a noiva de cristo

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A NOIVA DE CRISTO Renovando Nossa Paixão Pela Igreja Charles R. Swindoll Editora Vida Dedicados à Excelência A Missão da Editora Vida é prover literatura adequada para alcançar pessoas necessitadas de Jesus Cristo, e ajudá-las a crescer em sua fé. ISBN 0-8297-2048-0 Categoria: Vida Cristã Este livro foi publicado em inglês com o título The Bride por Zondervan Publishing House © 1995 por Zondervan Publishing House © 1996 por Editora Vida Traduzido por Wanda de Assumpção Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, Av. da Liberdade, 902 -- São Paulo, SP 01502-001 Telefone: (011) 278-5388 Fax: (011) 278-1798 Digitalizado e Revisado por GILMAR AMARO BARBOSA; E-mail: [email protected] As citações bíblicas foram extraídas da Edição Contemporânea da Tradução de João Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida. Impresso nos Estados Unidos da América Capa: Andréa Lyra e Gregory Peck Dedicatória Este livro é dedicado a KENNETH P. MEBERG, PH.D. cuja estreita amizade, sábios conselhos e ideias perspicazes, há muitos anos atrás, quando eu estava começando a pastorear a Primeira Igreja Evangélica Livre de Fullerton, comprovaram ser inestimáveis quando crescemos e nos multiplicamos. Enquanto aquela congregação colhe os dividendos de seu investimento de tempo e energia, agradeço a Deus por tudo o que recordo do meu amigo. Conteúdo Apresentação 7 Introdução 9 Um Nosso Propósito 15 Dois Nossos Objetivos 39 Três Um Interesse Genuíno pelos Outros 53 Quatro Um Estilo Contagiante 73 Cinco A Diferença entre a Mentalidade Metropolitana e a Comunitária 95 Seis O Que Muda e o Que Não Muda 125

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Page 1: A Noiva de Cristo

A NOIVA DE CRISTO

Renovando Nossa Paixão Pela Igreja

Charles R. Swindoll

Editora Vida

Dedicados à Excelência

A Missão da Editora Vida é prover literatura adequada para alcançar

pessoas necessitadas de Jesus Cristo, e ajudá-las a crescer em sua fé.

ISBN 0-8297-2048-0 Categoria: Vida Cristã Este livro foi publicado

em inglês com o título The Bride por Zondervan Publishing House © 1995

por Zondervan Publishing House © 1996 por Editora Vida Traduzido por

Wanda de Assumpção Todos os direitos reservados na língua portuguesa por

Editora Vida, Av. da Liberdade, 902 -- São Paulo, SP 01502-001 Telefone:

(011) 278-5388 Fax: (011) 278-1798

Digitalizado e Revisado por GILMAR AMARO BARBOSA; E-mail:

[email protected]

As citações bíblicas foram extraídas da Edição Contemporânea da

Tradução de João Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida.

Impresso nos Estados Unidos da América

Capa: Andréa Lyra e Gregory Peck

Dedicatória

Este livro é dedicado a KENNETH P. MEBERG, PH.D. cuja estreita

amizade, sábios conselhos e ideias perspicazes, há muitos anos atrás,

quando eu estava começando a pastorear a Primeira Igreja Evangélica Livre

de Fullerton, comprovaram ser inestimáveis quando crescemos e nos

multiplicamos.

Enquanto aquela congregação colhe os dividendos de seu investimento

de tempo e energia, agradeço a Deus por tudo o que recordo do meu amigo.

Conteúdo

Apresentação 7

Introdução 9

Um

Nosso Propósito 15

Dois

Nossos Objetivos 39

Três

Um Interesse Genuíno pelos Outros 53

Quatro

Um Estilo Contagiante 73

Cinco A Diferença entre a Mentalidade Metropolitana e a Comunitária

95

Seis

O Que Muda e o Que Não Muda 125

Page 2: A Noiva de Cristo

Sete

Ministrando nos Últimos Dias 147

Oito

“Permanecendo Prontos Até a Hora de Largar"

Nove

O Valor da Integridade 189

Dez

Restaurando o Respeito pelo Ministério 219

Conclusão 243

Notas Bibliográficas 247

APRESENTAÇÃO

Nós, que constituímos o corpo de Cristo do século vinte, estamos

vivendo alguns dos anos (se não os anos) mais significativos da história

do cristianismo. Este livro nos dá uma boa visão da Noiva de Cristo e nos

ajuda a compreender o que a igreja deveria ser.

Por dois mil anos a igreja tem sido uma força poderosa para

mudança, um dínamo espiritual que nada conseguiu deter. Congregações

vitais que estendem as mãos às suas comunidades e indivíduos dedicados

cujas vidas demonstram o amor de Deus têm revirado sociedades de cabeça

para baixo no decorrer dos séculos. Mas a igreja no final do século vinte

parece ter-se esquecido de que é a Noiva de Cristo e do potencial que tem

quando fica ao lado de seu Noivo Todo-poderoso.

Chuck Swindoll oferece ideias para revitalizar a igreja nesta

última década do século vinte. Com vivacidade e humor, ele mostra o que

podemos realizai" individual e coletivamente para fazer a saúde da igreja

retornar ao vibrante modelo do primeiro século.

Swindoll é incisivo quando trata de assuntos difíceis como a

integridade pessoal, a capacidade de mudar sem transigir e a restauração

do respeito pelo ministério. Contudo, ao mesmo tempo, Chuck nos encoraja

a demonstrar um interesse genuíno pelos outros, uma fé contagiante e uma

visão que transforma estranhos em amigos, e inimigos em crentes. Ele

oferece um programa de mudanças que pode ser o catalisador da liberação

do poder de Deus em nossas vidas, nossas congregações e nosso mundo.

Cristo ainda escolhe Sua Noiva para representá-lo, mesmo após vinte

séculos por vezes maculados. Swindoll sabe disso. E com mais de 30 anos

de experiência pastoral, ele oferece sabedoria bíblica, senso de humor, e

uma estratégia prática para o desenvolvimento de um ministério pessoal

relevante e de uma igreja que pode abalar o mundo.

Charles R. Swindoll serve agora como presidente do Seminário

Teológico de Dallas, ajudando a preparar uma nova geração de homens e

mulheres para o ministério. E também presidente de Insight For Living

(Razão para Viver), um ministério radiofônico que é transmitido

diariamente ao mundo todo (no Brasil pela Rádio Transmundial). O coração

de Chuck está no pastorado, tendo servido à Primeira Igreja Evangélica

Livre em Fullerton, Califórnia, por quase vinte e três anos.

Os Editores

INTRODUÇÃO

Page 3: A Noiva de Cristo

Sou o primeiro a vê-la quando aparece ao fundo da igreja. E ela faz

com que as cabeças se voltem instantaneamente a cada fileira que passa.

É assim que acontece com a noiva. Ela permanece escondida de amigos

e parentes na igreja até soarem os clarins da Marcha Nupcial de Wagner.

Então, ela surge aos olhos de todos aqueles que estão de frente para a

congregação. Fileira a fileira, as pessoas se voltam para a ala central.

Elas arquejam, exclamam, riem, resplandecem, se regozijam.

A noiva mexe com todos nós. Ela é o centro da cerimônia nupcial e

irradia toda esperança e sonho naquele dia. Talvez seja por isso que Deus

tenha escolhido o símbolo da Noiva para representar a igreja. Cristo

queria que sua igreja fizesse com que as cabeças se voltassem, que

virasse o mundo de cabeça para baixo, e chamasse atenção sobre si mesma

como o local de esperança e fé num mundo permeado pelo cinismo.

Jesus falava sempre sobre núpcias (Mateus 22:1-14; Mateus 25:1-13;

Lucas 12:35-36; Lucas 14:7-11; João 2:1-11). No Antigo Testamento Deus se

referia ao povo de Israel como sua Noiva. (Oséias 2:19-20). Mais tarde

Jesus contou muitas histórias sobre banquetes nupciais, pais de noivos,

lugares em banquetes, e provisões milagrosas, e assim projetou na tela

bíblica os quadros de um casamento, sendo ele próprio o Noivo. Então, os

escritores do Novo Testamento designaram a igreja como a Noiva. E nas

últimas páginas da Bíblia ocorrem as maiores núpcias de todos os tempos,

com todos reunidos e todos se regozijando. Jesus Cristo, o Cordeiro de

Deus, e sua Noiva, a igreja, encerrarão nosso calendário com uma

celebração nupcial que fará as festividades do reveillon na Times Square

de Nova Iorque parecer um churrasquinho caseiro em Alpena, Michigan.

(Minhas desculpas a Alpena).

Após passar quase trinta anos no pastorado, cheguei a uma conclusão

surpreendente. Nós, a igreja, quase esquecemos o que somos - a Noiva de

Cristo. Isso significa que quase nos esquecemos das coisas poderosas que

podemos fazer enquanto estamos ao lado do nosso Noivo onipotente. Nas

páginas que se seguem desejo chamar-nos de volta ao nosso papel. Como

igreja, vagueamos movidos por sentimentos de fraqueza, desorientação e

falta de destino. Está na hora de nos lembrarmos novamente.

Nós, que constituímos o corpo de Cristo do século vinte estamos

vivendo alguns dos anos (se não os anos) mais significativos da história

do cristianismo. As oportunidades no cenário internacional estão-se

expandindo e são emocionantes. O privilégio de evangelizar os perdidos e

difundir a mensagem de esperança e encorajamento aos pecadores tem um

potencial maior do que nunca. Ninguém pode negar que a volta de nosso

Senhor nunca esteve tão próxima. Em muitos lugares ao redor do mundo o

cristianismo está crescendo.

Contudo, estranhamente, muitos na igreja de Cristo parecem ter

perdido a perspectiva. Valores de longa data estão sendo solapados.

Escaramuças sem importância e briguinhas internas dentro de nossas

próprias fileiras estão drenando demais a nossa energia. Em vez de

cumprir o mandato claramente definido que Deus nos deu, um grande número

de cristãos fixou o olhar em questões menores e egoístas. A gratificação

instantânea está substituindo depressa os alvos eternos. O plano de ação

que Deus estabeleceu para a igreja está sendo eclipsado por uma variedade

de atividades inventadas pelo homem que vão de espúrias a escandalosas.

Se os apóstolos, que estabeleceram os primeiros mapas para nos

guiar através dos mares incertos dos séculos, e se os reformadores, que

construíram muitas das embarcações nas quais deveríamos navegar,

voltassem após uma soneca prolongada e vissem o apuro no qual nos

encontramos, creio que seus queixos cairiam e eles nos fitariam

incrédulos. Alguns certamente perguntariam se teríamos perdido o mapa ou

perdido de vista o destino e escolhido mergulhar e nadar em outras

direções.

Page 4: A Noiva de Cristo

Este livro, embora breve e talvez simplificado demais, é uma

tentativa sincera de minha parte de oferecer uma boa visão da Noiva e

ajudar na compreensão do que a igreja deve ser. Ao fazer isto, estou

deliberadamente evitando tratar de algumas preocupações sociais e

religiosas atuais que chamam a atenção do público e frequentemente vão

parar nas manchetes ou nos tribunais do país. Tampouco trato dos vários

estilos de governo das igrejas, sobre os quais já se escreveu

suficientemente durante a última década. As questões de que trato são

muito mais básicas e claramente definidas. Mas o melhor de tudo é que

minhas sugestões são viáveis. Tendo estado pastorado por quase três

décadas, tive ampla oportunidade de testá-las. Elas funcionam.

Este livro não é uma série de teorias idealistas e pouco práticas,

mas de princípios bíblicos essenciais e realistas. Mas não se iluda

pensando que eles são fáceis de atingir. Cada um requererá enormes

quantidades de discernimento e disciplina, o que não é popular numa

geração que tem preferido imitações rápidas em lugar do genuíno. Talvez

eu deva repetir que cada resposta que apresento, cada sugestão que

ofereço, é fundamentada na Bíblia, documento que é a única fonte

inerrante endossada por Deus.

Assim, se você estiver cansado de teorias que parecem piedosas, mas

às quais falta relevância, se você estiver pronto para digerir questões

chaves e os princípios escriturísticos sobre os quais elas se baseiam, se

você estiver farto dos sonhos passivos e metas indefinidas, se você

estiver pronto para se envolver no plano de ação de Deus... este livro é

para você. Compreenda, ele não atingirá seus objetivos para você, mas o

alertará sobre o que precisa ser feito. Ele é um som estridente durante a

noite, não um tapinha amigável no ombro. Pode não dar especificamente

todos os detalhes, mas pelo menos é suficiente para forçá-lo a sair da

condição de sonolência e passar à ação.

Nunca me interessou apenas dar às pessoas "algo sobre o que

pensar". Parece-me que já acumulamos poeira suficiente permanecendo

sentados, apenas discutindo nossas dificuldades. O que faz girar a minha

manivela é motivai' as pessoas com a verdade das Escrituras, e então vê-

las engatar uma primeira. O recente anúncio de três palavras para os

tênis Nike diz isso da melhor maneira: E SÓ FAZER.

Meus agradecimentos sinceros aos membros da minha família e à

equipe e congregação da Primeira Igreja Evangélica Livre de Fullerton.

Estas duas facetas da minha vida têm-me feito sempre prestar contas e

ajudado a permanecer em contato com a realidade. Foi no laboratório

cotidiano desses dois mundos que consegui transformar a teoria em

realidade.

Urge que a igreja compreenda seu papel como Noiva de Cristo. Sem

ela, o Noivo não será visto -- enquanto não voltar. Mas acho que Deus tem

um plano melhor. E esse plano logo vai fazer algumas cabeças virarem.

Chuck Swindoll

Fullerton, Califórnia

"Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória! Pois são

chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou. (Apocalipse

19:7)

“E [Deus] sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e sobre

todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a

plenitude daquele que enche tudo em todos." (Efésios 1:22-23)

"Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja."

(Efésios 5:32)

Page 5: A Noiva de Cristo

Capítulo UM

NOSSO PROPÓSITO

Ouvi dizer que Sócrates era considerado sábio não porque soubesse

todas as respostas certas, mas porque sabia fazer as perguntas certas.

Perguntas -- as perguntas certas -- podem ser penetrantes,

conduzindo a respostas reveladoras. Elas podem expor motivos ocultos bem

como capacitar-nos a enfrentar a verdade que não havíamos admitido nem

para nós mesmos.

The Book of Questions (O Livro das Perguntas), do Dr. Gregory

Stock, é um desses volumes que tenho dificuldade em largar. Ele inclui

quase 275 perguntas penetrantes que nos fazem sair de nossa casca. Você

se descobre incapaz de esconder ou evitar a inquietação. Quer alguns

exemplos?

. Se você estivesse para morrer esta noite sem a oportunidade de se

comunicar com quem quer que fosse, do que mais se arrependeria de não ter

dito a alguém? Por que ainda não lhe disse?

· Você descobre que seu maravilhoso filhinho de um ano, devido a uma

confusão feita no hospital, não é seu. Você iria querer trocar a criança

para tentar corrigir o engano?

· Se pudesse usar um despacho para ferir alguém, você o faria?

· Sua casa, com tudo que você possui, pega fogo. Após salvar seus

entes queridos e animaizinhos de estimação, você tem tempo para entrar lá

a salvo pela última vez e apanhar algum item. Qual seria?

. Ao estacionar tarde da noite, você raspa de leve a lateral de um

Porsche. Você está certo de que ninguém mais percebeu o acontecido. O

dano é pequeno e seria coberto pelo seguro. Você deixaria um bilhete?

Não faz muito tempo que li sobre um sujeito que fez exatamente isso

-- exceto que de fato havia mais gente observando. Diante dos olhares,

ele tirou um pedaço de papel e escreveu a seguinte mensagem:

Várias pessoas aqui perto pensam que estou deixando um bilhete que

inclui meu nome e endereço, mas não estou.

Ele dobrou cuidadosamente o papel, enfiou-o sob o limpador de pára-

brisa, sorriu para os que o observavam, depois saiu rapidamente dali. Que

finório!

Eis aqui mais algumas:

· Se descobrisse que um bom amigo seu estava com AIDS, você o

evitaria? E se fosse o seu irmão ou irmã?

- Se você fosse convidado para um jantar especial na casa de amigos

e encontrasse uma barata morta na salada, o que faria?

É engraçado como as perguntas nos forçam a encarar de frente a

questão. Achei interessante que as perguntas menos frequentes no livro de

Stock eram as que começavam com "por que". Contudo, estas são as mais

críticas. Elas não ficam circundando; vão direto ao cerne da questão.

Outro dia, tirei da estante um dos maiores livros de referência do

meu gabinete. Tem mais de trinta centímetros de altura, cerca de cinco

Page 6: A Noiva de Cristo

centímetros de espessura e é muito pesado. E a minha concordância bíblica

completa -- uma listagem alfabética de cada palavra que aparece na

Bíblia. Por curiosidade, procurei a seção do "p" e localizei o termo "Por

que". Para surpresa minha, encontrei quase cinco colunas de letra miúda

dedicadas apenas às perguntas com "Por que" encontradas na Bíblia.

Veja a seguir uma amostragem aleatória dessas perguntas.

Perguntou Deus a Caim:

"Por que te iraste?"

Os anjos perguntaram a Abraão: "Por que se riu Sara?"

Moisés perguntou-se: "Por que a sarça não se consome?"

Natã, ao confrontar Davi, perguntou: "Por que desprezaste a palavra

do Senhor?"

Jó perguntou a Deus: "Por que não morri ao nascer?"

As perguntas que começam com "Por que" parecem ter sido as

favoritas de Jesus. Foi ele quem perguntou:

"Por que andais ansiosos?"

“Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, mas não

percebes a trave que está no teu?"

"Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?"

"Por que não credes em mim?"

Uma das últimas coisas que Jesus disse na cruz foi uma pergunta com

"Por que": "Por que me desamparaste?"

Os anjos receberam aqueles que foram ao túmulo vazio com a

pergunta: Por que buscais entre os mortos quem está vivo?"

O PROPÓSITO BÁSICO

Para chegar ao motivo fundamental pelo qual a igreja existe, você

tem de perguntar: "Por quê?"

Por que, de fato, foi a igreja trazida à existência? Por que o

prédio da igreja ocupa um determinado terreno? Por que erigimos paredes e

um teto sobre os prédios nos quais nos reunimos? Por que nos envolvemos

num ministério de música? Por que se pregam sermões? Por que apoiamos o

trabalho da igreja com nossos fundos? Por que enviamos missionários pelo

mundo afora?

Se eu ou você fizéssemos essas perguntas domingo que vem,

ouviríamos uma porção de respostas -- muitas delas boas -- mas duvido que

elas representassem o propósito básico.

Eis aqui algumas das razões que nos seriam dadas:

· Levar o evangelho aos perdidos.

· Ter a oportunidade de participar de cultos e instrução regulares.

· Dar esperança aos que sofrem.

· Ser um farol na comunidade.

· Equipar os santos para a obra do ministério.

· Afirmar e apoiar valores saudáveis (lar, pureza moral e ética, a

dignidade dos indivíduos, viver santo, casamentos saudáveis, integridade,

etc).

· Enviar o evangelho por todo o mundo através de empenho

missionário. ·

Buscar a juventude de hoje e desafiá-la a fazer de Cristo o centro

de sua vida, sua escolha de carreira e seus planos para o futuro.

. Orar.

. Edificar os santos.

.Consolar os entristecidos; encorajar os solitários; alimentar os

famintos; ministrar aos deficientes; e ajudai' os idosos, os que sofrem

abusos e os confusos.

. Estimular a ação e o envolvimento em questões sociais críticas. ·

Page 7: A Noiva de Cristo

Servir como modelo de autêntica retidão.

· Ensinar as Escrituras tendo em vista uma vida santa.

Cada uma dessas razões é válida, saudável e valiosa. A igreja

certamente precisa se dedicar a essas atividades. Mas nenhuma delas é

absolutamente básica. Nada nessa lista declara o propósito fundamental da

existência da igreja. Incrível, não é mesmo? Todos esses anos temos

estado envolvidos no trabalho da igreja, e poucos de nós sabemos por

quê... Estou falando do porquê mais radical.

Qual, então, é o propósito básico? Encontramos a razão claramente

afirmada na primeira carta aos coríntios, do Novo Testamento. Para muitos

de nós, ver esta verdade em sua simplicidade e ousadia será tão

refrescante e surpreendente quanto a primeira visão da noiva no dia do

casamento. Entretanto, quanto mais a compreendermos, mais cumpriremos

nosso propósito pessoalmente como cristãos e corporativamente como

igreja. O Espírito Santo moveu o grande apóstolo Paulo a escrever:

“Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa

qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).

Nos mais simples dos termos, eis aí a resposta à pergunta sobre por

que existimos. O propósito básico da igreja é glorificai ao Senhor nosso

Deus. Que jamais nos esqueçamos disso novamente, embora o tenhamos feito

com frequência no passado.

Veja a amplitude do que Paulo diz: "QUER..." Quer estejamos

comendo, quer bebendo, quer sofrendo, quer ajudando, quer servindo, quer

lutando. As atividades são ilimitadas, mas o propósito permanece o mesmo.

Veja mais: "QUALQUER..." Novamente, o conceito é tão amplo quanto

quisermos fazê-lo. Seja o que você for pessoalmente -- homem ou mulher;

adulto, jovem ou criança; em qualquer país onde se encontre; em qualquer

circunstância -- o alvo é a glória maior de Deus. Despertemos para o

nosso propósito! Em outro brilhante relâmpago de sabedoria bíblica, o

apóstolo Paulo termina uma oração de graças a Deus dizendo: "A ele seja

glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o

sempre. Amém." (Efésios 3:21). A palavra "glória" continua a receber

destaque máximo nestas páginas que escrevo. Por bom motivo. Ela é o nosso

propósito final. Paulo está dizendo que a glória é dada a Deus por meio

da igreja e de Cristo. E esta é a combinação de Noiva e Noivo da qual

venho falando desde o início do livro.

Alguns capítulos antes, na mesma carta do primeiro século aos

coríntios, encontramos a pergunta penetrante:

“Ou não sabeis que o nosso corpo é o santuário do Espírito Santo,

que habita em vós, proveniente de Deus Não sois de vós mesmos” (1

Coríntios 6:19).

Você estava consciente disso;' O motivo de Paulo fazer essa

pergunta é declarado na afirmação seguinte:

“Fostes comprados por bom preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso

corpo” (1 Coríntios 6:20).

Aí está de novo. Deus está interessado em que o glorifiquemos, até

mesmo em nosso corpo. Na maneira como o tratamos. No que colocamos dentro

dele. No que lhe permitimos dizer. Em aonde vamos com ele. Em quanto

descanso damos a ele. Em quão apto o mantemos. Seja o que for que você

faça com seu corpo, certifique-se de que sua existência física dê glória

a Deus.

Page 8: A Noiva de Cristo

O capítulo quinze da carta anterior, aos romanos, inclui um par de

versículos que se harmonizam muito bem com o que estamos aprendendo:

“Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo

sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que,

concordes e a uma voz, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus

Cristo” (versículos 5-6).

A Bíblia está repleta de declarações como esta. Nosso único

propósito, a razão básica para a nossa existência, é dar glória máxima ao

nosso Deus. As Escrituras virtualmente palpitam com o mandado:

"Glorificai a Deus!" De alguma forma, passamos dormindo pelos avisos

repetidos. Em nossos dias de egos frágeis e um estilo de religião criado

pelas agências de publicidade, é fácil perder o caminho e imaginar que a

meta da igreja é crescer, construir imponentes edifícios e duplicar a

frequência a cada três anos, mais ou menos. A igreja que cresce torna-se

invejada pelas que não o fazem.

Outro propósito popular é impressionar, parecer bem... ou pregar

ótimos sermões, prover boa música e assim por diante. Entenda que não há

nada de errado com qualquer dessas coisas, contanto que sejam feitas pelo

motivo certo e mantidas em perspectiva. Mas quero deixar claro: Elas não

são básicas.

Para tornar isto tudo extremamente prático, precisamos perguntar

com regularidade: Por que estou fazendo isto? Por que eu disse que sim?

Por que concordei com aquilo? Por que estou ensinando? Por que canto no

coro? Por que estou tão envolvido neste grupo de adultos? Por que planejo

em meu orçamento dar esta quantia? Por quê? Por quê? POR QUE? Quando

essas perguntas são feitas, é preciso que haja uma única resposta: Para

glorificar a Deus.

Enquanto estamos neste assunto, consideremos outra passagem:

Tessalonicenses 1:11-12.

“Pelo que também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos

faça dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a

obra da fé com poder. Rogamos para que o nome de nosso Senhor Jesus seja

em vós glorificado, e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor

Jesus Cristo”.

Interessante a resposta, não é mesmo? A medida que a pessoa

glorifica ao Senhor Deus, será glorificada nele. Note que isto é

contagiante. Quando você glorifica a Deus, esse ato tem um impacto

saudável sobre os outros. Eles verão seu exemplo e desejarão também

glorificá-lo. Nosso Senhor Jesus ensinou:

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as

vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus

5:16).

Se sua vida é um exemplo de glorificação a Deus, os outros

não verão as suas boas obras e não glorificarão a você, pois saberão que

tudo o que você faz é para a glória de Deus. Não consigo explicar como as

pessoas podem saber isso. Apenas sei que podem. E impressionante como o

orgulho pode sair pelos poros do corpo e ficar à mostra, levando os

outros a glorificar a pessoa. Mas quando a glória é dada a Deus e a ação

é feita exclusivamente para glorificá-lo, de algum modo as pessoas

conseguem saber -- e direcionam sua gratidão e louvor para Deus. E uma

reação em cadeia que conduz a uma linda expressão de adoração espontânea.

Tudo isto pode parecer tão surpreendente que você talvez se

incline a considerá-lo um novo conceito. Contudo, ele é tão antigo quanto

as Escrituras.

Page 9: A Noiva de Cristo

Ora, então é novidade na história da igreja? Não, é tão antigo

quando o Breve Catecismo de Westminster, elaborado em 1647. Lembra-se da

primeira pergunta que os presbiterianos escoceses deveriam fazer aos

jovens alunos que aprendiam teologia aos pés de seus mestres?

Pergunta: Qual é o fim principal do homem?

Resposta: O fim principal do homem é glorificar a Deus e alegrá-lo

para sempre.

UMA ANÁLISE DA RESPOSTA

Analisemos esta declaração. Posso escrever páginas e páginas

sobre glória, mas devido ao fato de o termo parecer abstrato, um tanto

oblíquo, talvez não compreendamos o que significa. Sabemos em geral o que

ele significa, mas precisamos ser muito específicos se esperamos servir

como modelos de glória.

Quando estudo as Escrituras, descubro que o termo glória é

usado de três maneiras principais. Antes de tudo, glória refere-se à luz,

a luz da presença de Deus, uma luz clara e brilhante vinda do céu. Essa

expressão da glória de Deus aparece em Êxodo 40:34, onde lemos: "... a

glória do Senhor encheu o tabernáculo."

Não consigo imaginar a sua aparência, mas deve ter sido uma

luz ofuscante. Por sua presença, os hebreus sabiam que Deus estava

presente. Deus apareceu também diante deles durante a peregrinação pelo

deserto na forma de uma nuvem durante o dia, e como uma sólida coluna de

fogo de noite. Mas quando a construção do tabernáculo terminou e a

presença de Deus passou a habitar o Santo dos Santos, ela veio na forma

de uma luz brilhante, causticante, chamada de "shekinah" de Deus. Tão

tremenda era a luz que adentrá-la de forma imprópria significava morte

repentina.

Continuando nossa busca através das Escrituras, descobrimos

um segundo e igualmente significativo uso de glória. Em 1 Coríntios,

capítulo 15, encontramos a existência de uma glória que se refere à

representação singular ou aparência distinta, usada com relação aos

corpos celestiais.

“Nem toda carne é a mesma: uma é a carne dos homens, e outra

a dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes. E há corpos

celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a

dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a

glória das estrelas; uma estrela difere em glória de outra estrela”

(15:39-41).

Que fascinante! Existe algo acerca dos espaços estelares que

representa um tipo particular de glória. Essas estrelas e sóis e planetas

têm uma aparência que revela uma glória distinta e tremenda. Mas quando

se trata dos alvos de nossas vidas ou do propósito da igreja, não estamos

falando de uma luz brilhante nem de uma representação distinta da glória

em corpos terrestres ou celestiais.

Quando se refere ao propósito final da igreja, essa glória

significa engrandecer, elevar, irradiar fulgor ou esplendor sobre Alguém.

Portanto, o que significa para a igreja ou para cada cristão

individual glorificar a Deus? Significa engrandecer, exaltar ou elevar o

Senhor nosso Deus ao mesmo tempo em que nos humilhamos, e acatar a sua

sabedoria, a sua autoridade.

Page 10: A Noiva de Cristo

Isso foi lindamente ilustrado por João Batista, que disse

certa vez: "E necessário que ele cresça, e que eu diminua" (João 3:30).

Que modelo maravilhoso foi João! Ele foi apenas a voz, mas

exaltou o Senhor Jesus como o Verbo. João disse que era uma lâmpada; mas,

para ele, Jesus era a Luz. João era apenas um homem, Jesus era o Messias.

João de boa vontade perdeu sua congregação para o Senhor. Todos os seus

congregados seguiram a Jesus... e João desejou que isso acontecesse. De

fato, quando os sacerdotes e os levitas lhe perguntaram sobre sua

identidade, o diálogo que se seguiu foi esclarecedor:

“João respondeu... EU SOU A VOZ DO QUE CLAMA NO DESERTO:

ENDIREITAI O CAMINHO DO SENHOR. Ora, alguns dos fariseus que tinham sido

enviados perguntaram-lhe: Então por que batizas, se não és o Cristo, nem

Elias, nem o profeta ? João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de

vós está alguém que não conheceis. Este é aquele que vem após mim, do

qual eu não sou digno de desataras correias das sandálias" (João 1:2327).

Nem uma só vez João Batista buscou a glória que pertencia

apenas ao Messias. Em suas próprias palavras, ele se considerava indigno

de até mesmo desatar as correias das sandálias do Messias. Tudo isso me

leva a crer em algo que nunca ouvi ninguém ensinar, embora esteja

entretecido por toda a Escritura: Não posso ao mesmo tempo aceitar glória

e dar glória a Deus. Não posso ao mesmo tempo esperar e desfrutar a

glória, se determinar naquele instante dar a Deus a glória. Glorificar a

Deus significa estar ocupado e comprometido com seus caminhos, em vez de

preocupado com e determinado a seguir meu próprio caminho. E estar tão

entusiasmado com Deus, tão dedicado a Ele, tão comprometido com Ele que

não podemos ter o suficiente dele!

Isaías 55 é um capítulo maravilhoso da Bíblia. Não é dirigido

a pessoas que se satisfazem com um golinho, uma provinha de Deus. É um

convite àqueles que têm sede dele... que estão prontos a sorver tudo o

que Deus tem. E por isso que o profeta começa com "O VOS" (Ouçam todos!

Prestem muita atenção!)

“Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que

não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei” (versículo 1)

Entenda que esta não é uma água literal. Tampouco o dinheiro

é literal. Esta é uma bela poesia hebraica, portanto você deve entender

tudo isso de forma simbólica. Leia-a com o coração de um poeta.

“Vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por

que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o produto do vosso

trabalho naquilo que não pode satisfazer”?

(Eis aí outra pergunta do tipo "por que" digna de ser

investigada.)

Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se

deleite com a gordura.

Agora leia cuidadosamente os próximos quatro versículos:

“Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto

está peno. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus

pensamentos. Converta-se ao Senho7; que se compadecerá dele, e torne para

o nosso Deus, pois grandioso é em perdoar. Pois os meus pensamentos não

são os vossos pensamentos...” (versículos 6-9).

Page 11: A Noiva de Cristo

É possível conduzir uma "operação eclesiástica" que atraia o

público, reúna uma multidão e faça com que as pessoas continuem vindo?

Pode acreditar que sim! Podemos usar todas as coisas sofisticadas que

funcionam no sistema do mundo e obter os mesmos resultados - elas trarão

gente até de debaixo das pedras! Se você não acredita nisso, é porque não

tem visto alguns dos programas religiosos da TV que seguem esse estilo a

maioria deles com uma enorme plateia de telespectadores. A próxima vez

que assistir a um desses, pergunte-se deliberadamente: "Quem está

recebendo a glória nesse ministério?" Sabe, se exercermos o ministério à

nossa moda, não será para a glória de Deus, porque (como acabamos de ler)

nossos caminhos não são os seus caminhos. Seus caminhos são tão mais

elevados e mais puros e mais estranhamente invisíveis que, quando

finalmente resolvermos conduzir uma igreja pelo caminho de Deus, o mundo

literalmente se deterá e prestará atenção. O contraste repentino e a

singularidade o estarrecerá. A tremenda glória de Deus será toda a

atração necessária para criar um interesse nas coisas espirituais.

Davi, no Salmo 145, escreveu isso de forma um pouco

diferente. Tente imaginar uma congregação comprometida com esse tipo de

adoração -- no qual exaltar o Senhor vivo é literalmente seu maior

deleite.

“Eu te exaltarei, ó Deus, rei meu; Bendirei o teu nome pelos

séculos dos séculos. Cada dia te bendirei, E louvarei o teu nome pelos

séculos dos séculos. Grande é o Senhor, e mui digno de louvor; A sua

grandeza é insondável. Uma geração louvará as tuas obras a outra geração;

Anunciarão as tuas proezas. Falarão do glorioso esplendor da tua

majestade, E meditarei nas tuas obras maravilhosas. Falarão da força dos

teus feitos tremendos, E proclamarei a tua grandeza . Publicarão

abundantemente a memória da tua grande bondade, E cantarão a tua retidão”

(versículos 1-7).

São essas as palavras de um homem que verdadeiramente

entendia o que significava dar glória a Deus. Pena que nem todos os

ministros de Deus sejam cortados por esse mesmo molde!

As coisas não iam tão bem para Davi no Salmo 86. Parecia que

o fundo do barco de sua vida havia caído. Neste salmo, ele está nas

profundezas, olhando para cima. E o mesmo homem dirigindo-se ao mesmo

Deus, mas a aflição e as dificuldades subiram a bordo. Contudo, este

cântico é escrito com o mesmo espírito de louvor. As circunstâncias não

mudaram o seu estilo.

“Inclina, ó Senhor, os teus ouvidos, e ouve-me, Pois sou

pobre e necessitado. Guarda a minha alma, pois sou fiel a ti. Tu és o meu

Deus; salva o teu servo, que em ti confia. Tem misericórdia de mim, ó

Senhor, Pois a ti clamo o dia todo. Alegra a alma do teu servo, Pois a

ti, Senhor, elevo a minha alma. Tu, ó Senhor, és bom e pronto a perdoar,

E abundante em amor Para com todos os que te invocam. Dá ouvidos, ó

Senhor, à minha oração; Atende á voz das minhas súplicas. No dia da minha

angústia clamarei a ti, Pois me responderás. Entre os deuses não há

semelhante a ti, ó Senhor; Não há obras como as tuas. Todas as nações que

fizeste Virão e se prostrarão Perante a tua face, ó Senhor; Glorificarão

o teu nome. Pois tu és grande e operas maravilhas; Só tu és Deus (Salmo

86:1-10).

Amo a coerência desse homem. Quer em dias de deleite (Salmo

145), quer em dias de aflição (Salmo 86), a glória foi para o Senhor, seu

Deus. Você não aprecia aquelas palavras finais: "Só tu és Deus"?

Page 12: A Noiva de Cristo

COMO TUDO ISSO SE APLICA?

Permita-me passar o restante deste primeiro capítulo

analisando a importância de se glorificar a Deus numa base pessoal. Tudo

isso pode-se aplicar à igreja em geral, mas será mais fácil apreender

esse Nosso Propósito 29 conceito se estudarmos sua importância em nossa

vida cristã individual. Quando finalmente vemos e abraçamos o propósito

da nossa existência, passamos a perceber que glorificar a Deus se aplica

a cada detalhe da vida. Comecemos com os "quandos" da vida.

Quando estou inseguro, glorifico a Deus buscando a sua

vontade e depois esperando por sua orientação. Quando preciso tomar uma

decisão, apoio-me em sua Palavra para obter orientação e em seu Espírito

para obter força. Alguns exemplos? Pode escolher: selecionar um emprego,

encontrar um lugar para morar, determinar que carro dirigir, focalizar um

alvo para atingir. Decido cada uma dessas coisas somente para a glória de

Deus. Que tal esta? Quando a aflição e o sofrimento me sobrevêm. Ou,

quando busco uma formação acadêmica - tudo para a glória dele, não para a

minha. O mesmo se aplica à escola que frequento, os cursos que faço, o

diploma que busco, a carreira que enfim abraçarei. Quando surge algum

assunto que requer minha resposta, sua glória deve estar em minha atitude

e entremeando minha resposta. Quando estou pensando e planejando. Quando

ganho ou perco. Quando preciso desistir de um sonho ou percebo que é

melhor me afastar sem lutar por meus direitos, rendo-me voluntariamente.

Por quê? De novo, a mesma resposta - para a glória de Deus. A

seguir, apliquemos isto aos "ems" da vida. Em minha vida pública ou

negócios particulares, busco a sua glória. Em relacionamentos que me

agradam ou desafiam, são todos para a sua glória. Em meu lar, em meu

trabalho, em minha escola, em viagens, bem como em ficar sozinho ao

ocupar um lugar pequeno e monótono. Em minha pesquisa, meus estudos, meus

trabalhos acadêmicos, meu preparo para os exames, em prestar os exames,

receber uma nota e praticar uma profissão - tudo para a sua glória. Em

fama e fortuna, aplauso e apreciação públicos, bem como naqueles dias

quando tudo se desvanece, tudo é, repito, para a sua glória.

Adiantemo-nos mais um passo para incluir todos os "ses" da

vida. Se alguém que eu amo fica ou parte, Deus recebe a glória. Se uma

causa que apoio arrebata os corações de outros ou cai envolta em chamas,

Deus recebe a glória. Se os planos que faço são bem sucedidos ou

fracassam, ou precisam ser alterados, focalizo em que Deus seja

glorificado, independente do que acontece. Se a igreja na qual estou

envolvido cresce ou deixa de crescer, Deus recebe a glória. Se, como

pastor, isso significa que tenho de partir para dar lugar à pessoa certa,

Deus recebe a glória. Se isso significa que fico, a despeito das

desvantagens, Deus recebe a glória.

Meu tema permanente na vida? "A Deus seja dada glória pelas

coisas que Ele fez."

COMO É QUE ISSO OCORRE?

Você sabia que acabaríamos chegando a essa pergunta, não

sabia? Como fazemos tudo isso acontecer?

Obviamente, você não pode cumprir seu propósito simplesmente

lendo este capítulo vez após vez. Isso não ajudará, nem de longe. Se

entendo corretamente o que você está pensando, seu interesse está em

personalizar esta verdade de maneira tão eficaz que termine sua vida como

Jesus, que disse no final da dele: "Eu te glorifiquei na terra" (João

17:4a). Ele resumiu toda a sua vida nessas cinco palavras maravilhosas. A

pergunta é: como podemos fazer o mesmo?

Page 13: A Noiva de Cristo

Embora correndo o risco de simplificar demais as coisas,

gostaria de dar três sugestões para ajudar a fazer com que isso aconteça.

Acredite, elas são tanto realistas quanto viáveis. Como ocorre o ato de

glorificar a Deus ?

Primeiro: Cultivando o hábito de incluir o Senhor Deus em cada

segmento de sua vida.

Esse tem de ser um pensamento consciente e constante. E assim

que os hábitos são formados. Talvez ajude escrever esta pergunta

penetrante em diversos cartões-ficha: DEUS ESTA RECEBENDO A GLORIA?

Coloque um cartão no quebra-luz do seu carro, outro sob o vidro que

recobre sua escrivaninha, um terceiro no espelho do seu banheiro, e outro

na frente da pia onde os pratos são lavados ou sobre o fogão, onde as

refeições são preparadas. Deus está recebendo a glória? Estou dando

glória a Deus por este momento?

Aprecio as palavras de Richard Bube:

“O homem não pode servir a si mesmo e a Deus. A corrupção da

natureza humana produz uma vontade própria que volta o homem contra Deus

e glorifica a capacidade humana no lugar da graça de Deus. Orgulho e

egoísmo são as características da natureza humana que exige ter todas as

coisas feitas a seu modo. O primeiro passo para servirmos a Deus da

maneira como Ele gostaria que o fizéssemos, portanto, requer que

constantemente abandonemos as exigências do eu e entreguemos nossos

desejos ao Senhor”.

Lembro-me, quase como se tivesse sido na semana passada, do dia

em que acordei para o fato de que meu cristianismo não se limitava aos

domingos. Era um estilo de vida contínuo. O domingo apenas deveria ser um

dos sete dias de cada semana que tinha impacto sobre mim. E possível que

você ainda tenha de dar um passo definitivo na direção de glorificar a

Deus em seu trabalho ou no relacionamento com seu colega de dormitório na

faculdade ou seu cônjuge em casa. Insisto com você para abrir a porta de

cada armário, cada cômodo de sua vida, e permitir que a glória de Deus

entre. Como isso ocorre?

Segundo: Recusando-se a esperar ou aceitar qualquer glória que

pertença a Deus.

Leia isso de novo, desta vez mais lentamente, mais

profundamente. E bom lembrar que a carne (sua natureza carnal) é muito

criativa e egoísta. Pense nela como uma enorme esponja, pronta e disposta

a absorver toda a glória. Ela sabe enganar muito bem, agindo como se

fosse humilde, enquanto o tempo todo ama os afagos. Ela os espera. E

ambiciosa. E cheia de energia. Procura oportunidades de agarrar a glória

que somente a Deus pertence. A carne não é seletiva. Não se importa de

receber a glória por coisas que parecem espirituais, ou atos religiosos.

Quem sabe quantos sermões já foram pregados na carne? Eu certamente já

preguei alguns, devo confessar. Ademais, escondendo meus motivos,

consigo, por meio da habilidade com o público, manipular a congregação

para fazer uma porção de coisas que quero ver feitas. E posso passar por

cima disso tão eficazmente que as pessoas pensarão que o estão

fazendo da maneira de Deus, para o propósito de Deus, quando na realidade

estão fazendo a minha vontade, e eu recebo a glória. Posso de fato tomar

a glória que só Deus merece.

Estou sugerindo uma maneira melhor na qual já não esperemos ou

aceitemos qualquer parte da glória que pertence a Deus. A glória de Deus

é só dele, por isso asseguremo-nos de que Ele receba toda ela daqui por

diante! De novo, como isso ocorre?

Terceiro: Mantendo com Deus um relacionamento prioritário mais

importante do que qualquer outro na terra.

Page 14: A Noiva de Cristo

Você pode ser mais chegado a um filho seu do que a Deus. Pode

passar mais tempo com sua esposa ou marido do que jamais passou com Deus.

Pode preocupar-se mais com a segurança e felicidade futuras e bem-estar

final de sua família do que com a vontade de Deus para sua vida pessoal.

Não há nada de errado com amar sua família ou planejar o futuro dela, mas

se você tem o desejo sincero de glorificar a Deus, então preciso lembrá-

lo de que Ele espera ter um relacionamento prioritário. O mesmo poderia

ser dito de qualquer outro relacionamento terrestre que se tornou forte a

ponto de competir com seu relacionamento com Deus. Se entendo

corretamente os ensinamentos de Jesus referentes ao relacionamento com o

Deus vivo, devo saber que ele é tão importante que nada pode interpor-se

ou vir adiante dele. Nada.

Negar o próprio eu é uma tarefa difícil. De forma idealista,

aprendemos isso em casa. Algum tempo atrás terminei de ler a biografia

clássica do famoso general confederado, Robert E. Lee, escrita por

Douglas Southall Freeman. O livro é intitulado simplesmente Lee. Quase no

final do livro, aparece este eloquente parágrafo:

Da humildade e da submissão nasceu um espírito de abnegação

que o preparou para as provações da guerra e, ainda mais, para a sombria

penúria, o equivalente espiritual do autocontrole social que a mãe lhe

havia inculcado na meninice, e que cresceu em poder por toda a sua vida.

Uma jovem mãe lhe trouxe seu bebê para ser abençoado. Ele tomou o infante

em seus braços e fitou-o, depois fitando-a, disse lentamente: "Ensine-lhe

que ele precisa negar a si mesmo."

Estamos de volta ao credo de João Batista: "E necessário que

ele cresça, e que eu diminua." E preciso que seja para a glória dele, não

a minha. Em vez de ir correndo à frente para conseguir as coisas a meu

modo, ele precisa ser o primeiro. Eu preciso diminuir, ele precisa ser

elevado. Para a sua glória, preciso ocupar qualquer posição para a qual

ele me designar. Sou o servo, ele é o Senhor. Esta não é uma mensagem

popular, mas certamente precisa ser transmitida em todas as direções.

Quer-me parecer que ajudaria se eu concluísse este primeiro

capítulo com um plano de ação tríplice para fazer com que tudo isto

aconteça.

Primeiro, para ajudá-lo a cultivar o hábito de incluir o Senhor

Deus em todos os segmentos de sua vida, encontre-se com Ele

frequentemente e a sós.

Confesso francamente que é fácil escorregai" nesta área. Vivemos

numa época ocupada. Nosso mundo vai em ritmo acelerado. Não pensamos

naturalmente em passar tempo com Deus a sós e com frequência; em geral,

temos alguma outra coisa desviando nosso tempo e atenção. Não obstante,

ainda estou sugerindo a solidão. Pode não ser por duas horas de uma só

vez. Poucos de nós temos esse tempo disponível numa semana, para não

dizer todos os dias. Talvez você tenha apenas quinze minutos disponíveis,

e esses momentos talvez tenham de ocorrer enquanto você está no carro.

Para ser bem franco, você talvez tenha de se conformar com o banheiro.

Seja onde for, encontre algum lugar onde você possa trancar-se para se

encontrar a sós com Deus. Talvez tenha de levantar-se um pouco mais cedo.

Ou quando a vida se acalma e a poeira assenta no fim do dia, talvez você

descubra que tarde da noite é a melhor hora. Desligue a televisão e o

rádio, e então, em absoluto silêncio, converse com Deus sobre este hábito

de inclui-lo em cada segmento do seu mundo. Especifique os compartimentos

de sua vida que você deseja que Deus invada quando estiver a sós com Ele.

Para que a segunda sugestão possa funcionar, isto é, a de

recusar-se a esperar ou aceitar qualquer parte da glória, admita

abertamente sua luta com o orgulho.

Page 15: A Noiva de Cristo

Se você se reúne com um grupo a quem tenha de prestar contas,

confesse sua tendência de buscar a glória. E bom contar a eles. Conte à

sua família. (Eles são bons em lembrar-lhe quando o orgulho ressurge: "Aí

está ele de novo, papai.") Portanto, admita-o francamente. Ninguém jamais

tratou plenamente a questão do orgulho enquanto não admitiu primeiro:

"Tenho um problema nesta área."

Para cumprir a terceira sugestão, a de manter um relacionamento

prioritário com Deus, filtre tudo através da mesma pergunta: Isto trará

glória a Deus ou a mim? Repasse mentalmente essa pergunta com

regularidade.

Obviamente, fazer a pergunta implica em uma resposta honesta de

sua parte. Agora tenho boas notícias e más notícias. Sabendo que a

maioria de nós preferiria saber as más notícias primeiro, aqui vai: Você

pode fingir isso! Pode, na realidade, agir por trás de uma máscara

invisível e disfarçar isso alegando dar glória a Deus! A maioria das

pessoas que conheço consegue lembrar-se de uma época em que fingiu assim.

Eu certamente consigo! Podemos parecer muito piedosos. Podemos soar muito

humildes.

Eugene Peterson escreve:

Anne contou a história de um senhor de meia-idade de Baltimore

que passava pelas vidas das pessoas com impressionante pose e perícia em

assumir papéis e gratificar as expectativas. O enredo começa com Morgan

observando um programa de marionetes no gramado da frente de uma igreja

numa tarde de domingo. Alguns minutos depois que o programa havia

começado, um jovem sai de trás do palco das marionetes e pergunta: "Há

algum médico presente?" Após trinta ou quarenta segundos de silêncio da

plateia, Morgan se ergue, lenta e deliberadamente se aproxima do jovem e

pergunta: "Qual é o problema?" A esposa grávida do artista está em

trabalho de parto; o parto parece iminente. Morgan coloca o jovem casal

no banco de trás de sua perua e ruma para o Hospital Johns Hopkins. Na

metade do caminho, o marido exclama: "O nenê está saindo!" Morgan, calmo

e confiante, estaciona no meio-fio, envia o quase papai à esquina para

comprar um jornal de domingo como substituto para toalhas e lençóis, e

faz o parto. Em seguida ele os leva ao pronto-socorro do hospital, coloca

o bebê e a mãe cuidadosamente numa maca, e desaparece. Depois que as

coisas se acalmam, o casal pede para falar com o Dr. Morgan. Quer

agradecer-lhe. Ninguém tinha ouvido falar em nenhum Dr. Morgan. Os jovens

ficam intrigados e frustrados por não poderem expressar sua gratidão.

Alguns meses mais tarde, eles estão empurrando o bebê num carrinho e veem

Morgan caminhando no outro lado da rua. Correm a cumprimentá-lo,

mostrando-lhe o bebê saudável que ele trouxe ao mundo. Eles lhe contam

quanto o procuraram, e da incompetência burocrática do hospital em

localizá-lo. Num impulso inusitado de honestidade, ele admite não ser de

fato um médico. Na realidade, ele administra uma loja de ferragens, mas

eles precisavam de um médico e ser médico naquelas circunstâncias não era

tão difícil assim. E uma questão de imagem, disse-lhes ele; você discerne

o que as pessoas esperam e se encaixa nela. Você consegue fazer isso em

todas as profissões honradas. Morgan tem feito isso toda a sua vida,

personificando médicos, advogados, pastores e conselheiros na medida que

as situações se apresentam. Então ele confidencia: "Sabem, eu jamais

fingiria ser um encanador, ou personificaria um açougueiro pois eu seria

desmascarado em vinte segundos."

Pode crer, se Morgan consegue fazer um parto, você consegue

fingir dar glória a Deus. Imploro-lhe, não faça isso! Esse fingimento

voltará para atormentá-lo. Não sei de nada que nos faça sentir mais

Page 16: A Noiva de Cristo

vazios ou mais miseráveis do que fazer um papel não autêntico por trás de

uma máscara. Embora você consiga fingir, não o faça!

A boa notícia é que você pode conseguir. Deus não zomba de nós.

Ele jamais nos dá um alvo que não podemos alcançar em sua força. Quero

assegurar-lhe que você pode glorificar a Deus, deve glorificar a Deus.

Mas você precisa determinar bem no fundo do coração que vai fazê-lo à

maneira dele. E isso mesmo, à maneira dele.

Examinamos nosso propósito como igreja. E, num nível mais

pessoal, examinamos como esse propósito pode tornar-se realidade em cada

uma de nossas vidas. Deixe-me lembrar-lhe que, em qualquer dos casos,

podemos postar-nos ao lado do Cristo todo-poderoso como sua Noiva e

podemos realizar mudanças extensas em nós mesmos e em nosso mundo. Vamos

fazê-lo. E jamais nos esqueçamos que isso precisa ser feito na força de

Deus e

para a sua glória.

R E F L E X Õ E S

1. Tire um momento para escrever todas as suas atividades e

responsabilidades associadas ao ministério de sua igreja local. Agora,

tão honestamente quanto for capaz, entre você e o Senhor, faça a si mesmo

a pergunta "Por quê": Por que você está envolvido em cada um desses

trabalhos? Quais são as razões profundas? Se uma reflexão em oração

revelar motivos que não sejam para glória do seu Deus converse com Ele

sobre isso. Busque a purificação e a capacitação de Deus para

redirecionar seus olhos rumo ao propósito mais elevado de todos.

2. O que significa para você aceitar (ou solicitar!) glória que

por direito pertence ao Senhor Deus? Quais são algumas das maneiras sutis

em que você pode estar fazendo exatamente isso? Seja honesto consigo

mesmo.

3. Lembrando-se do modelo de João Batista, determine para as

duas próximas semanas diversas maneiras práticas em que você pode viver a

verdade que ele tinha como alvo em sua vida: "E necessário que ele

cresça, e que eu diminua" (João 3:30). Se tiver oportunidade, discuta

esta questão crítica com seu cônjuge ou com um amigo cristão. Discuta

algumas ideias, e depois peça que essa pessoa "cobre isso" umas duas

vezes para ver como você está progredindo em sua recente determinação de

dar a Deus mais glória.

Capítulo Dois

NOSSOS OBJETIVOS

O ministério é como o mercúrio... difícil de controlar. E se a

gente usá-lo da forma errada, pode fazer mal às pessoas. Escorregadio e

perigoso, o ministério precisa ostentar uma placa como as que aparecem

nessas lojas de porcelana cara. Certo Natal, eu procurava um presente

numa dessas lojas. O lugar era elegante. Belas peças de cristal,

primorosas estatuetas de vidro e uma vasta coleção de porcelana importada

eram lindamente exibidas em prateleiras de vidro recém-espanadas. Era uma

dessas lojas impecáveis nasquais você sente que deve prender a respiração

enquanto desliza de corredor em corredor. Seu maior temor é tirar o

delicado equilíbrio de um Lladro ou sem querer esbarrar-se com o canto de

uma prateleira que contém alguns modelos de porcelana Limoges.

Diversas plaquinhas por toda a loja proclamavam mensagens como

"Frágil!" "Favor Pedir Ajuda" e até mesmo "Não Toque". E havia placas bem

maiores que diziam: "FAVOR SEGURAR AS MÃOS DAS CRLANÇAS." A simpática

Page 17: A Noiva de Cristo

senhora que tomava conta do lugar estava nervosa como bruxa em igreja.

Ela parecia mais preocupada em proteger sua mercadoria do que em vende-

la. Toda criança que entrava, mesmo que firmemente segura pela mão da

mãe, recebia um olhar feio de Irene Irritável, desses de paralisar

qualquer pessoa. Perguntei-me o que ela fazia quando tínhamos um daqueles

nossos famosos terremotos de 5.6. Provavelmente entregava o espírito. Eu

mal podia esperar para cair fora dali.

É engraçado, mas a maioria das pessoas não pensa no ministério

como frágil ou potencialmente perigoso. Talvez seja por isso que tantos

ficam feridos por tipos descuidados que passam como furacão pela igreja,

ignorando as placas e desculpando-se por sua agressividade. As

consequências trágicas estão em toda a nossa volta. E uma vergonha que

algumas pessoas achem ter o direito de fazer o que bem entendem só porque

o manto da liderança religiosa foi colocado sobre elas.

Minha esperança em tratar destes assuntos é aumentar nossa

conscientização de como Deus planejou que a igreja funcionasse e o que

precisamos fazer para mantê-la no rumo certo. E verdade, as portas do

inferno não prevalecerão contra ela. Obviamente, a igreja está aqui para

ficar. Mas isso não significa que podemos fazer o que quisermos sem que

ocorra nenhum dano. Abra seus olhos e dê uma olhada ao redor. Visite

algumas dúzias de ministérios espalhados pelo país. Ouça o que está sendo

dito, promovido ou ensinado em lugares que se esqueceram de seu propósito

básico. Pergunto: E isso o que Deus tinha em mente quando seu Filho

deixou a terra e delegou o trabalho do ministério ao grupo de homens que

o seguia? O conceito atual de igreja é uma representação correta do que

glorifica o nome de Deus? Duvido.

DEZ DECLARAÇÕES SOBRE O MINISTÉRIO

Enquanto eu pesquisava para este livro, deparei-me com um ótimo

e prático volume escrito por dois pastores, Warren e David Wiersbe, pai e

filho, respectivamente. Eles lhe deram um título apropriado, Making Sense

of the Ministry (Captando o Sentido do Ministério). Naquelas páginas

encontram-se comentários perspicazes que todos os envolvidos no

ministério deveriam ler. Estou em dívida para com os Wiersbes pela lista

que se segue, que decorei. Cheguei até a sugerir que a congregação de

Fullerton fizesse o mesmo. Temos aqui dez declarações sobre o ministério

que são essenciais mas facilmente esquecidas; e quando o são, as coisas

desandam. Leia-as lenta e cuidadosamente. Pense nelas como placas que

avisam "Manuseie com Cuidado".

1.O fundamento do ministério é o caráter.

2.A natureza do ministério é o serviço.

3.O motivo do ministério é o amor.

4.A medida do ministério é o sacrifício.

5.A autoridade do ministério é a submissão.

6.O propósito do ministério é a glória de Deus.

7.As ferramentas do ministério são a Palavra de Deus e a oração.

8.O privilegio do ministério é o crescimento.

9.O poder do ministério é o Espírito Santo.

10. O modelo do ministério é Jesus Cristo.

Raramente faço previsões, mas aqui vai uma que posso oferecer

sem hesitação. Se você decorar essa lista, revisá-la pelo menos uma vez

por mês pelo resto da vida, e aplicá-la com regularidade, terá pouca

dificuldade em manter-se no rumo certo. Você descobrirá que muitas das

coisas com as quais já se preocupou ou se envolveu demais (ás custas de

coisas essenciais que mereciam seu tempo e atenção) se desvanecerão

Page 18: A Noiva de Cristo

silenciosamente. Você sentirá também uma renovação da confiança em sua

vida ao voltar às coisas que importam no ministério. De fato, você pode

vir a surpreender-se com quanto é breve e simples o número de objetivos

principais que existem no ministério. Chega a ser excitante! Seu

entusiasmo retornará à medida que seu fardo ficar mais leve. Você poderá

até vibrar de novo. Tudo bem... a maioria de nós lucraria com um pouco de

vibração. Concordo com o falecido Bispo Handlcy Moule, que disse certa

vez: "Eu preferiria conter um fanático do que aquecer um defunto." 9

QUTRO OBJETIVOS IMPORTANTES COMO IGREJA

Correndo o risco de supersimplificar as coisas, sugiro que há

nada menos do que quatro objetivos importantes quando se trata do

ministério da igreja. Seja o que for que fizermos, deve estar dentro dos

parâmetros desses objetivos. Encontro-os entremeando as palavras do Dr.

Lucas registradas quase no final do segundo capítulo de Atos.

“Os que de bom grado receberam a sua palavra foram batizados, e

naquele dia agregaram-se quase três mil almas. E perseveravam na doutrina

dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma

havia temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos.

Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas

propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada

um. Perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em

casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus,

e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à

igreja aqueles que iam sendo salvos” (Atos 2:41-47).

Anos atrás, quando nossos filhos eram pequenos, assinamos uma

revista infantil mensal. Invariavelmente, assim que ela chegava,

sentávamos no chão de nossa casa e procurávamos a página que tinha um

quadro com dez a doze "desenhos ocultos" dentro de um desenho maior. As

crianças e eu passávamos quase uma hora localizando todos os desenhos

menores dentro da cena maior.

Quando leio este relato em Atos 2, encontro os quatro objetivos

principais da igreja dentro do quadro maior. Falando do quadro maior, é

útil entender que este é o primeiro momento da história da igreja de que

temos registro. Na realidade, é a passagem bíblica de referência, já que

o nascimento da igreja é estabelecido em Atos 2. O Espírito Santo desceu

sobre os que estavam no cenáculo (Atos 2:1-4), concedendo àqueles homens

anteriormente temerosos e tímidos grande audácia para declarar as

palavras de vida ao povo das ruas de Jerusalém (versículos 5-13). Depois

disso, Pedro levantou-se e pregou o evangelho num sermão que foi breve

mas poderoso (versículos 14-36), resultando na salvação de cerca de três

mil pessoas (versículos 37-41). Esse é o quadro maior que serve de fundo

às palavras que estamos examinando.

Ali estavam quase três mil novos crentes, sem prédio onde se

reunir, sem pastor, sem senso de direção, sem conhecimento da vida

cristã, sem constituição eclesiástica, sem conjunto de credos, sem

compreensão da presença ou do poder do Espírito Santo, com uma Bíblia

incompleta... eles não tinham nada! Contudo constituíram os membros

fundadores da igreja. A partir deste corpo original de quase

três mil almas, a chama se espalhou por todo o mundo. E desta narrativa

original de suas atividades podemos compilar o primeiro (e portanto mais

puro) conjunto de objetivos. Há quatro deles.

Para manter tudo simples e fácil de lembrar, deixe-me sugerir

uma sigla, CACE.

C -- Culto

Page 19: A Noiva de Cristo

A -- Aprendizagem

C -- Comunhão

E --Expressão

Ao lermos o versículo 42, todos os quatro objetivos surgem. E

então, ao terminarmos o capítulo (versículos 43-47), cada um deles é

ilustrado. Esses objetivos principais ainda são relevantes, ainda

constituem o ministério da igreja. Ao buscarmos a glória de Deus, nosso

propósito básico, focalizamos o alvo quádruplo de culto, instrução,

comunhão e expressão.

"C" REPRESENTA CULTO

Examine mais de perto a passagem que acabamos de ler e observe

como o desenho escondido de culto aparece.

E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir

do pão e nas orações (versículo 42).

Quando escreve que eles "perseveravam", Lucas usa um termo grego

que sugere uma fidelidade constante, sincera. A mesma palavra original

aparece em Atos 1:14 e 6:4, ambas as vezes referindo-se à oração. Quando

os primeiros santos se reuniam, intensidade e ardente devoção se

misturavam com apaixonada dedicação. Seu culto não era uma produção

desanimada aprendida de cor. Eles participavam. Eles "mandavam ver"!

O versículo 42 menciona que eles partiam o pão e oravam juntos.

O resultado imediato era que "em cada alma havia temor" (versículo 43).

Literalmente, o texto grego diz: "Um medo veio a estar em toda alma."

Havia uma tremenda consciência da presença santa de Deus. Um respeito

saudável e um temor de Deus permeavam tudo. Será que tudo era sombrio e

moroso? De forma alguma. Lemos nesse mesmo relato sobre sua "alegria" e

"singeleza" (ou simplicidade) de coração, e do louvor a Deus que resultou

em caírem eles "na graça de todo o povo" (versículo 47). A cena é de

júbilo espontâneo e reações incontidas de louvor.

Que gostoso! Que encantador! O Pai estava sendo exaltado. O

Filho estava sendo elevado. O Espírito trazia nova expressão de

liberdade. Há algo mais glorioso? Mais agradável?

O Senhor nosso Deus ainda busca a nossa adoração (João 4:23).

Ele ainda espera o louvor do seu povo... o maravilhoso culto dos seus

filhos. Ele ainda anela por habitar nossas casas de adoração. Mas, ai de

nós, o culto está se tornando depressa uma arte perdida, a jóia perdida

desta geração apressada e eficiente.

Em muitas (maioria?) igrejas há programas e atividades... mas

muito pouca adoração. Há cânticos, hinos e programas musicais... mas

muito pouca adoração. Há avisos, leituras e orações... mas muito pouca

adoração. Os cultos são regulares, mas monótonos e previsíveis. Os

eventos são conduzidos no horário, por pessoas bem intencionadas,

sustentados por gente que é fiel e dedicada... mas aquela ardente

expectativa e respeitoso deleite misturados com um senso misterioso de

temor ao Deus Todo-poderoso estão ausentes.

Antes de argumentar comigo, pare e pense. Sua igreja está

experimentando a verdadeira adoração? Você está frequentemente em

lágrimas ou à beira do êxtase... ou "tão absorvido em encanto, amor e

louvor" que se esquece momentaneamente de onde se encontra? Há realmente

uma liberdade em sua alma, uma avassaladora gratidão em seu espírito, uma

intensidade de oração que bloqueia tão completamente o não essencial que

você consegue concentrar-se sem a intromissão de quaisquer outros

pensamentos?

Pode acreditar, uma vez que você tenha provado a adoração, o

tipo de adoração que rouba o seu coração e concentra toda a sua atenção

Page 20: A Noiva de Cristo

no Senhor vivo, nada menos que isso satisfaz. Nada mais chega perto. Uma

vez que você tenha provado o verdadeiro culto, jamais vai querer brincar

de igreja novamente.

"A" REPRESENTA APRENDIZAGEM

Enquanto compilamos nossa lista de objetivos inspirados, não nos

atrevamos a omitir a coluna dorsal do corpo, a aprendizagem bíblica. O

relato de Atos 2 nos assegura que os cristãos primitivos "perseveravam na

doutrina dos apóstolos" (versículo 42). Vieram a ser conhecidos como "os

que criam" (versículo 44), o que sugere um corpo objetivo de verdades

mutuamente abraçadas. Segundo Atos 4:4, a igreja cresceu à medida que

"muitos... dos que ouviram a palavra, creram".

Mais tarde, quando os detalhes do cuidado ao rebanho de

Jerusalém se multiplicaram, os apóstolos continuaram a perseverar "na

oração e no ministério da palavra" (6:4). Nenhuma preocupação

corriqueira, nenhuma necessidade urgente, nenhuma prioridade, nem mesmo

as queixas no seio da assembleia diminuíram a ênfase sobre a instrução

bíblica. Nada fazia a liderança da igreja primitiva renunciar ao

ministério da Palavra.

As boas novas da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo eram

declaradas fielmente, tanto assim que novos convertidos eram

continuamente acrescentados à igreja. Mas havia mais do que a

apresentação do evangelho. Os cristãos também recebiam alimento sólido e

verdade mais profunda das Escrituras. Enquanto a igreja com todos aqueles

novos cristãos crescia, aumentava cada vez mais a necessidade de

instrução sólida da Palavra de Deus.

A mesma coisa certamente acontece hoje. Frequentemente,

ministros e igrejas perdem de vista a importância da instrução bíblica

sólida. Eles apresentam o evangelho, oferecem encorajamento, patrocinam

eventos, mantêm um calendário cheio de atividades, e ajudam os que

sofrem... nada errado com qualquer uma dessas coisas. Mas elas não devem

substituir a instrução do Livro. Ovelhas bem alimentadas têm maior

tendência de permanecer saudáveis. Ovelhas esfomeadas e abatidas são

presas fáceis para seitas, sem nem falar em sua incapacidade de

enfrentai' as numerosas batalhas das provações da vida.

Talvez você seja um ministro cujas responsabilidades incluem o

púlpito de uma igreja. Deixe-me enfatizar a importância de você dar alta

prioridade ao tempo que passa estudando, ao cultivo de sua habilidade

como expositor das Escrituras, e à declaração fiel e frequente da verdade

de Deus. A admoestação de Pedro: "apascentai o rebanho de Deus" (1 Pedro

5:2) precisa ser compreendida para incluir o lembrete de Paulo: "prega a

palavra... a tempo e fora de tempo" (2 Timóteo 4:2). Torne-se conhecido

como um mestre fiel da Bíblia, alguém que alimenta o rebanho com uma

dieta sólida e equilibrada de verdade bíblica.

Falar em ser diferente! Nestes dias de sermões superficiais,

devocionais açucarados e críticas carregadas de emoção, aos quais falta

substância bíblica, se você preparar e pregar mensagens interessantes que

sejam fundamentadas nas Escrituras, acabará ficando famoso na sua

comunidade. Mais importante do que isso, seu rebanho ficará mais bem

equipado para assistir e servir eficazmente na obra do ministério.

Preciso avisá-lo, entretanto: Uma vez que as ovelhas tenham sentido o

gosto da boa Palavra de Deus, vão querer mais e mais... portanto, esteja

pronto para um compromisso por toda a vida com um púlpito vigoroso.

Depois que nossos filhos experimentaram picanha, raramente quiseram carne

de segunda de novo.

Page 21: A Noiva de Cristo

Múltiplos benefícios florescem no solo deste tipo de ensino e

pregação bíblicos. Meia dúzia deles me vêm à mente. A instrução sólida e

constante da Palavra de Deus:

Dá estabilidade à nossa fé

Estabiliza-nos nas horas das provações

Capacita-nos a usar a Bíblia corretamente

Equipa-nos para detectar e confrontar o erro

Torna-nos confiantes em nosso caminhar

Acalma nossos temores e cancela nossas superstições.

Estou plenamente consciente de que um compromisso com a

instrução pode ser enfatizado em excesso, a ponto de a igreja se tornar

pouco mais do que uma classe de estudo bíblico. A maioria de nós já viu

exemplos disso, motivo pelo qual não devemos nos esquecer que este é um

dos quatro principais objetivos da igreja, não o único. A igreja deve ser

uma comunidade de aprendizagem ao lado de uma comunidade de adoração.

Deixar de fora a adoração e diminuir o alcance e compaixão necessários ao

equilíbrio, enquanto se focaliza o tempo todo apenas o aumento do

conhecimento da Palavra, é investir por um extremismo que Deus jamais

projetou para seu povo. Isso é instrução deteriorada... uma experiência

que sobe à cabeça e faz pouco mais do que exacerbar o orgulho e

transformar a congregação num clube exclusivista. Que nós não apenas

despertemos para os nossos objetivos como também nos conscientizemos do

risco de perder o equilíbrio.

Antes de deixar este objetivo, talvez fosse útil acrescentar

diversas maneiras de saber quando a instrução está caminhando para um

extremo doentio. Há três situações que merecem ser observadas.

Primeiro, quando o conhecimento permanecer teórico, cuidado. Ele

logo gerará indiferença ou arrogância.

Segundo, quando a pregação e o ensino não são equilibrados pelo

amor e pela graça, cuidado. A intolerância não está longe.

Terceiro, quando o ensino se torna um fim em si mesmo, cuidado.

Nesse ponto, a instrução bíblica está chegando perigosamente perto de ser

bibliolatria.

DOIS OUTROS OBJETIVOS COMPLETAM O QUADRO

Não tentarei desenvolver os dois outros objetivos enquanto não

chegarmos ao próximo capítulo. Como talvez se lembrem, eles são a

comunhão e a expressão, representando a dimensão horizontal do ministério

da igreja. Os dois primeiros (culto e instrução) são mais de natureza

vertical. Mas esses últimos dois objetivos nos tornam mais íntimos e mais

pessoais que os outros. Como veremos no capítulo 3, a comunhão revela que

a igreja é um rebanho desvelado. Mesmo na congregação mais primitiva,

encontramos esta qualidade.

“Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.

Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a

necessidade de cada um (Atos 2:44-45). Era um o coração e a alma da

multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía

era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. Os apóstolos

davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em

todos eles havia abundante graça. Não havia entre eles necessitado algum.

Pois todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o

preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E

repartia-se a cada um, segundo a sua necessidade” (Atos 4:32-35).

Page 22: A Noiva de Cristo

Verdadeira comunhão significa que nos importamos uns com os

outros, e portanto, cuidamos uns dos outros. E em nossa expressão, a

igreja revela que é um corpo que busca os outros. A expressão inclui o

evangelismo, uma visão missionária, buscar os necessitados fora do nosso

círculo, e prover esperança e ajuda para aqueles de dentro que precisam

de apoio especial. Em uma palavra, compaixão.

Pense nisso da seguinte forma: O evangelho é como uma canção.

Frequentemente damos às pessoas a letra e nos esquecemos de que elas são

mais atraídas pela melodia. A igreja reunida e cuidando de seus membros é

comunhão. A igreja dispersa e buscando outros de fora é expressão. Como

aprenderemos no próximo capítulo, ambas são vitais.

RAZÕES PELAS QUAIS ABRAÇAMOS ESTES OBJETIVOS

Dê mais uma olhada no último versículo no segundo capítulo de

Atos, onde lemos que os cristãos primitivos viviam

... louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos

os dias acrescentava o Senhor a igreja aqueles que iam sendo salvos

(versículo 47).

Que cena! Ali na antiga Jerusalém estava um grupo de crentes

cujo culto era espontâneo, cuja instrução era sólida, cuja comunhão era

genuína e cuja expressão era compassiva. Não admira que muita gente nova

fosse atraída! Não me surpreende que o Senhor aumentasse o seu número dia

após dia.

Quando abraçamos estes objetivos, diversos benefícios nos

sobrevêm. Tiramos nossos olhos de nós mesmos e os fixamos no Senhor.

Nossas diferenças triviais são minimizadas, o que aprofunda a unidade dos

relacionamentos. E tudo isto, quando mantido em equilíbrio, cria tal

magnetismo que a igreja se torna irresistível.

E então? Bem, então começamos a nos tornar o que a igreja foi

originalmente projetada para ser.

É tão fácil perder o rumo, não é? Tão fácil, por exemplo, a

igreja tornar-se pouco mais do que um museu, um grupo de prédios e peças

de mobiliário juntando poeira; muita coisa para se ver, mas sem dinamismo

e propósito. Ou, no outro extremo, é fácil a igreja tornar-se nada mais

do que uma série infindável de atividades com muito movimento e barulho,

mas muito pouca realização de significado eterno.

Quando a Grande Exposição das Obras da Indústria de Todas as

Nações foi inaugurada pela Rainha Vitória em 1851, as pessoas afluíram ao

parque Hyde para contemplar o que chamavam de "as maravilhas". O poder

mágico naquela época era o vapor... arados a vapor, órgão a vapor, até

mesmo um canhão a vapor.

Sabe o que ganhou o prêmio? Foi uma invenção movida a vapor que

tinha sete mil partes, todo tipo de polias e campainhas, assobios e

engrenagens... engrenagens que se engatavam em outras engrenagens, que

zumbiam em harmonia e giravam em perfeito sincronismo. Era uma coisa

linda de se ver. E - que interessante -não fazia nada.

Quando ouvi falar dela, confesso que tive um pensamento irônico:

Parece uma porção de igrejas. Todo tipo de coisa está acontecendo, mas

pouco está sendo realizado. Muito mais motivo para nos lembrarmos do

nosso propósito e executarmos os nossos objetivos.

R E F L E X Õ E S

1. Atos 2:42 fala de uma intensa devoção ao corpo de Cristo, ao

ensino, à comunhão e à oração. Isso era muito mais do que "hábito" ou

Page 23: A Noiva de Cristo

"expectativa cultural", era uma paixão santa! Como você caracterizaria

seus próprios sentimentos de devoção e dedicação à igreja local? Se

aquele senso de "fidelidade inabalável e sincera" estiver ausente, tire

algum tempo para pensar e orar sobre essa questão. O que será que diminui

a intensidade da nossa dedicação? O que poderia intensificá-la?

2. Sua igreja pode ou não estar experimentando o tipo de culto

impactante que descrevi neste capítulo. Quanto a isso, você pode não

estai* em posição de efetuar ou sugerir mudanças nos cultos da sua

igreja. De qualquer forma, pode mesmo assim assumir a responsabilidade

por seu culto pessoal a Deus. Tire tempo para anotar alguns elementos do

culto pessoal que precisam de certo "exercício" em sua vida. Por exemplo,

que me diz do lugar da música de adoração em seu coração e em seu lar?

Por que não fazer força para aprender alguns corinhos novos de louvor ou

um ou dois hinos majestosos para cantar apenas para o seu Senhor? Se você

não consegue nem entoar uma melodia, acrescente ao seu dia algumas

gravações que honrem a Cristo e deixe seu coração cantar!

3. Com o fim de preparar-se para maximizar a adoração conjunta

no domingo, sugiro que obtenha, empregue e aproveite algum livro que

traga sugestões práticas sobre coisas a fazer no domingo como preparação

para o culto.

CAPÍTULO TRÊS

UM INTERESSE GENUÍNO PELOS OUTROS

A estranha placa apareceu sobre a mesa de um oficial do

Pentágono. Com letras destacadas em negrito, ela dizia:

O SIGILO DO MEU TRABALHO NÃO ME PERMITE SABER O QUE ESTOU

FAZENDO.

Isso me faz lembrar de uma placa semelhante que poderia ser

colocada sobre a mesa de muito jovem ministro:

A SANTIDADE DO MEU TRABALHO NÃO ME PERMITE SABER O QUE ESTOU

FAZENDO.

Essa placa não se encontra de fato sobre a mesa do seu ministro,

mas pode crer que está pendurada na mente de muitos deles. Muitos dos que

servem as igrejas locais e organizações cristãs se debatem para saber

exatamente com o que deveriam estar gastando seu tempo. Quando alguém se

forma em um seminário ou instituto bíblico, as coisas parecem

razoavelmente bem definidas, mas dentro de alguns anos surgem muitas

mudanças. As expectativas se intensificam. As exigências aumentam. A

pressão se acumula. Pessoas poderosas exercem influência. A incapacidade

do ministro em suprir cada necessidade e realizar cada desejo amplia a

tensão entre ele e o rebanho. Se a igreja não cresce com rapidez, como a

maioria esperava, a decepção aumenta. Se cresce, as responsabilidades

acumuladas criam novas complexidades que ninguém esperava.

Não demora muito e espera-se que o pastor, cujo dom é o da

pregação e cujo forte é a liderança, desempenhe também muitos outros

papéis: supervisor de construção, diretor de pessoal, gênio

organizacional, entusiasta chefe de torcida, arrecadador de fundos,

visitador interessado, conselheiro sábio, diplomata cheio de tato,

evangelista zeloso, e meia dúzia mais de papéis sobre os quais sequer

tinha de pensar quando as coisas eram simples e pequenas.

Page 24: A Noiva de Cristo

Alguns dos envolvidos em ministérios que se tornam muito grandes

fogem para se esconder e vivem virtualmente em segredo. E mais fácil

encontrar alguns senadores do que entrar em contato com alguns pastores

muito poderosos! Como disse certa senhora num momento de exasperação:

"Meu ministro é muito parecido com Deus; não o vejo a semana toda, e não

o compreendo nos domingos!" Acho esse comentário tão curioso quanto

revelador. E interessante descobrir quanta gente realmente acredita que

não se espera que Deus seja compreendido; portanto, aqueles que são seus

porta-vozes representam uma classe com vagas responsabilidades.

Sei que as coisas são assim por ter visto ao longo dos anos as

reações das pessoas, quando descobrem que estou no ministério. Uma

expressão surpresa é geralmente acompanhada por um comentário confuso que

revela total falta de compreensão. Nunca sei ao certo o que retrucar... e

este é o motivo pelo qual me esforço ao máximo para impedir que estranhos

descubram o que faço. As coisas são mais fáceis antes de a palavra "M"

ser usada. Não há tensão, nem constrangimento, nem mesmo o menor

sentimento de desconforto entre nós até surgir o assunto do meu trabalho.

Dali em diante, fica óbvio que a pessoa não sabe.se me trata como um papa

ou um leproso. E esquisito!

Eu poderia encher um livrinho com as histórias incríveis das

coisas que as pessoas fizeram e disseram logo depois de descobrirem que

eu estava no ministério. Um sujeito sentado ao meu lado no avião, durante

a refeição trocou nervosamente o pedido de um drinque para refrigerante,

sussurrando ansioso para mim que sua intenção original fora, na

realidade, a de pedir o refrigerante. Disse-lhe que não se preocupasse...

eu não tinha nada a ver com o que ele bebia, o que ele tomou como uma

insinuação, e, em pânico, pediu um drinque para mim. Quando recusei, ele

resolveu trocar de lugar. Em sua pressa, derramou sua refeição por cima

de mim. As vezes é mais fácil apenas dizer às pessoas que sou um

escritor. Mas então elas querem saber que tipo de livro escrevo, e isso

leva a outro episódio do tipo drinque-refrigerante.

Jamais me esquecerei daquela vez em que eu passava por um longo

corredor, a caminho de uma visita hospitalar. Quando me aproximei do

quarto de minha ovelha, o marido dela estava de saída. Assim que passou

pela porta, ele acendeu um cigarro, depois deu uma olhada pelo corredor e

subitamente me reconheceu à distância. Sorri e acenei. Nervoso, ele

acenou de volta, absolutamente sem saber como esconder o cigarro de mim.

Ainda segurando o cigarro aceso, ele enfiou a mão no bolso da calça!

Resolvi fazer de conta que não tinha visto... e bater um longo papo com

ele. A coisa ficou hilariante. Quanto mais conversávamos, mais curto ia

ficando aquele cigarro em sua mão e mais ele parecia uma chaminé. A

fumaça saía em rolos do bolso da calça e se encaracolava por trás da gola

do casaco dele. Incapaz de me conter por mais tempo, perguntei-lhe por

que não terminava de fumar o cigarro. Dá para acreditar? Ele negou até

mesmo ter um cigarro. Dentro de segundos ele disparou para o elevador e

fugiu, o que provavelmente foi bom. Se tivéssemos conversado um pouco

mais, o pobre homem se teria transformado num sacrifício vivo.

Agora eu pergunto, isso teria acontecido se eu fosse engenheiro?

Ou vendedor de computadores? Piloto comercial? Ou bibliotecário? A

estranha confusão, as ideias nebulosas sobre o ministério em geral, e

sobre os ministros em particular, é estarrecedora.

Se não esclareci isto antes, permita-me fazê-lo agora. Não há

nada secreto com relação àquilo que é sagrado. O ministério pode ser uma

vocação incomum, requerendo um padrão e um compromisso maiores do que as

outras, mas não há motivo para perpetuar a ideia errônea de que não

podemos apreender seu propósito ou compreender precisamente de que se

trata. As pessoas precisam ser informadas para que o mistério seja

substituído pela realidade, o que explica a primeira razão pela qual

Page 25: A Noiva de Cristo

resolvi escrever este livro. Não me interprete mal. Respeito pelo

ministério é saudável e necessário, mas permanecer ignorante com relação

a ele e mantê-lo numa bruma de superstição ou misticismo não ajuda

ninguém.

UMA BREVE REVISÃO

Embora mal tenhamos entrado no assunto, talvez seja útil fazer

uma pequena revisão. Algumas destas coisas das quais estamos tratando são

como a soma na matemática. São tão básicas, tão fundamentais, que não

podemos prosseguir enquanto não estiverem firmes no lugar.

O propósito básico da igreja é glorificar a Deus. Essa, em

poucas palavras, é a razão pela qual estamos neste planeta. Não temos

muito tempo para viver. Em nossa curta vida de sessenta ou setenta anos,

Deus graciosamente permite ar em nossos pulmões, um coração que bate mais

de cem mil vezes ao dia, e suficiente força física e mental para viver.

No processo de nossa existência terrena, o propósito básico de Deus para

nossas vidas não é o de fazermos um nome para nós mesmos ou acumularmos

um montão de grana ou manobrarmos as pessoas de cá para lá como poderosos

chefões. Pura e simplesmente, é o de dar glória ao seu nome. Se no

processo Ele nos permite ter algum sucesso ou algumas alegrias e

benefícios em troca do nosso trabalho, sem problema. Mas, devido à

brevidade da vida, precisamos pôr as coisas mais importantes primeiro.

Conta-se a história de um homem que, enquanto caminhava pela

praia, encontrou uma lâmpada mágica usada, que as ondas haviam depositado

ali. Quando o gênio respondeu à sua esfregada, disse-lhe restar apenas um

desejo na lâmpada. O homem ponderou por um momento e depois pediu uma

cópia da página de cotações da bolsa de valores do jornal local, datado

exatamente um ano mais tarde. Num redemoinho de fumaça, o gênio

desapareceu e em seu lugar ficou a página de finanças. Jubilosamente, o

homem sentou-se para dar uma olhada no seu troféu; poderia investir com

certeza, conhecendo os vencedores do ano seguinte. Quando a folha caiu

sobre seu colo, apareceram os obituários que estavam no reverso da

página. O nome que aparecia no topo da lista chamou-lhe a atenção: era o

seu!

Nosso Deus é um Deus zeloso. Ele não reparte a sua glória com

ninguém. Deste dia em diante, não se permita esquecer a importância de

glorificar o nome excelso de Deus, independentemente da sua idade, sua

posição, sua carteira financeira, ou sua esfera de influência. Leia as

advertências seguintes de dois profetas antigos. Elas são palavras de

admoestação para cada geração.

“Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e

formou a terra, e a tudo o que produz, que dá a respiração ao povo que

nela está, e vida aos que andam nela. Eu, o Senhor, te chamei em retidão;

eu te tomarei pela mão. Eu te guardarei, e te darei por aliança do povo,

e para luz dos gentios, para abrir os olhos dos cegos, para tirar da

prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas”. (Isaías 42:5-7)

“Procuras tu grandezas? Não as busques...” (Jeremias 45:5)

Se você for um professor de Bíblia, pode sublinhar essa

declaração de Jeremias. Se você for um ministro, destaque-a em amarelo.

Você está procurando grandezas? Então o que está fazendo ensinando a

Bíblia? Ela é o Livro de Deus, escrito para a glória de Deus. Não procure

Page 26: A Noiva de Cristo

grandezas para si mesmo, independentemente da

influência que você possa ter no ministério.

Vou ser franco com você, esperando despertá-lo para um perigo

sutil. Se sua motivação for de alguma forma promover grandezas para si

mesmo, você está na vocação errada. Não há Prêmios de Academia conferidos

na terra às pessoas que estão no ministério, nem deveria haver. Nossas

recompensas virão mais tarde. Pela escolha soberana do Rei, elas virão

quando nosso Rei as prover no futuro. E é bom lembrar que assim que as

coroas nos forem colocadas na cabeça, nós as removeremos bem depressa e

as colocaremos aos pés do nosso Rei (onde elas merecem estar). Por quê? E

fácil responder: Digno é o Cordeiro que foi morto, não o que proclama o

Cordeiro.

Não pretendo que estas palavras sejam palavras piedosas, bonitas

e suaves. Estas palavras são verdadeiras, facilmente esquecidas,

especialmente se você se encontrar na liderança de uma igreja crescente,

dinâmica, sobre a qual a bênção de Deus repousa no momento. Quero lembra-

lo que bênção como essa é frágil. Não durará para sempre.

UM EXAME MAIS ATENTO DOS NOSSOS OBJETIVOS

Conforme vimos no capítulo anterior, quatro fios principais

estão entretecidos no pano de Atos 2:41-47. Ao combinar as primeiras

letras de cada termo, os quatro objetivos (Culto, Instrução, Comunhão e

Expressão) formam a sigla C-I-C-E.

Primeiro, a igreja é uma comunidade cultuadora. Se sua igreja

não estiver envolvida no culto, você precisa forçar muito a barra para

dizer que é uma igreja. Pode ser um bom lugar para se reunir. Você pode

usufruir de diversas atividades estimulantes. Pode haver muita instrução

excelente. De fato, essa pode ser a única ênfase. Se for, sugiro que você

a chame pelo nome certo de escola, não igreja.

Contou-me recentemente certo senhor que um dos problemas que ele

e a esposa tiveram na igreja que frequentaram anteriormente por diversos

anos foi que o pastor declarava com frequência: "Aqui nós não nos

preocupamos com muita adoração. A música não é importante, nem a comunhão

(que ele diminuía regularmente). Meu ministério é ensinar... apenas

ensinar. O que recebemos aqui é doutrina."

Então aquele senhor acrescentou: "Sem dúvida, foi exatamente o

que aconteceu. Com franqueza, era o mesmo que frequentar uma faculdade

bíblica ou sentar na classe de algum seminário. Tínhamos até mesinhas

ligadas às nossas cadeiras. Após termos prestado juramento à bandeira e o

ministro ter feito uma breve oração, sentávamo-nos e a aula começava.

Nada de música. Nada de sentimento. Nenhum senso de compaixão. Bum, a

gente abria a Bíblia e saía disparado!"

Sim, a igreja precisa de bons ensinamentos, mas não às custas do

culto. Acho interessante que em mais de três anos de ministério na terra,

Jesus jamais disse aos discípulos que anotassem alguma coisa. Nem uma

vez. Sua instrução não era um exercício acadêmico. Aqueles que se

sentavam aos seus pés, entretanto, geralmente adoravam.

Segundo, lembremo-nos de que a igreja é um lugar onde recebemos

instrução. Aprendemos da Palavra de Deus quando estamos juntos, mas nosso

aprendizado não está limitado à instrução verbal. Aprendemos com os

modelos das vidas uns dos outros. Aprendemos por experiência. Aprendemos

com os fracassos, perdas e provações. Aprendemos com os grandes hinos,

com os cânticos de fé. No processo de aprendizagem aos pés de Deus, Ele

recebe a glória.

Como deve lembrar-se, esses dois elementos são enfatizados na

passagem de Atos 2 que examinamos no capítulo anterior:

Page 27: A Noiva de Cristo

Perseveravam na doutrina dos apóstolos (instrução).

Em cada alma havia temor (adoração).

Quando você está numa sala de aula, não sente nenhum temor... a

menos que não saiba a resposta de alguma prova! Esse é um tipo diferente

de temor. Quando adoramos verdadeiramente, fazemo-lo com um temor

maravilhado, um temor de louvor. Há adoração também no silêncio, em ficar

parado, quieto, sabendo que Ele é Deus. Há adoração no lindo cântico

congregacional, num hino, ou na magnífica música que ressoa de um órgão

de tubos.

Uma vez que você tomar conhecimento do culto e da instrução na

igreja primitiva, perceberá que ambas emergem repetidamente por todo o

livro de Atos.

COMUNHÃO ÍNTIMA

Encontramos também neste mesmo segmento de Atos 2 que a igreja

deve ser um lugar de comunhão. Digamos que é um rebanho interessado. A

igreja nunca deveria ser apenas um conjunto de prédios onde você vem,

senta, presta culto, aprende e sai. A igreja é uma comunidade de fiéis

que demonstram interesse genuíno uns pelos outros.

Os cristãos primitivos tinham uma intimidade de comunhão

raramente encontrada hoje. Eles "perseveravam unânimes" nela; não apenas

na doutrina, não apenas na Ceia do Senhor e na oração, mas também na

comunhão. Esta palavra excessivamente usada e mal compreendida vem do

termo grego koinonia, que traz a ideia de algo que se tem em comum com

outros.

Quando koinonia aparece no Novo Testamento, sempre dá a ideia de

união... o compartilhar de algo juntos ou tomar parte em algo juntos. Os

cristãos primitivos tinham coisas em comum uns com os outros. Eles

estavam juntos. Não compareciam aos cultos como uma sacola de bolinhas de

gude que faziam muito barulho quando batiam umas contra as outras, e

depois saíam dali em fila indiana. Não, eles vinham com um cacho de uvas

maduras. A medida que as perseguições os comprimiam uns contra os outros,

eles sangravam uns nos outros. Suas vidas se entremeavam naturalmente.

Como é melhor pensar em nós mesmos como dois punhados de uvas maduras do

que como uma sacola de bolinhas de gude brilhantes. Os momentos em que

nos reunimos tornam-se muito mais preciosos quando nossas vidas se

entrelaçam umas com as outras, aproximando-nos cada vez mais, cada qual

sentindo as tensões e lutas dos outros, interessando-nos profundamente

uns pelos outros.

Uma das palavras de origem para koinonia nos leva a Lucas 5:10,

onde alguns indivíduos são chamados de koinonos, "parceiros de negócios".

Hebreus 10:33 fala sobre sermos participantes e coparticipantes do

evangelho. Essa é a mesma raiz encontrada em koinonia. Hebreus 13:15 se

refere à doação do nosso dinheiro como uma expressão de koinonia. Quando

temos verdadeira comunhão, damos; quando damos para as necessidades de um

grupo reunido, participamos de comunhão.

Gálatas 2:9, e isto pode surpreendê-lo, menciona as destras da

comunhão". O apóstolo Paulo está descrevendo com que disposição cada um

estendeu a mão e envolveu o braço do outro. Eles se incluíram uns nas

vidas dos outros.

Toda esta pesquisa bíblica me levou à minha própria definição de

comunhão. A comunhão ocorre, penso eu, quando há expressões de

cristianismo genuíno livremente compartilhado entre os membros da família

de Deus. Noto no Novo Testamento que a verdadeira koinonia resulta em

duas expressões definidas. Primeiro, compartilhar algo com alguém, algo

Page 28: A Noiva de Cristo

tangível. Ajudar essa pessoa a satisfazer uma necessidade. E segundo,

participar de algo com alguém. Quando há pranto, você participa dele com

a pessoa que chora. Você também chora. Quando há júbilo, você participa

da alegria com aquele que se regozija.

Quando foi a última vez que um dos seus colegas foi promovido e

você aplaudiu? Vamos imaginar outro cristão que talvez não tenha vivido

uma vida cristã tão boa quanto você; não obstante, ele foi recentemente

abençoado por Deus. Quero fazer-lhe uma pergunta direta: Seus pensamentos

seriam: "Que Deus o abençoe. Estou vibrando por aquela família. Como

estou feliz por eles poderem desfrutar alguns desses favores de Deus?"

Minha esposa e eu temos notado, falando bem francamente, que é mais fácil

para um número maior de cristãos chorar com aqueles que choram do que se

regozijar com os que se regozijam. De algum modo, a inveja ou o ciúme têm

um papel poderoso demais na mente das pessoas quando elas veem alguém ser

abençoado. A comparação é um jogo sujo. Escolhamos a compaixão.

Marion Jacobsen, num livro intitulado Saints and Snobs (Santos e

Esnobes), escreve palavras fortes, mas verdadeiras:

Se qualquer grupo de cristãos que alegam crer e praticar tudo o

que Deus falou em seu Livro confrontar sua responsabilidade pessoal

dentro da família de Cristo, e as necessidades reais dos cristãos à sua

volta, impressionará a comunidade com a resplandecente bondade do amor de

Deus a eles e entre eles. Essa transformação provavelmente faria mais

para atrair outros a Jesus Cristo do que qualquer trabalho de casa em

casa, campanha evangelística ou novo prédio da igreja. As pessoas estão

famintas por aceitação, amor e amigos, e a menos que os encontrem na

igreja, elas podem não ficar ali o tempo suficiente para relacionar-se

pessoalmente com Jesus Cristo.

As pessoas não são persuadidas, são atraídas. Precisamos ser

capazes de comunicar muito mais pelo que-somos do que pelo que dizemos.11

EXPRESSÃO VERDADEIRA

A quarta e última característica distintiva da igreja é sua

expressão. Ela é um corpo que busca os outros. A igreja é um corpo que

não restringe suas mãos a si mesma.

Lá em Atos 2:43-46 encontramos uma situação crescente. Havia

amor. Havia aceitação. Havia vulnerabilidade, compaixão, interesse,

atração e doação. As necessidades estavam obviamente sendo satisfeitas. A

luz de tudo isso, não deveríamos ficar surpresos ao ler como o Senhor

honrou suas expressões de interesse.

“E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam

sendo salvos” (versículo 47).

Será que a mensagem da morte e ressurreição do Senhor ficou

confinada à igreja!1 Os cristãos guardaram para si as boas novas? Será

que elas eram algo desfrutado dentro das paredes do seu lugar de culto?

Não, pelo contrário, eles mal podiam esperar para chegar às ruas e

difundir a Palavra.

Logo no capítulo seguinte, lemos:

“Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a

nona...” (Atos 3:1).

Observe que eles não estavam no templo, estavam indo ao templo.

E ao se dirigirem para lá, à "hora da oração", se depararam com alguém

Necessitado.

Page 29: A Noiva de Cristo

“Ora, era trazido um homem que desde o ventre da mãe era coxo, o

qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir

esmola aos que entravam. Vendo a Pedro e a João, que iam entrando no

templo, pediu que lhe dessem uma esmola” (versículos 2-3).

Cenas como essas podem ser vistas em muitas áreas de nosso país.

Pessoas em circunstâncias penosas são muito comuns nos grandes

continentes como o nosso, o da África e o da Ásia, bem como em partes do

Oriente Médio. Os mendigos geralmente se colocam perto de algum lugar de

culto. Era ali que esse homem se encontrava.

Lá vinham Pedro e João, a quem ele se dirigiu inquirindo se

podiam dar-lhe algo.

“Pedro, juntamente com João, fitando os olhos nele, disse: Olha

para nós. E olhou para eles, esperando receber alguma coisa. Disse Pedro:

Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho te dou. Em nome de Jesus

Cristo, o nazareno, levanta-te e anda. Tomando-o pela mão direita, o

levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. Saltando ele, pôs-se

em pé e começou a andar. Então entrou com eles no templo andando e

saltando, e louvando a Deus” (versículos 4-8).

Você sabe o que aconteceu depois que os dois se dispuseram a

cuidar daquele homem? Foram inquiridos duramente. Por quem? Pelos

religiosos, que recitaram uma cansativa litania de queixas: "Não temos

lugar para isto. E algo fora do comum. Quem são vocês, afinal? Não são um

de nós, são?" Em vez de ficarem desencorajados pelas ameaças daqueles

líderes religiosos, Pedro usou o momento como uma oportunidade de falar a

favor do seu Senhor.

Que ótimo lugar para falar às pessoas a respeito de Cristo!

Poucos lugares há mais destituídos de vitalidade espiritual do que um

círculo religioso composto de pessoas que falam de coisas religiosas mas

jamais mencionam o Salvador. Não percamos essas oportunidades. A qualquer

hora que você tiver oportunidade de ministrar a um "grupo religioso",

faça-o. Muitas vezes eles não conhecem a Cristo. Só sabem de sua religião

formal.

Voltemos à nossa história. Depois que os apóstolos foram

atirados de volta à rua, adivinhe o que aconteceu? Fizeram a mesma coisa

de novo. Eles são como um desses brinquedos de criança, o "João Teimoso",

um boneco de plástico que tem um grande peso no fundo. Você o empurra com

um soco, ele se ergue de novo imediatamente. Derruba-o de novo e lá vem

ele de volta a uma posição vertical. Aqueles cristãos primitivos viviam

voltando.

Veja por si mesmo:

“Estando eles falando ao povo, sobrevieram os sacerdotes, o capitão

do templo e os saduceus. Perturbaram-se muito de que ensinassem o povo, e

anunciassem em Jesus a ressurreição dentre os mortos. Lançaram mão

deles...” (Atos 4:1-3).

Dá para ouvir seus captores?

-- Acho que já lhes dissemos que não fizessem isso! -- Bem,

ouvimos o que disseram, mas não vamos obedecê-los. E por isso eles os

jogaram de volta atrás das grades.

“Lançaram mão deles, e os encerraram na prisão até o dia

seguinte, porque era já tarde. Muitos, porém, dos que ouviram a palavra,

creram, e chegou o número desses a quase cinco mil” (versículos 3-4).

Page 30: A Noiva de Cristo

Você se lembra do número lá no capítulo 2? Era "quase três mil".

Agora é "quase cinco mil". A igreja está crescendo numericamente. Ora, é

claro! Quem não desejaria estar com pessoas tão contagiantes e corajosas

quanto essas?

O ritmo continua... outra daquelas cenas de é-melhor-vocês –

pararem-com-isso.

“E tendo-os trazido, os apresentaram ao Sinédrio. E o sumo

sacerdote os interrogou: Não vos admoestamos expressamente que não

ensinásseis nesse nome”?

(Não dá para enxergar aqueles sujeitos falando muito distintamente

através de dentes cerrados: "Já falamos para vocês não fazerem isso"?)

“Contudo, enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis

lançar sobre nós o sangue desse homem. Respondeu Pedro e os apóstolos:

Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”! (5:27-29).

Mais tarde, Pedro pregou para eles, e os resultados foram

previsíveis:

“Ouvindo eles isto, se enfureceram, e deliberaram matá-los”

(versículo 33).

Finalmente, um cavalheiro chamado Gamaliel falou: "Esperem um

minuto. Calma, vocês aí. Precisam perceber que talvez estejam lutando

contra Deus. Se estiverem, não há como possam deter a coisa. E se não

estiverem, a coisa vai parar por conta própria!" (Paráfrase do autor).

Esse foi o raciocínio de Gamaliel. Nada mau, para falar a verdade.

Então eles pensaram: "Bem, está certo. Concordamos com isso. Mas

eles vão entender que não estamos brincando. Vamos tirar-lhes o couro.

Isso fará com que se lembrem" (versículo 40). Será que isso deteve o zelo

dos apóstolos? Nem brincando. Foi como jogar gasolina no fogo. Aqueles

homens que foram surrados e chicoteados saíram com roupas ensanguentadas,

regozijando-se por ter-lhes sido concedido o privilégio de sofrerem por

Cristo.

“Os apóstolos retiraram-se da presença do Sinédrio regozijando-

se, porque tinham sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de

Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e

anunciar a Jesus, o Cristo” (versículos 41-42).

Amo isso. "Todos os dias" eles falavam abertamente de Cristo.

Seu testemunho não se limitava a um convite evangelístico na igreja. Eles

serviam de modelo vivo do verdadeiro evangelismo, onde a necessidade se

encontra, na rua e não na igreja.

VAMOS ESPALHAR A NOTÍCIA!

Em minha pesquisa, descobri quatro observações a respeito de

evangelismo e missões no Novo Testamento.

Primeiro: Eles nunca se limitaram à reunião da igreja. De fato,

era lá que menos ocorriam as reuniões. Espero que se lembre disso. A

igreja reunida está adorando ou sendo instruída. A igreja dispersa está

ajudando e afirmando, encorajando e evangelizando. Com que frequência

vejo essa ordem invertida! Desafio você a encontrar um lugar no Novo

Testamento no qual a igreja se reunisse estritamente com a finalidade de

evangelizar. Não, as pessoas não iam à igreja para ganhar os perdidos.

Elas se reuniam para adorar, ser instruídas e ter comunhão íntima; depois

Page 31: A Noiva de Cristo

elas se dispersavam para evangelizar. Assim que as reuniões terminavam,

elas pensavam sobre os perdidos, entravam em contato com

eles, ligavam-se a eles e ganhavam-nos para o Salvador. Uma vez

convertidos, os novos crentes eram levados ao lugar onde podiam ser

instruídos, onde podiam cultuar a Deus, e onde podiam encontrar compaixão

genuína, verdadeira comunhão.

A igreja é essencialmente o lugar onde os santos se reúnem para

ser alimentados com o alimento sólido da Palavra e para se impressionarem

com a necessidade de compartilhar o evangelho e sua mensagem de busca ao

perdido. Pense nela como o agrupamento no jogo de futebol americano: Eu e

você sabemos que os times não aparecem simplesmente para se agruparem.

Eles se agrupam ali apenas o tempo suficiente para ficar sabendo as

jogadas. Durante toda a semana, conduzimos as jogadas. Domingo após

domingo retornamos ao agrupamento e aprendemos as jogadas.

Segundo: O evangelismo era sempre iniciado pelo cristão. Temos a

falsa impressão de que, se as pessoas quiserem conhecer a Cristo, nos

perguntarão. Estamos sonhando se achamos que as pessoas vão se aproximar

de nós, dar-nos um tapinha no ombro e perguntar: "Olhe, pode me falar a

respeito de conhecer a Cristo como meu Salvador e Senhor?"

Em todos os meus anos de vida, raramente alguém me disse: Sabe,

tenho estado preocupado com minha alma, Chuck. E você é cristão. Gostaria

que me ajudasse a saber como ir ao céu."

Você está brincando? As pessoas não trazem o assunto à baila...

nós, sim. Iniciamos o contato. Foi o que os cristãos fizeram por todo o

Novo Testamento.

Terceiro: O evangelismo geralmente estava ligado a outro evento

ou experiência desconexo. Estou-me referindo a intensa oposição, uma

cura, uma conversão, uma discussão, um evento sobrenatural, uma

ocorrência cataclísmica. Vir a crer em Cristo muitas vezes derivava de

ocorrências como essas.

Quarto: O evangelismo nunca foi algo que alguém fosse forçado ou

manipulado a fazer. A Escritura não contém nenhum relato de cristãos

manipulando homens e mulheres descrentes com o fim de levá-los à

salvação. Não, quase sem exceção as pessoas eram tratadas com tato e

dignidade, com respeito e inteligência. Ora, certamente havia ousadia no

testemunho, mas os cristãos primitivos pregavam a mensagem e depois

esperavam que o Espírito de Deus se movesse. E Ele jamais deixou de

operar poderosamente.

Não se esqueça do que aprendemos antes: O poder do ministério é

o Espírito Santo. Preocupar-nos com as pessoas, interessando-nos de fato

por seu mundo, sua situação e seus cuidados, ainda é o método mais eficaz

de ganhar os perdidos.

UMA OLHADA REALISTA PARA O FUTURO

Penso com frequência nas duas dimensões do ministério da igreja.

Primeiro, a profundidade da igreja é determinada por sua

qualidade de culto e instrução. Não podemos desistir do culto porque

acreditamos no evangelismo. Não devemos deixar de instruir as pessoas

porque simplesmente amamos o culto. Ter os dois nos dá profundidade. A

profundidade da igreja é determinada pela qualidade da adoração, da

instrução ali presentes. Precisamos sempre manter isso próximo ao mais

alto nível de nossa percepção.

A segunda dimensão, a largura da igreja, é determinada pelo

compromisso dessa igreja com comunhão e evangelismo. Não permaneceremos

largos se deixarmos de evangelizar (na verdade, nos tornaremos um

clubinho exclusivista). Se nos esquecermos do mundo carente, não seremos

um rebanho desvelado, não teremos equilíbrio. Precisamos continuamente

Page 32: A Noiva de Cristo

buscar as pessoas que estiverem necessitadas. Afinal, é disso que trata o

amor. E o amor que nos empurra para fora de nossa presunçosa complacência

e nos desperta para buscarmos e tocarmos os outros!

Os trajes do amor têm uma barra Que se arrasta no pó que por aí

jaz; Ela pode chegar aos santos das mas e dos becos... E por poder, é o

que faz.

Não é segredo. O ministério da igreja é um interesse genuíno

pelos outros. Precisamos parar de falar sobre isso e começar a fazer.

A primeira tarefa na lista de Cristo é mudar o mundo pelo qual

morreu. Mas ele não quer transformar as coisas sozinho. Pediu à sua Noiva

que o represente junto aos habitantes deste mundo. Estamos prontos? Ele

certamente está. E à espera.

REFLEXÕES

1. Não importa o tamanho de sua igreja, é fácil descobrir que

sua comunhão íntima está limitada à mesma meia dúzia de pessoas, não é?

Por ser "confortável" estar com o mesmo grupo de conhecidos, você pode

estar-se privando de outras pessoas no Corpo que poderiam fazer uma

contribuição real à sua vida e você à delas! Desafio-o a convidar para

irem à sua casa diversos casais e/ou solteiros da sua igreja que você não

conhece muito bem. Faça com que o tempo passado junto seja descontraído e

informal. Peça que cada pessoa compartilhe um pouco de sua peregrinação

espiritual, de algumas preocupações ou prioridades atuais. Simplesmente

deixe a conversa fluir e busque oportunidades para identificar, afirmar e

encorajar. Você será enriquecido, e também o serão seus novos amigos.

2. Conforme aprendemos neste capítulo, koinonia tem também

algumas implicações financeiras; comungar e dar estão inseparavelmente

ligados. Talvez você e sua família ajudem no sustento financeiro de algum

missionário ou obreiro cristão. E simplesmente uma questão de preencher

um cheque todo mês e enfiá-lo num envelope? O que poderia aproximá-lo

daquele indivíduo de uma forma mais pessoal? Em outras palavras, como

você e sua família poderiam sentir-se mais profundamente ligados ao seu

ministério? Você está a par dos desafios e lutas reais dessa pessoa de

forma que possa orar de uma maneira informada? A comunhão é um dom.

Aproveite-a ao máximo!

3. Analisando bem suas circunstâncias atuais, sua ocupação,

vizinhança, círculo de amigos chegados e assim por diante, o que

significaria para você "tomar a iniciativa" de compartilhar sua fé em

Cristo? Qual seria o primeiro passo lógico? Peça a um amigo íntimo

cristão que cobre de você o planejamento desse primeiro passo... e faça

algo dentro de duas semanas. Lembre-se, apesar de ser útil ter certo

treinamento em evangelismo, é o poder do Espírito Santo desencadeado por

meio de suas fervorosas orações que de fato abrirá as portas.

Capítulo Quatro

UM ESTILO CONTAGIANTE

Não se pode julgar um livro pela capa." É um ditado antigo, mas

ainda é verdadeiro. A aparência exterior do livro nada tem a ver com o

que ele contém. A mesma coisa é verdadeira no caso das pessoas. Quem já

não foi culpado de chegar a uma conclusão errada sobre um indivíduo,

tendo formado sua opinião estritamente com base em coisas exteriores?

Page 33: A Noiva de Cristo

O que é verdadeiro no caso de um livro ou de uma pessoa também é

verdadeiro no caso de uma nação. A opinião pública pode vir a mostrar-se

bem fora da realidade quando uma busca séria da verdade for empreendida.

Veja os Estados Unidos, por exemplo. É uma nação considerada

progressista, culturalmente refinada e bem instruída. Em comparação com

algumas das regiões mais primitivas do mundo, talvez seja. Mas fica um

pouco constrangedor quando se olha além das aparências e se faz a

contagem dos fatos.

O Dr. George Gallup, em resposta ao pedido do jornal Dallas

Times Herald, levantou os dados sobre o conhecimento dos alunos em oito

países industrializados. Os que estudam em escolas dos Estados Unidos

foram classificados nos últimos lugares da lista em matemática, ciências

e geografia. Escolhendo essa última categoria, deixe-me dar-lhe alguns

exemplos gritantes:

· Somente um quinto dos estudantes testados conseguiu localizar

os Estados Unidos num mapa.

· Um terço dos adolescentes não sabia que México é o país que

faz fronteira com o Texas, estado no qual moravam.

· Vinte e cinco por cento não sabia que o estado de Nova Jersey

fica no litoral leste e que o estado de Oregon fica no litoral oeste.

· Apenas cerca de 40 por cento conseguiu identificar a

Califórnia como o estado mais populoso.

Gallup descobriu que os formandos do colegial que deveriam logo

mais entrar para o mercado de trabalho ou para a vida universitária,

estavam lamentavelmente ignorantes em três áreas principais: comércio,

viagem e cultura. Suas respostas a três perguntas ilustram o quanto isso

é verdadeiro.

· Que país do mundo tem a maior população? A grande maioria dos

alunos respondeu: "As Nações Unidas".

· Quais foram os dois últimos estados admitidos à União? A

maioria das respostas incluía Flórida, México e Canadá.

· Qual a língua mais falada na América Latina? A resposta comum

foi "latim".

Não apenas é verdade que não se pode conhecer um livro pela capa

ou uma nação por sua reputação, como também se pode ter certeza disto:

Não se pode conhecer uma igreja por seus prédios. Embora saibamos que

isso é verdade, ainda prejulgamos muitas igrejas superficialmente e com

que frequência nos enganamos! Por exemplo...

Se a igreja é grande, composta de múltiplos prédios: "E uma

igreja fria... deve ser difícil nos sentirmos próximos das pessoas...

eles provavelmente não se importam muito com os outros."

Se a igreja é pequena, fora da cidade e localizada no meio de um

arvoredo: "E calorosa, amistosa e convidativa... seus membros devem

preocupar-se muito com os que sofrem."

Se a igreja tiver uma aparência elegante e for composta de

pessoas influentes, ricas, que dirigem carros de luxo: "Ela não pode

estar tão interessada assim em evangelismo ou em uma visão missionária...

sem dúvida o pastor é mais político do que expositor,

provavelmente nem prega de fato a Palavra."

Page 34: A Noiva de Cristo

Se a igreja for simples e despretensiosa: "Tem de ser o tipo de

lugar rígido, intolerante, superlegalista."

Se acontece de ser de uma certa denominação, há um rótulo

extremo que lhe damos.

Se ela está em apuros financeiros, como é fácil imaginar que

houve irresponsabilidade fiscal.

Se ela sofreu algum escândalo, muitos pensariam que lhe faltam

convicções e que ela precisa de padrões mais elevados de santidade.

Quanto engano... quanta injustiça! O que nos leva a crer que

podemos determinar o estilo, as convicções ou as crenças de uma

congregação a partir de uma olhada rápida à arquitetura de seus prédios

ou ao nome do lugar?

Precisamos ultrapassar a pedra de tropeço das aparências. E

muito pouco o que pode ser conhecido sobre a noiva no dia que ela se

coloca diante de um grupo de testemunhas e pessoas que lhe desejam

felicidade. E a avaliação que fazemos nesse momento pode ser tão

superficial e incorreta quanto a maioria dos nossos juízos sobre igrejas.

Que Deus possa nos ajudar a abandonar o hábito de chegar a conclusões

negativas baseadas estritamente no tamanho, nome e localização de uma

igreja, ou nos tipos de carros usados pelas pessoas que a frequentam.

Sugiro que um bom lugar para começar seria uma leitura cuidadosa de

Mateus 16:15-18, onde Jesus faz aquela profecia significativa:

"Edificarei a minha igreja", seguida pela promessa de que "as portas do

inferno não prevalecerão contra ela."

Nosso Senhor não estava pensando em um prédio ou em um nome.

Apenas pessoas. O termo "igreja" vem da palavra grega eklesia, que

significa "chamados para fora". A profecia de Jesus foi de que ele

buscaria nas fileiras da humanidade e "chamaria" para si mesmo um povo

que, por aderir aos seus ensinamentos, glorificaria o seu nome. E a

edificação que ele faria desse corpo de crentes seria invencível. Nem

mesmo Satanás e sua hoste maligna poderiam frustrar esse plano.

Quando as pessoas passaram a pensar nas igrejas em termos de

prédios? Você está pronto para um choque? Os cristãos não construíram

prédios até o segundo século.

VÁRIOS "TIPOS" DE IGREJA

Walter Oetting, em seu excelente livrete The Church of the

Catacombs (A Igreja das Catacumbas), escreve:

Se você tivesse perguntado "Onde está a igreja?" em qualquer

cidade importante do mundo antigo em que o cristianismo houvesse

penetrado no primeiro século, teria sido direcionado a um grupo de

adoradores reunidos numa casa. Não havia prédio especial ou outra riqueza

tangível com a qual associar a "igreja"; apenas pessoas.

Até o final do primeiro século, as congregações evangélicas se

reuniam em casas ou onde quer que conseguissem se reunir. As vezes, era

em cavernas ou algum outro local escondido ou subterrâneo, por medo de

serem condenadas à morte. De fato, elas jamais construíram estruturas

eclesiásticas que abrigassem os adoradores até bem depois do início do

segundo século. E não foi senão no terceiro século que a ênfase sobre

estrutura começou a tomar o lugar da ênfase sobre pessoas.

Portanto, através dos séculos, especialmente nestes dois ou três

últimos séculos, edifícios inanimados passaram a representar as

verdadeiras congregações na mente do público em geral... o que explica

por que as pessoas, quando se lhes perguntam sobre a localização de certa

Page 35: A Noiva de Cristo

igreja, invariavelmente se referem a uma localização geográfica ou ao

projeto arquitetônico de seus prédios.

De fato, fala-se hoje de diversos tipos ou estilos de igrejas.

Certa autoridade dividiu as igrejas em quatro grupos.

Primeiro, ele designa a igreja corpo. E uma igreja que não tem

nenhuma propriedade nem precisa de nada disso. Ela programa seus cultos

de acordo com lugares convenientes para a reunião. As vezes, se

necessário, ela aluga algum local, mas nunca o compra. Essa rede de vida

congregacional é na maioria das vezes composta de pequenos grupos,

ligados entre si por reuniões de adoração conjunta em algumas ocasiões,

mas normalmente ela se reúne em pequenos segmentos.

Um segundo tipo de igreja é o que ele chama d ca igreja

catedral. Independente do tamanho, esta é uma igreja que vê o prédio como

igreja. E tudo o que acontece em nome da igreja quase sem exceção

acontece dentro daquele prédio ou em sua propriedade.

Em terceiro lugar, ele menciona a igreja tabernáculo. Essa é uma

congregação de pessoas que se reúnem num prédio, mas seu prédio é

estritamente secundário ou funcional. A estrutura nunca é considerada um

lugar santo em qualquer sentido inerente da palavra. É o lugar que abriga

as pessoas das intempéries do clima, dá-lhes um teto sobre suas cabeças e

provê certo conforto e identidade. Para elas, as instalações servem a

propósitos práticos que ajudam no funcionamento da igreja. Muitas coisas

acontecem na vida daquela igreja fora do prédio, por vezes a muitos

quilômetros de sua estrutura básica.

A quarta que ele menciona é a igreja fantasma. Essa congregação

se orgulha de não ter nenhum prédio de qualquer tipo... nunca. O problema

é que ela tem muito pouca organização de qualquer tipo. Não difere muito

do teste Rorschach da mancha de tinta; cada pessoa consegue ver nela o

que desejar.

Outros "peritos em igreja" têm aventado outras possibilidades.

Um desses indivíduos é Lyle Schaller, inquestionavelmente uma das mais

respeitadas autoridades em análise de igrejas. Em seu livro, Looking in

the Mirror (Olhando no Espelho), ele divide a igreja segundo o tamanho.

Sugere ele que a menor igreja (com menos de 35 membros) é uma "igreja

gato". A igreja de 35 a 100 membros ele chama de "igreja collie". Uma

igreja de 100 a 175 membros é uma "igreja-jardim"; a igreja de 175 a 225

é uma "igreja-casa"; e a igreja de 225 a 450 membros é uma "mansão". Se a

igreja tiver uma congregação de 450 a 700 membros, é um "casarão". Além

de 700 membros, ele considera a igreja uma "nação"... na realidade, uma

mini denominação.

Meu bom amigo e antigo pastor assistente da Primeira Igreja

Evangélica Livre, Paul Sailhamer, apresentou certa vez outra série de

grupos que fez toda a nossa equipe pastoral sorrir (ele é bom nisso).

Achei que sua sugestão era tão acertada quanto qualquer coisa que já li

ou ouvi.

Em primeiro lugar, temos a igreja-burro de carga. Essa igreja é

a igreja padrão, nada incomum, independente do tamanho. Ela faz fiel e

implacavelmente o trabalho. Não há nenhum arranco incrível no

crescimento, apenas alguns novos membros a cada ano, nada mais. Ela trata

os fardos do ministério como um burro de carga. Fica firme e consegue dar

conta do serviço.

E então vem o que Paul chama de igreja-cavalo de corrida. Essa

igreja é a congregação construída em torno de apenas uma pessoa. Ela é

claramente aquela em quem se deve apostar! Em breves períodos de tempo,

há arrancos de crescimento como meteoros na noite. Zum e o crescimento

deste ano está diferente do gráfico do ano passado. O problema é que

quando o Reverendo Cachorro Quente se vai, a igreja cai de novo onde se

Page 36: A Noiva de Cristo

encontrava antes. Esse é o preço que o rebanho paga por depender dele

como o cavalo de corrida.

Paul sugere então que o que realmente precisamos fazer é cruzar

uma igreja-cavalo de corrida com uma igreja-burro de carga... e ficar com

uma igreja-mula. Esse é realmente o tipo de igreja que você quer. Como

uma mula, ela tem estabilidade e persistência, mas não sendo toda burro

de carga, tem também um grande dinamismo que de alguma forma faz lembrar

um bom cavalo. Tem as marcas de ser uma igreja-cavalo de corrida por

conter indivíduos da assembleia que provêm direção, carisma, atração,

entusiasmo e liderança. Mas, como um burro de carga, ela se mantém fiel

ao trabalho.

Mas não podemos nos esquecer da principal deficiência... levando

um pouco mais adiante a analogia. A mula é estéril. Não pode se

reproduzir. Talvez isso explique um fenômeno frequentemente frustrante.

Quando você percebe ser uma "igreja-mula" com incrível crescimento,

energia, entusiasmo e visão, gostaria de começar outra igreja igualzinha

a ela. Mas não parece conseguir esse mesmo crescimento em outra

localidade nem mesmo se alguns dos indivíduos-chave estiverem dispostos a

sair e começar outra igreja.

A pergunta então é: Por quê? Por que alguém continuaria indo a

uma igreja-mula? Por que ela teria tal magnetismo, tal crescimento sólido

e contínuo? Por que permaneceria tão saudável e seu povo aguentaria todo

tipo de dificuldade? O que a torna tão eficaz? Não pode ser o tamanho.

Não é a prosperidade financeira. Não é alguma visão sobrenatural

diferente da de qualquer outra igreja. E com certeza não está limitada a

uma personalidade particular, porque há sempre diversos líderes com

personalidades persuasivas. Posso assegurar-lhe, não é a conveniência! Só

o Senhor sabe quanto pode ser inconveniente permanecer envolvido com uma

"igreja-mula".

Estamos de volta ao centro da questão: O que faz com que ela

funcione? Por falta de um termo melhor, acho que é o que eu chamaria de

estilo contagiante. Embora essas palavras talvez pareçam um tanto

superficiais, creio que essa expressão é a que melhor exprime o que quero

dizer. Parte do seu sucesso é um tanto misterioso. Há uma combinação

intangível que é definitivamente elétrica. Pelo poder e permissão do

Espírito Santo, as qualidades de grandeza estão presentes. E como se esse

estilo fosse um lindo raio de luar. Você o segura de leve, desfruta a sua

beleza... mas não o pode controlar. Você o aprecia, mas sabe que ele é

maior do que qualquer pessoa ou grupinho, não importa quão influente. Ele

não pode ser manipulado ou fabricado. Não é transferível, nem facilmente

definido. Mas quando você experimenta o gozo da unção de Deus, é como se

retivesse o fôlego e deixasse o milagre inundá-lo.

O QUE SE QUER DIZER COM ESTILO CONTAGIANTE?

Não quero deixar ninguém com apenas uma ideia vaga, nebulosa do

que estou descrevendo. Por isso, tomemos um exemplo do primeiro século, a

assembleia de crentes em Tessalônica. Estou considerando a descrição

feita no segundo capítulo de 1 Tessalonicenses.

Visto a igreja ser uma "família", pensemos nela como um bebê

para começar. Ela tem um arranco seguro de crescimento em seu primeiro

ano. A igreja do primeiro século, em seu arranco de crescimento, cresceu

como jamais crescerá de novo. Perto do final daquele século, a igreja era

composta das pessoas que estavam revirando o mundo de cabeça para baixo.

Quem sabe? Talvez essa tenha sido a última vez que isso foi dito a

respeito da igreja de Jesus Cristo. Há algo maravilhoso com relação

àquela Era nova, inocente, quando havia uma ausência de ênfase em

estrutura e virtualmente nenhuma política eclesiástica. Havia pureza e

Page 37: A Noiva de Cristo

depuração, mas através de tudo isso, havia simplicidade. A igreja

primitiva tinha um estilo que depressa se tornou tão contagiante que não

era incomum encontrar até mesmo cristãos jovens dispostos a morrer por

sua fé.

Alguns desses crentes contagiantes se reuniam em Tessalônica.

No segundo capítulo da primeira carta aos tessalonicenses,

Paulo, o apóstolo, reflete sobre as seis a oito semanas que passou entre

eles. Quando se fica sabendo que esse foi todo o tempo que ele pôde

investir nos santos daquele local, a igreja parece mais incrível ainda.

Enquanto reflete sobre seu ministério de dois meses entre eles, Paulo

escreve:

“Vós mesmos sabeis, irmãos, que a nossa entrada entre vós não

foi vã” (versículo 1).

Que grandiosa lembrança para Paulo, embora raramente

reivindicada por aqueles que estão no ministério hoje. Se envolvêssemos

os pastores hoje em diálogo, pedindo-lhes que refletissem a respeito de

igrejas anteriores que serviram, acho que muitos deles expressariam a

sensação de que seu ministério anterior foi em vão. Esta é talvez a

lembrança mais comum que o pastor tem após servir uma igreja: "Muito do

que fiz foi em vão."

A palavra vão significa "vazio, improdutivo, oco, sem

propósito". Quando Paulo voltava o olhar para os dias grandiosos que

passara entre os tessalonicenses, lembrava-se de tanto dinamismo e

alegria que todos os sentimentos de vazio eram removidos. "'Nossa entrada

entre vós não foi vã." Incrível!

Podemos ser compelidos a achar que ele estava sugerindo ter sido

fácil. Pelo contrário, a segunda coisa de que ele se lembra é de ter sido

uma época extremamente difícil:

“Havendo primeiro padecido, e sido ultrajados em Filipos, como

sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de

Deus, no meio de grande combate” (versículo 2).

Tempos difíceis.

De novo, isso não é incomum. Qualquer pessoa que tome

conhecimento dos detalhes de ministérios anteriores descobre que parte

das igrejas mais fortes da história suportou triunfantemente muita

oposição. Paulo saiu de Filipos como um coelho ferido. A despeito dos

maus tratos e oposição, ele conseguiu chegar a Tessalônica. Antes de seus

dois meses de ministério lá, havia sido lançado na prisão com Silas. A

meia-noite, enquanto os dois homens cantavam hinos a Deus, houve um

terremoto, e eles foram libertos. Por fim, puderam prosseguir a viagem.

Contudo, algumas dessas mesmas pessoas que maltrataram Paulo em Filipos

acompanharam-nos, atormentando-o na esperança de silenciar sua mensagem

no próximo destino. Para elas, Paulo era um homem odiado.

Portanto, quando veio a Tessalônica, ele chegou ferido e

sangrando. E quando ministrou ali, ministrou "no meio de grande combate".

A igreja de Tessalônica era uma nova congregação alimentada no meio de

oposição. Não obstante, cresceu... sobreviveu... na realidade, floresceu!

CARACTERÍSTICAS DE UM ESTILO CONTAGIANTE

Quando se lê um pouco mais, descobre-se algumas das razões pelas

quais o apóstolo considerava a igreja de Tessalônica um grupo de cristãos

com estilo contagiante. Deixe-me destacar algumas frases. Tendo em mente

o versículo 2:

Page 38: A Noiva de Cristo

... tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o

evangelho de Deus...

Lembre-se da referência que ele faz ao conteúdo do evangelho de

Deus.

Versículo 4:

Pelo contrário, como fomos aprovados por Deus para que o

evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos

homens, mas a Deus, que prova os nossos corações.

Versículo 8:

Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos

comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas também as nossas

próprias almas, porque nos éreis muito queridos.

Versículo 9:

Certamente vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga;

trabalhamos noite e dia para não sermos pesados a nenhum de vós, enquanto

vos pregamos o evangelho de Deus.

E mais uma vez. Versículo 13:

Pelo que também damos sem cessar graças a Deus, porque, havendo

recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como

palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a

qual também opera em vós, os que credes.

Vez após vez, quando reflete sobre a igreja de Tessalônica, ele

relembra a substância de sua mensagem ao rebanho.

Isto nos traz à primeira das quatro características de um estilo

contagiante. Ele é bíblico no conteúdo. Se você tivesse feito uma visita

à congregação na antiga Tessalônica, teria certamente ouvido a clara e

contínua declaração da Palavra de Deus.

Poucas coisas há mais insatisfatórias do que ouvir as divagações

ociosas de um pregador, semana após semana. Mesmo que seja eloquente,

perspicaz e inteligente, o ministro que tem uma mensagem baseada em

opinião fracassa quando comparado ao ensinamento cuidadoso e à aplicação

fiel da verdade de Deus.

Você notou como ela era purificante? A exortação de Paulo não

vinha do erro. Francamente, a exortação não será baseada no erro se a

Bíblia estiver verdadeiramente sendo ensinada. "Nossa exortação não

procede de impureza" (a Palavra de Deus purifica motivos e palavras).

Tampouco procedia "de engano". A Palavra de Deus tira o coração da

hipocrisia. Ela não pode ser enganosa e, ao mesmo tempo, verdadeiramente

bíblica.

"Pelo contrário, como fomos aprovados por Deus para que o

evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos

homens, mas a Deus, que prova os nossos corações" (versículo 4).

Amo este tipo de audácia confiante. Quanto mais você usa as

Escrituras, menos se preocupa em agradar o rebanho. Quanto mais se

preocupa em apresentar o que Deus disse em sua Palavra, menos se

interessa pelas opiniões humanas. O ministro que depende de lisonja

desviou-se da ênfase apropriada sobre as Escrituras. Mostre-me um pastor

que diz à congregação o que ela deseja ouvir e lhe mostrarei um homem que

deixou de fazer a exposição do Livro. Quando você, como pastor ou

professor, se comprometer com a Bíblia, prestará menos atenção tanto a

agrados quanto a ataques da parte dos outros.

Page 39: A Noiva de Cristo

Poucas pessoas exemplificam tudo isso mais continuamente do que

o ministro britânico John R.W Stott. Em seu poderoso livrete The

Preacher's Portrait (Retrato do Pregador), ele trata da importância de se

manter um sólido conteúdo bíblico em nosso ministério.

"Não basta ao pregador conhecer a Palavra de Deus: ele precisa

conhecer as pessoas a quem a proclama. Ele não deve, naturalmente,

falsificar a Palavra de Deus a fim de torná-la mais atraente. Não pode

diluir o forte medicamento da Escritura a fim de torná-lo mais doce ao

paladar. Mas pode buscar apresentá-la às pessoas de maneira que a

recomende a elas. Antes de mais nada, ele tornará simples a mensagem... O

pregador expositor é um construtor de pontes, que busca fazer a ligação

do abismo entre a Palavra de Deus e a mente do ser humano. Ele precisa

fazer o máximo para interpretar a Escritura tão correta e simplesmente, e

aplicá-la tão vigorosamente, que a verdade atravesse a ponte".

Um pouco adiante ele diz que a autoridade do pregador não

repousa sobre si mesmo, mas sobre o Livro que ele proclama. Quantas vezes

temos ouvido Billy Graham dizer: "A Bíblia diz..., a Bíblia diz..., a

Bíblia diz." Por todo o mundo, ele tem estado a anunciar: "A Bíblia diz."

E é aí que se encontra a autoridade do evangelista.

Como diz Stott: "No sermão ideal, é a própria Palavra que fala,

ou antes, Deus, em e através de sua Palavra. Quanto menos o pregador se

interpuser entre a Palavra e seus ouvintes, melhor."

Quando você sai após um culto que incluiu momentos

significativos de instrução espiritual, deve partir impressionado,

primeiro e acima de tudo, com o que Deus lhe falou da sua Palavra e, logo

depois disso, com o que você precisa fazer a respeito. As opiniões

variadas e os interesses vacilantes do pregador são secundários ao texto

bíblico. A igreja que tem um estilo contagiante é bíblica no conteúdo.

É também autêntica em natureza.

"Como bem sabeis, nunca usamos de palavras lisonjeiras, nem de

intuitos gananciosos; Deus é testemunha. Não buscamos glória dos homens,

nem de vós, nem de outros, ainda que podíamos, como apóstolos de Cristo,

ser-vos pesados" (versículos 5-6).

Olhe de novo esses dois versículos com muito cuidado. Leia-os

mais uma vez. Fica claro que a ênfase passa da mensagem (versículos 1-4)

ao mensageiro (versículos 5-6). Ele diz, na realidade: "Minha

apresentação foi autêntica. Não vim agradando todo mundo com lisonjas.

Não ministrei com um programa secreto de cobiça. E certo que não busquei

glorificar-me na congregação à qual servi. Tampouco me aproveitei da

posição privilegiada de apóstolo de Cristo." Eram palavras de pura

autenticidade do coração de um verdadeiro servo. E esse tipo de

autenticidade é contagiante.

Não havia mais alta autoridade na igreja primitiva do que a

autoridade apostólica. Os apóstolos tinham dons milagrosos. Eles fundaram

igrejas. Falavam com frequência como o próprio oráculo de Deus. O Novo

Testamento não estava completo nem sendo compilado quando Paulo ministrou

em Tessalônica. As únicas Escrituras escritas eram os rolos do Antigo

Testamento. Para um apóstolo apresentar a verdade atual e relevante de

Deus, ele era inspirado de maneira singular, de modo que pudesse falar ex

cathedra, declarando sem erro a mensagem exata de Deus. Tal posição

privilegiada era rara, e portanto grandemente respeitada. O comentário de

Paulo é mais significativo ainda à luz do que foi dito. Ele se recusou a

tirar proveito de outros ou a esperar tratamento privilegiado porque

exercia um papel de tal autoridade na igreja primitiva.

Page 40: A Noiva de Cristo

Enquanto estamos falando de autenticidade, não nos atrevemos a

ignorar algo que ele escreveu mais tarde aos coríntios. Diz respeito a

ser autêntico!

"Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o

testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria,

Pois nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este

crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande

tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras

persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de

poder, para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas

no poder de Deus" (1 Coríntios 2:1-5).

A autenticidade ocorre quando pessoas reais dizem coisas reais

acerca de questões reais com sentimentos reais. Não há nenhuma tapeação

ocorrendo, nenhuma conversa de duplo sentido, nenhum palavrório religioso

que soa piedoso, mas não tem prova. Quando você é autêntico, você vive o

que é. Você fala a verdade. Admite fracasso e fraqueza quando é

apropriado. Posso garantir que, quando as pessoas descobrem uma igreja

que promove esse tipo de autenticidade... quando seus líderes são modelos

contínuos de autenticidade, elas não conseguem ficar de fora. A

autenticidade é como um ímã invisível que as atrai para dentro.

Vi uma placa pequena, mas eloquente, que tinha sido emoldurada e

estava pendurada na parede do gabinete do presidente de uma faculdade.

Ela continha somente algumas palavras, mas, oh, tão impressionantes!

AQUI FALA-SE DE BONDADE

Gostaria de sugerir outra placa para os vestíbulos das igrejas e

gabinetes pastorais:

AQUI APRENDE-SE A SER AUTÊNTICOS

A igreja que permanece continuamente bíblica em conteúdo será

diferente. Só isso já chamará a atenção. Mas não demorará muito e as

pessoas que vêm ali começarão a questionar se todo esse bom ensinamento é

apenas conversa sem substância. Elas começarão a procurar autenticidade.

Será que essa é uma igreja que realmente acredita naquilo em que diz

acreditar? Realmente executamos o que concordamos quando nos agrupamos...

ou mais parecemos dois times: um fazendo o agrupamento e outro fazendo as

jogadas?

A terceira característica de uma igreja com estilo contagiante:

ela é um lugar que é gracioso em atitude. Como amo esta passagem de 1

Tessalonicenses 2! Ela transborda de graciosidade:

"Antes fomos brandos entre vós, como a mãe que acaricia seus

próprios filhos. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade

quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas também as

nossas próprias almas, porque nos éreis muito queridos. Certamente vos

lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; trabalhamos noite e dia

para não sermos pesados a nenhum de vós, enquanto vos pregamos o

evangelho de Deus. Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, e justa, e

irrepreensivelmente procedemos para convosco, os que credes. Assim como

bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós,

como o pai a seus filhos" (versículos 7-11).

Page 41: A Noiva de Cristo

Interessante, não é mesmo? O pensamento inicial refere-se à

delicadeza de uma mãe e a referência final fala da liderança de um pai.

Anote isso.

Essa simples observação me diz que a igreja é uma família, não

um negócio. Os negócios não têm pais e mães; as famílias, sim. O rebanho

de Deus não é uma corporação que se tornou pública. Está aberta ao

público, naturalmente, mas a família em si é uma unidade composta de

pessoas que concordam a respeito das mesmas coisas

básicas e sentem muita alegria em aprender, crescer e compartilhar essas

coisas. Contudo, não é incomum algumas pessoas dessa família sentirem-se

inquietas e se debaterem com um bom número de coisas. Talvez não tenham

paz íntima. Surge a pergunta: Como lidamos com as pessoas que estão

lutando? Como são elas tratadas? Que tipo de espírito se difunde? Lembra-

se do que acabamos de ver? Eu li graça em tudo aquilo. Também li terno

afeto. Li sobre delicadeza, encorajamento e compreensão no estilo de

liderança de Paulo.

Em vez de ser duro e exigente, ele foi delicado e tolerante. Em

vez de dar uma de oficial militar, ele agia como uma mãe que amamentava

ternamente seu bebê. Em vez de berrar fortes comandos e exigir que todos

acertassem o passo, havia terno afeto. De fato, Paulo deu não apenas o

evangelho, mas deu a si mesmo. Em vez de ver a congregação como boquinhas

abertas que precisavam de leite e carne, ele disse: "Vocês se nos

tornaram muito queridos." Em vez de se aproveitar deles, disse: "Não quis

ser um fardo para vocês." Em vez de se envolver num estilo de vida

egoísta recoberto por um verniz de falsa espiritualidade, ele disse:

"Quão santa, e justa, e irrepreensivelmente procedemos para convosco,

como um pai diante da família a quem ama."

Que tesouro é encontrar na mesma pessoa um equilíbrio de força e

graça. Carl Sandberg, descrevendo Abraham Lincoln, chamou-o de "homem de

aço e veludo". Sandberg escreveu essas palavras descritivas num discurso

que fez em 12 de fevereiro de 1959.

"Não é com frequência na história da humanidade que chega à

terra um homem que tanto é aço quanto veludo, que é duro como pedra e

suave como a neblina que se esvai, que traz no coração e na mente o

paradoxo de terrível tempestade e paz inexprimível e perfeita...

Enquanto os ventos da guerra uivavam, ele insistiu que o

Mississipi era um único rio feito para pertencer a um único país, que

ligações ferroviárias de costa a costa deviam ser implementadas...

Enquanto a guerra oscilava, quebrava e ressurgia, enquanto generais

fracassavam e campanhas eram perdidas, ele manteve juntas forças

suficientes do Norte para levantar novos exércitos e supri-los, até que

fossem encontrados generais que fizessem guerra como as guerras

vitoriosas sempre foram feitas, com terror, pavor, destruição... valor e

sacrifício além do que as palavras humanas podem contar...

Na mistura de vergonha e culpa dos imensos erros do embate de

duas civilizações, em geral sem nada a dizer, ele nada disse, não dormiu,

e por vezes foi visto chorando de uma forma que tornou o pranto

apropriado, decente, sublime".

Aço e veludo. Uma combinação irresistivelmente contagiante.

Haverá ocasiões em que a igreja deve ser de aço, e outras

ocasiões em que precisará ser de veludo. A igreja que é toda aço é fria,

calculista e dura. Aço demais e sua mensagem é um punho fechado. A igreja

que é toda veludo torna-se mole demais, tolerante demais, aceitando tudo,

tendo falta de convicção. Precisamos tanto de aço quanto de veludo para

que haja autenticidade, juntamente com graça, verdade e amor. Como é

importante a igreja permanecer equilibrada!

Page 42: A Noiva de Cristo

Em quarto e último lugar, a igreja que tem um estilo contagiante

é relevante em seu enfoque.

... "Para que andásseis de um modo digno de Deus, que vos chama

para o seu reino e glória. Pelo que também damos sem cessar graças a

Deus, porque, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a

recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como

palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que credes" (versículos

12-13).

Essa é uma descrição da relevância em ação. Muitas igrejas

suprem o que costumo chamar de boas novas para pessoas do primeiro

século. Contudo, precisamos de boas novas para pessoas modernas.

Precisamos de uma mensagem que diga respeito às questões de hoje.

Precisamos de aplicação voltada para hoje, não para a década de trinta,

cinquenta ou até mesmo de setenta. As pessoas da igreja precisam da

segurança de saber que a Bíblia chega ao cerne das necessidades de hoje,

tratando de assuntos com os quais estamos convivendo neste momento.

Nós não tornamos as Escrituras relevantes, elas são relevantes.

Nossa função como cristãos é a de ressaltar quão relevante a Palavra de

Deus realmente é.

E, por falar nisso, quando abraçamos uma relevância atualizada,

percebemos como é incorreto dividir as coisas em sacras e seculares. O

domingo não é sagrado, deixando de segunda-feira a sábado na categoria do

secular. A maneira pela qual você conduz seu negócio não é menos sacra do

que a maneira pela qual você conduz o seu culto. Cristo e seu padrão de

justiça penetram todas as áreas da vida. Cada dia é igualmente relevante.

Deus não está desatualizado.

QUANDO ESSE ESTILO OCORRE...

Quando alguém perguntar: "Olhe, que tipo de igreja é a sua?", em

vez de responder "batista", "presbiteriana", ou "carismática", eis aqui

uma resposta excelente: "Somos uma igreja que é bíblica no conteúdo,

autêntica na natureza, graciosa na atitude e relevante no enfoque. Esse é

o nosso estilo. Na verdade, você descobrirá que somos contagiantes."

Quando esse estilo ocorre, o que podemos esperar?

Primeiro, podemos esperar da parte de Deus que ele honre os

nossos esforços a despeito das nossas fraquezas. Segundo, de nossa parte,

podemos esperar exemplificar a semelhança com Cristo, como a do primeiro

século, num estilo do século vinte. Da parte dos outros? Acho que podemos

esperar que eles façam parte da comunhão, a despeito das dificuldades.

Um dos mais importantes segredos de um estilo contagiante é

manter a perspectiva certa. O que isso quer dizer? Diversos contrastes me

vêm à cabeça.

· Mais ênfase em conteúdo, menos em cosméticos

· Mais importância dada à profundidade, menos ao tamanho

· Mais interesse em exaltar a Cristo, menos a nós mesmos

· Mais lembretes de que a igreja é um povo com almas eternas,

não estruturas de aço temperado

· Mais envolvimento com os perdidos fora dessas paredes, não

apenas em trazê-los para ouvirem falar de Cristo

· Mais alegria, menos lembrança de obrigações

· Mais autenticidade, menos hipocrisia

· Mais relacionamentos significativos, menos longas reuniões

Page 43: A Noiva de Cristo

Opa! Acho que de repente parei de escrever e comecei a me

intrometer!

REFLEXÕES

1. Imagine que você, como Paulo com os tessalonicenses, tivesse

apenas seis a oito semanas para tocar as vidas das pessoas em sua

comunidade local. Sabendo que seu tempo estava severamente limitado,

quais seriam as três ou cinco primeiras ações específicas que você

empreenderia para fazer uma diferença para Cristo dentro do rebanho?

Sabendo que sua influência é realmente limitada pelo

tempo (Tiago 4:13-17), quais dessas ações você executará no poder do

Senhor dentro do próximo mês?

2. Transcreva 1 Coríntios 2:1-5 num cartão e coloque-o num lugar

em que não terá como não vê-lo na próxima vez que for chamado para

qualquer tipo no corpo de Cristo. Deixe que essas palavras o relembrem de

ser autêntico em seu serviço, sem mascarar suas fraquezas e lutas,

obscurecer as verdades bíblicas com clichês de tom religioso ou

outopromoção

3. Reveja mais uma vez as palavras de Paulo em 1 Tessalonicenses

2:7-11. De que maneira ele era como uma mãe para a igreja? De que maneira

era como um pai? De que maneiras você pode aplicar esta terna verdade ao

seu próprio ministério dentro da família de Deus? Seja específico.

Capítulo Cinco

A DIFERENÇA ENTRE A MENTALIDADE METROPOLITANA E A COMUNITÁRIA

A igreja grande tem sido alvo de má fama. Especialmente nesta

geração, o tamanho em si torna suspeitos os grandes locais de culto. Acho

esse fato um tanto curioso, visto que não parece ser verdadeiro nas

outras áreas da vida. Na esfera doméstica, por exemplo, as grandes

famílias não são vistas com desconfiança. Pelo contrário, é geralmente a

família grande e feliz que faz a inveja da vizinhança. Talvez você tenha

uma grande família e certa noite os membros decidem sair para jantarem

todos juntos. Lá estão vocês, usufruindo a ocasião juntos à volta da mesa

e o garçom ou alguém sentado perto vem à sua mesa para cumprimentá-los.

Pode ser até que mencione quanto os admira. Em lugar de serem criticadas,

as grandes famílias em geral são invejadas.

Tamanho certamente não é considerado ruim no mundo comercial.

Para falar a verdade, todo Natal noto que as maiores lojas e os maiores

shopping centers são os lugares mais populares para se fazer compras. E

ali que conseguimos encontrar os presentes que procuramos. A maioria das

pessoas parece pensar que as maiores lojas e os shopping centers têm uma

variedade maior, são mais eficientes, e provavelmente oferecem preços

mais em conta do que as lojas menores, particulares.

O mesmo se dá com as grandes companhias. São elas que parecem

ter o dinheiro, o interesse, e o pessoal para fazer o tipo de pesquisa e

estabelecer o padrão ideal que passamos a esperai" de organizações de

melhor qualidade.

Deixe-me ir mais adiante. Se você precisar de cuidados

hospitalares e puder escolher entre receber socorro num centro médico

grande, bem estabelecido, moderno, e um hospital muito menor logo adiante

na mesma rua, é mais provável que você vá ao lugar maior, por achai" que

receberá melhor tratamento.

E aqui está mais uma. Quando há necessidade de um carro, a

maioria das pessoas não começa com uma marca quase desconhecida. A

Page 44: A Noiva de Cristo

maioria das pessoas compra de um dos "três grandes" fabricantes de carros

no Brasil ou um carro estrangeiro fabricado por uma das companhias

maiores, mais conhecidas.

O mesmo ocorre com as viagens aéreas. Diga-me, qual foi a última

vez que você planejou um voo de avião monomotor para Juiz de Fora? A

menos que você tenha seu próprio avião ou tenha algum destino especial,

fora das rotas comerciais normais, viajará, assim como eu, com uma grande

companhia aérea. Quando está fazendo planos para o voo, você, assim como

eu, provavelmente pergunta qual vai ser o equipamento. Não apenas

preferimos aviões maiores, sentimo-nos mais seguros viajando com uma

companhia grande e respeitada.

Enquanto estamos tratando do assunto, que dizer dos esforços A

Diferença Entre Mentalidade Metropolitana e a Comunitária '' acadêmicos?

Acho que se nos dessem a opção de obter um diploma superior,

provavelmente não escolheríamos uma escola que tivesse vinte e três

alunos e três docentes, dois deles em tempo parcial. Não, escolheríamos

uma das maiores e mais respeitadas universidades, cujo diploma fosse

admirado, cujos membros do corpo docente fossem frequentemente autores de

livros de texto, cuja fama estivesse firmemente estabelecida.

Por algum motivo, esta lógica não funciona nas mentes de muitas

pessoas quando se trata de igrejas. Cresça, e antes de saber o que está

acontecendo, você é visto com desconfiança, até mesmo pelos irmãos de

outras igrejas. Espero não dar a impressão de estar sendo severo ou

defensivo. Em mais de uma ocasião, quando eu era pastor de uma igreja de

bairro, costumava suspirar quando alguns dos meus amigos cristãos ou

colegas de ministério criticavam a grande igreja central. Alguns deles

achavam que ela era pouco mais do que uma massagem no ego de um ocupante

do púlpito. Eu não. Com grande frequência, achava que a igreja era outra

testemunha singular usada grandemente por Deus. Tenho um montão de

defeitos, mas por algum motivo nunca me debati com a inveja. Jamais (e

repito jamais) o fato de outro ministério ser grande e o lugar que eu

pastoreava ser pequeno me fez menosprezai" a igreja grande.

Mas percebo que não é o que acontece com muitos cristãos. Nem

mesmo com muitos ministros. Francamente, pode nem acontecer com você.

O que me faz realmente sorrir com relação ao tamanho da igreja é

que o primeiro retrato de igreja encontrado na Bíblia, o primeiro

registro, veja você, não é o da típica "igrejinha no vale". Pelo que

entendo, para que a primeira das igrejas pudesse existir, tiveram de

reparti-la em grupos menores porque simplesmente não havia prédios nos

quais se reunir. Não havia nada parecido com uma equipe para cuidar da

igreja. Eles não tinham normas e constituição eclesiásticas. Mas o que me

faz sorrir com relação a esse retrato primitivo é o enorme tamanho da

igreja. Imediatamente após Pedro pregar uma mensagem dinâmica no poder do

Espírito Santo, Deus veio sobre um grupo de pessoas que eram como uma

turba no meio de Jerusalém. Segundo Atos 2:41, ele foi o evangelista que

Deus usou a fim de apresentar àquelas pessoas as boas novas de Cristo.

Lemos que aqueles que

"receberam a sua palavra foram batizados".

Este é claramente o primeiro exemplo de um grupo de pecadores

convertidos na era do Novo Testamento.

"E naquele dia agregaram-se [acredite se quiser] quase três mil

almas".

Três mil pecadores novinhos em folha subitamente entraram para a

família de Deus. Tente imaginar isso. Crescimento instantâneo ... uma

Page 45: A Noiva de Cristo

igreja de três mil membros. E suficiente para fazer os peritos em

crescimento de igreja babarem!

Mas esse não é o fim, apenas o começo. O último versículo de

Atos 2 diz que aquelas pessoas não apenas se relacionavam

harmoniosamente, como seu número aumentava.

"[Eles estavam] caindo na graça de todo o povo. E todos os dias

acrescentava o Senhor a igreja aqueles que iam sendo salvos".

Não houve um momento em que Deus disse: "Opa, grande o

suficiente. De fato, grande demais. Eles não podem ser eficazes se

crescerem tão depressa. Nenhuma igreja deveria ser grande

assim!" Não mesmo. Disse Deus: "Multiplicarei o seu número."

Pouco tempo depois, ainda na mesma localização geográfica, este

mesmo corpo de crentes encontra-se sem prédio, sem o que poderíamos

chamar de pessoal suficiente, enquanto os apóstolos ministram entre eles.

"Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e chegou o

número desses a [que susto!] quase cinco mil" (Atos 4:4).

Talvez você pense que por ser o primeiro século e por Deus estar

supervisionando aquela obra com sua grandiosa presença, eles não tinham

pessoas problemáticas como as que as igrejas têm hoje. Errado. Leia a

seguir Atos 6:1-4. Você se pergunta se eles tinham os nossos tipos de

problemas? Você duvida que houvesse queixas como as que existem hoje?

Enquanto a igreja crescia, enquanto os números aumentavam, enquanto Deus

abençoava e supervisionava tudo aquilo, problemas ocorriam

"Naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve

murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram

desprezadas na distribuição diária de alimento" (6:1).

Sorrio quando leio estas palavras, não por me alegrar pelo fato

de algumas pessoas estarem sendo desprezadas, mas porque entendo queixas

congregacionais. Algumas pessoas da congregação provavelmente diziam:

"Simplesmente não é justo. E obvio que o pessoal da liderança não está

preocupado. Há falta de compaixão. Precisamos fazer algo a respeito. Por

que não botam a mão na massa e servem a essas senhoras as refeições de

que elas precisam? Elas estão famintas!"

A necessidade que eles apontavam era legítima, o que a liderança

reconheceu. Veja a reação:

"Então os doze [os apóstolos] convocando os discípulos...

(6:2a).

Não sei se eles convocaram algum tipo de assembleia geral ou o

quê. (Se fizeram isso, provavelmente apenas algumas centenas

compareceram. Nem mesmo sei onde eles se reuniram!) Mas convocaram um

grupo e explicaram:

"Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus, e sirvamos

às mesas" (versículo 2b).

Que audácia! Conheço pastores que teriam sido demitidos por

dizerem esse tipo de coisa. Leia adiante, se for ousado:

Page 46: A Noiva de Cristo

"Escolhei, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação,

cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais [nós, os doze]

constituamos sobre este importante negócio" (versículo 3).

Sabe o que suas palavras sugerem? "Queremos satisfazer às

necessidades daqueles que não estão sendo alimentados." E naqueles dias,

não ser alimentado era uma questão de sobrevivência diária, não apenas

perder o lanchinho do fim da noite. A igreja ajudava a alimentar aqueles

que estavam verdadeiramente famintos. A necessidade era genuína. Mas os

apóstolos disseram, com efeito: "Nós não podemos abandonar nossas mais

altas prioridades para encontrar receitas, preparar refeições, lavar os

pratos e servir os famintos. Não, vocês precisam cuidar disso. E enquanto

estiverem fazendo isso, ficaremos com as coisas que são nossas

responsabilidades explícitas."

"Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra"

(6:4).

Lembra-se da lista que lhe dei no capítulo 2? Você consegue

lembrar-se da afirmação número sete da lista? As ferramentas do

ministério são oração e a Palavra de Deus. Aqui está ela de novo.

Agora deixe-me fazer uma pergunta muito direta. Quanto você

estaria aberto à tal solução apresentada pela equipe pastoral de sua

igreja... e digamos que fosse sua mãe ou irmã viúva que estivesse

passando fome? Posso até imaginar os sentimentos que alguns teriam hoje.

Eles questionariam a disponibilidade, a compaixão, e mesmo o nível de

interesse dos líderes que continuassem a permanecer enclausurados em seus

aposentos a fim de buscar a face de Deus e procurar nas Escrituras as

respostas e a orientação.

A questão é clara: A prioridade mais alta dos apóstolos foi

mantida. Não se deixe enganar, eles arranjaram uma solução para que os

necessitados fossem atendidos. Mas eles mesmos permaneceram firmes na

tarefa essencial: fornecer nutrição espiritual a fim de que os santos

pudessem assumir a obra do ministério.

Permita-me instar com você a não ser tão desconfiado com o

tamanho do ministério, nem laborar no erro de que a igreja grande é um

fenômeno recente gerado pela mídia eletrônica. Admito que pode haver

algumas exceções nas quais igrejas grandes pouco mais são do que estudos

de burocracia religiosa ou que se revolvem em torno do ego frágil de um

pastor inseguro. Sim, esses Ligares existem. Mas através dos anos Deus

tem separado e usado muitos locais grandes de culto eficazmente.

MINISTÉRIOS METROPOLITANOS: NEM NOVOS NEM INÉDITOS

Façamos uma breve revisão histórica. Por causa do espaço e do

tempo, voltarei apenas uns dois séculos e limitarei minhas observações à

Inglaterra, depois atravessarei o Atlântico rumo aos Estados Unidos.

Espero que esta breve jornada dentro do túnel do tempo nos relembre da

realidade de que Deus tem abençoado e usado os ministérios metropolitanos

há décadas. Conforme veremos, as grandes igrejas não deveriam

necessariamente estar sob a suspeita de ficarem de alguma forma separadas

de Cristo, de sua Noiva, e do plano de redenção.

A Capela Carr's Lane era pastoreada por um homem famoso em

Birmingham, na Inglaterra. O lugar não tinha muitos atrativos, era

poluído, um ministério urbano, muito parecido com o que teríamos no

centro de Nova Iorque, ou Tóquio ou São Paulo hoje. O nome daquele homem

era R.W Dale. Ele pastoreou a igreja por trinta e seis anos. Ela tornou-

se grande e imponente. Depois veio John Henry Jowett, que mais tarde

Page 47: A Noiva de Cristo

atravessou o Atlântico, e foi para os Estados Unidos e continuou a

estabelecer um novo ritmo de vigorosa pregação expositiva.

Saint Paul foi outra grande igreja de renome. Ela foi

pastoreada pelo igualmente famoso Henry Liddon, tão abençoado por Deus

quanto Dale e Jowett haviam sido. Em Manchester, Alexander Maclaren

passou quarenta e cinco anos na grande igreja Union Chapel. Alexander

Whyte serviu durante quarenta e sete anos na Igreja Free St. George's

Church, em Edinburgo, na Escócia... outra grandiosa obra de Deus.

Não nos atrevemos a omitir Joseph Parker, cujo grande City

Temple era conhecido em Londres como o lugar público para cultos, segundo

apenas em tamanho ao famoso Tabernáculo Metropolitano, pastoreado pelo

pitoresco, eloquente e, eu poderia acrescentar, controvertido Charles

Haddon Spurgeon, que com uma idade admiravelmente reduzida enchia a casa

de cultos de seis mil lugares. Um dos seus biógrafos declara que as

pessoas esperavam na neve que as portas do Tabernáculo se

abrissem, tão ansiosas estavam por ouvi-lo pregar. Hoje, claro, ele foi

imortalizado. Mas naqueles dias, enorme quantidade de críticas lhe foi

lançada. Muitos perceberam posteriormente que profeta prolífico ele fora.

E impressionante o que a morte faz por um pregador eficaz, poderoso!

Francamente, às vezes me sinto como um dissidente no ministério

dos dias de hoje. Acho que sou um tanto inovador, criativo ou

"diferente"... depois estudo alguns desses grandes homens e vejo que, em

comparação, sou meio insípido!

G. Campbell Morgan foi criticado por ter gosto fino. Foi Morgan,

a propósito, que ministrou por doze anos na grande Westminster Chapei, em

Londres... e foi sucedido por D. Martyn Lloyd-Jones, mais outro famoso

expositor. Mas foi Morgan quem salvou a capela do declínio e da

negligência. Ele foi aplaudido por suas exposições perceptivas, mas

criticado por ser "extravagante". Disse ele a alguém: "Não sou

extravagante, sou apenas dispendioso."

O Dr. Morgan vivia bem. Ele gostava de coisas boas, viajava nas

carruagens mais finas, morava em lugares elegantes. E quando falava fora

de seu próprio púlpito, recebia vultosos honorários, algo que era

criticado naqueles dias. Campbell, a propósito, não estabelecia a

quantia. Um assistente no ministério a estabelecia para ele (talvez tenha

sido um dos primeiros agentes, não sei).

Nos Estados Unidos, precisamos com certeza falar em George W.

Truett, famoso por seu trabalho na enorme Primeira Igreja Batista no

centro de Dallas, no Texas. Ele foi sucedido por W A. Criswell, em cujo

pastorado aquele lugar cresceu ainda mais. Deveria também mencionar

Dwight L. Moody, que pregou para seis mil pessoas em um tabernáculo (que

eles chamavam de "capela") em Boston.

A Igreja Park Street de Boston foi colocada no mapa, em minha

opinião, pelo falecido Harold J. Ockenga, que pregou lá por mais de

trinta e dois anos. Em certo período de seu ministério, ele serviu como

presidente do Seminário Teológico Fuller em Pasadena, Califórnia,

enquanto pastoreava a igreja de Park Street em Boston, no outro lado dos

Estados Unidos. Indivíduo incrível.

Não podemos omitir a famosa igreja Moody Memorial em Chicago,

onde H. A. Ironside pregou. Ou a igreja presbiteriana Fourth Memorial,

que Dick Halverson pastoreou até tornar-se capelão do Senado dos Estados

Unidos. E por falar em capelão do Senado, a igreja National Presbyterian

Church foi um ministério metropolitano abençoado por Deus sob a liderança

do falecido Peter Marshall, cujo nome e estilo até hoje são lendários. E

não nos esqueçamos da igreja Tenth Presbyterian Church em Filadélfia,

onde o grande Donald Barnhouse, hoje falecido, ministrou com tanta

eficácia por trinta e três anos... e agora, James Montgomery Boice.

Page 48: A Noiva de Cristo

A Church of the Open Door (Igreja da Porta Aberta) no centro de

Los Angeles, outra grande igreja, já teve diversos pastores. Talvez os

mais conhecidos tenham sido R. A. Torrey, Louis T. Talbot e J. Vernon

McGee. Que impacto esse lugar tem tido pela causa de Cristo!

Muitos dos meus mentores espirituais entraram em nova fase de

crescimento na Igreja da Porta Aberta, enquanto ela estava localizada no

centro de Los Angeles, perto da praça Pershing. Devo mencionar também a

igreja Hollywood Presbyterian Church. Há também tantas outras por todo o

sul e o meio-oeste que minha lista é lamentavelmente incompleta. Não

tenho tempo para incluir uma sequer das maiores igrejas carismáticas que

têm sido usadas por Deus de forma magnífica nesta geração e nas

anteriores, ou muitos dos fortes ministérios batistas, presbiterianos,

metodistas ou independentes por todos os Estados Unidos.

Mas demonstrei o que queria: As igrejas metropolitanas têm

estado por aí há décadas (e continuarão a estar), e a maioria delas tem

tido inquestionavelmente um impacto para o bem. Não obstante, a despeito

de sua contribuição positiva no estabelecimento de tendências novas e

inovadoras, e de atrair muitas pessoas para se filiarem a outras igrejas

da mesma denominação, as grandes igrejas continuarão a ser vistas

negativamente, de modo especial nesta geração.

Não é apenas o tamanho que suscita desconfiança; com frequência

é o crescimento rápido. Quando o crescimento é sólido, lento e constante,

ninguém fica nervoso. Quando é súbito e inesperado, todos os tipos de

sentimentos desconfortáveis ocorrem.

Tudo isto me faz pensar em uma analogia que poderíamos imaginar

a partir de uma cena doméstica. Suponhamos que um casal tenha estado

casado por seis ou sete anos, e que durante esse tempo não tenha tido

filhos. Então certo dia eles descobrem, felizes, que vão ter um nenê, um

menino. E, veja só, um ano depois eles têm uma garotinha. Deu para

perceber? Por anos, os dois viveram juntos em relativa calma e existência

pacífica. E então, em poucos meses, eles são pais de dois bebês ativos.

As coisas se embalam (não querendo fazer piada) por quatro meses e então

certa noite, quando estão sentados ao lado da lareira, a mãe exausta diz

ao cansado papai: "Sabe de uma coisa? Estou grávida. E, meu bem... o

médico disse que ouve dois corações." Alguns meses mais tarde, gêmeos! E

como se isso não fosse o bastante, dentro de alguns meses após o

nascimento dos gêmeos, eles descobrem que vão ter trigêmeos.

Barbaridade! Sete filhos num espaço incrivelmente pequeno de

tempo. Pode crer, a vida não será a mesma naquele pequeno apartamento com

sete crianças (a maioria deles ainda de fraldas) e toda aquela paz e

calma desaparecidas! Que diferença de quando eram apenas mamãe e papai e

o aparelho de som tocava suavemente "Bendita Hora de Oração".

É o que acontece quando uma igreja experimenta um crescimento

monumental por orientação de Deus, não pelas manipulações de um

egomaníaco. Pergunta: O que você faz? Como trata isso? Quais são os

princípios necessários para manter a igreja eficaz? Tornemo-nos práticos.

PRINCÍPIOS ETERNOS PARA A PRESERVAÇÃO DA EFICÁCIA

Lá no Antigo Testamento, temos o maravilhoso retrato de um homem

que chamarei de pastor efetivo da Igreja Bíblica do Deserto. Seu nome era

Moisés. Que ministro fora de série! Você jamais o teria escolhido se

fizesse parte do comitê que estuda os candidatos a pastor dessa "igreja"

incomum. Para começo de história, o lugar onde ele ministrará é uma

igreja incomum pelo tamanho- cerca de dois milhões de membros. Ademais,

seus antecedentes são questionáveis. Ele matou um homem. Tampouco esse

cavalheiro estabeleceu muitos recordes impressionantes nos quarenta

últimos anos de sua vida, o que nos traz à sua idade. Ele está agora com

Page 49: A Noiva de Cristo

oitenta anos, não é a idade ideal para um homem que precisa pastoreai'

tantas pessoas sem nenhuma equipe. E sem nenhum prédio!

Durante seus quarenta últimos anos ele trabalhou para o sogro,

Jetro, cuidando de rebanhos, que é praticamente a única coisa que

poderíamos apontar como tendo muito de longe preparado o homem para esta

vasta congregação. E mencionei que ele tem um problema de dicção?

Juntamente com a velhice e um curriculum vitae que nada faz por ele, o

homem gagueja. Caro Moisés... que desafio!

Inesperadamente, um arbusto explode em chamas e se recusa a

deixar de arder. O pastor de oitenta anos fita-o sem acreditai' até ouvir

seu nome ser chamado. Entenda, ele não tinha a mínima ideia de que jamais

seria chamado de volta ao plano de ação de Deus. Ele foi esmagado até

tornar-se um nada. Portanto, nada tinha a oferecer, exceto caráter. Ainda

não acho que teríamos ficado tão impressionados assim com ele.

Ao contrário da opinião popular do século vinte, ele não se parecia com

Charlton Heston nem tinha o físico do Rambo. Moisés, sem exagero, era um

octogenário alquebrado que não queria o emprego. Relutantemente, após

extensa discussão, ele finalmente o aceita. Virtualmente da noite para o

dia, ele se torna o "pastor" de dois milhões de almas rabugentas

recentemente libertas da escravidão.

A história que tenho em mente começa com uma visita. Para

continuai" com a minha analogia, este pastor envelhecido passa algum

tempo com um consultor chamado Jetro, que por acaso era seu sogro. E um

encontro agradável, cheio de cálida hospitalidade. Êxodo 18 registra a

cena:

"Contou Moisés a seu sogro todas as coisas que o Senhor tinha

feito a Faraó e aos egípcios por amor de Israel, e todo o trabalho que

passaram no caminho, e como o Senhor os livrara" (versículo 8).

Dá para perceber o entusiasmo? "Deixe-me contar o que Deus fez.

Ouça, Jetro, você não acreditaria naquele negócio todo do mar Vermelho.

Espantoso! Ainda mal posso acreditar. Eu disse apenas: "Estai quietos e

vede o livramento do Senhor" e bumba! as águas se dividiram, e o fundo do

mar secou, e caminhamos por ele. De repente, enquanto todos nós olhávamos

para trás, os egípcios foram destruídos!"

Jetro coça a barba, dizendo: "Puxa! Eu acredito! E incrível."

"Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor tinha feito a

Israel, livrando-o das mãos dos egípcios, e disse: Bendito seja o Senhor,

que vos livrou das mãos dos egípcios e das mãos de Faraó. Agora sei que o

Senhor é maior que todos os deuses, pois fez isto aos que trataram a

Israel com arrogância. Então tomou Jetro, sogro de Moisés, holocausto e

sacrifícios para Deus; e veio Arão, e todos os anciãos de Israel, para

comerem pão com o sogro de Moisés diante de Deus" (versículos 9-12).

Enquanto o dia terminava, eles gozaram uma comunhão íntima. A

noite trouxe a ambos o descanso de que tanto precisavam. No dia seguinte,

entretanto, as coisas mudaram.

"No dia seguinte assentou-se Moisés para julgar o povo, e o povo

em pé diante de Moisés desde a manhã até a tarde. Vendo o sogro de Moisés

tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que fazes ao povo? Por

que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã

até a tarde?" (versículos 13-14).

Como bom consultor, Jetro não dá respostas imediatamente. Ele

faz perguntas: "O que está acontecendo? Por que você está fazendo tudo

Page 50: A Noiva de Cristo

isto sozinho?" Espero que você tenha a palavra sozinho sublinhada em sua

Bíblia. É importante.

Agora olhe a resposta humilde e sincera de Moisés:

"Respondeu Moisés a seu sogro: É porque o povo vem a mim para

consultar a Deus" (versículo 15).

"Esse é o meu trabalho, homem. Isto é, como posso ter o direito

de comungar com meu Senhor no fim do dia e dizer: "Ministrei em teu

nome", se não ajudar todo o povo com todas as suas necessidades?"

Não critique Moisés. Ele apenas não sabe o que mais fazer. Está

apenas fazendo o que sempre fez. E um estilo de liderança de organização

"comunitária", ainda comum na maioria dos ministérios hoje, mesmo nas

grandes igrejas. Jamais ocorreu a Moisés fazer alguma coisa com relação à

carga de trabalho. Delegar não era uma palavra em seu vocabulário.

"O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes".

(A sentença em hebraico é mais forte ainda. Começa com "Nada

boa!" Literalmente, "Nada boa é esta coisa que você está fazendo!")

"Certamente desfalecerás, assim tu, como este povo que está

contigo. O trabalho te é pesado demais; tu só não o podes fazer"

(versículo 17-18).

Os termos hebraicos traduzidos para "certamente desfalecerás"

transmitem a ideia de envelhecimento e exaustão. Hoje diríamos: "Sabe,

filho, se você continuar nessa, vai acabar morrendo cedo. Você tem apenas

oitenta anos (!). Ainda tem muitos anos bons à sua frente."

Não perca outra coisa na admoestação franca de Jetro; isso é

exaustivo também para o povo. As pessoas ficarão exaustas esperando pela

ajuda de Moisés.

Quantos pastores, quantos administradores, quantos presidentes

de escolas, quantos ótimos cristãos e cristãs, chefes de organizações

religiosas, e líderes das igrejas, estão tentando fazer tudo sozinhos?

Mais do que jamais acreditaríamos! E para piorar as coisas, as

congregações e equipes a eles relacionados lhes estão permitindo isso! A

propósito, muito disto se aplica tão diretamente a uma igreja de duzentos

membros quanto a uma de dois mil.

Gosto da maneira como Jetro assume o comando. "Agora, escute

aqui." Esse é o versículo seguinte (parece mesmo um sogro, não parece?).

Jetro não atira pedras em Moisés para vê-lo sangrar. Ele oferece conselho

sábio, viável.

"Ouve agora a minha voz, e te aconselharei, e Deus seja contigo.

Representa o povo diante de Deus, e leva as suas causas a Deus"

(versículo 19).

Amo isso. Não estou sugerindo que você relaxe, folgue quatro

dias por semana, deixe tudo de molho, e se esconda até tarde da noite de

sábado. A esperança para o ministro efetivo não é ele se tornar tão

distante que não saiba o que está ocorrendo. Não, o que ele precisa

resolver é a questão das prioridades.

Jetro diz: "Represente as necessidades do povo diante do Deus

vivo." Entretanto, ele não para aí.

"Ensina-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho

em que devem andar, e a obra que devem fazer" (versículo 20).

Page 51: A Noiva de Cristo

"Diga-lhes, Moisés. Ensine-os. Faça com que saibam a verdade. E

quando tiver feito isso, ensine-lhes mais e mais." De fato, o último

Livro da Lei, que Moisés escreveu, nada é além de ensinamento... sermão

após sermão. E chamado de Deuteronômio (que quer dizer "uma repetição da

Lei"). Ele repassa as mesmas coisas vez após vez. Ele está ensinando ao

povo, conforme Jetro insistiu que fizesse.

Quando um líder (inclusive um pastor) envolve-se demais com as

minúcias da organização, deixa de se comunicar. Você pode ser um ministro

e encontrar-se nessa categoria agora mesmo. Você está envolvido. Conhece

todos os detalhes, detalhes demais, para falar a verdade. Você conhece

bem a queixa de todo mundo. Repassa mentalmente todas as expectativas dos

membros. O resultado é trágico! Sua liderança está agora reduzida à

operação de todos os botões, engrenagens e polias. Você é o homem das

respostas, o menino de recados, o escravo da congregação. Mas o problema

é que você não está de fato liderando. Para falar a verdade, você não

teve uma ideia criativa em meses. Até já deixou de sonhar. Seu mundo se

resume a apagar incêndios. Você se tornou um administrador de detalhes,

mas não grande coisa como líder.

Segundo um artigo em recente edição do jornal Wall Street

Journal, quando assumiu a presidência da Universidade Yale, Beno Schmidt

Jr. expressou certo temor com relação à movimentação do cargo. Disse ele:

"Se eu não puder colocar os pés sobre a escrivaninha e olhar pela janela

e pensar sem uma pauta de trabalho, poderei estar administrando Yale, mas

não a estarei liderando."

Esse é um comentário perspicaz (e condenatório, eu poderia

acrescentar) que cada ministro deveria se lembrar. Uma coisa é

administrar, outra é liderar. As igrejas precisam de líderes!

"Moisés, você tem de apegar-se a Deus. Tem de ouvir a voz de

Deus e comunicar sua verdade. Mesmo que alguns implorem por tempo com

você, apenas diga "Não!" Diga-o até que eles compreendam que isso vai ser

delegado a pessoas tão qualificadas quanto você, que casualmente têm dons

semelhantes, mais tempo e habilidades suficientes e até mais do que você.

Diga "Não" mais e mais, Moisés! Líderes que não sabem dizer "Não" perdem

sua eficácia."

O plano "A" é comunicação. Está escrito nas entrelinhas:

"Instrua o povo na verdade de Deus. Isso é essencial. Não seja relutante

quanto a isso. Faça-o, Moisés. Faça-o de todo o coração."

Mas isso não foi tudo.

"Mas procura dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus,

homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes

de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez" (versículo

21).

O plano "B" é delegação. Reparta a carga de trabalho, mas não

apenas com qualquer João, Zé ou Dito. Encontre gente de qualidade que

possa tratar com mil e dê a essas pessoas os grupos maiores. Encontre

aqueles que possam liderar cem e dê-lhes um grupo menor. Encontre aqueles

que podem liderar grupos de cinquenta e dê-lhes esse tanto de gente.

Encontre aqueles que podem lidar com dez e dê-lhes o grupo de menor

tamanho. Deixe que eles invistam seus dons, tempo, energia e sabedoria

nesses grupos. Deixe que eles façam isso... não interfira, fazendo isso

por eles!

"Julguem a este povo em todo o tempo, Que a ti tragam toda causa

grave..." (versículo 22).

Page 52: A Noiva de Cristo

Até mesmo enquanto escrevo esta sentença sei que isto é algo

subjetivo. Não temos uma lista detalhada aqui (ou em qualquer outra parte

das Escrituras) sobre o que constitui uma disputa "grave" ou "menor".

Essa questão tem de ser elaborada. Chegar a uma conclusão sobre essas

diferenças requer sabedoria, tempo e debate. Também requer experiências

do tipo tentativa e erro. E por isso que a Bíblia nos adverte contra ter

um neófito pastoreando a igreja. Uma das atribuições do homem amadurecido

é a capacidade de determinar a diferença entre o sério e o menos

importante, de saber quando é melhor dizer "sim" e quando deve dizer

"não", mesmo que isso seja pouco popular. Os conselhos precisam ajudar o

pastor a analisar esses detalhes.

Está pronto para uma coisa chocante? Leia isto bem devagar:

"Julguem a este povo em todo o tempo. Que a ti tragam toda causa

grave, mas toda causa pequena eles mesmos a julguem. Assim, a ti mesmo te

aliviarás da carga, e eles a levarão contigo" (versículo 22).

Você viu isso? "A ti mesmo te aliviarás..." Nunca vi esse

conceito enfatizado suficientemente em conferência para pastores. Nenhum

seminário jamais é intitulado: "Como Tornar Mais Fácil o Ministério", ou

"Como Se Divertir A Valer". Não, nesses ambientes altamente

intensificados você deve ajudar os pastores a saberem como fazer mais e

mais até eles arriarem sob um fardo cada vez maior de culpa.

Você já viu um pastor humilde, sobrecarregado, mal pago, não

viu? E patético! Parece que alguém deu uma bordoada na nuca do sujeito.

Ele fica meio arqueado para frente, olhando para baixo, e parece triste e

sorumbático, raramente sorrindo... nunca rindo. Caso não tenha ouvido

falar, é essa a aparência que supostamente você deve ter se for realmente

dedicado ao ministério. Tenho uma ótima palavra para isso: Besteira!

Segundo Êxodo 18:22, se comunicamos e delegamos, as coisas devem

ficar mais fáceis para nós, porque outros estarão envolvidos em levar a

carga conosco. Sim, mais fáceis.

Sempre me preocupou o fato de não ser considerado muito

espiritual você estar no ministério, mas divertindo-se a valer. Tenho uma

pergunta para todos os que acreditam nisso: Desde quando exaustão é prova

de eficiência? Aqui vai outra, não tão bonitinha assim: Quem disse que ir

parar numa clínica psiquiátrica, emocionalmente desgastado e fisicamente

exausto, é prova de que o pastor realmente deu o melhor de si? Tenho

séria pendência a resolver com aqueles que tiraram o divertimento do

ministério e transformaram o serviço em escravidão. Quem roubou o riso do

lar do pastor ou tirou o gozo do seu gabinete? Quem roubou à esposa do

pastor a liberdade de gostar do seu papel e de ser ela mesma? Maldito

ladrão!

Há suficiente tensão em potencial na maioria das igrejas para

exaurir dez pastores, se o permitirmos. Mas o desejo de Deus é que

encontremos maneiras de tornar a tarefa "mais fácil".

"Se isto fizeres, e Deus assim ordenar, poderás então suportar a

tensão, e também todo este povo irá em paz para o seu lugar" (versículo

23).

Que sábio conselho! Obrigado, Jetro. E a boa notícia é que

Moisés seguiu o conselho de seu sogro... e funcionou às mil maravilhas. O

pastor Moisés viveu até os 120 anos de idade. E quando morreu, a

Escritura diz que foi o homem mais humilde sobre a face da terra. Não

acho que tivesse um pingo de amargura em todo seu ser. Ele aprendeu a

viver livre de fardos inúteis. E você também pode, meu amigo. Em resumo:

Page 53: A Noiva de Cristo

.Seu ministério se tornará mais fácil para você.

.Outros se sentirão uma parte significativa do trabalho.

.Você viverá mais e mais feliz.

.Funcionará!

COMO TUDO ISTO SE APLICA A UM MINISTÉRIO METROPOLITANO?

Você deve estar pensando qual a aplicação pessoal de tudo isto -

- ao seu ministério ou ao ministério da sua igreja. Vejamos se consigo

esclarecer a aplicação enumerando três conceitos que frequentemente

reviso. Eles me ajudam a manter a perspectiva.

1. Muitas pessoas, mais altas expectativas, multiplicado por

numerosas necessidades, igual a responsabilidades sem fim.

2. A medida que o trabalho aumenta, a carga precisa ser

repartida. (A eficiência às vezes é revelada não pelo que a pessoa

realiza, mas por aquilo de que ela desiste.)

3. Os servos pessoais de Deus não estão isentos das penalidades

de quebrarem as leis naturais de Deus. Sono insuficiente significa

doença. Descontração insuficiente significa ansiedade. Pode crer, não há

nada espiritual a respeito de uma úlcera sangrando. Não serve para nada a

pessoa que está de cama, alquebrada e se debatendo com a amargura. Os

pastores podem se arrebentar. E esposas de pastores também. Os pastores

podem perder suas famílias, esposas e filhos. Os pastores podem morrer

cedo.

Todo ministério que espera continuar liderando deve fazer uma

avaliação de onde está indo e o que espera realizar. A carga está sendo

repartida suficientemente? Se não, vamos continuar a reparti-la ou

perderemos nosso melhor pessoal, tanto leigos quanto pastores.

Efésios 4 dá ótimo encorajamento para repartir a carga com

pessoas dotadas do corpo. Ele inclui os títulos de diversos dons

espirituais. Esses dons, à medida que operam na igreja, permitem que a

obra seja feita suave e eficientemente.

"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e

outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores..." (Efésios

4:11).

Esta lista é uma representação limitada de todos os dons do

corpo. Outros dons dignos de sua atenção são enumerados em Romanos 12, 1

Coríntios 12 e 1 Pedro 4. Estude essas listas. Há assistentes. Há pessoas

que organizam. Há pessoas com dom de misericórdia e aconselhamento. Há

pessoas com dons de sabedoria e expressão (geralmente nos referimos a

elas como professores). Nem todos os professores são pastores, mas todos

os pastores devem ser professores. Isto não é um trocadilho. Pode-se

lecionar uma aula, mas não ter o dom de pastorear. Mas se a pessoa

aceitar o papel de pastor, deve ter o dom do ensino também. Há outros

dons: evangelismo, exortação e muitas outras capacidades. Sábio é o

ministro que ensina suas ovelhas a respeito dos dons espirituais,

explicando o valor de cada um deles, depois as encoraja a agirem de modo

que o ministro em si possa manter sua ênfase sobre a oração e o

ministério da Palavra.

Vejo pelo menos três princípios na passagem de Efésios 4.

Primeiro, há dons suficientes para sustentar uma igreja de qualquer

tamanho. Deus deu dons à sua família.

Page 54: A Noiva de Cristo

"tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho

do ministério, para a edificação do corpo de Cristo" (versículo 12).

Permita-me falar aos que são ministros. Se você estiver numa

igreja que, a despeito dos seus esforços em delegar a carga de trabalho,

não estiver se sustentando com os dons que possui, ouso sugerir que você

deliberadamente ensine a respeito dos dons espirituais. Disponha-se a

delegar a carga de trabalho. Se você descobrir que o conselho e o rebanho

não estão dispostos a compartilhar as responsabilidades do ministério,

talvez deva considerar mudar para um ministério que permita que esses

dons operem. Sou da opinião, embora isto possa parecer heresia, que

algumas igrejas menores que lutam constantemente pela sobrevivência

deveriam ser fechadas ou anexadas, para que possam sobreviver, florescer

e fazer um trabalho bem feito. Um homem exausto pela luta de impedir que

tudo afunde não é uma igreja, é um quadro trágico de futilidade não-

bíblica.

Tudo isto me traz ao segundo princípio: Quando os dons são

exercidos, as congregações crescem.

"Até que todos cheguemos ã unidade da fé e do pleno conhecimento

do Filho de Deus, ã perfeita varonilidade, a medida da estatura da

plenitude de Cristo, para que não sejamos mais meninos, inconstantes,

levados ao redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que

com astúcia induzem ao erro" (versículos 13-14).

Os crentes precisam estar servindo ao Senhor porque todos nós

estamos engajados no ministério. Cada cristão deve envolver-se no

exercício de seu dom espiritual. A obra da igreja é um ministério mútuo.

Ao exercermos nosso(s) dom(dons), amadurecemos. E, repito, o gozo retorna

à medida que o ministério se torna mais fácil.

O terceiro princípio é: O envolvimento máximo leva ao

crescimento sadio.

"Para que não sejamos mais meninos, inconstantes, levados ao

redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia

induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo

naquele que é o cabeça, Cristo, do qual todo o corpo bem ajustado, e

ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada

parte, faz o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor"

(versículos 14-16).

Servir ao Senhor causa crescimento espiritual saudável. Quando

isto ocorre, poucas coisas são mais emocionantes ou mais impressionantes.

Alguns anos atrás, inventei um quadro a partir dos muitos anos

de experiência no ministério. Coloquei-o na página que se segue. Ele

declara, bem simplesmente, duas filosofias contrastantes, a mentalidade

"comunitária" e a mentalidade "metropolitana". Enquanto não acordarmos e

aceitarmos as diferenças entre esses dois conceitos, não entenderemos

muitas das frustrações que atormentam a maioria das igrejas. A esquerda,

você verá uma lista daquilo que caracteriza a mentalidade da igreja

pequena. E, a propósito, já vi grandes igrejas operando ainda pelo

conceito "comunitário". No lado direito você verá o conceito

"metropolitano", que penso ser o que torna possível a vida numa grande

igreja. Detenha-se alguns momentos e estude o quadro.

MENTALIDADE COMUNITÁRIA

Page 55: A Noiva de Cristo

Embora grande parte do quadro seja autoexplicativo, talvez

alguns comentários ajudem. No conceito "comunitário", há elos estreitos

entre o pastor e as pessoas e a igreja é como uma grande família. Todos

se identificam com o pastor. Quando ele está presente, "o espetáculo tem

início". Quando ele não está ali, as luzes se apagam. Por quê? Porque o

pastor é o centro do que for que estiver acontecendo.

Existe também a escala menor que todos precisam aceitar. Tudo é

menor equipe, visão, organização e instalações. O orçamento é reduzido e

simples. A obra externa também é pequena. As provisões são pequenas, e a

variedade é pequena.

O CONCEITO "COMUNITÁRIO"

1. Elos estreitos entre o pastor e as pessoas "uma grande

família... se identifica com o pastor"

2. Escala menor: equipe... visão... organização...

instalações... orçamento... trabalhos externos...provisão... variedade

3. A congregação é atraída principalmente de curta distância

4. Tendência de ser "voltada para si mesma"... pouca rotação

entre a liderança leiga... maior reticência à mudança

5. É fácil conhecer todo mundo

6. Carga de trabalho carregada por voluntários

7. Relativamente simples de administrar e manter

8. Operação centralizada no pastor... controle mais rígido

9. Lealdade forte, centralizada "à igreja"... mais fácil

implementar o envolvimento

10. Atmosfera naturalmente cálida e amistosa

CONCEITO METROPOLITANO

1. Elos estreitos entre grupos de identificação "numerosas

famílias... se identificam umas com as outras"

2. Escala grande: equipe... visão... organização...

instalações... orçamento... trabalhos externos... provisão... variedade

3. A congregação é atraída de uma vasta distância

4. Menos "voltada para si mesma"... mais ampla rotação entre a

liderança leiga... menos reticente à mudança

5. É impossível conhecer todo mundo

6. Parte do trabalho delegado a especialistas

7. Complexa de administrar e manter

8. Equipe múltipla... ênfase de equipe em todos na liderança...

base de controle mais ampla

9. Lealdade descentralizada para vários ministérios... mais

difícil implementar o envolvimento

10. Atmosfera ainda pode ser cálida e amistosa... constante mas

é um desafio

Quando se trata da geografia, a congregação é tirada

principalmente de um raio curto. Quando a nossa igreja começou, imaginei

que atrairíamos gente num círculo de apenas alguns quilômetros. Duvidei

que alguém viesse de carro de Pasadena, Long Beach ou Newport Beach como

alguns fazem hoje. Conheci semana passada um casal que vem de San

Bernardino todo domingo. Eles viajam mais ou menos uma hora para adorar

conosco (desencorajei-os a fazer isso, mas eles me disseram ser essa a

opção deles).

Imagino que algumas pessoas nos dias de Spurgeon atravessavam

Londres inteira a fim de comparecer ao Tabernáculo. Sei que eu

atravessaria. Alguns de vocês também.

Page 56: A Noiva de Cristo

Há uma tendência a ser "inato," na igreja menor. Há uma rotação

apertada, estreita, entre a liderança leiga. O mesmo grupo de oficiais

volta a ser eleito com regularidade. Há também maior resistência a

mudança do que num ministério metropolitano. O tradicionalismo é

profundo.

Pode ser fácil conhecer todo mundo. Você sabe quando alguém é

hospitalizado. Você sabe quando a mãe teve o bebê... sabe até qual o nome

que deram ao bebê. Um casamento é igualmente significativo. Nos

ministérios metropolitanos, entretanto, pode haver de dois a três

casamentos num fim-de-semana, e somente aqueles no círculo de amizade de

cada casal ficam sabendo.

O conceito comunitário é relativamente simples de administrar e

manter. E a operação de um único faz-tudo. Leve isso ao pé da letra. O

pastor tem a chave da igreja. E ele quem geralmente prepara a água para o

batismo. Ele tem a chave do salão social e está envolvido nos jantares da

igreja.

Assim funcionam as coisas na igrejinha comunitária. Faz lembrar

algumas histórias de lugarejos antigos, não é mesmo? Se essa é a sua

preferência, maravilhoso. E o estilo ou filosofia que se encaixa numa

igreja comunitária. E funciona num ministério pequeno, comunitário. Mas

numa igreja de mil membros ou mais você não consegue carregar chaves

suficientes. Ou salada suficiente. Você não consegue acompanhar.

Num ministério menor onde todos se conhecem, é mais fácil

implementar o envolvimento. A atmosfera é naturalmente cálida e amistosa.

MENTALIDADE METROPOLITANA

Passando ao outro lado do quadro, vemos imediatamente uma série

de realidades contrastantes. Há elos estreitos mas são entre grupos de

identificação. Você encontra seus elos estreitos no grupo de comunhão de

adultos que frequenta. Talvez você cante no coro, por isso esse grupo se

torna o seu rebanho. Talvez você esteja no conselho e esse seja o seu

grupo de identificação. Talvez você esteja na equipe pastoral e esse seja

o seu grupo. Ou talvez você seja o pastor de um grupo menor que se reúne

para um estudo bíblico nas noites de quinta-feira. Esse grupo se torna o

seu ponto de referência, seu lugar de identidade.

Tudo é feito numa escala maior: equipe maior, visão mais ampla,

organização maior, instalações maiores, orçamento maior e provisões

maiores.

Num ministério metropolitano como o que descrevi antes, o rebanho

é tirado de um vasto raio. Ali serão encontradas pessoas vindas de todos

os cantos. Vocês atrairão visitantes de todo o país. Tudo isto se encaixa

no plano das coisas. Você não pode lutar contra ele. E o que vai

acontecer.

Além disso, ele é menos voltado para si mesmo. A rotação entre a

liderança leiga significa que você conhecerá pessoalmente um número menor

desses oficiais. Num ministério maior, há menos tradicionalismo, menos

reticência a mudança. (Note que eu não disse que não há "nenhuma"

reticência a mudança, mas, sim, "menos".)

É impossível conhecer todo mundo. Muito do trabalho prático tem

de ser delegado a especialistas. Diversos desses são pagos. E complexo

administrar e manter esse ministério. Não é um solo; existe uma equipe. A

lealdade é descentralizada para vários ministérios. E deixe-me

tranquilizá-lo... a atmosfera pode ser cálida e amistosa, mas isso é um

desafio constante.

Lembro-me claramente de quando vim para a Primeira Igreja

Evangélica Livre em 1971 e queria abraçar todas as pessoas que

frequentavam aos domingos, mais ou menos oitocentas ou novecentas. Eu

Page 57: A Noiva de Cristo

tinha vindo de uma igreja no Texas quase do mesmo tamanho e que havia

começado como um ministério comunitário. E a igreja que pastoreei antes

disso no estado de Massachusetts era também um ministério comunitário.

Naturalmente, eu queria estender os braços e abraçar todo mundo.

Eu ficava tentando lembrar-me dos nomes de todos, e não

conseguia. Ainda me lembro de ter pensado: "Estou tentando, mas não

consigo comer este elefante. Estou-me saindo bem apenas tentando manter-

me pendurado na cauda desta coisa." Logo percebi que precisava tanto de

uma equipe qualificada quanto de uma congregação envolvida para ajudar a

assumir o trabalho do ministério. Lembro-me de ter dito muitas vezes:

"Essa é a única maneira de sobrevivermos."

Por que permaneci na mesma igreja bem mais de vinte anos? Por que

o rebanho se dispôs a deixar todos aqueles quiméricos ideais

"comunitários" e viver com a realidade de que éramos inquestionavelmente

um ministério metropolitano. Quando surgiam queixas, vinham daquelas

ovelhas que ainda se agarravam às suas expectativas "comunitárias".

Admito que numa igreja grande as responsabilidades são numerosas

e as expectativas podem ser tremendas. Mas é exatamente onde queria

estar. E para onde fui chamado. Eu amava a equipe, a harmonia e a direção

na qual estávamos indo. De vez em quando eu tinha de respirar fundo e

dizer a mim mesmo que tudo estava bem, mesmo que eu não estivesse tocando

todas as bases. Eu nem mesmo conseguiria encontrar algumas delas! Alguém,

contudo, podia. Foi duro ser uma pessoa voltada para pessoas e não poder

me lembrar do nome daquele marido ou saber quantos filhos outro casal

tinha. Eu amava estar pessoalmente envolvido, mas já não era possível

após certo ponto.

Deixe-me repetir uma coisa para dar mais ênfase ao que quero

ensinar. Aqueles que ficaram frustrados na igreja de Fullerton geralmente

eram os que abraçavam a mentalidade comunitária. Meu conselho para essas

pessoas de tempos em tempos era: "Encontre uma igreja comunitária... para

o seu bem, para o bem da sua família e para o nosso bem!" Elas geralmente

aceitavam meu conselho, e todos ficavam aliviados!

Todo o pessoal "comunitário" precisa encontrar um lugar do

tamanho que consiga abraçar para poder sentir-se realizado. Escrevo isto

com sinceridade. Já que o disse do púlpito, posso escrever num livro. A

igreja metropolitana apenas frustrará aqueles que anseiam por um

ministério comunitário. Francamente, quanto mais cedo eles mudarem, mais

felizes todos serão. Esta não é uma ameaça sutil, é uma promessa sincera.

TENHA ESTAS COISAS EM MENTE

Este quinto capítulo tornou-se muito maior do que eu havia

planejado originalmente. Cobrimos uma porção de coisas, entretanto, e

cada passo do caminho tem sido valioso.

Deixe-me sugerir três coisas práticas para você ter em mente

quando acordar para a diferença entre a mentalidade "comunitária" c a

mentalidade "metropolitana". Espero que este sumário inculque em nossas

cabeças o que descobrimos. Se você estiver no processo de delegar,

precisa apegar-se a estes três lembretes.

Primeiro, se você tiver expectativas comunitárias ficará

frustrado numa igreja metropolitana, O inverso é igualmente verdadeiro.

Coisas como laços regulares e íntimos com o pastor efetivo, ou atenção

imediata da parte dele quando você precisa de alguém com quem falar ou

ser conhecido pelo nome entre aqueles que estão sentados ao seu lado

durante o culto são todas expectativas irrealizáveis nos ministérios

metropolitanos.

Segundo, flexibilidade e participação em pequenos grupos são os

principais segredos de sobrevivência para uma igreja metropolitana

Page 58: A Noiva de Cristo

saudável. Não espere um lugar especial no estacionamento ou o mesmo lugar

na nave todos os domingos. Fique grato por achar um 1 ligai", qualquer

lugar! Esteja aberto para uma variedade de seleções e estilos musicais.

Envolva-se com um pequeno grupo. Pense em si mesmo como um ministro,

tocando as vidas de outros.

Terceiro, mudar o método não significa mudar a mensagem. Não há

necessidade de ampliar isso mais ainda neste capítulo... é o assunto do

próximo. Não desligue.

REFLEXÕES

1. Embora você talvez não esteja na equipe pastoral de sua igreja,

ainda pode ser chamado para ser um "ministro". Pondere a lista de dons em

Efésios 4, Romanos 12, 1 Coríntios 12 e 1 Pedro 4. (Talvez seja útil

reler essas passagens numa paráfrase, como A Bíblia Viva ou A Bíblia na

Linguagem de Hoje). Você enxerga a si mesmo, seus talentos e inclinações

dados por Deus em alguma dessas passagens? Se estiver esperando que seu

dom seja revelado num resplendor de luz celestial, já esperou demais! Se

um nicho particular de serviço não se tornou óbvio para você, mergulhe no

trabalho em que vê necessidade. As vezes, a única maneira de descobrirmos

nossos dons é tentando fazer coisas diferentes. Lembre-se, Deus não

espera perfeição, apenas coração e mãos dispostos.

2. Você se encontra numa área na qual a igreja "comunitária" é a

única opção viável? Que princípios positivos tirados do ministério

"metropolitano" podem ser implementados no trabalho feito em escala

menor?

3. Você está numa igreja "metropolitana," sentindo-se frustrado e

de certa forma perdido pelo tamanho da coisa toda? Não permita que essa

frustração o mantenha mal-humorado, sem crescimento por semanas, meses e

anos preciosos. Tire tempo para considerar onde você poderia se encaixar

como membro de um grupo menor dentro do corpo. Sim, será preciso tomar a

iniciativa, e por vezes é difícil "entrar" num grupo de pessoas que você

não conhece bem. Mas os outros membros do corpo precisam de você, da

mesma forma que você precisa deles, a fim de viverem uma vida cristã

realizada e produtiva. Peça a ajuda de Deus, crie coragem e dê aquele

primeiro passo! Esteja aberto para o fato de que Deus pode o estar

levando a outra igreja... uma cuja filosofia o fará sentir-se muito mais

confortável.

O QUE MUDA E O QUE NÃO MUDA

Os bons e velhos tempos..." Virtualmente todas as semanas da

minha vida me deparo com pessoas que anelam por essa época. Com

frequência me pergunto o que elas têm em mente.

Acho que estão falando de quando um corte de cabelo custava "dois

mil réis" e uma entrada de circo custava "quatro mil réis". Elas

visualizam algum tipo de existência dourada, idílica: sem crise de

energia, com ar puro, rios e córregos limpos, famílias unidas, diversão

na escola... enfim, a vida simples. Hoje, se você abre um jornal, vira

para a seção de escândalos ou a página policial, e lê sobre um estilo de

vida frenético, violência nas ruas e corrupção política, a tendência é

suspirar e sonhar com dias passados.

Eis aqui um exemplo de um periódico nacional:

O mundo é grande demais para nós. Coisas demais acontecendo,

crimes demais, violência e alvoroço demais. Por mais que tentemos,

Page 59: A Noiva de Cristo

ficamos para trás na corrida, a despeito de nós mesmos. Há uma tensão

incessante para manter o ritmo... e ainda assim, ficamos para trás. A

ciência esvazia suas descobertas sobre nós tão depressa que cambaleamos

debaixo delas em desesperançada perplexidade. O mundo político é um

noticiário visto tão depressa que perdemos o fôlego, tentando acompanhar

quem está dentro e quem está fora. Tudo é alta tensão. A natureza humana

não pode suportar muito mais!

Parece uma notícia do jornal de hoje, certo? Errado. Isso

apareceu mais de 150 anos atrás, no dia 16 de junho de 1833, para ser

exato no jornal Atlantic Journal. Nos "bons tempos antigos".

Você tem alguma ideia de quais eram as manchetes no jornal Boston

Globe em meados de novembro de 1857? Se não consegue se lembrar dessa

época, permita-me reavivar sua lembrança:

AUMENTA A CRISE DE ENERGIA

O subtítulo sugeria que o mundo poderia ficar às escuras, devido

a uma apavorante escassez de gordura de baleia!

Quem diz que os "bons tempos antigos" eram tão bons assim? Na

década de quarenta, lembro-me distintamente de nossos soldados,

marinheiros e fuzileiros navais morrendo aos milhares, enquanto uma

guerra mundial assolava dos dois lados do globo. Lembro-me de suportar o

calor de Houston sem ar-condicionado. Alguns dos meus amigos de infância

ficaram aleijados pelo resto da vida por causa da poliomielite.

Mais atrás ainda, na década de trinta, a década em que nasci, a

sombra da Grande Depressão trazia escassez e desespero a cada estado da

União. Que bons tempos, hein?

Os "bons tempos antigos" de meu pai foram piores ainda. Era

quando você tinha de dar partida no carro com uma manivela... quando as

casas não tinham encanamento interno... quando todos na família tomavam

banho em tinas número 2... quando viajar ao exterior compreendia dias

longos e perigosos de travessia marítima a bordo de um navio... quando

cavalos morriam às dezenas em Nova Iorque devido a uma epidemia de

cólera... quando a chuva transformava as ruas num brejo. Eu poderia

continuar. Agora lhe pergunto, será que aqueles dias eram tão bons assim?

Sabe, tudo depende de nossa perspectiva. A famosa frase de

Charles Dickens ainda se aplica: "Era o melhor dos tempos. Era o pior dos

tempos."20 Alguns olham para trás e se lembram apenas dos melhores

tempos, um ritmo mais calmo, laços mais estreitos e relacionamentos mais

honestos. Outros veem as inconveniências, a obsolescência, os

preconceitos e a ineficiência. Quando a gente se detém o tempo suficiente

para pensar com objetividade, percebe que nenhum tempo é ideal, tornando

inevitável a importância de ser flexível aos tempos.

COMO OS TEMPOS MUDAM!

Por falar em "tempos", você se lembra da declaração registrada no

livro do profeta Daniel?

"Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a

sabedoria e a força; é ele quem muda os tempos e as horas, remove reis e

estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos

entendidos" (Daniel 2:20-21).

Que segurança! Não é o mero acaso ou o destino cego que determina

as mudanças abrangentes que causam impacto em cada geração. Nosso Deus

soberano assume plena responsabilidade. Ele nos diz ser Ele quem efetua

Page 60: A Noiva de Cristo

as mudanças. E as boas novas são estas: Quando as mudanças ocorrem, nunca

estão fora do controle dele!

"Os meus dias estão nas tuas mãos..." (Salmo 31:15).

Se verdadeiramente acreditássemos nisso, as mudanças não seriam

tão difíceis de aceitar. Tampouco nos causariam tanta ansiedade. Tudo,

desde as invenções modernas às alterações globais, poderiam ser

enfrentadas com calma por que o nosso Deus fiel ainda está no controle.

Nada o surpreende ou ameaça. Nada! Ele controla todas as estações e eras.

Nenhum presidente é empossado no cargo sem que Deus acene afirmativamente

e diga: "Essa é a minha vontade." Nenhum rei governa sem que Deus diga:

CCE esse que eu permito reinar." Nenhum progresso na tecnologia ou

ciência o apanha desprevenido. Se você acredita que Deus é soberano, não

pode acreditar jamais que ele esteja desatualizado. Ele vive e governa em

intemporalidade.

Francamente, isso me entusiasma. A explosão populacional continua

precisamente como Deus planejou. Você sabia que não foi até 1850 que o

nosso mundo atingiu a marca de um bilhão? Até 1930, chegamos a dois

bilhões. Levou apenas trinta anos mais para que a população mundial

chegasse aos três bilhões. Chegamos agora a cinco bilhões. Os

estatísticos nos dizem que até o final do século vinte teremos sete

bilhões. Mas deixe-me relembrar-lhe, o nosso crescimento populacional,

não importa quão rápido, ainda está nas mãos de Deus.

Você está pronto para outra mudança estarrecedora? Tomemos o

número crescente de livros publicados. Se voltarmos a 1500, retornamos ao

início dos materiais impressos. Não foi feita muita coisa em termos de

livros publicados até 1900... naquela época havia apenas 35.000

disponíveis. E hoje? Mais de 400.000 livros são publicados apenas nos

Estados Unidos...por ano. Isso dá uma média de mais de mil novos livros

publicados por dia, apenas nos Estados Unidos.

E considere a ampliação do conhecimento. Se pudéssemos medir

conhecimento por espaço, todo o conhecimento humano desde o início dos

tempos até 1845 poderia ser medido em cerca de 2,5 centímetros. De 1845 a

1945 ele se expandiria para 7,5 centímetros. De 1945 até hoje o

crescimento do conhecimento é fenomenal. Ele poderia atingir a altura do

Monumento a Washington. Mesmo assim, nossos tempos estão nas mãos de

Deus. Ao contrário da opinião popular, Deus entende de energia nuclear,

de circuitos integrados e de ciência aeroespacial.

Devo mencionar também a velocidade. Até 1800, a mais alta

velocidade era trinta e dois quilômetros por hora quando as pessoas

viajavam a cavalo. Havia já naquela época profetas pessimistas quando

alguém mencionava viajar depressa. Li em algum lugar que um desses

primeiros críticos da velocidade estava convencido de que, se você

viajasse a cento e sessenta quilômetros por hora, gaguejaria pelo resto

da vida. Sua mente o deixaria, suas emoções sofreriam colapso. O corpo

humano não pode tolerar uma velocidade dessas. Não obstante, com a

chegada das ferrovias, saltamos quase da noite para o dia para os cento e

sessenta quilômetros por hora. Incrível! Ninguém ficou gago.

Até 1952, o avião a jato de passageiros podia viajar a quase

seiscentos quilômetros por hora. Até 1979, as aeronaves mais avançadas

alcançavam quase mil quilômetros por hora. Mas o voo espacial tripulado

tinha muito tempo antes estabelecido um recorde maior ainda. Em 1961, os

astronautas

estavam viajando em órbita a não menos de dois mil e quinhentos

quilômetros por hora.

Ocorreu-me há não muito tempo que meu pai viu todo o panorama da

era do transporte durante a sua vida. Entre 1892 e 1980, ele viu um dos

Page 61: A Noiva de Cristo

primeiros carros e viveu para testemunhar pela televisão o lançamento de

foguetes e o pouso na lua.

Enquanto estamos pensando sobre velocidade, um autor progressista

escreve:

No ano 2020, os automóveis provavelmente obterão sua energia de um

conjunto avançado de baterias para as corridas curtas ao escritório e de

volta à casa, e para as compras. Nas viagens mais longas, os carros serão

movidos por motores de hidrogênio líquido. O escapamento dos nossos

futuros veículos nas estradas será puro oxigênio e vapor, que são os

derivados da queima do hidrogênio líquido. Com efeito, haverá dezenas de

milhões de aspiradores a vácuo sugando a poluição de nossas cidades e

substituindo-a por ar mais puro do que o encontrado sobre as Montanhas

Rochosas do Colorado. Um grande caminhão rugirá pela rodovia, expelindo

nuvens de puro oxigênio de suas chaminés. Haverá um adesivo atrás do

caminhão com um novo lema: "Caminhoneiros Pró Ar Limpo!"

O mesmo autor descreve um baile de formatura do futuro:

No século vinte e um, será comum os bailes de formatura ocorrerem

em países estrangeiros como a Austrália, que será uma escolha popular. A

Austrália será uma viagem de ponte aérea de vinte e nove minutos, com um

carregamento de viajantes espaciais em trajes a rigor usufruindo a vista

panorâmica espetacular, embora breve. Eles irão à Austrália para o baile

de formatura, mas provavelmente darão uma fugidinha até Hong Kong depois

do baile, dizendo que estiveram na Austrália com as damas de companhia a

noite toda. Algumas coisas jamais mudam através das gerações!

Eu poderia incluir diversas outras mudanças. Se você é médico ou

dentista, conhece muitas delas. Para enumerar algumas: a capacidade de

selecionar o sexo do recém-nascido; criação da vida no tubo de ensaio;

gestação de fetos em úteros artificiais; o desenvolvimento de bancos de

óvulos e de espermatozoides; eliminação de cáries soldando esmalte no

dente com raio laser; soldagem da retina do olho; o extenso uso de

bisturi que não causa sangramento na cirurgia; aumento no uso de órgãos

artificiais, como córneas plásticas para olhos, ossos metálicos, artérias

de Dacron, corações artificiais e músculos eletrônicos computadorizados;

desenvolvimento de alimentos sintéticos e até fazendas submarinas (sem

nem falai' na probabilidade de cidades submarinas); imunização geral do

mundo contra as moléstias comuns, experimentos em hibernação humana e

desenvolvimento de programas eficazes para controle do apetite e do peso.

Posso perguntar sem cerimônia: A luz dessas notáveis mudanças

(todas elas nas mãos de Deus), por que a igreja permanece presa a ontem?

Repito meu tema: A igreja já tropeçou por aí o tempo suficiente. Temos

sido reticentes para mudar durante um tempo mais que suficiente. Em vez

de hesitar ainda mais, precisamos acertar o passo. Como aqueles que se

postam ao lado do Criador e Fonte de todo o conhecimento e invenção,

precisamos ver as mudanças como amigas em vez de resistir-lhes como se

fossem inimigas.

Um dos meus mestres gosta de falar sobre sua igreja lá no Meio-

Oeste, onde ele foi criado. Alguém introduziu o flanelógrafo em uma

classe de escola dominical pai*a adultos, um dos auxílios visuais da moda

comumente usados no mundo dos negócios naquela época. O pobre sujeito foi

crucificado verbalmente! Foi chamado ao conselho e severamente

advertido: "Como você se atreve a contaminar nossa igreja com este método

mundano?!" Dá para acreditar? Tudo o que ele fez foi introduzir um

flanelógrafo e usá-lo para ajudar o aprendizado. Podia-se pensai' que ele

havia aberto um baú cheio de serpentes!

Deixe-me compartilhar um ou dois pensamentos com relação aos

nossos tempos. As possibilidades que essas mudanças trazem são

Page 62: A Noiva de Cristo

emocionantes. Pense na emoção que resulta de colocar uma linguagem não

escrita nas mãos das pessoas. Posso me lembrar dos dias em que

depositávamos um casal nas selvas e esperávamos que dentro de uma década

ou mais eles pudessem fornecer um livro do Novo Testamento para aquela

tribo... escrito à mão numa tábua. Com a ajuda de computadores, essa

tarefa pode agora ser realizada em questão de meses, seguida por uma

Bíblia inteira em apenas alguns anos.

Pense nas possibilidades da viagem rápida. Anos atrás você não

podia ir dos Estados Unidos à Europa em menos de doze ou quatorze longos

dias pelo Atlântico. Agora podemos fazê-lo em horas. Algum dia, em

minutos. Pense no que isso fará pela evangelização mundial. Graças à

mídia eletrônica, um evangelista agora pode ficar em pé diante de uma

câmera e, com a ajuda de um satélite no espaço, ser visto por todo o

mundo em frações de segundo. Ao vivo. Nos dias chamados de "bons tempos

antigos" isso era estritamente coisa de Flash Gordon e Buck Rogers.

Aqui está um segundo pensamento. Essas mudanças, se não tomarmos

cuidado, serão ameaçadoras para muitos. Se você for um tradicionalista

que segue tudo à risca e tem um modo de pensar rígido, as mudanças lhe

parecerão ameaçadoras, e você se sentirá tentado a resistir-lhes. Por

algum motivo, é o que ocorre especialmente com os evangélicos. Podemos

ser os piores quando se trata de abrir os olhos e enxergar as

oportunidades que nos encaram. Mesmo com Jesus Cristo, o maior inovador

religioso que o mundo já conheceu, bem ao nosso lado.

Como igreja do século vinte, a apenas alguns anos do século vinte

e um, não sejamos ameaçados pelas mudanças em nossos tempos. Precisamos

continuamente monitorar e avaliar nossos métodos. Para mim, ajuda lembrar

que nenhum dos métodos que empregamos é sacro. A menos que um método

particular seja apresentado nas Escrituras como o método imutável que

Deus nos manda usar, ele é temporário. Isso significa que pode ser

alterado ou descartado, substituído por outro método melhor e mais

eficiente.

Serei franco com você. Uma das maiores preocupações que tenho com

o ministro jovem e promissor é que ele ou ela possa ser tradicionalista

em relação a métodos. Temo que muitos dos que se formam com uma teologia

sólida, biblicamente fundamentada, fiquem imobilizados pelo tempo em que

são treinados.

Os seminários precisam permanecer na linha de frente. Tenho uma

preocupação pessoal com aqueles que ensinam comunicação nos seminários

hoje. E tão fácil pensar como tradicionalista e ensinar estilos

desatualizados! O estilo de comunicação da década de 50 é totalmente

diferente da comunicação nos anos 90. Você não alcança e ganha uma

audiência hoje usando uma abordagem dogmática, popular quarenta ou

cinquenta anos atrás. A audiência de hoje requer um estilo diferente.

Comunicadores eficazes e ouvintes interessados estão aprendendo juntos. O

jovem estudante de hoje já testemunhou o melhor que há em matéria de

comunicação muito antes de chegar ao curso de pós-graduação. Entre outras

coisas, ele observou aqueles métodos na televisão e em filmes. Neste

nosso mundo encarniçadamente competitivo, impulsionado pelo mercado,

incontáveis vozes buscam captar uma audiência. Os métodos precisam ser

continuamente avaliados e, quando necessário, mudados. Sim, mesmo nas

igrejas.

Amo a forma como Edith Wharton expressa o segredo de permanecer

vivo em sua autobiografia A Bachmrd Glance (Uma Olhada Retrospectiva):

“A despeito de enfermidade, a despeito até mesmo daquela

arquiinimiga, a tristeza, podemos permanecer vivos muito depois da data

normal de desintegração, se não tivermos medo de mudança, se formos

Page 63: A Noiva de Cristo

insaciáveis em curiosidade intelectual, interessados em grandes projetos,

e felizes por pequenas coisas”.

Não perca o primeiro desses quatro: sem medo de mudança.

MAS ALGUMAS COISAS JAMAIS MUDARÃO

Neste momento, posso sentir as vibrações. Alguns de vocês estão

começando a pensar que estou sugerindo que mudemos tudo. Não! Há algumas

coisas, muito francamente, das quais devemos manter afastadas as nossas

mãos, não importa quão moderna seja a época.

Para ilustrar isto, considere algo que o salmista escreveu no

Salmo 11. Davi, sem dúvida, sente-se ameaçado. Saul está em seu encalço.

Davi encontrou um refúgio na fenda de alguma rocha, talvez uma caverna,

onde escreveu o salmo. Talvez estivesse chovendo naquele dia. Talvez

fosse um daqueles dias cinzentos, quando tudo parece triste e sem

propósito. Podemos sentir as emoções nos dois primeiros versículos:

No Senhor me refugio. "Como, pois, dizeis a minha alma: Fugi para a

vossa montanha como pássaro? Pois olha, os ímpios armam o arco; Põem as

flechas na corda, para com elas atirarem, As ocultas, aos retos de

coração" (11:1-2).

Diz ele ao seu Senhor: "Em ti me refugio. A palavra hebraica

sugere um esconderijo. Davi encontrou conforto escondendo-se no

relacionamento que tem com seu Deus.

Sem dúvida, ele percebe o Senhor dizendo: "Confie em mim. Estou

protegendo você." E por isso, amedrontado, ele responde:

"Como, pois, dizeis à minha alma: Fugi para a vossa montanha como

pássaro"?

"Olhe, Saul está atrás de mim, Senhor. Posso ouvir meu nome usado

como maldição fora da minha caverna. Não posso correr para nenhuma

montanha."

"Pois olha, os ímpios armam o arco; Põem as flechas na corda, para

com elas atirarem, Às ocultas, aos retos de coração."

Naqueles dias, as lutas noturnas estavam entre os mais traiçoeiros

dos ataques. Davi sabe que não está seguro, mesmo depois que a noite cai.

Finalmente, quase em pânico, ele pergunta ao Senhor:

"Na verdade que já os fundamentos se transtornam, O que pode fazer

o justo?" (versículo 3).

Ora, esse é um ponto realista e relevante. "Senhor, em ti me

refugio. Mas cercado pelos ímpios, sem nenhum alívio à vista, temo o

tremor dos fundamentos."

Aqueles de nós que vivemos na Califórnia podemos nos identificar

com essa afirmação. Já fui testemunha de inúmeros furacões no sul do

Texas. Já dirigi no meio de tempestades de neve na Nova

Inglaterra e suportei tempestades de quatro dias no meio do oceano. Já

passei por uma ameaça de bomba incendiária num avião comercial e outras

circunstâncias igualmente ameaçadoras. Também já sofri ameaças contra a

minha vida e a de meus familiares da parte de indivíduos dementes. Nenhum

desses temores, contudo, chegou perto do medo de sentir as fundações da

Page 64: A Noiva de Cristo

terra tremendo sob meus pés. Quando se trata de medo, os terremotos são a

causa número um!

Mas Davi não está escrevendo aqui a respeito de um terremoto

físico. Não, ele está dizendo: "Senhor, o que podem os justos fazer se

tudo está solto no ar? O que fazer se tudo muda tanto que até mesmo tu

começas a mudar? O que podem os justos fazer então?" Você já pensou isso

alguma vez? Eu já, com certeza.

É maravilhoso descobrir posteriormente nas Escrituras a resposta

a uma pergunta feita antes nas Escrituras. Eis aqui um exemplo. A

resposta à pergunta de Davi é encontrada na segunda carta que Paulo

escreveu a Timóteo.

Um dos amigos de longa data para Paulo era um homem mais moço

chamado Timóteo. Ele provavelmente tinha quarenta e poucos anos quando

esta carta foi escrita. Os dois homens haviam viajado juntos, crescido

juntos, aprendido juntos, sofrido juntos. Agora que Paulo está num

calabouço, prestes a dizer adeus à vida, e Timóteo está apanhando a tocha

para continuar a tarefa como pastor de Éfeso, o mais velho escreve ao

mais jovem uma carta, na realidade, duas. Este é o canto do cisne de

Paulo, sua última vontade e testamento. Se as últimas palavras de alguém

são as mais significativas, temos aqui as de Paulo. Ele disse a Timóteo

que, à luz da inconstância dos tempos:

"Lembra-lhes estas coisas, ordenando-lhes diante do Senhor que não

tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam, exceto para a

subversão dos ouvintes" (2 Timóteo 2:14).

Timóteo deve relembrar à congregação as verdades eternas de Deus.

Algumas dessas verdades foram mencionadas por Paulo nos parágrafos

anteriores de sua carta. Aqui, ele insta com o amigo a se formar nas

coisas mais importantes, não nas menores... a não se deixar apanhar em

batalhas verbais e em argumentos verbais, mas permanecer nas questões

essenciais que merecem seu tempo e esforço. Ele insta então com Timóteo:

"Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de

que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (versículo 15).

Verdade. A palavra da verdade... claramente uma referência à santa

Palavra de Deus, a Bíblia. Ele diz, com efeito: "Timóteo, você não

recebeu apenas um Livro de sermões mas, o que é mais importante, um Livro

de verdade. As verdades de Deus são amplas e magníficas. Elas

literalmente transformarão vidas. Portanto, meu amigo, permaneça no

Livro. Dê ao seu rebanho as verdades eternas das Escrituras."

"Mas evita os falatórios imiteis, porque produzirão maior

impiedade. E a palavra desses corrói como câncer."

(Hoje, diríamos que "a conversa deles se espalhará como uma

epidemia".)

"Entre os quais estão Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da

verdade, dizendo que a ressurreição é já passada, e perverteram a fé que

tinham alguns" (versículos 16-18).

Esses homens se desviaram da verdade da Escritura e, como

resultado, influenciaram outros que seguiram seu exemplo ímpio. Agora o

clímax:

Page 65: A Noiva de Cristo

"Todavia, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O

Senhor conhece os que são seus, e: Qualquer que profere o nome do Senhor

aparte-se da injustiça" (versículo 19).

Amo isso! O fundamento de Deus permanece firme. Ele é inabalável e

imutável. Ken Taylor parafraseia este mesmo versículo em A Bíblia Viva:

Entretanto, a verdade de Deus continua firme como uma grande rocha e nada

a poderá abalar.

Pode contar com isto: Haverá mais terremotos, mas a verdade

jamais sofrerá abalos. Jamais haverá um dia em que Deus voltará à cena e

dirá: "Sabem, estive repensando meu Livro. Algumas dessas verdades que

escrevi sobre Jesus, bem, preciso reescrever tudo isso. Também alguns dos

atributos do meu caráter e algumas daquelas doutrinas do meu Livro

precisam ser atualizadas." Ele nunca fará isso. Sua verdade é mais sólida

do que um monte de mil toneladas de granito.

Para falar a verdade, Deus disse neste versículo que há dois

selos, um invisível e um visível. Juntos, eles provam que sua verdade

jamais será abalada.

Sabemos que o fundamento de Deus permanece firme e imutável por

ser o selo invisível de sua promessa. O que foi escrito 110 Livro

permanecerá imutável no Livro. Seguramente selado e absolutamente seguro.

A outra garantia é visível. E só olhar ao seu redor e observar

"os que são seus". O estilo de vida dos justos é prova de que o

fundamento de Deus permanece imutável. Eles podem ser apenas um

remanescente, mas os retos estão presentes em cada geração.

Aonde estou tentando chegar? E simples. Nosso desafio é

permanecer atualizados, para servir à nossa geração, sem contudo alterar

de forma alguma a Palavra de Deus. Estilos e métodos mudam e precisam ser

atualizados. Mas, e a verdade? Essa é eterna. Não está sujeita a

mudanças. A questão chave deste capítulo pode ser expressa em uma única

sentença. Devemos estar dispostos a deixar o familiar sem perturbar o

essencial. Para ministrar eficazmente, a igreja precisa despertar para

aquilo que muda... e o que não muda.

Charles Wesley compreendeu isto mesmo em 1762, quando escreveu:

Um mandado para guardar

Um Deus para glorificar tenho eu,

Uma alma imortal para salvar,

E prepará-la para o céu.

Para servir à era presente,

E minha vocação cumprir;

Que fazer a vontade do Mestre

Possa todas as minhas forças reunir.

Não perca essa declaração relevante: "Para servir à era

presente." Mesmo nos distantes meados do século dezoito, Wesley viu o

valor de permanecer atualizado. Servir à era presente não exclui nosso

serviço a Deus.

Muitas igrejas evangélicas desta geração estão cometendo um grave

engano. Temerosas de mudanças, elas ligaram, de alguma forma, a

metodologia de uma era passada à verdade eterna das Escrituras. Existe

uma ideia estranha de que se reiteramos que a Escritura é verdadeira,

precisamos resistir a qualquer alteração de método como se a integridade

da posição bíblica exigisse rigidez de estilo. Não é verdade. Se há

invenções modernas que nos ajudarão a transmitir a verdade mais poderosa,

mais rápida e mais eficazmente, por que hesitar em usá-las? Se elas

funcionarem, se não comprometerem nossa teologia nem contaminarem a nossa

mensagem, por que não empregá-las?

Page 66: A Noiva de Cristo

Ao mesmo tempo, há perigos em abraçar algo simplesmente por ser

novidade. Podemos nos queimar pensando que aquilo que é moderno e

futurista é seguro por estar nas mãos de pessoas modernas, futuristas,

seguras. Não necessariamente.

Duas coisas me vêm à mente. Primeiro, precisamos continuar a

ouvir o que Deus diz enquanto adaptamos nossas vidas aos tempos em que

vivemos. Segundo, precisamos continuar a crer no que Deus diz mais do que

em qualquer outra voz no futuro. Fazendo essas duas coisas, permanecemos

flexíveis e eficazes em nossa abordagem, enquanto retemos um estilo de

vida santo e puro.

Deixe-me mostrar porque essa distinção é vital. Considere o tipo

de pessoas no horizonte de hoje e de amanhã. Segunda Timóteo 3 não mede

palavras:

"Sabe, porém isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis;

pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos,

soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem

afeição natural, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio de si,

cruéis, sem amor para com os bons, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais

amigos dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade,

mas negando-lhe o poder. Afasta-te também destes" (versículos 1-5).

Como é fácil pensar que se algo for futurista e inovador, rápido

e moderno, será melhor. Não é bem assim. O futuro incluirá tempos

difíceis. (Desenvolverei esse fato com muito mais detalhes no capítulo

7.) Construiremos armas suficientes para nos matar mais depressa.

Inventaremos veículos com velocidade suficiente para atropelar quem nos

aprouver, porque as pessoas ímpias do futuro odiarão aquilo que é bom. E

por isso que a mensagem imutável de Deus, de amor e perdão, é importante

e não pode ser alterada. A avançada humanidade futurista sofrerá os

efeitos da mesma moléstia, a depravação total.

Quem pode dominar o futuro!1 Apenas aqueles que tiverem corações

retos. Os outros o voltarão contra si mesmos e contra nós. Isso explica

porque acho que ninguém está melhor equipado para enfrentar as

responsabilidades do futuro do que os cristãos informados, alertas. Temos

em nós todo o autocontrole necessário. Venho dizendo com frequência que

Deus não está nos céus fazendo de tudo para se segurar, pensando: "O que

vou fazer com esse mundo que está passando por mim tão depressa?" Pode

acreditar, nada desse negócio futurista, não importa quão sofisticado, o

perturba. Ele compreende e permanece em pleno controle. Quando ele der o

sinal, então cairá a cortina... as luzes se apagarão. Enquanto Ele não

mudar as coisas no planeta Terra, os tempos presentes e futuros

permanecerão pessoalmente difíceis e moralmente degenerados.

Heresias que soam atraentes, mesmo convidativas, estarão mais e

mais em voga. Haverá cada vez mais gente que seguirá a estrela de cinema

que solucionou suas lutas entrando para o movimento da Nova Era. Haverá

um grande número de inquiridores seguindo a ela e a outros gurus. Cegos

continuarão guiando cegos. Não foi apenas Jesus que falou disto (favor

ler Mateus 15:1-14), mas Paulo tratou da questão algumas vezes. Por

exemplo:

"Mas os homens maus e enganadores irão da mal a pior, enganando e

sendo enganados" (2 Timóteo 3:13).

Pode contar com isto: O futuro, com todas as suas descobertas e

invenções emocionantes, incluirá um número cada vez maior de enganadores.

O PRINCIPAL INGREDIENTE PARA A SOBREVIVÊNCIA

Page 67: A Noiva de Cristo

Você quer saber o que será necessário para ter o equilíbrio

apropriado entre manter-se atualizado e permanecer firme na verdade de

Deus? Discernimento. Sem discernimento será fácil ser sugado para dentro

do sistema. Discernimento fará o papel de cão de guarda para nos impedir

de perder o rumo no lamaçal de depravação e engano do amanhã. O

dicionário define discernimento como "o poder de ver o que não é evidente

à mente comum... exatidão, especialmente em perceber caráter ou motivo."

O discernimento, em minha opinião, será ainda mais valioso na medida em

que nos mantivermos em contato com os nossos tempos.

O que funciona para nós como cristãos individuais funcionará para

a igreja. A igreja que fica sentada de cara fechada ao futuro, pouco

fazendo além de lustrar os louros de ontem, se tornará uma igreja à qual

falta relevância e entusiasmo. Ao mesmo tempo, a igreja que amolecer sua

posição teológica e alterar a Escritura para combinar com o estilo do

futuro, perderá seu poder. Lembre-se disto: Precisamos estar dispostos a

deixar o familiar sem perturbar o essencial. O segredo, repito, é

discernimento.

DUAS SUGESTÕES PARA MANTER O EQUILÍBRIO

Talvez precisemos de umas sugestões sobre como nos manter na

verdade sem sermos derrubados pelos fortes ventos da heresia que com

certeza virão.

Primeiro, tempos de mudança requerem a disposição de retrabalhar

as ferramentas e ser flexível onde necessário. Você pode ter um certo

estilo de culto que funcionou bem no passado. Talvez o tenha usado por

anos. Pode acreditar, você precisa continuar repensando todo esse

negócio. Ainda é a melhor abordagem para usar à luz dos tempos em que

estamos vivendo? Alterar seu estilo comprometerá a Escritura?

Provavelmente não. Quanto você está disposto a ser flexível? Quanto está

aberto à mudança?

Lembro-me de um incidente que ocorreu na igreja que pastoreei por

quase vinte e três anos. Diversas pessoas da velha guarda me advertiram:

"Permita cultos múltiplos e você irá destruir a unidade da igreja." Elas

falaram com preocupação sincera. Haviam desfrutado uma intimidade de

comunhão desde que a igreja começara. Por mais de quinze anos, a igreja

sempre tivera um culto de manhã e um culto à noite. Aqueles que se haviam

entrincheirado nesse estilo sentiam-se ameaçados pelo risco de uma

mudança: "Não podemos ter mais de um, ou perderemos o que temos."

O que queriam dizer era que perderíamos aquela "intimidade

comunitária que sempre havíamos tido". Eles se mostravam hesitantes em

enfrentar o fato de que estávamos passando a ser um ministério

metropolitano. O crescimento requeria pensamento inovador. Tínhamos de

fazer algo. As condições de superlotação não podiam ser ignoradas. A

propósito, fundamos mais de meia dúzia de igrejas em nossa história, por

isso ninguém podia dizer que não tentamos flexibilizar as coisas. Mas

ainda estávamos fazendo gente voltar da porta. Partir para cultos

múltiplos tornou-se a nossa melhor opção. As igrejas têm de retrabalhar

suas ferramentas e se tornar flexíveis. Fico feliz em dizer que a

congregação "tolerou" um número maior de cultos... e mais tarde concordou

que foi a melhor solução para nós. Hoje não podemos imaginar como seria

ter um único culto de manhã.

Segundo, as verdades imutáveis requerem disciplina para resistir

e lutar quando necessário. Nenhuma quantidade de tecnologia futurista ou

progresso modernista nos dá o direito de negar o Livro de Deus ou alterar

suas verdades. As Escrituras nos apresentam o nosso padrão. Isso é um

pressuposto. As verdades de Deus são o nosso alicerce seguro.

Page 68: A Noiva de Cristo

Não havia mais segurança ou esperança nos "bons tempos antigos"

do que haverá nos "maus tempos modernos". Mas pela graça e misericórdia

de Deus, enquanto permanecermos abertos à necessidade de mudar e

flexibilizar, sobreviveremos.

Corrija isso. Não apenas sobreviveremos. Triunfaremos!

REFLEXÕES

1. Manchetes apavorantes dos jornais e noticiários sombrios na

televisão podem fazer com que às vezes meneemos nossas cabeças

descrentes. Alguns de nós permitiremos que essas histórias tristes e

chocantes de todo o mundo embrulhem nossos estômagos, roubando-nos a paz

e o gozo que nos pertencem em Cristo. Se estou escrevendo para alguém

"viciado em noticiários" que não consegue deixar de lado essas manchetes,

deixe-me fazer uma observação e uma sugestão. Primeiro, Deus jamais

tencionou que carregássemos o peso deste mundo quebrado sobre nossos

ombros. Somente seus ombros são largos o bastante para essa tarefa e ele

de fato controla tudo! Devolva-lhe o peso e a ansiedade. Deixe-me sugerir

que você dê "tempo igual" aos grandiosos e gloriosos salmos que nos

relembram o poder, eternidade e amor de Deus. Se você assistir a meia

hora de notícias, passe o mesmo período de tempo com os Salmos. Dê a Deus

a última palavra!

2. Se você esteve envolvido em um ministério especial por longo

tempo, talvez se encontre preso numa metodologia confortável, mas

desgastada. Você está aberto a aprender novas maneiras e expressões sem

comprometer a verdade eterna? Examine alguns recursos para ver que

inovações podem ter-se desenvolvido no nicho do seu ministério. Você

poderia começar falando com indivíduos que ministram em sua área de

interesse em uma grande igreja metropolitana. Poderia também obter ajuda

em alguns novos livros e periódicos de sua livraria cristã local ou da

livraria de algum instituto bíblico.

3. Desenhe uma linha no centro de uma folha de papel, de alto a

baixo. Agora analise todas as atividades de ministério de sua igreja em

dada semana. No lado esquerdo do papel, enumere as atividades que são

bíblicas e permanecem prioridades permanentes. No lado direito, tente

enumerar alguns dos métodos tradicionais que sua igreja emprega e que

podem ser revistos e/ou atualizados nos meses e anos vindouros. Discuta a

lista com seu cônjuge ou um amigo cristão, estudando a estratégia de como

você poderia tornar-se uma força positiva de mudança em uma ou mais

dessas áreas.

Capítulo Sete

MINISTRANDO NOS ÚLTIMOS DIAS

Que tal um teste rápido? Tratamos estas questões com certa

intensidade, por isso J talvez seja hora de recapitular por onde temos

andado e ^^^^^ao mesmo tempo nos divertir um pouco. E nosso alvo lembrar

quem é a igreja diante de Deus e de Jesus Cristo. E um pequeno teste pode

ajudar a determinar se você realmente esteve lendo ou se esteve dormindo

sob o livro que tem nas mãos. Prometo que ficarei com as perguntas mais

gerais. Para facilitar, limitarei o teste a perguntas de múltipla

escolha. Marque sua resposta a cada uma das seguintes perguntas.

1. Aprendemos no primeiro capítulo que o propósito básico da

igreja é:

a. Ser um farol de esperança na comunidade

Page 69: A Noiva de Cristo

b. Glorificar a Deus

c. Ajudar os famintos e sofredores

d. Dar aos adolescentes um lugar onde ir nas noites de sábado.

2. No segundo capítulo, sugeri a sigla "CICE" para nos ajudar a

lembrar dos objetivos básicos da igreja. O primeiro "C" representa culto.

O segundo "C" representa comunhão. "E" representa expressão. O que "I"

representa?

a. Imagem b.

Implicação

c. Instrução

d. Iniciação

3. Comecei então a tratar do estilo da igreja. Ao escrever sobre a

importância de um estilo "contagiante", sugeri quatro características: A

igreja precisa ser B___ NO CONTEÚDO, AUTÊNTICA NA NATUREZA, GRACIOSA NA

ATITUDE, E RELEVANTE NO ENFOQUE. Que palavra preenche a lacuna?

a. Boa

b. Básica

c. Bíblica

d. Benéfica 4.

No capítulo 5, escrevi sobre a diferença entre uma igreja

"comunitária" e uma igreja "metropolitana". Para ilustrar o valor de

delegar, voltamos ao Antigo Testamento e encontramos o exemplo clássico

de uma pessoa que confrontou outra sobre a necessidade de delegar as

responsabilidades absorventes de seu cargo. Quais eram os dois

indivíduos?

a. Sansão e Dalila

b. Jonatas e Davi

c. Sara e Abraão

d. Jetro e Moisés

5. Terminamos há pouco o capítulo que trata de mudança.

Consideramos o valor de permanecer flexíveis e abertos em algumas áreas,

mas permanecer firmes e seguros em outras. Ofereci uma afirmação central,

da qual talvez você se lembre. Precisamos estar dispostos a deixar o

familiar sem perturbar o essencial. Procuramos tanto no Antigo quanto no

Novo Testamento e encontramos a resposta a uma pergunta. O salmista

escreveu: "Se os_______se transtornam, o que pode fazer o justo?" Paulo

declarou que os_______ permanecem firmes. O que permanecerá firme para

sempre?

a. A doxologia no início do culto

b. Os métodos de evangelismo que adotamos como igreja

c. Os fundamentos de Deus

d. Os anúncios durante as reuniões da igreja.

Muito bem, está na hora de verificar as respostas do teste.

Olhando as questões, as respostas corretas são: 1-B, 2-C, 3-C, 4-D, 5-C.

Como você se saiu? Se acertou as cinco, dou-lhe os parabéns. Você está

apreendendo quem é a igreja e porque o plano de Deus para a Noiva de

Cristo não mudou em vinte séculos. Se você errou três ou mais, talvez

precise de óculos!

AVALIAÇÃO GERAL: O QUE DEVERÍAMOS ESPERAR

Não importa quantos pontos você tenha obtido no teste, acho que

eu poderia fazer uma pergunta que ninguém deixaria de responder

verdadeiro ou falso: As coisas estão piores hoje do que jamais estiveram.

Sem dúvida, isso é verdadeiro. Penso que você concordaria que espiritual,

moral, ética e domesticamente, as coisas nunca estiveram piores. Somente

o otimista cego diria o contrário. Não creio que tenha falado com alguém

Page 70: A Noiva de Cristo

durante os últimos vinte e cinco anos que de fato acredite que as coisas

estão melhorando cada vez mais. A realidade é que estão ficando cada vez

piores.

O próprio Jesus ensinou que isto ocorreria. Enquanto dialogava

com os discípulos, ele respondia às perguntas que eles faziam

frequentemente

dando respostas que eles não esperavam. Mateus 24 registra um dos

discursos finais do nosso Salvador a seus seguidores, antes de sua morte

e ressurreição. Nessa conversa em particular, os discípulos estavam

preocupados com o final dos tempos, os últimos dias na terra.

"Estando ele assentado no monte das Oliveiras, aproximaram-se dele

os discípulos, em particular, e lhe pediram: Dize-nos quando acontecerão

estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim dos tempos.

Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Pois muitos

virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.

Ouvireis de guerras e rumores de guerras, mas cuidado para não vos

alarmardes. Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim. Levantar-

se-á nação contra nação, reino contra remo, e haverá fomes, pestes e

terremotos em vários lugares. Todas estas coisas, porém, são o princípio

das dores. Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e vos

matarão. Sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse

tempo, muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns

aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por

se multiplicara iniquidade, o amor de quase todos esfriará" (versículos

3-12).

Deixe-me perguntar de novo: Nosso tempo melhorará ou piorará? A

resposta é dolorosamente óbvia. Neste velho planeta haverá um aumento

gradual e dramático da maldade. Se me pedissem que fizesse uma análise

franca do que devemos esperar, com base no ensino de Jesus eu diria:

Primeiro, as condições piorarão; segundo, os lares se enfraquecerão;

terceiro, a moral se desvanecerá.

AS Condições Piorarão

Os conflitos internacionais não apenas crescerão e proliferarão,

como aumentarão de tal maneira que algumas nações já não tolerarão outras

nações. Conforme leremos um pouco adiante no capítulo, as pessoas não

apenas terão conflitos, elas se tornarão irreconciliáveis. Recusar-se-ão

a negociar de maneira civilizada. Estamos falando de hostilidade

irredutível.

Quando Dean Rusk era ministro da justiça sob o Presidente John

Kennedy durante a crise dos mísseis com Cuba, comentou: "Estamos nos

encarando olho-no-olho, e acho que o outro sujeito acabou de piscar." A

medida que o tempo passa, haverá mais inimizade e menos compreensão...

mais entrincheiramento teimoso e menor frequência de argumentação.

Sorrio por dentro toda vez que vejo impresso no selo do correio

"Ore pela paz". Jamais haverá paz internacional até que Cristo reine

supremo. Com todas as boas intenções, nossos diplomatas envidam esforços

para promover a paz, mas, ai de nós, é uma busca fútil. Quanto mais

vivermos nesta velha terra, mais ela se parecerá com a agitação inquieta

do mar.

O conhecimento técnico pode proliferar e atingir novas alturas.

Desenvolveremos formas de ajudar as pessoas a viverem mais tempo, mas a

pergunta mais profunda é: Será que elas vão querer viver mais ? Um número

cada vez maior está votando: "Não, quero cair fora." Examine o índice

crescente de suicídios mesmo entre adolescentes. É apavorante.

Page 71: A Noiva de Cristo

Os Lares se Enfraquecerão

As famílias continuarão a se desintegrar. Não há necessidade de

declarar outra vez o óbvio. Não há uma única pessoa que esteja lendo

estas linhas que possa dizer: "Não conheço ninguém divorciado." Cada um

de nós conhece alguém que passou por essa câmara de horrores.

Alguns de vocês têm suportado isso contra a própria vontade. Posso ouvi-

los suspirar: "Eu nunca quis o divórcio, mas sou vítima dele. Minha

família enfraqueceu, o relacionamento se rompeu, e a coisa que jurei

jamais aconteceria no meu lar aconteceu. E meus filhos é que estão

pagando por isso." A delinquência é tão terrível agora que professores

experientes estão abandonando essa carreira. Não é exagero declarar que a

família desfeita é agora uma epidemia nacional.

A Moral Desvanecerá

O que já nos fez corar", assistimos agora tranquilamente na

televisão. Em 1939, um simples palavrão enunciado em um filme ganhou as

manchetes dos jornais. Aquela palavra, e outras muito piores, são agora

ouvidas comumente na mídia.

Seria fácil para aqueles de nós que ainda coramos pensar que é o

fim do mundo e que as coisas ultrapassaram os limites. Talvez estejamos

pensando: "Deus deve estar torcendo as mãos, pensando: "O que vou fazer

com este mundo?" Mas conforme vimos no capítulo anterior, não é o que

ocorre. Para falar a verdade, "o firme fundamento de Deus permanece" (2

Timóteo 2:19). Conquanto nada disto escape ao controle de nosso Senhor,

ele se entristece em dizer que o amolda maioria das pessoas esfriará.

“Todavia, [amo a maneira como este versículo começa]... o firme

fundamento de Deus permanece”.

A verdade vencerá. Embora pareça que, como escreveu James Russell

Lowell, vejamos "a verdade sempre no cadafalso e o erro sempre no

trono"23. O caminho de Deus vencerá!

"Todavia, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O

Senhor conhece os que são seus, e: Qualquer que profere o nome do Senhor

aparte-se da injustiça".

A pergunta não é: As coisas vão piorar? (Irão.) Nem: Deus está no

controle? (Está.) A pergunta maior é: Como viver e ministrar num mundo

que perdeu o rumo? O que a igreja faz para deixar a sua marca? O que será

preciso para nos fazer lembrar de quem somos e quem está ao nosso lado,

para que possamos causar um impacto no mundo que corre cada vez mais

depressa na direção errada?

Qual é a resposta? E construir nossos muros mais espessos e mais

altos? Devemos trancar a porta da igreja e distribuir as chaves

exclusivamente ao nosso povo a fim de garantir proteção ao nosso pequeno

foco de pureza? E óbvio que não. Então, o que fazer? Como fazer uma

diferença nestes dias finais?

Na mesma passagem que examinamos no capítulo 6, encontramos uma

resposta a essa pergunta. De fato, encontraremos respostas que não apenas

são corretas, mas relevantes e sagazes. Em 2 Timóteo 3, lemos uma das

mais vívidas narrativas da maldade do final dos tempos encontradas em

toda a Bíblia. Em minha opinião, ela só fica atrás de Romanos 1 quando se

trata de uma descrição nua e crua da depravação. A dimensão útil de 2

Timóteo 3 é a instrução prática que ela inclui sobre como reagir quando

enfrentamos tempos como esses.

Page 72: A Noiva de Cristo

INSTRUÇÃO BÍBLICA: COMO DEVEMOS REAGIR

Não passemos depressa por estas palavras de instrução. Paulo

começa mui realisticamente ao informar ao amigo de longa data, Timóteo:

"Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis" (2

Timóteo 3:1).

Não se sabe porque o idoso apóstolo começaria afirmando o que

parece redundante. Claro que Timóteo notava que os dias eram difíceis! Os

mártires estavam morrendo às centenas. Naquela época era mais do que

impopular ser conhecido como cristão. Era potencialmente fatal. Naquela

época, quando você tornava conhecida a sua fé, o governo notava. Os

vizinhos também. As pessoas pagavam um preço terrível por sua fé. Por

que, então, o apóstolo Paulo diz: "Sabe isto?"

Eis porquê: Ele conhecia Timóteo. Timóteo tinha o tipo de

temperamento que precisava ser despertado. Em mais de uma ocasião Paulo

aconselhou o amigo a "despertar o dom" que Deus lhe havia dado. Penso que

ele era um pouco mais passivo do que seu mentor, o que levava o sábio e

idoso mestre a dizer ao mais jovem: "Vamos, mexa-se! Fique alerta!"

Timóteo poderia ter sido do tipo que pensa que, embora os tempos

fossem maus naquele momento, provavelmente melhorariam. "Não vai ser

permanentemente difícil. A tempestade passará se eu me mantiver

quietinho." A fim de corrigir esse conceito, Paulo adverte: "Saiba isto,

Timóteo. Não vai melhorar. Esse estilo de vida dos últimos dias veio para

ficar."

BREVE REVELAÇÃO DA DEPRAVAÇÃO DOS ÚLTIMOS DIAS

Olhe de novo as palavras "sobrevirão tempos difíceis". O termo é

traduzido de uma palavra grega raramente usada nas Escrituras, que

significa mais do que difícil; talvez "sombrios" seja melhor, ou

"difíceis de enfrentar". Uma das versões mais antigas traduz por

aflitivos, uma tradução excelente. Achei útil notar que o mesmo termo

grego é usado em Mateus 8:28 para descrever a aparência e as ações de

dois homens endemoninhados. Naquele versículo, a palavra é traduzida por

"violentos". Como mencionei antes, não é excesso traduzir a palavra por

"selvagens". Façamos isso:

"Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos selvagens."

Por que alongar-nos tanto tempo em uma única palavra? Por causa

de outra palavra: Realidade. Nenhuma quantidade de reflexão sobre as

glórias das bodas do Cordeiro pode desfazer o fato de que vivemos numa

era de violência que continuará até o momento em que Cristo levar sua

Noiva para casa. E, para piorar ainda mais as coisas, vivemos numa época

na qual estamos cercados por uma mentalidade de cantar para espantar os

males, de pensamento positivo. Embora eu creia firmemente na importância

de pensar positivamente, acho que isso pode ser levado a um extremo

quando deixamos de pensar de forma realista.

Se realmente cremos que estes são "tempos selvagens...

excessivamente violentos", não ficaremos chocados por qualquer evento ou

manchete de jornal. Ele pode nos afligir ou envergonhar, mas nunca

deveria nos surpreender, pois Deus nos adverte que nos últimos dias

haverá horas difíceis de enfrentar, sombrias e marcadas pela violência.

Um artigo de meia página que li em um jornal poderia facilmente

ter-me deixado atônito. Foi a narrativa de um homem que assassinou cada

Page 73: A Noiva de Cristo

membro de sua família. Ele deixou alguns deles mortos na casa ou no

porta-malas do carro por mais de um dia. Os homicídios se estenderam além

da família. A lista incluía diversos amigos chegados e empregados.

Quantos, ao todo? Quatorze. Tempos selvagens nos sobrevieram.

Outro artigo que li contava de um homem que pulverizou de balas o

pátio de uma escola com um fuzil de ataque militar, matando e ferindo

diversas crianças pequenas. Não podemos imaginar nada mais violento do

que assassinar crianças inocentes. Enquanto eu escrevia este livro,

ocorreram diversos julgamentos escandalosos no município onde moro. Cada

um deles envolveu um réu sendo julgado por homicídios múltiplos. Os

longos julgamentos incluíam relatos vívidos e vergonhosos de estupro,

facadas, desmembramento, sodomia, homossexualidade, abuso de drogas,

molestamento de crianças e meia dúzia de outros crimes sociopáticos que

abrangiam atos tão imorais que quase faziam gelar o sangue. E cada homem

sendo julgado ficava sentado ali, absolutamente plácido, tendo por vezes

um risinho sinistro no rosto. Não havia senso de remorso ou vergonha

aparente. Em tempos excessivamente violentos, haverá maior ausência de

culpa, mais forte racionalização e menos ênfase em castigo dos

malfeitores.

Mesmo as nossas rodovias se tornaram pistas expressas de terror,

nas quais motoristas portadores de armas não hesitam em atirar em outro

motorista simplesmente por lhe ter cortado a frente na sua faixa de

trânsito. Nem o tempo nem o espaço me permitem incluir os detalhes

sórdidos de outros crimes, tão hediondos que precisamos fazer força para

crer que foram cometidos por outros seres humanos. Encare a coisa,

vivemos numa época enlouquecida.

Note isto, cristão. Tome consciência disto, igreja.

Em épocas selvagens como esta relativamente poucas pessoas

andarão com Deus o tempo todo. Um número decrescente de cônjuges

permanecerá fiel a seus votos e comprometido com o casamento. Será mais e

mais difícil criar uma família que leva Deus a sério. Conscientize-se

disto! Tal conscientização requererá um senso mais agudo de intensidade e

mais profunda determinação entre o povo de Deus. Visto que haverá

homicídios em massa, guerras de gangues, um aumento nas perversões

sexuais, um número cada vez maior de práticas antiéticas, e violência

doméstica como o mundo nunca viu, nossa caminhada com Deus precisa

intensificar-se.

Paulo se torna dolorosamente específico:

"Pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos,

presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos,

profanos, sem afeição natural, irreconciliáveis..." (versículos 2-3).

Você pode se perguntar porque seu vizinho ofendido não fez as

pazes consigo por causa daquela pequena ofensa. Você ficou sem saber

porque ele ou ela moveu uma ação contra sua pessoa, em vez de

simplesmente aparecer na sua casa, bater na porta e exigir que vocês dois

conversassem sobre o assunto? Você quer saber por que o sujeito que

escorregou e caiu na sua loja não estava disposto a falar consigo em vez

de falar com o advogado? Ou quando você bateu no carro à sua frente, não

quis saber por que o fulano não estava disposto a considerá-lo um

acidente sem importância e negociar a diferença? Quando você percebeu,

estava recebendo uma convocação da justiça. Por quê? ""Os homens serão...

irreconciliáveis"! Conscientize-se disto.

Vamos segurar a respiração e ler adiante.

"... caluniadores, sem domínio de si, cruéis, sem amor para com os

bons, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que

Page 74: A Noiva de Cristo

amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder.

Afasta-te também destes. Porque deste número são os que se introduzem

pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados,

levadas de várias concupiscências; que aprendem sempre, mas nunca podem

chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e jambres resistiram a

Moisés...

(Esses dois homens eram mágicos na corte de Faraó que tentaram

imitar o Deus vivo e copiar seu poder na presença de Faraó. Enquanto

Moisés fazia seus milagres pelo poder de Deus, Janes e Jambres faziam os

seus pelo poder do adversário.)

"E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes

resistem à verdade..." (versículos 3-8).

Nos últimos dias, eles não ignorarão passivamente a verdade, se

oporão agressivamente a ela. Conscientize-se disto.

Paulo nos está sacudindo pelos ombros, dizendo: "Cristão!

Cristão! Embora você realmente ame a Deus como também o fazem aqueles que

estão ao seu lado, deixe de viver num mundo fictício, pensando que tudo

será bonito e arrumadinho se você tão somente se mudar para um lugar mais

tranquilo, ou para um lugar onde as pessoas chegam até a falar de

religião. A impiedade ainda estará lá. A Ilha da Fantasia não existe."

Onde quer que você se estabelecer, ali estarão

"homens corruptos de entendimento e réprobos quanto a fé"

(versículo 8).

Examine atentamente. No que diz respeito à mente, haverá

depravação, corrupção. Quanto à fé, rejeição. Eles serão falsos. Provados

e achados em falta. Neste momento, a situação está começando a parecer

desesperançadora. Sinto a necessidade de um pouco de alívio, e você?

Encontramo-lo no versículo 9. Paulo, sabendo que Timóteo levaria suas

palavras a sério, deu-lhe um pouquinho de espaço para respirar,

dirigindo-se ao rapaz pessoalmente.

"Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesta a sua

insensatez, como também aconteceu com a daqueles [Janes e Jambres]"

(versículo 9).

Ele está dizendo algo como: "Timóteo, conscientize-se disto,

ainda haverá pessoas que perceberão tudo. Ainda haverá pessoas na família

de Deus que diferenciarão a verdade do erro. Nem todos ficarão presos no

sistema."

John R.W Stott menciona um fato facilmente esquecido:

"Às vezes nos aborrecemos em nossos dias certa e compreensivelmente

com os falsos mestres que se opõem à verdade e perturbam a igreja, de

modo todo especial com os métodos astuciosos e ardilosos dos comerciantes

religiosos dissimulados. Mas não devemos temer, mesmo que algumas pessoas

fracas possam ser convencidas, mesmo que a falsidade vire moda. Pois há

algo patentemente espúrio na heresia, e algo autoevidentemente verdadeiro

na verdade. O engano pode se difundir e ser popular por algum tempo. Mas

não irá muito longe. No fim, com certeza será exposto, e a verdade com

certeza será provada. Esta é uma lição clara da história da igreja.

Numerosas heresias têm surgido, e algumas aparentando probabilidade de

triunfar. Mas hoje são em grande parte de interesse de antiquários. Deus

tem preservado sua verdade na igreja."

Page 75: A Noiva de Cristo

Não é um conforto maravilhoso relembrar que os livros de Deus de

justiça não são fechados todas as noites? Dá-me um crescente senso de paz

interior lembrar-me de que os capítulos de Deus ainda estão sendo

escritos. Ele ainda não disse: "Fim." Admito que o vagalhão cada vez

maior de heresias, combinado à impureza moral e violência física, quase

me dá arrepios. As vezes me pergunto se ele vai nos sufocar. Então,

quando descubro estes lembretes serenos no livro de Deus, é

extraordinário como me sinto tranquilizado. E um novo lembrete de que a

verdade prevalecerá e, no final, triunfará.

RESPOSTAS SÁBIAS PARA TODOS OS QUE MINISTRAM

Com esse delicado raio de esperança, o apóstolo volta sua atenção

diretamente para o homem que receberia a carta e indiretamente a todos

nós que vivemos nos últimos dias. A ele e a nós, Paulo escreve: "Eis aqui

algumas respostas sábias sobre como sobreviver na era em que você vive.

Em um sentido mais lato, eis como ter abundância."

Ele apresenta quatro respostas específicas. Mencionarei as duas

primeiras ao concluir este capítulo e guardarei as outras duas para o

próximo capítulo.

Primeiro, siga o modelo dos fiéis.

"Tu, porém, tens seguido de perto o meu ensino, procedimento,

intenção, fé, longanimidade, amor, perseverança, perseguições e aflições,

quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra; quantas perseguições

sofri, e o Senhor de todas me livrou. E na verdade todos os que desejam

viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições" (versículos 10-

12).

Os tempos são difíceis, os tempos são sombrios, os tempos são

duros de enfrentar. Tudo isto é verdade. "Mas, você, Timóteo..." Esta

palavra "mas" é uma poderosa conjunção. Ela introduz um contraste

marcante. "Há muitos (na realidade, Jesus disse "a maioria") que

esfriarão. Mas você, Timóteo, será diferente. Você não deve ser como "a

maioria". Nem mesmo se atreva a ser como "muitos". Siga o meu modelo."

Você tem alguns modelos para seguir? Não estou me referindo a

santos de pedra esculpida que colocamos em pedestais e consideramos

perfeitos. Não. Os modelos que mexem com a nossa vida são muito humanos

e, portanto, imperfeitos. Não obstante, eles são exemplos extraordinários

para nós. Eles nos motivam a viver vidas melhores. Alguns deles podem já

ter morrido.

Seu modelo pode ser um autor cujo livro fez sua vida dar uma

reviravolta. Como resultado, você entrou numa maior profundidade de vida.

Num verdadeiro sentido, aquele autor (a quem você jamais viu) é seu

modelo.

Outros de vocês podem seguir modelos que morem por perto. Vocês

estudaram aquela vida de perto e desejam ter virtudes semelhantes. Quanto

mais você estuda o seu modelo, mais descobre que ele ou ela não é

estranho (a) à dor. Portanto, quando você encontra dor parecida, lembra-

se das perseguições que seu modelo suportou, o que o encoraja a suportar.

E isso que Paulo está dizendo aqui. De fato, a dor e a santidade estão

frequentemente interligadas.

Você percebeu a previsão séria de Paulo?

"E na verdade todos os que desejam viver piamente em Cristo Jesus

padecerão perseguições" (versículo 12).

Page 76: A Noiva de Cristo

Falando em modelos, não é interessante que em nossa era decadente

todos os esforços estão sendo envidados na tentativa de destruir aqueles

que admirávamos? Os vultos políticos que você admirava na história da

nossa nação estão sendo sistematicamente derribados para que nenhum deles

pareça de forma alguma admirável - se certos críticos conseguirem o que

querem. Permita-me encorajá-lo a não deixar que isso aconteça. Esse modo

de pensar cínico leva a um solitário beco sem saída.

Falei com um homem que espera chegar ao Senado ou Congresso. Como

objetivo final, se Deus abrir a porta, ele gostaria seriamente de tentar

tornar-se presidente dos Estados Unidos. No momento, ele é virtualmente

desconhecido. Mas trancados em sua mente existem modelos, indivíduos que

fincam os pés contra o mal, pessoas da verdade... pessoas que ele

respeita e de quem diz: "E assim que desejo ser." Isso é combustível para

a sua fogueira. Como ele me disse: "Estou observando meus modelos e

seguindo suas pegadas." Encorajo-o a continuar lendo biografias de

grandes homens e mulheres.

Diz o apóstolo a Timóteo: "Siga meu exemplo; se o fizer,

alcançará o alvo."

Se um testemunho pessoal ajudar, considere a minha história.

Quando eu estava no Corpo de Fuzileiros Navais, a caminho do Oriente,

deparei-me com um livro maravilhoso, Through Gates of Splendor (Através

dos Portais de Esplendor), sobre cinco missionários que foram

martirizados. Jamais conheci aqueles jovens ou suas famílias, mas a

partir do testemunho de cinco homens desconhecidos que literalmente deram

a vida para alcançar os Aucas no Equador, a vida deste jovem fuzileiro

deu uma reviravolta. Eles se tornaram modelos para mim durante uma época

solitária e difícil de minha vida. De muitas formas, sua fidelidade me

fazia continuar em frente. Eles se tornaram minhas vozes silenciosas de

encorajamento. Os cinco se destacaram em minha mente como pessoas dignas

de serem seguidas, dignas de serem lidas, de serem estudadas. Sou agora

muito mais velho do que eles eram quando morreram. Embora mortos, eles

têm falado comigo por mais de três décadas. Ainda penso neles e sigo o

seu exemplo, embora tenham deixado este mundo em 1956.

Ao fazer uma pesquisa linguística sobre a palavra seguir, fiquei

intrigado ao descobrir que é o mesmo termo que o Dr. Lucas usa quando

investigou todos os fatos antes de escrever o Evangelho que leva seu

nome. Após ter examinado todos os fatos, ele pôde escrever a história da

vida de Cristo. Esse termo em particular que Lucas usou para investigar

ou averiguar cuidadosamente alguma coisa é a palavra traduzida em 2

Timóteo 3:10 como "seguido". Portanto, não significa que apenas olhamos à

distância e admiramos superficialmente as realizações de alguém.

Significa que chegamos o mais perto possível e fazemos uma investigação

cuidadosa a fim de descobrir as coisas que tornaram extraordinária aquela

vida.

Estou gastando mais tempo nisto porque acho que faz parte do

treinamento de sobrevivência dos últimos dias. Se você apenas ler e

assistir à mídia, rejeitará todos os modelos. Você desconfiará de todo

líder. Não vamos permitir que isso aconteça conosco! Só porque alguns

falharam não significa que as fileiras estejam cheias apenas de

charlatães, enganadores e fracassados. Ainda há pessoas da verdade...

modelos de fé dignos de serem seguidos. Siga-os!

Segundo, volte á verdade do passado.

"Mas os homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando e

sendo enganados" (versículo 13).

Pode haver muitos impostores, mas resolvamos não ser um deles.

Sejamos diferentes, como era Timóteo. O que tornava Timóteo diferente?

Page 77: A Noiva de Cristo

"Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste

inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a infância sabes

as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que

há em Cristo Jesus" (versículos 14-15).

Um viva para as raízes de Timóteo! Se você voltar ao versículo 5

do primeiro capítulo desta carta, verá que a fé sincera que em última

instância marcou a vida de Timóteo primeiro residiu em sua avó Lóide e

sua mãe Eunice. (Nada é dito sobre o pai, que provavelmente era grego e

talvez não fosse cristão.) Foram a mãe e a avó materna de Timóteo

que moldaram o início de seu crescimento espiritual. A fé do rapaz se

tornou sincera à medida que ele aprendia de Cristo nos joelhos delas, sob

sua tutela. Consciente do valor do treinamento da avó e da mãe, Paulo

exorta Timóteo a permanecer firme.

Numa retrospectiva ao longo de sua vida, minha esposa poderia

facilmente se identificar com Timóteo. Cynthia diria: "Foram minha mãe e

minha avó que me moldaram." Eu diria: "Foi meu avô materno." L. O. Lundy

de El Campo, no Texas, era seu nome - um homem da verdade, um exemplo de

integridade e santidade.

Minha filha caçula, Colleen, e eu viajávamos pelo Texas no outono

de 1987. Resolvemos pegar algumas rodovias áridas e passar por minha

cidade natal. Eu não voltara lá em mais de trinta anos. Chegamos a El

Campo e por fim localizamos o lar de meus avós. Quase imediatamente após

estacionai" em frente daquele lugar onde meus avós viveram tantos anos

antes, minhas lágrimas começaram a correr. As de Colleen também. Ela me

ouviu falar frequentemente da influência que Vovô teve em minha vida e

leu meus pensamentos. Contemplei uma casa antiga, imponente, onde certa

vez residira um nobre cavalheiro. O que mais me vem à lembrança é o amor

que ele demonstrava ao tomar o netinho sobre os joelhos e falar-lhe

bondosamente, e servir de modelo de retidão e moldar seu pensamento.

Claro que nem ele nem eu tínhamos a menor ideia de onde o futuro me

levaria. Sentado ali em frente com minha filha, olhando as janelas, a

porta da frente, a varanda e a entradinha, fui dominado pela gratidão.

Lembrei-me da verdade, e lembrei-me de quem aprendi a verdade.

Quem foi essa pessoa para você? Quem você indicaria? Você foi

abençoado com pais que amavam a Deus? E abençoado com avós assim? Foi

essa pessoa um santo e fiel pastor? Não deixe que a velocidade de hoje o

leve a tratar com pouco caso a profundidade do seu passado. Volte à

verdade do seu passado. Reveja aquelas vidas e aqueles eventos. Lembre-se

deles, renove-os, dependa deles, depois passe a verdade adiante aos seus

filhos. Isso o manterá firme através das perturbações do futuro. Quando

personalidades superficiais vierem e se forem, e você for tentado a

deixar-se levar por elas, quando vierem os maus tempos e quase arrasarem

com você, volte às suas raízes e descubra solidez espiritual nelas.

Se o seu passado, como o de Timóteo, incluir uma herança piedosa,

você foi maravilhosamente abençoado. A severidade e depravação destes

últimos dias não o dominarão. Você encontrará força e estabilidade no

meio da tempestade. E você estará melhor equipado para ministrar nos

últimos dias.

REFLEXÕES

1. Como podemos nós da igreja, a representante de Cristo sobre a

terra, seguir a orientação de Paulo de enfrentar realisticamente os

tempos selvagens nos quais vivemos e ainda permanecer positivos em nossa

atitude e visão? Tire um momento para escrever dois ou três princípios

eternos, bíblicos, que podem ajudar você e sua família a manter o

Page 78: A Noiva de Cristo

equilíbrio e a perspectiva nesta era frequentemente enlouquecida na qual

vivemos. Discuta-os com sua família, seu grupo de estudo bíblico ou um

amigo cristão chegado.

2. Quem são seus modelos na vida cristã? Pode citar um ou dois,

talvez visualizando seus rostos? Você pode ouvir suas vozes encorajadoras

vindas das arquibancadas, animando-o a continuar (Hebreus 12:1-2),

insistindo que você resista e permaneça fiel? Se você tem modelos assim,

reserve tempo para considerá-los com mais frequência. Pergunte-se como

eles reagiriam em algumas das circunstâncias nas quais talvez você se

encontre. Qual poderia ser o seu conselho? Peça ao Senhor que o ajude a

imitar esses exemplos -- e não relute em falar deles à sua família e

amigos. Como costumava dizer um dos meus mentores: "Se todos falássemos

dos nossos heróis, teríamos mais heróis de quem falar."

3. Falando de modelos dignos, quanto tempo se passou desde que

você leu a biografia de um cristão ou uma cristã exemplar? Separe tempo

esta semana e examine a estante de biografias da sua livraria evangélica

local e faça uma compra que poderia mudar a sua vida.

CAPÍTULO OITO

"PERMANECENDO PRONTOS ATÉ A HORA DA LARGADA"

Após ter-me formado no colegial, trabalhei numa oficina mecânica

no distrito industrial de Houston por quatro anos e meio. Eu não apenas

estava aprendendo a profissão de mecânico na prática, mas também estava

fazendo o curso noturno da Universidade de Houston. Meu pai era da antiga

linha de pensamento. Achava que eu deveria não apenas obter uma boa

educação como também aprender uma ocupação técnica, de forma que tivesse

algo em que me apoiar se alguma carreira que eu seguisse algum dia me

deixasse na mão. Segui seu conselho e jamais me arrependi.

Tenho ótimas lembranças daqueles anos na oficina. Aprendi muitas

lições valiosas enquanto trabalhava com as mãos -- uma delas foi a

verdadeira apreciação pelo mundo dos trabalhadores. Não tenho problema em

compreender como é a vida deles, suas pressões e frustrações, bem como os

benefícios e sentimentos de realização.

Lembro-me com frequência de diversos tipos inesquecíveis que

conheci naqueles dias. Como nos divertíamos juntos! Um deles era um

sujeito que chamarei de Tex. Ele e eu trabalhamos lado a lado no segundo

turno por diversos meses.

Tex passara a maior parte de sua vida adulta operando um torno na

mesma oficina. Ele era o mecânico típico. Usava um bonezinho de listras

cinzas e brancas --· sempre engordurado -- e um macacão que precisava de

uma troca de óleo. E, naturalmente, ele mascava fumo, o que significava

que cuspia bastante. Ele mantinha a bolsinha de fumo aberta no bolso de

trás do lado direito e, enquanto operava a serra, ele enfiava a mão no

bolso, agarrava um punhado daquele negócio fibroso, entupia com ele a

boca, depois mascava por uma hora ou mais. O procedimento todo ocorria

sem que seus olhos jamais deixassem o trabalho com a serra. Tex consumia

facilmente diversos saquinhos de fumo por semana.

Numa noite quente, abafada, quando eu trabalhava atrás de Tex

numa serra semelhante, notei que um grilo tamanho gigante saltou

despretenciosamente da porta para o piso da nossa oficina. Enquanto eu

estudava a criaturinha, notei que a cor do grilo era quase idêntica à cor

do fumo que Tex usava. Assim, sem que o homem percebesse, caminhei até o

bichinho e pisei-o, dando um fim rápido à sua miséria. Arranquei então a

cabeça do bicho, estendi a mão e coloquei-o muito suavemente em cima do

saquinho aberto de fumo que se projetava para fora do bolso de Tex. Em

Page 79: A Noiva de Cristo

seguida, voltei depressa à minha serra e esperei... e fiquei de olho. Não

demorou muito e ele precisou reabastecer sua mascação, por isso esticou a

mão para trás e agarrou um novo punhado. Lá se foi o grilo junto com o

fumo. Até hoje Tex não tem ideia do que mascou naquela noite. Ainda me

lembro de vê-lo cuspindo asas e pernas e partes do corpo durante a

próxima hora mais ou menos. Foi hilariante!

Quando você trabalha numa oficina mecânica, sua vida revolve em

torno de um apito. Após você bater o cartão ao chegar, seu trabalho

começa com

um apito. Chega a hora do almoço, e é anunciada pelo mesmo som

estridente. Quando seu turno termina, há ainda outro apito.

Frase de oficina para aquele apito final é: "hora de largar".

Tex havia trabalhado tanto tempo numa oficina mecânica que tinha

um tipo de sensor invisível lá dentro. Raramente tinha de olhar o

relógio. De alguma forma, ele sempre sabia quando estava chegando perto

daquele último apito. Não me lembro de ele alguma vez ter sido apanhado

desprevenido. Sem falta, Tex estava todo lavado e pronto para bater ponto

uns dois minutos antes que o apito tocasse.

Em certa ocasião, eu disse a ele:

-- Bem, Tex, já está quase na hora de começar a se aprontar para

a hora de largar.

Jamais me esquecerei de sua resposta. Naquele sotaque texano

arrastado, ele falou:

-- Escute, rapaz... fico pronto para evitar de ter de me aprontar

para a hora de largar.

Era sua maneira de dizer: "Aquele último apito jamais me pegará

desprevenido."

Muitos longos anos se passaram desde que trabalhei com Tex, mas

sua resposta ficou na minha cabeça quando penso naquele último som antes

da volta de nosso Senhor. Não será o de um apito numa oficina mecânica,

mas com outros sons bem mais ensurdecedores, De fato, a Escritura diz:

"Pois o mesmo Senhor descerá do céu com grande brado..." (1

Tessalonicenses 4:16).

A palavra significa "clamor". Não sei se será do próprio Senhor

ou de alguém perto dele, mas haverá um alto clamor do céu. E isso não é

tudo. Também haverá

"... a voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus..." (versículo

16).

E então:

"... os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois nós, os

que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens,

para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o

Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1

Tessalonicenses 4:16-18).

Você está "permanecendo pronto até a hora de largar"? Há horas em

que fico pensando em quantas pessoas serão pegas desprevenidas. Enquanto

você está ocupado em suas lidas diárias, vêm à sua mente pensamentos

como: "Nossa, isso pode acontecer hoje. Poderia ser logo depois do

jantar."? Ou: "Ele pode voltar antes de nos deitarmos esta noite." Deixe-

me dizer quando a maioria de nós tem esses pensamentos: quando temos de

pagar nossos impostos! E nessa hora que todos nós desejamos que ele

viesse depressa. Mas, falando sério, será que lhe passa alguma vez pela

Page 80: A Noiva de Cristo

mente: "Hoje pode ser meu último dia na terra. Ele pode rasgar os céus

hoje e bradar: É hora de largar!"?

Algumas pessoas teriam de admitir que o pensamento nunca lhes

passa pela cabeça. Estou falando de nunca, embora enquanto nosso Senhor

ainda estava na terra tivesse dado numerosas predições sobre o seu

retorno.

JESUS PREDISSE ALGUMAS VEZES O SEU RETORNO

Examinemos diversas. Escolhi uma de cada um dos quatro evangelhos.

Periodicamente, durante o ministério de Cristo, ele falou sobre

isso. Cada vez que mencionava seu retorno certo, suas palavras faziam

lembrar um toque de despertar nas primeiras horas do dia.

"Portanto vigiai, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso

Senhor. Mas considerai isto: Se o pai de família soubesse a que hora

viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que sua casa fosse arrombada"

(Mateus 24:42-43).

Que prático! Se você já teve de passar uma noite fora e encontrou

sua casa arrombada por um ladrão, ou se seu lugar de negócio já foi algum

dia assaltado no meio da noite, você sabe que o ladrão foi bem-sucedido

porque sua entrada não era esperada e sua saída não foi detectada. E isso

que Jesus está mostrando aqui. "Minha vinda será como um ladrão na noite.

Quando você menos esperar, virei." Em seguida ele aplica isso à sua

volta.

"Por isso estai vós também apercebidos, porque o Filho do homem há

de vir a hora em que não penseis" (versículo 44).

Li certa vez que um carro forte foi deixado sem ninguém cuidando

dele por menos de cinco minutos. Ele continha mais de cinco milhões de

dólares. Durante aqueles minutos em que ficou sem ninguém, vieram ladrões

e o assaltaram. Eles sabiam exatamente quando vir e como partir de modo

que ninguém tivesse a menor ideia de quem eram -- até ser tarde demais.

Encontramos palavras parecidas acerca do mesmo evento no

evangelho de Marcos. Mais uma vez, é Jesus falando:

"Estai de sobreaviso! Vigiai [e orai]! Não sabeis quando será o

tempo. E como se um homem que, partindo para longe, deixasse a sua casa,

desse autoridade aos seus servos, a cada um a sua obra, e mandasse ao

porteiro que vigiasse. Portanto, vigiai porque não sabeis quando virá o

senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se

pela manhã. Se ele vier inesperadamente, não vos encontre dormindo. O que

vos digo, digo a todos: Vigiai!" (13:33-37).

Ficamos perplexos com a referência de Jesus ao "cantar do galo",

não é mesmo? Isso requer uma explicação. Nossas noites não são divididas

como eram nos tempos de Jesus. As noites do primeiro século eram

divididas em vigílias -- quatro vigílias de três horas. A primeira

vigília começava no pôr-do-sol, em torno das seis da tarde, e terminava

às nove. A segunda vigília continuava das nove até a meia-noite. E a

terceira vigília ocorria da meia-noite às três da manhã.

Havia uma palavra latina conhecida para descrever o final da

terceira vigília: gallicinium. Significava "cantar do galo". Suponho que

o nome foi derivado de algum galo madrugador que estirava o pescoço e

soava seu primeiro chamado em torno das três da madrugada. Cristo poderia

vir nessa hora! Ou, diz nosso Senhor, poderá vir na aurora, na hora

brumosa da manhã quando nasce o sol. A questão é: a qualquer hora.

Page 81: A Noiva de Cristo

O Dr. Lucas registra palavras semelhantes. Quanto mais lemos

estas palavras repetidas de Jesus, mais certos nos tornamos: Não apenas

Jesus está voltando... precisamos estar prontos.

"Acautelai-vos por vos mesmos, para que não aconteça que os vossos

corações se sobrecarreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados

da vida, e aquele dia vos pegue de surpresa, como uma armadilha" (Lucas

21:34).

Que diferença! Mateus usou a analogia de um ladrão, mas agora

Lucas menciona uma armadilha. Se você estiver preso em um cenário

embaraçoso, cheio de preocupações, ou em estado de embriaguez ou num

estilo de vida de dissipações -- como algumas pessoas vão estar - você

não estará pronto para a hora de largar. A advertência de Jesus é clara:

Não vá ser pego desprevenido para não ficar preso na armadilha, quando

ele vier.

"Pois cairá sobre todos os que habitam na face de toda a terra.

Vigiai em todo o tempo, e orai para que sejais havidos por dignos de

escapar de todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé

diante do Filho do homem" (versículos 35-36).

Muitos anos mais tarde, no final do primeiro século, João

registrou suas observações e pensamentos. Entre as contribuições mais

significativas de João estão seus registros do discurso no cenáculo.

Jesus está com os Doze na véspera de ser preso e levado à cruz. Enquanto

estão reunidos ali, ele revela abruptamente a verdade sobre sua morte

iminente. Isso apanha os discípulos desprevenidos. Eles ficam

visivelmente abalados, o que é compreensível. Se nós tivéssemos estado

entre os discípulos também teríamos esperado que ele vivesse para sempre,

estabelecesse seu trono e nos levasse consigo quando se tornasse Rei dos

reis e Senhor dos senhores, governando toda a terra.

Mas de repente ele introduz uma mudança nas regras do jogo - a

Cruz. Cheios de perturbação, dúvida e temor, os discípulos o encararam

com espanto, enquanto ele falava de sua morte iminente. Isso explica

porque ele lhes disse com relação ao seu retorno:

"Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também cm mim.

Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vo-lo teria

dito. Vou preparar-vos lugar. E se eu for e vos preparar lugar, virei

outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais

vós também" (João 14:1-3).

Àqueles discípulos ansiosos, Jesus deu uma promessa incondicional.

Ele não disse: "Se vocês estiverem à minha espera, voltarei." Nem mesmo

diz: "Se vocês estiverem caminhando comigo, voltarei." Não, sua promessa

é absolutamente incondicional. "Vou preparar um lugar... virei outra

vez... levarei vocês para mim mesmo... vocês estarão comigo." Sua volta

não era uma conjetura... ocorreria de fato!

Sem dúvida, os discípulos queriam saber o que esperar nesse

intervalo de tempo. Dentro de minutos ele cobriu essa base.

"Disse-vos estas coisas para que em mim tenhais paz. No mundo

tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo" (João 16:33).

"Deixei o céu. Comecei meu ministério aqui na terra. Tenho sido

sustentado pelo poder de Deus. Logo completarei minha missão. Preciso ir

para a cruz a fim de pagar a pena dos pecados. Sairei vitorioso do

sepulcro. Subirei ao Pai. E virei de novo na hora que Ele determinar."

Page 82: A Noiva de Cristo

Enquanto isso, Jesus os desafiou a estarem alertas. "Permaneçam prontos

até a hora de largar." Enquanto esperavam a sua volta, eles com certeza

iriam enfrentar aflições e tribulações.

Temos desenvolvido este assunto desde que começamos juntos o

livro, não é verdade? Temos pensado sobre a igreja - seu propósito,

objetivos, estilo e as mudanças que ocorrerão durante os últimos dias. No

capítulo anterior tratamos de algumas diretrizes que deveríamos seguir à

luz dos dias difíceis que precisamos suportar. Talvez fosse útil pensar

nelas como "técnicas de sobrevivência". Como conseguimos vencer? Já que o

mundo

vai tornar as coisas difíceis para nós, como podemos viver

corajosamente, sabendo que Jesus venceu o mundo? O que nós, da igreja,

devemos fazer?

Claramente, Cristo vai voltar. Nossa pergunta é esta: Qual é a

melhor maneira de "permanecermos prontos até a hora da largada"?

PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DOS ESCRITOS DE PAULO

Volte de novo àquelas últimas palavras que Paulo escreveu na

segunda carta a Timóteo. Ele escreveu essas palavras pouco depois de 60

A.D. O apóstolo chegara ao fim de sua vida, o que o instiga a descrever a

vida no fim dos tempos. Como vimos no capítulo anterior, os tempos apenas

piorarão. Paulo não mede as palavras quando escreve ao amigo Timóteo e

diz: "Vamos enfrentar tempos difíceis... selvagens, para falar a

verdade." Como podemos permanecer prontos para o fim? Como podemos ter

certeza de que o fechar da cortina não nos apanhará de surpresa ou nos

encontrará terminando mal? O que podemos fazer?

Conforme mencionei antes, há quatro princípios a seguir, que são

apresentados no terceiro e quarto capítulos de 2 Timóteo. Talvez você se

lembre do primeiro: Siga o modelo dos fiéis.

"Tu, porém, tens seguido depeno o meu ensino, procedimento,

intenção, fé, longanimidade, amor, perseverança, perseguições e aflições,

quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra; quantas perseguições

sofri, e o Senhor de todas me livrou. E na verdade todos os que desejam

viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições" (2 Timóteo 3:10-

12).

Não há nada mais encorajador ou mais motivador do que um modelo

para nos manter avançando.

Não sei se você já leu a respeito da corrida de trenó puxado por

cães sobre uma parte do estado de Minnesota. Você tem acompanhado as

corridas? A mesma mulher que ganhou em 1987 ganhou também em 1988.

Estamos falando de uma pioneira! Ela avançou através do frio terrível, os

ventos ululantes de uma nevasca, noites escuras e dias exaustivos,

enquanto seus cães especiais puxavam o trenó por aquelas centenas de

quilômetros, do início até o final da corrida. Os cães vestiam pequenas

meias nas patas, pois o gelo parece uma lixa depois de tantos

quilômetros, podendo literalmente arrancar as plantas de seus pés. Embora

fortes e em ótimas condições, os animais vencedores com aquelas

meiazinhas nos pés ladravam, puxavam e iam em frente apesar das

dificuldades.

Após a corrida, aquela senhora foi entrevistada e lhe

perguntaram:

-- Como a senhora conseguiu?

-- Bem -- respondeu ela, -- apenas me lembrei de que outros já

conseguiram antes de mim, por isso também posso fazê-lo.

Page 83: A Noiva de Cristo

Como se isso não fosse suficiente, quando contei essa história

recentemente, veio um sujeito e me disse: "Você sabia que há uma corrida

de quase mil e oitocentos quilômetros de Anchorage a Nome no Alasca?"

Então ele me informou que aquela mesma mulher, Susan Butcher, vencera

essa corrida três vezes seguidas! Não é incrível? Dez a doze dias no meio

de nada. Monotonia enlouquecedora. Esforço inacreditável. Como ela

consegue? Posso contar-lhe parte da resposta... ela se lembra de que

alguém já o fez antes. Isso lhe dá a segurança de que ela também pode

fazê-lo.

A mesma coisa funciona hoje. Seguindo o modelo daqueles que nos

antecederam, podemos fazer mais do que sobreviver. Podemos vencer! E

assim que os compositores permanecem na tarefa de compor música. E assim

que as pessoas vivem através de condições torturantes como prisioneiros

de guerra. E assim que os cirurgiões continuam em frente durante horas em

cirurgia de emergência. E assim que atletas batem novos recordes. Houve

modelos que fizeram isso antes.

O mesmo funciona na vida espiritual. E por isso que Paulo diz a

Timóteo que siga o modelo da mãe e da avó fiéis... bem como o exemplo do

próprio Paulo.

Que rica herança! Timóteo tinha profundas raízes a sustê-lo

através de dias secos e áridos.

Lembra-se do segundo princípio? Retorne a verdade do seu passado.

Enquanto você segue o modelo dos fiéis, retorne às coisas que aprendeu

com sua mãe, a verdade que respigou de sua avó, e sua infância aos pés de

um mentor na sala de aula. Retorne a essas verdades que o estabilizaram

quando você plantou na terra as suas raízes espirituais.

Passei algumas horas em Chicago alguns anos atrás, gravando uma

entrevista para a revista Leadership (Liderança). Havia quatro líderes

convidados de diversas áreas do país para esta entrevista. Jamais me

esquecerei do comentário de um dos homens que ocupa uma posição relevante

em uma grande denominação. Ele disse algo assim:

"Descobrimos que aqueles que dão os melhores líderes na igreja,

aqueles que ocupam posições importantes e responsáveis sobre grande

número de pessoas, são quase sem exceção pessoas que têm raízes

profundas, de longa data, na fé. Muito poucos deles foram salvos,

digamos, aos 35 ou 40 anos de idade e estão agora liderando um grande

segmento da família de Deus. Quase sem exceção, aqueles que foram

promovidos a cargos de grande responsabilidade podem voltar os olhos para

pais e mesmo avós piedosos que caminharam com Deus. E com eles essas

pessoas aprenderam, desde a mais tenra infância, o valor da igreja, o

significado das Escrituras.

Não interprete mal o que foi dito aí. Não significa que se você

foi salvo mais tarde na vida jamais ocupará um lugar de grande

responsabilidade. Como cristãos, todos nós temos grandes

responsabilidades. E apenas interessante que a maioria daqueles que estão

em posições de liderança na igreja hoje ouviram a verdade no início da

vida. Eles tiveram sólidas raízes cristãs. Se foi essa a sua experiência,

este é um ótimo momento para dar graças pelo tipo de fé que você tirou

delas.

E note no versículo 15 que o apóstolo tem em mente

"... as sagradas letras, que podem fazer-te sábio..."

Quais são as sagradas letras? O versículo seguinte dá a resposta:

"Toda Escritura é divinamente inspirada..." (versículo 16).

Page 84: A Noiva de Cristo

Linda palavra -- inspirada. Theos (Deus), mais pneunia (sopro) --

theopneustos é a palavra grega... "soprada por Deus". Toda a Escritura em

sua forma original foi soprada por Deus, de forma que um escritor, sob o

poder controlador do Espírito de Deus, escreveu as Escrituras

precisamente como Deus as teria escrito. Ele fez isso sem erro, até os

próprios termos usados, inclusive a ordem dos termos nos quais elas foram

escritas, com o resultado de que a própria palavra de Deus foi

milagrosamente registrada. "Tudo isso foi "soprado por Deus", Timóteo."

Mas a coisa não termina por aí. Essa palavra tem sido preservada

nas páginas das nossas Bíblias de modo que, como resultado de lermos e

absorvermos a Escritura, descobrimos que ela é

"... proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para

instruir em justiça..." (versículo 16).

Não é um excelente conjunto de benefícios? Embora seja

importante, ter tido ótimos pais não é um pré-requisito para o

crescimento espiritual ou para o envolvimento na liderança da igreja.

Deus deu a cada um de nós a Bíblia em nossa língua, com a promessa de que

ela é proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir e para

instruir na justiça. Cada um de nós tem o potencial de tornar-se, como

Timóteo, uma pessoa adequada, madura, equipada para toda boa obra. A

verdade de Deus foi depositada em nosso reservatório. Tudo isto explica

como Paulo pôde dizer ao amigo Timóteo: "Nos tempos difíceis, tire forças

das Escrituras."

Infelizmente, existe uma mudança de capítulo em nossas Bíblias

entre 2 Timóteo 3:17 e 2 Timóteo 4:1 que interrompe o fluxo do

pensamento. Ignore-a. Simplesmente considere o novo capítulo como uma

continuação do mesmo tema.

"Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de

julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino" (versículo 1).

Quando menciona que nosso Senhor julgará os vivos e os mortos,

Paulo está relembrando Timóteo da volta de Cristo. "A hora de largar" é

coisa garantida. “Até que ele volte, Timóteo..."

"prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta,

repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino" (versículo 2).

Essa afirmação nos traz ao terceiro princípio para a

sobrevivência: Proclame a mensagem de Cristo. Timóteo foi chamado para

ser um pregador. Faz sentido que ele proclame a Cristo. Talvez você não

seja um pregador, mas o princípio ainda se aplica. A luz destes dias

difíceis, todos nós precisamos atender à mesma ordem.

Quando penso sobre as instruções de Paulo, encontro três

ingredientes. Primeiro, encontro urgência. Esteja pronto. "Fique pronto

para evitar de ter de se aprontar!" Esteja pronto com a mensagem certa em

todas as ocasiões.

Segundo, encontro continuidade. "Esteja pronto a tempo e fora de

tempo." Façamos uma lista.

. Quando for conveniente. Quando for inconveniente.

. Quando os outros estiverem abertos. Quando os outros estiverem

fechados.

. Quando você estiver se sentindo bem ou passando mal.

Page 85: A Noiva de Cristo

. Se você for jovem ou velho. Se for cedo ou tarde.

. Se for frio e ventoso ou quente e úmido.

. Se você estiver num lugar público ou privado, em casa ou num

lugar estranho.

. Quando você for apreciado e quando se indignarem contra você.

Quando lhe perguntarem a respeito e quando não lhe perguntarem.

A tempo e fora de tempo... é essa a maneira de Paulo dizer que o

segredo é a continuidade. Que força eficaz são aqueles que conhecem a

verdade e a vivem, e compartilham continuamente. Quando o fazemos, as

Escrituras são absorvidas em nosso próprio ser.

Spurgeon o disse desta forma:

"É bem-aventurado estudar a ponto de se chegar à própria alma da

Bíblia, até que, enfim, você passa a falar em linguagem escriturística, e

seu espírito é temperado com as palavras do Senhor, de forma que seu

sangue seja biblina e a própria essência da Bíblia flua de você".

Terceiro, encontro simplicidade. Não é lindo? Não há nada

sofisticado a respeito da exortação de Paulo. Nada de teoria, nada de

opinião complexa. "Apenas tome o conjunto de verdades que lhe dei e o

declare. Como você tem as Escrituras, tem todos os alimentos de que

precisa para pessoas que estejam com fome." A Palavra de Deus contém

suficiente conforto, esperança e encorajamento para ajudar Capítulo Sete

181 os solitários e os sofredores. Só precisamos mantê-la simples. Existe

algo tranquilamente motivador a respeito da simplicidade.

Em um dos meus livros anteriores, citei uma nota simples que

surgiu dos dias negros e brutais da Guerra Civil. A comunicação foi de um

Presidente Lincoln exausto das batalhas ao seu general, Ulysses S. Grant.

Somente três linhas, e no entanto foi o projétil escrito que pôs fim à

guerra. A data e a hora apareciam em cima:

7 de abril de 1865

11 horas da manhã

O General Sheridan tinha dito: "Se dificultarmos a situação, acho

que Lee se renderá."

Que a situação seja dificultada.

A. Lincoln

Grant recebeu a mensagem e agiu de acordo. Ele apertou

tremendamente a situação. Dois dias depois, no tribunal de Appomattox,

Robert E. Lee se rendeu. A coisa foi dificultada, e a mais sangrenta

guerra na história dos Estados Unidos terminou. A simplicidade é de fato

poderosa.

Você quer permanecer pronto até a hora da largada?

. Siga o exemplo dos fiéis.

. Retorne à verdade do passado.

. Proclame a mensagem de Cristo.

Page 86: A Noiva de Cristo

Existe um último princípio: Mantenha uma vida exemplar.

"Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo

coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias

cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando às fábulas. Tu,

porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um

evangelista, cumpre bem o teu ministério" (versículos 3-5).

Sempre haverá mestres que atrairão as pessoas, dizendo-lhes o que

elas querem ouvir em vez de o que elas deveriam ouvir. Pode contar com

isto -- quanto mais perto chegarmos da volta do Salvador, mais esses

coçadores de ouvidos proliferarão. Como impedir isso?

A resposta aparece em quatro ordens dadas no versículo 5:

. Seja sóbrio em todas as coisas.

. Sofra as aflições.

. Faça a obra de um evangelista.

. Cumpra o seu ministério.

Porque as pessoas são instáveis e sempre à cata de modismos e

novidades interessantes, temos de nos manter longe de todas essas

bobagens, permanecendo calmos e firmes. Mais uma vez, as palavras de John

Stott merecem ser repetidas:

"Quando homens e mulheres ficam intoxicados com heresias

estonteantes e novidades reluzentes, [nós] precisamos nos manter calmos e

equilibrados.

Quer uma sugestão para encontrar a igreja certa? Procure o

ministério que seja calmo e equilibrado. Afaste-se daqueles que enfatizam

todas as modas passageiras, as coisas engraçadinhas, as brilhantes.

E, quando as coisas ficarem mais difíceis ainda, "sofra as

aflições". Nos termos de hoje, aguente firme. Fique na luta. Mas não

fique azedo e rabugento. Apenas continue apresentando a Cristo.

Consciente de que as falsificações e os falsos estarão aumentando, viva a

verdade, viva o que você diz. Fazendo isso você "cumprirá o seu

ministério".

FATOS NÃO TEMPORAIS QUE MANTÊM NOSSA PRONTIDÃO

"Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da

minha partida está próximo. Combati o bom combate, guardei a fé. Desde

agora, a coroa da justiça me está guardada, o Senhor; justo juiz, me dará

naquele dia; e não somente a mim, os que amarem a sua vinda" (versículos

6-8).

Como pode o cristão permanecer pronto até a hora de largar? Como

podemos evitar sermos apanhados desprevenidos? Como posso garantir que

minha vida não será surpreendida ao ouvir aquele último brado, a voz e o

toque de trombeta vindos do céu? Três sugestões brotam das palavras de

Paulo.

Primeira: Considere sua vida como uma oferta a Deus em vez de uni

monumento aos homens. Paulo escreve sobre ser derramado como libação.

Page 87: A Noiva de Cristo

Esse é um quadro verbal vívido que merece ser copiado. Pense em você

mesmo como o sacrifício. Não trabalhe na sua imagem, trabalhe na sua

oferta. Considere sua vida como pouco mais do que uma oferta derramada

diante de Deus, em vez de um monumento reluzente para os homens

admirarem.

Segunda: Lembre-se de que terminar bem é a prova final de que a

verdade funciona. Encontro isso entretecido nas palavras do versículo 7:

"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé".

Você não admira as pessoas que terminam? Às vezes, apenas

terminar é tão impressionante quanto ganhar. Lembra-se da Olimpíada de

1984? Se se lembrar, jamais se esquecerá da moça que correu aquela

maratona e finalmente conseguiu voltar ao estádio. Lembra-se dela? Estava

lutando para não cair... puxa, eu e minha família estávamos vendo na

televisão e torcendo por ela: "Vamos. Vamos! Não pare!'' Ao tentar

focalizar seus olhos na fita, ela tropeçou e caiu. E todos

nós gritamos mais forte: "Levante! Levante!" Ela levantou. Finalmente

conseguiu passar pela fita. Ela não ganhou nada. De fato, estava tão

atrasada que já estava tudo resolvido. Para todos os fins práticos, a

corrida havia terminado. Mas ela terminou. Quando finalmente atravessou,

não sei o que a sua família fez, mas a nossa aplaudiu e gritou em

uníssono: "E ISSO AI!" Dava para pensar que era nossa madrinha cruzando

aquela linha! Glória... ela terminou!

Planeje agora terminar o que você começou. Isso ajudará quando a

corrida parecer longa demais.

Paulo conclui:

"Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor,

justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos

os que amarem a sua vinda" (versículo 8).

Terceira: Fixe os olhos nas recompensas do céu em vez de nos

encantos da tetra, Há uma coroa à vista. Tanto da vida depende do foco

dos nossos olhos, não é mesmo? Ocorreu-me recentemente que, por mais

valiosos que meus olhos sejam, eles precisam da minha mente antes que

possam fazer o trabalho que devem fazer. Os globos oculares me capacitam

a ver. Posso ver com os meus olhos. Mas preciso usar a minha mente para

ver através das coisas.

Ilustração: Ló e Abraão. Lá na narrativa de Gênesis, tio Abraão e

Ló, seu sobrinho, estavam morando juntos. Deus fez prosperar seu gado tão

abundantemente que eles não puderam permanecer na mesma fazenda. Então,

Abraão disse graciosamente ao sobrinho: "Olhe, meu filho, resolva onde

você quer morar. Escolha o que quiser. E onde for que você e sua família

preferirem morar, leve seus bens e seu gado e mude-se. Eu ficarei com o

que sobrar."

E LÓ?

"Levantou Ló os olhos, e viu toda a campina do Jordão, e que era

toda bem regada..." (Gênesis 13:10).

Ele viu com os olhos como a região era bela, como era confortável -

mas deixou de enxergar através dela. Ló não parou para pensar: "Este

lugar ímpio é Sodoma. E Gomorra é igualmente ruim. A perversão prolifera.

Esta área e estas pessoas cobrarão um preço da minha família." Como

muitos, ele viu com os olhos, mas deixou de ver através. Lembre-se disto.

Quando você usar seus olhos para focalizar os galardões eternos, mantenha

sua mente alerta para poder enxergar através dos encantos da terra.

Page 88: A Noiva de Cristo

Malcolm Muggeridge tem citado frequentemente o verso de WilHam

Blake:

"As fracas Janelas da Alma desta Vida Distorcem os Céus de Pólo a

Pólo. E o levam a Crer numa Mentira Quando você vê com, e não através do

Olho".

Se você assumiu o compromisso de "permanecer pronto até a hora de

largar", o plano não é nada complicado. Precisaremos seguir o modelo dos

fiéis. Precisaremos retornar à verdade do passado. Como Noiva de Cristo,

devemos proclamar a sua mensagem. E no processo, não ousemos deixar de

manter uma vida exemplar.

Os anéis de ouro trocados nos casamentos simbolizam que os dois

estarão comprometidos um com o outro - eternamente. Ou nas palavras deste

capítulo, até a hora de largar. Cristo se comprometeu com sua Noiva para

sempre. Temos feito o mesmo para com ele? Faremos isso -- eternamente?

REFLEXÕES

1. Talvez hoje. Talvez esta noite. Será que esses pensamentos

alguma vez lhe passam pela mente quando seus pés tocam o chão de manhã ou

quando você cai sobre o travesseiro à noite? Muito tempo talvez se tenha

passado desde que você refletiu seriamente sobre a volta iminente de

nosso Senhor. Tome alguns cartões e anote diversas das passagens bíblicas

que examinamos neste capítulo. Leve-os consigo durante uma ou duas

semanas, ou coloque-os onde você poderá vê-los o dia todo. Deixe que a

verdade dessas palavras sature a sua mente e coração à medida que as lê

vez após vez.

2. Volte à lista das páginas 177 e 178 que aparece sob as

palavras "Esteja pronto a tempo e fora de tempo." Debaixo dessa sentença,

coloquei nove declarações que começam com as palavras "Quando" ou "Se".

Num pedaço de papel, tente ligar cada uma dessas situações a pessoas

reais, lugares reais e circunstâncias reais da sua vida. Deixe que este

exercício comece a pintar um quadro de como um testemunho contínuo por

Cristo seria de fato na sua vida.

3. Você algum dia decorou uma apresentação simples do evangelho -

uma que você saiba tão bem que poderia usar a qualquer hora e em

quaisquer circunstâncias? Que demonstração de quem é mais importante

nesta vida para você, tão importante que você quer contar aos outros como

chegou a conhecê-lo! Dê uma olhada em diversas possibilidades (que

poderiam incluir "As Quatro Leis Espirituais", da Cruzada Estudantil; "À

Ponte", dos Navegadores; ou "Passos para Ter Paz com Deus", pela

organização de Billy Graham). Firme esta apresentação em sua cabeça, e

depois fique atento a oportunidades de compartilhá-la -- a tempo e fora

de tempo!

CAPÍTULO NOVE

O VALOR DA INTEGRIDADE

A terça-feira amanheceu fria no local de lançamento. Contudo, um

pouco distante de Cabo Canaveral, naquela manhã gelada, o ar se enchia

com o acalorado debate. Sem que o resto da nação soubesse, uma guerra de

palavras grassava por trás das cenas. A batalha verbal se dava entre

engenheiros e técnicos lúcidos que diziam "Não" num lado da discórdia e

executivos influentes e burocratas preocupados com imagem que diziam

"Sim" no outro. A discussão era a respeito de se a nave espacial

Page 89: A Noiva de Cristo

Challenger devia ou não ser lançada naquela manhã... 28 de janeiro de

1986.

Contrariando o forte conselho dos peritos que sabiam ter a

temperatura caído demais para o lançamento ser considerado seguro, a

contagem regressiva continuou até o momento da subida.

Setenta segundos depois -- para horror de uma nação - os sete

tripulantes da Challenger pereceram numa explosão gigantesca. Choveu

detrito no mar por uma hora inteira.

Os técnicos determinaram que a causa da explosão foi um selo

defeituoso que permitiu ao combustível volátil vazar e se incendiar.

Essa foi a explicação técnica. A verdadeira razão do

desaparecimento da Challenger foi Mais profunda do que o rompimento de um

anel de vedação defeituoso. Começou com o colapso da integridade, tanto

na construção da nave quando no caráter daqueles que se recusaram a dar

ouvidos às advertências.

UMA CRISE DE INTEGRIDADE

Este não será um capítulo fácil de escrever. Demorei mais de três

anos para prepará-lo em minha mente. Os eventos que me levaram a colocar

estes pensamentos 110 papel tanto foram dolorosos quanto escandalosos.

Eles deixaram um olho preto no rosto do Tio Sam e, o que é pior,

aleijaram a igreja de Jesus Cristo.

O que ocorreu nada mais é do que uma crise de integridade. Ela

não aconteceu da noite para o dia. Como a erosão, sua investida foi lenta

e sinistra.

A crise atingiu nossas rodovias, que se tornaram cenários de

carnificina. A despeito de ingentes esforços de organizações voluntárias,

uma custosa campanha publicitária e punições judiciais mais rigorosas,

motoristas bêbados e/ou drogados continuam a sentar-se atrás do volante e

a assassinar vítimas inocentes. Já é bem documentado que pelo menos a

metade de todas as mortes no trânsito é causada por pessoas culpadas de

abuso de substâncias químicas. A essas pessoas falta a integridade

necessária para deixar de dirigir de maneira irresponsável.

A Síndrome da Imuno-Deficiência Adquirida (AIDS) -- palavras que

nunca tínhamos ouvido quinze anos atrás -- está agora nas primeiras

páginas. As implicações são incomensuráveis. Em uma questão de meses um

atleta de cem quilos pode ser reduzido a um espectador de 40 quilos,

terminando por tornar-se um nome na coluna de óbitos. Se a estimativa do

Ministro da Saúde estiver correta, esta moléstia causada por lapso na

integridade, encherá um dia as páginas dos nossos jornais metropolitanos.

Em julho de 1994, um total de 2,1 milhões de americanos já haviam

contraído AIDS e outros 13 milhões tinham o vírus HIV pré-AIDS. Fiz um

cálculo rápido desse número e descobri que se imprimíssemos dois nomes

por linha, todas essas fatalidades requereriam mais de oitenta páginas de

um jornal tamanho médio... enumerando de alto a baixo, seis colunas na

largura, excluindo todos os cabeçalhos, fotos e anúncios. Isto, meu

amigo, é uma epidemia.

O serviço militar já se gabou de sua integridade. Meu próprio

ramo, o dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, erguia bem alto seu

lema: Semper Fidélis. Não mais, na opinião pública. Graças a um escândalo

de sexo-por-espionagem em Moscou, aqueles antes orgulhosos durões agora

têm de enfrentar o constrangimento causado por um caricaturista editorial

cuja legenda "Semper Infidelis disse tudo. Guardas fuzileiros alijaram a

integridade ao escoltarem agentes soviéticos às câmaras mais sensíveis do

consulado em Moscou inclusive o "seguro" centro de comunicações ultra

secreto. Listas inteiras de agentes secretos foram reveladas, deixando-os

Page 90: A Noiva de Cristo

ameaçados pela exposição. A transmissão repetida de códigos e documentos

secretos imobilizou futuros planos de defesa.

O que levou os Fuzileiros a fazerem isso? Foram forçados sob

ameaça de revólver? Foi lavagem cerebral ou tortura? Chantagem nuclear?

Não. Foi lascívia sexual... um enfraquecimento da integridade moral.

A arena política, que já desfrutou de muita admiração e alto

nível de confiança, está agora comprometida. Os escândalos se

multiplicam. Tudo, desde plágio até alcoolismo, de logro a corrupção, de

favores sexuais a pagamentos de propinas, continua a emergir. Mais uma

vez, a integridade está conspicuamente ausente.

Não importa o quanto me seja difícil incluir esta última

categoria, não posso omiti-la. Refiro-me à pavorosa atuação de tantos

líderes religiosos, especialmente nesta última década. Sempre tem havido

alguns pregadores hipócritas, eu sei, mas não posso me lembrar de uma

época na história da igreja moderna quando o número de desertores tenha

sido tão elevado ou a extensão de suas atividades questionáveis ou

vergonhosas tenha sido tão impudente. Repassar cada incidente é inútil e

contraproducente, mas lembrar-nos das consequências é essencial.

A opinião pública sobre os líderes religiosos está no ponto mais

baixo de todos os tempos. O pesquisador de opinião George Gallup Jr.

disse recentemente a um grupo de angariadores de fundos cristãos que

"quarenta e dois por cento dos norte-americanos duvidavam da honestidade

de alguns, se não da maioria, dos apelos religiosos por doações." E da

nossa integridade que as pessoas realmente duvidam.

INTEGRIDADE: NÃO HÁ NENHUM SUBSTITUTO

Antes de prosseguir, precisamos definir o termo. Biblicamente,

integridade é uma forma da palavra hebraica que significa "completo,

sólido, intacto". O dicionário declara que integridade significa "uma

condição de inteireza: solidez". Ampliando o significado, ele se estende

e inclui "a aderência a um código de valores morais, artísticos, ou

outros... a qualidade ou condição de ser completo e inteiro." Quando a

pessoa possui integridade, há uma ausência de hipocrisia. Ela é

pessoalmente confiável, financeiramente responsável, e limpa em sua vida

particular... inocente de motivos impuros.

Há uma certa combinação de coragem... caráter, e princípio que

não tem nenhum nome satisfatório tirado do dicionário mas tem sido

chamada de coisas diferentes em épocas diferentes em países diferentes. O

nome que nós, americanos, lhe damos é ter "peito".

Integridade não apenas é a maneira como a pessoa pensa; é mais a

maneira como ela age. Conforme declara Ted Engstrom: "Integridade é fazer

o que você disse que faria." E algo tão básico quanto manter a palavra

dada, cumprir sua promessa. Por exemplo:

. Você disse ao Senhor que lhe daria toda a glória.

. Você prometeu que seria fiel ao seu cônjuge.

. Você declarou que suas despesas chegavam a uma certa quantia.

. Você prometeu ao seu filho que brincaria com ele hoje à tarde.

. Você disse ao seu editor que teria o manuscrito pronto até 20 de

março.

Page 91: A Noiva de Cristo

. Você garantiu ao seu companheiro de quarto que assumiria sua

parte dos trabalhos.

. Você prometeu ao ser ordenado que seria fiel à sua vocação.

. Você assinou um contrato no qual assumiu um compromisso com

coisas específicas.

. Você prometeu a seu vizinho que devolveria a ferramenta que tomou

emprestada.

. Você jurou dizer a verdade ao prestar depoimento.

. Você declarou que oraria ou ligaria de volta ou pagaria sua conta

ou apareceria até as 18:30... etc.

Não há razão para complicar as coisas ou arrumar desculpas. Fazer

o que você disse que faria é simplesmente uma questão de integridade. Não

há nenhum substituto para não ter o peito de cumprir a palavra.

A integridade se evidencia em solidez ética, veracidade

intelectual e excelência moral. Ela nos impede de ter medo da luz branca

de um exame atento e de resistir à fiscalização da responsabilidade. E

honestidade a todo custo... caráter férreo que não rachará quando assumir

uma postura impopular, nem ruirá quando a pressão se acumular.

INTEGRIDADE NA ESCRITURA

A integridade aparece não menos do que dezesseis vezes na

Escritura, todas elas no Antigo Testamento. Por exemplo, o salmista,

quando sob ataque, orou: "Julga-me, ó Senhor, conforme... a integridade

que há em mim" (7:8). E mais uma vez, quando tentado: "Guardem-me a

integridade e a retidão" (25:21). Ao buscar um novo rei para substituir

Saul, Deus foi atrás de um jovem que tivesse integridade. Amo a descrição

do processo de escolha registrado no Salmo 78:

"Escolheu a Davi, seu servo, e o tirou dos apriscos das ovelhas; do

cuidado das ovelhas pejadas o trouxe para ser o pastor de Jacó, o seu

povo, e de Israel, a sua herança. E Davi os apascentou segundo a

integridade do seu coração; guiou-os com a perícia das suas mãos"

(versículos 70-72).

O sábio Salomão escreve sobre como a marca da integridade do pai

ficou para sempre com os filhos.

"O justo anda na sua integridade; bem-aventurados são os seus

filhos depois dele" (Provérbios 20:7).

Personagens bíblicos frequentemente demonstram integridade, sem

que a palavra em si seja usada. José, quando era o servo de confiança de

Potifar, foi alvo da sedução da Sra. Potifar. Você deve a si mesmo uma

leitura do relato em Gênesis 39. A Escritura apresenta em vívidas cores

as tentativas frequentes da mulher em levar José para sua cama. A gente

quase sente os braços da tentadora nos abraçando, a fragrância do seu

perfume. Eles estão na penumbra, os lençóis são de cetim, uma música

suave toca no fundo, eles estão sozinhos... e ela o deseja!

Mas a parte mais linda da história é a integridade de José. Por

devoção ao seu Deus e lealdade para com seu senhor (o marido dela), o

homem literalmente foge dos braços dela. Pela maneira como a história é

apresentada, ele se recusou até a flertar com a ideia de ceder. Ele não

deu à mulher nenhuma sinal positivo... nem mesmo sutilmente. O homem

Page 92: A Noiva de Cristo

tinha integridade moral, rara em nossos dias de casos amorosos

desenfreados.

Outros exemplos? Considere Elias. Armado com a mensagem de Deus,

ele postou-se frente a frente com Acabe e Jezabel, admoestando-os sobre o

julgamento iminente (1 Reis 17:1). Penso em Natã, o profeta destemido que

teve a integridade de olhar bem nos olhos do Davi adúltero e dizer: "Tu

és esse homem!" (2 Samuel 12:1-12). Ou João Batista, que atraiu uma

multidão ao deserto, contudo jamais usou a oportunidade para arregimentar

seguidores em torno de si mesmo. Foi ele um pregador disposto a perder

sua congregação para Outro, enquanto modelava o tempo todo sua humilde

declaração de integridade: "E necessário que ele cresça, e que eu

diminua" (João 3:30). Lembro-me de Estêvão, cujo testemunho audacioso por

Cristo tanto incitou a hostilidade do sinédrio judeu que eles o mataram a

pedradas. Até o fim, ele falou a verdade sem vacilação (Atos 6:8-7:60)...

o que pode ter sido a primeira vez que Saulo de Tarso ouviu o evangelho

(Atos 7:58).

Acho encorajador o fato de que as notáveis pessoas de integridade

mencionadas na Bíblia podem ser encontradas em cada camada da

sociedade... em qualquer nível financeiro, ocupando qualquer posição ou

lugar concebível, vivendo em lugares de beleza ou pobreza, representando

tanto casados quanto solteiros. Hebreus II apresenta uma lista deles que

inclui um homem ou mulher após outro sob o título: "Pessoas de fé."

Embora tenham vivido vidas exemplares (não perfeitas), seu destino

terreno foi tudo menos agradável e recompensador.

"E que mais direi? Certamente me faltará o tempo para falar de

Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos

profetas, os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça,

alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, apagaram a força do fogo,

escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram forças, tornaram-se

poderosos na batalha, puseram em fuga exércitos de estrangeiros. Mulheres

receberam pela ressurreição os seus mortos. Uns foram torturados, não

aceitando o seu livramento, para alcançar superior ressurreição. Outros

experimentaram escárnios e açoites, e até algemas e prisões. Foram

apedrejados; foram tentados; foram serrados pelo meio; foram mortos ao

fio da espada. Andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras,

necessitados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno),

errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra"

(versículos 32-38).

Por favor, não entenda mal. Ter integridade não é em geral uma

questão altamente visível de entregar sua vida ao martírio. Com mais

frequência, é nas esferas tranquilas, despercebidas, sem aplausos da vida

que a pessoa demonstra integridade... dentro das paredes da própria

casa... nas câmaras secretas do próprio coração.

DANIEL: UM CASO CLÁSSICO A FAVOR DA INTEGRIDADE

Um homem na Bíblia que pode levar o nome de íntegro se destacou

consideravelmente entre seus pares. Seu superior de 62 anos, o rei Dario,

não tinha a menor ideia de quanto os colegas de Daniel eram corruptos.

Ele admirava Daniel, entretanto, e fez planos para promovê-lo sobre todos

os outros. Eis aqui um breve resumo da história, como ela se desenrolou

séculos atrás:

"Pareceu bem a Dario constituir sobre o reino a cento e vinte

sátrapas, que estivessem sobre todo o reino, e sobre eles três

presidentes, dos quais Daniel era um, aos quais estes sátrapas dessem

Page 93: A Noiva de Cristo

conta, para que o rei não sofresse dano. Então o mesmo Daniel se

distinguiu destes presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito

excelente, e o rei pensava constitui-lo sobre todo o reino" (Daniel 6:1-

3).

Genericamente falando, há dois tipos de testes na vida: a

adversidade e a prosperidade. Dos dois, o segundo é o mais difícil.

Quando a adversidade ataca, as coisas ficam simples; a meta é sobreviver.

E um teste de manter o básico em questões de alimento, vestuário e

abrigo. Mas quando vem a prosperidade, cuidado! As coisas ficam

complicadas. Todo tipo de tentação sutil chega, implorando satisfação. E

então que a integridade da pessoa é testada.

Era aí que Daniel se encontrava: respeitado, bem-sucedido,

prestes a ser promovido. Mas nenhuma dessas coisas o levou a transigir em

sua integridade, nem mesmo de leve. A despeito de seu caráter imaculado,

a pressão se acumulou. Os colegas, sem dúvida por ciúmes, resolveram

encontrar alguma sujeira na vida dele a fim de relatá-la ao rei.

"Então os presidentes e os sátrapas procuravam achar ocasião contra

Daniel a respeito do reino, mas não podiam achar ocasião ou culpa alguma,

porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa" (

versículo 4).

Hoje diríamos que eles resolveram mantê-lo sob vigilância. Eles o

espionaram, falaram com outros a seu respeito, vigiaram-no e mexeram nos

seus arquivos. Estavam determinados a encontrar uma acusação contra ele.

Encontraram ZERO. Nenhuma sujeira. Nada de caixa dois. Nada de fraude.

Nada acobertado. Nenhum pagamento de propina. Nenhum traço de corrupção.

O homem tinia de tão limpo. Que exemplo de integridade! Como precisamos

modelá-la, independentemente da mediocridade que nos cerca! Em toda área

da vida! Temos vivido tanto tempo sem ela que já não esperamos encontra-

la - exceto talvez em poucas esferas isoladas da sociedade. Mas a

integridade se encaixa onde é encontrada.

A sociedade que menospreza a excelência no encanador porque sua

atividade é humilde e tolera a mediocridade na filosofia por ser uma

atividade exaltada não terá bons encanamentos nem boa filosofia. Nem seus

canos nem suas teorias prestarão para coisa alguma.

Nem sempre ter integridade granjeará amigos. Como no caso de

Daniel, os outros com frequência aumentarão a pressão. O sistema do mundo

está tão saturado de acomodação e corrupção que a pessoa que resolver

viver acima de tudo isso será uma censura silenciosa aos que não o fazem.

Uns poucos talvez o admirem por isso, um número maior se ressentirá de

você. Prepare-se para o ataque. Eles não se deterão diante de nada para

tornar sua vida miserável - mesmo que isso signifique torcer a verdade a

fim de encaixá-la em suas maquinações.

É precisamente o que aconteceu com Daniel. De fato, é assim que

ele foi parar na cova dos leões.

"Então estes homens disseram: Nunca acharemos ocasião alguma contra

este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus. Então

estes presidentes e sátrapas foram juntos ao rei, e disseram-lhe: O rei

Dario, vive para sempre! Todos os presidentes do reino, os prefeitos e

sátrapas, conselheiros e governadores, concordaram em que o rei devia

baixar um decreto e fazer firme o interdito, que qualquer que, por espaço

de trinta dias, fizer uma petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, e

não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões. Agora, orei, estabelece

Page 94: A Noiva de Cristo

o interdito, e assina a escritura, para que não seja mudada, conforme a

lei dos medos e dos persas, que não se pode revogar. Por esta causa o rei

Dario assinou a escritura e o interdito. Ora, quando Daniel soube que a

escritura estava assinada, entrou- em sua casa, no seu quarto em cima,

onde estavam abertas as janelas para o lado de Jerusalém, e três vezes no

dia se punha de joelhos, orava e dava graças, diante do seu- Deus, como

também antes costumava fazer. Então aqueles homens foram juntos, e

acharam a Daniel orando e suplicando diante do seu Deus. Então se

apresentaram ao rei, e disseram: No tocante ao mandamento real, não

assinaste o interdito, pelo qual todo homem que fizesse uma petição a

qualquer deus, ou a qualquer homem, por espaço de trinta dias, e não a

ti, ó rei, seria lançado na cova dos leões ? Respondeu o rei: Esta

palavra é certa, conforme a lei dos medos e dos persas, que não se pode

revogar. Então responderam diante do rei: Daniel, que é dos transportados

de Judá, não tem feito caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste,

antes três vezes por dia faz a sua oração. Ouvindo então o rei o negócio,

ficou muito penalizado, e a favor de Daniel propôs no coração livrá-lo, e

até ao pôr-do-sol trabalhou por salvá-lo. Então aqueles homens foram

juntos ao rei, e lhe disseram: Sabe, ó rei, que é uma lei dos medos e dos

persas que nenhum interdito ou decreto, que o rei estabeleça, se pode

mudar.

Então o rei ordenou que trouxessem a Daniel, e o lançassem na

cova dos leões” (versículos 5-16).

Felizmente, a justiça prevaleceu. Deus livrou Daniel dos leões, e

o rei Dario lançou os enganadores na cova em seu lugar... e eles sumiram

da história.

PRINCÍPIOS PERMANENTES DOS QUAIS PRECISAMOS NOS LEMBRAR

Com o que escrevi até aqui servindo de base, desejo cavar um

pouco mais fundo em como tudo isso se aplica hoje. No processo, quero

deixar com você três princípios dos quais espero que jamais se esqueça.

Esses princípios não são populares nem fáceis de aplicar, mas

creio neles de todo o meu coração. Ademais, comprometo-me a pautar minha

vida por eles, independente da reação que eles possam causar. Imploro-

lhe: Antes que você me "desligue" ou se sente para me escrever uma

refutação, pense. Pense claramente. Acima de tudo, pense biblicamente.

Pergunte-se por que se sente tão defensivo. Vá às Escrituras (como eu fiz

e continuarei fazendo) a fim de respaldar sua posição. Você pode ficar

surpreso ao descobrir que sua divergência comigo parece plausível e

lógica, mas não tem justificativa bíblica.

Primeiro: A verdadeira integridade implica em você fazer o que é

certo quando ninguém está olhando ou quando todos estão transigindo.

Você pode precisar admitir que tem diversas coisas que requerem

sua atenção imediata. Não deixe para depois... comece agora. Sua

integridade o exige. Nunca é tarde demais para começar a fazer o que é

certo. Acerte as coisas, ou seja homem ou mulher o suficiente para

admitir sua hipocrisia -- especialmente se estiver no ministério.

O ministério é uma profissão de caráter. Para falar francamente,

você pode dormir por aí e ainda ser um bom neurocirurgião. Você pode

trair seu cônjuge e ter pouca dificuldade em continuar a praticar a

advocacia. Aparentemente, não há problema em continuar na política e

plagiar. Você pode ser um vendedor bem-sucedido e sonegar seu imposto de

renda. Mas você não pode fazer essas coisas como cristão ou como ministro

e continuar a usufruir as bênçãos do Senhor. Você precisa agir certo para

poder ter verdadeira integridade. Se você não consegue chegar a um acordo

quanto ao mal, ou quebrar hábitos que continuam a trazer descrédito ao

Page 95: A Noiva de Cristo

nome de Cristo, por favor, faça ao Senhor (e a nós no ministério) um

favor e se demita.

Não sou o único a ter estas fortes convicções. Há outros que se

cansaram da crise de integridade de nossos dias e a têm tratado de uma

forma audaciosa.

Onde as pessoas podem encontrar a verdade? Os filósofos se

lembram do velho Diógenes, que ainda simboliza a busca por ter saído à

procura da verdade com uma luz acesa em pleno dia...

Alguns líderes religiosos de fato servem de modelos... Os tempos

difíceis este ano foram para os personagens religiosos do horário nobre.

Alguns evangelistas da TV foram infiéis a seus cônjuges e outros

alteraram suas autobiografias para encobrir hipocrisias passadas. O

público cínico ignora o ministério em sua vizinhança e diz às

celebridades: "Acerte as coisas e pode ser que prestemos atenção outra

vez..."

... a busca pública da verdade se baseia em definições que

diferem de certa forma da maioria dos conceitos da filosofia moderna e

clássica. Há uma pista moderna para a busca atual tirada da linguagem da

religião que

domina no Ocidente, uma que é baseada em significados bíblicos. Os

antigos hebreus e os autores do Novo Testamento grego falaram pouco sobre

a verdade no abstrato, sobre a verdade no sentido impessoal. Ao

contrário, eles ligavam "verdade" ao caráter de um Deus fiel e depois

queriam ver essa qualidade refletida nos seres humanos.

O conceito bíblico mais rico do que "dizer a verdade" é expresso

como "fazer a verdade". Quando alguém "faz" a verdade, podemos

inspecionar essa pessoa muito mais prontamente do que quando a conversa

sobre verdade é apenas um jogo ou provocação intelectual. "Fazer a

verdade" dependia do conceito hebraico de emeth, tendo a conotação de

fidelidade e fidedignidade... A verdade está "dentro" deles e eles "são"

verdade porque "fazem" a verdade: Nós dizemos que eles têm integridade.

O teste dessa verdade é óbvio. Diga: "Quando ela promete, cumpre"

ou "o aperto de mão dele é melhor do que um contrato!" e você descreve

alguém que encarna o que aqueles que buscam a verdade hoje estão

procurando...

Os mentirosos e enganadores recentemente expostos eram quase

sempre solitários, celebridades que tinham muitos admiradores, mas nenhum

amigo que pudesse ser crítico, que os pudesse manter honestos.

... O caráter requer um ambiente. O romancista francês Stendhal

escreveu: "Pode-se adquirir qualquer coisa na solidão exceto caráter."...

Segundo: A verdadeira integridade permanece firme quer o teste

seja a adversidade, quer seja a prosperidade. Se você realmente tiver

integridade, uma demissão ou uma promoção não o mudará. Seu cerne íntimo

não será deslocado. Mas devo repetir a advertência que já fiz antes: Os

outros não gostarão se você não "seguir" o sistema. Prepare-se para ser

mal interpretado pela turma medíocre. Com certeza você se defrontará com

a hostilidade dela.

Recebi uma carta de uma jovem que descreve como a pressão para

manter a integridade pode se tornar intensa. Incluirei apenas uma parte

do que ela escreveu:

... Sou formada em microbiologia pela faculdade e tenho pós-

graduação em biblioteconomia médica. Logo depois de ter completado trinta

anos, ficou claro para mim que eu preferiria uma carreira em medicina,

por isso matriculei-me no curso pré medicina de um ano na faculdade

local... para fazer o curso, preparar-me para os exames padronizados e

Page 96: A Noiva de Cristo

tentar ingressar nas escolas de medicina. Não fazia muito tempo que eu

estava no campus quando percebi uma difusa desmoralização entre os

professores e os outros funcionários: o tipo de coisa que só pode

resultar de péssima administração.

Era também abundantemente óbvio que meus colegas eram desonestos

ao extremo: falsificavam registros de laboratório, colavam nas provas, e

pressionavam-me a fazer o mesmo, etc. A pressão não era problema; sei

como resistir. Mas o catedrático responsável pelo programa é um homem que

está lutando contra os demônios gêmeos da crise da meia-idade e um

ambiente de trabalho deplorável. Sob essa intensa pressão, sua frase

favorita se tornou: "Não quero saber!" Não tive coragem de aumentar seus

fardos. Tendo de escolher entre integridade intelectual e compaixão,

escolhi a compaixão. Má escolha. Obviamente tola. Eu estava errada. Fora

de base. No fim, não tive outra escolha senão forçá-lo a enfrentar o que

tinha de saber.

As coisas foram sendo levadas de qualquer jeito até março quando

alguns foram apanhados colando num exame feito em casa no qual havíamos

recebido instruções de trabalhar independentemente. Os culpados -- eu não

estava entre eles - se defenderam na base de que não sabiam que estavam

fazendo nada errado. Como parte do critério para admissão, era esperado

de nós que concordássemos em apoiar uns aos outros em toda e qualquer

circunstância. Isso é projetado para garantir a ausência de competição

excessiva, mas o tiro saiu pela culatra. O catedrático compareceu perante

o conselho disciplinar e endossou o comportamento dos alunos,

comprometendo assim sua própria integridade e a da instituição.

Naquele ponto, senti fortemente que havia estado calada por muito

tempo. Tarde demais, protestei (com tanta delicadeza quanto possível --

não adianta golpear o nervo com uma marreta) com base no fato de que

tentar forcar as faculdades de medicina a aceitarem quinze pessoas

altamente inescrupulosas tem implicações devastadoras para a sociedade,

bem como para as pessoas que fazem uma coisa dessas. Não posso considerar

isso um incidente trivial. Estudantes desonestos se tornam profissionais

desonestos. Quando profissionais ligados à química são desonestos,

pessoas morrem! Não há nada trivial a respeito disso.

Minhas palavras caíram em ouvidos moucos. Em todo esse tempo, meu

desempenho acadêmico havia sido inferior; não trabalho bem nessas

condições... por isso me disseram que sou irremediavelmente incompetente

e que não vale a pena me conhecer. A isso retruquei que tenho caráter e

isso é mais importante do que notas. Ou faculdade de medicina. Ou

dinheiro...

A verdadeira integridade permanece no lugar, quer você passe ou

repita. Admiro essa moça. Ela não alega ser perfeita, mas realmente

deseja ser uma mulher de caráter forte.

Meu terceiro princípio será o mais controvertido: Integridade

moral arruinada significa que o líder espiritual renuncia ao direito de

liderar.

Antes de debater comigo sobre isto, pare e pense. Eu o

encorajaria a apoiar sua posição pela Bíblia, não em seus sentimentos ou

opiniões de outros. E enquanto faz isso, eu o desafiaria a encontrar nas

Escrituras pessoas que chegaram a ocupar lugares de alta visibilidade no

ministério e que, após fracasso moral, foram mais tarde reconduzidos ao

mesmo pináculo e experimentaram o mesmo ou maior sucesso em seu

ministério. Tenho procurado há anos e não encontrei sequer UM exemplo

bíblico. Não existe uma única pessoa que se encaixe nesse modelo 110 Novo

Testamento.

No Antigo Testamento, Davi é o único que chega perto. Mas se você

fizer um estudo cuidadoso da vida desse homem, verá que sua liderança se

Page 97: A Noiva de Cristo

assemelha a um telhado. Sobe, sobe, sobe... até Bate-Seba. Antes de seu

adultério, Davi estava no auge de sua carreira. Depois, tudo cai, cai,

cai. Derrota no campo de batalha. Encrencas em casa. O filho estupra a

meia-irmã, Tamar. Outro filho lidera uma rebelião contra o pai. Davi

acaba morrendo com o coração partido, a família desbaratada e seu

sucessor (Salomão) aparelhado para uma queda maior ainda. Foi-lhe

permitido permanecer rei (que, a propósito, não é um cargo espiritual),

mas sua autoridade e o respeito do público nunca mais foram os mesmos.

Afirmo que nem Davi se qualifica como modelo de líder caído que foi

restaurado à bênção plena de Deus e ao respeito do povo. Tem sido minha

observação que esse tipo de exemplo simplesmente não pode ser encontrado

na Palavra de Deus.

Alguns de vocês que estão lendo estas palavras presumirão que me

falta um espírito perdoador. Isso simplesmente não é verdade. Sou capaz

de perdoai* e continuarei a perdoar o mais crasso dos pecados, mas neste

caso não é uma questão de perdão, mas, sim o colapso da integridade de um

ministro. Não tenho problema em perdoar qualquer irmão ou irmã que quebre

sua integridade moral. Tenho muita dificuldade, contudo, em nomear de

novo aquele indivíduo ao mesmo lugar de alto nível de autoridade.

Por quê? Por dois motivos: Primeiro, porque não encontro

justificativa bíblica para isso ou exemplos disso ocorrendo; segundo,

porque certas falhas revelam defeitos arraigados de caráter (não mera

pecaminosidade)

que criam desconfiança entre aqueles que estão sendo liderados. Se

você está pensando que Jonas ou Pedro se qualificam como modelos, lembre-

se de que nenhum dos dois caiu moralmente. A falta deles não foi sexual.

Considero isso uma categoria à parte, e o faço com justificativa bíblica.

Por algum motivo, muito poucos cristãos já estudaram ou levaram a sério a

seguinte passagem:

"O que adultera com uma mulher tem falta de entendimento; o que tal

faz destrói a sua alma. Açoites e ignomínia encontrará, e o seu opróbrio

nunca se apagará" (Provérbios 6:32-33).

Eu diria que é uma passagem clara e direta, mas parece que os

ministros que transigiram sexualmente já não hesitam em voltar às suas

posições de responsabilidades públicas a despeito da declaração de que

"seu opróbrio nunca se apagará". Isso não pode deixar de confundir muitos

nos bancos das igrejas que têm dificuldade em enxergar além das feridas,

desgraça e opróbrio inapagável do ministro.

Há pouco, um amigo meu ficou preocupado com o número de ministros

que estava caindo em pecados sexuais apenas para serem reconduzidos a

postos de liderança semelhantes algum tempo depois. Algo não parecia

certo ao meu amigo com relação a isso, e ele me perguntou como eu via a

questão. Pensei muito por bastante tempo antes de escrever-lhe em

resposta. Por favor, leia os seguintes excertos de minha carta com muita

atenção.

Gostemos ou não, aceitemos ou não, é impossível ignorar que a

Escritura de fato estabelece uma distinção entre os pecados comuns,

cotidianos, demasiadamente conhecidos da vida e a prática deliberada de

pecados sexuais. Isso incluiria especialmente os pecados sexuais

expressos em engano prolongado e deslizes secretos que culminam em casos

escandalosos que desintegram famílias inteiras, prejudicando (e

geralmente destruindo) casamentos até então sólidos. Geralmente, a

imoralidade oculta se prolonga por meses - até mesmo anos -- enquanto a

pessoa que pratica esses atos na vida privada vive uma completa mentira

em público.

A própria sem-vergonhice, insanidade e audácia de tudo isso

revela defeitos arraigados de caráter. Esses defeitos fazem com que a

Page 98: A Noiva de Cristo

pessoa imoral envolvida na perversão peque "contra seu próprio corpo" e

assim entre em uma categoria especial de desobediência diferente "de

todos os outros pecados". Minhas observações são baseadas em 1 Coríntios

6:18, que merece estudo cuidadoso:

"Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do

corpo, mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo."

Estou sugerindo que essas ações desavergonhadas e deploráveis não

podem ser perdoadas? Claro que não. Mas estou admitindo que os defeitos

de caráter que levam a esses atos extensos e enganadores de sensualidade

podem muito bem restringir tais indivíduos dos lugares de serviço público

que eles um dia conheceram e desfrutaram... Por terem pecado "contra seu

próprio corpo", eles revelaram fraqueza em seu caráter moral, o que põe

em movimento certas consequências e muitas complicações. Tudo isto pode

escandalizar o corpo de Cristo se eles forem colocados de novo diante do

público para gozar todos os privilégios e direitos que antes lhes

pertenciam. E pedir demais daqueles que foram enganados e ofendidos

esperar que digam "Perdoo", colocando-se depois silenciosamente de lado,

enquanto o recém-perdoado irmão ou irmã volta a um ministério de alta

visibilidade diante do público em geral...

Temos uma analogia interessante em nosso sistema de

jurisprudência. A pessoa culpada de grave delito pode passar algum tempo

atrás das grades, tornar-se modelo como prisioneira, reconhecer o erro de

suas ações, e finalmente ser libertada, perdoada do crime em seu passado.

Mas ele ou

ela perde o direito de votar pelo resto da vida. Seja ou não justo,

seja ou não apropriado, esse privilégio especial de participar no futuro

de nossa nação que ele ou ela já desfrutou é removido para sempre...

A concessão do privilégio de liderança pública e ministério traz

consigo a tênue, embora essencial, presença do poder. No serviço cristão,

esse poder é incrivelmente influente e pode ser usado para fins egoístas

ao mesmo tempo em que aparenta altruísmo. A tentação de enganar é

especialmente forte no uso desse poder. Daí a constante necessidade de

prestação de contas, auto moderação e forte disciplina. A pessoa cuja

vida foi marcada por crassa ausência dessas características revela sua

fraqueza de caráter nessa área, prejudicando assim a confiança e a fé dos

outros.

Não é uma questão de perdão, repito, mas de perder certos

direitos e privilégios. Embora Deus perdoe plenamente, como deve lembrar-

se, ele não permitiu que Moisés entrasse na Terra Prometida, tirou de

Saul o trono e impediu que Davi construísse o templo. Cada um deles pode

ter sido perdoado, mas mesmo assim foi divinamente impedido de realizar

seus sonhos.

Será, então, que o arrependimento não tem valor? Pelo contrário,

sem arrependimento o relacionamento vertical com Deus permanece

obstruído, e o relacionamento horizontal com os outros permanece

danificado. Ademais, a confissão e o arrependimento permitem ao perdoado

vislumbrar a sabedoria de Deus em suas repreensões e restabelecer certa

medida de harmonia restaurada com aqueles que foram ofendidos na

repercussão do pecado dessa pessoa. O arrependimento não apenas confirma

a confissão do pecador como impele o ofendido a perdoar plenamente...

Devo acrescentar mais uma ideia. Muito pouco é dito hoje em dia

sobre o valor de um coração quebrantado e contrito. O pecador perdoado de

hoje é sempre alguém que espera (atrevo-me a dizer exige?) mais do que

deveria. A Escritura chama isso de "presunção". Um coração quebrantado e

contrito não é presunçoso; não faz exigências, não mantém nenhuma

expectativa. Tenho notado que aqueles que estão se recuperando de um

escândalo sexual às vezes julgam com muita severidade os que relutam em

permitir-lhes toda a liderança que eles exerciam antes. Tenho muitas

Page 99: A Noiva de Cristo

vezes ouvido tais pessoas se referirem a isso como "atirai' em nossos

feridos" quando, de fato, os mais feridos são as pessoas que confiaram

quando o líder caído vivia uma mentira.

Minha pergunta é: Quem está atirando em quem? Um espírito

presunçoso geralmente se revela num desejo agressivo de retornar à

plataforma do ministério público. Quando esse desejo não é concedido, os

que estão sendo restringidos podem facilmente se apresentar como vítimas

patéticas e indefesas do julgamento e da condenação dos outros. Acho essa

reação manipuladora e bastante perturbadora...

O que mais me preocupa em todo esse cenário é a ausência de uma

modesta submissão a Deus e total humildade diante dos outros. Fico

ocasionalmente chocado pelas expectativas irreais daqueles que deixaram

numerosas pessoas em seu rasto. Algumas chegam a apontar dedos acusadores

aos membros do corpo que resistem à sua volta ao ministério público.

Muitos ainda estão tentando acreditar que o amigo, cônjuge, parente ou

herói em quem um dia confiaram pudesse ter caído tanto e vivido tamanha

mentira. Quer-me parecer que a alma verdadeiramente arrependida deveria

estar tão arrasada pela humilhação e tão grata pela graça de Deus que não

teria lugar para orgulho interior ou acusação exterior. Davi, após o caso

com Bate-Seba simplesmente orou: "Torna a dar-me a alegria da tua

salvação, e sustém-me com um espírito voluntário" (Salmo 51:12). Para

ele, isso era suficiente.

Como eu já disse antes, o ministério é uma profissão de caráter.

O chamado de Deus o coloca em categoria distinta, com um padrão mais

severo do que todos os outros. Se você questiona isso, leia 1 Timóteo

3:1-7 e tente aplicar isso a qualquer outra vocação além do ministério.

Até Charles Haddon Spurgeon -- um homem que enfatizava a graça -- tinha

convicções severas quanto a esse assunto.

Tenho opiniões muito severas com relação a cristãos que caíram em

pecado crasso; regozijo-me por eles poderem ser realmente convertidos e

poderem ser recebidos na igreja com uma mistura de esperança e cautela;

mas questiono, questiono seriamente se o homem que cometeu pecado crasso

deve ser mui prontamente restaurado ao púlpito.

UMA SOLENE SÉRIE DE ADVERTÊNCIAS

À luz de nossa necessidade de ministros de integridade intacta,

acho que seria útil ponderarmos algumas admoestações apropriadas. Em vez

de compilar eu mesmo uma lista, prefiro citar A. W Tozer que, mesmo

morto, ainda fala.

O ministério é uma das profissões mais perigosas... Satanás sabe

que a queda de um profeta de Deus é uma vitória estratégica para si, por

isso não descansa dia e noite, inventando armadilhas ocultas e fossos

para o ministério. Talvez um exemplo melhor seria o dardo envenenado que

apenas paralisa sua vítima, pois acho que Satanás tem pouco interesse em

matar sem rodeios o pregador. Um ministro ineficaz, meio-vivo, é uma

propaganda melhor para o inferno do que um bom homem morto. Por isso, os

perigos do pregador bem provavelmente serão espirituais, em vez de

físicos...

Há, de fato, alguns perigos muito reais, do tipo mais crasso,

contra os quais o ministro deve guardar-se, tais como o amor ao dinheiro

e às mulheres; mas os perigos mais letais são muito mais sutis do que

esses...

Existe, por exemplo, o perigo de o ministro vir a considerar-se

como pertencente a uma classe privilegiada. Nossa sociedade "cristã"

tende a aumentar esse perigo concedendo ao clero descontos e outras

Page 100: A Noiva de Cristo

cortesias, e a própria igreja ajuda a promover esse trabalho mal feito

concedendo a homens de Deus várias honrarias sonoras que são cômicas ou

imponentes, dependendo de como você as vê...

Outro perigo é que ele pode desenvolver um espírito mecânico no

desempenho da obra do Senhor. A familiaridade pode gerar desrespeito,

mesmo no altar de Deus. Que coisa apavorante é quando o pregador se

acostuma com seu trabalho, quando ele perde o senso de deslumbramento,

quando se acostuma com o extraordinário, quando perde seu temor solene na

presença daquele que é Alto e Santo; quando, para falar com toda a

franqueza, ele fica um tanto entediado com Deus e as coisas celestiais.

Se alguém duvida que isso lhe possa acontecer, leia o Antigo

Testamento e veja como os sacerdotes de Jeová às vezes perdiam o senso de

mistério divino e se tornavam profanos, mesmo enquanto desempenhavam seus

sacros deveres. E a história da igreja revela que essa tendência ao

mecanismo não morreu quando passou a ordem do Antigo Testamento. Pastores

e sacerdotes seculares, que guardam as portas da casa de Deus por pão,

ainda se encontram entre nós.

Satanás garantirá que eles se encontrem aí, pois causam mais

prejuízo à causa de Deus do que o faria todo um exército de ateus.

Existe também o pecado de o pregador alienar-se do espírito das

pessoas comuns. Isto brota da natureza do cristianismo

institucionalizado. O ministro encontra exclusivamente pessoas

religiosas. As pessoas ficam prevenidas quando estão com ele. Elas tendem

a falar de coisas que nem

elas mesmas entendem e ser durante esse tempo o tipo de pessoas que

acham que ele deseja que sejam, em vez de ser o tipo de pessoas que de

fato são. Isto cria um mundo de fantasia no qual ninguém é bem ele

próprio, mas o pregador viveu ali tanto tempo que o aceita como real, e

nunca sabe a diferença.

Os resultados de viver nesse mundo artificial são desastrosos...

Outro perigo que confronta o ministro é o de talvez ele

inconscientemente vir a amar ideias religiosas e filosóficas, em vez de

santos e pecadores. E bem possível sentir pelo mundo dos perdidos o mesmo

tipo de afeto indiferente que o naturalista Fabre, por exemplo, sentia

por um enxame de abelhas ou um formigueiro de formigas pretas. Eles são

algo a estudar, com os quais aprender, possivelmente até ajudai', mas

nada pelo que chorar ou morrer...

Outra armadilha na qual o pregador corre o risco de cair é ele

talvez fazer o que lhe é natural, e simplesmente não se esforçar. Sei

como esta questão é espinhosa e, embora o fato de eu escrevei* isto não

me faça ganhar muitos amigos, espero que possa influenciar as pessoas na

direção certa. E fácil o ministro ser transformado num ocioso

privilegiado, um parasita social com a palma estendida e expectativa no

olhar. Ele não tem nenhuma chefe à vista; geralmente não tem obrigação de

manter horas regulares, portanto pode esquematizar um padrão de vida

confortável que lhe permite vadiar, perder tempo com certas coisas,

jogar, cochilar e ficar dando voltas à vontade. E muitos fazem justamente

isso.

Para evitar esse perigo, o ministro deve voluntariamente

trabalhar duro.

O VALOR ESSENCIAL DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

As palavras de Tozer são contundentes. Precisamos, contudo, de

mais do que advertências. O conselho que nos admoesta a nos comportar só

chega até certo ponto para nos ajudai' a "subjugar" nossos corpos e

evitar que sejamos reprovados (1 Coríntios 9:27). Para tornar o

treinamento mais eficaz, a prestação de contas pessoal é inestimável.

Como já tratei deste assunto em dois livros anteriores, não há razão para

Page 101: A Noiva de Cristo

eu repetir as mesmas coisas em grandes detalhes aqui. Mas permita-me

sublinhar, mais uma vez, o quanto a prestação de contas é essencial para

manter uma vida pura diante dos outros e uma caminhada íntegra com Deus.

A auto-análise é salutar e boa. Tempo a sós diante do Senhor deve

permanecer uma alta prioridade. Mas não podemos parar aí. Sendo criaturas

com pontos cegos e tendências à racionalização, devemos também manter

contato com alguns indivíduos dignos de confiança, com quem nos

encontremos com regularidade. Saber que esse encontro vai acontecer nos

ajuda a segurar as pontas moral e eticamente. Não conheço nada mais

eficaz para a manutenção de um coração puro e da vida equilibrada e firme

no alvo do que fazer parte de um grupo de prestação de contas. É incrível

o que um grupo desses pode fornecer para nos ajudar a restringir nossas

paixões!

Recentemente, fui encorajado a ouvir sobre um ministro que se

encontra uma vez por semana com um grupo de homens. Eles estão

comprometidos com a pureza uns dos outros. Oram uns com os outros e uns

pelos outros. Ele falam franca e honestamente sobre suas lutas,

fraquezas, tentações e tribulações. Além dessas coisas gerais, eles olham

nos olhos uns dos outros enquanto fazem e respondem nada menos do que

sete perguntas específicas:

1. Você esteve com alguma mulher esta semana de uma maneira que

tenha sido imprópria ou que possa ter parecido aos outros que você

tivesse agido com falta de bom senso?

2. Você esteve completamente acima de qualquer censura em todas as

suas transações financeiras esta semana?

3. Você se expôs a qualquer material pornográfico esta semana?

4. Você passou tempo diariamente em oração e nas Escrituras esta

semana? 5. Você cumpriu o mandato da sua vocação esta semana?

6. Você separou tempo para passar com sua família esta semana?

7. Você acabou de mentir para mim?

Eu chamaria isso de prestar contas! Sim, reuniões como essas

talvez sejam rigorosas e até mesmo dolorosas. Mas se puderem ajudar a

controlar a carnalidade e manter a vida. do ministro livre de segredos

que algum dia resultem em escândalo, estou convencido de que valem a

pena. Desafio todos a arriscarem ser vulneráveis a esse ponto com

regularidade.

Está na hora de nossa igreja se lembrar do valor da integridade

em nosso relacionamento com Cristo e em nossa caminhada com ele sobre a

terra. Isso significa uma rededicação de nós mesmos a um ministério

ungido de poder e pureza moral. Façamos uma firme declaração aos

ministros em treinamento nos seminários por todo o país. Relembremos-lhes

de que estão sendo investidos de um santo e elevado privilégio que, se

pervertido, resultará na renúncia da parte deles do direito de liderar o

povo de Deus. Estou convencido de que se eles souberem disso ao entrar,

um número maior caminhará no temor do Senhor após a formatura. Pela graça

de Deus, eles terminarão bem. Coloquemos a dignidade de volta onde

deveria estar: na igreja de Jesus Cristo. Vamos fazer com que as pessoas

se voltem e percebam que nosso tipo de ministério merece seu tempo, sua

confiança e seu tesouro.

Ninguém o disse melhor do que Josiah Holland:

DEUS, NOS DÁ HOMENS! Uma hora como esta exige Mentes fortes,

grandes corações, fé veraz e mãos dispostas; Homens a quem a cobiça de

cargo não mata; Homens a quem os despojos do cargo não podem comprar;

Page 102: A Noiva de Cristo

Homens que possuam opiniões e uma vontade; Homens que tenham honra;

homens que não mintam; Homens que possam postar-se frente a um demagogo E

condenar suas bajulações traiçoeiras sem piscar; Homens altos, coroados

de sol, que vivam acima da bruma No dever público e rios pensamentos

íntimos; Pois enquanto a turba, com seus credos desgastados, Suas grandes

confissões e seus atos pequeninos, Se mistura em labuta egoísta, veja!

Chora a Liberdade, O Erro governa a terra e dorme a Justiça tardia}

Como veremos no último capítulo, está na hora de restaurar o

respeito pelo ministério.

REFLEXÕES

1. Que promessas você fez ou compromissos assumiu nas duas

últimas semanas? (Isto deveria incluir as vezes em que você disse

"Estarei orando com você a esse respeito", ou "Cuidarei disso

imediatamente".) Escreva uma lista deles e, capacitado por Deus, faça o

que você disse que faria.

2. Você tem um amigo ou amigos -- de preferência do mesmo sexo --

a quem possa prestar contas com regularidade? E fácil concordar

mentalmente com o conceito de prestação de contas, mas é preciso

determinação (será que ouso dizer "peito"?) para dar seguimento e fazer

algo a respeito. Eu o desafio a dar o primeiro passo HOJE, escrevendo os

nomes de amigos cristãos que possam estar dispostos a encontrar-se com

você regularmente a longo prazo para este propósito específico. Deixe-me

encorajá-lo fortemente, à luz dos tempos "selvagens" em que vivemos, a

entrar em contato com um ou mais desses indivíduos esta semana.

3. Volte a ler a "Galeria da Fama" em Hebreus 11. Leia o capítulo

todo diversas vezes, considerando detidamente os exemplos desses heróis.

Peça ao Senhor que lhe eleve a visão e inflame a fé, enquanto você medita

sobre essas palavras.

Capítulo Dez

RESTAURANDO O RESPEITO PELO MINISTÉRIO

Tenho um amigo que conheço e amo há trinta anos. Durante esse

tempo, temos sido inseparáveis. Nossa amizade se aprofundou, enquanto

minha admiração por esse amigo se intensificou.

Em anos recentes, meu amigo tem passado por dificuldades.

Continuamos anos dar muito bem, mas outros começaram a entender mal e a

difamar. Fiquei magoado ao ouvir todas as coisas feias que foram ditas.

Embora meu amigo nada tenha feito de errado e tenha aguentado o impacto

de comentários injustos, exagerados e sarcásticos -- sem falar em todas

as acusações infundadas e cáusticas -- não parece haver trégua. Às vezes

as coisas têm ficado tão ruins que me pergunto se pode haver uma

restauração plena. A despeito de tudo o que tem sido falado contra meu

querido amigo, nosso compromisso tem permanecido firme e verdadeiro por

trinta e cinco anos.

Meu amigo é o ministério.

Fui chamado ao ministério enquanto estava com os Fuzileiros

Navais, em algum momento entre 1957 e 1959. Foi a primeira vez em que

tomei consciência de que a mão de Deus estava inquestionavelmente em

minha vida. Essa conscientização mudou o rumo do meu futuro de uma

carreira conhecida que presumi que deveria seguir para uma vocação

desconhecida que eu jamais havia considerado antes, mesmo como

possibilidade remota. Lenta e deliberadamente, Deus deixou claro para mim

Page 103: A Noiva de Cristo

que eu deveria voltar à escola, obter uma sólida educação teológica em um

seminário respeitado, e passar o restante de minha vida no ministério do

evangelho.

A amizade havia começado.

Recusando-me a lutar por mais tempo contra o chamado de Deus,

matriculei-me no Seminário Teológico de Dallas no fim da primavera de

1959. Cynthia e eu nos mudamos no verão para um minúsculo apartamento no

campus, e antes que eu desse pela coisa, estava afundado até o pescoço em

teologia, história da igreja, grego, hebraico, educação cristã, missões,

hermenêutica, homilética e apologética. Que desafio! Ela e eu

simplesmente amamos a coisa. Os estudos exigiam muito, mas eram

incrivelmente recompensadores.

A amizade com o ministério, que havia começado antes, agora se

aprofundava. Mal sabia eu quão satisfatória ela seria. Com exceção do meu

casamento e dos prazeres do lar e da família, até hoje nada chega perto

das alegrias relacionadas a esta amizade cada vez maior. Nem uma vez

olhei para trás e me arrependi. A despeito dos dias difíceis, não posso

imaginar nenhuma amizade mais satisfatória.

Formei-me em 1963, e logo depois fui oficialmente ordenado ao

ministério. Não tínhamos a mais vaga ideia de onde ou como Deus

finalmente nos usaria. Tudo o que sabíamos era que nos amávamos, amávamos

a Deus e estávamos preparados, disponíveis e prontos para servir.

Sorrio quando me lembro daqueles dias simples e inocentes do

início da década de 60. Quão pouco sabíamos, e contudo quanto estávamos

comprometidos pelo resto da vida com essa amizade a algo que tínhamos em

grande estima - o ministério.

Numerosas mudanças têm ocorrido ao longo destes trinta e cinco

anos. Naquela época, o ministério desfrutava de grande respeito. Os

ministros que se mudavam com suas famílias para uma comunidade eram bem

recebidos e

respeitados. Eram considerados um trunfo, pessoas de dignidade,

merecedoras da confiança irrestrita da comunidade. O papel e as

responsabilidades do pastor eram inquestionavelmente estimados. Não havia

nenhuma desconfiança, nenhuma reserva, apenas elevada consideração pelo

homem que se colocava no púlpito e proclamava a mensagem de Deus.

Naqueles dias, "um homem de Deus" era o título descritivo do ministro

local que guiava o rebanho, regozijava-se com as ovelhas em suas

celebrações, confortava-as em suas tristezas e vivia uma vida exemplar

diante delas.

Entenda, não era porque todos os ministros fossem considerados

modelos sobre-humanos de perfeição. Nenhum de nós caminhava sobre a água.

Muitos então, como agora, entravam para essa vocação com antecedentes que

eram tudo menos puros. O apóstolo Paulo é um exemplo disso. Seu

testemunho jamais ocultou o fato de que ele não merecia ter sido chamado

ao ministério:

"Dou graças àquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus nosso Senhor,

porque me considerou fiel, pondo-me no seu ministério, a mim que outrora

fui blasfemo e perseguidor e injuriador; mas alcancei misericórdia,

porque o fiz ignorantemente, na incredulidade; e a graça de nosso Senhor

superabundou com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Fiel é esta

palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para

salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei

misericórdia, para que em mim, o principal, Cristo Jesus mostrasse toda a

sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele e receber a

vida eterna" (1 Timóteo 1:12-16).

Não deixe de notar "a mim que outrora fui blasfemo... perseguidor

... injuriador... mas alcancei misericórdia... a graça de nosso Senhor

Page 104: A Noiva de Cristo

superabundou." Não existe nenhum ministro vivo hoje -- nem jamais houve -

- que não pudesse escrever palavras semelhantes.

O que estou querendo salientar é isto: Naquela época, a despeito

da humanidade e imperfeições do ministro, seu cargo e sua autoridade eram

respeitados. Não mais! Hoje, embora os padrões para o ministério

continuem os mais elevados entre os de qualquer vocação ou profissão,

embora o papel do ministro repouse sobre colunas de pureza, integridade,

humildade, disciplina, compromisso e confiança, a opinião pública sobre o

ministério jamais foi tão baixa. Com certeza jamais esteve mais baixa na

história dos Estados Unidos.

Não estou sugerindo que jamais houve críticas (algumas

justificadas) contra os que estão no ministério. Em cada geração tem

havido alguns que envergonharam sua vocação. Além disso, tem sempre

havido ministros controvertidos e uma hoste de personagens incomuns -- do

tipo indisciplinado -- nas fileiras do ministério. Muitos foram

incompreendidos e de outros simplesmente se discordava, o que por certo é

compreensível. Mas quando os fatos eram conhecidos, quando um exame

atencioso revelava a verdade nua e crua, poucos eram comprovados como

enganadores e positivamente hipócritas. O ministério como um todo não era

prejudicado por esses indivíduos. Já não se pode dizer o mesmo. Nesta

geração, especialmente, o ministério é visto com a mesma desconfiança

votada a outras antes respeitadas posições de responsabilidade. Eu não

poderia mais deixar de concordar com o homem que escreveu:

"Cheguei à conclusão de que a única palavra que melhor descreve a

situação da igreja evangélica hoje é descrédito, e tenho a impressão de

que muitas pessoas concordam comigo. De fato, descrédito é a única

palavra que parece descrever outras áreas da sociedade além da igreja: a

arena de esportes, a embaixada, os átrios acadêmicos, a Casa Branca, o

Pentágono, a Wall Street, o Capitólio, e até mesmo as creches. O

escândalo parece ser a ordem do dia... Não admira a revista Time

perguntar numa [recente] matéria de capa... "O Que Aconteceu Com a

Ética?"...

Nosso problema não é que o público subitamente descobriu

pecadores na igreja, para grande constrangimento dos cristãos. Não, o

público tem sabido a respeito do pecado na igreja por muito tempo, e de

alguma forma a igreja sobreviveu. Os cristãos evangélicos de hoje não são

como um grupo de escolares, parados por aí, corando porque fomos pegos

quebrando as regras. Somos mais como um exército derrotado, nus diante de

nossos inimigos, e incapazes de lutar contra eles porque fizemos uma

descoberta apavorante: a igreja está com falta de integridade...

Por dezenove séculos, a igreja tem dito ao mundo que admita seus

pecados, se arrependa e creia no evangelho. Hoje, no crepúsculo do século

vinte, o mundo está dizendo à igreja que confronte seus pecados, se

arrependa e comece a ser a verdadeira igreja desse evangelho. Nós,

cristãos, nos gabamos de não nos envergonhar do evangelho de Cristo, mas

talvez o evangelho de Cristo esteja envergonhado de nós. Por algum

motivo, nosso ministério não combina com a nossa mensagem...

" CENAS QUE ENVERGONHAM A NOIVA

Estou consciente de que poucas pessoas precisam recapitular os

detalhes dos problemas do ministério que levaram à confusão na qual

estamos metidos. Mas talvez alguns vislumbres realistas nos ajudem a ver

porque o público agora zomba, em vez de aplaudir. Para poupar tempo e

espaço, enumerarei alguns dos exemplos mais notórios.

Page 105: A Noiva de Cristo

* No final da década de 60, o ministério tornou-se uma razão para

escapar ao recrutamento do exército. Alguém queria ficar longe do Vietnã?

Fácil: Alegava ter sido chamado para o ministério!

* Na década de 70, as seitas religiosas alcançaram proeminência

nacional. Gurus esquisitos desviaram idealistas inocentes/ignorantes.

Alguns ocuparam terras no estado de Oregon, outros se mudaram de país

como um grupo... levando ao suicídio em massa de "Jonestown", onde mais

de novecentas pessoas beberam veneno.

* Divórcio e adultério invadiram a igreja, enquanto ovelhas e

pastores igualmente demonstravam pouco interesse. Mais e mais ministros

entraram para o sistema, criando uma atmosfera de epidemia na igreja. A

racionalização reinou suprema.

* A década de 80 trouxe uma nova era: a da "igreja eletrônica". O

que antes era limitado a algumas igrejas locais estava agora sendo

televisionado para todos verem, o bom juntamente com o ruim.

Especialmente o ruim. Tudo o de que se precisava era de um pastor que

pudesse atrair uma multidão e levantar dinheiro suficiente para comprar o

horário. Menos ênfase em caráter, mais em carisma.

* Um televangelista subiu numa chamada "torre de oração" e prometeu

nunca mais voltar a menos que muitos milhões de dólares fossem levantados

em contribuições. A imprensa fez um carnaval.

* O escândalo do ministério PTL (abreviação dE Praise The Lord --

Louvado Seja o Senhor) seguiu-se pouco depois, o que levou a uma

revelação de eventos tão vergonhosos que até o mundo secular ficou

chocado. Tudo, desde programas de entrevistas até camisetas,

capitalizou sobre a sujeira por meses.

* No ano seguinte outro televangelista confessou estar envolvido em

aberrações sexuais, as quais a revista Penthouse explorou entrevistando a

suposta prostituta e fazendo com que ela descrevesse em detalhes o que

fazia... com fotografias sensacionalistas anexadas. O homem disse que

aceitaria a disciplina que sua denominação achasse apropriada, mas depois

ignorou seu conselho, demitiu-se daquela esfera de prestação de contas e

ainda está na TV.

* Abster-me-ei de incluir uma lista crescente de nomes de pastores

evangélicos, autores, missionários, líderes cristãos, músicos, cantores,

educadores, conselheiros, pessoas que trabalham com jovens, leigos e

leigas de alta visibilidade na igreja que comprometeram seu testemunho e

quebraram a confiança do público através de adultério, homossexualismo,

abuso de substâncias químicas, irresponsabilidade financeira,

irresponsabilidade pessoal, batalhas legais e até mesmo atividade

criminosa. E, lembre-se, essas têm sido pessoas envolvidas com o

ministério.

Eu lhe pergunto: Se não fosse um cristão, você não teria menos

respeito pelo ministério hoje? As sequelas têm sido devastadoras. Mesmo

ministérios íntegros estão agora sendo vistos com desconfiança. Atacar o

irmão ou esmagar a irmã é a moda agora. Todo mundo é um alvo legítimo.

Talvez a dimensão mais triste seja a de todas as vidas inocentes que

cercavam aqueles que caíram e fracassaram tão escandalosamente. Estou

pensando em congregações inteiras que precisam continuar, após

descobrirem que seu ministro vivia enganosamente em imoralidade. Pense

Page 106: A Noiva de Cristo

também nos membros do corpo docente e nos alunos deixados para trás por

um presidente ou líder de algum campus que trouxe descrédito ao nome de

Cristo. E o que dizer do cônjuge e filhos que têm de apanhar os cacos por

causa do descuido egoísta de seu marido e pai? E não se esqueça dos

companheiros de equipe na igreja, cujo futuro é incerto, porque seu líder

vivia uma mentira.

O que mais me entristece é que meu amigo de longa data, fiel e

verdadeiro, foi brutalmente vitimado. O ministério foi arrastado ao fundo

de um buraco, chutado, socado, atacado, estuprado e roubado do respeito.

As feridas e cicatrizes já não podem ser ignoradas. Veja, mesmo que a

grande maioria dos que estão no ministério continuem a defender e

sustentar os mais altos padrões, o ministério em si ficou seriamente

aleijado. Massacrar cristãos tornou-se o esporte de salão favorito da

mídia.

Não tenciono que este lamento se pareça com o de Elias: "Só eu

fiquei." Tenho plena consciência de que o orgulho não tem lugar algum em

qualquer de nossas vidas. Aqueles que julgam estar em pé precisam cuidar

continuamente para não cair. Ninguém é imune à tentação. Todos nós somos

capazes de cair. (Eu me lembro desse fato todas as semanas de minha

vida.) Não obstante, creio que está na hora de despertar a igreja para a

necessidade de restaurar o respeito pelo ministério. Já basta de ficarmos

sentados, lambendo nossas feridas, suspirando sobre quantos estão caindo

e passivamente dando de ombros, lamentando o fato de que "devemos estar

vivendo nos últimos dias". Claro que estamos! Mas isso significa que não

faremos nada além de cruzar os braços e aguentar de cara feia os golpes?

De forma alguma!

Poucas pessoas sentem maior peso pela pureza no ministério do que

um homem que todos nós viemos a admirar cada vez mais, o antigo assessor

presidencial Chuck Colson. Deus o tem usado para mexer com a igreja de

Jesus Cristo nestes dias de acomodação. Enquanto estava num

circuito de entrevistas falando sobre seu novo livro Kingdoms in Conflict

(Reinos em Conflito), ele comentou sobre várias coisas que o preocupavam,

especialmente a atitude da mídia secular de malhar os cristãos. Ele

descreve isso vividamente:

A luz vermelha "no ar" piscou, e a septuagésima quinta entrevista

de meu circuito para Kingdoms in Conflict (Reinos em Conflito) começou.

Parecia a septuagésima centésima quinta; durante semanas eu havia estado

dentro e fora de estações de televisão e rádio comerciais por todo o

país, falando sobre a igreja, o estado e o papel do cristianismo na vida

pública.

Pelo menos eu estava obtendo uma vasta exposição à atitude

secular. E bom deixar os nossos casulos evangélicos de tempos em tempos e

descobrir o que as pessoas realmente pensam de nós. Mas o que descobri

foi grave -- para não dizer o pior.

A sessão daquele dia foi típica. "Hoje, estamos entrevistando

Charles Colson", falou meu anfitrião suavemente. "Mas primeiro, vamos

ouvir uma palavrinha dos 'patetas de Deus'.” Dizendo isso, ele ligou um

interruptor, e uma mensagem pré-gravada de Jim e Tammy Bakker encheu o

estúdio. Não estou certo, mas acho que o devocional incluía a receita de

Tammy para um patê de feijão de três camadas. O entrevistador arreganhou

os dentes. E agora, temos outro evangelista conosco hoje. Ouçamos o que

Charles Colson tem a dizer."

A maioria das minhas quase 100 entrevistas começou de maneira

semelhante. Malhar os cristãos está na última moda hoje em dia. O caso

Bakker produziu uma caricatura cômica de todos os cristãos e um escárnio

mais profundo do que a maioria de nós percebe.

Page 107: A Noiva de Cristo

A princípio eu fiquei na defensiva. Mas à medida que as

entrevistas continuavam, me zanguei. O que dizer das 350.000 igrejas por

todo o país, onde as necessidades das pessoas estão sendo satisfeitas sem

alarde? perguntei. Os militares de missionários junto aos pobres, o

exército de voluntários cristãos que fielmente vai às prisões cada

semana? Por que em vez deles a mídia focaliza os poucos casos

bombásticos? Não é justo, argumentava eu, estereotipai' toda a igreja;

não somos todos hipócritas buscando rechear nossas carteiras.

Mas meu entrevistador simplesmente sorria. A razão, afinal, não é

páreo para a ridicularização.

Entretanto, não é dessa forma que Cristo vê a sua Noiva. E

podemos ainda fazer as cabeças se voltarem. Meu apelo, conforme declarado

antes, é que terminemos bem. Ao fazermos isso podemos começar a restaurar

muito do respeito que perdemos nas três últimas décadas. Desafio cada um

de nós a começar hoje.

FATOS FACILMENTE ESQUECIDOS

Voltemos a um comentário bíblico familiar sobre os nossos tempos.

Embora o tenhamos visto antes, é necessário dar uma segunda olhada.

"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns

apost atar cio da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrina

de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm

cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento, e ordenam a

abstinência de alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que

conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque

tudo o que Deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido

com ações de

graças; porque pela palavra de Deus, e pela oração, é santificada.

Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus,

alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido" (1

Timóteo 4:1-6).

Se entendo essas últimas palavras corretamente, é

responsabilidade do bom ministro mostrar aos outros que últimos dias

querem dizer tempos difíceis. Tenho estado a comunicar isso por diversos

capítulos. Embora certas coisas nos devam alarmar, absolutamente nada

deve nos dominar. "O Espírito expressamente diz" que devemos esperar o

pior. Quando isso ocorrer, saberemos que entramos nos momentos finais do

plano de Deus para este velho globo. Está chegando perto da hora de

largar!

Visto isso ser verdade, é fácil focalizar somente o óbvio -- a

maldade patente -- e esquecer dos poucos fatos que contrabalançarão a

sensação de estarmos sucumbindo. Três deles me vêm à mente.

Primeiro, a Escritura prediz e nos adverte sobre esses tempos. Se

nada mais aprendemos nos capítulos anteriores, aprendemos que coisas como

as que acabei de enumerar não apenas acontecerão como também piorarão. E

por isso que o termo epidemia é apropriado. Duvido que alguém nos dias de

Spurgeon ou na geração de Moody tivesse descrito o problema do divórcio

na igreja ou a promiscuidade sexual entre os cristãos como sendo

"epidêmicos". Mas isso descreve os nossos dias, sem dúvida alguma. Houve

pessoas no ministério que caíram em seus dias, mas os números não foram

nada comparados com os que temos hoje. Ademais, os escândalos não eram

tão prevalecentes na igreja como são hoje. Claramente, como predizem as

Escrituras, o erro está em elevação, e irá crescendo a um grau maior

quanto mais perto chegarmos da volta de Cristo. Eu poderia enumerar dez a

Page 108: A Noiva de Cristo

quinze referências persuasivas na Escritura, mas apenas duas serão

suficientes, uma extraída dos ensinamentos de Jesus, outra de Judas,

quando cita Jesus:

"Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Pois

muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.

Ouvireis de guerras e rumores de guerras, mas cuidado para não vos

alarmardes. Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim... Nesse

tempo, muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns

aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por

se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos esfriará... Então, se

alguém vos disser: Olhai, o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis

crédito. Pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão

grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os

escolhidos. Prestai atenção, eu volo tenho predito (Mateus 24:4-6, 10-12,

23-25). Mas, vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas

pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: No

último tempo haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias

concupiscências. São estes os que causam divisões; são sensuais, e não

têm o Espírito. Mas vós, amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima

fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus, esperando a

misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna, E

apiedaivos de alguns que estão na dúvida, salvai-os, arrebatando-os do

fogo; quanto a outros, tende misericórdia em temor, detestando até a

roupa manchada pela carne" (Judas 17-23).

Segundo, a porcentagem real daqueles no ministério que caem é bem

pequena. Será bom eu e você nos lembrarmos que, para cada pessoa cujo

fracasso moral aparece nos noticiários, há milhares de milhares mais que

permanecem mensageiros de Cristo fiéis, diligentes e puros. A vasta

maioria daqueles que prometeram anos atrás servir ao Senhor e seguir a

verdade ainda o está fazendo hoje. Uma perspectiva realista nos

manterá equilibrados em nosso modo de pensar e otimistas em nossa visão.

Quando começamos a acreditar que estamos totalmente sozinhos na batalha,

o adversário se aproveita de nós.

Chamo esse modo de pensar de "a síndrome de Elias". Lembra-se de

quando o profeta caiu em depressão, fugiu para o bosque e orou para que o

Senhor lhe tirasse a vida? A história registrada em 1 Reis 19 merece seu

tempo. Elias não fugiu apenas porque estava intimidado pela bruxa

dominadora Jezabel que governava o trono de Acabe, mas fugiu porque achou

estar numa missão solitária no ministério. Realmente acreditou que

ninguém mais era tão dedicado quanto ele próprio. Isso realmente faz a

gente pensar! Olhe só o "testemunho" de Elias enquanto lambia suas

feridas:

"Respondeu ele: Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus

dos exércitos. Os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os

teus altares, e mataram os teus profetas a espada. Só eu fiquei, e agora

estão tentado matar-me também" (versículo 14).

Sem hesitação, Deus interrompeu essa festa de autocomiseração e

informou que havia outros sete mil, como Elias, que não se haviam curvado

diante de Baal. Isso fez algo pelo profeta solitário, exausto, ao

perceber que a porcentagem dos infiéis no ministério era de fato de pouca

monta. Ajudar-nos-á manter isso em mente quando alguns dos nossos heróis

no ministério fracassarem e caírem. Alguns podem ser culpados de pecados

crassos, mas a maioria não chegou nem perto de dobrar os joelhos diante

de Baal. Lembre-se disso enquanto continua em frente.

Page 109: A Noiva de Cristo

Terceiro, a impei feição humana inclui ministros. Já mencionei

isto antes, mas parece importante o suficiente para ser repetido e

ampliado.

Quando Deus chama indivíduos para a sua vinha, chama somente

pessoas pecaminosas. Nem mesmo um deles pode reivindicar a perfeição.

Cada um é inadequado em si mesmo, fraco e instável por natureza, e

poderia posar para o retrato pintado na letra do hino amado: "inclinado a

vaguear... inclinado a deixar o Deus a quem amo."

Você questiona isso? Uma breve recapitulação de personagens

bíblicos ajudará. Pedro, o porta-voz dos Doze, abertamente e sem

hesitação negou seu Senhor apenas horas após prometer que permaneceria

fiel mesmo que todos os outros se fossem. João Marcos desertou Paulo e

Barnabé em sua primeira viagem missionária, numa hora crucial em que eles

precisavam de toda ajuda que pudessem conseguir. Demas, "amando o

presente século", abandonou Paulo e fugiu para Tessalônica. Diótrefes, um

dos primeiros líderes da igreja, tornou-se um "chefe da igreja"

autonomeado.

A lista seria incompleta se a limitássemos apenas a personagens

do Novo Testamento. Jonas, o profeta amuado, após finalmente ter pregado

em Nínive, demonstrou preconceito, ira e egoísmo. Geazi, servo de Eliseu,

não conseguiu esconder seu materialismo e cobiça. O caso de adultério de

Davi, que levou a homicídio e hipocrisia, é bem conhecido. Isaías admitiu

que era "um homem de lábios impuros". Arão promoveu a escultura de um

bezerro de ouro para os hebreus adorarem. Sansão foi um conquistador

notório.

E quem pode realmente entender Salomão? Se algum homem jamais

teve uma chance de fazer 1.000 gois espiritualmente, esse foi Salomão.

Contudo, no auge de sua carreira, quando sua fama e fortuna eram tópicos

mundiais de discussão, quando sua influência era significativa o bastante

para causar impacto em vastos reinos além do seu, algo arrebentou. Poucos

descreveram a carnalidade de Salomão melhor do que G. Frederick Owen:

"Sabedoria, lealdade, fidelidade e eficiência caracterizaram as

atitudes e atos do brilhante filho de Davi durante os primeiros anos de

seu reinado. Então, como se ele tivesse atingido o domínio do homem e de

Deus, ele se afastou do caminho do Senhor, e agarrando egoisticamente as

rédeas do erro, dirigiu-se às nebulosas planícies da licenciosidade,

orgulho e paganismo. Enlouquecido pelo amor ao exibicionismo, Salomão se

voltou para uma carreira febril de desperdício, impropriedade e opressão.

Não satisfeito com as edificações necessárias e progresso legítimo de

seus últimos anos, ele oprimiu seu povo com impostos, escravizou alguns,

e impiedosamente instigou o assassinato de outros... Seu amor por muitas

mulheres levou-o a casar-se e mimar numerosas esposas estrangeiras e

pagãs, que não apenas lhe roubaram a excelência de caráter, humildade de

espírito e eficiência nos negócios de estado como também o dominaram e

fizeram seu coração voltar-se "para outros deuses"... Salomão, como

muitos outros monarcas absolutos, dirigiu depressa demais e viajou longe

demais... O monarca se tornou devasso; um egoísta e cínico, tão saciado

com as questões sensuais e materiais da vida que se tornou cético de todo

bem -- para ele, tudo vinha a ser "vaidade e aflição de espírito".

Ninguém é imune à imperfeição... nem um dos que foram citados,

nem você, nem eu. Se pode acontecer a eles, pode acontecer a nós.

Se você lembrar destas três coisas, ajudará:

* A Escritura nos adverte que essas coisas acontecerão.

* A porcentagem dos que caem é relativamente pequena.

Page 110: A Noiva de Cristo

* A pecaminosidade e a imperfeição caracterizam todos, inclusive os

ministros.

PADRÃO INALTERADO PARA OS MEMBROS DO MINISTÉRIO

Será que isso significa que devemos rebaixar o padrão

ministerial? De forma alguma. Que todos os que estão pensando em entrai"

para o serviço cristão vocacional tomem nota: O chamado que vocês estão

considerando é elevado e santo. As exigências são rigorosas. As

expectativas, quase irreais. Sou da opinião de que nem mesmo o presidente

de nosso país ou a pessoa mais bem paga na profissão mais responsável da

terra é de maior significado do que aqueles chamados ao ministério do

evangelho. Olhe antes de saltar. Pense bastante por bom tempo antes de se

matricular no seminário. Assegure-se de que seu cônjuge esteja com você

cem por cento. Se não, espere.

Se puder realizar-se em qualquer outro trabalho, fique longe do

ministério! Faca um estudo intenso de 1 Timóteo 3:1-7; 4:1216; 2 Timóteo

4:1-5; Tito 1:5-9. Examine seus motivos. Ore. Pense realisticamente. E

enquanto faz isso, passe algum tempo analisando Tiago 3:1, que diz:

"Meus irmãos, não sejais muitos de vos mestres, sabendo que

receberemos um juízo mais severo".

Para tornar essa advertência mais clara ainda, note o que dizem

duas paráfrases do versículo:

"Queridos irmãos, não sejam muito impacientes para falar aos outros

a respeito das faltas deles, pois todos nós cometemos muitos erros; e

quando nós, os mestres, que deveríamos ter melhor conhecimento, fazemos o

mal, nosso castigo é maior do que seria para os outros" (A Bíblia Viva).

"Meus irmãos, muitos de vocês não devem se tomar mestres na Igreja,

porque sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com mais rigor

do que os outros" (A Bíblia na Linguagem de Hoje).

Está na hora de nos conscientizarmos de quem somos, colegas

ministros. Nós, e aqueles que lideramos, somos a igreja, a Noiva que está

ao lado de Cristo. Ele deseja "apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa,

sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível"

(Efésios 5:27). O padrão jamais será abaixado para o ministério.

Sejamos jovens ou mais velhos, a maior parte da responsabilidade

pela restauração do respeito pelo ministério repousa sobre nós, que

lideramos. Isso não significa que você não esteja livre para ser você

mesmo. Tampouco significa que você jamais deva fazer o incomum, tentar

ideias criativas ou "quebrar a forma" como ministro do evangelho. Em

minha opinião, precisamos de mais ministros não intimidados, com ideias

originais, que tenham a coragem de modelar a verdadeira graça de Deus,

sem medo do que os outros possam dizer ou pensar.

Mas isto não sugere "pecar para que a graça possa abundar". Somos

chamados a desempenhar nossas tarefas sob o olho perscrutador, penetrante

e santo de Deus. Ninguém enfrenta uma análise mais rigorosa ou um Juiz

mais exigente do que nós. Precisamos temer o homem menos e temer a Deus

mais! Qualquer pessoa que entre para o seminário precisa aceitar esse

fato. Minha preocupação, falando bem honestamente, é que alguns jovens no

seminário pensem que estão livres para afrouxar seu padrão moral porque

alguns que o fizeram estão de volta ao ministério sem qualquer dano

aparente.

Embora muitos de nós estejamos trabalhando com afinco para sermos

nós mesmos e combater o legalismo, vamos ter a certeza de não

Page 111: A Noiva de Cristo

racionalizar a desobediência chamando-a de liberdade. Conforme escreveu

Tiago, "receberemos um juízo mais severo".

PREVENÇÕES CONTRA AS CONSEQUÊNCIAS DO ESCÂNDALO

Quero terminar este capítulo num tom positivo, sugerindo algumas

maneiras práticas de evitar ficar devastado por aqueles no ministério que

caíram. Permita-me dar-lhe algo que recusar, relembrar, renunciar e no

que focalizar.

Primeiro, recuse-se a endeusar qualquer pessoa no ministério.

Muita gente comete o erro de permitir que a admiração cresça a ponto de

tornarse exaltação. Má escolha! Não importa quanto um ministro seja

capaz, quantos dons tenha ou quanto signifique para você, se o exaltar

além da conta, você cairá mais do que qualquer um se ele cair. Mantenha

todos os ministros fora do pedestal! Tronos são feitos para reis e

rainhas. Adoração é para o Deus vivo. Pedestais são feitos para vasos,

flores e esculturas de bustos de homens e mulheres já falecidos. Não

entronize seu pastor -- ou qualquer ministro que seja.

Significa isso que você não o respeita? De forma alguma.

Significa que você não aprecia seus dons e não admira suas habilidades?

Não é bem isso. Respeito por qualquer cargo designado por Deus é

saudável. Sem ele, a igreja não progredirá. O respeito não apenas é nobre

e necessário, é bíblico também. Acho que as pessoas que se submetem a uma

liderança piedosa e apreciam os dons daqueles que estão no ministério são

amadurecidas e têm discernimento. Sábio é você quando reconhece a mão de

Deus na vida de qualquer ministro talentoso, quando segue seu exemplo,

quando aprende com sua instrução. O tempo todo em que estiver aprendendo,

seguindo e respeitando, contudo, tenha em mente que ele é um ser humano

como você. Sei o que estou dizendo: E terrivelmente desconfortável ser

tratado como um rei. (Eu deveria acrescentar que também não é nada

agradável ser tratado como um vagabundo.)

As pessoas da era neotestamentária tentaram venerar Paulo e

Barnabé. Atos 14:8-18 contém uma excelente história. Na realidade, as

pessoas disseram: "Júpiter e Mercúrio desceram do céu! Olhem os milagres

que estes homens podem fazer!" Os dois missionários rasgaram suas vestes

e imploraram ao povo que os deixasse. "Somos homens com a mesma natureza

que vocês." Barnabé e Paulo recusaram a adoração do povo. "Somos apenas

seres humanos. Não nos endeusem! Nada de se ajoelharem!"

Alguns versículos adiante, dá para acreditar? Lemos que

"apedrejaram a Paulo" (14:19). Antes eles adoraram o líder, depois o

surraram e o deixaram como morto. Quando li isso, pensei: "Bom exemplo do

ministério." Você está numa cobertura num minuto e na casinha do cachorro

no próximo. De manhã eles o estão endeusando e antes que escureça o estão

apedrejando. Nenhum extremo é apropriado ou justo.

Enquanto estou falando deste assunto, deixe-me dar um conselho a

você que está no ministério: Fique fora do pedestal! Não se acomode aí em

cima. Mantenha-se sempre engatinhando para baixo. Se você começar a

gostar de ficar lá em cima, conheço uma ótima solução: Tenha uma longa

conversa com sua esposa. Se isso não o deixar bem humilde, converse com

seus filhos adolescentes. Essa é uma coisa que jamais deixa de trazer os

altos e poderosos de volta à terra, e bem depressa.

Segundo, relembre que a carne é fraca e o adversário é forte. Na

próxima vez que duvidar disso, leia Lucas 22:31-32, onde Jesus informa a

Pedro:

"Simão, Simão, Satanás vos pediu para vos peneirar como trigo.

Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça, E tu, quando te

converteres, fortalece teus irmãos".

Page 112: A Noiva de Cristo

Essas palavras quase me fazem tremer. E outra maneira de dizer:

"O adversário está atrás de você, Simão. Você vai cair. Mas quando cair,

use isso como exemplo para fortalecer seus irmãos." Pedro foi o que havia

acabado de dizer: "Embora todos te abandonem, eu jamais te abandonarei.

Embora todos os outros se afastem, eu jamais te deixarei, Senhor."

Para cada um de nós no ministério, repito um lembrete: Nossa

carne é fraca e nosso adversário é real. Não existe nenhum ministro

eficaz e talentoso hoje que não seja um alvo do diabo e/ou de seus

demônios. Tampouco existe um ministro forte o suficiente em si mesmo para

resistir à armadilha do adversário. E preciso orar. Oração eficaz. Também

é preciso ser responsável, dócil e aberto. Por quê? Porque o inimigo é

muito sutil. Sabe, ninguém deliberadamente planeja fracassar no

ministério. Nenhum ministro jamais se sentou no lado da cama um dia e

falou: "Vamos ver como posso arruinar minha reputação hoje?" Mas com a

fraqueza da carne, misturada com a força e a realidade do adversário, o

fracasso é uma possibilidade sempre presente. Aquele que pensa estar de

pé, repito, cuidado...

Terceiro, renuncie a todo julgamento, deixando-o por conta de

Deus. Talvez uma palavra melhor seja condenação. Renuncie a toda

condenação, deixando-a por conta de Deus. Deixe que ele cuide de toda

vingança. Não é sua ou minha responsabilidade endireitar cada pessoa.

Algumas pessoas têm o "ministério de escrever críticas". Poderia ser

melhor chamado de "ministério da vingança". Elas escolhem várias pessoas

que desejam atacar, depois saltam sobre elas de caneta na mão (e sempre

assinam "em amor cristão"). Mas escrevem com o propósito de reduzir os

ministros às devidas proporções. Não perca seu tempo lançando mísseis no

território de algum irmão ou irmã. Deixe toda vingança por conta de

Deus... Ele é muito bom em julgar, como sabe. Deus é quem começou o

capítulo sobre a vida da

outra pessoa. Ele é capaz de terminar o capítulo quando preferir.

Não precisa de você para completá-lo. Como seria fácil desenvolver uma

atitude condenatória e julgadora nesta era maligna. Não vamos fazer isso!

Finalmente, focalize sua atenção nos ministérios que ainda estão

no rumo certo. Não importa quantos ministérios pareçam estar fora de

esquadro espiritualmente, muito poucos estão. Dê seu tempo, atenção e

dinheiro àqueles que Deus está usando. A propósito, não tente fazer todo

mundo ficar exatamente como você. Esta é uma boa hora para eu dizer a

todos os membros de igreja: deixem seu ministro ser quem é... real.

Deixem-no em paz! Deem-lhe a latitude que vocês desejam para si mesmos.

Deem-lhe o mesmo espaço que a graça de Deus concede a vocês. Não o forcem

em algum molde tradicionalista, exigindo dele o que vocês tinham em um

antigo pastor nos idos de 1831! Ou o que vocês leram em alguma excelente

biografia. Podem crer, se vocês tivessem conhecido melhor essa alma

notável naquela época, teriam encontrado algo de que não gostariam até

mesmo nele ou nela. Respeito por aqueles que estão no ministério é uma

coisa. Tentar fazer todos os ministros se parecerem e falarem a mesma

coisa e agradarem a vocês de todas as formas não apenas é tolice, mas é

impossível. Por favor... larguem do nosso pé!

Amei o comentário de Barbara Bush quando Barbara Wãlters a

entrevistou na televisão, e perguntou:

- A senhora gosta quando as pessoas lhe escrevem e a comparam com

Nancy Reagan?

A ex-primeira dama replicou com afoita franqueza:

- Detesto.

- Por quê? - perguntou a repórter.

- Porque sou Barbara Bush. Não sou Nancy. Amo os Reagans, mas os

Reagans já não estão na Casa Branca. Tenho de ser quem sou.

Resposta maravilhosa!

Page 113: A Noiva de Cristo

Se a Sra. Bush quer servir salsichas e chucrute no jantar, que o

faça! Como diz a canção popular: "tenho de Ser Eu."

Quando se trata de ministérios, procure aqueles que se enquadram

na Escritura. Procure ministros que sejam modelos de autenticidade. Tire

os olhos daqueles que fracassaram e refocalize a atenção nos que ainda

estão no rumo certo... mas (repito) não tente forçá-los a se encaixar na

sua forma particular!

Seja honesto, está bem? Será que todos os escândalos ligados ao

ministério fizeram você voltar-se contra as Escrituras e esfriar para com

Deus? Você começou a sentir-se desconfiado com relação a todas as

igrejas... passando a olhar por cima dos óculos a todos os ministros?

Tenho um conselho para esclarecê-lo. Não seja tão crítico! E tão fácil

tornar-se cínico numa época em que nada além de más notícias chega às

manchetes. Não demora muito e nós começamos a julgar todos os que estão

no ministério. A reação comum é: "Isso mesmo, outro fingido no

ministério." Se você for totalmente honesto, talvez até tenha de admitir:

"E por isso que eu já não tenho nenhum interesse em Jesus Cristo."

Se isso for verdade, devo informá-lo que você está rejeitando o

único ser perfeito que jamais viveu. Não importa quem se sinta tentado a

rejeitar, não rejeite a Cristo, o Senhor! Ele é o único que é

absolutamente perfeito... o único que pode lhe garantir um lar no céu. E

o único que pode perdoar seus pecados. E o único que pode enxergar o

interior de sua vida e separar o motivo da ação. E o único cuja morte

pagou a dívida de seus pecados. E meu privilégio, como tem sido meu

privilégio por trinta anos maravilhosos e aventurosos, contar-lhe que se

você quer ter vida eterna com Deus, Jesus é o único que pode fazer isso

acontecer. Dê-lhe sua vida agora. Não retenha nada. Pela fé, aceite sua

dádiva hoje. Torne-se um daqueles que se postam como a Noiva ao lado de

Cristo. Você jamais se arrependerá. Jamais.

Pai, obrigado pela força que me deste para escrever este livro.

Não foi fácil. Palavras condenatórias foram compartilhadas. Estar no meio

de uma crise de integridade é um lugar difícil para nos encontrar.

Modelos autênticos da semelhança com Cristo parecem muito raros. E

contudo, Senhor, há centenas, milhares até, que te amam e caminham

contigo. Refocaliza nossa atenção nos ministérios que estão dando conta

do recado. Tira os esforços exaustivos que acompanham uma atitude

desconfiada e um espírito que não sabe perdoar. Ajuda-nos a viver com a

tensão de não sermos capazes de corrigir todos os erros ou de responder a

todas as contradições. Relembra-nos da importância de dar mais atenção a

como deveríamos estar conduzindo nossas próprias vidas em vez de nos

consumirmos tanto com a maneira que os outros vivem as suas.

Finalmente, querido Deus, desperta-nos! Dá-nos coragem de voltar

ao que é básico em vez de desperdiçar nosso tempo em coisas não

essenciais de baixa prioridade. E visto que nossos tempos são maus, tão

distantes do rumo, capacita-nos a fazer diferença. Usa-nos para restaurar

o respeito pelo ministério do evangelho. Que possamos terminar este

século fortes.

No nome incomparável de Cristo, eu oro. Amém.

REFLEXÕES

1. Se você tiver muito contato com não-cristãos (ou mesmo com

cristãos!) regularmente, é provável que ouça meia dúzia de comentários

críticos e cínicos sobre o ministério dentro do próximo mês,

aproximadamente. Como você responderá? Mordendo os lábios... dando de

ombros... assentindo passivamente com a cabeça? Que verdades tiradas do

Page 114: A Noiva de Cristo

capítulo que acabou de ler poderiam ajudá-lo a formular uma resposta

firme mas não-defensiva às calúnias injustas sobre o ministério cristão?

2. Conforme mencionei, relembro-me a cada semana da minha vida de

que sou tão capaz de cair no pecado e desgraçar o ministério quanto

aqueles cujos nomes aparecem nas manchetes. Não me atrevo a deixai* uma

semana passar pensando: "Isso não poderia acontecer comigo." Você também

não! Que passos práticos você pode dar para relembrar esse fato numa base

semanal (ou diária) ?

3. Em vez de lançar um míssil escrito contra um homem ou mulher

que está se esforçando sob o peso de um ministério de destaque, por que

não escrever um parágrafo de encorajamento? (Verifique primeiro se a

pessoa não tem problema de coração - o choque poderia ser fatal.) Faça

com que aquele seu pastor encurvado saiba de seu cuidado, preocupação e

profunda apreciação por ele aguentar a barra em uma vocação por vezes

ingrata, mas oh, tão recompensadora.

CONCLUSÃO

Minha preocupação em todo este livro tem sido a de que não

adentremos o século vinte e um vagueando sem rumo, torcendo, esperando

que de alguma forma as coisas melhorem. Isso seria tão eficaz quanto

rearranjar as espreguiçadeiras no convés do Titanic. Há um trabalho

enorme para se fazer, excelentes oportunidades para se aproveitar... e o

tempo é curto.

Não procurei tratar de questões sociais, filosofias econômicas ou

formas de governo eclesiástico nestas páginas. Há livros de sobra a

respeito de todos esses assuntos. Minha preocupação foi mais com o

coração das coisas... nosso propósito básico como crentes, nossos

objetivos principais como igreja de Cristo, nosso estilo de ministério,

nossa necessidade de integridade. Sugeri como podemos evitar perder o

caminho 110 labirinto de pressão e perseguição - ou esfriar a nossa

paixão no pântano da afluência e indiferença.

Esta não é a única vez na história em que a igreja e seus membros

se esqueceram que estão de pé ao lado do Cristo Todo-poderoso como sua

Noiva e possuem tudo o que é necessário para transformar o mundo. A mesma

amnésia ocorreu pela primeira vez no distante final do primeiro século.

Retratos escritos de diversas igrejas locais aparecem no segundo e

terceiro capítulos do Livro do Apocalipse. Cada igreja era muito parecida

com a minha e a sua hoje: um farol de esperança, um lugar onde as pessoas

se reuniam, adoravam e partilhavam suas vidas.

Embora estivessem localizadas em um continente diferente do nosso

e falassem outra língua, aquelas pessoas já haviam sido cheias de sonhos,

visão e desejo. Cada igreja tinha suas próprias características,

liderança dada por Deus, oportunidades, lutas e desafios. Sabiam que,

como a Noiva de Cristo, eram suas representantes na Terra. E lá estavam

elas -- fortes refúgios onde a verdade era ensinada e vidas eram

transformadas.

Tragicamente, algo aconteceu a cada igreja que silenciou seu

testemunho. Como na erosão, a derrocada foi sutil e lenta, mas a mesma

conclusão ocorreu com todas. Cada uma delas finalmente tornou-se uma

casca onde ventos uivantes sopravam através de santuários vazios. A voz

forte do pregador se desvaneceu na distância. Era como se a Noiva se

tivesse afastado daquele ao lado de quem estivera e de quem era mais

íntima. E o movimento que havia virado o mundo de cabeça para baixo

estacou bruscamente.

Page 115: A Noiva de Cristo

A igreja de Éfeso, conhecida por sua ortodoxia, perdeu seu calor

e finalmente o amor pelo Salvador.

A poderosa igreja de Pérgamo começou a tolerar ensinamentos

errôneos e finalmente ficou crivada de características semelhantes às das

seitas, contaminada por crassa imoralidade.

A igreja de Sardes, tão viva, ativa e zelosa, começou a viver no

passado. Chegou a ponto de o rebanho em Sardes focalizar apenas "o modo

como éramos". Sardes tornou-se um pesado monumento eclesiástico... nada

mais do que um necrotério com um campanário.

A rica e famosa igreja de Laodicéia atraía grandes multidões, sem

dúvida, porque jamais ofendia a quem quer que fosse. Ela tinha tudo, o

que a levou a achar que "de nada tenho falta". Contudo acabou ficando

"miserável, e pobre, e cego e nu". Seu estilo morno revirou o estômago do

Senhor... e ela também desapareceu de cena.

Vez após vez o Senhor apelou à sua Noiva. Logo após cada um dos

sete comentários, a mesma advertência aparece. Sete vezes lemos palavras

idênticas:

"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às

igrejas (Apocalipse 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22).

Há boa razão para Deus repetir o que disse. Ele tem tido de

apelar não apenas àquelas igrejas, mas a toda igreja, a todo crente - à

Noiva - em cada século que se seguiu. Ele ainda está apelando.

No filme musical Violinista no Telhado, Tevye, o personagem

principal, é um pobre leiteiro judeu morando na Rússia com a esposa e

três filhas. O casamento é um ideal ao qual aspiram as três jovens

camponesas, mas devido à sua pobreza, elas nada podem trazer ao

companheiro. Não têm

nenhum dote. Não têm absolutamente nada que possam oferecer àquele

por quem se apaixonarem e com que quiserem se casar.

É isso que acontece com a igreja. Não temos absolutamente nada

para oferecer a Cristo, exceto talvez um histórico de críticas de mau

desempenho.

Contudo, eis o que é estarrecedor, incrível, maravilhoso. Cristo

ainda nos quer. E ele ainda quer nos usar.

Em uma das mais grandiosas declarações do propósito de Deus para

os cristãos encontradas em toda a Bíblia, lemos "a ele seja glória, na

igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre.

Amém" (Efésios 3:21). Cristo e sua igreja devem dar glória a Deus. Parece

deliberado que a igreja seja colocada antes de Cristo aqui. O significado

do versículo é que com ele ao nosso lado, Jesus acredita que podemos

fazê-lo. E não apenas acredita que podemos fazê-lo, mas também está

confiando em nós para fazê-lo.

E o faremos. Bill Hybels, fundador e pastor da igreja Willow

Creek Conimunity Church, escreve:

"Deus pode fazer coisas incríveis através de seu povo. Ele disse

que construiria sua igreja e que as portas do inferno não prevaleceria

contra ela. Portas são defensivas. Nós, seu povo, devemos estar na

ofensiva. Por isso busque primeiro o reino de Deus. Não se deixe

envolver. Não fique sufocado. Não perca seu primeiro amor pelo Senhor.

Não leve uma vida morna.

A questão central que determinará o sucesso da igreja não é

realmente quem se opõe a nós. E quem está ao nosso lado. E ao lado de

quem estamos. Nós, a Noiva, carregamos o estandarte de Cristo. Nós temos

Page 116: A Noiva de Cristo

todos os recursos necessários para mudar drasticamente o mundo, enquanto

ele dispara rumo ao século vinte e um!

Notas Bibliográficas

Capítulo 1

1. Gregory Stock, The Book of Questions (O Livro das Perguntas)

(New York: Workman Publishing, Co., 1987), pp. 12, 15, 27, 43, 50.

Reimpresso com a autorização de Workman Publishing, Co. Todos os direitos

reservados.

2. Ibid., pp. 55, 98.

3. ccO Breve Catecismo de Westminster", The Book of Confessions of

the Presbyterian Church, USA (O Livro de Confissões da Igreja

Presbiteriana dos Estados Unidos) (New York: Office of the General

Assembly [Gabinete do Supremo Concílio], 1983), p. 7.007-.010.

4. Andrae Crouch, "My Tribute" (Meu Tributo), ©Lexicon Music, Inc.,

1971. Todos os direitos reservados.

5. Richard H. Bube, To Every Man An Answer: A Textbook of Christian

Doctrine (Para Cada Homem Uma Resposta: Um Compêndio de Doutrina Cristã)

(Chicago: Moody Press, 1955), p. 391.

6. Extraído de Lee, An Abridgement (Lee, Uma Sinopse) por Richard

Harwell, dos quatro volumes R. E. Lee por Douglas Southall Freeman.

Direitos autorais ©1961 Espólio de Douglas Soudiall Freeman. Reimpresso

com autorização de Charles Scribner's Sons, uma marca de Macmillan

Publishing Company.

7. Anne Tyler, Morgan's Passing (O Falecimento de Morgan) (New

York: Alfred A. Knopf, 1980), citado em Working the Angles (Explorando as

Oportunidades), EugeneH. Peterson (GrandRapids: Eerdmans, 1987), pp. 5-6.

Capítulo 2

8. David Wiersbe e Warren W Wiersbe, Making Sense of the Ministry

(Captando o Sentido do Ministério) (Grand Rapids: Raker, 1983),"pp. 3146.

9. Ibid., p.43.

Capítulo 3

10. Robert R. Shank, "Winning Over Uncertainty: Unraveling the

Entanglements of Life" (Vencendo a Incerteza: Desembaraçando os

Emaranhados da Vida), Straight Talk (Falando com Franqueza) (Living to

Win Series [Série Vivendo para Vencer]) (Tustin, Cal.: Priority Living,

Inc., 1987).

11. Marion Jacobsen, Saints and Snobs (Santos e Esnobes) (Wlieaton,

111.: Tyndale House, 1972), p. 67. Usado com Permissão.

12. Fonte desconhecida. Capítulo 4

Page 117: A Noiva de Cristo

13. George Gallup, jornal Dallas Times Herald, citado no artigo de

Frederick Tatford, Revelation (Revelação) (Minneapolis: Klock and Klock

Christian Publishing Co., 1985), p. iii-iv.

14. Walter Oetting, The Church of the Catacombs (A Igreja das

Catacumbas), ed. rev. (St. Louis, Mo.: Concordia Publishing House, 1964,

1970), p. 25.

15. Howard A. Snyder, The Problem of Wineskins (O Problema 249 A

Noiva de Cristo dos Odres de Vinho) (Downers Grove, 111.: Inter Varsity

Press, 1975), pp. 75-77. Usado com permissão.

16. Lyle Schaller, ilustrado por Edward Lee Tücker, Looking in the

Mirror (Olhando no Espelho) (Nashville: Abingdon, 1984), pp. 28-30.

17. John R. W Stott, The Preacher's Portrait (O Retrato do

Pregador) (Grand Rapids: Eerdmans, 1961), pp. 28-29.

18. Ibid., p.30.

19. Congresso dos Estados Unidos, Carl Sandburg falando diante da

sessão conjunta do Congresso, 86° Congresso, 1ª sessão, 12 de fevereiro,

1959. Congressional Record (Registro do Congresso), vol. 105, parte 2,

pp. 2265-2266.

Capítulo 6

20. Charles Dickens, A Tale of Two Cities (Um Conto de Duas

Cidades) [1859], Livro 1, Capítulo I.

21. Denis Waitley, Seeds of Greatness (Sementes de Grandeza)

(OldTappan, N.J.: Revell, 1983), pp. 167-68. Usado com permissão.

22. Charles Wesley, "A Charge to Keep Have I" (Um Rebanho para

Cuidar Tenho Eu), [1782].

Capítulo 7

23. James Russell Lowell, "Once to Every Man and Nation" (Uma Vez a

Cada Homem e Nação), em Familiar Quotations (Citações Conhecidas), ed.

John Bartlett, 15a ed. (Boston, Toronto: Little, Brown and Company Inc.,

1980), p. 567.

24. John R. W Stott, The Message of Second Timothy (A Mensagem de

Segunda Timóteo) (Downers Grove, 111.: Inter Varsity Press, 1973), p. 91.

Capítulo 8

25. Comentário não publicado por G. Raymond Carlson durante uma

entrevista com a revista Leadership (Liderança) de 20 de janeiro de 1988.

26. Charles Haddon Spurgeon, citado por Richard Ellsworth Day, The

Shadow of the Broad Brim (A Sombra da Aba Larga) (Philadelphia: The

Judson Press, 1934), p. 131.

27. Carl Sandburg, Abraham Lincoln, The War Tears (Abraão Lincoln,

Os Anos de Guerra), vol. 4 (New York: Harcourt, Brace & Company, hie.,

1939), p. 185.

Page 118: A Noiva de Cristo

28. William Blake, "The Everlasting Gospel" (O Evangelho Eterno),

The Poetry and Prose of William Blake (A Poesia e Prosa de William

Blake),

ed. David V Erdman (Garden City, N.Y.: Doubleday & Company, Inc.

Direitos autorais por David V Erdman e Harold Sloan, 1965), p. 512,

1.110-104.

Capítulo 9

29. "An Unholy War in the TV Pulpits" (Uma Guerra Nada Santa nos

Púlpitos da TV), revista U.S. News and World Report, 6 de abril de 1987,

p. 58.

30. John Bartlett's Familiar Quotations (Citações Conhecidas de

John Bartlett), ed. Emily Morison Beck, edições dos 15° e 125°

aniversários (Boston: Little Brown and Company, 1855, 1980), p. 79.

31. Ted W Engstrom com Robert C. Larson, Integrity (Integridade)

(Waco, Tex.: Word, 1987), p. 10.

32. John Gardner, Excellence (Excelência) (New York: Harper & Row,

1971), citado no livro de Tim Hansel, When I Relax I Feel A Noiva de

Cristo 251 Guilty (Quando Me Descontraio Sinto-me Culpado), (Elgin, 111.:

David C. Cook, 1979), p. 145.

33. Martin E Marty, "Truth: Character in Context" (A Verdade:

.Caráter em Contexto), Los Angeles Times, 20 de dezembro, 1987, sec. 5,

p.I, col.l.

34. Usado com permissão do autor.

35. Excertos de uma carta de Charles R. Swindoll a um amigo.

36. Charles Haddon Spurgeon, Lectures to My Students (Palestras aos

Meus Estudantes) (Grand Rapids: Zondervan, 1954, 1958, 1960, 1962), pp.

13-14.

37. A. W Tozer, God Tells the Man Who Cares (Deus Fala ao Homem Que

Se Importa) (Harrisburg, Penn.: Christian Publications, Inc., 1970), pp.

7679).

38. Charles R. Swindoll, Dropping Tour Gimrd (Vivendo Sem Máscaras)

(Waco, Tex.: Word, 1983), pp. 168-85; Living Above the Level of

Mediocrity (Como Viver Acima da Mediocridade) (São Paulo: Editora Vida,

1991), pp. 117-38.

39. Josiah Gilbert Holland, "God, Give Us Men!" (Deus, Nos Dá

Homens), citado em The Best Loved Poems of the American People (Os Mais

Amados Poemas do Povo Americano), selecionados por Hazel Felleman (Garden

City, N.Y.: Garden City Books, 1936), p. 132.

Capítulo 10

40. Warren W. Wiersbe, The Integrity Crisis (A Crise de

Integridade) (São Paulo: Editora Vida, 1989), pp. 9-11. Usado com

permissão.

Page 119: A Noiva de Cristo

41. Chuck Colson, "Reflexions on a Book Tour: It's Cold Out There"

(Reflexões Sobre um Circuito do Livro: Está Fazendo Frio Lá Fora), seção

Another Point of View (Outro Ponto de Vista), Jubilee, fevereiro de 1988,

pp. 7, 8. Usado com permissão dos Prison Fellowship Ministries.

42. Robert Robinson, "Come, Thou Fount of Every Blessing" (Vem, Tu

Fonte de Todas as Bênçãos), [1758].

43. G. Frederick Owen, Abraham to the Middle-East Crisis (De Abraão

à Crise do Oriente Médio), (GrandRapids: Eerdmans, 1939, 1957), pp. 56-

57. Conclusão

44. Bill Hybells, Seven Wonders of the Spiritual World (Sete

Maravilhas do Mundo Espiritual) (Dallas, Tex.: Word, 1988), pp. 150-51.

QUARTA CAPA:

A igreja primitiva teve poder para virar o mundo de cabeça para

baixo Agora é sua vez...

Quando ela entra no templo, todos os olhares se voltam para

contemplá-la. Seu rosto reflete um brilho triunfal. Ela está no seu dia

de glória e de felicidade plena. Ela é a noiva.

Charles Swindoll lembra-nos que Cristo também tem sua noiva. A

amada do seu coração é a Igreja. Contudo, muitos na Igreja de Cristo

parecem ter perdido essa perspectiva. Escaramuças sem importância e

briguinhas internas dentro de nossas próprias fileiras estão drenando

nossa energia.

A gratificação instantânea está substituindo depressa os alvos

eternos. O plano que Deus estabeleceu para a Igreja está sendo eclipsado

por atividades que vão de espúrias a escandalosas.

Este livro nos dá uma boa visão da Noiva de Cristo, e nos ajuda a

compreender o que a Igreja deveria ser. Seu autor oferece idéias para

revitalizar a Igreja dos dias atuais. Tendo permanecido no pastorado por

quase três décadas, Swindoll teve amplas oportunidades de testá-las. Elas

funcionam. Leitura indispensável para quem tem compromisso com o Noivo.

0083-3 ISBN 0-8297-2048-0 Ministério Cristão