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1 Belém PA, 21 a 24 de julho de 2013 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural A pobreza brasileira sob a perspectiva objetiva: análise dos gastos e rendimentos a partir da POF Grupo de Pesquisa: 10 Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional Resumo Este trabalho analisa a pobreza a partir da abordagem objetiva, buscando entender as relações entre consumo alimentício, gastos básicos, rendimentos auferidos e pobreza. Especificamente, usam-se esses indicadores para analisar as diferenças entre os estados e as áreas urbanas e rurais. O método concretiza a possibilidade de estruturar respostas concisas sobre alguns determinantes da pobreza, como a carência de alimentos ou a insuficiência da renda. Os resultados apontam para o descolamento das áreas urbanas e rurais, especialmente nos eixos Norte e Sul, quanto ao consumo de itens indispensáveis e à relação entre gasto e rendimento total. Aponta-se o elevado comprometimento da renda da população brasileira com gastos, sobretudo alimentação, determinando a condição de pobreza para muitas famílias e limitando a poupança a uma pequena parcela da renda, em um país que ainda necessita de elevadas taxas de investimento por um período razoável de tempo. Palavras-chave: consumo; pobreza; renda Brazilian poverty on an objective perspective: an expenditure- income analysis with POF Abstract The purpose of this essay is to present a methodology of poverty analysis, based on the objective approach. Furthermore, we seek to understand the relationship between food consumption, basic expenditures, total income and poverty, trying to outline explanations of the phenomenon. Specifically, we use the proposed technique to address poverty from the standpoint of income groups, states and urban-rural differentiation. The method realizes the possibility of structuring concise answers on some determinants of poverty, such as lack of food or income. The results point to the differentiation of urban and rural areas, especially between North and South, specially considering consumption of essential items and the relationship between total income and expenditure. Moreover, it points up the high commitment of the Brazilian population income with expenses, especially food, determining the condition of poverty for many families and reducing savings to a small proportion of total income, in a country that still requires high investment rates for a reasonable period of time. Key words: consumption; poverty; income

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Belém – PA, 21 a 24 de julho de 2013

SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

A pobreza brasileira sob a perspectiva objetiva: análise dos gastos

e rendimentos a partir da POF

Grupo de Pesquisa: 10 – Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional

Resumo

Este trabalho analisa a pobreza a partir da abordagem objetiva, buscando entender as relações

entre consumo alimentício, gastos básicos, rendimentos auferidos e pobreza. Especificamente,

usam-se esses indicadores para analisar as diferenças entre os estados e as áreas urbanas e

rurais. O método concretiza a possibilidade de estruturar respostas concisas sobre alguns

determinantes da pobreza, como a carência de alimentos ou a insuficiência da renda. Os

resultados apontam para o descolamento das áreas urbanas e rurais, especialmente nos eixos

Norte e Sul, quanto ao consumo de itens indispensáveis e à relação entre gasto e rendimento

total. Aponta-se o elevado comprometimento da renda da população brasileira com gastos,

sobretudo alimentação, determinando a condição de pobreza para muitas famílias e limitando

a poupança a uma pequena parcela da renda, em um país que ainda necessita de elevadas

taxas de investimento por um período razoável de tempo.

Palavras-chave: consumo; pobreza; renda

Brazilian poverty on an objective perspective: an expenditure-

income analysis with POF

Abstract

The purpose of this essay is to present a methodology of poverty analysis, based on the

objective approach. Furthermore, we seek to understand the relationship between food

consumption, basic expenditures, total income and poverty, trying to outline explanations of

the phenomenon. Specifically, we use the proposed technique to address poverty from the

standpoint of income groups, states and urban-rural differentiation. The method realizes the

possibility of structuring concise answers on some determinants of poverty, such as lack of

food or income. The results point to the differentiation of urban and rural areas, especially

between North and South, specially considering consumption of essential items and the

relationship between total income and expenditure. Moreover, it points up the high

commitment of the Brazilian population income with expenses, especially food, determining

the condition of poverty for many families and reducing savings to a small proportion of total

income, in a country that still requires high investment rates for a reasonable period of time.

Key words: consumption; poverty; income

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1. INTRODUÇÃO A pobreza não é composta apenas por indicadores de renda ou de necessidades

básicas. Na visão de Hagenaars e De Vos (1988), a pobreza se caracteriza de três formas:

primeiramente, a pobreza resultando de se ter menos do que o objetivamente definido para se

viver em condições decentes (pobreza objetiva); em segundo lugar, a pobreza como resultado

de uma situação social, onde a pessoa tem menos do que as pessoas que vivem em uma

determinada região, onde as características de emprego, saúde e ensino – entre outras – são

comparáveis (pobreza relativa); e, por fim, a pobreza como percepção de que não se tem o

quanto se deveria ter (pobreza subjetiva).

Com este trabalho, busca-se entender como múltiplas variáveis determinam a condição

de pobreza, destacando as diferenças territoriais para além da visão das necessidades básicas.

A questão central do ensaio remete-se à exploração da pergunta: “Como entender a pobreza

no Brasil?”, de modo a ter-se mais dados sobre a pobreza, tentando considerar o maior

número de elementos possíveis. Para além deste questionamento, buscam-se respostas para

outras duas perguntas que, mesmo que secundárias, não podem ser desconsideradas.

Primeiramente, “Porque é importante considerar o consumo?” e, não menos importante, “O

quanto o consumo influencia a pobreza?”. Ademais, objetivamos entender mais

profundamente as diferenças existentes entre as áreas urbanas e rurais do Brasil, dando maior

enfoque às medidas de renda e consumo.

O trabalho se apresenta em 4 tópicos, além desta introdução. Primeiramente será feita

uma breve revisão bibliográfica, a fim de situar os progressos que a análise de pobreza obteve

nos últimos anos. Na segunda parte do trabalho, na qual será ilustrada a metodologia de

análise, apresentaremos a POF, de modo a salientar sua estrutura e os principais elementos

dela que serão usados. Na parte subsequente, serão desenvolvidos os resultados obtidos,

dividindo-os em categorias de análise específicas. Na última parte do trabalho estarão postas

as conclusões, a partir dos resultados obtidos por grupo de indicador e por região analisada.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. A DEFINIÇÃO DE POBREZA

Antes de entender como pode ser analisada a pobreza, é necessário entender seu

conceito, a fim de mostrar o que entendemos por este termo, tão simples e, ao mesmo tempo,

amplo, complexo e de forma alguma irredutível. Crespo e Gurovitz (2002) afirmam que

definir o conceito de pobreza permite um estudo mais nítido do objeto, embora esta seja uma

tarefa complexa. De comum acordo com os autores e com Codes (2008), podemos dizer que a

definição do conceito de pobreza depende da perspectiva sob a qual se analisa o fato, além de

ser fortemente influenciado pela evolução histórica da sociedade em que vivemos.

Os autores remontam à divisão de Hagenaars e De Vos (1988), explicando a

conceituação sob o cunho subjetivo, absoluto (objetivo) e relativo. Quando subjetiva, a

pobreza é definida a partir de um juízo de valor – que, como comentam Narayan et al. (2000),

é ouvir o que os pobres têm a dizer sobre sua condição –, pois a população, neste caso

peculiar, tem voz em capítulo, podendo dizer se se julga pobre ou não, a partir das suas

condições de vida. Ao ser vista como relativa, a pobreza assume um viés macroeconômico

não irrelevante, pois, segundo Crespo e Gurovitz (2002), a visão relativa se coloca como

comparação na renda auferida pela população – quem tem menos que o “normal”, naquela

sociedade, é pobre frente àquela sociedade. Por fim, na visão objetivo-absoluta, a colocação

de um mínimo normativo define quem e quantos são os pobres, em determinada região. Como

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ressaltam os autores, tal normatização pode assumir caráter nutricional, de renda, de

necessidades básicas, etc.

Percebe-se, em primeira instância, que o conceito de pobreza passa por um primeiro

cunho importante, o de definir qual perspectiva será usada nas análises. Isto posto, surge um

segundo momento na análise e definição do conceito, a orientação teórica do pesquisador e do

idealizador de políticas públicas. O entendimento, por parte dos governos, de quem seja pobre

e de como se lida com ele resulta em políticas sociais que afetam o nível de pobreza, para

mais ou para menos. Atkinson (1987) afirma que políticas governamentais conservadoras –

diante do cenário econômico da época – foram responsáveis pelo aumento dos níveis de

pobreza. Todavia, há um grupo de pessoas – que, coincidentemente, são, em sua maioria, os

que estão ou defendem o governo – que não acreditam nesta correlação, devido à natureza

pela qual se dá a mensuração da pobreza e à necessidade de se reconsiderar alguns conceitos

básicos na área, a fim de aprimorar – segundo eles – os resultados obtidos.

A solução para o enigma se dá com a definição de “bons medidores de pobreza”.

Nesta fase, surge o interessante problema da comparação; Phipps (1993), ao discutir a

pobreza numa perspectiva de análise de sensibilidade e de mensuração, percebe o problema,

que já aparece nos fundamentos da estatística ao compararem-se populações com mesma

média: o uso de um indicador simplório demais (como o head-count ratio ou o poverty gap) a

pode acarretar a limitação na explicação das múltiplas dimensões da pobreza. Deste modo,

surge a necessidade de ter-se um critério matemático para estabelecer medidores adequados

de pobreza (HAGENAARS, 1987; RODGERS e RODGERS, 1991). À medida que critérios

matemáticos vêm sendo definidos, a escolha de um bom medidor de pobreza se delineia,

mostrando as vantagens e as carências de cada indicador.

Percebe-se, ao longo deste traçado teórico, que a definição de pobreza depende de pelo

menos quatro variáveis: perspectiva de análise; contexto e precedentes históricos; viés

político-ideológico; e predicados axiomáticos. A determinação de um conceito satisfatório

para a pobreza é uma tarefa árdua e que, indubitavelmente, trará resultados válidos, porém

diferentes, a partir de cada escola de pensamento. Entretanto, duas considerações “genéricas”

podem ser feitas, a fim de auxiliar na tarefa de entender a pobreza.

Primeiramente, a partir da visão de Ugá (2004), o conceito de pobreza e seu estudo

tornaram-se centrais, devido ao crescimento exponencial das pesquisas em torno da condição

de privações de boa parte da população mundial, em especial no que tange a formulação e a

avaliação de políticas públicas, além de ser objeto de estudo por parte de vários órgãos

internacionais. Em segundo lugar, mas não menos importante, podemos definir pobreza de

forma genérica, a fim de, mesmo usando o traçado teórico acima exposto, ter-se uma visão

clara do que seja este fenômeno. Kageyama e Hoffmann (2006) introduzem o conceito de

pobreza como sendo a privação em geral de uma pessoa, podendo ser material ou até mesmo

sociocultural, de caráter subjetivo, objetivo (absoluto, na definição aqui usada) ou relativo.

2.2. AS TRÊS ABORDAGENS DA POBREZA

Para que se entenda a pobreza, é fundamental perceber que esta é concebida a partir de

várias perspectivas, cada qual com suas vantagens e críticas. Para Hagenaars e De Vos (1988),

antes de tudo, devem ser respondidas duas questões, ao se fazer pesquisa na área de pobreza:

como identificar o pobre; e como agregar os pobres de modo a obter um bom indicador. As

respostas a estas duas questões auxiliam na definição de um índice de pobreza consistente e

bem estruturado.

Para responder à primeira questão, os autores dividem a pobreza em três tipos, cada

qual bem definido. A partir da leitura de outros textos, os autores definem a pobreza como

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tendo três possíveis abordagens: objetiva (também conhecida como absoluta); relativa; ou

subjetiva. Quando a análise é sob o enfoque objetivo, define-se pobre a pessoa que tem menos

que o mínimo normativo. No que diz respeito à definição subjetiva, a diferenciação entre

pobres e não-pobres se dá a partir da visão pessoal a respeito da própria condição – neste

caso, a pessoa é pobre quando ela se julga como tal. Por fim, na abordagem relativa, a pobreza

precisa, de antemão, de uma definição geográfica – isto é, onde será feita a análise –; a partir

disto, define-se como pobre a pessoa que está abaixo de um patamar, considerado digno,

dentro do espaço em que vive.

Hagenaars e De Vos (1988) apresentam as três abordagens acima (objetiva, subjetiva e

relativa) a partir dos indicadores pelos quais cada uma pode ser entendida. Para os autores, “o

estudo da distribuição e da extensão da pobreza começa, frequentemente, com a definição de

uma linha de pobreza em termos de renda” (p. 212, tradução própria); ao se utilizarem

métodos que não trabalham com a linha de pobreza, permite-se analisar diferentes tipos de

pobreza, que a especificação normativa não capta. Ademais, medir a pobreza como

majoritariamente função da renda é, para os autores, esvaziá-la do seu sentido.

Dentro dos indicadores objetivos de pobreza, os autores identificam quatro variantes

que podem ser utilizadas para medir pobreza: a abordagem das necessidades básicas

(alimentação, vestuário e condições de moradia); a relação entre renda e gastos com

alimentação; a relação entre “custos fixos” e renda; e a relação entre “gastos totais” e renda. A

análise relativa de pobreza é uma classe que gira em torno da discussão das privações

relativas; em outras palavras, analisam-se indicadores específicos, com base na ideia de que

uma família poderá ser considerada pobre caso ela tenha menos, de determinado bem, em

relação ao que é considerado normal naquele ambiente. Nesta classe, pode-se ter uma análise

relativa em torno de bens de consumo ou em torno de renda; pode-se ter, assim, um indicador

de privação relativa quanto ao consumo de bens primários ou quanto à renda auferida1. Por

fim, os indicadores subjetivos de pobreza podem ser agrupados em três classes: renda mínima

subjetiva; necessidades básicas subjetivas; e o mínimo oficial – pelo qual se comparam as

rendas de uma família com o quanto é pago pelo serviço social a famílias carentes.

Um bom indicador de pobreza deve levar em conta tais abordagens, e o pesquisador

deve saber escolher a melhor possível, pois cada uma delas retornará resultados diferentes2.

Ademais, dentro da abordagem objetiva, a normatização também produzirá resultados

diferentes, e esta norma é sujeita a críticas que podem (e devem) ser evitadas, por meio de um

estudo que justifique tais decisões. Townsend (1979) e Hagenaars e Van Praag (1985)

concordam ao defender que a escolha de uma metodologia de indicadores de pobreza é feita a

partir de preferências, baseadas em disponibilidade de dados, precedentes históricos e até

mesmo decisões de cunho político – as quais, sem dúvidas, têm fortes bases na corrente

ideológica do pesquisador.

A questão da agregação foi resolvida por Donaldson e Weymark (1986), Hagenaars

(1987) e Rodgers (1988), ao sintetizarem e discutirem as propriedades principais de um

indicador de pobreza, às quais nos referiremos com o termo “predicados axiomáticos”. A

questão dos predicados remete à necessidade de se agregar, por meio de critérios

matematicamente robustos, os quais também se refletem na economia (especialmente na área

microeconômica), os pobres sob um único indicador, capaz de apresentar a realidade,

1 Tal critério deverá levar em conta as especificidades regionais.

2 Ademais, Kageyama e Hoffmann (2006) apresentam os resultados da pesquisa de Hagenaars e De Vos (1988).

Estes últimos, em 1983, aplicaram métodos quantitativos para as diferentes abordagens da pobreza em mais de

12 mil domicílios na Holanda, tendo por resultado a indicação de que as abordagens objetiva e subjetiva são

mais eficientes

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valendo-se da cláusula cœteris paribus em situações específicas, como a mudança dos

critérios normativos ou do tamanho da população analisada. Rodgers e Rodgers (1991)

apresentam os predicados a partir dos autores que levantaram tais atributos em seus estudos;

ademais, trazem uma discussão a respeito da aceitabilidade destes predicados na literatura.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. A RELAÇÃO CONSUMO-POBREZA

O objetivo deste trabalho é apresentar a pobreza a partir de indicadores que relacionem

o consumo com esta. Deste modo, o foco são os indicadores objetivos de pobreza, os quais

partem de definições sobre itens básicos de consumo, a fim de determinar quem e quantos são

os pobres de um estado ou país. Por se buscar explicar de quê forma se dá a pobreza a partir

de elementos de consumo, definiremos tais medições como relação consumo-pobreza (RCP).

Para termos condições de analisar a RCP, definiremos, à luz de Hagenaars e De Vos (1988),

três indicadores objetivos fundamentais no estudo: o Índice Alimento-Renda (IAR), que

trabalha diretamente com a relação entre gastos alimentícios e renda; o Índice Custo Fixo-

Renda (ICFR), cujo objetivo é medir todos os custos normais da família em relação à renda; e

o Índice Gastos-Renda (IGR), que se ocupa de estudar os gastos alimentícios e outros (como

higiene e ensino).

O IAR é um indicador sintético primeiramente apresentado por Orshansky (1965) e

Watts (1967). Este trabalha com a ideia da Lei de Engel3, a partir da qual se define um nível

crítico de consumo com alimentos. Se a família consumir mais que este nível crítico,

considera-se a família como pobre, caso contrário não o será. O ICFR é um medidor dos

gastos com custos fixos da família, e, da mesma forma que o IAR, gastando-se mais que o

nível crítico determinado, a família será considerada pobre por este quesito. Por fim, o IGR

trabalha com o montante total de gastos de uma família, considerando-se pobre a família que

tem gastos que não sejam sustentados pelos rendimentos mensais.

Para a definição dos indicadores (IAR, ICFR e IGR), o primeiro passo será

estabelecer, com base nas variáveis da POF 2008-09, quais caberão a cada um dos

indicadores. Rocha (2002) adverte sobre as escolhas metodológicas feitas, pois estas

determinam parâmetros diferentes, os quais implicam em resultados diferentes. Para tal, é

necessário traçar, a priori, algum tipo de direcionamento das variáveis, com base nas

exigências de cada indicador. As principais componentes da POF são: alimentação; habitação;

vestuário; transporte; higiene e cuidados pessoais; assistência à saúde; educação; recreação e

cultura; fumo; serviços pessoais; e diversos. Deste modo, além de definir os indicadores,

poder-se-á definir o peso que cada um das componentes tem na distribuição de gastos

orçamentários (DINIZ et al., 2005).

A partir disto, podem-se direcionar as variáveis aos indicadores mais apropriados.

Assim sendo, o IAR trabalhará apenas com a componente alimentação, enquanto o ICFR

agregará as componentes a respeito de habitação, alimentação e saúde; na outra ponta, o IGR

agregará todas as componentes. Após definir os indicadores médios por estado, ter-se-á três

indicadores de pobreza bem definidos. Feitas estas primeiras análises sobre a RCP, cabe

defini-la, com base nos interesses de pesquisa apontados. A relação consumo-pobreza é um

método de medição de pobreza, pelo qual se levam em conta os aspectos fundamentais 3 Hamilton (2001) define esta Lei como a relação inversa entre gastos com alimentação e renda auferida pela

família. Já Ogaki (1992) generaliza esta Lei, superando a falácia da composição que existiria na afirmação

anterior, apresentando-a como a relação inversa entre consumo alimentício e crescimento econômico.

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relacionados ao consumo: gastos fundamentais; necessidades alimentícias; e gastos totais. A

relação consumo-pobreza é estabelecida a partir de um medidor sintético, que pondera os

aspectos acima e define como pobres as famílias com medidor acima de um nível crítico,

nível este determinado a partir de estudos pertinentes e direcionado à realidade local.

3.2. AS PESQUISAS DE ORÇAMENTOS FAMILIARES

Este trabalho centra seus esforços no uso das Pesquisas de Orçamentos Familiares

(POF), pesquisa amostral realizada quatro vezes até hoje (1987/88, 1995/96, 2002/03,

2008/09)4. Entretanto, como apontam Diniz et al. (2007), não se tem uma exploração a fundo

dos variados dados que a POF oferece. Ademais, um acompanhamento em intervalos menores

dependeria de dispêndios mais elevados, sobretudo por causa da necessidade de se fazer tal

pesquisa em tempo estreito, devido às mudanças às quais o consumo está sujeito, o que faz da

POF uma pesquisa que pega momentos bem distintos da economia brasileira, e não a sua

sequência (como a PNAD). Entretanto, o estudo da POF se justifica à medida que somos

interessados em analisar elementos que a PNAD não oferece. A POF traz em si um estudo

abrangente da estrutura de gastos de uma família, o que permite a análise da RCP, objetivo

deste trabalho.

A primeira diferença, em relação a pesquisas com Censos Demográficos, reside na

abrangência dos resultados: devido à amostra restrita, o estudo trabalhará com indicadores a

nível estadual e macrorregional. Outras diferenças entre as pesquisas estão na abrangência dos

dados pesquisados. Por exemplo, dados sobre fecundidade, nupcialidade e migração não são

parte integrante da POF, enquanto dados como coleta de lixo e esgoto comparecem nas várias

pesquisas aplicadas (PNAD, CD e POF). Comparando mais de perto PNAD e POF, a partir de

Barros, Cury e Ulyssea (2007), um fator de diferença fundamental é a determinação da renda,

tendo-se uma variação de 26% entre a renda estimada pela POF e pela PNAD; ademais, a

diversidade de rendimentos é muito mais bem estudada pela POF do que pela PNAD. Diniz et

al. (2007) investigam outra diferença fundamental, a respeito de indicadores de rendimentos e

trabalho, onde há uma limitação muito maior na POF do que na PNAD. De todo modo,

apresenta-se a POF como um excelente recurso, especialmente no que diz respeito aos hábitos

de gastos da família brasileira5.

A POF se apresenta dividida em duas categorias de despesas: de consumo; e outras.

Dentro da categoria despesa de consumo ( ), temos: alimentação; vestuário; transporte;

higiene e cuidados pessoais; saúde; educação; cultura; fumo; serviços pessoais; despesas

diversas. Dentro da categoria outras despesas ( ), temos: despesas fiscais e tributárias

(impostos, contribuições, serviços bancários, seguros e indenizações, previdência, mesadas e

doações); aumento de ativo (aquisição de imóveis, investimentos e títulos de capitalização); e

diminuição do passivo (empréstimos, juros e dívidas). (IBGE, 2010a). Podemos declarar a

despesa total como uma função de várias despesas, ou também como uma composição

parcimoniosa de despesas (onde representa a porcentagem de cada despesa):

( ) (1a)

(1b)

4 O IBGE considera uma quinta pesquisa, o ENDEF de 1974/75, como o precursor da POF.

5 Na POF, a unidade básica da pesquisa não é a família entendida como laços de parentesco, mas sim a família

como relação de consumo; sendo assim, o domicílio é a unidade mínima da POF.

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De forma análoga, a POF apresenta os rendimentos divididos em: monetários; e não

monetários. Os rendimentos monetários ( ) são subdivididos em: rendimentos do trabalho;

transferências (aposentadorias, pensões, doações e programas sociais); rendimentos de

aluguel; e outras rendas (juros de empréstimos, lucros, dividendos e vendas de automóveis).

Os rendimentos não monetários ( ) são, basicamente, variações patrimoniais e heranças.

Assim como as despesas, pode-se declarar o rendimento total como função dos

rendimentos acima descritos (onde é a proporção de cada rendimento no total):

( ) (2a)

(2b)

Entretanto, cabe fazer uma observação importante. Devido ao sistema de empréstimos,

a igualdade entre rendimentos e despesas não necessariamente se mantém abaixo de 1. Se a

relação entre rendimentos e despesas (RRD) for maior ou igual a 1, tem-se um sinal de

pobreza naquele domicílio6:

{

(3)

3.3. OS INDICADORES DE POBREZA OBJETIVA

Conforme apresentado na seção 2.4, Hagenaars e De Vos (1988) reúnem três

indicadores de pobreza objetiva: o Índice Alimento-Renda (IAR); o Índice Custo Fixo-Renda

(ICFR); e o Índice Gastos-Renda (IGR). Ademais, já acrescentamos um quarto indicador, a

Relação Rendimentos-Despesas (RRD). Neste momento, analisaremos a composição de cada

um dos índices apresentados na seção 3.1 deste trabalho.

O primeiro medidor, o IAR, é um índice que trabalha com a categoria alimentação,

levando em conta, em especial, os gastos mais que a qualidade desta alimentação . O estudo

da relação entre gastos alimentícios e renda é feito com base nas declarações feitas, pela

família, na POF. Para se definir um domicílio como pobre, este deverá ter um montante de

gastos com alimentação superior a um nível crítico estabelecido; este nível varia, com base na

percepção de pobreza do pesquisador, da época estudada e das condições nas quais se

encontra o país.

A POF 2008/09 revelou-nos que a despesa total do brasileiro médio era de R$

2.626,31, e 16,1% deste valor é destinado à alimentação mensal, o equivalente a R$ 422,84

(IBGE, 2010b). Temos, assim, dois parâmetros, o absoluto e o relativo, cabendo-nos a decisão

sobre qual usar. Tomaremos o parâmetro relativo, pois este medirá, com precisão, a

porcentagem da renda que é gasta em alimentação, não se atrelando a uma parcela fixa.

O maior problema reside na escolha de qual nível crítico de gastos com alimentação

tomar; definitivamente, não é possível tomar o valor de 16,1% como crítico, por ser o valor

médio. O USDA (United States Department of Agriculture) realiza, desde 1987, uma série

anual – com dados a partir de 1929 – de estudos específicos sobre gastos com alimentação em

vários países do mundo, a ERS Food Expenditure Series. Nas últimas pesquisas disponíveis –

anuais, de 2008 a 2011 –, foram analisados 84 países, Brasil incluído (USDA, 2012).

6 Os indicadores IGR e RRD diferem na análise, embora possam trazer resultados parecidos. O objetivo do IGR

é medir o nível de despesas totais comparado aos rendimentos totais “líquidos”, que seriam o rendimento total

descontada a variação patrimonial. Por sua vez, o RRD analisa a relação bruta gasto/renda.

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Decerto, um país mais desenvolvido consome relativamente menos com alimentação –

partindo da ideia de que maior desenvolvimento implique maior renda; para provar esta

hipótese, foram extraídos os dados do IDH, de 2009 a 2011, a fim de comparar o

desenvolvimento dos países da ERS com seus gastos em alimentos. Aplicando regressão

linear, onde o desenvolvimento ( ) é função do consumo por alimentos ( ), obtemos:

(4)

cujos resultados são expressos a seguir. Os resultados apresentados mostram a qualidade do

ajuste, a significação deste e dos coeficientes selecionados. Presumiu-se um fator maior que

zero, pois o desenvolvimento não se dá apenas em termo dos gastos em alimentos e o IDH

não é negativo. Das 84 observações iniciais, 2 (Macedônia e Taiwan) foram descartadas, por

falta de dados sobre o IDH. Percebe-se que há uma relação inversa entre os gastos em

alimentos e o desenvolvimento. À medida que o medidor de desenvolvimento – no caso, IDH

– aumenta em 1%, tem-se a queda, em 0,8575%, do gasto em consumo. Isto implica em um

aumento do consumo que não acompanha o da renda auferida, devido à propensão marginal a

consumir (KEYNES, 2007).

Tabela 1 – Estatísticas básicas de (4)

Fonte: elaboração própria a partir de USDA (2012) e PNUD (2011).

Após este estudo, é necessário estudar a distribuição de gastos, a fim de definir o nível

crítico para esta pesquisa. O primeiro passo é a análise da distribuição, testando a hipótese de

normalidade, por meio do Teste Jarque-Bera de Normalidade (JB) – utilizado para verificar a

normalidade da distribuição. A análise de normalidade pelo Teste Jarque-Bera, traz maior

confiabilidade a respeito da distribuição com a qual se está lidando. Jarque e Bera (1980,

1981) propuseram este teste cujo objetivo é, por meio dos terceiro e quarto momentos da

distribuição – skewness ( ) e kurtosis ( ), respectivamente –, verificar a normalidade da

distribuição. O teste conta com a hipótese nula de normalidade, seguindo uma distribuição

chi-quadrado com dois graus de liberdade.

[( )

( )

]

{ ( ) ( )

(5)

Obtendo as informações sobre os momentos da distribuição, podemos calcular a

estatística JB, comparando seu valor com o valor crítico ao nível de significância de 5%. O

teste Jarque-Bera apresenta valor 7,3842, com probabilidade de apenas 2,5% de se ter esta

distribuição como normal; portanto, podemos inferir que a série segue uma distribuição não-

normal. A partir dos resultados, podemos determinar, de forma mais precisa, o nível crítico de

consumo em alimentos.

Se a distribuição seguisse o padrão normal, o nível crítico seria representado pela

região entre 0 e a soma da média com um desvio-padrão (84%): neste nível, com base nos

países selecionados, o valor crítico seria de 36,9%. Todavia, como a cauda está deslocada à

Observações Teste F R² Correlação Covariância

Dados 82 3,015E-20 0,6564 -0,8102 -0,0104

Coeficientes Erro padrão P-valor Consumo IDH

Intercepto (a) 0,9640 0,0177 < 0,0001 Média 0,2308 0,7661

Consumo (b) -0,8575 0,0694 < 0,0001 Variância 0,0122 0,0136

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esquerda da gaussiana e se trata de uma distribuição platicúrtica, não temos evidências para

afirmar que este é o nível crítico. Medindo, para esta distribuição, o nível crítico, tem-se que

este corresponde a um nível de consumo de 34,1%, o que engloba 79,3% das observações.

Como, entretanto, o maior nível de consumo, observado nos estados brasileiros, corresponde a

24,4% (no Piauí), decidimos rever este indicador para ¾ do valor máximo, resultando em

18,3%. Feitos estes procedimentos, podemos criar o indicador e definir sua região de

aceitação da característica “pobreza”, como segue, com base no total gasto com alimentação,

tanto dentro quanto fora de casa ( ).

{

(6)

O segundo medidor, o ICFR, é um índice que mensura os custos fixos de um agregado

familiar, e os compara à renda auferida. Neste trabalho, os custos fixos ( ) são aquela

parcela dos gastos que não se podem evitar mensalmente, a saber: alimentação, habitação; e

saúde. O empasse surge à medida que, como no caso do IAR, será necessário definir um nível

crítico para se considerar um domicílio pobre, neste quesito. Pela POF, o brasileiro médio tem

rendimento mensal de R$ 2.763,47, com gastos da ordem de 95,0% do total recebido.

A definição de um nível crítico para consumos fixos pode ser feita com base em uma

proxy a nível nacional. Podemos definir a relação entre gastos e renda, a nível nacional, como

a relação entre todos os gastos privados – isto é, das famílias – e o Produto Interno Bruto

(PIB), ambos per capita e a preços constantes. Com estes dados, pode-se tirar a relação entre

gastos privados e renda nacional e, a partir desta relação, pode-se estudar o comportamento

dos países, comparando estes dados com o IDH. Para que isto fosse possível, foram obtidas as

séries – de 2000 a 2010 – de consumo e PIB per capita, ambas a preços constantes em dólares

de 2000, a partir do banco de dados do World Bank. Obteve-se o indicador de consumo e de

renda para todos os países listados, com base na média de cada série e, devido ao mesmo

padrão das séries, pôde-se criar um consumption ratio, definido como a porcentagem de

gastos em relação à renda gerada.

De posse deste primeiro indicador, importaram-se os dados de IDH de todos os países,

de 2005 a 2011, e obteve-se a média simples da série anual, tendo um indicador de

desenvolvimento. A expectativa inicial era a correlação negativa entre consumo e

desenvolvimento – isto é, um maior desenvolvimento implica em uma menor estrutura

relativa de gastos das famílias. Para instruir de forma correta o procedimento, obtiveram-se

estatísticas básicas sobre as séries analisadas, sendo que desvios e covariância foram

calculados por métodos populacionais, já que a amostra corresponde ao universo de países

existentes, excetuados aqueles sem informações.

Tabela 2 – (2a) Momentos centrais e coeficientes de variação das séries

(2b) Limites, mediana e correlação/covariância das séries.

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do World Bank e do United Nation Development Programme.

IDH Consumo/PIB IDH Consumo/PIB

Média 0,6537 0,6448 Mínimo 0,2731 0,1029

Desvio 0,1757 0,1836 Mediana 0,6950 0,6506

Skewness -0,4393 0,2462 Máximo 0,9409 1,3412

Kurtosis -0,8467 1,4216 Correlação

Coef. Variação 26,87% 28,47% Covariância -0,0161

-0,4998

(2a) (2b)

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Com os dados da Tabela 2, foi possível a definição correta do nível crítico de gastos

fixos. Como os terceiro e quarto momentos da distribuição do IDH apontam valores

negativos, espera-se uma distribuição mais pesada nas pontas e com cauda assimétrica à

esquerda, de modo que boa parte dos países (21%) ainda esteja aquém da zona de

normalidade – valor calculado em 0,478. Isto nos leva a repensar a possibilidade de escolher o

limite superior da zona de normalidade como um bom apontador de qual nível de consumo

seja o mais apropriado. Para tal, estudou-se a distribuição por intervalos de classe, levando em

conta a definição de alto padrão de desenvolvimento da ONU (que corresponde a um IDH

maior ou igual a 0,70). Os dados abaixo apresentam IDH e consumption ratio médios das

classes estudadas, além de nos dizer a importância de cada classe no conjunto. Os dados

confirmam a expectativa, pela qual um menor IDH traz consigo um maior nível de consumo.

Tabela 3 – Análise por intervalo de classe dos indicadores de desenvolvimento e consumo

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do World Bank e do United Nation Development Programme.

Como o Brasil tem IDH médio, nos últimos anos, de 0,7047, definiremos o nível de

consumo crítico como média ponderada entre os países com IDH alto ou muito alto – acima

de 0,80. Obtemos, assim, o valor 0,577, que será nosso nível crítico de gastos fixos7.

{

(7)

O último medidor, o IGR, mensura a proporção de gastos de um domicílio, frente aos

rendimentos normalmente auferidos. Como, neste caso, o objetivo é entender se os

rendimentos familiares são suficientes para manter o padrão de vida desejado, a equação (3) é

um bom começo de análise. Entretanto, cabe lembrar que o rendimento total é composto

por rendimentos e variações patrimoniais ( ), que incluem a movimentação de contas

bancárias. Para medir, com exatidão, o IGR, tomaremos apenas os rendimentos monetários, a

fim de saber se o salário e/ou aposentadoria – ou qualquer tipo de transferência unilateral –

são suficientes para alimentar o padrão de vida normal da família estudada. Assim sendo, o

IGR é uma variante do RRD, com objetivos e resultados diferentes.

{

(8)

Após definir os indicadores objetivos de pobreza, a análise será estruturada em duas

vertentes: absoluta; e detalhada. Na primeira, será obtido um indicador-síntese, o Índice

7 A medição do nível crítico está bem conceituada, à medida que Hagenaars e De Vos (1988) definiram o nível

de 50% para a Holanda, e o resultado do consumption ratio nacional foi de 47,9%.

Classes IDH Médio C/P Médio Observações Proporção

IDH ≥ 0,8 0,8666 0,5174 38 22,49%

0,8 > IDH ≥ 0,7 0,7436 0,6279 44 26,04%

0,7 > IDH ≥ 0,6 0,6542 0,6268 31 18,34%

0,6 > IDH ≥ 0,5 0,5429 0,6717 16 9,47%

0,5 > IDH ≥ 0,4 0,4461 0,7779 23 13,61%

IDH < 0,4 0,3292 0,8010 17 10,06%

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Objetivo de Pobreza (IOP), cujo objetivo é apresentar um resultado sintético acerca do nível

de pobreza dos estados brasileiros. Este indicador será a média ponderada dos quatro itens

acima descritos – RRD, IAR, ICFR e IGR –, além de contar com uma ponderação extra. A

POF traz, além dos dados acima, três informações fundamentais para a avaliação objetiva da

pobreza. Embora sejam informações subjetivas, estas são necessárias para ponderar o nível de

pobreza, e ajudam na quantificação correta dos dados. As três informações são: tipo de

alimento consumido ( ); grau de dificuldade para se chegar ao fim do mês ( ); e

quantidade de alimento consumido ( )8.

O estabelecimento de penalidades deve ser feito levando em conta dois

condicionantes: sempre que a resposta for a melhor possível, não deve haver penalização; e os

mais ricos devem ser mais penalizados, frente aos que ganham menos, em respostas com

mesmo nível de “má qualidade”. O primeiro passo é, portanto, determinar os coeficientes

de penalidade, usando as faixas de renda média da POF, as quais foram agrupadas, para este

fim, em quatro classes: classe A – acima de R$ 3.500 –; classe B – rendimento entre R$ 2.750

e R$ 3.500 –; classe C – rendimento entre R$ 2.000 e R$ 2.750 –; e classe D – rendimento

abaixo de R$ 2.000.

A partir destas classes de rendimento, foi montada uma tabela auxiliar, a qual computa

o peso da punição a ser infligida a cada indicador. Para tal, alocaram-se as possíveis respostas

às informações dos coeficientes em três categorias distintas: nível I – baixa ou nula

dificuldade –; nível II – dificuldade média –; e nível III – alta ou total dificuldade. Quanto

maior o grau de dificuldade, maior o peso da punição, sendo que estes fatores agirão

diretamente no cálculo do indicador, já que o resultado será única e exclusivamente binário9.

Tabela 4 – Nível de punição, por classe de rendimentos

Fonte: elaboração própria.

Após os ajustes, pode-se calcular o indicador. Este, então, é a média ponderada das

quatro componentes indicadas anteriormente, onde o IAR contará com o peso da componente

punitiva , média simples de e , e o indicador ICFR terá a componente punitiva ,

correspondente à metade do valor de – a fim de colocar as componentes punitivas no

mesmo patamar. Assim sendo, resta apenas calcular a ponderação das várias componentes:

{

( )

( )

(9)

8 Valermo-nos de uma mistura de elementos objetivos e subjetivos, pois permite a ponderação de observações

rígidas (objetivas) pela visão dos entrevistados acerca de suas condições de vida (subjetivas). O estudo de um

indicador de pobreza puramente subjetivo é interessante, mas o número restrito de questões, acerca de

elementos de cunho pessoal, limitaria o poder do indicador. Por este motivo, torna-se interessante a interação

das componentes objetiva e subjetiva, a fim desta ponderar corretamente as informações daquela.

9 Os níveis críticos sofrerão reajuste com base no nível médio de punição, definido a partir do número de

famílias em cada classe e por nível de dificuldade apontado.

Valor j Classe A Classe B Classe C Classe D

Nível I 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000

Nível II 0,5000 0,3750 0,2500 0,1250

Nível III 0,7500 0,5625 0,3750 0,1875

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sendo que os índices , , e assumirão valores binários – onde 0 é não-pobre e 1 é pobre,

em cada quesito analisado – seguindo as mesmas leis, para atribuição de seus valores, das

equações que originaram a componente de cada índice. A componente punitiva permite,

assim, que se tenha domicílios não-pobres, com base no indicador inicial, mas que se tornem

pobres, devido à avaliação subjetiva de sua própria condição. Vale lembrar que o IOP

assumirá valores entre 0 e 1, inclusos.

O cálculo dos coeficientes será realizado por meio da análise dos coeficientes de

variação das estimativas dos indicadores. O coeficiente de variação ( ) mede a sensibilidade

da distribuição a variações em um dos seus valores; quanto maior o coeficiente, maior a

sensibilidade a pequenas variações, podendo-se deduzir que há uma relação intrínseca entre

grau de necessidade ( ) de um item e sua sensibilidade – em outras palavras, estamos

valorizando variáveis menos sensíveis, pois têm menor elasticidade, representando itens

relevantes. Esta relação é inversa, pois gastos mais necessários sofrem variações menores.

(10a)

10

(10b)

O resultado final são os dados apresentados na tabela abaixo, onde consta que a

alimentação exerce um papel central na determinação da pobreza, seguido das despesas com

gastos fixos.

Tabela 5 – Determinação dos pesos para os indicadores selecionados

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF 2008/09 .

De forma conclusiva, se pode escrever a equação (9) com os pesos calculados na tabela

acima, obtendo-se assim o valor derradeiro do IOP.

A segunda vertente de análise, a detalhada, será feita por estado. O objetivo, neste

momento, é entender a dinâmica do resultado do IOP, estudando os resultados médios de cada

componente nos estados brasileiros, a fim de determinar quais motivos levaram um ou outro

estado a estar em situação mais pobre frente aos outros. Tendo-se famílias em um estado, as

componentes médias serão analisadas da seguinte forma:

∑ [ ( )]

[ ] (11)

10

O coeficiente de variação menor ou igual a 1 se baseia na distribuição binária, onde só há dois resultados (0 ou

1), como no caso do lançamento de uma moeda. Nestes casos, o desvio padrão se iguala à média.

Gastos Alimentação Despesas Fixas Gastos Totais Rendimento Total

Média 388,90R$ 1.569,54R$ 2.255,52R$ 2.369,11R$

Desvio Padrão 71,08R$ 455,19R$ 707,21R$ 766,90R$

Skewness 0,1912- 0,8692 0,8062 1,1554

Kurtosis 0,5247- 0,0312- 0,0720- 1,2639

Sensibilidade (υ) 0,1828 0,2900 0,3135 0,3237

Necessidade (η) 5,4717 3,4481 3,1893 3,0892

Peso (λ) 36,00% 22,69% 20,98% 20,33%

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onde ( ) representa a família cujo indicador retornou valor 1, e é o total expandido

de famílias por estado.

A análise dos indicadores será então feita por meio gráfico, tentando determinar

padrões regionais de pobreza, seja em cada um dos quatro indicadores selecionados, seja a

nível completivo. Ademais, será possível também analisar o nível punitivo , obtendo um

mapa dos graus de dificuldade em cada estado. Para a análise dos níveis punitivos, será

adotada a seguinte estratégia:

∑ [ ( )]

{ } (12)

onde ( ) representa a família cuja componente punitiva retornou valor maior que 0, e

é o tamanho da população por estado. Obtêm-se, assim, as componentes punitivas , e , podendo se calcular o valor das componentes punitivas gerais e , para saber o

quão cada estado foi penalizado com base nas respostas subjetivas.

4. RESULTADOS

Usando os métodos apresentados, pôde-se obter o IOP ajustado. Para fins deste estudo,

a análise foi feita em três níveis: por faixa de rendimento; por situação censitária; e por

estado. Os resultados obtidos apontam para a confirmação de três resultados conhecidos: há

um maior atraso do meio rural frente ao urbano; as pessoas que ganham menos não

conseguem poupar a contento, ou não poupam; e há uma diferenciação norte-sul da pobreza,

sendo esta mais acentuada no setentrião em relação ao meridião. Além dos resultados por

nível, serão estudadas as relações entre os indicadores, a fim de encontrar algum padrão.

4.1. PADRÃO DE POBREZA POR FAIXAS DE RENDIMENTO

O primeiro item estudado diz respeito aos indicadores de consumo por faixa de

rendimento. Percebeu-se, calculando os indicadores apontados na seção 3, que o nível

objetivo de pobreza decai sensivelmente quando o rendimento familiar auferido for de 6+ SM

– isto é, quando a família tiver rendimento total entre o limite superior da classe D e a classe

G. Este resultado vale tanto para as áreas urbanas quanto para as rurais.

Outras características dizem respeito ao padrão de consumo, especialmente nos custos

fixos e nos gastos alimentícios. De forma geral, observa-se que, ao aumentar a renda, tem-se

uma redução nos gastos com alimentação, embora estes sejam sempre maiores no âmbito

rural do que no urbano, exceção feita à classe G. Entretanto, somando-se os gastos fixos à

alimentação, tem-se um maior consumo generalizado na área urbana e, especialmente, a

classe A gasta mais do que recebe. Este indício de pobreza nos leva a analisar as outas duas

componentes, a RRD e o IGR. Especialmente nas áreas urbanas, o gasto supera o que é

recebido até mesmo em classes de renda mais ampla, como a C e a D, fato que não se repete

nas áreas rurais. Isto é sinal de que dois fenômenos simultâneos acontecem: os pobres gastam

tudo, pois não têm o quê gastar; e os ricos não poupam (exceto a classe G), pois não sabem

como gastar.

Ademais, analisando a discrepância do RRD e do IGR entre áreas urbanas e rurais,

percebemos que há um estilo de vida mais consumista nas regiões mais industrializadas e

desenvolvidas, onde o padrão de vida é mais elevado, em detrimento das possibilidades de

poupança. Especialmente nas classes da A à C, percebe-se que há um gasto superior às

disponibilidades mensais nas áreas urbanas, o que não permite o acúmulo de riquezas,

enquanto – no meio rural, apenas a classe A sofre com este problema. Embora o meio rural

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tenha níveis de gastos básicos mais acentuados em quase todas as classes, isto não impede a

poupança, especialmente por ter-se um padrão de vida mais simples e com menor

disponibilidade de bens e serviços supérfluos.

Tabela 6 – Indicadores objetivos de pobreza, por faixa de renda e situação censitária

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF 2008/09 .

De forma geral, percebe-se que o padrão de consumo do brasileiro não permite um

nível de poupança suficientemente bom para projetos de longo prazo. Para que este tipo de

ação seja implementado, a família decide abrir mão de custos supérfluos, ou reduz as despesas

que ela considera básicas. Não há, assim, uma política de poupança significativa; para dar um

exemplo, a POF 2008/09 levantou que o brasileiro médio, nas áreas urbanas, tem variação

patrimonial mensal de R$ 133,62, valor que cai para menos da metade (R$ 57,96) nas áreas

rurais. Outro dado levantado diz respeito à renda média de cada faixa, comparando-a com a

variação patrimonial. Percebe-se um movimento explosivo ao aumentar a renda auferida;

entretanto, ao relativizar-se, percebe-se maior poupança mais nas áreas rurais, mas que o valor

médio é menor frente às áreas urbanas. Ademais, não há crescimento expressivo da poupança

entre os mais ricos (excetuando a classe G), pois o padrão de vida adotado não permite isto.

4.2. DIFERENÇAS ENTRE O URBANO E O RURAL

Um primeiro estudo, na análise censitária, pode ser feito a partir dos dados das

componentes punitivas de alimento e de gastos; devido à possibilidade de desagregação, nos

ateremos aos dados da componente punitiva . Duas perguntas subjetivas são feitas na POF,

acerca do alimento consumido, com os níveis estabelecidos – vide seção 3.2 –, e a média dos

resultados, ponderados pelos pesos da Tabela 4, oferece o nível da componente punitiva.

Cruzando-se os dados de tipo-quantidade, percebe-se que, de modo geral, tem-se um consumo

de alimentos do gosto da população, embora não sempre e tampouco em quantidades

suficientes. Este quadro, específico da área urbana, muda sensivelmente no âmbito rural,

onde, para o brasileiro médio de lá, o tipo consumido não sempre é o desejado, além de a

quantidade não ser sempre suficiente para ⅓ dos entrevistados.

RRD IAR ICFR IGR RRD IAR ICFR IGR

A Até 830 R$ 1,418 0,387 1,002 1,427 1,241 0,436 0,869 1,252

B Mais de 830 a 1.245 R$ 1,113 0,279 0,752 1,122 0,984 0,306 0,651 0,999

C Mais de 1.245 a 2.490 R$ 1,031 0,220 0,622 1,044 0,960 0,256 0,573 0,982

D Mais de 2.490 a 4.150 R$ 0,993 0,172 0,526 1,017 0,902 0,191 0,449 0,936

E Mais de 4.150 a 6.225 R$ 0,958 0,137 0,453 0,990 0,856 0,151 0,368 0,922

F Mais de 6.225 a 10.375 R$ 0,917 0,113 0,396 0,961 0,829 0,113 0,310 0,893

G Mais de 10.375 R$ 0,789 0,071 0,292 0,875 0,644 0,058 0,208 0,728

0,951 0,153 0,481 0,995 0,943 0,239 0,533 0,981 Brasil

Faixa de rendaUrbano Rural

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Tabela 7 – Definição do nível punitivo para gastos alimentícios, por faixa de renda e situação censitária

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF 2008/09 .

Um segundo ponto a ser estudado retoma a Tabela 6, no que diz respeito ao padrão de

consumo. Há certo distanciamento entre o âmbito urbano e o rural, notório na literatura,

ressaltado pelos resultados obtidos pela POF. Entretanto, mesmo com um diferencial de

rendimentos da ordem de 100%, percebe-se um consumo alimentício grosso modo estável,

além da já ressaltada baixa variação patrimonial. O consumo alimentício estável confirma a

hipótese de Keynes (2007) acerca da propensão marginal a consumir. Vejamos um exemplo.

Tabela 8 – Dados básicos sobre gastos e rendimentos, por situação censitária, em valores médios

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF 2008/09 .

Em um local específico, os gastos mínimos, com alimentação – de modo a garantir o

bem-estar da família – são de 500 u.m. (unidades monetárias); o pobre, que ganha 1.000 u.m.,

estará gastando 50% de sua renda com alimentação; o rico, que ganha 10.000 u.m., estará

gastando 5%, dez vezes menos que o pobre. Obviamente, ricos e pobres não gastarão a

mesma renda em comida, mas a propensão marginal a consumir dos ricos é inferior à dos

Nível I Nível II Nível III Nível I Nível II Nível III

U Brasil Urbano 36,9% 51,0% 12,1% 66,4% 25,0% 8,6% 0,1761

A Até 830 R$ 21,0% 57,9% 21,0% 49,4% 35,6% 14,9% 0,0828

B Mais de 830 a 1.245 R$ 21,0% 57,9% 21,0% 49,4% 35,6% 14,9% 0,0828

C Mais de 1.245 a 2.490 R$ 32,8% 56,0% 11,3% 66,0% 26,4% 7,6% 0,0600

D Mais de 2.490 a 4.150 R$ 50,2% 45,0% 4,8% 79,9% 16,5% 3,6% 0,1175

E Mais de 4.150 a 6.225 R$ 50,2% 45,0% 4,8% 79,9% 16,5% 3,6% 0,1566

F Mais de 6.225 a 10.375 R$ 71,3% 26,7% 2,0% 92,1% 5,9% 2,0% 0,0812

G Mais de 10.375 R$ 71,3% 26,7% 2,0% 92,1% 5,9% 2,0% 0,0812

Nível I Nível II Nível III Nível I Nível II Nível III

R Brasil rural 25,9% 56,4% 17,6% 54,4% 33,3% 12,3% 0,0748

A Até 830 R$ 18,2% 60,0% 21,9% 44,3% 39,3% 16,4% 0,0879

B Mais de 830 a 1.245 R$ 13,2% 43,4% 43,4% 44,3% 39,3% 16,4% 0,1012

C Mais de 1.245 a 2.490 R$ 32,8% 54,5% 12,6% 65,4% 28,3% 6,3% 0,0604

D Mais de 2.490 a 4.150 R$ 34,3% 32,8% 32,8% 81,4% 14,4% 4,1% 0,1818

E Mais de 4.150 a 6.225 R$ 34,3% 32,8% 32,8% 76,7% 19,4% 3,9% 0,2514

F Mais de 6.225 a 10.375 R$ 55,6% 22,2% 22,2% 95,2% 4,8% 0,0% 0,1429

G Mais de 10.375 R$ 55,6% 22,2% 22,2% 95,2% 4,8% 0,0% 0,1429

Faixa de rendaNível

Punitivo

Faixa de rendaTipo consumido Quantidade consumida Nível

Punitivo

Tipo consumido Quantidade consumida

Nível I Nível II Nível III Nível I Nível II Nível III

U Brasil Urbano 36,9% 51,0% 12,1% 66,4% 25,0% 8,6% 0,1761

A Até 830 R$ 21,0% 57,9% 21,0% 49,4% 35,6% 14,9% 0,0828

B Mais de 830 a 1.245 R$ 21,0% 57,9% 21,0% 49,4% 35,6% 14,9% 0,0828

C Mais de 1.245 a 2.490 R$ 32,8% 56,0% 11,3% 66,0% 26,4% 7,6% 0,0600

D Mais de 2.490 a 4.150 R$ 50,2% 45,0% 4,8% 79,9% 16,5% 3,6% 0,1175

E Mais de 4.150 a 6.225 R$ 50,2% 45,0% 4,8% 79,9% 16,5% 3,6% 0,1566

F Mais de 6.225 a 10.375 R$ 71,3% 26,7% 2,0% 92,1% 5,9% 2,0% 0,0812

G Mais de 10.375 R$ 71,3% 26,7% 2,0% 92,1% 5,9% 2,0% 0,0812

Nível I Nível II Nível III Nível I Nível II Nível III

R Brasil rural 25,9% 56,4% 17,6% 54,4% 33,3% 12,3% 0,0748

A Até 830 R$ 18,2% 60,0% 21,9% 44,3% 39,3% 16,4% 0,0879

B Mais de 830 a 1.245 R$ 13,2% 43,4% 43,4% 44,3% 39,3% 16,4% 0,1012

C Mais de 1.245 a 2.490 R$ 32,8% 54,5% 12,6% 65,4% 28,3% 6,3% 0,0604

D Mais de 2.490 a 4.150 R$ 34,3% 32,8% 32,8% 81,4% 14,4% 4,1% 0,1818

E Mais de 4.150 a 6.225 R$ 34,3% 32,8% 32,8% 76,7% 19,4% 3,9% 0,2514

F Mais de 6.225 a 10.375 R$ 55,6% 22,2% 22,2% 95,2% 4,8% 0,0% 0,1429

G Mais de 10.375 R$ 55,6% 22,2% 22,2% 95,2% 4,8% 0,0% 0,1429

Faixa de rendaNível

Punitivo

Faixa de rendaTipo consumido Quantidade consumida Nível

Punitivo

Tipo consumido Quantidade consumida

DT RT DA DF VP

2.853,13R$ 2.999,98R$ 437,45R$ 1.443,27R$ 133,62R$

1.397,29R$ 1.481,91R$ 336,48R$ 789,55R$ 57,96R$ Rural

Urbano

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pobres. Entretanto, com o aumentar da renda, não há um andamento pari passu do aumento

do consumo alimentício, isto é, os ricos: gastam proporcionalmente menos que os pobres e; a

cada u.m. a mais que for recebida, a tendência a esta ser gasta se reduz, estabilizando-se.

Retomando-se a Tabela 7, ver-se-á que há um aumento – embora não muito expressivo – da

variação patrimonial dos mais ricos (classes F e G) frente aos mais pobres (classes A à D).

4.3. ANÁLISE REGIONAL

Por fim, apresentamos um breve estudo sobre as regiões e os estados, de forma mais

específica. Conforme aparece na tabela adiante, percebe-se que há uma desagregação Norte-

Sul da pobreza. Se, por um lado, tem-se 37% da população em baixas condições de pobreza

(faixa A-B) – sendo 80% destes no eixo Centro-Sul –, por outro lado tem-se 41% da

população em condições críticas de pobreza (faixa D-E) – sendo 90% no eixo Norte. Deste

modo, embora tenha uma razoável distribuição dos estados por nível de pobreza, os piores

indicadores estão concentrados no eixo Norte.

Tabela 9 – Distribuição dos estados brasileiros por intervalo de IOP

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF 2008/09 .

Outro ponto de destaque é o nível punitivo em relação a gastos e consumo alimentício.

Percebe-se novamente um descolamento Norte-Sul, onde, entretanto, a situação se encontra

invertida. Mesmo com rendimentos maiores, e menor situação de pobreza, o eixo Sul se

encontra mais insatisfeito com o tipo e a quantidade consumida de alimentos, além de sentir-

se em maiores dificuldades financeiras. A situação mais precária no Norte reflete um quadro

de realismo mais forte em relação ao Sul, onde a alimentação e os gastos são melhores, mas

parece não serem suficientes para a satisfação subjetiva.

Tabela 10 – Macrorregiões brasileiras por nível punitivo das componentes e IOP

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF 2008/09 .

Brasil N NE SE S CO Absoluta Acumulada

0,00├ 0,16 A 6 1 1 1 0 3 0,22 0,22

0,16├ 0,32 B 4 0 0 2 1 1 0,15 0,37

0,32├ 0,48 C 6 1 3 1 1 0 0,22 0,59

0,48├ 0,64 D 6 2 3 0 1 0 0,22 0,81

0,64├ 0,80 E 5 3 2 0 0 0 0,19 1,00

FrequênciaIntervalo

Estados

Alimentos Gastos Nível Classe

Brasil 14,5 15,9 0,341 C

Norte 12,4 11,0 0,634 D

Nordeste 7,7 7,2 0,516 D

Centro-Oeste 13,8 15,5 0,090 A

Sudeste 19,3 21,5 0,214 B

Sul 13,9 17,3 0,401 C

IOPRegião

Nível punitivo (% )

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IAR ICFR

IGR RRD

Finalmente, analisamos os dados obtidos pelas componentes do IOP, apresentando os

dados de forma gráfica. Pelos mapas da figura abaixo, percebe-se que, quando se discutem

custos fixos e alimentícios, há uma diferenciação Norte-Sul, enquanto que, ao estudarem-se o

agregado de gastos em relação aos rendimentos, tem-se um padrão de diferenciação Leste-

Oeste. Enquanto há uma maior situação de pobreza, no eixo Norte, pelos níveis de consumo,

o mesmo não é refletido pelos dados de gastos, nos quais os estados do litoral Centro-Sul têm

maior nível de endividamento.

Figura 1 – Análise gráfica das componentes do IOP, por estado

Fonte: elaboração própria.

Como os mapas evidenciam, de forma geral, estados mais pobres respondem por

níveis, em cada indicador, nas faixas alaranjada e vermelha, apontando para um nível de

carência mais forte. Isto é reforçado pela tabela a seguir, na qual se estuda o nível de

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rendimento médio dos estados. Estados com componentes mais elevadas – que aparecem com

cores mais escuras nos mapas – são também os estados com menor rendimento médio.

Especificamente, a maior parte dos estados do eixo Norte (60%) tem rendimento médio

inferior a 3 SM (sendo o salário mínimo de R$ 678,00), enquanto boa parte do eixo Sul (mais

de 40%) tem rendimento médio superior a 5 SM.

5. CONCLUSÕES

Estudou-se e constituiu-se, neste ensaio, uma metodologia de análise objetiva da

pobreza, pela qual se estudam as componentes de consumo, gasto e rendimentos mensais

familiares. O trabalho foi desenvolvido a partir da análise de indicadores sintéticos e valores

críticos. O objetivo do estudo foi criar um indicador de nível objetivo de pobreza, que fosse

capaz de indicar situações de pobreza a partir do excesso de consumo alimentício ou de gastos

totais. De forma especial, estudaram-se as diferenças do IOP entre faixas de renda, estados e

áreas urbanas e rurais, de forma a identificar padrões de caracterização da pobreza, a partir do

resultado objetivo de cada componente.

Os resultados mostraram três grandes tendências na pobreza brasileira: diferenciação

Norte-Sul; consumo não criterioso; rendimento médio auferido. Quanto à primeira tendência,

tem-se o nível do IOP sensivelmente maior no eixo Norte frente ao eixo Sul, devido a maiores

problemas em todos os indicadores, de forma sintética. Embora o nível punitivo seja menor

no eixo Norte, os níveis pré-punitivos de lá são sensivelmente maiores, o que mantém a

diferença entre os eixos. Os resultados obtidos apontam para um nível preocupante de

carência alimentícia e de gastos fundamentais no eixo Norte, enquanto no eixo Sul se tem um

problema de qualidade e de quantidade de alimentos consumidos e gastos incorridos.

No que diz respeito ao consumo não criterioso, os estudos levantaram duas tendências

distintas, quanto à faixa de renda e quanto à situação censitária. Analisando por faixa de

renda, tem-se um nível punitivo menor na faixa de renda intermediária (faixa C), enquanto as

faixas mais pobres (A-B) e mais ricas (E-F) têm componentes punitivas maiores, seja por

causa de um nível consumido menor que o desejado – para os mais pobres –, seja por níveis

de consumo queridos aquém dos desejados – nas classes mais abastadas. A respeito da

situação censitária, percebe-se um nível punitivo superior no âmbito rural, especialmente para

as faixas de renda mais elevadas; entretanto, no agregado, percebe-se que o nível médio do

Brasil rural é inferior ao Brasil urbano, devido à agregação das componentes punitivas (em

média menores) e à distribuição relativa da população (90% da população urbana se

concentram nas classes A-E, enquanto 88% da população rural est entre as classes A-C, sendo

que as componentes punitivas das classes urbanas são maiores que as das rurais).

Por último, o rendimento médio auferido se apresenta como uma problemática real no

cenário econômico brasileiro; se, por um lado, tem-se mais da metade dos estados brasileiros

com IOP inferior a 0,50 – sendo o valor médio ponderado no Brasil é 0,3411 –, apenas quatro

estados no Brasil (SP, RJ, SC e DF) têm rendimento médio acima de R$ 3.100/mês, o que

implica em maior risco de aparecer pobreza por meios dos indicadores objetivos, já que os

consumos fundamentais são estáveis a curto e médio prazos.

A situação da pobreza brasileira sofreu sérios avanços na última década; entretanto,

muitos desafios se propõem para o atual governo e os próximos, especialmente no que diz

respeito à melhora das condições de renda e do leque de consumo disponível. Outro grande

problema atual é a solução das condições de poupança da população, as quais não permitem

uma ampliação do padrão de vida no curto prazo. No Brasil, duas situações convivem, com

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exceções estatisticamente não significativas: o pobre não tem como poupar, pois não ganha o

suficiente; e o rico não consegue poupar, pois não sabe consumir parcimoniosamente.

Verifica-se um quadro de propensão marginal a consumir elevada, específico de países

que têm um cenário de estabilidade na sua economia. Entretanto, para países em

desenvolvimento, seria interessante um maior nível de poupança, capaz de garantir a

expansão do consumo das famílias à medida que aumentam as disponibilidades do país. A

solução se daria por um conjunto de políticas que fosse capaz de imputar uma nova cara ao

consumo brasileiro, permitindo o não-consumo em um nível razoavelmente maior. A melhora

da qualidade da alimentação nas áreas menos abastadas, a melhora no tipo de consumo e o

favorecimento à poupança são políticas que, no médio prazo, são capazes de reverter o quadro

atual da pobreza brasileira, além de favorecer o aumento do poder de compra da população,

gerando um ciclo virtuoso de crescimento econômico sustentado e redutor da pobreza.

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