nova tragedia intitulada a noiva de luto
DESCRIPTION
William CongreveTRANSCRIPT
-
==----
* *
-
/|-
|-
| | ~~~~
- * |- : ~
A NoIVA DE LUTO,
TRA GE DIA
COMI POSTA NA LINGUA INGLEZA
POR
{
M. C o NG R E V. E, ,*~~~~ -- ~~~~ * - - * , ,
E T R A DUZ I D A NA P o R T U GU E Z A
| P O R * *
: ~~~~
|- : J. A. C.
||-
* * *+ ',
-* * + ""
, , & * * *
|-
' /
* } { |
|-
* ***
*
| -
|- /*
****
- -
|- |- |- |- } 3 -
_/}
**
* * _>
L 1 s B o A,
NA TyrogrAFIA RoLLANDIARA.
Com Licena da. Mesa do Desembargado Pao,
-
* Vende-se por 240 ris broxado em casa de
F. B. O. de M. Mchas, na travessa dos Romu-
lares N. 8. A , junto ao Caes do Sodr Ribei-
ra Nova, aonde tambem se compra, vendem ,
troca, e encaderna Livros de todas as qualida
des: se vende tudo quanto he necessario para o
uso de hum Escritorio de Commercio, e igual
mente se aprompta qualquer encommenda de Li
"vros, pois ainda que seja raros se faz a pos
sivel diligencia por alcana-los. |
-
~~~~ ~~~~ ~~~~~~~~~~~~ = = =~~~~ ~ ~
----- * * * *
++++++++++++++\,
\\
A O L E IT O R.
~~~ ~
O Traductor desta Tragedia, influido por hum Amigo, a quem ins
, , truia na intelligencia dos Authores
A Inglezes, tinha feito, della, no anno
A de 1769, huma versa quasi literal, de
que se extrahira algumas copias, as -
quaes tem apparecido em manuscripto vi
ciadas, e ainda mais defeituosas, do que
era a dita primeira traduca donde fo
ra extrahidas. Este he o motivo, que o
, obrigou a imprimir agora esta, a pezar
dos defeitos, que na mesma se lhe possa
imputar, sem embargo que a sujeitou
ao parecer, e correca de pessoa (ao seu
parecer intelligente) que o auxiliou com
muitas advertencias, retocando-lhe mui
tos versos, e ainda substituindo-lhe ou
tros em algumas partes, principalmente
no primeiro Acto. |- , , ,
-
(4) \,
Fez quanto coube nas suas foras por
exprimir os pensamentos com energia si
milhante do Original; e se os alterou
em algumas partes, foi porque na p
de de outra frma reduzi-los a verso Por
tuguez em modo, que ficassem sua sa
tisfaa; e se persuade, que lhe pde
em alguma maneira servir de desculpa a
pouca analogia, que ha entre os dous
idiomas, e, at no modo de pensar das
, duas naes. |
Tal he entre outras a seguinte passa
gem da segunda Scena do Acto IV.
Fear to the dungeon those rebellious slaves
, Thignoble curs, that yelp to fill the cry
And spend their mouths in barking tyranny.
E em fim o mesmo titulo desta Tra
gedia. The Mourning Bride ; porque o
epitheto Mourning na se pde bem
exprimir na lingua Portugueza sena
pelos adjectivos lacrimosa, chorosa, ou
pela circumlocua de luto, e nenhum
destes tem a mesma fora que o dito
epitheto. Tambem adverte, que nesta
traduca seguio em toda a sua extensa
o Original Inglez, como o escreveo o seu
-
(; )
Author, sem fazer caso das mutilaes,
que lhe fazem nos Theatros de Londres,
aonde lhe supprimem inteiramente a I. e
II. Scena do M. Acto, e grande parte de
muitos discursos, em tudo mais de 4oo
versos, para maior commodidade, tanto
dos Actores, como dos Expectadores.
-
# - }
A CT o R E S.
\, *
MANOEL Rei de Granada.
+ Gonalves seu valido.
GARCIA filho de Gonalves,
"
- **eeeeee
-
| * (8)
J cousas insensiveis se movra
C'o doce canto, e metro persuasivo.
A de mim! sou eu menos sensitiva
Que as arvores ? que as penhas ? oh fereza
}}'implacavel desgraa ! na harmonia |
Na ha com que se acalmem meus pezares.
O triste Anselmo he morto, e em paz descana.
}}epositadas fora suas cinzas
No tacito sepulcro : o frio seio
}}a benfica terra os seus tormentos
Com seus ossos occulta. E que na haja
Para mim paz!... |- | | ' ' \
* * L E O N O R., \,
* * *, - Senhora, finaliza;
Tua pena modera; na ha causa... A L ME RIA.
Que dizes ? na ha causa ? ha causa eterna,
}}e que esperar s posso eterna magoa:
Em va no que na sabes me aconselhas.
|- L ' E. O N O R ,
Afirmo-te, Senhora, que de Anselmo
|wle penetrra sempre as desventuras :
13 assaz chorei de ver quan mpiamente
Feu Pai atropellou da Magestade *
{}s sagrados direitos. Muitas noites - -
{>o meu leito me ergui occultamente,
}} fui do infeliz Rei priza triste,
*Dade, em quanto dormia o Carcereiro,
Ce commiseraa vozes mandava ,
* * * |- +> }
A ^ *
*} ,
-
( 9.)
Pelas grades do carcere, e mil preces
Por sua liberdade ao Ceo fazia;
L, dentro lhe enviava compassiva
Meus prantos, meus suspiros; pois s prantos
S suspiros podia oferecer-lhe.
* * * A L M E RIA.
Tem certo, ndole nobre, e piedosa
Quem de alhas desgraas se lastima.
Ah Leonor ! se Anselmo conhecras,
Quanto de ver os seus crueis tormentos
Tua alma se afligira; e sem mais causa
Que a compaixa devida humanidade !
*\ L E o N o R.
No teu amor achei, Real Princeza,
Motivos de chorar de Anselmo a sorte.
Notorio a todos he quam generoso
Comtigo foi, quando de gloria o vimos
Ornado, e de triunfos, e despojos,
Dos quaes foste, Senhora, a melhor parte.
Despido enta do mortal odio antigo,
Hereditario s duas Monarquias
De Valena, e Granada, em teus afectos
Se insinuou pelos mais dignos Ineios,
Q'a magnanimidade lhe dictra; -
Propondo, que tu dando a mo a Afonso
Illustre filho seu, do Throno herdeiro,
| Findasse a fatal guerra, unindo os Sceptros
Discordes at alli. |- |+
t" |
-
-
{ /
| | | | | | | (1o ) . -
} " A L M E RIA. -, ,
|- Affonso ! Affonso ! -
Tambem jazes em paz!... Ambos findra,
, Ambos goza da morte o extremo asylo!...
E viva eu s fiquei para chorar-vos?
Na tera fim, oh Ceos, os meus pezares?
Acaso he de proveito vossa gloria ?
- Esta minha afica ? Mas que destino,
- Contra mim cruelmente conjurado
Por meio de fatal necessidade
Me opprime eternamente com desgraas
Q'a vida me abrevia? ~~ }
|- * L E O N O R. *
- _ Na te envolvas ,
Senhora, em ta profundos pensamentos.
A L ME RIA. -
Como Corte de Anselmo conduzida,
Na quiz antes a sorte que me vissem
Em vs opprobrios nella , qual quizera |
Meu Pai que a filha sua alli tratassem ?
. Afonso, Afonso ! O mar embravecido
Te roubou a meus olhos para sempre !
Mas tu nunca te irs do meu sentido;
Nem mais te ser tumulo o Oceano,
# Porque tens no meu peito a sepultura.
, Nelle est fixa sempre a amada imagem, o
Oh doce esposo meu! inda que morto.
|- . L E o N o ROh Ceos!
"Esposo!
# >>
*
L E o N o R. | Do que dizes
Nada saba. ^ " "
- - A L M E RIA. ''+
---- Oh! nem metade sabes.Ignoras minhas penas ... se as souberas ...
De mim te condoras, se as contasse? . . . .
Condoras-te sim; que es compassiva.
} - L E o N o R. |
As lagrimas o mostra.
|- A L M E RIA.
^ ~ Sou-te grata,
Por ver que tomas parte em meus pezares
Com commiseraa; que na desgraa
Nunca achou compaixa a Magestade.
Mas para qhe contar-te os meus trabalhos ?...
{
-
(12 ) . |- }
Patentes j te sa; e se os na sabes
He porque Afonso bem na conheceste.
Se do Principe illustre, e generoso,
Viras o puro amor, e f constante;
O que eu perdi, perdendo-o, conhecras.
L E o N o R.
De Afonso -inda a memoria saudosa
Causa geral pezar; mas duvidosos
Ovi sempre contar seus tristes casos,
E por na avivar antigas magoas
Nunca ousei perguntar-tos.
A L M E R I As \"
} Se o desejas,
Attende, que eu tos conto, inda que excitem
De novo a dor no meu aflicto peito,
Cativa entrei na Corte de Valena,
De todos adorada, inda no dia,
Em que meu Pai as tropas vencedoras
Valente conduzia at s portas
Do palacio de Anselmo, que abrazra,
De marcial ardor, e de vingana
Vivamente impellido. O bom Monarca
Pertendendo salvar-se deste incendio,
Se arroja aos inimigos, e procura
Fatal refugio em triste cativeiro.
Oxal neste incendio me abrazra!
Mas na tive tal dita; porque Affonso,
De meu Pai antevendo a crueldade,
Me embarcou, e a Rainha em hum navio
x {
-
* , (13) . .* * + \,
Prompto a partir; e quando nos viera
As noticias no mar nos engolfmos.
Mas conhecida a fuga em continente
Dera-nos caa, e quasi nos tomava.
Eis-que tormenta subita nos lana , ,
E a quem nos segue, s costas Africanas,
Onde o nosso navio dando em seco,
N'uma rocha batendo, se espedaa, #
Mas ah ! na pereci! O Ceo guardou-me,
Triste de mim! para maior desgraa!
Quasi morta das ondas me salvra:
Meus olhos vira, oh tormento acerbo!
Submergir-se nos mares a Rainha,
E o meu amado esposo Affonso . . . .
L E O NO R.
} } Ai triste!
Eras tu pois de Afonso esposa ? |
> A L ME RIA.
+
Demos
As mos no mesmo dia, fatal dia!
Pois vendo Affonso, quanto o inimigo
Nos excedia em fora, a mim se chega :
Por meu amor me implora, que consinta
Que o Sacerdote enlace as nossas almas;
Porque a seguir-se ou a victoria, ou morte, Y.
Fosse eu sua, a pezar do fado iniquo. -
Persuadio-me a Rainha .... Eu consentindo,
N'um mesmo dia fui noiva, e viuva. |
\,
-
* ,***| | | | \
(14)
L E o N o R. |
Triste acontecimento ! , . , |
}
A L ME RIA. --
- - He qual to disse: .
Daqui procede o meu continuo pranto:
Em triste luto envolta, e sepultada
Em tristissimas magoas, e-pezares
Serei erernamente, e em quanto Afonso
Na minha alma existir, caro Afonso,
Eu nunca terei paz, nunca descano. -
L ' E O N O R, |
Ceos, inclinai os olhos compassivos .
A tamanha tristeza, e concedei-lhe .
Que o tempo lhe grangee algum alivio.
A L M E R I A, ~~
Oh na; q o tpo augmta as minhas magoas.
Os momentos, que em gyro eterno abrangem
Quantas desgraas no volver dos annos |
Se difundem, co pezo enorme dellas
Compellidos me assalta; s me deixa
Com suspiros, com lagrimas amargas,
Com cansados cuidados, cos rigores
Da mais intensa dor. Mas quando faustas
Voando vem as horas, mensageiras
- De placidas venturas, e alegrias,
Enta de mim ligeiras mais que o vento
Fogem, desapparecem. |
\,
\,
-
( 15 ) ,
/ L E O N O R. -
/ Ouve... Acclama *
De teu Pai o triunfo ao longe as vozes;
Tua pena modra, pois receio }
A sua ira, se te vir em pranto, * * #
Quando a alegria em todos resplandece.
A L M E R I A. }
Alegre para todos este dia,
Triste he s para mim, pois vem Garcia,
Garcia a quem pertende cruelmente
Meu Pai sacrificar-me; os sacros votos,
E a pura f, que a Afonso dei, quebrando...
Antes mil vezes sofrerei a morte, , ,
Do que em tal consentir... Oh caro Afonso*
L, do sereno Ceo onde subiste, " "
O voto escuta que de c te envio: }
Se to consente a gloria, e eterna dita,
Teus olhos volve terra; e tu Anselmo,
Se j purgado das terrenas manchas, |
Voaste luz celeste, que j goza |
O meu amado Afonso, attende, e escuta -
Tambem meu voto. O justo Ceo fulmine
Sobre mim tristes mil calamidades,
** Se eu por aca, palavra, ou pensamento
Consentir dar a mo a outro esposo ....}
^ -
*Ouvem-se ao longe eccos de acclamaes, e ar
monia militar. - _>
** Ajoelha. |
-
* ( 16 } }
J sinto na minha alma o doce alivio, *
Que da divida ao meu amor annexa
Me desata : porm inda quizera,
Leonor, outra graa merecer-te,
|- - L E o N o R.
Teu he meu coraa, vida, e vontade.
A L M E R I A }
Eu to agradeo: attende: Quando vires
Logo todos envoltos, e entretidos
Na alegria geral, tu te retira. /*
Quero que occultamente me acompanhes
A visitar de Anselmo a sepultura.
, , , . L E o N o R.
Ai triste ! temo algum fatal arrojo.|- A L M E R I A, |
Na, Leonor, por minha f te juro;
Sinistro pensamento na se occulta
No meu peito. Liberta j me sinto
Desde que o voto fiz solemne, e puro,
Que alli repetir quero. Vem, na temas;Dou-te a minha palavra.
L ENO NO Re
Irei comtigo.
#
* Levanta-se.
-
(17)
s C E NA II,
Almeria, Leonor, Alonso.
A L Q N so. }
Senhora, vem Gonalves dar-te a nova
Da chegada d'ElRi.
A L M E R I .
*- Falso pretexto,
Com que vem relatar-me altas proezas
De seu filho com fraze exagerada.
Mas tenho o coraa de gelo armado :
Ociosa eloquencia na mo abraza.~~~~
, SC E NA III.
Gonalves, Almeria, Leonor
+ - G o N A L. v e s,
Da larga vida tua os claros dis,
Taes seja como este. O Sol brilhante,
A victoria, e teus olhos mais brilhantes,
Tudo em raiar promiscua luz conspira,
E co-esplendor mais raro orna este dia.
Teu regio Pai, meu Rei, victorioso,
Rico d'espolio, e nunca murcho louro,
Com pompa marcial entra em palacio,
...Azemolas quinhentas lhe precedem
# ,
\* *
-
(18 )
Sua solemne marcha, e vem gemendo
C'o pezo da riqueza Maurtana.
Logo, carros de guerra, que scintilla
Com rutilantes joias: junto delles
Ginetes cento, brancos mais que a neve,
Que em vlos chove sobre Alpinos montes,
Que a ferra cava, mordem aureos freios,
Que de escumas esmalta, desprezando
A victoria, que adorna: marcha logo
Os cativos em ferros maneatados. #
Capites do mais nobre sangue d'Africa
Aos lados da carroa enfurecidos
Traga o p, que no triunfo se-ergue:
Cobrem-se os muros de plebeos enxames,
Que pelas pedras sobem escabrosas
Como Onas, que c'o as garras se assegura,
Estirando-se, e olhando, nem que fora
Tudo olhos, e houvesse cada membro
Em si a faculdade de admirar-se.
Tu s te esquivas, foges desta vista,
Vista triste, sem ti, sem os teus olhos,
Inda que, plebe houvesse em dobro a v-la.
A L ME RIA. -
Gonalves, os meus olhos na se enleva
Em doirados trofeos, em pompa externa;
Nem fausto va de tumida eloquencia
Encanta com deleite os meus ouvidos.
S rendo aos Ceos as graas, que tornra
Salvo meu Pai, - ~~* *
>
-
* ( 19 )
G o N A L v. E s.
Bellissima Princeza,
Na compete aos meus annos quebrantados
Com palavras caducas applaudir-te:
Mais proprias expresses das tuas graas,
E, influencia da tua formosura
Em meu filho achars, pois que valente
Soube abona-las com a sua espada.
A L M E RIA.
Que he valente Garcia, eu na duvido,
Nem que o seria, bem que eu na nascera. L E O 7 N O Rs
Senhora, chega ElRei. |
A L M E R I A.
Vou receb-lo.
SC E NA IV.
Ao som de guerreira sinfonia, entra ElRei,
acompanhado de Garcia, e de varios Offi
ciaes, de fileiras de prisioneiros manea
tados, e de guardas, que ordenadamen
te se forma roda do Theatro: vai
Alineria ao encontro a ElRei, e lhe ajoe
lha: faz q mesmo Gonalver, em quan
to Garcia beija a mo Princeza.
{ R E 1
Ergue-te, filha; e t Gonalves, ergue-te...
}} 2}
-
}
|-
*
\,
" (3o) ' +
Mas tu choras!
G o N A L v. E s,
|- Senhor, choro de gosto,
Meus olhos de assim ver-te se arrazra
Com mais deleite, do que nelles cabe. .R E Is
Amas-me, eu sei; e que assim seja, estimo:
Acceita em galarda ver que eu me alegro
C'o as lagrimas, que tu de prazer choras. .. .
Mas vejo quem sinaes de affiica mostra *
Com as nossas venturas. Almeria,
Porque em habitos tristes te ofereces
Em ta solemne dia aos nossos olhos,
Bem como se malevola quizesses
Deslustrar meus triunfos gloriosos ?
A L M E R I As --
Desculpa-me, Senhor, se assim te ofendo;
Que o anno, que eu votei andar de luto
Em vida austra aos Ceos por me salvarem
Do naufragio, e da morte, ainda, corre.* - - R E I.
Teu grande zelo helicito, e devido.
Mas tambem se me deve alguma cousa;
Que essa vida te dei, que os Ceos guardra.
Podia do teu voto dispensar-se
Hum dia minha gloria consagrado. ~~
Foste fraca, obstinada, e nescia... Basta . ~~
\
* Vendo Almeria de luto,
-
(21 () -
>
"Sa5 erros de mulher... Mas todavia
Se bem reparo, inda mais me ofende,
Ver-te de luto o dia successivo
Ao que vio perecer nosso inimigo
O mais mortal, o detestado. Anselmo...
Jurra que por elle d tomaste;
Que do teu nescio voto assim se entende,
Voto feito, na quando te salvaste,
Mas quando pereceo o, infame Afonso.
Ah! que ! move-te a choro esta lembrana? *
G o N A L V E s.
Senhor, releva o pranto seu, que nasce
De suppor que te ofende. Se o destino
A Princeza salvou, no mesmo instante,
Em que morreo Afonso, a morte deste
Pde na ser a causa do seu pranto, R. E I.
A pezar disso errou. Folgar devra
De ver nosso contrario destruido;
Mortal nosso inimigo, detestado
Por odio herdado, ao sangue transmittido.
Na morte de hum tal mulo devia |
Minha Filha exultar: com mil festejos
Fazer tremer as salas deste alcaar,
E retumbar a voz de alegres cantos
Pelos erguidos tectos; porm triste
Largar a rdea ao pranto em tpo... em tpo/
* Almeria chora,
}
-
* - (22) |
De gosto universal... na ha escravo
Prezo em duros grilhes, que na se alegre;
E arrebatado, surdo a seus pezares,
Na faa com as asperas cadas
Soar rude harmonia.
G o N A L v. E s.
. He innocente
Seu voto; e s por santo em demasia,
Deu causa a parecer, que t'ofendera.
| R E I
Neste caso, inda as mesmas apparencias
Sa delictos ... Nem sombra de tristeza ,
Hoje quizera ver aqui: retira-te.
Desse ofensivo luto te despoja:
Do voto a transgressa sobre mim caia,
E te sirva de escusa o meu preceito.
| G A R G1 A ajoelhando.
Senhor, perdoa, se eu me atrevo a tanto
Em lembrar-te a benevola promessa....
| R E I.
Levanta-te, Garcia, eu j me lembro,
Almeria, detem-te. A L M E RIA,
Alma presaga!
Que mandas tu, Senhor?| R E Is
+
A
\
} A mo de esposa |
A Garcia d j, que assim o mando.
Recebe-o por Senhor; que bem lhe he dado
}
-
(23) -
}
O teu consorcio, e de meu filho o nome. G A R C I As
Ah! deixa, que a teus ps o dom acceite,
E, me d para sempre por escravo
A minha augusta Esposa, e ao seu gosto.
G o N A L V E s.
Consente que prostrado eu to agradea ...
- R E I.
Minha antiga promessa, os teus servios,
E o valor bem provado de Garcia,
Tudo me obriga; e a futura aurora
Ver resplandecer, Garcia, a flamma
Da facha de Hymeneo em tuas nupcias.
|- A L M E RIA {
Ceos!... * } , ,
G A R C I A.
Desmaia? correi a levanta-la. "
G o N A L v. E 8.
J torna a si,
- R E I.
Foi susto do hymeneo ...
Almeria, que tens ? * **
{ A L M E RIA. | | | |
Subito frio
Me entorpece os espiritos. Consente,
Senhor, que eu me retire.
* Desmaia. A |- _>
}
-
R E I." *- - -
| , , Vai, Garcia, *
Tu a conduz. Seu indiscreto voto
Terror lhe infunde. Mas que quer Alonso ?
-- S C E NA V. }
Rei, Gonalves, Garcia, Alonso, e sequito.
A L o N so.
Chegou Zara pomposa prisioneira,
Com comitiva, como se inda esposa
Fra de Albucacim victorioso. ~~~~
R E I. * __
Foi gosto meu, q assim a acompanhassem.**
Ponha em liberdade esses cativos. |
Quem he esse, de cujo valor mudo,
Tu, Garcia, nos contas taes portentos?
G A R C I A.
He Osmin, General dos Mauritanos.
Esquadres, que por supplicas de Zara,
A vem acompanhando. .* *- \
- (24) - * *
R E I. " |
. He teu cativo :
s A sorte lhe dispe ao teu arbtrio._> { |-
}|- _>
|-
{- }
* Garcia a vai conduzir.
** Sahem os prisioneiros. |
* #
-
}
}* *
* ( 25 ) -
G A R C I A. ;
A sua alma irritada adoar busco ;"
Mas elle com austra consezia
O meu primor evita, e mudamente
Repelle toda a oferta: se me falla
He resumido; como se nascera .
Para obrar s, e na para discursos:
Falla na tem, onde elle na tem mando.
R E I.
Tal silencio, com tanta valentia |
Tem outra causa mais, que o cativeiro,
Zara pedio, que Osmin a acompanhasse ? G A R C I A.
Pedio, Senhor.
|- |- R E Is *
O seu procedimento,
Junto com o que dizes me inquieta..
Peza-lhe mais, que os seus, os grilhes della?
*
\ S C E NA VI.
Rei, Gonalves, Garcia, Alonso, Zara,
Osmin, Perer, e Guardas, seguidos. -
por Selim, Eunucos, e varios Mudos,
R - E Is
Sejas bem vinda, illustre Zara, acceita
As honras todas ; que feliz dar pde
Hum Rei conquistador, que ganhou Zara; -\
\
}
~~~~
-
(26).
Zara, que com a sua formosura |
Tanto allucina os olhos namorados,
Que se a sua presena illuminasse ~~
A pompa triunfal, o vulgo vira
O seu Rei em triunfo conduzido
Cativo de ta rara formosura.
|- Z A R As |
Se de meu lustre antigo na lembrada,
Me alegrasse co as honras lisongeiras,
Que de cortezes da os vencedores,
Podra achar prazer no cativeiro.
Igual, gloria do supremo mando,
###### os obsequios que me rendes.MJ vendo estes vs ferros, me detesto,
E mil vezes maldigo o cativeiro,
Em applausos aereos disfarado. . .
| | | | R E I. - |
Tu em ferros? Mandei que tos tirassem!
Como , Peres, faltaste ao meu preceito"?...
P E R E s.
Dste-me ordem, Senhor, que a na trouxesse
No teu triunfo; mas que hum tanto ao longe
Te viesse seguindo. ~~~
R E Is |
He mais que falso:
> >
Eu livre a mandei vir; e se o na disse
Por palavras, dissera-to os meus olhos.
Os della em mim tem mando ... Tu ligeiro
A solta, e mais aos seus ... Porm espra...
-
( ? )
* Aqui s minhas mos ressarcir podem.... *
Assim te solto, e a ti me rendo escravo.
Z A R A
Favores espontaneos ta subidos
Sopeia a altivez das almas nobres,
Que na querem dever, mas que lhes custa
O ser ingratas mais. Eu to agradeo.
. \ R E Is
Basta, Zara, sublime tu nasceste
Para mandar; e assim como enfeitias
Com tua mais que humana formosura,
Com alma nobre os coraes governas.
Quem he, Garcia, aquelle, que insofrido **
Com gesto carregado, e pezaroso
Crava, na terra os olhos magoados,
Sem que attenda aos grilhes, ou liberdade?
|- G A R C I A.
Osmin, Senhor, de quem fallei ha pouco.
R = E I. |
Bem responde ao caracter que lhe dste.
Donde, valente Osmin, provm q h homem
### grande em armas,qual te inculca a Fama,Toma ta desgostoso o cativeiro,
* Vai solta-la. |- " |
** O Rei repara em Osmin, porque tirando-se
Ihe pezadas cadeias, que fazem estrepito no cha,
elle fica absorto, conservando sempre os braos na
mesma postura. }
-
} (28)
*
Sorte usual da guerra ?
|- O S M. I. N,
Porque preso
Vingar-me, como he justo, na espero,
R E Is
Na te entendo. -
O S M. I N \
Nem quero que me entendas.* * Z A R A.,
Este brioso Mouro na batalha
Hum amigo perdeo, a quem amava
Mais do que a propria vida, e co desgosto
De na vingar-lhe a morte em seus contrarios,
Anda triste, insofrido, e pezaroso. -
IR E I a Gonalves. "
Ella o desculpa! He bem como eu suspeito.
* * G o N A L V E s.
Pde ser que ela seja o mesmo amigo.
Finge, que a soberbia da resposta, |
Na lhe entendeste. O seu olhar o indica.
R E Is -
Procure se: talvez o seu amigo
Inda viva cativo. O nome delle ?
Z A R = A
Heli,
1 R E Is
Garcia, toma a teu cuidado
@ saber delle, em quanto aos ps de Zara
Dedico os meus trofeos, deponho os louros.#
-
(29)
Sobre a mais pura parte do despojo
A Amor altar levanto, J na quero
Triunfos, nem conquistas: e a victoria
No campo da batalha na adoro,
Porque ela irresoluta ali se mostra.
Canado de esperar lenta incerteza ,
Da Deosa bellica, atrevido os louros
Da mo lhe arrebatei; e agora alcano,
Que em vo no campo o nescio vulgo a adora;
Pois nos olhos de Zara impra, e mora.
**
Fim do primeiro Acto,
-
~~~~ |- (3o)
A CTO - II.
SC E NA I.
Vista de atrio de hum grande Templo.
Garcia, Heli, Peres. *
G A R c 1A a Heli,
Dizem que neste sitio Osmn foi visto
Buscand-te dos mortos no jazigo -
Para chorar tua supposta morte. * H E L 1.
Com raios t ao centro o Ceo me abysme,
Se o erguer-me da morte doce vida;
Se o correr com meus olhos renascidos
Este ar que anima, e a luz do claro dia,
Podera a meus sentidos redivivos
- Dar ida, ou relampago de gosto,Semelhante ao de ouvir o nome amado .. .
De Osmin: saber que he vivo;e qhei de v-lo;
-
(31)
G A R C I A.
Maravilhado ouvi vossa amizade.
P E R E s.
Vede, Senhor, o nobre Mouro.H E L I.
Onde? Onde?
G A R C I A.
Eu na o vi, nem similhana sua.
- P E R E S. |
Quando eu falei, elle ante mim cruzava,
Sem tino aqui, e alli correndo: os olhos
De revs fuzilou em mim em braza:
Dahi veloz partio, como em alcance
De cousa m que afouto perseguisse.
|- G A R C I A. ' ' . \
Corre: vamos , Heli, saber a causa.
|- H E L 1.
Peo, Senhor, que na. A mim s deixas
Indagar o motivo, e dar-lhe cura.
Estes accessos, esta hypocondria
Sa usuaes em seu temperamento.
O ser achado nelles de improviso
Pde incita-lo contra a propria vida. "
Quando a sua alma entregue a paixes cegas
Sedesafoga em solida amiga, |
Sei que de pejo o seu coraa nobre
Estalra, se estranhos o assaltassem
Nestas suas fraquezas.*
\,
{
-
, - (32)
G A R C I A. ;
... Vai : acode,
O generoso Heli, ao teu amigo.
, Longe de mim, que temerario intente
Introduzir-me nos segredos de outrem.
S C E NA II, }*
Garcia , e Peres.
: : G A R C I As
Peres, pertende ElRei, quando voltarmos,Firmar seu desengano, ou inteirar-se
Do amor q Zara a Osmin mostra em seu rosto.
Mas outra conjunca nos far certos.. * P E R E S. . |
Muito ha que eu certo estou: bem o indicaOs seus mutuos desvelos.
|- G A R C I A. ----
|- Se he qual dizes,
Tristes fins ameaa seus amores:
Eu me condo delles ... Ouo gente ...
J talvez os amigos, se encontrra.
Convem deixa-los ss em liberdade,
-
(33)
S C E NA III.
Almeria , e Leonor entrando sobresal
} tadas.
. A L M E RIA:
Foi illusa, foi susto ... Nada se ouve.
L E o N o R. |
No accento assimilhava voz humana.
- * A L M ER I A.
Foi medo teu, ou vento, que passando
Retumbou pelas concavas abobadas
Do templo. Ouamos..... |
. - L E o N o R.
* |- Ouve . . . .
A L ME RIA.
Na: jaz tudo
Mais calado que a morte.... Sitio horrendo!
Que terror na me excita o vasto templo |
C'o as marmoreas columnas, que sustenta
O magestoso tecto ! Frio medo
O meu coraa tremulo traspassa. *
Os horrorosos, fnebres jazigos }
Da morte a voz no peito me congla....
Eu desfalleo ... Leonor ... sostem-me,
Deixa-me ouvir a tua voz, que a minha
Com seus, eccos me assusta.
} |- L E o N o R.
. . . . Demos volta,
\
-
}
Y * * ** *
|
(34)
|-
|- }
Pois temo que o silencio, e horror do sitio
A tua pena augmente.* * |- A L M E R I A.
*
# - , Essa na cresce,
Q'he infinita; o medo he que se augmenta :
Guia-me pois de Anselmo sepultura ;
A, terra que os cadaveres consome;
As cinzas frias, aos mirrados ossos.
Quero aggregar-me aos mortos, e envolver-me
Na funebre mortalha de hum cadaver,
Antes que fora ver-me colocada
No tro detestado de Garcia.
Esta lembrana, me commove, e alenta
A alma abatida; e os meus presentes medos
Se afoga no temor de maior pena :
Guia-me pois; conduz-me onde renove
Aos Ceos meu voto,a Anselmo, ao meu Affso.
L E O N O R \
Sim, vou, mas sabe o Ceo com quanta pena.
S C E NA IV.
Abre-se a Scena, e apparecem varios tumu
Jos, e entre elles hum frente, maior
que os outros.
} H E L I.
Vaguei por todo este amplo cemiterio
Sem o achar. Mas ah .... ouo lamentos
De algum triste... Alm Soa... Eu os sigo...*
-
(35 ) }
SC E NA - V.
Almeria , Leonor.
L E o N o R.
V o marmore sacro, em cujo seio
As reliquias de Anselmo extremas jazem
Incorruptas ainda. Mas que vejo!
Ou a vista me illude, ou vejo aberto
O marmoreo sepulcro. As ferreas grades,
Que da entrada morte, sobre os eixos
Volvendo-se em silencio, assim patentes
Parece que nos chama, e convida.
} A L. M. E RIA, . . , , ,
Convites sa da amiga morte: he el!
Que mudamente falla; que me acena;
Que liberal seu leito me offerece,
Onde possa gozar descano eterno;
Onde a fragil canada natureza
Longamente de magoas opprimida
Em somno, e paz eterna o esprito engolfe.
Em seus braos de ferro a morte horrenda
Me tomar, e a seu gelado peito
Ha de cingir-me. dura tyrannia
Meu Pai por limite, e at Garcia
Tr tdio de mim pallida, e fa.
| Solta das vs prizes ha de ir minha alma
"Correr orbes de Estrellas, lacteas vias
Desse vcuo infinito, onde em luz fluida
C 2.\
{
}
-
(36)
Nadando sulcarei mares de gloria | }
T encontrar Affonso. Oh gosto summo f,
Oh extasi! oh ventura!... Ajuda Anselmo ... -
A tua mo me estende... Affonso ajuda ...
Por ti eu chamo. Afonso !... Oh caro Affonso.
SC E NA VI. |
Almeria, Leonor, e Ormin sabindo do tu
mulo, o qual entra a fallar antes de
apparecer.
O S M INe
Quem d brados por esse desgraado,
Que se chamou Affonso ?
A L M E R I As
Anjos, e Coros
Do Ceo ! Valei-me.
O S M. I N
* Donde vem as vozes,
Que o tumulo ferindo, Afonso arranca
Das cinzas de seu Pai ? *
A L M E R I A em acto de cabir.
- Deos ! Ceos! Ai triste!
Falla ... fala-lhe j... falla comigo ...
Ajuda-me ... Sostem-me ... e no teu seio
* Encontra-se com a vista a hum mesmo tempo:
fica ambos igualmente espantados, e Almeria des
maiando a vai cahindo de vagar.
-
(37)
Leonor luz me esconde... e aos meus olhos...
O S M. I N
. Pasmo, e illusa me prende,e os ps me tolhe...
Fazei, Ceos, que assim fixo, e illudido
Na bulla ... na respire ..., na dissipe
A bella imagem de ar modificado ....
subtil, formosa ... propria de Almeria...
Mas esconde-se, e desce?... Antes que parta, *
Corramos; seguremos sua sombra ....
Tem vida! tem calor! oh Ceos! He ella!
Ella mesma ! ella mesma ! na he sombra,
Morta na he ! Ceo! respira, e vive !
He ella, he Almeria, he minha esposa.
s C E NA VII.
Leonor, Almeria, Osmin, e Heli.
L E o N o R a Heli.
Na se move. Ai de mim ! nem abre os olhos.
E elle desmaia ... Ajuda-me, Estrangeiro ; , |
Quem quer que sejas, tuas mos concorra |
A erguer estes corpos.
- . H E L I.
-- He Affonso
Com Almeria ! oh maravilha! oh gosto
Na esperado! E vive inda Almeria ? .\
}
A \ |
\
*Corre a ella arrebatadamente.
-
(38)
~~~~*
* * * * - o s MI N.
Onde est? quero-a ver, quero toca-la;
Deixa-me ver seu rosto, e com meus labios
Tocar seus doces labios : na me engano.
Seu calor sinto, e me d vida, e dou-lha.
Ergue a vista Almeria : ergue, e d gloria
Ao Amor, ao amante, ao teu Esposo,
| A L ME RIA. - -
Jurei na ser esposa de Garcia....
Porque me obrigas, Pai cruel?
O S M. I N
- - - - He Afonso:
Teu Pai, meu bem, na he: na he Garcia;
Nem sou qual mostro: sou o teu Affonso.
J de mim te na lembras ? J teus olhos
O teu fiel Affonso desconhecem ?
Ta diverso estou eu, tu ta mudada,
Que na me vs se os trajes me disfara ?
|- A L M E R I A.
He propria a voz de Affonso, he ele... caro,
O doce Esposo"Oh toma-me em teus braos;
Conduze-me outra vez para os abysmos
Dos furiosos mares insondaveis, -
Onde moraste assaz. Como voltaste ?
Como encantar pudeste as ondas fras;
Que te restitura compassivas \
A mim, a Amor, terra, luz, vida?
* Corre a clie arrebatadamente.
-
(39) } -
---- o s M 1 N. |- ~~~~
Como, na sei; s sei que do destino |
A estrada inevitavel desandamos. |
Sei que te encontro em vida, e te possuo:
Que vejo os olhos teus, e que te abrao;
Que as tuas faces beijo, e fora inutil
Desejar saber mais depois de achar-te.
^ A L M RIA. - ".
- Espera Affonso .... deixa contemplar-te:
Consente hum pouco mais ...
- - - O S M. I N. " . "
* * Que fazes nisso?
De ti me afastas? , ,
A L ME RIA. - |
- Sim.
o s M 1 N. . . .
* *- Com que motivo ?
Que pensas ? porque me olhas ta attenta ?- A L M E R I A. |
Na sei... Vejo teu rosto, e cuido ... He muito
Muito para sentir, e inda ter vida ....
Ver-te outra vez assim; he tal enchente
De gosto,edita...Em mim na cabe...pasmo...
Enlouqueo de gosto inexplicavel.
, , os MI N.
Paraiso de amor! gloria completa!
- A L M E. R.I.A. |
Mas como he isto tudo ? Como es vivo ?
Onde estiveste tu? Oh Providencia! - -
-
(4)
*
*
}
{
~~~~
*
*/
coraa cheio de pasmo, e gosto!
Eu choro de te ver .... Oh qua diverso
Qua pllido pareces! Qua mudado !. o s M I N.
Na no amor.
- A L M E R I As
Na, eu nesse na te fallo,
Que eu sei que padeceste agudas penas;
Que tens vertido prantos de sobejo.
/ o s MI N. ~~~
Ofendes-me em dizeres de sobejo.
Oh na recordes lagrimas, nem penas. . . .
Basta ... Pois que te achei, sou venturoso.
*Mas ai de mim! tu foges de meus braos,
Que a ti s busca? vem, vem a meu peito.
, - - A L M E RIA.
Sim, vou, porque de ver-te me na farto.
Quizera desposar-me; mas fiz voto,
"Ao Ceo, e a ti de que antes morreria,
{ O S M. I. N. - |
=\
Oh realce de amor! da lealdade!
". . * A L M E RIA... }
Antes morrera... Oh se eu fallar podesse : ~~
Souberas os meus votos, minhas preces !
Mil vezes te invoquei, e tu me ouviste,
Pois acudir vieste minha angustia |
- Que o Ceo, sem te enviar, me na curra.
|- O S M I N |
Dilatai, Ceos, meus dias, dai-me vida}
-
(41) }
Com que dissolva o vasto, e summo empenho;
Com que em parte preme a grande somma
"Da tua f, da tua lealdade ...
> O S M IN, " " }
-
(+)
Julguei ouvir-te, e que eras tu a mesma,
Que me chamavas; mas delirio fra, ". . \
Se o prazer de mais ver-te eu esperasse.
A L ME RIA. - -
E quem te trouxe, diz ... Mas que estrangeiro
Esse he que occultamente nos observa? *
o s MI N. |- \
. Tambem Antonio! oh gosto! o meu amigo!
|-
* \
|
Qh qua feliz me julgo, pois vos vejoAssim ditosos! * *
- - A L M e R I A.)
*Tambem salvo Antonio!
O S MIN. , ^~~
Salvo da ira do mar, salvo da guerra,
Que o vi cahir no fogo da batalha.
HE L. I.
Mas illeso figuei: prezo, e remido,
Como tu foste, vim a este sitio
Com ancia a procurar-te , que era certo
Aqui achar-te, lamentando Anselmo.
- O S M - I N.
T onde abranger da Providencia.
A mo que nos protege, e que esparzindo
Clemencias sobre ns, de bens nos cobre ?
Qual o termo ser de taes prodigios ?
Mas pd o largo Ceo tanto augmenta-los
* Vendo Heli.
-
- - ( 43 )
Que na se encontrem numeros que os smem.
L E O N O R. |- *)
Se na me engano, vejo alm dous vultos,
Que esta nave cruzando em traje alegre,
Parece que este mesmo sitio busca.|- * # A L M E RI, A. A
Foi sonho se ta cedo nos partinos.
s | O S M L N. /*
Oxal que este tempo se passasse,
Bem como hum breve somno, at nos vermos,
, . - - HE LI.
Senhor, Zara, e Selim vejo que chega.
Apressa-te, que amor lhe ha de dar azas.
A L M E R (A.
Que amor? de que te assustas? quem he ella?
- * O S. M. 1 N.
O extremo a ti opposto; o meu tormento.
Socega, e vai-te occulta, que na quero
Qella os meus olhos veja em teu alcance.
Ver-nos-hemos sem susto doutra ausencia.
O mais te conte, em tanto o meu amigo:
Como escapei; meus trajes; minha vinda ;
Porque me chamo Osmin, e na Afonso;
E elle Heli. Tudo Antonio ha de contar-te
Antes de novo encontro.
A " L M E R I A.
< . E ha de ver-te
Outra vez os meus olhos saudosos ?}
- 1
*
-
* * - , e |
+ (44) . . .
, os M 1 N.
Sim, para novo encontro s partimos.
Morem comtigo, e o coraa te avivem
Na ausencia ardente amor, viva alegria.
S C E NA VIII.
o s M IN s.
Inda ao longe a diviso ... l se esconde...
Voltai olhos a vista, dentro ida ;
E na mente a vereis ... He impossivel...
Mechanico sentido, inertes olhos !
Escravos sois de objectos extriores;
Que os na vedes por gosto, mas por fora...
Sa nossos olhos bem como huns espelhos
Que imagens successivas nos debuxa,
Pela ordem que lhes vem da sorte dadas;
Hum astro, hum vil insecto immundo, e feio,
Assim como os depara a mo do acaso:
A mente assim na he: profunda indaga,
E o presente combina co passado:
At se arroja a penetrar futuros, ~~ ,
Mas isso em vo ... * Aqui tenho Almeria,
Vejo-a bem, como quando a vem meus olhos.
/
| ,
|
|
Sk Pondo a mo na testa
^
-
. . (45)
S C E NA IX.
Zara, Osmin, Selim,
| Z, A R A.
Vede onde absorto est, em terra fixo,
Immovel, qual estatua a par de estatuas!
Porque assim, deshumano Osmin, me foges?
He isto amor? He esta a recompensa
Da fama, e honra, e do perdido imperio?
He este o premio pura f devido ?
Porque evitas meus olhos, e meus braos,
E vens morar no horror, na escuridade ?
Tanto mais do que a morte me aborreces,
Que a meu amor te furtas, e te escondes
Aqui de mim?... At sepultura
Te hei de seguir .... Na v o deshumano!
Na ouve ! Na me attende... Cruel homem!
Tu me desprezas? Tu rejeitas Zara ? ...
Ouves-me, ingrato Osmin ? ~~
O S M I N
He Zara!
: z A R A.
He Zara; sim traidor, a infeliz Zara
Supplicando ante Osmin, desattendida.
O escravo Osmin a quem remio da morte
Despreza-se de ver, e de ouvir Zara.
O S M IN,
Longe de mim o crime que me estranhas.
-
(46)
* !
}
Perdido dentro em mim, confusa a ida,
T agora na te via. - ~~
Z A R A.
Agora vs-me; A
Mas com olhos ta mudos, ta ingratos,
Qantes nunca me visses, nem te eu vra.
- o s M 1 N. |
De hum triste que buscou por desafogo
De seu pranto hum tal sitio, que esperavas?
V bem: aqui na ha mais que tristeza,
Tu solcita vens a dor seguindo -
At ao seu tristissimo aposento,
E queres ao teu mal achar alivio ?Z A R A. A
Porque assim me atormentas, deshumano,
Com avssas respostas indiscretas?
Esta scena de horrores que m'importa ?
Ou que prazer busco eu ? Comtigo venho
Chorar, e tomar parte em teus pezares,
E dar-te o meu amor em troco delles.
*** O S M 1 N.
A maior pena he essa! Eu sou ta pobre
Que nada em paga tenho que ofertar-te.
. Z A R A |
Tu tens hum coraa, inda que duro:
D-mo tal qual ele he. Nada mais peo
Por quanto fiz t aqui, quanto hei sofrido
Por te salvar; quando te, vi primeiro
Arremessado s costas do meu reino #
-
(47)
Pelo rolo do mar, j moribundo,
* J plido, e alagado em salsas ondas
Com teu amigo Heli, quando encontraste
Co., a minha piedade ... Ah! piedade |
Na foi, nem compaixa... Foi viva chamma
De amor com que as entranhas me abrazaste...
Ajoelhando com desvelo em terra |
Meus cabellos soltei, a agua das faces
Com elles te enxuguei: cingi-te ao peito:
Com meu rosto aqueci teu frio rosto;
T que apontando o circulante sangue
As faces te esmaltou da cr da aurora;
T que os olhos abriste, e que em teus labios
Sentido doce alento a immensa dita.
- O S M - I N. -
Oh deixa de ferir-me co a lembrana
Da grande somma que pagar na posso !
Z A R A.
Os riscos que eu corri para encobrir-te,
E por que modo o credulo Monarca, |
Em damno proprio allucinei astuta, - \ |
Selim fiel o diga, e minhas damas.
Mas tu o sabes; conheceste as artes
Q'usei para induzi-lo a receber-te
Por Principe de Fz; a ver-te, e honrar-te
Como a parente meu. Mas porque conto
Os meus extremos? Que na tenho eu feito?
Na comeou a guerra a teu respeito?
E sem saber quem es, nem por que meios
{ /
#
~~~~
-
(48)
Tal odio a Manoel tu concebeste,
Com fraude atroz na incitei o esposo
fatal guerra, em que perdeo a vida?
Em que tudo perdi, ficando escrava?
V trocado em grilhes o Sceptro augusto!
Pensa no que eu sofri primeiro, e v-me !
Pensa quem he Osmin, e enta v Zara!
Zara sem gloria, e Reino aqui captiva,
Perdida a teu respeito! dize, ingrato!
Dize cruel, o que es, e o que tens sido.
|- os MI N.
Hum triste a si fatal, fatal aos outros !
Pezo de immensa mole, que aluida
Despenhando-se abysma quanto encontra,
Com estrondo medonho! }
} |- Z A R A., . . '/
. Nesse estado
Assim vil, assim misero, e perdido #
Terei quanto pertendo em conseguir-te :
Serei rica; terei immensa gloria;
Mais grandeza terei , que em ser Rainha ...
E que mais sa grandezas ? que mais thronos
Que huns amplos meios de fartar desejos?
Degros por que subimos aos prazeres,
E ao ponto mais subido da ventura ?
Nelle firmados, caia muito embora
Esse apparato vo da v grandeza;
Que ao cume nos erguo.
\,\ |
-
{
. *
}
(49)
O S M. I N
Ceo portentoso!
Porque de mim fizeste o instrumento
Da escravida de huma alma ta sublime?
Z A R A. ==
Podemos conseguir a liberdade;
Q'o vencedor he meu. Occultamente
Lhe tenho o coraa prezo em correntes
Que alargo, ou na mo firmo como eu quero.
D-me amor, que eu te dou a liberdade.
\" , OS MI N.
Em vo a liberdade me offereces,
Que tu na pdes dar; em vo pertendes
Em troco o que eu na tenho. Se he que podes
A ti librta, Zara, e deixa escravo
Hum triste, que a livrar-se na aspira.Z A R A., |
Sers tu ta cobarde como inculcas !
-
(5 ) :
Escravo que na ousa libertar-se,
Nem arriscar-se a amar em alta esfra!....
Conheo a causa; eu vjo que scintillaEm teus olhos os fervidos desejos. Y
> Sei que a alma te ferem minhas graas,E com agudas stas ta penetra.
Mas tens no Rei competidor mais alto ,
E tibio, o que mais amas, lhe abandonas.
Tal he teu susto, esta cobarde, e indigno,
Que nem desejar ousas. |
S E LIM. |
ElRei chega
* - Z A R A.,
Agora vingarei ta vil opprobrio,
S C E NA X.
#
>
Rei, Zara, Peres, e requito.
|- R E I
"Porque a luz roubas, Zara, luz do dia,
E vens dourar com lucido semblante
Esta scena tristissima da morte ?
Mas que alvoroo he este ! ... Tu fallavas
Em Rei competidor. Ha quem se atreva
A profanar, erguendo audazes olhos
A quem hum Rei adora ? -
* Z. A R A. . .
Aquelle escravo:
-
s (*) |
Aquelle que foi meu, e heteu captivo. -
____ '' '' R E I parte. -
Ella o accusa! Eu nunca esperei tanto.
|- Z A R A, |- |
Ousar hum vil servo, que o sol d'hontem .
. Vio humilde a meu mando, a quem valra
S meu regio favor, proferir-me hoje
Frazes de amor, e no meu triste fado :
Esperanas fundar ?
* R E I.
Na foi mais mpio
Ixion, pondo em Juno o torpe intento:
Nem fora nescios tanto os que intentra
Roubar da mo a Jove o raio ardente,
Tentando o Ceo!... Esse odioso aspecto
Conduza de mim longe, em ferros prezo,A tormento exquisito.
z A R A.
|- Compellida
De seu antigo zelo, e lealdade, |
Na pude alivio ter, sem que buscasse
No teu Real favor seu livramento.
Daqui lhe veio o arrojo, presuppondo
Q'era afeia, o que era s piedade.= R E I.
Zara, seja o castigo a teu arbitrio.
Mas, longe a triste scena! Outra te chama
Onde habita gratissimos deleites,
Doces prazeres, gostos exquisitos
* * |- D 2
Z
-
(52)
Ainda em flor, que espera tua vinda,
Para abrir, como se abre a bella rosa |
Ao matutino sol: onde os momentos
De gyro em gyro ha de passar velozes
Em venturosos extasis de gozo,
E Amor ha de encurtar as lentas horas;
Sem ele he pezo a vida, pra o tempo,
Pois quanto a Amor se nega, morte o damos,
E temos vida s em quanto amamos.
}
- - - Fim do segundo Acto.--*
^
1
* ' \
-
(53)
/
A CTO III.
| | ' s C E NA I. ,
Vista de carcere COIml luz escas".
o s * 1 * lendo hum papel.
Inda agora me ergui do monumento.
Q'encerra de meu Pai extincto as cinzas:
Eis-me aqui prezo,onde ele acabou prezo!...
Celeste mo, por certo, assim me guia,
E benigna me aponta estas lembranas!...
A froxa luz este papel, me explique, *
Que achei na escuridade da masmorra.
Se inda he vivo, (oh Ceos! hesua a letra!**)
Se inda he vivo, se existe o meu Afonso,
** Ceos restaurai-o e dai-me a mil pezares,
?? Meus dias opprimi, canados dias, .
Com flagellos, prizes, e com pobreza:
Mas meu filho livra, por mim na pague!..
Sa supplicas por mim ao Ceo, dictadas
* Chega-se luz a ler,
** Lendo.
-
(54)
/*
Por summa piedade, e amor paterno."
Diz mais: ~ Por estas cs, que a dor arranca
Da minha alva cabea mal fadada,
Dobrai a somma em graas ao meu filho;
>> Na por amor de mim, mas delle; ouvi-me,
Ouvi , clementes Ceos ?? acabaria ,
Mas falta esta palavra, e da maneira,
Qella aqui falta, assim surdos deixra
De lhe escutar seu voto os Ceos piedosos,
Aferrolhando , as portas da clemencia!...
E se ta pouco se ouvem pios rogos -
De hum vara justo a magoas condemnado,
Que cousa he galarda, ou que he castigo ?... .
Mas quem pde estranhar sem impiedade
Os celestes juizos ? . . Todavia
Eu posso assim pensar... Eu posso, e devo;
Pois precede ao juizo o pensamento;
E antes que a raza nasa, nasce o erro....A Divina raza, sublime regra ,
Do justo, e injusto, vaga luz da vida,
Que ora arde, ora s'apaga, ora nos guia ,
Ou com fatuo clara nos extravia.
Mas Antonio ! que vejo ? Como entraste ?
-
. . (55)|- |
S C E NA II:
\, Osmin, e Heli.
/
H E L Is
Na percamos o tempo. Entrei por ordem
Do Capita com peitas induzido,
E rogos de Almeria.
O S M I N -
e De Almeria,
Ah! dize, e como passa?... Enta bem posso
Esperar v-la ? # -
|- HE =L I. , , |
Pdes. Logo quando
Sahir Garcia do Real palacio , , ,
Que frequenta solcito, influido
N'alta esperana de futuras nupcias,
Almeria ha de vir. * . " ,
o s M-1 N. |
Na ha desejo
Mais vivo em mim, nem gosto eu mais tema.
Almeria ha de vir! oh pena! aonde ?
. A hum carcere inundado de pezares ?
A ver hum prezo, ao qual se nunca vra,
Fora ditosa ? Porque foi a triste
Propensa a amar a quem o Ceo detesta?
Porque segue com passos incanaveis
* Quem canou a desgraa em seu alcance ?
|
}
|
*
/
-
Hum, que qual leve folha em secco Estio,
Jogo dos ventos, corre tudo em roda - -
T que preza na fenda de hum rochedo
Em solto p desfeita se aniquila. * '
H E L I
Confia, e escuta a voz d'outro destino, ,
Tem suscitado com cobia insana 's
O mesmo Emanuel motim nas tropas
J quasi rebelladas, todo o espolio
Tomando a si com vida injustia.
Alcanado tem j, voando a fama
De Valena, as fronteiras, onde juntos
* Muitos dos teus vassallos, j canados
Da sofrega avareza, e tyrannia,
Armados se levanta, chama Cabos,
Que liberdade os guiem, que os conduza
posse dos seus bens, e a seus direitos.
| |- O S M IN, - -
Ah! que minha alma ergueste do lethargo
Surda atgora voz de injurias proprias,
E aos altos, brados do paterno sangue:
Surda vingana; surda ao pranto acerbo,
E queixumes de amor nunca logrado.
Furor me infunde a voz do povo aflicto,
Que Almeria excitar em mim na pde.
Eu ardo,Antonio, em fogo: esta alma se ergue,
Pede armas; co inimigo ousada investe;
Com intrepidas tropas o atropella,
Que insofridas, por mim clama, que as leve
-
(57)
liberdade, aos louros gloriosos.
Nos ouvidos me soa altas vozes :
* Aonde est ElRei? Aonde Afonso?
Onde, onde esta ? Oh qu te espedara,
Cadeia vil, bem que rompesse as veias, .
Ou as fibras quebrasse: longe algemas,
Laos vs, proprios s do vulgo infame !
Opprobrios da sublime Magestade.....
Mal de mim, que s posso neste aperto
C'o as azas forcejar, quando quizera,
Alado aos Ceos, precipitar-me preza.
H E L I, *
A conjuna urgente, e o tempo escasso
Pedem, Senhor, socego, e que pensemos
No que se pde pr por obra. Zara,
Que deo causa priza, te sirva agora
De alcanar liberdade. Essa ganhada , , ,A fortuna abrir meios de fuga.
Irei veloz em tanto aonde juntos
Em nocturnos concelhos delibera
Huns mal contentes sobre o nobre assumpto;
Q'em odio do tyranno, ou porque estimem"
De Anselmo inda a memoria, tem por certo
Q'a tua causa abraa, .
O S M. I N - "" *
\, Faze, amigo, ""
Quanto a astucia te der, quanto for justo:
Esperarei sofrido o meu destino.
-
} x |- (58)"|
M ELI.
Teu odio dissimula em vindo Zara.
* * O S M L N- |
Odio na tenho a Zara, mas na poss
\, Mostrar amor 2 qu n'ala na me existe
O que puder farei. Hum papel tenho , , , , ,Que a ti mostrra, a na temer ', 9 o v-lo
Teu intento retarde : he concebido .
No mais alto fervor de amor pater"9.
Orando aos Ceos P" mim: alli o acheiNa funda escuridade da masmorra-
Contm tanta piedade, e magoas tantaS
* Que compaixa movera as proprias fras.
-H E L I^
Deparou-to por certo ? Providencia
Por te dar esperanas : tal piedade
O Ceo nunca despreza,3 te reserva
Ditas, que lhe negou. Vive, e confia
- *- Q'o tempo, e a vez primeira que nos virmos,
To fara certo em fim...|- *> o s MI N. "
~ ~ Amigo, parte:
*
}
- Os bens, que tu mereces, 9 acompanhem.
. - s c E NA III. =
. : os M. 1 N. "
Foi arrojo; fui mpio em ter em pouco
O cuidado do Ceo : maiores penas |
~~~
| || ||
-
{ 59 ) |
Meu triste Pai sofreo; e s doutrina
Eu devra aprender nas suas preces,
Preces escritas no feliz momento
De alguma inspiraa, quando s estrellas
Seus puros pensamentos se elevava,
E como o fumo do sagrado incenso
Era levados sobre as azas de Anjos
Por caminhos de luz ao almo centro }
De quanto existe, onde lhe foi patente
Dos destinos no livro esta hora amarga.
Enta, fixo no mundo o amor paterno,
Me enviou o modlo, que aqui tenho,
De alta virtude, este ultimo legado
Que przo mais que joias, e diademas , ,
Ou que o poder do Sceptro amplo, e supremo.
S C E NA IV.
Osmin, e Zara coberta com hum vo.
o s M_1 N.
Qual Astro aos olhos meus resplandecente
Illumina esta lugubre morada ? . . . .
Es tu meu bem,
z A R A levantando o vo.
. Oh praza a Deos que o dito
Do coraa te venha ! \,O S M I. N. ---- |
Ai triste! he Zara ! , .
***
-
( 6o ) -
Enganou-me o desejo!
Z. A R A.
|- \\ Que? meu rosto
He ta enorme que te ofende a vista,
Como se visses cousa m, e horrenda?...
De novo, se tal he, o vo me occulte,
Porque eu te veja, ingrato, sem me veres.
Repete a doce fraze = Estu meu bem ?
Dize ### vez, pergunta, e falla; oh falla
Com doces sentimentos de amor vivo,
E brilhem nos teus olhos namorados
Mil ardentes desejos. Mas na pdes,
Pois tens presente a causa de teus males.
Eu te forjei tyrannicas correntes.
Com raza me detestas por iniqua.
Podia assim tratar-te quem te amava ? .
Na, Osmin, s cruel, mpia vingana
Te podia causar ta dura afronta ....
Oh! queixa-te, e vers como me vingo
Em mim mesma da minha crueldade,
Ferindo o coraa improbo, e duro,
T que em sangue se alague, e tu te esqueas
Condoido de mim, dos teus tormentos. o s M 1 N.
Na he, Zara, ta baixa, e vil minha alma,
Que, irritada, vinganas premedite
Contra os que do destino compellidos ,
Em damno meu aos fins do Ceo servira.
Tu na foste, foi sim astro inimigo,} | \
}
}
-
(61)
Que a tanto me abato. Nem tu serias
Motora de castigos na devidos.
\\ Z A R A* * >
E podes perdoar-me? Tratar pdes
Brioso a minha culpa por loucura ?
D-me, oh ! d-me loucura inda outro nome,
Chamando-lhe paixa: depois mais brando
Chama-lhe doce amor.
o s M I N.
|- Embora seja
Paixa, ou doce amor; por tal o julgo...
} Z A R A. |
Ah! que inda mais me fere essa bondade,
Do que me feriria duras queixas:
Nem com iras meu peito penetrras. #
|- O S M L N. |
Com tudo desejra.... , ,
Z A R A. } |
O que? Ah!, dize.
O S M. I N ~~
Na ser quem sou.
{ Z. A R As
|- Pois que es?
O S MI N
\ ^~ Hum vil escravo.
* Z A R As
Teu silencio, ai de mim! meu susto aviva;
Meu rancor te frustrou nobres projectos,
Que no peito encerravas, j proprinquos
{
-
/* : ' (62 )
A consummar seus fins. Ah! dize, Osmin,
Sou eu ta desgraada ? o s M 1 N. |
- - Inda o destino
No tempo pde achar veloz instante,
Que alcance a fugitiva liberdade ,
E o perdido momento da ventura.
* * ZAR A.
1 Mais veloz, que os momentos fugitivos,
E matutina mais que a mesma aurora
Correrei a buscar-te a liberdade. . . |
Vou-me a ElRei; eu corro... mas he tarde...
Chegra, todavia, ha pouco novas,
Que o corao parece lhe abalava;
Quem penetra os cuidados roedores
Que se occulta no leito de hum monarca ?
Ou quem sabe se Amor que n'alta noite
Accende a facha, fulminando os raios,
Com que inflamma mil peitos namorados,
|- V~~~~ o descano, na lhe esperta
Os olhos a velar nesta hora morta ? ....
Vou ver.
o s MI N. |
Na mereci favores tantos,
Nem posso, inda que cumpra os meus intentos,
- Taes servios pagar como mereces.
|- ---- ZAR A. * *
Dever-me mais na pdes, nem mais tenho
Que dar do que perdi: porm j agora
}
\
~~~~
* *
=~~~~
-
( & ) ,
Seja tal o theor do nosso pacto.
Serei injusta se te na liberto.
Mas, tu livre, ao teu brio deixo o premio
Do meu amor: Adeos. -- #
s C E NA v.
O S M \ N. --
Oh quanto he nobre,
Qua grande, e generosa a alma de Zara!
Ta grande, que com pasmo me arrebata
Apezar de mim mesmo ! Raras podem
Elevar-se a prender coraes regios
Com laos taes : mas ella excede em ira
Dos ventos ao furor, que o mar revolve ...
Temo que enfurecida nos suscite,
Em sabendo a verdade, algum desastre,
Que extremo mal nos traga ... mas eis chega
Para animar-me, aquella por quem temo
- De quem depende a paz deste meu peito.
\
Almeria, e Osmin. =
- O S M I Ne + }
Meu amer, meu conforto, e liberdade, ,
Princpio, e caro fim dos meus desejos!
Com que fraze te applaudirei a vinda
^
s c E NA VI.
-
}
(64)
A ta triste lugar? Como exprimir-te
Este alvoroo meu, minha alegria ?
Assim maniatado nestes ferros,
Qual vil salteador, qual assassino,
Correrei com reciprocos abraos
Como insano a manchar-te o niveo peito?
Com estes grilhes srdidos, e infames
Magoar-te inhumano ? Assim te vejo ?
Assim meu bem te encontro ? -
A L M E R I As { /
{ \ Assim, Affonso,
Nesta amargura j nos separmos * *
Para agora nos vermos; e disseste
Que aquella vez seria a derradeira -
Que assim nos separasse. Ah! eu pertendo,
E me deves, metade dos teus males;
Dos teus grilhes, ou morte. * - os MI N.
Duros meios
De cumprir-te a promessa ! Oh quem diria
Que o ver-te me servisse de tormento !
He tal, com tudo, a angustia penetrante
Desta minha alma em ver teus sofrimentos,
Que quasi antes quizera nunca ver-te,
Ou desejar-te longe. - .
A L M E R I A.
Oh! tal, na digas;
Que inda assim por amor na quero ouvir-te
Que longe me desejas: Na, Afonso !/
/|-
-
|
*
*
-
( & )Melhor ser nutrir em nossos peitos
Reciprocos pezares, confundindo
Do nosso pranto as aguas num s vaso !
Melhor beber da morte o duro trago,
Do que serros hum d'outro separados...
Mas que pensas? q angustias te atormenta?...:
Falla. Toma-me em braos... Ah na pdes!
Teus pobres braos luta algemados
Cos ferros que lacera, que consomem
Tuas carnes com putrida ferrugem.|- - O S M I N
Ai! . @ } |- |- } |- Y |
A L M E R I As
, D-me esse suspiro... Porque as penas"
Tanto, Afonso, supprimes, e suspiras?
Tens tmidos os olhos, e espantados!....
O coraa parece que te estala... . . . . .
Oh! desafoga, Afonso; abre-me essa alma!
Dize, dize-me o teu cruel cuidado.
| * o s "M I N. - -
Na desejra, oh Ceos! ferir-te o peito "
Co a viva dor, que esta alma metraspassa.
|- A L M E R I A. . .
Ah! falla; que na pde mais ferir-me
Saber qual - he, do que saber, que a sofres.
Esterno, caro Afonso, em demazia.
- O S M I N }
Esse he meu mal: em demasia esterna:
Se menos extremosa, e excessiva,
| - E
-
(66)
Foras comigo, e menos generosa,
Na vibraria ta agudas stas |
Contra meus peito a dor...
|-A L M E R I A. "
} . Fazes-me injuria;
E at da mesma dor eu me queixra,
Se ambos com iguaes stas na ferira.
Dessa alma eu sou metade; e me he devido
Ter comtigo metade nos teus males.
Sou tua esposa. | \
| \, o s M 1 N. , .
... Ah, muito profundaste !
A chaga he essa: ahi prendem as cordas,
Que os nervos estalando mos desloca.
As rodas, e os tormentos, que me espera,
A par deste ancioso pensamento,
Sa de aromas, e fiores brandos leitos.
# / A L M E R I A.
Triste de mim, se a minha sorte he essa!
Com teus grilhes me arrasta, aos ps me calca.
Tira-me a vida, tira. Oh desgraada!...
Esse aspide sou eu que no teu peito
O coraa te re, e o sangue bebe? ...
Se em tua voz houvera fora tanta
Para romper teus ferros, quanta ha nella
Para de todo aniquilar minha alma ;
Ver-te-hias livre enta de taes angustias.
Sou eu pois o maior dos teus trabalhos ?
}
-
( & )
| O S M I N.
Tu es meu bem total, perenne vida,
Alma desta alma, e fim dos meus desejos,
Porque assim com teus ditos me atormentas?
Porque as fontes da vida me entorpeces,
Lacerando-me as veias, e extinguindo
Do sangue o gyro em lagrimas tornado?...Intensa pena te figura nalma
Monstros que na existem.
A L M E RIA. .
Na disseste
Que antes sofreras rodas, e tormentos,
Que ter-me por esposa ?
" , O S M. I N.
Na; na pde
Do mesmo inferno a mais cruel malicia
Extorquir-me desejo, ou pensamento
De te ver noutros braos reclinada ....
Oh que duras angustias ! que tormentos!...
Tu me es consorte!... Mas que digo? Apenas
Chamar-te posso esposa. O sacro lao
Do nupcial amor inda incompleto
Nos est convocando, e por ns chama
Ritos mysteriosos retardados. |
Nem co a tocha Hymeneo ao sacrificio
Mais grato presidio; quasi apagada
Com lagrimas, com ais, e com suspiros,
Com luz palida, e triste arde, e fumega! ...
Ter por templo o Deos esta enxovia ?
|- * * * E 2 |
-
( 68)
- Por ara de oblaes esta vil terra ?
Hum carcere morada de pezares ?
A isto chamerei prazer ? ventura ?
Sustem-te, coraa ! Chamar-te-hei minha ?
Mas nem assim es minha, e at na posso
Ser comtigo infeliz. - - - -
A L M E R I A.
/* ' Tanto na pde
Vedar, inda que queira, o fado injusto
Com seu rigor : ser o derradeiroRefrigerio da nossa desventura, A
Que havemos de tragar vidamente
A pezar do destino. E triunfando
De acerbas afilices exhalaremos , .
Hum com outro braado, as tristes vidas.
|- o s M 1 N. - - -
Fallas, meu bem, mui firme, e resoluta,
Ignorando o perigo: olha adiante.
Ah ! pensa que manh sers roubada
D'entre estes prezos braos miserandos,
Que opprimidos na pdem defender-te:
Contra o mpio furor, que te arrebata!
Com dor immensa nalma, e com que pranto,
Oh! na te, seguir meus tristes olhos, , ,
Quando de mim te fores apartando! "
Pensa qual estarei quando a Garcia
Deres a mo?... Com furia em mil pedaos
Arrancarei o coraa do peito, -
Implorarei, a terra, que me esconda,} * ' | |
#
\,
#
/
-
( & )
Que me sepulte no seu centro escuro.
~.~ ~ ~ ~ A L M E R I Ass -
Que horror! que angustia ! :
o s M 1 N. :
|- Enta nesses teus braos
Engolfado Garcia em tuas graas ... .
Tu cedendo forada aos seus furores ...
Inferno ! inferno! os teus crueis tormentos
A par disto que sa, sena branduras,
Socego ameno, e aromas deleitosos?
Que mais sofre, Almeria, hum condemnado,
Que sabendo, que ha gloria, eternamente
Se v della privado sem remedio ?
|- - * A L M E R I A |
Ah! que esmoreo, Afonso ! As tuas vozes
Sa vivos raios que me ferem, nalma,
Que em fogo intenso o coraa me abraza !
Ai de mim triste!... Eu morro... Eu desfaleo:
Acode-me, sustem-me, amado Affonso ...
Ah ! mas na me sustenhas, deixa embora
Precipitar-nos nesse escuro abysmo, \
Donde mais nossos olhos se na erga,
Onde em rios de lagrimas desfeitos,
Nos cubramos de eterno esquecimento.
-
(7o )
S C E NA VII,
Zara, Peres, Selim, Osmin, e Almeria,
z A R A s guardar.
Eu venho a liberta-lo; assim me importa:
Qusais vs duvidar do regio mando?Vede o sello Real.
P E R E S. !
\ - - Eu obedeo;
Mas peo que diffiras por hum pouco
T que volte a Princeza, que l dentro
Visita o nobre prezo. |- |
ZAR A.
Que me dizes !
o s M 1 N a Almeria. }
He Zara, e vio-nos. Ah! perdidos somos!
Retira-te, meu bem, ... Ai triste!... Vai-te.
Falla de compaixa; de intercederes
Por mim ao Rei: inventa, se he possvel,
Inventa alguma cousa com que occultes
Nossos amores. |- - *
} A L M E R I A.
Ai! fallar na posso.
}
*
, . O S M INe |
Deixa, que eu te conduza disfarado.
* z A R A parte.
Quanto assustado a leva, e ela chorando!...
Ah confuso ele seja, e ella que chore!...- |- -S
* * *~~
* * {
-
(71 )
Sua traia he clara. Oh morte!... oh ira!
Como sondarei eu este mysterio? ...
Mortifero ar de peste lhes apague
A ella a formosura, a elle os olhos.
Estrago os una ; aparte-os a ruina.
O S M. I N
a Almeria , fingindo na ver Zara.
Tal caridade a hum misero, estrangeiro
Na ha com que se pague: os Ceosta paguem.
S C E NA VIII. -
*
Zara, Selim , Osmin,
Z A R As
Infame, e vil traidor! ... Mas disfarcemos.
Convm dissimular, convm, conter-me,
E o mago sondar deste aleivoso.
Hum tanto me pareces assustado ... **
O S M I N
Com tua breve vinda inesperada.
\ Z. A R = A
Nem desejada, e ao que parece, inutil.
"Oh furias infernaes!... Contem-te, Zara.**
Na sabia teu grande valimento;
* * parte. , , -"
** A Osmin. |- * * * |
*** parte. * . *
-
* ( 7. )
Sou talvez atrevida em vir ... *
+ . O S M I N * . .
\ Senhora !
Z A R A. |
Senhor, perdoa; na sabia, que eras \,
Da Princeza o valido: na te enganes:
Eu na o tenho a mal: vinha trazer-te
A liberdade, e volto assaz contente
De te achar com mais alto valimento.
O S M [ N. |
Vens tu, Zara, zombar dos meus pezares? \,
Z A R As -
Sim , venho. -
O S M IN, -
Esse prazer eu te na louvo.Z. A R As *
Na louves, na, mas eu nem sempre o tenho,
E quero t-lo agora. Que pezares! -
Quem rejeita a ventura de ser prezo,
Para motivo ser de regios prantos?
Ver Rainhas no surdo d'alta noite,
Acordando com olhos lacrimosos,
Negarem-se porfia a brandos leitos,
Sollicitas velando-lhe o socego ?
. Ardo! na posso mais!... . - -
o s M 1 N.
- - Zara, socega ;
* A Osmin. * |- *+
\
|- |
-
(73),
*
Z A R A *
Traidor ! { , .
- O S M. I N * ~~~~
Escuta ... |- *>
|- Z. A R A.
. Hei de tirar-te a vida!
O S M I" N
A meu mal pors fim. . ",
> } Z A R A.{
Mentes: Conheo
Por quem quizeras tu viver agora.
O S M I N. , ,
Enta sabes tambem por quem morrera.
|- , - Z A R A.
Ardo! enlouqueo! morro!... mas com tudo
Quero conter-me... Infame, vil, e escuro!...
Mas a aurora j rompe; e j se estende
Do fado a mo pezada, que ha de expr-te
Inerme, e n a publicas afrontas.
O S M 1 N. }
Talvez que tu te enganes, que inda posso ...
Z A R A. |
**
Oh l guardas? Olhai, por vida vossa,
Que este escravo na fuja, nem o intente.
Fui enganada; o publico socego
Requer sua priza com summo aperto,
E que ninguem lhe falle, ou possa v-lo,
Nem a Princeza: a ElRei sois responsaveis.
Pezar-te-ha, bem qtarde, infame *eingrato,
*
\
-
(74) | {
As injurias, que ao meu amor fizeste.
Posto que usado a trances apertados,
Vers desgraas, que inda na conheces;
Que o Ceo ira na tem , o inferno furia,
Como a afeia em odio transformada ,
Como a mulher altiva desprezada.
| #
Fim do terceiro Acto.
*
-
(75)
A CTO IV.
: S C E NA I.
Zara, e Selim.
Z A R A. v
Que outra vez to pergunte na esperes,Que assz me atormentou tua tardana.
Dize, responde j; que concluiste?
|- | S E L I M |
Enfureceo-se ElRei, ardeo em ira
Com tua accusaa, que foi bastante
Para firmar de Osmn o fado extremo;
Mas chegra de mais outras notcias
De tropas rebelladas: da por certa
De Heli tambem a fuga; e o que confunde,
E causa geral susto, he que fugra |
Com elle oficiaes de summo pezo |
No exercito, e no Estado: isto convence
De todo ElRei de quanto lhe disseste
Da surda intelligencia, na supposta
De Osmin cos principaes dentre os rebeldes:
J finalmente as ordens sa passadas }
|
-
(76) ,
Para sem mais demora o justiarem.
* ~4 |- Z A R A. }
Ah! corre: atalha o seu, e o meu destino.
Ai de mim ! busca a ElRei: dize que tenho . .
Noticias que lhe dar de tanto pezo
Como a sua Coroa, e saber deve ~~
Antes que morra Osmin.
- **, s E L 1 M.|- Na he preciso.
Porque ElRei vem: porm, Senhora, instando
Na morte inda de Osmin, mostra que a pedes
Na por vingana, mas por bem do Estado.
- Z A R As |- |
Ah! dize-me, aconselha alguma astucia,
Com que a ElRei alucine, e do perigo
Me livre, salvando esse por quem vivo....
Clame embora a altivez, e o seu desprezo,
Sou mulher inda; sou mulher amante!...
Longe ciume vil, paixa insana,
Flagello inseparavel da ventura;
De ardente amor, que a tanto me obrigaste...
Oh quanto a triste ida de perd-lo
Me apaga a do rigor do seu desprezo !
Caro Osmin, desgraada ! hei de perder-te?
Na mais te ver Zara ? Em furia eterna* * \ | || * *
Acabar seus dias ? Oh tormento!
Se assim fere o pensar, quanto o sofr-lo!
Supportar-se na pde ... Inventa, escravo,
Os meios de atalha-lo, ou por Deos juro,
}
-
(77)
Que esta adaga se afoga no teu sangue. *
S E LIM. |
Esta vida he s tua ; e tu bem sabes
Que s para servir-te he que a desejo.
Real Senhora, j descubri meios .....
Z A R A. |
Fiel Selim, perdoa, eu bem conheo
O teu amor, e a tua lealdade.
Dize como farei porque suspenda
O fatal golpe. sobre Osmin pendente, S E L I M. -
Insta, Senhora, como j te disse,
De Osmin na morte, porque suspeitoso
Seria voltar subito clemencia :
Mas roga que lhe dem morte privada."|- Z A R A., |
Mas que darei por causa ? , " " ";
|- S E LIM.
Na careces
Allegar causa : basta s que o peas;
Mas quando a queiras dar, dize que temes
Das guardas a traia, que sobornadas
A bem de Osmin lhe dem meios de fuga.
Dize-lhe mais, que a morte por teus Mudos
Lhe dars em segredo: alcana ordem,
Que ninguem, sena Mudos, possa v-lo ...
Mas, Senhora, ElRei chega: isto alcanado,
* Fazendo mena de arrancar a adaga,
\,
~~~~
-
(78)
Sabers tudo o mais em tempo idoneo.
S c E N A II.
Rei, Gonalves, Peres, Zara, e sim.
R E I
. Sepultem j no fundo da masmorra
Esses escravos vs, que se consomem
Huivando como o lobo, que outros ouve
Huivar c'o a voraz fome; mas v, Peres,
Que os seus cabeas Sanches, e Ramires
Padea logo morte infame, e dura.
|- G o N A L V E s.
Se te agrada, Senhor, fra meu voto
Pospr dOsmn morte, a morte delles;
Porque se aclare mais por sua via
Esta conspiraa.
- R E I.
- - |- Soldado, espera:
C'o Mouro morrer: sou desse voto...
Nada se soube dos que Heli seguira ?- Go N A Lv e s.
Nada, Senhor; alguns papeis se achra
Depois disto na casa de Rodrigo,
Que com elle fugio, os quaes indica |
Que he vivo Affonso, e q em Valena se arma.
Isto he para temer, pois que tomra
A mesma via os que depois fugra.
7* * *
\,
-
(79)
Correm j divulgadas entre o povo
Vozes desse theor: alguns afirma,
Que, salvo Afonso, d'Africa nas praias
Ahi a"Albucacim se descobrira: *
E que ligados em estreito pacto,
O moveo a invadir os teus domnios,
Em quanto ele tornando-se a Valena
Levantou em segredo este tumulto.
z. A R A a Selim. |***
Ouves, Selim ? Osmin he pois Afonso ?
De mil cousas me lembro neste instante,
Que assaz o prova ! Se o souberem, certa
Sua morte ser, e a minha insania ! ...
Mas inda que na seja conhecido,
Que amor posso esperar? que recompensa?...
He com tudo vileza abrir mo delle.
Na: quero inda encobrillo, e ver se fora
De mais obrigaes, o veno a amar-me.
|- G o N A L v. E s a ElRei,
Impossivel na he; mas pde dar-se,
Que alguem por ambia lhe usurpe o nome,
Zara informar-te pde, se algum salvo
Do mar l vio de Albucacim na Corte.
|- R E I a Zara.
Em mal na tenhas meu esquecimento,
Zara gentil; alta raza de Estado -
Cortou do nosso amor doces momentos.
Mas ja cede, j foge, como a ara,
Que o rolo do mar leva: hora ditosa |{
*
* *
\ ,
-
*
(3o)
Em breve nos vir. | |/*
. Z A R A.
Assaz, confias; *
Que est mais imminente o teu perigo
Do que o teu valor alto ver te deixa.
Vives em risco, em quanto Osmin tem vida.
| R E I.
Sentena j lhe dei, se a na revogas,
Por morto o podes ter. ***
\ Z A R A. * *
*
\,
Segundo o que fallava, quando entraste,
De inteirar-te de cousas de mais pezo.
Lanado s minhas praias, como ouviste,
Foi hum que se dizia Afonso, e teve
Com ElRei, conferencias mui secretas,
Que na pude indagar: mas sei que o mesmo
Partio para Valena, bem no tempo
Que invadira Granada as nossas armas;
Entre o traidor Heli, Osmin, e Affonso.
- - R E Is |- .
O pblico rumor assim o attesta. Z A R A.
Que morra Osmin importa mais que tudo.
R E I a Peres.\ |- /* _> -
Manda j que os captivos morra todos.
+ Z. A R-- A. *~~~~
Senhor, suspende, que antes que elles morra,~~~~ }
* * *
Bem; mas eu tenho,
Sei mais que houve huma liga triplicada. --
-
(81) |-
Dizer-te devo cousas d'importancia *
Em segredo com este teu Ministro.
, " R E I.
Todos, menos Gonalves, se retirem,
S C E NA III.
Rei, Gonalves, Zara, Selim,
Z A R A.
Magnanimo trataste a tua escrava,
E em premio, qual se nunca escrava fra,
Te descubri de Osmin a traia feia
Contra a tua pessoa, e Real Sceptro:
E por dar pleno fim ao comeado,
Te aviso de que as guardas tens compradas:
Ha entre ellas algumas resolutas
A soccorrer Osmn no cadafalso.
\ R E Is #
Tanto atraialavrou, qabrange as guardas?*
*
Z A R A |
Sim; mas posto que della certa esteja,
- Inda tanto na pude profunda-la,
Que os nomes dizer possa dos traidores.
R E Is |
Z A R A.
Dar-te-hei tambem conselho,
Na minha comitiva tenho huns Mudos,
Que farei pois?
-
\
* ( 82 ) . -
|-/
Que obtive em outro tempo da Sultana
Em sinal de amizade, quando estive
Do Gra Senhor na Corte: estes pratica,
Como l se usa, desde a sua infancia,
Dar mortes em segredo, e mui bem podem
D-la a Osmin.
G o N A L V E s.
Senhor, he bom conselho.
R E I a Zara.
Que premio te darei, que recompensas
Que de teu grande zelo seja dignas?
Pr-te aos ps a Coroa que salvaste,
Ao teu merecimento he curto premio.
|-Z "A R A |
- Suspende louvor, tanto, e manda logo,
Que s meus Mudos possa ver o prezo;
Ou aquelles, a quem eu der licena.
> R E I - -
l Peres.
SC E NA - IV.
\
|
Rei, Gonalves, Zara, Selim, Peres.
R E I e
V bem, por vida tua,
Que s de Zara os Mudos, ou quem tenha
Sua licena, fallar possa ao Mouro.
* }
/*
-
( $s )
* Z A R A.
S elles, ninguem mais; nem a Princeza.
/ P E R E S. |
Cumprirei teu mandado. |
|- \- R E I *
} Peres, vai-te.
|- k
S C E NA V,
Rei, Gonalves, Zara, Selim,
G o N A L v. E s parte. . . .
Tal ordem, ta estreita, e proferida =
Contra a Princeza com rancor, por certo
Involve algum mysterio ... ElRei, tomado,
Do seu amor, nem pensa, nem discorre. "
Julgo, Zara, sobejo tanto aperto,
E mais que tudo essa ultima cautela.
Quem dir, que a Princeza entra co Mouro
Em rebeldes intentos? |
Z A R A.,
T. Tenho ouvido,
Que a tanto j chegou sua bondade,
Que o fra visitar a rogos delle. - - -
\ , G o N A L V E s.
Ah ! ... | - |
* R E Is
- Como ? ela a Osmin? a minha filha?
-
(84)
s = L 1 M de manso a Zara.
V, Senhora, que assim malogras tudo.
z A R A ao Rei.
Depois a ti por elle intercedra.
RE I,
Na he verdade. | z A R A." . |
He falso ? Enta, por certo,
Foi rumor dos que assim o desejava,
Arte usual nas Cortes; mas permitte,
Senhor, que me retire, e aprompte as ordens,
Que devo dar da morte aos meus Ministros.
\
S C E NA VI:
, Rei, Gonalves.
e o N A L. v. E s parte,
Inda nisto ha mysterio! Em fraze, em obras
Dissimulada, e equivoca se mostra.
{ * \, R E Is * . |- |
Na assentas, Gonalves, que obrigados
A esta gentil Dama assaz estamos?
G o N A L v. E s. -
Sou difficil em crer sinceridade
Em aces femins. Muito a perturba |
Seu odio contra o Mouro, dando mostras
De que lhe peza, e que antes na quizera
Tal odio ter; e queira Deos que intente
-
(*)
Seus Mudos empregar no fim proposto !
Duvido ... tuas guardas sobornadas!...
Como? quando? quem foi que a ella o disse?
Pede que morra Osmin, fechada a noite,
No meio desta pede o Real sello |
Para o soltar... De madrugada a morte
Torna a pedir, e logo s seus Mudos
Ha de matar Osmin, porque na fuja
Do supplicio, ajudado de traidores!...
Estas cousas, se as uno, na se ajusta.
R E "Is
Porm das circunstancias claro vemos,
Que a verdade em seus ditos resplandece.
A sedia, e os nobres, que fugira
Com Heli, o confirma: vive Affonso,
E nisto o seu dizer c'o mais concorda. "
G o N A L V E s.
Assim ser, Senhor; mas eu receio,
Que no ardor do ciume lhe escapassem
Verdades, que a atormenta. Se me engano,
Porque quiz da Princeza acautelar-se?
Nem q mais visse o Mouro?Cousa estranha!...
Mas quando o visse, que lhe importaria,
Se na temesse, que alta formosura
Lhe podesse roubar de Osmin o afecto ? ' R E I. " |
Tens, amigo, raza de duvidares. |
Com teu sentir concordo. Eu to agradeo.
Mas pensas, que Almeria visse o Mouro?>
|
T-Z
-
\
\
} (86) . "
, , , , , G o N A L v. E s.
Se Osmin de Affonso he amigo, qual diz Zara,
Impossivel na he que desejasse
Por essa causa v-lo.
* * R E I.
* * Que me dizes? ...
Idas despertaste em mim, que abala,
Qual subito tremor, toda a minha alma! ...
Cumplice minha filha, conspirando, -
Em segredo, oh furor! co infernal Mouro!
Go N A L V E s.
He duro pensamento!... Eis ella chega.
Na fora desacerto interroga-la,
E ver se me enganei; que a ser verdade,
C'o supplicio de Osminha de afiigir-se,
Por ser de Afonso amigo: os seus horrores
Lhe exprime com vigor, por ver se acaso
Ella por elle pede.
{
\
S C E NA VII.
Rei, Gonalves, Ameria, Leonor,
R E I. \
*~ | A tua vinda . ~~
Suspendeo, Almeria, o meu intento . .
De mandar-te chamar: chega mais perto,~~
* ,
/
-
(87)
Tenho que te dizer: Leonor retira-te. *
Porque estremeces ? Porque a dor amarga
Vejo nesses teus olhos desvelados, * *
Tmidos, denegridos, nem que houvessem
Vertido sangue ? Que pezar te occupa
No dia decretado s tuas nupcias ?
Sena porque j sabes, que ha de erguer-se
Espadanas de sangue de traidores
Lacerados em rodas ? ... J suspensos
Mandei hoje ficar teus desposorios,
Porque estranhos horrores na manchassem
Hum ta solmne dia, A L M E R I A.
Iguaes meus dias |
Sera deste em diante: hoje o da morte,
Da morte o de manh, o outro, e outro,
E os mais que ha de seguir-se, e a triste srie
Prolongar de meus males infinitos.
R = E I |
Donde vem teu pezar? Dize-me a causa,
Responde com verdade; que eu penetro
O centro da traia. Porque emmudeces,
Donzella ingrata, e vil?
G o N A L v. E s. - * *
Senhora, falla :
Com teu silencio ElRei na exasperes,
#
+
* Sahe Leonor. - - |- |
*
/*
-
* *
}|
\ A L ME R I A \,
Que pde mais dizer a voz que o pranto?
Em meus olhos na ls pena infinita?
R E Is \
Elles me indica tua culpa horrenda;
Patentea teu crime, e que conspiras
Para tirar-me a vida com traidores ! ...
Que podes responder, vil parricida?
A L M E R I a ajoelhando.
Ouve-me, Terra, tu de quem s posso
Compaixa esperar! attende o pranto
Com que te rogo me abras o teu seio,
Para que nelle escondas a mais triste,
Mais infeliz de tudo quanto existe! |
Ouve-me, Mi commum, salva esta orf
Dos furores , da maldia daquelle
Que deixou de ser pai,: que horridos crimes
Me imputa: que de filha o doce nome
Converte, no de infame parricida.
- R E I. |- |
Ergue-te; e se de ttulos de infamia |
Despir-te queres, jura que na viste
Esse execrando condemnado morte ;Osmin detestadissimo.
' + A L M E R I As
|- Se o visse
Seria s com candida innocencia,
Livre de ms tenes: Os Ceos o attestem ".
|
-
|- (89)
} R E Is *
Misera fraudulenta! tu sem culpa ?
Oh sofrimento ! , escuta! ella confessa
Seu crime atroz!... Protesto que hei de dar-lhe
A mais cruenta, nunca vista morte!...
Juro que ha de sofrer em gro supremo
Quantos tormentos, quantas penas possa
Vingativa traar a astucia humana.
A L M E R I A.
Valei-me, Ceos! ai triste! eu desfalleo...
Ai de mim que j sinto a dura morte!
R E Is }
Pois ouve-me, e responde, se te atreves,
Sabe, indigna, que eu sei q he vivo Afonso,
Esse execrando Afonso, e na me illudes
A respeito de Osmin. |
| A L M E R I A.
|- Enta morreste,
Se assim te descobrira; e eu comtigo
Me esconderei na mesma sepultura.
Mas ah! que antes quizera, os Ceos o sabem,
- Remir co a minha morte a vida tua!
}
Porque temera a fulminante furia -
Do deshumano Pai, se do meu peito
= Visse golfar em borbotes o sangue
Que a vida te salvasse ?
| | R E I.
Inferno ! inferno ! ".
Tal ouo, e sofo! Como afirmar ousas
***
*
-
*
, (9o ). .
Ante mim teu delicto? longe indigna;
Sena de maldies mpias_te cubro ...
Foge do meu rancor; foge antes que ambos
Consuma a voraz chamma, que me abraza.
A L M E R I As |
Com tudo, ainda es Pai; es pai, e eu filha!
Ah! ouve a natureza ... As proprias veias
Podes tu, Pai, ferir, ferindo as minhas?
Que mal temes da filha consternada,
Que prostrada a teus ps, em choro amargo,
Te implora pela vida! Ah condoidos
Pe teus olhos em mim! V, Pai, q humildes -
Filhos aflictos, nunca os Pais podera
De maldies cubrir ; que a natureza,
E o paternal affecto commovido
Sahe ao encontro aos filiaes deveres,
Levantando do cha com ternos braos
O filho reverente, e as faces banha
C'o subito fervor de amor paterno."
Ouve-me pois, Pai, aqui prostrada.... R E I.
Toma melhor conselho; e em quanto existe
Essa leve impressa, que em mim fizeste,
Deixa que eu v.....
A L M E R I A.
* Na, Pai: em vo pertendes
De mim soltar-te; que daqui na me rgo,
Nem partir, poders, se piedoso
Na concedes que viva.... . . .# }
*
-
(91)
* e 1. -
, Que ? ... Quem?... Como? ...
Quem he que ha de viver ?... oh Almeria!...
Morrer o traidor; aos Ceos o juro,
Inda que tu, eu mesmo; inda que tudo
Haja em fim de o seguir sepultura.
Larga j ... deixa-me ir ... l! Aias ...
* - A L M E RIA, |
Arrasta ... piza ... piza a triste filha,
Que estas mos te na larga, nem tu partes
- Sem que vida me ds ao meu Esposo.
|- R E I, * * {
Ah! que dizes? Esposo ! Esposo! oh furias!
Que pensas? quem ? que Esposo? *
|- A L M E R I A. *
He meu marido!...
> R E I.
Morte! veneno!... quem ? A L M E RIA.
Oh...*
Go N A L V E S.
|- Soccorrei-a. **
* A L M E R I A quari delirando.
Deixa enterrar-me, deixa at o abysmo,
Onde possa abraar-me com seus ossos ....
A desnudz lhe cubra minhas carnes ....
* Desmaa. |
** Leonor a segura. , ,
-
(92 ) ~~
Da sepultura, que abro, a morte arranco....
Ah deixa-me ser morte!... deixa ... deixa,
E enta mata embora o meu marido;
Que inda assim ser meu, meu para sempre
} R E I" +
Que marido! enlouqueo! quem ? que dizes?
G o N A L v. E s a ElRei.
Ella delira.
A . L M E R I As N
Os Ceos o permittra!Osmn he meu marido ....
. R E I. |
| Osmin ! ...
A L M E RIA. J.
Na esse;
Mas o querido Affonso he meu marido,
Legitimo marido! oh Ceos! oh terra !
Oh mar! oh ventos! sede testemunhas !
* - R E I, -
Mais varia inda os ventos, mais q as ondas
Deliras tu; e eu mesmo enlouquecera,
Se te attendesse mais. Mas cousa grande
Nalma lhe lida, e d funesto agouro:
# a na quero ouvir, sem que socegue.
Vigiai , quando torna a seus sentidos,
E Vinde-mo dizer. Tende cuidado
N tente contra a vida algum arrojo.
-
( 93)
S C E NA