nova tragedia intitulada a noiva de luto

128

Upload: daniel-fernandes

Post on 18-Nov-2015

245 views

Category:

Documents


10 download

DESCRIPTION

William Congreve

TRANSCRIPT

  • ==----

    * *

  • /|-

    |-

    | | ~~~~

    - * |- : ~

    A NoIVA DE LUTO,

    TRA GE DIA

    COMI POSTA NA LINGUA INGLEZA

    POR

    {

    M. C o NG R E V. E, ,*~~~~ -- ~~~~ * - - * , ,

    E T R A DUZ I D A NA P o R T U GU E Z A

    | P O R * *

    : ~~~~

    |- : J. A. C.

    ||-

    * * *+ ',

    -* * + ""

    , , & * * *

    |-

    ' /

    * } { |

    |-

    * ***

    *

    | -

    |- /*

    ****

    - -

    |- |- |- |- } 3 -

    _/}

    **

    * * _>

    L 1 s B o A,

    NA TyrogrAFIA RoLLANDIARA.

    Com Licena da. Mesa do Desembargado Pao,

  • * Vende-se por 240 ris broxado em casa de

    F. B. O. de M. Mchas, na travessa dos Romu-

    lares N. 8. A , junto ao Caes do Sodr Ribei-

    ra Nova, aonde tambem se compra, vendem ,

    troca, e encaderna Livros de todas as qualida

    des: se vende tudo quanto he necessario para o

    uso de hum Escritorio de Commercio, e igual

    mente se aprompta qualquer encommenda de Li

    "vros, pois ainda que seja raros se faz a pos

    sivel diligencia por alcana-los. |

  • ~~~~ ~~~~ ~~~~~~~~~~~~ = = =~~~~ ~ ~

    ----- * * * *

    ++++++++++++++\,

    \\

    A O L E IT O R.

    ~~~ ~

    O Traductor desta Tragedia, influido por hum Amigo, a quem ins

    , , truia na intelligencia dos Authores

    A Inglezes, tinha feito, della, no anno

    A de 1769, huma versa quasi literal, de

    que se extrahira algumas copias, as -

    quaes tem apparecido em manuscripto vi

    ciadas, e ainda mais defeituosas, do que

    era a dita primeira traduca donde fo

    ra extrahidas. Este he o motivo, que o

    , obrigou a imprimir agora esta, a pezar

    dos defeitos, que na mesma se lhe possa

    imputar, sem embargo que a sujeitou

    ao parecer, e correca de pessoa (ao seu

    parecer intelligente) que o auxiliou com

    muitas advertencias, retocando-lhe mui

    tos versos, e ainda substituindo-lhe ou

    tros em algumas partes, principalmente

    no primeiro Acto. |- , , ,

  • (4) \,

    Fez quanto coube nas suas foras por

    exprimir os pensamentos com energia si

    milhante do Original; e se os alterou

    em algumas partes, foi porque na p

    de de outra frma reduzi-los a verso Por

    tuguez em modo, que ficassem sua sa

    tisfaa; e se persuade, que lhe pde

    em alguma maneira servir de desculpa a

    pouca analogia, que ha entre os dous

    idiomas, e, at no modo de pensar das

    , duas naes. |

    Tal he entre outras a seguinte passa

    gem da segunda Scena do Acto IV.

    Fear to the dungeon those rebellious slaves

    , Thignoble curs, that yelp to fill the cry

    And spend their mouths in barking tyranny.

    E em fim o mesmo titulo desta Tra

    gedia. The Mourning Bride ; porque o

    epitheto Mourning na se pde bem

    exprimir na lingua Portugueza sena

    pelos adjectivos lacrimosa, chorosa, ou

    pela circumlocua de luto, e nenhum

    destes tem a mesma fora que o dito

    epitheto. Tambem adverte, que nesta

    traduca seguio em toda a sua extensa

    o Original Inglez, como o escreveo o seu

  • (; )

    Author, sem fazer caso das mutilaes,

    que lhe fazem nos Theatros de Londres,

    aonde lhe supprimem inteiramente a I. e

    II. Scena do M. Acto, e grande parte de

    muitos discursos, em tudo mais de 4oo

    versos, para maior commodidade, tanto

    dos Actores, como dos Expectadores.

  • # - }

    A CT o R E S.

    \, *

    MANOEL Rei de Granada.

    + Gonalves seu valido.

    GARCIA filho de Gonalves,

    "

  • **eeeeee
  • | * (8)

    J cousas insensiveis se movra

    C'o doce canto, e metro persuasivo.

    A de mim! sou eu menos sensitiva

    Que as arvores ? que as penhas ? oh fereza

    }}'implacavel desgraa ! na harmonia |

    Na ha com que se acalmem meus pezares.

    O triste Anselmo he morto, e em paz descana.

    }}epositadas fora suas cinzas

    No tacito sepulcro : o frio seio

    }}a benfica terra os seus tormentos

    Com seus ossos occulta. E que na haja

    Para mim paz!... |- | | ' ' \

    * * L E O N O R., \,

    * * *, - Senhora, finaliza;

    Tua pena modera; na ha causa... A L ME RIA.

    Que dizes ? na ha causa ? ha causa eterna,

    }}e que esperar s posso eterna magoa:

    Em va no que na sabes me aconselhas.

    |- L ' E. O N O R ,

    Afirmo-te, Senhora, que de Anselmo

    |wle penetrra sempre as desventuras :

    13 assaz chorei de ver quan mpiamente

    Feu Pai atropellou da Magestade *

    {}s sagrados direitos. Muitas noites - -

    {>o meu leito me ergui occultamente,

    }} fui do infeliz Rei priza triste,

    *Dade, em quanto dormia o Carcereiro,

    Ce commiseraa vozes mandava ,

    * * * |- +> }

    A ^ *

    *} ,

  • ( 9.)

    Pelas grades do carcere, e mil preces

    Por sua liberdade ao Ceo fazia;

    L, dentro lhe enviava compassiva

    Meus prantos, meus suspiros; pois s prantos

    S suspiros podia oferecer-lhe.

    * * * A L M E RIA.

    Tem certo, ndole nobre, e piedosa

    Quem de alhas desgraas se lastima.

    Ah Leonor ! se Anselmo conhecras,

    Quanto de ver os seus crueis tormentos

    Tua alma se afligira; e sem mais causa

    Que a compaixa devida humanidade !

    *\ L E o N o R.

    No teu amor achei, Real Princeza,

    Motivos de chorar de Anselmo a sorte.

    Notorio a todos he quam generoso

    Comtigo foi, quando de gloria o vimos

    Ornado, e de triunfos, e despojos,

    Dos quaes foste, Senhora, a melhor parte.

    Despido enta do mortal odio antigo,

    Hereditario s duas Monarquias

    De Valena, e Granada, em teus afectos

    Se insinuou pelos mais dignos Ineios,

    Q'a magnanimidade lhe dictra; -

    Propondo, que tu dando a mo a Afonso

    Illustre filho seu, do Throno herdeiro,

    | Findasse a fatal guerra, unindo os Sceptros

    Discordes at alli. |- |+

    t" |

  • -

    { /

    | | | | | | | (1o ) . -

    } " A L M E RIA. -, ,

    |- Affonso ! Affonso ! -

    Tambem jazes em paz!... Ambos findra,

    , Ambos goza da morte o extremo asylo!...

    E viva eu s fiquei para chorar-vos?

    Na tera fim, oh Ceos, os meus pezares?

    Acaso he de proveito vossa gloria ?

    - Esta minha afica ? Mas que destino,

    - Contra mim cruelmente conjurado

    Por meio de fatal necessidade

    Me opprime eternamente com desgraas

    Q'a vida me abrevia? ~~ }

    |- * L E O N O R. *

    - _ Na te envolvas ,

    Senhora, em ta profundos pensamentos.

    A L ME RIA. -

    Como Corte de Anselmo conduzida,

    Na quiz antes a sorte que me vissem

    Em vs opprobrios nella , qual quizera |

    Meu Pai que a filha sua alli tratassem ?

    . Afonso, Afonso ! O mar embravecido

    Te roubou a meus olhos para sempre !

    Mas tu nunca te irs do meu sentido;

    Nem mais te ser tumulo o Oceano,

    # Porque tens no meu peito a sepultura.

    , Nelle est fixa sempre a amada imagem, o

    Oh doce esposo meu! inda que morto.

    |- . L E o N o ROh Ceos!

    "Esposo!

    # >>

    *

    L E o N o R. | Do que dizes

    Nada saba. ^ " "

    - - A L M E RIA. ''+

    ---- Oh! nem metade sabes.Ignoras minhas penas ... se as souberas ...

    De mim te condoras, se as contasse? . . . .

    Condoras-te sim; que es compassiva.

    } - L E o N o R. |

    As lagrimas o mostra.

    |- A L M E RIA.

    ^ ~ Sou-te grata,

    Por ver que tomas parte em meus pezares

    Com commiseraa; que na desgraa

    Nunca achou compaixa a Magestade.

    Mas para qhe contar-te os meus trabalhos ?...

    {

  • (12 ) . |- }

    Patentes j te sa; e se os na sabes

    He porque Afonso bem na conheceste.

    Se do Principe illustre, e generoso,

    Viras o puro amor, e f constante;

    O que eu perdi, perdendo-o, conhecras.

    L E o N o R.

    De Afonso -inda a memoria saudosa

    Causa geral pezar; mas duvidosos

    Ovi sempre contar seus tristes casos,

    E por na avivar antigas magoas

    Nunca ousei perguntar-tos.

    A L M E R I As \"

    } Se o desejas,

    Attende, que eu tos conto, inda que excitem

    De novo a dor no meu aflicto peito,

    Cativa entrei na Corte de Valena,

    De todos adorada, inda no dia,

    Em que meu Pai as tropas vencedoras

    Valente conduzia at s portas

    Do palacio de Anselmo, que abrazra,

    De marcial ardor, e de vingana

    Vivamente impellido. O bom Monarca

    Pertendendo salvar-se deste incendio,

    Se arroja aos inimigos, e procura

    Fatal refugio em triste cativeiro.

    Oxal neste incendio me abrazra!

    Mas na tive tal dita; porque Affonso,

    De meu Pai antevendo a crueldade,

    Me embarcou, e a Rainha em hum navio

    x {

  • * , (13) . .* * + \,

    Prompto a partir; e quando nos viera

    As noticias no mar nos engolfmos.

    Mas conhecida a fuga em continente

    Dera-nos caa, e quasi nos tomava.

    Eis-que tormenta subita nos lana , ,

    E a quem nos segue, s costas Africanas,

    Onde o nosso navio dando em seco,

    N'uma rocha batendo, se espedaa, #

    Mas ah ! na pereci! O Ceo guardou-me,

    Triste de mim! para maior desgraa!

    Quasi morta das ondas me salvra:

    Meus olhos vira, oh tormento acerbo!

    Submergir-se nos mares a Rainha,

    E o meu amado esposo Affonso . . . .

    L E O NO R.

    } } Ai triste!

    Eras tu pois de Afonso esposa ? |

    > A L ME RIA.

    +

    Demos

    As mos no mesmo dia, fatal dia!

    Pois vendo Affonso, quanto o inimigo

    Nos excedia em fora, a mim se chega :

    Por meu amor me implora, que consinta

    Que o Sacerdote enlace as nossas almas;

    Porque a seguir-se ou a victoria, ou morte, Y.

    Fosse eu sua, a pezar do fado iniquo. -

    Persuadio-me a Rainha .... Eu consentindo,

    N'um mesmo dia fui noiva, e viuva. |

    \,

  • * ,***| | | | \

    (14)

    L E o N o R. |

    Triste acontecimento ! , . , |

    }

    A L ME RIA. --

    - - He qual to disse: .

    Daqui procede o meu continuo pranto:

    Em triste luto envolta, e sepultada

    Em tristissimas magoas, e-pezares

    Serei erernamente, e em quanto Afonso

    Na minha alma existir, caro Afonso,

    Eu nunca terei paz, nunca descano. -

    L ' E O N O R, |

    Ceos, inclinai os olhos compassivos .

    A tamanha tristeza, e concedei-lhe .

    Que o tempo lhe grangee algum alivio.

    A L M E R I A, ~~

    Oh na; q o tpo augmta as minhas magoas.

    Os momentos, que em gyro eterno abrangem

    Quantas desgraas no volver dos annos |

    Se difundem, co pezo enorme dellas

    Compellidos me assalta; s me deixa

    Com suspiros, com lagrimas amargas,

    Com cansados cuidados, cos rigores

    Da mais intensa dor. Mas quando faustas

    Voando vem as horas, mensageiras

    - De placidas venturas, e alegrias,

    Enta de mim ligeiras mais que o vento

    Fogem, desapparecem. |

    \,

    \,

  • ( 15 ) ,

    / L E O N O R. -

    / Ouve... Acclama *

    De teu Pai o triunfo ao longe as vozes;

    Tua pena modra, pois receio }

    A sua ira, se te vir em pranto, * * #

    Quando a alegria em todos resplandece.

    A L M E R I A. }

    Alegre para todos este dia,

    Triste he s para mim, pois vem Garcia,

    Garcia a quem pertende cruelmente

    Meu Pai sacrificar-me; os sacros votos,

    E a pura f, que a Afonso dei, quebrando...

    Antes mil vezes sofrerei a morte, , ,

    Do que em tal consentir... Oh caro Afonso*

    L, do sereno Ceo onde subiste, " "

    O voto escuta que de c te envio: }

    Se to consente a gloria, e eterna dita,

    Teus olhos volve terra; e tu Anselmo,

    Se j purgado das terrenas manchas, |

    Voaste luz celeste, que j goza |

    O meu amado Afonso, attende, e escuta -

    Tambem meu voto. O justo Ceo fulmine

    Sobre mim tristes mil calamidades,

    ** Se eu por aca, palavra, ou pensamento

    Consentir dar a mo a outro esposo ....}

    ^ -

    *Ouvem-se ao longe eccos de acclamaes, e ar

    monia militar. - _>

    ** Ajoelha. |

  • * ( 16 } }

    J sinto na minha alma o doce alivio, *

    Que da divida ao meu amor annexa

    Me desata : porm inda quizera,

    Leonor, outra graa merecer-te,

    |- - L E o N o R.

    Teu he meu coraa, vida, e vontade.

    A L M E R I A }

    Eu to agradeo: attende: Quando vires

    Logo todos envoltos, e entretidos

    Na alegria geral, tu te retira. /*

    Quero que occultamente me acompanhes

    A visitar de Anselmo a sepultura.

    , , , . L E o N o R.

    Ai triste ! temo algum fatal arrojo.|- A L M E R I A, |

    Na, Leonor, por minha f te juro;

    Sinistro pensamento na se occulta

    No meu peito. Liberta j me sinto

    Desde que o voto fiz solemne, e puro,

    Que alli repetir quero. Vem, na temas;Dou-te a minha palavra.

    L ENO NO Re

    Irei comtigo.

    #

    * Levanta-se.

  • (17)

    s C E NA II,

    Almeria, Leonor, Alonso.

    A L Q N so. }

    Senhora, vem Gonalves dar-te a nova

    Da chegada d'ElRi.

    A L M E R I .

    *- Falso pretexto,

    Com que vem relatar-me altas proezas

    De seu filho com fraze exagerada.

    Mas tenho o coraa de gelo armado :

    Ociosa eloquencia na mo abraza.~~~~

    , SC E NA III.

    Gonalves, Almeria, Leonor

    + - G o N A L. v e s,

    Da larga vida tua os claros dis,

    Taes seja como este. O Sol brilhante,

    A victoria, e teus olhos mais brilhantes,

    Tudo em raiar promiscua luz conspira,

    E co-esplendor mais raro orna este dia.

    Teu regio Pai, meu Rei, victorioso,

    Rico d'espolio, e nunca murcho louro,

    Com pompa marcial entra em palacio,

    ...Azemolas quinhentas lhe precedem

    # ,

    \* *

  • (18 )

    Sua solemne marcha, e vem gemendo

    C'o pezo da riqueza Maurtana.

    Logo, carros de guerra, que scintilla

    Com rutilantes joias: junto delles

    Ginetes cento, brancos mais que a neve,

    Que em vlos chove sobre Alpinos montes,

    Que a ferra cava, mordem aureos freios,

    Que de escumas esmalta, desprezando

    A victoria, que adorna: marcha logo

    Os cativos em ferros maneatados. #

    Capites do mais nobre sangue d'Africa

    Aos lados da carroa enfurecidos

    Traga o p, que no triunfo se-ergue:

    Cobrem-se os muros de plebeos enxames,

    Que pelas pedras sobem escabrosas

    Como Onas, que c'o as garras se assegura,

    Estirando-se, e olhando, nem que fora

    Tudo olhos, e houvesse cada membro

    Em si a faculdade de admirar-se.

    Tu s te esquivas, foges desta vista,

    Vista triste, sem ti, sem os teus olhos,

    Inda que, plebe houvesse em dobro a v-la.

    A L ME RIA. -

    Gonalves, os meus olhos na se enleva

    Em doirados trofeos, em pompa externa;

    Nem fausto va de tumida eloquencia

    Encanta com deleite os meus ouvidos.

    S rendo aos Ceos as graas, que tornra

    Salvo meu Pai, - ~~* *

    >

  • * ( 19 )

    G o N A L v. E s.

    Bellissima Princeza,

    Na compete aos meus annos quebrantados

    Com palavras caducas applaudir-te:

    Mais proprias expresses das tuas graas,

    E, influencia da tua formosura

    Em meu filho achars, pois que valente

    Soube abona-las com a sua espada.

    A L M E RIA.

    Que he valente Garcia, eu na duvido,

    Nem que o seria, bem que eu na nascera. L E O 7 N O Rs

    Senhora, chega ElRei. |

    A L M E R I A.

    Vou receb-lo.

    SC E NA IV.

    Ao som de guerreira sinfonia, entra ElRei,

    acompanhado de Garcia, e de varios Offi

    ciaes, de fileiras de prisioneiros manea

    tados, e de guardas, que ordenadamen

    te se forma roda do Theatro: vai

    Alineria ao encontro a ElRei, e lhe ajoe

    lha: faz q mesmo Gonalver, em quan

    to Garcia beija a mo Princeza.

    { R E 1

    Ergue-te, filha; e t Gonalves, ergue-te...

    }} 2}

  • }

    |-

    *

    \,

    " (3o) ' +

    Mas tu choras!

    G o N A L v. E s,

    |- Senhor, choro de gosto,

    Meus olhos de assim ver-te se arrazra

    Com mais deleite, do que nelles cabe. .R E Is

    Amas-me, eu sei; e que assim seja, estimo:

    Acceita em galarda ver que eu me alegro

    C'o as lagrimas, que tu de prazer choras. .. .

    Mas vejo quem sinaes de affiica mostra *

    Com as nossas venturas. Almeria,

    Porque em habitos tristes te ofereces

    Em ta solemne dia aos nossos olhos,

    Bem como se malevola quizesses

    Deslustrar meus triunfos gloriosos ?

    A L M E R I As --

    Desculpa-me, Senhor, se assim te ofendo;

    Que o anno, que eu votei andar de luto

    Em vida austra aos Ceos por me salvarem

    Do naufragio, e da morte, ainda, corre.* - - R E I.

    Teu grande zelo helicito, e devido.

    Mas tambem se me deve alguma cousa;

    Que essa vida te dei, que os Ceos guardra.

    Podia do teu voto dispensar-se

    Hum dia minha gloria consagrado. ~~

    Foste fraca, obstinada, e nescia... Basta . ~~

    \

    * Vendo Almeria de luto,

  • (21 () -

    >

    "Sa5 erros de mulher... Mas todavia

    Se bem reparo, inda mais me ofende,

    Ver-te de luto o dia successivo

    Ao que vio perecer nosso inimigo

    O mais mortal, o detestado. Anselmo...

    Jurra que por elle d tomaste;

    Que do teu nescio voto assim se entende,

    Voto feito, na quando te salvaste,

    Mas quando pereceo o, infame Afonso.

    Ah! que ! move-te a choro esta lembrana? *

    G o N A L V E s.

    Senhor, releva o pranto seu, que nasce

    De suppor que te ofende. Se o destino

    A Princeza salvou, no mesmo instante,

    Em que morreo Afonso, a morte deste

    Pde na ser a causa do seu pranto, R. E I.

    A pezar disso errou. Folgar devra

    De ver nosso contrario destruido;

    Mortal nosso inimigo, detestado

    Por odio herdado, ao sangue transmittido.

    Na morte de hum tal mulo devia |

    Minha Filha exultar: com mil festejos

    Fazer tremer as salas deste alcaar,

    E retumbar a voz de alegres cantos

    Pelos erguidos tectos; porm triste

    Largar a rdea ao pranto em tpo... em tpo/

    * Almeria chora,

    }

  • * - (22) |

    De gosto universal... na ha escravo

    Prezo em duros grilhes, que na se alegre;

    E arrebatado, surdo a seus pezares,

    Na faa com as asperas cadas

    Soar rude harmonia.

    G o N A L v. E s.

    . He innocente

    Seu voto; e s por santo em demasia,

    Deu causa a parecer, que t'ofendera.

    | R E I

    Neste caso, inda as mesmas apparencias

    Sa delictos ... Nem sombra de tristeza ,

    Hoje quizera ver aqui: retira-te.

    Desse ofensivo luto te despoja:

    Do voto a transgressa sobre mim caia,

    E te sirva de escusa o meu preceito.

    | G A R G1 A ajoelhando.

    Senhor, perdoa, se eu me atrevo a tanto

    Em lembrar-te a benevola promessa....

    | R E I.

    Levanta-te, Garcia, eu j me lembro,

    Almeria, detem-te. A L M E RIA,

    Alma presaga!

    Que mandas tu, Senhor?| R E Is

    +

    A

    \

    } A mo de esposa |

    A Garcia d j, que assim o mando.

    Recebe-o por Senhor; que bem lhe he dado

    }

  • (23) -

    }

    O teu consorcio, e de meu filho o nome. G A R C I As

    Ah! deixa, que a teus ps o dom acceite,

    E, me d para sempre por escravo

    A minha augusta Esposa, e ao seu gosto.

    G o N A L V E s.

    Consente que prostrado eu to agradea ...

    - R E I.

    Minha antiga promessa, os teus servios,

    E o valor bem provado de Garcia,

    Tudo me obriga; e a futura aurora

    Ver resplandecer, Garcia, a flamma

    Da facha de Hymeneo em tuas nupcias.

    |- A L M E RIA {

    Ceos!... * } , ,

    G A R C I A.

    Desmaia? correi a levanta-la. "

    G o N A L v. E 8.

    J torna a si,

    - R E I.

    Foi susto do hymeneo ...

    Almeria, que tens ? * **

    { A L M E RIA. | | | |

    Subito frio

    Me entorpece os espiritos. Consente,

    Senhor, que eu me retire.

    * Desmaia. A |- _>

    }

  • R E I." *- - -

    | , , Vai, Garcia, *

    Tu a conduz. Seu indiscreto voto

    Terror lhe infunde. Mas que quer Alonso ?

    -- S C E NA V. }

    Rei, Gonalves, Garcia, Alonso, e sequito.

    A L o N so.

    Chegou Zara pomposa prisioneira,

    Com comitiva, como se inda esposa

    Fra de Albucacim victorioso. ~~~~

    R E I. * __

    Foi gosto meu, q assim a acompanhassem.**

    Ponha em liberdade esses cativos. |

    Quem he esse, de cujo valor mudo,

    Tu, Garcia, nos contas taes portentos?

    G A R C I A.

    He Osmin, General dos Mauritanos.

    Esquadres, que por supplicas de Zara,

    A vem acompanhando. .* *- \

    - (24) - * *

    R E I. " |

    . He teu cativo :

    s A sorte lhe dispe ao teu arbtrio._> { |-

    }|- _>

    |-

    {- }

    * Garcia a vai conduzir.

    ** Sahem os prisioneiros. |

    * #

  • }

    }* *

    * ( 25 ) -

    G A R C I A. ;

    A sua alma irritada adoar busco ;"

    Mas elle com austra consezia

    O meu primor evita, e mudamente

    Repelle toda a oferta: se me falla

    He resumido; como se nascera .

    Para obrar s, e na para discursos:

    Falla na tem, onde elle na tem mando.

    R E I.

    Tal silencio, com tanta valentia |

    Tem outra causa mais, que o cativeiro,

    Zara pedio, que Osmin a acompanhasse ? G A R C I A.

    Pedio, Senhor.

    |- |- R E Is *

    O seu procedimento,

    Junto com o que dizes me inquieta..

    Peza-lhe mais, que os seus, os grilhes della?

    *

    \ S C E NA VI.

    Rei, Gonalves, Garcia, Alonso, Zara,

    Osmin, Perer, e Guardas, seguidos. -

    por Selim, Eunucos, e varios Mudos,

    R - E Is

    Sejas bem vinda, illustre Zara, acceita

    As honras todas ; que feliz dar pde

    Hum Rei conquistador, que ganhou Zara; -\

    \

    }

    ~~~~

  • (26).

    Zara, que com a sua formosura |

    Tanto allucina os olhos namorados,

    Que se a sua presena illuminasse ~~

    A pompa triunfal, o vulgo vira

    O seu Rei em triunfo conduzido

    Cativo de ta rara formosura.

    |- Z A R As |

    Se de meu lustre antigo na lembrada,

    Me alegrasse co as honras lisongeiras,

    Que de cortezes da os vencedores,

    Podra achar prazer no cativeiro.

    Igual, gloria do supremo mando,

    ###### os obsequios que me rendes.MJ vendo estes vs ferros, me detesto,

    E mil vezes maldigo o cativeiro,

    Em applausos aereos disfarado. . .

    | | | | R E I. - |

    Tu em ferros? Mandei que tos tirassem!

    Como , Peres, faltaste ao meu preceito"?...

    P E R E s.

    Dste-me ordem, Senhor, que a na trouxesse

    No teu triunfo; mas que hum tanto ao longe

    Te viesse seguindo. ~~~

    R E Is |

    He mais que falso:

    > >

    Eu livre a mandei vir; e se o na disse

    Por palavras, dissera-to os meus olhos.

    Os della em mim tem mando ... Tu ligeiro

    A solta, e mais aos seus ... Porm espra...

  • ( ? )

    * Aqui s minhas mos ressarcir podem.... *

    Assim te solto, e a ti me rendo escravo.

    Z A R A

    Favores espontaneos ta subidos

    Sopeia a altivez das almas nobres,

    Que na querem dever, mas que lhes custa

    O ser ingratas mais. Eu to agradeo.

    . \ R E Is

    Basta, Zara, sublime tu nasceste

    Para mandar; e assim como enfeitias

    Com tua mais que humana formosura,

    Com alma nobre os coraes governas.

    Quem he, Garcia, aquelle, que insofrido **

    Com gesto carregado, e pezaroso

    Crava, na terra os olhos magoados,

    Sem que attenda aos grilhes, ou liberdade?

    |- G A R C I A.

    Osmin, Senhor, de quem fallei ha pouco.

    R = E I. |

    Bem responde ao caracter que lhe dste.

    Donde, valente Osmin, provm q h homem

    ### grande em armas,qual te inculca a Fama,Toma ta desgostoso o cativeiro,

    * Vai solta-la. |- " |

    ** O Rei repara em Osmin, porque tirando-se

    Ihe pezadas cadeias, que fazem estrepito no cha,

    elle fica absorto, conservando sempre os braos na

    mesma postura. }

  • } (28)

    *

    Sorte usual da guerra ?

    |- O S M. I. N,

    Porque preso

    Vingar-me, como he justo, na espero,

    R E Is

    Na te entendo. -

    O S M. I N \

    Nem quero que me entendas.* * Z A R A.,

    Este brioso Mouro na batalha

    Hum amigo perdeo, a quem amava

    Mais do que a propria vida, e co desgosto

    De na vingar-lhe a morte em seus contrarios,

    Anda triste, insofrido, e pezaroso. -

    IR E I a Gonalves. "

    Ella o desculpa! He bem como eu suspeito.

    * * G o N A L V E s.

    Pde ser que ela seja o mesmo amigo.

    Finge, que a soberbia da resposta, |

    Na lhe entendeste. O seu olhar o indica.

    R E Is -

    Procure se: talvez o seu amigo

    Inda viva cativo. O nome delle ?

    Z A R = A

    Heli,

    1 R E Is

    Garcia, toma a teu cuidado

    @ saber delle, em quanto aos ps de Zara

    Dedico os meus trofeos, deponho os louros.#

  • (29)

    Sobre a mais pura parte do despojo

    A Amor altar levanto, J na quero

    Triunfos, nem conquistas: e a victoria

    No campo da batalha na adoro,

    Porque ela irresoluta ali se mostra.

    Canado de esperar lenta incerteza ,

    Da Deosa bellica, atrevido os louros

    Da mo lhe arrebatei; e agora alcano,

    Que em vo no campo o nescio vulgo a adora;

    Pois nos olhos de Zara impra, e mora.

    **

    Fim do primeiro Acto,

  • ~~~~ |- (3o)

    A CTO - II.

    SC E NA I.

    Vista de atrio de hum grande Templo.

    Garcia, Heli, Peres. *

    G A R c 1A a Heli,

    Dizem que neste sitio Osmn foi visto

    Buscand-te dos mortos no jazigo -

    Para chorar tua supposta morte. * H E L 1.

    Com raios t ao centro o Ceo me abysme,

    Se o erguer-me da morte doce vida;

    Se o correr com meus olhos renascidos

    Este ar que anima, e a luz do claro dia,

    Podera a meus sentidos redivivos

    - Dar ida, ou relampago de gosto,Semelhante ao de ouvir o nome amado .. .

    De Osmin: saber que he vivo;e qhei de v-lo;

  • (31)

    G A R C I A.

    Maravilhado ouvi vossa amizade.

    P E R E s.

    Vede, Senhor, o nobre Mouro.H E L I.

    Onde? Onde?

    G A R C I A.

    Eu na o vi, nem similhana sua.

    - P E R E S. |

    Quando eu falei, elle ante mim cruzava,

    Sem tino aqui, e alli correndo: os olhos

    De revs fuzilou em mim em braza:

    Dahi veloz partio, como em alcance

    De cousa m que afouto perseguisse.

    |- G A R C I A. ' ' . \

    Corre: vamos , Heli, saber a causa.

    |- H E L 1.

    Peo, Senhor, que na. A mim s deixas

    Indagar o motivo, e dar-lhe cura.

    Estes accessos, esta hypocondria

    Sa usuaes em seu temperamento.

    O ser achado nelles de improviso

    Pde incita-lo contra a propria vida. "

    Quando a sua alma entregue a paixes cegas

    Sedesafoga em solida amiga, |

    Sei que de pejo o seu coraa nobre

    Estalra, se estranhos o assaltassem

    Nestas suas fraquezas.*

    \,

    {

  • , - (32)

    G A R C I A. ;

    ... Vai : acode,

    O generoso Heli, ao teu amigo.

    , Longe de mim, que temerario intente

    Introduzir-me nos segredos de outrem.

    S C E NA II, }*

    Garcia , e Peres.

    : : G A R C I As

    Peres, pertende ElRei, quando voltarmos,Firmar seu desengano, ou inteirar-se

    Do amor q Zara a Osmin mostra em seu rosto.

    Mas outra conjunca nos far certos.. * P E R E S. . |

    Muito ha que eu certo estou: bem o indicaOs seus mutuos desvelos.

    |- G A R C I A. ----

    |- Se he qual dizes,

    Tristes fins ameaa seus amores:

    Eu me condo delles ... Ouo gente ...

    J talvez os amigos, se encontrra.

    Convem deixa-los ss em liberdade,

  • (33)

    S C E NA III.

    Almeria , e Leonor entrando sobresal

    } tadas.

    . A L M E RIA:

    Foi illusa, foi susto ... Nada se ouve.

    L E o N o R. |

    No accento assimilhava voz humana.

    - * A L M ER I A.

    Foi medo teu, ou vento, que passando

    Retumbou pelas concavas abobadas

    Do templo. Ouamos..... |

    . - L E o N o R.

    * |- Ouve . . . .

    A L ME RIA.

    Na: jaz tudo

    Mais calado que a morte.... Sitio horrendo!

    Que terror na me excita o vasto templo |

    C'o as marmoreas columnas, que sustenta

    O magestoso tecto ! Frio medo

    O meu coraa tremulo traspassa. *

    Os horrorosos, fnebres jazigos }

    Da morte a voz no peito me congla....

    Eu desfalleo ... Leonor ... sostem-me,

    Deixa-me ouvir a tua voz, que a minha

    Com seus, eccos me assusta.

    } |- L E o N o R.

    . . . . Demos volta,

    \

  • }

    Y * * ** *

    |

    (34)

    |-

    |- }

    Pois temo que o silencio, e horror do sitio

    A tua pena augmente.* * |- A L M E R I A.

    *

    # - , Essa na cresce,

    Q'he infinita; o medo he que se augmenta :

    Guia-me pois de Anselmo sepultura ;

    A, terra que os cadaveres consome;

    As cinzas frias, aos mirrados ossos.

    Quero aggregar-me aos mortos, e envolver-me

    Na funebre mortalha de hum cadaver,

    Antes que fora ver-me colocada

    No tro detestado de Garcia.

    Esta lembrana, me commove, e alenta

    A alma abatida; e os meus presentes medos

    Se afoga no temor de maior pena :

    Guia-me pois; conduz-me onde renove

    Aos Ceos meu voto,a Anselmo, ao meu Affso.

    L E O N O R \

    Sim, vou, mas sabe o Ceo com quanta pena.

    S C E NA IV.

    Abre-se a Scena, e apparecem varios tumu

    Jos, e entre elles hum frente, maior

    que os outros.

    } H E L I.

    Vaguei por todo este amplo cemiterio

    Sem o achar. Mas ah .... ouo lamentos

    De algum triste... Alm Soa... Eu os sigo...*

  • (35 ) }

    SC E NA - V.

    Almeria , Leonor.

    L E o N o R.

    V o marmore sacro, em cujo seio

    As reliquias de Anselmo extremas jazem

    Incorruptas ainda. Mas que vejo!

    Ou a vista me illude, ou vejo aberto

    O marmoreo sepulcro. As ferreas grades,

    Que da entrada morte, sobre os eixos

    Volvendo-se em silencio, assim patentes

    Parece que nos chama, e convida.

    } A L. M. E RIA, . . , , ,

    Convites sa da amiga morte: he el!

    Que mudamente falla; que me acena;

    Que liberal seu leito me offerece,

    Onde possa gozar descano eterno;

    Onde a fragil canada natureza

    Longamente de magoas opprimida

    Em somno, e paz eterna o esprito engolfe.

    Em seus braos de ferro a morte horrenda

    Me tomar, e a seu gelado peito

    Ha de cingir-me. dura tyrannia

    Meu Pai por limite, e at Garcia

    Tr tdio de mim pallida, e fa.

    | Solta das vs prizes ha de ir minha alma

    "Correr orbes de Estrellas, lacteas vias

    Desse vcuo infinito, onde em luz fluida

    C 2.\

    {

    }

  • (36)

    Nadando sulcarei mares de gloria | }

    T encontrar Affonso. Oh gosto summo f,

    Oh extasi! oh ventura!... Ajuda Anselmo ... -

    A tua mo me estende... Affonso ajuda ...

    Por ti eu chamo. Afonso !... Oh caro Affonso.

    SC E NA VI. |

    Almeria, Leonor, e Ormin sabindo do tu

    mulo, o qual entra a fallar antes de

    apparecer.

    O S M INe

    Quem d brados por esse desgraado,

    Que se chamou Affonso ?

    A L M E R I As

    Anjos, e Coros

    Do Ceo ! Valei-me.

    O S M. I N

    * Donde vem as vozes,

    Que o tumulo ferindo, Afonso arranca

    Das cinzas de seu Pai ? *

    A L M E R I A em acto de cabir.

    - Deos ! Ceos! Ai triste!

    Falla ... fala-lhe j... falla comigo ...

    Ajuda-me ... Sostem-me ... e no teu seio

    * Encontra-se com a vista a hum mesmo tempo:

    fica ambos igualmente espantados, e Almeria des

    maiando a vai cahindo de vagar.

  • (37)

    Leonor luz me esconde... e aos meus olhos...

    O S M. I N

    . Pasmo, e illusa me prende,e os ps me tolhe...

    Fazei, Ceos, que assim fixo, e illudido

    Na bulla ... na respire ..., na dissipe

    A bella imagem de ar modificado ....

    subtil, formosa ... propria de Almeria...

    Mas esconde-se, e desce?... Antes que parta, *

    Corramos; seguremos sua sombra ....

    Tem vida! tem calor! oh Ceos! He ella!

    Ella mesma ! ella mesma ! na he sombra,

    Morta na he ! Ceo! respira, e vive !

    He ella, he Almeria, he minha esposa.

    s C E NA VII.

    Leonor, Almeria, Osmin, e Heli.

    L E o N o R a Heli.

    Na se move. Ai de mim ! nem abre os olhos.

    E elle desmaia ... Ajuda-me, Estrangeiro ; , |

    Quem quer que sejas, tuas mos concorra |

    A erguer estes corpos.

    - . H E L I.

    -- He Affonso

    Com Almeria ! oh maravilha! oh gosto

    Na esperado! E vive inda Almeria ? .\

    }

    A \ |

    \

    *Corre a ella arrebatadamente.

  • (38)

    ~~~~*

    * * * * - o s MI N.

    Onde est? quero-a ver, quero toca-la;

    Deixa-me ver seu rosto, e com meus labios

    Tocar seus doces labios : na me engano.

    Seu calor sinto, e me d vida, e dou-lha.

    Ergue a vista Almeria : ergue, e d gloria

    Ao Amor, ao amante, ao teu Esposo,

    | A L ME RIA. - -

    Jurei na ser esposa de Garcia....

    Porque me obrigas, Pai cruel?

    O S M. I N

    - - - - He Afonso:

    Teu Pai, meu bem, na he: na he Garcia;

    Nem sou qual mostro: sou o teu Affonso.

    J de mim te na lembras ? J teus olhos

    O teu fiel Affonso desconhecem ?

    Ta diverso estou eu, tu ta mudada,

    Que na me vs se os trajes me disfara ?

    |- A L M E R I A.

    He propria a voz de Affonso, he ele... caro,

    O doce Esposo"Oh toma-me em teus braos;

    Conduze-me outra vez para os abysmos

    Dos furiosos mares insondaveis, -

    Onde moraste assaz. Como voltaste ?

    Como encantar pudeste as ondas fras;

    Que te restitura compassivas \

    A mim, a Amor, terra, luz, vida?

    * Corre a clie arrebatadamente.

  • (39) } -

    ---- o s M 1 N. |- ~~~~

    Como, na sei; s sei que do destino |

    A estrada inevitavel desandamos. |

    Sei que te encontro em vida, e te possuo:

    Que vejo os olhos teus, e que te abrao;

    Que as tuas faces beijo, e fora inutil

    Desejar saber mais depois de achar-te.

    ^ A L M RIA. - ".

    - Espera Affonso .... deixa contemplar-te:

    Consente hum pouco mais ...

    - - - O S M. I N. " . "

    * * Que fazes nisso?

    De ti me afastas? , ,

    A L ME RIA. - |

    - Sim.

    o s M 1 N. . . .

    * *- Com que motivo ?

    Que pensas ? porque me olhas ta attenta ?- A L M E R I A. |

    Na sei... Vejo teu rosto, e cuido ... He muito

    Muito para sentir, e inda ter vida ....

    Ver-te outra vez assim; he tal enchente

    De gosto,edita...Em mim na cabe...pasmo...

    Enlouqueo de gosto inexplicavel.

    , , os MI N.

    Paraiso de amor! gloria completa!

    - A L M E. R.I.A. |

    Mas como he isto tudo ? Como es vivo ?

    Onde estiveste tu? Oh Providencia! - -

  • (4)

    *

    *

    }

    {

    ~~~~

    *

    */

    coraa cheio de pasmo, e gosto!

    Eu choro de te ver .... Oh qua diverso

    Qua pllido pareces! Qua mudado !. o s M I N.

    Na no amor.

    - A L M E R I As

    Na, eu nesse na te fallo,

    Que eu sei que padeceste agudas penas;

    Que tens vertido prantos de sobejo.

    / o s MI N. ~~~

    Ofendes-me em dizeres de sobejo.

    Oh na recordes lagrimas, nem penas. . . .

    Basta ... Pois que te achei, sou venturoso.

    *Mas ai de mim! tu foges de meus braos,

    Que a ti s busca? vem, vem a meu peito.

    , - - A L M E RIA.

    Sim, vou, porque de ver-te me na farto.

    Quizera desposar-me; mas fiz voto,

    "Ao Ceo, e a ti de que antes morreria,

    { O S M. I. N. - |

    =\

    Oh realce de amor! da lealdade!

    ". . * A L M E RIA... }

    Antes morrera... Oh se eu fallar podesse : ~~

    Souberas os meus votos, minhas preces !

    Mil vezes te invoquei, e tu me ouviste,

    Pois acudir vieste minha angustia |

    - Que o Ceo, sem te enviar, me na curra.

    |- O S M I N |

    Dilatai, Ceos, meus dias, dai-me vida}

  • (41) }

    Com que dissolva o vasto, e summo empenho;

    Com que em parte preme a grande somma

    "Da tua f, da tua lealdade ...

    > O S M IN, " " }

  • (+)

    Julguei ouvir-te, e que eras tu a mesma,

    Que me chamavas; mas delirio fra, ". . \

    Se o prazer de mais ver-te eu esperasse.

    A L ME RIA. - -

    E quem te trouxe, diz ... Mas que estrangeiro

    Esse he que occultamente nos observa? *

    o s MI N. |- \

    . Tambem Antonio! oh gosto! o meu amigo!

    |-

    * \

    |

    Qh qua feliz me julgo, pois vos vejoAssim ditosos! * *

    - - A L M e R I A.)

    *Tambem salvo Antonio!

    O S MIN. , ^~~

    Salvo da ira do mar, salvo da guerra,

    Que o vi cahir no fogo da batalha.

    HE L. I.

    Mas illeso figuei: prezo, e remido,

    Como tu foste, vim a este sitio

    Com ancia a procurar-te , que era certo

    Aqui achar-te, lamentando Anselmo.

    - O S M - I N.

    T onde abranger da Providencia.

    A mo que nos protege, e que esparzindo

    Clemencias sobre ns, de bens nos cobre ?

    Qual o termo ser de taes prodigios ?

    Mas pd o largo Ceo tanto augmenta-los

    * Vendo Heli.

  • - - ( 43 )

    Que na se encontrem numeros que os smem.

    L E O N O R. |- *)

    Se na me engano, vejo alm dous vultos,

    Que esta nave cruzando em traje alegre,

    Parece que este mesmo sitio busca.|- * # A L M E RI, A. A

    Foi sonho se ta cedo nos partinos.

    s | O S M L N. /*

    Oxal que este tempo se passasse,

    Bem como hum breve somno, at nos vermos,

    , . - - HE LI.

    Senhor, Zara, e Selim vejo que chega.

    Apressa-te, que amor lhe ha de dar azas.

    A L M E R (A.

    Que amor? de que te assustas? quem he ella?

    - * O S. M. 1 N.

    O extremo a ti opposto; o meu tormento.

    Socega, e vai-te occulta, que na quero

    Qella os meus olhos veja em teu alcance.

    Ver-nos-hemos sem susto doutra ausencia.

    O mais te conte, em tanto o meu amigo:

    Como escapei; meus trajes; minha vinda ;

    Porque me chamo Osmin, e na Afonso;

    E elle Heli. Tudo Antonio ha de contar-te

    Antes de novo encontro.

    A " L M E R I A.

    < . E ha de ver-te

    Outra vez os meus olhos saudosos ?}

    - 1

    *

  • * * - , e |

    + (44) . . .

    , os M 1 N.

    Sim, para novo encontro s partimos.

    Morem comtigo, e o coraa te avivem

    Na ausencia ardente amor, viva alegria.

    S C E NA VIII.

    o s M IN s.

    Inda ao longe a diviso ... l se esconde...

    Voltai olhos a vista, dentro ida ;

    E na mente a vereis ... He impossivel...

    Mechanico sentido, inertes olhos !

    Escravos sois de objectos extriores;

    Que os na vedes por gosto, mas por fora...

    Sa nossos olhos bem como huns espelhos

    Que imagens successivas nos debuxa,

    Pela ordem que lhes vem da sorte dadas;

    Hum astro, hum vil insecto immundo, e feio,

    Assim como os depara a mo do acaso:

    A mente assim na he: profunda indaga,

    E o presente combina co passado:

    At se arroja a penetrar futuros, ~~ ,

    Mas isso em vo ... * Aqui tenho Almeria,

    Vejo-a bem, como quando a vem meus olhos.

    /

    | ,

    |

    |

    Sk Pondo a mo na testa

    ^

  • . . (45)

    S C E NA IX.

    Zara, Osmin, Selim,

    | Z, A R A.

    Vede onde absorto est, em terra fixo,

    Immovel, qual estatua a par de estatuas!

    Porque assim, deshumano Osmin, me foges?

    He isto amor? He esta a recompensa

    Da fama, e honra, e do perdido imperio?

    He este o premio pura f devido ?

    Porque evitas meus olhos, e meus braos,

    E vens morar no horror, na escuridade ?

    Tanto mais do que a morte me aborreces,

    Que a meu amor te furtas, e te escondes

    Aqui de mim?... At sepultura

    Te hei de seguir .... Na v o deshumano!

    Na ouve ! Na me attende... Cruel homem!

    Tu me desprezas? Tu rejeitas Zara ? ...

    Ouves-me, ingrato Osmin ? ~~

    O S M I N

    He Zara!

    : z A R A.

    He Zara; sim traidor, a infeliz Zara

    Supplicando ante Osmin, desattendida.

    O escravo Osmin a quem remio da morte

    Despreza-se de ver, e de ouvir Zara.

    O S M IN,

    Longe de mim o crime que me estranhas.

  • (46)

    * !

    }

    Perdido dentro em mim, confusa a ida,

    T agora na te via. - ~~

    Z A R A.

    Agora vs-me; A

    Mas com olhos ta mudos, ta ingratos,

    Qantes nunca me visses, nem te eu vra.

    - o s M 1 N. |

    De hum triste que buscou por desafogo

    De seu pranto hum tal sitio, que esperavas?

    V bem: aqui na ha mais que tristeza,

    Tu solcita vens a dor seguindo -

    At ao seu tristissimo aposento,

    E queres ao teu mal achar alivio ?Z A R A. A

    Porque assim me atormentas, deshumano,

    Com avssas respostas indiscretas?

    Esta scena de horrores que m'importa ?

    Ou que prazer busco eu ? Comtigo venho

    Chorar, e tomar parte em teus pezares,

    E dar-te o meu amor em troco delles.

    *** O S M 1 N.

    A maior pena he essa! Eu sou ta pobre

    Que nada em paga tenho que ofertar-te.

    . Z A R A |

    Tu tens hum coraa, inda que duro:

    D-mo tal qual ele he. Nada mais peo

    Por quanto fiz t aqui, quanto hei sofrido

    Por te salvar; quando te, vi primeiro

    Arremessado s costas do meu reino #

  • (47)

    Pelo rolo do mar, j moribundo,

    * J plido, e alagado em salsas ondas

    Com teu amigo Heli, quando encontraste

    Co., a minha piedade ... Ah! piedade |

    Na foi, nem compaixa... Foi viva chamma

    De amor com que as entranhas me abrazaste...

    Ajoelhando com desvelo em terra |

    Meus cabellos soltei, a agua das faces

    Com elles te enxuguei: cingi-te ao peito:

    Com meu rosto aqueci teu frio rosto;

    T que apontando o circulante sangue

    As faces te esmaltou da cr da aurora;

    T que os olhos abriste, e que em teus labios

    Sentido doce alento a immensa dita.

    - O S M - I N. -

    Oh deixa de ferir-me co a lembrana

    Da grande somma que pagar na posso !

    Z A R A.

    Os riscos que eu corri para encobrir-te,

    E por que modo o credulo Monarca, |

    Em damno proprio allucinei astuta, - \ |

    Selim fiel o diga, e minhas damas.

    Mas tu o sabes; conheceste as artes

    Q'usei para induzi-lo a receber-te

    Por Principe de Fz; a ver-te, e honrar-te

    Como a parente meu. Mas porque conto

    Os meus extremos? Que na tenho eu feito?

    Na comeou a guerra a teu respeito?

    E sem saber quem es, nem por que meios

    { /

    #

    ~~~~

  • (48)

    Tal odio a Manoel tu concebeste,

    Com fraude atroz na incitei o esposo

    fatal guerra, em que perdeo a vida?

    Em que tudo perdi, ficando escrava?

    V trocado em grilhes o Sceptro augusto!

    Pensa no que eu sofri primeiro, e v-me !

    Pensa quem he Osmin, e enta v Zara!

    Zara sem gloria, e Reino aqui captiva,

    Perdida a teu respeito! dize, ingrato!

    Dize cruel, o que es, e o que tens sido.

    |- os MI N.

    Hum triste a si fatal, fatal aos outros !

    Pezo de immensa mole, que aluida

    Despenhando-se abysma quanto encontra,

    Com estrondo medonho! }

    } |- Z A R A., . . '/

    . Nesse estado

    Assim vil, assim misero, e perdido #

    Terei quanto pertendo em conseguir-te :

    Serei rica; terei immensa gloria;

    Mais grandeza terei , que em ser Rainha ...

    E que mais sa grandezas ? que mais thronos

    Que huns amplos meios de fartar desejos?

    Degros por que subimos aos prazeres,

    E ao ponto mais subido da ventura ?

    Nelle firmados, caia muito embora

    Esse apparato vo da v grandeza;

    Que ao cume nos erguo.

    \,\ |

  • {

    . *

    }

    (49)

    O S M. I N

    Ceo portentoso!

    Porque de mim fizeste o instrumento

    Da escravida de huma alma ta sublime?

    Z A R A. ==

    Podemos conseguir a liberdade;

    Q'o vencedor he meu. Occultamente

    Lhe tenho o coraa prezo em correntes

    Que alargo, ou na mo firmo como eu quero.

    D-me amor, que eu te dou a liberdade.

    \" , OS MI N.

    Em vo a liberdade me offereces,

    Que tu na pdes dar; em vo pertendes

    Em troco o que eu na tenho. Se he que podes

    A ti librta, Zara, e deixa escravo

    Hum triste, que a livrar-se na aspira.Z A R A., |

    Sers tu ta cobarde como inculcas !

  • (5 ) :

    Escravo que na ousa libertar-se,

    Nem arriscar-se a amar em alta esfra!....

    Conheo a causa; eu vjo que scintillaEm teus olhos os fervidos desejos. Y

    > Sei que a alma te ferem minhas graas,E com agudas stas ta penetra.

    Mas tens no Rei competidor mais alto ,

    E tibio, o que mais amas, lhe abandonas.

    Tal he teu susto, esta cobarde, e indigno,

    Que nem desejar ousas. |

    S E LIM. |

    ElRei chega

    * - Z A R A.,

    Agora vingarei ta vil opprobrio,

    S C E NA X.

    #

    >

    Rei, Zara, Peres, e requito.

    |- R E I

    "Porque a luz roubas, Zara, luz do dia,

    E vens dourar com lucido semblante

    Esta scena tristissima da morte ?

    Mas que alvoroo he este ! ... Tu fallavas

    Em Rei competidor. Ha quem se atreva

    A profanar, erguendo audazes olhos

    A quem hum Rei adora ? -

    * Z. A R A. . .

    Aquelle escravo:

  • s (*) |

    Aquelle que foi meu, e heteu captivo. -

    ____ '' '' R E I parte. -

    Ella o accusa! Eu nunca esperei tanto.

    |- Z A R A, |- |

    Ousar hum vil servo, que o sol d'hontem .

    . Vio humilde a meu mando, a quem valra

    S meu regio favor, proferir-me hoje

    Frazes de amor, e no meu triste fado :

    Esperanas fundar ?

    * R E I.

    Na foi mais mpio

    Ixion, pondo em Juno o torpe intento:

    Nem fora nescios tanto os que intentra

    Roubar da mo a Jove o raio ardente,

    Tentando o Ceo!... Esse odioso aspecto

    Conduza de mim longe, em ferros prezo,A tormento exquisito.

    z A R A.

    |- Compellida

    De seu antigo zelo, e lealdade, |

    Na pude alivio ter, sem que buscasse

    No teu Real favor seu livramento.

    Daqui lhe veio o arrojo, presuppondo

    Q'era afeia, o que era s piedade.= R E I.

    Zara, seja o castigo a teu arbitrio.

    Mas, longe a triste scena! Outra te chama

    Onde habita gratissimos deleites,

    Doces prazeres, gostos exquisitos

    * * |- D 2

    Z

  • (52)

    Ainda em flor, que espera tua vinda,

    Para abrir, como se abre a bella rosa |

    Ao matutino sol: onde os momentos

    De gyro em gyro ha de passar velozes

    Em venturosos extasis de gozo,

    E Amor ha de encurtar as lentas horas;

    Sem ele he pezo a vida, pra o tempo,

    Pois quanto a Amor se nega, morte o damos,

    E temos vida s em quanto amamos.

    }

    - - - Fim do segundo Acto.--*

    ^

    1

    * ' \

  • (53)

    /

    A CTO III.

    | | ' s C E NA I. ,

    Vista de carcere COIml luz escas".

    o s * 1 * lendo hum papel.

    Inda agora me ergui do monumento.

    Q'encerra de meu Pai extincto as cinzas:

    Eis-me aqui prezo,onde ele acabou prezo!...

    Celeste mo, por certo, assim me guia,

    E benigna me aponta estas lembranas!...

    A froxa luz este papel, me explique, *

    Que achei na escuridade da masmorra.

    Se inda he vivo, (oh Ceos! hesua a letra!**)

    Se inda he vivo, se existe o meu Afonso,

    ** Ceos restaurai-o e dai-me a mil pezares,

    ?? Meus dias opprimi, canados dias, .

    Com flagellos, prizes, e com pobreza:

    Mas meu filho livra, por mim na pague!..

    Sa supplicas por mim ao Ceo, dictadas

    * Chega-se luz a ler,

    ** Lendo.

  • (54)

    /*

    Por summa piedade, e amor paterno."

    Diz mais: ~ Por estas cs, que a dor arranca

    Da minha alva cabea mal fadada,

    Dobrai a somma em graas ao meu filho;

    >> Na por amor de mim, mas delle; ouvi-me,

    Ouvi , clementes Ceos ?? acabaria ,

    Mas falta esta palavra, e da maneira,

    Qella aqui falta, assim surdos deixra

    De lhe escutar seu voto os Ceos piedosos,

    Aferrolhando , as portas da clemencia!...

    E se ta pouco se ouvem pios rogos -

    De hum vara justo a magoas condemnado,

    Que cousa he galarda, ou que he castigo ?... .

    Mas quem pde estranhar sem impiedade

    Os celestes juizos ? . . Todavia

    Eu posso assim pensar... Eu posso, e devo;

    Pois precede ao juizo o pensamento;

    E antes que a raza nasa, nasce o erro....A Divina raza, sublime regra ,

    Do justo, e injusto, vaga luz da vida,

    Que ora arde, ora s'apaga, ora nos guia ,

    Ou com fatuo clara nos extravia.

    Mas Antonio ! que vejo ? Como entraste ?

  • . . (55)|- |

    S C E NA II:

    \, Osmin, e Heli.

    /

    H E L Is

    Na percamos o tempo. Entrei por ordem

    Do Capita com peitas induzido,

    E rogos de Almeria.

    O S M I N -

    e De Almeria,

    Ah! dize, e como passa?... Enta bem posso

    Esperar v-la ? # -

    |- HE =L I. , , |

    Pdes. Logo quando

    Sahir Garcia do Real palacio , , ,

    Que frequenta solcito, influido

    N'alta esperana de futuras nupcias,

    Almeria ha de vir. * . " ,

    o s M-1 N. |

    Na ha desejo

    Mais vivo em mim, nem gosto eu mais tema.

    Almeria ha de vir! oh pena! aonde ?

    . A hum carcere inundado de pezares ?

    A ver hum prezo, ao qual se nunca vra,

    Fora ditosa ? Porque foi a triste

    Propensa a amar a quem o Ceo detesta?

    Porque segue com passos incanaveis

    * Quem canou a desgraa em seu alcance ?

    |

    }

    |

    *

    /

  • Hum, que qual leve folha em secco Estio,

    Jogo dos ventos, corre tudo em roda - -

    T que preza na fenda de hum rochedo

    Em solto p desfeita se aniquila. * '

    H E L I

    Confia, e escuta a voz d'outro destino, ,

    Tem suscitado com cobia insana 's

    O mesmo Emanuel motim nas tropas

    J quasi rebelladas, todo o espolio

    Tomando a si com vida injustia.

    Alcanado tem j, voando a fama

    De Valena, as fronteiras, onde juntos

    * Muitos dos teus vassallos, j canados

    Da sofrega avareza, e tyrannia,

    Armados se levanta, chama Cabos,

    Que liberdade os guiem, que os conduza

    posse dos seus bens, e a seus direitos.

    | |- O S M IN, - -

    Ah! que minha alma ergueste do lethargo

    Surda atgora voz de injurias proprias,

    E aos altos, brados do paterno sangue:

    Surda vingana; surda ao pranto acerbo,

    E queixumes de amor nunca logrado.

    Furor me infunde a voz do povo aflicto,

    Que Almeria excitar em mim na pde.

    Eu ardo,Antonio, em fogo: esta alma se ergue,

    Pede armas; co inimigo ousada investe;

    Com intrepidas tropas o atropella,

    Que insofridas, por mim clama, que as leve

  • (57)

    liberdade, aos louros gloriosos.

    Nos ouvidos me soa altas vozes :

    * Aonde est ElRei? Aonde Afonso?

    Onde, onde esta ? Oh qu te espedara,

    Cadeia vil, bem que rompesse as veias, .

    Ou as fibras quebrasse: longe algemas,

    Laos vs, proprios s do vulgo infame !

    Opprobrios da sublime Magestade.....

    Mal de mim, que s posso neste aperto

    C'o as azas forcejar, quando quizera,

    Alado aos Ceos, precipitar-me preza.

    H E L I, *

    A conjuna urgente, e o tempo escasso

    Pedem, Senhor, socego, e que pensemos

    No que se pde pr por obra. Zara,

    Que deo causa priza, te sirva agora

    De alcanar liberdade. Essa ganhada , , ,A fortuna abrir meios de fuga.

    Irei veloz em tanto aonde juntos

    Em nocturnos concelhos delibera

    Huns mal contentes sobre o nobre assumpto;

    Q'em odio do tyranno, ou porque estimem"

    De Anselmo inda a memoria, tem por certo

    Q'a tua causa abraa, .

    O S M. I N - "" *

    \, Faze, amigo, ""

    Quanto a astucia te der, quanto for justo:

    Esperarei sofrido o meu destino.

  • } x |- (58)"|

    M ELI.

    Teu odio dissimula em vindo Zara.

    * * O S M L N- |

    Odio na tenho a Zara, mas na poss

    \, Mostrar amor 2 qu n'ala na me existe

    O que puder farei. Hum papel tenho , , , , ,Que a ti mostrra, a na temer ', 9 o v-lo

    Teu intento retarde : he concebido .

    No mais alto fervor de amor pater"9.

    Orando aos Ceos P" mim: alli o acheiNa funda escuridade da masmorra-

    Contm tanta piedade, e magoas tantaS

    * Que compaixa movera as proprias fras.

    -H E L I^

    Deparou-to por certo ? Providencia

    Por te dar esperanas : tal piedade

    O Ceo nunca despreza,3 te reserva

    Ditas, que lhe negou. Vive, e confia

    - *- Q'o tempo, e a vez primeira que nos virmos,

    To fara certo em fim...|- *> o s MI N. "

    ~ ~ Amigo, parte:

    *

    }

    - Os bens, que tu mereces, 9 acompanhem.

    . - s c E NA III. =

    . : os M. 1 N. "

    Foi arrojo; fui mpio em ter em pouco

    O cuidado do Ceo : maiores penas |

    ~~~

    | || ||

  • { 59 ) |

    Meu triste Pai sofreo; e s doutrina

    Eu devra aprender nas suas preces,

    Preces escritas no feliz momento

    De alguma inspiraa, quando s estrellas

    Seus puros pensamentos se elevava,

    E como o fumo do sagrado incenso

    Era levados sobre as azas de Anjos

    Por caminhos de luz ao almo centro }

    De quanto existe, onde lhe foi patente

    Dos destinos no livro esta hora amarga.

    Enta, fixo no mundo o amor paterno,

    Me enviou o modlo, que aqui tenho,

    De alta virtude, este ultimo legado

    Que przo mais que joias, e diademas , ,

    Ou que o poder do Sceptro amplo, e supremo.

    S C E NA IV.

    Osmin, e Zara coberta com hum vo.

    o s M_1 N.

    Qual Astro aos olhos meus resplandecente

    Illumina esta lugubre morada ? . . . .

    Es tu meu bem,

    z A R A levantando o vo.

    . Oh praza a Deos que o dito

    Do coraa te venha ! \,O S M I. N. ---- |

    Ai triste! he Zara ! , .

    ***

  • ( 6o ) -

    Enganou-me o desejo!

    Z. A R A.

    |- \\ Que? meu rosto

    He ta enorme que te ofende a vista,

    Como se visses cousa m, e horrenda?...

    De novo, se tal he, o vo me occulte,

    Porque eu te veja, ingrato, sem me veres.

    Repete a doce fraze = Estu meu bem ?

    Dize ### vez, pergunta, e falla; oh falla

    Com doces sentimentos de amor vivo,

    E brilhem nos teus olhos namorados

    Mil ardentes desejos. Mas na pdes,

    Pois tens presente a causa de teus males.

    Eu te forjei tyrannicas correntes.

    Com raza me detestas por iniqua.

    Podia assim tratar-te quem te amava ? .

    Na, Osmin, s cruel, mpia vingana

    Te podia causar ta dura afronta ....

    Oh! queixa-te, e vers como me vingo

    Em mim mesma da minha crueldade,

    Ferindo o coraa improbo, e duro,

    T que em sangue se alague, e tu te esqueas

    Condoido de mim, dos teus tormentos. o s M 1 N.

    Na he, Zara, ta baixa, e vil minha alma,

    Que, irritada, vinganas premedite

    Contra os que do destino compellidos ,

    Em damno meu aos fins do Ceo servira.

    Tu na foste, foi sim astro inimigo,} | \

    }

    }

  • (61)

    Que a tanto me abato. Nem tu serias

    Motora de castigos na devidos.

    \\ Z A R A* * >

    E podes perdoar-me? Tratar pdes

    Brioso a minha culpa por loucura ?

    D-me, oh ! d-me loucura inda outro nome,

    Chamando-lhe paixa: depois mais brando

    Chama-lhe doce amor.

    o s M I N.

    |- Embora seja

    Paixa, ou doce amor; por tal o julgo...

    } Z A R A. |

    Ah! que inda mais me fere essa bondade,

    Do que me feriria duras queixas:

    Nem com iras meu peito penetrras. #

    |- O S M L N. |

    Com tudo desejra.... , ,

    Z A R A. } |

    O que? Ah!, dize.

    O S M. I N ~~

    Na ser quem sou.

    { Z. A R As

    |- Pois que es?

    O S MI N

    \ ^~ Hum vil escravo.

    * Z A R As

    Teu silencio, ai de mim! meu susto aviva;

    Meu rancor te frustrou nobres projectos,

    Que no peito encerravas, j proprinquos

    {

  • /* : ' (62 )

    A consummar seus fins. Ah! dize, Osmin,

    Sou eu ta desgraada ? o s M 1 N. |

    - - Inda o destino

    No tempo pde achar veloz instante,

    Que alcance a fugitiva liberdade ,

    E o perdido momento da ventura.

    * * ZAR A.

    1 Mais veloz, que os momentos fugitivos,

    E matutina mais que a mesma aurora

    Correrei a buscar-te a liberdade. . . |

    Vou-me a ElRei; eu corro... mas he tarde...

    Chegra, todavia, ha pouco novas,

    Que o corao parece lhe abalava;

    Quem penetra os cuidados roedores

    Que se occulta no leito de hum monarca ?

    Ou quem sabe se Amor que n'alta noite

    Accende a facha, fulminando os raios,

    Com que inflamma mil peitos namorados,

    |- V~~~~ o descano, na lhe esperta

    Os olhos a velar nesta hora morta ? ....

    Vou ver.

    o s MI N. |

    Na mereci favores tantos,

    Nem posso, inda que cumpra os meus intentos,

    - Taes servios pagar como mereces.

    |- ---- ZAR A. * *

    Dever-me mais na pdes, nem mais tenho

    Que dar do que perdi: porm j agora

    }

    \

    ~~~~

    * *

    =~~~~

  • ( & ) ,

    Seja tal o theor do nosso pacto.

    Serei injusta se te na liberto.

    Mas, tu livre, ao teu brio deixo o premio

    Do meu amor: Adeos. -- #

    s C E NA v.

    O S M \ N. --

    Oh quanto he nobre,

    Qua grande, e generosa a alma de Zara!

    Ta grande, que com pasmo me arrebata

    Apezar de mim mesmo ! Raras podem

    Elevar-se a prender coraes regios

    Com laos taes : mas ella excede em ira

    Dos ventos ao furor, que o mar revolve ...

    Temo que enfurecida nos suscite,

    Em sabendo a verdade, algum desastre,

    Que extremo mal nos traga ... mas eis chega

    Para animar-me, aquella por quem temo

    - De quem depende a paz deste meu peito.

    \

    Almeria, e Osmin. =

    - O S M I Ne + }

    Meu amer, meu conforto, e liberdade, ,

    Princpio, e caro fim dos meus desejos!

    Com que fraze te applaudirei a vinda

    ^

    s c E NA VI.

  • }

    (64)

    A ta triste lugar? Como exprimir-te

    Este alvoroo meu, minha alegria ?

    Assim maniatado nestes ferros,

    Qual vil salteador, qual assassino,

    Correrei com reciprocos abraos

    Como insano a manchar-te o niveo peito?

    Com estes grilhes srdidos, e infames

    Magoar-te inhumano ? Assim te vejo ?

    Assim meu bem te encontro ? -

    A L M E R I As { /

    { \ Assim, Affonso,

    Nesta amargura j nos separmos * *

    Para agora nos vermos; e disseste

    Que aquella vez seria a derradeira -

    Que assim nos separasse. Ah! eu pertendo,

    E me deves, metade dos teus males;

    Dos teus grilhes, ou morte. * - os MI N.

    Duros meios

    De cumprir-te a promessa ! Oh quem diria

    Que o ver-te me servisse de tormento !

    He tal, com tudo, a angustia penetrante

    Desta minha alma em ver teus sofrimentos,

    Que quasi antes quizera nunca ver-te,

    Ou desejar-te longe. - .

    A L M E R I A.

    Oh! tal, na digas;

    Que inda assim por amor na quero ouvir-te

    Que longe me desejas: Na, Afonso !/

    /|-

    -

    |

    *

    *

  • ( & )Melhor ser nutrir em nossos peitos

    Reciprocos pezares, confundindo

    Do nosso pranto as aguas num s vaso !

    Melhor beber da morte o duro trago,

    Do que serros hum d'outro separados...

    Mas que pensas? q angustias te atormenta?...:

    Falla. Toma-me em braos... Ah na pdes!

    Teus pobres braos luta algemados

    Cos ferros que lacera, que consomem

    Tuas carnes com putrida ferrugem.|- - O S M I N

    Ai! . @ } |- |- } |- Y |

    A L M E R I As

    , D-me esse suspiro... Porque as penas"

    Tanto, Afonso, supprimes, e suspiras?

    Tens tmidos os olhos, e espantados!....

    O coraa parece que te estala... . . . . .

    Oh! desafoga, Afonso; abre-me essa alma!

    Dize, dize-me o teu cruel cuidado.

    | * o s "M I N. - -

    Na desejra, oh Ceos! ferir-te o peito "

    Co a viva dor, que esta alma metraspassa.

    |- A L M E R I A. . .

    Ah! falla; que na pde mais ferir-me

    Saber qual - he, do que saber, que a sofres.

    Esterno, caro Afonso, em demazia.

    - O S M I N }

    Esse he meu mal: em demasia esterna:

    Se menos extremosa, e excessiva,

    | - E

  • (66)

    Foras comigo, e menos generosa,

    Na vibraria ta agudas stas |

    Contra meus peito a dor...

    |-A L M E R I A. "

    } . Fazes-me injuria;

    E at da mesma dor eu me queixra,

    Se ambos com iguaes stas na ferira.

    Dessa alma eu sou metade; e me he devido

    Ter comtigo metade nos teus males.

    Sou tua esposa. | \

    | \, o s M 1 N. , .

    ... Ah, muito profundaste !

    A chaga he essa: ahi prendem as cordas,

    Que os nervos estalando mos desloca.

    As rodas, e os tormentos, que me espera,

    A par deste ancioso pensamento,

    Sa de aromas, e fiores brandos leitos.

    # / A L M E R I A.

    Triste de mim, se a minha sorte he essa!

    Com teus grilhes me arrasta, aos ps me calca.

    Tira-me a vida, tira. Oh desgraada!...

    Esse aspide sou eu que no teu peito

    O coraa te re, e o sangue bebe? ...

    Se em tua voz houvera fora tanta

    Para romper teus ferros, quanta ha nella

    Para de todo aniquilar minha alma ;

    Ver-te-hias livre enta de taes angustias.

    Sou eu pois o maior dos teus trabalhos ?

    }

  • ( & )

    | O S M I N.

    Tu es meu bem total, perenne vida,

    Alma desta alma, e fim dos meus desejos,

    Porque assim com teus ditos me atormentas?

    Porque as fontes da vida me entorpeces,

    Lacerando-me as veias, e extinguindo

    Do sangue o gyro em lagrimas tornado?...Intensa pena te figura nalma

    Monstros que na existem.

    A L M E RIA. .

    Na disseste

    Que antes sofreras rodas, e tormentos,

    Que ter-me por esposa ?

    " , O S M. I N.

    Na; na pde

    Do mesmo inferno a mais cruel malicia

    Extorquir-me desejo, ou pensamento

    De te ver noutros braos reclinada ....

    Oh que duras angustias ! que tormentos!...

    Tu me es consorte!... Mas que digo? Apenas

    Chamar-te posso esposa. O sacro lao

    Do nupcial amor inda incompleto

    Nos est convocando, e por ns chama

    Ritos mysteriosos retardados. |

    Nem co a tocha Hymeneo ao sacrificio

    Mais grato presidio; quasi apagada

    Com lagrimas, com ais, e com suspiros,

    Com luz palida, e triste arde, e fumega! ...

    Ter por templo o Deos esta enxovia ?

    |- * * * E 2 |

  • ( 68)

    - Por ara de oblaes esta vil terra ?

    Hum carcere morada de pezares ?

    A isto chamerei prazer ? ventura ?

    Sustem-te, coraa ! Chamar-te-hei minha ?

    Mas nem assim es minha, e at na posso

    Ser comtigo infeliz. - - - -

    A L M E R I A.

    /* ' Tanto na pde

    Vedar, inda que queira, o fado injusto

    Com seu rigor : ser o derradeiroRefrigerio da nossa desventura, A

    Que havemos de tragar vidamente

    A pezar do destino. E triunfando

    De acerbas afilices exhalaremos , .

    Hum com outro braado, as tristes vidas.

    |- o s M 1 N. - - -

    Fallas, meu bem, mui firme, e resoluta,

    Ignorando o perigo: olha adiante.

    Ah ! pensa que manh sers roubada

    D'entre estes prezos braos miserandos,

    Que opprimidos na pdem defender-te:

    Contra o mpio furor, que te arrebata!

    Com dor immensa nalma, e com que pranto,

    Oh! na te, seguir meus tristes olhos, , ,

    Quando de mim te fores apartando! "

    Pensa qual estarei quando a Garcia

    Deres a mo?... Com furia em mil pedaos

    Arrancarei o coraa do peito, -

    Implorarei, a terra, que me esconda,} * ' | |

    #

    \,

    #

    /

  • ( & )

    Que me sepulte no seu centro escuro.

    ~.~ ~ ~ ~ A L M E R I Ass -

    Que horror! que angustia ! :

    o s M 1 N. :

    |- Enta nesses teus braos

    Engolfado Garcia em tuas graas ... .

    Tu cedendo forada aos seus furores ...

    Inferno ! inferno! os teus crueis tormentos

    A par disto que sa, sena branduras,

    Socego ameno, e aromas deleitosos?

    Que mais sofre, Almeria, hum condemnado,

    Que sabendo, que ha gloria, eternamente

    Se v della privado sem remedio ?

    |- - * A L M E R I A |

    Ah! que esmoreo, Afonso ! As tuas vozes

    Sa vivos raios que me ferem, nalma,

    Que em fogo intenso o coraa me abraza !

    Ai de mim triste!... Eu morro... Eu desfaleo:

    Acode-me, sustem-me, amado Affonso ...

    Ah ! mas na me sustenhas, deixa embora

    Precipitar-nos nesse escuro abysmo, \

    Donde mais nossos olhos se na erga,

    Onde em rios de lagrimas desfeitos,

    Nos cubramos de eterno esquecimento.

  • (7o )

    S C E NA VII,

    Zara, Peres, Selim, Osmin, e Almeria,

    z A R A s guardar.

    Eu venho a liberta-lo; assim me importa:

    Qusais vs duvidar do regio mando?Vede o sello Real.

    P E R E S. !

    \ - - Eu obedeo;

    Mas peo que diffiras por hum pouco

    T que volte a Princeza, que l dentro

    Visita o nobre prezo. |- |

    ZAR A.

    Que me dizes !

    o s M 1 N a Almeria. }

    He Zara, e vio-nos. Ah! perdidos somos!

    Retira-te, meu bem, ... Ai triste!... Vai-te.

    Falla de compaixa; de intercederes

    Por mim ao Rei: inventa, se he possvel,

    Inventa alguma cousa com que occultes

    Nossos amores. |- - *

    } A L M E R I A.

    Ai! fallar na posso.

    }

    *

    , . O S M INe |

    Deixa, que eu te conduza disfarado.

    * z A R A parte.

    Quanto assustado a leva, e ela chorando!...

    Ah confuso ele seja, e ella que chore!...- |- -S

    * * *~~

    * * {

  • (71 )

    Sua traia he clara. Oh morte!... oh ira!

    Como sondarei eu este mysterio? ...

    Mortifero ar de peste lhes apague

    A ella a formosura, a elle os olhos.

    Estrago os una ; aparte-os a ruina.

    O S M. I N

    a Almeria , fingindo na ver Zara.

    Tal caridade a hum misero, estrangeiro

    Na ha com que se pague: os Ceosta paguem.

    S C E NA VIII. -

    *

    Zara, Selim , Osmin,

    Z A R As

    Infame, e vil traidor! ... Mas disfarcemos.

    Convm dissimular, convm, conter-me,

    E o mago sondar deste aleivoso.

    Hum tanto me pareces assustado ... **

    O S M I N

    Com tua breve vinda inesperada.

    \ Z. A R = A

    Nem desejada, e ao que parece, inutil.

    "Oh furias infernaes!... Contem-te, Zara.**

    Na sabia teu grande valimento;

    * * parte. , , -"

    ** A Osmin. |- * * * |

    *** parte. * . *

  • * ( 7. )

    Sou talvez atrevida em vir ... *

    + . O S M I N * . .

    \ Senhora !

    Z A R A. |

    Senhor, perdoa; na sabia, que eras \,

    Da Princeza o valido: na te enganes:

    Eu na o tenho a mal: vinha trazer-te

    A liberdade, e volto assaz contente

    De te achar com mais alto valimento.

    O S M [ N. |

    Vens tu, Zara, zombar dos meus pezares? \,

    Z A R As -

    Sim , venho. -

    O S M IN, -

    Esse prazer eu te na louvo.Z. A R As *

    Na louves, na, mas eu nem sempre o tenho,

    E quero t-lo agora. Que pezares! -

    Quem rejeita a ventura de ser prezo,

    Para motivo ser de regios prantos?

    Ver Rainhas no surdo d'alta noite,

    Acordando com olhos lacrimosos,

    Negarem-se porfia a brandos leitos,

    Sollicitas velando-lhe o socego ?

    . Ardo! na posso mais!... . - -

    o s M 1 N.

    - - Zara, socega ;

    * A Osmin. * |- *+

    \

    |- |

  • (73),

    *

    Z A R A *

    Traidor ! { , .

    - O S M. I N * ~~~~

    Escuta ... |- *>

    |- Z. A R A.

    . Hei de tirar-te a vida!

    O S M I" N

    A meu mal pors fim. . ",

    > } Z A R A.{

    Mentes: Conheo

    Por quem quizeras tu viver agora.

    O S M I N. , ,

    Enta sabes tambem por quem morrera.

    |- , - Z A R A.

    Ardo! enlouqueo! morro!... mas com tudo

    Quero conter-me... Infame, vil, e escuro!...

    Mas a aurora j rompe; e j se estende

    Do fado a mo pezada, que ha de expr-te

    Inerme, e n a publicas afrontas.

    O S M 1 N. }

    Talvez que tu te enganes, que inda posso ...

    Z A R A. |

    **

    Oh l guardas? Olhai, por vida vossa,

    Que este escravo na fuja, nem o intente.

    Fui enganada; o publico socego

    Requer sua priza com summo aperto,

    E que ninguem lhe falle, ou possa v-lo,

    Nem a Princeza: a ElRei sois responsaveis.

    Pezar-te-ha, bem qtarde, infame *eingrato,

    *

    \

  • (74) | {

    As injurias, que ao meu amor fizeste.

    Posto que usado a trances apertados,

    Vers desgraas, que inda na conheces;

    Que o Ceo ira na tem , o inferno furia,

    Como a afeia em odio transformada ,

    Como a mulher altiva desprezada.

    | #

    Fim do terceiro Acto.

    *

  • (75)

    A CTO IV.

    : S C E NA I.

    Zara, e Selim.

    Z A R A. v

    Que outra vez to pergunte na esperes,Que assz me atormentou tua tardana.

    Dize, responde j; que concluiste?

    |- | S E L I M |

    Enfureceo-se ElRei, ardeo em ira

    Com tua accusaa, que foi bastante

    Para firmar de Osmn o fado extremo;

    Mas chegra de mais outras notcias

    De tropas rebelladas: da por certa

    De Heli tambem a fuga; e o que confunde,

    E causa geral susto, he que fugra |

    Com elle oficiaes de summo pezo |

    No exercito, e no Estado: isto convence

    De todo ElRei de quanto lhe disseste

    Da surda intelligencia, na supposta

    De Osmin cos principaes dentre os rebeldes:

    J finalmente as ordens sa passadas }

    |

  • (76) ,

    Para sem mais demora o justiarem.

    * ~4 |- Z A R A. }

    Ah! corre: atalha o seu, e o meu destino.

    Ai de mim ! busca a ElRei: dize que tenho . .

    Noticias que lhe dar de tanto pezo

    Como a sua Coroa, e saber deve ~~

    Antes que morra Osmin.

    - **, s E L 1 M.|- Na he preciso.

    Porque ElRei vem: porm, Senhora, instando

    Na morte inda de Osmin, mostra que a pedes

    Na por vingana, mas por bem do Estado.

    - Z A R As |- |

    Ah! dize-me, aconselha alguma astucia,

    Com que a ElRei alucine, e do perigo

    Me livre, salvando esse por quem vivo....

    Clame embora a altivez, e o seu desprezo,

    Sou mulher inda; sou mulher amante!...

    Longe ciume vil, paixa insana,

    Flagello inseparavel da ventura;

    De ardente amor, que a tanto me obrigaste...

    Oh quanto a triste ida de perd-lo

    Me apaga a do rigor do seu desprezo !

    Caro Osmin, desgraada ! hei de perder-te?

    Na mais te ver Zara ? Em furia eterna* * \ | || * *

    Acabar seus dias ? Oh tormento!

    Se assim fere o pensar, quanto o sofr-lo!

    Supportar-se na pde ... Inventa, escravo,

    Os meios de atalha-lo, ou por Deos juro,

    }

  • (77)

    Que esta adaga se afoga no teu sangue. *

    S E LIM. |

    Esta vida he s tua ; e tu bem sabes

    Que s para servir-te he que a desejo.

    Real Senhora, j descubri meios .....

    Z A R A. |

    Fiel Selim, perdoa, eu bem conheo

    O teu amor, e a tua lealdade.

    Dize como farei porque suspenda

    O fatal golpe. sobre Osmin pendente, S E L I M. -

    Insta, Senhora, como j te disse,

    De Osmin na morte, porque suspeitoso

    Seria voltar subito clemencia :

    Mas roga que lhe dem morte privada."|- Z A R A., |

    Mas que darei por causa ? , " " ";

    |- S E LIM.

    Na careces

    Allegar causa : basta s que o peas;

    Mas quando a queiras dar, dize que temes

    Das guardas a traia, que sobornadas

    A bem de Osmin lhe dem meios de fuga.

    Dize-lhe mais, que a morte por teus Mudos

    Lhe dars em segredo: alcana ordem,

    Que ninguem, sena Mudos, possa v-lo ...

    Mas, Senhora, ElRei chega: isto alcanado,

    * Fazendo mena de arrancar a adaga,

    \,

    ~~~~

  • (78)

    Sabers tudo o mais em tempo idoneo.

    S c E N A II.

    Rei, Gonalves, Peres, Zara, e sim.

    R E I

    . Sepultem j no fundo da masmorra

    Esses escravos vs, que se consomem

    Huivando como o lobo, que outros ouve

    Huivar c'o a voraz fome; mas v, Peres,

    Que os seus cabeas Sanches, e Ramires

    Padea logo morte infame, e dura.

    |- G o N A L V E s.

    Se te agrada, Senhor, fra meu voto

    Pospr dOsmn morte, a morte delles;

    Porque se aclare mais por sua via

    Esta conspiraa.

    - R E I.

    - - |- Soldado, espera:

    C'o Mouro morrer: sou desse voto...

    Nada se soube dos que Heli seguira ?- Go N A Lv e s.

    Nada, Senhor; alguns papeis se achra

    Depois disto na casa de Rodrigo,

    Que com elle fugio, os quaes indica |

    Que he vivo Affonso, e q em Valena se arma.

    Isto he para temer, pois que tomra

    A mesma via os que depois fugra.

    7* * *

    \,

  • (79)

    Correm j divulgadas entre o povo

    Vozes desse theor: alguns afirma,

    Que, salvo Afonso, d'Africa nas praias

    Ahi a"Albucacim se descobrira: *

    E que ligados em estreito pacto,

    O moveo a invadir os teus domnios,

    Em quanto ele tornando-se a Valena

    Levantou em segredo este tumulto.

    z. A R A a Selim. |***

    Ouves, Selim ? Osmin he pois Afonso ?

    De mil cousas me lembro neste instante,

    Que assaz o prova ! Se o souberem, certa

    Sua morte ser, e a minha insania ! ...

    Mas inda que na seja conhecido,

    Que amor posso esperar? que recompensa?...

    He com tudo vileza abrir mo delle.

    Na: quero inda encobrillo, e ver se fora

    De mais obrigaes, o veno a amar-me.

    |- G o N A L v. E s a ElRei,

    Impossivel na he; mas pde dar-se,

    Que alguem por ambia lhe usurpe o nome,

    Zara informar-te pde, se algum salvo

    Do mar l vio de Albucacim na Corte.

    |- R E I a Zara.

    Em mal na tenhas meu esquecimento,

    Zara gentil; alta raza de Estado -

    Cortou do nosso amor doces momentos.

    Mas ja cede, j foge, como a ara,

    Que o rolo do mar leva: hora ditosa |{

    *

    * *

    \ ,

  • *

    (3o)

    Em breve nos vir. | |/*

    . Z A R A.

    Assaz, confias; *

    Que est mais imminente o teu perigo

    Do que o teu valor alto ver te deixa.

    Vives em risco, em quanto Osmin tem vida.

    | R E I.

    Sentena j lhe dei, se a na revogas,

    Por morto o podes ter. ***

    \ Z A R A. * *

    *

    \,

    Segundo o que fallava, quando entraste,

    De inteirar-te de cousas de mais pezo.

    Lanado s minhas praias, como ouviste,

    Foi hum que se dizia Afonso, e teve

    Com ElRei, conferencias mui secretas,

    Que na pude indagar: mas sei que o mesmo

    Partio para Valena, bem no tempo

    Que invadira Granada as nossas armas;

    Entre o traidor Heli, Osmin, e Affonso.

    - - R E Is |- .

    O pblico rumor assim o attesta. Z A R A.

    Que morra Osmin importa mais que tudo.

    R E I a Peres.\ |- /* _> -

    Manda j que os captivos morra todos.

    + Z. A R-- A. *~~~~

    Senhor, suspende, que antes que elles morra,~~~~ }

    * * *

    Bem; mas eu tenho,

    Sei mais que houve huma liga triplicada. --

  • (81) |-

    Dizer-te devo cousas d'importancia *

    Em segredo com este teu Ministro.

    , " R E I.

    Todos, menos Gonalves, se retirem,

    S C E NA III.

    Rei, Gonalves, Zara, Selim,

    Z A R A.

    Magnanimo trataste a tua escrava,

    E em premio, qual se nunca escrava fra,

    Te descubri de Osmin a traia feia

    Contra a tua pessoa, e Real Sceptro:

    E por dar pleno fim ao comeado,

    Te aviso de que as guardas tens compradas:

    Ha entre ellas algumas resolutas

    A soccorrer Osmn no cadafalso.

    \ R E Is #

    Tanto atraialavrou, qabrange as guardas?*

    *

    Z A R A |

    Sim; mas posto que della certa esteja,

    - Inda tanto na pude profunda-la,

    Que os nomes dizer possa dos traidores.

    R E Is |

    Z A R A.

    Dar-te-hei tambem conselho,

    Na minha comitiva tenho huns Mudos,

    Que farei pois?

  • \

    * ( 82 ) . -

    |-/

    Que obtive em outro tempo da Sultana

    Em sinal de amizade, quando estive

    Do Gra Senhor na Corte: estes pratica,

    Como l se usa, desde a sua infancia,

    Dar mortes em segredo, e mui bem podem

    D-la a Osmin.

    G o N A L V E s.

    Senhor, he bom conselho.

    R E I a Zara.

    Que premio te darei, que recompensas

    Que de teu grande zelo seja dignas?

    Pr-te aos ps a Coroa que salvaste,

    Ao teu merecimento he curto premio.

    |-Z "A R A |

    - Suspende louvor, tanto, e manda logo,

    Que s meus Mudos possa ver o prezo;

    Ou aquelles, a quem eu der licena.

    > R E I - -

    l Peres.

    SC E NA - IV.

    \

    |

    Rei, Gonalves, Zara, Selim, Peres.

    R E I e

    V bem, por vida tua,

    Que s de Zara os Mudos, ou quem tenha

    Sua licena, fallar possa ao Mouro.

    * }

    /*

  • ( $s )

    * Z A R A.

    S elles, ninguem mais; nem a Princeza.

    / P E R E S. |

    Cumprirei teu mandado. |

    |- \- R E I *

    } Peres, vai-te.

    |- k

    S C E NA V,

    Rei, Gonalves, Zara, Selim,

    G o N A L v. E s parte. . . .

    Tal ordem, ta estreita, e proferida =

    Contra a Princeza com rancor, por certo

    Involve algum mysterio ... ElRei, tomado,

    Do seu amor, nem pensa, nem discorre. "

    Julgo, Zara, sobejo tanto aperto,

    E mais que tudo essa ultima cautela.

    Quem dir, que a Princeza entra co Mouro

    Em rebeldes intentos? |

    Z A R A.,

    T. Tenho ouvido,

    Que a tanto j chegou sua bondade,

    Que o fra visitar a rogos delle. - - -

    \ , G o N A L V E s.

    Ah ! ... | - |

    * R E Is

    - Como ? ela a Osmin? a minha filha?

  • (84)

    s = L 1 M de manso a Zara.

    V, Senhora, que assim malogras tudo.

    z A R A ao Rei.

    Depois a ti por elle intercedra.

    RE I,

    Na he verdade. | z A R A." . |

    He falso ? Enta, por certo,

    Foi rumor dos que assim o desejava,

    Arte usual nas Cortes; mas permitte,

    Senhor, que me retire, e aprompte as ordens,

    Que devo dar da morte aos meus Ministros.

    \

    S C E NA VI:

    , Rei, Gonalves.

    e o N A L. v. E s parte,

    Inda nisto ha mysterio! Em fraze, em obras

    Dissimulada, e equivoca se mostra.

    { * \, R E Is * . |- |

    Na assentas, Gonalves, que obrigados

    A esta gentil Dama assaz estamos?

    G o N A L v. E s. -

    Sou difficil em crer sinceridade

    Em aces femins. Muito a perturba |

    Seu odio contra o Mouro, dando mostras

    De que lhe peza, e que antes na quizera

    Tal odio ter; e queira Deos que intente

  • (*)

    Seus Mudos empregar no fim proposto !

    Duvido ... tuas guardas sobornadas!...

    Como? quando? quem foi que a ella o disse?

    Pede que morra Osmin, fechada a noite,

    No meio desta pede o Real sello |

    Para o soltar... De madrugada a morte

    Torna a pedir, e logo s seus Mudos

    Ha de matar Osmin, porque na fuja

    Do supplicio, ajudado de traidores!...

    Estas cousas, se as uno, na se ajusta.

    R E "Is

    Porm das circunstancias claro vemos,

    Que a verdade em seus ditos resplandece.

    A sedia, e os nobres, que fugira

    Com Heli, o confirma: vive Affonso,

    E nisto o seu dizer c'o mais concorda. "

    G o N A L V E s.

    Assim ser, Senhor; mas eu receio,

    Que no ardor do ciume lhe escapassem

    Verdades, que a atormenta. Se me engano,

    Porque quiz da Princeza acautelar-se?

    Nem q mais visse o Mouro?Cousa estranha!...

    Mas quando o visse, que lhe importaria,

    Se na temesse, que alta formosura

    Lhe podesse roubar de Osmin o afecto ? ' R E I. " |

    Tens, amigo, raza de duvidares. |

    Com teu sentir concordo. Eu to agradeo.

    Mas pensas, que Almeria visse o Mouro?>

    |

    T-Z

  • \

    \

    } (86) . "

    , , , , , G o N A L v. E s.

    Se Osmin de Affonso he amigo, qual diz Zara,

    Impossivel na he que desejasse

    Por essa causa v-lo.

    * * R E I.

    * * Que me dizes? ...

    Idas despertaste em mim, que abala,

    Qual subito tremor, toda a minha alma! ...

    Cumplice minha filha, conspirando, -

    Em segredo, oh furor! co infernal Mouro!

    Go N A L V E s.

    He duro pensamento!... Eis ella chega.

    Na fora desacerto interroga-la,

    E ver se me enganei; que a ser verdade,

    C'o supplicio de Osminha de afiigir-se,

    Por ser de Afonso amigo: os seus horrores

    Lhe exprime com vigor, por ver se acaso

    Ella por elle pede.

    {

    \

    S C E NA VII.

    Rei, Gonalves, Ameria, Leonor,

    R E I. \

    *~ | A tua vinda . ~~

    Suspendeo, Almeria, o meu intento . .

    De mandar-te chamar: chega mais perto,~~

    * ,

    /

  • (87)

    Tenho que te dizer: Leonor retira-te. *

    Porque estremeces ? Porque a dor amarga

    Vejo nesses teus olhos desvelados, * *

    Tmidos, denegridos, nem que houvessem

    Vertido sangue ? Que pezar te occupa

    No dia decretado s tuas nupcias ?

    Sena porque j sabes, que ha de erguer-se

    Espadanas de sangue de traidores

    Lacerados em rodas ? ... J suspensos

    Mandei hoje ficar teus desposorios,

    Porque estranhos horrores na manchassem

    Hum ta solmne dia, A L M E R I A.

    Iguaes meus dias |

    Sera deste em diante: hoje o da morte,

    Da morte o de manh, o outro, e outro,

    E os mais que ha de seguir-se, e a triste srie

    Prolongar de meus males infinitos.

    R = E I |

    Donde vem teu pezar? Dize-me a causa,

    Responde com verdade; que eu penetro

    O centro da traia. Porque emmudeces,

    Donzella ingrata, e vil?

    G o N A L v. E s. - * *

    Senhora, falla :

    Com teu silencio ElRei na exasperes,

    #

    +

    * Sahe Leonor. - - |- |

    *

    /*

  • * *

    }|

    \ A L ME R I A \,

    Que pde mais dizer a voz que o pranto?

    Em meus olhos na ls pena infinita?

    R E Is \

    Elles me indica tua culpa horrenda;

    Patentea teu crime, e que conspiras

    Para tirar-me a vida com traidores ! ...

    Que podes responder, vil parricida?

    A L M E R I a ajoelhando.

    Ouve-me, Terra, tu de quem s posso

    Compaixa esperar! attende o pranto

    Com que te rogo me abras o teu seio,

    Para que nelle escondas a mais triste,

    Mais infeliz de tudo quanto existe! |

    Ouve-me, Mi commum, salva esta orf

    Dos furores , da maldia daquelle

    Que deixou de ser pai,: que horridos crimes

    Me imputa: que de filha o doce nome

    Converte, no de infame parricida.

    - R E I. |- |

    Ergue-te; e se de ttulos de infamia |

    Despir-te queres, jura que na viste

    Esse execrando condemnado morte ;Osmin detestadissimo.

    ' + A L M E R I As

    |- Se o visse

    Seria s com candida innocencia,

    Livre de ms tenes: Os Ceos o attestem ".

    |

  • |- (89)

    } R E Is *

    Misera fraudulenta! tu sem culpa ?

    Oh sofrimento ! , escuta! ella confessa

    Seu crime atroz!... Protesto que hei de dar-lhe

    A mais cruenta, nunca vista morte!...

    Juro que ha de sofrer em gro supremo

    Quantos tormentos, quantas penas possa

    Vingativa traar a astucia humana.

    A L M E R I A.

    Valei-me, Ceos! ai triste! eu desfalleo...

    Ai de mim que j sinto a dura morte!

    R E Is }

    Pois ouve-me, e responde, se te atreves,

    Sabe, indigna, que eu sei q he vivo Afonso,

    Esse execrando Afonso, e na me illudes

    A respeito de Osmin. |

    | A L M E R I A.

    |- Enta morreste,

    Se assim te descobrira; e eu comtigo

    Me esconderei na mesma sepultura.

    Mas ah! que antes quizera, os Ceos o sabem,

    - Remir co a minha morte a vida tua!

    }

    Porque temera a fulminante furia -

    Do deshumano Pai, se do meu peito

    = Visse golfar em borbotes o sangue

    Que a vida te salvasse ?

    | | R E I.

    Inferno ! inferno ! ".

    Tal ouo, e sofo! Como afirmar ousas

    ***

    *

  • *

    , (9o ). .

    Ante mim teu delicto? longe indigna;

    Sena de maldies mpias_te cubro ...

    Foge do meu rancor; foge antes que ambos

    Consuma a voraz chamma, que me abraza.

    A L M E R I As |

    Com tudo, ainda es Pai; es pai, e eu filha!

    Ah! ouve a natureza ... As proprias veias

    Podes tu, Pai, ferir, ferindo as minhas?

    Que mal temes da filha consternada,

    Que prostrada a teus ps, em choro amargo,

    Te implora pela vida! Ah condoidos

    Pe teus olhos em mim! V, Pai, q humildes -

    Filhos aflictos, nunca os Pais podera

    De maldies cubrir ; que a natureza,

    E o paternal affecto commovido

    Sahe ao encontro aos filiaes deveres,

    Levantando do cha com ternos braos

    O filho reverente, e as faces banha

    C'o subito fervor de amor paterno."

    Ouve-me pois, Pai, aqui prostrada.... R E I.

    Toma melhor conselho; e em quanto existe

    Essa leve impressa, que em mim fizeste,

    Deixa que eu v.....

    A L M E R I A.

    * Na, Pai: em vo pertendes

    De mim soltar-te; que daqui na me rgo,

    Nem partir, poders, se piedoso

    Na concedes que viva.... . . .# }

    *

  • (91)

    * e 1. -

    , Que ? ... Quem?... Como? ...

    Quem he que ha de viver ?... oh Almeria!...

    Morrer o traidor; aos Ceos o juro,

    Inda que tu, eu mesmo; inda que tudo

    Haja em fim de o seguir sepultura.

    Larga j ... deixa-me ir ... l! Aias ...

    * - A L M E RIA, |

    Arrasta ... piza ... piza a triste filha,

    Que estas mos te na larga, nem tu partes

    - Sem que vida me ds ao meu Esposo.

    |- R E I, * * {

    Ah! que dizes? Esposo ! Esposo! oh furias!

    Que pensas? quem ? que Esposo? *

    |- A L M E R I A. *

    He meu marido!...

    > R E I.

    Morte! veneno!... quem ? A L M E RIA.

    Oh...*

    Go N A L V E S.

    |- Soccorrei-a. **

    * A L M E R I A quari delirando.

    Deixa enterrar-me, deixa at o abysmo,

    Onde possa abraar-me com seus ossos ....

    A desnudz lhe cubra minhas carnes ....

    * Desmaa. |

    ** Leonor a segura. , ,

  • (92 ) ~~

    Da sepultura, que abro, a morte arranco....

    Ah deixa-me ser morte!... deixa ... deixa,

    E enta mata embora o meu marido;

    Que inda assim ser meu, meu para sempre

    } R E I" +

    Que marido! enlouqueo! quem ? que dizes?

    G o N A L v. E s a ElRei.

    Ella delira.

    A . L M E R I As N

    Os Ceos o permittra!Osmn he meu marido ....

    . R E I. |

    | Osmin ! ...

    A L M E RIA. J.

    Na esse;

    Mas o querido Affonso he meu marido,

    Legitimo marido! oh Ceos! oh terra !

    Oh mar! oh ventos! sede testemunhas !

    * - R E I, -

    Mais varia inda os ventos, mais q as ondas

    Deliras tu; e eu mesmo enlouquecera,

    Se te attendesse mais. Mas cousa grande

    Nalma lhe lida, e d funesto agouro:

    # a na quero ouvir, sem que socegue.

    Vigiai , quando torna a seus sentidos,

    E Vinde-mo dizer. Tende cuidado

    N tente contra a vida algum arrojo.

  • ( 93)

    S C E NA