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Aluno: Silvio Francelino LemosCurso: Psicopedagogia InstitucionalMatrícula: 340876E-mail: [email protected]
A PSICOPEDAGOGIA, APRENDIZAGEM E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM.
ResumoO presente artigo trata de uma pesquisa baseada em autores que
abordam a questão do lúdico como proposta interventiva nas dificuldades de
aprendizagem. Para isto, o presente artigo fará análises sobre os fundamentos
da Psicopedagogia; seu desenvolvimento no contexto brasileiro; sua área de
atuação e seu caráter multidisciplinar, bem como o papel do Psicopedagogo na
intervenção Psicopedagógica, analisando os conceitos sobre jogos, brincadeira
e brinquedos e a classificação dos mesmos. Abordará a questão do lúdico
como fator essencial para a atuação Psicopedagógica analisando seu uso no
contexto histórico, através de estudo de pesquisadores que contribuíram para a
compreensão da importância deste para a aprendizagem sistemática.
Por fim, o presente artigo fará algumas abordagens teóricas dos
pesquisadores Jean Piaget (1980), Vigotsky (1987), Wallon (1986) e Freud
(1974) analisando as teorias cognitivas da aprendizagem e as relações com a
ludicidade na perspectiva de cada um, bem como sua importância para a
Intervenção Psicopedagógica, analisando o papel da afetividade neste contexto
de aprendizagem. A Psicopedagógia com base no lúdico, promove o aprender
com prazer, alegria e entretenimento por permitir que crianças e adolescentes
enfrentem seus problemas de aprendizagem dando um novo significado á ele
construindo seu próprio aprendizado.
Introdução: “O aprender acontece dentro de cada um de nós, mas é fruto da
interação com o espaço coletivo.” Laura Mont Serrat
Muitos autores apontam o lúdico como fator indispensável para o
desenvolvimento saudável, apreensão da percepção, imaginação, fantasia e
dos sentimentos, enfim, para que o aprendizado aconteça de forma natural e
prazerosa. Neste sentido, o lúdico é fator essencial para a atuação
Psicopedagógica tanto nas clínicas quanto nas instituições, por se tratar de
elementos promissores do aprender com prazer, alegria e entretenimento, por
permitir que crianças e adolescentes enfrentem seus problemas de
aprendizagem dando um novo significado á ele, e que desta forma possa
construir seu próprio aprendizado. A Psicopedagogia Clinica e Institucional
surgiu com o objetivo de contribuir na busca de soluções para os problemas de
aprendizagem, bem como para a compreensão deste processo no ser humano,
o Psicopedagogo esta capacitado para atuar nesta área, facilitando o vínculo
do aluno com o processo de aprendizagem, para isso pode utilizar o lúdico
(jogos, brinquedos e brincadeiras), para possibilitar o resgate do prazer de
aprender e consequentemente aperfeiçoar o desempenho escolar destes
sujeitos com o objetivo de Diminuir o fracasso escolar e facilitar o processo de
aprendizagem, pois, a intervenção Psicopedagogica, tanto clínica quanto
Institucional, tem no lúdico um papel de fundamental importância para a
aprendizagem da criança ou adolescente ao possibilitar o desenvolvimento de
várias dimensões do ser humano (cognitiva, afetiva, física e social).
Palavras-chave: Lúdico, Intervenção, Psicopedagógia, Aprendizagem,
Afetividade e as dificuldades da aprendizagem.
Fundamentos da Psicopedagogia.
A Psicopedagogia fundamenta-se no processo de aprendizagem, nas
suas dificuldades, suas relações com o processo de desenvolvimento e nas
questões relativas ao ensinar. Sendo assim, faz-se necessário saber que antes
do “nascimento” da Psicopedagogia, as crianças com dificuldades de
aprendizagem eram encaminhadas ao médico pediatra e neurologista, este era
o período da Medicalização dos problemas, tempos depois, estas crianças
eram encaminhadas á psicólogos e submetidos a uma bateria de testes, era o
período da Psicologização dos problemas de aprendizagem. Até então, não
havia uma área específica, nem mesmo um único profissional para atender
estas crianças e adolescentes que enfrentavam em suas Instituições
problemas com o aprendizado.
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Analisando os estudos de Lopes (2004), esta relata que foi na década de
1970 que a Psicopedagogia desenvolveu no contexto brasileiro, “com o objetivo
emergente de completar a formação de profissionais envolvidos com a
educação e preocupados com o fracasso escolar” (p. 15), pois pediatras,
psicólogos e neurologistas não eram suficientes para dar uma resposta clara e
objetiva diante da complexidade dos problemas de aprendizagem. No entanto,
fazia-se necessária a presença de um único profissional apto a integrar
conhecimentos para atuar de maneira objetiva e eficaz nas dificuldades de
aprendizagem destes alunos, mas não só para a resolução destes problemas,
mas também para a prevenção dos mesmos.
. No entanto, o Psicopedagogo é o “profissional que atua, no campo
clínico e institucional, no sentido de investigar as causas relativas ao fato de
não aprender, tanto em seu caráter diagnóstico quanto preventivo” (LOPES,
2004, p. 16). Sendo assim, o papel do psicopedagogo Institucional é intervir
individual ou coletivamente de forma corretiva, preventiva ou enriquecedora
junto ao sujeito, com intervenções diretas ou indiretas centradas nos agentes
educacionais que interagem com ele.
A relação do lúdico com a aprendizagem no contexto histórico
Desde a antiguidade o lúdico já era utilizado para propiciar o
aprendizado, portanto, vários estudiosos já analisavam os jogos como uma
atividade bastante rica e promissora do desenvolvimento de conhecimento em
inúmeras áreas. Analisando os estudos de Marinho et al. (2007) constam
análises sobre filósofos, estudiosos e pesquisadores que relatam em suas
obras importantes contribuições sobre o lúdico no contexto da aprendizagem
escolar: Platão, que ensinava matemática às crianças utilizando jogos, a 374
a.C. onde apoiava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados
com jogos educativos; Froebel, (1826) foi o primeiro pedagogo a utilizar os
jogos na educação de crianças, pois ele acreditava que elas aprendiam através
do brincar e que sua personalidade pode ser aperfeiçoada e enriquecida pelo
brinquedo.
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Nas descrições de Marinho (2007), ainda constam os referências de
importantes pesquisadores e estudiosos que descrevem sobre a importância
do lúdico para o desenvolvimento da aprendizagem:
Cratty (1975) sugere a utilização de atividades motoras sob a
forma de jogos para o domínio de conceitos e desenvolvimento
de algumas capacidades como memória e resolução de
problemas; Piaget (1962 e 1976) afirma que o lúdico é
indispensável para a prática educativa, por ser considerada o
berço obrigatório das atividades intelectuais das crianças;
Vigotsky (1989a) relata sobre a enorme influência que o
brinquedo exerce sobre o desenvolvimento da criança, afirma
que é no brinquedo que a criança expressa uma situação
imaginária, pois para ele, a criança projeta nas atividades adultas
ensaiando seus futuros papéis e valores. Segundo este autor,
brincando as crianças aprende a lidar com as emoções; equilibra
as tensões provenientes de seu mundo cultural construindo sua
individualidade, sua marca pessoal e sua personalidade;
Freire contribui apontando uma concepção diferenciada a cerca
do lúdico e do processo educativo ao relatar sobre a importância
da vivencia corporal de tudo o que ela aprende na escola,
destacando que conceitos temporais e numéricos são
tradicionalmente desenvolvidos nas atividades de escrever,
desenhar e recortar. O autor defende ainda que esses conceitos
possam ser trabalhados num contexto de jogos motores
associando as tarefas da escola com as características da
própria criança.
Enfim, os estudos acima citados comprovam a importância da atividade
lúdica na aprendizagem humana, destacando que ele é fonte de prazer e
descoberta para as crianças, pois a ação lúdica, considerada como
metacognição, possibilita na criança a compreensão do pensamento e da
linguagem do outro, por isso proporciona o desenvolvimento para a construção
do conhecimento.
Ao brincar, os sinais, gestos, objetos e espaços têm um significado
diferente daqueles que aparentam ter. Além de contribuir para a interiorização
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de determinados modelos de adultos, a brincadeira favorece na criança a
melhora da auto-estima, da afetividade, ou seja, o lúdico é indispensável para o
desenvolvimento saudável e para a apreensão do desenvolvimento da
percepção, imaginação, fantasia e dos sentimentos.
Portanto, os estudos em evidência confirmam que o lúdico contribui para
o melhor desenvolvimento da criança em todos os aspectos: físico, afetivo,
intelectual e social; permite que as crianças aprendam com prazer, alegria e
entretenimento; têm poder sobre as crianças de facilitar tanto o progresso de
sua personalidade integral, como o progresso de cada uma de suas funções
psicológicas, intelectuais e morais.
Alguns conceitos sobre jogo, brincadeira e brinquedo.
Visto que estudos apontam que o lúdico contribui para o
desenvolvimento afetivo, cognitivo, físico intelectual e social do indivíduo, o
Psicopedagogo, ao intervir nas dificuldades de aprendizagens de caráter
preventivo ou corretivo nas clínicas Psicopedagógica ou nas instituições tem na
ação lúdica, um forte aliado. Porém faz-se necessário entender qual o
significado da palavra “intervenção”. Segundo Lopez1 apud Oliveira (2009),
intervir significa o ato de prever uma ação que predetermina um movimento.
Baseada na Epistemologia convergente de Jorge Visca2 (1991, 1999), o
Psicopedagogo deve intervir de maneira que possa caracterizar uma atitude
operativa, ou seja, objetivando provocar no sujeito da aprendizagem a busca
da operatividade, da resolução de um problema, buscando maneiras que os
envolvidos neste processo possam se desenvolver progressivamente a ponto
de se aproximar afetivamente da tarefa e realizá-la, no entanto,
Se a psicopedagogia propõe que o próprio sujeito seja
autor de sua aprendizagem, intervir nesse processo é
criar mecanismos que contribuam para que o aprender do
sujeito possibilite, num processo dialético, a
1 Ancona-Lopez, 1995.2 Psicopedagogo argentino que propôs a teoria da Epistemologia convergente, onde relata que a atividade operativa do Psicopedagogo tem como finalidade o movimento interno do sujeito em direção à aprendizagem.
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transformação da realidade, bem como a transformação
de si mesmo (OLIVEIRA, 2009, p. 88).
De acordo com a Epistemologia Convergente proposta por Visca (1991,
1999), a operatividade é a capacidade que o sujeito desenvolve de agir por si,
algo que vai a busca da autonomia, ou seja, sem precisar que outra pessoa
diga os “passos” a serem seguidos para a realização de uma determinada
tarefa.
Dado o significado da palavra “intervir” na ação Psicopedagógica,
voltemos ao ponto principal desta pesquisa: a importância do lúdico para a
intervenção psicopedagógica. Mas antes cabe ressaltar a natureza de cada
especificidade do lúdico: o jogo, a brincadeira e o brinquedo.
Segundo Marinho (2007, 2. Ed., p.89) “embora os significados dados aos
termos jogo, brinquedo e brincadeira se justaponham, pesquisadores que se
dedicam a estudá-los mostram que existem diferenças”, segundo ela, as
caracterizações são feitas de acordo com o seu uso, com a ação contida em
cada um e com o comportamento que cada um suscita. Desta forma, o
brinquedo é caracterizado por um objeto palpável, construído materialmente
industrial ou artesanalmente. A brincadeira está ligada ao sentido de
gratuidade, da ação livre de compromisso. O jogo é aquele que possui regras
que podem ou não serem modificadas segundo o interesse dos que jogam.
Mas, para Kishimoto3, apud Oliveira (2009, ed. 22, p.112), “jogo,
brinquedo e brincadeira tem sido utilizado com o mesmo significado, porém ela
declara uma definição em que brinquedo é entendido sempre como o objeto,
suporte da brincadeira”, neste sentido, jogo é o objeto ou não possuidor de
regras, sendo a brincadeira ou o brinquedo o objeto que dá suporte a
brincadeira.
Cabe ressaltar que o lúdico na intervenção psicopedagógica não tem
como objetivo ensinar, mas sim ser usado como “mediador de uma intervenção
que mobilize funções necessárias para a aprendizagem e o desenvolvimento
(OLIVEIRA, 2009, p. 111)”. Para esta finalidade, Visca, apud Oliveira (2009),
propõe que os jogos podem ser classificados em lógicos, que desenvolve o
raciocínio; afetivos, estimulam a emoção; e os sociais, que auxiliam na
3 Kishimoto, 1991: O jogo e a educação infantil.
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aquisição de condutas próprias do meio. Este autor faz ainda uma classificação
dos jogos lógicos historicamente, mostrando como diferentes povos os
relacionavam com situações vividas:
O povo Chinês relacionava o jogo ao medo do descobrimento,
portanto, com a necessidade de conhecer o desconhecido,
desenvolveram com búzios de pedra e madeira, jogos com ponto
e desenho que originaram os dados, os dominós e as cartas de
baralho, que ao saírem de seu país de origem receberam
características diferenciadas, até chegarem aos modelos que
conhecemos hoje. Estes jogos permitem a correspondência termo
a termo, figurativa e numeral; classificação; seriação e
compensação;
Movido pelo medo que tinha de seus inimigos, o povo da Índia
criou um jogo chamado “Chaturana”, parecido com o xadrez e a
dama que conhecemos atualmente. Este jogo era composto por
quatro exércitos que lutavam dividindo-se em exército de homens
e mulheres. Na Idade Média este jogo recebeu fortes influências
da igreja, ao inserir as peças denominadas como bispo, rei e
rainha. Estes jogos desenvolvem aspectos cognitivos e sociais ao
permitir a elaboração de estratégias espaciais; capacidade de
antecipação; motricidade; controle da impulsividade; ampliação do
campo visual e percepção;
Os Fenícios, que tinham suas atividades voltadas para a
navegação e normalmente percorriam os mares em três barcos,
criaram jogos com objetivo de auxiliar os indivíduos em
estratégias espaciais. Prevenindo que se percam, criaram os
jogos como da Trilha e Tateti que possibilita desenvolver
percursos que auxiliem na movimentação em espaços uni, bi e
tridimensionais. Com os mesmos objetivos, temos atualmente os
jogos da Trilha, Jogo da Velha, o Ligue 4, o Batalha Naval, jogos
que permitem o desenvolvimento da antecipação; investigação do
espaço; afetividade; visomotricidade e interseção;
Desta forma, os jogos afetivos e sociais, segundo Visca apud Oliveira
(2007), são aqueles que possibilitam: a autodescoberta, ao despertar no sujeito
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a consciência de suas dificuldades ou habilidades; a autonomia, ao possibilitar
que o sujeito faça escolhas e tome decisões; a autoestima, onde os desafios e
as possibilidades de superação possibilitam ao sujeito a sensação de plenitude
e confiança em si; o convívio, que ao possibilitar a vivência em grupo, onde um
passa a conhecer aos outros, diminuindo as tensões, aprendendo a aceitar as
diferenças e vencerem a timidez; a cooperação, possibilitando a superação de
obstáculos; a capacidade de liderar e ser liderado, onde, ao possibilitar a
vivência destes papéis, auxilia o indivíduo a ser crítico, a analisar, a coordenar
e orientar.
Ainda segundo Visca apud Oliveira (2009), os jogos afetivos e sociais
são aqueles que desenvolvem no educando a autodescoberta; a autonomia; a
autoestima; o convívio, possibilitando vencer a timidez; a cooperação, que
possibilita na superação dos obstáculos; e a capacidade de liderar e ser
liderado.
Os jogos classificados como lógicos afetivos e sociais, ao serem
utilizados como recurso psicopedagógico perante crianças com dificuldades de
aprendizagem, bem como para a prevenção, tem a possibilidade de aproximar
o mundo real do imaginário ao mesmo tempo em que capacita o “sujeito no
enfrentamento de situações problema e de desenvolver várias funções que são
importantes para a aquisição de conteúdos sistemáticos” (OLIVEIRA, 2009, p.
119), conteúdos considerados como pré-requisitos nas instituições
educacionais.
A aprendizagem segundo Piaget, Vigotsky, Wallon e FreudPesquisadores como Piaget, Vigotsky, Wallon e Freud têm fundamental
importância para a prática Psicopedagógica, pois, de acordo com suas
pesquisas podemos compreender como ocorre o aprendizado nas crianças de
acordo com cada estágio de desenvolvimento.
As pesquisas de Piaget, teórico cognitivista que se formou em biologia e
filosofia na Suíça, contribuíram muito para o fazer pedagógico e
Psicopedagógico. Com interesses voltados para o processo de
desenvolvimento da inteligência humana, as experiências e observações de
Piaget aconteceram dentro de sua própria família, com seus filhos.
Pesquisando sobre inteligência, ele desenvolveu a epistemologia genética,
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entendida como o estudo dos mecanismos que conduzem os seres humanos a
adquirirem o conhecimento e, consequentemente a desenvolver sua
inteligência. Os trabalhos de Piaget contribuem para o desenvolvimento de
idéias e estratégias de ensino no âmbito escolar, e aqui serão analisadas suas
idéias dentro do contexto psicopedagógico, que está voltado para os problemas
relativos á dificuldade de aprendizagem.
Segundo a teoria Piagetiana, existem quatro fatores responsáveis pelo
desenvolvimento cognitivo da criança: o fator biológico, crescimento orgânico e
maturação do sistema nervoso; os exercícios e as experiências adquiridos na
ação da criança sobre os objetos; a interação social, que ocorre por meio da
linguagem e da educação; o fator de equilibração das ações que estimula a
criança a encontrar respostas para novos problemas, num processo de
acomodação4.
Na visão Piagetiana, a criança ao interagir com o mundo ao seu redor
começa a atuar e modificar ativamente a realidade que a envolve, neste
sentido, é necessário que haja na criança um “esquema de ação” onde ela
interpretará e organizará sua ação para que esta possa ser colocada em
prática e assim, atingir novos objetivos. A criança “desenvolve sua inteligência
por meio de um intercambio permanente com o meio, o que visa a um
constante processo de equilibração – melhor adaptação ao meio” (LAKOMY,
2008, p. 31). Quando a criança se encontra em uma nova situação, instala-se
uma situação de desequilíbrio, que levará a criança a encontrar novos
esquemas ou formas para lidar com essa situação, posteriormente ela irá
adaptar-se e voltar a um novo estado de equilíbrio, sendo assim:
Se as estruturas intelectuais disponíveis na criança são suficientes para
operar com as novas situações, então ocorre o que Piaget chama de
equilibração majorante a qual desempenha um papel muito importante no
desenvolvimento cognitivo. Esse processo envolve dois mecanismos
intermediários para que novos esquemas se desenvolvam e,
consequentemente, a inteligência seja construída. São eles: assimilação e
4 No processo de equilibração, na teoria cognitivista, acontecem ações que levam primeiramente a um desequilíbrio, busca do aprendizado, e posteriormente, através de ações internas, a assimilação, que leva ao equilíbrio da aprendizagem, e, por último, ao processo de acomodação, quando a resposta certa é incorporada à estrutura interna.
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acomodação. Assimilação é a incorporação de novos conhecimentos ou
informações a estrutura intelectual da criança que não são modificados. Já a
acomodação ocorre quando a criança reorganiza sua estrutura mental para que
ela possa incorporar esses novos conhecimentos, experiências ou informações
e transforma-los para se ajustarem às novas exigências do meio. Ao ocorrer a
acomodação, a criança retorna a um novo e superior estado de equilíbrio.
Segundo Piaget, apud Lakomy (2008), o desenvolvimento cognitivo
compreende quatro estágios ou períodos que se desenvolvem a partir das
estruturas cognitivas construídas nos estágios anteriores, são eles: estágio
sensório motor, pré-operatório, estágio das operações concretas e por último,
operatório formal.
Não menos importante que Piaget, as contribuições de Lev Semynovitch
Vigotsky (1896-1934), pesquisador contemporâneo de Piaget, com a teoria
sociointeracionista, buscou entender a influência da linguagem ou da
comunicação no desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Para Vigotsky era
extremamente importante que o indivíduo aprendesse para poder compreender
e analisar o contexto histórico no qual estava inserido, por isto, para ele, o
contexto social e o desenvolvimento cognitivo humano caminha junto.
Para Vigotsky, o desenvolvimento cognitivo da criança é um processo de
assimilação ativa do conhecimento histórico-social existente na sociedade em
que ela nasceu. Ele enfatiza que esse conhecimento é internalizado e
transformado pela criança através de sua interação ou trocas sociais com as
pessoas que a rodeiam. No entanto, podemos observar que para Vigotsky, a
fala é um dos principais fatores para a aprendizagem, pois acompanha a
atividade prática ou física da criança, mas outro fator importante para a
aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo segundo este autor, é a
importância da mediação, que compreendem nos instrumentos utilizados para
a aprendizagem, como exemplo os signos da escrita, que servem para nos
lembrar o que dizemos.
Ainda segundo Vigotsky, a relação entre a fala e a ação vai se
modificando ao longo do desenvolvimento cognitivo em três fases perceptivas:
a fase da fala social; da fala egocêntrica e a fase da fala interior.
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Se para Vigotsky a fala e a interação social são fatores indispensáveis
para a aprendizagem, para Henri Wallon (1879-1962), a dimensão afetiva
ocupa lugar central nesse processo. Ele desenvolveu nas décadas de 1950 e
1960 a teoria psicogenética onde enfatiza que a dimensão afetiva ocupa um
lugar central no processo de aprendizagem, teoria na qual auxilia o indivíduo
tanto no desenvolvimento pessoal quanto no cognitivo.
Para este autor, a afetividade e a inteligência desenvolvem-se juntas
desde o primeiro ano de vida do indivíduo. No período denominado impulsiva
emocional, logo que a criança nasce, é dominado pelas relações emocionais
do bebê com o ambiente, o desenvolvimento cognitivo está voltado para as
preparações sensório-motoras, ou seja, olhar, pegar, andar, que permitirão no
segundo ano de vida, a exploração sistemática do meio.
Para Wallon, é na inteligência prática ou das situações, que a afetividade
dá lugar ao desenvolvimento cognitivo, pois nesta fase surge “a função
simbólica a partir do desenvolvimento da fala e das condutas representativas
da criança, que se torna base para o pensamento discursivo” (LAKOMY, 2008,
p. 66), e,
Na função simbólica, instala-se na criança a chamada
forma cognitiva de vinculação afetiva. Ou seja, quando o
indivíduo passa a expressar a sua afetividade através dos
símbolos orais e depois escritos – a comunicação afetiva
-, é chamada afetividade simbólica. Na puberdade, a
afetividade chamada afetividade categorial, baseia-se em
exigências fundamentadas na racionalidade, isto é,
exigências de respeito mútuo, igualdade de direitos,
justiça, etc. (LAKOMY, 2008, p.67).
Ao enfatizar que a dimensão afetiva ocupa um lugar central no processo
de aprendizagem temos na contribuição de Wallon a compreensão que sua
teoria auxilia o sujeito no aprendizado pessoal e cognitivo a serviço da
construção de um ser humano afetivo, individual, concreto e social.
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Se a afetividade é um fator essencial no processo de aprendizagem,
compreender o aluno, sua família, seus professores, sua escola, sua
comunidade e sua cultura, se torna fundamental no processo de aprendizagem,
principalmente quando se trata das dificuldades.
Para isto, a Psicanálise fornece suporte teórico, tanto para educadores
quanto para psicopedagogo, na compreensão deste processo, e tem como
criador o neurologista Sigmund Freud (1856-1983). Em sua teoria relata a
concepção que o ser humano e a civilização se constituem pelo recalque, fator
de fundamental importância, pois sem o mesmo cairíamos na loucura ou na
sociopatia. Desta forma, os impulsos (pulsões sexuais e agressivas), não
podem ter o domínio do sujeito, para não colocar a vida deste em risco. Sendo
assim, Freud destaca que temos dois tipos de mente: a inconsciente e a
consciente.
Na mente inconsciente, segundo Freud, é onde ficam guardado os
conteúdos dos quais não conseguimos nos lembrar em condições normais, são
as lembranças, emoções e sentimentos que nos podem trazer grande dor,
vergonha insuportável ou forte sentimento de culpa, sentimentos que são
negados na mente consciente, devido ao mecanismo denominado recalque, no
entanto, a nossa mente consciente só consegue acessar os conteúdos da
mente inconsciente por meio da hipnose, dos sonhos, dos atos falhos e da
associação livre (ASSIS, 2007, p. 35).
Assim como nas teorias de Piaget e Vigotsky, Freud também contribui
para a educação ao relatar às fases de desenvolvimento infantil, que, segundo
Assis, permite ao educador a visão sobre a energia pulsional como constituinte
do ato de pensar e de aprender; o modelo do método analítico, no qual o
compromisso de uma relação autentica entre dois indivíduos é imprescindível,
e, de igual forma, a noção de transferência e de contratransferência,
encontrada também na relação professor-aluno.
Sendo assim, a primeira fase é a anal, onde a criança passa a conhecer
o mundo através da boca, e tem como o primeiro prazer o ato da sucção ao ser
amamentado; a segunda fase é a anal, onde em decorrência da maturação
orgânica a criança consegue controlar os esfíncteres anal e uretral, e tem como
prazer este controle; a terceira fase é a fálica, onde a criança dá importância
aos seus órgãos genitais, o prazer desta fase se concentra na região genital, e
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o papel da mãe e do pai é de fundamental importância para o desenvolvimento
saudável nesta fase; a quarta fase é a da latência, onde o interesse da criança
é conhecer tudo o que a cerca, e a pulsão direciona-se para o desejo de
aprender; a quinta e última fase é a genital, onde na adolescência, a
sexualidade toma um colorido adulto, permeando todo o corpo, com
predominância nos órgãos genitais.
Enfim, a contribuição da Psicanálise para a intervenção
Psicopedagógica, está voltada para a compreensão dos obstáculos da
aprendizagem, ou seja, os traumas que ocorreram durante o desenvolvimento
do sujeito, que podem ser projetados inconscientemente pelo sujeito, e
analisados pelo Psicopedagogo. As teorias acima citadas, nas perspectivas de
Piaget, Vigotsky, Wallon e Freud, colabora no processo educativo, e nas
intervenções Psicopedagógica ao propiciar uma profunda reflexão sobre as
fases de desenvolvimento do sujeito da aprendizagem numa abordagem
global, e entende-la, para uma melhor intervenção junto ao sujeito, neste
sentido,
Os problemas apresentados no desempenho escolar
exigem do psicopedagogo uma avaliação das
características psicológicas demonstradas pela criança,
no sentido de identificar se os problemas decorrem de
uma limitação cognitiva ou de uma limitação afetiva.
Esses dois níveis devem ser considerados na análise
estrutural dos problemas. (BALESTRA, 2007, p. 49).
Portanto, cada teoria analisada permite uma reflexão psicopedagógica,
ao intervir junto às dificuldades de aprendizagem, ao verificar os níveis de
desenvolvimento cognitivo do sujeito, considerando os fatores pré-requisitos
para que o aprendizado aconteça: a maturação biológica, o conhecimento
prévio, o desenvolvimento da linguagem, o processo de interação social e a
descoberta da afetividade. E ao utilizar-se do lúdico como intervenção
psicopedagógica, as teorias analisadas possibilita ao psicopedagogo subsídios
para a escolha, analisando cada nível de desenvolvimento cognitivo, os tipos
de jogo que serão utilizados segundo as dificuldades de cada um, seja ela de
fundo físico, afetivo, intelectual ou social.
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Conclusão:Ao término deste artigo, com os estudos analisados, fica evidente que o
lúdico é um recurso essencial para a intervenção Psicopedagógica, pois é
elemento promissor do aprender com prazer, alegria e entretenimento ao
mesmo tempo em que permitem que crianças, jovens e adolescentes
enfrentem os problemas de aprendizagem, dando a eles um novo significado,
construindo seu próprio aprendizado. Cabe ressaltar que intervir utilizando
jogos e brincadeiras, o objetivo não está em ensinar, mas utilizá-lo como
mediador do processo ensino/aprendizagem.
Observamos que ao utilizar do jogo como recurso para intervenção
Psicopedagógica clínica ou institucional, o Psicopedagogo deve entender que
intervir significa o ato de prever uma ação que predetermina um movimento de
maneira operativa, como Sugere Jorge Visca, Psicopedagogo Argentino que
propôs a teoria da Epistemologia Convergente. Ele relata que a atividade
operativa do Psicopedagogo tem como finalidade o movimento interno em
direção à aprendizagem. Neste sentido, intervir operativamente utilizando o
lúdico, é provocar no sujeito a busca da aprendizagem, aproximando
afetivamente o sujeito do processo, possibilitando que o faça sozinho, ou seja,
aprender a aprender.
Segundo os estudos de Lakomy, analisados neste artigo, conhecer as
teorias da aprendizagem faz-se importante para propiciar uma profunda
reflexão sobre a prática, e entendê-la para uma melhor intervenção junto ao
sujeito com dificuldades, portanto, as abordagens teóricas de Piaget, Vigotsky
e Wallon, permitem ao psicopedagogo refletir sobre o desenvolvimento
cognitivo que ocorre em cada nível, ao fazer as escolhas dos jogos e
brincadeiras a serem utilizados como intervenção psicopedagógica diante de
cada dificuldade apresentada.
E, na Psicanálise, os níveis de desenvolvimento relatado por Freud,
mostraram que compreender o aluno, sua família, seus professores, sua
escola, sua comunidade e sua cultura, se torna fundamental no processo de
aprendizagem, principalmente quando se trata das dificuldades. Neste sentido,
a intervenção psicopedagógica com o lúdico, possibilita ao psicopedagogo
analisar os obstáculos de aprendizagem causados pelos sentimentos
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recalcados, pelos traumas ocorridos, que podem ser projetados
inconscientemente pelo indivíduo.
Finalizando este artigo, os estudos analisados sobre a intervenção
psicopedagógica voltada para o lúdico, mostram que os autores citados
revelam a importância do lúdico para a aprendizagem das crianças,
comprovando sua eficiência para o desenvolvimento físico, motor, emocional e
cognitivo, mostrando que o uso do lúdico já era utilizado desde os primórdios
como uma atividade bastante rica que possibilitava o desenvolvimento de
conhecimento em inúmeras áreas. O Psicopedagogo pode utilizar-se do lúdico
como recurso interventivo nas dificuldades dos sujeitos, analisando as teorias
cognitivas da aprendizagem como base para a escolha dos jogos a serem
utilizados.
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