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A IMPORTANCIA DA LEGISLAÇÃO NOS ESTUDOS AMBIENTAIS E SUAS INFLUENCIAS Thaisa Cristiane da SILVA 1 Departamento de geografia da Universidade Estadual de Maringá [email protected] Valéria LIMA Departamento de geografia da Universidade Estadual de Maringá [email protected] 1. INTRODUÇÃO Atualmente percebe-se um período muito marcante da crise socioambiental, onde constantemente são gerados complexos problemas baseados em relações insustentáveis entre sociedade e natureza. A configuração territorial é constituída, em parte, pelos recursos naturais como os córregos, oceanos, matas, somada pelos recursos artificiais como as cidades, os meios de transportes, entre outros. Sendo assim, o espaço é um legado da configuração territorial, paisagem natural e sociedade. A fragilidade dos ambientes naturais em relação à forma como a sociedade se apropria pode ser evidenciada através do crescimento demográfico e sucessivas revoluções tecnocientíficas em prol do crescimento econômico e da industrialização nas cidades e a extensão da tecnologia na agricultura dominada pelo sistema de monocultura. Isso influencia na aceleração da devastação de grandes áreas verdes que associada com aos espaços construídos com ausência ou inadequado planejamento, tem promovido intensas alterações ambientais. Neste contexto, a legislação ambiental tem o objetivo de direcionar regras e normas para a ocupação e apropriação dos recursos naturais e assume um papel importante para a preservação do meio ambiente e da qualidade ambiental, juntamente com a efetiva fiscalização e aplicação destas. Para compreender esses aspectos e interações, foi realizado 1 Bolsista PIBIC-AF-IS-FUNDAÇÃO ARAUCARIA/UEM

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A IMPORTANCIA DA LEGISLAÇÃO NOS ESTUDOS AMBIENTAIS E SUAS INFLUENCIAS

Thaisa Cristiane da SILVA1 Departamento de geografia da Universidade Estadual de Maringá

[email protected]

Valéria LIMA

Departamento de geografia da Universidade Estadual de Maringá

[email protected]

1. INTRODUÇÃO

Atualmente percebe-se um período muito marcante da crise socioambiental, onde

constantemente são gerados complexos problemas baseados em relações insustentáveis

entre sociedade e natureza. A configuração territorial é constituída, em parte, pelos

recursos naturais como os córregos, oceanos, matas, somada pelos recursos artificiais como

as cidades, os meios de transportes, entre outros. Sendo assim, o espaço é um legado da

configuração territorial, paisagem natural e sociedade.

A fragilidade dos ambientes naturais em relação à forma como a sociedade se

apropria pode ser evidenciada através do crescimento demográfico e sucessivas revoluções

tecnocientíficas em prol do crescimento econômico e da industrialização nas cidades e a

extensão da tecnologia na agricultura dominada pelo sistema de monocultura. Isso

influencia na aceleração da devastação de grandes áreas verdes que associada com aos

espaços construídos com ausência ou inadequado planejamento, tem promovido intensas

alterações ambientais.

Neste contexto, a legislação ambiental tem o objetivo de direcionar regras e normas

para a ocupação e apropriação dos recursos naturais e assume um papel importante para a

preservação do meio ambiente e da qualidade ambiental, juntamente com a efetiva

fiscalização e aplicação destas. Para compreender esses aspectos e interações, foi realizado

1 Bolsista PIBIC-AF-IS-FUNDAÇÃO ARAUCARIA/UEM

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um estudo na micro bacia hidrográfica do córrego Mandacaru, localizado em Maringá-PR

que se localiza na porção norte do município.

Para isso, foi considerado os usos do solo nas Áreas de Preservação Permanentes

(APP’s) e limites definidos pela atual legislação ambiental brasileira (Lei 12.651 do

Código Florestal de maio 2012) para compreender a evolução da ocupação nestas áreas,

influenciados pelas leis e/ou pela falta de cumprimento e fiscalização das mesmas.

Discute-se também a forma com que os atores locais, mais especificamente os agentes

imobiliários que estão se apropriando das leis para ordenar e apropriar o uso do solo na

área de estudo.

Assim, esse artigo apresenta uma reflexão sobre a análise da qualidade ambiental

da micro bacia hidrográfica do córrego Mandacaru proveniente da influência da legislação

ambiental e de sua aplicação ou não, no contexto socioeconômico, do uso e conservação

dos recursos naturais em áreas urbanas de alta densidade populacional.

2. ÁREA DE ESTUDO: CÓRREGO MANDACARU

O município de Maringá está dividido entre duas importantes bacias hidrográficas

do Paraná, o rio Ivaí ao sul e do rio Pirapó, ao norte. Alguns dos principais córregos se

encontram na porção norte de Maringá são os córregos Mandacaru, Ibipitanga, Osório,

Miosótis, Nazareth, Guaiapó e os ribeirões Maringá e Morangueira. No sul situam as

bacias dos córregos Borba-Gato, Cleópatra, Betti, Moscado, Burigui, Meiro e as dos

ribeirões Paiçandu, Floriano, Bandeirantes do Sul e Pingüim. (RIGON, 2010, p. 14).

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Figura 1. Localização do Córrego Mandacaru. Fonte: Prefeitura de Maringá. Adaptado: SILVA, 2014.

O córrego Mandacaru é uma sub-bacia, afluente da bacia hidrográfica denominada

Ribeirão Maringá, como pode ser observado na Figura 1, por sua vez está localizado na

região noroeste da cidade Maringá em latitudes e longitudes respectivamente: 23º30’ Sul e

52º 00’oeste.

Possui uma grande porcentagem de área impermeabilizada, e concentra intensa

ocupação urbana na cabeceira de drenagem do córrego, fazendo com que eventos de

precipitação pluvial ocorram grandes descargas de sedimentos no canal. (RIGON, 2010, p.

19). Considerada como uma micro bacia urbanizada, o córrego Mandacaru possui um

grande potencial a vulnerabilidade ambiental, pois Maringá possui um crescimento

demográfico bastante expressivo e forte especulação imobiliária, pressionando cada vez

mais o avanço de áreas construídas para as áreas que devem ser preservadas, como as

proximidades com os córregos. .

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Portanto, a cidade mesmo tendo um planejamento piloto, foi rapidamente ocupada

desde localizações margeadas ate áreas centrais e não concluiu o planejamento esperado.

Tendo em vista, que os espaços territorializados de Maringá, em vários lugares, não

tiveram qualquer tipo de avaliação técnica, condicionadas a construções improprias á

determinados espaços o que revela várias ocupações irregulares ao longo do córrego

Mandacaru. (PIEROBON, 2003 apud SILVA e RIBEIRO, p. 27).

Diante do exposto, as leis e decretos que protegem esses espaços são cada vez mais

importantes e, além disso, influenciam direta ou indiretamente no avanço, ou seja, na

retirada da vegetação e a implantação de construções nas proximidades com os córregos,

por exemplo, ou para a preservação destes.

3. A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

Acredita-se que as transformações espaciais e suas consequências, devam ser

abordadas por diversas áreas do conhecimento, sendo necessário que tal estudo ocorra de

forma integrada e sistêmica. Para Ross (2006) os estudos ambientais devem compreender o

todo, salientar que a ação do homem altera toda dinâmica energética da natureza e a

qualidade da mesma.

Deste modo, as cidades em contato com cursos d’águas necessitam de um

planejamento estrutural que considerem a preservação dos recursos naturais e da

capacidade do ambiente se recuperar dos danos causados, além de proporcionar um bem-

estar maior à população. Assim, as leis que protegem esses espaços e recursos naturais são

importantes e que as mesmas sejam efetivadas .

Apesar da existência de muitas leis ambientais vigentes, foram apenas a partir da

década de 1960 que surgiram em diversas regiões do globo, reflexões e novas ações por

parte dos movimentos ambientalistas questionando especialmente o padrão de

desenvolvimento econômico do expressivo consumo, da elevada demografia, da produção

de bens e serviços em frente aos desgastes dos bens naturais.

Os debates sobre as questões ambientais acarretaram apontamentos principalmente

ao modelo de desenvolvimento econômico em vigor, apontando o antagonismo entre

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crescimento econômico e a conservação dos recursos ambientais, estando esse conflito

relacionado diretamente com os limites da continuidade lucrativa do próprio crescimento

econômico (LEFF et al., 2002 apud PEROTTO, 2007, p. 4 ).

Vários debates tiveram diversas repercussões no universo acadêmico, produzindo

estudos científicos e questionamentos sobre os efeitos antropológicos da poluição gerada

pelos processos produtivos do mundo industrializado. No Brasil, essa “onda” ambientalista

também teve repercussão de grande intensidade com a criação de ONG´s ambientalistas,

atividades de sensibilização e edição de livros, como o Manifesto Ecológico Brasileiro.

(LUTZENBERGER, 1986 apud PEROTTO, 2007, p. 4, 5).

O destaque dos debates seguiu com a Conferência de Estocolmo, na Suécia nos dias

5 a 16 de junho de 1972 e também com a realização da Conferência das Nações Unidas

sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida também como ECO 92 no Rio de

Janeiro (Brasil) com principal ênfase nas alterações climáticas e erosão da biodiversidade.

Após esse evento, aconteceu a formulação do histórico “Protocolo de Kyoto” (Japão)

delineando diretrizes de redução das emissões de carbono e suas alterações globais sobre o

clima. Em 2002, ocorre a (RIO + 10) na África do Sul reavaliando as metas e resultados da

ECO 92 no Rio de Janeiro. Em dezembro 2004, em Buenos Aires, na Argentina,

organizou-se a 1º Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Clima.

Essas conferências buscam antes de tudo, mover e comprometer as ordens políticas,

através de tratados e documentos, visando essencialmente a formulação e complementação

de políticas públicas que potencialize a qualidade ambiental e a criação de leis ambientais.

São muitos os problemas ambientais presente nas cidades que estão se agravando

progressivamente. Frente a isso, a Legislação Ambiental Brasileira tem grande importância

sobre esses assuntos no estabelecimento de leis para regulamentação do meio ambiente.

As primeiras “leis legais” no Brasil foram registradas a partir de 1698 com as

“Ordens Reais” (refere-se às Leis Federais de hoje), as quais regulamentam o controle das

madeiras utilizadas na construção naval da coroa de Portugal. Em 1850, a “Lei das Terras”

(Lei Nº 601/1850) sancionada pelo Imperador do Brasil, Dom Pedro II, regulou o acesso à

terra e incluiu algumas limitações ao uso das propriedades rurais.

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No ano de 1899, foi promulgada no estado do Rio Grande do Sul, a regulamentação

do referido diploma legal, designando como “Florestas Protetoras”, todas as áreas situadas

nos topos dos morros e terrenos muito íngremes, sendo essas consideradas “áreas do

Estado” e inadequadas à agricultura. Na primeira metade do século XX, um dos diplomas

legais de cunho ambiental de maior expressão foi o “Código das Águas de 1934” (Decreto

Federal Nº 24.645 de 10 de julho de 1934) que, além de outras regulamentações introduziu

o conceito de “Terrenos Reservados” – faixa de 10 e 15 metros - localizada ao longo das

margens dos corpos hídricos.

Outros dois importantes passos legislativos foram registrados em 1937, quando se

criou a primeira unidade de conservação nacional - Parque Nacional do Itatiaia e, no ano

seguinte, o Parque Nacional das Cataratas do Iguaçu, ambos através de Decreto Federal do

governo de Getúlio Vargas. Após o final da segunda Grande Guerra Mundial, foi dada

continuidade a essas políticas através da edição do Decreto Legislativo Federal N° 03, de

13 de fevereiro de 1948, introduzindo as finalidades da “Convenção para a Proteção da

Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas dos Países da América” e apoiando a criação de

áreas protegidas como Reservas Biológicas e Parques.

Porém, foi a partir dos anos 1960 que esse processo ganhou maior ênfase com a

criação do Código Florestal de 1965 (Lei 4.771/65) e com a Lei de Proteção à Fauna em

janeiro de 1967 (Lei 5.197/67), impostas ao congresso nacional pelo governo autoritário

dos militares.

Essas normativas alteraram formalmente, de forma significativa, as concepções dos

modos de produzir e extrair recursos naturais, especialmente no meio rural. Porém, tais

modificações demoram certo tempo até serem assimiladas e apropriadas tanto pelos

usuários, como pelos órgãos reguladores: instituições federais e estaduais de proteção e

controle dos bens naturais. Na década de 1970, foram criadas áreas protegidas e/ou

Unidades de Conservação (UCs) e iniciado o licenciamento de empreendimentos de médio

e grande porte, bem como estrutura de controle como o IBDF2, atual IBAMA3

2 IBDF: Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal foi criado pelo decreto lei nº 289, de 28 de fevereiro de 1967.

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(CONAMA4, 2005). A partir de 1981, com a Lei Federal 6.938/81 - Política Nacional de

Meio Ambiente, foram criadas regulamentações e instâncias administrativas, instituindo

oficialmente o processo de licenciamento ambiental no Brasil, que se consolidou como um

instrumento fundamental de controle da utilização dos recursos naturais (BRASIL, 1981)5.

Em 1998, com a Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9.605/98), foi acrescido um maior rigor

na fiscalização e enquadramento penal destas infrações ambientais elevando, por sua vez, o

nível de conflitos relacionados com modos de produção impactantes no uso dos recursos

naturais e no meio urbano.

Nesse contexto, a legislação ambiental visa regulamentar a relação entre sociedade

e natureza, contribuindo diretamente para a conservação dos recursos e processos naturais

envolvidos. Um bom exemplo de conexões possíveis entre legislação e gestão ambiental,

são as normas presentes para as categorias de Áreas de Preservação Permanente (APP’s),

que limita a extração de qualquer forma de vegetação nas proximidades dos corpos

hídricos.

Existem várias comprovações, científicas e populares, de que as “matas ciliares”

(vegetação adaptada às margens dos corpos hídricos) e “vegetação de encosta” auxiliam na

manutenção da qualidade da água e estabilização do solo das margens, evitando a erosão e

o assoreamento. Além disso, fornecem sustento à fauna nativa aquática e terrestre que

habita esses ambientes auxiliam inclusive na regularização dos regimes hídricos dos rios e

contribuem positivamente para a manutenção da qualidade ambiental desfrutada pela

sociedade. (BRASIL, 2012). Portanto, considera-se a importância de regras compatíveis

com o uso e conservação desses ambientes em prol da manutenção e melhoria da qualidade

ambiental dos bens difusos, ou seja, bens coletivos.

3 IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, normatizado pela Lei nº 7.735 de 22 de fevereiro de 1989, é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). 4 CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente, instituído em 1982 pela Lei 6.938/81 trata-se do órgão brasileiro responsável pela deliberarão assim como para consulta de toda a política nacional do meio ambiente. 5 Lei Federal 6.938 - Política Nacional de Meio Ambiente. Brasília: Diário Oficial da União (DOU), 31 de agosto de 1981.

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Embora previsto no Código Florestal de 1965, a regulamentação das dimensões das

APP´s, estas vêm sofrendo revisões e discussões, especialmente a partir de 1986 (Lei

Federal Nº 7.511/86). Com as alterações ocorridas nesse período, o menor limite de APP

das áreas localizadas ás margens dos corpos hídricos, passou de 5 para 30 metros,

alterando também as dimensões das demais classes.

A recente alteração no Código Florestal foi em 12 de maio de 2012 que trouxe

novas regulamentações e não foram muito favorável a conservação dos recursos naturais,

pelo contrário, em alguns casos até limitou ações conservacionistas.

Entre as mais polêmicas, destaca-se a isenção de multas e dispensa de recuperação

para atividades agropecuárias e florestais e regime de pousio existentes em APP até 22 de

julho de 2008, bem como outras ocupações permitidas por estados no Plano de

Regularização Ambiental (Emenda 164). Outra mudança foi a forma de medir a APP ciliar,

ou seja, agora é a partir do leito regular do rio, em vez do ponto máximo de cheia. Neste

novo código, não é mais obrigatória as APPs em reservatórios artificiais sem barramento e

a diminuição de sua faixa mínima no entorno de lagos de hidrelétricas de 30 metros para

15 na zona urbana e de 100 metros para 30 no campo.

As APPs ficaram a “mercê” das imponentes atividades econômicas e o impasse

ambiental das políticas públicas dos estados. Não obstante, as áreas de várzeas e

ecossistemas de mangue (apicuns e salgados) ficaram fora da categoria de APP. Outra

alteração, não muito feliz, foi a consideração de APPs como reserva legal em propriedades

agrícolas. E, ainda a propriedade de até quatro módulos fiscais que possuíam Reserva legal

(RL) inferior ao exigido pelo atual código, até 22 de julho de 2008, ficam isentas de multas

e recomposição. Por fim, as espécies exóticas podem ocupar até 50% da área recuperada de

RL, com plantação de vegetação não nativa, arvore frutíferas de comercialização.

Entre tantas alterações, são muitos os problemas e, por isso o novo código florestal

é muito criticado, pois resultou em mudanças com pouca preocupação com a conservação e

restauração de áreas naturais.

Um dos destaques é a distorção do papel das APPs para os bens naturais, que

segundo o Código Florestal, inciso II, “tem como principal função preservar os recursos

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hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico

de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.

(BRASIL, 2012). Contudo, este inciso é contraditório com as alterações do novo código,

que ao invés de assegurar a qualidade dos ambientes em vários momentos, os deixaram

ainda mais vulneráveis, principalmente com relação as atividades agrícolas e aos interesses

econômicos.

Em síntese as regulamentações legislativas do Brasil são bastante expressivas no

contexto ambiental. Mas infelizmente, esta não é no que diz respeito ao cumprimento

destas, ou mesmo na fiscalização da mesma. Neste contexto, subentende-se uma influencia

de interesses econômicos na regulamentação das leis ambientais, resultando em leis

flexíveis e com várias aberturas para atividades exploratórias em áreas que deveriam ser

asseguradas por lei, isso foi possível verificar no estudo realizado na APP da micro bacia

do córrego Mandacaru, em Maringá.PR.

4. RESULTADOS E ANÁLISES

Observou-se, através de imagens fotográficas e de satélite o avanço deliberado da

urbanização, sem planejamento adequado nas proximidades do córrego Mandacaru. Vale

mencionar que a bacia esta predominantemente na porção urbana de Maringá e, por causa

do aumento de construções nas proximidades, algumas áreas encontram-se bastante

assoreadas, em contraposição com áreas que não sofreu grandes alterações e ainda contém

características de preservação (Figura 2).

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Figura - 2. Detalhes de alguns pontos fotografados em campo no Córrego Mandacaru. Imagens e

Adaptação: SILVA, 2013.

Essas imagens correspondem a alguns trechos do Córrego Mandacaru e

representam a falta de cumprimento das leis ambientais e também ausência de fiscalização

da mesma. Sobre as APPs, em vários trechos não demarcam a faixa mínima de vegetação,

que segundo a Lei 12.651 de maio de 2012, em áreas urbanas a faixa de preservação deve

ser no mínimo de 30 metros para córregos com menos ou ate 10 metros de largura

(corresponde a medida do córrego Mandacaru).

Assim, a maioria dos problemas encontrados foram relacionados a proximidade

das atividades próximo ao córrego, onde novos elementos são adicionados pelo homem e

algumas alterações no curso d’água são agravadas. Foi encontrado muito lixo doméstico,

entulhos, uso de agrotóxico próximo ao córrego em alguns pontos, como na construção de

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pontes, tubulações de águas pluviais. Observou-se também ocupação irregular e a retirada

inconsciente de vegetação, o que comprova a interferência humana e avanço desordenado

da cidade para estas áreas.

Sendo assim, a micro bacia urbanizada precisa de alternativas de conservação e

recuperação mais restritivas, já que é claro a importância da preservação dos cursos

d’águas para a qualidade ambiental e da população. Ressalta-se a importância, neste

caso, não apenas da lei em si, mas da efetivação destas, da fiscalização adequada e da

conscientização da sensibilização da população sobre a questão. Percebe-se que algumas

mudanças na legislação, especialmente o novo regulamento da lei 12.651, Código

Florestal de maio de 2012, a curto e longo prazo podem interferir diretamente na

qualidade do corpo hídrico em estudo, devido a flexibilização desta, em consequência o

avanço de atividades exploratórias para áreas que devem ser preservadas.

Portanto, mesmo considerando a importância destas diretrizes, conclui-se que

existe defasagem na legislação ambiental e prioridades socioeconômicas que estão além

de seus pressupostos iniciais que é “preservar, conservar, recuperar e fiscalizar”;

questiona-se a eficácia dessas leis e também o aproveitamento da flexibilização da mesma

para os agentes que detém os meios de produção dentro do sistema capitalista, que usam

as riquezas naturais de forma descontrolada e impactante.

5. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL, Código Florestal Brasileiro, LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012.

Disponível emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm

Acessado em: 22.05.2013.11h.

BRASIL, Código Florestal Brasileiro Lei Federal 4.771/65. Brasília: Diário Oficial da

União (DOU) 16 de setembro de 1965.

______. Lei Federal 5.197/67 – Lei de proteção a Fauna. Brasília: Diário Oficial da

União (DOU), 05 de janeiro de 1967.

______. Lei Federal 6.938 - Política Nacional de Meio Ambiente. Brasília: Diário Oficial

da União (DOU), 31 de agosto de 1981.

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MARINGÁ, Prefeitura da cidade de Maringá, Mapa Hidrográfico do Município

Maringá/PR. Disponível em <http://www2.maringa.pr.gov.br/> Acessado em:

25.05.2013.11h.

PEROTTO, M. A. A influência da legislação ambiental no uso e conservação da bacia

hidrográfica do rio maquiné (rs), no período de 1964 A 2004, 2007, Universidade

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RIGON, C. T. B, Avaliação Témporo - Espacial do Processo Erosivo Maerginal dos

Córregos Mandacaru e da Romeira - Maringá-PR, 2010. Universida Estadual de

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ROSS, J. L. S. Ecogeografia do Brasil - Subsídio para Planejamento Ambiental, 2006.

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(DOU), 20 dezembro de 1997. Disponível em

<http://www.mma.gov.br/conama/legislaçao> acessado em 25 maio de 2013.