willian couto gonçalves - intervenção de terceiros

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INTERVENÇÃO DE TERCEIROS William Couto Gonçalves *** WILLIAM COUTO GONÇALVES juiz de Direito de Entrância Especial Professor de Direito Romano e Direito Processual Civil Diretor da Escola da Magistratura do Estado do Espírito Santo DEL REY EDITORA Belo Horizonte - 1997 Inclui bibliografia Biblioteca da Faculdade de Direito da UFMG Editor Arnaldo Oliveira Conselho Editorial Prof. Antônio Augusto Junho Anastasia Prof. Anosvaldo de Campos Pires Prof. Aroldo Plínio Gonçalves Dr. Edelberto Augusto Gomes Lima Prof. Hermes Vilchez Guerrero Prof. Jair Eduardo Santana Dr. José Edgard Penna Amorim Pereira Profª. Misabel Abreu Machado Derzi Prof. Paido Emilio Ribeiro de Vilhena Des. Sérgio Lellis Santiago Produção Editorial Alexandre Cardoso Copyright © 1996 by LIVRARIA DEL REY EDITORA LTDA A Deus, que preservou a minha vida na pungente enfermidade, o meu louvor. "Eis que para minha paz, eu estive em grande amargura; tu porém tão amorosamente abraçaste a minha alma" (BÍBLIA sagrada. Isaías 38:17). Aos meus pais, Felisberto e Damaris. À minha esposa Cassia, e aos meus filhos Tiago, Érico e Marcel, o meu reconhecimento. "Um ao outro ajudou e disse: Esforça-te" (BÍBLIA sagrada. Isaías 41:6). Aos meus distintos mestres, Leonardo Greco Celso D. de Albuquerque Mello Paulo Condorcet Francisco Mauro Dias Ítalo Jóia

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INTERVENÇÃO DE TERCEIROSWilliam Couto Gonçalves

***

WILLIAM COUTO GONÇALVESjuiz de Direito de Entrância EspecialProfessor de Direito Romano e Direito Processual CivilDiretor da Escola da Magistratura do Estado do EspíritoSantoDEL REY EDITORABelo Horizonte - 1997Inclui bibliografiaBiblioteca da Faculdade de Direito da UFMGEditor Arnaldo OliveiraConselho EditorialProf. Antônio Augusto Junho Anastasia

Prof. Anosvaldo de Campos PiresProf. Aroldo Plínio GonçalvesDr. Edelberto Augusto Gomes LimaProf. Hermes Vilchez GuerreroProf. Jair Eduardo SantanaDr. José Edgard Penna Amorim PereiraProfª. Misabel Abreu Machado DerziProf. Paido Emilio Ribeiro de VilhenaDes. Sérgio Lellis SantiagoProdução Editorial Alexandre CardosoCopyright © 1996 by

LIVRARIA DEL REY EDITORA LTDA

A Deus, que preservou a minha vida na pungenteenfermidade, o meu louvor."Eis que para minha paz, eu estive em grandeamargura; tu porém tão amorosamente abraçaste aminha alma"(BÍBLIA sagrada. Isaías 38:17).Aos meus pais, Felisberto e Damaris.À minha esposa Cassia, e aos meus filhos Tiago,Érico e Marcel, o meu reconhecimento.

"Um ao outro ajudou e disse: Esforça-te"(BÍBLIA sagrada. Isaías 41:6).Aos meus distintos mestres,Leonardo GrecoCelso D. de Albuquerque MelloPaulo CondorcetFrancisco Mauro DiasÍtalo Jóia

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Vicente de Paulo Barreto,Maria Stella de Amorim eZoraide Arnaral de Souza,a minha melhor homenagem.

"A pesquisa tem uma sedução interminável;escrever é trabalho pesado. É preciso sentar-se numacadeira, pensar e transformar o pensamento em fraseslegíveis, atraentes, interessantes, que tenham sentido eque façam o leitor prosseguir. É trabalhoso, lento, porvezes penoso, por vezes uma agonia. Significa reorganizar,rever, acrescentar, cortar, reescrever. Mas provoca umaanimação, quase um êxtase E...]. Em suma, éum ato de criação" (TUCHMAN, Barbara W. A práticada história, p. 13).

Prefácio

Em gesto de extrema gentileza, o Dr. WiliiamCouto Gonçalves convidou-me para prefaciar o seulivro de estréia - Intervenção de Terceiros.Dispensável, no entanto, e sob todos os aspectos,esse mister, a começar pelo prestígio da editora que opatrocina.A Del Rey não obstante sua juventude, vem senotabilizando nos meios jurídicos e editoriais por adotaruma linha de produção das mais elogiáveis, aliandoo incentivo às novas e autênticas vocações doutrináriasao rigor na seleção das obras e autores que edita. Daí o

vertiginoso sucesso que vem alcançando em seu campode atuação, com um sem-número de títulos, novos epromissores autores, ao lado de consagrados nomes daliteratura jurídica nacional e o esmero técnico do seuproduto, que apresenta sensível evolução a cada novasafra de livros publicados. É, sem dúvida, a editora quemais tem crescido no Brasil nos últimos tempos, estandoagora a lançar-se em horizontes internacionais.Pois é essa editora - que inclusive tem no seuautorizado Conselho o Prof. Aroldo Plínio Gonçalves,exímio processualista e um dos mais respeitados

especialistas na matéria - que presenteia o seu público-leitor (p. 9)com o estudo que ora se publica, de indiscutível qualidadee muito proveito.O tema da intervenção de terceiros, como se sabe,é dos mais difíceis da ciência processual, pelas suasmúltiplas modalidades e pela complexidade de questões queenseja. Destas e daquelas, entretanto, com

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ciência e objetividade cuida o Autor, situando o tema eseus subtemas sob a perspectiva da teoria geral dodireito, da principiologia e do direito comparado, antesda análise pormenorizada das "formas intervencionais"nominadas e não-nominadas do instituto.É livro para os operadores do direito, que neleencontrarão segura orientação profissional. Mas éigualmente fonte de enriquecimento cultural paraquantos mais mourejam na seara jurídica, quer nadocência, na pesquisa ou nos bancos universitários. É,em suma, estudo que se recomenda com entusiasmo:pela relevância da temática enfrentada, pelas proposiçõesdesenvolvidas e pelo tratamento científico que lhedeu seu ilustre Autor, uma das nossas mais representativasvocações para o magistério.O Prof. William Couto Gonçalves, fluminense denascimento e cidadão capixaba por adoção, além de

magistrado exemplar, unanimemente estimado por seusPares e admirado pela sociedade em que vive, elegantenos gestos, no convívio e na postura humana, homemde leituras e reflexões, dirige com zelo e eficiênciainsuperáveis a Escola da Magistratura do Espírito Santo,que se situa entre as melhores do País.Este é o livro que tenho a honra de apresentar,embora de apresentação não careça, tantas as suas virtudes,de forma e conteúdo.Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira (p. 10)

SumárioParte GeralGENERALIDADES DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROSIntrodução - 21Capítulo 1 - INTERVENÇÃO - ETIMOLOGIA - DENOMINAÇÕES -RELAÇÃO COMOUTROS INSTiTUTOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL - 251 - Etimologia - 252 - Denominações em nível de direito comparado - 262.1 - Direito romano - 362.2 - Direito alemão - 42

2.3 - Direito italiano - 443 - Intervenção de terceiros, os princípios processuais eas condições da ação - 474 - Intervenção e o princípio dispositivo - 485 - Intervenção e o princípio da audiência da partecontrária - 526 - Intervenção e o princípio da igualdade - 536.1 - Princípios que regem o procedimento - 53 (p. 11)

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6.2 - O princípio da imediação - 537 - Intervenção e outros princípios - 547.1 - O princípio da oralidade e da escritura - 547.2 - O princípio da publicidade - 557.3 - O princípio do sigilo - 557.4 - O princípio da concentração - 557.5 - O princípio da eventualidade - 567.6 - O princípio da aquisição - 567.7 - O princípio da economia processual - 578 - Pressupostos de existência do processo originário - 589 - Pressupostos de existência do processo superveniente -5910 - Parte e terceiro a um só tempo - Excepcionalidade - 6111 - A intervenção e as condições para o desenvolvimentoválido e regular do processo superveniente - 6512 - A intervenção noutros ramos do direito - 6613 - Dos elementos justificadores da intervenção - 67

14 - Quanto à nomeação do interveniente - 6815 - Da quadripartição da intervenção - 68Capítulo II - CATEGORIAS DAS FIGURAS INTERVENCIONAIS NÃO-NOMINADAS - 711 - Quanto à assistência - 712 - Quanto ao recurso de terceiro interessado - 753 - Quanto à parte que à outra substitui - 764 - Quanto aos embargos de terceiro - 775 - Quanto ao concurso de credores - 806 - Quanto ao litisconsórcio - 82Capítulo III - PARTE - 83

1 - Compreensão do tema - 832 - Aspecto histórico - 833 - O conceito de parte do Autor - 1033.1 - Explicitação do conceito - 1043.2 - Como se perfaz o status de parte - 1124 - Quanto ao momento de identificação das partes legítimase interessadas - 1195 - Sujeitos da lide e do processo - 1196 - Das obrigações das partes - 1217 - Parte demandada e terceiro - Medida de sujeiçãoou subordinação - Medida de vinculação - 124

Capítulo IV - TERCEIRO - 1331 - Conceituação - 1332 - Teses - 1343 - Relação de antecedente e conseqüente dosatos processuais e terceiros nominados - 1354 - A intervenção e o processo científico - 1385 - Relação de antecedente e conseqüente dasentença, seus efeitos, qualidades e terceiros - 141

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Parte EspecialFIGURAS INTERVENCIONAIS NOMINADAS NO CÓDIGO DE PROCESSOCIVILIntrodução - 149Capítulo I - OPOSIÇÃO - 1511 - Conceito - 1522 - Histórico - 152 (p. 12)3 - Ação de oposição - 1574 - Opostos da oposição - 1595 - Oposição e os Códigos estaduais - 1625.1 - OCódigo de 39 - 1645.2 - OCódigo de73 - 1656 - Oposição e exclusão das pretensões das partes opostas -1677 - Pressupostos de admissibilidade da oposição - 1688 - Oportunidade da oposição - 1709 - Conseqüências práticas da oposição - 173

10 - Efeitos da oposição - 17511 - Princípios gerais e especiais da oposição - 17612 - Facultatividade da oposição - 17913 - Juízo competente da oposição - 18014 - A modificação da competência e a oposição - 18115 - Interesse, legitimidade e possibilidade jurídica dopedido - 18116 - Ausência das condições da ação - Indeferimento liminar- 18117 - O pedido e suas conseqüências - 18317.1 - Citação, reconhecimento do pedido e desistência - 183

17.1.1 - O pedido - 18317.1.2 - A citação - 18317.1.3 - Reconhecimento do pedido e desistência - 18418 - Natureza da ação de oposição - 18819 - Possibilidade da oposição sucessiva - Ordemdos trabalhos na condução do processo - 18920 - Recursos cabíveis - 19021 - Procedimentos - 19122 - Oposição e embargos de terceiro - 19323 - Embargos à execução e oposição - 19424 - Oposição e desapropriação - 194

25 - Assistência na oposição - 19626 - Ação rescisória e oposição - 19627 - A oposição no direito português - 19728 - Oposição provocada - 20029 - A oposição no direito italiano, comparada com osistema brasileiro - 20430 - Sinóptica noção da oposição entre os alemães - 20731 - Oposição, denunciação e assistência - Concorrência de

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ações - 208Capítulo II - DENUNCIAÇÃO DA LIDE - 2111 - Introdução - 2142 - Denunciação - Conceito - 2143 - Histórico - 2143.1 - A denunciação no antigo direito romano - 2143.2 - A denunciação no direito germano-barbárico - 2153.3 - Pontos comuns e dissímeis do instituto nos dois povos- 2163.4 - A denunciação no Código do Estado da Cidade doVaticano - 2163.5 - A denunciação no direito italiano - 2173.6 - A denunciação do direito alemão - 2213.7 - A denunciação no direito português - 2323.8 - A denunciação da lide entre nós - 2343.8.1 - Natureza da nossa denunciação - 2393.8.2 - Elementos figurantes da denunciação conforme o

Código de 73 - 2394 - Modalidade - 2445 - Denunciação e ação - 2446 - Denunciação e condições da ação - 2447 - Denunciação e competência do juízo - 2458 - Denunciação e aspectos formais do pedido - 2469 - Obrigatoriedade da denunciação - Garantia própria eimprópria - 247 (p. 13)10 - Distinção da denunciação e nomeação à autoria - 25211 - Momento processual da denunciação e legitimação ativa- 252

12 - A denunciação e a extensão da relaçãosubjetiva no plano,horizontal e no plano vertical - 25313 - Juízo de admissibilidade - 25314 - Procedimentos - 25415 - Suspensão do processo e citação - 25516 - Momento da suspensão - 25617 - Contestação - 25818 - Denunciação sucessiva - 25919 - Denunciação per saltum - Por vontade própria - 26120 - Denunciação per saltum - Com supressão da vontadeprópria - 261

21 - Denunciação pelo autor - 26222 - Denunciação pelo réu - 26323 - Sentença na hipótese de denunciação - 26724 - Recurso - 26925 - Denunciação da lide, assistência e nomeação à autoria- 269Capítulo III - CHAMAMENTO AO PROCESSO - 2711 - O chamamento e a garantia simples - 272

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2 - Chamamento ao processo e precedentes - 2733 - Características - 2734 - Objetivo - 2755 - Momento processual do chamamento - 2796 - Requisitos formais - 2797 - Inconveniente psicossocial do chamamento - 2798 - Citação - 2809 - Natureza da sentença - 28010 - Recursos - 28011 - Prazo para contestar - 281Capítulo IV - NOMEAÇÃO À AUTORIA - 2831 - Histórico - 2841.1 - A nomeação no direito romano - 2841.2 - A nomeação nas Ordenações de Portugal - 2861.3 - A nomeação entre nós e a doutrina portuguesa - 2872 - O possuidor e o Código Civil - 2913 - O detentor e o Código Civil - 293

3.1 - Impossibilidade de nomeação pelo detentor oupossuidor - 2964 - Pressupostos da nomeação - 2965 - Abrangência da nomeação - 2966 - Obrigatoriedade da nomeação - 2977 - A nomeação e o princípio da lealdade - 2988 - Formalidades no requerimento da nomeação - 2989 - Nomeação e o pólo passivo da relação processual - 29910 - Nomeação - Dúplice aceitação - Não-aceitação- Conseqüências da nomeação e da não-nomeação - 29911 - Ação em face do nomeante e do nomeado - 302

12 - Alcance subjetivo da sentença em caso denão-aceitação da nomeação pelo nomeado - 30313 - Momento processual - 30414 - Prazo para contestar em caso de recusa da nomeação -30615 - Recurso do despacho que indefere a nomeação - 30616 - Estromissione do nomeante - 30617 - Assistência ao demandado nomeante e não-nomeante - 307Bibliografia - 309 (p. 14)

(p. 15, em branco)

Parte Geral (p. 16)

(pags. 17 a 20, em branco)

GENERALIDADES DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Introdução

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Tema complexo do Direito Processual Civil. Suacomplexidade sobressai por qualquer ângulo que sequeira vê-la, seja do ontológico, do teleológico ou dopragmático, exsurgindo, de cada qual, variáveis exigentesde análises mais acuradas que até aqui não foramenfrentadas. Diz-se complexidade ontológica em razãodo quanto se pode questionar sobre a mensuração doser de cada figura intervencional, ou seja, o que é,efetivamente, cada uma delas; diz-se complexidadeteleológica na medida em que se busca conhecer os finspara os quais foram concebidas e quais as suas implicaçõescom tantos outros compartimentos do Direito ProcessualCivil que são tidos como de construções estanques, por issonão suscetíveis de modificações; a complexidade pragmáticaé resultante das limitações impostas ao conhecimento do queé e do para que é aintervenção, com reflexos inevitáveis nas atividades

desenvolvidas pelos especialistas que atuam no campode força{*} da ciência jurídica - a jurisdição que se faz noprocesso.* No exercício da jurisdição sobressai a força inerente dodireito que odistingue da moral. (p. 21)Segue-se, pelo que se vê, quanto ao tema, a trilhade uma "historicização" e de uma empiria omissas, porum lado, e excessivamente leais quanto a certos edeterminados dados, por outro. Aliás, como sói acontecercom muitos tópicos e institutos relevantes do Direito

Processual Civil, mantendo-se o nosso doutrinador fielaos legados italianos, alemães, franceses, espanhóis,lusitanos e outros, sem estimular uma reflexão maisautêntica, originária, sobretudo menos obscura e maisútil, extraída da nossa própria realidade, semmenoscabar, é certo, a inquestionável medida de importânciado estudo e aplicação do Direito Comparado,este com origem em Licurgo, de Esparta; Sólon, deAtenas; nos desenvires, de Roma; em Aristóteles; atéque em 1831, na França, criou-se uma cadeira que foidenominada "História Geral e Filosofia das Legislações

Comparadas", cujo primeiro titular foi o ProfessorLerminier, sucedido por Laboulaye, fundador da Sociedade deLegislação Comparada, que, ao proferir aulainaugural em 1869, declarou a importância e a "necessidadede se conhecer a legislação e a maneira de viverde seus vizinhos".Posicionamentos doutrinánios sobre elementos quemais sobressaem no estudo do tema estão definitivamente

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assentados, não obstante grande parte deles versaremsobre questões axiomáticas; outros, na sua maior porção,estão acomodados no campo da axiologia e da dialética,na expectação de que as minudências suas envolventessejam mais bem compreendidas, explicadas e, naquiloque se fizer exigível, sofram modificações estruturais,tanto de constituição - aspecto interno ou endógeno -,como de aplicação e utilidade - aspectos externo ouexógeno e pragmático, desde que colocadas com (p. 22)racionalidade, cientificidade, e sem perder de vista ocaráter historicista que as fez situadas em dado momentodo nosso ordenamento jurídico.Há, entre nós, obras e artigos vários de eméritosdoutrinadores, desde os praxistas aos agorais científicos,que, com especificidade ou em meio a generalidade doscomentários do processo civil, abordaram atemática com incursões valiosíssimas.

O que se busca com este trabalho é, através demétodo de análise, chegar ao conhecimento racionalobjetivodo que seja intervenção de terceiros, o quesignificam as diversas modalidades intervencionaisadmitidas em nosso ordenamento jurídico, especificamenteaquelas denominadas figuras nominadas, distinguindo-as dasnão-nominadas, com as suas origens, osseus verdadeiros fins e as suas implicações com outroscompartimentos do Direito Processual Civil. Só comtais conhecimentos é que será possível a apropriação dotema. (p. 23)

(p. 24, em branco)

Capítulo I - INTERVENÇÃO - ETIMOLOGIA - DENOMINAÇÕES -RELAÇÃO COMOUTROS INSTITUTOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1 - ETIMOLOGIAA utilidade do exame da pluralidade de significados de umtermo não só convém à maior clareza do quecom ele se afirma, mas, também, à certeza de que os

fatos por ele afirmados são, sim, seus correlatos.{1}Etimologicamente, o termo intervenção tanto podeprovir de intus venire como de inter venire. Intus venirediz do que chega dentro, no interior. Inter veniresignifica chegar-se no meio de, chegar-se durante ou,ainda, chegar-se entre. Convém-nos a segundaetimologia, visto o momento processual em que se dá aintervenção. Da noção etimológica transparece, então, a

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ocorrência de algo que se dá no curso ou durante odesenvolver de certa situação, no caso o processopreexistente ou em andamento. A propósito, outra não éa linha de pensamento de Piero Calamandrei a respeito:"A palavra intervenção, com que se indica estefenômeno, expressa etimologicamente (inter =durante) a superveniência de outras partes durante umprocesso já iniciado sem elas."{2}1. ARISTÓTELES. Tópicos, p. 26.2. CALAMANDREI, Piero. Derecho procesal civil segun elnuevo Código,v. 2, p. 314. (p. 25)

2 - DENOMINAÇÕES EM NÍVEL DE DIREITO COMPARADOTrês são as denominações dadas à intervenção: a)coacta ou forçada; b) provocada; e c) voluntária ouespontânea. As duas primeiras acontecem quando o

terceiro, com interesse jurídico e legitimação para acausa e para o processo, em razão da identidade decausas em cúmulo ou identidade por sucessividade, échamado a integrar um dos pólos da relação processualpor uma das partes nele figurantes. A terceira ocorresem qualquer chamamento; é ato de volição do terceiro,movido exclusivamente pelo interesse jurídico fundado emtético direito substancial.Diverge a doutrina, especialmente em nível dedireito comparado, sobre o acerto ou não das duasprimeiras denominações - coacta ou forçada e

provocada. Diz-se, a princípio, que não é processualmenteadmissível que o terceiro seja coagido ou forçado aintervir no processo em andamento, nemtampouco que a parte existente seja forçada ou coagídaa provocar a intervenção; mais correto seria, então,usar, tão e só, a denominação provocada, vez que oterceiro intervém mediante estímulo da parte que ochama para que se faça presente no processo, sendo-lhefacultado atender ou não à provocação que se lhe faz.Mas não é assim que se aclara a divergência. A rigor,não se pode tomar a questão no plano exclusivamente

literal, com problematização etimológica, construindouma noção semântica de coação ou força e provocação.A parte a literalidade, só se compreende o sentido e oalcance das denominações desde que se veja a intervençãopor seu plano conseqüencial, ou seja, com vistasnos seus efeitos decorrentes, na maior ou menor parti- (p.26)cipação do chamado no processo, no plano das expectativas,

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liberações e possibilidades processuais, e quaisas conseqüências dessa participação, como, por exemplo, sefica este sujeito aos efeitos da coisa julgada ou oque mais lhe toca em razão dessa participação. Só poresse ângulo melhor transparece a diferenciação da medida desujeição ou subordinação do demandado emface do seu demandante e a medida de sujeição ousubordinação do terceiro que intervém em face daqueleem razão de quem a intervenção se faz. Imprescinde setenha em conta a carga processual que toca a cada um,não se diga obrigação processual. Com o conhecimentoda distinção existente entre a medida de sujeição ousubordinação da parte demandada na ação originária ea do interveniente não-voluntário, ou espontâneo, temse acompreensão da razão das denominações.É preciso distinguir carga de obrigação processual.Obrigação compreende o dever de verdade e o

dever de não praticar atos que retardem intencionadaou negligentemente a marcha do processo. Cargas processuaisse identificam com as possibilidades processuais e fazemparte do elenco dos direitos processuais apar das expectativas e das liberações, mas dizem respeitoà possibilidade e à necessariedade de intervir, em razãoda questão de direito material posta em discussão.Impõe-se saber se a carga processual que autorizaa intervenção equipara-se à carga que recai sobre odemandado na ação originária e se nas diversas modalidadesde intervenção a carga é a mesma. Assim, estarse-á

conhecendo qual a medida de sujeição existente daparte daquele que intervém em face daquele que toma ainiciativa para sua intervenção; e qual a medida desujeição do demandado em face do seu demandante. (p. 27)Tome-se por caso espécie de litisdenunciação nodireito italiano que, não sendo exercício de pretensão,gera, para o litisdenunciado, efeitos distintos dos quesão gerados para o terceiro chamado à causa. Há nessecaso uma relativa sujeição do terceiro. A chamada aoterceiro e nem toda litisdenunciação são de conteúdos econseqüênciaS iguais.

À medida que se faz reduzida a sujeição ou subordinação dointerveniente, tem-se reduzida a sua carga ea sua possibilidade processual. Essa intervenção é,pois, provocada. À medida que a sujeição ou subordinação dointerveniente chamado equipara-se à do demandadooriginário, com cargas e possibilidadesprocessuais iguais, a intervenção é forçada ou coacta.{3}Conforme a melhor lição de Tomas Lopez

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Fragoso Alvarez, para Chiovenda, por exemplo, não secompara a chamada ao terceiro com a chamada que sefaz ao demandado na ação originária. No caso da chamada aodemandado, para o autor italiano, exsurgem particularidadesdecorrentes do exercício do direito de ação,que, para o mesmo autor, não existem quando se chamaum terceiro. Diz ele, então, que existem efeitos dissímeisda chamada que se faz ao demandado na ação-base e dachamada que se faz ao terceiro para que nela intervenha.Para os críticos de Chiovenda, dentre eles SergioCosta, aquele não distingue a simples denunciação,fundada em carga processual, que é mera notícia dopleito para prevenir-se diante de possíveis opositoresde pós-sentença, bem assim diante daquele que emnovo processo pode alegar exceção de má defesa; da3. ALVAREZ, Lopez-Fragoso Tomas. La intervención deterceros à instância de

parte en el proceso civil español. Madrid: Marcial Pons,1990, p. 21 et seq. (p. 28)chamada ao terceiro como exercício do direito de pretensão,fundada em relação da ordem do direito material. Dissoresulta a sua posição de que "chamada emcausa" e exercício de direito de pretensão são figurasdistintas. Efetivamente que a simples litisdenunciaçãodifere das demais modalidades de chamamento a terceiro.Aquela, é certo, não equivale a exercício do direito depretensão, estas, porém, sim. Chiovenda iguala asdiversas modalidades de litisdenunciação afirmando-as

oriundas da adicitatio. Assim é que ensina:"Ciascuna delle parti può chiamare in causa unterzo cui creda comune la controversia (Cod. Proc.Civ., art. 298). Questo cosi detto intervento coatto,derivato dalla antica adcitatio, ha questa affinitàcoll’intervento adesivo, che mentre il chiamato incausa non diviene poer ciò solo parte, tuttavia egliè soggetto alla decisione, in quanto che egli nonpotrà negare la cosa giudicata se lo avrebbe potutoqualora non fosse stato chiamato in causa. Unaforma speciale di adcitatio è la litis denuntiatio, che

ha luogo quando una parte denuncia la lite(chiamata in causa) ad un terzo, verso il quale haun´azione di regresso in caso de soccombenza, eciò allo scopo di estendere a lui gli effetti delprocesso: in mancanza, l’azione di regresso nonpóitrà fondarsi sulla cosa giudicata (Cod. Civ., art.1497). Noi non solo abbiamo ammesso questa litisdenuntiatio, ma abbiamo acolto l´istituto della

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chiamata in garantia (Cod. Proc. Civ., articoio 193e segg.); non solo è chiamato in causa il terzo, macontro lui si propone contemporaneamentel’azione di regresso. E’ questo in caso di pluralità (p. 29)di cause unite: il chiamato in garantia è parte nellacausa di regresso (1); non solo, ma in alcuni casiegli può assumere la causa del convenutosuccedendogli nella qualità di parte principale(art. 198). Innanzi 90.""Un´altra forma di littis denuntiatio è la laudatioauctoris; il possessore immediato, convenuto perla consegna della cosa, denunciando la lite alpossessore mediato, o anche solo indicandone Ilnome, può chiedere d´esser posto fuori causa (cfil caso del conduttore, Cod. Civ., art. 1582){4}."Para Carnelutti, a intervenção, que resulta da chamada aoterceiro em razão de ocorrência de conexão,

provoca a extensão objetiva e subjetiva do processo emandamento, e nisso há dedução de pretensão nova.{5} Achamada ao terceiro é, então, no pensamento carneluttiano,por sua natureza, equiparada à chamada aodemandado, por isso equivale ao exercício do direito depretensão sujeitando o terceiro aos efeitos da coisajulgada. De outro lado, a simples notificação que se faz aum terceiro da existência de dado processo não produzesses efeitos próprios da chamada, não constituindo,então, essa litisdenunciação, exercício de pretensão.4. CHIOVENDA, Giuseppe. Principii di diritto processuale

civile (operapremiata dall’academia dei lincei per le scienze giuriche,ristampainalterata con prefazione del Prof. Virgilio Andrioli).Napoli: Dott, Eugenio Jovene, 1965, p. 603-604.5. CARNELUTTI, Francesco. Chamata nel processo del terzoobligato.Rivista di Diritto e Procedura Civile, p. 478, 1960; eSistema de derechoprocesal civil. Trad. de Niceto Alcalá-Zamora y Castillo ySantiago

Sentís Melendo. Buenos Aires: Uteha, t. 2, p. 693. (p. 30)Bem, enquanto Carnelutti equipara a chamada aoterceiro ao exercício de pretensão nova no bojo deprocesso em andamento, Chiovenda afirma adessemelhança entre chamada ao terceiro e chamadaao demandado no processo-base."El llamamiento del tercero en la intervenciónforzosa es substancialmente muy distinto del

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llamamiento al pleito del demandado por partedel actor, posto que no implica per se laproposición de una demanda contra el tercero, opor parte suya..."{6}Para Chiovenda, a chamada ao terceiro constituiuma intimação que se faz a quem não figura na relaçãoprocessual-base, podendo, de tal intimação, decorrerduas situações distintas. Uma é a de ser demandadopelas partes; outra, é poder demandar as tais partes. Aquestão da extensão subjetiva do processo, paraChiovenda, é secundária, tanto que não admite sejaparte no processo o terceiro chamado. O principal,segundo Chiovenda, é o alcance da coisa julgada. Noparticular, Sergio Costa diz da impossibilidade de oefeito da coisa julgada recair sobre quem não sejaconsiderado parte.{7}Afirma este autor que

"anche per l’intervento coatto si è presentato ilfondamentale problema dell’assunzione della6. CHIovENDA, Giuseppe. Principios de derecho procesalcivil. Trad. deJosé Casais y Santaló. Madrid: Reus, 1922, t. 2, p. 715.7. COSTA Sergio. L’intervento coatto. Podova: Cedam, 1935,p. 93 et seq. (p. 31)qualità di parte. Alcuni autori hanno infattiespresso l’opinione che il terZo, finché nonpropone domande o finché verso di lui non nepropongono le parti, non diviene parte. Tale teoria è per

me erronea poiché la domandad’intervento è di per se stessa una demanda, equindi il terzo, nei cui confronti la domanda èproposta, divíene parte".{8}Impõe-se registrar que no direito italiano alitisdenunciação apresenta-se como gênero abrangentede, pelo menos, três espécies distintas.A primeira espécie pertine exclusivamente aoprocesso e transparece na modalidade de carga processualque recai sobre a parte figurante na relação processual jáestabelecida, cuja carga recai, outrossim, sobre

o terceiro, desde que notificado. A carga sobre a partefigurante no processo resulta da necessidade de garantir-sedo direito de regresso. A carga sobre o terceironotificado resulta da necessidade de este atuar junto aoseu notificante, buscando evitar a sua sucumbência,que é pressuposto para o exercício da ação regressivaque se fará, a posteriori, em seu contra.A segunda espécie pertine à obrigação fundada

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em relação de direito material, desde que dela resulterelação jurídica conexa, por isso que a nãodenunciaçãopoderá acarretar a necessidade de indenizar ao terceiro deprejuízos que este possa sofrer pelainação da parte da ação-base.8. COSTA Sergio. Manuale di diritto processuale civile. 5ªedizione,Torino: Utet, 1980, p. 189. (p. 32)A terceira espécie cuida de ser uma simplesdenunciação que se faz ao terceiro, não em razão decarga processual decorrente do interesse jurídico daparte figurante na relação processual-base, sim, tão esó, como carga que resulta do interesse do próprioterceiro, qual o de ter conhecimento do processo, porisso que a decisão nele proferida poderá afetar situaçãojurídica sua.No Código Civil italiano estão as hipóteses genéricas

autorizadoras da litisdenunciação, tanto fundadaem razão processual como, outrossim, em razão material.Assim é que no referido Código sobressaem aprimeira parte do art. 1.012; o art. 1.485; a primeiraparte do art. 1.586; e a segunda parte do art. 1.772."Art. 1.012.1 (Usurpazioni durante l´usufrutto eazioni relative alle servitù). Se durante l´usufruttoun terzo commette usurpazione sul fondo oaltrimenti offende le ragioni del proprietario,l´usufruttuario è tenuto a fargliene denunzia e,omettendola, è responsabile dei danni che eventualmente

siano derivati al proprietario (1.168,1.586).""Art. 1.485 (Chiamata in causa del venditore). Ilcompratore convenuto da un terzo che pretende diavere diritti sulla cosa venduta, deve chiamare incausa il venditore (1.483; 106, 269 c.p.c.).Qualora non lo faccia e sia condannatosentenza passata in giudicato (2.909; 324 c.p.c.),perde il diritto alla garanzia se il venditore provache esistevano ragioni sufficienti per farrespingere la domanda. (p. 33)

Il compratore che ha spontaneamente riconosciutoil diritto del terzo perde il diritto alla garanzia, senon prova che non esistevano ragioni sufficientiper impedire l´evizione (1489).""Art. 1 .586.1 (Pretese da parte di terzi). Se i terziche arrecano le moiestie pretendono di averediritti sulla cosa locata, il conduttore è tenuto adarne pronto avviso al locatore, sotto pena del

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risarcimento dei danni.""Art. 1.772.2 (Pluralità di depositanti e didepositari). Se piü sono i depositanti di una cosaed essi non si accordano circa la restituzione,questa deve farsi secondo le modalità stabilitedall´autorità giudiziaria.La stessa norma si applica quando a un solodepositante succedono piü eredi, se la cosa non edivisibile (1.316).Se piü sono i depositari, il depositante ha facoltàdi chiedere la restituzione a quello tra essi chedetiene la cosa. Questi deve darne pronta notiziaagli altri."O primeiro artigo estabelece a responsabilidadedo usufrutuário em razão dos danos que o proprietáriopossa sofrer caso este não seja denunciado das moléstiasprovocadas por terceiro sobre a propriedade. Compreendendo,

no caso, as moléstias de fato, de direito e amoléstia processual.O segundo artigo cuida da comunicação que devefazer o comprador demandado ao seu vendedor, paragarantir-se dos direitos que da evicção possam resultar,sob pena de perda do direito de se ver reparado dos (p. 34)prejuízos pela perda do bem demandado, especialmentequando o alienante demonstra a má defesa do alienado eque, não tivesse sido assim, razões de fato e de direitoexistiam para exitar-se na demanda que lhe foi proposta.O terceiro artigo tanto resguarda o arrendatário do

dever de reparar o arrendador pelos prejuízos que estepossa sofrer caso não seja notificado por aquele, damoléstia de direito que terceiro pretenda cometer sobre obem dado em arrendamento, como, também, faz recairsobre o arrendatário o dever de chamar em garantia oarrendador para que este lhe assegure o uso total do bemcuja parte está sendo molestada por terceiro; por fim,garante ao arrendatário o direito de nomear à autoria oarrendador, caso aquele seja indevidamente demandado.O quarto artigo cuida do dever do depositário dedenunciar o depositante da ação em que terceiro reivindica

a propriedade do bem dado em depósito, sob penade, não o fazendo, ser responsabilizado junto aodepositante pelos prejuízos que este possa sofrer. Oartigo também dá ao depositário base para litisdenunciar odepositante ou nomeá-lo à autoria.Em razão da existência de distinção entre chamadaque equivale à chamada ao demandado e chamada quenão equivale à chamada ao demandado, resta a certeza de

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que há casos em que as medidas de sujeição ou subordinaçãodo terceiro são diferentes, uma vez que existe aqueleque é chamado, integra a relação processual, tem sobre sio efeito da coisa julgada, está sujeito aos direitos edeveresprocessuais, às possibilidades, às expectativas, àsliberações, e outros que a nada estão sujeitos, pelo menosnoplano mediato, quando em uma nova ação vêem-seimpossibilitados de alegar exceção de má defesa no processoanterior ou de oporem-se à sentença nele proferida.Assim, tem-se, dejá, que são dissímeis a simples denúncia(p. 35)do pleito e a chamada em garantia, esta que, não obstantede origem germânica, só se fez firmada no direito italianoem 1903, com Piero Calamandrei em sua La Chiamata inGarantia.

O que se pretendeu aqui não foi dar ênfase apreciosismo terminológico, mas buscar conhecer oselementos de conteúdo que autorizam ou determinam adiferenciação entre a intervenção voluntária ou espontânea,a coacta ou forçada e a provocada.

2.1 - Direito romanoOs romanos admitiam que, ordinariamente, a relaçãoprocessual se estabelecia entre duas pessoas, contudo, noplano do extraordinário, alguém que não sendodemandante ou demandado podia intervir no processo

voluntariamente, por provocação ou forçosamente.No direito justiâneo distinguiam-se a intervençãodo co-proprietário na lide em que um dos condôminostinha com terceiro; a intervenção do co-devedor na lidedo seu co-devedor ou do devedor principal; a intervenção deum tutor na lide que envolvia outros tutores; aintervenção do garante na lide pendente com o garantido,muito especialmente no caso de garantia que daevicção resultasse. Scialoja, sobre a intervençãoromanística, fez, a turno seu, o seguinte registro:"El proceso tiene lugar de ordinario entre dos

personas, el actor y el demandado; pero no es raroel caso de que tenga que intervenir en el procesouna tercera persona, interesada en la controversiadebatida. Este interés puede ser de dos clases: 1. eltercero puede estar interesado en hacer queprevalezcan los derechos de uno de los conten- (p. 36)dientes, de manera que intervenga para apoyar auno de ellos, al actor o al demandado; en este caso

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hablamos de intervención accesoria, precisamenteporque se accede o suma a uno de los dos litigantes;2. también puede ocurrir que se intervenga paratutelar el propio interés frente al la cuestiónpendiente entre los dos litigantes, y en este caso sehabla de intervención principal; porque el queinterviene hace valer sus propios derechos y norefuerza los de ninguno de los dos contendientes.En el derecho justinianeo tenemos una numerosaserie de casos en que está admitida explícitamentela intervención; no hay necesidad de que hagamossu enumeración. Ya hemos hecho alusión anteriormente acasos mencionados en las frentes; todosson de la misma naturaleza; por ejemplo, laintervención del copropietario en la litis que unode los condóminos tiene con terceros; laintervención del codeudor en la litis de su

codeudor o del deudor principal; la intervenciónde un tutor en la litis que sostienen los otros tutores; laintervención del patrono en la litis quesustenta el liberto y que pueda implicar una lesiónde los derechos correspondientes al patrono; laintervención del garante en la litis pendiente con elgarantizado; y especialmente del vendedorrespecto de su comprador, puesto que estáobligado a la garantía por la evicción.Se discute entre los intérpretes si la intervenciónestá limitada a estos casos mencionados en el

Corpus iuris o si cabe sacar de estes casos y deciertas frases de tipo genérico, una regla general envirtud de la cual se pueda admitir la intervención en (p.37)todos los casos en que el interventor tenga interés entomar parte en la causa.La intervención puede ser espontánea, y en talcaso no hay más que el comienzo de una causaante el mismo juez ante el cual pende la otra, nihay nada de particular en el procedimiento; sóloes de notar que, por una regla relativa a la cosa

juzgada, en la célebre L. 63 de re iudicata, 42, 1, deMacro, cuando una persona conozea que estápendiente una causa entre otros dos y tenga talinterés en la definición de ella que le autorice aintervenir si no interviene, la cosa juzgada que seconstituya entre las partes litigantes, se puedeoponer también a ella. Y en este aspecto, laintervención viene a ser absolutamente necesaria.

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El tercero puede también intervenir por habersido llamado a la causa; esto es, porque las partescontendientes le denuncien la existencia de lalitis y lo llamen a participar en ella. Esto ocurresobre todo en el caso de garantía, en el que elcomprador contra quien se acciona por tercerosla evicción del fundo, debe llamar a la causa alvendedor, si no quiere perder contra el losderechos de repetición. En tal caso, el vendedorllamado a la causa debe intervenir; o, si nointerviene, es tratado de la manera másdesventajosa para él. Este llamamiento a la causa se hacemediante una simple denuntiatio de laexistencia de la litis, que parece no estuvierasometida a ninguna forma especial; pero que,naturalmente debía certificarse también mediante testigos.Otro caso de llamamiento necesario a

causa es aquel en que se haya intentado unaacción de reivindicación contra quien posea a (p. 38)nombre de otro; tal tenedor se encuentra en eldeber de nominarse auctoren, esto es, de denunciar elnombre de la persona del verdaderoposeedor jurídico y de lamarlo a la causa."{9}Não é molesto trazer o registro de P. Van Wetter,{10}nas Pandectes, que dá notícia da possibilidade do terceirointervir no processo para coadjuvar com um dosdemandantes, como também para defender interessepróprio, tanto voluntariamente como por provocação.

Do texto pandectista transparecem as figuras do assistente,do opoente, do chamante, do nomeante e, por fim,equipara-se o direito de intervir com o direito de apelar."Parfois un tiers intervient dans un procès, soitpour défendre les intérêtes d´un plaideur et aussiles siens propres, soit pour défendre exclusivementses intérêtes personnels.I - L’intervention a lieu dans le but de défendre lesintérêts d’une parti e et des intérêts personnels:1º) lorsque le defendeur à une action revendicatoireest un simple détenteur el qu´il met en cause celui

au nom de qui il possède;2º) lorsqu´un acquéreur est engagé dans unprocès qui pourrait amener son éviction et qu´ilmet son garant en cause;3º) lorsqu´un des débiteurs d’une dette solidaireou d’une dette indivisible est poursuivi pour letout et qu´il met en cause ses codébiteurs.9. SCIALOJA. Procedimiento civil romano, p. 427-428.

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10. WETTER, P. van. Pandectes. Paris, 1909, t. 1, p. 397.(p. 39)II - Le droit d’intervenir dans une instance pourla défense d’intérêts personnels est reconnu:1º) à un héritier lorsqu´un cohéritier défend desdroit héréditaires,2º) au légataire par rapport à une instance où ils´agit, soit de la validité du testament qui contientle legs, soit de la propriété de la chose léguée,3º) à un copropriétaire par rapport à l’action enpartage, à l’action confessoire ou à l’actionnégatoire,4º) au débiteur principal et au fidéjusseur ainsiqu’aux codébiteurs solidaires lorque l´un d’euxest poursuivi en payement de la dette,5º) aux cotuteurs lorsque l’un d’eux estpoursuivipar le pupille du chef de la tutelle,

6º) dans le cas de saisie d’une chose pourl’exécution d’un jugement de condamnation, àceluo qui est propriétaire de cette chose ou qui aune hypothèque sur elle.Le droit d’intervention dans un procès impliquecelui d’appel."Tem-se que a diferenciação denominacional reside em modeloshistóricos distintos, tais como um modelo de intervençãocoativa, forçada ou chamada emcausa, do direito italiano, a adicitatio, que resulta naextensão da relação processual subjetiva/objetiva que

se dá no mesmo processo, e outro modelo da denúnciado litígio ou intervenção provocada, que se dá em umsegundo processo, caso o denunciante sucumba no primeiro,tratando-se, assim, de uma mera notificação que (p. 40)não equivale ao exercício do direito de ação, porconseguinte, com carga totalmente diferente para olitisdenunciado; é o modelo da ZPO de 1877. A essaaltura, força é convir que o modelo alemão daStreitverkündung (denúncia do pleito), do § 72 da ZPO,pode ter certa similitude com o modelo especial italiano dachamada em causa e não tanto com o modelo

geral da chamada por comunidade de causas. A denúncia dopleito do direito alemão (Steitverkündung) funda-se nalitisdenuntiatio do direito romano, enquanto achamada em garantia italiana, tem raízes no antigodireito germânico, com evolução marcante no direitofranco, que foi admitida pelo ancien régime do sistemafrancês, sancionada pelo Code de Procédure Civile de1806 e acolhida pela legislação processual italiana.

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É importante fique esclarecido que a litisdenunciação dodireito romano clássico consistia em umasimples notificação que o comprador fazia ao vendedora fim de garantir-se dos direitos que da evicção (perdado bem por decisão judicial) pudesse resultar. Em hipótesealguma a litisdenunciação romanística admitia acumulação eventual de ações, tal como uma ação novano bojo da ação originária.A chamada em garantia, por seu turno, do antigodireito germânico consistia na obrigação do garante devir ao processo e assumir a defesa do bem que estavasendo pleiteado por outrem, e quando sucumbente viaseobrigado a indenizar o seu comprador.Na França, a chamada em garantia foi sancionadapela Ordenação de Luis XIV de 1667, não obstanteanteriormente ter sido incluída na Ordenação de FranciscoI, de 1539, que, por seu turno, precedia da

codificação napoleônica. (p. 41)Na Itália, prevaleceu a chamada em garantia doCódigo de Napoleão, não obstante no século XI tenhasido manifestada maior tendência para a litisdenunciaçãoromanística. Por isso não era admitida acumulação convencional da ação de indenização, massim, tão e só, que dita ação fosse proposta posteriormenteperante o mesmo juiz que conheceu a ação demoléstia.

2.2 - Direito alemão

Para os alemães, contudo, há um modelo de intervenção deterceiros diferente da intervenção coativa dodireito italiano, por isso que a intimação do terceiro,para intervir na condição de titular de uma relaçãojurídica conexa por prejudicialidade ou por dependência oupor conexão alternativa, não se assemelha aoexercício da pretensão; trata-se de uma mera provocação emque o terceiro toma ciência daquele processo,tendo sobre si a carga do comparecimento, mas nãosujeito ao efeito da coisa julgada.Registre-se, no entanto, que a intervenção

coativa do direito italiano tem como fonte a adcitatiodo antigo direito germânico, enquanto que a intervençãoprovocada da atual ZPO alemã é conseqüente dopróprio antigo direito alemão e do modelo históricoda litisdenunciação comum do direito romano que,por seu turno, conheceu uma enormidade de situaçõesfáticas e de implicações jurídicas autorizadoras daintervenção.

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No direito alemão, a denúncia do litígio não é tidacomo uma simples denúncia, sim como uma comunicação formal,na expressão de Wach e Hellwig, capaz de (p. 42)provocar efeitos imediatos e mediatos sobre aquele quea recebe e sobre aquele que a formula. O efeito imediato éa intervenção adesiva, coadjuvante, do denunciadoem prol do seu denunciante; o efeito mediato pode servisto no segundo processo que se instaura caso odenunciante sucumba no primeiro, nisso contrapondo-seà litisdenunciação do direito romanístico e ao modelode litisdenunciação do direito italiano. No direitoitaliano, a litisdenunciação tem como movere certa medidade direito tético material, tanto que os seus fundamentosestão no seu Código Civil, revelando-se menoscomo um instituto jurídico-processual.Para o direito italiano, a intervenção, na hipótese,se dá pela chamada em causa, também por comunidade

de causa, ou chamada em garantia própria ou imprópria; parao direito alemão, o mecanismo será sempre oda denúncia do litígio do § 72 do ZPO, não obstantenão seja possível olvidar que no direito alemão há,outrossim, chamada de terceiro semelhante à adicitatiodo direito italiano.Na segunda metade do século XIX, quando secuida de codificar o Direito Processual para todo oImpério, tanto na Alemanha como na Austria, a chamada emgarantia foi desacolhida por razões históricas etécnicas. A ZPO alemã de 1877 desacolheu-a por razões

técnico-ideológico-jurídicas com a alegação deque a admissão de uma cumulação eventual do mesmoprocesso não se explica teórica, histórica e praticamente,uma vez que a ação de moléstia só terá valia se forpróspera a pretensão sobre o chamante. Por tais razõesa chamada em garantia é, para o legislador de 1877, denenhum benefício, sendo só antieconômico no plano decusto e tempo. (p. 43)

2.3 - Direito italianoA intervenção de terceiros no direito italiano, do

ângulo historicista, remonta ao tempo da adcitatio,instituto com raízes no direito canônico, utilizadoespecialmente nas questões que versavam sobre direitoseclesiásticos e outros do interesse dos feudatários, querecebiam dos seus senhores a outorga para gestionaremem seu próprio benefício bem imóvel ou outros, denatureza diversa. Pela adcitatio, os terceiros interessadosna questão eram chamados ao processo, e desde

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que tal acontecia ficavam vinculados à sentença semcondições de se oporem, posteriormente, a ela, ou dereclamarem o direito já objeto da decisão{11}." Ela provocaa extensão objetiva/subjetiva como elementos doprocesso, por isso que chama a integrar a relação jurídico-processual um terceiro titular de uma relação jurídicaconexa, por compatibilidade ou incompatibilidade,com o objeto do mesmo processo, resultando numaespécie de provocatio ad agendum.A adcitatio do direito canônico fundou-se, porseu turno, no antigo processo germânico e no direitoprocessual de certos territórios em que se aplicava odireito longobardo.{12} No processo germânico aadcitatio não tendia à litisconsorciação necessária, simaos casos de conexidade de causas identificáveis com o"litisconsórcio quase-necessário" e a "intervençãolitisconsorcial".

O Código de Processo Civil italiano de 1040 admite aintervenção coativa ou adcitatio (chamada emcausa), distinguindo a que se dá por provocação da que11. Na ação usucapião são chamados terceiros interessados.12. ALVAREZ, Lopez-Fragoso Tomas. Op. cit., 21-25. conformeWETZELL,CHIOVENDA et al. (p. 44)se dá por ordem do juiz (intervención iussu iudicis arts.106 e 107 do CPC italiano):"Art. 106. Ciascuna parte pu’o chiamare nel processo unterzo al quale ritiene comune la causa o

dal quale pretende essere garantia.""Art. 107. Il giudice, quando ritiene opportunoche il processo si svolga in confronto di un terzo alquale la causa è comune, ne ordina l´intervento."Questão polêmica na doutrina italiana, quanto aoart. 106, a da comunidade de causas.Construiu-se um pensamento doutrinal majoritário, comRedenti, que concebeu a causa comum comoconexão (objetiva/subjetiva) entre o objeto de um processoem curso e a relação jurídica de que é titular umterceiro. A corrente é majoritária, por isso não é unânime,

e a não-unanimidade reside no confronto que seestabelece entre a chamada em causa, o litisconsórcionecessário e a integração do contraditório. MonteroAroca cuidou de distinguir os três institutos confrontados,reservando ao litisconsórcio necessário a noção deuma única relação jurídica com mais de um titular, comimplicações inevitáveis na composição subjetiva doprocesso na sentença e nos seus efeitos. Chiovenda

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construiu sobre o litisconsórcio necessário a sua teoriade "sentença inútil", desde que a litisconsorciação nãose formasse como deveria se formar, o que implicaria anecessidade de admitir a carência da ação, já que sustentoutratar-se de pretensões de direitos potestativoscom vistas na modificação, constituição e extinção deuma relação jurídica plurissubjetiva. Foi resistido porRedenti que, contrapondo-se, sustentou que, nos casosde litisconsorciação necessária, as pretensões podem (p. 45)ser variadas, não simplesmente potestativas, sim, também,constitutivas, declaratórias ou condenatórias. E,caso a litisconsorciação não se forme no momento emque deveria se formar, cabe chamar ao processo oslitisconsortes necessários preteridos, para a integraçãodo contraditório, e não decretar a carência da ação. Opensamento de Redenti foi acolhido pelo atual CódigoPenal italiano, especialmente quanto à integração do

contraditório. Outro ponto que se tornou polêmico nadoutrina italiana foi o concernente à concorrência doselementos objetivos do processo, se necessariamentedevem coexistir a causa petendi e o pedido, ou um sóseparadamente. Também aí a doutrina dele dissentiu,restando forte corrente pelos dois elementos. Michelli,por exemplo, diz que"para que a parte possa chamar à causa a umterceiro é necessário que a mesma considere comum a causae, por conseguinte, que aquele sujeito que permaneceuestranho ao processo, seja titular de uma situação jurídica

conexa com aquelaque é objeto do juízo, bastando ter comum comesta última o pedido e a causa de pedir".{13}A integração do contraditório, por seu turno, seprende à noção de oportunidade e economia de tempo ecusto processuais, não sendo, necessariamente, único ojuízo no âmbito do direito material.{14}13. MICHELLI, Gian Antonio. Curso de derecho procesalcivil. Trad. deSantiago Sentís Melendo. Buenos Aires: Europa-América,1970, v. 1.

14. Conforme CHIOVENDA, Giuseppe. Principii..., çit.;COSTA, Sergio.Manuale..., cit.; MICHELLI, Gian Antonio. Curso de derechoprocesalcivil, Cit. (p. 46)

3 - INTERVENÇÃO DE TERCEIROS, OS PRINCÍPIOSPROCESSUAIS E AS CONDIÇÕES DA AÇÃO

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São considerados princípios do processo as diretrizesestabelecidas por determinado ordenamento jurídico como deobservação imprescindível para se levar abom termo o fazimento da justiça naquelas situações deconflito apresentadas ao Estado-Juiz. Não é possívelafirmar que os princípios do processo sejam imutáveise não suscetíveis de variação de um para outroordenamento,{15} já que dizem respeito às condutas quedevem ser vivenciadas na solução dos conflitos deinteresses, e estas podem ter uma ou outra característicaconforme seja maior ou menor a liberalidade culturalde cada povo seu destinatário.{16} Para Podetti,{17} taisprincípios são, a rigor, bases prévias para a estruturaçãodasleis processuais.Impõem-se considerações sobre a intervenção deterceiros e os princípios processuais, uma vez que não

se pode deixar de ter em conta que o exercício daatividade intervencional é, a rigor, exercício de direitode ação que é, para o pandectista citado, "la faculté depoursuivre un droit en justice" e supõe "un droit dans lechef d’une personne et la lésion de ce droit de la partd’une autre personnne". Assim, quero exercício que sedá por provocação, quer o que se dá por espontaneida 15.Toda sociedade é regida por um conjunto de normas que formao seuordenamento jurídico.16. Direito é ciência ontologicamente cultural, por isso

que cada povo tem oseu com as suas peculiaridades, e só diz respeito ao homemem sociedadejá que é ele o único animal aculturável.17. PODETTI. Tratado de la competencia, p. 66. (p. 47)de, tanto num como noutro, a parte está exercitandodireito de ação vez que busca o reconhecimento de umdireito violado ou desconhecido. Não importa esteja aparte interveniente no pólo ativo (opoente, denunciante,nomeante ou chamante) ou no pólo passivo (oposto,denunciado, nomeado ou chamado) da relação processual, o

que convém é que o interveniente está sempreem juízo em razão ou do direito tutelado pela ação(opoente, denunciado, nomeado) ou em razão de modoequívoco de obrar (chamado), buscando acertar um dospressupostos subjetivos do processo, que é requisito deadmissibilidade da demanda - a parte. De qualquersorte, vale-se sempre de um direito para assegurar outrodireito, aquele, então, o direito de ação.{18}

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4 - INTERVENÇÃO E O PRINCÍPIO DISPOSITIVOA intervenção de um terceiro no processo não sedá sem a observância do princípio dispositivo{19} quematerializa e delimita, por seu turno, o exercício dodireito de ação. A sua ocorrência estará sempre à mercêda iniciativa do interessado, que agirá voluntariamenteou por provocação de parte figurante na relação processualpreexistente. "Nemo index sine actore; nefro cedatindex ex officio." Excepcionalmente, poder-se-ia admitir aintervenção iussu iudicis, ou seja, intervenção por18. É o direito elevado à segunda potência, na expressão deMattirolo (Tratado,t. 1,p. 14).19. PALACIO, Lino Enrique. Derecho procesal civil - Sujetosdel proceso.v. 1, p. 254. (p. 48)ordem do juiz sem provocação da parte. O nosso diploma

processual civil vigente não prevê a intervenção deterceiro no processo por determinação judicial comopreviu o Código de 39, no seu art. 91, que dispunha:"O juiz, quando necessário, ordenará a citação deterceiros, para integrarem a contestação. Se a parteinteressada não promover a citação no prazomarcado, o juiz absolverá o réu da instância."No Código atual não há figura idêntica no quepertine à intervenção de terceiros, sim, tão e só, no queconcerne ao litisconsorte necessário, que não é terceiro,por isso que parte. É o que se vê no art. 47, parágrafo

único, do Código de Processo Civil:"O juiz ordenará ao autor que promova a citaçãode todos os litisconsortes necessários, dentro doprazo que assinar, sob pena de declarar extinto oprocesso."Ocorre, contudo, que nem mesmo no caso deintervenção iussu iudicis do Código pretérito o princípiodispositivo era inobservado uma vez que o comando do juizrecaía, como sói acontecer hoje com olitisconsorte necessário, sobre a parte para que estapromovesse a integração do terceiro no contraditório

em razão da comunidade de causas, por questão deoportunidade, ou em razão de litisconsorciação necessária,por questão de imprescindibilidade. É o que sepode extrair, também, do cotejo dos arts. 102 e 107 doCodice di Procedura Civil italiano, fontes daqueledispositivo do Código mais anoso e não mais vigente. (p. 49)O princípio dispositivo não se constitui apenas daconduta do sujeito em tomar a iniciativa da provocação

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da jurisdição posta em sua inércia, seu estado natural.{20}Existem outros componentes do princípio dispositivo.É possível vislumbrar, além da provocação, o fenômeno davinculação do órgão judicial às pretensões expostas, tantopelas partes originárias como, também, pelosterceiros, que, não obstante secundados na iniciação darelação processual, tornam-se partes, visto o alcanceobjetivo e o subjetivo da coisa julgada.O impulso processual, factum simile da provocação, é, deigual modo, um outro componente do princípio dispositivo,tocando ao terceiro intervenienteexercê-lo diligentemente no curso do processo para quenão pereça direito seu e não sofra as conseqüênciasprocessuais de sua inação, que é o não desencumbir-sede certa carga processual, podendo ser, também, anãoutilização de uma possibilidade processual.{21}O impulso, a seu tempo, desde que não advinda a

preclusão temporal, que é o fenômeno processualsubstitutivo do que não se fez, evita a perda de direitosinerentes ao processo, tanto de falar nos autos como delhe dar continuidade. Esses efeitos da inação (de falar edar continuidade) são ditos efeitos gerais, existindo, aseu par, os efeitos especiais. Dos especiais sobressaema transmissão de um direito da parte inativa à parteopósita; a declaração desfavorável à parte omissa; umresultado probatório desfavorável; a consideração dedefeito de um ato processual, anteriormente praticado20. Indaga-se do acerto das denominações que se faz às

jurisdiçõescontenciosa e voluntária. A contenciosidade evoluntariedade são sempredas partes e dos interessados, não da jurisdição serena eimparcial.21. GOLDSHMIDT, James. Derecho procesal civil. Barcelona:Labor, p. 208. (p. 50)pela parte silente; e a sanação de defeitos de atos daparte adversa.{22}Impulso processual e direitos inerentes ao processo, tambémtidos como direitos processuais, estão

correlacionados. Goldschmidt{23} entende por direitosprocessuais as expectativas, possibilidades e liberaçõesde cargas processuais.As expectativas, ensina o professor alemão, sãoesperanças de se obter futuras vantagens processuaissem necessidade de ato algum próprio. É o caso da parteque se beneficia pela inação da outra; ou do beneficio daparte por ato de ofício do juiz.

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Possibilidades são situações que permitem obtercerta vantagem processual pela execução de atos doprocesso. Cita-se o exemplo, no plano material, dapossibilidade da sentença favorável. No plano processual, apossibilidade de ser ouvido em juízo; de prestarjuramento; de opor-se às alegações da parte contrária;do litisconsorte impulsionar o processo; do interveniente(opoente, nomeado, denunciado, chamado) exercitar meios deataque e defesa.Liberações de cargas processuais são as situaçõesque permitem à parte abster-se de realizar determinadosatos sem que da abstenção lhe sobrevenha qualquerprejuízo.Expectativas e liberações são, pois, figuras processuaisque se explicam mutuamente, e tanto estascomo as possibilidades são de profunda repercussãopragmática no campo das figuras intervencionais.

Os demais componentes do princípio dispositivopodem ser identificados como a delimitação do thema22. GOLDSCHMIDT, James. Op. cit., p. 209.23. Ibidem, p. 194-195. (p. 51)decidendwn, que obriga o juiz a observância do princípio dacongruência ou da correlação (princípio do procedimento) e,também, o direito de provar, o quantonecessario, as suas asserções.Ao princípio dispositivo, no entanto, mesmo noscasos de intervenção de terceiros, fazem-se certasrestrições, por isso que independente da iniciativa de

qualquerparte pode o juiz, em caso de incompetência absoluta,declará-la; pode também extinguir o processo por faltade condições da ação, quais o interesse processual, apossibilidade jurídica do pedido e a legitimidade para acausa ou para o processo. Pode, outrossim, o juizcondenar o vencido, mesmo terceiro, no pagamento dejuros legais, das prestações periódicas vencidas após aintervenção e das custas processuais, ainda que nãorequeridas. Ainda pode declarar a nulidade de certos atosdo processo, desde que eivados de vícios irrefutáveis,

além de extingui-lo pelo abandono. São as crises doprocesso, também terminação anômala do processo.

5 - INTERVENÇÃO E O PRINCÍPIO DA AUDIÊNCIA DA PARTECONTRÁRIAA par do princípio dispositivo, tem-se, também, oprincípio da audiência da parte contrária, de igual mododisciplinador do exercício da ação (nemo inauditus

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damnari potest). Ao terceiro interveniente, opoente,denunciado à lide, nomeado à autoria e chamado ao processo,é assegurado o direito de participar de todas asquadras do procedimento, pena de ser-lhe sonegado nãosó direito inerente ao processo, mas, sobretudo,constitucional. Observe-se que o princípio determina seja apartechamada a participar; não se lhe impõe a participação,que, a contrario sensu, recai na inação e na expectativa.(p. 52)

6 - INTERVENÇÃO E O PRINCÍPIO DA IGUALDADEAcresce-se o princípio da igualdade que, no processo,significa a ocorrência de isonomia jurídica entreas partes nos planos das expectativas, possibilidades eliberações das cargas processuais, não obstante saberseque, sociologicamente, são elas desiguais. Para Ramos

Mendez,{24} estes princípios estão elevados à categoria degarantia fundamental do processo.

6.1 - Princípios que regem o procedimentoVistos os princípios que regulam o processo, seguem-se osque regem o procedimento, quais o doimpulso oficial, que determina ao juiz a condução doprocesso, observada a "metodologia" ditada pela lei,indo de fase em fase até alcançar o seu escopo maior eprecípuo, que é a sentença definitiva, salvo se formasanormais de terminação do processo interceptarem o

seu curso e outra decisão, com ou sem apreciação domérito, se fizer exigida{25} Também o princípio dacongruência, que impõe ao julgador o dever de emitirjuízo apenas sobre o que se constitui objeto das pretensõesdas partes, evitando, assim, as sentenças citrapetita, extra petita e ultra petita.

6.2 - O princípio da imediaçãoSegue-se o princípio da imediação, que é, sim,tautológico, no dizer de Ramos Mendez, uma vez que,24. MENDEZ, Francisco Ramos. Derecho procesal civil.

Barcelona: Bosch, p. 339.25. Cf. FORNACIARI, Mario Alberto. Modos anormales determinación delproceso. Buenos Aires: Depalma, 1981, v. 1, 2 e 3. (p. 53)tendo o Estado tomado para si o poder e o dever deexercer jurisdição, e se tal mister se faz exclusivamenteatravés de representantes seus investidos de poderespecífico, desnecessário erigir princípio estabelecedor de

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que as atividades das partes envolvidas em conflitointersubjetivo de interesses sejam intermediadas pelojuiz, pelo árbitro, pelo conciliador, pois que há a vedaçãoconstitucional do tribunal de exceção.Kisch vê, no princípio da imediação, plena relação com oprincípio da oralidade, sem, contudo, significar o mesmo.

7 - INTERVENÇÃO E OUTROS PRINCÍPIOSO terceiro interveniente, não dessemelhante daspartes originariamente figurantes na relação processual,sujeita-se, ainda, aos princípios da oralidade e daescritura; da publicidade e do sigilo; da concentraçãoda eventualidade; e, por fim, ao princípio da aquisição.

7.1 - O princípio da oralidade e da escrituraO princípio da oralidade se contrapõe ao da escritura. Oprimeiro cuida dos atos praticados por palavras;

o segundo cuida dos atos praticados por escrito:"Oralidade del procedimiento es el principiosegún el cual las manífestaciones y declaracionesque se hagan a los tribunales; para ser eficases,necesitan ser formuladas de palabra. Porcontraposición a él, el de la escritura significará (p. 54)que esas manifestaciones y declaraciones tienenque realizar-se por escrito para ser válidas".{26}

7.2 - O princípio da publicidadeO princípio da publicidade é o que estabelece a

possibilidade de todos assistirem à prática dos atosprocessuais. É de singular importância para o Estado-Juizvistoque, por ele, tem-se a transparência de todos os seus atos.Para a sociedade tem caráter educativo,{27} postotransmitirlhe a verdadeira imagem do Judiciário,infundindo-lhe ossentimentos de segurança e respeito. Para o poder éelemento tranqüilizador, por isso que, desde que público,afasta opiniões distorcidas e juízos temerários dos quedesconhecem os verdadeiros fundamentos das decisões.

7.3 - O princípio do sigiloEm contrário, o princípio do sigilo, que cuida depreservar a imagem das pessoas em certos e determinadoscasos previstos em lei, bem assim os fatos que asenvolvem. Também, de ofício, e por questões de ordemmais a preservação da imagem da pessoa, pode o juizdeterminar a prática de atos sem publicidade. Não,

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contudo, quanto às partes envolvidas no processo. Oprincípio da publicidade (Parteiöffenlichkeit) para aspartes não sofre restrições.

7.4 - O princípio da concentraçãoPrincípio da concentração é o que cuida de determinar aprática de todos os atos do processo no mesmo26. KISCH, W. Elementos de derecho procesal civil. Madrid:Revista deDerecho Privado, 1944, p. 129.27. Ibidemn, p. 125. (p. 55)espaço de tempo. Por ele se elimina o supérfluo, odesnecessário. Toca ao juiz observá-lo com mais rigor,indeferindo os pleitos orais (de audiência) ou escritos,impertinentes, protelatórios e despiciendos.{28}

7.5 - O princípio da eventualidade

O princípio da eventualidade impõe à parte odever de praticar todos os atos do processo, no tempodestinado a sua prática. Assim, a um só tempo sãooferecidas as preliminares, as prejudiciais, a reconvenção,e aduz-se questão de mérito. Como, outrossim, do princípioda eventualidade tem-se a necessidade de se observar o atoadequado para aquela quadra do processo. Na nomeação àautoria, por exemplo,o princípio da eventualidade dita que, havendo nomeação,não há a contestação até que se decida sobre alegitimidade passiva; não aceita a nomeação e, persistindo

o nomeante no pólo passivo, impõe-se-lhe, atépor coerência de conduta, aduzir, em preliminar, suailegitimidade passiva. Tudo se rege pelo princípio daeventualidade.

7.6 - O princípio da aquisiçãoPrincípio da aquisição, por este tem-se que osatos praticados por uma das partes incorporam-se aosatos praticados pela outra, tomando-se, por isso, todoscomuns. Sendo, então, prejudicial certo ato praticadopor uma das partes, é-lhe impossível dele desistir, pois

28. GOZAINI, Osvaldo Alfredo. Derecho procesal civil.Buenos Aires:Ediar, v. 1, p. 360. (p. 56)a outra já o adquiriu. Está agora em seu benefício e emdesfavor de quem o praticou ou o subministrou.{29}

7.7 - O princípio da economia processualOutro é o quadro quando se cuida do princípio da

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economia processual com os seus dois componentes:tempo e custo do processo. Nas hipóteses de nomeaçãoà autoria e chamamento ao processo, tal princípio é denotória adeqüação. Veja-se, agora, a oposição. Trata-sede intervenção voluntária que se dá no curso de açãoproposta afetando, sensivelmente, a celeridade do processoem andamento. Em Portugal, José Alberto dosReis e Lopes Cardoso travaram acirrados debates sobrea conveniência ou não dessa modalidade de intervenção, umavez que a sua não-utilização nenhum prejuízotraz ao sujeito detentor do direito alegado, no todo ouem parte, e disputado pelos protagonistas da ação emcurso. Venceu o primeiro jurista lusitano, defensor doinstituto, com o forte argumento de que o surgimentodo opoente fornece ao julgador mais elementos paraemissão do seu juízo; amplia-lhe, pois, os limites dacognição. Enquanto isso, Parra Quijano,{30} da Escola

colombiana, apresenta uma justificação sociológicapara a oposição que se me afigura de singular aceitação,sob o argumento de que"la figura en estudio procesa en adecuada formala angustia e incertidumbre que se apodera de unapersona, cuando se da cuenta que un derecho o29. ALSINA. Tratado teórico práctico de derecho procesalcivil y comercial- Parte general. 2. ed., Buenos Aires: Ediar. v. 1, p. 459.30. QUIJANO, Jairo Parra. La intervención de terceros en elproceso civil.

Buenos Aires: Depalma, 1986, p. 101. (p. 57)cosa que presuntamente le pertenecía, está siendodisputado por otros como si fuera de ellos. Situviera que esperar para poder iniciar proceso afim de obtener el reconocimniento de su derecho, suangustia sería mayor y se prolongaría inútilmente;a fim de evitar esto, si esa persona quiere, puedehacer valer su pretensión frente a las partesoriginales o primigenias, en el mismo proceso".Quanto à denunciação, para o autor da ação originária,quando a denunciação se dá pelo requerido, é

conduta opósita ao princípio da celeridade processual,vez que ele nada tem a ver com o denunciado da açãosubseqüente, sofrendo, Lom isto, o retardamento dasolução do conflito mais por interesse do seu demandado edenunciante do que propriamente interesse seu.Força é convir, no entanto, que, enquanto a oposição éregida pela espontaneidade, a denunciação não o é, porisso que a legalidade é sua determinante, especialmente

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nos casos de garantia dos riscos resultantes da evicção.

8 - PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DO PROCESSO ORIGINÁRIOOs pressupostos de existência do processo aquidito originário são: uma relação jurídica conflitadacom medida de acionabilidade, para a qual não houveresolução (do que resultou o direito de pretensão); aidentificação dos sujeitos envolvidos no conflito, oque permite aferir a capacitação e legitimação ad causam ead processum; um pedido formulado e instruídoconforme as leis processuais; e, por fim, um órgãoestatal incumbido constitucionalmente de apresentarsolução para o conflito. (p. 58)

9 - PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DO PROCESSO SUPERVENIENTECom a possibilidade e o exercício do direito deintervir, propõe-se uma demanda fundada sempre no

direito público subjetivo de ação, que o Estado reconheceno indivíduo e cujo exercício lhe assegura; digoreconhece, não, confere. O conferir pertine ao direitoobjetivo. O sujeito, fazendo uso do seu status civitatis,{*}instaura-se um novo processo, mesmo que no bojo dooriginariamente existente e, por conseqüência, impõese,momentaneamente, a modificação do procedimento. É o caso daoposição, quando o juiz susta o curso doprocesso originário por noventa dias; da denunciaçãoda lide, com a suspensão do processo para a citação dodenunciado; do chamamento ao processo, também com

a sua suspensão conforme o art. 79 do Código de ProcessoCivil, e, por fim, a suspensão que se faz no casode nomeação à autoria. São, também, crises do procedimento.Os pressupostos de existência desse processosuperveniente sobressaem-se em quatro níveis distintos:a) em primeiro nível, imprescinde que haja umprocesso originário válido, portanto, que satisfaça ospressupostos de sua existência e mais as condições daação que por ele se exercita. É indiferente haja ou nãono processo sentença trânsita em julgado já que sepode ter, como modalidades intervencionais o recurso

de terceiro interessado e os embargos de terceiros*. O status civitatis é um dos componentes da personalidadeno compo dodireito público, juntamente com o status subiectionis, ostatus libertatis eo status activae civitatis. (p. 59)oponíveis à sentença provisória ou definitivamenteexcutida; a oposição, forma de intervenção nominada,

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contudo, se dá até o momento da sentença; adenunciação da lide, a nomeação à autoria e o chamamento aoprocesso, ditos também de intervençãonominada, dão-se no prazo de resposta, sendo que aprimeira - denunciação da lide - pode-se dar quando dapropositura da ação;b) em segundo nível, é imprescindível que o interveniente(voluntário ou provovado) satisfaça a condição de terceirocom interesse jurídico, no plano imediato ou mediato.Diz-se plano imediato quando o bem de vida ou arelação jurídica conflitada no processo originário pertencetambém, mesmo que em tese, ao terceiro.Diz-se plano mediato quando o bem ou a relaçãojurídica conflitada no processo originário não pertinediretamente ao terceiro, mas sim a outro que poderá serafetado em razão da decisão que vier a ser proferida noprocesso originário.

c) em terceiro nível, que haja a pretensão resultante daatingibilidade ou resolvibilidade que possamdecorrer do alcance objetivo/subjetivo da coisa julgadano processo originário. Quer isso dizer que a iminênciade solução (resolvibilidade) ou de conflito maior(atingibilidade) que possa restar ao terceiro, em razãodo processo originário, é fato que incide sobre o direitoda parte nele figurante e que a autoriza a provocar aintervenção; ou é fato que incide sobre o direito deterceiro, que o autoriza a exercitar a sua pretensão,intrometendo-se voluntariamente no curso do processo

em andamento. (p. 60)d) em quarto nível, a acionabilidade da pretensãona condição de terceiro. Pretende-se com isso dizer queem dados casos, não obstante a incidência, a pretensãonão é acionável na condição de terceiro por vedaçãolegal, restando ao sujeito a dedução de sua pretensãoatravés de ação originária. Vê-se o óbice da acionabilidadeda pretensão do terceiro, por exemplo, na agoralredação do inciso I do art. 280 do Código de ProcessoCivil, que afasta a intervenção de terceiros noprocedimento sumário, exceto nos casos de assistência e

recurso de terceiro interessado.Na hipótese de intervenção em procedimento dejurisdição voluntária, dir-se-á da imprescindibilidadeda existência do interessado de uma situação fáticaconstitutiva de nova relação jurídica com o bem e, deigual modo, de um órgão jurisdicional.

10 - PARTE E TERCEIRO A UM SÓ TEMPO - EXCEPCIONALIDADE

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Diz-se terceiro aquele que, posto com interesse jurídico,não é parte no processo, ou excepcionalmente o é.Parte e terceiro, a rigor, podem ser tidos em doisplanos: o primeiro, concernente à parte, é de caráterpositivo, por isso parte é aquele que é; o segundo,concernente ao terceiro, é de caráter negativo, por issoterceiro é aquele que não é. Este segundo plano éexcepcionado e, por isso, sói transparecer de singularsignificação doutrinal e prática, visto que a lei consideraterceiro quem seja parte na relação processual, nãosendo, no entanto, interveniente. (p. 61)Entre nós, a hipótese é prevista no art. 1.046,caput, e § 2º do Código de Processo Civil, que cuidados embargos de terceiro, e, no concernente ao caput,aduz ao terceiro interveniente não-nominado. É o quetransparece da literalidade do texto:"Quem, não sendo parte no processo, sofrer

turbação ou esbulho na posse de seus bens por atode apreensão judicial, em casos como o de penhora,depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial,arrecadação, arrolamento, inventário, partilha,poderá requerer lhe sejam manutenidos ou restituídos pormeio de embargos."O § 2º do mesmo artigo faz alusão a um terceiroque já é parte, portanto, em momento algum interveniente.Eis o texto:"Equipara-se a terceiro a parte que, posto figureno processo, defende bens que, pelo título de sua

aquisição ou pela qualidade em que os possuir,não podem ser atingidos pela apreensão judicial."Por outro lado, existe a possibilidade de o sujeitoser interveniente, sem ser terceiro, por isso que partepor força da lei que o autoriza a intervir: é o caso docredor que se habilita na falência.Poder-se-ia cogitar do "direito de intervir" comoum dos pressupostos de admissibilidade do terceiro noprocesso, todavia não é disso que aqui se trata, devidoao seu caráter subjetivo, abstrato, genérico e comum atodo sujeito. Cuida-se aqui do "interesse de intervir",

posto ser um elemento concreto, específico, decorrentedo conflito intersubjetivo de interesses sem resolução. (p.62)O interesse de intervir decorre do interesse jurídico queresulta da relação jurídica predominante. A admissão dointerveniente sem interesse jurídico implicaria tumultoprocessual responsável pela não-consecução do fimobjetivado pelo processo e, em especial, do

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fim a que se destina o instituto da intervenção.Impõe-se não olvidar que há o terceiro interessadoalcançável direta ou indiretamente pelo efeito dacoisa julgada, de onde advém o alargamento dos limitessubjetivos do processo; e de que há o terceirodesinteressado não alcançável por esse efeito, exceto pelasua autoridade de ato processual político. Diz-se atoprocessual político não no sentido ideológico, mascomo próprio do processo e de sua repercussão napólis, na qual se impõe o acatamento por todos. Vemcom acerto, em razão disso, o ensino chiovendiano deque "todos são obrigados a reconhecer o julgado entreas partes; não podem, porém, ser prejudicados. Mas porprejuízo não se compreende um prejuízo de mero fato,e sim um prejuízo jurídico".{31} Na esteira desseraciocínio, o alcance subjetivo da coisa julgada e aintervenção

de terceiros são pertinentes, já que esta cuida de fazerevitar o prejuízo jurídico do sujeito interessado. Aiminência do prejuízo jurídico também explica o interesse.Não foi sem razão que Jorge Americano, quandocomentou o Código de Processo Civil de 39, preocupou-se emaclarar o sentido da expressão terceiro, queconvém à intervenção, e qual o critério que se deve terem conta para distingui-lo daquele que não tem ne 31.CHIOVENDA. Instituições... 1942, v. 1, p. 572. (p. 63)nhum interesse, tomando por base os limites subjetivosda coisa julgada, nos seguintes termos:

"O critério da expressão terceiro aqui empregadanão é o mesmo que se aplica quando, em referência aosefeitos da sentença, se diz que ela alcançaou deixa de alcançar a terceiros (res inter alios)."Segundo ele, o terceiro é aquele que é admitido nademanda por necessidade ou conveniência processual,após a constituição do juízo, como o autor e o réu.Carvalho Santos, a turno seu, comentando o mesmo estatutoprocessual,{32} não foi dissímil em seu magistério aoafirmar que"a decisão a ser proferida em uma demanda pode

interessar a terceiro que não os litigantes. De fato,a coisa, sobre a qual se contende, bem como osdireitos, cuja afirmação se pede em juízo, podemestar vinculados e ter relações com pessoas estranhas aolitígio, não sendo bastante a exclusivapresença dos dois contendores para excluir o interesse dosterceiros na controvérsia ajuizada. Nãopodia a lei deixar de cogitar do interesse possível

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que os terceiros possam ter na solução do litígioentre outros. Daí o instituto da intervenção deterceiro, que é a via pela qual um terceiro, que nãofoi originariamente parte na lide, nela se apresenta parafazer valer seus direitos ou sustentar o de32. SANTOS, J. M. de Carvalho. Código de Processo Civilinterpretado. 5.ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1958, v. 2, p. 5. (p.64)uma das partes em causa (cf. LABORI, Rép.Encycl., v. Intervention, n. 1)."

11 - A INTERVENÇÃO E AS CONDIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTOVALIDO E REGULAR DO PROCESSO SUPERVENIENTEJá quanto as condições para o desenvolvimentoválido e regular do processo, que são qualificações dascondições para sua existência, sobreleva ressaltar que:

a) a parte interveniente seja capaz de direito e de fato,ou que tenha a sua capacidade de fato suprida porquaisquer das modalidades previstas no nossoordenamento jurídico; b) e que ainda a sua pretensãoseja juridicamente defensável, ou que esteja nos limitesda discussão do thema decidendum da ação-base, porisso que não é possível ao terceiro intervir numa relaçãoprocessual preexistente em razão de certo conflito,para discutir questão que lhe seja totalmente estranha,ainda que juridicamente defensável, mas comportávelem outra ação; muito menos é possível ao terceiro

pretender ampliar as fronteiras do campo de discussãocom tema que, nem neste campo nem noutro, sejapossível discutir juridicamente; c) de resto, na hipótesede intervenção de terceiro, não é dado ao intervenientequestionar a competência do órgão jurisdicional que jápreside a relação processual anterior; não lhe é possível,então, argüir exceção de incompetência do juízo,exclusive no caso de se tratar de pessoa que, porpeculiaridades próprias e por sua natureza, modifique acompetência anterior. Tome-se como exemplo a intervenção daUnião em uma disputa de terra que teve (p. 65)

início junto à Justiça comum: a competência desloca-separa a Justiça federal. Enfim, para o desenvolvimentoválido e regular do processo, a partir da intervenção e aseu respeito, é imprescindível sejam observados os prazos,as condições e as formas estabelecidas por lei.

12 - A INTERVENÇÃO NOUTROS RAMOS DO DIREITOA intervenção, conforme os diversos ramos do

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Direito, é tida com caracteres, contornos e finsdissímeis uns dos outros.No Direito Cambiário, por exemplo, tem-se a chamadaintervenção por honra, que se dá quando, terceirapessoa, estranha ao título apresentado a protesto queainda não se efetivou por falta ou recusa de pagamentoou aceite, espontaneamente apresenta-se para pagá-lo,sub-rogando-se, assim, os direitos do credor.No Direito Internacional Público, é o ato pelo qualdeterminado Estado intervém politicamente não só nasquestões interiores, mas também nas exteriores, de outroEstado soberano ou independente, impondo-lhe suaautoridade, modificando-lhe a conduta política ou aadministrativa, de forma diplomática ou pela força.No Direito Constitucional, a intervenção ocorrenos regimes federados, quando o governo central intervém noEstado integrante da federação, com o propósito determinado

de garantir-lhe a soberania, a unidadenacional e a ordem política.No Direito Processual Civil, quadriparte-se o seusentido-fim, por isso que é ato pelo qual aquele que,não sendo parte no processo, originária ou ulteriormen- (p.66)te, busca fazer valer direito seu eliminando o de outros;busca garantir e assegurar-se do exercício do direito deregresso; busca afirmar sua ilegitimidade ad causam;ou efetivar no processo a solidariedade obrigacionalque decorre do direito material, apoucando-a para si.

Em quaisquer dos casos, aquele que se vale da intervenção,por provocação ou espontaneamente, é denominado deinterveniente.

13 - DOS ELEMENTOS JUSTIFICADORES DA INTERVENÇÃODoutrinariamente aponta-se a economia processual (tempo ecusto do processo) e o propósito de evitardecisões conflitantes como justificadores das figurasintervencionais típicas, bem como das atípicas, e quecostumam aparecer juntas embora não necessariamentesempre. Relativamente ao ângulo do aproveitamento, a

economia processual é questionável, posto nem semprebeneficiar todas as partes do processo. Na nomeação àautoria, por exemplo, o autor pode ser beneficiado, emnível de economia de tempo e custo do processo, com oapontamento por parte daquele a quem ele demandou,do verdadeiro sujeito que deveria ter sido demandado.Não é certo, no entanto, que a mesma economia socorraao autor no caso de denunciação da lide, no de chamamento

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ao processo e, outrossim, no de oposição quantoaos opostos. A rigor, porém, os dois elementos supracitadosnão encerram as razões justificadoras do instituto daintervenção, só mesmo as origens históricas decada figura é que fornecerão uma visão cabal dos seusjusticadores, como se verá nas partes que lhes sãoreservadas. (p. 67)Insere-se como justificadora da intervenção, aquestão psicossocial. A ansiedade, a expectativa, ainsegurança que tomam o sujeito ao ter conhecimento deque direito seu está sendo disputado por outro ou ameaçadode ser atingido, justifica a intervenção. Vê-se,contudo, que o movere é elemento jurídico.

14 - QUANTO À NOMEAÇÃO DO INTERVENIENTEReportando-nos à construção pretoriana, e sob oângulo pragmático, deixa de ser questionável, desde que

se tem assente ser a lei que diz "quem é autor, réu,opoente, assistente, terceiro, litisconsorte ativo oupassivo".{33} E tal está dito, com todas as letras, pelolegislador.

15 - DAQUADRIPARTIÇÃO DA INTERVENÇÃOSe tomamos a intervenção como um fenômeno quesobrevém ao processo, cuidando de ser, a par disso,exercício de direito processual no plano das expectativas,haveremos de encontrá-la quadripartida, quanto aos seuselementos objetivos e subjetivos, da seguinte forma:

a) oposição - afirmação pela negação, com extensão darelação processual ativa por sujeição ou subordinação, noplano vertical;b) nomeação à autoria - eximição, com acertamento darelação processual passiva por estromissione,no plano horizontal;33. RTJ, 101/901. (p. 68)c) denunciação da lide - regressão, com extensãoda relação processual ativa ou passiva por subordinaçãoou sujeição, no plano horizontal ou vertical;d) chamamento ao processo - comunhão, com

extensão da relação processual passiva por adjunção,no plano horizontal. Acresce-se aos elementos objetivos, emdados casos, o alargamento das fronteiras docampo de aferição dos valores da questão controvertidana formação do juízo. (p. 69)

(p. 70, em branco)

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Capítulo II - CATEGORIAS DAS FIGURAS INTERVENCIONAIS NÃO-NOMINADASRebuscando as categorias comuns das figurascautelares e abstraindo-as em parte para esta temática,identifica-se, na sistemática processual civil pátria,figuras intervencionais nominadas, porque previstasexpressamente como tais pelo legislador, quais sejam: aoposição, a denunciação da lide, a nomeação a autoria e ochamamento ao processo (como se vê no Livro I, TítuloII, Capítulo VI, Seções I, II, III e IV, do Código deProcesso Civil), bem como um outro tanto que, nãoobstante constarem expressamente da previsãolegislativa, não têm a epígrafe de figuras intervencionais,razão pela qual podem ser tidas como não-nominadas,em face da construção legislativa, doutrinal ejurisprudencial que fizeram assim. Nesse grupo estão aassistência, a litisconsorciação, o recurso do terceiro

interessado, a parte que à outra substitui (não o substitutoprocessual como se verá), o embargo de terceiro senhor epossuidor e, inclusive, o concurso de credores.Examinemos, em sinopse, algumas das figuras nãonominadas, que não constituem objetos desses estudos.

1 - QUANTO À ASSISTÊNCIAGrande parte da doutrina tem apontado a assistência comomodalidade efetiva de intervenção que, porerronia do legislador, como tal não foi titulada. A rigor,(p. 71)

não só a assistência, mas as demais figuras poderiamter sido nominadas de intervencionais - por isso queem nada dissímeis - quanto aos elementos objetivosjustificadores de suas ocorrências, das que foramnominadas. A par disso, cuidam elas de situações emque sujeitos distintos do que pediu e daquele em facede quem se pediu se introduzem em um dos pólos darelação processual preexistente, ou se protagonizamem novo pólo, com maior ou menor medida de participação nosatos do processo e sujeitos ou não às conseqüências comunsda coisa julgada.

Buscou-se explicar os motivos que levaram o legisladorpátrio a deixar em capítulo distinto particularmentea assistência. "Tomou-se, então, os elementos provocativo eopoencial em contraposição ao consorciante oucoadjuvante de efeitos transdecisionais" para que a menslegislatoris restasse a salvo de maior incompreensão.{34}Sérgio Bermudes, atualizando a obra de Pontes deMiranda{35} magistralmente distinguiu o adsistere do

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inter venire e mais uma vez aclarou as razões pelas quaisa figura da assistência não foi inserida no capítulo daintervenção.O legislador processual pátrio aponta duas modalidades deassistência uma simples outra litisconsorcial. A primeira,prevista no art. 50 do Código de Processo Civil, nosseguintes termos:"Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro,que tiver interesse jurídico em que a34. PONTES DE MIRANDA. Comentários ao Código de ProcessoCivil,t. 2, p. 85.35. Ibidem, p. 57. (p. 72)sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir noprocesso para assisti-la."A segunda, no art. 54 do mesmo estatuto, com aseguinte redação:

"Considera-se litisconsorte da parte principal oassistente, toda vez que a sentença houver de influir narelação jurídica entre ele e o adversário doassistido."Questão que se tornoQ assente, até porque aliteralidade do texto legislativo não permite outrainterpretação, é que o interesse para intervir há de serjurídico, excluída a possibilidade de se pretender assistirapenas firmado em interesse moral ou econômico, sempoder inadmitir que na maior das vezes no interessejurídico estão o moral e o econômico.

O assistente simples é aquele que tem relaçãojurídica com uma das partes do processo, mas tal relaçãonão diz respeito ao bem de vida em disputa. Noentanto, tem-se por certo que a sentença a ser proferidaentre as partes do processo originário poderá afetaraquela relação existente. É o caso, por exemplo, docredor que toma conhecimento de que o seu devedorestá sendo demandado em ação de reivindicação deimóvel que, se próspera, fá-lo-á insolvente. Outro caso,o do locatário que, de igual modo, busca assistir o seulocador para que não perca em ação dominial o imóvel

objeto da locação.O assistente litisconsorcial, contudo, é aquele quetem relação jurídica com o bem de vida em disputa,mas não figura em qualquer dos pólos do processo. (p. 73)Pode-se citar o caso do co-herdeiro que sabe da demandainstaurada em face do espólio e, temendo a diminuição doacervo, busca assistir o inventariante na demanda. Também éo caso do condômino, do sócio do clube.

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O assistente no processo exerce uma atividade decooperação com a parte assistida visando beneficiarexclusivamente a si próprio. Sua atuação é de umcoadjuvante.Eduardo J. Couture observa a necessidade denão confundir a figura do terceiro coadjuvante e asdemais figuras:"La figura del tercero coadyuvante en el procesoordinario no debe confundirse con las siguientessituaciones procesales: a) con los tercerosllamados a actuar en procesos colectivos(quiebra, concurso, etc.); b) con los tercerosllamados a actuar en procesos individuales deejecución (terceristas, en sentido genérico); c)con los terceros que actúan en juicio ordinario,pero a raíz de medidas de seguridad tomadascontra sus bienes; d) con los terceros llamados a

actuar en proceso ordinario, según necesidadesdel derecho material que se debate en el proceso(citatio auctoris, genéricamente, ya sea enproceso posesorio o petitorio, en las diversas formas de laevicción: denuncia del litigio; embargos de terceiro;tierce opposition; en las diversaslegislaciones). e) Con los terceros que actúanvoluntariamente en forma excluyente del interésdel actor y del demandado."{35}35. COUTURE, Eduardo J. Estudios de derecho procesal civil.3. ed., t. 3,

p. 220. (p. 74)

2 - QUANTO AO RECURSO DE TERCEIRO INTERESSADOHerdamo-lo das Ordena ções:"... mas poderão apelar de quaisquer outros quedigam ser danificados pelos ditos autos, declarando nasapelações razão legítima e aprovada, porque deles apelam, assim como se disserem que osautos são em fraude e dano deles apelados".{37}De João Bonumá colhe-se que essa preocupaçãode dar ao terceiro prejudicado um remédio contra a

fraude ou colusão dos litigantes, vem do direito romano,onde é expressa em diversos textos e se mantém nadoutrina dos praxistas reinículas com a mesma insistênciadas Ordenações.{38}Quanto ao recurso do terceiro interessado, de quecuida o legislador processual no art. 499, § 1º, tem-seque seja a medida disponível a todo aquele que nãosendo parte na relação processual, mas nela podendo

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intervir como terceiro nominado, qual o opoente, enão-nominado, qual o assistente, vê-se prejudicadopela sentença. Ora, se na mesma demanda pode verdireito seu protegido, não se justifica o ajuizamento deoutra para o mesmo fim. Esta foi a razão de ser dodispositivo. Seabra Fagundes,{39} a respeito, exerceumagistério que merece ser transcrito:"Se alguém tem interesses afetados pela sentença ese os pode defender, satisfatoriamente, na mesma37. Livro 3º, Título 78, § 1º.38. BONUMÁ, João. Direito processual civil. São Paulo:Saraiva/Academica,1946, p. 573.39. FAGUNDES, Seabra. Dos recursos ordinários em matériacível, p. 49. (p. 75)demanda em que controvertem autor e réu, não hárazão para se lhe negar essa possibilidade, obrigando-o a

maior dispêndio de tempo e dinheiro pelaintentação de demanda especial. O objetivo básicodo direito processual é a composição dos litígioscom justiça (segura apuração dos fatos com justiçae reta aplicação da lei) e comodidade (rapidez,economia, etc). A comodidade dos interesses seatende, sem prejuízo da justa composição da lide,ao permitir-se o recurso do terceiro interessado. Aointeresse de recorrer do terceiro, todavia, contrapõe-se ointeresse do autor e do réu no breve encerramento dopleito. O recurso do estranho prejudicado, que supõe, em

regra, autor e réu se hajamconformado com a sentença, reabre a demandaprocrastinando a composição da lide. Enquantopende de julgamento, perdura a incerteza em tornoda relação ajuizada, com dano para as partes principais,interessadas no ver assente a sua situaçãojurídica. O direito de recorrer reconhecido aos terceiros éassim norteado por duas consideraçõesopostas: a) a da economia do processo, que leva adistendê-lo; e b) a da comodidade dos interessadosprincipais, que induz a restringi-lo."

3 - QUANTO À PARTE QUE À OUTRA SUBSTITUIQuanto à parte que à outra substitui, da previsãogenérica dos arts. 42 e 43 do Código de Processo Civil,que prevêem a substituição em razão da alienação dacoisa ou do direito litigioso, a título particular, por atoentre vivos, ou em razão da morte de quaisquer das (p. 76)partes figurantes na relação processual, não se a pode

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confundir com a figura do substituto processual.A parte que substitui a outra por alienação dacoisa, ou por morte, é terceiro quanto ao momento deseu ingresso na relação processual - inter venire - eassume condição de parte em substituição, tanto queaquela a quem substitui deixa o processo. O substituinte,no caso, tem relação com o bem de vida emdisputa; é, pois, parte no sentido material e parte nosentido processual, desde que com capacidade de fato,mas nada pediu e em razão dele nada se pediu, por issoterceiro que ulteriormente polariza-se como parte.O que pode ocorrer é que a parte substituída, quedeixou o processo, passa à condição de terceiro nãonominadoe pode atuar na condição de assistente simples.No entanto, o substituto processual, do engenho deKohler com os avanços de Chiovenda, é aquele quedefende em juízo, em nome próprio, direito alheio e, por

isso, não obstante não tenha nenhuma relação com obem ou com a situação controvertida em disputa, é parteno sentido processual por força da lei, de legitimaçãoextraordinária. É o caso, por exemplo, do representantedo Ministério Público que deduz pretensão de anulaçãode casamento. É substituto processual, portanto parteprocessualmente, mas não está sujeito aos efeitos dasentença porque não-cônjuge do casamento anulando.Vê-se, pois, que em momento algum o substituto processual éterceiro, mas a parte que à outra substitui o é.

4 - QUANTO AOS EMBARGOS DE TERCEIROPressupõe ofensa ao patrimônio de quem não temo dever de responder pelo cumprimento de determinadaobrigação. (p. 77)No respeitante aos embargos de terceiro, afirmo oseu caráter de ambigüidade, por isso que o embargantede terceiro tanto pode agir de forma intervencional oucomo parte já preexistente na relação processual. Assim éque não se nega a condição de terceiro interveniente doembargante que não figura na relação processual base no seupólo passivo, como está expresso, inclusive, no texto

legislado do art. 1.046 do Código deProcesso Civil.No entanto, o legislador, excepcionalmente, consideraterceiro aquele que, sendo parte na relação processual nacondição de demandado, socorre-se dos embargos para livrarde gravame processual bem que porpeculiaridades jurídicas não possa por ele ser alcançado. Éo caso, por exemplo, da mulher casada, executada

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com o marido, que embarga de terceiro para livrar obem dotal da segregação. É o que se vê no § 2º do artigocitado:"Equipara-se a terceiro a parte que, posto figureno processo, defende bens que, pelo título de suaaquisição ou pela qualidade em que os possuir,não podem ser atingidos pela apreensão judicial."Não há, nesse caso, a ulterioridade comum aosterceiros estranhos à relação processual já estabelecida.Carvalho Santos, em Comentários ao Código de Processo Civilde 39, já apontava para essa figuraexcepcional de terceiro posto, que à época não haviaexpressamente tal previsão legislativa. O art. 707 daqueleestatuto tinha a seguinte redação:"Quem não for parte no feito e sofrer turbação ouesbulho em sua posse, ou direito, por efeito de (p. 78)penhora, depósito, arresto, seqüestro, venda judicial,

arrecadação, partilha ou outro ato de apreensão judicial,poderá defender seus bens, por via deembargos de terceiro."Nada mais. No volume 8 da obra citada, deixou oseguinte magistério:"Mas é certo que somente quem não for parte nofeito poderá oferecer embargos de terceiro, comoestá expressamente consignado no texto supraque comentamos; convém, todavia, acentuar a necessidade deinterpretar-se inteligentemente essepreceito legal. Justamente porque, muitas vezes, o

próprio executado pode opor-se como terceiro,com embargos, desde que os bens apreendidossejam seus, mas que, pela qualidade em que ospossui, ou pelo título de aquisição, não devamresponder pela execução."{40}Ainda sobre embargos de terceiro, colhe-se deJorge Americano, também em comentários ao Códigode Processo Civil pretérito, o seguinte magistério:"A pendência entre os litigantes não alcança aestranhos. Tal princípio, que substancialmente,exclui o terceiro dos efeitos da coisa julgada,

protege-o também processualmente dos efeitos dademanda entre as partes, se bem que não estejalivre de ver decidir depois o seu próprio direitoem modo diverso. Entretanto, não seria justo obri 40.SANTOS, J. M. de Carvalho. Comentários ao Código deProcesso Civilde 1939, v. 8, p. 169. (p. 79)gar o estranho a demandar por fora aquilo que é

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incontestavelmente seu, e que não constitui objeto dademanda, visto que ele próprio não é parte.Abrir-se-ia uma porta permanente ao conluio, agerar demandas fictícias, tendo como único fim aexecução sobre bem de terceiro, cujo único remédio seria areivindicação, com risco de não acharmais a coisa, ou de encontrá-la danificada. Nemsó nas demandas ilegítimas, como até nas legítimas poderiao devedor apontar bens de estranho,em face da ignorância do credor, com danoalheio. Dai a razão dos embargos de terceirocomo incidente processual."{41}

5 - QUANTO AO CONCURSO DE CREDORESA tendência doutrinária é no sentido de assentarque não se trata de figura intervencional, já que é daessência da formação do processo o surgimento do

credor superveniente em face do devedor comum.É certo que não é possível interpretação extensivade texto legal para se criar figuras intervencionais.Também não há possibilidade de aplicação analógica esubsidiária de institutos a casos não expressamenteprevistos. O princípio do positivismo aplica-se às regras daintervenção, sem possibilidade de ampliação, não havendo,pois, como admitir que o credor que se habilitano processo seja considerado terceiro, visto o caráter deuniversalidade que é característico da ação.{42} O tema,contudo, exige considerações.

41. AMERICANO, Jorge. Comentários ao Código de ProcessoCivil - Arts.1-290. São Paulo: Saraiva/Acadêmica. 1940. v. 1. (p. 80)Instaura-se a demanda e inicia-se o processoconcursal. Os credores são chamados a vir ao Juízo daFalência para apresentarem os seus créditos - fase dehabilitação. Dá-se aí a "imantação".Em razão da situação anômala surgida - a quebra -,os títulos representativos dos débitos do falido passampor uma análise e avaliação da sua razão de ser, do seupara que ser, e do seu como está sendo. Só depois,

analisados, avaliados e aprovados, é que são elesdeclarados hábeis para estarem no rol dos títulosrepresentativos da relação débito e crédito.Veja-se: a vinda de cada credor habilitando-se nafalência equivale, quanto aos seus efeitos, a uma açãode cobrança em face do devedor. Ora, tal vinda se deupor provocação, com antecipação, inclusive, daexigibilidade dos créditos cujos termos de vencimento

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ainda não haviam sido alcançados, e a provocação resultoude um processo: o falimentar. Então, não é possível ignorarque a vinda dos credores ao juízo da falência ocorre nocurso de um processo em andamento,portanto, presente o inter venire. Os credores foramatraídos no curso de. O habilitante é, por essa análise,interveniente. Há, por conseqüência, a intervenção.Resta agora saber se o interveniente é terceiro.Terceiro não é, não obstante asserção dissímil deCouture. Sim, sujeito de uma relação jurídica substancialque lhe autoriza a estabelecer uma relação processualincidentalmente e por força de lei. Defende direitopróprio, não compatível com o direito dos demais credores,sim concorrente, por isso que há uma universalidade de bense cada qual busca satisfazer o seu direitocom uma porção a ele proporcional.42. GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil

brasileiro. São Paulo:Saraiva, p. 134. (p. 81)

6 - QUANTO AO LITISCONSÓRCIOLitisconsórcio, de litis-cum-sors, que equivale àjunção de lides visando à mesma sorte, é o instituto quepermite mais de uma parte tanto no pólo ativo como nopólo passivo ou em ambos da relação processual. Suarazão de ser, como sói acontecer nas figurasintervencionais, reside na economia processual (tempoe custo) e no propósito de evitar decisões conflitantes, a

par de razões sociológicas. Quanto às suas modalidades,pode ele ser ativo, quando se dá no pólo ativo darelação processual; passivo, quando se dá no pólo passivoda mesma relação; misto, quando se dá nos doispólos concomitantemente; originário ou ulterior, desdeque se forme na instauração da demanda ou após ainstauração; simples ou uniforme, desde que a sentençaproferida em casos de litisconsorciação decidadiferentemente para um ou mais de um dos litisconsortes oupara todos igualmente; e pode ainda ser necessário oufacultativo: necessário, quando a sua formação se torna

imprescindível à vida do processo, ou seja, caso não seforme, a menos que suprida a presença do sujeito porato do juiz, o processo não pode prosperar; e facultativo,quando prescindível a sua formação.Questão de relevo, na prática, tem sido saber atéque momento processual pode formar-se a litisconsorciaçãofacultativa. Sou do entendimento de que elasomente se pode formar no momento da instauração da

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demanda, quer dizer, ou todos os sujeitos se apresentam dejá como autores em face do demandado oudemandados, ou, então, somente lhes restará o institutoda assistência litisconsorcial disponível e utilizáveldurante todo o curso do processo.As figuras não-nominadas serão minudentementeabordadas em outro trabalho. (p. 82)

Capítulo III - PARTE

1 - COMPREENSÃO DO TEMASó se compreende o que seja terceiro se estiverbem firmada a compreensão do que seja parte, impondo-se, emrazão disso, um estudo mais acurado a seurespeito. Lopes da Costa deu ênfase à importância doconceito de parte no processo, acrescentando à teoriaa sua repercussão prática na identificação da

litispendência, da conexidade subjetiva de causas, doterceiro, daquele que pode prestar depoimento pessoal,daquele que pode ser testemunha e daquele que poderecorrer.

2 - ASPECTO HISTÓRICOImpossível a compreensão de qualquer figura ouinstituto do direito sem a perquirição do seu ser, ou doque é; da sua relação com o homem, ou sujeito; da suaorigem e do seu fim, ou para que é. Tomando por baseesses quatro elementos é que melhor se compreenderá

o que significa ser parte, e não só isso, mas, também, osignificado maior do processo como instrumento desolução de conflitos. Toda atividade cognitiva, no caso,resulta no esforço da compreensão da relação do insti- (p.83)tuto (parte) com o sujeito (homem), dos seus aspectosontológico, teleológico e pragmático.No meu entender, a noção de parte é própria dogênero humano desde que o homem passou a lavrar aterra de que fora tomado, e está fincada na sua imperiosanatureza socializante. Por esse ângulo, parte e homem são

dois termos lingüísticos que designam, então,o mesmo, quer dizer, "parte" designa o ser humano emnível conceitual, é uma categoria de análise da ciênciajurídica atual, enquanto o termo "homem" designa oser humano em nível concreto, o homem na sua vida,com seus interesses e conflitos. É, pois, da naturezasocializante do homem, que resultam os conflitosintersubjetivos de interesses exigentes de soluções pelo

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"julgador", desde que os sujeitos neles envolvidos nãoas tenham alcançado. Tal natureza socializante subentendeuma interdependência entre homens, mas não asolidariedade, já que esta foi própria do homemnãotemporal. A partir do momento que se tornou um sertemporal e, com isto, um ser de conflito, a purasolidariedade cedeu lugar às relações competitivas, uma vezque passou a viver disputando os bens da vida com oseu próprio semelhante, sendo a própria vida o primeiro dosbens de sua maior disputa. A vida é, sim, o bemmaior, e todos os elementos que se somam para a suapreservação são, de igual modo, bens. Bem é, por conclusão,o que é útil à realização do ideal de vida nosplanos imediatos, mediatos, materiais e imateriais, ou oque tem um fim em si mesmo - a própria vida.A caça, a pesca, a raiz, na posse do homem primitivo, erambens materiais consumíveis. A luta por eles,

a ponto de, se necessário fosse, matar o seu semelhante,decorria, não de qualquer conceito de valor que se lhes (p.84)podia emprestar, mas sim do quanto signicavam deindispensáveis à vida. O valor era tanto maior ou menorconforme o reclame de sua própria necessidade. A busca dasatisfação de suas necessidades vitais faziam-noconflitar (processo rudimentar do seu tempo) seobstaculizado fosse. Tem-se, então, que, do ângulohistoricista e da antropologia filosófica e jurídica, ohomem, mesmo o da sociedade primitiva sem Estado,

viveu, naturalmente, conduta de parte em nível de relaçãomaterial com determinados tipos de bens e, outrossim,processual, mesmo que à época, em razão de suacultura, não os identificasse como tais. Não havia Estado,não havia jurisdição. Havia uma sociedade naturalestabelecida, enquanto cada qual não era senhor oupossuidor de nada, a não ser em razão e nos limites dasatisfação de suas necessidades vitais. O elemento móvel,no princípio, era a necessidade de sobrevivência.Não existia, é óbvio, a parte como hoje existe: sujeitode uma relação processual cientificamente construída.

Era, sim, um modelo rudimentar que se trabalhava emum processo de aculturamento que só o tempo aclaroue aperfeiçoou. Não há presente sem passado, nem futuro sempresente, tudo se liga à história pelos elos dosdias que se passam.Resulta do que se vê que, no estudo do tema e dosdemais institutos e figuras comuns da ciência do direito,não é possível desassociar o homem primitivo do

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homem hodierno; "os primitivos são, incontroversamente,nossos contemporâneos" (Frédéric Rognon),pois que só do cotejo de ambos é que se conhecerá amedida de evolução do assunto a que se propõe conhecer.Disse-o bem, doutra ótica, Robert Redfield, aoapontar a íntima relação entre as sociedades pequenas e (p.85)simples e as sociedades modernas. Daí não ser molestoao estudioso quando busca na história as amarras dosinstitutos da ciência do direito, portanto, com acertoOrtolan: "Todo historiador deveria ser jurisconsulto,todo jurisconsulto deveria ser historiador."Reafirma-se, pois, que a figura da parte nas relações derepercussão "jurídica" é tão anosa quanto ohomem, mesmo que, repito, no início, não existisseconceituação do direito, do justo, do eqüitativo(Aristóteles), pouco importando de quando a sua (do

homem) existência, quer seja conforme os cálculos deMortillet, de Pericot, ou mesmo até conforme os cálculosbíblicos baseados na antiga cronologia judaica, osquais admito:"Mortillet calCuló que el origen de la Humanidadse remontaba a 230.000 ó 240.000 años, pero setiene por más acertado el Criterio de quienes loevalúan en cifras mucho mayores. Según la másmoderna Geocronologia, este último períodointerglaciar debió durar unos 60.000 años. Eldocto prehisriador Prof Pericot afirmó en su discurso de

ingreso en la Real Academia de BuenasLetras de Barcelona Grandeza y Miseria de laPrehistoria que "...en todo caso hoy, no puedepostularse para el hombre una antigüedad sobrela Tierra menor de medio millón de años". Estoscálculos, basados en la ciencia geológica, no sonopuestos a la Revelación, pues la Biblia no citafecha fija de la aparición del hombre. Noobstante, algunos comentaristas han pretendidoarbitrariamente señalar fechas fijas, siempre diferentes, ynotoriamente inferiores a las que (p. 86)

permiten calcular los modernos conocimientosgeológicos. En la antigua cronología judía seencuentran datos sobre el tiempo de Adán, peroevidentemente certos y consíderablemente dispares en lostextos hebreo, samaritano y griego,como vemos a continuación:Hebreo - Samaritano - Versión de los SetentaDe Adán al Diluvio - 1.656 - 1.307 - 2.242

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Del Diluvio a Abraham - 2.044 - 2.044 - 2.044De Adán a Jesús - 3.992 - 4.293 - 5.228Tales fechas carecen de autoridad dogmática y deprecisión cientifica."{43}Conquanto seja de interesse a fixação do tempode existência do homem, não constitui matéria de relevopara compreensão do tema; o importante é a suaconduta sempre voltada a proteger os bens da sua maisestreita relação, fazendo transparecer, desde o início, oexercício de "direito" individual "substancial" e"processual" não-normatizado que o identificava como parte.De sua conduta, pois, ressalta uma relação de direito, cujobem maior, imaterial, sempre foi a sua própriavida, não obstante comumente tenha-se a liberdadecomo bem maior. Agora, porém, embora vida e liberdadepossam obviamente ser discerníveis uma da outra e43. PENA, José I Ansian. Panorama histórico de la humanidad

- Loshombres, los hechos y las ideias. Barcelona, 1951, p. 9-10.(p. 87)sejam passíveis de opção e valoração, seu entrelaçamento éde tal monta, a ponto de se extraírem cincopossíveis níveis de significação, senão vejamos:a) a vida é, a rigor, o primeiro dos bens a serdefendido pelo homem, nela compreendendo a liberdade etodos os demais bens;b) a liberdade secunda a vida em nível de valoraçãocomo bem;

c) não se pode falar naquela sem que haja esta;d) por isso a noção que dela se tem é no sentido decomplementação;e) pode-se estabelecer o binômio vida-liberdadecomo, em escala valorativa, os dois maiores bens doanseio do homem.As formas ou modos de preservá-la têm variadoao longo da história do homem em sociedade; o quepermanece invariante, e é disso que se trata aqui relevar,é que sempre existiram modos ou formas de preservação, quevêm a ser precisamente o próprio exercício

da condição de parte. Em qualquer ponto da históriahumana, cada sujeito do conflito reunia, então, trêscondições: parte da relação de direito material, parte darelação de direito processual e juiz, prevalecendo, nofim, o mais forte. Trata-se de um ângulo rudimentarpróprio dos primórdios da história humana, tempo daautotutela, da autodefesa, em que o "direito e a justiça"operavam em níveis bem elementares, despidos de um

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aparato lógico e conceitual. Tempo seguido pelos tempos doschefes, dominadores, reis, que precederam osurgimento do Estado. Vivia-se, para usar das expressões deJean Carbonnier, uma espécie de petit droit, já (p. 88)que tudo se dava em função de regras essenciais àordem e à vida em grupo, distinto, assim, do granddroit, que decorria das leis e instituições estabelecidas,ao depois, pelo Estado.Gerhard Lenski{44} vem ao encontro dessa idéiaquando diz que as sociedades humanas viveram fasesde vida sem Estado e com Estado: numa primeira fase,formando-se as sociedades de caçadores e coletores,sociedades de horticultura simples, bem como sociedadespastoriais e de pescadores; numa segunda fase,formando-se as sociedades de horticultura avançada,sociedades agrárias, sociedades industriais, marítimase mistas, em cujo seio firmaram-se as instituições.

O Estado emergente e fortalecido, após as sociedadessimples, é figura controvertida relativamente àsua necessidade para gerir o comportamento em sociedade eao seu caráter estruturante. Na lição de ThomasHobbes, por exemplo, é o elemento necessário paragarantir a ordem social. Já a antropologia modernaprova a existência de muitas sociedades sem Estado,sem leis escritas, sem poder burocrático e que subsistem(os esquimós, por exemplo).Os grandes sociólogos do Direito, Eugen Ehrlich,Willeim Aubert e Jean Carbonnier, chegaram a sustentar

que a maior parte da interação e comportamentos sociaisocorrem sem ação direta alguma do Estado: "O Estadonão é pois nem lógica nem historicamente necessáriopara o estabelecimento e articulação das formas ou modos deinteração entre os homens". Não é este o meuentendimento, mas o de que, desde que definido o Esta 44.LENSKI, Gerhard. Power and privilege - A theory of socialstrafication.1966, p. 92. (p. 89)do, criado inclusive em razão do homem, passou-se aexercitar a justiça legal e a distributiva, sem, contudo,

anular a comutativa. A primeira, do homem para o Estado, asegunda, do Estado com o homem, e a terceira, dohomem para com o próprio homem.No Estado, pois, em razão das exigências do povo,estão as instituições que fazem as leis, ditas normasprimárias, que têm como fim o homem e a sua segurançajurídica, e as instituições que aplicam as leis, as sanções,cujo fim, de algum modo, é o mesmo homem.{45}

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Para Chambliss,{46} forças sociais, políticas e pessoaisexigem as instituições que fazem as leis, que são asnormas, bem como exigem as instituições que aplicamas leis, que são as sanções, e o fim comum é o homem.Rastreando na história a existência da parte, tomemos porcaso o Deuteronômio, quinto livro doPentateuco da Bíblia Sagrada, apontado pelos historiadoresdo Processo Civil como uma das principais fontes históricasdo Direito. Neste livro encontramos ummodo ou forma paradigmática de preservação davidaliberdade, portanto, um exercício modelar da condiçãode parte, pois a condição de parte está expressamenteestabelecida quando Moisés, relatando o que o SenhorDeus lhe havia determinado, disse ao povo:"Tomei, pois, os cabeças de vossas tribos, homenssábios e experimentados, e os fiz cabeças sobrevós, chefes de milhares, chefes de cem, chefes de

cinqüenta, chefes de dez, e oficiais, segundo asvossas tribos. Nesse mesmo tempo ordenei a vossos juízes,dizendo: Ouvi a causa entre vossos45. Cf. KELSEN, Hans. General theory of law and State.46. CHAMBLISS. Law, order and power, 1971. (p. 90)irmãos (partes), e julgai justamente entre o homem (parte)e seu irmão (parte), ou entre o estrangeiro (parte) queestá com ele. Não sereis parciaisno juízo (parte desinteressada), ouvireis assim opequeno (parte) como o grande (parte); nãotemereis a face de ninguém (parte), porque o juízo

é de Deus; porém a causa que vos for demasiadamente diffcilfareis vir a mim, e eu a ouvirei."{47}O estabelecimento das chamadas "cidades de refúgio" é outroexemplo, decorrente da previsão genérica feita acerca dohomem na Gondição de parte envolvida em uma situação deconflito no plano exclusivamente criminal. Três cidadeseram separadas para acolhertodo homem que não intencionalmente tirasse a vida deoutrem. Eram cidades de proteção ao homicidaculposo, já que nelas ele era livre da vingança dosoutros homens. Jáo homicida doloso, o que praticava o

crime intencionalmente, não gozava da mesma regalia,pelo contrário, era entregue nas mãos dos seus vingadorespara que fosse morto. Tanto numa como noutrasituação, verifica-se a identificação do homem comoparte de situação conflitada. O texto normativo tem aseguinte redação:"Três cidades separarás no meio da tua terra, quete dará o Senhor teu Deus para a possuíres. Preparar-te-ás

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o caminho, e os termos da tua terra, quete fará possuir o Senhor teu Deus, dividirás emtrês; e isto será para que nelas se acolha todohomicida. Este é o caso tocante ao homicida que47. BÍBLIA sagrada. Deuteronôrnio, 1:15-17. (p. 91)nelas se acolher, para que viva: aquele que sem oquerer ferir o seu próximo, a quem não aborreciaantes (homicida culposo). Mas, havendo alguémque aborrece a seu próximo, e lhe arma ciladas, ese levanta contra ele, e o fere de golpe mortal, e seacolhe a uma destas cidades, os anciãos da suacidade enviarão a tirá-lo dali, e a entregá-lo namão do vingador do sangue, para que morra (homicidadoloso)."{48}Ainda tomando a mesma fonte em outro momento da vida dopovo hebreu, tem-se no Rei Salomão umoutro exemplar. O Rei Salomão ante duas mulheres,

estas manifestamente na condição de parte, que foram àsua presença, porque como monarca reunia também acondição de juiz, para colocarem as suas pretensões emrazão de conflito surgido entre ambas, em que o bem daconflituação era uma criança. No primeiro livro dosReis tem-se o fato minudentemente narrado:"Então vieram duas prostitutas ao rei, e se puseram peranteele. Disse-lhe uma das mulheres: Ah!senhor meu, eu e esta mulher moramos na mesmacasa, onde dei à luz um filho. No terceiro diadepois do meu parto, também esta mulher teve

um filho. Estávamos juntas; nenhuma outra pessoa se achavaconosco na casa, somente nósambas estávamos ali. De noite morreu o filhodesta mulher, porquanto se deitara sobre ele. Levantou-se àmeia-noite, e, enquanto dormia a tuaserva, tirou-me a meu filho do meu lado, e odeitou nos seus braços; e a seu filho morto deitou 48.BÍBLIA sagrada. Deuteronômio, 19: 2-4 e 11-12. (p. 92)o nos meus. Levantando-me de madrugada paradar de mamar a meu filho, eis que estava morto;mas, reparando nele pela manhã, eis que não era o

filho que eu dera a luz. Então disse a outra mulher: não,mas o vivo é meu filho, o teu é o morto.Porém esta disse: não, o morto é teu filho, o meu éo vivo. Assim falaram perante o rei. Então disse orei: esta diz: este que vive é meu filho, e teu filho éo morto; e esta outra diz: não, o morto é teu filho,o meu filho é o vivo. Disse mais o rei: trazei-meuma espada. Trouxeram uma espada diante do rei.

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Disse o rei: dividi em duas partes o menino vivo,e dai metade a uma, e metade a outra. Então amulher, cujo filho era vivo, falou ao rei (porque oamor materno se aguçou por seu filho), e disse:ah! senhor meu, dai-lhe o menino vivo, e pormodo nenhum o mateis. Porém a outra dizia: nemmeu nem teu; seja dividido. Então respondeu orei: dai à primeira o menino vivo; não o mateis,porque esta é a sua mãe."{49}No plano exclusivamente científico, a decisãode Salomão está fundada no princípio da igualdadeabsoluta.Ainda sobre legislação de povos antigos, no propósito deidentificar a figura da parte em seus textos,tem-se o Código de Hamurábi, que sucedeu às leis epreceitos de Urukagina de Lagas, que também sucedeuao "Código" de Lipit-ISTAR de ISIN (1875-1865 a.C.);

que ainda sucedeu à "Coleção de Leis" do Rei UrNammu (deaproximadamente 2050-2032 a.C.); e, por49. BÍBLIA sagrada. I Reis, 3:16-27. (p. 93)fim, sucedeu ao "Código" do Rei Bilalama de Esnunna,que reinou no século XIX a.C., que aponta o awilum,como sujeito de direito e em condições de exercício domesmo, e que W. Rollig, citado por E. Bouzon, em OCódigo de Hamurábi, 1975, define como "o homemlivre, o cidadão em pleno gozo de seus direitos".A par dos povos do Oriente Antigo, cujas culturasincluem o sistema legislativo que lhes é próprio e que

tiveram como móvel o homem e sua relação com asdivindades, surgem os povos do Ocidente, de culturasavessas, umas mais outras menos, aos elementos místicos,metafísicos, teocráticos, tipo as vertentes positivistas,empiristas, racionalistas, quando então passou-se adar menos valor às coisas etéreas para se viver umarealidade mais palpável, de modo que se abriu espaçopara se começar a vislumbrar as linhas divisórias dodireito, da moral e da religião, passando-se, pois, atecer as estruturas conceituais dos institutos que maistarde vieram a ser conhecidos. É neste jogo de relações

conceituais e experienciais, multiformes, que a noçãode parte vai sendo perfilada conforme os interessespróprios a cada povo e época.A Lei das XII Tábuas, por exemplo, obra de doistempos, primeiro dez e depois duas, do período inicialdo processo civil romano, o das legis actiones, de 754 a149 a. C, resultou da necessidade de resolver conflitosde classes em Roma, por isso que os plebeus se julgavam

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prejudicados nos seus direitos ante os patrícios.Terentilio Arsa, o tribuno que propôs a sua criação,Postúmio, Mânlio, Sulpício, integrantes do triunviratopresidido por Apio Cláudio e que se encarregaram desua elaboração, além do grego Hermodoro, se notabilizaramcom o trabalho que desenvolveram. Não se pode (p. 94)olvidar, contudo, da colaboração helenística emprestada porSólon na conclusão da obra, uma vez que, poraquele tempo, já emergia, mesmo que de formaincipiente, o reconhecimento da importância do DireitoComparado, que séculos e séculos depois (1869), veioa eclodir na França com a criação da Sociedade deLegislação Comparada, e na Inglaterra, em Oxford,com a criação da cadeira de Direito Comparado,nominada de Historical and Comparative Jurisprudence,confiada ao Sir Henry Summer Maine, enquanto que,na Bélgica, no mesmo ano, fundava-se a Revue de Droit

International et de Droit Comparé.{50}A Lei das XII Tábuas surgiu para proteger osdireitos que estavam sendo postergados, dos plebeus,portanto, partes de relação de direito material.É do ângulo exclusivamente processual, ainda entre osromanos, de onde surgiu o Direito Processual Civilcom os contornos hodiernos de direito publicista, o sujeitono exercício da in ius vocatio, do igitur in capito edo abtorto collo, agia como parte de uma relação processualem nível de justiça privada. Período da realezaromana em que se assentou a primeira fase do seu processo

civil denominada legis actiones (ações da lei), de754 até 149 a. C., seguido do período per formulas, de149 a.C. a 342 d. C., também de justiça privada, e períododa cognitio extraordinaria, de 342 d.C. em diante,quando se iniciou a justiça pública.Admite-se que Thomasius, do Iluminismo do seculo XVII,tenha sido o precursor da distinção entredireito e moral, cuja idéia foi desenvolvida, posterior 50.Cf. ANCEL, Marc. Utilidade e métodos do direito comparado.Trad.Sérgio José Porto. (p. 95)

mente, por Immanuel Kant. O ponto central da diferenciaçãoresidiu, precisamente, na coercitividade do direito e nanão-coercitividade da moral.A noção de parte "nas relações jurídicas materiais eprocessuais" aperfeiçoou-se ao longo do tempo,deixando para traz o homem como parte de uma "relaçãoprocessual" em que sofria os juízos das divindades, ochamado tempo das Ordálias, e o tempo da

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justiça com as próprias mãos, os quais compreenderam osperíodos primitivo do direito e o período primitivo dodireito romano e do direito romanobarbárico, até alcançar o judicialista, seguido do práticoe do procedimentalista, e chegar ao processualismocientífico ou período moderno.O avanço cultural das conceituações dos elementossubjetivos do processo fez com que, após a RevoluçãoFrancesa, quando do Code de Procédure Civile, deNapoleão Bonaparte, de 10 de janeiro de 1807, a noçãode parte resultasse mais de uma reflexão científica doque da vontade consciente, do querer, já que se inauguravaa fase dita procedimentalista, de origens política(Revolução Francesa) e jurídica, que deixava no tempo,com reflexos inegáveis no futuro, além das legislaçõesantigas, os pós-glosadores, os glosadores, o processoromano-barbárico, além dos três primeiros períodos do

mais anoso processo civil romano, o das legis actiones,o das perfórmulas e o da extraordinaria cognitio.O processualismo científico do século XIX, quesucedeu ao procedimentalismo, por exemplo, teve emJosef Kohler o ensino de que o processo tratava de umarelação jurídica entre partes e que nela o juiz não tinhanenhum interesse. Os limites entre parte interessada eparte desinteressada se aclaravam. (p. 96)Hoje, quando se estuda o tema, cuida-se de distinguir eseparar, de pronto, a parte da relação de direitoque é conferido ao indivíduo - da ordem do direito

privado -, da relação de direito que é reconhecido aoindivíduo - da ordem do direito público -, por issosubjetivo público. Deste resulta a ação e o processo queo instrumentaliza. Neste, sobressaem como seus elementossubjetivos o juiz, como parte desinteressada, eos protagonistas da situação conflitada, como partesinteressadas. Para alguns, ao juiz toca determinada medidade interesse no processo, desde que se saiba do seupropósito de pôr fim à demanda com o exercício do seutrabalho cognitivo que se materializa e se consuma nasentença. Na verdade não o é. O interesse dito aqui é o

que decorre da relação com o bem de vida em disputaou, então, de determinação legal. O que há, no concernenteao juiz no processo, é mais dever, em razão dafunção, que interesse. É o dever de uma prestaçãojurisdicional célere; é o dever de dispensar tratamentoigual às partes; é o dever de defender a jurisdição.Pode-se dizer que o seu interesse está na ordem socialque dos seus atos resulta; nela está a medida de

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legitimidade dos seus juízos.O que convém, pois, ao caso, são as partes interessadas.Diz-se parte da lide aquela que tem relaçãocom o bem de vida em disputa, portanto aquela sobre aqual hão de recair os efeitos da sentença. Diz-se partedo processo aquela que figura na relação processualcom ou sem vínculo com o bem de vida objeto dacontroversão. A última hipótese é comum da susbtituiçãoprocessual. Carnelutti diz que uma lide, postoque um conflito intersubjetivo de interesses, temnecessariamente dois sujeitos e cada um deles toma o nomede parte. Convém-nos defini-la. (p. 97)É pródiga a distinção de conceitos dosdoutrinadores nas diversas fases da história do ProcessoCivil. Tomemos dos praxistas as seguintes definições:Pereira e Souza disse que autor é a pessoa quepede em juízo que se lhe dê, ou faça alguma coisa, ou

que se lhe julgue algum direito.{51}Teixeira de Freitas, adaptando ao Foro do Brasilas Primeiras Linhas de Pereira e Souza, foi mais sucinto,sem, contudo, deixar de adentrar-se em minudênciasque os demais praxistas não perceberam. Ao definirautor, disse-o nos seguintes termos: "Autor, não tratando-se de autoria, é a pessoa do Juízo, que nelle figúrademandando". Em matéria de autoria, autor é o que échamado a juízo para tomar a defesa da ação.{52}Lobão{53} cuidou mais da definição de autor nojuízo recíproco, por isso que dele se colhe que "no juízo

da manutenção um e outro litigante são mútua erespectivamente A. e R., ainda que quanto a ordem se reputaA. o que primeiro veio a juízo."Barão de Ramalho, seguindo Lobão,{54} inclui nasua definição de autor a noção de litigantes recíprocos,nos seguintes termos:"Diz-se autor aquelle que comparece em juízopedindo que se declare um direito contestado.Nos juízos recíprocos, assim como no da manu 51. PEREIRA ESOUZA. Primeiras linhas sobre o processo civil. Lisboa,1858, Cap. 3, t. I, § 40, p. 28.

52. PEREIRA E SOUZA. Primeiras linhas sobre o processocivil, acomodadas ao fôro do Brasil, 1907, Cap. 3, § 32, p.31.53. LOBÃO. Segundas linhas sobre o processo civil. 1868,Cap. 3, parte 1,nota 89.54. RAMALHO, Barão de. Praxe brasileira, 1904, Cap. 3, §42, p. 56. (p. 98)

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tenção, familiae ercisciundae de contas e outras,ambos os litigantes são mutuamente autores eréus; e por isso aquelle que primeiro veiu a juízo,não obstante conservar o nome de autor, póde sercondenado independente de reconvenção."João Monteiro{55} diz: "Chama-se auctor aquelleque, por meio de acção, pede que se lhe reconheça umdireito."João Mendes de Almeida Júnior,{56} não dessemelhante, dizque "autor (de actore agens) é a pessoa quepede em juízo que se lhe dê ou faça alguma coisa, ouque se lhe julgue algum direito."Liebman{57} diz da distinção que há, no CódigoCivil italiano, entre a capacidade jurídica e a capacidadede obrar:"La capacidad jurídica es la idoneidad para sersujeto de derecho: a ella corresponde lógicamente

la idoneidad para ser parte en un proceso(capacidad para ser parte) la cual corresponde atodas as personas físicas y jurídicas y además aalgunas colectividades organizadas y patrimoniosautónomos, si bien a ellos la ley no les reconozcala verdadera personalidad jurídica: lasasociaciones no reconocidas [...], los comités desocorro o de beneficencia o promotores de obraspúblicas o de festejos [...], la herencia yacente [...],el condominio de edificios [...], las sociedadescomerciales aun carentes de personalidad jurídica, la

quiebra, etc."55. MONTEIRO, João. Processo civil e comercial, 1925, p.209.56. ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. Direito judiciáriobrasileiro, p. 94.57. LIEBMAN. Manual..., cit., p. 67. (p. 99)"La capacidad de obrar consiste en ellibreejercicio de los propios derechos y, porconsiguiente, en la capacidad de realizar actosjurídicos [...]: a ella corresponde la capacidadprocesal, o sea, la capacidad de estar en juicio

por sí y de cumplir válidamente los actosprocesales; y corresponde a las personas quetienen el libre ejercicio de los derechos y, por eso,a todas as personas físicas que han alcanzado lamayoredad....""La capacidad procesal es una cualidad intrínseca, natural,de la persona; a ella corresponde, enel plano jurídico, la posibilidad de ejercitar

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válidamente los derechos procesales inherentes ala persona. Esta posibilidad se llama, según unaantigua terminologia, legitimación formal(legitimatio ad procesum) que no debeconfundirse con la legitimatio ad causam, que esla legitimación para accionar"Hugo Alsina{58} ensina:"En todo proceso intervienen dos partes: una quepretende en nombre propio o en cuyo nombre sepretende la actuación de una norma legal, por locual se le lama actora, y otra frente a la cual esa58. ALSINA, Hugo. Tratado teórico práctico de derechoprocesal civil ycomercial, 1963, t. 1, p. 471-472. (p. 100)actuación es exigida, por lo que se le llama demandada."De Leo Rosenberg{59} extrai-se o ensino de que"partes en el proceso civil son aquellas personas

que solitan y contra las que se solicita, en nombrepropio, la tutela jurídica estatal, en particular lasentencia y la ejecución forzosa. Este conceptodel derecho procesal alemán (único decisivo) esindependiente de la estructura del derecho material y de laposición jurídica extraprocesal de losinteressados. Porque no se es parte en el procesocivil como titular de la relación jurídica controvertida,sino actor es quien afirma el derecho(material); y demandado, aquel contra quien selo hace valer Para la posición de parte procesal

no tiene importancia si el actor es el poseedor delderecho y si el demandado es el verdaderoobligado o afectado. Muchas veces, de acuerdocon el derecho material, están facultados para lagestión procesal y son partes personas distintasde los portadores del derecho o de la relaciónjurídica controvertidos"."Para la eficaz gestión del proceso deben tenerlas partes las siguientes cualidades: 1. lacapacidad de parte; es decir, la capacidad jurídi 59.ROSENBERG, Leo. Tratado de derecho procesal civil. Trad. de

AngelaRomera Vera. Buenos Aires: Ejea, 1955, t. 1, p. 211, 219.(p. 101)ca procesal; 2. la capacidad procesal; es decir, lacapacidad de actuación procesal; 3. la capacidadde postulación; es decir, la capacidad para dar ala actuación procesal la forma jurídicamente importante."Adolfo Schönke, por seu turno, define partes como

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"las personas por las cuales o contra las cuales sepide en nombre propio la tutela jurídica. Las partes son,por regla general, al mismo tiempo lossujetos del derecho o deber discutidos, mastambién puede un tercero estar facultado para seguir ennombre propio un proceso sobre relacionesjurídicas ajenas; así, por ejemplo, el marido sobrebienes aportados por la mujer al matrimonio. Eneste caso, el tercero será parte. El concepto departe es, en consecuencia, meramente formal; y nonecesita coincidir con la titularidad de la relaciónjurídica controvertida".{60}Até aqui, tem-se feito maior referência à partepessoa física, natural; ocorre, contudo, que existemtambém as pessoas jurídicas, ou "corpos morais", aosquais reconhece-se existência especial, com personalidadejurídica. Como se trata de corpos exclusivamente

morais, impõe-se conhecer como estes far-se-ãopresentados em juízo, uma vez que, de naturezaimaterial, são também capazes de direitos e de obrigações,portanto, passíveis de estarem envolvidos, como60. SCHÖNKE, Adolfo. Derecho procesal civil. Traducciónespaiiola de laquinta edición alemana. Barcelona: Bosch, 1950, p. 85. (p.102)sói acontecer com as pessoas físicas, em conflitosintersubjetivos de interesses.No caso das pessoas jurídicas, dos "corpos morais", a

atuação em juízo se dá não de forma tão simplescomo a das pessoas físicas, mas, sim, de forma maiscomplexa; por isso que, em dados casos, não bastareunir as condições de ação, quais o interesse, alegitimidade e a possibilidade jurídica do pedido, mas,também, exige-se a deliberação ou autorização necessáriade uma assembléia, de um conselho, ou de quem, individualou pluramemente, tenha poderes para deliberarou autorizar, a par das deliberações ou autorizações jáconstantes em contratos, estatutos, regimentos e leis.Assim é que o nosso ordenamento processual civil, portanto,

no plano da legalidade, já assentou que aUnião, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios,serão representados em juízo, ativa e passivamente, porseus Procuradores; o Município, por seu Prefeito ouprocurador; a massa falida, pelo síndico; a herançajacente ou vacante, por seu curador; o espólio, peloinventariante; as pessoas jurídicas, por quem osrespectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por

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seus diretores; as sociedades sem personalidade jurídica,pela pessoa a quem couber a administração dos seusbens; a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente,representante ou administrador de sua filial, agência ousucursal aberta ou instalada no Brasil; o condomínio, peloadministrador ou pelo síndico (art. 12, CPC).

3 - O CONCEITO DE PARTE DO AUTORParte é todo aquele que (por si ou por outrem),designada e determinadamente, originária ou ulterior- (p.103)mente, figura na relação processual contenciosa, querno pólo ativo, quer no pólo passivo, com ou sem interesse elegitimidade.

3.1 - Explicitação do conceitoParte é todo aquele...

Parte é todo aquele que esteja no gozo e em condições deexercício dos direitos comuns do homem, ou,não estando em condições de exercício, esteja com estacapacidade suprida por quaisquer das modalidades previstasem lei. Pretende-se aqui distinguir o sentido decapacidade de direito ou gozo de direito da capacidadedo seu exercício ou capacidade de fato, e como se dãosuas interações no plano processual contencioso. Afiguração da parte na relação processual contenciosaconsiste de dois elementos, um elemento invariante, ogozo de direitos, e o elemento variável, a capacidade de

exercício de direitos. O gozo de direitos é comum daespécie humana; ter capacidade para adquiri-los todohomem a tem, inclusive o amental. Este elementoinvariante não é, no momento, problematizável, demodo que impende nele nos determos. Já o exercício dedireitos, por sua vez, que significa ter capacidade paraexercitar os direitos adquiridos, nem todo homem otem; este elemento variável, a contrario sensu, impõe aproblematização.No elemento variável são distinguíveis trêsgradações: capacidade plena, incapacidade relativa e

incapacidade absoluta. A capacidade plena é o resultado dasomatória da capacidade de gozo (elementoinvariante) e de fato são dois elementos positivos. A (p.104)incapacidade relativa é o resultado da somatória dacapacidade de gozo (elemento invariante) e parte dacapacidade de fato, um elemento positivo e outro negativoem parte, porque atesta a sua inexistência em medida. A

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incapacidade absoluta é o resultado dasomatória da capacidade de gozo (elemento invariante)e o todo da capacidade de fato, um elemento positivo eoutro negativo no todo, porque atesta a sua totalinexistência.O elemento invariante da capacidade plena é próprio dogênero humano. A capacidade de fato que lhe éconcernente resulta de fato natural, da cronologia dohomem, do seu tempo, por isso se dá, por força da lei,aos 21 anos; ou resulta de atos de vontade, quais aconcessão do pai, ou, se for morto, da mãe, e porsentença do juiz, do casamento, do exercício de empregopúblico efetivo, da colação de grau científico emcurso de ensino superior e do estabelecimento civil oucomercial, com economia própria (art. 9º, I a V, doCódigo Civil).O elemento invariante da incapacidade relativa,

de igual modo, é próprio do gênero humano. A incapacidadede fato que lhe é concernente, a turno seu, existeem certa medida e resulta de fato natural, qual seja: ocronológico (mais que 16 anos e menos que 21); resultaainda de um fator sociocultural anômalo (prodigalidade) ede um fator sociocultural (silvícula não adaptadoà civilização, do país).O elemento invariante da incapacidade absoluta,por fim, é, também, próprio do gênero humano. Aincapacidade de fato que lhe é concernente e de medidatotalitária, resulta de fato natural cronológico (menor

de 16 anos), de tipos patológicos (loucos de todo o (p. 105)gênero), de situações anômalas (surdos-mudos que nãopuderem exprimir a sua vontade), e de elementocircunstancial (a ausência).No processo, como parte, o sujeito plenamentecapaz se faz presentado por si só. O relativamente incapaz,por si e acompanhado por quem houver de assistilo,exclusive nas situações concernentes a atos ilícitosem que for culpado, posto que nestas é ele equiparadoao plenamente capaz, prescindindo, pois, de assistente(art. 156 do CC). O absolutamente incapaz não se faz

presente por si, mas unicamente por representante seu.... que, designada e determinadamente, originária ouulteriormente...Bem, vista a amplitude da expressão "todo aquele", dadefinição que se cuida, impõe-se a compreensãoda extensão do significado dos termos designada edeterminadamente, originária ou ulteriormente.Quanto aos dois primeiros, designada e determinadamente,

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Leo Rosenberg deixou salutar assertiva nosentido de que "as partes devem sempre ser determinadas edesignadas individualmente. Não é possível umprocesso a favor ou contra um "desconhecido" ou de"quem corresponda"; uma demanda assim estabelecidadeve ser rejeitada por improcedente".{61}Quanto aos dois seguintes, originária ou ulteriormente, éde se ressaltar que a parte é a razão ontológicae teleológica do processo, por ela o processo se inicia eem razão dela se consuma. Aquela, então, que deduz a61. ROSENBERG, Leo. Op. cit., p. 220. (p. 106)pretensão inicial e aquela em face de quem se deduzsão consideradas partes originárias. É originária, ainda,aquela que, mesmo não figurando na polarização ativaou passiva, se junta à preexistente que lhe écorrespondente, em aditamento corretivo à inicial ou àresposta

por se tratar de litisconsorciação necessária olvidada. Éulterior àquela que se insere em quaisquer dos pólos darelação processual após deduzida a pretensão e mesmoapós instaurada a lide com a resposta, seja porlitisconsorciação facultativa uniforme, por aquisição dobem objeto do conflito, por denunciação da lide, poroposição, pelo chamamento ao processo, por nomeação àautoria, ou seja até mesmo por qualquer outromeio processualmente permitido em razão de interessesdecorrentes da situação jurídica conflitada. Por issonão é de todo aceitável afirmar que parte é o que pede e

aquele em face de quem se pede. Nem sempre é assim,já que é possível tornar-se parte, como se vê, aqueleque não pediu e aquele em face de quem nada se pediu.... figura na relação processual contenciosa...Parte, objeto deste estudo, é a que concerne aoconflito intersubjetivo de interesses e do processo, e quetem a expectação de um comando sentencial emergenteque lhe diga o melhor direito. Não outra - por isso que sedistingue parte da relação de direito material pura esimplesmente, não conflitada, e parte da relação de direitoprocessual. É imprescindível referir-se a uma situação

adequada à jurisdição contenciosa, uma vez que najurisdiçãovoluntária não há parte, mas interessado. Convémesclarecer que parte e interessado são duas noções dodireito que estão no mesmo nível relativamente àjurisdi-(p. 107)ção contenciosa e jurisdição voluntária, indiferenciandoseem nível do direito material.... com ou sem interesse e legitimidade.

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Para que o interesse seja de natureza processual, écondição necessária que o mesmo esteja vinculado auma situação jurídica conflitada ensejadora de ação, épreciso que haja uma relação objetivamente razoável,porquanto o interesse vulgo sensu está ligado a umapluralidade de ações sociais que não têm caráter jurídico.A legitimatio ad causam, de caráter subjetivo, éuma seqüência lógica do interesse, por isso que só temlegitimidade para a causa aquele que tem interesseprocessual, havendo, pois, uma mútua implicação entreambos, salvo no caso de legitimação extraordinária, emque a lei confere legitimidade para agir a quem não étitular, mesmo que em tese, do direito afirmado.Para que a ação seja proposta ou contestada, épreciso que haja interesse processual e legitimatio adcausam. Os conflitos entre homens, as relaçõesconflituosas entre os sujeitos e os bens, ocorrem no

plano da realidade empírico-social-objetiva e requeremcomo solução uma ação especial, da parte interessada,dissímil da pluralidade das ações identificáveis no tecidosocial. O que está se entendendo aqui por "açãoespecial" resulta da acepção objetiva do termo ecorresponde ao que João Monteiro{62} descreve como "oato pelo qual se invoca o ofício do juiz para que afirmea existência de uma relação de direito contestada ousimplesmente ameaçada".62. MONTEIRO, João. Teoria do processo civil. 6. ed., 1956,v. 1, p. 71. (p. 108)

Nessas situações conflitadas exsurgentes da relação dedireito objetivo material, sobressaem-se quatroelementos distintos: o primeiro, denominado sujeito ativo,aquele que provoca a jurisdição; o segundo, denominadotermo, ou sujeito passivo, aquele em face de quemse provoca; o terceiro, denominado bem, ou situaçãojurídica controvertida, que se constitui na razão doconflito; o quarto, denominado título, resulta do bem ou dasituação jurídica controvertida, que enseja o téticodireito do sujeito ativo e a tética obrigação do termo, ousujeito passivo. Tal ação especial pertence a um plano

operatório identificável na ciência do direito já que a suafinalidade é operar nessa realidade de modo a sanar oproblema, desfazendo os conflitos e restabelecendo aordem. Os requisitos de admissibilidade dessa ação situam-se também em planos distintos, de igual modoidentificáveis na ciência do direito: o interesseprocessual e a legitima tio ad causam. O primeiro se dá noplano

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do direito objetivo, ao passo que o segundo, a legitimatioad causam ou legitimidade para agir, pertence ao planodo direito subjetivo.Para melhor se comprender a evolução da relaçãoempírico-social-objetiva até a propositura da ação que é aação na acepção objetiva - é de bom alvitre quese tenha em conta três etapas em ordem crescente. Aprimeira, o estabelecimento da relação empírico-objetivo-material: empírica por pertencer ao social, ao costume;material por tratar-se de um bem material; e objetiva porser da ordem do direito objetivo. A segunda, oestabelecimento da relação objetivo-materialconflitada queengendra o interesse jurídico processual,diz respeito ao momento ou ao fato que objetiva odireito de ação. (p. 109)Estas duas primeiras etapas estão no plano dodireito objetivo, podendo o sujeito prejudicado com a

negação do seu direito fazer ou não uso da ação, esta doplano subjetivo, e que consiste na terceira e últimaetapa. O que se quer dizer aqui por ação pertencente aoplano subjetivo corresponde ao que João Monteiro{63}define como "a reação que a força do direito opõe àação contrária de terceiro; é um movimento dereequilíbrio; é um remédio".Se não faz uso da legitimidade para agir - decorrente dointeresse que, a turno seu, decorre da situaçãoconflitada -, tudo fica no plano objetivo. Se o faz,exigese a perfeita identidade dos sujeitos da relação

objetivomaterial-conflitada com os sujeitos da ação, quepassama ser autor e demandado; é a legitimação ordinária.Exceto nos casos em que a lei autoriza o uso da ação semtal identidade: é a legitimação extraordinária.Pois bem, a relação afirmada pelo sujeito com obem ou a situação jurídica controvertida - porque hácasos em que a simples afirmação é condição suficientepara fazê-lo parte - nem sempre corresponde à verdadereal. Nessa hipótese, visto a inocorrência da relação, osujeito que atuou no pólo ativo ou no pólo passivo do

processo não deixou de ser parte, mesmo não possuindointeresse e legitimidade. Diz-se, então, partedesinteressada e parte ilegítima.Já se viu que para ser parte impende hajalegitimatio ad causam, contudo, para ser parte legítima,"só o será o sujeito processual que também fortitular de um dos interesses em lide, ou, então,63. MONTEIRO, João. Processo civil e comercial. 4. ed.,

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1925, v. 1, p. 72. (p. 110)que possa excepcionalmente estar em juízo paradefender em nome próprio o interesse de outrem.Parte legítima é aquela que tem direito a umadecisão sobre o mérito da causa. Trata-se de conceitosituado entre o de parte no sentido processual e o de partevencedora".{64}Feitas as distinções entre parte legítima e interessada, delegitimação ordinária; parte ilegítima e desinteressada;parte que, não obstante sem relação com obem ou a situação jurídica controvertida, tem autorizaçãolegal para atuar como tal, de legitimação extraordinária;conclui-se que da primeira e da terceira saem aparte vencedora e a parte vencida, enquanto que nasegunda não se dá essa situação de êxito e não-êxitoprocessual, porquanto o processo é julgado extinto semapreciação do mérito da causa.

Não se pode desprezar, na conceituação de parteno processo, a certeza de inexistência de qualquerinterligação com o direito substantivo.O que se cuidou aqui foi explicitar uma conceituaçãopragmática de parte que, por fim, embora nopensamento de Liebman se vejam imbutidos os elementos éticoe moral, resultou harmônica com ele, jáque somente às "justas partes" é que se reserva apossibilidade de ser vencedora ou vencida no processo. ParaLiebman,{65}"a determinação do conceito de parte não tem

nenhuma relação com o problema da legitimação64. MARQUES, José Frederico. Instituições ..., v. 2, p. 171et seq.65. LIEBMAN. Manual ..., p. 66. (p. 111)para acionar. Este problema consiste na identificação dasjustas partes, os legítimos contraditores; são partes noprocesso aqueles que de direitosão sujeitos do mesmo".

3.2 - Como se perfaz o status de parteO homem capaz, genericamente, está apto para

adquirir e exercitar direito, por isso pode ser parte. Oincapaz, absoluta ou relativamente, adquire direitos,mas não pode exercitá-los, por isso, enquanto nãorepresentados ou assistidos, não podem ser partes. Serepresentados ou assistidos, passam a dispor dos doiselementos formadores do status de parte: capacidadede direito (elemento invariante), que lhes é comum, ecapacidade de fato (elemento variável), que lhes foi

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acrescida.É preciso que se compreenda os institutos doDireito primeiramente pelo ângulo de sua generalidade,depois, pelo ângulo de sua excepcionalidade. Genericamente,a noção de parte é a do homem que, além dacapacidade de direito, também tem capacidade de fato.Excepcionalmente é a daquele a quem falta a capacidade defato, dada a impossibilidade de ser postergada asua capacidade de direito. Todavia, é imprescindíveldeixar-se assente a inadmissibilidade no processo, nacondição de parte, daquele que não tenha, mesmo queteticamente, ou que o esteja afirmando, relação com obem de vida em disputa ou com a situação jurídicacontrovertida. Não importa seja menor impúbere.púbere, amental, surdo-mudo, que não possa exprimirsua vontade, silvícula ou ausente por declaração judicial.Se quaisquer deles adquiriram direitos, como parte (p. 112)

atuarão, contudo, sempre com ou através de outrem quese expresse.O legislador civil pátrio apresenta os seguintesdefinidores daquilo que denominamos elemento variável danoção de parte: a capacidade plena, a incapacidade absolutae a incapacidade relativa. No primeiro caso,homem e mulher são considerados capazes ao atingirem 21anos completos, ou seja, é preciso que seadentrem pelo 22º ano de vida. Admite-se, porém, acessação da incapacidade antes de se completar 21anos, por concessão do pai, ou, se for morto, da mãe, e

por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 18anos completos; pelo casamento; pelo exercício de empregopúblico efetivo; pela colação de grau científicoem curso de ensino superior; pelo estabelecimento civilou comercial, com economia própria. No segundo caso,diz-se de incapacidade absoluta os menores de 16 anos;os loucos de todo o gênero; os surdos-mudos, que nãopuderem exprimir a sua vontade e os ausentes, declaradostais por ato do juiz. No terceiro caso, diz-se deincapacidade relativa, os maiores de 16 anos e menoresde 21 anos; os pródigos e os silvícolas.

É preciso que se distinga o que seja a capacidadepara estar em juízo e a capacidade para o exercício deatos imprescindíveis à estada e inerentes a ela. Estar emjuízo é direito subjetivo que pertence a todos, enquantoque, para estar e praticar atos que decorrem dessa estada,é necessária a capacidade de fato.Como se viu, no caso dos absolutamente incapazes, podemeles estar em juízo, porém unicamente através de seus

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representantes, que, possuidores de capacidade de fato,suprem o que naqueles falta.O estar em juízo sem representação ou assistência,em caso de incapacidade absoluta ou relativa, faz, no (p.113)primeiro caso, nulos os atos praticados, e, no segundocaso, ineficazes. Deve o juiz determinar a regularizaçãoda capacitação fática sob pena de extinção do processo,visto a norma genérica do art. 82 do Código Civil.Outrossim, se os atos de representação ou assistência estãosendo exercidos por pessoa incapaz, a conduta do juizdeverá ser a mesma. Liebman{66} diz que "se o juizinstrutor detecta um defeito de representação, deassistênciaou de autorização, deverá assinar um termo dentro doqual se poderá regularizar a posição do incapaz".Em nível processual, para se exercitar direito

representando o incapaz ou assistindo-o, basta, na relaçãopai e filho, a certidão de nascimento que comprove afiliação e a idade. No caso da falta dos pais, deve-seexibir o instrumento conferidor da tutela. No caso deincapacidade por qualquer patologia, deve-se exibir oinstrumento comprovador da curatela. Na falta de tutorou curador, deve o juiz nomear quem faça as suas vezesno e para o processo. É possível que haja um amentalcujo processo de interdição ainda não esteja consumado.Nesse caso, sabe-se que somente será consideradointerditado após sentença transitada em julgado que o

declarecomo tal. A nomeação de curador para tal processo é omais aconselhável, já que não se pode exigir que figurena relação processual alguém sem capacidade para agir.Sobre a capacidade processual do amental nãointerditado é relevante o registro da doutrina clássica,no magistério de J.M. de Carvalho Santos, que seposicionou nos seguintes termos:"Com referência à capacidade processual doamental não interditado, em face das ações promo 66.LIEBMAN. Manual... p. 66. (p. 114)

vidas ou a promover por ou contra terceiros, nãopodemos encobrir a gravidade da questão, de modoa conciliar a tutela protetora do amental com asalvaguarda da liberdade e capacidade humana.Nossa opinião já é conhecida, fixada num meiotermo entre asdoutrinas antagônicas, radicais pordemasia, e não temos razões para abandoná-la.Ao invés, cada vez mais arraigada se torna a nossa

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crença de que a verdadeira solução jurídica nãopode ser outra senão a que defendemos.Na falta de interdição, em verdade, a presunção épela capacidade da pessoa (BORGES CARNEIRO,v. 3, § 259). Exige o Código Civil, a seu turno,para a decretação da interdição, a verificação daamentalidade, em processo especial, em que ointerrogatório e o exame pericial constituem elementossubstanciais.Sem a sentença declaratória da interdição, portanto, não épossível privar a pessoa do direito deestar em juízo.Corolário imediato destes princípios é este outro:o amental não interditado, assim como o surdomudo tambémnão interditado devem ser citadospessoalmente para a ação.Relacionada com esta conclusão, temos a questão de

saber se não seria nulo o processo nestas condições.Não há discórdia entre os doutores no caso dasentença ser favorável ao amental, porque não sepronuncia nunca a nulidade da decisão proferida afavor da parte, que a lei quis beneficiar com aanulação (Revista Forense, v. 39, p. 123).A dúvida toda está na hipótese contrária, quandoa sentença for desfavorável ao amental. (p. 115)O Dr. Lopes da Costa assim resume a argumentação aduzida delado a lado:"Para alguns, o processo é sempre válido. E argumentam

assim: a capacidade de estar em juízo éum dos elementos que provêm da capacidade jurídica. A leipresume que o maior de vinte e umanos seja absolutamente capaz de citar e de sercitado. Esta faculdade faz parte de seu estado, quepor motivo de insanidade mental pode ser modificado pelasentença de interdição.Mas a interdição pode somente ser promovidapelos pais, ou pelo tutor, pelo cônjuge, ou algumparente próximo e pelo Ministério Público.Se todos eles se conservam inativos, o autor, requerente da

citação, é que não pode ser prejudicado no exercício deseus direitos (Marini).A lei não lhe dá a faculdade de promover a interdição docitando. Admitir, pois, a nulidade doprocesso, na ação em que foi pessoalmente citadoo amental ainda não interditado, fora impedircompletamente a reintegração de um direito,porventura violado pelo réu.

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De outro lado, porém, responder-se-ia com vantagem, que oprincípio da perfeita igualdade entreas partes, princípio que domina todas as leis doprocesso, não pode sancionar o sacrifício dos direitos doréu, de preferência ao sacrifício dosdireitos do autor.Admitir a validade da citação do suposto incapaz,pelo fundamento de que as pessoas enumeradasno art. 447 do Código Civil não promoveram ainterdição necessária e por isso não pode respon- (p. 116)der o autor, é punir o amental pelo descaso deseus parentes e pela falta de exação do representante doMinistério Público, no cumprimento dosdeveres do cargo.De modo que a lei instituiria a interdição, comomedida protetora do incapaz e retiraria essa proteção porcausa da negligência das pessoas encarregadas de torná-la

efetiva.Repugna o bom senso admitir a validade de umprocesso, em ação movida contra um indivíduocompletamente perturbado das faculdades mentaise cujos interesses seria totalmente sacrificados.De ambos os lados, como se vê, os argumentossão ponderáveis e se equivalem.A única conclusão a tirar é que não se poderiaadotar nenhuma dessas duas soluções radicais.A solução conciliadora dos interesses em conflito- o do autor e o do réu - será admitir a validade da

citação, mas exigir a intervenção no processo deum curador especial.É a solução de Boggio, no direito processualitaliano""{67}A par dessa extraordinária conclusão que apontasolução para o processo em andamento, surgequestionamento para o caso de processo já findo, comsentença trânsita em julgado, em que o demandado foraum amental. Desse caso o douto processualista nãocuidou. Contudo, sua possibilidade de ocorrência éindiscutível, pois que o autor da ação pode ocultar a

67. SANTOS, J. M. de Carvalho. Código de Processo Civilinterpretado, v.1, p. 276-278. (p. 117)pàtológica situação do seu demandado que, a turno seu,recebe uma citação e descomparece ao processo, fazendo-serevel. O julgador desconhece a anormalidade daparte e profere sentença julgando antecipadamente opedido; mais tarde, quaisquer das pessoas legitimadas

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para promover a sua interdição se dão pelo caso jájulgado. Todo o processo deve ser anulado pordeclaratória negativa, mesmo que já se tenha vencido oprazo de rescisória.A posição de Marini, supracitada pelo eminenteprocessualista pátrio, não tem cabida. Ora, não se cuidade prejudicar o autor desconstituindo todo o processadoatravés de ação declaratória. O que ocorre é que oautor se houve com evidente má-fé ao ocultar aamentalidade do demandado para com isso se beneficiar. Emsituação tal dois vícios se evidenciam: a incapacidadefática do requerido e a má-fé do requerente.Todo o processo é nulo de pleno direito a teor do quedispõe o art. 145, I, do Código Civil, sobre o qualescreveu Clóvis Beviláqua:"Nulidade é a declaração legal de que a determinados atosse não prendem os efeitos jurídicos

normalmente produzidos por atos semelhantes. Éuma reação da ordem jurídica para restabelecer oequilíbrio perturbado pela violação da lei. Porisso diz Sólon:"É uma verdadeira pena, que consiste na privaçãodos direitos ou vantagens que o ato teria conferido sefosse conforme a lei, e que tira todos osbenefícios dele resultantes, para colocar as partesno estado em que se achavam quando foi praticado o atoilegal. (p. 118)Essa reação é mais enérgica, a nulidade é de pleno

direito, e o ato é nulo, quando ofende princípiosbásicos da ordem jurídica, garantidores dos maisvaliosos interesses da coletividade. É mais atenuada areação, a nulidade é sanável e o ato éapenas anulável, quando os preceitos violados sedestinam, mais particularmente, a proteger interessesindividuais. Os casos do art. 145 são denulidade de pleno direito"."

4 - QUANTO AO MOMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DAS PARTES LEGITIMASE INTERESSADAS

A questão da legitimidade e do interesse ou nãoda parte no processo pode ser conhecida a qualquermomento, tanto de ofício pelo juiz, como por provocação daparte a quem aproveita a alegação. ParaLiebman, a identificação da parte pode dar-se a priori,antes da formação do processo e servirá para determinar aspessoas que deverão chegar a ser partes, a fim dese ter um pronunciamento sobre a questão de fundo ou

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de mérito; e pode dar-se a posteriori, quando se decidese as partes são efetivamente legítimas. Se a decisão fornegativa, será uma sentença sobre o processo, extinguindo-o, sem prejudicar-lhe o mérito ou o fundo.

5 - SUJEITOS DA LIDE E DO PROCESSODiz-se parte da lide aquela que tem relação com obem de vida em disputa, portanto aquela sobre a qual (p.119)hão de recair os efeitos da sentença. Diz-se parte doprocesso aquela que figura na relação processual semvínculo com o bem de vida disputado; é o caso dasubstituição processual e da parte ilegítima. FranCescoCarnelutti{68} delineia com clareza tais sujeitos, nosseguintes termos:"Uma lide, posto que um conflito intersubjetivode interesses, necessariamente tem dois sujeitos.

"Cada um deles recebe o nome de partes, com oqual indica-se mais a sua posição do que suaindividualidade, isto é que é um dos sujeitos doconflito e, portanto, faz parte dele. A noção departe, precisamente porque é própria do conflitojuridicamente relevante em geral não o da lide emparticular e, portanto, é comum ao direito processual e aodireito material, deve ser também procurada na teoria geraldo direito. Posto que, comoveremos, também recebem o nome de partes alguns dossujeitos do processo, para denotar aos

sujeitos da lide não se diz somente partes, mastambém partes em sentido material. Certamente onome de parte emprega-se no código promiscuamente, tanto nosentido material como no sentidoprocessual: quando, por exemplo, se fala das partes comodestinatárias dos efeitos do processo,são elas os sujeitos da lide; agora, quando se faladelas como titulares de direitos ou de encargosprocessuais, designa-se com esse nome aos sujeitos doprocesso."68. CARNELUTTI, Francesco. Instituciones del proceso civil.

Trad. de Santiago Sentis Melendo. Buenos Aires: Europa-América, v. 1. p. 29. (p. 120)A noção de sujeito da lide está diretamente ligadaà noção do sujeito capaz de direitos. O sujeito da lide é,pois, o alcançado pelo efeito subjetivo da coisa julgadaque simultaneamente pode também ser sujeito do processo. Osujeito do processo, por seu turno, pode sertambém tanto o sujeito da lide como também simplesmente o

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seu complemento.Os sujeitos da lide e do processo podem ser consideradosparte legítima, parte ilegítima, parte originária,parte ulterior, parte singular, parte plúrame, parte dedireito e de fato, parte exclusivamente de direito e parteexclusivamente de fato.Os sujeitos adquirem condição de parte no processo. Nãopode ser doutra maneira. Só se denominaparte processual aquele que instaura a demanda ouaquele em face de quem é ela instaurada; aquele quesubstitui a parte por ato entre vivos ou em razão damorte; aquele que intervém na condição de terceirojuridicamente interessado. Findo o processo, alcançados oslimites objetivos e subjetivos da coisa julgada,parte já não existe mais, não existe processo. Os sujeitosdeixam ainda a condição de parte pela estromissione,como sói acontecer na nomeação à autoria duplamente

aceita; pelo reconhecimento judicial da ilegitimidadead causam e ad processum ativa ou passiva, com decisão deque não caiba mais recurso; pela morte; ou pelaalienação do bem objeto da controvérsia, desde queocorra o consentimento previsto no § 1º, art. 42, doEstatuto Processual.

6 - DAS OBRIGAÇÕES DAS PARTESAs partes, no processo, têm obrigações processuais que nãopodem ser olvidadas, pena de serem (p. 121)responsabilizadas por perdas e danos, pelos prejuízos

que causarem a outrem. O Estatuto Processual pátrioestabelece, como obrigações dos que litigam em juízo,a exposição dos fatos conforme a verdade. Anote-se,contudo, que nem sempre quando a parte sucumbe noprocesso tenha ela faltado com o dever da verdade. Eque do seu ângulo a sua verdade existe conforme afirmada eaté que ceda ante outra verdade, ou seja, averdade da parte opósita e vitoriosa. É a verdade formalque se apura no processo.Exige-se ainda que se proceda com lealdade eboa-fé. Lealdade quer dizer da qualidade de quem é

sincero; ser sincero é expressar-se sem artifício, semintensão de enganar, é ser disposto a reconhecer a verdademesmo em seu desfavor. Boa-fé é, por sua vez, osentimento de certeza de que a ação está plenamenteamparada na lei ou, pelo menos, não a está afrontando.Ainda entre as obrigações, sobressai a imperatividadelegislativa de não se formular pretensões nem sealegar defesa, ciente de que são destituídas de fundamento.

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Fundamentar é justificar de forma convincente,é documentar, é provar. É mostrar a adequação do fato ànorma. A ausência desse cuidado caracteriza o que sedenomina de "reserva mental", porquanto identifica aindisposição de um esforço maior para trazer aos autosos elementos comprobatórios da sua verdade.Por fim, é obrigação da parte não produzir provasnem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ouà defesa do direito. É vedação que, comumente,se encontra inobservada na prática, tanto que partes háque sucumbem com suas postulações pelas desmedidasdiligências inúteis que menos aclaram e mais confundem ojulgador. Em algumas vezes, em razão do pró- (p. 122)prio técnico do direito pretender justificar, diante daparte sua defendida, os seus honorários. Outras há,quando a emoção sobrepõe-se à razão, que agem com opropósito de alvejar o seu opositor desprezando a razão

teleológica da prova processual, que é a de persuadir ojulgador. Deve, pois, a prova estar precisamente namedida da necessidade do que se pretende provar. Naocorrência, então, de conduta processual diversa dopadrão legal, toca ao juiz, em atenção ao princípio daceleridade e em obediência à norma expressa do art.125,II, do Código de Processo Civil, indeferir pedidosde provas minguadas de conteúdo probante. A prova,segundo Pereira e Souza, é a alma do processo. Assim,é de dever especificá-la, produzi-la e conduzi-la ao seuverdadeiro fim.

A par das obrigações, há ainda a proibição doemprego de expressões injuriosas nos escritos apresentadosno processo, cabendo ao juiz, de ofício ou arequerimento do ofendido, mandar riscá-las. Quando asexpressões injuriosas forem proferidas em defesa oral,o juiz advertirá o advogado de que não as use, sob penade lhe ser cassada a palavra. O legislador cuidou defazer estender aos procuradores das partes tais obrigaçõese proibições, já que são estes os seus porta-vozesquer pela palavra escrita ou pela palavra falada, noprocesso (arts. 14 e 15 do CPC).

A parte responde por perdas e danos quando postula de má-fécomo autor, réu ou interveniente (art. 16 doCPC). O Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,{69} citan69. TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Código de ProcessoCivil anotado. 5.ed., São Paulo: Saraiva, p. 14. (p. 123)do Andreas von Tuhr, diz que "No comércio jurídico,como na vida social, há um elemento subjetivo que

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informa, estrutura e vivifica todas as relações - é aboafé." E acrescenta Clóvis (Código Civil, art. 547): "Não éao lado do que anda de má-fé que se deve colocar odireito."

7 - PARTE DEMANDADA E TERCEIRO - MEDIDA DE SUJEIÇÃO OUSUBORDINAÇÃO MEDIDA DE VINCULAÇÃONinguém é obrigado a demandar, mas nem todosestão livres de serem demandados. Para algunsdoutrinadores alienígenos, a parte demandada,originariamente, sofre certa medida de sujeição ousubordinação por parte do seu demandante, impondo-se-lheduasalternativas: ou responde à demanda, ou omite-se emresponder. Há três modalidades de resposta: contestação,reconvenção e exceção, tripartindo-se esta emdilatória, peremptória e mista. As que não extinguem o

processo, mas simplesmente dilatam a sua conclusão,retardando-o quanto ao fim, são as exceções dilatórias,quase sempre de conteúdo exclusivamente processual;as que extinguem o processo, no todo ou em parte, sãoas exceções peremptórias, quase sempre de conteúdoexclusivamente material; e as mistas, que também extinguemo processo no todo ou em parte, sempre mescla de conteúdoprocessual e material. É na necessidadede responder, como decorrência da demanda, que seinstaura a sujeição da parte demandada à suademandante. A idéia de sujeição se perfaz com a certeza de

que a não-resposta pela parte demandada fá-la (p. 124)revel, podendo, nessa condição, ter que suportar o ônusda revelia com a pressuposição de serem verdadeiros osfatos contra si alegados. Revelia é, pois, o desprezo quealguém faz do chamado judicial, ou do ônus que lheincumbe de comparecer em juízo.Concernente à carga de sujeição ou subordinaçãode um terceiro chamado ao processo, contudo, ela não éa mesma, em alguns casos. No de nomeação à autoria,por exemplo, o nomeado que não aceita a nomeação,ou cuja nomeação não é aceita pelo autor da demanda,

fica a salvo do processo, não obstante tenha sido chamado,não sendo objeto de nenhuma medida de sujeição ousubordinação àquele que o nomeou. Não meparece razoável, apesar de corrente doutrináriadissímil, que os efeitos da sentença recaiam sobre nomeadoque não assumiu o pólo passivo da relação processual, jáque a lei lhe faculta recusar, bem como aoautor rejeitá-lo.

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Quanto ao chamado ao processo e ao denunciadoà lide, a situação configurada é outra. Nessas figuras, amedida de subordinação do terceiro é igual à medida desujeição ou subordinação da parte originariamente demandada.Na oposição a situação se inverte: é o terceiro queimpõe às partes originárias maior medida de subordinação ousujeição, tanto que, desde que ofertada a oposição, estapassa a ser prejudicial à ação principal, podendo osopostos sucumbirem, no todo ou em parte.Lopez-Fragoso, citando Chiovenda e Calanwndrei,distingue a chamada ao demandado da chamada aoterceiro, admitindo que aquela é um ato processualconseqüente do exercício do direito de ação, que fazconstituir em parte o chamado, que passa a adquirir (p. 125)direitos e obrigações no processo, enquanto esta, achamada ao terceiro, por si só, não se reveste de taiscaracterísticas, produzindo efeitos distintos dos que são

produzidos na chamada ao demandado. A propósito éoportuna a citação do autor espanhol{70} quando diz:"En opinión de Chiovenda, al que sigue, en loprincipal, Calamandrei, y, en nuestra patria,Gómez Orbaneja, la llamada al tercero por unadelas partes de un proceso pendiente no esequiparable a la llamada del demandado alproceso. La llamada al demandado, para los autores citados,es un acto procesal concreto y particular, consecuencia delejercicio del derecho deacción, mediante el cual se constituye en parte al

lamado, adquiriendo éste una serie de concretosderechos, cargas y obligaciones. La personacióndel demandado y su posterior actividad procesalconstituyen una carga para el mismo, quedandosujeto, en todo caso, a los efectos del proceso encuestión. En cambio, la llamada al tercero noreviste, por sí sóla, tales características; paraello se ha de acompañar la llamada, en los casosen que sea procedente, con una demanda(pretensión), bien por parte del propio llamado,bien por parte del llamante, produciendo, en otro

caso, unos efectos distintos y característicos alacto de llamada.Sin embargo, para autores como Costa o Segni,y para la mayoría doctrinal italiana, el anterior70. ALVAREZ, Tomas Lopez-Fragoso. La intervención deterceros oinstancia de parte en el proceso civil español, 1990, p.11-12. (p. 126)

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planteamiento de Chiovenda no puedeconpartirse, criticando la distinción que el insignemaestro italiano realiza entre simple llamadaen causa y llamada con ejercicio posterior depretensión. La simple llamada, tal y como laentiende Chiovenda, se asimila a unalitisdenunciación, es decir, a la mera notificaciónal tercero de la pendencia del proceso, por lo queno cabe asignarle el efecto que para Chiovendaproduce: la vinculación del tercero a los efectosde cosa juzgada. No cabe asimilar la litisdenunciación a lallamada en causa. La litisdenunciación es un fenómenoprocesal con unospresupuestos y efectos de la llamada al tercero.Esta última ha de equiparse en su naturaleza a lalamada al demandado, habiendo de entenderseque la llamada al tercero, por sí misma, supone el

ejercicio de una pretención - ya sea unapretensión meramente declarativa, e, incluso,ejercitada con fundamento en una legitimaciónespecial, una pretensión meramente declarativaque tiene por objeto una relación jurídica deterceros -, siendo este, en su opinión, el únicomodo de poder fundamentar el efecto propio de lallamada y de cumplir su fim: la extensión altercero llamado de los efectos de cosa juzgada.Por su parte, la mera notificación que una partede un proceso pendiente pueda (o deba) efectuar

a un tercero, la litisdenunciación, no produce esteefecto propio de la llamada, no constituyendo taldenuncia ejercicio de pretensión alguna frente altercero. La litisdenunciación es un institutoprocesal (y no en todo caso) que, basado en unos (p. 127)presupuestos distintos de la llamada, genera unosefectos peculiares frente al tercero notificado ydiferentes de la eficacia de cosa juzgada. Sinembargo, estos efectos propios delitisdenunciación, aun siendo distintos y con uncontenido diverso que los efectos de la llamada

en causa, permiten afirmar que la denuncia de lapendencia del proceso, para los supuestos en losque es utilizable tal denuncia, genera unasujeción del tercero, la cual sin la litisdenunciación nose produciría, y, por ende, da vida auna carga para el tercero, con un contenido peculiar y encorrespondencia con su particularnaturaleza."

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A par da sujeição ou subordinação da parte originariamentedemandada e de alguns terceiros, existe,outrossim, uma segunda figura que resulta da relaçãotripartite demandante/demandado/terceiro no processo:a vinculação. Cabe ressaltar que a sujeição ou subordinaçãoconsiste numa relação vertical, ao passo que avinculação consiste numa relação horizontal, uma vezque no processo, mesmo atuando a parte na defesa, asua atuação equipara-se à do demandante. Não há sujeição ousubordinação do ângulo da mensurabilidadeoperada pelo Estado, no qual as pretensões das partessão iguais, posto objetos dessa mensuração operadaobediente aos princípios gerais regedores do processo,quando então o Estado avalia a medida de direito quetoca a cada parte com as suas postulações postas nomesmo nível, horizontal e paralelamente. Tomemospor caso a culpa recíproca ou concorrente, em que os

direitos e as obrigações são mensuráveis conforme osfatos, podendo chegar a um ponto máximo de partiçãode medidas em que a uma das partes cabe o direito no (p.128)seu todo e à outra nenhum direito. O ato de declarar odireito - mensurá-lo - de uma das partes em preteriçãodo alegado direito da outra não a torna sujeita àquela.No declarar desigualmente, isto é, no mensurar, está aigualdade pretendida. Tal declaração tanto pode ser emprol do demandante como, outrossim, em prol do demandado, oque equivale dizer que no processo a participação de cada

qual é em igualdade de condições,prevalecendo o que tiver o melhor direito. Na igualdadedas partes e no dever do Estado de mensurar os direitosde suas postulações estão nitidamente dois elementosintegrantes e justificadores do due process of law que,entre nós, equivale à garantia constitucional do devidoprocesso legal.Não me parece que a necessitas defensionis daquele em facede quem se postula seja um equivalenteda sujeição ou subordinação, tanto que pode-se distinguirdemandante e demandado apenas do ângulo da

oportunidade e do tempo, do que resulta em conheceraquele que demandou primeiro e oportunamente: odemandante. O que não demandou primeiro será, porseu turno, demandado, com a mesma medida de interessejurídico do seu demandante. Um pretendendo oreconhecimento do direito alegado, outro pretendendoque o mesmo direito seja negado.Sobre a medida de igualdade da ação e da defesa,

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portanto, o quanto significa serem iguais demandante edemandado, Couture{71} diz que"El derecho de defensa en juicio se nos aparece,entonces, como un derecho paralelo a la acciónen justicia. Si se quiere, como la acción del de 71.COUTURE. Fundamentos..., cit., p. 91. (p. 129)mandado. El actor pide justicia reclamando algocontra el demandado y éste pide justicia solicitando elrechazo de la demanda."Sendo de defesa a ação que o demandado temcontra o demandante, tem-se que se colocam eles maisem linhas de igualdade que de sujeição ou subordinação.Continuo afirmando que em certos casos a posição dodemandado não é a mesma; a sua posição é, àevidência, desvantajosa, não pela qualidade dos fatosou do direito que alega militarem em seu favor, simporque não há fatos nem direitos a alegar. É o caso da

desapropriação, por exemplo. É o caso da execução desentença em que o caráter coercitivo da ação faz oexecutado estar em posição de sujeição ou subordinação.Couture{72} ensina que"La coerción permite algo que hasta el momentode la cosa juzgada o del título ejecutivo era juridicamenteimposible: la invasión en la esfera individual ajena y sutransformación material para darsatisfacción a los intereses de quien ha sido declaradotriunfador en la sentencia. Ya no se trata deobtener algo con el concurso del adversario, sino

justamente en contra de su voluntad. Ya no se estáen presencia de un obligado, como en la relaciónde derecho sustancial, sino en presencia de unsubjectus, de un sometido por la fuerza coerciblede la sentencia."No caso de desapropriação, vencida a fase administrativasem possibilidade de acordarem o Poder Pú 72. COUTURE.Fundamentos..., cit., p. 439. (p. 130)blico e o titular do bem expropriado, e passando-se àfase de efetiva desapropriação judicial, evidencia-se aidéia de sujeição ou subordinação que o demandante Poder

Público - impõe ao seu demandado.Sobre a desapropriação, a propósito da relaçãovertical que nela se estabelece, Couture{73} diz:"El judicio de expropiación consta de dos etapas,la administrativa e la judicial, en las cuales elparticular se encuentra frente al poder público endiversa posición.En la etapa administratiVa, el poder público e el

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particular se hallan en un plano de igualdad: sondos contratantes que pactan de igual a igual, mediante eljuego recíproco de las ofertas. Producido elacuerdo en esta etapa, no hay expropiación sinoventa.Pero fracasada la etapa administrativa, larelación "horizontal" de igualdad se sustituye poruna relación, que llamaremos "vertical", deautoridad.Se abre entonces la via judicial de expropiación,en la cual la autoridad ímpone su designio deadquirir, aun en contra de la voluntad delpropietario. Incumbe al proceso el cometido demantener la igualdad de las dos partes, sinperjuicio de la superioridad del poder público enlo que atañe a la facultad de expropriar".A igualdade das partes no processo é afirmável

em razão da lei, porquanto a Constituição Federal diz73. COUTURE. Fundamentos..., cit., p. 455. (p. 131)que todos são iguais perante a lei. Esta norma engendrano processo a obrigatoriedade de se dispensar às partesigual tratamento. O princípio de igualdade, também deisonomia, o de que as partes são iguais na relaçãoprocessual, vem a ser um dos princípios gerais do ProcessoCivil, princípio que se impõe inclusive ao juiz. (p. 132)

Capítulo IV - TERCEIRO

1 - CONCEITUAÇÃOConvém-nos apenas o terceiro como uma variávelespecificada da temática, isso porque o estudo, de formageneralizada, implicaria, a rigor, na "historicização" doprocesso na qual haveríamos de encontrar a solução deconflitos no período pré-Estado, tempo da autotutela,caracterizado pela "ausência de juiz distinto das partes eimposição da decisão por uma das partes", também otempo da autocomposição cujas características predominanteseram "a desistência, a submissão e a transação",seguido do tempo dos "árbitros"; e no período pósEstado,

que perdura com marcas distintas de evolução eaperfeiçoamento conforme a época e a cultura de cadapovo, até a agoralidade.{74} Então, cotejados os processosnos diversos períodos da história, temos que, com osárbitros, já se fazia presente um terceiro no processo.Especificamente com o Estado, mais ainda ficou acentuada apresença do terceiro no processo, qual o próprioEstado. Este, institucionalizado e desinteressado, com

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todos os seus desdobramentos: a exigência do especialista(o advogado, institucionalizado e interessado), doescrivão, do oficial, do perito (institucionalizados edesin 74. Vide GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Teoria geraldo processo. 12.ed., São Paulo; Malheiros, 1996. (p. 133)teressados), enfim, de todos aqueles que se tornaram etornam imprescindíveis ao fim do processo, que é decaráter eminentemente teleológico, por isso sem um fimem si mesmo. A rigor, todos são terceiros, visto o conflitoe seus restritos envolvidos.Terceiro, no entanto, de que cuida a intervenção eque é objeto deste estudo, é todo aquele que não figurana relação processual na condição de demandante oudemandado, mas que dispõe de certa medida de relaçãojurídica com o bem de vida ou com a situação jurídicaconflitada, ou, ainda, com outro bem ou outra relação

jurídica, mas que podem tanto uma como outra serafetadas em razão da decisão judicial, o que o autoriza,por conseguinte, a ingressar no processo, voluntariamenteou por provocação.A noção de terceiro, reafirmo, se perfaz com anoção de negação.

2 - TESESÉ importante assinalar que foram construídas trêsteses distintas sobre terceiros.{75} A primeira,materialista,

sustenta a inexistência de relação do terceiro no plano dodireito material; vê-se que se trata de tese que sucumbeante o caráter teleológico da intervenção, uma vez que,inexistindo relação no plano do direito material, inexisteinteresse jurídico e, nessa condição, em momento algumesse terceiro poderá intervir; a segunda delas, chamadatese processualista, aponta o terceiro como o sujeito quenão interviu no processo, mas que necessariamente tenha queintervir, inclusive para que o processo possa75. PARRA QUIJANO. La intervención de terceros en elproceso civil, cit.,

1986, p. 27-28. (p. 134)prosseguir e chegar ao seu fim com a sentença de fundo;a terceira, tese eclética ou intermédia, segundo a qualnão é possível precisar conceitualmente o que sejaterceiro, uma vez que a coisa julgada alcança, em certoscasos, pessoas alheias ao processo, por isso que ositalianos e os franceses admitem a “oposição de terceiro”para

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cessar os efeitos da sentença, desde que recaídos sobrequem não tenha sido parte no processo. Conforme UgoRocco, não se pode ter em conta um terceiro indiferenteà relação processual pelo fato de não ser sujeito nosentido substancial, por isso que existem aqueles que sãoautorizados, apenas pela Lei, para o exercício da ação.Disso resulta que os terceiros podem ser classificadosconforme tenham ou não interesse no processo;conforme sejam principais (com exercício de pretensãoprópria) ou secundários (sem exercício de pretensãoprópria) apenas coadjuvando; conforme sejam terceirode intervenção facultativa (a não-participação no processonão é óbice a sentença de fundo), ou intervençãonecessária (a não-participação no processo é óbice àsentença de fundo); conforme sejam de participaçãoobrigatória (por provocação da parte preexistente) ouvoluntária (sem provocação alguma); conforme sejam

terceiros com legitimação para a causa em razão dedeterminado tempo, isto é, contemporaneidade e permanência,ou em razão de determinada medida de participação, ou seja,a mensuração da atividade apenasem dada parte do objeto da demanda.

3 - RELAÇÃO DE ANTECEDENTE E CONSEQUENTE DOS ATOSPROCESSUAIS ETERCEIROS NOMINADOSAtos processuais são os que dão vida, mantêm,constituem e extinguem o processo. O processo é um (p. 135)

desenvolvimento de uma seqüência de atos das partes,dos auxiliares da justiça - ordinários ou extraordinários- e do juiz, não obstante possa restringir-se a um ato só:das partes e do juiz, com os indispensáveis praticadospelos auxiliares, qual seja, aquele em que o pedido queinstaura o processo é de plano indeferido, ou aquele emque as partes nele envolvidas pedem apenas que se lheshomologue o acordo de vontades. De qualquer forma, oprocesso é uma seqüência de atos que consiste numaordenação lógica e cronológica de antecedente econseqüente, em cadeia.

Os atos processuais se desenvolvem por impulso,ora das partes, ora do juiz. Os do juiz podem se dar porprovocação ou por impulso, este, impulso oficial. Aobrigatoriedade do exercício dos atos processuais notempo e nas quadras estabelecidas por lei, ou seja,obedecida a sua cronologia, está diretamente ligada àimperiosa necessidade de que o processo chegue ao seufim, por isso que a não-prática do ato no tempo determinado

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resulta no fenômeno processual da preclusãotemporal (a preclusão temporal é um fenomeno processualsubstitutivo do que não se fez), que é a perda dodireito de praticá-lo, enquanto o processo avança. ParaLiebman, a seqüência dos atos forma uma cadeia deelos que culmina com o provimento jurisdicional dofim em o Estado diz o direito das partes: é a sentença.Este é, pois, o escopo imediato do processo, enquantoque o seu mediato é o bem que dele resulta assegurado.O núcleo do ato processual está no exercício do direitode ação, e não no simples direito de prática de ato doprocesso, para Giovani Leonne.A princípio, os atos processuais são internaCorporis, ou seja, atos que ficam exclusivamente den- (p.136)tro dos limites do processo, envolvendo exclusivamente aspartes que dele participam. Tais limites podem ser

compreendidos como os do domínio do processo. No entanto,virtualmente, admite-se que atosdo processo repercutam fora dos limites do seu domínio,alcançando a terceiros, ensejando, assim, umareação de contradomínio, quer da dos terceiros alcançadospor provocação, quer dos que, sem provocação,integram a relação processual espontaneamente. Nistose explica a intervenção de terceiros no seu sentido deinter vemire. No desenvolver dos atos processuais, ocorreuma relação de antecedente e conseqüente, de maneiraque um se conecta ao outro, justificando-se, cada qual,

mutuamente. Assim é que a petição inicial - antecedente- resulta numa resposta - conseqüente -, que, por seuturno, passa a um novo antecedente e resulta a novoconseqüente - a réplica -, se for o caso. A somatóriadesses atos constitui um novo antecedente, e a audiência oua sentença do juiz, o seu conseqüente. Assim,pois, se desenvolvem os atos, inclusive as omissõesdas partes.É certo, então, que todos os atos e omissões dossujeitos, das partes, do juiz, dos auxiliares de justiça,nesse contexto de antecedente e conseqüente, não só

repercutem na esfera jurídica dos protagonistas darelação processual exclusivamente, em evidenteinterioridade da relação objetiva-subjetiva, como também narelação de partes com terceiros, com reflexoextensivo objetivo-subjetivo ou somente subjetivo, eainda na esfera jurídica de terceiros singularmenteestranhos aos atos processuais. Sobressai, daí, umarelação processual jurídico-científica em que, na

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repercussão dos seus atos, ocorrível nos limites interio-(p. 137)res e exteriores do processo, reside a razão maior daintervenção de terceiros por modalidades várias, visando,cada qual, proteger interesses efetiva ou virtualmenteafetáveis, direta ou indiretamente, por decisão judicial,como conseqüência final da relação antecedente-conseqüentede uma série menor ou maior deatos pretéritos.

4 - A INTERVENÇÃO E O PROCESSO CIENTÍFICOA explicação da intervenção como conseqüênciade causa eminentemente jurídica aperfeiçoou-se notempo em que se inaugurou o período do processualismocientífico, na segunda metade do século XIX,que influenciou sobremodo na formação e sedimentação dosconceitos dos vários institutos e figuras do

processo, inclusive no que concerne à intervenção.Convém, pois, fique explicitado que a escalada doProcesso Civil científico teve início com BernhardWindscheid, em 1856, com o seu trabalho sobre a actiodo direito civil alemão e sua asserção de que a ação eraa faculdade de fazer prevalecer a própria vontade, seguidode Theodor Muther, em 1857, que, dissentindose deWimdscheid, sustentou ser a ação um direito exercitadoperante o magistrado, o qual, por sua vez, ficavaobrigado a decidir. Era o direito de quem tinha razão.Sua teoria influiu grandemente nos adeptos da teoria do

direito concreto de agir. A seguir, em 1868, Oscar vonBülow escreveu sobre a Teoria das Exceções Dilatóriase dos Pressupostos Processuais, trabalho publicado emGiessen, no mesmo ano, por Emil Roth, dedicado a (p. 138)Rudolf von Iherimg. Daí em diante, Adolf Wach, em1885, conceitua a ação como direito público autônomo.Josef Kohler, a turno seu, em 1888, desenvolve ateoria da relação jurídica com a monografia O Processocomo Relação Jurídica, sustentando que a ação é umarelação de direito privado entre as partes, na qual o juiznão tem interesse. Na seqüência cronológica, após

1895, sobressaem-se com as mais notáveis contribuições aoProcesso Civil Científico, conforme as suasdiversas origens, Franz Klein, na Austria; JamnesGoldschmidt, Wilhelm Kirsch, Adolfo Schönke e LeoRosenberg, na Alemanha; Qiuseppe Chiovenda,Framcesco Carnelutti, Piero Calamandrei, EnricoRedenti, Mauro Cappelletti, Enrico Tulio Liebman eUgo Rocco, na Itália; Leonardo Prietro Castro, Niceto

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Alcalá-Zamora y Castillo, Jaime Guasp e Victor FairénGuillén, na Espanha; Henry Solus, Roger Perrot, JeanVincent, Paul Cuche, René Morel, François Gorphe, naFrança; Hugo Alsina, na Argentina; Eduardo JuanCouture, no Uruguai, e Hernando Devis Echandia, naColômbia.Ao longo desse período, as marcas do processopublicista foram mais acentuadas, e a concepção deação, como direito autônomo, praticamente assentousepacificada, enquanto que os princípios e institutoscomuns do processo, nos quais se incluem a parte eterceiros, passaram a ser melhor delineados.O processo com procedimentos distintos sobressai então comouma seqüência de atos das partes,coordenados e interligados, no mínimo dois, que seexplicam um ao outro, em autêntica relação lógica ecronológica de antecedente e conseqüente, como já se

viu. É possível vislumbrar um mimus de cientificidade (p.139)nessa relação lógica de atos "intraprocessuais" e"extraprocessuais" com repercussão além dos limitesdo processo. Do interior para o interior e do interiorpara o exterior.Outro é o caso dos atos praticados fora do processo, comrepercussão no seu interior, como sói acontecer, porexemplo, com a procuração outorgada ao advogado para finsde processo; a escritura pública lavradapelo tabelião, que passa a se constituir em objeto do

processo; a promessa de compra e venda; o contrato delocação; o título cambiário e outros.A par dos atos que repercutem do exterior para ointerior, existem também os fatos extraprocessuais denatureza aleatória que repercurtem na mudança derumo do processo, quais, por exemplo: o dia, a noite, opassar do homem pelo tempo (prescrição, tempo, decadência);a situação econômica da parte; a morte; adoença; o desabamento do imóvel locado; odesfazimento do bem móvel e outros.Jamnes Goldschmidt definiu atos das partes como

aqueles que dão vida ao processo, criando, modificando oumesmo extinguindo a perspectiva processual.Disse-os de duas classes: postulação e constituição.Quaisquer deles com vistas no órgão de administraçãoda justiça, nas próprias partes, ou nos terceiros, massempre sujeitos a atividade cognitiva de estimaçãojudicial. Nesse particular, o juiz se vincula ao processocom interesse voltado à condução dos atos das partes

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até que chegue ao ato final, de sua exclusiva competência,a sentença, que sói transparecer como objeto imediato doprocesso.Cada ato de parte tem um núcleo específico quenão é simplesmente o exercício de um direito no processo,mas o exercício de um direito subjetivo constitucionalmenteassegurado ao sujeito, desde que tenha (p. 140)alcançado o direito de pretensão decorrente de conflitointersubjetivo de interesses não resolvido.Liebman chegou a afirmar que os atos das partessão como "elos de uma cadeia", interligados. Dosomatório dos atos resulta o procedimento, por issoBetti definiu procedimento como ato complexo. JaimeGuasp os classificou de atos de iniciativa, atos dedesenvolvimento e atos de conclusão, cuja classificação éaceita entre nós.Desde o conflito não resolvido até a sentença há

uma intermediação de atos que se desenvolvem emcadeia numa relação lógico-cronológica de antecedentee conseqüente. Assim é que do pedido resulta umaresposta ou uma conduta silente da parte demandada.Do conteúdo da resposta, uma réplica. Destes, umasentença ou uma audiência. Desta, uma sentença.A sentença é, pois, o resultado final de umsomatório de atos cientificamente ordenados no processo.Não é ato pelo qual o juiz encerra ajurisdição, porquenela continua, apreciando embargos declaratórios, recebendoou julgando deserta a apelação e, por fim, praticando atos

de execução, portanto não é ato processualque, forçosamente, finda o processo, sim o procedimento.Por outro ângulo, a contrario sensu, é ato que,inocorrendo quaisquer das hipóteses supra, finda o processoe o procedimento.

5 - RELAÇÃO DE ANTECEDENTE E CONSEQUENTE DA SENTENÇA, SEUSEFEITOS,QUALIDADES E TERCEIROSAssim como todos os atos do processo movimentam-se em umuniverso de antecedente e conseqüente, a

sentença, além do processo, é ato judicial de repercus- (p.141)são política, no sentido de que os seus efeitos refletemna pólis com a autoridade de coisa julgada que delaresulta. Impõe-se registrar que do ato sentencial resultamqualidades e efeitos.A primeira delas é a sua autoridade pura e simples, comoato público, desde que entregue em cartório

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pelo juiz ou proferida em audiência; a sua autoridadepura e simples resulta do fato de ser ato praticado porpessoa investida de autoridade, em processo regido porprincípios que salvaguardam direitos comuns do cidadão. Osegundo deles é a sua autoridade de coisajulgada, desde que dela não caiba mais recurso, o que afaz eficaz entre as partes para as quais existiu. Oterceiro é a eficácia aparente, que decorre da situação emque, mesmo recursada, excute-se o ato, como que seeficaz fosse. Por fim, dela resulta os efeitos objetivos esubjetivos que compreendem a indiscutibilidade damesma quaestio entre as mesmas partes. É certo, contudo,que a sentença pode repercurtir direta ou indiretamente naesfera jurídica de quem não seja parte noprocesso. Tal possibilidade, que tanto se situa no planojurídico como no psicossocial, é que mais autoriza oinstituto da intervenção de terceiros.

Vê-se, pois, que um dos móveis da intervençãoestá na relação de antecedente e conseqüente existenteentre a sentença e o que dela pode resultar, em nível deefeitos jurídicos, para as partes sobre as quais foi dada,e terceiros. Por isso que o legislador processual argentinoexplicitou que pode intervir no juízo pendente, naqualidade de parte, qualquer que seja a etapa ou ainstância em que se encontra o processo, aquele queacredite sumariamente que a sentença possa afetar seuinteresse próprio.Assim é que, em determinado caso, visa a intervenção à

afirmação de direito próprio, incompatível (p. 142)com os dos protagonistas de ação originária. É a modalidadeintervencional denominada de oposição.Por outra ótica, a intervenção busca a garantia dedireito de regresso decorrente da evicção. É a segundamodalidade intervencional denominada denunciaçãoda lide.De outro prisma, objetiva a intervenção acertar opólo passivo da relação processual com a eximição daresponsabilidade de reparação por perdas e danos, porparte do demandado na ação. É a terceira modalidade

intervencional denominada nomeação à autoria.Em quarto lugar, a intervenção tem por fim aresponsabilização de co-obrigados, com a diminuiçãoou eliminação da medida de obrigação solidária. É aque se denomina chamamento ao processo.Das figuras intervencionais nominadas, pode-seter a seguinte sinopse de suas causas:- oposição: afirmação de direito próprio incompatível com o

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do autor e demandado da ação originária;- nomeação à autoria: acertamento do pólo passivo darelação processual e eximição da responsabilidade dereparação por perdas e danos;- denunciação da lide: garantia do direito decorrente daevicção, ou exercício de direito de regresso;- chamamento ao processo: responsabilização deco-obrigados com a diminuição ou eliminação da medida daobrigação.Das mesmas figuras têm-se também em sinopseos seus efeitos.Desde que ocorrida a intervenção por quaisquerde suas causas, dela também não se aparta a idéia de (p.143)relação científica, por isso que sobressaem as suasconseqüências, quais sejam:- oposição: de afirmação pela negação com extensão

subjetiva ativa e quadrangulação da relação processual,podendo-se chegar a uma relação piramidal.Diz-se extensão subjetiva ativa porque o opoente atuadeduzindo uma pretensão própria, ativamente. Diz-sequadrangulação da relação processual porque, por força doinstituto, é ele deduzido em face do autor e réu daação-base. Então, permanecem autor, réu e opoentecomo partes interessadas, e o juiz como partedesinteressada, formando-se uma quadrangulação. No entanto,sabendo-se que pode ocorrer oposição da oposição,com sucessividade, a figura que se forma é, por

conseqüência, piramidal;- nomeação à autoria: de negação pela afirmação, commodificação da parte do pólo passivo darelação processual, desde que aceita a nomeação peloautor da ação e pelo nomeado, dando-se, neste caso, aestromissione do nomeante. Se não aceita a nomeaçãoou pelo autor ou pelo nomeado, permanece o nomeanteno pólo passivo da relação processual;- denunciação da lide: a extensão da relação processualativa ou passiva, no plano vertical ou horizontal, porsubordinação ou adjunção. Relação processual

condicionada. Exercício de pretensão no bojo doutraação. Diz-se extensão ativa ou passiva porque tanto oautor como o requerido podem denunciar à lide. Ocorrendo adenunciação, o denunciado pode aceitá-la esustentar posição contrária ao seu denunciante, dandose,assim, uma extensão no plano ativo ou passivo, nalinha vertical; também pode dar-se a denunciação e o (p.144)

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denunciado se litisconsorciar com o seu denunciante,ocorrendo, assim, uma extensão no plano ativo ou passivo,na linha horizontal.Pode, ainda, o denunciado aceitar a denunciação evir a coadjuvar com o seu denunciante, com ele seombreando na defesa do seu interesse, em linha horizontalpor adjunção. Portanto, adjunção é a unificaçãode esforços no mesmo sentido;- chamamento ao processo: ocorre a extensão darelação subjetiva passiva, valendo a sentença como títuloexecutivo em favor daquele que satisfizer a dívida,para exigi-la por inteiro, do devedor principal ou decada um dos co-devedores a sua quota, na proporçãoque lhes tocar. (p. 145)

(p. 146, em branco)

Parte Especial - FIGURAS INTERVENCIONAIS NOMINADAS NOCÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (p. 147)

(p. 148, em branco)

IntroduçãoO nosso legislador processual civil elencou quatro tipos oumodalidades de intervenção de terceiros,como se vê expressamente no Capítulo VI do Códigode Processo Civil vigente. São elas:1. oposição - arts. 56 - 61;

2. nomeação à autoria - arts. 62 - 69;3. denunciação da lide - arts. 70 - 76;4. chamamento ao processo - arts. 77 - 80.Não se trata, no entanto, de numerus clausus,desde que se tenha a assistência, o recurso de terceirointeressado, a parte que à outra substitui, os embargosde terceiro, o concurso de credores e o litisconsórciocomo tipos intervencionais também, porém, nãonominados.Convém-nos as figuras expressamentenominadas pelo legislador na sua previsão genérica. (p. 149)

(p. 150, em branco)

Capítulo I - OPOSIÇÃO

O TEXTO DA LEI PROCESSUAL"Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, acoisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu,poderá, até ser proferida sentença, oferecer oposição

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contra ambos.Art. 57. O opoente deduzirá o seu pedido, observando osrequisitos exigidos para a propositura daação (arts. 282 e 283). Distribuída a oposição pordependência, serão os opostos citados, na pessoados seus respectivos advogados, para contestar opedido no prazo comum de quinze (15) dias.Parágrafo único. Se o processo principal correr àrevelia do réu, este será citado na formaestabelecida no Título V, Capítulo IV, Seção Terceira,deste Livro.Art. 58. Se um dos opostos reconhecer a procedência dopedido, contra o outro prosseguirá o opoente.Art. 59. A oposição, oferecida antes da audiência,será apensada aos autos principais e correrásimultaneamente com a ação, sendo ambasjulgadas pela mesma sentença.

Art. 60. Oferecida depois de iniciada a audiência,seguirá a oposição o procedimento ordinário, sen- (p. 151)do julgada sem prejuízo da causa principal. Poderáo juiz, todavia, sobrestar no andamento do processo, porprazo nunca superior a noventa (90) dias, afim de julgá-la conjuntamente com a oposição.Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e aoposição, desta conhecerá emprimeiro lugar."

1 - CONCEITO

Oposição é a ação de que dispõe terceiro parafazer valer direito seu, no todo ou em parte, sobre obem de vida objeto de lide pendente.Diz-se-a, outrossim, intervenção principal, porisso que busca o opoente direito próprio manifestamenteopósito ao dos opostos:"L’intervento principale è quello al quale lalegge si riferisce quando prospetta l’ipotesi che ilterzo faccia valere el suo diritto (affermato) "inconfronto di tutte le parti"..."{1}A oposição é uma espécie do gênero intervenção

voluntária. A outra espécie, da categoria das nãonominadas,é a assistência. Assim, intervenção voluntária é gênero.

2 - HISTÓRICOO direito romano não conheceu a oposição emrazão do excessivo formalismo informador do proces 1.MANDRIOLI. Corso di diritto processuale civile. 10. ed.,Milano: G.

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Giappichelli, v. 1, p. 330-331. (p. 152)so romanístico. Atilio Carlos González chega a afirmar que"el cerrado formalismo, intrínseco y extrínseco,que informaba al derecho romano, tornabainconcebible la injerencia de un tercero en elestadio cognoscitivo del proceso".{2}Firma-se o citado autor em Enrique Vescovi:"Desde Roma se mantiene inconcuso el principiode que los efectos del prlceso, en especial la cosajuzgada, no alcanzan a los terceros: res interalios judicata tertius non nocet".{3}Sua origem remonta ao período da Idade Média(de 476 a 1543), quando, vencidos o período primitivodo Direito, dos primórdios dos tempos até o surgimentodo direito romano (450 a.C.), bem como o período ditoromano - de 450 a.C. à 568 d.C. -, quando se iniciou ochamado período romano-barbárico - de 568 à 1.088

d.C. - com a queda do Império Romano do Ocidente.{*}Entre os barbáricos o efeito da sentença transcendia àspartes envolvidas no processo, por isso de efeito2. GONZÁLEZ, Atilio Carlos. La intervención voluntaria deterceros en elproceso. 1. ed., Buenos Aires: Depalma.3. VESCOVI, Enrique. Teoría general del proceso. Bogotá:Temis, § 9, p. 201.* Bárbaros, para os romanos, eram todos os que viviam forados limites doImpério Romano. Distinguem-se, entre os bárbaros, os

germanos - povooriginário das planícies meridionais da Escandinávia,constituído poretnias diversificadas, como os francos, anglo-saxões,alamanos, vândalos, visigodos, ostrogodos, lombardos eoutros. Nesse período, o direitogermânico passou a impor-se com suas codificações as maisdiferenciadas, quais as dos grupos étnicos que oconstituíam. (p. 153)erga omnis (contra tudo, contra todos e todas as coisas).A esse caráter de transcendência das partes também

chamou- se efeito universal da sentença, contrapondose aoefeito singular. A universalidade do alcance subjetivo dasentença devia-se ao fato de que, no sistemajurídico daquele povo, as decisões proferidas nos processosdeveriam ser lidas em assembléias populares,também chamadas Ding, e todos os que delas participavam, oudelas tomavam conhecimento, eram alcançados, então, pelosseus efeitos.

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A oposição, como figura intervencional, remontaao tempo dos bárbaros, quando terceiro, ou seja, quemnão tinha sido parte no processo, se opunha, impedindode ter sobre sio resultado de uma decisão de cujo processonão participava. Era, pois, instituto de carátereminentemente intervencional no sentido de inter venire.Já o direito italiano medieval, que perdurou poraproximadamente seis séculos - entre o século X e oséculo XVI -, conheceu dois tipos de oposição, fazendotransparecer, assim, a assimilação de dois conceitosculturais distintos: o romano - de inadmissão daintervenção - e o germânico - de plena admissão. Assim éque, originariamente, quando um terceiro pretendiaalegar direito seu incompatível com o direito do primuspetitor, só poderia fazê-lo na forma de oposição àexecução. Na fase cognitiva, era-lhe impossível fazê-lo.Posteriormente foi que o direito italiano passou a admitir

que o não-figurante na relação processual intervissededuzindo pretensão incompatível com as preexistentes,formando, desse modo, um novo processo com,no mínimo, três protagonistas. Nesse caso, a oposiçãoera admitida como ação autônoma e distinta daquelaque a ensejou. Era, sim, modalidade de o sujeito se (p. 154)opor aos conflitantes para defender direito seu atingívelpela decisão a ser proferida no processo em curso.O direito canônico não conheceu a figura da oposição, porisso que Couture{4} disse:"No se hallan trazas de la intervención principal

en la fase terminal del proceso romano. Se trata deuna creación de la práctica judicial laica, posterior a lalegislación canónica, como ha sido demonstrado en formaexhausiva por Weismann."Sobre o surgimento do instituto e os povos de suaorigem, Lopes da Costa assinalou:"A figura da oposição é criação do direito intermédio. Edela houve dois tipos: o germânico e oitaliano. No primeiro, pelo conceito de que ojuízo era universal, a sentença obrigando não sóàs partes, como a todos quantos houvessem tido

notícia do litígio, num só processo se reuniam asduas ações, a ação principal e a ação de intervenção, emque o terceiro era autor e réus eram aspartes do outro processo. No segundo, as açõescorriam em processos separados."As menções feitas ao direito germano-barbárico eao direito italiano medieval são referências históricas,de modo a podermos situar no tempo e no espaço as

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Ordenações Filipinas, por onde iniciaremos o percursoda análise histórico-crítica do instituto da oposição.Entre os lusitanos, as Ordenações Filipinas, tambémconhecidas como Ordenações do Reino - pro 4. COUTURE.Estudios..., cit., v. 3, p. 225. (p. 155)mulgadas em 11 de janeiro de 1603, por Felipe II, dePortugal, e Felipe III, da Espanha, elaboradas por FelipeI, de Portugal e Felipe III, da Espanha -, no LivroTerceiro, Título XX, número 31, estabeleciam que:"E por quanto a opposição he como libello,ácerca della se terá (quando com ella se vier) omesmo modo de proceder, que se tem no libello.E vindo o oppoente com seus artigos de opposiçãoa excluir assi ao autor~ como ao réo, dizendo quea cousa demandada lhe pertence, e não a cadahuma das ditas partes, se os taes artigos foremofferecidos na primeira instancia, e antes de se

dar lugar á prova, serão logo recebidos naaudiencia, e assi os mais artigos de contrariedade,replica, e treplica; e se vier com elles depois dedado lugar á prova, ou no caso da appelação, ouaggravo, antes do feito ser finalmente concluso,no caso, em que per Direito com opposição possavir, pronunciar-se-ha sobre ella per desembargo, enão sobrestará no primeiro feito, antes se irá porelle em diante, até se dar final determinação. E aopposição correrá em feito apartado, e depoisque o primeiro feito fôr findo, se proseguirá o

feito da opposição contra o vencedor. E tratandose o feitoperante Juiz, que per se só delle haja deconhecer, e não cabendo a causa em sua alçada,não recebendo a dita opposição, não se poderáappelar delle, sómente se aggravará per petiçãoou instrumento. E em todo caso, onde não fôrrecebida a opposição, será o oppoente condénadonas custas do retardamento em dobro para as partes, postoque tivesse causa de litigar." (p. 156)Peculiaridades comuns da oposição no direitogermano-barbárico e no direito italiano medieval foram

repassadas às Ordenações Filipinas, contudo, em todasas épocas e ordenamentos, pontos importantes do institutoconstituíram-se objetos de controversão doutrinária. Umadelas esteve no definir se a oposição é simplesmente figuraintervencional ou se é ação. Umaoutra, se a oposição teria no pólo passivo as duas partesda ação originária ou uma delas. Uma terceira, se aoposição excluiria as partes demandadas ou afastaria as

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pretensões por elas deduzidas.

3 - AÇÃO DEOPOSIÇÃODo ângulo do direito germano-barbárico e do direitomoderno, não obstante eméritas posições contrárias, oinstituto da oposição apresenta-se como figura deintervenção no sentido de inter venire, já que o seupressuposto maior de existência é uma ação em andamento. Apar da evidência do caráter intervencional, não se lhepode negar o caráter de ação, visto que o opoente buscafazer valer direito próprio contrário ao direito dosopostos. É, pois, intervenção, de um terceiro, com caráterdeincidentalidade. A incidentalidade não está no fato de serapensada aos autos do processo por onde tramita a açãobase,como que resultante de conexidade de causas, mas,sim, no fato de engendrar-se no curso de uma discussão

em juízo, não podendo subsistir nem antes deestabelecida a discussão e nem depois de finda a discussão,porque julgado o caso. Têm-se, então, que é umaação de intervenção incidente e proposta por alguém nãoparte na ação-base, por isso que terceiro. Não se lhe negao caráter de ação, porquanto não deixa de ser um movi- (p.157)mento de reequilíbrio das relações jurídicasdesequilibradas pelas pretensões das partes opostas diantedodireito tético do opoente.

Afirmando-a uma vera ação, João Monteiro definiu-a como"acção de terceiro para escluir tanto o auctorcomo o réo. Diz-se que é acção porque, comoacabámos de vêr, a opposição é meio de defendermosjudicialmente aquillo que é nosso e está sendo por outrodisputado; por ella invocamos oofficio do juiz para que nos affirme a existênciade uma relação de direito que outros contestam é, pois,verdadeira ação".{5}Não dissímil Lopes da Costa:"É ação, porém, a oposição. O assistente não é

parte, mas apenas, em certos casos (a assistênciaqualificada), para certos efeitos tratado como parte. Porisso os alemães lhe chamam parteassessória (Nebenpartei). O opoente é autor."{6}Em abordagem doutrinal sobre características daoposição, José Alberto dos Reis anota que,"sob a forma de incidente, o opoente propõe umaverdadeira acção, quer dizer, atravessa-se, como

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autor, num processo que está a correr entre outras5. MONTEIRO, João. Teoria cit., p. 863.6. COSTA, Alfredo de Araújo Lopes da. Da intervenção deterceiros noprocesso civil. São Paulo: C. Teixeira, 1930. (p. 158)pessoas e, com sua acção, tem em vista fazer valerum direito próprio."{7}Oposição é, pois, ação, por isso que o opoenteexercita a faculdade de perseguir em juízo um direitoseu. "L’action (actio) est la faculté de poursuivre undroit en justice; actio est jus persequendi judicio quodsibi debetur."{8}

4 - OPOSTOS DA OPOSIÇÃOPrimeiro as Ordenações Filipinas. Admitia-seque, no caso de ação real, no pólo passivo figuravamdemandante e demandado, sendo ambos "excluídos",

por isso que o bem reclamado não seria desses litigantesoriginários, mas do opoente, que o reclamava parasi. No caso de ação pessoal, no pólo passivo figurava odemandante da ação originária, que deveria ser "excluído",permanecendo o demandado para que sobreeste recaísse a decisão impondo-lhe o cumprimento doque lhe tocava cumprir visto o conflito surgido. Assimera o texto reinícula: "E vindo o opoente com seusartigos de oposição a excluir ao autor como ao réu..."A Consolidação do Conselheiro Antônio JoaquimRibas, membro do Conselho de Sua Majestade, o Imperador,

aprovada pela Resolução Imperial de 28 dedezembro de 1876, admitiu que a oposição tratava-sede instituto que excluía a "intenção" do autor e do réu aum só tempo.7. REIS, José Alberto dos. Código de Processo Civillusitano. 3. ed.,Coimbra: Coimbra Editora, 1948, v. 1, p. 484.8. WETTER, P. Van. Pandectes. Paris: Librairie Générale deDroit et deJurisprudence, 1909, t. 1, p. 294. (p. 159)Antes da Consolidação, contudo, com o advento

do Decreto n. 737, de 25 de novembro de 1850, acorrente doutrinal dominante reagiu à imperiosa necessidadede "exclusão" do demandado do pólo passivo da relaçãoprocessual exatamente nos casos em quea ação fosse de natureza pessoal. Não viam comoafastar do processo aquele que deveria suportarobjetivamente o resultado da decisão. O aludido decreto,no art. 118, foi expresso: "Opposição é a acção do

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terceiro que intervem no processo para excluir o autore réo."Resolvendo a desinteligência legislativa da época,admitiu-se que a oposição podia ser proposta tantocontra o autor como contra o réu, separadamente, oucontra ambos: "Opposição he o Libello que hum terceirofórma em Juizo contra o Autor, ou contra o Réo, oujuntamente contra ambos."{9} Tinha-se, então, que tantopodia a oposição vir em face de uma só parte oposta ouem face de ambas. No último caso, dizia-se emlitisconsorciação passiva. Para uns, necessária; paraoutros, quase-necessária; para outros, excepcional; paraoutros, sui generis. Entendimento equívoco.Acomodando ao Foro do Brasil as Primeiras Linhas de Pereirae Souza sobre o processo civil, AugustoTeixeira de Freitas foi fiel ao advogado lusitano,mantendo-se na mesma linha de raciocínio originariamente

traçada: "Opposição é o acto escripto e, articulado,pêlo qual um tercêiro exclúe, ou ao Autôr, ou ao Réo,ou à ambos, na Acção ordinária entre êstes."{10}9. PEREIRA E SOUZA, Joaquim José Caetano. Primeiras linhassobre oprocesso civil. Lisboa, 1858, t. 1, § 154, p. 116.10. PEREIRA E SOUZA, Joaquim José Caetano. Op. cit., § 175,p. 134. (p. 160)Barão de Ramalho{11} assim se posiciona:"Oppoente é aquelle que intervem na causa para excluira um ou a outro dos litigantes, ou a ambos; faz as vezes

de autor".Manuel de Almeida e Souza de Lobão{12} já se haviamostrado reticente a Pereira e Souza, admitindo que naoposição demandante e demandado deveriam figurar nopólo passivo da relação processual:"Que porém não seja necessária citação do réo e doprimeiro auctor para os artigos da opposição, não étão certo como aqui affirma Souza; há outrosarestos que referem o citado Peg., n. 57, e no Tom.1, Form., C 5, p. 380. E n’esta collisão de arestos sedeve seguir o mais seguro, que é citarem-se o

auctor e o réu para a opposição. Bem que, se ellesnão citados responderam à opposição, fica assássupprida a citação".O Decreto n. 848, de 1890, veio como complicador maior dascontrovérsias ao estabelecer que oposição "é a acção deterceiro, que intervém no processopara excluir o réo". Tal só foi desfeito com o Decreto n.3.084, de 1898, que acabou por adotar a definição do

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Decreto n. 737.A questão continuou ensejando posicionamentosvários. Assim é que se assentou que, quando terceirointervém no processo para excluir uma das partes, eporque está em favor da outra e, neste caso, a figura11. RAMALHO, Barbo de. Praxe brasileira. 2. ed., São Paulo,1904, § 67, p. 85.12. LOBÃO, Manuel de Almeida e Souza de. Segundas linhassobre oprocesso civil. Lisboa, 1868. (p. 161)

ocorrente é de assistência, não de oposição, por issoque João Monteiro,{13} firmou-se do seguinte modo:"Diz-se excluir tanto o auctor como o réo porquenisto precisamente consiste a opposição, ficandoassim patente o erro de alguns DD. que a consideram oradirigida contra o auctor ora contra o réo

ou juntamente contra ambos."

5 - OPOSIÇÃO E OS CÓDIGOS ESTADUAISDos Códigos de Processo dos Estados colhemosas seguintes posições legislativas sobre o pólo passivoda ação de oposição:Código Estadual de São Paulo, art. 83:"O terceiro que se julgar com direito sobre oobjeto do litígio pode, manifestando intenção diversa dados litigantes, intervir como oponente."Código Estadual do Distrito Federal, art. 163:

"A opposição é a acção do terceiro que se julga comdireito sobre o objecto da causa e intervem no processopara excluir as partes, ou qualquer dellas."Código Estadual de Minas Gerais, art. 229:"Quem tiver jurídica pretensão sobre o direito oua cousa que constitue objecto de uma demanda13. MONTEIRO, João. Curso de processo civil. 4. ed., Rio deJaneiro, 1925,§ 306, p. 863-864. (p. 162)entre outras pessoas, poderá intervir no processopara excluir ambos os litigantes."

Código Estadual da Bahia, art. 11:"Quem tiver jurídica pretensão sobre o direito oua coisa, que constitue o objecto da demanda entreoutras pessoas, póde intervir no processo,oppondo-lhes uma petição que lhes exclúa as pretensões."Código Estadual do Rio Grande do Sul, art. 84:"Oppoente é o terceiro que intervem no processopara excluir o auctor e o réo."

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Código Estadual de Pernambuco, art. 409:"Querendo um terceiro excluir ao mesmo tempoas pretensões do autor e do réo, ou as destes e deoutro oppoente anterior, sobre o objecto do litígio, poderáfazê-lo, emquanto na causa se nãotiver proferido decisão final irretractavel."Código Estadual do Ceará, art. 159:"Por meio da opposição póde um terceiro intervir noprocesso para excluir conjunctamente oautor e o réo."Código Estadual do Paraná, art. 86:"Póde intervir no processo, oppondo-se ao autor eao réo, aquelle que entende pertencer-lhe o direitoou a cousa que constitue o objecto da demanda." (p. 163)

5.1 - O Código de 39O Código Federal de 1939, quanto ao particular,

manteve-se fiel às Ordenações, ao Regulamento n. 737,de 1850, à Consolidação de Ribas, refletindo um dospropósitos de Pedro Batista Martins, autor do seuanteprojeto, qual seja: o de pôr fim às desinteligênciassobre os figurantes do pólo passivo da relação processualna oposição.O art. 102 do Estatudo pretérito tinha a seguinteredação:"Quando terceiro se julgar com direito, no todoou em parte, ao objeto da causa, poderá intervirno processo para excluir autor e réu."

Não obstante isso, J. M. de Carvalho Santos{14} divergiu dePedro Batista Martins e de João Monteiro,perfilhando o entendimento de que no pólo passivo darelação processual da oposição, quando se trata de açãoreal, devem figurar demandante e demandado da açãobase;quando se trata de ação pessoal, deve figurar apenas odemandante da ação-base. É dele o seguinte texto:"Costuma-se dizer que a característica da oposição é aincompatibilidade do oponente com a doautor e réu. Está certo, se se trata de ação real,como já vimos, mas na ação pessoal a incompatibilidade

poderá ser apenas quanto a intenção do14. SANTOS, J. M. de Carvalho. Código de Processo Civilinterpretado. 5.ed., São Paulo, 1958, v. 2. (p. 164)autor, visando a oposição ao seu afastamento,embora não se pretenda a exclusão, também, doréu. O que se verifica é o seguinte: oposição visaà exclusão do autor e à permanência do réu, com

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quem o oponente pretende discutir o direito pessoal, quealega ter. Não passa a ser assistente doréu, como se está a ver, mesmo porque a suapretensão não coincide com a deste."A posição de Carvalho Santos não prevalece. Sãoindistinguíveis os caracteres da oposição em razão danatureza do interesse jurídico conflitado na ação-base.De direito real ou de direito pessoal, a oposição serásempre ofertada em face do demandante e do demandado daação-base, sem que haja nessa exigêncialitisconsorciação passiva necessária, quase necessária,exCepcional ou sui generis como querem alguns. Ahipótese não é de litisconsorciação, sim de pluralizaçãode partes no pólo passivo sem que haja litisconsórcio.Inocorre a junção de lides visando a mesma sorte. Olitis-cum-sors está ausente. Os objetivos das partes sãoantagônicos, opósitos, não obstante único, na maior das

vezes, o objeto; necessariamente, nem sempre.

5.2 - O Código de 73"Art. 56: "Quem pretender, no todo ou em parte, acoisa ou o direito sobre que controvertem autor eréu, poderá, até ser proferida a sentença, ofereceroposição contra ambos."Restaram, assim, definidos os limites subjetivosdo pólo passivo da ação de oposição.Vê-se que o legislador pátrio manteve-se fiel , naatualidade, à origem histórica do instituto, em especial

(p. 165)ao Decreto n. 737; não assim o agoral lusitano, visto ocontido nas Ordenações.Hoje o Código de Processo Civil português admite a oposiçãoem face do autor da ação-base. As Ordenações, suas anosasfontes, foram menoscabadas. Ébem verdade que o Professor José Alberto dos Reis,comentando o anterior Código de Processo Civil lusitano,{15} exposou o entendimento de que a oposição semprecontrastará com a pretensão do autor, podendo contrastar ounão com a do réu. Citou, para tanto, dois

exemplos aclaradores de sua posição:"Imagine-se que está pendente uma acção de dívida; o réunão nega a obrigação de pagar e simplesmente levantadúvidas quanto ao verdadeiro titular do direito de crédito;surge o opoente e diz:sou eu o credor, e não o autor. Neste caso, háconflito entre a pretensão do opoente e a do autor;mas não há conflito algum entre a pretensão do

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opoente e a do réu. O opoente propõe-se excluiraquele, não se propõe excluir este. Outro exemplo: Ademanda B para reivindicar um prédio deque está de posse; o réu alega que o prédio é seu;intromete-se C, como opoente, a dizer: o prédionem pertence ao autor nem pertence ao réu, pertence-me amim, sou eu o proprietário. Aqui oopoente formula uma pretensão que colide tantocom a do autor, como com a do réu."Acrescenta o eminente processualista, apontandocomo característico da oposição que o direito do opoente15. REIS, José Alberto dos. Código de Processo Civillusitano. 3. ed.,Coimbra: Coimbra Editora, 1948, v. 1, p. 484. (p. 166)"é sempre incompatível com a pretensão do autor e podesê-lo também com a pretensão do réu."A par da projeção do Decreto n. 737 em nosso

sistema atual, resta, outrossim, a identidade ideária como modelo alemão. Adolfo Schönke{16} sobre o tema, disse:"Quem pretende para si, no todo ou em parte, acoisa ou o direito, que se constitui no litígio entreas partes, pode exercitar sua ação por meio de umademanda contra as partes do processo pendente."

6 - OPOSIÇÃO E EXCLUSÃO DAS PRETENSÕES DAS PARTES OPOSTASEntão, ultrapassada a fase de discussão, se a oposiçãoexclui autor ou réu, ou a ambos, tem-se tido portoda doutrina, até porque se trata de questão evidente já

no campo do tautológico, que a exclusão não é do autore réu, nem tampouco do autor exclusivamente ou doréu apenas, sim das pretensões deduzidas por ambos,por isso se diz que o opoente busca afirmar direito seuincompatível com os dos opostos.Já pela distante Consolidação de Ribas conheceu-seessa particularidade do instituto, que somente depoisassentou-se pacificada. A oposição não exclui partes, sim assuas pretensões. O seu art. 280 tem a seguinte redação:"Todo aquelle, que tiver interesse na causa, queentre outros se litiga, para excluir simultaneamente a

intenção do autor e a do réo, será nella admittido comooppoente.16. SCHÖNKE, Adolfo. Derecho procesal civil. 5. ed.,Barcelona: Bosch, 1950.No mesmo sentido, KISCH, W. Elementos de derecho procesalcivil. Trad.de L. Prietro Castro. Madrid: Revista de Derecho Privado,1940. (p. 167)

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[...] a oposição não se destina a excluir autor e réudo processo existente sobre determinado direito.O oponente deseja é propor sua ação contra eles,formar um processo para isso".{17}É corrente que a exclusão das partes opostas implicariaalijar do processo elemento indispensável à suaexistência. Então, não se exclui partes, sim pretensõesem nível de pedido e resposta, caso esta exista, visto arevelia. Nisso estiveram as fórmulas ad infringendumjura utrius que competitoris, ad impedendum ou adexcludendum. A primeira é a melhor.

7 - PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DA OPOSIÇÃOa) Processo de sentença, sem que esta tenha sidoproferida - A oposição é, inquestionavelmente, açãoque o opoente propõe em face de, no mínimo, doisopostos. Trata-se de ação com caráter de excepcionalidade,

porque o seu vir-a-ser não prescinde de queoutra haja e seja sua preexistente. Impõe-se que a açãode sua preexistência esteja materializada em processoregido pelo procedimento ordinário comum, cautelar,de jurisdição contenciosa, e noutros casos de cogniçãoampla, admitindo-a, outrossim, na ação civil pública enos embargos. Exclui-se a ação materializada em processoregido pelo procedimento sumário; do juizado17. RIBAS, Antônio Joaquim. Consolidação das disposiçõeslegislativas eregulamentares concernentes ao processo civil. Rio de

Janeiro:Typografia Nacional, 1878, p. 154, BB. (p. 168)especial cível, jurisdição voluntária, juízo arbitral, e doCódigo de Defesa do Consumidor. A princípio, chegueia admitir a cabida da oposição em todos os tipos deprocedimento. Não via nisso nenhum óbice, por issoque se o movere do instituto está na economia processual(tempo e custo), está no propósito de evitar decisõesconflitantes, está no elemento sociopsicológicoque se busca evitar em razão do quanto podeinstabilizar, a um ou mais sujeitos, a certeza de uma

ação sobre "coisa ou direito" que lhes pertence, não meparecia razoável, por questão de valor ou simplificaçãode procedimento, inadmitir a oposição. A uma, porquea questão de valor é por demais relativa, tanto que opouco para alguns pode ser uma fortuna para outros; aduas, porque os procedimentos simplificados (de economia)não poderiam incompatibilizar-se com institutofirmado também no princípio da economia; a três, porque se

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duas ou mais pessoas estão em juízo resolvendoconflito, ou mesmo regidas pelo procedimento voluntário,buscando um provimento jurisdicional fundado nojuízo valorativo do melhor direito, ou simplesmente decaráter homologatório, mas de qualquer forma dandonovo rumo à "coisa ou ao direito" que não lhes pertence,não via como impedir a ação do opoente. Contudo,hoje a lei é expressa e não admite a oposição noprocedimento sumário e outros procedimentos de maiorsimplificação. Obedeçamo-la. Assim, nessa quadra, prefiroa posição de Atílio Carlos González:"La intervención principal o excluyente debe serformulada ante un órgano judicial dentro delmarco de referencia del proceso contencioso ojurisdiccional; debiendo ser excluidas, por principio, laseventualidades de que ello acontezca en (p. 169)un proceso arbitral pendiente o, en su caso, en un

proceso voluntario."{18}b) Qualidade de terceiro - Terceiro é todo aqueleque não figura na relação processual na condição dedemandante ou demandado, mas que dispõe de certamedida de relação jurídica com o bem de vida ou com asituação jurídica conflitada, ou, ainda, com outro bemou outra relação jurídica, mas que pode, tanto umacomo outra, ser afetada em razão da decisão judicial, oque o autoriza, por conseguinte, a ingressar no processovoluntariamente ou por provocação.A noção de terceiro se perfaz com a noção de

negação, por isso terceiro é o que não é parte.c) O opoente deve pretender para si, no todo ou emparte, a coisa ou o direito, deduzindo pretensãoincompatível com o direito do autor e do demandado da ação-base;d) A demanda do opoente deve ser conexa com oobjeto e a causa de pedir da ação-base.{19} "Presuppostidell’intervento principale sono l´incompatibilità deldiritto e la connessione dell’oggetto o della causapetendi...".O instituto da oposição entre nós implica duplicidade de

pretensões.

8 - OPORTUNIDADE DA OPOSIÇÃOImprescinde conhecer a mens legislatoris sobreos dois momentos processuais estabelecidos pelo legisladorpara o exercício do direito de ação de oposição.18. GONZÁLEZ, Atilio Carlos. La intervención voluntaria deterceros en el

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proceso, cit., p. 44-45.19. COSTA, Sergio. Manuale di diritto processuale civile.5. ed., Milano:Utet, p. 184. (p. 170)No art. 59 do anteprojeto do Código vigente, oProfessor Alfredo Buzaid fez constar a seguinte redação:"Quem pretender, no todo ou em parte, enquantonão passar em julgado a sentença, pode oferecer oposiçãocontra ambos".O art. 61 do Projeto de Lei n. 810/72 substituiu o"enquanto não passar em julgado a sentença", por "atéser proferida a sentença", diferindo, assim, doanteprojeto, bem como do Código de 1939.Assim, o legislador estabeleceu dois tempos paraoferecimento da oposição: o primeiro, até o momento dopregão das partes para a audiência na ação-base, caso emque esta será suspensa, prosseguindo após a citação dos

opostos. A oposição e a ação serão apensadas aos autosda ação-base, devendo, depois, ser julgadas pela mesmasentença, sendo a oposição preferencial, ou seja, devendo ojulgador apreciá-la primeiro.Aqui está um modelo que mais se ajusta aogermano-barbárico, por isso que o caráter deincidentalidade resta mais nítido, tanto que os autos sãoapensados e há unidade obrigatória do procedimento.O segundo (tempo), depois de iniciada a audiência, seguindoa oposição o procedimento ordinário,sendo julgada sem prejuízo da causa principal. Nesse

caso, o legislador transfere ao julgador a faculdade desobrestar a ação-base por até noventa dias, a fim de quea oposição se aparelhe com a causa principal e sejamambas julgadas a um só tempo, conhecendo de igualmodo, primeiramente, da oposição.Aqui está um outro modelo que mais se ajusta aoitaliano-medieval, por isso que o caráter deincidentalidade faz-se mais tênue, tanto que as ações sãoconduzidas em autos de processos separados, autonomamente,podendo ser apensados. (p. 171)Nisto se louva a Comissão elaboradora do Código

de 73, que buscou ser fiel às duas origens históricas doInstituto.A clareza do texto desfaz a razão de qualquerquestionamento sobre dies ad quem (termo final) para ooferecimento da oposição.Nesse sentido já se manifestou o eminente Ministro PedroSoares Muñoz,{20} com o seguinte registro:"Penso, no entanto, que a possibilidade de ser oferecida a

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oposição, depois da sentença pendente derecurso, veio de ser eliminada pelo art. 56 do novoCódigo, visto que, segundo ele, "quem pretender,no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre quecontrovertem autor e réu, poderá, até ser proferidaa sentença, oferecer oposição contra ambos".Essa é a interpretação que decorre do enunciadoda norma legal. Se a lei tivesse o propósito demanter a orientação a que o Código de 1939 deuensejo, estabeleceria o trânsito em julgado na sentença,como termo ad quem da oposição. Nem sediga que a palavra sentença está empregada noart. 56, como equivalendo a decisão com trânsitoem julgado ou acórdão. Esses entendimentos nãose harmonizam com os conceitos de sentença e deacórdão enunciados no art. 162.O Código de 1939 não indicava o termo ad quem

da oposição. Limitava-se a anunciar o termo a quo.Predominou a orientação de que seu oferecimentodeveria realizar-se sempre na primeira instância,ainda que a ação se achasse na superior instância,em grau de recurso. A possibilidade de ser a oposi 20.MUÑOZ, Pedro Soares. Estudos sobre o novo Código deProcesso Civil, p. 34. (p. 172)ção oferecida depois da sentença veio a ser eliminada peloart. 56 do novo Código, eis que este, setivesse o propósito de manter o entendimento a queo anterior rendera ensejo, estabeleceria o trânsito

em julgado da sentença como termo ad quem desua manifestação (Ac. unânime da 2ª Turma doSTF de 6/5/75, no RE 80.900-RS, rel. Min. CarlosThompson Flores)."O Ministro Carlos Thompson Flores, relator do REn. 80.900, julgado pela 2ª Turma do STF,{21} em dadomomento do seu voto se expressou: "Certo é que o vigenteCódigo de Processo Civil pôs fim à dúvida, tornandoexpresso o dies ad quem para que se ofereça a oposição".Quanto ao termo a quo, tenho que deve ser fixadoa contar do momento em que se efetiva a citação do

demandado na ação-base.O modelo alemão permite o ingresso do opoenteaté o momento em que a sentença definitiva se tornafinal, isto é, transita em julgado (bis zur rechtskrãftigenentscheidung).Não obstante a fidelidade do legislador de 73 àsorigens históricas do instituto, quer me parecer que teriasido mais prático se tivesse estabelecido um só tempo

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para o oferecimento da oposição, ou seja, da citação até omomento da sentença. Nada mais. A oposição seriaapensada aos autos-base e o seu julgamento, prejudicial.

9 - CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS DA OPOSIÇÃOa) Pluralidade passiva obrigatória de partes, semque isso implique litisconsorciação necessária, já que21. RTJ, 74/603-607. (p. 173)os interesses são todos opósitos entre si; está ausente ohtis-cum-sors.b) A oposição como prejudicial do juízo exigeseja primeiro conhecida.c) No caso de ser ofertada a oposição antes deiniciada a audiência, o que determina o apensamentodos autos da ação principal com os autos da ação deoposição, tendo as duas ações o mesmo trâmite, dispõeo art. 59 do Código de Processo Civil, que serão ambas

julgadas pela mesma sentença.No caso de ser oferecida a oposição após iniciadaa audiência, mesmo seguindo ela o procedimento ordinário,havendo o sobrestamento do andamento da açãobase pelo prazomáximo de noventa dias e tendo chegado ao fim juntamente,também haverá uma só sentença.não O que convém ficar assentado aqui é que, mesmohavendo sobrestamento da ação-base, não é possíveljulgá-la sem que antes seja julgada a oposição, já queesta, ainda que autonomamente, é prejudicial exógena.Diz-se prejudicial a questão de mérito que exige

seja apreciada antes da solução do litígio base, e quenele, por conseqüência, tenha de influir. Será interna ouendógena, se decorrer de fatos que sobressaem no próprioprocesso-base. Será externa ou exógena se decorrer de fatosque se sobressaem em processos autônomos, apensados ou não.É uma conseqüência da coexistência de ações, que triparte-se nas seguintes situações:a) na situação em que a segunda ação é totalmenteabsorvida pelo resultado da primeira;b) na situação em que a segunda é absorvida emparte pelo resultado da primeira;

c) na situação em que a segunda é exercida após aprimeira e absorve-lhe todos os seus efeitos. Nesse (p. 174)caso ocorre o concurso cumulativo das ações, enquantoque nos dois outros o concurso é eletivo;{22}d) se procedente, a oposição, impõe-se, outrossim, aemissão de juízo valorativo sobre a pretensão daspartes opostas, uma vez que a sentença na oposição fazcoisa julgada entre o opoente e o oposto demandante da

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ação-base, também entre o opoente e o oposto demandado damesma ação, não o fazendo entre demandantee demandado da ação principal originária. Sendo certo,é bem de ver, que o objeto da ação-base terá sidoabsorvido pelo objeto da ação de oposição. A menosque não tenha sido reconhecida nesta, no todo, o direitoda primeira;e) se improcedente, a oposição, impõe-se, commaior razão, a exigência de emissão de juízo valorativona ação-base;f) se a oposição é preferencial no juízo, tem-seque a ordem de manifestação das partes deverá ser aseguinte: opoente, oposto autor e oposto demandado;g) havendo mais de uma oposição, a ordem demanifestação das partes deve seguir o mesmo critério, acomeçar do último opoente.

10 - EFEITOS DA OPOSIÇÃOa) Inova a ação-base.b) Alarga o tema do contraditório.c) Favorece ao julgador medida maior de dadospara formação da convicção judicial.d) Alarga os limites subjetivos da coisa julgada.22. MENDES JÚNIOR, João. Direito judiciário brasileiro, p.131. (p. 175)Elio Fazzalari{23} chega a afirmar que"l’intervento ad excludendum allarga il tema delcontraddittorio e della decisione, estendendolo alla

posizione sostanziale dell´interveniente: quindi è unintervento innovativo. Inoltre, l´interveniente non èqui subordinato a nessuna delle parti; si tratta,dunque, di un intervento principale".

11 - PRINCIPIOS GERAIS E ESPECIAIS DA OPOSIÇÃOÉ preciso cuidado para que no estudo de qualquertema não se confira medida maior de significado aosprincípios gerais, seus regedores, e sejam apoucadas asmedidas dos princípios especiais. No caso do institutoda oposição, sobressaem princípios especiais que devem se

sobrepor aos gerais, e de comum, existentes noprocesso. Assim temos que:a) a citação se faz nas pessoas dos advogados,mesmo sem poderes para tanto. A preexistência doutraação, um dos pressupostos de admissibilidade da oposição,resulta na certeza de que as partes demandadas, asopostas, já estão em juízo, ou, se não estão, em razão darevelia daquela que figura no pólo passivo, pelo menos

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estão nominadas como partes. Impende que sejam citadaspessoalmente, porque já com advogados constituídos para omesmo caso; ou com curador, na hipótese derevelia decorrente de citação editalícia; ou simplesmenterevel, mesmo citada pessoalmente. Certo é que os advogadospresentes têm poderes para defendê-las no confli 23.FAZZALARI, Elio. Istituzione di diritto processuale. 7.ed., Padova: Cedam. (p. 176)to que se instaurou sobre o bem de vida que o opoenteafirma ser seu, no todo ou em parte. Prescinde, no caso,de que os técnicos do direito tenham poderes expressospara receber citação, por isso recebem-na por força delei. É uma excepcionalidade que se sobrepõe à generalidade.Certo, contudo, que inexiste nulidade de citaçãoquando feita diretamente à parte oposta. É, simplesmente,desprezo à economia processual (tempo e custo).Convém aqui expressar o entendimento de que

quando citado o demandado da ação-base por edital,decretada a sua revelia e lhe nomeado curador,despiciendo se faz citá-lo outra vez via editalícia,bastando que a citação, em razão da ação de oposição, sejafeita na pessoa do curador já nomeado. O contrárioimplicaria o seguinte: novo edital e novo decreto derevelia e nomeação do mesmo curador, vez que não hásentido em nomear outro. Outra vez o princípio daeconomia processual (tempo e custo);b) não obstante partes com procuradores diversos, o prazode contestação não se conta em dobro.

Poder-se-ia questionar se, ao prazo para contestar naoposição, não se aplicaria a regra do art. 191 do Códigode Processo Civil, que preceitua: "Quando os litisconsortestiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados emdobro os prazos para contestar, para recorrere, de modo geral, para falar nos autos."O Professor Celso Agrícola Barbi entende que sim.O Professor Egaz Moniz de Aragão entende que não.Embora na oposição inexista a litisconsorciaçãopassiva, tratando-se, sim, de pluralização de partesdemandadas com pretensões antagônicas, força é convir

que o art. 191 do Código de Processo Civil exige sejaestudado em cotejo com a regra excepcional do instituto.Tendo em vista que nos estudos dos institutos aexcepcionalidade cede lugar à regra geral, e em face de (p.177)tratar-se a oposição de ação com particularidadesexcepcionais, quais as que estão sendo vistas, admito que,se fosse o caso de se pretender aplicar o art. 191 ao

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instituto em estudo, o legislador teria, no mínimo,silenciado quanto ao prazo. Não silenciou e expressamentedelimitou em quinze dias o tempo da respostanuma situação óbvia de partes plúrames. Firmo-me,então, na convicção de que o prazo de resposta para osopostos é de quinze dias.Acrescentando mais: o prazo de quinze dias, naoposição, aplica-se inclusive às partes opostas, quandouma delas for Fazenda Pública ou Ministério Público,que gozam do privilégio do art. 188 do Código deProcesso Civil, que estabelece: "Computar-se-á emquádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrerquando a parte for a Fazenda Pública ou o MinistérioPúblico."Conduzo-me por esta conclusão não só por se tratar desituação excepcional, como já se viu, mas, também, porque anão-admissão desse pensamento implica

o favorecimento de uma parte em prejuízo da outra, comdesprezo manifesto ao princípio da igualdade.Imagine a oposição ofertada contra partes em açãoem que uma delas goza do privilégio do art. 188 e a outranão. A admitir-se o contrário, teríamos que tolerar umoposto com o prazo de quinze dias para contestar, e ooutro, com o prazo de sessenta dias para o mesmo ato.A igualdade de tratamento, na hipótese, seriamenoscabada. Parece-me, então, mais razoável a posição deMoniz de Aragão.Explico mais: o privilégio do art. 188 constituiu

tema de debate entre os parlamentares quando da suavotação. De um lado, a corrente que entendia não deverexistir tal privilégio por inconstitucional, visto adesigualdade de tratamento dispensada às partes no proces-(p. 178)so. Doutro lado, a corrente em seu prol, tendo sido estaprevalecente sob o argumento de que as pessoas dedireito público, as autarquias e as demais pessoasbeneficiadas pelo dispositivo tinham sobrecarga de trabalhoem face do alcance geográfico e demográfico do seuatendimento. Certo o argumento, porém não aplicável à

oposição, uma vez que, na prática, não são tão comunsos exercícios de pretensão para fazer valer tal tipoespecífico de ação.

12 - FACULTATIVIDADE DA OPOSIÇÃOÉ digno de nota, no instituto da oposição, o caráter defacultatividade do seu exercício. O que sobressaicom mais relevo nesse particular é que, se o terceiro

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fizer uso do instituto, ou não o fizer, prejuízo nenhumsofrerá. Poderá ele, após decidida a causa entre autor edemandado na ação-base, intentar, em face daquele quenela tiver sido vitorioso, ação própria e pertinente àsituação que remanesceu da sentença.É essa medida extrema de facultatividade e ainexistência de qualquer prejuízo ao terceiro que temfeito alguns juristas refletirem sobre a conveniênciaou não da mantença desse instituto no elenco dasfiguras intervencionais. Heitor Martins, jurista lusitano,se insurgiu contra a oposição, dizendo-a responsável portornar confusas e inestrincáveis as demandas,no que foi resistido e vencido pelo emérito ProfessorAlberto dos Reis.Dir-se-ia então que a medida maior da conveniência de suapermanência no processo está na celeridade,na economia processual, no alargar da relação subjetiva

do processo, no favorecimento ao julgador de ver aquestão do ângulo de outras provas que podem permitir a (p.179)efetiva decisão justa; mas, de outro lado, vislumbra-seque o princípio da celeridade, que também interessa àspartes da ação-base, os opostos, fica secundado pelointeresse de celeridade do opoente.O que se tem de certo é que a oposição é figura deuso eminentemente facultativo, cuja facultatividadeestá assegurada no "poderá" do art. 56 do nosso Códigode Processo Civil.

"L’intervento principale non è un mezzonecessario; poiché la sentenza forma cosa giudicatasolo tra le parti, il terzo che ritenga d´avere undiritto incompatibile con quello delle parti, hafacoltà difare intervento, ma non necessità."{24}

13 - JUÍZO COMPETENTE DA OPOSIÇÃOA oposição será distribuída por dependência, implicandoesta exigência na certeza de que o juiz daação-base será o juiz da oposição, não socorrendo aoopoente o direito de argüir exceção de incompetência

do juízo, em face do disposto no art. 109 do Código deProcesso Civil, não lhe sendo vedada a possibilidade daargüição de incompetência absoluta, como prevê o art.113 do mesmo Código.Não se lhe pode negar, no entanto, o direito deaduzir defesa indireta de natureza dilatória, quais asexceções de suspeição e de impedimento. Outrossim,na hipótese de o opoente tratar-se de pessoa com privilégio

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de foro, a competência deste preferirá a competência dojuízo da ação-base.24. COSTA, S. Manualle di diritto processuale civile. 5.ed., Milano: Utet,p. 184. (p. 180)

14 - A MODIFICAÇÃO DA COMPETENCIA E A OPOSIÇÃOSe não se trata de competência firmada em razãoda matéria e em razão da função, dita absoluta, por issoque acertável a qualquer tempo, em qualquer fase doprocesso e grau de jurisdição, a propositura da ação-baseou originária em sentido contrário firma a competênciarelativa. Se outro for o foro ou a circunscrição, visto ointerveniente, modifica-se a competência do juízo paraapreciação da sua pretensão. Se o mesmo foro, não háque se cogitar de modificação ou prorrogação.

15 - INTERESSE, LEGITIMIDADE E POSSIBILIDADE JURÍDICA DOPEDIDOO legislador processual brasileiro não foiminudente neste particular, bem como o legisladorprocessual lusitano hodierno, porque, tratando-se aoposição de vera ação, é preciso se tenha em conta o quepreceitua a Teoria Geral do Processo sobre as condi- Ações da ação.

16 - AUSENCIA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO - INDEFERIMENTO LIMINARO legislador processual lusitano deixou expressa

a possibilidade de rejeição liminar da oposição:"Se a oposição não for liminarmente rejeitada, oopoente fica tendo na instância a posição de parteprincipal, com os direitos e responsabilidades inerentes, eserá ordenada a notificação das partesprimitivas para que dentro de 8 dias contestem opedido" (art. 344º do CPC lusitano). (p. 181)No direito português, a oposição é apreciada nosaneador se ofertada antes da audiência, ou antes queaquele despacho tenha sido proferido. Se ofertada depois,terá que ser apreciada a sua admissibilidade em

cinco dias. Nesses termos, a lição do processualistaJacinto Rodrigues Bastos:"É em despacho saneador que o juiz conhecerá daadmissibilidade da oposição, quando não tenhasido indeferida liminarmente a petição que a tenhaformulada. Se a oposição foi deduzida antesde ter sido proferido o despacho saneador da causaprincipal, será nele que se fará essa apreciação,

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demorando-se, quando necessário, os termos daacção, de modo a conseguir-se esse objectivo; se adedução foi posterior ao despacho saneador, oprazo de admissibilidade será de 5 dias."{25}Não obstante silente o nosso Código quanto apossibilidade de indeferimento ou não, liminarmente,da oposição, é de se concluir que, estando ausentes ascondições de ação e mais as características pertinentesao instituto, impõe-se o indeferimento liminar.É de se observar que no direito brasileiro não seouvem autor e réu da ação-base para admitir ou inadmitira oposição; tal fica na dependência de estarem presentesos requisitos do juízo de admissibilidade. Em casopositivo, o juiz mandará citar os opostos.Conclui-se que, não satisfazendo a pretensãodeduzida às exigências legais para a sua admissão, seráela liminarmente indeferida, ressalvada a possibilidade

de se conceder ao demandante-opoente o direito deaditar corretivamente a sua inicial.25. BASTOS, Jacinto Rodrigues. Op. cit., p. 160. (p. 182)

17 - O PEDIDO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

17.1 - Citação, reconhecimento do pedido e desistência

17.1.1 - O pedidoO pedido, como instrumentalização do exercício dodireito de pretensão, deve-se ater às exigências

substanciais e formais dos arts. 282 e 283 do Código deProcessoCivil, sujeito ao saneamento do caput do art. 284, podendoser indeferido com base no seu parágrafo único.

17.1.2 - A citaçãoEstando em termos, o juiz determinará a citação,para que os opostos contestem o pedido no prazo comumde quinze dias. A citação será feita nas pessoas dosadvogados, nada impedindo que seja feita nas pessoasdos próprios opostos. O entendimento da jurisprudência:

"O art. 57 do CPC ao determinar a citação dosopostos nas pessoas de seus respectivos advogados, tenhameles ou não poderes para recebercitação, estabelece uma exceção à regra geral doart. 38 da lei processual, de que a citação deve serfeita na pessoa do réu. Todavia, perfeitamenteválida é a citação feita na própria pessoa dosreferidos interessados (Ac. 5.975 do TJPA, em

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sessão plena de 17-03-80, em AR, rel. Des.Rodrigues de Amorim)."{26}26. RJTJPA 21/126. (p. 183)

17.1.3 - Reconhecimento do pedido e desistênciaTrata-se de formas anormais de terminação doprocesso.Questão singela se dá na ação de oposição, quando um dosopostos reconhece a procedência do pedidodo opoente, bem com quando ocorre a sua desistênciado oposto autor.Primeiro, porque, nesses casos, deve-se observar aregra do art. 26 e § 1º do Código de Processo Civil, quediz respeito às custas e honorários, como deixou assentadoo legislador:"Se o processo terminar por desistência ou reconhecimentodo pedido, as despesas e os honorários

serão pagos pela parte que desistiu ou reconheceu.§ 1º Sendo parcial a desistência ou o reconhecimento, aresponsabilidade pelas despesas e honorários seráproporcional à parte de que se desistiuou que se reconheceu".Segundo, porque se desfaz a pluralização passivada oposição.Terceiro, é que, tendo em vista que a oposição éação autônoma, o reconhecimento é em razão eaproveitável a esta, não à ação-base, na qual permaneceincólume a relação autor e réu.

Ocorre, contudo, que há necessidade de que o juizhomologue a desistência nos autos da oposição, a fimde que seja liberada a parte que reconheceu a procedênciado pedido.O Professor Celso Agrícola Barbi apresenta duasalternativas: ou se extingue por decisão interlocutória,(p. 184)ou se extingue por sentença após fazer-se uma separação deações; ou seja, uma reprodução de autos paraque nestes, reproduzidos, seja, prolatada a sentença. Se,porventura, houver apelo em razão de uma condenação

excessiva em honorários, por exemplo, estes autos subirão àInstância Superior, sem prejuízo da tramitaçãonormal da ação-base e da oposição, que permanececontra o outro oposto.Embora não exista autorização expressa para tanto na Seçãoda oposição, ensina o eminente processualísta que o juizpoderá fazê-lo com base no art. 125do Código de Processo Civil, que preceitua sobre a

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necessidade de assegurar às partes igualdade de tratamentoe de velar pela rápida solução do litígio.Os eméritos processualistas José Manoel deArruda Alvim{27} e Hélio Tornaghi{28} já exercem magistériodissímil ao afirmarem que, se o reconhecimento dopedido for da parte do réu da ação-base, é de se prolatarsentença, nos autos da oposição, nos termos do art. 269,II, do Código de Processo Civil, liberando-o, dessemodo, da relação processual, prosseguindo a oposiçãocontra o autor oposto, com vistas em sentença de naturezadeclaratória, uma vez que a anteriormenteprolatada é de medida maior de condenatoriedade.É interessante a hipótese porque, havendo o reconhecimentopor parte do requerido oposto (réu), o interesse do autoroposto se volta para o opoente, porque obem de vida que este (autor) pretendia agora foireconhecido em favor do seu opositor. Nesse passo, se a

oposição for procedente em face do autor oposto, a27. ARRUDA ALvIM, José Manoel de. Código de Processo Civilcomentado, v. 3, p. 162-163.28. TORNAGHI, Hélio. Comentários ao CPC, v. 1, p. 244-245.(p. 185)sentença será declaratória; se improcedente, a sentençaserá condenatória.Portanto, se o reconhecimento do pedido do opoentese dá pelo réu da ação-base, como já se viu, há umdeslocamento de direito para o opoente, e, na açãooriginária, terá o réu que ser condenado, também, em custas

ehonorários em face do autor de sua ação, em razão doprincípio da causalidade que o nosso Código adotou. Melhor,então, me parece, a posição dos professores paulistas.Outra é a situação quando o autor da ação-basereconhece a procedência do pedido do opoente.Não obstante as luzes de saber dos eminentesmestres, tenho que a situação não é diferente. Nessecaso, basta que se homologue o reconhecimento, e oopoente passa a ser o único pretendente do bem, emface do oposto requerido.

Assim, se o autor reconhece a procedência dopedido do opoente, impõe-se-lhe a desistência da ação,em razão do seu demandado na ação-base. Não háoutra alternativa. Como poderá ele continuar demandando umdireito, em tese, se já o reconheceu melhorem favor do opoente? Ora, e se a oposição, após, foijulgada improcedente? Prevalece o oposto requeridojunto ao bem de vida pleiteado.

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Hipótese que merece registro é a que melhor dizrespeito à oposição, quando uma reconhece a procedência dopedido do opoente e a outra parte opostaargÚi a ilegitimidade do opoente.Em tal situação, não é admissível que o julgadorhomologue o reconhecimento sem decidir, primeiro, seo opoente é ou não legitimado; isso porque, se se concluirpela não-legitimidade, por conseqüência, impossível será ahomologação.Dessa forma, concluímos que, sendo os opostoscitados na pessoa de seus advogados, se não houver o (p.186)reconhecimento do pedido do opoente, socorrem-lhestrês alternativas:1ª) argüir a não cabida da oposição, porque odireito afirmado pelo opoente não é antagônico ao queé afirmado pelos opostos; ou o bem de vida que constitui o

objeto do conflito dos opostos não é o mesmo quereclama o opoente (nestes casos, dar-se-ia aimpossibilidade jurídica do pedido);2ª) argüir a falta de legitimidade e interesse;3ª) oferecer resposta.Admitida a oposição, ocorre, na verdade, umaconexidade de causas entre a ação-base e a ação deoposição, por isso que Pereira e Sousa já afirmava queo opoente, fazendo as vezes de autor, ofertava um libelo{*}contra um ou outro oposto, ou contra ambos.{29}Na hipótese de o opoente desistir da oposição,

observadas as regras que regulam a desistência, nenhumimpedimento há que seja ela homologada nostermos do art. 267, VIII, Código de Processo Civil, jáque não se questiona mais tratar-se de ação.Poder-se-ia questionar sobre a possibilidade de oopoente desistir do pedido apenas em face de um dosopostos. Impõe-se a negativa da possibilidade.Uma é a situação quando um dos opostos reconhece aprocedência do pedido do opoente, o que permite oprosseguimento da oposição perante o subsistente,desfazendo, desse modo, a pluralização passiva inicial.

* Libelo em matéria cível, expressão comum das Ordenações,foi substituída pela petição articulada, ou petiçãoliberada, que é aquela em que aexposição e a dedução são feitas por meio de artigos ouitens.29. PEREIRA E SOUZA. Primeiras linhas..., v. 1, §§ 72 e154. (p. 187)Outra é a situação quando o opoente desiste de

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seu pedido perante um dos opostos, pretendendo prosseguirem face do outro, desfazendo, por esta razão, apluralização passiva da oposição, permanecendo a parte narelação processual anterior e fazendo transparecerque, nesse caso de desistência unilateral, ficaria oopoente desistente como assistente coadjuvante da parte quedesistiu, ou esta como assistente daquela.É de se concluir que, na oposição, ou o opoentedesiste de ambos os opostos, ou não desiste.Admitir-se o contrário é aceitar o que veda o nossosistema processual sobre o instituto, no que concerne aoposição ofertada a um só dos opostos.Assim se diz porque pode acontecer que oopoente queira se opor apenas a uma das partes, mas tallhe é vedado. Então, opõe-se a ambas e, antes quevenha a resposta, desiste daquela a quem não pretendiase opor, permanecendo contra a outra.

Em caso de desistência, na hipótese, aplicam-seas regras do art. 26, § 1º, do Código de Processo Civil,quanto às custas e honorários.

18 - NATUREZA DA AÇÃO DE OPOSIÇÃOFora de dúvida está que, ocorrendo a oposição,dá-se a conexidade de causas, porque outra preexistia.Da ação preexistente é que se conhece a naturezada sentença na oposição.Se o autor da ação-base pretendia um provimentocondenatório, a oposição será, em face deste, de natureza

declaratória positiva ,vez que visa afastar a sua pretensãodeduzida. E, em face do réu, persistirá a medidade condenatoriedade.Se o autor da ação-base pretende seja declaradoinexistente o direito do réu sobre o bem que se acha em (p.188)seu poder, portanto declaratória negativa, a oposição,se procedente, será condenatória para o autor oposto edeclaratória para o requerido oposto (réu).Na ação-base quando se pretende a declaração daexistência ou inexistência de um direito, a oposição

poderá ter caráter de condenatoriedade, se o opoente jáé detentor de título que preexista à sentença que almejamas partes opostas.Assim, então, se o autor da ação-base, que detéma posse do bem, quer que o Estado declare que este nãopertence ao seu requerido, tratando-se, portanto, deação sem título que prove lhe pertencer o bem, masafirma que este lhe pertence, a sentença que julgar

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procedente a oposição será declarató ri a positiva para oopoente em face de seus dois opostos, cujos direitos, écerto, lhe serão negados.Se o opoente possui título que preexista à sentençaalmejada pelos opostos e se a sua oposição forjulgada procedente, ela não só será declaratória para oopoente, mas sim condenatória em face do oposto autor, edeclaratória em face do oposto requerido.

19 - POSSIBILIDADE DA OPOSIÇÃO SUCESSIVA - ORDEM DOSTRABALHOSNA CONDUÇÃO DO PROCESSOOposição é ação, e como tal é direito subjetivo quenão pode ser negado àquele que, desde que fundado emrazões jurídicas, mesmo que téticas, queira exercê-lo.Não importa o número dos que afirmam tê-lo(direito subjetivo), certo então que, desde que o

exercitam, impõe-se a admissão. João Monteiro,{30}magistralmente, ensina que a lógica do direito estáindicandoque, sendo a oposição um direito de ação, deve ser tãoextensivamente permitida quanto é livre o uso das (p. 189)ações em geral. Não se menoscaba, pois, a possibilidade daoposição sucessiva.Havendo oposição, mais de uma oposição ou várias oposições,a ordem dos trabalhos de condução doprocesso será sempre do último opoente ao primeiro e,após, demandante e demandado originários. Isso se observa

nas tomadas das deposições, nas oitivas das testemunhas, nooferecimento das razões orais ou escritas, separa as últimas não se estabelecer concomitância.

20 - RECURSOS CABÍVEISDesde que se tem acertado que o sistema processualbrasileiro assimilou, no instituto da oposição, partedo método germano-barbárico e parte do método italianomedieval, de cuja assimilação restou que a oposiçãopode ser ofertada em dois tempos - antes de iniciada aaudiência e até ser proferida a sentença -, decorrendo

que, se se der na primeira hipótese, será tida a oposiçãocomo medida incidente, e, na segunda hipótese, comoação autônoma.Daí exsurgem duas decisões distintas queensejam recursos diferentes, em caso de indeferimentoda pretensão.No caso da oposição incidente indeferida, o recurso cabívelserá o de agravo de instrumento.

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No caso de oposição, ação autônoma indeferida,o recurso cabível será o de apelação, já que a decisãoindeferitória, neste caso, tem caráter de sentença deindeferimento.30. MONTEIRO, João. Processo civil e comercial. Rio deJaneiro: off.Graph. do Jornal do Brasil, 1925, v. 3, p. 866. (p. 190)Prefiro o entendimento de que na oposição, emcaso de seu indeferimento, o recurso cabível seja o deapelação, porque a questão de oportunidade ou de momento,antes ou depois da audiência, não desnatura asua condição de ação. A questão de oportunidade nãoautoriza que a pretensão seja deduzida cominobservância dos requisitos formais do art. 282 doCódigo de Processo Civil e que não sejam atendidas asexigências de custas e taxa, portanto, em qualquer momento,ação é. A decisão que indefere pedido inicial é

apelável. É sentença de indeferimento. Aliás, estousugerindo que os termos a quo e ad quem para o oferecimentoda oposição sejam, exclusivamente, da citaçãoaté a sentença. O pedido do opoente deve ser apensadoaos autos da ação-base, obedecer a um só procedimento, e aoposição continuarprejudicial.

21 - PROCEDIMENTOSProcedimento é a metodologia imposta para aprática dos atos do processo.

O nosso sistema processual comporta um procedimento ditocomum, que se subdivide em ordinário esumário, além dos procedimentos especiais de jurisdiçãocontenciosa e de jurisdição voluntária, cautelar eexecutivo.A oposição é cabível em todos os procedimentos,exclusive no sumário, no executivo (exceto os embargos) enaqueles regidos por leis especiais com previsãoexpressa.Quanto ao procedimento de jurisdição voluntária,porque não há vedação expressa da oposição, prefiro o

entendimento de que, tratando-se de pedidos que des- (p.191)locam a titularidade do bem ou dá novo rumo à relaçãojurídica, não se pode negar haja terceiro com melhordireito que qualquer dos envolvidos no procedimento,por isso que a oposição é instituto de que se pode valerem juízo aquele que pretende, no todo ou em parte, acoisa ou o direito afirmados seus pelos interessados.

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É certo, no entanto, que se pode dizer dainexistência de controvérsia na jurisdição voluntária.Ocorre que não é na controvérsia que está o núcleoprincipal do instituto, tanto que entre os opostos podeinexistir controvérsia quando se dá o silêncio da partedemandada; o núcleo principal da oposição está no"pretender", na posição opósita do terceiro, firmadona relação jurídica que sustenta ter com a coisa oucom o direito que está sendo objeto, em juízo, detransmudação de titularidade pela via da jurisdiçãovoluntária. A par disso, não é possível olvidar que najurisdição voluntária ocorre, sim, em alguns casos,controvérsia.Pontes de Miranda, nos Comentários ao Códigode Processo Civil, expressa lógico e racionalposicionamento a respeito, nos seguintes termos:"Quanto aos procedimentos especiais de jurisdição

voluntária, não seria de negar a interessado naoposição se o pedido é de alienação, arrendamento ouoneração de bens dotais, de menores, deórf ãos ou de interditos (art. 1.112, III), ou dealienação, locação e administração de coisa comum (art.1.112, IV), ou de alienação de quinhãoem coisa comum (art. 1.112, V), ou de extinçãode usufruto ou fideicomisso (art. 1.112, VI). Emtodas essas espécies, pode acontecer que haja interessequanto à coisa ou quanto ao direito sobre (p. 192)que versa o pedido, porque, citados todos os interessados e

o Ministério Público, pode haver controvérsia, a despeitode se tratar de jurisdiçãovoluntária. Nas alienações judiciárias, sempreque uma das partes pedir a alienação judicial, ojuiz tem de ouvir a outra parte antes de decidir(art. 1.113, § 2º). No desquite amigável, há adescrição dos bens do casal (art. 1.121, I), demodo que pode haver legitimação de terceiro,que pretenda, no todo ou em parte, algum oualguns ou todos os bens que foram descritos peloscônjuges. Dá-se o mesmo no procedimento do

desquite litigioso ou do divórcio."{31}

22 - OPOSIÇÃO E EMBARGOS DE TERCEIRODentre as figuras de uso comum mais equívoco,destacam-se a oposição e os embargos de terceiro.Impõe-se o estabelecimento da distinção entreambas. A primeira é de natureza opoencial, de condutaofensiva. A segunda é de caráter meramente

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defensivo, conforme Gabriel de Rezende Filho{32} assim asdistingue:"O terceiro embargante defende passivamente suaposse sobre os bens apreendidos ou penhoradospor ordem judicial. Não se opõe às partes litigan 31.PONTES DE MIRANDA. Comentários ao Código de Processo civil(atualização legislativa de Sergio Bermudes). 3. ed., rev.e aum. Rio deJaneiro: Forense, t. 1, p. 90.32. REZENDE FILHO, Gabriel de. Curso de direito processualcivil. SãoPaulo: Saraiva, 1968, v. 1, p. 298. (p. 193)tes, nada tem que ver com a questão litigiosa entreautor e réu ou entre exeqüente e executado, trataapenas de obter o levantamento da ordem judicialfazendo com que os bens voltem para seu domínio livres deapreensão, penhora ou ordem de

venda judicial."A oposição é oferecida até sentença, os embargospodem sê-lo a posteriori.

23 - EMBARGOS À EXECUÇÃO E OPOSIÇÃOAdmito a oposição nos embargos à execução.Questiona-se quando ao momento do seu oferecimento. Havendoembargos, o opoente ofertará a oposição no prazo deimpugnação - dez dias - previsto noart. 740 do Código de Processo Civil. Por isso, a audiênciapoderá não existir e vir logo a sentença, que

colocará termo na possibilidade de oferecimento daoposição. Admite-se, então, que, não sendo elaembargada, o opoente deve deduzir a sua pretensãologo após findo o prazo de embargos e antes das medidasprevistas no art. 680 do Código de Processo Civil.

24 - OPOSIÇÃO E DESAPROPRIAÇÃOSe não há possibilidade de excluir a pretensão deuma das partes, torna-se impossível o uso da ação deoposição. É o caso, por exemplo, da ação de expropriação emque a pretensão do expropriante não pode ser

afastada, por isto de singular importância a citação de (p.194)DarCy Arruda Miranda Júnior, DarCy Arruda Miranda,Alfredo Luis Kugelmas, Luiz Alexandre Faccin deArruda Miranda,{33} onde relatam:"Demais disso, a ação expropriatória, por sua natureza, nãose presta à incidência de oposição.Sufragando esse entendimento, o Segundo Tribunal de Alçada

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Civil de São Paulo, em decisãounânime de sua Segunda Câmara, proclamou que:"É inadmissível o oferecimento de oposição manifestada emprocesso expropriatório" (Revistados Tribunais, v. 505, p. 153).Não há mister de profundas indagações doutrinárias parachegar-se à conclusão de que a oposiçãonão é meio adequado para coarctar a açãoexpropriatória que a C., visando sobranceiro interessenacional, move contra J.G.S. e A.V.L.S.,porque nela uma das partes, a autora, há de sernecessariamente a expropriante, cujo lugar noprocesso ninguém lhe pode tomar.Assim, por inadmissível a oposição oferecida emprocesso expropriatório, visando excluir apenasuma das partes, mantém-se a decisão impugnada,considerando inaplicável, no caso, a regra

inserida no art. 284 do Código de Processo Civil,que permite a emenda da petição inicial (Salvador, 2 deabril de 1986. Mário Albiani - Presidente. Cícero Britto -Relator (Ac. un. da 3ª CCv. doTJ, naAp. 588/82,BF28/111)."33. MIRANDA JÚNIOR, Darcy Arruda et al. CPC nos Tribunais.1994, p.227-228. (p. 195)

25 - ASSISTÊNCIA NA OPOSIÇÃONenhuma dificuldade há em se admitir a assistência simples

ou litisconsorcial na oposição, já que quaisquer delasvisam coadjuvar a parte assistida, no processo, na medidamaior ou menor do interesse que têmsobre o bem de vida em disputa, ou pela sentença comsua repercussão na esfera jurídica do assistente, emrazão de relação com seu assistido.

26 - AÇÃO RESCISÓRIA E OPOSIÇÃONão há por que negar a possibilidade de admissãode ação rescisória de sentença proferida em ação deoposição, desde que presentes os seus motivos

autorizadores, elencados expressamente pelo legisladorprocessual pátrio. É preciso se distinga, no caso derescisória, a sentença como ato judício-procesSUal atravésdo qual o Estado-Juiz diz o direito das partes; dasentença, posto que ato também judício-processual, maspelo qual o Estado-Juiz simplesmente homologa a vontademanifesta pelas partes. No primeiro caso, paradesfazimento do ato sentencial, desde que verificadas as

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ocorrências de prevaricação, concussão ou corrupção dojuiz; impedimento ou incompetência do seu prolator;dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida,ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;ofensa à coisa julgada; violação literal de disposiçãolegal; prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processocriminal ou provada na própria ação rescisória;que, depois da sentença, o autor obtiver documentonovo, cuja existência ignorava, ou de que não pode fazeruso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamentofavorável; houver fundamento para invalidar confissão, (p.196)desistência ou transação em que se baseou a sentença;fundada em erro de fato, resultante de atos ou dedocumentos da causa (art. 485, I a IX, do CPC), impõe-se apropositura de ação rescisória. No segundo caso, desdeque a sentença tenha sido ato de mera homologação das

vontades das partes, será desfeita da mesma maneiracomo se a fez. É a inteligência do art. 486 do Código deProcesso Civil, com a seguinte redação:"Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em queesta for meramente homologatória,podem ser rescindidos, como os atos judiciais emgeral, nos termos da lei civil."

27 - A OPOSIÇÃO NO DIREITO PORTUGUÊSEntre os portugueses, a oposição voluntária remonta àsOrdenações Filipinas, no seu Livro III, Título

XX, inciso XXXI.Por algum tempo deixou de existir entre os lusitanos,suprimida que foi na Nova e Novíssima ReformaJudiciária, bem assim no Código de 76, que, por seuturno, só admitia a oposição no processo especial desimples separação de bens, instrumentalizando, assim,o art. 1.228º do Código Civil de então.Na atual legislação processual civil, restaurou-seo instituto que hoje está regulado no art. 342º, com aseguinte redação:"Estando pendente uma causa entre duas ou mais

pessoas, pode um terceiro intervir nela comoopoente para fazer valer um direito próprio, incompatívelcom a pretensão do autor. A intervenção do opoente só éadmitida enquanto não estiver (p. 197)designado dia para a discussão e julgamento dacausa em 1ª instância ou, não havendo lugar aaudiência de julgamento, enquanto não estiverproferida sentença."

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Por esse dispositivo definiu-se o figurante do pólopassivo da ação de oposição e o momento processualem que a mesma deve ser oferecida.Aponta o eminente processualista José Albertodos Reis{34} três características da oposição:"1ª) sob a forma de incidente, o opoente propõeuma verdadeira acção, quer dizer, atravessa-se,como autor, num processo que está a correr entreoutras pessoas; 2ª) com a sua acção tem em vistafazer valer um direito próprio; 3ª) este direito ésempre incompatível com a pretensão do autor epode sê-lo também com a pretensão do réu.Primeira característica - Pereira e Souza definiaassim a oposição: o libelo que um terceiro formaem juízo contra o autor, ou contra o réu, ou contraambos. O opoente faz as vezes de autor (PrimeirasLinhas, v. 1, §§ 72 e 154). Assim é, na verdade. Está

pendente uma acção entre A e B; C intervém nelacomo opoente e a sua intervenção traduz-se nisto:o direito que o autor pretende fazer valer contra oréu, pertence-me a mim exclusivamente, ou pertence-metambém a mim. Fazendo esta alegação, oopoente propõe realmente, através do mecanismodo incidente, uma verdadeira acção, dirigida contraos litigantes da causa principal.34. REIS, José Alberto dos. Código de Processo Civilanotado, 1948, v. 1. (p. 198)Segunda característica - O opoente faz valer um

direito próprio. Nisto se distingue nitidamente daassistência. Sobre a natureza do direito, nenhumaslimitações estabelece a lei. A oposição tantopode ter por objecto um direito real, como umdireito de crédito. O n. 31 do título 20 do Livro 3ºda Ordenação dava a entender que a oposição sótinha cabimento na esfera dos direitos reais; masnão há razão para este limite. O que importa é queo opoente se proponha fazer valer qualquer direito própriosobre a matéria da causa pendente.Terceira característica - O direito que o opoente

se arroga há-de ser incompatível com a pretensãodo autor. Este traço distingue a oposição da figurada intervenção principal; nesta o interveniente fazvaler um direito paralelo ao do autor, e portantocompatível com o deste."O processualista Eurico Lopes Cardoso{35} leciona:"No requerimento inicial da oposição, deve oopoente, além de pedir para ser admitido a intervir nesta

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qualidade: a) formular o seu pedidoimcompatível com a pretensão do autor; e b) contestar estapretensão. Assim, o requerimento exerce funções dumaverdadeira petição inicial, dirigida, é certo, contra aspartes já em causa, mas emque se deduz um pedido inteiramente novo, embora com mesmoobjeto que o do autor."35. CARDOSO, Eurico Lopes. Manual dos incidentes dainstância em processo civil. 2. ed., Coimbra: Almedina,1965, p. 162-163. (p. 199)

28 - OPOSIÇÃO PROVOCADAInexiste entre nós a oposição como forma de intervençãoprovocada, como sói acontecer no direitolusitano. O direito português conhece a oposiçãoprovocada na hipótese que verse sobre prestação decoisas, quando o demandado esteja pronto a satisfazêla, mas

tem conhecimento de que um terceiro é o verdadeiro titulardo direito sobre a coisa, incompatível, porisso, com o do autor. Nessa situação, o requerido, noprazo de contestação, requer que o terceiro seja citadopara deduzir a sua pretensão.Em nível historicista, a oposição provocada remonta aadcitatio do direito canônico. Lopez-Fragoso{36}faz o seguinte registro a respeito:"La adcitatio es una figura desconocida en elderecho romano, apareciendo en la historia jurídicoprocesal como un instituto del derecho

canónico, sobre la base que le brinda el antiguoproceso germánico y la práctica procesal de determinadosterritorios del derecho longobardo. Elorigen remoto de la adcitatio hay que conectarlocon el carácter universal del proceso germánicofrente a la singularidad del proceso romano. Elderecho canónico, siguiendo la praxis del derechofeudal, comienza utilizando la adcitatio como mecanismopara garantizar la inatacabilidad de lasresoluciones judiciales que se dictaran sobrecuestiones de beneficios eclesiásticos o

controversias sobre atribución de fundos, dotandode seguridad a tales resoluciones frente a las36. ALVAREZ, Lopez-Fragoso Tomas. Op. cit., p. 21-22. (p.200)posibles reclamaciones que determinadaspersonas pudieran esgrimir en su contra,oponiéndose, activa o pasivamente, a la atribuciónde los fundos o a la sucesión de un beneficio. El

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mecanismo de la adcitatio en este sentido era elsiguiente: suscitándose un proceso en el que secontrovertiera sobre el derecho de propiedad de undeterminado fundo o a la sucesión de un beneficioeclesiástico, y temiendo la posible oposición de untercero, el cual pretendiera para sí el dominio o elderecho sucesorio, se pide al juez que cite a losactos procesales a tales terceros, y también a todosaquellos que afirmaran tener un mejor derechoque el solicitante, a fin de que ejercitaran enconsecuencia sus pretensiones sobre el fundo o elbeneficio controvertido, oponiéndose al solicitanteoriginario en el juicio por el incoado y, en todocaso, quedando vinculados a la sentencia que sepronunciam sobre tal controversia, no pudiendosostener posteriormente su derecho ni oponerse ala anterior sentencia."

No direito português, tal figura foi admitida pelaprimeira vez no Código de 1939, no art. 352º, atualmente noart. 347º.O eminente Juiz-Desembargador JacintoRodrigues Bastos{37} ensina que basta ter o réuconhecimento da existência de um terceiro em condições dereclamar a prestação como sua, para entrar em dúvidaquanto à titularidade do direito e a ter interesse em quese defina a pessoa do verdadeiro credor.37. BASTOS, Jacinto Rodrigues. Notas ao Código de ProcessoCivil. 2. ed.,

Lisboa, 1971. (p. 201)O Professor Alberto dos Reis{38} fez o seguinte registro:"O art. 352º pressupõe que o devedor já foi demandado porum dos pretensos credores, querpagar, mas não quer correr o risco de pagar duasvezes. Serve-se, então, do mecanismo da oposição provocadapara trazer ao processo o outro ouos outros pretensos credores, a fim de que emlitígio entre eles se apure e decida qual é o verdadeirotitular do direito de crédito.O incidente estava consagrado no § 75 do Código

alemão; era admitido pelos processualistas italianos eacha-se hoje no art. 106 do Código italiano.Goldschimidt designava-o por litisdenunciaçãocom possibilidade de intervenção principal(Derecho procesal, p. 451) e os escritores italianos dão-lhe este nome: chamamento de terceiropretendente (CHIOVENDA. Diritto processuale,p. 1.119, CARNELUTTI. Sistema, v. 1, p. 942)."

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Jurisprudencialmente, tem-se assentado entre oslusitanos que "a oposição provocada é incompatível coma contestação, pelo que não pode ser requerida nesta",conforme acórdão do STJ - Portugal, de 19/6/1962."Nesta figura intervencional, sobressai, ainda, apossibilidade de, sendo reconhecida a legitimidade doopoente, assumir este a posição de réu, e o réu primitivo éexcluído da instância, se depositar a coisa ouquantia em litígio; não fazendo o depósito, só continua38. REIS, Alberto dos. Op. cit., p. 502.39. RT, 80/309. (p. 202)na instância para, ao final, ser condenado a satisfazer aprestação à parte vencedora. É a redação do art. 350º doCódigo de Processo Civil português.Admite, também, a chamada intervenção principal, desde que,estando pendente uma causa entre duasou mais pessoas, aquele que em relação ao objeto da

causa tiver um interesse igual ao do autor ou do réu,pode nela intervir por litisconsorciação voluntária, ouaquele que pudesse coligar-se com o autor. A coligaçãoé permitida no direito português, entre autores contraum ou vários réus. É a inteligência do art. 351º, combinadocom o 27º e 30º do Código de Processo Civilportuguês. Aquele estatuto processual cuida, outrossim, noseu art. 356º, da intervenção provocada, naseguinte hipótese:"Pode também, qualquer das partes, chamar osinteressados a que se reconhece o direito de intervir, seja

como seu associado, seja como associadoda parte contrária."Figuras inexistentes no elenco das nossas previsõesintervencionais e que, força é convir, se houvecom acerto o legislador pátrio em não admiti-las, jáque a primeira se subsume na legitimidade ativa adcausam, defesa indireta de natureza peremptória quetoca, de igual modo, ao demandado argüir, enquanto asegunda, já se vê satisfeita, entre nós, pela assistêncialitisconsorcial.Por acórdão da Relação do Porto, de 24/2/1981,{40}

vê-se o propósito de distinguir intervenção principal deassistência, nos seguintes termos:40. Col. Jur., 1981/1-171. (p. 203)"I - O interveniente faz valer um direito próprio,paralelo ao do autor ou do réu. II - A expressão"direito próprio" assinala a diferença entre a intervençãoprincipal e a assistência, em que o assistente vem a juízounicamente para auxiliar uma

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das partes, por ter interesse jurídico em que adecisão do pleito seja favorável a uma parte. III Oadjectivo "paralelo" indica a distinção entreaquele incidente e a oposição, em que o opoentevem a juízo para formular pretensão incompatívelcom a do autor."Vê-se, nesse quadro, a assistência simples oucoadjuvante do nosso sistema.

29 - A OPOSIÇÃO NO DIREITO ITALIANO, COMPARADA COM OSISTEMA BRASILEIROEntre os italianos, a oposição está regulada no art.105 do Código de Processo Civil, nos seguintes termos:"Qualquer pode intervir num processo pendenteentre outras pessoas, para fazer valer, peranteambas ou alguma delas, um direito relativo aoobjeto ou dependente do título deduzido no mesmo processo."

No direito italiano, o instituto da oposição é deaplicações várias e em situações processuais distintas.Dissímil da oposição no sistema jurídico brasileiro, emque o seu sentido é uno e de aplicação exclusiva emuma só hipótese, qual seja, aquele em que terceiro (p. 204)afirma-se detentor de melhor direito que as parteslitigantes em processo existente. De acordo com o Códigode Processo Civil italiano, a oposição é mais destinadaao segundo grau de jurisdição, razão pela qual é,outrossim, disponível a terceiro não figurante no processoe pretendente ao desfazimento da decisão nele proferida. É

o que o legislador italiano chama de oposiçãorevocatória, porquanto pretende a revogação do comandosentencial.Outro o caso do terceiro que se vale da oposiçãopara "intervir" nos "recursos" das partes buscando afastardestas as pretensões recursais.Outro o caso da oposição do terceiro ordinárioque foi atingido pelos efeitos da sentença no processoem que ele não foi parte. Esta figura, a rigor, equivale àintervenção principal ulterior, já que ofertada após asentença, tendo, por conseguinte, a mesma casuística.

A oposição de terceiro ordinário somente ocorre após asentença. Se o objeto ou o direito que resulta do títuloconcernir ao oponente, ele dispõe da assim chamadaintervenção principal que, por seu turno, correspondeprecisamente a figura da oposição no direito brasileiro.Caso o opoente não ingresse antes da sentença e estadecida algo que o prejudique, resta-lhe a oposição deterceiro ordinário (art. 404). É de se assinalar que para

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Liebman a intervenção principal não é outra senão aoposição de terceiro ordinário antecipado (art. 404).A oposição no direito brasileiro é outro caso. Se oopoente não se opuser e a sentença proferida o prejudica,há o recurso do terceiro interessado. A oposição deterceiro ordinário é ação com características deincidentalidade. Já o recurso de terceiro interessado não éação e nem possui características de incidentalidade,porquanto recurso. (p. 205)Por fim, a figura da oposição no direito brasileiroencontra o seu correspondente no direito italiano, nafigura da intervenção principal, de modo que designama mesma coisa, havendo tão-somente uma diferença denomenclatura, porquanto referem-se à ação interveniente queocorre no curso do processo até a sentença.A oposição como forma de intervenção voluntáriaestá art. 105 do Código de Processo Civil italiano.

Segundo Zanzuchi e Liebman, este artigo biparte-se nasseguintes hipóteses:- intervenção de um terceiro que afirma um direito seurelativo ao objeto do processo em face das partesnele litigantes, ou a alguma delas;- intervenção de um terceiro que afirma um direito própriodependente do título deduzido no processo,em face de todas ou a alguma das partes.Para Piero Calamandrei, no entanto, diferindo deZanzuchi e Liebman, o mesmo artigo quadriparte-senas seguintes hipóteses:

"- a primeira, um direito do interveniente relativoao objeto deduzido no processo, em face de todasas partes;- um direito dependente do título deduzido noprocesso, em face de todas as partes;- um direito relativo ao objeto deduzido no processo, emface de alguma das partes;- um direito dependente do título deduzido noprocesso, em face de alguma das partes."{41}41. CALAMANDREI, Piero. Instituciones de derecho procesalcivil segun

el nuevo Código. Buenos Aires, 1986, v. 2, p. 317. (p. 206)Agora, porém, se nos reportarmos à ontologia doart. 105, poderemos observar que o núcleo do artigo,aquilo que precisamente permite bifurcá-lo, é o fato devisar proteger os bens de vida: o direito decorrente deum objeto ou decorrente de um título. O fato de sededuzir essa pretensão contra um, dois ou mais não é daontologia do artigo, resultando de melhor aceitação o

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entendimento de Liebman e Zanzuchi.

30 - SINÓPTICA NOÇÃO DA OPOSIÇÃO ENTRE OS ALEMÃESEntre os alemães o instituto está no § 64 da ZPO:"Quem pretenda ter direito sobre a totalidade ouparte da coisa ou direito em litígio entre outraspessoas pode, até a decisão do pleito, fazer valer oseu direito perante o tribunal de 1ª Instância, aque a causa esteja afecta, por meio de demandadirigida contra os dois litigantes."Com a oposição passam a existir três processos: oprincipal, entre demandante e demandado; o superveniente,do interveniente em face do demandante doprocesso principal; e ainda do interveniente em face dodemandado do processo principal. Disso resulta umacumulação de ações para tramitação e resolução comuns. Asentença, nesse caso, será de natureza

declaratória para o demandante da ação principal econdenatória para o demandado da mesma ação, seprocedente a oposição. Se improcedente, será declaratóriatão-somente. (p. 207)Para os alemães, a oposição é, também, exercíciode direito de terceiro, que não está obrigado a ela e quepode demandar separadamente.

31 - OPOSIÇÃO, DENUNCIAÇÃO E ASSISTÊNCIA - CONCORRÊNCIA DEAÇÕESTendo em vista as razões ontológicas, teleológicas e

pragmáticas que determinam os institutos da oposição,denunciação da lide e assistência, a possibilidadede coexistirem várias figuras intervencionais em ummesmo processo não pode ser ignorada, fazendo transparecerdessa convergência de pretensões deduzidas oque se denomina de concorrência de ações na modalidadeconcursus cumulativus. Tome-se por caso a seguinte hipótese:A propõe em face de B ação reivindicatória deimóvel. Para garantir-se dos prejuízos que da evicçãopossa lhe resultar, A denuncia à lide o seu alienante A1.B, ao responder, também para garantir-se dos prejuízos

que da evicção possa lhe resultar, denuncia à lide B1.Antes de proferida sentença, C se opõe aos demandadosoriginários sob a alegação de que o imóvel não lhespertence, sim a si próprio. Veja que C não se opõe aosdenunciados pelas partes originárias porque, em facedelas, não tem ação de oposição, uma vez que elas nãoestão na relação processual afirmando serem dela oimóvel. Estão, sim, exclusivamente, na condição de

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alienantes dos atuais ditos proprietários. Contudo, desdeque C ingressa na relação processual de A e B nacondição do opoente, acautelando-se, por isso que ha- (p.208)verá uma sentença a seu respeito, denuncia à lide o seualienante D, porque teme a sucumbência e pretende, deigual modo, garantir-se quanto aos prejuízos que daevicção possam lhe resultar. Por fim, pode dar-se que osujeito E se oponha a A, B e C, afirmando ser dele obem, e não de qualquer dos seus demandados. C, igualmente,pode denunciar à lide o seu alienante. Não seignore uma complicação maior: todos podem estar assistidos,quer por assistentes simples ou assistenteslitisconsorciais, conforme seja a relação jurídica decada assistente com o bem de vida em disputa.Outros opoentes ainda podem se opor, outros ainda podem serdenunciados, e outros assistentes ainda

podem existir.Veja o quanto as figuras intervencionais podemdar-se a um só tempo e provocarem uma relação subjetivo-processual-complexa, que não cabe ao juiz impedir porquetodos os envolvidos estão exercitando direito subjetivo econstitucional de ação. (p. 209)

(p. 210, em branco)

Capítulo II - DENUNCIAÇÃO DA LIDE

CHAMADA À LIDEA par da oposição, também intervenção principal,restam três outras figuras. ditas de intervençãonominada, quais a denunciação da lide, a nomeação àautoria e o chamamento ao processo. Estes institutospodem ser agrupados em uma só categorização: todossão formas especiais da adcitatio. O primeiro, paragarantir-se em ação de regresso em razão de umeventum litis (denunciação da lide, também chamamento emgarantia); o segundo, para assegurar-se dedireito que lhe toca em parte (no plano dos co-fiadores)

ou no todo (no plano do devedor principal) decorrentede obrigação assumida (chamamento ao processo); oterceiro, para eximir-se de responsabilidade em situaçãofática que não lhe toca diretamente (laudatio ounominatio auctoris).

O TEXTO DA LEI"Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:

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I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica acoisa, cujo domínio foi transferido à parte, a (p. 211)fim de que esta possa exercer o direito que daevicção lhe resulta;II - ao proprietário ou ao possuidor indiretoquando, por força de obrigação ou direito, emcasos como o do usufrutuário, do credorpignoratício, do locatário, o réu, citado emnome próprio, exerce a posse direta da coisademandada;III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelocontrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo doque perder a demanda.Art. 71. A citação do denunciado será requerida,juntamente com a do réu, se o denunciante for oautor, e, no prazo para contestar, se o denunciantefor o réu.

Art. 72. Ordenada a citação, ficará suspenso oprocesso.§ 1º. A citação do alienante, do proprietário, dopossuidor indireto ou do responsável pela indenização far-se-á:a) quando residir na mesma comarca, dentro dedez (10) dias;b) quando residir em outra comarca, ou em lugarincerto, dentro de trinta (30) dias.§ 2º. Não se procedendo à citação no prazo marcado, a açãoprosseguirá unicamente em relação

ao denunciante. (p. 212)Art. 73. Para os fins do disposto no art. 70, odenunciado, por sua vez, intimará do litígio oalienante, o proprietário, o possuidor indireto ou oresponsável pela indenização e, assim, sucessivamente,observando-se, quanto aos prazos, o disposto no artigoantecedente.Art. 74. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado,comparecendo, assumirá aposição delitisconsorte do denunciante e poderá aditar a petiçãoinicial, procedendo-se em seguida à citação

do réu.Art. 75. Feita a denunciação pelo réu:I - se o denunciado a aceitar e contestar o pedido,o processo prosseguirá entre o autor, de um lado,e de outro, como litisconsortes, o denunciante e odenunciado;II - se o denunciado for revel, ou comparecerapenas para negar a qualidade que lhe foi atribuída,

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cumprirá ao denunciante prosseguir na defesaaté final;III - se o denunciado confessar os fatos alegadospelo autor, poderá o denunciante prosseguir nadefesa.Art. 76. A sentença, que julgar procedente a ação,declarará, conforme o caso, o direito do evicto, oua responsabilidade por perdas e danos, valendocomo título executivo." (p. 213)

1 - INTRODUÇÃONa busca do sentido do texto legal sobre o instituto dadenunciação, na tentativa de encontrar o nexoentre os seus componentes ontológicos e teleológicos,muito especialmente visando à sua asserção, à suaintegração microcósmica no universo do mundo jurídico, nãose pode desprezar o critério de interpretação

histórica.Do ângulo da literalidade, aparentemente não háo que se questionar no instituto. Contudo, do momentoem que outras figuras se mesclam no curso de suaefetiva ocorrência na prática, perde-se dele a clareza eimpõe-se ao estudioso o adentramento nos escaninhosdo seu espírito, na expectativa de lá poder-se encontraras suas razões de ser com vistas no seu para que ser.

2 - DENUNCIAÇÃO - CONCEITODenunciação é o instituto de que dispõe a parte

figurante na relação processual, ativa ou passiva, parafazer valer direito seu perante terceiro, a fim degarantir-se da reparação do prejuízo que da evicção, ou deuma relação jurídica, tornada patológica, prejudicial aosujeito denunciante, possa resultar.

3 - HISTÓRICO

3.1 - A denunciação no antigo direito romanoRemonta ao antigo direito romano, precisamenteno período per formulas, e decorria das vendas feitas (p.

214)pela traditio.{42} Nessa ocasião surgiu a necessidade de oadqüirente denunciar à lide o vendedor, caso pretendesseo valor da actio empti na hipótese de evicção. Era condiçãonecessária para que o comprador exercitasse direitode regresso contra o vendedor. Piero Calamandrei, emSulla Chiamata in Garantia, faz o seguinte registro:"Questa litis denunciatio era condizione necessaria

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per conservare al compratore l´azione di regresso contra ilvenditore...".A par da denunciação para garantia do direito deregresso em razão da evicção, conheceram, também, osromanos, a denunciação nas obrigações em que ofidejussor se obrigava por outrem, na hipótese deinadimplemento da obrigação na data aprazada. Sendoacionado o garantidor e não o garantido, porque talalternativa existia, devia cientificar o devedor do fato, afim de que, assim, pudesse, posteriormente, exercer oseu direito de regresso.Duas eram, pois, as hipóteses que comportavamdenunciação no direito romano, e em quaisquer delasao denunciante era dado continuar no processo, mesmoaceita a denunciação pelo denunciado.

3.2 - A denunciação no direito germano- barbárico

Entre os germano-barbáricos outro era o quadro.O comprador demandado chamava em garantia ovendedor que, aceitando o chamamento, assumia o pro 42.Relativas às res nec mancipi, do direito das gentes, pelaqual fazia-se atransferência consensual da posse, visando à aquisição dapropriedade.Traditio, diz Juan Eglesias, significa entrega: "La entregade la cosa es elmodo más antiguo y natural de enajenación "de res necmancipi""

(Derecho romano, historia e instituciones. 11. ed.,Barcelona: Ariel,1994, p. 258). (p. 215)cesso e tornava-se parte legítima para contrariar apretensão do autor, excluindo-se, assim, o denunciante, aquemnão se permitia atuar, ao menos, como assistente.{43}

3.3 - Pontos comuns e dissímeis do instituto nos dois povosOs direitos romano e germânico tinham, nadenunciação, pontos comuns e dissímeis.

Eram comuns quanto à obrigatoriedade de denunciar.Eram dissímeis quanto ao direito de permanecer,ou a obrigação de deixar a relação processual.Explica-se a dessemelhança.Entre os germânicos, o denunciado assumia aobrigação da defesa e, se vencido, ao depois, oressarcimento, na mesma ação.Entre os romanos, a ação de ressarcimento era

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proposta autonomamente, posteriormente, caso o denunciantesucumbisse.Afirma-se, em razão disso, que o nosso modelode denunciação reflete o pensamento dos povosgermano-barbáricos.

3.4 - A denunciação no Código do Estado da Cidade doVaticanoO Código do Estado da Cidade do Vaticano prevêuma figura de intervenção de terceiro por provocaçãoem caso de ação de repetição ou em caso de jactância43. CALAMANDREI, Piero. La chiamata in garantia. Milão:SocietáEditrice Libraria, 1913, p. 37. (p. 216)de pretensões. É uma figura com caracteres gerais dochamamento em garantia, por isso o § 2º, do art. 17, doaludido Código dispõe:

"El demandado puede también, en el juiciopendiente en primer grado, llamar a un garante,o llamar a un tercero, cuando contra éste, en casode vencimiento, haya una acción de repetición, obien cuando el tercero se jacte de pretensionessobre el bien que constituye el objeto de la litis."

3.5 - A denunciação no direito italianoNo direito italiano, a questão da chamada emgarantia (denunciação da lide) está regulada nos seguintesdispositivos legais (tradução espanhola):

Art. 1.485 do Código Civil italiano:"El comprador demandado por un tercero quepretende tener derecho sobre la cosa vendida, debelamar en causa al vendedor Cuando no lo haga ysea condenado por sentencia basada en autoridadde cosa juzgada, pierde el derecho a la garantía, siel vendedor prueba que existían razones suficientes parahacer rechazar la demanda.El comprador que ha reconocido espontáneamenteel derecho del tercero, pierde el derecho a lagarantía, si no prueba que no existían razones

suficientes para impedir la evicción."Art. 106 do Código de Processo Civil:"Cada una de las partes puede llamar alproceso a un tercero respecto del cual considera (p. 217)común la causa o por el cual pretenda estargarantizada."Art. 108 do Código de Processo Civil:"Si el garante comparece y acepta asumir la causa en lugar

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del garantizado, éste puede pedircuandas las otras partes no se opongan, la propiaextromisión. Esta se dispone por el juez pormedio de ordenanza; pero la sentencia de fondopronunciada en el juicio, despliega sus efectostambién con quien ha sido objeto de extromisión."Art. 32 do Código de Processo Civil:"Causas de garantía. La demanda de garantíapuede proponerse al juez competente paraconocer de la causa principal, a fin de que ladecida en el mismo proceso, aun cuando excedade su competencia por razón del valor".Luis Mattirolo{44} ensina que a chamada em garantia supõesempre um obrigado e implica a idéia dademanda eventual de condenação do garantidor; a simpleschamada, ao contrário, só para a intervenção implicaunicamente a idéia de uma comunicação de direitos e de

obrigações entre o terceiro chamado a intervir eum dos litigantes na ação originária.Sobre a chamada em garantia, Chiovenda construiu a suateoria substancial. Segundo o mestre italia 44. MATTIROLO,Luis. Tratado, t. 3, p. 625. (p. 218)no, a chamada em garantia se dá quando a parte figurante emum dos pólos da relação processual chama aoprocesso terceiro, em face do qual afirma ter açãoregressiva, caso sucumba na ação de moléstia. É a ênfasemaior da teoria.Assim é que, atendendo aos princípios da economia,

eventualidade e harmonia processual, o conteúdosubstancial - o dever de garantir - constitui o objeto daação de regresso que se exercita no bojo da própriaação principal. Essa ação tem como característicasespeciais um elemento temporal ou de oportunidade eoutro elemento substancial ou de conteúdo, por issoque ela é proposta antecipadamente, ficando a apreciação doseu objeto condicionada à sucumbência dodiamante nos autos da ação-base.A teoria chiovendiana compõe-se de dois elementosdistintos, que se complementam. No primeiro elemento estão

a simples chamada, também a chamada emgarantia no sentido estrito e a chamada em causa, ou alitisdenunciação. No segundo elemento, está a chamada emgarantia, portanto, além da litisdenunciação, dachamada em causa, da chamada em garantia no sentidoestrito e da simples chamada, o chamante exercita,concomitantemente, uma ação de regresso, antecipadae condicionada, em face do terceiro garantidor. As duas

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ações, no mesmo processo, são conexas por prejudicialidadee por dependência.Assim é que a teoria substancial de Chiovendafunda-se, precipuamente, no princípio de que na chamada emgarantia ocorre o exercício antecipado e eventual de açãode regresso, cujos protagonistas são ogarantido e o garantidor.Ainda sobre a chamada em garantia, PieroCalamandrei construiu a sua teoria processual. Ele foi (p.219)mais minudente e chegou à conclusão dissímil daquelaa que chegou Chiovenda. Trata-se de teoria complexa.Na teoria de Calamandrei, sobressaem com ênfase o processode moléstia e o processo de garantia.Daquele resulta um prejuízo para o garantido, desteresulta a própria relação de garantia. Esta, a turno seu,compreende a obrigação, por parte do garantidor, de

defesa em juízo - quando chamado - e, eventual econseqüentemente, o ressarcimento dos danos que onão-cumprimento da obrigação de defesa possa produzir aogarantido. Assim, a ação de garantia estarábipartida em ação de defesa, cujo objeto é o provimentojurisdicional sobre a obrigação de defesa do garante; ea ação de ressarcimento, cujo objeto é o provimentojurisdicional sobre a obrigação de ressarcimento.A teoria processual de Calamandrei conclui pelapossibilidade de se exercitar a ação de garantia pela viaprincipal e, outrossim, pela via incidental. Pela via

principal, o sujeito garantido, ou seja, aquele que figurouno processo de moléstia e sucumbiu, exerce,regressivamente, a ação de garantia em um outro processo.Nesse processo segue-se o mesmo procedimentoobservado no processo de moléstia: a defesa e oressarcimento. Pela via incidental, o sujeito pode fazervalero seu direito no bojo do próprio processo de moléstia, oque se dará incidentalmente.Contudo, no caso de chamada em garantia decaráter incidental, não entende Calamandrei que ela

seja simplesmente composta dos elementoslitisdenunciação e o exercício eventual da ação deressarcimento, como quer a teoria substancial. Não. Amedida dos seus elementos componentes é mais extensa.Assim, a chamada em garantia, via incidental, compreende achamada em causa, o exercício da ação de (p. 220)defesa e o exercício da ação de ressarcimento. A chamada emcausa é uma modalidade de ato processual

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que obriga o chamado a intervir no processo e prestar asua defesa, portanto, não tão singela como alitisdenunciação.{45} O exercício da ação de defesacompreende o exercício da pretensão por parte do garantido,que impõe ao juiz que se manifeste sobre a obrigação quetem o garantidor-chamado de prestar a defesa,caso o mesmo se negue a fazê-la.{46} E, por fim, oexercício da ação de ressarcimento.Vê-se que a construção de Calamandrei é, sim,complexa, compreendendo a ação de garantia nos elementos:a) processual (obrigação de defesa) e b) substancial(obrigação de ressarcimento). As referidas teoriassobrevivem às críticas e ocupam posição de destaque nouniverso doutrinal italiano. De Chiovenda assimilamos mais.

3.6 - A denunciação do direito alemão"§ 72. Toda parte de un proceso que, en el caso

de resolverse éste en perjuicio de ella, crea quepuede ejercitar una acción de garantía o derepetición contra un tercero, o que actúe cuidando delderecho de un tercero, puede denunciarjudicialmente al tercero la pendencia de la causa,45. A litisdenunciação significa para o litisdenunciado aimpossibilidade deargüir em defesa posterior a exceção de má gestãoprocessual no processode moléstia, enquanto que a chamada em causa não só tem omesmo

significado da litisdenunciação, como também implica aprodução dosefeitos da coisa julgada sobre o chamado.46. A obrigação de defesa não seria uma obrigação deresultado, sim, tão esó, de atividade, por isso que por ela o garante nãoestaria obrigado alograr vitória do garantido no processo de moléstia senãoem coadjuvarcom este com vistas em uma sentença sua favorável. (p. 221)hasta el momento de la resolución firme de la

misma. El tercero puede, a su vez, denunciar lacausa a otra persona.§ 73. La denuncia del litigio se hará por medio deescrito notificado al tercero, en el cual se indicará elmotivo de la denuncia y el estado de lacausa. De este escrito se pasará una copia a laparte contraria.§ 74. Si el tercero entra en la causa com el

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litisdenunciante, su relación con respecto a laspartes se regirá por los preceptos reguladores dela intervención adhesíva.Si el tercero se niega a intervir o no hace ningunamanifestación, la causa seguirá su curso sim él.En todos los casos enunciados en este parágrafose aplicarán contra el tercero los preceptos del68, pero en vez de atenderse al tiempo de laintervención se tendrá em cuenta aquel em quefuera posible la intervención por efecto de la denuncia.§ 68. El interveniente adhesivo, para los efectosde su relación con la parte principal, no será oídocon la afirmación de que la causa, tal como le hasido presentada al juez, ha sido resuelta conerror; sólo será oído si afirma que la parte principal hallevado mal la causa, cuando por elestado de la misma al tiempo de su entrada en

ella o por las manifestaciones y actos de la parteprincipal, haya estado impedido de ejercitarmedios de ataque y defensa, o cuamdo la parte (p. 222)principal, intencionadamente o por negligenciagrave, no haya uso de medios de ataque y dedefensa que él no conocía."Sobre o tema, James Goldschmidt ensina:"Cuando una parte litigante estima que, em elcaso de sucumbir en el proceso, tiene derecho aejercitar una acción de garantía (verbigracia, elcomprador vencido, contra el vendedor), puede

denunciar al tercero, hasta el momento del fallodel negocio, la pendencia de la causa, por mediode escrito."Adolfo Schonke, por seu turno, diz que:"La litisdenunciación es la comunicación formalde la pendencia de uma causa dirigida por una delas partes de la misma a um tercero. Com ella nose ejercita una verdadera acción procesal, segúnha declarado el Tribunal Supremo."Sobre a legislação alemã, Lopez-Fragoso, em excelentetrabalho, extraiu as seguintes conclusões:

"No puede afirmarse simplemente que la denuncia del litigioalemana suponga el instrumentoprocesal equivalente a la llamada em garantía delderecho italiano. Y ello, no tanto por la falta delcontenido defensivo en la denuncia alemana, nipor la imposibilidad para ésta de acumular laacción de indemnidad al procedimiento delproceso principal - aquí no cabe hablar em rigor (p. 223)

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de proceso de molestia -, sino, principalmente,por la propia estructura y efectos de la denunciaalemana. En este sentido no cabe equiparar lallamada en causa, entemdiendo a ésta comosimple llamada sin ejercicio de pretensión almodo chiovendiano, com la denuncia del litigioalemana, como mera comunicación de lapendencia del proceso, siendo los fines y efectosde una y otra totalmente diversos. Pero tampococabe presentar a la denuncia ex § 72 ZPO comoel equivalente alemán de la litisdenumciación delderecho italiano.De tal manera que, siendo de mayor complejidadla investigación a desarrollar habrá que considerar a ladenuncia del litigio de la ZPO alemanacomo un instituto procesal distinto, porestructura, efectos y presupuestos, de la llamada

en causa ex art. 106 CPC italiano, si bien, encierta medida, pueden perseguir ambos institutosuna función semejante, aun cuando se intentealcanzar dicha función en cada sistema procesalrespectivo por diversos medios y distinto camino.La comparación entre la denuncia del litigio ex §72 ZPO y la llamada en causa ex art. 106 CPC tanto porcomunidad de causa como por lamadaen garamtía propia e impropia - se fundamentaen la función que, directa o indirectamente,pretenden cumplir tales institutos procesales.

Esto se ve reflejado en su respectivo ámbito deutilización, o sea, en consideración a las diversashipótesis que encuentran encaje dentro de suspresupuestos y puedem asi cumplir su fines. Esdecir, no sólo nos casos de distintas relaciones (p. 224)jurídicas substanciales con diversidad de sujetosy conexas por prejudicialidad-dependencia, a loscuales les correpondería la noción de regresopropia de la garantía estricta e de los simplessupuestos de resarcimiento, sino tambien lashipótesis más compejas con son la existencia

(afirmada) de relaciones alternativas, supuestoséstos no encajables, con rigor, en la función de lallamada en garantía impropia, pero que a finosprácticos tampoco pueden equipararse a laconcepción italiana de la litisdenunciación comosimple llamada sin ejercicio (alternativo o eventual) deuna pretensión procesal. Ello esconsecuencia de los afectos característicos y peculiares de

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la denuncia del litigio del derechoprocesal civil alemán - § 68 ZPO -, efectos quepermiten considerar a la denuncia ex § 72 ZPOcomo un mecanismo procesal complejo, con unaestructura abstracta, que el legislador alemán de1877 instituye para alcamzar le afectividad delderecho a la tutela judicial, en coherencia con sumodelo "pandectístico" del proceso civil, y en concreto consu modelo de la intervención adhesiva.La intervención adhesiva de terceros del derechoprocesal civil alemán, en coheremcia son su sistema dejurisdicción civil, se estructuracordinando un primmer proceso que tiene porobjeto una relación conexa por prejudicialidad/dependencia com una distinta relación jurídicasustancial de la que es titular un tercero,pudiendo éste intervenir en aquel proceso, pero

sin adquirir la condición ni los poderes propios alas partes procesales, considerándose con simple (p. 225)coadyuvante - tanto para la intervención adhesivasimples como para la litiscomsorcial -, y um segundoproceso, que pueda surgir posteriormenteentre una de las partes y el tercero coadyuvante(o litisdenunciado) del primer proceso,controvertiéndose en este segundo proceso larelacíón existente entre ellos - conexa porprejudicialidad-dependencia con el objeto deprimer proceso -, la cual queda prejulgada por

los efectos especiales de la intervención o de lalitisdenunciación ex § 72 ZPO, em correspondencia con laposible actuación que la parte principal o denunciante delprimer proceso haya permitido desplegar al tercerocoadyuvante o denunciado de la pendencia de primer proceso.Siendo los afectos especiales del § 68 ZPO elelemento esencial para configurar la denuncia dellitigio del derecho procesal alemán, y comstituyendotales afectos el afecto de la intervención adhesivade hecho, es decir el afecto que produce laefectiva participación del tercero en el proceso

pendiente - o la denuncia del litigio, em cuantoprovocación a la intervención, com imdepemdemciade que se produzca efectivamente o no laparticipación del la tercero denunciado -, cabediferenciar con todo, la denuncia de llitigio y laintervención adhesiva voluntaria, pudiéndoseafirmar que los afectos especiales del § 68 ZPOencuentran su aplicación concreta y propia, no

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tanto para la intervención voluntaria, cuantopara la denuncia del litigio. Y ello, en primerlugar, por un dato fáctico que descansa en laevidencia de que el tercero, posible ínterviniente (p. 226)adhesivo voluntario, al seles efectivamenteperjudiciales tales afectos del § 68, ZPO, huírade participar efectivamente en el procesopendiente, y, por el contrario, siemdo tales afectosbeneficiosos para la parte procesal, ésta,pudiendo alcanzarlos mediante la denuncia de lapendencia de la proceso, efectuará tal denunciaal tercero. Pero, en segundo término, también porun dato de importancia dogmática, cuales la diferenciaexistente entre los meros afectos reflejos(presupuesto de la intervemción adhesiva simplevoluntária) y los afectos especiales de laintervención (afectos de la intervención afectiva

del tercero o de su litisdenunciación) substanciasobre la que descansa el anterior dato factico.Assin, por ejemplo, el titular (afirmado) de unarelación alternativa, esto es, excluyente de larelación controvertida entre las partes, no estavinculado realmente por los efectos de la sentencia en nuproceso en el que no imtervino. Además,por la propia estructura de la conexión alternativa entrediversas relaciones jurídicas con distintos titulares y porla estructura de la imtervenciónalemana, la vinculación para el tercero titular de

la relación alternativa conexa con el objeto de umproceso pendiente en el que no se conoce de surelación, no será eficaz para evitar posiblescontradicciones prácticas entre la sentencias sisimplesmente se le vincula a la parte dispositivade la sentencia que se decide este proceso. Eneste sentido, la doctrina y jurisprudenciaalemanas realizan una interpretación extensivadel § 72 ZPO (sobre la base del contenido de los (p. 227)efectos de la denuncia ex § 68 ZPO), configurando lasituación legitimante para una denuncia del litigio

flexiblemente, o sea, no limitandola facultade denunciar el litigio un terceroconsecuentemente, de producir frente a éste losefectos del § 68 ZPO - a los estrictos casos dede conexión por prejudicialidad/dependenciaentre diversas relaciones jurídicas, sino tambiénpara los supuestos de conexión alternativaexcluyente. Por ello, ha de diferenciarse, por um

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lado, la intervención adhesiva voluntária y ladenuncia del litigio, y, por otro, entre efectosreflejos - en el sentido de afectos de hecho parael tercero basados en la dependencia sustancialcivil o Thatbestandwirkung - y efectos de laintervención efectiva o de la denuncia del litigioalemana.Sobre esta base, habrá de distinguirse le supuestogeneral y ordinario de la denuncia del litigio(Sreitverkundung) del § 72 ZPO, el cual suponeuna facultad de la parte de un proceso pendiente,en cuanto le permite alcanzar el beneficio de losefectos especiales de la intervención efectiva o dela litisdenunciación regulados en el § 68 ZPO, ylos supuestos excepcionales que consideran ladenuncia COmo una obligación o una carga especial para laparte. Así, existen supuestos concretos

en la ZPO de litisdenunciación obligatoria, comes el regulado en el § 841. Además, un casoespecífico, no de denuncia, pero si de citación aintervir, en cuanto carga especial que sufre laparte procesal, se contiene en el § 856.3, enrelación con el § 856.4. (p. 228)Como ya se ha expresado, la ZPO desconocecualquier tipo de llamada o intervención coactivade tercero por orden del juez; sin embargo, el §640º e, y en un sentido similar el § 666.3, regulanunos supuestos excepcionales de citación de oficio a un

tercero - la denominada Beiladumg - Así,el § 640 e se refiere al caso de un proceso quetenga por objeto una acción de estado civil, concretamenteuna acción de reconocimiento depaternidad, y prescribe, para el supuesto de queuno de los padres, en su caso el hijo, noparticipen en el proceso, su citación por ordendel juez. Con todo, aparte del carácter excepcional detales normas, estas supuestos noconstituyen realmente una imtervemción iussuiudicis, sino una simple citación a intervir ordenada de

oficio por el órgano judicial.Desde otra perspectiva, el problema de la eficaciade la legitimación extraordinaria que tienemreconocida determinados terceros para hacerintervención adhesiva - simple o litisconsorcialvoluntaria, en cuanto mecanismo garantizadorde los derechos e intereses jurídicos de aquellosterceros que pueden verse afectados por los

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efectos reflejos o directos de una sentencia queresuelve un proceso en el que no participaran (yen el que no era necesaria su convocatoria),plantean el problema de la virtualidad de denuncia dellitigio ex 72 ZPO para garantizareficazmente el derecho de audiencia reconocidoen el art. 103.1 de la Constitución alemana(G.G.). Cuestión ésta que ha dado lugar a determinadospropuestas y soluciones de la doctrina (p. 229)y jurisprudencia alemanas, intentando coordinarel derecho fundamental del art. 103 I G.G. con lautilización - forzada - del mecanismo de la denuncia dellitigio del § 72 ZPO. Algunos autores,siendo ineficaz tal mecanismo para garantizareficazmente el derecho de audiencia, defiendenuna utilización extensiva del instituto de laBeiladung fuera de su ámbito estricto.

Como supuestos especiales de imtervenciónprovocada habrán de estudiarse los institutos dellitigio entre pretendientes (§ 75 ZPO) y de lanominatio auctoris (§ 76 y § 77 ZPO), los cualesson considerados por la doctrina dominantealemana como casos especiales de denuncia dellitigio, pero que, al menos cuando el autornominado o el tercero pretemdiente intervienen enel proceso, rebasan claramente la estructura yefectos de la mera denuncia ex § 72 ZPO,dejando ver con ello que, al menos excepcionalmente,

también el derecho procesal civil alemáncontiene elementos o manifestaciones concretasde intimación a participar em um procesopendiente propias de la figura de la adcitatio."Da lei e doutrina alemã, a turno seu, extraiu asseguintes conclusões:"Primera: para los alemanes la litisdenuntiatiopuede ser utilizada para hacer viable laintervención litisconsorcial, la intervención principal yademás para la figura de la laudationominatio auctoris. (p. 230)

Segunda: Para el tema que interesa, en Alemania,la denuncia del pleito es una simple comunicación;no está prevista la posibilidad de condenar en elmismo proceso al llamado.Tercera: Si el denunciado decide intervenir en elproceso, se le recibirá como intervinienteadhesivo.Cuarta: Si el receptor de la denuncia no se adhiriese

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al denunciante del litigio, la causa proseguirá sintenerlo en cuenta. Pero la sentencia, a pesar deesto y aun cuando el receptor de la denuncia seadhiera al adversario del denunciante del litigio,tendrá el mismo efecto para un futuro procesoentre él y el denunciante del litigio que si sehubiese adherido a este último; sólo que tambiénaquí decide el tiempo en que fue posible laadhesión a consecuencia de la denuncia dellitigio para la excepción de gestación procesaldefectuosa.Quinta: En la legislación alemana la citacióntiene por objeto que la sentencia que se dicte enese proceso afecte al llamado o receptor de ladenuncia. Si el llamado comparece será considerada comocoadyuvamte del llamante. Si lacitación es demorada, cuando realmente el

llamado en nada puede colaborar, en el nuevoproceso que se inicia por parte del llamante contra elllamado, éste puede argumentar que se lellamó tarde y es entonces cuando se estudiará laprocedencia y la forma de la denuncia.Las consecuencias anteriores quedan claras conla siguiente cita de Adolfo Schönke: "Los efectos (p. 231)de la litisdenunciante y el tercero se producentodas las consecuencias de la intervenciónadhesiva, prescindiendo de que el tercero entre enla causa o no. Mas siempre para la alegación

sobre la defectuosa gestión del proceso (exceptiomale gesti processus) se habrá de tener en cuentano el momento en que a consecuencia de lalitisdenunciación le fue posible."

3.7 - A denunciação no direito portuguêsEm Portugal, o instituto da denunciação surgiucom Dom Diniz, com a tradução da Lei das Sete Partidas, quefacultava ao réu, caso demandado sobre coisamóvel ou imóvel, chamar a juízo, para defendê-lo, apessoa de quem a houvesse recebido. Posteriormente,

as Ordenações Afonsinas, regulavam nos Títulos XL eXLI, do Livro III, o chamamento à autoria.As Ordenações Manuelinas fizeram minúsculasinovações ao instituto, mais precisamente alterando-lhea redação, como se vê do Livro III, Títulos XXX eXXXI, com a explicitação do seu caráter deobrigatoriedade para o registro do Livro III, TítuloXXX, § 2º.

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As Ordenações Filipinas (Livro III, Títulos XLIVe XLV) mantiveram o instituto, com alguns acréscimos.O primeiro Código de Processo Civil de Portugalmanteve o chamamento à autoria, em seu art. 322º, bemcomo o chamamento à demanda, nos arts. 326º e 327º.No novo estatuto foi mantida a garantia do direitoresultante da evicção, permanecendo o chamadodesobrigado de tomar a defesa da causa, sendo-lhe (p. 232)facultado descomparecer; e mesmo comparecendonão estava obrigado a liberar o chamante da vinculação aoprocesso.Após 1/10/39, com o novo Código de ProcessoCivil, o chamamento à autoria passou a ser admitido,outrossim, toda vez que o réu tivesse direito a umaindenização de terceiro em caso de perder a demanda.O Código de Processo Civil de Portugal, àquelaaltura, ladeou-se à ZPO alemã e sobrepujou as legislações

francesa e italiana, desde que inseriu no seu textoa chamada garantia imprópria e expurgou do instituto ocaráter de obrigatoriedade que marcou as legislaçõesque o procederam.Pelo engenho do eminente Professor José Albertodos Reis, o demandado que não chamasse o alienanteou o terceiro à autoria não mais perdia o direito deregresso, bastando-lhe, contudo, na ação regressiva,demonstrar que, na ação em que sucumbiu, empregoutodos os esforços para evitar a condenação.Contudo, não obstante o reconhecido avanço,

manteve-se o instituto reservado exclusivamente aodemandado na ação, não ao demandante.Outra particularidade digna de nota no Código de1939 foi destinada aos efeitos subjetivos da sentença nochamamento à autoria, nos casos de comparecimentoou não do chamado. Em quaisquer das hipóteses, asentença faria coisa julgada em face do chamado.Hodiernamente, o novo Código de Processo CivilPortuguês, por força do Decreto-Lei n. 47.690, de 11 demaio de 1967, que mudou a redação do seu art. 325º,não faz alusão expressa à evicção, fazendo-o, no entanto,

implicitamente. Por isso que o vendedor, em razãodos arts. 894º, 825º e 898º, do Código Civil, continuaresponsável como garantidor. (p. 233)

3.8 - A denunciação da lide entre nósHá uma cronologia digna de nota sobre o institutoda denunciação, entre nós, da parte do Professor AroldoPlímio Gonçalves, Doutor em Direito e Professor de

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Direito Processual Civil na Faculdade de Direito daUniversidade Federal de Minas Gerais, em trabalho seuintitulado Da Denunciação da Lide.Após a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822,desenvolveu-se o seguinte processo deimancipação do direito processual brasileiro:a) a Assembléia Geral Constituinte aprova lei,sancionada pelo rei, determinando o cumprimento dasordenações, leis, alvarás, decretos e resoluçõespromulgadas pelos reis de Portugal;b) anexo ao Código de Processo Criminal do Império,formulado em 29/11/1832, entrou em vigor oprimeiro texto legal sobre processo civil, "DisposiçãoProvisória Acerca da Administração da Justiça Civil",com seus 27 artigos;c) em 25 de junho de 1850, foi aprovado o CódigoComercial pela Lei n. 556;

d) em 25 de novembro de 1850, foi baixado oRegulamento n. 737, que denominou de "autoria" o"chamamento à autoria", nos seus arts. 111 a 117,mantendo as mesmas características já anteriormenteexistentes nas Ordenações.Estabeleceu esse estatuto que, vindo o chamadoaos autos, contra ele prosseguia a ação, sendo defesoao autor escolher aquele que haveria de continuarfigurando na relação processual passiva: se ochamante ou o chamado. Tal princípio inspirou o art.97 do Código de Processo Civil de 39, que estabele- (p. 234)

ceu ser defeso ao autor litigar com o denunciante,vindo a juízo o denunciado;e) o Regulamento n. 737 e as Ordenações Filipinascoexistiram. O primeiro regia as causas comerciais. Osegundo, com alterações adaptadas, regia ascausas cíveis;f) em face das leis esparsas que surgiram sobreprocesso civil, aprouve ao Governo, em decorrência daLei n. 2.033, de 20 de setembro de 1871, e do Decreton. 4.824, de 22 de novembro de 1871, nomear o ConselheiroAntônio Joaquim Ribas para coletar toda a legislação

pertinente e existente à época.Surgiu a Consolidação das Leis do Processo Civil,denominada Consolidação Ribas, que se tornoulei por força da Resolução Imperial de 28 de dezembro de1876.Quanto ao chamamento à autoria, a Consolidaçãode Ribas, trazia as seguintes características:a) o instituto permanecia vinculado à evicção,

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conforme as Ordenações;b) somente ao demandado era destinado;c) não feita a denúncia do litígio pelo demandadoao alienante, perdia o direito de regresso contra este;d) se a causa da não-denúncia fosse imputável aoalienante - não se perdia o direito de regresso;e) admitia-se a denunciação na denunciação;f) ao autor da demanda era facultado demandar odenunciado, tão e só, quando comparecia aos autos eaceitava a denunciação, ou continuar demandando,exclusivamente, o denunciante;g) vedava ao denunciado a exceção de incompetência; (p. 235)h) ao denunciado era dado reconvir ao autor;i) o momento da denunciação era até o início dainstrução;j) a denunciação sustava o andamento do feito;O Decreto n. 763, de 19 de outubro de 1890,

determinou a aplicação, com exceção da Consolidaçãode Ribas, bem como do Regulamento n. 737, de 1850,às causas cíveis, provocando, assim, a unificação doprocesso civil e comercial.Com o fim da monarquia e o surgimento do Estado Federal,criou-se a Justiça Federal através do Decreto n. 848, de11/10/1890, que muito assimilou do Regulamento n. 737, de1850.A Constituição Republicana, de 24/2/1891, conferiu aosEstados-Membros poderes para legislar sobre oprocesso civil, mantendo, ao seu par, a Justiça Federal.

Enquanto não promulgados os códigos estaduais,vigorou o Regulamento n. 737, de 1850, que em suaquase totalidade inspirou aqueles todos.Anota-se, contudo, que os Estados de Alagoas,Amazonas, Goiás e Mato Grosso não editaram os seuscódigos, tendo sido regido pelo Regulamento n. 737(25/11/1850) até 10 de março de 1940, quando passou avigorar o primeiro Código Nacional de Processo Civil.Registra-se, outrossim, que, no concernente aochamamento à autoria, os códigos estaduais mantiveram-seatrelados às idéias herdadas de Portugal, com

exceção dos códigos do Rio de Janeiro e Ceará, quepreferiram o sistema francês-italiano, inspirados nogermânico, admitindo, assim, a ação de regressoantecipadamente e no bojo da ação principal, cujo sistemaveio a ser adotado pelo Código de 73. (p. 236)O Código Federal de 39 regulou a denunciação dalide a partir do art. 95:"Aquele que demandar ou contra quem se demandar acerca de

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coisa ou direito real, poderá chamar àautoria a pessoa de quem houve a coisa ou o direitoreal, a fim de resguardar-se dos riscos da evicção.§ 1º Se for o autor, notificará o alienante, nainstauração do juízo, para assumir a direção dacausa e modificar a petição inicial.§ 2º Se for o réu, requererá a citação do alienantenos três dias seguintes ao da propositura da ação.§ 3º O denunciado poderá, por sua vez, chamaroutrem à autoria e assim sucessivamente, guardadas asdisposições dos artigos anteriores.Art. 96. Ordenada a citação, ficará suspenso ocurso da lide.§ 1º A citação do alienante far-se-á:a) quando residente na mesma comarca, dentro deoito dias, contados do respectivo despacho;b) quando residente em comarca diversa ou em

lugar incerto, dentro de trinta dias.§ 2º Se a citação não se fizer no prazo marcado, aação prosseguirá contra o réu, não lhe assistindo,em caso de má-fé, direito à ação regressiva contra oalienante.Art. 97. Vindo a juízo o denunciado, receberá oprocesso no estado em que este se achar, e acausa com ele prosseguirá, sendo defeso ao autor litigarcom o denunciante. Se o denunciadoconfessar o pedido poderá o denunciante prosseguir nadefesa. (p. 237)

Art. 98. Se o denunciado não vier a juízo dentrodo prazo, cumprirá a quem o houver chamadodefender a causa até final, sob pena de perder odireito à evicção."Como se viu alhures, dos registros históricos doinstituto Calamandrei extraiu-se a idéia de obrigaçãode defesa do denunciado em face do seu denunciante.Após exercitada a defesa, em caso de sucumbência, éque se fala em direito de ressarcimento.Chiovenda, a turno seu, extraiu, no entanto, dosmesmos registros, a idéia de ação de regresso

antecipadamente e no bojo da ação-base.Ao pensamento chiovendiano a nossa codificaçãoprocessual de 73 adequou-se, reafirma-se, oriunda dospovos germano-barbáricos antigos.De pronto, tem-se que o Código pretérito previaduas hipóteses de legitimidade ativa para o exercício dochamamento. A primeira dizia respeito ao próprio réu,que podia chamar à autoria aquele de quem houve a

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coisa. A segunda dizia respeito ao próprio autor, que, deigual modo, podia chamar à autoria aquele de quemhouve a coisa. Inovando, assim, no particular, olegislador, porque até aquele momento histórico-processualnão se admitia pudesse o autor chamar alguém à autoria.Quanto ao objeto do chamamento, naquela codificação, ficouassentado que poderia ser tanto aquele queensejava ação petitória, como, também, aquele queensejava ação possessória. Não obstante a controversãodoutrinária que reinou à época, parte da doutrina admitiutambém o chamamento nas ações divisórias.Quanto à obrigatoriedade ou não do chamamento,aquele legislador deixou transparente a idéia defacultatividade, tanto que usou a expressão "poderá". (p.238)Não se descuidou, contudo, de estabelecer o momento em quese deveria exercitar o chamamento. Se feito

pelo autor, far-se-ia quando da propositura da ação; sefeita pelo requerido, no tríduo posterior à propositura daação, admitindo-se, outrossim, o chamamento sucessivo.

3.8.1 - Natureza da nossa denunciaçãoO nosso sistema é o resultado da soma de particularidadespositivas que existiram noutros sistemas dahistória do Instituto. Assim, por exemplo, aobrigatoriedade da denunciação (que é o nosso caso) tantoprovém do sistema romano como do germânico; a permanênciado denunciante no processo, quando o denunciado aceita a

denunciação (que é o nosso caso), édo sistema romano, não do germânico; a ação deressarcimento na mesma ação em curso (que é o nosso caso)é dos germânicos, não dos romanos.Conclui-se que não é equívoca a asserção de queo nosso sistema de denunciação tem as suas origenshistóricas fincadas tanto no sistema romano como nogermânico.Quanto aos modelos italianos construídos porChiovemda e Calamamdrei, o nosso sistema mais seassemelha ao chiovendiano.

3.8.2 - Elementos figurantes da denunciação conforme oCódigo de 73O atual Código de Processo, no art. 70, dispõe:"A denunciação da lide é obrigatória:I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica acoisa, cujo domínio foi transferido à parte, a (p. 239)fim de que esta possa exercer o direito que da

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evicção lhe resulta;II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, porforça de obrigação ou direito no caso deusufrutuário, do credor pignoratício, do locatário,o réu, citado em nome próprio, exerça a possedireta da coisa demandada;III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelocontrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo doque perder a demanda".Diz-se alienante - o mesmo que alienador, o quealiena ou transfere a outrem uma propriedade ou umdireito próprio.{47} É aquele que se obriga a transferir odomínio da coisa vendida. Caso não entregue a coisa,não efetivando sua transferência, inexiste alienação e,por conseqüência, a figura do alienante.Credor pignoratício - pessoa que possui um títulode penhor de objetos móveis, instituído em seu favor;

Locatário - aquele que toma em locação, mediante cessão deoutrem, o locador, o uso e gozo de coisamediante remuneração.{48}O emérito Professor J. M. Carvalho Santos{49} confere à suadoutrina interpretativa o seguinte texto, emexórdio:"Chama-se locação ao contrato pelo qual uma daspartes - locador (grifamos) - se obriga, medianteretribuição, a ceder a outra - locatário (grifamos)47. NUNES, Pedro. Dicionário de tecnologia jurídica.48. SILVA. De Plácido e. Vocabulário jurídico.

49. SANTOS, J. M. Carvalho. Op. cit., v. 7, p. 5-10. (p.240)- durante um certo tempo, o uso ou gôzo de umacoisa (locatio rerum) ou a prestar-lhe seus serviços(locatio operarum) ou a fazer por sua contadeterminada obra (locatio operis)...""... na locação de prédios, as expressões locador elocatário equivalem às de senhor, senhorio, ouarrematador, para aquele e condutor, inquilino,rendeiro ou arrendatário, para este."Proprietário - titular do direito de propriedade.

"Dono; senhorio; senhor e. possuidor de quaisquerbens. O nu-proprietário, ou aquele que tem o domíniodireto da coisa."{50}Conforme Pacifi-Mazzone,{51} "o direito de propriedade é odireito real por excelência, sendo o maisamplo dentre todos êles, o que constitui a sua qualidadefundamental, o traço típico que o caracteriza"Daí a afirmativa da doutrina: "O direito de propriedade tem

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dois caracteres essenciais: ser absoluto eexclusivo"{52} Donde conclui-se que o proprietário possui oabsolutismo e o exclusivismo como características básicas,que o identificam como possuidor do bemou da coisa.Possuidor - é todo aquele que tem somente aposse, o poder físico sobre a coisa, com a intenção depermanecer no seu exercício. Diz-se da pessoa que seacha materialmente investida da posse ou que exercesobre a coisa: a) poderes de fato inerentes ao domínio 50.NUNES, Pedro. Dicionário de tecnologia jurídica.51. PACIFI-MAZZONE. Códice Civile italiano comentado, v. 1,n. 87.52. SANTOS, J. M. Carvalho. Op. cit., p. 270. (p. 241)dono ou proprietário; b) qualquer direito real - o usuário,o usufrutuário, o enfiteuta, etc.; c) o direito ouobrigação legal de detê-la em nome do dono ou de

terceiro, em razão de cargo, encargo, ou ofício - odepositário, o comodatário, o transportador ou condutor dacoisa etc. Opõe-se a senhor, que tem domínio.{53}Modernamente, contudo, tem-se entendido que acondição de possuidor pode, outrossim, transparecer dosenhorio, do poder econômico, que o sujeito exercesobre a coisa, mesmo que não haja o poder físico - adetenção material.Ihering distingue posse de propriedade: a primeira é "opoder de fato", enquanto a segunda é "o poderde direito".

"O direito de possuir, destarte, é assegurado aoproprietário, e da noção desse direito, isto é,dojuspossidenti,é que Ihering deduz todos os princípios que formam a suadoutrina", conforme J.M. Carvalho Santos{54}.A posse ainda pode ser tida como um poder defato sobre a coisa própria ou alheia, enquanto que apropriedade pode ser tida como um poder jurídico sobre acoisa própria.Usufrutuário - titular de direito de usufruto. Relativo ausufruto; sujeito a usufruto: prédio usufrutuário, coisa

usufrutuária, etc. - imperfeito. É aquele quetem o quase usufruto da coisa.Pode-se, ainda avocar usufrutuário como aqueleque é titular de direito real de usufruto sobre determinadobem ou coisa.53. NUNES, Pedro. Op. cit.54. SANTOS, J. M. Carvalho. Op. cit., v. 7, p. 12. (p. 242)Do Professor J.M. Carvalho Santos:

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"...os dispositivos do Código acerca dos direitosdo usufrutuário são meramente supletivos, só tendoaplicação nos pontos omitidos pelas partes naconvenção ou ato constitutivo."Prossegue o douto jurista:"Não pode haver dúvida, portanto, que o usufrutuário é umverdadeiro possuidor e, como tal, tema faculdade de empregar os interditos possessórios - querpara defender, quer para recuperar aposse"{55}.Perfilha ainda o ilustre mestre, comentando a primeiraparte do art. 718 do Código Civil:"São dois os direitos elementares do usufruto: ode ter a coisa, usando e gozando dela, e o deperceber os frutos. Sendo certo que esses doisoutros, com esses concomitantes, sem os quaisseriam estéreis e inexeqüíveis, como acentua Carvalho de

Mendonça (Do Usufruto, n. 10).Assim, por exemplo, acontece com o direito àposse, pois está claro que o usufrutuário não poderiaexercer seu direito de uso da coisa sem tersobre ela a posse."{56}55. SANTOS, J. M. Carvalho. Op. cit., v. 9, p. 371-372.56. SANTOS, J. M. Carvalho. Op. cit. (p. 243)

4 - MODALIDADENo contexto das figuras intervencionais, adenunciação sobressai como modalidade de intervenção

provocada desde que vista do ângulo do interveniente. Doângulo daquele que provoca a intervenção,pode-se admiti-la obrigatória, ou melhor, necessária,desde que haja exigência da lei, por isso que neste casopassa a ser condição para o exercício e gozo de direito.

5 - DENUNCIAÇÃO E AÇÃOA denunciação da lide no nosso sistema equivaleao exercício do direito de ação de forma eventual,condicionada e incidental, uma vez que por ela o que sebusca é a garantia judicial de outro direito, qual o

decorrente do dever de garantia própria em razão daevicção, ou de uma relação jurídica tornada patológicae prejudicial ao sujeito denunciante que resulte naobrigação de indenizar em razão da garantia imprópria.Diz-se eventual, condicionada, porque a sua ocorrênciadepende de ação-base, e a emissão de juízo valorativosobre o seu objeto dependerá da sucumbência do denunciantena ação originária. Importa esse aspecto da

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denunciação, também, porque dele resulta não ser elaprejudicial na elaboração da sentença como sói acontecer naoposição, sim secundada.

6 - DENUNCIAÇÃO E CONDIÇÕES DA AÇÃODenunciação, conforme a construção legislativapátria, é ação. Assim, impõe-se, na sua propositura, (p.244)estejam presentes os elementos imprescíndiveis aojuízo de admissibilidade, quais a legitimidade, o interessee a possibilidade jurídica do pedido. A par disso,acresce-se a exigência de uma ação-base materializadaem processo válido, ou seja, de partes conflitantes, deum conflito incidente em norma genérica e de um órgãojurisdicional constitucionalmente instituído, vezque se veda o tribunal de exceção.Não se olvide que, sendo ação, provoca união de

ações, tanto que outra preexiste na hipótese dadenunciação proposta pelo requerido; ou outraconcomitantemente existe quando a denunciação é propostapelo autor. Da união resulta extensão da relaçãosubjetiva no plano vertical, não no horizontal, podendosê-lo se o denunciado se litisconsorcia ao seu denunciante.Assim há uma relação processual entre o autor daação-base e o seu demandado e, em continuidade, outrarelação processual entre o demandado-denunciante e oseu denunciado. Admite-se a sucessividade, ficando asações, os processos e os procedimentos vinculados por

força do instituto.Em cada relação processual que se estabelece, ointeresse e a possibilidade jurídica, a par dasgeneralidades da Teoria Geral do Processo, somentesobressairão se os fatos forem conexos, cuidando-se assim denão inserir fato estranho ao que resultou na incidênciaautorizadora do exercício da pretensão originária.

7 - DENUNCIAÇÃO E COMPETENCIA DO JUÍZOEm razão da conexidade de causas, no caso deintervenção nominada, tanto a voluntária como a (p. 245)

provocada, não é dado ao interveniente argüir exceçãode incompetência relativa do juízo, sim, tão e só,absoluta. Mesmo que o juízo da ação-base não sejacompetente para apreciar e julgar a causa do denunciado porpeculiaridades suas, desde que não se tratem depeculiaridades pertinentes à competência material oufuncional, que cuidam de ser de competência absoluta, dá-sea hipótese da modificação legal da competência, por

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isso que é ela estendida ou ampliada. A exceção absolutapode ser argüida em qualquer tempo, por quaisquerdas partes e, inclusive, de ofício pelo próprio juiz,presidente do processo.Se o denunciado que integra a relação processualgoza de privilégio de foro, a competência originariamentefirmada desloca-se para o juízo do foro do privilégio.Dáse, no caso, a hipótese de incompetência superveniente.

8 - DENUNCIAÇÃO E ASPECTOS FORMAIS DO PEDIDOA lei, a doutrina e a jurisprudência nada dizemsobre a necessidade de se observar, na formulação dopedido denunciatório, as exigências do art. 282 doCódigo de Processo Civil, além das pertinentes às custas etaxa. Não obstante as suas rezões históricas, tenhoque tais exigências deveriam existir. A uma, porque adenunciação, no nosso sistema, é ação que o denunciante

move em face do denunciado. Não se trata desimples denúncia do pleito. A duas, porque o conflitoque se estabelece entre o denunciante e o denunciado éconseqüente do que se estabeleceu entre autor e demandadoda ação-base. A três, porque custas e taxa (p. 246)pagas na ação-base são do interesse e conveniência doautor da ação, portanto para que o Estado lhe preste oserviço jurisdicional naquele caso, e não para prestarserviço ao demandado denunciante noutra ação, ou aopróprio autor em denunciação para fazer valer outrodireito seu. A quatro, porque o denunciante se locupleta à

custa do autor da ação, resolvendo conflitoseu, perante o denunciado, sem nenhuma contraprestaçãopecuniária ao Estado, ou o próprio autor da açãose beneficia com a denunciação.O princípio dispositivo que rege o processo civilnão pode ser olvidado no oferecimento da denunciação, atéporque é no pedido que se fixa o princípio daco-relação ou da congruência que imporá ao julgadora formulação da sua decisão nos limites da lide.

9 - OBRIGATORIEDADE DA DENUNCIAÇÃO - GARANTIA PRÓPRIA E

IMPRÓPRIAPelo texto do art. 70 do Código de Processo Civilatual, a denunciação da lide é obrigatória em todas assituações da previsão genérica dos seus três incisos. É oque está na lei. Diferentemente, como se vê, do legisladorde 39, que não estipulou tal obrigatoriedade.É preciso se entenda o sentido da obrigatoriedade do textolegal. Denunciação é ação judicial.

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Ação judicial é ato de vontade, mesmo que o sujeitose veja impelido por fatores externos a executá-lo. Atode vontade não é compatível com a noção de obrigatoriedade.Conclui-se, então, que a obrigatoriedade dotexto equivale à condição imprescindível para o gozode determinado direito. Assim, para se ter a reparação (p.247)do prejuízo resultante da evicção, é imprescindível(obrigatória) se faça a denunciação. Di-la, por isso,obrigatória.Construiu-se um pensamento doutrinal dissímildo legislativo, cujo pensamento não se desassociou dahistoricização do Instituto. Não obstante a inspiraçãodo sistema germânico, com seus reflexos na França eItália, quanto à propositura da ação regressivaantecipadamente, os limites fronteiriços da inspiraçãohistórica

foram alargados desde que se assimilou de Portugal omodelo do inciso III do art. 70, que faculta adenunciação da lide daquele que estiver obrigado aindenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perdera demanda. É a chamada garantia imprópria, dedenunciação não obrigatória.Impõe-se, no contexto da obrigatoriedade, se estabeleça adistinção existente entre as figuras de garantia própria ede garantia imprópria. E o que é garantia?Garantia, no plano processual, é o dever que sobrevém aogarante de defender o garantido, preservando-o ou

reembolsando-o do prejuízo que dasucumbência possa resultar a este.Do conceito sobressaem as figuras do garante,do garantido, do prejuízo, do reembolso (garantiasubstancial).Garantia própria, também chamada formal, decorrente datransmissão de direitos, é aquela que resulta de umarelação jurídica perfeita da qual sobressaem partescapazes, objeto lícito, manifestação inequívoca de vontadese forma eleita prevista ou nãoproibida por lei. As hipóteses genéricas de garantia

própria estão nos incisos I e II do art. 70 do Código deProcesso Civil, de denunciação obrigatória. (p. 248)Garantia imprópria, também chamada simples, éaquela que resulta do dano que projeta a obrigação deindenizar, que compreende os elementos componentesda responsabilidade civil, quais sejam: uma condutaculposa, um dano ou prejuízo e o nexo causal entre taiselementos; também o dolo e, outrossim, conforme

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Aroldo Plínio Gonçalves, nos casos de coobrigação. Ahipótese de garantia imprópria está prevista no incisoIII do art. 70 do Código de Processo Civil, dedenunciação facultativa.Por fim, a evicção. O Professor Sérgio Bermudes,que vem de acrescentar riqueZas de valor inestimável aoutras riquezas, na medida em que atualiza os Comentáriosao Código de Processo Civil de Pontes deMiranda,{57} aclara com singular precisão didática eterminológica o sentido da "evicção", nos seguintestermos:"Evincere é ex, vincere, vencer pondo fora, tirando,afastando. A língua portuguesa possui o verbo"evencer": o terceiro, ou o próprio outorgante, quevence, quer como demandante quer como demandado, evence,porque vence e põe fora, no todo ouem parte, o direito do outorgado. O vencedor é o

evictor; o vencido é o evicto. Por isso respondequem deu causa ao atingimento do direito dooutorgado, à luta evincente. Assim, J. Cujácio eHugo Donelo bordaram considerações acertadassobre isso, frisando que, além de ser vencido, é57. PONTES DE MIRANDA. Comentários ao Código de ProcessoCivil.Atualizado por Sérgio Bermudes, t. 2, p. 136. (p. 249)preciso que o objeto saia da esfera jurídica dooutorgado, razão por que se exige ter sido prestado. Aestimologia coincide aí, à maravilha, com a

conceituação vigente (cf. MULLER, C. O. Dielehre des romischen Rechtes von der Eviktion, 89,nota 2)."Os dois primeiros incisos do art. 70 referem-se asituações reguladas pelo Código Civil nos arts. 486, 1.107,1.108 e 1.116, enquanto o terceiro inciso do mesmo artigonão tem o mesmo suporte no direito substancial.Os espanhóis, contudo, na lição de LopezFra goso,{58} dizem:"El supuesto paradgmático de intervenciónprovocada o coactiva de terceros del derechoprocesal civil espanõl se fundamenta en el

saneamiento por evicción en la compra-venta.El primer y más importante problema que suscitala obrigación de garantia que pesa sobre el vendedor (art.1461 CC) de responder frente al comprador "de la posesiónlegal y pacifica de la cosavendida" (art. 1474.1 y 2 CC), radica en determinar si talsupuesto puede da lugar a una auténticallamada en garantía o, por el contrário, si tal

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obrigación ha de vibilizarse mediante una simlitisdenunciación y, en su caso, un sucesivoejercicio de la acción de garantía en vía deregreso en un segundo proceso.57. ALVAREZ, Tomas Lopez-Fragoso. La intervención deterceros ainstancia de parte en el proceso civil español, p. 170-171.(p. 250)Para los defensores de la naturaleza meramentedenunciadora de este supuesto legal, el art.1.480 CC impide el que pueda sostenerse lanaturaleza de auténtica llamada para el mismo,al prohibir que pueda "exigirse (el saneamiento)haste que haya recaído sentencia firme, por laque se condene al cwnprador a la perdida de lacosa adquirida o de parte de la misma". Enconsecuencia, la "llamada" del vendedor al

proceso de evicción sólo podrá interpretarsecomo una simple denuncia que de su pendenciale realiza el comprador. El vendedor podráentonces, silo desea, participar en el proceso cointerviniente adhesivo del comprador; quedandovinculado, intervenga o no, a los efectos de lasentencia que resuelve dicho proceso. Caso deproducirse la evicción, o sea, cuando el comprador resultevencido en el proceso, podrádirigirse posteriormente frente al vendedor enun segundo proceso de regreso, esto es, un posterior

proceso en el que pretenderá la condenadel vendedor a dejarlo indemne de los dañossofridos por la evicción (con todo el contenidoresarcidor del art. 1478 CC). En otro caso, esdecir, cuando el comprador no haya comunicado al vendedorla existencia del proceso deevicción (en rigor, no haya pedido leemplazamiento del vendedor), quedará éste liberado de todaobligación de saneamiento, dadoel contenido del art. 1481 CC, el cual configurala denuncia más que como una simple carga

procesal del comprador, como una condición ex (p. 251)lege para mantener vigente la obligación delvendedor a sanear la cosa vendida."

10 - DISTINÇÃO DA DENUNCIAÇÃO E NOMEAÇÃO À AUTORIAO denunciante não se diz parte ilegítima; apenassustenta que o responsável por aquela situaçãoconflitada é outro e não ele próprio. Nisto distinguese da

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nomeação à autoria, em que novamente afirmase parteilegítima e, caso seja aceita, tanto pelo nomeado quantopelo autor da ação, o nomeante deixa arelação processual passiva. A par disso, esta figura sóé possível ao réu, enquanto que, na denunciação, também o éao autor.

11 - MOMENTO PROCESSUAL DA DENUNCIAÇÃO E LEGITIMAÇÃO ATIVAQuanto ao momento processual do oferecimentoda denunciação, o legislador de 1973 divergiu do legisladorde 1939. No estatuto pretérito, se a denunciaçãofosse oferecida pelo autor da ação, este deveria notificaro alienante quando da instauração do juízo. Se adenunciação fosse oferecida pelo demandado, este deveriarequerer a citação do alienante no tríduo posteriorao da propositura da ação.No novel estatuto, se a denunciação é oferecida

pelo autor da ação, este deverá requerer a citação dodenunciado juntamente com a do seu demandado. Sea denunciação é oferecida pelo demandado, este deverárequerer a citação do denunciado no prazo paracontestar. (p. 252)

12 - A DENUNCIAÇÃO E A EXTENSÃO DA RELAÇÃO SUBJETIVA NOPLANOHORIZONTAL E NO PLANO VERTICALO legislador prevê que, quando a denunciação foroferecida pelo autor da ação, comparecendo o denunciado,

este assumirá a posição de litisconsorte do seudenunciante, podendo, inclusive, aditar a petição inicial.Ocorre, na hipótese, extensão da relação subjetivano plano horizontal.Também prevê o legislador que, no caso dedenunciação feita pelo demandado, aceitando-a o denunciadoe contestando o pedido, este torna-se litisconsorte do seudenunciante, ocorrendo, de igual modo, nahipótese, extensão da relação subjetiva no plano horizontal.Nem sempre, contudo, se dá como previu o legislador, porisso que só há litisconsorciação quando acontece a junção

de lides visando a mesma sorte, e há casosem que o denunciado não se junta ao seu denunciante,sim a este se opõe, buscando eximir-se deresponsabilização. Disso resulta uma extensão da relaçãosubjetiva no plano vertical.

13 - JUIZO DE ADMISSIBILIDADE"Art. 70. A citação do denunciado será requerida,

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juntamente com a do réu, se o denunciador for oautor; e, no prazo para contestar, se o denunciantefor o réu."Para admissão ou inadmissão da denunciação feita pelodemandado, não se ouve o autor da ação. Tudo (p. 253)fica na dependência de estarem presentes os elementoscomnonentes do juízo de admissibilidade, sendo defesoao juiz indeferir a pretensão sem que seja por ausênciade qualquer desses elementos. Nesse ponto, tem-se,entre nós, uma similar do direito italiano.Desde que presentes os elementos componentesdo juízo de admissibilidade, o juiz determinará a citaçãodo denunciado.

14 - PROCEDIMENTOSQuanto aos procedimentos em que se admite adenunciação, exclui-se o executivo, o sumário, o

sumaríssimo procedimentoscautelar, o e os de jurisdiçãovoluntária, sendo cabível no ordinário. No procedimentosumario, a intervenção restou expressamente vedada porforça da Lei n. 9.245/95, introduzida no Código de ProcessoCivil no art. 280, I, com a seguinte redação:"No procedimento sumário:I - não será admissível ação declaratória incidental, nem aintervenção de terceiro, salvo assistência e recurso deterceiro interessado..."No procedimento sumaríssimo, da Lei n. 9.099/95,

de igual modo, não se admite a intervenção de terceiros,como se vê expressamente no seu art. 10:"Não se admitirá, no processo, qualquer forma deintervenção nem de assistência. Admitir-se-á olitisconsórcio." (p. 254)

15 - SUSPENSÃO DO PROCESSO E CITAÇÃOA suspensão do processo em razão de denunciaçãoda lide está prevista tanto no caput do art.72 do Códigode Processo Civil como, também, no art. 265, VI, estegeneralizadamente.

É anomalia. É crise processual, por isso que processo éfato humano que, como qualquer outro, no dizerde João Mendes Jr e João Monteiro, supõe um princípioativo, um princípio passivo, um princípio determinante eum termo. É o que corresponde a uma causa eficiente,uma causa material, uma causa formal e uma causa final.A ação do princípio ativo sobre o princípio passivo se dápelo movimento. Processo é movimento contínuo por

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sucessão e sucessivo por continuidade. O movimento visaa um fim. O fim é a intenção. Do princípio, para se chegarao fim, não é possível prescindir do método, da metodologiado movimento, do procedimento. Há movimentos que chegam aofim mais prontamente. O procedimento é, então, simples; masé procedimento. Há movimentos que chegam ao fim menosprontamente. O procedimento, a metodologia é, então,complexa. Aqui estáBetti: "Procedimento é ato complexo".No processo judicial, o movimento transparece namodalidade de atos do processo, que se dão no tempo,na forma e na quadra devidos, pena de não serem emtempo algum praticados.Se não praticados, são substituídos pelo fenômenoprocessual da preclusão temporal. Então, a preclusãotemporal é um substitutivo do que não se fez, já que osatos são semelhantes a "elos" em cadeia de sucessão

por continuidade e contínuos por sucessividade. Se são"elos", têm que estar interligados, não podem sofrersolução de continuidade, por isso que a preclusão temporalé o "elo" substitutivo do que não se fez. (p. 255)Sobre o tema suspensão, prefiro o pensamento alemão de WKisch, vez que, quando ocorre de faltar umpressuposto de existência do processo, qual, por exemplo, aparte, a hipótese não é de suspensão, sim de interrupçãopela falta de um elemento seu imprescindível.Então, se morre o autor, interrompe-se o processo até quese regularize a sua substituição, ou seja este extinto.

Regularizado, recomeçam os "elos" em cadeia.Outro é o quadro quando sempre presentes os pressupostos deexistência do processo, mas, por razões externas ouinternas, tem-se que "suspender o movimento", por issoanomalia, crise.A interrupção, a par da suspensão, é, para os alemães,espécie do gênero paralisação.A denunciação é um fator endógeno de crise doprocesso, como o são, também, a nomeação, o chamamento. Aoposição, contudo, é fator exógeno. Todosimplicam, endógena ou exogenamente, na quebra da

normalidade do movimento. Provocam, sim, anomalia. Massão os males necessários que visam à economia processual,evitam decisões conflitantes, garantem direitos eoutros benefícios vistos a seu tempo.

16 - O MOMENTO DA SUSPENSÃORecebida a denunciação, não se tratando, pois, deengendar no processo em andamento, questão que em

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nada pertine àquela que nele se discute, visto o juízo desua admissibilidade, ordena-se, de pronto, a citação dodenunciado, que tanto pode ser o alienante, o proprietário,o possuidor indireto ou o responsável pela indenização e,no mesmo ato, expressamente, deve o juiz declarar suspensoo processo.O legislador processual delimitou a medida de tempo em quedeverá ocorrer a citação do denunciado com (p. 256)o fim de evitar ofensa ao princípio da celeridade eeconomia (este quanto ao tempo), que passa a não socorrer aparte a quem não convém diretamente a ação dedenunciação. No bojo, tem-se, também, o propósito deevitar conduta procrastinatória por parte do denunciante.Assim, se a citação tiver de se operar no limiteterritorial da mesma comarca por onde tramita a açãobase, oprazo para sua efetivação será de dez dias; seem comarca distinta, o prazo será de trinta dias. Se,

contudo, a citação não se operar em quaisquer dessesprazos, a denunciação será tida como não ofertada e oprocesso prosseguirá; se, todavia, restar configurada adiligência do denunciante e não a sua inação, não sefará aplicação da norma e aguardar-se-á a sua operação.Se o denunciante não diligencia para que a citação se operenos prazos previstos no Código, e se nãocomprova que tal não se operou independentemente dasua vontade, mas por questões que dizem respeito àmorosidade da Justiça, perde ele o direito de regressocontra o seu denunciado, na hipótese da previsão genérica

do inciso I, do art. 70, do Código de Processo Civil.Nas hipóteses dos incisos II e III, o descumprimento doônus não implica a perda do direito à açãoautônoma e menos ainda do direito material de indenizaçãoou regresso; em tais casos, a omissão apenasimpede a formação, desde logo, nos mesmos autos, detítulo executivo contra o terceiro (art. 76) e sujeita oomisso aos riscos integrais de uma ação autônoma, emque amplamente se poderá discutir toda a matéria defato ou de direito relacionada ao mérito, ventilada ounão, bem ou mal explorada na ação originária.{59}

59. SANCHES, Sydney. Conseqüência da não denunciação dalide.RJTJESP 47/14-34. (p. 257)Se não diligencia a citação no caso de garantiaimprópria (inciso III, art. 70, do CPC), é de se admitirseja ele tido, no particular, como litigante de má-fé.É de se questionar sobre o termo ad quem dasuspensão do processo. A rigor, são dois termos. O

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primeiro, até o momento da citação, o segundo, até quese finde o prazo para tanto, mesmo que tal não se tenhaoperado.Resta óbvio que o estabelecimento de prazo paracitação do denunciado só diz respeito ao denuncianteréu, precisamente para evitar manobras retardatórias nocurso do processo.Se o denunciante for o autor da ação, a nãocitação dodenunciado nos prazos do art. 72, § 1º, a e b,se algum prejuízo causar, será a si próprio, o autor. Anão admitir tal interpretação, não teria sentido o textodo § 2º do mesmo artigo.

17 - CONTESTAÇÃOO Código não diz se ao tempo em que se oferece adenunciação deve-se, também, contestar, ou se simplesmentese denuncia sem contestação, pois que há a

suspensão do processo e o curso do prazo de resposta ésuspenso.Tenho que nada obstaria a que o requerido simplesmenteoferecesse a denunciação e se reservasse aapresentar a contestação até no máximo do término doseu prazo disponível para tanto.É bem de ver que a boa técnica não recomendaque se aja assim, uma vez que, para que o própriodenunciado conheça as razões do seu denunciante, mister sefaz que a contestação já esteja nos autos. (p. 258)Boa parte da doutrina sobre o Código passado

sustentava que o tempo que o denunciante esgotavapara oferecer a denunciação era descontado no tempodisponível ao denunciado para contestar.J.M de Carvalho Santos, citava o seguinte exemplo:"Se somente no segundo dia, após a citação, o réurequereu a citação do alienante, neste dia é queficou suspensa a causa. Quer dizer: dois dias já sehaviam decorrido do prazo para contestação. Sedepois volta a correr a causa, claro que o prazo dacontestação que resta ao denunciado ficará desfalcadodesses dois dias, pois ele receberá o processo no estado em

que se achava".{60}Ocorre que, como já se viu com a nova filosofiaadotada pelo Código de 73, força é convir que ao denunciadodeverá ser concedido o prazo de respostacomum do procedimento em que se estiver dando adenunciação.No rito ordinário, então deverá o denunciado responder noprazo de quinze dias, sendo-lhe assegurado

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todos os direitos comuns às partes, isso em razão doprincípio da igualdade que o nosso Código adotou.

18 - DENUNCIAÇÃO SUCESSIVANão é raro ocorrer, principalmente nas transaçõesimobiliárias, que o alienante denunciado seja o últimode uma cadeia de compras e vendas, nas quais estevepresente, passando, de um para outro adquirente, ovício comprometedor, da qualidade das transações.60. SANTOS, J. M. Carvalho. Op. cit., p. (p. 259)Nesse caso, o denunciado alienante pode denunciar à lide oseu alienador e este, por seu turno, aosdemais, até que chegue naquele em que, efetivamente,o vício teve a sua origem.Chama-se, então, de denunciação sucessiva aquela quesobrevém a outra denunciação.Para que tal se dê, são exigidos os mesmos requisitos da

primeira denunciação, adotando-se, quanto aoprocedimento, de igual modo, as mesmas normas, e,por fim, dela decorrem as mesmas conseqüências.O 1º TACSP, em acórdão unânime da 6ª Câmara, em31/3/87, julgando a Apelação n. 371 .939-8,{61} entendeuque,"se tiver havido vendas sucessivas, o adquirenteevicto deverá, para usar do direito que a lei lheconcede, citar seu alienante imediato, como responsável, eeste fará o chamamento de seu antecessorpara a garantia, e assim sucessivamente, até alcançar

aquele de onde partiu a alienação viciosa.""Para os fins do disposto no art. 70, o denunciado,por sua vez, intimará do litígio o alienante, oproprietário, o possuidor indireto ou o responsavel pelaindenização, e, assim, sucessivamente,observando-se, quanto aos prazos, o disposto noartigo antecedente" (art. 73 do CPC).Assim, tem-se como certo que a demanda de garantia poderásuscitar outra demanda de igual natureza,por isso que, seguindo a mesma trilha do Código de 39,o legislador de 73 admitiu, também, a denunciação

sucessiva desde que estabeleceu que o denunciado intime dolitígio o alienante, o proprietário, o possuidor61. ADCOAS, 1987, p. 436. (p. 260)indireto ou o responsável pela indenização e, assim,sucessivamente, observando-se, quanto aos prazos, odisposto no art. 72.O texto desse artigo é, contudo, incorreto, porquenão fez alusão à citação do denunciado, sim à

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intimação. Então, onde se lê intimação, leia-se citação.

19 - DENUNCIAÇÃO PER SALTUM- POR VONTADE PRÓPRIAImpossível, tanto no caso de garantia própriacomo de garantia imprópria, fazer-se a denunciaçãocom supressão do garante ou responsável imediato,sem, portanto, observância do elo de ligação entre umsujeito e outro.Nas Primeiras Linhas, de Pereira e Souza{62} já sehavia assentado que "a denunciação da causa não devefazer-se de salto, mas gradualmente".

20 - DENUNCIAÇÃO PERSALTUM-COM SUPRESSÃO DA VONTADE PRÓPRIACuida, a hipótese, de denunciação com supressãoda vontade própria, por isso que aquele a quem cabiafazê-la não a fez.Também impossível que o autor denuncie à lide a

alguém que deve vir aos autos para garantia do demandado,ou vice-versa. A impossibilidade reside na ilegitimidade dodenunciante em face do denunciado, já que62. PEREIRA E SOUZA. Op. cit., § 166. (p. 261)aquele não tem nenhuma relação jurídica com estecapaz de autorizar a medida denunciatória.A propósito, no STF, do julgamento da AçãoCível Originária n. 277.0-DF, em que foi relator oMinistro Moreira Alves,{63} restou a seguinte Ementa:"Ementa - Ação cível originária - Denunciação àlide, por uma das rés, do Estado do Mato Grosso,

como denunciado do autor.O Estado do Mato Grosso não pode figurar na lidecomo denunciado, na posição de litisconsorte ativo, porquenão houve pedido do autor nesse sentido; ademais, adenunciação à lide não se faz persaltum. Precedentes do STF.Exclusão do Estado do Mato Grosso da relaçãojurídica processual, tornando-se, assim, incompetente oSTF, restituídos os autos ao Juiz Federalde origem."

21 - DENUNCIAÇÃO PELO AUTOR"Art. 74. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado,comparecendo, assumirá a posição delitisconsorte do denunciante e poderá aditar apetição inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu".Sendo certo que a denunciação é ação de regressoque se exercita antecipadamente contra o denunciado,sobressai de evidente praticidade a norma do art. 74 do

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Código de Processo Civil. Não obstante saber-se que o63. DJ de 23/11/84. (p. 262)denunciado pelo autor pode ter posição antagônica aoseu denunciante e, também, pode não adequar-se aquaisquer das previsões genéricas dos incisos do art. 70do Código de Processo Civil, fazendo-se ilegitimado emingüado de interesse para figurar no pólo passivo dadenunciação.Em sentido contrário, pode o denunciado peloautor satisfazer as exigências para atuar como seulitisconsorte, aditando, querendo a inicial. Só depois sefará a citação do demandado.A par disso, pode aquele que deveria ser denunciado, e nãoo foi, atuar como assistente do autor, porisso que a assistência inexige provocação, decorrendo,exclusivamente, da volição daquele que pretende assistirdesde que com interesse jurídico.

22 - DENUNCIAÇÃO PELO RÉU"Art. 75. Feita a denunciação pelo réu:I - se o denunciado a aceitar e contestar o pedido,o processo prosseguirá entre o autor, de um lado,e de outro, como litisconsortes, o denunciante e odenunciado;II - se o denunciado foi revel, ou comparecerapenas para negar a qualidade que lhe foi atribuída,cumprirá ao denunciante prosseguir na defesaaté final;

III - se o denunciado confessar os fatos alegadospelo autor, poderá o denunciante prosseguir nadefesa."Do ângulo da interpretação literal, o inciso I doart. 75 não transparece de fácil aceitação, desde o momentoem que se sabe possível ao denunciado ter pre- (p. 263)tensão antagônica ao seu denunciante, situação queconstitui óbice à litisconsorciação.A doutrina abranda a literalidade do texto, admitindo umaespécie de litisconsorciação sui gene ris, emque o elemento comum dos litisconsortes reside na

expectativa da sucumbência do autor da ação principal.Poder-se-ia aduzir um segundo questionamentosobre o texto, em decorrência da perquirição que se fazsobre a existência das condições de ação entre o autorda principal e o denunciado, já que entre ambos nãohouve negócio jurídico causador de conflitação, porisso nenhum fato ensejador do exercício do direito depretensão se verificou. Assim é que um, em face do

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outro, não é alienante, proprietário ou possuidor indireto,usufrutuário, credor pignoratício ou locatário.Do ângulo da interpretação histórica, no entanto,a situação se aclara, já que nas fontes inspiradoras donosso sistema o denunciado que aceitava a denunciaçãoassumia o pólo passivo da relação processual, e o seudenunciante era obrigado a deixá-lo.Portanto, em razão da influência do direitoalienígena, é de se concluir que, se o denunciadoaceitante passava a atuar sozinho contra o autor daação, muito mais lhe é possível, como sói acontecerhodiernamente, atuar em companhia de outrem.Quanto ao inciso II do art. 75 do Código de Processo Civil,diz-se revel, segundo Pontes de Miranda, oréu que, chamado a juízo, deixa que se extinga o prazoassinado para a contestação, sem se apresentar.O inciso em apreciação cuida do denunciado

revel, ou seja: aquele que regularmente citado mantevesesilente no prazo de resposta.Força é convir, contudo, que nem sempre o silêncio do réuimplica a asserção de serem verdadeiras as (p. 264)afirmações comunicadas pelo autor. Em razão disso,tem-se afirmado que na revelia a presunção de verdadenão é absoluta, sim relativa, cabendo ao julgador avaliar amedida maior ou menor de veracidade dos fatosem desfavor do revel.Faz-se essa pequena digressão porque, nadenunciação, sendo revel o denunciado e sendo procedente a

ação principal, nem sempre será procedente adenunciação.Ocorrendo o contrário, na hipótese de procedêciatambém da denunciação, a sentença sobre esta proferida teráautoridade e eficácia sobre o denunciado revel.O mesmo inciso cuida de uma segunda conduta,quando prevê a possibilidade de comparecer o denunciadoapenas para negar a qualidade que lhe foi atribuída.O comparecimento do denunciado para negar aqualidade que lhe é atribuída só se dá por defesa diretae de fundo. Em quaisquer das hipóteses, não deixará de

estar contestando a denunciação.Nesta segunda hipótese, sendo procedente a açãoprincipal e não transparecendo ao julgador que a razãoe o direito socorrem ao denunciado, também emitirájuízo perante este, já que a sentença se lhe estende porsua autoridade e eficácia.Em quaisquer das duas hipóteses, haverá sucumbência tantopara o denunciante, como para o denunciado. Se em quaisquer

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delas o pedido do autor foi improcedente, inocorrerá aobrigação para o autor de custas ehonorários perante o denunciado revel, ou, também,perante aquele que negou a sua condição.Quanto ao inciso III do art. 75, tem-se implícita aidéia de que houve aceitação da denunciação e, porconseqüência, a confissão dos fatos alegados pelo autor.(p. 265)Somente do ângulo historicista é que se alcança,hoje, a compreensão do texto.Assim se diz porque, na verdade, não há relaçãoentre o autor da ação principal e o denunciado. A confissãodeste, quanto aos fatos alegados por aquele, maisse aproxima da idéia de assistência coadjuvante.Somente após ter-se a informação histórica deque os povos que nos precederam na elaboraçãolegislativa admitiam a relação do denunciado com o

autor da ação principal, é que se impõe seja prestadavassalagem intelectual devida à mens legislatoris dotexto epigrafado.Outra seria a situação se o denunciado confessasse os fatosalegados pelo denunciante. Caso o pedido daação principal fosse procedente, também seria deprocedência a ação de ressarcimento.Em todas as hipóteses de denunciação em que opedido principal é procedente, bem como o pedido quedele decorre, há uma só sentença com tantos títulosexecutivos quantos forem os denunciados vencidos,

além do demandado principal.É preciso que o julgador se aperceba da medidada sucumbência do denunciado, ou dos denunciados, edas partes, ou das partes.Exemplo típico da situação que, muitas vezes, ede medidas distintas na sentença é a que diz respeito àdenunciação de companhias seguradoras em razão deacidentes automobilísticos.Na maioria das vezes, as companhias vêm aosautos, não contestam a denunciação, também não contestam aação, mas admitem o pagamento do seguro

nos limites do contratado com o seu segurado.Os limites do contrato nem sempre são os mesmos do pedidodo autor, caso em que a sentença teráque explicitar a medida de cada condenação. (p. 266)Admitamos um exemplo em que X acione Y pretendendoreparação patrimonial por prejuízo decorrente de acidenteautomobilístico. Y, por seu turno, denuncia a Z que é aCia. Seguradora que aceita a denunciação nos limites da

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apólice.Admitamos que a reparação pleiteada por X seja100, e a obrigação de Z seja 50. Sendo procedente opedido inicial e a denunciação, deverá o julgador condenarY a pagar a X os 100 que lhes são devidos, e condenarZ a pagar a Y os 50 devidos pelo contrato. Aquelacondenação, nas custas e honorários, sobre 100. E estacondenação, nas custas e honorários, sobre 50.Ressalte-se que, sendô a denunciação uma açãoque se processa como segmento de outra ação e decidida poruma só sentença, impõe-se a exigência decustas e taxas porque, afinal, haverá uma prestaçãojurisdicional além da previsão do autor demandante,não sendo justo, em tal caso, que o denunciante seaproveite dos recolhimentos feitos pelo autor, e delesse beneficie para a solução do conflito intersubjetivoseu com outrem.

23 - SENTENÇA NA HIPÓTESE DE DENUNCIAÇÃOO Código estabelece que a sentença que julgarprocedente a ação declarará, conforme o caso, o direitodo evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos,valendo como título executivo. É o que se lê no art. 76do Código de Processo Civil.Admito que a erronia existente neste artigo sedeve à tendência que no caso específico existiu deagasalhar a teoria processual de Calamandrei sobre a (p.267)

"chamada em garantia", por isso que, pela referidateoria, dois eram os momentos do processo: o da defesae o da garantia.Entre nós, restou, então, um momento declaratório dedireito e outro momento em que tal direito éexercitado. Está errado.O nosso sistema, como já se viu, mais se aproxima da teoriasubstancial de Chiovenda. A ação de regresso está no bojoda ação-base e uma só sentençaÉ preciso não se descurar de que primeiro o juizdecide ambas, ou todas as denunciações sucessivas.

decide a ação-base, por isso que denunciação não éprejudicial.Decidida a ação-base, se esta for procedente e adenunciação tiver sido oferecida pelo demandadosucumbente, o julgador passa a apreciar o pedido dedenunciação, que poderá ser procedente ou improcedente,atentando-se, em cada julgamento, não só para omérito da questão, mas, também, cuidando de dar

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destinação correta às custas e honorários advocatícios.Se, no caso de denunciação oferecida pelo demandado, estelogrou vitória no juízo, sucumbindo,assim, o autor da ação-base, restou prejudicada adenunciação, devendo ser julgada extinta sem apreciação demérito com base no art. 267, IV, do Código deProcesso Civil, e, mesmo nesse caso, atento ao princípio dacausalidade que o nosso Código adotou, deve odenunciante ser condenado nas custas e honorários doadvogado denunciado, já que denunciação é ação.O mesmo raciocínio é aplicável ao caso dedenunciação oferecida pelo autor. Se procedente a suaação-base, extingue-se a sua denunciação. Se improcedente aação-base, julga-se o mérito da sua denunciação,que poderá ser procedente ou improcedente. (p. 268)

24 - RECURSO

Pelo ângulo que se vê o instituto, poder-se-iaadmitir que, em caso de indeferimento da inicial, orecurso cabível seria o de apelação. Nesse caso, deveriao julgador trasladar os autos para a subida do recurso, afim de que não fosse retardado o andamento do processoprincipal.Não é dado ao juiz indeferir o pedido de denunciação, senãonas hipóteses dos arts. 295 e 301, II, doCódigo de Processo Civil.Ocorre, contudo, que não se pode negar o seucaráter de oportunidade, incidentalidade e

condicionalidade, já que é sempre decorrente de uma açãoprincipal e depende de que esta seja julgada procedentequando a denunciação é oferecida pelo demandado, eimprocedente quando a denunciação é oferecida pelo próprioautor, para que se possa apreciar o seu mérito.Diante disso, é de se admitir que o recurso cabível dadecisão de indeferimento seja o agravo de instrumento.

25 - DENUNCIAÇÃO DA LIDE, ASSISTÊNCIA E NOMEAÇÃO À AUTORIAO quanto afirmei sobre a oposição, reafirmo aqui.Nada obsta a que o denunciante seja assistido por

assistente simples ou litisconsorcial, conforme seja arelação direta ou não do sujeito com o bem de vida emdisputa. O mesmo se diz quanto ao denunciado que podeser assistido ou não.Assim também o denunciado pode nomear à autoria. Tome-sepor caso um conflito intersubjetivo de (p. 269)interesses com vista à garantia própria ou imprópria emque tenha havido mudança de titularidade do bem ou da

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relação jurídica objeto da controversão. A nomeação àautoria se faz plenamente cabível, desde que conformeos dispositivos reguladores de sua admissibilidade.É mais uma situação complexa que exsurge noprocesso em andamento, especialmente no plano subjetivo,que advém do permissivo da inter venire. (p. 270)

Capítulo III - CHAMAMENTO AO PROCESSOO chamamento ao processo pode ser tido comouma espécie de exceção equitativa, por isso que visacolocar em igualdade de condição com o chamante,fiadores que não foram demandados, mas que poderiamter sido. É um "beneficio de divisão" de que faz uso ofiador demandado. Diverge do Direito Civil quanto aofato de que neste é o próprio credor que divide sua ação,enquanto que no processo ao devedor fiador toca ochamamento para que se dê a divisão. Em nível substantivo,

segundo Colin y Captain,"el beneficio de división, que presupone laexistencia de varíos fiadores, cada uno de loscuales, como sabemos, estea obiigado por latotalidad, pero que en virtud de este beneficiopuede exigir que el acreedor divida su acción y lareduzca a la cuantía y porción de cada fiador".{64}

O TEXTO DA LEI"Art. 77. É admissível o chamamento ao processo:I - do devedor, na ação em que o fiador for réu;

II - dos outros fiadores, quando para a ação forcitado apenas um deles;64. COLIN Y CAPTAIN. curso elemental de derecho ciiil, p.19. (p. 271)III - de todos os devedores solidários, quando ocredor exigir de um ou de alguns deles, parcial, outotalmente, a dívida comum.Art. 78. Para que o juiz declare, na mesma sentença, asresponsabilidades dos obrigados, a que serefere o artigo antecedente, o réu requererá, noprazo para contestar, a citação do chamado.

Art. 79. O juiz suspenderá o processo, mandandoobservar, quanto à citação e aos prazos, o dispostonos arts. 72 e 74.Art. 80. A sentença, que julgar procedente a ação,condenando os devedores, valerá como título executivo, emfavor de quem satisfizer a dívida, paraexigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou decada um dos co-devedores a sua cota, na proposição que lhes

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tocar."

1 - O CHAMAMENTO E A GARANTIA SIMPLESA sua ontologia atrela-se à noção de garantia simples, porisso é instituto que faculta ao devedor o direitode ser garantido no caso de obrigação, que é tambémsua, pessoal, exigida pelo credor.No caso de garantia simples, sobressaem três figurasdistintas: a) uma obrigação pessoal do devedor principalpara com o credor; b) uma obrigação pessoal do fiadorpara com o mesmo credor; c) e, por fim, uma obrigação degarantia do devedor principal para com o fiador.{65}65. MATIROLO. Op. cit., v. 3, p. 571. (p. 272)

2 - CHAMAMENTO AO PROCESSO E PRECEDENTESO chamamento ao processo não tem precedentesna nossa legislação processual pátria. Trata-se de figura

inovadora do Código de 73, regulada nos arts. 77 a 80,que no projeto de lei que a inspirou constava dos arts.82 a 85. Suas raízes estão fincadas no Direito Processuallusitano.

3 - CARACTERÍSTICASSobressaem como características do chamamentoao processo: a) uma obrigação com vários coobrigados; b)uma demanda em que o credor optou porpleitear o seu direito de apenas um ou alguns obrigados,deixando à parte da relação passiva processual

outro, ou outros deles; c) a volição do ou dos demandadosvoltada para que todos os obrigados estejam narelação processual passiva.Vê-se, de pronto, que se trata de instituto reservadoexclusivamente ao requerido e nunca ao autor.Sua ocorrência resulta na ampliação do processo,no plano subjetivo, em sentido horizontal, eis que oschamados vêm se ombrear com o chamante.Distingue-se da denunciação da lide porque, nesta, osdenunciados, ou o denunciado, não têm nenhumarelação de direito material com o autor da ação quando

a denúncia é feita pelo mandado, sim, exclusivamente,com o seu denunciante; enquanto no chamamento aoprocesso o chamado, ou os chamados, tem relação dedireito material, obrigacional, com o autor da ação ecom o chamante. (p. 273)Não visa garantir direito de regresso, tanto que odemandado, fazendo ou não uso dessa figura processual,desde que satisfaça a obrigação a que foi chamado

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judicialmente a satisfazer, se sub-roga nos direitos decredore passa a ter ação contra os demais coobrigados seus.Vê-se, então, que é forma de provocação de intervenção deterceiro facultada ao chamante, não lhe sendo imposta.Quanto ao chamado, contudo, não lhe é dadorecusar o chamamento, salvo se tiver razões plausíveise convincentes que demonstrem não ser parte na relação dedireito material em que se funda a ação. Nessecaso, toca ao julgador, ante a evidente ilegitimidadepassiva do chamado, com ou sem argüição de sua parte,inadmiti-lo na litisconsorciação facultativa ulterior queé, a rigor, o que sói transparecer no caso, desde quedeferido o chamamento.O que há de comum entre o chamamento ao processo e adenunciação é que tanto um quanto o outroprovocam a extensão do processo no plano subjetivo,

trazendoparaoseubojoumanovapartefigurante.No particular, não se diga haja afinidade com anomeação à autoria, posto que nesta o nomeante visafazer figurar na relação processual passiva aquele que,em verdade, reúne condições para se contrapor à pretensãodeduzida. É o acertamento da parte passiva, coma estromissione do nomeante.Reafirma-se que, no chamamento ao processo, ochamante é parte e visa fazer integrar na demanda outrapessoa que também reúne condição de parte, porqueseu coobrigado no plano do direito substancial.

Tem-se, então, que o inciso I do art. 77 em estudocuida de facultar ao fiador o direito de chamar, paracom ele responder a demanda, aquele a favor de quemprestou a garantia. (p. 274)Tal hipótese é de fácil ocorrência porque, emverdade, nas relações obrigacionais em que figure ofiador, pode o credor, desde que o devedor não pague,não honre o pactuado, demandar tanto um como ooutro, ou demandar a ambos. Nesse caso, não se cuidará dechamamento.O chamamento, no caso, permite que o devedor

chamado promova a defesa junto com o chamante e seufiador, e, em caso de sucumbência, serão ambos condenados.O chamado atua no processo como se fosse parteoriginariamente demandada.Havendo, pois, sentença que condene tanto o fiador como oafiançado, continua o credor com o direito deoptar por um, uns, ou todos os coobrigados, mas, se optapelo fiador, este poderá alegar em seu prol o beneficio da

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excussão, na expressão portuguesa, também beneficio deordem, entre nós. De qualquer forma, sempre lhe socorrerá odireito de demandar, ao depois, o devedor principal, a fimde ser ressarcido da quantia do seu desembolso, com ascorreções devidas.Não se cogitará do beneficio de ordem pelo fiador, se nocontrato expressamente dele renunciou; ouse, pelo contrato, obrigou-se como principal pagadorou devedor solidário, ou, ainda, se insolvente ou falidoo devedor principal. Tudo em consonância com os arts.1.491 e 1.492 do Código Civil.

4 - OBJETIVOImporta realçar que o móvel do chamamento aoprocesso está especificamente na economia processual;por isso que se o demandado chamou ao processo o (p. 275)devedor, aquele, em razão da sub-rogação, fez-se credor e

pode, tomando a mesma sentença que o condenou, excutir ochamado e se ressarcir na mesma ação.No entanto, não tendo chamado o devedor e cumprindoa obrigação por este, somente através de outra ação éque poderá reaver-se com o coobrigado principal, surgindo,nesse caso, o inconveniente de ser excepcionadopelo devedor, que poderá afirmá-lo negligente ou inábilna antítese sustentada contra a tese que fê-lo sucumbir.É do magistério do Professor Alberto dos Reis{66} aseguinte conclusão:"O fiador não é obrigado a chamar à demanda o

devedor para ficar com o direito de lhe pedirindenização, caso venha a pagar por ele; mas temgrande vantagem em deduzir o incidente, poisporque pode suceder que o credor, munido desentença condenatória contra o devedor, promovaa execução somente contra ele, já porque, se houde pagar,fica em muito melhores condiçõespara exercer o seu direito de regresso contra odevedor: o exercício deste direito tornar-se-á,como vimos, mais fácil e mais seguro."Ao inciso II do art. 77 em exame, aplica-se a

mesma exegese do inciso anterior.Vistos os contornos dos arts. 1.493, 1.494 e 1.495do Código Civil, tem-se que a obrigação pode ser garantidapor mais de uma pessoa, em compromisso desolidariedade passiva, se declaradamente não se reservaramao benefício da divisão.66. REIS, Alberto. Código de Processo Civil anotado, p.451. (p. 276)

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Se estipularam tal benefício, cada fiador respondeunicamente pela parte que, em proporção, lhe couberno pagamento.Ainda pode ocorrer de cada fiador estipular, nocontrato, a medida da sua responsabilidade, caso emque não se poderá exigir dele nada mais.Na primeira hipótese, tem-se em conta a relaçãoexistente entre fiador e credor, como também a relaçãoentre fiador e devedor e, por fim, a relação entre fiadore demais fiadores. Sendo certo que cada fiador respondepela totalidade da dívida perante o seu credor, esendo demandado um deles, pode o réu socorrer-se dobenefício da divisão da responsabilidade, ou seja, podechamá-los ao processo para se defenderem com ele ouserem condenados conjuntamente.Na segunda e terceira hipóteses, tem-se em contaa relação entre o fiador e o credor, como também a

relação entre fiador e devedor, mas desfaz-se a relaçãoentre fiador e demais fiadores. Nesse caso, se o fiador édemandado exclusivamente na medida a que se obrigou, nãopoderá chamar ao processo os co-fiadores,sim, exclusivamente, o devedor principal.Ocorrendo, contudo, de o fiador pagar integralmente adívida, e sub-rogando-se nos direitos do credor, só poderádemandar a cada um dos seus co-fiadores na medida em quecada qual se obrigou, e, seocorrer a insolvência de um dos fiadores, a sua parteserá distribuída aos demais.

O inciso III do art. 77 cuida da admissibilidade dochamamento de todos os devedores solidários, quandoo credor exigir de um ou de algum deles, parcial outotalmente, a dívida comum.Vê-se que os dois incisos anteriores cuidaram desituações em que o fiador, na condição de garantidor da (p.277)obrigação, foi demandado. Na hipótese presente, nãocuida o legislador de garantidores, sim, de devedoressolidários, situação que os faz obrigados em medidasiguais.

Deduz-se desse inciso, também, que se o devedorsolidário for demandado na medida exata da sua participaçãona dívida, não há que se falar em chamamentoao processo. Poderá fazê-lo, se foi demandado peladívida total ou se, parcialmente, foi superior à suaquota-parte devida.O Professor Eurico Lopes-Cardoso não vê utilidade, senãopequena, nessa hipótese. O Professor

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Alberto dos Reis, por seu turno, objetando-se ao magistérioanteriormente citado, diz:"É certo que a utilidade é menor do que a dochamamento dos confiadores; não se negue, porém, que sejainsignificante ou de pouca monta.Em primeiro lugar, o demandado consegue trazerpara o processo novos réus, que podem ajudá-lona defesa; em segundo lugar, condenados todosos réus, pode dar-se o caso de o credor moverexecução contra todos, e não unicamente contra oréu primitivo; finalmente, se o demandado houverde pagar a totalidade, fica em melhor posição paraexercer o direito de regresso contra os co-devedores: podeexercê-lo com base na sentença de condenação, semnecessidade de propor contra elesacção declarativa."O nosso Código não cuida da hipótese de ser

demandado um dos cônjuges por dívida que haja contraído equiser fazer intervir no processo o outro cônju- (p. 278)ge para o convencer de que é também responsável,como o fez o legislador processual português na letra d,do art. 330º, do seu Código de Processo Civil.

5 - MOMENTO PROCESSUAL DO CHAMAMENTOO limite de tempo para que o demandado faça usodo instituto é o correspondente ao prazo da contestação,que é de quinze dias no procedimento ordinário.

6 - REQUISITOS FORMAISNão se dá o caso de impor-se ao chamante aobservância do art. 282 para o exercício do chamamento,posto que, diferentemente da denunciação, como jáse viu, não se trata de ação que se desenvolve no bojode outra ação, não obstante dever-se citar o chamadopara integrar-se na relação processual passiva como secitado fora pelo próprio autor da ação. Vê-se que ocorre,tão e só, o alargamento das fronteiras subjetivas doprocesso.

7 - INCONVENIENTE PSICOSSOCIAL DO CHAMAMENTOHá, no plano do instituto da nomeação, um inconveniente deordem psicossocial: o de trazer para oprocesso alguém que, possivelmente, não tenha sido davontade do autor da ação demandar, por laço de amiza- (p.279)de, por relação de parentesco, ou outras razões quaisquer,mas, nomeando o demandado, impõe-se ao

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demandante a admissão.

8 - CITAÇÃOFormulado o pedido de chamamento, o juiz ordenará a citaçãodo chamado, suspenderá o processo emandará observar para o ato citatório o disposto no art.72 do Código de Processo Civil, ou seja, se o chamadoresidir na comarca, deverá ser citado dentro de dezdias; se residir em outra comarca, ou em lugar incerto,deverá ser citado dentro de trinta dias.Se a citação não se operar no prazo estipulado, aação prosseguirá unicamente em relação ao chamante.

9 - NATUREZA DA SENTENÇAA sentença, no caso de chamamento ao processo,é de natureza condenatória, não simplesmentedeclaratória, como deixou manifesto o legislador ao

redigir o art. 78. Se condenatória, então, valerá comotítulo executivo em favor do que satisfizer a dívida,para exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou decada um dos co-devedores, a sua quota, na proporçãoque lhes tocar, o que se fará no mesmo processo.

10 - RECURSOSPode o autor da ação agravar do despacho dedeferimento do pedido de chamamento, se entenderque ele deveria ter sido indeferido pelo juiz. (p. 280)Como já se viu, ainda no magistério do Professor

Alberto dos Reis, o chamado não goza do direito deaceitar ou repelir o chamamento; pode, sem dúvida,impugnar a razão ou o título por que foi trazido para oprocesso, mas não é colocado perante a alternativa deaceitar ou recusar o chamamento.Acrescenta o ilustre Professor, com a citação dochamado ou chamados, em vez de ter como réu odemandado, passa a ter como réus também os chamados: eis oalcance imediato do incidente. Verifica-se,pois, uma modificação subjetiva na instância ou narelação jurídica processual.

11 - PRAZO PARA CONTESTARQuestiona-se se, ocorrendo o chamamento aoprocesso, passando a relação processual passiva de singulara plúrima, se o prazo para contestar, desde quecom procuradores diversos os novos demandados, passa a sercontado em dobro. Tenho que se o instituto nãopreviu excepcionalmente a hipótese, como o fez o legislador

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quando cuidou da oposição, no art. 57 doCódigo de Processo Civil, deve-se admitir a generalidade daregra, portanto, a duplicidade do prazo.Quanto ao chamante, no entanto, é de se subtrairdo seu prazo os dias tomados até o momento do chamamento.Assim, então, se citado, iniciado o seu prazo deresposta, somente ofertou o chamamento no quinto diado prazo, o que lhe resta são vinte e cinco dias, no casodo procedimento ordinário. (p. 281)

(p. 282, em branco)

Capítulo IV - NOMEAÇÃO À AUTORIA

O TEXTO DA LEI"Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nomealheio, sendo-lhe demandada em nome próprio,

deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.Art. 63. Aplica-se também o disposto no artigoantecedente à ação de indenização, intentada peloproprietário ou pelo titular de um direito sobre acoisa, toda vez que o responsável pelos prejuízosalegar que praticou o ato por ordem ou em cumprimento deinstruções de terceiro.Art. 64. Em ambos os casos, o réu requererá anomeação no prazo para a defesa; o juiz, ao deferir opedido, suspenderá o processo e mandaráouvir o autor no prazo de cinco (5) dias.

Art. 65. Aceitando o nomeado, ao autor incumbirá promover-lhe a citação; recusando-o, ficarásem efeito a nomeação.Art. 66. Se o nomeado reconhecer a qualidadeque lhe é atribuída, contra ele correrá o proces- (p. 283)so; se a negar, o processo continuará contra onomeante.Art. 67. Quando o autor recusar o nomeado, ouquando este negar a qualidade que lhe é atribuída,assinar-se-á ao nomeante novo prazo para contestar.Art. 68. Presume-se aceita a nomeação se:

I - o autor nada requereu, no prazo em que, a seurespeito, lhe competia manifestar-se;II - o nomeado não comparecer, ou, comparecendo, nadaalegar.Art. 69. Responderá por perdas e danos aquele aquem incumbia a nomeação:I - deixando de nomear à autoria, quando lhecompetir;

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II - nomeando pessoa diversa daquela em cujonome detém a coisa demandada."

1 - HISTÓRICO

1.1 - A nomeação no direito romanoOs registros dão conta de que sua origem éromanística, conhecida ou denominada de nominatioauctoris.O direito romano, no período da extraordinariecognitiones, conheceu a nomeação a autoria como uma (p. 284)das modalidades de intervenção em causa, não voluntária.Assim é que se tinha como necessário o chamamento nos casosde ação de reinvindicação em face dequem "possuísse" a coisa em nome de outro. O "detentor"tinha o dever de nominarse auctorem, ou seja, dedenunciar ao juízo o nome do verdadeiro possuidor e

de chamá-lo à causa.{67}O JUS in re, que se convertia em direito subjetivo deabrangência erga omnes em prol do autor daação, proporcionava-lhe certa medida de comodidade,tanto que por isso não se lhe impunha a necessidadede buscar conhecer previamente quem era o verdadeiroproprietário da coisa ou quem era o seu possuidorindireto.{68}Desde os romanos, em que a nomeação já consistia nadenunciação por parte do demandado, possuidorou detentor da coisa, da pessoa certa que deveria figurar

em juízo, já se tinha a concepção de que o instituto, nasua teleologia, proporcionava três benefícios: o primeirodizia respeito ao acertamento do processo, no planosubjetivo, com a pessoa certa no pólo passivo da relaçãoprocessual; o segundo repercutia em beneficio daprópria prestação jurisdicional, que não se via tomadana condução de um processo em que a parte demandada nãofosse aquela que verdadeiramente deveria figurar; oterceiro dizia respeito à conveniência da própriaparte equivocadamente nominada, que se livrava não sódo constrangimento, mas também dos trabalhos comuns de se

defender numa demanda não sua.67. SCIALOJA. Procedimiento civil romano. p. 428.68. LOPES DA COSTA. Op. cit., v. 3, p. 398. (p. 285)

1.2 - A nomeação nas Ordenações de PortugalAs Ordenações regulamentaram o Instituto nosseguintes termos:1º) Ordenações Afonsinas, Livro III, Título XXXXI:

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"...a Autoria ha luguar em todo caso, honde o Reohe demandado por alguüa cousa movel, ou deraiz, que elle tenha, ou possua em seu nome, oudoutrem, assy per auçam real, como pessoal, queseja presecutoria da cousa, assy em feito civel,como crime civelmente emtentada peracobramento da dita cousa."2º) Ordenações Manuelinas, Livro III, Título XXXI:"Em todo caso onde alguü for demandado poralgüa cousa movel, ou de raiz, que elle tenha, oupossua em seu nome, ou d’outrem, assi em feitocivel, como crime civelmente intentado, pera cobrar e avera dita cousa, pode chamar por Autorqualquer pessoa que entender provar de que aouvesse; e em feito crime criminalmente intentado nom averáluguar a dita autoria.".3º) Ordenações Filipinas, Livro III, Título XLIV:

"Em todo o caso, em que alguem fôr demandado,por cousa movel, ou de raiz, que tenha, ou possúaem seu nome, ou de outrem, assi em feito civel,como crime civelmente intentado, para cobrar ehaver a dita cousa, pode chamar por autor qual- (p. 286)quer pessoa, que entender provar, de que a houvesse. E emfeito crime criminalmente intentadonão haverá lugar a autoria."

1.3 - A nomeação entre nós e a doutrina portuguesaFrisa-se a importância dos textos das Ordenações

porque deles se verifica que tanto ao detentor como aopossuidor era dado o exercício da nomeação. Entre nós,contudo, o que se vê na codificação de 39 é que alegitimação para a nomeação à autoria somente tocavaao possuidor. Assim é que dispunha o art. 99 do Códigopretérito:"Aquêle que possuir em nome de outrem a coisademandada pode nomear à autoria, o proprietárioou o possuidor indireto."E o que se vê na codificação de 73 é que a nomeação só épossível ao detentor. Assim dispõe o art. 62:

"Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhedemandada em nome próprio, deverá nomear à autoria oproprietário ou o possuidor."Lopes da Costa já se havia insurgido contra aterminologia do Código de 39 e sustentado que aodetentor, quando demandado, era dado, sim, nomear àautoria, portanto não só o possuidor.{69}69. LOPES DA COSTA. Direito processual civil, 1959, v. 2,

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p. 32. (p. 287)O Código de Processo do Estado de São Paulo jáse havia posicionado conforme as Ordenações, ao estabelecerque o mero detentor e o possuidor direto deveriam nomear àautoria o proprietário ou o possuidorindireto da coisa demandada.{70}Impende de esmero para se concluir que a agoralterminologia, como foi a de 39, também é criticável,por isso que ao possuidor direto não se pode negar alegitimação para nomear. Tomemos por caso o exemplo dolocatário que é demandado por vizinho doimóvel locado por obra realizada neste pelo seuproprietário e locador. O locatário é possuidor direto (nãomero detentor) e é de se lhe reconhecer o direito denomear à autoria o locador proprietário por conta dequem a obra foi realizada. Não se diga que pelo simplesfato de não ser detentor tenha que denunciar à

lide. A hipótese não comporta denunciação. Naimpossibilidade da nomeação (só para argumentar), aúnica alternativa processual de socorro ao demandadoseria a argüição de sua ilegitimidade passiva ad causam.É certo que o pensamento do processualista portuguêsinfluenciou o legislador pátrio na ênfase à figurado possuidor.O antigo Código de Processo Civil português, noart. 325º, I, dizia que "Aquele que foi demandado comopossuidor de uma cousa em nome próprio e a possuirem nome alheio, deve nomear a ação a pessoa em nome

de quem possui". O Código atual, no art. 320º, reproduz amesma redação.70. MOURA, Mário de Assis. Da intervenção de terceiros.1932, p. 78. (p. 288)Na esteira desse pensamento legislativo é que desenvolve oProfessor Alberto dos Reis{71} a sua singularexegese, da seguinte forma:"Como se vê, são dois os pressupostos da previsão legal:a) que se demande alguém como possuidor emnome próprio;b) que o réu, em vez de possuidor em nome próprio, seja

realmente possuidor em nome alheio."E acrescenta:"A exigência desse requisito mostra que o incidente não temcabimento quando o autor expressamente atribui ao réu aqualidade de possuirem nome alheio. Mas não se deve considerar i indispensávelque o autor diga claramente na petição que demanda o réu atítulo de possuidor em

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nome próprio, basta que o autor apresente o réucomo possuidor, sem discriminação alguma, eque a ação tenha, pela sua índole, como destinatárionatural, o possuidor em nome próprio."Na concepção do mestre lusitano, o possuidor emnome alheio é o que tem um direito pessoal ouobrigacional de uso, como o alugador ou o comodatário;ou também direito de uso ou fruição, como o arrendador, oparceiro cultivador, o consignatário de rendimentos; ou,ainda, um simples direito de guarda, como o71. REIS, Alberto dos. Código de Processo Civil anotado. 3.ed., Coimbra:Editora LIN, 1948, v. 1, p. 423. (p. 289)depositário, o mandatário, o recoveiro, o barqueiro etransportador, e o credor pignoratício; e, por fim, umdireito real limitado como o enfiteuta e o usufrutuário.O eminente mestre Eurico Lopes Cardoso,{72}

quanto ao cabimento da nomeação à ação, disse:"O incidente de nomeação à ação serve para substituir oréu, indevidamente demandado, pela pessoa verdadeiramenteinteressada em contrariar ademanda. Tem lugar nas hipóteses seguintes:a) quando for demandado, como possuidor emnome próprio, um possuidor em nome alheio art. 320º;b) quando for demandado por acto ofensivo dapropriedade ou posse do autor, alguém que hajaprocedido por conta e ordem de outrem - art. 324º.O Código de Processo Civil português traz previsão genérica

de significativo alcance prático aoprever que o juiz julgará o demandado nomeante,parte ilegítima, se se convencer de que ele possuiem nome alheio.É o que prevê o parágrafo único do art. 327º doCPC de Portugal."E acrescenta:"Quando o réu é demandado na qualidade querealmente tem, de possuidor em nome alheio, já72. CARDOSO, Eurico Lopes. Manual dos incidentes dainstância em processo civil. 2. ed., Coimbra: Almedina,

1965. (p. 290)não há lugar a nomear outrem à ação, mas, simplesmente, adiscutir e apreciar, na própria causa,se tal qualidade lhe confere a devida legitimidadepara ela."Segundo o processualista Jacinto Rodrigues Bastos, nanomeação à autoria,"há uma aparência enganadora, que pode levar o

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autor a considerar como legítimo réu uma pessoaque não é o sujeito da relação jurídica em litígio, ouporque a posse directa ou imediata é exercida porum e a posse mediata pertence a outro, ou porqueos actos foram praticados por uma pessoa, mas porordem e a responsabilidade de um terceiro".{73}

2 - O POSSUIDOR E O CÓDIGO CIVILArt. 485. "Considera-se possuidor todo aqueleque tem, de fato, o exercício, pleno ou não, dealgum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade."São considerados possuidores o dono, ou proprietário, quetem a coisa em seu poder, exercendo de fatosobre ela poderes inerentes ao domínio; também o queexerce de fato sobre a coisa algum dos poderes inerentes aodomínio, vale dizer - que exerce algum dos73. BASTOS, Jacinto Rodrigues. Notas ao código de Processo

Civil. 2. ed.,1971, v. 2, p. 128-129. (p. 291)direitos reais, quais sejam: a enfiteuse, o usufruto, ouso, a habitação; bem como o que possui a coisa porforça de uma obrigação ou direito, como o locatário, ocomodatário, o depositário, o transportador, otestamenteiro.{74}Paulo Lacerda,{75} citando Pontes de Miranda, fundado emSokolowski, diz:"A posse é estabelecida não só pela posição dosujeito para com o objeto, mas para com a totalidade dos

sujeitos. A posse é neste sentido estadopessoal (personalicher zustand); forma, por bemdizer, um critério para a integridade do sujeito e aexistência dela é condicionada (bedingt) por doisfatores externos: a autoridade do direito e a éticasocial (Soziale Gesittung). Tem por isto, a posse,relações com o direito positivo e a moral pública. Anossa vontade de posse (Besitzville) não se completa como oanimus romano, pelo tactumcorpóreo, ou por sua continuação existente entre oscidadãos (Volksgenossen), pela confiança recíproca, pela

segurança individual. A ação de vontadenão é, pois, estimada com fator psíquico; a índoledela consiste na idéia de que, conforme nô-lo diz anossa experiência, o poder efetivo (die tatsachlicheBehrrochung) só é possível pela ação de uma vontadelimitada e garantida pela ordem social."Acrescenta o mestre que a posse é muito maisque a simples dependência da coisa ao sujeito, mas é

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74. SANTOS, J. M. de Carvalho. Código Civil brasileirointerpretado, v. 7,p. 23.75. LACERDA, Paulo. Manual do Código Civil brasileiro, v.11, parte 1, n. 66. (p. 292)um poder de vontade, determinado e limitado pelaordem social.

3 - O DETENTOR E O CÓDIGO CIVILArt. 487:"Não é possuidor aquele que, achando-se em relação dedependência para com outro, conserva aposse em nome deste e em cumprimento de ordens ouinstruções suas."O que sobressai desse dispositivo é a figura dofâmulo da posse."Fâmulo da posse é aquele que, em razão de sua

situação de dependência em relação a uma outrapessoa (ao dono), exerce sobre a coisa, não umpoder próprio, mas dependente. Está ao serviçoda posse de outro, é instrumento mecânico deposse, mas não possuidor, como bem se expressou notávelescritor."{76}O fâmulo é, por conseguinte, o detentor. Ostratadistas apontam como fâmulos da posse os gerentese caixeiros, em relação as mercadorias que lhes foramconfiadas; os administradores de fazendas, quanto aestas, incluindo sítios, lavouras, matas, etc.; os

bibliotecários, com relação os livros da biblioteca; osdiretoresda sociedade anônima ou corporações, com relação aos76. SANTOS, J. M. de Carvalho. Código Civil brasileirointerpretado, v. 3,p. 31-32. (p. 293)bens dessas sociedades, confiados à sua administraçãoe guarda.O fâmulo da posse, ou o mero detentor, não tem acoisa como se a ele pertencente. Não há, sobre a coisa, oanimus domini da possessio romana, não há a direção da

vontade no senti ou a propriedade; há, sim, uma relaçãode dependência entre ele e o proprietário da coisa. Este éo que ordena e determina tudo sobre a coisa.{77}Anota-se, contudo, a impossibilidade de se admitir odetentor como "instrumento mecânico da posse",por isso que, sendo ato praticado por ser racional, exprimedeliberação de espírito. Tenere non est corporerem contingere, sed ita attingere ut affectionem tenendi

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haceas.Impõe-se, contudo, distinguir o que seja detentorde fato e detentor jurídico. O primeiro é o que mantémuma relação com a coisa sem conciência da dita relação.Tome-se por exemplo o fato de alguém colocar nosguardados de outrem determinado objeto sem dar-lheciência do ocorrido. Mesmo assim, não por isso, se teráo detentor como "instrumento mecânico da posse". Osegundo é o que mantém uma relação consciente com acoisa. Na detenção jurídica é que sobressai uma relaçãode subordinação ou hierarquia entre o detentor e otitular da coisa; na detenção de fato não há tal relação.J.M. de Carvalho Santos, interpretando o art. 99do Código pretérito, não foi muito claro no seu início,ao se expressar:"Possuir em nome de outrem o mero detentor, queconserva ou detém a posse em nome do verdadei 77.

ENNECERUS, KIPP, WOLFF. Tratado de derecho civil, v. 1, t.3, p. 52. (p. 294)ro possuidor e em cumprimento de ordens ouinstruções suas. Assim, o mandatário, o preposto,o empregado, o administrador, etc.Da redação do texto legal supra, parece fazer crero legislador que o possuidor direto também possui em nomede outrem, ou seja, em nome dopossuidor indireto. Há nessa afirmativa evidenteequívoco. O possuidor direto possui em nomepróprio, em virtude do contrato que fez com o

proprietário, e em face deste, possuidor indireto,leva até vantagem, apesar de não suprir de todo aposse dele . Coexistem as duas posses, essa é averdade, obrigadas ambas pelo decreto da lei, paralelas ereais (cf. TITO FULGÊNCIO. Posse eações possessórias, n. 16). Não há dúvida de queo possuidor direto (o usufrutuário, o locatário,etc.) possui unicamente por intermédio do possuidorindireto, no sentido de que foi este quem lhetransferiu a posse, sem prejuízo do seu própriodireito. Mas isso é coisa bem diferente de possuir

em nome de outrem, tanto mais quanto é certoque o possuidor direto possui, sem dúvida, àsvezes com alguma vantagem, graças ao poderefetivo resultante da relação direta com o objetopossuído."Conforme o magistério de Clóvis Beviláqua, odispositivo do Código Civil exclui da noção de posse osimples detentor da coisa alheia, que mantém a posse

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em nome de outrem, ou em cumprimento de instruçõesrecebidas do possuidor. Tal é o caso do empregado queconserva os objetos do patrão sob a sua guarda, sob (p. 295)custódia; do operário a quem o dono da obra ou daoficina entregou instrumentos para realizar certo serviço;do que, na qualidade de mandatário, recebeu alguma coisa domandante para entregá-la a outrem.{78}

3.1 - Impossibilidade de nomeação pelo detentor ou possuidorSe o detentor é demandado por ato seu ou por fatoque provocou, não caberá nomear à autoria aquele emnome de quem detém ou possui a coisa. Terá que responderpor si.

4 - PRESSUPOSTOS DA NOMEAÇÃOSão pressupostos da nomeação à autoria:a) a detenção da coisa;

b) a execução de ato por ordem, ou cumprimentode instruções de terceiro, com prejuízo a outrem;c) a posse imediata;d) a condição de demandado em nome próprio,sendo possuidor em nome alheio.

5 - ABRANGÊNCIA DA NOMEAÇÃOO legislador pátrio delineou duas modalidades denomeação, sendo uma de caráter abrangente, genérico;outra, de caráter restritivo, específico.78. BEvILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do

Brasil, p. 971. (p. 296)A primeira, no art. 62, com a seguinte redação:"Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhedemandada em nome próprio, deverá nomear à autoria oproprietário ou o possuidor."A segunda, no art. 63, com a seguinte redação:"Aplica-se também o disposto no artigo antecedente à açãode indenização, intentada pelo proprietário ou pelo titularde um direito sobre acoisa, toda vez que o responsável pelos prejuízosalegar que praticou o aro por ordem, ou em cumprimento de

instruções de terceiro."O art. 62 é uma generalidade, enquanto o art. 63cuida de uma especialidade. Quanto ao art. 63, o quesobressai é a prática de um ato por ordem ou em cumprimentode instruções de terceiro, não importando a quetítulo. Tome-se por caso o clássico exemplo de trabalhadorque recebe ordens do proprietário rural para construir umabarragem que impeça o curso das águas para a

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propriedade inferior, resultando prejuízos nesta. Sendodemandado o construtor da barragem, deverá nomear àautoria aquele que ordenou fazê-la, a fim de que esteresponda pelo que determinou. Este artigo tem ongemnas Ordenações, textos citados, nos quais se alude aofeito cível como crime civilmente intentado.

6 - OBRIGATORIEDADE DA NOMEAÇÃOÉ preciso distinguir os núcleos da figura:a) aquele que detiver ou possuir...; (p. 297)b) ...que detiver ou possuir em nome alheio...;c) ...sendo-lhe demandado em nome próprio porato ou fato não seu...;d) ...deverá nomear....Presentes os três primeiros correspondentes donúcleo, surge um dever - "deverá nomear". Vê-se que anomeação é obrigatória.

7 - A NOMEAÇÃO E O PRINCÍPIO DA LEALDADEA nomeação é instituto que muito diz respeito aodever de lealdade da parte no processo. Por isso que osseus beneficios recaem sobre o nomeante quando seporta lealmente. E os malefícios também, quando seporta deslealmente.Não se trata de deduzir pretensão contra outrem;cuida, sim, de petição que tem como escopo dizer aoEstado-Juiz o nome do proprietário ou possuidor quedeve ser demandado.

8 - FORMALIDADES NO REQUERIMENTO DA NOMEAÇÃOAo nomear, não é suficiente que o nomeante digao nome do nomeado. A explicitação dos fatos é necessáriapara que o autor, quando ouvido, se convença ounão da necessidade de concordar com a nomeação.Assim também o nomeado. (p. 298)No fim, o requerimento, com o nome, a qualificação e oendereço do nomeado. É obediência ao princípio dispositivo.

9 - NOMEAÇÃO E O PÓLO PASSIVO DA RELAÇÃO PROCESSUAL

Só é cabível ao requerido, e quando se diz "nomeação àautoria" quer dizer não do autor da ação, mas do"autor" do fato controvertido que ensejou a demanda.

10 - NOMEAÇÃO - DÚPLICE ACEITAÇÃO - NÃO-ACEITAÇÃO -CONSEQUÊNCIAS DANOMEAÇÃO E DA NÃO-NOMEAÇÃOO Código de Processo Civil cuida de enfatizar a

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responsabilidade do demandado que não nomeia à autoria ou,nomeando, o faz sobre pessoa diversa daquelaem cujo nome detém a coisa demandada. Ora, se buscao legislador proteger o autor da demanda da parteindevida, questiona-se até que ponto o demandadoindevido deve ou não ser ressarcido dos prejuízos que ademanda lhe causa quando nomeia e o autor não aceitaa nomeação, assim como o seu nomeado. Ou quandonão nomeia, mas, mesmo assim, o autor vence, eis quenão identificada a ilegitimidade passiva do demandado,e aquele que deveria ser nomeado leva prejuízo. Tomemos porcaso seis situações distintas.Primeira - O demandado nomeia à autoria. O autor e onomeado aceitam a nomeação. Há a estromissione (p. 299)do nomeante e a ação prossegue entre o autor e o nomeado. Onomeante se vai do processo, podendo apenas permanecer comoassistente simples do seu nomeado e novo demandado.

Segunda - O demandado nomeia à autoria. O autor recusa anomeação. Está ele assumindo as conseqüências da demanda depessoa errada é-lhe de direito.Quem nomina a parte demandada é o autor. É princípioassente. Caso se comprove que o demandado nomeanteé, realmente, parte ilegítima, não pode ele serresponsabilizado, pelo autor, pelos prejuízos que aquelademanda possa lhe ter proporcionado. Esses prejuízos são emdecorrência do processo: tempo, meios e modos paralevá-lo a termo. Ou seja, o quanto lhe significou deprejuízo engendrar-se por um processo de solução de

conflito com pessoa indevida que não se identificou comotal e muito menos apontou a pessoa que deveria serdemandada. Nada tem a ver com sucumbência.No caso de recusa do autor à nomeação, toca aodemandado nomeante, por questão de coerência, sempre quetiver de manifestar-se nos autos, anunciar-secomo parte ilegítima, não obstante na contestação já teraduzido defesa indireta de natureza peremptória buscando aextinção do processo.Bem. Conclui-se que o nomeante se houve comverdade. Aqui lhe toca o direito de ser reparado dos

prejuízos que a ação lhe causou, posto que nomeou e nãofoi crido.Terceira - O demandado nomeia à autoria. O autor aceita anomeação e o nomeado recusa, mas o autorinsiste em demandar o nomeante por não ter se operado (p.300)no todo o estágio de perfazimento do instituto; também,de igual modo, está desobrigado o nomeante de qualquer

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responsabilização.No caso de recusa apenas do nomeado, por questão decoerência deve o autor desistir da ação em facedo demandado nomeante e propor nova ação em facedo nomeado não aceitante. Contudo, é direito seu continuardemandando o nomeante, cabendo ao juiz atentar-se para ailegitimidade de parte e, ante as alegaçõesdo nomeante, extinguir o processo por ilegitimidadepassiva ad causam.Se o autor aceitou a nomeação, mas insistiu emdemandar o nomeante por não ter havido o perfazimentodo estágio do instituto e constatada a ilegitimidade donomeante, se houve o autor, à evidência, com abuso noexercício do direito de ação que, por conseqüência, fáloresponsável pelos prejuízos que a demanda causouao nomeante. Reafirma-se, não se cuida aqui desucumbência. São os prejuízos materiais e, em dados

casos, até morais, que serão conhecidos em ação própria eexcutidos por sentença.Quarta - O demandado não nomeia à autoria. Ojuiz se dá pela ilegitimidade de parte do demandado eextingue o processo. Ou o juiz não se dá pela ilegitimidadede parte, julga procedente o pedido, mas, quandoda execução da sentença, surge o óbice do proprietárioou possuidor que se opõe à execução. É a hipótese doinciso I, do art. 69, do Código de Processo Civil.Quinta - O demandado nomeia à autoria pessoadiversa daquela em cujo nome detém a coisa demandada. O

juiz julga procedente o pedido e, quando da exe- (p. 301)cução da sentença, se dá com a impossibilidade de fazêla.Embargos de terceiro senhor ou possuidor foram oferecidospelo proprietário ou possuidor. É a hipótese doinciso II, do art. 69, do Código de Processo Civil.Sexta - O demandado não nomeia à autoria. Oautor vence, por isso que o juiz não se deu com ailegitimidade passiva do demandado. O autor não sofreuqualquer prejuízo que possa ser reparado, mas o possuidorindireto ou o proprietário, sim. No caso, o possuidorindireto ou o proprietário pode demandar o demandado

vencido, a fim de se ver ressarcido dos prejuízos que anão-participação no processo lhe causou. OProfessor Manuel deAndrade é no sentido de que o nãonomeadodeve ser reparado.Não se diga que o não-nomeado não sofre prejuízos por nãoter figurado na relação processual. Sofre-ossim. A uma, porque, por um tempo, se for o caso, ficaráprivado do bem de vida seu, porque proprietário ou

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possuidor. A duas, porque terá que propor ação parareaver o seu bem. A três, porque se tivesse sido nomeado,atuaria na relação processual passiva como defensor,posição que, obviamente, ser-lhe-ia mais favorável.

11 - AÇÃO EM FACE DO NOMEANTE E DO NOMEADOSe o autor da ação demandou tanto o detentorcomo o proprietário e o possuidor indireto emlitisconsorciação passiva facultativa, resta à parte, quefoiindevidamente demandada argüir a sua ilegitimidadepassiva. Não há como nomear se o autor já nomeou. (p. 302)

12 - ALCANCE SUBJETIVO DA SENTENÇA EM CASO DE NÃO-ACEITAÇÃODANOMEAÇÃO PELO NOMEADOA lei faculta ao nomeado não aceitar a nomeação.

É preciso, contudo, se tenha tal faculdade dentro decertos limites, por isso que, se infundada a recusa,transparecem três situações distintas:1ª) falta do nomeado com a obrigação de lealdade. Lealdadecom a parte que o nomeou, com o autor daação e com o Estado-juiz;2ª) sujeição do demahdado nomeante a uma açãoque não lhe pertine, caso o juiz não se dê pelailegitimidade de parte;3ª) tomada do Estado com todos os componentesda prestação jurisdicional em processo sem efetividade,

que se terá, no fim, com a terminação anômala.Portanto, para que não prevaleçam essas três situaçõesnegativas, mesmo que prossiga a ação em facedo demandado nomeante, sendo infundada a recusa donomeado, sobre este haverá de recair o efeito da sentença,caso o pedido do autor proceda.O Professor Helder Martins Leitão{79} é do seguinteentendimento:"O nomeado pode negar a qualidade que lhe éatribuída. Se o fizer, fica igualmente sem efeito a79. LEITÃO, Helder Martins. Dos incidentes da instância.

Porto: Elcla,1992, p. 64. (p. 303)nomeação, e o prazo para a defesa do réu começaa contar-se da data em que lhe for notificada anegação do nomeado. Neste caso, a qualidade depossuidor em nome alheio não obsta a que o réuseja considerado parte legítima, e a sentença proferida nacausa constituirá caso julgado em relação à pessoa nomeada."

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13 - MOMENTO PROCESSUALO momento processual da nomeação é o de oferecimento dadefesa, ou seja, no prazo de quinze dias.A nomeação desobriga a resposta. Afinal, poraquela o nomeante está dizendo que não é parte, nãosendo coerente que ofereça resposta.Deduzida a nomeação, o juiz a deferirá, suspenderá oprocesso e mandará ouvir o autor no prazo decinco dias.Considerando que ao nomeado é dado, pura esimplesmente, recusar a nomeação, seria recomendávelque o legislador lhe fixasse expressamente o mesmoprazo estabelecido para o autor, somente para caso denegativa. Tal limitação de tempo evitaria que o nomeado, norito ordinário, no 15º dia da citação, se manifestasse pelanegativa da nomeação, impondo que se reabrisse novo prazo

de resposta ao nomeante, homenageando, assim, aprocrastinação.O seu silêncio, além dos cinco dias, já implicariapresumida aceitação, desobrigando-se o nomeante daqueleprocesso. Significando dizer que, no caso deaceitação, impenderia manifestar-se em cinco dias. (p. 304)O sistema processual português, omisso nesteparticular, reservou à doutrina, em especial na exegesede Alberto dos Reis, o entendimento de que o prazo éde cinco dias para o nomeado repudiar ou repelir anomeação.

Com a nomeação e a suspensão do processo, oprazo para resposta passará a correr para o nomeante,em caso de recusa do autor ou recusa do nomeado, apartir do momento de intimação de tal recusa. E o prazovoltará a correr por inteiro.Para o nomeado que ingressa na relação processual, o prazopara contestar é a partir de sua citação.Ao nomeado aceitante não é possível deduzir exceção deincompetência do juízo em razão do seu domicílio; fá-lo-á,contudo, em razão da pessoa que poderá deslocar ojulgamento do juízo comum para o especial ou vice-versa.

Tanto ao autor da ação quanto ao nomeado, aoserem ouvidos sobre a nomeação, não se lhes impõemexplicitações de suas recusas. Basta que digam que nãoaceitam.A aceitação, no entanto, poderá ser expressaquando vem aos autos e afirma-se parte legítima narelação processual; poderá ainda ser presumida, se oautor nada requereu, no prazo em que, a seu respeito,

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lhe competia manifestar-se; e se o nomeado não comparecer,ou comparecendo, nada alegar.Não se diga que a questão de ordem pública, quala ilegitimidade de parte, que permite aja o juiz inclu sivede ofício, havendo a nomeação à autoria, transmudase para odomínio privado, posto que fica ao arbítriodas pessoas determiná-la. Ao juiz tocará extinguir o (p.305)processo desde que, havendo nomeação e recusa, sejamanifesta a ilegitimidade passiva.

14 - PRAZO PARA CONTESTAR EM CASO DE RECUSA DA NOMEAÇÃOEm caso de recusa do autor ao nomeado, ou quando este negaa qualidade que lhe é atribuída, assina-seao nomeante novo prazo para contestar.Ao explicitar "novo prazo", deixou claro o legislador queeste será devolvido integralmente ao

nomeante, não sendo possível descontar-lhe os dias quetomou do prazo de resposta no caso de procedimento