trabalho mecanização 2017 -...
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AVALIANDO AS CONSEQUÊNCIAS DA
MECANIZAÇÃO NO TRABALHO E NA SAÚDE NO
INTERIOR PAULISTA
PROF. ORIENTADOR: Rafael Andrade Pereira
André Fragelli nº4
Beatriz Fantin nº6
Camillo Magalhães nº10
Dalmo Dallari nº12
Sofia Stifelman nº33
2ºC
1.0 Introdução: Nos dias de hoje, praticamente tudo que usufruímos, como comida,
energia e gasolina vem de um trabalho executado longe de nós que moramos
na metrópole. Por trás das grandes cidades existe uma realidade totalmente
diferente, na qual produzem-se as coisas que consumimos. No oeste paulista,
pequenos agricultores trabalham e lutam para se auto sustentarem e produzir
grande parte da comida do Brasil. Porém, com a grande necessidade da
produção de etanol e álcool, enormes latifúndios de cana-de-açúcar
acompanhados de grandes indústrias ocuparam em larga escala o lugar das
pequenas propriedades.
Baseando-se neste contexto, viajou-se até Araraquara no interior de São
Paulo para ver-se de perto essa realidade. O município visitado se localiza
apenas 280 quilômetros de São Paulo e é responsável por cerca de 8 a 10%
da produção de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo. Desde o início dos
anos de 1960, quando surgiram usinas de cana-de-açúcar e álcool, esta região
(entre outras) alcançou o alto ranking da economia brasileira, além de competir
com o mercado externo. Lá, foi possível observar as condições de trabalho do
trabalhador rural nos enormes latifúndios de cana, nos quais viu-se as
máquinas e as indústrias e o quanto a mecanização do campo afeta os
trabalhadores.
Com isso dito, pretendemos com esse trabalho ampliar o conhecimento
do trabalho manual e aprofundar e analisar a chegada da mecanização na
região. Além disso, observar as principais consequências das máquinas no
campo, e assim mostrar o grande impacto da modernização. Procuramos
também abordar o assunto com o objetivo de mostrar o máximo possível do
ponto de vista do trabalhador, a partir de entrevistas e palestras realizadas em
campo.
1.1 Cana-de-açúcar no Brasil: A necessidade abundante pela cana no Brasil vem crescendo desde a
crise do petróleo em 1973, devido a um conflito no Oriente Médio que causou
uma elevação do preço do barril de petróleo em quase 5 vezes. Na época, o
Brasil ficou em uma posição delicada, já que 80% do petróleo que consumia
vinha de importações. Sendo assim, o país precisou buscar uma alternativa
viável para suprir a falta do petróleo. A solução encontrada foi criar um
programa chamado Pró Álcool, que surgiu com a ideia de substituir
gradativamente os carros movidos por combustíveis derivados do petróleo por
motores que funcionam à recursos naturais. Depois de anos de estudos e
variações nos preços do petróleo e açúcar. Com o Pró Álcool, a alternativa
encontrada foi a produção do etanol. O etanol é um combustível vindo da cana
de açúcar, mais barato, menos danoso ao ambiente e sem a necessidade de
importação, sendo capaz de suprir a falta de petróleo. Neste cenário, o
combustível encontrado se tornou umas das principais fontes de fortalecimento
da economia nacional. Consequentemente, com a demanda pelo etanol que
cresce a cada ano, a produção da cana (matéria prima do etanol) no campo
cresce juntamente.
Desde a metade do século XX, com a Revolução Verde em 1966, a fim
de aumentar a produção e produzir-se mais em menos tempo surgiu a
mecanização no campo, a utilização de máquinas para fazer o trabalho dos
humanos. Com o passar do tempo, o avanço capitalista somado a uma maior
necessidade de etanol, a monocultura da cana-de-açúcar em grandes
propriedades se instaurou e lá se intensificou. Junto com ela, a mecanização
aumentou em larga escala.
1.2 Metodologia: Existem dois lados da discussão sobre se a mecanização trouxe
consequências favoráveis ou não para a vida dos trabalhadores, pois
dependendo do ponto de vista, um aspecto negativo pode ser positivo. No
início, pensamos em algum tema atual que afetava diretamente na vida e na
saúde dos trabalhadores. Resolvemos então relacionar a saúde com a
mecanização, já que os dois temas são muito importantes e estão muito
presentes em nosso cotidiano. Como teríamos a oportunidade de ver de perto
a realidade dos trabalhadores e perguntá-los diretamente sua opinião sobre o
assunto, formulamos uma tese que aborda todo nosso pensamento inicial: a
mecanização no campo gerou impactos positivos ou negativos na vida,
trabalho e saúde do trabalhador rural?
Para realizar-se este estudo, assistimos a palestra com Aparecido,
representante da FERAESP e Professor Francisco Alves, da UFSCAR , foram
feitas pesquisas em campo e diversas entrevistas com pessoas da Usina Santa
Cruz, do Acampamento Cachoeirinha e do Assentamento Bela Vista Do
Chibarro, além de uma visita para a agrofloresta na Fazenda São Luís.
Separamos tarefas para cada integrante do grupo e elaboramos um roteiro de
perguntas (pode ser encontrado na próxima página). Ao sairmos de São Paulo,
esperávamos conseguir responder se a mecanização foi boa ou ruim para o
trabalhador. Porém em campo viu-se que a situação é muito mais profunda, e
que para não existe apenas uma resposta definitiva para a tese formada, já que
dependendo do ponto de vista as consequências da mecanização podem ser
diferentes. Existe, portanto, argumentos válidos que algumas das
consequências da mecanização foram boas para os trabalhadores e outras
não. Foi necessário entender o ponto de vista de todos os entrevistados e ler
diversos textos para conseguir debater se as consequências podem ser uma
coisa positiva e negativa ao mesmo tempo. Por fim, decidimos que seria melhor
mudar a tese inicial para: A mecanização no campo e suas consequências na
vida, no trabalho e na saúde dos trabalhadores rurais.
2.0 Roteiro de perguntas: A partir dessa nova tese, para estruturar melhor o estudo no campo,
fizemos um roteiro de pergunta estruturado para coletar dados sobre diferentes
pessoas. O questionário feito para entrevistas que colaboraram para responder
a questão é composto por 15 perguntas:
Pessoal: 1. Nome
2. Idade
3. Cidade de origem
4. Grau de escolaridade
5. Renda mensal
Trabalho:
6. Ocupação de trabalho
7. Trabalho manual ou mecanizado
- Se já trabalhou manualmente, quais são as diferenças
8. Riscos de trabalho
a. Físicos
b. Químicos
c. Psicológicos
9. Acidentes de trabalho
a. Se sim, quais?
10. Utilização de EPI
a. São suficientes e adequados?
11. Horas de trabalho por dia
a. Há pausas?
Saúde: 12. Como se sente fisicamente
13. Como se sente mentalmente
14. Problemas de saúde
15. Onde procura assistência médica
Foi gravada apenas uma das entrevistas, com uma médica do posto de
saúde. As outras decidiu-se não gravar para não prejudicar as respostas de
alguns entrevistados que poderiam ficar apreensivos e nervosos diante a
câmera.
2.1 Dados Coletados em Campo: Nesta parte do trabalho, colocamos partes das entrevistas e palestras
feitas em Araraquara. Foram com estas que elaboramos nossa tese e trabalho,
e usamos como base para nos orientar sobre o assunto.
Entrevista 1: Nessa entrevista, Dona Ivone, uma das participantes mais antigas e
ativas do acampamento Cachoeirinha nos contou sobre sua luta pela terra e
por seus direitos, além de sua batalha que já dura mais de 10 anos para
oficializar seu trabalho. Porém, mesmo conversando com Ivone sobre diversos
assuntos importantíssimos como sua luta, reforma da previdência e a história
do acampamento, colocamos aqui apenas os fragmentos que nos ajudaram a
formular o trabalho e entender mais sobre o assunto da mecanização no
campo.
Dona Ivone -
acampamento
Cachoeirinha
58 anos
Imagem 1: Dona Ivone,
do acampamento
Cachoeirinha
Trabalha manualmente ou
com máquinas?
Trabalha totalmente manual, usando enxadas.
Possui um trator que ajuda algumas vezes.
Já teve algum acidente de
trabalho?
Não.
Sobre a assistência
médica
O posto de saúde na cidade é muito bom, o
atendimento é ótimo. Os médicos vão até o
acampamento para dar vacinas necessárias.
Renda mensal R$500,00 em média
Entrevista 2: Já nessa entrevista, Ademir, trabalhador que vive no assentamento Bela
Vista, nos informou sobre suas condições de trabalho, condições de vida,
animais que vivem perto de seu lote, agrotóxicos usados, entre outros
assuntos. Assim como a entrevista acima, separamos as partes que
contribuíram para nosso trabalho, como condição de trabalho, acidentes e
equipamentos de proteção.
Ademir, Assentamento Bela Vista 53 anos, veio do Paraná
Trabalha manualmente ou com
máquinas?
Manualmente, principalmente na horta.
Possui um trator (tobata) que ajuda
muito.
Já teve algum acidente de trabalho? Alergia a agrotóxicos e passei mal de
exaustão.
Utilização de EPI Luvas, botas e macacão.
Horas de trabalho por dia Das 7:00 até o sol se pôr.
Prefere trabalhar com o trator ou
manual?
"Se tivesse mais maquinário seria muito
melhor. Teria mais produção. Tenho 16
hectares e algumas áreas estão
paradas por não ter tempo."
Entrevista 3: Com Almir, conversamos sobre o uso de agrotóxicos, seu trabalho
antigamente como cortador de cana, e hoje em dia na Usina Santa Cruz com
pesquisas sobre os tipos de cana e tipos de venenos para pragas. Separamos
as partes que Almir falou sobre suas condições de trabalho, saúde e acidentes
que já sofreu.
Almir, Usina Santa Cruz 35 anos, veio da Bahia
Já teve algum acidente de
trabalho?
Já teve problemas com cobras, de se cortar
com facão e cimento e às vezes as
máquinas tombam.
Utilização de EPI Luvas e perneira. Disse que ajudam mas
ainda tem que tomar cuidado, pois não são
suficientes.
Horas de trabalho por dia das 7:00 as 17:00 (10 horas). Não trabalha
nos finais de semana.
Qual é seu grau de escolaridade? Quando era pequeno já trabalhava no
campo, então não teve tempo para estudar.
Hoje em dia, com uma condição de vida
melhor, está estudando em um supletivo e
acabando os estudos.
Como se sente fisicamente Diz que trabalho é muito desgastante, já
passou mal de exaustão e desmaiou.
Sobre a assistência médica
Existe um posto de saúde dentro da própria
usina, e médicos que atendem a qualquer
hora. Além disso, os trabalhadores são
obrigados a fazer exames anuais e nós
temos planos de saúde daqui mesmo.
houve um acidente com um trabalhador que
esqueceu de desligar a máquina e, quando
viu que ela ia tombar, ele tentou empedir e
se machucou. O homem ficou alguns meses
sem trabalhar, mas agora passa bem e
voltou ao trabalho.
Renda mensal Quanto mais produz, mais ganha
(quando trabalhava com cana). Agora como
pesquisador ganha por hora
O que acha da mecanização? Acha bom, mas também é ruim porque
muitos amigos ficaram desempregados e
também porque prejudica a cana, já que a
máquina não corta tudo que pode ser
colhido.
Palestra 1: Por ter sido uma palestra muito longa, separamos as partes que
achamos necessárias, como o objetivo da FERAESP, seu posicionamento
sobre o avanço da mecanização. Colocamos também a parte que Aparecido
falou sobre as consequências no trabalho no campo. Porém, além disso o
entrevistado falou bastante sobre a história do sindicato e o que eles fazem,
sobre a reforma da previdência, reforma agrária e uso de agrotóxicos.
Aparecido, FERAESP
Lutam pela reforma agrária, pelos
trabalhadores que perderam seus
empregos para as máquinas.
Trabalhador tem que atingir as
produções de máquinas.
Consequentemente não tem pausas e
não pode ficar doente. Quando atingem
a meta da máquina, ganham mais.
Aumento no índice de drogas para não
perder o emprego, não se cansar e
atingir as expectativas.
Máquinas tem dispositivo conectado a
empresa, então se a máquina não pode
parar, ou seja, o trabalhador não tem
pausas.
Palestra 2: Nessa palestra feita na Usina Santa Cruz, conversamos com oito
responsáveis por diversas áreas de trabalho. Selecionamos certas falas sobre
a mecanização, trabalho manual e condições de trabalho e sobre as máquinas
utilizadas na usina.
Usina Santa Cruz
100% das áreas que podem ser
mecanizadas são mecanizadas. 99% já
são. Esse 1% sobra pois se o relevo for
12% inclinado, a mecanização não é
possível.
Trabalho manual tinha menos EPI
(equipamento de proteção individual),
não era obrigatório. Agora os
trabalhadores utilizam EPI, são
obrigados a terem pausas no período
de trabalho e se o calor ultrapassar
37ºC o trabalho para.
3 a 4 tratores substituem 300 pessoas.
O acidente mais grave registrado aqui
na indústria foi um trabalhador que
torceu o pé por atropelamento de
máquina. Ele ficou afastado por alguns
meses, e já voltou.
Palestra 3: O professor Chiquinho falou principalmente sobre a relação entre a vida
pessoal dos trabalhadores e a mecanização. Falou sobre o desemprego
causado pelo avanço da tecnologia e o índice de drogas que cresceu
absurdamente.
Francisco (Chiquinho)
Sempre fui a favor da mecanização, o
problema é o que fazer com esses
trabalhadores agora desempregados.
De 250 mil trabalhadores a 60 mil desde
2014
A mecanização diminuiu sim o número
de trabalhadores, mas por outro lado,
tirou o trabalhador de condições que
encurtam sua vida e causam problemas
de saúde.
3.0 Avanço da mecanização ao longo dos anos: A mecanização é algo que afeta pessoas de muitas classes sociais,
porém a área rural é a que mais sofreu consequências com o avanço
tecnológico, não só na melhoria e qualidade de vida das pessoas, mas também
em aspectos como saúde, economia, trabalho e sociologia. Por ser um tema
tão amplo e afetar diversas áreas, focamos nosso trabalho apenas na
mecanização e como esta afeta na saúde e trabalho das pessoas. Além disso,
não é possível caracterizar a mecanização em boa ou ruim, já que afeta muitas
pessoas e consequentemente existem diversos pontos de vista.
A mecanização cresceu muito nesses últimos anos, e pudemos ver isso
nas pesquisas feitas. Nosso trabalho sobre mecanização foi feito em
Araraquara, e lá é uma das cidades de São Paulo com maior índice de
mecanização nas colheitas de cana-de-açúcar. De acordo com dados
coletados no site, a mecanização representava na década passada 41,9% da
produção. Na safra passada, chegou a 66,5% e atualmente chegou a ser
responsável por 90% da safra nesta região, superando a média do Estado de
São Paulo, que é de 72,6%. Isso mostra que a cada ano as máquinas tomam
mais conta das produções no campo, o que causa diversas consequências,
que serão analisadas ao longo do texto.
3.1 Melhoria nas condições de trabalho: Um dos aspectos positivos da tecnologia foi que antes dela os
cortadores de cana possuíam um trabalho extremamente exaustivo e
desumano. Essa foi uma das consequências que observamos em diversos
textos (podem ser encontrados na parte da bibliografia). De acordo com estes,
dependendo da função do trabalhador, ele chegava a trabalhar durante horas
em contato direto com um calor de até 40ºC e com poucos intervalos para
beber água. A mecanização tirou essas pessoas desta situação.
Para comprovar que as condições de trabalho manual podem ser
absurdas, um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) diz
que trabalhando manualmente, cada trabalhador corta em média 10 toneladas
por dia, em troca de R$24,00. Para dar conta do serviço diariamente, percorre
9 km a pé, desfere 72 mil golpes de facão, faz 36 mil flexões de perna e
carrega 800 montes de 15 kg de cana. Ou seja, o trabalho manual exige muito
do trabalhador, a consequência disso é que antes ele chegava a ter condições
para trabalhar até, em média, os 35 anos. No gráfico abaixo, é possível
observar que existem variações de quantidades de cana colhida por dia,
porém, em qualquer um dos casos, é uma quantidade absurda de atividade
física exercida para exercer o trabalho, a qual o corpo humano não é capaz de
suportar durante muitos anos.
Atualmente, as condições melhoraram muito. De acordo com os
palestrantes da Usina Santa Cruz, os trabalhadores não são obrigados a
fazerem serviços que não se sentirem seguros; se o calor passar de 37ºC o
trabalhador não pode mais trabalhar, além de existirem pausas obrigatórias
durante o período de trabalho. Os palestrantes falaram também que as
máquinas, ao contrário do trabalho manual, deixam o trabalhador mais
confortável, já que oferecem ar condicionado, rádio e compartimentos térmicos
para colocar a água; além do trabalhador ficar sentado e não em pé durante
horas.
No esquema abaixo, encontrado em uma tese de mestrado (anexo no
final do trabalho), podem ser vistas na parte de “avaliação epidemiológica” as
condições de trabalho que os cortadores manuais trabalhavam e suas
consequências, na parte de avaliação social.
gráfico mostra condições de trabalho dos cortadores manuais e suas consequências
socialmente.
Além das péssimas condições de trabalho observadas no gráfico acima,
em outras entrevistas de campo, ficou claro que para os trabalhadores da
usina, assentamento e acampamento a chegada das máquinas no campo foi
boa para melhorar suas condições de trabalho. Disseram que as máquinas
diminuem o risco deles se machucarem
seriamente e preferem trabalhar com
elas, já que se sentem mais seguros.
Seu Ademir, agricultor familiar
entrevistado no assentamento, contou
que apesar de ter um trator (tobata) que
ajuda muito, já ficou muitas vezes doente
de tanta exaustão de trabalhar
manualmente. O mesmo também disse
que ter mais tratores ajudaria muito, o
trabalho seria feito em muito menos
tempo e que ficaria menos cansativo.
O agricultor falou também que possui 16 hectares e que algumas áreas
estão paradas por não ter máquinas suficientes para plantar.
3.2 Mais produção em menos tempo: Ficou claro para nós após pesquisas, palestras e entrevistas que
mecanização aumenta a produtividade dos cortadores e ainda reduz os
acidentes causados por facões, folhas afiadas das canas e cobras.
Como é possível ver no gráfico abaixo, quase metade da produção total
é realizada pelas máquinas. Consequentemente, é possível comprovar que a
mecanização, além de melhorar as condições de trabalho, colhe muito mais do
que os trabalhadores manuais. Por exemplo, em 2011, 4.846.836,24 foram
colhidos ao total, sendo que 3.125.618,82 foi colhido por máquinas. Sendo
assim, apenas 1.721.217,42 foi colhido por trabalhadores manuais.
Tobata de seu Ademir, Assentamento Bela Vista
Gráfico mostra a área total e a área colhida por máquinas em diferentes anos
3.3 Mais segurança e proteção para os trabalhadores: Com base nas informações colhidas no trabalho de campo, ficou claro
que no trabalho manual as condições eram muito precárias, na maioria das
vezes não eram utilizados EPI (Equipamentos de Proteção Individual) mesmo
sendo necessários e com isso havia falta de segurança e cuidados médicos.
Além dos equipamentos de proteção individual, com a tecnologia surgiram
novos instrumentos de segurança, como a criação de um órgão de segurança
(SESMT), a presença de postos de saúde perto ou dentro da área de trabalho
e o requerimento de exames anuais de saúde para determinadas áreas de
trabalho. Um exemplo da maior preocupação com a saúde do trabalhador foi
vista na usina Santa Cruz, visitada em Araraquara: os trabalhadores da usina
quando não se sentem seguros com algum tipo de trabalho, não são obrigados
a fazê-lo. Além disso, cada trabalhador recebe um caderno que anota todas as
situações que sentiu que estava em perigo ou que não se sentiu seguro, assim
possibilitando a empresa de melhorar essas áreas. A usina, fundada em 1945,
possui um programa chamado TABAJI, no qual nutricionistas, psicólogos e
terapeutas acompanham os trabalhadores que querem parar de fumar, de usar
drogas ou para acabar a obesidade.
Almir, outro entrevistado de Araraquara, 35 anos, trabalhador da usina
citada acima, disse que os EPI's utilizados pela empresa ajudam, porém ainda
é necessário ter cuidado para não se machucar. Disse ainda que existe um
posto de saúde e médicos dentro da própria usina, e que esta fornece um
plano de saúde para todos os trabalhadores.
4.0 Desempregos causados pela mecanização: Com todas as pesquisas e dados coletados nas palestras de campo, o
impacto da mecanização que mais causou prejuízo para muitas pessoas foi
que as máquinas substituíram os trabalhadores, causando muitos
desempregos. De acordo com o palestrante Francisco Alves, o número de
trabalhadores foi de 250 mil para 60 mil em muito pouco tempo. Para
comprovar o dado de Francisco, textos pesquisados (podem ser encontrados
na bibliografia) mostram que um trator substitui aproximadamente 120
funcionários.
Segundo Eduardo Sales de Lima, autor de um dos textos lidos antes da
viagem, cerca de 40 mil postos de trabalho no corte de cana fecharam desde
2007 e dados indicam que a agricultura fechou 12.508 vagas formais no mês
passado, ao mesmo tempo em que a indústria de transformação demitiu 5.562
trabalhadores com carteira assinada.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
entre os anos de 2011 e 2012 o número de oportunidades de trabalho no
campo caiu em 756 mil. Ainda segundo o IBGE, somente 14,2% de todos os
atuais empregos no país correspondem a agricultura, sendo que em 2004 o
percentual chegava em 20,4%.
4.1 Migração dos trabalhadores com a mecanização:
A mecanização causou claramente um aumento do êxodo rural no país,
porém, ela também trouxe consequências boas nessa parte de migração e
imigração dos trabalhadores. Como podemos ver no gráfico abaixo, coletado
na tese da Fernanda Ludmilla, em uma usina localizada no interior do Estado
de São Paulo, 84,60% dos trabalhadores que trabalham em corte manual
vieram do nordeste do Brasil, e 15,40% de SP. Porém, com a mecanização,
81,20% vieram de SP, 6,30% do nordeste e 12,50% de outros estados. Ou
seja, a mecanização diminuiu a migração (sazonal ou permanente) dos
trabalhadores vindos de outras regiões para cortar cana.
A pior consequência das migrações de outras regiões para trabalharem
manualmente no corte de cana é a condição de vida que o trabalhador teria
quando chegasse aqui. Essa conclusão foi tirada após ver-se o gráfico abaixo
em um site (anexado na bibliografia), que mostra como são as condições de
vida desses migrantes.
4.2 Consequências na saúde dos trabalhadores que continuaram em seus empregos:
Como dito no tópico acima, muitos trabalhadores perderam seus
empregos e foram substituídos, porém, os que permaneceram em seus postos
se desgastam muito mais para atingir a produção das máquinas. Conforme
Aparecido, um representante do Sindicato dos Empregados Rurais de
Araraquara e da FERAESP, as máquinas produzem muito mais que os
homens, consequentemente surgiu uma pressão nos trabalhadores para
alcançarem a produção das máquinas e não serem despedidos.
Com o surgimento dessa pressão, o trabalhador começou a sofrer danos
psicológicos, o que tem provocado um crescimento no índice de depressão.
Aparecido disse também que o índice do uso de drogas cresceu muito, isso
porque os trabalhadores as usam para aguentar a pressão, não se cansarem
tão rápido e trabalharem mais; as drogas mais usadas são maconha e crack,
mas principalmente cocaína.
Outra consequência para saúde de acordo com a pesquisa de Maria
Aparecida Moraes Silva, professora socióloga e pesquisadora, é que a
mecanização traz um esforço excessivo para os trabalhadores (como dito no
parágrafo acima), assim gerando dores na coluna, tendinites, câimbras e
doenças nas vias respiratórias.
Muitos trabalhadores entrevistados em Araraquara afirmaram que se
sentem mais seguros utilizando máquinas. O gráfico abaixo (encontrado em
uma tese de mestrado que pode ser encontrada no final do trabalho) mostra
dados de situações de riscos e acidentes que os trabalhadores estavam
abertos trabalhando manualmente:
Porém acidentes com máquinas também acontecem, um exemplo
encontrado em um site pelo grupo foi um acidente da Usina Tonon Bioenergia,
quando um empregado rural de 41 anos morreu em um acidente de trabalho ao
ser atropelado por um trator no dia 25/04/2017. A causa mais provável de
acordo com os técnicos de segurança da empresa é que a irregularidade do
terreno fez com que a máquina tombasse e o trabalhador tentou freá-la, sendo
atropelada por esta.
Além disso, na Usina Santa Cruz ocorreu um acidente parecido, mas
menos grave. Um trabalhador saiu de sua máquina sem desligar, como a
máquina não parou de andar, o trabalhador viu que esta ia tombar e tentou
impedir. O homem se machucou e ficou meses sem trabalhar, mas atualmente
já passa bem.
4.3 Mais produção e menos qualidade de vida para o trabalhador:
Muitas vezes o argumento usado pelas pessoas que defendem a
mecanização é que esta chegou ao campo para melhorar a qualidade de vida
dos trabalhadores e diminuir seu tempo de trabalho.
Porém, de acordo com o economista e diretor técnico do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente
Ganz Lúcio “A máquina é utilizada para aumentar a produção e não para
melhorar a qualidade de vida no trabalho. A tecnologia sofistica os métodos de
controle e coerção da empresa, ela permite supervisionar a produção de todos
os trabalhadores online e a capacidade de controle da empresa sobre o
empregador é maior”. Ou seja, muito pelo contrário do que algumas pessoas
pensam, a máquina não veio para melhorar as condições do trabalhador, e sim
para produzir-se mais em menos tempo.
“A tecnologia gera crescimento, produtividade, produtos mais baratos e
amplia o mercado, o que gera mais empregos, mas ela é perversa quando tem
a intenção de substituir o trabalho e o objetivo é puramente aumentar o lucro e
excluir o trabalho do processo”, explicou Clemente Ganz Lúcio.
5.0 Considerações finais: Por fim, para nós ficou claro que foi necessário mudar a tese, já que a
mecanização traz consequências diversas, e acaba não sendo possível
responder a pergunta objetiva de se a mecanização o traz mais aspectos bons
ou ruins, pelo fato de que eles podem variar muito de acordo com o ponto de
vista. Mas mesmo assim conseguimos obter diversas consequências concretas
da mecanização no interior paulista, vindas de diferentes pontos de vistas:
1) A mecanização tirou muitos trabalhadores de um trabalho extremamente
exaustivo e desumano. Atualmente os trabalhadores não são obrigados
a fazerem serviços que não se sentem seguros.
2) Os trabalhadores se sentem mais seguros utilizando máquinas.
3) Ela aumenta a produtividade e ainda reduz os acidentes causados por
facões, folhas afiadas das canas e cobras.
4) As máquinas substituíram um enorme número de trabalhadores,
causando muitos desempregos.
5) Ela diminuiu a migração (sazonal ou permanente) dos trabalhadores
vindos de outras regiões para cortar cana.
6) As maquinas trazem um esforço excessivo para os trabalhadores,
gerando diversos problemas físicos (dores na coluna, tendinites,
câimbras e doenças nas vias respiratórias) e psicológicos (depressão e
uso de drogas).
7) Alguns dizem que a mecanização chegou ao campo para melhorar as
condições de vida dos trabalhadores e diminuir seu tempo de trabalho.
Por outro lado, alguns dizem que a máquina não veio para melhorar as
condições do trabalhador, e sim para produzir-se mais em menos tempo,
acompanhando o avanço capitalista.
Nosso grupo sentiu a falta de ter mais conversas com aqueles que não
defendem a mecanização no trabalho rural uma vez que, com exceção da
palestra com o Professor Francisco Alves, todos os nossos diálogos foram com
defensores da mecanização do campo. Para nós ficou muito claro os pretextos
que tornam o processo de mecanização em algo positivo para os
trabalhadores, entretanto, no período no campo, nos faltaram razões que
mostrassem as contraposições de tal processo.
Além disso, foi possível concluir que se o grupo tivesse mais tempo de
pesquisa e conseguisse conversar com mais trabalhadores em diferentes
locais, seríamos capazes de obter uma visão mais geral e clara sobre o
assunto, e talvez chegarmos a uma posição final definida.
6.0 Bibliografia: UOL NOTÍCIAS. Avanço tecnológico trouxe benefícios e prejuízos ao trabalhador. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2010/05/01/avanco-tecnologico-trouxe-beneficios-e-prejuizos-ao-trabalhador.htm>. Acesso em: 29 mai. 0017. SCIELO. Saúde respiratória e mecanização da colheita da cana-de-açúcar nos municípios paulistas: a importância do protocolo agroambiental. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-20032016000100029>. Acesso em: 29 mai. 0017. MUNDO EDUCAÇÃO. Efeitos da mecanização do campo. Disponível em: <https://www.google.com.br/amp/m.mundoeducacao.bol.uol.com.br/amp/geografia/efeitos-mecanizacao-campo.htm>. Acesso em: 31 mai. 0017. MUNDO EDUCAÇÃO. A revolução verde. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/a-revolucao-verde.htm>. Acesso em: 01 jun. 0017. ID NEWS OFICIAL. Empregado rural da usina tonon bioenergia morre em acidente de trabalho. Disponível em: <http://www.idnews.com.br/empregado-rural-da-usina-tonon-bioenergia-morre-em-acidente-de-trabalho/>. Acesso em: 28 mai. 0017. BIOSEV. Colheita mecanizada aumenta produtividade e reduz riscos ambientais. Disponível em: <http://www.biosev.com/noticia/colheita-mecanizada-aumenta-produtividade-e-reduz-riscos-ambientais/>. Acesso em: 29 mai. 0017. ESTUDO KIDS. Mecanização do campo. Disponível em: <https://www.estudokids.com.br/mecanizacao-do-campo-fatores-positivos-e-negativos/>. Acesso em: 29 mai. 0017.
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