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Aluno: Silvio Francelino Lemos Curso: Psicopedagogia Institucional Matrícula: 340876 E-mail: [email protected] A PSICOPEDAGOGIA, APRENDIZAGEM E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM. Resumo O presente artigo trata de uma pesquisa baseada em autores que abordam a questão do lúdico como proposta interventiva nas dificuldades de aprendizagem. Para isto, o presente artigo fará análises sobre os fundamentos da Psicopedagogia; seu desenvolvimento no contexto brasileiro; sua área de atuação e seu caráter multidisciplinar, bem como o papel do Psicopedagogo na intervenção Psicopedagógica, analisando os conceitos sobre jogos, brincadeira e brinquedos e a classificação dos mesmos. Abordará a questão do lúdico como fator essencial para a atuação Psicopedagógica analisando seu uso no contexto histórico, através de estudo de pesquisadores que contribuíram para a compreensão da importância deste para a aprendizagem sistemática. Por fim, o presente artigo fará algumas abordagens teóricas dos pesquisadores Jean Piaget (1980), Vigotsky (1987), Wallon (1986) e Freud (1974) analisando as teorias cognitivas da aprendizagem e as relações com a ludicidade na perspectiva de cada um, bem como sua importância para a Intervenção Psicopedagógica, analisando o papel da afetividade neste contexto de aprendizagem. A

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Aluno: Silvio Francelino LemosCurso: Psicopedagogia InstitucionalMatrícula: 340876E-mail: [email protected]

A PSICOPEDAGOGIA, APRENDIZAGEM E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM.

ResumoO presente artigo trata de uma pesquisa baseada em autores que

abordam a questão do lúdico como proposta interventiva nas dificuldades de

aprendizagem. Para isto, o presente artigo fará análises sobre os fundamentos

da Psicopedagogia; seu desenvolvimento no contexto brasileiro; sua área de

atuação e seu caráter multidisciplinar, bem como o papel do Psicopedagogo na

intervenção Psicopedagógica, analisando os conceitos sobre jogos, brincadeira

e brinquedos e a classificação dos mesmos. Abordará a questão do lúdico

como fator essencial para a atuação Psicopedagógica analisando seu uso no

contexto histórico, através de estudo de pesquisadores que contribuíram para a

compreensão da importância deste para a aprendizagem sistemática.

Por fim, o presente artigo fará algumas abordagens teóricas dos

pesquisadores Jean Piaget (1980), Vigotsky (1987), Wallon (1986) e Freud

(1974) analisando as teorias cognitivas da aprendizagem e as relações com a

ludicidade na perspectiva de cada um, bem como sua importância para a

Intervenção Psicopedagógica, analisando o papel da afetividade neste contexto

de aprendizagem. A Psicopedagógia com base no lúdico, promove o aprender

com prazer, alegria e entretenimento por permitir que crianças e adolescentes

enfrentem seus problemas de aprendizagem dando um novo significado á ele

construindo seu próprio aprendizado.

Introdução: “O aprender acontece dentro de cada um de nós, mas é fruto da

interação com o espaço coletivo.” Laura Mont Serrat

Muitos autores apontam o lúdico como fator indispensável para o

desenvolvimento saudável, apreensão da percepção, imaginação, fantasia e

dos sentimentos, enfim, para que o aprendizado aconteça de forma natural e

prazerosa. Neste sentido, o lúdico é fator essencial para a atuação

Psicopedagógica tanto nas clínicas quanto nas instituições, por se tratar de

elementos promissores do aprender com prazer, alegria e entretenimento, por

permitir que crianças e adolescentes enfrentem seus problemas de

aprendizagem dando um novo significado á ele, e que desta forma possa

construir seu próprio aprendizado. A Psicopedagogia Clinica e Institucional

surgiu com o objetivo de contribuir na busca de soluções para os problemas de

aprendizagem, bem como para a compreensão deste processo no ser humano,

o Psicopedagogo esta capacitado para atuar nesta área, facilitando o vínculo

do aluno com o processo de aprendizagem, para isso pode utilizar o lúdico

(jogos, brinquedos e brincadeiras), para possibilitar o resgate do prazer de

aprender e consequentemente aperfeiçoar o desempenho escolar destes

sujeitos com o objetivo de Diminuir o fracasso escolar e facilitar o processo de

aprendizagem, pois, a intervenção Psicopedagogica, tanto clínica quanto

Institucional, tem no lúdico um papel de fundamental importância para a

aprendizagem da criança ou adolescente ao possibilitar o desenvolvimento de

várias dimensões do ser humano (cognitiva, afetiva, física e social).

Palavras-chave: Lúdico, Intervenção, Psicopedagógia, Aprendizagem,

Afetividade e as dificuldades da aprendizagem.

Fundamentos da Psicopedagogia.

A Psicopedagogia fundamenta-se no processo de aprendizagem, nas

suas dificuldades, suas relações com o processo de desenvolvimento e nas

questões relativas ao ensinar. Sendo assim, faz-se necessário saber que antes

do “nascimento” da Psicopedagogia, as crianças com dificuldades de

aprendizagem eram encaminhadas ao médico pediatra e neurologista, este era

o período da Medicalização dos problemas, tempos depois, estas crianças

eram encaminhadas á psicólogos e submetidos a uma bateria de testes, era o

período da Psicologização dos problemas de aprendizagem. Até então, não

havia uma área específica, nem mesmo um único profissional para atender

estas crianças e adolescentes que enfrentavam em suas Instituições

problemas com o aprendizado.

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Analisando os estudos de Lopes (2004), esta relata que foi na década de

1970 que a Psicopedagogia desenvolveu no contexto brasileiro, “com o objetivo

emergente de completar a formação de profissionais envolvidos com a

educação e preocupados com o fracasso escolar” (p. 15), pois pediatras,

psicólogos e neurologistas não eram suficientes para dar uma resposta clara e

objetiva diante da complexidade dos problemas de aprendizagem. No entanto,

fazia-se necessária a presença de um único profissional apto a integrar

conhecimentos para atuar de maneira objetiva e eficaz nas dificuldades de

aprendizagem destes alunos, mas não só para a resolução destes problemas,

mas também para a prevenção dos mesmos.

. No entanto, o Psicopedagogo é o “profissional que atua, no campo

clínico e institucional, no sentido de investigar as causas relativas ao fato de

não aprender, tanto em seu caráter diagnóstico quanto preventivo” (LOPES,

2004, p. 16). Sendo assim, o papel do psicopedagogo Institucional é intervir

individual ou coletivamente de forma corretiva, preventiva ou enriquecedora

junto ao sujeito, com intervenções diretas ou indiretas centradas nos agentes

educacionais que interagem com ele.

A relação do lúdico com a aprendizagem no contexto histórico

Desde a antiguidade o lúdico já era utilizado para propiciar o

aprendizado, portanto, vários estudiosos já analisavam os jogos como uma

atividade bastante rica e promissora do desenvolvimento de conhecimento em

inúmeras áreas. Analisando os estudos de Marinho et al. (2007) constam

análises sobre filósofos, estudiosos e pesquisadores que relatam em suas

obras importantes contribuições sobre o lúdico no contexto da aprendizagem

escolar: Platão, que ensinava matemática às crianças utilizando jogos, a 374

a.C. onde apoiava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados

com jogos educativos; Froebel, (1826) foi o primeiro pedagogo a utilizar os

jogos na educação de crianças, pois ele acreditava que elas aprendiam através

do brincar e que sua personalidade pode ser aperfeiçoada e enriquecida pelo

brinquedo.

3

Nas descrições de Marinho (2007), ainda constam os referências de

importantes pesquisadores e estudiosos que descrevem sobre a importância

do lúdico para o desenvolvimento da aprendizagem:

Cratty (1975) sugere a utilização de atividades motoras sob a

forma de jogos para o domínio de conceitos e desenvolvimento

de algumas capacidades como memória e resolução de

problemas; Piaget (1962 e 1976) afirma que o lúdico é

indispensável para a prática educativa, por ser considerada o

berço obrigatório das atividades intelectuais das crianças;

Vigotsky (1989a) relata sobre a enorme influência que o

brinquedo exerce sobre o desenvolvimento da criança, afirma

que é no brinquedo que a criança expressa uma situação

imaginária, pois para ele, a criança projeta nas atividades adultas

ensaiando seus futuros papéis e valores. Segundo este autor,

brincando as crianças aprende a lidar com as emoções; equilibra

as tensões provenientes de seu mundo cultural construindo sua

individualidade, sua marca pessoal e sua personalidade;

Freire contribui apontando uma concepção diferenciada a cerca

do lúdico e do processo educativo ao relatar sobre a importância

da vivencia corporal de tudo o que ela aprende na escola,

destacando que conceitos temporais e numéricos são

tradicionalmente desenvolvidos nas atividades de escrever,

desenhar e recortar. O autor defende ainda que esses conceitos

possam ser trabalhados num contexto de jogos motores

associando as tarefas da escola com as características da

própria criança.

Enfim, os estudos acima citados comprovam a importância da atividade

lúdica na aprendizagem humana, destacando que ele é fonte de prazer e

descoberta para as crianças, pois a ação lúdica, considerada como

metacognição, possibilita na criança a compreensão do pensamento e da

linguagem do outro, por isso proporciona o desenvolvimento para a construção

do conhecimento.

Ao brincar, os sinais, gestos, objetos e espaços têm um significado

diferente daqueles que aparentam ter. Além de contribuir para a interiorização

4

de determinados modelos de adultos, a brincadeira favorece na criança a

melhora da auto-estima, da afetividade, ou seja, o lúdico é indispensável para o

desenvolvimento saudável e para a apreensão do desenvolvimento da

percepção, imaginação, fantasia e dos sentimentos.

Portanto, os estudos em evidência confirmam que o lúdico contribui para

o melhor desenvolvimento da criança em todos os aspectos: físico, afetivo,

intelectual e social; permite que as crianças aprendam com prazer, alegria e

entretenimento; têm poder sobre as crianças de facilitar tanto o progresso de

sua personalidade integral, como o progresso de cada uma de suas funções

psicológicas, intelectuais e morais.

Alguns conceitos sobre jogo, brincadeira e brinquedo.

Visto que estudos apontam que o lúdico contribui para o

desenvolvimento afetivo, cognitivo, físico intelectual e social do indivíduo, o

Psicopedagogo, ao intervir nas dificuldades de aprendizagens de caráter

preventivo ou corretivo nas clínicas Psicopedagógica ou nas instituições tem na

ação lúdica, um forte aliado. Porém faz-se necessário entender qual o

significado da palavra “intervenção”. Segundo Lopez1 apud Oliveira (2009),

intervir significa o ato de prever uma ação que predetermina um movimento.

Baseada na Epistemologia convergente de Jorge Visca2 (1991, 1999), o

Psicopedagogo deve intervir de maneira que possa caracterizar uma atitude

operativa, ou seja, objetivando provocar no sujeito da aprendizagem a busca

da operatividade, da resolução de um problema, buscando maneiras que os

envolvidos neste processo possam se desenvolver progressivamente a ponto

de se aproximar afetivamente da tarefa e realizá-la, no entanto,

Se a psicopedagogia propõe que o próprio sujeito seja

autor de sua aprendizagem, intervir nesse processo é

criar mecanismos que contribuam para que o aprender do

sujeito possibilite, num processo dialético, a

1 Ancona-Lopez, 1995.2 Psicopedagogo argentino que propôs a teoria da Epistemologia convergente, onde relata que a atividade operativa do Psicopedagogo tem como finalidade o movimento interno do sujeito em direção à aprendizagem.

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transformação da realidade, bem como a transformação

de si mesmo (OLIVEIRA, 2009, p. 88).

De acordo com a Epistemologia Convergente proposta por Visca (1991,

1999), a operatividade é a capacidade que o sujeito desenvolve de agir por si,

algo que vai a busca da autonomia, ou seja, sem precisar que outra pessoa

diga os “passos” a serem seguidos para a realização de uma determinada

tarefa.

Dado o significado da palavra “intervir” na ação Psicopedagógica,

voltemos ao ponto principal desta pesquisa: a importância do lúdico para a

intervenção psicopedagógica. Mas antes cabe ressaltar a natureza de cada

especificidade do lúdico: o jogo, a brincadeira e o brinquedo.

Segundo Marinho (2007, 2. Ed., p.89) “embora os significados dados aos

termos jogo, brinquedo e brincadeira se justaponham, pesquisadores que se

dedicam a estudá-los mostram que existem diferenças”, segundo ela, as

caracterizações são feitas de acordo com o seu uso, com a ação contida em

cada um e com o comportamento que cada um suscita. Desta forma, o

brinquedo é caracterizado por um objeto palpável, construído materialmente

industrial ou artesanalmente. A brincadeira está ligada ao sentido de

gratuidade, da ação livre de compromisso. O jogo é aquele que possui regras

que podem ou não serem modificadas segundo o interesse dos que jogam.

Mas, para Kishimoto3, apud Oliveira (2009, ed. 22, p.112), “jogo,

brinquedo e brincadeira tem sido utilizado com o mesmo significado, porém ela

declara uma definição em que brinquedo é entendido sempre como o objeto,

suporte da brincadeira”, neste sentido, jogo é o objeto ou não possuidor de

regras, sendo a brincadeira ou o brinquedo o objeto que dá suporte a

brincadeira.

Cabe ressaltar que o lúdico na intervenção psicopedagógica não tem

como objetivo ensinar, mas sim ser usado como “mediador de uma intervenção

que mobilize funções necessárias para a aprendizagem e o desenvolvimento

(OLIVEIRA, 2009, p. 111)”. Para esta finalidade, Visca, apud Oliveira (2009),

propõe que os jogos podem ser classificados em lógicos, que desenvolve o

raciocínio; afetivos, estimulam a emoção; e os sociais, que auxiliam na

3 Kishimoto, 1991: O jogo e a educação infantil.

6

aquisição de condutas próprias do meio. Este autor faz ainda uma classificação

dos jogos lógicos historicamente, mostrando como diferentes povos os

relacionavam com situações vividas:

O povo Chinês relacionava o jogo ao medo do descobrimento,

portanto, com a necessidade de conhecer o desconhecido,

desenvolveram com búzios de pedra e madeira, jogos com ponto

e desenho que originaram os dados, os dominós e as cartas de

baralho, que ao saírem de seu país de origem receberam

características diferenciadas, até chegarem aos modelos que

conhecemos hoje. Estes jogos permitem a correspondência termo

a termo, figurativa e numeral; classificação; seriação e

compensação;

Movido pelo medo que tinha de seus inimigos, o povo da Índia

criou um jogo chamado “Chaturana”, parecido com o xadrez e a

dama que conhecemos atualmente. Este jogo era composto por

quatro exércitos que lutavam dividindo-se em exército de homens

e mulheres. Na Idade Média este jogo recebeu fortes influências

da igreja, ao inserir as peças denominadas como bispo, rei e

rainha. Estes jogos desenvolvem aspectos cognitivos e sociais ao

permitir a elaboração de estratégias espaciais; capacidade de

antecipação; motricidade; controle da impulsividade; ampliação do

campo visual e percepção;

Os Fenícios, que tinham suas atividades voltadas para a

navegação e normalmente percorriam os mares em três barcos,

criaram jogos com objetivo de auxiliar os indivíduos em

estratégias espaciais. Prevenindo que se percam, criaram os

jogos como da Trilha e Tateti que possibilita desenvolver

percursos que auxiliem na movimentação em espaços uni, bi e

tridimensionais. Com os mesmos objetivos, temos atualmente os

jogos da Trilha, Jogo da Velha, o Ligue 4, o Batalha Naval, jogos

que permitem o desenvolvimento da antecipação; investigação do

espaço; afetividade; visomotricidade e interseção;

Desta forma, os jogos afetivos e sociais, segundo Visca apud Oliveira

(2007), são aqueles que possibilitam: a autodescoberta, ao despertar no sujeito

7

a consciência de suas dificuldades ou habilidades; a autonomia, ao possibilitar

que o sujeito faça escolhas e tome decisões; a autoestima, onde os desafios e

as possibilidades de superação possibilitam ao sujeito a sensação de plenitude

e confiança em si; o convívio, que ao possibilitar a vivência em grupo, onde um

passa a conhecer aos outros, diminuindo as tensões, aprendendo a aceitar as

diferenças e vencerem a timidez; a cooperação, possibilitando a superação de

obstáculos; a capacidade de liderar e ser liderado, onde, ao possibilitar a

vivência destes papéis, auxilia o indivíduo a ser crítico, a analisar, a coordenar

e orientar.

Ainda segundo Visca apud Oliveira (2009), os jogos afetivos e sociais

são aqueles que desenvolvem no educando a autodescoberta; a autonomia; a

autoestima; o convívio, possibilitando vencer a timidez; a cooperação, que

possibilita na superação dos obstáculos; e a capacidade de liderar e ser

liderado.

Os jogos classificados como lógicos afetivos e sociais, ao serem

utilizados como recurso psicopedagógico perante crianças com dificuldades de

aprendizagem, bem como para a prevenção, tem a possibilidade de aproximar

o mundo real do imaginário ao mesmo tempo em que capacita o “sujeito no

enfrentamento de situações problema e de desenvolver várias funções que são

importantes para a aquisição de conteúdos sistemáticos” (OLIVEIRA, 2009, p.

119), conteúdos considerados como pré-requisitos nas instituições

educacionais.

A aprendizagem segundo Piaget, Vigotsky, Wallon e FreudPesquisadores como Piaget, Vigotsky, Wallon e Freud têm fundamental

importância para a prática Psicopedagógica, pois, de acordo com suas

pesquisas podemos compreender como ocorre o aprendizado nas crianças de

acordo com cada estágio de desenvolvimento.

As pesquisas de Piaget, teórico cognitivista que se formou em biologia e

filosofia na Suíça, contribuíram muito para o fazer pedagógico e

Psicopedagógico. Com interesses voltados para o processo de

desenvolvimento da inteligência humana, as experiências e observações de

Piaget aconteceram dentro de sua própria família, com seus filhos.

Pesquisando sobre inteligência, ele desenvolveu a epistemologia genética,

8

entendida como o estudo dos mecanismos que conduzem os seres humanos a

adquirirem o conhecimento e, consequentemente a desenvolver sua

inteligência. Os trabalhos de Piaget contribuem para o desenvolvimento de

idéias e estratégias de ensino no âmbito escolar, e aqui serão analisadas suas

idéias dentro do contexto psicopedagógico, que está voltado para os problemas

relativos á dificuldade de aprendizagem.

Segundo a teoria Piagetiana, existem quatro fatores responsáveis pelo

desenvolvimento cognitivo da criança: o fator biológico, crescimento orgânico e

maturação do sistema nervoso; os exercícios e as experiências adquiridos na

ação da criança sobre os objetos; a interação social, que ocorre por meio da

linguagem e da educação; o fator de equilibração das ações que estimula a

criança a encontrar respostas para novos problemas, num processo de

acomodação4.

Na visão Piagetiana, a criança ao interagir com o mundo ao seu redor

começa a atuar e modificar ativamente a realidade que a envolve, neste

sentido, é necessário que haja na criança um “esquema de ação” onde ela

interpretará e organizará sua ação para que esta possa ser colocada em

prática e assim, atingir novos objetivos. A criança “desenvolve sua inteligência

por meio de um intercambio permanente com o meio, o que visa a um

constante processo de equilibração – melhor adaptação ao meio” (LAKOMY,

2008, p. 31). Quando a criança se encontra em uma nova situação, instala-se

uma situação de desequilíbrio, que levará a criança a encontrar novos

esquemas ou formas para lidar com essa situação, posteriormente ela irá

adaptar-se e voltar a um novo estado de equilíbrio, sendo assim:

Se as estruturas intelectuais disponíveis na criança são suficientes para

operar com as novas situações, então ocorre o que Piaget chama de

equilibração majorante a qual desempenha um papel muito importante no

desenvolvimento cognitivo. Esse processo envolve dois mecanismos

intermediários para que novos esquemas se desenvolvam e,

consequentemente, a inteligência seja construída. São eles: assimilação e

4 No processo de equilibração, na teoria cognitivista, acontecem ações que levam primeiramente a um desequilíbrio, busca do aprendizado, e posteriormente, através de ações internas, a assimilação, que leva ao equilíbrio da aprendizagem, e, por último, ao processo de acomodação, quando a resposta certa é incorporada à estrutura interna.

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acomodação. Assimilação é a incorporação de novos conhecimentos ou

informações a estrutura intelectual da criança que não são modificados. Já a

acomodação ocorre quando a criança reorganiza sua estrutura mental para que

ela possa incorporar esses novos conhecimentos, experiências ou informações

e transforma-los para se ajustarem às novas exigências do meio. Ao ocorrer a

acomodação, a criança retorna a um novo e superior estado de equilíbrio.

Segundo Piaget, apud Lakomy (2008), o desenvolvimento cognitivo

compreende quatro estágios ou períodos que se desenvolvem a partir das

estruturas cognitivas construídas nos estágios anteriores, são eles: estágio

sensório motor, pré-operatório, estágio das operações concretas e por último,

operatório formal.

Não menos importante que Piaget, as contribuições de Lev Semynovitch

Vigotsky (1896-1934), pesquisador contemporâneo de Piaget, com a teoria

sociointeracionista, buscou entender a influência da linguagem ou da

comunicação no desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Para Vigotsky era

extremamente importante que o indivíduo aprendesse para poder compreender

e analisar o contexto histórico no qual estava inserido, por isto, para ele, o

contexto social e o desenvolvimento cognitivo humano caminha junto.

Para Vigotsky, o desenvolvimento cognitivo da criança é um processo de

assimilação ativa do conhecimento histórico-social existente na sociedade em

que ela nasceu. Ele enfatiza que esse conhecimento é internalizado e

transformado pela criança através de sua interação ou trocas sociais com as

pessoas que a rodeiam. No entanto, podemos observar que para Vigotsky, a

fala é um dos principais fatores para a aprendizagem, pois acompanha a

atividade prática ou física da criança, mas outro fator importante para a

aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo segundo este autor, é a

importância da mediação, que compreendem nos instrumentos utilizados para

a aprendizagem, como exemplo os signos da escrita, que servem para nos

lembrar o que dizemos.

Ainda segundo Vigotsky, a relação entre a fala e a ação vai se

modificando ao longo do desenvolvimento cognitivo em três fases perceptivas:

a fase da fala social; da fala egocêntrica e a fase da fala interior.

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Se para Vigotsky a fala e a interação social são fatores indispensáveis

para a aprendizagem, para Henri Wallon (1879-1962), a dimensão afetiva

ocupa lugar central nesse processo. Ele desenvolveu nas décadas de 1950 e

1960 a teoria psicogenética onde enfatiza que a dimensão afetiva ocupa um

lugar central no processo de aprendizagem, teoria na qual auxilia o indivíduo

tanto no desenvolvimento pessoal quanto no cognitivo.

Para este autor, a afetividade e a inteligência desenvolvem-se juntas

desde o primeiro ano de vida do indivíduo. No período denominado impulsiva

emocional, logo que a criança nasce, é dominado pelas relações emocionais

do bebê com o ambiente, o desenvolvimento cognitivo está voltado para as

preparações sensório-motoras, ou seja, olhar, pegar, andar, que permitirão no

segundo ano de vida, a exploração sistemática do meio.

Para Wallon, é na inteligência prática ou das situações, que a afetividade

dá lugar ao desenvolvimento cognitivo, pois nesta fase surge “a função

simbólica a partir do desenvolvimento da fala e das condutas representativas

da criança, que se torna base para o pensamento discursivo” (LAKOMY, 2008,

p. 66), e,

Na função simbólica, instala-se na criança a chamada

forma cognitiva de vinculação afetiva. Ou seja, quando o

indivíduo passa a expressar a sua afetividade através dos

símbolos orais e depois escritos – a comunicação afetiva

-, é chamada afetividade simbólica. Na puberdade, a

afetividade chamada afetividade categorial, baseia-se em

exigências fundamentadas na racionalidade, isto é,

exigências de respeito mútuo, igualdade de direitos,

justiça, etc. (LAKOMY, 2008, p.67).

Ao enfatizar que a dimensão afetiva ocupa um lugar central no processo

de aprendizagem temos na contribuição de Wallon a compreensão que sua

teoria auxilia o sujeito no aprendizado pessoal e cognitivo a serviço da

construção de um ser humano afetivo, individual, concreto e social.

11

Se a afetividade é um fator essencial no processo de aprendizagem,

compreender o aluno, sua família, seus professores, sua escola, sua

comunidade e sua cultura, se torna fundamental no processo de aprendizagem,

principalmente quando se trata das dificuldades.

Para isto, a Psicanálise fornece suporte teórico, tanto para educadores

quanto para psicopedagogo, na compreensão deste processo, e tem como

criador o neurologista Sigmund Freud (1856-1983). Em sua teoria relata a

concepção que o ser humano e a civilização se constituem pelo recalque, fator

de fundamental importância, pois sem o mesmo cairíamos na loucura ou na

sociopatia. Desta forma, os impulsos (pulsões sexuais e agressivas), não

podem ter o domínio do sujeito, para não colocar a vida deste em risco. Sendo

assim, Freud destaca que temos dois tipos de mente: a inconsciente e a

consciente.

Na mente inconsciente, segundo Freud, é onde ficam guardado os

conteúdos dos quais não conseguimos nos lembrar em condições normais, são

as lembranças, emoções e sentimentos que nos podem trazer grande dor,

vergonha insuportável ou forte sentimento de culpa, sentimentos que são

negados na mente consciente, devido ao mecanismo denominado recalque, no

entanto, a nossa mente consciente só consegue acessar os conteúdos da

mente inconsciente por meio da hipnose, dos sonhos, dos atos falhos e da

associação livre (ASSIS, 2007, p. 35).

Assim como nas teorias de Piaget e Vigotsky, Freud também contribui

para a educação ao relatar às fases de desenvolvimento infantil, que, segundo

Assis, permite ao educador a visão sobre a energia pulsional como constituinte

do ato de pensar e de aprender; o modelo do método analítico, no qual o

compromisso de uma relação autentica entre dois indivíduos é imprescindível,

e, de igual forma, a noção de transferência e de contratransferência,

encontrada também na relação professor-aluno.

Sendo assim, a primeira fase é a anal, onde a criança passa a conhecer

o mundo através da boca, e tem como o primeiro prazer o ato da sucção ao ser

amamentado; a segunda fase é a anal, onde em decorrência da maturação

orgânica a criança consegue controlar os esfíncteres anal e uretral, e tem como

prazer este controle; a terceira fase é a fálica, onde a criança dá importância

aos seus órgãos genitais, o prazer desta fase se concentra na região genital, e

12

o papel da mãe e do pai é de fundamental importância para o desenvolvimento

saudável nesta fase; a quarta fase é a da latência, onde o interesse da criança

é conhecer tudo o que a cerca, e a pulsão direciona-se para o desejo de

aprender; a quinta e última fase é a genital, onde na adolescência, a

sexualidade toma um colorido adulto, permeando todo o corpo, com

predominância nos órgãos genitais.

Enfim, a contribuição da Psicanálise para a intervenção

Psicopedagógica, está voltada para a compreensão dos obstáculos da

aprendizagem, ou seja, os traumas que ocorreram durante o desenvolvimento

do sujeito, que podem ser projetados inconscientemente pelo sujeito, e

analisados pelo Psicopedagogo. As teorias acima citadas, nas perspectivas de

Piaget, Vigotsky, Wallon e Freud, colabora no processo educativo, e nas

intervenções Psicopedagógica ao propiciar uma profunda reflexão sobre as

fases de desenvolvimento do sujeito da aprendizagem numa abordagem

global, e entende-la, para uma melhor intervenção junto ao sujeito, neste

sentido,

Os problemas apresentados no desempenho escolar

exigem do psicopedagogo uma avaliação das

características psicológicas demonstradas pela criança,

no sentido de identificar se os problemas decorrem de

uma limitação cognitiva ou de uma limitação afetiva.

Esses dois níveis devem ser considerados na análise

estrutural dos problemas. (BALESTRA, 2007, p. 49).

Portanto, cada teoria analisada permite uma reflexão psicopedagógica,

ao intervir junto às dificuldades de aprendizagem, ao verificar os níveis de

desenvolvimento cognitivo do sujeito, considerando os fatores pré-requisitos

para que o aprendizado aconteça: a maturação biológica, o conhecimento

prévio, o desenvolvimento da linguagem, o processo de interação social e a

descoberta da afetividade. E ao utilizar-se do lúdico como intervenção

psicopedagógica, as teorias analisadas possibilita ao psicopedagogo subsídios

para a escolha, analisando cada nível de desenvolvimento cognitivo, os tipos

de jogo que serão utilizados segundo as dificuldades de cada um, seja ela de

fundo físico, afetivo, intelectual ou social.

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Conclusão:Ao término deste artigo, com os estudos analisados, fica evidente que o

lúdico é um recurso essencial para a intervenção Psicopedagógica, pois é

elemento promissor do aprender com prazer, alegria e entretenimento ao

mesmo tempo em que permitem que crianças, jovens e adolescentes

enfrentem os problemas de aprendizagem, dando a eles um novo significado,

construindo seu próprio aprendizado. Cabe ressaltar que intervir utilizando

jogos e brincadeiras, o objetivo não está em ensinar, mas utilizá-lo como

mediador do processo ensino/aprendizagem.

Observamos que ao utilizar do jogo como recurso para intervenção

Psicopedagógica clínica ou institucional, o Psicopedagogo deve entender que

intervir significa o ato de prever uma ação que predetermina um movimento de

maneira operativa, como Sugere Jorge Visca, Psicopedagogo Argentino que

propôs a teoria da Epistemologia Convergente. Ele relata que a atividade

operativa do Psicopedagogo tem como finalidade o movimento interno em

direção à aprendizagem. Neste sentido, intervir operativamente utilizando o

lúdico, é provocar no sujeito a busca da aprendizagem, aproximando

afetivamente o sujeito do processo, possibilitando que o faça sozinho, ou seja,

aprender a aprender.

Segundo os estudos de Lakomy, analisados neste artigo, conhecer as

teorias da aprendizagem faz-se importante para propiciar uma profunda

reflexão sobre a prática, e entendê-la para uma melhor intervenção junto ao

sujeito com dificuldades, portanto, as abordagens teóricas de Piaget, Vigotsky

e Wallon, permitem ao psicopedagogo refletir sobre o desenvolvimento

cognitivo que ocorre em cada nível, ao fazer as escolhas dos jogos e

brincadeiras a serem utilizados como intervenção psicopedagógica diante de

cada dificuldade apresentada.

E, na Psicanálise, os níveis de desenvolvimento relatado por Freud,

mostraram que compreender o aluno, sua família, seus professores, sua

escola, sua comunidade e sua cultura, se torna fundamental no processo de

aprendizagem, principalmente quando se trata das dificuldades. Neste sentido,

a intervenção psicopedagógica com o lúdico, possibilita ao psicopedagogo

analisar os obstáculos de aprendizagem causados pelos sentimentos

14

recalcados, pelos traumas ocorridos, que podem ser projetados

inconscientemente pelo indivíduo.

Finalizando este artigo, os estudos analisados sobre a intervenção

psicopedagógica voltada para o lúdico, mostram que os autores citados

revelam a importância do lúdico para a aprendizagem das crianças,

comprovando sua eficiência para o desenvolvimento físico, motor, emocional e

cognitivo, mostrando que o uso do lúdico já era utilizado desde os primórdios

como uma atividade bastante rica que possibilitava o desenvolvimento de

conhecimento em inúmeras áreas. O Psicopedagogo pode utilizar-se do lúdico

como recurso interventivo nas dificuldades dos sujeitos, analisando as teorias

cognitivas da aprendizagem como base para a escolha dos jogos a serem

utilizados.

Referências bibliográficas:ASSIS, Árbila Luiza Armindo: Influências da Psicanálise na Educação: Uma prática psicopedagógica. 2 ed. Curitiba: Ibpex, 2007.

BALESTRA, Maria Marta Mazaro: A Psicopedagogia em Piaget: Uma ponte para a educação para a liberdade. Curitiba, Ibpex, 2007.

LAKOMY, Ana Maria. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 2 ed. Curitiba,

Ibpex, 2008.

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