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A redução da maioridade penal: tema do momento Publicado por José Carlos Robaldo 1 ano atrás José Carlos De Oliveira Robaldo· Procurador de Justiça aposentado. Mestre em Direito Penal pela Universidade Estadual PaulistaUNESP. Advogado. Professor universitário. Professor da EsmagisMS. Representante do sistema de ensino telepresencial LFG, em Mato Grosso do Sul. ExConselheiro Estadual de Educação. Sul. Email [email protected] A redução da maioridade penal, como dizia o grupo musical Mamonas Assassinas, é o tema “da hora”. Na imprensa se vê todos os dias artigos, entrevistas e debates sobre esse assunto. A maioria defendendo e poucos contestando (entre estes últimos, nós nos incluímos). De fato, o tema tem chamado a atenção. Tanto é verdade que nas três palestras que faremos nos próximos dias – na UFGD, na OAB de Bela Vista e no curso de direito da faculdade Salesiana de CorumbáMS –, esse foi o tema escolhido. Os defensores da tese da redução da maioridade, como fez o médico e exprefeito de Campo GrandeMS Nelson Trad Filho, o advogado paulista Rogério Gandra Martins (Folha de S. Paulo, Tendências/Debates, 13.5.13, p. A3), entre outros, recorrem aos fundamentos científicos da incapacidade de discernimento (entendimento) utilizados pela nossa legislação penal e, inclusive, pela própria Constituição Federal , para defenderem os seus pontos de vista. De fato, o nosso sistema penal não pune o menor de 18 anos de idade, apoiado no entendimento científico de que a pessoa nessa faixa etária ainda não atingiu a maturidade suficiente para optar entre o certo e o errado, daí a sua condição de inimputabilidade absoluta. Isto é, não se admite tese em contrário. Não pode ser punida porque ainda não tem capacidade suficiente para administrar os seus atos. Na verdade, nos dias atuais, isso não passa de uma falácia. Pode até se admitir que ainda não atingiu totalmente a maturidade, mas que já possui capacidade para separar o joio do trigo, isso não se discute. Isso, lá nos idos da década de 40 do século passado, quando da elaboração do nosso Código Penal , talvez fosse verdade. Hoje, a realidade é outra. O advogado Rogério Gandra Martins, na defesa do seu entendimento, até com certa ironia, afirma inclusive que “... O menor pode por si só entender as complexidades de um contrato de compra e venda, mas não consegue ‘discernir plenamente’ o que é um homicídio ou não, e caso o pratique será totalmente JusBrasil Artigos 16 de abril de 2015

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Page 1: A Redução Da Maioridade Penal_ Tema Do Momento _ Artigos JusBrasil

16/04/2015 A redução da maioridade penal: tema do momento | Artigos JusBrasil

http://joserobaldo.jusbrasil.com.br/artigos/121819785/a­reducao­da­maioridade­penal­tema­do­momento 1/2

A redução da maioridade penal: tema do momentoPublicado por José Carlos Robaldo ­ 1 ano atrás

José Carlos De Oliveira Robaldo·

Procurador de Justiça aposentado. Mestre em Direito Penal pela Universidade Estadual Paulista­UNESP.Advogado. Professor universitário. Professor da Esmagis­MS. Representante do sistema de ensinotelepresencial LFG, em Mato Grosso do Sul. Ex­Conselheiro Estadual de Educação. Sul. E­[email protected]

A  redução da maioridade penal,  como dizia o grupo musical Mamonas Assassinas, é o  tema  “da hora”.Na  imprensa se vê  todos os dias artigos, entrevistas e debates sobre esse assunto. A maioriadefendendo e poucos contestando  (entre estes últimos, nós nos  incluímos). De  fato, o  tema  tem chamadoa atenção. Tanto é verdade que nas  três palestras que  faremos nos próximos dias – na UFGD, na OABde Bela Vista e no curso de direito da  faculdade Salesiana de Corumbá­MS –, esse  foi o  tema escolhido.

Os defensores da  tese da  redução da maioridade, como  fez o médico e ex­prefeito de Campo Grande­MSNelson Trad Filho, o advogado paulista Rogério Gandra Martins  (Folha de S. Paulo, Tendências/Debates,13.5.13, p. A3), entre outros,  recorrem aos  fundamentos científicos da  incapacidade de discernimento(entendimento) utilizados pela nossa  legislação penal e,  inclusive, pela própria Constituição Federal, paradefenderem os seus pontos de vista.

De  fato, o nosso sistema penal não pune o menor de 18 anos de  idade, apoiado no entendimentocientífico de que a pessoa nessa  faixa etária ainda não atingiu a maturidade suficiente para optar entre ocerto e o errado, daí a sua condição de  inimputabilidade absoluta.  Isto é, não se admite  tese emcontrário. Não pode ser punida porque ainda não  tem capacidade suficiente para administrar os seus atos.Na verdade, nos dias atuais,  isso não passa de uma  falácia. Pode até se admitir que ainda não atingiutotalmente a maturidade, mas que  já possui capacidade para separar o  joio do  trigo,  isso não se discute.Isso,  lá nos  idos da década de 40 do século passado, quando da elaboração do nosso Código Penal,talvez  fosse verdade. Hoje, a  realidade é outra.

O advogado Rogério Gandra Martins, na defesa do seu entendimento, até com certa  ironia, afirmainclusive que  “... O menor pode por si  só entender as complexidades de um contrato de compra e venda,mas não consegue  ‘discernir plenamente’ o que é um homicídio ou não, e caso o pratique será  totalmente

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16/04/2015 A redução da maioridade penal: tema do momento | Artigos JusBrasil

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inimputável...”.

Esquecem os defensores da  tese  reducionista que a discussão deve ser alinhada não pelo enfoquecientífico, mas sim pela perspectiva prática, da efetividade. O que a sociedade efetivamente quer é apunição e consequente diminuição da violência praticada  tanto pelos menores como pelos maiores de 18anos. A sociedade quer um mínimo de  tranquilidade e segurança para viver em paz, nada mais que  isso.Que  isso é dever do Estado,  também não se discute.

Com efeito, é  importante  ter em mente que, para a população, a  redução da maioridade penal será maisum engodo, sem considerar o caos que  trará ao nosso  já  falido sistema prisional. Ora, o Estado não estátendo capacidade para  lidar com os  infratores maiores de 18 anos, o que seria com um  “mercado deoferta” ainda maior? Apenas para  lembrar, atualmente estamos com cerca de 550 mil presos. Temospouco mais de 200 mil  vagas no sistema prisional,  sem considerar que  temos entre 150 a 200 milmandados de prisão a serem cumpridos. O sistema não pune, não  recupera. Ao contrário, aperfeiçoa paraa criminalidade. Os PCCs da vida que o digam.

Impõe­se que sejamos  realistas. A  redução da maioridade penal,  como se apregoa, não  trará a contençãoda violência como se deseja. E o que é pior,  colocar menores de 18 anos no sistema prisional que  temosagravará mais ainda o grau de violência.

A solução não é o Direito Penal, e sim, ao  lado de outras políticas públicas adequadas, cumprir o ECA,talvez até mesmo aumentando o prazo de duração de  internação. Porém, para poder cumpri­lo, o primeiropasso é criar estrutura adequada nos estabelecimentos para  tal, não os  transformando em  “depósitos” demenores  infratores, como a  realidade  tem demonstrado.

Temos que  ter em mente dois pontos cruciais: de um  lado que a  lei em si não  resolve nenhum problemae, de outro, que os menores abandonados  infratores serão as principais matérias­primas da violência.

Disponível em: http://joserobaldo.jusbrasil.com.br/artigos/121819785/a­reducao­da­maioridade­penal­tema­do­momento

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