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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CEJURS CURSO DE DIREITO A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ADMNISTRADORES DE SOCIEDADES LIMITADA, DIANTE DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO MAKELLE REGINA GERONIMO CUNHA PIRES ESPÍNDOLA Itajaí (SC), novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CEJURS

CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ADMNISTRADORES DE

SOCIEDADES LIMITADA, DIANTE DO CÓDIGO CIVIL

BRASILEIRO

MAKELLE REGINA GERONIMO CUNHA PIRES ESPÍNDOLA

Itajaí (SC), novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CEJURS

CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ADMNISTRADORES DE

SOCIEDADES LIMITADA, DIANTE DO CÓDIGO CIVIL

BRASILEIRO

MAKELLE REGINA GERONIMO CUNHA PIRES ESPÍNDOLA

Monografia submetida à Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à

obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Diego Richard Ronconi

Itajaí (SC), novembro de 2008

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AGRADECIMENTO

A Deus e a Jesus Cristo, que estão presentes

em todos os momentos de minha vida,

protegendo e guiando todos aqueles que amo;

Às pessoas que direta ou indiretamente

contribuíram para a conclusão da referente

monografia, durante o ano de 2008;

Aos meus professores e professoras que,

durante o curso de Direito, com vontade se

doaram para ensinar o caminho correto e que

de hoje em diante pretendo percorrer, além de

cultivarem a importância da ética profissional;

Ao professor orientador da presente

monografia que possibilitou o desenvolvimento

necessário, com dignidade, dedicação e

compreensão;

Ao professor que presenciou o progresso da

presente monografia ao corrigir a língua

portuguesa;

Ao professor examinador da banca pública que

participa e colabora com muito apreço;

Aos meus colegas de estudo e amigos que fiz

na Universidade ao longo do curso.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Madalena da Cunha Pires e

Edson Aparecido Cunha Pires, ao meu esposo

Sidnei Espíndola, que sempre me incentivaram

durante o curso de Direito e ao meu filho

Bernardo Cunha Espíndola.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isento

a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, a Coordenação do Curso de

Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC),____ de ________________ de 2008

Makelle Regina Geronimo Cunha Pires Espíndola

Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito

da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda

Makelle Regina Geronimo Cunha Pires Espíndola, sob o título A

Responsabilidade Civil dos Administradores de Sociedades Limitada, diante do

Código Civil Brasileiro, foi submetida em 19 de novembro de 2008 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: Diego Richard Ronconi

(Orientador e Presidente da Banca) e Cesar Augusto Engel (Membro) e

aprovada com a nota 0,00 (__________).

Itajaí, (SC), ____ de __________________ de 2008.

Prof. Dr. Diego Richard Ronconi

Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa

Coordenação de Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

ADMINISTRADOR

Gladston Mamede entende que, o Administrador, a quem cumpre igualmente a

representação da Sociedade Limitada, seja uma pessoa natural, nomeado no

contrato social, ou segundo as regras do contrato social, mediante documento

apartado1.

Suas atribuições e poderes estarão dispostos no contrato social devidamente

registrado, tornando-se público, possibilitando que qualquer pessoa possa

tomar conhecimento de quem é o Administrador e representante da Sociedade

limitada, bem como suas funções e poderes2

RESPONSABILIDADE CIVIL

Conforme nos ensina Savatier, Responsabilidade Civil é a obrigação que pode

conferir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou

fato de pessoas ou coisas que dela dependam. A idéia de reparar o dano

experimentado pela vítima inspira-se no interesse de restabelecer o equilíbrio

econômico-jurídico provocado pelo dano3.

Na Responsabilidade Civil não há interesse público afetado, apenas o interesse

privado sofre as conseqüências da ação ou omissão danosa. O Estado não

age de ofício, não interfere na busca de reparar o dano, deve ser provocado

pela pessoa lesada. Havendo inércia do ofendido, o agente causador nada

sofrerá4.

1 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Atlas, p. 59.

2 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 59.

3 QUEIROGA, Antônio Elias. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil. 3. ed. São Paulo: Renovar, 2007. p. 6.

4 QUEIROGA, Antônio Elias. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 6 – 7.

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SOCIEDADE LIMITADA

Rubens Requião leciona que Sociedade Limitada é aquela em que todos os

sócios contribuem para o capital social, de modo que sua responsabilidade

limita-se ou ao valor da contribuição individual ou ao volume do capital social5.

Este tipo de sociedade atualmente é considerada uma forma comum de

organização empresarial, dirigida, porém, para as pequenas e médias

empresas. O Código Civil de 2002 no artigo 1.052, consagrou o nome

Sociedade Limita, titulada anteriormente pelo Decreto n° 3.708de 1919, de

Quotas de Responsabilidade Limitada, como intuito de designar o tipo social6.

TERCEIRO PREJUDICADO

Em sentido forense, é aquele estranho a relação jurídica existente entre

Administrador e Sociedade Limitada, que venha a ser prejudicado, por atos

decorrentes do representante da Sociedade limitada7

5 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1. v. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 456.

6 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, p.456.

7 SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 775.

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SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ............................................................................. 1

CAPÍTULO 1 ................................................................................ 3

NOÇÕES GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL ....... 3 1.1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................................................ 3 1.2. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................... 5 1.3. REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL .................................... 6 1.3.1. Ação ou omissão ................................................................................ 6 1.3.2. Culpa ou dolo do agente .................................................................... 8 1.3.3. Relação de causalidade ..................................................................... 9 1.3.4. Dano experimentado pela vítima ...................................................... 12 1.4. RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL ....................................................................................................................... 15 1.5. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA E OBJETIVA ...................... 16 1.6. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL ................................ 16

CAPÍTULO 2 ................................................................................ 24

A SOCIEDADE LIMITADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ............................................................................... 24

2.1. BREVE INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL .............................................................................................................. 24 2.2. CONCEITO DE SOCIEDADE LIMITADA ............................................... 25 2.3. OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO CONTRATO SOCIAL DA SOCIEDADE LIMITADA ................................................................................ 26

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2.3.1. Nome empresarial .............................................................................. 26 2.3.2. Objeto social ....................................................................................... 27 2.3.3. Capital social ...................................................................................... 29 2.3.4. Responsabilidade dos sócios ........................................................... 32 2.3.5. Prazo de Duração da sociedade ....................................................... 33 2.3.6. Administração societária ................................................................... 34 2.3.7. Cessão de quotas ............................................................................... 34 2.3.8. Falecimento ou interdição de sócio.................................................. 35 2.3.9. Data do encerramento do exercício social ....................................... 37 2.3.10. Participação dos sócios nos lucros e perdas ................................ 37 2.3.11. Cláusula de impedimento para o administrador ........................... 38 2.4. DIREITOS E DEVERES DOS SÓCIOS NA SOCIEDADE LIMITADA .... 39 2.5. A FISCALIZAÇÃO SOCIAL NAS SOCIEDADES LIMITADAS .............. 42 2.6. DISSOLUÇÃO PARCIAL E DISSOLUÇÃO TOTAL DAS SOCIEDADES LIMITADAS .................................................................................................... 44

CAPÍTULO 3 ................................................................................ 46

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADMINISTRADOR DE SOCIEDADE LIMITADA .............................................................. 46

3.1. CONCEITO DE ADMINISTRADOR ........................................................ 46 3.2. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO SOCIETÁRIA ............................... 47 3.3. A ADIMINISTRAÇÃO SOCIEDADE NO CÓDIGO CIVIL ....................... 48 3.4. ADMINISTRAÇÀO POR PESSOA JURÍDICA, POR ADMINISTRADOR SÓCIO E NÃO SÓCIO ................................................................................... 50 3.5. ADMINISTRAÇÃO PLÚRIMA ................................................................. 51 3.6. PRINCIPAIS DEVERES DO ADMINISTRADOR .................................... 52 3.7. CESSAÇÃO DO MANDATO NA SOCIEDADE LIMITADA .................... 54

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3.8. O EXCESSO DE PODERES DOS ADMINISTRADORES E SEUS EFEITOS ........................................................................................................ 55 3.9. A RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES PERANTE A SOCIEDADE LIMITADA E TERCEIROS PREJUDICADOS, POR CULPA NO DESEMPENHO DE SUAS FUNÇÕES .......................................................... 56 3.10. A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA E A REPSONSABILIDADE CIVIL DOS ADMINISTRADORES ........................................................................... 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 63 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................................... 65

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RESUMO

A presente monografia trata da Responsabilidade Civil

dos Administradores de Sociedades Limitada, vista à luz do Código Civil

Brasileiro e Jurisprudência dos Tribunais Brasileiros, e de forma mais

específica os Tribunais do estado de Santa Catarina e da 4° Região. Para tanto

trabalhou-se com tópicos sobre a Responsabilidade Civil, bem como sua

evolução histórica, conceito, requisitos, Responsabilidade Civil contratual e

extracontratual, Responsabilidade Civil subjetiva e objetiva e excludentes de

Responsabilidade Civil. Abordou-se a Sociedade Limitada no ordenamento

jurídico brasileiro, em especial a história da Sociedade Limitada, conceito e

objetivos, os principais elementos do contrato social, direitos e deveres dos

sócios, fiscalização social e dissolução parcial e dissolução total das

Sociedades Limitadas. Por fim, ponderou-se a Responsabilidade Civil do

Administrador de Sociedade Limitada, com a intenção de averiguar tal

possibilidade.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalhou tem como objeto A

Responsabilidade Civil dos Administradores de Sociedades Limitada, diante do

Código Civil Brasileiro e, como objetivos: institucional, produzir uma monografia

para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI; geral, verificar a possibilidade de existência da

Responsabilidade Civil do Administrador da Sociedade Limitada, em razão de

sua função; específico, investigar em que atos responde pessoalmente o

Administrador da Sociedade Limitada.

O tema é atual e relevante, pois, com o advento do

Código Civil de 2002, trouxe, em seu texto, dispositivos relativos à Sociedade

Limitada, no artigo 1.052 e seguintes, inovando a matéria que até então era

tratada pelo Decreto n° 3.708/19.

As perguntas de pesquisa, utilizadas para a elaboração

do presente trabalho foram:

a) O Administrador poderá ter responsabilidade pessoal e

ilimitada perante a sociedade?

b) O Administrador responde perante terceiros, se agir

com excesso de poderes?

c) O Administrador que age com culpa no desempenho de

suas funções, responde, pessoalmente, perante a Sociedade Limitada e

Terceiros Prejudicados?

A pesquisa foi desenvolvida, tendo como base as

seguintes hipóteses:

a) Responderá pessoal e ilimitadamente o Administrador

que violar a Lei e o contrato social;

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b) Caracterizará excesso de poder o Administrador que

ultrapassar os limites de sua função;

c) Responderá pessoalmente, perante a sociedade o

Administrador que agir mediante culpa funcional.

O trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro

foram desenvolvidos os seguintes tópicos: a evolução histórica da

Responsabilidade Civil, conceito, requisitos, Responsabilidade Civil contratual e

extracontratual, Responsabilidade Civil objetiva e subjetiva e excludentes de

Responsabilidade Civil.

O segundo capítulo, abordou a Sociedade Limitada no

Ordenamento Jurídico Brasileiro, trazendo sua história, conceito e objetivos,

bem como os principais elementos do contrato social, direitos e deveres dos

sócios, a fiscalização social e dissolução parcial e dissolução total das

Sociedades Limitadas.

O terceiro e último capítulo, discutiu A Responsabilidade

Civil do Administrador de Sociedade Limitada, versando sobre conceito de

Administrador, princípios da administração societária, administração societária

no Código Civil Brasileiro, Administração por pessoa jurídica, por administrador

sócio e não-sócio, administração plúrima, principais deveres do Administrador,

cessação do mandato na Sociedade Limitada, o excesso de poderes dos

Administradores e seus efeitos, A Responsabilidade dos Administradores

perante a Sociedade Limitada e perante terceiros prejudicados, por culpa no

desempenho de suas funções. E por fim, este capítulo tratou da jurisprudência

Brasileira e a Responsabilidade Civil dos Administradores.

Nas considerações finais apresentam-se breves sínteses

de cada capítulo e se demonstra, se as hipóteses básicas da pesquisa foram

ou não confirmadas.

Para encetar a investigação, adotou-se o método indutivo,

operacionalizado com as técnicas de premissas gerais, da categoria, dos

conceitos operacionais e da pesquisa bibliográfica. Para relatar os resultados

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da pesquisa, empregou-se o método indutivo, em conjunto com as técnicas

propostas por Passold8.

8 PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 7. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 243.

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CAPÍTULO 1

NOÇÕES GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA

RESPONSABILIDADE CIVIL

É certo e preciso que o ser humano sempre buscou zelar

pelo que é seu, e também, por aquilo ou aqueles que lhe são queridos, assim o

dano era combatido pelo próprio lesado. Aludida busca sempre existiu, e a

forma de se combater foi se alterando conforme o pensamento da época em

que ocorria o dano9.

Para essa alteração, foi imprescindível que a Lei das XII

Tábuas mencionasse a retificação com o autor da ofensa, para que ele

compensa-se o dano mediante o pagamento de certa quantia em dinheiro10.

Mas, a evolução se firmou com a criação da Lex Aquilia,

que veio sagrar a idéia de reparação pecuniária do dano, cominando que o

patrimônio do lesante comportasse o ônus da reparação, em razão do valor da

res, delineando a noção de culpa como fonte da Responsabilidade Civil, de tal

forma que o agente se desobrigaria de qualquer Responsabilidade Civil se

tivesse cometido sem culpa, agregando assim, o dano à conduta culposa do

agente11.

Com efeito, a referente lei, regulava o damnum injuria

datum, que abrangia as lesões a escravos, animais, até deterioração ou

destruição de coisas corpóreas, sem justificativa legal, entretanto, sua

finalidade se limitava ao proprietário de coisa lesada. Todavia, com o decorrer

9 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 9.

10 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 9.

11 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.11.

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dos fatos, as sanções dessa lei foram empregadas em danos causados por

omissão, sem o estrago físico ou material da coisa12.

Dessa forma, o Estado interferiu nos conflitos privados,

estabelecendo o valor dos prejuízos, obrigando a vítima a aceitar a composição

renunciando a vingança13.

Permitiu-se então, que o direito francês influenciasse o

direito romano, quando situou um princípio geral para a Responsabilidade Civil,

precisamente no Código de Napoleão. O qual definiu a noção de culpa em

abstrato e fez a individualização entre culpa delitual e culpa contratual,

conceitos ainda hoje aceitos pelo mundo inteiro14.

A partir de então, toda Responsabilidade Civil passou a se

fundamentar na culpa, porém a realidade mostrou que havia

casos em que a reparação deveria existir, independentemente

de se provar culpa. Assim, sobreveio a teoria da

responsabilidade objetiva, constituída no princípio da equidade.

Para que houvesse a obrigação de reparar, bastava comprovar

o dano e o nexo causal entre a atitude omissiva ou comissiva

do ofensor e o dano experimentado pela vítima15.

Tais teorias foram adotadas nas legislações mais

modernas, porém Antônio Elias de Queiroga, afirma que o espaço vem sendo

conquistado pela teoria do risco16. Teoria esta que, o reminiscente autor

resume como sendo:

Todo aquele que exerce atividade perigosa ou que possa, de

alguma forma, prejudicar terceiros no exercício de suas

atividades assume o risco pela sua execução, podendo ser

12

QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Renova, 2007. p. 11.

13 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 11.

14 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 5.

15 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 5.

16 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 5.

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obrigado a reparar os danos que venha a causar no

desempenho dessas atividades17.

Mas é importante ressaltar ainda que, a Responsabilidade

Civil é um instituto que não pode suportar limitações, ante as novas tendências

provocadas pelo desenvolvimento tecnológico e pelo despertar do princípio da

cidadania18.

1.2. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

O termo responsabilidade deriva do verbo latino

respondere, reservando o fato de ter alguém se estabelecendo assegurador de

algo. Esse vocábulo encerra a raiz latina spondeo, meio pelo qual no direito

romano se perpetuava o devedor nos contratos verbais19.

Maria Helena Diniz cita a acepção de Pirson e Villé

quanto à Responsabilidade Civil, que se fundamenta na culpa, de forma que a

“obrigação imposta pelas normas às pessoas no sentido de responder pelas

conseqüências prejudiciais de suas ações”20. E também menciona a definição

de Josserand em sentido mais amplo como sendo:

[...] repartição de prejuízos causados, equilíbrio de direitos e

interesses, de sorte que a responsabilidade, na concepção

moderna, comporta dois pólos: o objetivo, onde reina o risco

criado, e o subjetivo, onde triunfa a culpa21.

Todavia, se a pessoa agir conforme a norma ou seu dever

seria demasiado especular a sua responsabilidade, pois continuará

responsável pelo procedimento, mas não terá obrigação de explanar a

reparação de dano, como emenda do dever de obrigação precedente, pois a

cumpriu, de forma que o necessário é a circunstância da infração da norma ou

17

QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 5 - 6.

18 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 6.

19 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 39.

20 Pirson e Villé Apud DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 39 - 40.

21 Josserand Apud DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 40.

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a obrigação do agente, em matéria de responsabilidade que exprime a posição

daquele que não executou o seu dever22.

1.3. REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Como fenômeno jurídico decorrente da coexistência

conflituosa do homem em sociedade e carecido de peculiaridades dogmáticas,

faz se preciso situar uma classificação sistemática de Responsabilidade Civil,

que resulte na obrigação de indenizar, os pressupostos da classificação são:

ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, relação de causalidade e dano

experimentado pela vítima23.

1.3.1. Ação ou omissão

A ação ou omissão é o primeiro pressuposto da

Responsabilidade Civil, pois a obrigação de reparar versa apenas o homem,

por si ou mediante pessoas jurídicas que figura, por isso entende ser forçoso

para a concepção da Responsabilidade Civil, segundo Pablo Gagliano e

Rodolfo Filho24.

No tocante a este assunto, a lei apreciou três situações,

sendo, Responsabilidade Civil por ato próprio, qual impõe a “obrigação de

reparar o dano diretamente à pessoa que praticou a conduta reprovada pelo

ordenamento jurídico”25, Responsabilidade Civil por fato de terceiro, cujo

determina a indenização a “pessoa diversa daquela que praticou a conduta

causadora do dano”26 e a Responsabilidade Civil pela guarda da coisa ou do

animal, que ordena o dever de “indenizar não apenas ao autor da conduta

22

QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 06.

23 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 13.

24 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 27.

25 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Fundamentos Jurídicos do Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 32.

26 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Fundamentos Jurídicos do Direito Civil: Responsabilidade Civil, 32.

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causadora direta do dano, mas também aqueles que mantêm a guarda de

coisas ou de animais responsáveis por prejuízos provocados a terceiros”27.

Maria Helena Diniz contempla ação ou omissão, como

sendo:

Elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato

humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e

objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o

fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem,

gerando o dever de satisfazer os direitos lesado28.

Tal conduta humana é voluntária. Pois se equivale no

sentido de ser controlável pela vontade esse que se imputa o fato, conforme

Maria Helena Diniz29. Complementa ainda, Fabricio Maitelo30 que essa vontade

exprime a faculdade de orientar a própria conduta em um ou outro sentido.

Entretanto, ressalta Antunes Varela, que não se pode

discorrer sobre o domínio da vontade humana, quando a pessoa opera incitado

por forças naturais indomáveis, ou seja, pessoa ou veículo lançado por força do

vento, ou ainda, descarga elétrica, entre outros31.

Enfatiza Sampaio32 que o comportamento humano

positivo, ou seja, a ação gera uma obrigação de reparar o dano, quando viola

dever contratual, legal, ou ainda social. E que a conduta humana negativa, ou

seja, a omissão provoca a obrigação de reparar o dano, se houver evidente o

27

SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Fundamentos Jurídicos do Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 32.

28 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 43 - 44.

29 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 44.

30 MAITELO, Fabrício Zamprogna. Dano moral, dano material e reparação. 2. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001. p. 24.

31 Apud: GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 28.

32 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Fundamentos Jurídicos do Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 31.

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dever jurídico de perpetrar determinado fato, e que o dano causado pode advir

de lei, de convenção ou da própria criação de alguma situação de perigo33.

1.3.2. Culpa ou dolo do agente

É preciso que o ato ilícito seja gerador da obrigação de

reparar, logo não se abstrai dos fatores culpa e dolo, elementos conducentes

de recomposição das coisas, regressando ao statu quo ante. Devido à culpa

ser o pressuposto mais evidente nas relações jurídicas que levam alguém a

obrigação34.

Arrazoa Antônio Elias de Queiroga que:

O Código Civil de 2002 adotou a concepção de culpa genérica,

compreendendo dolo e culpa propriamente dita; o dolo como

vício de vontade intencional e a culpa, sem restrito, como

vontade dirigida, mas o resultado que não é querido pelo

agente35.

Salienta ainda, que a culpa subdivide em cinco espécies,

de modo que se preste sob teor de um dever in vigilando36 ou in eligendo37, a

primeira insinua a responsabilidade de pessoas que têm um dever de vigilância

sobre outrem, como o pai pelo filho menor que estiver sob seu poder e

companhia, e a segunda hipótese alude à responsabilidade de alguém pela

escolha de seus auxiliares, ou seja, do empregador com o seu empregado38.

As referentes espécies de culpa são: culpa presumida,

tem como objetivo “precípuo de se transferi para o réu o ônus de provar a sua

não-culpa ou a existência de uma excludente de responsabilidade”39; culpa

33

SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Fundamentos Jurídicos do Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 31.

34 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 21.

35 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 21.

36 Vigilância, no entendimento de QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 23.

37 Escolha, no entendimento de QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 23.

38 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 21.

39 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 24 - 25.

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exclusiva, caracteriza-se “pela participação exclusiva da vítima no evento

danoso”40; culpa contratual, cujo ocorre quando “um dos contratantes deixa de

cumprir obrigação assumida, vindo a acarretar um ilícito contratual”41; culpa

extracontratual, “decorrente da violação de uma norma jurídica ou do fim social

a que ela almejava”42, e por fim culpa concorrente, que sucede quando a vítima

participa do desencadeamento do dano, juntamente com o ofensor” 43.

E quanto á graduação da culpa elucida Maria Helena

Diniz que a culpa será levíssima, “se a falta for evitável por uma atenção

extraordinária, ou especial habilidade e conhecimento singular”44, leve “quando

a lesão de direito puder ser evitada com atenção ordinária, ou adoção de

diligências próprias de um bonus pater familias”45, e grave “quando,

dolosamente, houver negligência extrema do agente”46.

Ainda, ressalta Maria Helena Diniz, ao fazer referência de

René Savatier, que de modo lapidar, entende ser a culpa, um dever violado a

imputabilidade do agente. Esta imputabilidade compreende a possibilidade,

para a pessoa de conhecer e de notar a obrigação, visto que para alguém

versar ato ilícito e responder pela reparação de dano que originou será

indispensável que tenha capacidade de discernimento, de forma que aquele

que não puder ter vontade inerente ou for carente de entendimento não

incorrerá em culpa, por ter inidoneidade para fazer ato ilícito47.

1.3.3. Relação de causalidade

A relação de causalidade se resolve como junção que

deve existir entre o fato ilícito e o dano pelo agente causado, portanto se não

houver essa relação de causa e efeito, não poderá existir o dever de indenizar,

40

QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 24 - 25.

41 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 24 - 25.

42 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 24 - 25.

43 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 24 - 25.

44 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 48.

45 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 48.

46 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 48.

47 René Savatier Apud DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 47.

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dessa forma o dano só poderá suscitar a responsabilidade quando houver

possibilidade de instituir um nexo causal entre o agente e a ação ou omissão48.

Pablo Stolze e Rodolfo Filho ilustram três principais

teorias, a da equivalência de condições, a da causalidade adequada e a da

causalidade direta ou indireta com a finalidade de esclarecer a relação de

causalidade49.

A teoria da equivalência de condições foi formada pelo

jurista alemão Von Buri na metade do séc. XIX, a principal questão dessa teoria

é que não distingui os antecedentes do resultado danoso, de modo que tudo

aquilo que convirja para o evento será estimado causa50.

Tal teoria proporciona uma grave incoerência, pois é de

peculiaridade ampla, apreciando elemento causal todo o antecedente que

tenha participado da cadeia de fatos que desenvolveram no dano, deste modo

os cultores do Direito Civil Brasileiro não ostentaram essa teoria51.

Outra teoria é a da causalidade adequada, concebida a

partir das idéias do filósofo alemão Von Kries, é mais apurada em razão de não

apresentar nenhuma das inconveniências da teoria da equivalência, pois

somente será causa aquela que for mais apropriada para gerar o dano,

segundo Cavalieri, mencionado por Maria Helena Diniz52.

A inconveniência dessa teoria esta relacionada ao

consentimento de certo grau de discricionariedade do julgador, a quem

adjudica avaliar, conforme adverte Freitas Gomes, citado por Maria Helena

Diniz53.

48

QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 45.

49 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 86.

50 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.146.

51 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 86 - 87.

52 Cavalieri Apud DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 110.

53 Freitas Gomes Apud DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 110.

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A terceira teoria é a da causalidade direta ou imediata,

também conhecida como a teoria da interrupção do nexo causal ou teoria da

causalidade necessária, foi articulada no Brasil, pelo ilustre Agostinho Alvim54.

A causa dessa vertente é apenas o antecedente fático

ligado por uma junção de necessariedade ao resultado danoso, determinando

uma decorrência sua direta e imediata55.

Nessa teoria tem se a segurança e a simplicidade que

não há nas outras duas anteriormente ressalvadas. Contudo, deve se arrazoar

nessa vertente o dano reflexo ou em ricochete56, o qual Pablo Stolze e Rodolfo

Filho entendem:

O fato de se considerar reflexo ou indireto o dano não significa

dizer que não haverá responsabilidade civil. Apenas quer-se,

com isso, caracterizar aquela espécie de dano que, tendo

existência certa e determinada, atinge pessoas próximas à

vítima direta. Este, dano, pois, para a pessoa que o sofreu

reflexamente (o alimentando que teve pai morto, por exemplo),

é efeito direto e imediato ao ato ilícito57.

No Brasil, uma corrente aplica a teoria da causalidade

adequada, mais utilizadas pelos Magistrados e a outra corrente emprega a

teoria da causalidade direta ou imediata58.

Contudo, se reconhece que o atual Código Civil Brasileiro

se afeiçoa à teoria da causalidade direta ou imediata, embora seja preciso

54

DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 110.

55 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 90.

56 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 90.

57 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 91.

58 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 91.

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reconhecer, que por vezes, a jurisprudência adota à teoria da causalidade

adequada, no mesmo sentido59.

O nexo causal reconhece há possibilidade de causas

concorrentes, ou seja, “quando a atuação da vítima favorece a ocorrência do

dano somando-se ao comportamento causal do agente”60, segundo Rui Stoco.

O dispositivo 945 no vigente Código Civil Brasileiro adotou

expressamente a culpa concorrente como critério de quantificação da extensão

da indenização61.

Verifica-se ainda, a existência de concausas na relação

de causalidade, pertinente a outro acontecimento que agregado à principal

causa, concorre para o resultado, não interrompendo e nem iniciando o nexo

causal62.

Logo em matéria de Responsabilidade Civil, existindo

causalidade múltipla compete observar qual entre as situações fáticas é a

causa eficiente do dano. De forma que não se pode nomear aleatoriamente o

fato gerador da responsabilidade e também não se pode propor em absoluto a

equivalência das condições63.

1.3.4. Dano experimentado pela vítima

O sentido da Responsabilidade Civil é focalizado em

apreciar o dano como elemento fundamental, conforme se busca relativizar as

diversidades entre responsabilidade objetiva, subjetiva, e entre ato ilícito e

59

GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 90.

60 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 94.

61 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 94.

62 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 109.

63 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 148.

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lícito, com o intuito de se ter maior segurança, resguardo e proteção das

pessoas64.

Deste modo, o dano deriva de fato de outrem, de forma

que pode ter relação com a vítima ou não, advêm de uma ação ou omissão

ilícita, ou de exercício de atividade perigosa65.

Roberto Senise Lisboa evidencia as espécies de dano,

em dano reparável, cujo “prejuízo suscetível de ressarcimento em favor da

vítima”66, dano certo ou efetivo, aquele “que se funda em um acontecimento

preciso”67, dano atual, que “exsurge do ato delituoso”68, dano subsistente,

aquele “que ainda deve ser reparado”69, dano não reparável, qual “o

ordenamento jurídico não considera relevante, para fins de ressarcimento

civil”70, dano presumido, o “que dispensa a prova do prejuízo”71, dano

patrimonial, aquele que, o “prejuízo causado aos bens que compõem o acervo

da vítima”72, dano patrimonial direto, cujo “todo prejuízo econômico sofrido pela

vítima”73, dano patrimonial indireto, do qual “todo prejuízo econômico reflexo e

decorrente de uma ofensa a algum interesse extrapatrimonial”74 e dano moral

64

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 148.

65 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 27 - 28.

66 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil. 2. ed, revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais 2004. p. 495 - 499.

67 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

68 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

69 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

70 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

71 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

72 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

73 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

74 LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

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ou extrapatrimonial, aquele em que o “prejuízo causado a algum direito

personalíssimo da vítima”75.

O dano experimentado pela vítima também pode ser

reflexo ou ricochete, que para Antônio Elias de Queiroga: “consiste no prejuízo

que atinge reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima direta da ação

ilícita”76.

Manifestam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona

Filho que há danos coletivos lato sensu que para ser tutelado é necessário um

procedimento especial77, podendo ser difusos, coletivos stricto sensu e

individuais homogêneos, dependendo de sua natureza78. Embora o critério

científico identificador seja, o direito subjetivo específico que foi violado” 79.

Neste modo, observa Rodolfo de Camargo Mancuso que

tais ações serão cabíeis: “quando algum nível do universo coletivo será

atingido no momento em que transitar em julgado a decisão que a acolhe,

espraiando assim seus efeitos” 80.

Porém, para que haja reparação do dano, conforme Pablo

Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho é preciso à complexidade de três

pressupostos, a violação de um interesse jurídico patrimonial ou

extrapatrimonial de uma pessoa física ou jurídica, certeza do dano e

subsistência do dano81.

75

LISBOA, Roberto Senesi. Manual do Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, p. 495 -499.

76 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 30-31.

77 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 47.

78 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 47.

79 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p.48.

80 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 47.

81 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 38 - 40.

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E havendo a reparação do dano sua fixação implicará no

dano emergente e nos lucros cessantes que, segundo Clóvis Beviláqua,

apontado por Antônio Elias de Queiroga, são: “o dano emergente é o que

efetivamente se perdeu, a diminuição atual do patrimônio; e lucro cessante é a

diminuição potencial do patrimônio”82.

Assim sendo, é preciso destacar que tal pressuposto deve

ser atual e certo, pois a vítima busca sua reparação e não a obtenção de uma

vantagem.

1.4. RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

Com o advento da evolução da Responsabilidade Civil,

pode se convencionar pressupostos que possibilitaram um estudo profundo

sobre o dever de reparação do dano, então diante disso destacou-se a

classificação originária, cujo é a responsabilidade contratual e extracontratual83.

Maria Helena Diniz ensina que responsabilidade

contratual, “se oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou unilateral”

84, enquanto que a responsabilidade extracontratual “se resulta do

inadimplemento normativo, ou melhor, da prática de um ato ilícito por pessoa

capaz ou incapaz”85.

Mas é certo que na responsabilidade contratual antes do

dever de reparar o dano, é cogente que se tenha um vínculo jurídico

proveniente da convenção, enquanto que na responsabilidade extracontratual

não se pode ter vínculo anterior entre as partes86.

82

Clóvis Beviláqua Apud QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 29.

83 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 30

84 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 56.

85 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 56.

86 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 9.

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Tais responsabilidades possuem requisitos comuns, pois

se exige “a existência do dano, a culpa do agente e a relação de causalidade

entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima ou pelo

outro contratante”87.

No entanto, a responsabilidade contratual por derivar de

uma infração a um dever especial formulado pela vontade dos contraentes, se

posiciona no dever de resultado, ocasionando a presunção de culpa pela

inexecução previsível e evitável da promessa procedente da convenção

prejudicial à outra parte. Podendo, estipular cláusula de não indenizar ou de

restringir a mesma, salvo se contrariar a ordem pública e os bons costumes88.

Já a responsabilidade extracontratual origina da

inobservância da lei, ou seja, é a lesão a um direito, sem que haja qualquer

relação jurídica entre o ofensor e o ofendido89.

Em matéria de prova na responsabilidade contratual se o

credor evidenciar que o descumprimento da obrigação procedeu do devedor, o

onus probandi, caberá ao devedor, que deverá provar a existência de culpa da

sua parte, ou a presença de alguma excludente de responsabilidade.

Entretanto, na responsabilidade extracontratual caberá ao ofendido provar a

culpa do ofensor90.

Por vezes, na matéria de capacidade, em se tratando de

responsabilidade contratual o menor púbere só criará vinculo assistido por seu

representante legal, e, excepcionalmente sem ele, se intencionalmente se

confessou absolutamente capaz, dessa forma só se responsabilizará pelo

inadimplemento, e na responsabilidade contratual o menor púbere reparará o

dano sempre, pois se equipara ao absolutamente capaz quanto às obrigações

87

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 9.

88 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 128.

89 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 129.

90 DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 128 - 129.

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resultantes de atos ilícitos em que for o causador, conforme o artigo 180 do

Código Civil de 200291.

1.5. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA E OBJETIVA

No início dos tempos a responsabilidade era objetiva, em

razão de ser caracterizada como vingança. Logo se abandou essa teoria e se

adotou a responsabilidade subjetiva, como propriamente dita a culpa. Porém,

devido à fragilidade da teoria subjetiva voltou-se a utilizar a teoria objetiva,

referente ao ônus probatório92.

A Responsabilidade Civil subjetiva como já mencionada

alude à idéia de culpa, como afirma Aguiar Dias, citado por Pablo Stolze

Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:

A culpa é a inexecução de um dever que o agente podia

conhecer e observar. Se efetivamente o conhecia e

deliberadamente o violou, ocorre o delito civil ou, em matéria

de contrato, o dolo contratual. Se a violação do dever, podendo

ser conhecida e evitada, é involuntária, constitui a culpa

simples, chamada, fora da matéria contratual, de quase-

delito93.

Já a Responsabilidade Civil objetiva, denota a idéia da

relação de causalidade, assim assevera Rui Stoco:

A teoria objetiva, ao invés de exigir que a responsabilidade civil

seja resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo

de causalidade entre uma e outro) assenta-se na equação

binária cujos pólos são o dano e a autoria do evento danoso.

Sem cogitar da imputabilidade ou investigar a antijuridicidade

do fato danoso, o que importa para assegurar o ressarcimento

91

DINIZ, Maria Helena. Responsabilidade Civil, p. 129.

92 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 122.

93 Aguiar Dias Apud GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 122.

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é a verificação se ocorreu o evento e se dele emanou o

prejuízo94.

A Responsabilidade Civil subjetiva em sentido amplo

ostenta três elementos, voluntariedade do comportamento do agente,

previsibilidade e a violação de um dever cuidado95.

No âmbito da teoria objetiva tem se a atividade de risco,

que se exprime como “aquela originada de atividade de risco”, segundo Antônio

Elias de Queiroga96.

Essa atividade de risco da teoria objetiva, segundo

Venosa transcorre da mesma idéia, pois sendo o risco profissional, aquele que

“o dever de indenizar decorre de uma atividade laboral” 97, o risco excepcional,

que incide no “dever de indenizar surge da atividade que acarreta excepcional

risco”98, ou o risco criado, onde “o gente deve indenizar quando, em razão de

sua atividade ou profissão, cria um perigo”99, enfim qualquer que seja a

qualificação do risco, o que importará será a sua essência.

No tocante ao assunto acima declinado, ressalta-se ainda

que a empresa lida com o risco afirmado, ou seja, aquele que é presumido e

conhecido pelo causador da respectiva atividade econômica, em razão da

responsabilidade profissional ser ponderada mediante o risco previsível e

quantificável, que se transfere para os custos do produto. Deste modo, o

empresário possui condições de neutralizar a causalidade do evento danoso

por meio do seguro, que incide no custo de produção e que é inserido para o

consumidor do produto100.

94

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 151.

95 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 126.

96 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 77.

97 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 17.

98 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 17.

99 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 17.

100 RONCONI, Diego Richard. A Responsabilidade Civil nos Contratos de Alienação Fiduciária em Garantia. Florianópolis: OAB/SC, 2006. p. 261.

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Além da culpa contratual e extracontratual, a teoria

subjetiva evidencia outras modalidades, culpa in vigilando, a culpa in eligendo,

a culpa in custodiendo, a culpa in comittendo ou culpa in faciendo e a culpa in

omittendo, culpa in negligendo ou culpa in non faciendo101.

Nota-se, portanto, que a Responsabilidade Civil subjetiva

refere-se à culpabilidade do agente, enquanto que a Responsabilidade Civil

objetiva se importa com o dano e a relação de causalidade, mas como regra

geral o ordenamento jurídico brasileiro se prevalece da Responsabilidade Civil

subjetiva102.

1.6. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Pablo Stolze e Rodolfo Filho entendem que as causas de

excludentes de Responsabilidade Civil são fatos que sobrepõe há um dos

elementos ou pressupostos gerais da Responsabilidade Civil, rompendo o nexo

causal, finalizando por fulminar qualquer pretensão indenizatória103.

As excludentes pautadas no ordenamento jurídico,

segundo Antônio Elias de Queiroga são as seguintes: “o estado de

necessidade, legítima defesa, exercício regular de direito e estrito cumprimento

do dever legal, caso fortuito e força maior, culpa exclusiva da vítima, fato de

terceiro e ainda a cláusula de não indenizar”104.

O estado de necessidade é regulamentado pelo artigo

188, inciso II do Código Civil de 2002, e seu conceito segundo Caio Mário,

mencionado por Rui Stoco é:

101

GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 131 - 132.

102 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 131 - 132.

103 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 101.

104 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 50.

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Um indivíduo, ante a perspectiva de lesão a um direito seu,

ofende direito alheio. Na iminência de perigo a que vê exposta

coisa sua, o agente causa dano à coisa alheia105.

O agente causador do dano deve atuar dentro dos limites

de sua necessidade, vindo a ser responsável caso exceda tais limites, pois se

analisa que o indivíduo atue em conformidade com a agressão, de forma

proporcional fazendo uso moderado dos meios de defesa, não devendo

também fugir, porque não seria uma conduta razoável106. Esta excludente de

ilicitude é argüida em efeito prático como disciplina de defesa do réu

concernente a ação indenizatória proposta pela vítima, pois é adequado afirmar

que a vítima somente sofreu prejuízo em razão de evitar um mal maior107.

A segunda excludente de responsabilidade incide na

legítima defesa, cujo está regulada no artigo 188, inciso I, primeira parte do

Código Civil de 2002. Porém, para a sua existência é preciso que a iniciativa da

agressão sobrevenha por parte de outrem, sem que do agente tenha partido

qualquer agressão ou provocação, que a ameaça de dano seja atual ou

iminente e a reação seja proporcional à agressão108.

A terceira excludente de responsabilidade é apontada por

Antônio Elias de Queiroga sendo o exercício regular de um direito reconhecido,

cujo está disposto no artigo 188, inciso I, segunda parte do Código Civil de

2002.

O reminiscente autor entende por exercício regular de um

direito reconhecido aquele que:

[...] o uso e o gozo de um direito, consoante prescrições legais.

Entende-se por exercício do direito aquele que se faz com o

próprio direito: para este não há lesão ao direito alheio, uma

vez que se expressa como exercício regular do direito.

105

Caio Mário Apud STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 179.

106 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 179.

107 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 179.

108 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 195.

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Neminem laedit qui suo urc utitur (Não prejudica outrem aquele

que usa de seu direito)109.

Todavia, o agente ao praticar o exercício de seu direito,

deverá restringir-se a razoabilidade, de forma que se exceder e causar um mal

desnecessário e injusto irá igualar sua conduta ao ilícito, sobrevindo o dever de

indenizar110.

A quarta excludente de Responsabilidade Civil refere-se

ao estrito cumprimento do dever legal, que conforme Rui Stoco é “quem age

limitando-se a cumprir um dever que lhe é imposto por lei penal ou extrapenal e

procede sem abusos no cumprimento desse dever não ingressa no campo da

ilicitude”111.

No entanto, é indispensável que a obrigação seja

cominada por qualquer regra do direito positivo, não se embaraçando com o

dever religioso, social ou moral. E o seu cumprimento deve ser feito de forma

não exorbitante, ou seja, não pode ultrapassar o limite racional forçoso para a

sua realização, independentemente de ser no modo ou nos meios

empregados112.

O caso fortuito e força maior, também são excludentes de

responsabilidade, cujo são ponderados conjuntamente no caput do artigo 393

do atual Código Civil.

Neste sentido, Rui Stoco adota um juízo misto de modo

que:

Não há acontecimentos que possam, a priori ser sempre

considerado casos fortuitos; tudo depende das condições de

fato em que se verifica o evento. O que é hoje caso fortuito,

109

QUEIROGA, Antônio Elias. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 53.

110 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 182.

111 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 181.

112 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 181.

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amanhã deixará de sê-lo, em virtude do progresso da ciência

ou da maior previdência humana113.

O caso fortuito ou de força maior, segundo Arnoldo

Medeiros da Fonseca, citado por Antônio Elias de Queiroga, tem dois

pressupostos, sendo, a ausência de culpa, que é interna e de caráter subjetivo

e a inevitabilidade do evento, que é externa e de caráter objetivo, assim se

houver culpa do agente, ou sendo a situação resistível, não há possibilidade de

ser caso fortuito ou de força maior114.

A excludente de responsabilidade no caso fortuito ou de

força maior decorre do impedimento da concepção da relação de causalidade,

e não do elemento acidental de culpa. Assim sendo, o caso fortuito não poderá

de forma alguma proceder de ato culposo do obrigado, em razão da própria

natureza inevitável da situação que o caracteriza, podendo resultar somente

deu um fator estranho à vontade do agente causador115.

Apesar do Código Civil de 2002 não mencionar a culpa

exclusiva da vítima como requisito da excludente de responsabilidade, as

doutrinas estabelecem como uma das hipóteses, pois se dizia no Direito

Romano, quod quis ex culpa sua damnum sentit, nom intelligitur damnum

sentire116.

Desse modo Antônio Elias de Queiroga a define como

sendo:

Há culpa exclusiva, quando o evento danoso foi desencadeado

pela própria vítima. A atuação exclusiva desta afasta por

completo a responsabilidade do agente, por faltar justamente a

relação de causalidade. No caso, a culpa pelo ocorrido foi da

própria vítima; o agente foi um mero instrumento do fato117.

113

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 172.

114 Arnoldo Medeiros da Fonseca Apud QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 54.

115 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 173.

116 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, p. 177.

117 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 57.

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Assim surge a necessidade de verificar se a

responsabilidade está relacionada com a contribuição da vítima no ato, pois na

liquidação o prejuízo, estimar-se-á proporcionalmente a participação de cada

um, diminuindo o valor indenizatório. De modo que, quando constata essa

excludente de responsabilidade, inocorre indenização118.

Na mesma linha de pensamento, interessa discorrer sobre

o comportamento de terceiro, distinto do agente causador e da vítima, em

razão de ser uma excludente de responsabilidade119.

Aguiar Dias, mencionado por Antônio Elias de Queiroga,

ensina que o fato de terceiro é:

Qualquer pessoa além da vítima ou do responsável. É preciso,

contudo, que esse terceiro não seja uma pessoa por quem o agente deva responder

(filho menor, tutelado, curatelado, preposto,...)120.

Todavia, para que seja uma excludente é imprescindível

que o comportamento atraia os efeitos do evento lesivo, e conseqüentemente

não responda o agente, direta ou indiretamente pelos efeitos do dano121.

Enfim, a última excludente de responsabilidade que neste

presente trabalho será ponderado é a cláusula de não indenizar. Tal excludente

só tem cabimento na Responsabilidade Civil contratual, segundo Pablo Stolze

Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho122. De tal modo que tais autores a

118

GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 57.

119 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 116.

120 Aguiar Dias Apud QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 57 - 58.

121 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 58.

122 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 118.

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conceituam como sendo, “convenção por meio da qual as partes excluem o

dever de indenizar, em caso de inadimplemento da obrigação”123.

É certo que tal excludente de responsabilidade, causa

debates, em razão da legalidade dessa cláusula. Pois, uma corrente entende

que deva ser proibida a sua utilização, pelo fato que contraria o interesse

social, sendo assim um comportamento imoral124.

E a outra corrente afirma que essa cláusula decorre do

princípio da autonomia da vontade, posto que as partes sejam capazes, e não

sendo ilícito seu objeto, podem acordar o que acharem convenientes. Além do

mais, seria legal e oportuno ao interesse social, pois restringiriam os riscos e

barateiam os custos do contrato125.

Mas, para que a cláusula de não indenizar seja acordada

é indispensável que exista, a bilateralidade do consentimento, a ausência de

dolo ou de falta grave e a vantagem paralela em favor de outro contratante126.

Por conseguinte, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Filho alegam que tal premissa deve ser admitida somente quando as

partes contraentes apresentarem entre si uma relação de igualdade, de forma

que a exclusão da responsabilidade não seja renunciada pela parte

economicamente mais frágil127.

O próximo capítulo versará sobre a Sociedade Limitada

conforme Código Civil de 2002, assim como os sócios diante da Sociedade

Limitada.

123

GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 118.

124 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 119.

125 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 68.

126 QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil, p. 68.

127 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 120.

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CAPÍTULO 2

A SOCIEDADE LIMITADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

2.1. BREVE INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A SOCIEDADE LIMITADA

A Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada,

atual Sociedade Limitada, surgiu com a intenção de propiciar ao comerciante

uma forma de empresa que fosse leve e eficaz, evitando assim o risco de

eventuais deficiências organizacionais128.

Dessa forma, após o término da Revolução Industrial, os

comerciantes tiveram grandes dificuldades de instituírem uma empresa, pois

possuíam apenas como opção a sociedade por ações, que limitava a

responsabilidade dos sócios e também a sua atuação pessoal, e a sociedade

de pessoas, que permitia à atuação efetiva e ilimitava, a responsabilidade

solidária dos sócios129.

Essa situação custava ou impedia a criação de novas

sociedades, trazendo então, problema na criação da cidade, além de criar

descontentamento entre os pequenos e médios comerciantes130.

Desse modo, devido à Revolução Industrial de 1870, a

primeira Lei sancionada, no mundo, foi na Alemanha, em 20 de abril de 1892,

tornando-se essencial à existência de sociedade menos formal, reduzindo as

responsabilidades dos sócios à sua contribuição131.

Pouco tempo depois, no ano de 1901, surgiu a Lei das

Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada, em Portugal, que

128

RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas. São Paulo: Manole, 2007. p. 7.

129 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 7.

130 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 8.

131 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 8.

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mesmo sob a influência alemã, teve novos dispositivos. Por conseguinte os

comerciantes de países como Áustria, Inglaterra, França, necessitaram dessa

Lei, devido às dificuldades de criar sociedades132.

Contudo, antes da Lei ser sancionada em Portugal, em

1865, José Thomaz Nabuco de Araújo formulou um projeto, que foi discutido,

mas rejeitado pelo governo brasileiro. Outro projeto foi apresentado em 1912,

por Herculano Marcos Inglez de Souza, com a intenção de atender os

comerciantes brasileiros seguindo, então, as tendências mundiais, porém foi

rejeitada133.

No entanto, tal Lei foi introduzida no ordenamento

brasileiro, pelo deputado Joaquim Luis Osório, firmado no projeto de Inglez de

Souza que recebeu da Comissão de Constituição e Justiça parecer favorável,

originando, assim, o Decreto nº 3.708, de 10 de janeiro de 1919, primeira Lei

brasileira e quinta a ser criada no mundo134.

O decreto nº 3.708/19 instituiu o tipo societário com

características próprias, ganhando feições peculiares, principalmente com a

prática societária135.

2.2. CONCEITO DE SOCIEDADE LIMITADA

O Código Civil de 2002, ao disciplinar a Sociedade por

Quotas de Responsabilidade Limitada, modificou sua nomenclatura para

Sociedade Limitada. Porém, o mesmo não dispôs o seu conceito, tal como

acontecia sob a égide da legislação anterior, Decreto nº 3.708/19, permitindo,

assim, livre acepção136.

132

RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 9.

133 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 9.

134 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 10.

135 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 8.

136 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 125.

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Portanto, Fran Martins, aludido por Amador Paes de

Almeida, a define como sendo “aquela formada por duas ou mais pessoas,

assumindo todas, de forma subsidiária, responsabilidade solidária pelo total do

capital social”137.

2.3. OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO CONTRATO SOCIAL DA

SOCIEDADE LIMITADA

Além dos elementos gerais que instruem o contrato social,

surgem, também, os elementos essenciais próprios da Sociedade Limitada,

que são expostos por meio de cláusulas.

2.3.1. Nome empresarial

As sociedades empresárias cogitam-se e diferenciam-se

umas das outras, no mundo das atividades econômicas, por meio de um nome,

empossado de nome empresarial. É o que dispõe o artigo 1.155 do Código

Civil de 2002.

Nota-se, então, que as duas espécies de nome

empresarial são conhecidas por firma e denominação, sendo que a primeira “é

utilizada pelo empresário individual ou pelas sociedades em que há sócios

solidários”, segundo Amador Paes de Almeida138. Enquanto que a segunda

“designa uma sociedade por ações”, é o que entende Marcel Gomes Bragança

Retto139.

A Sociedade Limitada, considerando sua natureza

jurídica, pode ostentar tanto a firma como a denominação, desde que

137

Fran Martins Apud ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 125.

138 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 137.

139 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 105.

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acompanhada imprescindivelmente, da palavra limitada, abreviada ou por

extenso140. É o que preceitua o artigo 1.158 do Código Civil de 2002.

Quando o nome empresarial utilizar-se de firma ou razão

social, deverá este, individualizar todos os sócios ou incluir o nome de apenas

um destes, mas se for adotar denominação, se estabelecerá de um nome de

família ou nome de um dos sócios, destinando, forçosamente, o objeto da

sociedade141. Porém, independente da constituição do nome empresarial, deve

este indispensavelmente ser seguido do aditivo limitada, abreviado ou

expresso, sob pena de responder por solidariedade ilimitada os sócios

Administradores142.

O artigo 1.164 do Código Civil de 2002 proíbe a alienação

do nome empresarial, no entanto o novo adquirente pode, com a permissão

expressa do vendedor, fazer uso do último nome, desde que seja precedido de

seu próprio, juntamente com a qualificação de sucessor, é o que expressa o

parágrafo único do mesmo artigo143.

Averigua-se, portanto, que o nome empresarial necessita

de proteção legal, certificando a lei o seu uso exclusivo, em todo o Estado e

território nacional144. A respectiva proteção se dá por meio do Registro de

Empresas Mercantis que, se feito na Junta Comercial, a proteção será em todo

o Estado e, se feito no Departamento Nacional de Registro do Comércio,

abrangerá em todo o território nacional145.

140

ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 138.

141 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 138.

142 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 138.

143 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 138.

144 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 138 - 139.

145 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 139.

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2.3.2. Objeto social

O objeto social da Sociedade Limitada é a empresa,

amparada pelo direito brasileiro, como a disposição da atividade econômica

direcionada para a produção e, ou, circulação de bens e serviços, ou seja, a

“prática de uma atividade econômica que se enquadra na noção de

empresa”146, em razão de que o Código Civil de 2002 ingressa esta modalidade

de sociedade na atividade empresarial147.

A respectiva atividade deve ser de fim lucrativo, no

entanto não pode ser qualquer empresa e sim, a que não afronte a lei, não

contrarie a ordem pública e os bons costumes, ou seja, a busca do lucro deve

ser mediante empresa juridicamente lícita e moralmente adequada148.

Nota-se, então, que o próprio contrato social apresenta

um conjunto de normas que disciplina a necessidade de clareza na definição

do objeto social, para que possa haver a possibilidade de individualizar a

empresa que se pretende praticar, mediante a geração da Sociedade Limitada.

Essa definição deve ser precisa, delimitando o campo de atuação da

sociedade149.

A indicação do referente objeto social deve ser redigida

em língua portuguesa, distinguindo, no contrato as atividades que os sócios

tencionam que a pessoa jurídica venha a desempenhar. Essas determinações

competem aos sócios, bem como a suspensão ou a cessação de uma

atividade que venha sendo cumprida150. É o que preceitua o artigo 56, inciso I

da Lei nº 8.884, de 11 de julho de 1994.

146

JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002. São Paulo: Atlas, 2003. p. 87.

147 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 83.

148 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 84.

149 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 84 - 85.

150 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 85.

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No entanto, ressalta-se ainda, que a Sociedade Limitada,

com perfil capitalista, poderá ter como objeto a participação de outras

sociedades, com a finalidade de realizar seu objeto primário, desde que

observados os limites cominados pelos fins socioeconômicos da atividade

privada. Além de o contrato social, permitir de forma livre ou convencionada, a

obtenção pela sociedade, de frações participativas de outra pessoa jurídica,

como sócia de responsabilidade limitada, ou ainda, de participações em

sociedade com objetos distintos, em sociedades pautadas por outras leis e em

agrupamentos complementares de empresas151.

2.3.3. Capital social

Segundo Jorge Lobo, capital social é o total das

contribuições dos sócios, concebidas por dinheiro ou qualquer espécie de bens

que sejam passíveis de avaliação econômica, e que tenham relação com o

objeto social152. O aludido autor cita três funções, conferidas pelo capital social:

a de produção, que visa realizar o objeto social; a de organização, que é o

alicerce para a distribuição das quotas entre os sócios, em razão, do poder

político; e a de garantia, por representar uma cifra contratual que sujeita a

sociedade manter certa quantidade de bens para servir aos terceiros153.

Por outro lado, Cunha Peixoto menciona apenas duas

funções primordiais: a interna, que serve para “fixar as relações patrimoniais

entre os sócios, regulando suas participações nos riscos e lucros da

sociedade”154 e a externa, cujo “capital representa a garantia de terceiros”155.

Quanto a sua formação, o Código Civil de 2002 regula-a,

detalhadamente, por meio de diversos dispositivos esparsos. Apesar disso,

esta não especifica o valor mínimo e nem máximo. Embora haja entendimento

que defenda essa idéia, em razão de que, se “o capital social é a garantia dos

151

JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 86.

152 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 49.

153 Apud: RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 49.

154 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 49.

155 Lacerda Teixeira Apud RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 49.

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credores, impõe-se a fixação de um valor mínimo”, e também a fixação do valor

máximo, “já que a Sociedade Limitada foi concebida para a organização de

pequenas e médias empresas, de modo que devem constituir sociedades por

ações os que pretendem dispor de grande capital”156.

O capital social se divide em quotas, pertencendo uma ou

diversas a cada sócio. É identificado com o patrimônio da sociedade, pois é o

único157. Esse patrimônio, segundo Lacerda Teixeira, mencionado por Marcel

Gomes Bragança Retto, é a “soma de todos os bens que pode ser objeto de

troca, possuídos pela sociedade, compreende não somente o capital social

como tudo que a sociedade adquirir e possuir durante a sua existência”158.

Contudo, observa-se que este patrimônio é diverso do capital social, de modo

que o primeiro é variável, real, possui mobilidade e é complexo de relações

jurídicas tituladas pela sociedade, enquanto o segundo é nominal, intangível,

fixo e de natureza contratual, embora se convencione no momento inicial da

empresa159.

A integralização do capital social pode ser feita

imediatamente ou em prestações, é o que dispõe o artigo 997 do Código Civil

de 2002, aplicado às Sociedades Limitadas por força do artigo 1.054 da mesma

legislação. Adverte-se, entretanto, que a integralização do capital não é

necessária que se realize por meio de dinheiro, podendo ser satisfeita

mediante a transferência de bens160.

Os respectivos bens podem ser materiais como veículos,

máquinas, mercadorias, imóveis, entre outros, como também os imateriais,

como o registro de marca, as patentes de invenção e de modelo de utilidade, o

registro de desenho industrial, as quotas de outras sociedades ou as ações

156

RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 50.

157 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 119.

158 Lacerda Teixeira Apud RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 52.

159 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 119 - 120.

160 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 124.

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escriturais, ou até mesmo por meio de créditos, ficando assim solidariamente

responsável junto com o devedor solvente161.

Outra forma de integralização são a moeda estrangeira e

os bens intangíveis, é o que entende José Waldecy Lucena, aludido por Marcel

Gomes Bragança Retto, quando assevera que:

A moeda estrangeira, destarte, será previamente cotada em

reais, ao câmbio oficial do dia estipulado, e, consoante o valor

apurado em moeda nacional, figurará no contrato social. [...] A

conferência de bens intangíveis não pode ser isoladamente

admitida na sociedade. Assim, o valor potencial de um ponto

comercial, a clientela previsível desse mesmo ponto ou outros

elementos não contabilizados. Porém, se esses elementos

intangíveis integram uma universalidade, como é o caso de um

estabelecimento mercantil em pleno funcionamento, os

respectivos fatores intangíveis são admissíveis [...]162.

Destaca-se também a possibilidade de aumento de capital

ou redução de capital, que somente pode ocorrer quando houver a modificação

expressa no contrato, pois é por meio deste que se fixa o capital social, a

possibilidade de aumento do mesmo, acontece mediante o ingresso de novos

sócios, contribuições dos próprios sócios, incorporação de outra sociedade ou

capitalização de reservas163.

Assim sendo, quando definido o aumento do capital

social, os sócios terão o prazo de trinta dias para cumprir o direito de

preferência para participar desse aumento, de acordo com as quotas de que

sejam titulares, é o que dispõe o artigo 1.081, parágrafo primeiro do Código

Civil de 2002.

No tocante a redução do capital, conforme o artigo 1.082

do Código Civil de 2002, as alterações ocorrem depois de integralizado,

quando houver perdas irreparáveis e se excessivo, em relação ao objeto da

161

RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 54.

162 José Waldecy Lucena Apud RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 55.

163 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 260.

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sociedade. A primeira hipótese se efetuará com a diminuição proporcional do

valor nominal das quotas, porém será cumprida após averbação no Registro

Público de Empresas Mercantis, da ata da assembléia que a tenha aprovado. E

a segunda situação se realizará, restituindo parte do valor nominal das quotas

aos sócios ou dispensando as prestações ainda devidas, com diminuição

proporcional do valor nominal das quotas. Apesar disso, a averbação no

Registro Público de Empresas Mercantis, só será feita após o prazo de noventa

dias, contados da ata da assembléia que a tenha aprovado, para que gere seu

efeito. Esse lapso temporal é dado para que se possa impugnar tal decisão, e

se houver a referente oposição à prova de pagamento do débito ou

comprovante do deposito judicial, deverá ser juntado164.

2.3.4. Responsabilidade dos sócios

A responsabilidade dos sócios dessa sociedade

corresponde à integralização da sua quota-parte, formando capital social ou

integralizando o preço das ações subscritas ou adquiridas, deste modo

nenhuma responsabilidade do sócio subsiste, quer para com a sociedade quer

para com terceiros165. Essa situação ocorre, em razão de que, quando regular,

tem o patrimônio diverso do patrimônio de seus alusivos sócios, devendo

então, a sociedade responder pelas próprias obrigações166.

Nada obstante, tais preceitos não são absolutos, pois na

ocorrência de violação legal, ao contrato social ou ao estatuto, o sócio ou o

diretor, responderá solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, pelo

total do capital social como grifa o art. 1052 do Código Civil de 2002167.

Adverte-se, também, que os sócios responderão solidária

e ilimitadamente perante a Justiça do Trabalho, sempre que não forem

164

JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 262 - 263.

165 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 34.

166 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 34.

167 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 35.

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localizados bens da sociedade. É o que entende Arion Sayão Romita, citado

por Amador Paes de Almeida, quando alude que:

A limitação da responsabilidade dos sócios é incompatível com

a proteção que o Direito do Trabalho dispensa aos

empregados; deve ser abolida, nas relações da sociedade com

seus empregados de tal forma que os créditos dos

trabalhadores encontrem integral satisfação mediante a

execução subsidiária dos bens particulares dos sócios168.

Contudo, no que tange ao fato da penhora se voltar aos

bens particulares do sócio, com a inserção de seu nome no pólo passivo da

execução, a solução jurídica, admitida na esfera trabalhista, tem sido, os

embargos à execução, previstos no artigo 884 da Consolidação das Leis do

Trabalho, em razão de que o artigo 889 da mesma legislação, nega a

legitimidade ao sócio para impugnar embargos de terceiro169.

E quanto aos débitos fiscais, o artigo 134, inciso VII do

Código Tributário Nacional, dispõe que:

Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do

cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte,

respondem solidariamente com este nos atos em que

intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis:

[...]

VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de

pessoas.

Mas para configurar esta solidariedade, é imprescindível

que haja a impossibilidade de exigir o cumprimento da obrigação principal por

168

Arion Sayão Romita Apud ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 37.

169 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 38.

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parte do contribuinte, e também, que se tenha a intervenção dos sócios nos

atos tributados ou omissão de deveres, na forma da lei fiscal170.

2.3.5. Prazo de duração da sociedade

Em razão de ser, o contrato social, uma forma específica

de negócio jurídico, mediante o qual os contratantes, na situação de sócios,

sujeitam-se a adimplir os deveres nele acordado, nomeadamente a realização

do objeto social, torna-se imprescindível questionar o período que os sócios

estarão obrigados a adimplir suas obrigações171.

Assim sendo, o contrato social deverá estipular o prazo de

duração da sociedade, de maneira que seja determinando ou indeterminando.

O prazo indeterminado terá condição no referente contrato e durará enquanto

os sócios desejarem, 172.

Se a opção for por prazo determinado, deverá este estar

estipulado no contrato social, de forma cronológica e atendendo aos requisitos

do artigo 997, inciso II, do Código Civil173.

No entanto, se o prazo for determinado e vencendo sem

que haja a dissolução e liquidação, considerar-se-á prorrogado o prazo por

tempo indeterminado174.

2.3.6. Administração societária

A Sociedade Limitada deve ser administrada por uma ou

mais pessoas, citadas expressamente no contrato social ou mediante

nomeação em ato apartado, porém se a respectiva administração for conferida

170

ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 39.

171 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 73.

172 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 74.

173 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 74.

174 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 74.

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a todos os sócios não se expande de pleno direito aos que futuramente

adquiram essa qualidade, é o que dispõe o artigo 1.060 do Código Civil de

2002.

Entretanto, observa-se que, para o novo sócio, não ficar

automaticamente encarregado da administração, é forçoso que tal referência

esteja acordada no contrato. Nota-se também que, caso haja alteração ou se

tenha a intenção de ampliar a administração aos novos sócios, deverá esta

situação estar expressamente no contrato social. Porém, se essa alteração for

feita, o novo sócio adquirirá grande responsabilidade, advinda da função, e em

razão disto, o Terceiro Prejudicado, quando fosse acionar o Administrador,

deveria ele analisar as constantes modificações do quadro social175.

2.3.7. Cessão de quotas

O Decreto nº 3.708/19 se omitiu quanto à cessão de

quotas, dando margem para o surgimento de duas correntes antagônicas176. A

primeira corrente entende ser a Sociedade Limitada, sociedade de pessoas,

por isso compreende a necessidade do consentimento dos demais sócios na

transmissão inter vivos de quotas177. A segunda corrente, crê ser a Sociedade

Limitada sociedade de capital, assevera que a transmissão inter vivos,

independeria de qualquer anuência dos demais sócios178.

Na cessão de quotas, se estabelecida à continuação da

sociedade e havendo morte de um dos sócios, a referente cláusula será

obrigatória, não podendo os sócios sobreviventes recusar a entrada dos

herdeiros, porém para os herdeiros é facultada a recusa, embora seja defeso

impor à sociedade os seus interesses pessoais. E caso os herdeiros não se

interessem a continuar o pacto social, deverão receber seus quinhões, nos

limites do haveres do de cujus, continuando, assim, a sociedade com os sócios

175

RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 110.

176 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 135.

177 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 135.

178 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 135.

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sobreviventes. Esta solução também é aceita, quando houver a omissão do

contrato social179

Contudo, Rubens Requião certifica que, pelo artigo 1.057

do Código Civil de 2002, consente-se a cessão de quotas entre os sócios,

independentemente de assentimento ou preferência dos sócios, e também

podendo contemplar um terceiro estranho, assegurando a oposição de um

quarto do capital social180.

2.3.8. Falecimento ou interdição de sócio

Em razão de falecimento de sócio, a legislação

proporciona algumas hipóteses de solução. Uma das soluções é estar presente

expressamente no contrato social. Se houver, porém, a omissão, os sócios

supérstites poderão optar pela dissolução da Sociedade Limitada, ou acordar-

se aos herdeiros para regular a substituição do sócio falecido, ou ainda,

promover a liquidação da referente quota181.

Os respectivos herdeiros poderão ou não participar da

Sociedade Limitada, juntamente com os consócios remanescentes, desde que

conste expressamente no contrato social. No entanto, a cláusula permissiva

poderá ser alterada, gerando assim, a liquidação por parte do sócio falecido e

pagando aos herdeiros, o que lhes compete182.

Mas se as quotas do sócio falecido, compuser a maioria

do capital social, dificilmente impedirão a participação dos herdeiros. Neste

sentido, os sócios remanescentes integrantes da minoria social, somente terão

a opção da dissolução183.

179

ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 136.

180 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 518.

181 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 210.

182 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 210.

183 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 210.

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Contudo, não há entendimento pacífico, pois como

assevera Vivante, mencionado por Waldo Fazzio Junior:

Tal pacto obriga os sócios sobreviventes a suportar a

companhia dos herdeiros que, por seu número, por sua

menoridade, por sua posição social e por seu valor moral e

econômico, podem diminuir o vigor e o crédito da empresa

social; não assegura a sua continuação, porque o herdeiro

pode subtrair-se a ele renunciando a herança e perturba a

ordem das sucessões, porque poderá obrigar o herdeiro a

renunciar para não suportar um peso e um perigo que não

convém ao seu estado. Não é, pois, com esse pacto que se

pode assegurar o exercício da empresa no caso de morte de

sócio, convém empreender outro caminho184.

Assim, se atribuído o caráter intuitu personae, e o contrato

social expressamente vedar o ingresso de sócio mediante sucessão, entende-

se que os sócios remanescentes deverão optar pela liquidação da parte do pré-

morto, reembolsando aos herdeiros os seus haveres, em tributo ao princípio da

conservação da empresa, devendo-se adotar outro meio que não seja a

dissolução185.

2.3.9. Data do encerramento do exercício social

A Sociedade Limitada tem o exercício social estipulado

em um ano, em razão de ser convencional. Deste modo, não é necessário que

a adoção coincida com o ano civil186. A respectiva estipulação deverá constar

no contrato ou no estatuto da Sociedade Limitada187.

Waldo Fazzio Junior entende que o exercício social é:

Um lapso temporal que funciona como base para aferição de

resultados sociais, prestação de contas dos administradores,

184

Vivante Apud JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 210.

185 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 210.

186 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 91.

187 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 129.

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avaliação de sua eficiência administrativa, análise da

realização do objeto social, etc.188.

Portanto ao findar de cada exercício social, o

Administrador deverá apresentar contas de sua administração, pois serão

analisadas pelos demais sócios em assembléia geral, nos quatros meses

seguintes ao término do exercício social189.

2.3.10. Participação dos sócios nos lucros e perdas

A participação de cada sócio, nos lucros e nas perdas,

deverá estar estipulado no contrato social, sendo nula a exclusão de

participação de qualquer sócio, em ambos os casos, respeitando assim o

princípio da probidade, “obrigação moral de honestidade, de ação com

lisura”190, exceto o sócio que fez a contribuição social mediante a prestação em

trabalho191.

A respectiva exclusão deve estar estipulada em cláusula

contratual que prevê o limite de responsabilidade entre as obrigações da

sociedade e o patrimônio do sócio192.

A distribuição mais comum é aquela feita de acordo com a

participação de cada sócio no capital social, embora seja aceita à presunção de

silêncio do contrato social, além de ser lícito as partes estipularem outras

regras, desde que não caracterize ato abusivo, desonesto e de má-fé, em

desfavor de um ou mais sócios193.

188

JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De Acordo com o Código Civil de 2002, p. 91.

189 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 129.

190 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 80.

191 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 80.

192 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 82.

193 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 81.

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2.3.11. Cláusula de impedimento para o administrador

A Sociedade Limitada ostenta a mesma sistemática de

organização de texto dos contratos privados em geral, se desdobrando em

cláusulas dispositivas do acordo, alcançado pelos sócios194. Estas cláusulas

são apontadas como essenciais e acidentais195. As primeiras “são

indispensáveis ao registro do instrumento na Junta”196; a não contemplação

dos requisitos, fará com que a sociedade exista e seja válida, porém estará

irregular, em razão de o seu documento ser insuscetível de arquivamento197. Já

as segundas “dizem respeito às relações entre os sócios”198, e a sua falta não

impedirá o atendimento à formalidade do registro199.

Neste viés, o Administrador pode ser pessoa física ou

jurídica, desde que não se enquadre nos seguintes impedimentos:

a) os que forem impedidos por lei; b) os condenados à pena

que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos

públicos; c) os condenados por crime falimentar, de

prevaricação, peita ou suborno (corrupção ativa ou passiva),

concussão, peculato; d) os condenados por crime contra a

economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra

as normas de defesa da concorrência, contra as relações de

consumo, a fé pública ou a propriedade200.

É importante resultar que o respectivo impedimento

persistirá enquanto existir os efeitos da condenação dos crimes

supracitados201.

194

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 391.

195 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa, p. 391.

196 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa, p. 391.

197 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa, p. 391.

198 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa, p. 391.

199 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa, p. 391.

200 BUCZYNSKI, Amélia de Pádua. Direito Empresarial. Rio de Janeiro: Rio, 2005. p. 139.

201 BUCZYNSKI, Amélia de Pádua. Direito Empresarial, p. 139.

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2.4. DIREITOS E DEVERES DOS SÓCIOS NA SOCIEDADE LIMITADA

Os direitos e os deveres dos sócios se iniciam com a

assinatura do contrato social. Firmado o instrumento, mediante registro,

estarão os sócios obrigados a satisfazer as cláusulas estipuladas no respectivo

contrato social, sendo o registro uma conseqüência necessária202.

A posição jurídica dos sócios desta sociedade imputa a

seu titular, direitos de duas ordens, políticos e patrimoniais. Têm os direitos de

receber os dividendos, fiscalizar os atos da administração social, de participar

das assembléias ou reuniões, bem como de preferência em caso de aumento

do capital social, e também como receber sua parte no acervo social, em caso

de dissolução ou liquidação da sociedade limitada203.

O contrato social deverá estipular a participação dos

sócios nos lucros e nas perdas sociais, vedando a exclusão de qualquer um

deles de uma ou outra participação, salvo o sócio que contribui socialmente em

trabalho, que participa dos lucros, somente na proporção da média do valor das

quotas204.

Esses direitos versam em direitos essenciais dos sócios

quotistas, percebendo aqueles salvaguardados, por lei, do poder majoritário.

Os direitos patrimoniais são disponíveis, mediante acordo de quotistas. Mas os

direitos políticos são indisponíveis, por se trata de direito instrumental, ou seja,

quando o sócio fiscaliza a administração, não o faz em proveito próprio e sim

no interesse da sociedade205.

Cada sócio está obrigado para com todos os demais

sócios, qualquer um deles tem direito e a legitimidade processual para exigir o

cumprimento do ajuste, a pluralidade de sócios é insuficiente para consentir

202

MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 94.

203 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 188 - 189.

204 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 103.

205 RETTO, Marcel Gomes Bragança. Sociedades Limitadas, p. 189.

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que a maioria delibere a disposição de direito da minoria206. O sócio com quota

ou quotas de 1% (um por cento) do capital social, sofre em seu patrimônio os

efeitos da inadimplência de qualquer outro sócio, assim constitucionalmente lhe

é assegurado o direito de pedir ao Poder Judiciário que examine essa lesão de

direito207.

Os sócios também têm como direito a transferência de

suas quotas total ou parcialmente inter vivos ou causa mortis, condicionado às

cláusulas específicas do contrato, e, por conseguinte, à vontade dos demais

sócios, sendo a sociedade intuitu personae208.

E ainda, o direito de conflitos sociais, em razão de ter a

Sociedade Limitada, qualidade de coletividade. Estes conflitos devem ser

percebidos em função do tipo societário, da estrutura jurídica da sociedade, e,

é limitado pelo dever de convivência e de atuação a favor da sociedade209.

A contribuição social é um dos deveres dos sócios,

definida pelo contrato social, onde regulamenta a forma e prazos, tornando a

dívida líquida, certa e exigível, podendo ser inclusive, executada210. Outras

formas de contribuição podem ser ajustadas entre os sócios, no contrato social,

inclusive sistema de contribuição para rateio de perdas sociais, sempre que

averiguadas, em valor certo ou percentual devido por cada sócio211.

A retirada, a exclusão ou a morte do sócio, não o exime,

ou a seus herdeiros, das responsabilidades pelas obrigações sociais

anteriores, até dois anos após a averbação da resolução da sociedade, nem

206

MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 95.

207 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 95.

208 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 96.

209 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 110.

210 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 99.

211 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 99.

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tão pouco nos dois primeiros casos, em posterior ou igual prazo, enquanto não

promover a averbação212. E se a transferência for de bens e direitos, inclusive

créditos, o sócio será responsável pela evicção, pois responderá pela solvência

do devedor, assegurando, que o crédito transmitido forme, efetivamente, o

capital social213.

O dever de pessoalidade, que acolhe a sociedade intuitu

personae, e reflete igualmente, na sociedade intuitu pecuniae, corresponde à

limitação sobre seus direitos patrimoniais inerentes a quotas ou quotas,

observando, assim, o princípio constitucional da razoabilidade214.

As obrigações contratuais estabelecidas não são de

conhecimento de terceiros, normalmente estranhos, embora demandem aos

seus interesses e aos interesses dos próprios sócios, que são igualmente

beneficiários desta função215.

Entre os deveres fundamentais dos sócios, conforme

Amador Paes de Almeida, se destacam três: a cooperação recíproca, formação

e administração do capital social e por fim, a responsabilidade para com

terceiros216.

A cooperação recíproca se exprime na intenção de

conjugar esforços, ou na vontade de colaboração ativa dos sócios. Tem como

característica ser imperiosa, de forma que é ponderado como o suporte fático

da sociedade e na falta, autoriza-se a dissolução217.

212

SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário. São Paulo: Atlas, 2007. p. 333.

213 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 103.

214 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 96.

215 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 108 - 109.

216 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 31.

217 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p. 31.

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A formação do capital social é o montante inicial,

dividindo-se em frações de quotas ou ações. A respectiva contribuição se dá

mediante a medida das quotas, e enquanto não integralizadas totalmente,

permanecerá, o sócio, devedor da sociedade218.

A responsabilidade para com terceiros deriva da

existência social, que sobrevém de relações jurídicas, não societárias, que

persistam por mais tempo, como a “obrigação de indenizar por ato ilícito ou o

dever de sigilo ou segredo”219.

O encerramento destas obrigações contratuais será no

instante em que a Sociedade Limitada estiver liquidada e extinta as

responsabilidades sociais220.

2.5. A FISCALIZAÇÃO SOCIAL NAS SOCIEDADES LIMITADAS

A fiscalização social da Sociedade Limitada é feita pelo

conselho fiscal, embora seja órgão, não é obrigatório, podendo o contrato

social instituí-lo221. Se assim proceder, deverá ser composto de três ou mais

membros e concernentes supletivos, sócio ou não, residente no país, eleitos na

assembléia anual222.

Qualquer pessoa capaz, idônea, no gozo da

administração de seus bens, poderá exercer as funções do conselho fiscal,

pois a legislação não exige nenhuma formação acadêmica, porém nada

impede, que o contrato social da Sociedade Limitada seja regulado pelas

normas da sociedade anônima, podendo, assim, exigir-lhe o curso universitário

218

ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa, p 32.

219 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 95.

220 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 95.

221 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 169.

222 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 169.

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ou o exercício pelo prazo mínimo de três anos, em cargo de Administrador de

empresa ou de conselho fiscal223. Apesar disso, independentemente da

formação exigida, o órgão poderá escolher contabilista legalmente habilitado

para assessorar no exame dos livros, papéis e demais documentos

contábeis224.

No que tange a estas pessoas, têm-se ainda

impedimento, situados das seguintes formas: aqueles impedidos por lei de

exercer funções administrativas, os membros dos demais órgãos da sociedade

ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos

respectivos Administradores e o cônjuge ou parente destes até o terceiro

grau225.

Ao conselho fiscal compete, individual ou conjuntamente

atribuições determinadas por lei ou pelo contrato, além de:

a) examinar pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da

sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os

administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações

solicitadas;

b) lavrar no livro de atas e pareceres do Conselho Fiscal o

resultado dos exames realizados;

c) exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos

sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do

exercício em que servirem, tomando por base o balanço

patrimonial e o resultado econômico;

d) denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem,

sugerindo providências úteis à sociedade;

223

NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 368.

224 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, p. 368.

225 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 170.

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e) convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por

mais de 30 dias sua convocação anual, ou sempre que

ocorram motivos graves e urgentes226.

Esta competência é insuscetível de transferência a outro

órgão societário. Suas atribuições e poderes são concedidos por lei. A

responsabilidade de seus membros adota à mesma regra sugestiva aos

Administradores227.

Quanto aos sócios minoritários que representarem pelo

menos um quinto do capital social é assegurado o direito de eleger,

separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente228.

A remuneração dos membros do conselho fiscal é fixada,

anualmente, pela assembléia dos sócios que o eleger e o direito de fiscalização

decorrem da qualidade de cotista229.

2.6. DISSOLUÇÃO PARCIAL E DISSOLUÇÃO TOTAL DAS SOCIEDADES

LIMITADAS

A Sociedade Limitada se extingue pela dissolução total,

por força do artigo 1.087, cominado com os artigos 1.033 e 1.044 do Código

Civil de 2002, mediante as seguintes conjecturas: vencimento do prazo de

duração; deliberação unânime dos sócios; a deliberação favorável da maioria

absoluta dos sócios; unicidade social230.

A extinção também se dá por meio da dissolução parcial

que tem tais pressuposições: as causas genéricas das sociedades contratuais;

resolução da sociedade perante aos sócios que preferem a dissolução;

resolução em relação a um sócio, com a liquidação da referente quota, na

226

JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 170.

227 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 171.

228 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 170.

229 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 170 - 171.

230 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 359.

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presunção de quando este morrer; na sociedade intuitu personae, onde os

herdeiros não forem aceitos na sociedade231.

Também pode haver a dissolução, quando um ou mais

sócios praticar ato ou omissão de inegável gravidade, colocando em risco a

continuidade da sociedade, embora necessite de convocação de reunião ou

assembléia, para que o mesmo possa se defender.

Contudo, esta última dissolução deverá estar prevista no

contrato social como exclusão por justa causa, por se tratar de exclusão

disciplinar232.

Seguindo esta linha de raciocínio, no próximo capítulo

tratar-se-á do Administrador da Sociedade Limitada diante do atual Código Civil

e da Jurisprudência de Santa Catarina, bem como do Egrégio Tribunal de

Justiça da quarta região.

231

MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 360.

232 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito societário: Sociedades Simples e Empresárias, p. 360.

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CAPÍTULO 3

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADMINISTRADOR DE SOCIEDADE LIMITADA

3.1. CONCEITO DE ADMINISTRADOR

Em conformidade com a lei ou com os atos constitutivos

da Sociedade Limitada, há necessidade da existência de um órgão competente

para a prática dos atos dessa pessoa jurídica. Esse órgão é o administrador233.

Ao respectivo Administrador, cabe a apresentação e não

a representação, pois a pessoa jurídica não é incapaz, portanto não precisa ser

representada. Nesse caso, quem pode ser representado por uma pessoa neste

caso é o Administrador, e não a Sociedade234.

A Lei das Sociedades Limitadas, Decreto nº 3.708/19,

usava o termo Sócios Gerentes, para apontar que não seriam aceitas pessoas

estranhas ao quadro social na função de Administradores da respectiva

Sociedade235. Contudo o Código Civil de 2002 inovou tal situação, inserindo a

expressão Administrador, possibilitando assim, pessoas não sócias frente à

administração da Sociedade Limitada, quando o contrato social permitir236.

Desse modo, o termo Administrador, segundo Bruno

Mattos e Silva, é utilizada para referir-se às pessoas que têm poder de gestão

233

SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 264

234 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 264 - 265.

235 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 361.

236 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 361.

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na Sociedade, ou seja, “que detém poderes para a prática de atos em nome da

Sociedade”237.

3.2. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO SOCIETÁRIA

A Sociedade Limitada é conduzida pelo contrato social,

portanto, seus Administradores são apenas executores dos princípios e regras,

determinados no pacto inaugural ou decorrente da decisão da assembléia238.

Tais princípios fazem parte da administração societária

que, segundo Waldo Fazzio Júnior, são: a contratualidade; a probidade; a

transparência e a eficiência239.

A contratualidade reflete nas cláusulas contratuais e nas

disposições da coletividade societária que são as estremas dos poderes

administrativos. Os desvios de poder ou de finalidade acarretam

responsabilidade pessoal para seus eventuais autores240.

A liberdade contratual de estipulação designa a

importância de mais fidelidade estatuária e rigoroso cumprimento das

deliberações, mesmo que não estejam amparadas formalmente como às

assembléias241.

A utilização de poderes do Administrador proveniente da

lei, do contrato ou das deliberações sociais, deve ser exatamente direcionada à

237

SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 265 -361.

238 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

239 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

240 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

241 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

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realização do interesse societário, de forma que tais poderes, somente são

protelados à pessoa administrativa, comprometidos por sua fidelidade242.

Assim, o princípio da probidade atribui ao Administrador

societário, considerar meios e fins, adaptando-os aos postulados éticos243. Pois

é o que dispõe o art. 1.011 do Código Civil de 2002, quando regula que “o

Administrador da Sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o

cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na

administração de seus próprios negócios”.

A administração societária e o princípio da transparência

são indissociáveis, porque a publicidade dos atos gerenciais é requisito

imprescindível para a correta fiscalização, pelos quotistas. Essa informação é

importante para que estes possam praticar o controle endógeno dos princípios

da contratualidade e eficiência da gestão social244.

A eficiência, como princípio, refere-se à operacionalização

administrativa, mediante a eficácia. A obrigação de bem administrar decorre do

contrato social, pois a sociedade está em busca de resultados245.

E o controle permanente e espontâneo da administração

é feito pelo conselho fiscal, quando existir, por dever de ofício e por algum

quotista, sempre como decorrência de seu status246.

242

JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

243 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

244 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

245 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

246 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 184.

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3.3. A ADMINISTRAÇÃO SOCIETÁRIA NO CÓDIGO CIVIL

Segundo o art. 997, inciso VI e o art. 1.053, caput do

Código Civil de 2002, o contrato social deverá indicar quem tem poderes para

representar a sociedade, bem como o limite de seus poderes.

Desta forma o Código Civil de 2002, dispõe que podem

ser Administradores pessoa física, uma ou mais, sócias ou não-sócias,

designadas em contrato social ou em ato separado247.

A referente designação necessita de aprovação unânime

dos sócios, se o capital social não estiver totalmente integralizado, ou de dois

terços, se o capital social estiver totalmente integralizado248.

Assim o Administrador que não for sócio poderá ser

destituído a qualquer tempo, por meio de deliberação tomada por mais da

metade do capital social. Além disso, após o prazo determinado, o

Administrador não-sócio perde os poderes, caso não haja recondução249. Por

outro lado, o Administrador sócio somente perderá essa qualidade mediante

aprovação de sócios, com no mínimo, dois terços das quotas sociais, salvo

disposição contratual em sentido contrário250.

Observa-se, então, que os poderes, devidos pelos

Administradores são revogáveis, porém a diferença entre os Administradores,

sócio e o não-sócio está no quórum necessário para a exoneração da função

de Administrador. Quanto a esse aspecto o Código Civil de 2002 confirma que:

Art. 1.063. O exercício do cargo de administrador cessa pela

destituição, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do

prazo se, fixado no contrato ou em ato separado, não houver

recondução.

247

SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 360 - 361.

248 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 361.

249 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 362.

250 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 362.

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§ 1o Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato,

sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares

de quotas correspondentes, no mínimo, a dois terços do capital

social, salvo disposição contratual diversa.

Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de

outras matérias indicadas na lei ou no contrato:

[...]

III - a destituição dos administradores;

Art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061 e no § 1o do

art. 1.063, as deliberações dos sócios serão tomadas:

[...]

II - pelos votos correspondentes a mais de metade do capital

social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIII do art.

1.071;

A renúncia de Administradores torna-se eficaz, quanto à

Sociedade, desde o período em que toma conhecimento da comunicação

expressa do renunciante, e em relação a terceiros, ocorrerá após a averbação

e a publicação251.

A forma de atuação do Administrador é a prevista no

contrato social, que atualmente possui um modelo aberto, sem muitas regras

cogentes e um concernente grande espaço para o “exercício da autonomia da

vontade dos contratantes, que poderão dispor a respeito da administração da

Sociedade”252.

A Sociedade tem sua vontade exteriorizada por meio de

atos praticados pelo Administrador. Nesse viés cabe ao Administrador, o uso

da firma ou denominação social. E em virtude desta atuação poderá ocorrer a

251

SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 362.

252 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 362.

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responsabilidade pessoal e ilimitada em face da Sociedade, nas situações de

excesso ou desvio de poder, violação do contrato social, fraude e outros253.

3.4. ADMINISTRAÇÃO POR PESSOA JURÍDICA, POR ADMINISTRADOR

SÓCIO E NÃO-SÓCIO

Como pessoa jurídica, a Sociedade comercial pode

associar-se a outra sociedade ou a uma pessoa natural, com o intuito de

constituir nova Sociedade. Deste modo, a respectiva Sociedade será sócia de

outra, no ato constitutivo desta, incumbindo-lhe a gerência, designando, assim,

o nome do seu representante, utilizando a firma social que lhe compete, como

órgão da Sociedade254.

Ainda que pessoas jurídicas possam ser sócias de uma

sociedade, somente pessoas naturais, podem administrá-la, pois é necessário

praticar atos físicos, bem como a compreensão da realidade e expressão da

vontade, que se fará em nome da sociedade, a quem o Administrador

representará255.

A sociedade poderá ser administrada, tanto por uma ou

mais pessoas naturais, e, ao escolher o Administrador, poderá eleger tanto um

sócio ou não-sócio, que é terceiro estranho ao quadro social, desde que o

contrato social o permita256.

Assim o Administrador sócio se elege mediante escolha

que implica a aprovação de metade mais um do capital social, e o

Administrador não-sócio, para a qualificação, exige a unanimidade dos sócios,

253

SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito Societário, p. 363.

254 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, 463 - 464.

255 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 102.

256 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 103.

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enquanto o capital não estiver integralizado, e de dois terços, no mínimo, após

a integralização257.

Conforme o exposto acima independente de ser sócio ou

não, o Administrador, que for designado em ato separado, deve assinar o

termo de posse no livro de atas da administração, nos trinta dias seguintes à

designação, sob pena de ineficácia. Por conseguinte o Administrador deve

requerer em dez dias, que seja averbada sua nomeação no devido registro,

indicando sua qualificação e residência, com a apresentação de documento de

identidade. Do ato de instituição deve constar o prazo de gestão258.

E por fim o sócio Administrador não pode fazer-se

substituir no exercício de suas funções, entretanto pode constituir mandatários

da sociedade, desde que nos limites de seus poderes. E no instrumento de

mandato devem estar mencionados os atos e as operações que estes poderão

praticar259.

3.5. ADMINISTRAÇÃO PLÚRIMA

Na Sociedade Limitada, é possível que haja

administração plúrima, independentemente de ser sócio ou não o

Administrador, num modelo misto, implicando quóruns diversos para as

escolhas260.

É necessário que o contrato social apresente ao menos

uma regra geral sobre este tipo de administração, mencionando a divisão de

atribuições e responsabilidades, ou seja, especificar se os Administradores só

257

MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 103.

258 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 212.

259 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 214.

260 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p.103.

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poderão agir conjuntamente ou se poderão atuar isoladamente em nome da

sociedade, que neste caso, será disjuntiva261.

E somente atuará nos atos e representação que

reclamem a participação de todos os Administradores por força do contrato,

sem o que não são válidos262. Responderá o Administrador por perdas e danos

diante da sociedade se efetuar operações, sabendo ou devendo saber que

estava operando em desacordo com a maioria263. No entanto, quando houver

casos urgentes em que a omissão ou retardo das providências possa acarretar

dano irreparável ou grave para a sociedade, será admitido a prática de atos

sem a co-participação de todos os Administradores264.

Porém no silêncio do contrato social, os Administradores

poderão praticar todos os atos de gestão da sociedade, pois a determinação de

participação plural para os negócios sociais é exceção limitativa de poderes do

Administrador, devendo, portanto, ser expressa no respectivo contrato social265.

3.6. PRINCIPAIS DEVERES DO ADMINISTRADOR

Aos Administradores da Sociedade Limitada,

independentemente de ser sócio ou não, lhe são conferidos algumas

atribuições. Waldo Fazzio Junior destaca as seguintes:

a) praticar as operações compreendidas no objeto da

sociedade, a dizer, todos os atos pertinentes ao exercício

normal da empresa (por exemplo, comprar e vender produtos e

mercadorias, locar imóveis para instalações da sociedade);

b) usar firma social e com ela subscrever as obrigações sociais,

como contratos em geral, faturas, cambiais, cheques etc.;

261

JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 193 - 194.

262 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 60.

263 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 60.

264 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 60.

265 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 194.

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c) administrar o patrimônio social, empregando para esse fim

medidas conservatórias de direito (por exemplo, recepção de

valores, interrupção de prescrição);

d) nomear e demitir empregados;

e) levantar os balanços anuais e elaborar as demonstrações

financeiras reclamadas por lei;

f) representar a sociedade em juízo, ativa e passivamente, bem

como constituir advogados;

g) cobrar dos sócios a integralização de suas cotas-partes, seja

pela realização em dinheiro, seja pela transmissão de bens;

h) promover o arquivamento de todos os atos societários

suscetíveis de registro de Junta Comercial;

i) manter escrituração contábil atualizada e regular;

j) prestar contas quando exigidas por lei, pelo contrato ou pelos

cotistas;

k) abster-se de empresa diversa da estabelecida no contrato,

como objeto social;

l) não aplicar os fundos ou bens sociais em seu próprio

benefício ou de terceiro sem o consentimento prévio dos

consórcios;

m) não alienar os bens sociais necessários à concretização do

objeto social;

n) não praticar atos de liberalidade às expensas da sociedade;

o) e não intervir em operação social em que tiver interesse

conflitante com o da sociedade266.

Esses deveres resultam em razão de que a prática da

função administrativa não conjetura irresponsabilidade, porém o Administrador

266

JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 215 - 216.

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societário responde. Por isso, está sujeito a um conjunto de mecanismos de

controle societário267.

3.7. CESSAÇÃO DO MANDATO NA SOCIEDADE LIMITADA

O sócio que for investido na condição de Administrador

mediante cláusula expressa do contrato social, não poderá ser destituído sem

que haja uma justa causa, reconhecida judicialmente. Os poderes conferidos

ao sócio para administração, bem como a condição de Administrador, são

irrevogáveis por força do artigo 1.019 do Código Civil, sendo assim, a

destituição judicial é o único ato cabível para retirá-lo do cargo e da função,

quando não concorde voluntariamente em sair268.

A ação ordinária que requer a destituição, poderá ser

ajuizada por qualquer dos sócios, independentemente da sua quota de

participação no capital societário. Na presente ação poderá ser formulado o

pedido de antecipação de tutela, se houver os requisitos para tanto, e ainda em

processo cautelar. E ainda outras medidas poderão ser tomadas para garantir

a eficácia do provimento final269.

Os poderes do Administrador não-sócio que for nomeado

no contrato social, serão revogáveis a qualquer tempo, bastando deliberação

pela maioria do capital social. Assim como são revogáveis, a qualquer tempo,

os poderes conferidos ao sócio por ato separado. A respectiva decisão não

necessita de motivação específica270.

A destituição imotivada, tanto do sócio nomeado em

documento apartado, bem como do não-sócio, que não importa o meio de sua

nomeação, é uma faculdade da maioria do capital social. Nesta situação, é

permitido que qualquer sócio, independentemente do valor de sua quota ou

267

JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 214.

268 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 66.

269 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 66.

270 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 66.

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quotas e da adesão ou anuência dos demais, poderá requerer judicialmente o

afastamento do Administrador por justa causa271.

O Administrador sócio ou não, tem como direito a

renúncia aos poderes de administração que lhe foram conferidos,

abandonando a função e seus deveres, sem precisar motivar o seu ato. A

administração não é um exercício obrigatório e infinito. E em qualquer hipótese,

por destituição judicial, extrajudicial ou por renúncia à função, os efeitos

jurídicos da mudança de Administrador em relação a terceiros estão

condicionados ao registro da alteração contratual ou à averbação do

documento respectivo272.

Ressalta-se, ainda, que a administração também finda,

com a interdição ou morte do Administrador, e com a dissolução da

Sociedade273.

3.8. O EXCESSO DE PODERES DOS ADMINISTRADORES E SEUS

EFEITOS

O Administrador deve exercer suas funções com zelo e

lealdade, perante a sociedade e seus companheiros. Os limites de sua ação

são apontados pelo objeto social. Ultrapassando esses limites, caracterizará o

excesso de poder, pois infringindo o contrato e a lei estará agindo com abuso

de poderes274.

Deste modo, para os atos que praticar, violando a lei e os

estatutos, terá, o Administrador responsabilidade pessoal e ilimitada, perante a

Sociedade Limitada, bem como Terceiros Prejudicados, em razão desta

271

MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 66.

272 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 66.

273 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 66.

274 LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades por Quotas de Responsabilidades Limitada. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 364.

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responsabilidade insurgir dos fatos, quando causarem sua imputabilidade civil e

penal275. Embora seja lícito à Sociedade ratificar posteriormente o ato276.

Em fato, a sociedade deverá responder por culpa in

eligendo, pela escolha do Administrador e também por culpa in vigilando, pelo

dever de fiscalizar e vigiar a sua atuação, quando se tratar de relações jurídicas

que, para terceiros que delas participem, tenham aparência de regularidade.

277.

O terceiro que transacionar com a sociedade, sem a

cautela de verificar, se quem atua em nome dela é verdadeiramente autorizado

a fazê-lo, naqueles limites, não poderá declarar desconhecimento278.

Logo, para que seja oposto por terceiros, deverá haver

limitação de poderes inscrita ou averbada em registro social e da ciência do

terceiro, ou quando aludir-se de operação estranha ao objeto social. Desta

forma, publicado e registrado, o contrato social vigorará contra todos, ou seja,

alcançará a eficácia no mundo exterior279.

Todavia, quando dos atos do Administrador resultar

prejuízo a terceiros, por eles, responderá a sociedade em primeiro lugar, para

somente depois se voltar regressivamente contra o Administrador faltoso280.

275

REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, p. 528.

276 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 61.

277 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 61.

278 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 196.

279 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 196.

280 FRANCO, Vera Helena de Mello. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 217.

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3.9. A RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES PERANTE A

SOCIEDADE LIMITADA E PERANTE TERCEIROS PREJUDICADOS, POR

CULPA NO DESEMPENHO DE SUAS FUNÇÕES

Os Administradores da Sociedade que agirem mediante

culpa funcional, Responderão Solidariamente perante a sociedade e Terceiros

Prejudicados, pois a solidariedade não se presume, mas resulta-se da lei ou

convenção entre as partes281.

Neste sentido, para Miranda Valverde, mencionado por

Waldo Fazzio Junior:

“a responsabilidade em que podem incorrer os diretores pelos

atos prejudicados à sociedade, praticados na gestão ordinária,

tem geralmente por fundamento a negligência habitual, a

imprudência ou imperícia no desempenho das suas funções.

São eles, v. g., responsáveis pelos atos dos agentes,

auxiliares, prepostos, empregados, pelos atos, em fim, das

pessoas que lhe são imediatamente subordinadas, ou sobre os

quais devem exercer constante vigilância. Assim, a culpa dos

diretores tanto pode consistir na escolha (in eligendo) da

pessoa, sem idoneidade moral ou profissional, quando na falta

de fiscalização ou vigilância (in vigilando) sobre sua

atividade”282.

O dispositivo 1.011 do Código Civil de 2002, segundo Rui

Stoco, citado por Waldo Fazzio Junior, quando dispõe que o Administrador

deverá ter o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma

empregar na gestão de seus próprios negócios, entende tratar-se de etiologia

da culpa in concreto e da culpa in abstracto283. A diferença é que na primeira

“o agente falta à diligência que as pessoas são obrigadas a empregar nas

próprias coisas”284, e na segunda “o agente falta àquela atenção que um

281

JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 196.

282 Miranda Valverde Apud JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 197.

283 Rui Stoco Apud JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 200.

284 Rui Stoco Apud JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 200.

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homem atento emprega na administração de seus negócios, fazendo uso da

inteligência com que foi adotado pela natureza”285.

A Responsabilidade Civil é patrimonial de modo que

necessitando de nexo causal entre o ato e o prejuízo. Assim sendo, não se

satisfaz somente com a violação legal ou estatuária sem qualquer prejuízo286.

No mesmo entendimento, Giuseppe Ferri, aludido por

Waldo Fazzio Junior, assevera que não é satisfatório para definir a

responsabilidade do Administrador o resultado negativo da atividade social,

abordando-se de responsabilidade por fato ilícito e não por fato lícito287.

No entanto a regra é de que os Administradores não

respondem pessoalmente pelas obrigações que assumirem em nome da

Sociedade e derivadas de gestão regular. Respondem, individualmente, pelos

prejuízos que causarem, singularmente, no exercício de suas atribuições, se

procedente com dolo, culpa ou violação da lei ou do contrato social.

Solidariamente, respondem pelos prejuízos que acarretarem, pela

inobservância de seus deveres legais ou contratuais, mesmo não conferido a

todos os Administradores. Solidária e subsidiária, respondem, quando tendo

ciência de irregularidades cometidas por seus predecessores, em prejuízo da

Sociedade, delas não derem conhecimento à assembléia geral288

A devida ação da sociedade, proveniente de má

administração, bem como violação legal e contratual poderá ser invocada pelos

sócios, subsidiariamente, se a assembléia por maioria isentar de

responsabilidade o Administrador. Poderá ainda ser argüida pela própria

sociedade, representada por sócio legitimado289. E a decorrente ação de

Terceiro Prejudicado será promovida no momento da liquidação ou de falência

285

Rui Stoco Apud JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 200.

286 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 197.

287 Giuseppe Ferri Apud JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 201.

288 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 201.

289 JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 197.

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da sociedade, desde que, somente os danos de que são vítimas se tornam

comprovados290.

3.10. A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA E A RESPONSABILIDADE CIVIL

DOS ADMINISTRADORES

As relações existentes entre o Administrador e sociedade,

e também entre a sociedade por seus Administradores e terceiros denotam a

questão dos limites da função dos Administradores. Esses limites se encontram

no contrato social, pois é onde inicia e termina a administração da Sociedade.

Portanto, é necessário que os Administradores sejam responsabilizados

civilmente perante a Sociedade e Terceiros Prejudicados, quando resultar de

atividade contra a lei e contrato social291.

Neste sentido, entende o Egrégio Tribunal de Justiça de

Santa Catarina que:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO

FUNDADA EM DUPLICATAS MERCANTIS - EXTINÇÃO DO

FEITO EM RELAÇÃO À EMBARGANTE, QUE NÃO MAIS

COMPÕE O QUADRO SOCIETÁRIO DA DEVEDORA -

SENTENÇA NESTE PONTO MANTIDA, UMA VEZ QUE O

PATRIMÔNIO DO SÓCIO-GERENTE NÃO SE CONFUNDE E

PORTANTO NÃO RESPONDE POR DÍVIDAS DA PESSOA

JURÍDICA - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS

AUTORIZADORES DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA - ILEGITIMIDADE PASSIVA -

APELO PROVIDO APENAS PARA ARBITRAR A VERBA

HONORÁRIA DE ACORDO COM O §4º DO ART. 20 DO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL292.

A respectiva ementa trata de embargos à execução,

mediante o não entendimento da comprovação dos requisitos autorizadores da

290

JUNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial, p. 198.

291 JUNIOR, Waldo Fazzio. Sociedades Limitadas: De acordo com o Código Civil de 2002, p. 194.

292 Apelação Civil, n° 2003.004534-1, Desembargador: Alcides dos Santos Aguiar, data da decisão 29/03/2007.

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desconsideração da personalidade jurídica, impedindo, assim, que, o

patrimônio do sócio-gerente, responda por dívida da empresa da qual fazia

parte quando da emissão das duplicatas executadas293.

A referente Corte entende que a desconsideração da

personalidade jurídica é medida excepcional que deve ser observada, apenas,

quando, mediante prova cabal, ficar demonstrada a atuação dolosa e

fraudulenta dos sócios-gerentes, contrária à lei e ao estatuto social, a fim de

prejudicar eventuais credores da sociedade. Caso contrário, não responde o

patrimônio do sócio-gerente, por dívidas contraídas pela pessoa jurídica294.

Em matéria de execução fiscal o Tribunal de Justiça da 4°

Região, dispõe que:

EMENTA: EXECUÇÃO FISCAL. REDIRECIONAMENTO.

IMPOSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA NÃO

VERIFICADA. ART. 135, III, CTN. SÓCIO-GERENTE.

SUCESSÃO COMERCIAL NÃO COMPROVADA295.

Trata-se de apelação interposta contra sentença que

julgou improcedentes os embargos à execução fiscal, redirecionada contra

pessoa do Administrador da empresa, detentora de participação no capital

acionário da empresa originalmente executada296.

A referente Corte entende que, neste caso, a Sociedade

Limitada terá responsabilidade solidária dos sócios-gerentes ou

Administradores, somente quando houver excesso de mandato e pelos atos

praticados com violação da lei ou do contrato. O redirecionamento da execução

293

Apelação Civil, n° 2003.004534-1, Desembargador: Alcides dos Santos Aguiar, data da decisão 29/03/2007.

294 Apelação Civil, n° 2003.004534-1, Desembargador: Alcides dos Santos Aguiar, data da decisão 29/03/2007.

295 Apelação Civil, n°2001.71.13.002536-4/RS, Desembargador Federal: JOEL ILAN PACIORNIK, data da decisão 17/09/2008.

296 Apelação Civil, n°2001.71.13.002536-4/RS, Desembargador Federal: JOEL ILAN PACIORNIK, data da decisão 17/09/2008.

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fiscal só pode ser feito contra a pessoa do sócio-gerente ou Administrador que

exerceu tal função à época dos fatos geradores297.

A sucessão comercial só pode ser reconhecida, quando

comprovado o liame entre as operações da empresa, anteriormente em

operação e da que passou a lhe suceder. Assim sendo, não é possível atribuir

responsabilidade pelo débito à pessoa dos sócios que não exerciam funções

de gerência ou administração, eis que a pessoa jurídica tem personalidade

diferente da de seus quotistas298.

E o Tribunal Regional do Trabalho da 12° Região

compreende que:

PENHORA. BENS DO ADMINISTRADOR DA EMPRESA.

Segundo dispõe o artigo 1016 do Código Civil, é condição

indispensável para que o administrador responda

solidariamente pelos créditos em execução restar demonstrado

que ele tenha agido com culpa no desempenho de suas

funções, de modo a causar prejuízo a terceiros299.

A respectiva jurisprudência refere-se ao agravo de petição

que tem como intuito reformar decisão que indeferiu o pedido de reserva de

créditos300.

Com efeito, para que o Administrador responda

solidariamente pelos créditos em execução, deve restar demonstrado que ele

tenha agido com culpa no desempenho de suas funções, de modo a causar

prejuízo a terceiros301.

297

Apelação Civil, n°2001.71.13.002536-4/RS, Desembargador Federal: JOEL ILAN PACIORNIK, data da decisão 17/09/2008.

298 Apelação Civil, n°2001.71.13.002536-4/RS, Desembargador Federal: JOEL ILAN PACIORNIK, data da decisão 17/09/2008.

299 AP 01425-2003-041-12-00-7, Juiz Relator: GERSON PAULO TABOADA CONRADO, data da decisão 04/09/2008.

300 AP 01425-2003-041-12-00-7, Juiz Relator: GERSON PAULO TABOADA CONRADO, data da decisão 04/09/2008.

301 AP 01425-2003-041-12-00-7, Juiz Relator: GERSON PAULO TABOADA CONRADO, data da decisão 04/09/2008.

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Deste modo assevera-se que Responsabilidade Civil do

Administrador da Sociedade Limitada, perante a sociedade e Terceiros

Prejudicados existirá quando resultar de atos praticados mediante dolo (ato

ilícito consciente) e culpa (ato negligente ou imprudente), no desempenho de

suas funções302.

Isto porque o desempenho de ética e moral do

Administrador da Sociedade Limitada contém a obrigação de abster-se de

participar dos negócios e das deliberações sobre qualquer pratica de interesse

contrário ao da Sociedade, sob pena de ser afastado motivadamente da

função, ser excluído da sociedade, bem como de responder civilmente303.

Logo, responderá perante a sociedade, o Administrador

que, sem autorização expressa dos sócios, justapor créditos ou bens sociais

em proveito próprio ou de terceiros. Neste caso, terá, o Administrador que

devolver à sociedade, ou ainda, pagar o equivalente com todos os lucros

resultantes, e havendo prejuízo, por ele também responderá304.

E também caberá ao, Administrador a responsabilidade

pela distribuição regular dos lucros. E sem que lembrar recai então sobre o

mesmo, a responsabilidade pessoal pela repartição de lucros ilícitos ou

fictícios, havendo mais de um Administrador a responsabilidade será solidária.

A respectiva responsabilidade inicialmente é civil, embora possa mediante os

fatos tornar-se responsabilidade penal. Os sócios da Sociedade Limitada

somente responderão pela distribuição indevida de lucro se conheciam ou

deviam conhecer sua ilegitimidade305.

Entende ser assim, em razão de que o Administrador,

mediante a responsabilidade, administra diretamente os direitos e os interesses

da sociedade, e indiretamente, interesses e direitos dos sócios, submetendo-se

o próprio, à fiscalização de suas funções pelos sócios, aos quais está obrigado

302

MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 63 - 64.

303 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 64.

304 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 64.

305 MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 65.

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a prestar contas. Podendo ainda, a qualquer tempo os sócios examinar os

livros, os documentos, o estado da caixa e da carteira da sociedade, se bem

que o contrato social pode estipular época determinada para o referente

exercício 306.

306

MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, p. 64.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à luz

da legislação, doutrina e jurisprudência brasileira A Responsabilidade Civil dos

Administradores de Sociedades Limitada, diante do Código Civil Brasileiro.

O interesse pelo tema abordado deu-se em razão de sua

atualidade e por se tratar de assunto novo, inserido no Código Civil de 2002.

Para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido

em três capítulos.

O primeiro capítulo tratou de abordar, de modo geral, a

Responsabilidade Civil e seus desdobramentos, para que se pudesse entender

quais eram as finalidades deste instituto.

Conforme disposto naquele capítulo, obteve-se a

visualização do que é Responsabilidade Civil, como se desenvolveu, suas

espécies, bem como suas excludentes.

O segundo capítulo destinou-se a deslindar, de modo

geral, a Sociedade Limitada no ordenamento jurídico, com a intenção de

compreender sua concepção.

Para encerrar, o segundo capítulo, tratou da dissolução

parcial e dissolução total das Sociedades Limitadas, em que a primeira

dissolução ocorre mediante resolução da Sociedade perante aos sócios que

preferem a dissolução; resolução em relação a um sócio, com a liquidação da

referente quota, na presunção de quando este morrer; na sociedade intuitu

personae, onde os herdeiros não forem aceitos na sociedade. Enquanto que a

segunda dissolução se dá em conformidade com o artigo 1.087, cominado com

os artigos 1.033 e 1.044 do Código Civil de 2002.

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No terceiro e último capítulo, estudou-se A

Responsabilidade Civil do Administrador de Sociedade Limitada.

Demonstrou-se que o Administrador deve exercer suas

funções com zelo e lealdade, perante a Sociedade e seus companheiros. Os

limites de sua ação são apontados pelo objeto social, pois é onde inicia e

termina a administração da Sociedade.

Por fim, retoma-se as três hipóteses básicas da pesquisa:

a) Responderá pessoal e ilimitadamente o Administrador

que violar a Lei e o contrato social;

b) Caracterizará excesso de poder o Administrador que

ultrapassar os limites de sua função;

c) Responderá pessoalmente, perante a sociedade o

Administrador que agir mediante culpa funcional.

Consta anotar que a hipótese primeira se confirmou, visto

que a responsabilidade insurge dos fatos, quando este causar sua

imputabilidade civil e penal, devendo o Administrador responder pessoal e

ilimitadamente.

Na segunda hipótese, confirmou-se que o Administrador

se ultrapassar seu limites impostos pelo contrato social, caracterizará o abuso

de poderes, ou seja, terá agido com excesso de poderes.

A terceira e última hipótese confirmou-se, de modo que a

solidariedade não se presume, mas resulta-se da lei ou convenção entre as

partes.

Acrescente-se, ademais, que havendo mais de um

Administrador ou Sócio-Gerente, responderão todos pessoal e ilimitadamente,

exceto quando estiver expresso no contrato social a função de cada um.

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