a qualidade de vida do trabalhador rural nos diferentes...
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Fernanda Forte n° 09 biologia
Gabriela Gorski n° 14 Prof. Marcelo
Isabela Rainer n° 17
Marcela Sande n° 24
Marina Juliatto n° 27 2° ano B
A Qualidade de Vida do Trabalhador Rural nos
Diferentes Meios de Trabalho
Dia 31 de maio de 2017
São Paulo, SP
Introdução
No final do século XIX, depois do grande declínio da produção no Vale do
Paraíba, o café, que no momento representava a principal atividade econômica do
país, entrava em expansão para uma nova área localizada no interior do Estado de
São Paulo, chamada de Oeste Paulista, abrangendo o território onde hoje se
encontram importantes cidades paulistas, dentre elas Araraquara e Ribeirão Preto.
Foi também, com a economia cafeeira que, aos poucos, pequenas propriedades,
terras devolutas e fazendas de gado e de plantação de policulturas foram
transformadas em grandes cafezais.
Não demorou muito para que, no final da década de 1920, ocorresse uma
crise mundial cafeeira, trazendo uma importante queda no preço do café no
mercado internacional. E, por conta desta, essas longas terras de monocultura se
encontravam em busca de novas culturas para serem cultivadas, como a mandioca,
o feijão, o milho, a laranja e principalmente a de cana de açúcar. Foi assim que, na
década de 40, a cana se tornou a principal atividade agrícola da região, seguida de
um novo fluxo de modernização, estabelecendo transformações sociais e um novo
modelo fundiário.
Na região de Ribeirão Preto, a modernização resultou na formação de dois
pólos econômicos. De um lado, a agricultura patronal, com a forte presença de
agroindústrias e do agronegócio, acompanhados de alta tecnologia e produção de
alta escala. Do outro, os pequenos produtores, assentados ou acampados utilizando
a prática de agricultura familiar e de subsistência, lutando por um pedaço de terra.
Além disso, a maneira como é produzida a cana-de-açúcar gera constantes
críticas à forma agressiva como é explorada a terra, o que causou a procura por
novas alternativas e um sistema que prejudicasse menos o solo, a biodiversidade, o
ambiente e até mesmo a nossa saúde, que funcionasse tanto nas pequenas
propriedades, quanto nas grandes. Foi assim que surgiu a ideia de se utilizar o
Sistema Agroflorestal, o uso de linhas florestais na plantação que mantém o solo
nutrido, ajuda na manutenção da biodiversidade e permite um maior equilíbrio no
ecossistema. É possível observar esse modelo em ação na Fazenda da Toca em
Itirapina, próximo a São Carlos.
Nesses quatro cenários - Acampamento, Assentamento, Usina e Agrofloresta
- é possível encontrar trabalhadores rurais em condições e situações bem
diferentes. Com o intuito de comparar os contextos de trabalho, o grupo decidiu
centrar numa visão mais biológica e por isso, procuramos responder: Existem
diferenças significativas entre a qualidade de vida dos trabalhadores nos diferentes
ambientes de trabalho?
Metodologia
Em sua obra Psychologie der Persönlichkeit publicada em 2004, Jens
Asendorpf, um psicólogo alemão, sugere a seguinte nomenclatura: o bem-estar de
alguém pode ser definido como a parte subjetiva da saúde mental em oposição à
sua parte objetiva (ausência de transtorno mental). Já a saúde, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde, pode ser definida como sendo o estado completo
de bem-estar físico, mental e social.
A qualidade de vida aborda as necessidades básicas e complementares de
um indivíduo, envolvendo assim o bem-estar e a saúde. Tendo em vista que esses
aspectos não dependem somente de fatores individuais, mas também de meios
externos, a qualidade de vida no trabalho se tornou o nosso foco.
Para isso, foi necessário pesquisar um pouco sobre as leis e projetos que
defendem as condições trabalhistas, embasando como um funcionário rural deve
ser tratado em seu ambiente de trabalho.
Segundo as leis encontradas, percebe-se que o acesso a um plano nacional
de saúde e ações e serviços do SUS, devem ser disponibilizados e conterem
qualidade e humanização, incluindo ações de atenção, de urgências e de
emergências. Além disso, os riscos de acidentes devem ser reduzidos,
principalmente quando se trata de uso de agrotóxicos, sendo obrigatório o uso de
equipamentos preventivos. Devem ser promovidas as melhorias de qualidade de
vida relacionadas à saúde, envolvendo ações de saneamento básico e exigidas
medidas especiais que protejam os trabalhadores contra a insolação excessiva,
calor, frio, umidade e ventos, sendo obrigatória a presença de abrigos.
Segundo o artigo 7º inciso XIII, da Constituição Federal de 1988, a jornada
de trabalho é de 44 horas semanais e 220 horas mensais. Entre duas jornadas
deve-se estabelecer um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para
descanso. Em qualquer trabalho contínuo superior a 6 horas deve existir um
intervalo para repouso ou alimentação que deve estar entre uma e duas horas. Se
a jornada de trabalho dura entre 4 (quatro) e 6 (seis) horas, o intervalo mínimo é de
15 (quinze) minutos.
Com base nessas informações, foi desenvolvido um questionário:
Questionário:
- Nome?
- Idade?
- Como você avalia o sistema de saúde público da região?
- Como você faz para conseguir os medicamentos quando está
doente?
- No que você trabalha?
- Como você veio parar aqui no Assentamento / Acampamento /
Usina / Agrofloresta?
- Em relação a vacinação, sua carteira está em dia?
- Qual é o seu ofício aqui?
- Como você consegue um atendimento básico na região?
- Existe algum posto de saúde aqui perto ou algo do tipo?
- Quando você precisa de algum medicamento, você tem que ir
para cidade?
- Para você morar aqui no acampamento/assentamento, você
precisa necessariamente produzir para ajudar na
agricultura?
- Você gosta de morar aqui? É oferecida uma boa qualidade
de vida?
- Há quanto tempo você mora ou/e trabalha aqui?
- Possui convênio de saúde?
- Usa equipamentos devidos para proteção durante o serviço?
- Qual é o procedimento quando alguém se machuca dentro da
Usina/Agrofloresta?
- Teve algum indício de adoecimento psíquico dentro da
Usina?
Essas perguntas foram feitas para as pessoas que se encontravam no
acampamento, assentamento, agrofloresta e usina e adaptadas conforme cada
ambiente visitado. Portanto algumas perguntas foram formuladas com algumas
diferenças. De qualquer forma, os resultados foram muito variados, não somente
entre os locais visitados mas também entre as pessoas de cada região.
Resultados:
Depois de feitas as entrevistas, os dados obtidos em campo foram
transformados em tabelas. Foram-se entrevistadas no total onze pessoas, sendo
uma do Acampamento, cinco da Usina, quatro do Assentamento e um trabalhador
da Agrofloresta.
Tabela da entrevistada no acampamento:
Nome Pamela
Idade 22
Como avalia a saúde no local onde mora?
Há poucos médicos no hospital.
Como faz para conseguir os medicamentos?
Tem que ir até as cidades vizinhas.
No que trabalha? Ajuda nos afazeres do acampamento.
Como veio parar no acampamento? Por causa de seu marido.
Sua carteira de vacinação está em dia? Sim.
Existe um posto de saúde perto? Há um posto de saúde apenas em Boa
Esperança do Sul.
Quando precisa de um medicamento, precisa ir até a cidade?
É necessário ir até as cidades vizinhas
para ter acesso a medicamentos, por
conta disso se utilizam muito dos
recursos naturais como medicamentos.
É oferecido uma boa qualidade de vida aqui no assentamento? gosta de morar aqui?
Não é oferecido uma qualidade de vida
muito boa. sonham em tornar o
acampamento em um assentamento
para que houvesse mais infraestrutura.
Há quanto tempo mora aqui? A família mora no acampamento há 20 anos.
Tabela dos entrevistados na Usina:
Nome Carlos Andre Gilson Jose Ailton Fabio Luis
Idade 31 anos 29 anos 35 anos 33 anos 26 anos
Como avalia a saúde pública?
Extremamente ruim
Muito ruim Não expressou opinião
Não expressou opinião
Não expressou opinião
Possuem convênio?
Sim Sim Sim Sim Sim
Jornada de trabalho?
8 horas por dia com 1 hora de almoço.
8 horas por dia com 1 hora de almoço.
8 horas por dia com 1 hora de almoço.
8 horas por dia com 1 hora de almoço.
7hs às 15hs.
Usam equipamentos para proteção?
Sim Sim Sim Sim, porém possui muita dor muscular por conta do trabalho duro.
Sim
Qual é o procedimento quando alguém se machuca?
Não precisam trabalhar quando estão doentes, porém o dia é descontado se não for apresentado uma
Não precisam trabalhar quando estão doentes, porém o dia é descontado
Não precisam trabalhar quando estão doentes, porém o dia é descontado
Não precisam trabalhar quando estão doentes, porém o dia é descontado
Não precisam trabalhar quando estão doentes, porém o dia é descontado
justificativa se não for apresentado uma justificativa
se não for apresentado uma justificativa
se não for apresentado uma justificativa
se não for apresentado uma justificativa
Teve algum indício de adoecimento psíquico?
Não Não Não Não Não
Tabela dos entrevistados no assentamento:
Nome Rodrigo Lurdes Antonio Zé Carlos
Idade 40 anos 54 anos 48 anos 33 anos
Como avalia a
saúde no local
onde mora?
Serviço Público mediano. Demora nos atendimentos
Serviço público ruim, demora muito para conseguir consultas médicas
Serviço público muito ruim, tudo tem que pagar e agendamentos de consultas sao extremamente demorados
Serviço público ruim.
Como faz para conseguir os medicamentos?
Posto de saúde do assentamento
Posto de Saúde do assentamento
Posto de saúde do assentamento
Posto de saúde do assentamento ou vai até a cidade comprar
No que trabalha? Na rossa Devido a um problema de saúde não trabalha
Na rossa, possui um lote de terra no qual planta milho e soja
Trabalha como pedreiro
Como veio parar no assentamento?
Com o objetivo de melhora na qualidade de vida
Veio morar no assentamento junto com a sua tia que hoje em dia já faleceu.
Com o objetivo de melhora na qualidade de vida
Uma oferta de troca oferecida pelo sogro da casa no assentamento pelo seu carro
Sua carteira de Sim Por escolha pessoal, Sim Sim
vacinação está em dia?
não toma vacina
Existe um posto de saúde perto?
Dentro do Assentamento
Dentro do Assentamento
Dentro do Assentamento
Dentro do Assentamento
Quando precisa de um medicamento, precisa ir até a cidade?
Para conseguir medicamento específico sim. Os basicos sao encontrados no posto
Para remédios específicos sim.
Pega no posto de saúde do posto, que são entregues no posto às terças-feiras
Em alguns casos sim, quando por exemplo não tem o medicamento desejado no posto de saúde do assentamento
É oferecido uma boa qualidade de vida aqui no assentamento? Gosta de morar aqui?
Gosta do local Nao gosta do local Acha que a agricultura hoje em dia está falida e, por isso, acha um pouco precário
Razoável
Há quanto tempo mora aqui?
20 anos 15 anos 13 anos 10 anos
Tabela da entrevista na Agrofloresta:
Nome Roberval.
Idade 29 anos.
Como avalia a saúde no local onde mora? Não pode avaliar, uma vez que nunca utilizou-se dele.
Existe um posto de saúde perto? O posto de saúde mais próximo fica a 7km, mas nunca o utilizou.
Como faz para conseguir os medicamentos? Como Roberval não mora na fazenda, não pôde nos informar sobre o acesso a medicamentos dentro da fazenda.
Em que área trabalha? manejo de solo, plantação, pesquisa e produção.
Qual é o procedimento quando alguém se machuca dentro da Agrofloresta?
A fazenda não possui um ambulatório, então quando alguma fatalidade ocorre, é preciso ligar primeiro ao chefe da segurança e este ligará
para a ambulância.
Possuem convênio? Sim. É oferecido a eles um plano de saúde, plano odontológico e vacinas e a realização de exames necessários.
Há quanto tempo trabalha aqui? 4 anos e meio.
Acampamento
Com o intuito de regulamentar e promover a divisão justa de terras em um
estado, existe a reforma agrária. Por conta dessa distribuição fundiária injusta,
existe, no Brasil, a lei de desapropriação, que auxilia esta reforma, dando direito de
serem desapropriadas terras privadas e improdutivas, podendo assim serem
entregues àqueles sem-terra. Estes trabalhadores, que ainda não conseguiram um
lugar legal para se estabelecer são chamados de acampados.
O Acampamento Cachoeirinha, localizado no município de Boa Esperança do
Sul, luta pela legalização da terra há 21 anos. É uma área manejada por uma
organização sindical, FERAESP (Federação dos Empregados Rurais Assalariados
do Estado de São Paulo). A partir de uma pesquisa feita por esta instituição, foi
descoberta uma terra que além de localizada em uma área cobiçada de terra
“rossa”, também era improdutiva e pertencente ao banco Banestado do Paraná, que
antes era público e foi privatizado. Por conta disso e de conflitos internos dentro do
banco, essa propriedade se tornou um alvo de instalação de famílias sem-terra,
dando origem ao acampamento.
A condição ilegal inviabiliza a atuação de empresas fornecedoras de serviços
que suprem necessidades básicas no local, tornando assim a vida dos acampados
muito precária.
Figura 1: Casa de Pamela, moradora do Acampamento Cachoeirinha.
Através da entrevista realizada com a acampada Pamela, 23 anos, foi
possível observar a ausência de água encanada, energia elétrica e saneamento
básico (retirada de lixo e esgoto). O acesso à água se dá a partir do bombeamento
manual de uma represa localizada nos arredores. No entanto, no dia da entrevista,
havia um problema nessa bomba, e ela tinha como única fonte sua caixa d'água, a
qual não duraria mais do que uma semana.
Já a energia elétrica é obtida a partir de uma placa solar que é capaz de
acender apenas uma lâmpada e também através de um gerador, que não é eficaz o
suficiente para suprir sua função, sendo essa fornecer energia, e acaba causando
prejuízos financeiros como o estrago de equipamentos eletrônicos . Assim, o lazer
da família se limita apenas em atividades como pesca e nado. Do lixo gerado, o que
não é orgânico é queimado, e o que é orgânico é utilizado como adubo ou lavagem
(comida de porco). Já o esgoto é colocado em fossas.
Em relação ao acesso à saúde, Pamella nos informou que em alguns casos a
ambulância se locomove até o acampamento, porém em outros, é necessária a ida
até o posto de saúde mais próximo, que se localiza na cidade. É necessário ir até à
cidade para a compra de medicamentos. Por essa dificuldade, são utilizados alguns
produtos naturais como boldo, hortelã, que têm acesso mais fácil. A carteira de
vacinação de Pamela e sua família estão em dia, uma vez que existe um
atendimento domiciliar.
A entrevistada diz que não tem interesse em voltar para a cidade, pois
acredita que encontraria dificuldades como o desemprego, a violência e a falta de
moradia. Sonha em ter uma granja ou uma horta e principalmente a legalização da
terra.
Figura 2: Posto Santa Casa de Misericórdia São Vicente de Paulo,
Boa Esperança do Sul, em 2015
Assentamento
Um assentamento é “um conjunto de unidades agrícolas independentes entre
si, instaladas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), onde
originalmente existia um imóvel rural que pertencia a um único proprietário”. Em
Araraquara, o Assentamento Bela Vista do Chibarro, foi formado no ano de 1978 a
partir de 176 famílias que se reuniam em 9 vilas dentro de um grande território que
era propriedade da família Morgante. Segundo Reginaldo, funcionário da escola do
assentamento, essa família era dona de uma usina de álcool e açúcar. Em 1950,
com a modernização, não era necessária uma quantidade tão grande de
trabalhadores, o que resultou em inúmeras demissões. Reginaldo também contou
que os Morgante começaram a falir pelo fato de não terem dinheiro suficiente para
bancar as 9 vilas e pagar todos os trabalhadores. Assim, eles perderam as terras
para o Estado. Como não havia fiscalização, mesmo perdendo as terras, os
Morgantes se mantiveram na propriedade de forma ilegal. Os sindicatos rurais de
Araraquara se reuniram e conseguiram ocupar a terra, a qual mais tarde se tornou
um assentamento.
O assentamento vive em grande tensão com as grandes indústrias ao redor
da propriedade, as quais desejam se apossar da mesma. Para se protegerem e
garantirem o direito de se manter na terra, eles precisam produzir. Dessa maneira,
fortalecem a agricultura familiar como forma de subsistência.Essas, por sua vez,
têm uma grande importância para a economia do país, sendo responsável por 70%
dos alimentos consumidos por brasileiros.
Ainda dentro do Assentamento, segundo a atendente do posto de saúde
visitado, 85% dos casos dos moradores são atendidos, enquanto os outros 15% sao
encaminhados para uma clínica na cidade. Porém, às vezes são necessários mais
encaminhamentos. Às terças-feiras são disponibilizados medicamentos para a
retirada (o posto possui a maioria dos medicamentos). Quando não possui algum
medicamento, as pessoas são encaminhadas a um posto ou farmácia que o tenha.
A mudança de prefeito, entretanto, resultou em uma redução dos funcionários do
posto, o que prejudicou a população do assentamento.
Quando Michel Temer assumiu o poder, desmontou o ministério que cuidava
dos pequenos agricultores e do Incra, o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Dessa
forma, o poder desse instituto enfraqueceu na região, como citado pelo sr. Nedina,
um assentado de 79 anos. Assim, é possível observar que há uma contradição entre
a teoria e a prática do assentamento, uma vez que o Incra deveria fornecer a estes
moradores condições básicas de vida.
Palestra com Aparecido
Na palestra de Aparecido, representante do Sindicato dos Empregados
Rurais de Araraquara e da FERAESP, foram relatadas as condições de trabalho dos
funcionários de usinas.
Segundo ele, os equipamentos de proteção não foram feitos para cortar
cana, nem para o trabalhador brasileiro. Assim, todos eles foram adaptados para o
trabalho, mas nem sempre os trabalhadores se acostumam com o equipamento e
por conta disso acabam não utilizando. O patrão é obrigado a disponibilizar os
equipamentos, mas isso não significa que são de boa qualidade. O trabalhador, por
sua vez é obrigado a usar, mas nem sempre usa.
Os principais problemas estão associados ao esforço, tais como mortes
súbitas e lesões ou problemas nas juntas do corpo.
Os agrotóxicos são uma das causas mais frequentes de prejuízo à saúde do
trabalhador, uma vez que podem trazer vários problemas para quem o aplica, como
a intoxicação.
De acordo com o palestrante, muitos agrotóxicos já foram banidos do mundo,
não somente pelo mal que trazem aos trabalhadores, mas também ao consumidor.
No entanto, o setor agrário brasileiro é muito denso e muito importante para a
economia. Dessa maneira, para evitar a perda de lucro, a ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) faz vista grossa.
Com o intuito de aumentar o tamanho da produção, um novo elemento entra
em ação: a máquina. Do ponto de vista de Aparecido , se por um lado a sua
utilização diminui o esforço manual do trabalhador, por outro este não pode
interromper a máquina, já que o período de funcionamento desta dura em média 13
horas consecutivas.
Muitos trabalhadores, por conta da pressão e estresse gerados pelo
manuseamento da máquina, acabam desenvolvendo doenças psíquicas como
depressão. Além disso, a busca por drogas para se manterem acordado se tornou
muito frequente.
Assim, a mecanização tornou os acidentes mais perigosos. Antes, com o
trabalho manual, acidentes resultavam em perda de membros. Agora, as máquinas
resultam em acidentes fatais.
Existe também uma forma de manipular e estimular o esforço: o salário
prêmio. São estabelecidas metas e quem atingi-las recebe um pagamento a mais.
Como o baixo salário recebido, oportunidades para os trabalhadores como estas
fazem com que eles ultrapassem seu limite de esforço físico e mental para ganhar
mais dinheiro. Como consequência, o trabalhador não para nunca.
Dessa forma, o representante da Feraesp não é contra a mecanização, mas
sim a metodologia que está sendo aplicada.
Usina Santa Cruz
Figura 3: Usina Santa Cruz.
O processo de industrialização no campo resultou na substituição da maior
parte do trabalho manual por atividades mecanizadas. Segundo o balanço da
Secretaria do Meio Ambiente, esse acontecimento alcançou 70% das usinas de
cana de açúcar e 20% dos fornecedores do estado na safra 2010/2011. Como
consequência disso, segundo o professor Francisco Alves da UFSCAR, houve um
declínio de 250 mil empregados para 45 mil, após a mecanização do corte de cana.
A Usina Santa Cruz, foi fundada no ano de 1945 por Luiz Ometto, filho de
imigrantes italianos que adquiriu logo no início 970 hectares de terras. A cafeicultura
foi logo substituída pela cana de açúcar.
Segundo o site da usina, em 1976, Santa Cruz começou a tomar
providências para aderir ao Programa Nacional do Álcool (Pró-álcool). Hoje, em
época de safra, são empregados aproximadamente três mil e quinhentos
colaboradores.
De acordo com Ana Cláudia Fora, analista há dez anos da usina, no
processo de contratação, seguindo a lei n˚ 5452, é obrigatório o ASO admissional,
que visa especificamente determinar se o trabalhador está apto ou não para realizar
determinada atividade. Para isso, um grupo do SESMT (Serviço Especializado em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) formado por dois médicos e
uma enfermeira, é contratado para efetuar a tarefa. Se o trabalhador atender às
expectativas do exame, este está apto para exercer o ofício e poderá ser
contratado. Dependendo da área de trabalho e dos movimentos exercidos, as
renovações de exames são diferentes.
Ademais, a empresa fornece um plano de saúde aos trabalhadores e aos
seus dependentes e oferece projetos como o Programa Bem Saudável que
acompanha as doenças mais comuns e que ocorrem com mais frequência nos
trabalhadores rurais da usina. Existe também um programa voluntário de prevenção
à LER (lesão de esforços repetitivos).
É importante ressaltar, como dito pela funcionária, que a saúde dos
trabalhadores é interesse da usina já que um empregado doente significa prejuízo.
Figura 4: Cortador de cana da Usina Santa Cruz.
Foram visitados três fases do processo de produção de cana de açúcar: a
colheita manual, a colheita mecanizada e a pulverização de agrotóxicos.
No primeiro local, foi relatado pelos entrevistados que é fornecido um
convênio de saúde da seguradora São Francisco, avaliada como boa. Além disso,
por parte da usina, há uma preocupação em relação a desidratação dos
trabalhadores, com disponibilização de soros e água. Por outro lado, chamam a
atenção as dores musculares devido ao grande esforço físico. A jornada de trabalho
ocorre das 7 horas da manhã às 15h, com uma pausa de uma hora de almoço.
No segundo ambiente de trabalho, foi entrevistado um operador de
máquinas, Fábio, que se encontra há dois anos na usina. Ele cita que a saúde do
convênio atende 65% das expectativas, uma vez que o atendimento é muito
demorado e muitas vezes a avaliação médica é errada ou contraditória.
Na área dos agrotóxicos, foi informado pela empresa que é colocada a
dosagem certa de veneno para não prejudicar o meio ambiente futuramente. Devido
ao uso de equipamentos adequados, o EPI, não há contaminação dos
trabalhadores.
Figura 5: Trabalhador, utilizando os equipamentos adequados,
enquanto aplica agrotóxico na plantação.
Em todas as etapas foram observados equipamentos de proteção, tal como
luvas e caneleiras.
O contraste entre a fala de Cido com o que pode ser observado na usina de
Santa Cruz, é decorrente da adesão da usina ao Plano de Assistência Social. Este
obriga sete usinas sucroalcooleiras a implementar assistência médica, hospitalar,
farmacêutica e social aos seus trabalhadores. A proposta veio do Ministério Público
Federal e a sentença foi feita pelo juiz federal José Maurício Lourenço. Dessa
maneira é importante ressaltar que a usina visitada não pode ser usada como
referência para definir uma usina brasileira.
Fazenda da Toca
O Sistema Agroflorestal é uma forma de uso e manejo de terra na qual se
combinam espécies arbóreas com cultivos agrícolas e/ou criação de animais, de
forma paralela ou em sequência temporal, proporcionando benefícios econômicos e
ecológicos e sendo menos agressiva se comparada à monocultura vista na Usina
Santa Cruz.
Uma das vantagens percebidas ao utilizar este modelo é que pode-se
facilmente recuperar e nutrir um solo, além de aumentar a diversidade de
organismos que formam este ecossistema, fazendo este mais forte e, naturalmente,
sem precisar de agrotóxicos, se livrar de pragas.
Por conta da grande dificuldade de se consumir produtos orgânicos no Brasil
uma vez que estes possuem um preço bastante elevado, Pedro Paulo Diniz fundou,
em 2009, a Fazenda da Toca, um conjunto de cinco fazendas totalizando em 2300
hectares, localizada em Itirapina, há 200 km de São Paulo. Hoje em dia, esta é
considerada 100% orgânica e certificada pelo IBD, a maior certificadora da América
Latina e a única certificadora brasileira de produtos orgânicos aceita globalmente.
Vale-se notar que, produtos orgânicos são aqueles em que não são utilizados
agrotóxicos, adubo químico e fertilizantes.
Segundo o guia da Fazenda da Toca responsável pela visita no local, além
de ser um exemplo de agrofloresta em larga escala, a fazenda vai além da produção
orgânica e agroecológica. Busca observar com bastante profundidade a dinâmica da
natureza, entender a história do alimento que chegam em nossas casas, promover a
produção orgânica e servir de exemplo para outras fazendas e mais do que tudo,
que a gente repense a nossa relação com o nosso planeta.
Já eram esperadas melhores condições de trabalho já que o trabalhador se
encontra em um modelo agroecológico que busca a regeneração e o equilíbrio da
terra, assim sendo uma situação diferente em relação aos outros três locais antes
visitados.
Ao entrevistar Ruberval, que trabalha há 4 anos e meio na Fazenda da Toca
nas áreas de manejo do solo, plantação, pesquisa e produção, este relatou que
todos os direitos do trabalhador são garantidos, uma vez que a empresa toma todos
os cuidados possíveis, orientando e auxiliando seus funcionários e procurando seu
bem-estar. Como dito, em 2016, pela coordenadora pedagógica da escola
localizada dentro da fazenda, Mônica Passarinho: “Para o alimento ser saudável, o
solo tem que ser saudável e minhas condições de trabalho têm que ser saudáveis”.
Fora isso, o trabalhador alegou que depois que começou a trabalhar na
fazenda, em questões de saúde, tudo melhorou, já que agora tem mais calma para
resolver seus problemas, diminuindo seu estresse e que é oferecido a eles um plano
de saúde, plano odontológico e vacinas e a realização de exames necessários,
realizados na maioria das vezes na própria fazenda. Além disso, foi dito que estão
sempre preparados para qualquer fatalidade que possa ocorrer, tendo planos de
ações calculados, mas que ocorreram em toda a história da Fazenda da Toca,
raríssimos acidentes no trabalho.
Também informou que o posto de saúde mais próximo fica a 7 km, porém
não pode avaliá-lo, uma vez que nunca o usou e que a fazenda não possui um
ambulatório e que quando alguma fatalidade ocorre, é preciso ligar primeiro ao
chefe da segurança e este ligará para a ambulância. Ele nos disse que é oferecido
aos trabalhadores a opção de moradia na própria fazenda, em uma das 5 colônias
que incluem água, energia e saneamento básico de graça, pagando um total de
R$20,00 por mês e que por isso, de 150 funcionários, 55 moram lá. Porém para
aqueles que não moram na fazenda, como o próprio Roberval que vive em
Analândia, a fazenda paga um reembolso cuja a quantia não foi especificada.
Entretanto, por mais que tenha ocorrido um contato direto com o trabalhador,
o mesmo estava sendo monitorado por um profissional de cargo superior ao seu.
Desta maneira, ocorreram inúmeras interrupções durante a fala do trabalhador.
Muitas vezes o profissional respondia perguntas direcionadas a Roberval. Por esse
motivo, não é possível garantir a validade das informações obtidas.
Conclusão
A partir dos quatro diferentes contextos, pode-se observar divergentes
relações entre o ambiente de trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores. É
importante ressaltar que a usina representa apenas o ambiente de trabalho dos
funcionários, enquanto no acampamento e no assentamento e, para alguns na
agrofloresta, o ambiente de trabalho é o mesmo ambiente de moradia.
Devido ao fato da baixa renda ser um item comum a todos entrevistados, a
dedicação dos mesmos está totalmente focada na geração de um excedente para
suprir o mínimo das necessidades básicas. Com o trabalho excessivo, os
trabalhadores acabam tendo mais problemas de saúde - tanto físicos como mentais
- restando pouco tempo para poderem se preocupar com isso. Além disso, os
cuidados em relação a saúde envolvem um grande gasto financeiro e muitas vezes
a necessidade de locomoção para outros locais. Pudemos perceber que a saúde e o
bem-estar muitas vezes são deixados em segundo plano.
Apesar de terem menor suporte do governo e condições de vida mais
precárias, não possuírem plano de saúde, terem dificuldade de locomoção a postos,
hospitais e farmácias, não possuírem acesso a necessidades básicas como
saneamento, água encanada e eletricidade (devido à condição ilegal da terra), os
moradores do acampamento têm autonomia de decidir a sua carga de trabalho
baseando-se nos seus próprios limites físicos e mentais, assim como os
assentados. Enquanto isso, os trabalhadores da Usina Santa Cruz, mesmo
possuindo boas condições de trabalho, são obrigados a trabalhar determinadas
horas, independentemente de seu estado e, por conta disso, podem exceder muitas
vezes o seu limite.
Embora os quatro ambientes de trabalho visitados tenham algumas
diferenças em relação às condições de vida do trabalhador rural, foi possível
perceber que em todos eles, encontram-se dificuldades semelhantes que envolvem
a vida no campo. São pessoas que tem uma vida de trabalho exaustiva, gerando
impactos na saúde física e mental, em função da exposição ao sol, das muitas
horas de trabalho braçal, dos riscos de trabalhar na terra. Portanto, pudemos
perceber que mesmo enfrentando alguns problemas diferentes, de modo geral,
ainda sim possuem uma vida dura e desta maneira, não existem diferenças
significativas na qualidade de vida dos trabalhadores rurais nos diferentes
ambientes de trabalho.
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Figura 1: JULIATTO, Marina. Imagem: Casa de Pamela, moradora do
Acampamento Cachoeirinha. 2017.
Figura 2: RB NA REDE. Imagem: Posto Santa Casa de Misericórdia São Vicente
de Paulo, Boa Esperança do Sul. Folha Região. 2015. Disponível em:
<http://www.folharegiao.com.br/regiao/politica/prefeitura-de-boa-esperanca-do-sul-
conquista-reforma-da-santa-casa> Acesso em: 18.jun.17
Figura 3: RAINER, Isabela. Imagem: Usina Santa Cruz. 2017.
Figura 4: MAZZUCCHELLI, Sofia. Imagem: Cortador de cana da Usina Santa
Cruz. 2017.
Figura 5: ANTONIAZZI, Maria Clara. Imagem: Trabalhador, utilizando os
equipamentos adequados, enquanto aplica agrotóxico na plantação. 2017.