contexto alternativo, estes meios são utilizados como

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ferramentas de participação grupal e não de publicidade ou persuasão". (BORDENAVE,

1995, p. 78).

Assim , não há razão para incluir os grandes meios como o rádio, a TV, o jornal, a

revista e o livro, na comunicação alternativa, mesmo que esses abram espaço à participação

popular ou para integração do meio comunicação na luta pela sociedade participativa. Neste

caso, a comunicação alternativa recebe o nome de comunicação participativa ou participatória

quando seu objetivo deliberado é promover ou facilitar a participação. (IBIDEM, p. 84). De

qualquer maneira, o conceito alternativo está também ligado ao contrário do que preconiza o

autor, aos veículos eletrônicos, nesse caso representados pelas rádios comunitárias e

emissoras de TV a cabo, chegando-se a incluir entre eles as de caráter público.

Na definição de Bordenave, a comunicação participativa ocorre quando

[...] todos os interlocutores exercem livremente seu direito a auto-expressão, como uma função social permanente e inalienável; geram e intercambiam seus próprios temas e mensagens; solidariamente criam caminhos e saber, e compartilham sentimentos; organizam-se e adquirem poder coletivo; resolvem seus problemas comuns e contribuem para a transformação da estrutura social de modo que ela se torne livre, justa e participativa. (IBIDEM, p.78).

De acordo com o autor a comunicação participativa não existe em estado puro

porque está sempre acompanhada de técnicas entre as quais destaca, a consciência e ação

política, as lutas sindicais, a educação popular. "A comunicação participatória é uma maneira

- dialógica e multilateral - de fazer comunicação, dentro de qualquer processo grupal ou

coletivo mais amplo, que pode ser educacional, social, político ou técnico" (IBIDEM, p.85).

Independente dos sistemas em que atua, cada vez mais se reivindicam mudanças em

suas formas de aplicabilidade. Isso vem ocorrendo desde o início da década de 80, através dos

movimentos sociais urbanos que em muitos países, têm reivindicado a democratização dos

meios de comunicação. O uso desses meios por sua vez está diretamente relacionado à

democratização da sociedade como um todo. Contudo, só será possível alcançar a

democratização do uso de sistemas de comunicação a partir da democratização da sociedade.

"A horizontalização das comunicações tem muito a contribuir para a construção da

consciência democrática e para o exercício da cidadania". (IBIDEM, p.93).

O rádio, num primeiro momento e posteriormente a televisão são os meios de

comunicação eletrônicos com maior penetração junto ao público. Ambos, ao difundirem

notícia, entretenimento e publicidade, agem socialmente como válvula de escape para

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compensar e ajudar no relaxamento do estress motivado pela vida moderna principalmente

nos grandes centros urbanos. "O impacto dos meios sobre as idéias, as emoções, o

comportamento econômico e político das pessoas, cresceu tanto que se converteu em fator

fundamental de poder e de domínio em todos os campos da atividade humana".

(BORDENAVE, 1994, p. 33).

A comunicação de massa apesar de ser um fenômeno novo na história das

civilizações provocou em curto espaço de tempo rápidas transformações comportamentais,

influenciando diretamente no padrão de vida das sociedades modernas. Seu aparecimento se

deu em função da evolução dos meios de comunicação impressos (jornais), seguido dos meios

de difusão eletrônicos (rádio e televisão). Direcionada em geral a grandes audiências, tem sido

empregada pelos meios como fonte de informação onde os interesses econômicos e políticos

nela se expressam.

1.2 A Cultura, os meios e a política cultural

Apesar de elencarmos no presente trabalho alguns conceitos de cultura, tal intenção

está longe de esgotar ou de aprofundar seus significados sobre o tema. Tal limitação ocorre

devido à sua amplitude a aos inúmeros conceitos elaborados por estudiosos das mais diversas

áreas do conhecimento humano e científico, compartilhados por antropólogos, sociólogos e

historiadores entre outros. A intenção é apenas a de traçar paralelos entre a cultura e os meios

de comunicação de massa, no interior da simbiose a que ambos estão sujeitos.

Se em um primeiro momento cada cultura é o resultado de uma história particular

isso não exclui suas relações com outras culturas mesmo que possuidoras de características

realçadamente desiguais. Afinal, as sociedades modernas, compartilham do fato de serem

marcadas por diversidades culturais e por desigualdades sociais (Reis,1999, p. 103). Assim,

"por mais diferenças que possam existir entre dois países, todos partilham processos

históricos comuns e contêm importantes semelhanças em sua existência social" (SANTOS,

1994, p. 39).

Essas semelhanças nascem e se reordenam, segundo Geertz (1989, p. 61), como

produtos culturais inerentes aos seres humanos tais como, as idéias, os valores, as emoções e

o próprio sistema nervoso. Para ele, não existe natureza humana sem cultura. Sua conclusão é

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taxativa, "sem os homens certamente não haveria cultura, mas, de forma semelhante e muito

significativamente, sem cultura não haveria homens"

Em toda e qualquer sociedade, da mais tradicional a mais atual, se constata a

existência de um sistema de comunicação, ou como assevera (Sodré, 1988), um sistema de

informações baseado num código comum. Segundo ele, toda cultura é, portanto, uma

estrutura de comunicação que só pode ser entendida pela decifração de seu código. "A cultura

é, na verdade, um sistema mediador - uma espécie de circuito que possibilita a circulação, a

análise e a construção do real humano" (SODRÉ, 1988, p.13-14).

Ordenar ou reordenar a experiência social do cidadão através da promoção do seu

convívio com outros grupos é a finalidade aparente da informação, tendo essa por sua vez

uma função política na formação da Polis.

Por essa razão, um produto da cultura de massa não pode ser analisado em termos puramente estéticos ou poéticos, mas também em função das intenções do sistema comunicador – definida pela Publicidade, pelas ideologias predominantes, pelos interesses das empresas de comunicação, etc. (IBIDEM, p. 19).

Na sociedade contemporânea os meios de comunicação de massa ao difundirem suas

mensagens para e a partir de territórios diversos, exercem influência direta e acentuada sobre

a cultura ao mesmo tempo em que contribuem para uma maior interação entre culturas

diferentes ou como prefere Santaella, (2000, p. 25), as mídias têm provocado mutações nas

formas tradicionais de cultura.

Com a aceleração de interação entre povos, nações, culturas particulares, diminui a possibilidade de falar em cultura como totalidade, pois a tendência à formação de uma civilização mundial faz com que os povos, nações, culturas particulares existentes partilhem características comuns fundamentais. (SANTOS, 1994, p. 39-40).

Muitas têm sido as definições sobre cultura, mas vamos nos referir num primeiro

momento, àquelas enumeradas por Santos para quem

[...] cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade; [...] é um produto coletivo da vida humana; [...] é um território bem atual das lutas sociais por um destino melhor. É uma realidade e uma concepção que precisam ser apropriadas em favor do progresso social e da liberdade, em favor da luta contra a exploração de uma parte da sociedade por outra, em favor da superação da pressão e da desigualdade. (IBIDEM, p. 44-45).

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Ou como conclui o autor "num sentido mais amplo e também mais fundamental,

cultura é o legado comum de toda a humanidade". (SANTOS, 1994, p. 86).

Inclui-se aqui, num segundo momento, o conceito de cultura definido pelo geógrafo

e professor da USP, Milton Santos, publicado na Folha de São Paulo para quem a cultura, ao

longo dos séculos, se manifesta através das mais diferentes formas de expressão da

criatividade humana, e não apenas no que hoje denominamos "as artes" (música, pintura,

escultura, teatro, cinema,) ou por intermédio da literatura e da poesia em seus diversos

gêneros, mas também por outras formas de criação intelectual nas ciências humanas, naturais

e exatas. "É a esse conjunto de atividades que se deveria denominar de cultura". (SANTOS,

2000, p.18)

Ao longo da história, a cultura vive constantes processos de transformação,

abandonando certos elementos e adquirindo outros. Assim, determinadas formas de

comportamento hoje aceitas e respeitadas, serão consideradas obsoletas, amanhã. A tendência

predominante é de que as pessoas mais velhas resistam aos novos valores, enquanto as

gerações mais jovens têm predisposição mais natural em absorvê-los com maior facilidade.

São essas mudanças que trazem transformações às culturas das sociedades. Por isso, ao

descompasso entre jovens e velhos convencionou-se chamar "choque de gerações". Entre os

elementos que mais contribuem para modificar a cultura estão o avanço tecnológico, a

música, a moda e as artes em geral. São eles que criam novas concepções e novas visões de

mundo. (CALDAS, 1995, p. 16-17).

A cultura cada vez menos e em menor escala, ocorre de forma isolada, como

identidade única da realidade de um respectivo local, de uma determinada nação ou de um

determinado grupo social. Desde que os contatos entre essas esferas começam a serem

estabelecidos começam a se estabelecer também, seja pela lógica ou empirismo, a troca de

informações e valores, as quais culminam na assimilação de comportamentos, pois como

lembra Ianni (1999, p. 167), "a cultura, além de suas formas conhecidas, como expressão e

condição de grupos, classes, etnias, minorias, sociedades, está impregnada de padrões e

valores, idéias e imaginários, provenientes de grupos, classes, etnias, minorias, e sociedades

situados além".

Então, como pensar a realidade mundial a partir da problemática cultural. Este é o

questionamento de Renato Ortiz, em sua obra "Mundialização e Cultura". Para ele, "a questão

não é simples, pois a herança intelectual tende a ressaltar os aspectos específicos de cada

cultura". (ORTIZ, 1994, p.20).

Cada sociedade é uma identidade com especificidade diversa das outras, o que

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implica num distanciamento entre as culturas primitivas entre si, e num distanciamento delas

com os princípios modernos. Mas, é preciso ter claro, conforme (Ortiz, 1994, p. 27), que "uma

cultura mundializada não implica o aniquilamento das outras manifestações culturais, ela

coabita e se alimenta delas. Um exemplo: a língua".

Observação nesse sentido faz Geertz (1989), quando afirma que assim como a nossa

capacidade de falar é inata, nossa capacidade de falar inglês, por exemplo, é cultural.

Ao distinguir os termos global e mundial, assimilando o primeiro a processos

econômicos e tecnológicos e o segundo ao domínio específico da cultura, Ortiz define o

processo de mundialização como

[...] um fenômeno social total que permeia o conjunto das manifestações culturais. Para existir, ele deve se localizar, enraizar-se nas práticas cotidianas dos homens, sem o que seria uma expressão abstrata das relações sociais. (ORTIZ , 1994, p. 30-31).

O processo de hibridação das culturas tende a se acentuar na medida que o fenômeno

da globalização, dos sistemas de informação e das novas tecnologias avançam. Para a

manutenção de suas próprias subsistências, seres humanos e cultura se inter-relacionam. Toda

sociedade indistintamente possui um sistema de comunicação. Nas sociedades

contemporâneas as mídias têm provocado alterações em culturas tradicionais sem, contudo,

eliminar definitivamente suas raízes.

A cultura, pode ser entendida como um processo intelectual de criação inerente a

todas as ciências. Por isso sofre constantes processos de transformação. Por mais resistência

que possa haver frente às mudanças ocorrerá sempre a troca dos velhos pelos novos valores, o

que a torna eternamente mutável, assim como o são os processos sociais. O importante é que

prevaleça nessa troca o respeito à especificidade de cada uma delas e as funções

desempenhadas em suas respectivas épocas. E essa é uma função a ser admitida pelas mídias.

Junto ao legado cultural há o legado político. Não há como dissociar ambos, embora

alguns antagonismos possam se estabelecer entre eles. Cultura e política fazem parte do

cotidiano das pessoas, povos e nações. Momentos históricos como o Renascentismo a partir

do século XV e o Iluminismo da França pré-revolucionária do século XVIII, foram

significativos na atual formação cultural e política, os quais permitem na opinião de Feijó

(1992), algumas conclusões parciais:

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1. a política sempre se ocupou da cultura; 2. na maioria das vezes a cultura tem sido incentivada de acordo com os

interesses políticos e econômicos dominantes; 3. quando a cultura ultrapassou os limites permitidos, foi reprimida; 4.mas também, a produção cultural, quando organizada e consciente,

provocou ou deu contribuição decisiva para transformações históricas. (FEIJÓ, 1992, p. 16).

Por isso é mister que as pessoas que exerçam uma arte tenham consciência de que a

política da cultura está no interior da própria produção cultural. Se elas ignoram essa premissa

passam a ser mais facilmente manipuladas pelos interesses dominantes, sendo um deles, por

exemplo, a indústria cultural. Os criadores culturais só estarão libertos a partir da

democratização da cultura e para que isso seja garantido é necessário que venha acompanhada

pela democratização política e econômica. "Uma política cultural nunca está dissociada de

uma política, e será reflexo desta. Onde esta não for democrática, aquela também não o será"

(IBIDEM, p. 75).

Dessa forma é preciso entender que a ingerência histórica da política sobre a cultura

é reflexo direto dos interesses dominantes que permeiam a primeira e na maioria das vezes em

detrimento da segunda. É assim que as expressões cultura popular e cultura do povo nascem

da lembrança do contexto político em que foram empregadas abundantemente no populismo.

Chauí, esclarece:

Em qualquer de suas modalidades, paternalista ou justiceiro, o populismo é uma política de manipulação das massas, às quais são imputadas passividade, imaturidade, desorganização e, conseqüentemente, um misto de inocência e de violência que justificam a necessidade de educá-las e controlá-las para que subam 'corretamente' ao palco da história. O populista é obrigado a admitir a realidade bruta de uma cultura dita popular ao mesmo tempo em que precisa valorizá-la positivamente (como solo das práticas políticas e sociais) e negativamente (como portadora dos mesmos atributos que foram impingidos à massa). Dessa ambigüidade resulta a imagem de uma cultura popular ideal (seja no sentido de uma idéia a ser realizada, seja no sentido de um modelo a ser seguido) e cuja efetivação dependerá da existência de uma vanguarda esclarecida, comprometida com a ação do povo a ser por ela esclarecido. (CHAUÍ, 1997, p.61).

No entendimento da autora, "se para a classe dominante, a alienação vivida e

exercida é fonte de autoconservação e de legitimação, para os dominados é fonte de paralisia

histórica" (IBIDEM, p. 67).

Política e cultura são indissolúveis, caminham juntas ao longo da história. A política

cultural se estabelece num contexto em que entram em jogo interesses políticos e econômicos

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cujas influências emanam do poder. Sujeita à repressão quando ultrapassa os limites

estabelecidos a produção cultural é em contrapartida, capaz de realizar transformações

históricas.

1.3 Indústria Cultural: dos apocalípticos aos integrados

A sociedade de massa se distingue hoje pela perda da individualidade e pela

padronização. A atomização do indivíduo é outra de suas características. Contudo, é a cultura

estandardizada, cujo objetivo é agradar ao gosto médio de um público heterogêneo a quem os

técnicos batizam de cultura de massa, preferencialmente denominada por outros de indústria

cultural. Ela se caracteriza pela revolução industrial; capitalismo liberal; economia de

mercado e sociedade de consumo. Dessa forma, surge como fenômeno da industrialização na

segunda metade do século XIX. Nesse período, surgem também, os meios de comunicação de

massa e a cultura de massa. No Brasil, a Indústria Cultural surge a partir da década de 30, mas

se firma após a 2ª guerra.

A indústria cultural é um daqueles objetos de estudo que se dão a conhecer para as ciências humanas antes por suas qualidades indicativas, ou aspectos exteriores, do que por sua constituição interior, estrutural. E um desses traços indicativos é exatamente o da ética posta em prática por essa indústria. (COELHO, 1995, p. 8).

O conceito de indústria cultural tem origem a partir de um texto publicado em 1947,

por Horkheimer e Adorno sob o título Dialética do Esclarecimento, cuja inspiração foram a

democracia de massas da América do Norte e o nazismo alemão. Assim, tanto a dominação

técnica, quanto política apresentada nos sistemas norte-americano e nazista "refletiu-se na

teoria crítica através da preocupação da perda do homem político e do indivíduo autônomo e

consciente que consegue refletir sobre os antagonismos da sociedade". (FERNANDES, 1998,

p.13)

Na obra, "Cultura de Massa no século XX", Morin (1969, p. 168), alerta para o

caráter cosmopolita da cultura de massa, por promover o modernismo e a universalização do

homem moderno, o qual aspira melhor qualidade de vida , procura sua felicidade pessoal e

afirma os valores da civilização de sua época. “A cultura de massa une intimamente em si os

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dois universais, o universal da afetividade elementar e o universal da modernidade. Esses dois

universais apoiam-se um sobre o outro e neste duplo movimento acentua-se a força de difusão

mundial de cultura de massa".

A Cultura de Massa consiste na produção industrial de um universo muito grande de produtos que abrange setores como a moda, o lazer no sentido mais amplo, incluindo os esportes, o cinema, a imprensa escrita, falada e televisada, os espetáculos públicos, a literatura, enfim, um número muito grande de eventos e produtos que influenciam e caracterizam o atual estilo de vida do homem contemporâneo no meio urbano-industrial. (CALDAS, 1991, p.16).

O autor enumera duas versões de Cultura de Massa: a da escola de Frankfurt e a da

escola Progressista-Evolucionista, acrescentando que as primeiras análises marxistas da

Sociedade de Massa e sua cultura surgem em 1947 com a chamada Escola de Frankfurt.

Segundo ele foi o musicólogo e filósofo Theodor Wiesgrund Adorno quem escreveu a

primeira obra sobre o assunto, produzida por essa Escola. Logo de início, esse autor inova ao

abandonar expressão mais usual, Cultura de Massa, substituindo-a por Indústria Cultural.

(IBIDEM).

Seu objetivo era evitar que se confundisse Cultura Popular com Cultura de Massa

porque para ele a primeira se originava nas próprias massas através da manifestação

espontânea delas decorrentes, enquanto a Cultura de Massa, ao contrário, nada tinha de

popular, indo mais além ao afirmar que "a Indústria Cultural nada oferece de satisfatório ao

consumidor" (IBIDEM, p. 33).

A Cultura de Massa, segundo Santos, surgiu em função de uma idéia do

aprimoramento pessoal, em que a cultura se transformou na descrição das formas de

conhecimento dominantes nos Estados nacionais que se formavam na Europa a partir do fim

da Idade Média. Dessa forma as preocupações com a cultura brotam a partir do conhecimento

erudito cujo acesso era restrito a setores das classes dominantes desses países.

[...] esse conhecimento erudito se contrapunha ao conhecimento havido pela maior parte da população, um conhecimento que se supunha inferior atrasado superado, e que aos poucos passou também a ser entendido como uma forma de cultura, a cultura popular (SANTOS, 1994, p. 54).

Ao analisar os efeitos da Indústria Cultural sobre o consumidor, Caldas considera-a

especuladora da consciência de milhões de pessoas a quem destina seus produtos

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transformando-os em elementos secundários, em instrumentos de consumo para manter-se

atuante. Segundo Adorno, (apud CALDAS)

[...] essa indústria desconsidera o aspecto humano das massas, abusando do seu despreparo político e da autonomia do consumidor [...] a massa perdeu a condição de sujeito, para tornar-se ideologia da Indústria Cultural, embora sua existência dependa fundamentalmente da própria massa [...] as mercadorias da Indústria Cultural se orientam pelo princípio da comercialização e não pelo conteúdo que deveria oferecer ao consumidor. (CALDAS, 1991, p. 34-35).

Adorno é mais enfático ao afirmar que

A indústria cultural realizou maldosamente o homem como ser genérico. Cada um é tão somente aquilo mediante o que pode substituir todos os outros: ele é fungível, um mero exemplar. Ele próprio, enquanto indivíduo, é o absolutamente substituível, o puro nada, e é isso mesmo que ele vem a perceber quando perde com o tempo a semelhança. (ADORNO, 1985, p.136).

Pensamento similar compartilha Santos (1994, p. 71), ao alertar que "as mensagens

da indústria cultural, com propósitos de homogeneização e controle das populações, pode ser

um projeto dos interesses dominantes da sociedade, mas não são a cultura dessa sociedade".

Contrapõe-se a visão pessimista dos frankfurtianos, a teoria discursiva de J.

Habermas. Embora, proveniente da Escola de Frankfurt – a mesma de Adorno e Horkheimer

– Habermas divide a sua teoria discursiva em duas fases. Na primeira,

defende a tese de que a esfera pública no mundo burguês assume funções de propaganda, esvaziando-se de seus conceitos políticos. Trabalha com a idéia de fragmentação do mundo moderno e com a decadência da esfera pública burguesa cujo resultado foi a passagem do público que pensava a cultura para um público que consumia a cultura [...]. O público passou a ser fragmentado em minorias de especialistas que não pensavam mais nos interesses gerais e em uma grande massa de consumidores dos meios de comunicação de massa. (FERNANDES, 1998, p. 26).

Na segunda fase de seu trabalho, Habermas, questiona a manipulação da esfera

pública pelos diversos grupos sociais e preocupa-se com "o resgate da tradição ético-moral e

com a formação de um espaço público político que dê aos homens a capacidade de interagir

na ordem político-social estabelecida [...]". (IBIDEM, p. 29).

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Visão antagônica a Escola de Frankfurt tem a Escola Progressista-Evolucionista, para

quem a Sociedade de Massa,

[...] é o resultado do pluralismo e da democracia. O capitalismo industrial moderno propicia, naturalmente, a integração social e elimina o caráter subserviente a que a população estaria submetida segundo a Escola de Frankfurt. E mais do que isso, elimina, através da industrialização da produção em grande escala e barata, o monopólio que a classe dominante sempre teve da alta cultura. (CALDAS , 1991, p.39).

Sob a perspectiva da escola progressita-evolucionista, Ianni (1999) entende que

A indústria cultural pode ser vista como uma técnica social, por meio da qual trabalham-se mentes e corações. É claro que a sua eficácia é desigual; inclusive é contrabalançada pela criatividade cultural de indivíduos, grupos e classes em diferentes condições de vida e trabalho. Mas é uma expressão inegável da cultura mundial e está presente no modo pelo qual os indivíduos e coletividades informam-se, divertem-se, ocupam seu tempo livre, passam os problemas reais e imaginários. [...] Talvez seja possível dizer que a indústria cultural, fortalecida, dinamizada e universalizada pela tecnologia eletrônica, está exercendo os papéis do intelectual orgânico das estruturas desterritorializadas, mas efetivas. [...] Num mundo cada vez mais transformado em simulacro, nada impede que a indústria cultural exerça tais funções. (IANNI, 1999, p. 138-139).

Em contrapartida, Bordenave e Carvalho na obra, Comunicação e Planejamento,

sustentam que a indústria cultural, propriedade característica do exercício dos meios de

comunicação de massa, não germina em contextos onde o diálogo crítico é praticado, onde a

população se torna sujeito das suas modificações. "Não sobrevive enquanto instrumento de

manipulação porque não incide sobre objetos, mas sim, sobre indivíduos numa prática da

comunicação social libertadora". (BORDENAVE e CARVALHO, 1979)

É, portanto, no interior de um sistema complexo que a Indústria Cultural precisa ser

entendida, uma vez que seu direcionamento vai ao encontro de alguns objetivos como:

a) as motivações do consumo orientado segundo os interesses das empresas nacionais e estrangeiras, através do financiamento publicitário; (b) os interesses eventuais dos governos; (c) a recuperação mítica da cultura oral; (d) a diluição da cultura elevada, ma também o processo de criação em termos de cultura de elite; (e) o acionamento dos velhos mecanismos da consciência coletiva nacional, através dos quais os detentores do sistema de comunicação projetam a sua formação psicológica (as suas alucinações) de elite (SODRÉ, 1988, p. 22-3).

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É nesse contexto de sistema de comunicação que o rádio e a televisão, devido entre

outras, a grande capacidade persuasão, de abrangência e de alcance geográfico, desempenham

papel fundamental na absorção das mensagens por parte das grandes massas, em relação a

outros veículos.

Os meios mecânicos de impressão gráfica, que deram origem ao jornal, a invenção do telégrafo, da fotografia e do cinema foram imediatamente seguidos pela revolução Eletrônica com o aparecimento do rádio e da televisão. Foram essas duas últimas mídias, aliadas, que levaram a cultura de massas ao clímax. (SANTAELLA, 2000, p. 48).

Para um melhor entendimento do antagonismo teórico protagonizado pela Escola de

Frankfurt e pela Escola Progressista-Evolucionista, nos remetemos à análise de Everardo

Rocha, em sua obra, "A sociedade do sonho: comunicação, cultura e consumo" (1995). Nela,

Rocha argumenta que no livro "Apocalípticos e Integrados" (1976), Umberto Eco desenvolve

um estudo clássico sobre as vertentes polarizadoras da discussão que ele chamou de

apocalípticas e integradas, onde passa a limpo as idéias de defensores e acusadores da

Indústria Cultural. Ao decifrar o "paradigma do tribunal", cujo objetivo é sentenciar o

fenômeno social, Eco expõe quinze argumentos apocalípticos e nove integrados.

Nesse "tribunal", as peças de acusação incorporam às posições apocalípticas,

enquanto às peças de defesa incorporam as posições integradas de Cultura de Massa.

Resumidamente, é à luz dessa análise que Rocha deduz:

Para a posição apocalíptica, a Indústria Cultural era pouco mais que um projeto de dominação, colonização, repressão, autoritarismo e engodo das massas. A Indústria Cultural significava uma máquina de imposição da ideologia dominante - ideologia dos dominantes, bem entendido - sobre o resto da sociedade. De outro lado, a posição integrada defende a Indústria Cultural como capaz de democratizar a cultura para as massas. Para estes, ela socializa a informação, educa, abre o acesso aos bens da chamada 'alta' cultura. (ROCHA, 1995, p. 62)

É fundamentado em Eco, 1976, que Rocha traça o "paradigma do tribunal", onde

apocalípticos e integrados buscam justificativas de defesa da análise intelectual que sustentam

da indústria cultural. Para que possamos ter uma visão mais aproximada da posição das duas

vertentes na sentenciação deste fenômeno social, vamos tentar resumidamente expô-la através

do quadro a seguir e que segundo o autor dá a típica sensação de um tribunal onde os

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argumentos se contrapõem entre quinze peças de acusação e nove em defesa da Cultura de

Massa:

QUADRO 1: Posição das duas vertentes

APOCALÍPTICOS (Acusação)

INTEGRADOS (Defesa)

1- Meios de Comunicação de Massas generalistas, refratários às 'soluções originais'.

1- Os Meios de Comunicação de Massa e seu discurso são o signo da sociedade planetária que se instaurou no mundo pós-Revolução Industrial.

2- Construção da homogeneidade destruindo as características culturais próprias de cada grupo étnico.

2- A Indústria Cultural não disputa nada com nenhuma forma de 'cultura superior' ou 'erudita'.

3- Narcotização da consciência 3- O acúmulo de informação levado à população pelos Meios de Comunicação de Massa se transforma em algo intelectualmente produtivo.

4- Os mídia seriam meros tradutores - simplórios e de má fé - das produções culturais que já foram a 'ponta de lança' da vanguarda da 'alta cultura'.

4- A dimensão alienante do prazer social - o 'pão e circo'- não tem dono. Formas menores de entretenimento e lazer não espelham 'decadência' dos 'costumes', e muito menos são responsabilidade dos mídia.

5- Distribui emoções prontas enlatadas 5- Os Meios de Comunicação de Massa não são homogeneizadores do gosto. Os mídia são agentes que contribuem para a eliminação das 'diferenças de casta', para a unificação das 'sensibilidades nacionais' e para o 'descongestionamento antinacionalista'.

6- Os Meios de Comunicação de massa não podem existir fora do jogo das leis do mercado capitalista.

6- Simplificação produtiva. A tradução simplificadora, com vistas à ampla divulgação, é generosa.

7- Os mídia levam ao público produções da alta cultura em fórmulas condensadas, cuja característica é a inexistência de esforço intelectual por parte do receptor.

7- A esquematização não é, como antes, apenas fruto de uma recepção especialmente exagerada de um consumidor isolado e obsessivo.

8- Contra o nivelamento dos produtos culturais veiculados pelos Meios de Comunicação de Massa

8- A participação social dos Meios de Comunicação, é significativamente maior e mais qualificada que a participação social possível antes deles.

9- Alienação do receptor às mensagens culturais, induzindo-o a uma postura acrítica.

9- A Industria Cultural não é conservadora nem estética nem culturalmente. A Cultura de Massa cria novas linguagens. Os Meios de Comunicação de Massa produzem 'novos modos de falar, novos estilemas, novos esquemas perceptivos' e são eles mesmos, um 'conjunto de novas linguagens'.

10- Os mídia 'encorajam uma imensa informação sobre o presente, e assim entorpecem toda a consciência histórica'. (Eco, 1976, p. 42)

Continua . . .

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continuando . . .

APOCALÍPTICOS (Acusação)

INTEGRADOS (Defesa)

11- Critica aos mídia formulada em termos de uma espécie de 'psicologia da atenção' ou do 'comportamento'. Existência de uma fruição mais 'natural', por assim dizer, das produções da 'alta' cultura, que acaba frustrada pela forma de transmissão feita pelos mídia.

12- A Industria Cultural impõe uma rede de 'símbolos', 'mitos', e 'tipos', reconhecíveis, reduzindo a experiência individual.

13- Os Meios de Comunicação operam com todos os elementos do gosto médio e da 'opinião comum'. Ação social conservadora.

14- Os Meios de Comunicação de Massa estão 'sob o signo do mais absoluto conformismo'. Favorecem as 'projeções orientadas para modelos oficiais'.

15- Os mídia são típica 'superestrutura do regime capitalista', para 'controle' e 'planificação' das consciências.

Fonte: Rocha (1995, p. 64-72)

Ao analisar as duas posições, Caldas sintetiza afirmando que os apocalípticos (a

Escola de Frankfurt), entende que a Indústria Cultural não humaniza e tampouco democratiza

o consumo de bens culturais, "a sociedade de massa não tem um centro moral, um código de

ética capaz de respeitar os direitos, a vontade e a autonomia do cidadão, A indústria cultural,

longe de democratizar e humanizar o consumo de bens culturais, torna o consumidor um

títere, um dependente do capital" (CALDAS, 1995, p. 90).

Segundo ele, os integrados, os progressistas/evolucionistas, por sua vez,

apresentam uma tese irrefutável: com o desenvolvimento tecnológico e o avanço admirável das comunicações, a sociedade de massa, fenômeno característico do século XX, tem elementos suficientes para propagar a informação e melhor divulgar o conhecimento. (IBIDEM, p. 90-91).

Sua reflexão é de que embora existam divergências irreconciliáveis entre as duas

Escolas, há como pelo menos em parte, encontrar um ponto de convergência entre as idéias de

ambas. As duas concordam que:

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Embora a tendência na sociedade de massa seja a homogeneização do consumo, é inegável que ela gera níveis de gosto, audiências e consumidores diferentes. Assim a cultura é estratificada e seu consumo diferenciado. Noutras palavras: existe na sociedade de massa uma cultura de classe, apesar da sua tendência à padronização. (CALDAS, 1991, p. 44).

No conjunto das posições dos integrados está implícito o pensamento de que

A produção da Indústria Cultural é boa em si, segundo uma ideal homeostase do livre mercado, e não deve submeter-se a uma crítica e a novas orientações. A mesma coisa, com sinal trocado, é o que se retira do conjunto das posições dos apocalípticos-aristocratas. Nessa linha, o problema está em assumir que a Cultura de Massa seja radicalmente má, justamente por ser um fato industrial, e que hoje se possa ministrar uma cultura subtraída ao condicionamento industrial. (ECO, apud ROCHA, 1995, p. 72-73).

Rocha ensina que o mais importante para melhor compreensão dos fenômenos

originados pela indústria cultural é não correr o risco de qualificar ou mesmo assumir a

posição dos dois grupos, mas sim discuti-las. É com base no que qualifica da paradigma

formalista que afirma serem

Os meios de comunicação de massa 'inelimináveis'. Portanto, não se pode pensar a indústria cultural em termos de 'boa 'ou 'má'. O que se deve é colocar a questão correta: "qual a ação cultural possível a fim de permitir que esses meios de massa possam veicular valores culturais". (IBIDEM, p. 74)

Sintetizando, a cultura de massa ou indústria cultural, como preferem os adeptos da

teoria crítica da Escola de Frankfurt, nasceu a partir do fenômeno da industrialização

juntamente com o aparecimento dos meios de comunicação de massa. No Brasil, a indústria

cultural se fortalece a partir da segunda guerra sendo hoje uma realidade mundial com

influências por todo o globo. Duas vertentes antagônicas em suas opiniões divergem quanto

aos efeitos que a indústria cultural provoca às sociedades. Para os apocalípticos (Escola de

Frankfurt) a indústria cultural é fator de alienação ao disponibilizar produtos de consumo

homogeneizados em defesa apenas de interesses econômicos e políticos sem qualquer

compromisso ou preocupação com a qualidade favorecendo, assim, às classes dominantes.

Para os integrados (Escola Progressista-Evolucionista) ela ao contrário possibilita às massas o

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acesso democrático aos meios de comunicação e aos bens de consumo, antes só ao alcance

dos grupos de elite.

Embora no Brasil se verifique uma tendência entre os estudiosos do assunto para

concordarem mais com os argumentos apocalípticos é fundamental que haja também o

entendimento de que a indústria cultural fenômeno com tendência irreversível como as

mídias, e as quais se utiliza para propagar suas idéias, seja empregada nas sociedades

modernas como fator de integração na propagação de mensagens desprovidas dos interesses

de lucro. As mídias alternativas que começam a ganhar novos contornos em ambientes os

mais diversos, incluindo-se aí, cada vez mais os periféricos, tendem a ser um foco de

resistência às grandes redes midiáticas e com isso uma nova alternativa para uma

comunicação mais descentralizada e, portanto, mais democrática na enunciação de seus

valores, e conseqüentemente na sua recepção.

1.4 Globalização Cultural

Vivemos a era das infosociedades globais cujas características principais são as

profundas mutações culturais, políticas, econômicas e sociais, as quais

[...] converteram as mídias em agentes de difusão de discursos legitimadores da ideologia do mundo sem fronteiras. Elas irradiam fluxos dinâmicos de informação e de entretenimento, e padrões de consumo que se universalizam. (MORAES, 1997, p. 12).

Vivemos igualmente a era do consumo tanto de bens quanto de serviços. Enquanto

cidadãos do mundo somos programados para consumir aquilo que os meios de comunicação

de massa nos colocam à venda. Duráveis ou não, esses produtos cada vez mais descartáveis

estão a qualquer momento em escala global, à nossa disposição. Sequer precisamos sair de

casa para que os possamos ter ao nosso alcance. As redes informatizadas estão aí para

disponibilizá-los.

Os repertórios locais, tanto aqueles ligados às artes cultas quanto às populares, não desaparecem. Mas seu uso diminui em um mercado onde as culturas eletrônicas transnacionais são hegemônicas, quando a vida social

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urbana se faz cada vez menos nos centros históricos e mais nos centros comerciais modernos da periferia, quando os passeios se deslocam dos parques característicos de toda a cidade para os shoppings que imitam uns aos outros em todo o mundo. (CANCLINI, 1999, p. 134).

O processo de expansão comercial tem origem, quando a burguesia vê a necessidade

de levar seus produtos a mercados mais amplos se estabelecendo, se instalando e criando

vínculos em toda a parte. Com isso, as velhas necessidades de consumo, atendidas pela

produção nacional, cedem frente as novas necessidades que para serem atendidas ou

satisfeitas precisam de produtos de outras terras mais distantes. A antiga auto-suficiência e o

antigo isolamento local e nacional, dão lugar a um intercâmbio universal, a uma universal

interdependência das nações em todas as dimensões. E isso, segundo Ianni (1999, p.60),

ocorre "tanto na produção material quanto na intelectual. Os produtos intelectuais de cada

nação tornam-se patrimônio comum. A unitelaridade e a estreiteza nacional tornam-se cada

vez mais impossíveis, e das numerosas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura

mundial".

Em se tratando de nações e culturas diferentes, verifica-se nesse contexto

determinados desequilíbrios em relação ao que se produz em países desenvolvidos e ao que é

absorvido em países periféricos. Essa produção e absorção cultural não podem ignorar as

relações de poder existentes no âmago de uma sociedade ou entre sociedades. Essa é uma

realidade que sempre se impõe, apesar do estudo da cultura não se limitar a isso.

Assim é porque as próprias preocupações com cultura nasceram associadas às relações de poder. E também porque, como dimensão do processo social, a cultura registra as tendências e conflitos da história contemporânea e suas transformações sociais e políticas. (SANTOS, 1994, p. 80).

Além disso, a cultura é um resultado da história coletiva por cujas mudanças e por

cujas melhorais as forças sociais se encaram.

Mas Ianni chama atenção para o fato de que

[...] os dilemas da cidadania, do cidadão do mundo, não se limitam aos aspectos políticos, ou jurídico-políticos; envolvem também os sociais, econômicos e culturais. À medida que caminha, o processo democrático necessariamente compreende todos os níveis da vida social, da esfera pública. Codificam-se democraticamente as relações, os processos e as

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estruturas que constituem e movimentam a sociedade em níveis nacional e mundial [...] No horizonte da sociedade global são outras as novas condições sociais, econômicas, políticas e culturais nas quais se constitui e desenvolve o indivíduo. No processo de socialização, entram em causa relações, processos e estruturas que organizam e movimentam, em escala mundial, as novas perspectivas do indivíduo, da individualização, da realização do indivíduo em âmbito que transcende o local, regional e industrial. (IANNI, 1999, p.113).

Responsáveis pela difusão de mensagens recreativas e de informação para as

maiorias, os meios de comunicação de massa em países periféricos como o Brasil, dispõem de

recursos tecnológicos e humanos para gerar com certa autonomia sua produção nacional e

ainda expandi-la internacionalmente. "Contudo, na maioria das sociedades latino-americanas

a dependência se acentua, não tanto em relação à produção global, mas à produção norte-

americana". (CANCLINI, 1999, p. 174).

Além da escola, os meios eletrônicos de comunicação têm sido desde os anos

cinqüenta, a principal via de acesso aos bens culturais. A televisão e, o rádio, em menor

escala priorizam a informação e o entretenimento proveniente dos Estados Unidos. No caso

brasileiro, em termos de rádio um exemplo é a Antena Um, emissora que transmite em rede

nacional e que ao longo de toda a sua programação predominantemente musical, dedica cem

por cento à música norte-americana. Embora a legislação brasileira de radiodifusão

especifique a obrigatoriedade das emissoras instaladas no país dedicarem setenta por cento de

sua programação musical às músicas nacionais, este é um exemplo de total descumprimento a

lei em vigor. O que mais chama a atenção é que não se vê na prática, quaisquer medidas por

parte do agente fiscalizador - ANATEL - que coíbam tal procedimento.

Esse descumprimento da lei não ocorre apenas no que concerne a programação. O

que se constata é que as penalidades previstas em contrato somente são aplicadas em casos

excepcionais ou aberrantes. No Brasil, quase sistematicamente, as transgressões contratuais

são cometidas pelos empresários desses veículos de comunicação.

Por força de contrato, eles assumem a responsabilidade junto ao governo, de fomentar a cultura, a educação e o bem-estar social. Se eventualmente, eles violarem ou ferirem esses princípios básicos correrão o risco de perder a concessão. A rigor, nesse caso, o Estado exerce o papel e fiscal daquilo que está sendo veiculado. Agora, no fundo, nenhum dos dois cumprem efetivamente o acordo assinado. As estações veiculam o que bem entendem sem se preocuparem com a educação, a cultura e o bem-estar social e o Estado permanece omisso. (CALDAS, 1991, p. 64-65).

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Nesse processo de mais valia, é possível perceber o jogo de interesses que está por

detrás dele. Os Estados Unidos, por exemplo, reclamam para que suas mensagens sejam

veiculadas livremente em países estrangeiros. Mas parecem ignorar que no seu próprio país, a

cláusula 301 da Lei de Comércio, faz restrições aos produtos culturais produzidos em outros

países. “As rádios e televisões americanas não só cedem seu espaço quase inteiramente ao

que é feito nos EUA, mas também desqualificam o importado através de anúncios: 'Por que

comprar músicas que vocês não entendem'?" (CANCLINI, 1999, p. 181).

Mais uma vez é necessário refletir sobre o que Ianni escreve sobre globalização

enquanto fenômeno que deve ser absorvido independente das diferenças existentes entre as

inúmeras culturas nacionais.

A globalização não apaga nem as desigualdades nem as contradições que constituem uma parte importante do tecido da vida social nacional e mundial. Ao contrário, desenvolve umas e outras, recriando-se em outros níveis, com novos ingredientes. As mesmas condições que alimentam a interdependência e a integração alimentam as desigualdades e contradições, em âmbito tribal, regional, nacional, continental e global. (IANNI, 1999, p.127).

Percebe-se que a grande maioria dos meios de comunicação de massa, portanto,

estão a serviço de uma grande indústria: a indústria do consumo seja ela de bens duráveis ou

de bens culturais. Cada vez mais nos afastamos dos centros históricos de nossas cidades, bem

como dos centros urbanos de convivência com características locais para nos aproximarmos

de modernos centros comerciais que se igualam em todo o mundo. Estabelece-se uma grande

diferença favorável aos produtos de países desenvolvidos em relação aos de países periféricos.

Nessa relação as mensagens culturais provenientes de nações desenvolvidas se impõem

economicamente sobre a de nações em desenvolvimento ou sub desenvolvidas.

1.4.1 O controle da informação

Quando os meios de comunicação de massa emergiram no século XX o controle da

informação passou a ser visto como essencial pelos totalitários ou novos praticantes da

soberania nacional. Todos, incluindo nesse rol, Lênin, Mussolini, Stalin e Hitler, tentaram

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exercer controle total sobre a informação. “Nos países democráticos control ar a informação

passou a ser a arte básica dos políticos e da política” . (DRUCKER, 1999, p.132-133).

O controle da informação nas sociedades modernas começa a partir do momento em

que os governos tomaram para si a responsabilidade e os direitos sobre a radiodifusão. O

rádio inicialmente, e depois a televisão, ao se constituírem nos meios eletrônicos de

comunicação de massa com maior penetração junto ao público despertaram a atenção de que

ambos deveriam permanecer sob às orientações e o olhar fiscalizador do Estado. Dessa forma,

é assim que em países com regimes socialistas a tendência é a de que as empresas

proprietárias desses veículos sejam estatais, enquanto nos países de regime capitalistas, estas

empresas podem ser estatais ou privadas. Mas, nos dois casos, o que prevalece é o direito do

Estado sobre as concessões. É assim que ambos, tanto o rádio quanto a televisão, sob a tutela

do Estado, estão sujeitos às políticas públicas e as normas econômicas vigentes em seus

respectivos territórios. Daí a ingerência do primeiro sobre o segundo.

Difícil conceber dessa maneira, quer nos regimes capitalistas, quer nos regimes

socialistas, a existência pelo menos por enquanto, de veículos eletrônicos de comunicação de

massa e, de forma mais específica, aos pertencentes as grandes corporações, capazes de

exprimirem de forma livre e isenta, mensagens que não expressem a opinião dos interesses

nacionais ou da maioria detentora do poder. O olhar do Estado está atento para intervir no

primeiro momento em que sentir sua segurança ameaçada.

Em muitos países e já houve casos em que as mídias voltaram-se contra seus

governantes, mas não contra o Estado-Nação. Para exemplificar, tomemos o caso brasileiro

mais recente em que o rádio e a televisão, bem como a imprensa em geral, tiveram papel

fundamental no afastamento pelo congresso do ex-presidente Fernando Collor de Mello,

ocorrido em 1992, apenas 19 meses após ser eleito pelo voto popular. Nesse caso a mesma

mídia que contribuiu significativamente para a sua eleição, contribuiu igualmente para sua

destituição, uma vez que ali estavam em jogo interesses de outros grupos sedimentados dentro

do processo político nacional.

Mas para contrapor a esse quadro são importantes as considerações de Drucker

(1999, p. 133), para quem grandes e rápidas mudanças estão ocorrendo. Segundo ele, a

informação hoje é tão transnacional quanto o dinheiro. A novas tecnologias que possibilitaram

a criação de grandes redes mundiais de comunicação, derrubaram as fronteiras nacionais de

informação. Cada vez mais haverá satélites transmitindo e minúsculos receptores captando

informação de qualquer parte do planeta caracterizando cada vez mais a informação como

transnacional e fora do controle de qualquer país.

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Drucker (1999, p. 133-134) afirma que:

A tecnologia moderna dá ao indivíduo meios para frustrar controles totalitários da informação. [...] A partir do momento em que as pessoas têm computadores pessoais, máquinas de fax, telefones, copiadoras e gravadores de vídeo em suas casas (sem falar nos receptores de TV que podem receber mensagens de qualquer satélite), não há como restabelecer o controle da informação.

Embora os governos possam controlar os noticiários, esses por sua vez são uma parte

cada vez mais diminuta da informação. Tanto um capítulo de novela de 30 minutos, quanto

um comercial de 30 segundos podem ter muito mais informação do que um noticiário que

pode estar sujeito a um cuidado de controle muito mais rigoroso. Além disso, as rádios

comunitárias em maior número, e as TVs a cabo, se proliferam por toda a parte com

programações locais e específicas dificultando a ação fiscalizadora governamental quanto aos

seus conteúdos. E, nesse sentido, as rádios comunitárias passam a ocupar os espaços

periféricos em que as demandas de informação são condizentes e entrelaçadas às suas próprias

realidades.

Se isso é negativo para os Estados totalitários, ou para os que querem impor sua

hegemonia político financeira sobre outros Estados, é positivo para os regimes

verdadeiramente democráticos, na medida em que possibilita a abertura para todos os tipos de

informação, cuja análise posterior, poderá se dar à luz do debate público.

Da mesma forma a realidade atual de ocupação desses espaços midiáticos, por meios

relativamente mais alternativos tendem a se expandir, não somente em redes internacionais,

nacionais ou interestaduais contextualizadas dentro do globo terrestre, mas também para um

público cada vez mais próximo de sua realidade, situado em espaços geográficos

caracterizados como os espaços de vizinhança onde há uma interpelação mais propícia à

convivência social. A hipótese que se caracteriza como resultado é a proliferação e

surgimento de conteúdos de programação diferentes dos propalados pela indústria cultural,

uma vez que agora se vislumbra o comprometimento pelo menos em tese com a divulgação

do que é específico e do que interessa ao grupo e locais específicos. Mas é deduzível também

que a indústria cultural não se acomodará alçando vôos cada vez mais distantes e

transnacionalizados, a exemplo do que já ocorre hoje. Por tudo isso, o controle da informação

por parte dos governantes, se torna para eles uma missão cada vez mais difícil, embora não

impossível nem refutável.

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1.4.2 Programação

Independente dos regimes políticos a que estão sujeitos, sejam eles totalitários ou

não, os meios de comunicação são o reflexo da ação comportamental dos seres humanos. Suas

mensagens são resultantes dessa ação desenvolvida nos meios pelos media, cujo papel é o de

mediação entre a realidade e as pessoas. Não é a realidade que eles nos entregam, mas a sua

leitura ou construção da realidade. Da enorme quantidade de fatos e situações contidos na

realidade somente alguns são selecionados pelos meios e decodificados à sua luz. Esses os

combinam entre si, os redecodificam em formas de mensagens e programas, difundindo-os

posteriormente impregnados de ideologia, estilos e intenções que os meios lhes imputam

(BORDENAVE, 1995, p. 73).

Esse processo se dá através da programação e para a qual, Rabaça (1995), enumera

dois tipos utilizados pelas emissoras de rádio. A programação em mosaico, que oferece

variedade ao público ouvinte e a programação linear a qual disponibiliza um único tipo de

oferta ou serviço. Ou seja, as emissoras de rádio podem ter suas programações direcionadas

ao público em geral, ou a públicos específicos, segmentados.

É ainda a respeito das características de programação, que o ex-senador, jornalista e

radialista Artur da Távola publica tabela em que qualifica as emissoras de radiodifusão sonora

em: Rádio de Alta Estimulação e Rádio de Baixa Estimulação, as quais sinalizam para as duas

tendências claras à procura de se expandirem por meio da especialização. (ORTRIWANO,

1985, p. 20)

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QUADRO 2: Rádio de Alta Estimulação e Rádio de Baixa Estimulação

Rádio de Alta Estimulação

Rádio de Baixa Estimulação

1. é mobilizador 1. desmobilizante; é um rádio de lazer

2. uso de estímulos sonoros permanentes 2. baixo uso de estímulos sonoros, pois opera justamente sobre quem quer se desligar da intensa participação na sociedade moderna

3. caráter de urgência: aqui e agora, o fato e a notícia. 3. é menos urgente

4. muito serviço e esporte 4. pouca atividade de serviço

5. proximidade da comunidade 5. uso de uma fala ainda elaborada e distante do colóquio

6. comunicadores individualizados (em geral disc-jóqueis famosos)

6. comunicadores não individualizados; raramente se conhece o nome e a vida de seus locutores

7. tem elenco e produtores 7. radiojornalismo generalizante com notícias em forma de pequenas manchetes

8. humor e descontração 8. quase nunca personaliza seu ouvinte, salvo em escolhas de discos em moda e telefone

9. sempre que pode, personaliza o ouvinte. 9. a participação vem através da música contemporânea e seus principais temas em voga

10. trabalha permanentemente com análises de audiência

10. promove uma sensação de status para seus ouvintes

11. estimula o sentimento de solidariedade e participação nos principais acontecimentos da comunidade

11. seriedade e distanciamento

12. proximidade da cultura popular 12. tende para a cultura de classe média e de base estrangeira

Fonte: TÁVOLA, Artur da. Um veículo forte à espera de programas criativos. In: Cadernos de Jornalismo. 2ª. ed., Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, n.º 1, [s.d], p. 16.

Enquanto o primeiro tende para a fala, o segundo tende para a música. “Essas

tendências, também chamadas de rádio de mobilização e rádio de relaxamento (ou

desmobilização), representam uma linha geral demarcatória do rádio contemporâneo”.

(ORTRIWANO, 1985, p. 30).

De qualquer maneira, a visualização de um mundo real ou da realidade dos fatos é

resultante da narração que os meios de comunicação disponibilizam à sociedade através de

suas respectivas grades de programação. Nulo se tornará o protesto individual diante do reino

absoluto da realidade ou irrealidade do que eles nos apregoam.

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A dimensão fundamental da reprodução da realidade pela mídia não reside nem em seu caráter instrumental, como extensão dos sentidos e da experiência, nem em sua capacidade manipulatória, como fator condicionador da consciência, mas sim em seu valor ontológico, como princípio gerador do real. Reagimos a seus estímulos com maior intensidade do que diante da realidade da experiência imediata. Um acontecimento causal: escândalos, crimes ou uma palavra de ordem política. Ao reproduzi-lo como imagem midial, se converte num acontecimento universal. Não importa quão insignificantes possam ser suas características particulares. Um acidente casual ou o sorriso de um presidente adquirem as conotações metafísicas de uma qualidade essencial, assim que se produzem em imagens da mídia, e, na fictícia grandeza além de toda a escala humana de sua real intranscendência, podem apaziguar conflitos, organizar guerras e transformar decisivamente o mundo. Inversamente um fato de vital importância se perde na noite do nada e do inconsciente na medida em que não é produzido como espetáculo do mundo. (SUBIRATS, 1989, p. 73-74).

Adverte ainda o autor que os veículos de comunicação de massa além de serem os

instrumentos da realização postiça ou performática do real, são instrumentos da sua

experiência e elaboração subjetivas, tanto num sentido intelectual, como emocional ou

político-social. Seu extraordinário poder não está só na reprodução e organização metafísica

do mundo, na multiplicação do real, mas também em sua capacidade de ultrapassar tanto a

experiência individual da realidade, quanto as formas de interação relativamente imediatas da sociedade liberal, do parlamento democrático até a praça pública e a própria conversação privada ou familiar. O que se supõe um avanço decisivo em relação à teoria clássica dos meios de comunicação de massa como meios de manipulação individual. (IBIDEM, p. 86).

Há quatro décadas, os meios eletrônicos de comunicação se apropriaram da cena

pública, transformando-se nos principais formadores do imaginário coletivo. Observa-se no

contexto das empresas de comunicação de massa uma atraente diversificação de interesses

que induzem os meios a propiciarem espaços de liberdade aos produtores culturais e a seus

conceitos estética e ideologicamente progressistas sob o perigo de comprometer a qualidade e

o potencial mercadológico de seus produtos. A grandeza desse raio de autonomia,

mostra-se, entretanto, mutante e vulnerável, dependendo das negociações ideológicas e financeiras típicas das relações de produção da indústria cultural. [...] As mensagens divulgadas pela mídia resultam de um campo de tensões triangular, em cujos vértices encontram-se as visões de mundo dos produtores culturais, a demanda do público e os interesses dos proprietários dos meios (COSTA 2002, p.72).

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A esse respeito, Blanco (apud Bordenave, 1995, p. 74) lembra que a "seleção dos

fatos constitui uma espécie de filtro no qual intervém não só a personalidade do jornalista,

mas as instituições às quais pertencem os meios por ele utilizados”.

Se isso ocorre com os produtores culturais, a realidade não seria outra senão àquela

em que os meios exercem influência direta junto a esses produtores com reflexos diretos

naquilo que está sendo direcionado a seus públicos. O poder do monopólio delineia a

identidade generalista da Cultura de Massa. Esse é um traço que seus dirigentes sequer se

interessam em encobri-lo, afinal, quanto mais abruptamente se confessa ao público, mais se

fortalece. Veículos de comunicação de massa como o cinema e o rádio conforme Adorno

(1955, p. 114),

não necessitam mais se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos.

A "ilusão referencial" nos faz acreditar que tudo o que lemos, ouvimos e vemos na

tela é a realidade quando na verdade é apenas a sua construção. Isso, contudo, não significa

dizer, que os meios deturpem a realidade intencionalmente. O que ocorre é a impossibilidade

de evitar a reconstrução seletiva da realidade devido a impraticabilidade material de abrangê-

la em sua totalidade para comunicá-la. Isso se explica ainda, pelas próprias características

tecnológicas dos meios que ao se depararem com espaço, tempo, cortes de edição, planos,

efeitos de luz e som entre outros, remetem as mensagens, a um verdadeiro "código do meio"

que traduz a realidade e a transmite (BORDENAVE, 1995, p. 74).

Ao mesmo tempo em que esta capacidade de construir a realidade é uma qualidade

positiva dos meios quanto extensão do homem, uma vez que permite ao receptor alargar a sua

visão de mundo, constitui também um perigo porque permite aos meios oferecer uma visão

tendenciosa. Daí, a importância de se realizar uma leitura crítica dos meios, por não serem

esses, os "donos da verdade" (IBIDEM).

Afinal junto a essa capacidade de oferecer uma visão tendenciosa da realidade até

como uma possível imposição ideológica, “pode estar implícito o fato de que a violência

baseia sua validade na máxima, em que parece inspirar-se a ação política, de que os fins

justificam os meios" (BOBBIO, 1999, p. 110).

Os meios de comunicação de massa, em especial o rádio e a televisão, moldam o

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conteúdo de suas programações a serviço da indústria cultural. Essa é uma evidência que se

observa nos grandes veículos, principalmente naqueles que compartilham, no caso brasileiro,

de redes nacionais. Com a nítida função de buscar lucratividade e espaços de audiência junto

a seus públicos, se utilizam de conteúdos descartáveis, ligados a modismos passageiros e até

ao grotesco.

"É que, como diz Luiz Augusto Milanesi, em o Paraíso Via Embratel, entre nós a

indústria cultural instalou-se não propriamente eliminando a cultura popular, mas sobrepondo-

se a ela, permeando-a - e a cultura popular no Brasil (mas não só aqui) é freqüentemente

tecida sobre o grotesco, o chulo, o cafagéstico". (COELHO, 1995, p. 82)

O que preocupa é a facilidade com que o grande público assimila esses conteúdos,

muito embora esse público tenha a seu alcance, rádios e televisões, nesse caso, as de caráter

educativo as quais fogem a esse padrão. Há que se considerar, contudo, que as emissoras

educativas por serem em número reduzido, em relação às emissoras comerciais, têm reduzidas

as possibilidades de levarem seus sinais a um maior e diversificado número de pontos, sendo

esse, um dos fatores primordiais para consolidação da audiência.

1.4.3 O espaço público

Nem sob as ordens do Estado nem desagregada na sociedade civil, a esfera pública

reconstitui-se ao mesmo tempo na tensão entre ambos. Assim, na conceituação de Habermas

e Bakhtin,

A esfera pública é 'um campo de tradições em concorrência', 'um espaço de heteroglossia', em que 'certos significados e tradições são fortalecidos' (o papel do Estado) 'mas, neste processo, novas formas podem colocar diferentes significados ou ênfases aos mesmos conceitos' (o papel da sociedade civil), evitando-se deste modo os riscos de centralização e autoritarismo. (apud CANCLINI, 1999, p. 277).

Os avanços tecnológicos, ou a expansão das chamadas novas tecnologias, quer no

aspecto de transmissão ou recepção de som e imagem, bem como na difusão ao acesso à

mídia eletrônica interativa como a Internet, por exemplo, foi recebida positivamente pelos

movimentos sociais e pela maioria dos cientistas sociais defensores da democratização. Estes

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avanços propiciaram a muitas organizações civis, anteriormente à margem do processo, a

ocupação de espaços na mídia eletrônica, por meio dos canais comunitários de rádio e

televisão. Por outro lado as redes informatizadas de comunicação, permitem a troca de

informações de forma ágil e econômica, ao mesmo tempo em que possibilitam a criação de

fóruns de discussão de temas que comumente não são debatidos através dos meios

tradicionais de comunicação de massa (COSTA, 2002).

No caso brasileiro, durante o regime militar, surgiram organizações especializadas

na divulgação de informações sobre temas sociais específicos com tratamento e interpretações

diferentes das versões oficiais. A Igreja Católica apoiou a colheu entre eles, "o projeto

'Tortura Nunca Mais' e suas atividades na promoção de grupos de trabalho como o Conselho

Indigenista Missionário (CIMI), constituído em 1972, e a Comissão Pastoral da Terra (CPT),

fundada em 1975". (COSTA, 2002, p. 74).

Foi através do "Tortura Nunca Mais", que ao denunciar os crimes cometidos pelo

regime militar às comunidades indígenas e aos agricultores em disputas fundiárias, que

começou a ser dirigida a atenção pública a regiões, grupos sociais e campos de conflito até

então ignorados pela sociedade. No mesmo processo surgem entidades como o Departamento

Intersindical de Estudos Sociais e Estatísticas Sociais e Econômicas (DIEESE) ou o Instituto

Brasileiro de Análise Social e Econômica (IBASE), as quais produzem informações

alternativas às fontes oficiais e que por isso ganham prestígio durante o processo de

democratização (COSTA, 2002).

Paralelamente, nos contextos locais, surgem as organizações não-governamentais

com igual relevância para a construção de um espaço público crítico, da mesma forma com

que surgiram as entidades de abrangência nacional, como as que acabamos de citar. Com

análises e pontos de vista não oficiais, essas entidades recuperam informações que teriam

permanecido obscurecidas, servindo de subsídio à grande mídia na contraposição às

informações oficiais (IBIDEM).

É nesse conjunto que surgem novos atores coletivos, os quais se tornam porta-vozes

públicos dessas organizações e para quem são transferidas partes da reputação e credibilidade

por elas alcançadas. São esses atores que introduzem novos temas na agenda política porque

suas declarações passam a ser colhidas e divulgadas pela imprensa, o que os torna

representantes de um valor noticioso (IBIDEM).

Costa (2002, p. 77), revela que "a emergência de novos atores coletivos, representa,

genericamente, o alargamento das fronteiras temáticas do espaço público, pois eles fazem

com que as atenções públicas se voltem para novas situações problema, trazendo ainda formas

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de percepção - e, eventualmente, soluções - inéditas para problemas previamente detectados".

Segundo ele, o surgimento de certos movimentos sociais dá origem a discussões de temas até

então não observados ou problematizados como de relevância social. A tematização pública

desses problemas tem, na maioria das vezes, originado pronta intervenção política, como

foram os casos, do movimento de mulheres, do movimento negro, do movimento

ambientalista/ecologista e do Movimento dos Sem Terra. Há que se considerar, contudo, que

esses movimentos tem característica dinâmica cíclica, razão pela qual, apresentam padrões

alternativos de organização em rápidos momentos de suas existências.

Mas é nos espaços comunicativos primários que se estabelecem a interlocução entre

pessoas, que por meio de encontros causais, no elevador, no supermercado ou na lanchonete,

por exemplo, dão origem a abertura e a sensibilidade para o encontro social. É nesse espaço

que tem lugar "o intercâmbio regular e sistemático de informações e impressões, favorecendo

um processo de formação de opinião pública paralelo àquele dirigido pelos meios de

comunicação de massa" (COSTA, 2002, p. 78).

Os movimentos sociais que brotaram em meados da década de 70, tiveram origem

nos espaços locais de moradia. "Nos pequenos espaços públicos surgidos no nível do local de

moradia as mensagens veiculadas pela mídia são (re)significadas, vindo à tona novas

interpretações e representações da realidade". Chama atenção para o fato de que "estes

espaços comunicativos constituem estruturas de resistência que persistiram mesmo durante o

regime militar, quando outras formas de organização e manifestação públicas (imprensa livre,

organizações civis etc.) estiveram controladas e restringidas". (COSTA, 2002, p. 78).

Costa (2002) ainda nos anos 80, adverte para os riscos que esses espaços

comunicativos estavam sujeitos devido ao desordenado crescimento urbano. Mas alertava

também, para a capacidade de sobrevivência que tais espaços apresentavam devido ao

ressurgimento permanente no meio urbano. Também sobre o crescimento desordenado do

espaço urbano, principalmente nos grandes centros, Canclini, entende que a "tendência das

cidades é se expandirem em populações periféricas e desconectadas, razão pela qual o rádio e

a televisão, melhores distribuídos no espaço urbano, tendem a difundir com mais facilidade a

informação e o entretenimento a todos os setores". (CANCLINI, 1999, p. 101-102).

Nesse sentido pondera que:

O desequilíbrio gerado pela urbanização irracional e especulativa é 'compensado' pela eficácia comunicativa das redes tecnológicas. [...] Atualmente, são estes meios que, com sua lógica vertical e anônima, diagramam os novos vínculos invisíveis da cidade. (IBIDEM, p. 102).

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As transformações recentes da sociedade brasileira indicam a formação de uma

esfera pública democrática. Costa (2002, p. 79) revela que "a esfera pública brasileira cada

vez mais se consolida como um sistema intermediário capaz de absorver e processar temas e

opiniões dos segmentos sociais e culturais diversos, transmitindo aos cidadãos e ao sistema

político os conteúdos informacionais processados".

Conclui que:

Conforme a teoria comunicativa da democracia, verifica-se que a esfera pública no Brasil se mostra crescentemente capacitada para atuar como caixa de ressonância através da qual os fluxos comunicativos gestados nas relações cotidianas chegam até as instâncias de deliberação próprias ao regime democrático, influenciando os processos decisórios que têm lugar nesse nível. O surgimento de meios de comunicação 'críticos', a expansão da sociedade civil e a preservação de espaços públicos primários, dentro dos quais se observa um processo 'alternativo' de formação de opinião, representam evidências de que as situações-problema captadas e condensadas no mundo da vida são de fato levadas à órbita pública. (COSTA, 2002, p. 80).

Segundo Fernandes, no Brasil, em se tratando de meios de informação, é possível

observar o predomínio da influência da teoria crítica nos trabalhos dos estudiosos da

comunicação e da sociologia o que caracteriza a preocupação com a possível manipulação das

massas frente ao domínio ideológico e econômico da classe dominante. Assim, no contexto

brasileiro, "a teoria mais presente nos trabalhos teóricos é aquela que considera os meios de

comunicação de massa como fonte de um espaço público de acesso restrito e dominado pela

mesma elite detentora do poder político e econômico" (FERNANDES, 1998, p. 39)

Porém, adverte a autora, que depois de analisar detidamente os meios de

comunicação, pode-se perceber que os campos constitutivos do espaço público oriundo da

ambivalência dos meios de comunicação trazem consigo "a potencialidade de um espaço de

aparição de questões públicas que vão além de uma relação de dominação e manipulação

refletindo a tensão triangular e que envolve produtores culturais, demandas de público e

interesses de proprietários dos meios". (IBIDEM, p.52).

Não há como negar que os avanços tecnológicos propiciaram aos meios de

comunicação ampla capacidade de expansão. Com isso, surgem ao lado dos grandes veículos,

meios alternativos resultantes de aspirações e lutas pela democratização das mídias. As

classes subalternas, antes a mercê da postura unilateral com que os veículos faziam chegar até

elas suas mensagens em grande parte portadoras de interesses econômicos, políticos e

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culturais, passam a visualizar espaços de comunicação até então inacessíveis. O espaço

público até então disponível às elites se transforma em espaço comum, em que as mensagens

passam a ganhar um caráter bilateral. Mas, há muito por fazer a fim de que a verdadeira

democratização das mensagens seja uma prática prevalecente junto aos meios.

A Era da Eletricidade ao final do século XIX e a Era da Eletrônica a partir da 3ª

década do século XX (Coelho, 1995) tornam o poder de penetração dos meios de

comunicação praticamente irrefreável. Surge a cultura de massa ligada ao fenômeno do

consumo onde o capitalismo não mais dito liberal, mas capitalismo de organização ou

monopolista o qual cria condições efetivas para uma sociedade de consumo alicerçada em

veículos como a TV. numa primeira instância, no primeiro mundo, mas criando condições

efetivas se instala no segundo (países socialistas) e no terceiro (os subdesenvolvidos).

Por isso presume-se exeqüível, que graças as multinacionais da cultura o mundo

inteiro adote valores, e ideologia idênticos, com tendência a difusão principalmente pela TV

a mesma estrutura de pensamento, um mesmo comportamento, originados em um único ou

em poucos centros de decisão. "O próprio Marx já havia previsto que graças ao

desenvolvimento da tecnologia, as culturas nacionais acabariam por apresentar um número

cada vez maior de traços em comum, a caminho de uma eventual cultura universal"

(COELHO, 1995, p. 48).

Segundo ele, a arte de discutir ou argumentar entre os valores nacionais e

estrangeiros não pode e sequer deve ser evitada atualmente. O que é preciso entender são as

contradições que se estabelece dentro dessa lógica entre opostos onde ambos são

neutralizados rumo a um novo, sem que haja primazia de um sobre o outro.

O progresso nas artes, nas ciências, nos costumes, nas técnicas de uma sociedade,

impulsiona um padrão cultural sem que isso signifique sua uniformização. Por maiores que

forem as influências de outras culturas cada uma delas guardará em si, sua matiz. Mesmo que

sua extensão envolva outras manifestações sua especificidade permanecerá, apesar do mapa

da soberania mundial esboçar a existência de "espaços difusores de cultura (em particular os

Estados Unidos) e locais periféricos, sujeitos às suas influências". (ORTIZ, 1994, p. 94) .

A esse respeito, Murilo Cesar Ramos em seu ensaio, TV por assinatura: segunda

onda de globalização da televisão brasileira, explica que sua intenção é "problematizar os

desafios de ocupação dos novos, e cada vez mais múltiplos, canais de comunicações com

conteúdos que, num cenário mundial de globalização, não percam suas ligações culturais com

a nacionalidade". (MORAES, 1997, p. 136).

Todos esses novos fluxos de informação, canais de comunicação, satélites, Internet,

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ao propiciarem maior liberdade na circulação de pessoas, bens de consumo e mensagens nos

afastam cada vez mais e em maior escala de nossa identidade que já não se identifica mais

com a comunidade nacional. Atualmente, mesmo em vastos setores populares a identidade

fala várias línguas, pertence a muitas etnias, desloca-se de um país para outro, constituindo-se

na mistura de elementos de diversas culturas. De qualquer maneira mesmo a estimulante

integração e concorrência não vão acabar com as necessidades locais frente à globalização.

È nessa perspectiva de manutenção e atendimento às necessidades locais que as

emissoras educativas, e aqui se inclui a Univali Fm, se inserem no contexto das poucas

emissoras de radiodifusão comprometidas a sustentar uma programação não inclusa nos

padrões massificados de cultura e consumo. É que essas emissoras tem objetivos e propostas

distintas das de caráter comercial, quer por seu caráter educativo quer pelo compromisso

assumido para com o público de sua área de abrangência.

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CAPÍTULO II

O RÁDIO NO BRASIL

2.1 O Invento, o Conceito e a História

Entre os veículos eletrônicos de comunicação de massa, o rádio é pioneiro no

sentido de levar mensagens além mar. Foi através dele que inicialmente foi possível sintonizar

emissoras de continentes distantes e diferentes. Exerceu por isso forte influência nas

mudanças de comportamentos e na propagação de culturas diversificadas. Para melhor

compreensão do veículo, procuramos nesse capítulo, conceituá-lo historicamente, realizando

uma breve abordagem por questões que buscam apontar sua tendência, e de como a

legislação e políticas de comunicação que regem o setor, no caso brasileiro.

Há quatro décadas, os meios eletrônicos de comunicação se apropriaram da cena

pública, transformando-se nos principais formadores do imaginário coletivo. Contudo, entre

eles, desde a sua invenção o rádio passou a exercer fascínio e a influenciar comportamentos.

Tendo como objetivo lógico a conquista da audiência, incorporou em sua grade de

programação os mais diversos tipos de programas, com destaque para música, notícias,

entrevistas, debates, cursos, informações de utilidade pública, novelas, programas

humorísticos, narrações de eventos esportivos e sociais. Entre os conceitos de rádio está o de

Rabaça (1995, p. 491), que o define como:

[...] veículo de radiodifusão sonora que transmite programas de entretenimento, educação e informação. [...] Serviço prestado mediante concessão do Estado, que o considera de interesse nacional, e deve operar dentro de regras preestabelecidas em leis, regulamentos e normas.

Roquette-Pinto, fundador da primeira emissora de radiodifusão sonora do Brasil

define o rádio como "o jornal de quem não sabe ler; o mestre de quem não pode ir à escola; o

divertimento gratuito do pobre; o animador das novas esperanças; o consolador dos

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enfermos; o guia dos sãos, desde que o realizem com espírito altruísta e elevado"

(TAVARES, 1997, p. 8).

Segundo Rabaça (1995), dependendo da localização, da potência e da freqüência da

transmissão, bem como da direcionalidade dada a antena, a cobertura de uma emissora pode

ser local, estadual, regional ou até internacional. Rabaça esclarece que em relação ao sistema

de transmissão, existem emissoras em FM (freqüência modulada) as quais operam na faixa de

88 a 108 MHz) e emissoras em AM (amplitude modulada) que operam em OM (ondas

médias, faixa de 550 a 1600 kHz) ou em OC (ondas curtas, faixa 6 a 26 MHz). Há ainda

emissoras que operam em AM na faixa de 2,3 a 5,06 MHz e que são chamadas de OT (ondas

tropicais).

Quanto à característica de programação das emissoras de rádio, ainda de acordo com

Rabaça (1995), existem dois tipos: a programação em mosaico, adotada por emissoras que

oferecem variedade ao público ouvinte e a programação linear que oferece, basicamente, um

tipo de oferta ou serviço, como por exemplo, música clássica ou popular, hora certa,

evangelização etc. Cada emissora de rádio, pode ainda ter a totalidade ou parte de sua

programação voltada para o público em geral ou para segmentos específicos, levando em

conta interesses profissionais, locais de residência, classe social, faixa etária, sexo e religião,

entre outros. É nessa direção que a professora, Maria Cristina Leal1, ao realizar uma

abordagem sociológica em seu artigo sobre a radioeducação como instrumento da

modernidade no Brasil, dos anos 20 aos 50; identifica o rádio "como um instrumento da

cultura moderna que se caracteriza pela difusão generalizada de bens simbólicos através de

nova forma de interação social que atinge grandes audiências e supera distâncias espaço-

temporal". (INTERNET, site <www.moderna.com.br>).

É essa variedade de ofertas que proporciona ao rádio a flexibilidade de interagir com

públicos heterogêneos, o que lhe confere elevado grau de popularização. O rádio difundiu a

voz humana através dos continentes, fazendo-a chegar aos lares mais humildes e aos pontos

mais isolados. Uma das facilidades que o rádio oferece ao seu público é o fato de poder ser

sintonizado com ou sem eletricidade, em qualquer lugar, a qualquer hora e a todo momento.

O rádio está na cabeceira do Presidente da República, em forma de rádio-relógio, como também está pendurado no ramo adjacente do pé de café do lavrador humilde e analfabeto, em forma de rádio de pilha; está no leito do enfermo e no carro que leva o cirurgião para a primeira operação do dia [...]. (TAVARES, 1997, p. IV).

1 Maria Cristina Leal é professora de Sociologia da Educação da ESSE/UFF.

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Segundo levantamento da UNESCO realizado em 1983 em que mostra a evolução

dos meios de informação no mundo em relação a 1970, (Caldas, 1986), nas chamadas regiões

subdesenvolvidas como América Latina (onde se inclui o Brasil), Oriente Médio, Sudeste

Asiático e todo o continente africano, o rádio constitui-se no principal veículo de

comunicação. Há que se considerar que de lá pra cá em se tratando da evolução dos meios de

informação e até mesmo de evolução sócio-econômica de países e regiões citadas, já se

passaram mais de três décadas, mas os dados servem de referência quanto a importância do

rádio, mesmo depois do advento da televisão.

Nesse sentido Ortiwano (1985, p. 78), revela que:

entre os meios de comunicação de massa, o rádio é, sem dúvida, o mais popular e o de maior alcance público, não só no Brasil como em todo o mundo, constituindo-se, muitas vezes, no único a levar informação para populações de vastas regiões que não têm acesso a outros meios, seja por motivos geográficos, econômicos ou culturais.

Pesquisa realizada pela IPSOS/MARPLAN no primeiro semestre de 2001, em nove

estados brasileiros mais populosos, constata que 88% da população ouve rádio AM/FM pelo

menos uma vez por semana (http//planeta.terra.com.br/sarmentocampos/História.htm).

No plano estadual, para reforçar esse conceito de popularização do rádio quanto

veículo de comunicação de massa, nos reportamos aos números do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), Censo Demográfico 1980/1991 - os quais revelam que ainda

em 1980, existia em Santa Catarina, mais aparelhos de rádio do que aparelhos televisivos. De

acordo com os dados, havia 644.060 domicílios com aparelhos de rádio no Estado, dos quais

36.301 eram da capital. Nessa época, o número de domicílios com aparelhos de TV era de

452.131 no Estado e 31.442 em Florianópolis. (FERNANDES, 1998).

Os números revelam que a realidade catarinense se compara à realidade brasileira.

No caso rádio há um crescimento expressivo do número absoluto e relativo de domicílios com rádio ao longo das décadas de 70/90. Na década de 70 havia 10.386.763 domicílios com rádio, em 1980 este número passa para 29.993.272 e finalmente em 1995 este número alcança 35.000.000 domicílios. (FERNANDES, 1998, p. 64).

Contata-se que desde o seu surgimento, o rádio tem se constituído num dos

principais meios de comunicação de massa. De baixo custo, o aparelho que permite sua

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recepção é acessível à praticamente todas as camadas da população. Sua amplitude ultrapassa

fronteira, e sua recepção alcança a grandes massas populacionais espalhadas por todos os

continentes. Mesmo com o advento de novas tecnologias de comunicação, o rádio permanece

ocupando lugar de destaque entre os veículos de maior popularidade, perdendo atualmente

apenas para a televisão.

Teorias e experiências de diferentes cientistas contribuíram para levar o italiano

Guglielmo Marconi2, em 1901, ao invento do equipamento rádio, também reivindicado por

outros inventores. Nesse contexto, o padre e cientista brasileiro Roberto Landell de Moura3,

realizou em 1893, a primeira transmissão falada, sem fios, por ondas eletromagnéticas. Sua

experiência praticamente desconhecida em todo o mundo foi realizada na cidade de São

Paulo, quando transmitiu por telegrafia sem fio do alto da Avenida Paulista para o alto de

Santana, numa distância aproximada de oito quilômetros em linha reta. Todos os

equipamentos usados foram inventados pelo próprio Landell de Moura, e cujas patentes foram

registradas no Brasil em 9 de março e 1901. Três anos depois, ele registra nos Estados

Unidos, a patente do Transmissor de Ondas, do telefone e do telégrafo sem fios

(MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 20003, p.1-4).

Mas, foi na década de 20 que historicamente, a radiodifusão se dá em grande escala.

Nos Estados Unidos em novembro de 1920 (Thompson, 1995, p. 242), surge por iniciativa da

Westinghouse, a primeira estação de Rádio comercialmente licenciada, a KDKA. Em 1922, já

existem em quase todo o mundo, estações de rádio com programações regulares. No Brasil,

em 22 de setembro do mesmo ano, ocorre a primeira transmissão oficial por meio do novo

veículo. O presidente da república, Epitácio Pessoa tem seu discurso em comemoração ao

centenário da independência do Brasil, transmitido, via rádio.

A História da radiodifusão sonora brasileira (Pavan, 2001), está diretamente ligada

ao conceito de rádio educativa. Isto porque, criada em 1923, a Rádio Sociedade Rio de

Janeiro foi a primeira emissora de radiodifusão sonora brasileira. Idealizada por Roquette-

Pinto, foi concebida para ser exclusivamente uma emissora de caráter educativo-cultural. Em

1936, Roquette-Pinto a doou ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) com a condição de

2 Guglielmo Marconi (1874-1937) Natural da Bolonha na Itália. Descobriu o emprego de ondas

eletromagnéticas sem a necessidade de fios de transmissão. Registrou uma patente inglesa em 1986 e no ano seguinte estabeleceu o Marconi Wireless and Signal Companhy. Em 1899 conseguiu enviar mensagens através do Canal Inglês. Em 191 enviou os sinais através do Atlântico. (THOMPSON, 1995).

3 O brasileiro, Roberto Landell de Moura (1861-1928) nasceu em Porto Alegre , no Rio Grande do Sul. Em 1893

realizou a primeira transmissão sem fio na cidade de São Paulo, do alto da Avenida Paulista para o alto de Sant’Ana. Foi a primeira radiotransmissão que se tem notícia. (THOMPSON, 1995).

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que mantivesse programas educativos. Mas a partir da década de 30, com o surgimento das

emissoras comerciais, esta característica de rádio educativa começa a ser reduzida

gradativamente.

No Brasil, o primeiro diploma legal sobre radiodifusão foi o Decreto nº 20.047, de

maio de 1931. Ele define o rádio como "serviço de interesse nacional e de finalidade

educativa". A 1º de março de 1932, o Decreto nº 21.111, que regulamenta o anterior autoriza a

veiculação de propaganda pelo rádio, tendo limitado sua manifestação, inicialmente, a 10% da

programação (INTERNET, site <www.mc.gov.br/historico/radiodifusao>).

Mesmo perdendo sua especificidade como veículo de caráter educativo-cultural, nas

décadas de 40 e 50, o rádio cumpriu um papel importante no meio rural, incluindo informação

e divulgação de notícias, que tiraram milhares de pessoas da ignorância dos fatos ( incluindo

os relacionados ao território brasileiro ) integrando-as na atualidade. Outro papel que cumpriu

foi o de influenciar para "melhoria da produção agrícola e prevenção de acidentes climáticos

como geada, tempestades, vendavais etc” (FREDERICO, 1982, p. 74).

Curiosamente, a radiodifusão brasileira se popularizou através da introdução de

mensagens comerciais, a partir da década de 30. Foi através do patrocínio de anunciantes que

surgiram os programas de "variedade", os quais transformaram o rádio em fenômeno social.

Sua influência, ao ditar modas, por exemplo, agiu sobre o comportamento das pessoas.

(IBIDEM).

O rádio nas décadas de 40 e 50 desempenhou o papel de janela para o mundo, ou

seja, o de "um veículo do instantâneo, capaz de entrar em todos os lares, chegando a

comunicar a quantos dispusessem de um aparelho e se dispusessem a ouvi-lo - música,

notícia, informação, venda, opinião, sonho. Principalmente, muito sonho". (SOUZA, 1996, p.

48).

A partir da descoberta e adoção de novas linguagens próprias para o meio, as rádios

passam a inovar. Nesse sentido, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, inovou no gênero

jornalístico, ao implantar o lead radiofônico capaz de criar o impacto inicial através da síntese

das principais informações dos acontecimentos. O sistema linear de paginação do jornal

falado, com o número de linhas necessárias ao preenchimento do tempo, também foi

instituído por ela; "programas partidários, campanhas políticas, resultados dos pleitos, atos

governamentais, pronunciamentos, crises, agitações de rua, campanhas de promoção social,

decisões judiciais, problemas sociais" (Frederico, 1982, p. 76-77), marcaram este novo

momento.

Destaca o autor que ao popularizarem a notícia e ampliarem sua divulgação e

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produtos em termos nacionais, as emissoras, propiciaram a concentração do poder nas mãos

de grandes jornais porque influenciaram no desaparecimento e queda progressiva dos

pequenos jornais, principalmente nas regiões interioranas. Colaborou nesse processo, o

acréscimo e a propagação de emissoras de radiodifusão que transmitindo por meio de cadeias

ou redes provocaram o deslocamento das verbas publicitárias para si, deixando os jornais em

segundo plano.

As Associadas, que logo congregaram mais de 30 jornais e idêntico número de emissoras por todo o País, demonstram a concentração que foi resultando nessa causação circular onde, de um lado extremo, pressionava a notícia radiofônica porque era gratuita e dispensava a necessidade de saber ler. (FREDERICO, 1982, p. 76).

A invenção do rádio além de provocar uma verdadeira revolução tecnológica

acelerou processos de transformações sócio-culturais ao possibilitar o acesso, a troca e a

absorção de informações entre populações de diferentes áreas geográficas. As informações

que num primeiro momento só eram disponibilizadas pelos meios impressos, se popularizam

através do rádio. Se antes, elas eram acessíveis apenas aos alfabetizados, agora elas estavam

disponíveis a todos indistintamente.

É importante assinalar que jornais, televisões e rádios comerciais dependem em suas

totalidades de verbas publicitárias para sobreviverem. Nesse sentido a relação entre meios de

comunicação, iniciativa privada e grupos de poder geram cumplicidades, motivadas por

ingerência econômica e política, o que descaracteriza em muitos casos, o caráter de isenção e

imparcialidade com que as informações devem ser tratadas por esses meios.

Mattos (1996), revela que desde o início dos anos 70, o governo federal em conjunto

com as empresas estatais têm sido os maiores anunciantes a investir em mídia no Brasil.

Apesar das mudanças ocorridas na economia brasileira na última década, destaca que as

verbas governamentais permanecem sendo as maiores fontes publicitárias, isso sem computar

os recursos provenientes de empresas estatais como a Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa

Econômica Federal, todas sempre em grande exposição na mídia paga. Não bastasse o

controle político advindo de sua autonomia sobre as concessões, aparecem aqui os critérios

econômicos, os quais aliados, restringem as ações de independência que devem ser

norteadoras das linhas editoriais dos veículos de comunicação.

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2.1.1 Os meios de comunicação de massa em Santa Catarina

De acordo com Medeiros (1999), a Rádio Clube de Blumenau inaugurada

oficialmente em 19 de março de 1936 foi a primeira emissora de rádio do Estado. Segundo

ele, em Itajaí, a primeira emissora de radiodifusão sonora a se instalar oficialmente na cidade

foi a Rádio Difusora em 26 de outubro de 1942.

Caracterizada por uma estreita ligação com a política partidária, a radiodifusão

catarinense, das décadas de 40 a 70, esteve sob o controle estratégico de dois grupos políticos

da oligarquia local: o Partido Social Democrático (PSD) que tinha no comando a família

Ramos e a União Democrática Nacional (UDN), representados pelos Konder Bornhausen.

Grupos esses, na visão de Del Bianco (1999), concentrados nas mãos de políticos

conservadores, e aos quais estavam ligadas, a grande maioria das emissoras de rádio do

Estado.

A disputa política entre esses dois grupos através dos meios de comunicação começa

a ter fim já a partir de 1965, com a extinção dos dois partidos pelo regime militar. Surge a

Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido do governo e para o qual migram os dois

principais líderes políticos do Estado. Irineu Bornhausen (UDN) e Aderbal Ramos da Silva

(PSD). Dessa forma, já a partir dos anos 70 com a imposição do regime militar, para que o

governante estadual não pertencesse aos dois grupos extintos, inicia-se um processo de

mudança tanto para o poder dos grupos de radiodifusão quanto para a forma de se fazer jornal,

rádio televisão e publicidade em Santa Catarina. Os grupos proprietários dos meios de

comunicação em Santa Catarina, passaram da UDN e PSD para a ARENA, PDS e finalmente

PFL. (FERNANDES, 1998).

De qualquer maneira, o processo de desenvolvimento desses veículos a partir da

década de 60, e, no caso, de forma mais específica, do rádio e jornal, manteve a tradição

histórica de subordinação aos partidos governistas, representantes da oligarquia e com linha

editorial partidária. (IBIDEM).

Nesse período, as emissoras de rádio, imprensa e partidos políticos estabelecem

entre si uma forte aliança. As emissoras de rádio tinham suas programações pautadas pelas

batalhas políticas locais encaminhadas exclusivamente às famílias que representavam a

oligarquia local. "A imprensa, além de seguir este mesmo padrão de seleção das notícias a

serem divulgadas, estava defasada tecnologicamente, pois ainda imprimia-se em composição

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a quente, quando a impressão 'off-set' já era utilizada em outras regiões". (IBIDEM, p.68).

Percebe-se que o modelo de comunicação adotado pelos veículos catarinenses segue

as mesmas regras que regem os demais veículos existentes no país, conforme poderá ser

constatado adiante, no item que trata das concessões, em que prevalecem o poder econômico

e os interesses políticos, ou seja, a política do clientelismo, da troca de favores ou em outras

palavras, a política do "toma lá, dá cá".

2.1.2 Emissoras de freqüência modulada e tendência atual

Quando surgiu, o rádio transmitia seus sinais exclusivamente através do sinal AM -

Amplitude Modulada. Seis décadas após o seu invento é que surgem as emissoras com

transmissão de sinal em freqüência modulada (FM). A Agência Nacional de

Telecomunicações (ANATEL), autarquia especial que herdou do Ministério das

Comunicações, os poderes de outorga, regulamentação e fiscalização dos serviços de

radiodifusão sonora e de imagens, define: FM como Modulação de Freqüência - ou seja, "é o

tipo de modulação que modifica a freqüência da onda portadora”. (ANATEL, 2002).

A Rádio Imprensa do Rio de Janeiro, na década de 60, foi a primeira emissora a

explorar esse serviço. Oferecem de inicio, música ambiente para assinantes. Essa sonorização

varia melodicamente de acordo com o interesse do assinante e o seu ramo de negócio. Ela

passa a ser direcionada ou fornecida a hospitais, e residências (suave); bem como a indústrias

e escritórios (alegre e estimulante).

Depois, já na década de 70 esse tipo de transmissão passaria a operar em canal

aberto, provocando o surgimento de um acentuado número de emissoras FM com

programação exclusivamente musical. A Rádio Difusora de São Paulo foi a primeira emissora

a operar privativamente em freqüência modulada, mas há contestações a respeito, porque em

1958 quando foi fundada a Rádio Eldorado de São Paulo a emissora utilizava a FM para

transmissão só de música, fora da faixa comercial.

Ultimamente as FM são as responsáveis pelas transformações no meio radiofônico.

É que desde o início da década de 50, com o advento da televisão, o rádio sentiu grande

impacto em relação ao novo veículo. Afinal além do áudio, que o rádio disponibilizava ao

público, a televisão trazia outra grande novidade: a imagem em movimento. Característica até

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então, de exclusividade do cinema, estava agora disponível à população, cômoda e

gratuitamente nos mais diversos locais.

O advento da televisão ocasionou um imobilismo exacerbado por parte dos

proprietários, produtores e trabalhadores das emissoras de radiodifusão sonora. Produtores,

músicos e artistas, migraram para o novo veículo, que passava a atrair para si a grande

maioria das verbas publicitárias, verbas essas, responsáveis pela manutenção e sobrevivência

de ambos.

Esse imobilismo provocou inanição e descontentamento no meio radiofônico. A

diminuição das verbas publicitárias que eram praticamente de sua exclusividade provocou

entre outras, diminuição e até paralisação nas produções. Filhos do rádio, os programas de

auditório as radionovelas e os programas humorísticos, a exemplo do que ocorria com os

radialistas, passaram a migrar para a televisão.

Com toda essa transformação, as ebulições características e vividas pelo rádio,

arrefeceram. Foi preciso algum tempo, mais precisamente duas décadas, para que o rádio

assimilasse o impacto que sofrera. Isso aconteceu com o surgimento das emissoras FMs, as

quais sentindo a necessidade de se posicionarem no mercado, buscaram estratégias de

programação para recuperar o público perdido. Com custos de produção inferiores aos das

rádios AMs, e valendo-se das inovações tecnológicas que lhes propiciaram melhor qualidade

na emissão de seus sinais, procuraram através principalmente da segmentação, seguida da

formação de redes, recuperar parte do espaço perdido. Espelhadas nas "novas parceiras" as

AMs então reagem, se adaptando aos novos tempos.

O advento da televisão “na década de 50”, como já o dissemos, causou forte impacto

no setor da radiodifusão com reflexos diretos nas emissoras de rádio. Houve inclusive quem

preconizasse o fim do rádio em virtude dos efeitos devastadores provocados pela televisão

tanto em relação aos índices de audiência, quanto a questão econômica, uma vez que as

verbas publicitárias em sua grande maioria migraram para o novo veículo. O rádio até então

soberano, vivia momentos de estagnação e incertezas. Mas era preciso sobreviver.

A necessidade de tirar as rádios do marasmo em que caíram “ na década de 50”,

trouxe a partir de meados da década de 70 a tendência à especialização. Num primeiro

momento as emissoras passaram a se identificar com determinadas faixas sócio-econômico-

culturais. Posteriormente, com o aumento de potência de emissoras pequenas e o

aparecimento de muitas outras, houve por parte das grandes emissoras a tentativa de ganhar os

diversos segmentos de público com programas diferentes em horários específicos a eles

destinados. Essa é a tendência que mantém em sua grade de programação a Rádio Educativa

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Univali FM. (ANEXO).

A criação da Sociedade Central do Rádio em 18 de julho de 1970, surgiu da

necessidade visualizada por algumas emissoras de São Paulo, de se unir na ação de expandir o

meio. Fortalecer a imagem do rádio, melhorar a comunicação com o mercado, mudar a

metodologia de pesquisa de audiência, centralizar as informações sobre o meio e a

valorização comercial, foram, segundo Ortriwano (1985), alguns dos objetivos da entidade.

Lembra a autora que o rádio brasileiro nunca teve características realmente

nacionais, exceção feita a poucas emissoras como, por exemplo, a Rádio Nacional do Rio de

Janeiro. Assim, “o rádio de caráter nacional, com a programaç ão de uma única emissora

atingindo diretamente todo o território, deixou de ter razão de existir, voltando-se mais para

os aspectos regionais, ligado à comunidade em que atua.”. (ORTRIWANO, 1985, p. 28)

Em contraposição a tendência inicial do Rádio no Brasil é também na década de 70

que as agências de produção radiofônica surgem como outra inovação. Através de contrato

remunerado com as emissoras elas fornecem programas e patrocinadores, mantendo às

emissoras com programação atualizada e respeitando suas respectivas características locais.

A propósito, é nessa esfera que atualmente as organizações não governamentais

(ONGs) sem fins lucrativos - como por exemplo a Criar Brasil, no Rio de Janeiro e a Oboré

Projetos Especiais, em São Paulo, entre outras, dedicam-se a criar programas de caráter

educativo, ou peças para campanhas destinados às emissoras de todo o país, em especial às

educativas e comunitárias. Em alguns casos cedem o material gratuitamente, ou solicitam à

cessionária a veiculação desde que citado o patrocinador ou patrocinadores e cujos “spots

comerciais” já vêm embutidos no programa por elas produzidos e disponibilizados.

Na esfera federal, o governo também procura manter seu papel, criando programas

educativos para serem distribuídos gratuitamente a emissoras de todo o país, sejam elas de

caráter educativo ou comercial. Dois exemplos práticos desta preocupação é a produção do

programa, Escola Brasil e do projeto Rádio Escola.

O Escola Brasil é um programa com meia hora de duração e vai ao ar de segunda a

sexta-feira pelas rádios Nacional de Brasília em amplitude modulada (AM), e Nacional da

Amazônia em onda curtas (OM). Vinculado inicialmente à assessoria de imprensa do MEC,

tinha a função de divulgar as ações do Ministério, bem como, denunciar as irregularidades

cometidas com o dinheiro da educação. Com transmissão para 31 emissoras do país, o Escola

Brasil, cujo lema é "educação com alegria”, além da idéia inicial, agrega agora a função de

instruir a população. Ao ceder o programa, a única exigência de seus produtores é de que o

conteúdo não seja alterado. A iniciativa ganhou a parceria do Fundo de Fortalecimento da

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Escola (Fundescola), projeto do MEC desenvolvido em parceria com secretarias estaduais e

municipais de educação do centro-oeste, Norte e Nordeste.

Ainda no âmbito governamental, foi pensando em auxiliar na capacitação de

alfabetizadores que o MEC lançou, em 2000, o projeto Rádio Escola. Em sua primeira série

foram produzidos 11 programas educativos com duração média de 15 minutos cada. Entre os

temas abordados estão literatura, poesia, folclore, matemática popular e ecologia, todos, temas

relacionados à sala de aula. Segundo Ana Valesca, Coordenadora da Secretaria de Educação à

Distância (SEED), em 2000, esta primeira série atendeu a mil municípios, todos com altos

índices de analfabetismo e evasão escolar. (PAVAN, 2001).

Lançada em julho de 2001, a segunda série de programas foi distribuída a 1400

professores, coordenadores e alunos do Alfabetização Solidária. Chegou também a 1.450

emissoras de Rádio da Rede de Educadores pela Educação. Criada em 1997, nas regiões

Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil, a Rede parte do pressuposto de que radialistas,

educadores e comunidade devem exigir a melhoria da qualidade da escola. Articulado com o

Fundescola, esse projeto tem parcerias do terceiro setor e apoio do Fundo de Apoio das

Nações Unidas pela Infância, UNICEF.

Como tendência atual na busca de espaços, principalmente em âmbito comercial,

estabeleceram-se as redes nacionais, com dezenas ou até centenas de emissoras regionais que

retransmitem para os pontos mais diversos do país, uma programação única. Fatores

econômicos ligam esta nova tendência ao objetivo principal que é fortalecer o rádio junto ao

mercado publicitário, obtendo maior lucratividade com menores custos As emissoras que

integram uma rede são agraciadas com programas e patrocínios.

A maior crítica que tem sido feita a essa tendência de formação de redes, divulgando os mesmos programas em diversas regiões do país, é a que diz respeito à questão da preservação das características culturais. Assim como aconteceu com a televisão, agora o rádio corre o risco de apresentar programas - inclusive jornalísticos - desvinculados da realidade local, perdendo com isso a força da proximidade da programação feita com base em hábitos e costumes específicos, com o linguajar da própria região. A programação homogeneizada passa a ganhar espaço, a criatividade local não tem como manifestar-se e o mercado de trabalho fica cada vez mais restrito. (ORTRIWANO, 1985, p. 33-34).

Com a formação das grandes redes nacionais, o rádio perde suas principais

características que são a atuação e a identificação junto aos espaços locais comunitários. A

sua relação direta com a realidade local, a sua proximidade com o ouvinte local, se esvaem.

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A relação de vizinhança, agora descaracterizada por sua identificação com os espaços

nacionais, absorve o conceito de homogeneização, em que o público local deixa de existir.

O problema em geral, não está propriamente na formação das redes em si, mas em

como atuam e como são formadas. No caso brasileiro, localizadas em grandes centros

urbanos, como Rio e São Paulo, por exemplo, centralizam suas programações a partir

exclusivamente de suas próprias realidades, não havendo aí um via de mão dupla, em que o

fluxo de informações trafegue de um lado para outro.

Ao perderem suas características próprias, ao se distanciarem do público local e de

suas próprias realidades, as emissoras que compõem uma rede estão mais a serviço de uma

grande indústria, a qual não seria outra senão a própria indústria cultural, do que a serviço de

suas comunidades.

Entre as emissoras comerciais em FM, estabeleceram-se, no Brasil, redes nacionais a

partir, principalmente, de geradoras como a Bandeirantes, Transamérica, Jovem Pan, e Antena

Um. Entre as emissoras em AM, destaca-se a CBN, emissora do Sistema Globo de Rádio e

que transmite em rede, notícias para os quatro cantos do país. Mas, a Rede Bandeirante de

Rádio, criada em 1990, foi a primeira emissora brasileira a operar via satélite com 70

emissoras FM e 60 AM em mais de 80 regiões do País.

Cintia Fernandes em sua dissertação de mestrado em Sociologia Política,

denominada "Indústria Cultural ou Esfera Pública Discursiva: a dinâmica dos meios de

comunicação de massa em Florianópolis", faz outra crítica contundente a essa padronização

de comportamento das emissoras.

As rádios FM seguem o padrão de redes nacionais de informação e entretenimento de fácil assimilação, ou seja, se especializam em músicas para determinadas 'tribos', com determinadas 'linguagens' e quase não possuem espaço para informação e prestação de serviços. O jornalismo restringe-se à produção de jornais locais e nacionais preenchendo poucos minutos da programação. Divulgadoras de música e de espaços comerciais estas rádios não se preocupam em desenvolver um noticiário próprio, com a formação de espaços redacionais. (FERNANDES, 1998, p. 82-83).

A pesquisa de Fernandes, demonstra não ser a capital de Santa Catarina, a única

cidade brasileira detentora dessa realidade. Ela é apenas o reflexo do que na prática ocorre em

todo o país, tornando-se premente sua transformação. "O rádio precisa modernizar-se

empresarial e editorialmente, até para sobreviver no meio de uma concorrência cada vez mais

acirrada com outros meios de comunicação. [...] A grande maioria das rádios brasileiras não

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contrata repórteres. (KAPLAN apud CARNEIRO, 1994, p.118).

Apesar da legislação prever a contratação de profissionais da categoria bem como a

implantação de um departamento jornalístico, a quase totalidade das empresas não cumpre a

norma. A grande maioria se limita a fazer com que seus radialistas recortem notícias de

jornais, prática essa que se convencionou chamar de "gilete press". [...] "O radiojornalismo é o

setor de comunicação que apresenta maior possibilidade de abertura de mercado de trabalho,

desde que se pressionem as empresas a cumprirem a legislação". (IBIDEM).

Deduz-se que os meios de comunicação de massa não provocam apenas reações e

transformações sociais, mas que essas também são inerentes aos próprios veículos. Assim o

foi com o cinema e o rádio em relação à televisão. Assim o é com esses veículos em relação a

Internet e assim o será com as novas descobertas e evoluções tecnológicas. Por isso o rádio

precisa estar aberto aos avanços, receptivo às transformações, atualizado editorial e

tecnologicamente, para manter sua funcional e histórica popularidade.

2.2 Legislação: rádios comerciais e educativas

A crescente importância e a evolução dos meios de informação fizeram com que os

diferentes países tomassem medidas sobre o que deviam veicular à sociedade. Enquanto em

alguns lugares como nos países comunistas, Caldas (1991), o Estado mantém o monopólio de

todos os meios de comunicação, em outros, eles tornam-se empresas de capital privado. No

Brasil, por exemplo, existem simultaneamente empresas de comunicação do Estado e da

iniciativa privada.

No Brasil, a legislação que regulamenta a radiodifusão e as telecomunicações

caminha na direção dos interesses da política que governa as sociedades capitalistas.

Assim, o lazer, a informação, a música, os shows, enfim, a cultura de modo geral, na verdade, são matérias-primas dos veículos de comunicação, podem ser comercializados por empresas privadas, desde que satisfaça as exigências estabelecidas pelo Estado. Esta é uma prática comum nos países ocidentais desenvolvidos ou subdesenvolvidos. (CALDAS, 1991, p. 57).

O que fica demonstrado é que além da incontestável atividade comercial dos meios

de informação, o Estado reconhece a força que eles possuem na formação e influência sobre a

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opinião pública. É nesse contexto que ao saber dessa eficiência "o Estado tratou de preservar

sua autonomia, seu controle sobre os veículos, cedendo a particulares apenas a concessão para

administrá-los comercialmente. Nas crises políticas, portanto, a intervenção estatal ocorre

para 'repor as coisas em seus devidos lugares' sem que haja qualquer empecilho de ordem

legal" (IBIDEM, p. 77).

Exemplos dessa natureza ocorreram no Brasil durante o Estado Novo de Getúlio

Vargas (1937-1945)4 e durante o período em que durou o governo Militar (1964-1985). Em

ambos os casos o governo valeu-se de seu poder e autoritarismo para exercer em algumas

situações rígidos controles sobre os meios, impondo-lhes não só os parâmetros sobre o que

deveriam veicular mas também a censura a qual era extensiva aos jornalistas que trabalhavam

nesses meios5.

No Brasil, a legislação permite que as emissoras de rádio operem comercialmente.

As emissoras comerciais são de propriedade de pessoa física ou jurídica ligada a iniciativa

privada e para as quais a legislação brasileira admite a exploração comercial, através da venda

e veiculação de espaços publicitários como forma de subsistência. A preocupação dessas

emissoras, salvo raras exceções, é vender o anúncio, divulgar modismos e servir aos

interesses das indústrias fonográfica e cultural. Para elas o que interessa é o lucro imediato,

não havendo com isso, comprometimento quanto a qualidade dos conteúdos que divulgam.

Reflexão a esse respeito faz Bordanave (1994, p. 9), ao afirmar que

4 Em 1939, durante o Estado Novo, Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), inicialmente

sob a direção do jornalista Lourival Fontes. As funções do Departamento, conforme própria cartilha interna explica, eram de "centralizar, coordenar, orientar e superintender a propaganda nacional, interna ou externa (...) fazer a censura do Teatro, do Cinema, de funções recreativas e esportivas (...) da radiodifusão, da literatura (...) e da imprensa (...) promover, organizar, patrocinar ou auxiliar manifestações cívicas ou exposições demonstrativas das atividades do Governo. Para enviar aos jornais as notícias sobre os atos do governo, criou-se uma subdivisão do DIP, a Agência Nacional, que fornecia cerca de 60% das matérias publicadas na imprensa, destacando a organização do Estado e os valores nacionalistas, ou seja, responsável por uma propaganda essencialmente ideológica O DIP foi uma das estruturas fundamentais para a manutenção da ditadura varguista, sendo que a propaganda desenvolvida por ele foi responsável por difundir a imagem do progresso e do desenvolvimento associados diretamente à figura de Vargas. A valorização da imagem do líder é uma das características dos regimes fascistas, assim como dos governantes populistas. Disponível em http://www.historianet.com.br/main/mostraconteudos.asp?conteudo=53.

5 No regime militar a partir da decretação do AI-5, em 13 de dezembro de 1968, instala-se a fase mais violenta

de uma ditadura. Foi instalada censura total nos jornais, periódicos, TVs, rádios, etc. e só se veiculavam notícias pró-governo. A propaganda oficial levantava slogans como “Brasil, ame -o ou deixe-o” ou “Ni nguém segura este país”, numa referência ao milagre econômico de 1970. Por outro lado, escondia -se a face radical e repressora do governo Médice (1969-1973). A campanha do Tri-campeonato de Futebol ofuscou qualquer protesto político. Caetano e Gil foram exilados, assim como Vandré e muitas outras importantes figuras da cultura dos anos 60. Todos os meios de comunicação (imprensa, cinema, teatro, música) sofreram a ação da censura. A decretação do AI-5 teve seu ápice em outubro de 1975, quando o jornalista Wladimir Herzog foi morto na prisão, em São Paulo. Disponível em http://www.conscienciapolitica.hpg.ig.com.br/ditadura.htm

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Os meios de comunicação, organizados e manejados segundo modelos forâneos verticais e unilaterais, a não ser raras exceções, parecem procurar mais o lucro, o prestígio, o poder e o domínio do que a construção de uma sociedade participativa, igualitária e solidária, onde as pessoas realizem plenamente seu potencial humano.

Lucro comercial e proselitismo religioso é o que mais impera atualmente nas grande

maioria das rádios brasileiras, concentradas nas mãos de comerciantes e de políticos

religiosos cujos interesses são incompatíveis com o de uma programação de qualidade que

possa aliar entretenimento ao conteúdo educativo.

A propósito, Ortriwano lembra que nesse sentido,

As empresas que exploram a radiodifusão do tipo comercial estão predominantemente voltadas para o que Moles denomina a 'doutrina demagógica dos publicitários': dar maior satisfação ao maior público possível, sem, a rigor, haver uma preocupação quanto ao conteúdo que está sendo transmitido pelos programas. Isso pode ser resumido na célebre 'dar ao público o que o público quer', uma das frases mais repetidas pelos responsáveis pela programação das emissoras comerciais de radiodifusão, mesmo que, na grande maioria das vezes, ninguém tenha parâmetros reais que permitam saber o que o público quer. (ORTRIWANO, 1985, p. 56).

Em seu último CD, "Pra Falar de Amor", lançado pela Abril Music em março de

2001, o cantor e compositor Erasmo Carlos que juntamente com o também cantor e

compositor, Roberto Carlos, liderou o movimento da "Jovem Guarda", na década de 60,

gravou a música, "Quem vai ficar no gol ?". A primeira estrofe nos remete à reflexão, sobre

manipulação da informação por parte dos meios de comunicação de massa e sobre parâmetros

de gostos avaliados não mais por quem os consome, mas pelos que os disponibilizam. Diz a

letra em sua primeira estrofe:

Paulo gravou um disco. que não tocou em nenhum lugar. Se o povo não escuta, não cai no gosto e não vai comprar. É que o rádio só toca o que o povo quer escutar. E o povo só compra o que ouvir o rádio tocar. Me avisa, quem vai ficar no gol ? (CARLOS, 2001, f. 7).

Fica evidente que a confusão a que é conduzido o público é a própria confusão

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estabelecida no interior das empresas de comunicação pela indústria cultural. Sem

justificativas plausíveis, a maioria das quais servindo aos interesses dessa indústria, essas

emissoras procuram veicular apenas o que lhes dá retorno comercial e preferencialmente em

caráter de urgência. Os compromissos públicos na formação educativo-cultural da sociedade

são colocados "pra escanteio".

Apesar da permanente busca pela horizontalização das comunicações papel

preponderante teve os meios eletrônicos que asseguraram cronologicamente e de forma

definitiva, um maior alcance e recepção dos signos emitidos através do telégrafo, do telefone,

do rádio, da televisão e por último, do satélite. O desenvolvimento tecnológico dos

equipamentos ampliou as técnicas de comunicação permitindo a psicólogos, sociólogos,

politicólogos e comunicólogos aperfeiçoarem a elaboração de suas mensagens favorecendo,

"a utilização dos meios de comunicação como parte do processo educativo formal e não

formal. No mundo inteiro o rádio e a TV, e mais recentemente os microcomputadores,

passaram a formar parte da bagagem instrumental da chamada Tecnologia Educativa".

(BORDENAVE, 1994, p. 33).

O Código Brasileiro de Radiodifusão, de 1962, posteriormente valorizado pela

Portaria Interministerial nº 651 de 15 de abril de 1999, conceitua rádio educativa como

emissora que deve ser gerida por universidades e fundações sem fins lucrativos, cuja

programação deva estar comprometida com a educação e proibida de veicular publicidade.

Assim, identifica-se a rádio educativa como emissora não comercial, ou,

[...] são todas aquelas estações que funcionam sem dependência da publicidade comercial. Em geral são emissoras do governo, de Universidades ou então de entidades religiosas ou educativas [...], com “uma programação diferente [...]” e que “[...] são sustentadas por verbas especiais da União ou então da própria entidade mantenedora”. (PERUZZOLO, 1972, p. 254).

No Brasil, o conceito educativo está muito arraigado à idéia de escolas radiofônicas,

porque durante muitos anos, as emissoras transmitiram aula pelo rádio, ou seja, transmitiram

educação formal. Agora, há um esforço dessas emissoras em mostrar que a proposta atual é

outra. Segundo Nélia Del Bianco6, o conceito hoje é mais cultural. "O educativo entra como

um serviço de discussão de idéias e de mobilização da sociedade, chamando os ouvintes para

6 Nélia Del Bianco, professora de Jornalismo da Universidade de Brasília apud PAVAN. Revista Educação, nº.

146, out., 2001),

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participarem de ações em sua localidade e tornarem-se sujeitos ativos”. (DEL BIANCO, apud

PAVAN, 2001).

O sociólogo, Laurindo Leal Filho7, revela que “o conceito ed ucação está na origem

do rádio, no entanto, como nosso modelo institucional é o comercial, a idéia inicial foi sendo

substituída pelo entretenimento e pela informação”. ( Ibidem). Para ele, a situação ficou ainda

mais grave com o advento da televisão, ocasião em que as emissoras para sobreviverem,

passaram a dar ênfase em suas programações à música e notícia, abdicando do papel

educativo, que, hoje é insignificante e residual.

Para uma melhor visualização sobre o produto que uma emissora educativa deva

veicular, a Portaria Interministerial nº. 651 em seus dois primeiros artigos esclarece:

Art. 1º - Por programas educativo-culturais entendem-se aqueles que, além de atuarem conjuntamente com os sistemas de ensino de qualquer nível ou modalidade, visem à educação básica e superior, à educação permanente e formação para o trabalho, além de abranger as atividades de divulgação educacional, cultural, pedagógica e de orientação profissional, sempre de acordo com os objetivos nacionais. Art. 2º - Os programas de caráter recreativo, informativo ou de divulgação desportiva, poderão ser considerados educativo-culturais, se neles estiverem presentes elementos instrutivos ou enfoque educativo-culturais identificados em sua apresentação. (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2001).

Segundo dados do Ministério das Comunicações, existem no Brasil mais de 3 mil

rádios. Desse total, 176 são consideradas por lei, educativas. Cabe a elas, recuperar a

identidade perdida, mas esbarram na falta de recursos, fator que inibe as possibilidades de

produção e da própria renovação tecnológica.

Outra preocupação é que as emissoras educativas além de se depararem com a falta

de financiamento para as suas produções, herdam uma estrutura de funcionalismo público que

não combina com a radiodifusão por seu caráter burocrático, lento e de pouca agressividade

para competir no mercado.

Além disso, o Ministério da Educação exerce pouca fiscalização sobre o conteúdo da

programação que as emissoras colocam no ar. O que funciona na prática é a fiscalização

técnica exercida pela ANATEL, que verifica entre outras coisas se a potência irradiada é a

permitida para aquela emissora; se a faixa que está ocupando no “dial” é a correta e se o nível

de modulação está de acordo com os padrões técnicos estabelecidos.

7 Laurindo Leal Filho, sociólogo e professor livre-docente da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de

São Paulo (USP).

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No caso da Univali Fm, a emissora não dispõe de verbas específicas, por parte de

sua mantenedora, para as suas produções. Mas disponibiliza de verba para o seu quadro

profissional técnico-administrativo e viabiliza, mediante bolsa de trabalho, a absorção de

alunos do Curso de Comunicação e de professores da área para a orientação desses

acadêmicos. Outra parte das produções da emissora é realizada por professores da instituição

em caráter voluntário. Em relação aos custos técnicos estão inclusos: manutenção preventiva

dos equipamentos de estúdio e transmissores; suporte no sistema de informática e telefonia;

custos com energia elétrica e telefone; custos com veículos, entre outros.

Muitos são os modelos de Rádio Educativa já implantados no Brasil. Essas rádios

operam principalmente em AM ou em FM. Somente no sul do país, são 08 (oito) dessas

emissoras operando em FM e 03 (três) em AM.

Em sua primeira fase no Brasil, o rádio era “[...] um meio de comunicação voltado

principalmente para a transmissão de educação e cultura”. (MOREIRA, 1991, p. 16-7).

Aulas, conferências e palestras compunham a base da programação inicial da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, distribuída através de cursos (de literatura francesa e inglesa e até de silvicultura prática) e, principalmente, lições (de português, francês, italiano, geografia e história natural, entre outras). (MOREIRA, 1991, p. 17).

A Rádio Escola, criada em 1933, deu origem a uma nova fase na radiodifusão

educativa brasileira:

[...] preocupada em manter o contato com os alunos, a estação distribuía folhetos e esquemas das lições que eram enviadas antes das aulas radiofônicas, pelo correio, às pessoas inscritas. Os alunos, por sua vez, enviavam à emissora trabalhos relacionados com os assuntos das aulas e mantinham contato com a emissora por carta, telefone ou até mesmo visitas. (IBIDEM, p.18).

Em 1941, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro lançava o programa 'Universidade no

Ar'. "Ele oferecia “orientação metodológica aos professores do ensino secundário em todo o

Brasil [...]”. (IBIDEM, p.19).

Experiência semelhante acontecia em São Paulo, em 1947, quando um projeto

conjunto do SESC e do SENAC do Estado lançou uma grande campanha educacional

destinada à classe operária do interior paulista. (MOREIRA, 1991, p. 19).

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O sistema de Rádio Educativa Nacional (SIRENA), criado em 1957, chegou em

1961 a totalizar 47 emissoras “[...] envolvidas no processo de erradicação do analfabetismo no

Brasil [...]”. (IBIDEM, p.20).

Também em 1961 tornou-se evidente a participação da Igreja nas experiências com

rádio educativa no País. O Movimento de Educação de Base (MEB) sob a supervisão da

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), "[...] concentrou sua atuação em regiões

consideradas subdesenvolvidas - Norte, Nordeste e Centro-oeste - e imprimiu uma

característica adicional ao ensino radiofônico, além da alfabetização, da mudança de atitudes

e da instrumentação das comunidades receptoras dos programas elaborados pelo Movimento”.

(IBIDEM, p.20).

Na década de 1970 as Rádios MEC do Rio de Janeiro e de Brasília começaram a

produzir programas rotulados como educacionais e transmitidos por emissoras oficiais e

privadas. Programas estes “[...] com ênfase na divulgação de aspectos culturais do País, como

a música popular brasileira”. (IB IDEM, p.21).

O governo federal cria o Projeto Minerva, um programa de 30 minutos de cunho

informativo-cultural e educativo, com transmissão obrigatória por todas emissoras do país.

Com uma produção regionalizada, concentrada no eixo Sul-Sudeste, e uma distribuição

centralizada, o programa acabou não conquistando a população, que o chamava de "Projeto

Me Enerva". Isso contribuiu para fortalecer a imagem de que o rádio educativo é chato e

cansativo.

As ações para manter o caráter educativo do rádio, permanecem na década de 90,

quando em fevereiro de 1999, o Ministro Paulo Renato Souza assinou convênio com a

Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), que substitui o Projeto

Minerva. Pelo acordo, as emissoras associadas à ABERT, devem veicular aos sábados e

domingos três pequenos programas (dois de cinco minutos e um de dois) em um horário

escolhido por elas, entre as 6h e 22h, com a determinação de que uma vez definido o horário,

este não seja alterado. Invariavelmente, os programas tratam de ações do MEC, como Enem

ou Provão, sempre terminando com a leitura de um poema ou trecho de um conto ou romance.

Neles, o Ministro também aproveita para ler e responder cartas de ouvintes.

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2.3 Panorama Atual e as Novas Tecnologias

Embora o rádio no Brasil tenha surgido com característica exclusivamente

educacionais, o que se visualiza hoje é o predomínio acentuado de emissoras comerciais sobre

as educativas. Enquanto as primeiras sobrevivem de verbas provenientes da venda de espaços

publicitários ou até mesmo da venda de espaços de programação à terceiros, as educativas

permanecem na dependência exclusiva de verbas provenientes de suas entidades

mantenedoras.

Do ponto de vista econômico a concorrência é desleal, uma vez que as emissoras

comerciais ao disponibilizarem de recursos financeiros provenientes de fontes diversas como,

comércio, empresas particulares, empresas estatais e governo, podem com maior facilidade,

investirem na produção de seus programas, bem como se adaptarem às inovações

tecnológicas.

Mas, o que chama atenção é que mesmo com esta aparente vantagem, nem todos os

proprietários de emissoras particulares estão imbuídos em assimilar as transformações

necessárias à sobrevivência de seu próprio veículo, principalmente os de característica AM.

Atualmente, muitos são os casos de emissoras arcaicas tanto em termos de equipamento,

quanto de programação. No primeiro caso, está enraizado o conceito de lucro imediato. No

segundo, a falta de compromisso com a qualidade do que é disponibilizado ao público. Há que

se considerar também, a dificuldade das emissoras AM, enfrentadas desde o advento da

televisão somadas ao aparecimento das primeiras emissoras em FM, na década de 60 e sua

posterior proliferação duas décadas depois.

De menor alcance territorial em relação às emissoras em AM, as emissoras em FM,

com melhor qualidade de retransmissão em seus sinais, incluindo som estereofônico e

posteriormente formato digital, passaram a ocupar um espaço que antes era exclusivo das

primeiras. Passaram a dividir público, bem como a fatia do mercado publicitário já combalida

desde o advento da televisão. Por serem de menor alcance, as emissoras em FM tornaram-se

menos onerosas operacionalmente. Com a grande maioria se dedicando à programação

musical, as poucas emissoras que abriram espaço jornalístico em suas programações, o

fizeram com ênfase nos assuntos locais.

Mas, com verbas do mercado publicitário destinados às rádios em geral, verbas essas

insuficientes para manter o grande número de emissoras com produções próprias, surgem

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principalmente, entre as FMs, as redes, como forma de diminuir os custos operacionais e de

produção. Assim, a Rede Bandeirantes de Rádio, criada em 1990, foi a primeira do Brasil a

operar via satélite com 70 emissoras FM e 60 AM em mais de 80 regiões do País.

(MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2003).

No campo jurídico, à propriedade de empresas de radiodifusão até a pouco restrita a

cidadãos ou empresas nacionais, abriu espaços para o capital estrangeiro a partir da emenda

constitucional nº 36 de 28 de maio de 2002, que dá nova redação ao artigo 222, permitindo a

participação de pessoas jurídicas no capital social das empresas jornalísticas e de radiodifusão

sonora e de sons e imagens nas condições que especifica:

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. & 1º - Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens, deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. (PRESIDENCIA DA REPÚBLICA, 2002).

O primeiro grande meio interativo de comunicação foi o telefone. Junto com o

automóvel, o aeroplano e o rádio funcionou, na segunda metade do século passado (XX),

como um símbolo da vida moderna (Santaela, 2000). Pouco tempo se passou e já estamos

diante de outra realidade em se tratando de novas tecnologias para o setor. Uma realidade que

se modifica a todo o momento, em alta velocidade e em alta rotatividade.

A esse respeito, Ciro Marcondes Filho (apud SANTAELLA, 2000, p.16), argumenta

que "as tecnologias estão aí, cada vez mais leves, mais próximas do nosso corpo, de nossa

convivência. Inundam o planeta, invadem nosso cotidiano com velocidade espantosa". Por

isso entende que precisamos mudar nossas formas velhas e obstinadas de pensar, deixar para

trás as antigas teorias e relacionarmo-nos com essa movas descobertas a procura de uma

agradável forma de convivência e atuação crítica nessa nova sociedade.

A propósito, em se tratando de rádio, a primeira demonstração de emissora digital

AM no país, ocorreu em 13 de março desse ano, no auditório da ANATEL/RS, em Porto

Alegre. Autoridades e técnicos de radiodifusão participaram da demonstração que optou pela

transmissão do sistema, IBOC (in band on chanel, na mesma banda, no mesmo canal), da

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IBIQUITY. O sistema – adotado recentemente pelos Estados Unidos, onde 60% das

emissoras já operam com a tecnologia digital – permite que a emissora mantenha sua

freqüência atual, necessitando, em alguns casos, instalar apenas um excitador e um

processador de áudio digitais. Segundo os técnicos o sistema IBOC, permite passar do

analógico para o digital com melhor custo-benefício, em relação aos outros sistemas

existentes no mundo. Outra vantagem, segundo eles, é que o sistema digital disponibiliza as

emissoras em AM a mesma qualidade de áudio das emissoras em FM. (JORNAL DA AESP,

2003).

Mário Costa (apud SANTAELLA, 2000, p.15), revela que

Com as novas tecnologias eletroeletrônicas da comunicação, nos situamos diante de uma transformação radical no campo estético". Para ele estas tecnologias "não podem se consideradas, de modo nenhum, na sua essência, como uma nova forma de linguagem, cujo destino é ainda e sempre aquele de encarregar-se das intencionalidades expressivas e comunicativas do homem: as novas tecnologias não são uma linguagem, são um ser que excede toda paisagem interior ao sujeito e instaura uma nova situação material.

Outra vez cabe-nos refletir sobre a afirmação de Ciro Marcondes Filho (apud

SANTAELLA, 2000, p.16) para quem "a nova ordem tecnológica, repercute não só na cultura

e artes, mas também nos elementos sociológicos, econômicos e políticos propriamente ditos".

Oito décadas se passaram desde que o rádio foi implantado no Brasil. De lá para cá

muitas foram às transformações tecnológicas e de conteúdo ocorridas no seu interior. Entre

elas destacamos a perda da característica exclusivamente educativa para dar lugar ao

entretenimento; a perda da hegemonia quanto veículo de comunicação de massa a partir do

surgimento da televisão; a necessidade de assimilar em seu interior o surgimento das FMs; a

necessidade de reconquistar o público; a adaptação de novos formatos de programação; e a

incorporação do formato digital.

2.3.1 Política de comunicação

No caso brasileiro, todas as emissoras de rádio e de televisão funcionam mediante

concessão do governo federal que lhes concede alvará e contrato com prazos fixados para a

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comercialização do respectivo veículo. Findo o prazo constante no contrato cabe ao governo

federal o direito de renovar ou não a concessão. Em caso negativo a emissora por força

contratual é obrigada a encerrar suas atividades (CALDAS, 1991, p.57).

Desde de 10 de julho de 1917, data do primeiro documento legal sobre os serviços

de radiotelegrafia e de radiotelefonia, quando o então presidente Venceslau Brás Pereira

Gomes, assinou o Decreto nº. 3.296 está implícita, a exclusiva competência do governo

federal na política de comunicações do país. Caberia só a ele diretamente ou através de

concessões, o direito de exercer os serviços ligados às comunicações. Até agora, todas as

Constituições brasileiras indicam para o mesmo sentido, regulamentando-o ou adaptando-o à

evolução tecnológica das comunicações e às novas realidades. (IBIDEM).

Assim o foi com as Constituições de 16 de julho de 1934, artigo 5º. parágrafo VIII e

com a de 10 de novembro de 1837, artigo 15, parágrafo VII. Sobre a questão, ambas têm o

seguinte texto: "Compete privativamente à União: [...] explorar ou dar em concessão os

serviços de telégrafos, radiocomunicação [...]". Nesse sentido a Constituição de 24 de janeiro

de 1967, amplia e dá mais precisão ao texto quando em seu artigo 8º. parágrafo V, pontua:

"Compete à União explorar diretamente ou mediante autorização ou concessão: a) os serviços

de telecomunicações [...]".

Como já mencionado, a competência sobre os serviços de radiodifusão e de

telecomunicações no Brasil é de inteira exclusividade do Estado. "Por concessão, porém,

eles podem ser exercidos pelo capital privado desde que, devidamente autorizado, com prazo

estipulado e plenos direitos de rescisão por parte do Estado" (Caldas 1991, p.82). O que

também está implícito é que tal legislação ao mesmo tempo em que salvaguarda a autoridade

do governo federal, seleciona as empresas pretendentes a obter concessão para instalar uma

emissora de rádio ou de televisão.

O governo também se reserva ao direito de exigir o cumprimento por parte dos

pretendentes, de algumas especificações técnicas para a concessão do alvará de

funcionamento. As diretrizes quanto às exigências técnicas estão no Código de

Telecomunicações, criado a 27 de agosto de 1962 pela Lei Federal nº. 4.117 que determina

aos postulantes a uma concessão, entre outras coisas, que "gozem de plena idoneidade moral e

que provem ainda possuir recursos técnicos e financeiros para o respectivo empreendimento".

(IBIDEM, p.83).

Na prática contudo, o que se comprova é o predomínio de critérios políticos para a

concessão dessas emissoras, até porque as empresas postulantes cumprem as exigências

quanto aos critérios técnicos. No segmento radiofônico embora vigore uma estrutura de

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propriedade muito mais descentralizada, não se pode qualificar o setor como um mercado de

livre-concorrência, no qual os favorecimentos políticos não estejam presentes.

As concessões para a exploração de emissoras de rádio - o que de resto vale também para os canais de televisão - são tradicionalmente distribuídas a partir de critérios meramente políticos. Os méritos técnicos e de conteúdo dos requerimentos de concessões tem sido tradicionalmente a lealdade política prometida ao governo pelo solicitante. (COSTA, 1997a, p. 184).

No plano da Política de Comunicações a aprovação do Código pelo Congresso

Nacional, foi considerada à época, pelos proprietários de emissoras uma vitória porque lhes

assegurava garantias judiciais, contra eventuais abusos por parte do poder concedente, o

Estado. Mesmo assim, tinha o poder executivo, competência para cassar as licenças de

funcionamento desde que assim se julgasse com esse direito.

Historicamente, no Brasil, a política de concessões de radiodifusão tem seu eixo

centrado em barganha e clientelismo político. Essa cultura clientelista tem origem no período

colonial. Da mesma forma sempre esteve enraizada a interesses de grupos privilegiados.

Enquanto nas áreas rurais do país, até meados da década de 60, a moeda em troca do

latifúndio era o voto, nas áreas urbanas a moeda se fortalece e a troca se dá pela mídia

eletrônica. A prática de manipulação do poder através dos veículos de comunicação de massa

tem sido uma constante na sociedade brasileira. Desde o Estado Novo de Getúlio Vargas,

(1937-1945), critérios políticos regiam as normas de concessão.

Foi a regulamentação do Código Brasileiro de Telecomunicações em 1962 quem deu

início a política de comunicação do país. Esse por sua vez, ao dar plenos direitos de outorga

ao presidente da República, "possibilitou que a mídia eletrônica permanecesse sendo usada

como moeda de troca dos interesses políticos e de interesses da elite" (Caldas, 1998, p.40).

Posteriormente, durante o governo ditatorial militar, (1964-1985), "sob as benesses do Estado,

formaram-se e consolidaram-se os grandes conglomerados da mídia eletrônica”. (IBIDEM,

p.41).

Em Santa Catarina o quadro não fugiria a regra. Foi a partir de 1976 com a chamada distensão política, ocasião em que o regime militar se deparava com o crescimento de forte oposição, originado pela vitória do MDB, nas eleições de 1974, que grupos políticos e empresarias, ligados ao partido governista, ARENA, em sua maioria, obteve outorgas para exploração dos serviços de radiodifusão em Santa Catarina. Cabe ressaltar que o processo de concessão de outorgas ocorreu entre 1975 a 1979, inicio da "abertura" com origem no governo do general Garrastasú Médice e levada adiante pelo

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governo do general João Batista Figueiredo. Com o intuito de quebrar o monopólio das oligarquias o governo central incentivou a disputa de mercado dos meios de comunicação de massa no Estado. Por isso, nesse período, outorgou 22 estações de rádio e cinco canais de televisão para o Estado de Santa Catarina (FERNANDES, 1998, p. 72-3).

Mesmo com o término do regime militar e o advento da autodenominada Nova

República em 1985, o panorama não mudou, embora houvesse expectativa nesse sentido.

Afinal, os compromissos assumidos publicamente pelo então candidato pela Aliança

Democrática à presidência da República, Tancredo Neves, indicavam que novos rumos iriam

nortear os critérios para as concessões, diferentes dos que eram praticados na Velha

República. Sob o pretexto de moralizar o setor, já nos primeiros dias de seu mandato, o

Ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, suspendeu, 140 processos de

concessões outorgadas nos seis meses finais do governo Figueiredo, último presidente do

regime militar. Sua alegação era a de acabar com o que qualificou de "verdadeira orgia de

concessões", quando na verdade foi constatado que tudo não passara de manobra em

represália aos adversários políticos que as haviam obtido. (SOUZA, 1996, p. 34-35).

A constatação viria na prática, quando o presidente José Sarney, apoiado por

Magalhães, autoriza outorga a 1.028 emissoras de rádio e televisão, RECORD absoluto na

história das concessões, aumentando ainda mais a concentração da mídia eletrônica no país.

Em 1988, quando a Constituinte decidia sobre questões que interessavam ao governo, entre

elas, mandato do presidente, sistema de governo e papel das forças armadas, foram aprovadas

539 outorgas. (IBIDEM, p. 35).

Para que se possa visualizar o quadro que demonstra o salto das concessões no

governo Sarney basta recorrer a seguinte estatística: "De 1922 a 1963 (41 anos) foram

outorgadas 807 emissoras de rádio AM, FM e TV em VHF. Durante o governo militar, de

1964 a 1984 (20 anos), esse número subiu para 1.240. Já na administração Sarney, de 1985 a

1988 (quatro anos), as outorgas indicam um crescimento vertiginoso para 1.028 emissoras".

(CALDAS, 1998, 44).

O resultado dessa política é o de que a concentração do poder da informação no

Brasil, está nas mãos de políticos ligados ao sistema e a poucos tradicionais grupos familiares

sejam locais ou regionais. Caldas vai mais além ao firmar que "a Igreja é a única instituição

brasileira a deter concessões de rádio e televisão" (IBIDEM). Um contraste ao que preceitua o

Artigo 220, parágrafo 5º da Constituição de 1988, "os meios de comunicação social não

podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio".

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A propósito, em relação à distribuição dos canais de radiodifusão contata-se,

segundo Lima que oito grupos familiares lideram a lista dos detentores dos meios eletrônicos

no país. Segundo o autor, "no cenário nacional lideram o mercado a família Marinho (Rede

Globo) com 20 emissoras de rádio e 32 de TVS; a família Saad (Rede Bandeirantes) com 21

estações de rádio e 12 de TVS; e a família Abravanel (SBT- Sistema Brasileiro de Televisão)

com 10 tvs. Em termos regionais a liderança do mercado no Sul é da família Sirotsky (RBS-

Sul) com 20 rádios e 20 tvs; nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, segundo o

levantamento efetuado pelo autor, há sempre uma família que lidera com maior número de

estações de rádios e televisões. LIMA (apud LIEDTKE, 2002).

Em se tratando de elites políticas, num levantamento realizado por Lima (1995),

ficou constatado que 2.908 emissoras comerciais de rádio, 40,19% do total existente no país,

são controladas por políticos. Quanto à televisão, 31,12%, ou seja, 302 emissoras estão sob o

mesmo controle. As estatísticas apontam em âmbito de estados, que os políticos são donos de

50% das emissoras de rádio na Bahia, 44% em Pernambuco; 33% em Minas Gerais; e 20%

em São Paulo. (IBIDEM).

O clientelismo histórico evidencia que a grande maioria das concessões para

emissoras de radiodifusão foi precedida por interesses políticos e econômicos. As evidências

são ainda maiores quando nos deparamos com o quadro que identifica quem são os

proprietários dos principais veículos de comunicação do país. A constatação é de que poucos

grupos familiares e algumas entidades religiosas são os donos das grandes redes de televisão e

rádio no Brasil.

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CAPÍTULO III

O CASO DA UNIVALI FM: alternativa regional

Nesse capítulo, procurou-se analisar, as proporções de espaço que a Univali Fm

dedica às informações de caráter acadêmico ou não, de procedência local ou não, editorias e

setores que são mais amplamente difundidos, bem como a origem das músicas em termos de

nacionalidade. Os dados obtidos na presente pesquisa, partem da análise dos conteúdos

veiculados na programação jornalística e musical da Univali Fm os quais demonstram duas

tendências. Em termos de programação jornalística fica evidente que nos dois noticiários

pesquisados há maior cobertura de matérias cuja fonte advém da comunidade externa, ao

mesmo tempo em que as matérias locais têm um foco de cobertura bem mais abrangente do

que as de origem em outros locais fora da sede da emissora. Em se tratando de programação

musical, o que se constata é o predomínio na execução de música popular brasileira sobre as

de origem estrangeira. São esses números os indicadores do papel.

3.1 Contextualização

A Rádio Educativa UNIVALI FM, emissora da Fundação Universidade do Vale do

Itajaí, está no ar em caráter definitivo, desde o dia 22 de março de 1999. Contudo, deu início

as suas transmissões em caráter experimental no dia 18 de dezembro de 1998 em classe B1 na

freqüência de 90,9 MHz e 4 Kw de potência. Desde o dia 27 de março de 2001 opera em

classe A3 com potência de 20 Kw , na freqüência de 94,9 MHz.

Sua programação jornalística se submete a pauta em que os focos principais são a

educação, os esportes, a cidadania, a política, a economia e a cultura. O departamento de

jornalismo da emissora, tem como uma de suas funções atuar como laboratório experimental,

auxiliando os alunos do curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, no aprendizado

das técnicas e práticas do jornalismo diário.

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Musicalmente prioriza a Música Popular Brasileira, mas abre também espaço aos

mais diversos gêneros musicais incluindo os de nacionalidades distintas. Uma das

características da programação musical é enfatizar o resgate histórico e sócio-cultural dos

grandes poetas e compositores do Brasil e do exterior.

Para o curso de Comunicação Social principalmente, a implantação da Rádio

Educativa Univali Fm propicia a seu corpo docente e discente oportunidade de desenvolver

pesquisas no sentido de encontrar novas formas de linguagem para este veículo, novas

metodologias de ensino, bem como práticas para o exercício da profissão.

O Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo possui Laboratório

de Radiojornalismo destinado aos ensinamentos de técnicas e práticas de produção de

radiojornal e de publicidade e propaganda. A implantação da Rádio Educativa Univali Fm, no

âmbito dessas escolas, se caracteriza como um suporte a mais contribuindo para com o avanço

e aperfeiçoamento desses ensinamentos quer por seu caráter prático ou de pesquisa. Por ser

um veículo de comunicação de massa, a implantação da Rádio Educativa Univali FM, em

última instância, se justifica teoricamente em âmbito universitário por ser o rádio um veículo

que “... impõe a notícia a toda hora e em todo lugar...” e que “... utilizamos a nosso bel -prazer,

enquanto fazemos outra coisa...”. (PERUZZOLO, 1972, p. 363).

“Pesquisas sobre a recepção de notícias junto ao público mostram que o rádio é

considerado a fonte mais pura de informações jornalísticas, e isso é atribuído à rapidez com

que as noticias são transmitidas”. (Chantler & Harris, 1998, p. 20). Assim, podemos

considerar que a premissa é verdadeira também para a divulgação via rádio de outros tipos de

informação como, por exemplo, as de caráter cultural, educativo e noticioso e musical.

Ao mesmo tempo em que a programação da Rádio Educativa Univali Fm, atende ao

grande público, atende também a Universidade que, através dela pode levar ao conhecimento

da população de toda a região de sua área de abrangência, as ações e trabalhos que desenvolve

em nível acadêmico nas áreas de ensino, pesquisa e pós-graduação.

A principal área de abrangência da Rádio Educativa Univali Fm é região da foz do

rio Itajaí-Açú. Ela abrange os municípios de Itajaí, Balneário Camboriú, Bombinhas, Porto

Belo, Itapema, Ilhota, Camboriú, Navegantes, Penha, Piçarras, e Luís Alves. Essa região,

segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – Censo

2000, possui uma população de 421.137 mil habitantes e uma população flutuante de

aproximadamente 850 mil habitantes de dezembro a fevereiro, meses da alta temporada de

verão. Dos 11 (onze) municípios a ela pertencentes, 8 (oito) são litorâneos e por isso recebem

veranistas e turistas do exterior, do país, do próprio estado e região. Portanto, a Univali Fm,

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surge na região, como um veículo de comunicação com a proposta de contemplar a toda essa

população com uma programação de cunho educativo contendo assuntos relacionados à saúde

e meio ambiente, por exemplo; ao resgate da cidadania; à prestação de serviços à comunidade

e à integração cultural.

A construção da grade de programação da Rádio Educativa Univali, seguiu

inicialmente a critérios intuitivos de seu corpo diretivo. Como método referencial procurou-

se fundamentação para que fosse implantada ainda que superficialmente, em pesquisa

realizada em abril de 1992, pela então, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Univali, a

qual abrigava o curso de Comunicação Social à época com uma única habilitação: Jornalismo.

A Pesquisa apontou 98,5% dos entrevistados favoráveis a implantação em Itajaí, de

uma rádio Fm com propósitos educacionais. A pesquisa realizada com o objetivo de subsidiar

o projeto de implantação bem como o planejamento da programação da Univali FM, ouviu

pessoas cuja faixa etária incluiu a população jovem com menos de 14 anos até a população

adulta, com 50 anos ou mais de idade, residentes nas regiões sul, norte, leste/centro e oeste da

cidade.

Do total de entrevistados, 75,1% disseram preferir rádio FM. De acordo com a

pesquisa é no período da manhã e em casa, que as pessoas mais ouvem rádio, seguido dos

períodos da tarde e noite. Em relação ao gênero musical, a grande maioria, 84,6% dos

entrevistados disse preferir música brasileira. Na área jornalística os números também

indicaram a preferência do público por programas de notícias, programas educacionais, por

reportagens ao vivo sobre temas da comunidade, por programas de entrevistas e de esportes.

Outro dado a ser levado em conta à época é o de que 54,3% da população entrevistada

considerou que as rádios FMs da região não supriam plenamente suas necessidades de obter

informação.

A constatação resultante dos dados coletados caracterizou que a população

pesquisada preferia o formato de rádio em freqüência modulada, formato esse que viria a se

desenhar já a partir dos trâmites burocráticos iniciais de pedido de outorga junto ao Ministério

das Comunicações e a se consolidar a partir da instalação da emissora.

Por outro lado, com um pouco mais da metade dos entrevistados demonstrando não

estar satisfeita quanto ao atendimento de suas necessidades relacionadas à informação

jornalística, enquanto a grande maioria apontava para a Música Popular Brasileira como o

gênero musical que mais gostaria de ouvir. A pesquisa, mesmo que sem muita minúcia

norteou os passos que deram origem aa atual grade de programação da emissora. Tal

afirmativa poderá ser constada mais adiante, através dos percentuais resultantes das tabelas

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que analisaram os conteúdos de programação jornalística e musical da Univali Fm.

Pesquisa mais recente envolvendo a Rádio Educativa Univali Fm foi realizada pela

professora Liza Lopes Corrêa em dissertação de mestrado denominada: “Proposta

Metodológica para Comunicação em Rádio: suporte para o turismo sustentável”, do Programa

de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí. Aplicada em

março e abril de 2001, a pesquisa ouviu 349 alunos de quinze cursos da Univali, dez dos quais

localizados no campus de Itajaí e cinco no campus de Balneário Camboriú.

Ao todo, foram entrevistados alunos dos cursos de Administração, Jornalismo,

Ciência Política, Engenharia Ambiental, Fonoaudiologia, Relações Públicas, Psicologia,

Enfermagem, Oceanografia, Pedagogia, Arquitetura, Turismo e Hotelaria, Design, Nutrição e

Direito. Apesar de direcionada, segundo a autora, com o objetivo de elaborar uma proposta

metodológica de comunicação em rádio a fim de contribuir para o turismo sustentável no

litoral centro-norte catarinense, alguns de seus resultados são interessantes para o presente

estudo, na medida em que apontam para a importância do rádio como fonte de informação

junto ao público universitário, contexto em que se insere a Univali Fm.

De acordo com a pesquisa, a maioria absoluta dos entrevistados tem entre 20 e 25

anos, embora seu universo tenha incluído as faixas etárias de até 20 e com mais de 40 anos de

idade. A grande maioria trabalha e vive há mais de 15 anos na região em que a pesquisa foi

aplicada. Do total de entrevistados, 22% responderam que o rádio é o veículo de comunicação

que utilizam para se manter informados. A pergunta que oferecia a possibilidade de escolher

mais de um veículo constatou que 30% utilizam a televisão, 20% a Internet enquanto 26%

utilizam jornais e revistas. Esse é um dado que demonstra que o rádio continua ocupando um

espaço significativo, apesar do advento dos novos meios eletrônicos de comunicação. Outro

dado a se considerar é o de que 91% dos entrevistados ouvem rádio. Desse total 47% ouvem

todos os dias e 15% mais de uma vez por semana.

Quanto ao conteúdo de programação, 30% disseram ter preferência por jornalismo e

informação, 54% por música e 12% por debates. Se considerarmos que o debate abrange

conteúdos de jornalismo e informação, conclui-se que 42% dos entrevistados preferem o rádio

voltado para informação e notícias. Outro dado da pesquisa pertinente ao presente trabalho é

o de que 42 % dos entrevistados afirmaram já terem ouvido a Rádio Educativa Univali Fm e

corroborando a questão anterior, entre os sete programas por eles citados, a maioria, 57%

mencionou ter escutado os de caráter jornalístico/informativo.

A diferença básica entre as duas pesquisas envolvendo a Rádio Educativa Univali

Fm, se resume em dois aspectos contextuais. Um está fundamentado no fato de que a primeira

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pesquisa, realizada em 1992, procurava subsídios que justificassem o formato de emissora a

ser implantado, bem como o tipo de programação a ser adotado. Já, a segunda, realizada em

2001, dois anos após o funcionamento da emissora, além de corroborar para com alguns

indicativos da primeira, como por exemplo, o valor dado pelos entrevistados aos programas

jornalísticos, avança no sentido de subsidiar uma proposta metodológica, cujo objetivo

principal é o incremento em sua programação, de programas radiofônicos que contribuam

para o desenvolvimento sustentável do turismo e do meio ambiente.

3.2 Fases de Implantação

Em âmbito interno, diz o Estatuto da Fundação UNIVALI, aprovado pela resolução

do Conselho de Administração Superior, nº. 013/CAS/02 de 02 de maio de 2002 e

homologado pela resolução do Conselho Curador, n. 002/CC/02 de 21 de maio de 2002, em

seu Capítulo II - Das Finalidades e Meios de Ação em seu parágrafo único: A FUNDAÇÃO

UNIVALI poderá manter emissoras de radiodifusão educativas compreendendo radiodifusão

sonora, ou televisiva, de caráter universitário ou comunitário e outras entidades voltadas para

a consecução de suas finalidades.

A Universidade do Vale do Itajaí ao se propor a instalar uma rádio de caráter

educativo demonstrou capacidade técnica e de recursos humanos capazes de implantá-la e a

dar-lhe o direcionamento a que se propõe como instituição voltada ao ensino, pesquisa e

extensão. Haja vista a definição de programação da emissora cujas características são as de

suprir as necessidades impostas pelo crescimento populacional da região e dos problemas

sócio-culturais que passam a ser observados. Problemas esses, passíveis de solução por meio

de uma adequada estratégia de educação e prevenção através da informação que uma rádio

educativa deve propiciar.

Assim, a primeira fase do projeto da Rádio UNIVALI FM foi concluída com a

publicação no Diário Oficial que “[...] outorga permissão à Fundação Universidade do Vale

do Itajaí, para executar, pelo prazo de 10 (dez) anos, sem direito de exclusividade, serviço de

radiodifusão sonora em freqüência modulada, com fins exclusivamente educativos, na cidade

de Itajaí, Estado de Santa Catarina [...]” (Diário Oficial, 7 maio 1993, p. 6188, Seção 1); a

partir daí, a UNIVALI dedica-se tecnicamente à segunda fase do projeto que se refere à “[...]

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construção do prédio e a compra do equipamento [...]”. (Diário Catarinense, 6 de maio, 1993,

p. 30). Incluído na segunda fase da Rádio UNIVALI Fm, inicia-se

[...] um contato mais íntimo com as instituições organizadas da região, tais como associações comerciais e industriais, sindicatos, prefeituras, câmaras de vereadores e entidades representativas de estudantes e professores, visando um amplo debate sobre a forma com que a UNIVALI Fm poderá contribuir com a comunidade nos seus projetos culturais e educacionais [...]. (SANTOS, 1993, p. 29).

A busca de informações nos diferentes segmentos da sociedade regional indica a

receptividade da UNIVALI em relação a estudos e contribuições que possam subsidiar a

programação implantada. A Rádio Educativa Univali Fm é uma emissora instalada na

Universidade do Vale do Itajaí, e cujo processo ocorreu no período de 1992/1998. Sua

finalidade é de integração entre universidade e comunidade.

3.3 Posição no Estado de Santa Catarina

Segundo o Ministério das Comunicações existem no Brasil, atualmente, 3.022 (três

mil e vinte e duas) emissoras de rádio em funcionamento. Desse total, 108 (cento e oito)

operam em freqüência modulada 105 (cento e cinco) em ondas médias e 3 (três) em ondas

curtas. A implantação da Rádio UNIVALI Fm com fins exclusivamente educativos, foi uma

conquista pioneira na região da Foz do Rio Itajaí-Açú, SC.

Esta realidade, contudo, se modifica a partir de 08 de dezembro de 1997 com a

implantação em Florianópolis da Rádio Educativa UDESC. Operando em freqüência

modulada a emissora pertence à Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa

Catarina. Paralelamente, a UDESC instala outras duas emissoras no Estado. Uma em Joinville

e outra em Lages. De qualquer maneira, a implantação dessas três emissoras em Fm não altera

a realidade da Região da Foz do Rio Itajaí-Açú, que só se transforma com a implantação da

Rádio Educativa Univali Fm.

Um ano depois de ter iniciado suas transmissões em caráter definitivo, a Rádio

Educativa Univali Fm obteve outorga para mudança de classe e aumento de potência. No dia

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27 de março de 2001 passou a operar com potência 10 vezes superior a que houvera iniciado.

Autorização nesse sentido foi concedida pela ANATEL – Agencia Nacional de

Telecomunicações, através do Ato Nº. 9.682, publicado em 21 de junho do ano anterior. Em

função do aumento de potência a emissora mudou também sua freqüência de 90.9MHz para

94,9MHz.

A medida foi considerada pela reitoria da instituição um avanço para a história da

radiodifusão no Estado. Por essa razão, assim que tomou conhecimento da aprovação por

parte da ANATEL, autorizou imediatamente a elaboração do projeto para viabilizar a

operação da emissora com maior alcance em toda a sua área de abrangência.

Com a mudança, a emissora passou a operar com 20 KW de potência ERP em quatro

elementos de antena, o que ampliou sua área de cobertura protegida de 16 para 32 quilômetros

de raio. Com isso, os sinais da Univali Fm se estenderam a locais até então inacessíveis como,

por exemplo, alguns pontos do município de Balneário Camboriú. Assim, ampliou-se

significativamente seu alcance em todos os municípios onde já era sintonizada. Neste

contexto incluíram-se os municípios de Camboriú, Balneário Camboriú, Governador Celso

Ramos, Bombinhas, Porto Belo, Navegantes, Penha, Piçarras, Barra Velha, Luiz Alves,

Ilhota, Gaspar, Blumenau e Brusque, bem como a outros do Médio Vale do Itajaí. Na região

norte do Estado, a Univali Fm pode ser sintonizada em Guaramirim e Jaraguá do Sul, e ao sul,

em algumas praias do norte de Florianópolis. (ANEXO).

O aumento de potência consolida ainda mais a Univali Fm, como um referencial

jornalístico-educativo-cultural em toda a região de sua área de abrangência. Tal afirmação se

comprova pela dedicação média diária superior a duas horas dedicadas a programas

jornalísticos e culturais. Da mesma forma contribui para com o processo de ensino-

aprendizagem dos alunos do Curso de Comunicação Social, uma vez que semestralmente

mais de 20 acadêmicos de Jornalismo estão envolvidos direta e indiretamente com programas

de caráter jornalístico da emissora, o que pode ser comprovado pelos registros junto a secção

de bolsas da Univali bem como pelos respectivos relatórios de atividades dos programas dos

quais participam.

Equipada com sistema híbrido, ou seja, analógico e digital, a Univali Fm mescla as

práticas tradicionais com as modernas, numa concepção avançada e praticamente pioneira no

País de “rádio -escola”, uma vez que abre espaço para os alunos de Comunicação Social

realizarem treinamento extra-classe. Mas, ainda que conte com sistema híbrido, seus sinais de

transmissão são totalmente digitais. Sua programação diária de 24 horas está alicerçada em

computadores especialmente configurados para a finalidade radiofônica. Possui também

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equipamento digital para reportagem externa.

Dois sistemas de “ no break” instalados em seus estúdios e no parque transmissor lhe

dão autonomia para o mínimo de quatro horas no ar, mesmo que durante este período todo o

sistema de energia elétrica da cidade e região esteja inoperante. (ANEXO)

3.4 Assuntos de Programação

A programação é a essência e o conteúdo fundamental de uma emissora de

radiodifusão. Assim, podemos definir o programa como “[...] o produto principal, primordial

e único de uma emissora de radiodifusão, seja sonora, seja audiovisual [...]” (LOPES, 1970, p.

53).

A programação deve observar a combinação de horários, o perfil do ouvinte e do

programa, a linha editorial, o pico de audiência que determinará a singularidade da

programação requerida pela Univali Fm. Nessa direção o autor chama atenção para o fato de

que

Do cuidado de sua feitura, de sua objetividade, de seu desenvolvimento, dos seus elementos de composição e de execução depende o êxito da emissora e da própria radiodifusão. Esse trabalho não está condicionando a regras fixas e pré-estabelecidas, mesmo porque como programa entende-se tudo o que a emissora transmite para o seu público ouvinte ou telespectador. (IBIDEM, p. 69).

Para favorecer uma melhor análise e posterior definição de uma grade de

programação para uma emissora de radiodifusão, o Centro Brasileiro de TV Educativa -

FUNTEVÊ - classifica os seguintes assuntos:

a) ASSUNTOS EDUCACIONAIS - Incluem-se aqui as iniciativas comprometidas com a educação “strictu sensu”, voltados para o apoio aos diversos níveis do sistema educacional brasileiro, marcadas por uma preocupação didático-pedagógica e/ou com o processo ensino-aprendizagem.

b) ASSUNTOS CULTURAIS - Incluem-se aqui os programas dedicados ao registro, divulgação e análise de eventos/iniciativas que enfoquem formas de expressão artística e estética, o comportamento, as crenças, as instituições e outros valores espirituais e materiais característicos de uma civilização, sociedade ou mesmo de grupos sociais específicos. Os programas deverão ser classificados segundo as áreas específicas relacionadas. Na área “Manifestações Regionais” enquadram -se aquelas iniciativas que abordam os fenômenos

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culturais típicos de determinada região de forma ampla e abrangente, envolvendo mais de uma área específica.

c) ASSUNTOS SOCIAIS E COMUNITÁRIOS - Incluem-se aqui as programações destinadas a transmitir informações, conhecimentos e habilidades de caráter não formal e a possibilitar a participação de diferentes segmentos da população na busca de melhoria das suas condições de saúde e saneamento, de trabalho, habitação, transporte, lazer, meio-ambiente, abastecimento, etc.

d) ASSUNTOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS - Incluem-se aqui os programas destinados a difusão e ao debate de temas relacionados à política e à economia, entendidos como sistema de regras referentes à administração dos negócios públicos e que, como tal, são do interesse maior da população.

e) ASSUNTOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS - Incluem-se aqui os programas que se ocupem de temas relativos às diferentes áreas do conhecimento humano, dentro de um enfoque mais rigoroso de observação, descrição e análise dos fenômenos, aprofundando-se na consideração de métodos e processos utilizados bem como nos estudos e pesquisas desenvolvidos a respeito.

f) ASSUNTOS RELIGIOSOS - programas destinados exclusivamente à divulgação religiosa.

g) ASSUNTOS ESPORTIVOS - Incluem-se aqui as séries e programas voltados para o registro, a análise e o estímulo de manifestações e iniciativas nas diversas modalidades do Esporte.

h) NOTICIOSOS E SERVIÇOS - Incluem-se aqui as programações de caráter informativo aí considerados basicamente os jornais e noticiários, via rádio e TV, flashes e spots de utilidade pública e de serviços à comunidade.

i) OUTROS - programas que não correspondem a nenhuma das categorias anteriores.8

Essas definições norteiam não só as características individuais de cada programa,

mas também a o perfil de toda a programação de uma emissora de radiodifusão.

No caso da Univali Fm, sua programação jornalística, no atual estágio, compreende

três edições diárias de segunda a sexta-feira do Repórter Univali. Os noticiários incluem

também outras setes edições diárias de segunda a sexta-feira, do Unirepórter. Estes noticiários

contam diariamente com a participação de quatro jornalistas profissionais e sete acadêmicos

de Jornalismo da Univali, cujos trabalhos têm a orientação de jornalistas profissionais e

professores de Comunicação Social. Seus apresentadores são jornalistas profissionais e ex-

alunos da Univali. Aos domingos ou sábados a tarde, dependendo do andamento das rodadas

dos principais campeonatos do país, a Univali Fm leva ao ar o “Plantão Esportivo”, com

informações sobre o andamento das competições esportivas e culminando com um resumo

dos principais acontecimentos jornalísticos do dia.

Seu radiojornalismo tem como característica os espaços que disponibiliza a outros

alunos da Faculdade de Comunicação Social, em especial aos acadêmicos da habilitação

8 Excerto literal extraído de FUNTEVÊ, [s.d.], p. 72-3.

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Jornalismo. Sob a orientação da jornalista e professora de radiojornalismo Liza Lopes Corrêa,

30 alunos em média, participam semestralmente de projetos que integram a Univali Fm e o

Centro de Ensino Superior de Ciências Humanas e da Comunicação. São ao todo, cinco

programas jornalísticos denominados Censura Livre, Pirão Catarina, Planeta Terra, Sintonia

Total e Falatório.

O programa Censura Livre - O impacto da entrevista - se desenvolve a partir do

trabalho de um grupo de acadêmicos. O compromisso é o de realizar um programa de

entrevistas com periodicidade fixa de segunda a sexta-feira. Esta experiência possibilita

despertar nos acadêmicos o senso de responsabilidade técnica e profissional, e o espírito de

equipe. Segundo Corrêa, "mais do que uma experiência em rádio trata-se, sobretudo, de uma

prática capaz de levar à reflexão sobre o fazer jornalístico, já que os acadêmicos vivenciam o

ritmo e os desafios do cotidiano da profissão". (CORRÊA, 2000).

Também em formato de entrevista, o Programa Pirão Catarina - Todas as tendências

da música no cenário catarinense – veiculado semanalmente, aos domingos, aborda a

produção musical de artistas catarinenses, "ao mesmo tempo em que propicia aos alunos do

curso de Jornalismo, a experiência da prática jornalística e cultural no rádio", explica Corrêa.

(IBIDEM).

Planeta Terra - Informação, aventura e respeito à natureza - segundo Corrêa, é um

programa radiofônico, semanal, que procura conscientizar a população quanto à preservação

do meio ambiente. (IBIDEM, p.20). A estrutura central desta produção jornalística em

formato magazine, inclui notícias, reportagens, spots educativos e música.

O programa semanal, em formato magazine, Sintonia Total – Um mergulho na

informação - aborda temas polêmicos da atualidade e de interesse regional. Com uma

proposta experimental, o programa funciona como prática de pesquisa no campo da

linguagem e formatação da informação no rádio. Quanto ao conteúdo, Corrêa destaca que o

"programa oferece uma alternativa de educação e cultura a partir do rádio, meio de

comunicação que reúne, entre suas características, o fácil acesso e a capacidade de informar e

formar opinião". (IBIDEM).

Falatório – Qual é sua opinião? - é um programa semanal, temático, com

transmissão ao vivo e de formato híbrido uma vez que mistura informação (notícias,

depoimentos de pessoas relacionadas ao tema, enquetes e curiosidades) com entretenimento

(músicas, dicas sobre o tema, agenda cultural e interatividade). Entre suas principais propostas

estão a de ser um programa voltado ao público jovem universitário e promover a interação

entre a emissora e esse mesmo público. Na pauta, assuntos e temas da atualidade. (IBIDEM).

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Ainda nesse contexto de interação rádio-escola, a Univali Fm veicula diariamente, o

spot radiofônico, Minuto Planeta Terra. Produzido por acadêmicos de Jornalismo, seu

objetivo é despertar na comunidade o interesse pelos cuidados para com as questões

ambientais. Os programas Mix Cultural e a Crônica da Cidade contam também com a

participação direta de alunos de Comunicação Social, habilitação Jornalismo. Na mesma

área, alunos de Publicidade e Propaganda, produzem diariamente o spot radiofônico, Na Ponta

da Língua. Além da Faculdade de Comunicação Social, professores e alunos de outros cursos

da universidade participam da programação da emissora, como são os casos dos cursos das

áreas sociais, biológicas e humanas.

A Univali Fm caracteriza-se principalmente pela diversidade musical em sua

programação. Dela fazem parte os mais variados gêneros musicais, com ênfase à MPB. O

jazz, o blues e o rock têm espaço na programação musical da emissora, o mesmo ocorrendo

com a música erudita, latino-americana e italiana.

Nessa linha musical, alguns programas têm a participação de apresentadores e

produtores, que disponibilizam informações quanto aos gêneros, compositores, intérpretes e

as respectivas músicas que apresentam.

Nesse rol estão os programas, Sonoris Causa, A Música do Brasil, Essa Bossa

Sempre Nossa, Canto Libre, Universo Musical, A Música de Roberto Carlos, Altas Ondas e

Voci D'itália. Seis destes programas são produzidos e apresentados por professores da

Univali, enquanto outros dois são fruto de parceria estabelecida entre Univali Fm e Rádio

Senado. (ANEXO).

Toda a programação da Univali Fm, bem como os projetos de veiculação de novos

programas, passam pela análise e apreciação do Conselho de Programação composto por

cinco conselheiros, nomeados pelo reitor da Univali. Integram o Conselho: o Pró-reitor(a) de

Ensino, o Pró-reitor(a) de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura, o diretor(a) do Centro

de Ensino Superior de Ciências Humanas e da Comunicação, o coordenador(a) do Curso de

Comunicação Social – habilitação Jornalismo, o coordenador(a) da Rádio Educativa Univali

Fm, um representante do corpo discente - indicado por seus pares - e um representante da

comunidade externa - indicado pela Câmara Municipal de Vereadores.

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3.5 Indicadores da programação jornalística e musical

O conteúdo de programação da Univali Fm segue a mesma lógica jornalística e

musical. Sua linha editorial previamente definida, permite que ao analisar o conteúdo

jornalístico e musical de um único e específico dia da semana, se tenha uma visão geral do

que é veiculado no demais dias, regra essa válida também para os finais de semana. Mesmo

assim, principalmente em termos jornalísticos considerou-se a análise do que foi veiculado em

todas as edições do Unirepórter e do Repórter Univali durante os (05) cinco dias úteis da

semana. Já em relação a programação musical, a análise levou em conta o que foi veiculado

em um dia útil e o que foi veiculado no que se considera final de semana.

A partir daí, para melhor visualização do conteúdo jornalístico e musical veiculado

pela Univali Fm, tomou-se como referência a semana de 08 a 14 de junho de 2003. Em termos

de conteúdo jornalístico, a análise se deu dos dias 09 a 13 (segunda a sexta-feira), dias da

semana em que são veiculadas as edições do Unirepórter e do Repórter Univali. Em temos de

conteúdo musical a análise levou em conta o que foi programado no dia 10, terça-feira, bem

como o que foi programado para os dias 13 e 14, sábado e domingo respectivamente.

A opção pela análise do conteúdo veiculado em uma única semana, se fundamenta

na probabilidade estatística de que o padrão seguido pela Univali Fm, não difere em número e

gênero de um dia para o outro. Na área jornalística, por exemplo, o padrão editorial das 07

(sete) edições diárias do Unirepórter, com duração médias de 04 (quatro) minutos cada, segue

a premissa de que das 04 (quatro) notícias veiculadas em média, 02 (duas) no mínimo tenham

caráter local e/ou regional, ficando as demais por conta dos assuntos estaduais, nacionais ou

internacionais. Esse padrão, entretanto, pode estar sujeito a alterações casuais, porque a

imprevisibilidade jornalística assim o pode permitir. Em outras palavras, o jornalismo, no

caso específico o de rádio, trabalha com o factual, com a instantaneidade e com a importância

da informação, o que pode provocar alterações nas regras, mesmo que momentâneas).

De qualquer maneira, as 03 (três) edições diárias do Repórter Univali seguem

orientação similar com ênfase ao local. O Repórter Univali das 7h30min com meia hora de

duração divide-se em três blocos de 10 minutos cada. Seu primeiro bloco é totalmente

dedicado aos assuntos locais. O segundo dedica-se as notícias locais, regionais e estaduais,

enquanto o terceiro abre novamente espaço para os assuntos estaduais mesclando-se a eles as

notícias nacionais e internacionais. Já em relação a edição das 12h05min com 10 minutos de

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duração e das 18h30min com 15 minutos, ambas sem divisão de blocos, a orientação é para

que haja proporcionalidade similar.

Dessa forma fundamentamos nossa análise inicialmente com base nas reportagens e

boletins que constam nos roteiros das 15 edições semanais do Repórter Univali conforme a

tabela 01. Nela procuramos mostrar o espaço e o tipo de público a que se direcionaram essas

reportagens e boletins. Para isso se qualificou de comunidade acadêmica a todo o universo

que inclui os corpos docentes, discentes e funcionais da Universidade do Vale do Itajaí. À

comunidade externa se incluiu todo o universo que abrange instituições e o público em geral.

Repórter UNIVALI – Reportagens e Boletins 09 a 13/06/03

TABELA 1: Assuntos

Assuntos

Repórter Univali 7h30min 12h05min 18h30min Total Total Geral

Comunidade Acadêmica 21 11 10 42

Comunidade Externa 39 7 14 60 102

Fonte: pesquisa do autor

Constata-se que coube a comunidade externa, 59% do espaço de reportagens e boletins

disponibilizados pelo Repórter Univali contra 41% dedicado a comunidade acadêmica. Portanto

deduz-se que a Univali Fm, mesmo sendo uma emissora mantida com verbas específicas da

Fundação Universidade do Vale do Itajaí, disponibiliza espaço para o público em geral.

Com base nos mesmos roteiros efetuou-se a análise a partir da abrangência do tema,

objeto das reportagens e boletins veiculados pelo Repórter Univali no mesmo período. Para

isso, de acordo com a tabela 02, dimensionou-se como áreas de abrangência os assuntos

locais, regionais, estaduais, nacionais e internacionais. Por assuntos locais entendem-se todos

àqueles ligados a cidade sede da Univali Fm, no caso Itajaí. Nessa direção, por assuntos

regionais entendem-se todos os fatos relacionados aos outros 10 municípios integrantes da

região da Foz do Rio Itajaí. Quanto aos assuntos de alcance estadual, nacional e internacional,

os próprios nomes já os definem.

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TABELA 2: Abrangência do tema

Abrangência do Tema

Repórter Univali 7h30min 12h05min 18h30min Total Total Geral

Local 41 15 18 74

Regional 3 _ 3 6

Estadual 7 3 3 13

Nacional 9 _ _ 9

102

Fonte: pesquisa do autor

De acordo com os dados levantados constata-se que nas três edições diárias do Repórter

Univali é significativo o predomínio de reportagens e boletins locais sobre os demais itens

mapeados na tabela o que demonstra a tendência do jornalismo da emissora em priorizar as

entrevistas e assuntos locais. Dessa forma 73% das reportagens contemplaram os assuntos locais,

contra 27 % do total das reportagens que abrangem os outros três assunto.

Já em relação às áreas (editoriais) que foram atendidas pelas reportagens ou boletins do

Repórter Univali, se sobressaiu a área de educação e ensino, seguidas de longe pelas áreas de

geral, economia e política, conforme demonstra a tabela 03.

TABELA 3: Áreas (editoriais)

Áreas (editoriais)

Comunicação 1

Cultura 7

Economia 11

Educação/Ensino 46

Esportes 1

Geral 18

Legislação 3

Meio Ambiente 2

Política 9

Polícia* 2

Saúde 2

Total 102 Fonte: pesquisa do autor

O percentual de 45% de espaço dedicado às reportagens e boletins veiculados

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pelo Repórter Univali à área educação/ensino demonstra que a linha editorial da emissora

é, nesse aspecto, coerente com sua função educativa.

TABELA 4: Setores

Setores

Assembléia Legislativa SC 4

Câmara Vereadores Itajaí 10

COMBEMI 1

Curso Direito - Univali 7

Curso Jornalismo - Univali 10

Curso Oceanografia - Univali 10

Curso Psicologia - Itajaí 8

Fundação Cultural de Itajaí 2

Governo do Estado 4

Hospital Infantil Pequeno Anjo - Itajaí 1

Itajaí Shopping 1

Legislativo 1

Mestrado Profissionalizante Saúde - Univali 3

Ministério Cultura 2

Ministério Meio Ambiente 1

Ministério Saúde 1

Ministério Trabalho 1

OAB - Balneário Camboriú 3

Outros 15

Prefeitura de Blumenau 1

Prefeitura de Itajaí 3

Prefeitura de Navegantes 1

Pró-Reitoria Ensino - Univali 2

SEBRAE 2

Senado 3

SESC 2

Soc. Assistencial Cult. Tiradentes - Itajaí 2

SUS 1 Total 102

Fonte: pesquisa do autor

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No que tange a setores inclui-se aqui àqueles pertencentes a Universidade do

Vale do Itajaí, através de seus cursos bem como os setores pertencentes a órgãos públicos

e privados. Na tabela 04 verifica-se quais e quantos setores foram atendidos pelas

reportagens e boletins no Repórter Univali.

Constata-se nesse caso, entre os cursos da Univali, o predomínio dos cursos de

Direito, Jornalismo, Oceanografia e Psicologia da Univali. Tal predomínio se justifica porque

na semana em que foi realizada a pesquisa, essas faculdades estavam avaliando os projetos de

conclusão de curso de seus alunos formandos. Do total verificado na tabela 04, observa-se o

predomínio do termo outros, entre os setores que mais obtiveram espaço de notícias. Por

outros convencionou-se denominar os assuntos da natureza administrativa, jurídica e

empresarial.

Reporter Univali – Textos Jornalísticos – 09 a 13/06/03

Ainda em relação ao Repórter Univali, adotou-se os mesmos critérios utilizados

quanto às reportagens e boletins veiculados no mesmo radiojornal, só que agora levou-se em

consideração apenas os textos jornalísticos elaborados pelos jornalistas e acadêmicos que

compõem o quadro funcional da emissora.

TABELA 5: Assuntos.

Assuntos

Repórter Univali 7h30min 12h05min 18h30min Total Total Geral

Comunidade Acadêmica 3 _ 2 5

Comunidade Externa 47 37 46 130 135

Fonte: pesquisa do autor

Do total de 135 matérias redigidas no período de 09 a 13/06/2003, a grande maioria,

96% se direcionou à comunidade externa. A tabela 05 demonstra que da mesma forma como

ocorreu em relação às reportagens e boletins constatou-se o predomínio de notícias ligadas a

comunidade externa o que mais uma vez evidencia o compromisso jornalístico da Univali Fm

para com o público em geral.

Na Tabela 06 observa-se que da mesma maneira como ocorreu com o Repórter

Univali, constata-se o predomínio, embora menos expressivo, do número de matérias locais

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em relação às demais. Mas mesmo assim é possível considerar que a somatória dos itens

local, regional e estadual, sobrepõe em muito o número de matérias de cunho nacional e

internacional. Há que se observar agora, o surgimento de matérias de origem internacional, o

que não ocorreu em relação às entrevistas e reportagens, porque no período da aferição não

foi localizado qualquer entrevista ou boletim com pessoa de origem estrangeira.

TABELA 6: Abrangência do tema.

Abrangência Tema

Repórter Univali 7h30min 12h05min 18h30min Total Total Geral

Local 17 12 13 42

Regional 7 5 5 17

Estadual 6 5 6 17

Nacional 15 13 12 40

Internacional 8 6 5 19

135

Fonte: pesquisa do autor

Verifica-se aqui que o percentual de matérias locais redigidas é de 31% contra

30% de matérias nacionais. Mas se levarmos em consideração a somatória de matérias locais,

regionais e estaduais, por estarem essas mais próximas à realidade da emissora, o percentual

sobe para 56%, o que mais uma vez comprova o compromisso da Univali Fm para com os

assuntos que estão mais relacionados à sua área de abrangência.

TABELA 7: Áreas. Áreas

Agricultura 2 Arte/Cultura 7

Conflito/Relações Internacionais 16 Economia 13

Educação/Ensino 3 Esporte 27 Geral 26

Habitação 2 Justiça 2

Meio Ambiente 4 Obras/Transporte 10

Polícia 8 Política 4 Saúde 11 Total 135

Optou-se por Polícia = Acidentes - Pena de Morte Fonte: pesquisa do autor

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A cobertura jornalística do Repórter Univali por áreas ou setores foi o que se buscou

levantar na tabela 07.

Das 14 áreas ou editoriais contempladas com matérias, as de Esporte e Geral foram

as que mais ocuparam espaço, seguidas pela de Conflito/Relações Internacionais, conforme

pode ser visto na acima. As somatórias dessas três áreas representam mais de 50% do total de

matérias veiculadas nas 11 áreas restantes.

Na tabela abaixo, buscou-se levantar quais setores obtiveram matérias redigidas no

Repórter Univali.

TABELA 8: Setores.

Setores Assembléia Legislativa-SC 2

Banco Central 3 CUT 1

DNER 4 Entidades Esportivas 27

Fundação Cultural Itajaí 4 Governo Estado 7 Governo Federal 11

Hospital Marieta Konder 1 Hospital Universitário Pequeno Anjo 1

Infraero 5 LIONS 1

Órgãos Internacionais 17 Outros 19

Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú 3 Prefeitura Municipal de Blumenau 1

Prefeitura de Lages 1 Prefeitura Municipal de Itajaí 15

Prefeitura Municipal de Navegantes 4 Receita Federal 1

Rotary 1 SESC 1

UNIVALI 5 Total 135

Prefeituras = Secretarias e demais órgãos da administração pública municipal - no caso específico de Itajaí menos a Fundação Cultural Governo do Estado = Secretarias e demais órgãos da administração pública estadual Governo Federal = Ministérios, Secretarias e demais órgãos da administração pública federal Órgãos Internacionais = Conflito e Relações Internacionais Fonte: pesquisa do autor

Do total de 23 setores que obtiveram matérias redigidas no Repórter Univali

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comprova-se na Tabela 08 o predomínio de matérias ligadas a entidades relacionadas ao

esporte as quais abrangem as mais diversas modalidades esportivas. No que respeita às

matérias pertencentes às Fundações Culturais, somente a de Itajaí, por ser sede da Univali Fm,

foi desmembrada do setor prefeitura. Todas as demais foram computadas como matérias

provenientes de suas respectivas prefeituras municipais.

UNIREPÓRTER – TEXTOS – 09 A 13/06/03

Para a análise do conteúdo das notícias veiculadas pelo Unirepórter adotou-se o

mesmo critério utilizado em relação ao Repórter Univali. Levou-se em conta a que público

foram direcionados os assuntos, a abrangência do tema, as áreas e os setores que foram notícia

no período compreendido entre 09 a 13/06/2003. Os dados que vem a seguir foram extraídos

das 35 edições do Unirepórter veiculadas no período. O Unirepórter como já o dissemos

anteriormente, constitui-se de sete edições diárias. Essas edições são veiculadas de segunda a

sexta-feira com duração média de quatro minutos cada em horário diurno entre 9h e 17horas.

TABELA 9: Assuntos

Assuntos Unirepórter

Comunidade Acadêmica 6 Comunidade Externa 144

Total 150 Fonte: pesquisa do autor

Em relação aos assuntos, a exemplo com o que ocorre com o Repórter Univali,

também no Unirepórter constatou-se o predomínio ainda mais acentuado de notícias ligadas

ao público externo, o que está bem evidenciado na Tabela 09. Se lá a proporção era de 59%

de matérias ligadas à comunidade externa, aqui esse percentual aumenta significativamente

para 96%.

Com relação à abrangência do tema ao contrário do que constamos no Repórter

Univali, em que as notícias de âmbito local se destacaram, no Unirepórter, as notícias de

âmbito estadual foram as que mais ocuparam espaço. Mas se levarmos em conta a somatória

de notícias locais com as regionais, concluiremos que nos dois casos o jornalismo da emissora

mantém a lógica de priorizar o que está mais próximo ao seu contexto.

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TABELA 10: Abrangência do tema.

Abrangência do Tema Unirepórter

Local 34 Regional 29 Estadual 44 Nacional 29

Internacional 14 Total 150

Fonte: pesquisa do autor

Verifica-se, portanto, na tabela 10, que o predomínio de 29 % de matérias de âmbito

estadual pode ser superado pelo percentual de 42 % se for considerada a soma de notícias

locais e regionais. Há que se considerar ainda que as notícias localizadas no contexto estadual

permanecem bem mais próximas à área de abrangência da Univali Fm, principalmente se

comparadas as de natureza nacional e internacional.

Na Tabela 11 verifica-se o predomínio de notícias relacionadas à editoria de geral,

ou seja, notícias que não estão ligadas a assuntos especializados, como por exemplo, os

especificados na própria tabela. Em seguida aparece com maior destaque àquelas relacionadas

à editoria de polícia e esporte.

TABELA 11: Áreas (editoriais)

Áreas (editoriais) Agricultura 2 Arte/Cultura 12 Economia 13

Educação/Ensino 8 Esporte 14 Geral 50

Internacional 12 Meio Ambiente 2

Mídia 1 Polícia 17 Política 5

Reforma Agrária 1 Saúde 11

Segurança Pública 1 Turismo 1

Total 150 Fonte: pesquisa do autor

Como foi possível constatar, 50% do total das 15 áreas ou editorias de geral foram

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100

contempladas com notícias no Unirepórter, ficando a outra metade, dividida entre as 14

restantes. Por área ou editoria de geral, entende-se os assuntos legislativos, festivos, e

comunitários.

De acordo com os números da tabela 12, no mesmo período, ao todo, 31 setores da

iniciativa pública e privada tiveram notícias a eles relacionadas, nas edições do Unirepórter.

TABELA 12: Setores

Setores AABB 1 APAE 2

Associação Catarinense de Proteção Animal 1 Câmara de Vereadores de Itajaí 1

CDL Balneário Camboriú 2 DETER 1

EMBRAER 1 Entidades Esportivas 11

Fundação Cultural de Itajaí 8 FURB 1

Governo do Estado 4 Governo Federal 6

Hospital Pequeno Anjo 1 IBGE 1 Lions 3

Órgãos Internacionais 12 Outros 58

Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú 8 Prefeitura Municipal de Blumenau 4

Prefeitura Municipal de Gaspar 1 Prefeitura Municipal de Itajaí 7

Prefeitura Municipal de Itapema 1 Prefeitura Municipal de Lages 1

Prefeitura Municipal de Navegantes 1 Prefeitura Municipal de Penha 1

Prefeitura Municipal de Piçarras 2 Prefeitura Municipal de Camboriú 1

SINE 4 Supremo Tribunal Federal 1

TSE 1 UNIVALI 3

Total 150 Fonte: pesquisa do autor

O percentual de 39% de notícias relacionadas ao setor que se convencionou

denominar de “outros” demonstra a diversidade de assuntos ligados a setores os mais diversos

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abordados na edições do Unirepórter. O setor denominado de “outros”, conforme já definido

anteriormente, com 58 notícias, foi o que predominou. Depois pela ordem aparecem as

notícias relacionadas aos órgãos internacionais, que são todas àquelas ligadas a organismos

estrangeiros governamentais ou não, e as relacionadas a entidades esportivas, que são àquelas

ligadas aos esportes em geral. Cabe-nos ressaltar que das 11 prefeituras que tiveram notícias

relacionadas as suas respectivas administrações, uma está localizada na área local de

abrangência da Univali Fm, 06 em área regional e 04 na área estadual. Todas juntas

totalizaram 35 notícias se consideradas nessa soma as 08 notícias da Fundação Municipal de

Cultura de Itajaí, desmembrada que o foi na tabela abaixo, da prefeitura local.

PROGRAMAÇÃO MUSICAL

Em termos musicais estabeleceu-se um padrão de programação para os dias úteis e

outro para os finais de semana. Em relação aos dias úteis, a orientação editorial é de que se

veicule durante o horário comercial (das 8h às 11h30min e das 14hàs 18h30min), de segunda

a sexta-feira, blocos com 04 (quatro) músicas, sendo 03 (três) nacionais por 01 (uma)

internacional. Essa orientação sofre alterações diárias das 11h30min às 12h quando é levado

ao ar o “Unibossajazz” cuja proporcionalidade é de uma música nacional por uma estrangeira,

e para o Almoço Musical das 12h15min às 13h30min, em que a regra limita-se apenas ao fato

das músicas serem orquestradas, independentes da nacionalidade.

Mudanças quantitativas ainda quanto à nacionalidade das músicas veiculadas ao

longo da programação, também ocorrem em outros horários. Os programas “Noite e

Madrugada Musical”, que vão ao ar das 20h às 24h e das 00hàs 5h30min respectivamente

variam a proporcionalidade, veiculando duas músicas nacionais por uma internacional. O

“Manhã Musical” veiculado de segunda a sábado das 05h30min às 07h30min dedica

praticamente todo o seu espaço a músicas nacionais exceção feita à veiculação esporádica de

gêneros musicais erudito e latino-americanos que não o brasileiro. O programa “Chorinho

Brasileiro”, veiculado de segunda à sexta -feira das 18h45min às 19 horas como o próprio

nome sugere é feito de músicas exclusivamente nacionais.

Para melhor visualização do produto musical veiculado pela Univali Fm realizou-se

um levantamento de toda a programação levada ao ar no dia 10 de junho de 2003, conforme

pode ser observado na Tabela 13.

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TABELA 13: Músicas

Origem das músicas Nº músicas veiculadas

Brasileiras 225

Estrangeiras 074

Total de músicas veiculadas 299

Fonte: pesquisa do autor

O resultado proporcional das músicas veiculadas durante um dia de programação na

Univali Fm é de 75% de músicas nacionais para 25 % de músicas estrangeiras o que

demonstra nitidamente a tendência da emissora em dar espaço à produção brasileira. A

propósito, independente de gênero ou estilo musical, qualificamos de música brasileira, todas

àquelas de autoria de compositores brasileiros. Da mesma forma, como música estrangeira,

qualificamos todas àquelas de autoria de compositores de outros países.

Como no Brasil, atualmente, devido a influência da indústria cultural, há uma forte

tendência de assimilar música estrangeira àquela ligada a países de língua inglesa, mais

especificamente Estados Unidos e Inglaterra, observou-se que das 74 delas veiculadas nesse

dia, 16 são de outras nacionalidades a saber: 09 (nove) africanas, 01 (uma) italiana, 02 (duas)

grega e 01 (uma) dinamarquesa. Constatou-se ainda entre elas, 03 (três) cujas interpretações

são de brasileiros.

Embora esse levantamento tenha levado em consideração às 24 horas diárias de

programação da emissora há que se extrair desse total 03h20min dedicadas a programas não

musicais assim identificados: Repórter Univali, Unirepórter, Censura Livre, Falatório, A Voz

do Brasil, A crônica da Cidade e Palavra de Vida. Há que se extrair também 01 hora dedicada

ao programa A Música do Brasil, que embora de caráter educativo-musical, não teve suas

músicas, aqui computadas. Portanto, o resultado numérico das músicas veiculadas é

proporcional a uma programação com 19h40min de duração.

Em função do diferencial que caracteriza a programação musical da Univali Fm, aos

finais de semana efetuamos a análise do que foi veiculado em termos musicais nos dias 14 e

15 de junho de 2003, sábado e domingo, respectivamente. Tal análise se justifica uma vez que

o padrão de programação de finais de semana sofre alterações devido a inclusão de 12

programas de cunho educativo-cultural a saber: A Música do Brasil, A Música de Roberto

Carlos, Canto Libre, Chorinho Brasileiro, Clássico Domingo, Pirão Catarina, Planeta Terra ou

Sintonia Total, Samba Brasil, Sonoris Causa, Sucessos Inesquecíveis, Universo Musical, e

Voci D´Itália. Devido à característica peculiar que cada um desses programas a lógica de

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103

proporcionalidade quanto a nacionalidade das músicas, difere daquela adotada durante os dias

úteis conforme se constata na Tabela 14.

TABELA 14: Músicas

Origem das músicas Nº de músicas veiculadas

Brasileiras 405

Estrangeiras 257

Total de músicas veiculadas 662

Fonte: pesquisa do autor

Apesar da existência aos finais de semana de pelo menos 05 programas direcionados

a divulgação de músicas, compositores e intérpretes estrangeiros, verifica-se o predomínio de

músicas brasileiras na programação da emissora na ordem de 61% em relação as músicas

estrangeiras com 39%.

Há que se considerar ainda a ausência dos radiojornais aos sábados e domingos, uma

vez que a atuação da emissora nesse setor limita-se a veiculação aos sábados pela manhã do

programa Planeta Terra ou Sintonia Total e a inserções esporádicas de notícias esportivas aos

domingos a tarde e a um único noticiário de 10 minutos de duração às 20 horas do mesmo dia.

Por isso é possível observar que tanto no sábado, quanto no domingo a Univali Fm veicula em

média 100 músicas a mais que as veiculadas em um dia útil.

Com base nas tabelas deste capítulo deduz-se que: os rádios jornais da Univali Fm,

dedicam a maioria de seus espaços à informação de caráter local e à comunidade externa: os

programas de caráter jornalístico produzidos por acadêmicos de comunicação social da

UNIVALI contemplam esses mesmos espaços; e que a programação musical prioriza a

música popular brasileira sem desconsiderar o aspecto cultural das músicas estrangeiras de

origem diversas.

3.6 Funções, Objetivos, Prestação de Serviços e Limitações

Entre as funções específicas da Rádio Educativa Univali Fm estão a de promover a

integração entre a Universidade e a comunidade e a de divulgar matérias concernentes ao

ensino e a cultura. Por essa razão “[...] uma estação de rádio que opere em caráter local por

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104

pequena que seja, sempre é um centro de comunicação” (PERUZZOLO, 1972, p. 255).

Peruzollo reforça esse conceito ao lembrar que

O programa local e as pessoas que trabalham na emissora de uma determinada cidade atingem mais diretamente a comunidade porque são problemas seus. Por isso afirmamos que a pequena emissora local é empresa de comunicação que deve atender a sua comunidade. (IBIDEM, p. 256).

Dessa forma, a estratégia central da Univali Fm, foi explicitada em síntese, quando

de sua criação a partir dos seguintes propósitos e premissas:

- Estar engajada na comunidade.

- Viver da comunidade e para a comunidade.

- Prestar serviço à comunidade.

- Assumir liderança junto a comunidade.

- Promover a comunidade e seus valores.

- Realizar o entrosamento entre a comunidade e os poderes constituídos.

Entre os objetivos da Rádio Educativa Univali Fm estão os de :

- Operacionalizar e avaliar uma programação para a Rádio Educativa como

estratégia de apoio à comunidade que a Universidade do Vale do Itajaí promove.

- Oferecer uma programação voltada à divulgação de programas de cunho

educativo e cultural.

- Oferecer uma programação voltada ao resgate dos valores culturais.

- Promover parcerias com outras instituições como prefeituras municipais,

universidades, escolas municipais e/ou estaduais, centros de pesquisa,

Organizações Não Governamentais e todas àquelas vinculadas ao resgate da

Educação como parte da Cidadania.

- Promover parcerias com todas as faculdades da Universidade do Vale do Itajaí

no sentido de propiciar um intercâmbio de informações e divulgação de

resultados de pesquisa e projetos em andamento.

- Fortalecer a unidade de pensamentos e ações entre as faculdades.

Prestar serviços à comunidade de sua área de abrangência é uma das características

da Universidade do Vale do Itajaí. Falar de princípios de prestação de serviços é falar dentre

outros conceitos, da liderança, audiência, veiculação, credibilidade, aceitação, respeito e

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fidedignidade ao produto da rádio educativa. Mesmo não sendo uma emissora comercial, a

Univali Fm faz parte de um mercado competitivo, sendo por isso uma de suas missões a busca

pela audiência.

Afirmam Cobra e Zwarg (1986, p.223) que:

A busca da sobrevivência, da consolidação e do crescimento é a base do sucesso estratégico em qualquer ramo de negócios. Mas o setor de comunicação a esses desafios se agrega a necessidade do posicionamento da empresa em cada mercado em que ela atua. E mais, até mesmo para cada serviço específico, pois na busca pela audiência, liderança é essencial para o negócio de comunicação.

Desde que foi implantada, e emissora procura atender a comunidade acadêmica e a

toda a comunidade de sua área de abrangência, pois como revelam Cobra e Zwarg (1986,

p.221), "o sucesso de um veículo depende do seu público. É ele quem consome lazer, notícias

e cultura, retribuindo em audiência e circulação”.

Seguindo esse raciocínio, a Univali Fm, disponibilizou de maio de 1999 a junho de

2003 de 89.844 espaços em sua programação para divulgação de diversos assuntos de

interesse da comunidade acadêmica e da comunidade em geral, não estando incluídas aqui as

informações de caráter jornalístico e sim as de prestação de serviços. (ANEXO).

Cobra e Zwarg (1986, p. 215), acrescentam que "um serviço de comunicação -

programa de televisão ou rádio, ou mesmo um jornal ou uma revista - deve gozar de boa

credibilidade para ser aceito e respeitado”. Em consonância com essa premissa, segundo o

mesmo relatório, a equipe de radiojornalismo da Univali Fm , realizou de março de 1999 a

junho de 2003, 15.276 entrevistas. Aqui também não estão computadas as entrevistas

realizadas pelos programas acadêmicos. Desse total, 9.361 foram com pessoas ligadas a

comunidade externa e 5.915 com pessoas ligadas a comunidade acadêmica. (ANEXO)

Os dados estatísticos apresentados demonstram a quantidade de espaços

disponibilizados à divulgação de assuntos, sejam esses de caráter jornalístico ou de prestação

de serviços. Cobra e Zwarg ensinam que:

A credibilidade de uma fonte emissora de informação deve ser tal que não paire a menor dúvida sobre ela, uma vez que tem sido considerada a mais importante característica em comunicação e prestação de serviços e é o principal atributo de um serviço de comunicação. (COBRA e ZWARG, 1986, p. 216).

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Até o momento, a Univali Fm não disponibiliza de pesquisa científica que mensure

seu grau de credibilidade junto ao público. Mas, há que se considerar o prêmio de âmbito

estadual recebido em setembro de 2002 da ADVB/SC - Associação Brasileira dos Dirigentes

e Vendas de Marketing, Seccional de Santa Catarina. A solenidade de premiação da 4ª edição,

realizada em Florianópolis, oficializou a Rádio Educativa Univali Fm, como "Empresa

Cidadã", na categoria Desenvolvimento Cultural, sendo reconhecida pelo mérito da

responsabilidade social um exercício de cidadania. (ANEXO).

Antes, em maio de 2000, por considerar os elevados méritos da Rádio Univali, a

emissora já havia sido agraciada com o título "Amigo do Museu Histórico de Itajaí",

concedido pelo Conselho Curador da Fundação Genésio Miranda Lins, entidade mantenedora

do Museu e Arquivo Histórico de Itajaí. (ANEXO).

Mais recente foi a premiação obtida em 17 de outubro de 2003. Em solenidade

realizada na cidade de Joinville, o programa Sintonia Total, veiculado na Univali Fm, foi o

vencedor do 2º Prêmio Unimed de Jornalismo, categoria acadêmica, o que corrobora os

espaços que a emissora disponibiliza aos assuntos de natureza educativa, cultural e

jornalística. (ANEXO).

Não obstante, limitações e dificuldades de ordem operacional e editorial, também

fazem parte do cotidiano da Univali Fm, as quais enumeramos para possíveis e futuras

correções e providências:

Passados 04 (quatro) anos de sua implantação a Univali Fm não dispõe de pesquisa

científica que mensure se a linha editorial jornalística e musical adotada atende aos objetivos

propostos. Ao se considerar a pesquisa como referência teórica fundamental para orientação

quanto aos objetivos de programação propostos, deduz-se fundamental, na medida em que

aponta para indicadores confiáveis que determinam os tipos de público e audiência a serem

alcançados.

Por se tratar de uma emissora pertencente a uma instituição educativa, tem limitada à

sua liberdade de atuação jornalística principalmente quanto aos assuntos polêmicos ou

conflitantes que envolvem interesses da própria instituição a qual pertence o que gera ou

induz a auto-censura, muito embora é fundamental que se esclareça, que não há por parte da

administração da universidade qualquer determinação expressa nesse sentido.

Por não ter fins lucrativos, não possui um quadro funcional capaz de atender a todas

as suas necessidades de programação, ficando atualmente as decisões, concentradas

praticamente na figura de seu coordenador. Nesse contexto, falta-lhe a ocupação de cargos

relativos à gerência de jornalismo e de programação.

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Ainda em relação ao quadro funcional, mesmo disponibilizando dos serviços de

acadêmicos de Comunicação Social, prescinde a falta de repórteres profissionais que atendam

aos três períodos do dia as necessidades de cobertura jornalística. Da mesma maneira, não

dispõe de um veículo específico para a cobertura de matérias extra campus e as quais

favorecem a uma maior aproximação entre emissora e comunidade. Aqui a ressalva de que o

veículo previamente reservado, como ocorre atualmente, nem sempre atende a necessidade do

acontecimento jornalístico, que em muitos casos não tem hora para acontecer.

Em que pese as limitações aqui enumeradas, consta-se que as condições de trabalho

disponibilizadas pela Univali, ao seu corpo funcional e de alunos, favorecem a realização de

um trabalho profissional, favorável a reflexão crítica, a pesquisa e ao experimento de novos

estilos , descrições e formas de comunicação, ao mesmo tempo em que se constitui em espaço

para formação de novos profissionais do setor, dotados e senso crítico e comprometidos com a

cidadania.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de ser um fenômeno novo na história das civilizações, a comunicação de

massa, proporcionou em curto prazo, significativas alterações comportamentais, que

influenciaram diretamente no modelo de vida das sociedades contemporâneas. Seu

surgimento afluiu a partir da propagação progressiva dos meios de comunicação eletrônicos,

precedida que o foi dos meios impressos. Direcionada a grandes audiências, e a públicos

heterogêneos, tem sido empregada pelos meios como fonte de informação onde os interesses

econômicos e políticos nela se expressam.

Nessa analogia em que os meios de comunicação cada vez mais transpõem

fronteiras, o processo de hibridação das culturas, tende a se acentuar, na medida em que

progridem fenômenos como os da globalização, dos sistemas de informação e das novas

tecnologias. Mas, para sustentação de suas próprias subsistências, seres humanos e cultura se

inter-relacionam. Embora toda sociedade possua indistintamente um sistema de comunicação,

nas sociedades modernas as mídias ainda que incitem alterações em culturas tradicionais não

tem excluído definitivamente suas raízes.

Não obstante a permanência de traços originais em suas raízes etnológicas, a cultura

experimenta constantes processos de transformação. Por mais resistência que possa ocorrer

sempre haverá a troca dos velhos pelos novos valores. A cultura é tão eternamente mutável

quanto o são os processos sociais. O importante é que nessa troca prevaleça o respeito à

especificidade de cada uma delas e as funções por elas desempenhadas em suas respectivas

épocas. E essa é uma função a ser admitida pelos meios.

Cultura e política estão presentes no cotidiano de todas as sociedades. Política e

cultura, portanto, são indissolúveis, caminham juntas ao longo da história. É nesse contexto

que se estabelece à política cultural em que entram em jogo interesses políticos e econômicos

cujas influências emanam do poder. Sujeita à repressão quando ultrapassa os limites

estabelecidos, a produção cultural é em contrapartida, capaz de realizar transformações

históricas. As relações intrínsecas entre cultura e política foram as que motivaram a

preocupação de entender o comportamento ou o papel a ser desempenhado nesse sentido, por

um veículo de comunicação de massa, no caso específico, a Rádio Educativa Univali Fm,

objeto do presente estudo.

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Outra preocupação foi a de analisar e conceituar a indústria cultural, fenômeno cuja

influência está inexoravelmente ligada aos meios de comunicação de massa, exercendo forte

influência nos conteúdos de programação e conseqüentemente no comportamento coletivo das

sociedades modernas.

O que se observa é que hoje, salvo raríssimas exceções, torna-se difícil conceber os

meios de comunicação de massa, sem a influência unilateral da indústria cultural . Sob a égide

de interesses econômicos e políticos, do lucro imediato, da manutenção dos padrões de

cultura, dos padrões homogêneos de consumo a indústria cultural aí está de forma mais

enraizada exercendo forte influência sobre a música, as artes em geral e conseqüentemente

sobre o produto veiculado pelos meios de comunicação de massa.

Contudo, duas vertentes antagônicas em suas opiniões divergem quanto aos efeitos

que a indústria cultural provoca às sociedades. Para os apocalípticos (Escola de Frankfurt) a

indústria cultural favorece as classes dominantes na medida em que defende interesses

políticos e econômicos, disponibiliza produtos de consumo homogeneizados e não se

preocupa com a qualidade. Para os integrados (Escola Progressista-Evolucionista) ao

contrário, favorece as massas ao permitir-lhes o acesso democrático aos meios de

comunicação e aos bens de consumo, antes só ao alcance dos grupos de elite.

No Brasil, se verifica uma tendência entre os estudiosos do assunto para

concordarem mais com os argumentos apocalípticos. Mas, é fundamental que haja também o

entendimento de que a indústria cultural, fenômeno com tendência irreversível como as

mídias, e as quais se utiliza para propagar suas idéias, seja empregada nas sociedades

modernas como fator de integração na divulgação de mensagens desprovidas dos interesses de

lucro.

As mídias alternativas que começam a ganhar novos contornos em ambientes os

mais diversos, incluindo-se aí, cada vez mais os periféricos, tendem a ser um foco de

resistência às grandes redes midiáticas e com isso uma nova alternativa para uma

comunicação mais descentralizada e, portanto, mais democrática na enunciação de seus

valores, e conseqüentemente na sua recepção.

Mas por enquanto, o que se observa é que as grandes redes de televisão, por

exemplo, continuam a ratificar sua hegemonia sobre as redes menores ou mesmo ao que

poderíamos qualificar como meios independentes, ou seja, àqueles que não integram nenhuma

rede, e que por isso trabalham com alternativas ligadas aos espaços locais, regionais ou

nacionais. São eles atualmente, a alternativa básica de resistência aos grandes conglomerados

midiáticos e que por suas características locais mantêm uma programação voltada aos

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interesses locais.

Percebe-se, igualmente, que os meios de comunicação de massa, em sua grande

maioria, estão a serviço dos interesses de mercado: a indústria do consumo seja ela de bens

duráveis ou de bens culturais. Nesse caso, verifica-se uma grande diferença favorável aos

produtos de países desenvolvidos em relação aos de países periféricos. Nessa relação as

mensagens culturais provenientes de nações desenvolvidas se impõem economicamente sobre

a de nações em desenvolvimento ou sub desenvolvidas.

Os meios de comunicação de massa, em especial o rádio e a televisão, moldam o

conteúdo de suas programações a serviço da indústria cultural. Essa é uma evidência que se

observa nos grandes veículos, principalmente naqueles que compartilham, no caso do Brasil,

de redes nacionais de caráter privado. Com a nítida função de buscar lucratividade e espaços

de audiência junto a seus públicos, esses veículos se utilizam de conteúdos descartáveis,

ligados a modismos passageiros e até ao grotesco.

Com base no que preconiza a legislação brasileira de radiodifusão foi possível

constatar que as emissoras de caráter educativo, bem como as de caráter alternativo não

seguem esse padrão. Há que se considerar entretanto, que por serem em número reduzido, em

relação às emissoras comerciais, têm diminuídas as suas possibilidades de levarem seus sinais

a um maior e diversificado número de pontos, sendo esse, um dos fatores primordiais para

consolidação da audiência.

Em contrapartida, outra constatação foi a de que os avanços tecnológicos além de

ampliarem a capacidade de expansão dos meios, propiciaram o surgimento ao lado dos

grandes veículos, de meios alternativos resultantes de aspirações e lutas pela democratização

das mídias. Com isso, as classes menos privilegiadas, antes a mercê da postura unilateral com

que os veículos faziam chegar até elas suas mensagens em grande parte portadoras de

interesses econômicos, políticos e culturais, passam a visualizar espaços de comunicação até

então inacessíveis. O espaço público disponível somente às elites se transforma em espaço

comum, onde as mensagens ganham um caráter bilateral. Mas, verifica-se ainda que muito há

por fazer para que a verdadeira democratização das mensagens seja uma prática com primazia

junto aos meios.

Em se tratando de analogia cultural, observa-se que todos esses novos fluxos de

informação, canais de comunicação, satélites, Internet, ao propiciarem maior liberdade na

circulação de pessoas, bens de consumo e mensagens nos afastam cada vez mais e em maior

escala de nossa identidade que já não se identifica mais com a comunidade nacional.

Atualmente, mesmo em vastos setores populares a identidade fala várias línguas, pertence a

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muitas etnias, desloca-se de um país para outro, constituindo-se na mistura de elementos de

diversas culturas. De qualquer maneira verifica-se que mesmo a estimulante integração e

concorrência não vão acabar com as necessidades locais frente à globalização.

É nesse contexto que se confirma a necessária ação comportamental das emissoras

públicas (educativas) e comunitárias (livres). São elas que devem oferecer focos de resistência

à globalização cultural de cunho radical, permanecendo à margem dos padrões massificados

de programação, cultura e consumo, principalmente pelo compromisso assumido junto a seus

públicos em suas respectivas áreas de abrangência.

No caso específico do rádio, comprova-se que desde de o seu surgimento, tem se

constituído num dos principais meios de comunicação de massa. De baixo custo, sua

amplitude ultrapassa fronteiras, e sua recepção alcança grandes massas populacionais

espalhadas por todos os continentes sejam elas alfabetizadas ou não. Daí sua importância em

estar comprometido com elementos fundamentais à formação educativo-cultural dos

indivíduos e das sociedades.

Em compensação, o fato de jornais, televisões e rádios comerciais dependerem de

verbas publicitárias para sobreviverem corrobora uma possível relação de cumplicidade

passível de ocorrer entre esses veículos, a iniciativa privada e grupos de poder. Relação essa,

motivada por ingerência econômica e política, o que descaracteriza em muitos casos, o caráter

de isenção e imparcialidade com que as informações devem ser tratadas por esses meios.

No caso dos veículos de comunicação catarinenses, percebe-se que o modelo de

comunicação adotado, segue as mesmas regras que regem os demais veículos existentes no

país. Isso ficou constatado, no item que trata das concessões, em que prevalecem o poder

econômico e os interesses políticos, ou seja, a política do clientelismo, da troca de favores ou

em outras palavras, a política do "toma lá, dá cá".

Verifica-se no início da década de 50, com o advento da televisão, um arrefecimento

geral no meio radiofônico. A reação viria duas décadas depois com o surgimento das FM

atualmente responsáveis pelas transformações do setor. Na busca do fortalecimento financeiro

e de audiência aparecem as tendências à especialização e a formação de redes. Mas o que está

caracterizado é que a formação das grandes redes nacionais, faz o rádio perder suas principais

características que são a atuação e a identificação junto aos espaços locais comunitários. Não

pela formação das redes em si, mas na forma em que atuam e como são formadas.

Atesta-se que a crescente importância e a evolução dos meios de informação fizeram

com que os diferentes países tomassem medidas sobre o que deviam veicular à sociedade. No

Brasil, existem simultaneamente empresas de comunicação do Estado e da iniciativa privada

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enquanto a legislação que regulamenta a radiodifusão e as telecomunicações move-se rumo

aos interesses da política que governa as sociedades capitalistas. Já o Estado reservou para si

os direitos sobre os veículos de radiodifusão cabendo a ele conceder ou não a outorga de

funcionamento aos que queiram explorar esses serviços.

Comprova-se que no Brasil, desde o período colonial, a política de concessões de

radiodifusão tem seu eixo centrado em barganha e clientelismo político. O resultado dessa

política é o de que a concentração do poder da informação no país, está nas mãos de políticos

ligados ao sistema e a poucos tradicionais grupos familiares sejam locais ou regionais. A

evidencia é de que a grande maioria das concessões para emissoras de radiodifusão foi

precedida por interesses políticos e econômicos.

Deduz-se então que as políticas públicas de comunicação não favorecem as

emissoras públicas, uma vez que por detrás delas não estão os grandes interesses políticos e

econômicos, no caso do primeiro caracterizado pela troca de votos e a manutenção do poder.

Seus compromissos e filosofia de promover a cultura, a educação, o desenvolvimento regional

e a democratização da informação, vão de encontro aos favoritismos sejam eles de ordem

política ou financeira.

Nesse emaranhado e complexo jogo de interesses em que entram em campo aspectos

de ordem cultural, econômica, política e social, legitimados pelos meios de comunicação de

massa, papel fundamental na transformação dos conceitos e comportamentos hoje adotados,

têm as emissoras públicas de caráter educativo e as emissoras privadas também conceituadas

de comunitárias ou livres. Desprovidas que o são das questões econômicas que norteiam o

comportamento das emissoras comerciais ou convencionais, podem e devem se voltar

exclusivamente às questões de ordem cultural, educativa e social, aonde o público seja co-

participante de uma programação cidadã.

Ao priorizar as informações de caráter local; ao dedicar seu espaço jornalístico à

comunidade externa; ao priorizar área de informação ligadas à educação e cultura; ao priorizar

a música popular brasileira; ao conceder espaço a música local, constata-se no presente

trabalho que a Univali Fm cumpre, ainda que, de forma limitada, seu papel de emissora

educativa na valorização das culturas locais. Contudo, tem a importante missão de ampliar e

aperfeiçoar esses espaços através de sua linha editorial de programação.

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ANEXOS

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