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A PRODUCcedilAtildeO DE UMA ESTEacuteTICA PARA O RECONHECIMENTO DO TRABALHO ARTESANAL DE TECELAtildeS1
Edla Eggert2 Resumo O artigo analisa trecircs vivecircncias produzidas num ateliecirc com um grupo de tecelatildes Estuda-se o processo de saber fazer toda a produccedilatildeo tecircxtil e com elas visibilizar essas experiecircncias de trabalho milenar Os argumentos teoacuterico-metodoloacutegicos ancoram-se na pesquisa participante entremeada com a perspectiva feminista de visibilizar a histoacuteria das mulheres envolvendo o ato de pesquisar como (auto)formador A observaccedilatildeo participante e as rodas de conversa possibilitaram a recolha de material para a anaacutelise das vivecircncias Conclui-se que pesquisadoras e tecelatildes produziram uma esteacutetica por meio de uma interface entre o ateliecirc e os espaccedilos de formaccedilatildeo em que as artesatildes e as estudantesprofessora foram desafiadas a pensar os processos de aprender e ensinar da Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos por meio do trabalho artesanal Palavras-chave Ateliecirc Trabalho Artesanal Mulheres Visibilidade
1 INTRODUCcedilAtildeO
A pesquisa eacute desenvolvida junto a um ateliecirc de tecelagem em Alvorada RS
municiacutepio da regiatildeo metropolitana de Porto Alegre Satildeo realizadas visitas regulares
que possuem o caraacuteter de observaccedilatildeo participante desde os anos de 2008 ateacute o
presente ano de 2016 Eacute um estudo longitudinal sobre os processos de ensino e de
aprendizagem que ocorrem no cotidiano da vida ordinaacuteria dessas artesatildes O que
seraacute apresentado nesse artigo eacute a descriccedilatildeo e anaacutelise de trecircs momentos
vivenciados com as tecelatildes por meio de experimentaccedilotildees planejadas com elas a fim
de percebermos como acontece o ensinar e o aprender da tecelagem que implica
sobretudo em pensar os processos Esses momentos vivenciados em tempos
diferentes proporcionaram formas distintas de vermos o que foi feito em 2010 foi
proposto para as tecelatildes ensinarem as pesquisadoras a tecerem e foi produzido um
micro-documentaacuterio de 7 minutos (FELIZARDO 2010) em 20132014 foi proposta a
1 Este texto foi escrito baseado em apresentaccedilatildeo oral realizada no Congresso Internacional Connessioni decoloniali Pratiche che ricreano convivenza na Universidade de Verona Itaacutelia de 19 a 21 de maio de 2016 e possui o financiamento do CNPq 2 Doutora em Teologia pela Escola Superior de Teologia Poacutes-Doutorado no Programa de Estudios de la Mujer da Univesidad Autoacutenoma Metropolitana de Xochimilco Ciudad de Meacutexico DF Professora na Escola de Humanidades da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS E-mail edlaeggertgmailcom
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criaccedilatildeo de peccedilas artesanais por meio de registros fotograacuteficos ldquosobre o que de feio
tem em Alvoradardquo feito com seus celulares e uma vez impressas as fotografias
serviram de ldquoinspiraccedilatildeordquo para a criaccedilatildeo de peccedilas artesanais E por fim 2015 e 2016
a apresentaccedilatildeo por meio de exposiccedilotildees e instalaccedilotildees das peccedilas criadas e
produzidas pelas tecelatildes
Ao fazer a anaacutelise nos utilizamos das marcas de leituras que aprendemos a
fazer com base em uma seacuterie de atravessamentos que nos formam pesquisadora
compromissada com a visibilizaccedilatildeo da histoacuteria das mulheres no campo educativo
por meio do trabalho artesanal
2 A METODOLOGIA INSPIRADORA
A metodologia da pesquisa baseia-se na Pesquisa Participante (STRECK
BRANDAtildeO 2006) na pesquisa (auto)biograacutefica (JOSSO 2004 2010) e em
pressupostos teoacutericos do feminismo (GEBARA 2000) Satildeo aspectos teoacuterico-
metodoloacutegicos que tramam um debate conspirador desde o Sul marginal Pensamos
na vida que acontece nas margens vida de mulheres das classes populares em
tentativas recorrentes da escolarizaccedilatildeo tardia na esperanccedila de um trabalho melhor
A aproximaccedilatildeo e entrevistas acontecem enquanto as quatro tecelatildes trabalham ou
enquanto elas mostram como se faz e ainda quando elas ensinam como se faz E
tudo isso noacutes anotamos gravamos degravamos e devolvemos agraves quatro tecelatildes
que participam de uma cooperativa e vivem desse trabalho artesanal E assim num
circuito que poderia ser chamado de um ciacuterculo hermenecircutico tentamos entender
aquilo que as tecelatildes fazem tramam conhecimento tecido para os dias melhores
Portanto a metodologia tem na forma como nos aproximamos agrave empiria um modo
de ler o mundo Somos marcadas por leituras que realizamos ao longo da nossa
formaccedilatildeo E entre essas leituras estatildeo as metodologias de pesquisa qualitativa
embasadas em concepccedilotildees da Educaccedilatildeo Popular de teorias feministas e leituras
decolonialistas (WALSCH 2013 ANZALDUA 2000 STRECK ADAMS 2012
2014) Juntamente com essas leituras temos ainda outras que nos convidam a
pensar o modo como interpretamos o que encontramos quando pesquisamos com
pessoas ao longo da nossa carreira de docentes e investigadoras cientiacuteficas
Buscamos metodologias de interpretaccedilatildeo produzidas na Ameacuterica Latina por meio da
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teologia feminista de norte a sul em diaacutelogos Sul-Sul Sul- Norte (SOUZA SANTOS
2014)E nesse intento fomos influenciadas por releituras teoloacutegicas feitas por
Wanda Deifelt (2004) e Ivone Gebara (2000) Teoacutelogas do sul que leram teoacutelogas
do norte como Elizabeth S Fiorenza (1992) e Rosemary Ruether (1993) Mas natildeo
soacute teoacutelogas temos leituras que marcaram posiccedilotildees criacuteticas epistemologicamente
Leituras que contribuiacuteram para perceber que existe sim a consciecircncia da exclusatildeo
a tradiccedilatildeo de noacutes mesmas e o reconhecimento de tradiccedilotildees alternativas de fazer o
conhecimento ser produzido (DEIFELT 1994) Esse eacute um modo de ser ldquomarcadardquo
que serve de argumento para que produziacutessemos uma proposta de interpretaccedilatildeo da
leitura dos claacutessicos na aacuterea da educaccedilatildeo tendo como eixo os passos da
hermenecircutica feminista 1Suspeitar 2 Recordar 3 Imaginar 4 Proclamar
(FIORENZA 1992) e atualmente um modo de realizar as pesquisas e as aulas que
oferecemos com qualquer tema que recebemos nos curriacuteculos que trabalhamos
Analisamos que haacute 20 anos num Encontro Latinoamericano de Mulheres Biblistas
ocorrido em Bogotaacute Colocircmbia em fevereiro de 1995 estudiosas exegetas
indicaram mudanccedilas significativas Para esse grupo ali reunido (1) o corpo eacute uma
categoria hermenecircutica (2) os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o
processo hermenecircutico (3) haacute uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo
e (4) eacute possiacutevel produzir uma hermenecircutica que questione o conceito de autoridade
biacuteblica (CARDOSO 1996) Temos um outro modo de produzir teologia e ampliando
podemos dizer temos um outro modo de produzir conhecimento em geral
Acrescente-se a esse tipo de marca pedagoacutegica de aprendizagem os
argumentos das mulheres e homens negros e indiacutegenas e teremos mais
complexidade Quando lemos Renato Noguera (2016) vemos que as Ciecircncias
Humanas produzem um terremoto junto as antigas certezas que tiacutenhamos com base
nos ensinamentos das ciecircncias naturais que eram o espelho para fazermos ciecircncia
E podemos dizer com Renate Gierus (2006) que haacute uma Memoacuteria individual
e coletiva que pode ser visibilizada quando contamos tanto a histoacuteria inclusiva dentro
da histoacuteria plural E nunca mais uacutenica porque dessa marca queremos distancia pois
a marca da histoacuteria uacutenica (ADICHIE SD) nos paralisa
3 AS INVISIBILIDADES DE UM ATELIEcirc
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Fotografia 1 Invisibilidade (Fotografia de Amanda M Castro 2010)
O contexto da produccedilatildeo artesanal no Brasil eacute de que 85 da matildeo de obra do
artesanato brasileiro eacute produzido por mulheres invisibilizadas sem rosto e sem
assinatura na sua obra produzida
As mulheres participantes dessa pesquisa comprometida em realizar
constantes devoluccedilotildees a elas satildeo lutadoras teimosas que compotildeem esse contexto
do artesanato brasileiro Apenas uma delas concluiu o Ensino Meacutedio enquanto que
trecircs ficaram pelo caminho do ensino fundamental e meacutedio Quatro possuem filhs e
uma eacute solteira e natildeo tem filhs Atualmente uma delas eacute casada e o que podemos
observar eacute que o trabalho artesanal eacute fonte de renda baacutesico na vida de todas A
idade delas gira em torno de 25 a 52 anos Haacute uma variedade de visotildees de mundo
que compotildee o cotidiano das conversas nesse grupo de trabalho desde visotildees mais
ligadas ao mundo religioso cristatildeo passando por visotildees mais proacuteximas ao mundo de
quem convive com diversas experiecircncias de feacute ou ateacute sem religiatildeo alguma3 Estatildeo
envolvidas na pesquisa ao todo cinco mulheres
3 A pesquisa que nos propusemos trilhar possui compromisso com a histoacuteria das mulheres artesatildes e a busca por sua visibilidade Temos analisado com elas os diferentes modos de tornarem-se presentes nas produccedilotildees cientiacuteficas que realizamos e isso natildeo eacute algo fixo pois entendemos que eacute um processo Depois de quase um ano (2008-2009) de trabalho investigativo realizando devoluccedilotildees das observaccedilotildees que eram feitas a partir de cada visita elas relataram uma experiecircncia muito negativa que viveram com duas fotoacutegrafas estrangeiras que visitaram o ateliecirc e fotografaram a produccedilatildeo artesanal com a presenccedila delas Passado um bom tempo as fotoacutegrafas enviaram uma revista com a mateacuteria e as fotografias que segunda elas eram maravilhosas Poreacutem o texto era em alematildeo e nenhuma delas sabe ler em alematildeo Certo dia uma senhora que sabia ler estava no ateliecirc leu a mateacuteria para elas E para surpresa de todas o texto dizia que essas mulheres eram muito pobres e que moravam em baixo de pontes e que a venda dos seus produtos artesanais para a Europa fazia
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Alvorada RS eacute um municiacutepio que compotildee a regiatildeo metropolitana de Porto
Alegre com 204 mil habitantes identificada como periferia urbana (IBGE sd)
Possui 27 escolas municipais 17 escolas estaduais (20 mil alunos na rede puacuteblica) e
6 escolas particulares entre elas duas escolas de Educaccedilatildeo Infantil uma de Ensino
Superior A partir do ano de 2014 o municiacutepio recebeu a implantaccedilatildeo de um Instituto
Federal de Educaccedilatildeo IF por meio de demandas das poliacuteticas puacuteblicas do Governo
Federal Eacute nesse contexto educacional que inserimos o espaccedilo do atelier como um
espaccedilo educativo natildeo escolar
4 O PROCESSO EDUCATIVO DO CICLO DO SABER FAZER TECELAGEM E DO
PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO
Eacute possiacutevel afirmar que desenvolvemos junto agraves tecelatildes uma seacuterie de
provocaccedilotildees que buscaram visibilizar os modos de trabalho teacutecnico que elas
produzem nas vivencias de um ateliecirc Na primeira produccedilatildeo cientiacutefica realizada junto
ao grupo observaacutevamos que o trabalho do grupo das tecelatildes era parecido com o
trabalho das professoras em sala de aula Analisaacutevamos comparativamente o fazer
docente com o fazer tecelatilde elas por sua vez achavam engraccedilada essa comparaccedilatildeo
(EGGERT SILVA 2009) No ano de 2010 realizamos uma primeira oficina entre
tecelatildes e professoras com a proposta de tecelatildes ensinarem tecelagem para as
professoras-pesquisadoras foram dois dias de oficina em que ao final realizamos
uma roda de conversa e debatemos a implicaccedilatildeo das rotinas do fazer e pensar dos
processos da tecelagem e dos processos docentes A roda de conversa com todo o
grupo comparou e analisou aspectos que aproximavam e distinguiam o fazer
docente do fazer artesanal A oficina proporcionou que cada uma das cinco
docentespesquisadoras que vivenciou a aprendizagem produzisse duas peccedilas de
tecelagem Durante esses dois dias foram realizadas filmagens por parte das
proacuteprias integrantes da pesquisa ora eram as tecelatildes que filmavam e ora eram as
docentespesquisadoras que capturavam as imagens Essa filmagem foi
posteriormente entregue a uma documentarista com um roteiro preacute organizado pela
com que elas melhorassem de vida A indignaccedilatildeo tomou conta de todas e a partir daquela experiecircncia elas natildeo aceitavam ser fotografadas De maneira que levamos alguns anos para amadurecer as possibilidades das formas como elas decidem ficar visiacuteveis em nossas produccedilotildees ldquotecircxtisrdquo Nesse artigo elas ficam visiacuteveis na transcriccedilatildeo como poderaacute ser constatado posteriormente
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equipe de pesquisa para servir de siacutentese documental daquela vivencia
(FELIZARDO 2010)
Uma segunda dimensatildeo de fazer e pensar processos de tecelagem surgiu
depois que com base na observaccedilatildeo participante e por meio de dois Grupos de
Discussatildeo (2010) analisamos com as tecelatildes que para elas era muito cocircmodo
simplesmente receber os projetos dos desenhos prontos para tecer Isso foi possiacutevel
de ser detectado num debate realizado por meio de dois Grupos de Discussatildeo
(BOHNSACK WELLER 2006) em que identificamos a importacircncia que as tecelatildes
davam para a centralidade dos trabalhos da artesatilde mestra Para elas a mestra era
aleacutem de ldquodonardquo do ateliecirc a mentora das peccedilas artesanais Nesse momento
instigamos a todas tecelatildes a pensarem os potenciais do ateliecirc e as desafiamos a
pensar um projeto de criaccedilatildeo de peccedilas artesanais
O projeto da criaccedilatildeo em tecelagem nasceu a partir de trecircs incocircmodos e foi
proposto com a seguintes avaliaccedilotildees feitas com as tecelatildes a) O atelier de
tecelagem eacute um ldquoestranho no ninhordquo no municiacutepio de Alvorada e aleacutem disso a
produccedilatildeo de tecelagem artesanal feita em Alvorada eacute invisiacutevel e natildeo eacute reconhecida
b) Alvorada eacute municiacutepio lembrado pelos aspectos ruins que apresenta As tecelatildes
resistiam ao exerciacutecio da criaccedilatildeo tecircxtil
Analisamos com elas que era preciso pensar algo na direccedilatildeo do ldquodesvalorrdquo e
chegamos a seguinte proposta vincular-se com a cidade ndash encarando coisas que as
incomodavam por meio da fotografia transformar o olhar sobre o cotidiano da cidade
ndash com base nas fotos escolher algumas para pensar na criaccedilatildeo de peccedilas tecircxtiscriar
uma releitura ndash confeccionar peccedilas inspiradas nas fotografias escolhidas ldquodestecer o
ruim da cidaderdquo
Para que isso acontecesse cada uma das tecelatildes utilizou-se dos proacuteprios
celulares para capturar imagens que uma vez feitas num tempo aproximado de
duas semanas foram impressas em folhas A4 As fotografias foram impressas
coloridas e tivemos ao todo umas 78 impressotildees Todo esse material ficou
disponiacutevel para ser contemplado primeiramente numa manhatilde de estudo sobre esse
exerciacutecio e na sequencia as fotografias ficaram disponiacuteveis numa caixa que era
retomada simultaneamente enquanto o trabalho de tecelagem acontecia e as
conversas sobre a escolha de pelo menos duas imagens fossem inspiradoras para
duas peccedilas serem criadas tendo como base de apoio as fotografias eleitas
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Nas conversas entabuladas durante dois encontros observamos o quanto
que as fotografias das realidades feias de Alvorada implicaram no modo como
tambeacutem elas observavam o entorno e tentaram mudar isso com a feitura de peccedilas
artesanais Nesse momento natildeo estava presente o debate poliacutetico de mudar a
realidade daquele entorno se natildeo mudar o modo de enxergar aquela realidade por
meio de uma accedilatildeo criativa de criar autorizar-se a pensar a partir daquela escolha
da cena congelada por meio do olhar delas Essa accedilatildeo que proposta por noacutes na
pele de pesquisadoras foi de uma certa forma uma provocaccedilatildeo Mas eacute isso que
acontece quando interagimos e comeccedilamos a nos vincular com as pessoas da
realidade que estamos pesquisando Portanto olhar para determinada realidade
fotografaacute-la e a partir do momento em que a fotografia impressa mostra as cenas
um exerciacutecio de imaginar algo a partir dali foi iniciado E a criaccedilatildeo era o desafio a ser
partilhado e foi vivenciado por elas durante pelo menos dois meses Ateacute as peccedilas
ficarem prontas E uma vez prontas passamos a admira-las pedindo agraves tecelatildes que
falassem sobre esse processo Essas conversas foram gravadas e degravadas com
a teacutecnica proposta por Wivian Weller (2006) em que cada pessoa que participa da
roda de conversa recebe um coacutedigo para facilitar a transcriccedilatildeo sendo a primeira
letra o nome da pessoa e a segunda f para feminino e m para masculino E a pessoa
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
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Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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criaccedilatildeo de peccedilas artesanais por meio de registros fotograacuteficos ldquosobre o que de feio
tem em Alvoradardquo feito com seus celulares e uma vez impressas as fotografias
serviram de ldquoinspiraccedilatildeordquo para a criaccedilatildeo de peccedilas artesanais E por fim 2015 e 2016
a apresentaccedilatildeo por meio de exposiccedilotildees e instalaccedilotildees das peccedilas criadas e
produzidas pelas tecelatildes
Ao fazer a anaacutelise nos utilizamos das marcas de leituras que aprendemos a
fazer com base em uma seacuterie de atravessamentos que nos formam pesquisadora
compromissada com a visibilizaccedilatildeo da histoacuteria das mulheres no campo educativo
por meio do trabalho artesanal
2 A METODOLOGIA INSPIRADORA
A metodologia da pesquisa baseia-se na Pesquisa Participante (STRECK
BRANDAtildeO 2006) na pesquisa (auto)biograacutefica (JOSSO 2004 2010) e em
pressupostos teoacutericos do feminismo (GEBARA 2000) Satildeo aspectos teoacuterico-
metodoloacutegicos que tramam um debate conspirador desde o Sul marginal Pensamos
na vida que acontece nas margens vida de mulheres das classes populares em
tentativas recorrentes da escolarizaccedilatildeo tardia na esperanccedila de um trabalho melhor
A aproximaccedilatildeo e entrevistas acontecem enquanto as quatro tecelatildes trabalham ou
enquanto elas mostram como se faz e ainda quando elas ensinam como se faz E
tudo isso noacutes anotamos gravamos degravamos e devolvemos agraves quatro tecelatildes
que participam de uma cooperativa e vivem desse trabalho artesanal E assim num
circuito que poderia ser chamado de um ciacuterculo hermenecircutico tentamos entender
aquilo que as tecelatildes fazem tramam conhecimento tecido para os dias melhores
Portanto a metodologia tem na forma como nos aproximamos agrave empiria um modo
de ler o mundo Somos marcadas por leituras que realizamos ao longo da nossa
formaccedilatildeo E entre essas leituras estatildeo as metodologias de pesquisa qualitativa
embasadas em concepccedilotildees da Educaccedilatildeo Popular de teorias feministas e leituras
decolonialistas (WALSCH 2013 ANZALDUA 2000 STRECK ADAMS 2012
2014) Juntamente com essas leituras temos ainda outras que nos convidam a
pensar o modo como interpretamos o que encontramos quando pesquisamos com
pessoas ao longo da nossa carreira de docentes e investigadoras cientiacuteficas
Buscamos metodologias de interpretaccedilatildeo produzidas na Ameacuterica Latina por meio da
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teologia feminista de norte a sul em diaacutelogos Sul-Sul Sul- Norte (SOUZA SANTOS
2014)E nesse intento fomos influenciadas por releituras teoloacutegicas feitas por
Wanda Deifelt (2004) e Ivone Gebara (2000) Teoacutelogas do sul que leram teoacutelogas
do norte como Elizabeth S Fiorenza (1992) e Rosemary Ruether (1993) Mas natildeo
soacute teoacutelogas temos leituras que marcaram posiccedilotildees criacuteticas epistemologicamente
Leituras que contribuiacuteram para perceber que existe sim a consciecircncia da exclusatildeo
a tradiccedilatildeo de noacutes mesmas e o reconhecimento de tradiccedilotildees alternativas de fazer o
conhecimento ser produzido (DEIFELT 1994) Esse eacute um modo de ser ldquomarcadardquo
que serve de argumento para que produziacutessemos uma proposta de interpretaccedilatildeo da
leitura dos claacutessicos na aacuterea da educaccedilatildeo tendo como eixo os passos da
hermenecircutica feminista 1Suspeitar 2 Recordar 3 Imaginar 4 Proclamar
(FIORENZA 1992) e atualmente um modo de realizar as pesquisas e as aulas que
oferecemos com qualquer tema que recebemos nos curriacuteculos que trabalhamos
Analisamos que haacute 20 anos num Encontro Latinoamericano de Mulheres Biblistas
ocorrido em Bogotaacute Colocircmbia em fevereiro de 1995 estudiosas exegetas
indicaram mudanccedilas significativas Para esse grupo ali reunido (1) o corpo eacute uma
categoria hermenecircutica (2) os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o
processo hermenecircutico (3) haacute uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo
e (4) eacute possiacutevel produzir uma hermenecircutica que questione o conceito de autoridade
biacuteblica (CARDOSO 1996) Temos um outro modo de produzir teologia e ampliando
podemos dizer temos um outro modo de produzir conhecimento em geral
Acrescente-se a esse tipo de marca pedagoacutegica de aprendizagem os
argumentos das mulheres e homens negros e indiacutegenas e teremos mais
complexidade Quando lemos Renato Noguera (2016) vemos que as Ciecircncias
Humanas produzem um terremoto junto as antigas certezas que tiacutenhamos com base
nos ensinamentos das ciecircncias naturais que eram o espelho para fazermos ciecircncia
E podemos dizer com Renate Gierus (2006) que haacute uma Memoacuteria individual
e coletiva que pode ser visibilizada quando contamos tanto a histoacuteria inclusiva dentro
da histoacuteria plural E nunca mais uacutenica porque dessa marca queremos distancia pois
a marca da histoacuteria uacutenica (ADICHIE SD) nos paralisa
3 AS INVISIBILIDADES DE UM ATELIEcirc
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Fotografia 1 Invisibilidade (Fotografia de Amanda M Castro 2010)
O contexto da produccedilatildeo artesanal no Brasil eacute de que 85 da matildeo de obra do
artesanato brasileiro eacute produzido por mulheres invisibilizadas sem rosto e sem
assinatura na sua obra produzida
As mulheres participantes dessa pesquisa comprometida em realizar
constantes devoluccedilotildees a elas satildeo lutadoras teimosas que compotildeem esse contexto
do artesanato brasileiro Apenas uma delas concluiu o Ensino Meacutedio enquanto que
trecircs ficaram pelo caminho do ensino fundamental e meacutedio Quatro possuem filhs e
uma eacute solteira e natildeo tem filhs Atualmente uma delas eacute casada e o que podemos
observar eacute que o trabalho artesanal eacute fonte de renda baacutesico na vida de todas A
idade delas gira em torno de 25 a 52 anos Haacute uma variedade de visotildees de mundo
que compotildee o cotidiano das conversas nesse grupo de trabalho desde visotildees mais
ligadas ao mundo religioso cristatildeo passando por visotildees mais proacuteximas ao mundo de
quem convive com diversas experiecircncias de feacute ou ateacute sem religiatildeo alguma3 Estatildeo
envolvidas na pesquisa ao todo cinco mulheres
3 A pesquisa que nos propusemos trilhar possui compromisso com a histoacuteria das mulheres artesatildes e a busca por sua visibilidade Temos analisado com elas os diferentes modos de tornarem-se presentes nas produccedilotildees cientiacuteficas que realizamos e isso natildeo eacute algo fixo pois entendemos que eacute um processo Depois de quase um ano (2008-2009) de trabalho investigativo realizando devoluccedilotildees das observaccedilotildees que eram feitas a partir de cada visita elas relataram uma experiecircncia muito negativa que viveram com duas fotoacutegrafas estrangeiras que visitaram o ateliecirc e fotografaram a produccedilatildeo artesanal com a presenccedila delas Passado um bom tempo as fotoacutegrafas enviaram uma revista com a mateacuteria e as fotografias que segunda elas eram maravilhosas Poreacutem o texto era em alematildeo e nenhuma delas sabe ler em alematildeo Certo dia uma senhora que sabia ler estava no ateliecirc leu a mateacuteria para elas E para surpresa de todas o texto dizia que essas mulheres eram muito pobres e que moravam em baixo de pontes e que a venda dos seus produtos artesanais para a Europa fazia
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Alvorada RS eacute um municiacutepio que compotildee a regiatildeo metropolitana de Porto
Alegre com 204 mil habitantes identificada como periferia urbana (IBGE sd)
Possui 27 escolas municipais 17 escolas estaduais (20 mil alunos na rede puacuteblica) e
6 escolas particulares entre elas duas escolas de Educaccedilatildeo Infantil uma de Ensino
Superior A partir do ano de 2014 o municiacutepio recebeu a implantaccedilatildeo de um Instituto
Federal de Educaccedilatildeo IF por meio de demandas das poliacuteticas puacuteblicas do Governo
Federal Eacute nesse contexto educacional que inserimos o espaccedilo do atelier como um
espaccedilo educativo natildeo escolar
4 O PROCESSO EDUCATIVO DO CICLO DO SABER FAZER TECELAGEM E DO
PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO
Eacute possiacutevel afirmar que desenvolvemos junto agraves tecelatildes uma seacuterie de
provocaccedilotildees que buscaram visibilizar os modos de trabalho teacutecnico que elas
produzem nas vivencias de um ateliecirc Na primeira produccedilatildeo cientiacutefica realizada junto
ao grupo observaacutevamos que o trabalho do grupo das tecelatildes era parecido com o
trabalho das professoras em sala de aula Analisaacutevamos comparativamente o fazer
docente com o fazer tecelatilde elas por sua vez achavam engraccedilada essa comparaccedilatildeo
(EGGERT SILVA 2009) No ano de 2010 realizamos uma primeira oficina entre
tecelatildes e professoras com a proposta de tecelatildes ensinarem tecelagem para as
professoras-pesquisadoras foram dois dias de oficina em que ao final realizamos
uma roda de conversa e debatemos a implicaccedilatildeo das rotinas do fazer e pensar dos
processos da tecelagem e dos processos docentes A roda de conversa com todo o
grupo comparou e analisou aspectos que aproximavam e distinguiam o fazer
docente do fazer artesanal A oficina proporcionou que cada uma das cinco
docentespesquisadoras que vivenciou a aprendizagem produzisse duas peccedilas de
tecelagem Durante esses dois dias foram realizadas filmagens por parte das
proacuteprias integrantes da pesquisa ora eram as tecelatildes que filmavam e ora eram as
docentespesquisadoras que capturavam as imagens Essa filmagem foi
posteriormente entregue a uma documentarista com um roteiro preacute organizado pela
com que elas melhorassem de vida A indignaccedilatildeo tomou conta de todas e a partir daquela experiecircncia elas natildeo aceitavam ser fotografadas De maneira que levamos alguns anos para amadurecer as possibilidades das formas como elas decidem ficar visiacuteveis em nossas produccedilotildees ldquotecircxtisrdquo Nesse artigo elas ficam visiacuteveis na transcriccedilatildeo como poderaacute ser constatado posteriormente
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equipe de pesquisa para servir de siacutentese documental daquela vivencia
(FELIZARDO 2010)
Uma segunda dimensatildeo de fazer e pensar processos de tecelagem surgiu
depois que com base na observaccedilatildeo participante e por meio de dois Grupos de
Discussatildeo (2010) analisamos com as tecelatildes que para elas era muito cocircmodo
simplesmente receber os projetos dos desenhos prontos para tecer Isso foi possiacutevel
de ser detectado num debate realizado por meio de dois Grupos de Discussatildeo
(BOHNSACK WELLER 2006) em que identificamos a importacircncia que as tecelatildes
davam para a centralidade dos trabalhos da artesatilde mestra Para elas a mestra era
aleacutem de ldquodonardquo do ateliecirc a mentora das peccedilas artesanais Nesse momento
instigamos a todas tecelatildes a pensarem os potenciais do ateliecirc e as desafiamos a
pensar um projeto de criaccedilatildeo de peccedilas artesanais
O projeto da criaccedilatildeo em tecelagem nasceu a partir de trecircs incocircmodos e foi
proposto com a seguintes avaliaccedilotildees feitas com as tecelatildes a) O atelier de
tecelagem eacute um ldquoestranho no ninhordquo no municiacutepio de Alvorada e aleacutem disso a
produccedilatildeo de tecelagem artesanal feita em Alvorada eacute invisiacutevel e natildeo eacute reconhecida
b) Alvorada eacute municiacutepio lembrado pelos aspectos ruins que apresenta As tecelatildes
resistiam ao exerciacutecio da criaccedilatildeo tecircxtil
Analisamos com elas que era preciso pensar algo na direccedilatildeo do ldquodesvalorrdquo e
chegamos a seguinte proposta vincular-se com a cidade ndash encarando coisas que as
incomodavam por meio da fotografia transformar o olhar sobre o cotidiano da cidade
ndash com base nas fotos escolher algumas para pensar na criaccedilatildeo de peccedilas tecircxtiscriar
uma releitura ndash confeccionar peccedilas inspiradas nas fotografias escolhidas ldquodestecer o
ruim da cidaderdquo
Para que isso acontecesse cada uma das tecelatildes utilizou-se dos proacuteprios
celulares para capturar imagens que uma vez feitas num tempo aproximado de
duas semanas foram impressas em folhas A4 As fotografias foram impressas
coloridas e tivemos ao todo umas 78 impressotildees Todo esse material ficou
disponiacutevel para ser contemplado primeiramente numa manhatilde de estudo sobre esse
exerciacutecio e na sequencia as fotografias ficaram disponiacuteveis numa caixa que era
retomada simultaneamente enquanto o trabalho de tecelagem acontecia e as
conversas sobre a escolha de pelo menos duas imagens fossem inspiradoras para
duas peccedilas serem criadas tendo como base de apoio as fotografias eleitas
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Nas conversas entabuladas durante dois encontros observamos o quanto
que as fotografias das realidades feias de Alvorada implicaram no modo como
tambeacutem elas observavam o entorno e tentaram mudar isso com a feitura de peccedilas
artesanais Nesse momento natildeo estava presente o debate poliacutetico de mudar a
realidade daquele entorno se natildeo mudar o modo de enxergar aquela realidade por
meio de uma accedilatildeo criativa de criar autorizar-se a pensar a partir daquela escolha
da cena congelada por meio do olhar delas Essa accedilatildeo que proposta por noacutes na
pele de pesquisadoras foi de uma certa forma uma provocaccedilatildeo Mas eacute isso que
acontece quando interagimos e comeccedilamos a nos vincular com as pessoas da
realidade que estamos pesquisando Portanto olhar para determinada realidade
fotografaacute-la e a partir do momento em que a fotografia impressa mostra as cenas
um exerciacutecio de imaginar algo a partir dali foi iniciado E a criaccedilatildeo era o desafio a ser
partilhado e foi vivenciado por elas durante pelo menos dois meses Ateacute as peccedilas
ficarem prontas E uma vez prontas passamos a admira-las pedindo agraves tecelatildes que
falassem sobre esse processo Essas conversas foram gravadas e degravadas com
a teacutecnica proposta por Wivian Weller (2006) em que cada pessoa que participa da
roda de conversa recebe um coacutedigo para facilitar a transcriccedilatildeo sendo a primeira
letra o nome da pessoa e a segunda f para feminino e m para masculino E a pessoa
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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teologia feminista de norte a sul em diaacutelogos Sul-Sul Sul- Norte (SOUZA SANTOS
2014)E nesse intento fomos influenciadas por releituras teoloacutegicas feitas por
Wanda Deifelt (2004) e Ivone Gebara (2000) Teoacutelogas do sul que leram teoacutelogas
do norte como Elizabeth S Fiorenza (1992) e Rosemary Ruether (1993) Mas natildeo
soacute teoacutelogas temos leituras que marcaram posiccedilotildees criacuteticas epistemologicamente
Leituras que contribuiacuteram para perceber que existe sim a consciecircncia da exclusatildeo
a tradiccedilatildeo de noacutes mesmas e o reconhecimento de tradiccedilotildees alternativas de fazer o
conhecimento ser produzido (DEIFELT 1994) Esse eacute um modo de ser ldquomarcadardquo
que serve de argumento para que produziacutessemos uma proposta de interpretaccedilatildeo da
leitura dos claacutessicos na aacuterea da educaccedilatildeo tendo como eixo os passos da
hermenecircutica feminista 1Suspeitar 2 Recordar 3 Imaginar 4 Proclamar
(FIORENZA 1992) e atualmente um modo de realizar as pesquisas e as aulas que
oferecemos com qualquer tema que recebemos nos curriacuteculos que trabalhamos
Analisamos que haacute 20 anos num Encontro Latinoamericano de Mulheres Biblistas
ocorrido em Bogotaacute Colocircmbia em fevereiro de 1995 estudiosas exegetas
indicaram mudanccedilas significativas Para esse grupo ali reunido (1) o corpo eacute uma
categoria hermenecircutica (2) os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o
processo hermenecircutico (3) haacute uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo
e (4) eacute possiacutevel produzir uma hermenecircutica que questione o conceito de autoridade
biacuteblica (CARDOSO 1996) Temos um outro modo de produzir teologia e ampliando
podemos dizer temos um outro modo de produzir conhecimento em geral
Acrescente-se a esse tipo de marca pedagoacutegica de aprendizagem os
argumentos das mulheres e homens negros e indiacutegenas e teremos mais
complexidade Quando lemos Renato Noguera (2016) vemos que as Ciecircncias
Humanas produzem um terremoto junto as antigas certezas que tiacutenhamos com base
nos ensinamentos das ciecircncias naturais que eram o espelho para fazermos ciecircncia
E podemos dizer com Renate Gierus (2006) que haacute uma Memoacuteria individual
e coletiva que pode ser visibilizada quando contamos tanto a histoacuteria inclusiva dentro
da histoacuteria plural E nunca mais uacutenica porque dessa marca queremos distancia pois
a marca da histoacuteria uacutenica (ADICHIE SD) nos paralisa
3 AS INVISIBILIDADES DE UM ATELIEcirc
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Fotografia 1 Invisibilidade (Fotografia de Amanda M Castro 2010)
O contexto da produccedilatildeo artesanal no Brasil eacute de que 85 da matildeo de obra do
artesanato brasileiro eacute produzido por mulheres invisibilizadas sem rosto e sem
assinatura na sua obra produzida
As mulheres participantes dessa pesquisa comprometida em realizar
constantes devoluccedilotildees a elas satildeo lutadoras teimosas que compotildeem esse contexto
do artesanato brasileiro Apenas uma delas concluiu o Ensino Meacutedio enquanto que
trecircs ficaram pelo caminho do ensino fundamental e meacutedio Quatro possuem filhs e
uma eacute solteira e natildeo tem filhs Atualmente uma delas eacute casada e o que podemos
observar eacute que o trabalho artesanal eacute fonte de renda baacutesico na vida de todas A
idade delas gira em torno de 25 a 52 anos Haacute uma variedade de visotildees de mundo
que compotildee o cotidiano das conversas nesse grupo de trabalho desde visotildees mais
ligadas ao mundo religioso cristatildeo passando por visotildees mais proacuteximas ao mundo de
quem convive com diversas experiecircncias de feacute ou ateacute sem religiatildeo alguma3 Estatildeo
envolvidas na pesquisa ao todo cinco mulheres
3 A pesquisa que nos propusemos trilhar possui compromisso com a histoacuteria das mulheres artesatildes e a busca por sua visibilidade Temos analisado com elas os diferentes modos de tornarem-se presentes nas produccedilotildees cientiacuteficas que realizamos e isso natildeo eacute algo fixo pois entendemos que eacute um processo Depois de quase um ano (2008-2009) de trabalho investigativo realizando devoluccedilotildees das observaccedilotildees que eram feitas a partir de cada visita elas relataram uma experiecircncia muito negativa que viveram com duas fotoacutegrafas estrangeiras que visitaram o ateliecirc e fotografaram a produccedilatildeo artesanal com a presenccedila delas Passado um bom tempo as fotoacutegrafas enviaram uma revista com a mateacuteria e as fotografias que segunda elas eram maravilhosas Poreacutem o texto era em alematildeo e nenhuma delas sabe ler em alematildeo Certo dia uma senhora que sabia ler estava no ateliecirc leu a mateacuteria para elas E para surpresa de todas o texto dizia que essas mulheres eram muito pobres e que moravam em baixo de pontes e que a venda dos seus produtos artesanais para a Europa fazia
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Alvorada RS eacute um municiacutepio que compotildee a regiatildeo metropolitana de Porto
Alegre com 204 mil habitantes identificada como periferia urbana (IBGE sd)
Possui 27 escolas municipais 17 escolas estaduais (20 mil alunos na rede puacuteblica) e
6 escolas particulares entre elas duas escolas de Educaccedilatildeo Infantil uma de Ensino
Superior A partir do ano de 2014 o municiacutepio recebeu a implantaccedilatildeo de um Instituto
Federal de Educaccedilatildeo IF por meio de demandas das poliacuteticas puacuteblicas do Governo
Federal Eacute nesse contexto educacional que inserimos o espaccedilo do atelier como um
espaccedilo educativo natildeo escolar
4 O PROCESSO EDUCATIVO DO CICLO DO SABER FAZER TECELAGEM E DO
PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO
Eacute possiacutevel afirmar que desenvolvemos junto agraves tecelatildes uma seacuterie de
provocaccedilotildees que buscaram visibilizar os modos de trabalho teacutecnico que elas
produzem nas vivencias de um ateliecirc Na primeira produccedilatildeo cientiacutefica realizada junto
ao grupo observaacutevamos que o trabalho do grupo das tecelatildes era parecido com o
trabalho das professoras em sala de aula Analisaacutevamos comparativamente o fazer
docente com o fazer tecelatilde elas por sua vez achavam engraccedilada essa comparaccedilatildeo
(EGGERT SILVA 2009) No ano de 2010 realizamos uma primeira oficina entre
tecelatildes e professoras com a proposta de tecelatildes ensinarem tecelagem para as
professoras-pesquisadoras foram dois dias de oficina em que ao final realizamos
uma roda de conversa e debatemos a implicaccedilatildeo das rotinas do fazer e pensar dos
processos da tecelagem e dos processos docentes A roda de conversa com todo o
grupo comparou e analisou aspectos que aproximavam e distinguiam o fazer
docente do fazer artesanal A oficina proporcionou que cada uma das cinco
docentespesquisadoras que vivenciou a aprendizagem produzisse duas peccedilas de
tecelagem Durante esses dois dias foram realizadas filmagens por parte das
proacuteprias integrantes da pesquisa ora eram as tecelatildes que filmavam e ora eram as
docentespesquisadoras que capturavam as imagens Essa filmagem foi
posteriormente entregue a uma documentarista com um roteiro preacute organizado pela
com que elas melhorassem de vida A indignaccedilatildeo tomou conta de todas e a partir daquela experiecircncia elas natildeo aceitavam ser fotografadas De maneira que levamos alguns anos para amadurecer as possibilidades das formas como elas decidem ficar visiacuteveis em nossas produccedilotildees ldquotecircxtisrdquo Nesse artigo elas ficam visiacuteveis na transcriccedilatildeo como poderaacute ser constatado posteriormente
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equipe de pesquisa para servir de siacutentese documental daquela vivencia
(FELIZARDO 2010)
Uma segunda dimensatildeo de fazer e pensar processos de tecelagem surgiu
depois que com base na observaccedilatildeo participante e por meio de dois Grupos de
Discussatildeo (2010) analisamos com as tecelatildes que para elas era muito cocircmodo
simplesmente receber os projetos dos desenhos prontos para tecer Isso foi possiacutevel
de ser detectado num debate realizado por meio de dois Grupos de Discussatildeo
(BOHNSACK WELLER 2006) em que identificamos a importacircncia que as tecelatildes
davam para a centralidade dos trabalhos da artesatilde mestra Para elas a mestra era
aleacutem de ldquodonardquo do ateliecirc a mentora das peccedilas artesanais Nesse momento
instigamos a todas tecelatildes a pensarem os potenciais do ateliecirc e as desafiamos a
pensar um projeto de criaccedilatildeo de peccedilas artesanais
O projeto da criaccedilatildeo em tecelagem nasceu a partir de trecircs incocircmodos e foi
proposto com a seguintes avaliaccedilotildees feitas com as tecelatildes a) O atelier de
tecelagem eacute um ldquoestranho no ninhordquo no municiacutepio de Alvorada e aleacutem disso a
produccedilatildeo de tecelagem artesanal feita em Alvorada eacute invisiacutevel e natildeo eacute reconhecida
b) Alvorada eacute municiacutepio lembrado pelos aspectos ruins que apresenta As tecelatildes
resistiam ao exerciacutecio da criaccedilatildeo tecircxtil
Analisamos com elas que era preciso pensar algo na direccedilatildeo do ldquodesvalorrdquo e
chegamos a seguinte proposta vincular-se com a cidade ndash encarando coisas que as
incomodavam por meio da fotografia transformar o olhar sobre o cotidiano da cidade
ndash com base nas fotos escolher algumas para pensar na criaccedilatildeo de peccedilas tecircxtiscriar
uma releitura ndash confeccionar peccedilas inspiradas nas fotografias escolhidas ldquodestecer o
ruim da cidaderdquo
Para que isso acontecesse cada uma das tecelatildes utilizou-se dos proacuteprios
celulares para capturar imagens que uma vez feitas num tempo aproximado de
duas semanas foram impressas em folhas A4 As fotografias foram impressas
coloridas e tivemos ao todo umas 78 impressotildees Todo esse material ficou
disponiacutevel para ser contemplado primeiramente numa manhatilde de estudo sobre esse
exerciacutecio e na sequencia as fotografias ficaram disponiacuteveis numa caixa que era
retomada simultaneamente enquanto o trabalho de tecelagem acontecia e as
conversas sobre a escolha de pelo menos duas imagens fossem inspiradoras para
duas peccedilas serem criadas tendo como base de apoio as fotografias eleitas
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Nas conversas entabuladas durante dois encontros observamos o quanto
que as fotografias das realidades feias de Alvorada implicaram no modo como
tambeacutem elas observavam o entorno e tentaram mudar isso com a feitura de peccedilas
artesanais Nesse momento natildeo estava presente o debate poliacutetico de mudar a
realidade daquele entorno se natildeo mudar o modo de enxergar aquela realidade por
meio de uma accedilatildeo criativa de criar autorizar-se a pensar a partir daquela escolha
da cena congelada por meio do olhar delas Essa accedilatildeo que proposta por noacutes na
pele de pesquisadoras foi de uma certa forma uma provocaccedilatildeo Mas eacute isso que
acontece quando interagimos e comeccedilamos a nos vincular com as pessoas da
realidade que estamos pesquisando Portanto olhar para determinada realidade
fotografaacute-la e a partir do momento em que a fotografia impressa mostra as cenas
um exerciacutecio de imaginar algo a partir dali foi iniciado E a criaccedilatildeo era o desafio a ser
partilhado e foi vivenciado por elas durante pelo menos dois meses Ateacute as peccedilas
ficarem prontas E uma vez prontas passamos a admira-las pedindo agraves tecelatildes que
falassem sobre esse processo Essas conversas foram gravadas e degravadas com
a teacutecnica proposta por Wivian Weller (2006) em que cada pessoa que participa da
roda de conversa recebe um coacutedigo para facilitar a transcriccedilatildeo sendo a primeira
letra o nome da pessoa e a segunda f para feminino e m para masculino E a pessoa
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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Fotografia 1 Invisibilidade (Fotografia de Amanda M Castro 2010)
O contexto da produccedilatildeo artesanal no Brasil eacute de que 85 da matildeo de obra do
artesanato brasileiro eacute produzido por mulheres invisibilizadas sem rosto e sem
assinatura na sua obra produzida
As mulheres participantes dessa pesquisa comprometida em realizar
constantes devoluccedilotildees a elas satildeo lutadoras teimosas que compotildeem esse contexto
do artesanato brasileiro Apenas uma delas concluiu o Ensino Meacutedio enquanto que
trecircs ficaram pelo caminho do ensino fundamental e meacutedio Quatro possuem filhs e
uma eacute solteira e natildeo tem filhs Atualmente uma delas eacute casada e o que podemos
observar eacute que o trabalho artesanal eacute fonte de renda baacutesico na vida de todas A
idade delas gira em torno de 25 a 52 anos Haacute uma variedade de visotildees de mundo
que compotildee o cotidiano das conversas nesse grupo de trabalho desde visotildees mais
ligadas ao mundo religioso cristatildeo passando por visotildees mais proacuteximas ao mundo de
quem convive com diversas experiecircncias de feacute ou ateacute sem religiatildeo alguma3 Estatildeo
envolvidas na pesquisa ao todo cinco mulheres
3 A pesquisa que nos propusemos trilhar possui compromisso com a histoacuteria das mulheres artesatildes e a busca por sua visibilidade Temos analisado com elas os diferentes modos de tornarem-se presentes nas produccedilotildees cientiacuteficas que realizamos e isso natildeo eacute algo fixo pois entendemos que eacute um processo Depois de quase um ano (2008-2009) de trabalho investigativo realizando devoluccedilotildees das observaccedilotildees que eram feitas a partir de cada visita elas relataram uma experiecircncia muito negativa que viveram com duas fotoacutegrafas estrangeiras que visitaram o ateliecirc e fotografaram a produccedilatildeo artesanal com a presenccedila delas Passado um bom tempo as fotoacutegrafas enviaram uma revista com a mateacuteria e as fotografias que segunda elas eram maravilhosas Poreacutem o texto era em alematildeo e nenhuma delas sabe ler em alematildeo Certo dia uma senhora que sabia ler estava no ateliecirc leu a mateacuteria para elas E para surpresa de todas o texto dizia que essas mulheres eram muito pobres e que moravam em baixo de pontes e que a venda dos seus produtos artesanais para a Europa fazia
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Alvorada RS eacute um municiacutepio que compotildee a regiatildeo metropolitana de Porto
Alegre com 204 mil habitantes identificada como periferia urbana (IBGE sd)
Possui 27 escolas municipais 17 escolas estaduais (20 mil alunos na rede puacuteblica) e
6 escolas particulares entre elas duas escolas de Educaccedilatildeo Infantil uma de Ensino
Superior A partir do ano de 2014 o municiacutepio recebeu a implantaccedilatildeo de um Instituto
Federal de Educaccedilatildeo IF por meio de demandas das poliacuteticas puacuteblicas do Governo
Federal Eacute nesse contexto educacional que inserimos o espaccedilo do atelier como um
espaccedilo educativo natildeo escolar
4 O PROCESSO EDUCATIVO DO CICLO DO SABER FAZER TECELAGEM E DO
PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO
Eacute possiacutevel afirmar que desenvolvemos junto agraves tecelatildes uma seacuterie de
provocaccedilotildees que buscaram visibilizar os modos de trabalho teacutecnico que elas
produzem nas vivencias de um ateliecirc Na primeira produccedilatildeo cientiacutefica realizada junto
ao grupo observaacutevamos que o trabalho do grupo das tecelatildes era parecido com o
trabalho das professoras em sala de aula Analisaacutevamos comparativamente o fazer
docente com o fazer tecelatilde elas por sua vez achavam engraccedilada essa comparaccedilatildeo
(EGGERT SILVA 2009) No ano de 2010 realizamos uma primeira oficina entre
tecelatildes e professoras com a proposta de tecelatildes ensinarem tecelagem para as
professoras-pesquisadoras foram dois dias de oficina em que ao final realizamos
uma roda de conversa e debatemos a implicaccedilatildeo das rotinas do fazer e pensar dos
processos da tecelagem e dos processos docentes A roda de conversa com todo o
grupo comparou e analisou aspectos que aproximavam e distinguiam o fazer
docente do fazer artesanal A oficina proporcionou que cada uma das cinco
docentespesquisadoras que vivenciou a aprendizagem produzisse duas peccedilas de
tecelagem Durante esses dois dias foram realizadas filmagens por parte das
proacuteprias integrantes da pesquisa ora eram as tecelatildes que filmavam e ora eram as
docentespesquisadoras que capturavam as imagens Essa filmagem foi
posteriormente entregue a uma documentarista com um roteiro preacute organizado pela
com que elas melhorassem de vida A indignaccedilatildeo tomou conta de todas e a partir daquela experiecircncia elas natildeo aceitavam ser fotografadas De maneira que levamos alguns anos para amadurecer as possibilidades das formas como elas decidem ficar visiacuteveis em nossas produccedilotildees ldquotecircxtisrdquo Nesse artigo elas ficam visiacuteveis na transcriccedilatildeo como poderaacute ser constatado posteriormente
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equipe de pesquisa para servir de siacutentese documental daquela vivencia
(FELIZARDO 2010)
Uma segunda dimensatildeo de fazer e pensar processos de tecelagem surgiu
depois que com base na observaccedilatildeo participante e por meio de dois Grupos de
Discussatildeo (2010) analisamos com as tecelatildes que para elas era muito cocircmodo
simplesmente receber os projetos dos desenhos prontos para tecer Isso foi possiacutevel
de ser detectado num debate realizado por meio de dois Grupos de Discussatildeo
(BOHNSACK WELLER 2006) em que identificamos a importacircncia que as tecelatildes
davam para a centralidade dos trabalhos da artesatilde mestra Para elas a mestra era
aleacutem de ldquodonardquo do ateliecirc a mentora das peccedilas artesanais Nesse momento
instigamos a todas tecelatildes a pensarem os potenciais do ateliecirc e as desafiamos a
pensar um projeto de criaccedilatildeo de peccedilas artesanais
O projeto da criaccedilatildeo em tecelagem nasceu a partir de trecircs incocircmodos e foi
proposto com a seguintes avaliaccedilotildees feitas com as tecelatildes a) O atelier de
tecelagem eacute um ldquoestranho no ninhordquo no municiacutepio de Alvorada e aleacutem disso a
produccedilatildeo de tecelagem artesanal feita em Alvorada eacute invisiacutevel e natildeo eacute reconhecida
b) Alvorada eacute municiacutepio lembrado pelos aspectos ruins que apresenta As tecelatildes
resistiam ao exerciacutecio da criaccedilatildeo tecircxtil
Analisamos com elas que era preciso pensar algo na direccedilatildeo do ldquodesvalorrdquo e
chegamos a seguinte proposta vincular-se com a cidade ndash encarando coisas que as
incomodavam por meio da fotografia transformar o olhar sobre o cotidiano da cidade
ndash com base nas fotos escolher algumas para pensar na criaccedilatildeo de peccedilas tecircxtiscriar
uma releitura ndash confeccionar peccedilas inspiradas nas fotografias escolhidas ldquodestecer o
ruim da cidaderdquo
Para que isso acontecesse cada uma das tecelatildes utilizou-se dos proacuteprios
celulares para capturar imagens que uma vez feitas num tempo aproximado de
duas semanas foram impressas em folhas A4 As fotografias foram impressas
coloridas e tivemos ao todo umas 78 impressotildees Todo esse material ficou
disponiacutevel para ser contemplado primeiramente numa manhatilde de estudo sobre esse
exerciacutecio e na sequencia as fotografias ficaram disponiacuteveis numa caixa que era
retomada simultaneamente enquanto o trabalho de tecelagem acontecia e as
conversas sobre a escolha de pelo menos duas imagens fossem inspiradoras para
duas peccedilas serem criadas tendo como base de apoio as fotografias eleitas
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Nas conversas entabuladas durante dois encontros observamos o quanto
que as fotografias das realidades feias de Alvorada implicaram no modo como
tambeacutem elas observavam o entorno e tentaram mudar isso com a feitura de peccedilas
artesanais Nesse momento natildeo estava presente o debate poliacutetico de mudar a
realidade daquele entorno se natildeo mudar o modo de enxergar aquela realidade por
meio de uma accedilatildeo criativa de criar autorizar-se a pensar a partir daquela escolha
da cena congelada por meio do olhar delas Essa accedilatildeo que proposta por noacutes na
pele de pesquisadoras foi de uma certa forma uma provocaccedilatildeo Mas eacute isso que
acontece quando interagimos e comeccedilamos a nos vincular com as pessoas da
realidade que estamos pesquisando Portanto olhar para determinada realidade
fotografaacute-la e a partir do momento em que a fotografia impressa mostra as cenas
um exerciacutecio de imaginar algo a partir dali foi iniciado E a criaccedilatildeo era o desafio a ser
partilhado e foi vivenciado por elas durante pelo menos dois meses Ateacute as peccedilas
ficarem prontas E uma vez prontas passamos a admira-las pedindo agraves tecelatildes que
falassem sobre esse processo Essas conversas foram gravadas e degravadas com
a teacutecnica proposta por Wivian Weller (2006) em que cada pessoa que participa da
roda de conversa recebe um coacutedigo para facilitar a transcriccedilatildeo sendo a primeira
letra o nome da pessoa e a segunda f para feminino e m para masculino E a pessoa
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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Alvorada RS eacute um municiacutepio que compotildee a regiatildeo metropolitana de Porto
Alegre com 204 mil habitantes identificada como periferia urbana (IBGE sd)
Possui 27 escolas municipais 17 escolas estaduais (20 mil alunos na rede puacuteblica) e
6 escolas particulares entre elas duas escolas de Educaccedilatildeo Infantil uma de Ensino
Superior A partir do ano de 2014 o municiacutepio recebeu a implantaccedilatildeo de um Instituto
Federal de Educaccedilatildeo IF por meio de demandas das poliacuteticas puacuteblicas do Governo
Federal Eacute nesse contexto educacional que inserimos o espaccedilo do atelier como um
espaccedilo educativo natildeo escolar
4 O PROCESSO EDUCATIVO DO CICLO DO SABER FAZER TECELAGEM E DO
PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO
Eacute possiacutevel afirmar que desenvolvemos junto agraves tecelatildes uma seacuterie de
provocaccedilotildees que buscaram visibilizar os modos de trabalho teacutecnico que elas
produzem nas vivencias de um ateliecirc Na primeira produccedilatildeo cientiacutefica realizada junto
ao grupo observaacutevamos que o trabalho do grupo das tecelatildes era parecido com o
trabalho das professoras em sala de aula Analisaacutevamos comparativamente o fazer
docente com o fazer tecelatilde elas por sua vez achavam engraccedilada essa comparaccedilatildeo
(EGGERT SILVA 2009) No ano de 2010 realizamos uma primeira oficina entre
tecelatildes e professoras com a proposta de tecelatildes ensinarem tecelagem para as
professoras-pesquisadoras foram dois dias de oficina em que ao final realizamos
uma roda de conversa e debatemos a implicaccedilatildeo das rotinas do fazer e pensar dos
processos da tecelagem e dos processos docentes A roda de conversa com todo o
grupo comparou e analisou aspectos que aproximavam e distinguiam o fazer
docente do fazer artesanal A oficina proporcionou que cada uma das cinco
docentespesquisadoras que vivenciou a aprendizagem produzisse duas peccedilas de
tecelagem Durante esses dois dias foram realizadas filmagens por parte das
proacuteprias integrantes da pesquisa ora eram as tecelatildes que filmavam e ora eram as
docentespesquisadoras que capturavam as imagens Essa filmagem foi
posteriormente entregue a uma documentarista com um roteiro preacute organizado pela
com que elas melhorassem de vida A indignaccedilatildeo tomou conta de todas e a partir daquela experiecircncia elas natildeo aceitavam ser fotografadas De maneira que levamos alguns anos para amadurecer as possibilidades das formas como elas decidem ficar visiacuteveis em nossas produccedilotildees ldquotecircxtisrdquo Nesse artigo elas ficam visiacuteveis na transcriccedilatildeo como poderaacute ser constatado posteriormente
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equipe de pesquisa para servir de siacutentese documental daquela vivencia
(FELIZARDO 2010)
Uma segunda dimensatildeo de fazer e pensar processos de tecelagem surgiu
depois que com base na observaccedilatildeo participante e por meio de dois Grupos de
Discussatildeo (2010) analisamos com as tecelatildes que para elas era muito cocircmodo
simplesmente receber os projetos dos desenhos prontos para tecer Isso foi possiacutevel
de ser detectado num debate realizado por meio de dois Grupos de Discussatildeo
(BOHNSACK WELLER 2006) em que identificamos a importacircncia que as tecelatildes
davam para a centralidade dos trabalhos da artesatilde mestra Para elas a mestra era
aleacutem de ldquodonardquo do ateliecirc a mentora das peccedilas artesanais Nesse momento
instigamos a todas tecelatildes a pensarem os potenciais do ateliecirc e as desafiamos a
pensar um projeto de criaccedilatildeo de peccedilas artesanais
O projeto da criaccedilatildeo em tecelagem nasceu a partir de trecircs incocircmodos e foi
proposto com a seguintes avaliaccedilotildees feitas com as tecelatildes a) O atelier de
tecelagem eacute um ldquoestranho no ninhordquo no municiacutepio de Alvorada e aleacutem disso a
produccedilatildeo de tecelagem artesanal feita em Alvorada eacute invisiacutevel e natildeo eacute reconhecida
b) Alvorada eacute municiacutepio lembrado pelos aspectos ruins que apresenta As tecelatildes
resistiam ao exerciacutecio da criaccedilatildeo tecircxtil
Analisamos com elas que era preciso pensar algo na direccedilatildeo do ldquodesvalorrdquo e
chegamos a seguinte proposta vincular-se com a cidade ndash encarando coisas que as
incomodavam por meio da fotografia transformar o olhar sobre o cotidiano da cidade
ndash com base nas fotos escolher algumas para pensar na criaccedilatildeo de peccedilas tecircxtiscriar
uma releitura ndash confeccionar peccedilas inspiradas nas fotografias escolhidas ldquodestecer o
ruim da cidaderdquo
Para que isso acontecesse cada uma das tecelatildes utilizou-se dos proacuteprios
celulares para capturar imagens que uma vez feitas num tempo aproximado de
duas semanas foram impressas em folhas A4 As fotografias foram impressas
coloridas e tivemos ao todo umas 78 impressotildees Todo esse material ficou
disponiacutevel para ser contemplado primeiramente numa manhatilde de estudo sobre esse
exerciacutecio e na sequencia as fotografias ficaram disponiacuteveis numa caixa que era
retomada simultaneamente enquanto o trabalho de tecelagem acontecia e as
conversas sobre a escolha de pelo menos duas imagens fossem inspiradoras para
duas peccedilas serem criadas tendo como base de apoio as fotografias eleitas
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Nas conversas entabuladas durante dois encontros observamos o quanto
que as fotografias das realidades feias de Alvorada implicaram no modo como
tambeacutem elas observavam o entorno e tentaram mudar isso com a feitura de peccedilas
artesanais Nesse momento natildeo estava presente o debate poliacutetico de mudar a
realidade daquele entorno se natildeo mudar o modo de enxergar aquela realidade por
meio de uma accedilatildeo criativa de criar autorizar-se a pensar a partir daquela escolha
da cena congelada por meio do olhar delas Essa accedilatildeo que proposta por noacutes na
pele de pesquisadoras foi de uma certa forma uma provocaccedilatildeo Mas eacute isso que
acontece quando interagimos e comeccedilamos a nos vincular com as pessoas da
realidade que estamos pesquisando Portanto olhar para determinada realidade
fotografaacute-la e a partir do momento em que a fotografia impressa mostra as cenas
um exerciacutecio de imaginar algo a partir dali foi iniciado E a criaccedilatildeo era o desafio a ser
partilhado e foi vivenciado por elas durante pelo menos dois meses Ateacute as peccedilas
ficarem prontas E uma vez prontas passamos a admira-las pedindo agraves tecelatildes que
falassem sobre esse processo Essas conversas foram gravadas e degravadas com
a teacutecnica proposta por Wivian Weller (2006) em que cada pessoa que participa da
roda de conversa recebe um coacutedigo para facilitar a transcriccedilatildeo sendo a primeira
letra o nome da pessoa e a segunda f para feminino e m para masculino E a pessoa
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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equipe de pesquisa para servir de siacutentese documental daquela vivencia
(FELIZARDO 2010)
Uma segunda dimensatildeo de fazer e pensar processos de tecelagem surgiu
depois que com base na observaccedilatildeo participante e por meio de dois Grupos de
Discussatildeo (2010) analisamos com as tecelatildes que para elas era muito cocircmodo
simplesmente receber os projetos dos desenhos prontos para tecer Isso foi possiacutevel
de ser detectado num debate realizado por meio de dois Grupos de Discussatildeo
(BOHNSACK WELLER 2006) em que identificamos a importacircncia que as tecelatildes
davam para a centralidade dos trabalhos da artesatilde mestra Para elas a mestra era
aleacutem de ldquodonardquo do ateliecirc a mentora das peccedilas artesanais Nesse momento
instigamos a todas tecelatildes a pensarem os potenciais do ateliecirc e as desafiamos a
pensar um projeto de criaccedilatildeo de peccedilas artesanais
O projeto da criaccedilatildeo em tecelagem nasceu a partir de trecircs incocircmodos e foi
proposto com a seguintes avaliaccedilotildees feitas com as tecelatildes a) O atelier de
tecelagem eacute um ldquoestranho no ninhordquo no municiacutepio de Alvorada e aleacutem disso a
produccedilatildeo de tecelagem artesanal feita em Alvorada eacute invisiacutevel e natildeo eacute reconhecida
b) Alvorada eacute municiacutepio lembrado pelos aspectos ruins que apresenta As tecelatildes
resistiam ao exerciacutecio da criaccedilatildeo tecircxtil
Analisamos com elas que era preciso pensar algo na direccedilatildeo do ldquodesvalorrdquo e
chegamos a seguinte proposta vincular-se com a cidade ndash encarando coisas que as
incomodavam por meio da fotografia transformar o olhar sobre o cotidiano da cidade
ndash com base nas fotos escolher algumas para pensar na criaccedilatildeo de peccedilas tecircxtiscriar
uma releitura ndash confeccionar peccedilas inspiradas nas fotografias escolhidas ldquodestecer o
ruim da cidaderdquo
Para que isso acontecesse cada uma das tecelatildes utilizou-se dos proacuteprios
celulares para capturar imagens que uma vez feitas num tempo aproximado de
duas semanas foram impressas em folhas A4 As fotografias foram impressas
coloridas e tivemos ao todo umas 78 impressotildees Todo esse material ficou
disponiacutevel para ser contemplado primeiramente numa manhatilde de estudo sobre esse
exerciacutecio e na sequencia as fotografias ficaram disponiacuteveis numa caixa que era
retomada simultaneamente enquanto o trabalho de tecelagem acontecia e as
conversas sobre a escolha de pelo menos duas imagens fossem inspiradoras para
duas peccedilas serem criadas tendo como base de apoio as fotografias eleitas
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Nas conversas entabuladas durante dois encontros observamos o quanto
que as fotografias das realidades feias de Alvorada implicaram no modo como
tambeacutem elas observavam o entorno e tentaram mudar isso com a feitura de peccedilas
artesanais Nesse momento natildeo estava presente o debate poliacutetico de mudar a
realidade daquele entorno se natildeo mudar o modo de enxergar aquela realidade por
meio de uma accedilatildeo criativa de criar autorizar-se a pensar a partir daquela escolha
da cena congelada por meio do olhar delas Essa accedilatildeo que proposta por noacutes na
pele de pesquisadoras foi de uma certa forma uma provocaccedilatildeo Mas eacute isso que
acontece quando interagimos e comeccedilamos a nos vincular com as pessoas da
realidade que estamos pesquisando Portanto olhar para determinada realidade
fotografaacute-la e a partir do momento em que a fotografia impressa mostra as cenas
um exerciacutecio de imaginar algo a partir dali foi iniciado E a criaccedilatildeo era o desafio a ser
partilhado e foi vivenciado por elas durante pelo menos dois meses Ateacute as peccedilas
ficarem prontas E uma vez prontas passamos a admira-las pedindo agraves tecelatildes que
falassem sobre esse processo Essas conversas foram gravadas e degravadas com
a teacutecnica proposta por Wivian Weller (2006) em que cada pessoa que participa da
roda de conversa recebe um coacutedigo para facilitar a transcriccedilatildeo sendo a primeira
letra o nome da pessoa e a segunda f para feminino e m para masculino E a pessoa
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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Nas conversas entabuladas durante dois encontros observamos o quanto
que as fotografias das realidades feias de Alvorada implicaram no modo como
tambeacutem elas observavam o entorno e tentaram mudar isso com a feitura de peccedilas
artesanais Nesse momento natildeo estava presente o debate poliacutetico de mudar a
realidade daquele entorno se natildeo mudar o modo de enxergar aquela realidade por
meio de uma accedilatildeo criativa de criar autorizar-se a pensar a partir daquela escolha
da cena congelada por meio do olhar delas Essa accedilatildeo que proposta por noacutes na
pele de pesquisadoras foi de uma certa forma uma provocaccedilatildeo Mas eacute isso que
acontece quando interagimos e comeccedilamos a nos vincular com as pessoas da
realidade que estamos pesquisando Portanto olhar para determinada realidade
fotografaacute-la e a partir do momento em que a fotografia impressa mostra as cenas
um exerciacutecio de imaginar algo a partir dali foi iniciado E a criaccedilatildeo era o desafio a ser
partilhado e foi vivenciado por elas durante pelo menos dois meses Ateacute as peccedilas
ficarem prontas E uma vez prontas passamos a admira-las pedindo agraves tecelatildes que
falassem sobre esse processo Essas conversas foram gravadas e degravadas com
a teacutecnica proposta por Wivian Weller (2006) em que cada pessoa que participa da
roda de conversa recebe um coacutedigo para facilitar a transcriccedilatildeo sendo a primeira
letra o nome da pessoa e a segunda f para feminino e m para masculino E a pessoa
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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que entrevista possui a letra Y nesse caso tivemos duas pessoas de modo que haacute o
Ya e Yb4
Df Ai natildeo sei bem o que falar gente Bem a gente fez estas peccedilas por meio das fotos As gurias jaacute mostraram e entatildeo eu fiz essas aqui (pega a primeira peccedila e mostra um pouco) Essa aqui fiz por causa dessa foto com uma poccedila de lama Essa poccedila estava na rua daiacute ateacute eu falei pras gurias que eu podia fazer alguma coisa daquilo Olha eu vi a poccedila de lama e pensei nessa primeira neacute (mostra a peccedila) Eacute um cachecol em tom escuro pra mostrar bem a cor da rua Pode ver aqui que tem uns gratildeozinho umas coisinhas na poccedila de lama e por isso que usei essa outra linha mais clara aqui que taacute meio sobreposta pra mostrar os dois tons de barro porque fica com bastante barro quando chove laacute Eu tive que tirar foto neacute veio daiacute essa daqui (a primeira produccedilatildeo um cachecol) Vf Df tem outro tecido ali outras coisas ali tambeacutem de chenile Df Sim eu fiz em trecircs tons neacute Chenile eu coloquei ali como disse para ficar bem da cor da poccedila a gente fez bem pra ficar bem igual nas fotos eacute difiacutecil deixar bem parecido mas nessa aqui teve como ateacute porque era todo tom de terra Df Tem essa almofada que veio dessa foto aqui (mostra a foto) que era de um bueiro ali perto mesmo neacute Fica um buracatildeo tambeacutem porque aquele bueiro eacute antigo e quando falaram em coisa feia eu pensei nele jaacute faz tanto tempo que ele estaacute ali Eu acho bem feio e a almofada eacute meio isso Assim veio dele por isso botei nessa cor branca como se fosse o fio irregular pra dizer que eacute da sujeira sacola coisa E do lado dele tem o branco que eacute pra falar mesmo do lixo da coisa que tem ali neacute Tem vez que queimam lixo ali e fica todo preto acho que o preto daacute tambeacutem esse destaque porque taacute com o branco neacute
A implicaccedilatildeo de olhar ao redor fotografar e depois analisar as fotografias
constatar a realidade desleixada na cidade produziu indignaccedilatildeo e ao mesmo tempo
um olhar de criaccedilatildeo Nesse caso uma criaccedilatildeo artesanal diretamente ligada com o
tear e fios Eacute possiacutevel que em outro momento ainda possamos ver outras accedilotildees
acontecendo com base nos diaacutelogos que aconteceram no ateliecirc
Ya E a segunda Sf Essa segunda aqui eu peguei da lixeira (Sf mostra a foto onde a lixeira estaacute) eu criei ela neacute Daiacute eu fiz essa outra almofada aqui toda com listras eu fiz ateacute porque na lixeira que ali perto ela tem vaacuterias tranccedilados neacute e eu coloquei as listras daiacute por isso Eacute diferente dessa que eacute mais seca essa aqui eacute mais trabalhada pro causa do fio eu trancei mais as cores Ya Esse lugar fica perto ali tambeacutem Vf eacute na Felipe Camaratildeo bem pertinho Sf Sim embaixo ela eacute verde Depois eu coloquei preto Nesta outra aqui (Sf pega outra peccedila) eu peguei de um monte de lixo seco que tinha laacute bem aqui (Sf mostra na foto) e criei esse xale que eacute tipo o que fazemos laacute neacute Vf Bem esse xale aqui eacute do tipo Eacute que ele veio desse lixo queimado entatildeo eu coloquei nestes detalhezinhos aqui do fio oacute (mostra algo na textura da peccedila)
4 Quem realizou as perguntas foram as pesquisadoras Edla Eggert (Ya) e Maria Clara Bueno Fischer (Yb) e quem respondeu foram as tecelatildes Suzane P Navarro (Sf) Vera Junqueira (Vf) Debora da
Silva Martinez (Df) e Jaine dos Santos Pereira (Jf)
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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Sf esse lixo foi queimado laacute e o xale ficou bem grande (depois de mostrar o detalhe ela abre a peccedila) e por isso eu tive mais trabalho com esse pra mim eacute o que mais gosto assim Ya Por que que tu gosta mais desse Sf foi o que mais consegui chegar perto assim neacute eu ateacute tinha aquela ideia do puf mas no xale que eu vi assim que eu podia fazer algo mais perto daquele lixo seco queimado e olha eu sempre olho e me lembro daquele lixo quando pego ela (a peccedila) de tatildeo forte que ficou na maneira que fiz tambeacutem acho que tentei imaginar mais natildeo sei Ya Natildeo isso eacute interessante Yb ateacute pra gente ver o quanto que elas enxergam estatildeo nestas peccedilas tambeacutem Eacute muito legal ouvir as partes do processo o como se originou e os porquecircs disso Sf eacute mas foi bem assim Vf Sf fala um pouco da composiccedilatildeo e da construccedilatildeo tambeacutem tem estes verdes ali oacute que eu gostei muito Sf sim o verde eacute dos galhos porque jogaram ali tambeacutem Jogaram galhos e daiacute eu coloquei esse verdinho que quase natildeo daacute pra ver mas ta ali neacute Sf pega outra peccedila do saco e mostra Sf Aiacute fiz este tapete tambeacutem ele tem essas cores por causa do mato (mostra na foto onde estaacute se referindo) natildeo gostei dele sei laacute
O sentimento de pertenccedila na peccedila criada tem nesse diaacutelogo o eixo central
Suzane Navarra (Sf) constata ao descrever sua produccedilatildeo o quanto foi possiacutevel se
aproximar da representaccedilatildeo na fotografada na peccedila produzida
A possibilidade da tomada para um olhar distanciado ao ver suas produccedilotildees
com base nas escolhas tem para noacutes um sentido de pertenccedila e da criaccedilatildeo E isso
possivelmente foi visibilizado de modo singular no exerciacutecio da exposiccedilatildeo
fotograacutefica um tempo mais tarde depois de esse diaacutelogo acontecer
Ya Olha aquela cortina linda ali Jf se tu puder falar especialmente da cortina seria bem legal Jf Sim (pega a foto da cortina) Essa cortina veio dessa foto aqui (foto de um valatildeo) e eu quis fazer ela bem real assim Daiacute por isso coloquei estas coisinhas aqui por causa dos galhos que cai ali cai muita coisa ali daiacute eu pensei na cortina que eacute o proacuteprio valo neacute Ele eacute bem pertinho dali tambeacutem Tem bastante sujeira laacute e tive que colocar estes fios como forma de serem quase uns galinhos que ficam ali dentro sabe
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Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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R Inter Interdisc INTERthesis Florianoacutepolis v13 n3 p222-238 Set-Dez 2016
Fotografia 2 ldquoO valatildeo cortinardquo (Fotografia de Jaine Pereira Navarra 2013)
Ya tu usou o mesmo fio soacute que teve que mudar o tom neacute Jf sim Yb olha a franja da cortina Jf sim as franjas satildeo a sujeira os galhos tudo que taacute ali dentro neacute Eu queria mesmo que fosse algo leve a gente ateacute pensou em colocar madeira mesmo mas natildeo deu Eu achei que fosse ficar pesado e ficar diferente do que queria daiacute tive que colocar fio franja acrescentar estas coisinhas mesmo mas ficou bem bom Ya Sim Ficou oacutetimo Jf esse valo (pega a foto novamente) esparramou para a rua neacute Por isso das sujeirinhas a valeta incomoda muito quando chove por isso a coisa feia Isso que eacute o mais ruim disso ter que pegar de algo feio neacute Tem tambeacutem a acumulaccedilatildeo de lixo ali Vf o mais legal desculpa me meter eacute que a Jaine conseguiu com essa peccedila captar bem o espiacuterito da coisa mesmo que era ter que montar com outra perspectiva
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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R Inter Interdisc INTERthesis Florianoacutepolis v13 n3 p222-238 Set-Dez 2016
A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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Fotografia 3 - A Cortina Valatildeo de Jaine Pereira Produccedilatildeo Releituras de Alvorada (Fotografia de
Suzana Pires 2016)
5 A VISIBILIDADE DOS PROCESSOS DE FAZER TECELAGEM POR MEIO DE
INSTALACcedilOtildeES E EXPOSICcedilOtildeES
Uma vez realizada a roda de conversa sobre como foi que cada tecelatilde
pensou imaginou escolheu o que produzir percebemos que o simples fato de
transcrever o que foi dito ainda natildeo circundava o que observamos que ocorreu
durante esse processo de criaccedilatildeo tecircxtil Realizamos uma instalaccedilatildeo com as peccedilas
durante o II Coloacutequio Mulheres Feminismo artesanato e arte popular ndash saberes de
ofiacutecios realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2015 Essa instalaccedilatildeo que temos
chamado de Instalaccedilatildeo Cientiacutefico Artesanal (Eggert Becker 2016) tem a
caracteriacutestica da roda de conversa como ponto de contato com as pessoas que
visitam e circulam na Instalaccedilatildeo e de um certo modo desconstroacutei a pratica de
exposiccedilatildeo de posters cena mais comum nas feiras de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e
Congressos da aacuterea das Ciecircncias Humanas
Propusemos ainda que fosse realizada uma exposiccedilatildeo das peccedilas e se as
artesatildes quisessem seriam fotografadas tambeacutem Convidamos uma fotoacutegrafa Suzana
Pires e o trabalho de fotografar conversar com todas novamente repercutiu um
outro olhar sobre o reconhecimento delas sobre os processos de produccedilatildeo tecircxtil
artesanal
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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A exposiccedilatildeo foi preparada junto com uma turma do Curso de Pedagogia da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul PUCRS No iniacutecio do mecircs de
maio de 2016 apresentamos do trabalho de pesquisa realizado no ateliecirc e
organizamos com a fotografa Suzana Pires as sessotildees de fotografia das peccedilas bem
como das tecelatildes
Na noite de abertura da exposiccedilatildeo as tecelatildes foram convidadas para a
inauguraccedilatildeo e como jaacute faziam em outros encontros conheceram mais um lugar de
ensino formal nesse caso a Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul
PUCRS Elas tecircm realizado esse tipo de interface e observamos que tem sido um
aprendizado de ambas as partes no sentido de sabermos que a escolauniversidade
necessita do movimento na direccedilatildeo ao ateliecirc assim como tambeacutem o contraacuterio eacute
criador de novos e outros olhares
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OLHAR IMAGINAR E CRIAR
A educaccedilatildeo pode acontecer em diferentes espaccedilos O lugar do trabalho
artesanal eacute simultacircneo fragmentado e invisiacutevel Um lugar de mulheres Uma histoacuteria
de mulheres como narra Michelle Perrot (2005) nem sempre estaacute cercada de
reconhecimento As histoacuterias das mulheres que trabalham na produccedilatildeo artesanal do
Brasil (e muito provavelmente do mundo inteiro) apreenderam que o que elas
fazem natildeo vale muito Para que isso mude eacute necessaacuterio mudar de lugar tomar
distancia para enxergar o que e como eacute realizado e fundamentalmente eacute imaginar
outros olhares O ateliecirc muito aleacutem do trabalho de tecer eacute lugar de olhar e ser vista
como artesatilde produtora de conhecimentos Compreendemos que ateliecircs satildeo lugares
de aprendizagens e ensinamentos
E nesse contexto observamos que a criaccedilatildeo pode passar pela fase da coacutepia
mas tem de avanccedilar para aleacutem do modelo No artesanato e natildeo soacute () quem cria
tem autoria E a autoria potencializa o caminho da autonomia
Buscamos aproximar os espaccedilos escolares que possuem a tecnologia da
produccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do conhecimento com os espaccedilos natildeo escolares
espaccedilos de trabalho e de outros conhecimentos nesse caso a tecnologia artesanal
produzida por mulheres
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
235
R Inter Interdisc INTERthesis Florianoacutepolis v13 n3 p222-238 Set-Dez 2016
Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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R Inter Interdisc INTERthesis Florianoacutepolis v13 n3 p222-238 Set-Dez 2016
REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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A abertura pedagoacutegica que aconteceu nesse ateliecirc devido a generosidade
das artesatildes em permitir que a academia adentrasse nesse lugar permitiu que a
curiosidade buscasse o conhecimento em lugares onde muitas vezes achamos que
nada existe A suspeita foi um dos passos investigativos para que essa possibilidade
de mudanccedila de postura frente a si mesma e aos outrs acontecesse E na
sequecircncia o recordar imaginar e proclamar foram elementos que nos impulsionaram
a pensar o que era um ateliecirc e o que pode vir a ser um ateliecirc a partir das
contingecircncias marcadas na vida das mulheres artesatildes
Esse modo de realizar as pesquisas e quem sabe as aulas potencializa o que
foi discutido no Encontro Latinoamericano das Mulheres Biblistas citado no iniacutecio
desse artigo Quando admitimos que o corpo pode ser uma categoria hermenecircutica
e que os sujeitos e suas histoacuterias cotidianas compotildeem o processo hermenecircutico
produzimos uma hermenecircutica da desconstruccedilatildeo e reconstruccedilatildeo e possivelmente
produziremos uma hermenecircutica que questione conceito dados como uacutenicos que
acabaram e acabam excluindo novas e outras possibilidades (CARDOSO 1996) E
nesse sentido eacute que nos perguntamos se estamos sendo coerentes com a
inquietaccedilatildeo necessaacuteria aprendida com as irmatildes feministas buscar outros modos de
produzir conhecimento
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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REFEREcircNCIAS
ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
Artigo
Recebido em 14 de Julho de 2016
Aceito em 22 de Agosto de 2016
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Aesthetics production for the recognition of artisan weavers work
Abstract The article analyses three life experiences of a group of weavers in an atelier It is studied the know how process of all its textile production to along with it turn visible these experiences of a millennial work The theoretical-methodological arguments lie on participative research interconnected with the Feminist perspective of making visible the history of women involving the act of researching as (self)forming The participant observation and the circles of conversation enabled the collection of material and analysis of those life experiences It was concluded that researchers and weavers produced an aesthetics by interfacing the atelier and the formation spaces in which weavers and studentsprofessor were challenged to think the processes of learning and teaching Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos - EJA (Education of Youngsters and Adults) through artisanal work Keywords Atelier Artisanal Work Women Visibility LA PRODUCCIOacuteN DE UNA ESTEacuteTICA PARA EL RECONOCIMIENTO DEL TRABAJO ARTESANAL DE LAS TEJEDORAS Resumen El artiacuteculo analiza tres vivencias producidas en un atelier con un grupo de tejedoras Estudiase el proceso de saber hacer toda la produccioacuten textil y con ellas visibilizar las experiencias de ese trabajo milenario Los argumentos teoacutericos y metodoloacutegicos estaacuten planteados en la investigacioacuten accioacuten participativa entramada con la perspectiva feminista de visibilizar la historia de las mujeres involucrando el acto de investigar como (auto)formador La investigacioacuten accioacuten participativa y las rodas de platica posibilitaran la colleccioacutende la materia para hacer la anaacutelisis de la experiencia Las investigadoras y las tejedoras hicieran una esteacutetica por medio de una interface entre el atelier y los espacios de la formacioacuten en que las artesanas y las estudiantes profesora eran desafiadas a pensar los procesos de aprender y de ensentildear de la educacioacuten de los joacutevenes y adultos por medio del trabajo artesanal Palabras clave Ateliecirc Trabajo Artesanal Mujeres Visibilidad
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ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
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ADICHIE Chimamanda O perigo da histoacuteria uacutenica Disponiacutevel em httpeducacaointegralorgbrnoticiaseu-outro-perigo-da-historia-unica Acesso em 19 Junho 2016 ANZALDUacuteA G Falando em liacutenguas uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo (trad Eacutedna de Marco) Revista Estudos Feministas v 8 n 1 p 229-236 2000
BOHNSACK R WELLER W O meacutetodo documentaacuterio e sua utilizaccedilatildeo em grupos de discussatildeo In Revista Educaccedilatildeo em Foco Juiz de Fora v 11 n 1 p 19-37 marago 2006 CARDOSO N P Pautas para uma hermenecircutica Latino-americana Revista de Interpretaccedilatildeo Biacuteblica Latino-Americana Quito Equador v 1996 n3 p 5-10 1996 DEIFELT W Temas y metodologias de la teologia feminista Alternativas Managua n26 p 61-78 2004 EGGERT E BECKER MR Instalaccedilatildeo Cientiacutefico-Artesanal (ICA) a publicizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito da aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) Revista TRAMA Interdisciplinar v 7 p 165-180 2016 EGGERT E SILVA MA (Org) A tecelagem como metaacutefora das pedagogias docentes 1 ed Pelotas UFPel 2009 FELIZARDOMarta Biavaschi Quando professoras aprendem a tecer(Documentaacuterio) CD Porto Alegre 2010 FIORENZA Elizabeth S As origens cristatildes a partir da mulher uma nova hermenecircutica Trd Joatildeo rezende Costa Satildeo Paulo Paulinas 1992 GEBARA Ivone Rompendo o silecircncio uma fenomenologia feminista do mal Traduccedilatildeo Luacutecia Mathilde Petroacutepolis Vozes 2000 GIERUS R Aleacutem das grandes aacuteguas mulheres alematildes imigrantes que vecircm ao sul do Brasil a partir de 1850 Uma proposta teoacuterico-metodoloacutegica de historiografia
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feminista a partir de jornais e cartas [Tese de doutorado] Satildeo Leopoldo Faculdades EST 2006 JOSSO M-C Experiecircncias de vida e formaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2004 JOSSO M-C Caminhar para si Porto Alegre EDIPUCRS 2010 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatiacutestica - Cidades [online] Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=430060ampsearch=rio-grande-do-sul|alvorada Acesso em 19062016 NOGUERA Renato Sociedades de controle e o grito de Eric Garner o racismo antinegro do cogito da mercadoria na (atraveacutes da) filosofia de Deleuze In Traacutegica estudos de filosofia da imanecircncia ndash 1ordm quadrimestre de 2016 ndash Vol 9 ndash nordm 1 ndash pp47-65 Disponiacutevel em httptragicaorgartigosv9n1noguerapdf Acesso em 09 Jul 2016 PERROT Michelle As mulheres ou os silecircncios da histoacuteria Trad VivianeRibeiro Bauru EDUSC 2005 RUETHER Rosemary Sexismo e Religiatildeo - rumo a uma teologia feminista Satildeo Leopoldo Editora Sinodal 1993 SANTOS Boaventura de SousaMaacutes allaacute del pensamento abismal las liacuteneas globales a una ecologia de saberes in Santos Boaventura de Sousa e Meneses Maria Paula (org) Epistemologiacuteas del Sur (Perspectivas) Madrid AKAL 21-66 2014 STRECK D ADAMS T Pesquisa em Educaccedilatildeo os movimentos sociais e a reconstruccedilatildeo epistemoloacutegica num contexto de colonialidade Educaccedilatildeo e Pesquisa (USP Impresso) v 38 p 243-258 2012 STRECK D ADAMS T Pesquisa Participativa Emancipaccedilatildeo e (Des)Colonialidade 1 ed Curitiba CRV 2014 STRECK D BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (Org) Pesquisa Participante a partilha do saber 1 ed AparecidaSP Ideiasamp Letras 2006
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WALSH Catherine (ed) Pedagogiacuteas decoloniales Praacutecticas insurgentes de resistir (re)existir y (re)vivir Tomo I Quito Abya-Yala 2013
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WELLER Wivian Grupos de discussatildeo na pesquisa com adolescents e jovens aportes teoacuterico-metodoloacutegicos e anaacutelise de uma experiecircncia com o meacutetodo Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v32 n2 p 241-260 maioago 2006
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