a representaÇÃo e a rede polÍtica territorial da ... · de algodão) estabelece e subordinam...

10
1 A REPRESENTAÇÃO E A REDE POLÍTICA TERRITORIAL DA ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE DOS PRODUTORES DE ALGODÃO EM MT Leo Augusto de Souza Universidade Federal Fluminense (UFF) [email protected] Resumo As redes políticas territoriais (re)produzidas pelos grupos hegemônicos de produtores de algodão mato-grossense formam o elemento básico da ordem implícita na organização socioespacial da produção algodoeira, e surgem mediante determinações, imposições e parcerias seguidas de regras, normas, especializações, ajustamentos e etc. Dentre vários atores da militância classista que participa da defesa de interesses em torno da lavoura do algodão, destaca-se a associação dos produtores. A AMPA (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão) estabelece e subordinam relações cotidianas e institucionais com produtores, políticos, empresários de setores ligados à cadeia produtiva do algodão, governo municipal, estadual e federal, enquanto uma estratégia de eficácia de poder. A AMPA se legítima como entidade de representação dos interesses dos produtores de algodão de Mato Grosso. Palavras chave: Rede Política. Algodão. Mato Grosso. Introdução As redes políticas territoriais (re)produzidas pelos grupos hegemônicos de produtores de algodão mato-grossense formam o elemento básico da ordem implícita na organização socioespacial da produção algodoeira, e surgem mediante determinações, imposições e parcerias seguidas de regras, normas, especializações, ajustamentos e etc. De acordo com, Ivaldo Lima (2005, p.128), “rede política é uma estratégia de coordenação de fluxos de comandos e decisões, capaz de formar uma arena política e de lhe conferir visibilidade, requalificando um dado território”. Dentre vários atores da militância classista que participa da defesa de interesses em torno da lavoura do algodão, destaca- se a associação dos produtores. A AMPA (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão) estabelece e subordinam relações cotidianas e institucionais com produtores, políticos, empresários de setores ligados à cadeia produtiva do algodão, governo municipal, estadual e federal, enquanto uma estratégia de eficácia de poder. A AMPA se legítima como entidade de representação dos interesses dos produtores de algodão de Mato Grosso. A representação é aqui entendida como um conjunto de práticas sociais e de formação de um discurso de identidade, reconhecimento, pertencimento e legitimidade de classes, grupos sociais, associações e lideranças

Upload: doanlien

Post on 11-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

A REPRESENTAÇÃO E A REDE POLÍTICA TERRITORIAL DA ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE DOS PRODUTORES DE ALGODÃO EM MT

Leo Augusto de Souza Universidade Federal Fluminense (UFF)

[email protected]

Resumo As redes políticas territoriais (re)produzidas pelos grupos hegemônicos de produtores de algodão mato-grossense formam o elemento básico da ordem implícita na organização socioespacial da produção algodoeira, e surgem mediante determinações, imposições e parcerias seguidas de regras, normas, especializações, ajustamentos e etc. Dentre vários atores da militância classista que participa da defesa de interesses em torno da lavoura do algodão, destaca-se a associação dos produtores. A AMPA (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão) estabelece e subordinam relações cotidianas e institucionais com produtores, políticos, empresários de setores ligados à cadeia produtiva do algodão, governo municipal, estadual e federal, enquanto uma estratégia de eficácia de poder. A AMPA se legítima como entidade de representação dos interesses dos produtores de algodão de Mato Grosso. Palavras chave: Rede Política. Algodão. Mato Grosso. Introdução As redes políticas territoriais (re)produzidas pelos grupos hegemônicos de produtores de

algodão mato-grossense formam o elemento básico da ordem implícita na organização

socioespacial da produção algodoeira, e surgem mediante determinações, imposições e

parcerias seguidas de regras, normas, especializações, ajustamentos e etc. De acordo

com, Ivaldo Lima (2005, p.128), “rede política é uma estratégia de coordenação de

fluxos de comandos e decisões, capaz de formar uma arena política e de lhe conferir

visibilidade, requalificando um dado território”. Dentre vários atores da militância

classista que participa da defesa de interesses em torno da lavoura do algodão, destaca-

se a associação dos produtores. A AMPA (Associação Mato-Grossense dos Produtores

de Algodão) estabelece e subordinam relações cotidianas e institucionais com

produtores, políticos, empresários de setores ligados à cadeia produtiva do algodão,

governo municipal, estadual e federal, enquanto uma estratégia de eficácia de poder. A

AMPA se legítima como entidade de representação dos interesses dos produtores de

algodão de Mato Grosso. A representação é aqui entendida como um conjunto de

práticas sociais e de formação de um discurso de identidade, reconhecimento,

pertencimento e legitimidade de classes, grupos sociais, associações e lideranças

2

políticas (BRUNO, et. tal. 2009 pág. 131). A AMPA é parte constitutiva de políticas

territoriais e parcerias entre diversos atores classistas que promovem a reprodução do

algodão mato-grossense. Logo, neste trabalho, o objetivo é sinalizar para algumas

alianças políticas que animam o avanço do algodão em Mato Grosso, tendo a AMPA e

programas institucionais como elementos problematizadores da arena política em que as

representações de interesses e as redes políticas territoriais se afirmam.

O projeto proposto é parte integrante de uma linha de pesquisa em desenvolvimento para o

Doutorado em Geografia que privilegia a análise da AMPA (Associação Mato-Grossense

de Produtores de Algodão) e sua influência na cadeia produtiva do algodão em Mato

Grosso. A metodologia utilizada envolveu os procedimentos técnicos e cotidianos

realizados para a execução do trabalho, tais como: trabalho de campo, levantamento

bibliográfico, pesquisa exploratória nas localidades pesquisadas, armazenamento e

sistematização das informações obtidas em campo.

Os determinantes políticos do avanço do algodão em Mato Grosso A expansão do algodão em Mato Grosso evidencia-se a partir da década de 1990,

quando o algodão foi plantado por produtores de soja como alternativa a um quadro de

crise nas lavouras atacadas pela praga do nematóide de cisto e à crise internacional nos

preços da soja na época. Vale apenas lembrar que, a chamada de “fase moderna do

algodão no Cerrado” pelos produtores já se iniciara na década de 1980 com a parceria

entre produtores e instituições de pesquisa como a Empresa de pesquisa e extensão rural

do Mato Grosso (EMPAER-MT) e a Empresa brasileira de pesquisa agropecuária

(EMBRAPA-ALGODÃO), que realizou pesquisa com 20 variedades de espécies de

algodão (FREIRE, 2007, pág.23).

O trabalho de pesquisa era parte do Programa Nacional de Pesquisa do Algodão. Com

apoio técnico e financeiro da EMBRAPA, em parceria com os produtores do estado

(parceria entre a Fazenda Itamarati Norte, atual Companhia Agrícola do Parecis –

CIAPAR), foi desenvolvida uma nova cultivar chamado de ITA 90 , largamente

utilizado em Mato Grosso como uma nova espécie de algodão comercial do Brasil e

registrado junto ao ministério da agricultura naquele período (idem, 2007).

Apesar das pesquisas, o algodão se consolidou como cultura importante em Mato

Grosso somente a partir de 1997, com a criação do Programa de Incentivo à Cultura do

3

Algodão (PROALMAT), no dia 2 de junho de 1997, pelo então Governador do Estado

de Mato Grosso, Dante de Oliveira, Lei Estadual número 6.883.

A ideia criada entre os produtores de algodão já mostrava um movimento de

organização política que resultou na isenção de 75% do Imposto Sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS). Desses 75%, o produtor recolhe 15% para o fundo,

chamado Fundo de Apoio a Cultura do Algodão (FACUAL), administrado por

representantes de entidades públicas e privadas, tais como a entidade representativa dos

produtores de algodão (AMPA), a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do

Estado de Mato Grosso (FETAGRI), a Secretaria de estado de Desenvolvimento Rural,

a Delegacia Federal de Agricultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento e a Associação de Beneficiadores de Algodão de Mato Grosso.

Os recursos financeiros adquiridos pelo FACUAL são direcionados para diferentes

áreas, como pesquisa, marketing, comercialização, meio ambiente, área social e

capacitação de integrantes da cadeia têxtil coordenados pela AMPA. A criação do

FACUAL promoveu um incremento significativo na produção de algodão a partir de

1997, tornando-o líder nacional da produção algodoeira.

Cabe ressaltar que, os produtores que queiram ser atendidos pelo PROALMAT devem

cumprir algumas obrigações para usufruir o beneficio. O PROALMAT se destina aos

produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas, desde que estejam devidamente inscritos

no Cadastro de Contribuintes do Estado, e devem requerê-lo através do Laudo Técnico

Inicial da AMPA que o encaminha à Câmara Setorial de Incentivo e Tributação do CDA

(Conselho de Desenvolvimento Agrícola).

O produtor deve comprovar as condições mínimas de práticas conservacionistas e

fitossanitárias a serem seguidas para se candidatar aos benefícios previstos na lei, que

visa abrir novos caminhos para o cultivo do algodão. Dentre as exigências propostas,

destaca-se, a saber: comprovar através de documentação legal a utilização de sementes

de algodão em qualidade compatível com a quantidade plantada e de acordo com as

variedades recomendadas para Mato Grosso.

Essas sementes deverão ser produzidas e adquiridas por produtores devidamente

registrados no Ministério da Agricultura e do Abastecimento. O agricultor terá também

que comprovar o uso de assistência técnica para efetuar o real controle de pragas e

doenças de lavoura de algodão após 60 dias da colheita; dispor do sistema de eliminação

4

de embalagens de agrotóxicos; adotar práticas de redução de resíduos; controlar a

poluição e contaminação do meio ambiente e estar quite com a Receita Federal.

O Programa prevê o incentivo fiscal do Imposto sobre Operações relativas à Circulação

de Mercadorias, incidente sobre o valor de comercialização do algodão para os

produtores que atenderem aos requisitos básicos da lei (PROALMAT, 2010). O

PROALMAT entrega para cada produtor cadastrado, e que cumpre as exigências

estabelecidas, a destruição das soqueiras de algodão (restos da lavoura), o transporte das

embalagens de agrotóxicos para as Centrais de Recepção e a situação regular com o

Fisco Estadual, o certificado anual que comprova a sua participação no Programa.

O PROALMAT atendeu em 2004 quase 100% dos produtores de algodão do Estado,

com um total de 530 produtores com 600 áreas certificadas, inclusive os da agricultura

familiar inseridos no programa de incentivo do governo, que nos últimos anos

transformou Mato Grosso no maior produtor de algodão do País e responsável por quase

metade da produção nacional (PROALMAT, 2010).

A dimensão produtiva do algodão O estado do Mato Grosso se tornou um dos maiores celeiros de produção agrícola do

Brasil. Tal cenário contribuiu para a atração de vários grupos de empresas, que exercem

um domínio mercantil, financeiro e político das estruturas locais de produção.

Com uma agricultura altamente tecnificada, graças aos fortes investimentos em

pesquisa, por parte dos Governos Estadual e Federal e dos grupos produtores de

algodão, verifica-se grande produção e alta produtividade agrícola. Neste contexto, a

cultura do algodão tem conquistado destaque com a qualidade da fibra, considerada uma

das melhores do mundo.

No estado do Mato Grosso, diversos programas de incentivo à produção de algodão,

envolvendo poder público e a iniciativa privada, foram criados no intuito de melhorar a

qualidade do produto e a consequente alteração no padrão locacional da produção, como

afirma Silva, que: Atualmente o Mato Grosso concentra cerca de 50% da produção nacional explorando modulo rural acima de 500 hectares e com uso intensivo de maquinas e insumos agrícolas. (Silva, 2003, p.172).

Cabe destacar que o algodão possui algumas peculiaridades em relação a outras culturas

promovendo uma requalificação dos territórios.

5

No sistema de produção de algodão mato-grossense predomina a comercialização do

produto já beneficiado, ou em pluma, diretamente à indústria têxtil. É usual a instalação

de usina de beneficiamento dentro das propriedades, e aqueles produtores que não a

possuem contrata esse serviço.

O preço da pluma é determinado com base nas análises de HVI (High Volume

Instrument – Instrumento de Alto Volume), equipamento moderno que realiza a análise

da fibra de algodão, determinando as características tecnológicas necessárias ao setor

industrial, e não apenas as características extrínsecas na fibra, conferindo ao produtor

maior poder de barganha na venda da safra, em função da qualidade do produto

(MONTEIRO, 2004).

Outro aspecto peculiar da produção, conforme Nassar (1998) consiste no controle de

qualidade da produção de algodão. Trata-se do Mato Grosso Cotton Quality, programa

desenvolvido pela Fundação MT (fundação de pesquisa de caráter privado criada em

1995) em parceria com a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) de São Paulo.

Dessa forma, com a unificação agricultura/indústria forma-se um sistema produtivo de

altíssima capacidade de produção e também de atuação em diferentes setores,

proporcionando uma maior obtenção de lucro. A difusão de um sistema de produção

estruturado em rede com pontos (áreas de produção) interligados por fluxos de

informação, mercadorias e insumos possibilitou que a expansão do algodão em MT.

Além de programas estaduais existem outros programas na esfera federal fruto da

organização de produtores, tais como: 1) AGF (Aquisições do Governo Federal)

consiste na compra pelo governo federal e formação de estoques reguladores; 2) EGF

(Empréstimo do Governo Federal), recursos destinados às indústrias do setor, de modo

a garantir os preços mínimos para o produtor; 3) PEP (Prêmio para Escoamento de

Produto), semelhante ao EGF, são recursos repassados às indústrias do setor obrigadas a

pagar um preço determinado ao produtor; 4) COV (Contrato de Opção de Venda),

programa que dá ao produtor autonomia nas decisões de vender, ou não, por

determinado preço seu produto; 5) PEPRO (Prêmio de Equalização Pago ao Produtor),

sistema de equalização baseado no pagamento da diferença entre o preço mínimo, por

arroba, e os preços de mercado e calculado pelas cotações da Bolsa de Nova York

(Monteiro, 2004).

Estes são alguns dos programas de apoio aos produtores de algodão que são apropriados

pela AMPA, que, por sua vez, é vinculada a uma representação nacional, a Associação

6

Brasileira de Produtores de Algodão (ABRAPA), configurando verdadeira rede de

produtores que exercem influencia nos programas de incentivo a produção, nas

diferentes esferas governamentais.

A arena política da AMPA Fundada em 16 de setembro de 1997, a AMPA nasceu com a finalidade de congregar os

produtores em torno de um mesmo objetivo: incentivar, de forma organizada a produção

de algodão difundindo a atividade em Mato grosso, orientando e defendendo os

interesses dos seus associados (AMPA, 2010).

A fim de incentivar a produção de algodão, a AMPA trabalha dentro de conceitos que

estimulam a qualidade e produtividade da lavoura. Conceitos que impulsionaram a

comercialização e promoção da pluma mato-grossense no mercado nacional e mundial.

A AMPA foi criada pouco tempo depois da promulgação do Programa de Incentivo a

Cultura do Algodão (PROALMAT), no intuito de administrar o Fundo de Apoio a

Cultura do Algodão (FACUAL) junto com outras entidades, a fim de atender as

demandas dos produtores (idem, 2010).

A AMPA é formada unicamente por produtores de algodão. Caso os produtores, em

determinado período, não plantem algodão, ficam afastados até que voltem à atividade,

o que não significa a liberdade de estabelecer parcerias com outros setores da cadeia

produtiva e, além disso, a autonomia de legislar e alterar seus regimentos internos

(idem, 2010).

A AMPLA possui recurso poder organizacional, pois está dividida em oito núcleos, sete

espalhados geograficamente em Mato Grosso, a saber: Centro Norte, Centro Leste,

Centro, Norte, Sul, Noroeste e Médio Norte. E um núcleo que representa os produtores

familiares, em qualquer lugar do Estado. Cada núcleo elege quantos delegados de

acordo com a quantidade de hectares plantados na sua região correspondente. Há

delegado para cada dez mil hectares, e eles votam e elegem a diretoria da AMPA (idem,

2010).

A AMPA está estruturada por meio de comissões que foram criadas com a intenção de

pesquisar, estudar e planejar as necessidades de cada área referente à atividade

algodoeira. Estas comissões estão subdivididas em comercialização, marketing,

pesquisa biotecnologia e qualidade, crédito e renda, relações de trabalho e

7

bicombustível. Há um total de 120 produtores e 25 cooperativas produtoras associadas à

AMPA.

A AMPA como entidade de representação de interesses não difere de outras tantas

entidades representativas no que tange aos seus regimentos e normas internas de cunho

classistas e administrativas. Nesse sentido, destaca-se, a visão integrada da cadeia têxtil,

a qual cada agente é parte essencial para o desenvolvimento da cultura, seja ele

fornecedor de insumos, equipamentos, fertilizantes, sementes, defensivos, serviços,

clientes, importadores, indústria, seja o Estado.

Como recurso de poder, a AMPA possui status político entre os produtores, sedes-

regionais e participação política em órgãos de decisões do governo. Para dar

visibilidade aos recursos de poder a AMPA estabelece diversas parcerias entre

diferentes setores da atividade produtiva que se reflete em práticas políticas, de acordo

com os interesses em jogo. A arena formada sinaliza para os atores que constituem a

representação de interesses em jogo. As parcerias e alianças entre diferentes atores, num

processo de cooperação, o que não significa ausência de divergências, dão suporte para

as atividades de pesquisa, sustentabilidade financeira para projetos e ações que visem o

aperfeiçoamento e difusão de novas práticas de produção, de modo a ampliar a

reprodução de capital.

Dentre as mais variadas parcerias da AMPA, destaca-se a criação do Instituto Algodão

Social (IAS), em setembro de 2005, para atuar junto aos produtores, a fim de

desenvolver os princípios da responsabilidade empresarial social, regularização das

relações de trabalho, gestão ambiental e certificação de seus produtos atendendo às

imposições dos mercados externo e interno, assim como as determinações do

PROALMAT para os produtores de algodão.

Outra parceria importante da AMPA é a do Instituto Mato-grossense do Algodão

(IMAMT), fundada em março de 2007, destinada a desenvolver pesquisas para o

algodão no Estado do Mato Grosso, assim como a formação e treinamento de mão-de-

obra especializada na parte de extensão nas fazendas com o uso de palestras, cursos e

dias de campo com os produtores contando com profissionais, laboratório, sementes,

estrutura para beneficiamento e um campo experimental no município de Primavera do

Leste (IMAMT, 2010). Tanto o IAS (Instituto Algodão Social) quanto o IMAMT são

instituições ligadas à AMPA e aos produtores. Seus projetos e programas são mantidos

8

com recursos oriundos do FACUAL cumprindo as obrigações impostas aos produtores

pelo PROALMAT para as áreas sociais e ambientais.

Há outras parcerias da AMPA com instituições de outras áreas, a saber. O Instituto

Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), criado em 1998 e reestruturado em

2008, é uma instituição privada que desenvolve projetos socioeconômicos e ambientais

para o Estado de Mato Grosso, por meio de coleta, processamento e análise de dados

para produzir informações estratégicas para as entidades mantenedoras do instituto

(IMEA, 2010). A atuação do IMEA se dá por meio do Núcleo de Projetos e Meio

Ambiente que elabora projetos socioeconômicos e ambientais que orientam as tomadas

de decisões dos setores do agronegócio. Concentrando um grande volume de

informações econômicas e sua articulação com as lideranças do agronegócio do estado,

o IMEA contribui para a agilidade de seus projetos.

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (FAMATO) foi

criada em 1965 para dar suporte aos produtores rurais de Mato Grosso em geral, do

planejamento à comercialização final do produto agropecuário. É integrada ao SENAR

(Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e IMEA, formando um sistema atuante

também em serviços oferecidos aos produtores de algodão articulados à AMPA

(FAMATO, 2010). Ainda no bojo de ações e projetos, a FAMATO criou quatro

programas especiais de ajuda ao produtor, são eles: campo futuro, empreendedor rural,

negócio certo rural e o sindicato forte.

Em síntese, todas essas parcerias apontam para uma rede política da AMPA, atuante em

várias arenas políticas articuladas entre diferentes atores que envolvem esquemas e

projetos de pesquisa, financiamento e ações políticas, numa verdadeira rede de

interesses nas mais variadas escalas com rebatimento no território. De fato, é no

contexto de expansão da lavoura do algodão, no cerrado mato-grossense que se situa a

AMPA. As ações e estratégias realizadas pela AMPA são resultados de um campo de

forças estruturadoras decorrentes da dinâmica do território.

Conclusões preliminares Os resultados preliminares indicam que a representação e a rede política territorial da

AMPA possuem uma natureza territorial que atua e articula diversas escalas produtivas

(local, regional, nacional e global) e esferas políticas envolvendo um conjunto de relações

sinalizando uma complexidade intrincada e cheia de meandros, constituindo-se numa

9

autêntica entidade de representação dos interesses dos produtores. Na busca de maior

reconhecimento e participação nas decisões políticas para o setor algodoeiro, a AMPA

assume seu lugar de liderança, adotando práticas de reafirmação de valores, ampliação das

ligações de cunho social, ambiental, político e cultural entre os produtores. Por fim, vale

lembrar que a trama de interesses, alianças e parcerias da AMPA com diferentes atores,

não está livre de conflitos, subordinação de produtores e resistências aos pacotes e normas

impostas por novas práticas produtivas, além de um embate de concepções culturais e

ideológicas com grupos mais tradicionais ligados ao campesinato.

Referências BRUNO, Regina et. al. Agronegócio e representação de interesses. In: REGINA, Bruno et. al. Um Brasil ambivalente: agronegócio ruralismo e relações de poder, Rio de Janeiro: Mauad X; Edur, 2009. FREIRE, Eleusio C. História do algodão no cerrado. In: FREIRE, Eleusio org. Algodão no cerrado do Brasil, Brasília: Associação brasileira de produtores de algodão, 918p. , 2007. LIMA, I. Redes políticas e recomposição do território. Tese de doutoramento. Niterói: PPGEO/UFF, 2005. MONTEIRO, Jorge Luiz Gomes. Mudanças espaciais induzidas pelo progresso técnico: a realidade da agricultura mato-grossense. Tese de doutorado. Programa de Pós-graduação em Geografia. Universidade Federal do Rio de Janeiro; UFRJ, Rio de Janeiro, 2004. NASSAR, André Meloni. Fundação Mato Grosso: Um caso de ação coletiva no agrobusseness. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Administração de empresas, FEA-USP, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998. SILVA, Carlos Alberto Franco da. Grupo André Maggi: Corporação e rede em áreas de fronteira. Cuiabá: Editora entrelinhas, 2003. SOUZA, Léo Augusto de. Território em rede na produção do algodão de Mato Grosso. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Geografia. Universidade Federal Fluminense, 2008. Sites consultados: ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE DE PRODUTORES DE ALGODÃO – AMPA – www.ampa.com.br COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB – www.conab.gov.br

10

FEDERAÇÃO DE AGRICULTUA E PECUÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO – FAMATO – www.famato.org.br INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO – www.imamt.com.br INSTITUTO ALGODÃO SOCIAL – www.ias.com.br INSTITUTO MATO-GROSSENSE DE ECONOMIA AGROPECUÁRIA – www.imea.com.br SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL – ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DE MATO GROSSO – www.senarmt.org.br