a nova intervenção de terceiros prevista no artigo 1.698 do código civil

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Nova Intervenção de Terceiros Prevista No Artigo 1.698 Do Código Civil

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A NOVA INTERVENO DE TERCEIROS DO ARTIGO 1

A NOVA INTERVENO DE TERCEIROS PREVISTA NO ARTIGO 1.698 DO CDIGO CIVILO novo Cdigo Civil e o trato de questes processuais

O projeto de Lei que culminou no atual Cdigo Civil tramitou desde o ano de 1975, quando o Presidente Ernesto Geisel o submeteu apreciao da Cmara dos Deputados, sendo que veio a lume somente aos dez dias de janeiro do ano de dois mil e dois, por meio da Lei n. 10.406, entrando em vigor um ano aps a sua publicao.

A expectativa era grande em torno das alteraes contidas no novo diploma, mesmo considerando-se que grande parte das mudanas constantes da nova Lei j havia sido encampada pela doutrina e jurisprudncia, sobretudo aps a promulgao da Constituio Federal de 1988.

Em que pese existir crticas, como no poderia deixar de ser, no se pode olvidar que o diploma merece elogios, pois foi aperfeioado em vrios pontos, buscando-se adapt-lo realidade da sociedade hodierna, alm de abrir caminho para que, por meio da interpretao evolutiva, possa adequar-se conforme as necessidades sociais o exigirem.

Merecem destaque as palavras do ilustre jurisconsulto Miguel Reale, segundo o qual o novo Cdigo Civil nasceu pautado em trs princpios fundamentais, sendo eles, eticidade, socialidade e operabilidade.

Segundo o mestre citado, a eticidade foi prestigiada em razo do abandono pelo novo diploma dos modelos demasiadamente formais do Cdigo de 1916, sendo que se procurou adotar normas genricas e clusulas gerais, justamente com a inteno de tornar a Lei mais flexvel realidade social e com isso lograr-se a contnua atualizao dos preceitos legais, sem a necessidade da elaborao de novas leis.

J a sociabilidade norteou a elaborao do Cdigo na medida em que este se desprendeu dos modelos baseados no individualismo reinante poca do Cdigo de 1916. A sociedade deixou de ser individualista e passou a dar maior importncia ao social, ao bem comum, ainda que em detrimento de interesses individuais. O Prof. Dr. Miguel Reale citou, na oportunidade, como exemplos deste princpio a funo social do contrato e a diminuio do prazo da prescrio aquisitiva.

O terceiro e ltimo princpio o da operabilidade, segundo o qual se procurou eliminar do novo Cdigo as dvidas e incertezas que surgiram durante a aplicao e interpretao do Cdigo anterior, servindo como exemplos as regras que tratam da prescrio e decadncia, assunto no qual se buscou identificar cada um dos institutos e as caractersticas que os distinguem. Outro exemplo seriam as regras que definiram o que uma sociedade e o que uma associao, entre tantas outras.

Como foi dito no incio, o novo diploma legal merece inmeros elogios.

Nesse contexto de eticidade, sociabilidade e operabilidade, o Cdigo acabou por tratar, por mais de uma vez, no somente dos direitos materiais, mas tambm de questes processuais. Alguns dispositivos possuem ntido carter processual e afetam sobremaneira as regras e institutos previstos no Cdigo de Processo Civil, sendo que inclusive alguns doutrinadores chegaram a editar monografias para tratar justamente dos aspectos processuais do novo Cdigo Civil, tal como o jurista Fredie Didier Jr .

Um dos dispositivos do Novo Cdigo Civil com portador de traos processuais o art. 1.698, o qual trata justamente do tema a que nos dispusemos dissertar, ou seja, uma espcie de interveno de terceiros na ao de alimentos. Os alimentos no Novo Cdigo - Natureza da relao obrigacional

Antes de adentrarmos na anlise das caractersticas prprias e das semelhanas que a regra processual mencionada ostenta em relao s demais formas de interveno de terceiros previstas no Cdigo de Processo Civil, entendemos pertinente traar breve esboo sobre a natureza da relao obrigacional decorrente do dever de prestar alimentos, especificamente com relao a este dever no campo das relaes de parentesco.

O dever de prestar alimentos entre parentes, embora seja tratado no mesmo artigo dos alimentos devidos por um cnjuge ao outro, distingue-se desta espcie de obrigao.

No caso dos alimentos devidos entre parentes a obrigao surge do vnculo de parentesco, seja ele sanguneo ou decorrente de adoo. J no caso dos alimentos devidos entre cnjuges, estes somente podero exigir os alimentos reciprocamente em razo do vnculo matrimonial, no sendo possvel se cogitar de obrigao subsidiria, na falta do prprio cnjuge. A obrigao de prestar alimentos que um cnjuge tem perante o outro tambm deriva do direito de famlia, mas no do vnculo de parentesco. obrigao personalssima e no se transfere ou se divide, tal como ocorre com os alimentos devidos em virtude do vnculo de parentesco.

Apenas a ttulo de observao, cumpre ressaltar que existe tambm o dever alimentcio decorrente de vnculo obrigacional, seja ele oriundo de mera liberalidade, como no caso de testador que deixa o encargo ao seu herdeiro ou legatrio, ou de responsabilidade civil, citando-se como exemplo deste ltimo caso um acidente de trnsito em que o causador do dano condenado a pagar penso vtima ou aos dependentes desta.

Tambm a ttulo de comentrio, para efeitos didticos, cumpre mencionar a existncia dos alimentos provisionais, consistentes em cautelar nominada, com aplicao restrita apenas aos casos previstos no artigo 852 do Cdigo de Processo Civil, ou seja, aqueles casos em que a parte necessita dos alimentos para se manter durante a tramitao de determinada demanda.

Nosso foco, como j anunciado alhures, a obrigao alimentcia decorrente do vnculo de parentesco.

Os alimentos devidos entre parentes e a questo da solidariedade

No caso dos alimentos devidos entre parentes, a regra matriz da obrigao est contida no art. 1.694 do Cdigo Civil, o qual tambm trata dos alimentos devidos entre cnjuges e companheiros e est redigido nos seguintes termos:

Art. 1.694 Podem os parentes, os cnjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatvel com a sua condio social, inclusive para atender s necessidades de sua educao.

A primeira dvida que surge se a obrigao alimentar existente entre parentes solidria, ou seja, se o credor pode exigi-la por inteiro de um dos potenciais alimentantes e se este, paga a quantia exigida, tem ento direito de regresso contra os demais.

O mestre Yussef Said Cahali, citando outros autores nacionais e estrangeiros, explica que na vigncia do Cdigo Civil anterior, chegou-se a cogitar da existncia de solidariedade da obrigao alimentcia, porm a tese foi rechaada e hoje a questo est pacificada tanto na doutrina como jurisprudncia, de modo que amplamente reconhecido que no se trata de obrigao solidria, sobretudo em virtude do que dispe o art. 265, tambm do Cdigo Civil, o qual traz expressamente que a solidariedade no se presume. Ela resulta somente da Lei ou da vontade das partes.

O autor citado, na mesma obra, fazendo uso das palavras de Cunha Gonalves, explica o seguinte: Para que pudesse haver solidariedade seria preciso que todos os demandados fossem responsveis simultaneamente e pela mesma soma. Mas, nada disto sucede, com os alimentos, visto que cada um dos parentes obrigado conforme as suas posses, tm de ser demandado em ao separada e, portanto, por distinta verba.

No se tratando de obrigao solidria, cumpre observar que ela possui algumas especificidades, dentre as quais podemos citar o escalonamento das obrigaes, ou seja, o alimentante deve se voltar sempre contra o parente de grau mais prximo e somente no caso de restar comprovado que este no tem condies de arcar com o total necessrio ao alimentado, sob o prisma do famigerado binmio necessidade de quem pede alimentos e possibilidade daquele a quem se pede, que haver a possibilidade de voltar-se contra o parente do grau seguinte.

Exemplificando, o filho volta-se contra o genitor e comprovado que este no tem condies de arcar com quantia alguma ou que somente pode arcar com montante nfimo, o qual no supre as necessidades do alimentante, pode o autor da ao perfeitamente direcionar sua pretenso contra os seus avs paternos.

Nestes casos que se torna relevante a inovadora regra da parte final do art. 1.698, com a previso do chamamento (grifo nosso) dos outros parentes de grau mais remoto, a fim de que estes ingressem naquela lide originalmente ajuizada contra o parente de grau mais prximo.

O que nos resta, cientes da utilidade e aplicao da nova regra, definirmos qual a natureza dessa interveno de terceiros, ou seja, como ela se efetivaria no caso concreto, quem poderia provoc-la, em que natureza o terceiro ingressaria no processo, at que momento esse ingresso pode ocorrer, entre outras questes operacionais ligadas ao instituto. Estas so questes que tentaremos responder, iniciando pela tentativa de definir qual a natureza da nova interveno, ou seja, se ela se encaixa em algum dos tipos legais contidos no Cdigo de Processo Civil, ou se uma espcie distinta e nova das conhecidas modalidades de interveno de terceiros.

Ainda sobre a solidariedade, cumpre observar que embora seja da tradio do direito civil a inexistncia dela na obrigao alimentar entre parentes, no poderamos deixar de comentar a inovao do art. 12 da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), dispositivo este que traz, de forma expressa, a afirmao de que a obrigao de alimentos, quando se tratar de idoso, ou seja, pessoa com idade acima de 60 anos, solidria. Fica a ressalva, apenas a ttulo de observao, sendo que isso nada altera tudo o que dissemos logo acima sobre a solidariedade. A nova interveno de terceirosConsideraes iniciais

De incio, a fim de ressaltar o principal argumento que fundamenta nossa posio, consignamos que defendemos a idia de que a mens legis, quando da criao da parte final do art. 1.698 do Cdigo Civil, foi a de beneficiar exclusivamente o credor dos alimentos, possibilitando a ele introduzir outros parentes na mesma relao jurdica processual, sem a necessidade do ajuizamento de outra ao, o que demandaria tempo, gastos e fatalmente carrearia a ele prejuzos indesejveis.

Sendo assim, segundo defendemos, trata-se de instrumento processual voltado estritamente defesa dos interesses do credor e somente por ele pode ser manejado.

Feita tal considerao, entendo relevante transcrever a norma de que ora se trata. a regra contida no art. 1.698 do Cdigo Civil, a qual versa de uma, acreditamos que assim possa ser denominada, nova forma de interveno de terceiros.

O dispositivo legal em questo est redigido nos seguintes termos:

Art. 1.698 Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, no estiver em condies de suportar totalmente o encargo, sero chamados a concorrer os de grau imediato; sendo vrias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporo dos respectivos recursos, e, intentada ao contra uma delas, podero as demais ser chamadas a integrar a lide.

A simples leitura da norma revela a sua marcante natureza processual, j que autoriza o chamamento de terceira pessoa, a qual no integrava a lide inicial, a concorrer no plo passivo da demanda, em situao de litisconsorte daquele que j a integrava.

Como no poderia deixar de ser, doutrinadores de peso divergem quanto ao fato da nova regra subsumir-se ou no descrio legal de alguma das figuras de interveno de terceiros j previstas no Cdigo de Processo Civil. Neste ponto, alguns entendem que a nova interveno de terceiros poderia ser provocada pelos devedores nas aes de alimentos, no se tratando de instituto afeto nica e exclusivamente ao mbito de atuao do credor, entendimento este que vai de encontro com o nosso, anunciado logo no incio deste tpico, pois afirmamos l que em razo do instituto visar a beneficiar somente o credor, no haveria justificativa que autorizasse o devedor fazer uso dele. Mais adiante daremos as razes pelas quais assim entendemos.

A nova interveno na viso dos doutrinadores

O processualista Cssio Scarpinella Bueno entende que a nova regra pode ser enquadrada como um tpico caso de chamamento ao processo, na modalidade descrita no art. 77, inciso III, do Cdigo de Processo Civil, embora o autor reconhea que no existe solidariedade entre os devedores dos alimentos. Sustenta sua posio na sistemtica dos alimentos no plano do direito material, bem como no fato do chamamento ao processo ser destinado a dar maiores chances de que seja cumprido o encargo integralmente, sempre em benefcio do autor da ao.

O mesmo autor, na obra citada, menciona posio adotada pelo civilista Renan Lotufo, o qual entende que a regra processual em questo mais se assemelha interveno de terceiros na modalidade de denunciao da lide.

Entendo relevante repetir as palavras de Lotufo, citadas pelo professor Cssio, nos seguintes termos:

A tnica, pois, no direito contemporneo de no se fixar em conceitos formais, mas se buscar a efetividade da justia, deixando o exame da legitimidade passiva, em matria de alimentos, para momento posterior ao de abertura do processo, uma vez que dependente de provas a serem produzidas na fase instrutria como tm que ser as relativas necessidade do alimentando e possibilidade dos alimentantes. (...)

Denota-se, por meio das palavras acima transcritas, que na viso de Lotufo, somente aps o ajuizamento da demanda que ser possvel definir-se se ou no caso de chamar outros devedores de alimentos ao processo. No momento do ajuizamento da demanda impossvel definir se ou no caso de cham-los. Importante ressaltar que h autores que entendem ser possvel ao autor da demanda, em virtude da divisibilidade da obrigao alimentar, ingressar desde o incio com a ao direcionada a mais de um parente.

Concordamos com tal possibilidade, porm somente sob o prisma do que vem sendo denominado de litisconsrcio facultativo eventual, tema este que ser analisado com a devida ateno mais a frente.

O mesmo professor Cssio Scarpinela citado acima, diz que Yussef Said Cahali, civilista de grande reputao no meio jurdico, j teve oportunidade de se manifestar sobre o tema da natureza jurdica da nova interveno, sendo que segundo este civilista a hiptese prevista no art. 1.698 seria de um litisconsrcio facultativo ulterior.

Cssio Scarpinela no concorda com o ilustre civilista e afasta a tese do litisconsrcio, sendo que para tanto se baseia no art. 264 do Cdigo de Processo Civil, pois sustenta que seria extremamente prejudicial ao andamento do processo a autorizao do ingresso indiscriminado, independentemente do momento processual, de outras pessoas no plo passivo da demanda. Isso no seria permitido pela regra da estabilizao do processo, alm do que no se poderia deixar de observar a necessidade de concordncia da parte contrria, ou seja, do ru da ao de alimentos.

Cssio Scarpinela tambm defende que no cabe ao autor decidir sobre quem deva e quando deva ingressar no processo. Do mesmo modo, entende ele que no seria possvel ao julgador determinar de ofcio o ingresso de terceiros na lide, pois isso somente possvel quando se trata de litisconsrcio necessrio, o que no existe nas situaes de que ora se trata. O doutrinador tambm defende a impossibilidade do Ministrio Pblico provocar o chamamento de terceiros aos autos, ainda que atue como custus legis.

Durante a fundamentao da sua tese, Cssio Scarpinella apresenta interessante questo, a fim de justificar a posio por ele adotada. Trata-se do caso em que o autor da demanda ajuza, desde o incio, a ao contra parente que no est no grau mais prximo, ou seja, que deveria ter sido demandado preferencialmente. Salienta o autor que nesse caso, adotando-se a regra do chamamento ao processo, bem como interpretando-se com elasticidade os conceitos de fiador e de solidariedade, seria possvel ao ru da ao chamar ao processo aquele parente que deveria ter sido demandado em primeiro lugar.

Ousamos discordar do ilustre doutrinador e sustentar a tese de que no exemplo dado por ele a situao seria de simples ilegitimidade de parte. O ru deveria alegar tal preliminar ou mesmo o juiz poderia reconhec-la de ofcio, com a conseqente extino da demanda. Certo que tal posio no preservaria os interesses do credor dos alimentos, porm seria uma espcie de punio pelo fato de no ter se atentado ao que dispe a Lei, bem como por eventualmente ter tentado proteger determinado parente.

Humberto Theodoro Jnior, escrevendo sobre o tema, afirmou que a nova regra do Cdigo Civil pode, entre outras, ser denominada de regra heterotpica, sendo que o jurista justifica essa nomenclatura em razo haver um misto de direito processual e material nesse tipo de norma. Esse doutrinador tambm defende, como faz o professor Cssio Scarpinela, que a nova forma de intervenco de terceiros no se coaduna com a denunciao da lide, assemelhando-se ao chamamento ao processo, embora o doutrinador mineiro reconhea a existncia da solidariedade no chamamento tradicional e a inexistncia desta situao na obrigao alimentar de que ora se trata.

O autor em questo cita a posio dos doutrinadores Cssio Scarpinela, Fredie Didier Jr e Yussef Said Cahali, sendo que concorda com o primeiro e discorda dos outros dois, j que estes defendem que no caso existiria um litisconsrcio facultativo ulterior, salientando-se que Didier entende que somente o autor da demanda estaria autorizado a provocar o litisconsrcio e Cahali entende que quem o faz somente o ru.

Humberto Theodoro, quando se refere posio de Cahali, o faz nos seguintes termos:Deve-se registrar que o prprio Yussef Said Cahali, invocado como base para a tese da rejeio ao cabimento do chamamento ao processo, em ao de alimentos, de entendimento que a interveno preconizada pelo Cdigo Civil se opera por provocao do ru, embora se trate de uma interveno em benefcio do autor.

O processualista mineiro, embora entenda que se trate de caso que mais se aproxima das regras do chamamento ao processo, defende que os aplicadores do direito no devem se ater com pieguismo ao conceito e natureza da forma de interveno de terceiros de que ora se trata, pois estamos em tempos de busca por um processo eficaz e justo e o apego exacerbado ao formalismo somente traria danos aos litigantes. Nesse ponto cita o professor Cssio Scarpinela, segundo o qual o importante seria verificar como o processo pode melhor servir ao direito material. S isto.

J Fredie Didier Jr, comentando a nova regra do Cdigo Civil, afirma que ela no prev denunciao da lide nem chamamento ao processo, pelo simples motivo de que no existe direito de regresso nem solidariedade na obrigao alimentar entre parentes. Esse autor diz que total a inovao introduzida pela nova regra e ela no encontra subsuno em nenhuma das outras espcies de interveno de terceiros previstas na Lei Processual.

No mesmo sentido de Didier, Milton Paulo de Carvalho Filho afirma o seguinte:Assim, entende-se, ressalvada e respeitada posio contrria, que se est diante da modalidade de litisconsrcio passivo facultativo ulterior simples, em face da natureza da obrigao; porque ao autor deve ser assegurado o direito de promover a ao contra quem desejar (nada impede que o alimentado proponha desde logo a demanda contra todos os devedores comuns que estejam no mesmo grau, em litisconsrcio facultativo simples); e porque a sentena atender plenamente o direito material em jogo, estabelecendo, em razo da natureza da obrigao, a proporo com que cada um dos obrigados dever concorrer, por fora da determinao expressa do art. 1.698. J a iniciativa do litisconsrcio ser exclusiva do autor, a quem ela poder aproveitar, caso necessite para o seu sustento do valor devido por todos os coobrigados, porquanto decorre do prprio instituto do litisconsrcio facultativo o direito do autor de ver prevalecida a sua faculdade de demandar contra quem almeje, alm de causar a situao esdrxula aventada por Fredie Didier Jnior, de o ru passar a ser o substituto processual do autor, e ter de aditar a petio inicial deste, mesmo contra a sua vontade.

Como vemos, o citado autor concorda integralmente com o que diz Fredie Didier Jr, sendo que inclusive tambm diz que a nova forma de interveno no se coaduna com as j previstas no Cdigo de Processo Civil, tratando-se de total inovao do sistema.

Aps fazer este quadro geral sobre como a doutrina encara a inovao, passamos ento a expor e fundamentar nossa posio.

Nossa posio Sempre com a vnia necessria, em respeito aos renomados autores citados acima, ousamos discordar em parte de alguns deles, pois entendemos, como j dito, que a inovao do Diploma Civil foi criada no interesse exclusivo do autor, de modo que somente ele poderia fazer uso do direito de chamar outros potenciais rus ao processo.

Partindo desta premissa, acreditamos, como faz Fredie Didier, que a regra do art. 1.698 se assemelha muito a um litisconsrcio facultativo ulterior, o qual somente poderia ser manejado pela parte ativa da demanda, no caso o credor dos alimentos.

Seguindo nosso raciocnio, o ru demandado na ao de alimentos no tem interesse processual em chamar outro parente para integrar a lide no plo passivo, pois a ele somente ser imposta a obrigao alimentcia nos limites de suas condies financeiras. Em razo da ausncia de solidariedade da obrigao alimentcia, falta justa causa para que o ru demandado sozinho alegue em sua defesa a existncia de outros parentes com condies financeiras de prestar alimentos parte autora. O alimentante quem assume o risco de demandar apenas o parente de grau mais prximo e deixar de chamar ao processo o de grau mais remoto. O nico prejudicado com a no interveno do outro parente o autor, motivo pelo qual somente a ele cabe redirecionar ou no a demanda.

Segundo este entendimento, a nova interveno de terceiros no se ajusta a nenhuma daquelas previstas no Cdigo de Processo Civil. Na verdade uma nova espcie de interveno, sem precedente, com aplicao muito restrita e especfica, identificando-se muito com o instituto jurdico do litisconsrcio.

Ao que tudo indica, os terceiros ingressariam nos autos na qualidade de litisconsortes daquele que j figurava no plo passivo da demanda. Estaramos ento perante um litisconsrcio passivo facultativo ulterior simples, como bem definiu Fredie Didier Jr.

Trata-se de litisconsrcio facultativo que se amolda ao disposto no inciso I do artigo 46 do Cdigo de Processo Civil, j que estaremos diante da comunho de obrigaes, em que vrias so as pessoas obrigadas pela mesma dvida, ainda que no exista solidariedade entre elas.

ulterior porque se forma aps o ajuizamento da demanda e simples porque no necessrio que a deciso seja proferida de maneira uniforme para todos os litigantes, ou seja, cada qual ser condenado a arcar com o montante que suportar, afastando-se eventual identidade ou distribuio igualitria de quotas entre os potenciais devedores.

Didier defende que o autor poder, desde logo, ingressar com a demanda contra todas aquelas pessoas que julgue serem devedoras da obrigao alimentar, porm se em graus iguais o juiz definir quanto cada um deles deve e caso em graus distintos estaremos diante de uma litisconsrcio facultativo eventual, onde existir uma anlise sucessiva e subsidiria por parte do magistrado com relao capacidade que cada devedor tem de suportar a obrigao alimentar a ele direcionada.

O citado litisconsrcio facultativo ulterior foi apenas citado anteriormente, sendo que merece algumas palavras para ser devidamente compreendido.

O processualista Cssio Scarpinella, citado vrias vezes neste trabalho, faz uma comparao interessante para explicar o que vem a ser o litisconsrcio facultativo eventual. Ele traa um paralelo entre a classificao dos pedidos e a classificao de novas espcies de litisconsrcio. Diz que do mesmo modo que existem pedidos sucessivos, alternativos e eventuais, nada impediria a existncia de litisconsrcio sucessivo, alternativo e eventual, sendo que o raciocnio o mesmo para as duas classificaes, porm no caso dos pedidos apreciamos o aspecto objetivo da relao jurdica processual e no caso do litisconsrcio prostramos nossa ateno para o aspecto subjetivo da relao jurdica processual.

O autor diz que esta classificao deve ser levada em considerao e melhor estudada em razo de novas situaes trazidas pelo Novo Cdigo Civil, sendo que cita como exemplo a regra do artigo 50 do Estatuto Civilista, a qual trata da desconsiderao da personalidade da pessoa jurdica, em certas circunstncias expressamente previstas.

A citada regra seria um exemplo do que chama de litisconsrcio facultativo eventual. Especificamente sobre esta espcie de litisconsrcio, entendemos relevante transcrever trecho da obra j citada, vazado nos seguintes termos:

Por fim, tem-se cmulo eventual quando uma ao proposta para o evento de que a outra seja rejeitada. O autor formula duas demandas, tendo preferncia pela primeira, mas pedindo ao juiz que conhea e acolha a segunda (que por isso mesmo se considera subsidiria) no caso de no poder a primeira ser atendida.

Por questes de economia processual e atendendo-se ao princpio da instrumentalidade das formas, acreditamos que nenhum empecilho haveria no caso da parte autora demandar, desde o incio, mais de um parente, ainda que estes se encontrarem em graus distintos de parentesco. Neste caso o parente de grau mais remoto poderia exigir, antes de ser obrigado a pagar algo a ttulo de alimentos, que ficasse provado o esgotamento das foras patrimoniais do parente de grau mais prximo. Seria uma espcie de benefcio de ordem, embora no exista solidariedade. Isso ocorre em razo da obrigao do parente de grau mais remoto ser subsidiria em relao ao de grau mais prximo. justamente neste caso que Fredie Didier diz haver o citado litisconsrcio facultativo eventual, com o que concordamos plenamente. .

Prosseguindo, Yussef Cahali tambm afirma que o litisconsrcio que surgiria da existncia de mais de um dos co-obrigados no plo passivo seria de natureza simples, pois a natureza da obrigao conjunta, ou seja, suportada por vrias pessoas, existe em benefcio do credor dos alimentos, no dos devedores. Sendo assim, a deciso poder ser distinta em relao a cada um dos devedores, pois a dvida no comum e perante o credor a responsabilidade de cada devedor, existindo mais de um, autnoma. Cahali entende que o litisconsrcio pode ser formado pelo ru, embora reconhea que o instituto foi criado para beneficiar o credor dos alimentos.

Como j dissemos, por questes ligadas ao interesse processual, espcie de condio da ao, entendemos que somente o credor dos alimentos poderia provocar o chamamento ao processo de possveis devedores que no tenham sido demandados desde o incio.

Fredie Didier expe esta questo da iniciativa de forma interessante. O autor questiona que caso se permitisse que o ru convocasse terceiro no demandado pela parte ativa, acabaria ele agindo como um inexplicvel substituto processual do autor, pois estaria aditando a petio inicial, mesmo contra a vontade da parte ativa, j que nada impede esta no ter interesse, por questes diversas, de demandar contra determinado parente, de forma que seria um absurdo obrig-la a assim proceder, contra a sua vontade.

Em razo dos argumentos expostos, acreditamos que a posio mais sensata a por ns advogada, pois ao mesmo tempo resguarda os interesses da parte ativa e da parte r, prezando pela obedincia regra do interesse processual.

Como j dito, o terceiro ingressaria no processo na qualidade de um litisconsorte simples. Esta a sua natureza jurdica. Seria parte, co-demandado, em conjunto com aquele parente que originalmente constava no plo passivo da demanda.

Sobre o momento processual para o ingresso do litisconsorte, entendemos que o limite temporal seria o do despacho saneador, pois a partir da a relao jurdica processual estaria definitivamente estabilizada, ficando vedado o ingresso de terceiros, alterao do pedido ou mesmo da causa de pedir, sob pena de se permitir instabilidade processual, prejudicando todo o andamento do feito e a prpria deciso futura, a qual no atenderia ao mnimo de segurana jurdica que se espera de um provimento jurisdicional.

Entendemos que no necessria a concordncia da parte r para o ingresso de outro parente no plo passivo da demanda, pois como j afirmamos a previso de chamamento (grifo nosso) existe em benefcio exclusivo do autor, de modo que somente ele tem interesse processual em convocar ou no outro parente para compor a lide no plo passivo.

Com relao ao papel e poder do julgador neste tipo de demanda, pensamos que no pode o magistrado determinar de ofcio o ingresso de outros parentes no demandados originalmente, pelo mesmo motivo segundo o qual entendemos que o ru no pode faz-lo, ou seja, estaria sendo invadida a esfera pessoal do autor da ao, chegando-se ao absurdo de determinar ingresso de pessoas na demanda contra a vontade da parte ativa, o que somente poderia ocorrer se a natureza da relao jurdica assim exigisse ou por expressa previso de lei, casos em que estaramos diante de um litisconsrcio necessrio. Ressaltamos ainda que o julgador imparcial e inerte, sendo que caso agisse de ofcio poderia quebrar sua imparcialidade e inrcia, maculando todo o processo e a eventual deciso que viesse a proferir.

Por fim, sobre a possibilidade do Ministrio Pblico pleitear o ingresso de outro parente na demanda, entendemos que isso seria possvel, porm somente em situaes excepcionais, nas quais ficasse evidentemente comprovado que o alimentado estaria sendo prejudicado pela recusa do seu representante legal em demandar determinado parente. Isso decorre da natureza da Instituio e da funo relevante que exerce, como custos legis, de modo que comprovado o prejuzo ao alimentado incapaz, nada impediria o Ministrio Pblico ingressar com pedido de redirecionamento da demanda, com o nico objetivo de evitar prejuzos ao credor dos alimentos. Saliento que caso o alimentado estivesse atuando sem representao ou assistncia, por conta prpria, jamais o Ministrio Pblico poderia contrariar a sua vontade, pelos fundamentos expostos logo acima, ou seja, por questes de interesse processual.

Concluses

Em concluso, entendemos que a nova regra do art. 1698 do Cdigo Civil foi criada no interesse exclusivo do credor, de modo que somente ele poderia provocar o ingresso de terceiros na demanda, desde que o faa antes do despacho saneador. Esta forma de interveno de terceiros seria distinta das previstas no Cdigo de Processo Civil, assemelhando-se a uma espcie de Litisconsrcio Facultativo Ulterior. O terceiro ingressaria na qualidade de litisconsorte da parte r. O momento limite para a convocao do terceiro seria o despacho saneador, no sendo necessria a concordncia da parte passiva. O Ministrio Pblico poderia, em situaes excepcionais, pedir o redirecionamento da demanda contra outro parente. O juiz jamais poderia, de ofcio, provocar o chamamento, pois estaria quebrando a regra da imparcialidade e inrcia, bem como atentando contra o interesse processual da parte autora. BibliografiaALVES, Jones Figueiredo, DELGADO, Mrio Luiz. Novo Cdigo Civil: Confrontado com o Cdigo Civil de 1916. 2. ed. So Paulo : Mtodo, 2002.

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WATANABE, Kazuo. Da cognio no Processo Civil. 3. ed. So Paulo : Perfil, 2005.

Pronunciamento do Dr. Miguel Reale na sesso de 29 de novembro de 2001, como membro da Academia Paulista de Letras APL, reconstitudo pelo autor e publicado pela mesma Academia. Extrado da Obra Novo Cdigo Civil Brasileiro, Estudo Comparativo com o Cdigo Civil de 1916, Constituio Federal, Legislao Codificada e Extravagante, RT, 3. ed, p. 09/19.

DIDIER JUNIOR, Didier. Regras Processuais no Novo Cdigo Civil. So Paulo : Saraiva, 2004.

Dos Alimentos. 4. ed. RT, p. 143/144.

Ob. Cit., p. 144.

BUENO, Cssio Scarpinella. Partes e Terceiros no Processo Civil Brasileiro. 2. ed. So Paulo : Saraiva, 2006, p. 329.

Ob. cit., p. 331.

Ob. Cit., p. 333.

Ob. Cit., p 336.

Ob.cit., p. 340.

DIDIER JUNIOR, Fredie, MAZZEI, Rodrigo (coords.). Reflexos do Novo Cdigo Civil no Direito Processual. Salvador : PODIVM, 2006, pp. 139-141.

DIDIER JUNIOR, Fredie, MAZZEI, Rodrigo (coords.). Reflexos do Novo Cdigo Civil no Direito Processual. Salvador : PODIVM, 2006, pp. 140/141.

DIDIER JUNIOR, Fredie. Regras Processuais no Novo Cdigo Civil: Aspectos da influncia do Cdigo Civil de 2002 na legislao processual. So Paulo : Saraiva, 2004, pp. 124-125.

PELUSO, Csar (coord). Cdigo Civil Comentado: Doutrina e Jurisprudncia. So Paulo : Manole, 2007, p. 1668.

DIDIER JUNIOR, Fredie. Regras Processuais no Novo Cdigo Civil: Aspectos da influncia do Cdigo Civil de 2002 na legislao processual. So Paulo : Saraiva, 2004., p. 125.

Ob. cit., p. 98-101.

BUENO, Cssio Scarpinella. Partes e Terceiros no Processo Civil Brasileiro. 2. ed. So Paulo : Saraiva, 2006, p. 100.

Ob. cit., p. 145.

DIDIER JUNIOR, Fredie. Regras Processuais no Novo Cdigo Civil: Aspectos da influncia do Cdigo Civil de 2002 na legislao processual. So Paulo : Saraiva, 2004, p. 127