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1 O jogo e a aprendizagem de matemática: percepção de docentes das séries iniciais Janaina Freitas da Silva Aluna do Curso de Pedagogia do Instituto Superior de Educação Vera Cruz Maria Lydia Manara de Mello Orientadora RESUMO Este trabalho buscou compreender a partir de uma pesquisa qualitativa, a concepção de professores das séries iniciais e de uma coordenadora pedagógica com relação ao jogo no ensino da matemática por meio de entrevistas realizadas em uma instituição pública de Ensino Fundamental. Todas as entrevistas foram realizadas no ambiente escolar, em dia em horários pré-agendados, com autorização previa da direção. O foco da análise se deu sobre os discursos das educadoras sobre como trabalhavam com jogos no ensino matemático naquela escola. A partir dos registros da entrevista foram criadas quatro categorias de análise considerando as questões do jogo como atividade livre e como recurso pedagógico. No que se refere à concepção de alguns professores, os resultados parecem indicar que há uma visão antagônica sobre o jogo e a prática pedagógica, contudo parece haver preocupação da coordenação em implementar um trabalho mais efetivo relativo a essa temática, bem como a necessidade de formação adequada para se trabalhar com jogos como um auxílio no ensino de conceitos matemáticos. Palavras-chave: jogos, ensinos-aprendizagem, concepção de professores, ensino da matemática.

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O jogo e a aprendizagem de matemática: percepção de docentes das séries iniciais

Janaina Freitas da Silva Aluna do Curso de Pedagogia do Instituto Superior de Educação Vera Cruz Maria Lydia Manara de Mello Orientadora

RESUMO

Este trabalho buscou compreender a partir de uma pesquisa qualitativa, a concepção de professores das séries iniciais e de uma coordenadora pedagógica com relação ao jogo no ensino da matemática por meio de entrevistas realizadas em uma instituição pública de Ensino Fundamental. Todas as entrevistas foram realizadas no ambiente escolar, em dia em horários pré-agendados, com autorização previa da direção. O foco da análise se deu sobre os discursos das educadoras sobre como trabalhavam com jogos no ensino matemático naquela escola. A partir dos registros da entrevista foram criadas quatro categorias de análise considerando as questões do jogo como atividade livre e como recurso pedagógico. No que se refere à concepção de alguns professores, os resultados parecem indicar que há uma visão antagônica sobre o jogo e a prática pedagógica, contudo parece haver preocupação da coordenação em implementar um trabalho mais efetivo relativo a essa temática, bem como a necessidade de formação adequada para se trabalhar com jogos como um auxílio no ensino de conceitos matemáticos. Palavras-chave: jogos, ensinos-aprendizagem, concepção de professores, ensino da

matemática.

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INTRODUÇÃO

Brincar pode ser algo prazeroso e divertido para os indivíduos de nossa espécie.

Pensando dessa forma o historiador holandês John Huizinga (2007) definiu homo ludens

como o homem que brinca, homem que se diverte, comparando com outras definições da

evolução histórica sobre as caracterizações de homem: homo sapiens – homem que pensa, e

homo faber – homem que trabalha. Para o autor a nossa capacidade de jogar é tão importante

para a espécie quanto o raciocínio e a construção de objetos. De acordo com Macedo (2005):

O jogar é uma brincadeira organizada, convencional, com papéis e posições demarcadas. O que surpreende no jogar é seu resultado ou certas reações dos jogadores. O que surpreende nas brincadeiras é a sua própria composição ou realização. O jogo é uma brincadeira que evoluiu. A brincadeira é o que será do jogo, é sua antecipação, é sua condição primordial. A brincadeira é uma necessidade da criança; o jogo é uma de suas possibilidades à medida que nos tornamos mais velhos. Quem brinca sobreviveu (simbolicamente); quem joga jurou (regras, propósitos, responsabilidades, comparações). MACEDO, 2005 p. 15

Ao se envolver nos jogos e nas brincadeiras, a criança se torna capaz de trocar papéis

como se fosse um adulto, fazendo uma mediação entre o mundo imaginário e o mundo real,

pode se colocar no lugar de uma mãe ou de qualquer outro adulto o qual desejaria ser naquele

momento como Vygotsky (2008) afirma:

A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe e a boneca como criança e, dessa forma, devem obedecer às regras do comportamento maternal. (VIGOTSKI, 2008 p. 110).

A ação de jogar é algo muito sério para a criança, de tal forma que ao brincar ela

apenas está interessada em seguir as regras para tornar o jogo uma atividade divertida.

Quando vemos uma criança jogando ou damos a ela alguma atividade que envolva o jogo não

podemos pensar que ela entenda o ato de jogar como algo que representa uma forma de

aquisição de conhecimento ou de desenvolvimento de alguma habilidade física ou mental,

pelo contrário, a única e verdadeira intenção de um jogador é ; ela se divertir com o

andamento do jogo. Para a criança tudo o que ocorre no decorrer de um jogo é envolvente.

Nesse sentido, Huizinga (2007) diz que o jogo se relaciona por meio do inesperado, da

surpresa, do desconhecido, tornando, em si mesmo um grande motivador para os jogadores.

As várias formas que envolvem um jogo podem contribuir para que as crianças

vivenciem atitudes que só poderiam ser reais naquele contexto lúdico, situações em que quase

tudo é permitido. Mesmo quando favorece a imaginação e a fantasia, em todo contexto de

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brincadeira existe alguma regra a ser obedecida, que são trocadas pelos jogadores, em busca

de soluções imediatas para as situações de jogo que são vivenciadas. Por isso, é que podemos

pensar que é por meio do jogo, que a criança pode ampliar a sua imaginação sem limite,

transbordando suas emoções com alegrias ou tristezas.

Segundo Kishimoto (1998), o mundo lúdico estimula a autonomia da criança por ela

participar de atividades que não apenas proporcione o prazer, e sim a liberdade, de inventar e

reinventar compor e recompor regras. Desse modo ao brincar, ela não esta preocupada com os

resultados, mas com o prazer e a motivação que a impulsionam à ação de exploração ao que

está ao seu alcance. Para Piaget (1975), os jogos são alternativas que ajudam no

desenvolvimento intelectual das crianças, e podem ir além do simples entretenimento e da

descontração, pois possibilita que a criança desenvolva a sua inteligência bem como a

assimilação e a compreensão da realidade. Ao trabalhar com jogos, por exemplo, um

educador pode ter em suas mãos a criação de várias situações de aprendizagens, de modo a

transformar formas e conceitos, que contribuam para que a criança possa adquirir novos

conhecimentos.

Piaget (1990) propõe que os jogos possam ser estruturados seguindo três formas:

jogos de exercício, simbólicos ou de regras. O jogo de exercício para Piaget corresponde às

primeiras manifestações lúdicas da criança, em que esta exercita as estruturas subjacentes ao

jogo, mas sem a capacidade de modificá-las. Assume-se como uma assimilação funcional e

repetitiva, pois coloca em ação um conjunto de estruturas sendo a referência da sua função o

que diferencia estes jogos. O jogo é individual e repetitivo dirigido em função dos hábitos

motores da criança, a este nível não existem regras, somente regularidades. Como ressalta

Macedo (1997):

A repetição, requerida pelas demandas de assimilação funcional dos esquemas de ação, tem por consequência algo muito importante para o desenvolvimento da criança: a formação de hábitos. Nesse sentido, os jogos de exercício são formas de, repetir, por exemplo, uma sequência motora e por isso formar um hábito. (MACEDO, 1997, p. 129).

Assim, podemos dizer que quando a criança se diverte em fazer perguntas pelo prazer

de perguntar ou em inventar uma narrativa que ela sabe ser falsa pelo prazer de contar a

pergunta ou a imaginação constituem os conteúdos do jogo e o exercício a sua forma;

compreendendo então que a interrogação ou a imaginação são exercidas pelo jogo. (Piaget,

1990, p. 155).

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Com relação ao jogo simbólico sabemos que é ao contrário do jogo de exercício

segundo Piaget (1990), o jogo simbólico corresponde à ocorrência da representação do objeto

ausente estabelecendo comparações entre o real e o imaginário. Esta assimilação acontece por

analogia, ou seja, a criança tem a preocupação de imitar os jogos dos outros, aplicando as

regras segundo a sua vontade, embora haja uma tendência para se submeter às convenções.

Como destaca Macedo (1997):

No processo de desenvolvimento da criança, os jogos simbólicos, como estrutura, vêm depois dos jogos de exercício, e caracterizam-se por seu valor analógico, ou seja, por se poder tratar ‘A’ como se fosse ‘B’, ou vice-versa. Essa é a grande novidade dessa estrutura se comparada à anterior. Trata-se, portanto de repetir, como conteúdo, o que a criança assimilou como forma nos jogos exercícios. Agir como a mãe, em uma brincadeira de boneca, por exemplo, significa repetir, por analogia, o que a mãe fez com ela tantas vezes em seu primeiro ano de vida. Significa também poder aplicar, agora como conteúdo, as formas dos esquemas de ação que assimilou em seus jogos de exercícios. (MACEDO, 1997, p. 131)

Desta forma, para Piaget (1990) o esquema simbólico, ou a reprodução de um

esquema sensório-motor fora do seu contexto habitual, marca a transição entre o jogo de

exercício e o jogo simbólico manifestando capacidades de evocar a tarefa na falta do objetivo,

mesmo na ausência de qualquer suporte material.

Por fim dentro da teoria de Piaget temos a ultima classificação de jogos, os jogos de

regra, dentro desse contexto o jogo de regras pode ser explicado como uma regularidade

imposta por alguém ou pelo grupo isso porque o jogo permanece igual ate que se alterem as

regras. Assim, um jogo com regras pressupõe elementos das categorias anteriores, mas

apresentam a regra como elemento novo. Como afirma Macedo (1997):

Os jogos de regras contêm, como propriedades fundamentos de seu sistema, as duas características herdadas das estruturas dos jogos anteriores. Neles, como já foi dito, a repetição dos jogos de exercício corresponde à regularidade, graças à qual esses jogos se constituem em formas democráticas de intercâmbio social entre crianças ou adultos. Regularidade porque o ‘como fazer’ do jogo é sempre o mesmo, até que se modifiquem as regras. Na condição de invariante do sistema, a regularidade deve ser levada em consideração por todos os participantes do jogo; sendo a transgressão das regras uma falta grave, que perturba o sentido do jogo. (MACEDO, 1997, p.134)

Mesmo com suas várias formas de regras, podemos dizer que os jogos têm o poder de

fascinar as crianças e os adultos. Sabe-se também que um jogo pode ter grande importância

para o desenvolvimento social e intelectual da criança. A presença do lúdico na sala de aula,

em especial na matemática, tem sido apontada por esses estudos como essencial por facilitar o

aprendizado da criança, visto que o lúdico é parte integral da atividade infantil e pode ser

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entendido como um facilitador de múltiplas aprendizagens.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (2001) a

atividade matemática escolar não constitui apenas em uma forma de olhar para coisas e

objetos prontos e definitivos, mas fazer com que o aluno construa e aproprie-se de um

conhecimento que servirá para compreender e transformar sua realidade. No mundo infantil,

os brinquedos, os jogos, e as brincadeiras a todo instante se fazem presente por estar

relacionado com o cotidiano da criança, constituindo-se em um elemento facilitador de

aprendizagem e desenvolvimento.

A criança ao brincar de um jeito descontraído, sem perceber consegue passo a passo ir

se apropriando do conhecimento dos objetos ao seu redor, concedendo-lhe diferentes

significados e valores presentes no mundo cotidiano dentro ou fora da escola. Também

podemos dizer que os jogos apresentam diversas possibilidades de aprendizagens, isso porque

em sua maioria, cada etapa, exige um poder de concentração, utilização de estratégias,

aquisição e aplicação de conhecimentos obtidos. Conforme Macedo (1995) “Quem joga pode

chegar ao conhecimento, pelas características do jogo, pelos exercícios, símbolos e regras”.

(p.10)

Em sua dimensão social, os jogos e as brincadeiras podem ser ricos instrumentos para

fazer com que a criança compartilhe com outras experiências e aprendizagens, pois, a

atividade do jogo em suas várias modalidades exige dela a interação com outra pessoa. Desse

modo, ao jogar, além de desenvolver capacidades importantes como o hábito de manter a

concentração ou outras habilidades neuropsicológicas, ela desenvolve também o campo da

socialização e da afetividade. Ao tomar conhecimento dessas potencialidades presentes nos

jogos, podemos constatar que utilização dos jogos pode significar um instrumento de ensino e

aprendizagem bastante produtivo, principalmente em disciplinas que exigem das crianças

maior capacidade de concentração, como é o caso da matemática. Contudo, sugerir um jogo

como uma atividade que contribua para a aprendizagem de conceitos matemáticos, pode

exigir que o educador tenha a capacidade de propor jogos em que os alunos consigam fazer a

ligação da atividade lúdica com a aprendizagem do conteúdo que se está tentando ensinar, de

forma que os conteúdos matemáticos possam ser significativos para quem está aprendendo.

Para Mattos (2009) o ensino matemático comumente visto na escola é ainda bastante

tradicionalista, sendo apresentado ao aluno de forma sistematizada, com situações-problemas

isoladas e com base, principalmente, no livro didático, dificultando o desenvolvimento do

raciocínio lógico dedutivo, a estimulação do pensamento autônomo, e da criatividade e da

capacidade de interpretação e resolução de problemas. Segundo o autor raramente

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encontramos uma metodologia participativa, criativa e lúdica de forma a facilitar e estimular a

construção de conceitos matemáticos. Diante dessa realidade muitos alunos demonstram

apreensão, receio e descontentamento, com relação à matemática, além de terem medo de

reprovação assim, procuram resolver as operações com sequências numéricas, por exemplo,

em forma de adivinhações e se distanciando de uma aprendizagem significativa.

Desta forma, podemos dizer que os jogos sendo usados como atividades que

promovem o ensino, podem ser também auxiliares em outras aquisições da criança. Podem

possibilitar o envolvimento das crianças com as outras corroborando nos processos de

socialização, e ajudando a desenvolver habilidades sociais. Podem aprender a respeitar os

limites de cada um, obedecer as regras predeterminadas e a expressar independência e

autonomia, construindo um movimento de trocas de experiências que fortalece tanto o

âmbito afetivo como o âmbito social e cognitivo.

Brougère (1998) ressalta que há um discurso teórico sobre o jogo, mas sem relação

com a prática. Também destaca que é importante dedicar um espaço tanto para os discursos

quanto para as práticas. Além disso, diz que é fundamental que os educadores possam ter

conhecimento dos sentidos presentes nos discursos sobre o jogo e também as suas limitações,

pois, afirma que quando a educação é ligada ao jogo é o próprio jeito de pensá-lo que se

modifica. Na prática pedagógica ao se usar um determinado tipo de jogo, deve-se ter

informações suficientes sobre os fundamentos de sua associação com aquilo que se pretende

ensinar. Portanto, podemos dizer que a maneira de pensar sobre o jogo influencia em sua

presença ou ausência na aula, e na prática do educador. Além do mais o jogo por si só, não

garante uma melhor aprendizagem na matemática se não houver fundamentação teórica e

prática por parte do educador no que diz respeito às relações entre o jogo e a educação. Nesse

sentido, o objetivo desse trabalho é o de investigar qual a percepção de professores sobre a

utilização de jogos no ensino de matemática.

1- O JOGO NA EDUCAÇÃO.

A utilização dos jogos na escola não é algo recente, devido ao seu potencial no ensino

e na aprendizagem.

Brougère (1998) aponta que a utilização dos jogos e brincadeiras no campo

educacional surgiu a partir do século XIX. Foi nessa época que começou a ocorrer , um novo

olhar para a criança, principalmente a partir de alguns princípios do Rosseau, Pestalozzi e

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Froebel. Contudo, foi através do trabalho de Froebel que os jogos começaram a ser entendidos

como objeto privilegiado na ação do educador, e as brincadeiras passaram a compor parte da

história da educação infantil. O autor acrescenta que foi nessa época que apareceram algumas

inovações no campo da pedagogia defendidas por Froebel, sobretudo as várias formas de

jogos e brincadeiras como um meio de organizar a educação ás especificidades da criança

pequena.

Segundo esse mesmo autor antes do século XIX não se questionava o modelo no qual

o jogo era visto como algo desnecessário e oposto ao trabalho. Depois deste período surgiu

um novo olhar e um novo foco foi colocado sobre a atividade de jogar em duas dimensões

complementares: a da ludicidade e a da educação. Ao perceber as várias possibilidades de

ação pedagógica a partir do lúdico, os estudiosos de vários campos como os da Educação e da

Psicologia começaram a apontar o jogo como objeto de seus estudos e de suas teorias. Assim,

o jogo passou a ser visto com mais importância dentro do ensino da matemática e de outras

disciplinas.

O jogo pode ser apontado como importante recurso pedagógico em muitas áreas do

conhecimento, por poder favorecer caminhos para o desenvolvimento total e dinâmico no

campo cognitivo, afetivo, linguístico, social, moral e motor. Além disso, pode contribuir para

a construção de sujeitos mais independentes e responsáveis, além de favorecer o

desenvolvimento de senso critico, e respeito entre as crianças quando são levadas a trabalhar

em grupo. Por conter potencialidades que favorecem a criatividade e a imaginação, o jogo

tem um aspecto fascinante que envolve tanto crianças como adultos, possibilitando caminhos

para a fantasia que pode despertar elementos da afetividade, promovendo a elaboração de

emoções variadas, que podem ir desde o medo, até a alegria ou prazer. (KISHIMOTO;

LUCKESI, 2000).

Para que um jogo possa ser usado como recurso pedagógico é necessário que seja

desafiador na resolução de problemas, permitindo que a criança realize um processo reflexivo

de auto-avaliação referente ao seu desempenho. Ao optar por trabalhar com jogos, o educador

deve escolher uma atividade lúdica em que a criança elabore e tome decisões para se chegar a

um acordo referente às regras, assim como possa contribuir com o grupo sobre qual regra

aplicar em determinadas situações. É importante também que a criança sinta confiança e

motivação e que atividade venha contribuir para um melhor desenvolvimento autônomo.

Neste sentido é essencial haver participação ativa dos jogadores (alunos) em todas as

etapas do jogo. De acordo com Macedo (2005):

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Jogar não é simplesmente apropriar-se das regras. É muito mais do que isso! A perspectiva do jogar que desenvolvemos relaciona-se com a apropriação da estrutura, das possíveis implicações e tematizações. Logo, não é somente jogar que importa (embora seja fundamental!), mas refletir sobre as decorrências da ação de jogar, para fazer do jogo um recurso pedagógico que permita aquisição de conceitos e valores essenciais à aprendizagem (MACEDO, 2005 p.105)

Segundo Macedo (2005), cabe ao educador adaptar as atividades com jogos dentro das

situações cotidianas do educando, levando em consideração o conhecimento prévio das

crianças e permitindo a construção de um novo conhecimento, mas do que isto utilizar os

jogos com objetivos pedagógicos e acréscimo de novas informações, para que as crianças

possam ter a oportunidade de resolver problemas, investigar, descobrir a melhor jogada:

refletir e analisar as regras, estabelecendo relações entre os elementos do jogo e os conceitos

matemáticos e de outras áreas do conhecimento como ciências, geografia, história, português,

informática, educação física entre outros.

As novas concepções pedagógicas a respeito de como construir o conhecimento, assim

como a necessidade de centralizar o papel do conteúdo de matemática na formação de um

sujeito crítico, reflexivo, e consciente, têm aberto novas possibilidades de considerar o papel

do jogo no ensino, como algo prazeroso, que oferece ao aprendiz, o questionamento, a

reflexão no processo de aprendizagem. Entretanto há um distanciamento entre a escola e o

jogo, conforme a idade das crianças vai se elevando, ou seja, o jogo muitas vezes deixa de

aparecer no ensino fundamental para somente aparecer e acontecer no ensino infantil.

No entanto já existe a ideia de utilizar os jogos nas aulas de matemática, e no ensino

em geral conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCN’s (2001, p.48) apontam à

necessidade do jogo no processo de construção do conhecimento:

Por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam situações que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar por analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem a regras e dar explicações. Além disso, passam a compreender e a utilizar convenções e regras que serão empregadas no processo de ensino e aprendizagem. Essa compreensão favorece sua integração num mundo social bastante complexo e proporciona as primeiras aproximações com futuras teorizações.

O jogo ao ser apresentado dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais observa-se

que não é uma prática didática muito utilizada, e, portanto foi necessário incluí-lo dentro de

um documento oficial, para que o reconhecessem como um instrumento significativo para

aprendizagem.

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Há muito tempo, Bomtempo e Hussein (1986) afirmavam que embora o jogo fosse

importante para o desenvolvimento social, emocional, e intelectual da criança ser reconhecido

há anos por pesquisadores educacionais, tais atividades eram restringidas na escola por outras

atividades que considerassem mais “sérias” e os jogos, portanto eram vistos como algo sem

significado.

Levando em consideração tudo o que já foi comentado até o momento, podemos dizer

que os jogos matemáticos são recursos que devem ser usados pelos educadores, em sala de

aula com intuito de dinamizar as aulas promovendo uma interação entre as crianças e

facilitando o aprendizado delas já que:

Ensinar por meios jogos é um caminho para o educador desenvolver aulas mais interessantes, descontraídas e dinâmicas, podendo competir em igualdade de condições com os inúmeros recursos a que o aluno tem acesso fora da escola, despertando ou estimulando sua vontade de frequentar com assiduidade a sala de aula e incentivando seu envolvimento nas atividades, sendo agente no processo de ensino e aprendizagem, já que aprende se diverte, simultaneamente. (SILVA, 2004, p.26).

Entretanto, o uso dos jogos matemáticos enquanto instrumento didático exige um plano de

aula bem estruturado, com objetivos e métodos bem definidos que contribua para o processo

de construção do conhecimento das crianças, sendo fundamental a reflexão do educador sobre

sua prática educativa no contexto entre educador, educando e o saber matemático. Além

disso:

O uso de jogos para o ensino, representa, em sua essência, uma mudança de postura do professor em relação ao que é ensinar matemática, ou seja, o papel do professor muda de comunicador de conhecimentos para o de observador, organizador, consultor, mediador, interventor, controlador e incentivador da aprendizagem, do processo de construção do saber pelo aluno [...]. (SILVA; KODAMA, 2004, p.5).

Portanto, cabe ao educador organizar a aprendizagem de forma significativa,

disponibilizando meios adequados para que as atividades ocorram de forma satisfatória tanto

para o educador quanto para os educandos, propondo jogos como um recurso indispensável

nas tarefas cotidianas das crianças, fazendo com que elas percebam a importância desse

recurso relacionado a outros materiais juntamente com a interação entre colegas, professor e

alunos, tornado o momento de ensino aprendizagem prazeroso e significativo para todos.

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2- A INFLUÊNCIA DOS JOGOS NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM DA

MATEMÁTICA

Os jogos são respostas que damos a nós mesmos ou que a cultura dá a perguntas que não se sabe responder. Joga-se para não morrer, para não enlouquecer, para manter a saúde possível em um mundo, difícil, com poucos recursos pessoais, culturais, sociais. Em nossos dias, mesmo com tanta tecnologia, com uma ciência que explica, que controla cada vez mais as doenças, os problemas alimentícios etc., o espaço do jogo continua sendo muito importante. (MACEDO, 1995 p. 9).

A atividade dos jogos no ensino de matemática nos anos iniciais tem sido objeto de

estudo de várias pesquisas nas últimas décadas (Constance, 1991; Silveira, 1998; Macedo,

2005;; Mattos 2009). Segundo Silveira (1998): os jogos podem ser um importante recurso

para uma série de objetivos pedagógicos. Uma das formas mais comuns de utilização é a que

oferece a possibilidade de se trabalhar à autoconfiança da criança e a sua motivação para

aprender. O jogo, de uma forma geral pode significar um método eficiente para o exercício e

a prática significativa do que está sendo ensinado para o aluno. “Até mesmo o mais simplório

dos jogos pode ser empregado para proporcionar informações factuais e praticar habilidades,

conferindo destreza e competência.” (SILVEIRA, 1998 p. 2).

Giardenetto (1999) aponta que “a matemática está presente em quase todos os campos,

de forma clara ou abstrata; desde as ações mais simples até as mais complexas.” Pensando

nisso, o ensino da matemática na escola parece estar muito distante do universo da criança,

tornando-se incompatível com a matemática cotidiana que está mais próxima da realidade,

por está relacionada com à utilidade, à resolução de situações problemas encontradas na vida

diária. No dia a dia temos uma matemática de respostas aos problemas a partir de uma

linguagem simples e rotineira, que pode ser aplicada para todos sem precisar levar em

consideração o grau de escolaridade do individuo. Entretanto, no ambiente escolar a criança

encontra uma nova realidade que a conduz no sentido de deixar um pouco de lado seu mundo

lúdico para atentar-se ao um mundo escolar cheios de regras, programas, conteúdos voltados a

um currículo bem distinto, que pretende atender outras aprendizagens composta de

descobertas de conceitos científicos, na maioria das vezes ensinados de forma bem distante

daqueles conceitos aprendidos na vida cotidiana. Nesse novo ambiente a aprendizagem da

linguagem matemática, pode ser facilitada pelo uso dos jogos, auxiliando a forma como os

conceitos matemáticos são reproduzidos, repetidos, recriados, memorizados para serem

assimilados e aprendidos.

Segundo Passerino (1998) a utilização dos jogos como um instrumento pedagógico

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pode propiciar a evolução de importantes funções mentais. Pode ajudar no desenvolvimento

da memória, e nas varias dimensões da orientação temporal e espacial; na percepção auditiva

e visual, assim como pode ser um importante elemento para contribuir com a coordenação

motora e Raciocínio lógico-matemático da criança, ampliando sua oralidade e escrita. Além

disso, os jogos também podem oferecer à crianças várias possibilidades no desenvolvimento

de competências de organização e planejamento.

Autores como Passerino (1998) e Borin (2004) concordam que o trabalho pedagógico

através de atividades que envolvam o jogo podem ser instrumentos importantes para o

professor nas aulas de matemática. Porém, esse não é um trabalho simples, pois ao pensar na

utilização de um jogo para ensinar determinado conceito, o educador deve saber elaborar e

intervir nessa atividade, para que de fato, o jogo possa contribuir com o desenvolvimento de

habilidades importantes estreitamente ligadas ao que frequentemente chamamos de raciocínio

lógico. Pesquisas de Borin (2004, p. 8) apontam que:

A atividade de jogar, se bem orientada, tem papel importante no desenvolvimento de habilidades de raciocínio como organização, atenção e concentração, tão necessárias para o aprendizado, em especial da Matemática, e para a resolução de problemas em geral. [...] Também, no jogo, identificamos o desenvolvimento da linguagem, criatividade e raciocínio dedutivo, exigidos na escolha de uma jogada e na argumentação necessária durante a troca de informações.

Em um contexto escolar, onde as trocas entre os pares oferecem grandes

possibilidades de desenvolvimento social, os jogos matemáticos mostram-se como recursos

didáticos capazes de promover um ensino-aprendizagem mais dinâmico, além de trabalhar

com a matemática de um jeito mais desafiador e envolvente mostrando que é possível

reconhecer em momentos da realidade cotidiana uma matemática dentro das relações sociais e

culturais.

Assim, temos Agranionih e Smaniotto (2002 p.16) que definem o jogo matemático

como:

[...] uma atividade lúdica e, intencionalmente planejada, com objetivos claros, sujeita a regras construídas coletivamente, que oportuniza a interação com os conhecimentos e os conceitos matemáticos, social e culturalmente produzidos, o estabelecimento de relações lógicas e numéricas e a habilidade de construir estratégicas para a resolução de problemas.

A partir das investigações de Agranionih e Smaniotto (2002) podemos supor que é há

uma a relação bastante estreita entre o jogo e a construção do conhecimento , já que os

jogos matemáticos permitem que o aluno possa enfrentar situações as quais são necessárias

ultrapassar a fase de diversão partindo para uma fase de análise de atitudes, permitindo-lhe a

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compreensão de seu próprio processo de aprendizagem e desenvolvendo a autonomia

necessária para continuar aprendendo, e consequentemente construindo conhecimento.

Contudo, quando propomos atividades orientadas pelos jogos nas aulas de matemática, não

podemos deixar de entender o sentido da dimensão lúdica que eles têm na proposta didática.

Os jogos envolvem conceitos matemáticos e podem ser considerados como determinantes

para que os alunos sintam-se atraídos a participar das atividades nas aulas de matemática.

Para Neto (1992) o ensino da matemática deve envolver o lúdico e ser desafiador para que a

aprendizagem seja significativa, podendo assim, ser aplicada fora do ambiente escolar,

prolongando-se no cotidiano da criança.

Sabemos que a construção do conhecimento se dá a partir do domínio do

conhecimento prévio como ressalta Piaget (1975) afirmando que é por meio do jogo a criança

constrói o conhecimento sobre o mundo físico e social, desde o período sensório-motor até o

operatório formal. O jogo pode ser definido como “o conjunto de atividades às quais o

organismo se entrega principalmente pelo prazer da própria atividade” (Kami e Devries, sd, p.

29).

Dessa forma, o jogar dentro da matemática, pode ser visto como uma das bases sobre a

qual se desenvolve o espírito construtivista, a imaginação, a capacidade de sistematizar e

abstrair e a capacidade de interagir socialmente. Além disso, podemos dizer que o jogo em si

é um processo no qual a criança necessita de conhecimentos prévios, interpretação de regras,

e raciocínio isso porque apresenta constantemente desafios, pois, a cada nova jogada são

ampliados espaços para elaboração de novas estratégias, que se remete para a situação-

problema que ao ser resolvida, permite o crescimento do pensamento abstrato para o

conhecimento efetivo, construído durante a tarefa proposta.

Moura (1992, p.47) ressalta que:

O jogo para ensinar matemática deve cumprir o papel de auxiliar no ensino do conteúdo, propiciar a aquisição de habilidades, permitir o desenvolvimento operatório do sujeito e, mais, estar perfeitamente localizado no processo que leva a criança do conhecimento primeiro ao conhecimento elaborado.

Nesse sentido as atividades com jogos matemáticos permitem a vivência das situações

pelas crianças, como sendo o sujeito responsável pela sua aprendizagem, como afirma

Grando (2004, p.29) quando diz que o jogo permite “[...] a exploração do conceito por meio

da estrutura matemática subjacente ao jogo que pode ser vivenciada pelo aluno quando ele

joga, elaborando estratégias e testando-as a fim de vencer o jogo”.

Stocco (2007) aponta que os jogos podem ajudar a criança a sentir de forma diferente

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as consequências de seus erros ou fracassos, o que favorece o desenvolvimento de sua

autoconfiança e independência, promovendo um auto-avaliação mais positiva sobre si mesmo.

A autora acrescenta que o jogo é uma atividade que apesar de séria não possui consequências

capazes de fazer com que o aluno possa ver os seus erros como algo frustrante ou

irreversível. No jogo, as várias formas de erros são consideradas como ações naturais vividas

nas jogadas, sem componentes negativos, mas como “válvulas” capazes de motivar a criança

a investir em novas tentativas com estímulos para tentativas de previsões e checagem. Assim,

ao planejarem formas novas para melhorar jogadas, a criança estará fazendo uso de

conhecimentos adquiridos anteriormente na formulação de hipóteses e de novas ideias. Desse

modo podemos dizer que o jogo permite ao jogador (aluno) controlar e corrigir seus erros,

seus avanços, assim, como rever suas respostas, o jogo também possibilita a ele descobrir em

que falhou ou obteve sucesso e motivo que isso aconteceu. Essa consciência permite

compreender o próprio processo de aprendizagem e desenvolver a autonomia para

permanecer aprendendo.

Sendo assim, percebe-se que o jogo, quando utilizado de forma adequada como

recurso para o ensino de matemática, com objetivos já pré-estabelecidos e inseridos no

planejamento do educador/professor com intencionalidade, configura-se como um valioso

instrumento de construção de saberes, podendo auxiliar tanto os educadores/professores em

suas práticas pedagógicas, quanto os alunos que serão capazes de atuar como sujeitos

pensantes e construtores de seus próprios conhecimentos.

3- METODOLOGIA

3.1 Pesquisa qualitativa

Essa pesquisa consistiu em um estudo do tipo exploratório de natureza qualitativa,

pois como na maioria de investigações dessa natureza tem como proposta a interpretação do

sentido de um fenômeno a partir do significado que os indivíduos atribuem àquilo que fazem

ou que falam. Nesse sentido, “o termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas,

fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados

visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível.” Chizzotti (2008, p.

28).

GOLDENBERG, (1999) afirma que na abordagem qualitativa, o mais importante não

é a generalização dos dados da pesquisa ou a representatividade numérica, pois presume-se

que o pesquisador busque o aprofundamento das questões relacionadas aos fenômenos

compostos principalmente de ações sociais dos sujeitos, individualmente ou em grupos em

14

ambientes variados. A interpretação deve ocorrer segundo a perspectiva das pessoas

envolvidas na situação investigada, sem a preocupação de realizar relações lineares de causa e

efeito.

Em seu trabalho sobre metodologia nas pesquisas sociais Minayo (2008) acrescenta

que: “a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que

possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador” (p, 22).

Nesse sentido a autora salienta que a pesquisa qualitativa oferece algumas possibilidades para

que o investigador possa entrar em contato com a realidade de forma a conhecer as

construções históricas constituídas nas relações humanas, crenças e representações

individuais, as concepções e as várias formas de perceber a realidade de cada sujeito.

Nesse trabalho a pesquisa de ordem metodológica qualitativa, assume um lugar

essencial, tendo em vista que buscamos a compreensão da questão dos jogos no ensino da

matemática a partir da concepção de sujeitos envolvidos com o processo educativo em suas

produções em determinado espaço e tempo, organizadas de forma particular.

Nessa direção, a pesquisa qualitativa nos possibilitou e permitiu trabalhar com um

leque de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes próprias da natureza do

ser humano, que nãose diferencia apenas pelas suas atitudes, mas por pensar a respeito do

que se faz e por interpretar suas ações dentro e a partir de uma realidade vivida e

compartilhada com seus semelhantes. Segundo Minayo (2012, p.22) “a pesquisa qualitativa se

aprofunda no mundo dos significados, em que é necessária ser exposta e interpretada pelos

próprios pesquisados.”.

Diante de uma abordagem qualitativa esse estudo teve como finalidade compreender

as percepções de professores de matemática das series iniciais em relação aplicação dos jogos

em suas praticas educativas, considerando questões importantes tais como: a importância dos

jogos na aprendizagem; a organização dos alunos durante o jogo; em que momento o

educador participa do jogo; que tipo de jogos a escola dispõe para os alunos e a reação das

crianças na utilização de jogos na aula de matemática.

3.2 O instrumento: a entrevista

A entrevista caracterizou-se como instrumento fundamental para esse estudo, visto que

foi por meio dela que os dados que representam as percepções das educadoras das series

iniciais em relação ao jogo matemático se realizou. O estudo exploratório visa compreender a

realidade de forma mais legitima possível. Desse modo usou-se o recurso da entrevista em um

ambiente natural no qual o entrevistado pudesse se sentir confortável para responder as

15

questões solicitadas. Assim o objeto de estudo investigado pôde ser registrado atentamente.

Minayo descreve a técnica da entrevista como importante meio de investigação define afirma

que:

A entrevista como fonte de informação que pode nos fornecer dados secundários e primários de duas naturezas: (a) os primeiros dizem respeito a fatos que o pesquisador poderia conseguir por meio de outras fontes como censos, estatísticas, registros civis, documentos, atestados de óbitos e outros. (b) os segundos – que são objetos principais da investigação qualitativa – referem-se a informações diretamente construídas no diálogo com indivíduo entrevistado e tratam da reflexão do próprio sujeito sobre a realidade que vivencia. (MINAYO, 2012 p.65)

Podemos dizer que a entrevista contribui de forma bastante ampla informações

importantes sobre o entrevistado ao pesquisador, de modo não resumido, o que facilita a

análise de dados coletados. Na entrevista “a coleta de material não é apenas um momento de

acumulação de informações, mas se combina com a reformulação de hipóteses, com a

descoberta de pistas novas (...)” (CARDOSO, 1988, p. 101). Ao permitir um contato face a

face entre pesquisador e pesquisado a entrevista permite a vivência de uma situação social em

que emoções e significados poderão vir à tona. Para Yunes e Szymanski (2005):

“Seja qual for o tipo de entrevista escolhida pelo investigador, encontrar-se-á certo grau de intencionalidade e interação social como aspectos essenciais do processo de organização e construção tanto das perguntas (no caso do entrevistador), como das narrativas (no caso do entrevistado). A entrevista face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana, na qual estão em jogo as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos, interpretações e constituição de sentido para os protagonistas - entrevistador/ e entrevistado/s. (p.433)

Segundo Minayo (2012, p.64) é por meio da entrevista que há a possibilidade de (...)”

uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador.”

Nesse sentido, a entrevista a qual usamos nessa pesquisa, partiu de um roteiro semiestruturado

de questões buscando construir um clima harmônico de encontro social possibilitando ao

entrevistado a tranquilidade necessária para poder discorrer sobre o assunto em questão sem

se prender a questão do tempo.

Para a realização da entrevista a pesquisadora, escolheu de forma aleatória cinco

professores (uma de cada ano) e uma coordenadora pedagógica, de uma Instituição Pública de

Ensino Fundamental. Para coletar as informações, o material utilizado foi um gravador de voz

com intuito de obter maiores detalhes sobre o assunto estudado. As entrevistas ocorreram de

forma particular, sendo necessárias seis visitas na escola no período vespertino, em que cada

16

dia uma participante da pesquisa era entrevistada. Todas as informações obtidas por meio

das entrevistas foram transcritas na íntegra. Por uma questão de ética o nome das professoras

e da coordenadora, assim como o da escola foram mudados para nomes fictício.

3.3 A pesquisa de campo

A Escola Municipal de Ensino Fundamental “Crianças Sabidas ” (nome fictício) é

uma instituição de caráter público, mantido pela Secretária de Educação Municipal de Osasco,

localizada na grande São Paulo. A escola existe há mais de vinte anos, atendendo crianças a

partir de sete anos, do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental e está dividida entre dois

horários, matutino e vespertino, sendo matutino dás 7h ás 12h00 e vespertino da 13h20 ás

18h20.

A instituição possui um espaço bastante amplo e as salas de aulas têm suas portas e

janelas de frente para uma área verde o que é um diferencial no ambiente escolar, pois as

crianças ao se dirigir às aulas de Educação Física na quadra, ou ao banheiro e ao refeitório

transitam ao lado de um grande jardim com personagens infantis de gesso. Os primeiros anos

possuem três salas por período e localizam-se no prédio de construção mais recente, não

necessitam subir ou descer escadas para acessar o pátio e os banheiros. As salas dos segundos

e terceiros anos encontram-se no primeiro patamar da escola, totalizando seis salas de aulas,

três de segundo e três de terceiros anos por período. O quarto e os quintos anos localizam-se

no piso central da escola, próximo a secretaria, direção e sala dos professores, sendo três

quintos anos no período da manhã, um quarto ano e dois quintos anos no período da tarde.

Os espaços internos são compostos por uma Sala de Leitura, uma sala de AEE

(Atendimento Educacional Especializado), direcionado para crianças portadoras de alguma

deficiência, uma sala SAP (Sala de Apoio Pedagógico) onde acontece as reuniões de ATPC

(Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo) e uma sala de multiuso, destinada às aulas de Lego e

Arte, e uma sala de jogos em formato de brinquedoteca, onde há fantasias, cantinhos de

livros, espelhos, e jogos para os alunos, ao todo são 10 dominós, 12 quebra-cabeças, 9 jogo da

memória, 5 xadrez, 3 caixas de jogo de trilha, 4 caixas de jogo de vareta, 5 caixa de material

dourado, 3 caixa de formas geométricas, 2 jogos de sequencias , 2 caixa de números para

encaixe, 5 dados e 2 jogos de dama. Além de sala de Informática, com trinta computadores

novos, cozinha, dois pátios, refeitório espaçoso com self-service para as crianças, banheiros

masculino e feminino e banheiro para deficientes adaptado.

17

3.3 As professoras entrevistadas

Para melhor compreensão do perfil das professoras elaboramos um quadro com as

principais informações, relevantes para a compreensão das entrevistas. Todos os nomes das

participantes são fictícios, respeitando o sigilo das informações fornecidas.

Nome idade Formação Tempo de

magistério

Turma Tempo na

escola

Fernanda 39 Magistério

Pedagogia e

especialização em

Psicopedagogia

16 anos 5o. ano 10 anos

Carolina 40 Pedagogia 28 anos 2o. ano 16 anos

Michele 45 Magistério e Pedagogia 25 anos 4o. ano 12 anos

Susi 45 Magistério

Pedagogia e

especialização em

Psicopedagogia

25 anos 3o. ano 15 anos

Simone 55 Magistério e Pedagogia 37 anos 1o. ano 20 anos

Vanessa 55 Pedagogia 35 Coordenadora 5 anos

Salientamos que todas as participantes do estudo aceitaram voluntariamente

participar da pesquisa. As entrevistas tiveram duração aproximada de 20 a 40 minutos. Foram

todas gravadas com autorização das entrevistadas. Para a análise dos dados, tudo foi transcrito

em sua íntegra.

3.4 A análise de dados e discussões das entrevistas.

A partir da transcrição das entrevistas e leitura cuidadosa das falas das educadoras,

construímos um quadro em que foram separados os relatos mais significativos das

entrevistadas e separados pelas suas semelhanças com relação ao conteúdo. Depois da divisão

das falas criamos categorias de análise que pudessem expressar de modo fiel o fenômeno

estudado.

A observação atenta dos relatos nos dá conta de um levantamento geral dos jogos mais

utilizados pelas professoras durante suas práticas pedagógicas. Formulamos um quadro

18

apontando uma relação desses jogos e a frequência em que eles foram citados no montante de

entrevistas.

Jogos mais citados Quantidade de vezes em

que aparecem citados Dominó 21 vezes Xadrez 15 vezes Jogo da memória 9 vezes Varetas 8 vezes Quebra cabeça 6 vezes Trilha 4 vezes Jogo da velha 4 vezes

Outra questão que nos parece relevante diz respeito às disciplinas nas quais as crianças

de ensino fundamental têm mais dificuldades de aprendizagem. As professoras apontam que é

mais comum que as crianças tenham menos facilidade em aprender Matemática em primeiro

lugar e depois em Português. Todas as entrevistadas apontam em seus relatos que o jogo pode

ser um facilitador no desenvolvimento das crianças, porém a partir de algumas categorias de

análises formuladas mostraremos como esse olhar pode ser permeado por confusões,

preconceitos e por problemas conceituais ou de desconhecimento, o que demonstra a

necessidade de cursos de formação continuada que possam fornecer ao professor mais

subsídios para o trabalho com jogos na educação. Como problemas de ordem conceitual

temos o exemplo da professora Susi:

(...) dificilmente eu uso o jogo, primeiro porque minha sala de terceiro ano é superlotada, então, eu evito bastante. Além disso, os alunos são muitos sem limite e indisciplinado. Então só dou de vez em quando, o material dourado, não sou de ficar inventando jogos com eles, porque nem vale a pena é muito trabalhoso e depois eles nem se importam com que você faz, eles veem a escola como um espaço para eles brincarem e não para aprenderem. (Professora Susi)

Segundo Machado (1986), o material dourado foi criado por Maria Montessori no

inicio do século XX e não se constitui como um jogo e sim como um material de uso

pedagógico que trabalha as questões matemáticas. Assim como a professora citada, outras

entrevistadas também se referem ao uso do material dourado como jogo. Além disso, a

professora não parece ser estimulada para usar jogos com seus alunos e demonstra uma visão

preconceituosa dessa atividade, como algo sem importância. Isso fica evidente quando ela diz

que:

Não surge efeito nenhum ficar só no lúdico, ter que levar em consideração o aluno, acho tudo isso perda de tempo, porque o que a gente tem que fazer é ensinar o aluno ler e escrever e não ficar inventando formas de ensino até porque cada aluno é

19

diferente e nos temos uma diversidade enorme dentro da sala de aula como é que eu vou considerar o conhecimento de cada um? Fica inviável sinceramente, por isso não abro mão da minha cartilha e muito menos do livro didático, para ficar dando jogos, fora que não tem material para todos, o que dificulta mais ainda uma aula com jogos. (Professora Susi)

A professora em sua concepção acha que todos os alunos devam ser tratados de forma

igualitária no ensino, isso porque acredita que todos os alunos aprendem de forma

semelhante, e não há necessidade de considerá-los individualmente, além disso, faz

suposições de que o jogo se comparado com os livros didáticos não tem um efeito positivo de

aprendizado, demonstrando um desconhecimento sobre a importância dos jogos na

aprendizagem evitando utilizá-lo em suas aulas. Como Brougère (1998) ressalta

“Consequentemente, o educador pode ter valores que não se contentam com o jogo. Eis o

paradoxo: não se pode confiar totalmente no jogo, mas não se pode evitá-lo” afinal o jogo é

necessário para o desenvolvimento intelectual da criança, assim como qualquer outra

atividade didática. (p.208)

Em contrapartida temos uma professora que apresenta outra forma de jogar criada por

ela com regras próprias, para a turma “eu construo jogos com eles através dos símbolos,

números e quebra cabeça eles adoram quando eu faço isso”. (Professora Simone.). Isso

demonstra que é possível fazer uma aula diferenciada, com poucos recursos, apenas depende

da disposição do educador para criar, modificar e inventar jogos de acordo com o tema

estudado ou com o objetivo de se trabalhar alguma habilidade especifica dentro da

matemática de modo a explorar o jogo e os conceitos matemáticos relacionando ambos para

um melhor ensino-aprendizagem.

Com relação ao olhar da coordenadora pedagógica sobre o uso de jogos na escola ela

defende a ideia de que os jogos são essenciais em todas as fases de aprendizado das

crianças, desde Educação Infantil. Ela aponta que:

[...] a escola deveria ter essa visão do brincar, de construir aprendizados por meio de jogos desde ensino infantil, porque quando o aluno vai para o ensino fundamental ele sente-se obrigado a aprender o que já aprendeu no ensino infantil quando na verdade era para ele aprender por meio do lúdico, e então esse aluno que os professores pularam a etapa do brincar como forma de aprendizado no infantil consequentemente será um aluno que irá ter dificuldades no aprendizado porque pulou fases e fez atividades que não eram condizentes a fase dele. (Vanessa Coordenadora Pedagógica)

20

4. Discussão dos resultados

Concepções das professoras sobre os jogos na escola.

Nessa categoria iremos discutir duas visões divergentes nas falas das professoras:

O jogo como atividade livre e o jogo como recurso pedagógico.

Historicamente os jogos e as brincadeiras foram visto por muito tempo pela escola e pelos

educadores, como atividade sem muita importância, improdutiva, apenas utilizada para

entreter as crianças em seu tempo livre. Como ressalta Brougère:

Por muito tempo, o lugar do jogo será limitado á recreação e ainda hoje o jogo pode se encontrar preso a esse espaço essencial à medida que influenciou muito, por suas limitações, a cultura lúdica da criança, a representação da oposição entre o tempo de aula e o do jogo. A oposição entre recreação e ensino esconde exatamente a oposição entre jogo e seriedade. A recreação, seja qual for sua necessidade, diz respeito à futilidade, pelo menos no que concerne a seu conteúdo. O educador justifica a interrupção do ensino sob forma de recreação, estabelece interditos para evitar qualquer desvio contrário aos objetivos da educação, mas deixa as crianças livres para determinar seu conteúdo considerado como sem importância, desvalorizado de antemão por sua futilidade fundamental. (Brougére, 1996, p.54).

Essa parece ser ainda uma concepção ainda presente na visão de algumas

professoras, que se referem ao jogo, como uma atividade descolada de assuntos ou atividades

pedagógicas, que quando usada no espaço escolar pode ser útil em momentos de descontração

e relaxamento, como no relato abaixo:

Ás vezes, no momento que eles estão mais livres, já fizeram todas as atividades, você dá um jogo para eles darem uma relaxada, é um momento que eles estão em turma, mais a vontade e tem também o que você quer introduzir com o jogo, você quer introduzir um tema novo, você vai e escolhe um jogo de acordo com aquele assunto, ou para dar um reforço em algo que não ficou claro para eles,ou, que eles tiveram dificuldade você usa o jogo para tentar ajudar e aplica nesse tempo livre que eles têm entendeu. (Professora Carolina 2° ano )

Ainda que a professora apresente uma visão destorcida sobre a utilização dos jogos na

escola, ela demonstra em sua fala que o jogo pode ajudar na introdução de algo novo para os

alunos, ou para reforçar algum conteúdo que ela esteja ensinando, o que reforça a importância

dos jogos como recurso pedagógico.

A maioria das professoras, porém, acreditam que os jogos podem ser usados na prática

pedagógica. Uma delas aponta o seu uso como um recurso para o ensino de matemática,

21

relatando que usa o recurso para ensinar alguns conceitos como : valor posicional, geometria,

dentre outros.

Ah! Assim, quando eu dou jogo, eu dou com objetivo de fazer eles entenderem o valor posicional dos números, desenvolver unidades, dezenas, centenas, e milhares, para trabalhar geometria com eles, que envolve figuras como cubos,e tetraedro, que tem na escola em forma de madeira, então como tem bastante desse jogo a gente trabalha os lados das figuras, tem um que são em matriz para eles construírem as figuras eles amam, quando eu mando eles construírem mas,antes de usar isso tem todo um processo, o concreto é o último passo que eu faço com eles. (Professora Susi 3 o ano).

Os jogos, de um modo geral, podem ser utilizados na escola, tanto no inicio de uma

nova atividade com intuito de estimular o interesse da criança ou, no final dela com o objetivo

de fixar a aprendizagem, “Assim, ainda segundo Lorenzato (2006), citado por Rodrigues e

Gazire (2012) os materiais didáticos podem desempenhar várias func ões, dependendo do

objetivo a que se prestam: apresentar um assunto, motivar os alunos, auxiliar a

memorizac ão de resultados e facilitar a redescoberta.”(2012, p. 190). Parece ser dessa forma

que as professoras também veem o jogo no ambiente da escola.

Bom, o objetivo do jogo é fazer com que a criança chegue naquilo que você almeja, por exemplo, se eu vou dar contagem antes eu aplico um jogo que tenha a ver com esse assunto, ou invento um na hora com eles, sempre de acordo com a atividade que estou trabalhando na sala, às vezes eu monto quebra cabeça, jogo da memória de acordo com que estou trabalhando com eles eu mesmo faço e eles se divertem muito é bem interessante. (Professora Simone - 1o. ano)

A professora Simone que atua ensinando crianças do 1o ano, na faixa etária de seis e

sete anos não trabalha com o jogo apenas como diversão, mas com metas e objetivos

concretos utilizando esse recurso para motivar as crianças pequenas a aprenderem matemática

de uma forma mais interessante, como também é afirmado pela professora Fernanda do 5o.

ano: “O objetivo é sempre que aprendizado flua da melhor forma possível...”

O jogo pode funcionar como importante instrumento de auxilio do professor no

processo de ensino e aprendizagem. Segundo Tezani (2004) o jogo ao invés de ser visto como

um passatempo para as crianças na escola deve ser compreendido como essencial ao

organismo e a aprendizagem da criança.

Estimula o crescimento e o desenvolvimento, a coordenação muscular, as faculdades intelectuais, a iniciativa individual, favorecendo o advento e o progresso da palavra. Estimula a observar e conhecer as pessoas e as coisas do ambiente que vive. Por meio do jogo, a criança pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa. O jogar é essencial para que ela manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. Apenas sendo criativa que a criança descobre seu próprio eu (TEZANI, 2004 p.1).

22

Desta forma, as concepções das professoras ainda que contraditórias, admitem que

utilizam jogos no espaço escolar, porém com fins específicos: para uma parece ter um sentido

de distração ou passatempo para as crianças e para outras, assume um papel

diferenciado,servindo como um importante recurso pedagógico na aprendizagem das crianças.

A respeito da percepção da coordenadora pedagógica sobre jogos na escola ela acredita que

os jogos são muito importantes, pois, é por meio da brincadeira que a criança aprende, e pode

interagir com seus pares. Contudo a coordenadora não acredita que todos os educadores têm

essa visão sobre a riqueza dessa atividade para o ensino, porque, na maioria das vezes eles

tem uma visão tradicional do brincar. Ela afirma que:

Então os jogos e as brincadeiras são de grande riqueza para o aprendizado. Agora o que eu acho, é que os profissionais precisam estar dispostos a querer mudar, a querer ensinar de uma maneira diferenciada, porque às vezes o professor ele tem a dificuldade e também é cômodo ele sentar e dar apenas atividades prontas sem construir com a criança. (Vanessa, coordenadora pedagógica)

Recursos de materiais para o trabalho com o jogo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais remete-se sobre a utilização de jogos na

matemática, salientando a importância desse recurso na aprendizagem das crianças das séries

iniciais e afirma que “por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam situações que se

repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar por analogia (jogos simbólicos).”

(PCN’s, 2001, p. 48). Contudo a realidade do contexto escolar com qual nos deparamos

atualmente aponta que muitos educadores não podem fazer um trabalho com jogos porque a

escola não oferece subsídios suficientes nem meios para isso ocorrer. Tal fato pode ser

comprovado por meio da fala da professora Michele do 4o. ano:

(...) a escola na verdade dispõe são quebra cabeças, dominó, jogo da memória, mas quando você vai pegar para usar estão faltando peças, outros estão misturados em outras caixas, então é bem difícil, você usar jogos da escola, outra coisa a escola nem sempre dispõe de recurso para estar adquirindo coisas novas, ou para repor as peças que já estão desgastadas, acho que tudo isso contribui para um entravar as aulas, e outra coisa a escola não vê o jogo como uma coisa obrigatória, por isso ela dar prioridade para outras coisas. (...)

Outro ponto que chama a atenção, é para a existência de jogos na escola, que em

sua maioria estão faltando peças, ou estão armazenados de forma indevida, tratados com

descaso, quebrados ou desgastados o que demonstra uma desvalorização com esse recurso

23

que embora não seja obrigatório o uso pelo professor, é um material que deve estar a serviço

do desenvolvimento físico e cognitivo das crianças.

Sabendo da importância de se trabalhar com jogos na matemática, alguns professores

se dispõem a comprar jogos para fazer uma aula diferenciada como é o caso da professora

Carolina do 2o. ano que afirma que: “Se nos queremos dar uma aula diferente nos que

muitas vezes, temos que comprar algum jogo, ou então inventar um, na sala com eles.” Isso

deixa transparecer que a escola não está preocupada com a falta de jogos, como foi

observado em visita a escola (descrito acima). A escola parece não dar a devida importância

para o uso desses materiais como recursos pedagógicos, e portanto, não considera as

dificuldades que o professor pode enfrentar para ensinar determinados conceitos, assim como

os prejuízos que o aluno pode ter em seu processo de aprendizagem.

As professoras entrevistadas se mostram insatisfeitas com a falta de materiais

oferecidos pela escola demonstrando em suas falas que a escola deixa total responsabilidade

para elas. Parece haver um desejo, por parte das educadoras em trabalhar com jogos, mas

pela falta de recursos disponíveis na escola, esses têm que ser pensados e construídos por elas

que já tem uma jornada de trabalho bastante excessiva, já que muitas dobram períodos, como

apontado pela professora Fernanda do 5° ano.

(...) tirando os jogos que nos temos disponíveis, é a gente professor que tem que ficar confeccionando jogos e, nós não temos tempo hábil para fazer isso. Seria bom se tivéssemos mais recursos, mais jogos a disposição (...)

O relato da professora parece ir ao encontro do que é apontado por Oliveira (2005, p. 71)

quando discute sobre o sistema educacional brasileiro que acaba “desmotivando os

profissionais para qualquer iniciativa”, pois são atua muitas vezes com padrões rígidos e

descontextualizados. (Outro fator que desestimula o professor para o trabalho docente é a

ause ncia de estrutura da escola que garanta espaços adequados para os alunos (salas de aula

com instalac ões apropriadas, materiais didáticos, carteiras escolares, espac o para jogos e

recreac ão e; condic ões dignas de trabalho para professor .

Para enfrentar essas dificuldades pela falta de recursos lúdicos na escola, as professoras

acabam inventando outras possibilidades tais como: confeccionar jogos, sugerir aos alunos

para trazer jogos de casa, inventar brincadeiras que não necessitem de nenhum material

concreto, dentro outras.

24

Então, jogos sobre tabuada né, contas, operações fundamentais a gente escolhe o casal vai, na lousa quem consegue fazer primeiro e mais rápido e o jogo de batalha naval. (Professora Fernanda - 5° ano)

(...) o que eu faço é o seguinte: eu peço para os alunos trazerem jogos de casa e marcamos o dia dessa aula com jogos. Eu estabeleço as pessoas que vão trazer naquela semana, e assim sucessivamente, porque eles trazendo de casa, têm interesse em jogar. Além disso, como eu falei, a escola não tem recurso para jogos e muito menos variedades, e os alunos têm. Então fica mais fácil de trabalhar com eles assim: cada semana alguns deles trazem jogos entendeu? Aí fica legal, porque ai tem uma variedade de jogos que a turma nunca jogou então eu apresento para eles, falo do objetivo do jogo, e eles se interessam.” (Professora Carolina – 2o. ano)

Embora a escola disponha de um número insuficiente de jogos para atender a demanda

de classes e alunos, a maioria das professoras entrevistadas demonstra não abrirem mão de

trabalhar com esse recurso pedagógico. Essa situação reflete um ponto positivo, pois as

professoras demonstram criatividade para resolver esse problema, atuando de várias formas e

considerando sobre tudo a importância desse recurso na aprendizagem das crianças.

Ainda que o objetivo desse trabalho não tenha sido intervir e modificar concepções e

alterar a realidade da escola no que se refere à utilização dos jogos na prática dos educadores,

percebemos em nossa volta para a entrevista com a coordenadora pedagógica depois de seis

meses (aproximadamente) que algumas mudanças ocorreram na escola. Nessa ocasião a

coordenadora fez questão de apresentar a sala de jogos recém-inaugurada. Quando perguntado

para a coordenadora se existia algum combinado com os professores quanto à utilização dos

jogos nas práticas educativas cotidianas, ela nos deu a seguinte resposta:

[...] agora conseguimos montar uma sala de jogos, que até então antes não

tinha foi inaugurada agora em setembro, os jogos que estão velhos com peças quebradas e faltantes foi jogado fora e reposto por novos compramos fantasias novas, materiais Montessori de madeiras, formas geométricas, quebra cabeça, também conseguimos comprar lego. A escola estava precisando dessa atenção para questão dos jogos. Com isso foi montado um horário em que toda sala pode vir uma vez por semana para utilizarem a sala, porém quando muito lotada nos dividimos um dia vem metade da sala e a outra metade fica fazendo a atividade e a outra metade que veio nessa semana faz a troca. [...]Também foi montado nas salas de aulas prateleiras em forma de caixa com jogos de monta monta, quebra cabeça, para colocar livros paradidáticos, fantoches, tudo a disponibilidade do professor para a utilização de jogos, também na sala de aula e não deixar para usar jogos só na aula de jogos, mas fazer uso disso todos os dias. (Vanessa, coordenadora pedagógica).

Podemos perceber a partir do relato da coordenadora, assim como da nossa observação

que a nova sala de jogos na escola tem revelado um cuidado e uma preocupação em

proporcionar tanto para as professoras quanto para os alunos materiais estimulantes para o

ensino e aprendizagem.

25

Porque trabalhar com Jogos.

A formação das professoras de um modo geral aponta para a importância dos jogos

para o aprendizado das crianças. Diante disso, a maioria dos relatos da conta de ir nessa

direção. Quando questionadas sobre a importância dos jogos todas elas reconhecem que esse

pode ser um recurso importante no auxilio de seu trabalho com as crianças. Um dos pontos

bastante levantados pelas professoras diz respeito à maneira como veem os jogos no

desenvolvimento do raciocínio lógico.

(...) eu acho que eles aprendem muito com a utilização de jogos Como primeira coisa eles desenvolvem o raciocínio lógico, estratégias, o trabalho em equipe e o pensamento. Acho que cada jogo tem um desafio e o bom disso é que eles enfrentam esse desafio, e tentam sempre arrumar novas estratégias, para estar vencendo isso. (Professora Michele - 4° ano).

De um modo geral, as professoras relatam também que os jogos no espaço escolar

propicia a maior interação entre os alunos, assim como a troca de experiências. O fato dos

jogos contribuir para socialização dos alunos é algo bastante marcado nos relatos. Além disso,

as professoras afirmam que aulas com jogos, ficam mais descontraídas fazendo com que os

alunos participem do seu próprio processo de aprendizagem.

(...) uma dificuldade que eu tenho, não sei se isso é só comigo, é de trazer coisas diferentes e aplicar mais essas coisas do pensamento do jogo, do jogo simbólico, do faz de conta, em outras matérias também, não só na matemática. Eu gostaria de aplicar mais, porém só consigo fazer isso uma vez por semana com objetivo de trabalhar a concentração, a interação entre eles e o trabalho em equipe que eu acho importante. .(Professora Michele 4° ano)

Ah! Elas gostam muito, eu diria que é a aula que eles mais participam e se interessam. Porque eles discutem, trocam experiências dos jogos, falam o que mais gostaram, se expõem mais, obedecem, ficam mais tranquilos, relaxados. Quando tem algum jogo, a aula acontece de uma forma mais prazerosa. (Professora Carolina 2° ano)

Outra questão apontada, com relação às potencialidades do jogo na escola, é o

estimulo que é oferecido para o aluno na presença de aulas com outra dinâmica. O jogar é

visto pela professora Fernanda como um reforço para o interesse dos alunos nas aulas de

matemática.

Eu uso jogos, porque acho que assim eles se sentem mais estimulados. O, estímulo de um jogo faz com que a atividade possa fluir na hora. Eles querem participar, ficam mais interessados na aula. Sempre que possível eu costumo jogar com eles porque a aula fica mais dinâmica, a aula fica mais gostosa, (Professora Fernanda - 5° ano)

26

Além da interação entre os alunos, existe na atividade do jogo dentro da sala de aula a

intervenção sistemática da professora como aponta a Professora Simone 1° ano:

Eu fico sempre observando o que eles estão fazendo, fico andando pela sala, passando de carteira em carteira, de grupo em grupo, questiono sobre o que eles estão achando do jogo. Isso é importante porque a gente obtém cada resposta interessante deles, você precisa ver, como eles são espertos e se interessam pelos jogos. Geralmente eu deixo eles ficarem em rodas de quatro e cinco dependendo da quantidade de aluno que eu tenho na sala. Tem aluno que nem precisa da nossa intervenção, já outros precisam que expliquemos de novo como brincar e qual a finalidade do jogo e, também geralmente esses alunos questionam muito, então é importante sempre ficarmos atentos as suas dúvidas e saná-las para que eles saibam exatamente o que estão fazendo e porque estão fazendo, e durante o jogo ficar observando constantemente para poder ajudá-los.

A fala dessa professora aponta para uma questão importante para pensarmos sobre a

utilização dos jogos no espaço escolar: a intervenção de um adulto. O jogo, não é algo inato,

mas aprendido pelas crianças. Por isso ao utilizar o jogo em sala de aula, a presença e

intervenção do professor ou de um parceiro mais experiente contribui para o desenvolvimento

e aprendizado das crianças, como propõe Vygotsky :

Um aspecto essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona de desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento da criança. (2008, p. 117-118)

Com relação ao conteúdo de matemática uma das professoras afirma que utiliza jogos

para trabalhar contagem, soma e subtração, por exemplo, sem que os alunos percebam essa

atividade como trabalhosa e desgastante.

O jogo vai estimular a participação né, dependendo do jogo eles têm interesses eles querem participar e você vai estar trabalhando acima de tudo a matemática de forma mais divertida. De um jeito simples dá para trabalhar a contagem com os palitinhos, as varetas, soma e subtração, e eles estão jogando numa boa ali, entendeu? Achando que só estão brincando, quando na verdade você está incluindo conceitos importantes para eles, com uma atividade simples de jogo. (Professora Michele - 4° ano)

Apesar das professoras relatarem sobre a importância de trabalhar com jogos, não temos

dados suficientes que comprovem a frequência com que esse trabalho ocorra dentro da escola,

contudo temos elementos que nos permitem fazer uma reflexão sobre a maneira que as

27

professoras concebem a atividade de jogo nos espaços escolares, atentando para o fato de que

elas relatam as várias formas e tentativas, ainda que esporádicas, de utilização de atividades

com jogos em suas práticas pedagógicas.

A coordenadora pedagógica justifica que é importante o trabalho com jogos, contudo ela

reconhece que quando ela chegou à escola, a questão dos jogos estava abandonada, até o

começo desse ano estava bem precária. Preocupada com isso ela afirma que buscou formas de

motivar as professoras. Vanessa deixa claro que:

Se o professor disser que não trabalha com jogos hoje porque não tem subsídios, eu digo que não é verdade, não trabalha porque não quer, essa sala foi para motivá-las ainda mais a trabalharem com jogos abri um espaço para melhor serem aplicados, quando soube que sairia a verba disponibilizada pelo governo federal que vem para prefeitura de Osasco que é repassada para as escolas que chamamos de verba de subversão reuni todos os professores na ATPC para fazermos juntas uma lista dos jogos que elas achavam interessante ter para se trabalhar com as crianças, juntamente com materiais que elas estavam precisando e eu também trouxe jogos que acredito serem importantes para o desenvolvimento da criança.(Vanessa, Coordenadora Pedagógica).

A coordenadora ainda acrescenta que além de consultar as professoras sobre o que elas

querem e o que a estão precisando, fez uma cotação para poder comprar todo esse material.

Com isso percebemos que todo esse trabalho que foi realizado para implementação da sala de

jogos foi feito de forma coletiva incluindo a opinião pais.

O Jogo na escola: brincadeira ou coisa séria?

As interações entre as crianças por intermédio do jogo proporcionam a socialização, troca

de experiências, e promovem sentido de cooperação, possibilidades de reconhecimento das

dificuldades do outro, assim como pode melhorar a visão grupal. Segundo Brougerè (1996), o

conceito de jogo assim como as formas de se compreender a infância é construído pela

cultura. Desta forma, jogar e aprender podem ser compreendidos como conceitos antagônicos

ou contrários. As falas das professoras revelam uma dificuldade em compreender o jogo como

uma atividade fundamental ao trabalho pedagógico.

Muitas vezes, eu percebo que eles não conseguem fazer a ligação da aula de jogos com o tema que estamos estudando, e que o jogo está subsidiando conceitos importantes tanto quanto os que os livros trazem, os jogos ajudam a gente a trabalhar gráficos , tabelas ou uma situação problema. Eles não percebem isso, que os jogos tem essa funcionalidade e não só a brincadeira em si. O aluno pensa somente em quem vai ganhar, ele entende só o desafio do jogo, os conceitos eles têm dificuldade de entender, a proposta em si, de usar o raciocínio desenvolver habilidades de pensar isso eles não fazem essa ponte entre o jogo e os conceitos de matemática, não fazem. (Professora Susi 3° ano)

28

Outra leitura que podemos fazer sobre essa questão, é que às vezes, a dificuldade em

fazer a ponte entre o jogo e o conhecimento que se está tentando passar para o aluno é uma

dificuldade da própria professora:

(...) Tem um pequeno porém, eles acham que estão brincando, eles nunca veem como um aprendizado né, se você colocar no roteiro do dia, duas aulas de matemática e nessa duas aulas você colocar jogos, eles vão perguntar professora e a aula de matemática? não vai ter hoje? vai ser jogo? Eles não associam o jogo como um aprendizado, eles não conseguem entender que ali jogando, brincando eles também estão aprendendo, isso é uma ideia muito vaga que precisa ser construída com eles, porque na nossa cultura brincar é brincar eles acham que só estão aprendendo se estiver escrevendo, fazendo alguma coisa. (Michele -4o. ano)

Nesse sentido, essa fala da professora Michele demonstra uma dificuldade em fazer a

ligação entre os jogos que ela oferece para as crianças e o conteúdo de matemática que ela se

propõe a ensinar. Por isso culpa os alunos de não compreender os temas estudados e suas

relações com a brincadeira. Não cabe aos alunos compreender quais conhecimentos ou quais

conceitos estão inseridos na atividade do jogo. Segundo Morbach (2012)

A concepção dos professores em relação ao jogo e à Matemática se fundamentam por conceitos antagônicos, pois para eles, antes da realização da experiência em sala de aula, o jogo é brincadeira, enquanto que a Matemática é formal e precisa de raciocínio; como consequência desta concepção, os professores apresentaram dificuldade em planejar os jogos, em organizar o tempo de jogo e trabalhar com a diversidade de conhecimento matemático dos estudantes; mas por outro lado, eles concebem que o jogo pode ser desafiante aos estudantes, pode promover a aprendizagem da Matemática e favorecer a interação e a troca entre os estudantes. (Morbach, 2012 p.06)

Outra professora que admite que se sente incapaz de utilizar os jogos na sua aula

também acaba achando uma explicação na falta de limites ou indisciplina dos alunos. Ainda

que ela considere o jogar como uma atividade que pode tornar a aula mais interessante para os

alunos ela revela uma dificuldade em lidar com aplicação de jogos e demonstra consciência

de que isso afeta negativamente o aprendizado dos seus alunos.

(...) as crianças de hoje não tem limite, então o jogo deixa de ser um aprendizado, para tornar-se uma brincadeira, entendeu? Então fica difícil trabalhar dentro de uma sala de aula, diria que fica impossível por eles não terem limite, então como é que você vai trabalhar jogos, não dá, simplesmente não dá, pelo menos, para mim, porque não consigo fazer nem uma coisa nem outra. Acaba ficando uma aula sem sentido e desgastante tanto para mim quanto para o aluno, por falta de material, por falta de limites, por ter que dividir a sala, por uma serie de fatores que acaba te prejudicando a dar uma aula diferente. Então, fica difícil, eu fico até

29

frustrada, mas fazer o que? É a realidade que a gente vive dentro da escola. (Professora Susi - 3o. ano)

Outra professora considera que as crianças gostam de jogar, mas vê como empecilho

o fato dela não poder cumprir com a totalidade do conteúdo previsto em seu planejamento:

Só que a gente não pode dar jogo direto, nem todo dia, porque senão, não conseguimos cumprir o calendário escolar e os assuntos que temos que trabalhar em sala, mais jogos para eles são uma novidade e eles amam mesmo assim, participam bastante da aula, ficam mais concentrados é um recurso valioso para qualquer professor. Jogar é ótimo. (Professora Simone 1o. ano)

A burocracia presente na escola, à cobrança em torno do cumprimento de calendários

com datas específicas e conteúdos que devem ser necessariamente trabalhados com os alunos,

dificulta a possibilidade de criação de espaços mais prazerosos de aprendizagem. Assim,

podemos dizer que os jogos, muitas vezes, aparecem como algo que vai além dos conteúdos

escolares e descolados desses conteúdos. Isso pode ser constatado na fala da professora

Simone, que desconsidera o jogo como mais um recurso para auxilia-la no cumprimento desse

planejamento escolar.

No relato da coordenadora ela deixa claro que tem uma visão do jogo na prática

educativa como uma atividade extremamente seria. Em vários momentos da entrevista ela

relaciona a utilização de vários jogos com conteúdos específicos, explicando como o

educador pode trabalhar ludicamente com suas crianças. Isso fica explicito na seguinte fala:

Eu acho que os jogos você pode trabalhar em todas as áreas, na matemática, na língua portuguesa, na ciência dentro da criação do mundo, em tudo podemos trabalhar com jogos. Não só em um conteúdo especifico um exemplo eu vou trabalhar uma atividade de matemática usando o dado como um auxiliar na contagem até 6, depois eu posso sugerir para os alunos escreverem como foi essa experiência e a partir disso trabalhar a linguagem, fazer ela relacionar a bolinha do dado ao número, eu posso trabalhar também com o dominó e também trabalhar a linguagem matemática e sugerir para os alunos descreverem o que eles vivenciaram, com dominó também pode- se trabalhar as cores e o tamanho de um dominó pequeno de um dominó grande as diferenças e eu posso direcionar isso tanto para a linguagem matemática como a língua portuguesa. (Vanessa, coordenadora pedagógica).

30

Considerações Finais

Após estudos teóricos podemos constatar que diversos autores da área da educação,

assim como os do ensino da matemática, mais especificamente, ressaltam a importância da

utilização de jogos nos espaços escolares, como instrumento importante no processo de

ensino-aprendizagem. Ressaltam também que o jogo como atividade pedagógica pode

contribuir para estimular o interesse da criança em aprender e também facilitar seu

aprendizado diante de algumas dificuldades que a matemática pode oferecer.

Já foi comprovado que quando a criança joga desenvolve algumas habilidades como

concentração e raciocínio, além disso, a atividade do jogo oferece possibilidades para a

construção de um individuo mais reflexivo e confiante nas próprias situações desafiadoras.

Dessa forma, vale ressaltar que se faz é importante o uso de jogos nos espaços de

aprendizagem, principalmente nas aulas de matemática, contudo é necessário que o professor

faça um planejamento adequado sobre como irá realizar a atividade com esse recurso levando

em consideração a potencialidade educativa que o jogo apresenta e o aspecto curricular que se

deseja desenvolver.

Outra questão que se mostra relevante é que no momento em que a criança está jogando

é essencial que o professor faça intervenções que auxiliem no processo de construção de

conhecimentos sobre os conceitos matemáticos. Assim, como também de propiciar um

ambiente agradável, desafiador e estimulante ao desenvolvimento da aprendizagem

matemática.

Diante de tudo que já foi discutido este estudo trouxe alguns dados que refletem a

realidade de uma escola pública específica da cidade de Osasco e a concepção de alguns

professores sobre o uso de jogos nos espaços da sala de aula, principalmente no ensino da

matemática. Contudo, os dados aqui descritos sobre como esses educadores concebem a

atividade do jogo na escola, estão longe de ser generalizados como algo que ocorra em todas

as escolas públicas. Os dados de nossa investigação apenas sugerem, ou dão algumas pistas

sobre como essas educadoras compreendem o jogar na escola, revelando, portanto, as

dificuldades encontradas por elas ao lidarem com tal temática e com tal recurso no contexto

escolar.

A análise dos relatos das professoras nos aponta para a falta de uma formação inicial e

continuada que possa contemplar a importância de se trabalhar com o jogo no espaço da sala

de aula e de desconstruir uma visão equivocada sobre o próprio conceito de jogar e aprender.

31

A pesquisa nos mostrou a dura realidade de professores de uma escola pública que, por conta

de trabalharem com um número elevado de crianças e com escassos recursos materiais,

acabam por viverem em constante descontentamento e falta de motivação para a criação de

espaços mais prazerosos de aprendizagem.

Esse trabalho não teve como meta trazer uma resposta fechada sobre o assunto, mas

buscou apontar para uma reflexão importante para o tema que se refere à concepção de

professores sobre formas de ensinar e aprender, o que inevitavelmente tem um reflexo nos

vários modos de formação continuada necessários a vida profissional dessas educadoras.

Uma questão relevante observada no inicio deste trabalho, quando entrevistamos as

professoras foi à necessidade efetiva de implementação de sala de jogos e materiais didáticos

apropriados para o ensino matemático na escola pública que atende as séries iniciais de

ensino. Naquele momento constatamos que a escola tinha uma carência de recursos lúdicos

que pudessem auxiliar o professor no processo de construção do conhecimento do aluno, uma

vez que os jogos estavam incompletos e em números reduzidos dificultando o seu uso na sala

de aula e em qualquer outro espaço. Quando voltamos à escola para a entrevista com a

coordenadora pudemos perceber depois de um curto espaço de tempo que nova realidade se

fazia presente naquele espaço principalmente com relação à sala de jogos e a quantidade de

materiais lúdicos disponíveis para o trabalho das professoras.

Foi possível verificar com essa pesquisa que as professoras utilizam os jogos como um

auxilio na aprendizagem dos alunos, porém os dados evidenciam que as aulas precisam ser

melhor planejadas e, que as atividades com jogos possam de fato ter um objetivo e não ser

apenas usadas como algo para se passar o tempo, sem um propósito definido. Entretanto

contato com a coordenadora nos mostrou que há uma preocupação nesse sentido incluindo um

trabalho efetivo nas reuniões de ATPC, (Aulas de trabalhos pedagógicos coletivos) com a

leitura e discussão de textos sobre o assunto, quando elas discutiram as questões da orientação

curricular sobre o novo olhar para o ensino referente à concepção construtivista de ensino

aprendizagem, incluindo a troca de ideias e de atividades entre professoras que passaram por

curso de formação, embora a coordenadora esteja cinco anos na escola ainda é aparente uma

resistência das professoras em querer mudar a concepção de ensino, focando-se ainda muito

no ensino tradicionalista. No entanto em alguns momentos deixa transparecer que a

coordenadora pedagógica possui um conhecimento teórico extenso, contudo ainda demonstra

uma falta de habilidade para aproximar as educadoras a uma concepção de ensino mais

construtivista.

32

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ANEXOS

Roteiro de entrevista

Dados pessoais

Idade:

Formação:

Tempo no magistério:

1- Qual a disciplina na qual você acredita que a maioria dos alunos tenha maior

dificuldade em aprender? Por quê?

2- Você acredita que os jogos são instrumentos importantes para aprendizagem dos

alunos por quê?

3- Você tem facilidade em ensinar matemática? Como ensina?

4- Você já usou jogos em suas aulas? Quais jogos? Em que matérias?

5- E na matemática, você já usou jogos?

6- Em que momentos da aula?

7- Com que objetivos?

8- Como os alunos se organizam para jogar?

9- Qual a sua participação durante a realização dos jogos?

10- Como você definiria um jogo de regras? Por quê?

11- Quais jogos de regras você conhece? Quais jogos de regras você usa em suas aulas?

12- Que jogos de aprendizagem voltados para o ensino de matemática a escola dispõe?

13- No ensino de matemática, você acha que os jogos tecnológicos podem fazer com que

os alunos obtenham um nível de aprendizagem maior do que com os jogos utilizados

nas aulas tradicionais? Por quê?

14- Como as crianças reagem na utilização de jogos nas aulas de matemática?

15- Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

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Entrevista 1

Idade: 39 anos –Fernanda.

Formação:Magistério (CEFAM), Pedagogia e Pós em Psicopedagogia

Tempo no magistério: 16 anos

Ano que Leciona: 5 ano

Entrevistadora: Qual disciplina que você acredita que a maioria dos alunos tenha

maior dificuldade em aprender? Por quê?

Professora: Olha, eu acredito que seja a matemática, porque eles têm pouco contato com o

conteúdo eles assim, a vivência deles pouca em relação ao que a gente está pedindo na escola

devia ter uma maior relação entre a vivência com que se pede do conteúdo da escola, está

muito distante essa relação.

Entrevistadora: Você acredita que os jogos são instrumentos importantes para

aprendizagem dos alunos? Por quê?

Professora: Muito importante, porque eles se sentem mais estimulados né, o estímulo

assim fluem na hora, eles querem participar, eles ficam mais interessados na aula, sempre

que possível eu costumo jogar com eles porque a aula fica mais dinâmica, a aula fica mais

gostosa, porém nem sempre a gente pode ficar aplicando jogos, porque o tanto de

conteúdo que a gente tem que está dando, por conta do número de alunos que a gente tem

na sala isso é complicador, também se eu ficar dando jogo sempre as mães reclama,

porque elas acham que jogo é brincadeira e que não ensina nada, o que não é verdade, e os

alunos também ficam perguntando para mim se não vou dar aula de matemática quando

na verdade eu estou dando a aula só que com o jogo isso é um complicador.

Entrevistadora: Você tem facilidade em ensinar matemática? Como ensina?

Professora: Tenho facilidade eu procuro sempre abordar o que eles já sabem o que eles

já conhecem e partir desse começo, eles sempre assim, sempre na sua sala você vai ter uma

variedade de alunos um sempre ouvi falar um conhece um ajuda outro, então é desse princípio

que sempre estou partindo, gosto também de trabalhar bastante com gráficos, coletas de

dados, recorte, material dourado e com figuras geométricas.

Entrevistadora: Você já usou jogos em suas aulas? Quais?

Professora: Sim, jogos simples assim, que dá para gente ta fazendo com cartolina para ver a

tabuada, que hoje em dia a tabuada zero, então só através de jogo mesmo, material dourado

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esses jogos com tabuada, dominó, mesmo na informática nos temos jogos que ajuda bastante

o raciocínio lógico esse tipo de jogo.

Entrevistadora: Em que matérias?

Professora: Matemática, Língua Portuguesa, Ciências, também a gente leva os bonecos com

os órgãos tal, assim, a gente tenta trazer o máximo possível que a gente ver que é da onde

parte o interesse da criança.

Entrevistadora: Em que momentos da aula você aplica jogos? E com qual objetivo?

Professora: O objetivo é sempre que aprendizado flua da melhor forma possível, mas não é

sempre que a gente está dando não, umas três vezes por semana, quando dá para acontecer.

Entrevistadora:Como os alunos se organizam para jogar?

Professora: é uma luta porque todos querem jogar todos querem participar ao mesmo tempo

ai, a gente tem que né determinar, primeiro, todos, primeiro assim, tem que está bem claro

que todos vão jogar se não a ansiedade é tão grande que acaba virando tumulto e bagunça

mas, assim tem que dá oportunidade para que todos joguem.

Entrevistadora: Você organiza em grupo?

Professora: Na maioria das vezes porque fica mais fácil né, para você controlar para que eles

troquem experiências também, então na maioria das vezes é em grupo.

Entrevistadora: Qual sua participação durante a realização dos jogos?

Professora:Ah, eu tento, como se diz, colocar muito adrenalina neles, para que eles, assim, a

participação e na hora de competividade para que eles possam competir, para que eles

queiram ganhar, para que eles se sintam estimulados, em fazer, fazer rápido sempre com

objetivo de aprendizado.

Entrevistadora: Cita o nome para mim de alguns jogos que você costuma aplicar na

matemática.

Professora: Então, jogos sobre tabuada né, contas, operações fundamentais a gente escolhe o

casal vai, na lousa quem consegue fazer primeiro e mais rápido e o jogo de batalha naval.

Entrevistadora: Você já aplicou o jogo da Batalha?

Professora:Não, conheço

Entrevistadora: E o tapão

Professora: Também não, nunca ouvi falar.

Entrevistadora: Como você definiria um jogo de regras? Por quê?

Professora: Um jogo de regras?

Entrevistadora: Sim

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Professora: bom, jogo de regra, primeiro momento você tem esclarecer as regras para os

alunos, eles têm que antes de jogar, que elas possam estar bem esclarecidas, para que eles

consigam até mesmo jogar, é bom porque eles vão se delimitando vão sabendo o que pode,

o que não pode, como, porque, que horas, quem é o próximo, vão está se respeitando né.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você conhece?

Professora: hum!Vamos lá, ai pode ser a diversidade?

Entrevistadora: Sim

Professora:ah vários né, dominó, o que a gente mais aplica né, dominó, jogo da memória,

peça de tabuleiro, aquele como a gente faz igual psicotécnico de sequência, jogos de

batalha naval, as cruzadinhas que tem que ser até onde eles sabem, não podem pegar

palavras a mais, tem que ser aquelas que você determinar e vários outros ai tem um leque.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você costuma usar em suas aulas?

Professora: Bom, a gente esta sempre, assim, buscando algo que tenha a ver com conteúdo,

né, a gente não pode está fugindo, porque tem que ter um objetivo, certo então vai de

acordo com o conteúdo do momento.

Entrevistadora: Para você qual a importância dos jogos na aula de matemática?

Professora: Bastante importante, porque como nos professores estamos assim, escassos em

recursos, né é uma escassez total, geral então o jogo estimula a criança é importante porque

uma criança que ela não tem estímulo você não consegue atingir ela né, e esse estímulo

para nos é bastante complicado visto que nossos recursos são bem complicados, nossa

escola não tem um apanhado de jogos, então fica bastante restrito, o ensino com jogos e

agente não tem muito que está oportunizando para eles.

Entrevistadora: Que jogos de aprendizagem voltados para o ensino da matemática a

escola dispõe?

Professora: Olha, eu diria que a escola não tem muito, mas o que ela disponibiliza para uso

são material dourado de barras né, jogo da memória e trilhas, mas infelizmente alguns

estão faltando peças, estão incompleto, então você não consegue fazer grupo com os

alunos, ai nem sempre você consegue atingir o que você queria. Muitas vezes é o professor

que tem que comprar se quiser dar uma aula diferente para o aluno.

Entrevistadora:No ensino de matemática, você acha que os jogos tecnológicos podem

fazer com que os alunos obtenham um nível de aprendizagem maior do que com os

jogos tradicionais? Por quê?

Professora: Não, acho que os tecnológicos e os tradicionais ambos tem sua importância

uma coisa não elimina outra, acredito que um é complemento do outro.

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Entrevistadora: Como as crianças reagem na utilização de jogos nas aulas de

matemática?

Professora: bom, é outra aula, assim, tem um pequeno, porém, eles acham que estão

brincando, eles nunca veem como um aprendizado né, se você colocar no roteiro do dia,

duas aulas de matemática e nessa duas aulas você colocar jogos, eles vão perguntar

.professora e a aula de matemática? Não vai ter hoje? Vai ser jogo? Eles não associam o

jogo como um aprendizado, eles não conseguem entender que ali jogando, brincando, eles

também estão aprendendo, isso é uma ideia muito vaga que precisa ser construída com

eles, porque na nossa cultura brincar é brincar; eles acham que só estão aprendendo se

estiverem escrevendo, fazendo alguma coisa.

Entrevistadora: Gostaria de acrescentar mais alguma coisa que ache importante em

relação ao jogo matemático?

Professora: Sim, os professores, deveriam ter capacitação, jogos diversos disponíveis para

trabalharem com os alunos, poder fazer cursos, relacionados a jogos e brincadeiras tudo

para a gente melhorar nossa prática, nossas aulas, tirando os jogos que nos temos

disponíveis para-nos, a gente professor que tem que ficar confeccionando jogos, e nós não

temos tempo hábil para fazer isso né, seria bom sim se tivéssemos mais recursos, mais

jogos a disposição, mais pessoas preparadas para dar cursos de aperfeiçoamento seria de

valia para os próprios alunos para mim é isso.

Entrevista 2

Idade: 40 anos - Carolina

Formação: Pedagogia

Tempo no magistério: 28 anos

Ano que Leciona: 2 ano

Entrevistadora: Qual disciplina que você acredita que a maioria dos alunos tenha

maior dificuldade em aprender? Por quê?

Professora: Para mim língua portuguesa e depois matemática, língua portuguesa porque

eles não conseguem associarem o som a letra, a letra a palavra entendeu, eles precisam de

uma maior atenção à matemática eu acho mais fácil embora eles não reconheçam os números

ainda, por exemplo, você fala para eles quanto é 30 eles não sabem tem dificuldade ainda.

40

Entrevistadora: Você acredita que os jogos são instrumentos importantes para

aprendizagem dos alunos? Por quê?

Professora: Eu acho que sim, porque o jogo vai estimular a participação né,

dependendo do jogo eles têm interesses eles querem participar e você vai estar

trabalhando acima de tudo a matemática de forma mais divertida, de um jeito simples dá

para trabalhar a contagem com os palitinhos, as varetas, soma a subtração, e eles estão

jogando numa boa ali, entendeu, achando que só estão brincando quando na verdade você

está incluindo conceitos ali para eles na hora que você dá um jogo para eles.

Entrevistadora: Você tem facilidade em ensinar matemática? Como ensina?

Professora: Através do concreto, segundo ano ainda é bastante o concreto, eles têm

necessidade de manipular então eu dou bastante palitinho de soverte, tampinha de garrafas,

porque eles ainda estão bem nessa fase de aprender a manipular.

Entrevistadora: Você já usou jogos em suas aulas? Quais?

Professora: Sim, jogos de dados, trilha, deixa eu ver qual outro, dados porque você vai

acrescentar tirar eu estava trabalhando a soma e a subtração acho que são esses mesmos por

enquanto. O tempo nosso é muito curto para dar sempre jogos.

Entrevistadora: Em que matérias?

Professora: Ah! Língua portuguesa dá para trabalhar jogos eu costumo dar bingo da letras eles

gostam bastante também dou o stop , em matemática eu dou o jogo da velha para eles

acharem a soma do números por exemplo, o aluno põe dois o outro cinco qual o próximo

número a para ser colocado ali , entendeu, ciências eu levo o boneco do corpo humano para a

sala e nos montamos os órgãos que eu me lembre agora são só nessas matérias que eu

costumo trabalhar jogos, embora todas as matérias tem um jogo que cabe.

Entrevistadora: Em que momentos da aula você aplica jogos? E com qual objetivo?

Professora: Ás vezes, no momento que eles estão mais livres, já fizeram todas as atividades,

né, ai você dá um jogo para eles darem uma relaxada, é um momento que eles estão em

turma, mais a vontade e tem também o que você quer introduzir com o jogo, você quer

introduzir um tema novo ai você vai e escolhe um jogo de acordo com aquele assunto, ou para

dar um reforço em algo que não ficou claro para eles,que eles tiveram dificuldade ai você usa

o jogo para tentar ajudar e aplica nesse tempo livre que eles tem entendeu.

Entrevistadora:Como os alunos se organizam para jogar?

Professora: ah! Eu deixo eles escolherem as duplas que eles querem, quem vai começar,quem

são os grupos com quem eles querem jogar ou ás vezes eu arrumo dependendo daquilo que eu

quero eu arrumo de acordo com que cada um sabe entendeu, porque tem aquele que tem mais

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facilidade, sabe um pouco mais, então eu uso isso como critério para dividir em grupo ou em

dupla com aquele que sabe menos com o que sabe mais para um ajudar o outro, mas na

maioria das vezes eu deixo eles tomarem as decisões, né.

Entrevistadora: Você organiza em grupo?

Professora: Sim, eu até prefiro mais em grupo, dependendo do meu objetivo, porque eles

podem trocar mais ideia, se ajudarem melhor, em dupla fica muito restrito essa troca, não que

não haja, mais em grupo acredito que seja muito melhor.

Entrevistadora: Qual sua participação durante a realização dos jogos?

Professora: Primeiro eu oriento depois eu fico passando entre as mesas para ver se não surgiu

nenhuma ideia nova, porque de repente surge, ai você explica para sala a ideia que aquele

grupo descobriu também ás vezes eles podem fazer do jogo, algo diferente entendeu, daquilo

que você explicou, tem isso, ai você fica atenta para ver se isso está acontecendo, se eles estão

fazendo o que é para ser feito, interferir quando for necessário.

Entrevistadora: Cita nome para mim de alguns jogos que você costuma aplicar na

matemática.

Professora: Olha jogos de dados podem ser muito bom, por ser uma coisa bem simples que

eles conhecem, tem varetas também que eu costumo dar bastante, olha não tem muitos jogos

assim, tem o jogo da velha, também, o da memória, e o dominó todos esses assim, a escola

deixa muito a desejar. Se nos queremos dar uma aula diferente né nos que muitas vezes temos

que comprar algum jogo, ou então inventar um na sala com eles.

Entrevistadora: Como você definiria um jogo de regras? Por quê?

Professora: Como eu definiria um jogo de regras?

Entrevistadora: Isso

Professora: Todo jogo tem regras não tem?

Entrevistadora:Sim

Professora: Então, primeiro você tem que saber como você vai jogar, eles também tem que

saber que aquele jogo também tem regras a ser cumpridas, o que eles podem usar, o que

não, porque sempre tento explicar as razões de porque estamos jogando assim e não de

outro jeito, acho isso importante direcionar né eles, sempre deixo claro que todo jogo tem

uma regra eles tem que saber disso.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você conhece?

Professora: Ai! São tantos, dama, banco imobiliário, que tem o número de participantes,

queimada que eles fazem na educação física, caça ao tesouro que eu fiz com eles o ano

passado. Ai agora que vieram na minha cabeça foi só esses mesmos.

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Entrevistadora: Quais jogos de regras você costuma usar em suas aulas?

Professora: Oh! Que eu costumo usar é o dominó, jogos que eles trazem de casa como o

banco imobiliário a gente jogou outro dia, jogo da memória, caça palavras, ah! A gente não

tem muito na escola para dar para eles, outro dia jogamos vira letras que um aluno trouxe

da estrela, mas eu mesmo costumo dar dominó, bingo das letras, stop, que são o que temos

nas mãos e esses diferentes são eles que trazem.

Entrevistadora: Para você qual a importância dos jogos na aula de matemática?

Professora: Olha para mim, ajuda bastante porque os alunos ficam mais atentos na aula,

estimula o raciocínio lógico deles, eles ficam mais relaxados na aula é importante para o

estímulo mesmo deles, também a aula fica mais descontraída e até mais interessante tanto

para mim quanto para eles.

Entrevistadora: Que jogos de aprendizagem voltados para o ensino da matemática a

escola dispõe?

Professora: Bom, aqui, assim, não é jogo mas, para o segundo ano eles dispõem daqueles

números grandes que você pode colocar no chão e trabalhar soma, adição subtração,

multiplicação as quatro operações fundamentais da matemática com a quantidade eu diria

ao certo, e os jogos tradicionais né, dominó, jogo da memória, mas, muitos estão faltando

peças, ou estão incompletos, então muitas vezes ficamos impossibilitados de usar sempre,

por conta da ausência de peças. Então o que eu faço eu peço para os alunos trazerem de

casa e marcamos o dia que vai ser a aula com jogos e eu estabeleço as pessoas que vão

trazer naquela semana né, e assim sucessivamente, porque eles trazendo de casa eles têm

interesse em jogar, além disso, como eu falei a escola não tem recurso para jogos e muito

menos variedades e os alunos têm, então fica mais fácil de trabalhar com eles assim, cada

semana alguns deles trazem jogos entendeu, ai fica legal porque ai tem uma variedade de

jogos que a turma nunca jogou então eu apresento para eles, falo do objetivo do jogo né, e

eles se interessam.

Entrevistadora:No ensino de matemática, você acha que os jogos tecnológicos podem

fazer com que os alunos obtenham um nível de aprendizagem maior do que com os

jogos tradicionais? Por quê?

Professora: Olha, eu acredito que não, embora os jogos tecnológicos façam com que eles

fiquem mais concentrados por conta do visual, da musica do jogo, por conta de alguns

recursos que o jogo tecnológicos oferecem, também não acho que o tradicional não ofereça

nada, oferece sim o desenvolvimento da linguagem tanto portuguesa quanto matemática,

acredito que os dois colaboram de alguma forma para o aprendizado deles, só que o

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tecnológico torna-se um jogo muito solitário né. Já o tradicional não, existe aquele espírito

de equipe, o trabalhar em grupo. Isso o tecnológico deixa a desejar, mas, não existe aquele

mais importante do que outro, como eu falei um dá para você compartilhar o tecnológico

não, só um joga o outro não, na aula de informática eu não faço dupla para jogar porque

cada um quer jogar uma coisa diferente então fica difícil já com o jogo tradicional eu

consigo fazer isso, trabalhar a socialização explicar para o aluno esperar sua vez, no

computador é ele e ele somente.

Entrevistadora: Como as crianças reagem na utilização de jogos nas aulas de

matemática?

Professora: Ah! Elas gostam muito, eu diria que é a aula que eles mais participam se

interessam, porque eles discutem, trocam experiências dos jogos, falam que mais gostaram,

se expõem mais, obedecem, ficam mais tranquilos, relaxados, a aula acontece de uma

forma mais prazerosa né eu diria.

Entrevistadora: Gostaria de acrescentar mais alguma coisa que ache importante em

relação ao jogo matemático?

Professora: Que eu acho importante assim, é que através daquele jogo que você propõe o

aluno aprende coisas novas, descobre coisas que você jamais pudesse imaginar como

trabalhar com aquele jogo de outro jeito, ah! Fora isso o jogo é algo gostoso de trabalhar

com eles, eles se encantam ficam mais espertos rápidos na hora de fazer a lição, o jogo

sempre acrescenta alguma coisa claro que a gente não pode modificá-lo por conta que

todo jogo tem uma regra, mas nos podemos criar com eles outro tipos de jogos, baseando

naquilo que eles já sabem também, e fazer outro jogos para usarmos na sala no nosso dia a

dia. Acho que é isso.

Entrevista 3

Idade: 45 anos -Michele

Formação: Pedagogia e Magistério (CEFAM)

Tempo no magistério: 25 anos

Ano que Leciona: 4 ano

Entrevistadora: Qual disciplina que você acredita que a maioria dos alunos tenha

maior dificuldade em aprender? Por quê?

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Professora: Matemática, porque eles não assimilam a prática da vida com a matemática

em si, né, as situações que a gente passa na vida cotidiana, tudo envolve a matemática, e eles

não fazem essa associação, não fazem, fica uma coisa assim vaga, a matemática torna-se uma

matéria muito abstrata na concepção deles, então eu acho que isso é minha maior dificuldade,

fazer eles associarem a matemática com a vida.

Entrevistadora: Você acredita que os jogos são instrumentos importantes para

aprendizagem dos alunos? Por quê?

Professora: Sim, porque eu acho que eles aprendem muito, como primeira coisa o

raciocínio lógico, estratégias, o trabalho em equipe né, acho que o pensamento né, acho

que cada desafio que existe no jogo, porque cada jogo tem um desafio né, o bom disso é

eles enfrentarem esse desafio, e tentar sempre arrumar novas estratégias, para estar

vencendo isso, esses desafios em equipe coisa que aluno tem muita dificuldade né em

fazer a parceria.

Entrevistadora: Você tem facilidade em ensinar matemática? Como ensina?

Professora: Tenho facilidade, sim, procuro trazer para vida prática, né, sempre, então

assim, porque ás vezes os alunos pensam que matemática é uma coisa muito difícil, por já

ouvirem isso de pessoas que more com ele, talvez por não ter tido uma experiência associada

a vida como por exemplo, eu explico para eles na feira usamos a matemática para comprar e

vender a gente tem que saber quanto vamos gastar, quanto vai sobrar, na verdade a

matemática não é difícil tudo está relacionada com a vida prática quando vamos ao

supermercado, olhamos os preços comparamos isso faz parte da vida e a matemática é uma

linguagem que lhe damos com ela todos os dias, só que os alunos não entendem isso, até

simulação de que estávamos em uma feira eu já fiz na minha aula, já levei eles no

supermercado e trabalhei os preços, o peso dos alimentos, os rótulos fizemos um projeto com

isso, matemática é viver, observar é contar, é emprestar né, é comprar é vender e tudo isso

está no nosso dia a dia, é medir, é o espaço é formas quando vamos construir por exemplo,

usamos a matemática para calcular os metros quadrados, tudo é a matemática, vai depender de

como você aborda né.

Entrevistadora: Você já usou jogos em suas aulas? Quais?

Professora: Sim, eu uso a hora do rush, mancala, dominó, jogos de cartas, ludo, dama, trilha e

até xadrez.

Entrevistadora: Em que matérias?

Professora: Bom, português, e matemática, porque eu acho prioridade né, porque quando o

aluno está trabalhando regras, a gente está explanando, explicando, ele está trabalhando a

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linguagem né, então não deixa de está trabalhando a língua portuguesa, como interpretar uma

tabela, a própria regra que vem escrita a caixa do jogo, para quantos anos, quantos

participantes, tudo isso é interpretação e acho que essas coisas se encaixam tanto em

matemática quanto em português.

Entrevistadora: Em que momentos da aula você aplica jogos? E com qual objetivo?

Professora: Olha, deveria ser mais que uma vez por semana, mas não dá, né, porque a

quantidade de matéria do quarto ano é extensa, é muito grande, e talvez eu ainda não conheça

jogos que possam, está substituindo alguns conteúdos né, possa ser que exista né, eu acho que

a gente também, tem muita dificuldade, uma dificuldade que eu tenho, não sei se só eu é de

trazer coisas diferentes, aplicar mais essa coisa do pensamento do jogo, do jogo simbólico, do

faz de conta, em outras matérias também, não só na matemática, gostaria, né de aplicar mais,

porém só consigo fazer isso uma vez por semana com objetivo de trabalhar mesmo a

concentração, a interação entre eles, o trabalho em equipe que eu acho importante acho que é

isso.

Entrevistadora:Como os alunos se organizam para jogar?

Professora: depende, tem jogos que eu dou que são para quatro participantes, tem outros que

eu faço dupla,quando não dá certo da própria turma se organizar, ai geralmente eu escolho os

grupos, as duplas, né, mas eu levo em consideração a afinidade o coleguismo e também a

questão de um ajudar o outro, só nesses caso eu intervenho fora isso deixo a turma bem a

vontade para quem vai fazer com quem, só depois que todos estão organizados eu começo a

falar sobre o jogo daquela aula, porque eu acho que são coisas que eles tem que saber, como

se organizar, tempo que vamos jogar, então eu não intervenho, embora ás vezes é necessário

quando um não quer fazer com outro ai você tem que fazer toda uma mudança na sala até

achar um grupo, ou uma desmanchar uma dupla, e isso acaba fazendo com que a gente perca

um tempão então por isso eu prefiro deixar, eles se organizarem exceto nesses casos que já te

falei.

Entrevistadora: Você organiza em grupo?

Professora: Organizo, sim, porque eu acho mais construtivo para eles mesmos, eles podem

discutir mais sobre o jogo, um fazer pergunta por outro, e nisso eles estão aprendendo coisas

novas, e descobrindo outras.

Entrevistadora: Qual sua participação durante a realização dos jogos?

Professora: Olha! Primeiramente eu procuro observar, perceber se eles realmente entenderam

a proposta daquele jogo, se eles estão obedecendo às regras do jogo, e depois, olho a

execução do jogo em si, não é fácil que o aluno entenda de cara um novo jogo quando é

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desconhecido por ele, embora têm alunos que entendem com mais facilidade do que outros,

então eles precisam geralmente de alguma ajuda, um apoio, e muitas aulas, talvez, para que

jogo seja introduzido e eles entendam, também, acaba um aluno ajudando o outro no

momento do jogo, as vezes uma dupla que não deu muito certo, mais um aprendeu bem,

então a gente troca, para ajudar a outra dupla que não aprendeu tão bem, entendeu, além do

mais, tem alunos que não obedecem, e fazem tudo completamente diferente do que você

pediu para eles fazerem né, então eu procuro está atenta nisso, porque se não, seu objetivo não

vai ser atingindo e você acaba ficando frustrada, porque poxa vida! Você preparou uma aula

super legal e de repente você se depara com aluno fazendo tudo diferente do que você quer é

muito difícil, é assim que a gente trabalha.

Entrevistadora: Cita nome para mim de alguns jogos que você costuma aplicar na

matemática.

Professora: É, então, monta dez, eles montam dezenas com esse jogo, eu inventei isso com

eles, dama também, costumo dar bastante, xadrez, dominó, jogos de dados, trilha que eles

adoram, que são jogos baratos né, mas que tem sua funcionalidade, são conhecidos e não tem

regras difíceis, ah! Não ser xadrez né, que é difícil desses que eu falei.

Entrevistadora: Como você definiria um jogo de regras? Por quê?

Professora: Um jogo de regra? eu acho que um jogo de regras é uma coisa que tem que ter

uma estratégia para começar, você tem que saber que se você não obedecer aquelas regras,

você não vai conseguir passar pelas etapas do jogo, eu acho que as regras serve para mostrar

que tudo na vida tem regras não só no jogo, tem regras quando você entra na escola, tem

regras quando você entra em um banco, quando você chega em um hospital, existem regras

estabelecidas e a serem seguidas e cumpridas. Então, se você não obedecem as regras que

esses lugares têm e você tenta pular algumas das etapas você terá problemas, assim é no jogo

também, entendeu.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você conhece?

Professora: Bom, eu conheço vários, mas que está na minha cabeça são mancala, que

embora não seja muito divulgado o mancala é uma troca de sementes, que quando você

atinge um determinado número, você tem que trocar né a semente, no caso redistribuir a

semente, é uma coisa meio complexa do aluno entender, a hora do rush também tem

regras, que os carros só andam para frente, e para trás, eles não podem sair de uma linha

reta e aluno vai vencendo cartas e etapas e vai do número um até o trinta só que conforme

eles vão pulando etapas as dificuldades vão só aumentando, eu uso esse jogo para

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trabalhar sequência numérica com eles, tem muitos jogos né com regras, mas eu estou

falando esses porque são os que eu mais uso com os meus alunos.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você costuma usar em suas aulas?

Professora: Ah! Esses né, mancala, a hora do rush, dama, ludo, xadrez, esses são os que eu

mais uso até o momento que eu me lembre até agora.

Entrevistadora: Para você qual a importância dos jogos na aula de matemática?

Professora: Fundamental, acho que o jogo, ele põe para alunos situações que ele tem que

usar o raciocínio, o pensar o ir e vir, vencer aqueles desafios, claro! Que cada jogo é

diferente e um não é a mesma coisa do outro, cada jogo trabalha uma habilidade diferente e

um desafio. A matemática é isso é vencer desafios quando você aplica uma situação

problema, muitas vezes o aluno tem dificuldade em executar, porque ele não se coloca

naquela situação de pensar em como vencer esse desafio, quanto mais a gente propuser

situações de pensar, de vencer desafios, de elaborar novas estratégias, você vai estar

facilitando o aprendizado da matemática.

Entrevistadora: Que jogos de aprendizagem voltados para o ensino da matemática a

escola dispõe?

Professora: Olha a escola em si, muito poucos, na verdade os jogos que eu uso são de um

curso que eu fiz de aperfeiçoamento no centro de formação de professores, lá eles

apresentaram várias maneiras de confeccionar jogos para os alunos, porque eles sabem que

a escola não dispõe de recursos, por serem muitas salas, muitos alunos, então o que a

escola na verdade dispõe são quebra cabeças, dominó, jogo da memória, mas quando você

vai pegar para usar estão faltando peças, outros estão misturados em outras caixas, então é

bem difícil, você usar jogos da escola, outra coisa a escola nem sempre dispõe de recurso

para estar adquirindo coisas novas, ou para repor as peças que já estão desgastadas, acho

que tudo isso contribui para um entravar as aulas, e outra coisa a escola não vê o jogo

como uma coisa obrigatória, por isso ela dar prioridade para outras coisas, como livros

temos uma biblioteca linda mas em relação a jogos pouco se fala é uma coisa que a escola

deixa de lado, não valoriza o que é muito chato.

Entrevistadora:No ensino de matemática, você acha que os jogos tecnológicos podem

fazer com que os alunos obtenham um nível de aprendizagem maior do que com os

jogos tradicionais? Por quê?

Professora: Para mim, com certeza o jogo tecnológico ajuda mais do que o tradicional,

primeiro porque a tecnologia já chegou para ficar, além do mais, os jogos tecnológicos tem

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mais recurso visual, auditivo, mas também se o aluno ficar muito só no computador ele vai

deixar de lado o convívio com os colegas né, a socialização que é importante, o jogo

tradicional ele traz resgate importante para aluno, como dominó tenho alunos que não

sabem o que é, muito menos como se joga, coisa que na minha época sabíamos de cor e

salteado como jogar, mas porque isso? Por conta da tecnologia, é muito mais conveniente

para o aluno o jogo tecnológico porque ele muda constantemente de jogo, tem mais

variedades em pouco tempo, mas acredito que os dois têm suas contribuições para o

aprendizado do aluno né, o jogo tecnológico também ele prende muito a atenção do aluno

eles gostam se interessam por isso, não que o tradicional não prenda, mais logo eles se

despertam embora a gente consiga fazer com que eles interajam nem que seja por um curto

período.

Entrevistadora: Como as crianças reagem na utilização de jogos nas aulas de

matemática?

Professora: Muitas vezes, eu percebo que eles não conseguem fazer a ligação da aula de

jogos com o tema que estamos estudando, e que o jogo está subsidiando conceitos

importantes tanto quanto os que os livros trazem, os jogos ajudam a gente a trabalhar

gráficos , tabelas né, uma situação problema, eles não percebem isso,que os jogos tem essa

funcionalidade e não só a brincadeira em si,o aluno pensa somente em quem vai ganhar,

ele entende só o desafio do jogo, os conceitos eles têm dificuldade de entender, a proposta

em si, de usar o raciocínio desenvolver habilidades de pensar isso eles não fazem essa

ponte entre o jogo e os conceitos de matemática, não fazem.

Entrevistadora: Gostaria de acrescentar mais alguma coisa que ache importante em

relação ao jogo matemático?

Professora: Eu acho que o jogo deveria ser uma coisa necessária e usada em todas as

matérias não só em matemática, por ser agradável para ambas as partes para nós

professores e para os alunos, também conseguimos melhor envolver os alunos em suas

aprendizagens é gostoso a matemática deixa de ser aquela coisa chata, a aula fica mais

bacana, dá para trabalharmos o registro pós-jogo o que eles aprenderam de novo, como foi

jogar tal jogo, é fazer eles pensarem, interagir isso é fundamental, para mim jogos é algo

fantástico para mim é isso.

49

Entrevista 4

Idade: 45 anos - Susi

Formação: Magistério (CEFAM) Pedagogia e Pós em Psicopedagogia

Tempo no magistério: 25 anos

Ano que Leciona: 3 ano

Entrevistadora: Qual disciplina que você acredita que a maioria dos alunos tenha

maior dificuldade em aprender? Por quê?

Professora: Acho que todas, mas em particular português por causa da interpretação

porque uma vez que você não sabe ler você não sabe interpretar e assim você não saberá nem

matemática porque como você vai interpretar um problema né? E assim por diante história,

geografia, ciências para mim português é mais necessário o aluno saber do que matemática

não que a matemática não seja importante é, mais português é mais ainda porque o aluno

sabendo ler e escrever automaticamente saberá outras matérias.

Entrevistadora: Você acredita que os jogos são instrumentos importantes para

aprendizagem dos alunos? Por quê?

Professora: Sim, eu acredito que os jogos sejam importantes, porém eu não gosto de

aplicar, uma vez que está fora da minha realidade, eu tenho uma sala de quarenta alunos

lotada até o fundo da sala, é uma turma indisciplinada então fica inviável aplicar jogos

nessa sala de terceiro ano, um jogo que eu dou de vez quando é o material dourado, mas

tem que ficar tomando conta o tempo todo para não perder as peças, então para mim isso

não dá. Mas que é importante é sim porque tudo que envolve o lúdico, o concreto a

criança tem uma absorção maior daquilo.

Entrevistadora: Você tem facilidade em ensinar matemática? Como ensina?

Professora: Olha! Eu acho que eu tenho facilidade sim, eu procuro brincar muito na

hora que estou explicando a matéria, invento música para se descontrair e para ver se eles

entendem melhor as operações fundamentais da matemática me espelho, muito em professor

de cursinho sabe, que tudo faz uma brincadeira, e dá certo viu, eles acabam se envolvendo

muito por conta disso e é uma maneira que eu encontrei para ensinar de forma mais divertida

a matemática fica um ambiente gostoso, deixa de ser aquela coisa maçante aquela aula chata

fica uma aula mais light digamos assim.

Entrevistadora: Você já usou jogos em suas aulas? Quais?

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Professora: Já, mas dificilmente eu uso, primeiro porque minha sala de terceiro ano é super

lotada, então eu evito bastante, além disso os alunos são muito sem limite indisciplinado,

então eu dou assim de vez em quando material dourado e só, não sou de ficar inventando

jogos com eles, porque nem vale a pena viu, é muito trabalhoso e depois eles nem se

importam com que você faz, eles veem a escola como um espaço para eles brincarem e não

para aprenderem.

Entrevistadora: Em que matérias?

Professora: Olha! Somente matemática, que eu dou, o material dourado, as outras matérias,

não dou, nada, nenhum jogo, fico só nos livros mesmos, porque para mim é muito desgastante

por conta de ser um número elevado de aluno na sala, e também por conta do tumulto que virá

depois, acaba ficando sem objetivo a aula em si.

Entrevistadora: Em que momentos da aula você aplica jogos? E com qual objetivo?

Professora: Ah ! assim, quando eu dou jogo, eu dou com objetivo de fazer eles entenderem o

valor posicional dos números, desenvolver unidades, dezenas, centenas, e milhares, para

trabalhar geometria com eles, que envolve figuras como cubos, tetraedro, que tem na escola

em forma de madeira, então como tem bastante desse jogo a gente trabalha os lados das

figuras, tem um que são em matriz para eles construírem as figuras eles amam, quando eu

mando eles construírem mas,antes de usar isso tem todo um processo, o concreto é o último

passo que eu faço com eles.

Entrevistadora:Como os alunos se organizam para jogar?

Professora: É, bem complicado viu, geralmente eu tenho que intervir muito, é super

desgastante, porque é uma bagunça, um arrastado de carteira ao mesmo tempo, uma gritaria

deles professora eu vou fazer com quem e eu professora, eles são muito agitados vira um

tumulto a aula, você precisa ver a bagunça que é, fora que minha sala é super lotada tem esse

detalhe, então fica difícil de se trabalhar esse tipo de aula com eles. Eles até se organizam

sabe, mas com a minha interferência nunca sozinhos. Se tivesse menos alunos em sala seria

muito mais proveitoso não seria necessário usar de autoritarismo para o seu trabalho poder

flui bem, seria mais fácil de se lidar com eles e nos sabemos que não tem como não ser rígida

na sala de aula, porque se você não for assim, você não consegue manter a disciplina é bem

complicado viu.

Entrevistadora: Você organiza em grupo?

Professora: Quando eu resolvo, dar, jogos, o que é muito difícil, eu costumo sim colocar em

grupo, porque eu acho mais proveitoso tanto para o aluno quanto para o professor, Mas assim,

fica grupos enormes tipo oito alunos, grupos enormes, muito grande, mas é a maneira que eu

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encontro para comportar dentro de um espaço que é pequeno e super lotado, faço milagre para

fazer eles jogarem e eu conseguir chegar ao meu objetivo final que é a aprendizagem deles

sempre.

Entrevistadora: Qual sua participação durante a realização dos jogos?

Professora: Ah! Sempre intervindo né, nas dificuldades que eles têm, de acordo com as

perguntas que eles fazem né, eu sempre questiono o porque desse jogo, pergunto se eles estão

gostando, se eles sabem para que serve esse jogo, qual objetivo, o que o jogo desenvolve,

sempre busco puxar deles o máximo de informações possíveis, ai eu coloco na lousa as

observações, os comentários que surgem e as informações que acho importante né, ponho

tudo que nos levantamos durante a realização do jogo, porque eles costumam né detectar

coisas interessantes que eu até então não sabia, então anotamos tudo na lousa para depois

discutirmos sempre com registro, para que depois a gente não perca nada, porque se você não

registra você acaba se perdendo né.

Entrevistadora: Cita nome para mim de alguns jogos que você costuma aplicar na

matemática.

Professora: Olha! Que eu costumo dar é o material dourado, e os sólidos geométricos em

forma de madeira que a escola dispõe para o terceiro ano está usando, somente esses.

Entrevistadora: Como você definiria um jogo de regras? Por quê?

Professora: Como eu definiria um jogo de regra? (Hum), um jogo que tem instruções

necessárias para o aluno desenvolver, porque para mim todo jogo tem regras se não o aluno se

perde na hora de jogar, senão tem regra não é jogo acho que isso né.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você conhece?

Professora: Ah! Tem dominó, dama, tem xadrez que é muito interessante e influencia

muito na aprendizagem e no desenvolvimento da matemática, acho até que é um jogo que

deveria ter em todas as escolas, sabe, fazer parte da rotina diária do aluno esse momento de

jogar xadrez, poderia ser na aula de educação física, por exemplo, o professor usar essa

aula para ensinar a jogar xadrez, porque esse jogo desenvolve a atenção, a concentração, né

o xadrez para mim é fantástico é um jogo que eu acho bárbaro.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você costuma usar em suas aulas?

Professora: Sinceramente nenhum, embora eu ache importante o jogo, não gosto de aplicar,

porque para mim às vezes não tem o efeito que um bom livro didático daria para o

aprendizado do aluno, eu gosto mais do ensino tradicional, de você ensinar o BA-be-bi-bo-

bu, né a família silábica, o método fônico, tem mais efeito do que você ficar se

desgastando inventando jogo para dar para eles, esse método construtivista que agora as

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escolas querem que a gente dê para mim, não surge efeito nenhum ficar só no lúdico, ter

que levar em consideração o aluno, acho tudo isso perda de tempo viu, porque o que a

gente tem que fazer é ensinar o aluno ler e escrever e não ficar inventando formas de

ensino até porque cada aluno é diferente e nos temos uma diversidade enorme dentro da

sala de aula como é que eu vou considerar o conhecimento de cada um? fica inviável

sinceramente, por isso não abro mão da minha cartilha e muito menos do livro didático,

para ficar dando jogos, fora que não tem material para todos o que dificulta mais ainda

uma aula com jogos entendeu.

Entrevistadora: Para você qual a importância dos jogos na aula de matemática?

Professora: Para mim, a partir do momento que o aluno está lidando com o concreto, acho

que fica mais fácil né, o aluno entender o que está sendo dado, principalmente na hora que

ele vai ter que interpretar alguma coisa, fazer uma leitura, fica mais fácil né, o raciocínio,

trabalhar com jogos, com o concreto ajuda o aluno a passar para o papel o que ele

aprendeu de um jeito mais fácil e de chegar a um bom resultado final né.

Entrevistadora: Que jogos de aprendizagem voltados para o ensino da matemática a

escola dispõe?

Professora: Olha! São muito poucos, que dá para eu usar são: sólidos geométricos, material

dourado, na escola tem muito desses jogos que são mais conta, que eu me lembre, que a

escola dispõe são os dominós, jogo da memória, varetas, uns números grandes que dá para

você trabalhar encaixe, quebra cabeça, que eu me lembre agora são só esses, ah! E detalhe

a maioria não estão completos.

Entrevistadora:No ensino de matemática, você acha que os jogos tecnológicos podem

fazer com que os alunos obtenham um nível de aprendizagem maior do que com os

jogos tradicionais? Por quê?

Professora: Olha! Não digo que maior mais eu acho que o tecnológico tem muito mais para

oferecer ao aluno, do que o jogo tradicional, porque no computador o aluno encontra

diversos jogos em questão de minuto, já o tradicional é aquele e pronto! não tem como

ficar mudando, ah! Não ser que o aluno compre um diferente a cada semana, fora que o

jogo tradicional está um pouco fora da realidade deles né, porque hoje tudo é a tecnologia,

mas não posso afirmar que o jogo tecnológico é mais eficaz, do que o tradicional ambos

tem suas vantagens e desvantagens, vai do interesse de como cada professor usa, motiva,

né como é que ele vai abordar jogo, na aula, como ele vai preparar e aplicar o jogo né,

enfim vai de como você programa a aula, essa é minha opinião.

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Entrevistadora: Como as crianças reagem na utilização de jogos nas aulas de

matemática?

Professora: ah! Eles adoram né, crianças adora tudo o que é novo, tudo o que é novidade,

só que as crianças de hoje não tem limite então o jogo deixa de ser um aprendizado, para

tornar uma brincadeira, entendeu, então fica difícil trabalhar dentro de uma sala de aula,

diria que fica impossível por eles não terem limite, então como é que você vai trabalhar

jogos, não dá, simplesmente não dá, pelo menos, para mim, porque não consigo fazer nem

uma coisa nem outra e acaba ficando uma aula sem sentido e desgastante tanto para mim

quanto para o aluno, por falta de material, por falta de limites, por ter que dividir a sala,

por uma serie de fatores que acaba te prejudicando a dar uma aula diferente né. Então, fica

difícil, eu fico até frustrada, mas fazer o que né é a realidade que a gente vive dentro da

escola.

Entrevistadora: Gostaria de acrescentar mais alguma coisa que ache importante em

relação ao jogo matemático ?

Professora: Ah! Ao jogo, (hum), eu gostaria que as escolas tivessem material suficiente

para podermos aplicar, jogos né nas aulas, porque a teoria construtivista é tão linda no

papel, mas na prática a realidade é totalmente outra né, agora a nossa escola fala sempre

sobre concepções de Paulo Freire, mas não faz nada para os professores terem mais

recursos, o que adianta trazer palestrantes de fora para falar coisas bonitas, e não fazer

nada para melhorar a sala de aula superlotadas, material que não tem, você até tenta né

fazer uma aula diferente, mas falta recurso e não deveria né porque sabemos que a

prefeitura é rica, mas tem muito desvio na educação, acho que em vez de só falar a gestão

escolar devia agir mais comprar mais jogos, vídeos, colocar data show nas salas,

retroprojetores para trabalharmos figuras, tudo isso está dentro da teoria construtivista e

cadê, ai a gente fica trabalhando com o tradicional mesmo e eles reclamam mas nos não

temos suporte suficiente para mudar a concepção então vamos continuar no tradicional que

não precisa de muito para fazer a criança aprender a ler e escrever é isso que eu penso.

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Entrevista 5

Idade: 55 anos

Formação: Magistério (CEFAM) e Pedagogia

Tempo no magistério: 34 anos

Ano que Leciona: 1 ano

Entrevistadora: Qual disciplina que você acredita que a maioria dos alunos tenha

maior dificuldade em aprender? Por quê?

Professora: Bom, primeiro ano é mais alfabetização, então o enfoque maior seria em

português e matemática uma vez que os alunos chegam para mim sem saber escrever nem o

nome, muito menos contar, então eu trabalho muito com o calendário e com as letras moveis

para facilitar a compreensão tanto da escrita quanto da escrita numérica e também para eles

aprenderem a contar e saber o dia o mês que estamos porque nem isso eles sabem, chegam

totalmente sem ideia nenhuma do que é números e letras.

Entrevistadora: Você acredita que os jogos são instrumentos importantes para

aprendizagem dos alunos? Por quê?

Professora: Acredito sim, porque o jogo dá suporte para as crianças ainda mais agora

com essa concepção de Paulo Freire, quando me formei, me formei para ser uma

professora tradicional, além disso, os pais reclamam muito se você trabalha muito com

jogos, isso é algo difícil de lidar. Paulo Freire, traz essa concepção que temos que

trabalhar com o jogo, com o lúdico, mas com essa mudança de que a criança com seis

anos já deve ser alfabetizada, atrapalha muito, porque essas crianças são muito imaturas

ainda, para inserirmos alguns conceitos, então se queremos trabalhar fora do tradicional os

pais acham ruins e nos somos cobrados depois, além do mais, tem muito professor que

confunde brincadeira com o lúdico, sabemos que tem várias formas de trabalhar o lúdico,

para depois passar para o concreto que seria passar para folha mesmo sabe, escrever o

nome, por exemplo, tenho alunos que não consegue fazer o nome nem com pontilhado,

nem copiando, não sabe nem copiar da lousa, então o que eu faço eu soletro cada letra do

alfabeto e mostro, mas se eu tiro da sequência eles não aprendem, então eu uso as letras

moveis para ajudar, uso também o dominó para eles encaixarem os números

correspondente, cartas de baralhos que eu construo jogos com eles através dos símbolos e

números e quebra cabeça eles adoram quando eu faço isso.

Entrevistadora: Você tem facilidade em ensinar matemática? Como ensina?

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Professora: Depende, muito de como a turma chega para mim, se a criança vem do pré

já sabendo o que são números, sabendo contar pelo menos até dez, ai sim eu tenho um pouco

de facilidade caso contrário fica mais difícil, viu, porque para mim facilidade de ensinar

matemática ninguém tem no primeiro ano, porque eles chegam muito imaturos então temos

que ter todo um cuidado para trabalhar a linguagem matemática porque dependendo de como

se trabalha eles não assimilam, hoje a criança chega muito imatura para nos trabalharmos já a

alfabetização, então o que eu faço para ensinar matemática, eu trabalho muito com jogos que

eu invento com eles e outros como dominó, caça palavras, cruzadinha, forca, de forma

bastante lúdica. Também vai dos alunos que temos, por exemplo, tem alunos mais espertos

que outros por terem estímulos dos pais em casa, já outros que não sabem nada, mas nada

mesmo, então você tem que saber trabalhar com todos os tipos de alunos desde mais esperto

ao menos esperto as vezes o que ajuda um, prejudica o outro é bem complicado viu. Uma

outra coisa que eu gosto de trabalhar com eles e ajuda na matemática e a contagem de

meninos e meninas então eu falo quantos meninos tem na sala dez professora como é o dez

um e o zero quem vem primeiro o zero ou um e faço isso também com a contagem das

meninas, todos os dias eles amam porque eu brinco com os sinais sempre falo tem mais

meninas ou menos meninos e faço os sinais na lousa e eles vão aprendendo dessa forma sabe

com material de apoio tampinhas, palitinhos, bolinha de massasinha tudo isso eu uso como

material de contagem, até porque muitos sabem só que na sequência sorteado não e isso ajuda

bastante, embora eles sejam sem limites, andam muito pela a sala e falam mais que a boca a

gente tenta fazer o melhor possível.

Entrevistadora: Você já usou jogos em suas aulas? Quais?

Professora: Vários né, dominó, quebra-cabeça, varetinhas, monta tudo, lego, jogos de

brincadeiras, como sistema é aquele jogo em forma de madeira que tem umas bolinhas e a

criança tem que colocar em ordem é ótimo eles adoram, encaixar as formas geométricas que

temos aqui também eu uso bastante.

Entrevistadora: Em que matérias?

Professora: Só em matemática mesmo, as outras matérias não uso jogos faço outras atividades

como cruzadinha e caça palavras português mesmo eu uso mais letras moveis para eles

montarem os nomes deles, dos animais de coisas que estamos trabalhando no momento.

Entrevistadora: Em que momentos da aula você aplica jogos? E com qual objetivo?

Professora: Bom, o objetivo do jogo é fazer com que a criança chegue naquilo que você

almeja, por exemplo, se eu vou dar contagem antes eu aplico um jogo que tenha a ver com

esse assunto, ou invento um na hora com eles, sempre de acordo com a atividade que estou

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trabalhando na sala, às vezes eu monto quebra cabeça, jogo da memória de acordo com que

estou trabalhando com eles eu mesmo faço e eles se divertem muito é bem interessante.

Entrevistadora:Como os alunos se organizam para jogar?

Professora: Em grupo geralmente e em duplas, nunca sozinhos, até porque o material que a

escola dispõe não tem para todo mundo, então ou você dá em grupo ou em dupla.

Entrevistadora: Você organiza em grupo?

Professora: Na maioria das vezes sim, porque eles podem também aprender muito mais um

com os outros, até mesmo em dupla viu eles trocam bastantes experiências é muito bom.

Entrevistadora: Qual sua participação durante a realização dos jogos?

Professora: Olha, eu fico sempre observando o que eles estão fazendo, fico andando pela sala,

passando de carteira em carteira, de grupo em grupo, questiono sobre o que eles estão

achando do jogo, isso é importante porque a gente obtém cada resposta interessante deles,

você precisa ver, como eles são espertos e se interessam pelos jogos, geralmente eu deixo,

eles ficarem em rodas né, de quatro e cinco dependendo da quantidade de aluno que eu tenho

na sala, tem aluno que nem precisa viu da nossa intervenção, já outros precisam que

expliquemos de novo como brincar e qual a finalidade do jogo e também geralmente esses

alunos questionam muito, então é importante sempre ficarmos atentos as suas dúvidas e saná-

las para que eles saibam exatamente o que estão fazendo e porque estão fazendo, e durante o

jogo ficar observando constantemente para poder ajudá-los.

Entrevistadora: Cita nome para mim de alguns jogos que você costuma aplicar na

matemática.

Professora: Olha! De caixa, eu uso dominó, aquele de achar a sequência numérica, de

encaixar as formas, e o restante eu improviso de acordo com a atividade em questão, então eu

uso tampinhas de garrafa pet, palitos de sorvetes, isso para contagem, monto jogo da memória

com os números, jogo da velha, massainha em forma de bolinhas eles amam a gente mais

improvisa do que usa o jogo da escola, outra coisa que eles gostam são carimbos mais eu acho

meio mecanizado sabe, mas eles brincam também e se divertem carimbando a folha de sulfite

tenho alunos que trazem galhos de árvore para a gente fazer a contagem do que teria o galho,

eles curtem muito isso né, é bem legal viu.

Entrevistadora: Como você definiria um jogo de regras? Por quê?

Professora: Eu acredito que jogos de regras são aqueles que temos que definir as regras a

serem seguidas e estabelecer alguns limites do que pode e do que não pode no jogo de acordo

com que estabelecemos no inicio do jogo, para mim é isso, mas eu acho legal você trabalhar

jogos sem regras como o jogo de pinos, o monta tudo, fantoches de palhaços equilibristas, o

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jogo engenheiro que eles tem que montar uma cidade com as peças de madeira em bloco

então tem mercado, farmácia, padaria, escola, posto de gasolina, igreja, casas, eles amam

montar a cidade e tudo em madeira tem semáforo, tem praça é uma graça esse jogo você

precisa ver que legal que é, tem o material dourado, jogos geométricos só que assim esses

você não precisa estabelecer muitas regras são menos limitado na minha opinião, e até mais

fácil da criança jogar.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você conhece?

Professora: Ah! Vários, dominó, joga da memória, quebra cabeça, xadrez, varetas, agora

assim, que eu me lembro, são só esses mesmos.

Entrevistadora: Quais jogos de regras você costuma usar em suas aulas?

Professora: Eu gosto muito de dar xadrez, dominó, jogo da velha, o que é o que é, porque

usam bastante o raciocínio, sabe, e também por eles serem bastante competitivos o xadrez,

por exemplo, tira eles dá zona de conforto e nos montamos um campeonato na sala de

xadrez qual dupla faz mais xeque-mate eles se empenham muito para se destacarem, a

gente sabe que é um jogo bastante difícil, mas eles conseguiram aprender rapidinho e eles

gostam muito de jogar, mais até do que o quebra cabeça, dominó e varetinhas pode

acreditar é impressionante, afinal jogar xadrez né é um desafio viu e dos grandes.

Entrevistadora: Para você qual a importância dos jogos na aula de matemática?

Professora: Acho! Muito importante porque o aluno se desenvolve melhor, o raciocínio

fica mais rápido, se interessam mais pelas aulas, mais os jogos não tem que ter muitas

regras, porque se não eles se dispersam e acabam não jogando, tem que ser jogos que

sejam mais fáceis deles assimilarem como o caso do xadrez eu trabalhei bastante com eles

as regras antes para depois ir para o jogo, foi um processo longo, mais ainda bem que eles

gostaram e entenderam o jogo, tanto que montei essa competição na sala, mas tudo tem

que ser trabalhado antes com calma, não dá para chegar assim, e já dá o jogo de imediato,

mas para mim o jogo faz toda a diferença na aprendizagem do aluno ele facilita, estimula e

ajuda muitas vezes, o aluno entender alguns conceitos importantes que explicando ele não

entende mas jogando sim.

Entrevistadora: Que jogos de aprendizagem voltados para o ensino da matemática a

escola dispõe?

Professora: Ah! Que eu vejo lá são: dominó, quebra-cabeça, jogo da memória, material

dourado, varetas, xadrez, formas geométricas, jogos de sequência, números grandes que dá

para fazer montagem, e tem outros materiais lá, mas jogos que eu me lembre agora são só

esses mesmos.

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Entrevistadora:No ensino de matemática, você acha que os jogos tecnológicos podem

fazer com que os alunos obtenham um nível de aprendizagem maior do que com os

jogos tradicionais? Por quê?

Professora: Acredito que ambos são fundamentais, no entanto os jogos tecnológicos nem

todos tem acesso por ser um jogo mais caro, já os tradicionais por serem mais em conta, a

maioria tem acesso, mas para mim ambos ajudam no aprendizado, claro que o tecnológico

tem mais recursos a oferecer do que os jogos de caixa, além disso, o jogo no computador

você encontra uma variedade, já o de caixa é um só, mas eu não acho muito bom o aluno

ficar muito tempo na frente de um computador jogando porque ele acaba se isolando dos

outros e também não faz bem para a saúde dele, além do mais acaba perdendo outras

atividades que também são interessantes para o aprendizado dele.

Entrevistadora: Como as crianças reagem na utilização de jogos nas aulas de

matemática?

Professora: Ah! Eles adoram por eles eu dava jogos todos os dias, e a gente sabe né que os

jogos deixam a aula mais descontraída, divertida, sai um pouco do livro didático, jogar é

muito bom para mente, para saúde, né,dentro de um limite claro, só que a gente não pode

dá jogo direto nem todo dia porque se não, não conseguimos cumprir o calendário escolar

e os assuntos que temos que trabalhar em sala, mais jogos para eles são uma novidade e

eles amam mesmo assim, participam bastante dá aula, ficam mais concentrados é um

recurso valioso para qualquer professor o jogo, jogar é ótimo.

Entrevistadora: Gostaria de acrescentar mais alguma coisa que ache importante em

relação ao jogo matemático?

Professora: Acho, que todo professor deveria usar jogos em suas aulas, por ser algo que

contribui para o aprendizado do aluno, mas claro assim, jogos sem muitas regras, porque se

não, torna uma coisa chata, tem que ser jogos com menos regras para os alunos se

interessarem em jogar, o legal é também o professor improvisar, criar jogos junto com os

alunos, porque ai desperta o interesse deles em participar da aula, fazer a atividade, pedir

ideias de como mudar alguns jogos, de como jogar tal jogo de forma diferente, os alunos

interagem mais quando fazemos esses tipos de pedidos, e eles gostam quando levamos a

opinião deles em conta é legal fazer isso, porque aguça a criatividade deles né, acho muito

mais divertido criar jogos com eles e mudar alguns do que ficar só dando jogo pronto, e

sempre nos temos também que considerar a realidade do aluno e o meio que ele vive isso é

fundamental para termos uma aula que vale a pena tanto para nós quanto para eles, essa é

minha opinião.

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Entrevista 6

Idade: 55

Formação: Pedagoga com especialização em gestão escolar.

Tempo no magistério: 35 anos

Tempo de coordenação: 10 anos

Tempo nesta escola: 5 anos

Entrevistadora: O que você pensa a respeito dos trabalhos com jogos na prática

pedagógica?

Coordenadora pedagógica: Eu acho que os jogos são de grande importância, porque através

do brincar a criança aprende, interage com outras crianças, desenvolve muitas habilidades, e

através do brincar, se o professor tiver esse olhar, é uma riqueza muito grande, porque você

tem a visão do tradicional, que você já vivenciou e você vê que no a criança constrói muito,

fantasia, a criança traz o seu mundo para dentro da sala de aula. Então os jogos, as

brincadeiras são de grande riqueza para o aprendizado. Agora o que eu acho é que os

profissionais precisam estar dispostos a querer mudar, a querer ensinar de uma maneira

diferenciada, porque às vezes o professor tem a dificuldade e também é cômodo ele sentar e

dar apenas atividades prontas e você construir com a criança isso é de um enriquecimento

muito grande para a própria criança e para o aprendizado dela. Porque a escola deveria ter

essa visão do brincar, de construir aprendizados por meio de jogos desde o ensino infantil,

porque quando o aluno vai para o ensino fundamental ele sente-se obrigado a aprender o que

já aprendeu no ensino infantil quando na verdade era para ele aprender por meio do lúdico, e

então esse aluno para quem os professores pularam a etapa do brincar como forma de

aprendizado no infantil, consequentemente ele será um aluno que irá ter dificuldades no

aprendizado porque pulou fases e fez atividades que não eram condizentes à fase dele. Ele já

chega saturado de fazer atividades porque não brincou quando deveria. Então para mim a

criança deve brincar tanto no ensino infantil, quanto no ensino fundamental, no primeiro e

segundo ano principalmente, pois, enriquece o aprendizado porque na brincadeira a criança

pensa, constrói, raciocina e o aprendizado é bem melhor do que só ficar dando folhinha

avulsa.

Entrevistadora:Você acredita que os jogos podem ser direcionados para o ensino de

conteúdo específico ou em disciplinas específicas?

Coordenadora Pedagógica:Eu acho que com os jogos você pode trabalhar em todas as áreas,

na matemática, na língua portuguesa, na ciência dentro da criação do mundo, em tudo

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podemos trabalhar com jogos. Não só em um conteúdo especifico; um exemplo: eu vou

trabalhar uma atividade de matemática usando o dado como um auxiliar na contagem até 6,

depois eu posso sugerir para os alunos escreverem como foi essa experiência e a partir disso

trabalhar a linguagem, fazer ela relacionar a bolinha do dado ao número, eu posso trabalhar

também com o dominó e também trabalhar a linguagem matemática e sugerir para os alunos

descreverem o que eles vivenciaram, com dominó; também pode- se trabalhar as cores e o

tamanho de um dominó pequeno, de um dominó grande, as diferenças e eu posso direcionar

isso tanto para a linguagem matemática como a língua portuguesa. Se temos um jogo de

quebra cabeça sobre a saúde o objetivo dele pode ser a higiene, por exemplo, então eu posso

trazer o conhecimento dos alunos a esse universo que eu quero apresentá-los, posso trabalhar

a sustentabilidade, as doenças tudo isso por meio de um jogo, e desenvolvendo a linguagem,

por isso eu acredito que o jogo, ele dá parâmetro para o professor trabalhar diversos assuntos,

eu gosto muito do quebra cabeça de nomes porque podemos trabalhar a quantidade numérica,

a escrita, as letras, as vogais, as consoantes, não só do nome, mas o que estamos trabalhando

como por exemplo a energia; eu posso dar a cada letra uma quantidade, um número e cada

letra virar uma bolinha com cores diferentes. Com essa atividade estamos trabalhando com a

criança a correspondência biunívoca que é a relação da quantidade ao número de uma forma

que ela não sabe o que é isso, mas estou trabalhando esse conceito. Por exemplo, podemos

usar isso para fazer atividade com os nomes da criança e pegar a relação de alunos e trabalhar

dessa forma: “Aline quantas letras tem esse nome? 5! Depois podemos pedir para a criança

fazer um quadradinho em cima das letras e colocar os números, depois para cada letra colocar

uma cor, então quantas coisas estou trabalhando com um jogo só, porém isso vai muito da

criatividade do professor.

Entrevistadora:Você vê alguma relação com os jogos e o ensino da matemática? Dê

exemplos de como os jogos podem ser utilizados nesta disciplina.

Coordenadora Pedagógica: Sim, totalmente, nós podemos usar o dominó, a dama, o xadrez,

boliche; para ensinar a matemática o baralho é maravilhoso, por exemplo, eu divido o grupo

em dupla e trabalho com o baralho a fixação da quantidade ao número, por exemplo, você

pega a carta espada e tem o número dois, quem sabe que número é esse? Pergunto aos alunos,

eles dizem dois, então pergunto novamente e a espada tem quantos desenhos? Eles: “dois”.

Então procurem outra carta que tenha o número dois; vamos buscar outra carta que seja dois,

o desenho pode ser diferente mais a o número tem que ser dois. Então quando eles acham a

espada e a carta ouro eu explico que os desenhos são diferentes, mas, a quantidade é igual.

Outro, jogo que eu gosto muito, inclusive confeccionei um, é o bingo de letras e números eu

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montei em forma de quebra cabeça eu fiz vinte e seis cartelas para não serem repetidas as

letras e vinte seis cartelas de números. Então eu divido a sala em quartetos; cada grupo são

quatro cartelas e eu dou macarrão, arroz, feijão, para fazer a marcação e eu coloco os mesmos

números e as mesmas letras, cada um em um saquinho e vamos começar a brincar de bingo;

quem for o vencedor ganha um doce. Então eu começava: “Que letra é essa? Quem tem essa

letra coloca o macarrão em cima e quem completar a cartela toda é o premiado. Quando

aparecia o vencedor eu trocava as cartelas iguais no bingo tradicional só que esse é de letras.

O de matemática é igual de letras só que em números, então eu brincava até o número 9 e

falava para eles colocarem a quantidade de feijões correspondente ao número que saiu, com

isso eu já apresentava o número e a quantidade correspondente trabalhando de forma bem

lúdica a relação do número a quantidade, sempre focada em qual número eu gostaria que ele

aprendessem com esse jogo; eu trabalha até o nove, porém, um número de cada vez, então um

dia brincávamos até o 3 outro dia até o 5 até chegar ao 9. E o vencedor trocava a cartela com

os outros amigos. Sempre eu dividia entre o grupo a e o grupo b e dizia:” Quem será que vai

ser o vencedor? No caso era quem fechava a cartela de números mais rápidos. Outra coisa que

eu gosto muito de se trabalhar com eles é a roda; na roda eu pedia para contarmos quantas

meninas e meninos tinham vindo naquele dia e perguntava como seriam representadas as

meninas e os meninos; se poderia ser com círculo, triângulo, quadrado, e retângulo. E quando

eles escolhiam a forma geométrica eu colocava na lousa e juntos faziam a contagem de quem

veio e quem está faltando e com isso sabíamos quantos meninos e meninas tinham na sala e

somávamos para ver quantas crianças havia na sala. Essa é uma forma que eu trabalho o

conceito de subtração e adição sem eles saberem.

Entrevistadora:Existe algum combinado com os professores quanto à utilização dos

jogos nas práticas educativas cotidianas?

Coordenadora pedagógica: Sim, nós agora conseguimos montar uma sala de jogos, que até

então não tinha, foi inaugurada agora em setembro. Os jogos que estão velhos com peças

quebradas e incompletos foram jogados fora e repostos. Compramos fantasias novas,

materiais Montessori de madeira, formas geométricas, quebra cabeça, também conseguimos

comprar lego. A escola estava precisando dessa atenção para a questão dos jogos. Com isso

foi montado um horário em que toda sala pode vir uma vez por semana para utilizar a sala,

porém quando muito lotada nos dividimos: um dia vem metade da sala e a outra metade fica

fazendo atividade e a outra metade que veio nessa semana faz a troca. Porém há um

planejamento para a utilização dessa sala, então o professor deve deixar bem claro que jogo

ele vai trabalhar, com qual objetivo, qual disciplina, porque não adianta montar uma sala com

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tudo novo e organizado para levarem os alunos e deixarem lá mexendo em tudo, bagunçando

sem ter um foco de aprendizado. Também foi montado nas salas de aulas prateleiras em forma

de caixa com jogos de monta-monta, quebra cabeça, para colocar livros paradidáticos,

fantoches, tudo à disponibilidade do professor para a utilização de jogos, também na sala de

aula e não deixar para usar jogos só na aula de jogos, mas fazer uso disso todos os dias.

Entrevistadora: Quais são os jogos que a escola possui e que podem ser usados para o

ensino de matemáticas?

Coordenadora Pedagógica: Têm dominó, xadrez, dama, quebra-cabeça, lego, jogo da

memória, jogo de montar a cidade em madeiras, jogo de cartas. Letras móveis, material

dourado colorido, jogos coloridos com alinhavo, palitinhos, jogo de botão, jogos de montar,

jogo de quantidades e números chamado de barata, formas geométricas, jogo de trilha,

Tangram, jogos das cinco Maria, jogos de montar de madeira sobre higiene e jogos de blocos.

São esses jogos, o professor só não trabalha se não quiser. Acho já respondi é isso.

Entrevistadora: Existe alguma verba destinada para compra de jogos nessa escola? Fale

um pouco sobre isso. Quem comprou os jogos que a escola possui e como foram

escolhidos?

Coordenadora pedagógica: Sim, mas quando eu entrei aqui a questão dos jogos estava bem

esquecido e levei um tempo para poder organizar isso, na verdade até o começo desse ano

estava bem precário, e então busquei jogos motivadores tanto para os professores quanto para

as crianças, e para os pais, se o professor disser que não trabalha com jogos hoje porque não

tem subsídios, eu digo que não é verdade, não trabalha porque não quer, essa sala foi para

motivá-las ainda mais a trabalharem com jogos; abri um espaço para melhor serem aplicados,

quando soube que sairia a verba disponibilizada pelo governo federal que vem para prefeitura

de Osasco que é repassada para as escolas e que chamamos de verba de subversão (verba

provinda do governo federal) Reuni todos os professores na ATPC (Aulas de trabalhos

pedagógicos coletivos) para fazermos juntas uma lista dos jogos que elas achavam

interessante terem para trabalhar com as crianças, juntamente com materiais que elas estavam

precisando. Eu também trouxe jogos que acredito serem importantes para o desenvolvimento

da criança. Depois que decidimos e vi o que elas queriam e o que a elas estavam precisando,

foi feita uma cotação para então podermos comprar todo esse material. Tudo que temos aqui

hoje foi feito de forma coletiva por meio da lista que decidimos em conjunto na reunião. Os

pais também participaram desse grupo, pois, nós temos o grupo CGC (Conselho de Gestão

Compartilhada). Estes são os pais que ajudam a administrar a escola para tudo que vou fazer,

realizar na escola, eles são consultados. Fazem parte desse grupo oito pais, quatro professores,

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quatro apoios (funcionários da limpeza e administração da escola). Eu sou a diretora, então

para realizar essas mudanças reuni o conselho e juntos discutimos e decidimos as melhorias.

Entrevistadora: Nas reuniões de ATPC já foi trabalhado algum texto sobre a

importância dos jogos? Como? Quantas vezes?

Coordenadora Pedagógica: Sim, muitos textos, várias vezes, perdi a conta. Uma delas eu sei

que foi quando discutimos as questões da orientação curricular sobre o novo olhar para o

ensino em cima da concepção construtivista; teve uma professora que fez oficina de jogos e

brincadeiras com a “Palavra Cantada”, então ela usou esse momento para trazer um pouco do

que ela aprendeu sobre jogos para outras colegas de trabalho. Foi muito rico para o resgate da

brincadeira, do cantar, e do brincar.

Entrevistadora: O que você pensa a respeito dos professores fazerem cursos de

aperfeiçoamento voltado para jogos?

Coordenadora pedagógica: Maravilhoso, eu acho que teria que fazer sempre afinal curso é à

base de tudo, já que através do brincar e dos jogos que a criança aprende isso já está assim

mais que comprovado pelos estudiosos da área de educação. Não tem mais do que correr, de

querer voltar a ensinar de forma tradicional de ensinar só o pronto para a criança. A criança é

muito rica; se formos trabalhar de verdade podemos começar pela historia de vida dela, a

caracterização de mundo para criança da família, assim podemos ter muito mais a se trabalhar

do que apenas ficar dando atividades prontas.

Entrevistadora:Gostaria de acrescentar algo que possa me ajudar a compreender mais

sobre a utilização de jogos nas práticas educativas dessa escola.

Coordenadora pedagógica: Sim, trabalhar sempre com bingos, trabalhar os nomes, palavras

que considerem importantes como a de cortesias, a questão do jogo não como algo de dar por

dar, mas de ter um objetivo, um foco, uma sequência, trabalhar também o jogo na lousa, na

linguagem da criança, trabalhar também jogos de botões, trabalhar com jogos em roda, jogos

com dado usando com palavras e para eles contarem 1, 2, 3, 4,5 e 6 e pedir para eles

procurarem palavras na sala com essa quantidade de número e depois pedir para eles

juntarem. Usar a chamadinha que tem na sala para usar os nomes dos amigos, a associação de

quantas letras tem. Acho que está bom.