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Departamento de Direito A GESTÃO DE RISCOS ATRAVÉS DA CLÁUSULA DE RENEGOCIAR Aluno: Enrico Mazza Coelho Pereira Orientador: Aline Miranda de Valverde Terra Sumário: Introdução 1. Justificativa para o surgimento da cláusula de renegociar 2. Aspectos estruturais da cláusula de renegociar 2.1 Pressupostos da renegociação 2.2 Procedimento de renegociação 3. Aspectos funcionais da cláusula de renegociar 3.1 Manutenção do equilíbrio e preservação dos contratos 4. Mecanismo de gestão negativa dos riscos 5. Cláusula de renegociar e contrato incompleto: semelhanças e diferenças 6. O momento da renegociação 6.1 Incidência da boa-fé in executivis 6.2 Consequências do insucesso renegociativo 6.3 Possibilidade de intervenção judicial Conclusão Introdução Repete-se à exaustão que contratar é, em si, um ato de risco. Não há como desvincular as duas ideias, tendo em vista que todo contrato é um “ato de comprometimento do futuro” e, portanto, está sujeito aos efeitos perturbadores trazidos pelo fator-tempo 1 . O período compreendido entre a conclusão e a efetiva execução do contrato, que varia desde a instantaneidade até longos protraimentos temporais, está a todo tempo imbuído da possibilidade de alterações mais ou menos significativas no equilíbrio pré-estabelecido pelas partes. A essas alterações dá-se o nome de “álea normal” do contrato, ou seja, aquelas perturbações previsíveis e até mesmo esperadas, qualificáveis como tal de acordo com a fattispecie de que se trata 2 . Apesar de ser notória a existência do risco em toda espécie contratual, o legislador do Código Civil de 2002 dispôs de pouquíssimos artigos voltados à sua regulação. Ainda, quando o fez, fê-lo desprovido de tecnicidade, tratando do “risco” sempre em sentido genérico 3 . Fica, então, relegada às partes, no pleno exercício de sua autonomia privada, a gestão dos riscos contratuais, visando à construção de um projeto negocial apto a promover os interesses por elas concretamente buscados 4 . 1 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship e a obrigação de renegociar nos contratos de longa duração. in Revista de Arbitragem e Mediação, vol. 7, n. 25. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr.- jun./2010. p. 12. 2 Para os diversos conceitos de risco, inclusive a diferenciação entre risco econômico e risco jurídico, cf. BANDEIRA, Paula. Contratos aleatórios no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. p. 7 e ss. 3 Idem. p. 11 4 TERRA, Aline de Miranda Valverde. Cláusula resolutiva expressa: regime jurídico e parâmetros funcionais para a sua fixação. 2015. Tese (Doutorado em Direito Civil) Faculdade de Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015, p. 51.

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Page 1: A GESTÃO DE RISCOS ATRAVÉS DA CLÁUSULA DE ......14 Sobre os diversos tipos de risco que atingem um contrato, cf. FEITOSA, Maria Luiza Pereira de Alencar Mayer. O contrato como regulador

Departamento de Direito

A GESTÃO DE RISCOS ATRAVÉS DA CLÁUSULA DE

RENEGOCIAR

Aluno: Enrico Mazza Coelho Pereira

Orientador: Aline Miranda de Valverde Terra

Sumário: Introdução – 1. Justificativa para o surgimento da cláusula de renegociar – 2.

Aspectos estruturais da cláusula de renegociar – 2.1 Pressupostos da renegociação – 2.2

Procedimento de renegociação – 3. Aspectos funcionais da cláusula de renegociar – 3.1

Manutenção do equilíbrio e preservação dos contratos – 4. Mecanismo de gestão negativa

dos riscos – 5. Cláusula de renegociar e contrato incompleto: semelhanças e diferenças – 6.

O momento da renegociação – 6.1 Incidência da boa-fé in executivis – 6.2 Consequências

do insucesso renegociativo – 6.3 Possibilidade de intervenção judicial – Conclusão

Introdução

Repete-se à exaustão que contratar é, em si, um ato de risco. Não há como

desvincular as duas ideias, tendo em vista que todo contrato é um “ato de

comprometimento do futuro” e, portanto, está sujeito aos efeitos perturbadores trazidos

pelo fator-tempo1. O período compreendido entre a conclusão e a efetiva execução do

contrato, que varia desde a instantaneidade até longos protraimentos temporais, está a todo

tempo imbuído da possibilidade de alterações mais ou menos significativas no equilíbrio

pré-estabelecido pelas partes. A essas alterações dá-se o nome de “álea normal” do

contrato, ou seja, aquelas perturbações previsíveis e até mesmo esperadas, qualificáveis

como tal de acordo com a fattispecie de que se trata2.

Apesar de ser notória a existência do risco em toda espécie contratual, o legislador

do Código Civil de 2002 dispôs de pouquíssimos artigos voltados à sua regulação. Ainda,

quando o fez, fê-lo desprovido de tecnicidade, tratando do “risco” sempre em sentido

genérico3. Fica, então, relegada às partes, no pleno exercício de sua autonomia privada, a

gestão dos riscos contratuais, visando à construção de um projeto negocial apto a promover

os interesses por elas concretamente buscados4.

1 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship e a obrigação de renegociar nos contratos de longa

duração. in Revista de Arbitragem e Mediação, vol. 7, n. 25. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr.-

jun./2010. p. 12. 2 Para os diversos conceitos de risco, inclusive a diferenciação entre risco econômico e risco jurídico, cf.

BANDEIRA, Paula. Contratos aleatórios no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. p. 7 e ss. 3 Idem. p. 11 4 TERRA, Aline de Miranda Valverde. Cláusula resolutiva expressa: regime jurídico e parâmetros

funcionais para a sua fixação. 2015. Tese (Doutorado em Direito Civil) – Faculdade de Direito, Universidade

do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015, p. 51.

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Contudo, o acertamento das partes deve sempre atentar não apenas aos limites

impostos à própria autonomia privada 5 , mas também aos princípios reguladores dos

contratos. Em matéria de gestão de risco, tem especial relevo o princípio do equilíbrio dos

contratos, devendo aqui ser entendido não em sua dimensão meramente econômica, mas na

sua conjugação com a dimensão normativa. Deve-se falar, portanto, não de equilíbrio

econômico das prestações, mas sim de equilíbrio de posições jurídicas6.

Na prática, existem riscos que escapam à álea normal do contrato, riscos cujos

efeitos podem acarretar o total desequilíbrio do contrato, com a quebra do sinalagma

genético 7 inicialmente pactuado. A esses riscos chama-se de “álea extraordinária” do

contrato 8 . Nesses casos, de modo a impedir que as partes sofram os efeitos deste

desequilíbrio, a legislação civil fornece remédios que se ocupam de promover o

reequilíbrio da relação prejudicada. Nada obstante, podem ainda as partes, no exercício de

sua autonomia privada, avençar remédios negociais que tratem de mitigar os efeitos

negativos do desequilíbrio9.

Dentre estes últimos, destacam-se, para os fins deste trabalho, as cláusulas de

adaptação do contrato: cláusulas que têm como finalidade a readequação das previsões

contratuais diante de uma situação de desequilíbrio. De acordo com o mecanismo

escolhido para a adaptação, as cláusulas subdividem-se em: (i) automáticas, quando

preveem a priori todos os critérios para a adaptação, sem que seja necessária a intervenção

posterior pelos contratantes; (ii) semi-automáticas, como as que preveem, por exemplo, a

adaptação mediante oferta mais favorável (“cláusula de melhor cliente”); e (iii) não-

automáticas, quando impõem às partes a renegociação10.

Interessam a este estudo, então, as cláusulas de adaptação não-automáticas, por meio

das quais as partes conferem à sua autonomia privada, em exercício de renegociação do

contrato ou de parte dele, o absoluto controle sobre a repartição dos efeitos de certos

5 De acordo com a metodologia civil-constitucional, a autonomia privada deixa de ser um valor em si

próprio, sendo tutelável apenas e na medida em que promova os valores fundamentais do ordenamento

jurídico, em especial a dignidade da pessoa humana. Sobre o tema, cf. PERLINGIERI, Pietro. O Direito Civil

na Legalidade Constitucional. trad. Maria Cristina de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. pp. 334-418 6 Sobre o tema, cf. BENEDETTI, Giuseppe. L’equilibrio normativo nella disciplina del contratto dei

consumatori. in: FERRONI, Lanfranco (coord). Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata.

Napoli: Edizioni Scientifiche Italiane, 2002. pp. 39-46 7 A diferenciação que aqui se faz entre sinalagma genético e sinalagma funcional é para fins didáticos. Em realidade, o sinalagma é único durante toda a relação obrigacional. Porém, como tal, o sinalagma também é

um processo, em constante transformação entre a gênese e o extinção da relação contratual. 8 NICOLÒ, Rosario. Alea. in: Enciclpedia del diritto, vol. 1. Milão: Giuffré, 1958. pp. 1025-1026. 9 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 592 10 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship... cit. pp. 14-15.

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eventos sobre a economia contratual originalmente pactuada, de modo a manter ou

restaurar o equilíbrio de posições existentes no momento de sua conclusão.

Metodologia e Objetivos

A execução deste projeto deu-se a partir da análise e discussão de doutrina,

jurisprudência e legislação nacionais. Para fomentar e aprofundar a discussão, trouxe-se

ainda doutrina estrangeira, em especial a portuguesa e italiana, dada a proximidade

dogmática do tema estudado. A partir deste material-base, procedeu-se à análise dos perfis

estrutural e funcional da cláusula de renegociar, a fim de compreender o fenômeno da

cláusula mencionada e como ela exerce a função de gestão dos riscos contratuais.

Resultados

1. Justificativa para o surgimento da cláusula de renegociar

No Direito interno, desde o final do século XX, a Teoria Geral dos Contratos sofreu

um enorme abalo em sua estrutura tradicional. Esse movimento é atribuível, em grande

parte, à constitucionalização do Direito Civil e sua permeação por novos princípios, em

especial a função social do contrato, a boa-fé objetiva e o equilíbrio das prestações11.

Aliado a isso, houve o desenvolvimento e proliferação dos chamados “contratos

relacionais”, entendidos não como um novo tipo contratual, mas como um grupo de

características, como cooperação, flexibilidade e duração no tempo, presentes, em maior

ou menor grau, em todos os contratos12.

Paralelamente, no âmbito dos contratos internacionais em um mundo cada vez mais

globalizado, constatou-se a existência de diversos riscos que eram específicos do ambiente

supranacional em que estes eram celebrados, como a instabilidade política, as oscilações

cambiais, a diferenças de cultura, língua e até mesmo de regime jurídico13, além daqueles

inerentes a qualquer negócio, como o de inadimplemento14.

11 SCHREIBER, Anderson. Direito civil e constituição. São Paulo: Atlas, 2013. p. 119. 12 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado... cit. pp. 368-369. 13 CESÀRO, Vincenzo Maria. Clausola di rinegoziazione e conservazione dell’equilibrio contrattuale.

Nápoles: Edizioni Scientifiche Italiane, 2000. p. 14. 14 Sobre os diversos tipos de risco que atingem um contrato, cf. FEITOSA, Maria Luiza Pereira de Alencar

Mayer. O contrato como regulador e como produtor de riscos. in: Prima Facie – Direito, História e Política,

v. 12, n. 22, p. 64-85, 2013. Disponível em:

<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/primafacie/article/view/4507>. Acesso em: 14 jul. 2016.

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É nesse duplo contexto que a autonomia privada concebeu as cláusulas de

renegociar: visando à conservação, por meio da atuação das próprias partes, de operações

econômicas grandes, complexas e dificilmente substituíveis15. A cláusula de renegociar,

então, é

um modelo convencional já vinculante para os contraentes, mas não

definido num conteúdo rígido e esquematizado, por meio do qual as

partes se obrigam a renovar uma relação já constituída, para renová-la no seu ponto crítico, valendo-se de uma solução não preventivamente

individuada, mas adotando-se uma coerente com a composição originária

de interesses.16

De maneira a preservar estas relações, nas quais foram dispendidas enormes quantias

de dinheiro e tempo, os contratantes avençam dever de renegociar os termos do contrato

diante de certos pressupostos, de modo a evitar que a solução à situação de desequilíbrio

seja a resolução ou revisão judicial do vínculo contratual ou, caso estejamos tratando de

contratos internacionais, fiquem estes à mercê das soluções propostas por jurisdições

alienígenas.

2. Aspectos estruturais da cláusula de renegociar

Tentar traçar um estudo exaustivo da estrutura das cláusulas de renegociar seria um

trabalho impossível, dado o sem-número de formas que esta pode apresentar, fruto da

autonomia privada no concreto regulamento de interesses17. Não obstante, no estudo das

cláusulas de renegociar, pode-se perceber a presença genérica de dois elementos

principais: os pressupostos da renegociação e o procedimento renegociativo18.

2.1 Pressupostos da renegociação

Em primeiro lugar, é preciso que as partes delineiem quais são os eventos que

suscitarão para os contratantes o dever de renegociar, seja o contrato todo, seja parte dele.

É comum, nesse momento, encontrar cláusulas que se valham tanto de redações amplas e

15 MONTEIRO, António Pinto; GOMES, Júlio. A ‘hardship clause’ e o problema da alteração das

circunstâncias. in: VAZ, Manuel Afonso; LOPES, J. A. Azeredo (coord.). Juris et de jure: nos vinte anos da

Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa – Porto. Coimbra: Coimbra Editora, 1998. p. 20 16 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p. 21. No original: “(...) modello convenzionale già vincolante per i

contraenti, ma non definito in un contenuto rigido o schematizzato, attraverso il quale le parti, (...), sono

obbligate ad accertane la consistenza e la rilevanza sul rapporto già costituito, per rinnovarlo nel punto critico

ponendo mano ad una soluzione non preventivamente indivituata, ma adottandone una coerente con

l’originaria composizione di interessi.” 17 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p. 133 18 MONTEIRO, António Pinto; GOMES, Júlio. Op. cit. p. 22.

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genéricas, quanto de elaborações taxativas das hipóteses que concretizam a obrigação de

renegociar. Ambas as técnicas de redação apresentam vantagens e desvantagens: se, por

um lado, as cláusulas abertas conferem maior espaço para que as partes possam gerir, em

um maior número de casos, os efeitos da implementação dos riscos, por outro lado, a

generalidade de sua redação pode ser fonte de abusos19.

O exemplo mais recorrente na doutrina de cláusula de renegociar é a cláusula de

hardship. Por hardship, entende-se o evento superveniente, a ser definido pelas partes, que

afete substancialmente o equilíbrio contratual ao ponto de criar um “rigor excessivo” para

que uma das partes cumpra sua prestação20. Entende-se que o acontecimento que pode

caracterizar o hardship prescinde da imprevisibilidade – justamente porque as partes o

previram no contrato –, bastando que seus efeitos sejam imprevisíveis ou, no máximo, que

fujam ao controle das partes21.

No entanto, não é necessário que o equilíbrio seja significantemente alterado,

podendo as partes convencionar, por exemplo, que a renegociação deverá acontecer após

um certo período de tempo, durante o qual pode ter havido, ou não, alguma mudança no

sinalagma genético22.

O resultado comum a todos os pressupostos é a criação de lacunas supervenientes e

intencionais23 no regulamento contratual. Ao não alocar ex ante os efeitos dos riscos,

relegando sua gestão ao momento de sua efetiva implementação por meio da renegociação

dos termos contratuais, as partes se vinculam a um regulamento originariamente, mas não

definitivamente, completo24.

2.2 Procedimento renegociativo

Não basta, entretanto, que as partes se limitem a estabelecer quais são os

pressupostos que darão azo à renegociação: na quase totalidade dos casos, os contratantes

também estabelecem os parâmetros e os valores sobre os quais devem ser conduzidas as

19 Esses abusos podem ser perpetrados por qualquer dos contratantes: tanto o contratante em posição de

vantagem, ao tentar descaracterizar a situação como ensejadora do dever de renegociar; quanto pelo

contratante que percebe modificações, ainda que irrelevantes, em sua prestação e pretende lançar mão, ainda

que desnecessariamente, da renegociação (CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit., p. 125 e ss., notadamente p.

129.) 20 BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. São Paulo: Atlas, 2015. p. 71 21 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship... cit. p. 22. 22 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. pp. 135-136 23 Por lacuna, entende-se que certos “elementos foram deixados em branco, sujeito à determinação futura, a

partir de critérios fixados de antemão pelos contratantes” (BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. cit. p.

50) 24 Idem. p. 54.

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tratativas, a fim de evitar distorções na execução da obrigação de readaptar e facilitar a

conservação do acerto de interesses25.

Antes de mais nada, cumpre destacar a importância da delineação desses critérios

para caracterizar a relevância jurídica da obrigação de renegociar. A positivação de uma

cláusula de renegociar sem o estabelecimento de regras procedimentais mínimas para sua

execução, poderia levar a situações que, em última análise, esvaziariam a própria

cláusula 26 . Exemplificando: havendo plena liberdade para tocar as tratativas, um

contratante poderia elaborar, a qualquer tempo, qualquer tipo de proposta, estando o outro

contratante livre para refutar a proposta, sem qualquer motivo.

Superada essa questão, no estabelecer do procedimento, podem as partes promover a

readaptação por suas próprias mãos ou delegar a tarefa a um terceiro imparcial 27 . É

comum, ainda, a previsão de um “mecanismo multietapas de solução de controvérsias”

(multi-tiered dispute resolution system), por meio do qual se prevê um escalonamento de

métodos para a resolução de controvérsias oriundas do contrato, cuja etapa inicial é a

negociação pelas partes, podendo desembocar, ao fim e ao cabo, na arbitragem, caso não

se chegue a um consenso amigável28.

Por fim, devem as partes estabelecer o critério que norteará as tratativas de

renegociação. A escolha aqui será, essencialmente, entre critérios objetivos e subjetivos.

Como na delimitação dos pressupostos da renegociação, optar por qualquer um dos dois

traz vantagens e desvantagens, que deverão ser sopesadas pelas partes contratantes no

arranjo contratual. Por um lado, enquanto critérios objetivos (exemplo: a restauração do

equilíbrio econômico-jurídico do contrato) são dotados de maior certeza e segurança, sua

escolha pode acabar por engessar em moldes muito estreitos a readaptação do contrato. Por

outro lado, sustentar-se em critérios subjetivos, como “lealdade” ou “equidade”, pode abrir

margem para arbitrariedades – isso sem contar a incerteza técnica quanto a esses conceitos,

principalmente quando o pacto renegociativo está inserido num contrato internacional,

como muitas vezes ocorre. Nada obstante, dar maior espaço para as partes lidarem com a

renegociação a partir de critérios mais amplos permite que busquem, no exercício da

25 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p. 171 26 Idem. pp. 49-50 27 BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. cit. p. 71. 28 PINTO, José Emílio Nunes. O mecanismo multietapas de solução de controvérsias. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4510>.

Acesso em: 06 jul. 2016.

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renegociação, outros parâmetros que não somente aqueles baseados no próprio contrato:

podem seguir, portanto, parâmetros técnicos ou econômicos de natureza diversa29.

Na prática, contudo, caso os convenentes se omitam acerca do procedimento a ser

seguido no momento da renegociação, atrair-se-á a incidência da boa-fé objetiva30, que

atuará em sua função integrativa como “standard de comportamentos”31. A atuação da

cláusula geral – rectius: a criação dos deveres a serem observados no proceder da

renegociação – será temperada à luz do equilíbrio econômico-jurídico originalmente

pactuado, limitando-se a discricionariedade das partes, que estarão adstritas ao reequilíbrio

do contrato de acordo com a relação de comutatividade fixada quando de sua elaboração32.

3. Aspectos funcionais da cláusula de renegociar

Determinada a estrutura, passe-se à análise de como esta se mostra capaz de realizar

a função da cláusula de renegociar. Por função, entende-se a “síntese dos efeitos

essenciais” de um fato juridicamente relevante33. Apesar de o legislador não ter positivado

a função entre os elementos de validade do contrato, como fez o italiano, a doutrina

destaca sua importância na qualificação do fato jurídico e, por conseguinte, na definição da

disciplina a ele aplicável34.

Grosso modo, a doutrina atribui quatro funções à cláusula de renegociar, a ver:

(a) assegurar a preservação do equilíbrio econômico e a continuação do

contrato (...); (b) atuar como meio de repartição, entre os contratantes, dos custos resultantes do evento superveniente e incerto, (...); (c) impedir

a extinção contratual devida à resolução por excessiva onerosidade de um

contrato que ainda pode ser útil, (...); (d) encontrar um novo regime adaptado aos mútuos interesses (...).35

Para que este trabalho se mantenha fiel ao seu escopo, será dada especial atenção às

duas primeiras funções mencionadas, até mesmo porque as outras duas são

autoexplicativas e dispensam grandes aprofundamentos. As próximas páginas, então, se

ocuparão em discorrer sobre como a cláusula de renegociar atua na manutenção do

29 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. pp. 172-174 30 Idem. p. 179 31 MENEZES CORDEIRO, António Manuel. Da Boa-fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina, 1984. p. 632 32 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p. 191 33 SANTOS, Deborah Pereira Pinto dos; MENDES, Heitor Mendes. Função, funcionalização e função social.

in: SCHREIBER, Anderson; KONDER, Carlos Nelson (coord.). Direito Civil Constitucional. São Paulo:

Atlas, 2016. p. 99 34 BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. cit. pp. 118-119 35 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship... cit. p. 20.

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equilíbrio do contrato. A questão do pacto renegociativo enquanto mecanismo de gestão de

riscos, por ser o ponto nodal deste trabalho, será tratada em capítulo separado.

3.1 Manutenção do equilíbrio contratual

Como já dito no capítulo 1, o movimento de constitucionalização do Direito Civil

trouxe consigo três novos princípios contratuais, que vieram contrabalancear o

voluntarismo subjetivista vigente por todo o século XIX e começo do século XX. São eles:

a função social do contrato, a boa-fé objetiva e o equilíbrio do contrato. Enquanto os dois

primeiros foram positivados no diploma civil como cláusulas gerais (artigos 421 e 422,

respectivamente), a existência do princípio do equilíbrio é retirada da interpretação de

diversos mecanismos legais que tratam de reprimir a desproporção excessiva entre os

valores das prestações36.

Essa confusão causada pelo Código Civil acaba por relegar ao princípio uma “função

decorativa”, sendo utilizado pelos tribunais apenas para corroborar a aplicação de algum

instituto autônomo, o qual não necessitaria, em tese, de uma justificação principiológica37.

No entanto, a importância do princípio do equilíbrio extrapola, e muito, a parca função que

lhe costuma ser atribuída. É ele que garante a justiça contratual, garantindo aos

acertamentos de interesses o juízo positivo necessário para que possa ser tutelado pelo

ordenamento jurídico.

Ao se falar de equilíbrio contratual, deve-se superar a ideia de que o contrato

equilibrado é aquele que encontra, nas prestações, perfeita correspectividade econômica,

cingindo-se o princípio a uma mera equivalência material. Seguindo os ensinamentos da

doutrina italiana, a análise do equilíbrio contratual deve levar em consideração a dimensão

econômica (o valor das prestações) e a dimensão normativa (conjunto de direitos e

obrigações oriundos daquela fattispecie) para verificar se há ou não alguma patologia

naquele programa contratual. O exame a partir desta perspectiva pode mostrar que um

contrato que, em tese, parece desequilibrado, pode estar em perfeito equilíbrio38.

Em suma: ao criar o conjunto de normas que regulará sua relação, as partes

concordam em se vincular a um programa complexo de vantagens e concessões mútuas,

que fazem com que o contrato equilibrado se afaste da imagem clássica da balança para se

36 SCHREIBER, Anderson. Op cit. p. 121. 37 Idem. p. 120. 38 BENEDETTI, Giuseppe. Op. cit. p. 41

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assemelhar mais a um móbile, em que todos os fatores contribuem para o equilíbrio final

do todo39.

É esse equilíbrio, do qual até aqui se tratou, que a cláusula de renegociar cuida de

manter. Como a implementação da álea extraordinária pode afetar esse equilíbrio ao ponto

de se tornar excessivamente oneroso, ou até mesmo impossível40, para que uma das partes

execute sua prestação, a inserção no programa contratual da obrigação de renegociar o

contrato, sempre baseado na boa-fé objetiva, oferece uma alternativa extremamente

favorável à resolução do contrato pela perda do equilíbrio41.

4. Mecanismo de gestão negativa dos riscos

No curso do século XX, o mundo experimentou mudanças e avanços significativos,

em especial no plano da economia e das ciências, que mitigaram por completo a

“estabilidade” vigente no início do século, característica que já se estendia desde o século

XIX. Nesse sentido, a sociedade contemporânea passou a ser pautada pela ideia do “risco”,

que permearia todos os setores da vida. Na esteira desses avanços, o contrato passou a ter

cada vez mais importância, se tornando o principal instrumento da economia, por se

configurar apto a promover a gestão dos riscos inerentes às operações que nele eram

concretizadas42. O “risco” de que aqui se trata, é o risco meramente econômico, negativo –

ou seja, a possibilidade de perda, de diminuição patrimonial43.

A gestão dos riscos pode se dar de duas formas. De um lado, as partes podem

escolher alocar os efeitos do risco para uma ou para a outra, atribuindo a esta parte a

responsabilidade por seu implemento, no que se caracteriza como a gestão positiva dos

riscos, alargando ou diminuindo o escopo do que seria a álea normal daquele contrato44. É

39 A imagem aqui é de Judith Martins-Costa. (MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado... cit.

p. 594) 40 Aqui entendido no sentido técnico-jurídico, “não se demandando do devedor esforços maiores do que os

razoáveis para o adimplemento da obrigação” (TERRA, Aline de Miranda Valverde. Op. cit. p. 89.) 41 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p. 126 42 TERRA, Aline de Miranda Valverde; BANDEIRA, Paula Greco. A cláusula resolutiva expressa e o

contrato incompleto como instrumentos de gestão de risco nos contratos. in: Revista Brasileira de Direito

Civil, vol. 6, out.-dez./2015. p. 10. Disponível em: < https://www.ibdcivil.org.br/rbdc.php>. Acesso em 14

jul. 2016 43 BANDEIRA, Paula. Contratos aleatórios no direito brasileiro. cit. p. 11. 44 TERRA, Aline de Miranda Valverde; BANDEIRA, Paula Greco. Op. cit. p. 14

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o exemplo da cláusula penal, que já fixa de antemão o valor a ser pago a título de

indenização, em caso de inadimplemento45.

Em contraposição à gestão positiva, as partes podem optar pela gestão negativa dos

riscos contratuais. Nessa modalidade, os contratantes deliberadamente optam por deixar

lacunas, sejam elas originárias ou supervenientes, no arranjo contratual, de modo a permitir

a distribuição dos efeitos econômicos da implementação do risco num momento posterior,

que se afigure mais apropriado46. O exemplo mais corrente na doutrina é do contrato

incompleto, cuja aproximação com o objeto deste estudo será explorada em momento

posterior.

A inserção de cláusula de renegociar no contrato consagra a opção dos convenentes

pela gestão negativa dos riscos contratuais. Pode-se afirmar isso pois as partes, ao regular

seus interesses no programa contratual, estabelecem que algumas premissas podem causar

o desequilíbrio do contrato a tal ponto que se torna necessário reabrir a fase de tratativas.

Reabertas as negociações, a distribuição dos prejuízos causados pelo acontecimento do

risco será realizada a posteriori. Ou seja, as partes só alocarão os distúrbios causados pelo

risco quando e se o risco se concretizar47.

A opção pela gestão negativa para os casos de desequilíbrio superveniente do

contrato, quando ainda há interesse das partes na manutenção do vínculo contratual,

afigura-se a mais apropriada. Muitas vezes não é conveniente, ou sequer possível, que as

partes aloquem a priori, ou – adotando a terminologia deste trabalho – positivamente, os

riscos econômicos do desequilíbrio, atribuindo-os a uma ou a outra parte. É necessário que

o evento se manifeste para que, a partir de suas consequências econômicas concretas, as

partes readaptem o contrato tendo em vista o atual panorama da relação.

5. Cláusula de renegociar e contrato incompleto: semelhanças e diferenças

Nesse ponto, aproxima-se muito a cláusula de renegociar ao contrato incompleto.

Este é entendido como o regulamento contratual em que as partes optam pela “não

alocação voluntária do risco econômico”48, estabelecendo o procedimento através do qual,

45 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. vol. 3. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

pp. 141-142 46 BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. cit. p. 51 47 TERRA, Aline de Miranda Valverde; BANDEIRA, Paula Greco. Op. cit. p. 22 48 BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. cit. p. 142.

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em um momento posterior, uma das partes, ambas ou um terceiro estabelecerão a

repartição dos efeitos da álea normal àquele contrato49.

Contudo, ambas as figuras se afastam em alguns pontos. O primeiro deles é o fato de

que, conforme já dito, o contrato incompleto se ocupa necessariamente da gestão da álea

normal do contrato. Ou seja, não querendo sujeitar-se aos efeitos econômicos previsíveis,

porém ainda incertos, daquele contrato, as partes optam por alocá-los ex post, quando e se

o evento se verificar. Já a cláusula de renegociar, via de regra50, se preocupa com os efeitos

do que se convencionou chamar “álea extraordinária”: aqueles eventos imprevisíveis, ou os

eventos previsíveis, cujos efeitos são imprevisíveis ou que escapam do controle das partes,

que podem acarretar no total desequilíbrio econômico-jurídico do contrato. Visa, grosso

modo, a impedir que esse desequilíbrio leve à resolução de um contrato que ainda pode ser

útil ou cuja substituição seja muito difícil.

Outro ponto de substancial importância na diferenciação entre a cláusula de

renegociar e o contrato incompleto é o momento em que se verifica a lacunosidade do

arranjo. No contrato incompleto, a lacuna é genética, originária, tendo em vista que a

opção das partes foi por “decidir não decidir”51 como será a alocação dos efeitos da álea

normal. Já a cláusula de renegociar, ao contrário, está inserida num contrato perfeitamente

completo desde sua gênese. A lacunosidade que existe, portanto, é superveniente e

existente apenas caso se concretize algum dos pressupostos da renegociação, abrindo-se o

regulamento contratual à renegociação de um contrato originariamente, embora não

permanentemente completo52.

Nada obstante, perceba-se que ambas as diferenças mencionadas acima atinem a

aspectos estruturais das figuras comparadas. Ao fim e ao cabo, a função exercida pela

cláusula de renegociar é idêntica àquela exercida pelo contrato incompleto: a gestão

negativa dos riscos contratuais, corroborando a tese já explorada de que uma mesma

função pode se dar através de várias estruturas distintas. Partindo da premissa de que é a

49 Idem. p. 51. 50 Como já dito, mas que ora se repete por conveniência, o suporte fático da cláusula de renegociar é matéria relegada à autonomia privada. Nada impede, portanto, que se insira no suporte fático da cláusula de

renegociar a própria oscilação da álea normal, apesar de esta não afetar o equilíbrio econômico-jurídico do

contrato, cuja manutenção é a principal função da cláusula em estudo (CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit.

pp. 153-154). 51 BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. cit. p. 142. 52 Idem. p. 54.

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função exercida pelo instituto jurídico que define a disciplina legal a ele aplicável, pode-se

afirmar que a cláusula de renegociar é modalidade de contrato incompleto53.

6. O momento da renegociação

Além de abordar os aspectos estruturais e funcionais da cláusula de renegociar, cabe

levantar algumas considerações acerca de situações relevantes que surgem no decorrer do

procedimento de readaptação do contrato. Esta última parte do estudo da cláusula de

renegociar mostrará como a boa-fé objetiva tem um papel decisivo como standard de

comportamento das partes e, consequentemente, como “termômetro” do inadimplemento.

Em momento posterior, aprofundar-se-á o estudo do inadimplemento da obrigação de

renegociar e suas consequências, em especial, a possibilidade de intervenção de terceiros,

seja o juiz estatal ou o árbitro, no procedimento de renegociação. Apesar dessas três

situações estarem intrinsicamente ligadas, sua análise será dividida para fins didáticos e de

melhor compreensão.

6.1 Incidência da boa-fé in executivis

Após mais de uma década de vigência do Código Civil, já está mais do que

assentado, tanto na doutrina, quanto na jurisprudência, que a boa-fé objetiva, prevista no

art. 422 da mencionada lei54, atua em todas as fases contratuais, ou seja, desde a fase pré-

contratual de negociações, passando pela conclusão e pela execução, produzindo efeitos

mesmo depois de finda a relação contratual, seja pelo adimplemento, seja pela resolução,

seja pela declaração de invalidade do contrato55. Oriunda do direito germânico e positivada

no Treu und Glauben do §242 do BGB, a boa-fé objetiva “impõe às partes o dever de

colaborarem mutuamente para a consecução dos fins perseguidos com a celebração do

contrato”56.

A doutrina costuma dividir sua atuação em três funções: função interpretativa,

função vedatória; e função integrativa ou criadora. A função interpretativa não suscita

53 A conclusão que aqui se chega em relação à cláusula de renegociar já havia sido atingida pela doutrina em

relação às cláusulas de hardship, tratadas no item 2.1, supra (BANDEIRA, Paula. Contrato incompleto. cit.

p. 79). 54 Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,

os princípios de probidade e boa-fé. 55 MENEZES CORDEIRO, António Manuel. Op. cit. p. 632. 56 TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER, Anderson. A Boa-fé Objetiva no Código de Defesa do Consumidor e

no novo Código Civil. in: TEPEDINO, Gustavo (coord.). Obrigações: Estudos na Perspectiva Civil-

Constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 32

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grandes discussões, haja vista que decorre expressamente do art. 11357 do Código Civil,

que manda que os negócios jurídicos sejam interpretados à luz da boa-fé objetiva e dos

usos do lugar onde foi celebrado. Das três funções supracitadas, esta é a que afeta da

maneira menos direta o concreto regulamento de interesses.

A função vedatória foi incorporada no art. 187 do Código Civil58 e, como o próprio

nome sugere, cuida de impedir que os contratantes exerçam seus direitos, ainda que lícitos,

de maneira abusiva. Ou seja: “ela reduz a margem de discricionariedade da actuação

privada, em função de objectivos externos”59. A expressão “objetivos externos” a que se

alude nada mais é do que, justamente, a legítima expectativa que o outro contratante nutre,

em decorrência daquele contrato e do interesse que ele visa a concretizar a partir daquele

acordo de vontades60.

Por fim, a terceira função exercida pela boa-fé é a função integrativa ou criadora de

deveres laterais. Esta é a função que atua de forma mais pungente sobre o concreto

regulamento de interesses, tendo em vista que, de maneira heterônoma, por exigências do

sistema, impõe-se às partes deveres acessórios de conduta que deverão ser observados em

todas as fases contratuais61. Serão deveres de informação, cuidado, lealdade e mais um

sem-número de outros a serem verificados no caso concreto, a partir do próprio contrato e

das exigências que se põem a que este traga a máxima satisfação aos envolvidos62. É por

isso que se afirma que a disciplina encontrada no contrato é apenas preliminar, pois não se

esgotam ali os deveres e os direitos atribuídos a cada um dos contratantes63 – é preciso

levar em consideração, ainda, aqueles criados pela boa-fé objetiva.

No momento da renegociação, em que se está executando a obrigação de renegociar,

a boa-fé atua através das três funções que, de maneira interligada, norteiam o

comportamento das partes nas tratativas. Note-se, aqui, que, dado o caráter de

relacionalidade que existe nesse momento, a boa-fé incide de maneira bem mais forte64.

Através da função interpretativa, permite depreender os parâmetros e objetivos da

renegociação. Pela função vedatória, impede que as partes ajam, ainda que dentro dos

57 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua

celebração. 58 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 59 MENEZES CORDEIRO, António Manuel. Op. cit. p. 649. 60 SPADAFORA, Antonio. La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede: prospettive

di diritto europeo dei contratti e di diritto interno. Torino: G. Giappichelli, 2007. p 239 61 MENEZES CORDEIRO, António Manuel. Op. cit. p. 607. 62 SPADAFORA, Antonio. Op. cit. p. 238 63 Idem. p. 238 64MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado... cit. p. 370.

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parâmetros, de maneira a frustrar as negociações. Por fim, a função integrativa informa

como as partes devem se comportar na renegociação, isto é, cumprindo com as obrigações

de cuidado, lealdade e informação para com seus contratantes.

Por isso, a boa-fé in executivis exige que as partes formulem “proposições de forma

séria e correta”, em vista do equilíbrio originário do contrato e de suas atuais

circunstâncias econômicas 65 . O comportamento discricionário e abusivo das partes na

renegociação não encontra guarida no ordenamento jurídico, como também não encontra

na fase pré-negocial, tendo em vista que a boa-fé in executivis serve precisamente para

endireitar seu comportamento66. O comportamento contrário à boa-fé objetiva, portanto,

poderá ser sancionável como ilícito contratual67, nos limites que se passa a analisar.

6.2 Consequências do insucesso renegociativo

É através do procedimento estabelecido no contrato, lido à luz da boa-fé objetiva,

bem como dos demais deveres e limitações impostos pela mesma, que devem ser

analisadas as consequências do insucesso renegociativo. Ou seja, será a partir da disciplina

estabelecida pela cláusula de renegociar, bem como da atuação da tríplice função da boa-fé

in executivis, que verificar-se-á se o insucesso renegociativo é imputável a uma das partes,

gerando para esta a responsabilidade pelo inadimplemento da obrigação de renegociar68.

Em primeiro lugar, é importante destacar a natureza jurídica da obrigação de

renegociar. Para tanto, é de extremo relevo traçar a diferença entre as obrigações de meio e

de resultado. As primeiras são obrigações que exigem, como objeto da prestação, apenas

que o devedor empregue seus melhores esforços e diligência na consecução do resultado,

que é a utilidade econômico-social da prestação ao credor; este, no entanto, não integra o

objeto do vínculo obrigacional. As segundas, ao contrário, exigem que devedor atinja o

resultado para que fique caracterizado o perfeito adimplemento69.

Desse modo, percebe-se que a obrigação de renegociar insere-se melhor na categoria

de obrigação de meio do que na de resultado, tendo em vista que às partes é exigido apenas

que envidem seus melhores esforços na consecução de uma renegociação que atenda aos

seus legítimos interesses, não sendo obrigatório, contudo, que esta seja frutífera – “o mero

65 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship... cit. p. 26. 66 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p 53 67 Idem. p. 57 68 Idem. p. 243 69 COMPARATO, Fábio Konder. Ensaios e Pareceres de Direito Empresarial. Rio de Janeiro: Forense,

1978. p. 525-530

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insucesso das renegociações não desencadeia qualquer responsabilidade”70. Ou seja, caso

as partes empreguem toda sua diligência e boa vontade na renegociação e, mesmo assim,

não cheguem a um acordo, não haverá inadimplemento. Essa conclusão é de vital

importância na verificação da imputabilidade de responsabilidade para algum dos

contratantes.

Portanto, para que fique caracterizado o inadimplemento de qualquer das partes, é

necessário que fique provado que esta violou o procedimento estabelecido contratualmente

para a renegociação, ou, ainda que agindo de acordo com este, violou a boa-fé que se

espera das partes na execução do contrato71. Exemplificando: a parte que se recusa a dar

início às tratativas; ou que, mesmo dando início, não oferece proposições sérias; ou

apresenta recusas injustificadas. Todos são casos de inadimplemento imputável a uma das

partes, que, caso seja grave ao ponto de render todo o contrato inútil72 à outra parte,

permitirá que esta busque no Judiciário o remédio resolutório 73 , que poderá ser

acompanhado, ainda, da tutela ressarcitória.

6.3 Possibilidade de intervenção jurisdicional

Por fim, indaga-se acerca da possibilidade de, frustradas as renegociações, um juiz

ou árbitro intervir diretamente no conteúdo contratual, substituindo-se às partes e à sua

declaração de vontade, em lugar da tutela resolutória. Tal possibilidade não parece ser

negada no caso das já mencionadas cláusulas escalonadas (multi-tiered dispute resolution

systems), tendo em vista que é de sua própria estrutura submeter a disputa a um terceiro, na

maior parte das vezes por meio de arbitragem, como o próximo passo necessário em caso

de insucesso da renegociação, seja ele imputável ou não a um dos contratantes.

Porém antes de adentrar no tema da possibilidade de intervenção judicial no contrato,

há que se fazer uma ressalva quanto ao princípio da conservação do negócio jurídico.

Como o nome sugere, é o princípio que ordena seja priorizada, sempre, a preservação dos

negócios jurídicos, em detrimento de sua extinção, de modo a valorizar a autonomia

privada das partes. Sustenta a doutrina que “dar-se prioridade à sua preservação, em

70 MONTEIRO, António Pinto; GOMES, Júlio. Op. cit. p. 24 71 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p 242 72 O conceito de utilidade da prestação envolve justamente a capacidade daquele bem de satisfazer os interesses concretamente buscados pelo credor, ou seja, de suprir a necessidade que o levou a ingressar

naquela relação obrigacional. Sobre o tema, cf. AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Extinção dos contratos

por incumprimento do devedor (resolução). Rio de Janeiro: AIDE, 1991. pp. 130-144. 73 Poderá a parte, ainda, incluir o descumprimento culposo da obrigação de renegociar no suporte fático da

cláusula resolutiva expressa, prescindindo, assim, do socorro judiciário para que o vínculo contratual se

extinga. Sobre o tema, cf. TERRA, Aline de Miranda Valverde. Op. cit. p. 89

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algumas situações – o que pressupõe uma análise casuística –, representa potencializar a

sua autonomia”74. Como o princípio do equilíbrio, este não foi positivado no Código Civil,

mas sua existência é inferida de dispositivos como os art. 157, parágrafo único (que trata

da lesão), art. 170 (acerca da conversão do negócio nulo), art. 317 (atinente às oscilações

de valor nas obrigações pecuniárias) e arts. 479 e 480 (que tratam da revisão judicial),

encontrados no diploma civil – todos priorizando, de um modo ou de outro, a manutenção

do vínculo contratual em oposição à sua extinção.

É nesse contexto que se deve explorar a possibilidade da ingerência judicial sobre o

pacto que prevê a renegociação. Em primeiro lugar, parece altamente insatisfatório, sem

mencionar contrário à vontade das partes, que, prevendo a renegociação para os casos de

desequilíbrio, o insucesso renegociativo leve diretamente à resolução do vínculo

contratual. Ora, parece evidente que, ao pactuar a cláusula de renegociação, os contratantes

deixam bem clara sua vontade de conservar, e não extinguir, o liame contratual diante de

situações supervenientes75.

Seria possível, então, consentir que o juiz ou o árbitro, em face do princípio da

conservação dos negócios jurídicos e da manifesta vontade das partes de manutenção do

vínculo contratual, atuem diretamente sobre o conteúdo do contrato desequilibrado,

quando as próprias partes não o conseguem fazer? A resposta parece ser afirmativa, em

algumas situações.

Deve-se, de logo, afastar a hipótese de alteração arbitrária no conteúdo contratual. É

dizer: a atuação jurisdicional sobre o contrato só é legítima quando houver a previsão

contratual dos parâmetros e procedimentos que devem orientar a renegociação76. Desse

modo, a atuação do terceiro na adaptação do contrato não estará vilipendiando a autonomia

privada das partes, mas sim consagrando-a, pelo respeito àquilo que foi livremente

pactuado, cessando a insatisfação que, conforme já dito, poderia advir da resolução do

vínculo77. Não o havendo, não poderá o terceiro agir como se parte naquele contrato fosse,

a partir de seu próprio arbítrio, pois aí sim se estaria forçando uma parte a se submeter a

regulamento com o qual não concordou78.

74 NITSCHKE, Guilherme. Revisão, resolução, reindexação, renegociação: o juiz e o desequilíbrio superveniente de contratos de duração. in: Revista Trimestral de Direito Civil, ano 13, vol. 50, abr.-

jun./2012. p. 141 75 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p. 244 76 MARTINS-COSTA, Judith. A cláusula de hardship... cit. p. 28-29 77 CESÀRO, Vincenzo Maria. Op. cit. p. 244 78 SCHREIBER, Anderson. Op cit. p. 145

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Conclusão

Ao fim das considerações que foram feitas a partir da análise estrutural e funcional

da cláusula de renegociar, é possível traçar breves conclusões acerca dos principais temas

que a revolvem. A referida cláusula, surgida no âmbito dos contratos chamados

“relacionais” e tendo especial relevo na esfera dos contratos internacionais, costuma

estabelecer, em sua estrutura, basicamente dois momentos de crucial importância: os

pressupostos que dão azo à renegociação e o procedimento que deve ser seguido pelas

partes.

A partir dessa estrutura, a cláusula de renegociar consegue exercer suas duas

principais funções: a manutenção do equilíbrio contratual danificado e a gestão dos riscos

oriundos da álea extraordinária do contrato. Em relação à essa segunda função, pode-se

dizer que a cláusula de renegociar é exemplo de mecanismo de gestão negativa dos riscos

contratuais, tendo em vista que as partes não alocam ex ante os efeitos da superveniência,

mas preferem deixar para fazê-lo a posteriori, quando e se o risco se implementar. Nesse

ponto, a cláusula de renegociar se aproxima do contrato incompleto, regulamento

permeado por lacunas intencionais, a serem preenchidas em momento posterior, com a

implementação dos eventos abarcados pela álea normal do contrato. É possível chegar a

dizer, portanto, que a cláusula de renegociar é modalidade de contrato incompleto, já que

ambos tem, como função, a gestão negativa dos riscos.

Iniciada a renegociação, as partes estão adstritas a se comportarem, como nas demais

fases contratuais, à luz da boa-fé objetiva, que atua com especial força nesse momento,

devido à cooperação que é necessária para o sucesso na renegociação. Porém, o insucesso

renegociativo, per se, não gera a responsabilidade para uma ou ambas as partes, haja vista

que a obrigação de renegociar é uma obrigação de meio, não exigindo, portanto, mais do

que os melhores esforços das partes para seu perfeito adimplemento. No entanto, violado o

procedimento renegociativo ou o comportamento exigido pela boa-fé objetiva, está a parte

inadimplente, podendo o vínculo contratual ser resolvido, com a devida indenização por

perdas e danos, ou então sofrer a alteração por parte de um juiz ou árbitro, desde que os

parâmetros que devem ser seguidos na renegociação estejam contratualmente

estabelecidos.

Enfim, por tudo que até agora foi dito, pode-se afirmar que a cláusula de renegociar é

mecanismo eficiente na gestão dos riscos contratuais, pois permite que as partes, por meio

de sua própria autonomia privada, administrem e distribuam as consequências econômicas

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oriundas de certos eventos que podem desequilibrar a economia estabelecida na conclusão

do contrato. Por meio da gestão negativa, os contratantes permitem que o arranjo

contratual seja reaberto, em momento posterior, a fim de que o desequilíbrio possa ser

combatido e o contrato seja preservado, enquanto instrumento legítimo e capaz de

promover os interesses daqueles que se encontram a ele vinculados.

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