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1 A SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR: CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE A PARTIR DE ESTUDO NO ASSENTAMENTO FAZENDA ESPERANÇA EM RONDONÓPOLIS – MT Heli Heros Teodoro de Assunção Universidade Federal de Mato Grosso –UFMT/ Campus Rondonópolis [email protected] Iolanda Lopes de Oliveira Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/Campus Rondonópolis [email protected] Roney da Cruz Barbosa Universidade Federal de Mato Grosso –UFMT/ Campus Rondonópolis [email protected] José Adolfo Iriam Sturza Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/Campus Rondonópolis [email protected] Resumo O texto procura discutir a segurança e a soberania alimentar dentro das perspectivas locais e nacionais, a partir de uma pequena problematização da evolução e das formas predominantes de agriculturas desenvolvidas no Brasil. Ao final apresenta a agroecologia como alternativa de reparar o agrário e o agrícola do país. É baseado em vivencias e em analises de questionários realizados junto ao projeto “Parceria de Fibra: ações para inclusão social, geração de renda e implantação de sistema de produção da bananicultura com práticas agroecológicas no Assentamento Fazenda Esperança, Município de Rondonópolis - MT”, financiado pelo CNPq (Edital MCT/CNPq/MDA/SAF/Dater N°. 033/2009). Palavras-chave: Segurança Alimentar. Soberania Alimentar. Agricultura Familiar. Agroecologia. Introdução A recente historia da moderna agricultura brasileira impulsionada no pós-revolução verde e apoiada no período da ditadura, ocasionou uma transformação radical do campo no país. Com o incentivo de programas de financiamentos estatais a “colonização” no Centro Oeste e Norte resultaram em: uso indiscriminado de insumos químicos, maquinários agrícolas em grandes monocultivos, variedades geneticamente melhoradas de alto rendimento e irrigação, entre outras consequências. Por outro lado, a agricultura tradicional camponesa realizada em pequenas áreas de policultivos sem uso de insumos industrializados ou maquinários pesados, e mantenedores de suas especificidades

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A SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR: CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE A PARTIR DE ESTUDO NO ASSENTAMENTO FAZENDA

ESPERANÇA EM RONDONÓPOLIS – MT

Heli Heros Teodoro de Assunção Universidade Federal de Mato Grosso –UFMT/ Campus Rondonópolis

[email protected]

Iolanda Lopes de Oliveira Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/Campus Rondonópolis

[email protected]

Roney da Cruz Barbosa Universidade Federal de Mato Grosso –UFMT/ Campus Rondonópolis

[email protected]

José Adolfo Iriam Sturza Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/Campus Rondonópolis

[email protected]

Resumo

O texto procura discutir a segurança e a soberania alimentar dentro das perspectivas locais e nacionais, a partir de uma pequena problematização da evolução e das formas predominantes de agriculturas desenvolvidas no Brasil. Ao final apresenta a agroecologia como alternativa de reparar o agrário e o agrícola do país. É baseado em vivencias e em analises de questionários realizados junto ao projeto “Parceria de Fibra: ações para inclusão social, geração de renda e implantação de sistema de produção da bananicultura com práticas agroecológicas no Assentamento Fazenda Esperança, Município de Rondonópolis - MT”, financiado pelo CNPq (Edital MCT/CNPq/MDA/SAF/Dater N°. 033/2009).

Palavras-chave: Segurança Alimentar. Soberania Alimentar. Agricultura Familiar. Agroecologia.

Introdução

A recente historia da moderna agricultura brasileira impulsionada no pós-revolução

verde e apoiada no período da ditadura, ocasionou uma transformação radical do campo

no país. Com o incentivo de programas de financiamentos estatais a “colonização” no

Centro Oeste e Norte resultaram em: uso indiscriminado de insumos químicos,

maquinários agrícolas em grandes monocultivos, variedades geneticamente melhoradas

de alto rendimento e irrigação, entre outras consequências. Por outro lado, a agricultura

tradicional camponesa realizada em pequenas áreas de policultivos sem uso de insumos

industrializados ou maquinários pesados, e mantenedores de suas especificidades

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culturais regionais, pareceu inferior e ultrapassada diante desta agricultura moderna

industrializada que se iniciava a partir da década de 1960 no Brasil.

Por conseguinte, vários países latino-americanos introduziram-se no ideário

produtivista, alavancado pelos países mais desenvolvidos, berço da chamada Revolução

Verde. Com isso, os camponeses foram arruinados pela política de subsídios dos

“grandes”, neste setor cada vez mais globalizado da produção capitalista.

A partir dai foram surgindo as denominações com intuito de inferiorizar a agricultura

camponesa como: pequeno agricultor, agricultura de pequena escala e agricultura de

subsistência. Aliado a isso, criou-se a ideia que a agricultura produtora de alimentos era

aquela que se submetia a lógica perversa do mercado, ou seja, a moderna e

industrializada, que mantinha suas metas na propagação de um capital globalizado. Esta

agricultura empresarial foi atropelando culturas, crenças, credos, saberes tradicionais,

realidades locais, lugares (STURZA, 2005, 2008), questões ambientais e soberanias

governamentais com o simples intuito de geração de lucros e melhoria da qualidade de

vida para uma minoria, em detrimento da maioria. A este atual modelo se denomina

agronegócio¹.

Ao longo desse processo e contexto vai surgindo a preocupação acerca de como se

alimentar o mundo cuja população cresce vertiginosamente. Assim, aparecem

designações e termos novos como segurança alimentar e, em seguida, soberania

alimentar, que serão debatidas ao longo deste artigo.

A maioria das definições e debates sobre segurança alimentar foram desencadeados a

partir da Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial (1997)

intensificando-se até a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento

Sustentável (Rio+20) em 2012. Infelizmente ainda não foram tratadas as reais causas

dos problemas e se atêm em soluções tímidas e superficiais como resposta à população

que não tem acesso a informações de qualidade e fica apenas com as informações

disponibilizadas pela grande mídia. Essas soluções: [...] não define em que condições se devem estimular a produção de alimentos, abrindo as portas para o desenvolvimento e fortalecimento do agronegócio e marginalizando a agricultura de base familiar. O foco de sua ação está na compra e acesso de alimentos como direito individual à alimentação, sem problematizar a produção e a manutenção da monocultura e grandes latifúndios, a comercialização e o monopólio desta, a produção para a exportação e a dependência de países, as relações e condições de reprodução das famílias camponesas etc. Dessa forma, a promoção da segurança alimentar esbarra na satisfação de outras necessidades básicas. É a partir deste entendimento que iniciamos o debate no Brasil.(JALIL, 2009, p.33)

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O artigo enfatiza a importância da agricultura familiar e camponesa para a construção

da soberania e segurança alimentar visando à melhoria da qualidade de vida e

autossuficiência dos povos, destacando alguns aspectos, tanto da soberania como da

segurança alimentar, aplicados ao Assentamento Fazenda Esperança, Rondonópolis,

MT.

Soberania e segurança alimentar

Os números mostram que 13,921 milhões de brasileiros e brasileiras vivem com a

realidade de insegurança alimentar grave, totalizando 7,7% da população. Ainda, 72,163

milhões de pessoas (39,8%) se encontram em situação de insegurança alimentar de leve

a moderada. Os dados da PNAD (IBGE, 2006) revelam ainda que no meio rural

encontra-se a maior prevalência domiciliar de insegurança alimentar moderada ou grave

e, também, a maior proporção de população vivendo nessa condição. Enquanto na área

urbana 11,4 % dos domicílios estão em condição de insegurança alimentar moderada e

6% grave; no meio rural as prevalências são 17% e 9%, respectivamente. A pesquisa

mostra ainda que cerca de 9,5 milhões de pessoas moradoras em áreas rurais vivem em

domicílios com restrição quantitativa de alimentos, ou seja, em insegurança alimentar

moderada ou grave e 3,4 milhões delas convivem com a experiência de fome. (IBGE,

2004, 2006 apud JALIL, 2009).

O relatório do Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola (FIDA) (2006),

entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que a realidade do

rural brasileiro é ainda pior que o urbano, pois cerca de 80% dos habitantes rurais Brasil

(quase 30 milhões de pessoas) vivem em condições de pobreza sem acesso à educação,

saúde, agua, saneamento básico e tecnologias que melhorem sua qualidade de vida.

(JALIL, 2009)

Em meio a essas grandes transformações do mundo e do campo brasileiro, os

movimentos sociais do campo, um grupo seleto de pesquisadores e estudantes se

opuseram contra tais mudanças com intuito de questionar seus reais benefícios. Surgem

então no Brasil as discussões à cerca da segurança alimentar que a FAO (1997) entende

como: [...] o direito das pessoas em se alimentar em todos os momentos, ter uma alimentação que seja suficiente, segura e que atenda a necessidades nutricionais e preferências alimentares de modo a propiciar vida ativa a saudável (FAO, 1997).

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Na definição do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA, 2007)

segurança alimentar e nutricional foi assim expressada:

[...] realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a uma alimentação saudável, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente. Deve ser totalmente baseada em práticas alimentares promotoras da saúde, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Esse é um direito do brasileiro, um direito de se alimentar devidamente, respeitando particularidades e características culturais de cada região. (CONSEA, 2007, p. 7).

Porem, para que fosse possível alcançar esta segurança alimentar era preciso que os

povos fossem soberanos nas suas comunidades, através do fortalecimento da agricultura

familiar e camponesa, dificultada após a Revolução Verde. O surgimento da

biotecnologia forçou os agricultores e agricultoras a adotar essas “novas tecnologias”

que deveriam melhorar a qualidade de vida da população como um todo, não apenas

torná-los escravos do mercado moderno, descaracterizando-os de camponeses à

agricultura familiar empresarial. Petersen (2009) analisa a situação assim: [...] a principal característica que distingue o modo empresarial de produção do típico modo camponês esta no fato de que esta estratégia de reprodução econômica e social coloca a agricultura familiar em posição de permanente e crescente dependência em relação aos mercados de insumos e de produtos. No entanto, essa nova e mais complexa realidade não pode ser interpretada como um novo dualismo que situa o modo empresarial e o modo camponês em campos opostos. A agricultura familiar empresarial retêm o essencial da existência camponesa, que é exatamente a centralidade do trabalho na família, a preservação do patrimônio familiar e a busca pela otimização das rendas [...] (PETERSEN, 2009, p.7).

A política econômica com perfil neoliberal e seus atuais reflexos recessivos continuam

remando contra a segurança alimentar do povo brasileiro e dificultando a

implementação de ações compensatórias na área social (MALUF, 2007).

Uma das grandes lutas hoje no campo é por soberania alimentar que vem sendo definida

de diversas formas e podendo ser entendida como:

[...] o direito dos povos definirem suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação para toda a população, com base na pequena e média produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade dos modos camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agropecuária, de comercialização e gestão dos espaços rurais, nos quais a mulher desempenha um papel fundamental […]. A Soberania Alimentar é a via para erradicar a fome e a desnutrição e garantir a segurança alimentar duradoura e sustentável para todos os povos (Declaração do Fórum Mundial sobre Soberania Alimentar. Havana, 2001. In MALUF, 2007, p. 13).

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Como um direito, Nyéléni (2007) definiu soberania alimentar no Fórum pela Soberania

Alimentar como: [...] um direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, e seu direito de decidir seu próprio sistema alimentício e produtivo. Isso coloca aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, por cima das exigências dos mercados e das empresas. Defendendo os interesses de, inclusive, futuras gerações. Nos oferece uma estratégia para resistir e desmantelar o comércio livre e corporativo e o regime alimentício atual, e para enfocar os sistemas alimentares, agrícolas, pastoris e de pesca para a prioridade das economias locais e os mercados locais e nacionais; outorga o poder aos camponeses e à agricultura familiar, a pesca artesanal e o pastoreio tradicional, e coloca a produção alimentícia, a distribuição e o consumo sobre as bases da sustentabilidade meio ambiente, social e econômica. (NYÉLÉNI, 2007, informação verbal²)

Recentemente na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

(RIO + 20), realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), as discussões acerca

da segurança alimentar não englobaram preceitos de soberania alimentar, confirmando

assim, decisões políticas, e somente políticas, que não tem efeitos reais e

transformadores da realidade agrária e agrícola brasileira. Nós reafirmamos o direito à alimentação e convocamos todos os Estados a darem prioridade à intensificação sustentável da produção de alimentos através da ampliação do investimento na produção local de alimentos, da melhoria do acesso a mercados locais e globais de agro-alimentos, e a redução do nível de dejetos em toda a cadeia de abastecimento, com atenção especial para mulheres, pequenos agricultores, jovens, e agricultores nativos. Estamos comprometidos em assegurar uma nutrição apropriada para nossos povos. (ONU, 2012, p.12)

A soberania alimentar vem sendo enfraquecida perante as novas formas de exploração

ambiental e social. O avanço, por exemplo, do agronegócio na Amazônia tem

comprometido a soberania dos povos que lá habitam, assim como alavancando a

destruição de biodiversidade na escalada da logica de acumulo de capital privado e a

privatização da vida como vem acontecendo com os organismos geneticamente

modificados (OGMs). Grandes corporações detêm o direito a sementes e de

fornecimento de insumos o que traz como consequência a dependência e

vulnerabilidade da agricultura, e os agrocombustíveis³, que vem tomando os espaços de

produção de alimentos defendendo uma forma “verde” e que se transformou em “ouro

verde” para as empresas do ramo.

Todas essas formas de “desenvolvimento tecnológico” excluem o que deveria ser seu

maior objetivo, a melhoria da qualidade de vida das pessoas, a reprodução de uma

simbiose entre humanos e natureza e a conquista de uma sociedade mais horizontal.

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Os princípios agroecológicos que procuram reavivar os traços culturais do campesinato

que foi se extinguindo ao longo dos anos transformando-se numa agricultura familiar de

base capitalista produzindo essencialmente para o mercado (PETERSEN; DAL

SOGLIO; CAPORAL, 2009), a extensão rural agroecológica procura apoiar e atender

os interesses sociais locais (CAPORAL; COSTABEBER, 2002), contribuindo assim

para a manutenção da soberania alimentar.

O Projeto desenvolvido no Assentamento Fazenda Esperança no Município de

Rondonópolis – MT

Os assentamentos rurais, recentes ou antigos, encontram-se ultimamente em situação de

abandono, com inúmeras dificuldades como: a falta de financiamento para projetos,

solos desgastados, carência de agua, áreas de topografia acentuada dificultando a

produção local, falta de assistência técnica, enorme burocracia para recebimento de

credito rural, serviços de saúde e educação precárias, e a total precariedade das vias de

acesso. Sua reprodução social esta cada vez mais difícil, resultando no abandono dos

lotes pelos assentados que vão procurar e inchar as cidades. Um dos problemas mais

sérios encontrado no Assentamento Fazenda Esperança foi a situação de

empobrecimento de agricultores e agricultoras familiares, com sistemas produtivos

ainda em implantação, em ambientes degradados de Cerrado, aliado a falta de

conhecimento dos agroecossistemas e recursos do Bioma.

Para planejar as atividades do projeto de acordo com a realidade local, aplicamos o

Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), que consistiu num processo de aprendizagem

intensivo, sistemático e semiestruturado, realizado por uma equipe de animadores na

comunidade rural, contando com a participação e colaboração das pessoas que vivem e

trabalham na área. (TARSITANO et al, 1999).

O Projeto desenvolvido no Assentamento apresenta um

[...] um caráter educativo, com ênfase na pedagogia da prática, promovendo a geração e apropriação coletiva de conhecimentos, a construção de processos de desenvolvimento sustentável e a adaptação e adoção de tecnologias voltadas para a construção de agriculturas sustentáveis. (BRASIL/PNATER, 2007, p.11)

Desta forma, as atividades vinculam-se à chamada “extensão rural agroecológica” que

coaduna o processo educativo e a sistematização das experiências, socializando o

conhecimento e os saberes e fortalecendo as capacidades decisórias, individual e

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coletiva (CAPORAL, 2004; CAPORAL; COSTABEBER, 2002). O Projeto teve inicio

a partir da demanda levantada em diálogos e reuniões participativas de representantes

das Associações e Professores do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), do Assentamento;

Extensionistas da EMPAER/MT, Coordenadora e Monitores do Curso de Artesanato em

Fibra da Bananeira (Campus Universitário de Rondonópolis/UFMT) e Professores dos

Cursos de Geografia, Biologia e Engenharia Agrícola e Ambiental do Campus

Universitário de Rondonópolis/UFMT.

O desenvolvimento rural sustentável, conhecimento e conservação dos recursos

naturais, são os principais objetivos do Projeto, tudo isso a partir de atividades

multidisciplinares de extensão tecnológica oferecida aos agricultores e agricultoras

familiares do Assentamento Fazenda Esperança, no Município de Rondonópolis-MT.

Descrição e localização do assentamento

O Assentamento Fazenda Esperança possui uma área de 1.585,5 ha, localizado às

margens da Rodovia MT-270, sentido Rondonópolis-Guiratinga, a 3 km da entrada para

o Distrito de Nova Galiléia e distante 30 km de Rondonópolis, na região sul do Estado

de Mato Grosso.

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Figura 1 – Localização do Assentamento Fazenda Esperança, Rondonópolis, Mato Groso.

Geograficamente é uma área de topografia ondulada, com relevo dissecado e impróprio

para a agricultura anual e inexistência de córregos permanentes para abastecimento

tanto de criações como o consumo familiar. Os solos predominantes são do tipo

argissolos e cambissolos associados. A população é heterogênea, tanto na aptidão

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agrícola como na cultura, com 151 famílias assentadas e filiadas a 05 (cinco)

associações.

Os questionários de DRP aplicados junto a 42 famílias mostraram um total de 98

pessoas com 2,3 pessoas por família, média etária de 41,7 anos (17,9% até 15 anos;

55,5% entre 15 e 59 anos e 26,6% acima de 60 anos). A média etária pode ser

considerada elevada para as atividades agropastoris, e uma alta percentagem de idosos

que moram no assentamento. Quanto a posse do lote, 63,2% são primeiro proprietário,

5,2% segundo proprietário, 15,8%, terceiro proprietário e 15,8 não responderam. A

venda dos lotes é alta e está relacionada às dificuldades naturais (condições dos solos e

escassez de água, principalmente), ausência de cultura e experiência agrícola e

problemas de saúde.

Uma breve análise da segurança e soberania alimentar do Assentamento Fazenda

Esperança- Rondonópolis – MT

Foram elencadas aqui algumas características importantes do Assentamento Fazenda

Esperança de Rondonópolis - MT, destacando os aspectos relacionados ao sistema

alimentar da região, fazendo um comparativo entre as realidades local e nacional.

-Condições de segurança alimentar

Como se pode observar é um assentamento recente que herdou de um latifúndio a

monocultura das pastagens, pois era uma fazenda de pecuária extensiva, e que apresenta

diversas dificuldades para seus atuais moradores. Como ilustra bem Maluf (2007) ao

afirmar que:

O padrão tecnológico fundado no uso intensivo de insumos químicos, sementes melhoradas e híbridas e maquinaria pesada, exige forte consumo de energia, mostra-se extremamente dispendioso e não se ajusta às condições da pequena agricultura familiar. Como já foi assinalado, gera desequilíbrios irreparáveis sobre os ecossistemas, com multiplicação de pragas, esterilização dos solos, assoreamento dos rios e reservatórios, poluição das águas, devastação de florestas, redução da biodiversidade, contaminação dos alimentos e envenenamento dos trabalhadores rurais. (MALUF, 2007, p. 74)

A realidade que se encontra no assentamento é de aguas de má qualidade uso

indiscriminado e incorreto de agrotóxicos, solos degradados e monoculturas. Todos

esses aspectos contribuem para níveis de insegurança alimentar. O que se encontra aqui

não é diferente em outras regiões do país.

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Como indicado pelo DRP, 29% das famílias têm hortas em seus quintais, sendo estas

uma produção não significativa do orçamento familiar, pois a maioria das famílias não

comercializam seus hortifrútis por não terem condições de transportar seus produtos até

a cidade, um equivalente a 29% utilizam manejo orgânico e 29% algum tipo de

agroquímico, não muito diferente da realidade brasileira que, com base nos dados do

Censo Agropecuário Brasileiro (IBGE, 2006), Bombardi (2011) indica a intensidade do

uso de agrotóxicos por municípios no Brasil. Verifica-se que 27% das pequenas

propriedades (0 – 10 hectares) usam agrotóxicos.

Os poucos traços de agricultura orgânica presente se deve mais a falta de recursos

financeiros das famílias, pois, a maioria só não utiliza agroquímicos porque não tem

condições financeiras de adquiri-los.

Isto remete a uma falta de serviços adequados de assistência técnica e extensão rural,

que em 20% das famílias é apontada como o maior desejo para o assentamento, pois a

falta de informações de qualidade dos assentados faz com que estes façam uso indevido

de agrotóxicos, podendo causar sérios problemas de saúde por contaminação direta,

contato com alimentos ou agua.

A diminuição e erradicação dos agrotóxicos são de suma importância, pois estes causam

graves danos à saúde e ao agroecossistema. Segundo análise de amostras coletadas em

todas as 26 Unidades Federadas do Brasil, realizadas pelo Programa de Análise de

Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da ANVISA (2011), um terço dos

alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado pelos

agrotóxicos. A análise demostrou que 63% das amostras analisadas apresentaram

contaminação por agrotóxicos, sendo que 28% apresentaram ingredientes ativos não

autorizados para aquele cultivo e/ou ultrapassaram os limites máximos de resíduos

considerados aceitáveis.

Outro fator preponderante é a questão da agua, já que 46% dos entrevistados apontam a

distribuição adequada da agua como seu maior desejo, e 62% como o maior problema

do assentamento. A escassez e a baixa qualidade da agua implicam em dificuldades para

tratar animais, irrigar pomares e cultivos. E o mais importante a qualidade desta agua

influi diretamente na saúde das pessoas.

A maioria dos problemas de saúde encontrada é pressão alta, diabetes, colesterol e

gripe, sendo que dentre esses a maior parte pode ser controlada com uma alimentação

de qualidade e exercícios físicos.

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Por apresentar dificuldades topográficas e de acesso à agua, torna-se realmente difícil

manter uma boa renda e uma boa alimentação. Os solos predominantes são do tipo

argissolos e cambissolos associados. Solos esses degradados por resultado do uso

exaustivo da antiga fazenda de pecuária, que necessitam de um manejo adequado,

consequentemente de difícil produção de alimentos e que continuam sendo manejados

mecanicamente sem nenhum apoio técnico como é o caso de 62% dos lotes. Segundo

Cordani (1995),

Solos aráveis, produto final da alteração intempérica das rochas, levam muitos milhares de anos para serem formados. Os solos ideais possuem bom suprimento de nutrientes, estrutura e mineralogia adequadas para a retenção de água e hospedagem de microorganismos, bem como espessura necessária para suportar vários tipos de vida vegetal. Por outro lado, em terrenos utilizados exaustivamente na agricultura, muito material é perdido por diversos fatores, entre os quais a salinização devida à irrigação malfeita, a toxificação pelo uso incorreto de fertilizantes e pesticidas, e a erosão devida ao manejo inadequado, como cultivo em declives, desflorestamento, atividades extrativas. Estimativas recentes dão conta da perda anual de cinco a sete milhões de hectares que vão parar nos oceanos, sem reposição possível: solos também têm que ser considerados recursos não-renováveis, sendo de grande importância a sua conservação e adequada utilização. (CORDANI, 1995, p.18).

Outra fraqueza do assentamento é o pequeno numero de hortas. A horticultura sempre

foi uma tradição para os camponeses, pois é dela que se tira a maioria dos alimentos que

vão diretamente para a mesa. Além de proporcionar alimentos de grande riqueza

nutricional as hortas também servem de fonte alternativa de recurso financeiro, evitando

que as agricultoras e agricultores tenham que comprar em mercados distantes de suas

propriedades, diminuindo assim as despesas com alimentação.

Porem, o que se observa no assentamento é justamente o contrario, pois 71% das

famílias não cultivam hortaliças, tendo que desta maneira, quando suas reservas

permitem, adquirirem em mercados distantes.

Entre estas dificuldades se torna cada vez mais difícil se manter no campo, fazendo com

que os assentados abandonem seus lotes e mudem para as cidades.

O intuito do projeto é realizar uma extensão rural agroecológica de forma a desenvolver

a percepção ambiental dos agricultores, agricultoras e estudantes da turma do EJA à

importância da conservação do meio ambiente natural, de seus traços culturais e de que

possam produzir hoje sem atrapalhar o amanha, melhorando suas relações com a

natureza, trazendo renda e estímulos para que todos se mantenham em seus lotes.

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-Condições de soberania alimentar

Em assentamentos recentes, como é o caso do estudado, a reprodução de uma

agricultura de fato camponesa se torna muito mais difícil, pois os assentados se deparam

com áreas devastadas e todos com alto grau de empobrecimento. O que faz com que

arranjem formas de produzir para vender não tendo como se atentar com a qualidade

dos alimentos e o porquê de produzir certos produtos, pois estes devem se preocupar

com a sobrevivência de suas famílias. Produzindo assim, mini monocultivos para o

mercado que os enfraquece e arruína mais sua soberania alimentar, os deixando

vulneráveis às flutuações de mercado devido a sua especificidade, e condicionando sua

boa alimentação à situação de menos importância.

Hoje, os agrotóxicos e os transgênicos são um dos maiores vilões para os camponeses,

pois, o seu aumento de consumo provoca cada vez mais a sua dependência, trazendo ao

mesmo tempo prejuízos para os trabalhadores e à natureza. Segundo Pignati e Machado

(2011), Os desequilíbrios da relação de “vigilância-produção-controle social” nos indicou a dinâmica social e econômica imposta por este setor do neoliberalismo no Mato Grosso e que podem ser considerados como reflexos das forças de poder político - no sentido da desorganização sindical dos trabalhadores e dos privilégios de políticas públicas concedida pelo Estado às instituições do agronegócio; de injustiça social - no sentido de desigualdade de direitos humanos; e de injustiça ambiental - no sentido de se aumentar a produtividade agropecuária com prejuízo sócio-ambiental para a maioria da população. Eles podem ser apontados como as causas básicas das situações de riscos à saúde-ambiente “induzidos” pelo desenvolvimento agro-industrial-florestal (PIGNATI; MACHADO, 2011, p. 258, grifo do autor).

A expansão das culturas transgênicas vem colocando a agricultura sob o controle das

empresas transnacionais do ramo da biotecnologia, ameaçando a soberania dos povos na

determinação do que e de como produzir. (WEID, 2009)

As novas formas de desenvolvimento único e exclusivamente econômico resultam num

desenho de paisagens homogêneas onde o trabalho é desmerecido e reduzido. O Censo

Agropecuário (BRASIL, 2006) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) apontou que o agronegócio emprega menos de duas pessoas (1,7

pessoas), para cada 100 hectares (Quadro 1). Já na agricultura familiar em cada 100

hectares trabalham 15 pessoas; se produz 40% da produção agropecuária do Brasil

(Valor Bruto da Produção Agropecuária Total), em apenas 24% das terras. Em cada

hectare da agricultura camponesa é gerada, em média, uma renda de R$ 677,00

enquanto um hectare do agronegócio gera, em média, R$ 368,00.

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O modelo agrícola predominante atual é excludente, incentiva a desigualdade, degrada

os recursos naturais, as culturas locais, comanda as politicas nacionais e fortalece o

poder das grandes corporações perante a agricultura e aos governos.

Em meio a todas essas contradições o assentamento Fazenda Esperança se encontra

esquecido das políticas publicas e em lento desenvolvimento, tentando assim sua

reprodução e inserção continuada nos mercados locais. A fraca produção econômica

(Gráfico 1) mostra que o leite é o sustentáculo da renda familiar, regra esta para quase a

totalidade dos assentamentos rurais no Brasil e já constatado por diversos autores

(ALTAFIN et al, 2011; CAMPOS; NETO, 2008; LEITE et al, 2002).

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Nota-se no assentamento uma produção pouco diversificada, com base na

comercialização do leite e um pouco de aves, com assentados ainda vivendo em

condição de subsistência. Isso demonstra uma economia local muito exposta a

intempéries de clima, a logística e flutuações de preço no mercado.

A Agroecologia e as questões alimentares

Na contraposição de uma agricultura tecnificada e inadequada social e ambientalmente,

tem surgido a agroecologia, uma ciência em constante construção que corresponde a

uma: [...] agricultura menos agressiva ao meio ambiente, que promove a inclusão social e proporciona melhores condições econômicas para os agricultores de nosso estado. [...] a Agroecologia nos traz a idéia e a expectativa de uma nova agricultura, capaz de fazer bem aos homens e ao meio ambiente como um todo, afastando-nos da orientação dominante de uma agricultura intensiva em capital, energia e recursos naturais não renováveis, agressiva ao meio ambiente, excludente do ponto de vista social e causadora de dependência econômica. (CAPORAL; COSTABEBER, 2002, p.6).

O modelo agroecológico é uma forma de recampesinizar4 o meio rural trazendo,

portanto, alternativas para que os povos consigam atingir a soberania alimentar e, por

consequência, a segurança alimentar. Ele gera mais emprego, renda e qualidade de vida

para os trabalhadores, aumentando o numero de pessoas no campo, o que ajudaria a

controlar o atual caos em que vivem as cidades. Consorciando assim, os

desenvolvimentos econômico e social, com maior socialização do conhecimento

científico, através do melhor manejo dos agroecossistemas. “A produtividade e

sustentabilidade destes agroecossistemas pode ser aperfeiçoada com métodos

agroecológicos e desta maneira pode formar a base sólida de soberania alimentar [...]”

(ALTIERI, 2009, p.28-29, tradução nossa). Conclusões

As realidades da agricultura local e nacional apresentadas no texto, não diferem tanto

uma da outra, uma vez que as características da produção nacional, principalmente em

assentamentos rurais, podem ser constatadas nos dados da pesquisa no Assentamento

Fazenda Esperança, em Rondonópolis, Mato Grosso.

As denuncias que o campo brasileiro esta em crise são feitas diariamente por estudantes,

pesquisadores, moradores do campo, ativistas de movimentos sociais e organizações

não governamentais. No entanto, não existem politicas que defendam e realmente

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incentivem a permanência e a volta das pessoas do campo com dignidade. A maioria

daqueles que ainda se mantem no campo tem assimilado a lógica tecno-economica da

modernização, sendo esses uma parcela significativa da agricultura familiar, mantendo-

se em constante dependência dos mercados de insumos e de produtos. Essa dependência

interfere nos valores da agricultura familiar de produzir com qualidade e diversidade,

retirando do agricultor sua soberania e dificultando sua reprodução social.

Apesar do grande chamado mundial para a sustentabilidade, a grande maioria das

pessoas, empresas, grandes corporações e governos absorveram o termo com o preceito

comercial. Com isso, fazem-nos acreditar que estão combatendo os grandes problemas

sociais, quando na verdade só estão defendendo interesses próprios de acumulo e

concentração de capital.

Todas essas formas de globalização perversa do capitalismo só agravam os níveis de

insegurança alimentar e afligem drasticamente as soberanias dos povos em todas as

regiões do globo. Trazendo, desta forma, uma mudança ideológica que transforma tudo

em mercadoria. É o que se pode constar no Assentamento Fazenda Esperança embora

considerássemos um limitado número de indicadores para o estudo referente a

segurança alimentar.

Portanto, a retomada da agricultura camponesa não é vista como um retrocesso, mas sim

um avanço para o meio rural, possibilitando maior intercâmbio local das dinâmicas

agrárias e agrícolas, permitindo melhores interações com a natureza e retomando a

soberania dos povos. Apesar das limitadas condições de segurança alimentar, os

assentamentos rurais tem uma importância vital na produção de alimentos e, portanto,

contribuem para amenizar o grande dilema mundial que é alimentar uma população

cada vez mais crescente.

Notas ________________ ¹Agronegócio é o novo nome do modelo de desenvolvimento econômico da agropecuária capitalista. Esse modelo não é novo, sua origem está no sistema plantation, em que grandes propriedades são utilizadas na produção para exportação. [...] é também uma construção ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura capitalista. (FERNANDES, 2005, p.1) ²Declaração de Nyéléni no Fórum pela Soberania Alimentar, em Sélingué, em 2007. ³[...] los combustibles líquidos de cosechas cultivadas y producidas a gran escala agroindustrial conocida como "agrocombustibles”. [...] como el etanol y el biodiesel, se producen actualmente de plantas como el maíz, la palma de aceite, la soya, la caña de azúcar, la remolacha, la colza, la canola, la jatropha, el arroz y el trigo. (HOLT-GIMÉNEZ e SHATTUCK, 2009, p. 180)

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4Este conceito vem sendo utilizado por diferentes autores como Guzmán (2003), Petersen (2009) e Ploeg (2008). Segundo Petersen “[...] o conceito de recampesinização pode ser apreendido por sua dimensão quantitativa - o aumento do numero de famílias camponesas, com a democratização da estrutura agrária – e por sua dimensão qualitativa – o fortalecimento da natureza camponesa na parcela da agricultura familiar que assimilou elementos do modo empresarial de produção em decorrência dos processos de modernização.” (2009, p.7)

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